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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A AVALIAÇÃO ESCOLAR E DO PSICOPEDAGOGO EM ALUNOS DISLÉXICOS Por: Roberta Narcizo Molinos Godoy Orientador Prof. Vilson Sérgio de Carvalho Rio de Janeiro 2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A AVALIAÇÃO ESCOLAR E DO PSICOPEDAGOGO EM

ALUNOS DISLÉXICOS

Por: Roberta Narcizo Molinos Godoy

Orientador

Prof. Vilson Sérgio de Carvalho

Rio de Janeiro

2009

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A AVALIAÇÃO ESCOLAR E DO PSICOPEDAGOGO EM

ALUNOS DISLÉXICOS

Apresentação de monografia à Universidade

Cândido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

psicopedagogia.

Por: Roberta Narcizo Molinos Godoy

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu esposo, Lucio Godoy, que em todos os momentos da

minha vida, contribuiu para que eu conseguisse êxito na minha jornada de

formação;

Ao professor Orientador Vilson por sua paciência e orientação;

Aos demais professores da Universidade Candido Mendes, por sua

orientação e por dividirem seus conhecimentos e valores como educadores;

As minhas amigas da turma por sua ajuda, incentivo, pela amizade e

confiança;

A todos aqueles que direta e indiretamente contribuíram para realização

deste trabalho, meu muito obrigado.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu esposo e à

minha família por seu incentivo, apoio carinho e

dedicação.

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RESUMO

O presente trabalho tem como problema a avaliação escolar e o papel

do psicopedagogo na avaliação de alunos que apresentam dificuldades em

aprendizagens por serem disléxicos. As escolas podem acolher os alunos com

dislexia, sem modificar os seus projetos pedagógicos curriculares, tendo

procedimentos didáticos adequados que possibilitam ao aluno vir a desenvolver

todas as suas aptidões, que são múltiplas. Bons ou maus vínculos são

preditivos de sucesso ou fracasso, nesta jornada. É importante que pais e

professores fiquem atentos aos sinais de dislexia para que possam ajudar seus

filhos e alunos. As mudanças políticas, sociais e culturais são referenciais para

compreender o que acontece nas escolas e no sistema educacional. O

psicopedagogo deve saber interpretar e estar inteirado com essas mudanças

para poder agir e colaborar, preocupando-se com que as experiências de

aprendizagem sejam prazerosas para a criança e, sobretudo, que promovam o

desenvolvimento. Portanto, a psicopedagogia, pode fazer um trabalho entre os

muitos profissionais, visando à descoberta e o desenvolvimento das

capacidades da criança, bem como pode contribuir para que os alunos sejam

capazes de olhar esse mundo em que vivem, de saber interpretá-lo e de nele

ter condições de interferir com segurança e competência. Assim, o

psicopedagogo não só contribuirá com o desenvolvimento da criança, como

também contribuirá com a evolução de um mundo que melhore as condições

de vida da maioria da humanidade.

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METODOLOGIA

O objetivo desta pesquisa é analisar o modelo de avaliação para alunos

com problemas de dislexia no sentido de detectar possíveis perturbações no

processo de aprendizagem, contribuindo para uma avaliação eficaz para o

aprendizado de um aluno disléxico, com procedimento metodológico em

pesquisas bibliográficas, uma vez que ela permite a organização da teoria

encontrada nas literaturas que abordam o assunto permitindo uma análise

crítica que subsidie novas discussões e reflexões sobre o tema escolhido e

consulta à internet.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I

ASPECTOS RELEVANTES SOBRE AVALIAÇÃO 10

CAPÍTULO II

DISLEXIA 24

CAPÍTULO III

PSICOPEDAGOGO 35

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA 45

WEBGRAFIA 46

ÍNDICE 47

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INTRODUÇÃO

O valor do bom desempenho escolar para o sucesso profissional, em

uma sociedade competitiva como a atual, tem impulsionado muitos pais a

cobrarem de seus filhos excelência no desempenho escolar. Isso, por sua vez,

mobiliza a busca de diferentes especialistas, como pediatras, neurologistas,

psiquiatras e/ou psicólogos, que cada vez mais sentem a necessidade de uma

avaliação complementar de um psicopedagogo. Em conseqüência disso, o

número de avaliações psicopedagógicas vem aumentando, levando os

psicopedagogos a organizar uma avaliação mais objetiva, conclusiva e rápida.

A avaliação psicopedagógica propõe-se fundamentalmente a verificar a

compatibilidade entre o nível de desempenho da criança na escola e sua faixa

etária e/ou escolaridade, em especial nas áreas de leitura, escrita, matemática

e habilidades correlatas. Busca ainda analisar as atitudes da criança frente à

escola e à aprendizagem, identificando os fatores etiológicos, as competências

ou as inabilidades que facilitam e interferem no processo de aprender. A tarefa

da avaliação psicopedagógica varia conforme a postura teórica do examinador

e tem sido dificultada pela falta de padronização de muitos instrumentos.

O estudo das dificuldades de leitura e escrita, em geral, da dislexia, em

particular, vem suscitando desde há muito tempo o interesse de psicólogos,

professores, psicopedagogos e outros profissionais interessados na

investigação dos fatores implicados no sucesso e/ou insucesso educativo. A

dislexia representa no momento atual um grave problema escolar, para a qual

todos os profissionais da educação estão cada vez mais conscientizados. Esta

por sua vez, só será possível quando se compreendem os princípios de

organização curricular e de ensino proposto (conteúdo e processos), assim

como de organização do trabalho pedagógico e administrativo da escola

(organização de tempo).

A concepção de avaliação que perpassa essa lógica é a de um processo

que deve abranger a organização escolar como um todo: as relações internas à

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escola, o trabalho docente, a organização do ensino, o processo de

aprendizagem do aluno e, ainda, a relação com a sociedade.

As propostas curriculares atuais, bem como a legislação vigente, primam

por conceder uma grande importância à avaliação, reiterando que ela deve ser:

contínua, formativa e personalizada, concebendo-a como mais um elemento do

processo ensino aprendizagem, o qual nos permite conhecer os resultados das

ações didáticas e, por conseguinte, melhorá-las.

Nos dias de hoje, fica cada vez mais evidente que se faz necessário

considerar o aspecto orgânico como importante na avaliação do problema de

aprendizagem, no entanto é, também, indispensável que os aspectos

cognitivos e afetivos sejam ponderados na elaboração do diagnóstico, como

também no tratamento indicado.

A dislexia é uma desordem na aquisição da leitura e/ou escrita com

competência que acomete crianças com inteligência dentro dos padrões de

normalidade, sem deficiências sensoriais, isentas de comprometimento

emocional significativo e com oportunidades educacionais adequadas. Para

compreender porque a criança disléxica não consegue aprender a ler com a

mesma facilidade com que lêem seus colegas, é importante considerar os

meios pelos quais as crianças normalmente adquirem essa habilidade.

Após o capítulo de introdução, o estudo se organizou da seguinte

maneira: no capítulo I discutirá aspectos relevantes sobre a avaliação; no

capítulo II a dislexia; no capítulo III O psicopedagogo e as considerações finais.

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CAPÍTULO I

ASPECTOS RELEVANTES SOBRE AVALIAÇÃO

O termo avaliar tem sido constantemente associado a expressões como:

fazer prova fazer exame, atribuir notas, repetir ou passar de ano. Esta

associação, tão freqüente na escola é resultante de uma concepção

pedagógica arcaica, porém tradicionalmente dominante. Nela a educação é

concebida como mera transmissão e memorização de informações prontas e o

aluno é visto como um ser passivo e receptivo.

A avaliação escolar não deve ser empregada quando não se tem

interesse em aperfeiçoar o ensino e conseqüentemente, quando não se definiu

o sentido que será dado aos resultados da avaliação, o seu uso somente para

definir a progressão vertical do aluno conduz a reduções e descompromissos.

De acordo com PERRENOUD (1999):

“Se o ato de ensinar e aprender, consiste na

realização de mudanças e aquisições de

comportamentos motores, cognitivos, afetivos e

sociais, o ato de avaliar consiste em verificar se eles

estão sendo realmente atingidos e em que grau se

dá essa consecução, para ajudar o aluno a avançar

na aprendizagem e na construção do seu saber.

Nessa perspectiva, a avaliação assume um sentido

orientador e cooperativo”. (p. 58)

Assim a avaliação assume uma dimensão orientadora, pois permite que

o aluno tome consciência de seus avanços e dificuldades, para continuar

progredindo na construção do conhecimento.

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A forma de encarar e realizar a avaliação reflete a atitude do professor

em sua interação com a classe bem como sua relação com o aluno.

Os professores precisam verificar o conhecimento prévio de seus

alunos, com isso conseguindo planejar seus conteúdos e detectar o que o

aluno aprendeu nos anos anteriores.

Precisa também identificar a dificuldades de aprendizagem,

diagnosticando e tentando identificar e caracterizar as possíveis causas.

