santos, milton. espaço dividido

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  • 7/30/2019 Santos, Milton. Espao dividido.

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    ~ ~9o ESTADO, OS MONOPLIOS E A

    MACROESTRUTURAO DO ESPAOS t s T O . s , M. l i ~ O \o l:.S?Ct 'J :J ) j v ), D '])0o'"...,.1. Os DOIS CIRCUITOS E A ANLISE GEOGRFICA: O NlvEL ooMACROESPACIAL;::ozoN o estudo dos dois circuitos da economia ur bana do Terceiro ."oMundo, uma das abordagens mais ricas a de suas reper ocusses espaciais.,.A organizao do espao pelos dois circuitos compreende: 1) as,.;::atividades capazes de uma macroorgani zao do espao; 2) as ativida ri"des incapazes de uma macroorganizao do espao. '"..."O Estado e as atividades do circuito moderno, em particular os '":...monoplios e as firmas multinacionais, constituem os d ados essenciais c:,."da m acro organizao do espaaI. As atividades do circuito inferior .n>-otm seu alcance limitado a espaos mais restritos.'"No h muitos traba lhos sobre os monoplios nos pases subdesen.,."volvidos. Por um lado, a ma ior parte dos estudos existentes referem-se ,.mais estabilidade que ao crescimento (Merhav, 1969, p. 7) e freqen .notemente negligencian;l os, problemas de desenvolvimento econmico(Mason, 1967, p. 79). Se, entretanto, alguns economistas interessaram-se ::jI-

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    pelas relaes entre as estrut uras monopolsticas e o espao, como porexemplo Green hut (1963), esse espao em geral se restringe ao espaodas firmas2 Foi Claval (1968) um dos primeiros que sugeriu, de maneira sistemtica, a introduo dessa categoria no estudo geogrfico.

    Fazem muita falta aos pases subdesenvolvidos estudos sistemticos e profundos sobre as relaes entre a natureza do Estado e as formas de organizao da produo. No entanto, poder-se-ia encontrara uma das chaves para a compreenso dos fenmenos da riqueza e dapobre za e sua manife stao espacial, devido solidariedade que existeentre todos esses fenmenos.

    Pode-se acreditar n um simples esquecimento por parte dos especialistas? Sem nem mesmo discutir isso, achamos que indispensvel eurgente considerar, na anlise geogrfica, esse poderoso instrumentode interp retao representa do pelo papel dos monoplios. A tarefa no fcil devido ao grande nmero de incgnitas e dificuldade de umacorreta interpretao dos dados disposio do pesquisador. H, poroutro lado, um grande nmero de evidncias que precisam apenas seranalisadas. O exame das condies do impacto espacial dos monoplios nos pases subdesenvolvidos poder, a partir de casos concretos,fornecer os materiais indispensveis compreenso de seu papel geogrfico. Seguimos o conselho de Harrod (1967), para quem "o trabalho emprico absolutamente essencial neste domnio". Poder-se-iadessa forma comear a trabalhar e a ver bem mais claro nesse terrenoobscuro, espera da construo de uma teoria sofisticada.

    O exame da ao dos monoplios sobre a organizao do espaoevidentemen te no po de ser feito sem se levar emconta outros elemeno

    C> tos como a organizao e a distribuio dos transportes, o nvel dao > :>

    industrializao, as relaes de dependncia internacional, a situaoo geopoltica. Contudo, no parece - e no somente em relao aos..< pases subdesenvolvidos - que a anlise espacial tenha levado em con...o siderao a combinao desses elementos.

    As conseqncias geogrficas da ao dos monoplios no soas mesmas em pases desenvolvidos e subdesenvolvidos. Nos pases

    desenvolvidos, as firmas de grandes dimenses, nacionais ou supra-nacionais, funcionam no plano das especializaes internacionais, emrelao com asTlccessidades desses mesmos pases que formam o centro do sistema mundial. A complementaridade indispensvel. N oocorre o mesmo nos pases subdesenvolvidos, que no tm domnio d omercado.Do ponto de vista das condies espaciais de realizao das grandes firmas, pode-se falar, nos pases desenvolvidos, de uma especializa-o vertical do territrio, A frico do espao relativamente nula esua fluidez assegura a complementaridade funcional entre p ontos diferentes em que as produes complementares se realizam. Nos pasessubdesenvolvidos, s se pode falar de especializao horizon tal, comuma seletividade do espao para os diferentes nveis de produo industrial, devido raridade dos pontos que dispem de vantagens olocacionais significativas. H uma tendncia para as concentraes com

    -iefeitos cumulativos. >oA ao do Estado exercida em todos o s nveis e em todos os esca '"o'"les do espao, mas ela nica no nvel da Nao, no sentido de que, ;::ozpara serem eficazes, todas as outras aes so obr igada s a se adaptar, a o"menos que estejam em condies de comand ar a ao do prprio Estaodo. Entretanto, do ponto de vista institucional, o Estado constitui o

    nvel superior da ar madura . O Espao-Estado o sistema que inclui, e >do qual dependem, todos os outros3 >;::ClA fora atual do Estado decorre essencialmente das novas realida "'"-ides da economia internacional (Na varro de Britto, 1972), criadoras de '"'"

    -iovas necessidades e que obrigam o Estado a se modernizar e a estar CCpresente em toda a parte. A participao nas condies da moderniza '".,.,o tecnolgica conduz o aparelho do Estado a uma srie de obriga ,..oes, seja nas relaes com o mun do exterior, seja para estar em condi '"

    '"es de responder s novas necessidades da populao nacional. No ...>.,.,primeiro casb, a necessidade de criar certos mecanismos ou instrumen otos de trocas internacionais atribui ao Estado o pap el centralizado r nodomnio da moeda , dos impostos, do comrcio exterior, dos bancos. f.J.?J

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    As prprias modernizaes provocam desigualdades de oportunidades entre os cidados. A situao de monoplio acarreta uma distribuio regressiva das rendas (Claval, 1968, p. 160; Jale, 1969, p.129; Preiser, 1971, p. 139; Sylos Labini, 1962 , pp. 12 5-126). A dimenso tecnolgica dos instrumentos de trabalho e dos equipamentos quese tornaram indispensveis vida coletiva ultrapass a as possibilidadesindividuais e faz com que o Estado aparea como a nica soluo pa raesses problemas, tendo que intervir cada vez mais nesses domnios que,h pouc o, eram reservados s iniciativas privadas. Nos mais diferentesdomnios, como a educao, a sade ou as comunicaes, os transportes e a energia eltrica, o progresso e a difuso devem-se essencialmente interveno do poder pblic04

    Hirschman (1964, pp. 216, 217) engana-se ao atribuir falta detalento, de direo tcnica e de planificao,ou a preocupaes eleitorais, o que ele chama de "pulve rizao" dos projetos de investimentos.Isso se deve, em grande parte, ao impacto da prpria modernizaotecnolgica nos pases pobres. Os governos so forados a respondertanto s necessidades reais redescobertas pelos cidados, como s necessidades criadas pelo efeito-demonstrao e pelas mudanas da estrutura da produo no pas.

    Os servios disseminados pelo Estado atravs do pas induzem novas atividades a montante (freqentemente modernas) e a jusante (atividades pertencentes aos dois circuitos). Um nmero importante deempregos ento criados favorece o nascimento de atividades comerciais e de fabricao modernas. Mas, em contrapartida, a modernizao das infra-estruturas, entre elas os transportes, favorece as grandes

    o firmas situadas nos maiores centros urbanos que, ento, vm seu mer.c>.c> cado ampliado e unificado. O Estado modernizador aparece, portan> to, ta mbm como uma condio fundamental da criao e do fortalec>ov cimento das atividades modernas e das formas monopolsticas denquanto o Estado tem um papel misto. Quando? Estado funciona -n,.ocomo suporte dos monoplios pela concentrao das infra-estruturas,

    oge como um elemento de concentrao econmica e demogrfica. m'".Quando o Estado dissemina pelo territrio os equipamentos de natu- >-nreza social, como hospitais e escolas,ou distribui .incentivos aos a gri o

    cultores, um fator de disperso. Cada vez que h a tendncia a equiNpar o pas, segundo uma dete rminad a mitologia de cresciment o ,...00

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    Rosto w (Morse, 1971:; Myint, 1965a; Mishan, 1967), que termina pordar a parte boa s grandes firmas e aos monoplios, os recursostornam-se cada vez menos disponveis, para qUC'DS fatore sde disperso geogrfica se imponham. Modernizao e tecnocracia, sendo sinnimas nas condies atuais, o movimento para a concentrao apoiado por uma poderosa argumentao tcnica, que faz entrever, numfuturo no distante, a difuso geogrfica e social do crescimento. Oresultado, entretanto, o contrrio: pobreza difundida po r toda a parte, pobreza concentrada nos pontos de crescimento. Isso, no podemosnegar, constitui um dos resultados mais graves da associao funcionaldo Estado com os monoplios.

    As METRPOLES COMPLETAS E INCOMPLETASA modernizao do Estado permite falar da existncia de metrpoles, mesmo nos pases muito pequenos ou nos mais pobres. As condi

    es gerais da modernizao tecnolgica fazem com que mesmo asmenores capitais tenham que se equipar de servios de primeira ordem, indispensveis ao funcionamento de um Estado moderno. O nvel dos servios no est obrigatoriamente em relao com o nvel dasatividades p ropriamente econmicas.

    As metrpoles so um fruto da modernizao recente dos pasessubdesenvolvidos por influncia da industrializao mundial dou nacional. Esse tipo de cidades anteriormente no existia nos pases doTerceiro Mund09 As grandes cidades latino-americanas anteriores segunda revoluo industrial (a que comea em torno de 1870) noo podiam ser consideradas metrpoles, se reservarmos esta expressoCIQ para as grandes cidades que se irradiam sobre um vasto territrio e3:Q dotadas de uma importante gama de atividades destinadas a satisfazero as exigncias da vida quotidiana da totalidade da populao nelas con.."' tida, quer dizer, tanto a servio das massas como das classes privilew"..:l giadas. Cidades como Salvador ou Lima, no sculo XVIII ou no inciodo sculo XIX, dominavam um vasto territrio, mas eram incapazesde fornecer a suas classes abastadas os bens e servios considerados

    necessrios, que tinham de ser importados. Os pobres praticamenteno participavam das formas de consumo essenciais.O fenmeno metrpole inseparvel do da grande cidade ou dacapital de um Estado moderno. A grande cidade tornou-se metrpolequando da revoluo do consumo no mundo. Novas necessidades, tantona escala das relaes internacionais como na escala do simples indivduo, no s aumentaram a dimenso das cidades mas tambm provocaram um inchamento e uma diversificao das alvidades.Os dois fenmenos tm relaes de causa e efeito reciprocas. porisso que as grandes cidades dos pases subdesenvolvidos so macrocfalas e os pases que anteriormente no tinham cidades freqentementeentraram na era da urbanizao moderna com cidades de grandesdimenses.As novas formas de produo, consecutivas revoluo tecnolgica, ono poderiam se instalar em outro meio que no fossem as grandes

