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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES POS- GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A JUSTIÇA DO TRABALHO E A EMANDA CONSTITUCIONAL 45/2004 Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito para obtenção do grau de especialista em Direito e Processo do Trabalho. Por: Daniel Aguete Casado Matr. K 215297 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

POS- GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A JUSTIÇA DO TRABALHO E A EMANDA CONSTITUCIONAL 45/2004

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito para obtenção do grau de especialista em Direito e Processo do Trabalho.

Por: Daniel Aguete Casado

Matr. K 215297

2010

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AGRADECIMENTO

Primeiramente a Deus e a minha família. Aos Professores, amigos e colegas que ajudaram de alguma forma.

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a todos que contribuíram de alguma forma, em especial a meu filho.

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RESUMO

A Emenda Constitucional nº 45/2004 alterou o artigo 114 da Constituição

Federal, ampliando significativamente a competência da Justiça do Trabalho.

A mais notável inovação esta em sua competência material para lides oriundas

da relação de trabalho, tendo em vista que, anteriormente, o texto constitucional referia-

se a “dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores”. Ou seja, sua

competência se restringia a apreciar somente lides decorrentes da relação de emprego,

que é espécie do gênero relação de trabalho, e só poderia apreciar outras controvérsias

decorrentes da relação de trabalho quando houvesse previsão legal.

Desta forma, a Justiça do Trabalho passou a ser competente para julgar todos os

litígios decorrentes das relações de trabalho humano, porém, após seis anos do advento

da EC nº 45/2004, essa ampliação da competência não tem refletido um aumento da

demanda da Justiça Trabalhista, conseqüência da dificuldade em definir as lides

oriundas da relação de trabalho e relação de consumo, tanto pelos advogados como

pelos operadores do direito.

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METODOLOGIA

Primeiro irei situar no tempo como e porque surgiu o direito do trabalho e da

necessidade da Reforma do Judiciário e o surgimento da Emenda Constitucional

45/2004 ampliando a competência da Justiça do Trabalho para as lides oriundas da

relação de trabalho, e não para as relações de emprego.

Definindo as relações de trabalho e de consumo tentando entender porque não houve o

aumento esperado da demanda na Justiça do Trabalho, através da consulta a doutrina

existente

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SUMARIO

INTRODUÇÃO

CAPITULO I - A história do Direito do Trabalho

CAPITULO II – A história do Direito do Trabalho no Brasil

CAPITULO III - A função do Direito do Trabalho

CAPITULO IV - A competência da Justiça do Trabalho

CAPITULO V - A competência ampliada para ações trabalhistas

CAPITULO VI - O procedimento aplicável às novas relações de trabalho

CAPITULO VII – A Jurisprudência.

BIBLIOGRAFIA

FOLHA DE AVALIAÇÃO

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INTRODUÇÃO

A Justiça do Trabalho, historicamente e até 1988, limitava-se à soluções das

controvérsias existentes entre empregados e empregadores. Com o advento da

Constituição de 1988, a expressão “empregados” foi substituída por “trabalhadores”,

mas tal fato passou desapercebido pela jurisprudência, e também pela doutrina

majoritária, não tendo tal alteração provocado qualquer mudança significativa no que

concerne à competência da Justiça do Trabalho.

Em 2004, após longo tramite no Congresso Nacional, foi promulgada a Emenda

Constitucional nº 45, que alem de incrementar uma grande reformulação na estrutura do

Poder Judiciário como um todo, implementou significativas alterações na competência

da Justiça do Trabalho.

Como era de se esperar, tais alterações causaram muitas dúvidas na comunidade

jurídica, provocando muitas discussões acerca da profundidade e alcance das mudanças

ocorridas, principalmente em torno da controvérsia entre relação de trabalho, relação de

emprego e relação de consumo.

O aumento da demanda na Justiça Trabalhista em função da nova competência

para apreciar e julgar ações oriundas das relação de trabalho, talvez em face dessas

dúvidas, não tenha alcançado o volume previsto inicialmente.

Para entendermos essa problemática de competência, inicialmente vamos traçar

um breve histórico da evolução da Justiça do Trabalho ao longo do tempo, não só no

Brasil, mas também em outros países, a fim de se facilitar o entendimento da

competência da Justiça do Trabalho no Brasil dentro do contexto histórico na qual se

encontra inserida. Refletindo a necessidade de acompanhar o progresso social,

adequando, as leis e o próprio Judiciário a evolução social.

Após, afaremos um abordagem no que concerne a relação do trabalho, relação

de emprego e relação de consumo, a fim de entendermos o alcance da alteração

promovida pela EC nº 45/2004 e o por que até o momento, quase seis anos depois do

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advento, a emenda não logrou a ampliação pretendida. Tal realidade deve-se ao

despreparo dos advogados, ou dos operadores do direito? Ou, simplesmente, o

entendimento predominante na comunidade jurídica, é o esposado por Sérgio

Bermudes, citado na obra de Roberto Norris, mencionada adiante, no sentido de que a

Emenda Constitucional ao adotar a expressão relação de trabalho estaria indicando a

relação de emprego utilizando-se para isso, de uma interpretação restritiva por conta da

finalidade da função jurisdicional na esfera trabalhista. Ou ainda, no entendimento de

Arion Sayon Romita, no artigo citado adiante, uma parte da magistratura trabalhista

entende que ações interpostas por trabalhadores autônomos, como profissionais liberais

e outros, tratam-se de relações de consumo e por isso rejeitam a competência da Justiça

Trabalhista para julgar essas pretensões, e com esse entendimento curto, desprestigiam a

Emenda Constitucional no seu esperado efetivo ampliativo da competência da Justiça

Trabalhista.

Finalizando, abordaremos o procedimento aplicável às novas relações de

trabalho, entendendo desta forma, ao elasticimento da competência da Justiça

Trabalhista contemplada com Emenda Constitucional nº 45/2004.

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CAPÍTULO I

História do Direito do Trabalho

A evolução do trabalho se deu sob percalços, com avanços e recuos. Houve

adaptações, ajustes e flexibilização.

A história do trabalho humano é uma terrível história. Não tinha limite de

horário ou esforço. Era permitida ao senhor dos escravos: tortura, suplício, amputações,

mutilações, sevícias diversas, abusos de toda ordem.

Em determinado momento da história, a escravidão deixou de ser um fundamento

político para servir a interesses econômicos. E então, famílias inteiras, e até mesmo aldeias

e tribos eram seqüestradas para a comercialização no mercado da escravidão.

Ao longo da história universal, violações à dignidade e integridade dos homens,

mulheres e crianças foram se sucedendo sob pretextos variados.

1.1 - Sociedade pré-industrial:

Na sociedade pré-industrial, não havia um sistema de normas jurídicas de direito

do trabalho. Predominou a escravidão, onde o trabalhador não tinha personalidade

jurídica, era considerado “res” e não “persona”.

Não diferiu muita a servidão, onde os trabalhadores não tinham uma condição

livre embora recebesse certa proteção militar e política prestada pelo senhor feudal,

dono das terras. Os trabalhadores eram obrigados a trabalhar nas terras pertencentes aos

seus senhores.

Na Idade Média, com as corporações de ofício, as características das relações de

trabalho ainda não permitiam a existência de uma ordem jurídica.

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No entanto, houve uma transformação: a maior liberdade do trabalhador, pois

cada corporação tinha um estatuto com algumas normas disciplinando as relações de

trabalho.

Na verdade, as corporações mantinham com o trabalhador uma relação

autoritária, que se destinava mais à realização de interesses do que à proteção dos

trabalhadores.

Ainda na sociedade pré-industrial, acrescente-se a locação, que se desdobra em

locação de serviços (locatio operarum): contrato pelo qual uma pessoa se obriga a prestar

serviços durante certo tempo à outra mediante remuneração – e locação de obra ou

empreitada (locatio operis faciendi), que é o contrato pelo qual alguém se obriga a executar

uma obra a outra pessoa mediante remuneração.

1.2 - Sociedade industrial e trabalho assalariado:

O Direito do Trabalho nasceu com a sociedade industrial e o trabalho

assalariado. Razões econômicas, políticas e jurídicas determinaram o seu aparecimento.

A Revolução Industrial do século XVIII acabou transformando o trabalho em

emprego. Com a expansão da indústria e do comércio, houve a substituição do trabalho

escravo, servil e corporativo pelo trabalho assalariado em larga escala, do mesmo modo

que a manufatura cedeu lugar à fábrica e, mais tarde, à linha de produção. Os

trabalhadores, de maneira geral, passaram a trabalhar por salários.

Entretanto, a chegada das máquinas causou um grande desemprego e revolta, pois

com o rápido desenvolvimento das indústrias, a mão-de-obra foi sendo absorvida, mas em

condições adversas para o trabalhador.

Dentre os aspectos políticos, o mais importante foi à transformação do Estado

Liberal e da plena liberdade contratual em Estado Neoliberalista. No Estado Liberal, o

capitalista poderia impor livremente as suas condições ao trabalhador sem a interferência

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do Estado. No Estado Neoliberalista, o Estado intervém na ordem econômica e social

limitando a liberdade plena nas partes da relação de trabalho.

No aspecto jurídico, os trabalhadores reivindicaram através dos sindicatos que os

representaram um direito que os protegesse, em especial o reconhecimento do direito de

união.

Na medida em que o direito de associação passou a ser tolerado pelo Estado,

resultou: o sindicalismo; o direito de contratação, que se desenvolveu em dois âmbitos, o

coletivo com as convenções coletivas de trabalho e o individual, com a idéia do contrato de

trabalho; e o direito a uma legislação em condições de coibir os abusos do em pregador em

relação ao empregado, a fim de preservar a dignidade do homem no trabalho.

Para essas modificações, contribuiu decisivamente a idéia de justiça social, cada

vez mais difundida como reação contra a questão social.

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CAPÍTULO II

História do Direito do Trabalho no Brasil

O Direito no Brasil sofreu influências externas e internas. Dentre as influências

advindas de outros países, as transformações que ocorriam na Europa e a crescente

elaboração legislativa de proteção ao trabalho em muitos países foram as que de certo

modo mais exerceram pressão no sentido de levar o Brasil a elaborar leis trabalhistas.

Também pesou o compromisso internacional assumido pelo nosso país ao

ingressar na Organização Internacional do Trabalho (OIT), criada pelo Tratado de

Versalles (1919), propondo-se a observar normas trabalhistas.

Internamente, imigrantes com inspirações anarquistas participaram do movimento

operário, caracterizado por inúmeras greves em fins de 1800 e início de 1900; o surto

industrial, efeito da Primeira Grande Guerra Mundial, com a elevação do número de

fábricas e de operários; e a política trabalhista de Getúlio Vargas, em 1930.

2.1 – Constituições Brasileiras:

Inicialmente, as Constituições brasileiras versavam apenas sobre a forma do

Estado e o sistema de governo. Posteriormente, passaram a tratar de todos os ramos do

Direito.

A Constituição de 1824 apenas tratou de abolir as corporações de ofício (artigo

179, XXV), pois deveria haver liberdade do exercício de ofício e profissões.

A Constituição de 1891 reconheceu a liberdade de associação em seu artigo 72,

§8º, que na época tinha caráter genérico, determinando que a todos eram lícitas a

associação e a reunião, livremente e sem armas, não podendo a polícia intervir, salvo

para manter a ordem pública.

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Posteriormente, a Constituição brasileira de 1934 veio a tratar especificadamente

do Direito do Trabalho. Teve influência do constitucionalismo social.

Citou o pluralismo sindical: a autorização para a criação, na mesma base

territorial, de mais de um sindicato da mesma categoria profissional ou econômica,

enquanto as demais adotariam o princípio do sindicalismo único; a isonomia salarial; o

salário mínimo; jornada de oito horas de trabalho; proteção do trabalho das mulheres e

dos menores; repouso semanal; férias anuais remuneradas.

A Constituição Brasileira, outorgada em 10 de novembro de 1937, conferiu

poderes ao Presidente da República para expedir decretos-leis sobre todas as matérias de

competência legislativa federal enquanto não se reunisse o Parlamento Nacional.

Esta Constituição expressou a concepção política do Estado Novo e as restrições

que impôs ao movimento sindical, segundo uma idéia de organização da economia pelo

Estado, com um Conselho Nacional de Economia, com o enquadramento dos sindicatos

em categorias declaradas pelo Estado, nas quais foi proibido mais de um sindicato

representativo dos trabalhadores; e ainda, a proibição da greve como um recurso anti-

social e nocivo à economia e a continuidade da elaboração de leis trabalhistas de modo

amplo.

