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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS - GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE OS NOVOS ARRANJOS FAMILIARES E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS . POR: Eliete da Silva Ferreira Orientador: Professor Luiz Cláudio Lopes Alves D.SC. Rio de Janeiro 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS - GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

OS NOVOS ARRANJOS FAMILIARES E AS

TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS .

POR: Eliete da Silva Ferreira

Orientador: Professor Luiz Cláudio Lopes Alves D.SC.

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS - GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

OS NOVOS ARRANJOS FAMILIARES E AS

TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS.

Apresentação de Monografia ao Instituto A Vez do Mestre -

Universidade Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Psicologia Jurídica.

Por: Eliete da Silva Ferreira

Rio de Janeiro

2009

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AGRADECIMENTOS “O amor ao outro implica, em primeiríssimo lugar, o amor a si mesmo. Isso quer dizer o

seguinte: Em primeiro lugar, eu me amo, eu gosto de mim, no sentido de estar satisfeito

comigo mesmo, de ser capaz de ter minhas próprias idéias, de ter uma percepção

correta do mundo que me cerca e de mim mesmo, bem como de saber sentir e lidar com

meus sentimentos; de modo que não preciso do outro para viver, para me completar;

quero outro para amá-lo e ser amado por ele e assim enriquecer a nossa vida,

completando-nos”. (SANTOS, 2000, 28-29).

Agradeço a Deus por ter me auxiliado em todos os momentos da minha

caminhada pela estrada chamada “VIDA”.Sem Ele ,ao meu lado ,eu não

conseguiria todas as vitórias que conquistei até hoje e não teria me tornado esse

ser humano humilde e sensível.

Agradeço aos meus pais por todo carinho e proteção no meu desenvolvimento

como ser humano.E por todos os investimentos na minha vida escolar.

Agradeço aos meus irmãos, familiares e amigos que sempre caminharam ao meu

lado ,me encorajando e parabenizando por cada vitória em minha vida.

Aos professores e funcionários da Universidade Candido Mendes que

caminharam lado a lado comigo nesse importantíssimo objetivo alcançado e, que

a partir dele continuarei traçando metas que irão colaborar com o meu

desenvolvimento pessoal,social e intelectual.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Deus e a minha família ,pois são muito importantes

na minha vida .E a cada vitória que eu conquisto estão sempre ao meu lado

vibrando e me apoiando.

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RESUMO

Os filhos não precisam de pais gigantes ,mas de seres

humanos que falem a sua linguagem e sejam

capazes

de penetrar-lhes o coração.

Augusto Cury

A escolha deste tema surgiu do interesse em entender melhor como o ser

humano, nas suas relações interpessoais, está lidando com as mudanças

familiares na sociedade ,ou seja ,os novos arranjos familiares que são

baseados em códigos sociais, crenças e valores estabelecidos em suas

famílias de origem, dentro de um contexto sócio-histórico, também permeado

de crenças e valores.

Para alcançar este objetivo, foram feitas pesquisas bibliográficas, onde

foi verificado que diante as construções e evoluções históricas, os indivíduos

foram construindo novos arranjos relacionais/familiares com o intuito de

aumentar o bem-estar pessoal.

Novos arranjos na relação a dois surgiram então, como uma

possibilidade a mais de estabelecer relações funcionais que tragam maior bem

estar a ambos, tornando-os mais livres de crenças e valores sociais

cristalizados que impossibilitam a flexibilização das negociações na relação de

casal.

As formas de amor, de casamento, de sexualidade evoluem, e modelos

já constituídos são postos em discussão constantemente. Novos paradigmas

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estão sendo instituídos e cada vez mais o espaço para novos arranjos

relacionais se expande na busca de maior bem estar com o aprimoramento

pessoal e interpessoal.

Inicialmente foi identificado que família se constituiu com a finalidade de

preservar a propriedade privada e defender o casamento monogâmico.

Diferentes arranjos familiares se sucederam e conviveram simultaneamente ao

longo da história social da família. A hierarquia rígida na organização familiar e

na definição dos papéis familiares, a defesa da tradição e o patriarcado

constituíram os esteios que resistiram e resistem às mudanças que alteram a

estrutura da sociedade. As relações familiares baseadas na obediência dão

sinais de transformação passando a se regularem por condutas baseadas em

princípios éticos onde o outro da relação é uma condição indispensável para a

presença do eu.

A partir daí os novos arranjos familiares se organizaram para fazer frente às

demandas produzidas na sociedade.

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METODOLOGIA

A pesquisa para a realização do atual trabalho foi realizada tendo como

princípio a análise de dados teóricos obtidos através da leitura de uma vasta

bibliografia de referência sobre os novos arranjos familiares e as transformações

sociais ,seguida de textos sobre a história da família .O enfoque metodológico

adotado se caracteriza por partir de um ponto de vista abrangente sobre os tipos

de famílias até alcançar a situação específica dos novos arranjos familiares atuais.

.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I 10

1-Definição de família

1.1-Histórico

1.2-Família como fato social

1.3- Finalidade da família

1.4-Níveis de constituição da família

CAPÍTULO II 18

2-Tipos de família

CAPÍTULO III 20

3- Impactos e conseqüências sociais e os

novos arranjos familiares

CAPÍTULO IV 21

4- O papel do pai na família contemporânea diante dos novos arranjos familiares

CONCLUSÃO 25

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 31

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I�TRODUÇÃO

Transportar-se ao universo complexo que é o ser humano, é tarefa difícil e

desafiante, haja vista os diversos fatores que interferem e possibilitam a

construção da subjetividade de cada indivíduo.

