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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” A AÇÃO SUPERVISORA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EJA NO BRASIL DINASALDE ALVES BELISÁRIO ORIENTADORA: GENI DE OLIVEIRA LIMA Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

A AÇÃO SUPERVISORA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

PARA A EJA NO BRASIL

DINASALDE ALVES BELISÁRIO

ORIENTADORA: GENI DE OLIVEIRA LIMA

Rio de Janeiro

2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A AÇÃO SUPERVISORA PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

PARA A EJA NO BRASIL

Objetivos: Monografia apresentada à

Universidade Cândido de Mendes, como um dos

requisitos obrigatórios para obtenção da pós-

graduação.

DINASALDE ALVES BELISÁRIO

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AGRADECIMENTOS

Á Deus, minha família, corpo docente da instituição

“a vez do mestre”, à professora Geni de Oliveira Lima pela

revisão dos textos, e a todos aqueles que de alguma forma

contribuíram para a realização deste trabalho e, em especial,

o meu esposo, cujo amor e dedicação foram fundamentais

nos momentos mais difíceis.

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DEDICATÓRIA

A meu esposo com muito amor e carinho, como pai

e educador, aos meus filhos: Luciana, Ricardo e Thiago e as

minhas netas Kailane e Rachel em “memória”.

Segundo Salmos 75:1 que diz: “Graças te redemos, ó

Deus; graças te rendemos, e invocamos o teu nome, e

declaramos as tuas maravilhas”.

Graças te damos ó Deus por Caio e Sara, a Deus toda

gloria.

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RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo analisar a Educação de Jovens e Adultos

(EJA), apontando a necessidade de uma formação de educadores que os

capacite a atuar nesta modalidade de ensino. Para tanto, foi realizado o seguinte

caminho: um breve histórico da EJA no Brasil, a discussão das concepções

bancária e libertadora da educação Frente à Ação Supervisora, segundo Paulo

Freire, e da necessidade de uma formação específica para educadores da EJA. A

EJA refere-se a um público que requer atenção específica, uma linguagem e

procedimentos didáticos pedagógicos próprios. O problema que orientou este

estudo foi: Por que é preciso que o Educador da EJA tenha uma formação

específica?

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METODOLOGIA

Para alcançar os objetivos usaremos uma metodologia de pesquisa

bibliográfica de autores que abordam o tema de formação de formação de

professores e da EJA. Principalmente FREIRE (1975, 1995, 1997,20000).

Entendemos também que: (segundo Gadott, 1997), Paulo Freire marcou uma

ruptura na história pedagógica brasileira. Ele rompeu radicalmente com a

educação elitista e se comprometeu com os homens e mulheres concretos. Num

contexto de massificação de exclusão, de desarticulação com a sociedade, Freire

dá sua efetiva contribuição para a formação de uma sociedade democrática, num

contexto social de exclusão. Paulo Freire se torna mais atual, ainda, ao anunciar e

ao reconstruir um projeto educacional radicalmente democrático e instigante. O

construtivismo freiriano vai além da pesquisa e da tematização (Piagetiana). E a

terceira etapa de seu método (a problematizadora), supõe uma ação

transformadora. Acontece no homem, através do homem.

Para Machado (2004), o homem diferente mente dos outros animais, não

nasce com sua capacidade desenvolvida. É ao longo de sua vida, pelas relações

que estabelece com os outros homens, no processo de socialização, que ele se

desenvolve. Uma das razões pelas quais isto ocorre é que o homem nasce, e

mantém enquanto vive, a capacidade de aprender e de ensinar, transmitindo,

mais também produzindo e modificando, os conhecimentos, a cultura. E a

educação está ligada diretamente a esta capacidade, que faz parte do processo

de socialização, que humaniza o homem, isto é, que propicia o desenvolvimento

de sua capacidade.

Segundo Torres (1997), a teoria do conhecimento de Paulo Freire teve

tão grande repercussão, porque ela dá dignidade ao aluno. O professor é também

um aprendiz. Paulo Freire se preocupou com a relação entre professor e aluno, e

com a consciência crítica.

Segundo Fávero (1997), Paulo Freire foi o primeiro educador brasileiro a

falar que o analfabetismo era um problema social. Por isso, educar, segundo ele,

é um ato político. E, ao longo de sua militância educacional, social e política,

Freire jamais deixou de lutar pela superação da opressão e desigualdade social,

entendendo que, uns dos fatores determinantes para que ela se dê, é o

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desenvolvimento da consciência crítica, através da consciência histórica. Seu

projeto educacional sempre contemplou essa prática, construindo sua teoria do

conhecimento com base, no respeito ao educando, na conquista da autonomia e

na dialocidade enquanto princípios metodológicos.

A proposta de Freire parte do estudo da realidade (fala do educando) e a

organização dos dados (fala do educador). Nesse processo surge o tema gerador,

extraído da problematização da prática de vida dos educandos.

Para Freire (2000), o ponto importante não é transmitir conteúdos

específicos, mas despertar uma nova forma de relação com a experiência vivida.

A transmissão de conteúdos estruturados fora do contexto social do educando é

considerada “invasão cultural” ou “depósito de informações”, porque não emerge

do saber popular. Portanto, antes de qualquer coisa, é preciso conhecer o aluno.

Conhecê-lo enquanto indivíduo inserido num contexto social de onde deverá sair

o “conteúdo” a ser trabalhado.

Para Fávero (1997), Freire tinha como objetivo falar o mundo vivido pelos

analfabetos, ou seja, como se apresenta o pensamento e a realidade social do

grupo com o qual ia trabalhar. Apesar de a alfabetização ser uma das idéias

principais de Paulo Freire, não se reduz a um conjunto de técnicas ligadas a

aprendizagens da leitura e escrita, como muitas vezes se supõe. Trata-se de um

instrumento, através do qual se pode chegar à politização do povo, que deixa de

entender sua situação desprivilegiada apenas como destino ou desejo divino e

passa a percebê-la como determinação do contexto econômico-político-ideológico

da sociedade, da qual são produtos, mas também produtores. Assim, a idéia de

Paulo Freire, e o que nele há de revolucionário, é a possibilidade de conjugar a

leitura da palavra, a leitura do mundo; tirando o analfabetizando da inércia e

apatia nas quais se encontram os excluídos, fazendo-os a importância e a

necessidade de se apropriarem da leitura e da escrita.

Para Alarcão (2007, p.41) professores reflexivos em uma escola reflexiva:

a noção de professor reflexivo baseia-se na consciência da capacidade de

pensamentos reflexão que caracteriza o ser humano como criativo e não como

mero reprodutor de idéias e práticas que lhe são exteriores”.

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Luck (2005 1990) A escola participativa: o trabalho do gestor.

“Entendemos que á supervisão escolar compete dinamiza e assistir na

operacionalização do sentido do processo educativo”

Freire (1995), Rummt (2001), Soares (2002,2003), Ribeiro (1999), Paiva

(1983), entre outros. Este estudo pretende contribuir com aqueles que se

preocupam com a educação de Jovens e Adultos e buscam construir uma

formação docente com qualidade e compromisso social.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I - PERCORRENDO UM HISTÓRICO DA EJA NO BRASIL

CAPÍTULO II - O PROFESSOR DA EJA: VISÃO BANCÁRIA X VISÃO

LIBERTADORA FRENTE À AÇÃO SUPERVISORA

CAPÍTULO III - A NECESSIDADE DE UMA FORMAÇÃO ESPECÍFICA PARA

EDUCADORES DA EJA

CONCLUSÃO

ÍNDICE FOLHA DE ROSTO

BIBILOGRÁFICAS

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INTRODUÇÃO

“Escolheu-se investigar o tema: ‘‘A ação supervisora para a formação de

professores para a EJA no Brasil”, devido ás necessidades de conhecer mais

sobre a vida e obra desse educador Paulo Freire, sua concepção de homem e

como têm sido realizados na educação de jovens e adultos, as suas propostas

educativas.

Outro motivo que me induziu ao estudo sobre a EJA com ênfase em Paulo

Freire foi à importância de suas obras, seu pensamento em relação á educação,

pois para ele, necessário é conhecer seus educandos, suas culturas, e também

conhecer a comunidade na quais os educandos vivem. Freire marcou uma ruptura

na história pedagógica brasileira. Ele rompeu radicalmente com a educação

elitista e se comprometeu com os homens e mulheres concretos. Num contexto

de massificação de exclusão, de desarticulação com a sociedade, Freire dá sua

efetiva contribuição para a formação de uma sociedade democrática, num

contexto social de exclusão. Paulo Freire se torna mais atual, ainda, ao anunciar e

ao reconstruir um projeto educacional radicalmente democrático e instigante. O

construtivismo freiriano vai além da pesquisa e da tematização (Piagetiana). É

terceira etapa de seu método (a problematizadora), supõe uma ação

transformadora. Acontece no homem, através do homem. A proposta de Freire

parte do estudo da realidade (fala do educando) e a organização dos dados (fala

do educador). Nesse processo surge o tema gerador, atraído da problematização

da prática da vida dos educandos. Os conteúdos de ensino são resultados de

uma metodologia dialógica.

Na leitura sobre Paulo freire, chama-se a atenção para a maneira pela qual ele

vê o homem, o aprendizado, sua cultura e visão de mundo. Isso implica respeitar

a cultura de cada povo, entendendo o modo de ver, fazer e viver, o modo como às

pessoas criam símbolos, vivem e aprendem no seu grupo social e na relação com

os outros.

Na história brasileira, percebemos que a modalidade Educação de Jovens

e Adultos é dirigida a uma parcela da sociedade para a sociedade brasileira que

trás consigo uma enorme dívida educacional. Esta modalidade de ensino é

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marcada pela marginalização e descaso no âmbito das políticas públicas e pela

concepção de reposição do tempo perdido, de uma educação que ficou para trás.

Temos como meta neste estudo discutir sobre a necessidade da formação

profissional específica para atuar na EJA e quais seriam as melhores maneiras de

capacitar um educador voltado para esta modalidade de ensino, dos quais os

principais personagens são indivíduos experientes que buscam resgatar a

educação.

Para justificar a escolha do tema “a ação supervisora na formação de

professores para a EJA no Brasil”, e alcançar os objetivos usaremos uma

metodologia de pesquisa bibliográfica com base em teóricos cujos autores irão

contribuir para o bom desenvolvimento do tema com a perspectiva de ampliar os

conhecimentos. Outro motivo está relacionado às aulas ministradas pela

professora Fabiana Muniz, Psicologia do desenvolvimento da aprendizagem que

fez menção do autor Erikson (1976) que ressalta que o ser humano tem uma

necessidade de se sentir-se único, e a uniformidade das experiências - o seu

estilo pessoal.

Outro motivo está relacionado às aulas do professor Pablo de coordenação

e supervisão escolar que relata um breve histórico da EJA relacionado à Lei de

Diretrizes e Bases da Educação, dando ênfase ao educador Paulo Freire e sua

contribuição para as propostas educativas da EJA no Brasil.

-- Freire marcou uma ruptura na história pedagógica brasileira. Ele rompeu

radicalmente com a educação elitista e se comprometeu com os homens e

mulheres concretos. Num contexto de massificação de exclusão, de

desarticulação com a sociedade, Freire dá sua efetiva contribuição para a

formação de uma sociedade democrática, num contexto social de exclusão. Paulo

Freire se torna mais atual, ainda, ao anunciar e ao reconstruir um projeto

educacional radicalmente democrático e instigante. O construtivismo freiriano vai

além da pesquisa e da tematização (Piagetiana). E a terceira etapa de seu

método (a problematizadora), supõe uma ação transformadora. Acontece no

homem, através do homem. A proposta de Freire parte do estudo da realidade

(fala do educando) e a organização dos dados (fala do educador). Nesse

processo surge o tema gerador, atraído da problematização da prática da vida

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dos educandos. Os conteúdos de ensino são resultados de uma metodologia

dialógica.

Na leitura sobre Paulo freire, chama-se a atenção para a maneira pela

qual ele vê o homem, o aprendizado, sua cultura e visão de mundo. Isso implica

respeitar a cultura de cada povo, entendendo o modo de ver, fazer e viver, o

modo como às pessoas criam símbolos, vivem e aprendem no seu grupo social e

na relação com os outros.

Escolhe-se também refletir sobre a ação supervisora na formação de

professores da EJA no Brasil porque segundo (Luck, 1990) “á supervisão escolar

compete dinamizar e assistir na operacionalização do sentido do processo

educativo”.

A função supervisora está relacionada à escola, tendo com ponto de

partida a interação para que possa suprir as necessidades tanto do educando

quanto de educador formando assim a identidade da mesma e compreendendo o

processo de desenvolvimento do educando/educador fazendo assim o

envolvimento da família na formação da identidade da escola. Nesse

relacionamento o supervisor deve ser um orientador observando o contexto social

e político em que essa sociedade vive resgatando assim a identidade da escola,

para que o ensino /aprendizagem sejam de qualidade e haja interação entre o

supervisor e a instituição.

É importante também ressaltar que o supervisor estimula a competência

profissional partindo de um planejamento bem elaborado coordenação e

execução do mesmo suprindo assim as aspirações dos elementos da instituição

escolar.

Temos também como meta neste estudo discutir sobre a necessidade da

formação profissional específica para atuar na EJA e quais seriam as melhores

maneiras de capacitar um educador voltado para esta modalidade de ensino dos

quais os principais personagens são indivíduos experientes que buscam resgatar

a educação.

Com base nessa contextualização da situação-problema essa pesquisa

buscará encontrar resposta para a questão levantada através de um estudo

bibliográfico de autores reconhecidos no tema de formação de professores e de

EJA, supervisão e coordenação. Adotou-se como referencial teórico, na pesquisa,

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as contribuições de estudos realizados por Freire (2005, 2003, 2000, 1994, 1992,

1987, 1975, 1995), RUMMERT (2001), SOARES (2002, 2003), RIBEIRO (1999).

PAIVA (1983). Em VENTURA (2001), particularmente no que se refere ao

histórico da EJA, tivemos por base a sua dissertação de mestrado.

Segundo Gadotti (1997), Paulo Freire marcou uma ruptura na história

pedagógica brasileira. Ele rompeu radicalmente com a educação elitista e se

comprometeu com os homens e mulheres concretos. Num contexto de

massificação de exclusão, de desarticulação com a sociedade, Freire dá sua

efetiva contribuição para a formação de uma sociedade democrática, num

contexto social de exclusão. Paulo Freire se torna mais atual, ainda, ao anunciar e

ao reconstruir um projeto educacional radicalmente democrático e instigante. O

construtivismo freiriano vai além da pesquisa e da tematização (Piagetiana). E a

terceira etapa de seu método (a problematização), supõe uma ação

transformadora. Acontece no homem, através do homem.

Para Machado (2004), o homem diferentemente dos outros animais, não

nasce com sua capacidade desenvolvida. É ao longo de sua vida, pelas relações

que estabelece com os outros homens, no processo de socialização, que ele se

desenvolve. Uma das razões pelas quais isto ocorre é que o homem nasce, e

mantém enquanto vive, a capacidade de aprender e de ensinar, transmitindo,

mais também produzindo e modificando, os conhecimentos, a cultura. E a

educação está ligada diretamente a esta capacidade, que faz parte do processo

de socialização, que humaniza o homem, isto é, que propicia o desenvolvimento

de sua capacidade.

Segundo Torres (1997), a teoria do conhecimento de Paulo Freire teve tão

grande repercussão, porque ela dá dignidade ao aluno. O professor é também um

aprendiz. Paulo Freire se preocupou com a relação entre professor e aluno, e com

a consciência crítica.

Segundo Fávero (1997), Paulo Freire foi o primeiro educador brasileiro a

falar que o analfabetismo era um problema social. Por isso, educar, segundo ele,

é um ato político. E, ao longo de sua militância educacional, social e política,

Freire jamais deixou de lutar pela superação da opressão e desigualdade social,

entendendo que, uns dos fatores determinantes para que ela se dê, é o

desenvolvimento da consciência crítica, através da consciência histórica. Seu

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projeto educacional sempre contemplou essa prática, construindo sua teoria do

conhecimento com base, no respeito ao educando, na conquista da autonomia e

na dialocidade enquanto princípios metodológicos.

A proposta de Freire parte do estudo da realidade (fala do educando) e a

organização dos dados (fala do educador). Nesse processo surge o tema gerador,

extraído da problematização da prática de vida dos educandos. Os conteúdos de

ensino são resultados de uma metodologia dialógica.

Para Freire (2000), o ponto importante não é transmitir conteúdos

específicos, mas despertar uma nova forma de relação com a experiência vivida.

A transmissão de conteúdos estruturados fora do contexto social do educando é

considerada “invasão cultural” ou “depósito de informações”, porque não emerge

do saber popular. Portanto, antes de qualquer coisa, é preciso conhecer o aluno.

Conhecê-lo enquanto indivíduo inserido num contexto social de onde deverá sair

o “conteúdo” a ser trabalhado.

Investigar “A ação supervisora na formação de professores para a EJA no

Brasil” é de suma importância para os dias atuais, uma vez que, no Brasil, vem

crescendo a população que freqüenta as classes de supletivo.

Pensando em atender a este problema, delimitou-se a investigação em

objetivos gerais e específicos relacionados à educação bancária e libertadora,

formação de professores, a ação supervisora, histórico da EJA no Brasil,

pressupostos curriculares para a EJA.

Para alcançar estes objetivos formulou-se a seguinte: Por que é preciso

que o educador de jovens e adultos tenha uma formação especifica?

Espera-se que essa monografia contribua, de forma especial, para os

alunos que ainda não conhecem o histórico da EJA favorecendo a compreensão

da maneira como esse trabalho tem sido desenvolvido no Brasil.

Espera-se, ainda, contribuir para despertar o interesse para esse grupo

social composto, em maioria, por jovens e adultos trabalhadores, situado numa

faixa etária que ultrapassa os estreitos limites legais da escolarização obrigatória

(7 a 14anos). Esse grupo possui características próprias, que justificam a

existência de uma área de estudos que aborde, com competência, tanto as

questões práticas, quantas teóricas nele envolvidas.

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Espera-se, também, despertar o interesse para a educação de jovens e

adultos, uma das áreas de maior carência de atendimento no sistema educacional

no Brasil.

O primeiro capítulo desta monografia trata dos históricos da EJA no Brasil;

Já o segundo capítulo, descreve sobre a visão bancária x visão libertadora frente

á ação supervisora e o terceiro capítulo tratam da necessidade de uma formação

específica para educadores da EJA.

