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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA - MEDIAÇÃO FAMILIAR: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE POSSIBILIDADES, LIMITES E PERSPECTIVAS - Por: PRISCILLA HAUER Orientadora : Profª. EDLA TROCOLI Rio de Janeiro 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

- MEDIAÇÃO FAMILIAR: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE

POSSIBILIDADES, LIMITES E PERSPECTIVAS -

Por: PRISCILLA HAUER

Orientadora : Profª. EDLA TROCOLI

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM FACULDADE INTEGRADA

- MEDIAÇÃO FAMILIAR: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE

POSSIBILIDADES, LIMITES E PERSPECTIVAS -

Monografia apresentada à Universidade Cândido Mendes, Instituto A Vez do

Mestre, como requisito parcial para obtenção do Título de Especialista em

Mediação de Conflitos com Ênfase em Família

Por: Priscilla Hauer.

Rio de Janeiro

2012

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a toda equipe de professores e funcionários da Universidade

Cândido Mendes, que me ajudou e apoiou ao longo da realização do curso,

contribuindo direta ou indiretamente para a produção deste trabalho...

Aos professores Naura Americano, Samantha e Luiz Sérgio, que me

forneceram valiosas sugestões para a presente monografia, sobretudo para a

parte de coleta de dados...

A toda minha turma, que tornou o curso vivo e a discussão instigante....

A todos os profissionais que gentilmente concordaram em fornecer informações

para a pesquisa, viabilizando o desenvolvimento deste trabalho de finalização

do curso...

A amiga Rute Gonçalves Pereira Fontes, que com paciência e zelo, topou

digitar minhas idéias, dando a elas um corpo e uma organização...

A minha mãe e irmã, Nina e Patrícia, que mesmo distante do cotidiano, sempre

se mantiveram preocupadas, cuidadosas e torcedoras por meu sucesso...

Enfim, a meus preciosos filhos, Victoria e Felipe e a meu leal, carinhoso e

querido companheiro Fabio, agradeço pela paciência, tolerância, torcida e

amor... que me convidam e desafiam a ser alguém melhor a cada dia. Amo

Vocês!!!

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Dedico mais essa conquista, fruto de esforço e intenso desejo, a meu

querido e amado pai, que foi, é, e sempre será, um referencial de amor

incondicional, de confiança e de conhecimento.

Priscilla Hauer

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RESUMO

A presente monografia é requisito para a conclusão do Curso de Pós

Graduação “Latu Sensu” na Universidade Cândido Mendes e versa sobre a

temática da Mediação de conflito, em especial sobre a prática da Mediação

Familiar, buscando refletir sobre suas principais possibilidade e limites na

atualidade.

Além do levantamento bibliográfico, realizamos contato com

profissionais que atuam na área de Mediação de Conflitos com Famílias, e

através de um roteiro enviado e respondido por e-mail, buscamos compreender

suas representações acerca da temática proposta, identificando aspectos

revelados pela experiência e pela formação dos mesmos, articulando então o

conteúdo dos questionários com a discussão teórica presente na bibliografia e

apreendido ao longo do curso.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada para a realização deste trabalho incluiu o

levantamento bibliográfico sobre o tema abordado, a aplicação de um

questionário com perguntas semi abertas, encaminhadas por email aos

participantes da pesquisa e contou com uma análise qualitativa dos dados

obtidos, levando em consideração a categoria das Representações Sociais,

com eixo central para a interpretação do material coletado.

Os principais autores, nos quais baseamos nossa fundamentação

teórica foram: Malvina Muszcat, Tânia Almeida, Maria Cecília Minayo, José

Osmir Fiorelli, Adolfo Braga Neto e Lia Castaldi Sampaio.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO PÁG. 8

CAPÍTULO I

MEDIAÇÃO DE CONFLITOS: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA, ASPECTOS

CONCEITUAIS E METODOLÓGICAS PÁG. 11

CAPÍTULO II

FAMÍLIA E MEDIAÇÃO FAMILIAR: ALGUNS CONCEITOS E

CONSIDERAÇÕES PÀG. 32

CAPÍTULO III

A PESQUISA: O DESPERTAR DE NOVOS QUESTIONAMENTOS PÁG. 49

CONCLUSÃO PÁG. 62

BIBLIOGRAFIA PÁG. 64

ANEXOS PÁG. 66

ÍNDICE PÁG. 68

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho é requisito para a conclusão do Curso de Pós-

Graduação Latu Sensu, Mediação de Conflitos com Ênfase em Família,

ministrado pelo Instituto A Vez do Mestre, da Universidade Cândido Mendes.

Trata-se de um estudo qualitativo, que busca aprender as representações

sociais acerca das principais possibilidades, limites e perspectivas deste campo

de atuação, considerando um grupo de mediadores que atuam com famílias,

seja no âmbito judicial ou privado.

Ressaltamos então, que para definir representações sociais

enquanto o conteúdo que pretendemos aprender com o grupo dos profissionais

pesquisado, optamos por utilizar a conceituação elaborada por Maria Cecília

Minayo, que as coloca enquanto imagens construídas sobre o real, de forma

não necessariamente consciente.

Para Minayo (a,1994):

“As representações sociais se manifestam em palavras, sentimentos e

condutas e se institucionalizam, portanto, podem e devem ser analisadas a

partir da compreensão das estruturas e dos comportamentos sociais.” (Pág.72)

A autora ainda complementa sua análise, lembrando ser equivocado

tomar as representações sociais como verdades científicas, pois significaria

reduzir a realidade à concepção que os homens fazem dela. Minayo lembra

também, que por ser a palavra um fenômeno ideológico por excelência, é,

portanto a arena onde confrontam-se interesses contraditórios, frutos da

antagonia entre as classes sociais e da própria dinâmica da sociedade. Nesse

sentido, as palavras não são a realidade, mas sim a representam.

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Tendo em vista tratar-se a Mediação Familiar, de um recente

campo de trabalho, compreendemos ser pertinente e atual a realização de um

estudo que busque ampliar o conhecimento acerca desse novo mercado, a

partir da experiência e compreensão de mediadores que estão atuando com

famílias, que possuem diferentes formações profissionais e que vivenciam os

impasses, possibilidades e limites inerentes a esta prática.

A presente monografia não pretende fazer generalizações, nem

tampouco responder a qualquer pergunta de forma absoluta ou conclusiva,

mas sim através de um estudo qualitativo, observa identificar os aspectos

relevantes do exercício profissional apontados pelo grupo abordado, buscando

a construção de novos questionamentos e reflexões.

Tendo como hipóteses iniciais às idéias de que o mercado

profissional para Mediação Familiar ainda é restrito, sobretudo fora do

judiciário, de que há grande desconhecimento por parte da sociedade acerca

desse novo modo de intervenção nos conflitos no âmbito da família, e de que

são promissoras as perspectivas de expansão e crescimento deste novo

campo, buscamos, através do levantamento bibliográfico e da realização e

análise das entrevistas, a confirmação, ou não, de nossos pressupostos,

buscando apontar de forma crítica e dinâmica, novos questionamentos e

inquietações.

Em termos estruturais, esta monografia é composta por três

capítulos, seguidos das Conclusão, Bibliografia, Anexos e Índice.

No primeiro capítulo, abordaremos a questão do conflito e as

diferentes formas de enfrentamento, priorizando a mediação, seus princípios,

sua dinâmica e principais características.

No segundo capítulo, discutiremos sobre as diversas possibilidades,

construção de definições de família, considerando as novas formas de

organização familiar, os principais conflitos a ela inerentes e as possíveis

ferramentas disponíveis para o enfrentamento dos mesmos, sobretudo no que

se refere a Mediação Familiar, enquanto foco do nosso trabalho.

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Já no terceiro e último capítulo, retrataremos a pesquisa

propriamente dita, apresentando os dados obtidos nas entrevistas com os

mediadores e sua análise, considerando os temas abordados no roteiro

desenvolvido com os entrevistados, que referem-se, como já mencionado

anteriormente, aos principais impasses, possibilidades e perspectivas

percebidas na prática cotidiana.

Concluímos então a monografia, com as Considerações Finais,

numa tentativa de promover a aglutinação das principais informações

apresentadas e também de explicitar as reflexões alcançadas ao longo do

trabalho. Sem quaisquer pretensões conclusivas, entendemos ser este o

momento privilegiado de lançar questões e reflexões para todos os

interessados em aprofundar o conhecimento e a prática referida a mediação de

conflitos familiares, buscando contribuir humildemente, para que possam fazê-

lo de forma mais aprofundada, amadurecida.

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CAPITULO I

MEDIAÇÃO DE CONFLITOS: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA, ASPECTOS

CONCEITUAIS, METODOLÓGICOS.

I.1) O Conflito: Entendendo o Fenômeno

Para que seja possível compreender como transcorre a mediação de

conflitos, em especial no âmbito de família, é preciso clarear o que podemos

inferir que seja o objeto da referida intervenção. Tradicionalmente, pensar em

conflito significa pensar em algo ruim, que desorganiza, gera desarmonia e que

via de regra, vem acompanhado de agressividade ou violência.

No entanto, há uma outra forma de perceber a existência do conflito,

que o percebe como pode advir da comunicação e de percepção diferenciadas,

que geram distorções entre o que é comunicado e o que é compreendido.

Conseqüentemente a percepção fica “blindada” e se engessam os

pensamentos e a capacidade para o diálogo.

Como bem colocam Sampaio e Neto (2007):

“Comunicação e emoção encontram-se intrinsecamente interligadas. A emoção

delimita, restringe ou amplia a intenção do comunicador e a compreensão do

receptor. Assim é que quando existe um conflito, seja ele latente ou manifesto,

o fluxo natural do diálogo é interrompido. Tal fato acarreta falhas de

comunicação, que muitas vezes resultam em interpretações equivocadas ou

intenções atribuídas que levam a mais conflitos manifesto.”

Para alguns autores e estudiosos dos conflitos é possível atribuir-lhe

dimensões positivas, na medida em que potencialmente é capaz de produzir

transformações e movimentos na sociedade. Os conflitos são vistos como parte

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da vida social e inerentes as relações sociais, que se bem administrados,

trazem oportunidades de ganhos e desenvolvimento para as pessoas.

“O conflito surge sempre que há necessidades, motivos ou interesses opostos,

sejam eles de qualquer natureza. Apesar de estar associado a experiências

negativas ou desagradáveis, ele pode ser rico em experiências pessoais

quando bem administrado.” (Nazareth,2009)

Podemos pensar então, que o conflito por si só não é algo negativo, mas

sim a forma como é interpretado e vivenciado é que pode desencadear em

perdas ou crescimento para as partes envolvidas. A vivência de um conflito,

que em geral é percebida como a vivência de uma crise, pode potencialmente

ser oportunidade de aprendizagem para o diálogo.

Via de regra, um conflito tem variadas causas e a maioria delas advém

de uma dificuldade de comunicação e percepção, na medida em que há um

distanciamento entre a mensagem que se objetiva comunicar e o que de fato é

compreendido pelo outro.

No livro Mediação e Solução de Conflitos: teoria e prática, Fiorelli

(2008) coloca que: “A causa raiz de todo o conflito é a mudança, real ou

apenas percebida, ou a perspectiva de que ela venha a ocorrer.” (pág.6)

Fiorelli ainda complementa:

“O conflito, enquanto processo, evolui primeiro de múltiplas interações entre as

partes; seu agravamento torna-as prisioneiras do conflito por elas mesmas

engendrado. Esquemas rígidos de pensamentos, pensamentos automáticos,

condicionamentos e outros fatores constituem causas acessórias dos conflitos

e de seu agravamento.”(2008, pág.8)

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É importante ressaltar que a percepção costuma ficar “blindada”,

“engessando” o nosso pensamento quando estamos envolvidos em algum tipo

de conflito.

Várias são as formas de se tentar resolver um conflito, que vão desde o

uso da força física do poder e da violência, como também a via da tutela

judicial, onde ambas as partes, ou apenas uma delas, opta por ingressar com

um processo judicial, buscando a decisão legal, e em tese, melhor e mais justa

para a disputa e/ou impasse em que encontram-se envolvidas.