Em meio a este processo, de construção da subjetividade, o ser humano

procura estabelecer relações interpessoais que são permeadas por crenças,

códigos e transformações culturais e sociais que evoluem através dos tempos.

Dentro da relação de casal, homens e mulheres passam a se adequarem a

novos códigos sociais para continuarem a ir em frente, em busca de autonomia,

liberdade e crescimento pessoal, sem desvincularem-se da adequação social e da

possibilidade de viverem numa relação simétrica e funcional.

As formas de amor, de casamento, de sexualidade evoluem, e modelos já

constituídos, são postos em discussão constantemente. Novos paradigmas estão

sendo instituídos e cada vez mais o espaço para novos arranjos relacionais se

expande na busca de maior bem estar.

Os novos arranjos familiares, as novas parcerias e seus sentidos são motivos de

debates no Brasil e em vários países. Colaboram para discutir, repensar e ampliar

questões como maternidade, paternidade, casal, família e amor fora da norma

heterocêntrica.

No início Deus criou o mundo. Ele viu a necessidade de criar uma companheira

para o homem , para que juntos cuidassem do que havia criado,que se amassem,

respeitassem e que juntos multiplicassem,então deus criou a mulher ,formando

assim a família.

A família é o principal agente da socialização e reproduz padrões culturais no

indivíduo. Ela "inculca modos de pensar e atuar que se transformam em hábitos"

(Lasch, 1991, p.25). É na família que se concentram as possibilidades de

constituição de pessoas enquanto sujeitos e cidadãos. É no seio dela que vão

acontecer as primeiras identificações, espelho para identificações futuras. A

família tem a sua importância enquanto principal doadora de identidade e

responsável pela produção de comportamentos.

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A evolução do conhecimento científico ,os movimentos políticos e sociais do

século XX e o fenômeno da globalização provocaram mudanças profundas na

estrutura da família e nos ordenamentos jurídicos de todo o mundo.Certamente

essas mudanças têm raízes históricas atreladas à Revolução Industrial,com a

redivisão sexual do trabalho,e à Revolução Francesa,com os ideais de

liberdade,igualdade e fraternidade.

As famílias sofreram transformações. Com a liberação financeira e sexual da

mulher e com o aumento do número de divórcios, surgiu a chamada família

mosaico ou família mono-parental,que agrega filhos de diferentes relacionamentos

sob o mesmo teto.

A industrialização, a saída do campo ,o crescimento da população entre outros

pontos,conseguiram cm que a vida rural fosse ultrapassada pela vida urbana,onde

houve a redução do número de membros das famílias.A socialização é feita a partir

da relação entre a criança e meio em que vive.A criança começa a identificar outros

aspectos através da observação de tudo que ocorre ao seu redor.É através desta 9

observação que a criança começa a construir sua identidade,por isso é muito

importante que nessa fase os pais sejam presentes e que dêem bons exemplos ,pois

servem como espelhos para seus filhos.Este trabalho mostra as diferentes famílias

que foram se constituindo através dos tempos ,os direitos que todos tem de viver de

maneira que lhe agrada ,não importa se é do mesmo sexo ,ou se o filho é de outro

genitor,o importante é que haja afeto .Infelizmente as famílias já não são mais como

antigamente,onde havia abrigo,respeito, compreensão e principalmente amor.

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CAPÍTULO I 10

1-Definição de família

Uma das formas que o frágil ser humano encontrou para se defender,crescer e

poder evoluir foi a de viver em sociedade.Para isto foi necessário estruturar uma

linguagem simbólica ,constituir a família, etc.O custo desta evolução foi a

estruturação das funções mentais e sociais.

De acordo com a sociologia e a antropologia a palavra família possui diversos

significados.Na antiguidade o conceito família era mais extenso.Envolvia além dos

pais e s filhos ,os genros ,netos e outros agregados.

A família é sistema de relações que se traduz em conceitos e preconceitos

,idéias e ideais ,sonhos e realizações.Uma instituição que mexe com nossos mais

caros sentimentos. Paradigmática para outros relacionamentos,célula mater da

sociedade.

A família pode ser definida como um sistema e,como tal,um conjunto de

elementos em interação ,que evolui no tempo e se organiza em função de suas

finalidades e do ambiente.

Ao definirmos a família como um sistema ,estamos trazendo a noção de que

um sistema é maior do que a soma das partes.E mais,são elementos em interação

que mantêm uma relação de interdependência.

Da família ,o lar é teto,cuja base é o afeto.O lar sem afeto desmorona e,n fim

desse processo de ruína ,a família se decompões.Eis por que o direito a afeto

constitui – na escala da fundamentalidade - o primeiro dos direitos humanos

operacionais da família ,seguido pelo direito ao lar,cuja essência é o afeto.

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1.1-Histórico 11

Na sociedade pré-moderna a família não tinha função afetiva. Ela se constituía

com a ajuda mútua entre o homem e a mulher e eram diminuídas as chances de

sobrevivência dos isolados.

Na sociedade pré-moderna a família era constituída de forma grupal. A

propriedade privada motivou a monogamia e ambas se organizaram nos principais

fatores que criaram instituição familiar. O casamento monogâmico com duração

indeterminada garantia a transmissão da herança aos descendentes.

A passagem da criança pela família se limitava a um período muito curto de

tempo. Logo que ela tivesse condições mínimas de desempenho pessoal e social

ela dividia com os outros, ou seja,adultos e crianças tinham o mesmos jogos e

trabalhos.De acordo com Ariés(1978) a morte de uma criança era pouco sentida,

logo vinha outra no seu lugar.O sentimento de infância era pouco

evidenciado.Mas,isso não queria dizer que não existia afeto entre os cônjuges e

entre pais e filhos.o afeto não era uma condição necessária à existência e para o

funcionamento da família.

