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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A valorização da biodiversidade, o reconhecimento das comunidades tradicionais e do saber tradicional no contexto da sustentabilidade: trajetória e reflexos atuais. POR: SEVERINO VIEIRA DA COSTA Orientador Prof.: Francisco Carrera. Rio de Janeiro, 2011.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A valorização da biodiversidade, o reconhecimento das comunidades tradicionais e do saber tradicional no contexto da

sustentabilidade: trajetória e reflexos atuais.

POR: SEVERINO VIEIRA DA COSTA

Orientador

Prof.: Francisco Carrera.

Rio de Janeiro, 2011.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS – GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A valorização da biodiversidade, o reconhecimento das comunidades tradicionais e do saber tradicional no contexto da sustentabilidade: trajetória e

reflexos atuais.

POR: SEVERINO VIEIRA DA COSTA

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Gestão Ambiental, sob a orientação do Professor Francisco Carrera.

Rio de Janeiro, 2011.

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AGRADECIMENTOS

Á Deus, pela realização desse trabalho. Ao corpo docente do Instituto “A vez do Mestre”. Ao professor orientador Francisco Carrera por seu espírito de luta no seu cotidiano e colaboração neste trabalho. Ao colega do curso de gestão ambiental Ivan Claudio pela revisão dos textos e contribuição na formatação desse trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a minha companheira Carmen, que colaborou para a confecção desse trabalho. Aos povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia pela perseverança e lutas empreendidas contra as forças externas e políticas de exclusão que atentam contra a dignidade humana dos povos e habitantes da região Amazônica.

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RESUMO

O Presente trabalho visa o reconhecimento das comunidades tradicionais e do saber tradicional, elevando questões sócio-ambiental como beneficio destas comunidades. Valorizando a biodiversidades proporcionando a ela sua real característica e valor mediante ao saber tradicional das comunidades que lhes proporciona uma sustentabilidade de acordo com o seu meio social e cultural. Visa à importância das conferências mundiais em prol do meio ambiente que sempre destacaram uma melhor qualidade de vida para as futuras gerações, com isso muitas ações que antes não eram permitidas passaram a ter um valor real e uma visão diferenciada nas busca da sustentabilidade. Fomentando de maneira sustentável e racional a exploração dos recursos naturais, principalmente por parte das comunidades tradicionais, enfatizando a biodiversidade como um fator e produtor de riquezas, necessárias para o bem estar do homem.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada nesta monografia foi à pesquisa bibliográfica que

buscou através da leitura de variadas obras de renomados autores o aprofundamento

necessário ao tema proposto.

Buscou-se, apresentar uma obra com seriedade e embasamento teórico

consistente de forma seja de utilidade aos profissionais da educação que dela

quiserem dispor.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO-----------------------------------------------------------------------------------------8

CAPÍTULO I ------------------------------------------------------------------------------------------10

CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E

DESENVOLVIMENTO : ANTECEDENTES HISTÓRICOS E RESULTADOS DA

CONFERÊNCIA -------------------------------------------------------------------------------------10

CAPÍTULO II ------------------------------------------------------------------------------------------19

A VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE NO CONTEXTO DA

SUSTENTABILIDADE------------------------------------------------------------------------------19

CAPÍTULO III-----------------------------------------------------------------------------------------29

O RECONHECIMENTO DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS E DO SABER

TRADICIONAL---------------------------------------------------------------------------------------29

CAPÍTULO IV ---------------------------------------------------------------------------------39

EXPERIÊNCIAS E PROGRAMAS SUSTENTÁVEIS -------------------------------------39

CONCLUSÃO ----------------------------------------------------------------------------------------45

BIBLIOGRAFIA---------------------------------------------------------------------------------------47

ÍNDICE ------------------------------------------------------------------------------------------------50

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INTRODUÇÃO

Inicialmente esta monografia é uma pequena contribuição para o Curso de

Gestão Ambiental, cursos afins, outras áreas do conhecimento, comunidades

tradicionais, comunidades não tradicionais, autoridades governamentais,

representantes da sociedade civil organizada, incluindo estudantes, profissionais e

ativistas que, acreditam e lutam por uma sociedade justa e inclusiva, dentro de um

ambiente saudável e com qualidade de vida.

Nesse sentido, o tema proposto deste trabalho é a valorização da

biodiversidade, o reconhecimento das comunidades tradicionais e do saber tradicional.

Além disso, em consonância com o tema, a questão central se resume na seguinte

indagação: Quais os reflexos atuais face à valorização da biodiversidade e o

reconhecimento das comunidades tradicionais e do saber tradicional no contexto da

sustentabilidade.

Em face da questão central levantada, o presente estudo parte da hipótese

de que mediante o reconhecimento das comunidades tradicionais e do saber

tradicional, juntamente com a valorização da biodiversidade, ocorreram

transformações de cunho sócio-ambiental em benefício das comunidades tradicionais.

A seguir, consideramos que o tema sugerido é de grande relevância para o

momento atual face ao paradigma do desenvolvimento sustentável que mediante a

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD,

realizada no Rio de Janeiro em 1992, foi consolidado oficialmente pelo

estabelecimento de tratados e convenções que tratam de questões ambientais e de

desenvolvimento, incluindo também, o Relatório de Brundtland – Noruega (1987), que

define o conceito de desenvolvimento sustentável.

Nesse contexto, as biodiversidades, juntamente com as comunidades

tradicionais dos países em desenvolvimento como o Brasil, passaram a ser

reconhecidas e valorizadas em detrimento do desenvolvimento a qualquer custo

patrocinado pelo grande capital.

Em vista disso, começa a ser construído um novo modelo de

desenvolvimento que busca a participação e valorização do saber tradicional das

comunidades, a exploração de forma racional e sustentável dos recursos naturais e

por último, a valorização da biodiversidade, tida como um grande banco genético ao

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abrigar diversas espécies de animais, vegetais e microorganismos a serem estudados

e utilizados pela biotecnologia.

Assim sendo os objetivos desta pesquisa estão assim delimitados,

primeiramente: enfocar a relevância da biodiversidade, do papel das comunidades

tradicionais e do saber tradicional junto ao paradigma da sustentabilidade. Em

segundo lugar, demonstrar que o saber tradicional pode se constituir em uma

ferramenta valiosa de apoio para o conhecimento científico. Por último, enfatizar a

importância das comunidades tradicionais em programas sustentáveis e de

valorização da biodiversidade local.

Por se tratar de uma pesquisa bibliográfica, este trabalho foi desenvolvido

com a contribuição bibliográfica dos seguintes autores: BINSFELD (2004), LEONELLI

(2000) e MELLO (2006).

Visando o desenvolvimento desse tema, os capítulos deste trabalho estão

assim distribuídos: No primeiro capítulo, enfocaremos a temática concernente a

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada

no Rio de Janeiro em 1992, tida como marco regulatório de questões ambientais e de

desenvolvimento. Abordaremos também, os antecedentes históricos da Conferência e

os resultados.

No segundo capítulo, trataremos da valorização da biodiversidade no

contexto da sustentabilidade, abordando os aspectos legais e conceituais referentes á

biodiversidade a nível nacional, a biodiversidade e a biotecnologia e por último, a

importância da biodiversidade e seus benefícios.

No terceiro capítulo, inicialmente traçaremos os aspectos legais e

conceituais concernente ao reconhecimento das comunidades tradicionais e do saber

tradicional.

Em seguida, uma abordagem sobre os benefícios do saber tradicional, o

saber tradicional no cotidiano das pessoas e por último, a interação entre saber

tradicional e conhecimento científico.

No quarto e último capítulo, faremos um relato de algumas experiências e

programas sustentáveis.

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CAPÍTULO I

CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO

AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO: ANTECEDENTES

HISTÓRICOS E RESULTADOS DA CONFERÊNCIA.

A Conferência Rio – 92, realizada no Rio de Janeiro, foi um evento

internacional que marcou a década de 90. Primeiramente, ao dar um novo

direcionamento às discussões alusivas ao meio Ambiente e desenvolvimento e a

seguir pelos documentos elaborados e aprovados durante sua realização. A partir

disso, o desenvolvimento em bases sustentáveis que antes fora negligenciado pelo

crescimento econômico a qualquer custo, começa a ser valorizado.

Esse novo modelo de desenvolvimento busca a exploração de forma racional e

sustentável dos recursos da natureza, a participação das comunidades e por último a

valorização da biodiversidade como fator de geração de riqueza. Além disso,

anteriormente, tiveram grande importância também para o cenário atual, dois

momentos históricos marcantes. Primeiramente, com a realização da Conferência das

Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em 1972. Em seguida, com a

elaboração do Relatório de Brundtland (1987), que definiu o conceito de

desenvolvimento sustentável.

Baseado nesse contexto, este capítulo abordará inicialmente esses dois

momentos importantes. Eles serão delineados em dois tópicos, primeiramente, com a

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Estocolmo – 1972).

Em seguida com o Relatório de Brundtland ou Nosso Futuro Comum – 1987.

Finalmente, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento (Rio de Janeiro- -1992) será enfocada no terceiro e último tópico.

Além disso, nesse mesmo tópico será realizado uma abordagem de forma individual a

cerca de cada documento produzido, seus objetivos e sua importância para o contexto

atual. Os documentos elaborados foram denominados como Declaração do Rio de

janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, Convenção sobre Mudanças

Climáticas, Declaração de Princípios sobre Florestas, Convenção sobre

Biodiversidade e Agenda 21.

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1.1 Antecedentes Históricos - Conferência das Nações Unidas sobre o Meio ambiente Humano: Estocolmo – 1972.

A Conferência foi realizada no período de 5 a 16 de junho de 1972, em

Estocolmo – Suécia, tendo como lema “Uma Terra só”. A conferência das Nações

Unidas sobre Meio Ambiente Humano contou com a participação de 113 países. Além

dos debates, a Conferência preconizava a criação de novos instrumentos para tratar

de problemas de caráter global e direcionados para o meio ambiente humano. Além

disso, a conferência foi marcada por divergências entre os países desenvolvidos e os

em desenvolvimento.

