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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE O PORTADOR DE ALTAS HABILIDADES, UM DESCONHECIDO? Por: Marta Coimbra de Almeida Paiva Orientadora: Professora Mary Sue Pereira Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PORTADOR DE ALTAS HABILIDADES,

UM DESCONHECIDO?

Por: Marta Coimbra de Almeida Paiva

Orientadora: Professora Mary Sue Pereira

Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

O PORTADOR DE ALTAS HABILIDADES,

UM DESCONHECIDO?

OBJETIVO: Trabalho com reflexões sobre o Portador de Altas

Habilidades, tendo como finalidade atender a um dos

requisitos para encerramento do curso de pós-

graduação em Psicopedagogia do Projeto A Vez do

Mestre da Universidade Cândido Mendes, sob a

orientação da professora Mary Sue.

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AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Helena Antipoff – órgão da Secretaria

Municipal de Educação do Rio de Janeiro, que me

introduziu no estudo de questões da Educação

Especial e à professora Mary Sue que muito mais que

orientadora, se mostrou uma incentivadora na

produção deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha mãe, que sempre

incentivou as filhas para novas conquistas e ao meu

filho como estímulo na sua trajetória universitária que

se inicia.

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RESUMO

Este trabalho aborda questões relativas ao portador de altas

habilidades, um indivíduo que tem características peculiares e está presente

na sala de aula muitas vezes sem ser entendido ou aceito por seus

professores.

No primeiro capítulo são apresentados conceitos de inteligência e

como estes conceitos influenciaram na formulação de testes de inteligência,

e a também validade dos mesmos se usados isoladamente.

A seguir passamos à identificação do PAH, no âmbito escolar. Para

isso esclarecemos primeiramente o que se entende atualmente por

portadores de altas habilidades, termo que vem substituir o que antes se

denominava superdotado. Não podemos pensar mais tão somente no alto

desempenho acadêmico e sim numa gama de outros atributos na

identificação deste indivíduo. A identificação deve se dar num conjunto de

estratégias como, fichas de indicadores, entrevistas e observação dos

professores.

O aluno PAH deve ser identificado para que se pense em estratégias

de atendimento às suas necessidades educacionais especiais, como está

garantido na LDB 9394/96, visando seu pleno desenvolvimento. No terceiro

capítulo são apresentadas algumas formas de atendimento e cabe ao

sistema escolar optar pelo tipo de atendimento que julga pertinente,

considerando as características da rede de ensino.

Esperamos que este trabalho contribua para esclarecer que quando

nos preocupamos com aqueles alunos que têm algo a mais, e às vezes não

sabemos como lidar com eles, devemos procurar formas de inclusão e não

fazê-los vítimas da exclusão por serem diferentes.

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METODOLOGIA

Trabalho realizado a partir da experiência na área de Educação

Especial – Altas Habilidades, e fundamentado em informações advindas de

Congressos como também de pesquisa bibliográfica abrangendo autores

especialistas na área de superdotação preferencialmente brasileiros e

documentos do Ministério da Educação – Secretaria Especial de Educação

Especial.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I 10

QUEM SÃO OS MAIS INTELIGENTES? 10

CAPÍTULO II 15

IDENTIFICANDO OS PORTADORES DE ALTAS HABILIDADES 15

CAPÍTULO III 26

ATENDENDO O PORTADOR DE ALTAS HABILIDADES 26

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA 43

ANEXOS 39

ÍNDICE 46

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INTRODUÇÃO

Ouvimos falar de pessoas que são consideradas mais inteligentes

quando comparadas às demais do seu grupo familiar, escolar ou

profissional. E junto com o atributo mais inteligente, atribui-se também a

estas pessoas adjetivos do tipo “esquisito”, “hiperativo” e outros. Isso

contribui para envolver de mistério as pessoas que se destacam em alguma

área e não são compreendidas em suas diferenças.

O portador de altas habilidades no espaço escolar muitas vezes é

identificado como o “aluno-problema”, pois muitos profissionais de educação

desconhecem que segmento é este do alunado. Às vezes perturbam a

tranqüilidade da sala de aula com seus interesses variados ou se negam a

realizar exercícios de fixação do conteúdo (que já dominam), empregando

estratégias inaceitáveis para ocupar o tempo.

Surpreendem os professores quando são muito bons em algumas

disciplinas e noutras têm dificuldades, ou quando não cumprem as

obrigações estabelecidas para a turma, como, manter o caderno organizado

com o conteúdo e ainda assim têm bom rendimento. Surpreendem também

quando têm um vocabulário mais elaborado ou são capazes de organizar e

liderar um grupo para elaboração de alguma atividade embora não sejam

brilhantes academicamente.

A crença de que a pessoa com maior potencial de inteligência

tem acesso facilitado em todas as áreas do conhecimento não é verdadeira.

Primeiro, porque este ser privilegiado que tem sucesso em tudo o que faz,

com desempenho excepcional, e ainda, que apresenta desenvolvimento

superior em áreas como a emocional e a social, não passa de mais um

estereótipo que circundam as altas habilidades. Segundo, porque a

influência do meio para o desenvolvimento da inteligência é fundamental. O

que pode ser visto, entretanto, é a colocação de barreiras que impedem o

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sujeito de canalizar seus talentos para atingir um nível de aproveitamento de

suas capacidades que realmente gratifique e lhe permita dividir os ganhos

com seus companheiros.

É necessário que se compreenda que aluno é este, para oportunizar

situações em que o PAH possa utilizar suas habilidades para crescimento

próprio e do grupo de companheiros, evitando assim que ele esconda suas

habilidades, ou seja, eternamente o “aluno-problema”.

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CAPÍTULO I

Quem são os mais inteligentes?

“O Brasil, como aliás o mundo inteiro,

acha-se num período de revisão de

valores. Observam-se progressos

inimagináveis, e o domínio da ciência, das

artes, da técnica, como nos costumes.

Todas as inovações são cada vez mais

difíceis de serem compreendidas, a não

ser que o indivíduo seja muito bem dotado

e tenha capacidade fora do comum para

aprender”.

Helena Antipoff – 1972

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QUEM SÃO OS MAIS INTELIGENTES?

Inteligência é um conceito flexível e com muitos sentidos. Discute-se

a origem dos traços de inteligência dos indivíduos, há estudiosos que

afirmam ter a origem na base genética, outros afirmam que a origem está na

interação com o ambiente. “O genótipo e o ambiente são igualmente

importantes porque são indispensáveis. Não há organismo sem genes e

qualquer genótipo só pode agir em um ambiente” (Dobzansky,1964 in

Guenther, p.67).