As diferenças entre os arranjos de convivência na sociedade pré-moderna e na

sociedade moderna vão determinar intensas modificações na dinâmica de

funcionamento da família. A civilização pré-moderna se caracterizava por

estratificação hierárquica bem definida e pela escassa mobilidade social .A

trajetória social das pessoas era fortemente influenciada pela sua origem de

nascimento. A função que cada um desempenha era determinada pela sua

posição social e permanentemente ratificada pelo cotidiano. A rígida hierarquia

estabelecia que apenas uma ou algumas poucas iriam ocupar posições no topo

da pirâmide social.Assim,se estabeleceu que Aristóteles(384-322.a.C.)cunhou

como teoria da “Escravatura Natural”.A Teoria afirma que a natureza está dividida

em duas partes.Uma delas tem a função de mandar ,a outra de obedecer.É

natural, portanto ,que homem livre mande no escravo,que o pai mande no

filho,que o professor mande no aluno.Quem manda está cheio de razão e

vontade,quem obedece está privado destes e,é de seu interesse ser tutelado.

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Pôster,referenciado por Reis (1988), categoriza as famílias em quatro modelos.A

família aristocrática e a família camponesa foram predominantes nos séculos

.XVI e XVII ,a família proletária e a família burguesa predominaram no século XIX.

A aristocracia se assentava no poder do monarca e no domínio das terras. O

Casamento era um ato político, pois dele dependia a manutenção das posses. A

Privacidade era mínima e as condições de higiene precárias. Era alto o índice de

Nascimento e igualmente elevado índice de mortalidade infantil.A educação era

Orientada para a obediência à hierarquia social determinada pela tradição.Os

castigos físicos eram práticas integrantes do método de ensino.

Na família camponesa também eram elevados os índices de natalidade e

mortalidade infantis.Na família camponesa a unidade familiar era menor do que na

família aristocrática,mas nem por isso o grupo familiar era mais significativo para

seus integrantes.A aldeia por meio dos costumes e tradições regulava a

convivência entre seus integrantes.A família não era um espaço privado e os laços

afetivos se estendiam para fora dela.A mãe camponesa era encarregada de cuidar

dos filhos e nesta tarefa recebia ajuda de outras mulheres,vizinhas e parentes,pois

sua presença também era necessária no trabalho do campo.

A família operária se formou no período da industrialização,no início do século

XIX.Sua origem era a família camponesa que migrou para áreas urbanas.

Todos os membros da família trabalhavam ,mesmo as crianças com idade em

torno de dez anos ,por longas jornadas.As condições de trabalho,de moradia ,de

higiene eram precárias e isto elevava o índice de mortalidade infantil. A família

proletária atravessa três fases distintas ao longo de sua existência .Na primeira

fase ela se caracteriza pela vida comunitária e pelo apoio mútuo entre seus

membros. As crianças conviviam informalmente num extenso segmento de

relações.Na fase seguinte,na segunda metade do século XIX há uma melhoria na

profissionalização do operário e nas condições de vida da família

proletária.Começa haver diferenciação entre os papéis sexuais:as mulheres

passam mais tempo em casa cuidando dos filhos e os homens mais tempo

trabalhando na fábrica.

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A terceira fase ,já no século .XX se caracteriza pela mudança da família para os

subúrbios,pelo desenvolvimento da vida privada e mais preocupação com a

educação e com o futuro dos filhos.Simultaneamente a família proletária acentuou

a autoridade paterna e o conservadorismo.

A família burguesa se estruturou no período entre o final d século XVIII e início

do século XIX.Era constituída pela nova classe dominante ,cujos padrões de

relacionamento familiar e social se diferenciavam de forma clara dos modelos

vigentes.Fechada em si mantinha uma nítida separação entre o mundo do

trabalho e o mundo familiar ,entre o público e o privado.Os papéis sexuais eram

rigorosamente definidos.O homem era provedor ,autoridade dominante ,livre e

autônoma. A mulher era emotiva e servil ao marido.

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1.2-Família como fato social

Como fato social total,a família é tanto uma relação privada quanto uma

instituição em que se estabelecem ligações particulares,afetivas e econômicas.Há

uma divisão de tarefas,responsabilidades e poderes.Cada família se estrutura de

forma original.Implica relações assimétricas entre seus membros e,como

instituição social,tem normas jurídicas que definem os direitos e deveres de cada

um,que a sociedade deveria garantir,seja qual for sua configuração.

Ao dizermos que a família evolui no tempo e se organiza em função de suas

finalidades e do ambiente,estamos enfatizando novamente não só a interação

entre os seus membros,mas dela em relação ao social.Interação

humana,necessariamente afetiva.Ela é paradigmática e base ,dando sustentação

à estrutura social ,mas que necessita do suporte das instituições.Em relação direta

com a sociedade,sofre suas influências ao mesmo tempo em que por ela é

influenciada,em uma relação dialética.

A família é uma relação privada ,ela também é pública,ela é considerada como

a base da sociedade.Família,um caleidoscópio de relações que muda no tempo de

sua constituição e consolidação em cada geração,que se transforma com a

evolução da cultura ,de geração para geração.

A cultura vai se modificando a cada momento ,dependendo da concepção e da

consciência que o ser humano tenha de si e do mundo que rodeia.

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1.3- Finalidade da família

A família como expressão máxima da vida privada é o lugar da

intimidade,construção de sentidos e expressa de sentimentos,onde se exterioriza o

sofrimento psíquico que a vida de todos nós põe e repõe.E percebida como nicho

afetivo e de relações necessárias à socialização dos indivíduos,que assim

desenvolvem o sentido de pertencer a um campo relacional iniciador de relações

excludentes na própria vida em sociedade.É um campo de mediação

imperdível(Costa.p.271.2003.).