O que ocorre em muitas situações, sobretudo naquelas em que as

relações ora conflituosas, são contínuas, ou seja, pré existiam ao surgimento

do conflito e irão permanecer de alguma forma, é que a resposta dada pelo

Poder Judiciário, favorece apenas uma das partes e com isso, não resolve a

questão geradora do problema e pode ao contrário, acirrá-lo ainda mais. A

lógica em que se pauta o Sistema Judiciário é a adversarial, pois para que um

lado esteja certo, o outro necessariamente estará “errado”, e com isso apenas

um tem o seu desejo ou pleito atendido, apenas um lado “ganha”.

Como acreditamos que o conflito não é algo negativo por si só, é

importante considerar que a forma como é enfrentado pode transformá-lo em

um obstáculo intransponível entre as partes, aprofundando a distância entre as

mesmas e ressaltando as diferenças como impossibilidades.

Em um trabalho sobre Mediação, do Tribunal de Justiça de Santa

Catarina, elaborado e organizado por Eliedite Matias Àvila, 2004, a autora

ressalta que:

“Os conflitos fazem parte de nossa vida. Eles são inevitáveis nas relações

humanas em razão das diferenças individuais (...) De acordo com a visão atual,

o conflito não é negativo nem positivo, mas natural e inerente à vida, e a

questão principal é saber como utilizá-lo de uma maneira eficaz e produtiva.”

(pág.29)

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Eliedite complementa com a idéia de que os conflitos não nascem

necessariamente em razão de objetivos diferentes, podendo até mesmo

basear-se em informações equivocadas, esclarecendo que o primeiro passo

para uma gestão eficaz e efetiva do conflito é o reconhecimento de sua

existência enquanto algo a ser “enfrentado” pelas partes envolvidas no

mesmo.

Também é importante considerar que as pessoas reagem de formas

diferentes diante de um conflito, e podemos inferir que essas diferenças na

condução de uma situação conflituosa têm estreita relação com as diversas

experiências de vida, crenças, valores, personalidades e com outros inúmeros

fatores que compõem e vão “moldando” a singularidade de cada indivíduo.

I.2) Formas de Resoluções de Conflitos: Algumas Possibilidades

Diante de um conflito, várias são as possibilidades para seu enfrentamento

e dentre elas, encontra-se a mediação, objeto e foco de nosso trabalho. Dentre

os mais relevantes, podemos elencar:

A) Disputa Judicial: É uma forma bastante arraigada e tradicional em nossa

cultura e ocorre quando se entrega nas mãos de um Juiz, aos braços do Poder

Judiciário, a tarefa de decidir, em tese, a melhor e mais justa forma de

resolução de um litígio.

“Em um processo judicial, o ‘Estado Juiz” profere a decisão, fundamentada

na apreciação dos fatos e na aplicação do direito, em sentença vinculativas

para as partes. O método adversarial é o único indicado para diversas

situações, entretanto apresenta inconvenientes intrínsecos (Acland, 1953), tais

como:

• destruição das relações interpessoais; acumulam-se inimigos e ressentimentos

para o futuro;

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• solapamento da confiança e destruição de relacionamentos (...);

• supressão forçada de problemas, perdendo-se a oportunidade de resolvê-los e

aprender com eles; (...)

• resultado imprevisível;

• possibilidade de tornar a solução muito dispendiosa, inclusive para o

“ganhador”; (...)

• publicidade: a questão vai ao Tribunal e o desenrolar do processo torna-se

público;

• existência de muitas disputas que não giram em torno de questões regidas pela

lei, mas apenas pela dinâmica das relações pessoais”. (Fiorelli, 2008. pág. 52)

B) Arbitragem: Quando as partes em conflito solicitam voluntariamente, a um

terceiro imparcial, que tome a decisão em seu lugar. Neste caso não há um

favorecimento do diálogo entre as partes, nem implicação direta das mesmas,

em relação a “solução” do problema. (Ávila, 2004)

A arbitragem também é considerada um método adversarial porque a

decisão cabe de fato a um terceiro, o árbitro, mesmo que escolhido pelas

partes. No entanto, a arbitragem não é imposta, visto a existência de uma

“cláusula compromissória” ou “compromisso arbitral”, ambos firmados pelos

interessados, tendo eles assegurado o direito de ampla defesa, contando com

a participação de seus advogados.

De acordo com Moore (1998, pág.23), “as pessoas escolhem a

arbitragem devido a sua natureza privada e também porque ela é mais

informal, flexível, menos dispendiosa e mais rápida do que um procedimento

judicial”. Cabe ressaltar, no entanto, que o método arbitral impõe alguns limites

e desvantagens, a despeito de suas vantagens e diferenças relacionadas à

Justiça Estatal.

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Tendo como referência Fiorelli (2008, pág.54), listamos a seguir alguns

pontos favoráveis e desfavoráveis ao uso da Arbitragem enquanto método para

resolução de conflitos:

PONTOS FAVORÁVEIS:

1) Especialidade As partes indicam em geral, para atuarem como árbitros,

especialistas no assunto referente ao conflito;

2) Sigilo O processo ocorre sem publicidade, em segredo;

3) Rapidez O trâmite é bem mais ágil do que o processo judicial

tradicional;

4) Efetividade A sentença arbitral tem efeito de coisa julgada, não cabendo

qualquer recurso.

PONTOS DESFAVORÁVEIS:

1) Natureza adversarial que não se aplica quando há necessidade de solução

cooperada;

2) Os resultados podem não ser satisfatórios para nenhuma das partes;

3) A resolução se resume ao conflito manifesto, ou seja, refere-se apenas as

posições defendidas pelas partes;

4) A decisão compete a um terceiro, o que pode acarretar resultados

imprevisíveis.

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C) Conciliação: É um método cooperativo que objetiva uma relação positiva entre

os envolvidos e a diminuição do impacto do conflito. O conciliador, também

terceiro imparcial, pode conduzir ou propor um acordo, visando à resolução da

disputa. Não há uma priorização das relações entre as partes, mas sim do

acordo enquanto fim do conflito em questão. (Ávila, 2004)

O conciliador atua com o conteúdo manifesto pelas partes envolvidas e

apesar de não ter poderes para decidir, dá sugestões, recomenda soluções e

alerta sobre riscos e possibilidades acerca das propostas colocadas. Na

conciliação, as razões e motivações que levaram aos conflitos não são

trabalhados, o que faz com que o referido método seja mais eficaz em

situações onde não há previsão de relacionamento futuro e qualquer

envolvimento seja transitório e circunstancial.

A conciliação é um procedimento mais célere e via de regra, exige apenas

um encontro entre as partes e o conciliador, tendo como objetivo central, o fim

da demanda por meio de um acordo, considerando suas vantagens em relação

ao desgaste inerente a uma “batalha judicial”.

D) Negociciação: Podemos dizer que a negociação é um movimento inicial, o

primeiro momento na tentativa de se resolver um problema, um conflito. Ocorre

quando voluntariamente, os envolvidos na questão tentam de forma voluntária

e independente, solucionar o impasse e chegar a uma solução que atenda a

todos.

Ao aprofundar o estudo na área de negociação, pesquisadores da

Universidade de Harvard nos EUA, criaram o chamado “Método de Harvard”

que subsidia, e é amplamente utilizado por negociadores profissionais.

“Na moderna negociação, compreende-se que negociar não é discutir, é

conversar com um objetivo em mente. Também não se confunde com

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manipulação, posto que esta consiste em um indivíduo convencer outra pessoa

de que está certo, quando sabe que está errado. Negociar não exige

agressividade, requer determinação e preparação, acima de tudo.” (Fiorelli,

2008, pág.55)

Fiorelli (2008) ainda ressalta que a negociação direta nem sempre é

melhor forma de resolução de conflitos e lista algumas desvantagens:

“- quando um dos lados possui maior poder (físico, econômico, emocional), terá

facilidade para exercê-lo a seu favor e, com isso, conquistar as cartas que mais

lhe interessam; praticada sem a devida técnica, ela acentua as diferenças a

favor do mais forte;

- nada obsta que uma parte atue com malícia e perversidade e se valha desse

comportamento para auferir vantagens; isso pode acontecer em todos os

métodos, porém, como na negociação não há influência de um terceiro, a

conduta má é ainda mais beneficiada. (...)

- um dos lados pode ter grande experiência em negociar e aproveitar-se da

ingenuidade ou despreparo do outro (...)

- diferenças de personalidade contribuem para pender a negociação para um

lado ou outro. Quando uma das partes apresenta timidez, dificuldade para se

expressar, e a outra se mostra agressiva, independente e bem falante, a mesa

de negociação se desequilibra.” (pág. 56)

I.3) A Mediação de Conflitos: Um Novo Paradigma, Uma Nova

Alternativa

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I.3.1) – Variadas Definições: “A Mediação se origina da palavra estima.

“Mediatto – Mediatationis” no seu genitivo, que significa intervenção em que se

busca produzir um acordo” (site do Mediare, em 27/03/2006).

De acordo com o Juiz André Gomna de Azevedo (2009), de modo geral

define-se Mediação como:

“... um processo privado, voluntário, informal porém estrutural, no qual um ou

mais mediador ajudam as partes a encontrar uma solução aceitável para

todos.” (pág.8)

Já Fiorelli (2008), coloca que a Mediação “constitui um processo de

transformar antagonismos em convergências, não obrigatoriamente em

concordâncias, por meio da intervenção de um terceiro escolhido pelas partes.”

(pág.58)

A Mediação pode ser definida como uma forma de resolução de conflitos

que aposta no diálogo para descontruir posições, identificar reais interesses e

conseqüentemente restabelecer a comunicação entre as partes.

O método judicial foca nas posições e busca a resolução de um conflito

a partir da determinação por um terceiro, no caso um Juiz, de quem tem a

razão e conseqüentemente deve sair vencedor do processo. Ao contrário da

Mediação, não há preocupação com o resgate das relações entre as partes

envolvidas, pois é um processo de natureza adversarial onde necessariamente

um precisa perder para que o outro possa ganhar. A Mediação trabalha com a

idéia de que todos podem ganhar a partir da maximização das possibilidades

de comunicação e da disponibilidade das partes para encontrar novos

caminhos para a construção de um acordo e conseqüentemente de uma nova

forma de relacionar-se.

Mediação é um processo absolutamente voluntário e pressupõe total e

ampla autoria e protagonismo das partes, que definem o que e como fazer,

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decidindo juntos, o rumo da resolução de todo e qualquer problema. Ela é

particularmente indicada para situações de relações que tendem a perdurar no

tempo, pois implica em um esforço para “redesenhar” a comunicação entre

partes. Fazendo com que possam desenvolver automaticamente, novas formas

para lidar com as adversidades e diferenças.

O mediador é, portanto alguém imparcial, aceito e escolhido por

todas as partes envolvidas no conflito, que busca facilitar o diálogo, sobretudo

através de perguntas que provoquem reflexões, sem interferir na solução, sem

dar sugestões e sem apresentar qualquer tipo de proposta.

A Mediação, tal como a conhecemos, surgiu nos Estados Unidos e

se consolidou no País nos anos 70, sendo obrigatória em alguns estados,

antecedendo o Processo Judicial (Nazareth, 2009). Na América Latina, temos a

Colômbia como o País pioneiro no que se refere ao uso da Medicação e que

atualmente possui experiências das mais avançadas no setor provado. No

Brasil, a Mediação ainda se apresenta de forma bastante incipiente, apesar de

se fazer presente tanto nos Tribunais de Justiça como no Setor Privado, e

promete se tornar mais uma sólida alternativa para trabalhar a resolução de

conflitos.

O presente trabalho de pesquisa, busca inclusive identificar

aspectos relacionados ao mercado de trabalho em Mediação de Conflitos,

especificamente no Município do Rio de Janeiro.

É importante ressaltar que não se avalia o êxito da Mediação a partir

apenas de um único parâmetro, pelo acordo. Na verdade, é consenso que o

processo de mediação sempre provoca mudanças em menor ou maior grau

nas pessoas envolvidas, sem que sejamos capazes de mensurá-las. É

impossível negar a existência do efeito terapêutico, pois as pessoas acabam de

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um jeito ou de outro, saindo “tocadas” pelas reflexões propiciadas pela

Mediação e acabam se transformando em alguma medida porque assim o

desejam, sentem necessidade e entendem que pode lhes fazer bem.

