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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE ANHANGUERA DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI VALDIR LOURENÇO DE MIRANDA ENVOLVIMENTO E RESPONSABILIDADE DA FAMÍLIA NO ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO EM MEIO ABERTO: Visão sistêmica e intervenção São Paulo 2013

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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE ANHANGUERA

DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM

CONFLITO COM A LEI

VALDIR LOURENÇO DE MIRANDA

ENVOLVIMENTO E RESPONSABILIDADE DA FAMÍLIA NO ATENDIMENTO

SOCIOEDUCATIVO EM MEIO ABERTO: Visão sistêmica e intervenção

São Paulo

2013

UNIVERSIDADE BANDEIRANTE ANHANGUERA

DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM

CONFLITO COM A LEI

VALDIR LOURENÇO DE MIRANDA

ENVOLVIMENTO E RESPONSABILIDADE DA FAMÍLIA NO ATENDIMENTO

SOCIOEDUCATIVO EM MEIO ABERTO: Visão sistêmica e intervenção

Dissertação de mestrado apresentada à

Banca Examinadora como exigência dos

requisitos do Programa de Mestrado

Profissional Adolescente em Conflito com a lei

da Universidade Bandeirante Anhanguera

para obtenção do título de Mestre em Políticas

e Práticas com Adolescentes em Conflito com

a Lei. Orientador: Prof. Dr. Adalberto Botarelli.

Linha de Pesquisa: Modelos e Práticas de

Intervenção.

São Paulo – SP

2013

FOLHA DE APROVAÇÃO

MESTRANDO VALDIR LOURENÇO DE MIRANDA

ENVOLVIMENTO E RESPONSABILIDADE DA FAMÍLIA NO ATENDIMENTO

SOCIOEDUCATIVO EM MEIO ABERTO: Visão sistêmica e intervenção

BANCA EXAMINADORA

DISSERTAÇÃO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE

________________________________________________

Presidente e Orientador: Prof. Dr. Adalberto Botarelli

(UNIBAN ANHANGUERA-SP)

_____________________________________

1º EXAMINADOR: Profª.Dra. Isa Maria Guará

(UNIBAN ANHANGUERA-SP)

____________________________________________

2º Examinador: Prof. Dr. João Clemente de Souza Neto

(Universidade Presbiteriana Mackenzie)

Dedico este trabalho,

Ao Professor Dr. Adalberto Botarelli, pela sua imensurável paciência,

perseverança e, sobretudo sua capacidade de partilha das experiências,

conhecimentos e saberes, de forma generosa e incondicional.

À minha família que sempre me apoiou e acreditou em meus propósitos e

ideais. Família esta que me inspira na ousadia de abordar este tema como

fonte inesgotável de estudos e descobertas e especialmente por ser o lugar

onde eu me fortaleço e recarrego minhas energias para poder dar

continuidade a minhas buscas.

Aos meus amigos de décadas que souberam compreender a minha ausência

no decorrer desta construção, que me apoiaram e se orgulham de mais esta

vitória como se fossem deles próprios e a minha equipe de trabalho que

sempre incentiva e me apoiaram nesta conquista me dando o suporte no

cumprimento de minhas metas e prazos.

Agradeço,

À Gerente do SMSE Esperança e Alegria, aos Técnicos e todo o quadro de

funcionários pelo carinho e generosidade com que me receberam neste

serviço.

Aos meus professores e em especial à Professora Isa Guará que alimentou

meu interesse nos assuntos pertinentes aos modelos e práticas de intervenção

em medidas socioeducativas em meio aberto.

A todos os funcionários do Programa de Mestrado Adolescente em Conflito

com a Lei e aos colegas de curso.

À Casa do Cristo Redentor, que me recebeu como um de seus membros,

acreditando em minhas potencialidades, mesmo sabendo das minhas

limitações decorrentes do presente estudo.

Enfim, a todos aqueles que acreditaram e dividiram comigo bens imensuráveis:

o conhecimento, compreensão, amizade e incentivo.

RESUMO

MIRANDA, Valdir Lourenço de. Envolvimento e responsabilidade da

família no atendimento socioeducativo em meio aberto: Visão sistêmica e

intervenção. Dissertação (Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com

a Lei). UNIBAN-ANHANGUERA. São Paulo, 2013.

A presente dissertação expõe estudo que traduz a necessidade de

instrumentalização dos profissionais que se encontram em contato direto com o

acompanhamento aos adolescentes em cumprimento de medidas

socioeducativas no meio aberto, sendo que procura colocar em evidência

algumas propostas de atuação que seriam peculiares a este regime de

atendimento. Sobretudo no que se refere aos níveis de responsabilização e

envolvimento dos familiares no acompanhamento a ser prestado nos diversos

programas. Quanto a estes aspectos, no SINASE a exigência de um plano

individual de atendimento do adolescente coloca esta instituição como

corresponsável, no entanto tais atendimentos poderiam ser mais eficazes se

houvessem metodologias que permitissem reconhecer e valorizar o potencial

da mesma no que seria a proposta de responsabilização que o referido plano

formaliza, com isto procuramos demonstrar que faltam procedimentos

operacionais e instrumentos que facilitem este tipo de abordagem, sendo

necessário contribuir com modelos e práticas que melhorem a eficácia de

atendimento prestado pelos técnicos responsáveis pelo acompanhamento das

medidas. Os procedimentos adotados pelo presente estudo se aproximam de

uma pesquisa aplicada na qual a análise documental, a observação e alguns

fragmentos de intervenção foram explorados de maneira contextualizada e

circunstancial, e o modelo teórico que apresentamos envolve uma perspectiva

sistêmica e o papel da família, bem como a relação deste adolescente com sua

comunidade, tendo em vista este momento impar como possibilidade de

constituição da identidade. Em relação aos casos exemplares, procuramos

demonstrar o envolvimento familiar a partir de estudos que realizamos na Ages

Associação Gaudium Et Spes, entidade tradicional ligada à Pastoral do Menor

e que tem se destacado no sistema de garantias em defesa da criança e do

adolescente pela forma com que procura inserir o núcleo familiar. Como

resultado, apresentamos instrumental que poderia ser utilizados como

ferramenta de intervenção para o referenciamento de uma matriz relacional do

envolvimento familiar. Com este modelo procuramos responder aos

questionamentos sobre o que deve ser a intervenção com as famílias, bem

como suas metodologias e conteúdo. Esperamos obter como desdobramento

da proposta a possibilidade de contribuir com um insumo técnico do que deve

ser o conteúdo socioeducativo voltada para os familiares e que seria pertinente

à dimensão pedagógica da medida de liberdade assistida.

