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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
CRIANÇAS E JOGOS: A PARCERIA IDEAL PARA O
DESENVOLVIMENTO INTEGRAL
Por: Carina da Cunha Porto
Orientadora
Prof. Ms. Fabiane Muniz
Professor Ms. Marco A. Lamosa
Niterói
2007
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
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CRIANÇAS E JOGOS: A PARCERIA IDEAL PARA O
DESENVOLVIMENTO INTEGRAL
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Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em
Psicomotricidade por: Carina da Cunha Porto.
3
AGRADECIMENTOS
....a meu marido, Flávio, aos amigos
compreensivos, a minha mãe, Sueli,
minha irmã, Carla e especialmente aos
meus sobrinhos, Iaman e Sofia, por
serem a minha inspiração e frutos de
observação.
4
DEDICATÓRIA
...dedico a toda minha família, em
especial minha mãe, Sueli, minha irmã,
Carla, meu marido Flávio e meus
sobrinhos, Iaman e Sofia; aos meus
amigos especiais e aos professores, pois
sem eles seria muito difícil alcançar mais
essa nova conquista em minha carreira
profissional.
5
RESUMO
O referente estudo tem como objetivo central abordar como tema jogos
e crianças, enfatizando essa relação como de grande importância para o
desenvolvimento integral infantil, ou seja, mostrando a importância da prática
de jogos como forma de estímulo no processo de desenvolvimento e
aprendizagem, envolvendo basicamente crianças de zero a no máximo 12
anos, quando inicia-se a fase da adolescência. Não se tem como objetivo
trazer conclusões sobre determinado tema abordado, mas sim alertar para a
importância da ludicidade no processo de desenvolvimento infantil, assim
formulando a seguinte questão: qual a contribuição dos jogos para a
psicomotricidade? Busca-se, então, com esse trabalho mostrar a valorização
dos jogos no processo de maturação da personalidade infantil, abrangendo os
aspectos afetivo, cognitivo e motor.
No primeiro capítulo trará como o tema a Psicomotricidade, trazendo
uma pouco de história, conceitos e áreas de atuação de psicomotricistas
produzidos por diferentes autores. No capítulo seguinte serão abordadas as
teorias do desenvolvimento infantil idealizadas pelos autores: Freud, Piaget,
Wallon e Vygotsky, que trazem importantes contribuições para o entendimento
do desenvolver da vida infantil por diferentes visões. E para finalizar a obra, o
terceiro capítulo trás como tema o jogo e o desenvolvimento psicomotor, onde
serão encontradas conceituações e classificações para os jogos; a teoria do
desenvolvimento psicomotor por um dos autores mais importantes da
educação psicomotora: Lê Boulch; definições das funções psicomotoras a
serem trabalhadas através dos jogos; e enfim a importância que os jogos
trazem na evolução da vida infantil.
Considerando que o caráter lúdico é inerente a criança e o ato de jogar
como uma atividade possível de ser realizada por crianças de todas as idades,
torna-se necessário uma proposta que traga este recurso como metodologia
para ser aplicada e estimulada durante todo o desenvolvimento integral infantil.
6
METODOLOGIA
A metodologia principal adotada para execução deste trabalho foi a
pesquisa bibliográfica que envolveu a leitura de vários livros, produzidos por
diferentes autores, buscando realizar uma riqueza de opiniões e teorias. Para
Larosa e Ayres (2005, p.35), as pesquisas bibliográficas:
“permitem ao pesquisador obter conhecimento para a
solução do problema através da busca referências ao
assunto estudado em documentos, livros etc. publicados
anteriormente. Pode atuar como parte de outras formas
de pesquisa ou de forma independente”.
Além da leitura de livros, foram realizadas consultas de artigos na
internet, porém sem a utilização dos mesmos, efetivamente, durante a
produção desta obra, pois através dos estudos realizados nos livros referidos
foi possível encontrar as respostas para o problema questionado nessa
monografia. Como principais autores para a realização desta obra, pode-se
citar Rappaport, Mello, Oliveira, entre outros.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
8
CAPÍTULO I PSICOMOTRICIDADE
11
CAPÍTULO II ALGUMAS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
26
CAPÍTULO III A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
56
CONCLUSÃO
92
BIBLIOGRAFIA
96
ÌNDICE 91
8
INTRODUÇÃO
O objetivo principal deste trabalho é mostrar a importância da prática de
jogos para desenvolvimento integral infantil.
Desde o momento em que uma criança é gerada no ventre de sua mãe
ela já começa o seu processo de desenvolvimento e amadurecimento
fisiológico e orgânico. Durante nove meses, os fatores biológicos básicos vão
se construindo no bebê, seu corpo vai desabrochando, formando as mãos, os
pés, os pêlos, formam-se os olhos, a boca, os órgãos genitais e o coração, que
já bate forte. O neném que ainda nem nasceu já se alimenta e respira para
sobreviver no ambiente da barriga materna. Os aspectos essenciais para a
sobrevivência estão se aprontando para a vida externa que o espera.
O nascimento ocorre e começa a luta da criança pela sua sobrevivência.
Ela se deparar a um mundo novo e diferente do qual ela estava acostumada e
deverá se adaptar a ele por toda sua fase infantil e até mesmo por toda a vida
e para isso muita coisa deverá ser aprendida e desenvolvida. Assim, começa-
se a ser notável a presença da Psicomotricidade, que passa a fazer parte da
vida desde o primeiro dia de nascimento do novo ser, pois trata do ser humano
e do seu corpo em relação ao mundo em todos os aspectos: afetivos,
cognitivos e motores.
É a partir de seu corpo que a criança começa suas primeiras relações
com o mundo externo. Através do movimento reflexos, como a amamentação,
passa a desenvolver seus primeiros contatos e suas primeiras emoções,
através do relacionamento mãe-bebê, ou seja, começa o desenvolvimento
afetivo, através do carinho, do amor e aconchego do colo materno. Esse
momento é especial e de extrema importância para o recém nascido, pois o
fator emocional é valioso no processo psicomotor de uma criança. Assim o
9
bebê vai crescendo e juntamente com esse processo temos outros dois que
ocorrem de forma paralela e unida, que são os processos de desenvolvimento
e aprendizagem. É possível encontrar diferentes teorias sobre o
desenvolvimento infantil. Dentre elas pode-se encontrar as inatistas, que
defendem que a criança se desenvolve e aprende através de características
inatas, que já nascem com ela, ou seja, o ambiente externo só age
fortalecendo-as, o aprendizado ocorre através delas; têm-se também as
ambientalistas, que defendem que a aprendizagem só é possível através do
ambiente que a cerca, depende da sociedade para aprender e tem-se as
interacionistas, que buscam defender que a criança nasce com características
inatas, porém depende do mundo externo para se desenvolver plenamente.
A criança é um ser social e aprende muito em sociedade e para isso ela
também precisa ser estimulada. O estímulo externo é sempre de grande
importância para o seu processo mútuo de desenvolvimento-aprendizagem e
por isso se deve sempre estimular durante todo o processo de maturação
infantil para que ele ocorra de forma saudável.
Os jogos são estímulos importantes para o desenvolvimento integral
infantil e até mesmo necessário, porém ainda existem questionamentos sobre
a importância das atividades motoras no desenvolvimento de uma criança.
Existem diversos tipos de jogos que podem ser trabalhados em
processos educativos, reeducativos e reabilitadores, pois envolvem aspectos
necessários para o desenvolver ideal de uma criança, estimulando sua
aprendizagem, o auto-conhecimento, a socialização entre outros.
Enfim, através da prática dos jogos infantis a criança poderá encontrar
um grande parceiro para seu desenvolvimento psicomotor, ou seja, para seu
desenvolvimento integral e por isso ela deve ser estimulada desde cedo e por
10
toda a vida a jogar e brincar, como forma de enriquecer o seu processo de
desenvolvimento e aprendizagem e assim ter um crescimento saudável e feliz.
11
CAPÍTULO I
PSICOMOTRICIDADE
1.1 – A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PSICOMOTRICIDADE
No início a Psicomotricidade tinha sua história confundida com a história
da Educação Física. De certa forma, ambas as ciências possuem certa
relação. Segundo Fátima Alves (... p.16):
“Não podemos esquecer que a educação física tradicional
está na base de interesse pela Psicomotricidade,
tornando-se científica no século XIX, pelo método sueco
de Ling e outros métodos, integrando conhecimentos
anatômicos, fisiológicos, psicológicos e sociológicos,
aperfeiçoando-se nos séculos XIX e XX. A busca do
equilíbrio de um corpo e espírito sadio, por intermédio de
atividades físicas ao ar livre, mostrou a importância de
sua utilização”.
Ainda sobre a relação Educação Física e Psicomotricidade, têm-se Le
Boulch apud Mello (1989, p.36) uma diferenciação entre as duas ciências:
“A corrente educativa da Psicomotricidade tem nascido
das insuficiências na Educação Física que não teve
condições de corresponder às necessidades de uma
educação real do corpo”.
Mostrando que a Psicomotricidade já tinha vida desde antigamente, no
1º Congresso Brasileiro de Psicomotricidade, realizado no Rio de Janeiro,
Morizot (1982) fez uma referência a uma concepção de Aristóteles (384-322
12
A.C.) sobre o dualismo corpo-alma, sendo este momento muito importante na
história da Psicomotricidade.
Um outro marco significativo ocorreu com Maine de Biran (1766 – 1824).
Segundo Mello (1989), Muniz afirmou sobre o trabalho de Biran:
“A ação assumia importância na consciência que o
indivíduo tem de si e do mundo exterior, colocando o
movimento como um componente essencial na
estruturação psicológica do eu”.
Em 1900, Wernick menciona pela primeira vez o termo composto
Psicomotricidade e Dupré em 1907, ao pesquisar relações psíquicas e
relações motoras, introduz o conceito de debilidade motora, identificada em
Alexandre Mello (p.24) por Ajuriaguerra, como tendo as seguintes
características:
“... um estado patológico, congênito, do movimento, em
geral hereditário e familiar, caracterizado pela excitação
dos reflexos tendinosos, perturbação do reflexo plantar,
sincinesias, inépcia dos movimentos voluntários
intencionais, que chegam à impossibilidade de realizar
voluntariamente a resolução muscular”.
No decorrer dos anos, a Psicomotricidade foi tema de muitos estudos
por grandes pesquisadores como: Gesell, Wallon, Piaget, Montesorri,
Ajuriaguerra, entre outros. Segundo Alves (2003, p.17):
“Outros estudiosos se interessam pelo desenvolvimento
psicomotor da criança, como psicólogos e médicos, tais
13
como Wallon, Piaget e Zazzo, colocando a sensório-
motricidade na evolução da criança”.
Gesell, com a ajuda de outros colaboradores, criou no final da década
de 30 uma escala de desenvolvimento infantil que relacionava, a cada ano de
idade completado pelas crianças: características motrizes (reações posturais,
locomoção, preensão, coordenação geral do corpo e outras aptidões
específicas); conduta adaptativa (adaptações de caráter perceptivo, manual,
verbal e de orientação, ajudando a criança acomodar-se às novas
experiências); linguagem (conduta relacionada ao monólogo, expressão
dramática, à comunicação); e conduta pessoal-social (reações pessoais da
criança frente a outras). As obras de Gesell contribuíram para vários
profissionais de diversas áreas, que se interessavam na observação do
desenvolvimento das crianças.
Henri Wallon dedicou-se a estudar a função tônica da musculatura e sua
relação com a esfera emocional. Sobre Wallon, Mello (p.25) diz:
“Identificou um tipo de simbiose que denominou “afetiva”
e que sucede à simbiose fisiológica primária entre a
criança e a mãe, dando origem ao que chamou “diálogo
tônico-emocional”, onde sorrisos, sinais de
contentamento, choro, etc. são significativas expressões
gestuais afetivas”.
Outro pesquisador importante para a Psicomotricidade foi Piaget, que se
interessou na sucessão de estágios que precederiam o pensamento lógico do
adulto, se dedicando no estudo sobre processos da aprendizagem.
Ajuriaguerra foi um marco fundamental para o desenvolvimento da
psicomotricidade. Na década de 50, elaborou uma obra onde se destaca: o
14
desenvolvimento infantil segundo psicologia genética; a vida social da criança
e do adolescente; os problemas gerais do desenvolvimento; a organização
psicomotora e seus distúrbios; a organização e desorganização da linguagem
na criança; os problemas gerais da desorganização psicobiológica da criança;
entre outros.
Após três décadas, após o lançamento da 1ª edição do seu Manual da
Psiquiatria infantil, Ajuriaguerra continua sendo um dos autores mais citados
em trabalhos relacionados ao desenvolvimento infantil.
1.2 – O CONCEITO DE PSICOMOTRICIDADE
Atualmente, a Psicomotricidade é considerada em nível de ciência e tem
o corpo e o movimento como dois fatores de extrema importância em seus
inúmeros estudos. Segundo Mello (1989, p.30):
“Embora a origem da Psicomotricidade esteja vinculada
ao campo da Medicina, a partir de inúmeros estudos
neste século, surgiu uma concepção cientificamente
respaldada, pela qual o movimento não pode ser tratado
sob um prisma puramente anatômico e mecanicista”.
A esse propósito, Ajuriaguerra apud Mello (1989, p.30), posicionou-se
da seguinte forma:
“O ato motor não pode ser concebido como o
funcionamento de sistemas neurológicos justapostos... Só
podemos compreender a ação quando consideramos o
ponto inicial, o desenvolvimento e a finalidade que esta
ação pretende alcançar”.
15
Mello (1989, p.31) reforça citando Fonseca, que aborda a necessidade
de um significado do movimento como comportamento e não algo restrito a
trabalho de ossos, articulações e músculos, como se o corpo fosse uma
máquina em movimento por um psiquismo existente no cérebro.
Por exemplo, cita-se o jogo de “amarelinha”, no qual a criança ao jogar
envolve estímulos motores, raciocínio lógico e o relacionamento com demais
crianças, envolvendo aspectos emocionais e sociais. Segundo Mello (1989,
p.31):
“Os componentes de ordem cognitiva, afetiva e social
acompanham o ato motor, e é diante de um quadro com
essas dimensões que a Psicomotricidade deve atuar”.
A partir desses fatores começam a surgir os novos conceitos de
Psicomotricidade. Em Alexandre Mello (1989, p.31) podemos encontrar alguns
conceitos relacionados a Psicomotricidade.
Ajuriaguerra, segundo Loureiro (1983) definiu a Psicomotricidade como:
“a realização do pensamento através do ato motor preciso, econômico e
harmonioso”.
No 1º Congresso Brasileiro de Terapia Psicomotora, em 1982, vários
especialistas reunidos, propuseram uma definição para entendimento comum
sobre a Psicomotricidade:
“Psicomotricidade é uma ciência que tem por objetivo o
estudo do homem, através do seu corpo em movimento,
nas relações com seu mundo interno e externo”.
16
Além dos conceitos acima citados em Mello (1989), é possível encontrar
outros conceitos definidos por diversos autores. Em Peçanha (2007, p.17)
encontra-se a seguinte definição:
“É a ciência que tem como objeto de estudo o homem por
meio de seu corpo em movimento e em relação ao seu
mundo interno e externo, bem como suas possibilidades
de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e
consigo mesmo. Está relacionada ao processo de
maturação, onde o corpo é a orientação das aquisições
cognitivas, afetivas e orgânicas”.
Marins in Alves (2003, p.19) também tem o seu conceito sobre a ciência:
“Psicomotricidade é o corpo em movimento, considerando o ser em sua
totalidade”.
Marins in Alves (2003, p.19) cita em sua obra a definição simples criada
por Alves que diz que: “Psicomotricidade é o corpo, ação e emoção”.
Existem em várias obras diversos conceitos para a Psicomotricidade,
cada um de caráter individual, conforme idéias e estudos de cada autor, porém
é unânime a importância dada ao corpo e ao movimento como aspectos
essenciais no estudo dessa ciência.
1.3 – OS OBJETIVOS DA PSICOMOTRICIDADE
Um profissional de Psicomotricidade deve conhecer os principais
objetivos de seu trabalho, para buscar a maneira correta para executá-lo.
Segundo a Psicomotricista, Alves (2003, p.17):
17
“... na psicomotricidade temos como objetivo primordial
trabalhar para educar e reeducar o indivíduo que
apresenta distúrbios que exprimem, por meio de
perturbações psicomotoras, as debilidades motoras, a
inabilidade; os atrasos psicomotores, a instabilidade
psicomotora, a inibição psicomotora, a diminuição, o
hipercontrole e a retenção”.
A Psicomotricidade visa trabalhar todos os fatores responsáveis pelo
desenvolvimento integral de uma criança, adolescente ou adulto.