O professor também deve estabelecer ao iniciar o período letivo, os

conhecimentos que seus alunos devem adquirir bem como as habilidades e

atitudes a serem desenvolvidas. Esses conhecimentos e habilidades devem ser

constantemente avaliados durante a realização da atividade, fornecendo

informações tanto para o professor como para o aluno sobre o que já foi

assimilado e o que ainda precisa ser dominado. Caso o aluno não consiga

atingir as metas propostas, cabe ao professor organizar novas situações de

aprendizagem para dar a todos, condições de êxito nesse processo.

O ato de avaliar fornece dados que permitem verificar diretamente o

nível de aprendizagem dos alunos, e também, indiretamente determinar a

qualidade do processo de ensino. Ao avaliar o progresso de seus alunos na

aprendizagem, o professor pode obter informações valiosas sobre seu próprio

trabalho. Nesse sentido a avaliação tem uma função de feedback, porque

fornece ao professor dados para que ele possa repensar e replanejar sua

atuação didática, visando aperfeiçoá-la, para que seus alunos obtenham mais

êxito na aprendizagem.

1.1. A avaliação de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases

A preocupação com a evasão e a reprovação escolar é um problema

antigo e tem merecido a atenção de educadores. Nos últimos anos, medidas

governamentais têm sido tomadas para reverter os problemas atribuídos ao

sistema educacional, tais como: a implantação dos ciclos e a progressão

continuada.

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O regime de Progressão Continuada, criado em 1996, é um conjunto de

orientações incorporado à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e

adotado no Ensino Fundamental pelas escolas da rede pública. Essa iniciativa

propõe efetuar o trabalho escolar independente das notas. Mais precisamente,

isto equivale a dizer que desaparecem os tradicionais boletins e as notas

bimestrais, ficando apenas a avaliação formativa no interior da sala de aula

com os pareceres descritivos no final de cada bimestre, sem notas ou

conceitos.

Conforme a LDB 9394/96 e o regime de progressão continuada:

"A avaliação do rendimento escolar do aluno

deverá ser realizada periodicamente pelo

professor, devendo o aluno concluir o ensino

fundamental, em no máximo dez anos, podendo

repetir o ano apenas no final de cada ciclo (4ª e 8ª

série) e por faltas, em qualquer série".

A adoção do regime de progressão continuada em ciclo único no

ensino fundamental pode vir a representar a inovação mais relevante e positiva

na história recente na educação. Trata-se de uma mudança radical. Em lugar

de se procurar os culpados da não aprendizagem nos próprios alunos, ou em

suas famílias, ou nos professores, definem-se uma via de solução que não seja

a pessoal, mas sim a institucional.

A adoção desses novos critérios é uma forma de organizar os nove anos

de escolaridade em períodos plurianuais, com vista a possibilitar que o aluno

curse determinada série, sem interrupções.

Na LDB 5.692/71, artigo 14, parágrafo 4°, destaca-se o seguinte texto:

"Verificadas as necessárias condições, os sistemas de ensino poderão admitir

a adoção de critérios que permitam avanços progressivos dos alunos pela

conjugação dos elementos de idade e aproveitamento".

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Finalmente, na LDB 9394/96, a ruptura da prática classificatória é

recolocada de modo mais claro no artigo 23:

“A educação básica poderá organizar-se em

séries anuais períodos

semestrais, ciclos, alternância regular de

períodos de estudos, grupos não seriados, com

base na idade, na competência e em outros

critérios, ou por forma diversa

de organização, sempre que o interesse

do processo de aprendizagem assim o recomendar”.

A avaliação frente à nova LDB significa apropriar-se do saber. Surge um

novo olhar sobre a avaliação mudando o eixo de ensinar para o do aprender. A

avaliação é tida hoje com o sentido de verificação de como o aluno está

naquele momento para que o professor possa saber se ele atingiu ou não o

seu objetivo.

1.2. O papel do professor no processo ensino-aprendizagem

As relações humanas, embora complexas, são peças fundamentais na

realização comportamental e profissional de um indivíduo. Desta forma, a

análise dos relacionamentos entre professor/aluno envolve interesses e

intenções, sendo esta interação o expoente das conseqüências, pois a

educação é uma das fontes mais importantes do desenvolvimento

comportamental e agregação de valores nos membros da espécie humana.

Neste sentido, a interação estabelecida caracteriza-se pela seleção de

conteúdos, organização, sistematização didática para facilitar o aprendizado

dos alunos e exposição onde o professor demonstrara seus conteúdos.

Desta maneira, o aprender se torna mais i interessante quando o aluno

se sente competente pelas atitudes e métodos de motivação em sala de aula.

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O prazer pelo aprender não é uma atividade que surge espontaneamente nos

alunos, pois, não é uma tarefa que cumprem com satisfação, sendo em alguns

casos encarada como obrigação. Para que isto possa ser mais bem cultivado,

o professor deve despertar a curiosidade dos alunos, acompanhando suas

ações no desenvolver das atividades.

O professor não deve preocupar-se somente com o conhecimento

através da absorção de informações, mas também pelo processo de

construção da cidadania do aluno. Apesar de tal, para que isto ocorra, é

necessária à conscientização do professor de que seu papel é de facilitador de

aprendizagem, aberto às novas experiências, procurando compreender, numa

relação empática, também os sentimentos e os problemas de seus alunos e

tentar levá-los à auto-realização.

De modo concreto, não se pode pensar que a construção do

conhecimento é entendida como individual. O conhecimento é produto da

atividade e do conhecimento humano marcado social e culturalmente. O papel

do professor consiste em agir com intermediário entre os conteúdos da

aprendizagem e a atividade construtiva para assimilação.

A relação professor-aluno é fundamental em todos os níveis e

modalidades de ensino. Através dela o aluno pode ser motivado a construir seu

conhecimento.

Segundo VYGOTSKY apud HOFFMANN (2005) a relação educador-

educando não deve ser uma relação de imposição, mas sim, uma relação de

cooperação, de respeito e de crescimento. O aluno deve ser considerado como

um sujeito interativo e ativo no seu processo de construção de conhecimento.

Assumindo o educador um papel fundamental nesse processo, como um

indivíduo mais experiente. Por essa razão cabe ao professor considerar

também, o que o aluno já sabe sua bagagem cultural e intelectual, para a

construção da aprendizagem.

O professor como facilitador da aprendizagem, aberto às novas

experiências, procura compreender, numa relação empática, também os

sentimentos e os problemas de seus alunos e tenta levá-los à auto-realização.

A responsabilidade da aprendizagem fica também ligada ao aluno, àquilo que

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mais significativo para ele, e deve ser facilitada pelo professor. Portanto, o

processo de ensino depende da capacidade individual de cada professor, de

sua aceitação e compreensão e do relacionamento com seus alunos.

Embora neste texto tenha colocado certa ênfase na responsabilidade do

professor nesse processo de transformação, convém salientar que, sem uma

mudança mais ampla, os entraves para realizar avaliações diferentes serão

ainda muito fortes. Aos poucos, tanto as famílias, como os próprios alunos

precisam ir se convencendo da necessidade de se inovar neste campo, em prol

de uma melhor formação dos indivíduos e da qualidade do processo educativo.

As direções das instituições escolares precisarão investir no tempo de

permanência do professor na escola, para que possa aprimorar seu trabalho,

atender os alunos fora das aulas, realizarem projetos conjuntos com docentes

de outras disciplinas.

Um investimento no aperfeiçoamento profissional docente será também

passo fundamental. Segundo LUCKESI (1995) o professor precisa se tomar um

pesquisador, fazer da própria sala de aula um ambiente de pesquisa, na busca

de caminhos pedagógicos adequados, debruçando-se sobre a prática e

confrontando-a com as teorias e com as próprias convicções. Mas se entre

todos os aspectos levantados fosse necessário escolher apenas um que não

pudesse faltar, escolheríamos, sem dúvida, a postura, a atitude do professor, o

modo de conceber a avaliação, sentindo-se tão interessado quanto o aluno nos

resultados alcançados, num interesse que é fruto da consciência de que ele

comparte tanto o sucesso quanto o fracasso de seus estudantes.

1.3. O significado de aprender com afetividade

A avaliação escolar é um desafio que exige mudanças por parte do

professor. Mudança esta que requer muito estudo, reflexão e ação. Por isso,

segundo HOFFMANN (2005) requer do educador a busca pela inovação,

exigindo uma mudança na postura deste profissional tanto em relação à

avaliação propriamente dita, à educação e a sociedade que o limita.

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É por meio das metodologias e dos processos avaliativos utilizados que

o professor irá participar da reprodução ou transformação da sociedade na qual

estamos inseridos, podendo formar, ou não, sujeitos críticos e emancipados

para que possam nela conviver com equidade. Porém é cada vez mais comum

encontrar no espaço escolar uma avaliação ameaçadora. Ainda, esta avaliação

não vem considerando o aspecto sócio-emocional, o que resulta num

distanciamento entre professor e aluno.