Além do forte apelo soberanista, a conferência de Estocolmo, também ficou marcada pelo confronto entre dois blocos. De um lado, os países desenvolvidos defendiam a intocabilidade do meio ambiente. Do outro, Estados subdesenvolvidos rejeitavam qualquer tentativa de privá-los dos benefícios da era tecnológica. Assolado por problemas como a fome, a miséria e a falta de saneamento, o Terceiro Mundo via na industrialização sua única saída. Não é de estranhar, portanto, que as propostas neomalthusianas de crescimento zero não tenham agradado aos chefes de Estados periféricos (ACADEMIA PEARSON, 2011, p. 25).

Os países desenvolvidos estavam preocupados com a poluição industrial, a

escassez de recursos energéticos e a decadência de suas cidades. Por outro lado, os

países em desenvolvimento se preocupavam com a pobreza e a possibilidade de se

desenvolverem de qualquer maneira. Nesse sentido, a posição do Governo Brasileiro

nessa conferência foi a defesa do desenvolvimento a qualquer custo, não levando em

consideração a gravidade dos problemas ambientais. Em vista disso, os planos de

desenvolvimentos postos em prática pelo Brasil até aquele momento não

contemplavam nenhuma preocupação com a causa ambiental. Conforme REIGOTA

(2009), mediante a defesa do progresso a qualquer custo, o Brasil e a Índia permitiram

a instalação de empresas multinacionais poluidoras que, em seus países de origem

estavam com seus modos de operacionalização proibidos.

Enfim, apesar das divergências, uma das contribuições da conferência foi a

elaboração da “Declaração sobre o Meio Ambiente Humano”. Ela é composta de 110

recomendações e 26 princípios. Além disso, segundo REIGOTA (2009, p.24), “Uma

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resolução importante da Conferência de Estocolmo em 1972 foi a que se deve educar

o cidadão e a cidadã para a solução dos problemas ambientais”.

1.2 Antecedentes Históricos - Relatório de Brundtland ou Nosso futuro Comum: Noruega – 1987.

O Relatório de Brundtland foi elaborado na Noruega, em 1987, pela comissão

Mundial sobre o Meio Ambiente e desenvolvimento – CMMAD, que foi criada pela

Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas – ONU, em 1983. A Comissão

foi presidida pela primeira Ministra da Noruega Gro Harlen Brundtland e foi constituída

por representantes de governos, Organizações não Governamentais (ONGs) e pelas

comunidades científicas de vários países. Os trabalhos da comissão Brundtland

encerraram-se em 1987 com a elaboração do Relatório que, tem como mola

percussora, a formulação dos princípios do desenvolvimento sustentável. Desse

modo, no Relatório ficou consagrada a definição de desenvolvimento sustentável.

O conceito de desenvolvimento sustentável foi apresentado pela primeira vez em 1987, com a divulgação do relatório Nosso Futuro Comum, na Assembléia Geral da ONU. Ele é o mais importante resultado dos debates internacionais e dos grupos de trabalho criados a partir da Conferência de Estocolmo. O desenvolvimento sustentável parte do principio de que o atendimento às necessidades básicas das populações, no presente, não deve comprometer os padrões de vida das gerações futuras. A utilização de recursos deve ocorrer de acordo com a capacidade de reposição da natureza, de modo que o crescimento econômico não agrida violenta e irreparavelmente os ecossistemas e possa, ao mesmo tempo, equacionar problemas sociais (LUCCI, 2005, p. 477).

No Brasil, o Relatório foi publicado em 1988, pela Fundação Getulio Vargas do

Rio de Janeiro, tendo como título “Nosso Futuro Comum”. Para REIGOTA (2009, p.

29), “Esse livro fornece subsídios temáticos para a Conferência das Nações Unidas

realizada no Rio de Janeiro em 1992. É a partir desse livro que a noção de

desenvolvimento sustentável se torna mais conhecida”. Enfim, o Relatório de

Brundtland recebeu essa denominação em homenagem a Primeira Ministra da

Noruega, Gro Brundtland, que presidiu a comissão de forma brilhante.

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1.3 Conferências das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e seus Resultados.

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e desenvolvimento -

CNUMAD, foi realizada no Estado do Rio de Janeiro – Brasil, no período de 5 a 14 de

junho de 1992. Ela foi batizada de Cúpula da Terra – 1992 e contou com a presença

de 178 países. A Conferência foi convocada pela Assembléia Geral da Organização

das Nações Unidas, mediante a Resolução 44/228.

Simultâneo a este evento, foi realizado também o Fórum Global das ONGs,

com a participação de 4.000 (quatro mil) entidades da sociedade civil de varias partes

do mundo. O Fórum teve o seguinte resultado: a elaboração da Carta da Terra, 36

documentos e planos de ação elaborados durante o evento. Além disso, esses dois

eventos (CNUMAD e Fórum Global das ONGs) ficaram tradicionalmente conhecidos

como Eco – 92.

Por tudo isso, naquele inicio da década de 1990, grandes expectativas se formaram em torno de um encontro que parecia destinado a entrar para a história: a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida como Rio 92, Eco – 92 ou Cúpula da Terra. O evento reuniu 178 países no Rio de Janeiro, com a participação da sociedade civil, de ONGs e chefes de Estado. Antes negligenciada em nome da segurança nacional, a questão ambiental alcançou notoriedade, abraçando-se a idéia de desenvolvimento sustentável como alternativa à exploração predatória (ACADEMIA PEARSON, 2011, P. 31).

Dessa forma, os trabalhos realizados durante a Conferência, tiveram como

resultado a aprovação e elaboração de vários documentos Oficiais como:

• Declaração do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento;

• Convenção sobre Mudanças Climáticas;

• Declaração de Princípios sobre Florestas;

• Convenção sobre a Biodiversidade;

• Agenda 21.

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a) Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e desenvolvimento.

A aprovação da Declaração do Rio ocorreu em meio a divergências entre os

países desenvolvidos e os em desenvolvimento. Haja visto, os países em

desenvolvimento pleitearem durante as discussões que a Declaração reconhecesse

de modo explícito que os países desenvolvidos são os maiores responsáveis pela

degradação ambiental. No entanto, essa proposta não teve êxito em favor dos países

proponentes. Desse modo, apesar das divergências, a Declaração foi aprovada

contendo 27 princípios. Logo, seus objetivos estão voltados para a formulação de

políticas e de acordos internacionais que preservem o interesse coletivo, o

desenvolvimento global e na preservação do meio ambiente.

As delegações presentes na Cúpula da Terra redigiram uma carta com 27 princípios. O documento contém instruções para que as sociedades modifiquem seu comportamento, adotando hábitos que promovam a harmonia com a natureza. Diferentemente de outros relatórios, de viés reducionista, a Declaração do Rio apóia a proteção do meio ambiente combinada com o desenvolvimento sustentável. Por isso, a carta da Eco – 92 não deixou de agradar o Terceiro Mundo, advogando também a necessidade de prover condições de vida digna a todos os povos (ACADEMIA PEARSON, 2011. p. 32).

Nesse sentido, dada a importância da Declaração, anotamos alguns princípios

elencados nela, que são relevantes para o estudo que ora é desenvolvido, sendo eles:

Principio 1 – Os seres humanos são o centro das preocupações relacionadas

com o desenvolvimento sustentável. Eles têm direito a uma vida saudável e produtiva

em harmonia com o meio ambiente.

Principio 3 – O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo que

atenda equitativamente as necessidades ambientais e de desenvolvimento das

gerações presentes e futuras.

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Principio 4 – Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção do

meio ambiente deverá se constituir em parte integrante do processo de

desenvolvimento e não devendo ser considerada de forma isolada.

Principio 8 – Para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma qualidade

de vida melhor para todas as pessoas, os estados devem reduzir e eliminar os

sistemas de produção e consumo não sustentáveis e promover políticas demográficas

apropriadas.

Principio 17 – O estudo prévio do impacto ambiental, enquanto instrumento de

política nacional, deverá ser elaborado para qualquer atividade ou obra proposta que

provavelmente cause impacto negativo substancial ao meio ambiente e que esteja

sujeita à decisão de uma autoridade nacional competente.

b) Convenção sobre Mudanças Climáticas.

Inicialmente, a Convenção sobre Mudanças Climáticas tem como objetivo o

controle e a redução de emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. No Brasil, a

convenção foi ratificada pelo Congresso Nacional no dia 28 de fevereiro de 1994 e

passou a vigorar em 29 de maio do mesmo ano. Desse modo, mediante o Decreto

presidencial nº 1.160, de 21 de junho de 1994, foi estabelecido no âmbito do Ministério

da Ciência e Tecnologia a Coordenadoria de Mudanças do Clima, estrutura

responsável pela implementação da Convenção no país.

[...] As principais obrigações para os estados signatários dessa Convenção são os seguintes: elaborar, atualizar e publicar inventários nacionais sobre as emissões de gases de estufa não controlados pelo protocolo de Montreal por fontes de emissão; formular programas nacionais e regionais para controlar as emissões antrópicas desses gases e mitigar os seus efeitos sobre as mudanças climáticas; promover processos de gerenciamento sustentável de elementos da natureza que contribuem para remover ou fixar esses gases, em especial as biomassas, as florestas e os oceanos; promover a pesquisa cientifica e tecnológica, incluindo a realização de observações sistemáticas sobre clima; promover a educação e a conscientização pública sobre questões ligadas à mudança do clima e sua causas antrópicas e estimular a participação de todos para alcançar os objetivos desta Convenção (BARBIERI, 1997, p. 53).

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C) Declaração de Princípios sobre Florestas.

A princípio, a aprovação dessa Declaração causou muita divergência entre os

países desenvolvidos e os em desenvolvimento. Tendo em vista que, inicialmente,

cogitava-se aprovar uma Convenção sobre Exploração, Proteção e Desenvolvimento

Sustentável de Florestas. No entanto, países em desenvolvimento detentores de

grandes áreas de florestas como o Brasil, Índia, Nigéria, Congo e outros apoiados pela

Malásia, temerosos quanto ao futuro de suas reservas naturais, rejeitaram a idéia de

se aprovar uma Convenção.nesse sentido, esses países, apoiaram a aprovação de

uma declaração de princípios sem força jurídica na esfera do direito internacional.

Para conseguir esse objetivo, estes países se apoiaram nos princípios do

Direito internacional. Ele reconhece a soberania dos países de explorar os recursos

naturais dentro dos seus limites geográficos. Em vista disso, teve êxito a proposta dos

países em desenvolvimento.