Independente da corrente que se adote, o fato é que algumas

pessoas se destacam na sua produção e que cada um de nós quer ser

considerado inteligente por parte das pessoas com as quais nos

relacionamos.

1.1 - Um pouco de história

Em diferentes momentos da História e diferentes partes do mundo

observa-se a preocupação com aqueles que demonstravam habilidades

mentais superiores. Na China, as crianças que se destacavam na produção

de poesias e ensaios, eram selecionadas e encaminhadas à Corte, onde

recebiam um tratamento especial. Platão, na Grécia, há mais de dois mil

anos, defendeu a preparação de algumas crianças especiais (Crianças de

Ouro) para a liderança. Atualmente no Brasil, espera-se de um líder indígena

que tenha boa representação junto à FUNAI e outros órgãos

governamentais a fim de defender a demarcação de terras e outros

interesses da sua tribo, o que provavelmente não era tão valorizado em

outra época.

Cada cultura tem a sua forma de definir inteligência e de

operacionalizar em termos dos comportamentos tidos como mais adequados

e desejáveis.

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1.2 – Conceitos de inteligência

A definição de inteligência já teria influenciado Aristóteles, que dividiu

as funções mentais em categorias estáticas e dinâmicas, em que o processo

do pensamento encerrava componentes emocionais e morais ou éticos (IV

A.C.). Os filósofos e teólogos, como São Tomás de Aquino e Santo

Agostinho, definem a inteligência como dádiva divina.

Spearman no início do século XX investigou os fatores envolvidos na

inteligência e propôs uma teoria baseada em 2 fatores; o primeiro deles a

que chamou de inteligência geral, seria um fator intelectual fundamental

comum a todos os comportamentos intelectuais e o segundo fator, composto

de vários elementos que identificou como inteligência específica.

Piaget (1978), definiu inteligência como sendo “uma forma especial

de atividade biológica, cujas características fundamentais são: organização,

adaptação e assimilação”.

Sternberg (1981), propôs uma teoria triárquica sobre a inteligência

humana, onde defende que o desempenho intelectual compreende três

partes: a inteligência analítica, apresentada por aqueles que mostram um

bom desempenho em testes de aptidões e de inteligência; a inteligência

sintética, apresentada por pensadores não convencionais, que são criativos,

intuitivos e apresentam alto nível de insight; e a inteligência prática,

apresentada por aqueles que são bastante eficientes na resolução de

problemas da vida cotidiana.

Gardner (1985), insatisfeito com a idéia de QI, concebe a inteligência

em função de 7 classes diferentes de conhecer o mundo, sugerindo que não

há uma única inteligência mas sim inteligências múltiplas e independentes,

embora elas raramente funcionem isoladamente. Essas inteligências estão

refletidas no repertório de habilidades dos seres humanos na busca de

soluções para os seus problemas. Gardner identificou as inteligências:

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lingüística, lógico-matemática, espacial, musical, cinestésica, interpessoal e

intrapessoal.

1.3 – Os testes de inteligência

A primeira análise quantitativa da inteligência humana data de 1869,

com o estudo publicado por Galton, intitulado Hereditary Genius. Seu estudo

consistiu em uma análise das famílias britânicas mais proeminentes e mais

inteligentes, concluindo que a hereditariedade era determinante primário do

funcionamento intelectual. Galton partiu do princípio que tudo que sabemos

vem através dos sentidos, e criou testes psicomotores simples, como força

de preensão e tempo de reação, para a avaliação da inteligência. Esses

testes serviram de base para a formulação de outros onde foram

acrescentadas a acuidade visual, a sensorial e a auditiva.

Aproximadamente na mesma época, Binet e Simon na França, a

pedido do governo, iniciaram um processo que permitisse separar as

crianças que não acompanhavam o programa escolar das demais crianças.

Binet desenvolveu uma série de testes de dificuldade variada, cobrindo

diferentes fatores, como memória, atenção, capacidade de discriminação e

aptidão para seguir instruções. O resultado dos testes determinava a “idade

mental” do sujeito. Quando uma criança era capaz de resolver questões

previstas para a faixa etária superior à sua, era considerada de inteligência

superior, e quando acontecia o inverso, tinha uma performance inferior

àquela esperada para a sua idade, era considerada retardada.

O teste de Binet foi revisado por vários estudiosos, alargando a sua

utilização até a idade adulta, e deu origem ao que conhecemos hoje como

QI (quociente de inteligência), sendo o resultado numérico dentro de uma

escala pré-estabelecida.

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1.3.1 – A validade dos testes de inteligência

Segundo Alencar (1986), os testes de inteligência recebem muitas

críticas por vários motivos, alguns são altamente verbais e os itens

propostos se assemelham a situações acadêmicas ou são mais familiares à

criança de classe média. A autora também sinaliza que o resultado de um

teste não é fixo e invariável, e que aqueles que obtêm baixos resultados não

são necessariamente menos inteligentes que os seus companheiros.

Mettrau alerta para o fato de que

“... não existe uma definição universal de inteligência,

nem a possibilidade dela assumir a mesma forma e

componentes nas várias culturas, conclui-se que não

podemos defender a sua avaliação pelo uso de formas

ou instrumentos generalizados a todos os indivíduos ou

grupos humanos”. (METTRAU, 1995)

Michel Schiff em seu livro A Inteligência Desperdiçada (1994), dedica

vários capítulos à defesa da idéia de que os testes de QI são tendenciosos e

servem para justificar o fracasso escolar das classes menos favorecidas de

escolas francesas.

Enfim, os testes de QI classificam as pessoas em escores frios, sem

nuances de individualidade e levando a crer que dois indivíduos com o

mesmo resultado de QI são iguais, o que é uma falácia.

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CAPÍTULO II

Identificando os Portadores de Altas Habilidades

“É preciso que os bem dotados se

identifiquem por realizações e obras. Isso

demonstrará o grau de inteligência e as

aptidões especiais que são, na realidade,

dois fatores capazes de caracteriza-los,

partindo daí para um atendimento educativo

correto”.

Helena Antipoff - 1971

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IDENTIFICANDO OS PORTADORES DE ALTAS

HABILIDADES

Se a mensuração da inteligência é algo controvertido, como então

identificar os PAH?