A família cumpre leis da aliança e/ou da filiação.Podemos dizer de forma

resumida que a finalidade da família é a de proteção física e psíquica,dada pela

qualidade de desamparo inerente ao ser humano.Esse necessita da ajuda do outro

por mais tempo para sua sobrevivência,diversamente de várias espécies animais.s

seres humanos agregam à dependência biológica a dependência psíquica,fator

essencial de sua constituição.Devido a qualidade da natureza impulsiva do ser

humano ,sua sobrevivência também se vê ameaçada pela satisfação sem

barreiras de seus impulsos de amor e ódio ,a serem banalizados e transformados

por meio das vivências edípicas e das relações significativas ao longo da vida.

A resultante da conflitiva edípica é a identificação com pais em diversos

aspectos e a criança pode assim seguir-lhes s mandamentos e o exemplo.Neste

processo vai-se instituindo o Princípio da Realidade ,vai-se formando o

pensamento,aliado às experiências emocionais.

Dada a dependência e o desamparo emocional que é da natureza humana,a

finalidade da família ,embora sofra variações históricas,mantém-se essencialmente

como instituição estruturante do indivíduo em função das diferenças entre os

elementos que a compõem e que determinam lugares que este ocupa e funções

diferentes que exerce ,de acordo com o ciclo vital,dentro de uma estrutura.Dadas

estas condições é que podemos desenvolver atributos humanos por excelência _

o pensamento ( capacidade de simbolização,crítica,julgamento ,criatividade,etc.).

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Podemos dizer que a família tem como finalidade propiciar desenvolvimento no

ser humano de sua capacidade de pensamento em sintonia com os sentimentos.

As funções da família ao longo da história moderna não se transformaram

ou,pelo,menos ,não se transformaram tanto quanto sua estrutura e sua

organização.No geral,atribui-se à família ,além da reprodução humana,o cuidado,a

proteção e a socialização de seus membros ,o exercício da afetividade e da

solidariedade e a construção das identidades sociais.

Possivelmente, essas tenham sido sempre as funções da família moderna.No

entanto, a forma de exercê-las e a dimensão que se dá a cada uma delas variam

de acordo com o momento histórico ,com a classe social,com a cultura

predominante e até com os interesses presentes no jogo de forças entre público e

privado.

No entanto, é fundamental considerar que, independente da forma como cada

família desenvolva ou deseje desenvolver suas funções, as condições sociais

têm um papel preponderante. A análise da competência da família no cumprimento

de seu papel passa, necessariamente, pela análise das condições que ela detém

para realizá-lo, sob pena de fazer julgamentos precipitados na linha de “família

capaz” e “família incapaz” (Mioto, 2004).

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1.4-Níveis de constituição da família 17

Na família distinguimos diversos níveis ,que combinam qualidades mais

subjetivas ou mais objetivas conscientes e inconscientes.

Há o nível psicológico e metapsicológico ,das motivações ,dos afetos,dos

desejos e das funções ;esfera d sujeito do desejo:

- o nível psicossocial,dos exercícios dos papéis;

- o nível econômico;e

- o nível sociojurídico,da repartição dos direitos e deveres ,o nível do sujeito do

direito.

A família influencia todos os aspectos de nossa vida,desde que nos constituímos

indivíduos,isso ainda na infância ,e molda nossa personalidade.Por maiores

problemas que tenhamos com a nossa,ela nunca deixa de ser importante .Nós

escapamos ,emigramos,trocamos sul pelo norte e o leste pelo oeste devido a

necessidade de nos libertarmos,mas depois viajamos periodicamente de volta para

casa para renovar o contato com a família,escreve o psicanalista inglês D. W.

Winnicott .

Cansado de ouvir apenas os aspectos negativos dos relacionamentos familiares ,

o psicólogo e cientista social David Niven, resolveu pesquisar algumas dicas

preciosas de como conviver bem em nossos lares.Antes de tudo ,ele lembra que,

quando olhadas de longe,as tramas familiares parecem complexas.Mas,quando

chegamos perto,percebemos que elas não passam de uma série de

relacionamentos iguais a todos que estabelecemos durante a vida.

Para viver bem em família ,diz ele,é preciso se aproximar das relações.,sendo

necessário que cada um aceite desempenhar o seu papel. A vida familiar é aquilo

que fazemos dela . O respeito e a consideração são essenciais. Porque conviver é

fazer concessões para o bem-viver.Apesar da família ser um conjunto ,seu

sucesso em lidar com ela está diretamente ligado à sua capacidade de se

relacionar com cada um de seus integrantes separadamente.

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CAPÍTULO II 18

2- Tipos de família

Se para a maioria dos antropólogos o trabalho parece ser o lócus da identidade

masculina, a família PR sua vez é visualizada como sendo o da identidade

feminina(Da Mata, 1978 ;Salem, 1981).

Considero entretanto ,que as duas categorias ,trabalho e família ,são importantes

para a construção de identidade da classe trabalhadora em ambos os sexos,Mas

será que podemos falar de um modelo de família característico das classes

trabalhadoras? Ao observarmos as práticas e experiências cotidianas nos

encontramos com um variado conjunto de arranjos domésticos.

O tipo de arranjo doméstico mais significativo,de acordo com as estatística,é o

das conhecidas famílias “extensas”, formada PR mais de um núcleo familiar ou

inclusão de outros parentes.

As famílias estão inseridas em sua rede de parentesco, que se constitui como

um apoio importante.