Já a Constituição de 1946 foi considerada uma norma democrática, rompendo

com o corporativismo da constituição anterior. Acolheu princípios liberais na ordem

política, restabeleceu o direito de greve, mas conservou as mesmas diretrizes, na medida

em que não respaldou o direito coletivo do trabalho.

Vale destaque o fato de que, nesta Constituição, a Justiça do Trabalho sofreu

uma transformação deixando de ter natureza administrativa para ser um órgão do poder

Judiciário.

A Constituição de 1967 mostrou os objetivos dos governos militares iniciados

em 1964 e introduziu o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, que já havia sido

criada por lei ordinária em 1966.

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Por fim, a Constituição de 1988, onde os direitos trabalhistas foram incluídos no

Capítulo II, “Dos Direitos Sociais”, do Título II, “Dos Direitos e Garantias

Fundamentais”, ao passo que nas constituições anteriores os direitos trabalhistas sempre

estiveram inseridos no âmbito da ordem econômica e social.

Esta Constituição valorizou o direito coletivo com a proibição da interferência

do Poder Público na organização sindical, e manteve o sistema do sindicato único,

iniciando deste modo, uma tentativa de ampliação dos espaços do movimento sindical.

A sociedade brasileira, após a promulgação de 1988, compreendeu o alcance das

novas regras que valorizam o pleno exercício da cidadania e a extensão de novos

direitos que ali foram consagrados, mobilizando-se, ainda que desordenadamente, para

exigir do poder público que transformasse em realidade os princípios e preceitos

solenemente enunciados.

De outra parte, a magistratura nacional pôs-se a reformular antigos conceitos e

caminhar na direção desejada pelos cidadãos conscientes, de modo a se adequar à nova

concepção de justiça.

O Poder Judiciário procurou modernizar-se, investindo em novas tecnologias,

buscando a racionalização de seus procedimentos e serviços, tornando-se mais ágil e

eficiente.

Os juízes, por sua vez, precisaram se desvencilhar de certos tabus e romper com

seu hermetismo, passando a interagir com os demais segmentos da sociedade, para poder

melhor compreender os anseios de seus jurisdicionados.

2.2 – Primeiras Leis Ordinárias:

As primeiras Leis Ordinárias surgiram no final de 1800 e começo de 1900 como

leis esparsas e trataram de temas como: trabalho de menores, em 1891, organização de

sindicatos rurais, em 1903, e urbanos, em 1891, férias, em 1925, Ministério do Trabalho,

Indústria e Comércio, em 1930, relações de trabalho de cada profissão (decretos a partir de

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1930), trabalho das mulheres, em 1932, nova estrutura sindical, em 1931, convenções

coletivas de trabalho, em 1932, Justiça do Trabalho, em 1939 e salário mínimo, em 1936.

2.3 – Consolidação das Leis do Trabalho:

As disposições anteriores a CLT foram por ela revogadas. Perderam a vigência

as disposições de emergência e as demais normas transitórias, com a cessação das

causas que as fizeram nascer. Restaram somente alguns diplomas, de aplicação restrita a

certas áreas.

A comissão que elaborou a CLT foi presidida pelo Ministro Alexandre

Marcondes Filho. A Consolidação das Leis do Trabalho passou a vigorar em 10 de

novembro de 1943, trouxe a sistematização das leis esparsas existentes na época,

acrescidas de novos institutos criados pelos juristas que a elaboraram.

Não se tratou de um Código, com leis novas. Foi, na verdade, uma reunião de

leis existentes. A Consolidação das Leis do Trabalho foi um marco em nosso

ordenamento jurídico, fruto da necessidade de renovação do País assumida por Getúlio

Vargas.

Havia a Lei n. º 62, de 1935, que se aplicava a industriários e comerciários, e

ainda inúmeros decretos sobre direitos específicos de cada profissão, mas a CLT foi a

primeira Lei geral aplicada a todos os empregados, sem distinção entre a natureza do

trabalho técnico, manual ou intelectual.

Todavia, com o passar dos anos, a CLT tornou-se obsoleta. Surgiu a necessidade

da modernização das leis trabalhistas, especialmente para promover as normas sobre

direito coletivo, dentre as quais: as de organização sindical, negociação coletiva, greve e

representação dos trabalhadores na empresa, setores que a CLT não valorizou.

2.4 – Leis posteriores:

Diversas leis posteriores foram promulgadas, na medida em que se renovaram as

necessidades de regulamentação das relações entre os grupos sociais e as pessoas.

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Cite-se, por exemplo: a Lei n. º 605, de 1949, sobre repouso semanal

remunerado; a Lei n. º 4090, de 1962, sobre gratificação natalina ou décimo terceiro

salário, ambas ainda em vigor. E outras que foram alteradas, substituídas por leis

posteriores, como a Lei da Greve, de 1964 e a Lei do fundo de Garantia do Tempo de

serviço, de 1966.

2.5 - A Constituição de 1988:

Foi constituída a Assembléia Nacional Constituinte, como conseqüência do

processo de consolidação da democracia, que se propôs a modificar a ordem

constitucional existente no país, alterando-a segundo princípios econômicos, políticos e

sociais da Nova República.

Sua estrutura diferiu por completo das constituições anteriores. Foi uma

“Constituição Cidadã”, na expressão de Ulysses Guimarães, presidente da Assembléia

Nacional Constituinte que a produziu considerando a ampla participação popular em sua

elaboração e porque ela se volta para a plena realização da cidadania.

Os temas trabalhistas foram confiados à Subcomissão dos Direitos dos

Trabalhadores e Servidores Públicos, que elaborou um projeto que, apesar de pecar pela

inobservância de um critério técnico-jurídico, foi amplo de direitos sociais.

Dispôs, dentre outros temas, sobre: a jornada semanal de 40 horas, a estabilidade

no emprego, após um contrato de experiência de 90 dias; a participação do empregado

nos lucros da empresa; a igualdade de direitos de trabalhadores em geral: urbanos,

rurais, domésticos, servidores públicos federais, estaduais e municipais; à greve ampla,

geral e irrestrita; e diversos direitos de trabalhadores domésticos e outros.

Na Constituição de 1988 estão previstas várias regras gerais de direito

constitucional que são aplicáveis ao direito do trabalho, como por exemplo: o artigo 5º,

incisos XXXVI, LXXI.

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Com a Constituição de 1988, fez-se necessária a aprovação de leis

infraconstitucionais, iniciada pela regulamentação do direito a greve através da Lei n. º

7783, de 28.06.1989.

Entretanto, em alguns casos, a regulamentação foi incompleta e diversos

dispositivos importantes não foram seguidos por leis complementares e

infraconstitucionais, como, por exemplo, no caso do artigo 7º, inciso I, que prevê a

proteção contra a dispensa arbitrária ou sem justa causa.

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CAPÍTULO III

Funções do Direito do Trabalho

A necessidade de proteção ao trabalhador com o objetivo de se alcançar a

“justiça social” vem sendo defendida ao longo da história como discorrido acima.

Na nova era das relações de trabalho no Brasil a CLT constitui o texto

legislativo básico do Direito do Trabalho, enriquecido pela legislação complementar e

pela Constituição Federal.

O Direito do Trabalho é um conjunto de princípios, regras e instituições

atinentes à relação de trabalho subordinado e situações análogas, visando assegurar

melhores condições de trabalho e sociais ao trabalhador, de acordo com as medidas de

proteção que lhe são destinadas.

Representa ainda uma atitude de intervenção jurídica para a estruturação das

instituições sociais e para o melhor relacionamento entre o homem que trabalha e aqueles

para os quais o trabalho é destinado.

Trata-se de uma legitima manifestação da ordem jurídica, visando a defesa de

direitos básicos do trabalhador: como o direito a um salário, ao descanso diário, semanal

e anual, à proteção a integridade física e saúde com a reparação econômica dos danos

que suportar pelo exercício do trabalho.

São funções do direito do trabalho:

3.1. Função tutelar:

O direito do trabalho cumpre uma função tutelar na medida que protege o

trabalhador, considerado hipossuficiente diante do poder econômico, para que ele não

seja por este absorvido. Tutela esta que se faz mediante leis que o Estado elabora ou

poderes reconhecidos aos sindicatos restritivos da autonomia individual.

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3.2. Função econômica:

O direito do trabalho visa à realização de valores econômicos, de modo que toda

e qualquer vantagem atribuída ao trabalhador deve ser precedida de um suporte

econômico sobre o qual nada lhe poderá ser atribuído, respeitado o bom senso que deve

predominar na relação.

3.3. Função conservadora ou opressora do Estado:

É uma força que o Estado sempre se utilizou, desde os tempos em que se falava

em legislação industrial, para sufocar os movimentos operários.

Neste caso, as leis trabalhistas teriam a função de aparentar a disciplina da

liberdade, pois, na verdade, estaria restringindo a autonomia privada coletiva, visando o

impedimento das iniciativas que embora legítimas, pudessem significar de algum modo à

manifestação de um poder de organização e de reivindicação dos trabalhadores.

3.4. Função social:

O direito do trabalho é um meio de realização de valores sociais, em especial na

preservação de um valor absoluto e universal: a dignidade do ser humano que trabalha.

Função esta prestigiada pela Constituição Federal, que em seu artigo 6º, define o

trabalho como direito social, embora não traga nem neste, nem no artigo 7º uma norma

expressa conferindo o direito ao trabalho. Este, porém, pode ser observado face ao

conjunto de normas da Constituição sobre o trabalho.

Assim, no artigo 1º, IV, da Constituição Federal, se declara, entre outros, que os

valores sociais do trabalho é fundamento da República Federativa do Brasil; o artigo 170,

da Carta Magna estatui que a ordem econômica funda-se na “valorização do trabalho”, e,

ainda, o artigo 193, dispõe que a ordem social tem como base o “primado do Trabalho”.

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3.5. Função coordenadora:

O direito do trabalho destina-se a coordenar os interesses entre o capital e o

trabalho de forma coerente, ainda que através de medidas nem sempre caracterizadas como

protecionistas ou tutelares.

O Direito do Trabalho é a expressão do humanismo jurídico e a arma de

renovação social pela sua identificação total com as necessidades e aspirações concretas do

grupo social diante dos problemas decorrentes da questão social.

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CAPITULO IV

COMPETENCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

4.1. Evolução

A competência da Justiça do Trabalho encontra-se inserida no Direito Processual

do Trabalho. Portanto, faz-se necessário um estudo de sua origem e de seu

desenvolvimento no decorrer da historia para que haja melhor compreensão do tema nos

dias atuais. Como afirma NASCIMENTO, Amauri Mascaro, 2001, p29, “é difícil fixar

com precisão as origens da Jurisdição trabalhista”. Contudo, a doutrina, através da

pesquisa, fornece alguns dados de onde é possível extrair algumas conclusões.

De inicio o Estado ordenou ás partes em conflito que se reunissem e discutissem

suas reivindicações para que chegassem a um acordo sobre a volta ao trabalho. Essa

primeira medida, que se chamava conciliação obrigatória, não produziu so resultados

almejados, passando o Estado à fase de mediação, designando um representante seu para

participar das discussões como mediador. Dessa forma, surgiu o Direito Processual do

Trabalho como meio de solucionar os dissídios. Pode-se dizer que o direito processual do

trabalho nasceu em momentos diferentes em cada pais.

No Brasil efetivamente em 1922, foram criados em São Paulo, pela Lei Estadual nº

1869, de 10 de outubro, os Tribunais Rurais que foram os primeiros Tribunais Trabalhistas

criados no Brasil, com o sistema paritário. Tinham como objetivo resolver controvérsias

decorrentes de salários e de interpretação e execução de contratos de serviços agrícolas, até

o valor de quinhentos mil reis. Sua composição era um Juiz de Direito da comarca e dois

outros membros, um designado pelo trabalhador e outro pelo fazendeiro.

Em 1932 foram criadas as Comissões Mistas de Conciliação, e as Juntas de

Conciliação e Julgamento, aquelas com competência para dirimir os dissídios coletivos e

estas os dissídios individuais. As Juntas de Conciliação e Julgamento não tinham

autonomia nem faziam parte do Poder Judiciário e suas decisões poderiam ser modificadas

pelo Ministério do Trabalho, que tinha o poder de avocar qualquer processo, a pedido do

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interessado, desde que houvesse parcialidade dos julgadores ou violação do direito. As

Juntas eram instância única de julgamento, mas suas decisões eram executadas pela Justiça

Comum.

