universidade candido mendes instituto a vez do … · resolução de dissídios individuais...

42
1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA AUTOR CONCEIÇÃO DO ESPÍRITO SANTO BATISTA ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO RIO DE JANEIRO 2010

Upload: dotruc

Post on 07-Nov-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA

AUTOR

CONCEIÇÃO DO ESPÍRITO SANTO BATISTA

ORIENTADOR

PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO

RIO DE JANEIRO 2010

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Instituto a Vez do Mestre, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho. Por: Conceição do Espírito Santo Batista

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

3

Agradeço a Deus o milagre da Vida, discernimento e

aprendizado.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

4

Dedico aos professores e orientadores pela nobre arte de ensinar e a todos

os que respeitam o ser humano.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

5

RESUMO

O instituto das Comissões de Conciliação Prévia, forma alternativa extrajudicial de resolução de dissídios individuais trabalhistas, tema desse trabalho monográfico é descrito sobre o aspecto histórico, princípios e natureza jurídica. Direito comparado. Lei 9958/2000, com suas alterações e acréscimos na Consolidação das Leis do Trabalho. Inteligência doutrinária e jurisprudencial acerca da efetividade das Comissões de Conciliação Prévia. A preocupação do Tribunal Superior do Trabalho e do Supremo Tribunal Federal e outros Tribunais Superiores com o excessivo número de ações. As medidas adotadas pelo governo brasileiro para a efetividade das Comissões de Conciliação Prévia, em atenção às necessidades dos pretórios trabalhistas. A finalidade das Comissões de Conciliação Prévia, ou seja, descentralização, redução do número de demandas e celeridade, desafogando a Justiça do Trabalho, assoberbada com aproximadamente dois milhões e quinhentos mil de processos por ano e a conclusão do presente estudo monográfico, assegurando a eficácia e a capacidade das Comissões de Conciliação Prévia para descongestionar a Justiça do Trabalho, em que pese renomados entendimentos contrários.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

6

METODOLOGIA

A pesquisa que ora se apresenta, se desenvolveu com descrição

detalhada acerca do instituto das Comissões de Conciliação Prévia, inserido no

ordenamento jurídico pela Lei 9958 de 13 de janeiro de 2000.

Considerando o acima informado, se conclui que o estudo proposto se

realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, em que se buscou o

conhecimento em diversos tipos de publicações, como livros, artigos, revistas,

internet para a atualização de dados, outros periódicos especializados e

publicações oficiais da legislação e da jurisprudência.

A presente pesquisa buscou pelo estudo do método dogmático

positivista, pesquisa aplicada e qualitativa e pela pesquisa exploratória, a

realidade a partir da interpretação e qualificação dos fenômenos estudados,

visando a um resultado puramente descritivo, sem a pretensão de uma análise

crítica do tema.

Acresça-se que a pesquisa que resultou nesta monografia quando

utilizou o método dogmático, teve como fundamento e referencial a dogmática

desenvolvida, anteriormente, pelos estudiosos do tema Comissões de Conciliação

Prévia na Justiça do Trabalho.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I 11

AS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA ENQUANTO FORMA

ALTERNATIVA EXTRAJUDICIAL DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

INDIVIDUAIS DE TRABALHO

1.1HISTÓRICO E CONCEITO 14

1.2 PRINCÍPIOS E NATUREZA JURÍDICA 15

CAPÍTULO II 18

A CONCILIAÇÃO NO DIREITO COMPARADO E AS MEDIDAS

ADOTADAS PELO GOVERNO FEDERAL PARA A EFETIVIDADE DAS

COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA NO BRASIL

CAPÍTULO III 23

O ESTUDO DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA – LEI 9958/2000

CAPÍTULO IV 31

AS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA E SUA EFICÀCIA À LUZ DA

DOUTRINA E DA JURISPRUDÊNCIA.

CONCLUSÃO 37

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 40

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

8

INTRODUÇÃO

O instituto das Comissões de Conciliação Prévia, criado pela Lei 9958,

publicada em 13.01.2000, reveste-se de caráter privado e tem como objetivo

viabilizar e sustentar o sistema de solução extrajudicial de conflitos trabalhistas.

É evidente que esta Lei veio tentar pacificar a relação entre empregado

e empregador. Haja vista que as próprias partes, com auxílio de conciliadores e

representantes de cada uma delas, constroem o Direito, eliminando suas

controvérsias fora do processo judicial. Com celeridade, menos custo, prevenção

de futuros litígios e redução do número excessivo de demandas nos pretórios

trabalhistas.

Desse modo, há quem entenda na doutrina que estaria se

desenvolvendo à efetiva negociação nas relações de trabalho e que a participação

de leigos, como acima informado é exemplo de democracia no judiciário brasileiro,

ou seja, participação popular na administração da Justiça.

Cabe salientar, que se busca solução nas Comissões de Conciliação

Prévia, porque o descontentamento das partes, advogados, juízes e serventuários

são notórios, pois as ações se perpetuam por longos e desgastantes anos, causando

intranquilidade a paz social.

Assim sendo, a presente monografia estuda os entendimentos e

fundamentos do instituo das Comissões de Conciliação Prévia, quando evidencia

no capítulo I, as suas origens, conceito, princípios e natureza jurídica.

No capítulo II, evidencia o direito comparado e as medidas adotadas

pelo governo federal para a efetividade das Comissões de Conciliação Prévia no

Brasil.

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

9

No capítulo III, estuda as espécies, composição, funcionamento,

competência, condição de ação, eficácia liberatória, prerrogativas de seus

membros, disposto na Lei das comissões.

No capítulo IV evidencia as Comissões de Conciliação Prévia à luz da

doutrina e da jurisprudência quanto a sua eficácia.

A importância e a relevância do tema se justificam, pois será que as

Comissões de Conciliação Prévia têm cumprido o seu papel perante a Justiça do

Trabalho e a sociedade?

A presente monografia tem por objetivo responder a essa pergunta,

motivo pelo qual procura analisar com minúcias esse instituto, pois as Varas e os

Tribunais Regionais do Trabalho estão sobrecarregados, com reflexos inclusive no

Tribunal Superior do Trabalho e no Supremo Tribunal Federal, quando há recurso

extraordinário, criando-se um óbice ao julgamento de questões de direito

complexas, ferindo princípios basilares do Poder Judiciário.

Como resultado desse quadro caótico, o brasileiro, culturalmente,

arraigado a demandas trabalhistas provoca verdadeiras batalhas jurídicas.

Ressalte-se que, nas Comissões de Conciliação Prévia não há existência

de um órgão do Poder Judiciário. Sua composição é paritária e sua forma

extrajudicial, trazendo vantagens para todos, inclusive para o meio ambiente, pela

economia de papel e água para sua confecção.

Nos países desenvolvidos a preferência é pela autocomposição. A

heterocomposição é exceção. Portanto, diferente da realidade brasileira.

Em face do exposto, a presente monografia delimitar-se-á à ação

integradora entre empregado e empregador e a conciliação de seus interesses para

o Direito do Trabalho, tendo por finalidade um trabalho específico e delineado,

alicerçado em inteligências doutrinárias e jurisprudências acerca da eficácia das

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

10

Comissões de Conciliação Prévia, enquanto recurso de facilitação para a

autocomposição das partes diante de uma controvérsia.