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CAPÍTULO I

PERCORRENDO UM HISTÓRICO DA EJA NO BRASIL

Segundo Haddad (2000), podemos entender que, tanto no passado como

no presente, a educação de jovens e adultos sempre abrangeu um conjunto muito

diferente de processos educativos formais e informais relacionados à aquisição ou

ampliação de conhecimentos básicos, de competências técnicas e profissionais

ou de habilidades socioculturais. Alguns atos de proceder desses processos se

desenvolveram de modo mais ou menos relativo, fora de ambientes escolares: na

família, nos locais de trabalho, nos espaços de convívio sociocultural e lazer, nas

instituições religiosas. Esse capítulo apresenta alguns marcos históricos

significativos da trajetória da EJA no Brasil.

1.1 O NASCIMENTO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL

No período colonial, a ação educativa era de caráter religioso e os

responsáveis em exercer essa ação educativa eram os missionários, em grande

parte adulta. Além de difundirem o evangelho, tais educadores passavam normas

de comportamento e ensinavam os ofícios necessários ao funcionamento da

economia colonial, inicialmente aos indígenas e, posteriormente, aos escravos

negros.

Quanto aos jesuítas, tiveram um papel importante na educação, pois

através do ensino das crianças, buscavam também atingir seus pais. Além disso,

era tentada a catequese direta dos indígenas e adultos, nesses casos a

alfabetização e transmissão do idioma português serviam com objetivo de

catequização e cultura dos nativos.

Com a expulsão dos Jesuítas do Brasil em 1759, houve uma

desorganização do sistema de ensino, somente no Império voltaremos a

encontrar informações sobre ações educativas no campo da educação.

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1.2 PARTICIPAÇÃO DOS JESUÍTAS

A companhia de Jesus foi fundada em 1534, com o objetivo de deter o

avanço protestante com duas frentes: através da educação das novas gerações,

e por meio da ação missionária, procurando reverter à fé católica aos povos das

regiões que estavam sendo colonizadas.

Já no Brasil, os Jesuítas dedicaram-se a duas tarefas principais: a

pregação da fé católica e ao trabalho educativo. Com seu trabalho educativo, ao

mesmo tempo em que ensinavam as primeiras letras e as gramáticas latinas

ensinavam a doutrina católica e os costumes europeus.

Em 1549, partindo de Salvador aonde chegaram os Jesuítas conquistaram

varias regiões brasileiras.

Já em 1759, ao serem expulsos, mantinham 36 missões, escolas de ler e

escrever em quase todas as povoações e aldeias por onde se espalhavam suas

25 residências, além de 18 estabelecimentos do ensino secundário, entre colégio

e seminários.

Além do Padre Manuel Nóbrega, merece destaque o Padre José de

Anchieta, fundador do primeiro professor do colégio de São Paulo de Piratininga

(25 de março de 1554).

1.3 AS ESCOLAS DE PRIMEIRAS LETRAS

Os Jesuítas tinham como objetivo converter os índios à fé católica, e para

alcançá-los seria preciso ensinar-lhes a leitura e a escritura. Por isso, ao lado da

catequese, eram organizadas nas aldeias, escolas de ler e escrever onde eram

ensinados o idioma e os costumes de Portugal.

Ao ensinar as primeiras letras os Jesuítas mostraram grande capacidade

de adaptação, penetraram com facilidade nas casas dos senhores de engenho,

na senzala de escravos, nas aldeias indígenas e, ensinavam as primeiras letras

às crianças adaptando-se as condições especificas de cada grupo.

Com a expulsão dos Jesuítas e a reforma Pombalina tinha como objetivo

superior de criar uma escola útil aos fins do Estado e, nesse sentido ao invés de

preconizarem uma política de difusão intensa e extensa do trabalho escolar,

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pretenderam os homens de Pombal organizar a escola que antes de servir aos

interesses da fé serviram aos interesses da coroa.

1.4 A EXPULSÃO DOS JESUÍTAS PARA O ENSINO BRASILEIRO

Para substituir o sistema educacional organizado da companhia de Jesus,

algo tão vago apresentou que em ultima analise, nenhum sistema passou a

existir. No reino, seria instalada uma ausente Diretoria de Estados, que em vigor,

só começaria a operar após o afastamento de Pombal; na colônia imensa,

Congérie de aulas regias superintendida pelo vice-rei. Cada aula régia constituía

uma unidade de ensino com professor único, instalada para determinada

disciplina. Era autônoma e isolada, pois não articulava com outras, nem pertencia

a qualquer escola. O aluno se matriculava em tantas “aulas” quanto fossem as

disciplinas que desejasse. Para agravar esse quadro, os professores geralmente

eram de baixo nível, porque improvisados e mal pagos, em contraste com o

magistério dos Jesuítas, cujo preparo chegava ao requinte.

Concluindo, o ensino brasileiro, ao iniciar-se no século XIX, estava

reduzido a pouco mais que nada, em parte como conseqüência do

desmantelamento do sistema jesuítico, sem que nada de similar fosse organizado

em seu lugar.

Em 1823, através de decreto de primeiro de março, foi criado no Rio de

Janeiro uma escola que deveria trabalhar segundo o método do Lancaster, ou

ensino mútuo.

Esse método dizia que haveria somente um professor por escola, e para

cada grupo de dez alunos, haveria um aluno “menos ignorante” que ensinava aos

demais.

Com base nos diretos legais a primeira constituição brasileira de 1824,

limitou-se ao estabelecer que “a instrução primaria é gratuita a todos os cidadãos”

(art.179), firmou-se sobre forte influência européia com garantia de educação para

todos os cidadãos, portanto também para os adultos.

No entanto durante período colonial pouco ou quase nada foi realizado

neste sentido, mas essa inspiração iluminista tornou semente e enraizou-se

definitivamente na cultura jurídica, manifestando-se nas constituições brasileiras

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posteriores. O direito nasceu com a norma constitucional de 1824, estendendo a

garantia de uma escolarização básica para todos, não passou de uma intenção

legal.

1.5 IMPÉRIO PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

Durante toda a primeira República e até mesmo no Império, foram muito

freqüentes as referencias ao ensino noturno de adultos, porém foi pouco

significativo sob o ponto de vista do número de educandos envolvidos.

Ao invés de procurar montar um sistema nacional de ensino integrado em

todos os graus e modalidades, as autoridades preocuparam-se mais em criar

algumas escolas superiores e em regulamentar as vias de acesso a seus

cursos, especialmente através do curso secundário e dos exames de ingresso

aos estudos de nível superior.

Sendo também possível observar que no período do Império só possuía

cidadania uma pequena parcela da população pertencente à elite econômica a

qual se admitia administrar a educação primária como direito, do qual ficavam

excluídos os negros, indígenas e grande parte das mulheres.

Já em 1934, ficavam responsáveis por essa educação básica as

províncias, e a educação da elite passa e ser do governo imperial os direitos.

O pouco que foi realizado deveu-se aos esforços de algumas províncias,

tanto no ensino de jovens e adultos como na educação das crianças e

adolescentes.

1.6 PRIMEIRA REPÚBLICA

Em 1981, primeiro marco legal da Republica brasileira consagrou-se uma

concepção de federalismo em que a responsabilidade publica pelo ensino básico

foi descentralizada nas províncias e municípios. A união deu ênfase ao ensino

secundário e superior, que tinha como objetivo as formações das elites em

detrimento de uma educação para as ambas as camadas sciais marginalizadas,

quando novamente as decisões relativas à oferta de ensino elementar ficaram

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dependentes da fragilidade financeira das províncias e dos interesses das

oligarquias regionais que as controlava politicamente.

A união comprometeu-se com o ensino elementar, e o período da primeira

Republica se caracterizou pela grande quantidade de reformas educacionais que,

procurando assim princípios de normatização e preocuparam-se com o estado

precário do ensino básico.

As preocupações tiveram pouco efeito, pois o censo de 1920, realizado 30

anos após o estabelecimento da Republica no país, indicou que 72% da

população acima de cinco anos permaneciam analfabetas.

Até esse período, a preocupação com a educação de jovens e adultos

praticamente não se distinguia como um pensamento pedagógico ou de políticas

educacionais especificas.

Em 1940, o censo realizado revelou que 55% da população maior que 18

anos, era analfabeta.

Este fato significava uma grande explosão das camadas populares a

qualquer momento, mostrando com reais fatos com quem a união estava lidando.

Havia uma preocupação geral com a educação das camadas populares,

normalmente interpretadas como instrução elementar das crianças.

Em 1920, o movimento de educadores em prol da implantação do numero

de escolas e da melhoria de sua qualidade começou a estabelecer condições

favoráveis à implantação de políticas publicas para a educação de jovens e

adultos.

Exigência de que o estado assumisse e se responsabilizasse com a oferta

desses serviços. Com a mudança social, industrialização e a aceleração da

urbanização no Brasil há uma inflexão no pensamento político–pedagógico. Havia

um pensamento constitucional do direito à educação para todos - porém não

havia condições necessárias para sua realização.

1.7 PERÍODO VARGAS

Nos aspectos educacionais, a nova constituição de 1934 propôs um plano

Nacional de Educação fixado, coordenado e fiscalizado pelo governo federal,

determinando de maneira clara as esferas de competência da União, dos estados

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e municípios em matéria educacional: vinculou constitucionalmente uma receita

para a manutenção e o desenvolvimento do ensino; reafirmou o direto de todos e

o dever do Estado para com a educação; estabeleceu uma série de medidas que

vieram a confirmar este movimento de entregar e cobrar do setor público a

responsabilidade pela manutenção e pelo desenvolvimento da educação.

Somente ao final da década de 1940 que a educação de adultos veio a se

confirmar como um problema de política nacional, mas as condições para que

isso viesse a ocorrer foram sendo instaladas já no período anterior. O Plano

Nacional de Educação de responsabilidade da União, previsto pela constituição

de 1934, deveria incluir entre as normas o ensino primário integral, gratuito e de

freqüência obrigatória. Este ensino deveria ser extensivo aos adultos. Pele

primeira vez a educação de jovens e adultos era reconhecida e recebia um

tratamento particular, pelo decreto lei número 4.958, de novembro, foi instituído o

Fundo Nacional do Ensino Primário (FNEP), com a finalidade de possibilitar a

implantação e a melhoria do sistema escolar primário de todo o país. Quase dois

anos depois, com o decreto número 6.785, de 11 de agosto de 1944, definiu-se a

fonte de recursos federais destinados à constituição.

Ao mesmo tempo, fatos transcorridos no âmbito das relações

internacionais ampliaram as dimensões desse movimento em prol de uma

educação de jovens e adultos. Criada em novembro de 1945, logo após a

Segunda Guerra Mundial, a UNESCO denunciava ao mundo as profundas

desigualdades entre o país e alertava para o papel que deveria desempenhar a

educação, em especial a educação de adultos, no processo de desenvolvimento

das nações categorizados como “atrasados”.

Em 1947, instala-se o serviço de educação de adultos (SEA) como serviço

especial do departamento Nacional da Educação do ministério da Educação e

saúde, cuja finalidade era: a reorientação e coordenação geral dos trabalhos dos

planos anuais do ensino supletivo para adolescentes e adultos analfabeto. Para

que se cumprissem tais iniciativas foi criada, através da portaria numero 57, de 30

de janeiro de 1947, a Campanha Nacional de Educação de Adultos (CNEA). Com

a coordenação de serviço de educação de jovens e adultos estendendo-se até

fins da década de 1950, denominando Campanha de Educação de Adolescentes

e Adultos (CEAA).

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Sua influência foi significativa, principalmente por criar uma infra-estrutura

nos estados e municípios para atender a educação de jovens e adultos,

posteriormente preservada pelas administrações locais.

A ação da campanha estava orientada para o atendimento às exigências

da cidadania. O esforço de educação popular então realizado visava segundo

Lourenço Filho, “a recuperação de grandes massas da população que vivia à

margem da vida nacional” (1949).

Outras duas campanhas foram organizadas pelo ministério da educação e

cultura: uma em 1952, a Campanha Nacional de Educação Rural e a outra, em

1958, a Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo.

A preocupação especial da campanha era a educação das populações

rurais, por isso foi evidenciada também na organização das denominadas

“Missões Rurais de Educação de Adultos”.

As “Missões Rurais” tornaram-se instáveis em1952, a campanha deveria

levar a educação de base ao meio rural brasileiro, mediante a criação de missões

rurais, centros de treinamentos de lideres rurais, etc.

Por volta de 1958, foi lançada a Campanha Nacional de Erradicação do

Analfabetismo. A campanha previa um cuidadoso estudo sobre os problemas

sociais econômicos e culturais.

Os esforços compreendidos durante as décadas de 1940 e 1950 fizeram

cair os índices de analfabetismo de pessoas acima de cinco anos de idade para

46,17%, no ano de 1960 os níveis de escolarização da educação brasileira

permanecia, no entanto, em patamares reduzidos quando comparado à média

dos países do primeiro mundo e mesmo de vários vizinhos latino-americano.

No final da década de 1950 até metade dos anos de 1960, a

democratização do ensino nesta área esteve marcada por motivações populista:

grande mobilização social, mas pouca eficácia.

Em 1958, na convocação do segundo congresso de educação de adultos,

educadores ali reunidos acreditavam na necessidade da incorporação da reflexão

sobre o eixo social nas diretrizes pedagógicas referentes à educação de jovens e

adultos; campanha nacional na qual promovia a erradicação do analfabetismo

(CNEA): suas formulações procuram dar conta da educação de crianças e adultos

incorporando teses do escolanovismo que trazia reflexão sobre a alfabetização

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que não se limitasse à técnica de ensinar o nome a fins eleitorais. Também

criativas as campanhas de massa tinham um caráter sempre descontínuo. Além

disso, enfatiza o papel da escolarização primária das crianças como solução para

o analfabetismo (extinto em 1963, segundo governo por falta de verbas).

No ano de 1960, percebendo a importância política dessas ações, o

governo favorece a criação de programas de educação de adultos, procurando

centralizá-los paralelamente crescem assim as iniciativas da sociedade civil e

eclesiástica, com os seguintes destaques: os centros populares de cultura

movimento de cultura popular, movimento de educação de base, campanha “De

pé no chão também se aprende a ler”.

O interesse que o movimento despertou não foi causado pela sensibilidade

social em relação ao problema do analfabetismo, até porque este já era um

problema antigo e de grandes proporções. A causa deste interesse, em particular,

deveu-se ás suas peculiares, adotadas pelo sistema Paulo Freire de educação de

adultos. Estas características tornaram a iniciativa diferente e interessante.

Duas das mais atraentes características foram a proposta alfabetizadora

em 40 horas e a atuação educativa adequada á realidade específica dos

problemas de regiões subdesenvolvidas.

Outras características foram o recrutamento de equipes de alfabetizadores

para trabalharem com analfabetos residentes na própria área escolhida para o

desenvolvimento da experiência; realizações de entrevistas com moradores da

comunidade, para pesquisa da realidade social; coletas de informações sobre

trabalho, família, crenças e histórias da vida, com o objetivo de formar uma

relação de palavras significativas para o indivíduo. Estas palavras passaram a

compor o universo vocabular local, de onde eram extraídas algumas palavras

geradoras, que eram desmembradas em silabas. Das várias combinações

silábicas, novas palavras eram geradas. Todo esse processo facilitaria o trabalho

pedagógico e promovia a aprendizagem, a ponto de se interpenetrarem. Visava á

transformação de um pelo outro e vise versa, num exercício de liberdade que

fosse capaz de reescrever a história dos oprimidos. Podemos entender que a

ênfase dada ao conteúdo da ação educativa e a maneira pela qual foi proposta

esta ligação entre o conteúdo e o instrumental na fase sistematizada do método,

acabou por ser a maior contribuição dada pelo pensamento de Paulo Freire. Seu

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imperativo básico é que toda a problemática existencial do homem

subdesenvolvido deve ser colocada, ao mesmo tempo, como objetivo do processo

de alfabetização, como elemento motivador da aprendizagem, e como incentivo

para a utilização propôs aprendizagem, pós instrumental adquirido.

O eixo do pensamento de Freire, quando se refere á problematização da

realidade como instrumento da alfabetização e como instrumento da leitura crítica

do mundo, com a finalidade de permitir a integração do homem com sua

comunidade e, de forma mais ampla, com a sociedade letrada.

Paulo Freire planejou um currículo para a educação de adultos que não

previa somente a alfabetização como resultado de uma ação educativa de

instrução. O educador eleva a alfabetização algo mais que mera transmissão de

técnicas de leitura e escrita. Pois segundo Freire (2004 p.47) é necessário: “saber

que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua

própria produção ou a sua construção”. Sendo assim seu objetivo sempre foi de

associar essa transmissão de técnicas ás experiências de vida do alfabetizando,

através do diálogo mantido entre educador, o educando e o mundo, para que as

trocas de experiência conduzissem á reflexão e á produção da cultura popular. Ë

importante ressaltar que para por em prática o diálogo, o educador não pode

colocar-se na posição ingênua de quem se pretende detentor de todo o saber;

deve, antes, colocar-se na posição humilde de quem sabe que não sabe tudo,

reconhecendo que o analfabeto não é um homem ‘’perdido’’, fora da realidade,

mas alguém que tem toda uma experiência de vida, por isso, também é portador

do saber.

Da reflexão embutida nos objetivos curriculares propostos por Freire, pode-

se concluir que o objetivo geral e principal de seu trabalho educativo residia na

conscientização do indivíduo, com o propósito de impedir sua manipulação e

domesticação. Freire tinha noção de que o homem que recebesse uma educação

domesticadora não contestaria o domínio exercido sobre si e seria presa fácil da

opressão.

Paulo Freire acreditava que não era possível dar aulas de democracia e, ao

mesmo tempo, considerarmos como absurda e imoral; a participação do povo no

poder. A democratização é, como o saber, uma conquista de todos. Toda

separação entre os que sabem e os que não sabem, do mesmo modo que a

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separação entre as elites a o povo, é apenas fruto de circunstancias históricas

que podem e devem ser transformadas, pois o Estado e as palavras são

igualmente expressões da prática dos homens, e conscientizar é assumir a

consciência desse fato. Como se vê, Paulo Freire esteve sempre atento ás

circunstancias históricas de seu tempo, engajado no significado das implicações

sociais e políticas do movimento brasileiro de educação popular.

Em resumo, a grande preocupação do educador sempre foi em focalizar a

educação como um caminho para a decisão, para a responsabilidade e para a

participação popular, em busca de um atalho para a democracia.

Por esse motivo, tinha a ânsia de despertar no homem uma postura menos

individualista e mais coletiva, para que se aliassem os outros homens, trocando

idéias e alimentando a consciência. Freire entendia que, assim operaria em cada

educando, em cada representante do povo, a passagem da consciência ingênua

para a consciência crítica, transformando-o num cidadão apto a provocar

transformações no período da ditadura e sustentando o sonho de preparar o

caminho para a transição democrática.