Segundo Marins in Alves (2003, p.20)
“A Psicomotricidade tem o objetivo de trabalhar o
indivíduo com toda a sua história de vida: social, política e
econômica. Essa história se retrata no seu corpo.
Trabalha também o afeto e o desafeto do corpo,
desenvolve o seu aspecto comunicativo, dando-lhe a
possibilidade de dominá-lo, economizar sua energia, de
pensar seus gestos, a fim de trabalhar a estética, de
aperfeiçoar o seu equilíbrio”.
1.4 – AS ÁREAS DE ATUAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE
Existem algumas áreas no mercado de trabalho para atuar com a
Psicomotricidade.
Em Mello (p.33), ele diz:
“Nos estudos dos pesquisadores recentes, são apontados
três principais campos de atuação ou formas de
18
abordagem da Psicomotricidade: 1 – Reeducação
Psicomotora; 2 – Terapia Psicomotora e 3 – Educação
Psicomotora”.
Almeida (2007, p.17) procura definir o psicomotricista da seguinte forma:
“Por ser uma ciência ainda em busca de bases mais
sólidas, o psicomotricista ainda não tem todos os seus
papéis definidos. Sabemos que ele pode atuar em
conjunto com outras especificidades, mas também
percebe-se sua atuação clínica e institucional. Já é
possível compreender que o psicomotricista é o
profissional da área de saúde e educação que pesquisa,
ajuda, previne e cuida do homem na aquisição, no
desenvolvimento e nos distúrbios da integração
somapsíquica”.
Diante dessa afirmação, Almeida (2007, p.17) diz que o psicomotricista
deve atuar na área de educação; em clínicas com reeducação e terapia;
consultoria e supervisão, tendo como clientes, crianças em fase de
desenvolvimento; bebês de alto risco; criança com dificuldades/atrasos no
desenvolvimento global; pode-se trabalhar com portadores de necessidades
especiais com deficiências sensoriais, motoras, mentais e psíquicas; pessoas
que apresentem distúrbios sensoriais, perceptivos, motores e relacionais por
lesões neurológicas; família e terceira idade.
Almeida (2007, p 18) cita como mercado de trabalho para atuação com
psicomotricidade, locais como: creches, escolas, escolas especiais, clínicas
multidisciplinares, consultórios, clínicas geriátricas, posto de saúde, hospitais e
empresas.
19
Para Mello (1989), as áreas de atuação podem vir a se confundir entre
elas, porém cada uma possui suas características próprias, sendo assim,
possível diferenciar.
1.4.1 – REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA
Na reeducação psicomotora o atendimento pode ser individual ou em
pequenos grupos de crianças, adolescentes e adultos, portadores de sintomas
de ordem psicomotora (debilidade motora; atraso e instabilidade psicomotora);
dixpraxias; distúrbios de tônus da postura, do equilíbrio e da coordenação; e
deficiências perceptivo-motoras.
Mello (1989), em seu trabalho, trás a posição de dois autores sobre os
distúrbios psicomotores: Barreto, que destaca que inúmeras vezes os
distúrbios psicomotores não se apresentam sozinhos e sim num contexto
global e Morizot, que diz que determinados sintomas desencadeiam outros
distúrbios secundários, caracterizados como relacionais e afetivos.
Após exames neurológicos, psicológicos, etc. o reeducador atuará sobre
o sintoma diagnosticado, optando por um trabalho diretivo, no qual traça e
orienta as atividades de cada sessão; ou escolher trabalhar de uma forma não
diretiva, ou seja, deixando um amplo conjunto de materiais para a criança
decidir o que fazer.
É possível encontrar semelhanças no trabalho de reeducação
psicomotora e educação psicomotora, como o uso de materiais como: bolas,
arcos, etc., porém para reforçar as diferenças, Mello (1989, p.34) baseia-se em
Guillarme, que diz que:
“... uma das principais diferenças está no projeto de
trabalho, que na reeducação é constituído passo-a-passo,
20
em função da evolução gradativamente alcançada na
busca da alta”.
1.4.2 – TERAPIA PSICOMOTORA
Na terapia psicomotora, Mello cita Lapierre e Aucouturier (1980) dizendo
que eles indicam esse tipo de trabalho especialmente para crianças que
tenham grandes perturbações, cuja adaptação é de ordem patológica e por
isso é necessário terapeutas com uma boa formação prática, teórica e técnica
para que seja possível, interpretar atitudes corporais, reações tônicas-afetivas
e emocionais.
A terapia psicomotora é, para Mello (1989), mais voltada para crianças,
porém pode atender também adolescentes e adultos, individualmente ou em
pequenos grupos.
Na terapia cabe ao terapeuta entender o que está sendo expresso pelo
cliente. Aspectos de experiências vivenciadas são passados durante a sessão.
O vivido corporal é expresso através d relação da criança com seu próprio
corpo, com o terapeuta e com outras pessoas que a cercam.
1.4.3 – EDUCAÇÃO PSICOMOTORA
A educação psicomotora é direcionada à crianças consideradas
“normais” e tem sua atuação como parte integrante da educação básica
durante a fase pré-escolar e escolar.
Autores como Lê Boulch, André Lapierre, Dalila M. Costallat, entre
outros, se interessam pela corrente educativa da Psicomotricidade e auxiliam
os educadores a se aprofundar em fundamentos teóricos da Educação
Psicomotora e assim estruturar melhor sues planos de atuação.
21
Lê Boulch apud Bueno (1998) diz:
“... a educação psicomotora deve ser considerada como
uma educação de base na escola elementar, ponto de
partida de todas as aprendizagens pré-escolares e
escolares”.
Em Mello (1989), encontra-se a seguinte definição de Educação
Psicomotora, feita por Morizot:
“Uma atividade através do movimento, visando um
desenvolvimento de capacidades básicas sensoriais,
perceptivas e motoras, propiciando uma organização
adequada de atividades adaptativas, atuando como
agente profilático de distúrbios da aprendizagem”.
A educação psicomotora tem ênfase em várias instituições escolares e
em outras instituições que trabalham com recreação infantil. Através de
atividades, principalmente exercícios e jogos, busca-se o completo
desenvolvimento físico, mental, afetivo e social, evitando assim possíveis
desvios demasiado neuróticos da personalidade.
O profissional de educação psicomotora deve propor às crianças
experiências que produzam a estimulação adequada que venha ampliar o
vivido corporal, que será responsável por inúmeros esquemas que serão
transferidos às situações vivenciadas no futuro. Mello (p.36) ainda acrescenta
que a falta de estimulação adequada durante a infância poderá produzir
perturbações psicomotoras.
22
O educador, em sua proposta de trabalho deverá levar em consideração
as funções psicomotoras (coordenações globais, lateralidade, equilíbrio, etc.),
buscando reforça-las nas crianças que estão sendo trabalhadas. Em qualquer
exercício ou atividade proposta, pelo menos uma função psicomotora
encontra-se sempre associada a outras, porém o profissional deve ter
consciência do que realmente está buscando.
Em Oliveira (2004, p.11), a autora relata que existem diferentes crianças
no ambiente escolar. Umas correm, brincam, enquanto outras ficam paradas;
umas usam o lápis de maneira mais forte, outras de forma mais leve; algumas
participam dos jogos e atividades propostas e outras que não participam; tem
as crianças com dificuldades de manusear uma tesoura; etc. Enfim pergunta-
se: O que exatamente está se passando? O que se pode fazer para ajudar as
crianças com problemas?
Segundo Oliveira (2004, p.12), essas questões são bastante formuladas
por educadores que se preocupam com o desenvolvimento integrado aluno no
processo ensino-aprendizagem.
A autora acredita que pequenas dificuldades apresentadas podem ser
sanadas no próprio âmbito escolar, bastando um professor mais atento e
consciente de sua responsabilidade de educador, se esforçando assim para
ajudar a aumentar e melhorar os potenciais: motor, cognitivo e afetivo do
aluno, porém o que ocorre realmente é que diante dessas dificuldades
mínimas, os educadores por não saber resolvê-las, encaminham essas
crianças a especialistas clínicos.
Assim Oliveira (2004, p.12), critica:
“Os professores, em vez de fazerem um exame de
consciência sobre sua atuação como educadores,
23
enquanto membros de uma instituição escolar, isentam-se
de qualquer responsabilidade e culpam o meio sócio-
econômico-cultural do aluno ou a incapacidade do mesmo
ou ainda a falta de esforço em aprender o que eles
ensinam”.
Essas crianças às vezes vão para classes especiais e sofrem
discriminações, sendo consideradas crianças sem força de vontade ou
preguiçosas; rotuladas de “crianças-problemas” e as crianças que fazem o
tratamento clínico, são catalogadas como possuidoras de distúrbios da
aprendizagem e passam a ser reeducadas como se tivessem alguma doença.
Collares e Moysés chamam essas situações de “medicalização do fracasso
escolar”.
Sucupira apud Oliveira (2004, p.13), diz:
“A medicalização do fracasso escolar encontra aqui um
meio explicativo que se adapta à tendência de isentar o
sistema escolar e as condições familiares e sociais da
criança para colocar ao nível individual, orgânico, a
responsabilidade pelo mau rendimento escolar”.
Para Sucupira, os pais aceitam com mais facilidade a decepção do
fracasso escolar do filho quando há a alternativa de uma doença.
Para Oliveira (2004, p.13), há um esquecimento que essas passagens
pela criança pode acarretar futuramente um outro problema, talvez maior, de
origem afetivo-emocional, pois a mesma começa a se sentir diferente da
outras, sofrendo com isso, podendo desenvolver um sentimento de
inferioridade, interferindo em sua auto-imagem. Oliveira (2004, p.13) concorda
com Montezuma, que define:
24
“Auto-imagem: é o retrato ou perfil psicológico de si
mesmo que o construtivismo do sujeito reorganiza
permanentemente e conserva em sua memória, como
resultado das interações vividas no passado, ao longo de
sua história de vida”.
Intimamente ligada à auto-imagem está a auto-estima, que é o
julgamento que se faz de si mesmo, que poderá ser positiva ou negativa e vai
depender da carga afetiva que se atribui aos êxitos ou fracassos. Assim, a
experiência escolar tem grande influência na imagem que a criança faz de si.
Se houver um fracasso em sua escola isto poderá abalar sua auto-confiança,
sentindo-se pior ainda se for rotulada como um aluno-problema, enfrentando
vários profissionais que tentarão resolver seus fracassos. Assim a criança se
vê com uma severa auto-crítica prejudicando o seu desempenho escolar.
Oliveira (2004, p.14) critica, quando diz:
“Muitas vezes, muitos desses encaminhamentos não
precisariam ser feitos se os profissionais estivessem
atentos a uma educação mais integral do aluno e aptos
para realizar uma reeducação em seu âmbito escolar”.
Para Oliveira (2004, p.14), em relação aos profissionais da educação
psicomotora:
“... precisar-se-ia capacitar melhor os professores para
que eles estivessem sempre aptos para promover uma
educação integral do aluno, pra detectar aqueles alunos
que são falhas. Realizar uma reeducação quando se fizer
necessário e ao âmbito de sala de aula e encaminhar ao
25
profissional competente quando os seus recursos se
esgotarem”.
A escola precisa melhorar a qualidade de ensino e promover uma
aprendizagem mais significativa, mas também sabe-se que nem todos os
problemas apresentados no aluno sejam de inteira responsabilidade da escola.
Oliveira (2004) defende que os educadores devem tentar todos os
recursos para resolver os problemas apresentados na criança no âmbito
escolar, através da educação psicomotora, antes de rotulá-la como “criança-
problema” e a encaminhar direto para diversos especialistas.
26
CAPÍTULO II
ALGUMAS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO
INFANTIL
As teorias do desenvolvimento têm como objetivo buscar uma
explicação mais clara das mudanças que ocorrem na criança desde seu
nascimento até a sua adolescência. Essas teorias começaram a ter mais força
no século XX, quando Freud e outros estudiosos começaram a estudá-las mais
profundamente. Antes disso, nos séculos XVII e XVIII, as crianças eram
tratadas como pequenos adultos.
Segundo Rappaport (1981, p. 1):
“A partir dos 3 a 4 anos participavam das mesmas
atividades que os adultos, inclusive orgias, enforcamentos
públicos, trabalhavam nos campos e vendiam seus
produtos nos mercados, além de serem alvos de todo tipo
de autoridade pelos adultos”.
A partir do século XIX e mesmo início do século XX, houve uma maior e
mais sistemática preocupação com o estudo da criança. Porém a questão da
disciplina era muito exercida, tanto em família, como nas escolas de forma
violenta e agressiva.
Segundo Rappaport (1981, p. 2):
“Várias formas de castigo – como palmatória, ajoelhar
no milho, espancamentos violentos e quartos escuros –
foram abolidas das escolas ainda recentemente,
embora, infelizmente, algumas dessas práticas
27
continuem sendo utilizadas em nosso meio,
especialmente nas populações de baixo nível sócio-
econômico-educacional”.
Essas práticas começaram a mudar após o estudo científico da criança,
que veio a iniciar efetivamente no século XX.
A psicologia infantil pretende explicar o processo de desenvolvimento da
personalidade, para assim entender por que e como acontecem determinados
comportamentos. Visa esclarecer como, que a partir do inato, o sujeito sofre
várias transformações decorrentes da maturação (fisiológica, neurológica e
psicológica), que com as exigências e respostas do meio (físico e social)
passam a ter comportamentos diversos.
2.1 – FREUD E A TEORIA PSICANALÍTICA
Pode-se dizer que Freud, com sua teoria psicanalítica, teve uma grande
e importante contribuição no estudo sobre o desenvolvimento infantil.
No início do século XX, sobre o desenvolvimento da personalidade das
crianças, Freud defendia que certos acontecimentos vivenciados na infância
eram fatores principais de distúrbios de personalidade na idade adulta.
Os primeiros anos de vida, para Freud, eram decisivos para a
estruturação da personalidade, determinando o curdo do seu desenvolvimento
futuro, no sentido da saúde mental e da adaptação social adequada ou
patologia.
Freud introduziu-se na psicanálise através do estudo de adultos que
apresentavam quadro de histeria – problemas causados por traumas
inconscientes, que poderiam causar distúrbios físicos, fobias, entre outros –
28
juntamente com Joseph Breuer. A cura de tal problema ocorria através de
hipnose ou método catártico (cura através da forma inconsciente), sendo
abandonado algum tempo depois, por Sigmmund Freud, que foi em busca de
novas respostas.
Sobre seu estudo da relação consciente e inconsciente surgem três
contructos psicanalíticos que constituirão segundo Freud, a estruturação da
personalidade, são eles: id, ego e superego.
2.1.1 – O id
O id funciona como um reservatório de energia do indivíduo. É
constituído por impulsos instintivos inatos, que motivam as relações do
indivíduo com o mundo, buscando a satisfação do que precisa para o
desenvolvimento.
É responsável pelo processo primário. Diante de um desejo, forma a
nível imaginário o objeto que lhe trará satisfação. Pode-se vivenciar através
dos sonhos, onde os desejos buscam uma satisfação alucinatória, através das
imagens criadas, ou seja, o desejo funciona como uma carência, que busca a
satisfação para assim dar prazer. Os desejos não serão satisfeitos somente a
nível alucinatório, mas sua representação se faz necessário para que o ego,
relacionado diretamente a realidade, possa satisfazê-lo na prática.
Através do princípio do prazer, busca imediatamente satisfazer sua
necessidade e isso pode ser alcançado pelo processo primário e alucinatório,
pois não haverá qualquer questionamento a nível físico, social ou moral. O id
trás o modelo de querer a qualquer preço. As interdições ficarão a cargo do
ego e do superego.
Tudo é possível ao nível do id, através do princípio da não-contradição.
29
O ID apresenta-se como atemporal, pois para ele não existe outro
tempo a não ser o presente. Projetos futuros ou acidentes vividos ocorrem
como se fosse hoje, ou seja, no presente.
O id funciona somente através da produção de imagens, não é verbal.
Os sonhos que são basicamente plásticos têm suas imagens criadas,
fragmentadas, deslocadas, combinadas de forma a vir a satisfazer algo
desejado.
O id seria uma instância estrutural do inconsciente, isso não quer dizer
que ele seja inconsciente. Os desejos sentidos podem ser percebidos pelo
consciente desde que não sejam reprimidos.
2.1.2 – O ego
O ego funciona como intermediário entre o desejo e a realidade (id-
superego). Diante do desejo, o ego mobiliza-se para satisfazê-lo. Funciona
pelo processo secundário. O id apresenta o nível do desejo, independente de
poder ou não ser satisfeito e cabe ao ego a partir do processo primário buscar
caminhos na realidade para possibilitar a satisfação.