    '"laglomeraes; alm do mais, a modernizao do consumo que atinge :>os recantos mais distantes do pas age como um desencadeador de o;omigraes que alimentam o inchamento demogrfico das aglomeraes melhor localizadas. ;:ozoMas, necessrio, antes de tudo, entrar num acordo sobre o termo ..o."metrpole". Cremos que, em termos de anlise urbana em pas sub odesenvolvido, uma das maiores fontes de ambigidade vem de um problema de taxonomia. As classificaes mais correntes so de dois ti ;::>pos: 1) as que se contentam com o dado demogrfico bruto e que :>()"distinguem as cidades em funo do volume da populao (cidades '"'"lpequenas, mdias, grandes e muito grandes)'O; 2) as que se referem a

    '":.-luma classificao funcional em que a aglomerao urbana freqente c:.:>"mente aparece desligada da noo de organizao urbana do espao ()(assim, fala-se de cidades industriais, cidades comerciais, cidades ad ""c;oministrativas, cidades religiosas, cidades de repouso ou de frias, cidades universitrias etc.). ..:>"Propomos uma classificao diferente, considerando que a capaci ()odade de organizao do espao pela cidade depende de sel.l nvel funcional. Ter-se-iam as cidades locais, as cidades regionais, as metrpo- $

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    les incompletas e as metrpoles completas (Santos, 1971, capo 2). Asmetrpoles so o escalo responsvel pela macroorganizao do territrio, mas necessrio distinguir metrpoles completas de metrpolesincompletas. Fala-se com muita freqncia de "metrpoles", como setodas fossem da mesma natureza (fig. 5). A funo metropolitana, nospases subdesenvolvidos, exercida em dois nveis. Uma metrpolecompleta capaz de responder a amplas necessidades econmicas esociais com meios segregados por ela prpria, tais como a produo debens de capital ou a elaborao de tecnologias adaptadas s exignciasda sociedade econmica nacional (Santos, 1970, p. 32). As metrpolesincompletas tambm se irradiam sobre um vasto espao, mas s podem exercer a totalidade das funes comparveis a partir de contribuies externas, vindas justamente, na maior parte dos casos, dasmetrpoles completas.

    Nvel superior (metrpole completa) Nvel inferior

    o Q Populao > -1- Integrao de ativiaade"o AI' A, Atividades econmicasto>....

    ..'"oCf,) M FU;UKA 5 - NiVJ:l. OE CnMl'l.EXUlAOE nA ECONOMIA URHANA NOS PJ\S,l:"1i SUBl>liSENVOLVlOOs,. ""

    I;;I

    As metrpoles completas representam os plos econmicos dospases subdesenvolvidos j industrializados (Brasil, Argentina, Egito,Mxico, ndia'c;segundo a definio que se der a "pas subdesenvolvido", a China e a Unio Sul-Africana). Os pases subdesenvolvidos industrializados, em geral, iniciaram seu processo de industrializaoprecocemente em relao aos outros pases subdesenvolvidos. Assim,so capazes de prover a maior parte de suas necessidades em produtosfabricados, inclusive para equipar outras indstrias e assegurar a criao de infra-estruturas nacionais.Quanto s metrpoles incompletas, so uma conseqcia: 1) doatraso da industrializao, no plano nacional ou internacional; 2) dasformas que a industrializao assume, quando ocorre.Todavia, apesar de sua capacidade de macroorganizao do terri otrio, as metrpoles incompletas no dispem da totalidade dos meios

    '",.ldessa dominao e so obrigadas a se completar fora. Podem se comCopletar no prprio pas, se nele houver uma metrpole completa (Salva Odor em relao a So Paulo, Rosrio em relao a Buenos Aires, Gua ;:"dalajara em relao Cidade do Mxico, Alexandria em relao ao OZOCairo etc.) ou no exterior (Abidjan em relao a Paris, Acra em relao '"a Londres etc.). Assim, no primeiro caso, as metrpoles incompletas o'"so regionais e, no segundo caso, so nacionais. '""Nos pases desenvolvidos, exceto em alguns casos raros como o da ;:>,., Frana, difcil falar de uma metrpole completa comandando uma O '" -lrede de metrpoles incompletas. Todas as metrpoles, cujo papel n o '""-lCsomente regional ou nacional, so ao mesmo tempo metrpoles internacionais e metrpoles incompletas. Isso mantm a extrema fluidez de '",..um espao nacional poderosamente integrado, que facilita extremas O'"especializaes, freqentemente em nvel internacional, e complemen O'"..V>taridades igualmente grandes, tambm em nvel internacional. >O

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    INTEGRAO E REORGANIZAO DO ESPAO

    o Estado e as Necessidades de Integrao TerritorialA importncia do Estado na vida moderna explica, em parte, atendncia hegemonia das cidades capitais dos pases. O prpr io exerccio da funo poltica de coordenao de roda a vida nacional acarreta a necessidade de melhorar a infra-estrutura de transportes e decomunicaes ou de cri-la a partir do nada, como em vrios dos novos Estados africanos. Muito freqentemente pode constatar-se umarelao entre a criao de infra-estruturas de transportes e a localizao das capitais (Reichman, 1972, p. 2) e dos maiores centros (Harris onChurch, 1972, p. 2).Durante o perodo colonial, a construo de estradas tambm erapreocupao dos governos metropolitanos. Mas tratava-se, na ocasio, de estradas de ferro e de estradas de penetrao destinadas a

    facilitar o escoamento dos produtos necessrios economia do pasdominante. No se tratava de "rede", e nem de integrao da economia terrirorial.Tal situao conduzia formao de um conjunto de cidades geralmente sem relaes umas com as outras. Contudo, uma das manifestaes essenciais do Estado moderno a constituio de uma redeunificada de transportes. Para Labasse (1968, p. 157), "a rede de circulao , com efeito, a expresso geogrfica fundamental do Estado"ll.Industrializao e Tendncias Integrao Econmica

    oQQ Entretanto, a industrializao que constitui o elemento funda>Q mentaI da integrao do pas. O Estado'tem necessidade de uma redeo extensa de estradas, que ele constri, mesmo em ms condies, de

    Esquema real (aproximadol >-;::>-()"'"..."D "::..;c::.,>-

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    nvel imediatamente superior, mas dirigem-se diretamente s cidadesmais importantes (fig. 6). Mesmo os comerciantes do mercado escapam, em certa medida, da influncia dos fornecedores locais e podemelimin-los, abastecendo-se parcial ou totalmente numa grande cidade. Sem dvida, a distncia, em termos de tempo e preo, pesaparamuitos, assim como o tipo de mercadoria a ser revendida.

    o "Gentro" e as PeriferiasAs situaes chamadas de "bacia urbana" por Kayser (1966) e de

    "economia regional isolada" por Friedmann (1966) so cada vez menos possveis e menos freqentes. Quase no h mais diviso "horizontal" do espao entre as cidades, mas uma diviso "vertical", comuma imbr icao crescente da ao das cidades de diversos nveis.Nummesmo espao, defrontam-se influncias de alcance e intensidade diferentes, o que torna intil a preocupao de delimitar o espao totalmente dependente de uma certa cidade.Essa espcie de exploso das redes "tradicionais" e o impulso davida local no oc ultam as desigualdades de situao entre regies maisprsperas e dominantes e regies menos desenvolvidas e dominadas.De qualquer modo, a cidade local e o campo so colocados na periferia scio-econmica e pagam um preo elevado por sua defasagem: odo empobreci mento de seus habitantes em relao aos das zonas polares do pas.

    Periferia e Empobrecimentoo:::>o A palavra periferia po de ser utilizadaem diferentes acepes. Cad a:>: > disciplina cientifica pode lhe atribuir um significado prprio. Ein tero mos geogrficos, a periferia n o ser definida pela distncia fsica en-oreduz ainda mais a acessibilidade da populao rural aos centros de o"comercializao, abastecimento e servios, o que equivale a um empo '".."brecimento. ;..()o

    Transporte urbano de passageiros, puxado por homen (N. da T.) UFRGS

    \Bslituto de Geocincias

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    a isolamento de uma aglomerao e seu distanciamento do "centro" industrial tambm podem dar aos comerciantes, se estes so pouco numerosos, uma posio de monoplio (Mason, 1967, p. 101) quelhes permite fixar os preos. Isso diminui o nmero de consumidores ereflete-se sobre o resto da economia, mas o comerciante no est perdendo sozinho.Por toda a parte, estar distante sinnimo de ser prejudicado; nospases subdesenvolvidos, estar distante ainda pior; se condenar aser pobre. a termo distncia deve ser tomado numa acepo scioeconmica que caracteriza a situao geogrfica das periferias; no uma questo de distncia fsica, mas de acessibilidade. Preos dos produtos vendidos sensivelmente mais baratos, preos dos produtos comprados sensivelmente mais caros, difcil acesso aos servios privados epblicos, tudo isso caracteriza um capitis diminutio do indivduo emfuno de sua localizao no espao17.a produ tor rural prejudicado como vendedor e como comprador.A fraqueza diante do intermedirio depende de vrios fatores que voda oscilao das colheitas ao tipo de produto que tem para oferecerrapidamente perecvel ou no, facilmente substituvel por produtosimportados ou no, destinado ao consumo local ou a mercados distantes. Se bem que o nmero de intermedirios pese muito, uma coisa certa: o agricultor sempre sai perdendo.a crdito, concedido em diversas modalidades, mais restrito naperiferia. Em Tanganica, Hawkins (1965, p. 134) constatou que, nasgrandes cidades, 85% a 90% das mercadorias so compradas a crdito, enquanto nas pequenas cidades da hinterlndia a porcentagem deso

    ce a 60%. Isso representa um nmero mais reduzido de produtos no> comrcio e, devido carncia de dinheiro, preos mais elevados para oaO comprador.I.>0-vo..: a empobrecimento do produtor rural implica no enfraquecimentowO das possibilidades de desenvolvimento da cidade local vizinha, assim

    como da cidade regional correspondente. Como os resuitados da pro1"1 duo so levados antecipadamente pelos compradores i.itermedi1!

    rios, ou simplesmente diludos devido ao prpr io jogo do mercado emsuas manifestaes perifricas, a capacidade de compra da p opulaorural v-se reduzida. Isso significa que um nmero importante de atividades que seriam suscetveis de nascer na cidade local no o podemmais. Da resulta um encarecimento dos produto s importados e vendidos e um empobrecimento crescente da populao rural e urbana. Cidade e campo, portanto, vem-se sem fora para animar-se mutuamente e as possibilidades de produo e mesmo de comercializaotornam-se um privilgio dos centros mais importantes. Isso dura ato momento em que novos fatores de dinamismo vm se instalar nocampo ou na cidade. Para o primeiro, o caso de uma demanda ext raregional de produtos, e para a segunda, a instalao de atividadestercirias governamentais capazes de aumentar a massa salarial e deprovocar assim um consumo maior. a problema da "marginalizao ogeogrfica" constitui um aspecto extremo das desigualdades regionais. ..,"

    ".oDESIGUALDADES REGIONAIS E COLONIZAO INTERNA..o;::ozAs desigualdades regionais podem ser definidas como diferenas odurveis, localmente interdependentes e cumulativas entre subespaos ... oode um mesmo pas. Condies no somente conjunturais mas tambm

    estruturais s o responsveis por numerosas diferenas durveis, liga >das umas s outras, na escala do espao considerado. ".!!:nA causa motriz dessas inter-relaes locais pode-se encont rar fora "

    .."da regio. por isso que esse fenmeno durvel e cumulativo. Myrdal ..,'"fala da acumulao circular; ele poderia tambm falar de desacumulao ..,:c:circular. pelo fato de os fenmenos de crescimento regional serem acom >(')>-panhados de fenmenos de empobrecimento relativo ou absoluto, em ooutras regies. Sem dvida, combinaes locais felizes podem resistir '"

    '".aos efeitos de assimetria ligados a essas situaes. Se elas impedem, de .">modo provisrio ou durvel, um empoQrecimento absoluto, h to da .(')ovia um empobrecimento relativo. Por toda a parte, a tendncia , porfalta de corretivos enrgicos, a bipolarizao. '"I

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    As desigualdades espaciais so essencialmente de trs ordens:disparidades regionais propriamente ditas, desigualqades cidadecampo, u'ifi'wciao entre tipos urbanos. Em geral, esta ltima leva amacrocefalias.