Quanto ao programa de alfabetização de adultos, no entanto esteve

reduzido á

aplicação em núcleos regionais como o de Angicos, o resultado teve algum

retorno. No entanto, quando a campanha de Paulo Freire se ampliou para outras

regiões e ganhou espaço, ao elaborar uma metodologia que aliviava o processo

de alfabetização á discussão da problemática dos educandos, a revolução de

1964 chegou para bloquear o sonho libertador acalentado pelas classes

populares.

Isto ocorreu porque os ideais revolucionários eram anti-populares e não

aceitaram o desenvolvimento de uma postura crítica e transformadora que

começa a se instalar no seio do povo, por que a atitude contestadora

representava um perigo à manipulação ideológica pretendida pelo governo da

repressão. Por esta causa houve a suspensão da campanha nacional de

alfabetização de adulta proposta por Freire, residindo no alcance político de seu

currículo cujo eixo era basicamente: a educação problematizadora, o

questionamento crítico e a descoberta da realidade, com o desejo de transformá-

las; a orientação metodológica bitransitiva, isto é com dois trânsitos de indagação

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de ida e de volta, do educador para o educando e do educando para o educador

em condições de igualdade na comunicação; percepção do indivíduo na

coletividade; concepção do processo educativo como um produto cultural

permanente, inacabado, aberto às contribuições de toda e qualquer experiência

individual e / ou coletiva; ligação entre o conteúdo curricular e a vida sendo o

currículo concebido como instrumento de luta; comprometimento com as

comunidades populares, em busca de um futuro de liberdade. Vários foram os

movimentos de alfabetização de adultos colocados em prática sob a inspiração de

Paulo Freire a partir da década de 1960.

1.8 O GOLPE MILITAR

Segundo Haddad (1992), nos primeiros anos da década de 1960, até 1964,

quando o golpe militar ocorreu, constituíram um movimento especial no campo da

de jovens e adultos já em 1958, quando a realização do II Congresso Nacional de

educação de adultos no Rio de Janeiro, ainda no contexto do (CEAA), percebia-

se uma grande preocupação dos educadores em redefinir as características

específicas em um espaço próprio para essa modalidade de ensino. Reconhecia

que a atuação dos educadores de adultos, apesar de organizada como sistema

próprio, reduzia, de fato, as mesmas ações e característica da educação infantil. .

O adulto não escolarizado era visto como um indivíduo imaturo e ignorante,

que deveria ser atualizado com os mesmos conteúdos formais da escola primária

percepção esta que reforçava o preconceito contra o analfabeto. Na verdade, o

Congresso repercutia uma nova forma do pensar pedagógico com adultos. Já no

seminário regional preparatório ao congresso realizado em Recife, e com a

presença do professor Paulo Freire, discutia-se a indispensabilidade da

consciência do processo de desenvolvimento por parte do povo e da emersão

deste povo na vida pública nacional como interferente em todo o trabalho de

elaboração, participação e decisão responsáveis em todos os momentos da vida

pública: sugeriam os pernambucanos a revisão dos transplantes que agiram

sobre o nosso sistema educativo, a organização dos cursos que

correspondessem á realidade existencial dos alunos, o desenvolvimento de um

trabalho educativo ‘com” o homem e não “para “o homem, a criação de grupos de

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estudo e de ação dentro do espírito de auto-governo, o desenvolvimento de uma

mentalidade nova no educador, que deveria passar a sentir-se participante no

trabalho de soerguimento do país: propunham,finalmente,a renovação dos

métodos e processos educativos, substituindo o discurso pela discussão e

utilizando as modernas técnicas de educação de grupos com a ajuda de recursos

audiovisuais. Estes temas acabaram por prevalecer posteriormente no II

Congresso, marcando um novo momento no pensar dos educadores,

confrontando velhas idéias e preconceitos. O congresso marcava o início de um

novo período n educação de adultos no Brasil, que se caracterizou pela intensa

busca de maior eficiência metodológica e por inovações importantes neste

terreno, pela reentrodução de reflexão sobre o social no pensamento

pedagógico brasileiro e pelos esforços realizados pelos mais diversos grupos em

favor da educação da população adulta para a participação na vida política da

nação.

Quanto ao quadro de n renovação pedagógica deve ser considerada

dentro das condições de turbulência do processo político daquele momento

histórico. Diversos grupos buscavam junto ás camadas populares formas de

sustentação políticas para suas propostas. A educação, alguma sem dúvida

alguma, e de maneira privilegiada, era a prática social que melhor se oferecia a

tais mecanismos, não só por sua fala pedagógica, mas também, e principalmente,

por suas características de prática política.

Foi dentro dessa conjuntura que os diversos trabalhos educacionais com

adultos passaram a ganhar presença e importância. Buscava-se por meios deles,

apoio Político junto aos grupos populares. As diversas propostas ideológicas,

principalmente a do nacional-desenvolvimentismo, a do pensamento renovador

cristão e a do partido comunista, acabaram por ser pano de fundo de uma nova

forma de pensar a educação de adultos.

Em 1964, com o golpe militar todos os movimentos são dissolvidos. È

criado o MOBRAL “Movimento Brasileiro de Alfabetização”. Que passa a controlar

as ações nesta esfera, não consegui instituir uma rede própria e utilizar matérias

utilizadas na educação infantil. Houve uma ruptura política em função da quais os

movimentos de educação e culturas populares foram reprimidas, seus dirigentes

perseguidos, seus ideais censurados. Neste período o Programa Nacional de

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alfabetização foi interrompido e desmantelado, seus dirigentes presos e os

materiais apreendidos. A Secretaria Municipal de Educação de Natal foi ocupada,

os trabalhos de campanha “De pé no chão” foram interrompidos e suas principais

lideranças foram presas.

A repressão foi à resposta do Estado autoritário à atuação daqueles

programas de educação de adultos, cujas ações de natureza política contrariaram

os interesses impostos pelo Golpe Militar.

A ruptura política de 64 obteve tanta influência que tentou acabar com as

práticas educativas que auxiliaram na explicitação dos interesses populares. A

função do Estado era de coerção, a fim de garantir a “normalização das relações

sociais”.

A “educação popular” ficou sob dominação de diversas práticas educativas

de reconstrução e reafirmação dos interesses populares inspiradas pelo mesmo

ideário das experiências anteriores persistiram sendo desenvolvidas de modos

dispersos e quase que clandestino no âmbito da sociedade civil. Algumas com

vida curta; outras subsistiram durante o período autoritário.

Em 1970 e 1971, o setor da educação, a educação de jovens e adultos não

poderia ser abandonada pelo Estado, devido sua importância para o mesmo, uma

vez que era o elo do Estado à sociedade. Perante as comunidades nacionais e

internacionais, seria difícil conciliar a manutenção dos baixos níveis de

escolaridade da população com a proposta de um grande país, como os militares

propunham-se construir. Havia alguns questionamentos como: o direito a

cidadania cada vez mais identificada como legítimo que atendesse aos interesses

hegemônicos do modelo socioeconômico implantado pelo regime militar.

Em 1967, surge a Fundação Mobral – Movimento Brasileiro de

Alfabetização foi criado pela Lei 5.379 de 15 de Dezembro de 1967, como

Fundação Mobral, fruto do trabalho realizado por um grupo interministerial, que

buscou uma alternativa ao trabalho da cruzada ABC, programa de maior extensão

apoiado pelo Estado, em função das críticas que vinham recebendo.

Em 1969, o Mobral começa a se distanciar da proposta inicial, mais voltada

aos aspectos pedagógicos, devido à pressão do regime militar. Foi lançada a

Campanha de massa, desvinculando-se de propostas de caráter técnico, muitas

delas baseadas na experiência dos seus funcionários no período anterior a 64.

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Com esses acontecimentos a Presidência do Mobral foi entregue ao

economista Mário Henrique Simonsen. Foram então criados mecanismos para

seu financiamento e procurar-se “vender” a idéia do Mobral junto à sociedade

civil. Os recursos foram obtidos com a opção voluntária para o Mobral de 1% do

Imposto de Renda devidos pelas empresas, complementada com 24% da renda

líquida da Loteria Esportiva. Com isso, disporia o Mobral de recursos amplos e

ágeis de caráter extraordinário.

O paralelismo em relação aos demais programas de educação. Os recursos

financeiros independiam de verbas orçamentárias.

Organização operacional descentralizada, através de comissão municipal

espelhada por quase todos os municípios brasileiros, em que se carregaram de

executar a campanha nas comunidades, através de recrutamento de analfabetos,

providenciando salas de aula, professores e monitores.

Centralização de direção do processo educativo, através da Gerência

Pedagógica do Mobral Central, encarregada da organização, da programação, da

execução e da avaliação do processo educativo, como também do treinamento de

pessoal para todas as fases, de acordo com as diretrizes que eram estabelecidas

pela Secretaria Executiva.

O planejamento e a produção de material didático foram entregues as

empresas privadas que reuniram equipes pedagógicas para estes fins e

produziram um material de caráter nacional, apesar de conhecida diversidade de

perfis lingüísticos, ambientais e sócio-culturais das regiões brasileiras.

As três características convergiam para criar uma estrutura adequada ao

objetivo político de implantação de uma campanha de massa com controle

doutrinário:

• Descentralização com a base conservadora para garantir a

amplitude do trabalho.

• Centralização dos objetivos políticos e controle virtual pelos

supervisores, paralelos dos recursos e da estrutura institucional, garantindo

modalidade e autonomia.

• Inicialmente a divisão do Mobral foi realizada em dois programas:

O programa de alfabetização implantado em 1970, e o PEI (Programa de

Educação Integrada, correspondendo a uma versão compacta do curso de

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primeira a quarta séries do antigo primário, que se seguiriam ao curso de

alfabetização).

Ao firmar os convenias com as Comissões Municipais e com as Secretarias

de Educação, o Mobral também firmou convênios com outras instituições

privadas, de caráter confessional ou não, e órgãos governamentais. Isso ocorreu

com a educação básica de adultos, um dos departamentos da Cruzada

Evangélica de Alfabetização, com o Movimento de Educação de Base da CNBB,

com o SENAC e o SENAI, com o Serviço de Radiodifusão Educativa do Ministério

da Educação e Cultura, através do Projeto Minerva, com o Centro Brasileiro de

TV Educativa (FCBTVE), com a Fundação Padre Anchieta, entre outros.

Em 1970, auge do controle autoritário do Estado. Promessa do Mobral de

acabar em 10 anos com o analfabetismo, classificado como “vergonha nacional”

nas palavras do Presidente Militar Médeci.

Foi um período de intenso crescimento do Mobral. Poucos participaram,

pois o controle era autoritário, Não houve a participação dos educadores e de

grande parte da sociedade. As argumentações de caráter pedagógicas não se

faziam necessárias, os recursos financeiros eram bons, controlava-se também os

meios de comunicação, silêncios nas oposições, intensa campanha da mídia. Foi

um período de intenso crescimento do Mobral.

Em 1973, o Conselho Federal de Educação reconheceu a equivalência do

PEI ao antigo ensino primário e, no ano seguinte foi concedida ao Mobral

autorização para expedir certificados referendados pelas Secretarias Municipais

ou Estaduais de Educação.

Já em 1976 com a possibilidade de o PEI firmar convênios com escolas

particulares. O movimento colocava-se fora do controle dos organismos Públicos

Estaduais e Municipais de administração do ensino no que diz respeito à própria

execução do Programa de Educação Integrada.

Pouco tempo destinado à alfabetização pelos critérios empregados na

verificação de aprendizagem. Mencionava-se que, para evitar a regressão, seria

necessária uma continuidade dos estudos em educação escolar integrada, e não

em programas voltados a outros tipos de interesses como, formação rápida de

recursos humanos. Criticava-se também o paralelismo da gestão e do

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financiamento do Mobral em relação ao Departamento de Ensino Supletivo e ao

orçamento do MEC.

Colocando em dúvida ainda a confiabilidade dos indicadores produzidos

pelo Mobral.

Em 1974, o engenheiro Arlindo Lopes Correia assumiu a direção do

Mobral, cuja responsabilidade era de defender o programa e assegurar sua

continuidade, formulando justificativas técnicas em resposta à avalanche de

críticas que recaiam sobre o órgão. Buscou argumentos para a sua configuração

pedagógica e política, tentando legitimar o trabalho da instituição perante a

opinião pública nacional e internacional.

No final da década de 1970, foram modificados seus objetivos, ampliando

outros campos de trabalho desde a educação comunitária até a educação de

crianças, em um processo de permanente mudança que visava a sobrevivência

diante da cada vez mais clara fracassos nos objetivos iniciais de superar o

analfabetismo no Brasil.

Um ano depois foi aprovada a Lei 5691/71. Foi criado o Ensino Supletivo e

algumas modificações ocorrerem com a educação de jovens e adultos (EJA). Esta

Lei prevista para a EJA passa-se a apresentar em quadro funções: suplência,

suprimento, aprendizagem e qualificação.

ü A suplência foi realizada através dos cursos e exames cuja função,

se pretendia suprir a escolarização dos jovens e adultos. Acreditava estar

vivenciando uma “educação continuada”.

ü O suprimento previa oferta de cursos livres com objetivo de “reciclar”

os jovens e adultos que os procuravam.

ü Na função de aprendizagem, a formação metódica é feita pelas

empresas ou instituições por estas criadas e mantidas.

ü A qualificação era um desdobramento da aprendizagem, visava a

formação profissional dos alunos adultos, acreditando nos esquemas menos

rígidos que aqueles oferecidos pelas escolas técnicas.

Em meados de 1972, a secretaria geral do ministério da educação e cultura

expediu o documento, Adult Education in Brazil, destinado à II Conferência

Internacional de Educação de Adultos, convocada da UNESCO para Tóquio.

Nele, traduzia-se o sentido da educação de adultos no contexto brasileiro, em

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especial depois da criação do Mobral e do ensino supletivo. Havia uma “recente

preocupação com a educação como elemento prioritário dos projetos para o

desenvolvimento” e que havia também uma atitude nova no sentido de encará-la

como um rendoso investimento.

Tais preocupações, segundo o documento, haviam realçado pela presença

dos militares no poder, a partir de 1964, e se refletiam através dos seus planos de

desenvolvimento e dos planos setoriais de educação. Cujos objetivos eram:

“formação de uma infra-estrutura adequada de recursos humanos, apropriados as

nossas necessidades sócio-econômicas, política e culturais”.

Para implantação de tais objetivos, o Estado brasileiro se propunha a criar

e implantar um sistema de educação permanente no qual a educação de adultos

situa-se “na linha de frente das operações, por ser poderosa arma capaz de

acelerar o desenvolvimento, do progresso social e a expansão ocupacional”.

O discurso e os documentos legais, dos governos militares procuraram

unir as perspectivas de democratização de oportunidades educacionais coma

intenção de colocar o sistema educacional a serviço do modelo de

desenvolvimento. Ao mesmo tempo por meio da coerção, procuram manter a

“ordem” econômica e política. Inicialmente o autoritarismo do governo veio

reprimir todos os movimentos de cultura popular nascidos no período anterior ao

de 64, uma vez que os processos educativos por eles desencadeados poderiam

levar as manifestações populares capazes de desestabilizar o regime. Através do

MOBRAL e o ensino supletivo, os militares buscaram reconstruir através da

educação, sua mediação com os setores populares.

As reformas educacionais propiciaram para que os serviços de educação

de adultos fossem estendidos, ainda que apenas no plano formal, aos níveis do

ensino fundamental e médio. Houve um ampliamento, possibilidades de acesso à

formação de profissionais. Desta forma a educação de adultos passou a compor

o mito da sociedade democrática brasileira em um regime de execução. A

linguagem do mito veio na qual à oferta dos serviços educacionais para os jovens

e adultos das camadas populares era a nova chance individual de ascensão

social, em uma época de “milagre econômico”. O sistema educacional se

encarregaria de corrigir as desigualdades produzidas pelo modo de produção,

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desse modo o Estado cumpriria sua função de assegurar a coesão das classes

sociais.

A dimensão formal e os limites dessa democratização de oportunidades

ficaram explícitos na medida em que o Estado, ao não assumira responsabilidade

pela gratuidade e pela expansão da oferta, deixou a educação de jovens e adultos

ao sabor dos interesses do ensino privado.

Quanto ao ensino Supletivo concebido pelos documentos legais deveria

estruturar-se em um departamento no Ministério da Educação e Cultura, o

Departamento de Ensino Supletivo (DESU). Esse Departamento teria uma

Direção Geral com o objetivo de coordenar desenvolvimentos de todas as

atividades de educação de adultos em nível nacional, visando, sobretudo, a sua

expansão integrada com outras agências.

1.9 SOCIEDADE BRASILEIRA

“A educação direito de todos e dever do Estado e da família,

será promovida e incentivada com a colaboração da

sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa

preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação

para o trabalho”.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL, artigo 205 (, 1988, p.86).

A Constituição Federal de 1988 e seus descobrimentos nas constituições

dos Estados e nas leis orgânicas dos municípios, instrumentos jurídicos nos quais

se materializou o reconhecimento social dos direitos das pessoas jovens e adultos

à Educação Fundamental, com a conseqüente responsabilidade do Estado por

sua oferta pública, gratuita e universal. Sendo assim a história da EJA do período

de redemocratização, entretanto, é marcada pela contradição no plano jurídico do

direito formal da população jovem e adulta à educação básica, de um lado, e sua

negação pelas políticas públicas concretas, de outro.

Já na nova Republica o primeiro governo civil pós 1964, marcaram

simbolicamente a ruptura com a política de educação de jovens e adultos do

período militar com a extinção do MOBRAL, cuja imagem publica ficara

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profundamente identificada com as práticas do regime autoritário. Estigmatizando

como modelo de educação domesticadora e de baixa qualidade, o Mobral já não

encontrava no contexto inaugural da nova República condições políticas de

acionar com eficácia os mecanismos de preservação institucional que utilizara no

período precedente, motivo pelo qual foi substituído ainda em 1985, pela

Fundação Nacional para Educação de jovens e adulto - Educar.

Em março de 1990, começo do governo Collor de Mello, foi extinta a

Fundação Educar. Esse ato tinha como objetivo o “enxugamento” da máquina

administrativa e a retirada de subsídios estatais, simultâneas à implantação de um

plano heterodoxo de ajuste das contas públicas e controle da inflação. Neste

mesmo pacote de medidas às pessoas jurídicas direcionavam 2% do valor do

imposto de renda devido às atividades de alfabetização de adultos.

Com a extinção do Educar, órgão público, as entidades civis e outras

instituições conveniadas ficaram surpresas, pois teriam que arcar sozinhas com

as responsabilidades pelas atividades educativas anteriormente mantidas por

convênios com a Fundação.

