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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE OS TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE INFLUENCIANDO NA DINÂMICA FAMILIAR Por: Laila de Souza Guedes Orientador Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas. Rio de Janeiro 2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

OS TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE

INFLUENCIANDO NA DINÂMICA FAMILIAR

Por: Laila de Souza Guedes

Orientador

Prof. Ms. Nilson Guedes de Freitas.

Rio de Janeiro

2003

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

OS TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE INFLUENCIANDO NA

DINÂMICA FAMILIAR

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso

de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Terapia de Família.

Por: . Laila de Souza Guedes.

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AGRADECIMENTOS

... aos meus pais; José e Chirlei, que sempre

me apoiaram em todas as minhas escolhas,

ao meu dedicado noivo; Cleuber, que

sempre acreditou em mim, aos meus dois

cachorrinhos; Tango e Lilica, que sempre me

deram muito carinho e atenção incondicional

e a todos os meus verdadeiros amigos que

me deram a maior força. Obrigada!

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DEDICATÓRIA

...dedico este trabalho aos meus pais; José e

Chirlei, que sempre investiram em mim e

sempre foram extremamente dedicados, pois

sem eles eu nem estaria viva; ao meu noivo

Cleuber; sempre carinhoso e corajoso, aos

meus cachorrinhos; Tango e Lilica que me

fazem muito feliz, a uma amiga em especial;

Elizete, que me incentivou a fazer este curso e

aos meus verdadeiros amigos que, com toda

certeza, sentirão minha falta quando eu for

para Brasília. Amo todos vocês!

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RESUMO

Os transtornos de personalidade são perturbações graves na forma do indivíduo se

comportar e envolvem diversas áreas da personalidade. Eles comprometem a

maneira de agir e o caráter do sujeito. Em suma, comparando com as outras

pessoas, suas atitudes e comportamentos disfuncionais são excessivamente

generalizados, inflexíveis e resistente à mudança. Diante disso, o presente trabalho

faz uma análise de como os transtornos de personalidade influenciam e afetam a

dinâmica familiar. Ele demonstra toda a problemática de se ter uma ou mais pessoas

com transtorno dentro da família e conseqüentemente, todo o sofrimento causado

por essa psicopatologia. Embora exista diversos transtornos de personalidade,

apenas quatro foram abordados: borderline, histriônica, anti-social e paranóide. A

pesquisa bibliográfica foi a metodologia utilizada e os principais teóricos foram:

Sigmund Freud, Claude Lévi-Strauss e Philippe Áries.

Palavras chaves: Transtorno . Personalidade . Família

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SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................. 7

1. O Conceito de Personalidade ........................................................................... 9

2. O Conceito de Transtornos Específicos de Personalidade .............................. 17

2.1. Transtorno de Personalidade Borderline ...................................................... 21

2.2. Transtorno de Personalidade Histriônica ..................................................... 24

2.3. Transtorno de Personalidade Anti-Social ..................................................... 28

2.4. Transtorno de Personalidade Paranóide ......................................................... 30

3. O Conceito de Família e suas Diversas Formas de Organização ...................... 33

4. Os Transtornos de Personalidade Influenciando na Dinâmica Familiar ............. 41

Conclusão ............................................................................................................... 46

Bibliografia .............................................................................................................. 48

Anexo ..................................................................................................................... 51

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INTRODUÇÃO

Os transtornos de personalidade são graves perturbações na maneira de uma

pessoa se comportar, pois na maioria das vezes, provocam comportamentos

dissociativos, causando inevitavelmente dificuldade nas relações interpessoais.

O respectivo trabalho tem como objetivo geral analisar a influência dos

comportamentos, característicos dos transtornos de personalidade, na dinâmica

familiar.

O tema é relevante pelo fato de existir um grande número de pessoas

acometidas por transtornos de personalidade. Chegou-se a esta afirmativa através

da experiência clínica e observação comportamental de indivíduos nas suas

relações interpessoais e no seu convívio social. Quanto à observação, ainda é

importante ressaltar que pessoas que tinham membros com algum tipo de transtorno

também apresentavam dificuldades no convívio familiar e social. Diante disso, é

possível que esta psicopatologia produza conflitos nas famílias causando sofrimento

psíquico a todos os seus membros.

A pesquisa bibliográfica, com leitura de textos sobre família e transtornos de

personalidade foi a metodologia utilizada.

O primeiro capítulo tenta definir o que seja o conceito de personalidade sob

diversas teorias como a filosofia, medicina, psicologia, entre outras. Os principais

teóricos utilizados foram Freud e Jung.

O segundo capítulo define o que são transtornos específicos da

personalidade, se limitando aos transtornos: borderline, histriônica, anti-social e

paranóide. O Código Internacional de Doenças (Cid 10) foi o campo teórico mais

utilizado para esta pesquisa.

O terceiro capítulo tenta definir o conceito de família e demonstra algumas de

suas diversas formas de organização, através de um breve histórico, onde Philippe

Áries e Lévi-Strauss foram os teóricos mais requisitados.

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O último capítulo analisa e tenta demonstrar como os transtornos de

personalidade influenciam a dinâmica familiar e mais uma vez a teoria Freudiana foi

bastante aproveitada.

Neste trabalho, não se tem respostas concretas sobre o que seja os

transtornos de personalidade e suas influencias na organização familiar, mas

certamente abre campo para novas pesquisas por ser também um tema de cunho

social.

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1. O CONCEITO DE PERSONALIDADE

As teorias e discussões sobre a personalidade sempre foram temas presentes

em toda a história. Principalmente na antropologia, filosofia, sociologia, psicologia e

na medicina. O que e o porque o humano faz ou deixa de fazer algo sempre foi

motivo de observação e curiosidade. Talvez isso aconteça pelo fato do humano ser o

único ser a observar e avaliar seu próprio comportamento, além disso, a diversidade

que o mesmo apresenta também lhe provoca certo fascínio.

O estudo da personalidade pode ser dividido em três estágios históricos. O

primeiro indício foi na fase literária e filosófica, onde o que se fazia presente era o

jogo da intuição pessoal e de crenças. Com o passar do tempo, o homem começou

a observar de maneira mais organizada, estabelecendo teorias, cujos pensamentos

sofreram forte influência das idéias renascentistas. Nesta fase, o conhecimento não

partia apenas de noções e princípio, mas da própria realidade observada e

submetida a experimentações. Mais tarde, com o surgimento das idéias positivistas,

que exaltavam a ciência como a forma mais adequada de conhecer, houve então, a

necessidade de se medir o que era observado através da experimentação e

quantificação dos fatos.

Ainda hoje, permanecem todas essas formas de pensar, na tentativa de se

tornar claro o que é a personalidade. Deste modo, existem diversas teorias que vão

tentar explicar o que seja a personalidade de um indivíduo.

A concepção biotipológica se baseia no fato de que o humano assim como os

demais animais seguiriam fatores genéticos e que estes não se limitariam a definir

apenas características físicas e metabólicas como também comportamentais.

Segundo esta concepção; principalmente as mais radicais, descarta qualquer tipo de

influência do meio sobre o desenvolvimento da personalidade, pois o fator genético

se encarregaria disso. Ou seja, a pessoa desde antes do nascimento carregaria

traços e disposições em seus genes que seriam ativados ao longo do

desenvolvimento, aonde sua forma de se comportar seria pré-disposta e pré-

estabelecida, submissa ao reino animal, só esperando a “hora certa” de ser ativada.

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´Eysenck (1982) postulava uma base fisiológica para as principais variáveis

da personalidade, e essa linha de pesquisa continua até hoje.` (CLONINGER, 1999,

p. 10).

Dentro da concepção biotipológica existem aquelas que levam em conta os

fatores ambientais também como influenciadores na formação da personalidade.

Estas teorias; menos radicais, buscam um meio termo e consideram a totalidade do

ser humano como sendo um balanço entre duas posições: a natureza biológica que

seriam possibilidades variáveis de desenvolvimento em contato com o meio e não

como certezas incontestáveis e a natureza existencial que vai considerar o indivíduo

como ser único e distinto.

Segundo a última concepção,

... personalidade é a organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos, das existências singulares que suportamos e das percepções individuais que temos do mundo, capazes de tornar cada indivíduo único em sua maneira de ser e de desempenhar o seu papel social (BALLONE, 2003, p. 27).

A discussão acerca do predomínio de elementos ambientais ou genéticos na

personalidade é antiga, acirrada, infindável e sem conclusão.

Muito embora os traços marcantes da personalidade possam ser

determinados por fatores genéticos ou constitucionais, a atuação do ambiente pode

alterar o curso do desenvolvimento do indivíduo. Neste caso, os genes que são

herdados teriam ou não a possibilidade de se tornarem determinantes de

características na personalidade, dependendo do tipo de atuação ambiental.

Outras teorias, como a psicanálise, vão definir a personalidade de maneiras

diferentes. Freud não relatou sobre o que seria a personalidade em si, mas se

deteve na formação do sujeito. Haja visto que, um sujeito formado nada mais é do

que uma personalidade definida.

De acordo com a psicanálise, o nascimento não pressupõe a existência de

um sujeito. Nesta primeira fase, ainda não existe um indivíduo de fato; este seria

apenas o caos, onde até o presente, não haveria uma organização psíquica. Assim,

no início, a pessoa seria puro organismo unicamente com uma capacidade de

organização. O sujeito; ou melhor, a personalidade só começaria a existir e se

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formar a partir de organizações no psiquismo que seriam realizadas ao longo do

desenvolvimento.

Embora todos passassem pelo mesmo processo, a formação da

personalidade seria única e individual para cada sujeito. Pois para a psicanálise,

existe no indivíduo uma busca pelo prazer incondicional através da realização de

desejos, porém o que vai diferenciar em cada pessoa será o objeto e o modo de

satisfação. Daí os traços da personalidade serem individualizados.

“... Freud propõe que o comportamento é causado por forças psicológicas, de

acordo com o pressuposto do determinismo psíquico” (CLONINGER, 1999, p. 75). A

personalidade só se desenvolveria através de cinco fases psicossociais; oral, anal-

sádica, fálica, latente e genital. A fixação do indivíduo em alguma das primeiras

fases poderia impedir o desenvolvimento do mesmo, além de produzir sintomas na

fase adulta. Ele considerava que elementos conscientes e inconscientes formariam a

personalidade de alguém, visto que o ego seria o aspecto mais consciente e

perceptível da personalidade. “(...) Freud propunha que os pensamentos conscientes

são apenas uma parte limitada da dinâmica da personalidade...” (CLONINGER,

1999, p. 9).