Discutir e analisar os instrumentos de avaliação utilizados na escola,

verificando as práticas que eles revelam dentro de uma perspectiva afetiva na

relação entre ambos é compreender que afetividade e inteligência, portanto são

aspectos indissociáveis, influenciados pela socialização.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96 "oferece os dois mais

importantes princípios da afetividade e amor no âmbito escolar, o respeito à

liberdade e o apreço à tolerância, que são inspirados nos princípios de

liberdade e nos ideais de solidariedade humana". Ambos têm por fim o pleno

desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania ativa

e sua qualificação para as novas ocupações no mundo do trabalho.

No entanto, na realidade das escolas, quando procuramos decodificar o

significado de ensinar, as idéias definem o professor como agente principal e

responsável pelo ensino, sendo as atividades centralizadas em suas

qualidades e habilidades. Aprender também relaciona um único agente

principal e responsável, o aprendiz (aluno), estando às atividades centradas em

suas capacidades, possibilidades e condições para que aprenda.

Diante deste contexto, percebemos que o perfil do educador não mudou

muito. Na verdade, poucos são os que fogem ao conceito de educação

bancária, ou seja, o saber não passa de uma doação dos que se julgam sábios

aos que julgam que nada sabem, cabendo então aos sábios dar, entregar,

transmitir o seu grande saber. Portanto, a educação se torna um simples ato de

depositar, onde os educandos são os depositários e o educador o depositante.

Infelizmente a didática continua presa ao repasse mecânico, à aula

expositiva, para ser copiada e decorada. Depois é restituída na prova e,

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finalmente, na "cola" é copiada com a máxima perfeição. Portanto aula, prova e

cola são sinônimos no espírito da coisa.

A educação é componente substancial de qualquer política de

desenvolvimento, não só como bem em si e como mais eficaz instrumentação

de cidadania, mas igualmente como o primeiro investimento tecnológico.

O educador passa a ser o problematizador, que desafia os educando

que são agora investigadores críticos, permeados por constantes diálogos, pois

a educação como prática de liberdade deve negar o conceito de isolamento e

abstração do ser humano, assim como tornar o mundo uma presença

constante em seu diálogo.

1.4 Avaliação como exclusão

A avaliação não pode ser de cunho decorativo voltada para

complementação de notas. Os resultados da avaliação devem ser a chave para

a tomada de decisão sobre o que deve ser reforçado ou retocado, ou seja, um

diagnóstico que leve à análise da realidade, de onde se possa captar os

subsídios e tomar as decisões no sentido de superar os problemas

constatados. A avaliação deve ser antes de mais nada uma possibilidade de

reflexão, senão permanente, ao menos sobre as deficiências surgi das.

A avaliação escolar é sem dúvida algo de suma importância uma vez

que, é potencialmente o instrumento a ser usado na construção ou no pleno

desenvolvimento do modelo de atuação escolar. Se conduzida com caráter

reflexivo e, na medida em que sirva de termômetro a identificar as carências

apresentadas pelos alunos no decorrer no período letivo, serve como

banalizador, para que o professor possa tomar certas decisões ou executar

modificações que favoreçam o desenvolvimento necessário ao alcance pleno

dos objetivos planejados.

Segundo VASCONCELOS (2003), enquanto os alunos se perguntam o

que fazer para recuperar a nota, os docentes devem sempre se questionar

sobre a melhor maneira de recuperar a aprendizagem.

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Uma das causas do fracasso escolar está diretamente relacionada à

prática pedagógica do professor, pois é este, avalia de acordo com seus

critérios os procedimentos. Sendo assim é ele o responsável pela exclusão ou

inclusão do educando na instituição.

Se os professores criarem limites para as ações dos alunos, estes não

conseguirão construir seus pensamentos e por causa disto podem estagnar. A

construção do conhecimento está vinculada à história do aluno, através de

experiências já vivenciadas na vida real e na atividade prática.

Observa-se que a avaliação do rendimento escolar está relacionada à

fragmentação da avaliação, por conseguinte, podendo excluir o aluno da

instituição e da sociedade, através da desmotivação, do desrespeito do

professor ou de um conceito que não avaliou seu aluno na totalidade.

O fracasso escolar é visto então, como uma questão individual, próprio

de cada aluno e seus problemas. No entanto, não se pode responsabilizar

somente a ele, nem tão pouco ao professor, que muitas vezes não é preparado

para esta outra função - a de avaliador. Precisa-se, sobretudo, rever os

paradigmas da avaliação do desempenho escolar, bem como da educação

como um todo, para que a aprendizagem do aluno possa ir para além da sala

de aula.

O modelo classificatório de avaliação, onde os alunos são considerados

aprovados ou não aprovados, oficializa a concepção de sociedade excludente

adotada pela escola. O resultado da avaliação é considerado, portanto, como

uma sentença, um veredicto oficial da capacidade daquele aluno que fica

registrado e é perpetuado para o resto de sua vida O mais triste, porém é que a

publicação dos resultados não revela o que o aluno conseguiu aprender, é um

resultado fictício, definindo um perfil, pela cristalização desse falso resultado.

1.5 Alunos em recuperação

A escola é a agência de socialização na quais as crianças experimentam

pela primeira vez um sistema institucionalizado de diferenciação com base na

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realização individual a qual procura incutir a aceitação das regras de

competição próprias da estrutura.

Segundo HOFFMANN (2005):

“Avaliar nesse novo paradigma é dinamizar

oportunidades de ação-reflexão, num

acompanhamento permanente do professor e este

deve propiciar ao aluno em seu processo de

aprendizado, reflexões acerca do mundo, formando

seres críticos e participativos na construção de

verdades formuladas e reformuladas”. (p. 20)

LUCKESI (1998) diz que o modelo social conservador e suas

pedagogias respectivas permitem e procedem renovações internas ao sistema,

mas não propõem e nem permitem propostas para sua superação, o que, de

certa forma, seria um contra-senso.

Nessa perspectiva, a prática pedagógica de uma avaliação

classificatória, desconsidera o educando como sujeito humano histórico,

julgando-o e classificando-o, ficando para o resto da vida estigmatizado, pois

as anotações e registros permanecerão, em definitivo, nos arquivo e nos

históricos escolares, que se transformarão em documentos legalmente

definidos.

Cabe questionar se a compreensão que se tem dado, na prática, ao

termo recuperar, não está associado a dar uma "chance" ao aluno para

recuperar uma nota sem implicar na reflexão e revisão da metodologia aplicada

pelo professor ou o envolvimento do aluno com o seu processo ensino-

aprendizagem. Não se pode esquecer que a questão da recuperação pode

estar ligada à dificuldade que as instituições têm de oferecer uma educação

que levem em consideração as condições e necessidades dos alunos. A

postura adequada do professor é desenvolver uma investigação e desvendar

quem é seu aluno real para a reorientação de sua prática pedagógica.

O aluno em recuperação necessita ser compreendido no contexto do

ensino oferecido e suas condições para auxiliar na sua aprendizagem. Isso

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demandará, segundo HOFFANN (2000), que o professor conheça as

dificuldades específicas e individuais dos alunos. Para tanto, a análise

qualitativa dos procedimentos avaliativos, dentre eles os testes e provas,

poderão fornecer-lhe subsídios para o replanejamento didático e ao aluno,

oferecer orientações para revisão e complementação do seu processo de

aprendizagem. Neste sentido a instituição pode se valer da monitoria como

forma de recuperação, desde que seja paralela ao processo.

A recuperação assumida desta forma constituir-se-á numa proposta de

intervenção mediadora, isto é, processual.

O importante é não deixar que a nota venha distorcer e atrapalhar o

trabalho de formação do aluno· por parte do professor. Sendo o professor um

representante dos modelos e valores universais, deve garantir a todos os

alunos uma "igualdade de partida" e "oportunidades reais" para que estes

revelem as suas capacidades, recompensando o êxito de qualquer um que se

mostre capaz.

É preciso enfatizar que a finalidade principal deste tipo de prática não é

arrumar mais formas de "gerar nota" para o aluno, mas poder acompanhar

efetivamente o processo de conhecimento e fazer as retomadas necessárias.

A discussão sobre o instrumento preparado pelo professor, no sentido

de ajudá-lo a refletir a respeito do que ele quer, o que de fato está exigindo dos

alunos, se é o essencial, se a forma está apropriada, pode ser um caminho

para a conscientização.

As notas são comumente usadas para fundamentar necessidades de

classificação de alunos, dentro de um continuum de posições, onde a maior

ênfase é dada à comparação de desempenhos e não aos objetivos

instrucionais que se deseja atingir. “O aluno é classificado como inferior, médio

ou superior quanto ao seu desempenho e muitas vezes ficam presos a esse

estigma, não conseguindo revelar seu potencial”.