As Comissões Mistas de Conciliação foram instituídas com a incumbência de

julgar os dissídios coletivos, para apreciar, decidir e interpretar as questões oriundas das

convenções coletivas. As partes tinham a faculdade de aceitar ou não as decisões das

comissões. Se aceitassem, era emitido um laudo arbitral e esta era enviado para o Ministro

do Trabalho, onde era guardado para o cumprimento da decisão. Caso as partes não

aceitassem as decisões das Comissões, o dissídio coletivo era levado ao Ministro do

Trabalho para que este desse a solução. O Ministro poderia nomear comissão especial

para proferir laudo sobre o dissídio. Tais Comissões pertenciam ao poder executivo, não

integrando o Poder Judiciário. Os juízes não tinham independência para julgar os

dissídios, pois eram demissíveis as nutum.

Como já tratamos no Capitulo anterior, somente em 1939 a Justiça do Trabalho

ganha autonomia, pelo Decreto-Lei nº 1.237, e passou a ter poder de executar suas próprias

decisões. Não foi incluída como ramo do poder judiciário, mas sua função jurisdicional

foi reconhecida. Foi dividida em três instancias: As juntas de Conciliação e Julgamento ou

Juízes de Direito, sendo estes nas localidades onde não existiam as Juntas; os Conselhos

Regionais do Trabalho, que eram os órgãos de segundo grau, com sede nas grandes

capitais, e o Conselho Nacional do Trabalho, que era órgão de cúpula e correspondia ao

atual TST.

As Juntas eram compostas de um Presidente bacharel em Direito, nomeado pelo

Governo, e dois vogais, representantes dos empregados e dos empregadores. Tinham a

competência para conciliar e julgar os dissídios individuais entre empregadores e

empregados, bem como os contratos de empreiteiro operário ou artífice.

Os Conselhos Regionais tinham a competência para julgar os recursos das decisões

das Juntas e, originalmente, os dissídios coletivos ocorridos nas respectivas regiões.

Já o Conselho Nacional funcionava como duas câmaras: uma da Justiça do

Trabalho e outra da Previdência Social. Foi instituída a Procuradoria da Justiça do

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Trabalho, funcionando junto ao Conselho Nacional do Trabalho, e as procuradorias

regionais que tinham atribuições para oficiar nos processos e promover medidas diversas.

A Justiça do Trabalho, em 1946, com o Decreto-Lei nº 9.797, passou a integrar o

Poder Judiciário, e em 1999 com a Emenda Constitucional 24, extingui-se a representação

classista, transformando as Juntas de Conciliação em Varas do Trabalho, passando toda a

organização da Justiça do Trabalho para colegiados monocráticos.

A Lei nº 9.957/2000, instituiu o procedimento Sumaríssimo no processo do

trabalho, acrescentando artigos na CLT. NO mesmo ano a Lei nº 9.958 facultou a criação

de Comissões de Conciliação Prévia. Assim , nos locais onde houver esses órgãos, os

empregados devem passar por eles antes de ajuizar a reclamação trabalhista.

A Emenda Constitucional nº 45, publicada em 31/12/2004, determinou profundas

mudanças no Poder Judiciário e deu nova redação ao artigo 114 da Constituição Federal,

de forma a ampliar a competência da Justiça do Trabalho. A esta foi atribuída a

prerrogativa de julgar não apenas os conflitos decorrentes das relações de trabalho

humano, alem dos conflitos entre sindicatos, entre estes e empresários ou empregadores e

ente sindicatos e empregados, os habeas corpus decorrentes de atos dos próprios juízes

trabalhistas, a execução das multas administrativas aplicadas pelos órgãos de fiscalização

do Ministério do Trabalho, a execução fiscal oriunda de acordo ou decisões proferidas em

processos trabalhistas, os conflitos decorrentes de acidentes de trabalho, inclusive quanto à

questão da indenização do dano material e moral entre outros que por força de lei a

competência lhe venha a ser atribuída.

4.2. Competência da Justiça do Trabalho na Emenda Constitucional nº 45/2004

Depois de vários anos tramitando o projeto de reforma do judiciário, nas duas casas

do Congresso Nacional, foi promulgada a Emenda Constitucional nº 45/2004, que trouxe

mudanças significativas no Poder Judiciário, com destaque especial para a Justiça do

Trabalho.

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A competência material da Justiça do Trabalho é estabelecida no art 114 da

Constituição Federal. Antes da reforma trazida pela EC nº 45/2004 o aludido artigo assim

estabelecia:

“ Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho conciliar

e julgar os dissídios individuais e coletivos entre

trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes

de direito publico externo e da administração

publica direta e indireta dos Municípios, do Distrito

Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei,

outras controvérsias decorrentes da relação de

trabalho, bem como os litígios que tenham origem

no cumprimento de suas próprias sentenças,

inclusive coletivas.”

Com a publicação da EC nº 45/2004, o artigo 114 foi profundamente alterado,

passando a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar

e julgar:

I – as ações oriundas da relação de trabalho,

abrangidas os entes de direito publico externo e da

administração publica direta e indireta da União,

dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

II – as ações que envolvam exercício do direito de

greve;

III – as ações sobre representação sindical, entre

sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre

sindicatos e empregadores;

IV – os mandados de segurança, habeas corpus e

habeas data, quando o ato questionado envolver

matéria sujeita à sua jurisdição.

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V – os conflitos de competência entre órgãos com

jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art.

102, I, o;

VI – as ações de indenização por dano moral ou

patrimonial, decorrente da relação de trabalho;

VII – as ações relativas às penalidades

administrativas impostas aos empregadores pelos

órgãos de fiscalização das relações de trabalho;

VIII – a execução, de oficio, das contribuições

sociais previstas no artigo 195, I, a, e II e seus

acréscimos legais, decorrentes das sentenças que

proferir;

IX – outras controvérsias decorrentes da relação, na

forma da lei.”

Ao comparar o novo e o antigo texto, é possível observar que houve uma profunda

modificação, especialmente em relação à competência material especifica da Justiça do

Trabalho, que não se restringe mais a dirimir os conflitos entre trabalhadores e

empregadores, mas também as ações oriundas da relação de trabalho, do trabalhador

autônomo e do profissional liberal.

4.3. Jurisdição e Competência

Jurisdição é a função que tem o Estado de fazer atuar a vontade concreta da lei

diante de uma situação jurídica controvertida. No dizer de Giuseppe Chiovenda:

“Pode-se definir jurisdição como a função do

Estado que tem por escopo a atuação da vontade

concreta da lei por meio da substituição, pela

atividade de órgãos públicos, da atividade de

particulares ou de outros órgãos públicos, já no

afirmar a existência da vontade da lei, já no torná-

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la, praticamente, efetiva.” (CHIOVENDA, 2002,

P.8)

É ao mesmo tempo poder, função e atividade. Como poder, há a manifestação do

poder estatal, decidindo imperativamente e impondo suas decisões. Como função, os

órgãos estatais tem o encargo de promover a pacificação de conflitos entre seus

jurisdicionados, realizando um direito justo e através do processo. Como atividade, é

complexo de atos do juiz no processo, exercendo o poder e cumprindo a função que lhe é

cometida pela lei. O poder, a função e a atividade somente transparecem legitimamente

mediante o devido processo legal.

Diz-se que a jurisdição é uma, sendo indivisível e indelegável. Porem, é repartida,

ou seja, distribuída entre os vários órgãos que a exercem, por questão de ordem prática.

Assim, todos os órgãos e juízes exercem a jurisdição em certos limites. Esse critério de

distribuir as atribuições relativas ao desempenho da jurisdição é denominada competência.

Deste modo, pode-se definir a competência como o conjunto de limites estabelecidos em

lei, dentro dos quais cada órgão do judiciário pode exercer legitimamente a função

jurisdicional.

A competência da Justiça do Trabalho é chamada de especial sendo fixada pelo

critério objetivo em razão da matéria. Portanto, a Justiça do Trabalho que era um justiça

especializada para resolver apenas as causas trabalhistas decorrentes da relação de

emprego, agora teve sua competência ampliada para apreciar, também, as controvérsias

oriundas das relações de trabalho.

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CAPITULO V

COMPETÊNCIA AMPLIADA PARA AÇÕES TRABALHISTAS

5.1. Relação de Trabalho

O conceito de relação de trabalho esta pacificado na doutrina como gênero do qual

derivam as demais espécies. Para Mauricio Godinho Delgado:

“a relação de trabalho tem caráter genérico:

refere-se a todas as relações jurídicas

caracterizadas por terem sua prestação essencial

centrada em uma obrigação de fazer

consubstanciada em labor humano. Refere-se, pois,

a toda modalidade de contratação de trabalho

humano modernamente admissível. A expressão

relação de trabalho englobaria, desse modo, a

relação de trabalho autônomo, a relação de

trabalho eventual, de trabalho avulso e outras

modalidades de pactuação de prestação de labor

9como trabalho de estágio, etc.). Traduz, portanto,

o gênero a que se acomodam todas as formas de

pactuação de prestação de trabalho existentes no

mundo atual.” (Delgado, 2004, p.285).

Para Amauri Nascimento, 2005, p.25, a relação de trabalho compreende os

contratos de atividade nos quais o objeto preponderante do vinculo jurídico é a atividade

da pessoa que presta serviços para outra pessoa jurídica ou física.. É, portanto, gênero. O

tema é por demais, controvertido. Diante da nova competência, debates surgiram que

geraram teorias ampliativas, restritivas e outras nem tanto ampliativas.

Para os adeptos da teoria ampliativa, COUTINHO, Grijalbo Fernandes,

BRANDÃO, Claudio Mascarenhas, na obra adiante mencionada, a competência da Justiça

do Trabalho foi ampliada, alcançando toda e qualquer lide que envolva relação de trabalho.

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Portanto, alcançaria os trabalhadores autônomos, de um modo geral, bem como os

respectivos tomadores de serviço; os corretores, representantes comerciais, representantes

de laboratórios, mestres de obras, médicos, publicitários, estagiários, contratos pelo poder

publico por tempo certo ou por tarefa, consultores, contadores, economistas, arquitetos,

engenheiros, dentre tantos outros profissionais liberais, mesmo que não sejam empregados,

assim com as pessoas que locaram a respectiva mão de obra, quando do descumprimento

do contrato firmado para a prestação de serviços.

No mesmo sentido, DALAZEN, João Orestes, 2004, p. 153 a 155, entende que a

expressão “relação de trabalho” abrange as lides advindas dos contratos de atividade em

geral, desde que se cuide prestação pessoal de serviço a outrem.

A corrente restritiva tem como adepto Jorge Luiz Souto Maior, que analisando o

dispositivo constitucional, afirma não haver distinção entre pessoas físicas ou jurídicas

enquanto realizadoras de trabalho para fins de fixar a competência. Dessa forma, todos os

conflitos em que a prestação de um serviço, ou execução de trabalho, fosse o objeto da

vinculação seriam atraídos para a competência da Justiça do Trabalho, independente da

condição das partes do negocio jurídico realizado. Isso levaria a um absurdo, pois se

constataria que há trabalho em praticamente todas as relações sócias. Assim, restaria para

a Justiça Comum os conflitos decorrentes das relações de família, sucessão, comercio

(sem prestação de serviços), e defesa da propriedade. Dessa maneira, a Justiça do Trabalho

seria a Justiça Comum e a Justiça Comum passaria a ser a Justiça Especial.

Alega o autor, ainda, que o judiciário trabalhista não tem estrutura para comportar

a sobrecarga de trabalho que daí adviria e ampliaria a competência sem antes criar a

estrutura compatível é “matar por asfixia”, sendo que quem morre é o ex-empregado,

verdadeiro paciente da Justiça do Trabalho.

Entretanto, o autor, prevendo que sua opinião não prevalecerá, apresenta uma

interpretação que permite uma ampliação da competência da Justiça Trabalhista de forma

anão eliminar completamente a sua razão de ser, enquanto justiça especializada.

Argumenta que a competência da Justiça do Trabalho limita-se às relações de trabalho que

sejam próximas de uma relação de emprego, donde se possa vislumbrar uma espécie de

exploração do trabalho alheio para a consecução de objetivos determinados. Alguns

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aspectos devem ser necessariamente observados como critérios determinantes dessa

limitação: a pessoalidade na prestação de serviços, ainda que seja pessoa jurídica; a

precariedade empresarial do prestador de serviços, e a exploração da mão de obra para a

satisfação dos interesses empresariais ou econômicos de outrem. Estariam abrangidos por

essa competência o representante comercial; o trabalhador autônomo, cujo trabalho é

explorado economicamente por outrem (como por exemplo, um medico e o hospital; um

advogado e o escritório de advocacia; um escritor e o jornal); o trabalhador autônomo que

presta serviços e que constitui uma atividade empresarial precária (como o encanador, o

jardineiro, o pequeno empreiteiro, etc.).