A psicologia junguiana vai abordar o conceito de personalidade de uma forma

bem particular. Esta pode ser considerada como sendo uma teoria compreensiva da

personalidade

Na psicologia junguiana, a personalidade como um todo é denominada

psique. Esta abrange todos os pensamentos, sentimentos e comportamento, tanto

conscientes quanto inconscientes. Ela funciona como um guia que auxilia o indivíduo

a se adaptar ao ambiente em que se encontra.

O conceito de psique sustenta a idéia de Jung de que, uma pessoa não é

uma reunião de partes, em que cada uma das quais vai sendo acrescentada pela

experiência e aprendizado, mas sim um todo. Jung rejeita a concepção de

fragmentação da personalidade, o que muitas outras teorias psicológicas afirmam.

Para ele, o homem não luta para se tornar um todo; ele já é e nasce como um todo.

O que o indivíduo vai fazer durante sua existência é desenvolver este “todo

essencial” (HALL & NORDBY, 1993, p. 25), tentando levá-lo ao mais alto grau

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possível de coerência e diferenciação para que não se divida em sistemas

autônomos e conflitantes (psicose). Para o teórico, uma personalidade dissociada é

uma personalidade deformada.

Ele vai dizer que o humano possui semelhanças essenciais entre si e que

estas seriam certas formas típicas de comportamento característico, os quais, ao se

tornarem conscientes, assumiriam o aspecto de representações do mundo sob a

denominação de arquétipos.

Os arquétipos são uma espécie de memória genética que é passada de

geração a geração. Seriam conteúdos, protótipos existentes num inconsciente

coletivo que permeiam e delimitam o comportamento humano. “A palavra arquétipo

significa um modelo original...” (Ibidem, p. 33).

Em sua teoria, Jung deu grande importância a um arquétipo, a persona, que

originalmente denominava a máscara teatral utilizada em dramas gregos para

compor personagens. Posteriormente seu conceito foi ampliado e veio a significar a

face exterior do “eu”; uma máscara ou “fachada” usada pela pessoa em resposta às

exigências da convivência social. Seria o papel atribuído ao indivíduo pela cultura,

sua personalidade pública, a fim de provocar uma impressão favorável a esta

mesma sociedade. Todos os arquétipos devem ser proveitosos para o indivíduo,

mas a persona seria imprescindível à sobrevivência, pois torna possível a

convivência entre tantos outros diferentes. Ela seria o aspecto da personalidade que

se adapta ao mundo.

Marques define a personalidade como sendo o modo de ser do indivíduo. Personalidade é uma construção formal sobre o indivíduo (...) A partir deste conceito, verificamos que cada indivíduo tem a tendência de ser uma determinada forma, que predomina sobre a sua história e sobre a sua atualidade. E observamos que essa tendência já se manifesta nos primeiros meses de vida e o acompanha por toda a sua vida. A personalidade é o conjunto de parâmetros fundamentais do indivíduo, parâmetros esses relativos ao seu modo de ser e a sua relação com o mundo externo (BALLONE, 2003, p. 27).

Referindo-se a essa relação, a personalidade seria a junção entre como o

indivíduo apreende os estímulos; mais as mudanças que esta apreensão provocaria

no mesmo e como este atuaria ou reagiria nesse mundo externo, a partir dessa

mudança provocada pelos estímulos. Quanto ao modo de ser, a personalidade seria

como o indivíduo incorpora suas experiências e constrói seu mundo interno.

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Apesar das teorias sobre a personalidade serem diferentes, todas concordam

em três aspectos: que existe a noção de descrição; dinâmica e desenvolvimento

dentro do conceito de personalidade.

A descrição considera os modos como se deve caracterizar um indivíduo,

onde se descreve as diferenças individuais. Dentro dessa concepção, existem os

tipos e os traços da personalidade. Os tipos são categorias de pessoas com

característica similares. Cada pessoa é ou não membro de uma categoria de tipos.

Já os traços são medidas quantitativas. Um traço de personalidade é uma

característica que distingue uma pessoa de outra e que a leva a se comportar de

maneira mais ou menos coerente. Eles permitem uma descrição mais precisa da

personalidade do que os tipos, porque cada traço se refere a um conjunto mais

focalizado de características.

Aliport ilustra estas diferenças funcionais de cada um através de suas considerações sobre os TRAÇOS PESSOAIS; verdadeiros arranjos pessoais e constitucionais determinados por fatores genéticos, os quais, interagindo com o meio em maior ou menor intensidade, resultariam numa característica psíquica capaz de particularizar um individuo entre todos os demais de sua espécie (Ibidem, p. 32).

Traços e tipos de personalidade permite a comparação de uma pessoa com

outra. Esta ainda é a abordagem mais comum na investigação da personalidade. Em

contraposição, alguns teóricos estudam a personalidade sem focar as diferenças

individuais; isto é, sem fazer comparações com outras pessoas.

O conceito de personalidade dá margem a muitas confusões. Um exemplo

disto é o conceito de psicodinâmica que ainda que esteja diretamente relacionado à

personalidade não dá conta quanto a sua definição. A dinâmica da personalidade

seria como as pessoas se adaptam ou se ajustam às situações da vida; como são

influenciadas pela sociedade e como são influenciadas por seus próprios processos

cognitivos. Desta forma, o modo como a pessoa pensa é significativamente

determinante para suas escolhas e adaptação. A psicodinâmica se refere aos

mecanismos pelos quais a personalidade se expressa, enfocando muitas vezes as

motivações que vão orientar o comportamento.

Quanto à adaptação e o ajustamento, Cloninger (1999) vai dizer que as

situações requerem que se lide com elas. A personalidade implica uma maneira

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individual de lidar com o mundo, de adaptar-se às exigências e circunstâncias do

meio. As pessoas adaptam-se de diferentes maneiras, de forma que mensurações

de seus traços podem ser usadas para prever o modo como farão. O

comportamento adaptativo é uma das principais preocupações da teoria da

personalidade.

Apesar da psicodinâmica do indivíduo ter capacidade de alteração contínua

durante a evolução, a personalidade é mantida. Pois se esta alteração a

influenciasse, o sujeito teria personalidades diferentes durante sua vida. Na verdade,

a psicodinâmica é mais um recurso para formação do indivíduo.

Outro conceito que se confunde com a definição de personalidade é o caráter.

Pois este pressupõe as qualidades, o modo de ser e agir de um indivíduo; além, de

definir a postura e firmeza de atitudes de alguém. Enquanto a personalidade

pressupõe a qualidade do que é pessoal; ou seja, o que determina e distingue a

individualidade de uma pessoa.

Por fim, o desenvolvimento da personalidade se refere à influência das

experiências infantis somadas as posteriores. A maioria dos teóricos concordam que

importantes desenvolvimentos daquela ocorram na infância. “O desenvolvimento da

personalidade adulta repousa sobre a base da personalidade desenvolvida (...)”

(CLONINGER, 1999, p. 525) quando ainda criança. Logo, as experiências

particularmente infantis, aliadas a um direcionamento; seja ele qual for, certamente

irão influenciar a maneira como cada pessoa desenvolve sua personalidade única.

Embora haja diversas teorias que tentam explicar o que seja personalidade,

pode-se pensar que existam elementos desta que tenham se perpetuado ao longo

da evolução. De fato, existem determinadas posturas existenciais diante da vida que

acompanham a espécie humana através de diversas gerações. Alguns estudiosos

vão chamá-las de tendências naturais do ser humano. Mas essas tendências não se

manifestam simplesmente na maneira de ser da pessoa; elas devem ser

contextualizadas e adequadas à época, cultura, sociedade e principalmente as

possibilidades de cada um. Assim, deve-se considerar a personalidade como sendo

determinada por forças genéticas, culturais, de classes sociais e familiares que

interagem umas com as outras.

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Susan C. Cloninger em seu livro cita Adler que afirmava que as pessoas

devem ser entendidas a partir de uma perspectiva social, e não biológica. A

motivação humana básica consistiria em lutar para passar de uma situação sentida

como menos para uma situação mais. Trata-se de desencadeamento pela

insatisfação do ´sentir-se menos`; o que perpassa diretamente pelo contexto social,

cultural e temporal. A cultura se define como sendo um conjunto de normas, valores

padrões de comportamento que traduzem o modo de vida de um grupo. Esse

conceito, ajuda a analisar a socialização da personalidade individual. (ADLER apud

CLONINGER, 1999, p. 120).

Historicamente, as teorias da personalidade centraram-se no indivíduo,

deixando a sociedade “de lado”. As teorias mais atuais sobre o assunto consideram

com mais cuidado as influências sociais na formação da personalidade e é

interessante ressaltar que os fatores culturais estão presentes até mesmo na

qualificação de certos padrões de comportamento como anormais. Ou seja, o que

pode ser considerado como um transtorno em uma sociedade pode ser visto como

convencional em outra. Ela pode ser avaliada por uma dimensão de saúde ou

ajustamento dentro de uma sociedade. Segundo essa dimensão, as personalidades

ditas “saudáveis” seriam mais flexíveis e conseqüentemente adaptáveis às

exigências do meio. Embora as teorias enfoquem mais o indivíduo do que a

sociedade, alguns teóricos acham que as personalidades saudáveis contribuiriam

muito mais para a sociedade do que as ditas menos saudáveis.

De certo, a personalidade vai se expressar através do comportamento no

mundo social.

Segundo Lundin (1977), personalidade é a organização do equipamento

singular de comportamento que um indivíduo adquiriu através de condições

especiais de seu desenvolvimento. Mas uma coisa é certa, cada homem é, em

certos aspectos, como os outros de sua espécie, porém é diferente de qualquer

outro. Pois, a característica mais essencial do ser humano é a sua individualidade.

No que diz respeito ao estudo da personalidade as teorias puderam chegar a

algumas conclusões:

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(...) a personalidade é única, própria a um indivíduo, embora este possua traços em comum com outros; ela não é somente uma soma, um total de funções, mas também uma organização, uma integração, mesmo que essa integração nem sempre chegue a ser realizada é, pelo menos, essa tendência integrativa, que define tal noção de centro organizador; a personalidade é temporal, visto sempre pertencer a um indivíduo que vive historicamente; por fim, não sendo nem estímulo, nem resposta, ela se apresenta como uma variável intermediária, afirmando-se como um estilo através e por meio do comportamento ( FILLOUX, 1978, p.13).

Outra conclusão é que a personalidade deve expressar consistência e

regularidade. Para ser definida como tal, devem ser encontradas e apresentar no

indivíduo propriedades duradouras. Espera-se que produza comportamentos

coerentes e “constantes” em diferentes situações para ser considerada como sendo

personalidade de alguém.