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

11

CAPÍTULO I

AS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA ENQUANTO FORMA ALTERNATIVA DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS TRABALHISTAS

1.1 – Histórico e Conceito

O instituto das Comissões de Conciliação Prévia não é uma novidade,

ou peculiaridade dos tempos modernos, já existindo sua “prática na maioria dos

países industrializados, sob a fórmula sintetizada das comissões de fábrica “

como leciona José Augusto Rodrigues Pinto(PINTO, 2000, p. 324). Movimento

operário sem organização e pressão. Insignificante para o quadro socioeconômico

da época.

No Brasil as Comissões Mistas de Conciliação, sistema de solução

judicial de conflitos trabalhistas foram criadas pelo Decreto 21.396, de 21.03.1932.

Neste sistema só podia demandar empregado com filiação sindical.

Anos depois, após a Constituição de 1937, que se referia a uma “Justiça

do Trabalho”, se aperfeiçoou o sistema de conciliação, instituindo-se a Justiça do

Trabalho regulamentada, estruturada em um único diploma normativo

denominado Consolidação das Leis do Trabalho nos termos do Decreto-Lei 5452,

de 01.05.1943.

Com a promulgação da Constituição da República, no ano de 1946, a

Justiça do Trabalho passa a integrar o Poder Judiciário, conservando a composição

paritária, com a presença dos classistas. Representantes de empregado e

empregador, na época, nos termos do texto consolidado.

Atualmente não existe a representação classista. Esta se revelou

inoperante e onerosa para os cofres públicos, vez que não prestava assistência

qualificada aos representados nos conflitos trabalhistas. Em que pese doutos

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

12

ensinamentos contrários. A Constituição da República , promulgada em 05.10.1988

extinguiu a representação classista.

Urge esclarecer que a Carta Magna proíbe em seu artigo 8º, inciso I,

qualquer interferência e intervenção do Estado nas relações sindicais, trazendo

um grande avanço para o sistema jurídico brasileiro, pois enquanto nos países

desenvolvidos se adota o sistema de autocomposição, no sistema brasileiro sempre

se adotou a heterocomposição dos conflitos sociais fundada na interferência

estatal.

Com a modernidade e respeito aos Direitos, principalmente para o

trabalhador brasileiro, que teve suas leis elevadas à categoria de norma

constitucional, vieram inúmeras ações, sobrecarregando a Justiça do Trabalho em

todas as instâncias. Preocupação de juízes, advogados, partes, serventuários,

doutrinadores e jurisconsultos e do próprio governo brasileiro, pois nosso

presidente foi sindicalista e sabe o que o salário representa para o trabalhador,

pelo menos sabia à época em que liderava o Partido Trabalhista Brasileiro.

Assim sendo, há movimentos no sentido de amenizar esse quadro

sombrio, tendo como preocupação uma Justiça célere, menos onerosa, mais

humana.

É nesse cenário que Arnaldo Süssekind citado por José Augusto

Rodrigues Pinto elabora ( SÜSSEKIND apud PINTO, 2000, p. 324-325):

O anteprojeto de lei com o aval da Academia Nacional de Direito, aprovado pela Comissão Permanente de Direito Social do Ministério do Trabalho, no ano de 1996, propondo a instituição da obrigatoriedade dessas comissões nas empresas com mais de sessenta empregados e facultativamente nas de número inferior.

O governo federal, atendendo aos reclamos do Tribunal Superior do Trabalho, que tinha como preocupação descongestionar os pretórios trabalhistas,

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

13

aproveitou parte do conteúdo do anteprojeto acima mencionado e elaborou o Projeto de Lei 4694/98, propondo a criação desses organismos nas empresas com mais de cinqüenta empregados, não mencionando as empresas de menor número de trabalhadores. Enviado ao Congresso Nacional foi aprovado.

Dessa forma, nasce a Lei 9958 de 12 de janeiro de 2000, que estabelece ser

facultativa a criação de comissões de empresa ou sindicais. Sendo omissa quanto ao

número de empregados. Acrescentando os artigos 625-A a 625-H e o Título VI-A,

intitulado “DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA”, estudo da presente

monografia.

Com efeito, na lição de Sergio Pinto Martins (MARTINS, 2001, p. 21):

“conciliação vem do latim conciliatione, que tem o sentido de conciliar, ajuste, acordo ou harmonização de pessoas desavindas, composição ou combinação.”

Wagner Giglio assim leciona (GIGLIO, 1997, p. 109):

Idealmente a conciliação implicaria compreensão mútua entre empregado empregador, desarme de espírito, reconhecimento do direito alheio, recomposição de relações desarmônicas, verdadeira desavinda. O acordo entre as partes será apenas o efeito material da conciliação, geralmente de natureza econômica.

O Ministério do Trabalho e Emprego ao publicar em 15.08.2002, a

Portaria 324, assim esclarece:

As Comissões de Conciliação Prévia tem por finalidade mediar e tentar conciliar, fora do processo judicial, os conflitos individuais advindos das relações de trabalho. Não possuem qualquer relação administrativa ou de dependência com o Ministério do Trabalho e Emprego ou com a Justiça do Trabalho, tampouco estão subordinadas a registro ou reconhecimento dos órgãos públicos.

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

14

Diante do exposto, se conclui que o instituo das Comissões de

Conciliação Prévia, objeto da presente monografia, nasceu com a finalidade

precípua de dar agilidade à Justiça.

1.1.1Princípios e Natureza jurídica

Princípios

Há na doutrina diversos entendimentos a respeito do significado da

palavra princípio. Para nós, entretanto, princípio é a essência de uma norma. Seu

alicerce.

O iminente autor Américo Plá Rodrigues citando Alberto Ramon Real

textualiza que ( REAL apud PLÁ RODRIGUES, 1978, p. 208):

“princípios são regras de grande generalidade, verdadeiramente fundamentais”

Eduardo Couture, citado por José Augusto Rodrigues Pinto, concebe o

princípio como ( COUTURE apud PINTO, 2000, p. 42)

Enunciado lógico extraído de ordenação sistemática e coerente de diversas normas de procedimento, de modo a outorgar à solução constante destas o caráter de uma regra de validade.

Na lição de José Afonso da Silva princípios são normas que ( SILVA,

São Paulo, 1997, p. 63):

Irradiam e imantam os sistemas de normas e apud Gomes Castilho e Vital Moreira (CASTILHO e MOREIRA apud SILVA, (id. Ibid) acresce que “são núcleos de condensações nos quais confluem valores e bens constitucionais”. “Os princípios que começam a ser à base de normas jurídicas, podem estar positivamente incorporados, transformando em

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

15

normas-princípio e constituindo preceitos básicos da organização constitucional.

José Cretella Junior apud Amauri Mascaro Nascimento leciona (

NASCIMENTO apud CRETELLA Junior, 1984, p. 220):

“Princípio é uma proposição que se

coloca na base da ciência, informando-a”

Prosseguindo nesse caminho se chega à estrutura da norma. Sua

sustentação. Suas fundações, na assertiva do mestre baiano José Rodrigues Pinto

mencionado outrora (id., p. n)

Logo, fica fácil concluir que as Comissões de Constituição Prévia

trazem em suas entranhas diversos princípios, dentre eles: princípio da

constituição facultativa; da composição paritária; da autoregulamentação; da

informalidade; da boa-fé; da lealdade e o princípio da celeridade, trazido pela

Constituição da República que dispõe em seu artigo 5º, LXXVIII, ( Emenda

45/2004):

A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. Portanto, trás em seus alicerces o antídoto contra a morosidade.