A Mediação não é um processo dirigido ou passivo, e tampouco o

mediador sabe, deve ou pode apresentar propostas ou sugerir soluções. No

entanto, é possível elencar alguns pontos positivos pela simples participação

em um processo de mediação, mesmo que, como já dito anteriormente, não

seja produzido um acordo pelas partes. São eles:

• possibilidades de gerações de novas idéias, novas opções, novas reflexões a

respeito do problema;

• possibilidade de utilizar o aprendizado, o exercício do diálogo e da reflexão

para outras situações conflituosas;

• aprender a conviver com as diferenças, buscando desenvolver a escuta, o

diálogo e a experiência e etc...

Tânia Almeida, em um texto no qual busca distinguir Mediação e

Conciliação, faz relevantes considerações a respeito do tema e coloca que o

acordo em si, não garante o término do conflito entre as partes, podendo

inclusive acirrá-lo.

A autora coloca que a base para uma efetiva participação social

reside na restauração das relações sociais e na desconstrução dos conflitos

entre as partes envolvidas, para evitar o surgimento de novos impasses.

“Por dedicar-se ao restauro da relação social e a desconstrução do conflito –

que lhe conferem caráter preventivo fé amplo alcance social – a mediação vem

sendo considerada o método de eleição para desacordo entre pessoas cuja

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relação vai perdurar no tempo - seja por vínculos de parentesco, família,

trabalho, vizinhança ou parceria. (....). A mediação propõe uma mudança

paradigmática no contexto da resolução de conflitos: sentar-se à mesa de

negociação para trabalhar arduamente no atendimento da demanda de todos

os envolvidos no desacordo (......).”(s/data)

A Mediação na verdade, busca trabalhar o real e efetivo

protagonismo das partes, de modo a que possam assumir a responsabilidade e

autoria sobre as questões que lhe são pertinentes, sem que se suponha que

um terceiro, com maior conhecimento ou poder, possa fazê-lo de uma melhor

forma.

Os Mediadores, portanto, não sugerem, opinam ou propõem

quaisquer alternativas de acordo ou solução para o conflito/impasse. Os

mediadores perguntam e buscam com isso, não só o máximo de informações

entre as partes, como também buscam propiciar o exercício da reflexão e do

diálogo para os envolvidos.

De acordo ainda com Tânia Almeida:

“A exemplo do diálogo socrático, um mediador precisa auxiliar as partes a

parirem suas idéias e se darem conta de que a solução que melhor as atende

pode – e deve – ser construída a partir do próprio saber e conhecimento sobre

as suas reais necessidades.”( s/data)

Um aspecto bastante relevante da dinâmica e lógica da mediação, é

que a mesma não foca nem tampouco busca culpa ou atribuição de juízo de

valor as questões ocorridas no passado. Seu fundamento é que ao refletir,

dialogar e ouvir, as pessoas implicadas possam aprender como lidar com os

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problemas e desacordos de forma diferente, preservando as relações,

respeitando as diferenças e buscando sempre, caminhos e alternativas

capazes de atender as reais necessidades de todos:

“A Mediação deve levar os envolvidos a pensar que o presente e o futuro

dependem deles e a eles cabe construir uma relação mais madura, ou ainda,

que eles poderão encerrá-la de modo mais pacífico. Em outras palavras, o

profissional da mediação traz a positivação do conflito demonstrando o que foi

gerado pela estrutura relacional existente entre eles, partindo da

conscientização de que o futuro está em suas próprias mãos.” (Sampaio, 2007,

Pág.99)

I.3.2) Principais Áreas de Aplicação da Mediação

É importante ressaltar que a medicação pode ser utilizada não só

em situações de conflitos já deflagrados como também naquelas em que

potencialmente eles ocorrerão, tendo em vista que é um eficaz instrumento de

prevenção e de pacificação social.

Falaremos de forma extremamente objetiva dos principais campos

de aplicação da mediação de conflitos.

• Família Em geral giram em torno de situações de separação de casais,

guarda de filhos e visitação, pensão alimentícias, lideranças e outras questões

que fazem parte do cotidiano de vida social e de relações permeadas por

emoções e que tendem a perdurar no tempo.

• Ambiental Com base na preocupação primordial de preservação do meio

ambiente e preservação da vida, pode acontecer envolvendo pessoas físicas,

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empresas, organizações não governamentais ou até órgãos estatais,

comercial.

• Empresarial ou Organizacional Gira em torno de questões com fornecedores e

clientes, como também relacionadas a sociedade, sucessões e ao trabalho em

equipe.

• Trabalhista Terreno fértil para uso de mediação, refere-se as relações

conflituosas entre empregado e empregador. No entanto, como bem coloca

Sampaio (2007):

“ (...) as vantagens oferecidas pela mediação, como a análise da própria

relação, não são atualmente aproveitadas em sua plenitude. A desconfiança

mútua entre os atores envolvidos naquelas relações ainda é um fator de

flagrante enfrentamento, o que acarreta a procura freqüente do Judiciário para

que os seus direitos sejam garantidos, sem pensar na efetiva busca da solução

do conflito que passa pelos dois pólos da relação. Até hoje passa despercebido

que um lado depende do outro. O capital não existirá se não houver trabalho, e

vice-versa, apesar de ambos terem interesses e necessidades distintas, mas

de mútua dependência. Essa dependência, é pouco valorizada, motivo pelo

qual o Brasil é um dos Países com o maior número de demandas Judiciais na

área trabalhista.” (Sampaio, 2007, Pág.103)

• Comunitária Pode ocorrer a mediação em todos os conflitos existentes em

uma comunidade, seja entre vizinhos ou grupos e instituições. Não se trata de

algo voltado para população de baixa renda ou comunidades carentes, mas

para a sociedade com um todo.

• Escola Área em crescente expansão e que envolve não só a resolução do

conflito existente como principalmente a prevenção do mesmo, pois como

ressalta Sampaio (2007):

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“O uso da mediação para resolver disputas e controvérsias nas escolas permite

maior comunicação entre alunos, docentes, diretores, coordenadores e pais,

gerando melhor clima de convivência.” (pág.108)

• Internacional Relaciona-se com conflitos que podem ocorrer entre nações,

com questões de cunho político, religioso, econômico e etc..., ou entre

instâncias privadas de diferentes países.

Cabe ressaltar que existem certamente outras áreas passíveis de

serem contempladas com a mediação de conflitos, mas nosso objetivo nesse

momento restringiu-se a apresentar de modo sucinto os principais campos de

atuação para o Mediador. Aprofundaremos a discussão sobre Mediação

Familiar no próximo capítulo.

I.3.3) Princípios Norteadores da Mediação

Como em toda atividade profissional, a Mediação de Conflito possui

princípios básicos que orientam sua atuação, sobretudo do pinto de vista ético.

Podemos considerar então, como os principais norteadores da Mediação de

Conflitos (Sampaio e B.Neto, 2007):

A) AUTONOMIA DAS PARTES – Refere-se ao caráter totalmente voluntário para

participação no processo, supondo pleno acesso às informações sobre o

mesmo e também plena liberdade dos mediandos ao longo das sessões de

mediação, inclusive para desistir a qualquer momento;

B) IMPARCIALIDADE – A Mediação deve ser conduzida sem qualquer ação ou

indução, seja verbal ou não, que denote preferência ou apoio a qualquer um de

seus mediadores. Refere-se a manutenção de uma postura que busca a

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compreensão acerca das realidades trazidas, sem a interferência de

preconceitos ou valores pessoais por parte do mediador;

C) INDEPENDÊNCIA – Refere-se a postura do mediador que deve interromper a

Mediação quando existirem ligações anteriores com as partes e que deve

manter-se eqüidistante dos mediadores ao longo de todo o processo;

D) CREDIBILIDADE - As pessoas aderem e aceitam participar do processo de

Mediação, por nele acreditarem. Cabe ao mediador manter que os envolvidos

possam falar abertamente sobre suas questões e participar plenamente,

acreditando e confiando no trabalho desenvolvido;

E) COMPETÊNCIA – O mediador deve estar seguro e convicto de sua

capacidade e qualificação para conduzir o processo. Caso, em qualquer

momento, vislumbre alguma dificuldade, deverá declinar da função.

“Treinamento, experiência em mediação, habilidades, entendimentos das

diferenças culturais e outras qualidades são habilidades fundamentais a um

mediador, sendo o que a torna competente.” (Sampaio e Braga Neto, 2007,

Pág. 37)

F) CONFIDENCIALIDADE – O medidor deve garantir sigilo absoluto acerca de

todas as informações, fatos, relatos, situações, documentos e propostas

colocadas ao longo do processo de mediação. O profissional deve esclarecer a

todas as partes, sobre sua impossibilidade de testemunhar em qualquer

processo que as envolva ou, em processos judiciais subseqüente, direta ou

indiretamente referidas àquela mediação;

G) DILIGÊNCIA – “O mediador deverá desenvolver seu trabalho de maneiras

consistente, prudente e eficaz, assegurando todas as informações ao

mediador, bem como as regras inerentes. Fazer uso também de todas as

ferramentas derivados dos vários saberes do ser humano, a fim de promover

permanentemente o diálogo entre os mediadores, devendo sempre buscar se

atualizar e aperfeiçoar. Deverá também conduzir o processo com estímulo e

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atitudes diligentes, oportunas, seguras, a fim de promover a participação

efetiva das partes” (Sampaio e Braga Neto, 2007, Pág. 38)

Além dos sete princípios norteadores explicitados acima, outros

devem se enfatizados, dispensando comentários e esclarecimentos. São eles:

boa fé, respeito, equidade, celeridade, cooperação e informalidade.

I.3.4) A Dinâmica da Mediação

Em linhas gerais, em uma tentativa de tornar mais compreensível

seu processo, apresentamos as oitos etapas da Mediação, nas quais

participam conjuntamente, o mediador e os mediados. São eles:

A) PRÉ-MEDIAÇÃO: Primeiro contato das partes com o processo no qual suas

condições e dinâmica lhes são apresentados, bem como o contrato da

prestação de serviços;

B) ABERTURA: Momento em que o mediador presta todos os esclarecimentos

acerca do processo, de forma bem detalhada e também é quando ouvem das

partes o que lhe motivou a estarem ali, suas questões e dificuldades;

C) INVESTIGAÇÃO: Quando o mediador formula questões para propiciar um

maior esclarecimento e clareza acerca das questões que envolvem os

mediadores, bem como a complexidade de suas relações. O mediador faz uso

de técnicas com o objetivo de favorecer a reflexão e “definir a controvérsia, as

posições e, sobretudo, as motivações dos mediados”;

D) AGENDA: Após proceder a investigação, o mediador já dispõe dos elementos

necessários para indicar os temas que serão discutidos de forma privilegiadas,

e que serão objetos de decisões futuras, de forma total ou parcial;

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E) CRIAÇÃO DE OPÇÕES: Quando se começa, com muita criatividade, a buscar

possíveis soluções para a resolução do impasse e/ou conflito. Não é o

momento de análise nem tomada de decisão, mas apenas de geração

espontânea para a resolução da controvérsia e apontar para um suposto

acordo;

F) AVALIAÇÃO DAS OPÇÕES: Momento em que se analise as idéias

apresentadas, como projeção para o futuro, considerando a viabilidade,

vantagens e desvantagens de cada uma delas;

G) ESCOLHAS DAS OPÇÕES: Momento em que, aprofundadas as análises de

todas as possíveis soluções apresentadas, as partes escolhem as que melhor

se adequam às suas necessidades e motivações, considerando as viabilidades

práticas e jurídicas das mesmas;

H) SOLUÇÃO E/OU DECISÃO: É o momento final do processo, quando há a

elaboração conjunta do termo final com tudo que fora escolhido e determinado

pelos mediadores, para a resolução ou transformação do conflito.

“... é importante que as palavras empregadas no termo final, resultante da

mediação, sejam as mais claras possíveis, expressando exatamente as

responsabilidades de cada uma das partes. O termo final deve retratar todos os

compromissos assumidos na transformação do conflito, com o tratamento

determinado pelas partes, desde que não contrários à legislação vigente ...”