O ego propõe limites, ou seja, o id deseja algo e o superego trás a
proibição, a censura. É como uma moça que em contato com seu namorado,
tem desejos sexuais, porém foi criada nos moldes antigos e repressores sobre
sexualidade. Por mais que ela queira, o superego se manifesta ela entre em
conflito. Se ela ceder aos desejos poderá ser recriminada pelo mundo físico e
social, porém se não ceder, poderá estagnar-se, não evoluindo, não
vivenciando novas experiências e assim crescer com seus resultados. Logo, o
ego começa o trabalho, que deve ser de intermediar, conciliar os desejos e as
proibições, buscando a forma mais conciliatória e produtiva na atuação do
sujeito.
30
O ego tem importante participação na formação da personalidade do
sujeito. O id aparece com aspecto primário, instintivo, ou seja, arcaico,
filogenético. O superego trás as proibições, tabus, valores morais decorrentes
do grupo que vivia antes do sujeito que nasceu. Cabe ao ego, de forma atual,
formar um indivíduo único e original, para que ele possa ter uma adaptação
ativa no mundo em que está inserido.
Para Freud, a memória e o desenvolvimento lógico e operatório estão
contidos no ego. O teórico preocupava-se com os distúrbios apresentados
nesse âmbito. Ao relacioná-los com as perturbações afetivas, acreditava-se
que elas poderiam comprometer o funcionamento da memória e também o
desenvolvimento lógico e operatório.
O domínio da motilidade é uma das funções do ego, ou seja, o domínio
do esquema corporal e das praxias dependem do processo secundário. Assim,
quando o ego passa por distúrbios afetivos a mobilidade corporal, que está
situada no ego, pode apresentar comprometimentos.
O ego, como instância adaptativa, é responsável por detectar perigos
reais e psicológicos que possam vir a ameaçar a integridade do indivíduo.
2.1.3 – O superego
O superego aparece como a terceira das instâncias dinâmicas da
personalidade, que é responsável pela estruturação interna dos valores morais,
ou seja, normas moralmente proibidas e que deve ser rigorosamente buscado.
31
2.1.4 – A fase oral
Para Fiori in Rappaport (1981, p. 35), ao nascer o bebê perde a relação
interna que tinha com a mãe e a satisfação plena da vida-uterina. A partir do
corte do cordão, ocorre a separação e a criança inicia sua adaptação ao meio.
Muito se tem falado no “trauma do nascimento” devido ao traumatismo físico
vivenciado no parto, que caracteriza uma brusca entrada no mundo, podendo
ocorrer seqüelas lesionais e sendo possível ter influências no desenvolvimento
futuro. Mas nem é daí que surge a angústia fundamental do nascimento.
Segundo Fiori in Rappaport (1981, p.35):
“O termo angústia, em sua própria origem etimológica,
significa “dificuldade para respirar”. Com o corte do
cordão, bloqueia-se o afluxo do oxigênio materno. A
carência é sentida, e o organismo já luta para sobreviver.
A luta entre os instintos de vida e os instintos de morte já
é um combate franco neste momento. É preciso reagir,
inspirar, introjetar o mundo esterno. Ou se recebe o
mundo externo, ou se deixa de viver. A angústia de
respirar é a perda do paraíso bíblico e o início da
conquista do pão com o suor do próprio rosto”.
Através da luta pela vida, progressivamente, a criança construirá suas
relações afetivas, intelectuais até que se torne progenitora. Para Fiori in
Rappaport (1981) está estabelecida a luta pela vida. A latência da semente
cede lugar às primeiras folhas que se abre para o sol e para a chuva, para
crescer e tornar-se árvore. Respirar é o ponto inicial da independência
humana. A criança ainda passará por várias etapas até a formação de sua
identidade.
32
A luta inicial é pelo equilíbrio homeostático. Os processos já existentes
na vida uterina, de receber alimento e excretar o prejudicial, serão realizados
com relação ao mundo exterior. A amamentação traz o leite que amamenta e
através das fezes e urina são eliminados os produtos já metabolizados e
inúteis. Esses fatos estabelecerão as primeiras relações psicológicas com o
mundo, da criança.
A estrutura sensorial mais desenvolvida pela criança ao nascer é a
boca, por onde ela lutará pela manutenção do equilíbrio homeostático,
começará a provar e a conhecer o mundo. Através da boca a criança fará sua
primeira e mais importante descoberta afetiva que é o seio, considerando o
primeiro objeto de ligação infantil, onde a criança depositará seus sentimentos
de amores e ódio. A mãe será considerada pelo bebê a partir do amor que o
seio oferece a ele.
Para Fiori in Rappaport (1981, p.35):
“O seio já existe quando o desenvolvimento
maturacional não permite ainda à criança reconhecer o
seu primeiro objeto total: a mãe. Esta se construirá
gradativamente a partir do amor que o seio oferece.
Erikson define que, neste momento, a criança ama com a
boca e a mãe ama com o seio”.
Neste momento a libido organiza-se em torna da zona oral. Como a fase
fica caracterizada pela zona erotizada, e nesse caso é a boca, denomina-se,
então, como fase oral.
33
2.1.5 – A fase anal
A fase oral se dá com a modalidade incorporativa que é a estrutura
básica do primeiro ano de vida, no início do segundo ano de vida a libido da
criança passa da organização anal para a organização anal.
Para Fiori in Rappaport (1981, p.38), no segundo e terceiro anos de vida
o controle muscular na criança é amadurecido, isto é, dá-se a organização
psicomotora de base. É o período que inicia-se a anda e a falar. A mão sai do
tateio e preensão mais grosseiros para desenvolver grande precisão na pinça
indicador-polegar. Embora ainda meio desequilibrado a criança pode sair para
conhecer o mundo de pé, frente a frente e não de baixo para cima como
ocorria na fase oral. As funções corticais substituem as reflexas anteriores. A
segmentação neuromuscular permitirá o aparecimento de movimentos finos e
coordenados dominando sobre os antigos comportamentos globais.
Para Fiori in Rappaport (1981, p.39), dois processos básicos estão se
organizando na evolução psicológica. O primeiro diz respeito às fantasias que
a criança elabora sobre os primeiros produtos realmente seus que coloca no
mundo. O segundo refere-se ao modelo de relação a ser estabelecido com o
mundo através destes produtos. Desenvolve-se o sentimento de que a criança
tem coisas suas que ela produz e que pode ofertar ou negar ao mundo.
Podemos perceber tal situação no andar ou falar. Só anda quando está bem,
se chega um estranho, engatinha em direção da mãe e só fala se sentir que é
aceita e quando assustada, emudece.
Assim, Fiori in Rappaport (1981, p.39) conclui:
“O período é denominado fase anal, porque a libido para
a organiza-se sobre a zona erógena anal. A fantasia
34
básica será ligada aos primeiros produtos, notadamente
ao valor simbólico das fezes. Duas modalidades de
relação serão estabelecidas: a projeção e o controle”.
2.1.6 – A fase fálica
Por volta dos três anos de idade a libido organiza-se nos genitais, que
serão a zona de erotização nesta fase. As crianças começam a se interessar
por eles, a masturbação é freqüente e normal. Preocupam-se com as
diferenças sexuais: meninos e meninas e passam a contaminar até a
percepção dos objetos. Os objetos são observados se possuem ou não pênis e
se caso não tenha, são classificados como “menina”. Segundo Fiori in
Rappaport (1981, p.41):
“Curiosamente esta discriminação sexual não caracteriza
a existência de dois genitais, o masculino e o feminino,
mas apenas a presença ou ausência de pênis. A vagina é
e continuará sendo desconhecida ainda por muito tempo.
Os homens, e o gênero masculino, são definidos pela
presença do órgão fálico, ao passo que as mulheres
identificam-se pela sua ausência”.
A erotização dos genitais traz fantasias de meninos e meninas de
possuírem um pênis. A erotização masculina recairá sobre o pênis e a feminina
sobre o clitóris que será fantasiado como um pênis que ainda crescerá. O
menino exibe o pênis orgulhoso e com ares de superioridade, enquanto a
menina reage dizendo que o dela ainda crescerá e que ficará igual ao dele.
Mas com o desenvolvimento, a percepção correta da realidade confirmará aos
olhos infantis que só o homem possui o pênis ficando a mulher na condição de
castração. Numa visão Freudiana, esta configuração primitiva do pensamento
sexual infantil fornecerá as bases diferenciais das organizações psicológicas
35
masculina e feminina. O homem tem um elemento de superioridade que é a
posse do pênis, assim surge uma grande ameaça diante dos conflitos
interpessoais, que é o medo de ser atacado naquilo que valoriza, ou seja, o
temor da castração. Segundo Fiori in Rappaport (1981, p.42):
“Ao homem ajudica-se um elemento de superioridade,
que é aposse do pênis. Em decorrência, configura-se
uma grande ameaça diante dos conflitos interpessoais,
que é o temor de ser atacado naquilo que mais valoriza,
ou seja, o temos de castração. À mulher atribui-se um
elemento de inferioridade, a castração, e uma inveja
decorrente, a inveja do pênis, que a mobilizará no sentido
de conseguir o que só o homem tem, ou se compensar
esta inferioridade sentida no plano de fantasia.”
Nesta fase freudiana, a fantasia básica é fálica e a sua tarefa
fundamental consiste em organizar os modelos de relação entre o homem e a
mulher. Os genitais erotizados dirigem uma busca de satisfações de desejos
sexuais. Está se formando uma organização da fantasia infantil, mas a procura
de um parceiro para uma satisfação sexual real é uma tarefa para os adultos.
As crianças nessa fase também buscam a satisfação do prazer. Segundo Fiori
in Rappaport (1981, p.42):
“Ao nível da criança, é a modalidade de relação que se
define, ou seja, é no menino que se forma uma espécie
de sentimento de busca de prazer junto a mulher. Por
parte da menina, o processo é similar e inverso, ou seja,
existe a busca de prazer junto a um homem”.
A erotização de uma zona corporal cria um desejo a ser satisfeito e é
visto dentro de um modelo homeostático, onde há o acúmulo de tensão que
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deve ser descarregado, e essa descarga corresponde à sensação de prazer. A
erotização genital tem necessidade de um objeto para obter o prazer, ou seja,
um elemento do sexo oposto. Logo é natural que o menino, durante a fase
fálica, se dirija e, busca da figura feminina e busca-la faz parte de uma
organização filogenética de preservação e continuação da vida. A figura
feminina mais próxima é a mãe, assim ela é a maior parte dos vínculos de
prazer na infância. É também natural que na fantasia infantil o menino a veja
como seu objeto de atração sexual, por estar erotizado genitalmente, procura a
figura feminina para compartilhar esse momento de prazer e a mãe preenche
na fantasia esse papel. Essa relação com a mãe dará um suporte para o
menino em sua vida adulta que será capaz de buscar uma parceria sexual fora
da vida familiar.
Para Fiori in Rappaport (1981, p.43), se aprender a amar é uma relação
positiva, o amor incestuoso é uma relação proibida. Foi necessário aprender a
amar, mas a relação incestuosa que deu o suporte para esta aprendizagem
deve ser agora reprimida. O esquema repressor é desencadeado com a
entrada do pai em cena, somando as fantasias filogenéticas de paitotêmico,
dono da mãe e das mulheres com a configuração real de pai, marido e símbolo
de autoridade. Ele tem o poder de recompensar e punir, então coloca-se como
interceptor entre o filho e a mãe. As fantasias infantis de casar-se com a mãe e
de ser seu namorado ficam vedadas pelo pai. Paralelamente ao amor que o
menino sente pelo sue pai fica um sentimento coberto de ódio e temor,
fazendo com que a criança tenha um desejo eliminar aquele que impede seu
acesso à mãe, caracterizando um triângulo caracterizado por Freud como
complexo de édipo.
No triângulo édipico o pai é o mais forte e dono da mãe, e o filho o vê
como um adversário, o qual ele não poderá lutar. O menino, em sua fantasia,
valoriza o pênis como objeto mais valioso e se este é o ponto de competição
com o pai, ele achará que seu pai irá puni-lo castrando-o o que fará com que
37
ele reprima a atração sentida pela mãe o que marca o encerramento dessa
fase fálica infantil, mas o modelo de busca de um amor heterossexual foi
estabelecido e será posteriormente retomado na adolescência.
2.1.7 – O período de latência
Em Fiori in Rappaport (1981) o período de latência sucede a fase fálica.
Com a repressão do édipo a energia da libido fica temporariamente deslocada
dos seus objetivos sexuais, mas esta energia é gerada permanentemente, logo
ela não pode ser simplesmente eliminada ou reprimida, é preciso que seja
canalizada para outras finalidades, já que o fim erótico está vedado, ela é
canalizada para o desenvolvimento intelectual e social da criança. Por não ter
uma organização de zona erógena, nem de novas fantasias básicas e nem
novas modalidades de relação objetais, esse momento não é uma fase e sim
um período intermediário entre a genitalidade infantil (fase fálica) e a adulta
(fase genital). A sexualidade que no momento encontra-se reprimida espera a
eclosão da puberdade para ressurgir, enquanto a sexualidade adormece, as
grandes conquistas serão as realizações intelectuais e sociais.
2.1.8 – A fase genital
Fiori in Rappaport (1981) diz que quando perguntaram a Freud como ele
definiria um homem adulto, ele respondeu que seria aquele que fosse capaz
de amar e trabalhar. Alcançar a fase genital constitui, para a psicanálise, em
atingir o pleno desenvolvimento de um adulto normal e ser o homem que
começou a ser formado quando a criança nasce e vai progressivamente
introjetando e elaborando o mundo e as adaptações biológicas e psicológicas.
Nesta fase, este homem aprendeu a amar, a competir e a discriminar seu
papel sexual. Desenvolveu-se intelectual e socialmente.
38
Para Fiori in Rapapport (1981) agora é o momento das realizações. O
homem adulto é capaz de amar no sentido genital mias amplo, de definição do
vínculo heterossexual significativo e duradouro. Sua capacidade orgástica é
plena e o prazer dela será componente fundamental de amar. A perpetuação é
a última finalidade da vida, procriará filhos que serão fontes de prazer.
Sublimará e como frutos paralelos será capaz de trabalhar e produzir. A obra
social é derivada da genitalidade. Estabelecer filiações significativas com
profissões, partidos políticos e ideologias religiosas, correntes estéticas, são
sublimações da sua capacidade de amar e de estabelecer um vínculo maduro
nas relações naturais homem-mulher.
2.2 – PIAGET E A TEORIA DA INTELIGÊNCIA
Piaget foi um grande pesquisador que em seus trabalhos dava ênfase
principal ao estudo da natureza do desenvolvimento de todo conhecimento,
principalmente no desenvolvimento intelectual da criança. Preocupava-se com
o sujeito epistêmico, ou seja, estudo dos processos de pensamento desde a
infância inicial até a idade adulta. (Rappaport, 1981, p. 51).
Piaget era interacionista, mostrando o homem e a criança num processo
ativo de contínua interação e assim procurava entender quais os mecanismos
mentais que o sujeito usava nas diferentes etapas da vida, para assim,
entender o mundo. Segundo Rappaport (1981, p.51): “... para Piaget a
adaptação à realidade externa depende basicamente do conhecimento”.
Rappaport (1981, p.51-52) diz que Piaget estudou o desenvolvimento do
conhecimento da lógica, espaço, tempo, moralidade, brinquedo, casualidade,
linguagem e matemática e lida com os processos psicológicos como:
pensamento, percepção, imaginação, memória, imitação, ação etc.
39
Piaget criou a sua filosofia, a epistemologia genética, ou seja, estudou
cientificamente, os processos que o indivíduo usa para assim conhecer a
realidade. Para isso, conviveu com crianças de todas as idades, submetendo-
as a várias formas de estimulação e experimentação. O pesquisador tinha
como principal preocupação, criar a teoria do conhecimento para explicar como
o organismo conhece o mundo.
Em Rappaport (1981, p.55) fala sobre o conceito piagetiano de
hereditariedade que diz que a inteligência não é inata, ou seja, não nasce com
o indivíduo. Este nasce com estruturas biológicas que são necessárias para o
desenvolvimento do conhecimento, da inteligência da criança e para isso
necessita de estímulos que venham tanto do meio físico como do meio social.
Quanto mais estímulo tiver mais aprendizagem ocorrerá, porém o nível de
maturidade da criança deverá sempre ser respeitado.
