universidade candido mendes pÓs-graduaÇÃo … dos santos costa.pdf · resumo a lei 8078/90 tem a...

46
UNIVERSIDA DE CANDIDO MENDES PÓS-GRA DUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A ÇOES COLETIVAS E SEUS REFLEXOS NAS RELAÇÕES DE CONSUMO Por: JOSE FA DOS SA NTOS COSTA Orientador: Prof.Dr. SÉRGIO RIBEIRO Prof. Dr. WILLIAM LIMA ROCHA Rio de Janeiro 2006

Upload: vanthuan

Post on 09-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

AÇOES COLETIVAS E SEUS REFLEXOS NAS RELAÇÕES DE

CONSUMO

Por: JOSEFA DOS SANTOS COSTA

Orientador:

Prof.Dr. SÉRGIO RIBEIRO

Prof. Dr. WILLIAM LIMA ROCHA

Rio de Janeiro 2006

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

AÇÕES COLETIVAS E SEUS REFLEXOS NAS RELAÇÕES DE

CONSUMO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Direito do Consumidor.

Por: Josefa dos Santos Costa.

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todas as pessoas que

passaram pela minha vida e que de

alguma forma contribuíram apara o

meu amadurecimento.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

4

DEDICATÓRIA

Aos meus amigos que me incentivaram

na feitura de mais uma especialização na

área jurídica, em especial a uma amiga

do coração Raquel Monteiro Alves.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

5

RESUMO

A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações Coletivas .

No parágrafo único do artigo 81 está a definição de direitos individuais

homogêneos, de direitos difusos e de direito coletivos, observa-se a todo

tempo que o Código de Defesa do Consumidor tem como princípio básico e

primordial proteger o consumidor em larga escala, preocupando-se com a

questão do direito difuso e do direito coletivo.

Exatamente por estarmos numa sociedade de massa, onde a produção,

a fabricação e o planejamento de produtos e serviços se dão em série, e não

há a participação do consumidor, é vital que se possa contar com um Código,

um modelo processual no ordenamento jurídico que proteja o consumidor de

maneira difusa.

Com efeito a Lei 8078/90 está engajada com a questão do consumidor

coletivo, devendo ser utilizada amplamente para as ações coletivas. È por seu

intermédio que o consumidor estará protegido, e percebemos que aos poucos

começa-se a ter consciência da importância da Aço coletivas, que podem ser

propostas pelo Ministério Público ou pelas Associações de Defesa do

Consumidor.

A missão deste trabalho é abordar o tema das Ações Coletivas

analisando as controvérsias sobre o assunto , suas peculiaridades e nuances,

os caracteres importantes e polêmicos, tais como a sua efetividade e

aplicabilidade no Direito Brasileiro.

Portanto neste trabalho trataremos das Ações Coletivas especialmente

tratando dos direitos, interesses transindividuais, interesses difusos, coletivos

individuais homogêneos, os Princípios Constitucionais e a tutela jurisdicional

dos interesses transindividuais as Ações Coletivas previstas no CDC, Ação

Popular, Ação Civil Pública e sua respectivas tutelas jurisdicionais, a

legitimidade para a propositura das Ações Coletivas,Legitimidade do Ministério

Público para a defesa das questões de massa, a competência nas Ações

Coletivas do CDC, a coisa julgada e seus efeitos.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

6

METODOLOGIA

Para demonstrar o presente trabalho será utilizada a metodologia

dogmática, com a leitura de livros, pesquisa de jurisprudência, estudo de

doutrina e legislação processual brasileira pertinente ao caso em questão.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Evolução Histórica 09

CAPÍTULO II - Princípios constitucionais e a tutela jurisdicional 13

dos interesses transindividuais

CAPÍTULO III – Interesses ou Direitos Difusos, Coletivos

individuais homogêneos 15

CAPÍTULO IV – As ações Coletivas previstas no CDC 20

CAPÍTULO V – A competência nas ações coletivas 26

CAPÍTULO VI – Coisa julgada e seus efeitos 32

CONCLUSÃO 43

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45

FOLHA DE AVALIAÇÃO 46

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

8

INTRODUÇÃO

O tema que abordaremos refere-se às Ações Coletivas e seus reflexos nas

relações de consumo.

A missão deste trabalho é abordar o tema das Ações Coletivas analisando

as controvérsias sobre o assunto , suas peculiaridades e nuances, os

caracteres importantes e polêmicos, tais como a sua efetividade e

aplicabilidade no Direito Brasileiro.

A presente monografia pretende situar as Ações coletivas no Direito

brasileiro, mostrando sua evolução histórica , abordando a questão dos

interesses ou direitos difusos, abordando suas definições e distinções, a

fixação da competência, os critérios de determinação e também quanto aos

danos ocorridos em nível regional ou nacional.

Será também analisada a natureza da legitimação na proteção jurisdicional

coletiva, as atribuições do Ministério Público, e das associações .

E por fim abordaremos os problemas referentes à litispendência e á coisa

julgada.

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

9

CAPÍTULO I

ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA

ORIGEM DAS AÇÕES COLETIVAS

A maioria da doutrina costuma identificar a origem das ações coletivas

no século XVII como uma variante do bill of peace, era uma espécie de

autorização para processamento de uma ação individual, e era concedida

quando o autor requeria que o provimento englobasse os direitos de todos que

estivessem envolvidos no litígio, tratando da questão de maneira uniforme,

evitando assim a multiplicação de processos.

Bills of peace eram requeridos quando um proprietário buscasse

reivindicar dos arrendatários terras comuns da vila para atender a seus

propósitos, ou quando o vigário litigava com sues fiéis sobre dízimo. Em tais

situações, cada membro da comunidade tinha os mesmos interesses em jogo

e na mesma medida dos demais. Portanto era uma óbvia perda de tempo

apresentar as mesmas questões de fato e de direito em ações separado.

O direito estava estruturado para atender demandas de cunho do tipo “

Tício x Caio”, somente os direitos subjetivos eram contemplados pela norma

jurídica, ficando de fora certos interesses que,por ser inviável a apropriação

individual como por exemplo a pureza das águas, acabavam sendo

desconsiderados.

Nas palavras de Rodolfo de Camargo Mancuso1 :

O “primeiro passo para a revelação desses interesses difusos, deu-se

com o advento da Revolução industrial e a conseqüente constatação de que os

valores tradicionais, individualistas do século XIX, não sobreviveriam muito

tempo, sufocado ao peso de uma sociedade de massa..... Nessa sociedade

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

10não há lugar para o homem enquanto individuo isolado;ele é tragado pela

roda-viva dos grandes grupos que compõem a sociedade: não há mais a

preocupação com as situações jurídicas individuais, o respeito ao indivíduo

enquanto tal, mas ao contrário, indivíduos são agrupados em grandes classes

ou categorias...Paralelamente à Revolução Industrial e à massificação da

sociedade, também o sindicalismo contribuiu para fazer aflorar essa ordem

coletiva: os conflitos não mais se dão entre empregados e patrão, mas

coletivamente, isto é, integrantes da força de trabalho na categoria X versus

integrantes da força-capital na categoria patronal correspondente”.

Constata-se , portanto um retorno à necessidade de que as questões

sejam tratadas de forma molecular e não atomizadas para a solução de casos

dotados de intensa, complexa e numerosa conflituosidade.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Em 1950 foi editada a Lei 1134 de 1950 que estatui : as associações de

classes existentes na data da publicação desta lei, sem nenhum caráter

político, fundada nos termos do Código Civil e enquadradas nos dispositivos

constitucionais, que congreguem funcionários ou empregados de empresas

industriais da União, administradas ou não por elas, dos Estados, dos

Municípios e das entidades autárquicas, de modo geral, é facultada a

representação coletiva ou individual de seus associados, perante as

autoridades administrativas e a justiça ordinária.

Da mesma maneira, o antigo Estatuto da Ordem dos Advogados do

Brasil, pela Lei 4215/63 estabelecia em seu artigo 1º , parágrafo único: Cabe à

ordem representar, em juízo ou fora dele, os interesses gerais de classe dos

advogados e os individuais, relacionados com e exercício da profissão.

A Constituição da República de 1934 em seu artigo 113 dispunha que:

Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a declaração de nulidade ou

anulação dos atos lesivos do patrimônio da União, dos Estádios e dos

Municípios. Era a chamada Ação Popular, que foi regulamentada pela Lei

4717/65.

1 Interesses difusos, conceitos e legitimação para agir, p.81

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

11Em 24 de julho de 1985 foi sancionada a Lei da Ação Civil Pública,

disciplinando a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao

meio ambiente, ao consumidor e a bens e direitos de valor artístico, estético,

histórico, turístico e paisagístico.

Com a promulgação da Constituição da República, em 1988, novos

valores sociais foram inseridos em diversos dispositivos normativos.