Natureza Jurídica

Quanto à natureza jurídica das Comissões de Conciliação Prévia há

que se ressaltar que se trata de um tema árido.

Não há entendimento pacifico na doutrina e na jurisprudência,

merecendo, portanto, um estudo minucioso sobre o assunto.

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

16

Nesse sentido merece acolhida a lição de Calamandrei apud Giglio (

(CALAMANDREI apud GIGLIO 1997, p.111):

“A conciliação é um ato intermediário, híbrido, que participa tanto da natureza do ato administrativo, quanto do ato jurisdicional”.

Vicente Greco Filho também nos ensina que (GRECO Filho, São Paulo,

228/229)

“A conciliação é um negócio jurídico processual, diretamente entre as partes e que importa em transação”.

No entender do mestre baiano José Augusto Rodrigues Pinto, por sua

vez (id., p. n)

A conciliação não passa de um negócio jurídico entre titulares de Direitos materiais, disciplinado boa parte no Código Civil brasileiro sob o nome de transação.

Sergio Pinto Martins ensina quando esclarece (id., p. n):

“ As Comissões de Conciliação Prévia têm natureza jurídica de mediação”

Prossegue o referido autor (id.,p.n):

As comissões têm natureza de

m órgão privado, de solução de conflitos

extrajudiciais. Não pertencem ao Poder

Judiciário. Logo, não podem usar, em seus

documentos, timbres ou símbolos oficiais,

como o selo e as armas da República,

porque são de uso exclusivo da

Administração Federal.

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

17

A conclusão da presente análise é que se trata de uma transação,

emanada da vontade das partes, mediante concessões mútuas, decorrente das

incertezas da lide ou do Direito pretendido.

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

18

CAPÍTULO II

A CONCILIAÇÃO NO DIREITO COMPARADO E AS MEDIDAS

ADOTADAS PELO GOVERNO FEDERAL PARA A EFETIVIDADE DAS

COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA NO BRASIL

1.1 Direito Comparado

As Comissões de Conciliação Prévia são adotadas em diversos países

como forma extrajudicial de solução autônoma de conflitos trabalhista. Ora, de

forma obrigatória. Ora, de forma facultativa.

Ao observar a relevância do fato acima mencionado, com a máxima das vênias, transcrevo o ensinamento de Sergio Pinto Martins, pela clareza e objetividade, com que ensina (id., p. n)

Na Argentina há um órgão do Ministério do Trabalho e da Seguridade Social (SECLO) que expede um certificado informando o esgotamento do procedimento, gratuito, de conciliação obrigatório e prévio, realizado perante um profissional designado pelo Estado entre uma lista de especialistas, que é elaborada pelo Ministério da Justiça, entre profissionais da área jurídica, ou seja, o conciliador necessariamente tem que ser advogado, com antecedentes trabalhistas. É condição de ação.

Na Espanha o sistema de conciliação pode ser realizado nos órgãos indicados pelos convênios coletivos. Tem força executiva. Faz coisa julgada. É condição de ação.

Na Finlândia a paralisação do trabalho somente é permitida depois da intervenção do conciliador nomeado pelo governo.

Na Grã-Bretanha a conciliação é uma forma de empregados e sindicatos chegarem a acordos bilaterais sobre seus conflitos por meio de um terceiro. O Serviço Consultivo de Conciliação e Arbitragem foi criado desde 1896 e seus funcionários atuam como consultores de forma voluntária.

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

19

Na Itália o sistema italiano determina que a pessoa que pretender ingressar com ação individual e não se utilizar dos procedimentos de conciliação, previstos em acordos e convenções coletivas de trabalho, pode requerer a conciliação perante a comissão de conciliação da circunscrição da sede da empresa ou qualquer dependência desta, à qual o trabalhador seja subordinado. É facultativa.

A Corte Constitucional Italiana, quando argüida a inconstitucionalidade de se submeter à demanda a conciliação prévia, entendeu que não é inconstitucional se o legislador ordinário tem a prerrogativa de diferir no tempo o direito de ação, desde que não torne difícil ou impossível o seu exercício.

Em Portugal já existiram as comissões de conciliação extrajudicial, porém foram extintas. Hoje a tentativa de conciliação é judicial.

Na Suíça existe o Escritório de Conciliação desde 12 de fevereiro de 1949.

No Uruguai a conciliação é obrigatória. Um processo judicial não se inicia sem que antes haja a tentativa de conciliação prévia.

Nos Estados Unidos foi instituído o serviço de conciliação para o setor público em 1913, como parte integrante do Departamento do Trabalho. Nesse caso o conciliador apenas levava as partes a uma sala e pedia que se conciliassem, terminando sua responsabilidade nesse momento. Adotou atualmente a experiência do modelo japonês nos seus de centros de justiça de vizinhança.

Na França a conciliação é realizada perante um Conselho, sendo exigida a tentativa prévia de conciliação, antes de ser proposta a demanda nos tribunais de primeira instância. Atualmente se inspira também no sistema japonês.

No Japão, Vicente Malheiros da Fonseca apud Cappelletti e Garth (FONSECA apud CAPPELLET e GARTH, fev. 2000) ensina que o sistema jurídico japonês oferece exemplo do uso difundido da conciliação. A conciliação em relativo de uso e eficácia, ainda é muito importante neste país. Constituindo-se

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

20

de dois membros leigos e por um juiz, tendo por finalidade ouvir informalmente as partes e recomendar uma solução justa. Pode ser requerida pelas partes ou um juiz pode remeter um caso judicial à conciliação.

Em face do exposto, se conclui que é comum em países desenvolvidos à

submissão e participação das partes, nas comissões de conciliação prévia, antes da

contenda judicial.

1.1.1 Medidas adotadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego

O Ministro de Estado do Trabalho e Emprego assinou Portaria

Ministerial que “estabelece procedimentos para a instalação e funcionamento das

Comissões de Conciliação Prévia e Núcleos Intersindicais de Conciliação

Trabalhista” nos termos da Portaria 329, publicada em 15.08.02:

A Portaria adota como normas as principais recomendações do Grupo de Trabalho constituído pelos representantes técnico das entidades signatárias do Termo de Cooperação firmado em 05.07.2002, com o objetivo de aperfeiçoar a aplicação do instituto das Comissões de Conciliação Prévia. Essas normas, em síntese, estabelecem que:

. a Comissão instituída no âmbito do sindicato conciliará exclusivamente conflitos que envolvam trabalhadores pertencentes à categoria profissional e à base territorial das entidades sindicais que as estiverem instituído;

. a instalação da sessão de conciliação pressupõe a existência de conflito trabalhista, não se admitindo a utilização da Comissão como órgão de assistência e homologação de acordo;

. a Comissão comunicará ao Ministério de Trabalho e Emprego a instituição, o local, a composição e o início das atividades, e fará ampla divulgação do local e horário de funcionamento;

. a forma de custeio da Comissão instituída

no âmbito do sindicato será regulada no ato de sua

instituição, não podendo ser adotados os seguintes

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

21

critérios: I- cobrança do trabalhador de qualquer

pagamento pelo serviço prestado; II- cobrança de

remuneração vinculada ao resultado positivo da

conciliação; III- cobrança de remuneração em

percentual do valor pleiteado ou do valor da

conciliação;

. os membros da Comissão não poderão

perceber qualquer remuneração ou gratificação com

base nos acordos firmados.