Inicialmente é necessário esclarecer que a expressão Portadores de

Altas Habilidades passou a ser utilizada no Brasil a partir de 1995, adotada

nos textos produzidos pelo MEC, de acordo com o Conselho Europeu –

European Council Fot Hig Hability. Até então, utilizava-se o termo

superdotado, que tem a sua origem nas técnicas psicométricas, e destinava-

se àqueles que obtinham alta pontuação nos testes de inteligência. Esse

termo traz consigo a idéia de alto rendimento acadêmico nas diferentes

disciplinas, onde é possível a verificação com instrumentos de avaliação

pedagógica. Mas deve-se pensar não somente no acadêmico brilhante, mas

numa gama diferenciada de traços quando se trata de PAH, a fim de

desmitificar a idéia que se tem sobre esse indivíduo. Atualmente os dois

termos são usados indistintamente por autores nacionais, e ainda há quem

prefira usar o termo talentoso, como Zenita Guenther.

2.1 - Conceito de Altas Habilidades

Os conceitos de superdotação apresentados por diferentes

estudiosos têm correlação estreita com a teoria da inteligência defendida por

cada um, como aponta Alencar:

“Um alto QI era sinônimo de alta inteligência, e

superdotado era definido como aquele indivíduo com

alta inteligência. Com o tempo, outras variáveis, além

do QI, passaram a ser consideradas e incluídas, como,

por exemplo, criatividade e liderança...” (ALENCAR,

1986, p.22)

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Apresentaremos neste trabalho o conceito de Renzulli (1985), citado

em documentos do MEC. Renzulli formulou seu conceito de superdotação

baseado em pesquisas com amostras de indivíduos criativos/produtivos. O

pesquisador criou um modelo triádico composto por um conjunto de três

anéis, cada um identificando, a saber: habilidade acima da média,

criatividade e envolvimento com a tarefa. Posteriormente Mönks

complementou os fatores destacados por Renzulli incluindo elementos do

ambiente social que contribuem no desenvolvimento do indivíduo.

O superdotado estaria na interseção dos três anéis, como ilustra a

figura.

Fonte: Mönks & Van Boxtel in Freeman,1985

Para melhor compreensão, Mettrau (1996), define habilidade acima

da média, como uma habilidade geral (pensamento abstrato, raciocínio

verbal e numérico, relação espacial, memória e fluidez verbal) e habilidade

específica (classificar a informação em relevante ou irrelevante, associada a

um problema particular ou a uma área de estudo ou de atuação). Quando se

ESCOLA COMPANHEIROS

FAMÍLIA

ENVOLVIMEN-TO COM A TAREFA

CRIATI-VIDADE

HABILIDADE ACIMA DA

MÉDIA

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avalia habilidade acima da média deve-se levar em conta a idade, a série

escolar e o contexto em que esse indivíduo vive. Envolvimento com a tarefa

indica altos níveis de interesse e implicação com um problema particular,

área de estudo ou forma de expressão humana. No aspecto criatividade,

destaca fluidez, flexibilidade e originalidade de pensamento.

Em documentos elaborados pelo MEC-SEESP também encontramos:

“Serão consideradas pessoas superdotadas e talentosas os que

apresentarem notável desempenho e/ou elevada potencialidade em

qualquer dos seguintes aspectos isolados ou combinados: capacidade

intelectual geral, aptidão acadêmica específica, pensamento criador ou

produtivo, capacidade de liderança, talento especial para artes visuais,

dramáticas, musicais e capacidade psicomotora” (1995).

Estatísticas internacionais indicam que em qualquer grupamento

humano, de 1% a 3% das pessoas, independentemente de cor, raça ou

situação sócio-econômica, podem ser definidas como PAH. Diferente de

gênio, que seria aquele capaz de mudar uma concepção ou um modelo

aceito por longa data em qualquer área da realização humana, e trazendo

assim uma contribuição para a história da humanidade e portanto um

número bastante reduzido de indivíduos.

2.2 - Características dos Portadores de Altas

Habilidades

Alencar (1985), relata um minucioso estudo longitudinal, realizado de

1926 a 1965, por Lewis M. Terman e sua equipe, sobre as características de

crianças superdotadas. O estudo tinha como objetivo acompanhar a

trajetória dos indivíduos a fim de investigar entre outros aspectos, os traços

físicos, intelectuais e de personalidade. O grupo estudado era proveniente

de classe média e com alto rendimento acadêmico, o que não indica serem

representativos da população como um todo. Mas, ainda assim foi de grande

relevância por ter sido pioneiro na investigação de características de

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superdotados e trouxe uma contribuição importante até os dias de hoje, que

é a constatação que embora as pessoas pesquisadas pertencessem a um

mesmo grupo, não apresentavam todos a totalidade das características

levantadas no estudo.

Desde o estudo de Terman, muitas outras listas de características

típicas dos PAH foram elencadas. Algumas características comportamentais

são comuns em diversos autores, como por exemplo: curiosidade,

criticidade, gosto pelo desafio, alto nível de energia e insatisfação com a

rotina.

Como nesse trabalho foi citado o conceito de Renzulli para

superdotação, será apontada a lista elaborada por Renzulli e Hartman

(1971), citada em Novaes (1979). Trata-se de itens que podem ser

observados no contexto escolar:

• Tem comportamento verbal caracterizado por riqueza de expressão,

elaboração e fluência.

• Possui largo cabedal de informações a respeito de uma variedade de

assuntos acima do interesse usual dos colegas de sua idade.

• Tem percepção rápida das relações tipo causa-efeito, procura

descobrir o como e o porquê das coisas, faz muitas perguntas

provocativas.

• Tem compreensão rápida dos princípios básicos e pode tecer

generalizações válidas e rápidas sobre acontecimentos, pessoas ou

coisas, dá atenção às similaridades e às diferenças.

• É um observador vivo e competente, geralmente vendo e aprendendo

mais do que os outros com filmes e histórias, por exemplo.

• Lê muito por conta própria, não se esquiva de material difícil, podendo

demonstrar preferência por biografias, enciclopédias, atlas, livros de

viagens, poesias, ciências, dramas e artes.

• Procura compreender o material mais complexo separando-o em suas

partes respectivas, deduz as causas por conta própria, percebe

ambos o senso comum e lógico das perguntas.