A nova Constituição em seu artigo 5º,inciso XXI conferiu legitimação às

entidades associativas, quando expressamente autorizadas, para representar

seus filiados, judicial ou extrajudicialmente. O artigo 8º estatui que cabe ao

sindicato a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da

categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas.

Observamos também que o artigo 48 do Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias determinou que o Congresso elaborasse o Código

de Defesa do Consumidor, prazo que efetivamente não foi respeitado.

Com o escopo de dar cumprimento ao disposto no artigo 48 do Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias foi constituída Comissão Mista do

Congresso Nacional que realizou a consolidação dos projetos existentes e foi

publicado em 04 de novembro de 1989, e que foi aprovado em julho de 1990,

resultando na Lei 8078/90, entrando em vigor em 11/03/1991, ou seja O

Código de Defesa do Consumidor, que passou a representar o modelo

estrutural para as ações coletivas no Brasil, sendo aplicado não somente para

os processos relacionados com a proteção do consumidor em juízo, mas

também, em geral, para a defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e

individuais homogêneos.

O Código de Defesa do Consumidor regula os aspectos mais

importantes da tutela jurisdicional coletiva, é com base nesta Lei que

trataremos deste presente trabalho.

Não esquecendo de relacionar as seguintes leis: 8625/93, 8884/94, lei

complementar 75, 8437/92, 9494/97, 9870/99, leis extravagantes que tratam

das ações coletivas, enquanto o Código de Processo em nada regula o

instituto, exceto a previsão contida no artigo 6º.

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

12O Código de Defesa do Consumidor permite a proteção em larga

medida dos consumidores, através das ações coletivas e das ações civis

públicas. É por seu intermédio que o consumidor poderá ser protegido, mas

aos poucos se começa a ter consciência da importância da ação coletiva, quer

propostas pelo Ministério Público ou pelas Associações de Defesa do

Consumidor.

O CDC permite a proteção dos consumidores mediante ações coletivas

e ações civis públicas. È através destas que o consumidor deverá ser

protegido.

A LEI 8078/90, malgrado apresentar uma série de direitos subjetivos

individuais dos consumidores, preocupa-se primordialmente com a proteção

coletiva, ou seja, com a coletividade de consumidores.

A constituição Federal faz referencia aos direitos difusos e coletivos no

artigo 129 inciso III , in verbis:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

A lei 8078/90 faz esta definição no artigo 81, in verbis:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos assim entendidos os decorrentes de origem comum.

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

13

CAPÍTULO II

PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E A TUTELA JURISDICIONAL

DOS INTERESSES TRANSINDIVIDUAIS

A Constituição Federal de 1988 trouxe um rol de princípios que visam a

tutela de interesses, direitos e deveres individuais e coletivos. O legislador

constituinte fez referência aos direitos do consumidor entre os direitos e as

garantias fundamentais , e nos princípios gerais da atividade econômica ,

visando conceituar, proteger e garantir os direitos individuais ou coletivos

daqueles que a lei infraconstitucional qualificou como vulneráveis e

hipossuficientes.

O objetivo é proteger o cidadão garantindo-lhe o pleno exercício de seus

direitos fundamentais, seja a título individual ou coletivo, e conter o abuso do

poder econômico, que faz com que esses direitos sejam preteridos em relação

aos interesses do capital, que, segundo a doutrina consumerista, tem nos

fornecedores de produtos e serviços o conhecimento técnico e o poderio

financeiro que os consumidores dificilmente terão nas relações de consumo.

Daí a necessidade de uma tutela protetiva ampla, garantidora dos direitos dos

consumidores em sua plenitude, e ampliadora das possibilidades do acesso à

justiça, seja em caráter individual ou coletivo.

A defesa dos interesses coletivos em juízo pode se dar mediante

substituição, que deve ser voluntária, sob pena de ferir as garantias e direitos

fundamentais do cidadão de acesso à justiça e o direito de não ser obrigado a

associar-se ou permanecer associado, os direitos do consumidor, por atingirem

patamar constitucional de cláusula pétrea, atingem o status de princípios e,

como tais, devem ter prevalência num sopesamento com outras espécies de

normas ou até mesmo de princípios divergentes.

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

14As relações de consumo, além de terem caráter individual ou coletivo

lato sensu, podem requerer a tutela jurisdicional contra atos praticados pelo

Poder Público (consumidor de serviço público) ou por fornecedores de bens e

serviços de caráter privado. O consumidor tem previsto no texto legal a sua

vulnerabilidade, mas a sua hipossuficiência deve ser reconhecida em juízo, em

face do não conhecimento técnico ou meramente cultural a respeito da relação

de consumo invocada.

A defesa dos interesses do consumidor em juízo deve ser ampliada ao

máximo, a fim de não existirem disparidades injustas no sopesamento entre

regras e princípios que regerão o decisum. A inversão do ônus da prova nos

processos que versem sobre relações de consumo é fruto direto da

responsabilidade objetiva do fornecedor, seja este privado ou o próprio Estado,

e, juntamente com a regra da proporcionalidade, deve ser aplicado nas

decisões jurídicas a fim de garantir: o princípio da lealdade processual; do

interesse público e a correlata subordinação das ações estatais ao princípio da

dignidade da pessoa humana; da proporcionalidade e da adequação axiológica

e da simultânea vedação de excesso e de inoperância, ou omissões

causadoras de sacrifícios desnecessários e inadequados; da segurança

jurídica; da legitimidade; da ampla e irrestrita tutela jurisdicional a fim de

resguardar direitos lesados ou ameaçados de lesão.

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

15

CAPÍTULO III

INTERESSES OU DIREITOS DIFUSOS, COLETIVOS E

INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

Direitos transindividuais: Os direitos transindividual, metaindividuais

ou coletivos lato sensu compõem-se dos direitos coletivos stricto sensu, dos

difusos e dos direitos individuais homogêneos, diferenciando-se entre si.

Os direitos coletivos stricto sensu :são os interesses transindividuais

indivisíveis de um grupo determinado ou determinável de pessoas, reunidos

por uma relação jurídica básica comum. Assim, o dano decorre da própria

relação jurídica que une todo o grupo. Por exemplo, uma determinada revenda

de automóveis vende os seus produtos, contratando com o consumidor através

de um contrato de adesão que contém uma cláusula abusiva. Em virtude disso,

todos os consumidores que contrataram restaram lesados, podendo

determinar quais pessoas compraram na referida revenda, mas não sendo

possível afirmar qual a mensuração do dano causado àquelas pessoas.

Os direitos difusos: são interesses transindividuais, de natureza

indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por

circunstância de fato. Por exemplo, uma determinada indústria, instalada em

uma zona urbana, expele uma grande quantidade de gases tóxicos, poluindo o

meio ambiente. Não se pode determinar quantas e quais pessoas foram

efetivamente lesadas pela poluição, conseqüentemente, não será possível,

também, mensurar o dano causado a cada pessoa individualmente.

Os direitos individuais homogêneos: são os interesses de grupo,

categoria ou classe de pessoas determinadas ou determináveis, que

compartilhem prejuízos divisíveis, de origem comum, normalmente oriundos

das mesmas circunstâncias de fato. Por exemplo, uma determinada loja de

veículos vende um automóvel com defeito de série. Todos os compradores

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

16desse bem restaram lesados pelo fato, podendo determinar-se quantas e quais

pessoas sofreram com o dano, sendo possível, também, mensurar o dano

causado a cada pessoa individualmente.

Origem comum : São coisas, interesses, direitos, que advém da

mesma “fonte”, ex: contrato de trabalho, contrato de adesão, etc.

Os direitos coletivos lato sensu: Possuem uma proteção especial em

juízo, diversificando da proteção dada aos direitos individuais, uma vez que o

processo civil brasileiro preocupa-se, precipuamente, com estes direitos, não

positivando a defesa necessária aos outros direitos humanos.

Portanto há institutos próprios para a defesa dos direitos transindividuais

em juízo, como, a Lei n.º 7.347/85, que instituiu a Ação Civil Pública, a Lei n.º

7.853/89, que protege os portadores de deficiência, Lei n.º 7.913/89, que

protege os investidores no mercado de valores mobiliários, a Lei n.º 8.069/90,

que protege as crianças e adolescentes, a Lei n.º 8.078/90, que protege o

consumidor, a Lei n.º 8.884/94, que protege as pessoas atingidas por danos à

ordem econômica e a economia popular e a Lei n.º 10.257/01, que protege à

ordem urbanística.

A ação protetiva dos direitos metaindividuais em juízo é a Ação Civil

Pública, que também será abordada nesse trabalho.

Os direitos difusos: Dentre os interesses transindividuais descritos no

parágrafo único do art. 81 do CDC, o primeiro arrolado refere-se aos direitos

ou interesses difusos, como sendo "os transindividuais de natureza indivisível,

de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de

fato".

