universidade cÂndido mendes · 2011-02-03 · mensurar o impacto de um projeto social e o retorno...

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES Instituto “A Vez do Mestre” Finanças e Gestão Corporativa Patrícia Gomes de Mattos AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE PROJETOS SOCIAIS Orientadora: Ana Carolina Morryssi Rio de Janeiro, 2010

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES Instituto “A Vez do Mestre”

Finanças e Gestão Corporativa

Patrícia Gomes de Mattos

AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE PROJETOS SOCIAIS

Orientadora: Ana Carolina Morryssi

Rio de Janeiro, 2010

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES Instituto “A Vez do Mestre”

Finanças e Gestão Corporativa

Patrícia Gomes de Mattos

AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE PROJETOS SOCIAIS

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Finanças e Gestão Corporativa

Por: Patrícia Gomes de Mattos

3

SUMÁRIO

1. Introdução ......................................................................................... 7

2. Informações necessárias para Avaliação Econômica ................................. 10

2.1. Público Alvo ........................................................................................ 10

2.1.1. Critério de elegibilidade ........................................................................ 11

2.2. Objetivo .................................................................................................... 11

2.3. Indicadores ............................................................................................... 12

2.4. Fontes de informações ............................................................................. 13

2.4.1. Cadastro ........................................................................................ 13

2.4.2. Fontes externas de dados .................................................................... 14

2.5. Custos ...................................................................................................... 15

3. Introdução à Avaliação Econômica ....................................................... 15

3.1. A Avaliação de Impacto .......................................................................... 16

3.1.1. Avaliação ex-ante e ex-post .............................................................. 17

3.2. Avaliação de retorno econômico ............................................................. 17

4. Análise de Impacto ..................................................................................... 18

4.1. Introdução ............................................................................................... 18

4.2. Conceitos estatísticos ............................................................................. 19

4.2.1. Variável aleatória .................................................................................. 19

4.2.2. Amostra Vs. População ........................................................................ 19

4.2.3. Distribuição de probabilidade ............................................................... 19

4.2.4. Média ............................................................................................... 20

4.2.5. Variância / Desvio Padrão ................................................................... 20

4

4.2.6. Distribuição normal ........................................................................ 21

4.2.7. Intervalo de confiança ......................................................................... 22

4.3. Avaliação de Impacto .............................................................................. 24

4.3.1. Método experimental (ou de seleção aleatória) .................................. 24

4.3.2. Método não experimental (ou de seleção não aleatória) ..................... 26

5. Método de diferenças em diferenças .................................................... 30

6. Limites da análise estatística ............................................................. 32

7. Retorno Financeiro ............................................................................... 33

7.1. Introdução ................................................................................................ 33

7.2 Transformando impacto em valor monetário ........................................ 33

8. Conceitos de Matemática Financeira .......................................................... 34

9. Estudo de Caso ........................................................................................... 35

10. Conclusão ............................................................................................ 39

11. Bibliografia ........................................................................................... 40

5

AGRADECIMENTOS

... ao meu filho Bruno pela paciência e a

compreensão das horas que não pudemos

brincar.

6

DEDICATÓRIA

... dedico este trabalho a Deus, pois sem Ele

nada é possível e aos meus avós que me

deram toda a estrutura moral e intelectual do

que sou hoje.

7

1. Introdução

Gestores de projetos sociais e de políticas públicas estão, cada vez mais,

preocupados com o aprimoramento das ações e investimentos promovidos na área

social.

Neste contexto, a Avaliação Econômica é mais uma ferramenta disponível

para ajudar na complexa tarefa de avaliar um projeto.

Existem atualmente muitas iniciativas na área social, mas poucas tem se

preocupado em medir seus resultados.

Muitas vezes os gestores não fazem uma avaliação adequada do impacto de

suas iniciativas. Por meio da Avaliação Econômica é possível identificar o impacto

gerado, assim como calcular o retorno econômico.

O presente trabalho visa apresentar os principais conceitos e técnicas

associados à avaliação econômica de projetos sociais.

Demonstrar passo a passo, por meio de exemplos e estudo de caso, como se

faz uma avaliação econômica.

8

RESUMO

“Apesar de bilhões de dólares serem gastos todos os anos com projetos

sociais, muito pouco se sabe do seu impacto sobre beneficiários e sua viabilidades

econômica.” (Banco Mundial)

A avaliação de trabalho desenvolvido no campo social sempre foi uma

questão muito debatida e pouco praticada. Muitas organizações intuem o sucesso

dos seus processos pontualmente quando analisam o desempenho de suas ações

apenas com relatos subjetivos. Mas quando aprofundam a análise de seus

resultados, na maioria das vezes não há vínculo com o objetivo proposto e

raramente apresentará resultados que produzem impacto diante da causa. Neste,

caso a perda do foco contribui com uma frustração.

Poucas organizações conseguem identificar, esclarecer e aplicar critérios

passíveis de serem defendidos publicamente para determinar o valor (mérito e

relevância), qualidade, utilidade, efetividade, importância e eficiência dessas ações.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou neste ano novas

informações sobre assistência social nos municípios brasileiro. Uma parte dessa

pesquisa mostra avanços nos serviços sociais, mas também alerta: faltam técnicas

de monitoramento no desenvolvimento de projetos e programas e avaliação de seus

resultados e impactos.