A impossibilidade ou o impedimento da retomada e rediscussão de

determinados conteúdos, uma vez detectadas dificuldades ou divergências, é

apenas uma dentre muitas críticas a este modelo de avaliação, que em um

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número não desprezível de casos, traduz de forma clara o não compromisso do

professor com o verdadeiro aprender do seu aluno.

Na maioria destas avaliações tradicionais, o instrumento utilizado avalia

apenas uma diminuta fração do conhecimento, geralmente àquela já

previamente constituída, exigindo do aluno apenas a capacidade de

memorização mecânica para que, quando solicitado, possa "retransmiti-la". O

aluno passa a ser um mero retransmissor, sem que haja espaço para o

desenvolvimento e exposição dos meios pelos quais o conhecimento pode ser

construído e adquirido. Passa a ser mais valorizado àquilo que o aluno lembra

do que lhe foi transmitido do que àquilo que ele pode fazer com o que

aprendeu.

Além de ser um método que supervaloriza o conhecimento já constituído

em detrimento às formas pelas quais novos conhecimentos podem ser

gerados, a avaliação tradicional inverte o verdadeiro sentido de se estar em

uma sala de aula.

A superação da visão de avaliação classificatória, sentenciva e terminal,

segundo HOFFMANN (2005) passa, em primeiro lugar pela ruptura da

dicotomia educação e avaliação que concebe a ação de educar e a ação de

avaliar como dois momentos distintos e não relacionados, ou seja, passa pelo

entendimento de que avaliação e educação são faces de uma mesma moeda.

A avaliação precisa ser entendida como parte do processo de construção do

conhecimento, como um elemento mediador e dinamizador desse processo.

A escola continua a transmitir conteúdos, medir, reter, premiar ou punir o

aluno de acordo com o seu desempenho. A questão não tem sido a de intervir

para qualificar, mas a de rotular para excluir.

Segundo HOFFMANN (1993):

“A ação avaliativa, enquanto mediação, não está ao

final do processo, mas pretende se fazer presente

entre uma tarefa do aluno e a etapa posterior de

construção, por ele, de um saber enriquecido,

complementando. O significado principal é o de

perseguir o envolvimento do aluno, sua curiosidade

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e comprometimento sobre o objeto de

conhecimento, refletindo juntamente com o

professor sobre seus avanços e suas dificuldades

buscando o aperfeiçoamento de ambos”. (p. 59)

O desenvolvimento global do acadêmico, segundo HOFFMANN (2000),

só poderá ser analisado qualitativamente, no sentido da observação do seu

desempenho nas suas mais diferentes manifestações. A autora sinaliza que o

essencial é entender-se o qualitativo como descritivo, mas a mera descrição de

dados é quantitativa. Há que se situar a ação do aluno no contexto onde o

professor interpreta, qualifica os dados descritos. Neste sentido, uma descrição

sem análise e reflexão não deixa de ser quantitativa, portanto classificatória ou

numérica. Considera que a análise qualitativa de uma tarefa de aprendizagem

compreende, deste modo, descrever o nível de compreensão e interpretação

do aluno em relação a uma determinada área de conhecimento.

Um bom professor é o que leve em conta a realidade do aluno

mobilizando-o para o conhecimento.

1.6 Um novo olhar para avaliação

A escola que até agora tinha como papel principal a classificação de

alunos, determinando aqueles que seriam dirigentes e aqueles que seriam

dirigidos, numa atitude de exclusão se sente impotente diante da nova tarefa

que lhe é imposta: a de inclusão.

E toda estrutura que havia sido montada para a escola de exclusão

social, tem que ser desmontada, para que se possa construir a escola de

inclusão social. Para isso há que se pensar em uma nova estruturação do

tempo escolar e uma nova estruturação no campo da formação dos

profissionais da educação.

Segundo LUCKESI (1995), o fim da avaliação classificatória que teria

que ser vista como um avanço, devido as distorções historicamente

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acumuladas, vem sendo um campo de equívocos e discórdias entre os

profissionais da educação. Precisa-se superar os limites e as contradições e

seguir adiante, acreditando que um outro mundo é possível, conscientes de

que a humanidade pode e deve ser mais feliz. E este outro mundo precisa

contar com uma outra educação, que implica também em uma outra forma de

avaliação escolar, pois a que temos até agora tem provocado enormes

estragos. Se não mudarmos de Paradigmas, se não descondicionarmos o

olhar, torna-se mais difícil vislumbrar novas possibilidades.

Segundo HOFFMANN (1998):

"Como defendem Piaget e Vygotsky, interesses

afetivos despertam novas curiosidades intelectuais

no sujeito e essas novas descobertas geram novos

interesses, sem que haja inicio, meio ou fim nesse

processo. Da mesma forma conquistas em nível do

desenvolvimento motor representam

indissociadamente conquistas afetivas e

intelectuais". (p. 39)

Entendemos com VASCONCELLOS (l994), que a avaliação como

processo é contínua. Resulta do acompanhamento do professor ao processo

de construção do conhecimento pelo aluno. Significa, portanto, que avaliação e

ensino vinculam-se no cotidiano do trabalho pedagógico e não apenas em

momentos especiais. Esta perspectiva rompe com a visão linear de ensino e

avaliação, adotando-se a concepção processual em que não se avalia somente

ao aluno, mas todos os elementos que constituem a relação pedagógica.

Por conseguinte é necessário o desenvolvimento de uma metodologia

que reconheça e respeite as individualidades e priorize a apropriação de

conhecimento. Uma redefinição de prática pedagógica passa, necessariamente

por uma redefinição teórica, caso contrário, teremos uma atividade docente

sem os fundamentos que lhe dão sentido.

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CAPÍTULO II

DISLEXIA

Segundo Newra Rotta e Fleming Pedroso (2006) podemos entender que

em 1872, Berlin utilizou pela primeira vez o termo dislexia, que posteriormente

foi usado por Kerr. Em 1896, Morgan publicou no Britian Medical Journal, o

interessante caso de um adolescente com incapacidade para ler, embora, se

avaliado cognitivamente, deveria ter condições de fazê-lo. Chamou essa

situação peculiar de “cegueira verbal”. Em 1907, Stevenson mantém essa

terminologia ao relatar o estudo, em uma família, de seis casos de “cegueira

verbal”, já apontando para o aspecto genético.

A expressão dislexia ressurge em 1917 com Hinshelwood, que

encontrara um paciente com inteligência normal e com dificuldade para

aprender a ler e escrever. Observou distorções perceptivas em crianças que

não conseguiam reconhecer ou compreender palavras impressas. Ele conclui

que a causa mais provável desse grave distúrbio de leitura era um defeito

congênito no cérebro, afetando a memória visual de palavras e de letras. Os

oftalmologistas foram os profissionais que primeiro auxiliaram no

reconhecimento da dislexia. Suas observações mostraram que a dificuldade

não estaria nos olhos, mas no funcionamento de áreas de linguagem no

cérebro.

Em 1925, uma pesquisa sobre as causas de encaminhamento de

crianças para unidades de saúde mental, nos Estados Unidos, mostrou que as

dificuldades para ler, escrever e soletrar se constituíam nas causas mais

freqüentes. Nessa época, Orton (1937) se dedicava aos estudos dos

transtornos da aprendizagem e, em 1928, publicou um trabalho clínico

descrevendo as distorções perceptivo-linguisticas específicas em crianças com

graves habilidades de leitura. Muitas dessas crianças faziam inversões e

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imagem espelhadas de letras e palavras. O autor sugeriu que o fenômeno era

provocado por imagem competitivas nos dois hemisférios cerebrais devido à

falência em estabelecer dominância cerebral unilateral e consistência

perceptiva. Denominou essa condição de estrefossimbolia, símbolos invertidos,

denominação ainda aceita como um dos principais sinais de diagnóstico de

dislexia. Mais tarde, após um período de dez anos de estudo dos transtornos

da linguagem e da leitura, Orton concluiu que o único fator comum em tais

situações era a dificuldade de redesenhar ou reconstruir, na ordem de

apresentação, seqüências de letras, sons, ou unidades de movimentos.

Estudou famílias de disléxicos e encontrou algumas alterações, como escrita

em espelho, e chamou também a atenção para o aspecto genético.

Em 1924, Apert e Poltz, com base na possível imaturidade

psiconeurológica, denominaram a dislexia da criança de dislexia de evolução.

Essa concepção foi corroborada por Orton, em 1930, quando sugeriu a

relação entre dislexia e dificuldades na dominância lateral.

No entanto, só em 1950 Hallgério publica o primeiro estudo clínico e

genérico do que chamou de dislexia “específica”, em substituição á expressão

“cegueira verbal congênita”. A partir daí inúmeros pesquisadores interessados

no entendimento da aquisição da linguagem escrita, principalmente psicólogos,

colocaram ao lado da origem cerebral maturativa os aspectos psicológicos e a

influência das adversidades sociais. Puderam por meio de diversos testes

psicológicos, ainda hoje importantes para o diagnóstico da dislexia, observar

também falhas no desenvolvimento da linguagem oral. Foram observadas

alterações em outras funções cerebrais superiores, tais como noção de

espaço, de tempo e dificuldades viso espaciais, tão importantes para o

desenvolvimento da leitura e da escrita.