Obviamente o arranjo nuclear (pai, mãe e filhos) é significativo e aquele

considerado como o modelo ideal pela maioria dos indivíduos . A impossibilidade de

boa parte dos caos de seguir o padrão tradicional “família nuclear pode estar

relacionado ao desemprego,baixos salários,dificuldade de obtenção de casa

própria,instabilidade de uniões conjugais,etc.

Um tipo de arranjo que vem crescendo significamente é aquele composto por

mães solteiras ou sem companheiro e seus filhos, incluído no arranjo de famílias

incompletas(onde falta um dos parceiros ou os filhos).

A maior instabilidade nas uniões conjugais da classe trabalhadora,associada à

maior necessidade da mulher trabalhar para o sustento do lar ,traz conseqüências

sobre o modo como se organiza a autoridade no âmbito doméstico.

Vários estudos sinalizam para unidades de maior carência econômica a chamada

feminilização da pobre za (Barroso,1978;Neupert,1988; Castro,1990; Oliveira,1992;

Jelin,1994;Goldani,1994). Por um lado,há um crescimento do número de lares que

contam apenas com uma “autoridade”feminina(ainda que debilitada ,devido ,devido

à ausência dos pais ou companheiros).Por outro lado,o fato das mulheres estarem

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mais tempo fora de casa ,o que resulta em uma ausência física, pode ter também

implicações morais ,pois sua falta na unidade doméstica pode desencadear em

alguns casos um processo de debilitação da imagem de autoridade ou do marco

referencial de conduta dos seus filhos(Zaluar,1985).

Muitas mulheres que vivem neste tipo de arranjo doméstico não avaliam que esta

situação seja resultado de uma conquista ou realização de um desejo. Algumas o

vivenciam como uma imposição que gostariam de superar. Se pudessem

escolher,muitas prefeririam ser “esposas tradicionais”de “homens de respeito”(ainda

que isto se refira ao plano das expectativas,difíceis de alcançar mesmo em arranjos

nucleares).

A” autoridade masculina” tem conotações de prestígio e somente pode ser

plenamente exercida em condições em que o chefe familiar tem salário e recursos

econômicos adequados para respaldar esse papel.Também não podemos negar ,na

direção apontada por Woortmann,que para muitas outras mulheres que vivem este

tipo de arranjos,mesmo que o seu preço seja uma maior dificuldade

econômica,eles podem significar a conquista de um maior espaço de independência

e autonomia feminina,a liberdade sexual , o fim de maltrato e casamentos

infelizes,como se verá adiante nos resultados dos eventos.De forma geral é muito

complicado e redutor analisar “´padrões” de comportamento quando na realidade

nos deparamos com histórias de vida tão diversamente costuradas e significadas

pelos seus portadores.Encontramos vários tipos de mulheres,as que vivem em

famílias hierárquicas e estão satisfeitas,as que apresentam queixas em relação ao

modelo ,as que não lograram este modelo e gostariam de alcançá-lo e aquelas que

avaliam como um progresso ,ganho de autonomia e liberdade o fato de estarem

sozinhas.

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CAPÍTULO III

3- Impactos e conseqüências sociais e os

novos arranjos familiares

A família, como todo sistema vivo,apresenta um contínuo processo de

transformação, atravessando estapas, que implicam em constantes mudanças e

adaptações .Com grande acerto disse Michelle Perrot ,repetidamente invocada pela

doutrina familiarista, que “a história da família é longa,não linear, feita de rupturas

sucessivas.estas mudanças e adaptações geram crises de menor ou maior

intensidade,pois ao passar de uma etapa para outra as regras do sistema

mudam.Todavia,tais transformações não geram o caos,pois é da morfologia do

sistema familiar a aptidão de evoluir com o tempo.

O que estamos presenciando, entretanto, não é a morte da família como tal, mas o

advento de uma diversidade de modelos de família,visto que a realidade social e a

conseqüente evolução das formas de convivência vão marcando a necessidade de

combinar legalmente as transformações que se sucedem e que a evolução social

requer.Todos reconhecemos, sem a necessidade de nenhum desenvolvimento

específico sobre a evolução dôo Direito de Família, que “A ‘ cara’ da família mudou

(...), foi substituída por um grupo menor ,em que há flexibilidade e eventual

intercambialidade de papéis e, evidentemente,mais intensidade no que diz respeito

a laços afetivos”, como nos diz Teresa Celina Arruda Alvim Wambier. Estes laços

na família atual, são tão ou mais poderosos como os de sangue, que se traduzem

na posse do estado.

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CAPÍTULO IV 21

4- O papel do pai na família contemporânea diante dos novos arranjos familiares

Na contemporaneidade, a “paternidade tem sido permanentemente desafiada”,pois

os diferentes arranjos familiares, constituídos nos últimos anos, estão contribuindo

para as transformações no exercício da paternidade. As vivências atuais, entre pai

e filhos, influenciarão e “moldarão os modelos paternos futuros”.

Considerando as mudanças aceleradas e fluidas da sociedade contemporânea e a

transformação dos padrões tradicionais familiares, parâmetros de referência para o

desempenho dos papéis parentais nas décadas anteriores, a paternidade tem sido

permanentemente desafiada. Os diferentes arranjos familiares da atualidade,

famílias monoparentais (feminina ou masculina), biparentais (hetero ou

homossexuais) e reconstituídas, impõem transformações no exercício da

paternidade. Nos múltiplos arranjos familiares encontrados, as regras familiares, os

valores, os modos de expressão dos afetos, a hierarquia, assim como as metas

familiares, constituem-se diferentemente. O tipo de arranjo familiar não determina a

possibilidade de criar filhos emocionalmente saudáveis. Contudo, as diferentes

condições familiares influenciam o modo de exercer a paternidade.