Palavras-Chave: Adolescente, Família, Intervenção, Conflitualidade,

Autonomia.

ABSTRACT

MIRANDA, Valdir Lourenço de. Family involvement and responsibility in

social and educational care in an open environment: Overview and

systemic intervention. Dissertation (Master Professional Adolescents in

Conflict with the Law). UNIBAN-ANHANGUERA. São Paulo, in 2013.

This thesis presents a study that reflects the need to provide tools for

professionals who are in direct contact with the monitoring of compliance to

adolescents in educational measures in an open environment, and aims to

highlight some proposals for action that would be peculiar to this regime care.

Especially in relation to levels of accountability and involvement of family

members in the monitoring to be provided in the various programs. On these

aspects, in SINASE the requirement of an individual plan of care the teenager

poses as co-responsible, however such care could be more effective if there

were methods that allow to recognize and value the potential of this same

proposal accountability that the plan formalizes. Our finding results from the

analysis of several issues that go beyond the methodological issues itself, and

reveal themselves in daily relationships established with the monitoring of the

measure, and which relate to the legal framework that requires the participation

of the family, but actually ends up being unclear the operational point of view,

even with regulations in the area of public policy that values. We demonstrate

that not only lacks operational procedures and tools that facilitate this type of

approach, and we seek to contribute to improving the effectiveness of this

service in order contributions of family involvement, we contextualize cool with

regulations that would be central not only in the sense of family have a

responsibility in fulfilling the measure, but also because it represents the bonds

of belonging that are essential for this teen does not terminate in infractions,

because it would be a place of protection and bonding significant. The

theoretical model that we present involves a systemic perspective and the role

of the family in contemporary society, and the relationship of this teenager with

his community in order this unique moment as a possibility of formation of

identity. Regarding exemplary cases, we demonstrate the involvement of family

from studies conducted in association Ages Gaudium Et Spes, traditional entity

linked to Pastoral do Menor and has excelled in the system of guarantees in

defense of children and adolescents by the way seeking to enter the household.

We present a proposal for intervention and instrumental that could be used as

an intervention tool for referencing a relational matrix of family involvement. We

believe her as instrumental diagnostic assessment that will be the

interdisciplinary model of action and monitoring to intervene in vinculares

highlighted weaknesses in each moment lived by the family from then establish

a structured intervention in their relationships as a way to empower- them. In

presenting this model that seeks to respond to questions about what should be

intervention with families as well as their methodologies and content, as a result

we expect to be able to contribute with a technical input to be content that is

relevant to the childcare pedagogical dimension of the measure of probation.

Keywords: Adolescent, Family, Intervention, conflict, Autonomy.

Lista de Siglas e Abreviaturas

ACL - Adolescente em Conflito com a Lei

CASA - Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente

CDCA - Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente

CF - Constituição da República Federativa do Brasil

CMDCA - Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

CNAS - Conselho Nacional de Assistência Social

CONANDA - Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

CRAS - Centro de Referência de Assistência Social

CREAS - Centro de Referência Especializado de Assistência

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

FEBEM - Fundação do Bem-Estar do Menor

LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social

MSE - Medidas Socioeducativa

MDM - Movimento em Defesa do Menor

ONG - Organização Não Governamental

PIA - Plano Individual de Atendimento

PNBEM - Política Nacional do Bem Estar do Menor

PSC - Prestação de Serviço à Comunidade

PSB - Proteção Social Básica

PSE - Proteção Social Especial

SEDH - Secretaria de Estado do Direitos Humanos

SEADS - Secretaria de Estado de Assistência e Desenvolvimento Social

SGDCA - Sistema de Garantia de Direito da Criança e do Adolescente

SINASE - Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

SUAS - Sistema Único de Assistência Social SUS Sistema Único de Saúde

Sumário

Introdução .......................................................................................................13

Capítulo I

QUESTÕES METODOLÓGICAS DA PESQUISA

1.1 Apresentação...............................................................................................20

1.2 Tema do Projeto de Pesquisa e Implicações ..............................................24

1.3 Hipótese e Situação Emblemática da Conflitualidade ................................18

1.4 Metodologia ................................................................................................31

Capítulo 2

A FAMÍLIA NO ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO

2.1 Considerações sobre o atendimento socioeducativo..................................36

2.2 Considerações sobre o atendimento socioeducativo .................................53

2.3 Considerações sobre o Marco Situacional da família .................................56

2.4 A Adolescência em diferentes perspectivas ...............................................63

Capítulo 3

PERSPECTIVA SISTÊMICA NO CAMPO SOCIOEDUCATIVO

3.1 Situação Emblemática ................................................................................65

3.2 Bronfenbrenner e a Ecologia do Desenvolvimento Humano ......................67

3.3 Contextualização Histórica da Adolescência e Apontamentos sobre a

Adolescência e a Conflitualidade ......................................................................69