Autores há que defendem a ampliação da competência de forma comedida. Figura

nessa corrente Amauri Mascaro Nascimento, na obra já citada, ressaltando que há outras

relações que não se confundem com relação de trabalho e desta devem ser separadas. São

elas relação de consumo, relação de mandado e representação, fornecimento, compra e

venda, dentre outras.

Nesse sentido, toda relação de trabalho deve preencher os seguintes requisitos

básicos: profissionalidade, devendo o serviço ser prestado profissionalmente, e não com

outra finalidade; pessoalidade, pois o serviço deve ser prestado diretamente por pessoa

física; a própria atividade do prestador do serviço como objeto do contrato ou a

preponderância destes serviços sobre outros no caso de contratação de resultados, como é

o caso de pequenas empreitadas de serviços. A subordinação não mais define a

competência, pois a Justiça do Trabalho será competente tanto para o trabalho subordinado

como para o trabalho sem subordinação. A eventualidade, também, não define a

competência, porque ambos, os serviços eventuais ou não eventuais são da competência da

Justiça do Trabalho.

Mauricio Godinho Delgado enxerga de forma negativa e mudança trazida pelo

inciso I, do art. 114, da Constituição Federal. Entende que tal ampliação é uma sutil face

negativa incorpora a tradicional cultura de desprestigio ao Direito do Trabalho, fruto de

uma época, em que se acentuou no pais o ideário de descomprometimento do Estado

perante as necessidades sociais. Assim, ao retirar o foco da competência da Justiça do

Trabalho da relação entre trabalhadores e empregadores para a noção genérica e imprecisa

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de relação de trabalho, introduz o artifício dos anos 90 que tinha por objetivo o fim do

emprego e o envelhecimento do Direito do Trabalho.

Ao contrario, outros autores comemoram a ampliação de tal competência. Assim,

no dizer de Claudio Mascarenhas Brandão:

“a ampliação da competência rompe com os

laços do passado, da vetusta Justiça do Emprego,

para tornar-se, verdadeiramente, a Justiça do

Trabalho, melhor ainda, das mais variadas formas

do trabalho humano” (BRANDÃO, 2005, p.55)

Para DALAZEN, João Orestes Dalazen:

“a publicação de Ec nº 45/2004 constitui um

formidável avanço, pois, alem de suprir algumas

graves lacunas relativas à competência para

conflitos trabalhistas típicos, contemplou a Justiça

do Trabalho com um vigoroso e alentador

fortalecimento institucional ao ampliar-lhe

sobremodo a competência material” DALAZEN,

2005, p. 148)

5.2. Relação de trabalho X Relação de consumo

Discute-se na doutrina se a relação entre fornecedores de serviços e o cliente é

relação de consumo ou relação de trabalho, eis aqui um dos motivos pelo qual a demanda

não alcançou o esperado aumento na Justiça do Trabalho, conforme se verifica ao

consultarmos os dados estatísticos do Tribunal Superior do Trabalho.

Parte da doutrina entende que a relação estabelecida entre o fornecedor de serviços

e seu cliente é relação de trabalho, desde que a prestação de serviços seja de forma pessoal.

Outra corrente doutrinária afasta as relações de consumo das relações de trabalho.

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A Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) dispõe, em seu art. 2º, que

“Consumidor é toda pessoa física que adquire ou utiliza produto ou serviço como

destinatário final”. Em seu art. 3° dispõe que “fornecedor é toda pessoa física ou jurídica,

publica ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que

desenvolvem atividades de produção, (...) ou prestação de serviços”. Analisando tal Lei,

pode se abstrair como relação de consumo a prestação de serviços, em que uma pessoa

física ou jurídica assume a obrigação de prestar determinado trabalho em favor do

contratante, mediante retribuição e como destinação final.

Para RIBEIRO JUNIOR, Jose Hortêncio, 2005, p. 241, se houver prestação de

serviços por pessoa física, mesmo havendo relação de consumo, haverá uma relação de

trabalho antecedente e, como tal, deverá estar sujeita à competência da Justiça do

Trabalho. Salienta o autor que o Código de Defesa do Consumidor não possui normas

processuais que definam competências, sendo um instrumento de proteção ao consumidor

e conclui que todas as relações de trabalho que forem contratadas diretamente com o

consumidor final de serviços serão regidas pelo Código de Defesa do Consumidor, pouco

importando a natureza dessas relações de emprego. Para se chegar a tal conclusão o autor

baseia-se na teoria de que a Constituição tem como regra a competência em razão do labor

e não em razão da matéria. Assim, as relações civis e comerciais tem como norma tutelar o

Código de Defesa do Consumidor, sem que isso afete o campo da determinação da

competência.

SUSSEKIND, Arnaldo, 2004, p.41, afirma de forma induvidosa que o profissional

liberal que na qualidade de pessoa física, se obriga a prestar determinado serviço ao

contratante, estabelece típica relação de trabalho.

Já par PEIXOTO, Bolivar Viegas, 2005, p. 792, não se deve confundir a relação de

trabalho com a prestação de serviços. Naquela o trabalhador se propõe a dar a sua força

física a outrem de forma remunerada. Nesta alguém busca um estabelecimento

empresarial que se propõe a prestar certos tipos de serviços à população, aleatoriamente,

como por exemplo, os profissionais liberais. Assim, são profissionais liberais o medico, o

advogado, o dentista, dentre outros, e seus serviços não tem relação de trabalho, mas de

relação de consumo.

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Vejamos algumas distinções básicas para se entender que a prestação de serviços

por trabalhador autônomo gera uma relação de trabalho, não a uma relação de consumo:

5.2.1. Os Sujeitos

Na relação de trabalho os sujeitos são o prestador de serviço (trabalhador) e o

tomador do serviço ou cliente. Na relação de consumo são o fornecedor e o consumidor.

5.2.2. Pessoalidade

A relação de trabalho caracteriza-se pela pessoalidade quanto ao prestador de

serviço, ele não pode fazer-se substituir por outro sem o consentimento do tomador. Já na

relação de consumo o serviço é prestado impessoalmente, pois o fornecedor não se obriga

a executar o serviço ele mesmo, será executado por qualquer profissional do mesmo ramo.

Diante dessa característica, percebe-se que a prestação de serviços de um

profissional liberal, um médico, um dentista, um engenheiro ou um advogado nada tem de

relação de consumo, pois exige-se daquele determinado profissional, confiando nas suas

qualificações e habilidades. Enquanto que na relação de consumo é indiferente que

compareça este ou aquele técnico, o que importa é que o eletrodoméstico seja consertado,

é indiferente a pessoa do fornecedor.

5.2.3. O caráter intuitu personae da relação

É uma característica que ao afeta a relação de consumo, a exemplo da

pessoalidade, pois ao consumidor não interessa a qualificação, o renome, o prestigio de

que goza o fornecedor no universo do mercado do consumo. Interessa que os reparos por

exemplo hidráulicos ou elétricos, sejam feitos a contento. Ao contratar os serviços de um

profissional liberal, o tomador ou cliente, com certeza ira escolher, a dedo, aquele a quem

irá entregar-se para uma cirurgia plástica corretiva, ou entregar seu patrimônio para ser

administrado, para ser defendido. A habilitação profissional, com certeza, virá em

primeiro lugar. Diante dessa característica, claro esta, que a prestação de serviços do

profissional liberal não gera relação de consumo, mas sim relação de trabalho.

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5.2.4. O elemento fiduciário

Tanto na relação de trabalho subordinado como na relação de trabalho autônomo o

elemento fiduciário, ou seja, a confiança esta presente em cada relação. Na advocacia ela

tanto esta presente que o próprio código de ética profissional, recomenda ao causídico, que

renuncie o mandato assim que perceber que o cliente nele não mais confia. E não relação

de consumo não se vislumbra esse tipo de confiança entre o fornecedor e o consumidor.

Existe sim por parte do consumidor a preocupação de confiar, de acreditar na idoneidade

do fornecedor, mas já por parte do fornecedor, o que importa é que o preço seja pago para

que o negócio seja fechado.

5.2.5. A vulnerabilidade

É um dos principio contidos no art. 4º, inciso I, do Código de Defesa do

Consumidor, pois o consumidor é a parte que pode mais facilmente ser lesada em seu

direito que o fornecedor. Já na relação de trabalho isso no ao ocorre, o cliente nem sempre

será a parte vulnerável da relação. Vejamos: o advogado que é contratado por uma

multinacional para elaborar um parecer jurídico, quem é a parte vulnerável? Certamente

não será a empresa, tomadora ou cliente, que na ótica da relação de consumo, seria o

consumidor ( fornecedor seria o advogado). Ora, o fornecedor é parte vulnerável perante o

consumidor? Não, não é isso que ocorre, pois o profissional liberal não mantém relação de

consumo como o seu cliente. Enseja, sim, relação de trabalho, profissional liberal não e

fornecedor, não é sujeito de relação de consumo, mas sujeito de relação de trabalho.

Conclui-se que para a maioria da doutrina o serviço prestado pessoalmente pelo

profissional liberal ao seu cliente se configura como relação de trabalho, mesmo que esse

serviço seja regulado pelo Código de Defesa do Consumidor, cujas disposições deverão

ser observadas pelo magistrado da Justiça Trabalhista para a solução das lides que lhe

forem submetidas.

Assim, independente do direito material a ser aplicado, havendo uma relação

jurídica entre uma pessoa natural que presta serviços profissionalmente a outra pessoa

natural ou jurídica, a competência para o seu julgamento será perante a Justiça do

Trabalho.

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CAPITULO VI

PROCEDIMENTO APLICAVÉL ÀS NOVAS RELAÇÕES DE TRABALHO

Como a modificação dada à competência material da Justiça do Trabalho, esta

passou a processar e julgar os efeitos que tenham por objeto outras lides oriundas de

relações de trabalho, além daquelas decorrentes de relações de emprego.

No entanto, em relação ao rito procedimental a ser adotado no julgamento das lides

decorrentes da relação de trabalho, divergências surgiram sobre o tema. Autores há que

afirmam que as causas estranhas à relação de emprego seriam aplicadas as disposições do

Código de Processo Civil. Partem da premissa de que a CLT foi construída para dar

equilíbrio nas relações jurídicas desiguais, privilegiando o empregado que é

hipossuficiente, dando-lhe mecanismos de proteção. E, jamais se poderá dispensar aos

trabalhadores de outras categorias a mesma proteção dada aos empregados.

MEIRELS, Edilton, 2005, p.75/81, justifica essa teoria demonstrando que existe

duas espécies de ações judiciais: a civil e a penal. Na jurisdição civil pode-se distinguir as

ações como o rito ordinário das ações como rito especial. As ações com rito especial são

tratadas na legislação esparsa com e tem como fontes subsidiarias as regras do

procedimento comum ordinário. Deste modo, a ação trabalhista tem um procedimento

especial disciplinado em lei especifica. O processo do trabalho é um instrumento que faz

atuar o direito material e esta contaminado pelo princípio protetor, pois foi criado para as

relações jurídicas de emprego. Mesmo que outras categorias de trabalhadores fossem

tuteladas pelo Direito do Trabalho e dessem a esses um mínimo de proteção, não se

poderia dar a mesma proteção àquela dispensada aos empregados.

Lembra ainda, o autor que nas ações que envolvam exercício do direito de grave se

estaria diante de lide formada entre pessoas que não merecem qualquer proteção especial,

tendo em vista sua qualidade.

E, portanto, não existe lei que respalde o entendimento de que as novas ações

devam seguir o rito do processo trabalho. Ademais, o art. 643 da CLT, prevê que tal

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procedimento é aplicável apenas nas ações entre empregados e empregadores e as ações

dos avulsos. Alem disso, aplicar o rito do processo do trabalho aos novos litígios

decorrentes das relações de trabalho, só porque é proposta perante a Justiça do Trabalho, é

violar o principio do devido processo legal. Assim, nada justifica mudar o procedimento

só porque se alterou o órgão competente para julgar a causa.