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Vários autores adotam a classificação dos superdotados segundo

seus interesses e desempenho que apresentam em diferentes tipos: o tipo

intelectual, que apresenta flexibilidade, independência e fluência de

pensamento; o tipo social que revela capacidade de liderança, sensibilidade

interpessoal e influência no grupo; o tipo acadêmico, com interesse e

motivação pelas tarefas acadêmicas e capacidade de produção; o tipo

criativo, com capacidade de encontrar soluções inovadoras; o tipo

psicomotricinestésico, que se destaca por sua habilidade psicomotoras e

finalmente o tipo dos talentos especiais, com alto desempenho nas artes

plásticas, musicais, literárias e dramáticas.

Nem todos os PAH apresentam as mesmas características e

habilidades, “cada pessoa apresenta uma combinação diferente de

inteligência, traços de personalidade e desempenho” (Alencar, 1985). E

também, as características podem se manifestar de forma construtiva, isto é,

não abalando as relações interpessoais, ou podem ser dificultadores dessas

relações. Por exemplo, um aluno com pensamento crítico aguçado pode

discordar verbalmente dos professores, quanto às suas idéias ou valores e

criar um clima de tensão na sala de aula ou noutra situação um aluno

altamente criativo pode se negar a cumprir tarefas rotineiras.

2.2.1 – Equívocos relativos às características

Algumas síndromes têm características que podem equivocadamente

levar à suspeita de altas habilidades.

Hiperlexia – tem, dentre outras características, a habilidade precoce

para a leitura ou uma intensa fascinação por cartas e números, mas também

apresenta uma série de dificuldades sociais e cognitivas.

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Síndrome de Asperger – aprende a ler espontaneamente, utiliza

vocabulário rebuscado, porém tem dificuldade na compreensão de palavras

triviais; tem um campo limitado de interesses, como, meteorologia,

calendários, ciências, problemas religiosos e outros, se dedicando

exclusivamente ao mesmo tema.

Síndrome de Savant ou Idiot Savant – tem uma habilidade superior

em uma área específica e ao mesmo tempo apresenta um atraso

considerável em outras habilidades cognitivas. Alencar (1986), cita

exemplos: um menino de 11 anos, que é capaz de dizer o dia da semana

para qualquer data entre 1880 e 1950; outro caso, de um jovem capaz de

memorizar o número de habitantes de um grande número de cidades e o

nome e número de cômodos de cerca de 2000 hotéis. Podemos observar

essa síndrome no personagem de Dustin Hoffman, no filme Rain Man.

É importante ter conhecimento de um conjunto das características (há

vários na literatura especializada) do PAH, para não se deter em apenas um

ou outro traço apresentado por um indivíduo e sim observar o conjunto de

competências demonstradas por este indivíduo. É na configuração geral do

comportamento, nas várias dimensões que envolvem a forma de ser e agir

da criança talentosa, que vamos encontrar sinais do potencial que está

sendo expresso em diferentes vias.

Não se deve esperar do PAH que seja excelente em todas as áreas

do conhecimento, mas sim que se destaque “em alguma área do saber ou

fazer humano, apresentando manutenção, persistência e consistência dos

traços” segundo Mettrau, e que nas demais áreas esteja na média dos seus

pares. Devemos estar atentos porque ainda é possível, que alguns

superdotados tentem dissimular algumas características, especialmente

quando são desencorajados no meio social em que vivem.

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2.3 – Formas de identificação do PAH no contexto

escolar

Segundo Novaes, a identificação do PAH tem por objetivo o

“planejamento do seu atendimento, pois observar e diagnosticar suas

habilidades e aptidões facilita o estímulo do seu desempenho”. A autora

ainda alerta para o fato de que

“Quanto mais cedo for feita essa avaliação, maior

probabilidade de vir a ser orientado, evitando-se

problemas de adaptação social ou psicológica; não

sendo reconhecido como tal ... pode ser tratado como

aluno-problema” (NOVAES, PUC-RJ).

A identificação do PAH deve ser um processo dinâmico e contínuo.

Não deve se restringir a testes padronizados nem tampouco ao rendimento

escolar. Há vários procedimentos na identificação do PAH, como portfólio

com produções do aluno, questionários individuais para o próprio educando

responder, entrevistas com pessoas que lidam ou já lidaram

sistematicamente com esse aluno dentro ou fora da escola. A família é uma

fonte de informações que se deve recorrer nesse processo de identificação,

pois ela é capaz de relatar o desenvolvimento da criança no período anterior

à entrada na escola e também detalhes peculiares sobre o comportamento

do aluno em outros ambientes sociais.

Para auxiliar os profissionais de educação (professores, supervisores,

coordenadores pedagógicos, orientadores educacionais etc), nessa

identificação, há vários inventários e listagens elaboradas por especialistas

contendo indicadores de altas habilidades. Dificilmente um aluno

apresentará todos os indicadores contidos num determinado inventário,

também não apresentará com a mesma intensidade os diferentes traços,

entende-se por traços “as formas consistentes que permanecem com

freqüência e duração no repertório dos comportamentos da pessoa, de

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forma a poderem ser resgatados em épocas diferentes e situações

semelhantes” (MEC – SEESP, 1995). Os vários modelos de inventários, ou

fichas de avaliação, ou ainda listas de indicadores, como se queira

denominar, não conterão separadamente todos os indicadores possíveis,

mas se tratando do contexto de sala de aula, um inventário auxilia o

professor aguçando sua observação sobre os alunos, além de ser facilmente

preenchido por este profissional que usualmente está sobrecarregado de

tarefas no seu dia-a-dia.

Delou, sugere duas listas de indicadores de altas habilidades, a

primeira (anexo 1) de caráter grupal com o objetivo de destacar alunos numa

turma e posteriormente seria usada a segunda lista (anexo 2), de caráter

individual, para aqueles alunos apontados na primeira lista. Ambas

pretendem identificar aspectos da inteligência geral, do pensamento criador,

da capacidade de liderança e da capacidade psicomotora.

É importante considerar que quanto maior o número de traços

presentes em uma criança, maior a segurança que se pode ter da presença

de altas habilidades. Numa fase inicial, considera-se que o aluno apresenta

indicadores de altas habilidades, que deverão ser confirmados ou não na

fase posterior que diz respeito ao atendimento a esse alunado. Não

devemos recear o erro nessa identificação, se seguimos algumas

orientações básicas. É melhor pecar pelo excesso do que pela falta de

crença na possibilidade da existência desses indivíduos nas escolas

públicas.