3.4 Brofenbrenner e o Campo Socioeducativo .................................................73

3.5 Bronfenbrenner e os modelos e práticas da socioeducação ......................82

Capítulo 4

A SISTEMATIZAÇÃO DE UM MODELO DE RESPONSABILIZAÇÃO

DURADOURA EM SERVIÇOS DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVO EM

MEIO ABERTO

4.1 Elementos do Campo Empírico ..................................................................89

4.2 Registro Descritivo ......................................................................................94

4.3 Registro Reflexivo .....................................................................................103

4.4 Estudo de Casos .......................................................................................106

4.6 Considerações Finais ...............................................................................114

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................118

ANEXOS .........................................................................................................122

INTRODUÇÃO

Quando nos ocupamos dos regimes de atendimento das medidas

socioeducativas preconizadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente nos

deparamos com vários marcos legais e regulatórios que sugerem a efetiva

participação, bem como o envolvimento e a responsabilidade da família

enquanto instituição protetora e que denotam clara preocupação com o

processo de desenvolvimento das crianças e dos adolescentes que são

colocados prioritariamente sob seus cuidados. Mas como tornar esses marcos

operacionais?

O SINASE, caracterizado como um sistema transversal,

multidimensional e vinculado à efetiva capacidade articuladora intersetorial,

também contribui para que esta indagação se torne ainda mais premente de

ser respondida, pois propõe mudanças no sistema socioeducativo.

Não há como ficar indiferente a este questionamento acerca do

envolvimento familiar, mas esta discussão mostrar-se-á pouco produtiva se não

representar aportes para a elaboração de novas propostas que tenham de fato

condições de contemplar a efetiva participação da família na construção de

metodologias que atendam às necessidades do adolescente que cumpre

medida socioeducativa, em especial no regime em meio aberto.

Neste sentido, procuramos dar relevância à participação do núcleo

familiar no processo de cumprimento da medida socioeducativa, tomando-a

como âncora afetiva e fonte dotada de potencialidades no processo de

ressignificação de valores destes adolescentes em conflito com a Lei e, ao

mesmo tempo, procuramos ser propositivos e ensejar possíveis soluções

metodológicas para sua abordagem.

Não há como negar que falar em proposta de abordagem guarda uma

relação muito íntima com a minha vivência profissional e as situações

presenciadas no meu convívio com técnicos e outros diversos atores do

movimento de defesa e garantia de direitos, especificamente no que tange às

medidas socioeducativas em meio aberto.

Também destaco que ainda muito jovem enxergava as ações da

pastoral da criança como fenômeno inexplicável de desprendimento, me

perguntando, por muitas vezes quem eram aquelas pessoas completamente

altruístas que sem ganhar nada em troca dedicavam-se um dia inteiro em

função de dar atenção àquelas mães e crianças que faziam uso deste

equipamento, sendo que o compromisso com a ação que procura superar os

problemas era mais importante que fundamentações teóricas. Esta experiência

foi de grande aprendizado para mim e serviu de referência, pois me enchia de

idéias do que no futuro poderia fazer para entrar na causa e na defesa de

crianças e adolescentes.

É por isto que a preocupação com o projeto de vida de crianças e

adolescentes em situação de risco social, físico e psicológico tem sido minha

companheira no decorrer da trajetória profissional e foi um dos fatores

preponderantes também para esta abordagem que aqui procuro sistematizar.

Dessa forma, procuro considerar a relevância do núcleo familiar no

acompanhamento sistemico do regime de atendimento das medidas de

proteção e de responsabilização no meio aberto, pois tenho me envolvido não

somente com adolescentes nesta condição, mas também com seu núcleo de

convivência familiar e comunitária, dentro ou fora do meio institucional.

Desde o meu primeiro contato com situações de acompanhamento das

medidas socioeducativas que aconteceu no período entre os anos de 2000 e

2008, em que tive a oportunidade de trabalhar como responsável técnico em

instituições responsáveis pelo acolhimento de crianças e adolescentes, esta

relevância do núcleo familiar e a melhor maneira de empreendê-la sempre me

inquietaram. Notei que, talvez, esta situação poderia não necessariamente

estar implicada nas motivações apenas dos membros da família, mas também

envolver questões de abordagem, sobretudo, em relação à operacionalização

do regime de atendimento.

Em muitas destas situações, deparei-me com tais casos, em que

algumas famílias, não só demonstravam verdadeiro desinteresse pelo

acompanhamento de seus filhos adolescentes, como atribuíam toda a

responsabilidade daquela situação apenas à equipe técnica envolvida com o

atendimento.

Ao me deparar com esta situação, eu, enquanto técnico, me via na

emergência de identificar e analisar concepções, modelos e técnicas de

abordagens, não apenas dos adolescentes, mas também na forma de

envolvimento das famílias como forma de compreender quais seriam as forças

e possibilidades de desenvolvimento que esta instituição poderia potencializar.

Hoje, ao retomar funções relacionadas ao acompanhamento de medidas

socioeducativas, percebo que pouco se avançou no que diz respeito ao

envolvimento e sensibilização do potencial colaborativo da família no processo

de cumprimento da medida socioeducativa de adolescentes autores de ato

infracional.

É por isto que me empenhei em destacar a importância de eleger este

tema, tendo como emergência identificar e analisar concepções, modelos e

técnicas de abordagens, não apenas dos adolescentes, mas também na forma

de envolvimento de suas famílias.

E para que este elemento diferencial representado pela interação entre

familiares e técnicos produza o efeito positivo que seria desejável, a interação

com cada uma das famílias de adolescente em acompanhamento precisa de

uma instrumentalização que permita não apenas uma individualização da

abordagem, mas também o reconhecimento das responsabilizações

implicadas. Por esta razão, nossa hipótese inicial é que um programa

socioeducativo, voltado para o regime aberto, pode ser mais eficaz se houver

empenho metodológico que busque reconhecer e valorizar o envolvimento da

família em sua execução, sem que para isto haja a necessidade de culpabilizá-

la.