Os estados, em conformidade com a Carta das Nações Unidas e com os princípios de Direito internacional, tem o direito soberano de explorar seus próprios recursos segundo suas políticas ambientais e a responsabilidade de assegurar que atividades sob sua jurisdição ou controle não causem dano ao meio ambiente de outros Estados ou áreas além dos limites da jurisdição nacional (CONVENÇÃO sobre DIVERSIDADE BIOLÓGICA, Artigo 3 – Princípio. Decreto Legislativo nº 2 de 1994).

Sobre a Declaração de princípios sobre Florestas, a ACADEMIA PEARSON

(2011, p.33), argumenta que “Influenciada pela cautela dos detentores das maiores

áreas verdes, a Declaração sobre Princípios Florestais foi esvaziada de decisões

internacionais claras sobre a preservação das florestas”.

Portanto, apesar das divergências, o ponto positivo alusivo a essa temática, foi

a inclusão dos princípios do direito internacional nos ditames da Declaração. Além

disso, também foi proclamado o princípio genérico de que as florestas são

fundamentais para as comunidades locais e para o ambiente global.

d) Convenção sobre a Biodiversidade. Inicialmente, após a realização da

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio de

Janeiro (1992), a Convenção sobre Diversidade Biológica foi ratificada pelo

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Congresso Nacional, mediante o Decreto – Legislativo nº 2, de 03 de fevereiro de

1994 e promulgada pelo Decreto nº 2.519, de 16 de março de 1998. Além disso, a

Convenção já havia sido anteriormente subscrita pelo Brasil e outros 156 países,

durante a Conferência. A Convenção tem como meta a compatibilização entre a

proteção dos recursos biológicos e o desenvolvimento social e econômico.

Estabelece também, a relação entre a conservação da biodiversidade e o

desenvolvimento da biotecnologia.

A Convenção estabelece, entre outros os seguintes compromissos para os estados signatários: identificar e monitorar os componentes importantes da diversidade biológica para conservação e uso sustentável; promover a conservação in situ e ex situ, esta de preferência no próprio país de origem, adotando medidas para recuperar e proteger as espécies ameaçadas, regulando e administrando coleções de recursos biológicos, protegendo e encorajando o seu uso de acordo com as práticas culturais tradicionais que se apresentem sustentáveis (BARBIERI, 1997, p. 56).

Por isso, tendo em vista o reconhecimento legal pelo Legislativo brasileiro

acerca da Convenção, é relevante mencionar que ela adota os princípios do Direito

internacional. Conforme esse dispositivo, os países têm o direito soberano de

explorarem os recursos naturais dentro de seus territórios, de acordo com suas

políticas ambientais. Logo, fica a cargo do Ministério do Meio Ambiente, Recursos

Hídricos e da Amazônia Legal, do cumprimento do estabelecido na Convenção.

e) A Agenda 21.

A princípio, a Agenda 21 se constituiu em um documento importante aprovado

durante a Conferência Rio 92, ela foi discutida e negociada pelos países participantes.

Em seguida, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, e o

Ministério das Relações Exteriores, traduziram a Agenda para a Língua Portuguesa.

Nesse sentido, em 1994, o Senado Federal do Brasil publicou a Agenda 21.

A Agenda constituiu-se em um instrumento importante para a captação de

recursos e de viabilização de projetos de desenvolvimento sustentável. Ela contém

capítulos que aborda temas alusivo a ciência e a transferência de tecnologia,

relevantes para questões de desenvolvimento e problemas sócio-ambiental. Além

disso, alguns capítulos tratam de temas ambientais específicos, como resíduos

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radioativos, o manejo de substâncias químicas, a atmosfera, os recursos hídricos, a

conservação da biotecnologia e o combate ao desmatamento.

Para alcançar seus objetivos, a Agenda 21 propõe as seguintes medidas:

Estudo sobre as relações entre meio ambiente, pobreza, saúde, comércio, consumo e população;

Uso racional de matérias-primas e energia para a produção de bens e serviços;

Realização de pesquisas sobre novas formas de energia;

Estímulos para disseminar a visão de desenvolvimento sustentável e evitar que a escassez de recursos impeça o suprimento das necessidades das gerações futuras;

Formações de comissões para promover o desenvolvimento sustentável com os governos federais, estaduais e municipais (ACADEMIA PEARSON, 2011, p.36.).

Enfim, a importância da Agenda 21 para o contexto atual, reside no fato dela

ter se consolidado como um instrumento importante para promover a discussão sobre

o novo paradigma da sustentabilidade em nível internacional, nacional e local. Em

relação a sua implementação, ela pode ser implementada em escala local e regional.

Desse modo, vários países, estados e cidades já começam a discutir e rever seus

padrões de desenvolvimento.

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CAPÍTULO II

A VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE NO CONTEXTO

DA SUSTENTABILIDADE.

Após a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento – 1992 (citada no capítulo anterior), a biodiversidade passa a ser

formalmente reconhecida, primeiramente a nível global mediante a Convenção sobre a

Diversidade Biológica – CDB. Ela foi discutida e aprovada durante a Conferência e se

constituiu como o principal documento norteador para outros como tratados, leis e

decretos. Nesse contexto, a CDB foi assinada pelo Brasil e outros 156 países.

Detentor da maior diversidade biológica do planeta e primeiro signatário da Convenção dobre Diversidade Biológica (CDB), o Brasil tem-se aplicado em cumprir os compromissos assinados nesse documento, depois de se haver empenhado decisivamente em sua negociação, adoção e posterior aprovação durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), no Rio de Janeiro, em junho de 1992. [...] (BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, DOS RECURSOS HÍDRICOS E DA AMAZÔNIA LEGAL. Primeiro Relatório Nacional para a Convenção sobre Diversidade Biológica: Brasil. Brasília, 1998, p. 11).

Em termos de Brasil a CDB, foi reconhecida pelo Congresso Nacional

mediante o Decreto – Legislativo nº 2, de 03 de fevereiro de 1994 e posteriormente

promulgada pelo Decreto nº 2.519, de 16 de março de 1998. Portanto, o Brasil em

consonância com os objetivos dessa Convenção, passa a ter sua diversidade biológica

reconhecida e valorizada de forma soberana.

Os objetivos desta Convenção, a serem cumpridos de acordo com as disposições pertinentes, são a conservação da diversidade biológica, a utilização sustentável de seus componente e a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos, mediante, inclusive, o acesso adequado aos recursos genéticos e a transferência adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre tais recursos e tecnologias, e mediante financiamento adequado

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(CONVENÇÃO SOBRE DIVERSIDADE BIOLOGICA – CDB. Artigo 1 – Objetivos. Decreto – Legislativo nº 02. de 1994).

Baseado nesse contexto, este capítulo tem como objetivo delinear,

primeiramente, os instrumentos de valorização e reconhecimento voltados para a

biodiversidade a nível nacional. Respectivamente, os instrumentos citados serão:

a) PP-G7

b) PRONABIO

c) SNUC

d) Política Nacional da Biodiversidade.

Em seguida, será realizado uma pequena abordagem sobre a relação entre a

biodiversidade e a biotecnologia, bem como a descrição dos termos específicos

alusivos a essa relação. Por último, a importância da biodiversidade e os benefícios

gerados por ela, tendo como ilustração, a demonstração de três experiências

sustentáveis baseado no evento “Negócios para Amazônia Sustentável”, realizado em

2003, na cidade do Rio de Janeiro. Que posteriormente foi traduzido em forma de livro

pelo Ministério do Meio Ambiente, Dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal –

MMA.

2.1 Instrumentos de valorização e reconhecimento acerca da biodiversidade

nacional.

Considerando a importância da biodiversidade, faz-se necessário citar alguns

instrumentos legais que contribuíram também para a valorização e reconhecimento, a

cerca da diversidade biológica a nível nacional:

a) Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PP-G7) –

viabilizado pelo Decreto Federal nº 563/92.

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Conforme NOGUEIRA NETO (1997, p. 159), “Assim, o PP-G7 é constituído por

um conjunto de países e entidades que trabalham tendo em vista um objetivo comum

muito claro: a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento auto-suficiente”.

Uma parte considerável dos avanços obtidos nos últimos anos na conservação e na utilização sustentável da diversidade biológica na região amazônica brasileira tem participação relevante do Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7), do qual participam a Rússia, a Alemanha, os Estados Unidos, a França, o Reino Unido, a Itália, o Japão e o Canadá, países membros do grupo G-7 e o governo brasileiro [...] (BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, DOS RECURSOS HIDRICOS E DA AMAZÔNIA LEGAL. Primeiro Relatório Nacional para a Convenção sobre Diversidade Biológica: Brasil. Brasília, 1998, p.194).

b) Programa Nacional da Diversidade Biológica (PRONABIO)- viabilizado

mediante o Decreto Federal nº 1354, de 29 de dezembro de 1994.

Os objetivos do PRONABIO estão assim descritos:

[...] promover parceria entre o poder público e a sociedade civil na

conservação da diversidade biológica, utilização sustentável de seus

componentes e repartição justa e equitativa dos benefícios dela

decorrentes, mediante a realização das seguintes atividades:

I – definição de metodologias, instrumentos e processos;

II- estimulo à cooperação internacional;

III- promoção de pesquisa e estudos;

IV- produção e disseminação de informações;

V- capacitação de recursos humanos, aprimoramento institucional e

conscientização pública;

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VI- desenvolvimento de ações demonstrativas para a conservação da

diversidade biológica e utilização sustentável de seus componentes

(PÁDUA, 1997, p.186).

c) Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC)-

instituído pela Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000.

Artigo 2º- Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I- Unidade de conservação: espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo

as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, com objetivos de

conservação e limites definidos sobre regime especial de administração, as quais se

aplicam garantias adequadas de proteção (Lei 9.985/2000).

O atual Sistema Nacional de Unidades Conservação (SNUC) consolidou uma

série de normas e discussões acerca das Unidades de conservação, suas diversas

categorias, sua forma de implantação e seu manejo. Além disso, dentro dos

parâmetros legais do SNUC, as Unidades de Conservação foram divididas em dois

grupos: Unidade de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável.