Marco no processo de descentralização básica de jovens e adultos, ficando

sob a responsabilidade pública dos programas de alfabetização e pós-

alfabetização de jovens e adultos da União para os municípios. A União já não

participava diretamente da prestação de serviços educativos, enquanto a

participação relativa dos municípios na matrícula do ensino básicos de jovens e

adultos tendeu ao crescimento contínuo, concentrando-se nas séries iniciais do

ensino fundamental, ao passo que os Estados (que ainda respondiam pela maior

parte do alunado) concentram as matrículas do segundo segmento do ensino

fundamental e do ensino médio.

Segundo o Presidente Collor, houve uma promessa de colocar em

movimento o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania (PNAC), que salvo

algumas ações isoladas, não transpôs a fronteira das intenções. A proposta de

substituir a atuação de a extinta Fundação Educar por meio da transferência de

recursos federais para que instituições públicas, privadas e comunitárias

promovessem a alfabetização e a elevação dos níveis de escolaridade dos jovens

e a elevação dos níveis de escolaridade de jovens e adultos.

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Eleito para Presidência da Republica em 1994 e reeleito em 1998 o

governo Fernando Henrique Cardoso colocou de lado o plano Decenal, e

priorizando assim a implantação de uma reforma Político-institucional da

educação publica que compreendeu diversas medidas, dentre as quais a

aprovação de uma emenda constitucional da educação publica que compreendeu

diversas medidas, entre elas a Emenda constitucional quase que simultânea a

promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases de Educação Nacional (LDB).

Já na nova (LDB) 9.394, aprovada pelo congresso em fins de 1996, foi

relatada pelo senador Darcy Ribeiro e não tomou por base o projeto que fora

objeto de negociação ao longo dos oito anos de tramitação houve assim uma

seção dedicada a educação básica de jovens e adultos que resultou em curta

duração e pouco inovadora.

Os conteúdos contidos nos dois artigos reafirmam o direito de jovens e

adultos trabalhadores ao ensino básico adequado às suas condições peculiares

de estudo, e o dever do poder público em oferecê-lo gratuitamente na forma de

cursos exames supletivos.

Rebaixamento das idades mínimas para candidatos que iriam se

submeterem aos exames supletivos, fixados em 15 anos para o ensino

fundamental e 18anos para o ensino médio; recente da educação de jovens e

adultos.

A constituição e a Lei de Diretrizes e Bases Prevêem que o executivo

federal elabore e submeta ao congresso plano plurianuais de educação.Mais

específico, as disposições transitórias da nova (LDB) determinaram que a união

encaminha-se ao congresso um Plano Nacional de Educação Decenal, consoante

a declaração mundial de educação para todos. Em meados de1997, o MEC deu

início a um processo de consultas que resultou em um projeto de Pano Nacional

de Educação (PNE) apresentado em fevereiro de 1998 à câmara dos deputados.

Já em 1999 o parecer adere ao paradigma da educação continuada al longo da

vida, entendida como direito de cidadania, motor de desenvolvimento econômico

e social, instrumento de combate à pobreza. De acordo com esse ponto de vista,

os desafios relativos à educação de jovens e adultos seriam três:

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Resgatar a divida social representada pelo analfabetismo, erradicando-o;

Treinar o imenso contingente de jovens e adultos para a inserção no mercado de

trabalho; Criar oportunidade de educação permanente.

Ao criar o Fundef (Fundo de Manutenção do Ensino Fundamental e

Valorização do Magistério), o governo deixa de fora aos jovens e adultos, ao não

considerar o ensino supletivo na contagem do numero de alunos nas redes de

ensino fundamental nos Estados e Municípios.

Com essas medidas o governo contrariou a ordem constitucional de a

garantir a todo cidadão independente da idade, o direito ao ensino fundamental,

condicionado à falsa separação entre a quantidade e qualidade.

A (LDB) transforma a (EJA), em uma educação de segunda classe

tratando-a de maneira parcial sob a ó tica da reforma do Estado, que usa o

discurso da prioridade à educação fundamental das crianças, em detrimento de

outros níveis de grupos sociais.

A verdadeira ruptura introduzida pela no (LDB) com relação à legislação

anterior reside na abolição da distinção entre os subsistemas de ensino regular e

supletivo, integrando organicamente a educação de jovens e adultos no ensino

básico comum. A organização do ensino deu possibilidade aceleração dos

estudos deixando de ser atributos exclusivos da educação de jovens e adultos e

foram estendidas al ensino básico em seu conjunto.

Sendo assim a maior integração aos sistemas de ensino de um lado, certo

indeterminação do público-alvo e diluição das especificidades psico-pedagógicas

de outro, parecem ser resultados contraditórios da nova (LDB) sobre a

configuração.

Década de 90 e seus marcos:

Relativização no plano cultural, jurídico e político dos direitos educativos

das pessoas jovens e adultas conquistados no momento anterior.

Continuidade no processo de democratização que implicava transpor para

as políticas efetivas os direitos educacionais conquistados formalmente no plano

jurídico foi obstada pela crise de financiamento e pela reforma do estado. As

políticas de estabilização monetária e ajuste macroeconômico condicionaram a

expansão do gasto sociais público a metas de equilíbrio fiscal, o que implicou a

redefinição de papeis das esferas central e das organizações da sociedade civil

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na preparação dos serviços sociais. Consolidaram-se a tendência à

descentralização do financiamento e dos serviços bem como a posição marginal

ocupada pela educação básica de jovens e adultos nas prioridades de política

educacional.

Nesse período houve um recuo do Ministério da Educação no exercício de

suas funções de coordenação ação supletiva e restributiva na provisão da

educação básica de jovens e adultos.

Na segunda metade dos anos 90 foram concebidos e tiveram inicio três

programas federais de formação de jovens e adultos de baixa renda e de

escolarização que guardam entre si pelo menos dois traços comuns:

ü Nenhum deles e coordenado pelo Ministério da Educação e todos são

desenvolvidos em regime de parceria envolvendo diferentes instâncias

governamentais, organizações da sociedade civil e instituições de ensino e

pesquisa.

A alfabetização solidária (PAS) idealizada em 1996 pelo Ministério da

Educação, mas coordenada pelo conselho da comunidade solidária (Organismo

vinculado à Presidência da República e que desenvolve ações sociais no combate

a pobreza). Cujo objetivo, era o movimento de solidariedade nacional para reduzir

as disparidades regionais e os índices de analfabetismo, significamente até o final

do século o (PAS) consiste num programo de alfabetização inicial com apenas

cinco meses de duração. Era destinado prioritariamente al publico juvenil a aos

municípios de periferias urbanas em que se encontravam os índices mais

elevados de analfabetizadores por parte dos governos municipais, e a

capacitação e supervisão pedagógica dos educadores eram realizadas por

estudantes e docente de universidades publica e privadas.

Em relação aos três primeiros anos do funcionamento, o PAS chegou a

866 municípios e atendeu 776 mil alunos, dos quais menos de um quinto adquiriu

a capacidade de ler e escrever pequenos textos, resultado atribuído pelas

universidades ao tempo demasiadamente curto previsto para a alfabetização.

Manejando um conceito operacional de alfabetização muito estreita, o PAS corre

o risco de redundar em mais uma campanha fracassada de alfabetização se não

conseguir assegurar que os egressos tenham oportunidade de prosseguir estudos

nas redes públicas de ensino, o que é dificultado pela orientação da política

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educacional mais geral que direciona e focaliza os recursos somente para o

ensino de crianças e adolescentes.

No entanto o programa Nacional de Educação na Reforma agrária

(PRONERA) guardar a singularidade de ser um programa do governo federal

gestado fora da arena governamental: uma articulação do conselho de Reitores

das Universidades Brasileiras (CRUB) com o movimento dos Trabalhadores

Rurais sem Terra (MST) foi capaz de introduzir uma proposta de política de

educação de jovens e adultos no meio rural no âmbito das ações governamentais

da reforma agrária. Coordenado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrário (INCRA), vinculado ao Ministério Extraordinário da Política Fundiária

(MEPF), o progresso entre o governo federal (responsável pelo financiamento),

universidade (responsável pela formação dos educadores). O PRONERA tinha

como alvo principal a alfabetização inicial de trabalhadores rurais assentados que

se encontram na condição de analfabetismo absoluto, aos quais oferece curso

com um ano letivo de duração, mas seu componente mais inovador é aquele pelo

qual as universidades parceiras proporcionam a formação dos alfabetizadores e a

elevação de sua escolaridade básica. Mesmo sem dispor de fonte estável de

financiamento, o PRONERA vem subsistindo aos riscos de continuidade: já em

1999 chegou a 55 mil alfabetizados e pelo menos 2,5 mil monitores nas 27

unidades da federação coordenado pela Secretaria de Formação de

Desenvolvimento Profissional do Ministério do Trabalho (SEFOR/MTB), o Plano

Nacional de Formação do Trabalhador (PLANFOR) não é um programa de ensino

fundamental ou médio, destinado-se à qualificação profissional da população

economicamente ativa, entendida como formação complementar e não como

substitutiva à educação base. Desde a sua concepção em 1995 a SEFOR/MTB

delineou um perfil de formação requerido pelo mercado de trabalho que, ao lado

das competências técnicas específicas e habilidades de gestão, compreende a

educação básica dos trabalhadores, motivo pelo qual comportam iniciativas

destinadas à elevação da escolaridade de jovens e adultos do campo e da cidade.

Financiado com recursos do Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT), o

Planfor é operado descentralizadamente por uma rede feterogênea de parceiros

públicos e privados de formação profissional, composta por secretarias de

educação e outros órgãos públicos estaduais e municipais, instituições dos

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“Sistemas”, organizações não governamentais, sindicatos patronais e de

trabalhadores, escolas, empresas e fundações, universidades e instituições de

pesquisa. Quanto ao financiamento e a articulação dessa malha difusa de

agentes de formação profissional foram parcialmente descentralizados, mediante

assinaturas de convênios com os estados, nos quais a coordenação foi atribuição

à Secretaria do Trabalho e Emprego. Além da participação dos segmentos sociais

e agentes de formação de gestão da política foi assegurada pela constituição de

comissões deliberativas nas instâncias estaduais e municipais, que se uniram ao

conselho deliberativo de FAT, de âmbito nacional.

O plano tinha como objetivo ampliar e diversificar a oferta de educação

profissional com vistas a qualificar e requalificar anualmente 20% da PEA por

intermédio dos Planos Estaduais de Qualificação (PNQS) e as parcerias nacionais

e regionais. Já em 1996 e 1998, quase 60% dos cinco milhões de trabalhadores

atendidos pelo PLANFOR receberam cursos em habilidades básicas, mas o baixo

nível de escolaridade dos cursistas continuou a ser apontado como obstáculo à

eficácia do programa. Pelo contrário vem ocorrendo uma escassa articulação

entre a política nacional de formação profissional consubstanciada no PLANFOR

e as redes estaduais e municipais de ensino, que constituem os principais

agentes públicas na oferta de oportunidades de educação básica de jovens e

adultos.

Ao longo da segunda metade deste século houve um importante movimento

de ampliação da oferta de vagas no ensino público no nível fundamental que

transformou a escola pública brasileira em uma instituição aberta a amplas

camadas da população, superando em parte o caráter eletista que a caracterizava

no início do século, quando apenas alguns poucos privilegiados tinham acesso

aos estudos. Neste momento em que se inicia um novo século, porém, essa

oferta de vagas ainda se mostra insuficiente, pois um grande número de crianças

e adolescentes não está estudando.

Contudo a ampliação de oferta escolar não foi acompanhada de uma

melhoria das condições de ensino, de modo que, hoje, temos mais escolas, mas a

qualidade é muito ruim. Sendo assim a má qualidade do ensino combina-se à

situação da pobreza extrema em que vive uma parcela importante da população

para produzir um contingente numeroso de crianças e adolescentes que passam

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pela escola sem desfrutar aprendizagens significativas e que, submetidos a

experiências pessoais de fracasso e repetências escolares, acabam por

abandonarem os estudos.

Portanto temos agora um novo tipo de exclusão educacional: antes as

crianças não podiam freqüentar a escola por ausência de vagas, hoje ingressam

na escola, mas não aprendem e dela são excluídos antes de concluir os estudos

com êxito.

“De acordo com esta nova modalidade de exclusão

educacional que acompanhou a ampliação do ensino

público, veio produzindo um elevado contingente de jovens e

adultos que, apesar de terem passado pelo sistema de

ensino, nele realizaram aprendizagens insuficientes para

utilizar com autonomia os conhecimentos adquiridos em seu

dia-a-dia. Quanto ao resultado de processo, o conjunto da

população, assistiu-se à gradativa substituição dos

analfabetos absolutos por um numeroso grupo de jovens e

adultos cujo domínio precário da leitura. Da escrita e do

cálculo vem sendo tipificado como analfabetismo funcional”.

HADDAD (, 2000, p.126).

De fato, ao logo do século XX o percentual de analfabetos absolutos no

conjunto da população veio declinando continuamente, alcançando a metade dos

anos 1990 um patamar próximo a 15% dos jovens e adultos brasileiros. Já em

1996, entretanto, quase um terço da população nessa faixa etária. D acordo com

a pesquisa recente mostrou-nos que são necessários mais de quatro anos de

estudos e aqueles que não haviam completado o ensino obrigatório de oito anos

representavam mais de dois terços da população nessa faixa etária

Pesquisa recente mostrou que são necessários mais quatro anos de

escolarização bem sucedido para que um cidadão adquira às habilidades e

competência cognitiva que caracterizam um sujeito plenamente alfabetizado

diante das exigências da sociedade contemporânea, a que coloca na categoria de

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analfabetos funcionais aproximadamente a metade da população jovem e adulta

brasileira.

Esses dados demonstram que o desafio da expansão do atendimento na

educação de jovens e adultos já não reside apenas na população que jamais foi a

escala, mas estende-se aquilo que freqüentou os bancos escolares mas neles

não obteve aprendizagem suficientes para participar plenamente da vida

econômica, política e cultural do pais e seguir aprendendo do país e seguir

aprendendo ao longo da vida.

Podemos observar que cada vez torna-se mais claro que as necessidades

básicas de aprendizagem dessa população só podem ser satisfeitas por uma

oferta permanente de programa que, sendo mais ou menos escolarizadas,

necessitam institucionalidade e comunidade superando o modelo dominante nas

campanhas emergências e iniciativa de custo prazo, que recorre mão de abra

voluntária e recursos humanos não-especializados, característica da maioria dos

programas que marcaram a história da educação de jovens e adultos no Brasil.

Estreitamento relacionado ao tópico anterior tem um segundo desafio o

para a educação de jovens e adultos representados pelo perfil crescentemente

juvenil dos alunos em seus programas, grande parte dos quais são adolescentes

excluídos da escola regular. Há uma ou duas décadas, a maioria dos educandos

de programas de alfabetização e de escolarização de jovens e adultos eram de

pessoas maduras ou idosas de origem rural, que nunca tenham tido oportunidade

escolares. Mas a partir de 1980 os programas de escolarização de adultos

passaram a escolher um novo grupo social constituído por jovens de origem

urbana, cuja trajetória escolar anterior foi mal sucedida. O primeiro grupo vê na

escola uma perspectiva de integração sócio-cultural; ao passo que o segundo

mantem uma relação de tensão e conflito aprendida na experiência anterior. Com

relação aos jovens carregam consigo o estigma de alunos-problemas, que não

tiveram êxito no ensino regular e que busca superar as dificuldades em cursos

aos quais atribuem o caráter de aceleração e recuperação. Na verdade são dois

grupos distintos de trabalhadores de baixa renda que se encontram nas classes

dos programas de escolarização dos jovens e adultos e colocam novos desafios

aos educadores que tem que lhe dar com universos muito distintos nos planos

etários, culturais e das expectativas em relação à escola. Sendo assim, os

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programas de educação escolares de jovens e adultos, que originalmente se

estruturaram para democratizar oportunidades formativas a adultos trabalhadores

vem perdendo sua identidade, na medida em que passam a cumprir funções de

aceleração de estudos de jovens com defasagem em relação a série-idade e

regularização do fluxo escolar.

Quanto ao direito à educação e o papel do estado na oferta de ensino aos

jovens e adultos, nesse breve histórico podemos constatar que segundo HADDAD

(, 2000, p. 127) responsabilidade e oferta desecolarização de jovens adultos

sempre compartilhados por órgãos públicos e por organizações societárias”.

O ponto alto do movimento de reconhecimento do direito de toda a

escolarização e da correspondente responsabilização do setor público pela oferta

gratuita de ensino aos dos jovens e adultos ocorreu com a aprovação da

constituição em 1988.

Sendo assim as políticas educacionais dos anos 90, porém, foram

delineando uma transição na direção do esvaziamento do direito social à

educação básica em qualquer idade, do qual correspondeu um movimento de

fronteira que delimita as responsabilidades do Estado e da sociedade na provisão

dos serviços de educação de jovens e adultos.

Premiações pelas políticas de ajuste das contas públicas, a reforma

educacional implementada pelo governo federal na segunda metade dos anos 90

acabou por focalizar recursos no ensino fundamental de crianças e adolescentes

de 7 a 14 anos em detrimento de outros níveis de ensino e grupos etários, como

as crianças pequenas e os jovens e adultos com baixa escolaridade. Podemos

observar que no final dos anos a ação do governo federal é uma pulverização de

projetos de alfabetização e elevação de escolaridade em diversos ministérios,

com a renuncia do ministério da educação em assumir responsabilidades pelo

atendimento direto e exercer o papel de liderança, coordenação e indução dos

governos subnacionais. Ao mesmo tempo, o conselho da comunidade solidária

assumiu a iniciativa de reproduzir velhos modelos ineficazes de campanha

emergenciais de jovens e adultos, implantando o programa alfabetização solidária

com recurso de doação de empresas e indivíduos, ficando a responsabilidade

pelo financiamento de um direito básico da cidadania ao sabor da filantropia ou da

boa vontade da sociedade civil.

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Podemos observar que o ensino fundamental de jovens e adultos perde

terreno como atendimento educacional público de caráter universal, e passa a ser

compreendido como política compensatória coadjuvante no combate às situações

de estrema pobreza, cuja amplitude pode estar condicionada às oscilações dos

recursos doados pela sociedade civil, sem que uma política articulada possa

atender de modo planejado ao grande desafio de superar o analfabetismo e

elevar a escolaridade da maioria da população.