(Sampaio e Braga Neto, 2007, Pág.59)

I.3.5) Algumas “Ferramentas” da Mediação

Alguns recursos e ferramentas são valiosas para a condução do

Processo de Mediação de Conflitos e é fundamental que saibamos utilizá-los

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nos momentos precisos e de forma conseqüente. Podemos então enumerar as

principais ferramentas presentes na maior parte das obras sobre o tema e por

seus principais autores:

A) RECONTENALIZAÇÃO OU PARÁFRASE: Consiste em um tipo de “tradução”

do que foi dito, sem alteração de sentido para que o outro possa ouvir e

compreender melhor. Trata-se de dar uma “conotação positiva” do que fora

dito, ressaltando os interesses e as necessidades;

B) AVALIAÇÃO DAS PROPOSTAS IMPLÍCITAS: Nem sempre as pessoas

envolvidas no conflito conseguem trazer ou expor suas propostas com clareza.

Neste caso o mediador pode explicitá-las, para que possam ser alvo de

reflexão por parte de todos;

C) AFAGO OU REFORÇO POSITIVO: Significa uma postura permanente por

parte do mediador em valorizar o que é dito ou feito pelas partes, inclusive,

desde o início, o próprio fato de terem aceito participar do processo;

D) SILÊNCIO: O silêncio pode representar uma valiosa oportunidade para reflexão

e aprofundamento das questões discutidas. Portanto, ele pode e deve ser

usado a favor do processo;

E) SESSÕES PRIVADAS OU “CANCUS”: São momentos onde o mediador fica

sozinho com as partes individualmente e que tem como finalidades possibilitar

a expressão de fortes sentimentos, eliminar uma comunicação improdutiva,

criar oportunidades para identificar e esclarecer questões, lidar com reações

desvalorizadoras (quando um desqualifica e/ou julga outro), realiza afagos,

aplicar técnicas de inversão de papeis, evitar comprometimentos prematuros

com propostas e soluções, explorar possíveis desequilíbrios de poder, trabalhar

com habilidades de negociações das partes, disponibilizar um ambiente

propício para o exame de alternativas e opções, interromper situações em que

se perceba riscos à ocorrências de atos de violência e etc...;

F) TROCA OU INVERSÃO DE PAPÉIS: Em geral acontece nas sessões

individuas e deve ser feita com ambas as partes, para que seja mantida o

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princípio da imparcialidade. A idéia é que cada um se coloque no lugar do

outro, e que possa perceber o contexto do outro, através de perguntas que

levam a reflexão:

“no início, o que menos as pessoas desejam é se colocar no lugar do

oponente. Mas depois de cumpridos os ritos iniciais, nada impede que essa

técnica seja usada, uma vez que as resistências já estarão mais atenuadas.

Ela pode ajudar a aumentar a empatia entre as partes.” (Nazareth, 2009,

Pág.91)

G) BRAINSTORMING: Técnica de geração de idéias sem pensar, sem críticas,

sem análise a priori e que objetiva a identificação de possíveis soluções. É

preciso prever a oportunidade para o surgimento de soluções factíveis no

contexto do brainstorming.

É uma ferramenta que não deve ser utilizada desde o início, mas

apenas depois que o problema já esteja bem conhecido e quando o conflito

tiver sido bem discutido. É preciso que haja foco e que haja um direcionamento

em seu uso;

H) NORMALIZAÇÃO: Ferramenta que busca retirar do contexto a

atribuição de culpa, tratamento as questões sem mistério, como aspectos que

podem ocorrer e podem ser solucionadas. A idéia é naturalizar os fatos, já que

as situações não são únicas;

I) QUESTÕES COMUNS: Pontuar o que é comum entre ambos, fazendo

explicitamente essa referência, em uma tentativa de aproximar as pessoas;

J) ENFOQUE PROSPECTIVO: Já que não se pode mudar o passado,

trabalhar a partir dele e das reflexões presentes, pensando na construção de

novas possibilidades para o futuro. Buscar trabalhar no sentido de se extrair do

passado, novos aprendizados que contribuem na busca por novas alternativas

e soluções para os impasses;

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L) PERGUNTAS ORIENTADAS PARA SOLUÇÃO: São perguntas, e não

respostas ou propostas. São questões que surgem e são criadas a partir do

contexto e que devem contribuir, auxiliar no processo de construção de novas

possibilidades, alternativas ou soluções.

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CAPÍTULO II

FAMÍLIA E MEDIAÇÃO FAMILIAR: ALGUNS CONCEITOS E

CONSIDERAÇÕES.

Como já explicado no desta monografia, este segundo capítulo

objetiva explicitar, com a maior clareza possível, as questões que julgamos

mais atuais e relevantes no que se refere às categorias estruturantes de nosso

trabalho: Família e Mediação Familiar. Desprovidos de qualquer pretensão em

esgotar a discussão ou em estabelecer quaisquer definições herméticas acerca

das mesmas, compreendemos ser apenas possível estabelecer algumas

conexões, questões e elementos que possam subsidiar nossas atuais

indagações e a construir outras tantas.

Desse modo, selecionaremos alguns autores que julgamos úteis,

atuais e propositivos no que se refere à discussão de Família e Mediação

Familiar, buscando apresentá-la de forma crítica e coerente.

II.1) Reflexões sobre Família

A família não é algo dado ou natural, mas sim uma construção

social e cultural, inserida em determinados contextos históricos, econômicos e

políticos, que vem modificando-se ao longo dos séculos.

Assim, pensar a família de forma a perceber como se constroem

seus conceitos e definições teóricas, nos parece fundamental. Não há dúvidas

acerca das diversas transformações pelas quais a instituição familiar vem

passando, sobretudo quando a consideramos uma instituição social,

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atravessada totalmente por suas questões e conseqüentemente, impactada

pelas mudanças cotidianas no que se refere aos aspectos culturais,

econômicos, religiosos, políticos e étnicos que compõem uma dada sociedade.

No entanto, não é osso intuito aprofundar uma discussão acerca

das referidas transformações e mudanças, mas sim, identificar algumas das

concepções que encontram-se mais fortalecidas nas discussões teóricas e

acadêmicas sobre a família, buscando compreendê-las para então travar uma

reflexão articulada ao material coletado.

Podemos pensar a família de várias formas e por diferentes ângulos.

A perspectivas sistêmica, percebe a família como um sistema que se relaciona

com outros, externos e internos a ele, possuindo uma estrutura própria, que

refere-se a padrões de interação entre seus membros. Desse modo, como bem

coloca Minuchin, a família, baseada na teoria sistêmica:

“(...) é um tipo especial de sistema, com estrutura, padrões e propriedades que

organizam a estabilidade e a mudança. É também uma pequena sociedade

humana, cujos membros têm contato direto, laços emocionais e uma história

compartilhada.” (Minuchin, 1999)

Há nesta definição um forte enfoque nas relações que se

estabelecem entre as pessoas que formam a família, compreendendo-a como

parte do todo social, sem referência explícita (ou implícita) ao aspecto da

consangüinidade, mas sim com ênfase nas emoções e nos laços por elas

estabelecidos. No entanto, não encontramos este enfoque mais amplo, na

grande maioria dos estudos sobre família. Na maior parte deles, a noção de

família, está relacionada a pessoas aparentemente que residem na mesma

casa, ou então, a pessoas que possuem quaisquer laços de consangüinidade

ou são admitidas por adoção.

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“O conceito de família pode variar de acordo com o tipo de sociedade, mas

historicamente o conceito mais comum é o da família nuclear que engloba um

casal e seus filhos.” (Lucena, s/data)

A idéia de família nuclear é sem dúvida, a que atualmente parece

majoritária em nossa sociedade, sendo negáveis os processos de

transformação pelas quais a mesma vem passando e que “acompanham as

mudanças religiosas, econômicas e sócio-culturais do contexto em que

se encontra inserida”. (Lucena, s/data)

Assim, a família, suas estruturas e relações, acabam por ganhar

contornos específicos através do tempo, que findam por fazê-lo apresentar-se

com diferentes formatos, alterando o padrão de seu ciclo vital e levando-a a

apresentar em seu processo de desenvolvimento, uma relativa independência

de modelos e portanto, uma singularidade e grande dificuldade para

estabelecer uma definição.

“Isso significa que não podemos falar de família como um padrão crítico a ser

seguido, ou como um sistema universalizado, mas sim em famílias,

entendemos que cada qual tem sua estrutura e estilo de funcionamento.”

(Lucena, s/data)

Isto posto, não há como “descolar” a discussão e o esforço para

se pensar em família, sem que nos atentemos de forma rigorosa e critica, para

os impasses e polêmicas que permeiam nossa sociedade como um todo, e que

acabam por demarcar “direitos”, estabelecer desigualdades, ressaltar

contradições e portanto, definir padrões “aceitáveis” ou não de relações e

contornos familiares.

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Ainda buscando compreender melhor o que denominamos família,

nos apropriamos da definição de Mioto (1997) que nos amplia a reflexão,

colocando que:

“A família pode ser definida como um núcleo de pessoas que convivem em

determinado lugar, durante um lapso de tempo mais ou menos longo e que se

acham unidas (ou não) por laços consangüíneos. Ele tem como tarefa

primordial o cuidado e a proteção de seus membros, e se encontra

dialeticamente articulado com a estrutura social na qual está inserido.”

(Pág.120)

Assim Mioto nos leva a pensar em família como um lugar de

cuidado e de preservação da vida, e os convida a abandonar a idéia de um

modelo familiar de regras que impõem o quê e como devem configurar-se os

processos familiares.

É interessante atentar para o fato que, historicamente, relações

de propriedade, dominação e poder fazem-se presentes de forma marcante na

família, cabendo ressaltar que:

“Quando a sua origem, a palavra família usada inicialmente pelos Romanos,

não significa os cônjuges e seus filhos, mas os escravos. É uma palavra

derivada do latim”famules”, que quer dizer escravo doméstico e família é o

conjunto dos escravos pertencentes a um mesmo homem.”(Lucena, s/data)

A família portanto, compreendida como reflexo dos ideais

majoritários de cada sociedade, carrega consigo as mesmas contradições e

correlações de forças nela presentes, podendo reproduzir relações de força e

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submissão no que se refere à etnia, à condição social, à faixa etária e também

à questão de gênero.

Com relação às relações de gênero, podemos afirmar que a

condição da subordinação feminina, de acordo com Saffioti (1997), não

constitui o único princípio estrutural da sociedade brasileira, pois a ele aliam-se

a divisão de classes sociais que confere a uma minoria, oportunidades de

vender sua força de trabalho de acordo com as variações do mercado, e

também às discriminações raciais, que igualmente transformam as diferenças

entre brancos e não brancos, em perversas desigualdades. De modo geral

contudo, a supremacia masculina e conseqüentemente inferioridade feminina,

perpassam – embora que com diferentes nuanças - todas as classes sociais,

raças e etnias.

É importante ressaltar, que o patriarcado, enquanto relação de poder

que atravessa toda a sociedade, a despeito de seu contínuo enfraquecimento,

está presente no interior de grupos progressistas e até mesmo entre os tidos

como radicais de esquerda, que defendem a abolição da sociedade de classes,

dos preconceitos e também advogam pela igualdade e liberdade para todos os

cidadãos.

II-2) Relações Familiares:

Como bem coloca Tânia Almeida: “A família assim como hoje a

conhecemos, é um arranjo social recente e, como todo grupo de convivência

continuada no tempo, é capaz de produzir conflitos ao negociar suas diferenças

de idéias, desejo e propósitos.” (2008)

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A autora ainda complementa, ressaltando que o par inaugural de

uma família, traz consigo uma rede de pertinência com crenças, valores,

histórias e vivências próprias que acabam por necessariamente articularem-se

pela convivência propiciada pela união de duas pessoas com origens e

referências diversas. Múltiplas relações se estabelecem a partir da referida

união e de uma convivência que implica em inúmeras interações e

potencialmente geram conflitos, divergências e dificuldades de comunicação.