A avaliação é entendida como um processo que apoia a gestão e a tomada

de decisão e ajuda a corrigir rumos, identificar erros e acertos, verificar a realização

de objetos, identificar os resultados no público do projeto e gerar credibilidade para

futuros investimentos. (Revista Filantropia, pág 18)

Neste cenário, a avaliação de projetos sociais e políticas públicas ganham

destaque e importância na busca de aprimoramento de ações e investimentos

9

sociais. Há várias técnicas para avaliação de projetos sociais, neste trabalho será

abordado a relevância da avaliação econômica, como instrumento importante para

subsidiar a gestão e aprimoramento dos projetos, otimizar a alocação dos recursos e

propiciar a prestação de contas a financiadores, participantes e sociedade em geral.

A Avaliação Econômica é uma ferramenta de gestão que permite identificar e

mensurar o impacto de um projeto social e o retorno econômico.

O impacto do Projeto são todas as mudanças que aconteceram na vida dos

beneficiários do projeto, mas que aconteceram por causa do projeto.

Transformando o impacto do projeto em valor monetário e comparando esse

valor aos custos do projeto, chegamos ao Retorno Econômico.

A introdução da prática da avaliação econômica traz diversos benefícios para

os gestores:

- facilita a administração eficiente dos recursos escassos.

- ajuda na tomada de decisões com relação à operacionalização dos projetos.

- orienta os gestores quanto à eficiência de seus programas, comparando

custos e benefícios.

A Avaliação vai nos mostrar se o projeto funcionou da maneira esperada, se

trouxe benefícios reais e qual é a relação custo benefício desse projeto.

A coleta sistemática de informações relevantes e o estabelecimento de

parâmetros de comparação dos resultados são fundamentais para que se tenha uma

Avaliação do Impacto e Retorno Econômico do projeto que reflita a sua realidade.

A avaliação de impacto permite conhecer os resultados de uma ação em

relação ao público-alvo e busca responder se o projeto atinge seus objetivos. Se as

mudanças na vida dos beneficiários são resultantes do projeto ou de fatores

10

externos. Qual a relação custo-benefício para o projeto, pelo retorno calculado, é

melhor que as alternativas de projetos similares.

2. Informações necessárias para Avaliação Econômica

A avaliação econômica conjuga dois tipos de avaliação que se

complementam: a avaliação de impacto e o cálculo de seu retorno econômico. A

avaliação de impacto tem por principal objetivo inferir causalidade entre o projeto ou

programa e os resultados obtidos, ou seja, pretende responder à pergunta: o que

teria ocorrido aos beneficiários, caso eles não tivessem participado do projeto? Já o

retorno econômico compara o investimento no projeto com os benefícios gerados ao

longo da vida de seus participantes. Trata-se, portanto, do retorno social do projeto,

uma medida econômica relevante para a própria gestão do projeto, e também para a

comparação de resultados entre projetos sociais (site Fundação Itaú Social). Para

realizar esta análise, algumas informações são imprescindíveis.

2.1. Público Alvo

Para utilizar esta ferramenta a estruturação do projeto deve estar preparada

para a futura avaliação econômica, para tal deve se atentar para delimitação do

público-alvo.

A definição do público-alvo ocorre antes ou depois da definição dos

problemas que serão enfrentados. Há projetos que são criados para atender uma

comunidade específica e o passo seguinte é determinar os problemas desta

comunidade, assim como o problema pode ser determinado antes do público-alvo.

11

2.1.1. Critério de elegibilidade

Em geral, para identificação do público-alvo utiliza-se o critério de

elegibilidade, como por exemplo: o Programa Bolsa Família que atende todas as

famílias que tenham renda familiar abaixo do nível de pobreza (R$ 120 em 2008).

Definido o público, é possível posteriormente avaliar a focalização do

programa.

O esforço da focalização deve atuar no sentido de minimizar dois tipos de

erros:

i. Excluir do projeto pessoas pertencentes ao público-alvo (ineficiência no

alcance ou na cobertura do programa);

ii. Incluir no projeto pessoas não pertencentes ao público-alvo (vazamento do

programa).

Ou seja, quando um programa beneficia pessoas que não deveriam ser

contempladas e/ou quando deixa de fora pessoas que pertencem ao público-

alvo, dizemos que o programa incorreu nos chamados erro de focalização.

2.2. Objetivo

Para realizar a avaliação econômica do projeto social tão importante quanto a

definição do público-alvo é a definição dos objetivos de impacto do projeto. O

objetivo deve dizer para que servirá o projeto, ou seja, o que pretende alcançar ao

final do programa.

Ainda que seja possível ter objetivos amplos, que mostram um escopo maior

do projeto são os objetivos claros, bem definidos e mensuráveis que permitem sua

avaliação econômica. O objetivo é a base para a escolha dos indicadores do projeto.

12

2.3. Indicadores

Para se definir os indicadores de impacto é necessário que os objetivos sejam

mensuráveis.

É por meio da variação de alguns indicadores, que se pode quantificar de

forma adequada os impactos de um projeto, para isso esses indicadores devem

estar intimamente vinculados ao objetivo proposto. Desta forma podemos mensurar

o resultado alcançado pelo projeto.

Dada a importância dos indicadores para o conhecimento da situação antes e

depois do projeto, é importante que estes apresentem algumas características, tais

como:

• Relevantes;

• Fácil entendimento;

• Facilidade de construção e baixo custo;

• Confiabilidade;

• Consistência com os dados disponíveis;

• Relação direta com as ações efetuadas.

Os indicadores quantitativos fornecem respostas numéricas objetivas. Elas

são obtidas por meio de um padrão predefinido pelos avaliadores do projeto.