    Cada uma dessas ordens de desigualdades admite a existncia degneros ou de subtipos, funo dos dinamismos atuais e passados, mastodas elas levam a situaes de dependncia, chamadas de "colonial ismointerno"18 por alguns.

    o Colonialismo InternoA concentrao industrial em um ponto ou em uma regio do pas

    leva ao que muitos gostam de chamar de "colonizao interna "18, pelofato de o resto da nao tornar-se tributria desses pontos ou zonaspara o abastecimento de produtos fabricados e, s vezes, mesmo dealimentos; paralelamente, os espaos "colonizados" financiam o crescimento dos espaos ricos (Bela Balassa, 1965, p. 124), enviando paraeles excedentes de capitais e de homens. Mas a aproxim ao que se fazentre essa forma de dominao e a dominao internacional, em geral, abusiva. A "colonizao interna" favorece os efeitos da difuso, jque facilita a multiplicao. Com efeito, h uma diferena essencialentre o aumento da demanda e a produo de bens para o consumointerno e o aumento da demanda tendo por resposta o recurso s importaes.

    Mas h diferenas a serem registradas, se o pas subdesenvolvidofor dotado de uma indstria evoluda ou no. No primeiro caso, os

    o efeitos de difuso so bem mais considerveis.oo Sem dvida, na situao atual dos pases subdesenvolvidos, os lu>o cros acumulados pelos grupos dominantes constituem um obstculo avo< que os grupos dominados aumentem sua participao nos resultados...., do traba lho coletivo. Mas, esse "colonialismo interno" vai buscar sua

    I...o explicao no "colonialismo externo"; este responsvel pela seleo

    das regies capazes de polarizar e das firmas ou indivduos capazes dese beneficiarem com essa polarizao. Esses indivduos no so obr i

    gatoriamente estrangeiros, como afirma Gonzlez Casa nova (1969a),podem ser tambm nacionais (Havens e Flinn, 1970b, p. 9). Entretanto, o importante a ser ressaltado a filiao direta do que chamadode colonialismo interno em relao dependncia e x t e r n a ~ Apesar deesse fenmeno no ser novo, s com a modernizao tecnolgica assume expresso generalizada no Terceiro Mundo.

    De fato, as diferenas entre uma situao de colonizao econmica externa e uma situao de colonizao interna so mltiplas. Entretanto, duas dessas diferenas nos parecem fundamentais. De um lado,e apesar das condies de dependncia, a propagao dos efeitos decrescimento possvel com a colonizao interna, dada a menor importncia dos obstculos sua difuso, graas, entre outras coisas, integrao relativa dos transportes 19 De outro lado, e pelos mesmosmotivos, o jogo do mercado mais livre de restries institucionais,

    osobretudo quand o h ausncia de impostos e de taxas internas. '"...."oder-se-ia acrescentar a isso a possibilidade, aberta ao Estado, de ,..

    corrigir as disparidades regionais e de instaurar novos equilbrios. Mas oantes seria necessrio buscar os limites de uma tal ao na presente ofase da histria econmica. No ser ela tardia num perodo tecnolgico ;::ozoem pleno vigor, se no h uma modificao das relaes do Estado ."com o sistema econmico internacional? ,...oo"Apesar do estmulo do Estado, os empresrios nacionais foram

    ,..naturalmente conduzidos a aumenta r a extenso dos setores e das re ;::gies j desenvolvidos, ampliando assim o fosso em vez de reduzi-lo" I >-""(Jaguaribe, 1969, p. 426). O Estado, por meio de sua poltica de trans-' '"'"...portes, comunicaes e investimentos, assim como atravs de sua pol c"....tica econmica geral e financeira, fiscal e urbana, pode ser uma causa c:'"-de agravamento ou de criao de novas desigualdades. .()>-oaO controle da demanda pelo Estado pode funcionar como um ins otrumento de agravamento das disparidades regionais. Nos anos de 1940,'"por exemplo, na Arglia, a distribuio de algumas mercadorias era .">-racionada. Assim, os distribuidores atriburam a Algrois, regio de .()o

    pendente de Argel, uma quota equivalente a 50% dos bnus disponveis, enquamo a populao correspondente representava somente 20% tJl:5l

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    do total nacional. Para a regio oriental, onde fica Constantine, e queabriga 37,7% da popula o, as disponibilidades oferecidas ao consumo eram de apenas 20%. O fato de Constantine ser, na poca, o mai orprodutor de txteis da Arglia e de toda a frica do Norte no foilevado em conta. A origem dessa poltica deve ser buscada no fatocolonial e na localizao dos colonizadores no interior do pas. Essestinham prioridade na distribuio dos bens importados ou dos produtos locais.A expresso colonizao interna - utilizada para definir uma situao de desigualdade regional ou urbana, com migrao dos recursospara uma regio e uma cidade j ricas - , portanto, uma expressoperigosa. O paralelismo que ela pretende evocar em relao ao comportamento internacional poderia prestar-se introduo de uma analogia que acabaria por remeter ao mesmo nvel dois fenmenos denatu reza e de conseqncias diferentes.Um exemplo desses equvocos dado pelo modo como Hirschman(1964, p. 214) define o colonialismo interno do "Norte" sobre o "Sul",que equivale a pregar o abandono de toda a poltica de industrializao e de integrao nacional consecutiva; ele parece preferir que asregies mais atrasadas do "Sul" continuem a importar do exterior, sobo pretexto de que os preos dos produtos manufaturados so maisbaratos2o Essa poltica levaria ao levantamento de barreiras aduaneiras no interior do pas e a elimin-Ias para a entrada direta dos produtos industrializados, o que teria como conseqncia no s a impossibilidade de o "Sul" se industrializar mas tambm o enfraquecimento e

    o o aniquilamento das possibilidades de crescimento do "Norte".c A noo de troca desigual, to p r o v e i t o s ~ na anlise das relaes'" entre pases do centro e pases perifricos "qualquer que seja o produ'"v to que uns e outros apresentem para a troca", aplica-se exclusivamen....... te ao plano internacional. No plano nacional, a troca desigual no'"o existe (Emmanuel, "change ingal et politrque de dveloppement",[s.d.J). '8. ri

    I

    As Disparidades RegionaisNo m:omcnto atual , disparidade regional e o que se chama de "colonizao interna" so praticamente sinnimos. Mas nem sempre foiassim. Se as situaes de desigualdade exprimem-se com mais foradepois da chegada dos colonizadores europeus, elas sempre existiram,se bem que com uma outra definio. Mas n o podemo s falar de colonizao interna seno a partir do momento em que, ao lado de uma'lmodernizao seletiva no plano geogrfico, ocorre igualmente umaacumulao tambm seletiva no interior do prprio pas .Como funciona esse mecanismo? As regies, qualquer que seja seugrau de dinamismo, no dispem por elas mesmas, enquanto espaosde produ o, de mecanismos ou instrumentos suscetveis de coloc-Iasem relao umas com as outras. Esses mecanismos so sobretudo da oalada do setor tercirio, embora, com freqncia, alimentados pelas

    -tatividades do setor secundrio. por isso que a cidade o lugar de seu ,.V>desenvolvimento. '"oV>Sem dvida, poder-se-ia parar e perguntar se nessas condies asdisparidades regionais so criadoras de cidades de expresso difere nte o::zo

    ."u se so as cidades, pela diversidade de seu dinamismo, que cria m as o,..disparidades regionais. oA questo exige que seja colocado o problema de filiao em termos dinmicos. A cidade nasceu do impacto das condies internacio :::,.nais sobre as condies regionais num ponto privilegiado do espao. o,.'"Sua evoluo depende, em parte, das possibilidades que lhe so aberV>tas po r novos impactos do sistema internacional e, em parte, de sua .,.-tc:fora adquirida. A regio evolui igualmente pelo contato com as for -tc:,.as externas, nacionais ou internacionais, e em funo das influncias, :.-ono somente da cidade prxima, mas do sistema de cidades como um '"todo.-eA questo de saber a partir de quando a cidade pode crescer inde V>,.pendentemente da regio circundante inseparvel de uma aborda .()ogem histrica. S os pases que foram colonizados - poltica e economicamente - aps a revoluo dos transportes terrestres, consecutiva IV

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    segunda fase da revoluo industrial, puderam conhecer uma integraoespacial, ainda que incompleta e defeituosa, antes da modernizao doEstado e da industrializao. Nesse caso, a evoluo do sistema era,ao menos no incio, diretamente dependente de decises externas, e acidade dificilmente podia adquirir uma fora autnoma.Em otros pases, ocorre a formao de sistemas urbanos quaseisolados. Efetivamente, no se pode falar de um sistema de cidadesantes da integrao nacional pelos transportes (ainda relativa). estaque permite a existncia de relaes entre as cidades, a constituio deuma rede urbana que , de incio, um fato poltico antes de se tornaruma realidade econmica. Esta s possvel aps a industrializao,mesmo embrionria, do pas.A industrializao modifica as relaes entre a cidade e o campo.Na realidade, tra ta-se de relaes entre todo o sistema de cidades e osdiferentes campos, e o crescimento das duas categorias espaciais ,ento, condicionado e interdependente, paralelamente ou alm da influncia das bases impostas do exterior.Os fenmenos de acumulao dos recursos tornam-se ento maiscomplexos e so caracterizados por uma acumulao das possibilidades econmicas em algumas cidades e regies. As cidades que se tornaram mais poderosas do ponto de vista da produo industrial esto emcondies de atrair e utilizar - e mesmo de exportar - uma parte substancial da renda das outras cidades e regies. Esse fenmeno contemporneo da integrao nacional da rede urbana, mas no se pode pensar no domnio, por uma cidade, do resto do espao nacional, seno apartir da ultrapassagem do estgio de industrializao de subsistncia

    o ligado exclusivamente populao e s produes primrias. Essa si-oo tuao mais ligada a causas demogrficas e locacionais, enquanto a> industrializao diversificada supe uma infra-estrutura a seu servioov e um mercado mais extenso que o da cidade e de sua regio... Se as desigualdades regionais assim como as desigualdades de ren..."o das podem ser consideradas como um resultado do sistema de decisesI (Robirosa et aI., 1971, p. 52), necessrio levar em con ta o fat;o d3:>astro, 1971, p. 283). (')'"Mas, em outros lugares, a integrao (se essa modalidade de cres o'""..cimento puder ser assim chamada) feita tambm diretamente com o '":...exterior. o que Maza Zavala (1969) chama de um "crescimento pe c:'"rifrico", no sentido de que seus efeitos no aJingem a prpria regio >>-de modo propulsor. o'"s vezes, os fenmenos de crescimento registrados em algumas'"regies deprimidas no significam que as disparidades regionais este '"">jam em vias de diminuio ou de ahsoro . as atividades recente omente instaladas so responsveis por relaes privilegiadas com ou-tras atividades locais ou pela utilizao de materias-primas da regio, ::8tJ

    MinasGerais o

    ...",.'"o;::ozo'"o

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    possvel que os'efeitos cumulativos assim provocados contribuampara reduzir os desnveis. Em caso contrrio, ocorre crescimentoestatstico, dito s vezes econmico, mas- no crescimento social ousocioeconmico. As quantidades globais aumentam, mas nem o bemestar nem a distribuio das rendas melhoram. , sobretudo, o caso dainstalao de cidades industriais mais ou menos diretamente ligadasao exterior; tambm o caso das indstrias de exportao que se estabelecem para se beneficiar de vantagens comparati vas locais, inclusivemo-de-obra barata.