O objetivo das Unidades de Proteção Integral é a preservação da natureza,

sendo permitido apenas o uso indireto de seus recursos naturais. Por sua vez, as

Unidades de Uso sustentável, tem como objetivo compatibilizar a conservação da

natureza com o uso sustentável de seus recursos naturais. Segundo RINALDI (2001,

p.25). “A maior parte da biodiversidade remanescente do planeta encontra-se em

reservas naturais protegidas, o que evidencia a importância da preservação dessas

áreas”

Dada a importância do SNUC para o momento atual, ele se consolidou como

um instrumento de grande valor para a biodiversidade a nível nacional. Tendo em vista

que, grandes áreas de conservação, transformaram-se em verdadeiros celeiros de

materiais genéticos. Dessa forma, considerando os aspectos legais e de valorização

da biodiversidade, essas áreas protegidas poderão contribuir grandemente para a

realização de pesquisas de campo.

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d) Política Nacional da Biodiversidade – instituída pelo Decreto Federal nº 4.339,

de 22 de agosto de 2002.

O objetivo Geral da Política Nacional da Biodiversidade está assim descrito:

A Política Nacional da Biodiversidade tem como objetivo geral a promoção, de

forma integrada, da conservação da biodiversidade e da utilização sustentável de seus

componentes, como a repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da

utilização dos recursos genéticos, de componentes do patrimônio genético e dos

conhecimentos tradicionais associados a esses recursos (Decreto Federal nº

4.339/2002, parágrafo 5º).

Portanto, conforme o Decreto federal nº 4.339/2002 (par. 2º, inciso XV), “a

conservação e a utilização sustentável da biodiversidade devem contribuir para o

desenvolvimento econômico e social e para a erradicação da pobreza”.

2.2 A biodiversidade e a biotecnologia.

A princípio a, biotecnologia, em diferentes estágios de desenvolvimento

sempre esteve presente no cotidiano das pessoas. Primeiramente, com a

biotecnologia tradicional (fermentação, seleção de culturas e hibridação). Em seguida,

com a biotecnologia moderna (antibióticos e o inicio da engenharia genética). Com a

biotecnologia molecular (estágio atual), com a manipulação de moléculas, utilizando

tecnologia de última geração.

No cenário atual, a relação entre a biodiversidade e a biotecnologia se dá pelo

aproveitamento do potencial da biodiversidade pela biotecnologia. Seu potencial

diversificado tem reflexos no desenvolvimento cientifico e tecnológico, produção de

remédios, cosméticos, alimentação e outros. Segundo RIFKIN (1998) citado por

BINSFELD (2004 p. 190), “O advento da moderna biotecnologia permitiu um

significado aprimoramento das formas de utilização dos recursos genéticos da

biodiversidade”.

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[...] Há muitos anos, os nativos de Madagáscar utilizam uma planta na sua medicina caseira. Foram extraídas desse vegetal duas substâncias, a Vincristina e a Vinblastina, que revolucionaram o tratamento da leucemia, em crianças, aumentando muito a possibilidade de cura. Imagine o prejuízo para a humanidade se essa espécie vegetal tivesse sido extinta antes de se conhecer o efeito dessas substâncias! Além disso, o veneno de uma certa espécie de cobra que vive no Brasil permitiu o desenvolvimento de um remédio que controla a pressão sanguínea (SILVA JUNIOR E SASSON, 1997, p. 386).

Alguns termos que são utilizados na relação entre a biodiversidade e a

biotecnologia estão citados na redação inicial do projeto de lei nº 4.579 de 1998. Esse

projeto de lei trata inicialmente do acesso a recursos genéticos e seus produtos

derivados, a proteção ao conhecimento tradicional a eles associados. Logo, a

definição desses termos, como complementação final é de suma importância para a

compreensão acerca dessa relação.

Projeto de Lei 4.579/1998 (art. 4º), definições:

BIOTECNOLOGIA: qualquer aplicação tecnológica que utilize sistemas biológicos ou

organismos vivos, parte deles ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtos

ou processos para utilização específica.

CONDIÇÕES EX SITU: condições em que os componentes da diversidade biológica

são conservados fora de seus habitats naturais.

CONDIÇÕES IN SITU: condições em que os recursos biológicos existem em

ecossistemas e habitats naturais e, no caso de espécies domesticas ou cultivadas, nos

meios onde tenham desenvolvido suas propriedades características.

DIVERSIDADE BIOLÓGICA: variedade de organismos vivos de todas as origens,

compreendendo os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas

aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte bem como, a diversidade

genética, a diversidade de espécies e de ecossistemas.

DIVERSIDADE GENÉTICA: variabilidade de genes e genótipos entre as espécies e

dentro delas; a parte ou todo da informação genética contida nos recursos biológicos.

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EROSÃO GENÉTICA: perda ou diminuição da diversidade genética, por ação

antrópica ou causa natural.

MATERIAL GENÉTICO: todo material biológico de origem vegetal, animal, microbiana

ou outra que contenha unidades funcionais de hereditariedade.

PROVEDOR DE RECURSOS GENÉTICO: pessoa física ou jurídica, comunidade

indígena ou população tradicional ou local, capacitada, de acordo com esta Lei e por

meio do contrato de acesso, para participar do processo decisório a respeito do

provimento do recurso genético, material genético ou de seus produtos derivados.

RECURSOS BIOLÓGICOS: organismos ou parte destes, população ou qualquer outro

componente biótico de ecossistemas, compreendendo os recursos genéticos.

REPARTIÇÃO DE BENEFÍCIOS: compreende as medidas para promover e garantir a

distribuição dos resultados, econômicos ou não, da pesquisa, desenvolvimento,

comercialização ou licenciamento decorrentes do acesso a recursos genéticos,

incluindo o acesso, transferência de tecnologia e biotecnologia e participação em

atividades de pesquisa e desenvolvimento relacionados a recursos genéticos.

2.3 A importância da biodiversidade e seus benefícios.

Neste tópico, para que seja demonstrado a importância e os benefícios

gerados pela biodiversidade, é relevante citar algumas experiências sustentáveis

apresentadas na segunda edição do evento “Negócios para Amazônia Sustentável”.

Sua realização ocorreu no Jardim Botânico do Rio de janeiro – Galpão do solar da

Imperatriz, situado no Estado do Rio de Janeiro no ano de 2003. Sua organização foi

elaborada pela Secretaria de Coordenação da Amazônia vinculada ao Ministério do

Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA). Nesse sentido,

as informações acerca das experiências sustentáveis foram devidamente catalogadas

pelo MMA, na obra intitulada “Negócios para Amazônia sustentável”. O conteúdo

dessa obra foi contemplado com 69 experiências registradas.

O evento teve o apoio do Programa Piloto para a Proteção das Florestas

Tropicais (PPG7) e da Coordenadoria de Agro extrativismo. O encontro contou com a

participação dos produtores comunitários, representantes do setor privado e o público

presente. Em relação às experiências, elas envolvem uma ampla variedade de

produtos e serviços. Além disso, elas trazem a marca do conceito “negócio

sustentável”, que se caracteriza pela adoção de medidas que visam a redução do

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impacto ambiental no processo produtivo, geração de benefícios sociais para as

comunidades envolvidas e relações comercias justas.

A partir disso, segue algumas experiências que foram selecionadas e

resumidas para fins ilustrativos e estão localizadas na região amazônica. Tendo em

vista essa região apresentar um maior número de experiências documentadas.

a) Projeto Pé de Tucano – artesanato de sementes florestais.

O projeto Pé de tucano está voltado para a produção de artesanato de

sementes florestais. Ele está localizado no município de Boca do Acre – Estado do

Amazonas e sua execução está a cargo da Oficina Escola de Artesãos Pé de tucano.

A matéria prima utilizada na produção do artesanato é extraída de sementes de

espécies nativas da floresta amazônica, como o açaí, marajá, paxiúba, faveira, tucumã

e jarina. Nesse sentido, após a coleta do material, realizado pelas famílias das

comunidades que vivem as margens dos igarapés e rios da região, começa o

beneficiamento dentro da própria oficina do projeto. Ali são confeccionadas as peças

como colares, brincos, pulseiras, cortinas e ornamentos religiosos. Em seguida, a

produção é comercializada no Aeroporto, no Mira Shopping em Rio Branco (capital do

Acre) e no Hotel Floresta no município de Boca do Acre.

Em virtude do que foi mencionado, os benefícios gerados pelo projeto reside

na oportunidade de aprendizado profissional e geração de renda para a população

jovem de baixa renda, do município de Boca do Acre. Durante o aprendizado na

oficina escola, os participantes do projeto, recebem um pagamento em dinheiro em

função da sua produtividade. Além disso, o projeto já beneficiou 50 (cinqüenta) jovens

carentes do município na arte de confeccionar bijuterias e artigos de decoração.

Fonte das informações: (BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – SECRETARIA

DE COORDENAÇÃO DA AMAZÔNIA. Negócios para Amazônia Sustentável. 2003, p.

42-43).

b) Projeto Comunitário de Produção de Óleos essências e produtos afins -

aromas e cosméticos.

O objetivo do projeto é a produção de óleos essenciais e produtos afins. Ele

está localizado no município de Silves – Estado do amazonas e sua execução é de

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responsabilidade da Associação Vida Verde da Amazônia (AVIVE), uma associação

formada por mulheres. A matéria prima utilizada é constituída de espécies aromáticas

naturais como pau-rosa, preciosa, cumaru (muito usado na fabricação de perfumes),

copaíba, melão-de-são-caetano e andiroba. O beneficiamento da matéria prima é

realizado pela AVIVE e o produto obtido são os sabonetes de essências naturais. Os

produtos são comercializados na própria loja da AVIVE no município de Silves. Em

relação à qualidade do produto, os produtos AVIVE são 100% naturais e livres de

conservantes, corantes e essências sintéticas. Além disso, todos os óleos essências

que aromatizam os sabonetes tem origem controlada.

Dado o exposto, os benefícios gerados pela produção de óleos essenciais

consistem na distribuição de renda e trabalho para as mulheres que atuam no projeto.

Nesse sentido, elas têm a oportunidade de aplicar e valorizar seus conhecimentos

tradicionais sobre o uso de plantas da região amazônica. Por último, a AVIVE com

essa iniciativa é considerada referencia para o desenvolvimento de econegócios na

Amazônia. Tendo recebido prêmios importantes como o V premio Ford de Meio

Ambiente na categoria Negócios e Meio Ambiente e o prêmio Equatorial, do Programa

das Nações Unidas para o desenvolvimento – PNUD.

Fonte das informações - (BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE –

SECRETARIA DE COORDENAÇÃO DA AMAZÔNIA. Negócios para Amazônia

Sustentável. 2003 p.96-97).

C) Projeto Bendita Erva – Ervas e banhos aromáticos.