Afinal, como Muzkat (2005) afirma:

“A o contrário da visão romântica e idealizada que gostamos de ter a esse

respeito, o lar nunca foi um especo preservado e reservado exclusivamente ao

amor e a tolerância, e sim um verdadeiro caldeirão em que os primeiros

conflitos e angústias são vividos entre pais e filhos com toda a sorte de

expressão de sentimentos positivos e negativos.” (Pág. 35 e 36)

Malvina (2008) esclarece ainda que o funcionamento e a

organização das famílias se baseiam na distribuição de poderes e também de

afeto, acabando por criar uma complexa divergência de competições e

disputas, em geral involuntárias no espaço doméstico, ou seja, “ao contrário

da visão comumente romantizada de família, o espaço familiar é

densamente carregado de conflitos. O nível de intimidade e de disputa e

afetos, estimula sentimentos ambíguos de amor e ódio, aliança e

competição, proteção e domínio entre todos os membros de uma família.”

(Pág. 34)

Fiorelli (2008) também coloca, referindo-se as famílias e vivências

conflituosas, que as mesmas protagonizam os mais diferentes níveis de

conflitos, desenvolvendo o autor, uma “tipologia” para explicá-los, buscando

incluir a maior parte deles.

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a) Conflitos Estruturais – ocorrem porque a estrutura de relacionamento é

inadequada:

- Poderes mal distribuídos ( ...) o exercício de poder é disfuncional;

- estrutura calcada em bases econômicas, sem um entendimento satisfatório a

- - respeito de direitos e deveres, controle e destinação de recursos;

- contatos apenas esporádicos entre o casal ( ...);

- atividades de um cônjuge conduzindo a compromissos não aceitos pelo

outro.

b) Conflitos de Relacionamento – Tem a ver com as trocas afetivas e

comunicacionais. Há casais que desenvolvem:

- manifestações afetivas pautadas pelo excesso, surge uma espiral de

exigências impossível de ser mantidas;

- comunicações truncadas, superficiais, construída pouco a pouco, que rebaixa

cada vez mais o nível de tolerância recíproca (...);

- ausência de comunicação pelo simples fato de já não conviverem, ainda que

residam no mesmo local, não mais se comunicam (...);

- expectativas de relacionamento inadequados às exigência de cada um (...);

- níveis de pensamento dissonantes: um trabalho no abstrato, o outro privilegia

o concreto (.,..) As diferenças pode unir, ou .... Separar.

c) Conflitos de Expectativa – referem-se às diferenças entre o

comportamento esperado e o manifesto do cônjuge, que incluem:

- não adaptação a hábito do cotidiano;

- decepção pela não realização de comportamento prometidos ou esperados,

ainda que idealizados anteriormente à união;

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- desapontamento com o desempenho do cônjuge em ambientes externos,

incluindo o desempenho no trabalho e no lazer;

- comprovação da impossibilidade de alterar comportamentos que já se sabiam

inadequados, porém, que se suponham modificáveis na nova condição de vida.

d) Conflitos de Percepção – Decorrem de divergências na integração dos

fatos, por vários motivos:

- informações erradas, inadequadas ou incompletos sobre os acontecimentos;

- interpretações divergentes a respeito das mesmas informações;

- interpretações divergentes de conhecimento por diferenças de valores,

princípios e ideologias, muitas vezes identificadas somente após o início de

vida em comuns.

Estes conflitos são típicos nas crises provocadas por mudanças do ciclo

vital, quando se exigem novas percepções ajustes de interpretações, e as

pessoas não reagem com a rapidez necessária.

e) Conflitos de Posições e Interesses – os desejos, as motivações, as

necessidades de cada um mostram-se incompatíveis com a vida em comum.

Eles incluem:

- expectativas quanto ao patrimônio pessoal;

- perspectivas de auto-realização;

- necessidades afetivas;

- satisfação de prazeres imediatos ou de longo prazo.

Estes conflitos resultam de diferenças de visão de mundo, de

ideologias, de princípios fundamentais e valores que dirigem as ações

humanas. (...).” (Pág. 216,217 e 218)

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Ainda em relação a estes apontados como os principais tipos de

conflitos familiares, Fiorelli coloca que os mesmos não são “puros”, pois tendo

em vista a complexidade das questões que emergem no contexto e nas

relações em família, vários elementos acabam por estarem presentes ao

mesmo tempo e temas diferentes se acumulam e complementam.

II-3) Mediação Familiar: Uma Prática Singular

Mediar conflitos é ato milenar e pacificador, muito utilizada por povos

orientais para resolver suas divergências. A mediação de conflitos, instituída

nos EUA nos anos 70, permite que os envolvidos nas controvérsias, sejam

autores de sua própria solução e, portanto, de sua própria vida.

Quando questões familiares se transformam em conflitos,

aparentemente inconciliáveis, tradicionalmente a via judicial é a primeira

escolha para resolvê-los, tendo em vista a tradição de delegar a um terceiro e

em tese com mais poder e sabedoria, as decisões sobre como se resolver tais

impasses. É preciso considerar que o sistema Judiciário faz a sua parte,

quando pautado nas disposições legais e objetivas, confere razão a um e não a

outro. Indubitavelmente, para que uma parte ganhe, a outra necessariamente

acaba por perder.

E como bem coloca a mediadora Tânia Almeida:

“Atendidas nos aspectos legais da controvérsia, por vezes inexistentes ou de

menor relevância, essas famílias precisarão administrar, desde aí, a

insuficiência que a abordagem moralmente legal possui para tratar dos seus

temas e o desconforto naturalmente provocado por soluções que conferem

razão a uns e não a outros. São biológicas, psicológicas e sociais as

repercussões das sentenças judiciais sobre as famílias em desacordo ou

conflito. Elas, as sentenças, criam uma aparente solução para o tempo

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presente e uma provável ruptura ou distanciamento social para o convívio

futuro dessas famílias.” (s/ data)

Ainda segundo Tânia Almeida, as relações e conflitos familiares

beneficiam-se do Processo de medicação, sendo em vista a complexidade de

seu objeto por diversas razões. São elas:

- O olhar multidisciplinar: A mediação é uma transdisciplina que se

alimenta de diferentes saberes para abordar e compreender as questões

trazidas como impasses e controvérsias, sendo fundamental uma “lente

multifocal” na abordagem, que trata de tão complexa temática;

- A visão sistêmica: Refere-se a um dos importantes marcadores

epistemológicos do método, que nos convoca a perceber o conflito como parte

de uma gama de eventos que se relacionam com o passado e também com

impacto relevante no futuro;

- A preservação da relação social: Tendo em vista tratar-se a família

marcada por relações continuadas no tempo, mesmo em caso de divórcios e

separações em que há a presença de filhos, a medicação possui um especial

alcance social, visto que seu fico é no futuro, na preservação das relações e

restabelecimento do diálogo;

- A autoria, a satisfação mútua e o comprometimento com o

acordado: Partindo-se do pressuposto que os envolvidos na controvérsia são

os protagonistas da história, e portanto os mais capacitados para acessar uma

alternativa consensual, a medicação familiar trabalha com a idéia do ganha-

ganha, onde as partes envolvidas encontram a melhor solução para ambos e

portanto tendem a cumpri-la com compromisso e satisfação;

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- A análise de custos e benefícios das repercussões do acordado

sobre os indivíduos direta e indiretamente envolvidos e sua saúde física e

mental: Considerando os mediadores como agentes de realidade, o trabalho

implica em analisar todas as repercussões e possíveis soluções para o que for

decidido pelas partes com vista a manter a melhor relação possível a partir da

reconstrução de pontes para o diálogo e de uma convivência futura mais sadia

e menos angustiante;

- O respeito à singularidade dos sujeitos e de suas questões: O foco

da mediação concentra-se nos interesses e necessidades dos mediandos,

respeitando as questões por eles trazidas, respeitando a singularidade de cada

individuo e as diferentes naturezas das configurações familiares;

- A atenção às redes sociais dos mediandos: A mediação abre a

possibilidade de “auxiliar os mediandos no diálogo paralelo que precisam

estabelecer com usas redes de pertinências - parentes, amigos e advogados.

Como a mediação trabalha devolvendo a voz aos envolvidos e os escuta

diretamente, ela permita que estes tragam à mesa, não somente os seus

anseios, mas também os anseios daqueles que os acolhem em seus

dissabores, sua rede de pertinência”. No processo de mediação há a

possibilidade de que as pessoas que compõem essa rede participam inclusive

presencialmente, sem que apenas sejam representados e tendo em vista o

objetivo de incluí-los em uma mudança relacional e de postura.

Tânia Almeida também ainda em seu texto “Particularidades da

mediação Familiar”, extraído do site Mediare, aborda algumas questões e

situações bastante presentes e recorrentes quando se trata de litígio em

família. Inicialmente, a autora pontua as questões relacionadas aos divórcios e

separações, referindo-se aos vários elementos intrínsecos ao processo e que

acabam precisando ser, de alguma forma, objeto de negociação e diálogo.

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“As pessoas se casam e divorciam afetivamente quando decidem unir-se e

quando decidem desfazer essa união com alguém. Por conseqüência, nos

casamos e nos divorciamos financeiramente – ao compartilhar e ao dividir

nossas economias e bens; fisicamente – ao compartilhar e ao desmembrar um

espaço físico e convivencial; socialmente – ao compartilhar e ao dissociar

nossos amigos e parente; e finalmente, psiquicamente – ao compartilhar e ao

descontruir o projeto de sermos uma família que manteria intocável uma

estrutura e uma convivência no tempo e no espaço. Esses diferentes

casamentos – emocional, financeiro, físico, social e psíquico - ocorrem quase

que simultaneamente para os ex-cônjuges ou ex-companheiros. Conclusão:

Uma ausência de sintonia no momento da separação que possibilita a

ampliação do desentendimento a níveis por vezes, não administráveis e

passíveis de resultem em litígio.” (Almeida, s/ data)

Na verdade, o papel do mediador é convidar os envolvidos neste

difícil complexo processo de separação e divorcio, a estabelecerem um diálogo

de forma pacífica, mantendo-se autores de suas vidas e do futuro que não só

os envolve, mas também inclui os filhos e as redes de pertinências, como

familiares e amigos. Neste caso, a mediação permite que o resgate das

relações sociais entre os todos que, de uma forma ou de outra, participam e

sofrem com os casos de separação, sobretudo, pais e mães.

Tânia Almeida enfatiza o efeito profilático da mediação em casos de

divórcio e dentre estes ganhos, podemos citar a diminuição do desgaste

emocional de todos, o estímulo ao diálogo para que se resolvam as

controvérsias e discordâncias que possam surgir no futuro, contribui para

conquista de uma convivência socialmente mas pacífica, reduzindo inclusive os

custos financeiros que são bem inferiores aos gastos com processos judiciais.

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A mediação familiar também pode e deve ser utilizada quando

existem conflitos referentes a partilhas de bens, pois como bem coloca Tânia

Almeida:

“Os momentos de partilha são árduos porque revelam, não raramente, que

indivíduos unidos pelo parentesco guardam, por vezes, distâncias afetivas

abissais.” (s/ data)

Tânia ainda reforça para a preciosa contribuição de um terceiro

imparcial, que com habilidade para a escuta e o desenvolvimento de um

diálogo, pode “transformar competição e desafeição em colaboração e

respeito” e “auxilia a identificar os interesses e as necessidades

mencionadas, assim como a discriminar os valores afetivos dos valores

patrimoniais, quando sobrepostos”. (s/data)

Quando tratamento de violência familiar, é preciso deixar claro que

não é possível mediar o ato em si, a ação violenta. No entanto, vários conflitos

decorrem de situações de violência na família, que acabam por envolver toda a

rede de pertinência da mesma, sejam parentes, vizinhos, amigos, colegas de

trabalho e todo e quaisquer outros grupos dos quais fazem parte.

