universidade candido mendes pÓs … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. o tema...

41
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA Por: Vladimir da Luz e Cunha Orientador Prof. Carly Machado Rio de Janeiro 2010

Upload: vodung

Post on 14-Feb-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA

Por: Vladimir da Luz e Cunha

Orientador

Prof. Carly Machado

Rio de Janeiro

2010

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia.

Por: Vladimir da Luz e Cunha

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

3

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar a Deus que me deu força e saúde, à minha esposa que tanto me apoiou em todos os momentos, aos professores e amigos que me auxiliaram e caminharam comigo nesta jornada e por último a todos os meus alunos que despertaram em mim o desejo de conhecer mais sobre os processos de aprendizagem de cada pessoa individualmente.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

4

DEDICATÓRIA

Para Lidiane, Arthur e Pedro, meus grandes amores.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

5

RESUMO

Este trabalho aborda as teorias de Vygotsky, Piaget, Wallon, Freud e Paulo Freire a partir das obras de alguns de seus seguidores, correlacionando-as com o processo de ensino-aprendizagem. Destaca a importância da auto-estima, da autoconfiança e da afetividade entre professor e aluno para superar as dificuldades de aprendizagem, principalmente em relação ao processo de aquisição da leitura e da escrita, que é um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento do aluno e para o seu sucesso escolar. Aborda a importância da família no desenvolvimento emocional da criança, visto que, na atualidade, a maioria das famílias está desestruturada. Salienta também a importância do psicopedagogo na instituição escolar para ajudar a perceber como ocorrem os processos de aprendizagem dos alunos, principalmente dos que apresentam dificuldade, para que o ensino seja mais eficaz. Demonstra ainda, a importância da formação continuada para os profissionais da educação como requisito básico para que a qualidade do ensino melhore no Brasil.

Palavras-chave: dificuldade, aprendizagem, desenvolvimento, afetividade, autoconfiança, auto-estima.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

6

METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado com base na pesquisa de livros que abordam o tema em questão, em vídeos indicados pelos professores do curso de Psicopedagogia do Instituto a Vez do Mestre, em anotações de aula e também nas teorias de Wallon, Vygotsky, Piaget, Freud e Paulo Freire. Foi utilizado também, um manual cedido pela Universidade Candido Mendes: “Como produzir uma monografia”, que muito auxiliou na realização deste trabalho.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – A dificuldade de aprendizagem na aquisição da leitura e da escrita 10

CAPÍTULO II – Afetividade, autoconfiança e auto-estima do aluno no contexto das dificuldades de aprendizagem 19

CAPÍTULO III – A Psicopedagogia e as dificuldades de aprendizagem 28

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 37

BIBLIOGRAFIA CITADA 38

FOLHA DE AVALIAÇÃO 41

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

8

INTRODUÇÃO

Durante séculos, em alguns países, alguns poucos escravos aprenderam a ler, em condições extremamente adversas, às vezes arriscando a própria vida para um aprendizado que, devido às dificuldades, acabava levando vários anos.

Hoje, o Brasil é um país em que cerca de 44 % das crianças do segundo ano de escolaridade são retidas no final do ano porque não conseguem aprender a ler. E que o tempo médio dos que conseguem finalizar o ensino fundamental é de 11,2 anos, quando deveria ser de apenas oito, sem contar com a educação infantil. Inúmeros especialistas em dificuldades de aprendizagem afirmam que pouquíssimos adolescentes e crianças possuem comprometimento cognitivo real, ou seja, não são capazes de aprender os conteúdos escolares como os outros. Então, se a maioria esmagadora das crianças pode aprender, é preciso considerar que há um sério comprometimento nas práticas de ensino; ou seja, a escola não está conseguindo cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever.

O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura e da escrita.

A questão central deste trabalho é investigar por quais motivos, um grande número de crianças apresenta dificuldade na aquisição da leitura e da escrita.

O tema sugerido é de fundamental relevância, pois um grande número de crianças apresenta dificuldades no processo de aquisição da leitura e da escrita nas séries iniciais, principalmente em escolas públicas, onde os professores, na maioria das vezes, encontram-se só nesta importante tarefa que é alfabetizar e letrar.

Visto que, na grande maioria, o professor é o maior interessado em fazer com que o aluno aprenda a ler e escrever. Vem de nós um grande esforço de tornar para a criança a prática da leitura e da escrita algo prazeroso, pois assim fica melhor e mais fácil para a aprendizagem. É preciso socializar cada vez mais os conhecimentos disponíveis a respeito dos processos de aprendizagem: quanto melhor o professor compreender o processo de construção do conhecimento, mais eficiente será o seu trabalho. Afinal, ensinar de fato é fazer aprender.

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

9

Em escolas públicas temos um grande número de crianças carentes com uma série de problemas sociais, de saúde, econômicos e familiares, alunos estes que recebemos em massa, muitas vezes desnutridos, sem assistência nenhuma, nem por parte dos pais, tão pouco por parte de políticas públicas.

Por isso, a pesquisa visa relatar os problemas e suas possíveis soluções para o fato de alunos chegarem ao quinto ano do ensino fundamental sem saber ler e escrever adequadamente, alguns apenas decodificando palavras com pouca compreensão e outros não apresentando nenhum interesse pela leitura e escrita como fonte de conhecimento ou prazer.

São, portanto, objetivos desta pesquisa identificar os motivos que levam um grande número de crianças ao fracasso no processo de aquisição da leitura e da escrita, mostrar a importância do auto conceito e da auto-estima como facilitador da aprendizagem, compreender o papel da afetividade entre professores e alunos no processo, buscar meios, métodos e estratégias que favoreçam a aquisição da leitura e da escrita.

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

10

CAPÍTULO I

DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM NA AQUISIÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA:

Este capítulo tem por objetivo abordar, como eixo central, as dificuldades de aprendizagem que interferem na aquisição da leitura e escrita. No entanto, primeiro iremos explicitar o que é aprendizagem e como ela ocorre para depois tratarmos das dificuldades que atrapalham este processo.

1.1 – O que é aprendizagem?

Não podemos falar de aprendizagem sem antes elucidarmos o que vem

a ser desenvolvimento. Quando se fala em crescimento, todo mundo se lembra

facilmente de aumento de estatura, de peso e outras mudanças orgânicas e

estruturais que ocorrem na constituição física.

O termo desenvolvimento, no entanto, é muito mais amplo e complexo.

Ele define um processo ordenado e contínuo que se inicia com a própria vida e

abrange todas as modificações que ocorrem no organismo e na personalidade,

inclusive os comportamentos mais aprimorados, resultantes do crescimento e

amadurecimento físicos e da estimulação variada do ambiente.

De acordo com a Psicologia do Desenvolvimento, a hereditariedade e o

ambiente, a maturação e a aprendizagem são fatores do desenvolvimento. Isto

mostra que, para determinar o processo de desenvolvimento em todas as suas

etapas, as condições orgânicas e estruturais atuam ao mesmo tempo com os

estímulos ambientais.

A maturação, por sua vez, é o desenvolvimento das estruturas corporais,

neurológicas e orgânicas. Envolve padrões de comportamento proveniente de

alguns mecanismos internos. Ela conduz ao desenvolvimento do potencial do

organismo e independe de treino ou estimulação ambiental. A maturação

caracteriza-se por mudanças estruturais influenciadas pela hereditariedade,

que ocorre em dado momento, envolvendo a coordenação de numerosas

partes do sistema nervoso.

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

11

Segundo Gesell (1987), a aprendizagem nunca pode transcender a

maturação. É por isso que é inútil, por exemplo, ensinar uma criança a falar aos

três meses, ou a ler e escrever precocemente.

Toda atividade humana depende da maturação. Desde o mais simples

comportamento, como segurar um lápis, até as abstrações e raciocínios mais

complexos. Para que ocorra a aprendizagem, é necessário que o organismo

esteja suficientemente maduro para recebê-la.

Aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente sobre o

indivíduo já maduro, que se expressa, diante de uma situação-problema, sob a

forma de uma mudança de comportamento em função da experiência.

“O aprendizado é um processo complexo e dinâmico que resulta em

modificações estruturais e funcionais do Sistema Nervoso Central. As

modificações ocorrem a partir de um ato motor e perceptivo que,

elaborado no córtex cerebral, dá origem à cognição.” (RELVAS,

2009: p. 54)

Muitas vezes, as pessoas, limitam o conceito de aprendizagem apenas

aos fenômenos que ocorrem na escola, como resultado do ensino. Todavia, o

termo tem um sentido muito mais amplo: engloba os hábitos que formamos, os

aspectos de nossa vida afetiva e a assimilação de valores culturais. Enfim, a

aprendizagem está relacionada a aspectos funcionais e resulta de toda

estimulação ambiental recebida pelo indivíduo no decorrer da sua vida. O

processo de aprendizagem sofre interferência de vários fatores: intelectual,

psicomotor, físico, social, mas é do fator emocional que depende grande parte

da educação infantil.

Para que a aprendizagem provoque uma verdadeira mudança de

comportamento e desenvolva cada vez mais o potencial do educando, é

necessário que ele perceba a ligação do que está aprendendo com a sua vida.

O aluno tem que ser capaz de reconhecer as situações que aplicará o novo

conhecimento ou habilidade. É muito importante que aquilo que é aprendido

tenha significado para ele e, para ser significativa, a aprendizagem tem que

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

12

envolver raciocínio, análise, imaginação e o relacionamento entre idéias, coisas

e acontecimentos. Uma aprendizagem mecânica, que não vai além da simples

retenção, não tem significado para o aluno.

È muito importante conhecer a realidade do educando para, a partir de

sua vivência, desenvolver um trabalho de alfabetização significativa.

“A velha casa, seus quartos, seu corredor, seu sótão, seu terraço – o

sítio das avencas de minha mãe -, o quintal amplo em que se achava,

tudo isso foi o meu primeiro mundo. Nele engatinhei, balbuciei, me pus

em pé, andei, falei. Na verdade, aquele mundo especial se dava a mim

como o mundo de minha atividade perceptiva, por isso mesmo como o

mundo de minhas primeiras leituras.” (FREIRE, 2009: p. 12)

1.2 – Papel da memória na aprendizagem.

O termo memória tem sua origem no latim e significa a capacidade de

adquirir, armazenar e recuperar informações disponíveis. É o registro de

experiências e fatos vividos e observados, podendo ser readquiridos quando

necessário. Desta forma, a memória torna-se a base para a aprendizagem,

pois, com as experiências que temos guardadas na memória, podemos mudar

o nosso comportamento, ou seja, a aprendizagem é a aquisição de novos

conhecimentos e a memória é a fixação desses conhecimentos adquiridos.

“A memória é a base de todo saber e, também, de toda a existência

humana, desde o nascimento. Todo o nosso cérebro funciona por meio

da memória; comemos, andamos, falamos porque lembramos como

fazê-lo. A memória determina nossa individualidade como pessoas e

como povos. O cérebro manda secretar um ou outro neurotransmissor

ou hormônio, quando estamos alegres ou tristes, quando sentimos

medo ou prazer. Acontecimentos com maior carga emocional são

relembrados com maior nitidez, e os neuroquímicos são estimulados,

garantindo sua memorização. A memória é uma das funções mais

importantes do cérebro, está ligada ao aprendizado e à capacidade de

repetir acertos e evitar erros. Memória é também a capacidade de

planejamento, abstração, julgamento critico e atenção.”

(RELVAS,2009: p. 56)

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

13

Se o aluno não aprende um novo conteúdo é porque não encontrou

nenhuma relação aos conhecimentos já adquiridos para guardar a nova

informação, sendo assim, não houve aprendizagem. Por isso que o professor

deve apresentar os conteúdos numa sequência lógica e partindo do mais

simples para o mais complexo.

1.3 – O que seria, então, dificuldade de aprendizagem?

Podemos considerar a dificuldade de aprendizagem como um sintoma,

pois o fato de não aprender, não caracteriza um quadro permanente, mas sim,

o indício de que o educando está passando por um problema de origem

orgânica, psicológica ou ambiental.

Não existe uma definição comum do que vem a ser uma dificuldade de

aprendizagem, como e por que ela se manifesta. As dificuldades de

aprendizagem formam um grupo heterogêneo e é difícil defini-las, mas uma

das manifestações mais evidentes de dificuldade de aprendizagem é o baixo

rendimento escolar, o que não indica, necessariamente, que a criança tenha

dificuldade de aprendizagem. Elas são classificadas como transitórias ou

permanentes e podem ocorrer em qualquer momento no processo de ensino-

aprendizagem e correspondem a déficits funcionais superiores, tais como,

cognição, linguagem, raciocínio lógico, percepção, atenção e afetividade.

“A dificuldade de aprendizagem pode ser classificada levando-se em

conta as funções afetadas que são as psicológicas superiores. Estas

são aprendidas desde o nascimento e são fundamentais para o

aprendizado formal.” (RELVAS, 2009: p. 54)

Muitas crianças necessitarão de uma ajuda especial para aprender a ler

e escrever, enquanto outras não encontrarão nenhuma dificuldade para obter

sucesso na mesma atividade. O fracasso escolar nas primeiras séries do

ensino fundamental tem sido estudado pelos mais diversos profissionais

preocupados pela escola, na busca de se esclarecer os fatores que interferem

no sucesso escolar e melhorar o ensino público no Brasil. As pesquisas se

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

14

apóiam nos fatores sociais, culturais, econômicos, cognitivos, emocionais,

institucionais ou orgânicos para explicar o fracasso escolar.

Não existe uma idade ideal para o aprendizado da leitura. Há crianças

que aprendem a ler muito cedo, em geral porque a leitura passa a ter tanta

importância para elas que não conseguem ficar sem saber.

Veja um depoimento de um desses leitores precoces, o escritor Alberto

Manguel:

“Aos quatro anos de idade descobri pela primeira vez que podia ler (...)

só aprendi a escrever muito tempo depois, aos sete anos de idade.Talvez

pudesse viver sem escrever, mas não creio que pudesse viver sem ler.”

Muitos leitores precoces não têm características peculiares, como

inteligência acima da média ou privilégios sociais. Mas tem outro tipo de

privilégio: considerar a leitura um valor e se acharem capazes de ler.

No Brasil, há muito tempo se considera que a iniciação à leitura deve

ocorrer apenas aos sete anos.

Por isso, quando dependem da escola para aprender, nossas crianças

começam a ler muito tarde.

As crianças aprendem a ler participando de atividades de uso da escrita

junto com pessoas que dominam esse conhecimento. Aprendem a ler quando

acham que podem fazer isso. É difícil uma criança aprender a ler quando se

espera dela o fracasso. É difícil, também, ela aprender a ler se não achar

finalidade na leitura.

Todos que lêem, lêem para atender a uma necessidade pessoal: saber

quais são as notícias do dia, que novidade a revista traz, qual a receita do

prato, como montar um equipamento, quais as regras de um jogo, obter novos

conhecimentos, apreender os encantos de um poema ou as emoções de um

livro de aventura.

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

15

A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de

construção do significado do texto a partir do que está buscando nele, do

conhecimento do que já possui a respeito do assunto, do autor e do que sabe

sobre a língua – características do gênero, do portador do sistema de escrita,

etc. ninguém pode extrair informações do texto escrito decodificando letra por

letra, palavra por palavra.

Se você analisar sua própria leitura vai constatar que a decodificação é

apenas um dos procedimentos que utiliza para ler: a leitura fluente envolve

uma série de outras estratégias, isto é, de recursos para construir significados;

sem elas, não é possível alcanças rapidez e proficiência.

A leitura e a escrita são as formas de linguagem mais avaliadas pelo

ensino fundamental. Elas são a base para a avaliação escolar. As mesmas

implicam um duplo sistema simbólico, pois permitem transcrever um

equivalente auditivo em um equivalente visual, ou vice versa.

A leitura é considerada um sistema simbólico, alicerçado na linguagem

falada, que por sua vez depende da linguagem interior. A relação entre a

palavra escrita e o sistema simbólico de significação é uma operação cognitiva

que envolve processos específicos como a codificação, decodificação,

percepção, memória, entre outros. Para a pessoa decodificar e atribuir

significado ao que está escrito é preciso ativar sua estrutura representativa,

atribuir significado ao código de modo a reconhecer a palavra impressa, atribuir

a esta palavra o significado correspondente e compreender a mensagem.

Também há que se considerar que uma decodificação pobre leva a uma

compreensão pobre; entretanto, uma boa decodificação não é a garantia de

uma compreensão satisfatória. As dificuldades de compreensão não estão,

normalmente, no âmbito das palavras, e sim, no âmbito das orações.

“A leitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo. E

aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais nada,

aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

16

manipulação mecânica de palavras mas numa relação dinâmica que

vincula linguagem e realidade.” (FREIRE,2009: p. 8)

1.4 Causas

As dificuldades de aprendizagem na aquisição da leitura e da escrita

podem ser atribuídas aos mais diversos motivos.

Sócio-culturais: falta de estimulação, ou seja, criança que não participa

da educação infantil (pré-escola) e também não é estimulada no lar;

desnutrição; privação cultural do meio; marginalização das crianças com

dificuldades de aprendizagem pelo sistema de ensino comum.

Pedagógicas: métodos inadequados de ensino; falta de estimulação pela

pré-escola dos pré-requisitos necessários à leitura e à escrita; falta de

percepção, por parte da escola, do nível de maturidade da criança, iniciando

uma alfabetização precoce; relacionamento professor-aluno deficiente;

atendimento precário das crianças devido à superlotação das classes.

Segundo Ferreiro e Teberosky (1991), todos passamos por fases,

construímos hipóteses sobre leitura e escrita e muitos professores nunca

ouviram falar sobre esse assunto. De acordo com o estudo das autoras,

passamos pelas hipóteses pré-silábica, silábica sem valor sonoro, silábica com

valor sonoro, silábico-alfabética até chegarmos à fase alfabética. Cada

hipótese necessita de atividades e intervenções diferenciadas para que a

criança construa os conceitos pertinentes a ela e avance para a hipótese

seguinte. Sendo assim, o professor deve identificar a hipótese na qual o aluno

se encontra para oferecer a atividade adequada; para que não seja impossível

de se realizar nem tão pouco se torne uma atividade sem graça.

Psicológicas: desajustes emocionais provocados pela dificuldade de

aprendizagem que a criança apresenta, o que gera ansiedade, insegurança e

auto-conceito negativo.

Orgânicas: cardiopatias, encefalopatias, deficiências sensoriais (visuais

e auditivas), deficiências motoras (paralisia infantil, paralisia cerebral etc.),

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

17

disfunção cerebral, deficiências intelectuais (retardamento mental ou

diminuição intelectual) e outras enfermidades de longa duração.

Dislexia: um tipo de distúrbio de leitura que colocamos como causa

porque provoca uma dificuldade específica na aprendizagem da identificação

dos símbolos gráficos, embora a criança apresente inteligência normal,

integridade sensorial e receba estimulação e ensino adequados. Devido à falta

de informação dos pais, professores da pré-escola e à dificuldade de identificar

os “sintomas” antes da entrada da criança na escola, a dislexia só vai ser

diagnosticada quando a criança estiver no segundo ou terceiros anos de

escolaridade, em muitos casos só recebem este diagnóstico muito depois.

Neste sentido, a dificuldade na leitura significa apenas o resultado final de uma

série de desorganizações que a criança já vinha apresentando no seu

comportamento pré-verbal, não-verbal, e em todas aquelas funções básicas

necessárias para o desenvolvimento da recepção, expressão e integração,

condicionadas à função simbólica.

1.5 Estratégias

É muito importante que o professor, antes de tudo, seja um especialista

no domínio dos conteúdos que busca ensinar. Para isto, o professor-

alfabetizador deverá ser um eterno aprendiz, buscando novos conhecimentos,

novos métodos, contudo, não se esquecendo das diversas especialidades que

encontrará em cada aluno na sala de aula, salientando que cada um aprende

de um jeito especial e que um método pode não ser igual para todas as

crianças.

Uma das principais estratégias para amenizar ou até mesmo resolver as

dificuldades de aprendizagem é compreender como ela ocorre no cérebro do

educando.

“É fato que diversas dificuldades de aprendizagem poderão ser

resolvidas ou amenizadas quando os educadores tiverem seus olhares

focalizados na promoção do desenvolvimento dos diversos estímulos

neurais que se expõem de forma que se compreendam os processos e

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

18

os princípios das estruturas do cérebro, conhecendo e identificando

cada área funcional, visando estabelecer rotas alternativas para

aquisição da aprendizagem, utilizando-se de recursos sensoriais, como

instrumento do pensar e do fazer.

É fundamental que educadores conheçam as estruturas cerebrais

como interfaces da aprendizagem, e que sejam sempre um campo a

ser explorado. Para isso, os estudos da biologia cerebral vêm para a

práxis em sala de aula, na compreensão das dimensões cognitivas,

motoras, afetivas e sociais no redimensionamento do sujeito

aprendente e suas formas de interferir nos ambientes que perpassam. ”

(RELVAS, 2009: p. 34)

A leitura como prática cotidiana é sempre um meio, nunca um fim. Ler é

resposta a um objetivo, a uma necessidade de cada pessoa.

Fora da escola, não se lê só para aprender a ler, não se lê de uma única

forma, não se decodifica palavra por palavra, não se respondem a pergunta de

verificação do entendimento preenchendo questionários enormes, não se

fazem desenhos para mostrar o que mais gostou e raramente se lê em voz

alta, ou seja: a prática constante da leitura não significa repetição infindável

dessas atividades escolares.

Uma prática constante de leitura na escola pressupõe o trabalho com a

diversidade de objetivos, modalidades e textos que caracterizam as práticas de

leitura de fato. Diferentes objetivos exigem diferentes textos e cada qual, por

sua vez exige um tipo específico, uma modalidade de leitura.

Em outras palavras, cabe ao professor mostrar a importância da leitura

para a vida cotidiana e despertar no educando interesse por essa atividade

fazendo que ele perceba que é capaz.

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

19

CAPÍTULO II

AFETIVIDADE, AUTOCONFIANÇA E AUTO- ESTIMA DO

ALUNO NO CONTEXTO DAS DIFICULDADES DE

APRENDIZAGEM.

Neste capítulo, estaremos ressaltando a importância da auto-estima e da

relação professor-aluno para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra

de maneira satisfatória, pois o ser humano é um ser social, cognitivo e

emocional.

2.1 – Afetividade.

Sabendo-se que o ser humano é um ser orgânico, cognitivo, emocional,

social e pedagógico, podemos afirmar que deve haver um desenvolvimento em

todos estes aspectos para que ele esteja inserido na sociedade de maneira

satisfatória.

“A interligação desses aspectos ajudará a construir uma visão

gestaltica da pluricausalidade deste fenômeno, possibilitando uma

abordagem global do sujeito em suas múltiplas facetas”. (WEISS,

1992, p. 22)

O desenvolvimento humano não está relacionado apenas a aspectos

cognitivos, mas também e, de igual importância, a aspectos afetivos. Na teoria

de Piaget, o desenvolvimento intelectual é considerado como tendo dois

componentes: um cognitivo e outro afetivo que se desenvolvem paralelamente.

A sala de aula é um lugar onde podemos observar o relacionamento entre

professor e aluno, relacionamento este que, muitas vezes, fica desgastado ou

sem estímulo. Para Oliveira (1998), o aspecto afetivo tem uma profunda

influência sobre o desenvolvimento intelectual. Ele pode aumentar ou diminuir o

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

20

interesse por determinados conteúdos e acelerar ou retardar o ritmo de

desenvolvimento do aluno.

È muito importante que haja um bom relacionamento entre professor e

aluno, pois, como já mencionamos, o ser humano é um ser emocional.

Aprendemos melhor os conteúdos que mechem com nossos sentimentos que

despertam o nosso interesse.

“O centro da inteligência emocional está no funcionamento da

amígdala cortical e de sua interação com o neocórtex. Quanto mais

intenso for o estímulo da amígdala, mais forte será o registro; as

experiências que mais nos apavoram ou emocionam na vida estão

entre nossas lembranças indeléveis. Isto significa que o cérebro tem

dois sistemas de memória: um para fatos comuns e outro para fatos

imbuídos de emoção”. (RELVAS, 2009, p. 124)

Sabendo disso, cabe ao professor tornar suas aulas mais atrativas, mais

significativas, mais emocionantes.

O ser humano, desde seu nascimento, pode ser considerado um ser

social, pois necessita de cuidados, afeto, carinho, amor.

“A psiquiatria atual é uma psiquiatria social, no sentido de que não se

pode pensar em uma distinção entre indivíduo e sociedade. É uma

abstração, um reducionismo que não podemos aceitar porque temos

a sociedade dentro de nós. Nossos pensamentos, nossas idéias,

nosso contexto geral é, na realidade, uma representação particular e

individual de como captamos o mundo de acordo com uma fórmula

pessoal, de acordo com nossa historia pessoal e de acordo com o

modo pelo qual esse meio atua sobre nós e nós sobre ele”.

(PICHON-RIVIÈRE, 2007: p. 43)

Wallon, médico e filósofo francês, dedicou grande parte de sua vida

estudando as emoções e a afetividade. Ele identificou as primeiras

manifestações afetivas do ser humano e afirma que a afetividade desempenha

um papel significativo na formação e no funcionamento da inteligência,

definindo os interesses e necessidade de cada indivíduo.

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

21

Ele atribui à afetividade um papel fundamental na formação da vida

psíquica, funcionando como uma ponte entre o social e o orgânico. As relações

da criança com o mundo exterior são, desde o nascimento, relações de

afetividade, pois ao nascer, não tem

“meios de ação sobre as coisas circundantes, razão porque a

satisfação das suas necessidades e desejos tem de ser realizada por

intermédio das pessoas adultas que a rodeiam. Por isso, os primeiros

sistemas de reação que se organizam sob a influência do ambiente,

as emoções, tendem a realizar, por meio de manifestações

consoantes e contagiosas, uma fusão de sensibilidade entre o

indivíduo e o seu entourage”. (WALLON, 1971: p. 262)

Educar não significa apenas repassar informações ou indicar um

caminho a seguir, que o professor julga ser o certo. Educar é ajudar o

educando a tomar consciência de si mesmo, dos outros e da sociedade em que

vive bem como de seu papel dentro dela. É saber aceitar-se como pessoa e

principalmente aceitar ao outro com seus defeitos e qualidades.

“Aprendizagem emocional é uma parte integral da aparente

aprendizagem cognitiva. A aprendizagem emocional acontece em um

contexto dinâmico, relacional e emocional inconsciente. Processos

cognitivos e emocionais quase sempre dirigem o crescimento exitoso

das capacidades cognitivas. A emoção vai dando forma à

aprendizagem. As crises emocionais, naturais ao desenvolvimento ou

específica da pessoa, vão influenciar de forma crônica e evolução

desta mesma aprendizagem.” (RELVAS, 2009: p.95)

Por que é tão importante a interação ou a relação do professor com o

educando?

“Não aprendemos de qualquer um, aprendemos daquele a quem

outorgamos confiança e o direito de ensinar”. (FERNANDEZ,

1991: p. 52)

Briggs (2000) define a importância da afetividade na vida de uma criança

como: “Ajudar as crianças a desenvolver a auto-estima é a chave de uma

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

22

aprendizagem bem sucedida”. Logo, a intenção dos professores terá maiores

possibilidades de se concretizar se a convivência com os alunos lhe

proporcionarem satisfação por ser quem são. Não se pode desconhecer, ou

ignorar, a característica mais importante da criança, seu grau de auto-respeito.

2.2 - Autoconfiança

Os sentimentos de autoconfiança se desenvolvem a partir de

contingências de reforçamento não sociais. Também das sociais, porém, com

ênfase diferente como veremos a seguir. O que é de suma importância para

desenvolver a autoconfiança é o fato de a criança ter a possibilidade de

apresentar um comportamento e, então, produzir consequências em seu

ambiente que fortaleçam tais comportamentos. Assim, se uma pessoa uma

pessoa aperta o interruptor e a lâmpada acende, a claridade do ambiente

reforça positivamente o comportamento de apertar o interruptor (não tem

necessidade de outra pessoa para reforçar o comportamento). Ou, uma pessoa

com uma bola de boliche na mão, a lança e derruba o conjunto de balizas, o

comportamento de lançar a bola é reforçado pelas balizas caídas. Ao subir

pelos galhos de uma goiabeira, a criança alcança a goiaba madura, apanha-a e

come-a. A goiaba é o reforça positivo. O comportamento de autoconfiança está

relacionado aos comportamentos bem sucedidos.

Outra classe de contingências de reforçamento ocorre quando o

reforçamento remove uma condição aversiva (pode-se falar de um

reforçamento negativo, porque ao contrário do positivo, esse comportamento

se fortalece quando se retira alguma coisa conseqüente ao comportamento).

Se uma pessoa ao fechar a janela da sala, cessa a entrada de fumaça do lixo

que se queima no terreno ao lado; ao mexer no botão do volume a intensidade

do som ambiente se reduz para um nível suportável; ou, ao usar um extintor de

incêndio adequadamente (comportamento), a pessoa apaga o fogo (remove o

evento aversivo) e etc.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

23

A autoconfiança é um sentimento que surge das contingências de

reforçamento positivo ou negativo. Fala-se que uma pessoa com sentimento de

autoconfiança é segura, confiante, tem iniciativa e etc. Segura e confiante

significa que a pessoa sabe que comportamento deve emitir para conseguir

reforços positivos ou remover eventos aversivos. Ter iniciativa significa que a

pessoa diante de uma situação-problema produz, sem ajuda de outra pessoa, a

resposta adequada, ou seja, aquela que produz consequências gratificantes ou

remove eventos aversivos.

Se as conseqüências para o comportamento são de natureza não social,

então o que os pais e professores devem fazer para desenvolver autoconfiança

na criança?

Em primeiro lugar, devem criar condições para que as crianças emitam

os comportamentos que serão consequenciados e não fazer o comportamento

por elas. Assim, se uma mãe vai até a padaria e pede para o filho esperá-la no

carro enquanto ela desce, compra o pão, o leite e um pirulito, que entrega para

o filho, essa mãe não criou condições para que o filho emitisse

comportamentos. Se, pelo contrário, ela lhe dissesse: “Filho, desça e compre

pão, leite e um docinho para você, enquanto estaciono o carro“, ela criaria

oportunidades para que o filho agisse e fosse consequenciado positivamente.

Assim a criança pediria o pão e a balconista a reforçaria entregando-lhe o pão.

Iria até ao caixa pagar os produtos que a reforçaria dando-lhe o troco e etc. Ou

seja, a mãe criaria oportunidades e a criança emitiria vários comportamentos e

todos seriam reforçados. A criança, então se sente capaz, segura e

autoconfiante.

Da mesma forma o professor deve promover aos alunos que

apresentam dificuldade de aprendizagem, atividades ou situações diante das

quais eles possam emitir um comportamento que venha a produzir

consequências que fortaleçam esses comportamentos, em outras palavras,

que desenvolvam a autoconfiança e que demonstre para o aluno que ele é

capaz. Como por exemplo, se uma criança que está aprendendo a escrever

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

24

pergunta ao professor: “Como se escreve barata?” e o professor simplesmente

soletra a palavra para ela, não estaria criando nenhuma oportunidade para que

ela emitisse comportamentos que seriam consequenciados. Mas se o professor

perguntasse: “Com que letra você acha que começa?” “Com que letra a palavra

termina?”, ou “Quantas sílabas esta palavra tem?” estaria criando

oportunidades para que a criança emitisse os comportamentos necessários

para o aprendizado.

Em segundo lugar, não basta os pais criarem condições para a criança

emitir comportamentos, se estas condições não forem adequadas. Assim, se a

goiabeira for muito alta e os galhos distantes entre si, a criança não alcançará a

goiaba e se sentirá frustrada e fracassada. Seu comportamento entrará em

extinção. A criança poderá dizer: “Não gosto de goiaba”; “Tenho medo de subir

em árvores.”; ”Não quero brincar disto.” e etc. A solução seria os pais

prestarem atenção na dificuldade da tarefa que vão propor para a criança e

adequarem as dificuldades da tarefa às habilidades da criança, escolhendo

uma árvore mais baixa por exemplo. Ou dar ajuda física para a criança de tal

forma que ela realize a tarefa com segurança.

Sendo assim, não adianta também, um professor propor a um aluno com

dificuldade na leitura ou na escrita uma atividade que suas habilidades já

adquiridas não o tornem capaz de resolvê-las. Por exemplo: propor a uma

criança que ainda está na hipótese pré-silábica, ou seja, ainda não diferencia

letra de número, representa palavras com desenhos ou pseudoletras uma

atividade de leitura e interpretação de texto. Isto só deixaria a criança

desmotivada, insegura e sem autoconfiança. Mas se o professor oferecesse a

esta criança uma atividade na qual devesse recortar e colar o nome de

algumas frutas, observando o som da letra inicial e a quantidade de letras,

provavelmente esta criança toparia o desafio e apresentaria êxito na atividade.

Desta forma aumentaria a motivação, segurança e autoconfiança desta

criança.

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

25

“A causa mais comum do bloqueio ao aprendizado, particularmente

em crianças de famílias de classe média, vem da pressão indevida

que sofrem para atingir certas metas que estão além de sua

capacidade”. (BRIGGS, 2000, p. 169)

Devemos desenvolver a autoconfiança em nossas crianças

apresentando atividades desafiadoras, contudo, possíveis de serem realizadas

por elas e, sempre que necessário, oferecer auxílio.

2.3 – Auto-estima

A auto-estima é muito importante para o sucesso da pessoa em

qualquer área de sua vida, principalmente para a criança durante o processo

de aquisição da leitura e da escrita.

“Ajudar as crianças a desenvolver sua auto-estima é a

chave de uma aprendizagem bem-sucedida”. (BRIGGS,

2000, p. 7)

Muitas vezes a palavra auto-estima é usada como sinônimo de

autoconfiança e auto-aceitação, no entanto, se formos analisar mais

profundamente o significado dos termos em questão, poderemos constatar que

existe algumas diferenças, como notaremos a seguir: autoconfiança quase

sempre está relacionada à competência pessoal e é definida como a certeza

que uma pessoa tem, de ser capaz de realizar alguma coisa, enquanto auto-

aceitação, é um termo utilizado para o conceito de aceitação incondicional de si

mesmo. Já o termo auto-estima tem um significado mais amplo, incluindo, por

exemplo, conceitos sobre as próprias qualidades.

A autoconfiança, a auto-aceitação e a auto-estima costumam estar

profundamente relacionadas e se influenciam umas às outras.

A auto-estima é uma apreciação que uma pessoa possui de si mesma

em relação à sua autoconfiança. É através dela que podemos enfrentar os

desafios que a vida nos oferece e defender nossos interesses. É formada ainda

na infância, tendo como principal componente para sua formação, o tratamento

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

26

que a criança recebe. Se a criança sempre for menosprezada ou humilhada em

relação às suas atitudes, sua auto-estima será baixa. Se a criança for sempre

apoiada nas suas atitudes, terá a auto-estima elevada. É importante salientar

que a criança pode ser apoiada em momentos em que é advertida por causa

de alguma atitude, pois nos momentos que ocorrem as advertências dá-se a

essa criança o devido valor e ainda a ensina a ter domínio próprio e a distinguir

atitudes certas e erradas.

Podemos dizer que o ser humano necessita ser ouvido, acolhido e

valorizado, ajudando desta maneira a formação de uma boa imagem de si

mesmo. Assim, a afetividade está intimamente relacionada à formação da auto-

estima.

A auto-estima é considerada muito importante, pois é por meio dela que

nos identificamos com nós mesmos e com os outros que fazem parte do nosso

convívio social. Para que haja contribuição da formação da auto-estima é

importante que esta ajuda seja positiva. Nela, não critique, não culpe, não

humilhe, não rejeite, não exponha a perda e não frustre. Muito pelo contrário,

devemos contribuir com incentivos que levam a criança a se gostar, a perceber

suas qualidades, a se conhecer e a acreditar que é amada e respeitada.

Quantas pessoas vivem tristes e frustradas porque não conseguiram ir

um pouco além, nos estudos, nas realizações pessoais ou não foram

promovidos no trabalho e culpa a situação, os pais e até mesmo as

oportunidades que não lhe foram concedidas?

“O professor é o marinheiro dos novos tempos. No momento em que

se descobrem as verdades das inteligências múltiplas e se configura

o novo papel da educação, centrada em um aluno a ser descoberto

em sua extrema singularidade, emerge, como um dos mais

importantes profissionais do século, aquele que tem o privilégio de

colaborar diretamente na formação integral do indivíduo para os

novos tempos”. (ANTUNES, apud RELVAS, 2009, p. 115)

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

27

O professor como conhecedor dessa nova verdade poderá contribuir

para o desenvolvimento dos indivíduos de acordo com suas habilidades e

trabalhar cada inteligência buscando formar cidadãos felizes e realizados.

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

28

CAPÍTULO III:

A PSICOPEDAGOGIA E AS DIFICULDADES DE

LEITURA E ESCRITA.

O psicopedagogo deve sempre estar atento a novas situações, se

atualizando, buscando novos caminhos para resolver conflitos e situações

inusitadas.

Na escola, deve sempre estar atento na formação das crianças,

principalmente aquelas que por algum motivo, seja ele econômico, social,

cognitivo, emocional, etc. não consigam aprender. Contagiar, todos os

profissionais envolvidos com educação, à utilização de novos métodos capazes

de atender a diferentes demandas.

Apesar do psicopedagogo ainda não ser reconhecido, sua função na

escola é essencial, pois contribui para uma maior reflexão sobre o processo de

aprendizagem e o desvio do mesmo. Daí nasceu a Psicopedagogia, da

necessidade de uma melhor compreensão do processo de aprendizagem e se

tornou uma área de estudo específica que busca conhecimento em outras

ciências e cria seu próprio objeto de estudo. (Bossa, 2000)

No Brasil, a Psicopedagogia surge nos anos 70, a partir da necessidade

de atendimento a crianças com distúrbios na aprendizagem, consideradas

inaptas dentro do sistema educacional convencional, porém, os cursos na área

só começaram a se multiplicar nos anos 90.

A Psicopedagogia vem para auxiliar todos os envolvidos com a

aprendizagem, buscar as causas dos fracassos escolares e resgatar o prazer

de aprender, podendo assim orientar instituições escolares, professores, pais,

alunos, objetivando transformar as relações como aprendizado.

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

29

Segundo Fernández (1994) a libertação da “inteligência aprisionada”

somente poderá ocorrer através do encontro com o perdido prazer de

aprender.

Diante do baixo desenvolvimento acadêmico, as escolas estão cada vez

mais preocupadas com os alunos que têm dificuldades de aprendizagem, em

maior concentração os que não conseguem ler e escrever, as crianças não

aprendem no processo considerado normal e parece não ter mais solução para

esses alunos.

É exatamente neste momento que o papel de psicopedagogo

institucional se faz presente nas escolas para atuar junto aos professores e

outros profissionais de educação para melhoria de condições do processo de

aprendizagem, assim bem como a aquisição da leitura e da escrita que tem

sido gritante nos dias atuais.

Por meio de processos e métodos próprios o psicopedagogo vem intervir

junto com os métodos muitas vezes retrógrados utilizados na instituição de

ensino, facilitando assim o processo de ensino aprendizagem dos alunos.

A Psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o processo de

aprendizagem e com os problemas decorrentes. Se existissem nas escolas

psicopedagogos trabalhando com essas dificuldades, o número de crianças

seria bem menor, das que apresentam tanta dificuldade na aprendizagem.

Fica como papel do psicopedagogo identificar e avaliar os problemas de

aprendizagem, e buscar conhecê-lo em seus potenciais construtivos e em

suas dificuldades, encaminhando-o, por meio de relatório, quando necessário,

para outros profissionais – psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, etc. que

realizam diagnóstico especializado e exames complementares com o intuito de

favorecer o desenvolvimento da potencialização humana no processo de

aquisição do saber.

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

30

Segundo Dembo (apud SISTO, 1996, p. 57) “Evidências sugerem que

um grande número de alunos possui características que requerem atenção

educacional diferenciada”.

Então o psicopedagogo neste sentido pode contribuir e muito, auxiliando

educadores e aprofundarem seus conhecimentos sobre as teorias do ensino-

aprendizagem e as recentes contribuições de diversas áreas do conhecimento,

redefinindo-as e sintetizando-as numa ação educativa. Esse trabalho permite

que o educador se olhe como aprendente e como ensinante.

O psicopedagogo está preparado para auxiliar os educadores realizando

atendimentos pedagógicos individualizados, contribuindo para a compreensão

de problemas na sala de aula, permitindo ao professor ver alternativas de ação

e ver como as demais técnicas podem intervir bem como participação do

diagnóstico dos distúrbios de aprendizagem e do atendimento a um pequeno

grupo de alunos. Para o psicopedagogo, a experiência de intervenção junto ao

professor, num processo de parceria, possibilita uma aprendizagem muito

importante e enriquecedora, principalmente se os professores forem

especialistas em suas disciplinas. Não só sua intervenção junto ao professor é

positiva. Também o é a sua participação em reuniões de pais, esclarecendo o

desenvolvimento dos filhos; em conselhos de classe, avaliando o processo

metodológico; na escola como um todo, acompanhando a relação professor e

aluno, aluno e aluno, aluno que vem de outra escola, sugerindo atividades,

buscando estratégias e apoio.

Segundo Bossa (1994)... cabe ao psicopedagogo perceber eventuais

perturbações no processo de aprendizagem, participar da dinâmica da

comunidade educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações

metodológicas de acordo com as características e particularidades dos

indivíduos do grupo, realizando processos de orientação, já que no caráter

assistencial, o psicopedagogo participa de equipe responsáveis pela

elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas

educacionais, fazendo com que os professores, diretores e coordenadores

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

31

possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades

individuais de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem.

O estudo psicopedagógico atinge seus objetivos quando, ampliando a

compreensão sobre as características e necessidades de aprendizagem de

determinado aluno, abre espaço para que a escola viabilize recursos para

atender às necessidades de aprendizagem. Para isso, deve-se analisar o

Projeto Político Pedagógico, sobretudo quais as suas propostas de ensino e o

que é valorizado como aprendizagem. Desta forma, o fazer psicopedagógico se

transforma podendo se tornar uma ferramenta poderosa no auxílio de

aprendizagem.

A intervenção do psicopedagogo junto à família

A aprendizagem não ocorre somente na escola, mas também é

construída pela criança em contato social, dentro da família e do mundo que a

cerca. Sendo o primeiro vínculo da criança a família é responsável por grande

parte da sua educação e também de sua aprendizagem.

Por meio dos ensinamentos oriundos de casa a criança é então inserida

no mundo cultural, simbólico e começa a construir seus conhecimentos, seus

saberes. Contudo, na realidade, hoje em dia o que temos visto famílias

perdidas, não sabendo controlar situações novas como: pais trabalhando o dia

inteiro, pais desempregados, brigas, drogas, pais analfabetos, pais separados

e mães solteiras. As famílias por sua vez transferem as responsabilidades

familiares para a escola, só que a escola não está preparada para lhe dar com

todas essas questões, pois essa não é a função da escola, que acaba tendo

que desviar suas funções para suprir essas necessidades.

Como observa Sarramona (apud IGEA, 2005, p. 19) a escola veio

ocupar uma das funções clássicas da família que é a socialização: A escola se

converteu na principal instituição socializadora, no único lugar em que eu os

meninos e as meninas têm possibilidade de interagir como iguais e onde se

devem submeter continuamente a uma norma de convivência coletiva.

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

32

Cabe então o psicopedagogo intervir junto à família das crianças que

apresentam dificuldades de aprendizagem, por meio, por exemplo, de uma

entrevista e de uma anamnese com essa família para tomar conhecimento de

informações sobre sua vida orgânica, cognitiva, emocional e social.

Conhecer a família bem como seus objetivos, seus anseios, suas

expectativas em relação ao desenvolvimento do filho é de suma importância

para o psicopedagogo fazer um diagnóstico.

Como diz Bossa (1994) sobre o diagnóstico: o diagnóstico

psicopedagógico inicia, segundo vimos afirmando, numa atitude investigadora,

até a intervenção. É preciso observar que esta atitude investigadora, de fato,

prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo de

observação ou acompanhamento da evolução do sujeito.

Na maioria das vezes, quando o fracasso escolar não está associado às

desordens neurológicas, o ambiente familiar tem grande participação nesse

fracasso. Boa parte dos problemas encontrados é: lentidão de raciocínio, falta

de atenção e desinteresse. Esses aspectos precisam ser trabalhados para se

obter melhor rendimento intelectual. Lembramos que a escola e o meio social

também têm sua responsabilidade no que se refere ao fracasso escolar.

A família é a maior responsável pelo problema acima citado, pois muitas

vezes não querem enxergar a criança que tem dentro de casa muitas vezes

pedindo socorro, um abraço, um carinho, e que acabem por não produzirem na

escola para chamarem atenção para sua carência. O vínculo afetivo é

primordial par ao bom desenvolvimento da criança.

Souza (1995) diz que: ...fatores da vida psíquica da criança podem

atrapalhar o bom desenvolvimento dos processos cognitivos, e sua relação

com a aquisição de conhecimentos e com a família, na medida em que atitudes

parentais influenciam sobremaneira a relação da criança com o conhecimento.

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

33

Entendemos que a criança só aprende quando ela demonstra o desejo

por tal conhecimento. E para isso é importante que os pais contribuam para

que ela desenvolva esse desejo.

Por parte da família sempre existe uma perspectiva sobre a criança que

é de que ela se desenvolva bem, aprenda tudo que tem de aprender, seja

sempre bem sucedida, por vezes esse desejo não é alcançado então acriança

acaba por ser rejeitada pela família sendo então colocada em segundo plano,

começam então vários problemas de aprendizagem.

Boszormeny (apud POLITY, 2000) diz que: uma criança pode desistir da

escola porque aceita uma responsabilidade emocional, encarregando-se do

cuidado de algum membro da família. Isso se produz, em resposta à depressão

da mãe e da falta de disponibilidade emocional do pai que, de que maneira

inconsciente, ratifica a necessidade que tem a esposa, que seu filho a cuide.

O psicopedagogo neste momento tem um papel importante que é de

promover reuniões, possibilitando o acompanhamento do trabalho realizado

junto aos professores. Assegurada uma maior compreensão, os pais ocupam

um novo espaço no contexto do trabalho, abandonando o papel de meros

espectadores, assumindo a posição de parceiros, participando e opinando.

O psicopedagogo estimula o desenvolvimento de relações interpessoais,

o estabelecimento de vínculos, a utilização de métodos de ensino compatíveis

com as mais recentes concepções a respeito desse processo. Procura envolver

a equipe escolar, ajudando-a a ampliar o olhar em torno do aluno a superar os

obstáculos que se interpõem ao pleno domínio das ferramentas necessárias à

leitura do mundo.

A aprendizagem humana é determinada pela interação entre o indivíduo

e o meio, da qual participam os aspectos biológicos, psicológicos e sociais.

Dentro dos aspectos biológicos, a criança apresenta uma série de

características que lhe permitem, ou ao, o desenvolvimento de conhecimentos.

As características psicológicas são conseqüentes da história individual, de

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

34

interações com o ambiente e com a família, o que influenciará futuras

experiências, como, por exemplo, o conceito de si própria, insegurança,

interações sociais, etc.

É muito importante que a criança seja estimulada em sua criatividade e

que suas curiosidades sejam respondidas por meio de descobertas concretas,

desenvolvendo a sua auto-estima, criando em si uma maior segurança,

confiança, o que é tão necessário para a vida adulta.

É preciso que os pais se dediquem aos processos educativos dos filhos

no sentido de motivá-los afetivamente no processo de aprendizagem. O

aprendizado formal ou a educação escolar, não depende apenas de uma boa

escola ou de bons programas, para ser bem-sucedida, mas, de como a criança

é tratada em casa e dos estímulos que ela recebe para aprender, pois aprender

é um processo contínuo e não para quando está em casa.

Para entender o que acontece nas escolas e no sistema educacional,

devemos ter como referência as mudanças sociais, culturais e políticas. O

psicopedagogo deve estar inteirado com estas mudanças e saber interpretar

para poder agir e ajudar, fazendo com que as experiências de aprendizagem

sejam prazerosas para a criança e, principalmente, que promova o

desenvolvimento.

Logo, a Psicopedagogia, pode fazer um trabalho entre os muitos

profissionais, visando à descoberta e o desenvolvimento das capacidades da

criança, bem como pode contribuir para que os educandos sejam capazes de

observar o mundo em que vivem, de saber interpretá-lo e de ter condições para

interferir nele com segurança e competência. Desta forma, o psicopedagogo

não contribuirá apenas para o desenvolvimento da criança, mas também para a

evolução de uma escola com melhores condições para todos.

Diante do baixo desempenho por parte dos alunos a escola está cada

vez mais preocupada com a situação escolar das crianças que não aprendem

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

35

com o processo considerado normal, vem pensando em contribuir para a

superação dos problemas de aprendizagem.

Então o psicopedagogo vem trabalhar junto à área educacional

assistênciando aos professores e outros profissionais da instituição escolar

para melhoria das condições do processo ensino-aprendizagem, bem como

para prevenção dos problemas de aprendizagem.

Por meio de métodos próprios, o psicopedagogo possibilita uma intervenção

psicopedagógica visando à solução de problemas de aprendizagem em

espaços institucionais. Junto com a equipe da escola, mobiliza a construção de

espaços adequados às condições favoráveis de aprendizagem.

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

36

CONCLUSÃO

Diante da pesquisa percebemos que muitos professores desejam que

seus alunos se desenvolvam no processo de aquisição da leitura e da escrita

utilizando um método convencional e que todos progridam de maneira

uniforme, ou seja, que todos aprendam independente das suas diferenças e

pensam que as crianças são sacos vazios quando chegam à escola, porém

devem ter em mente que elas trazem consigo diferentes aprendizados, pois

estão inseridas em diferentes culturas.

A família por sua vez influi grandemente no desempenho acadêmico do

aluno, e sua omissão na escola tem sido consideravelmente gritante,

percebendo que por muitas vezes quando queremos ajudar um aluno

constatamos que ele tem baixa auto-estima, carência afetiva e psicológica.

O professor deve ser um eterno investigador para que possa ajudar seus

alunos, considerando que nem todos irão aprender da mesma forma, pois cada

um tem suas peculiaridades, sendo assim, deve utilizar diferentes metodologias

e tornar a sala de aula um ambiente agradável e acolhedor para seus alunos.

Consideramos também que a carência de profissionais como psicólogo

escolar, orientador pedagógico, orientador educacional, fonoaudiólogo e

psicopedagogo fazem muita falta para ajudar ao professor nas dificuldades que

os alunos apresentam, deixam-no impotente diante de várias situações.

Portanto, o importante é que no mínimo, haja uma formação continuada

para os professores e que os mesmos tenham o compromisso com a educação

e vontade de aprender sempre mais, questionar sempre a prática, querendo

melhorar continuamente para alcançar o principal objetivo da escola que é

formar cidadãos críticos, conhecedores de seus direitos e deveres na nossa

sociedade.

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ANTUNES, Celso. A construção do afeto. São Paulo: Augustus Editora, 4ª ed.,

2001.

_______________. Alfabetização Emocional. Petrópolis, RJ: Ed. Vozes, 7ª ed.,

1999.

NUNES, Terezinha; BUARQUE, Lair; BRYANT, Peter. Dificuldades na

aprendizagem da leitura: teoria e prática. 4ª ed. São Paulo, Cortez Ed., 2001.

Videorevista em DVD sobre Auto-estima na Educação, Coleção Grandes

Educadores por Celso Antunes, Ed. Atta Mídia e Educação, São Paulo, SP.

Videorevista em DVD sobre Henri Wallon, Coleção Grandes Educadores, por

Isabel Galvão, Ed. Atta Mídia e Educação, São Paulo, SP.

Videorevista em DVD sobre Lev Vygotsky, Coleção Grandes Educadores por

Marta Kohl de Oliveira, Ed. Atta Mídia e Educação, São Paulo, SP.

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

38

BIBLIOGRAFIA CITADA

1 – BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil. Porto Alegre: Artmed. , 2000.

2 – BRIGGS, Dorothy C. A auto-estima do seu filho. São Paulo: Martins Fontes,

2000.

3 – FERNANDEZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada: Abordagem

Psicopedagógica Clínica da Criança e da Família. Porto Alegre: Artes Médicas,

1994.

4 – FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. 4ª

ed. Artes Médicas, 1991.

5 – FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se

completam. 50ª ed. São Paulo: Cortez Ed., 2009.

6 – GESELL, A; AMATRUDA, C. Diagnóstico do desenvolvimento

neuropsicológico do lactente e na criança pequena – o normal e o patológico.

São Paulo: Livraria Atheneu, 1987.

7 – IGEA, Benito Del Rincón e colaboradores. Presente e futuro do trabalho

psicopedagógico. Porto Alegre: Artmed, 2005.

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

39

8 – LAROSA, Marco Antonio; Ayres, Fernando Arduini. Como produzir uma

monografia passo a passo... Siga o mapa da mina. 6ª ed. Rio de Janeiro: Wak

Ed., 2005.

9 – OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky. Aprendizado e desenvolvimento: Um

processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1998.

10 – PICHON-RIVIÈRE, Enrique. Teoria do vínculo; Tradução Eliane Toscano

Zamikhouwsky. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

11 – POLITY, Elizabeth. Dificuldade de aprendizagem e família: construindo

novas narrativas. São Paulo: Vetor, 2001.

12 – RELVAS, Marta Pires. Fundamentos Biológicos da Educação:

despertando inteligências e afetividade no processo de aprendizagem. 4ª ed.

Rio de Janeiro: Wak Ed., 2009.

13 – ___________________. Neurociências e transtornos de aprendizagem:

as múltiplas eficiências para uma educação inclusiva. 3ª ed. Rio de Janeiro:

Wak Ed., 2009.

14 – SISTO, F. et al. A atuação psicopedagógica e aprendizagem escolar.

Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

40

15 – SOUZA, Audrey Setton Lopes. Pensando a inibição intelectual;

perspectiva psicanalítica e proposta diagnóstica. São Paulo: Casa do

Psicólogo, 1995

16 – WALLON, Henri. As origens do caráter na criança. São Paulo: Difusão

Européia do livro, 1971.

17 – WEISS, Alba Maria Lemme; CRUZ, Maria Lúcia R. A Informática e os

Problemas de Aprendizagem. Rio de Janeiro: Ed. DP&A, 1999.

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS … cumprir seu mais antigo papel: ensinar a ler e escrever. O tema deste estudo é a dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição da leitura

41

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Título da Monografia: Dificuldade de aprendizagem no processo de aquisição

da leitura e da escrita.

Autor: Vladimir da Luz e Cunha.

Data da entrega: 22 de agosto de 2010.

Avaliado por: Conceito