O projeto está voltado para a produção de ervas e banhos aromáticos. Ele está

localizado no estado do Amapá – distante 20 km da capital Macapá e sua execução

está a cargo da Cooperativa das Produtoras de Plantas Aromáticas do Estado do

Amapá (COPPEA). A matéria prima utilizada é constituída de plantas como alecrim,

alfavaca, Artemísia, arruda, cidreira, poejo e outros. O processo produtivo começa

com o plantio das espécies até a elaboração final dos produtos, sendo os mesmos

beneficiados na própria usina de beneficiamento do projeto. Os principais produtos

elaborados pela cooperativa são: banhos aromáticos, travesseiros aromáticos e

saches. Em relação à usina de beneficiamento, o projeto conta com a parceria do

Governo do Estado do Amapá, que financiou toda a construção da usina de

beneficiamento e também recebeu o apoio técnico e científico do Instituto de

Pesquisas científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA). Em relação à

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distribuição dos produtos, eles são comercializados na farmácia de fitoterápicos do

IEPA e no Mercado de Produtos da Floresta em Macapá (capital do Amapá). Além

disso, mudas de espécies utilizadas na fabricação do produto são comercializadas na

cooperativa para o público em geral.

O IEPA é a instituição mais especializada do governo do Amapá para uma intervenção imediata na biotecnologia, elemento central de uma indústria baseada na biodiversidade florestal. Segundo sua presidente, Terezinha de Jesus Soares dos santos, uma farmacêutica amapaense formada pela universidade do Pará, o IEPA está bem adiantado na área da fitoterapia com o desenvolvimento de 65 produtos (LEONELLI, 2000, p.171).

Por isso tudo, os benefícios sociais e econômicos gerados pelo projeto

consistem, principalmente, na oferta de trabalho. Em seguida, com a geração de

renda, para as mulheres trabalhadoras do projeto. Incluindo também a valorização

pessoal e elevação da autoestima face ao trabalho desenvolvido por elas. Além disso,

a meta da cooperativa é alcançar outros mercados e conseguir recursos para ampliar

o projeto e criar novos produtos.

Fonte das informações - (BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE – SECRETARIA DE

COORDENAÇÃO DA AMAZÔNIA. Negócios para Amazônia Sustentável. 2003 p.100 -101).

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CAPÍTULO III

O RECONHECIMENTO DAS COMUNIDADES

TRADICIONAIS E DO SABER TRADICIONAL.

As populações tradicionais não-indígenas da Amazônia, caracterizam-se por

suas atividades extrativistas. São considerados como populações tradicionais da

Amazônia os caboclos ribeirinhos, seringueiros e castanheiros. Eles retiram das

várzeas vários produtos como ervas medicinais e frutas, além de criarem pequenos

animais. Das florestas coletam o látex e a castanha-do-pará e, além disso, habitam em

casas de madeiras construídas sobre as águas conhecidas como palafitas. Segundo

HIRAOKA (1992) citado por DIEGUES E ARRUDA (2001, p. 41), “os

caboclos/ribeirinhos possuem vasto conhecimento da várzea, do rio e da mata,

coletando alimentos, fibras, tinturas, resinas medicinais, bem como materiais de

construção”.

Em vista disso, o Decreto Federal nº 6.040/2007 (Art. 3º, inc. I) define o

conceito de Povos e comunidades Tradicionais como:

Grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais que

possuem formas próprias de organização social. Que ocupam e usam territórios e

recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa,

ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e

transmitidos pela tradição.

Conforme DIEGUES (1998) citado por BINSFELD (2004, p. 202-203), uma das

características das comunidades tradicionais está assim descrita, “tecnologia utilizada

simples, de impacto limitados sobre o meio ambiente. Há reduzida divisão técnica e

social do trabalho, sobressaindo o artesanal, cujo produto (e família) dominam o

processo de trabalho até o produto final”.

Nesse contexto, este capítulo se propõe a realizar uma abordagem,

primeiramente, sobre os aspectos legais e conceituais alusivos as comunidades

tradicionais e do saber tradicional (tópico 1). Em seguida, sobre os benefícios do saber

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tradicional e o saber tradicional no cotidiano das pessoas (tópico 2) e por último, a

interação entre saber tradicional e conhecimento cientifico (tópico3).

3.1 Aspectos Legais e Conceituais.

Os aspectos legais e conceituais alusivos ao reconhecimento dos Povos e

Comunidades Tradicionais estão contemplados no Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro

de 2007. Esse Decreto institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos

Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT). Conforme o artigo 2º desse decreto é de

competência da Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e

comunidades Tradicionais – CNPCT, implementada pelo Decreto de 13 de julho de

2006, coordenar a implementação da Política Nacional para o Desenvolvimento

Sustentável dos povos e Comunidades Tradicionais.

Assim sendo, o objetivo geral da PNPCT, está assim delimitado:

A PNPCT tem como principal objetivo promover o desenvolvimento sustentável

dos Povos e Comunidades Tradicionais, com ênfase no reconhecimento,

fortalecimento e garantia dos seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos

e culturais, com respeito e valorização à sua identidade, suas formas de organização e

suas instituições (Decreto nº 6.040, art. 2º - anexo).

Em relação ao saber tradicional associado à biodiversidade, eles também

possuem proteção jurídica a nível nacional. Segundo BINSFELD (2004),

primeiramente pela constituição Federal Brasileira de 1988 (arts. 215 e 216). Em

seguida, pela convenção da Diversidade Biológica (art. 8 – J). Por último, pela Medida

Provisória nº 2.186-16, de 23 de agosto de 2001.

Enfim, nos seus ditames, a MP nº 2.186-16 dispõe sobre o acesso ao

patrimônio genético, a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado, a

repartição de benefícios e o acesso à tecnologia e transferência de tecnologia para

sua conservação e utilização. Finalizando, a MP no seu artigo 7º, define alguns termos

específicos como:

I- Patrimônio Genético: informação de origem genética, contida no todo ou parte de

espécime vegetal, microbiano ou animal, em substancias provenientes do

metabolismo destes seres vivos e de extratos obtidos destes organismos vivos ou

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mortos, encontrados in situ ou mantidos em coleções ex situ, desde que coletados

em condições in situ, no território nacional, na plataforma continental, no mar

territorial ou zona econômica exclusiva;

II- Conhecimento Tradicional Associado: informação ou pratica individual ou

coletiva de comunidade Indígena ou Comunidade Local, com valor real ou potencial,

associada ao Patrimônio Genético;

III- Comunidade Local: grupo humano distinto por suas condições culturais, que se

organiza, tradicionalmente, no mesmo local, por gerações sucessivas e costumes

próprios, e que conserva suas instituições sociais e econômicas;

IV- Acesso ao Patrimônio Genético: obtenção de amostra de componente do

Patrimônio Genético para fins científicos, de pesquisa, de desenvolvimento

tecnológico, bioprospecção conservação, visando a sua aplicação industrial ou de

outra natureza;

V- Acesso ao Conhecimento Tradicional Associado: obtenção de informação

sobre conhecimento ou pratica individual ou coletiva associada ao Patrimônio

Genético de Comunidade Indígena ou Comunidade Local, para fins científicos, de

pesquisa e de desenvolvimento tecnológico, visando sua aplicação industrial ou de

outra natureza;

VI- Bioprospecção: atividade exploratória que visa identificar componentes do

Patrimônio Genético e informação sobre o Conhecimento Tradicional Associado, com

potencial de uso socioeconômico.

3.2 Os benefícios do saber tradicional no cotidiano das pessoas.

O desenvolvimento deste tópico terá como referência o Artigo intitulado

“Tradições populares de uso de plantas medicinais na Amazônia,” publicado em maio

de 2000. O artigo está baseado em informações obtidas na Amazônia, precisamente

nas regiões rio Negro/Branco e Acre/Purus, onde foi realizado um estudo a partir de

informações etnográficas. Em relação ao conteúdo do artigo, ele menciona as praticas

terapêuticas vivenciadas pelos habitantes da Amazônia nas regiões citadas. Portanto,

nesse contexto, este tópico será contemplado com os relatos pessoais sobre a prática

do saber tradicional contidas no artigo e serão utilizados para fins ilustrativos.

Segundo a concepção popular, existe uma forte relação entre a doença e

alimentação. Um alimento pode ter uma substância capaz de retardar a cura ou

provocar a doença. Assim, as carnes de caça e de peixe tidas como “remosas”, são

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com freqüência citada no cotidiano como causadoras de enfermidades na pele e no

estomago. Para ilustrar essa informação será citado o depoimento de Dona Maria

Alice Moura Costa, ela recomenda a seguinte dieta para o período de recuperação da

malária:

“O porco-do-mato é uma carne remosa, já o veado é manso. A paca também é

remosa. De caça do mato, só mesmo o veado é manso. De peixe, só a sardinha, a

branquinha... que não faz mal. A galinha a gente também não dá” (entrevista realizada

no seringal Guajarã, vale do rio Purus, em 7.2. 1997) citado por SANTOS (2000, p.

927).

Segundo Dona Maria Carneiro Barbosa, um doente “ não pode comer comida

remosa senão a varicela pode virar bexiga ou lepra. Acho que tem outro nome... Mas é

essa doença mesmo que cai o dedo” (entrevista realizada na cidade de Tapauá vale

do rio Purus, em 19.2. 1997) citado por SANTOS (2000, p. 927).

Baseado nos relatos das populações entrevistadas (rio Negro e Acre/Purus)

constatou-se que um remédio não é feito apenas de parte de plantas. As receitas

podem conter outros ingredientes do cotidiano como rabos, penas ou fezes de

animais, querosene, pedra e outros. Nesse sentido, as pessoas entrevistadas

acreditam que existe um principio ativo presente nestas substâncias sem o que a cura

não ocorre.

Para validar essa informação, Marcos Vinicius Nascimento, que trata feridas e

reumatismo com banha da Sucuriju e exerce a função de guarda de endemias, relata o

seguinte:

“Mata-se a cobra, retalha-se, cozinha-se e retira-se a banha que se usa como

pomada” ( entrevista realizada na localidade de Camanaus, vale do rio Negro, em

16.8. 1995) citado por SANTOS (2000, p. 927).