Podemos observar que segundo o direito que tem o presidencial a

contagem das matrículas no ensino fundamental de jovens e adultos para efeito

dos cálculos FUNDEF, representou a transferência aos estados e municípios da

responsabilidade de responder à crescente pressão de demanda, sem que lhes

fossem oferecidas às condições de atendê-la de maneira satisfatória. Uns dos

motivos pelos quais estados e municípios tem procurado alternativas de redução

dos custos para satisfação da demanda por educação de adultos, seja mediante o

incentivo a iniciativas de organização da sociedade civil, seja recorrendo aos

meios de ensino à distância, mesmo quando essas alternativas metodológicas

não produzem os resultados esperados nos níveis de aprendizagem,

permanência, progressão e conclusão de estudos.

Sendo assim ao mesmo tempo em que as políticas educacionais contraem

o papel dos organismos governamentais na provisão de oportunidades de

formação para jovens e adultos, crescem a visibilidade e a importância relativa

das iniciativas da sociedade civil, difundindo-se as práticas de parceria

envolvendo universidades, movimentos sociais, organizações não

governamentais, associações privadas e organismos empresariais e órgãos

públicos das três esferas de governo no desenvolvimento de projetos de

alfabetização, elevação e escolaridade e/ou de formação profissional, a

disseminação de distintas práticas de parceria configura um terreno de

experimentação de diferentes concepções do que possam vir a ser, num contexto

de reforma do estado, os serviços não estatais.

Quanto educação continuada ao longo da vida, é importante ressaltar que é

um movimento em sentido oposto ao esvaziamento do direito dos jovens e

adultos à escolaridade básica, vem sendo observada em países desenvolvidos da

Europa, América do norte e sudeste asiático, onde a população adulta passa a

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dispor de oportunidades crescentes de formação geral, profissional e atualização

permanente.

A extrema valorização de educação nas sociedades pós-industriais está

relacionada à aceleração da velocidade de produção de novos conhecimentos e

fusão de informações que tornaram a formação continuada um valor fundamental

para a vida dos indivíduos e um requisito para o desenvolvimento dos países

perante sistemas econômicos globalizados e competitivos.

“O paradigma da educação continuada emergentes nestas

regiões concebe como espaços educativos múltiplos

dimensões da vida social, inclusive os ambientes urbanos e

de trabalho, as associações civis, os meios de comunicação

e as demais instituições de aparelhos culturais”.

(IBID., P. 128 ).

Já neste marco as instituições escolares respondem por apenas uma

parcela de formação permanente dos indivíduos, que se apropriam de

conhecimentos veiculados por outros sistemas de informações e de fusão cultural.

Entretanto no século XXI, ao qual o Brasil ingressa está integrado cultural,

tecnológica e economicamente a estas sociedades pós-industriais, e comporta

dento de si realidades tão desiguais que fazem com que as possibilidades e os

desafios da educação permanente também estejam colocados para extensas

parcelas de nossa população.

Podemos entender que diante dos desafios da educação a EJA assume um papel

importante na sociedade, com propósito de estabelecer uma melhoria no sistema

educacional brasileiro.

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“A função reparadora da EJA no limite não significa entrada

no circuito dos direitos civis pela restauração de um direito

negado: O direito a uma escola de qualidade mais também

ao reconhecimento daquela igualdade antológica de todo e

qualquer ser humano. Desta negação evidente resulta uma

perda: O acesso a um bem real, social e simbolicamente

importante. Logo não se deve confundir a noção de separar

a noção de suprimento”.

SOARES (, 2000, p. 34).

Quando ao parecer da CEB n 11/2000, atribuí a EJA três funções: reparadora,

equalizadora e permanente. Podemos perceber que a EJA pode ser considerada

como paradigma do que pode vir a acontecer com outros direitos sociais já

conquistados ao longo da nossa história.

A crise do sistema educacional brasileiro na atualidade nos leva a pensar

na educação como porte da crise da sociedade. Sendo assim a educação tende a

ser dentro das relações capitalistas, um instrumento para manter a reprodução e

a desigualdade. Podemos ver à luta pela democratização da educação, como

forma de apropriar do saber historicamente acumulado, e a luta da classe

trabalhadora que tem o seu conhecimento negado dentro e fora da escola, onde a

cultura dominante discrimina e aliena.

Portanto o analfabetismo tem raízes nas discriminações embora sendo de

qualquer ordem: a função reparadora busca superar as discriminações através de

um pressuposto de igualdade e liberdade, rompendo com a educação excludente

que prejudica a qualidade de vida dos jovens e adultos. Busca, ainda, reparar um

direito negado historicamente, pois a educação dá possibilidade a uma

democratização dos saberes tornando uma sociedade menos desigual.

Quanto à igualdade na função reparadora é o ponto de chegada, já na

equalizadora se torna um ponto de partida para a igualdade de oportunidades.

Podemos perceber que esta nova função da EJA dará oportunidade aos

trabalhadores de reentrada no sistema educacional, antes interrompido

viabilizando novas inserções no mundo do trabalho e na vida social.

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Podemos considerar a função permanente da EJA como aquela que

representa a própria EJA. Pois tem como função repor algo que se perdeu ou

objeto de propiciar a reentrada do aluno na vida social, cujo papel tem como

objetivo possibilitar aos indivíduos atualização dos conhecimentos. Partindo da

idéia que o homem é um ser incompleto, a função permanente propõe criar

condições para que o aluno da EJA desenvolva suas potencialidades e seja

capaz de interagir no mundo, na busca de uma formação plena.

A função qualificadora pretende uma educação contextualizada onde o

aluno adulto possa construir ou reconstruir seus caminhos, descobrindo um

universo de possibilidade para a sua realização seja no mundo do trabalho, no

mundo social ou político, o importante é que se de por toda vida.

A seguir abordaremos melhor a concepção de educação destacado por

Paulo Freire no qual o homem está inserido.

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CAPÍTULO II

EDUCAÇÃO BANCÁRIA X EDUCAÇÃO LIBERTADORA FRENTE À

AÇÃO SUPERVISORA

Ao discutir a relação entre a educação e o processo de humanização,

Paulo Freire caracteriza duas concepções de educação: a bancária e a

libertadora.

Na concepção burguesa, o educador é o detentor do saber, sendo assim o

centro da educação, identificando-se como autoridade funcional que lhe compete

em relação ao saber, sendo assim ele é o sujeito do processo ensino-

aprendizagem. Já os educandos não têm liberdade de pensamento apenas

escutam docilmente; seguem determinações como se fossem meros objetos.

Segundo a concepção bancária de educação os educandos seres humanos são

considerados bancos: onde o professor como detentor do saber faz os seus

depósitos e os educandos meros recipientes onde são depositados os saberes.

Esta educação bancária tem como finalidade manter a divisão entre os que

sabem e as que não sabem, entre os oprimidos e opressores. Ela nega a

dialogicidade, ao contrário da educação problematizadora que se funda

justamente na relação dialógico-dialética entre educador e educando.

“A concepção bancária que ela serve, também o é no

momento mesmo em que se funda num conceito mecânico,

estático, especializado da consciência e em que transforma,

por isso mesmo, os educandos em recipientes, em quase

coisas, não podem esconder sua marca necrófila”.

FERIRE (, 1987, P. 65).

Podemos compreender que a educação bancária supõe uma concepção

estática e passiva do homem e do mundo, considerando-os como algo que são, e

não que estão sendo supondo uma dicotomia entre educador e educando. Nega

as relações dialéticas homem-mundo e assim não supera a contradição

educadora – educando, o que a faz ser domesticadora do homem. Com base

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nesta visão de homem e de mundo, a educação “bancária” faz do educando um

ser de adaptações, se ajustando ao meio ambiente.

É importante mencionar que na maioria das vezes, o educador nega todo

contexto histórico-social, do educando, que o educando trás para a escola. Ensina

conteúdos sem analisar os conteúdos do educando, levando o mesmo à mera

repetição e memorização criando assim um impedimento para um bom

desenvolvimento de uma maneira crítica de pensar, formando assim um sujeito

alienado em relação a vivência de seu mundo.

È necessário respeitar os saberes dos educandos, sobre tudo o das

classes populares, cujo saberes é socialmente construído na pratica comunitária.

É importante discutir com eles a razão de ser de alguns destes saberes em

relação ao ensino dos conteúdos escolares.

Segundo Freire (2000), ensinar não è transferir conhecimento, mas criar

possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção. Na sala de aula

o educando deve ser um ser aberto às indagações, à curiosidade, às perguntas

dos alunos, às suas ambições, um ser crítico e inquiridor, pois a tarefa de ensinar

não è transferir conhecimento, mais sim de reconhecer que o ser humano è um

ser cultural e histórico, inacabado e consciente do seu inacabamento.

Portanto podemos entender que, modo de ver, fazer e viver è a maneira

pela quais as pessoas criam símbolos, vivem e aprendem no seu grupo social e

nas relações com os outros grupos. Na atividade cultural elas constroem o sentido

de tempo, do espaço, da ética, da estética e da sua identidade. Linguagem,

costumes, crenças, elementos místicos, modos de sentir, pensar, ver e viver a

vida são formas de viver cultura. Homens, mulheres e crianças de todo canto de

nossa cidade, do nosso país, do nosso tempo de desenvolver práticas culturais

diferentes.

A relação pedagógica educador-educando, na ação educativa

problematizadora é essencialmente oposta a concepção “bancária” da educação

na qual se estabelece uma separação radical entre educador e educando. O

educador vivencia uma situação “superior” (dono do saber) e os educandos,

indivíduos “carentes” de conhecimento, espera passivamente a transmissão, a

doação do saber.

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Para a educação “libertadora” educador-educando são vistos como

pessoas que sabem que não sabem. Seus saberes dependem, por conseguinte,

da relação dialética entre eles, mediatizados pelo mundo. Neste sentido Freire

(1992, p.69) afirma que: “Ninguém educa ninguém, como tão pouco ninguém se

educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão mediatizados pelo

mundo”. Quanto ao conhecimento na educação problematizadora, não é

propriedade somente do professor, mas sim um processo de investigar,

compartilhado continuamente entre o educador e o educando.

Quando há diálogo a educação “bancária” tende a desaparecer, quando a

relação de diálogo transforma a sala de aula em local de encontro, onde o

conhecimento é buscado por todos e não transmitido pelo professor. Neste

sentido Freire (1992, p. 134) defende que: ”o diálogo, como encontro dos homens

para a pronuncia do mundo, é uma condição fundamental para sua

humanização”.

Através do diálogo é possível reconciliar educador e educando, dando

assim oportunidade para educador e educando pensarem juntos. Podendo assim

adquirir conhecimento, pois o diálogo marca a relação entre ambos.

A relação pedagógica educado-educando, na ação educativa

problematizadora é essencialmente oposta à concepção “bancaria” da educação

na qual se estabelece uma separação radical entre educador e educando. O

educador vivencia uma situação “superior” (dono do saber) e os educandos,

indivíduos “carentes” de conhecimentos, espera passivamente a transmissão à

doação do saber. Para educação libertadora educado-educando é encarado como

pessoas que sabem que não sabem. Seus saberes dependem, por conseguinte

de relação dialética entre eles, mediatizados pelo mundo. Pois necessário

entender que o educando e o educador ambos crescem juntos em relação a

aprendizagem e troca de experiências. Com tudo o conhecimento na educação

problematizadora, não propriedade somente do professor, mais sim um processo

de investigar compartilhado continuamente entre educador e educando. A

contradição desenvolvida pela educação “bancária” tende a desaparecer quando

o diálogo transforma a sala de aula em local de encontro, onde o conhecimento é

buscado por todos, e não transmitido somente pelo professor. De acordo com

essa visão entende-se que a educação libertadora é problematizadora não pode

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ser um ato de depositar, narrar ou transferir conhecimentos valores aos

educandos, pois eles não são meros pacientes à maneira da educação “bancária”

mais um ato cognoscente, a educação problematizadora coloca, desde logo, a

exigência da superação educador-educando. Segundo Freire (p.68, 2000) “Sem

esta relação não e possível a dialógica indispensável à cogniscibilidade dos

sujeitos cognoscente em torno do mesmo objetivo cognoscível”.

E importante ressaltar e o diálogo e o único meio de reconciliar educador e

educando, não permitindo que somente o educador pense, mas que ambos o

façam. No processo de aquisição de conhecimentos entre educador e

educandos, o dialogo é a marca das relações entre ambos. Por sua vez, requer

uma confrontação crítica com a realidade no que se refere à transformação. Pois

podemos entender que o dialogo favorece ao homem podendo assim haver um

encontro dos homens para a pronúncia do mundo que tem fundamental

importância para sua real humanização. Sendo assim, para Freire aqueles que

decidem por uma prática libertadora, devem se envolver com o povo e sugerir

transformações em seu contexto social para que possam galgar maiores

perspectivas de vida. A educação para libertação só acontece quando transforma,

opera, e deixa de ser estável.

Torna-se imprescindível, por tanto que a educação proporcione uma ação

cultural dia lógica, no sentido de possibilitar ao educador a tentativa de fazer a

investigação do universo cultural dos educandos, verificando seus costumes,

anseios,esperanças e formas de ver o mundo. Assim, o educador poderá

desenvolver um conteúdo programático que leve os educando a uma reflexão

crítica de seus contextos, aniquilando a “cultura do silêncio”, propagado pela

educação “bancária”,dando vez e voz aos educando, tornando-os agentes de

mudanças da sociedade da qual fazem parte. Por isso e preciso que a educação

esteja em seu conteúdo em seus programas e em seus métodos, sendo assim

adaptada para o fim que se persegue, permitindo ao homem chegar a ser sujeito

construindo-se como pessoa para transformar o mundo, estabelecendo com os

outros homens relações de reciprocidade, fazendo assim a cultura e a história

partindo de sua própria vida.

Sendo assim, a educação problematizadora tem com pressuposto principal,

buscar através da práxis a humanização. Ou seja, são reflexões críticas da

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realidade, que os homens vão compreendendo a sua posição como seres

históricos. Com esse entendimento ocorre a inserção do homem, em comunhão

com o outro, na prática de libertação tendo na sua força a construção de um novo

mundo.

“A narração de conteúdos que por isto mesmo tende a

petrificar-se ou a fazer-se algo quase morto, sejam valores

ou dimensões concretas da realidade. Narração ou

dissertação que implica em sujeito - o narrador - e objetos

pacientes, ouvintes – os educandos”.

FREIRE (, 2000, p.57).

Segundo a visão de Paulo Freire esse tipo de narração é quase uma

enfermidade, pois o seu objetivo é narrar e sempre narrar. Em se tratando da

realidade é importante salientar que não é algo parado, estático,

compartimentado, e bem comportado, quando falar ou dissertar sobre algo

completamente alheio a experiência existencial dos educandos vem sendo,

realmente, a suprema inquietação desta educação. O educador na concepção

“bancaria” aparece como indiscutível agente, tendo assim a responsabilidade de

encher os educandos dos conteúdos de sua narração. Conteúdo que muita das

vezes estão fora da realidade do aluno e por isso não lhes atribui significados.

Nesse sentido a palavra nestas dissertações se esvazia da dimensão completa

que devia ter ou se transforma em palavra oca, cujo discurso é para alienação.

Por isso mesmo uma das características da educação dissertadora é a

“sonoridade” da palavra e não sua força transformadora. Quando falamos quatro

vezes quatro é dezesseis, o educando fixa, memoriza, repete, sem na verdade

perceber o que realmente significa quatro vezes quatro.

Quando o educador e sujeito da narração os educandos são conduzidos à

memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda a narração os

transforma em “vasilhas” em recipientes a serem “enchidos”. Podemos observar

que nesta visão o educador se torna o melhor à medida que as recipientes vão se

enchendo com seus depósitos e o educando docilmente deixando se encher para

serem os melhores. Em lugar de comunicar-se o educador faz “comunicado” e

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depósitos que os educandos meras incidências, recebem pacientemente

memorizam e repetem.

“A concepção “bancaria” da educação, em que a única

margem de ação que se oferece aos educando é a de

receberem os depósitos guardá-los e arquivá-los. No entanto

os grandes arquivos são homens, nesta (na melhor das

hipóteses) equivocada concepção “bancaria” da educação.

Arquivos, porque fora da busca da práxis, os homens não

podem ser. Na verdade educadores e educandos se

arquivam na medida em que nesta distorcida visão da

educação não a criatividade, não transformação não há

saber. Pois só há saber na invenção, na reinvenção, na

busca inquieta impaciente, permanente, que os homens

fazem no mundo com o mundo e com os outros”.

(IBID., P.58).

Se os homens a qual a educação bancária esta formando forem homens

da busca ou se sua vocação ontológica é humanizar-se, cedo ou tarde poderão

perceber a contradição em que a “educação bancária” tem como objetivo mantê-

los e engajar-se na luta por sua libertação.

“Um educador humanistas, revolucionário, não há de

esperar esta possibilidade. Geralmente a ação desse

educador identifica-se desde logo, com a dos educandos,

tendo como objetivo a orientação no sentido da

humanização de ambos. Sua ação deve estar introduzida

pela profunda crença nos homens, crença no seu poder

criador”.

(IBID. P.52).

Para que isto aconteça é necessário que o educador seja um companheiro

dos educandos, em suas relações com estes. Ao passo que na educação

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“bancária”, em cuja prática se dá a inconciliação educador-educando, não tem

como objetivo o companheirismo.

“É lógico que seja assim. Pois se educador que tem a

concepção “báncaria’’, viesse a superação da contradição já

não seria “bancário”. Já não faria depósitos. Já não

prescreveria. Saber com os educandos, enquanto estes

soubessem com ele, seria uma tarefa. “Já não estaria a

serviço da opressão, mas da libertação”.

(IBID., P.62).

Sendo assim a concepção ”bancária” e a condição educadora – educando,

implica além dos interesses já referidos, outros aspectos que envolvem sua falsa

visão dos homens. Aspectos ora explícitos, ora não, em sua prática. Propõem

uma dicotomia inexistentes homens-mundo. Homens simplesmente no mundo e

não com o mundo e com os outros. Homens simplesmente expectadores e não

recriadores do mundo. Concebe sua consciência como algo especializado neles e

não aos homens como corpos conscientes.

“Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser

condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que

posso ir mais alem dele. Esta é a diferença profunda entre o

ser condicionado e o ser determinado. A diferença entre o

inacabado que não se sabe com tal e o inacabado que

histórica e socialmente alcançou a possibilidade de saber-se

inacabado. Gosto de ser gente porque, como tal, percebo

afinal que a construção de minha presença no mundo, que

não se faz no isolamento, isenta da influência das forcas

sociais, que não se compreende fora da tensão entre o que

herdo geneticamente, e o que herdo social, cultural e

historicamente, tem muito a ver comigo mesmo”.