Para Mello (1989), Piaget reconhecia que professores deveriam oferecer
situações que estimulassem a criatividade de seus alunos, porém discordava a
educação compensatória ou facilitadora da escola americana, que valorizava
técnicas, que acreditavam ser possível ensinar qualquer coisa às crianças das
mais diferentes faixas etária. Assim, Lipsitt e Reese apud Mello (1989, p.27)
destacam uma passagem de Piaget, que diz:
“A cada momento que alguém ensina prematuramente a
uma criança algo que a criança poderia descobrir por
conta própria, essa criança está perdendo a oportunidade
de exercer sua criatividade e de compreender totalmente
o que foi ensinado”.
Outros conceitos piagetianos são: organização e adaptação que para
Mello (1989), tiveram uma importância fundamental na teoria piagetiana, que
se interessava na sucessão de estágios que precedem o pensamento lógico
40
do adulto e a importância deles ao processo de desenvolvimento e
aprendizagem. Segundo Mello (1989, p.27):
“Quanto à organização, Piaget a considerou, num
determinado grau básico, necessária em qualquer ato
vital. Com referência à adaptação, verificou que acontece
acoplada à organização e possui duas funções: a
assimilação e a acomodação”.
Para explicar as duas funções Mello (1989, p.17) baseou-se em López,
que descreve assimilação como a necessidade de incorporar novas situações
às antigas, que já estão presentes na mente e acomodação, que seria a
transformação experiência existente deve sofrer para que possa, assim,
incorporar o assimilado.
Piaget, segundo Rappaport (1981), cita muito em suas obras, o nome de
seus filhos, que foram a fonte de observação para o pesquisador elaborar sua
tão famosa teoria de desenvolvimento, a subdividindo em quatro fases:
sensório-motora; pré-operatória; operatória-concreta e operatória-formal.
2.2.1 – O período sensório-motor
O período sensório-motor engloba normalmente crianças de zero a vinte
e quatro meses (dois anos). Nesta fase começa-se a explorar o mundo que o
cerca através da percepção de movimentos, formando assim os esquemas
sensoriais-motores, facilitando a forma de lidar, mesmo de forma básica, com
as novas situações que lhe serão apresentadas.
Piaget apud Rappaport (1981, p.66)
41
“No ponto de partida da evolução mental, não existe,
certamente, nenhuma diferenciação entre o eu e o mundo
exterior, isto é, as impressões vividas e percebidas não
são relacionadas nem à consciência pessoal sentida
como um ‘eu’, nem a objetos concebidos como exteriores.
São simplesmente dados em um bloco indissociado, ou
como que exposto sobre um mesmo plano, que não é
nem interno nem externo, mas a meio caminho entre
esses dois pólos. Estes só se oporão um ao outro pouco
a pouco. Ora por causa desta indissociação primitiva,
tudo que é permitido é centralizado sobre a própria
atividade. O eu, no início, está no centro da realidade,
porque é inconsciente de si mesmo e à medida que se
constrói como uma realidade interna ou subjetiva o
mundo exterior vai se objetivando. Em outras palavras, a
consciência começa por um egocentrismo inconsciente e
integral, até que os progressos da inteligência sensório-
motora levem à construção de um universo objetivo, onde
o próprio corpo aparece como elemento entre os outros,
e, ao qual se opões a vida interior, localizada neste
corpo”.
Nesta fase acredita-se que a inteligência terá como uma das funções a
diferenciação de objetos externos e o próprio corpo. A fase do bebê, a nível de
desenvolvimento, ocorre de forma complexa, pois ocorrerá uma organização
psicológica em todos os aspectos como perceptivo, motor, intelectual, afetivo,
social. Segundo Rappaport (1981, p.67):
“... o bebê irá explorar seu próprio corpo, conhecer os
seus vários componentes, sentir emoções, estimular o
ambiente social e se por ele estimulado, e assim irá
desenvolver a base de seu auto conceito. Este auto
42
conceito estará alicerçado no esquema corporal, isto é,
na idéia que a criança forma do seu próprio corpo”.
É importante ressaltar que o desenvolvimento é um processo integrado,
ou seja, todos os aspectos se correlacionam para que este venha ocorrer. Por
exemplo, na fase inicial, para se ter a concepção da imagem corporal será
necessário a intervenção do processo cognitivo.
No início a criança inicia seu processo de desenvolvimento através de
movimentos reflexos hereditários que vão se transformando em esquemas
sensório-motores, como o movimento de sucção, que ao nascer é realizado de
forma reflexa e que vai se modificando e até se aprimorando com o passar dos
dias e meses.
A criança, mesmo ainda egocêntrica e autocentralizada, já terá dado um
grande passo no sentido de conhecimento e adaptação à realidade, porém
suas atividades intelectuais ainda estão limitadas. Segundo Freire (1997, p.19):
“A essa centração da criança nela mesma, Piaget chama
de egocentrismo, não significando com isso uma
hipertrofia da consciência do eu, mas simplesmente uma
incapacidade momentânea da criança de descentrar-se,
isto é, de colocar-se em outro ponto de vista que não o
próprio”.
Através de sua inteligência sensório-motora desenvolvida, a criança terá
atingido um nível de equilíbrio e recursos pessoais, a possibilitando resolver
certas situações.
43
2.2.2 – O período pré-operatório
O período pré-operacional abrange crianças na idade de dois a sete
anos. Segundo Rappaport (1981, p.68), ao se aproximar dos vinte e quatro
meses a criança estará desenvolvendo ativamente a linguagem que lhe
possibilitará utilizar, além da inteligência prática adquirida na fase anterior
(sensório-motora), formar esquemas simbólicos, ou seja, usar um objeto como
se fosse outro, como brincar com uma caixa de fósforos como se fosse um
carrinho e usar uma situação como se fosse outra, como, por exemplo,
representar através da brincadeira de casinha, situações da vida diária.
O desenvolver do pensamento está aumentando, mas de forma lenta e
gradual e por isso a criança continua egocêntrica. Isto porque ainda não se
tem formado os esquemas conceituais e de lógica. Essas limitações para
Rappaport (1981), caracterizará o pensamento por uma tendência lúdica, ou
seja, mistura fantasia e realidade, o que irá determinar uma percepção
distorcida da realidade.
Nesta fase, então, teremos uma criança, que a nível comportamental, irá
atuar de forma lógica e coerente nos esquemas sensório-motores, mas agirá
de forma desequilibrada a nível de entendimento da realidade devido a
ausência dos esquemas conceituais.
A nível social, a criança começa um desligamento da família e começa a
se interessar por outras crianças da mesma idade, porém não há uma relação
efetiva entre as mesmas, devido a característica de egocentrismo, que não
permite que a criança veja o outro como pessoa, que tem sentimentos, atitudes
e vontade diferentes das suas. Por isso, é comum ver crianças brincando
juntas, numa roda, por exemplo, mas cada uma com seu brinquedo, sem
interagir realmente.
44
Em relação a linguagem, Rappaport (1981, p.71) diz que há a linguagem
egocêntrica, sem intenção de comunicação, juntamente com a linguagem
socializada, que funciona como diálogo, com intenção de comunicação. Assim,
a autora acima afirma:
“O que se pode observar é que quanto menor a criança,
maior a porcentagem de linguagem egocêntrica em
relação à linguagem socializada. À medida que ela vai
crescendo a evolução da linguagem se dá no sentido de
uma maior socialização, mostrando mais uma vez que a
tendência do desenvolvimento em seus vários aspectos
se dá no sentido da interação e da socialização. Isto
porque, para Piaget, a linguagem socializada é aquela
que pode ser compreendida pelas outras pessoas de uma
mesma cultura. E para ele todo pensamento adulto é
sociabilizada, no sentido de ser construída de tal forma,
que se for verbalizado será compreendido pelo
interlocutor”.
Sobre o período pré-operatório, Mello (1989, p.28), afirma que:
“No período pré-operacional os objetos são tratados
simbolicamente. Por exemplo, um bloco de madeira é
tratado como trem, uma caixa de fósforos como um carro
etc. O desenvolvimento progressivo da linguagem amplia
sua possibilidade de comunicação, mas é marcante o
egocentrismo intelectual, a centração e a irreversibilidade
do pensamento”.
45
2.2.3 – O período operatório-concreto
Este período envolve crianças com idade entre sete e doze anos.
Segundo Rappaport (1981):
“Este período que corresponde praticamente à idade em
que se inicia a freqüência à escola elementar será
marcado por grandes aquisições intelectuais de acordo as
proposições piagetianas”. (p.72)
Nesta fase há um grande declínio do egocentrismo e um incremento do
raciocínio lógico.
Para Rappaport (1981, p.72), com a capacidade de formação de
esquemas conceituais, de esquemas mentais verdadeiros adquiridos, a
realidade passará a ser estruturada pela razão e não mais pela assimilação
egocêntrica. Assim, Rappaport (1981, p.72) explica:
“A criança terá um conhecimento real, correto e adequado
de objetos e situações da realidade externa (esquemas
conceituais), e poderá trabalhar com eles de modo lógico.
Assim a tendência lúdica do pensamento, típica da idade
anterior, quando o real e o fantástico se misturavam nas
explicações fornecidas pela criança, será substituída por
uma atitude crítica. A criança não irá mais tolerar
contradições no seu pensamento, ou entre o pensamento
e a ação como antes, mas sim, irá sentir necessidade de
explicar, logicamente, suas idéias e ações”.
Na fase sensório-motora e ainda na pré-operacional as ações físicas
funcionam como forma para buscar as soluções, porém na fase operatório-
46
concreta, essas ações físicas são internalizadas, ou seja, passam a ocorrer
mentalmente. Situações que demoravam alguns minutos para serem
resolvidas, agora se resolvem em segundos. Para explicar melhor essa
questão, Rappaport (1981, p.72) exemplifica:
“Se oferecermos a uma criança pré-operacional uma série
de varetas, cada uma delas com um tamanho diferente,
para serem colocadas em ordem de altura, o
procedimento será o de tomar as varetas duas a duas e
através de comparações sucessivas chegar à formação
da série. Isto demonstra que a criança foi capaz de
solucionar o problema proposto, mas que precisou para
tanto, realizar uma ação física. Se a mesma solicitação for
feita a uma criança operacional concreta, o procedimento
será diferente. A criança olhará para as varetas,
solucionar mentalmente o problema e realizar
imediatamente a seqüência de tamanhos”.
Sobre a linguagem, verifica-se o declínio da linguagem egocêntrica até o
seu real desaparecimento, tornando, até o final do período, totalmente
socializado. A respeito da linguagem, Ferreira in Alves (2003, p.41) diz:
“A conversação torna-se possível (já é uma linguagem
socializada), sem que, no entanto, possam discutir
diferentes pontos de vista para que cheguem a uma
conclusão comum”.
Segundo Rappaport (1981, p.73), em relação ao desenvolvimento
social, pode-se observar progressos significativos. Ocorre a diminuição do
egocentrismo social e a criança passa a perceber que as outras pessoas têm
47
sentimentos, pensam e possuem necessidade diferente da sua, havendo,
portanto, uma interação social mais efetiva.
Nesta fase, a criança está adquirindo flexibilidade mental e passará a
entender regras de jogos, o que fará com que modifique, em parte, suas
brincadeiras preferidas, pois na idade pré-escolar, estes jogos não eram
compreendidos pela mesma devido às limitações existentes nas fases
anteriores.
Ferreira in Alves (2003, p.40), sobre a questão das regras no período
operatório-concreto, afirma que as crianças nessa fase “já podem compreender
regras, sendo fiéis a ela, e estabelecer compromissos”.
Sobre o período operatório concreto de maneira geral, Rappaport (1981,
p.74), conclui dizendo:
“Assim, vemos uma criança que caminha lenta, mas
decisivamente, de um estado de indiferenciação, de
desorganização do pensamento e de autocentralização,
para uma compreensão lógica e adequada da realidade
que lhe permite o perceber-se como um indivíduo entre
outros, como um elemento de um universo que pouco a
pouco passa a estruturar pela razão. O pensamento é,
sem dúvida, para Piaget, um dos aspectos centrais na
adaptabilidade do homem ao seu meio circundante”.
Mello (1989, p.28-29) em seu trabalho, fala sobre a fase operatória-
concreta, afirmando:
“O terceiro período, denominado de operações concretas,
vai de aproximadamente 7 a 11 anos de idade. Dá-se o
48
predomínio dos jogos de regras. O egocentrismo e a
centração deixam de existir e torna-se possível a
reversibilidade do pensamento. Há uma crescente
autonomia da criança em suas ações. Neste período ela
forma séries e reproduz seqüências de eventos”.
2.2.4 – O período operatório-formal
O período das operações formais engloba a idade de doze anos em
diante. A criança chega neste período com um avanço notável em sua
inteligência, mas ainda há certas limitações. Isso talvez ocorra, pois os
esquemas conceituais ou s operações mentais organizados se referem
somente a objetos e situações concretas da realidade.
Chegando na fase da adolescência, a limitação deixa de existir e o
sujeito se tornará capaz de formar conceitos abstratos (amor, fantasia, justiça,
democracia) que lhe darão capacidade para criticar e refletir. Segundo
Rappaport (1981, p.74), sobre a formação dos conceitos abstratos diz:
“Com isso adquire capacidade para criticar os sistemas
sociais e propor novos códigos de conduta; discute
valores morais de seus pais e constrói os seus próprios
(adquirindo, portanto, autonomia); torna-se capaz de
aceitar suposições pelo gosto da discussão; faz sucessão
de hipóteses que expressa em proposições para depois
testá-las;...”
As novas aquisições da fase operatória formal são responsáveis,
segundo a autora acima, pelas mudanças que ocorrem no comportamento de
todo adolescente. Para Rappaport (1981, p.75), do ponto de vista piagetiano,
49
pode-se dizer que ao adquirir as capacidades características desta fase, o
individuo atingiu sua forma final de equilíbrio.
Para Ferreira in Alves (2003, p.41), o período formal:
“É o ápice do desenvolvimento da inteligência e
corresponde ao nível de pensamento hipotético-dedutivo
ou lógico-matemático. É quando o individuo está apto
para calcular uma probabilidade, libertando-se do
concreto em proveito de interesses orientados para o
futuro”.
Segundo Mello (1989, p.29):
“No último período, das operações formais, dá-se o
domínio do conceito de probabilidade, as regras são
empregadas na solução de problemas, torna-se possível
a formulação de hipóteses e ocorrem a reflexão e o
pensamento crítico”.
2.3 – HENRI WALLON E A TEORIA EMOCIONAL
Em Mello (1989, p.25) consta que Henri Wallon, teve uma importante
contribuição para a psicomotricidade, com seus trabalhos e que integrou-se
juntamente com Piaget e psicanalistas seguidores de Freud na escola mais
representativa da psicologia genética.
Wallon identificou, em seus estudos, três tipos de movimentos: passivo
ou exógeno – executado sob a dependência de forças exteriores, tendo a
gravidade como mais importante, que segundo Fonseca (1983) apud Mello
(p.25): a gravidade compreende reações de compensação e reequilíbrio que
50
conduzem a criança da posição deitada à posição sentada e, posteriormente, à
posição bípede, ou seja, posição própria dos seres humanos –; autógeno ou
ativo – que se refere a locomoção e a preensão –; e deslocamento de
segmentos corporais ou das suas frações – um em relação aos outros, que se
exteriorizem como atitude ou mímica.
Segundo Mello (1989, p.25):
“Wallon dedicou especial atenção ao estudo da função
tônica da musculatura e sua relação com a esfera
emocional. Identificou um tipo de simbiose que
denominou “afetiva” e que sucede à simbiose fisiológica
primária entre a criança e a mãe, dando origem ao que
chamou “diálogo tônico-emocional”, onde sorrisos, sinais
de contentamento, choro etc. são significativas
expressões gestuais afetivas”.
Mello (1989) cita em seu trabalho a interpretação feita por Fonseca
sobre a obra de Wallon, que diz que esta é como uma relação dialética da
personalidade total, que tem como base as contradições que vão
sucessivamente sendo criadas e superadas. E estas contradições encontram-
se entre o real e a sua representação, a intuição e a abstração, o pensamento
e ação, a rigidez da linguagem e a fluidez dos dados sensíveis etc. Segundo
Fonseca, para Wallon, são dessas contradições que o pensamento é levado a
novas estruturações e sistematizações.
Através de seus estudos e pesquisas Wallon criou a sua escala de
desenvolvimento emocional e afetivo, dividindo-a em diferentes estádios,
classificados como: estágio impulsivo; estádio emocional; estádio sensitivo-
motor; estádio projetivo; estádio do personalismo e adolescência.
51
2.3.1 – Os estádios de desenvolvimento social-afetivo
Mello (1989, p.26) baseou-se em Ajuriaguerra e resumidamente citou os
seguintes estádios de desenvolvimento social e afetivo de Henri Wallon:
- Estádio impulsivo: este estágio ocorre com as crianças de
aproximadamente zero a três meses e tem como característica as descargas
ineficientes de energia muscular, espasmos e gestos desordenados.