O Ministério do Trabalho e Emprego com o compromisso de estimular

a criação de Comissões de Conciliação Prévia e aperfeiçoar sua aplicação, de modo

a assegurar a transparência e a efetividade de seus atos, com o propósito de se

evitar o surgimento de fraudes que venham denegrir a seriedade do instituto

resolve adotar as seguintes medidas:

1- a edição da Portaria nº 264, publicada em 06.06.02, por meio da qual se definiram as normas para o acompanhamento e levantamento de dados relacionados ao funcionamento das Comissões de Conciliação Prévia, bem como para a fiscalização do trabalho quanto ao FGTS e contribuições sociais decorrentes da conciliação. Definiu-se de maneira clara que os encargos tributários não podem se negociados no âmbito da conciliação extrajudicial e que à fiscalização do MTE incumbe investigar eventuais fraudes ou condutas abusivas nessa área;

2-implementação de rotina de acompanhamento e tratamento estatístico dos dados relativos às Comissões, pela Secretaria de Relações do Trabalho que estabeleceu por meio da Portaria nº 2/2002, critérios de coleta e gerenciamento dessas informações;

3-publicação da terceira edição do Manual de Orientação das Comissões de Conciliação Prévia para a toda sociedade, cujo texto contempla as recentes recomendações de conduta e enfoca com grande ênfase, o papel dos conciliadores;

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

22

4-disponibilização, as Centrais e Entidades Sindicais representativas do patronato e dos trabalhadores, do currículo básico de um curso de formação e treinamento de conciliadores, bem como a matriz do material didático para a capacitação dos integrantes das Comissões. Além do módulo de curso, este Ministério também poderá desenvolver a capacitação por meio de servidores qualificados; e

5-orientação aos Auditores-Fiscais do Trabalho para a fiscalização dos Termos de Conciliação firmados, com vistas a verificar se houve:

6-descumprimento da legislação trabalhista;

7-descumprimento da legislação do FGTS;

8-utilização da Comissão como órgão de assistência e homologação de rescisão contratual.

O Ministério do Trabalho e Emprego esclarece como resultado preliminar, que atualmente têm no país 1273 Comissões de Conciliação instaladas, das quais 949 de composição intersindical, 306 envolvendo empresa e sindicato, 14 por grupos de empresas e 04 Comissões por empresa.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

23

CAPÍTULO III

O ESTUDO DAS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA

Lei 9958/2000

1.1 Noções Gerais

Em 13 de janeiro de 2000, foi publicada a Lei 9958 de 12.01.2000, que

alterou e acrescentou o Título VI-A e as letras de A até H ao artigo 625 da

Consolidação das Leis do Trabalho.

As empresas e os sindicatos podem instituir Comissões de Comissões

de Conciliação Prévia, de composição paritária, com representantes dos

empregados e dos empregadores, com a atribuição de tentar conciliar os conflitos

individuais de trabalho. Não podendo conciliar dissídios coletivos, prerrogativa

dos sindicatos na negociação coletiva. Os empregados inseridos nesta negociação

não necessitam ser sindicalizados porque a Constituição da República assegura no

artigo 8º, inciso V, o direito à livre sindicalização.

Na lição de Sergio Pinto Martins (id., p. n) as comissões podem ser

divididas em:

a. de empresa, que são instituídas apenas no âmbito da empresa;

b. de grupo, em que há várias empresas

pertencentes ao mesmo grupo econômico;

c. sindical. São Criadas entre sindicato de empregados e uma ou mais empresas por intermédio de acordo coletivo;

d.intersindical. São criadas por sindicato de empregados e sindicato de empregadores, mediante convenção coletiva. Tem validade para toda categoria;

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

24

e. núcleos de conciliação intersindical. São criados por sindicatos pertencentes à categoria diversas por meio de negociação.

Prosseguindo, o referido autor leciona que quanto à forma que é feita, a conciliação pode ser (id., p. n):

a. judicial: é realizada em juízo, perante o magistrado;

b. extrajudicial: pode ser realizada na empresa, no sindicato de empregados, entre sindicatos etc.

c. extrajudicial e judicial: em que existem mecanismos extrajudiciais e ao mesmo tempo a possibilidade de se ajuizar a cão para discussão da questão trabalhista;

Esclarece ainda Sergio Pinto Martins (id., p. n) que quanto à vontade as

comissões podem ser:

a. facultativa: fica a cargo das partes a instituição da forma de conciliação, oferecendo como exemplo a Lei referente ao Procedimento Sumaríssimo;

b.Obrigatória: a lei determina que a conciliação deve ser tentada antes de ser proposta a ação trabalhista.

Onde podemos concluir que as Comissões de Conciliação Prévia têm a

atribuição de conciliar os conflitos individuais, mas não têm competência para

conciliar os conflitos coletivos. Podem conciliar, mas não podem julgar, por se

tratar de competência exclusiva do Poder Judiciário.

O artigo 625-B do texto consolidado determina que a composição

mínima de uma Comissão de Conciliação Prévia empresarial é de dois membros.

Um representante dos empregados e outro representante do empregador. A

composição máxima é de dez membros, cinco representantes dos empregados e

cinco dos empregadores. Esse critério não se aplica, necessariamente, a comissão

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

25

sindical e a intersindical, pois os seus membros são definidos em norma coletiva.

Haverá tantos suplentes quantos forem os representantes titulares, nos termos do

artigo 625-B, inciso II. O mandato dos seus membros é de um ano, permitida uma

recondução, nos termos do inciso III, do artigo citado.

A administração pública direta, autárquica e fundacional, podem

submeter-se à Comissão de Conciliação Prévia, na condição de empregador,

porque para o estatuto do obreiro, empresa é o empregador nos termos do artigo

2º da Consolidação das Leis do Trabalho.

As sociedades de economia mista e as empresas públicas se submetem a

qualquer tipo de comissão, porque possuem regime jurídico próprio de empresas

privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações trabalhistas, nos termos do

artigo 173, §1º, II, da Constituição da República.

Os representantes dos empregados, titulares e suplentes gozam de

estabilidade no emprego, até um ano após o final do mandado, salvo o

cometimento de falta grave.nos termos do artigo 625-B, §1º da Consolidação das

Leis do Trabalho.

O órgão conciliador deverá dar ciência ao empregado e ao empregador

da data e do local onde será realizada a sessão .Esse convite de comparecimento

deverá ser acompanhado de uma cópia da reclamação do trabalhador.

Nos termos da Portaria 329, publicada em 15.08.2002 do Ministério do

Trabalho e Emprego as partes devem ser esclarecidas no corpo desse convite e no

início da sessão de conciliação que:

a) a comissão tem natureza jurídica privada e não integra o Poder Judiciário;

b) o serviço é gratuito para o trabalhador;

c) a tentativa de conciliação é facultativa e o acordo também;

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

26

d) O não comparecimento representante da empresa ou a falta de acordo implica tão somente a frustração da tentativa de conciliação e viabiliza o acesso à Justiça do Trabalho;

e) as partes podem ser acompanhadas de pessoa de sua confiança;

f) o acordo firmado possui eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas;

f.1 podem ser feitas ressalvas no termo de conciliação de modo a garantir direitos que não tenham sido objeto do acordo;

f.2 o termo de acordo constitui título executivo extrajudicial, sujeito, no caso de descumprimento, à execução na Justiça do Trabalho;

f.3 as partes podem ser atendidas em separado pelos respectivos membros representantes, para esclarecimentos necessários, assegurando-se a transparência do processo de conciliação.