Enfim, não existe definição absoluta ou universalmente aceita do que seja

personalidade. Pois nunca se está frente a frente com o homem em toda a sua

totalidade, mas sempre com um homem particular; um indivíduo que freqüentemente

é um enigma, onde a sua “solução”, ou definição estaria nele mesmo. “A ciência da

personalidade ainda encontra-se em sua infância” (ROTTER & HOCHREICH, 1980,

p. 130).

O mais sensato seria admitir uma natureza bio-psico-social para se definir

personalidade. Pois o que vai variar será o peso com que cada qual desses

elementos participa e influencia na maneira de ser de uma pessoa.

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2. O CONCEITO DE TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DE

PERSONALIDADE

Não existe uma linha clara entre a conduta normal e patológica. Estes são

conceitos que representam pontos arbitrários. A personalidade é uma estrutura tão

complexa que fica difícil categorizá-la, pois é basicamente uma inferência abstrata. É

também um sistema psíquico de estruturas estáveis e organizadas e apresenta

funções que são, inevitavelmente, comparadas com o corpo. Assim, quando se fala

em transtornos de personalidade, deve se ter em mente que são construções

inventadas para melhorar a compreensão científica e a comunicação profissional.

Deste modo, seu diagnóstico não é de fácil aplicação, porque tenta descrever

distúrbios psíquicos que se colocam num espaço entre o “normal” e o “patológico”.

Os transtornos de personalidade são uma variedade de padrões e condições

de comportamentos significativos, os quais tendem a ser persistentes em todos os

fatores da vida de um indivíduo.

Esses tipos de condição abrangem padrões de comportamento profundamente arraigados e permanentes, manifestando-se como respostas inflexíveis a uma ampla série de situações pessoais e sociais. Eles representam desvios extremos ou significativos do modo como o indivíduo médio, em uma dada cultura, percebe, pensa sente e, particularmente, se relaciona com os outros. Tais padrões de comportamento tendem a ser estáveis e a abranger múltiplos domínios de comportamento e funcionamento psicológico. Eles estão freqüentemente, mas não sempre, associados a graus variados de angústia subjetiva e a problemas no funcionamento e desempenho sociais (CID 10, 1993, p.196).

Um transtorno específico de personalidade é uma perturbação grave na forma

do indivíduo se comportar e envolve diversas áreas da personalidade. É um sério

comprometimento do caráter e dos comportamentos de uma pessoa.

Freqüentemente, o comportamento do sujeito acometido por algum transtorno,

influencia consideravelmente em seu meio social e sua vida pessoal. Devido a essas

dificuldades, quase sempre, ocorre uma ruptura das regras da boa convivência.

A princípio, a psiquiatria denominava os transtornos como psicopatias. Mas

essa denominação foi desconsiderada por não expressar nada de essencial e

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decisivo sobre as pessoas como um todo. O termo psicopatia é perigoso porque é

da ordem do patológico e pode causar mal entendido.

Não há nenhum fundamento para relacionar os transtornos com a morbidez,

enfermidade ou malformações. Sua “anomalia” estaria apenas na estrutura psíquica

do sujeito e na sua forma de se relacionar com o mundo.

Os transtornos também são chamados de transtornos de caráter, o que

certamente, implica num julgamento perigoso, já que este termo pressupõe questões

morais.

Segundo o Código Internacional de Doenças (1993), existem algumas

diretrizes diagnósticas que podem caracterizar os transtornos de personalidade

como: atitudes e condutas marcantemente desarmônicas, envolvendo várias áreas

de funcionamento, p. ex. afetividade, excitabilidade, controle de impulsos, modos de

percepção e de pensamento e estilo de relacionamento como outros; o padrão

anormal de comportamento é permanente, de longa duração e não limitado a

episódios de doença mental; o padrão anormal de comportamento é invasivo e

claramente mal-adaptativo para uma ampla série de situações pessoais e sociais; as

manifestações acima sempre aparecem durante a infância ou adolescência e

continuam pela idade adulta; o transtorno leva à angústia pessoal considerável, mas

isso pode se tornar aparente apenas tardiamente em seu curso; o transtorno é

usual, mas não invariavelmente associado a problemas no desempenho ocupacional

e social.

Em relação ao diagnóstico, o mais importante, é sempre considerar e

contextualizar o indivíduo nas variações culturais ou regionais onde está inserido.

Pois estes fatores são de extrema importância quanto às manifestações de

condições de personalidade. Para ser considerado um transtorno, o padrão deve se

desviar e ser persistente acentuadamente das expectativas da cultura do sujeito e se

manifestar em pelo menos duas das seguintes áreas: cognição (pensamento e

aprendizagem); afetividade, funcionamento interpessoal ou controle dos impulsos.

Para ser considerado um transtorno, é necessário que estes padrões

comportamentais sejam estáveis, e que a pessoa os apresente por um longo tempo.

Estes começam a aparecer na adolescência, mas é preciso verificar se ainda

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permanecem na fase adulta. Pois, a primeira é um período em que ocorrem

consideráveis mudanças, inclusive na personalidade. Assim, os comportamentos

inflexíveis e inadaptativos podem ser alterados na vida adulta, os quais não devem

ser confundidos como um transtorno.

Os transtornos de personalidade não são considerados como transtornos

mentais (psicoses, “loucura”) ou doenças cerebrais. Nem são manifestações ou

conseqüências de efeitos fisiológicos diretos de alguma substância ou de um estado

médico geral. Eles são condições de desenvolvimento, as quais levaram o sujeito a

ter determinadas atitudes mal adaptadas diante de sua vida. Contraditoriamente,

alterações na personalidade podem aparecer na presença de situações como:

estresse grave ou de prolongada duração; doença ou alguma lesão cerebral;

transtornos psiquiátricos mais sérios por algum motivo; entre outras.

Comparando com outras, as pessoas que apresentam transtorno de

personalidade, na verdade, tem atitudes e comportamentos disfuncionais

excessivamente generalizados, inflexíveis, imperativos e resistentes à mudança.

Elas não conseguem se adaptar a situações novas ou que lhes possam causar

algum tipo de estresse; têm um padrão ou um mesmo tipo de comportamento para

situações variadas. Isto é, não há uma plasticidade e flexibilidade no enfrentamento

ou na forma de reagir aos problemas da vida e por conta desses fatores, têm sérios

prejuízos funcionais de desempenho social e sofrimento subjetivo significativo. Elas

sofrem e fazem sofrer quem está a sua volta, mas não conseguem perceber esta

condição. Na maioria das vezes, por não se adaptarem, sentem-se excluídas e não

pertencedoras de seu meio, ou seja; “um peixe fora d`água”.

Cada indivíduo tem um perfil de personalidade único, consistindo de variados

graus de probabilidade de responder de um modo específico, num grau específico, a

uma situação específica. Quando diferentes respostas caracterizam uma pessoa,

elas refletem importantes diferenças estruturais representadas em suas crenças

básicas. Tais variações são encontradas em pessoas “bem ajustadas” em seu meio

e oferecem distinção à sua personalidade. Indivíduos com transtornos de

personalidade apresentam os mesmos comportamentos; repetitivos, em muito maior

número de situações do que outros. Eles apresentam círculos viciosos, porque

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generalizam seu comportamento, não sendo criativos na forma de agir e de se viver.

Deste modo, não aprendem com a experiência.

Por serem percebidas pelos outros como pessoas “problemáticas”,

“esquisitas” ou até “encrenqueiras”, não são bem aceitas em seu meio social. São

bastante invasivos; ou seja, não percebem o próprio limite nem o limite dos outros e

são extremamente passionais, levando simples situações ao extremo das emoções.

A impulsividade é uma de suas características mais marcantes.

Estas pessoas apresentam baixa resistência e tolerância a frustrações,

porque tem percepções distorcidas da realidade. Pelo fato de terem estabilidade

tênue e controle menos adequado de suas emoções, são consideravelmente

inseguras e suscetíveis a novas dificuldades e problemas.

Embora sejam consideradas “desajustadas” em seu meio, muitas conseguem

ter uma vida ocupacional ativa. Sua maior dificuldade será nas relações que

estabelece.

Fenichel (1971) diz que o caráter ou a personalidade é o modo habitual de

conduta de uma pessoa. Essa conduta é resultante final de uma série de complexas

operações referentes aos modos habituais de adaptação do ego (o “eu”) ao mundo

externo, ao id e ao superego. Assim, a personalidade, o caráter e a conduta seriam

aspectos ligados ao ego e conseqüentemente, resultantes de uma impossível tarefa

de se equilibrar às exigências do id (impulsos internos), do superego (exigências

morais) e da realidade.

Do ponto de vista analítico, na formação do sujeito, os conflitos inconscientes

são reprimidos, mas sempre tentam retornar. Contudo, nem sempre o ego consegue

produzir defesas e estes conflitos voltam na forma de sintomas (psicológicos)

neuróticos. Ou seja, o ego (eu) identifica o que foi reprimido e não o deixa retornar

ou o faz na forma de sintomas. Nos transtornos de personalidade o retorno de

conflitos inconscientes provoca uma alteração no ego que produzirá no mesmo uma

formação reativa. Tais alterações o rigidificam, tirando-lhe toda flexibilidade e a

liberdade. Isto é, ele sempre estará na defensiva, sem “descanso” e produzirá

sintomas que na verdade são as manifestações comportamentais, mal adaptativas e

inflexíveis características do sujeito acometido.

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Segundo a DSM4, os transtornos de personalidade estão assim classificados:

a) os que parecem “esquisitos ou excêntrico”: 1) Paranóide (padrão de desconfianças e suspeitas, os motivos dos outros são interpretados como malévolos), 2) Esquizóide (padrão de distanciamento dos relacionamentos sociais, faixa restrita de expressão emocional), 3) Esquizotípica (padrão de desconforto agudo em relacionamentos íntimos, distorções cognitivas, perceptivas e comportamento excêntrico);

b) os que parecem “dramáticos, emotivos e erráticos”: 4) Personalidade anti-social (padrão de desconsideração e violação dos direitos dos outros), 5) Personalidade borderline (padrão de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos, aliados a impulsividade; 6) Personalidade histriônica (padrão de excessiva emotividade e busca de atenção), 7) Personalidade narcisista (padrão de grandiosidade, necessidade de admiração e falta de empatia);

c) os que parecem ansiosos e medrosos: 8) Personalidade esquiva (padrão de inibição social, sentimentos de inadequação e hipersensibilidade a avaliações negativas, 9) Personalidade dependente (padrão de comportamento submisso e aderente, relacionado com excessiva necessidade de proteção), 10) Personalidade obcessiva-compulsiva (padrão de preocupação com organização, perfeccionismo e controle e 11) Personalidade sem outras especificações (quadros mistos) (TELLES, 1999, p. 19).