    A fora do centro mais sensvel nas periferias, quando essas soatingidas por transpor tes modernos, pois a carncia de vias de comunicao age como um freio concorrncia com os centros melhor equipados e permite s cidades distantes do centro industrial do pas veremsua indstria aumentar at o nvel em que as exigncias de infra-estruturas de transportes so mnimas.

    Assim, na periferia, freqente as indstrias no serem muito dinmicas. O Estado mais meridional do Brasil, o Rio Grande do Sul, queteve um progresso relativo de sua estrutura industrial no perodo de1949-1959, perdeu essa vantagem no perodo seguinte, entre 1959 e1969.

    RIO GRANUlO no SUl.: E.TIWTURA INOUSTKIAI.1949

    R. G.do Brllsil R. G.do Brasil R. G. doind.strias Sul Sul Sultradidonais 63,0 77,9 48,9 67,5 48,4 71,2dinmicas 36,S 21,5 49,1 32,1 50,3 27,8oo

    o Fonte: Carrion 1970, p. 54.>oo Explica-se esta situao, na primeira fase, pela frico do espao,o( que permitiu capital do Estado e aos principais centros urbanos rea'""'o lizar uma espcie de substituio de imp'ortaes no interior do pas.

    Desde que os transportes tornaram-se mais fceis, paralelamente ampliao da produo em So Paulo, a concentrao aqui manifesta

    da trouxe como resultado dificuldades de crescimento para o resto doterritrio que no fazia parte da regio motriz nacional, ou seja, queno se situava no centro industrial do pas.

    De uma maneira geral, as relaes inter-regionais, s vezes, sofeitas pela incorporao de alguns espaos a novas zonas dinmicas eem funo das necessidades destas.

    Isso pode ser feito de dois modos: por efeito de contagium direto, seh vizinhana ou proximidade entre as duas reas interessadas, e distncia, quando o espao incorporado dispe de condies locaisnecessrias produo de alimentos ou de matrias-primas indispensveis atividade do centro. Nos dois casos, a inter-relao regionalpode ser vantajosa para a regio incorporada no sistema funcional deuma outra regio mais desenvolvida.

    Mas h casos de inter-relao com empobrecimento, e esses so os omais freqentes. Isso ocorre de trs maneiras: quando, pela atuao ..;"dos intermedirios, h transferncia de produtos brutos baratos com >"compra, a preos elevados, de produtos manufaturados e de alimen o'"tos; quando so as regies empobrecidas que financiam, pela transfe ::com as novas condies de vida que representam para eles um >()desequilbrio local insuportvel. olO

    ..;'"MIGRAOES E ORGANIZAO DO ESPAO ..;c>c'"

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    sultados de alcance limitado. Morril (1963, p. 4) lastimava o fato, referindo-se aos gegrafos, mas isso vlido para o conjunto das disciplinas.

    A maior parte das abordagens peca pela importncia excessiva atribuda s motivaes pessoais21 , em vez de'fonsiderar as migraescomouma expresso espacial dos mecanismos de o d e r n i z a ~ : Diretamenteligada considerao de razes pessoais a abordagem segundo aqual haveria, de um lado, fatores de atrao e, de outro, fatores derepulso. Isso conduz a tr"tar um mesmo espao como se fosse dividido em dois campos de foras e no em termos de sistema. A carncia,nesse domnio, talvez seja mais sensvel quando se deseja apresentaruma interpretao puramente estatstica. Por exemplo, num artigomuito citado, Harris e Todaro (1968, p. 35), aps terem definido aproximadamente a populao urbana como a soma "de uma populao jpresente e de uma popu lao imigrante", resumem o essencial de seupensamento terico sobre as causas das migraes dizendo que "osindivduos migram em resposta s diferenas de renda esperadas". Paraesses dois autores, o modo rural nasceria de um desnvel entre rendasagrcolas e rendas urbanas. Por conseguinte, se as rendas agrcolaspudessem se equipara r s rendas urbanas , as causas das migraes desapareceriam e um equilbrio demogrfico seria estabelecido. Talassero vem de uma generalizao um pouco apressada de situaesverificveis somente em alguns pases do conjun to do Terceiro Mundo.Com efeito, os pases subdesenvolvidos industrializados ou em vias deindustrializao entram em contato ao mesmo tempo com uma influncia modernizadora da grande cidade sobre uma parte do campoprximo , cujo modo de produo torna-se "industrial" e que, portan to,

    o pode pagar salrios bem elevados a seus trabalhadores, e tambm comoo um xodo rural que impele grande nmero de pessoas para o setor> tercirio "primitivo" urbano. Os salrios urbanos podem ser menoso o elevados que os de vrias atividades agrcolas modernas, mesmo das..< regies pobres. Assim, no Maranho e no Piau, 41% das pessoas ocu'"IO padas nas atividades agrcolas tinham uma renda superio r a Cr$ 100,00.

    (cem cruzeiros), enquanto somente 26% dos indivduos ocupados nosM' \ ~ e r v ' i o s urbanos ultrapassavam esse montante (R. Costa, 1971b, p. 5).,j

    t e economicamente inferior, de indivdUos com nvel tecnolgico mais'"u- elevado; as migraes ascendentes, tambm resultado do crescimento cuja independncia recente, dos pequenos pases que outrora tiveramoo superfcies maiores e dos pases em que as eco nomias de escala so taisw...< que no permitem o nascimento de cidades intermedirias (B. Bercy,...o 1971).Todavia, essas definies so descritivas e discutveis. No certo, .'8 como pensou Hoselitz, por exemplo, que a taxa de consumo, consi""

    derada globalmente, como ele fez, seja superior da produo; a recente independncia nacional tambm no , como pretende B. Berry,uma causa maior da macrocefalia. O caso da Argentina e oMxicocontradizem essa afirmao.O que importa, como lembra K. Davis, no a cidade primacial emsi mesma, mas os fatores responsveis por essa situao: o mesmo grauestatstico de primazia pode ser eficaz ou ineficaz, do ponto de vistaeconmico (K. Davis, citado por R. Morse, 1971). um grave errolimitar a definio do fenmeno a uma equa o simples entre efetivosdemogrficos, como se a primazia fosse, antes de tu do, um fe nmenodemogrfico.

    A primazia urbana deve ser entendida luz das realidades histricas que levaram a uma acumulao num s ponto do territrio, estando essa seletividade na origem de novas instalaes e nov as acumula o'"es (Wingo, 1969, p. 121). Esse mecanismo agrava-se nas condies ...">atuais, tendendo a uma concentrao em todos os setores da atividade "?oeconmica, social e poltica.A crescente concentrao econmica provoca seus pr prios proble :!:oZomas: as grandes cidades primaciais mostram-se cad a vez mais difceis ."o..-de serem controladas e cad a vez mais desligadas das necessidades e das ooportunidades emergentes no resto do pas. No entanto, o fenmeno '">da primazia no em si mesmo uma evidncia de parasitismo ou de :!:>nrescimento desequilibrado, como lembram Browning (1959, p. 116) e "Britton Harris (1959); no , em si mesmo, um obstculo ao desenvol '"...vimento (Alonso, 1968, p. 4). c:...c:Os sistemas urbanos nacionais so, antes de tudo, o resultado de>acumulaes e de impactos novos, oriundos das condies do sistema

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    ! A Macrocefalia Reversvel?

    Alguns pensam que irreversveF9. Nas condies atuais dos pasessubdesenvolvidos capitalistas, uma mudana espontnea de situaodever-se-ia, antes de tudo, a causas externas, por exemplo, uma modificao das prprias bases do sistema histrico em que vivemos. Entretanto, uma ao coerente do Estado tambm pode dar resultados. No o caso, entretanto, de iniciativas seletivas e setoriais (Gauthier, 1971,p. 2) que, em geral, provocam o resultado oposto.

    Retomemos a questo j colocada por Harrison Church (1972): "possvel pensar numa descentralizao que no seja desejada?" Desejar aqui sinnimo de levar em considerao todo o conjunto de causas internacionais e nacionais que provocam as macrocefalias. Masisso implica uma programao pblica coerente e slida, conduzidapor um Estado consciente das dificuldades que qualquer tentativa demodificar o status quo levantar. Trata-se de abordar o problema daurbanizao como um subsistema do sistema mundial e nacional, e amacrocefalia como uma de suas manifestaes 3o Isso muito difcil,pois seria necessrio contrariar a atuao espontnea das foras domercad031 Estas so um fator de concentrao econmica e geogrfica e, portanto, urna causa de macrocefalia. Ora, quando se trata deforas poderosas, principalmente de origem externa e representativasde capitais multinacionais, os governos vem-se desarmados em matria de planificao; a menos que se decidam a modificar a natureza desuas relaes com o sistema econmico internacional (Santos, 1973).Mas isso equivale a modificar as opes fundamentais do Estado, o

    o que raramente considerado.QQ> As CIDADES INTERMEDIRIASQo.. '"< As cidades locais tiveram um impulso particular nesses trs ltimos..."o decnios, devido difuso de novos modelos de informao e de con

    sumo agindo como fatores de disperso espacial. Entre os novos cono sumos, alguns exigem urna freqncia e uma acessibilidade que sero

    satisfeitas com o nascimento e o desenvolvimento de aglomeraesurbanas de nvel mais baixo. Todavia, a cidade local no pode responder a certos tipos de demanda e necessrio dirigir-se a um nvel urbano mais elevado na rede: a cidade intermediria, que oferece produtos e servios quantitativa e qualitativamente mais diversificados.

    Pode acontecer de a cidade local ser promovida categoria de cidade intermediria. Mas, de um modo geral, a cidade intermediria nasce de uma transformao da cidade regional.

    Com efeito, no atual perodo tecnolgico, a cidade regional, chamada ainda de cidade "mdia", torna-se cidade intermediria. Seu poderde comando e sua influncia sobre a regio diminuem e ela se torna,cada vez mais, um rel da merrpole32 Antes, tratava-se de verdadeiras cidades regionais, que dispunham de um poder de comando certosobre a rea circundante. O isolamento, devido no-integrao dostransportes, as reforava em seu papel de verdadeiros ncleos distribuidores de bens e servios e polarizadores da produo. Mas agora,enquanto a produo industrial tende a se concentrar em um pequenonmero de cidades e sobretudo na metrpole, a revoluo dos transportes facilita o encaminhamento direto dos produtos aos centros detransformao e/ou de exportao, e assegura uma melhor difuso dosprodutos fabricados. A cidade regional se v privada de seu antigomonoplio e seus privilgios e torna-se a cidade intermediria.