2.4 – Questões de gênero do PAH

Gallagher (1987), baseado em pesquisas das décadas de 60 e 70,

aponta alguns motivos para o número inferior de mulheres de destaque em

relação aos homens:

• O “papel tradicional das mulheres” é de esperar que assumam

menos riscos do que os homens;

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• As meninas criativas não são tão bem aceitas pelos seus

colegas quanto os meninos com características semelhantes;

• Os estereótipos de papéis sexuais mantidos pelos pais,

educadores, colegas e meios de comunicação que trazem

todos eles, expectativas diferentes para meninos e meninas;

• Espera-se que as meninas sejam passivas e empenhadas em

atividades não-intelectuais.

Érika Landau, coordenadora de um programa especial para

superdotados em Israel, baseada na sua experiência com alunos que

passam por este programa, afirma não haver “diferenças substanciais entre

meninos e meninas, mesmo que estas correspondam a uma minoria das

crianças atendidas” (Landau, 1990, p.73). A autora atribui essa diferença

numérica a fatores como: baixa expectativa dos pais em relação às filhas, as

garotas aceitam melhor as limitações impostas pelo ambiente e na fase da

puberdade as meninas estão “muito ocupadas” com as transformações do

próprio corpo e não questionam o meio externo.

Guenther e Freeman (2000), discutem os motivos pelos quais há

menos meninas identificadas como superdotadas do que meninos. Os

autores relatam diferentes pesquisas realizadas na década de 90

envolvendo o gênero e a capacidade mental. Os estudos foram baseados

em testes, e estes demonstraram pouca diferença entre o resultado de

rapazes e moças, então não estaria aí o motivo da diferença numérica. Os

autores levantam algumas justificativas como: “as meninas mais

freqüentemente pensam que o seu próprio sucesso é devido à pura sorte e

não à sua própria capacidade”; algumas áreas de atuação profissional

trazem o estigma da “não feminilidade” e com isso tem menos profissionais

mulheres como modelo.

Recorremos à Landau para finalizar este tópico:

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“Hoje os que ensinam são na maioria mulheres.

Portanto, se uma professora também mãe, puder tratar

a filha como sua semelhante, como mulher, sem

menosprezar, por exemplo, as aptidões dela para

ciências ou tecnologia, teremos melhores professores,

excelentes cientistas e, fundamentalmente mulheres

mais felizes“ (LANDAU, 1990, p.75).

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CAPÍTULO III

Atendendo o Portador de Altas Habilidades

“Quando o bem dotado é orientado,

desenvolvidas suas qualidades natas de

inteligência, de aptidões especiais, de

talentos diversos, podemos esperar dele

grande contribuição e liderança”.

Helena Antipoff – 1973

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ATENDENDO O PORTADOR DE ALTAS

HABILIDADES

O aluno PAH tem necessidades educacionais especiais que

justifiquem propostas pedagógicas diferenciadas?

A expressão necessidades educacionais especiais refere-se a

condições individuais dos alunos que podem apresentar elevada capacidade

ou dificuldades para aprender. Essa expressão surgiu com o propósito de

deslocar o foco do aluno e direcioná-lo para as respostas educacionais que

eles requerem, portanto, não se pensa mais nas dificuldades dos alunos e

sim no que a escola pode fazer para dar respostas às necessidades de um

modo geral, bem como aos que apresentarem necessidades específicas

muito diferentes dos demais. E os PAH formam um grupo da Educação

Especial que precisa ser atendido na sua especificidade tanto quanto os

demais segmentos que apresentam deficiência sensorial, ou mental, ou

física, ou ainda transtornos de conduta. Embora muitos imaginem que por se

tratar de um grupo privilegiado, esses alunos não necessitam de nenhuma

ajuda, pois teriam sucesso por si só, e não precisaríamos investir esforços

diferenciados na sua vida acadêmica, mas isso é uma idéia errônea que

precisa ser esclarecida.

3.1 - Política educacional

A Lei 5692/71 já previa no seu Artigo 9o. : ”os que apresentarem

deficiências físicas ou mentais, os que se encontrem em atraso considerável

quanto à idade regular de matrícula e os superdotados deverão receber

tratamento especial...” Após a Lei 5692 foram emitidos pareceres do

Conselho Federal de Educação (março/72, maio/73 e setembro/87)

propondo medidas que beneficiavam os PAH, como: mudança de série para

os que apresentassem domínio do conteúdo independente do término do

ano civil; matrícula no ensino superior com a condição de posteriormente

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apresentar a conclusão do 2o. Grau e “ações de atendimento ao

superdotado”.

Em 1993, o MEC/SEESP, elaborou a Política Nacional de Educação

Especial, onde são apontados os princípios norteadores da Educação

Especial no Brasil.

O MEC apóia as deliberações resultantes da Conferência Mundial de

Educação Especial, ocorrida em 1994, na cidade espanhola de Salamanca,

em que participaram 88 países e 25 organizações internacionais. Nesse

encontro os participantes reafirmaram “o compromisso com a educação para

todos, reconhecendo a necessidade e urgência do providenciamento de

educação para as crianças, jovens e adultos com necessidades

educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino” (Declaração de

Salamanca, 1994). Esse evento foi um marco para a discussão em nível

mundial da educação inclusiva, e os PAH foram contemplados mais

especificamente nos trechos:

• “... escolas deveriam acomodar todas as crianças

independentemente de suas condições físicas, intelectuais,

sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Aquelas deveriam

incluir crianças deficientes e superdotadas...

• ... a educação especial incorpora os mais do que comprovados

princípios de uma forte pedagogia da qual todas as crianças

possam se beneficiar. Ela assume que as diferenças humanas

são normais e que em consonância com a aprendizagem deve

ser às necessidades da criança, ao invés de se adaptar a

criança às assunções pré-concebidas a respeito do ritmo e da

natureza do processo de aprendizagem.

• ... dentro das escolas inclusivas, crianças com necessidades

educacionais especiais deveriam receber qualquer suporte

extra requerido para assegurar uma educação efetiva”.

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A LDB/96 dedica o Capítulo V à Educação Especial, determinando os

procedimentos para a educação dos alunos com necessidades educacionais

especiais. E no artigo 59 do referido capítulo recomenda:

“Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com

necessidades especiais:

I – currículos, métodos, recursos educativos e organizações específicos,

para atender às suas necessidades;

II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível

exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas

deficiências e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar

para os superdotados”.