Alguns transtornos são mais freqüentes em homens (como anti-social) outros

mais em mulheres (como histriônico, boderline, dependente).

Apesar das diversas explicações e pesquisas, não se sabe ao certo o que

leva uma pessoa a ter um transtorno na personalidade. A maioria dos estudos

especulam as possíveis causas de seu aparecimento como os fatores bio-psico-

sociais ou apenas os classificam através de seus sintomas, mas ainda não foi

possível verificar de fato, o que provoca o desenvolvimento de uma personalidade

com transtorno.

As vivências são escolhidas, apreendidas, assimiladas e interiorizadas

conforme seu valor e sentido para a personalidade. A despeito da genética, são as

experiências e as histórias de vida que vão determinar o aparecimento de um

transtorno ou não. Mas até então, ficará sempre a dúvida do momento em que se

tenha começado esse processo.

Nos capítulos a seguir, serão abordados quatro tipos de transtornos de

personalidade que aparecem com freqüência na nossa sociedade. Eles são:

borderline, histriônica, anti-social e paranóide.

2.1. TRANTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE

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Transtorno de Personalidade borderline é um dos casos mais complexos,

devido à extrema rigidez de crenças que o sujeito apresenta.

Sua própria denominação identifica uma personalidade limítrofe; ou seja, que

está na fronteira entre o “normal” e o “patológico”. As pessoas com esse tipo de

transtorno não possuem claramente uma identidade de si mesmas, tendo constantes

dúvidas a respeito de si. Sua personalidade é fracamente integrada, daí a oscilarem

entre a neurose e a psicose. Essa “perturbação” da identidade provoca uma

instabilidade acentuada e resistente da auto-imagem, até mesmo quanto à própria

sexualidade. “Embora geralmente possuam uma auto-imagem de malvados, os

indivíduos com este transtorno podem, por vezes, ter o sentimento de não existirem

em absoluto” ( BALLONE, 2003, p. 4).

A instabilidade das emoções é um traço marcante deste transtorno, que se

apresenta por flutuações rápidas e variações no estado de humor de um momento

para outro sem justificativa real. Desta forma, seja qual for a situação, é

caracterizado por uma alternância entre extremos. São tradicionalmente vistas como

pessoas “de lua”, que a cada momento estão de um jeito. Um exemplo disto, é o fato

de serem freqüentemente flagradas em episódios de intensa irritabilidade ou

ansiedade passando depois para depressão (não necessariamente nesta ordem).

A instabilidade é tão intensa que acaba incomodando o próprio sujeito que em

dados momentos rejeita a si, por isso a insatisfação pessoal é constante, gerando

sentimentos persistentes de vazio, tédio ou solidão. Facilmente entediados, podem

estar sempre procurando algo para fazer.

Seu comportamento impulsivo pode trazer graves conseqüências e à auto-

destrutividade. Por isso, são pessoas inconsistentes e imprevisíveis. Na maioria das

vezes, ocorre intensos gastos financeiros, abuso de substâncias, direção

imprudente, comer compulsivamente, pratica de sexo inseguro, entre outros. Essa

impulsividade é posteriormente reconhecida pelo indivíduo como irracional ou “tola”.

Outra característica essencial do Transtorno da Personalidade Borderline é

um padrão invasivo de instabilidade dos relacionamentos interpessoais. Quando

estabelecem qualquer tipo de relação, os indivíduos tendem alternar entre a

idealização ou desvalorização de alguém, principalmente, se sentirem que estão

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sendo contrariados. Muitas vezes, tem um grande apreço por certa pessoa, mas se

a referida não corresponde suas expectativas “fantasiosas”, logo depois é

desprezada. Assim, estão inclinados a mudanças súbitas e dramáticas em suas

opiniões sobre os outros. Basicamente amam ou odeiam, sem meio termo. Podem

sentir empatia e carinho por outras pessoas, mas apenas com a expectativa de que

estarão "estará lá" para também atenderem às suas próprias necessidades, quando

exigido. Confundem intimidade com sexualidade, o que provoca constrangimento

com quem se relaciona.

Esses indivíduos são muito sensíveis às circunstâncias ambientais. O

sentimento de raiva é dificilmente controlável, levando a demonstrações freqüente

de irritação e lutas corporais recorrentes. São pessoas que estão sempre envolvidas

em brigas nas ruas. Tais expressões de raiva freqüentemente são seguidas de

vergonha e culpa e contribuem para a persistente crença e sentimento de serem

maus. Durante períodos de extremo estresse, podem ocorrer ideação paranóide; isto

é, “mania de perseguição” ou sintomas dissociativos transitórios como, por exemplo,

a despersonalização. Ou seja, a pessoa pode ter um surto psicótico no qual não

reconhece a si mesma nem os outros ou episódios em que acredite ser outra

pessoa.

As pessoas com Transtorno da Personalidade Borderline fazem esforço

sobrecomum para evitarem um abandono tanto real quanto imaginado. Mesmo

diante de uma separação de tempo limitado ou quando existem mudanças

inevitáveis em seus planos (por ex., pânico ou fúria quando alguém que lhes é

importante se atrasa apenas por alguns minutos ou precise cancelar um encontro).

Se perceberem uma possível separação ou rejeição iminente podem sofrer

profundas alterações na auto-imagem, afeto, cognição e no comportamento. Elas

podem acreditar que este "abandono" implica, mais uma vez, na crença de são

"maus". Esse medo está relacionado a uma intolerância à solidão e a uma

necessidade de ter outras pessoas consigo. Seus esforços frenéticos para evitar o

abandono podem gerar ações impulsivas que vão desde comportamentos de

automutilação até tentativas de suicídio.

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Os comportamentos de automutilação acontecem com maior freqüência e em

geral se apresentam como cortes e queimaduras, já os comportamentos suicidas

acontecem em menor freqüência, onde são mais uma necessidade de chamar a

atenção do que realmente a vontade de morrer. As tentativas de suicídio são,

freqüentemente, uma forma pela qual estes indivíduos buscam auxílio. Tais atos,

geralmente são precipitados por ameaças de separação, rejeição ou por

expectativas de que assumam maiores responsabilidades.

O Transtorno da Personalidade Borderline é diagnosticado

predominantemente em mulheres (cerca de 75%), mas ainda não se sabe o porque

desta incidência.

“Os estudos familiares indicam que os parentes dos pacientes borderline têm

uma alta prevalência do distúrbio, bem como de outros distúrbios da personalidade”

(FLAHERTY, CHANNON & DAVIS, 1990, p. 135). É cerca de cinco vezes mais

comum entre os parentes biológicos em primeiro grau dos indivíduos com

transtornos do que na população geral.

Por fim, outros Transtornos da Personalidade podem ser confundidos com

Transtorno da Personalidade Borderline por terem certos aspectos em comum, de

modo que é importante distinguir entre esses transtornos com base nas diferenças

em seus aspectos característicos. Entretanto, se um indivíduo tem características de

personalidade que satisfazem os critérios para um ou mais Transtornos da

Personalidade além do Transtorno da Personalidade Borderline, todos podem ser

diagnosticados.

2.2. TRANSTORNO DE PERSONALIDADE HISTRIÔNICA

No início do século XX, algumas mulheres; muito reprimidas pela sociedade

da época, apresentavam cegueiras, paralisias, dores pelo corpo, entre outros

sintomas. Mas quando eram examinadas por médicos; raramente, alguma causa

física era encontrada. Na verdade, esses sintomas eram gerados por fatores

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psicológicos e emocionais e foram chamados de neuroses de conversão. Como o

próprio nome já diz, essas mulheres convergiam sofrimentos psíquicos em físicos e

Freud ao analisar este tipo de comportamento o denominou de personalidade

histérica, que mais tarde deu origem aos estudos e a denominação ao Transtorno de

Personalidade Histriônica.

A característica essencial deste transtorno de personalidade consiste de um

padrão invasivo de excessiva emocionalidade e uma busca exagerada de atenção

em vários contextos. De início, estes indivíduos são vistos pelos outros como

pessoas animadas e encantadoras por seu entusiasmo, aparente franqueza e

capacidade de sedução. Porém, tais qualidades perdem a força à medida que se

mostram exigentes.

São pessoas que se sentem desconfortáveis ou desconsideradas quando não

são o centro da atenção. Elas requisitam, a todo o momento, o papel de “donas da

festa”, mas ao perceberem que não estão conseguindo, podem fazer algo dramático

como, por exemplo, inventar histórias ou fazer uma cena. A necessidade de atenção

e aprovação é tão grande que mesmo não conhecendo bem uma pessoa tendem a

adulá-la, fazendo elogios e até lhe compram presentes.

Os indivíduos com esse transtorno, muitas vezes, consideram os

relacionamentos mais íntimos do que são de fato, descrevendo praticamente

qualquer pessoa recém conhecida como “meu amigo” ou “meu querido”. Tendem a

intimizar as relações antes de estas se tornarem realmente significativas. Seus

relacionamentos interpessoais acabam sendo deficientes, percebidos como

superficiais e sem autenticidade. E quando estabelecem uma relação, seja qual for o

âmbito; familiar, de amizade, profissional ou afetivo, usualmente são tempestuosos e

não gratificante. Mas mesmo com toda essa dificuldade nas relações vêm a si

próprios como sociáveis, amistosos e agradáveis, projetando sempre no outros suas

dificuldades internas.

Buscam e exigem reasseguramento, aprovação ou elogio das pessoas,

apresentando uma necessidade extrema da apreciação dos outros, através de

discursos globais e impressionistas, mas estes são sempre pobres e carentes de

detalhes. Exibem fortes convicções, em geral expressadas com dramaticidade,

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porém são vagas e difusas, sem fatos e detalhes. Podem comentar que determinado

indivíduo é uma pessoa maravilhosa, entretanto são incapazes de especificar as

qualidades que confirmem sua opinião. Precisam encontrar maneiras de que os

outros tomem conta delas.

A expressão emocional e afetiva pode ser superficial e apresentar rápidas

mudanças. Constantemente, apresentam baixa tolerância a frustrações e por isso

mudam “da água para o vinho”, quando não são correspondidas como imaginavam e

chegam a apresentar reações infantis no momento em que não conseguem o que

querem. Assim, utilizam-se de manipulação para atingir seus objetivos, recorrem a

ameaças, coerção, acessos temperamentais e ameaças de suicídios, se métodos

mais sutis falharem.