Integrando essa corrente, MENEZES, Claudio Armando Couce, e BORGES,

Leonardo dias, 2005, p.41, afirmaram que a CLT “foi ideologicamente construída para

buscar o equilíbrio nas relações jurídicas desiguais”. Exemplificando, foi facilitado o

acesso a justiça, sem necessidade de contratação de advogado; em caso de ausência do

reclamante, o processo é arquivado, enquanto na ausência do reclamado se declara à

revelia e pode-se aplicar a confissão presumida. Ao contrario da CLT, o processo civil se

fundamenta na igualdade das partes. E afirmam:

“Ora, não há como compatibilizar, de modo

equiparativo, ideologicamente o processo civil e o

processo do trabalho.Tanto isto é fato, que a própria

CLT quando admite a aplicação supletória do CPC,

exige, entre outros requisitos, total compatibilidade

da norma processual comum. Por conseguinte,

pensamos que nas ações cíveis há de ser aplicado o

CPC, deixando a CLT para as ações reguladas por

ela, CLT”

Para os autores, não há a menor dificuldade em se aplicar os dois sistemas

processuais, tendo em vista que isso já acontecia nas comarcas não abrangidas pela

jurisdição trabalhista em que esta é exercida pelo juízes estaduais. Por isso deve-se

continuar utilizando a CLT para os casos regulados por ela, e o CPC para as ações civis.

De modo diverso, outra corrente, que é majoritária, entende que o rito a ser adotado

nas novas relações de trabalho é o da CLT. Julio Cesar Bebber, afirma que não merece ser

visto de modo simplista o novo modelo constitucional e que a profunda e importante

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mudança trazida pela Emenda Constitucional não pode ser interpretada “como mera

mudança – mudou por mudar”. E assim, argumenta:

“Se um dos escopos do alargamento da

competência da Justiça do Trabalho é a de

proporcionar ao jurisdicionado uma estrutura

judiciária mais ágil e um processo simplificado,

outra não pode ser minha assertiva senão a de que

às causas submetidas à Justiça do Trabalho,

independentemente da natureza jurídica material

litigiosa, aplicam-se as regras do processo do

trabalho, salvo quanto às causas de proce4dimento

especial, com, v.g. o mandado de4 segurança e o

habeas corpus.” (BEBBER, 2005, p.255)

Para o autor, não haveria a menor em se trazer a competência para o julgamento de

certas causas para a Justiça do Trabalho, e ao mesmo, manter-se para o seu julgamento o

mesmo sistema processual que anteriormente lhe era aplicado. Isto porque, há prevalecer

este entendimento, estar-se-ia sepultando a especialização da Justiça do Trabalho, uma vez

que é no seu sistema processual que se encontra sua especialização.

PIMENTA, José Roberto Freire, 2005, p. 267, sustenta que o legislador

constituinte da reforma do judiciário decidiu atribuir à Justiça do Trabalho a competência

para julgar os processos oriundos das relações de trabalho em geral para que estes sejam

julgados não somente pelos magistrados especializados em resolver litígios do mundo do

trabalho, mas também pelo ritos procedimentais trabalhistas e pelos princípios processuais

a eles correspondentes. Como o processo comum ordinário se revela inadequado para

atender as características e exigências particulares de determinadas situações, os

procedimentos trabalhistas são considerados pela doutrina como uma das primeiras e mais

importantes modalidades de tutela diferenciada necessária para atender essas situações.

Compartilha desse entendimento MALLET, Estevão, 2005, p. 87, que ao analisar o

art. 763 da CLT, conclui que na ação proposta pelo profissional liberal deve-se aplicar o

disposto nos art. 837 e seguintes da CLT e não o art. 275, II, f, do CPC. Isso vale para

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outras ações que passaram a ser da competência da Justiça do Trabalho, excetuando-se

aquelas que tem rito procedimental especial. Em relação aos pedidos subsidiários, não

existe mais limitação tendo em vista que o inciso I, do art.114 da Constituição Federal, não

obsta que o prestador de serviços postule, perante a Justiça do Trabalho, que seja

reconhecido o vinculo empregatício e o pagamento dos direitos trabalhistas atinentes, e no

mesmo processo faça, de modo subsidiário, pedindo de pagamentos não adimplidos

relativos ao contrato de prestação de serviços decorrentes de lei. Ressalte-se que tal

pedido só será examinado se o pedido de reconhecimento de relação de emprego for

julgado improcedente ou a ação for extinta sem julgamento do mérito.

A segunda corrente é a mais acertada. As causas relativas à relação de trabalho

devem, sim, seguir o rito procedimental da CLT, pois do contrário não faria sentido o

constituinte derivado ampliar a competência da Justiça do Trabalho para as relações de

trabalho em geral, se esta mesma justiça não pudesse aplicar o rito procedimental mais

simplificado e mais célere que faz se r chamada de especializada. Deve-se entender que o

processo do Trabalho é o instrumento utilizado pela Justiça do Trabalho para a solução dos

conflitos submetidos à sua jurisdição.

Prevendo as duvidas e divergências o Tribunal Superior do Trabalho editou a

Instrução Normativa nº 27/2005 que dispõe sobre normas procedimentais aplicáveis ao

processo do trabalho em decorrência da ampliação da competência da Justiça do Trabalho

pela Emenda Constitucional nº 45/2004. Em seu art. 1º assim determina:

“As ações ajuizadas na Justiça do Trabalho

tramitarão pelo rito ordinário ou sumaríssimo,

conforme previsto na Consolidação da s Leis do

Trabalho, excepcionando-se, apenas, as que, por

disciplina legas expressa, estejam sujeitas o rito

especial, tais como o Mandado de Segurança,

Habeas Corpus, Habeas Data, Ação Rescisória,

Ação Cautelar e Ação de Consignação em

Pagamento.”

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É certo que tal ato normativo não tem força de lei ou sumula vinculante. Porém, é

importante para aqueles magistrados que tem duvidas possam seguir as diretrizes do TST e

saberem de antemão o posicionamento deste tribunal.

Quanto a possibilidade de aplicação do s jus postulandi nas ações decorrentes das

novas relações de trabalho, a referida instrução normativa é silente. Se o art. 791 for

analisado literalmente, a faculdade de ajuizar ação na Justiça do Trabalho sem necessidade

de advogado é conferida apenas aos empregados e empregadores. Entretanto, não se pode

esquecer que mesmo da Emenda Constitucional nº 45, às causas não decorrentes da

relação de emprego, que por força de lei já tramitavam na Justiça do Trabalho, como a

pequena empreitada, já se admitia o jus postulandi,. Dessa forma, somente como o tempo

a matéria será solucionada e pacificada pela doutrina e a jurisprudência, sendo certo que,

em principio, é aconselhável que, por cautela, os juízes não extingam os processos sem

assistência de advogado, admitindo o jus postulandi.

Segundo o TST, em sua súmula 425, aprovada por seu plenário, estabelece que

de acordo com a regra, “o jus postulandi das partes, limita-se às Varas do Trabalho e

aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando a ação rescisória, a ação cautelar,

o mandado de segurança e os recursos de competência do TST".

Num breve comentário faz-se necessário discorrer sobre a Sumula. No direito

brasileiro, denomina-se súmula um conjunto de decisões, tido como jurisprudência, isto

é, a linha que determinado tribunal segue a respeito de um tema específico, com a

finalidade de tornar público para a sociedade tal posicionamento e também para,

internamente, buscar a uniformidade entre as decisões dos juízes ou ministros.

Assim, vejamos:

No sentido preconizado e firmado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 3ª.

Região, está a seguinte ementas:

EMENTA: JUSTIÇA DO TRABALHO. JUS

POSTULANDI. VALIDADE. ARTIGOS 791 E 839 DA

CLT. INTERPOSIÇÃO DE RECURSO. A

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jurisprudência predominante é no sentido de que ainda

vigora no processo do trabalho o chamado "jus

postulandi", que autoriza que empregados e

empregadores possam reclamar pessoalmente na

Justiça do Trabalho, além de acompanhar suas ações

até o final, independentemente de estar assistidos por

advogado. Embora a validade deste princípio da

postulação pelas próprias partes tenha sido

questionada quando da promulgação da Constituição

de 1988 - cujo artigo 133 preceitua que o advogado é

indispensável à administração da justiça -, é certo que

permanecem em vigor os dispositivos da CLT que lhe

dão sustentação, que são os artigos 791 e 839.

Enquanto não houver manifestação definitiva do

excelso Supremo Tribunal Federal acerca da não-

recepção destes dispositivos por parte na nova ordem

constitucional, é mesmo de se autorizar que as ações

trabalhistas sejam processadas pela via da atermação

ou, até, por meio de petição redigida e elaborada pelo

próprio postulante. É certo, ainda, que esta

prerrogativa também envolve a interposição de

recursos perante os tribunais (todos eles; inclusive, os

Superiores), pois é justamente esta a preceituação do

citado artigo 791 da CLT, no sentido de que "os

empregados e os empregadores poderão reclamar

pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e

acompanhar suas reclamações até o final". Diante

deste panorama, também não se poderá impor à parte

que recorre, com base no "jus postulandi", qualquer

excesso de formalismo na elaboração do apelo, sob

pena de desvirtuação do próprio instituto. Isto significa

que basta que esta se manifeste em juízo, seja de forma

escrita, seja por meio de manifestação tomada a termo

na Secretaria da Vara, expressando a sua discordância

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quanto à decisão proferida.

(TRT 3ª. Região, Processo 00343-2004-054-03-00-1

RO , Segunda Turma, Relator Hegel de Brito Boson,

Publicação DJMG, 31/08/2005, Página 11).

Em decorrência do jus postulandi na esfera trabalhista, interessante ressaltar que

a parte pode atuar, independentemente da assistência por advogado, em todas as

instâncias trabalhistas, até mesmo nos tribunais regionais e no Tribunal Superior do

Trabalho.

Com efeito, transcrevemos mais uma ementa do Tribunal Regional do Trabalho

da 3ª. Região – Minas Gerais, que revela:

JUS POSTULANDI. POSSIBILIDADE DE

INTERPOSIÇÃO DE RECURSO DIRETAMENTE

PELA PARTE. Nos termos do art. 791 da CLT,

empregados e empregadores estão autorizados a

reclamar pessoalmente na Justiça do Trabalho,

além de acompanhar suas ações até o final,

independentemente de estarem assistidos por

advogado, permitindo-se tal atuação também na

esfera recursal, sendo que as partes necessitarão

de advogado apenas para postular perante órgãos

que não pertençam à esfera trabalhista, no caso, o

Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal

Federal. Assim, a reclamada que subscreve petição

de recurso deve tê-lo regularmente processado,

tendo em vista o exercício do jus postulandi.

(TRT 3ª. Região, Processo nº. 00955-2006-107-03-

00-7 RO, Primeira Turma, Relator Convocado

José Marlon de Freitas, Publicação DJMG,

25/05/2007, Página 7).

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Deste modo, compreendemos quão relevante é esta capacidade conferida pelo

legislador a qualquer pessoa na seara trabalhista, pois vemos que através dela é

permitida a postulação da parte nos regionais e até mesmo no Tribunal Superior do

Trabalho.

Contudo, acreditamos por motivos sólidos, que o instituto do jus postulandi, na

área em comentário, somente deveria ser conferida a quem de direito: aos profissionais

advogados legalmente habilitados.

Tal compreensão ocorre, entre outros motivos, pelo fato de não conseguirmos

visualizar que um leigo demande, com êxito, junto aos órgãos do Judiciário,

essencialmente quando se trata das esferas recursais.

Uma reclamação trabalhista é uma ação em que há relação jurídica processual

própria, requerendo, para o sucesso da demanda, conhecimento específico e técnico,

conferido apenas aos profissionais inscritos na OAB que, por mérito, possuem a

capacidade postulatória.

Embora ainda vigore no processo trabalhista o jus postulandi da parte,

consubstanciado nos arts. 791 e 839 “a” da CLT, a presença do advogado é

indispensável.

Pode-se assegurar que houve, no processo, exercício real do contraditório e da

ampla defesa, atribuições que inquestionavelmente só concordamos existir e fazerem-se

valer com a presença do advogado.