A sessão não será iniciada se faltar paridade de representação.

Conforme o disposto no artigo 625-F, as comissões de Conciliação

Prévia têm o prazo de 10 dias para a realização da sessão de tentativa de

conciliação a partir da provocação do interessado. Esgotado o prazo sem a

realização da sessão é fornecida, no último dia de prazo, a declaração a que se

refere o § 2º do artigo 625-D, nos termos do parágrafo único do artigo inicialmente

citado.

O termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá eficácia

liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas. Em

conformidade aos artigos 876 a 877-A do texto consolidado.

Nos termos do artigo 625-D da Consolidação das Leis do Trabalho,

qualquer demanda de natureza trabalhista será submetida à Comissão de

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

27

Conciliação Prévia se, na localidade da prestação de serviços, houver sido

instituída a comissão no âmbito da empresa ou sindicato da categoria.

Os artigos citados trouxeram inúmeras inquietações ao ordenamento

jurídico, porque o texto consolidado estendeu aos dissídios individuais o disposto

no artigo 114, § 2º da Constituição da República no que se refere à obrigatoriedade

de empregado e empregador se submeterem à Comissão de Conciliação Prévia

antes do ajuizamento da reclamação trabalhista.

Ocorre que o legislador constituinte estabeleceu essa condição de ação

apenas para os dissídios coletivos, daí a existência de opiniões renomadas

denunciando sua inconstitucionalidade.

Sergio Pinto Martins leciona que não há que se falar em

inconstitucionalidade, tendo em vista apud Ives Gandra Martins Filho, no

acórdão abaixo ( MARTINS apud MARTINS Filho, 2008, p 45):

Recurso de Revista. Obrigatoriedade de submissão da demanda à comissão de conciliação prévia. Art. 625-D da CLT, que prevê a submissão de qualquer demanda trabalhista, constitui as Constituições de Comissão Prévia (quando existentes na localidade), antes do ajuizamento da reclamação trabalhista, constitui pressuposto processual negativo da ação laboral (a dicção do preceito legal é imperativa “será submetida” e não poderá ser submetida). Outrossim, o dispositivo em tela não atenta contra o acesso ao Judiciário, garantido pelo artigo 5º, XXXV, da Constituição Federal, uma, uma vez que a passagem pela CCP é curta (CLT, art. 625-F), de apenas 10 dias, e a parte pode esgrimir eventual motivo justificador do não recurso à CCP (CLT, art.625-D, § 4º) In casu, é incontroversa nos autos a existência da Comissão, e o reclamante ajuizou a ação sem o comprovante de frustração da conciliação prévia (CLT, art. 625-D, § 2º) e sem justificar o motivo da não submissão da controvérsia à CCP. Assim, a ausência injustificada do documento exigido pelo art. 625-D, § 2º, da CLT importa na extinção do processo sem julgamento do mérito, com base no artigo 267, IV, do CPC. Recurso de

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

28

revista conhecido e provido (TST RR 2.287/2000-464-02-001. Relator Ministro Ives Gandra Filho).

O Supremo Tribunal Federal se posicionou em relação aos dissídios coletivos como esclarece:

O exaurimento das tratativas negociais é requisito indispensável à propositura da ação coletiva. CF art. 114, § 2º ( STF. A.g 166962- 4 – Rel. Ministro Carlos Velloso, 2ª Turma: Decisão: 30/04/96. DJ 1 de 30/08/96, p. 30607).

O Tribunal Superior do Trabalho entendeu, anteriormente, que havia necessidade de se passar pela comissão antes de se ajuizar a ação, como se demonstra a seguir :

Comissão de Conciliação Prévia – existência no âmbito da empresa ou sindicato – Obrigatoriedade de tentativa de conciliação antes de ajuizar demanda – Art. 625-D da CLT – Pressuposto processual – Princípio da Inafastabilidade da jurisdição ( art. 5º, XXXV) – Extinção do processo, sem julgamento do mérito – Na forma do artigo 625-D e seus parágrafos, é obrigatória a fase prévia de conciliação, constituindo-se em pressuposto para desenvolvimento válido e regular do processo. Historicamente a conciliação é fim institucional e primeiro da Justiça do Trabalho e, dentro do espírito do artigo 114 da Constituição Federal, está a extensão dessa fase processual delegada a entidades parestatais. O acesso ao judiciário não está impedido ou obstaculizado com a atuação da Conciliação Prévia de Conciliação, porque objetivamente o prazo de 10 dias para a realização da tentativa de conciliação não se mostra concretamente como empecilho ao processo judicial, máxime quando a parte tem a seu favor motivo relevante para não se enquadrar na regra. Revista conhecida, mas não provida ( TST- RR 58279/2002-900-04-002- 4ªR, 3ª T, Rel. Terezinha Célia Kneipp Oliveira, DJU 22.11.02, p. 648).

No mesmo sentido se posiciona Vicente José Malheiros da Fonseca, porque para ele (FONSECA, fev. 2000):

A lei 9958/2000 não teria excluído do exame do Judiciário os

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

29

dissídios individuais, mas apenas condicionado o ingresso em juízo trabalhista a previa tentativa de conciliação perante a Comissão de Conciliação Prévia. Acontece que o legislador constituinte pretendeu esse condicionamento apenas aos dissídios coletivos, como se infere do artigo 114, § 2ª, da Constituição. De modo, a condição, agora estendida aos dissídios individuais, por força da Lei ordinária, sugere uma ampliação não prevista pela LeiFundamental, daí sua institucionalidade denunciada.

O renomado mestre Arnaldo Süssekind leciona que ( SUSSEKIND, São Paulo, 2000, p. 1316):

Vem de longe o reclamo da doutrina pela institucionalização de comissões paritárias, no âmbito da empresa ou do sindicato, como instância prévia e obrigatória ao ajuizamento de qualquer ação individual ou plúrima.

Há entendimento contrário. É o que ensina o magistério de Maurício Godinho Delgado, ministro do Colendo TST quando esclarece:

Comissão de Conciliação Prévia. A ausência de passagem pela CCP é uma nulidade que pode ser sanada pelo próprio curso do processo judicial trabalhista, e, assim, a submissão não é condição da ação ou pressuposto processual intransponível para o ajuizamento da reclamação. “Não se declara eventual nulidade, no Direito Processual do Trabalho, se não houver manifesto prejuízo às partes, e a instigação à conciliação inerente à dinâmica trabalhista suprime eventual prejuízo resultante da omissão extrajudicial”, argumenta. “Cabe ao juiz de primeiro grau determinar que o ato de composição se realize na audiência. “Ele ressalta ainda que não há na CLT, norma que determine a extinção do processo nessas condições e não é viável, portanto, “imprimir-lhe” o efeito de impossibilitar a discussão da demanda diretamente na esfera judicial. (TST 6ª T. AIRR 1095/2003-382-02-40.9).