    Freqentemente, a localizao permanece a mesma, mas as funestransformam-se substancialmente, assim como o tipo de relaes coma regio circundante. Mas tambm h casos em que certas cidadesregionais entra m em decadncia. Incapazes de assumir novas tarefas,elas descem ao nvel de cidade local. Em todos os casos, a dinmica daorganizao do espao muda substancialmente.As condies de afirmao ou de declnio das cidades "mdias"dependem no s de sua proximidade fsica da cidade maior, mas tambm da organizao nacional e local dos transportes, do tipo de produo regional, assim como da repartio das rendas urbanas e regionais. Quan to ao fenmeno de transformao em cidade intermediria,. .ocorre um aumento do volume da populao da cidade, bem como um

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    I I aumento relativo do nvel de vida nas regies suficientemente distantesdo centro vital do pas para permitir o desenvolvimento de atividadesregionais. Quando a distncia virtualmente reduzida e/ou o nvel de-renda no evolui, ocorre uma decadncia das velhas cidades regionais.

    Grandes Cidades e Cidades IntermediriasEssas cidades da rede, tm suas possibilidades de crescimento limi

    tadas pela tendncia concentrao das atividades nas metrpoles econmicas, mesmo se sua localizao for favorvel e, muitas vezes, adespeito de uma demanda local e regional para algumas produes33

    H oposio entre cidade primacial e cidade "mdia", devido prpria natureza da macrocefalia. Com efeito, esta ltima fruto direto da atual exigncia de concentrao econmica e poltica e de suasrepercusses espaciais. A grande cidade parece ento fazer um vcuoao seu redor, monopolizando as atividades, diminuindo ou anulandoas possibilidades de as outras cidades do sistema realizarem essas atividades, ao menos no mesmo nvel quantitativo e qualitativo. Esse processo, alis, apenas a expresso de uma adaptao s condies impostas pelo exterior e que fazem com que a modernizao e industrializao passem pela concentrao.

    Cidade intermediria e metrpole nacional tm, portanto, as mesmas origens, mas a ltima beneficiria do sistema.

    As situaes de migrao das indstrias dinmicas e de alta produtividade do centro do pas para a periferia menos desenvolvida, comodescreveu Berry (1971, p. 116), so, portanto, difceis de se encontrar

    o nos pases subdesenvolvidos, salvo se houver interveno de prograQQ mas de c o r r e ~ o das regies deprimi,das.B. Berry considera que, devido ao nvel elevado dos salrios naso maiores cidades, as indstrias teriam interesse em se deslocar para asu-

    i o. j cidades de dimenses inferiores. N o parece que ele leve em conta as, '"O situaes de .monoplio que geralmente acompanham a instalao deindstrias modernas. Os salrios no aumentam mais rpido que aprodutividade e a rentabilidade depende em grande parte de condies

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    Iespao" (Ratcliff, 1959, p. 302) entre metr pole e cidade intermediria, esta ltima ser favorecida. A sorte das cdades mdias, portanto,depende muito da organizao dos transportes.A melhoria dos transportes, pela reduo dos preos que impe,oferece s firmas j., estabelecidas no centro uma vantagem suplementar, pela realiza o de economias de escala antes no atingidas (Roweiss,1970, pp. 29-30). As pequenas firmas, tradicionais ou modernas, situadas na nova zona de influncia das grandes indstrias, tendem, assim,a desaparecerH "A reduo do custo dos transportes faz recuar asisolinhas crticas e conduz produo em grande escala, o que arrunaa pequena indstria que estava a servio dos mercados locais e antesera protegida pela frico do espao" (Roweiss, 1970, p. 31).

    o Circuito Superior Marginal freqente encontrarem-se atividades do circuito superior marginal nas cidades intermedirias. Mas suas caractersticas e suas relaes

    com outras atividades da cidade no so as mesmas que nas metrpoles. De fato, as relaes existentes entre a atividade industrial do circuito superior tpico e a do circuito superior marginal variam segundose trate de uma metrpole completa, de uma metrpole incompleta oude uma cidade intermediria. (A partir daqui utilizaremos principalmente as abreviaes CS para designar o circuito superior tpico e CSMpara o circuito superior marginal.)

    Na metrpole completa, a distncia geogrfica entre os dois tiposde estabelecimentos nula. O mercado unificado, apesar da difereno a dos preos de custo devido s diferenas de nvel tecnolgico e::>

    organizacional. Essas diferenas ajudam a estabelecer mais que uma>Q complementaridade, uma verdadeira cumplicidade no nvel do mercaoI.> do. o prprio princpio do funcionamento dos oligoplios que en-..metrpole, mesmo as grandes firmas industriais do CS podem criar Coosem dificuldades seu prprio aparelho comercial, o mesmo no ocorrena cidade intermediria, onde o atacadista surge como um agente in o!:zodispensvel, tanto para a produo do CS da metrpole como para a ."o.do CS ou do CSM da prpria cidade intermediria. oNa cidade intermediria, a indstria "marginal" deve se preocupar

    >com seus preos, quando, na metrpole, o acordo aberto ou tcito com i!:>a indstria moder na permite a esta ltima impor preos mais elevados I'l'"e aumentar assim seus lucros. Na cidade intermediria, toda oscilao-idos preos para cima pe em perigo a atividade do CSM, j que assim ,.Ca concorrncia do CS acha-se facilitada, e o ramo "marginal" torna-se C-i:o>mais suscetyel de ser esmagado pelo ramo concorrente da metrpole. na metrp'crle e nas cidades regionais. Nas cidades intermediarias, o

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    'I, :1 o da demanda, desempenhando esta um papel motor e no, comoij atualmente com os monoplios, um papel cndicionad035

    j Tal s i t u a ~ l ) . c o n s t i t u i um elemento de fora para o CSM, que seriaI utilizado em sua concorrncia com o CS monopolstico do centro dopas?

    As possibilidades de concorrncia esto diretamente ligadas a umaespcie de fracionamento geogrfico do mercado, devido s condiesdiferentes da distribuio. Com um comportamento adaptado vidaregional, o CSM s pode temer as tendncias integrao. Cada vezque a metrpole se relaciona diretamente com as cidades locais, o CSMdas cidades intermedirias torna-se vulnerveP6.

    Poder-se-ia imaginar que o mercado que cabe s cidades intermedirias equivale diferena entre o mercado nacional potencial e os mercados locais que podem ser atingidos pelo CS das metrpoles. Mas issoseria muito simplista. Outros fatores interferem. Com efeito, o CSMdas cidades regionais dispe de um certo poder multiplicador, agindosobre a economia da cidade e sobre os seus arredores. Poder-se-ia imaginar, por outro lado, que a acelerao da urbanizao deveria contribuir para matar o CSM. Mas a urbanizao acelerada segue a modernizao acelerada, e essa no se realiza sem o empobrecimento relativodas massas (distribuio regressiva das rendas), sobretudo nas periferias.Assim, no ocorre o desaparecimento do CSM, mas sua co-habitao,tanto com o circuito superior como com o circuito inferior.

    De um modo geral, as cidades regionais abrigam indstrias cujomercado raramente ultrapassa a regio. Freqentemente, esse mercado se reduz prpria cidade (Rochefort, 1964; Norro, 1972). Assim,

    o enquanto o centro do pas passa a abastecer uma parte crescente doQterritrio graas progresso da rede de transportes, as cidades peri:;

    Q fricas vm sua zona de influncia retrair-se, seja qual for a impor tno cia de sua populao. O comando regional feito sobretudo por inter'"o.'" mdio dos servios raros, da competncia do governo ou originadosI ...o diretamerrte das necessidades da massa de habitantes a ser atendida.Cada vez que uma cidade privilegiada pelas funes poltico-adminis'S trativas, essas possibilidades aumentam.

    No se pode, portanto, concluir que os centros intermedirios notm nada a oferecer a seus habitantes nem s pessoas da regio, comopretende um estudo de Resources for the Future (1966, p. 40). Segundo esse estudo, os centros intermedirios tendem no somente a serpobres, mas tambm passivos, e contrastam com a vitalidade dos centros mais desenvolvidos. Eles so esquecidos na distribuio dos servios pblicos e outros. Tm pouco a oferecer aos migrantes do campoalm de uma escala em seu caminho para a cidade grande e, geralmente, no tm capacidade de dar uma resposta agricultura em evoluo,nem mesmo de melhorar suas prprias condies.

    As cidades intermedirias oferecem um certo nmero de bens inacessveis de outro modo, assim como servios de nvel intermedirio emesmo superior, De outro lado, elas se apresentam como um relno-negligencivel para a ao do Governo.

    ooiUm Exemplo: Barquisimeto. na Venezuela >V>

    "oBarquisimeto, na Venezuela, cuja populao de cerca de 500 mil '"habitantes, um caso tpico de cidade intermediria que tem uma fun o:z:oo a preencher frente sua regio de influncia, apesar de suas difi o...culdades para que as indstrias modernas venham se instalar. Servida opor uma boa rede rodoviria que a aproxima do centro vital (core areal ,.do pas, Barquisimeto procura compensar esse obstculo pela criao de :;::>uma infra-estrutura industrial e comercial que lhe seja prpria. no"A cidade, por tanto, desenvolveu principalmente indstrias destinaV>'"das ao consumo direto da populao. Trata-se de uma multiplicidade -I'"de atividades artesanais e de pequenas indstrias que empregam uma -IC

    mdia de 2,2 pessoas. O artesanato representa 50,7% do nmero total ,.."o"das fbricas, mas emprega apenas 6,3% das pessoas ocupadas no setorsecundrio. Se acrescentam-se os estabelecimentos com menos de 5 '"empregados, o artesanato e a pequena indstria representam 90% do ..V>total dos estabelecimentos. Entre as indstrias tradicionais, 32,9% so

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    BARQUISIMETOESTRUTURA DA PEQUENA INI)STIUA

    ___._ ..... _._ _ ....Setor

    ConfecoConstruoIndsrria metalrgicaIndstria mecnicaImprensa

    __ -l____ ~ r t e s a ~ ~ a t o I.% dos MdIaestabelecI' de em Il1Ientos ;11- pregos ldustria/s I .

    Pequena indstria% dos Mdiaestabelec de em-melltos in- I, pregosdllstriais61 4,3 39 10,425 3,844 3,230,539

    2,92,9 J-

    Fonte: J. P. Garcia, 1970.