FREIRE (, 2004, p.53)

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Na dupla visão de homem e de mundo, Paulo Freire procura distinguir duas

posições educativas, ou melhor, duas formas ou concepções de educação:

bancária e problematizadora. A primeira em grande parte tanto contribuiu para

desumanização do homem (impedindo de sua capacidade de “ser mais”) como

para manutenção de uma posição dentro da sociedade. Já a segundo em certa

medida propicia tanto a humanização do homem “libertação de sua capacidade

de ser mais”, com a permanentemente transformação da sociedade.

Para Freire a educação deve estar a serviço do homem, não com objetivo

de adaptá-lo a sociedade, mas levando-o a pensar criticamente em sua realidade.

Esta, não pode ser compreendida como algo estático, compartimentado e “bem”

comportado, mais como algo em processo de construção do qual o homem faz

parte, podendo de certa forma transformá-lo.

2.1 O Legado de Paulo Freire

Paulo Freire é considerado uma referência na educação e particularmente

na educação de jovens e adultos devidos sua criação de um pensamento

revolucionário de alfabetização. A pedagogia proposta por Freire é fundamentada

numa concepção cuja meta é o engajamento do indivíduo na luta por

transformações acontece quando esta relação é mediatizada pelo diálogo. A

alfabetização tinha como objetivo o processo de conscientização para que o

oprimido pudesse aprender a ler e a escrever para se libertar. Segundo Freire, a

qualidade da educação é política, podendo o ato de conhecer ser domesticador

ou libertador. Quanto a sua filosofia é de base “humanista”, por falar do que é

realmente essencial para o ser humano, o diálogo. Tendo como princípios a

prática da liberdade, para que os educandos possam se expressar através do

diálogo onde há troca constante de experiências.

Um dos pressupostos deste pensamento é de que “ninguém educa

ninguém e ninguém se educa sozinho”, pois a educação não pode ser uma tarefa

isolada. A prática que a maioria das escolas adota, em sua metodologia de

alfabetização são cartilhas. Muitas das vezes isto representa a valorização de um

saber abstrato apenas para que o educando venha decorar simplesmente as

consoantes e vogais para depois reconhecer palavras, ler, memorizar e escrever.

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Paulo Freire pensava numa educação não excludente, na qual as necessidades

pessoais dos educandos fossem incluídas, não desconsiderando seus hábitos

culturais e a sua vida cotidiana.

“De cultura, porque, muito mais do que aprendizado do

individual de “saber” ler e “escrever”, o que o circulo produz

são modos próprios e novos solidários coletivos de pensar e

todos juntos aprenderam de fase em fase, de palavra em

palavra, que aquilo que constroem é uma “maneira de fazer

cultura que os faz, por sua vez, homens, sujeito, seres de

histórias “palavras e idéias chave”.

BRANDÃO (, 1981, p.43-44)

Para que o método de alfabetização fosse dialógico democrático Freire

propôs o primeiro passo pedagógico para a construção do método de

alfabetização, que foi conhecer e pesquisar o próprio universo do aluno, isto é,

investigar a cultura local, visando obter informações sobre os vocábulos mais

usados pela comunidade. Tudo é importante, “palavras, frases, ditos, provérbios,

modos peculiares de dizer, fazer versos ou cantar o mundo e traduzir. Tais

informações levarão os educandos – educadores a procurarem palavras que

Freire classifica de geradora, vem de um momento gerador (descoberta). Sendo

assim estas palavras são carregadas de significados por que trazem

intrinsecamente o trabalho criativo de aprender a ler, servindo tanto para a leitura

da palavra, como a leitura da realidade social, bem diferente das palavras que

não estão dentro do contexto do educando, sem significado algum. As palavras

geradoras, em geral revelam o modo de vida das pessoas dos lugares onde a

alfabetização se realizará. Sendo assim, cada palavra carregada de significados

que levarão as pessoas a discutirem a prática social, política e econômica da

comunidade.

Para Freire os ciclos de culturas concebem o educador como um orientador

dos debates, onde todos ensinam e aprendem, a partir de imagens, debates de

situações existenciais, levando a um pensar de sua própria filosofia. A educação

que Paulo Freire propôs, não foi apenas politicamente utilitária para criar novos

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quadros para uma nova sociedade, mas uma proposta politicamente humana,

criando homens libertos para uma missão coletiva de reconstrução da política

nacional da educação, mobilizando-os para a transformação social.

Para tanto, os debates se apresentam com armas para a mudança social,

possibilitando a reflexão – ação, levando os alunos a refletirem criticamente o seu

pensamento sobre o mundo.

Ë necessário entendermos que a proposta de Freire não é imutável, nada é

lei, há apenas uma “proposta de trabalho-diálogo”, que possuí uma lógica no

processo coletivo de aprender a ler e a escrever. Fora disso cada situação é uma

situação.

Segundo Brandão o método de alfabetização de adultos do professor Paulo

Freire representa apenas o começo para um longo processo dentro de um

sistema de educação.

“Se antes a alfabetização de adultos era tratada e realizada

de forma autoritária centrada na compreensão mágica da

palavra doada pelo educador aos analfabetos; se antes os

textos geralmente oferecido como leitura aos alunos

escondiam muito mais do que desvelavam a realidade,

agora pelo contrário a alfabetização como ato de

conhecimento, como ato criador e como ato político é um

esforço de leitura do mundo e da palavra (...) Agora já não é

possível texto sem contexto”.

FREIRE (, 1994, p. 35).

Podemos entender que o pensamento de Freire nos mostra um caminho

que não é novo mais é sempre atual, para superar a visão estática e autoritária

que encontramos na educação. Podemos assim entender que a EJA como um

processo que tem como objetivo a conquista da liberdade e a tomada de

consciência.

A metodologia no qual Paulo Freire se apoiou e que fez parte da sua vida

tinha como objetivo repensar o homem, a história, o trabalho, a cultura, a

educação e, principalmente a liberdade, É importante ressaltar que o legado de

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Paulo Freire foi organizado á partir de uma visão de ser humano e de mundo,

fazendo parte desse contexto homem – mulher – mundo, que acontecem esse

processo de humanização.

A alfabetização tinha como objetivo o processo de conscientização, para

que o oprimido pudesse aprender a ler e escrever para se libertar. Segundo Paulo

Freire, a qualidade da educação é política, podendo a ato de conhecer ser

domesticado ou libertador. Tendo como princípios à prática da liberdade, para que

os educandos possam se expressar através do diálogo onde há troca constante

de experiência. Um dos pressupostos desse pensamento e de que ninguém se

educa sozinho, pois a educação pode ser uma tarefa isolada.

Pois ao se produzir cartilhas e livros de leituras para adultos, os textos

escolhidos representavam idéias que induziam os alunos a pensarem uma

realidade social que não é a sua, propondo, assim, uma leitura irreal desvinculada

com sua prática de vida.

Podemos concluir que seu referencial metodológico promovia o debate

entre o homem e o mundo em que vive visando sua transformação em algo

melhor.

Podemos entender que a política de Freire nos mostra um caminho que

não é novo mais é sempre atual, para superar a visão estática e autoritária que

encontramos na alfabetização. Podemos assim entender que a EJA como um

processo que tem como objetivo a conquista da liberdade e a tomada de

consciência.

O método no qual Paulo Freire se apoiou e que fez parte da sua vida tinha

como objetivo repensar o homem, a história, a história, o trabalho, a cultura, a

educação e, principalmente a liberdade, É importante ressaltar que o legado de

Paulo Freire foi organizado á partir de uma visão de ser humano e de mundo,

fazendo parte desse contexto homem – mulher – mundo, que acontecem esse

processo de humanização.

Sua primeira experiência de alfabetização aconteceu na cidade de Angicos.

Rio Grande do Norte, tendo assim bom resultado, pois os trabalhadores se

alfabetizaram em 45 dias.

A alfabetização tinha como objetivo o processo de conscientização,

método para que o oprimido pudesse aprender a ler e escrever para se libertar.

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Segundo Paulo Freire, a qualidade da educação é política, podendo a ato de

conhecer ser domesticado ou libertador. Quanto a sua filosofia é de base,

“humanismo”, por falar do que e realmente essencial para o ser humano_ o amor.

Tendo como princípios à prática da liberdade, para que os educandos possam se

expressar através do diálogo onde há troco constante de experiência. Um dos

pressupostos desse pensamento e de que ninguém se educa sozinho, pois a

educação pode ser uma tarefa isolada.

Pois ao se produzir cartilhas e livros de leituras para adultos, os textos

escolhidos representavam idéias que induziam º alunos a pensarem uma

realidade social que não é a sua, propondo, assim, uma leitura irreal desvinculada

com sua prática de vida. Podemos concluir que seu referencial metodológico

promovia o debate entre o homem e o mundo em que vive visando sua

transformação em algo melhor.

Como visto no capitulo I, as experiências de alfabetização ocorridas nos

finais das décadas de 50 e início de 60, eram voltadas para a educação e cultura

popular, tinha, por base ideais transformadoras e articulavam educação e política

de forma explícita. Neste contexto Shiroma, (2004, p. 31), “foi nessas

circunstâncias que Paulo freire desenvolveu seu método de alfabetização de

adultos que concebe a leitura como força no jogo de dominação social”.

Entendemos então que Paulo Freire não tinha como objetivo somente

ensinar a ler e a escrever muito menos contribuir para que o analfabeto fosse

capaz de somente fazer o seu nome para beneficiar as campanhas eleitoras com

o objetivo de ganhar votos. A proposta de Paulo Freire era alfabetizar e educar as

massas para que houvesse uma participação consciente e crítica na realidade

política do país que tinha como base à exploração e opressão.

A ideologia de Freire representa uma tentativa clara de formulação de uma

contra-ideologia, através da ruptura homem-objeto para uma relação homem-

sujeito, que constrói e reconstrói sua história, não individualmente, mas em

conjunto.

Segundo Borges, (2003, p.24). “O legado de Freire foi construído a partir

de uma visão de ser humano e de mundo e é nessa trama, homem-mulher-

mundo, que se dão os processos de humanização, pois ao perceber o ontem, o

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hoje e o amanhã, o ser percebe a conseqüência de sua ação sobre o mundo nas

diferentes épocas históricas”.

Já nos anos de 1950, a educação brasileira ainda vivia os efeitos que trazia

dos anos de 1920 e 1930. Esta crise sofreu impacta, até que, na passagem dos

anos de 1950 para os anos de 1960, os educadores começaram a perceber que

era preciso levar para sala de aula a realidade que estava do lado de fora.

Esta postura partiu de Paulo Freire que defendeu a necessidade da

educação com o homem e não para o homem. Ele propôs a introdução da prática

dialógica para provocar um debate entre o homem e o mundo. Sendo assim

contribuiria para mudança da sociedade através da educação popular.

Já em 1964 foi instituído o Programa Nacional de Alfabetização

oficialmente. Este programa como já vimos podemos concluir que nasceu com

Freire o entendimento de que o homem precisa da educação como instrumento

para transformação.

A educação abordada por Freire não se pautava somente na criação de um

método revolucionário, mais na concepção de um ato de educar tendo como

centro o aluno, valorizando assim o seu cotidiano na práxis educativa,

estimulando a leitura do mundo. Podendo entender que a educação como um ato

político não é neutro. Esta educação sob o ponto de vista do oprimido, contribuiria

para a edificação de uma sociedade, pois a transformação é de suma importância

para romper com velhos conceitos no qual a classe dominante se apóia. Podemos

entender que aula com base na democracia implica na interação com a classe

trabalhadora, cujo acesso não era permitido trazendo assim a desvalorização.

Freire acreditava em uma educação com ênfase na libertação onde o ensino

aprendizagem estava voltado para a construção da identidade das pessoas

simples.

Segundo Faria (2003, p. 24), Freire afirma que “a educação não é neutra,

porque não há possibilidade de existir uma proposta pedagógica que seja a favor

de todos os grupos sociais de uma sociedade”.

Podemos entender que a educação como ato político estará sempre do

lado de alguém e contra alguém, pois para Freire educar e construir são de suma

importância para o ser humano, tirando-o da passividade para que possa

reconhecer-se como participante da história construindo e reconstruindo-a.

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Entendemos que os educadores precisam refletir sobre que tipo de sociedade ou

ser humano quer formar.

Podemos ver através dos estudos dois tipos de concepção de educação

que fizeram para dos estudos de Freire: a educação bancária tradicional e a

educação popular libertadora. A primeira considera os alunos como pessoas

isoladas do mundo e a segunda reconhece que os educandos são sujeitos

construtores de seus conhecimentos, fazendo parte da história de suas vidas.

Tudo isso acontece com base no diálogo e na conscientização reconhecendo o

educando como “um ser inacabado”.

2.2 Característica da Função Supervisora

Primeiramente o supervisor é um profissional de acordo com Rangel (1997)

que sustenta a proposta pedagógica, através da orientação, acompanhamento,

avaliação e trabalho dos professores. O supervisor dentro de uma instituição em

que a gestão é participativa pode orientar a ação do professor numa dimensão

participativa mediante a seleção de conteúdos adequados a seus alunos e a

critérios adotados para um bom desempenho na sala de aula.

Já é possível observar no interior de diversas escolas uma ação

democrática do próprio corpo administrativo sendo assim fica mias favorável a

atividade do supervisor engajado nas propostas do gestor. (Rangel, 1997).

Segundo Rangel (1997) o supervisor só quer colocar em prática o seu

trabalho, e muitas das vezes não consegue, pois o diretor expressa de forma

arrogante e critica todos os atos emitidos pelo supervisor e até mesmo diante dos

docentes.

Acaba pelo pressuposto de competição entre diretor e supervisor, quem vai

perdendo é o próprio supervisor, e não pode se quer colocar em prática seu

projeto, no qual o diretor vai ganhando, e com isso acaba caindo à questão do

autoritarismo (Rangel 1997).

Na opinião de Rangel (1997) a aceitação do trabalho do supervisor nas

escolas só é efetivada se houver receptividade dos professores e observada a

forma como o diretor o trata.

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A supervisão se dá pela expressão de liderança educacional; sempre

visando a melhoria do processo de ensino-aprendizagem, no qual leva em conta

a estrutura teórica e humana da escola. De acordo com Nérice (1975) A

supervisão também deve ser entendida como orientação profissional para visar o

aperfeiçoamento total do ensino do aluno.

Portanto, a supervisão escolar visa o processo educacional, onde a escola

poderá alcançar os seus objetivos. Nérice (1975) afirma que a supervisão

representa na escola, a atuação de todos os funcionários, busca não um melhor

desempenho e inclui o desenvolvimento de todos os professores ali existentes:

“A função supervisora pode ser compreendida

como um processo em que o professor, em

princípio mais experiente e mais informado, orienta

um outro professor ou candidato a professor no seu

desenvolvimento humano me profissional”.

VASCONCELLOS (, 2000, p.81).

Nérci (1995) afirma também que a supervisão tem por objetivo a melhoria do

ensino, da ação positiva e democrática dos processos educacionais, além de

tentar adaptar o professor na escola, isto é, integrá-lo ao sistema, de forma que o

trabalho escolar possa ser bem sucedido. A supervisão e orientação educacio9nal

são muito parecidas, porque ambas se referem ao ambiente escolar e visam

sempre à melhoria do ensino e os educandos em geral.

Pode se concluir que a supervisão é um serviço de acompanhamento de

todas as atividades que tenham ralação com o processo de ensino-aprendizagem,

tendo em vista a melhoria desse processo e assim cumprir as necessidades que o

próprio educando encontra na escola com seus alunos. Com isso a supervisão

escolar deve ser vista como um fator de liderança para melhoria do ensino. Nérici

(1975).

A supervisão escolar pode ser exercida como supervisão autocrática,

democrática ou participativa. A supervisão escolar autocrática, como o nome já

diz está ligada, está ligada á dimensão autoritária. A autoridade do supervisor,

que prevê tudo relacionado ao funcionamento da escola. Nérici (1975).

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Conforma Nérici (1975) à ação do supervisor tem as seguintes

características: a) Controla e emite ordens; b) não utiliza a cooperação dos

professores, mas até sacrifica; c) busca a solução dos problemas sem a ajuda

dos demais componentes da escola; d) não se comove com as dificuldades dos

funcionários e nem as dos professores; e) sempre impõe sugestões que lhe são

adequadas, sem pedir a opinião de ninguém.

A supervisão escolar democrática ou participativa tem por objetivo a

cooperação dos demais indivíduos do estabelecimento de ensino. Na opinião de

Nérici (1975) busca a compreensão, respeito, criatividade e facilita o meio de

trabalho a ser realizado, providencia tarefas que venham a comprometer todos os

funcionários da instituição escolar, para um bom desempenho das atividades

curriculares.

“O papel do supervisor escolar se constitui, em

uma somatória de esforços e de ações

desencadeadas com o sentido de promover a

melhoria do processo ensino-aprendizagem”.

LUCK (, 2002, P.25).

Assim a ação supervisora possui as seguintes características: a) aplica

normas que Pessoas trabalhem mais motivadas para desempenhar o seu

trabalho com clareza e eficiência; b) respeita cada membro da instituição,

procurando sempre incentiva um diálogo mútuo, em que todos se sintam á

vontade para o trabalho espontâneo; c) estimula a criatividade de todos para a

melhoria do ensino-aprendizagem; d) estimula o professor a encontrar, por si, a

solução de seus problemas; e) orienta o grupo, para que todos se sintam

responsáveis para o andamento do processo de ensino-aprendizagem, F):

promove a participação de todos para que seu trabalho possa a cada dia

melhorar.

Para CARDOSO (2003) define o supervisor como orientador pedagógico

no âmbito da unidade escolar, que presta assessoria e se responsabiliza pelo

aprimoramento do desempenho didático-pedagógico dos professores. Dos

supervisores se exigem conhecimentos teóricos sobe currículos, planejamentos,

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de ensino, técnicas e estratégias de ensino-aprendizagem, recursos audiovisuais,

medidas de avaliação de aprendizagem.

Pensar na prática da supervisão é, sobretudo, examina - lá nas grandes

funções em que se desdobra. Devido a isto o supervisor tara que viabilizar á

orientação dos professores nos reajustamentos adequados, no momento previsto,

considerando o prolongamento de estado de coisas insatisfatórias que acontecem

no cotidiano da escola.

“A supervisão tem que ser uma atividade

cooperativa, pois é dividindo tarefas por todos

somando esforços de cada um que se diminui o

dispêndio de energias e se multiplica o resultado

final. Está é, a formula que viabiliza a prática

efetivada supervisão em educação”.

BOAS (2003, p. 70).

Assim, para alguns especialistas, MAGALHÃES (2001), a supervisão se

identifica com uma pesquisa, através da razão e da inteligência prática. É o

desenvolvimento da chamada “fase criativa”, em que a supervisão se separa da

inspeção, com objetivo de aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem,

em um trabalho cooperativo e democrático. O supervisor moderno deve buscar p

desenvolvimento contínuo de cada pessoa que ele trabalha, seja, professor,

aluno, servente ou membro da comunidade sob sua responsabilidade.