Na intenção deste construto, perceberemos que o resultado do estudo,

tendo a família como núcleo de potencialidades na execução da medida

socioeducativa, articula-se fundamentalmente na esteira histórica do

desenvolvimento de políticas públicas que consolidam a infância e a

adolescência como prioridade absoluta.

Ao considerarmos a emergência do aprimoramento técnico das práticas

de abordagem, adotamos o princípio de que não basta levarmos em

consideração apenas as determinações dos atributos pessoais e sociais dos

envolvidos, ou seja, nos interessamos por abordagens contextualizadas,

imediatas e de longo prazo, a fim de contemplar a solidariedade e a

capacidade de reflexão, tornando-se também necessário prover as condições

materiais para que todas essas abordagens sejam efetivas.

Enfim, como a ideia central da pesquisa é focar os serviços de medidas

socioeducativas em meio aberto, como forma de dar visibilidade às ações

desenvolvidas que envolvam a família, natural ou de referência, nos

deparamos com o desafio de buscar um campo empírico que nos permitisse

problematizar a questão e elucidar as necessidades operacionais que poderiam

se revelar em seu cotidiano de relações.

A Lei 12.594/2012 (SINASE) demanda de todos os operadores do

sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente um duplo esforço

de interpretação e implantação, uma vez que o texto legal, em grande parte,

não é linear nem autoexplicativo, nem resulta da positivação de uma doutrina

sólida sobre execução de medida socioeducativas.

A AGES, em sua proposta para a construção de um plano

socioeducativo, tem como norteadores fundamentalmente os objetivos aludidos

na cito Lei, em seu art. 1.º, §2º, onde busca essencialmente trazer o

adolescente à responsabilização do ato cometido de forma a reintegrá-lo à

sociedade, desaprovando indubitavelmente a conduta delituosa por ele

praticada.

Já no que diz respeito às responsabilizações preconizadas pelo

SINASE, o SMSE observado faz referência à garantia de direitos por meio da

elaboração e cumprimento do PIA – Plano Individual de Atendimento com a

efetiva participação do adolescente. A própria Lei diz que a medida tem como

escopo a responsabilização do adolescente quanto às consequências de seu

ato.

Nos serviços de atendimento às medidas socioeducativas em meio

aberto, tanto o plano de intervenção a ser desenvolvido pelos programas,

quanto os membros da equipe em suas práticas diárias, demonstram

esclarecimento quanto à importância de se comprometerem com a constituição

de referências duradouras para o adolescente e sua família, dificultando a

compreensão de quais seriam os entraves que têm prejudicado estes

procedimentos.

Ao buscarmos responder a estes questionamentos, notamos a

necessidade de estudar o cotidiano e a práxis profissional de um serviço de

acompanhamento destas medidas e, foi assim, que traçamos minha

aproximação com AGES – Associação Gaudium Et Spes, entidade tradicional

ligada à Pastoral do Menor e que tem se destacado no sistema de garantias

em defesa da criança e do adolescente pela forma com que procura inserir o

núcleo familiar.

Quanto aos procedimentos que pudessem favorecer o entendimento

acerca dos processos envolvidos, chegamos à constataçãode que seria

pertinente explorar os registros dos dados observados em diferentes

momentos. Neste sentido, notamos a necessidade de estudar aspectos

descritivos, em que nos atemos ao detalhamento do perfil institucional,

procurando nos ater aos detalhes que se concretizam em suas práticas e um

outro de cunho reflexivo, em que nos voltamos para uma interpretação destes

mesmos aspectos, com impressões colhidas e constatações decorrentes de

especulações e sentimentos sobre problemas, ideias, impressões, dúvidas,

incertezas, surpresas e decepções, todos relacionados aos eventos

presenciados.

O objetivo maior deste estudo, que aqui apresentamos, é encontrar

subsídios e ferramentas colaborativas no processo de acompanhamento e

execução da medida socioeducativa, tendo como foco central o envolvimento e

responsabilização do núcleo familiar como potencializador na formação de

caráter, bem como a identidade do adolescente em conflitualidade. Neste

sentido, faremos uso do modelo defendido pela teoria bioecológica de

Bronfenbrenner, na tentativa de sistematizar instrumentos que objetivem a

referida participação da família e da comunidade no acompanhamento das

medidas socioeducativas.

Achamos pertinente observar fatores da realidade do adolescente e sua

família, pois em nossa percepção sentimos falta do que é processual na

realidade do adolescente infrator, razão pela qual, em nossa busca por

referenciais teóricas, nos identificamos com a teoria sistêmica bioecológica de

Urié Bronfenbrenner. Diante desta carência, a proposta foi observar, no

processo, a díade do adolescente com o seu meio de forma situacional com

vistas a operacionalizar a medida a partir de insumos que ele próprio, o

adolescente, traga para o técnico que o acompanha.

Propomos a construção de uma matriz situacional, onde o técnico tenha

condições de observar o adolescente em diversos momentos dentro de sua

própria realidade e, desta forma, intervir, quando necessário, de forma

assertiva e focada.

Enfim, neste construto acadêmico, apresentamos propostas voltadas

para os modelos e práticas de intervenção em programas socioeducativos,

tendo como foco central identificar padrões qualificados de atenção ao núcleo

familiar de adolescentes em conflitualidade.

No primeiro capítulo, declaramos nossa intenção de um estudo voltado

para os modelos e práticas de intervenção em programas socioeducativos,

tendo como foco central identificar padrões qualificados de atenção ao núcleo

familiar de cada adolescente em cumprimento de medida socioeducativa bem

como abordagem de modelos e instrumentais que permitam dar visibilidade às

metodologias que enalteçam os aspectos relacionais da medida.