A Súmula 2, do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região assim preceitua:

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

30

Comissão de Conciliação Prévia. Extinção de Processo. (RA número 08/2002 DJE 12/11/02; 19/11/02; 10/12/02 e 13/12/02). O não comparecimento perante a comissão de Conciliação Prévia é uma faculdade assegurada ao obreiro, objetivando a obtenção de um título executivo extrajudicial, conforme previsto no artigo 625-E, parágrafo único da CLT, mas não constitui condição de ação, nem tampouco pressuposto processual na reclamatória trabalhista, diante do comando do artigo 5º, XXXV, da Constituição Federal.

Comissão de Conciliação Prévia. Passagem pela comissão de conciliação prévia como condição da ação. Não obrigatoriedade. Princípio Instrumentalidade das formas. Matéria já pacificada neste Tribunal, através da Súmula02. TRT/SP0 01444200422102000 RO. Ac. 3ª T. 20090510075. Rel. Maria de Lourdes Antonio. DOE 28/07/2009.

Comissão de Conciliação Prévia. Da ausência à Comissão de Conciliação Prévia. O comparecimento perante a Comissão de Conciliação Prévia é uma faculdade assegurada ao obreiro, conforme previsto pelo artigo 625-E, parágrafo único da CLT, mas não constitui condição da ação. Inteligência da Súmula 02, deste Regional. Equiparação salarial. Exercendo o autor... Preliminar de nulidade rejeitada e quanto ao mérito, Recurso Ordinário a que se dá provimento parcial TRT/SP – RO Ac. 20050895413. 10ª T. Rel. Marta Casadei Momezzo.

Essas controvérsias geraram diversas Ações Diretas de

Inconstitucionalidade, propostas no Supremo Tribunal Federal. Atualmente a

Corte Suprema se posicionou liminarmente, nas Ações Diretas de

Inconstitucionalidade de números 2139 e 2160, datada de 13 de maio de 2009, por

maioria de votos, declarando ser facultativo o ingresso inaugural em Comissões

de Conciliação Prévia, para preservar o Direito universal dos cidadãos de acesso a

Justiça, princípio com assento na Constituição da República.

Há expectativa de que o Supremo Tribunal Federal analise o mérito

dessas questões para pacificar doutrina e jurisprudência.

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

31

CAPÍTULO IV

AS COMISSÕES DE CONCILIAÇÃO PRÉVIA E SUA EFICÁCIA

À LUZ DA DOUTRINA E DA JURISPRUDÊNCIA

Não há entendimento pacífico sobre a eficácia das Comissões de

Conciliação Prévia, enquanto método célere de resolução de conflitos trabalhistas.

Com capacidade de redução do número excessivo de demandas na Justiça do

Trabalho. Atualmente na ordem de dois milhões e quinhentos mil de processos

por ano. Logo, se trata de um assunto polêmico entre doutrinadores e

jurisconsultos como se demonstra.

No entendimento do renomado autor Wagner Giglio (id. Ibid.):

“Os inconvenientes da conciliação prévia, nos dissídios individuais, superam os benefícios que essa técnica possa oferecer “.

No mesmo sentido textualiza Sergio Pinto Martins (id., p. n)

Já ministrei aulas ou palestras sobre o tema

em várias cidades do país. Inicialmente, minha

impressão era de que as comissões iriam funcionar. À

medida, que o tempo foi passando e tendo viajado

para várias localidades, verifiquei o contrário.

As comissões devem continuar a existir, pois a ideia é boa. É preciso aperfeiçoar o sistema, como na poda da árvore, em relação aos galhos secos e fracos, para que ela possa crescer frondosa, continuando a dar os frutos de que necessitamos e diminuir o número de reclamações na Justiça do Trabalho

Valentim Carrion afirma que (CARRION, São Paulo, p. 482):

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

32

“A autocomposição é sempre a melhor forma de apaziguar os conflitos de interesse”

Vicente José Malheiros da Fonseca , na época em que elaborou o artigo citado era Juiz-Presidente do Tribunal Regional do Trabalho 8º Região (Belém). Coordenador do Colégio de Presidentes e Corregedores do TRTs do Brasil. Professor de graduação e pós-graduação da Universidade da Amazônia (UNAMA), lecionando que (FONSECA, fev. 2000):

A solução extrajudicial dos conflitos individuais trabalhistas, por intermédio de Comissões de conciliação Prévia, em tese, é uma alternativa válida para pacificar as questões entre empregados e empregadores.

Para Ada Pelegrini Grinover, as Comissões de Conciliação Prévia representam a possibilidade de participação popular na administração da Justiça, quando esclarece (GRINOVER, 2008, V.9, nº 52. p. 71-72).

O fundamento das vias conciativas é a crise na Justiça, desta forma, busca a racionalização na distribuição da justiça com a subsequente desobstrução dos tribunais, recuperando ainda, certas controvérsias que permaneciam sem solução na sociedade contemporânea, em razão da inadequação da técnica processual para a solução de questões que envolvem, por exemplo, direitos de vizinhança, tutela do consumidor, acidentes de trânsito, entre outras.

Outrossim, a conciliação também tem fundamento social e político, que são, respectivamente, a pacificação e a participação, inserindo-se no plano da política judiciária, podendo ser enquadrada numa acepção mais ampla de jurisdição, numa perspectiva funcional e teleológica. Assim sob o ponto de vista da pacificação social, observa-se que esta nem sempre, é alcançada pela sentença que, na maioria das vezes, não é aceita de bom agrado pelo vencido. Além do mais a sentença se limita a solucionar somente a parcela da lide levada a juízo, sem possibilidade de pacificar a lide sociológica da qual aquela emergiu.

Já a conciliação como fundamento político se funda na participação popular na administração da justiça, pela colaboração do corpo social nos procedimentos de conciliação. “Essa participação pode se dar de duas formas: “participação na administração da justiça” e “ participação mediante justiça. “Esta

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

33

última significa a utilização do processo como veículo de participação democrática quer mediante a assistência judiciária quer mediante a legitimação para agir.

A Seção Especializada em Dissídios individuais (SDI-1) do Tribunal Superior do Trabalho (TST) pôs fim à discussão sobre a necessidade do empregado levar a demanda trabalhista primeiro à Comissão de Conciliação Prévia (CCP), antes de entrar com ação na Justiça. Por maioria de votos, venceu a tese do relator do caso, ministro Aloysio Corrêa, de que a submissão da lide à comissão é facultativa.

Para o ministro Aloysio Corrêa:

O objetivo da norma celetista é estimular a conciliação entre as partes e proporcionar mais agilidade na solução dos conflitos. Segundo o ministro, o Instituto da conciliação vem sendo bastante utilizado no País e contribui para diminuir o número de ações no judiciário, mas não pode servir de impedimento para a apreciação de questões trabalhistas pela Justiça. E-RR-28/2004-009-06-00.3.

Nesse mesmo diapasão têm sido outros julgados:

Comissões de Conciliação Prévia. Tendo em vista que o STF publicou no DJE e no DOU, em 22.05.2009, decisão que deferiu parcialmente a liminar nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade de números 2139 e 2160, para dar interpretação conforme a Constituição Federal, relativamente ao artigo 625-D da CLT, não cabe a argüição de que há pressuposto processual não atendido que impeça a apreciação do mérito. Adicional de Insalubridade. Base de cálculo. Até que o artigo 7º, inciso XXIII, da CF, venha a ser regulamentado pelo legislador, continua o salário mínimo a ser aplicado como base de cálculo do adicional de insalubridade, mas não como indexador, pois o Poder Judiciário não pode substituir o legislador na definição de critério para regularizar a sua base de cálculo ( inteligência da Súmula Vinculante nº 04 do Excelso STF). Assim, calculado... (TRT/SP - 01947200831802005 – RS- Ac. 2ª T 20090611300- Rel. Luiz Carlos Gomes Godói- DOE 01/09/2009.