Também citando Tânia Almeida:

“Tratar o conflito conseqüente ao ato violento trará, igualmente, repercussões

restauradoras para toda a rede social. (...) são restauradoras as práticas que

olham para a convivência futura e convidam a vítima, o ofensor, seus familiares

e/ou comunidade, a voluntariamente participarem de um ciclo de conversas: a)

dar voz a vítima com o objetivo de fazer o ofensor conhecer a extensão das

repercussões de seu ato violento e sobre quem; b) comprometer vítima e

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ofensor com o propósito da não-violência como recurso na convivência; c)

incluir a família e a comunidade como suporte para a vítima e o ofensor

realizarem o propósito mencionado no item anterior; e) identificar e procurar

atender as necessidades da vítima e o do ofensor; f) buscar o restauro da

relação social, especialmente entre aqueles que manterão a convivência.” (s/

data)

È importante salientar a importância de práticas restauradoras que

busca, no que se refere às relações familiares e pessoais, o melhor possível,

tendo em vista o contexto e as circunstâncias do presente, com vistas a um

futuro com mais qualidade nos relacionamentos abalados e impactados por

situações de violência. Assim, a Mediação Familiar é um dos métodos de

práticas restaurativas, que complementa, mas não substitui a ação judicial que

identifica o teor criminal e determina as punições previstas pela legislação.

Quando pensamos em empresas familiares, pensamos que relações

de trabalho e de parentesco se atravessam, e tendem a tornar complexa a

convivência, bem como as negociações e acordos do cotidiano. E mais uma

vez citando Tânia Almeida:

“Os temas da empresa entram na convivência doméstica e familiar e os temas

domésticos e familiares entram no ambiente de trabalho. Um diálogo sobre

temas deslocados de seu sitio original na amplificação dos ruídos naturais que

integram essas conversas.” (s/ data)

A autora faz inclusive referências a uma pesquisa sobre as

empresas familiares brasileiras, coordenada por Antonio Carlos Vidal, que

constatou serem as brigas em torno de questões pessoais, o maior motivo

gerador de falências, e não como se poderia supor, as dificuldades

administrativas e meramente econômicas.

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Isto posto, não há como negar todo o potencial positivo do uso da

Mediação em casos de conflitos e controvérsias, buscando a retomada do

diálogo e a discriminação de papéis e de identidade das partes em casa

contexto e momento.

II.4) A Ética da Mediação Familiar:

Já mencionamos anteriormente sobre os princípios norteadores da

mediação e que certamente referem-se a uma ética a ser imprimida não só nas

relações que ali se travam, como também ao processo como um todo.

No entanto, optamos por fazer uma referência específica a questões

da ética na mediação com familiar, por entender que a profundidade, a

multiplicidade de situações, intensidade das emoções e a idéia de relações que

tendem a perdurar de alguma forma no futuro, trazem consigo uma

singularidade que mercê tratamento especial.

Como bem coloca Six (2001):

“... o recurso à mediação familiar não intervém unicamente em caso de divórcio

e separação; a mediação familiar recobre tudo o que diz respeito à família: as

relações do casal, sim, mas também e tanto quanto as relações entre pais e

filhos (qualquer que seja a sua idade), as relações entre irmãos e irmãs (por

exemplo, em caso de sucessão etc), todo o ambiente familiar.” (Pág. 71 e 72)

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È importante ressaltar que a mediação pode, e deve ser utilizada

pelas famílias, não só em casos de conflitos já instalados e relações rompidas,

mas também, sobretudo, quando se detectam falhas e dificuldades de

comunicação entre seus membros, numa tentativa de evitar maiores

dificuldades e abrir um canal franco, direto e respeitoso para a retomada do

diálogo e de uma convivência onde as diferenças possam ser vistas e tratadas

de forma positiva e libertadora para todos.

Six (2001) fala em seu livro “Dinâmica da Mediação” sobre a

proposta de uma “ética particular ao mediador familiar” e de forma breve e

sucinta, vamos descrever alguns aspectos abordados pelo autor. Inicialmente

ele cita a “ética ao tempo” que exige uma prudência e cuidado em não ser um

processo muito breve, pois implica no amadurecimento no lidar com fortes

emoções, como também em não se algo que muito se prolongue, para que as

mediações não se transformem em “assistências passivas intermediáveis”.

O autor fala da “ética do espaço” que refere-se a justa distância que

deve ser mantida pelo Mediador para que o mesmo possa perceber com

clareza o que está sendo colocado, sem correr o risco de embarcar em

sentimentalismo ou fusão com algumas das partes. Não se trata de uma

neutralidade fria, mas de se colocar em um espaço intermediário e

eqüidistante, sendo apenas mediador e não advogado ou terapeuta.

Enfim, Six (2001) fala de uma “ética de relação” que reforça o que já

colocamos anteriormente, e coloca a mediação como possibilidade de ser em

primeiro lugar, um espaço de prevenção, que ajudaria a família a dialogar antes

de se instalar um problema ou controvérsia que impossibilite as reações.

O autor complementa, colocando que:

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“... o mediador está lá, não com receitas para arranjar as coisas e fazer com que

uns e outros sofram o menor possível, mas para suscitar uma relação nova

entre os membros de uma família em que reina principalmente a indiferença ou

o conflito. O mediador teve êxito quando permitiu aos adversários encontrarem

uma ligação nova, uma ligação de respeito mútuo senão de amizade, casa um

guardando sua identidade própria.” (Pág. 72 e 73)

Desse modo, a ética da relação e na relação permite que se

estabeleça um terreno de convivência na qual se prima pela igualdade, sem no

entanto negar as diferenças e divergências existentes. O respeito e o

reconhecimento do mediador pelas partes envolvidas no processo de

mediação, é um grande facilitador para que todos se reconheçam, se

considerem de fato e de direito, protagonistas de sua história, conquistando o

aprendizado por um diálogo capaz de explicitar as necessidades de cada um e

de produzir soluções possíveis de consenso.

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CAPÍTULO III

A PESQUISA: O DESPERTAR DE NOVOS QUESTIONAMENTOS

III.1) – Algumas Considerações sobre o Processo Metodológico

A presente monografia compreende o processo metodológico

enquanto o fio condutor que torna viável, desde que tratado com rigor e

coerência, a produção de qualquer conhecimento. Dessa forma, podemos

garantir que possuímos a clareza acerca da subjetividade inerente aos

fenômenos e processos sociais, arena onde se encontra o objeto de nosso

estudo.

Assim, entendemos que a similaridade entre sujeito e objeto marca a

pesquisa social, conduzindo-a a resultados apenas aproximados, onde todo o

processo de conhecimento encontra-se permeado por interesses diversos e

distintas visões de mundo. Optamos então, pela definição de metodologia

defendida por Cecília Minayo, na qual ela constitui-se como caminho do

pensamento e atuação imprimida na abordagem da realidade. Partimos

também de seu pressuposto que coloca a pesquisa veiculada a ação e acredita

que nada pode ser intelectualmente um problema, se não tiver sido

anteriormente uma questão da vida prática.

“... metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de

técnicas que possibilitam a construção da realidade e o sopro divino criativo do

investigador.” (Minayo,b,1994, Pág.16 )

Em relação ao tipo de pesquisa escolhida, entendemos ser a

abordagem qualitativa a que melhor trabalha com o universo das

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representações e que, ao aprofundar-se no mundo das ações e relações

humanas, acessa um “lado não perceptível e não captável em equações

médias e estatísticas” (Minayo,b,1994, Pág,22). A opção por uma pesquisa

qualitativa, reforça-se pelo fato de que a mesma lida com elementos não

mensuráveis ou quantificáveis, mas sim com percepções, sentimentos e

representações sobre determinados aspectos da realidade que nos cerca.

No entanto, cabe ressaltar que dados qualitativos e quantitativos se

complementam, pois a realidade a ser explicada por eles é dinâmica e não

admite interpretações dicotômicas e parciais.

Tendo em vista que nosso estudo objetiva identificar as

representações acerca da Mediação Familiar, seus impasses e perspectivas

em relação ao mercado de trabalho, por um pequeno número de profissionais

que atuam na área, não há a pretensão de generalizar os resultados, mas

restringir nossa análise ao grupo abordado, buscando apenas uma ampliação

de nossas reflexões e questionamentos sobre a temática em pauta.

Em relação à coleta dos dados para a presente monografia, além de

toda a pesquisa bibliográfica e do conteúdo apresentado nas aulas ao longo do

curso, optamos pela utilização de perguntas semi-estruturadas, nas quais um

roteiro em anexo previamente elaborado fosse encaminhado via e-mails para

os profissionais, permitindo espaço para que os mesmos abordassem

livremente o tema proposto, sem a utilização de questões fechadas.

Foram encaminhados e-mails com as questões para 06 (seis)

profissionais previamente contatados, mas apenas 04 (quatro) responderam.

No contato feito com os mediadores, à maioria por telefone, explicamos o

objetivo e a metodologia da pesquisa, assegurando o anonimato de todos e

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firmando o compromisso de envio de trabalho concluído, assim que aprovado

pelo professor e orientador.

O referido grupo de mediadores foi indicado por professores do

curso e optamos por escolher profissionais com diferentes formações

objetivando ampliar e diversificar as possibilidades de olhares e

questionamentos.

No que se refere a análise do dados, compreendida enquanto o

momento em que se olha atentamente para o material coletado à luz de uma

fundamentação teórica, Minayo (b,1994), destaca os seguintes objetivos:

“estabelecer uma compreensão dos dados coletados, confirmar ou não os

pressupostos da pesquisa e/ou responder as questões formuladas, e ampliar o

conhecimento sobre o assunto pesquisado, articulando-o ao contexto cultural

do qual faz parte.” (Pág.69)

Por fim, considerando os limites do pouco tempo disponível e o limite

do próprio instrumento utilizado para coleta de dados (roteiro de questões

enviado por e-mail), nosso material não traz consigo, elementos suficientes

para uma análise mais aprofundada e podemos inferir ter sido possível fazer

apenas algumas articulações com o conteúdo teórico, sem qualquer pretensão

de generalizar resultados.

Este estudo não pretende, nem tem condições ou preenche os

requisitos necessários para que a análise dos dados obtidos possam induzir ou

propor generalizações, tendo em vista tratar-se de um grupo bastante reduzido

de profissionais abordados e dos limites inerentes a própria dinâmica e ao

instrumento utilizado para a coleta de informações.

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Cabe ressaltar que não estamos com isso, defendendo que a validade

de um trabalho como científico esteja vinculada a questão quantitativa, mas sim

apenas apontando para o escopo limitado de nossa pesquisa, que contudo,

ainda ousa apontar para importantes questionamentos e reflexões acerca do

que fora colocado pelos profissionais abordados, no que se refere as suas

vivências e expectativas vinculadas a mediação familiar.

Afinal, como bem aponta Cecília Minayo (1994, a):

“É necessário ultrapassar esse viés positivista das ciências sociais e quando

for possível quantificar, quantifiquemos, mas não coloquemos aí a cientificidade

do trabalho. Os dados qualitativos são importantes na construção do

conhecimento e, também eles, podem permitir o início de uma teoria ou a sua

reformulação, refocalizar ou clarificar abordagens já consolidadas, sem que

seja necessária a comprovação quantitativa. O princípio geral é de todos os

dados devem ser articulados com a teoria.” (pág.96)

Considerando nossa dificuldade de adequação de horário com a

disponibilidade dos profissionais supra citados, optamos por mandar via e-mail,

após contato telefônico, uma breve explicação acerca de nossa proposta de

trabalho, com algumas questões, que embora os direcionassem para os

objetivos apontados pela pesquisa, também abria para possibilidades para que

se expressassem de forma a ampliar suas reflexões, na medida do desejado

por cada um.

Todos os profissionais contactados foram indicados por professores que

ministraram aulas no curso e ao todo, fizemos contato com seis mediadores,

tanto do setor privado, como aqueles que trabalham vinculados ao sistema

Judiciário. Nosso intuito era que tivessem as mais diversas formações a nível

de graduação e múltiplas experiências profissionais, o que certamente

enriqueceria os depoimentos do grupo abordado.

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Dois seis profissionais inicialmente com quem conversamos e para os

quais foram enviados o e-mail com uma breve descrição do trabalho e as

questões (e-mail e questões em anexo), apenas quatro responderam,

demonstrando grande disponibilidade e interesse pela pesquisa.

É importante salientar que o anonimato fora garantido desde o início,

bem como a certeza de que receberiam a monografia completa, após sua

conclusão e posterior aprovação.

Ao longo deste capítulo identificamos os profissionais pelas iniciais “A”,

“B”, “C” e “D”, cabendo informar que três são do sexo feminino e um do sexo

masculino. Quanto a formação, graduação de origem, dois são Psicólogos, um

Assistente Social e um Bacharel em Direito.