A política educacional atual prevê igualdade de oportunidades para

todos terem acesso à educação de qualidade, embora na prática ainda se

observa que de um modo geral, a escola é para aquele aluno mediano, com

todas as funções íntegras e todos os comportamentos linear e

cronologicamente previsíveis.

3.2 – Formas de atendimento educacional ao PAH

No Brasil, tivemos o início do atendimento diferenciado àqueles que

se destacavam, em 1945, na Sociedade Pestalozzi, no Rio de Janeiro, com

a professora Helena Antipoff que reuniu pequenos grupos de bem-dotados

dos colégios da zona sul para realizar com eles estudos sobre literatura,

teatro e música. Na década de 50, em São Paulo, Julieta Ormastroni, iniciou

um programa extra-escolar com o concurso “Cientistas do Amanhã”, que

tinha como meta descobrir vocações científicas na juventude estudantil, a

este trabalho juntou-se o da Feira de Ciências, destinado a orientar os

jovens com alto interesse e desempenho em ciências. Em 1962, ainda por

iniciativa de Helena Antipoff, foi feita a primeira tentativa de reunir um grupo

de adolescentes superdotados do maeio rural, na Fazenda do Rosário em

Ibirité - MG. A experiência teve um saldo bastante positivo, pois grande

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número de jovens, ao terminarem seus cursos, procuraram continuar os

estudos em nível superior.

Há diferentes formas de atender o PAH nas suas necessidades, cabe

ao sistema escolar planejar e executar aquela forma que melhor se adeque

aos recursos disponíveis, visando a efetiva realização das atividades

planejadas e com isso o sucesso da proposta. Segundo Tannenbaum

(1983), qualquer atendimento educacional ao PAH deve ter como objetivos:

“1- Ajudar aqueles indivíduos com alto potencial a

desenvolver ao máximo os seus talentos e habilidades.

2- Favorecer o seu desenvolvimento global, de tal

forma que venha a dar as maiores contribuições

possíveis à sociedade, possibilitando-lhe, ao mesmo

tempo, viver de uma forma satisfatória.

3- Fortalecer um auto-conceito positivo.

4- Ampliar as experiências desses alunos em uma

diversidade de áreas e não apenas em uma área

especializada do conhecimento.

5- Desenvolver no aluno uma consciência social.

6- Possibilitar ao aluno uma maior produtividade

criativa”.

(TANNENBAUM , 1983 in ALENCAR, 1986, p. 54)

3.2.1 - Segregação

A segregação é a forma mais controvertida de atender o PAH.

Consiste em separar os estudantes mais capazes daqueles de nível médio,

considerando principalmente o desempenho acadêmico, esses alunos

então, pertenceriam a uma classe especial. Se por um lado na classe

especial, os alunos podem se dedicar a tarefas que exigem toda a sua

capacidade e esforço, por outro lado podem se tornar esnobes, dificultando

a relação “com indivíduos de menor habilidade, e um grupo heterogêneo

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apresenta melhor oportunidade para tal aprendizagem” (Alencar, 1986). E

também quando se limita ao atendimento basicamente acadêmico, perde-se

de vista o desenvolvimento global do indivíduo.

Alencar (1986) cita alguns países como Inglaterra e Irã que optaram

por essa forma de atendimento. No Brasil não temos conhecimento desta

prática, até porque feriria o preceito máximo da política de educação,

particularmente da educação especial que defende a inclusão dos

portadores de necessidades educacionais especiais.

3.2.2 - Aceleração

A aceleração seria indicada para aqueles alunos com perfil

acadêmico, ou seja, aqueles que demonstram facilidade e alto rendimento

em algumas disciplinas. A aceleração prevê o cumprimento do programa

escolar em menos tempo. Isso pode ocorrer com o ingresso na escola antes

da idade pré-estabelecida, ou permitindo que o aluno seja promovido para a

série seguinte à prevista para os seus companheiros de turma (“saltar” uma

série), mediante a avaliação de conhecimentos feita pela própria escola,

como prevê a LDB. Mas Alencar (1986) observa que “a avaliação de um

aluno deve levar em conta o desenvolvimento intelectual, social e físico, e

não apenas a sua superioridade intelectual”.

A literatura especializada relata outras formas de aceleração que

ocorrem, por exemplo, nos Estados Unidos: estudos compactados –

condensar o currículo de duas séries em um ano; curso de férias – trabalhar

alguns conteúdos a fim de “saltar” uma série; aceleração por disciplina –

freqüentar uma ou mais disciplinas em séries mais adiantadas.

Benbow, 1991 (in Guenther e Freeman, 2000) cita uma série de

fatores que devem ser observados quando se decide pela aceleração de um

aluno:

“1- Não existe pressão para acelerar.

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2- O aluno está nos extremos 2% de inteligência

elevada.

3- O professor que recebe o aluno sente-se de maneira

positiva sobre o processo.

4- Os pais sentem-se bem sobre a orientação do

processo.

5- O aluno é efetivamente avançado no conteúdo

curricular.

6- A criança é emocionalmente estável.

7- O aluno entende o que está acontecendo.

8- A criança quer ser acelerada”.

O método da aceleração para atender o PAH é discutido por vários

estudiosos que apontam vantagens e desvantagens dessa prática. Bárbara

Clark (in Alencar, 1986) defende a aceleração argumentando que as

vantagens seriam: um método possível em qualquer escola; atende a

preferência que o superdotado tem por companheiros mais velhos; antecipa

a entrada no mercado de trabalho; estimula o aluno, superando o tédio com

aulas de conteúdo que já domina; promove maior ajustamento social e

emocional e evita hábitos inadequados de estudos. Outros apontam as

desvantagens: lacunas em disciplinas nas quais o aluno não tem um

desempenho superior e as diferentes vivências de cada faixa etária.

3.2.3 – Enriquecimento

Um programa de enriquecimento tem o objetivo de oferecer ao aluno

oportunidade para revelar e utilizar o seu potencial em atividades diferentes

das previstas usualmente no currículo escolar. É pouco provável que o

professor dê conta de um programa de enriquecimento no seu dia-a-diacom

a turma regular que leciona, pois para isso deveria, por exemplo, propor

projetos de pesquisa individual ou de grupo envolvendo toda a classe,

distribuindo tarefas e responsabilidades de acordo com as potencialidades

de cada um. Com a dificuldade em adotar essa prática, o professor bem

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intencionado incide no erro de exigir que o aluno PAH responda a mais

exercícios que os demais da turma, não oportunizando o pensamento crítico,

a originalidade ou a flexibilidade de idéias.