O depoimento de Dona Francisca de Souza, entrevistada, também confirma a

informação acima. Para curar picada de cobra, ela recomenda o seguinte:

“ tomar o leite da castanha ou o chá do batente da escada da casa, aquela

onde todo mundo pisa. Também dizem que o araticum é bom... É uma fruta... Você

pega a folha, faz o chá e dá” (entrevista realizada no seringal Antimari, vale do rio

Acre, em 30.1.1997) citado por SANTOS (2000, p. 927).

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Na região do alto rio Negro, o apego nas tradições de cura nativas e a

confiança nestes saberes e praticas preocupam as autoridades de saúde local. Pelo

motivo das pessoas procurarem primeiro um rezador ou benzedor e somente não

obtendo resultados favoráveis, eles procuram o serviço de saúde convencional (postos

de saúde). Para corroborar essa informação o depoimento da enfermeira Janete,

secretária de saúde de Santa Isabel, revela este conflito:

Eles preferem ainda cuidar das crianças em casa, dar todos os cuidados, rezas, benzedeiras, isso devido a uma população indígena, ainda. Eles têm aquela cultura, primeiro em casa; já no fim, quando não tem jeito na casa vai para o hospital. Ainda há muita superstição em relação a soro, medicamento, injeção. Muitos acham que o soro mata. Outros acham que a injeção faz mal, não é bom. Então, é muito difícil mudar a cabeça dessas pessoas (entrevista realizada na cidade de Santa Isabel, no vale do rio Negro, em 20.8. 1995) citado por SANTOS (2000, p. 928).

Nesse contexto, além da cultura popular rio – negrina se caracterizar pela

superstição, ela também exerce forte influência sobre outras crenças e ações de

pessoas não adeptas a esta cultura (predominância das praticas xamânticas). Para

ilustrar essa informação, será citado o depoimento do padre Carlos Zuchetti,

missionário italiano responsável pela Missão salesiana em Santa Isabel. Perguntado

se acreditava que os rezadores e curandeiros curavam mesmo algumas doenças

respondeu:

Eu acredito que alguma coisa eles sabem fazer. Acredito que eles tenham incidência naquela área psicossomática, onde os nossos médicos dizem que boa parte das nossas doenças são psicossomáticas, são somatizações. Então, eles podem agir nessa área, com possibilidade de alcançar resultados positivos. Eu mesmo vou lá com os pajés Yanomâmis, quando estou nervoso, estou com problemas de tensão psicológica, eu recorro a esses pajés e me beneficio, me dá frutos positivos (entrevista realizada na cidade de Santa Isabel, vale do rio Negro, 21.8. 1995) citado por SANTOS (2000, p. 931).

Segundo informações contidas no artigo, os remédios caseiros têm funções

curativas e não preventivas, podendo ser tão eficientes quanto os remédios de

farmácia, outras vezes não. Segundo alguns entrevistados, os remédios preparados

por eles apresentam vantagens em relação aos remédios alopáticos (produzidos pela

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indústria farmacêutica). Também ficou constatado que os saberes tradicionais são

transmitidos de duas formas, pela oralidade e pela observação. Na região do rio

Negro, esses conhecimentos ocorrem pela via oral e mediante a geração (de pai para

filho).

Para confirmar as informações acima, será citado o depoimento do senhor

Aquidabã de Oliveira, que ao ser entrevistado afirma que o seu conhecimento sobre

plantas medicinais foi adquirido através dos pais.

Meu pai e minha mãe me ensinaram. Eles aplicavam este remédio pra gente e há muito tempo que usavam. Os avós, os bisavós usavam. E agora nos estamos aplicando este sistema. Muitos usam o remédio da Sucam; muitos usam o remédio da gente também, porque estão distante. Não tem como ir à cidade, usam aqui mesmo (entrevista realizada na localidade de Camanaus, vale do rio Negro, em 16.8. 1995) citado por SANTOS (2000, p. 929).

Por isso tudo, ficou constatado mediante o relato das pessoas entrevistadas,

que os benefícios advindos do saber tradicional no cotidiano das regiões rio Negro e

Acre/Purus na Amazônia, tomadas como ilustração, residem no uso de remédios

caseiros, via saber tradicional e transmitidos pela oralidade e pela descendência.

Desse modo, na região do rio Negro, os saberes são transmitidos por via oral e

mediante a ancestralidade. Nas questões de saúde ocorre a resistência cultural à

medicina tradicional (soro, injeções e medicamentos), devido a pouca influência da

cultura ocidental.

[...O medicamento que se usa aqui é o remédio caseiro. É folha de goiaba cozinhada, faz-se o chá para cortar a diarréia. Se é uma diarréia prolongada, tira-se a casca do miri, que se chama, aí faz-se o chá daquilo. Faz-se uma lavagem, e isso aí corta. Totalmente (entrevista realizada na comunidade de Massarabi, Vale do rio Negro, em 19.8.1995) citado por SANTOS (2000, p. 930).

Além disso, nessa região, além dos remédios caseiros, ocorre a predominância

de práticas Xamânticas, ou seja, em caso de doença recorrem-se também as

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benzedeiras, rezadores e curandeiros. E por último, somente apela-se para a medicina

convencional (postos de saúde públicos) como último recurso.

Finalmente, por sua vez na região Acre/ Purus constatou-se os seguintes

aspectos sociocultural:

Primeiramente, a transmissão de saberes e praticas terapêuticas por via oral e

pela descendência. Em seguida, assimilação cultural da medicina tradicional,

influenciado pela cultura ocidental (soro, injeção e medicamentos). E por último, a

rejeição de práticas xamânticas nas questões de saúde pela população local.

O conhecimento tradicional é um sistema de crenças e práticas características de grupos culturais diferentes. Além de informação gerado, existe o conhecimento especializado sobre solos, agricultura, animais, remédios e rituais. Esse conhecimento, freqüentemente, lida com elevados níveis de abstrações, tais como noção de espíritos e seres ou forças mitológicas. Os povos tradicionais, em geral, afirmam que, para eles, a natureza não é somente um inventario de recursos naturais, mas representa as forças espirituais e cósmicas que fazem da vida o que ela é (POSEY, 1996) citado por BINSFELD (2004, p.204).

3.3 A interação entre saber tradicional e conhecimento científico.

O desenvolvimento deste tópico foi baseado em informações contidas no

artigo “A arte de curar dos profissionais de saúde popular em tempo de cólera: Grão-

Pará do século XIX”, publicado em maio de 2000. Para ilustrar essa interação (saber

tradicional e conhecimento cientifico) será citado a importância do conhecimento

tradicional na figura dos profissionais de saúde popular ( não médicos) e dos povos

indígenas da Amazônia, que contribuíram no combate a epidemia de cólera, ocorrido

em Belém (1855). Uma das contribuições do conhecimento tradicional – o uso do

sumo do limão – utilizado na cura do paciente contaminado pela cólera, foi avalizada

como cientificamente correta pelos médicos oficiais da época.

No ano de 1855, na Província de Belém do Grão-Pará ( atualmente Belém -

capital do Pará), localizada na Amazônia, região norte do Brasil, ocorreu uma

epidemia de cólera que durou dez meses (de maio de 1855 a fevereiro de 1856).

Nesse período, vários esforços de profissionais de saúde (médicos oficiais e

profissionais de saúde popular) foram realizados, com objetivo de curar e restabelecer

os acometidos pela cólera e assim diminuir a mortandade que assolava a população.

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O maior número de vitimas fatais ocorreu em junho de 1855, quando os enterramentos no Cemitério de Nossa Senhora da Soledade registraram 427 mortos pela cólera. Em julho, os índices se mantiveram altos e 208 vítimas foram enterradas; em agosto, os mortos foram 46; já em setembro houve uma diminuição e foram enterrados 39 mortos pela cólera. A epidemia recrudesceu novamente em outubro e 123 morreram; e, em novembro, mais 106 vítimas foram enterradas. O número decresceu em dezembro para 48 vítimas. Em janeiro de 1856, os registros da Soledade assinalam 31 mortos pela cólera. Finalmente, em fevereiro, os registros indicam um único morto pela doença (estatísticas oficiais divulgadas pela Comissão de Saúde Pública do Pará a partir dos livros de enterramento dos cemitérios - ano 1855 e 1856) citado por BELTRÃO (2.000, p. 837).

Alusivo ao cólera doença, faz-se necessário citar a seguinte informação:

[...É uma doença em que aparece uma diarréia profusa, causando uma profunda desidratação, podendo progredir, levando a extrema prostação, coma e morte. Em alguns casos chega a matar em torno de vinte e quatro horas. O cólera é adquirido através de água e alimentos contaminados, notadamente a água. Matava largamente na antiguidade e temos noticia de várias epidemias, em varias partes do mundo...] (PEREGRINO, 2005, P. 21).

Nesse contexto, destaca-se o médico paraense Francisco da silva Castro,

médico diplomado em 1837 pela Escola Médico – Cirúrgica de Lisboa, que enquanto

presidente da Comissão de Saúde Pública do Pará elaborou o primeiro registro

denominado”Apontamentos para a história do cólera-morbo no Pará em 1855.” Esse

documento narra os eventos de saúde que marcaram o cotidiano paraense na época.

Além disso, também merece destaque os profissionais de saúde popular, com

notáveis conhecimentos sobre as propriedades curativas das ervas. Eles foram

reconhecidos pelas autoridades sanitárias pelas inúmeras curas protagonizadas.

Durante a epidemia de cólera de 1855 no Grão-Pará, inúmeros tratamentos ganharam destaques, uma vez que os paraenses, tradicionais conhecedores da floresta, sabiam onde ir e o que buscar para eliminar os sintomas do flagelo. Diversas plantas foram utilizadas, tais como: erva-cidreira, erva-doce, camomila, marcela, sabugueiro, boldo, losna, chicória, goiaba, pimentas diversas, entre tantas outras, sobretudo no interior da província, onde os profissionais de saúde popular possuíam largos

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conhecimentos sobre as propriedades curativas das ervas...] (VIANNA, 1975; SILVA CASTRO, 1983) citado por BELTRÃO (2000, p. 849).

A principio, o doutor Silva Castro (como era conhecido) tenta negar as curas

realizadas pelos profissionais de saúde popular. No entanto, mediante os fatos, foi

obrigado a tomar emprestado algumas das práticas recomendadas pelos profissionais

não médicos. Acrescenta-se também que os médicos paraenses não se declaravam

homeopatas, embora prescrevessem procedimentos homeopatas nas clínicas

particulares.