A década de 1990 foi pródiga em trabalhos que tentavam desvendar os

aspectos genéticos envolvidos na dislexia. Por outro lado, inúmeros autores,

utilizando-se de exames complementares, provaram à possibilidade de

malformação ou alterações funcionais cerebrais em crianças disléxicas.

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2.1 Definição da dislexia

Segundo o site sobre dislexia na década de 1960, autores como Orton,

Hermen, Eisemberg e Thompson se preocuparam com a definição correta de

dislexia.

Em 1975, Critchley relatou que, segundo a definição da World

Federation of Neurology, a dislexia é um transtorno manifestado por dificuldade

na aprendizagem da leitura, independentemente de instrução convencional,

inteligência adequada e oportunidade sociocultural.

O Dr. Samuel Orton, afirma que a falta de consenso no entendimento

do que é Dislexia, começou a partir da decodificação do termo criado para

nomear essas específicas dificuldades de aprendizado; que foi eleito o

significado latino dys, como dificuldade; e lexia, como palavra. Mas que é na

decodificação do sentido da derivação grega de Dislexia, que está à

significação intrínseca do termo: dys, significando imperfeito como disfunção,

isto é, uma função anormal ou prejudicada; e lexia que, do grego, dá

significação mais ampla ao termo palavra, isto é, como Linguagem em seu

sentido abrangente.

Por toda complexidade do que, realmente, é Dislexia; por muita

contradição derivada de diferentes focos e ângulos pessoais e profissionais

de visão; porque os caminhos de descobertas científicas que trazem

respostas sobre essas específicas dificuldades de aprendizado têm sido

longos e extremamente laboriosos, necessitando, sempre, de consenso, é

imprescindível um olhar humano, lógico e lúcido para o entendimento maior

do que é Dislexia.

Dislexia é uma específica dificuldade de aprendizado da Linguagem:

em Leitura, Soletração, Escrita, em Linguagem Expressiva ou Receptiva, em

Razão e Cálculo Matemáticos, como na Linguagem Corporal e Social. Não

tem como causa falta de interesse, de motivação, de esforço ou de vontade,

como nada tem a ver com acuidade visual ou auditiva como causa primária.

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Dificuldades no aprendizado da leitura, em diferentes graus, é

característica evidenciada em cerca de 80% dos disléxicos.

Definida como um distúrbio ou transtorno de aprendizagem na área da

leitura, escrita e soletração, a dislexia é o distúrbio de maior incidência nas

salas de aula. Pesquisas realizadas em vários países mostram que entre 05%

e 17% da população mundial é disléxica.

Ao contrário do que muitos pensam a dislexia não é o resultado de má

alfabetização, desatenção, desmotivação, condição sócio-econômica ou baixa

inteligência. Ela é uma condição hereditária com alterações genéticas,

apresentando ainda alterações no padrão neurológico.

Por esses múltiplos fatores é que a dislexia deve ser diagnosticada por

uma equipe multidisciplinar. Esse tipo de avaliação dá condições de um

acompanhamento mais efetivo das dificuldades após o diagnóstico,

direcionando-o às particularidades de cada indivíduo, levando a resultados

mais concretos.

Atualmente, observa-se um fenômeno de “vulgarização” do termo

dislexia, devido a uma não-uniformização nos critérios de abrangência do

termo, o que gera uma confusão tanto no meio acadêmico quanto clínico. Em

conseqüência segundo SÔNIA MOOJEN (2006), há um reflexo na forma como

as informações são vinculadas no meio científico e de comunicação social.

2.2 Leitura e dislexia

Para definir dislexia, faz-se necessário definir antes leitura, que de forma

ampla é entendida como interpretação de qualquer sinal que, chegando aos

órgãos dos sentidos, conduza os pensamentos a outra situação além dele

próprio. A leitura de forma restrita refere-se a interpretação de sinais gráficos

que uma comunidade convencionou utilizar para substituir os sinais lingüísticos

da fala, ou seja, quando se trata de substituir, pela fala ou mentalmente, um

conjunto de sinais gráficos que formam palavras.

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Segundo SMITH apud NEWRA ROTA (2006), fala-se de leitura em

sentido estrito quando nossa atenção se dirige para um texto escrito, não

estando em jogo sua extensão ou complexidade. O texto pode conter apenas

uma palavra ou pode estar expresso em muitas delas; pode servir como aviso

ou chamadas; pode servir para expor sentimentos e idéias, ou para estimular a

reflexão. A leitura é, portanto, uma forma de dar sentido ao que está escrito, e

não de decodificar a palavra em sons.

Toucambert, em 1994, explica que, na leitura voluntária, o significado de

um texto escrito é principalmente dependente das informações da memória do

leitor, e há o que se deve a informações do texto associadas às informações

sonoras.

Freire, em 1995, relata que a leitura é a capacidade de tirar conclusões

utilizando mais do que as informações coletadas no texto, ou seja, capacidades

de levantar hipóteses, de conceber novas idéias e soluções, a partir da

experiência da leitura.

Diante do exposto fica claro o fato de que a leitura é uma forma

complexa de aprendizagem simbólica, na qual mudanças relativamente triviais

em uma palavra podem alterar completamente sua pronúncia e significado. É

um processo que envolve linguagem escrita, atenção, habilidade motora, vários

tipos de memória, organização de texto e imagem mental.

O processo de leitura varia de individuo para individuo, dependendo de

fatores como idade, maturação, sexo, hereditariedade, tipo de língua, instrução

prática e motivação.

Assim, considerando a dislexia um transtorno lingüístico e a sua

característica de persistência dos problemas da infância à vida adulta, é

possível que se descrevam manifestações nas diferentes fases, traçando o

caminho (ou descaminho) do desenvolvimento da linguagem. É importante

destacar que a presença dessas características, particularmente na pré-escola

e séries iniciais, não determina um quadro disléxico por si só. Servem, contudo,

de sinal de alerta para problemas presentes ou futuros no desenvolvimento da

linguagem escrita em geral.

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Na educação infantil (0 a 6 anos) observa-se: Certa lentidão no

desenvolvimento das habilidades da fala e linguagem expressiva - de modo

geral, atrasando a aquisição dos fonemas e a automatização de uma fala

semelhante ao padrão dos adultos; dificuldade em tarefas que exijam

habilidades fonológicas, tais como dividir uma palavra em pedaços e brincar

com rima; dificuldade para conhecer as letras e evocar palavras (vocabulário

restrito).

No período escolar observa-se: desempenho inferior nas tarefas de

habilidades fonológicas; déficits na nomeação rápida; dificuldades em aprender

a ler e a escrever; memória verbal de curto prazo deficiente; dificuldade de

aprender seqüências comuns (dias da semana, meses do ano); dificuldades

em língua estrangeira; dificuldades na matemática não aparecerão na

capacidade de desenvolver o cálculo aritmético, mas, em alguns casos,

durante a tentativa de interpretar o problema lido.

Na fase adulta: tendência de leitura lenta, embora alguns sejam capazes

de ler corretamente; dificuldade com a ortografia e a produção textual;

dificuldades em língua estrangeira.

2.3 Tipos de dislexia

Para classificar os tipos de dislexia, é necessário descrever as duas vias

independentes que possibilitam o reconhecimento de uma palavra escrita: a via

léxica, ou direta - na qual se estabelece uma conexão direta entre a forma

visual da palavra, a pronúncia e o significado na memória lexical (como se

fosse uma fotografia da palavra). Ocorre diante de palavras familiares; e a via

fonológica, indireta, pré-léxica ou de subpalavras - é um processo de

recodificação fonológica que envolve a aplicação de um conjunto de regras de

conversão letra-som. Ocorre diante de palavras desconhecidas.

A partir do Modelo Dual é possível classificar a dislexia em três tipos:

Dislexia fonológica (sublexical ou disfonética) - Caracterizada por uma

dificuldade seletiva para operar a rota fonológica durante a leitura,

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apresentando, não obstante, um funcionamento aceitável da rota lexical; com

freqüência os problemas residem no conversor fonema-grafema e/ou no

momento de juntar os sons parciais em uma palavra completa. Sendo assim,

as dificuldades fundamentais residem na leitura de palavras não-familiares,

sílabas sem sentido ou pseudopalavras, mostrando melhor desempenho na

leitura de palavras já familiarizadas. Subjacente a essa via, encontra-se

dificuldade em tarefas de memória e consciência fonológica. Considerando o

grande esforço que fazem para reconhecer as palavras, portanto, para manter

uma informação na memória de trabalho, são obrigados a repetir os sons para

não perdê-los definitivamente. Como conseqüência, toda essa concentração

despendida no reconhecimento das palavras acarreta em dificuldades na

compreensão do que foi lido.