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CAPITULO VII

JURISPRUDENCIAS

CONTRIBUIÇÃO ASSISTENCIAL ESTABELECIDA EM CONTRATO COLETIVO

Competência da Justiça do Trabalho - Contribuição assistencial - Sindicato da categoria econômica - Regência constitucional anterior à Emenda Constitucional nº 45/2004. Ante o disposto no art. 1º da Lei nº 8.984/1995, à Justiça do Trabalho já competia julgar ação de sindicato de categoria econômica contra empregador, visando à contribuição assistencial estabelecida em contrato coletivo. COMPETÊNCIA. Contribuição assistencial. Sindicato de categoria econômica. Emenda Constitucional nº 45/2004. A competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores e entre sindicatos e empregadores - inciso III do art. 114 da Constituição Federal, com a redação da Emenda nº 45/2004 -, abrange demandas propostas por sindicato de categoria econômica contra empregador, objetivando o reconhecimento do direito à contribuição assistencial. (STF - Sessão Plenária; CC nº 7.221-1-RS; Rel. Min. Marco Aurélio; j. 1º/6/2006; v.u.).

INDENIZAÇÃO DECORRENTE DE ACIDENTE DO TRABALHO

Agravo Regimental no Recurso Extraordinário - Acidente do trabalho - Ação de indenização - Competência - Justiça do Trabalho - Redação conferida pela Emenda Constitucional nº 45/2004 - Efeitos temporais. A Justiça do Trabalho é competente para julgar ação de indenização decorrente de acidente do trabalho. Precedentes. 2 - A orientação alcança os processos em trâmite na Justiça comum, desde que pendentes de julgamento de mérito. 3 - Agravo Regimental a que se nega provimento. (STF - 2ª T.; AgRg no RE nº 519.775-1-SP; Rel. Min. Eros Grau; j. 17/4/2007; v.u.).

PROVENTOS DECORRENTES DE CONTRATO DE TRABALHO

Justiça do Trabalho: competência (CF, art. 114). Pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal de que é da Justiça do Trabalho a competência para dirimir controvérsias relativas à complementação de proventos de aposentadoria quando decorrentes de contrato de trabalho. Precedentes. (STF - 1ª T.; AgRg no AI nº 581.498-4-MG; Rel. Min. Sepúlveda Pertence; j. 24/4/2007; v.u.).

AÇÕES DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E PATRIMONIAIS DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRABALHO - INCIDÊNCIA A POSTERIORI DA EMENDA CONSTITUCIONAL

Nº 45/2004

Processo Civil - Ação de Indenização por Danos Materiais e Morais decorrentes de Acidente de Trabalho - Competência absoluta - Justiça Laboral - Discussão relacionada à competência relativa - Recurso não conhecido. 1 - Com o advento da Emenda Constitucional nº 45/2004 (DJU de 31/12/2004), a qual inseriu no art. 114 da CF/1988, dentre outros, o inciso VI (“Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho”), a competência para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho é da Justiça Laboral (STF, CC nº 7.204-1-MG, Rel. Min. Carlos Ayres Brito). 2 - Compulsando os Autos, entretanto, observo que tanto a decisão do Magistrado, quanto o v. acórdão proferido pelo Tribunal a quo e, ainda, a interposição do Recurso Especial se deram em momento anterior à Emenda Constitucional nº 45. 3 - Logo, no caso concreto, em que não há sentença e em face do advento posterior da Emenda nº 45, a questão, para que haja correção na decisão desta Corte, não pode ser analisada sob a ótica aventada no apelo extremo, sob pena de não-observância da referida Emenda. De outro lado, porém, tal matéria não foi objeto de análise em nenhum momento, o que é justificável ante a incidência a posteriori do preceito constitucional. 4 - Portanto, sob esse prisma, não posso proceder o desenlace da questão firmando, desde logo, a efetiva competência laboral. Todavia,

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tratando-se de modificação constitucional superveniente e estando o processo principal em seu curso, creio que o mais coerente seria determinar o retorno dos Autos para que o Magistrado local proceda a novo exame da exceção de competência, agora com observância do texto constitucional. 5 - Recurso não conhecido, com observações, determinando-se, porém, o retorno dos Autos à Primeira Instância para que se proceda a novo exame competencial sob o enfoque da nova ordem constitucional. (STJ - 4ª T.; REsp nº 833.655-SP; Rel. Min. Jorge Scartezzini; j. 15/8/2006; m.v.).

COBRANÇA DE CONTRIBUIÇÃO SINDICAL - ART. 578 DA CLT

Conflito Negativo de Competência - Contribuição sindical criada por lei - Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45/2004 - Art. 114, III, da CF/1988 - Sentença ainda não proferida na Justiça Estadual - Deslocamento da competência para a Justiça do Trabalho. 1 - Com a promulgação da Emenda Constitucional nº 45, de 8/12/2004, que acrescentou o inciso III no art. 114 da Carta vigente, a Justiça do Trabalho passou a deter a competência para processar e julgar “as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores”. 2 - Devem ser processadas pela Justiça Laboral as demandas relativas à cobrança da contribuição sindical prevista nos arts. 578 e seguintes da CLT propostas pelos sindicatos, federações ou confederações de empregadores contra os integrantes da correspondente categoria. Conflito conhecido, para declarar competente o Juízo da 3ª Vara do Trabalho de ... - SP. (STJ - 1ª Seção; CC nº 75.168-SP; Rel. Min. Humberto Martins; j. 14/2/2007; v.u.).

AÇÕES DE RELAÇÃO DE TRABALHO: ENTES DE DIREITO PÚBLICO EXTERNO E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA

Agravo de Instrumento - Preliminar de Nulidade por Negativa de Prestação Jurisdicional. O Eg. Regional expressamente manifestou-se sobre os motivos que o levaram a concluir pela inaplicabilidade do art. 471, I, do CPC, ao caso concreto. Com efeito, registrou o Regional que não se trata de prestações continuadas e que ausente modificação no estado de fato ou de direito. Pontuou, ainda, a Corte a quo que a mudança de entendimento pelos Tribunais Superiores acerca do direito ou dos reajustes dos planos econômicos não configura condição específica ensejadora da ação revisional. Assim, tem-se que expôs de forma clara os fundamentos da decisão adotada, não se configurando a alegada nulidade por negativa de prestação jurisdicional. PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. Após a alteração do art. 114, caput, I, da Constituição Federal, pela Emenda nº 45, compete à Justiça do Trabalho processar e julgar as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de Direito Público Externo e da Administração Pública Direta e Indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO, POR AUSÊNCIA DE CONDIÇÕES DA AÇÃO. O Regional, analisando a hipótese dos Autos, concluiu não se tratar de prestações continuadas, ou seja, entendeu inexistente modificação no estado de fato ou de direito. Tal entendimento não fere direta e literalmente o art. 471, I, do CPC, muito pelo contrário, dele se socorreu a Corte a quo para verificar se cabível a Ação Revisional. Agravo de Instrumento não provido. (TST - 2ª T.; AIRR nº 1933/2003-003-21-40-RN; Rel. Min. José Simpliciano Fontes de F. Fernandes; j. 20/9/2006; v.u.) .

IMPLEMENTAÇÃO DE BENEFÍCIOS - DIREITO ADQUIRIDO - ENQUADRAMENTO NO CONTRATO DE TRABALHO

Recurso de Embargos - Competência da Justiça do Trabalho - M. S. S. A. S. - Violação do art. 896 da CLT não reconhecida. A Justiça do Trabalho é competente para julgamento de ação que tem como objeto pedido que decorre da relação de trabalho, ante o que determina o art. 114 da Constituição Federal. Mesmo na redação atual da Emenda Constitucional nº 45, não há como se afastar a competência da Justiça do Trabalho, pois não se trata de debate envolvendo prestação de serviços e sim, a implementação de benefícios previstos no contrato de trabalho, aos associados/empregados que não se desligaram do quadro associativo e, ainda mais, quando o vínculo associativo somente existe em face do vínculo de emprego com a empresa reclamada. Embargos não conhecidos. (TST - SDI-I; E-ED-RR nº 536.125/1999.2; Rel. Min. Aloysio Corrêa da Veiga; j. 13/3/2007; v.u.).

CONFLITO TRABALHISTA ENVOLVENDO ENTES DE DIREITO PÚBLICO EXTERNO

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Imunidade de jurisdição - Relatividade. A imunidade absoluta de jurisdição cedeu lugar à imunidade relativa, com a modificação da própria concepção de soberania, a qual passa a ser compartilhada, com a correspondente redefinição dos instrumentos jurídicos processuais. E no cenário ora enfocado foi editada a Constituição Federal/1988, a qual, em seu art. 114, estabeleceu a competência da Justiça do Trabalho para conhecer e julgar todos os conflitos trabalhistas envolvendo os entes de Direito Público Externo, o que foi referendado pela redação dada a referido dispositivo pela Emenda Constitucional nº 45/2004. (TRT - 2ª Região - 9ª T.; RO nº 03173200300102006-SP; ac. nº 20060635058; Rel. Juíza Jane Granzoto Torres da Silva; j. 17/8/2006; v.u.).

DANO MORAL OU PATRIMONIAL DECORRENTES DA RELAÇÃO DE TRABALHO - CONTAGEM DE PRAZO PRESCRICIONAL

Ação por danos morais e materiais - Competência da Justiça do Trabalho - Prescrição aplicável após a Emenda Constitucional nº 45/2004. O inciso VI, acrescentado ao art. 114, da Constituição Federal, pela Emenda Constitucional nº 45, de 8/12/2004, ampliou a competência desta Justiça Especializada dispondo expressamente quanto às ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho. Não obstante o posicionamento de abalizados doutrinadores que entendem que, por possuir a prescrição natureza jurídica de direito material, a regra do art. 7º, inciso XXIX, da Constituição Federal não é aplicável às novas relações jurídicas inseridas na competência da Justiça do Trabalho por força da Emenda Constitucional nº 45, de 8/12/2004, é clara a dicção da norma constitucional no sentido de abranger todas as ações decorrentes da relação de trabalho. Assim, conquanto tenha a prescrição natureza jurídica de direito material e não processual, o direito material aplicável às ações decorrentes da relação de trabalho em matéria de prescrição é sempre aquele previsto no art. 7º da Carta Magna. (TRT - 2ª Região - 3ª T.; RO nº 00354200605202006-SP; ac. nº 20070010476; Rel. Juíza Mércia Tomazinho; j. 23/1/2007; v.u.).

LIMINAR EM MANDADO DE SEGURANÇA - REEXAME - REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE - AUSÊNCIA

Emenda Constitucional nº 45/2004 - Ampliação da competência da Justiça do Trabalho - Adequação dos ritos processuais. A ampliação da competência da Justiça do Trabalho em face da Emenda Constitucional nº 45/2004 redunda na adequação dos ritos processuais àqueles próprios desta Justiça Especializada (Instrução Normativa nº 27 do TST). Indeferimento de Liminar em Mandado de Segurança. Irrecorribilidade de imediato. O deferimento ou não de liminar cinge-se a critério discricionário do julgador. Daí, não tendo o Juízo da origem constatado, na ocasião do exame liminar do Mandado de Segurança, o fumus boni juris e o periculum in mora, não há como reexaminar, por meio de Agravo de Instrumento, os elementos que lhe serviram de convicção. (TRT - 2ª Região - 5ª T.; AI em MS nº 01997200502502016-SP; ac. nº 20060712214; Rel. Juiz José Ruffolo; j. 12/9/2006; v.u.).

PROCEDIMENTO DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

A alteração de competência propiciada pela Emenda Constitucional nº 45/2004 não pode retirar das partes o direito à tutela jurisdicional prevista em Lei. Se há previsão legal para exercício de jurisdição voluntária para a hipótese em exame pelo “Juízo competente” e se o “Juízo competente” é a Justiça do Trabalho, a prestação jurisdicional postulada, ainda que voluntária, deve ser entregue. (TRT - 2ª Região - 6ª T.; RO nº 0097420060 5302001-SP; ac. nº 20061021231; Rel. Juiz Antero Arantes Martins; j. 5/12/2006; m.v.).

COBRANÇA DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - Conflito de Competência - Ação de cobrança de honorários advocatícios

O contrato de prestação de serviços advocatícios não encerra relação de trabalho na acepção do atual Texto Constitucional. Processo devolvido da Justiça Laboral para a justiça comum. Diretor do Foro de ... . Encaminhamento administrativo dos Autos ao Juízo tido por competente. Atividade que envolve atribuição administrativa, e não atividade jurisdicional. Conflito de jurisdição ainda não estabelecido. Conflito de Competência não conhecido. (TJRS - 15ª Câm. Cível; CC nº 70018866913-Canoas-RS; Rel. Des. Otávio Augusto de Freitas Barcellos; j. 16/3/2007; decisão monocrática).