Na sociedade contemporânea, o pai divorciado freqüentemente enfrenta a

dificuldade de manter um contato mais próximo com os filhos (nos casos em que

não tem a guarda dos filhos) e vê-se diante da necessidade de desenvolver tarefas

que, anteriormente, eram atribuições da mãe. Por outro lado, os homens

contemporâneos já vêm desenvolvendo habilidades que, na sociedade tradicional,

eram quase exclusivas das mulheres. Uma das funções mais importantes do pai

divorciado é fortalecer o vínculo parental, mantendo uma relação afetiva, íntima e

segura com seus filhos.

Enfatizamos que a separação conjugal dissolve o subsistema conjugal, mas o

subsistema parental, embora sofra alterações, não deve ser dissolvido. Isso quer

dizer que temos ex-marido e ex-mulher, mas não há ex-pai e ex-mãe. Os papéis

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parentais devem ser preservados no sistema familiar. Com a separação conjugal,

freqüentemente, a comunicação entre os pais muda e os afetos também. Mas os

pais necessitam compartilhar decisões importantes sobre a criação dos filhos, sobre

projetos e metas educativas, assim como estar presentes em muitos momentos

importantes da vida desses. A vivência da separação conjugal, sem dúvida, altera a

concepção de família dos membros familiares envolvidos, sobretudo pais e filhos.

A construção da identidade depende de inúmeros fatores. A relação com os pais é

um dos fatores mais importantes desse processo. O fato de não ser criado pelo pai

não elimina a figura paterna na criação. O pai pode ser muito presente na criação

dos filhos, dentro e/ou fora de casa. A qualidade da relação parental não é medida

pelo tempo de co-habitação. A convivência é um fator importante, na medida em

que o compartilhamento de experiências é necessário para a consolidação do

vínculo. Ademais, outras pessoas emocionalmente significativas para a criança

também participam nesse processo de construção da identidade.

Na sociedade contemporânea, há uma série de transformações nas noções de

masculinidade e de paternidade. Contudo, existe a idéia de uma “sociedade sem

pai”. O pai continua sendo uma referência importante de masculinidade. Ainda, que

a construção da masculinidade também é transmitida pelas mães, a partir do modo

como elas percebem a masculinidade.

As vivências e percepções da paternidade atual modularão os modelos paternos

futuros, considerando que esses modelos são transmitidos consciente e

inconscientemente. principais mudanças na concepção de paternidade estão

relacionadas às mudanças nas relações de gênero e às mudanças nos arranjos

conjugais e familiares. O mundo atual é veloz, pautado por valores individualistas e

pelo culto ao prazer. O laço conjugal se mantém na medida da satisfação dos

parceiros e os modos de obter satisfação e prazer são cada vez mais diversificados.

A família se transforma também em decorrência das mudanças na conjugalidade.

Os cônjuges são considerados os arquitetos da família. As relações de gênero

tendem a ser mais igualitárias, e as diferenças entre os papéis parentais também

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tendem a ser menos nítidas. Além disso, a desconstrução de estruturas sociais

hierárquicas mais amplas reflete-se sobre a autoridade parental.

De acordo com Giddens (2000), o que nos países ocidentais chamamos de família

tradicional "é de fato uma fase tardia, transicional, que teve lugar no

desenvolvimento da família na década de 1950" (p.66).Naquela época havia poucas

mulheres que trabalhavam fora do lar e as separações conjugais eram vistas com

preconceito. O casamento havia deixado de ter como base as relações econômicas

e passado a se fundamentar na idéia de amor romântico. Na contemporaneidade as

modificações sócio-econômicas e culturais alteraram esses vínculos familiares. Os

membros das famílias foram instados a assumir novos papéis e posições e levados

a conviver com novos arranjos familiares. Os papéis destinados a cada sexo, antes

fortemente delimitados, hoje se encontram mais flexibilizados.

Na família tradicional atribuía-se ao pai a função de prover ao sustento do grupo

familiar e à mãe as funções de responder pelos cuidados e afetos dedicados às

crianças. Eram o pai e a mãe os responsáveis pela seleção, organização e

construção das regras e valores passados aos filhos. Hoje, estas funções vêm

sendo descentradas do núcleo tradicional. As crianças estão sendo entregues aos

cuidados de tias, avós, babás, escolas, o que aumenta suas possibilidades de

identificação.

A responsabilidade pela tranqüilidade do lar e os cuidados com os filhos, que eram

consideradas tarefas das mulheres, estão sendo compartilhados por ambos os

cônjuges. Mesmo quando o modelo é nuclear, o desempenho dos papéis já não é o

mesmo de antes. Está aumentando o número de pais que cuidam dos filhos

enquanto a mãe trabalha fora. O poder econômico do pai vem sendo enfraquecido,

pois as mulheres estão reivindicando seu espaço no mercado de trabalho. Isto

acontece tanto pela necessidade da família de aumentar a sua renda como pelas

necessidades das mulheres de não restringirem sua vida ao âmbito do lar. O ideal

de vida das mulheres atuais inclui a realização profissional.

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Também os avanços tecnológicos influenciam a família. O controle da natalidade, a

clonagem e a inseminação artificial estão provocando discussões sobre o que seja

a família.E as crianças, como se situam neste contexto? De acordo com Giddens

(2000), "a posição das crianças em tudo isto é interessante e um tanto paradoxal.

Nossas atitudes em relação às crianças e à sua proteção alteraram-se radicalmente

ao longo de algumas gerações passadas" (p. 69). Como diz Ariés (1978), uma das

conseqüências das transformações sociais que deram origem à família burguesa foi

uma queda na mortalidade, principalmente a infantil; mas verificou-se também uma

queda na natalidade.