- Estádio emocional: As crianças encontram-se nessa fase quando
estão com aproximadamente três a nove meses. A emoção nesta etapa
transforma-se no meio de comunicação preponderante. O riso e o choro
desempenham papéis importantes nessa comunicação. É o estágio da
simbiose afetiva, onde são determinantes manifestações de carinho.
- Estádio sensitivo-motor: Esta fase começa no fim do primeiro ano e vai
até, aproximadamente, aos três anos. A criança orienta-se para os interesses
objetivos e descobre verdadeiramente o mundo dos objetos. O surgimento da
marcha e da linguagem altera profundamente seu universo. Com o
aparecimento da atividade simbólica, a criança começa atribuir a um objeto
uma representação imaginada e por isso há uma imitação freqüente.
- Estádio projetivo: Ajuriaguerra não cita a idade aproximada desta fase
e faz referência ao fato de Wallon, em algumas sínteses, não mencionar este
estádio de desenvolvimento. A criança tem o conhecimento de objetos apenas
pela sua ação sobre eles. Ela sente a necessidade de se projetar nas coisas,
para poder perceber a si mesma.
- Estádio do personalismo: A idade que se refere a esta fase é de dois
anos e meio em diante, até chegar na adolescência. A criança, neste
momento, começa a tomar consciência de sua própria personalidade. Ao tomar
52
consciência de si mesma, necessita ser reconhecida pelo outro e por isso, às
vezes encontra-se em situações em que sente vergonha e acanhamento. A
criança participa de diferentes grupos nos quais pode assumir vários papéis
diferentes. Neste estádio os intercâmbios sociais são fundamentais, pois
através do espírito de equipe, de cooperação mútua e de solidariedade,
definirão o interesse pelos outros e pela vida social no futuro.
- Adolescência: Nesta fase a criança, já se torna um adolescente e a
afetiva virá como primeiro plano. O acesso intelectual aos valores sociais e
morais abstratos permitirá ao adolescente alcançar a maturidade do adulto.
Segundo Mello (1989, p.26), Wallon estruturou os estágios de
desenvolvimento como uma seqüência baseada em seus enfoques
relacionados à emoção e a socialização. Esses estádios, não seguem uma
cronologia fixa, ocorrendo, então, uma sucessão funcional.
2.4 – VYGOTSKY E A TEORIA DA APRENDIZAGEM
Em Relvas (2007) é relatado que Vygotsky defende cinco idéias
importantes em sua teoria de aprendizagem. Uma importante idéia para o
psicólogo é a relação indivíduo/sociedade, afirmando que as características
tipicamente humanas não estão presentes ao nascer, ou seja, não são
transmitidos pela hereditariedade e nem adquiridas de forma passiva pelas
pressões do meio. São, na verdade, resultados da interação do indivíduo com
o meio sócio-cultural, formalizando uma relação recíproca. O homem age na
natureza, transformando-a e sofrerá os efeitos dessa mudança, a qual ele
mesmo promove. Essa primeira idéia caracteriza a teoria sócio-interacionista
de Vygotsky.
Como segunda idéia, Vygotsky defendia que as funções psicológicas
humanas, têm origem nas relações homem-mundo, sendo o desenvolvimento
53
mental construído ao longo da vida e estando diretamente ligado ao
desenvolvimento histórico e social da vida humana. Leontiev, apud Relvas
(2007, p.105):
“Cada indivíduo aprende a ser um homem. O que a
natureza lhe dá quando nasce não lhe basta para viver
em sociedade. É ainda preciso adquirir o que foi
alcançado no decurso do desenvolvimento histórico da
sociedade humana”.
A terceira idéia de Vygotsky tem relação com o cérebro, que seria a
base biológica do pensamento psicológico. Acreditava que a compreensão do
processo de construção do conhecimento, poderia viabilizar criação de projetos
pedagógicos voltados para a aprendizagem e também para o desenvolvimento
da inteligência do educando.
Vygotsky defende como quarta idéia, que a relação dos homens entre si
e com o mundo é mediada por instrumentos técnicos e signos. Os
instrumentos regulam as ações sobre os objetos, ajudando nas ações
concretas e assim provocando mudanças externas e propiciando a intervenção
do homem no seu meio. Os signos auxiliariam o homem em suas ações
internas e regulariam as ações sobre o psiquismo das pessoas.
Em sua quinta idéia, Vygotsky acredita que uma análise psicológica
deve conservar as características básicas nos processos psicológicos e lembra
que esses processos complexos não podem se reduzir a uma simples “cadeia
de reflexos”, trazendo então a idéia da zona de desenvolvimento proximal, que
seria a distância entre os níveis de desenvolvimento real e potencial.
Relvas (2007) acredita que refletir sobre a idéia de zona de
desenvolvimento proximal é muito importante para a educação, pois possibilita
54
a melhora de estratégias pedagógicas mais eficazes, buscando a melhora do
aprendizado escolar, que possibilitaria, orientaria e estimularia o processo de
desenvolvimento. Rego apud Relvas (2007, p.106):
“Um bom ensino, por conseqüência, é aquele que se
adianta ao desenvolvimento, ou seja, que se dirige às
funções psicológicas que estão em vias de se
completarem”.
Assim, para Relvas (2007) é fundamental desafiar e exigir do intelecto
das crianças e do adolescente, para então conseguirem estágios mais
elevados de raciocínio, o que poderá ser alcançado se a escola investir na
zona de desenvolvimento proximal do educando.
Na perspectiva da abordagem sócio-interacionista vygotskyana o
homem é alguém que transforma e ao mesmo tempo é transformado através
das suas relações produzidas em uma determinada cultura, na verdade o que
ocorre é uma interação dialética entre indivíduos, que inicia-se desde o
nascimento e desenvolve-se por toda a vida, sendo então moldado por toda a
história da espécie e desenvolvimento individual.
Ao se falar de aprendizagem, Vygotsky descobriu dois níveis de
desenvolvimento: O nível de desenvolvimento real e o nível de
desenvolvimento potencial. O nível de desenvolvimento real está relacionado
com as conquistas já realizadas e ciclos completos. A criança encontra-se
nesse nível quando já é capaz de realizar determinadas ações sozinhas. O
nível de desenvolvimento potencial caracteriza-se pelas capacidades que
ainda serão construídas. A criança está nessa fase quando só pode realizar
determinadas ações com a assistência de alguém.
55
Além desses dois níveis de desenvolvimento, há um destaque também
para a zona de desenvolvimento proximal, que seria, para Vygotsky, a
distância entre os níveis de desenvolvimento real e de desenvolvimento
potencial.
Para Relvas (2007), a educação encontra nessas descobertas de
Vygotsky um grande avanço, pois a zona de desenvolvimento proximal permite
compreender a dinâmica interna do desenvolvimento individual e faz lembrar
da relação meio e indivíduo, ambos influindo um ao outro, e essas trocas são
responsáveis pela formação das características de cada individuo. No
processo educacional deve-se considerar o desenvolvimento individual do
educando, ou seja, conhecer o nível potencial e real do mesmo, considerando-
o como um sujeito que em sua relação com o meio, age ativamente
reconstruindo, em seu pensamento, o mundo e a si próprio.
Nessa concepção de construção de conhecimento, surge uma nova
prática escolar, na qual o educando age interagindo em seu processo de
aquisição de conhecimento; os processos de aprendizagem respeitam os
ritmos diferentes, comportamentos e trajetórias individuais; o professor age
como mediador da aprendizagem e respeitando as interações
educador/educando. Para Vygotsky o aprendizado não é definido só pelo
esforço individual, é também definido pelo contexto em que o indíviduo vive.
56
CAPÍTULO III
A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS NO DESENVOLVIMENTO
PSICOMOTOR
3.1 – LÊ BOULCH E DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
Lê Boulch elaborou a psicocinética, que corresponde a uma teoria geral
do movimento, a qual se refere a utilização do movimento como uma das
bases fundamentais da educação global da criança, buscando contribuições às
fases do desenvolvimento psicomotor, que irão influenciar tanto na evolução
da personalidade como na vida escolar da criança. É uma teoria de educação
psicomotora, criada através do conhecimento das leis do desenvolvimento,
qualificando uma ação educativa global e integradora.
3.1.1 – A teoria psicomotora de zero a seis anos
3.1.1.1 – A imagem corporal
Para Lê Boulch (1982) a imagem corporal é uma forma de equilíbrio
entre as funções psicomotoras e a sua maturidade, correspondendo a um
conjunto funcional que tem como finalidade favorecer o desenvolvimento e
assim afirma:
“É através das relações mútuas do organismo e do meio
que a imagem do corpo organiza-se como núcleo central
da personalidade. A atividade motora e sensório-motora,
graças à qual o indivíduo explora e maneja o meio, é
essencial na sua evolução”.
57
Lê Boulch (1982) fala sobre a oposição existente entre esquema
corporal e imagem corporal por diversos autores, que tratam como se existisse
dois corpos separados, ou seja, um corpo neurológico e outro corpo espiritual,
tendo assim que realizar um esforço enorme para unir ambos os corpos.
O campo de educação psicomotora proposta por Lê Boulch visa ajudar
a criança a dispor de uma imagem do corpo operatório e essa conquista só
estará completa após passar por vários estágios de evolução psicomotora. As
duas etapas, de corpo vivido e corpo percebido, têm relação com o processo
de aquisição dessa imagem corporal. A etapa de corpo vivido termina quando
a primeira imagem do corpo é identificada pela criança como seu próprio eu e
a etapa do corpo percebido corresponde à organização do esquema corporal.
Assim, Lê Boulch (1982, p.19) conclui:
“A estruturação do esquema corporal organiza-se a partir
de uma estreita interligação entre as duas imagens. Como
resultado, a criança dispõe de uma imagem do corpo
“operatório” no sentido piagetiano, um suporte que
permite programar mentalmente ações em torno do objeto
e também em torno do seu próprio corpo”.
3.1.1.2 – A evolução psicomotora até três anos
Na vida uterina, a função muscular já se faz presente, sendo o primeiro
modo de expressão do embrião e aparece bem antes de responder a um
estímulo sensorial externo, caracterizando assim o dinamismo do corpo. A
criança, em sua vida fetal, encontra-se em simbiose com o organismo da mãe
e as exigências metabólicas ocorrem conforme as necessidades. Segundo Lê
Boulch (1982, p.40):
58
“Durante a vida intra-uterina, as necessidades
metabólicas do feto estão automaticamente satisfeitas.
Sua atividade motora se traduz por um comportamento
postural que se manifesta precocemente pelo equilíbrio
no líquido amniótico a partir da estimulação labiríntica. Em
torno da 16ª semana, os movimentos mais abundantes e
mais fortes aparecem espontaneamente ou a partir de
estímulos sensoriais”.
Ao nascer ocorre uma sensação de perda, pela diminuição da
concentração dos metabolismos sanguíneos, caracterizando, para Lê Boulch
(1982) o período narcisista primário, que se instala devido a este forte impulso,
se estendendo até os dois meses, formando o primeiro motor do
comportamento. No nascimento, a necessidade de alimento constitui no
elemento organizador do comportamento.
Segundo Freire (1997, p.33):
“De modo geral, pode-se dizer que, ao nascer, a criança é
caracterizada por uma atividade do tipo automática,
reflexa, que lhe permite receber diversos alimentos para
sobreviver, além de formar e desenvolver recursos vitais.
Essas primeiras expressões de vida da criança se
parecem mais a crises motoras que a movimentos
orientados, e essa etapa Lê Boulch chama corpo
submisso”.
A criança oscila no estado de necessidade, manifestado através da
elevação do tono, ou seja, descargas elétricas impulsivas e por gritos, sendo o
estado de prazer sendo paralelo à diminuição do tono e este equilíbrio tônico-
59
emocional traduz o ser e é função de atenção do meio em relação à criança.
Sobre esse estágio, Lê Boulch (1982, p. 38) afirma:
“Embora esta fase da vida não se torne consciente, é
muito importante, já que as experiências corporais vividas
ficam registradas, graças a uma verdadeira memória
corporal, forma mais primitiva do inconsciente”.
No decorrer das primeiras semanas, especificamente, durante o estágio
pré-objetal, ou seja, até os sete meses de vida, o comportamento organiza-se
sob a influência de estímulos sensoriais. Os estímulos externos têm grande
importância na organização do equilíbrio tônico-emocional da criança. Durante
a vida intra-uterina, o feto já sentia sensações cutâneas, sonoras e
proprioceptivas e ao nascer cria-se uma necessidade de exercício das
estruturas sensoriais. Para Lê Boulch (1982) as sensações cutâneas são tão
importantes quanto às necessidades nutritivas ao equilíbrio afetivo da criança.
Essa sensorialidade é também importante, pois reveste na organização dos
primeiros automatismos adquiridos, origem das futuras praxias. É através das
reações circulares, que as estruturas motrizes irão se organizar a partir dos
estímulos externos. As atividades sensório-motoras não se desenvolve
somente a partir desses estímulos, mas também de informações
proprioceptivas, labirínticas e articulares, que são fontes de origem das
reações de equilíbrio e dos primeiros ajustamentos posturais, do qual a
coordenação exige a intervenção do arquicerebelo.
Segundo Freire (1997, p.33):
“Passados os primeiros anos de vida, nota-se que os
chamados reflexos arcaicos (de sugar e agarrar, por
exemplo) começam a ceder lugar aos movimentos
intencionais. Lê Boulch chamou esse período de etapa do
corpo vivido”.
60
Ao chegar no oitavo mês de vida, inicia-se o estágio objetal, que
representa uma etapa importante na evolução do eu. O estágio pré-objetal é
uma verdadeira simbiose afetiva entre a criança e a mãe, que fornece alimento
e tranqüilidade. Até oito meses a criança só tem da mãe um conhecimento
vivido através de um diálogo-tônico, podendo sentir uma insatisfação ao ser
tomada por outra pessoa, que ela não conhece como objeto, porém no período
objetal a criança é capaz de identificar a mãe. A presença da mãe lhe causa
prazer e a sua ausência uma frustração. Segundo Lê Boulch (1982, p. 39):
“A experiência da frustração tem um aspecto dinâmico, já
que a perda passageira do objeto libidinal é a origem do
desejo, motor da atividade intencional. A imagem
materna, fruto da representação mental, é o primeiro
suporte da função simbólica”.
A partir deste momento um verdadeiro diálogo poderá ocorrer entre o
bebê e seu ambiente e a mãe irá exercer um papel facilitador, buscando captar
a toda a afetividade existente na criança.
Chegando ao segundo ano de vida, a organização do eu irá girar em
torno da relação com o objeto material. Quando o ambiente humano garante
todas as necessidades da criança, respeitando o princípio de prazer, os
interesses delas deixarão ser essencialmente nas pessoas e irão incidir sobre
as coisas o que trará um suporte novo a organização percepto-motora, que vai
permitir uma aquisição rápida das praxias.
O adulto tem importante função nessa relação criança e objeto. Ele deve
propiciar esta situação e valorizar os êxitos obtidos pela criança, permitindo a
ela vivenciar a experiência de um corpo eficaz, porém deve fazer com que
61
criança aceite certos limites e assim ela passará pelo principio da realidade,
que origina a atividade de controle que poderá influir sobre seus impulsos.
No estágio de corpo vivido a experiência do corpo e do espaço termina
com a aquisição de numerosas praxias que faz a criança sentir seu corpo
como um objeto total no mecanismo da relação. Este momento está tudo
centrado na unidade afetiva e expressiva a partir de que tudo se organiza.
Segundo Lê Boulch (1982, p.71):
“Aos 3 anos, o aspecto práxico do comportamento está
muito afinado no plano global e continua aperfeiçoando-
se ao ritmo do desenvolvimento da função de
ajustamento”.
Aos três anos a criança reconhece seu corpo como objeto e as
urgências de adaptação ao mundo externo são resolvidas de forma global,
permitindo uma melhor consciência do vivenciado.
3.1.1.3 – O desenvolvimento motor entre três e seis anos
A criança de três anos de idade que tem se beneficiado com um
ambiente humano e afetivo, que com a ajuda da mãe, tem se confrontado com
o mundo dos objetos, sem ser superprotegida ou livre excessivamente deve
apresentar uma motricidade espontânea e harmoniosa. Para Lê Boulch (1982),
nessa fase a criança desloca-se sem problemas, o equilíbrio está mais
assegurado, o coordenação de braços e pernas está sendo adquirida e a
motricidade é perfeitamente rítmica. Já sobe e desce escadas com rapidez e
tem adquirido muita habilidade no plano da coordenação óculo-manual.