Um exemplo de interesses difusos, é a da propaganda enganosa ou

abusiva, prevista nos arts. 6o, IV e 37 do CDC, que atinge um número

indeterminado de pessoas, sendo que seus efeitos são igualmente

indetermináveis em relação aos espectadores como um todo. Como destacar

exatamente quais as pessoas lesadas por uma propaganda enganosa? A

única maneira seria constatando quais, entre os espectadores, consumiram o

produto cuja informação falsa fora veiculada na propaganda, mas, nesse caso,

passaria de interesse difuso para interesse individual homogêneo.

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

17A propaganda, segundo o CDC, pode ser enganosa ou abusiva. É

"enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter

publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo

por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza,

características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e

quaisquer outros dados sobre produtos e serviços" e "abusiva, dentre outras, a

publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência,

explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e

experiência da criança, desrespeite valores ambientais, ou que seja capaz de

induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua

saúde ou segurança".

Tanto a pessoa que somente assistiu à propaganda, como aquela que

comprou o produto o qual a propaganda erroneamente descrevera, como

todas as pessoas atingidas pelo vício ou fato do produto comprado em função

do anúncio veiculado são considerados consumidores lesados e detentores de

uma pretensão jurídica fruto de um interesse difuso. Porém, não se pode

determinar exatamente até que ponto cada pessoa foi atingida pela

propaganda abusiva ou enganosa, nem mesmo exatamente quem foi atingido

e de que maneira específica isso ocorreu. Tal caso é, exatamente, exemplo de

interesses difusos como descrito pelo CDC.

O parágrafo único do art. 2º do CDC, ampliando o conceito de

consumidor, descreve como consumidor equiparado, e, portanto, detentor de

direitos e interesses referentes às práticas abusivas ocorridas em relações de

consumo, "a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja

intervindo nas relações de consumo.

Interesses coletivos: O CDC descreve como sendo "interesses ou

direitos coletivos, assim entendidos, [...] os transindividuais, de natureza

indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas

entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base" . As

características dos interesses coletivos, assim como os difusos, levam em

conta, respectivamente, a divisibilidade do interesse (interesses de natureza

indivisível), um grupo de indivíduos determinados atingidos (categoria ou

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

18classe de pessoas ligadas entre si ou com parte contrária) e a origem da lesão

ou da ameaça de lesão a direito (ligadas por uma relação jurídica base).

Para individualizar o dano ocorrido em face de um interesse coletivo

stricto sensu pleiteado em juízo de forma coletiva, se faz necessária a

respectiva liquidação de sentença, a ser pleiteada individualmente por cada um

dos interessados que fizeram parte do pólo ativo do processo de conhecimento

coletivo. Dessa maneira, somente, um interesse coletivo pode ter identificados

os interesses individuais de cada uma das partes atuantes na demanda,

caracterizando, assim, a presença de interesses individuais homogêneos.

Interesses individuais homogêneos: Para o CDC, interesses

individuais homogêneos são aqueles de grupo, categoria ou classe de pessoas

determinadas ou determináveis, que compartilhem prejuízos divisíveis,

Na acepção do termo, os interesses individuais homogêneos são

aqueles individualizáveis consoante o direito concernente a cada componente

de um grupo definido, cujas partes estão solidamente ligadas pela mesma

natureza.

Segundo GRINOVER :

A origem comum pode ser de fato ou de direito e, como observou Kazuo Watanabe, a expressão não significa, necessariamente, uma unidade factual e temporal. As vítimas de uma publicidade enganosa veiculada por vários órgãos de imprensa e em repetidos dias de um produto nocivo à saúde adquiridos por vários consumidores num largo espaço de tempo e em várias regiões têm, como causa de seus danos, fatos de uma homogeneidade tal que os tornam a ‘origem comum’ de todos eles.

Humberto THEODORO JÚNIOR diz que2 :

Os interesses individuais homogêneos tanto podem ser tutelados individualmente, em ações movidas pelo ofendido, como coletivamente, em ações de grupo, como aquelas promovidas por sindicatos e associações.

Um exemplo já citado de interesses individuais homogêneos é o do

consumidor que comprou um produto cuja propaganda descrevia

2 THOEDORO JÚNIOR,Humberto.Direitos do Consumidor, a busca de um ponto de equilíbrio entre as garantias do Código de Defesa do Consumidor e os princípios gerais do Direito Civil e do Direito Processual Civil.4ª ed.,Rio de Janeiro:Forense, 2004.

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

19erroneamente uma qualidade, ou não informava sobre seu caráter nocivo à

saúde. Todos os consumidores que compraram o produto em função da

veiculação do comercial enganoso possuem um interesse individualizável, pois

aquele que comprou apenas um produto terá o interesse diferente daquele que

comprou dois e assim sucessivamente. Da mesma maneira, quem comprou

um produto que ainda não ocasionou o fato danoso decorrente de seu defeito

oculto terá pretensões diversas daquele cujo produto comprado ocasionou um

fato danoso. "Cada indivíduo lesado tem direito próprio a exercitar

individualmente contra o fornecedor" , nos casos de direitos individuais

homogêneos.

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

20

CAPÍTULO IV

AS AÇÕES COLETIVAS PREVISTAS NO CÓDIGO DE

DEFESA DO CONSUMIDOR E LEIS ESPARSAS

As ações coletivas previstas no CDC: Estas ações prestam-se

basicamente à defesa de interesses transindividuais, quais sejam, difusos,

coletivos e individuais homogêneos. Por meio delas, alguns legitimados

substituem processualmente a coletividade de lesados (legitimação

extraordinária). A ação coletiva visa a celeridade e a economia processual,

bem como a facilitação da instrução e da fase probatória do processo, que

ficariam excessivamente penosos, tanto para as partes como para o órgão

instrutor, se o exercício da tutela jurisdicional se desse individualmente a todos

os interessados.

Os direitos coletivos lato sensu, ao terem a tutela jurisdicional exercida

em ações coletivas, diminuem a possibilidade da desistência de indivíduos

frente às dificuldades e burocracias do procedimento processual, o que, em

caráter individual, pode se tornar comum, caracterizando uma restrição do

princípio do acesso à justiça.

O CDC trata das ações coletivas para a defesa dos interesses

individuais homogêneos nos arts. 91 a 100, segundo os quais "os legitimados

de que trata o art. 82 poderão propor, em nome próprio e no interesse das

vítimas ou seus sucessores, ação civil coletiva de responsabilidade pelos

danos individualmente sofridos" . Cria, portanto, um novo instituto processual,

que é a ação civil coletiva.

O procedimento da ação civil coletiva do CDC refere-se aos casos de

defesa de interesses individuais homogêneos que, como tais, precisam ter

individualizadas as indenizações pelos danos sofridos segundo a gravidade em

que cada integrante do grupo foi atingido, através de liquidação de sentença,

bem como a sua conseqüente execução. As demais possibilidades dos casos

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

21que tratam de interesses difusos e coletivos além da previsão do CDC, serão

regidas pelas leis que tratam da ação civil pública e da ação popular.

Para o CDC, a legitimidade ativa para a propositura de ações coletivas é

concorrente entre o MP, a União, os Estados, os Municípios, o Distrito Federal,

certas entidades e órgãos da administração pública direta ou indireta e as

associações civis que tenham por fim a defesa dos interesses de

consumidores.

Os interesses individuais homogêneos, ao contrário dos difusos e dos

coletivos, não necessitam ser exercidos em juízo de maneira coletiva, e, caso

se requeira individualmente a tutela jurisdicional, a pré-existência de uma ação

coletiva não induz a litispendência.

Em relação aos interesses coletivos e aos difusos, esses também

podem ser exercidos em juízo a título coletivo sem que induzam litispendência

ao exercício individual da tutela jurisdicional, pelo fato de, em ambos os casos,

serem indivisíveis.

A letra do CDC, no art. 95, diz que "em caso de procedência do pedido,

a condenação será genérica, fixando a responsabilidade do réu pelos danos

causados", sendo, assim, individualmente indeterminada.

A sentença declara o requerido responsável pelo dano causado a um

grupo de autores e, conseqüentemente, condena-o a indenizá-los por isso de

maneira genérica. O quantum indenizatório a cada um dos autores dependerá

de liquidação em processo autônomo e de caráter individual, bem como sua

execução, eis que impossível uma execução coletiva para este caso previsto

no CDC.

Prova da intenção do CDC em promover a economia e a celeridade

processual também está no seu art. 94, que amplia as possibilidades de

atuação no pólo ativo da relação jurídica em processo coletivo, dizendo que,

"proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os

interessados possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de

ampla divulgação pelos meios de comunicação social por parte dos órgãos de

defesa do consumidor". Abre-se, dessa maneira, espaço para o ingresso de

interessados individuais na mesma condenação genérica, mas sem que estes

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

22possam formular pedidos individualizados e diversos da inicial proposta pelo

coletivo.