No segundo capítulo, apresentamos a família, através da lente dos

marcos legais que a colocam na centralidade matricial da assistência, de onde

provêm serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica

e/ou proteção especial para elas, bem como para todo indivíduo e grupos que

dela necessitarem.

No terceiro capítulo, apresentamos a proposta da perspectiva sistêmica

e seu teórico, Urie Bronfenbrenner, aproximando a teoria bioecológica do

desenvolvimento humano à socioeducação aos processos de cumprimento de

medida socioeducativa em meio aberto e a um pouco da historicidade do

adolescente em conflitualidade.

Enfim, apresentamos, de forma sintética, os conceitos de família através

de uma breve retomada histórica, onde iniciamos o entendimento dos

processos proximais que envolvem família, comunidade e adolescente em

programas de serviço de medidas socioeducativas em meio aberto.

E, no quarto capítulo, apresentamos a sugestão de um instrumental que

possibilite visualizar a díade do adolescente, por meio do qual analisamos duas

situações de atendimento com seus respectivos estudos de casos, tendo como

foco o acompanhamento familiar, através da análise de relatórios elaborados

pelos profissionais de referência da família e suas intervenções, almejando, ao

final da pesquisa, ter conseguido subsídios para a construção de uma matriz

relacional do acompanhamento do adolescente que possa ser útil no

acompanhamento da medida e permita cruzar informações pertinentes e

duradouras para a construção do Plano Individual deste referido adolescente.

CAPÍTULO 1

QUESTÕES METODOLÓGICAS DA PESQUISA

1.1 Apresentação

Com a presente pesquisa, nos voltamos para os modelos e práticas de

intervenção em programas socioeducativos, tendo como foco central identificar

padrões qualificados de atenção ao núcleo familiar de cada adolescente em

cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto.

Partimos do pressuposto de que é a partir do envolvimento ativo e

sistematizado desta instituição que se potencializarão as pactuações

construídas em cada plano individual de atendimento (PIA), desde que tal

envolvimento se dê em cooperação direta com os técnicos responsáveis pelo

acompanhamento formal das condicionalidades do regime de atendimento.

Para que este elemento diferencial representado pela interação entre

familiares e técnicos produza o efeito positivo que se deseja, a interação com

cada uma das famílias de adolescente em acompanhamento precisa de uma

instrumentalização que permita não apenas uma individualização da

abordagem, mas também o reconhecimento das responsabilizações

implicadas.

É o que buscamos com o presente estudo, abordar modelos

instrumentais que permitam dar visibilidade às metodologias que privilegiam os

aspectos relacionais e a medida dos laços existentes, não apenas entre as

pessoas do núcleo familiar do adolescente em conflito com a Lei e os

operadores da medida, mas também o contexto social no qual se encontram

inseridos, de maneira que não se evidencie somente as lacunas existentes,

mas também suas soluções.

Nossa hipótese inicial é de que um programa socioeducativo, voltado

para o regime aberto, pode ser mais eficaz se houver empenho metodológico

que busque reconhecer e valorizar o envolvimento familiar em sua execução,

sem que para isto haja a necessidade de culpabilização da instituição família.

Esperamos que a articulação exemplar dos aspectos metodológicos, que

buscamos abordar neste estudo voltado para questões de intervenção, consiga

reunir elementos que contribuam para uma operacionalização técnica que

permita avanços na elaboração do PIA. Contribuem para isso, os

procedimentos adotados por nós que se aproximam de uma pesquisa aplicada

na qual a análise documental, a observação e alguns fragmentos de

intervenção são explorados de maneira contextualizada e circunstancial.

Estabelecemos como foco a proposição de um modelo que qualifique o

olhar técnico do operador que acompanha o cumprimento de cada medida,

sendo nosso propósito contribuir para instrumentalizar e capacitar as diversas

tarefas de abordagem, desde o momento da acolhida até o encerramento da

medida.

Quanto à fonte dos dados, partimos da abordagem dos marcos legal e

teórico que procuram inserir a família no cuidado e responsabilização. Quanto

ao descompasso destes com o marco lógico que norteia a intervenção,

procuramos nos ocupar do regime de medida em meio aberto e, para o

referenciamento de um plano de atendimento, contamos com a colaboração da

AGES – Associação Gaudium Et Spes, entidade ligada à Pastoral do Menor,

que tem se destacado no sistema de garantias em defesa de Direitos com a

preocupação de inserir o núcleo familiar.

Tendo em vista a abordagem das ferramentas e estratégias utilizadas

pelos técnicos operadores no âmbito desta entidade, foi possível termos como

destaque as dinâmicas com avaliação positiva quanto ao efeito da baixa

reincidência. Com base nestes dados, foi possível construirmos uma proposta

de instrumental que nos permitisse observar o relacionamento dos

adolescentes em atendimento com o seu entorno objetivando dar visibilidade

dentre as atividades, àquelas que poderiam ter potencial de sucesso no

contexto socioeducativo a que se propõe.

Quanto à abordagem empírica, deu-se por meio de pesquisa qualitativa,

que aborda fragmentos exploratórios e de aplicação, com intervenção

colaborativa e aspectos exploratórios de base compreensiva, tendo nos

permitido averiguar quais são os casos exemplares em abordagens bem

sucedidas e a possibilidade de sistematizá-las.

Tomamos como referência o plano de atendimento da AGES –

Associação Gaudium Et Spes, entidade tradicional ligada à Pastoral do Menor,

tendo em vista a abordagem das ferramentas e estratégias utilizadas pelos

seus técnicos, procurando dar destaque às dinâmicas com avaliação positiva

que nos permitam observar a díade do adolescente com o seu entorno e com

isto dar visibilidade a ações e intervenções com potencial de sucesso neste

contexto.