Segundo Landau (1990), a ênfase de um programa de

enriquecimento “deve incidir sobre as formas de pensar e agir e não

somente sobre a informação. Ou seja, trata-se da diferença entre o quê e

como pensar”. A autora afirma que essa é a melhor forma de atender ao

PAH no ensino fundamental, pois coloca o aluno por um período num grupo

de pares igualmente talentosos e ao mesmo tempo o estudante não perde a

referência da sua turma regular onde estão seus colegas da mesma faixa

etária. Por isso são mais indicados os programas de enriquecimento

realizados em paralelo às aulas. Nesse sentido podemos citar a Sala de

Recursos, que o MEC define como “um espaço destinado ao trabalho

educacional com alunos portadores de necessidades educacionais especiais

integrados em classes regulares, tendo como objetivo aprofundar

conhecimentos que contribuam para o seu desenvolvimento e

aprendizagem, com a utilização de recursos específicos que atendam às

suas necessidades”. Esta é a opção da Secretaria Municipal de Educação

do Rio de Janeiro, que dispõe de salas de recursos para portadores de altas

habilidades em diferentes bairros do município. Os alunos são indicados

para a SR/AH pelos profissionais de ensino da escola que freqüentam

regularmente em consonância com a equipe do Instituto Helena Antipoff –

órgão da SME responsável pela implementação de ações e

acompanhamento escolar dos alunos portadores de necessidades

educacionais especiais e da atualização profissional dos professores

envolvidos com a educação especial no município. As SR/AH funcionam

dentro de escolas regulares da rede de ensino, e reúnem alunos de várias

escolas próximas, formando assim um grupo com diferentes idades, séries e

habilidades. O trabalho na sala de recursos se dá duas vezes por semana

no horário oposto ao da turma regular as quais os alunos pertencem, e tem

como proposta desenvolver atividades e situações que propiciem a auto-

realização do aluno, a otimização de suas potencialidades, o

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desenvolvimento de suas aptidões e talentos, visando o seu crescimento

pessoal e o reconhecimento de suas limitações e capacidades, bem como a

sua integração e participação no contexto social ao qual pertence. O

professor da sala de recursos promove estudos independentes entre os

alunos e também projetos coletivos onde cada um contribui com suas

habilidades, não perdendo de vista a criatividade e o desafio nas propostas

feitas.

Um programa de enriquecimento também pode ser oferecido fora dos

muros escolares, seriam atividades realizadas sob a coordenação de

bibliotecas, museus, centros de artes etc. Para ilustrar essa forma de

enriquecimento podemos citar o CEDET- Centro de Desenvolvimento do

Potencial e Talentos em Lavras – MG. Este centro é um órgão da Secretaria

Municipal de Educação de Lavras e trabalha em parceria com a

Universidade Federal de Lavras e o Rotary Clube. Os alunos chegam ao

centro, indicados pelas escolas sob a supervisão da equipe do CEDET e a

seguir com a orientação de um “facilitador”, é traçado um plano individual de

enriquecimento para um semestre, levando-se em conta os interesses e

talentos de cada aluno. O CEDET organiza seu projeto pedagógico em três

áreas de enriquecimento: 1- Comunicação, organização e humanidades. 2-

Ciência, investigação e tecnologia. 3- Criatividade, habilidades e expressão.

O centro conta com a participação de “voluntários reconhecidamente

competentes dentro da comunidade” (Guenther e Freeman, 2000) para a

realização do trabalho.

3.3 - Os PAH sem atendimento às suas necessidades

educacionais especiais

Se pensarmos principalmente nos alunos da rede pública de ensino,

que são provenientes na sua maioria de setores menos privilegiados da

população, são preocupantes as conseqüências que podem advir do

desconhecimento ou preconceito dos profissionais de educação em relação

ao PAH. Estes podem optar por evadir-se da escola ou até utilizar suas

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habilidades para fins anti-sociais, pois os alunos mais privilegiados

provavelmente encontrarão apoio e recursos fora da escola para atender às

suas necessidades.

Segundo Novaes, há casos de pessoas superdotadas e talentosas

que abdicam de suas potencialidades para não criarem problemas para os

pais, professores e colegas passando a comportar-se de forma

estereotipada, com uma produção medíocre a fim de não serem

discriminados pelo seu grupo social.

Guenther e Freeman (2000), fazem uma análise do comportamento

de alguns professores quando estão frente a um aluno PAH em turma,

segundo os autores, estes professores podem ter reações do tipo: lidar com

cada situação na base do que for acontecendo no dia-a-dia, o professor

reage a cada situação (indisciplina, não realização das tarefas etc) como se

fosse um evento isolado, ou pode reagir percebendo que tem algo diferente

naquele aluno e encaminhá-lo para o psicólogo ou psicopedagogo,

indicando assim que o “problema” está no estudante, o qual precisa

aprender a não ser tão diferente e que nada pode ser feito na escola.

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CONCLUSÃO

As dificuldades da educação em fazer frente à inclusão e às

demandas dos alunos, considerando suas diferenças, tem origens históricas.

Inicialmente, pensava-se que as escolas deveriam ser para as crianças do

sexo masculino e numa menor escala para o sexo feminino, para as elites

em detrimento das massas, para os considerados da população majoritária

com alto status político, religião ou econômico e não para os grupos

minoritários. Ainda como reflexo desta época, muitas vezes e veladamente, é

defendida a idéia de que a educação deve investir mais no “bom aluno”, ou

seja, naquele que demonstra ser o mais bem educado, mais respeitoso com

o professor, que mais rapidamente reproduz o que lhe é ensinado e que não

questiona.

Toda sala de aula é um conjunto de crianças diferentes umas das

outras, porque, em principio, todas as pessoas são diferentes umas das

outras. Tudo indica que quanto mais diversificada é uma sala de aula, maior

é o nível de estimulação mental no grupo, mais ampla e abrangente a

oportunidade de interação entre os participantes e maior oportunidade para

vivências no processo da Educação, no que toca à formação da pessoa,

embora os ritmos e características pessoais possam, certamente, dificultar a

execução de tarefas coletivas e processos unificados de dispensar instrução.