Os indicadores qualitativos fornecem respostas abertas, subjetivas e

expressam valores pessoais, o que exige do avaliador uma habilidade maior para

interpretá-las, pois há uma dificuldade maior para tabular. Mas, há a possibilidade de

transformar algumas informações qualitativas em quantitativas, como por exemplo o

grau de satisfação com um projeto, onde a resposta pode ser apresentada da

seguinte forma:

13

• Totalmente satisfeito: 5

• Muito satisfeito: 4

• Satisfeito: 3

• Insatisfeito: 2

• Muito insatisfeito: 1

• Totalmente insatisfeito: 0

Os indicadores qualitativos fornecem informações importantes para

enriquecer a avaliação do projeto que permite uma análise mais ampla, pois os

dados quantitativos podem mostrar o que está acontecendo (o impacto do projeto),

enquanto os dados qualitativos podem fornecer uma indicação das razões pelas

quais o projeto está tento determinado resultado.

2.4. Fontes de informações

2.4.1. Cadastro

Para que a avaliação econômica possa ser realizada é imprescindível que

existam informações. Para isso, os gestores do projeto deverão realizar um cadastro

dos participantes com as informações relevantes, adequadamente planejadas e bem

construídas. Esta etapa costuma ser negligenciada ou o cadastro por construir um

cadastro inadequado, por julgarem que demanda muito tempo, esforço e recurso, e

a não realização desta gera re-trabalho, no momento da avaliação ou até mesmo

inviabilizando-a.

Não existe um modelo padrão de cadastramento de participantes, as

informações irão variar de acordo com o objetivo do projeto social proposto.

14

È recomendado que o gestor do projeto utilize o Método Experimental que

pressupõe a seleção aleatória entre participantes e não participantes do programa.

Desta forma, evita-se o problema de seleção que ocorre quando o grupo de

participantes tem alguma característica que o distingue, mesmo antes do tratamento,

do grupo de controle.

Quando a seleção é aleatória, é esperado que existam pessoas com

características semelhantes nos dois grupos. Assim, na média de suas

características, esses grupos são iguais

Em geral, para se obter grupos selecionados aleatoriamente, deve-se pensar

nisso antes do início do programa. Por exemplo, realizar a seleção de participantes

por meio de um sorteio entre os interessados.

Desta forma, a única diferença entre os dois grupos será o próprio tratamento,

ou seja, a participação no programa.

2.4.2. Fontes externas de dados

Algumas vezes pode ser necessário recorrer a “fontes externas de dados”.

Esses dados são encontrados em pesquisas e avaliações feitas usualmente por

órgãos governamentais, tais como:

• Pesquisa realizada pelo IBGE:

o CENSO;

o PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios;

o POF – Pesquisa de Orçamento Familiar.

• Pesquisa realizada pelo INEP:

o SAEB – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica;

15

o ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio;

o CENSO Escolar.

Por meio dessas fontes, é possível conhecer de forma detalhada de consumo

e características socioeconômicas, de alguma população específica. Essas

informações podem ser úteis na avaliação ex-ante (avaliação realizada antes da

execução do projeto). Além disso, tais dados podem ser usados para se realizar

fonte externa de dados.

2.5. Custos

Trata-se de um elemento essencial para a avaliação econômica,

especificamente para o cálculo de retorno econômico do projeto.

Custos econômicos englobam os custos contábeis incorrido na execução do

projeto e o custo de oportunidade daqueles que participam do programa. Entende-se

custo de oportunidade como sendo o rendimento que se deixa de obter quando se

realiza determinada escolha.

Por exemplo, um jovem ao freqüentar um determinado projeto, ele pode ter

que deixar de trabalhar diminuindo a renda familiar. O “salário perdido” é

considerado o custo de oportunidade dessa família.

Para se levantar o custo econômico, deve-se levar em consideração os

custos de oportunidade também.

3. Introdução à Avaliação Econômica

A avaliação econômica de um projeto pode ser dividida em duas partes: a

avaliação de impacto e a avaliação de retorno econômico, que estão

16

intrinsecamente relacionadas, sendo a segunda relacionada com base nos

resultados da primeira etapa. Cada uma dessas avaliações pode ser realizada antes

da implementação do projeto (ex-ante) e após sua implementação (ex-post).

A coleta sistemática de informações relevantes e o estabelecimento de

parâmetros de comparação dos resultados são fundamentais para que se tenha uma

Avaliação do Impacto e do Retorno Econômico do projeto que reflita a sua realidade.

3.1. A Avaliação de Impacto

A avaliação de impacto está relacionada ao impacto que o programa tem

sobre um determinado público-alvo. Para isso, alguns pontos devem ser

investigados:

• Atingiu seus objetivos, ou seja, afetou os beneficiados?

• As melhoras observadas são um resultado direto do projeto ou teriam

acontecido de qualquer forma?

• Há diferença de impacto entre regiões ou ao longo do tempo.

• O projeto está causando algum impacto não planejado inicialmente?

A avaliação de impacto permite estabelecer e quantificar as relações causais

entre as ações efetuadas no projeto e as alterações verificadas nos indicadores de

interesse. Entende-se por relações causais, relação de causa e efeito.

Os resultados obtidos podem ser utilizados para tomada de decisões quanto à

continuidade ou não das ações efetuadas, para a implementação de projetos

futuros ou mesmo para a formulação de políticas sociais. Exemplo: Um projeto que

tenha por objetivo melhorar a qualidade do ensino, através da capacitação dos

professores, tendo como indicador o desempenho escolar. Se a avaliação de

17

impacto mostra os resultados obtidos são positivos, pode-se implementar o

programa em outras escolas semelhantes.