Concluindo, o supervisor não pode ser apenas o líder. O supervisor tem

que exercer a sua profissão com a capacidade de estar sempre se aperfeiçoando

e promovendo cursos de capacitação para seus docentes, e estar realizando o

seu trabalho com confiança, cooperação e criatividade. O bom supervisor é

aquele que põe em prática todo o seu aprendizado na comunidade escolar.

Para concluir entendemos que o papel do supervisor é de fundamental

importância, dada que a sua ação se repercute no desenvolvimento do

professor/formando e dos seus alunos. A função do supervisor é de grande valor,

uma vez que todos os intervenientes (supervisor/formando e alunos) se

encontram no processo de desenvolvimento.

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CAPÍTULO III

A NECESSIDADE DE UMA FORMAÇÃO ESPECÍFICA PARA

EDUCADORES DA EJA

Em publicação do INEP (2002) sobre a produção acadêmica referente à

EJA no Brasil de1986 a 1998, afirma-se que:

Há uma quase unanimidade na constatação da necessidade de uma

preparação especifica dos professores que atuam em EJA, balizada em exemplos

de experiências pesquisadas ou na comprovação das precariedades dos

trabalhos dos professores onde esta formação não ocorre. (p.27).

Neste terceiro capítulo, refletiremos sobre a importância pedagógica e

política que o professor que atua com EJA tenha uma formação própria para que

possa exercer sua atividade docente com a necessária qualidade que os alunos

da EJA merecem e têm direito.

O ato educativo, como afirma Paulo Freire, é sempre um ato político.

Como vimos nos capítulo anterior, Freire não buscava que os alunos falassem de

política, mas compreendessem a importância de intervirem nela, sendo esta uma

condição básica para ser cidadão, logo, sujeito de sua própria vida. No entanto,

para que isso ocorra é necessário à formação do educador comprometido,

qualificado e sujeito de sua ação. O educador politicamente comprometido deve,

então, contribuir para que os alunos construam uma consciência crítica que lhes

possibilitará serem sujeitos ele sua própria história.

Nesta perspectiva, a educação deve ser um instrumento importante na luta

contra a erradicação da violência, das discriminações, das desigualdades e, sem

dúvida, um fator indispensável para tornar as sociedades mais justas e solidárias.

No entanto, devemos compreender que a educação, por si, não possui, sozinha, o

poder para solucionar os problemas acima, diante do modelo sócio-econômico

excludente em que vi vemos. Rummert (200I) a firma: "Não devemos, entretanto,

ignorar que a educação concorre de forma significativa para atuação cidadã e

transformadora dessa mesma realidade”.

É possível visualizar que as questões discutidas atualmente sobre a

profissionalização do professor e o próprio projeto Político-Pedagógico são de

grande importância para as transformações da educação e da sociedade.

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Conforme é possível se observar na LDB 9394/96, em seu artigo 61,

a legislação assumiu a necessidade de uma formação específica dos docentes.

A formação de profissionais da educação deve atender aos objetivos dos

diferentes níveis e modalidades de ensino e as características de cada fase de

desenvolvimento do educando.

Conforme o artigo citado, entendemos que o docente da EJA, além da

formação geral de professor, deve possuir um "diferencial" para atuar nesta

modalidade de ensino, ou seja, deve estar preparado para interagir de forma

qualificada com essa clientela que, conforme já foi explicitado em outros

momentos do trabalho, constituí-se de pessoas que possuem um histórico escolar

prejudicado e são marcadas pela exclusão de diferentes políticas públicas, dentre

elas, a educação.

Vimos, no capítulo I, que a preocupação com a questão da formação do

docente da EJA não é algo recente e pode ser remontado desde as primeiras

Campanhas dos anos 40.

No I Congresso Nacional de Educação de

Adultos, realizado no Rio de Janeiro, ainda em

1947, Já se ressaltavam as especificidades das

ações educativas em diferentes níveis e se

recomendava uma preparação adequada para se

trabalhar com adultos.

SOARES (, 2003, p. 129).

As críticas quanto á formação de educadores de EJA tornam-se mais

acentuadas em 1958no II Congresso de Educação de Jovens e Adultos, quando

se a abordar a ausência da especificidade do educador e as inadequações

metodologias e conteúdo aplicados.

Entendemos que uma proposta adequada possibilita ao aluno uma

aprendizagem significativa. O educador, ao concretizá-la, deve respeitar o ritmo e

a individualidade de cada educando contando com atividades desafiadoras,

estimulantes e bem esclarecidas, ou seja, o que cabe ao professor é praticar uma

pedagogia libertadora, com um método crítico de educação de adultos que dê ao

aluno a oportunidade de alcançar a consciência crítica de si e de seu mundo.

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Neste trabalho, destacamos algumas das dificuldades e problemas mais

comuns dos professores de EJA, dentre elas: o despreparo, a infantilização e o

voluntariado.

Como aponta a bibliografia, muitos educadores, mesmo formados, não

estão aptos a atuar nesta modalidade de ensino, pois este profissional deve ir ao

encontro das necessidades e realidades da sua clientela. O professor apesar da

sua experiência, muitas vezes depara-se com necessidades de seus alunos, bem

diferentes das que já foram vivenciadas por ele, anteriormente, educando as

crianças.

E por ser tão complexa essa atividade, o docente que atua na EJA deve

estar consciente de seu papel, pois antigamente, o que vimos nesta modalidade

de ensino eram pessoas leigas que tinham função apenas de decifrar códigos

escritos para os alunos.

“A Educação de Jovens foi vista no decorrer de

sua história como uma modalidade de ensino que

não requer de seus professores estudos e nem

especialização, como no campo eminentemente

ligado á boa vontade. Em razão disso, são raros

os educadores capacitados na área. Na verdade,

parece que continua arraigada a idéia de que

qualquer pessoa que saiba ler e escrever pode

ensinar jovens e adultos, pois ainda existem

educadores leigos que trabalham nessa

modalidade de ensino, assim como a idéia de que

qualquer professor é automaticamente um

professor de jovens e adultos. Com esta falsa

premissa, não se tem levado em conta que para

se desenvolver um ensino adequado a esta

clientela exige-se a formação inicial específica e

geral consistente como uma formação

continuada”.

GUIDELLI (, 1996, p. 126).

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Devido a este despreparo, o professor desta modalidade acabava muitas

vezes. Por encarar os alunos jovens e adultos de maneira infantilizadora,

acarretando seriíssimas distorções para seus educandos, levando as frustrações

e fracassos escolares. A EJA necessita estar unida de uma proposta pedagógica

própria para adultos e não adaptar as dirigidas para as crianças, pois como

sabemos, adultos e crianças são de mundos e pensamentos completamente

diferentes. Esta ação infantilizadora registrada por Beisiegel (1974), p.118 - "(...)

os mesmos professores encarregados do ensino primário infantil no período

diurno retomavam a escola à noite para lecionar em classes de educação de

adultos" - continua atua se observamos a maioria das escolas municipais e

estaduais noturnas.

“Muitas das vezes os professores demonstram,

nas práticas cotidianas que a melhor forma de

favorecer a aprendizagem é repetir com esses

jovens e adultos os que fazem com as

crianças,seja tratando-as de modo infantilizado,

seja valendo-se dos mesmos recursos e materiais

didáticos ultulizados com outras faixas etárias. A

escola torna-se assim, apenas um espaço de

repetição, de adestramento, onde as riquezas de

saberes e a criatividade todos são sufocadas”.

RUMMERT (, 2003, p. 12).

Analisando esta errônea atuação, percebemos que a infantilizarão do aluno

trabalhador é dos principais problemas da área, com sérias conseqüências na

qualidade dos métodos, nos conteúdos curriculares e nos processos para a

prática educativa da Educação ele Jovens e Adultos. Partindo desta idéia, Klein

(1999, p.6) comenta que o professor infantiliza seus alunos “expressando-se

sempre no diminutivo, submetendo-o (aluno EJA) a atividades infantis, propondo

temas que são mais aceitos no universos das crianças” .

Desta forma, defendemos que em sala, devem ser realizadas aulas

contextualizadas, provenientes da realidade, utilizando valores, linguagens,

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comportamentos e formas de trabalho desses alunos. Tal prática traria avanços

sobre a questão dos conteúdos sem significados, descontextualizados, sem

preocupação com a formação da consciência crítica. Com isso, muitos alunos

fugiriam do crescente quadro de evasão escolar.

É preciso insistir: este saber necessário ao professor-que ensinar não é

transmiferir conhecimento – não apenas precisa ser aprendida por ele e pelos

educandos nas suas razões de ser antológica, política, ética, epistemológica,

pedagógica, mas precisa ser constantemente testemunhado, vivido. (FREIRE,

P.57).

Por muitas vezes a evasão escolar ocorre devido ás inadequadas propostas

desenvolvidas pelo professor em sala de aula. Entretanto, não devemos culpá-lo

como responsável maior, já que como sabemos, o governo e a própria sociedade

brasileira consideram a EJA não como direto e sim como “favor”.

Outro fator considerado negativo na formação de professores da EJA é a

insistente visão assistencialista ou voluntariado. Como já dissemos, muitos, ao

ouvirem falar sobre Educação de Jovens e Adultos, associam-na

automaticamente uma modalidade necessitada, “coitada” e movida pela

“caridade”.

Alguns autores como FÁVERO, RUMMERT e DE VARGAS, enfatizam bem

essa visão:

Outra representação corrente em nossa sociedade prende-se á que

conceba a Educação de Jovens e Adultos como uma ação de caráter voluntário

marcada por um cunho de doação, favor, missão e movida pela solidariedade tal

como concebida na perspectiva liberal de ajuda aos mais pobres, de caridade

para com os desfavorecidos.

Tais representações, além de desprofissionalisar o educador de jovens e

adultos e a própria ação educativa com eles desenvolvidos, distância a Educação

de Jovens Adultos de um estatuto próprio, que subsidie a formação de propostas

teórico-metodológicas compatíveis com as vivências, e os saberes daqueles aos

quais se destina. Perde-se, assim, a possibilidade de nortear a Educação de

Jovens e Adultos conforme o fundamento da educação unitária que visa superara

distinção qualitativa entre a formação daqueles que concebem e dirigem daqueles

que executam e são subordinados. Alguns autores como FÁVERO, RUMMERT e

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DE VARGAS, enfatizam bem essa visão: (FÁVERO, RUMMERT e DE VARGAS, (

1999. P.7)

Diante de tanto desapontamentos, os educadores devem desenvolver

atitudes que contribuam para superar os enfoques assistencialistas, abordando

com os seus alunos a noção de educação como direito de todos e incentivando-

os a assumirem a responsabilidade pelo próprio desenvolvimento social. Contudo,

ainda nos deparamos com o conservadorismo de alguns professores que

demonstram em sua prática a existência de uma visão extremamente

preconceituosa com os alunos de EJA, pois muitos acreditam que estes são

responsáveis pelo seu atraso e fracasso escolar e que somente freqüentam a

escola em busca de um diploma de conclusão.

Percebemos assim que são muitos fatores que contribuem, para esta

desqualificação. Um deles é o excesso de teorias, com o distanciamento da

prática, pois ao trabalhar somente desta forma estaremos impossibilitando o

indivíduo de conhecer o saber-fazer. Isso acaba por ocasionar insegurança e

gerar dúvidas nos futuros educadores recém-formados ao responsabilizarem-se

pela primeira vez por uma classe de alunos, seja a modalidade qual for.

Deixamos claro que a teoria é de suma importância na formação do indivíduo,mas

deve estar em sua maioria acompanhada da prática . Portanto, a teoria não deve,

jamais ser tomada como “prato feito”.

Segundo Martinelli (1978) “é no saber que se relaciona com o vivido, uma

prática social que se pensa no conjunto de seus determinantes, a partir de um

profundo conhecimento da realidade, que se concebe a verdadeira teoria/prática”.

A teoria não se deve ser prescrita sobre a prática do educando, mas o exercício

de refleti-las, a partir da própria prática, deve servir como convite a um saudável

exercício de discussão, possibilitando a construção de saberes mais elaborado e

críticos.

Como vimos, problemas são decorrentes do despreparo dos professores

em lidar com esses alunos de características próprias, as quais comentarão a

partir deste momento. Tal reflexão servirá de base para a elaboração dos

processos pedagógicos específicos. A EJA refere-se não apenas em uma

questão etária, mas sobre tudo a especificidade cultural. Os jovens e adultos aos

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quais se dirigem as ações educativas deste campo educacional não são

quaisquer jovens e adultos, mas determinada parcela da população.

O adulto para a EJA, não é o estudante universitário, o profissional

qualificado que freqüenta cursos de formação continuada ou de especialização,

ou de pessoa adulta interessada em aperfeiçoar seus conhecimentos em áreas

com: artes, línguas estrangeiras ou música, por exemplo... É o jovem

relativamente incorporado ao território da antiga educação de adultos, não é

aquele com uma história de escolaridade regular, o vestibulando ou o aluno de

curso extracurricular em busca de enriquecimento pessoal. Não é também o

adolescente no sentido naturalizado de pertinência de uma etapa bio-psicológica

da vida. MACHADO (2004), 1999.p.1).

Lembremos que o perfil dos alunos da EJA é constituído por homens e

mulheres, trabalhadores subempregados ou desempregados; por indivíduos não

escolarizados, por idosos e outros, São sujeitos sociais e culturais,

marginalizados nas esferas socioeconômicas e educacionais, privados do acesso

à cultura letrada, aos bens culturais e sociais, comprometendo-os de uma

participação mais ativa no mundo do trabalho, da política e da cultura.

Estes alunos trazem consigo a marca da exclusão social, mas são sujeitos

do sistema de ensino e apresentam em geral um tempo maior de escolaridade

devido às repetências acumuladas interrupções na vida escolar. Muitos nunca

foram à escola ou dela tiveram que se afastar quando crianças, em função da

entrada precoce no mercado de trabalho, ou mesmo por falta de escolas. Jovens

e adultos que quando retomam à escola o fazem guiados pelo desejo de melhorar

de vida ou por exigências ligadas ao mundo do trabalho.

É fundamental percebermos quem é esse sujeito com o qual lidamos, para

que os conteúdos a serem trabalhados façam sentidos, tenham significado, sejam

elementos concretos na sua formação. Instrumentalizando-o para uma

intervenção significativa na sua realidade.

Diante de tais perfis, o professor destinado à EJA deve estar preparado

para atender a grupos distintos. Sua atuação eleve envolver autonomia de

escolhas teórico-rnetodológicas criativa, considerando as singularidades e os

contextos diferenciados que marcam a sua pratica pedagógica nesta modalidade

de ensino. O professor desta modalidade precisa não só conhecer os conteúdos

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que perpassam a realidade, mas também compreender as estratégias utilizadas

em sua construção onde as alternativas sejam eficazes para a transmissão de

conhecimentos trazidos além dos muros escolares.

A UERJ, buscando um novo desenho para o seu curso, contempla a

formação pedagógica com habilitação em educação para jovens e adultos. Essa

perspectiva derivou-se do forte compromisso de profissionais com a área, que

também de reconhecerem que seria incoerente continuar pensando somente na

alfabetização de crianças e na universalização do ensino sem pensar sobre a

ausência do atendimento à classe popular. A UERJ inseriu em seus currículos

outras disciplinas fundamentais: algumas eletivas, como Educação e Trabalho,

Educação de Jovens e Adultos e Alfabetização (II) e uma eletiva educação

comunitária.

As alternativas curriculares fundamentadas por estas importantes

instituições buscam, como foco o perfil de pedagogos capazes de descobrir o

espaço abertos pelas contradições do sistema, na busca de uma educação

libertadora tão defendida pelo educador Freire, como já tivemos o prazer de

abordar neste trabalho.

O professor da EJA, ao conhecer e compreender a sua verdadeira função

e ao adquirir uma formação adequada, terá a consciência de que o saber não se

finaliza, pelo contrário o aperfeiçoamento e a atualização são indispensáveis na

vida dos educadores. Principalmente aos dirigidos a alunos experientes e de

opiniões próprias. A formação continuada deveria ser “(...) uma proposta a longo

de toda carreira docente, desde a formação inicial até desenvolvimento

profissional, sendo uma aprendizagem continua, cumulativa, em que se troca uma

variedade de formatos de aprendizagens de aprendizagens"(MERCADO, 1999,

p.108).

Observamos que nos processos de formação de educadores de EJA a

troca ele experiências entre os profissionais é importante para o caminho de

busca de conhecimentos e autonomia profissional. “O docente de jovens e

adultos, em sua especialização, saberá valorizar os conhecimentos dos alunos de

maneira horizontal, buscando ouvir suas experiências, dúvidas e suposições”.

Ressaltamos, assim que quando os alunos percebem que o educador não

considera a sua experiência histórica, política, cultural e social como pontes para

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os novos saberes, acabam por o desinteresse total e futuro abandono da escola.

Por isso, os professores devem indicar, com linguagem clara e objetiva, que

realmente querem trabalhar com os seus alunos, proporcionando, assim um

ambiente seguro onde possam avançar aprender e desenvolver suas

competências com situações didáticas planejadas, com objetivos definidos e

tarefas desafiadoras para esse tipo de alunado. Por isso, a riqueza de saberes

dos alunos, criados ao longo de suas vidas experiências de vida precisam ser

considerados tanto quanto os saberes escolares para que, juntos possam servir

de conteúdo da EJA.

Conforme afirma Rummert (2002, p.128), a educação deve "propiciar aos

jovens e adultos trabalhadores oportunidades efetivas de desenvolvimento

integral, sem marcas discriminadoras de classe".

Consideramos, com base no estudo desenvolvido, que a formação do

professor de EJA deva ter como pontos importantes a visão crítica do mundo, a

valorização do dialogo. a possibilidade de transformar as experiências de seus

alunos em práticas da sala de aula, fornecendo

mecanismos de aprendizagem com base na dimensão sócio-polítíca e assumindo

assim o seu papel de mediador que, mostra-se interessado pelas histórias de

vida ele seus alunos c apresenta-lhes, também, a sua vivência, evitando

comparações, mas mostrando-Ihes que existem casos experiências. Dessa

forma, estará proporcionado espaço para o diálogo a interação e a troca, fazendo

com que o aluno não se sintam inferior ao professor. A EJA busca professores-

mediadores, que atuam com o escutar. O educador (1997, p.127) nos diz que a

capacidade de saber escutar é indissociável.