Em relação à coisa julgada em ações coletivas regidas pelo CDC, esta

terá eficácia erga omnes nos casos de interesses difusos, exceto "se o pedido

for julgado improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer

legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento, valendo-se de

nova prova" . Terá, porém, em casos de interesses coletivos stricto sensu,

eficácia "ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo

improcedência por insuficiência de provas", nos termos do inciso I do art. 103

Tratando-se de interesses individuais homogêneos, a coisa julgada em

processos coletivos terá eficácia "erga omnes, apenas no caso de procedência

do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus sucessores" . "Em caso de

improcedência do pedido, os interessados que não tiverem intervindo no

processo como litisconsortes poderão propor ação de indenização a título

individual" , em face do já referido caráter individual do interesse juridicamente

pleiteado. Portanto, o réu que lesou direitos individuais homogêneos poderá

figurar no pólo passivo de qualquer ação proposta individualmente por pessoa

que, mesmo não tendo figurado na ação coletiva que o condenou, é titular de

um interesse individual idêntico ao do grupo, evitando, assim, a necessidade

de novo processo de conhecimento e de nova instrução processual sobre fato

já apreciado e comprovado judicialmente.

A Ação Popular: Qualquer cidadão é legitimado para propor a Ação

Popular, a fim de pleitear a anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos

ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de

entidades autárquicas, de sociedades de economia mista ou mútuas de seguro

nas quais a União represente os segurados ausentes, de empresas públicas,

de serviços sociais autônomos, instituições ou fundações . A pessoa jurídica,

por sua vez, não tem legitimidade para propor ação popular.

O autor popular não defende interesse próprio mas sim o da

comunidade.

O Ministério Público necessariamente deve atuar como custus legis na

ação popular.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

23O pedido, na ação popular, deve limitar-se à anulação de ato lesivo ao

patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente ou ao

patrimônio cultural, casos em que o interesse predominante é difuso ou

coletivo, mas jamais será o individual homogêneo.

A Ação Civil Pública: A Lei nº 7.347 de 1985, conhecida como Lei da

Ação Civil Pública (LACP), surgiu com a finalidade de disciplinar a ação civil

pública de responsabilidade por danos patrimoniais e morais causados ao

meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,

estético,histórico, turístico e paisagístico, sem prejuízo da ação popular.

A LACP e o CDC se complementam, a ponto de ambas disporem do

mesmo dispositivo procedimental sendo que o CDC, por ser lei ulterior, alterou

de forma substancial o texto original da primeira. Tanto que os arts. 110 a 117

do CDC servem com o único propósito de alterar o texto da LACP.

Diferentemente da ação popular, a ação civil pública poderá ter por

objeto tanto a condenação em dinheiro como o cumprimento de obrigação de

fazer ou não fazer , bem como não é permitido ao cidadão comum ser autor da

ação, mas somente os entes descritos no CDC .

Com relação aos efeitos da coisa julgada em ações civis públicas, de

que cuida o art. 16 (erga omnes nos limites da competência territorial do órgão

prolator, exceto se improcedente o pedido por insuficiência de provas),

combinado com o art. 13 da LACP, não prejudicarão as ações de indenização

por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma

prevista no CDC, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus

sucessores, que poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos

arts. 96 a 99 da lei de proteção ao consumidor.

ARAÚJO FILHO comenta3:

Como o CDC é posterior à LACP, e estabeleceu, entre nós, um inédito sistema processual para as ações coletivas para tutela de interesses individuais homogêneos, suprindo uma carência da Lei da Ação Civil Pública, que estava originariamente voltada às ações relativas aos direitos difusos e coletivos, parece-nos que não pode haver dúvida de que hoje é o art. 103, inciso III, do CDC que rege os efeitos da coisa julgada naquele tipo

3 ARAÚJO FILHO, Luis Paulo da Silva.Ações Coletivas: a tutela jurisdicional dos direitos individuais homogêneos.Rio de Janeiro: Forense, 2000.

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

24de ação coletiva, até por uma relação de especialidade desta última norma (lex specialis derogat generali).

Em anterior referência ao art. 103, III do CDC, ressalte-se que o mesmo

descreve a eficácia da coisa julgada para os casos de ações que versarem

sobre direitos individuais homogêneos como sendo erga omnes apenas no

caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas e seus

sucessores, e não beneficiarão os autores das ações individuais, se não for

requerida sua suspensão no prazo de trinta dias, a contar da ciência nos autos

do ajuizamento da ação coletiva .

Por se complementarem subsidiariamente, o CDC e a LACP abrangem

na totalidade a tutela jurisdicional que visa proteger os interesses coletivos lato

sensu. Se, no CDC, o procedimento tem descrito no seu título a defesa dos

interesses individuais homogêneos, na LACP a previsão abrange os interesses

difusos e coletivos. "

Legitimidade Ativa para propositura de Ações ColetivasA norma do artigo 82 do CDC rege a legitimidade para o ingresso das

ações coletivas, conforme transcrição abaixo:

O artigo 127 da Constituição Federal , in verbis:

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

Também no artigo 129 Constituição Federal existe um rol de funções

atribuídas ao Ministério Público, em especial, as constantes nos incisos II, III e

IX, que ora transcrevemos:

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

25

Portanto, em qualquer situação de fato seja envolvendo problemas de

consumidores, do meio ambiente, do patrimônio histórico, turístico e

paisagístico , estará o Ministério Público autorizado a intentar as ações

necessárias à coibição de eventuais abusos, conforme o disposto nos artigos

83 e 117 do CDC.

A legitimidade das entidades no caso das ações coletivas para proteção

dos direitos difusos e coletivos é autônoma , não se tratando de substituição

processual.

A legitimidade das entidades no caso das ações coletivas para a defesa

dos direitos individuais homogêneos é extraordinária, configurando caso de

substituição processual, conforme determinação expressa no artigo 82 da Lei

8078/90 e consonância com a regra do artigo 6º do CPC

Legitimidade do Ministério Público para a defesa das questões

de massa

Conforme já consignado no inciso I do artigo 82 do CDC, o Ministério

Público dispõe de legitimidade para defesa dos direitos individuais

homogêneos, dos direitos difusos e dos direitos coletivos, segundo os artigos

127 e 129 da Carta Magna.

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

26

CAPÍTULO V

A COMPETÊNCIA NAS AÇÕES COLETIVAS

Consoante dispõe o art. 2º da LACP, as Ações Civis Públicas serão

propostas no foro onde ocorrer ou deva ocorrer o dano, cujo juízo terá

competência funcional, portanto, absoluta, para o conhecimento e julgamento

da demanda.

Já em seu parágrafo único – introduzido pela MP 2.180 – dispõe a lei

que a propositura da ação prevenirá a jurisdição (rectius: competência) do juízo

para as demais demandas que sejam idênticas.

Por outro lado, a definição do local do dano como determinação da

competência do juízo tem por fim, sob o aspecto prático, a facilitação na

colheita de provas, visto que o Juiz estará mais perto – e, por conseqüência,

terá maior facilidade na sua captação e entendimento – dos indícios oriundos

da probabilidade da ocorrência do dano e dos vestígios deixados pelo dano

efetivamente causado.

Daí que, com a introdução do parágrafo único ao art. 2º pela MP 2.180,

se os efeitos do dano (potencial ou efetivo) transbordarem dos limites de uma

comarca, ou até mesmo de um Estado-membro, competente será – nas Ações

Civis Públicas, repise-se – aquele juízo onde ocorrer a primeira citação válida,

segundo as regras insertas no Código de Processo Civil sobre prevenção (art.

219).

Frise-se que, em se tratando de Ação Civil Pública, em hipótese alguma,

não importando a dimensão que os efeitos do dano possam alcançar, será

competente o foro da Capital do Estado ou o Distrito Federal, e sim, como dito,

o juízo, dentre somente as comarcas envolvidas, que primeiro realizar citação

válida, simplesmente por inexistir norma jurídica que de forma diversa o

preveja, e, ao revés, haver comando legal que assim o determine.

Desta forma, um dano ambiental que envolva os Estados de Minas

Gerais e Rio de Janeiro – como recentemente de fato ocorreu – competente

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

27será o juízo da comarca que primeiro realizou a citação válida para o

conhecimento e julgamento da Ação Civil Pública eventualmente proposta,

independentemente do Estado a que pertença tal comarca, não havendo que

se falar em competência da Comarca da Capital de uma das entidades

federadas, caso não esteja envolvida pelos efeitos do dano. E mesmo neste

caso – de ser a Comarca da Capital de um dos Estados ou de ambos atingida

pelos efeitos danosos – esta somente será sede do juízo competente se

citação válida foi realizada antes de qualquer outro, o que a tornará preventa.