3.1.1. Avaliação ex-ante e ex-post

Na avaliação ex-ante poderá estimar seus possíveis impactos antes da

implementação do projeto. Desta forma, se torna um importante instrumento para

os gestores realizarem os ajustes e melhorias necessárias a um custo mais baixo.

A avaliação ex-post é realizada após o projeto ter acontecido, onde

estabelece as relações causais entre as ações efetuadas e as alterações

verificadas no bem-estar dos indivíduos, quantificando assim os efeitos dos

projetos, em comparação com o grupo de controle, desta forma pode-se avaliar o

que teria acontecido com os participantes do projeto, caso eles não tivessem

participado do programa.

3.2. Avaliação de retorno econômico

A avaliação de retorno econômico analisa as seguintes questões:

• Se os custos são razoáveis;

• Qual a efetividade do projeto, comparativamente com outras propostas de

projeto;

Apesar de alguns projetos terem bons resultados, não são o suficiente diante

os custos incorridos em sua implementação, desta forma pode-se analisar se outros

projetos poderão alcançar resultados semelhantes com um custo menor.

18

4. Análise de Impacto

4.1. Introdução

A avaliação de impacto tem como objetivo determinar quais foram as

mudanças no bem-estar dos indivíduos que podem ser atribuídas a um projeto

específico. Na definição da avaliação de impacto estão implícitos dois pontos que

devem ser ressaltados: mensuração e causalidade.

A mensuração é realizada através da mudança no bem-estar dos

participantes é realizada através dos indicadores associados aos objetivos dos

projetos. Uma vez identificada à melhora nos indicadores, deve-se determinar a

causalidade, isto é saber se foi de fato a participação no projeto que fez com que os

indicadores de resultados atingidos.

O próximo passo da avaliação é buscar o contra factual, ou seja, ter a

possibilidade de avaliar o que teria acontecido caso os beneficiados se não tivessem

participado do projeto. Ao tomar, por exemplo, um projeto para melhora da qualidade

do ensino médio, através da oferta de oficinas (de arte, músicas, de leitura, etc.)

após o horário das aulas, buscando motivar esses jovens a permanecer na escola.

O indicador seria um índice de freqüência escolar para comparar os jovens que

participam das oficinas com os mesmos jovens caso eles não participassem deste

projeto. Essa seria a única maneira de ter certeza de que o aumento na freqüência

escolar foi resultado exclusivo da participação nas oficinas, no entanto este tipo de

análise não é possível, desta forma, a solução passa ser a construção do grupo de

controle, que trata-se dos não tratados, ou seja, formar grupos de não participantes

que tenham as mesmas características dos participantes (mesma idade, nível sócio-

econômico, etc.). Desta forma, a possibilidade para análise de impacto é a de

comparar a variação na freqüência escolar antes e depois dos jovens que

19

participaram das oficinas com a variação na freqüência observada neste mesmo

período para os jovens que não participaram das oficinas. Esse é o método

diferenças em diferenças, mas para utilizá-lo é preciso garantir de que aconteceu de

diferente com os grupos a não ser a participação das oficinas.

4.2. Conceitos estatísticos

4.2.1. Variável aleatória

É a variável cujo valor é desconhecido até a observação. Seu valor é o

resultado de um experimento e não pode ser previsto com exatidão, apesar de

conhecermos os resultados possíveis.

Por exemplo, podemos dizer e encontrar o primeiro emprego é uma variável

aleatória. Com certeza, quanto mais preparado o jovem, maior a probabilidade de

ele conseguir um emprego.

4.2.2. Amostra Vs. População

Amostra é uma parte da população que temos para analisar. Nosso

conhecimento a respeito da população geralmente é baseado no nosso

conhecimento da amostra com a qual trabalhamos. Por isso, devemos nos certificar

de a amostra que temos seja representativa.

4.2.3. Distribuição de probabilidade

Não se conhecem os valores de variáveis aleatórias até um experimento ser

realizado e, nem sempre, os valores associados às variáveis aleatórias são

igualmente prováveis. Sendo assim listamos os valores possíveis de uma variável

aleatória com suas possibilidades de ocorrência, onde o resultado é uma função de

20

probabilidade. Por exemplo, no lançamento de 2 dados ter como resultado a soma

dos valores ser 11.

4.2.4. Média

É o “valor esperado” de uma variável aleatória. Considerando que temos

disponível um certo número de observações “n” de uma variável aleatória ”x”. Para

obtermos a média de x, basta calcularmos a razão entre a soma dos valores

observados dessa variável aleatória nessa amostra e o número de observações

dessa amostra, isto é:

n

∑ xi x = i=1 . n

Onde:

Xi= é a nota do i-ésimo aluno

n é o número de observações

4.2.5. Variância / Desvio Padrão

Para toda variável aleatória há diferença entre o valor esperado (isto é, a

média) e o valor observado.

A variância mede a dispersão dos valores observados da variável aleatória

em torno de seu valor esperado.

Quanto maior a variância, mais dispersos são os valores observados da

variável em relação à sua média. Neste sentido, a variância pode ser interpretada

como uma medida de precisão de um valor a ser observado pela sua média, sendo

21

assim não é uma previsão muito precisa. Quanto menor a variância, maior é a

confiança de que o valor a ser observado será próximo da média.

A partir da variância pode-se obter o desvio-padrão que é a raiz quadrada da

variância. Esta será uma medida bastante importante na construção dos intervalos

de confiança.

Variância Desvio-padrão

n

∑ [(xi - ẋ)]2 S2 = i=1 .

n

n

∑ [(xi - ẋ)]2 s = i=1 = √s2

(n – 1)

4.2.6. Distribuição normal

É uma das mais importantes distribuições de probabilidade.

Em geral, trabalhamos com variáveis aleatórias para as quais não

conhecemos sua distribuição.

Comumente, assumimos que nossas variáveis têm distribuição de

probabilidade que se comporta como uma normal.

22

4.2.7. Intervalo de confiança

É o intervalo de valores que, com uma certa probabilidade de acerto, contém

o valor médio de uma variável de interesse referente a uma determinada população.

Exemplo: Suponhamos que conhecemos a distribuição de probabilidade da

altura dos homens brasileiros. Podemos fazer a inferência a respeito da

nacionalidade de um homem qualquer. A pergunta a nos fazer é: se tal home mede

1,97 m, qual a probabilidade de ele ser brasileiro?

Para tanto devemos construir um intervalo de confiança para a variável

aleatória altura dos homens brasileiros. Um intervalo de confiança vão nos dizer, por

exemplo, qual o intervalo de altura em que estão 50% dos homens brasileiros. Se

1,97 m estiver dentro desse intervalo, podemos dizer que, com 50% de

probabilidade, esse homem é brasileiro.

Para a avaliação de impacto, estamos interessados na variável aleatória que

é a média amostral que tem distribuição normal. Isso é importante para nossos

propósitos, já que para a avaliação de impacto, nossa variável aleatória de interesse

é a média amostral do indicador de impacto escolhido e não cada observação

f (x)

0,4 0,3 0,2 0,1 0,0

23

individual de xi. Para construir um intervalo de confiança para ẋ, admitindo que esta

tenha distribuição normal, também precisamos da sua média e de seu desvio

padrão. É possível mostrar que:

• A média amostral de x é igual a média amostral de xi;

• O desvio-padrão de x é igual ao desvio-padrão de xi dividindo pela raiz

quadrada do número de observações(n).

Portanto, o intervalo de confiança para a variável aleatória ẋ é dada por:

[ x-1,96*(s/√n); x + 1,96 * (s/√n)]

Graficamente poder ser representado da seguinte forma:

47,5%

47,5%

x + 1,96 x - 1,96

95%

2,5% 2,5%

24

4.3. Avaliação de Impacto

Há duas maneiras de medir o impacto de um programa, sendo que a escolha

do método a ser utilizado dependerá do tipo de dados que temos disponível, isto é,

dependerá de como foi selecionado o grupo de tratamento. Existe o método

experimental (ou de seleção aleatória) e por contrapartida, o método não

experimental (ou de seleção não aleatória).

4.3.1. Método experimental (ou de seleção aleatória)

Como já colocado, o problema central na avaliação de qualquer programa é

que os indivíduos não podem ser observados simultaneamente na situação de terem

sido tratados e na situação de não terem sido tratados. Desta forma, a avaliação

econômica de qualquer programa envolve a construção ou definição dos chamados

grupo de controle.

No método experimental ou de seleção aleatória, a avaliação de impacto é

desenhada antes mesmo da implementação do programa. O método consiste em

dividir em dois grupos o conjunto de pessoas que desejam participar e tem as

características esperadas para o público-alvo. O primeiro engloba aqueles que

efetivamente vão participar (grupo de tratamento) e o outro, aqueles que não

participarão do programa (grupo de controle). Ou seja, o grupo de tratamento é

constituído de forma aleatória. Dado um grupo de pessoas parecidas (desejosas de

participar e dentro das condições exigidas). Os grupos são selecionados de forma

que a única diferença entre os grupos seja o tratamento, isto é, a participação no

programa.

25

Quando a escolha dos participantes é aleatória, o impacto do programa é

diretamente calculável a partir da comparação da média do indicador que

escolhemos como medida de avaliação da mudança de bem-estar proporcionada

pelo programa para ambos os grupos, o de tratamento e o de controle.

Entretanto as médias que calculamos para os dois grupos são médias

amostrais e, portanto, são elas também variáveis aleatórias. Assim, não basta

comparar o valor das duas médias. É necessário saber se elas são estatisticamente

diferentes, para isso recorremos a abordagem de intervalo de confiança.

Na prática, é necessário ter observações do indicador referente a todos os

membros dos grupos tanto do grupo de tratamento como o de controle para

calcularmos a média do indicador para cada um dos grupos. Em seguida,

precisamos testar se essas duas médias são estatisticamente diferentes. Para isso,

criamos um intervalo de confiança para uma delas, por exemplo, para o grupo de

tratamento. Assim, devemos ter informações sobre a distribuição de probabilidade

dessa variável. Como não temos essa informação, geralmente supomos que as

média tem distribuição normal, cujas características descrevemos anteriormente. Os

procedimentos para a construção do intervalo de confiança de 95%, supondo

distribuição normal, foram apresentados na seção anterior.

Uma vez construído o intervalo de confiança para a média do grupo de

tratamento, basta verificar se a média calculada para o grupo de controle está dentro

desse intervalo ou não. Se estiver, significa que as duas médias são iguais e, então,

que o programa não teve impacto. Se não estiver, significa que as médias são

diferentes e, portanto, que houve impacto.

26

4.3.2. Método não experimental (ou de seleção não aleatória)

Na maioria dos projetos sociais, a seleção dos participantes do programa não

é feita de maneira aleatória. Isso acontece porque em alguns casos todas as

pessoas ou instituições que são elegíveis para participar do programa são a

princípio participantes do programa. Ou porque dentre os elegíveis outros critérios

são utilizados para definir os participantes – por exemplo, os mais necessitados são

atendidos primeiramente – tornando o grupo de participantes diferentes dos demais

indivíduos.

O problema é que a base para a avaliação de um programa social é o contra

factual. Ou seja, queremos saber o que aconteceria com os participantes do

programa caso não tivessem participado. Como essa resposta não existe, temos

que definir ou construir um grupo de controle. No caso da seleção aleatória,

automaticamente tínhamos um grupo de controle: aqueles que não foram sorteados

e que gostariam e poderiam participar do programa, mas que não participam.

Quando a seleção não é aleatória, não temos grupo de controle automático.

Em alguns casos, há grande dificuldade de construir o grupo de controle,

considerando o programa de distribuição de cesta básica, não podemos comparar o

índice nutricional das pessoas que participaram do programa como avaliação de

impacto, pois inúmeros fatores podem contribuir para esta melhora. Desta forma,

quando temos um grupo de controle com características diferentes do grupo de

tratamento utilizamos um instrumento estatístico que permite realizar a análise de

impacto – é a chamada ‘regressão linear’. O intuito é isolar as características que

acreditamos tornar os grupos diferentes e que afetam o indicador de interesse,

tornando os grupos comparáveis. Podemos listar algumas características, tais como:

27

educação dos pais, renda familiar, região onde mora, saneamento básico e se

participa de outro programa social.

Uma vez decididas quais características afetam o índice nutricional das

pessoas em geral e que são diferentes entre os grupos, o próximo passo é “limpar” o

índice nutricional do efeito dessas outras características, para restar apenas a

participação do programa como explicação para as diferenças nutricionais.

Para “limpar” o índice nutricional significa encontrar uma maneira de tornar as

pessoas iguais em características observáveis. Isso significa fazer todas as pessoas

terem pais com o mesmo nível educacional, a mesma renda, o mesmo acesso à

saúde, ao saneamento básico e morarem no mesmo lugar, ou seja, tudo o que

importa na determinação do índice nutricional que não a participação no programa.

Na prática, segue abaixo a equação que explica o índice nutricional:

Índice nutricional = α + β * ‘programa’ + Φ * ‘educação dos pais’ + δ ‘renda

familiar’ + y * ‘saneamento’ + Ψ ‘outras variáveis que acreditamos explicar esse

índice’ + x

A participação no programa assume valor 1 (um) e 0 (zero) quando não

participa do programa. Assim, o β indica o impacto que a participação no programa

de cestas básicas tem sobre o índice nutricional livre do efeito das outras variáveis

incluídas. Se o programa tem impacto sobre o índice nutricional, então o β, da

equação acima, será diferente de zero. Isso quer dizer que participar do programa

ajuda a explicar os diferentes índices nutricionais da população.

O termo α identifica o índice nutricional do indivíduo que recebe valor zero em

todas as variáveis da equação acima. Insto é, o índice nutricional do indivíduo que

não participa do programa, cujos pais tem escolaridade igual a zero ano de estudo,

cuja renda familiar é igual a zero e assim por diante. As outras letras que multiplica,

28

as demais variáveis na equação acima (Φ, y, Ψ e δ) medem a relação ou

associação existente entre cada uma delas e o índice nutricional, controladas as

demais características. O termo ε é o erro que existe por não conseguirmos

determinar sempre perfeitamente o índice nutricional.

O instrumento de regressão é usado justamente para nos dar uma medida de

(e dos demais coeficientes associados às demais variáveis). Vários programas

estatísticos, incluindo o MS-excel, calculam estimativas de (α, β Φ, y, Ψ e δ). O

Box ‘Análise de Regressão Linear Simples’ explica como os coeficientes são

obtidos, utilizando um modelo com uma variável explicativa.

Análise de Regressão Linear Simples

Imagine duas variáveis Y e X que tenham uma relação entre si, como por

exemplo, salários (Y) e anos de estudo (X). Suponha que Y é que seja afetado por

X, mas não o contrário. Nesse sentido, Y é a variável dependente e X a variável

independente ou explicativa. O objetivo é encontrar como estas duas variáveis estão

relacionadas. Uma possibilidade é assumir que estas variáveis sejam relacionadas

através de uma função linear, ou seja, por meio de uma reta. Isto é, cada Y pode ser

escrito como função linear, ou seja, por meio de uma reta, isto é, cada Y pode ser

escrito como uma função de X da seguinte forma:

Yi = α + βXi + ε

O termo ε expressa o erro aleatório que tem que ser incluído porque em geral

o valor Y previsto pela equação será diferente do valor de Y observado.

29

Na figura abaixo temos um gráfico das duas variáveis; também traçamos uma

reta que poderia ser usada para expressar a relação X e Y.

Os valores sobre a reta são previstos pela regressão. Os pontos próximos à

reta são os valores observados. A distância entre eles é chamada de erro da

previsão.

O processo de egressão tem por objetivo encontrar os valores de α e β; o

método faz isso de forma a minimizar o Y previsto e Y observado a menor possível.

O primeiro passo para a análise de regressão é construir adequadamente o

banco de dados com informações de Y (variável a ser explicada) e X (variáveis

explicativas) para o grupo de pessoas que estamos analisando.

No caso do exemplo do programa de distribuição de cestas básicas, seria

necessário ter uma amostra das pessoas que participaram do programa e uma das

30

pessoas que não participaram. O nome fica na primeira coluna, na segunda os

indicadores nutricionais de cada uma delas e na terceira a variável ‘programa’, isto é

a identificação de quem participou e de quem não participou (sendo 1 para o

primeiro e 0 para o segundo). Nas demais colunas, estão as informações sobre as

outras variáveis que explicam a nutrição – educação dos pais, renda familiar, etc. O

interesse é saber se o coeficiente associado à variável de participação β é

estatisticamente diferente de zero para concluirmos que o programa teve um

impacto positivo sobre o índice nutricional da população participante.

5. Método de diferenças em diferenças

Quando a separação entre os grupos de tratamento e controle não foi

aleatória e quando temos grupos de tratamento e controle muitos diferentes,

principalmente com relação a características que não são observáveis, o ideal para

a análise de impacto seria que o avaliador tivesse informações sobre os grupos de

tratamento e controle em dois períodos de tempo, ou seja, no período anterior e no

período posterior ao programa social.

Suponhamos que estamos avaliando o impacto de um programa de

qualificação profissional e que a renda seja o indicador de interesse. A ideia básica é

comparar ‘a diferença entre a renda depois e a renda antes’ do grupo de tratamento

com a do grupo de controle.

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Termos das diferenças

Médias por grupo Antes Depois Variação

Tratamento TA TD TD - TA

Controle CA CD CD – CA

Variação das variações (TD TA) – (CD – CA) = dif em dif = (β2 + β3 - β2) = β3

TRATADOS

Rendaest = α + β1 * ‘programa’ + β2 * ‘depois’ + β3 * ‘programa * depois’

TA = α + β1 * ‘1’ + β2 * ‘0’ + β3 * ‘0’

TA = α + β1

TD = α + β1 * ‘1’ + β2 * ‘1’ + β3 * ‘1’

TD = α + β1 + β2 + β3

TD - TA = β2 + β3

CONTROLE

Rendaest = α + β1 * ‘programa’ + β2 * ‘depois’ + β3 * ‘programa * depois’

CA = α + β1 * ‘0’ + β2 * ‘0’ + β3 * ‘0’

CA = α

CD = α + β1 * ‘0’ + β2 * ‘1’ + β3 * ‘0’

CD = α + β2

CD - CA = β2

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DIFERENÇA

Rendaest = α + β1 * ‘programa’ + β2 * ‘depois’ + β3 * ‘programa * depois’

(TD – TA) = β2 + β3

(CD – CA) = β2

(TD – TA) - (CD – CA) = dif em dif = (β2 + β3 - β2) = β3

6. Limites da análise estatística

Um ponto importante a ser ressaltado sobre a análise de regressão é que,

assim como no caso das comparações de média, estamos tratando de uma análise

estatística. Para isso precisamos de dados confiáveis e de uma amostra de tamanho

razoável. O tamanho adequado da amostra depende do tamanho da população e

essa relação não é linear. Um outro aspecto é o problema de variáveis não

observadas. Tomemos o exemplo do programa de oficinas que tem por objetivo

melhorar o desempenho escolar das crianças. As crianças diferem em diversos

atributos: número de irmãos, renda familiar, motivação, interesse, etc. Note que as

duas primeiras características são variáveis que o avaliador pode observar. Sendo

assim, usando o método de regressão ele conseguiria ‘limpar’ o desempenho

escolar dessas duas características. Provavelmente, uma criança com maior

motivação e/ou interesse estará mais disposta a participar das oficinas e deve ter um

desempenho melhor na escola, independente de participar da oficina. Neste caso, o

coeficiente associado à variável ‘programa’ está, em parte, captando o efeito dessas

características observadas. Existem métodos estatísticos que buscam resolver este

tipo de problema.

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Em suma, se uma avaliação parece ter variáveis não observadas importantes

e/ou há poucas pessoas com as mesmas características nos grupos de tratamento e

controle, deve- se olhar os resultados de regressão linear simples com cautela.

7. Retorno Financeiro

7.1. Introdução

Como se trata de projeto social o objetivo não gerar lucro econômico, mas

melhorar a qualidade de vida da população participante. Desta forma, o cálculo de

retorno econômico é utilizado para avaliar a eficiência de um projeto ou mesmo para

escolher entre dois projetos alternativos, sendo assim pode auxiliar na decisão de

implementar determinada ação social.Cada projeto tem um custo de implementação

e também os benefícios. Compará-los pode ser uma ferramenta disponível para a

tomada de decisão.

7.2 Transformando impacto em valor monetário

O calculo dos benefícios gerados pelo projeto é feito a partir da análise de

impacto.

A forma de transformar impacto em valor monetário nem sempre é direta. Se

o impacto do projeto se dá sobre a renda familiar dos participantes, então há uma

relação direta entre impacto e seu valor monetário. Entretanto, nem sempre isso

acontece, o que não quer dizer que não seja possível associar um valor monetário

ao impacto sobre um indicador não monetário.

Por exemplo, se um programa de treinamento tem como objetivo ensinar a

usar o computador, uma forma de transformar o impacto em valor monetário é por

meio do diferencial de salário proporcionado pelo aprendizado. Um ponto importante

34

é que o ganho salarial vai ser apropriado pelo trabalhador não somente no período

de duração do projeto, mas durante todo o tempo em que ele continuar no mercado

de trabalho. Para o cálculo de retorno econômico iremos considerar o fluxo de

benefícios ao longo da vida das pessoas beneficiadas. Nesse sentido, temos que

fazer hipóteses sobre esta trajetória.