Consegue beber sem derramar o líquido, agarra a colher e o garfo entre os
dedos polegar e indicador e já deve ter adquirido um bom controle
esfincteriano e começa a se vestir sozinha.
62
A criança da escola maternal apresenta em seus gestos, movimentos e
atitudes, espontaneidade e naturalidade. Toda manifestação contrária como
rigidez e tensões são expressões de dificuldade que a criança apresenta na
organização de sua personalidade. Essa espontaneidade motora durante
atividades de exploração permite que a criança experimente e continue a
enriquecer sua bagagem práxica. O bem estar corporal que adquiriu em etapas
anteriores permite agira com segurança e chegar a um fim sem dificuldades.
Segundo Lê Boulch (1982, p.89) sobre as crianças de três anos:
“Dispõe de uma verdadeira memória do corpo, carregada
de afetividade e orientada também pelo afeto depende de
suas experiências vividas anteriormente com sucesso e
valorizadas pelo adulto”.
A energia usada no movimento não é impulsiva e já tem um controle
cortical. O jogo simbólico tem um valor importante na expressão do movimento,
ao tornar-se consciente essa expressão perde sua espontaneidade. Aos quatro
anos a criança está consciente de suas atitudes e entra na idade da comédia
multiplicando suas fisionomias. Através do jogo expressivo a criança irá
representar figuras sociais marcantes, como professor, bombeiros etc. e
gostará muito de fantasias e transformações, fortalecendo uma relação social.
Nessa fase novas aquisições aperfeiçoam a atividade práxica. Para Lê
Boulch (1982) o ajustamento motor continua de forma global e os sucessos
ocorrem pela multiplicação dos esquemas e ao progresso da função simbólica.
A imitação estimula ao aprendizado práxico.
A evolução da gestualidade ocorre devido ao ajustamento postural, o
que possibilita uma regulação tônica muito mais precisa. Os jogos funcionais e
simbólicos possibilitam à criança atividades motoras variadas, porém as
63
situações diárias é que enriquecem o repertório gestual infantil. Alimentar-se,
tomar banho, trocar de roupa, novas aquisições de locomoção, a escola
maternal etc. propiciam experiências motoras aprimorando cada vez mais a
coordenação.
Sobre a motricidade gráfica, Lê Boulch (1982) diz que a sua evolução
depende da evolução perceptiva e da compreensão da atividade simbólica e
quando essa etapa for alcançada a criança poderá representar por signos,
figuras geométricas, letras e assim evoluir no domínio gráfico. É importante
nesse processo que o esquema visual esteja coordenado.
No período entre os quatro e cinco anos, a harmonia do ritmo alcança
uma certa perfeição, sendo chamado de idade da graça e paralela ao
aperfeiçoamento da motricidade a lateralidade se estabelece definitivamente,
sendo base para uma melhor orientação do corpo no espaço. Os espaços
motores de lado direito e esquerdo não são homogêneos e esta desigualdade
vai se tornando mais precisa durante o desenvolvimento e vai se manifestar
quando ocorrer os reajustes práxicos. Para Lê Boulch (1982, p.94):
“A lateralidade é função da dominância, tendo um dos
hemisférios a iniciativa da organização do ato motor, que
incidirá no aprendizado e na consolidação das praxias...
Permitir à criança organizar suas atividades motoras
globais é a ação educativa fundamental. Desse modo,
coloca-se a criança em melhores condições para
constituir uma lateralidade homogênea e coerente”.
64
3.1.2 – A teoria psicomotora de seis a doze anos
3.1.2.1 – A imagem corporal
Para Lê Boulch (1987, p.16) a imagem corporal funciona como guia para
o entendimento do desenvolvimento psicomotor, porém acha que esta
expressão ocorre de forma imprópria para descrever o universo vivido na
primeira infância, assim o autor afirma:
“É mais importante nesta fase a experiência subjetiva e a
maneira pela qual o corpo é unido do que a
representação do corpo”.
Lê Boulch acredita que não se pode falar de imagem corporal enquanto
o ego não está unificado e enquanto o senso da realidade não tiver sido
adquirido, ou seja, no fim da etapa de corpo vivido. O esquema corporal estará
organizado na etapa seguinte de corpo percebido, não sendo possível sua
estruturação na etapa anterior.
A criança revela sua primeira personalidade quando estabelece uma
relação entre o que vive e sente ao nível do seu corpo e a imagem especular.
A criança precisará associar a imagem visual do seu corpo com as sensações
táteis e cinestésicas e o estreitamento dessa relação será possível a
estruturação do esquema corporal.
Aos doze anos a criança na fase de corpo representado, dispõe da
imagem de corpo operatório, a partir da qual ela exerce as funções de seu
corpo sobre o mundo e sobre si própria. A criança aos seis anos tem a
representação mental de seu corpo convertido em um objeto do espaço,
descentralizado, sendo apenas uma imagem reprodutora e estática. Através da
evolução cognitiva da fase de operações concretas, evoluirá a imagem
65
reprodutora do corpo para uma imagem antecipadora, sendo possível ajustar
sua motricidade a seu espaço de vida e concluir suas ações em pensamento,
podendo programar os seus movimentos. Assim, Lê Boulch (1987, p.17) diz:
“Na medida em que esta imagem do corpo “operatório”
ocupa o centro de todas as ações realmente efetuadas,
ou programadas a partir da representação mental, elas
giram em torno do ambiente ou no seu “corpo próprio”, é
que será importante interessar-se por ela em educação e,
sem dúvida, mais particularmente, durante a escola
primária”.
3.1.2.2 – Do corpo imaginário ao corpo operatório
É importante apreender a imagem corporal como conteúdo, ou seja,
passar a ver o corpo como fonte de pulsões e vetor de trocas relacionais.
Assim, Lê Boulch (1987, p.17) diz:
“Emitimos uma hipótese de que o objeto principal da
educação psicomotora é, precisamente, ajudar a criança
a chegar a uma imagem do corpo operatório, que
concerne não só ao conteúdo, mas também à estrutura
da relação entre as partes e a totalidade do corpo, e uma
unidade organizada, instrumento da relação com a
realidade”.
Para Lê Boulch (1987) até os dezoito meses a maturação instrumental
depende da forma que o corpo da criança foi investido pela mãe, pois é da
qualidade e quantidade de trocas entre o corpo infantil e o ambiente humano
que depende o potencial nascisístico de onde flui os processos relacionados
com as motivações, intencionalidades e que constituem a base do domínio
66
afetivo. A educação psicomotora deve criar condições do equilíbrio psíquico,
fazendo coincidir o espaço e o tempo com o ego, ligando-se a realidade.
Na fase pré-operatória, a imagem do corpo é ambivalente, mesmo
conseguindo uma representação de si e do objeto, conforme realidade. O
corpo apresenta de forma fantasmática, imaginativa, de forma inconsciente,
envolvido em conflitos de identidade. Será necessário aguardar o período de
latência, na qual ocorre o declínio da sexualidade infantil, para que o aspecto
operativo da imagem do corpo possa ser consciente.
A descoberta da própria identidade e a organização do ego, leva a
criança a estabelecer uma relação com a realidade, com a consciência, com a
aceitação e o entendimento de regras, possibilitando então a evolução da
criança para chegar à imagem do corpo.
3.1.2.3 – Imagem do corpo e estrutura espaço temporal
Até os dois anos e meio de idade, o espaço da criança é um espaço
vivido dentro do qual se ajusta em função de um objetivo a ser atingido. Dos
três aos seis anos ela vai descobrindo as formas e as dimensões. Mais tarde
ela já consegue estabelecer uma relação entre o corpo e os objetos no espaço
em torno dela, chegando a um corpo orientado, que será padrão para situar os
objetos colocados em espaço circundante. Esta estabilização perceptiva é
devido ao processo de interiorização que será imprescindível na estruturação
do espaço. Assim, Lê Boulch (1987, p.19) diz:
“A orientação dos objetos faz-se, então, em função da
posição atual do corpo da criança. Esta primeira
estabilização perceptiva possibilita pelo desempenho da
função de interiorização, é o trampolim indispensável sem
o qual a estruturação do espaço não pode efetuar-se”.
67
Esta condição é necessária, mas não suficiente, pois a passagem da
percepção de um espaço orientado, onde o corpo situa-se como objeto, implica
o desempenho de outras funções cognitivas, correspondendo então à fase das
operações concretas.
3.1.2.4 – Do ajustamento global ao ajustamento com
representação mental
Para Lê Boulch (1987) o desempenho da função de ajustamento, que
atua no nível sensório-motor do comportamento é que torna possível a
confrontação do corpo vivido com o espaço prático. Esta expressão do corpo
como totalidade é carregada de todo um conteúdo afetivo, constituindo o
primeiro núcleo de organização do ego. Com o processo de interiorização,
durante a etapa do corpo percebido, a passagem de um ajustamento
espontâneo, global, a um ajustamento controlado, com o enriquecimento do
esquema corporal faz com que a criança torne-se capaz de estabelecer uma
relação do objeto e do movimento percebendo as modalidades de ação. Ela
susta o seu desejo de apropriação do objeto e exerce sua função de inibição, a
informação proprioceptiva passa ser o objeto de uma tomada de consciência.
As aquisições necessárias ao desenvolvimento não estão voltadas apenas
num trabalho para o corpo, mas também para o domínio da maior parte dos
conhecimentos operatórios baixados no espaço, e no tempo, isto é, o
desenvolvimento não é apenas psicomotor, mas também intelectual.
3.2 – AS FUNÇÕES PSICOMOTORAS
Em Mello (1989, p.37) é possível encontrar as principais funções
psicomotoras citadas pelos estudiosos da Psicomotricidade. Para ele não
existe uma classificação única para tais funções.
68
“Lê Boulch (1983ª), por exemplo, cita as seguintes
funções psicomotoras: estruturação do esquema corporal,
coordenação dinâmica geral, motricidade gráfica,
lateralidade, relação corpo-tempo e percepção temporal,
e tono muscular. Fonseca (1983) faz referencias à noção
do corpo ou somatognosia, equilibração, coordenação
dinâmico-manual, lateralidade, controle da respiração,
estruturação espaço-temporal, ritmo, dissociação e
tonicidade. Coste (1981) aborda o esquema corporal,
coordenação, motricidade fina, preensão e coordenação
óculo-manual, lateralidade e estruturação espaço-
temporal”.
Através da revisão de uma literatura na área psicomotora, Mello (1989)
chegou a uma classificação de dez funções psicomotoras: esquema corporal;
tônus da postura; dissociação de movimentos; coordenações globais;
motricidade fina; organização espacial e temporal; ritmo; lateralidade; equilíbrio
e relaxamento (diferencial, segmentar e total).
1 – Esquema corporal: O esquema corporal compreende a imagem e o
conceito do corpo e suas partes. Lê Boulch apud Mello (1989, p.37) diz que
esquema corporal é:
“uma intuição do conjunto ou um conhecimento imediato
que temos de nosso corpo em posição estática ou em
movimento, na relação das suas diferentes partes entre si
e sobretudo nas relações com o espaço e os objetos que
nos circundam”.
69
2 – Tônus da postura: Para Mello (1989, p.38) “É uma atividade,
segundo Lê Boulch (1982), primitiva e permanente do músculo”.
3 – Dissociação de movimentos: Para Fonseca apud Mello (1989, p.38)
é a: “capacidade de individualizar os segmentos corporais que tomam parte na
execução de um gesto intencional”.
4 – Coordenações globais ou motricidade ampla: Mello (1989) baseou-
se em Costallat e define como a colocação em ação de grupamentos
musculares diferentes, de forma simultânea, objetivando a execução de
movimentos amplos e voluntários mais ou menos complexos e envolve
principalmente o trabalho de membros superiores, inferiores e tronco.
Almeida (2007, p.43) indica o trabalho para desenvolver a função de
coordenação motora:
“... uma grande organização corporal deve ser construída
a partir do trabalho de coordenação motora geral.
Danças, expressões corporais, exercícios combinados e
dissociados são os melhores trabalhos para que a criança
possa ter um bom desenvolvimento”.
5 – Motricidade Fina: Para Mello (1989) é um trabalho de pequenos
músculos, que ocorrem de forma ordenada, envolvendo atividades manual,
digital, ocular, labial e lingual.
Segundo Almeida (2007, p.50), sobre a coordenação motora fina:
“Para Lê Boulch (1982), a coordenação viso-manual e o
aperfeiçoamento da motricidade fina da mão e dos dedos
se dá a partir da organização das reações combinadas
70
dos olhos e da mão dominante. Ela começa no primeiro
ano e só se completa no final da escolaridade primária.
No período pré-escolar o desenvolvimento global dessa
forma de coordenação far-se-á durante as atividades
práxicas escolhidas para desenvolver a destreza e a
coordenação fina; por meio da prática da expressão
gráfica e do desenho, desenvolve-se, ao mesmo tempo, a
função simbólica”.
6 – Organização espaço e temporal: é a função que engloba a
capacidade de se orientar em um determinado espaço físico e de perceber a
relação da proximidade das coisas ao redor. Trabalha-se a percepção de
perto, longe, em cima, embaixo, dentro, fora etc. Para Mello (1989, p.38):
“A organização temporal corresponde à capacidade de
relacionar ações a uma determinada dimensão de tempo,
onde sucessões de acontecimentos e de intervalo de
tempo são fundamentais”.
7 – Ritmo: Meinel e Schabel apud Mello (1989) dizem que ritmo é:
“ordenação específica, característica e temporal de um ato motor”. Mello (1989)
ainda complementa dizendo que há um relação estreita entre a organização
espaço e tempo e o ritmo.
8 – Lateralidade: Para Mello (1989) baseado em Coste e Sabóia, essa
função consiste na capacidade de vivenciar as noções de direita e esquerda
sobre o mundo exterior, diferindo do conceito de dominância lateral que ocorre
em todas as pessoas e é determinada devido à carga inata e influência social.
Sobre lateralidade, Almeida (2007, p.61) diz:
71
“Para Lê Boulch (1982), a lateralidade é a função da
dominância, tendo um dos hemisférios a iniciativa da
organização do ato motor, que incidirá no aprendizado e
na consolidação das praxias. Esta capacidade funcional,
suporte da intencionalidade, será desenvolvida de
maneira fundamental nessa época da atividade de
investigação durante a qual a criança vai confrontar-se
com seu meio...permitir à criança organizar suas
atividades motoras globais é a ação educativa
fundamental. Desse modo, coloca-se a criança em
melhores condições para constituir uma lateralidade
homogênea e coerente”.
9 – Equilíbrio: Mello (1989) baseado em Tubino e Mainel e Schabel,
conclui que essa função é a capacidade de se manter sobre uma base
reduzida para a sustentação do corpo, ocorrendo através de uma combinação
adequada entre as ações musculares e as forças externas.
10 – Relaxamento: Para Mello (1989, p.39) baseado em Tubino:
“relaxamento é o fenômeno neuromuscular resultante de uma redução de
tensão da musculatura esquelética”. O relaxamento divide-se em relaxamento
global, que ocorre quando o corpo encontra-se relaxado totalmente, o qual
envolve o aspecto psicológico que está diretamente relacionado a
descontração total da tensão muscular total; relaxamento diferencial que é
quando ocorre a descontração de grupos musculares que não são necessários
a execução de um determinado ato motor e o relaxamento segmentar que
está relacionado ao relaxamento alcançado por determinadas partes do corpo.
O trabalho realizado para desenvolvimento das funções psicomotoras
na criança, durante a prática de jogos deve levar em consideração que na
maioria dos movimentos as funções psicomotoras aparecem associadas, ou
72
seja, muitas vezes no decorrer das atividades ocorre a solicitação simultânea
de mais funções.
3.3 – O JOGO
O jogo tem sido tema de várias polêmicas e discussões entre diversos
autores, que buscam constantemente a busca do seu real significado, expondo
idéias e pensamentos, havendo muitas vezes divergências conceituais e
tipológicas, tornando o jogo um assunto interessante e desafiador.
3.3.1 – Buscando o significado da palavra jogo
Para Brougère (1998), em relação a análise do jogo, no âmbito
educacional, convém se interrogar sobre o uso dessa noção de sentidos
múltiplos, afirmando ser necessário uma investigação sobre tal termo.
Acredita, o autor, que não se pode agir como se fosse um termo claro e
transparente, de um conceito construído, pois se lida com uma noção aberta e
polissêmica e às vezes ambígua. O vocábulo jogo é utilizado em diversas
situações que muitas vezes são bem diferentes, como por exemplo: jogo de
engrenagem e jogo de xadrez. Segundo Brougère (1998, p.14):
“A questão essencial é, então, saber por que atividades
tão diferentes foram, em nossa língua e em algumas
outras, designadas pelo mesmo termo. Se as razões
disso não são talvez arbitrárias, nem por isso são
necessariamente sempre racionais... Saber por que
usamos o mesmo termo em situações diferentes é
explorar a linguagem em seu funcionamento e, ao mesmo
73
tempo, reunir indícios que nos permitirão descobrir as
representações associadas à palavra jogo”.