Em qualquer hipótese, porém, quando falamos em sala de aula regular, o

que vem à mente é um grupo natural de crianças, próximas em idade, e por

isso talvez próximas também em experiência de vida, mas sempre muito

diferentes entre si individualmente. E o PAH difere especialmente dos demais

companheiros de turma pela sua condição de quem utiliza diferentes

caminhos para responder aos desafios, ele mais parece com alguém que se

contrapõe às expectativas. Muitas vezes o indivíduo que sai melhor na

escola não é o mais inteligente, mas o que consegue adaptar-se melhor ao

que a escola espera dele.

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Uma criança com capacidade superior à capacidade média do grupo,

seja em inteligência, criatividade, ou um talento específico, poderá ter

dificuldade em “acompanhar a turma”. Normalmente rápidos e ávidos de

conhecimentos, acabam perdendo o interesse pelas atividades comuns da

programação e às vezes tornam-se indisciplinados, não se submetendo às

ordens do professor, tornam-se esquivos; podem apresentar aproveitamento

insatisfatório, chegando a evasão ou a assumir o papel de líder negativo.

Tomando como exemplo o aluno de perfil acadêmico – aquele que aprende

com rapidez, este é facilmente esquecido pelo professor que dispensa maior

atenção àquele aluno que não consegue completar as tarefas pedidas. Para

preencher o tempo vazio, algumas crianças vão se voltar para si mesmas,

alienar-se voluntariamente do que está acontecendo na sala ao seu redor,

divagar, distrair-se, deixar passar o tempo, não raro perdendo todo o

interesse pelo trabalho escolar, e baixando sua produção ao mínimo

necessário para “ir levando”. Outros vão simplesmente preencher o tempo

vago com atividades estranhas à tarefa que está sendo desenvolvida como:

brincadeiras, movimentação sem objetivo, indisciplina ou qualquer outro

comportamento que lhe possa trazer alguma estimulação extra, e assim

espantar o tédio.

A preocupação com a educação do aluno PAH resulta na

preocupação com a educação do aluno em geral, as crianças

independentemente do seu potencial, apresentam as mesmas necessidades

de carinho, proteção, segurança, interação com o grupo, aceitação, respeito,

confiança e oportunidades de auto-realizacão.

O professor desempenha papel de grande importância no processo

educativo, não havendo, necessariamente, professores de superdotados.

Este envolvimento do educador com seus alunos é muito importante, assim

como, é importante que o superdotado sinta que é atendido como pessoa,

não deve ser considerado como algo “sui generis”. O professor, além de

possuir boa formação profissional, deve ser: sensível, encorajador, coerente

nas suas atitudes e flexível, adaptando-se às situações novas.

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Para conviver bem com o superdotado em classe, é preciso, antes de

mais nada, aceitá-lo e, como tal, assumir os próprios limites, a fim de poder

ser disponível e sensível às suas solicitações, mas firme em suas

proposições; não significa competir nem medir forças com o aluno, mas

conquistar uma relação de ajuda e de apoio que poderá trazer grande

benefício para ambos. Não exigir e não esperar muito deve igualmente ser

considerado, uma vez que um dos problemas do relacionamento é

justamente a resposta inadequada ao superdotado, sempre pressionado

pelas exigências e expectativas dos professores, que se somam às já feitas

pelos pais. Comentários como: “tal aluno deve tirar notas boas porque é

superdotado”; “ele tem obrigação de ser o primeiro da turma porque é

inteligente” fazem com que o aluno abdique e desista de seus talentos e

aptidões, uma vez que, por tê-los, tem mais preocupações e obrigações do

que os outros colegas. Alguns professores ao constatarem que têm um

aluno mais inteligente ou talentoso do que os outros colegas da classe,

freqüentemente, passam a exibi-lo, ou a protegê-lo, distinguindo-o dos

demais e prejudicando suas relações.

Se acreditarmos que as pessoas bem dotadas nascem assim e que

não é necessário fazer algo para influenciar o seu desenvolvimento,

estaremos impedindo a facilitação do processo dinâmico, no qual a

capacidade inata está em constante e contínua interação com o ambiente, e

que a força dessa interação vai determinar a extensão da capacidade que o

aluno pode desenvolver.

Muitas pessoas confundem democratização de ensino com igualdade

traduzida por identidade de oportunidades. Acham que as oportunidades têm

de ser as mesmas, quando o próprio princípio básico da Lei de Diretrizes e

Bases explicita: iguais oportunidades, ao nível das diferentes possibilidades,

habilidades e aptidões. A realidade tem mostrado que a qualidade da

inclusão dos PAH apresenta muitas lacunas e que podemos estar

desperdiçando importante potencial humano.

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ANEXO 1

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ANEXO 2

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ATIVIDADES CULTURAIS

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I 10

QUEM SÃO OS MAIS INTELIGENTES? 10

1.1 – Um pouco de história 11

1.2 – Conceitos de inteligência 12

1.3 – Os testes de inteligência 13

1.3.1 – A validade dos testes de inteligência 13

CAPÍTULO II 15

IDENTIFICANDO OS PORTADORES DE ALTAS HABILIDADES 15

2.1 – Conceito de Altas Habilidades 16

2.2 – Características dos Portadores de Altas Habilidades 18

2.2.1 – Equívocos relativos às características 20

2.3 – Formas de identificação do PAH no contexto escolar 21

2.4 – Questões de gênero do PAH 23

CAPÍTULO III 26

ATENDENDO O PORTADOR DE ALTAS HABILIDADES 26

3.1 – Política educacional 27

3.2 – Formas de atendimento educacional ao PAH 29

3.2.1 – Segregação 30

3.2.2 - Aceleração 31

3.2.3 - Enriquecimento 32

3.3 – Os PAH sem atendimento às suas n.e.e. 34

CONCLUSÃO 36

ANEXOS 39

BIBLIOGRAFIA 43

ATIVIDADES CULTURAIS 45

ÍNDICE 46

Page 47: UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … COIMBRA DE ALMEIDA PAIVA.pdf · portadores de altas habilidades, termo que vem substituir o que antes se ... a origem dos traços

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

Pós-Graduação “Lato Sensu”

Título da monografia: O Portador de Altas Habilidades, um desconhecido?

Data da entrega: ...........................

Avaliado por : ________________________________ Grau: ____________

Rio de Janeiro, ___ de _____________ de 2004.