Em se tratando de relações jurídicas de consumo cujo objeto imediato

do pedido seja a condenação ao pagamento de determinada quantia, aplicável,

aí sim, o CDC, mais especificamente o seu art. 93 no que concerne à

competência, em razão do princípio da especialidade, ficando afastada a

incidência da Lei de Ação Civil Pública.

De efeito, sendo o Código de Defesa do Consumidor lei posterior e

especial no cotejo com a norma que instituiu a Ação Civil Pública, pensamos

que aquela derrogou esta no que diz respeito à defesa dos interesses difusos,

coletivos e individuais homogêneos nas relações jurídicas de consumo. Isto

porquanto, segundo os ditames do parágrafo 1º do art. 2º da Lei de Introdução

ao Código Civil (LICC), lei posterior – acrescentamos, de mesma ou superior

hierarquia – derrogará anterior quando regule inteiramente a matéria de que

tratava esta.

A inaplicabilidade da LACP somente ocorrerá quando se pleitear a

condenação do Réu ao pagamento de determinada quantia. A contrario sensu,

quando o pedido imediato da demanda for a condenação em obrigação de

fazer ou não fazer será perfeitamente viável a utilização da Ação Civil Pública,

consoante determina o artigo 83 do CDC.

Assim, tratando-se de relação jurídica material de consumo, aplicável

sempre o CDC, devidamente subsidiado pela LACP e pelo CPC – nesta ordem

– naquilo em que for omisso. Desta forma, inapropriada a utilização de Ação

Civil Pública quando se tratar de violação a direito consumerista, ressalvado o

que dissemos supra.

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

28Tal raciocínio ficará mais patente no que diz respeito à competência,

pois, como afirmado, não há na LACP, ao contrário do que ocorre no CDC,

determinação daquela em razão do âmbito alcançado pelos efeitos do dano.

Em suma, forçoso admitir que, em se tratando de Ação Civil Pública,

nos casos de competência concorrente entre dois ou mais juízos, determinar-

se-á aquela pela prevenção em quaisquer casos, não havendo de se cogitar da

amplitude dos efeitos do dano perpetrado.

Sem embargo, nas Ações Coletivas previstas no CDC, repete o

legislador ser o dano causado o critério legitimador da competência do juízo,

porém com algumas nuanças, in verbis:

Art. 93 – Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local:I – no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local;II – no foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente .

Competência em Caso de Dano em Âmbito Local

Consoante o dispositivo transcrito, ressalvada a competência da Justiça

Federal, será competente para o conhecimento e julgamento da Ação Coletiva

a Justiça local do foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano.

Assevera a Profª. Grinover , ao comentar o artigo 93,I do CDC

Quando de âmbito local, a competência territorial é do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano (inc. I do art. 93).Será o caso de danos mais restritos, em razão da circulação limitada de produtos ou da prestação de serviços circunscritos, os quais atingirão pessoas residentes num determinado local.

A interpretação literal do preceptivo presente no inciso I do art. 93 do

CDC poderá levar o intérprete à conclusão de que, transbordando os efeitos do

dano dos limites de determinada comarca e alcançando outra, competente

será o foro da Capital do Estado.

Não obstante, tendo em vista que a eleição pela lei do local da

ocorrência ou da possibilidade de ocorrência do dano tem por escopo, dentre

outros, maior aproximação do Juiz aos vestígios do dano causado, bem como

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

29a facilidade na colheita de sua prova, pensamos que será aplicável, por

subsidiariedade, a norma presente no parágrafo único do art. 2º da LACP.

Assim, ocorrido o dano consumerista cujos efeitos ultrapassem as

fronteiras de determinada comarca, alcançando outra ou outras, a

determinação da competência será realizada pela prevenção, ou seja,

competente será o juízo que primeiro realizar citação válida no processo (art.

219 CPC).

Urge ressaltar, entretanto, que, aqui, estamos tratando de dano de

âmbito local cujos efeitos, não obstante, transbordaram dos limites de uma

única comarca, alcançando outras. Em outras palavras, não estamos tratando

de dano onde os respectivos efeitos ganharam foros de regionalidade ou

nacionalidade, hipóteses expressamente previstas no inciso II do artigo sob

comento.

Para que seja determinada a competência da Capital do Estado, o dano

deverá ganhar foro de regionalidade e, evidentemente, o fato de serem

atingidas uma, duas ou três comarcas não caracterizará tal aspecto,

resolvendo-se, neste caso, pelas regras da Lei de Ação Civil Pública (art. 2º,

parágrafo único) combinada com Código de Processo Civil (art. 219) a

competência concorrente, quais sejam, as regras que prevêem a prevenção.

Em um caso concreto, poderemos imaginar um dano consumerista

cujos efeitos restrinjam-se a duas comarcas contíguas, cuja localização diste

quilômetros da Capital do Estado. Conseqüentemente, seguindo o disposto no

inciso I do art. 93 do CDC, com a subsidiariedade da LACP e do CPC,

competente será o juízo que primeiro realizou a citação válida para o

processamento e julgamento da demanda.

Assim, em compêndio, para o dano de âmbito local cujos efeitos

atinjam mais de uma localidade (comarca), sem que possuam dimensão de

regionalidade, a determinação da competência restará condicionada à

prevenção do juízo que primeiro realizou a citação válida no processo.

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

30Competência em Caso de Dano em Âmbito Regional ou Nacional

Assevera Grinover4 sobre o inciso ora estudado:

Cabe, aqui, uma observação: o dispositivo tem que ser entendido no sentido de que, sendo de âmbito regional o dano, competente será o foro da Capital do Estado ou do Distrito Federal. Mas, sendo o dano de âmbito nacional, a competência territorial será sempre do Distrito Federal:isso para facilitar o acesso à Justiça e o próprio exercício do direito de defesa por parte do réu, não tendo sentido que seja ele obrigado a litigar na Capital de um Estado, longínquo talvez de sua sede, pela mera opção do autor coletivo. As regras de competência devem ser interpretadas de modo a não vulnerar a plenitude da defesa e o devido processo legal.

Competência em Caso de Dano em Âmbito Regional

Tratando-se de dano cujos efeitos sejam de âmbito regional, aplicável o

que foi dito quanto ao dano de âmbito local.

Com efeito, somente será competente para conhecimento e julgamento

da demanda coletiva a Capital do Estado quando os efeitos produzidos pelo

dano consumerista ganharem foros de regionalidade, independentemente se a

comarca da Capital do Estado sofreu ou não tais efeitos, visto que, nesta

hipótese, ante o número razoável de comarcas atingidas por aqueles efeitos,

traduzir-se-á em interesse da sociedade do Estado a resolução do conflito,

importando que a Capital seja sede da demanda face à relevância configurada

pelo vulto do dano.

Competência em Caso de Dano em Âmbito Nacional

Havendo dano de âmbito nacional, e, não sendo hipótese prevista

dentro na competência da Justiça federal, caberá à Justiça local do foro da

Capital de cada Estado ou do Distrito Federal que tenha sido atingido pelo

evento danoso o processamento e julgamento da demanda coletiva.

4 GRINOVER, Ada Pellegrini.da Class action of damagaes á ação de classe brasileira: os requisitos de asmissibilidade,in MILARÉ, Edis(Coord.).Ação Civil Pública, Lei 7347/1985 – 15 anos.2ªed., São Paulo:RT,2002.

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

31Os critérios de determinação de competência (ratione materiae, loci,

personae, etc.) dos Juízos Estaduais são de mesma equivalência aos do Juízo

Distrital, sendo que, cada qual, tem seu âmbito ordinário de incidência

coincidente com os seus próprios limites territoriais. Na hipótese extraordinária

de dano nacional, de competência da Justiça local, qualquer capital de Estado

ou o Distrito Federal estará, em igualdade de condições, apta(o) a conhecer e

julgar a causa.

Ou seja, para não dificultar a defesa do Réu, determina o CDC –

havendo diversas demandas coletivas propostas – a concentração em um, e

tão-somente um, foro, que poderá ser o da Capital estadual ou o do Distrito

Federal, cuja decisão proferida terá efeitos em todo território nacional.

Para o desate da questão, a própria lei determina a utilização das

regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente,

qual seja, também neste caso, a prevenção, haja vista não ocorrer relação

hierárquica entre as Justiças locais dos Estados e a do Distrito Federal.

Daí que, existindo diversas demandas já propostas, definir-se-á a

competência da Justiça local no foro da Capital do Estado – ou no do Distrito

Federal, se este for atingido pelos efeitos do dano e houver demanda coletiva

aí proposta – em que tenha havido a primeira citação válida (art. 219 CPC).

Com efeito, dispõe o inciso III do art. 19 da Constituição Federal ser

vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios criar

preferências entre si.