Como conseqüência da grande diminuição do número de crianças, elas passaram

a ser mais valorizadas. Além do mais, a decisão de ter filhos, com o avanço das

técnicas contraceptivas e das transformações econômicas, é muito distinta daquilo

que foi para gerações anteriores. Giddens (2000) diz: na família tradicional, os filhos

eram uma vantagem econômica. Hoje, nos países ocidentais, um filho, ao contrário,

representa um grande encargo financeiro para os pais (p. 69).

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CONCLUSÃO

Esta monografia teve como objetivo, pensar nas mudanças sociais que

os novos arranjos sociais proporcionam ao , como uma construção sócio-

histórica, bem como, pensar sobre os novos arranjos e negociações que cada

casal utiliza para buscar funcionalidade e bem estar na relação a dois.

Com a pesquisa bibliográfica, pode-se detectar que durante muito tempo

o casamento seguiu normas pré-estabelecidas socialmente.

Essa rigidez dos códigos sociais muitas vezes gera sofrimento na

relação a dois, especialmente àquelas relações que não se enquadravam nas

normas pré-estabelecidas socialmente.

Antigos arranjos foram postos à prova e atualmente foram transformados

em novos arranjos, que possibilitam para o casal maior flexibilização em suas

negociações dentro da relação a dois estabelecida.

E que o desenvolvimento individual está diretamente ligado ao

desenvolvimento da relação de casal. Atualmente os casais sentem-se mais à

vontade para experienciar novas maneiras de convivência, tornando a relação

a dois um espaço apropriado de aprimoramento pessoal e interpessoal, sempre

buscando maior funcionalidade, bem-estar e crescimento.

Este resgate histórico, bem como, o seu desenvolvimento, possibilitou-me

como psicoterapeuta um conhecimento a mais sobre o desenvolvimento do

indivíduo e suas relações.

Uma das características essenciais do ser humano é o desejo de procriação

e continuidade por meio da experiência da maternidade e paternidade.Na sua

maioria,homens e mulheres desejam ter e criar seus filhos,de modo a realizar-

se tanto no plano biológico quanto psíquico.Como afirma Schettini (1998), o

filho dá sentido ao casal, e é a resultante esperada da relação homem-

mulher. Ele representa um terceiro referencial que completa o equilíbrio. É da

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interação dos três pólos,homem,mulher e filho,que surge a verdadeira

unidade.

Quando falamos de crianças,a palavra necessidade se impõe,pois defendem de

forma vital de pais que cuidem delas e as eduquem,oferecendo-lhes

amor,segurança,firmeza e um contexto familiar rico em trocas afetivas e simbólicas.

A família foi,é e continuará sendo o núcleo básico de qualquer sociedade.

Sem família não é possível nenhum tipo de organização social ou jurídica.É na

família que tudo principia .Ela que nos estrutura como sujeitos ,e é nela que

encontramos algum amparo para o nosso desamparo estrutural.A tão divulgada

“crise” da família nada mais é que o resultado de um processo histórico de

alterações das formas de sua constituição.Quando o artigo 25 da Declaração

Universal dos Direitos Humanos preceitua que “a família é o núcleo natural e

fundamental da sociedade”,ele não está excluindo as diversas outras possibilidades

de constituição de família ,além daquela formada pelo matrimônio.

No final da segunda metade do século XX,quando foi feita a Declaração Universal

dos Direitos do Homem,os ideais de liberdade já estavam bem consolidados ,pelo

menos para o mundo ocidental .

No Direito antigo ,a família era constituída por uma base aristocrática,onde a

severidade dos costumes demonstrava a suprema autoridade que as famílias

detinham:o direito de vida e de morte sobre os filhos.

A família contemporânea ,em virtude das mudanças sociológicas,da evolução da

sociedade e da legislação atual ,é baseada no amor,na promoção da

dignidade,respeito e felicidade de seus membros,na consagração dos direitos

fundamentais assegurados à criança e ao adolescente e reconhece outros modelos

de entidades familiares além do casamento- uniões estáveis,uniões formadas por

dois pais e sua prole (famílias monoparentais) e as novas organizações de família,

constituídas pelo novo casamento ou união estáveis ex-cônjuges,onde s pais

passam a conviver com os filhos do relacionamento atual e do

anterior,preservados,neste aspecto,todos os direitos e deveres do Poder Familiar.

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O Poder Familiar ,consistente num poder-dever exercido no interesse supremo do

filho,impõe aos genitores a obrigação de prestar-lhes assistência,respeitá-los ,zelar

por sua educação e integridade física e psíquica,além de proporcionar-lhes

proteção enquanto pessoa em desenvolvimento.

A autoridade parental é exercida por ambos os pais em igualdade de condições e

não extingue com a separação ou dissolução da união estável.

A igualdade de direitos normatizada constitucionalmente impede que na

separação ,divórcio ou rompimento da unia estável seja dada preferência a um ds

cônjuges para o exercício da guarda dos filhos.

No contexto desses ideais de liberdade ,está inserida a liberdade das pessoas de

escolherem outras formas de constituição de família além daquelas formadas

tradicionalmente.Então ,os Estados Nacionais passaram a reconhecer várias

formas de constituição de família .No Brasil,isto se deu oficialmente em 1988,com a

nova Constituição da República :família constituída pelo casamento ,pelo

concubinato não-adulterino e as famílias monoparentais ,ou seja,por qualquer dos

pais que viva com seus descendentes.Antes dessa data , outros países já haviam

reconhecido a “família plural”,assim como,até hoje ,há aqueles que só reconhecem

a família constituída pelo casamento/matrimônio.Diante desses ideais de liberdade

trazidos pela concepção dos Direitos Humanos ,pode-se afirmar que há uma

tendência em todos os países do mundo de se “legitimar” e reconhecer as várias

representações sociais da família.