    Ao se considerar a evoluo da organizao jurdica da indstriamanufatureira (acima de cinco empregados) de Barquisimeto, constata-se, entre 1963 e 1969, um aumento das porcentagens correspondentes s empresas familiares e uma diminuio das sociedades annimas e sociedades coletivas. Nesse perodo, o nmero de sociedadesaumenta 58 ,4%, enquanto o das empresas familiares aumenta 242,5 5%.Isso significa que a cidade se terciariza mais, e que a massa da populao pobre correspondente favorece a criao de empresas de pequenadimenso. Mas, ao lado dessa tendncia disperso, existe tambmuma certa tendncia concentrao, correspondente ao circuito moderno, incluindo-se o circuito moderno marginal. Numerosas atividades modernas so representadas por uma s empresa.A cidade abriga, assim, as atividades de fabricao que pertencem

    o tanto ao circuito superior tpico, q uanto ao circuito superior marginalo e ao c ircuito inferior.> n '"

    O-OO"'"'"""O poder de taxao das municipalidades na {ndia e no Paquisto bem pe >queno; rnuius dentre elas t i : ~ m a maior parte de SUa r:cnda d" impostoi ohioleti.Essa fragilidade financeira freqentemente acompanhada de uma fraqueza administrativa, salvo excees notveis" (Wellis:t, 1971, p. 74). $

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    No Mxico, as despesas totais dos Estados e Territrios representavam em 1964somente cerca de 1,3% do PNB, as dos municpios 0,4 %. As despesas do governofederal atingiram 8,9% do PNB. As rendas totais de todos os Estados reunidoseram 12% das do governo federal (Roberto Anguiano, 1968).7. Referindo-se s novas necessidades impostas pelo perodo tecnolgico, Roweiss(1970, p. 2) lembra que "com a padronizao vem a hierarquizao e os processospadronizados exigem um alto grau de controle e de coordenao". Essa refernciaaplica-se pelo menos a algumas funes do Estado moderno, nos pases subdesenvolvidos, onde "uma falha na centralizao pode provocar a desordem em todo oprocesso"8. Na Venezuela, a parte dos Estados e municpios reduziu-se de 15% para 13%,entre 1960 e 1967. A dos institutos autnomos sobe, no mesmo perodo, de 11 %para 45%. Como conseqncia, as despesas federais controladas pelo Congresso eoutra s instituies constitucionais baixam de 74% para 41 %, o que leva a concentrar mais a deciso. Isso aparentemente acarreta a descentralizao do investimento pblico. Dos 30% que constituem a contribuio do Estado, por intermdio desuas despesas, ao produto territorial bruto, 13,5% pertencem aos institutos autnomos. Na realidade, o poder discricionrio do poder executivo aumentou.9. "A metropolizao funo da tecnologia contemporne a n (Roweiss, 1970, p. 6).10. A esse respeito, ver principalmente S. Gurel, 1970.11. A integrao do pas uma das funes do Estado, diz Kaplan (1970, p. 189)12. Na Arglia, o trfego areo nos d uma indicao muito ntida da ausncia derelaes entre as capitais regionais. Os vos que saam de Constantine (94%) erampara Argel, os que saam de Oran eram, em mais de 99%, para Argel. Entre as duasprincipais cidades argelinas, depois da capital, Constandne e Oran, no havia nenhum vo direto (Cote, 1968, p. 156). De um rotal de 61167 viagens, 60066 eramentre Argel e outras cidades.13. Para ir de Ancara a Samsum ou Adana em 1948-1949, o tempo de viagem era de22 a 35 horas, respectivamente. Esse tempo reduziu-se a 9 e 7 horas, em 1962(Rivkin, 1965, p. 113).Barry Ridell (1970a, p. 41) mostra como em Serra Leoa o tempo que se gastavaem 1920 para se chegar ao que hoje a periferia da capital o mesmo que, atualmente, gasta-se para atingir a metade do pas.Em Bangladesh, a melhoria da rede' rodoviria empreendida a partir do inciode 1960 (a densidade das rodovias multiplica-se por 7,5 entre 1963 e 1967) cont ribui para um importante aumento do nmero de veculos em circulao, para reduzir os custos dos transportes em 40%, para melhorar os preos pagos aos produtores (de 8% a 34%, segundo os produtos nos mercados primrios e de 13% a 65%nos mercados secundrios), para aumentar a monetarizao da economia e paraaumentar cOllsideraveimente a Importancla dos mercados, tanto em relao aonmero de comerciantes quanto ao montante das operaes (J. W. Thomas, 1971,pp.205-213).

    14. Sobre isso, ver Mortimore (1972) e Madhusudan Singh (-1964) para Meerut, nandia.A Guatemala no dispe de uma rede importante de rodovias e as que foramconstrudas recentemente so grandes estradas internacionais (Pan AmericanHighway, Adantic Highway, que vai at Puerto Barrios, e Pacific Highway).15. Comparar, por exemplo, a situao na Sucia (Karlqvist, 1971) da costa leste deMadagascar. Na Sucia, 28% da populao vivem na regio mais desenvolvida edispem de todos os servios numa regio de 10 km c 20% situam-se na regiomais desfavorecida, em que a distncia para encontrar os servios necessrios de80 km.

    SITUAO EM MADAGASCARPopulao e(etivamettteservida pelas rodovias(na prpria rodo vi,,)

    Percentagem dapopulao situadaa menos de duas!]Oras aAntalaha 20 38Fnrive 19Tamatave 20Mamanjary 2SFarapangana 29

    Moramangana 23Fore 22

    414847614246

    o'"'"..>?t:o:!:oz..o,..Na regio de Kanpur, na ndia, 36,6% das aldeias no dispem de nenhuma o rodovia, um tero tem rodovias que no so pavimentadas, impraticveis durante o '"as chuvas de mones. Somente 28,7% tm acesso a rodovias pavimentadas (E. A. '">-Johnson, 1970, p. 194). As 4100 aldeias que no dispem de rodovias abrigam :!:>uma populao igual da Noruega (mais de 3 milhes) (E. A. Johnson, 1970, ()p. 195). A possibilidade de acesso aos bens e servios assim consideravelmente o dificultada. Isso significa tambm um empobrecimento. '" ...",..tadas (J. W. Thomas, 1971, p. 205). o '" 17. A disparidade dos preos entre a cidade e o espao circundante freqentemente '".""escandalosa. Na regio de Bouak, Le Chau (1966) constatou uma diferena de 1 > .na 3,5. Na cidade, pode-se.comprar 1 kg de acar com o produto da venda de 4 kg o

    cl ill1.auH:; nas feiras rurais, necessrio dis por de 14 kg de inhame. Segundo J. Wilmet (1964), "a ao dos centros urbanos se faz sentir sobretudot..Inum sentido centrpeto e a cidade enfraquece, assim e em seu proveito, os campos ""'..UFRGSInstituto de Geocincias

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    circundantes, sem nenhuma vantagem para estes. Mas, pelo fato de as civilizaestropicais serem essencialmente rurais, isso enfraquece o desenvolvimento das cidades, enquanto plos de tecnicismo".18. O problema do colonialismo interno nos pases subdesenvolvidos j deu margem auma literatura importante. Entre outros, consultar Coleman (1960), Hirshman(1964), Hoselitz (1962). W. Lean (1969), Bela Balassa (1965), R. Dumont (1962),

    Framo. Fanon (1968), Gonzlez Casanova (1969a), Havens e Flinn (1970a), WrightMills (1965), l. Cotler (1967), A. Ernmanuel (1969), A. Quijano (1965).

    19. Como lembra W. Lean (1969, p. 173), "a comunho das leis, da lngua, da moedaetc. facilita as trocas entre s regies de um mesmo pas, enquanto as diferenas devidas a esses fatores reduzem as possibilidades de comrcio entre diferentes pases".20. "Diversos efeitos desfavorveis ou de 'polarizao' provavelmente tambm atuaram. A concorrncia do Norte arrisca a tornar periclitantes as atividades industriais e de exportao do Sul, cujo rendimento comparativamente fraco, mas que,entretanto, criam rendas. Na medida em que a industrializao do Norte baseia-senos bens que o Sul no produz, este ltimo ainda se arrisca a perder com isso,tendo em vista que dever comprar do Norte os produtos manufaturados, protegidos por barreiras aduaneiras recentemente levantadas, em vez de produtos similares antes importados do estrangeiro a preos inferiores" (Hirshman, 1964, p. 214).21. "No podemos explicar o vasto movimento da populao rural para as cidadesestudando apenas os motivos individuais dos migrantes. Devemos, antes de tudo,analis ar as mudanas est ruturais da soci edade .. " (Sjoberg, 1966).22. Produtividade do artesanato no Marrocos:

    Grandes 23. No Haiti, a O xodo feito sem escala da aldeia para Port-a u-Prince, numa proporQ o de 75%" (Chss, 1971, p. 13). No decurso de uma pesquisa, dois teros dosou- homens de uma favela do Rio de Janeiro responderam que sua origem era rural ou..'" que vinham de uma pequena cidade (Bonilla, 1961, p. 77)...."o 24. Michael McNulty Ijaneiro de 1969, fi. 17'i) i n < i < t ~ no flHO cI" C!1I" O< movim"ntoA maerocefalia tambm pode ser o resultado de uma m escolha, quando ela oexiste, por par te do governo. A preferncia dada a certos tipos de indstrias "freqen

    t e m e n ~ e conduz concentrao ou polarizao do desenvolvimento em algumascidades, principalmente nas reas metropolitanas do pas" (Gauthier, 1971, p. 2). """w

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    30. "A urbanizao dependente provoca uma supercOflcentrao nas aglomeraes(primate cities), uma distncia considervel entre essas aglomeraes e o restantedo pas, e ruptur a ou a inexistncia de uma rede urbana de interdependncia funcionai no espao" (Linsky, 1965).

    31. " .. O mecanismo do mercado leva concentrao geogrfica da atividade e dapopulao devido s economias externas de aglomerao que aumentam com alocalizao de firmas nas proximidades de outras firmas, por causa do overheadcapital e tambm em relao com uma fora de trabalho bem formada e bemtreinada" (Hansen, 1971, p. 193).

    32. Segundo B. Kayser (1972), no se deveria mais considerar a existncia desse escalo intermedirio na Amrica Latina, visto que a cidade intermediria tem cadavez menos autonomia em relao as atividades regionais. Na frica Negra,constata-se um declnio relativo ou absoluto do papel dos centros secundrios comoplos regionais (Marguerat, 1972). Para L.V. Thomas (1972), no o caso deenfraquecimento, mas de ausncia de cidades mdias, no Senegal.33. As grandes cidades aambarcaram o essencial da produo industrial deixandobem atrs, nesse terreno, as outras cidades do pas. Assim, no Marrocos, a produco industrial muito limitada fora de Casablanca. Um clculo de H. Bguin (1970)mostra, de um lado, as relaes entre o produto e, de outro, a parte desse mesmoproduto industrial relativo a cada cidade, no total do setor que engloba todo o

    pas. No primeiro caso, Casablanca com 24,8% atinge propores trs vezes superiores as da cidade localizada em segundo lugar nessa classificao, Meknes (8,6%).No segundo caso, Casablanca (23,1% ) responsvel sozinha por um valor quatrovezes maior que o da capital do pas, Rabat-Sal (5,9%).