Foram realizadas diferentes análises sobre a significação do tema jogo,
o que pode evitar confusões, devido a uma polissemia possível, fundamental
do termo. Em primeira instância, Brougère(1998, p. 14), diz que:
“... um jogo é uma certa situação caracterizada pelo fato
de que seres jogam, têm uma atividade que diz respeito
ao jogo, qualquer que seja sua definição”.
Neste momento, o autor prefere considerar que o termo é utilizado e
compreendido devido a própria ausência de definição mais rigorosa e o termo
jogo é o que o vocabulário científico denomina de “atividade lúdica”.
Continuando em suas idéias, Brougère (1998, p. 14), realiza outra
classificação:
“O jogo é também uma estrutura, um sistema de regras
(game, em inglês) que existe e subsiste de modo abstrato
independente dos jogadores, fora de sua realização
concreta em um jogo entendido no primeiro sentido.
Trata-se por exemplo, de um jogo de damas, de futebol
ou “jogo da velha”. Assim joga-se um jogo determinado”.
Diante desses dois tipos de jogo, o autor faz uma comparação. Para que
o segundo jogo, que pode ser apenas observado ou assistido na televisão,
podendo ocorrer com ausência de jogadores, se torne um jogo no primeiro
sentido, é necessário a participação de jogadores. Assim, verifica-se que nos
dois sentidos as conseqüências não serão idênticas, e é como essa situação
que afirma-se que o significado de jogo causa muita confusão nas discussões
74
ou análises sobre jogo. Muitas vezes o vocábulo, jogo, evolui em direções que
se afastam de qualquer contexto considerado lúdico, seja por sentidos
derivados ou como forma de metáfora como: jogo de cartas e jogo de chaves.
Para Brougère (1998, p.15):
“Entre material lúdico, certos objetos são usualmente
designados como jogo, outros, como brinquedo. O
brinquedo supõe uma relação com a infância e uma
abertura, uma indeterminação quanto ao uso, isto é, a
ausência de relação direta com um sistema de regras que
organize sua utilização. Por conseguinte, o brinquedo não
é a materialização de um jogo, mas uma imagem que
evoca um aspecto da realidade e que o jogador pode
manipular conforme sua vontade”.
Em toda essa análise realizada sobre a palavra jogo, Brougère
considera inicialmente, o primeiro nível mais complexo e o segundo (sistema
de regras) e o terceiro (o objeto) com menos peso, por serem percebidos com
mais facilidade. A noção de jogo deve ser considerada a nível social, levando
em conta o jogo encontrado na sociedade em que ele é utilizado. É esse
aspecto que se deve considerar para a compreensão de tantos fenômenos
diferentes nos três níveis de sentidos. Sobre a linguagem social, Brougère
(1998, p.16) afirma: “nossa noção de jogo não vem da língua particular de uma
ciência, mas de um uso cotidiano”.
Na busca de um significado correto para o tema jogo, há uma
diferenciação entre o uso derivado ou metafórico, porém em todos os casos, o
ato social está presente, havendo uma interpretação. Segundo Brougère
(1998, p.16-17):
75
“Dizer que o candidato à eleição presidencial se entrega a
um jogo é mais metafórico do que designar com a mesma
palavra a atividade do bebê que atira objetos do seu
berço? E isso é tão mias verdadeiro que designamos
“jogo” a atividade de seres (crianças pequenas, animais)
que não usam a fala. Há aí a interpretação e projeção de
uma imagem social sobre a realidade externa. São os
adultos que batizam de “jogo” certas atividades infantis,
antes mesmo que a criança disponha do termo e ainda
menos da noção”.
A língua é um mecanismo de socialização e deve saber quais são as
conseqüências disso para o jogo, pois não se deve separar a noção social de
seu emprego real. Reforçando, Wallon apud Brougère (1998, p.17) diz: “Por
que se deu a estas atividades diversas o nome de jogo? Evidentemente, por
comparação ao que é jogo para o adulto”.
O jogo infantil, que era considerado o próprio modelo de jogo, desde
meados do século XIX, só é jogo por metáfora e assim a psicologia vê o jogo
como essencial ao desenvolvimento infantil. Diante disso torna-se difícil
justificar sua persistência no adulto, pois este paradoxo com o termo jogo, cujo
sentido é derivado, caminha para a produção de um discurso, que o primeiro
sentido perderá toda a razão de ser e para Brougère esses paradoxos não se
deve a confusões dos discursos evocados e sim deve-se ao uso do termo jogo
sem a análise de seu real funcionamento na linguagem. O que se constata é o
olhar da sociedade que permite compreender como que atividades tão diversas
podem manter um mesmo vocábulo. Chamando a atenção de como unificar as
diversidades de vocábulos, assim como jogo, Brougère (1998, p.17) alerta:
76
“É preciso estar atento à arbitrariedade relativa de uma
unidade lingüística; ela não deve nos impedir de ver as
diferenças”.
3.3.2 – Conceitos para jogo
Através de pesquisas sobre conceito de jogos, foi possível verificar que
há várias classificações que buscam facilitar o entendimento real do tema jogo.
Segundo Antunes (2006, p.41):
“Entendemos por “jogos” atividades de natureza lúdica e
educativa, uma relação interpessoal entre o mediador e
as crianças, estabelecidas por algumas regras e
objetivos”.
Para Antunes, os jogos devem ser praticados em qualquer nível de
escolaridade, desde educação infantil ao ensino médio. Nos jogos propostos
as regras devem ser características claras e o objetivo primordial da atividade
deverá ser o estímulo da inteligência principal que se busca trabalhar, mesmo
que haja outras inteligências secundárias em desenvolvimento.
Brotto (2001) ao conceituar jogo, refere-se a uma das obras clássicas
relacionada ao tema: “homo ludens” escrita por Johan Huizinga, que considera
que o jogo existe antes mesmo da própria civilização e que por isso deve
respeitar suas relações históricas, culturais e sociais.
O mesmo conceito de jogo apresentado por Huizinga aparece citado em
três diferentes obras: Brotto (2001, p.11); Darido e Rangel (2005, p. 156) e
Mello (1989, p.60) e diz o seguinte:
77
“O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida
dentro de certos e determinados limites de tempo e de
espaço, segundo regras livremente consentidas, mas
absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si
mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e de
alegria e de uma consciência de ser diferente da vida
quotidiana”.
Brotto (2001) em seus estudos observou que alguns autores em seus
trabalhos sobre jogo, concordam que há controvérsias a respeito de jogo e
sobre suas relações com brincadeiras, brinquedo, atividade lúdica e esportes.
Todas essas atividades são permeáveis e assim permitem aproximação e
interações entre si. Assim, Freire apud Brotto (2001, p.11) diz:
“... é possível incluí-las todas no universo do jogo,
considerando este a grande categoria do conjunto das
produções lúdicas humanas”.
Ao continuar suas idéias, Brotto (2001), cita Friedmann e seus enfoques
de jogo, que são: educacional, psicológico, antropológico e folclórico, porém o
Brotto defende a existência de mais um enfoque não referido pelo autor citado,
que seria o enfoque filosófico, relacionado a reflexão de valores humanos
presentes (ou ausentes) no jogo. Assim, Brotto (2001, p.13) produz seu próprio
conceito de jogo:
“Considero o jogo como um espectro de atividades
interdependentes, que envolve a brincadeira, a ginástica,
a dança, as lutas, o esporte e o próprio jogo. Sobre essa
base, sustento a idéia de aproximação entre o jogo e a
vida, compreendendo ambos como reflexo um do outro:
Eu jogo do jeito que vivo e vivo do jeito que jogo”.
78
Para o autor, o jogo é importante em todas as idades, para auxiliar no
desenvolvimento humano e ao jogar vai-se além de uma representação
simbólica da vida, pratica-se um exercício de co-existência e de re-conexão
com a vida.
Darido (2005, p.156) diz que inúmeros autores teceram considerações
ricas sobre o jogo, inclusive Huizinga, citado acima, que talvez tenha a
conceituação mais famosa mesmo sendo às vezes contestada. A autora diz
também que a palavra jogo possibilita diversas interpretações, por ter uma
idéia de amplitude, ou seja:
“... o jogo é um universo, compreendido muito bem pelas
crianças e, ao mesmo tempo, um fenômeno
extremamente complexo”.
Ao pesquisar, a autora encontrou dificuldades para diferenciar jogo e
brincadeira, trabalhando indistintamente, assim Darido (2005) concorda com
Freire e Scaglia, quando dizem que tanto a brincadeira, quanto o esporte são
manifestações do fenômeno jogo. Freire e Scaglia apud Darido (2005, p.157):
“O jogo é uma categoria maior, uma metáfora da vida,
uma simulação lúdica da realidade, que se manifesta que
se concretiza quando as pessoas fazem esporte, quando
lutam, quando fazem ginástica, ou quando as crianças
brincam”.
Sobre a diferenciação jogo e brincadeiras, Mello (1989, p.60) diz:
“Brinquedos, brincadeiras e jogos são interpretados por
Cascudo (1979) como sinônimos. Para o autor, brinquedo
79
pode ser considerado tanto o objeto material para brincar
como a própria ação de brincar. Cascudo admite, por
exemplo, que se denomine “brinquedo de cabra-cega”,
“brinquedo de chicote-queimado” etc.”
Darido (2005) faz uma referência a Caillois, que diz que no jogo pode-se
verificar alguns princípios como: estar fora da realidade, conter regras, ser
prazeroso, estar fora das obrigações, possui tempo e lugar próprios etc, sendo
assim o jogo possui idéias de liberdade, invenção e limites, além de facilitar
aquilo que era difícil, sendo por isso que a psicologia e a pedagogia utilizam o
jogo na escola. Caillois apud Darido (2005, p. 157) diz que: “o jogo possui [...]
um papel vital na história da auto-afirmação da criança e na formação de sua
personalidade”. A prática de jogo não se resume somente à crianças, é
possível a realização do mesmo até mesmo na terceira idade, porém é
praticamente impossível, pensar em uma criança que não jogue ou brinque.
Mello (1989) apresenta em sua obra diversos conceitos e idéias
elaborados por diversos autores para o tema jogo. Mello (1989, p.61) entre
suas referências, aponta:
“Outros autores, entre os quais Medeiros (1961),
ressaltam a diferença entre os jogos em que disputa entre
dois ou mais participantes e as brincadeiras livres não
organizadas, não sujeitas a regras, como por exemplo, as
correrias nos pátios escolares na hora do recreio ou o
mexer com terra e areia. Seguindo uma concepção
semelhante, Kamii e DeVries (1980), na publicação Group
Games in Early Education, delimitam o jogo às
competições de ordem física e mental”.
80
Além dos autores da citação acima, Mello (1989) expôs as idéias de
outros autores como Huizinga, Piaget, Caillois entre outros e diante dessa
pesquisa Mello (1989, p.61) expõe a conclusão de sua própria idéia de jogo:
“O jogo pode ser definido como uma atividade ou
ocupação voluntária, onde o real e a fantasia se
encontram, que possui características competitivas,
ocorre num espaço físico e de tempo determinados,
desenvolve-se sob regras aceitas pelo grupo de
participantes, e são, em geral a habilidade física, o
desempenho intelectual diante das situações de jogo, e
às vezes a sorte, os componentes responsáveis pela
determinação dos seus resultados. Com freqüência, sua
prática se dá num clima de tensão e expectativa,
principalmente face ao desconhecimento antecipado do
resultado final”.
3.3.3 – Diferentes classificações para jogo
Os jogos podem ter várias classificações, dependendo do critério de
cada autor, sendo possível encontrar uma diversidade de tipos de jogos.
Em Rizzi e Haydt (1998) é possível encontrar diversos autores e suas
diferentes classificações para o jogo.
Claparede e Groos apud Rizzi e Haydt (1998, p.10) apesentam como
critérios de classificação a função e dividem os jogos em duas categorias,
seguidas de subdivisões. São eles:
- Jogos de experimentação ou jogos de funções gerais que se
subdividem em: jogos sensoriais (assobios, gritos etc); jogos motores (bolas,
81
corridas etc); jogos intelectuais (imaginação e curiosidade); jogos afetivos
(amor, sexo); e exercícios da vontade (sustentar uma posição difícil o máximo
de tempo possível).
- Jogos de funções especiais que são os jogos de luta; perseguição;
cortesia; imitação e os jogos sociais e familiares.
Quérat apud Rizzi e Haydt (1998, p.10), utiliza como critério a origem
dos jogos e assim divide em três categorias diferentes, que são: os jogos de
hereditariedade (inclui-se lutas e perseguições); jogos de imitação e os jogos
de imaginação (metamorfoses de objetos / as vivificações de brinquedo / as
criações de brinquedos imaginários / as transformações de personagens / a
representação de histórias e contos).
Stern apud Rizzi e Haydt (1998, p.11) usam como critérios para a
classificação dos jogos a descrição cultural dos mesmos, classficando em duas
categorias compostas de subdivisões, são eles:
- Jogos individuais, que se dividem em conquista do corpo ( jogos
motores que utilizam o próprio corpo como instrumento); conquista das coisas
(jogos motores de destruição e construção de objetos) e metamorfose de
pessoas e coisas (jogos de interpretação).
- Jogos sociais, que se subdividem em jogos de imitação simples; jogos
de papéis complementares (mãe e filho, professor e aluno etc.) e os jogos
combativos (jogos competitivos de emulação).
Buhler apud Rizzi e Haydt (1998, p.11) adota o mesmo critério do autor
Stern e divide os jogos em cinco classes: jogos funcionais ou sensório-
motores; jogos de ficção ou de ilusão; jogos receptivos, que inclui a audição de
histórias e a observação de imagens); jogos de construção e jogos coletivos.
82
Em Almeida (2007) também encontra-se alguns tipos de jogos. Lopes
apud Almeida (2007, p.111) diz que existe três classificações para eles:
- Jogos Afetivos: possibilitam que as crianças tenham trocas afetivas
intensas durante a sua prática. Podem ser jogos em duplas, trios ou pequenos
grupos. Pinturas em grupo, lego, construção de maquetes em grupos, etc. são
excelentes jogos para trabalhar o desenvolvimento dessa habilidade.
- Jogos cognitivos: são aqueles voltados para o desenvolvimento do
raciocínio lógico-matemático e que requer concentração e atenção. Xadrez,
dama, jogo de baralho, etc. são ótimos exemplos para desenvolver a cognição.
- Jogos corporais: são os que cobram uma boa dose de atividade
motora. Será necessário para sua prática que a criança coloque seu corpo a
disposição. A atividade corporal desenvolve múltiplas perspectivas da criança
em relação ao mundo e a outra pessoa e para isso essas atividades deverão
cobrar verdade de gestos e linguagem. Estátua, mímica, expressão corporal,
teatro, cirandas etc são atividades que não poderão faltar.
Teixeira (1996) também trás sua classificação para jogos, utilizando
como critérios as finalidades e maneiras de jogar e assim dividiu-os em três
tipos: jogos sensoriais, que ajudam a desenvolver os sentidos como a cabra
cega; jogos motores, que exigem a participação de todo o corpo, dependendo
principalmente dos músculos como o pega-pega e os jogos de raciocínio, que
desenvolve o raciocínio como xadrez e palavras cruzadas. Além desses três
tipos de jogos, Teixeira (1996) ainda cita mais dois tipos de jogos: os jogos
recreativos, nos quais as pessoas só se divertem ao praticá-los e os jogos pré-
desportivos, que além de se divertirem durante a prática, as pessoas também
se preparam para um desporto.
83
Sanchez, Martinez e Penálver (2003) fazem referências a alguns jogos:
- Jogo imitativo em espelho: ocorre quando o bebê imita a mãe;
- Jogo da imitação diferida: a realização dessas atividades é o sinal de
que a criança tem uma representação interna do objeto que lhe permite
representar o objeto ausento no momento que desejar, através de mímicas;
- Jogo simbólico: a criança entre no jogo simbólico quando tem presente
a representação de dois objetos e é capaz de captar as diferenças de ambos;
- Jogo de papéis: a flexibilidade existente no jogo simbólico permitirá a
criança realizar uma representação de si mesma, podendo assim representar
um personagem diferente de si mesma, ou seja, diferentes papéis.
3.4 – O JOGO E O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
3.4.1 – A evolução do jogo na criança
Para Rizzi e Haydt (1998), o ser humano tem uma tendência lúdica ou
impulsos para o jogo, mas deve-se entender como ocorre essa tendência ao
longo do processo de desenvolvimento. Piaget realizou um estudo mais
completo sobre esta evolução, que verificou que este impulso lúdico já existia
desde os primeiros meses de vida do bebê, na forma de jogo sensório-motor.