Dislexia lexical (de superfície) - As dificuldades residem na operação da

rota lexical (preservada ou relativamente preservada a rota fonológica),

afetando fortemente a leitura de palavras irregulares. Nesses casos, os

disléxicos lêem lentamente, vacilando e errando com freqüência, pois ficam

escravos da rota fonológica, que é morosa em seu funcionamento. Diante

disso, os erros habituais são silabações, repetições e retificações, e, quando

pressionados a ler rapidamente, cometem substituições e lexicalizações; às

vezes situam incorretamente o acento prosódico das palavras.

Dislexia mista - Nesse caso, os disléxicos apresentam problemas para

operar tanto com a rota fonológica quanto com a lexical, são assim situações

mais graves e exigem um esforço ainda maior para atenuar o

comprometimento das vias de acesso ao léxico.

2.4 O disléxico na escola

Durante o acompanhamento do disléxico, é necessário estabelecer uma

sintonia entre todos que estão envolvidos com as questões de aprendizagem

desse indivíduo. A família deve estar orientada quanto às dimensões que

envolvem o problema para poder melhor estabelecer o trânsito de informações

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com o psicopedagogo e com a escola. Segundo Sanchez (1996), a formação

dessa rede é indispensável para avaliar os progressos, os pontos de

dificuldades, os tropeços e a necessidade de mudança de estratégias.

Considerando que é no ambiente escolar que as dificuldades aparecem

de forma crucial, que as condições intelectuais estão preservadas no disléxico

e que não há cura plena para esse transtorno, uma das tarefas mais

importantes do psicopedagogo é garantir uma série de adaptações

pedagógicas na escola. O disléxico deve progredir na escolaridade,

independentemente de suas dificuldades em leitura e escrita. Deve estar muito

claro que o problema não é devido à falta de motivação ou à preguiça.

Algumas atitudes podem evitar problemas de frustração e baixa auto-

estima, muito freqüentes nos disléxicos, são elas: Atitudes - dar a entender ao

disléxico que seu problema é conhecido e que será feito o possível para ajudá-

lo, dar-lhe uma atenção especial e encoraja-lo a perguntar em caso de alguma

dúvida. Para tanto seria recomendável que o disléxico sentasse perto do

professor para facilitar a ajuda, Colocar em grupos com os que não são

disléxicos para fazer o dever. Comprovar sempre que o material oferecido para

ler é apropriado para o seu nível leitor, não pretendendo que alcance um nível

leitor igual ao dos colegas, destacar sempre os aspectos positivos em seus

trabalhos e não fazê-lo repetir um trabalho escrito pelo fato de tê-lo feito mal,

evitar que tenha que ler em público, pois assim só estará desestimulando. Em

situações em que isso é absolutamente necessário, oportunizar que ele

prepare a leitura em casa. Aceitar que se distraia com maior facilidade que os

demais, posto que a leitura lhe exige um superesforço e nunca ridicularizá-lo.

Já na proposta de ação pedagógica precisa: Ensinar a resumir

anotações que sintetizem o conteúdo de uma explicação, permitir o uso de

meios informáticos e de corretores, permitir se necessário, o uso da

calculadora e de gravador. Particularmente no ensino superior, o disléxico é

beneficiado ao gravar as aulas já que tem dificuldade para ouvir e escrever ao

mesmo tempo. A fita gravada lhe garantirá tranqüilidade no momento de

participar da aula e, ao mesmo tempo, possibilitará ouvi-la diversas vezes em

casa para aprender melhor o conteúdo. Usar materiais que permitem

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visualizações (figuras, gráficos, ilustrações) para acompanhar o texto impresso,

evitar, sempre que possível, a cópia de textos longos do quadro de giz, dando-

lhe uma fotocópia e diminuir os deveres de casa envolvendo leitura e escrita.

Na aprendizagem de línguas estrangeiras Considerando o esforço que

os disléxicos fazem para dominar a fonologia de sua língua materna desde o

nascimento, é difícil também que eles dominem uma nova língua. Shaywitz

(2006) sugere que, em caso de muita dificuldade, seja requerida isenção de

língua estrangeira, substituindo essa disciplina pela elaboração de projetos

independentes sobre conhecimentos relativos à cultura do país em que falam

esta língua.

E na avaliação escolar é preciso: Realizar, sempre que possível,

avaliações orais conduta válida em todos os níveis de ensino, particularmente

no ensino superior, prever tempo extra como recurso obrigatório, não opcional,

pois a capacidade de aprender do disléxico está intacta e ele simplesmente

precisa de tempo para acessá-la. Como o disléxico não automatizou a leitura,

terá que ler pausadamente, com muito esforço, e se apoiar nas suas

habilidades mais altas de pensamento. Ele precisa utilizar o contexto para

entender o significado da palavra, um caminho mais longo e indireto e que

requer um tempo extra, evitar a utilização de testes de múltipla escolha que,

pelo fato de descontextualizarem as informações e reduzirem o tempo de

execução, tornam-se muito difíceis para o disléxico. Esses testes não são

indicadores do conhecimento adquirido por ele, valorizar sempre os trabalhos

pelo seu conteúdo e não pelos erros de escrita, oportunizar um local tranqüilo

ou sala individual para fazer testes ou avaliações para que o disléxico possa

focar a sua atenção na tarefa que tem para realizar. Qualquer barulho ou

distração atrapalhará a leitura, fazendo com que ele mude a atenção da leitura,

o que interfere na performance no teste.

Diante disso fica clara a exclusão de disléxicos em provas de

vestibulares, concursos, etc. Devemos falar da inclusão, porém o melhor seria

se colocássemos ela em prática, pois só assim teremos uma educação

igualitária.

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2.5 Avaliação para disléxicos

Inicialmente, o psicopedagogo pode avaliar a linguagem escrita do

disléxico, desde que relacionem os conhecimentos de aquisição da leitura,

escrita e habilidades fonológicas. Os seguintes procedimentos são básicos:

Anamnese com pais ou cuidadores - Esse procedimento tem a finalidade

de obter informações sobre a história da criança, verificar se a experiência

educativa foi normal, descartar problemas auditivos ou visuais, bem como

examinar a ocorrência de problemas semelhantes em familiares. O profissional

precisa estar seguro quanto à experiência educativa da criança e sua

assistência às classes. Por isso também se justifica a investigação do contexto

educativo e familiar, identificando o que é exigido para a função de ler e

escrever, que tipo de ajuda a criança recebe para realizá-la e em que grau se

responsabiliza.

Testes de leitura - A aplicação de um teste de decodificação de silabas

complexas, palavras e pseudopalavras têm a finalidade de revelar o uso das

vias de reconhecimento, a velocidade, a presença de substituições, omissões,

inversões, transposições, adições e retificações.

A observação da leitura (silenciosa e oral) de textos tem como objetivo a

análise de estratégias de reconhecimento de palavras e de compreensão,

velocidade, nível de esforço, tipos de erros, ritmo e expressão, aproximação

texto-olhos, movimentos de olhos e cabeça, sentimentos expressos antes,

durante e depois da leitura.

Testes de escrita - A aplicação de um ditado balanceado e padronizado

e um ditado de texto, acompanhado de análise quantitativa e qualitativa dos

erros (vacilações, reescritas, sentimentos expressos) propõe-se a avaliar a

escrita. Também se analisa a produção textual para avaliar coerência, coesão,

uso de pontuação, concordância nominal e verbal, ortografia, etc.

Muitas vezes, é útil a análise de uma cópia de texto (máximo 5 minutos)

para observar distância texto-olhos, porções copiadas, velocidade, tipos de

erros, qualidade do grafismo, postura, etc.

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Habilidades metafonológicas - Um teste de consciência fonológica que

busca particularmente analisar habilidades de síntese, segmentação,

identificação, omissão, acréscimo, transposição de sílabas, fonemas e

unidades intrassilábicas, entre outras.

Outros - Há necessidade de testes referentes a habilidades de seriação,

memória, fluência verbal, processamento auditivo, bem como uma análise

minuciosa do material escolar e das fichas de avaliação, desde o início de sua

vida escolar.

2.6 Tratamento

O tratamento está centrado na reeducação da linguagem escrita,

abordando todos os aspectos envolvidos. O psicopedagogo treinado para

trabalhar com transtornos específicos da linguagem escrita, parte de um

diagnóstico completo, necessário para que seja feito um planejamento, para

cada etapa, seguindo uma cronologia adequada.

Segundo a International Dyslexia Society apud Rotta (2006), na dislexia

deve ser sempre observado que as diferenças são pessoais, o diagnóstico é

clínico, o entendimento é científico e o tratamento é educacional.

Tanto o diagnóstico como os tratamentos podem ter características

multidisciplinares, principalmente interdisciplinares, porque só dessa forma

poderão ser abordados, no momento certo, cada um dos aspectos de um todo,

que deve ser encarado de maneira uniforme.