    No Zaire, Makanda (1965, p. 74) observa que a industrializao de Kisanganiparece muito prejudicada pela existncia de Kinshasa (ver, tambm, Mutambai,1971). Uma publicao oficial brasileira mostra que a preponderncia funcional esobretudo econmica do complexo urbano de So Paulo, seu poder de concentrao e de atrao dos fatores nacionais de produo, enfraqueceram as possibilidades das outras concentraes urbanas (SERFHAU, 1971). H. Lamicq (1969) achaque em Mat urin (Venezuela) as atividades industriais se desenvolveram pouco apesar da presena de um mercado de consumo relativamente importante.34. "A reduo dos custos dos transportes permite atingir mais depressa as isolinhaso (isodapalles) crticas. O resultado um movimento para a aglomerao e a produ

    '" o em larga esc>l.la, que leva falncia das pequenas indstrias que servem os,. mercados locais e que antes eram protegidas pela frico do espaoft (Roweiss,oo 1970, p. 31).Na Venezuela, por exemplo, Maracaibo teve durante sculos uma situao'" comparvel de Caracas como cidade-porto, cidade-comercial e aglomerao da..."o produo. Quando Caracas comea a organizar o espao nacional em seu proveitoe seguno parmetros modernos, da v aumentar suas possibilidades de evoiuo

    giada para a distribuio dos produtos numa parte da rea antes comandada porMaracaibo. Como o processo de industrializao acompanhado de restries importao de produtos manufaturados, isso corresponde a uma perda de dinamismo das antigas cidades-porros, capitais regionais.35. Estamos de acordo com William Glade (1969, p. 8), para quem "mesmo as pequenas unidades de poder de compra, quando reunidas em quantidade suficiente, podem criar um mercado significativo para certos tipos de bens manufaturados".36. "A produo das pequcnas fbricas tradicionaisde Mrida (Venezuela) consumidapelo mercado local, mas sofre a concorrncia mui:o forte de produtos similaresvindos de outros lugares c vcndidos pelas casas de comrcio locais" (J. Valbuena,1966).

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    >-:>(l'"m..."c".....c>>-Q"'"'":>nI industrial. As outras cidades, ligadas a Caracas por novas rodovias, tornam-se;r 'tj,.... rels da capital. () caso de Barquisimeto, que assim obtm uma posio privile- VI

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    IaDOIS PROCESSOS DE INDUSTRIALIZAO E OS

    DOIS SUBSISTEMAS URBANOS

    '"""()'"o"

    DOIS PROCESSOS DE INDUSTRIALIZAO '"czN o captulo sobre o circuito superior, descrevemos os dois pro c"cessos de industrializao dominantes nos pases subdesen ..;"'"volvidos. Um est essencialmente ligado ao consumo doms ,.tico, enquanto o outro OCorre em funo de um mercado no-domstico. N>.(lChamaremos de industrializao A o primeiro tipo de atividade indus >-otrial moderna voltada para o interior e de industrializao B o segundo otipo de atividades industriais voltadas para o mercado externo. '""Esse esquema certamente no perfeito. De um lado, firmas cria odas para servir o mercado da cidade podem, num dado momento, au '"'"mentar sua dimenso e exportar uma parte de sua produo. Por outro '"'"lado, firmas cuja produ o desde o incio destina-se exportao po ..;'"l:dem ao mesmo tempo, trabalhar para o mercado interno. Mas opta- >cmos aqui por analisar as tendncias dominantes.'"'"Por industrializao A e B, referimo-nos mais aos processos que s zformas. Algumas eml1(esas (forma) podem ser representativas dos dois , oprocessos; a mesma cidade (forma) pode abrigar os dois tipos de industrializao (processo). ':iI

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    I As possibilidades de instalao desses dois processos na red e urb ana no so iguais (fig. 7). Enquanto, as possibilidades de industrial izao A so rna:0res nas metrpoles, sobretudo na metrpole completa,quando o pas possui uma, vo se reduzindo medida que se desce naescala de importncia e de complexidade urbana. Quanto industrializao B, suas possibilidades de instalao so muito menoshierarquizadas; muitas so as indstrias que podem estar presentesemtoda a rede. O ti po A necessita de economias externas firma e tem dese apoiar em infra-estruturas regionais ou nacionais, enquanto as indstrias do tipo B s tm necessidade de infra-estruturas locais e, emgeral, podem criar economias externas no interior da firma ou irbusc-las distncia, no pas ou fora dele. A localizao das indstr iasmodernas voltadas para o exterior , at certo ponto, uma localizao"livre", na medida em que essas atividades so capazes de criar oufazer criar, fcil e rap idamente, o meio de que necessitam.

    A industrializao do tipo A corresponderia a uma velha idia deR. Prebisch que, ento, pregava a criao de uma economia internacomplexa (S. Amin, 1971, pp. 251-252). Mas tal processo, s podeabranger algumas cidades de uma rede. Com efeito, se at a Segunda

    Industrlalizallo A Industrializao BMetrpolecompleta

    Metrpoleincompletaoo o Cidades> il1termedi6.riaso o..,.'" Cidades locais'"'"o

    M FH;UI(A 7 - I N I ) U S " ' R I A U ~ " " , o A 8 NA REDil URliANA.

    Guerra Mundial a industrializao dos pases subdesenvolvidos podiaser exclusivamente do tipo A, excetuando-se as indstrias de e xporta o coloniais tradicionais, no ocorre mais o mesmo com as possibilidades de se criarem indstrias de reexportao ou simplesmente voltadas para os mercados externos. No necessrio que a economia sejatotalmente voltada para fora para que esse tipo B de indstrias estejapresente.

    No que concerne unicamente s indstrias de exportao, a entra-da em cena das firmas multinacionais marca uma modificao importante nos princpios de localizao.

    As formas precedentes de organizao industrial encontravam oconjunto das condies de sua instalao num mesmo ponto do espao, com freqncia a cidade-porto, capital do pas. Tratava-se de insta c;olaes porturias indispensveis a sada dos produtos, de infra-estruturas "'o"comerciais, bancrias e de comunicaes, assim como do aparelho do C'

    '"Estado. A organizao do sistema de transportes, inicialmente basea '"'"do nas estradas de ferro, favorecia a concentrao das atividades. As c;dificuldades de transpor te e de comunicaes em relao aos pases do z

    C'"cdade de infra-estruturas regionais e as infra-estruturas locais so facil

    ..'"mente instaladas pelo Estado. De um lado, a preocupao com o cres >zocimento do Produto Nacional Bruto e a crena no milagre daindustrializao levam os poderes pblicos a criar zonas industriaispara atrair os empresrios, reduzindo suas despesas de instalao. Po r

    t

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    outro lado, essas indstrias aproveitam-se dos overhead capital j instalados na cidade para as necessidades da populao. por isso queum grande nmero dessas indstrias pode instalar-se em todos os escales urbanos. Portanto, no de se espantar que as firmas gigantes dospases do centro possam se interessar, doravante, por regies deprimidas, de baixo nvel salarial, sobretudo se o Estado empreende programas regionais de desenvolvimento com todo o tipo de incentivos aosnovos investidores.

    As indstrias modernas voltadas para o exterior instalam-se portodo lado, sem se preocupar com um mercado interno efetivo ou potencial. Seu mercado externo. As razes que explicam sua instalaodevem ser procuradas, em primeiro lugar, nas condies internacionais. Sua presena numa cidade no um indicador da categoria dacidade na rede urbana. Certas indstrias, particularmente as ligadas smatrias-primas pesadas, tm mesmo toda a vantagem em se estabelecer em cidades industriais criadas especialmente para receb-Ias, emgeral pelo Estado, que considera essas atividades fundamentais para aindustrializao e a modernizao do pas.Os Dois Subsistemas Urbanos

    As condies atuais da atividade industrial nos pases subdesenvol"-i; vidos obrigam-nos, portanto, a considerar a rede urbana com o constituda por duas redes superpostas. Uma est ligada principalmente satividades industriais voltadas para o pas; a outra, s atividades voltadas para a exportao.

    o Essas duas redes, que tambm chamaremos de subsistemas, definem-seQmais em termos de funcionamento do que em termos de morfologia.::-

    Q As conseqncias de ordem geogrfica de cada uma delas so bemov diferentes. Com efeito, se elas se superpem em escala nacional, algu..< mas aglomeraes, contudo, s dispem de um tipo de industrializa'"I '"o o, o que permite distinguir as aglomeraes pertencentes exclusivamente a um dos dois subsistemas de produo industrial. o caso dascidades de atividades de minerao e das cidades industriais.

    Haveria, por tanto , um subsistema que rene os tipos A e B de industrializao e um outro subsistema que corresponde somente ao tipode industri.tlizuo B. Chamaremos de "urbanizao 1" o subsistemaque compreende os tipos A e B de industrializao, e de "urbanizao2" o que compreende apenas a industrializao B. No se exclui que aurbanizao 2 possa evoluir para a urbanizao 1.

    No caso da urbanizao 1, quanto mais elevado o nvel de integraodas atividades industriais na cidade, maior sua capacidade de domina o sobre o espao circundante, assim como sobre o resto do pas.Apesar de uma certa dependncia em relao ao exterior, a atividadedas cidades na urbanizao 1 , em grande parte, voltada para o interior do pas. Poder-se-ia definir o subsistema 1 como volt ado para dentro e nation building; enquanto o subsistema 2 seria predominante e o'"voltado para fora, e espolador. "Considerar esse subsistema 1 como nation building no significa s o'"por isso que o lucro obtido nas atividades correspondentes permanea no "'"'pas. Sem dvida alguma, uma parte importante drenada para o exterior. "'c;Mas, por oposio ao outro subsistema, a rede natio1t building dispe de zuma certa capacidade criativa e de um poder de estimulao interna. c;"'A existncia desses dois subsistemas urbanos e a organizao do -l".r-espao que lhes corresponde so uma conseqncia direta da nova di N,.viso internacional do trabalho.

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    A definio e o contedo de cada um desses nveis funo dascondies da organizao do espao no atual perodo tecnolgico. Asmetrpoles representam as formas de concentrao e as cidades locaisso representativas principalmente das formas de disperso. Quantos cidades intermedirias, elas so representativas de uma espcie decompromisso entre as duas tendncias.

    Em geral a metrpole o nico lugar que pode reunir as formasmodernas da vida econmica, social e poltica. O dinamismo de suainterao leva a uma concentrao cumulativa dos recursos. As cidades locais nascem ou desenvolvem-se como uma resposta a novas necessidades, principalmente no domnio do consum o; elas constituem onvel mais baixo, o limiar que permite a uma aglom erao satisfazer asdemandas gerais mnimas de uma populao. As cidades intermedirias representam o lugar onde a demanda nascida de um consumo maisexigente encontra uma resposta em sua capacidade de produo e/oude distribuio. O aparecimento dessas cidades intermedirias funo do taman ho do espao que deve ser servido, de sua densidade econmica e da organizao dos transportes, agindo esta ltima como ummodificador das duas condies precedentes.A terminologia cidade primacial, cidades mdias e cidades pequenas s pode ser aplicada quando se considera um pas como uma unidade isolada. Ela perde todo o valor comparativo quando se procuradefinir e classificar o fenmeno urbano alm do quadro estritamentenacional. por isso que preferimos as denomina es metrpo le, cidade intermediria e cidade local, muito mais qualitativas do que quantitativas.

    o Em cada escalo (metrpole, cidade intermediria, cidade local), acaglomerao assegura as funes prpria s de seu nvel mais as funes" dos nveis inferiores. Assim, a metrpole ao mesmo temp o metrp oc o le, cidade intermediria e cidade local. Mas a cid ade local tem somente-., sua funo de cidade local, mesmo que a atividade dos mercados periwo dicos possa aumentar consideravelmente sua importncia, embora deI modo temporrio. Esta d i s t i n o . n gratuita, pois o circuito inferior, como explicaremos em seguida, tem apenas um alcance local.