Com base no pressuposto do protagonismo de crianças, adolescentes e

famílias, faz-se imprescindível a valorizaçãoda autonomia, do compromisso e

da responsabilidade individual, familiar e de grupo, incentivando a promoção

humana e o resgate da própria dignidade.

A associação entre seus diversos serviços de atendimento à criança e

ao adolescente dispõe de dois programas de aplicação e acompanhamento de

medidas socioeducativas, dos quais um é o Serviço de Medida Socioeducativa

em Meio Aberto Esperança e Alegria – MSE/Pirituba, que atua sob a

supervisão e convênio com o Centro de Referência de Assistência Social –

CRAS da Prefeitura do Município de São Paulo e em conformidade às

determinações das Varas da Infância e Juventude (VEIJ), e o outro é o

Departamento de Execução da Infância e Juventude (DEIJ), pautando seu

regimento no art. 22 da Lei do Direito à Convivência Familiar e Comunitária.

Neste espaço tivemos a colaboração da gerência para permanecermos

pelo tempo que fosse necessário para realizarmos nossas observações e

estudos empíricos fundamentais paraa construção desta pesquisa.

Permaneci em campo, de outubro de 2012 a junho de 2013,

acompanhando o serviço, sendo que, de dezembro de 2012 a fevereiro de

2013, tive a oportunidade de vivenciar uma imersão na qual estive como

técnico, acompanhando o cumprimento de medida de um pequeno grupo de

adolescentes, tendo acesso a todo o processo da medida, da acolhida ao

encerramento, nosso objeto direto de estudo e análise.

Esta experiência acrescentou muito conhecimento e ajudou nossa

compreensão do campo de estudo, com especial destaque à fala dos técnicos

responsáveis pelos cumprimentos de medida no serviço.

Tomamos como referência teórica deste nosso construto acadêmico as

teorias do desenvolvimento e adotamos como referência a teoria bioecológica

de Urie Bronfenbrenner, pois ela oferece um modelo que nos permite elaborar

unidades de análise satisfatórias no que se refere à trama de relações.

Além disso, sua abordagem dos aspectos vinculares em uma proposta

de desenvolvimento humano, nos revelou ser metodologicamente rigorosa, a

ponto de permitir vislumbrar a construção de níveis contextualizados de

responsabilização, a partir de tais parâmetros, tendo em vista um instrumental

que possa nos subsidiar tecnicamente para uma “práxis” socioeducativa.

Abordarmoso contexto familiar e comunitário e os processos em que as

medidas se operacionalizam neste âmbito nos permitiu estabelecer unidades

de análise e prospectar modelos e práticas que lhes seriam adequadas.

Ao apresentarmos como perspectiva a análise do papel que o núcleo

familiar tem desempenhado, ou que pode vir a desempenhar no

acompanhamento das medidas socioeducativas em meio aberto, partimos do

entendimento de que a forma como estas medidas são operacionalizadas pelos

profissionais do SMSE acabam por afetar a vida de todos os envolvidos com a

realidade sociocomunitária de cada adolescente.

Ao elegermos este tema, notamos a emergência de identificar e analisar

concepções, modelos e técnicas de abordagens, não apenas dos

adolescentes, mas também na forma de envolvimento das famílias.

É por isto que a proposta de Bronfenbrenner nos chamou a atenção,

pois segundo ele esta instituição é um lócus determinante e funciona como

força motriz para o desenvolvimento humano fazendo com que as forças

subjetivas e objetivas que ele mobiliza exerçam forte influência no

desenvolvimento, desde a primeira infância até a fase adulta.

1.2 Tema Escolhido e suas Implicações

Ao buscar especialização na área, busquei não somente um documento

que pudesse me qualificar como mestre, mas um programa que pudesse me

subsidiar na prática diária, tanto no sentido técnico, quanto no sentido

acadêmico, e fui feliz ao ingressar no programa de mestrado adolescente em

conflito com a Lei, objeto dos meus desejos intelectuais e acadêmicos desde a

criação de sua primeira turma em 2008.

A grade de disciplinas, como pensei, não me decepcionou e fico muito

confortável em dizer que a disciplina intitulada “Instituições formadoras de

subjetividade”, não menosprezando a riqueza e o conteúdo das demais,

ajudou-me a elucidar o que vem a ser esta instituição denominada família de

forma a compreender sua historicidade ao longo dos tempos e o não menos

importante papel ideológico exercido por ela na formação da subjetividade em

cada indivíduo.

Abordar os diversos processos e dilemas em que o núcleo familiar se

constitui já tem sido uma grande preocupação em toda a minha trajetória

profissional e foi um dos fatores preponderantes para este enfoque.

Sua relevânciase volta à análise do núcleo familiar, bem como às

diversas possibilidades de acompanhamento ao regime de atendimentodas

medidas de proteção, uma vez que o técnico não se envolve somente com o

adolescente nesta condição, mas também com seu núcleo de convivência

familiar, comunitária e ou institucional.

Nos anos de 2003 a 2008 tive a oportunidade de trabalhar como

responsável técnico de abrigos e nos casos em que tínhamos que acompanhar

cumprimento de medidas, muitas vezes, deparei-me com tais situações, em

que algumas famílias não só demonstravam verdadeiro desinteresse pelo

acompanhamento de seus filhos adolescentes, como atribuíam toda a

responsabilidade da situação à equipe técnica envolvida com o caso.

Hoje atuo como Gerente de um SAICA – Serviço de Acolhida Institucional para

Crianças e Adolescentes e, embora os tempos sejam outros, vez ou outra,

ainda me deparo com realidades semelhantes.

Naquela época, tínhamos outras situações muito mais

comprometedoras, em que o profissional também não acreditava no próprio

adolescente, condenando-o ao risco da marginalidade.

Sendo assim, decididamente, o que me fez traçar todo um

caminhocrítico que culminou nesta proposta de pesquisa foi a fala de uma

dirigente de uma das instituições, na qual atuei como coordenador da equipe

técnica, cuja a afirmativa a respeito de um determinado adolescente, vale

destacar, trazia aspectos como não tendo “conserto”, que sua marginalidade

era inata, era “índole”, e que estava em seu “sangue”.

Não poucas vezes, ouvi de certos adolescentes sob a minha tutela, a

afirmação de que não iriam ao atendimento dos centros de acompanhamento

das medidas em meio aberto porque acreditavam que iriam andar um tempão

pela cidade somente para assinar um livro, sendo que os técnicos apenas

ficavam insistindo para eles “tomarem um lanche”.

Ao me deparar com estas questões, que ainda parecem inertes no

tempo, apenas constato que existe a necessidade de encontrarmos

instrumentais que possam evidenciar outras possibilidades de abordagem para

estes adolescentes que cumprem media socioeducativa em meio aberto, em

especial nos casos em que seus vínculos familiares estão preservados.

Tal plano, que tem como objetivo o tracejo de metas concretas e

realizáveis para a conquista da autonomia e, sobretudo, da responsabilização

presente e futura por parte do adolescente, encontra grande dificuldade no que

consiste à concretude das propostas por ele traçadas.

Dentre os demais inúmeros elementos que dificultam sua

operacionalização, há o distanciamento da família, descaso ou ineficiência de

serviços estatais e baixa capacitação técnica dos operadores do sistema de

justiça se considerarmos as necessidades da adolescência e suas

peculiaridades.

Conscientes de que uma intervenção sempre é uma ação socieducativa

que busca promover a inclusão de um determinado indivíduo ou, melhor

dizendo, é um processo que requer leitura da realidade e uma clareza muito

grande do que se quer intervir, buscamos por diversos caminhos encontrar

uma abordagem teórica que pudesse nortear nossa busca por insumos que

permitissem uma defesa de que a família, nas suas diversas peculiaridades,

constitui-se como uma fonte de potencialidades no curso do desenvolvimento

humano.

Ao nos atermos aos aspectos teóricos do desenvolvimento,

conseguimos localizar e identificamos na teoria bioecológica de Urié

Bronfenbrenner, baseada em aspectos estruturantes que se articulam com

processos relacionais, um grande potencial de capacitar a abordagem dos

técnicos e fornecer subsídios para os modelos e práticas de intervenção em

regimes de atendimento para medidas socioeducativas, sobretudo,em meio

aberto.

Ater-se aos Programas em meio aberto é estratégico, pois nestes

serviços de atendimento às medidas socioeducativas, tanto o programa quanto

os membros da equipe, tem possibilidades concretas de passarem a constituir

uma referência duradoura para o adolescente e sua família.

Por esta razão, nos chamou a atenção a possibilidade de estudar o

cotidiano (práxis) da AGES, pois poderíamos desenvolver uma dimensão

aplicada das questões teóricas e também qualificar o trabalho desenvolvido

nestes centros de acompanhamento, que teriam como contrapartida avanços

na necessidade de planejar a forma de acolher e acompanhar a execução da

medida.

É por isto que as análises e propostas metodológicas, que constam

desta dissertação, resultam da tentativa de inserirmos as ideias de

Bronfenbrenner no debate sobre a operacionalização das medidas

socioeducativas, entendendo que este teórico pode trazer contribuições se

considerarmos seus estudo acerca do desenvolvimento humano, com

expressivo destaque às implicações que dizem respeito à família de forma

sistêmica e processual.

Reforçamos que a pertinência prática se dá em função de este

respeitado teórico abordar temas relacionados ao desenvolvimento humano de

modo sistêmico, ou seja, não se dedicou ao estudo da família de maneira

isolada, mas a colocou em perspectiva e destacou sua função e estrutura como

determinante para o desenvolvimento de uma subjetividade, que teria como

base o modo de se relacionar, o que torna particular a cada sujeito um modo

de ser, e isto, em um campo de experiências de base social que se articula em

torno de sistemas interdependentes.

Entendemos que fazer um estudo sob a ótica da bioecologia, elaborado

por Bronfenbrenner, é no mínimo inovador para qualificar as práticas

socioeducativas e procuramos aferir isto no decorrer de nossa relação

cotidiana, estando próximos ao equipamento de execução – SMSE.

Sendo assim, toda a perspectiva desta pesquisa pautou-se na

possibilidade de compreensão das unidades de análise que o autor nos propõe

em sua proposta metodológica, em que busca compreender como se dão as

interações que permitem o envolvimento sistêmico, sobretudo, dos processos

de interação, que fazem parte da rotina de relações sociais diárias de um

adolescente, sejam elas junto ao núcleo de convivência familiar ou no círculo

comunitário ao qual pertence.

A teoria bioecológica procura caracterizar e definir conceitualmente o

desenvolvimento, ao identificar estruturas interpessoais que contextualizam as

relações de forma sistêmica e que poderiam se configurar de maneira

específica no contexto do cumprimento de medidas socioeducativas, em

especial no regime de acompanhamento em meio aberto.

O advento da Lei 8.069, de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), inaugurou um vasto campo de estudo e pesquisa na área

da defesa e garantia de direitos a crianças e adolescente em que se ressalta,

sobretudo, a atenção e os cuidados com os adolescentes em conflito com a lei,

e destacam-se as garantias processuais e o respeito à condição peculiar de

sujeitos em situação de desenvolvimento.

A respeito deste marco legal, temos aparticipação de familiares e de

membros da comunidade em seu acompanhamento e responsabilizações, que

precisa ser bem mais articulada enquanto eixo fundamental para a execução

das medidas socioeducativas, no entanto, seus aspectos penais e protetivos

ainda dependem de modelos adequados de intervenção para que sua

execução possa ser operacionalizada e, com a Lei 12.594 (SINASE), de 2012,

as condições para a criação de meios apropriados de gestão pública puderam

ser abordadas de forma mais incisiva.