Comissões de Conciliação Prévia. Acordo. Ausência de Ressalvas. Efeito. Recurso de Revista. “A decisão recorrida encontra-se em consonância com o entendimento da Corte, no sentido de que o termo de

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

34

quitação firmado perante Comissão de Conciliação Prévia possui eficácia liberatória geral quando não há ressalva de parcelas, nos termos do artigo 625-E da CLT. Recurso de Revista não conhecido. TST. RR 7979/2003-243-01. 8ª T. Rel. Dora Maria da Costa. DO 06/11/2009.

Comissão de Conciliação Prévia. Acordo. Efeitos. Agravo de Instrumento em Recurso de Revista. Nos termos do artigo 625-E da Consolidação das Leis do Trabalho, a conciliação levada a efeito perante a Comissão de conciliação Prévia, sem ressalva no termo conciliatório importa na quitação geral do contrato. Agravo de Instrumento a que se nega provimento. TST AIRR 184/2004-067-15-40-0. 1ª T. Rel. Lélio Bentes Corrêa. DO 16/10/2009.

O TST uniformizou jurisprudência sobre Comissão de Conciliação Prévia e com a máxima das vênias, transcrevo este julgado.

Comissão de Conciliação Prévia – A submissão de conflitos à Comissão de Conciliação Prévia não constitui pressuposto processual nem condição para agir. Com esse entendimento, a Seção Especializada em Dissídios Individuais do Tribunal Superior do Trabalho conclui que não cabe a extinção do processo sem julgamento do mérito em caso de ausência de tentativa de conciliação.

A decisão uniformiza a jurisprudência das oito Turmas do TST e segue o entendimento adotado liminarmente pelo Supremo Tribunal Federal em duas ações diretas de inconstitucionalidade julgadas em maio. Processo em que são partes a Danisco Brasil e uma empregada doméstica. Em 2006 a ação foi julgada extinta sem julgamento do mérito pela 4ª Turma do TST, que entendia que a submissão à comissão de conciliação prévia era pressuposto processual negativo para a proposição da Ação trabalhista. A trabalhadora então interpôs Embargos à SDI-1. Alegou que houve divergência com decisões contrárias da 2ª Turma do TST por entender que a passagem pela comissão é facultativa e não condição ou pressuposto da ação.

Os Embargos começaram a ser julgados em maio de 2007. Para o relator, ministro Vieira de Mello Filho, a exigência de submissão da demanda à CCP como condição do exercício de direito de ação constitui ”obstáculo ao direito-garantia constitucional previsto

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

35

no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal”. Em seu voto, o relator sustentou que o artigo 625-D da CLT, com a redação dada pela Lei 9.958/2000 ( que institui as CCPs) não tem “o caráter imperativo que se lhe quer emprestar, nem é causa da extinção do processo sem resolução do mérito apenas porque a certidão da negociação frustrada não acompanha a petição da ação.

O ministro Vieira de Mello observou que, no caso julgado, as partes recusaram, sucessivamente, duas propostas de conciliação formuladas pelo juiz d primeiro grau e até então não havia demonstrado interesse algum na conciliação. “O que se tenta com a comissão de conciliação prévia é a solução extrajudicial dos conflitos, mediante a negociação”, explicou. “No momento em que se estabelece a audiência e há recusa em negociar, a utilidade da remessa do processo novamente à comissão não teria sentido.

Ao trazer de volta o processo à sessão, o ministro Vantuil Abdala votou no mesmo sentido, uma vez que o STF já se manifestou sobre o tema, mas fez ressalvas de entendimento pessoal. Para Vantuil, a comprovação de tentativa frustrada de conciliação perante CCP é pressuposto processual para o ingresso da reclamação na Justiça do Trabalho e não afronta o princípio de livre acesso ao Judiciário porque não impede o ajuizamento da ação. “A CCP é um excelente instrumento de composição rápida e eficaz dos conflitos, em observância aos princípios da economia e da celeridade processuais”, afirmou. Espero que o STF ainda reveja essa posição. Com informações da Assessoria de Imprensa do Tribunal Superior do Trabalho. E-ED- RR349/2004-241-02-00.4.

A pesquisa anterior a esta monografia, desenvolveu que o brasileiro, culturalmente, transforma seus conflitos judiciais em verdadeiras batalhas jurídicas. Não sendo adepto do “Movimento Conciliar é Legal”. Mas, entretanto, verificamos que o brasileiro está mudando seus conceitos em relação à Justiça. Talvez pela morosidade, pelos autos custos de um processo, pelo desgastante trâmite da lide, pela animosidade acirrada entre vencedor e vencido que se eterniza e que a sentença não é capaz de eliminar. Enfim, por razões sócioeconômicas e psicológicas que não caberia neste estudo serem abordadas.

A ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie Northfleet lançou o programa “Conciliar é Legal” em 2007, que tem por finalidade divulgar, incentivar e demonstrar o poder da conciliação na resolução dos conflitos judiciais.

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

36

O Conselho Nacional de Justiça- CNJ, por intermédio do seu relatório de dados estatísticos, referente à “Semana pela Conciliação 2009” realizada no período 07 a 11 de dezembro do ano em referência, revela que o brasileiro tem uma capacidade extraordinária para conciliar, haja vista que ocorreram, ao todo, 333 mil audiências agendadas e quase 260 mil realizadas ( 78%), sendo que, dentre estas 123mil resultaram em algum tipo de acordo (47%). “Foram homologados R$1bilhão em acordos, o que resultou em uma arrecadação de R$ 77milhões em recolhimentos previdenciários (INSS) e recolhimentos fiscais (Imposto de Renda).

A Justiça do Trabalho marcou 96.879 audiências. Foram realizadas 81.793. Homologados 35.746 acordos. Totalizando R$ 474.643.142,00 em valores homologados. Arrecadando de impostos R$ 69.708.014,00 no ano de 2009. (Relatório de dados estatísticos do Conselho Nacional de Justiça).

À vista do exposto é fácil concluir que o brasileiro é sensível ao ato de conciliar.

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

37

CONCLUSÃO

Esta monografia amparada na pesquisa que a precedeu, descreve o

instituto das Comissões de Conciliação Prévia, inserido no ordenamento jurídico

pela Lei 9958 de 13 de agosto de 2000, enquanto método célere e alternativo de

resolução de conflito individual de trabalho, descentralização e redução do

número excessivo de ações que chegam ao judiciário e se perpetuam por longos e

desgastantes anos, causando tanto dissabor aos jurisdicionados.

No modelo consensual autônomo extrajudicial os conflitos individuais

aproximam as partes da realidade, uma vez que com o auxílio dos conciliadores e

representantes de cada uma delas, constroem o seu próprio Direito, prevenindo

futuras ações. Todos saem ganhando com essa pronta solução.