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AJUIZAMENTO DE DISSÍDIO COLETIVO - “Comum Acordo” - Pressuposto Processual Objetivo - Ajuizamento de Dissídio Coletivo

Se o sindicato suscitado não assinou conjuntamente a petição inicial, porém participou das negociações coletivas e das audiências realizadas perante o Juízo, sem se insurgir, está evidenciada sua concordância tácita para o ajuizamento do dissídio coletivo pelo sindicato suscitante, satisfazendo, assim, o pressuposto processual de “comum acordo”, previsto no § 2º do art. 114 da Constituição Federal, introduzido pela Emenda Constitucional nº 45/2004. (TRT - 18ª Região - Sessão Extraordinária; DC nº 00162-2006-000-18-00-3-GO; Rel. Juiz Gentil Pio de Oliveira; j. 6/9/2006; v.u.).

CONCILIAÇÃO APÓS A VIGÊNCIA DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004 Homologação - Coisa julgada - Alcance

A conciliação judicial homologada possui força de coisa julgada, com a quitação do objeto da lide e do extinto contrato de trabalho, ficando inviabilizada a apreciação de novo pleito decorrente do mesmo vínculo de emprego, ainda que seja indenização decorrente de acidente de trabalho oriundo do mesmo contrato de trabalho, ocorrido após a vigência da Emenda Constitucional nº 45/2004, que incluiu essa matéria no âmbito da competência da Justiça do Trabalho. (TRT - 18ª Região - 2ª T.; RO nº 00284-2006-121-18-00-9-Itumbiara-GO; Rel. Des. Gentil Pio de Oliveira; j. 18/10/2006; v.u.).

CONTRATAÇÃO SEM CONCURSO PÚBLICO - PROFESSOR DA REDE PÚBLICA - VERBAS A TÍTULO INDENIZATÓRIO

Estado do ... - Professor - Contratação sem concurso público - Nova competência da Justiça do Trabalho - Verbas devidas a título indenizatório desde que requerido. Filio-me à corrente, ainda que minoritária, que em face da nova competência da Justiça do Trabalho, dada pela Emenda Constitucional nº 45, é possível deferir, a título de indenização, valores correspondentes às verbas de natureza salarial, não reconhecidas, desde que, como tal, fosse requerido na inicial, o que, contudo, não ocorreu no presente caso. De qualquer forma, curvo-me ao entendimento da D. maioria desta E. Turma, a qual tem avançado nas discussões a respeito da questão, bem como em respeito às decisões do STF, de que aplicável ao caso apenas a Súmula nº 363 do C. TST. Deve-se, no entanto, diante da ilegalidade das contratações sucessivas por tempo determinado, apenas mediante teste seletivo, declarar a unicidade contratual de todo o período laborado como “professor”, bem como declarar a nulidade contratual em face do disposto no art. 37, II, da CF/1988, indeferindo, contudo, o pedido de pagamento das verbas rescisórias, mantendo-se a total improcedência da reclamatória. (TRT - 9ª Região - 4ª T.; RO nº 00243-2006-656-09-00-6-Castro-PR; Rel. Juiz Sergio Murilo Rodrigues Lemos; j. 14/2/2007; v.u.).

CONTRATO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - EXECUÇÃO

Competência da Justiça do Trabalho. Por força do inciso I do art. 114 da Constituição Federal (Emenda Constitucional nº 45/2004), a Justiça do Trabalho é materialmente competente para julgar ação de execução fundada em contrato de honorários advocatícios, eis que decorrente de relação de trabalho. De ofício, ratifico a rejeição da preliminar de incompetência material. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. Contrato de honorários advocatícios. Carência de ação. A cláusula penal inserta em contrato de honorários advocatícios, que não preenche os requisitos de liquidez, certeza e exigibilidade, não tem eficácia de título executivo extrajudicial. Assim, deve ser extinta sem julgamento de mérito a execução, nos termos dos arts. 267, inciso IV e 598, ambos do Código de Processo Civil. Agravo de Petição desprovido. (TRT - 18ª Região - Pleno; RO nº 00245-2006-005-18-00-4-Goiânia-GO; Rel. Juiz Eugênio José Cesário Rosa; j. 5/9/2006; m.v.).

CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS - VERBAS DE TERCEIROS

Contribuições de terceiros - Competência da Justiça do Trabalho. Não há como isentar o empregador do recolhimento da parcela destinada a terceiros no cálculo dos descontos previdenciários, uma vez que a rubrica diz respeito às contribuições sociais equiparadas às contribuições previdenciárias (art. 195, I, a, e II, CF), cuja arrecadação e repasse fica a cargo do Órgão Previdenciário, abarcando, obviamente, as contribuições previdenciárias devidas a terceiros. Entendimento diverso implicaria em inobservância da competência material da Justiça do Trabalho

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para a execução das contribuições sociais, advinda do art. 114, inciso VIII, da Constituição Federal (acrescentado pela Emenda Constitucional nº 45/2004), que autoriza à Justiça do Trabalho “a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir”. (TRT - 9ª Região - Seção Especializada; AGP nº 00026-2001-654-09-00-9-Araucária-PR; Rel. Juiz Luiz Celso Napp; j. 5/3/2007; v.u.).

HONORÁRIOS ASSISTENCIAIS E DE SUCUMBÊNCIA

Ampliação da competência da Justiça do Trabalho (Emenda Constitucional nº 45/2004). Ainda que não vigore, no Processo Trabalhista, o instituto da sucumbência recíproca, a Instrução Normativa nº 27 do TST (que dispõe sobre normas procedimentais aplicáveis ao Processo do Trabalho em decorrência da ampliação da competência da Justiça do Trabalho pela Emenda Constitucional nº 45/2004) orienta no sentido de que os honorários advocatícios são devidos pela mera sucumbência, exceto nas lides decorrentes da relação de emprego. Hipótese em que se verifica vínculo de emprego, é imperioso o preenchimento dos requisitos da Lei nº 1.060/1950, a que corresponde a declaração do autor na inicial. (TRT - 9ª Região - 2ª T.; RO nº 14804-2002-013-09-00-3-Curitiba-PR; Rel. Juiz Luiz Eduardo Gunther; j. 27/2/2007; v.u.).

MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA - NULIDADE DE SENTENÇA POR INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JULGADOR

Competência material da Justiça do Trabalho - Ampliação imposta pela Emenda Constitucional nº 45/2004 - Sentença proferida por Juiz de Direito, no exercício da jurisdição comum, após a supracitada Emenda Constitucional - Ineficácia do ato por incompetência absoluta do julgador - Nulidade declarada. No caso dos presentes Autos, a sentença recorrida foi proferida por Juiz de Direito, no exercício próprio da jurisdição da Justiça Comum Estadual, em 31/3/2005, data posterior à alteração do art. 114 da CF/1988, imposta pela Emenda Constitucional nº 45/2004, que entrou em vigor em 31/12/2004. Considerando que a sentença foi proferida por juiz absolutamente incompetente (ratione materiae) e por se tratar de matéria de ordem pública, nos termos do art. 113 do CPC, de aplicação subsidiária autorizada pelo art. 769 da CLT, declaro, de ofício, a ineficácia do referido ato decisório. (TRT - 18ª Região - Sessão Plenária Extraordinária; RO nº 00122-2006-171-18-00-7 - Goianésia-GO; Rel. Juiz Elvecio Moura dos Santos; j. 16/8/2006; v.u.).

PENALIDADE ADMINISTRATIVA IMPOSTA AO EMPREGADOR POR ÓRGÃO DE FISCALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO - INTERVALO ENTRE JORNADAS SUPERIOR

A DUAS HORAS

Mandado de Segurança - Apelação - Penalidade administrativa - Alteração da competência. Sentença proferida no âmbito da Justiça Federal Comum já na vigência da Emenda Constitucional nº 45/2004, que atribuiu à Justiça do Trabalho a competência para apreciação da matéria. Nulidade dos atos decisórios (art. 113, § 2º, do CPC). (TRT - 4ª Região - 2ª T.; AP em MS nº 03178-2006-000-04-00-4-RS; Rel. Juíza Maria Beatriz Condessa Ferreira; j. 13/12/2006; v.u.).

PENALIDADE ADMINISTRATIVA IMPOSTA AO EMPREGADOR POR ÓRGÃO DE FISCALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO - NULIDADE DE SENTENÇA PROLATADA

PELA JUSTIÇA COMUM

Emenda Constitucional nº 45/2004 - Competência da Justiça do Trabalho - Art. 114, VII, da CF/1988 - Decisão de Embargos à Execução Fiscal proferida na Justiça Comum. A partir da Emenda Constitucional nº 45/2004, à Justiça do Trabalho foi declinada a competência para processar e julgar “ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho”, nos termos do inciso VII, do art. 114, da Constituição Federal. Em conseqüência, a decisão de Embargos à Execução Fiscal proferida no Juízo Cível, após o advento da aludida Emenda Constitucional, reveste-se de nulidade. (TRT - 3ª Região - 7ª T.; AGP nº 00979-2006-035-03-00-7-MG; Rel. Juíza Wilméia da Costa Benevides; j. 5/3/2007; v.u.).

PRESCRIÇÃO: NATUREZA JURÍDICA, MARCO INICIAL, DIREITO INTERTEMPORAL E CAUSAS SUSPENSIVAS

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Acidente de trabalho - Ação de indenização por dano moral e/ou material verificado na constância da relação de trabalho - Prescrição: natureza jurídica, marco inicial, direito intertemporal e causas suspensivas. NATUREZA JURÍDICA DA PRESCRIÇÃO: QUESTÃO DE SEGURANÇA JURÍDICA. A prescrição atinge o direito de exigibilidade da pretensão a ser deduzida em juízo, diante da inércia do credor por determinado lapso temporal. A necessária harmonia social pressupõe também o equilíbrio das relações jurídicas, acarretando, dessa forma, a punição ao credor inerte com a extinção da pretensão. Em homenagem à segurança jurídica e à razoabilidade que devem permear as decisões judiciais, entende-se pela aplicação dos institutos de Direito Civil antes do advento da Emenda Constitucional nº 45/2004. Posteriormente, aplica-se a prescrição trabalhista (CF, art. 51, XIX), em decorrência do entendimento de que o direito em tela é oriundo da relação laboral. MARCO INICIAL DO FLUXO PRESCRICIONAL. Da inteligência das Súmulas nº 278-STJ e nº 230-STF infere-se que a data do início do fluxo prescricional é aquela da ciência inequívoca pelo trabalhador da sua incapacidade decorrente de acidente de trabalho ou doença profissional. Nesse contexto, cabe perquirir a data da ciência do evento em relação à data da ação proposta para verificação do fluxo prescricional incidente.

PRESCRIÇÃO APLICÁVEL: DIREITO INTERTEMPORAL

Durante a vigência exclusiva do Código Civil/1916 incide o prazo de 20 (vinte) anos (art. 177, parte inicial), se a ciência inequívoca do dano ocorreu antes de 11/1/2003 (data de início da vigência do CC/2002). Durante a vigência exclusiva do Código Civil/2002 incide o prazo de 3 (três) anos (art. 206, § 3º, V, do CC/2002), se a ciência inequívoca do dano ocorreu após 11/1/2003. Após o advento da Emenda Constitucional nº 45/2004, incide o prazo de 5 (cinco) anos, observado o biênio da extinção efetiva do contrato de trabalho (art. 7º, XXIX, da CF/1988), se a ciência inequívoca do dano ocorreu após 31/12/2004. A alteração das prescrições descritas nos Códigos Civil de 1916 e de 2002 acarreta duas situações de direito intertemporal, se a ciência do dano ocorreu antes de 11/1/2003, mas a ação foi proposta já sob a égide do CC/2002 (art. 2.028): a) se, em 11/1/2003, já havia transcorrido mais de 10 (dez) anos da ciência do dano, o prazo prescricional do art. 177, parte inicial, do CC/1916, mantém-se inalterado, fluindo o que ainda restar do prazo de 20 (vinte) anos que sobejava à ocasião da vigência no novo Código Civil (11/1/2003); b) se, em 11/1/2003, havia transcorrido menos de 10 (dez) anos da ciência do dano, sem prejuízo do período prescricional transcorrido, incide, então, para o período subseqüente, que se acresce àquele, o prazo prescricional de 3 (três) anos (art. 206, § 3º, V, do CC/2002). Se a ciência do dano ocorreu após a data de vigência do CC/2002 (11/1/2003), mas a ação foi proposta a partir do ano judiciário de 2005, portanto já vigente a Emenda Constitucional nº 45/2004, desde que não transcorrido triênio da norma civil, deve haver a incidência do período que sobejar da ampliação para cinco anos (art. 7º, XXIX, da CF/1988), desde que, a partir de janeiro de 2005, não tenha também incidido o biênio descrito na parte final do art. 7º, XXIX, da CF/1988. Incidência de regras civis e trabalhistas. Questão intertemporal. Ocorrendo situação que envolva a incidência de todas as legislações descritas, a fórmula para apuração do prazo prescricional decorrerá da análise, a cada período, da questão intertemporal específica. Assim, o prazo apurado para cada um dos períodos deve ser computado na contagem do período subseqüente, como se fosse um novo prazo. Hipóteses de prazos findos e prazos em curso. Redução versus alteração do prazo. Aplicando-se regras distintas para apuração do prazo prescricional, impõe-se a observância da inteligência da Súmula nº 308 do C. TST, não se ressuscitando prazo já fluído. Na hipótese de ampliação dos prazos prescricionais, a melhor interpretação condiz com a incidência do prazo maior, deduzida a parte do prazo menor que já houver transcorrido.