Exibem autodramatização, teatralidade e expressão emocional exagerada,

muitas vezes apelando para o choro ou fingindo estar passando mal. Eles podem

embaraçar amigos e conhecidos os abraçando descomedidamente; podem soluçar

incontrolavelmente em ocasiões sentimentais de pouca importância ou ter ataques

de fúria. São pessoas que geralmente se intitulam como “coitadas” e “sem sorte na

vida”, onde “preferiam estar mortas a terem que viver as mazelas do mundo”.

Contudo, suas emoções com freqüência dão a impressão de serem ligadas e

desligadas com demasiada rapidez para serem profundamente sentidas, o que pode

levar a crer que estão fingindo.

São emocionalmente excitáveis e anseiam por estimulação. Pois se entediam

com grande facilidade, já que tem a necessidade de admiração dos outros. Tendem

a manter a crença de que é preciso serem amados por virtualmente todos, por tudo

que fazem, porque na verdade, apresentam um intenso medo da rejeição.

Generalizam sentimentos que lhes causem mal-estar por raciocinarem

emocionalmente. Logo; segundo sua crença, se uma vez rejeitados, sempre foram e

serão.

Não prestam atenção em detalhes e especificidades, pois não percebem

claramente o que está a sua volta, por isso suas recordações são globais e difusas.

Desta maneira, não desenvolvem a capacidade de enfrentamento construtivo de

situações e problemas tendo dificuldades em resolvê-los necessitando sempre de

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amparo. Assim, as pessoas com o Transtorno de Personalidade Histriônica têm um

comportamento excessivamente reativo e intenso, onde muitas vezes respondem a

estímulos mínimos com acessos irracionais de raiva.

Dão mais valor aos acontecimentos externos e pouca atenção á sua vida

interna, podendo ficar sem sentido claro de identidade. Evitam a todo o momento o

autoconhecimento, por não saberem lidar com ele. Diante disso, estão sempre

falando da vida alheia, criticando ou elogiando os outros, já que não consegue ter

um real contato consigo mesmo.

A aparência e o comportamento com freqüência são, de maneira

inadequadas, sexualmente provocantes ou sedutores. Este comportamento é

dirigido não apenas às pessoas pelas quais o indivíduo demonstra algum interesse

sexual ou romântico, mas ocorre em uma ampla variedade de relacionamentos

sociais, ocupacionais e profissionais, mais do que seria adequado para o contexto

social. É comum os indivíduos com esse transtorno terem relacionamentos

deficientes com amigos do mesmo sexo, porque seu estilo interpessoal sexualmente

provocante pode parecer ma ameaça aos relacionamentos dos amigos.

São pessoas que usam consistentemente a aparência física para chamar a

atenção. Empenham-se excessivamente em impressionar os outros com sua

aparência e despendem um grande número de tempo, energia e até dinheiro para se

vestir e se arrumar, só para “caçar elogios”.

Uma outra característica marcante é o fato destes indivíduos terem um alto

grau de sugestionabilidade; ou seja, suas opiniões e sentimentos são facilmente

influenciados pelos outros e por tendências do momento. Podem confiar demais em

fortes figuras de autoridade, a quem vêem como capazes de oferecer soluções

mágicas para seus problemas.

É interessante observar que o Transtorno de Personalidade Histriônica é mais

freqüente em mulheres do que nos homens.

Enfim, o Transtorno de Personalidade Histriônica causa para o sujeito

prejuízos funcionais e sofrimento significativo, pois a exigência por atenção das

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pessoas com quem convive é constante. O que conseqüentemente irá contribuir

para um desgaste e término de suas relações.

2.3. TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTI-SOCIAL

O transtorno de personalidade anti-social é facilmente percebido pelas

pessoas, mas não como uma “psicopatologia”. Os indivíduos acometidos são mais

conhecidos como: “sociopatas”, “bandidos”, “canalhas”, “maus caracteres”, etc.

Suas características mais marcantes são o padrão invasivo de desrespeito,

violação dos direitos dos outros e indiferença insensível pelos sentimentos alheios.

Não tem empatia, justamente por desconsiderarem totalmente o que o outro sente.

São capazes de “passar por cima” de qualquer um para conseguirem o que querem.

São pessoas destituídas de qualquer sentimento de ternura, compaixão,

generosidade, remorso, honra, consciência; não têm capacidade de vivenciar uma

responsabilidade ou gratidão; são frios, brutais e cruéis.

A ausência de sentimento de culpa causa intolerância por parte das pessoas

com quem convive. Além disso, a ausência deste sentimento contribui ainda mais

para que permaneça ou tenha comportamentos cruéis e sádicos. Na infância, é

comum maltratarem animais ou crianças menores. Mas isso não é fator essencial

para definir este tipo de transtorno. Diante disso, não aprendem com a experiência,

particularmente com a punição.

Esta ausência de culpa e remorso neste sujeito contribui também para que

tenha atitudes flagrantes e persistentes de irresponsabilidade e desrespeito,

indicadas por repetidos fracassos em manter as normas, regras e obrigações

sociais.

Têm problemas comportamentais precoces e não se conformam às normas

sociais com relação a comportamentos legais. Existem evidências de transtorno de

Conduta com início antes dos 15 anos de idade.

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Os indivíduos com esse tipo de transtorno têm propensão para enganar,

indicada por mentir repetidamente, usar nomes falsos ou ludibriar os outros para

obter vantagens pessoais ou prazer. Isso acontece porque sentem uma grande

necessidade de estimulação e tem propensão ao tédio. Precisam a todo o momento

de “grandes emoções” e são capazes de tudo para consegui-las.

A personalidade anti-social tem um senso grandioso do próprio valor,

achando-se sempre onipotente e onipresente tem em si a idéia de que não sofrerão

qualquer conseqüência de seus atos. Parecem estar fixados na fase infantil, onde

tudo é possível. Assim, a tolerância à frustração é muito baixa o que provoca fraco

controle do comportamento.

Igualmente apresentam um baixo limiar para descarga de agressão, incluindo

violência. Em relação ao comportamento violento, este é causado pela extrema

impulsividade e irritabilidade que esses indivíduos manifestam. São intolerantes e

estão sempre envolvidos em repetidas lutas corporais ou agressões físicas, na

maioria das vezes injustificadas.

Em geral, cometem pequenos delitos como roubos e furtos, mas podem

chegar a matar. Deve se levar em consideração, que nem todas as pessoas com

este tipo de transtorno cometem assassinatos, porém por serem destituídas de

limites gradativamente isso pode acontecer.

Faltam-lhes planos realistas a longo prazo para a construção de algo,

fracassando em fazer planos para o futuro, pois seu estilo de vida é parasitário. Só

pensam no momento e realmente acreditam que merecem o melhor pelo simples

fato de ser quem são, não se importando como conseguirão. Manipulam, enganam e

suas mentiras são patológicas quando querem alguma coisa. Porque não

conseguem perceber que o seu comportamento é inadequado à convivência social.

Os anti-sociais são pessoas que expressam incapacidade de manter

relacionamentos, embora não haja dificuldade em estabelecê-los. Desconsiderando

totalmente o que o outro sente, não só a nível conjugal como em todas as áreas das

relações interpessoais. O comportamento sexual freqüentemente é promíscuo,

correndo mais riscos.

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Têm a tendência marcante para culpar os outros e oferecer racionalizações

plausíveis para atitudes ou comportamento que o levou a conflitos com a sociedade.

Um exemplo disto, é que mesmo quando flagrado roubando, pode se justificar

dizendo que foi a crise econômica e o presidente que o levaram a tal ato impensado

e um tempo depois serem novamente pegos praticando o mesmo delito.

O Transtorno de Personalidade Anti-social é mais comum em homens do que

em mulheres. Mas não há pesquisa que comprove os motivos que levam esse tipo

de transtorno acometer mais homens do que mulheres.

Dentro deste transtorno inclui-se a “(...) personalidade (transtorno) amoral,

dissocial, associal, psicopática e sociopática” (Cid 10, 1993, p. 200). Alguns autores

falam que deve haver diferenças entre o anti-social, psicopata e sociopata. O

sociopata parece estar na fase das operações concretas (Piaget), por isso não

consegue perceber o outro. O “problema” estaria na percepção, no entanto a

inteligência não seria afetada.

Embora o Transtorno da Personalidade Anti-Social e o Transtorno da

Personalidade Borderline caracterizem-se, ambos, por um comportamento

manipulador, os indivíduos com Transtorno da Personalidade Anti-Social manipulam

para obter vantagens, poder ou alguma outra gratificação material, ao passo que no

Transtorno da Personalidade Borderline o comportamento manipulador se destina

mais a envolver as pessoas que o indivíduo considera importantes.

2.4. TRANSTORNO DE PERSONALIDADE PARANÓIDE

A personalidade com Transtorno Paranóide se caracteriza essencialmente por

ter a idéia, fantasiosa, de que está sendo perseguida por outras pessoas. O

indivíduo acometido, popularmente, é conhecido por “ter mania de perseguição”. A

paranóia em si é uma psicose (esquizofrenia) que tem como principais sintomas os

delírios persecutórios, porém o transtorno de personalidade não é caracterizado

como psicose.

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O padrão invasivo de desconfiança e suspeita quanto aos outros é pertinente

porque os motivos que levaram a tal situação são interpretados como malévolos; ou

seja, vêem “maldade” em tudo e em todos. São pessoas que suspeitam, sem

fundamento suficiente, de estarem sendo exploradas, maltratadas ou enganadas

pelos outros.

Têm desconfiança excessiva com tendência a exagera e distorcer a

experiência, por interpretarem erroneamente as ações neutras ou até amistosas

como sendo hostis ou desdenhosas. Tem a fixa idéia de que são capazes de

interpretar significados ocultos, de caráter ameaçador ou maldizente, seja qual for a

situação e pessoa envolvida, simplesmente por acreditarem possuir esse dom.

Percebem ataques a seu caráter ou reputação que não são visíveis pelos

outros e reagem rapidamente com raiva ou contra-ataque, travando discussões e

“bate boca”.

São pessoas que tem problemas em estabelecer ou manter relações

interpessoais porque preocupam-se com dúvidas infundadas acerca da lealdade ou

confiabilidade de amigos ou colegas. Relutam em confiar nos outros por um medo

infundado de que essas informações possam ser maldosamente usadas contra si.

Além disso, têm suspeitas recorrentes, infundadas, exageradas e sem justificativa,

quanto à fidelidade do cônjuge ou parceiro sexual. Acham que estão sendo traídos

a todo o momento e são muito ciumentos, podendo se envolver em brigas por conta

desta situação.