Em suma, a transformação do impacto do programa em termos monetários

depende de hipóteses. Boas hipóteses dependendo do grau de conhecimento do

analista em relação ao público-alvo do programa e também devem se basear em

evidências empíricas de situações semelhantes. Por exemplo, a relação entre renda

e escolaridade é uma evidência empírica bem estabelecida na literatura e, neste

sentido, a sua utilização é algo bastante razoável.

8. Conceitos de Matemática Financeira

Para realizamos a análise de retorno econômico é necessário utilizar algumas

ferramentas da matemática financeira, que não serão detalhados neste trabalho, tais

como: Taxa de juros, Juros compostos, Fluxo de caixa, Cálculo de retorno

financeiro, Valor presente líquido e Taxa interna de retorno.

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9. Estudo de Caso

Projeto: EDUCAÇÃO PARA UM GRANDE COMEÇO

OBJETIVO

Promover a ascensão de adolescentes e jovens moradores do Complexo de

Manguinhos e suas 11 sub comunidades em situação de vulnerabilidade social

decorrente da pobreza, privação e/ou fragilização de vínculos afetivos – relacionais e

de pertencimento social, com qualificação e oportunidades dignas de trabalho e

geração de renda por meio do desenvolvimento de potencialidades.

INDICADORES

• Com 4 turmas de 50 alunos, num total de 200 alunos inscritos com índice

de frequência de 64%.

• 60 alunos capacitado e inseridos no mercado de trabalho.

PÚBLICO ALVO

Faixa Etária Quantidade Nº de Turma Total

14 a 16 100 2 100

17 a 22 100 2 100

Total: 200

AVALIAÇÃO DE IMPACTO

Para que?

Identificar se as alterações ocorridas nos indicadores de interesse se deram em

função do projeto

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Como funciona?

Comparando os indicadores de dois grupos:

Grupo de Tratamento: pessoas do público alvo que serão atendidas pelo projeto ou

participarão da intervenção

Grupo de Controle: pessoas com características similares que não serão atendidas

pelo projeto ou participarão da intervenção

Indicador de interesse

Empregabilidade após a realização do projeto

Método

Regressão linear com dados colhidos após o tratamento

Características dos grupos

Grupo de tratamento: 25 indivíduos entre 16 e 20 anos de idade contemplados pelo

projeto

Grupo de controle: 25 indivíduos entre 14 e 20 anos de idade, inscritos na lista de

espera do projeto

Outros indicadores incluídos na regressão

• Participação no programa (tratado ou controle?)

• Escolaridade do pai

• Escolaridade da mãe

• Local de moradia

• Idade

• Último ano escolar concluído

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• Sexo

• Etnia

Conclusões

• A participação no projeto tem efeito estatisticamente positivo na

empregabilidade dos tratados, em comparação com os indivíduos do

grupo de controle

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Conclusões

• Os contemplados pelo projeto tem cerca de 36,71% de chances a mais

para conseguir emprego

Para que?

Avaliar a viabilidade do projeto em função dos benefícios gerados, em comparação

com os custos financeiros e financeiramente mensurados associados à sua

realização

Como funciona?

Cálculo da Taxa interna de retorno (TIR)

Assumindo que:

• O impacto do projeto sobre a vida dos beneficiários dura potencialmente

cerca de 3 anos

• Salário dos que conseguiram emprego = salário mínimo

• A taxa de juros é de 6% ao ano

Custos do projeto para 25 beneficiários

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Fluxo de caixa do projeto

Estimando o impacto efetivo

Valor presente líquido e Taxa interna de retorno do projeto

10. Conclusão

A Avaliação Econômica de Projetos Sociais é uma ferramenta que

apresenta limitações, considerando os indicadores não observáveis, que são

trabalhadas estatisticamente, no entanto há outros indicadores que dependem de

demais técnicas de análise como desenvolvimento psico-social, o engajamento, a

transformação emocional e autoconfiança, mas diante do trabalho apresentado

podemos verificar que a Avaliação Econômica de Projetos Sociais é um importante

processo que apoia a gestão e a tomada de decisão e ajuda a corrigir rumos,

identificar erros e acertos, verificar a realização de objetos, identificar os resultados

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no público do projeto e gerar credibilidade para futuros investimentos, pois se trata

de uma ferramenta de gestão que permite identificar e mensurar o impacto de um

projeto social, o retorno econômico e a melhor alocação dos recursos financeiros.

11. Bibliografia

RODRIGUES, Maria Cecília P. (2010) Projetos sociais corporativos: como avaliar e tornar essa estratégia eficaz. São Paulo: Atlas. CONTADOR, Claudio Roberto (2000) Projetos Sociais Avaliação e Prática. São Paulo: Atlas, 4ª Edição. BUARQUE, Cristovam (2009) Avaliação Econômica de Projetos. São Paulo: Campus, 12ª Edição.

SCHOR, AFONSO, Adriana e Luís Eduardo (2005) Apostila Avaliação Econômica de Projetos Sociais.

DALBEM, BRANDÃO, MACEDO-SOARES, Marta Corrêa, Luiz, e T. Diana L.

van Aduard de (2010) “Avaliação econômica de projetos de transporte: melhores práticas e recomendações para o BrasilEconomic appraisal of transportation projects: best practices and recommendations for Brazil”. Revista Administração Pública vol.44 no.1 Rio de Janeiro Jan./Feb. 2010.

Revista Filantropia – Brasil – Edição 47 – Jul./Ago – 2010 – Tecnologia de Monitoramento e avaliação de programas sociais – Carol Zanoti