Do segundo ao sexto ano de vida o jogo predominante vem em forma de jogo
simbólico e a etapa seguinte se caracteriza pelo jogo de regras.
Segundo Mello (1989, p.67):
“Valorizando acentuadamente a prática lúdica para o
harmonioso desenvolvimento infantil, Piaget (1975)
propôs uma seqüência de três estágios para a evolução
do jogo na criança: a) estágio dos jogos de exercícios; b)
dos jogos simbólicos; e c) dos jogos de regras. Esses
84
estágios imbricam-se entre si, e manifestações típicas de
um estágio anterior podem apresentar-se posteriormente”.
Para Darido e Rangel (2005, p.157):
“Simplificadamente, os jogos para Piaget (1975)
estão divididos em jogos de exercício (não modificam as
estruturas de pensamento, são meros exercícios de
repetição, como por exemplo, o jogo da criança pequena
que atira a colher no chão seguidas vezes); jogo
simbólico (exercita uma “forma singular de pensamento
que é a imaginação”); e o jogo de regras, que aparece,
sobretudo dos 7 aos 11 anos, mas que, diferentemente
dos dois anteriores, desenvolve-se durante toda a vida,
sendo verificado nos esportes, jogos de cartas, xadrez
etc.”.
3.4.1.1 – O jogo de exercício sensório-motor
Para Rizzi e Haydt (1998), as atividades lúdicas surgem, inicialmente,
sob a forma de exercícios motores, dependendo para sua realização somente
da maturação do aparelho motor e tem como finalidade o próprio prazer do
funcionamento, ou seja, o que caracteriza este tipo de jogo é o prazer
funcional.
Piaget apud Rizzi e Haydt (1998, p.12) diz: “quase todos os esquemas
sensório-motores dão lugar a um exercício lúdico”.
Os exercícios lúdicos motores consistem em repetição de gestos e
movimento simples, com valor exploratório. Nos primeiros meses de vida o
bebê estica e recolhe seus braços e pernas, agita suas mãos e dedos, toca os
85
objetos sacudindo-os, produzindo sons e ruídos. São exercícios de valor
exploratório, pois a criança os realiza para explorar e exercitar os movimentos
do próprio corpo, exercitando também seu ritmo, cadência e desembaraço ou
os executa para ver o efeito que sua ação poderá produzir. É no caso as
atividades as quais a criança manipula objetos, tocando, deslocando,
superpondo, desmontando e montando. Ao movimentar-se, a criança descobre
os próprios gestos e os repete em busca de diferentes efeitos.
Segundo Mello (1989, p.67):
“O estágio dos jogos de exercícios... engloba movimentos
simples, como o estender e recolher os braços e pernas,
imprimir oscilações em objetos, toca-los, produzir sons
etc. Ajuriaguerra (1983) apóia a ocorrência desse estágio
na busca do prazer funcional”.
Para Rizzi e Haydt (1998) mesmo que os exercícios sensório-motores
constituam a forma inicial do jogo na criança, eles não são específicos dos dois
primeiros anos de vida, reaparecendo durante toda a infância e até mesmo no
adulto.
Segundo Mello (1989, p. 67):
“Embora apareça tão cedo esse tipos de jogo na criança,
seu apogeu se dá entre os 2 e 3 anos de vida, declinando
a seguir com o transcorrer do tempo, ainda que possa ser
observado na fase adulta”.
Assim, Rizzi e Haydt (1998, p. 12) exemplificam a realização desse tipo
de jogo em outras idades:
86
“... por exemplo, aos 5 ou 6 anos, a criança realiza esse
tipo de jogo ao pular com um pé só ou tentando saltar
dois ou mais degraus da escada; aos 10 ou 12 anos tenta
andar de bicicleta sem segurar no guidão. Para
exemplificar esse tipo de conduta lúdica no adulto,
podemos citar o caso do indivíduo que acaba de adquirir,
pela primeira vez, um aparelho de som ou um automóvel,
e se diverte fazendo funcionar ou passeando no carro,
sem outra finalidade senão o próprio prazer de “exercer
os seus novos poderes”. Assim sendo, essa forma lúdica
do jogo na criança na fase pré-verbal (de 0 a 2 anos),
ultrapassa largamente os primeiros anos da infância”.
3.4.1.2 – O jogo simbólico
Para Rizzi e Haydt (1998) entre dois e seis anos a tendência lúdica se
manifesta em forma de jogos simbólicos. Para Mello (1989) os jogos
simbólicos correspondem a um estágio descrito por Piaget, iniciando ao fim do
primeiro ano e começo do segundo ano de vida.
Para Mello (1989, p.67):
“Ao término da primeira infância, os “jogos simbólicos”
predominam sobre os demais. Esse estágio encerra
atividades em que os objetos transfiguram em sua função,
como, por exemplo, cabo de vassoura passa a ser cavalo,
lata de óleo torna-se automóvel etc”.
Para Rizzi e Haydt (1998), o jogo simbólico é o mesmo que jogo de
ficção, ou imaginação e de imitação e nessa categoria inclui-se a metamorfose
de vários objetos, como por exemplo, um cabo de vassoura que se transforma
87
em cavalo, ou uma caixa de fósforos que vira um carrinho. O mesmo ocorre
também quando a criança realiza desempenhos de papéis como por exemplo
brincar de mãe, de professor e aluno etc. O jogo simbólico vai se
desenvolvendo a partir dos esquemas sensório-motores, que ao ser
interiorizado, dá origem à imitação e posteriormente à representação. Através
do jogo simbólico ocorre um transporte ao mundo de faz-de-conta, que
possibilita à criança a realização de sonhos e fantasias, revelando conflitos
interiores, angústias e medos, assim aliviando tensões e frustrações.
Piaget apud Rizzi e Haydt (1998, p.12) diz sobre o jogo simbólico:
“... consiste em satisfazer o eu por meio de uma
transformação do real em função dos desejos: a criança
que brinca de boneca refaz sua própria vida, corrigindo-a
à sua maneira, e revive todos os prazeres ou conflitos,
resolvendo-os, compensando-os, ou seja, completando a
realidade através da ficção”.
A criança reproduz nesses jogos as relações predominantes que
acontecem em seu ambiente, agindo conforme as suas vivências, ou seja, será
carinhosa ou agressiva, autoritária ou liberal, conforme o tratamento recebido
por ela.
3.4.1.3 – O jogo de regras
O jogo de regras, em Rizzi e Haydt (1998), vem como terceira forma de
atividade lúdica e inicia por volta de cinco anos, mas desenvolvendo-se
principalmente na fase de sete a doze anos, e predomina durante toda a vida.
Caracterizando o jogo de regras, Piaget apud Rizzi e Haydt (1998, p.13) diz:
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“Os jogos de regras são jogos de combinações sensório-
motoras (corridas, jogos de bola de gude ou com bolas
etc.) ou intelectuais (cartas, xadrez, etc.), em que há
competição dos indivíduos (sem o que a regra seria inútil)
e regulamentados quer por um código transmitido de
geração em geração, quer por acordos momentâneos”.
O jogo de regra é uma conduta lúdica que envolve relações sociais e
interindividuais, pois a regra é uma ordem ou regularidade imposta por um
grupo, sendo sua violação considerada falta. Portanto, esta forma de jogo
necessita da existência de algum parceiro, de obrigações como regras o que
lhe mostra eminentemente de caráter social. Para Rizzi e Haydt (1998, p.13):
“Piaget diz que o jogo de regras é a atividade lúdica do
ser socializado e começa a ser praticado por volta dos
sete anos, quando a criança “abandona o jogo
egocêntrico das crianças mais pequenas, em proveito de
uma aplicação efetiva de regras e do espírito de
cooperação entre os jogadores”.
3.4.2 – A importância do jogo no desenvolvimento infantil
Os jogos infantis durante um bom tempo eram interpretados, pelos
adultos, como uma ação em contra a idéia de estudo e trabalho. Mello (1989)
diz que Medeiros (1961) apontou que havia uma dificuldade do jogo ser
entendido como parte do trabalho escolar e s crianças que eram vistas jogando
algo me terreno baldios eram rotuladas como vadias e pouso inteligentes, já
que os jogos não tinham valor de prática educativa.
Hoje essa visão modificou-se e educadores e pesquisadores defendem
e incentivam a prática do jogo como forma de aperfeiçoar o desenvolvimento
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infantil, deixando de ser uma prática secundária passando a ser aceita como
parte dos conteúdos escolares.
UNESCO apud Mello (1989, p.63), considera o jogo como a:
“... razão de ser da infância, de importância vital e
condicionador do desenvolvimento harmonioso do corpo,
da inteligência e da afetividade”.
Mello (1989) faz referência a várias teorias inclusive a importante teoria
do exercício preparatório, que é formulada por Karl Groos, que procura explicar
o jogo como forma de preparação da criança para a vida adulta, ou seja, as
experiências que foram vivenciadas através da prática dos jogos infantis se
refletiriam na formação do futuro adulto. Em Mello (1989, p.64), encontrou-se a
conclusão de uma pesquisa realizada pela UNESCO (1979) com base nos
trabalhos de Groos e Lorenz, que diz:
“... entre os animais irracionais como entre seres
humanos, o jogo infantil está relacionado com o processo
de maturação, embora haja marcantes diferenças de
estados emocionais entre o momento do jogo e o
desempenho de inúmeras atividades adultas”.
Fernandes citado por Melo (1981) apud Mello (1989, p.64) diz que: “pelo
jogo e pela recreação, a criança se prepara para vida, amadurece para tornar-
se um adulto em seu meio social”.
Makarenko apud Mello (1989, p.64) ressaltou a importância do jogo:
“Para educar o futuro homem de ação, não se deve
eliminar o jogo, mas organizá-lo de tal forma que, sem
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desvirtuar seu caráter, contribua para formar as
qualidades do trabalhador e cidadão do futuro”.
Para Costallat (2002, p.109), o jogo na pré-escola desempenha um forte
fator de socialização, que antes era muito centrada em si, passando a ceder
espaço para a interação com o outro. A atividade lúdica nessa fase é de
grande importância na alfabetização. Assim ela diz:
“Jogos que envolvam andar para frente, para trás, para a
direita, para a esquerda, rápido, devagar, em câmara
lenta, em plano inclinado, sob um determinado comando,
como também, brincar de estátua, rastejar, engatinhar
dentro de túneis etc. são importantes para treinar o
esquema corporal, lateralidade, percepção, atenção,
concentração e raciocínio qualidades necessárias para a
aquisição da leitura e da escrita”.
A criança, para Costallat (2002, p.110) adquire experiência brincando.
Observa as atividades nos adultos e aprende a espelhar o mundo que ela
convive. “O jogo dá o sentido, o objetivo e o treino necessário ao
desenvolvimento da criança”. A criança deve ser sempre estimulada a ser
independente, ou seja, a criar autonomia.
O jogo tem um valor educacional intrínseco e é também muito utilizado
como recurso pedagógico. Leif apud Rizzi e Haydt (1998, p.13) diz: “jogar
educa, assim como viver educa...” Para Costallat (2002, p.113):
“Com a aprendizagem escolar aparecem novos jogos que
combinam as aptidões intelectuais, o desenvolvimento
psicomotor e pedagógico”.
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Existem várias razões que levam os educadores a utilizar o jogo com um
importante recurso no processo ensino-aprendizagem. Como uma das razões,
Rizzi e Haydt (1998, p.14) apontam:
“... o jogo integra as várias dimensões da personalidade:
afetiva, motora e cognitiva. Como atividade física e mental
que mobiliza as funções e operações, o jogo aciona as
esferas motora e cognitiva, e à medida que gera
envolvimento emocional, apela para a esfera afetiva.
Neste particular, o jogo se assemelha à atividade
artística, como um elemento integrador dos vários
aspectos da personalidade. O ser que brinca e joga, é
também, o ser que age, sente, pensa, aprende, se
desenvolve”.
Assim, Rizzi e Haydt (1998, p.15) acreditam que:
“Brincando e jogando, a criança aplica seus esquemas
mentais à realidade que a cerca, apreendendo-a e
assimilando-a. Brincando e jogando, a criança reproduz
as suas vivências, transformando o real de acordo com
seus desejos e interesses. Por isso, pode-se dizer que,
través do brinquedo e do jogo, a criança expressa,
assimila e constrói sua realidade”.
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CONCLUSÃO
Através da pesquisa realizada nessa obra e dos aspectos mencionados
e analisados, conclui-se que a criança possui em sua natureza, de forma
inerente, a ludicidade, sendo necessário de extrema importância trabalhar esse
aspecto para o desenvolvimento global de uma criança.
Porém para a realização de um trabalho adequado é necessário um
estudo aprofundado sobre as teorias do desenvolvimento infantil, criada por
diversos autores como: Freud, Piaget, Wallon, Vygotsky e Lê Boulch, para
assim entender como o processo de desenvolvimento e aprendizagem ocorrem
nas crianças em alguns diferentes pontos de vistas como as abordagens
social, cognitiva, afetiva e motora. Após o análise dessas teorias o profissional
da psicomotricidade poderá atuar em sua área específica, seja ela educação,
terapia ou reeducação, de forma correta e mais segura.
A psicomotricidade pode auxiliar e muito o desenvolvimento integral ds
crianças desde seu nascimento e como recurso indispensável existe o jogo. A
prática dessas atividades, além de despertar o caráter lúdico inerente em
qualquer criança ajudará a mesma a explorar e conhecer cada vez melhor o
mundo que a cerca, auxiliando também no desenvolvimento das funções
psicomotoras, visando trabalhar a criança integralmente, ou seja, em todos os
aspectos: cognitivo, afetivo e motor.
Assim, conclui-se que os jogos são de grande importância e até mesmo
necessário na vida de uma criança, que já joga desde cedo, segundo Piaget e
a sua prática deve ser estimulada a todo momento e em qualquer lugar, pois é
um recurso estimulador e por isso muito rico no aprendizagem e
desenvolvimento.
93
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95
TEIXEIRA, Hudson Ventura. Educação Física e desportos. Rio de Janeiro:
Saraiva, 1996.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTOS 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
PSICOMOTRICIDADE
1.1 – A evolução histórica da psicomotricidade
1.2 – O conceito de psicomotricidade
1.3 – Os objetivos da psicomotricidade
1.4 – As áreas de atuação da psicomotricidade
1.4.1 – Reeducação psicomotora
1.4.2 – Terapia psicomotora
1.4.3 – Educação psicomotora
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CAPÍTULO II
ALGUMAS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
2.1 – Freud e a teoria psicanalítica
2.1.1 – O id
2.1.2 – O ego
2.1.3 – O superego
2.1.4 – A fase oral
2.1.5 – A fase anal
2.1.6 – A fase fálica
2.1.7 – O período de latência
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2.1.8 – A fase genital
2.2 – Piaget e a teoria da inteligência
2.2.1 – O período sensório-motor
2.2.2 – O período pré-operatório
2.2.3 – O período operatório-concreto
2.2.4 – O período operatório-formal
2.3 – Henri Wallon e a teoria emocional
2.3.1 – Os estádios de desenvolvimento social-afetivo
2.4 – Vygotsky e a teoria de aprendizagem
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CAPÍTULO III
A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS NO DESENVOLVIMENTO
PSICOMOTOR
3.1 – Lê Boulch e desenvolvimento psicomotor
3.1.1 – A teoria psicomotora de zero a seis anos
3.1.1.1 – A imagem corporal
3.1.1.2 – A evolução psicomotora até três anos
3.1.1.3 – O desenvolvimento motor entre três e seis anos
3.1.2 – A teoria psicomotora de seis a doze anos
3.1.2.1 – A imagem corporal
3.1.2.2 – Do corpo imaginário ao corpo operatório
3.1.2.3 – Imagem do corpo e estrutura espaço temporal
3.1.2.4 – Do ajustamento global ao ajustamento com
representação mental
3.2 – As funções psicomotoras
3.3 – O jogo
3.3.1 – Buscando o significado da palavra jogo
3.3.2 – Conceitos para jogo
3.3.3 – Diferentes classificações para o jogo
3.4 – O jogo e o desenvolvimento psicomotor
3.4.1 – A evolução do jogo na criança
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83
83
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3.4.1.1 – O jogo de exercício sensório-motor
3.4.1.2 – O jogo simbólico
3.4.1.3 – O jogo de regras
3.4.2 – A importância do jogo no desenvolvimento infantil
84
86
87
88
CONCLUSÃO 92
BIBLIOGRAFIA 93
ÍNDICE 96