Na maioria das vezes são pessoas que apresentam uma sensibilidade

excessiva a ser contrariado. Se alguém não vai de encontro à suas idéias e ações

ou algo não sai como o planejado é capaz de fazer “uma cena”, apelando até para

agressões físicas como uma tentativa “desesperadora” de conseguir o que se quer.

Também são sensíveis, em demasia, a rejeições reais ou imaginárias, causando

ainda mais transtorno para quem está a sua volta.

São indivíduos extremamente rancorosos, que sempre, se recusam a perdoar

possíveis insultos, injúrias ou desfeitas. Não são flexíveis e por isso não relevam

situações em que as outras pessoas possam, num momento de raiva, ter perdido o

controle.

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Os outros sempre são vistos como injustos a seus direitos, mesmo quando a

realidade não condiz. Reagem desta maneira porque apresentam um obstinado

senso de direitos pessoais.

Os indivíduos com este tipo de transtorno têm a tendência a experimentarem

autovalorização excessiva, manifestada sempre por atitudes persistentes de auto-

referência. São tidos pelos outros como “donos da verdade”, já que realmente o

sentem.

Há uma grande preocupação por parte destes sujeitos com relação a

situações que possam denotar “conspirações”. Mudanças políticas, guerras e

eventos que ocorrem próximos ou no mundo são interpretados por estes indivíduos

como sendo algo de cunho pessoal. Ou seja, todas essas articulações seriam, na

verdade (segundo eles), manobras para atingi-los.

“Podem ser ativos (querelentes) e passivos (lânguidos ligados a dogmas)”

(NOGUEIRA, JESUS, GOMES, CASSAVIA, GOMES & NOGUEIRA, 2002, p. 91) e

são mais freqüentes em homens.

Todas essas idéias persecutórias, comuns nestes casos, são fantasias

criadas por um mecanismo psíquico chamado projeção. O que acontece é que estas

pessoas projetam suas experiências e vivências nas outras, partindo sempre do que

é delas (particular) para o outro como verdades absolutas. Daí a origem deste

comportamento paranóico.

O medo da dor e sofrimento é intenso, o que lhes causam um grande

desgaste mental e emocional. Haja visto que, estes indivíduos estão “ligados” a todo

o momento como forma de se defenderem de possíveis acontecimentos que possam

os fazer sofrer. Mas, na verdade, acabam sofrendo por antecipação. Logo, este

transtorno também traz comprometimentos sérios na vida de uma pessoa e de quem

convive com ela.

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3. O CONCEITO DE FAMÍLIA E SUAS DIVERSAS FORMAS

DE ORGANIZAÇÃO

A definição de família é muito mais complexa do que se imagina, pois há uma

enorme variedade tanto na sua constituição quanto em sua dinâmica; além disso, na

tentativa de defini-la, ela deve ser sempre contextualizada. Cada sociedade, cultura,

religião ou até uma certa época, vai definir família de maneiras diferentes.

O conceito de família pode ser visto sob diversas perspectivas; o importante é

não generalizar esta reflexão.

Essencialmente, alguma forma de família é encontrada em toda sociedade.

Trata-se de uma unidade geralmente organizada em torno de pares heterossexuais;

ou seja, pares que sejam potencialmente capazes de reproduzir a referida unidade e

filhos que a perpetuem, com o objetivo de dar continuidade a essa organização que

também é sócio-econômica. Nela, o padrão de atitudes sexuais e parentais estará

relacionado ao meio ambiente cultural, ao mesmo tempo em que irá definir os papeis

de seus membros e estabelecer as bases de suas interações.

A família é uma instituição tão antiga quanto a própria espécie humana. É

uma entidade paradoxal e indefinível. No mundo ocidental, ela é a mesma em

qualquer lugar; contudo, nunca permanece a mesma. A forma de organização da

família molda-se às condições de vida que vão predominar em um certo tempo e

lugar. De certo, a família é uma instituição composta por membros que seguem uma

hierarquia, com funções e papeis delimitados, mas nem sempre bem definidos.

Alguns estudiosos da família, notavelmente Westermark (...), expressam a convicção de que tem havido um desenvolvimento uniforme da família desde os ancestrais antropóides do homem até a civilização de uma forma predominantemente monogâmica dentro da qual o pai ocupa um lugar significativo. Outros estudiosos, Briffault (...), apóiam o ponto de vista oposto de que a organização da família tem principalmente uma base maternalista e que o papel do pai era transitório, relativamente periférico e insignificante. Com o tempo, entretanto, o pai assumiu um lugar permanente no grupo familiar (ACKERMAN, 1986, p. 29 e 30).

Alguns tipos de famílias têm sido padronizados distintamente como uma

unidade econômica e relativamente pouco ligada a sua matriz biológica. Família nem

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sempre significa pai, mãe e filhos. Portanto, os vínculos familiares são compostos

por uma fusão de fatores: biológico, psicológico, social, cultural e econômico.

Não existe um modelo ideal de família, pois este se difere de acordo com as

necessidades e funcionamento de uma sociedade.

Os antropólogos foram os primeiros a estudarem os tipos de famílias. Esses

estudiosos se dividiriam em duas linhas de pensamento: os evolucionistas e os

funcionais. Os primeiros partiam do pressuposto de que a sociedade só poderia ser

composta de dois tipos de povos: os que estariam em constante evolução e os

estagnados. Isto é, toda forma de organização de uma sociedade e

conseqüentemente de família, que fugisse do modelo patriarcal europeu seria

considerado selvagem e primitivo. Quem se enquadrasse no modelo europeu tinha a

“garantia” de estar em estágio avançado na escala da evolução. Já os

evolucionistas, apesar de também seguirem as concepções ocidentais, estudaram

outros tipos de sociedade e sua organização familiar através da dinâmica e

funcionamento.

Existem diversas combinações familiares e embora a monogamia não esteja

inscrita na natureza humana, ela é uma tendência social de uniões e casamentos.

De certo, ainda há uma inclinação em todas as culturas de se ter relações

monogâmicas, mas em alguns grupos sociais a poligamia é uma prática comum e

naturalizada. Dentro da poligamia existem dois esquemas: a poligimia, que seria um

homem casado com várias mulheres e a poliandria, que é a união de apenas uma

mulher com vários homens. A poligamia vai existir numa sociedade não só por ser

algo natural do humano, mas também como uma maneira de compensar algum fato

social. Algumas culturas a utilizam como recurso para infanticídios que aconteceram

em um período difícil; ou a escassez de um dos sexos, o que permitirá a união entre

várias pessoas, enfim, algum “desequilíbrio” naquela sociedade.

“... embora o casamento dê origem à família, são as famílias que produzem o

casamento...” (LÉVI-STRAUSS, [s.d.], p. 364).

Para se definir família; nos princípios do modelo ocidental, é preciso voltar na

história e ver os processos que levaram-na às concepções atuais. Contudo, é de

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fundamental importância observar a concepção de infância, pois é a partir desta que

a família pôde ser melhor analisada.

Na sociedade tradicional a criança não era vista de maneira diferenciada, não

havia uma etapa de transição. Ela participava da vida adulta, onde o

desenvolvimento e aprendizagem se davam juntamente e diretamente com os

adultos. De modo geral, a transmissão do conhecimento de uma geração a outra era

garantida pela participação da criança na vida dos adultos no meio familiar. Inexistia

um cuidado “especial” a essa criança. Esta sociedade não só a via mal como

também o adolescente. A duração da infância se dava nos períodos mais frágeis da

criança e quando atingia uma certa idade que lhe permitisse se “bastar”, esta era

logo introduzida ao mundo. Sendo assim, a vida da criança se misturava com a vida

adulta, na verdade, ela era tratada e considerada como um “mini” adulto.

... a ´paparicação` – era reservada à criancinha em seus primeiros anos de vida, enquanto ela ainda era uma coisinha engraçadinha. As pessoas se divertiam com a criança pequena como um animalzinho, um macaquinho impudico (...) Quando ela conseguia superar os primeiros perigos e sobreviver ao tempo da ´paparicação`, era comum que passasse a viver em outra casa que não a de sua família ... (ARIÈS, 1981, p.10).

A família tradicional (antes do século XVI) não tinha uma função afetiva, tanto

para a criança quanto para a própria família. Os afetos não eram o objetivo maior de

uma união, havia outros interesses. As trocas afetivas se davam fora; isto é, no

âmbito social. A família era uma realidade muito mais moral e social do que

sentimental. Nas classes pobres essa ausência ainda era pior. Nestas, quase não

existia sentimento entre seus membros, pois muitas vezes o casal e seus filhos

tinham que lutar pela sobrevivência no meio rural ou trabalhar nas casas de pessoas

ricas. Visto que, alguns menos abastados não tinham nem casa para morar, o que

impossibilitava ainda mais a construção de algum laço afetivo.

Também não havia um sentimento de privacidade. Nesta fase, não se tinha

uma preocupação com a delimitação do espaço privado, sendo a família uma

instituição aberta e permeável ao meio social. A vida era totalmente centrada e

voltada para o ofício. Talvez por isso, as trocas afetivas se davam justamente fora

das casas.

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Na idade média, a concepção de família era peculiar. O sentimento de

linhagem era o único de caráter familiar conhecido até então. Este sentimento era

estendido apenas aos descendentes de um mesmo ancestral que mais tarde deu

origem às famílias patriarcais. Estas famílias eram constituídas em torno de grupos

de pais, filhos e sobrinhos como uma forma de garantirem e manterem os bens

adquiridos. A solidariedade da linhagem e a indivisão do patrimônio se

desenvolveram em conseqüência da dissolução do Estado. Com a nova organização

da sociedade, os homens, sentindo-se ameaçados, viram a necessidade de se

agruparem mais estreitamente.

No século X, há indícios de que os bens hereditários de um casal não eram

fundidos nem administrados pelo homem (marido). Cada qual tinha sua

responsabilidade, separadamente, sem um interferir ao outro. Logo, a mulher tinha

dentro de uma família maior autonomia, o que fazia toda a diferença na dinâmica

familiar daquela época.

Com o fim da idade média, a capacidade da mulher entrou em declínio,

afirmando assim, ainda mais a autoridade do homem. A idéia da primogenia veio

como uma tentativa de confirmar esse pensamento e também uma maneira de

assegurar a indivisão dos bens. Neste período, permanecia a idéia de que os laços

afetivos dentro de uma família não eram uma regra. Eles até poderiam existir, com o

convívio entre seus membros, mas o que realmente interessava era a garantia do

patrimônio.

Todas as modificações existentes no âmbito familiar, na verdade, vão indicar

que são reflexos de mudanças sofridas na ordem política e econômica da sociedade

em cada época. Quando o Estado não garantia segurança, principalmente financeira

ou de status a alguns grupos, estes se refugiavam numa nova organização familiar.