CAUSAS SUSPENSIVAS DA PRESCRIÇÃO

O gozo de benefício previdenciário, inclusive aposentadoria provisória por invalidez, são causas de suspensão do contrato de trabalho cujo principal efeito é sustar, durante o período respectivo, as obrigações recíprocas decorrentes do pacto laboral e que podem acarretar, também, a suspensão do fluxo prescricional para o ajuizamento de ação indenizatória por dano moral decorrente de acidente do trabalho. Entretanto, para que ocorra a referida suspensão da prescrição é necessário que o obreiro se encontre, mesmo que temporariamente, em condições de incapacidade civil, impedindo-o de livre manifestação, que lhe faculte o exercício constitucionalmente assegurado do direito de ação. Inteligência do art. 31, II e III, c.c. arts. 191, I e 121 e seguintes do Código Civil/2002. Recurso conhecido e provido. (TRT - 10ª Região - 2ª T.; RO nº 00863-2005-018-10-00-3- Brasília-DF; Rel. Juiz Brasilino Santos Ramos; j. 28/3/2007; v.u.).

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RELAÇÃO DE EMPREGO ANTERIOR À EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/2004

Recurso Ordinário do reclamado: incompetência da Justiça do Trabalho em razão da matéria. A Justiça do Trabalho é competente para julgar questões envolvendo dano material e moral decorrentes de relação de emprego, embora relativos ao período pré-contratual, ainda que a demanda tenha sido proposta antes da vigência da Emenda Constitucional nº 45/2004. Provimento negado. ILEGITIMIDADE PASSIVA. A relação de direito material não pode ser confundida com a relação processual, porque, quanto a esta última, é suficiente a simples indicação pelo credor de que o reclamado é devedor do direito material, para legitimá-lo a responder à ação. Rejeita-se.

NULIDADE PROCESSUAL EM RAZÃO DE CONTRADITA À ÚNICA TESTEMUNHA DO RECLAMANTE

Inviável acolher a contradita de testemunha que é autora de ação trabalhista contra a reclamada, por ser o direito de ação constitucionalmente garantido. Adota-se o entendimento exposto na Súmula nº 357 do TST. Recurso não provido. FASE PRÉ-CONTRATUAL. Dano moral e patrimonial. A retirada da proposta de emprego, quando já alcançado o final do processo de seleção, inclusive tendo o obreiro se desligado do emprego anterior, enseja a reparação dos prejuízos morais e patrimoniais advindos da atitude irresponsável da empresa. Recurso não provido. (TRT - 4ª Região - 8ª T.; RO nº 00810-2003-012-04-00-5-Porto Alegre-RS; Rel. Juíza Cleusa Regina Halfen; j. 22/3/2007; v.u.).

RELAÇÃO DE TRABALHO - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS

Competência da Justiça do Trabalho. Consoante a redação do art. 114 da CR/1988, atribuída pela Emenda Constitucional nº 45/2004, a competência da Justiça do Trabalho não se restringe às controvérsias decorrentes de vínculo empregatício, abrangendo toda e qualquer lide fundada em relação de trabalho. Sendo assim, certo é que, quando um profissional liberal, como é o caso do advogado, atuando como pessoa física, presta serviços a seu cliente, pessoa física ou jurídica, executando um típico contrato de atividade, existe entre as partes contratantes uma relação de trabalho cuja lide decorrente estará sujeita a apreciação e a julgamento desta Justiça Especializada. (TRT - 3ª Região - 8ª T.; RO nº 00658-2006-006-03-00-7-Belo Horizonte-MG; Rel. Juíza Convocada Maria Cecília Alves Pinto; j. 14/2/2007; m.v.).

RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR POR ACIDENTE DE TRABALHO

Competência da Justiça do Trabalho. Danos decorrentes de acidente de trabalho - Companheiro, esposa e filhos. A competência da Justiça do Trabalho para apreciar os litígios que envolvam a responsabilidade do empregador por acidente de trabalho decorre do art. 114, inciso VI, da Constituição Federal, e já se encontra pacificada pelo Supremo Tribunal Federal (decisão proferida em 29/6/2005 no CC nº 7.204-1, Rel. Min. Carlos Ayres Britto). Ainda, a partir da Emenda Constitucional nº 45/2004, a competência material da Justiça do Trabalho deixou de ser estabelecida em face da condição que os litigantes ostentam, como ocorrida na redação originária do art. 114 da Constituição Federal (litígios “entre trabalhadores e empregadores”). Atualmente essa competência é determinada pela origem do litígio: “ações oriundas da relação de trabalho”. Logo, irrelevante que a indenização postulada decorra de danos morais e materiais que os autores, que não eram empregados, mas companheira e filhos do empregado, sofreram. O que importa é a circunstância de que os pretensos danos sofridos são “oriundos”, “decorrentes”, de uma relação de trabalho. (TRT - 9ª Região - 5ª T.; RIND nº 99518-2005-671-09-00-2-Telêmaco Borba-PR; Rel. Juiz Arion Mazurkevic; j. 29/3/2007; v.u.) .

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA DO TRABALHO E JUSTIÇA ESTADUAL. AÇÃO DE CUMPRIMENTO AJUIZADA PERANTE A JUSTIÇA COMUM POR SINDICATO PATRONAL CONTRA EMPRESA EMPREGADORA, COM PEDIDOS CUMULADOS DE

CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS PREVISTAS NA CLT E DE CONTRIBUIÇÕES CONFEDERATIVAS E ASSISTENCIAIS ESTABELECIDAS MEDIANTE CONVENÇÕES COLETIVAS, ALÉM DE MULTAS CONVENCIONAIS. COMPETÊNCIA DA

SEGUNDA SEÇÃO. EC N.º 45/2004. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA

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Conquanto já definida pela Corte Especial deste Tribunal a competência da Primeira Seção para o julgamento de processos que versem a respeito de cobrança de contribuições sindicais previstas na CLT (CC 45.333/RS, Rel. Min. Felix Fischer, DJ de 6/12/2004), há peculiaridade neste processo a ensejar a possibilidade de sua análise por esta Segunda Seção: a cumulação de pedidos de cobrança de contribuições sindicais com cobrança de contribuições confederativas e assistenciais, estas oriundas de convenções coletivas de trabalho.- A consolidada jurisprudência do STJ atesta a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar demandas relativas a contribuições decorrentes de acordos ou convenções coletivas, nos termos do art. 1º da Lei n.º 8.984/95. A expressiva ampliação da competência da Justiça do Trabalho com o advento da EC n.º 45/2004, fez abarcar em seu regaço o processamento e julgamento das demandas, propostas pelos sindicatos, federações ou confederações de empregadores em face de integrantes da correspondente categoria, por meio das quais pretendem o recolhimento de contribuições mencionadas no art. 578 da CLT. Precedentes. - É, pois, da Justiça do Trabalho a competência para julgar demanda em que sindicato patronal postula de empresa empregadora cobrança de contribuições sindicais previstas no art. 578 da CLT cumulativamente com cobrança de contribuições estabelecidas em convenções coletivas e suas respectivas multas convencionais. Conflito negativo de competência conhecido para estabelecer a competência do JUÍZO DA 7ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO – SP.(STJ – 2ª Seç., CC nº 62.036/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ 20.09.2007, p. 218)

PROCESSUAL CIVIL. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. AÇÃO DE COBRANÇA. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/04. SENTENÇA DE MÉRITO. EXISTÊNCIA. COMPETÊNCIA.

JUSTIÇA COMUM. PRECEDENTES DA SEÇÃO E DO STF

"A partir da promulgação da Emenda Constitucional 45/2004, a competência para processar e julgar ações em que se questiona a cobrança da contribuição sindical rural patronal é da Justiça do Trabalho, salvo se já houver sido proferida sentença na JustiçaComum, quando então prevalecerá a competência recursal do tribunal respectivo" (CC nº 56.861/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, DJ de 27.03.06).2. "A nova orientação alcança os processos em trâmite pela Justiça comum estadual, desde que pendentes de julgamento de mérito. É dizer: as ações que tramitam perante a Justiça comum dos Estados, com sentença de mérito anterior à promulgação da EC 45/04, lá continuam até o trânsito em julgado e correspondente execução. Quanto àquelas cujo mérito ainda não foi apreciado, hão de ser remetidas à Justiça do Trabalho, no estado em que se encontram, com total aproveitamento dos atos praticados até então" (CC nº 7.204-1/MG, Rel. Min. Carlos Brito, DJ de 09.12.05).3. Existindo, no caso concreto, sentença de mérito proferida por juiz de direito, a competência para o processamento e julgamento dos recursos posteriores permanece na Justiça comum, tendo em vista a inaplicabilidade da nova regra prevista na Emenda Constitucional 45/04.4. Recurso especial provido.(STJ – 2ª T., REsp nº 896.924/PR, Rel. Min. Castro Meira, DJ 29.03.2007, p. 253)

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CONCLUSÃO

Como certeza a Emenda Constitucional trouxe profundas mudanças ao Poder

Judiciário, como destaque especial para a competência da Justiça do Trabalho, que foi

significativamente ampliada, de forma a entender os justos reclamos da comunidade

jurídica brasileira. Ao aprovar a alteração constitucional, o constituinte derivado

demonstrou sensibilidade com a realidade social que vem se agravando em razão da

crescente desproteção social dos trabalhadores não subordinados.

Anteriormente, o texto constitucional determinava que a Justiça do Trabalho, em

regra, tinha competência para conciliar e julgar os conflitos da relação de emprego e,

excepcionalmente, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, desde que

expressamente previstas em lei. O texto atual determina que a Justiça do Trabalho irá

julgar os litígios decorrentes da relação de trabalho, sendo bem amplo, diferentemente da

competência anterior, tendo em vista que relação de trabalho é gênero do qual relação de

emprego e espécie.

Certamente que o aumento na demanda da Justiça do Trabalhista não alcançou, ate

a presente data, os altos índices esperados, em função das duvidas existentes entre relação

de trabalho e relação de consumo, pelo equivoco que cometem aqueles que vêem na

prestação de serviços por trabalhadores autônomos uma relação de consumo, interpretando

o art. 114 da Constituição a partir de conceitos extraídos do Código de Defesa do

Consumidor. O correto seria interpretar o CDC em consonância como o disposto no art.

114 da Constituição, com a redação dada pela Emenda 45, pois a Lei Maior prima sobre a

legislação infraconstitucional, e em respeito à sucessão cronológica: enquanto o CDC data

de 1990, a Emenda Constitucional nº 45 foi promulgada em 2004.

Outro fato que restringiu o aumento da demanda é a determinação pelo TST,

PUBLICADO NO DJ 04.12.2006 P. 255, de que a competência da Justiça do Trabalho,

decorrente da EC 45/2004, atinge as ações em tramite na Justiça Comum, desde que não

proferida sentença de mérito.

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Quanto ao rito procedimental a ser adotado nas novas lides decorrentes da relação

de trabalho é o da CLT, excetuando-se as causas que, por disposição legal expressas,

estejam sujeitas a rito especial, tais como mandado de segurança, habeas corpus, habeas

data, ação rescisória, ação cautelas e ação de consignação em pagamento.

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

NOME DA INSTITUIÇÃO: A VEZ DO MESTRE

TITULO DA MONOGRAFIA: A JUSTIÇA DO TRABALHO E A EMANDA CONSTITUCIONAL 45/2004

AUTOR: DANIEL AGUETE CASADO

DATA DE ENTREGA: 22/09/2010

AVALIADO POR: CONCEITO: