universidade candido mendes - avm - pós-graduação - … · (albert einstein) 7 ... contexto, um...

51
1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS A DINÂMICA DE GRUPO E SUA INFLUÊNCIA NA INTEGRAÇÃO DE FUNCIONÁRIOS DE UMA ORGANIZAÇÃO DO TERCEIRO SETOR Por Michelle Bizzo Botelho Orientador Prof. MS. Nilson Guedes de Freitas Niterói 2009

Upload: vanthien

Post on 17-Oct-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE RECURSOS

HUMANOS

A DINÂMICA DE GRUPO E SUA INFLUÊNCIA NA INTEGRAÇÃO DE

FUNCIONÁRIOS DE UMA ORGANIZAÇÃO DO TERCEIRO SETOR

Por Michelle Bizzo Botelho

Orientador

Prof. MS. Nilson Guedes de Freitas

Niterói

2009

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO DE RECURSOS

HUMANOS

A DINÂMICA DE GRUPO E SUA INFLUÊNCIA NA INTEGRAÇÃO DE

FUNCIONÁRIOS DE UMA ORGANIZAÇÃO DO TERCEIRO SETOR

Monografia apresentada à

Universidade Candido Mendes como

pré-requisito para obtenção do título de

especialista em Gestão de Recursos

Humanos

Orientador Prof. MS.Nilson Guedes de

Freitas

Por Michelle Bizzo Botelho

Niterói

2009

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

3

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Instituto a Vez do Mestre – Universidade Candido Mendes

Título da Monografia: A DINÂMICA DE GRUPO E SUA INFLUÊNCIA NA

INTEGRAÇÃO DE FUNCIONÁRIOS DE UMA ORGANIZAÇÃO DO TERCEIRO

SETOR

Autor: Michelle Bizzo Botelho

Data da entrega: 31.07.2009

Avaliado por: Prof. MS.Nilson Guedes de Freitas Conceito:

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

4

AGRADECIMENTOS

A Deus, Senhor da minha vida, razão do meu viver.

Que me deu saúde e inteligência e me capacitou para

chegar até aqui. Tudo o que tenho e sou vêm de Ti e

são para Ti. A meus pais, que me ensinaram o caminho

desde os meus primeiros passos. Aos meus avós, pelo

carinho e as orações. A meu irmão, por sempre me

socorrer quando acontecia algum problema com o

computador. A todos os professores que passaram

pela minha vida, e me fizeram construir um pouco do

que sei. E ao meu namorado, pela paciência, amor, e

por sempre me incentivar a crescer.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

5

DEDICATÓRIA

Dedico essa monografia a todos que me fizeram

entender o valor do trabalho em grupo. À minha família,

meu grupo de origem: pais, avós, irmão, tios, primos.

Também com quem compartilho a experiência que é a

vida, amigos, colegas, namorado. Pessoas que me

fizeram e fazem crescer deixando um pouco delas e

levando um pouco de mim.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

6

EPÍGRAFE

“No meio de toda dificuldade existe

sempre uma oportunidade”.

(Albert Einstein)

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

7

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo principal analisar como a dinâmica de grupo pode ser utilizada como um dispositivo de integração entre os funcionários de uma determinada empresa. A escolha do tema foi baseada na grande utilização da Dinâmica de grupo como uma ferramenta importante para o RH na atualidade.A pesquisa parte do problema de como a dinâmica de grupo pode ser utilizada para facilitar a integração entre os funcionários de uma organização do terceiro setor? Aborda o desenvolvimento interpessoal dos funcionários de uma organização do terceiro setor, a partir da utilização da dinâmica de grupo em laboratórios de treinamento vivenciais. Para tal, utiliza-se da fundamentação teórica baseada na contribuição dos autores, Minicucci, Lewin, Mc Dougall, Perls, Hefferline, Goodman, Boog, Chievenato, Moscovici, Ozório, Tellegen, Castilho, Zimerman e Busnello. Mostra-se como a dinâmica de grupo, quando bem utilizada, pelo facilitador pode contribuir e muito na finalidade de integrar um determinado grupo, permitindo a integração e coesão de seus participantes produzindo uma relação entre os membros mais satisfatória e agradável para todas as partes. Analisa a influência da dinâmica de grupo nos chamados grupos de Desenvolvimento Interpessoal dentro das organizações do terceiro setor, bem como o comportamento organizacional a partir desses grupos. Palavras Chaves: Dinâmica de Grupo, Desenvolvimento Interpessoal e Comportamento Organizacional.

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

1. DINÂMICA DE GRUPO: HISTÓRICO E CONCEITO 12

2. A FUNÇÃO DOS FACILITADORES DE GRUPO 25

3. A DINÂMICA DE GRUPO COMO DISPOSITIVO DE INTEGRAÇÃO 35

CONCLUSÃO 44

BIBLIOGRAFIA 48

ÍNDICE 50

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

9

INTRODUÇÃO

É inerente ao ser humano reunir-se em grupos, desde o nascimento até a

morte estão situados em grupos sociais. Estudiosos afirmam que não seria

possível obtermos uma visão lúcida do homem, sem termos em vista os grupos

em que tal indivíduo estaria inserido.

Entretanto o estudo dos grupos humanos sob a atual denominação de

“Dinâmica de grupo”, foi um desenvolvimento obtido somente no século XX,

diferindo-se significativamente da forma de estudo utilizada nos séculos

precedentes. As dinâmicas de grupo nada mais são do que uma simulação

estratégica que reproduzem situações vivenciadas no dia-a-dia. São ensaios

semelhantes ao cotidiano de uma empresa, ou grupo formado.

Divertindo e refletindo é possível haver um aprendizado sem que haja

cobranças e sanções para erros. A dinâmica de grupo tem a grande vantagem de

que todos podem correr riscos de acertar ou errar sem que isso o leve a prejuízos

reais, já que se trata de vivenciar situações simuladas. De maneira leve e sem

pressões e responsabilidades que a execução de atividades reais, impõe as

pessoas de disponibilizam e revelam-se, compartilhando com o grupo os pontos

que merecem ser discutidos.

A escolha do tema foi baseada na grande utilização da dinâmica de grupo

como uma ferramenta importante para o RH na atualidade. A utilização de

dinâmicas em treinamento mostra que a maior parte do aprendizado vem dos

próprios treinandos e é compartilhada com os demais participantes do grupo. Este

aspecto é de extrema importância, pois promove a ‘interdependência’ dos

participantes, que retiram o facilitador do lugar de única fonte do saber e o

colocam como mais um participante da produção do conhecimento, onde eles, os

participantes, têm papel de destaque.

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

10

Além do aprendizado que a dinâmica promove entre os participantes, um

aspecto importantíssimo é a coesão do grupo através de “jogos”, que permitem

aos participantes uma aproximação interpessoal, o que por fim melhora o

ambiente de trabalho e por fim a produção da empresa.

Esse trabalho parte do seguinte problema: Como a dinâmica de grupo pode

ser utilizada para facilitar a integração entre os funcionários de uma organização

do terceiro setor?

Levanta como hipótese a Dinâmica de grupo como sendo um instrumento

importantíssimo que quando bem utilizado pelo facilitador pode contribuir e muito

na finalidade de integrar um determinado grupo. Visando como principal fim a

integração e coesão de seus participantes produzindo uma relação entre os

membros mais satisfatória e agradável para todas as partes.

A partir de então, o objetivo geral desse trabalho é analisar como a dinâmica

de grupo pode ser utilizada como um dispositivo de integração entre os

funcionários de uma determinada empresa. Abordando o desenvolvimento

interpessoal dos funcionários de uma organização do terceiro setor, a partir da

utilização da dinâmica de grupo em laboratórios de treinamento vivenciais. Para

isso, o procedimento metodológico será o de pesquisa bibliográfica.

No primeiro capítulo, a partir da fundamentação teórica de Minicucci, que

também cita Lewin e Mc Dougall, além de Perls, Hefferline e Goodman. Também

Boog, Chievenato, Moscovici e Ozório, delimita-se o conceito de Dinâmica de

grupo, bem como o seu histórico, a origem dos jogos e o laboratório de

treinamento vivencial.

O segundo capítulo é fundamentado teoricamente por Tellegen, Moscovici e

Castilho, e tem como objetivo analisar a função dos facilitadores e coordenadores

de grupo, sua responsabilidade ética e profissional e seus temores diante da

estruturação de um grupo.

Já o terceiro capítulo, é fundamentado teoricamente por Castilho, Zimerman

e Busnello, e analisa a influência da dinâmica de grupo nos chamados grupos de

Desenvolvimento Interpessoal dentro das organizações do terceiro setor, bem

como o comportamento organizacional a partir desses grupos.

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

11

Ao final do trabalho, será apresentada a conclusão da pesquisa,

acrescentando-se três sugestões de temas para futuras pesquisas relacionados a

este. Deseja-se que esse trabalho seja interessante e proveitoso para os leitores.

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

12

1. DINÂMICA DE GRUPO: HISTÓRICO E

CONCEITO

É inerente ao ser humano reunir-se em grupos, desde o nascimento até a

morte estão situados em grupos sociais. Estudiosos afirmam que não seria

possível obtermos uma visão lúcida do homem, sem termos em vista os grupos

em que tal indivíduo estaria inserido.

Entretanto o estudo dos grupos humanos sob a atual denominação de

“Dinâmica de grupo”, foi um desenvolvimento obtido somente no século XX,

diferindo-se significativamente da forma de estudo utilizada nos séculos

precedentes.

1.1 Um breve histórico

Segundo Minicucci (1998), o termo refere-se, primeiramente a uma ideologia

política, interessada nas formas de organização e gestão dos grupos. Acentuaria

assim a importância da liderança democrática e a participação dos membros nas

tomadas de decisão em oposição às lideranças autoritárias. Ou ainda,

compreenderia o conjunto de técnicas empregadas em programas de

treinamento, planejadas para o desenvolvimento de habilidades de estabelecer

boas relações humanas e de dirigir comissões e grupos. Um terceiro emprego

dado a esse termo referir-se-ia ao campo de pesquisa dedicado a obter

conhecimento da natureza dos grupos, das leis do seu desenvolvimento e de

suas inter-relações com os indivíduos, outros grupos e instituições.

A palavra dinâmica, isoladamente, sugere-nos a idéia de mobilidade.

Movimento esse que poderia ser interno, no sentido de reflexão individual, tomada

de consciência, ou ainda externo, no que diz respeito à interação de forças ou o

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

13

coletivo que produz movimento. Já o termo grupo, referir-se-ia, no mesmo

contexto, um agrupamento de pessoas onde há trocas de papéis, objetivos

comuns, ações complementares e regras, estas que podem ou não ser flexíveis.

A Dinâmica de Grupo é instituída como campo de estudo e pesquisa na

década de 30. Foi a convergência, porém, de tendências sociais, apoiadas pelo

grande valor que a sociedade norte americana atribuía a sociedade, à tecnologia,

à solução dita como “racional” dos problemas, o que favoreceu o surgimento

desse campo de estudo.

Kurt Lewin (1939), inaugurou os estudos e pesquisas acerca da estrutura,

papéis e movimentos das dinâmicas de grupo. Este desenvolveu seus estudos e

levou-os para a pesquisa de campo. Assim, tempos as primeiras informações

sobre a estruturação das dinâmicas de grupo, utilizadas por administradores e

teóricos organizacionais tendo em vista as relações interpessoais.

A atuação de Lewin(1939 a 1946), marcou um período de importância

fundamental no estudo dos fenômenos de grupo. Com ele, a Psicologia Social

teve grande desenvolvimento como ciência e concomitantemente, a dinâmica de

grupo.

Nos anos posteriores à Segunda Guerra Mundial, houve aumento

considerável de publicações na área da Psicologia Social. Também a Psicologia

escolar saiu do campo da avaliação para adentrar em sala de aula, pesquisas

dedicadas ao caráter social foram aprimorando-se e ganhando espaço.

A partir da década de 20, nos Estados Unidos, a Psicologia passou a

inspirar-senas teorias behavioristas. Nessa perspectiva, ela deveria inicialmente

preocupar-se em definir qual seria o meio social propício para favorecer a

socialização do ser humano e seu acesso à maturidade social.

Por sua vez, Mc Dougall (apud Miniccuci, 1998) acentua que o objetivo

primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência do grupo social sobre o

indivíduo.

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

14

Lewin (apud Minicucci, 1998) fixa novos objetivos de pesquisa em

Psicologia Social e passa a trabalhar com a dinâmica dos fenômenos de grupo,

com vistas às dimensões concretas e existenciais. Busca uma orientação mais

funcional, mais eficiente e criativa das relações interpessoais de grupo.

Lança, então, a expressão “pesquisa-ação” ao referir-se aos fenômenos

identificados e trabalhados no próprio grupo (pesquisa no próprio campo).

Fundando um Centro de Pesquisas Dinâmicas de Grupo, onde começou a

trabalhar a fim de: Testar hipóteses; Reformular teorias; Analisar problemas de

comunicação; Verificar interações.

Para Lewin (apud Minicucci, 1998, p. 39), “só o estudo do pequeno grupo

poderia levar o pesquisador a compreender o macrogrupo”.

Ao abrir novos caminhos para a Psicologia Social, transformaram-na em

uma ciência experimental autônoma, distinguindo-a da Sociologia e da Psicologia

Clínica.

A dinâmica do grupo desenvolve e pesquisa experiências e estudos sobre a

psicologia dos grupos. Passa a interessar-se pela autenticidade das relações

interpessoais, tanto nos meios organizados como naqueles conhecidos como

espontâneos. Passa também a pesquisar o exercício da autoridade nos grupos de

trabalho, de formação e pedagógicos. Ele insere o conceito de sistemas. Por

exemplo, se o determinante é a inter-relação dos componentes e seus atributos, é

preciso saber onde termina um sistema e onde começa o outro. Uma definição

genérica diz que para um dado sistema, o meio consiste no conjunto de objetos

(ou pessoas) cuja modificação afeta o sistema e, também, naqueles objetos (ou

partes) cujos atributos são modificados pelo comportamento do sistema.

Entendendo a estrutura sistêmica como uma estrutura de acontecimentos

transicionais, é preciso levar em conta a noção de fronteiras como referentes às

trocas e transações. Pessoas diferentes, com vivências anteriores diferentes,

quando se agrupam de forma ordenada e estruturada, formam um novo sistema,

onde se trocam conceitos e experiências e juntos constituem novos conceitos

próprios do grupo. Lewin faz uma observação sobre esse tema:

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

15

É particularmente necessário que qualquer que se propuser a estudar fenômenos globais, se arme contra a tendência de querer tomar sob consideração ‘todos’ os mais abrangentes possíveis. A verdadeira tarefa é a de investigar as propriedades estruturais de um ‘ todo’ em particular, averiguar as relações de ‘todos’ subsidiários e determinar as fronteiras do sistema sob estudo. Que ‘tudo’ depende de ‘tudo’ é tão verdadeiro em psicologia quanto em física.( apud PERLS, HEFFERLINE e GOODMAN, 1979, p. 277)

Enfim, a dinâmica de grupo objetiva facilitar a tomada de consciência do

indivíduo, ampliar seus horizontes e sua visão, além de estimular a mudança de

atitudes e comportamentos através da reflexão individual e da “troca” de

vivências, experiências e aprendizado com os demais participantes do grupo.

1.2 O conceito de dinâmica de grupo

Segundo Minicucci (1998, p.39) a expressão Dinâmica de grupo, lançada por

Lewin tornou-se significativa em Psicologia dos pequenos grupos. Os grandes

grupos, as comunidades, as multidões são objetos da chamada “psicologia

coletiva”. Já a estruturação, a formação, o crescimento, a coesão, a

desintegração dos pequenos grupos são problemas da Psicologia Social,

entretanto também podem ser analisados através das dinâmicas de grupo.

Lewin(1951) fez distinção entre “psicogrupo” e “sociogrupo”, conceitos

aceitos até o dia de hoje.

O psicogrupo é o grupo de formação, um grupo estruturado, orientado e

dirigido em função dos próprios membros que o constituem.

Já o sociogrupo é o grupo de tarefa, isto é, o grupo organizado e orientado

objetivando a execução de uma tarefa.

Mas o que seriam dinâmicas de grupo?

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

16

As dinâmicas de grupo nada mais são do que uma simulação estratégica

que reproduzem situações vivenciadas no dia-a-dia. São ensaios semelhantes ao

cotidiano de uma empresa, ou grupo formado.

Divertindo e refletindo é possível haver um aprendizado sem que haja

cobranças e sanções para erros.

Nessa metodologia de trabalho, as tentativas são estimuladas, as

habilidades reforçadas e as dificuldades discutidas e trabalhadas com objetivo da

aprendizagem.

Através de “jogos”1 pode se transmitir de forma lúdica para qualquer

participante de qualquer nível intelectual e de atuação, conceitos e temas diversos

e estratégicos, obtendo-se uma apreensão clara e dinâmica.

O grupo é convidado tanto enquanto grupo, quanto individualmente, a tomar

decisões e resolver problemas ou situações simuladas lançando mão dos

recursos técnicos e das informações adquiridas a priori. As conseqüências são

que as dificuldades e habilidades das pessoas são experimentadas e revelam-se

como verdadeiramente são.

A vivência dos jogos valoriza o participante como ele realmente é sua forma

de se colocar no grupo, seu modo de agir e pensar, a forma como se integra no

trabalho e com os outros participantes, enfim, como o indivíduo se insere no

contexto grupal.

Através do intercâmbio constante entre fantasia e realidade, permitido pela

ação do jogo, o indivíduo libera sua imaginação e conteúdos emocionais afetivos.

O jogo oferece uma identificação projetiva de sentimentos em relação a objetos

permitindo em grupo a possibilidade de elaboração.

A dinâmica de grupo tem a grande vantagem de que todos podem correr

riscos de acertar ou errar sem que isso o leve a prejuízos reais, já que se trata de

vivenciar situações simuladas. De maneira leve e sem pressões e

responsabilidades que a execução de atividades reais, impõe as pessoas de 1 Comenta-se a origem no próximo item.

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

17

disponibilizam e revelam-se, compartilhando com o grupo os pontos que merecem

ser discutidos.

Embora os jogos mais competitivos possam apresentar vencedores e

perdedores, todos saem ganhando em termos de experiência e aprendizado. Para

tanto, é preciso organizar atividades de forma a não estigmatizar os perdedores.

A utilização de dinâmicas em treinamento mostra que a maior parte desse

aprendizado vem dos próprios treinandos e é compartilhada com os demais

participantes do grupo. Este aspecto é de extrema importância, pois promove a

‘interdependência’ dos participantes, que retiram o facilitador do lugar de única

fonte do saber e o colocam como mais um participante da produção do

conhecimento, onde eles, os participantes, têm papel de destaque.

Outro fator que corrobora para a utilização de dinâmicas de grupo em

treinamento é o fato do tempo do “jogo” ser bastante compacto, e como efeito

disso o aprendizado é acelerado, já que há sempre uma relação direta e imediata

entre a atividade realizada e seus objetivos e reflexões.

O jogo traduz a busca do desenvolvimento do potencial humano frente às

dificuldades ou mesmo aos impedimentos encontrados. Simula a luta pela

transformação diante da ameaça do desconhecido e das contradições inerentes a

própria vida. Á busca da expressão, do resgate da espontaneidade criadora,

levando à transformação concomitante e indissolúvel do homem e dos grupos.

De modo geral, o divertimento dos jogos assegura que os treinandos

motivem-se para participar plenamente. No caso de resistência, o que pode

acontecer em se tratando de empresas com culturas tradicionais. Existem

diversas literaturas sobre o assunto que podem orientar os facilitadores a buscar

envolver os participantes e explicar o objetivo da proposta.

Para fins de treinamento, a dinâmica de grupo representa um aspecto da

vida real que seria a possibilidade de vivenciar questões da experiência cotidiana

com um grau de realismo que não seria possível em outros métodos de

treinamento. As emoções provocadas e as respostas geradas se assemelham

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

18

muito com as situações reais do aprendizado contínuo e benefícios decorrentes,

tanto para o indivíduo, quanto para o grupo e até mesmo para seu trabalho, sua

família e demais grupos sociais aos quais ele está ligado.

1.3 A Origem dos Jogos

Desde a Antiguidade, o homem sempre se utilizou de atividades livres e

divertidas como meio de comunicação, expressão, imitação e representação.

Sendo assim, os jogos produzem um grande fascínio nas pessoas por produzirem

ou resgatarem o lúdico, criando uma realidade própria do mundo. Muitos filósofos,

antropólogos e etólogos interessam-se pelo lúdico e definem os jogos como uma

atividade que tem sua própria razão de ser e contém em si, seu objetivo.

Os jogos também eram utilizados por filósofos para a seleção de seus

discípulos, pois se acreditava que através deles os homens revelariam seu

verdadeiro caráter.

O xadrez moderno data-se do período das cruzadas. Segundo Boog (2001),

a partir do século XIX, os prussianos começaram a utilizar o jogo de xadrez para

buscarem compreender e antecipar possíveis estratégias do inimigo e assim

verificar as possibilidades de combate.

Por volta de 1950 nos Estados Unidos, iniciou-se o uso dos jogos para fins

de aprendizagem.

Nas organizações contemporâneas, a área de Desenvolvimento de Pessoas

está renovando as atividades de treinamento, surpreendendo os treinandos e

inovando ao propor uma metodologia efetiva, alegre e envolvente: os “jogos de

empresa”.

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

19

Até então, utilizava-se nas empresas, uma metodologia de aprendizagem

ortodoxa e tradicional, onde o treinamento permanecia passivo em grande parte

do tempo ou com uma participação limitada.

Hoje em dia, o treinando é admitido como agente integrante do processo de

produção do conhecimento. A utilização dos jogos durante os programas de

treinamento, permitiu aos profissionais da área uma opção de atuação ética com

aplicação direta no dia-a-dia do trabalho, pois, reproduz-se nas ‘salas de

treinamento’ as situações vividas pelos funcionários da empresa.

1.4 Laboratório de Treinamento Vivencial

Como foi visto no tópico anterior, ao aplicar uma Dinâmica de grupo,

possibilita-se a experiência de uma vivência e um processo vivencial em

laboratório de treinamento, pode levar o indivíduo e o grupo a reflexões e

aprendizados que servirão para toda sua vida.

Para que possamos aprofundar essa questão, no entanto, é necessário

definirmos o que seriam ‘Treinamento’ e ‘Aprendizagem’ e a relação entre esses

termos.

Chievenato (2000, p. 499) importante teórico da área de Recursos Humanos,

faz uma importante contribuição definindo e relacionando esses conceitos:

Treinamento é o ato intencional de fornecer os meios para possibilitar a aprendizagem. Aprendizagem é um fenômeno que surge como resultado dos esforços de cada indivíduo. A aprendizagem é uma mudança de comportamento e ocorre no dia-a-dia e em todos os indivíduos. O treinamento deve tentar orientar essas experiências de aprendizagem num sentido positivo e benéfico e suplementá-las e reforçá-las com atividade planejada.

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

20

Assim, os indivíduos desenvolverão mais rapidamente seus conhecimentos,

atitudes e habilidades que beneficiarão não só a eles mesmos como também todo

o grupo ou empresa em que estão inseridos.

Mas o que seria um “laboratório” no que diz respeito ao treinamento de

grupos?

A partir de algumas idéias de Moscovici (1998, p. 135) podemos tentar

entender esse campo. Em seu livro Desenvolvimento Interpessoal ela diz:

“Educação de laboratório é um termo genérico, aplicado a um conjunto

metodológico visando mudanças pessoais a partir de aprendizagens baseadas

em experiências diretas ou vivências.”

Segundo Moscovici, essas mudanças podem abranger diferentes níveis de

aprendizagem: nível cognitivo, que representaria as informações, conhecimentos

e a compreensão intelectual, o nível atitudinal, esse composto pelas percepções,

conhecimentos, emoções e predisposição integrados para a ação, e enfim o nível

comportamental, sendo esse último relacionado a atuação e competência.

Diz ainda que o nome laboratório, indicaria fundamentalmente, o caráter

experimental da situação de treinamento, já que os participantes são encorajados

a experimentar situações simuladas sem conseqüências maiores na vida real dos

mesmos.

Entretanto, apesar de se tratar de situações simuladas, o laboratório de

treinamento não deve ser considerado inteiramente artificial, já que os indivíduos

que o compõem são reais, as emoções destes também são reais, mesmo que sob

condições ‘controladas’.

Como profissionais da área de recursos humanos, precisamos levar em

conta o caráter singular do sujeito, sabendo que cada indivíduo tem sua

particularidade e que jamais conseguiremos controlar as emoções de cada um, ou

mesmo nivelá-las.

Luis Carlos Osório (2000, p.204) também deixa sua contribuição no que diz

respeito a conceituação de laboratório:

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

21

Trata-se primordialmente de um espaço prospectivo que objetiva o exame de como podem os participantes a partir de situações vivenciadas no laboratório, tornarem-se agentes de mudança em suas respectivas atividades profissionais ou equipes de trabalho.

Um laboratório de relações interpessoais, diferentemente das propostas

formais e tradicionais, cujo trabalho é a busca do aperfeiçoamento de habilidades

e técnicas, pretende promover a aprendizagem a nível atitudinal.

Tal fato, contudo, não descarta a reflexão acerca de conhecimentos

empíricos, porém elege como alvo principal o desenvolvimento da capacidade do

grupo de aprender e analisar seus próprios movimentos e atitudes, através de

uma experiência direta e objetiva. Propicia-se, assim, uma tomada de consciência

por parte dois indivíduos que compõem o grupo e, como conseqüência gera-se

uma mudança de comportamento e a otimização das relações interpessoais.

Nesse processo dois aspectos são valorizados. Um desses objetivo e o

outro, subjetivo. O fator objetivo começa a atuar em conjunto com fatores

emocionais e com a criatividade dos participantes presentes no processo de

aprendizagem, que impulsiona a participação do grupo, Assim, o enfoque

puramente lógico perde espaço para a união dessas duas forças.

Moscovici (1998, p.39) atribui três objetivos principais a educação de

laboratório: “aprender a aprender”, “aprender a cooperar” e a “participação

eficiente do grupo”.

“Aprender a aprender” seria desenvolver abertura a mudanças e a novos e

constantes aprendizados. Capacidade de agregar conhecimentos flexíveis que,

independentemente do conteúdo, possam ser efetivos em todos os campos da

vida do indivíduo. Esse objetivo preconiza a aprendizagem coletiva, que ocorre

quando a experiência de um indivíduo é conjugada à vivência do grupo.

“Aprender a cooperar” teria o objetivo de estabelecer uma relação

necessária com o outro para um crescimento conjunto. Cada pessoa possui

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

22

recursos que servem ao outro, e estes produzem maior valor quando são

agregados;

Por sua vez a “participação eficiente do grupo” completaria esse processo,

pois permitiria a efetiva tomada de consciência e a implementação de ações reais

de mudança de comportamento no âmbito grupal. Assim, efetuar-se a

interdependência entre os componentes do grupo de forma natural e espontânea.

Para que todos esses objetivos, porém, sejam alcançados, seria necessário

seguir com fidelidade as etapas que um programa de treinamento vivencial exige,

e assim garantir sua eficácia e validade.Tais etapas são: a identificação de

necessidades, o planejamento, a execução do treinamento e a avaliação.

A identificação de necessidades, nada mais é do que um levantamento das

necessidades do grupo, ou do que se pretende obter com a realização do

processo vivencial do grupo. Por exemplo, se no caso o grupo apresenta

dificuldades de comunicação entre os participantes, ou falta de interesse em

alguma atividade necessária. Talvez problemas de relacionamento intertepessoal

entre participantes. Essas situações precisam ser identificadas, para que o

facilitador tenha um norte do que precisa ser trabalhado em cada grupo. Essa

identificação de necessidades pode ser feita por meio de entrevistas, ou mesmo

através de dinâmicas num primeiro momento do grupo.

O planejamento de todo processo vivencial é fundamental para que não se

perca o foco do que se propõem e conseqüentemente se conquiste o objetivo

proposto. Sem planejamento o resultado poderá ser bastante insatisfatório, e o

tempo das atividades poderá ser prejudicado e desperdiçado. O planejamento é

feito por meio de um cronograma, onde estão especificadas todas as dinâmicas e

atividades a serem realizadas, o tempo que cada uma delas poderá ser realizada,

bem como o material necessário na realização de cada uma delas. Todo esse

planejamento deverá ser feito com antecedência pelo facilitador, para que ele

tenha o máximo de controle do tempo e materiais disponíveis para a realização do

trabalho. Devemos considerar, entretanto que imprevistos podem acontecer.

Assim, o facilitador deverá contar com um segundo cronograma, que ficará de

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

23

reserva, no caso do primeiro precisar ser substituído, em caso de algum

imprevisto.

A excussão do treinamento é justamente a realização de todo planejamento

feito pelos coordenadores de grupo. O início de todo treinamento vivencial parte

do que é chamado de momento da conciliação ou acordo. É onde os facilitadores,

bem como os participantes entrarão em consenso a respeito de regras para o

bom funcionamento do trabalho proposto. Como regras de tolerância a respeito

de horário, sigilo a respeito de problemas pessoais caso sejam tratados, enfim

regras acordadas entre o grupo para um bom funcionamento do que se propõe.

Acordos feitos, as atividades propriamente ditas podem ser iniciadas. Esse

primeiro momento geralmente demanda uma atividade, ou dinâmica, de “quebra-

gelo”, que nada mais seria do que uma atividade para tentar desinibir, ou

descontrair os participantes, já que esses chegaram de situações diferentes, com

preocupações diferentes e essa seria uma forma de focá-los nesse momento ao

grupo. Essa primeira atividade muitas vezes conta com a escolha de uma

atividade lúdica, que por si só concentra a capacidade de descontração entre os

participantes e é uma excelente fermenta a ser utilizada com essa finalidade.

Posteriormente os temas propostos são trabalhados e após a realização de

cada atividade os facilitadores buscam um feed-back dos participantes, que pode

ser trabalhado de forma meramente argumentativa, ou mesmo com a utilização

da própria dinâmica, dependendo do caso.

É importante saber que o treinamento pode levar dias, bem como se

realizado num único dia, sem interrupções. Todo planejamento deve levar em

conta essas considerações.

Enfim a avaliação, que nada mais é do que um retorno por meio dos

participantes do que foi trabalhado e como foi trabalhado. É na avaliação que os

coordenadores de grupo podem chegar à conclusão se o trabalho realizado foi

satisfatório ou não. A partir desse ponto, então, um novo projeto poderá ser

desenvolvido, com vistas de um melhor aproveitamento por parte da equipe.

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

24

No próximo capítulo, falaremos sobre a importância dos facilitadores ou

coordenadores de grupo. Sua função, e o esforço e organização que demandam

para que um bom trabalho seja realizado.

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

25

2. A FUNÇÃO DOS FACILITADORES DE GRUPO

Neste capitulo falaremos um pouco sobre essa peça fundamental em todo

trabalho de grupo, alguém que promove os meios de sustentação e possibilita o

trabalho e a coesão de um grupo, que elabora o projeto e promove o cumprimento

do trabalho.

2.1 Facilitador, coordenador, treinador, educador

Quem trabalha com grupos, seja como professor, treinador, coordenador ou terapeuta, dificilmente escapa, de tempos em tempos, a um sentimento de perplexiodade diante da complexidade e da imprevisibilidade dos eventos os quais se vê confrontado(TELLEGEN, 1984, p.71).

Todo trabalho em grupo necessita de uma organização e de uma orientação

para que se entenda o objetivo proposto. Se norteie, também, aos participantes

sobre os caminhos que necessitam ser percorridos para se chegar ao alvo.

A partir desse ponto encontramos a função do facilitador que nada mais é do

que o balizador das atividades vivenciadas pelo grupo.

Segundo Moscovici, o facilitador ou coordenador de um laboratório de

treinamento vivencial é uma peça crítica, que não pode ser improvisada. É

necessária uma formação especializada, um esforçado tempo de estudos, além

de experiência e amadurecimento.

Entretanto, são necessárias outras características para que esse facilitador

desenvolva um trabalho satisfatório, como condições pessoais de aptidão para tal

e valores éticos-morais congruentes com a filosofia da Educação de Laboratório.

Um facilitador incompetente, ou incapaz de exercer seriamente esse trabalho,

pode trazer danos irreparáveis à metodologia e à própria aplicação de ciências

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

26

comportamentais à área de desenvolvimento de recursos humanos, ou

educacional ou qualquer área onde se desenvolva tal trabalho.

Moscovici (1998, p.17) diz que:

O coordenador de laboratório é, acima de tudo, um educador. Sua tarefa prioritária é criar condições tais que os treinandos possam aprender e crescer como pessoas, confiando em si e nos outros como recursos valiosos para a aprendizagem. Isto é possível quando o educador expressa expectativas positivas de que cada treinando é capaz de aprender com os outros se fornecer e receber informações e feedback útil, numa atmosfera a própria da de grupo, o que depende de todos e de cada um.

O facilitador, que também pode ser chamado de coordenador de grupo,

como vemos no texto acima, desempenha um papel fundamental na elaboração,

excussão e avaliação do projeto. Moscovici fala que ele é quem cria as condições

favoráveis para o bom andamento do grupo. Para isso, ele precisa estar atento a

cada participante, e às suas necessidades, viabilizando da forma mais produtiva

possível os recursos, tanto no que diz respeito, a materiais, dinâmicas, ou mesmo

recursos pedagógicos e ambientais, para que cada treinando se integre no grupo

e saia o mais satisfeito possível.

Para isso, o facilitador precisa deter-se durante um bom tempo na

elaboração do projeto. Por mais, que todo o trabalho com pessoas, e

principalmente com grupos, não seja totalmente previsível, e possa sair por vezes

do planejado, é necessário haver um planejamento do trabalho a ser executado.

O primeiro ponto a ser pensando seria o objetivo a que esse treinamento se

propõe. O que se pretende com a realização desse projeto. Se o coordenador não

tiver em mente de uma forma bem clara a que ele se propõe, poderá fatalmente

se perder no decorrer do andamento do projeto.

Um exemplo que poderia ser pensado seria: O objetivo desse trabalho é

terapêutico ou é um laboratório de treinamento vivencial?

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

27

Tal fato precisa ficar bem claro, tanto para os participantes quanto para os

facilitadores. Para que não haja dúvidas e insatisfações durante o percurso.

Com o objetivo definido, pode-se passar ao segundo ponto: Qual seria o

público alvo?

É preciso que esse público seja bem definido, mesmo que misto, tudo

precisa estar de acordo com o que se propõe.

Também é necessário um número limitado de participantes, já que como

vimos, o facilitador de grupo precisa estar a tento a cada indivíduo e com um

número muito grane de pessoas, este ficaria impossibilitado de corresponder a

esta expectativa, seria inviável.

Definido o objetivo e o público alvo, passa-se, então, para a metodologia.

Como será executado esse projeto? Que tipo de dinâmicas podem ser utilizadas?

O que deve ser priorizado? Como executar cada dinâmica?

Após escolhida a metodologia, é necessário definir que tipo de avaliação

deverá ser feita do trabalho. Por meio de questionários? Avaliação verbal?

Através de dinâmicas?

Enfim, depois de todo o esboço do trabalho estar pronto, é necessário

pensar em como será realizado o recrutamento desse público alvo. Qual será a

forma de divulgação do trabalho. E também o local e horário de execução do

projeto.

Realizado isto, o coordenador deverá fazer o cronograma desse

treinamento. Que deverá conter, desde a apresentação tanto do projeto, quanto

dos facilitadores, quanto dos participantes, até o “quebra-gelo”, tempo de

execução de atividades, até mesmo a avaliação.

O facilitador também é responsável por acordar com o grupo

responsabilidades tais como sigilo, cumprimento de horário, o problema e as

conseqüências das faltas, bem como qualquer questão necessária para o bom

andamento das atividades e do objetivo do grupo.

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

28

2.2 Responsabilidade ética e profissional dos facilitadores

O educador manipula o ambiente, jamais as pessoas, em sua função de propiciar condições favoráveis para criar uma situação genuína de aprendizagem, onde seja possível a ocorrência de sucesso psicológico e funcionamento eficaz do grupo: objetivos grupais congruentes com necessidades dos membros, atenção aos processos de grupo, normas de individualidade, preocupação com os outros, confiança recíproca e liderança compartilhada. (MOSCOVICI, 1998, p.17)

Segundo Moscovici (1998, p.17), todas essas condições se reforçam

mutuamente, num processo circular. Se o participante decidir participar nesse

ambiente criado pelo facilitador, encontrarão oportunidades de definir seu próprio

objetivo no grupo e desenvolver caminhos para alcançá-lo. Aprenderá a relacionar

objetivo e caminhos à sua motivação central e a experimentar o desafio que

consiste em alcançar esse objetivo e ampliar sua competência como pessoa.

Segundo Moscovici(1998, p.17), “além de competência técnica, coordenador

e terapeuta apresentam competência interpessoal, flexibilidade perceptiva, atitude

experimental, capacidade de assumir riscos, e, principalmente padrões éticos de

exercício profissional.”

O facilitador não é simplesmente um aplicador de técnicas, até porque as

técnicas em si não são suficientes para o bom andamento do grupo. Se fosse

assim qualquer pessoa comum, sem experiência ou preparo algum poderia

aplicá-las. No entanto, tal atitude traria sérios comprometimentos ao bom

funcionamento do grupo, e nunca poderia ser chamado de um trabalho sério e

consistente com um fim determinado.

O coordenador de grupo necessita ter como Moscovici alerta, “competência

interpessoal”. Mas a que se refere a autora quando apresenta esse conceito?

Competência interpessoal é justamente a capacidade de atravessar os

limites da sua individualidade e buscar a troca com os outros. É aquele que não

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

29

tem dificuldade de ouvir do outro, de se comprometer com o outro e de buscar

construir com o outro algo que não é seu, ou do outro, mas de ambos, do grupo.

Muitos não conseguem sair dos limites de sua individualidade para

experimentar uma experiência coletiva. Quando o próprio coordenador não

acredita nesse poder de crescimento e aprendizagem que o grupo proporciona,

esse grupo está fatalmente destinado ao fracasso.

Outro ponto destacado por Moscovici é a “flexibilidade perceptiva”.

O facilitador necessita ter uma percepção aguçada para entender as

variações do “movimento do grupo”.

Ver o grupo como um todo, sem entretanto deixar de notar a individualidade

de cada um, e perceber as nuances de comportamento e envolvimento de cada

participante, e seu comprometimento com o trabalho que estará sendo realizado.

Além disso, sabemos que quando falamos de um processo vivencial falamos da

vivência de cada um, o que pode chamar mais a atenção de uma pessoa não

será necessariamente, o que mais marcará o processo de outra. O facilitador

precisa ter uma certa sensibilidade e, como o próprio nome sugere, uma certa

“flexibilidade”, para adaptar cada momento do processo aos diferentes membros e

estar atento as suas reações. Flexibilidade fala de mobilidade. O coordenador de

grupo precisa desse certo “felling” para desenvolver um bom trabalho movendo-se

conforme o movimento do grupo.

Um outro ponto aspecto necessário ao facilitador é a chamada “atitude

experimental”. O facilitador necessita além de ter, como chamamos, sempre uma

“carta na manga”, que seria dinâmicas preparadas para o casa de algum

imprevisto como tempo ou mesmo o movimento do grupo, criatividade para

resolver impasses e se adequar as necessidades do grupo.

Apesar das teorias, dos programas, do roteiro e cronograma a ser seguido,

muitas vezes o grupo movimenta-se de forma inesperada. É nesse momento que

a experiência e a atitude experimental do facilitador farão a diferença. Criando

novas dinâmicas, abrindo um momento no grupo para discussões, mudando o

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

30

cronograma ou mesmo desistindo de realizar algo que estava no “script”. Para

isso, a capacidade de adaptação e o conhecimento técnico são fundamentais. O

facilitador que não consegue ousar, jamais realizará um trabalho tão satisfatório

quando poderia.

Nesse ponto entra a “capacidade de assumir riscos”. Como diz o velho

ditado: “Quem não arrisca não petisca...”, com o facilitador acontece o mesmo. Se

ele não tiver coragem de acreditar no seu potencial, e em tudo que aprendeu com

sua experiência, jamais desenvolverá juntamente com o grupo todo o potencial

que tem um grupo. Mudar o roteiro às vezes é fundamental para que o grupo

prossiga e flua no trabalho. Muitas vezes um grupo pode paralisar em

determinado ponto do processo, nesse caso a atitude do profissional é

fundamental para alavancar um andamento consistente no grupo.

O profissional que, por medo de não ser bem sucedido, não arrisca cometer

um erro, pode estar cometendo um erro mais danoso ainda. Por se omitir de

tomar a atitude que cabe a ele em determinado momento. Assim pode

comprometer todo o trabalho que estava sendo realizado até então.

Todos esses aspectos se encontram fundamentalmente no mesmo ponto:

padrões éticos de exercício profissional.

A responsabilidade ética é inalienável quando se tomam decisões que irão afetar profundamente outras pessoas. Não há justificativa moral para a experiência, a ignorância ou a responsabilidade, mesmo inocentes ou intencionais, que não avaliam as conseqüências danosas e, muitas vezes, irreversíveis, de atividades ou técnicas que são empregadas com seres humanos.( MOSCOVICI,1998, p.17)

O facilitador necessita ter sempre em mente sua responsabilidade enquanto

profissional e agir com ética diante das situações diversas que se apresentarão

diante de cada projeto. Deve lembrar sempre que está lidando com pessoas e

que seu poder de manipulação é muito grande. Se não for utilizado da forma

adequada pode geral sérios problemas na vida dessas pessoas. Cada decisão

tomada deve ser refletida e devem-se prever as conseqüências que poderão

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

31

gerar. Logicamente, como humanos estamos sujeitos a falhas. Mais um bom

facilitador é aquele que elimina o maior número de falhas possível. Que possui o

maior controle da situação e que quando falha consegue aprender com seus erros

e minimizar as conseqüências desses.

2.3 Temores dos facilitadores na estruturação de um grupo

Todo o ser humano tem a tendência a tornar-se ansioso diante de uma

responsabilidade, ou de algo inesperado ou novo. Com o facilitador de grupos

esse fato também é bastante comum.

Tamanha a importância desse tema no livro “Dinâmica do Trabalho de

Grupo”

(CASTILHO, 1998), a autora inicia o primeiro capítulo falando sobre as

dúvidas e temores de um facilitador na estruturação de grupos.

O primeiro dos temores do facilitador que a autora aborda é “o indivíduo se

acreditar incapaz” (CASTILHO, 1998, p.3) A partir daí pelo menos dois aspectos

podem ser abordados sobre o questionamento do indivíduo em sua capacidade

de lidar com grupos.

O primeiro seria adi vindo de sua maturidade para trabalhar com grupos. O

indivíduo não se sentiria maduro o suficiente para coordenar um grupo de

pessoas. Sentir-se-ia incapaz, emocionalmente falando e estruturalmente falando

para exercer tal responsabilidade.

O segundo ponto seria a insegurança desse facilitador de não possuir

respaldo teórico suficiente para exercer tal atividade. Por mais que tenha

estudado a teoria, tenha passado por outras experiências anteriores. O facilitador

se confronta muitas vezes com o medo de não possuir bases teóricas sólidas

para amparar sua atuação.

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

32

A respeito desse ponto, Castilho (1998, p.3) afirma:

Sem dúvida, esses aspectos são de vital importância, pois, por melhor que tenha sido a formação de um profissional, a nossa ‘gestalt’ nunca está perfeitamente fechada. O Ser é um sistema aberto - portanto, em constante processo; assim, o reconhecer esse aspecto já é um passo para se evitar que uma atitude perfeccionista seja um bloqueio à atuação.

Como foi dito anteriormente, como humanos somos falhos. Estamos sujeitos

ao erro. Não devemos ser perfeccionistas ao extremo a ponte de paralisarmos

diante de alguma situação. Devemos buscar dar o melhor de nós sim, mais nunca

além do que o que podemos dar.“Só aqueles que têm a coragem de correr risco

de se expor é que estão preparados para trabalhar com grupos.” (CASTILHO,

1998, p.3)

Segundo a autora, diferente do processo individual, a interface grupal exige,

sem dúvida, muito mais do facilitador. Tanto em nível de percepção, já que este

precisar perceber as reações de cada indivíduo do grupo e não de um só e de

visão gestaltica, vendo o grupo como um todo e cada indivíduo como as partes

que compõem essa totalidade.

Castilho diz ainda que o facilitador está sendo posto a prova a cada instante

pelo grupo, através do seu julgamento, pressões, resistência, coesão e normas,

com os quais ele deve saber lidar a todo momento. Para isso, é necessário a este

possuir uma visão teórica e real do movimento de grupo.

O segundo temor vivido por aqueles que querem se dedicar a trabalhar com

grupo é o referente à que área deve-se especializar. “Freqüentemente, temos

observado que os profissionais menos experientes preferem iniciar o seu

aprendizado grupal com crianças ou adolescentes. Essa talvez seja a forma de o

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

33

indivíduo se sentir mais seguro no confronto das situações”. (CASTILHO, 1998,

p.4)

A partir desse ponto, Castilho ressalta dois elementos que poderão estar em

jogo nessa situação: o princípio da autoridade e o princípio da competência.

O primeiro deles, o princípio da autoridade, seria que, trabalhando com

crianças e adolescentes o facilitador sentirá sua “autoridade” menos questionada

e ameaçada. Terá sua autoconfiança aumentada e se sentirá uma cobrança

menor, visto que esses teoricamente possuem menos experiência vivencial que

ele.

Já o segundo deles, o princípio da competência, seria que como uma

decorrência dos sentimentos vividos na situação anterior, o iniciante se sentirá

mais seguro e competente trabalhando com crianças e adolescentes.

O terceiro temor, por sua vez, refere-se à área de operacionalização do

grupo e está ligado a questões tais como a estruturação de um grupo, como

atingir a clientela e os critérios necessários para a estruturação do trabalho.

2.4 Estruturando um grupo

Áurea Castilho afirma que para se estruturar um grupo é necessário se

estabelecer uma clientela, para isso é necessário responder a seguinte pergunta:

por que estruturar um grupo?

Respondendo essa pergunta será possível determinar o público alvo.

“Na minha atividade com grupos, considero-os como minha ORGANIZAÇÂO DE TRABALHO. Toda instituição tem a sua filosofia própria que norteia as metas para o atingimento de seus objetivos, que devem estar, de modo claro e explícito, no documento-base ou no diálogo da entrevista de seleção de grupo.” (CASTILHO, 1998, p.5)

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

34

Segundo a autora, um grupo deve ser Planejado, Organizado e Controlado,

aqui não no sentido de controle de suas ações ou no sentido de direção, mas na

forma como este deve ser administrado.

Para essa administração devemos pensar que o que norteia todas as

atividades do trabalho em grupo é o tempo. Por isso a importância do facilitador,

ou “administrador” do grupo, estabelecer os dias de encontro, a hora do início e

término das reuniões, o local de realização das atividades, a carga horária de

cada atividade a ser realizada, sua metodologia de trabalho, condições e custos

envolvidos para sua realização, o planejamento e organização do que será

desenvolvido com o grupo.

É importante ter em mente que “os critérios de estruturação de um grupo

devem estar em perfeita consonância com a natureza do próprio grupo.”

(CASTILHO, 1998, p.6)

Os critérios para se estruturar um grupo são diferenciados de acordo com o

ambiente e objetivo e a natureza do próprio grupo. Os critérios para de se

estabelecer um grupo dentro de uma empresa são diferentes dos de um grupo

terapêutico em um consultório, que são diferentes de uma organização hospitalar.

No próximo capítulo falaremos sobre como a dinâmica de grupo pode ser

utilizada como um dispositivo de integração entre as pessoas, equipe de trabalho

ou funcionários de uma determinada empresa.

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

35

3. A DINÂMICA DE GRUPO COMO DISPOSITIVO DE

INTEGRAÇÃO

A dinâmica de grupo é uma das ferramentas utilizadas em um laboratório de

integração dentro de uma empresa. Não é um fim em si, e sozinha de nada

adianta. Precisa ser bem utilizada, dentro de um contexto de estudos e

preparação para que possa alcançar seu objetivo.

3.1 Grupos em Empresas e comportamento organizacional

Os Grupos de Empresa são aqueles que se estruturam a partir de uma

solicitação da própria empresa e se referem àquelas atividades dentro de uma

linha de Grupos de Sensibilização, Desenvolvimento Individual, Desenvolvimento

Interpessoal, Administração de Conflitos, ou mesmo Análise Transacional.

Castilho (1998), afirma que os “Grupos Organizacionais” são mais difíceis de

conduzir do que, por exemplo, os grupos terapêuticos. Já que possuem variáveis

que nem sempre são controláveis. Questões ligadas ao poder, aos jogos

psicológicos, à forma de comunicação, e de que modo as informações chegam

aos participantes, e, sobretudo, sem uma boa vivência como empregado de

diferentes tipos de organização não há como o Facilitador dar uma contribuição

mais efetiva nessa área.

Para evitar alguns problemas no decorrer do trabalho, a autora sugere

algumas precauções da serem adotadas pelo facilitador.

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

36

A primeira delas é fazer uma entrevista de negociações com o responsável

pelas atividades, intentando saber sobre os objetivos do trabalho, o organograma

da empresa, sobre os participantes, suas funções, idade, tempo de experiência

profissional e tempo de experiência na função ou cargo que ocupa. Também

sobre algumas características da cultura dessa empresa, por exemplo, se é uma

empresa familiar, pioneira, multinacional, de economia mista. Esses aspectos

serão por sua vez norteados para se entender a dinâmica desse grupo.

A segunda precaução a ser tomada é fazer uma entrevista com as chefias

envolvidas. Seja esta em nível horizontal, vertical ou transversal. Procurando

obter subsídios sobre o nível de envolvimento e crença dessa chefia com o

trabalho que se pretende desenvolver.

A partir daí é necessário fazer, então, uma entrevista geral com todos que

irão participar da experiência do grupo. Estabelecendo uma metodologia de

trabalho e colhendo as dúvidas dos participantes. Para isso é necessário ao

entrevistador se apresentar, dizendo o porquê daquela reunião, estabelecendo os

objetivos do grupo, esclarecer a metodologia de trabalho, o local, horário e

duração de cada encontro e definir os participantes.

É necessário também um estudo detalhado do orno grama da empresa com

os respectivos nomes das chefias. Isto facilita a identificação do processo

hierárquico formal dentro da empresa e oferece subsídios para a identificação do

processo de inteiração da dinâmica de grupo.

É importante também um pedido da lista dos nomes dos participantes para

que se tenha o conhecimento de quem é quem, e quem é subordinado a quem.

O próximo passo é o encontro com o gerenciador do encontro para o

cumprimento de formalidades financeiras, local, horário e refeições.

Segundo Castilho (1998), outros dois aspectos são de suma importância

para a realização do trabalho: a lembrança da freqüência e assiduidade as

sessões e o de se realizar o encontro fora do ambiente de trabalho.

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

37

Esses aspectos são fundamentais, pois os condicionamentos levam os participantes a se sentirem dentro da área de trabalho, se ali realizado, e passam a se ausentar ou ser interrompidos durante as sessões. Quanto a ser fora do ambiente de trabalho, além de criar uma desvinculação psicológica da atividade com a atuação do trabalho, ainda oferece o conforto do sigilo e dos olhares e ouvidos curiosos. Tais procedimentos tendem a ser um redutor de resistência.(CASTILHO, 1998, p.11)

A resistência é um fator com que qualquer coordenador de grupo vai se

confrontar em determinado momento, também na experiência com empresas,

logicamente com suas particularidades, mas se essa resistência não for bem

trabalhada e aliviada pelo analista de RH, ela comprometerá todo o trabalho.

Em seu livro “Liderando Grupos: Um enfoque Gerencial”, Castilho(1999, p.

3), afirma a respeito da resistência:

“Compreender o fenômeno da resistência à como um ‘fenômeno de grupo’ talvez seja a primeira e grande lição que os gerentes/consultores devem aprender. Isso significa compreender essa situação como a expressão de sentimentos que são voltados para você como um representante, não para sua pessoa. É um sentimento dirigido ao que você representa, como figura de autoridade.”

Quando um trabalho de desenvolvimento interpessoal, utilizando dinâmicas

de grupos é proposto em uma empresa muitas vezes os funcionários mostram-se

não abertos a participarem. Esse fator é chamado de resistência, como disse

Castilho na citação anterior, não é contra o consultor e sim contra a empresa em

questão. O funcionário tende a ter medo de futuras retaliações, dependendo do

que se fale no trabalho realizado, ou mesmo coloca muita da sua insatisfação

contra a organização na figura do facilitador da dinâmica.

Tal situação pode ser evitada deixando claro no início do trabalho que as

informações dadas por eles serão sigilosas, não expondo ninguém diante da

direção da empresa e mostrando que o consultor está ali como um aliado,

buscando a melhoria das relações entre os funcionários daquela empresa.

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

38

3.2 Desenvolvimento Interpessoal

Os grupos de Desenvolvimento Interpessoal são diferentes dos grupos

psicoterapêuticos em diversos aspectos e em sua própria natureza.

Diferentemente dos grupos Psicoterapêuticos, nos grupos de

Desenvolvimento Interpessoal nem todos os indivíduos participam das atividades

com a mesma intensidade e espontaneidade. Conseqüentemente, o nível de

crença na eficácia da programação é altamente questionado pelo grupo.

Além disso, como a organização é geralmente a patrocinadora, ou seja, arca

com os custos, isso pode criar algumas dificuldades com relação ao fenômeno

participação/ responsabilidade/ envolvimento com a atividade.

Esse fato se difere do indivíduo que busca espontaneamente o processo

psicoterapêutico como uma forma de crescimento pessoal, já que este está mais

consciente de suas necessidades e ultrapassa com menos dificuldade o

fenômeno da resistência.

Para evitar maiores problemas o esclarecimento das diferenças entre os

grupos de Desenvolvimento Interpessoal e a Psicoterapia de Grupo é

fundamental, e pode proporcionar ao grupo uma atitude de abertura, levando-o a

uma busca do seu processo de crescimento pessoal, profissional como

verdadeira equipe de trabalho.

Castilho traça algumas diferenças importantes quanto à estruturação dos

Grupos de Desenvolvimento Interpessoal e os Grupos terapêuticos.

Quanto ao objetivo, o grupo de D. I. procura desenvolver habilidades sociais,

como:saber ouvir, falar com adequação, tolerar diferenças individuais, conhecer-

se melhor, aprender a dar e receber feedback, enquanto a Psicoterapia de Grupo

visa ao ajustamento do indivíduo através da reorganização de valores,

necessidades e percepção.

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

39

Quanto ao conteúdo, o grupo de D.I. detém-se na fenomenologia do grupo,

no que está ocorrendo no “aqui-e-agora”2 e o seu significado, enquanto que a

Psicoterapia de Grupo busca analisar situações do passado com interferências na

situação atual.

Em relação ao método, a primeira procura refletir atitudes e reações no nível

do consciente e do pré-consciente, enquanto que a outra visa à interpretação de

níveis mais profundos da personalidade.

A respeito do tempo, os grupos de Desenvolvimento Interpessoal podem

variar, mas raramente excedem a 40 horas consecutivas, já no caso da

psicoterapia de Grupo, o tempo pode variar de acordo com a linha teórica do

terapeuta.

Quanto ao facilitador, nos Grupos de D.I. o grupo exerce uma maior

autonomia direcionando o seu trabalho e explorando a emergência do líder

espontâneo, enquanto que na psicoterapia, este propicia, através de sua

experiência e referencial teórico, a emergência da atmosfera grupal.

E enfim, a respeito dos participantes, enquanto no Grupo de D.I, são

pessoas que atuarão no sentido de buscar soluções para a melhoria do ser

relacionamento humano no trabalho, na Psicoterapia são pessoas que buscam o

terapeuta com o objetivo de tratar de seus problemas ou à busca de um nível de

crescimento e desenvolvimento de sua personalidade.

3.3 Objetivos do Desenvolvimento Interpessoal

Os objetivos imediatos em relação ao próprio participante de um grupo de

Desenvolvimento Interpessoal são principalmente torná-lo uma pessoa mais

aberta e enriquecida.

2 Termo utilizado pela Gestalt Terapia para indicar o tempo presente, o momento em si.

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

40

Para, no entanto, conseguir tal êxito será necessário remover alguns

bloqueios tais como: inibição, redução de tensão, temor de falar em público,

incapacidade para lidar com algumas emoções, desconfiança, entre outros.

É necessário desenvolver uma consciência de si e de seus sentimentos,

assumindo-os. Perceber e ser sensível às coisas que ocorrem ao seu redor,

ampliando sua cosmovisão.

Em relação ao trabalho de equipe o Facilitador deve levar os participantes a

atuar de maneira mais congruente. A saberem ouvir uns aos outros e saber falar

com adequação.

A dar e receber feedback e a desenvolver sua autonomia em relação aos

outros participantes. A desenvolver sua liderança de forma correta, como também

sua espontaneidade e franqueza. Integrar o grupo.“Acima de tudo, é essencial

que o indivíduo se sinta livre para participar ou não de um grupo de D.I.”, diz

Castilho(1998, p.15).

3.4 Grupos de Integração

O que seriam grupos de integração?

Os grupos de integração, nada mais são do que grupos de Desenvolvimento

Interpessoal, ou seja, não têm objetivo terapêutico, que visam como principal fim

a integração e coesão de seus participantes produzindo uma relação entre os

membros mais satisfatória e agradável para todas as partes.

Esses grupos podem ser realizados em escolas, universidades, empresas,

igrejas ou qualquer outro espaço onde pessoas se relacionem com certa

freqüência e necessitem de uma comunicação aperfeiçoada.

Para um melhor aproveitamento do trabalho o ideal seria que todo o grupo

organizado, por exemplo, nova equipe de trabalho, nova turma de escola, nova

chefia, novos membros na equipe, passassem antes de tudo por um grupo de

Page 41: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

41

integração. Conhecendo-se através das dinâmicas e vivências e evitando

problemas de comunicação e as chamadas “panelinhas” que podem ser

prejudiciais a integração do grupo como um todo.

Os grupos de integração facilitam o aprendizado em conjunto, a idéia de que

o grupo conseguirá melhores resultados se trabalharem em sintonia e de que

todos têm seus pontos fortes e fracos, e cabe ao grupo reconhecer esses pontos

e trabalhar da melhor forma possível com eles.

Zimerman (2000, p.83) afirma:

Um grupo não é um mero somatório de indivíduos; pelo contrário, se constitui como uma nova entidade, com leis e mecanismos próprios e específicos. Podemos dizer assim como todo indivíduo se comporta como um grupo (de personagens internos), da mesma forma todo grupo se comporta como se fosse uma individualidade.

Todos os indivíduos estão reunidos em torno de uma tarefa e de um objetivo em comum.

Como qualquer trabalho em grupo, nos grupos de integração deve haver a

instituição de um “setting”, ou seja, um lugar específico para o trabalho ser

realizado.

Zimerman (2000, p.83) diz que é preciso que hajam combinações pré-

estabelecidas, como horários, tempo das atividades, intervalos, regras e outras

variantes equivalentes que delimitem e normatizem o trabalho proposto.

Um outro ponto importante a se pensar num laboratório de integração é que

em todo grupo coexistem duas forças contraditórias permanentemente em jogo:

uma tendente à sua coesão, e a outra a sua desintegração. A coesão do grupo

está na proporção direta, em cada um e na totalidade dos sentimentos de

‘pertinência’(é o famoso “vestir a camiseta”) e ‘pertencência’ que implica no fato

de cada pessoa do grupo ser reconhecida pelos outros como um membro efetivo.

Já a desintegração pode ocorrer por diversos fatores, conflitos e resistências. Os

funcionários podem transferir para o grupo ou para o facilitador questões

relacionadas a ele e a empresa, ou chefia.

Page 42: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

42

3.5 Dinâmica de Grupo em Empresas do Terceiro Setor

Como foi dito no primeiro capítulo, dinâmica de grupo é o conjunto de

técnicas empregadas em programas de treinamento com o objetivo de

desenvolvimento de habilidades e estabelecimento de boas relações entre os

participantes do grupo.

Entre essas técnicas, existem o desempenho de papéis, onde o participante,

representa algo ou alguém, a discussão em grupo, onde as atividades são

discutidas, as atividades em si, como confecção de algum trabalho, ou resolução

de algum problema, e o feedback dos processos que ocorreram, feito pelos

participantes e pelo facilitador do grupo.

Dinâmica de Grupo é um campo de estudo e de pesquisa dedicado ao desenvolvimento do conhecimento sobre a natureza dos grupos e da vida coletiva, às leis de seu desenvolvimento e suas inter-relações com os indivíduos que os compõem, com outros grupos e com instituições mais amplas. (BUSNELLO, 1986, p.16)

Nas empresas do terceiro setor, principalmente onde a rotatividade de

funcionários é bastante densa, os laboratórios de integração encontram uma

grande dificuldade, e como os grupos mudam, precisam ocorrer com certa

freqüência.

As ciências da administração têm necessidade de planejar processos eficientes para coordenar atividades de pessoas. Administradores e teóricos da administração começaram a acentuar a importância cada vez maior dos grupos e das relações humanas no desenvolvimento de atividades administrativas das empresas. (BUSNELLO, 1986, p. 18)

Como foi dito, cada grupo é um grupo, possui sua identidade de grupo,

assim cada laboratório tem suas particularidades e os funcionários são

beneficiados com essas reciclagens.

Page 43: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

43

Dentro de qualquer organização existem relações de poder, e onde há

relações de poder há conflitos.

Segundo Castilho(1999), o conflito pelo espaço de poder nas organizações

se apresenta com diferentes roupagens. Nas empresas familiares se expressa de

uma forma, nas multinacionais de outra, nas estatais de um modo diferente das

de administração direta, por exemplo. Mas em todas está nitidamente presente.

Tal fato pode criar as chamadas coalizões, que segundo Castilho (1999, p.33)

“são movimentos internos aos grupos, em que se busca a mobilização dos

membros em função de objetivos ou interesses comuns”. Seria o que

popularmente chamamos de “panelinhas”. Pessoas que se unem por

identificarem-se umas com as outras, buscando serem aliadas em algo em

comum.

Os laboratórios de integração, utilizando-se da dinâmica de grupo buscam

ampliar essas redes de relações, otimizando seu processo e mostrando aos

participantes a amplitude da organização. Onde todos têm o seu papel e que cada

um precisa do trabalho do outro.

Cada funcionário tem uma grande importância para que a engrenagem da

empresa funcione perfeitamente, a falta de um funcionário pode comprometer

todo o trabalho, sobrecarregar outros e diminuir a produção e a qualidade de vida

da empresa.

Um funcionário que não se sinta integrado com os demais, não vai ao

trabalho satisfeito e por sua vez não produz tanto quanto poderia. Já um

funcionário satisfeito, que mantém uma boa relação interpessoal com seus

colegas, produz muito mais.

Os laboratórios de integração em empresas proporcionam a possibilidade

das pessoas trocarem experiências, se conhecerem e cria um canal de

comunicação entre diferentes escalas hierárquicas dentro de uma empresa.

Todos entendem a importância de cada um, e o respeito pelo trabalho do outro,

mesmo nos casos dos cargos de menores exigências, passa a acontecer. Do

zelador, ao diretor, todos tem uma função essencial para organização.

Page 44: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

44

CONCLUSÃO

No presente estudo, vimos que a dinâmica de grupo objetiva facilitar a

tomada de consciência do indivíduo, ampliar seus horizontes e sua visão, além de

estimular a mudança de atitudes e comportamentos através da reflexão individual

e da “troca” de vivências, experiências e aprendizado com os demais

participantes de um grupo.

Além disso, a utilização de dinâmicas de grupo em treinamento é satisfatória

pelo fato do tempo do “jogo” ser bastante compacto, e como efeito disso o

aprendizado é acelerado, já que há sempre uma relação direta e imediata entre a

atividade realizada e seus objetivos e reflexões.

Ao aplicar uma Dinâmica de grupo, possibilita-se a experiência de uma

vivência e um processo vivencial em laboratório de treinamento, pode levar o

indivíduo e o grupo a reflexões e aprendizados que servirão para toda sua vida.

O tema dessa monografia surgiu do seguinte problema: como a dinâmica de

grupo pode ser utilizada para facilitar a integração entre os funcionários de uma

organização do terceiro setor?

E a partir da hipótese de que a Dinâmica de grupo é um instrumento

importantíssimo que quando bem utilizado pelo facilitador pode contribuir e muito

na finalidade de integrar um determinado grupo, visam como principal fim à

integração e coesão de seus participantes produzindo uma relação entre os

membros mais satisfatória e agradável para todas as partes. Pode-se concluir

diante do estudo desenvolvido nessa monografia que a hipótese é verdadeira.

Pois no decorrer do trabalho, foi possível notar que para fins de treinamento, a

dinâmica de grupo representa um aspecto da vida real que seria a possibilidade

de vivenciar questões da experiência cotidiana com um grau de realismo que não

seria possível em outros métodos de treinamento. As emoções provocadas e as

respostas geradas se assemelham muito com as situações reais do aprendizado

Page 45: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

45

contínuo e benefícios decorrentes, tanto para o indivíduo, quanto para o grupo e

até mesmo para seu trabalho, sua família e demais grupos sociais aos quais ele

está ligado. E que ao aplicar uma Dinâmica de grupo, possibilita-se a experiência

de um processo vivencial em laboratório de treinamento, levando o indivíduo e o

grupo a reflexões e aprendizados que servirão para toda sua vida.

A dinâmica do grupo desenvolve e pesquisa experiências e estudos dos

grupos. Interessa-se pela autenticidade das relações interpessoais, tanto nos

meios organizados como naqueles conhecidos como espontâneos. Pesquisa

também o exercício da autoridade nos grupos de trabalho.

As dinâmicas de grupo nada mais são do que uma simulação estratégica

que reproduzem situações vivenciadas no dia-a-dia. São ensaios semelhantes ao

cotidiano de uma empresa, ou grupo formado.

Divertindo e refletindo é possível haver um aprendizado sem que haja

cobranças e sanções para erros.

Nessa metodologia de trabalho, as tentativas são estimuladas, as

habilidades reforçadas e as dificuldades discutidas e trabalhadas com objetivo da

aprendizagem.

O jogo traduz a busca do desenvolvimento do potencial humano frente às

dificuldades ou mesmo aos impedimentos encontrados. Simula a luta pela

transformação diante da ameaça do desconhecido e das contradições inerentes a

própria vida. A busca da expressão, do resgate da espontaneidade criadora,

levando à transformação concomitante e indissolúvel do homem e dos grupos.

Todo trabalho em grupo necessita de uma organização e de uma orientação

para que se entenda o objetivo proposto. Se norteie, também, aos participantes

sobre os caminhos que necessitam ser percorridos para se chegar ao alvo.

A partir desse ponto encontramos a função do facilitador que nada mais é

do que o balizador das atividades vivenciadas pelo grupo.O facilitador, ou

coordenador de grupo não é simplesmente um aplicador de técnicas, até porque

as técnicas em si não são suficientes para o bom andamento do grupo. Se fosse

Page 46: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

46

assim qualquer pessoa comum, sem experiência ou preparo algum poderia

aplicá-las. No entanto, tal atitude traria sérios comprometimentos ao bom

funcionamento do grupo, e nunca poderia ser chamado de um trabalho sério e

consistente com um fim determinado.

Apesar das teorias, dos programas, do roteiro e cronograma a ser seguido,

muitas vezes o grupo movimenta-se de forma inesperada. É nesse momento que

a experiência e a atitude experimental do facilitador farão a diferença. Criando

novas dinâmicas, abrindo um momento no grupo para discussões, mudando o

cronograma ou mesmo desistindo de realizar algo que estava no “script”. Para

isso, a capacidade de adaptação e o conhecimento técnico são fundamentais. O

facilitador que não consegue ousar, jamais realizará um trabalho tão satisfatório

quando poderia.

Nas empresas do terceiro setor, principalmente onde a rotatividade de

funcionários é bastante densa, os laboratórios de integração encontram uma

grande dificuldade, e como os grupos mudam, precisam ocorrer com certa

freqüência. Cada grupo é um grupo, possui sua identidade de grupo, assim cada

laboratório tem suas particularidades e os funcionários são beneficiados com

essas reciclagens.

Os laboratórios de integração, utilizando-se da dinâmica de grupo ampliam

essas redes de relações, otimizando seu processo e mostrando aos participantes

a amplitude da organização. Onde todos têm o seu papel e que cada um precisa

do trabalho do outro.

Cada funcionário percebe que tem uma grande importância para que a

engrenagem da empresa funcione perfeitamente, a falta de um funcionário pode

comprometer todo o trabalho, sobrecarregar outros e diminuir a produção e a

qualidade de vida da empresa. Essa percepção da importância do grupo como um

todo, gera uma integração satisfatória entre os funcionários. Aumentando a

produção da empresa, e a qualidade de vida dos mesmos.

Page 47: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

47

Como sugestão para pesquisas futuras, um tema bastante interessante seria

a utilização de dinâmicas de grupo em processos seletivos. Já que em muitas

empresas esse é um métodos bastante utilizado.

Um outro tema interessante, seria o comportamento organizacional diante da

mudança de chefia, ou liderança. Como os funcionários lidam com isso, medos,

resistências. Acredito ser um tema pouco abordado e bastante útil para nós,

profissionais de RH.

Por fim, sugeriria um estudo sobre as dificuldades encontradas pelos

profissionais de RH no processo seletivo de grandes e pequenas empresas, e as

diferenças entre os mesmos. Já que, acredito que hajam diferenças, como há em

todos os setores de pequenas e grandes empresas. Já que em pequenas

empresas, muitas vezes, a seleção é feita pelo próprio gerente ou, até mesmo, o

dono desta.

Esperamos que a pesquisa desenvolvida possa servir de incentivo a novas

pesquisas.

Page 48: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

48

BIBLIOGRAFIA

BOOG, Gustavo G. (org) Manual de treinamento e Desenvolvimento. São Paulo:

Person Education do Brasil, 2001.

BUSNELLO, Ellis D’Arrigo. Dinâmica de Drupo, fundamentos, delimitação do

conceito, origens e objetivos. In: Grupoterapia Hoje Ozório, org. Editora Artes

Médicas, Porto Alegre 1986.

CASTILHO, Áurea. Dinâmica do trabalho de Grupo. Qualitymark Editora,

3ªedição. 1998.

CASTILHO, Áurea. Liderando Grupos: Um Enfoque Gerencial. Qualitymark

Editora, 1999.

CHIEVENATO, Idalberto. Recursos Humanos: Edição Compacta, Ed. Atlas, SP,

2000.

LEWIN, K. Field Theory in Social Science. New York, Harper, 1951. In: A

Dinâmica de Grupo Teorias e Sistemas, Ed. Atlas, 5ª Edição, São Paulo, 1998.

MINICUCCI, A Dinâmica de Grupo Teorias e Sistemas, Ed. Atlas, 5ª edição, São

Paulo , 1998.

MOSCOVICI, Fela. Desenvolvimento Interpessoal Treinamento em Grupo, Ed.

José Olympio, 8ª edição, Rio de Janeiro, 1998.

OSÓRIO, Luis Carlos. Grupos: teorias e práticas acessando a era da grupalidade.

Porto Alegre :Artmed Editora, 2000.

OZÓRIO, Luiz Carlos. Grupo terapia Hoje. Editora Artes Médicas, Porto Alegre

1986.

PERLS, F. Hefferline, R. e Goodman, P. Gestalt Therapy, op. Cit., 1979.

Page 49: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

49

ROBBINS, S. Comportamento organizacional. LCT, 8ª Edição. Rio de Janeiro,

1999.

TELLEGEN, T. A., Gestalt e Grupos: Uma perspectiva Sistêmica, Summus

Editorial, S. P. 1984, p.71.

. ZIMERMAN, David. Fundamentos Básicos das Grupoterapias, Editora Artmed,

2ª edição, Porto Alegre 2000.

Page 50: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

50

ÍNDICE

CAPA 1 FOLHA DE ROSTO 2 FOLHA DE AVALIAÇÃO 3 AGRADECIMENTOS 4 DEDICATÓRIA 5 EPÍGRAFE 6 RESUMO 7 SUMÁRIO 8 INTRODUÇÃO 9 1.DINÂMICA DE GRUPO: HISTÓRICO E CONCEITO 12 1.1.Um breve Histórico 12 1.2.O conceito de dinâmica de grupo 15 1.3.A Origem dos Jogos 18 1.4.Laboratório de Treinamento Vivencial 19

2. A FUNÇÃO DOS FACILITADORES DE GRUPO 25

2.1.Facilitador, coordenador, treinador, educador 25 2.2.Responsabilidade ética e profissional dos facilitadores 28 2.3.Temores dos facilitadores na estruturação de um grupo 31 2.4.Estruturando um grupo 33

3. A DINÂMICA DE GRUPO COMO DISPOSITIVO DE INTEGRAÇÃO 35

3.1.Grupos em Empresas e comportamento organizacional 35 3.2.Desenvolvimento Interpessoal 38 3.3 Objetivos do Desenvolvimento Interpessoal 39 3.4.Grupos de Integração 40 3.5.Dinâmica de Grupo em Empresas do Terceiro Setor 42 CONCLUSÃO 44

Page 51: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES - AVM - Pós-Graduação - … · (Albert Einstein) 7 ... contexto, um agrupamento de ... primeiro da Psicologia Social é medir e avaliar a influência

51

BIBLIOGRAFIA 48

ÍNDICE 50