Concluindo: a melhor interpretação é :

Dano de âmbito local: foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o

dano; abrangendo mais de uma comarca dentro de um mesmo Estado: a

competência será concorrente, resolvendo-se pelas regras de prevenção;

abrangendo dois ou mais Estados: foro da Capital de qualquer deles,

resolvendo-se pela prevenção; abrangendo todos os Estados: foro da capital

de qualquer deles, resolvendo-se pela prevenção.

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

32

CAPÍTULO VI

COISA JULGADA E SEUS EFEITOS

Primeiramente, o CDC elenca, no inciso I do art. 103, a eficácia erga

omnes, estendida para todos os titulares de direitos difusos, quais sejam,

aqueles que não possuem definição quanto aos seus titulares (CDC, art. 81, I).

Tal eficácia, contudo, deixará de ser válida para todos à medida em que for

julgada a ação improcedente por insuficiência de provas. É de bom alvitre

ressaltar-se que a expressão “todos” compreende apenas aqueles legitimados

do art. 82 do CDC8, sendo para eles destinada tal norma.

Em seguida, o Código do Consumidor, no inciso II do artigo acima

citado, nomeia como sendo ultra partes o efeito estendido para aqueles

titulares de direitos chamados pela doutrina de “coletivos”, cujo titular é

encontrado na expressão de um grupo, categoria ou classe de pessoas

determinadas (CDC, art. 81, II). Na verdade, esta eficácia ultra partes deve ser

entendida como uma espécie de eficácia erga omnes, abrangendo, contudo,

um agrupamento determinado, onde a coisa julgada encontra o seu limite,

valendo para este caso, também, a regra da não-extensão da imutabilidade por

julgamento improcedente fundado em insuficiência de prova.

Por último, o legislador, no inciso III do mencionado artigo do diploma

legal já exaustivamente citado, atribui efeito erga omnes (retornando agora

com o nomen iuris primeiramente utilizado), e apenas em caso de procedência

do pedido, para as hipóteses de defesa de interesses individuais homogêneos,

constituindo-se seus titulares por pessoas cujos interesses possuam origem

comum (CDC, art. 81, III).

Tratam-se tais mudanças, portanto, de verdadeira evolução do Direito

Processual Civil brasileiro, que, é certo, comporta suas falhas, conforme vem

asseverando a doutrina, sendo, contudo, em seu conjunto, uma poderosa arma

de proteção a direitos que, pela via processual tradicional, talvez restasse

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

33duvidosa a efetividade da tutela dos mesmos. Parte da doutrina vem

apontando, ainda que timidamente, para uma questão de relevo em relação à

extensão erga omnes dos efeitos da coisa julgada nas ações coletivas. É que

a Lei nº 9.494/97 (antiga Medida Provisória nº 1.570/97), tratante da Ação Civil

Pública, em seu art. 16, preconiza a extensão da coisa julgada apenas nos

limites da competência territorial do órgão prolator. Desta feita, em hipótese de

sentença transitada em julgado na Justiça Federal do Rio Grande do Sul,

determinando-se a retirada de determinado medicamento que, por qualquer

motivo, não estivesse em condições de ser consumido, tendo sido o processo

iniciado por meio de Ação Civil Pública, de acordo com a norma retro referida,

a eficácia desta sentença seria restrita apenas àquele Estado, sem maiores

alcances, revelando-se, deste modo, um total absurdo.

O segundo argumento, de ordem processual, repousa na interpretação

que deve ser dada ao Código do Consumidor, em seu art. 90, cujo teor

informa-nos que a aplicação de normas referentes à Ação Civil Pública (como

é o caso da Lei nº 9.494/97), deve ser realizada apenas naquilo que não

contrariar o CDC, restando inatingíveis, pelo comando do art. 16 da Lei nº

9.494/97, as ações coletivas de consumo, cujo tratamento é diferenciado das

Ações Civis Públicas, possuindo ambas, como ponto comum, apenas o fato de

serem espécies do gênero “ação coletiva”, conforme mais acima aduzido.

Deve esta corrente de não-aplicação de tal restrição territorial à coisa julgada

prevalecer, uma vez que a Medida Provisória antecessora da Lei nº 9.494/97

foi editada apenas com o fulcro político de procurar deter os bons resultados

obtidos pelas Ações Civis Públicas que vinham obtendo, na Justiça, o

restabelecimento de diferenças salariais para o setor do funcionalismo público,

assim como atravancando os procedimentos de leilão público, amargando o

Estado, em decorrência disto, diversas derrotas judiciais, as quais iniciavam a,

financeiramente, preocupar o Poder Executivo, que, decerto, à míngua de

qualquer estudo jurídico-científico, acabou por editar a teratológica Medida

fundada no art. 62 da CF/88.

Ao estudarmos as ações destinadas à defesa de interesses

transindividuais, ressaltamos que tais interesses requerem uma concepção de

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

34processo diferente do tradicionalmente previsto no Código de Processo Civil

Pátrio – individualista –, em razão de algumas peculiaridades que apresentam.

Dentre os institutos processuais previstos no ordenamento processual

brasileiro que recebem tratamento diferenciado frente à disciplina normativa

das ações coletivas está o fenômeno da coisa julgada, que possui limites

subjetivos diversos dos previstos nas demandas individuais.

Antes, contudo, de verificarmos como se operam os limites acima

referidos, é mister entender como se processa a coisa julgada no processo civil

tradicional.

Da Coisa julgada: nas Ações Coletiva O artigo 103, que define os

efeitos da coisa julgada, está diretamente ligado as 3 hipóteses do parágrafo

único do art. 81 que define respectivamente, direitos difusos, coletivos e

individuais homogêneos.

Coisa julgada nas ações coletivas de proteção ao direito difusos: O

efeito da coisa julgada na Ação Coletiva de proteção a direito difuso será erga

omnes, isto é, valerá para todas as pessoas se a ação for julgada procedente

ou improcedente pela análise de mérito com provas adequadamente

produzidas. Na hipótese de procedência todos os consumidores se

aproveitarão da sentença definitiva, inclusive para fazer pleitos individuais.

No caso de improcedência, o que está impedida é a propositura de nova

ação coletiva. Mas não fica impedido o ajuizamento de ações individuais.

A coisa julgada na Ação coletiva negativa não atinge o consumidor

individual: Coisa julgada nas Ações Coletivas de proteção aos direitos

coletivos: Efeito “ultra partes”. O sentido de ultra partes é o de estender os

efeitos da coisa julgada a todos os consumidores integrantes do grupo,

categoria ou classes, quando a ação visar a proteção dos chamados direitos

coletivos previstos no inciso II do parágrafo único do art. 82 do CDC.

Se a ação for julgada improcedente com avaliação das provas

produzidas da mesma maneira o efeito é ultra partes e impede a propositura

de nova ação coletiva, ma não fica impedido o ajuizamento de ações

individuais.

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

35Efeitos da improcedência por insuficiência de provas: Neste caso, a

sentença não produz efeitos e poderá a ação novamente ser proposta por

qualquer dos legitimados do art. 82. Da mesma maneira que no caso dos

direitos difusos, qualquer dos legitimados pode promover nova medida,

inclusive a própria entidade que a propôs anteriormente.

Mesmo quando julgada improcedente a ação coletiva com avaliação das

provas produzidas, poderá o consumidor propor ação individual com idêntico

fundamento.

A coisa julgada na ação coletiva negativa não atinge o consumidor

individual.

Coisa julgada nas Ações Coletivas de proteção aos direitos individuais

homogêneos.

Efeito “erga omnes” O efeito é erga omnes para beneficiar todas as

vítimas e seus legítimos sucessores, isto é, o efeito se produz apenas no caso

de procedência do pedido. Se a ação for julgada improcedente, na produzirá

qualquer efeito em relação às vítimas e seus sucessores.

Efeitos da improcedência por insuficiência de provas – aqui nos direitos

individuais homogêneos a lei não faz referência a improcedência por

insuficiência de provas. Donde se deve concluir que está vedada a

apresentação de nova demanda ainda que o resultado da ação coletiva

expressamente reconheça a insuficiência da prova produzida, restando apenas

a via individual.

Limites subjetivos da coisa julgada:

Conforme preleciona Nelson Nery Júnior em sua obra Código de

processo Civil Comentado:

“No processo Civil ortodoxo, a coisa julgada não favorece nem beneficia terceiros, alcançando somente as partes entre as quais foi dada a sentença de mérito(CPC 472).Nas ações coletivas entretanto, a solução não atende ás necessidades próprias dos conflitos coletivos, de sorte que LACP criou, a exemplo do que dispõe a LAP art. 18, um sistema diferenciado de limites subjetivos da coisa julgada: o da eficácia erga omnes do comando da

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

36sentença de mérito.” ( Nelson Nery Júnior- Código de processo Civil Comentado5)

Portanto, ao terceiro que quiser opor pretensão própria em uma relação

jurídica em que duas partes contendem, é resguardado o direito de ingressar

com ação autônoma. Tal ação poderá ser proposta sozinha ou juntamente com

outra, que é o caso da oposição. Não há que se negar, desse modo, a

faculdade de terceiro pleitear em juízo direito que alega ter, mesmo que a

relação jurídica entre as partes já tenha transitado em julgado.

Ressaltamos que o instituto da oposição serve tanto ao terceiro

juridicamente interessado quanto ao terceiro juridicamente indiferente, visto

que, de acordo com a classificação de Ovídio Baptista da Silva, estão

compreendidos na categoria de terceiros juridicamente indiferentes os

interessados de fato, os quais não podem ser tolhidos de exercer suas

pretensões em juízo.

Nada impede, por exemplo, que um credor, percebendo que seu

devedor é demandado em juízo por outro credor, queira reclamar algum direito

que lhe pertence. Não seria justo que tal credor fosse atingido pela eficácia da

sentença transitada em julgado porque considerado terceiro interessado de

fato. Desse modo, entendemos que a indiscutibilidade da sentença trânsita em

julgado, nas ações individuais, opera-se inter partes e não erga omnes.

Frisamos que são considerados terceiros todos aqueles que não

figurarem como parte no processo. Sobre a matéria, vale lembrarmos que, na

substituição processual, o substituído, embora formalmente considerado

terceiro, figura de fato como parte no processo.

A substituição processual, já analisada anteriormente, é chamada de

legitimação extraordinária e tem previsão legal no artigo 6º do Código de

Processo Civil. A última parte do dispositivo, "salvo quando autorizado por lei",

refere-se aos casos de legitimação extraordinária, em que alguém substitui a

parte no processo, passando a ocupar seu lugar.

5 Júnior, Nelson Nery.Código de Processo Civil Comentado.7ªed.revista e ampliada.RT.

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

37 Para José Frederico Marques, dá-se a substituição processual quando

alguém está legitimado a agir em juízo, em nome próprio, como autor ou réu,

para a defesa do direito de outrem.

Portanto, em casos de legitimação extraordinária, o substituto, que

figurou na relação como parte, defendendo em nome próprio direito alheio, é

atingido pela coisa julgada, assim como o substituído.

Athos Gusmão Carneiro, posicionando-se sobre o tema, afirma que a

sentença, proferida na demanda, faz coisa julgada também perante o

substituído, pois, como elucida mestre Chiovenda, seria absurdo que a lei

conferisse a alguém autorização para defender em juízo direitos alheios e, ao

mesmo tempo, não conferisse a tal atividade uma plena eficácia relativamente

aos direitos assim deduzidos.

Sinteticamente, portanto, como a coisa julgada opera-se inter partes e

não erga omnes, somente os sujeitos que integrarem o processo, como

elementos componentes do litígio, serão atingidos pela coisa julgada.

Abordaremos como se operam os limites subjetivos da coisa julgada

frente às demandas coletivas, que se destinam à defesa de interesses

metaindividuais.

Os limites subjetivos da Coisa Julgada nas demandas

Coletivas

A coisa julgada anteriormente adquire contornos bem diferenciados

quando se está diante de ações coletivas, pois tais demandas, como já

analisamos, possuem características peculiares que as afastam do modelo

tradicional implementado pela lei processual civil pátria. Há autores, inclusive,

defendendo o surgimento, em nosso ordenamento jurídico, de uma teoria geral

do processo coletivo.

Desse modo, impõe-se verificar qual a extensão dos limites subjetivos

da coisa julgada nas ações coletivas lato sensu, bem como o modo como se

operam as eficácias da sentença trânsita em julgado nessas demandas.

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

38

A coisa julgada e os interesses difusos, coletivos e individuais

homogêneos

O Código de Defesa do Consumidor, além de conceituar interesses

difusos, coletivos e individuais homogêneos, também trouxe dispositivo legal

referente à coisa julgada nas demandas de consumo, disciplinando assim a

forma como a autoridade da coisa julgada processa-se em relação aos direitos

transindividuais. Justamente por ultrapassarem a esfera do interesse individual,

não se pode afirmar que teremos coisa julgada inter partes em ações coletivas.

Destarte, segundo o art. 103 do CDC, na hipótese de interesses

difusos, pela própria natureza de tais direitos, a sentença fará coisa julgada

erga omnes, o que também ocorrerá quanto aos interesses individuais

homogêneos, mas apenas em caso de procedência da ação, a fim de

beneficiar todas as vítimas e seus sucessores. Por fim, quando a ação coletiva

versar sobre direito coletivo, a autoridade da coisa julgada processar-se-á

ultrapartes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe.

Vale ressaltarmos, todavia, que o artigo 103 do CDC, não obstante

tenha sido taxativo quanto às eficácias da coisa julgada nas ações coletivas,

gerou dúvidas em várias questões, as quais vêm sendo debatidas no mundo

jurídico contemporâneo. Por tal razão, nesse trabalho apresentamos as

principais conclusões derivadas da interpretação do dispositivo supra referido,

acerca da coisa julgada na tutela coletiva.

Em primeiro lugar, os incisos I e II do art. 103, que se referem a direitos

difusos e coletivos, trazem uma exceção à existência da coisa julgada, que é a

improcedência da ação por falta de provas. Isso significa que, neste caso, será

possível aos autores intentar nova ação, assim que surgirem novas provas

sobre o direito pleiteado na demanda.

A prova nova referida nos incisos I e II do artigo 103, não se confunde

com ‘documento novo’ mencionado no inciso VII do artigo 485 já que podem se

referir a outros elementos que não sejam necessariamente ‘documento’, como

novas testemunhas ou perícia. ‘Prova nova’ é todo elemento probatório que

não pôde ser produzido na instrução anterior, seja por impossibilidade física ou

por falta de conhecimento pela parte de sua existência.

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

39 Assim, só podemos considerar prova nova aquela que não foi

produzida na demanda anterior por manifesta impossibilidade. Nos demais

casos, haverá coisa julgada, não podendo as partes negar a sua existência no

sentido de intentar nova demanda após o trânsito em julgado na primeira ação.

A segunda questão que se impõe diz respeito aos vocábulos erga

omnes e ultrapartes, pois há autores que os consideram como sinônimos,

enquanto outros afirmam a sua distinção..

Arruda Alvim e outros ao diferenciarem os sentidos das expressões erga

omnes e ultra partes, parecem-nos contrários ao posicionamento citado acima.

Segundo os autores, o sentido de ultra partes é aquele em que a coisa julgada

atinge o grupo, categoria ou classe e todos os seus membros nessa qualidade,

não abrangendo, porém, toda a coletividade. Comparativamente, a erga omnes

é mais extenso.

Desse modo, independentemente de estarmos diante de uma ação

coletiva que defenda interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos,

é importante saber que todos aqueles que foram atingidos pelo evento danoso

estarão sob a autoridade da coisa julgada.

Travado o debate em torno do significado dos adágios latinos trazidos

pelo art. 103 do Código de Defesa do Consumidor, não nos podemos esquivar

de mencionar o parágrafo 1º do referido dispositivo, o qual prevê a

possibilidade de serem intentadas ações individuais na defesa do mesmo

interesse difuso ou coletivo, postulado na ação coletiva.

Conforme o referido parágrafo 1º, a autoridade da coisa julgada, a

qual, como vimos, opera-se extra partes nas ações coletivas, em nada obsta a

possibilidade de um cidadão, insatisfeito com o resultado da demanda, intentar

nova ação, individualmente. Mas, tal só irá ocorrer em caso de improcedência

da ação ou mesmo de parcial procedência, porquanto, se o pleito for

integralmente acolhido, a eficácia do decisum se estenderá a todos os

substituídos, não havendo necessidade de se intentar nova demanda.

Assim, em uma ação em defesa de interesses difusos ou coletivos,

podem surgir três casos distintos em relação à coisa julgada. Em primeiro

lugar, se a demanda for acolhida integralmente, a sentença prevalecerá a

todos os substituídos. Em segundo lugar, se o pedido for rejeitado no mérito,

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

40não poderá ser intentada nova ação coletiva, mas são admitidas ações

individuais. E, finalmente, em terceiro lugar, se a sentença for julgada

improcedente por falta de provas, não haverá coisa julgada, podendo nova

ação ser ajuizada a qualquer tempo, desde que surjam novas provas.

Ainda em relação ao parágrafo 1º do art. 103, devemos frisar que a

referida regra somente se estende aos direitos difusos e coletivos, já que os

direitos individuais homogêneos possuem dispositivo específico - parágrafo 2º

do art. 103 - o qual disciplina de modo distinto a matéria.

Segundo o referido parágrafo, só poderão propor ação de

indenização a título individual aqueles que não intervieram no processo como

litisconsortes e apenas em caso de improcedência da ação.

A fim de entendermos corretamente o dispositivo acima

mencionado, contudo, é mister conjugá-lo como o inciso III do artigo em

comento. Segundo a regra inserta nesse inciso, nas ações destinadas à defesa

de interesses individuais homogêneos somente haverá coisa julgada em caso

de procedência da ação.

O inciso III do CDC prevê que a sentença fará coisa julgada somente

no caso de procedência do pedido. Surge, então, a perplexidade de se saber o

que aconteceria no caso de improcedência. Não haveria formação de coisa

julgada material nesse caso? A coisa julgada seria apenas inter partes?

Resolve-se o problema com uma interpretação conjugada com o § 2º do

mesmo artigo. Se esse dispositivo ressalva ‘aos interessados que não tiverem

intervindo no processo como litisconsortes’, a possibilidade de propor a sua

ação individual é porque, contrario sensu, aqueles interessados que

intervieram, aceitando a convocação do edital a que se refere o art. 94, são

atingidos pela coisa julgada inter partes.

Portanto, quem ingressou na ação coletiva, como litisconsorte, em

caso de improcedência da ação, é atingido pela autoridade da coisa julgada

inter partes.

Logo, é o artigo 94 do CDC, que permite o tratamento diferenciado às

ações em defesa de direitos individuais homogêneos, na medida em que

determina que os interessados intervenham como litisconsortes ativos nessas

ações, tornando-se partes.

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

41 Na perspectiva de Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery

litisconsórcio é a possibilidade que existe de mais de um litigante figurar no(s)

pólo(s) da relação processual. O listiconsórcio classifica-se em inicial ou

ulterior, quanto ao momento de sua formação; necessário ou facultativo;

quanto à obrigatoriedade de sua formação; ativo, passivo ou misto quanto ao

pólo ativo da relação processual; e unitário ou simples quanto ao destino dos

litisconsortes no plano do direito material.

No caso do artigo 94 do CDC, trata-se de litisconsórcio unitário

necessário, regido pelo artigo 47 do Código Processual Civil.

Assim, todos aqueles que se habilitarem na ação coletiva para defesa

de direito individual homogêneo, atuarão como listisconsortes, ou seja, partes,

da relação. Logo, não haverá, na espécie, legitimação extraordinária para

causa, explicando-se, assim, porque a sentença, nesse caso, faz coisa julgada

inter partes e não erga omnes.

Analisados os parágrafos 1º e 2º do art. 103 do Código de Defesa do

Consumidor, devemos mencionar que a referida norma ainda traz mais duas

regras (parágrafos 3º e 4º), de importante compreensão.

Questões processuais pertinentes

Os limites subjetivos da coisa julgada merecem estudo especial em

relação às demandas coletivas não apenas por se diferenciarem quanto à

extensão, mas também por trazerem algumas peculiaridades processuais, tais

como a coisa julgada secundum eventum litis, a coisa julgada in utilibus e a

litispendência.

Coisa julgada secundum eventum litis

Na seção anterior, foi estudada a autoridade da coisa julgada frente a

ações destinadas à defesa de interesses metaindividuais e notamos que, em

conformidade com os incisos I e II do artigo 103 do CDC, a sentença faz coisa

julgada erga omnes ou ultra partes, exceto se for julgada improcedente por

falta de provas.

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

42 Tal determinação demonstra, assim, importante característica da coisa

julgada em demandas coletivas, que é o fato de seus limites subjetivos

estenderem-se aos demais substituídos "secundum eventum litis".

Isso significa que as eficácias da sentença trânsita em julgado, em

ações destinadas a defesa de interesses metaindividuais, somente atingirão

aos demais interessados, dependendo do resultado da ação (se procedente ou

improcedente) e de sua fundamentação (se improcedente por falta de provas,

p. ex.).

Mas, não devemos confundir a extensão dos limites subjetivos da coisa

julgada com a sua formação, pois essa não se dá de acordo com o evento da

lide. Na verdade, como afirma-nos Antônio Gidi, a coisa julgada sempre se

formará, independentemente de o resultado da demanda ser pela procedência

ou improcedência.

O que há de novo, portanto, é a possibilidade de modificação do rol das

pessoas atingidas pelo fenômeno da coisa julgada, sempre que se estiver

diante de uma ação coletiva.

Outrossim, devemos lembrar que o princípio da vulnerabilidade do

consumidor no mercado de consumo, inserido no Código de Defesa do

Consumidor, não existe por mero acaso.

Obviamente, consumidor e fornecedor não se encontram em igualdade

de condições, daí porque devemos sempre almejar o equilíbrio nas relações, o

que se faz tratando desigualmente aos desiguais.

Não podemos nos olvidar que a proteção ao consumidor existe

porquanto esse é a parte mais fraca em uma relação de consumo. Ademais,

atrela-se aos argumentos favoráveis à constitucionalidade da coisa julgada

secundum eventum litis o princípio da economia processual, pois a

possibilidade de se beneficiar a todos os interessados é um dos maiores

objetivos das demandas coletivas.

Page 43: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

43

CONCLUSÃO

O Estado Democrático de Direito necessita ser constante, com a

satisfação dos interesses sociais postos em litígio nas demandas coletivas,

pois somente assim poderemos almejar a realização efetiva de uma

democracia , com o acolhimento, in totum, do princípio do acesso à justiça.

Interesses ou direitos difusos: São os transindividuias de natureza

indivisível de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por

circunstâncias e fatos.

Exemplo: Destinatário de propaganda enganosa, veiculada em painés

publicitários, jornais, revistas ou televisão. Trata-se de relação de consumo,

mas sem vínculo jurídico ou fático muito preciso, pois é impossível identificar

os titulares dos interesses e direitos envolvidos. Quando condenatória, a

sentença protege de modo indeterminado todos os indivíduos que estão sendo

atingidos pela propaganda enganosa.

Interesses ou direitos coletivos: São os transindividuais de natureza

indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas

entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base.

Exemplo: Aumento indevido das prestações de um consórcio. Como há

relação jurídica formalmente fixada, a sentença beneficia todas as vítimas

lesadas pelo réu, em uma ação promovida em nome de determinada

coletividade.

Interesses ou direitos individuais homogêneos: São os decorrentes de

origem comum.

Exemplo: Um determinado bem de consumo, produzido em série,

apresenta um mesmo defeito, lesando os usuários finais. Neste caso, um fato

comum liga inúmeros consumidores, mas que, por não estarem envolvidos por

uma relação jurídica, não podem ser determinados formalmente. A sentença

que suspende a produção e pode implicar a reparação de danos, atinge a

todos os consumidores indistintamente.

Page 44: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

44Portanto, com apenas uma ação coletiva são evitadas milhares de

ações individuais de conhecimento sobre a mesma coisa, economizando-se

dinheiro da estrutura estatal, dos jurisdicionados, configurando assim um

acesso à justiça justo e eficaz.

Os direitos Coletivos passaram a ter maior cobertura por parte do

Estado com o advento do Código de Defesa do Consumidor, protegendo

assim, os princípios que regem os indivíduos singular ou coletivamente, e que

são cláusulas pétreas da constituição Federal.

Um maior controle nas políticas de consumo e na ordem financeira

estão nas mãos do cidadão, que têm o poder de invocar o Estado para

proteger seus interesses frente ás ameaças oriundas da s relações mercantis

da sociedade capitalista.

Page 45: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

45

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

NUNES, Rizzatto, Curso de Direito do Consumidor,Editora Saraiva, 2ª edição,

2005.

GRINOVER, Ada Pellegrine. REPRO Nº 99, julho e setembro de 2000.

____________.Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: Comentado pelos

autores do anteprojeto.8ed.,ver.;ampl. E atual.conforme o novo código civil.Rio

de Janeiro:Forense Universitária,2004.

Tutela Coletiva: 20 anos da Ação Civil Pública e do Fundo de defesa de

direitos difusos,15 anos do Código de defesa do consumidor/Paulo Henrique

dos Santos Lucon (coordenador).São Paulo: Atlas ,2006.

JÚNIOR, Nelson Nery.Código de Processo Civil Comentado.7ed.SP,RT.

Revista de Direito do Consumidor,n.56.-Legitimidade para a defesa dos

Interesses Coletivos Lato Sensu, decorrentes de questões de massa, Paulo

Valério Dal Pai Moraes.

Page 46: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … DOS SANTOS COSTA.pdf · RESUMO A lei 8078/90 tem a preocupação primordial com as Ações ... pela Lei 4215/63 estabelecia em seu

46

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Título da Monografia: ações coletivas e seus reflexos nas relações

de consumo

Autor: JOSEFA DOS SANTOS COSTA

Data da entrega: 28/07/2006

Avaliado por: Conceito: