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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO DE PESQUISA SÓCIO-PEDAGOGICAS
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
O ENSINO RELIGIOSO NA FORMAÇÃO
DA CIDADANIA
Por: Sonia Victoria Sanches Tomaz
Prof. Ms Mary Sue Pereira
Rio de Janeiro
2001
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO DE PESQUISA SÓCIO-PEDAGOGICAS
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
O ENSINO RELIGIOSO NA FORMAÇÃO
DA CIDADANIA
Apresentação de monografia ao conjunto
Universitário Cândido Mendes como
Condição prévia para a conclusão do
Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”
Em supervisão escolar
Por Sonia Victoria Sanches Thomaz
A Deus que me deu o Dom da fé e da
Confiança inabalável.
À Santa Terezinha do Menino Jesus.
Aos Santos Anjos que estiveram comigo
Durante toda a caminhada.
Às amigas que foram anjos na Terra.
....dedico as minhas filhas Carol e Juju que tiveram paciência e aceitaram as minhas
ausências.
SUMARIO
INTRODUÇÃO 06
CAPÍTULO I 07
CAPÍTULO II 10
CAPÍTULO III 15
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 24
BIBLIOGRAFIA CITADA 25
ANEXOS 26
INTRODUÇÃO
Nos últimos tempos nos deparamos com uma sociedade cada vez mais
desumana. Os valores éticos e morais foram substituídos pelo desejo de vencer a
qualquer preço.
Os pais e educadores já não sabem como transmitir aos mais jovens
calores como respeito, ética, senso de dever. O absurdo parece natural e muitos
adultos perderam a capacidade de estabelecer limites e regras para seus filhos e
educadandos, a noção de limite, de certo e de errado.
Deparamo-nos a todo o momento com atitudes grosseiras de falta de
civilidade. Seja no transito, no supermercado, na escola ou no trabalho, as pessoas
agem pensando somente em si mesmas sem se preocupar com o outro. O mal
exemplo é dado pelos altos escalões da política que extrapolam o poder causando
sacrifício ao povo, principalmente a camada mais pobre.
Junta-se a tudo isso a influencia extremamente forte da mídia,
incentivando o consumo, os valores cada vez mais materiais e imediatistas.
Precisamos resgatar os valores éticos para a nossa vida, para nossa
volta. A atitude ética é uma decisão de foro intimo, não precisa de aprovação dos
demais, pois quando acreditamos realmente em nossos valores, não precisamos
nem queremos, aprovação e reconhecimento alheios. Eles passam a fazer parte de
nós mesmos, passam a constituir o nosso próprio ser, e todas as nossas ações
decorrem de e para eles.
“A historia nos revela que não há neutralidade em educação, porque
toda proposta de educação é proposta de valores, de tipo de homem e de
sociedade”.(Est. C.N.B.B.,p.11)
Exatamente essa é a proposta do ensino religioso, resgatar os valores
fundamentais da existência humana, encontrar a razão de nós e ao mesmo tempo
dentro de cada um.
Diante da proposta de educação integral é impossível pensar no
verdadeiro desenvolvimento das transcendentais do homem.
Por isso é necessário cultivar no homem aquelas razões mais intimas,
fortalecer o caráter de cidadão, desenvolver seu espírito de participação, oferecer
critérios para a segurança de seu juízo e aprofundar as motivações para a autentica
cidadania.
ÍNDICE
AGRADECIMENTO III
DEDICATÓRIA IV
SUMÁRIO V
INTRODUÇÃO 06
CAPÍTULO I
O QUE É RELIGIÃO 07
CAPÍTULO II
FALANDO DE RELIGIÃO 09
CAPÍTULO III
ESTUDO DAS LEIS
SOBRE O ENSINO RELIGIOSO 14
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 23
BIBLIOGRAFIA CITADA 24
O QUE É RELIGIÃO
Desde o inicio dos tempos o homem tem buscado o sentido da vida e o
motivo da morte. Todos as civilizações existentes possuem algum tipo de
manifestação religiosa, não há registro de grupo social sem que haja juntamente
registro de religiosidade.
“ Assim como não existe sociedade sem religião, também não existe
sociedade, por mais grosseira que seja a sua organização na qual não se encontre
todo um sistema de representações coletivas que se relacione com a alma, com a
sua origem, com seu destino.” (Durkheim,1989,p.27)
Desde as mais primitivas culturas o homem tem tentado responder ao
enigma a respeito da existência de Deus, do sentido da vida, do limite da morte. A
religião se propõe a respondes a essas perguntas, prometendo paz interior,
libertação das angustias, esperanças de ordens sociais mais fraternas e justas, de
harmonia com a natureza.
A cultura por si só não dá conta de saciar os desejos do homem.
Juntam-se assim o amor, o desejo, a imaginação, as mãos e os símbolos, para criar
um mundo que faça sentido, que esteja em harmonia com os valores do homem que
o constrói, que seja espelho, espaço amigo, lar. Realização concreta dos desejos do
Espírito.
Esse desejo não se realizou em cultura alguma, pois o corpo que busca
amor se defronta com a rejeição, a crueldade, a injustiça da realidade social.
É aqui que sugere a religião, como uma tentativa de se tornar horizonte
dos horizontes, uma teia de símbolos, rede de desejos, confissão de espera.
A religião envolve o mundo das coisas sagradas, do transcendente, do
mistério. O mundo Sagrado envolve gestos como os silêncios, as rezas , as canções,
os perfumes, os altares, os amuletos, as vestimentas. Gestos e coisas comuns e
sem importância no dia a dia, tornam-se sagrados quando estão ligados a
religiosidade.
“Quando certo número de coisas Sagradas mantém entre si relações de
coordenação e de subordinação de maneira a formar sistema com certa unidade,
que, entretanto, não entra em nenhum outro sistema do mesmo gênero, o conjunto
das crenças e ritos correspondentes constitui religião.” (Durkhein, 1989, p.72).
Coisas e gestos tornam-se sagrados quando os homens as entendem
como tal. Mas por coisas sagradas, não se devem estender simplesmente esses
seres pessoais que chamamos de deuses ou espíritos; um rochedo, uma árvore,
enfim, qualquer coisa pode ser sagrada. A religião nasce do poder que o homem tem
de dar nome as coisas, fazendo uma discriminação entre as secundárias e as coisas
importantes para seu destino, sua vida e sua morte.
A religião é constituída pelos símbolos que os homens usam. Logo, já
que os homens e as sociedades são diferentes, seus mundos sagrados também são.
“Os fenômenos religiosos ordenam-se naturalmente em duas categorias
fundamentais: as crenças e os ritos. As primeiras são estados da opinião, consistem
em representações, os segundos são modos de ação determinados”.(Durkheim ,
1989 , p.67)
Os símbolos sagrados têm o poder de exorcizar o medo, de dar
coragem para lutar e enfrentar os desafios da vida ou simplesmente de aceitar as
fatalidades como sendo o desejo de um ser maior.
“Ao entrar no mundo sagrado descobre-se que uma transformação se
processa. A linguagem fala de coisas invisíveis, além dos sentidos comuns, que só
podem ser vistos com os olhos da fé”. (Rubem Alves, 1999, p.26)
Que poder mágico permite aos homens falar sobre aquilo que nunca
viram? Para a religião não importa os fatos, importam os objetos que a fantasia e a
imaginação podem construir. A religião tem o poder, o amor e a dignidade do
imaginário.
Segundo Rubem Alves (1999) a cultura é fruto da imaginação, pois o
homem ao contrario dos animais não sobrevive por meio de artifícios, de adaptação
física, ele cria a cultura e com sala,as redes simbólicas da religião.
Para ele o sagrado é o centro do mundo, a origem da vida, a fonte das
normas, a garantia da harmonia.
A religião ajuda a criar normas de convivência social, dita regras,
aponta os valores, organiza as relações.
Pois, quando roubadas daquele centro sagrado que exige a reverência
dos indivíduos para com as normas da vida social, as pessoas perdem seus pontos
de referência. Sobrevivem a anomia.
Assim a sociedade é o Deus oculto que todas as religiões adoram,
mesmo que escondida aos olhos dos fieis.
Durkheim (1999) afirma que a consciência do sagrado só aparece em
virtude da capacidade humana para imaginar uma sociedade totalmente profana,
secularizada. Para ele onde existe sociedade, ali também estão as experiências
sagradas, os deuses. Chegou a afirmar que existe algo de eterno na religião que
está destinado a sobreviver a todos os símbolos particulares nos quais o
pensamento humano sucessivamente se envolveu. Não pode haver uma sociedade
que não sinta necessidade de manter e reafirmar, a intervalos, os sentimentos
coletivos e idéias coletivas que constituem sua unidade e personalidade.
Por detrás dos mitos e ritos, cerimônias mágicas e benzeções,
procissões e promessas, podemos perceber os contornos ainda que tênues, do
homem que espera uma nova terra, um novo corpo, uma nova vida. E seus sonhos
religiosos se transformam em fragmentos utópicos de uma nova ordem a ser
construída.
“Como forem os pensamentos e as disposições do homem, assim será
o seu Deus; quanto valor tiver um homem, exatamente isso e não mais será o valor
do seu Deus.
Deus é a mais alta subjetividade do homem...
Este e o mistério da religião”.
FALANDO DE RELIGIÃO
Quando falamos em religião, em ética religiosa a maioria de nós
brasileiros se transporta aos ensinamentos de Jesus. Pois ele é o referencial maior
de alguém que viveu e ensinou o respeito a igualdade a dignidade e o amor.
“ Jesus é servidor: anuncia o Reino de Deus , instaura novas
relações com ele e desmascara as deturpações idolatrias (...) Seu anuncio vem
acompanhado da realização de sinais de sua atuação ( a opção pelos pobres e
marginalizados a , denúncia da mentira farisaica) ( Rúbio, 1994, p.48)
Porém Jesus nasceu no meio de um povo que tem a sua relação
com o Deus da aliança marcada por muitos encontros e desencontros.
A história começa aproximadamente em 1880 a.c., quando
Abraão que pertencia a uma ceita politeísta ouve a voz de Deus, que lhe diz para sair
de sua terra e seguir para onde ele indicar. Abraão obedece e começa assim uma
relação de amor e obediência .
Dos descendentes de Abraão surge o povo que irá formar as 12
tribos de Israel e da tribo de Judá surge o povo judeu.
Durante a caminhada e o crescimento desse povo Deus lhes
ensina a viver em comunidade partilhando o que possuíam e respeitado o direito do
outro crer em Deus era um compromisso também com o próximo, com o direito a
igualdade ao respeito.
Escrito durante e depois do exílio da Babilônia o livro do Gênesis
busca fundamentar um processo gerador da vida (,,,) cada pessoa traz dentro de si
uma dignidade que é a centelha do próprio Deus e toda afronta a esta dignidade é
uma afronta a Deus.
(Mazzarolo, 1998)
Todas as vezes que o povo se esqueceu de que Deus vive no
outro , Iaweh se manifestou seja por meio da aliança feita com Moises no deserto,
por meio de castigo e esquecimento como no período de exílio, por meio dos
profetas que denunciavam as injustiças. E finalmente através de Jesus que vem
resgatar o homem de sus erros e apontar que a boa nova da salvação é o amor ao
próximo.
O educador religioso é aquele que leva a boa nova do amor, do
respeito, do direito a cidadania dos meios para alcançar uma vida digna.
Ser cristão e antes de tudo, ser alguém que abraça a causa do
Cisto na sua vida, é restabelecer a todo o momento a aliança com o Deus de Moisés
, é ser profeta, a voz que clama por justiça e igualdade, que denuncia o abuso de
poder. É acreditar verdadeiramente que somos todos irmãos diante de um mesmo
Deus que é Pai, todo poderoso e misericordioso. Que nos ama incondicionalmente e
nos chama a viver no amor, respeitando a dignidade do próximo e a nossa.
“Respeitar as diferenças e encontrar nelas o ponto de união que nos faz todos iguais,
seja qual for a nossa cor, condição social ou credo”. (veja p,174)
A Igreja fundada pelas primeiras comunidades cristãs tem como
preocupação maior o anúncio de Jesus ressuscitado. Procuram viver o projeto do
Reino no seu dia a dia, respeitem tudo o que possuem, não estabelecem diferenças
entre os membros da comunidade, pois pelo batismo todos são iguais.
Porem com o passar do tempo essa Igreja começa a perder as
suas características , a partir da legalização do cristianismo como religião oficial do
Império Romano em 313 pelo Imperador Constantino, os cristãos passam
gradativamente de perseguidos a perseguidores. A Igreja e o rei são uma só voz que
se propõe a espalhar a fé pela força e não pela palavra e vida.
Insta-la um longo período de perseguições e injustiças que ira
causar a morte e revolta de muitos e a ruptura da Igreja. O ideal de Cristo é
totalmente esquecido, a causa do amor dá lugar a violência e ao afastamento do
projeto de Deus, o mundo fica órfão de amor e misericórdia .
Algumas vozes se levantaram contra as praticas da Igreja:
No ano de 1054 a Igreja Ortodoxa se separa da Igreja de Roma.
No século XII Francisco de Assis funda a Ordem dos Frades
Menores, numa tentativa de regate das origens cristãs
Em 1517, Martinho Lutero (monge alemão) com o apoio dos
monarcas de seu país, lidera a reforma protestante, na Inglaterra o rei Henrique VIII,
rompeu com o Papa e aos poucos começa a adotar várias das idéias da reforma , aí
irá surgir a igreja Anglicana. Os reformadores suíços criam uma igreja dirigida por
representantes eleitos a igreja Presbiteriana.
O cristianismo segue separado, porém tendo Jesus como
alicerce. Diferem nos ritos, na forma de culto, de adoração, de oração , mas todas
encontram em Cristo a inspiração ao amor fraterno.
É tarefa do educador religioso resgata os valores cristãos,
ensinar o outro a ser pessoa, a acreditar que é capaz, faze-lo ir atrás da vida, do
sonho, conquistar o seu espaço. Resgatar um lugar melhor para viver, na igualdade
e no respeito a individualidade e escolha do outro.
Deixar de lado o moralismo que cega e cria preconceito e
aprender a ser ético de verdade ser ético é mais que ser moralista, pois a ética está
alem do moral, ela é a crença, o desejo, a paixão é a força que nos impulsiona a
fazer o certo porque acreditamos que seja o melhor para todos. Ser ético é ser e não
ter olhos para a conduta do outro, não julgar e procurar fazer o seu melhor.
A educação precisa buscar no exemplo de Cristo, que apontou
as injustiças de seu tempo, serviu e amou até as ultimas conseqüências, a inspiração
para guiar as novas gerações, aqueles que têm sede e fome de justiça. Sem
contudo, esquecer ou desrespeitar a opção religiosa e o ponto de vista de cada um.
Somos seres de relação e é na troca que se estabelece a
aprendizagem e o crescimento,o alargamento dos horizontes o amadurecimento.
O ensino religioso é o campo fértil para lançar a semente dos
direitos humanos, para trabalhar com os temas transversais, pois assuntos como
meio ambiente, saúde, orientação sexual, trabalho e consumo , ética e pluralidade
cultural, dão margem a muitas reflexões e trocas de opinião nos encontros. Ajudar os
alunos a debater e refletir sobre a vida e o comportamento das comunidades nas
quais estão inceridos, poderá ajuda-los a rever comportamentos e buscar
alternativas de mudança. Pois é na troca de experiências e na conscientização da
sua importância e valor como pessoa que o educando irá aos poucos criando a
noção de direito a cidadania, ao respeito e ao mesmo tempo irá aprender a respeitar
e valorizar a dignidade e espaço do outro. Criando uma noção de ética que parte do
respeito mutuo, da justiça, do dialogo e da solidariedade.
Dessa forma o ensino religioso poderá ser o instrumento que irá
abrir o coração e a consciência par ao direito que todos têm a uma vida digna, como
filhos de Deus e cidadãos do mundo. Direito esse que será conquistado por cada um
na medida em que lute e procure o seu lugar na sociedade, respeitando o direito e o
espaço do outro.
O educador religioso precisa adaptar-se ao mundo moderno,
levar a palavra, o exemplo e a vida precisam estar em harmonia com os grupos que
trabalha sem, contudo, perder a essência do cristianismo, o amor.
Na multi educação o enfoque religioso é tratado com o olhar na
pluralidade cultural do nosso povo, um povo religioso por natureza que expressa a
sua fé no dia a dia, nas expressões como “graças a Deus”, “se Deus quiser”, etc.
A multi educação considera o aluno um “mundo” que pode sair
do seu mundo para ir ao encontro do outro e desvendar os mistérios da vida, da
morte, do transcendente.
“A potencialidade transformadora do sagrado se manifesta e
mostra o quanto é importante hoje, a busca de uma ética autentica para ser
humano”.
(multi educação , p. 189)
A educação religiosa nas escolas precisa ajudar a educar para a
vida, para a relação com o outro com o mundo que nos cerca e com o nosso Deus
interior, que está ao mesmo tempo em tudo e em todos. Ensinar a viver o respeito, a
solidariedade a misericórdia.
Conhecer os símbolos da fé, entender o sentido litúrgico das
celebrações, dos cânticos de sua igreja e aprender a respeitar os símbolos de outras
igrejas. Encontrar na pluralidade de nosso povo a unidade de um Deus que é único
sendo Três (trindade) “o objetivo do ensino religioso escolar é proporcionar ao aluno
experiências, informações e reflexões que o ajudem a cultivar uma atitude dinâmica
de abertura ao sentido mais profundo de sua existência em comunidade, e a
caminhar assim a organização responsável de seu projeto de vida”.
(Gruem, 1995, p. 82)
Toda religião tem um conteúdo ou um corpo doutrinário que
precisa ser estudado. Quem não conhece a sua religião na poderá praticá-la.
Praticar uma religião, com alegria e entusiasmo, revela acima de
tudo um equilíbrio humano e psicológico da pessoa. Terá muitas conseqüências
positivas, normalmente as pessoas que praticam a sua religião valorizam a família e
cultivam muitos valores humanos. Dificilmente uma pessoa que vive a sua religião
cai na criminalidade.
ESTUDO DAS LEIS SOBRE O ENSINO RELIGIOSO
Desde o nosso descobrimento nos foi imposta a religiosidade do
conquistador Portugal implantou a sua religiosidade sem se importar com as
manifestações de fé do povo indígena que aqui vivia
Os índios resistiram o quanto pôde, foram escravizados mortos e
aos poucos foram obrigados a se render diante da força do colonizador.
Algum tempo depois chegam as terras brasileiras os escravos
trazidos da África e junto a suas crenças, mitos, lendas e símbolos.
Essas três raças são à base do nosso povo e são também as
bases da nossa religiosidade.
“A historia nos revela que não há neutralidade em educação,
porque toda proposta de educação e proposta de valores de tipo de homem e de
sociedade”
(Est. CNBB, p. 11)
Período Colonial
Séc XVI a XVII (1500 a 1800 aproximadamente)
Neste período o poder a autoridade estava totalmente
centralizada nas mãos do rei (absolutismo real). Essa centralização dá origem a nova
doutrina do “direito divino do rei”.
Neste período surge a reforma protestante (1517 – 1789) que dá
origem a novas igrejas cristãs, dividindo a cristandade ocidental, criando o problema
da “intolerância religiosa”, e provocando o aceleramento do processo reformador da
Igreja Católica , que como reação cria o movimento da contra-reforma, em 1534
Inácio de Loyola funda a companhia de Jesus e seus membros (os jesuítas)
encarregam-se da organização de um concilio para conter o avanço do
protestantismo. O concilio de Irento (1543 – 1563) estabeleceu as novas bases da
Igreja Católica.
O Brasil o reflexo dos acontecimentos religiosos no regimento
dado a Tomé de Sousa por Dom João III , está registrado o intuito civilizador de
Portugal: “o serviço de Deus e a exaltação da santa fé” No século XVI, a formação
escolar consistia em alfabetização, catequese, estudo de gramática, botânica e latim.
O regime do padroado coloca a Igreja Católica como instrumento
de expansão da colônia.
“O direito do padroado, em vigor no Brasil, confirma as
prerrogativas concedidas pela santa fé ao Rei, em vista da propagação da fé católica
nas terras de além-mar .”
O ensino da religião na colônia é questão de cumprimento dos
acordos estabelecidos entre a igreja católica e o monarca (regime de padroado)
“Quando o primeiro governador geral, Tomé de Sousa chega ao
Brasil em 1549, vem acompanhado por diversos jesuítas encabeçados por Manoel
da Nóbrega. Apenas 15 dias depois, os missionários já fazem funcionar, na recém
fundada cidade de Salvador, uma escola de ler e escrever. É o inicio do processo de
criação das escolas elementares, secundarias, seminários e missões espalhados
pelo Brasil até o ano de 1759 quando os jesuítas são expulsos pelo Marquês de
Pombal”.
(Aranha, 1996)
Ao encerrar as suas atividades em 1759, a companhia de Jesus
tinha só na colônia, 25 residências, 36 missões e 17 colégios menores e as escolas
de ler e escrever. Foi grande o impacto educacional causado pela expulsão dos
jesuítas, pois o Marquês de Pombal só inicia a reconstrução da educação uma
década mais tarde. Provocando o retrocesso de todo o sistema educacional.
A independência dos EUA em 1776, fortalece o sentimento de
liberdade. A declaração da Virgínia, proclama pela primeira vez a liberdade religiosa.
No Brasil o ensino religioso passa pelo crivo da Inquisição e é
orientado pelas constituições do Arcebispado da Bahia continua como catequese
dirigida aos índios e escravos, visando a memorização de formulas e a vivencia
cristã acomodada.
Constituição Primeira do Arcebispado da Bahia proposta no
modo de 1707.
Título III - nº 08
“E porque os escravos do Brasil são os mais necessitados de
doutrina cristã sendo tantas as nações de diversidade de línguas que passam do
gentilismo a este estado, devemos de buscar-lhes nos idiomas, ou no nosso, quando
eles já possam entender. E não há outro meio proveitoso que o de uma instrução
acomodada a sua rudeza de entender e barbaridade de falar. Portanto são obrigados
os párocos a mandar fazer copias da breve forma de catecismo”.
(Est. CNBB, p 19)
Reino Unido: Portugal e Algarves (1800 – 1820)
No ano de 1808 a Corte Portuguesa se muda para o Brasil,
devido a atritos com Napoleão. Com a vinda de Com João VI, o país passa por
grandes modificações , principalmente no campo cultural e educacional. São criadas
Escolas Superiores de Mecidina e Cirurgia, a Academia Real Militar, a Academia de
Marinha e a Escola do Comercio, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios , bem
como a Academia de Belas Artes (com professores franceses) . Porem no ensino
das classes populares não há significativa evolução.
O ensino religioso não tem caráter institucional, é ministrado
pelas confrarias religiosas que ajudam a diminuir as diferenças existentes entre a
cultura européia e a cultura africana , começa a surgir o sincretismo religioso.
Monarquia Constitucional (1824 – 1889)
Constituição Política do Império do Brasil – 1824. outorgada e
jurada pelo Imperador D. Pedro I, a 25 de março de 1824. Dom Pedro I invoca a
soberania do direito divino, a graça de Deus, a soberania popular e a unânime
aclamação dos povos .
Ato Adicional
O Ato Adicional atribui as províncias a legislação do ensino
primário e secundário, enquanto o poder central fica com o superior ou acadêmico
,cristalizado nas faculdades de Medicina e Jurídicas.
Em 1882, Rui Barbosa declara que os investimentos em
educação são mínimos. Consagra-se a esse serviço (instrução) apenas 1,99 % do
orçamento.
Surgem as escolas normais nos anos de 1835 e 1836, em 1841 os
jesuítas retomam seus colégios e são criados os liceus nas Províncias.
O País mantem um ensino elitista com grande valorização do
bacharel e do doutor. Não há interesse em educar a grande massa analfabeta, a
educação popular fica em ultimo plano.
A constituição de 1824 aparece no artigo 5º a clausula que
aponta a religião católica como sendo a Religião Católica Apostólica Romana a ser a
religião do estado.
Na 2ª metade do século XIX surgem com mais força as
propagandas protestantes no país fortalecidas pelas imigrações pela mentalidade
espontânea de tolerância e pelo evidenciado interesse pela Bíblia .
PRIMEIRA REPÚBLICA (1890 – 1930)
A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891,
determina os fins para os quais foi elaborada : deixa claro que a lei fundamental era
o povo brasileiro em seu conjunto , sem distinção de estados, seguia o exemplo da
América do Norte.
Segundo Carlos Maximiliano o estabelecimento de uma
República Federativa, a existência dos poderes executivo, legislativo e judiciário
independentes, mas integrados, forte influencia americana, sobretudo nas questões
relativas a liberdade religiosa, são características fundamentais da constituição de
1891.
Com relação a educação a constituição de 1891 prescreve o
seguinte:
Art. 35 : incumbe, outrossim ao congresso, mas não privativamente (...) 2º Amimar no
país o desenvolvimento das letras, artes e ciências (...) sem privilégios que tolham a
ação dos governos legais; 3º - criar a instituição de ensino superior e secundário nos
estados ; 4º - promover a instrução secundaria no Distrito federal.
(...) Art. 72, parágrafo 6º - será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos
públicos.
(Est CNBB, p. 24)
O ensino religioso é tomado como principal empecilho a implantação do novo
regime, por isso passa pelos mais controvertidos questionamentos, pois é com base
nos ideais positivistas que se dá a separação entre estado e igreja para o filosofo
francês Augusto Conte o culto cívico deveria substituir o culto católico. A doutrina
positivista que incentiva no país as manifestações cívicas de caráter patriótico
encontrou no Brasil vários adeptos. Entre eles podemos citar Benjamim Constant,
positivista que exerceu forte influencia na esfera militar, o próprio tema conteano
colocando na bandeira nacional “ Ordem e Progresso “ nasceu sob inspiração nos
princípios positivistas Benjamim Constant, foi o primeiro ministro da educação do
governo republicano, ampliando a influência do positivismo na esfera educacional.
A expressão será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos oficiais de
ensino é o único dispositivo da primeira constituição da republica a orientar a
educação brasileira gerida pelo sistema estatal. Tal enunciado dá origem ao mais
polemico debate da historia do ensino religioso no Brasil. Isso decorre da
interpretação dada ao dispositivo ( PCN, Ensino Religioso, p. 14)
A revolução de 30 acontece como resultado da crise, com acentuada tendência em
destruir o poder das velhas oligarquias rurais dando lugar a implantação definitiva do
capitalismo no país. Júlio Prestes é impedido pelo movimento revolucionário de
tomar posse, em seu lugar Gétulio Vargas assume o poder.
O ensino religioso é inicialmente admitido em caráter facultativo através do
decreto de 30 de abril de 1931, por conta da reforma Francisco Campos. Na
constituição de 1934 é assegurado nos termos do art. 153: O ensino religioso será de
matricula facultativa e ministrado de acordo com os princípios de confissão religiosa
do aluno, manifestado pelos pais e responsáveis e constituirá matéria dos horários
nas escolas públicas primarias, secundarias, profissionalizantes e normais.
(PCN Ens. Rel. p. 14)
Durante a ditadura Vargas, na vigência do estado novo (1937 – 1945), o
ministro Gustavo Capanema empreende outras reformas do ensino, regulamentadas
por diversos decretos leis assinadas de 1942 a 1946 e denominadas leis orgânicas
do ensino.
“ A constituição de 1937 em seu art. 133 estabelece: o ensino religioso poderá
ser contemplado como matéria do curso ordinário das escolas primarias, normais e
secundarias. Não poderá porem, constituir objeto de educação dos mestres ou
professores, nem de freqüência compulsória por parte dos alunos.”
(Est. CNBB, p. 31)
Retornamos ao estado de direito no período de 1945 a 1946 , com governos
eleitos pelo povo e marcados pela esperança de um progresso acelerado.
A constituição de 1946 é promulgada a 18 de setembro de 1946 uma de suas
características é a acentuação das liberdades individuais e sociais.
“ Art. 141 – parágrafo 7º - é inviolável a liberdade de consciência e crença e
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos salvo o dos que contrariam a ordem
publica e dos bons costumes “.
A regulamentação do dispositivo constitucional na lei de Diretrizes e Bases
4024/61, art. 97, e transportada a carta de 34 e trás os mesmos elementos da
constituição de 1946, art. 168 parágrafo 5º
“ O ensino religioso constituirá disciplina dos horários das escolas oficiais, é de
matricula facultativa e será ministrado de acordo com a confissão religiosa do aluno,
manifestada por ele, se for capaz, ou pelo seu representante legal ou responsável. “
Com a criação da ONU, o conceito de liberdade e proclamação dos direitos
humanos ganhou uma nova força, pois houve um descrédito muito grande em
relação aos regimes autoritários e uma valorização cada vez mais expressiva dos
sistemas democráticos de governo a partir do termino da segunda guerra mundial.
O concílio vaticano II em 1962 representou uma abertura significativa a Igreja
Católica a modernidade, pois reconheceu valores até então recusados pela tradição
católica: liberdade de consciência, liberdade de expressão e liberdade religiosa.
A revolução de 1964 provoca mudanças no sistema político. Cai por terra o
projeto unitário, ocorrendo transformações profundas que mexem com os esquemas
de referencia. O conceito de liberdade é visto sob ótica de segurança nacional. Os
brasileiros perdem o poder de participação e critica e a ditadura se impõe violenta.
O ensino religioso permanece alienado do sistema educacional. A constituição
de 1967e emenda constitucional parágrafo 1 de 1969 trazem a mesma redação
sobre o ensino religioso.
O ensino religioso de matricula facultativa, constituirá disciplina dos horários
normais das escolas oficiais de grau primário e médio ( art. 168, parag. 3º IV da
constituição de 1967; art. 176, parag. 3º, V da emenda constitucional de 1969)
A nova redação trás a clausula da carta de 1946, que obriga a freqüência do
aluno religioso, uma vez optado por tal ensino, através de matricula; a carta de
1967e a emenda de 1969 fazem prevalecer a matricula facultativa, como na de 1946.
O dispositivo da carta magna e emenda constitucional nº 1/69 se repete na lei
de diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus de nº 5696/71, em seu artigo 7º,
parágrafo único.
O presidente João Figueiredo dá inicio ao processo de abertura política no
final dos anos 70, revogando o Ato Institucional n.º 5 e propondo uma anistia que
viria ser ampla, geral e irrestrita. A marcha pelas eleições diretas tem seu objetivo
concretizado em 1984 com a eleição do presidente Tancredo de Almeida Neves.
Este falece antes de tomar posse, causando um grande vazio no país, o Brasil ficou
de luto. Toma posse em seu lugar o vice José Sarney.
É nomeado um grupo ( comissão Afonso Arinos ) para dar início ao processo
de estudo e reflexão até a elaboração do texto constitucional. Em 1986 é concluído e
divulgado o trabalho da comissão , tendo como objetivo mobilizar a participação
popular e produzir um antiprojeto constitucional que servisse de base aos trabalhos
de elaboração da futura Carta Magna, pela Assembléia Nacional Constituinte.
O ensino religioso aparece da seguinte maneira na constituição da República
Federativa do Brasil promulgada em 1988. Capitulo III art. 210 parag. 1º “ O ensino
religioso, de matéria facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das
escolas públicas de ensino fundamental”.
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Seção III
Art. 33
“ O ensino religioso, de matricula facultativa, constitui disciplina dos horários
normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus
para os cofres públicos , de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos
ou por seus responsáveis, em caráter:
I - confecional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu responsável,
ministrado por professores ou orientadores religiosos preparados e credenciados
pelas igrejas ou entidades religiosas.
II – interconfecional, resultante do acordo entre as diversas entidades religiosas, que
se responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa” .
O governador Anthony Garotinho sancionou no dia 14 de setembro de 2000,
lei instituindo o ensino religioso confecional nas escolas da rede pública estadual. De
acordo com a nova lei, os pais deverão escolher o tipo de ensino, que tem caráter
facultativo, no ato da matricula.
A carga mínima da disciplina será estabelecida pelo Conselho Estadual de
Educação , dentro das 800 horas de aula anual.
“ A escola está confiada a importante missão de lenta e sistemática , iniciar a
criança ao simbolismo : para que esta criança seja capaz de sentir a vida e ser seu
sentido, mesmo nos aparentes absurdos do viver humano: para que seja capaz de
celebrar , de festejar. Esta gradual educação ao simbolismo será um dos grandes
caminhos pelos quais a criança aprenderá a abrir-se ‘aquilo que transcende, não é
preciso sublinhar o valor religioso desta educação. “
(Gruem, 1993, p. 33)
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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ARANHA, Maria Lúcia. História da Educação. São Paulo: Moderna,1996
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BRZEZINSKI, Iria. L.D.B. Interpretada : diversos se entrecruzam. São Paulo:
Cortez 1998.
C.N.B.B. O Ensino Religioso .São Paulo: Paulinas,1987.
DURKEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. São Paulo:
Paulinas,1989.
GIROUX, Henry A. Solidariedade, Ética e Possibilidade na Educação Crítica.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
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1997.
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AM Edições,1997.
RÚBIO, Alfonso Garcia. O Encontro com Jesus Cristo Vivo. São Paulo:
Paulinas, 1994.
MAZARROLO, Isidoro. A Bíblia em suas mãos. Porto Alegre; EST Edições.
GRUEN, Wolfgang. O Ensino Religioso na Escola. Petrópolis: Vozes, 1995.
HELLERN, Victor. O Livro das Religiões. São Paulo, Cia das Letras, 1989.
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, Multi Educação, Rio de Janeiro,
1996.
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