Associada aos ideais de liberdade dos sujeitos ,em todos os sentidos ,está a

necessidade de buscarmos um conceito de família que esteja acima de conceitos

morais ,muitas vezes estigmatizantes ,Assim,devemos buscar um conceito de

família que possa ser pensado e entendido em qualquer tempo ou espaço,já que a

família foi ,é e sempre será a célula básica da sociedade.

Apesar de toda essa variedade e diversidade de cultura ,religião e credos e

valores morais ,seria possível encontrar um elemento comum a todos nós ,ou seja ,

seria possível estabelecer um conceito universal de família?

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A família tentacular contemporânea ,menos endogâmica e mais arejada que a

família estável no padrão oitocentista ,traz em seu desenho irregular as marcas de

sonhos frustrados ,projetos abandonados e retomados ,esperanças de felicidade

das quais os filhos ,se tiverem sorte ,continuam a ser portadores.

Temos ainda que nos perguntar se essas transformações na composição familiar

são realmente as responsáveis pelos sintomas do que se pode detectar cm uma

crise ética na sociedade contemporânea.

A família vivencia vários impactos,ou seja, alterações benéficas ou

adversas,digo,de natureza leve e transitória causadas por diversas atividades ou

atos dos seres humanos e que constituem o seu desenvolvimento e

amadurecimento perante a sociedade.

Quem não conhece o mito da família unida ,a idéia de que,antigamente,

predominava a família extensa ,em que todo mundo morava,

harmoniosamente,debaixo do mesmo teto?É o combustível que alimenta as

denúncias alarmistas sobre a “nova” “desagregação da família” – fruto do

capitalismo selvagem,da alienação ou da sociedade consumista...O que perpassa

essas denúncias é a premissa implícita de que existe uma família ideal-feliz e

“natural”-que corresponde à família conjugal ideal comum nas camadas médias hoje

.se o padrão familiar de determinada época não se conforma a esse modelo

,supõe-se que é por causa de influências negativas(miséria ,ignorância) e se,

conformando-se ao modelo ideal,a família não é feliz,é por causa de patologias e

carências dos indivíduos que as compõe.

As sociedades passam, constantemente ,por profundas modificações políticas,

sociais ,culturais e econômicas.As tecnologias imprimem modelos nem sempre

positivos e adequados às nossas vidas. O capitalismo afasta as pessoas,

transformando-as em bens de consumo .A família hoje mudou,está em

desordem!mas baseado em que desordem?Está desestruturada ,mas baseado em

que estrutura?A conquista de mais autonomia na família horizontalizada

enriqueceu os relacionamentos .Nesta família plural convivem irmãos e pais que

vêm de outros casamentos e ,portanto de culturas e gerações diferentes;mulheres

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sozinhas criam seus filhos com a ajuda da rede de amigos ( o que algumas

camadas sociais já se faz há muito tempo).Enfim,se pudermos olhar para o novo

sem a nostalgia do que já foi,vamos nos deparar com um cenário melhor ,sem

medos e fantasmas que durante muito tempo mantiveram as distâncias e

bloquearam os diálogos entre as gerações.

Consideramos que compreender,sem preconceitos e pré-julgamentos ,as

condições ,limitações e os próprios conflitos desses modelos de família tão

presentes em todas as classes sociais da atualidade,é um dos grandes desafios

das instituições que,como a escola ,trabalha com crianças e,

conseqüentemente,precisam trabalhar com as famílias das mesmas. Entendemos

por arranjo familiar os membros da família, consangüíneos ou não, residentes no

mesmo domicílio. Quanto à forma de funcionamento da família, consideramos que

abrange os motivos que o viabilizam, as relações hierárquicas estabelecidas com

relação ao poder, as relações afetivas, a organização e o desempenho dos papéis

familiares (Berthoud, 1997). As formas de estabelecer vínculos entre os seres

humanos variam enormemente, tanto de uma época para outra quanto na mesma

época, porém em lugares diferentes. Assim, a diversidade das formas de

convivência humana não é privilégio de nossa época. No entanto, na

contemporaneidade observa-se uma verdadeira revolução "no modo como

pensamos sobre nós mesmos e no modo como formamos laços e ligações com

outros" (Giddens, 2000, p.61). Convivemos com diversas formas vinculares,

nenhuma necessariamente melhor ou pior que as outras. Ao lado de formas tidas

como tradicionais, por exemplo, o tipo de família nuclear, há outras constituídas por

casais homossexuais, monoparentais, recasados e tantas outras. É um verdadeiro

contingente da diversidade! Não sabemos ainda quais serão as vantagens ou

desvantagens que cada uma delas acarretará para o ser humano, principalmente

para as crianças, uma vez que, por serem formas recentes, não permitem uma

avaliação fundamentada. O que podemos dizer de todas essas transformações é

que, apesar de tanta diversidade, ainda é grande a dificuldade que sentimos em

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aceitar as diferenças. A sociedade persiste na transmissão do modelo de família

nuclear tradicional, com pai provedor e mãe dona-de-casa em tempo integral, como

o ideal, e vê com maus olhos as novas configurações familiares.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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brasileira: a base de tudo. (pp.26-46) São Paulo/ Brasília : Cortez/ UNICEF.

Groeninga,G.(2003)Direito de família e psicanálise-rumo a uma nova

epistemologia.