A partir do século XIV, houve um desenvolvimento na concepção da família

moderna, onde o modelo ideal era composto pelos pais e seus filhos, cujo homem

assegurava sua existência. Essa estrutura familiar foi sendo assegurada ao longo

dos séculos, principalmente pela legislação que deu ao pai ainda mais autoridade.

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Nos séculos XV e XVI nasce e se desenvolve o sentimento de família

conhecido nos dias atuais. O sentimento é novo, apesar da família sempre ter

existido.

“A reorganização da casa e a reforma dos costumes deixaram um espaço

maior para a intimidade, que foi preenchida por uma família reduzida aos pais e às

crianças, da qual se excluíam os criados, os clientes e os amigos” (ARIÈS, 1978, p.

267).

Com essa mudança, a família começou a se organizar em torno da criança e

a lhe dar mais importância.

A partir de meados do século XIX, a família começou a ser monitorada em

todos os aspectos e considerada incapaz de proteger a vida de crianças e adultos.

Com o alto índice de mortalidade infantil e as precárias condições de saúde a

medicina higienista conseguiu impor, na verdade, seu modelo de sociedade e família

na tentativa de abolir a “desordem” higiênica dos hábitos coloniais. Essa medida

mudou e influenciou consideravelmente a dinâmica familiar, além da distinção de

classes.

“... quando observamos os resultados da educação higiênica, uma conclusão

se impõe: a norma familiar produzida pela ordem médica solicita de forma constante

a presença de intervenções disciplinares por parte dos agentes de normalização”

(COSTA, 1983, p.15). em outros termos, as família se desestruturam por terem

seguido um modelo normatizante de “saúde” e “equilíbrio”.

A família, em qualquer sociedade, tem funções que são básicas e em comum.

Ela canaliza a sexualidade assegurando em conseqüência a perpetuação da

espécie; tenta promover o bem-estar físico e psíquico de seus membros; possibilita o

desenvolvimento da personalidade do sujeito e a estruturação da identidade pessoal

inclusive no aspecto social e assegura a transmissão da cultura; entre outras

funções.

O padrão de organização de uma família não é estático. Esta é uma unidade

flexível que se adapta delicadamente às influências, mesmo quando negativas,

agindo sobre as quais tanto de fora quanto de dentro. Assim, família é um organismo

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que nasce, cresce, evolui e se adapta ou não as mudanças ocorridas em seus

membros.

As relações familiares regulam o fluxo de emoção, deste modo, facilita ou

inibe alguns caminhos de liberação emocional. A configuração familiar controla a

qualidade e quantidade de expressão emocional, bem como sua direção. A família

também apóia algumas lutas individuais, enquanto subjuga outras. Ela estrutura o

senso de responsabilidade que o indivíduo deve ter, com os intuitos de promover o

bem-estar de seus membros e manter o equilíbrio. Além disso, ela fornece modelos

para o “sucesso” ou “fracassos” não só a níveis pessoais como sociais.

A família pode ser considerada como um tipo de unidade de troca; os valores

trocados são materiais e afetivos. O intercâmbio de sentimentos entre os membros

da família gira em torno da oscilação entre amor e ódio. A atmosfera familiar é plena

de desvios e mudanças repentinas e podem ocorrer sentimentos profundos de

frustração, acompanhados de ressentimentos e hostilidade.

Eiguer (1985) vai dizer que a família em si apresenta um organizador

inconsciente do grupo familiar e que por conta do referido, ela se torna um grupo

constituído por indivíduos que possuem uma representação deste grupo no interior

de seu próprio aparelho psíquico. Mas este organizador implica em trabalho e

passagem por crises. O grupo; que é a família, deve sofrer várias metamorfoses

para encontrar uma coesão, um entendimento e uma solidariedade que lhe sejam

específicos.

Cada membro investe um percentual de si na família, o que lhe permite

reconhecê-la como sua. Com isto, surge um sentimento de pertença familiar que

reúne os afetos que cada membro da família experimenta em relação ao conjunto do

grupo. O sentimento de pertença é uma sensação de proximidade particular, de ser

considerado e tratado de maneira diferente em relação a outros grupos que não a

família. Ele seria um tipo de intercomunicação conhecida e identificada pelos seus

membros e existe também naquelas consideradas como “problemáticas”.

O grupo familiar tem receio de que seus membros retirem esse investimento

pessoal na família e na tentativa de mantê-lo investe no lar. A casa nada mais é do

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que a base do reconhecimento grupal. Ela traduz a representação simbólica das

alianças e papeis de cada um.

O sentimento de pertença e a representação simbólica do lar podem ser

conservados por cada membro da família, mesmo quando estes vivem em locais

afastados. Portanto, podem manter sua individualidade, embora pertencentes àquela

família.

Toda família tem segredos compartilhados que se revelados podem causar

intensas mudanças e desestruturação na dinâmica familiar. É interessante ressaltar

que este “equilíbrio” existente até então, geralmente é conservado por estes próprios

segredos.

As definições socialmente elaboradas de segredo e privacidade mudam de

acordo com o que uma determinada cultura valoriza ou estigmatiza. Mas há

diferença entre privacidade e segredo. A primeira pode ser definida como algo

protegido do acesso indesejado de outros, esta implica um certo conforto, livre do

ingresso inconveniente de outras pessoas. O segundo pode ser conceituado como o

encobrimento intencional de algo que, em hipótese alguma, pode ser revelado.

Geralmente, os segredos estão conectados com o medo e a ansiedade quanto à

revelação. O que é mantido secreto freqüentemente gera vergonha, ao contrário de

assuntos verdadeiramente privados.

Os segredos são fenômenos que estão ligados ao relacionamento, moldam

as díades, formam triângulo, alianças encobertas, divisões, rompimentos, definem

limites de quem está “dentro” ou “fora” e medem a intimidade e o distanciamento nos

relacionamentos. As lealdades familiares entre as gerações freqüentemente são

moldadas pelos segredos. Tais fidelidades podem influenciar nos comportamentos

por conservarem um não dito. Com isto, se perpetuam e se repetem por gerações.

“Com freqüência, é no conteúdo específico de um segredo que se encontram

as origens do estigma, é a vergonha e o medo da revelação e da dissolução da

família, que alimenta poderosamente o processo de manutenção do segredo”

(IMBER-BLACK, [s.d.], p. 22).

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Qualquer segredo pode ter múltiplos significados dentro de uma família e

podem ser nocivos ou não. Seus membros vão interpretá-lo de maneira e valor

próprios. A presença de um segredo central em uma família ou relacionamento

distorce e mistifica os processos de comunicação. Uma vez que a presença de um

segredo nocivo pode limitar as conversas em muitas áreas, a capacidade de uma

família para solucionar problemas pode ser seriamente prejudicada. E quando os

relacionamentos encontram-se atrelados a um segredo, todo o estilo de

comunicação pode tornar-se marcado pelo fato de manter o segredo em áreas

totalmente alheias ao segredo original.

Ao mesmo tempo em que há uma exigência em mantê-lo dentro dos limites

da família ele pode isolar tanto o indivíduo quanto seus membros do meio social.

Assim, os segredos podem moldar toda a identidade de uma família com o mundo

exterior.

Por fim, não existe um conceito definido e universal do que seja família. A

partir da reavaliação de definições tradicionais de família é que se pode construir

novos conceitos. O mais importante é levar em consideração o respeito que se deve

ter com as diferentes formas de organização familiar.

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4. OS TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE

INFLUENCIANDO NA DINÂMICA FAMILIAR

Segundo a psicanálise, o homem vivia num estado de natureza, quase

animal, onde tudo era permitido. Todos os tipos de relações; principalmente o sexo,

eram livres, inclusive entre pessoas com mesmo grau de parentesco. Mas este

estado de natureza foi extinto através da instauração do incesto no sujeito. Deste

modo, o homem (ocidental) passou deste estado para o estado de cultura e

“civilização”, onde foram estabelecidas regras de integração e convívio social. Essa

“nova” ordem contribuiu para a construção de um modelo familiar que visa,

basicamente, a convivência “pacífica” entre seus membros. Transformando todas as

outras formas de relações familiares em “desestruturações”.

Neste modelo a dinâmica do relacionamento do casal tem a propensão de

tornar-se a dinâmica familiar, mas as estruturas familiares têm sido marcadas por

mudanças ocorridas em todas as sociedades humanas. Assim, deve-se examinar

que nem sempre o que é considerado “desestruturante” para uma organização

familiar pode não ser para outra. Já que dentro de uma família cada indivíduo

vivencia situações iguais de maneiras diferentes.

Em relação aos transtornos de personalidade; como já foi dito, devem ser

contextualizados dentro de uma sociedade e cultura. Porém, os comportamentos

que provocam nas pessoas acometidas, no mínimo, geram alterações dentro da

dinâmica familiar a que pertencem.

Não se pode negar que são comportamentos “perturbadores” desta ordem e

que conseqüentemente vão gerar algum tipo de crise, não só dentro da família,

como também nas relações interpessoais que se estabelecem ao redor desta. O

comportamento de cada membro afeta o todo.

Uma doença emocional como um transtorno de personalidade pode integrar e

desintegrar uma relação familiar. A integração se dá justamente para manter a

dinâmica conflitante e “patológica” que já existe, na qual não se manteria se fosse

diferente. Mas essas famílias que vivem em torno, especificamente, de uma pessoa

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com transtorno, não o fazem porque são cruéis. Freqüentemente, são famílias em

que todos ou a maioria de seus integrantes também apresentam algum tipo de

transtorno ou são aquelas que não conseguem mudar esta dinâmica pelo medo de

sofrerem ainda mais.

O comportamento anormal em pessoas adultas tem raízes significativas na

experiência infantil de interação com sua família, mas continua a ser moldado pela

experiência familiar atual.

O transtorno de personalidade não deve ser visto como uma patologia

individual, separado de seu ambiente familiar. As perturbações de personalidade e

distúrbios na adaptação social em pessoas adultas podem ser melhor entendidos se

examinados não isoladamente, mas como um padrão dinâmico variável, influenciado

continuamente pelos efeitos recíprocos da interação familiar. O comportando

“desviante”, é visto, em geral, como uma projeção de uma distorção fixada dentro da

personalidade. Porém, é também uma expressão funcional de interação emocional

em relações pessoais significativas que acontecem dentro da família. A forma com

que a pessoa percebe a imagem dos outros influencia sua imagem e vice-versa.

Esse é um processo bidirecional que continuamente molda sentimentos, atitudes e

ações. Portanto, a família produz e mantém um transtorno de personalidade.