Ao refletirmos sobre os pontos importantes abordados neste capítulo,

compreendemos que o professor de jovens e adultos necessita, em sua

formação, de uma maior especificidade devido ao despreparo de sua formação

inicial que lhe deixou profundas deficiências. Para supri-las é necessária que o

supervisor reflita sobre a formação de professores para a EJA dando ênfase a

formação continuada.

A proposta para a ação supervisora relacionada a educação de jovens e

adultos deve ser de forma integrada para que possa atuar de maneira decisiva no

processo educativo através da organização de atividades que serão

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desenvolvidas na escola, essa interação deve ter como objetivo o bom

relacionamento entre coordenador, supervisor, professor e aluno, escola e

comunidade. Essa interação precisa ter como meta à visão da escola como um

sistema de trocas, aberto para a comunidade para que possa conhecer esse

público alvo que são os alunos da EJA.

Segundo (Luck, 1990) “á supervisão escolar compete dinamizar e assistir na

operacionalização do processo aducativo”.

A função supervisora está relacionada à escola, tendo como ponto de

partida a interação para que possa suprir as necessidades tanto do educando

quanto do educador para que possa formar a identidade da mesma e

compreender o processo de desenvolvimento educando/educador fazendo assim

o envolvimento da família na formação da identidade da escola. Nesse

relacionamento o supervisor deve ser um orientador observando contexto social e

político em que essa sociedade vive, resgatando assim a identidade da escola, o

ensino/aprendizagem EJA de qualidade e haja interação entre supervisor e a

instituição.

Pois a escola necessita ter a visão do todo promovendo assim, a melhoria

da comunidade através da educação de seus filhos. Adaptar os seus objetivos,

programa, métodos e técnicas às necessidades da comunidade, respeitando a

cultura social do grupo.

Cabe ao e supervisor entender o educando e o processo de aprendizagem

de forma continua podendo assim minimizar os conflitos e transforma-lo em um

cidadão reflexivo e crítico. O supervisor constitui-se basicamente um mediador

que ira orientar tanto o educando como e educador em todos os aspectos, isto é

na aquisição e desenvolvimento de conhecimento habilidade, hábitos, atitudes,

valores e ideais.

A função do supervisor reduz os melhores resultados no sentido do

atendimento às necessidades da escola, pois o supervisor atua junto ao

coordenador e toda equipe escolar, promove auto-conhecimento (consciência de

seus valores), coordena o processo do levantamento de dados sobre o educando

também exerce a sua função política ao elaborar em conjunto o projeto político-

pedagógico que é a identidade da escola.

Cabe também ao supervisor compreender que:

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O homem nasce com suas capacidades desenvolvidas. E ao longo da vida,

pelas relações que estabelece com os outros homens, no processo de

socialização, que ele se desenvolve. Uma das razões pelas quais ocorrem é que

o homem nasce se mantem, enquanto vive, a capacidade de aprender e de

ensinar, transmitindo, mas também produzindo e modificando, o meio em que

vive.

Neste sentido educação continuada é de suma importância, pois aquela

que se realiza ao longo da vida, continuamente e esta relacionada ao

desenvolvimento do ser humano construindo assim as experiências de vida,

envolve também a aquisição de conhecimentos e aptidões e, de outro, atitudes e

valores implicando no aumento da capacidade de discernir e agir.

A educação envolve todo um universo de experiência humana, tanto dos

sistemas escolares quando aos programas de educação não formal, esta ligada à

capacidade e, parte do processo de socialização e humanização em que o

homem se propicia do desenvolvimento de suas capacidades acontecendo assim

de varias formas ao longo da vida. Mesmo ocorrendo em todas as sociedades

não apresenta nelas uma única forma. Educação continuada implica repetição e

imitação, mas também apropriação, ressignificação e criação.

A recente transformação do mundo do trabalho e no conjunto da

sociedade neste milênio contribuiu para um novo conceito de educação

continuada. A visão de educação continuada toma novos rumos, devido suas

necessidades e condições de trabalho diferenciadas exigindo assim diferentes

qualificações. Isto é imposta pela própria sociedade por isso a educação esta

interligada com a questão da transformação da sociedade através da globalização

e da competitividade, cujo modelo é retratado pela economia.

As novas formas de organização e produção, da política e do cotidiano das

pessoas, a educação tradicionalmente promovida por esses espaços não mais

respondem as demandas da sociedade. Não há resposta quanto à demanda,

pois, há uma exigência cada vez maior de qualificação para o trabalho imposto

pela sociedade através da globalização exigindo cada vez mais uma educação

com objetivo de se ter voltado para competitividade.

Neste sentido: MACHADO (, 2004, p. 91) afirma que:

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Portanto as novas tecnologias têm gerado em nosso país uma defasagem

no sistema educacional e uma crise nas relações capital / trabalho / educação,

pois é exigindo qualificação profissional que a massa trabalhadora não possui,

devido à baixa escolaridade e qualidade. Diante desse quadro educacional

competitivo podemos afirmar que o conhecimento liberta o homem do

desconhecido, colocando-o como o “dono da situação”, pois a partir do domínio

do conhecimento o sujeito poderá progredir e lutar por sua autonomia e

independência.

Atualmente o conceito de educação escolar não é mais formar o

educando para ser, mas sim para ter, e a escola tem se moldado a esse sistema

capitalista que exige cada vez mais uma qualificação que está associada ao

mercado de trabalho e em contrapartida não atende as necessidades do aluno,

continuando assim uma grande defasagem em relação a desemprego.

Ao passo que a educação continuada abrange varias áreas do ser humano

e não somente o que a sociedade dita como normas. Há aprendizagem fora da

escola, assumida pelas empresas. Portanto cada vez mais se espera que escola

garanta a aquisição de habilidades e atitudes que torne o trabalhador apto para

aprender sempre de forma autônoma. O papel da escola interdependência e

interseção entre a educação formal e não formal, não só se refere à qualificação

profissional, mas a vivência que sofre impactos da modernização, como o lazer,

a cultura, o convívio familiar e comunitário.

Em paises como Suécia ou o Japão, pelo menos 5% da população está

engajada em programas, pelo menos de formação segundo o que indicam

pesquisas recentes são países cuja educação básica obrigatória não enfrentam

problemas de déficits. Os recursos são dedicados a favorecer oportunidades de

educação para adultos, cuja obrigação e a qualificação profissional e também a

formação para a cidadania.

Antes educação permanente remetia, desenvolvimento profissional,

atualmente educação continuada vem sendo concebida com objetivo, formação

para a vida e o desenvolvimento humano em sentido amplo. A reprodução das

desigualdades por meio da distribuição de oportunidades educativas já começa

nas primeiras séries do ensino básico, podendo também no que se refere à

educação continuada.

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A educação diferenciada que é aplicada de acordo com a classe social que

tem como plano de fundo a má distribuição da renda, alguns são classificados e

preparados de acordo com a classe dominante e outros são preparados para

serem dominadores o que tem feito reproduzir através da desqualificação

separando alguns que iram avançar e outros não através da desqualificação. Pois

uma educação básica de qualidade que garanta a aquisição da leitura e da escrita

e outras habilidades, interesses, atitudes e valores que permitiram a pessoa

seguir aprendendo em diversos contextos.

Cabe a política pública suprir as necessidades básicas de aprendizagem

dos diferentes grupos, estabelecendo meios que venham contribuir com a:

sobrevivência e desenvolvimento das próprias capacidades, vida, trabalho dignos,

participação democrática, melhoria da qualidade de vida tomada de decisões e

aprendizagem permanente.

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CONCLUSÃO

Vimos, nesta monografia, que a educação de jovens e adultos, nasceu no

Brasil, juntamente com a educação elementar comum. Os Jesuítas, através do

ensino das crianças, buscavam também atingir os seus pais. Além disso, era

tentada a catequese direta dos indígenas adultos, neste caso a alfabetização e

transmissão do idioma português que serviam como instrumento de catequização

e aculturação dos nativos.

Porém, durante toda República e até mesmo no Império, foram muito

freqüentes as referências ao ensino noturno de adultos, mas pouco significativo

sob o ponto de vista do número de educandos envolvidos.

Embora a educação de jovens e adultas nunca tenha sido priorizada pelos

governos brasileiros, notamos, no decorrer de sua história, que muitos projetos

foram desenvolvidos com as mais diversas ações para esta modalidade de

ensino. Vimos projetos de alfabetizar para votar, para atender aos aspectos do

desenvolvimento, para transformar analfabetos absolutos em analfabetos

funcionais e projetos que percebiam no analfabeto uma pessoa digna e sujeita de

direitos, Haddad (2000).

Podemos entender que no começo de 1960, a participação popular

avançava. Crescendo assim a luta pela ampliação da escola pública gratuita;

surgiram e foram difundidas as campanhas de educação popular, principalmente

a educação juvenil e para adultos, com a finalidade de erradicar o analfabetismo,

tendo se destacado nesta ocasião o pensamento e o método de Paulo Freire.

Nesta mesma época no ano de 1962 nasce em Angicos, no Rio Grande do Norte,

a experiência educativa voltada para a educação de jovens e adultos da classe

popular.

Com o sucesso do método, houve uma divulgação que conquistou o

mundo inteiro. O mundo começou a incentivar a descoberta e aplicação de

metodologias eficazes para a alfabetização, como pretensão política de colocar a

educação como atalho para o desenvolvimento nacional.

Os brasileiros começavam a estabelecer diálogo com o mundo respeitando

a sua cultura popular e iniciando a conscientização em busca de uma reforma

agrária. Angícos foi o marco inicial da caminhada rumo a educação de jovens e

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adultos. Foi à primeira iniciativa para libertação das classes oprimidas e de

formação de consciência política e de intenção transformadora.

O papel da EJA passa pela concepção de cidadania, no seu sentido mais

amplo, assumindo a cidadania como um processo histórico de vida em sociedade.

O ponto de partida seria a vida cotidiana onde o aluno conhece e reconhece a sua

cultura como importante para o processo de transformação social, levando a uma

conscientização e a luta de classe.

Sendo assim, a conscientização leva à democracia e só haverá democracia

quando o povo for capaz de se organizar e expressar seus anseios nas

conquistas sociais, políticas e econômicas, isto é, a população consciente exige

seus direitos e compreende que tem deveres a cumprir.

Este trabalho buscou ressaltar a necessidade da formação específica para

o educador de jovens e adultos, da profissionalização deste educador (decorrente

em choque) com um histórico de voluntariado, que como sabemos, é incentivado

até hoje por campanhas de órgãos oficiais descomprometidos em garantir o

direito á uma educação básica de qualidade.

“Sobre este assunto: (...), a Educação de Jovens

e Adultos é, reconhecidamente, uma das áreas

de maior carência de atendimento no sistema

educacional brasileiro. Dentro dela, é ainda mais

flagrante a necessidade de formação de

profissionais capacitados para trabalhar com

uma clientela ao mesmo tempo específica e

diversa”.

FÁVERO (, 1999, P.40).

As abordagens aqui encontradas possibilitaram-me refletir que o educador

independente de sua modalidade de ensino deve ser um parceiro transformador,

um agente mediador em sua função. O educador Freire foi absolutamente

essencial e preciso no contexto desta monografia, pois ninguém melhor do que

ele para representar uma pedagogia libertadora, transformadora e

conscientizadora, contraposta á visão alienada e bancária, á qual buscamos

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eliminar nas práticas dos professores em geral e, principalmente, nos da

Educação de Jovens e Adultos.

Percebi que para trabalhar com a EJA é preciso sensibilidade,

profissionalismo e respeito ao aluno. Quantas décadas se passaram, e a

realidad3e de professores despreparados para atuar na EJA pouco se modificou.

Como percebemos, o quadro de professores EJA, em sua maioria é composto por

pessoas leigas, sem orientação pedagógica, que não tiveram a oportunidade de

reflexão sobre os aspectos dos trabalhos que iriam desenvolver.

Consideramos que a sociedade brasileira não pode continuar convivendo

com essa legião de pessoas adultas (trabalhadoras mães e pais de famílias e

jovens excluídos) sem escolaridade básica de qualidade, á margem do progresso

científico e tecnológico do mundo.

É preciso um dimensionamento dessa modalidade de ensino, de modo a

propiciar aos alunos, ainda que tardiamente, a educação que considere seus

diferentes pontos de partida e que possibilite, no final do processo, a igualdade de

oportunidades para todos, já que não podemos negar a esses adultos a

reparação do direito á educação.

Neste estudo, buscamos responder ás questões indagada no início deste

trabalho: Por que é preciso que o educador de jovens e adultos tenha uma

formação específica? Com as reflexões aqui registradas percebemos que embora

as dificuldades sejam muitas no que diz respeito á formação docente, considera

que seja preciso que o professor voltado para esta modalidade usufrua de um

conhecimento adequado ao mundo desses jovens e adultos, tornado-se apto a

lidar com as riquezas de suas aprendizagens e de suas experiências. Vimos,

nesta monografia, que a educação de jovens e adultos, nasceu no Brasil,

juntamente com a educação elementar comum. Os Jesuítas, através do ensino

das crianças, buscavam também atingir os seus pais. Além disso, era tentada a

catequese direta dos indígenas adultos, neste caso a alfabetização e transmissão

do idioma português serviam como instrumento de catequização e aculturação

dos nativos.

Porém, durante toda República e até mesmo no Império, foram muito

freqüentes as referências ao ensino noturno de adultos, mas pouco significativo

sob o ponto de vista do número de educandos envolvidos.

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Embora a educação de jovens e adultas nunca tenha sido priorizada pelos

governos brasileiros, notamos, no decorrer de sua história, que muitos projetos

foram desenvolvidos com as mais diversas ações para esta modalidade de

ensino. Vimos projetos de alfabetizar para votar, para atender aos aspectos do

desenvolvimento, para transformar analfabetos absolutos em analfabetos

funcionais e projetos que percebiam no analfabeto uma pessoa digna e sujeita de

direitos, Haddad (2000).

Podemos entender que no começo de 1960, a participação popular

avançava. Crescendo assim a luta pela ampliação da escola pública gratuita;

surgiram e foram difundidas as campanhas de educação popular, principalmente

a educação juvenil e para adultos, com a finalidade de erradicar o analfabetismo,

tendo se destacado nesta ocasião o pensamento e o método de Paulo Freire.

Nesta mesma época no ano de 1962 nasce em Angicos, no Rio Grande do Norte,

a experiência educativa voltada para a educação de jovens e adultos da classe

popular.

Com o sucesso do método, houve uma divulgação que conquistou o

mundo inteiro. O mundo começou a incentivar a descoberta e aplicação de

metodologias eficazes para a alfabetização, como pretensão política de colocar a

educação como atalho para o desenvolvimento nacional.

Os brasileiros começavam a estabelecer diálogo com o mundo respeitando

a sua cultura popular e iniciando a conscientização em busca de uma reforma

agrária. Angicos foi o marco inicial da caminhada rumo a educação de jovens e

adultos. Foi a primeira iniciativa para libertação das classes oprimidas e de

formação de consciência política e de intenção transformadora.

O papel da EJA passa pela concepção de cidadania, no seu sentido mais

amplo, assumindo a cidadania como um processo histórico de vida em sociedade.

O ponto de partida seria a vida cotidiana onde o aluno conhece e reconhece a sua

cultura como importante para o processo de transformação social, levando a uma

conscientização e a luta de classe.

Sendo assim, a conscientização leva à democracia e só haverá democracia

quando o povo for capaz de se organizar e expressar seus anseios nas

conquistas sociais, políticas e econômicas, isto é, a população consciente exige

seus direitos e compreende que tem deveres a cumprir.

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Cabe à escola formar o homem contemporâneo que, deste modo, seja

capaz de entender as relações que afetam a sua vida, possibilitando-os as

condições básicas necessárias a compreensão da realidade no desvelamento de

sua condição pessoal e social e sua interferência no processo transformador.

Para isso, a escola de jovens e adultos deve ultrapassar as barreiras de ensinar a

ler e escrever. É importante criar um ambiente fértil, menos burocrático,

provocando neles a consciência crítica e a percepção mais clara do mundo na

qual estão inseridos, levando-os a compreender a interferência que a sociedade

exerce sobre sua vida e vise e versa.

Para finalizar, cabe destacar, para nós, que a grande contribuição do

pensamento de Paulo Freire foi e está sendo em valorizar o homem,

reconhecendo-o como um ser inacabado, e que ensinar não é transmitir

conhecimento, mas dar possibilidade para que o homem possa construir e

reconstruir sua história.

Podemos concluir que as questões levantadas no início foram respondidas

de acordo com os principais marcos históricos da EJA, a visão de educação tanto

bancária quanto libertadora para Paulo Freire e seu legado.

Cabe à escola formar o homem contemporâneo que, deste modo, seja

capaz de entender as relações que afetam a sua vida, possibilitando-os as

condições básicas necessárias a compreensão da realidade no desvelamento de

sua condição pessoal e social e sua interferência no processo transformador.

Para isso, a escola de jovens e adultos deve ultrapassar as barreiras de ensinar a

ler e escrever. É importante criar um ambiente fértil, menos burocrático,

provocando neles a consciência crítica e a percepção mais clara do mundo na

qual estão inseridos, levando-os a compreender a interferência que a sociedade

exerce sobre sua vida e vise e versa.

Para finalizar, cabe destacar, para nós, que a grande contribuição do

pensamento de Paulo Freire foi e está sendo em valorizar o homem,

reconhecendo-o como um ser inacabado, e que ensinar não é transmitir

conhecimento, mas dar possibilidade para que o homem possa construir e

reconstruir sua história.

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Podemos concluir que as questões levantadas no início foram respondidas

de acordo com os principais marcos históricos da EJA, a visão de educação tanto

bancária quanto libertadora para Paulo Freire e seu legado.

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INDICE

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I - PERCORRENDO UM HISTÓRICO DA EJA NO BRASIL 16

1.1 O Nascimento da Educação de Jovens e Adultos 16

1.2 Participação dos Jesuítas 17

1.3 As Escolas de Primeiras Letras 17

1.4 A Expulsão dos Jesuítas para o Ensino Brasileiro 18

1.5 Império Proclamação da República 19

1.6 Primeira República 19

1.7 Período Vargas 20

1.8 Golpe Militar 26

1.9 Sociedade Brasileira 33

CAPÍTULO II - O PROFESSOR DA EJA: VISÃO BANCÁRIA X VISÃO

LIBERTADORA FRENTE À AÇÃO SUPERVISORA 47

2.1 O Legado de Paulo Freire 54

2.2 Característica da Função Supervisora 60

CAPÍTULO III - A NECESSIDADE DE UMA FORMAÇÃO ESPECÍFICA PARA

EDUCADORES DA EJA 64

CONCLUSÃO 77

ÍNDICE 83

REFERENCIAS BIBILOGRÁFICAS 84

WBGRAFIA 89

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