Tendo em vista os questionamentos feitos aos profissionais abordados,

buscaremos correlacionar o conteúdo colocado pelos mesmos e a discussão

teórica travada nos capítulos anteriores. Mais uma vez cabe salientar que

trabalharemos a partir do conceito de representações sociais, que compreende

as falas dos entrevistados como uma forma de representarem e perceberem a

realidade que os cerca e na qual encontram-se inseridos. Percepções essas,

atravessadas por fatores culturais, econômicos, históricos, religiosos, políticos

e etc..., e que não retratam a verdade, o certo, o errado, ou a realidade um si,

mas apenas uma forma de compreendê-la.

III-2) Quanto ao Interesse e Aproximação com a Mediação de Conflitos e

com a Mediação Familiar

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Todos os profissionais que participaram da pesquisa, fizeram uma

referência a experiências e interesse pela área da família, independente da

formação a nível de graduação.

“Meu interesse surgiu quando tive contato com o tema em um

curso de pós que fiz sobre crises em família.” (Psicóloga “A”)

“Fiz minha formação em mediação e mediação familiar em Buenos

Aires, na Fundacion Interjas, no ano de 1996”. (Psicólogo “B”)

“Meu interesse se dá em função de minha intervenção profissional

junto às famílias em situação de vulnerabilidade social e emocional,

especialmente em situação de litígio. A aproximação se deu em virtude de

um entendimento de que a pacificação dos litígios é possível, e de

reconhecer que poderia colaborar no restabelecimento de um canal de

comunicação que se rompera na espiral do conflito.” (Assistente Social –

“C”)

“Inicialmente, com formação em Direito, despertei interesse nas

questões sobre direito de família. Posteriormente fiz especialização em

direito da criança e do adolescente e por fim participei do Curso de

Formação para Mediadores no Tribunal da Justiça do Estado do Rio de

Janeiro.” (Advogado – “D”)

Cabe ressaltar que os quatro mediadores que fizeram parte da pesquisa,

independente de atuarem no âmbito privado ou em organizações não

governamentais, tiveram acesso e cursaram o Curso de Formação de

Mediadores oferecido pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

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III-3) Quanto aos Principais Impasses e Limites no Trabalho com

Mediação de Conflitos e Especificamente no Campo da Mediação Familiar

Ao abordamos esta questão com os profissionais, foram pontuadas

diferentes reflexões e leituras que contribuem para a discussão dos limites da

mediação em nossa sociedade. Foram apontadas questões que vão desde o

funcionamento do Poder Judiciário até o desconhecimento da mediação

enquanto efetiva opção para a resolução de conflitos.

“(...) a principal dificuldade é que em nossa cultura a mediação

ainda é muito nova e pouco disseminada. Mesmo sendo uma proposta

diametralmente oposta, é freqüentemente confundida com conciliação.

Outro fator importante é a má formação dos mediadores. Principalmente

por ser um recurso desconhecido, que não permite que as pessoas

possam avaliar o mau mediador e o confundem com o instrumento,

desqualificando-o.” (Psicólogo – “A”)

“Acho que a mediação ainda não é suficientemente conhecida,

portanto não temos uma busca pelas partes, de maneira privada. Por

enquanto o trabalho é oferecido para as partes de maneira gratuita,

durante os processos judiciais”. (Psicólogo - “B”)

“Penso que trabalhar com família, exige do profissional uma escuta

privilegiada da história familiar que culminam na ruptura da capacidade

dialogal. Conhecer a instituição familiar e sua face multifacetada na

contemporaneidade contribui sobremaneira para o papel que se espera

de um medidor”. (Assistente Social – “C”)

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“Há questões de ordem objetiva e subjetiva: As questões de ordem

objetiva são referentes ao desenrolar do processo judicial. No momento

em que um processo é encaminhado para mediação ele fica com

andamento suspenso. Entretanto, caso exista alguma questão extra-

processual em andamento, como investigações policiais ou outros

processos, estes também deveriam ficar suspensos, pois uma citação ou

notificação derivada de um momento anterior à mediação e que venha a

surgir no momento de mediação prejudica qualquer avanço que já tenha

sido alcançado. As questões de ordem subjetiva envolvem em especial a

informação dos magistrados sobre a natureza da mediação, diversa da

conciliação. Também a informação dos advogados sobre as vantagens,

até mesmo profissional, da prática da mediação.”(Advogado – “D”)

Interessante observar a pontuação de dois profissionais, com formações

distintas, acerca da confusão que ocorre no momento de se distinguir

mediação e conciliação, esta última mais tradicionalmente conhecida e

difundida no universo do judiciário, e que difere bastante da prática da

mediação de conflitos. Afinal, como já discutido anteriormente, podemos

ressaltar:

“A conciliação é um procedimento mais célere e, na maioria dos casos,

restringe-se a uma reunião entre as partes e o conciliador. Trata-se de um

mecanismo muito eficaz para conflitos em que inexiste entre as partes

relacionamento significativo no passado ou contínuo no futuro, portanto,

preferem buscar um acordo de forma imediata para pôr fim à controvérsia ou

ao processo judicial.” (...)

A mediação difere da conciliação em diversos aspectos. Nela o que está em

foco são meses, anos ou mesmo décadas de relacionamento, razão pelo qual

demanda que o terceiro tenha um conhecimento mais profundo sobre a inter-

relação entre as partes.” (Sampaio e Neto, 2007, Págs. 18 e 19)

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Dessa forma, a mediação é um processo que requer tempo para

desenvolver-se de forma satisfatória, não simplesmente para que as partes

cheguem a um acordo, mas sobretudo para que tenham suas necessidades e

interesses atendidos, sendo capazes de restabelecerem um diálogo

cooperativo, através do qual possam ver e resolver de forma autônoma e

madura, as controvérsias nas quais encontram-se envolvidas.

III-4) Quanto as Principais Vantagens e Possibilidade no Campo de

Mediação de Conflitos e Mais Especificamente no Trabalho com Famílias

Todos os profissionais mostraram-se otimistas e entusiasmados com as

diferentes possibilidades para as quais aponta o trabalho com a mediação de

conflitos, sobretudo no campo da família, que prima por uma continuidade das

relações. Fato é que todos referem-se a uma área em ascensão e crescimento,

capaz de contribuir para uma nova dinâmica social, onde os conflitos possam

ser resolvidos de forma mais pacífica.

“As principais vantagens são: a preservação da autoria, o

empoderamento das pessoas e o aprendizado de uma maneira

colaborativa de estar no mundo.

As possibilidades são infinitas, já que o instrumento estimula a

criatividade e a particularidade das relações continuada no tempo prima

pela possibilidade de transformação das relações.” (Psicólogo – “A”)

“Ajudas os sujeitos envolvidos em situações de conflito, acerca da

capacidade de compreensão e exercício de novas possibilidade de inter-

relacionamentos.” (Assistente Social – “C”)

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“As vantagens são a possibilidade de resgate da comunicação

entre as partes e algumas vezes, uma melhora da relação social. No

divórcio acho uma ferramenta importantíssima, pois traz a oportunidade

das partes pensarem nos terceiros envolvidos. Alem do fato de que

quando são as partes que chegam a um acordo, a possibilidade de

cumprimento do acordado é muito maior.” (Psicólogo – “B”)

“Acima de todas as vantagens está o restabelecimento da

comunicação entre os interessados. De forma subjacente, a redução da

taxa de retorno dos litigantes ao judiciário como partes antagônicas.”

(Advogado - “D”)

Além das questões referentes ao restabelecimento da comunicação

entre as partes envolvidas nos conflitos, uma das profissionais menciona a

questão do empoderamento, que é, de acordo com Malvina Muszkat (2005),

uma nova forma de aquisição de poder baseada nas relações sociais

democráticas e na lógica do poder compartilhado.

De acordo com Malvina (2005):

“É um processo de aquisição de auto-estima que deve articular-se por meio da

cooperação e da solidariedade. Por isso, o “empoderamento” inclui a

transformação individual e a ação coletiva. Permite ao sujeito adquirir

consciência crítica de sua situação e do mundo, de forma a tornar-se

protagonista da própria história.” (Pág. 53)

III-5) Quanto as Perspectivas Para a Mediação no Brasil e no Rio de

Janeiro

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Todos os profissionais abordados falam a respeito de boas perspectivas

para a mediação no Brasil e no Rio de Janeiro, com destaque para a

experiência dos Centros de Mediação no Tribunal de Justiça do Estado.

“Acrescento que este seja um momento importante e significativo

em nosso Estado e no Brasil. O fato dos Tribunais estarem implantando

ativamente Núcleos de Mediação, auxilia a divulgação da mediação como

mais um recurso para se lidar com conflitos. Só no Rio de Janeiro foram

implantados 16 (dezesseis) Centros de Mediação em 2010.” (Psicólogo -

“A”)

“Considerando as questões contemporâneas, verifico que há uma

grande perspectiva de que a mediação encontre muito espaço na

sociedade, que por sua natureza política, gera essencialmente, muitos

conflitos.” (Assistente Social – “C”)

“Penso que quando sair a Lei da Mediação e uma maior divulgação

dos benefícios da mediação, talvez tenhamos uma procura pela mediação

privada.” (Psicólogo – “B”)

“Com o apoio o TJ/RJ na adoção da prática da mediação judicial, o

Rio de Janeiro consolida uma posição de vanguarda em mediação,

estimulando os profissionais de direito, em especial os advogados, o

estabelecimento de parcerias com mediadores profissionais, para

fomentar o restabelecimento do diálogo entre seus clientes e as partes

com as quais estejam em conflito. Sem dúvidas é um campo de longas

fronteiras que se descortina.” (Advogado – “D”)

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O que percebemos, não só nas falas desses profissionais, como

também nas bibliografias mais recentes e artigos diversos no campo da

mediação, é todo um movimento de expansão da mesma, alavancado por

amadurecimento junto ao Judiciário, ocorrido sobretudo nos dois últimos anos.

Com isso, percebemos também falas permeadas por um otimismo de que a

sociedade possa ampliar seu leque de opções no que se refere ao

gerenciamento dos conflitos, de forma a tornar-se mais pacífica, humana e

democrática.

“Penso na mediação como uma ferramenta que contribui para um

mundo melhor, mais humanizado.” (Assistente Social – “C”)

“A mediação é um processo consciente em que as pessoas

buscam, por meio do auxílio de um terceiro, restabelecer a comunicação.

Realmente é mais efetivo e mais condizente com uma sociedade que

respeite o próximo e promova o princípio da dignidade da pessoa

humana.” (Advogado – “D”)

III-6) Quanto a Relação Entre a Formação Profissional de Origem e o

Trabalho Como Mediador:

Neste momento, os profissionais abordados julgam haver uma boa

relação entre a formação de origem e o exercício da mediação. São

ressaltados pontos positivos nessa relação, sem, no entanto existir nenhuma

defesa ou argumentação a favor de outra graduação como necessário para se

atuarem como mediador.

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“Minha profissão de origem é psicologia. Dentre minhas formações,

as que mais contribuem para minha atuação são as de terapeuta de

família e terapeuta com formação em Abordagem Centro da Pessoa

(ACP). Muitos não sabem, mas Carl R. Rogers, em sua última década de

vida, atuou como mediador de conflitos. (...) A intimidade com a não

diretividade, conceito fundamental da ACP, muito me auxilia a atuação na

mais difícil tarefa do mediador. E mesmo assim, em alguns momento não

é fácil.” (Psicólogo – “A”)

“Inicialmente, com formação em direito, despertei interesse nas

questões sobre direito de família. Vejo que com a especialização em

Mediação com Ênfase em Questões de Família, posso contribuir para uma

sociedade mais madura para resolver seus conflitos.” (Advogado – “D”)

“Sou Assistente Social. Sem dúvida, essa formação me ajuda a

perceber a mediação com um olhar diferenciado. No entanto, não é uma

exigência.” (Assistente Social – “C”)

“Minha formação de origem é a psicologia. Acho que cada

formação traz benefícios em função das habilidades requeridas por cada

profissão. No caso da terapia familiar, acho que ela traz uma habilidade

no perguntar e identifica aspectos emocionais da controvérsia.”