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CAPITULO III

PSICOPEDAGOGO

A Psicopedagogia constitui-se em uma justaposição de dois saberes -

psicologia e pedagogia - que vai muito além da simples junção dessas duas

palavras. Isto significa que é muito mais complexa do que a simples

aglomeração de duas palavras, visto que visa a identificar a complexidade

inerente ao que produz o saber e o não saber. É uma ciência que estuda o

processo de aprendizagem humana, sendo o seu objeto de estudo o ser em

processo de construção do conhecimento.

Segundo Bossa (1994) a psicopedagogia surgiu no Brasil devido ao

grande número de crianças com fracasso escolar e de a psicologia e a

pedagogia, isoladamente, não darem conta de resolver tais fracassos. O

Psicopedagogo, por sua vez, tem a função de observar e avaliar qual a

verdadeira necessidade da escola e atender aos seus anseios, bem como

verificar, junto ao Projeto Político-Pedagógico, como a escola conduz o

processo ensino-aprendizagem, como garante o sucesso de seus alunos e

como a família exerce o seu papel de parceira nesse processo.

Considerando a escola responsável por grande parte da formação do ser

humano, o trabalho do Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter

preventivo no sentido de procurar criar competências e habilidades para

solução dos problemas. Com esta finalidade e em decorrência do grande

número de crianças com dificuldades de aprendizagem e de outros desafios

que englobam a família e a escola, a intervenção psicopedagógica ganha,

atualmente, espaço nas instituições de ensino.

No Brasil, a formação do psicopedagogo vem ocorrendo em caráter

regular e oficial desde a década de 70 em instituições universitárias de renome.

Esta formação foi regulamentada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC)

em cursos de pós-graduação e especialização, com carga horária mínima de

360h. O curso deve atender às exigências mínimas do Conselho Federal de

Educação quanto à carga horária, critérios de avaliação, corpo docente e

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outras. Não há normas e critérios para a estrutura curricular, o que leva a uma

grande diversificação na formação.

Os cursos de psicopedagogia formam profissionais aptos a trabalhar na

área clínica e institucional, que pode ser a escolar, a hospitalar e a empresarial.

No Brasil, só poderão exercer a profissão de psicopedagogo os portadores de

certificado de conclusão em curso de especialização em psicopedagogia em

nível de pós-graduação, expedido por instituições devidamente autorizadas ou

credenciadas nos termos da lei vigente - Resolução 12/83, de 06/10/83 - que

forma os especialistas, no caso, os então chamados "especialistas em

psicopedagogia" ou psicopedagogos.

A lei que trata do reconhecimento da profissão de psicopedagogo está

na câmara dos deputados federais. Os psicopedagogos elaboraram vários

documentos nos anos de 1995 e 1996, explicitando suas atribuições, seu

campo de atuação, sua área científica e seus critérios de formação acadêmica,

um trabalho que contou com a colaboração de muitos.

O psicopedagogo possui a Associação Brasileira de Psicopedagogia

(ABPp) como elo de interlocução. A ABPp iniciou com um grupo de estudos

formado por profissionais preocupados com os problemas de aprendizagem,

sendo que, atualmente, também busca o reconhecimento da profissão.

No momento, a profissão de Psicopedagogo, tendo em vista o trabalho

de outras gestões da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia) e

dessa última, tem amparo legal no Código Brasileiro de Ocupação. Isto quer

dizer que já existe a ocupação de Psicopedagogo, porém, isso não é suficiente.

Faz-se necessário que esta profissão seja regulamentada.

3.1 Áreas de atuação do psicopedagogo

O psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, de forma preventiva e

terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento e das

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aprendizagens humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar

dos problemas que podem surgir.

Numa linha preventiva, o psicopedagogo pode desempenhar uma

prática docente, envolvendo a preparação de profissionais da educação, ou

atuar dentro da própria escola. Na sua função preventiva, cabe ao

psicopedagogo detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem;

participar da dinâmica das relações da comunidade educativa a fim de

favorecer o processo de integração e troca; promover orientações

metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos;

realizar processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto

na forma individual quanto em grupo.

Numa linha terapêutica, o psicopedagogo trata das dificuldades de

aprendizagem, diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas,

orientando pais e professores, estabelecendo contato com outros profissionais

das áreas psicológicas, psicomotora, fonoaudiológica e educacional, pois tais

dificuldades são multifatoriais em sua origem e, muitas vezes, no seu

tratamento.

3.2 O psicopedagogo na instituição escolar

Diante do baixo desempenho acadêmico, as escolas estão cada vez

mais preocupadas com os alunos que têm dificuldades de aprendizagem, não

sabem mais o que fazer com as crianças que não aprendem de acordo com o

processo considerado normal e não possuem uma política de intervenção

capaz de contribuir para a superação dos problemas de aprendizagem.

Neste contexto, o psicopedagogo institucional, como um profissional

qualificado, está apto a trabalhar na área da educação, dando assistência aos

professores e a outros profissionais da instituição escolar para melhoria das

condições do processo ensino-aprendizagem, bem como para prevenção dos

problemas de aprendizagem.

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Por meio de técnicas e métodos próprios, o psicopedagogo possibilita

uma intervenção psicopedagógica visando à solução de problemas de

aprendizagem em espaços institucionais. Juntamente com toda a equipe

escolar, está mobilizado na construção de um espaço adequado às condições

de aprendizagem de forma a evitar comprometimentos. Elege a metodologia

e/ou a forma de intervenção com o objetivo de facilitar e/ou desobstruir tal

processo.

Os desafios que surgem para o psicopedagogo dentro da instituição

escolar relacionam-se de modo significativo. A sua formação pessoal e

profissional implicam a configuração de uma identidade própria e singular que

seja capaz de reunir qualidades, habilidades e competências de atuação na

instituição escolar.

3.3 O psicopedagogo junto à família

O conhecimento e o aprendizado não são adquiridos somente na escola,

mas também são construídos pela criança em contato com o social, dentro da

família e no mundo que a cerca. A família é o primeiro vínculo da criança e é

responsável por grande parte da sua educação e da sua aprendizagem.

É por meio dessa aprendizagem que a criança é inserida no mundo

cultural, simbólico e começa a construir seus conhecimentos, seus saberes.

Contudo, na realidade, o que temos observado é que as famílias estão

perdidas, não estão sabendo lidar com situações novas: pais trabalhando fora

o dia inteiro, pais desempregados, brigas, drogas, pais analfabetos, pais

separados e mães solteiras. Essas famílias acabam transferindo suas

responsabilidades para a escola, sendo que, em decorrência disso,

presenciamos gerações cada vez mais dependentes e a escola tendo que

desviar de suas funções para suprir essas necessidades.

A escola, como observa SARRAMONA (2005), veio ocupar uma das

funções clássicas da família que é a socialização: A escola se converteu na

principal instituição socializadora, no único lugar em que os meninos e as

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meninas têm a possibilidade de interagir como iguais e onde se devem

submeter continuamente a uma norma de convivência coletiva.

Considerando o exposto, cabe ao psicopedagogo intervir junto à família

das crianças que apresentam dificuldades na aprendizagem, por meio, por

exemplo, de uma entrevista e de uma anamnese com essa família para tomar

conhecimento de informações sobre a sua vida orgânica, cognitiva, emocional

e social.

O que a família pensa, seus anseios, seus objetivos e expectativas com

relação ao desenvolvimento de seu filho também são de grande importância

para o psicopedagogo chegar a um diagnóstico.

Segundo BOSSA (1994):

“O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um

contínuo sempre revisável, onde a intervenção do

psicopedagogo inicia, segundo vimos afirmando,

numa atitude investigadora, até a intervenção. É

preciso observar que esta atitude investigadora, de

fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria

intervenção, com o objetivo de observação ou

acompanhamento da evolução do sujeito”. (p. 74)

Na maioria das vezes, quando o fracasso escolar não está associado às

desordens neurológicas, o ambiente familiar tem grande participação nesse

fracasso. Boas partes dos problemas encontrados são lentidões de raciocínio,

falta de atenção e desinteresse. Esses aspectos precisam ser trabalhados para

se obter melhor rendimento intelectual. Lembramos que a escola e o meio

social também têm a sua responsabilidade no que se refere ao fracasso

escolar.

A família desempenha um papel decisivo na condução e evolução do

problema acima mencionado, pois, muitas vezes, não quer enxergar essa

criança com dificuldades, essa criança que, muitas vezes, está pedindo

socorro, pedindo um abraço um carinho, um beijo e que não produz na escola

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para chamar a atenção para o seu pedido, a sua carência. Esse vínculo afetivo

é primordial para o bom desenvolvimento da criança.

Sabemos que uma criança só aprende se ela tem o desejo de aprender.

E para isso é importante que os pais contribuam para que ela tenha esse

desejo.

Existe um desejo por parte da família quando a criança é colocada na

escola, pois da criança é cobrado que seja bem-sucedida. Porém, quando

esse desejo não se realiza como esperado, surgem à frustração e a raiva que

acabam colocando a criança num plano de menos valia, surgindo, daí, as

dificuldades na aprendizagem. Uma criança pode desistir da escola porque

aceita uma responsabilidade emocional, encarregando-se do cuidado de algum

membro da família. Isso se produz, em resposta à depressão da mãe e da falta

de disponibilidade emocional do pai que, de maneira inconsciente, ratifica a

necessidade que tem a esposa, que seu filho a cuide.

A intervenção psicopedagógica também se propõe a incluir os pais no

processo, por intermédio de reuniões, possibilitando o acompanhamento do

trabalho realizado junto aos professores. Assegurada uma maior compreensão,

os pais ocupam um novo espaço no contexto do trabalho, abandonando o

papel de meros espectadores, assumindo a posição de parceiros, participando

e opinando.

Os pais precisam ter o elo entre a escola e seu filho para que assim eles

consigam se sentir sempre valorizados.

3.4 Processo de avaliação psicopedagógica

O número e o tipo de sessões necessárias para a realização da

avaliação psicopedagógica dependem sempre das queixas apresentadas pelos

pais, pela escola ou pelo profissional que encaminhou o caso. O desafio é

realizar a avaliação mais ampla possível em um menor espaço de tempo, uma

vez que nem todas as crianças ou adolescentes que procuram um

psicopedagogo necessitam ser “tratadas” por ele.

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O processo de avaliação deve incluir um encontro com os pais ou

responsáveis para a coleta do histórico pessoal e familiar (anamnese) e análise

do material escolar da criança. Os dados dessa avaliação, depois de

analisados, devem ser mostrados aos pais ou responsáveis em uma entrevista

devolutiva.

Cabe ressaltar a importância das informações obtidas pelo

psicopedagogo na primeira entrevista, pois as primeiras queixas relatadas

evidenciam o que mais mobiliza os pais.

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CONCLUSÃO

A escola é como um espelho, para a vida prática, nos cursos de

licenciatura, formaremos professores, que seguirão seus mestres e como

espelhos cometerão os mesmos acertos e os mesmos erros que eles, isto se

torna um círculo vicioso onde os mesmos erros vêm sendo cometidos ao longo

de décadas, por isso a reflexão sobre a prática avaliativa do docente tem que

ser um ato concreto.

A formulação das idéias precedentes, qualquer das formas alternativas

de avaliar a aprendizagem dos alunos que seja utilizada está a serviço,

prioritariamente, de quem aprende. Em nenhum caso, nos leva a pensar que

isso significa que basta baixar os níveis de exigência para garantir êxitos

desvalorizados. Mais que rebaixar exigências de quem aprende, trata-se de

avaliar a qualidade humana e intelectual de quem ensina, assegurando em

cada caso a qualidade da aprendizagem que é construída.

Um educador, que se preocupa com que a sua prática educacional

esteja voltada para a transformação, não poderá agir inconsciente e

irrefletidamente. Cada passo de sua ação deverá estar marcado por uma

decisão clara e explícita do que está fazendo e para onde possivelmente está

encaminhando os resultados de sua ação.

Desde o momento em que a alfabetização passou a ser um dos grandes

objetivos da sociedade, a preocupação da comunidade científica tem-se

centrado no desenvolvimento de estudos sobre o processo de aprendizagem.

Especialmente, o termo dislexia, na atualidade, tem despertado muito interesse

pela discrepância existente entre o conceito de inteligência e o desempenho

escolar. Como explicar que alunos com condições intelectuais evidentes

possam desempenhar-se tão mal diante de tarefas de leitura e de escrita? Uma

pequena parcela de disléxicos, rompendo com todas as barreiras impostas,

estão entrando na universidade e requerendo o direito de promoção

acadêmica. O tema tem gerado questionamento e atenção de muitos

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especialistas, que ao mesmo tempo trazem significativos aportes diferenciados,

criando nomenclaturas variadas e abrangências diferentes ao termo.

Segundo MOOJEN (2006), há diversos tipos de problemas capazes de

interferir no desempenho escolar, que deveriam ser tratados com mais atenção

por educadores, familiares e profissionais envolvidos na avaliação no

desenvolvimento humano geral.

A importância dada aos problemas relacionados à aprendizagem tem

aumentado significativamente na atualidade. Isso se deve em grande parte ao

fato de que o sucesso do indivíduo está ligado ao bom desempenho escolar.

Por isso, um número cada vez mais de crianças é atendido por psicólogo,

psicopedagogo, fonoaudiólogos, etc.

Para ADAMS apud LYGIA OHLWEILER (2006), as dificuldades

específicas para a aprendizagem se refere àquela situação que ocorre com

crianças que não conseguem um grau de adiantamento escolar compatível

com sua capacidade cognitiva e que não apresentam problemas auditivos,

visuais, sensoriais ou psicológicos importantes que possam explicar tais

dificuldades.

Os termos utilizados, tais como distúrbios, dificuldades, problemas

discapacidades, transtornos, são encontrados na literatura, e muitas vezes são

empregados de forma inadequada.

Na tentativa de permitir uma melhor comunicação entre os profissionais

que atuam na área de aprendizagem, é importante que exista uma terminologia

uniforme. Dessa forma, deve-se estabelecer diferenças entre dificuldade e

transtorno da aprendizagem.

Muitas crianças em fase escolar apresentam certas dificuldades em

realizar uma tarefa, que podem surgir por diversos motivos, como problemas

nas propostas pedagógicas, capacitação do professor, problemas familiares ou

déficits cognitivos, entre outros.

A presença de uma dificuldade de aprendizagem não implica

necessariamente um transtorno, que se traduz por um conjunto de sinais

sintomatológicos que provocam uma série de perturbações no aprender da

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criança, interferindo no processo de aquisição e manutenção de informação de

uma forma acentuada.

As dificuldades de aprendizagem podem ser assim chamadas de

percurso, causadas por problemas da escola e/ou da família, que nem sempre

oferecem condições adequadas para o sucesso da criança. Nessa categoria

também incluem as dificuldades que a criança pode apresentar em alguma

matéria ou em algum momento da vida, além de problemas psicológicos, como

falta de motivação e baixa auto-estima.

O problema de aprendizagem, pela sua magnitude e importância nos

dias atuais, requer a interação entre os diversos profissionais que lidam com o

caso, particularmente para o estabelecimento do diagnóstico e das indicações

terapêuticas mais apropriadas.

O trabalho do psicopedagogo se insere nesta perspectiva: tentar

reconduzir os que têm dificuldades escolares ao mundo da cultura, devolvendo-

lhes o prazer das novas aprendizagens

.

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BIBLIOGRAFIA

BOSSA, Nádia. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática.

Porto Alegre: Artmed, 1994.

HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover. 7ª edição. Porto Alegre:

Mediação, 2005.

_________________. Avaliação Mitos e Desafios. 35ª edição. Porto Alegre:

Mediação, 2005.

_________________. Avaliação Mediadora. 24ª edição. Porto Alegre:

Mediação, 2005.

LECKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar. 18ª edição.

São Paulo: Cortez, 1995.

ROTTA, T. Newra, OHWEILER, Lygia e RIESGO, S. Rudimar. Transtornos da

Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2006.

PERRENOUD, Philippe. Avaliação da Excelência à Regulação das

Aprendizagens entre Duas Lógicas. Porto Alegre: Artemed, 1999.

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46

WEBGRAFIA

Associação Brasileira de Dislexia – www.dislexia.org.br. Acesso em: 17 de

Junho de 2009.

BRASIL. Projeto de Lei 10.891 - www.psicopedagogiaonline.com.br. Acesso

em 17 de Junho de 2009.

www.dislexia.com.br. Acesso em: 23 de Maio de 2009.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I 10

ASPECTOS RELEVANTES SOBRE AVALIAÇÃO 10

1.1 Avaliação de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases 11

1.2 O papel do professor no processo ensino-aprendizagem 13

1.3 O significado de aprender com afetividade 15

1.4 Avaliação com exclusão 17

1.5 Alunos em recuperação 18

1.6 Um novo olhar para avaliação 22

CAPÍTULO II 24

DISLEXIA 24

2.1 Definição de dislexia 26

2.2 Leitura e dislexia 27

2.3 Tipos de dislexia 29

2.4 O disléxico na escola 30

2.5 Avaliação para disléxico 33

2.6 Tratamento 34

CAPÍTULO III 35

PSICOPEDAGOGO 35

3.1 Áreas de atuação do psicopedagogo 36

3.2 O psicopedagogo na instituição escolar 37

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3.3 O psicopedagogo junto à família 38

3.4 Processo de avaliação psicopedagógica. 40

CONCLUSÃO 42

BIBLIOGRAFIA 45

WEBGRAFIA 46

ÍNDICE 47

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