Em relação à cura do cólera usando o sumo de limão, ela teria sido descoberto

por acaso ou seja, por alguns índios que tiveram um companheiro contaminado pela

cólera. Eles não tinham o que dar para o índio, pois não possuíam nenhum remédio

para combater esse mal. Nesse sentido, não tendo opção, eles resolveram oferecer o

sumo do limão durante todo o dia e ficaram surpresos com a recuperação do

companheiro.

Desse modo, outros companheiros passaram a ser tratados da mesma forma e

foram assim curados. Esse fato ocorreu em Vila- Franca, no estado do Amazonas e

logo o método curativo foi utilizado nas vizinhanças locais e consequentemente por

inúmeras pessoas. A cura propriamente dita consistia em administrar ao paciente

acometido pela cólera, várias colheradas de “sumo de limão” em pequenos espaços

de tempo, ou em maiores intervalos de tempo, segundo a gravidade da doença.

Alusivo ao método curativo, o Jornal Treze de Maio informa o seguinte:

Que o Sr. Lúcio de Souza Machado curou com esse método um escravo seu; Paulo Maria Perdigão, Theodoro Joaquim d’Almeida, Francisco Pedro Gurjão e Felícia da Conceição usaram também o remédio e ‘tiveram a fortuna de salvar diversas pessoas... sem carecerem da assistência de médico algum’. (Jornal Treze de maio, nº 598, 27.11.1855, p. 4) citado por BELTRÃO (2.000, p. 851).

Conforme SILVA CASTRO (Jornal Treze de Maio, nº 600, 29.11.1855) citado

por BELTRÃO (2.000, P. 852) “Consta-me que muitas pessoas, independentemente

de conselho de médicos, fizeram uso na semana, que acaba de findar, deste remédio,

e que obtiveram bons sucessos. D’algumas me informei, e soube com satisfação, que

era exato o que se contava.”

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Ressalta-se que embora os médicos aprovassem o método curativo, eles eram

convictos da medicina alopática. E sem abrir mão de suas fortes convicções, tinham

em mente que - o uso do sumo de limão – carecia de uma roupagem cientifica para

ser ministrado.

Em vista do que foi mencionado, ficou claro a importância do conhecimento

tradicional junto ao conhecimento cientifico no combate ao flagelo da cólera. Nesse

sentido, o uso do sumo de limão como método curativo, contribuiu grandemente para

o fim da epidemia de cólera, sem, no entanto, desmerecer a medicina alopática

praticada pelos médicos.

Por último, percebe-se também que a atuação dos profissionais de saúde

popular foram relevantes para a redução da mortandade face os seus conhecimentos

sobre ervas medicinais. Consolidando assim a interação entre o saber tradicional e o

conhecimento científico.

Hoje, sabe-se que dos 120 princípios ativos atualmente isolados de plantas superiores, e largamente utilizadas na medicina moderna, 75% têm utilidades que foram identificadas pelos sistemas tradicionais. Estima-se que o uso do conhecimento tradicional aumenta a eficiência de reconhecer as propriedades medicinais de plantas em mais de 400%..] (SHIVA, 2001) citado por BINSFELD (2004, p. 205).

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CAPÍTULO IV

EXPERIÊNCIAS E PROGRAMAS SUSTENTÁVEIS.

O desenvolvimento em bases sustentáveis começa a se tornar realidade a

partir da elaboração do Relatório de Brundtland – Noruega (1987), o relatório define de

forma clara o conceito de desenvolvimento sustentável. O novo paradigma de

desenvolvimento preconiza a melhoria da qualidade de vida da geração atual, sem

comprometer o desenvolvimento das gerações futuras.

Baseado em dados científicos alarmantes, o relatório consagra a proposta do desenvolvimento sustentável como uma alternativa à atual relação entre o desenvolvimento econômico e o meio ambiente. Em resumo, o desenvolvimento sustentável seria aquele que atenderia às necessidades da população mundial no presente, sem comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras (VIANNA. et al. 1992, p. 22).

Nesse sentido, a Conferência Rio-92, realizada no Rio de Janeiro, foi

fundamental para que o novo paradigma fosse consolidado. A consolidação foi

viabilizada mediante discussão e aprovação de vários documentos elaborados durante

a Conferência.

O principal resultado da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento- Rio 92 foi um documento de 700 páginas, chamada de Agenda 21. Ela propõe um novo paradigma em que o desenvolvimento deve promover a sustentabilidade ambiental e a melhoria da qualidade de vida da população...] (REBOUÇAS, 1997, P. 252).

Para por em prática esse novo modelo de desenvolvimento é necessário

mudanças de atitudes por parte dos atores envolvidos como governantes, (municipal,

estadual e federal) e, organizações públicas e privadas e principalmente pela

participação ativa da sociedade civil organizada. Além disso, requer também que

velhos paradigmas de desenvolvimento que por muitos anos patrocinaram o

desenvolvimento econômico não sustentável, sejam transformados.

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Baseado nesse contexto, este capítulo se propõe a realizar um breve relato

acerca de algumas experiências e programas sustentáveis. Os mesmos foram

desenvolvidos levando em consideração as dimensões sociais, econômicas e

ambientais. As experiências e programas foram selecionados e resumidos para fins

ilustrativos e estão localizados na região amazônica. Tendo em vista essa região

apresentar um maior número de experiências documentadas.

Dessa forma, no primeiro tópico será relatado o Programa Castanha-do-Brasil.

No segundo tópico a Produção de Óleo Virgem de Castanha-do-Brasil. No terceiro

tópico o Projeto Negócios Sustentáveis – Amazônia e no quarto e último tópico, a

Produção Sustentável de Mel – Meliponicultura.

4.1 O Programa Castanha – do – Brasil na Cooperativa Mista de produtores e

extrativistas do Rio Iratapuru – COMARU.

No ano de 1997, o Governo do Estado do Amapá, atendendo as reivindicações

dos castanheiros, cria uma unidade de conservação estadual denominada de Reserva

de desenvolvimento Sustentável do rio Iratapuru, onde é desenvolvido o Programa

Castanha-do-Brasil. O programa está localizado na Região sul do Estado do Amapá,

Região Norte do Brasil, Amazônia Oriental.

A reserva de desenvolvimento sustentável – RDS, foi criada pela Lei nº 0392,

de 11 de Dezembro de 1997, objetivando primeiramente, a preservação dos recursos

naturais e, a seguir a implementação do desenvolvimento regional em bases

sustentáveis. Nesse sentido, a RDS abrange geograficamente os municípios de

Laranjal do Jarí, Mazagão e Amapari. O programa tem o apoio do Governo do Estado

do Amapá.

De acordo com MELLO (2006, p. 219), “O Amapá passou a ser referência para

diversos seguimentos socioprofissional, e para alguns setores, incluindo o ambiental”.

Em relação à castanha enquanto produto de origem Vegetal, ela pertence à

família Lecythidaceae (bertholletia excelsa). Ela é conhecida popularmente como

castanha-do-pará, castanha-do-Brasil e castanha-da-Amazônia.

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Ao lado da borracha, a castanha-do-Brasil é o principal produto extrativista, e, depois do declínio da borracha, chegou a sustentar, por relativo período, a economia regional. Como produto, a castanha é um dos que apresenta maior potencial econômico. No mercado regional recebe boa aceitação. No mercado nacional e internacional de amêndoas também. Na culinária, são inúmeras as possibilidades de utilização, na cosmética e na medicina também. Há a farinha e o leite de castanha, a torta, a amêndoa in natura, e o óleo. Do ouriço, faz-se até artesanato (BRASIL. MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE-SECRETARIA DE COORDENAÇÃO DA AMAZÕNIA. Negócios para Amazônia Sustentável. 2003 p. 48).

Além disso, os objetivos do Programa Castanha-do-Brasil em consonância com

o desenvolvimento regional foram divididos em macro objetivos e objetivos

específicos:

a) macro-objetivos:

§ A contenção do êxodo rural;

§ A geração de emprego e renda por meio de agroindústrias;

§ A valorização comercial dos produtos da floresta;

§ A conservação, manutenção e valoração da biodiversidade;

§ A promoção da sustentabilidade social, econômica e ambiental no setor rural.

b) objetivos específicos:

§ Organização de produtores em cooperativas e associações;

§ Criação de infra-estrutura urbana nas comunidades extrativistas;

§ Implantação de infra-estrutura econômica para às atividades de coleta, escoamento,

transformação e comercialização;

§ Valorização da cultura e culinária para regionalização da merenda escolar;

§ Potencialização econômica dos processos de beneficiamento industrial na produção

de amêndoa, óleos, leite e farinha de castanha.

Nesse contexto, após as diversas fases de beneficiamento da castanha, os

subprodutos elaborados pelo Programa Castanha-do-Brasil, são diversificados. Os

produtos obtidos são: farinha de castanha, biscoito de castanha, leite de castanha,

farinha láctea de castanha, sorvete, picolé, paçoca de castanha, sabão de castanha,

sabonete de castanha e óleo de castanha.

A COMARU chegou a produzir quase 3 toneladas de biscoito de castanha por mês em 1999, das quais a maior parte era comprada

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pelo Governo do Amapá e enviada para a merenda escolar. Este biscoito apresentou-se nesse ano, como a principal fonte de renda dos castanheiros do Iratapuru, com mais de 300 quilos produzidos diariamente...] (PORTO E BRITO, 2005, p. 12019).

Os benefícios socioeconômicos gerados pelo Programa Castanha-do-Brasil

residem primeiramente na geração de trabalho e renda para as populações

tradicionais do Sul do Estado do Amapá, em seguida, pela valorização comercial dos

produtos da floresta e por último, pela perspectiva de crescimento econômico tendo

como parâmetro o desenvolvimento em bases sustentáveis.

4.2 Produção de Óleos Virgem de Castanha-do-Brasil.

Inicialmente o Óleo Virgem de Castanha-do-Brasil, é extraído das florestas

do Amapá, de origem vegetal, é um produto 100% natural. Sua qualidade é garantida

pelo Governo do Estado do Amapá que financia a produção e juntamente com o

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE fornece apoio

técnico e logístico ao empreendimento.

O óleo é coletado diretamente da Reserva de Desenvolvimento

Sustentável do Rio Iratapuru e na Reserva Extrativista do Rio Cajarí, no sul do Amapá.