O desenvolvimento da família se divide em diversas fases. As necessidades

de cada fase dão margem a conflitos que tanto podem estimular o crescimento e

desenvolvimento quanto apresentar-se como sementes de um padrão patológico de

relacionamento. É provável que um dos maiores perigos implícitos nessas funções

conflitantes da evolução familiar seja a dificuldade, ou impossibilidade de tolerar a

ambivalência nos relacionamentos. A tolerância entre membros para projeção e

introjeção permite uma dinâmica familiar caracterizada pela liberdade. A projeção

mal interpretada por quem a está recebendo pode gerar sentimentos em quem

projeta de rejeição e a idéia de que a dependência do outro é ruim. Tudo isso

também se reflete fora do contexto familiar.

Em relação à desintegração familiar, as crises geradas pelos transtornos

podem ter efeitos penetrantes e de longo alcance sobre a saúde mental de toda a

família. Com isso, o desmembramento é quase certo, porque as pessoas têm seu

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limiar de tolerância para situações conflitantes, principalmente dentro da própria

casa.

A natureza da interação entre os integrantes de uma família será determinada

pela qualidade das relações que foram introgetadas por estes no decurso do

processo de crescimento e desenvolvimento. Os transtornos de personalidade vão

traduzir que não houve qualidade nesses relacionamentos familiares, pois ele é o

“retrato” de que algo não vai bem.

A influência dos transtornos da dinâmica familiar é claramente percebida por

causar a todo o momento brigas e desavenças entre seus membros. Não existe

família perfeita, mas uma pessoa com transtorno modifica e influencia toda esta

dinâmica.

Especificamente, os transtornos de personalidade Borderline e Histriônico vão

gerar dentro da família um enorme desgaste emocional, porque são transtornos que

fazem das pessoas personalidades muito exigentes, que buscam excessiva atenção

de todos, na maior parte do tempo. E para conseguir isso, tudo é possível.

Essas exigências vão despendendo um enorme gasto de energia, porque a

demanda é muito alta. Então, os membros desta família passam a não tolerar nem

os comportamentos nem a própria pessoa. Daí começam as brigas, discussões,

ofensas, entre outras. Conseqüentemente, o ambiente familiar ficará comprometido,

tornando-se insuportável a convivência. Como já foi dito antes, algumas famílias irão

se desfazer enquanto outras permaneceram unidas pela “doença”.

Quando um indivíduo sofre desses transtornos, não conseguem estabelecer

consistência na relação familiar. Sua maneira de ser e agir faz com que todos se

afastem dele. É muito difícil manter os laços afetivos com essas pessoas, porque

estas não conseguem; até por sua “caótica” estrutura, abrir mão de suas convicções

e pensamentos. O outro é que o faz, na tentativa frustrada de melhor se relacionar,

mas em vão. Pois as personalidades com transtorno são instáveis, apresentam

flutuações rápidas e variações no estado do humor sem justificativa real.

Os transtornos de personalidade Anti-social e Paranóide provocam da mesma

maneira um desgaste emocional na família. Porém, são indivíduos que não

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demandam nem exigem tanta atenção da família. Entretanto, são transtornos que

podem causar prejuízos também de ordem social.

Em relação a dinâmica familiar, esses dois transtornos; em especial,

produzem maior estresse entre seus membros. Pois são pessoas que

apresentam baixa tolerância a frustrações favorecendo assim, crises de

irritabilidade, explosões temperamentais e agressividade exagerada, parecendo,

muitas vezes, uma espécie de comportamento vingativo e desaforado. Entende-

se por "baixa tolerância a frustrações" uma incapacidade em tolerar as

dificuldades existenciais comuns a todas as pessoas que vivem em sociedade,

uma falta de capacidade em lidar com os problemas do cotidiano ou com as

situações onde as coisas não saem de acordo com o desejado.

Apesar de existirem conflitos, disputa de opiniões divergentes e

indisposições na organização familiar, estas têm o intuito de formar e

individualizar cada membro, as quais dentro de uma organização minimamente

saudável, contribuem para a estruturação tanto da pessoa quanto da família. Mas

estes dois tipos de personalidade (anti-social e paranóide) apresentam pouca ou

nenhuma sensibilidade em se colocar no papel do outro, dificultando as relações

dentro da família. Estão, na maioria das vezes, centrados em si próprios,

buscando apenas satisfazer seus interesses. Diante deste comportamento, a

família inevitavelmente sofrerá alterações e prejuízos em sua dinâmica.

A sensação de medo é constante em famílias que têm algum membro com o

Transtorno de Personalidade Anti-social. Pois são indivíduos que não conseguem

medir nem perceber as conseqüências de seus atos, apresentando comportamento

inadequado à convivência social. A perda pode ser tanto humana quanto material,

porque estão sempre envolvidos em confusões ou cometendo delitos.

Algumas pesquisas que tentam relacionar transtornos de personalidade à

dependência química mostraram nos seus resultados iniciais, que 68% dos

pacientes drogadíctos preenchiam os critérios de Transtorno de Personalidade e

os tipos patológicos mais encontrados foram: Borderline, Paranóide e Anti-social

(BALLONE, 2003).

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Embora a família tenha ao longo dos tempos se reduzido quantitativamente,

ela passa por dificuldades, na tarefa de assegurar o bem estar físico e psíquico de

seus membros. E quando esta vivencia um transtorno de personalidade, isto é

agravado ainda mais.

Existem outros tipos de transtorno que da mesma forma irão influenciar e

modificar a dinâmica de uma família. Mas os que foram abordados parecem causar

mais “danos” na organização familiar, porque sua maneira de agir é mais incisiva e

permissiva a saúde mental de todos os envolvidos.

Diante de toda esta problemática pode-se concluir que as pessoas, assim

como as personalidades, não podem ser catalogadas com etiquetas diagnósticas

como as enfermidades. Deve se levar em conta, o ponto de vista em que estas estão

sendo observadas, especialmente sob a perspectiva do modo subjetivo de sentir,

dos sentimentos a respeito da vida, da existência e das dificuldades que, em razão a

sociedade e o ambiente encontram no trato com essas pessoas. Há também a

questão ética de cada um. Porém, os transtornos de personalidade não devem ser

desconsiderados e nem deixados de lado, porque contribuem significativamente

para formar não só uma família como também uma sociedade menos tolerante e

mais “doente”. Não se pode negar o sofrimento existente. Dentro destas famílias

acometidas e deixá-las de lado é um ato “irresponsável”. Pois se realmente isso for

feito, pode-se perceber que existem muito mais pessoas com transtorno do que se

imagina e estas contribuem para a formação de nossa sociedade.

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CONCLUSÃO

Diante do presente trabalho pode-se verificar como o processo da construção

do sujeito; isto é, da personalidade é complexo e como a organização familiar tem

primordial importância pra que esta construção aconteça.

Concluiu-se que a família é uma forma de organização também complexa e

de difícil acesso; já que é da ordem do intimo e do privado. Assim, tanto o conceito

de personalidade quanto o de família devem ser contextualizados levando em

consideração os aspectos sociais, culturais e temporais.

Pode-se verificar que, de uma maneira geral, essa psicopatologia causa

sérios e significativos conflitos. Porque com o passar do tempo, os comportamentos

dissociados da pessoa que apresenta o transtorno vão gerando stress e

conseqüentemente o sentimento de rejeição por parte de quem vive ao seu redor.

Diante desta situação, não se pode negar que os transtornos sejam “perturbadores”

de uma ordem familiar e que todos os seus membros sejam sensíveis a esses

comportamentos. Mas existe o outro lado desta situação, onde foi verificado que os

transtornos são também reproduções das próprias famílias.

O ser humano é um ser social e por isso vive em grupos. O processo social

desligado do comportamento individual não tem significado. Não é possível

diferenciar a mente individual da mente grupal, ou ainda entender um grupo

separado dos indivíduos que o constitui. Desta forma, é provável que os conflitos

provocados pelos transtornos influenciem não só as famílias como também a

sociedade, podendo provocar diversas conseqüências no funcionamento da mesma.

Pois, “(...) esses tipos de condição abrangem padrões de comportamento

profundamente arraigados e permanentes, manifestando-se como respostas

inflexíveis a uma ampla série de situações pessoais e sociais” (CID-10, 1993, p.196).

Desde sempre o mundo e conseqüentemente as pessoas sofreram e sofrem

transformações e é interessante observar e perceber que embora o humano esteja

em processo evolutivo; principalmente tecnológico ainda tenha grandes dificuldades

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em se relacionar com o outro. Talvez a maior crise atual seja justamente as das

relações interpessoais.

Se neste momento há tantas crises nas relações, é pertinente pensar o que

pode estar contribuindo e promovendo os atuais conflitos sociais. Será que os

transtornos de personalidade; por influenciarem toda a dinâmica familiar, também

não podem influenciar o comportamento de uma sociedade? Ou ainda, será que a

forma em que a sociedade vem se constituindo pode estar influenciando o

acometimento dos transtornos em um número maior de pessoas?

Bem, estas perguntas não farão parte deste trabalho, mas são questões que

poderão ser futuros objetos de pesquisa. Mais adiante, como sugestão, seria

interessante verificar a repercussão dos transtornos de personalidade no

funcionamento de uma sociedade. Mas para isso, é necessária uma análise mais

precisa sobre esta psicopatologia. Pois foi verificado que os transtornos não são

psicoses e estão no limite entre a normalidade e anormalidade.

Chegou-se a conclusão, que ainda não existe uma análise mais profunda

sobre o assunto e o que se tem são pesquisas descritivas. O transtorno mais

abordado é o Anti-social. Talvez por ter uma maior repercussão e visibilidade social,

pois é um transtorno que “produz” os chamados “delinqüente”, além dos famosos

psicopatas e sociopatas; que com certeza, mexem com o imaginário coletivo. Outros

transtornos, não menos importantes, ainda permanecem no “anonimato”. Assim,

seria interessante propor um estudo mais aprofundado.

Outra sugestão para novas pesquisas seria os efeitos que a psicoterapia

poderia causar em indivíduos com algum tipo de transtorno de personalidade. Pois

esta também é uma forma de tratamento.

Por fim, não há nenhuma afirmativa concreta sobre o tema, porém pode-se

perceber que há relevância em observar e pesquisar este fenômeno humano.

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ANEXO

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Lato Sensu”

Título da Monografia: Os Transtornos de Personalidade Influenciando na Dinâmica

familiar.

Autor: Laila de Souza Guedes.

Data da entrega: 01 de setembro de 2003.

Avaliado por: Conceito:

Rio de Janeiro, 01 de setembro de 2003.

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