    O que verdadeiro para a hinterlndia, tambm o para o interiorda cidade. , ainda uma vez, o acesso aos diferentes bens e servios quetem importncia. Algumas pessoas podem ter acesso, de modo perm anente, a todos os bens; outras so obrigadas a fazer uma escolha eescalonar no tempo suas compras; h os que, embora residindo numacidade multifuncional, no tm meios de utilizar suas mltiplas funes. A idia de "cidade-regio" deve ser retida; a distncia fsica aqui substituda pela distncia social, funo do nvel de vida das diferentes camadas sociais.

    Localizao das Atividades Modernas e..Desmantelamento" da Rede

    A localizao das atividades modernas voltadas para o interior supe a presena de foras de concentrao tais como o tamanho dacidade, seu nvel de cosmopolitismo, a presena de economias exte rnase de externalidades, a existncia de infra-estruturas nacionais e regionais que servem essa cidade. A concentr ao das ativid ades nas metr poles explicada por uma maior acessibilidade informao geral eespecializada, assim como pelas maiores facilidades no uso deinfra-estruturas de comunicao. Mas, a proximidade do poder pblico tambm intervm como um elemento determinante. A macrocefalia,do mesmo modo que a tendncia a uma hierarquia geogrfica entre asatividades modernas, resulta da combina o desses elementos. Em escala nacional, a rede urbana comandada pelo circuito moderno.

    As cidades locais tm possibilidades limitadas de criar atividadesmodernas por causa do tamanho reduzido de seu mercado e tambmpor causa do carter monopolstico de certas atividades regionais decomrcio, cujo efeitosobre os preos reduz ainda mais o nmero dosconsumidores. As cidades intermedirias no podem criar atividadesmodernas em relao com a dimenso de seu mercado potencial qua ndo a atividade em 9\.lesto j existe na metrpole, em condies quetornam a co mpetio difcil, se no impossvel. Por outro lado, as modernas vias de comunicao ligam os grandes centros de produ o aos

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    A .Do campo para osdiferentes nveis urbanosRelaes horizontais:

    Relaes

    principais centros de consumo e so, portanto, um obstculo suplementar criao de certas atividades modernas nessas cidades. Enfim,o papeLrlominante da metrpole industrial provoca um curto-circuitodas cidades intermedirias, que assim se acham sem poder de comando efetivo.Friedmann e Stohr (1967) teriam razo ao pensar que "a hierarquia urbana do mesmo modo que a regio so mais conceitos quefaros"1?

    Esta distribuio espacial das atividades modernas e a ausncia deuma hierarquia entre os centros explicam a multiplicidade dos fluxosascendentes (pessoas) e descendentes (bens), que levam a um verdadeiro desmantelamellto da rede (Santos, 1966) ou, em todo caso, odesmantelamento da rede urbana em sua concepo tradicional. Todas as cidades do sistema tm relaes diretas com as cidades maiores,sem necessidade de intermedirias (fig. 6). Gormsen (1972) provouisso para o Mxico, e B. Kayser (1972) elaborou uma teoria mais geralsobre o assunto para a Amrica Latina.Esse esquema seguramente imperfeito. Para se abastecer, certoscomerciantes so obrigados a pa ssar pelos atacadistas das cidades vizinhas de dimenses superiores; por outro lado, as aglomeraes de nvel infra-urbano, geralmente fora das rodovias mais transitveis, soincapazes de se dirigir diretamente s metrpoles industriais ou mesmo s grandes cidades da regio, permanecendo assim tributrias daaglomerao mais prxima.

    No quadro de um estudo geogrfico, necessrio tambm levar emcont a os espaos agrcolas, tentando definir seu grau de modernizao.o A ~ l O d e r n i z a o do c a m p ~ : p o d e se dar em resposta a uma deman'" da estrangeira, no caso das culturas comerciais ou industriais de ex\>C\ portao, ou em resposta a uma d e ~ a n d a da indstria nacional. Elao pode vir, por outro lado, da ao governamental para incentivar a pro-< duo alimentar, ou ser muito simplesmente uma "modernizao es'"'"o pomnea" consecutiva ao desenvolvimento urbano. Essa moderniza

    o dos campos acompanha-se quase sempre de um curto-circuito daspequenas cidades, que reforado pela tendncia do circuito sup erior

    UIta.. Entre cidades: dos nlveis superioresVI para os nlveis inferiores

    FU;IIIt.\ X

    a se concentrar. A modernizao agrcola supe um aparelho comer ociaI, administrativo e bancrio de que as pequenas cidades, e muitas ovezes as cidades mdias, no podem dispor. As grandes cidades coaambarcam o essencial das trocas com as regies rurais em cresci ..c"mento e s out ras aglomeraes da rede s deixam responsabi lidades e'"'"lucros mnimos._O papel das pequenas cidades t orna-se c ada vez mais; '"...;::o de redistribuio, e cada vez menos o papel de coleta. rn>No se pode pensar em uma perfeita integrao entre a cidade e o c ., campo circunvizinho. As relaes tendem a tornar-se duplamente >Z ..ossimtricas. De um lado, no h coincidncia entre os tipos de oferta '"providos peia CIdade e os tipos de demanda que ela recebe. Por outro ,jlado, se as atividades I;o-'modernas ou tradicionais do campo man- V.I

    O SISTEMA GLOI'AL I>AS REt.At,;ES URIlAN\S. ....">N>.("),..

    Metrpole c:ompletll.

    Melrpole incompleta

    Cidades intermedillrias

    Cidades locais

    co'"ircuito inferioro()verticais: circuito superior m'"'"o'"cc..

    z

    v

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    tm relaes estreitas e obrigatrias com as atividades.de mesma natureza na cidade; no ocorre o mesmo com as atividades rurais modernas, cu jas relaes freqentemente se efetuam com uma grande cidadeque pode ser at mesmo a metrpole nacionaF,Haveria, portanto, relaes verticais entre as atividades modernasda rede, os fluxos respectivos atravessando as zonas de influncia docircuit o superior das cidades de nvel diferente, enquanto entre as atividades no-modernas da cidade e de seu urban field as relaesseriam horizo1ttais (fig. 8), ou seja, eles se localizam no interior dazona de influncia local da cidade.

    Mobilidade Diferencial e Significado da RedeA seletividade que caracteriza a implantao espacial do circuito

    moderno leva essencialmente a dois resultados: a) a imobilidade decertos bens e servios, cuja aquisio ou uso permanecem limitadosaos locais de produo; b) a imobilidade de certos indivduos, por diversas razes incapazes de se deslocar para onde esses bens e serviospodem ser adquiridos.

    Para certos tipos de consumos, todo indivduo, qualquer que sejasua condio ou seu nvel de renda, prisioneiro da cidade. o casodos bens e servios que, por sua natureza ou devido freqncia dademanda, exigem uma proximidade no espao e no tempo. Para outros consumos, a capacidade de escapar da sujeio ao mercado localdepende da mobilidade do indivduo, que est em estreita ligao comsua posio na escala das rendas.

    o Quanto aos consumos menos dependentes de uma resposta imediaQ ta, no espao e no tempo, sua satisfao depende de um certo nmerO>Q de fatores. Por exemplo, d perfil de consumo de cada grupo de rendaQ

    o depende a obteno das economias de escala necessrias produo..

    u-< de certos bens ou sua comercializao. A distribuio da populao'"'"o na cidade, a i m p o r t n c i a ~ d o s veculos privados assim como a orga " i ..nizao dos transportes' coletvos intervm iguaimente como modificadores. A situao da cidade na rede urbana um outro fator im,j

    portan te; ela se define em funo do nvel da cidade de dimenses superiores mais prxima e da acessibilidade desta s camadas abastadas da aglomerao hierarquicamente inferior para o abastecimentode certos bens e servios. Quanto maior essa acessibilidade, mais difcilse torna para a cidade de nvel inferior promover atividades modernasde produo e de comrcio, mesmo se h um mercado potencial nolugar.Todavia, necessrio mostrar outras duas possibilidades: a criao, pelo Estado, de certos servios no local; e a criao, por umafirma "de exportao" instalada na cidade, de uma atividade novanecessria a seu funcionamento, mas que pode, ao mesmo tempo, trabalhar para outras firmas ou para a comunidade. Nesses dois casos, h ca implantao de novas atividades sem relao direta com o nvel da odemanda local. '"""'"Assim, a criao de atividades modernas na cidade no depende ""exclusivamente das condies potenciais do mercado, definidas po r '";)um certo nvel das atividades preexistentes e por uma certa distribui '"co das rendas. Certas atividades motrizes podem facilitar a moderni zczao da economia. A possibilidade de criar localmente uma at ividade c

    .;"moderna tambm depende dos preos estabelecidos nas cidades prxi ",..mas mais importantes, assim como das possibilidades e vantagens de >um deslocamento das camadas abastadas da populao para fazer suas >-N,."compras. O mercado potencial tem seu ncleo nas classes suscetveis ode um consumo freqente, mas tambm formado pelas compras pe o'"ridicas dos indivduos da s classes menos favorecidas. oA situao, entretanto, diferente para cada produto. As variveisc:"que devem ser consideradas so as economias de escala prpri as a cada.... produo, a importncia e o nvel de organizao das produes situa .;" '" '"

    das nos outros pontos do espao; as dificuldades e os custos dos t rans li:>portes; o volume e a freqncia da demanda local; a participao das c:'"classes pobres na demanda. '"zoQuanto mais complexa e integrada a economia urbana, mais os '"preos tendem a ser inferiores aos verificados em outras cidades domesmo sistema, ao se considerar os mesmos produtos nas mesmas con

    I

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    http:///reader/full/atividades.dehttp:///reader/full/atividades.de
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    dies de qualidade. Assim, os consumidores que tm mobilidade tendem a ir obter esses bens nas cidades de nvel superior, na medida emque os custos de deslocamento no representem um obstculo. Masessa diferena de preo no tem significado para os consumi dores semmobilidade, que permanecem prisioneiros das cidades de economiamenos evoluda para o essencial de seus consumos e, s vezes, para asua totali dade. O esquema (fig. 9) simplifica as diversas situaes possveis, pois s representa a cidade de um nvel muito elevado deintegra o das atividades econmicas e a de nvel mais elementar.

    Para cada indivduo, segundo sua renda e suas possibilidades decrdit o, segundo sua mobilidade e o bem comp rado, o papel de cidaderegional pode ser assumido tanto por uma cidade intermediria comopor uma metrpole.

    Se considerarmos a cidade local como o fornecedor dos consumosque exigem uma resposta imediata, pode-se concluir que ela exerce

    PreOl elevados Preos baixos~ ~ O----..:::;0-:;--

    o Consumidores no dotadosde mobilidade~ Populao+ Integrao de atividadeAIAZ Alividades eeonmi

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    indstrias similares domsticas, reduzindo ainda mais a influncia nacional sobre certos setores da produo.

    So as "cidacles'!":!lue, no espao nacional, representam a mais ntida expresso dessas atividades industriais voltadas para o exterior. Nasoutras cidades, os dois tipos de industrializao acham-se lado a la do echegam mesmo a se confundir, embora as zonas industriais geralmentesejam o habitat das indstrias voltadas para o exterior, mesmo queinicialmente elas tenham sido c