Em relação à castanha enquanto matéria prima para a produção de óleo faz-se

necessário acrescentar a seguinte informação:

O fruto é chamado de ouriço, tendo uma casca lenhosa muito dura, de formato esférico ou levemente achatado. Possui cerca de 18 sementes, cujas amêndoas são expressivamente nutritivas. Seu valor protéico é tão significativo que a castanha-do-pará é também conhecida como ‘carne vegetal’. Em termos comparativos pode-se dizer que a proteína contida em 2 amêndoas é a mesma contida em um ovo (MONTEIRO, 2000, p. 120-121).

Nesse sentido, a obtenção do óleo consiste na prensagem a frio da castanha e

sua produção e engarrafamento estão a cargo da Cooperativa Mista Extrativista

Vegetal dos Agricultores do Laranjal do Jarí – COMAJA.

A comercialização e distribuição do produto final é realizado pela Cooperativa

Central dos Produtos da Floresta – COOPFLORA.

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Muito diferente é a situação da maior e mais importante das cooperativas, que é a COMAJA, em Laranjal do Jarí, que conta com 208 associados e tem capacidade industrial para beneficiar 1.500 quilos/dia. Sua diversificação varia da produção de biscoitos ao óleo da castanha, cujo processo de comercialização já se iniciou, na frança, em acordo com a empresa Provence Regine...] (LEONELLI, 2000, p. 145).

Me diante a isso, constata-se que varias comunidades tradicionais estão

engajadas diretamente no processo de coleta e beneficiamento do óleo de castanha.

Desse modo, os benefícios gerados para essas comunidades consistem na geração

de trabalho, renda e melhoria da qualidade de vida. Em vista disso, a produção do

óleo virgem de castanha consolida-se como fator de desenvolvimento socioeconômico

e promoção da auto-sustentabilidade das comunidades tradicionais beneficiadas.

A revolução socioeconômica nos castanhais do Iratapuru e Laranjal do Jarí transformou os caboclos, que até há poucos anos viviam em regime de semi-servidão, em sócios de cooperativas lucrativas, com mercado garantido pela merenda escolar e mercado internacional para o óleo de castanha tudo articulado pelo governo do Amapá...] (LEONELLI, 2000, p. 130.)

4.3 Projeto Negócios Sustentáveis – Amazônia

O Projeto Negócios Sustentáveis é executado pela Secretaria de coordenação

da Amazônia – Ministério do Meio Ambiente, no âmbito do Programa Piloto para

Proteção das Florestas Tropicais – PPG7. O seu objetivo consiste em apoiar as

atividades econômicas que utilizam de forma sustentável recursos naturais

amazônicos. O projeto parte da premissa de que a sustentabilidade para ser posta em

prática, deve abranger dimensões econômicas, sociais, culturais e ambientais.

Além disso, para apoiar os empreendimentos o Projeto Negócios Sustentáveis

oferece vários serviços como: assessoria jurídica e de captação financeira,

capacitação técnica, capacitação em gestão empresarial, marketing e comercialização.

Dessa forma, os setores apoiados pelo projeto foram assim delineados como

artesanato, borracha, castanha, cosméticos, doces, farináceos, fibras e cipós, frutas in

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natura, guaraná, mel, óleos e essência, palmitos, peixes ornamentais, plantas, mudas

e sementes diversas, polpas e sucos de frutas, produtos medicinais e turismo

ecológico.

Fonte das informações: (BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE –

SECRETARIA DE COORDENAÇÃO DA AMAZÔNIA. Negócios para Amazônia

Sustentável. 2003. p. 164-165).

4.4 Produção Sustentável de Mel – Meliponicultura

A produção sustentável de mel, extraída da “abelha sem ferrão” é uma

iniciativa da Associação dos Criadores de Abelha Indígena do Amazonas – ACAIÁ.

Localizada no município de boa vista – Estado do amazonas, com área equivalente a

2,6 mil Km² e população aproximada de 14 mil habitantes. A associação reúne 63

famílias de moradores, proprietárias de 830 colméias caseiras e mantém parceria com

o Programa Zona Franca Verde (Governo do Amazonas) e prefeitura local.

Além disso, a produção de mel está estipulada em 2.500 quilos – ano, que

proporciona trabalho e renda para as famílias associadas. Dessa forma, a produção de

mel contribui também para o reflorestamento natural de áreas degradadas, haja vista

que a abelha é a principal e natural agente polinizador da floresta.

Fonte das informações – ( Amazônia, a Última Esperança. Jornal do Brasil,

Rio de Janeiro, 6 de fevereiro de 2004. JB Ecológico, p. 34 - 36).

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CONCLUSÃO

Enfim, vimos no decorrer deste trabalho monográfico, que a preocupação

oficial relativa ao meio ambiente e desenvolvimento inicia-se com os seguintes

momentos históricos marcantes e delineados como Conferência das Nações Unidas

sobre Meio Ambiente Humano (1972) e com a elaboração do Relatório de Brundtland

(1987). Ambos antecederam a conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento (1992).

Nesse sentido, após a conferência Rio-92, vislumbrou-se a expectativa de

conciliar as Questões de cunho ambiental com o desenvolvimento econômico. Porém,

com uma nova visão de que o desenvolvimento deve satisfazer as necessidades da

atual geração, sem prejudicar a sobrevivência das gerações futuras. Esta concepção

foi idealizada a partir do Relatório de Brundtland, que formulou o conceito de

sustentabilidade, tendo como principio basilar o crescimento economicamente viável,

ecologicamente sábio, com geração de riqueza e bem estar social.

Dentro desse contexto, varias leis, decretos e documentos como Agenda 21,

Convenção da Biodiversidade, Sistema Nacional de Unidades de Conservação da

Natureza (SNUC), Política Nacional da Biodiversidade e recentemente a Política

Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais

(PNPCT) e outros, foram relevantes para que a biodiversidade nacional, as

comunidades tradicionais e os saberes tradicionais, fossem oficialmente reconhecidos

e valorizados.

Esse conjunto de documentos estão inter-relacionados e apregoam nos seus

ditames de forma direta ou indireta que o uso sustentável da biodiversidade associado

a biotecnologia deve oportunizar a geração de riqueza e promover o desenvolvimento

socioeconômico.

Baseado nessa premissa, foi possível ainda que de forma tímida a

implementação de projetos, programas e ações sustentáveis na Amazônia. Tudo isso

orquestrado por gestores públicos, associações e cooperativas. Essas iniciativas

foram demonstradas e ilustradas no decorrer do desenvolvimento deste trabalho.

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Além disso, alusivo ao saber tradicional foi demonstrado mediante fatos

históricos documentados e relatos pessoais que o saber tradicional é um instrumento

imprescindível para o conhecimento cientifico.

Visualizou-se também que a parcela de contribuição das comunidades

tradicionais na implementação de programas sustentáveis na Amazônia, se dá pelo

conhecimento empírico e também pelo conhecimento acerca da biodiversidade local.

Esse modo de saber foi construído ao longo de gerações e baseado na cultura e no

costume.

Desse modo, conclui-se que o desenvolvimento sustentável enquanto modelo

de desenvolvimento almejado pela sociedade moderna, pode ser implementado na

Amazônia de forma que oportunize qualidade de vida para seus habitantes. Essa

implementação deve sempre levar em consideração as peculiaridades e

especificidades da biodiversidade e das comunidades que retiram o seu sustento da

floresta.

Finalmente, para que se pratique o desenvolvimento sustentável dentro do

contexto amazônico é necessário esforços e parcerias de diversos seguimentos da

sociedade como autoridades públicas constituídas, gestores públicos (municipais,

estaduais e federais), Instituições Cientificas e diversos seguimentos da sociedade

civil organizada.

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ÍNDICE

AGRADECIMENTOS---------------------------------------------------------------------------------3

DEDICATÓRIA-----------------------------------------------------------------------------------------4

RESUMO------------------------------------------------------------------------------------------------5

METODOLOGIA---------------------------------------------------------------------------------------6

SUMÁRIO------------------------------------------------------------------------------------------------7

INTRODUÇÃO-----------------------------------------------------------------------------------------8

CAPÍTULO I-------------------------------------------------------------------------------------------10

CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E

DESENVOLVIMENTO: ANTECEDENTES HISTÓRICOS E RESULTADOS DA

CONFERÊNCIA -------------------------------------------------------------------------------------10

1.1 Antecedentes históricos - Conferência das Nações unidas sobre o Meio

Ambiente Humano: Estocolmo – 1972----------------------------------------------------------11

1.2 Antecedentes Históricos—Relatório de Brundtland ou Nosso futuro Comum:

Noruega-1987------------------------------------------------------------------------------------------12

1.3 Conferência das Nações Unidas Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento e

seus Resultados--------------------------------------------------------------------------------------13

CAPÍTULO II ------------------------------------------------------------------------------------------19

A VALORIZAÇÃO DA BIODIVERSIDADE NO CONTEXTO DA

SUSTENTABILIDADE-------------------------------------------------------------------------------19

2.1 Instrumentos de Valorização e Reconhecimento acerca da Biodiversidade----20

2.2 A biodiversidade e a Biotecnologia. --------------------------------------------------------23

2.3 a importância da Biodiversidade e seus Benefícios------------------------------------25

CAPÍTULO III------------------------------------------------------------------------------------------29

O RECONHECIMENTO DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS E DO SABER

TRADICIONAL-----------------------------------------------------------------------------------------29

3.1 Aspectos Legais e Conceituais--------------------------------------------------------------30

3.2 Os benefícios do saber Tradicional no Cotidiano das Pessoas----------------------31

3.3 A interação entre o Saber Tradicional e Conhecimento Científico-----------------35

CAPÍTULO II -----------------------------------------------------------------------------------------39

EXPERIÊNCIAS E PROGRAMAS SUSTENTÁVEIS -------------------------------------39

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4.1 O Programa Castanha – do—Brasil na Cooperativa Mista de produtores e

extrativistas do Rio Iratapuru – COMARU-----------------------------------------------------40

4.2 Produção de Óleos Virgem de Castanha –do—Brasil---------------------------------42

4.3 Projeto Negócios Sustentável – Amazônia-----------------------------------------------43

4.4 Produção Sustentável de Mel – Meliponicultura----------------------------------------44

CONCLUSÃO ----------------------------------------------------------------------------------------45

BIBLIOGRAFIA---------------------------------------------------------------------------------------47

ÍNDICE -------------------------------------------------------------------------------------------------50