O empregado recebe suas verbas de caráter alimentar, garantindo seu

sustento e de sua família. O empregador se desobriga de pagamentos e impostos

inerentes. A sociedade se beneficia pela resolução de um conflito garantidor da

paz social, fim inerente a todos os ramos do Direito. O Planeta Terra se beneficia

pela preservação do meio ambiente, tendo em vista a economia de papel e toda a

água necessária para sua fabricação e manutenção.

Existem algumas críticas contra as Comissões de Conciliação Prévia,

dentre elas, notícias de que alguns de seus membros induzem os empregados a

darem quitação geral e plena das verbas trabalhistas, incluindo parcelas não

relacionadas no acordo e que pessoas movidas por interesses escusos procuram

convertê-las em meio de vida, tornando onerosa, atividade que deveria ser

voluntária. Isto porque a cobrança de taxa para realizar as conciliações é conduta

abusiva e aviltante, devendo ser coibida pelos órgãos do Poder Público e dos

representantes das categorias dos representados, porque se trata de fato

gravíssimo que descaracteriza o espírito e a finalidade da Lei, causando graves

prejuízos aos trabalhadores, empregadores e ao Poder Judiciário. É um demérito

para todo o ordenamento jurídico, porque a sobrecarga repercute nas instâncias

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

38

superiores e até no Supremo Tribunal Federal, quando se trata de recurso

ordinário, ferindo a economia e a celeridade processual, princípios basilares de

todo o Direito.

A presente monografia demonstra que apesar de suas mazelas, as

Comissões de Conciliação Prévia, vêm sendo utilizada no País e têm cumprido sua

finalidade precípua de desafogar a Justiça do Trabalho, conforme anuários

estatísticos do Departamento de Pesquisas Judiciárias do Conselho Nacional de

Justiça. É o Estado se afastando da relação capital e trabalho, deixando para as

partes a solução e a responsabilidade dos conflitos, sendo um avanço, vez que

agasalha a concepção de que “Justiça tardia não é Justiça” e o seu efetivo

funcionamento, possibilita aos Tribunais Superiores julgarem questões complexas

de Direto e que não podem ser resolvidas por conciliação.

Defendemos que não se deve querer extinguir as Comissões de

Conciliação Prévia pelo fato de ocorrerem irregularidades, deficiências, fraudes e

abusos. Estas ocorrências devem ser severamente fiscalizadas e punidas, com a

participação do Ministério Público em todas as fases, sob pena de nulidade. A má

utilização do instituto não deve servir para sua desmoralização. Há que ser

aperfeiçoado, divulgado e incentivado para que possa atender satisfatoriamente

os desejos da sociedade.

O instituto das Comissões de Conciliação Prévia é louvável. Atual e

em consonância com os princípios da constituição facultativa:

autoregulamentação; informalidade; oralidade; composição paritária; boa-fé;

lealdade; economia e celeridade processual, atendendo à necessidade de rápida

solução dos conflitos submetidos à conciliação na Justiça do Trabalho. Anseio de

todas às máximas dos pretórios trabalhistas e porque não dizer de todo o Poder

Judiciário.

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

39

O instituo das Comissões de Conciliação Prévia é uma ideia louvável.

Necessitando, porém, de estudos contínuos e aperfeiçoados de acordo com a

realidade brasileira.

Há que ser incentivado e divulgado, pelo fato de se tratar de tema

relativamente novo.

Não merecendo ser banido do universo jurídico, por falta de uso

daqueles que não acreditam ou não se interessam pela sua eficácia.

Enfim, à vista do exposto, esta é a conclusão desse trabalho

monográfico, em que pese Doutos entendimentos contrários.

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

40

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA

BRASIL, Lei 9958 de 12 de Janeiro de 2000. Institui as Comissões de Conciliação

Prévia. Publicada no DOU em 13 de janeiro de 2000. Disponível em

(http://planalto.gov.br). Acesso em 08/10/2009.

BRASIL, Decreto-Lei 5452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do

Trabalho. Atualizada com a redação dada pela Medida Provisória nº 2.164-41 de

24.08.2001.

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Atualizada até a

Emenda Constitucional nº 58 de 23.09.2009.

BRASIL, Ministério do Trabalho e Emprego. Portaria Ministerial nº 329, publicada no

DOU de 1508.02, que “estabelece procedimentos para a instalação e

funcionamento das Comissões de Conciliação Prévia e Núcleos Intersindicais de

Conciliação Trabalhista”, disponível em http://www.mte.gov.br acesso em

09.12.2009.

BRASIL, Manual de Orientação das Comissões de Conciliação Prévia. 3ª Edição-

Distribuição- Secretaria de Relações do Trabalho. Fundalc. Brasília.

BRASIL, Conselho Nacional de Justiça- CNJ/ DPJ. Movimento Pela Conciliação.

Relatório de Dados Estatísticos do ano de 2009. (http://www.cnj.gov.br), acesso

em 09.12.2009.

BRASIL, Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região-( http://www.trt8.jus.br).

Acesso em 09/12/2009.

BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho-(http://www.Tst.jus.br). Acesso em

09/12/2009.

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

41

CARRION, Valentim. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. São Paulo,

2008.

CRETELLA Junior, José. Comentários à Constituição de 1998. Rio de Janeiro, 1991.

DELGADO, Maurício Godinho, Curso de Direito do Trabalho, São Paulo. LTr. 2002.

FONSECA, José Vicente Malheiros. Comissões de Conciliação Prévia. Jus

Navigandi, Teresina, ano 4, n.39, fev.2000. Disponível em: http://jus2.uol.com.br.

Acesso em 09/12/2009.

GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do

Processo, São Paulo, Malheiros. 2008.

GRINOVER, Ada Pellegrini. Os Fundamentos da Justiça Conciliativa. Revista I0B de

Direito Civil e Processo Civil. V.9, nº 52, p. 71-72. Porto Alegre. Março/abril 2008.

GIGLIO, Wagner D. A Conciliação nos Dissídios individuais do Trabalho. Porto

Alegre. Síntese. 1997.

GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. São Paulo. Saraiva.

1981.

MARANHÃO, Délio. Direito do Trabalho, Rio de Janeiro, 1993. Atualizado por

Luiz Inácio Barbosa Carvalho.

MARTINS, Sergio Pinto. Comissões de Conciliação Prévia e Procedimento Sumaríssimo,

São Paulo. Atlas. 2001.

MARTINS, Sergio Pinto. Comissões de Conciliação Prévia. São Paulo. Atlas. 2008.

MARTINS Filho, Ives Gandra. A justiça do Trabalho no ano 2000: as leis 9756/1998,

9957 e 9958/2000, a Emenda Constitucional nº 24/1999 e a reforma do judiciário. Revista

LTr, v.64, nº 02, p161-171, fevereiro. 2000.

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO … · resolução de dissídios individuais trabalhistas, ... realizou com base no método de pesquisa bibliográfica, ... mencionado

42

PINTO, José Augusto Rodrigues. Processo Trabalhista de Conhecimento. São Paulo.

LTr. 2000.

SÜSSEKIN, Arnaldo. Instituições de Direito do Trabalho. 21ª edição atualizada por

Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho. São Paulo. LTr. 2000.

SILVA. José Afonso da Silva. Curso de Direito Constitucional Positivo, São Paulo.

Malheiros. 1997.

TEIXEIRA. João Luís Vieira. Comissões de Conciliação Prévia Trabalhista. São Paulo.

LTr. 2003.

MESTRE. Instituto A Vez do Mestre. Orientação de professores e orientadores.