(Psicólogo – “B”)

Os profissionais falam de suas especificidades, não como condição, mas

sim como olhar e contribuição para o amplo e democrático exercício do

mediador, que necessariamente se constrói com a consolidação dos vários

saberes e tendo a interdisciplinaridade como um forte pilar de seu

desenvolvimento.

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CONCLUSÃO

Chegamos ao final deste trabalho, com a certeza de que não obtivemos

respostas fechadas para nossas indagações, nem tampouco verdades

definitivas relacionadas a Mediação Familiar.

Através do levantamento bibliográfico realizado, da coleta e da análise

dos dados obtidos com a pesquisa empírica, confirmamos a idéia de que a

Mediação Familiar vem se constituindo em um novo campo de trabalho, ainda

pouco conhecido em nossa sociedade, e, portanto, não plenamente utilizado

em termos de todo seu potencial e possibilidades para redução de conflitos e

retomada da comunicação que ora fora rompida.

É fato que ainda vivemos em uma sociedade que busca

majoritariamente, a resolução de seus conflitos e controvérsias no sistema

Judiciário, acreditando que a melhor saída consiste na decisão de um terceiro,

sobre quem deve ganhar ou perder a disputa, sobre quem tem ou não a razão.

Os Centros de Mediação, vinculados aos Tribunais de Justiça, vêm se

ampliando e aos poucos ocupam um espaço que se apresenta como

alternativa para a resolução de disputas que não encontram “respostas” pela

decisão judicial.

Hoje, os processos que são encaminhados aos Centros de Mediação,

ainda são encaminhados pelos Juízes, quando os mesmos consideram que o

método pode colocar fim a controvérsia e encerrar a disputa judicial, às vezes

em curso há vários anos. Nestes casos, as partes são convidadas a participar

da Mediação, cabendo a elas aceitar a proposta e tentar a nova alternativa

para resolver a controvérsia, ou manter o andamento do processo, a espera da

deliberação do Magistrado.

Esperamos que em breve, as pessoas possam ter a iniciativa de, antes

de iniciarem qualquer processo judicial, optar pela Mediação como primeiro

recurso para o entendimento, para o diálogo e para a resolução de suas

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questões conflituosas, seja no âmbito privado ou nos próprios Tribunais de

Justiça.

Percebemos que a Mediação ainda se mostra tímida e pouco conhecida

pela sociedade em geral, mas como bem colocaram os profissionais que

participaram dessa pesquisa, tudo indica a expansão dessa nova forma

pacífica e colaborativa de resolução dos conflitos, sobretudo no âmbito das

famílias, que contam com relações permeadas pelo afeto e pela emoção e de

alguma forma continuadas no tempo, onde a retomada do diálogo é

fundamental para o bem estar de todos os envolvidos.

Como já colocado inicialmente, não chegamos ao final com respostas,

caminhos ou afirmações para apresentar. Finalizamos sim, com o desejo de ter

fomentado indagações e curiosidades sobre o tema abordado, na certeza de

que novas pesquisas e estudos podem e devem ser realizados para que, além

de subsidiar a prática, possam divulgar e qualificar a Mediação de Conflitos e

sua fundamental contribuição no trabalho com famílias, no Brasil e no mundo.

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BIBLIOGRAFIA

• Almeida, Tânia – Os Conflitos Familiares e a Mediação, no site

www.domíniofeminino.com.br, extraído no dia 19 de setembro de 2008.

• Ávila, Eliedite Mattos – Mediação Familiar - Formação de Base – T.J.S.C.,

SC, Maio,2004.

• Azevedo, Juiz André Goma de – O Processo de Mediação: Teoria e

Técnicas – T.J. E.B., BA – Fevereiro/2009.

• Bakman, Gizelle e outros – A Equipe do Núcleo de Atendimento a Famílias

em Situações de Litígio: A Coexistência e a Negociação Permanente das

Diferenças (Pág.8-13), In: Revista Nova Perspectiva Sistêmica nº 21, RJ,

Junho/2003.

• Ferreire, Verônica A. da Motta – Família, Separação e Mediação: Uma Visão

Psicojurídica – SP. Ed. Método, 2ª edição, 2007.

• Fiorelli, José Osmir e outros – Mediação e Solução de Conflitos: Teoria e

Prática – São Paulo, Ed. Atlas S.A., 2008.

• Fischer, Roger e outros – Como chegar ao Sim: A Negociação de Acordos

Sem Concessões – RJ, Ed. IMAGO, 2ª edição, 2005.

• Haynes e Marodin, Jonh M. e Marilene – Fundamentos da Mediação Familiar

– RS/Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 1996.

• Lima, Pedro Sérgio Costa – Família: Quem é o Culpado? As crises

Pessoais e sua Influência no Relacionamento Familiar – RJ, Ed. Impetus,

2002.

• Lorosa e Ayres, Marco Antonio e Fernando – Como Produzir uma Monografia

– RJ, Wark Editora, 7º edição, 2008.

• Luskin, Dr. Fred – O Poder do Perdão – SP, Ed. Francis, 7ª ed, 2007.

• Manual de Mediação Judicial – Ministério da Justiça, Brasil, 2009.

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• Minayo, Mª Cecília de Souza – O Desafio do Conhecimento: Pesquisa

Qualitativa em Saúde - SP, Hucitec – ABRASCO, 3ª edição, 1994.(A)

• Minayo, Maria Cecília de Souza (org) – Pesquisa Social: Teoria, Método e

Criatividade – RJ/Petrópolis, 2ª edição,1994 (B).

• Mioto, Célio Tamaso ..................................................................... In Serviço

Social e Sociedade nº 55, SP, Novembro/1997.

• Muszekat, Malvina e outros - Mediação Familiar Transdisciplinar: Uma

Metodologia de Trabalho ou Situações de Conflitos de Gêneros – SP,

Summus Editorial, 2008.

• Muszkat, Malvina E. – Guia Prático de Mediação de Conflitos em Famílias e

Organizações – SP, Summus Ediatorial, 2005.

• Nazareth, Eliana Riberti – Mediação: O Conflito e a Solução – SP, Ed. Arte

Pau Brasil, 2009.

• Sampaio e Neto, Lia R. Castaldi e Adolfo Braga – O que é Medicação de

Conflitos – SP, Ed. Brasiliense, 2007 (Coleção Primeiros Passos nº 325).

• Six, Jean – François – Dinâmica da Mediação – Tradutoras: Àguida A.

Barbosa, Eliana R. Nazareth e Giselle Gaceninga, MG, Ed. Del Rei, 2001.

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ANEXOS

# Email encaminhado a todos os profissionais convidados a participar da

presente pesquisa:

“Conforme contato telefônico, encaminho as questões para meu trabalho de

conclusão de pós graduação em Mediação de conflitos. Mando o roteiro no

corpo do email, e tbém como anexo.

Desde já, agradeço muitíssimo pela colaboração.

Abraço!

Priscilla.

O presente roteiro de questões, procura contemplar os aspectos a serem

discutidos na monografia de conclusão do Curso de Pós Graduação Mediação

de Conflitos com Ênfase na Família, cursado na Universidade Cândido

Mendes, Instituto “A Vez do Mestre”, sem qualquer pretensão de busca por

verdades ou por respostas definitivas “consideradas adequadas e corretas”.

Se julgar necessário ou desejar acrescentar algo referente a qualquer aspecto

de sua experiência em Mediação, sobretudo no tocante ao trabalho com

família, fique absolutamente à vontade para fazê-lo.

Reafirmo o meu compromisso com o anonimato dos entrevistados, que serão

identificados por nomes fictícios, bem como das instituições que venham a ser

mencionadas.

Comprometo-me também, a enviar o trabalho depois de finalizado e aprovado,

via email, para cada profissional que gentilmente está se disponibilizando a

participar, tornando possível a concretização desse projeto.

Desde já, agradeço a todos, e coloco-me à disposição pelos telefones abaixo

listados, para quaisquer esclarecimentos que se fizerem necessários.

Priscilla Hauer (resid. 22884240 – trab. 31117519 – cel. 98036696)

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QUESTÕES

1 - Como descreveria seu percurso profissional no campo da Mediação de

Conflitos, sobretudo no que se refere a Mediação Familiar (interesse,

aproximação, cursos específicos na área e etc..)?

2 - Como se dá, atualmente, seu trabalho no campo da Mediação de Conflitos (

local de trabalho, campos de atuação, trabalha com co-mediação ou sozinho e

etc...)?

3 - Quais são, na sua opinião e a partir de sua experiência, os principais

impasses, dificuldades e limites no trabalho com Mediação de Conflitos,

sobretudo no que se refere ao campo Mediação Familiar?

4 - Quais são, na sua opinião e a partir de sua experiência, as principais

vantagens e possibilidades no campo da Mediação, sobretudo também, no

trabalho com famílias?

5 - Quais as perspectivas, no seu ponto de vista, apontadas para a Mediação

em relação ao mercado de trabalho no Brasil, em especial no Rio de Janeiro?

6 - Qual a sua formação profissional de origem? Você percebe entre ela e o

trabalho como Mediador, alguma relação específica capaz de contribuir ou

influenciar o seu desempenho?

7 – Comentários, sugestões ou observações...

Muito obrigada!!!”

Priscilla Hauer.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO PAG 8

CAPÍTULO I

MEDIAÇÃO DE CONFLITOS: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA, ASPECTOS

CONCEITUAIS E METODOLÓGICAS PÁG . 11

I.1 – O CONEITO: ENTENDENDO O FENÔMENO PÁG. 11

I.2 – FORMAS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS: ALGUMAS

POSSIBILIDADE

PÁG. 14

I.3 – A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS: UM NOVO PARADIGMA, UMA NOVA

ALTERNATIVA PÁG. 18

I.3.1 – VARIADAS DEFINIÇÕES PÀG. 23

I.3.2 – PRINCIPAIS ÁREAS DE APLICAÇÃO DA MEDIAÇÃO PÁG. 25

I.3.3 – PRÍNCIPIOS ORTEADORES DA MEDIAÇÃO PÁG. 27

I.3.4 – A DINÂMICA DA MEDIAÇÃO PÁG. 27

I.3.5 – ALGUMAS “FERRAMENTAS” DA MEDIAÇÃO PÀG. 28

CAPÍTULO II

FAMÍLIA E MEDIAÇÃO FAMILIAR: ALGUNS CONCEITOS E

CONSIDERAÇÕES

PÁG. 32

II.1 – REFLEXÕES SOBRE FAMILIA PÁG .32

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II.2 – PENSANDO EM CONFLITOS E RELAÇÕES FAMILIARES PÁG. 36

II.3 – MEDIAÇÃO FAMILIAR: UMA PRÁTICA SINGULAR PÁG. 40

II.4 – A ÉTICA DA MEDIAÇÃO FAMILIAR PÁG. 46

CAPÍTULO III

A PESQUISA: O DESPERTAR DE NOVOS QUESTIONAMENTOS PÁG. 49

III.1) – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO

METODOLÓGICO

PÁG. 49

III-2) QUANTO AO INTERESSE A PROXIMAÇÃO COM A MEDIAÇÃO DE

CONFLITOS E COM A MEDIAÇÃO FAMILIAR PÁG. 53

III-3) QUANTO AOS PRINCIPAIS IMPASSES E LIMITES NO TRABALHO

COM MEDIAÇÃO DE CONFLITOS E ESPECIFICAMENTE NO CAMPO DA

MEDIAÇÃO FAMILIAR PÁG. 55

III-4) QUANTO AS PRINCIPAIS VANTAGENS E POSSIBILIDADES NO

CAMPO DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS E MAIS ESPECIFICAMENTE NO

TRABALHO COM FAMÍLIAS

PÁG. 57

III-5) QUANTO AS PERSPECTIVAS PARA A MEDIAÇÃO NO BRASIL E NO

RIO DE JANEIRO

PÁG. 58

III-6) QUANTO A RELAÇÃO ENTRE A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE

ORIGEM E O TRABALHO COMO MEDIADOR

PÁG. 60

CONCLUSÃO PÁG. 62

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BIBLIOGRAFIA PÁG. 64

ANEXOS PÁG. 66

ÍNDICE PÁG. 68