Ao pensarmos na família neste contexto, consideramos a possibilidade

dela ter maior protagonismo na adequação dos modelos de intervenção, mas

questionamos, em que medida, há neste, do marco legal, elementos

quepermitam inserir sua participação e já de antemão, esclarecemos que há

sim, no entanto, não sabemos em que medida encontramos tal atuação e se é

valorizada, ou ainda se há respaldo para isto em outras regulamentações,

como na assistência social ou na saúde, áreas que tem procurado valorizar a

participação da família.

Mesmo sabendo de formalizações legais, ainda resta a mesma questão

das necessidades de operacionalizar e sistematizar metodologias de

atendimento, com instrumentos que facilitem sua abordagem.

Quanto ao SINASE, em que pese à escassez da dimensão educativa

apresentada neste seu ordenamento jurídico, nota-se que, a partir do marco

legal, as questões da proteção social tiveram poucos avanços. Acreditamos

que nem tampouco os esforços da organização administrativa do sistema

socioeducativo nos permitirão sistematizar a necessidade que as questões

operacionais no campo socioeducativo implicam.

Quanto às responsabilizações da rede de proteção, caberia, portanto,

um olhar um pouco mais criterioso do que o atualmente dispensado aos

modelos e práticas que estão sendo colocados e suas possibilidades de

reelaboração, pois ainda não temos no Brasil uma linha de pesquisa

consolidada voltada para estes aspectos, ou mesmos avaliação e

monitoramento de programas com vistas à validação de experiências e

tecnologias “que funcionam” na aplicação da justiça juvenil. (GUARÁ, 2010).

Para confirmar o fato, basta constatar qual é a cultura de avaliação e

sistematização de projetos de intervenção em vigor, que na verdade é muito

pouco consistente, enquanto que a ação socioeducativa para os adolescentes

em conflito com a lei tem sua especificidade regulada a partir dos marcos

legais da proteção especial. Sua abrangência teórica e operacional precisa ser

compreendida em uma amplitude muito maior, já que ela envolve processo

relacional de caráter educativo que tem merecido poucos cuidados.

Estes aspectos foram detalhados em uma revisão da literatura sobre

intervenção socioeducativa realizada por Guará (2010), na qual ficou

demonstrado que é muito baixo o número de estudos sobre a realidade

brasileira em que se focaliza este tema, tendo sido localizadas com mais

facilidade produções sobre os sujeitos envolvidos – adolescentes, o direito e

suas especificidades e, também, análises críticas focadas nas instituições que

os atende.

Como agora temos o desafio de implementação do SINASE,

acreditamos que este debate pode avançar isto porque os pontos relevantes

desta lei são justamente os parâmetros que ela anuncia em termos de incentivo

ao planejamento para o cumprimento de medidas em meio aberto em

detrimento da restrição de liberdade. O que implica ir além do aspecto penal e

resgatar aspectos pedagógicos das medidas, com vistas a assegurar uma

responsabilização conjunta dos vários agentes no sentido de um acolhimento

que seja capaz de promover a inclusão dos adolescentes por meio do apoio e

do acompanhamento que se fizer necessário para que seus direitos sejam

traduzidos não em intenções, mas em ações concretas.

1.3 Hipótese e Situação Emblemática da Conflitualidade

Embora haja marcos legais que regulamentem a participação e o

envolvimento da família em programas de medidas socioeducativas, faltam

ainda metodologias de atendimento que facilitem a sua abordagem de tal forma

que, mesmo com a inovação de novas diretrizes, a exemplo do SINASE 2012,

muito pouco das atividades desenvolvidas nestes referidos serviços, tem

possibilitado ao técnico uma dinâmica que lhe permita esta aproximação,

mesmo que sistemática, junto à família do adolescente em conflito com a Lei.

Entendemos que tal questão envolvendo a família num processo de

responsabilização sempre foi problemática, mas hoje a questão fica ainda mais

premente, a partir desta responsabilização que o PIA institui.

Nossa hipótese é que as famílias constituem um lócus privilegiado para

a investigação e análise, mesmo que conservadoras, dentro de um processo

dinâmico sociocomunitario, fazendo com que as individualidades desapareçam

e, de forma refratária, elas só venham à tona quando um evento externo a

provoca, portanto, acreditamos que o programa socioeducativo poderia ser

mais eficaz se houvesse metodologias para conhecer e valorizar o

envolvimento e a responsabilidade da família na execução da medida.

Segundo Botarelli (2002), verifica-se nas leis, uma série de medidas que

implicam a instituição familiar na proteção integral das crianças e adolescentes

e ao qualificá-las enquanto sujeito de direitos, é determinante na proteção e

atenção, reforçando-se os vínculos como fundamentais para o

desenvolvimento.

Embora haja um marco legal que exige a participação da família nos

programas de atendimento ao adolescente em conflito com a Lei, pouco se tem

de concreto no que tange envolver o núcleo familiar, não somente como

responsável, mas como parte do processo.

Há também regulações na área da assistência e da saúde que valorizam

a participação da família e a sua matricialidade e, mesmo assim, hoje não

temos dados sistematizados sobre as metodologias existentes e a qualidade

das mesmas.

Há exigências de um plano individual de atendimento, estipulado pelo

SINASE 2012, aqui, no caso do programa socioeducativo, o PIA é do

adolescente e a família entra como responsável, mas nas regulações da

assistência social existe uma proposta de um PIA para a família, de um plano

individual de acompanhamento familiar.

Acreditamos que os eventos que circundam o desenvolvimento do

adolescente e a capacidade protetora e protetiva da família derivam de uma

característica dinâmica e processual, em que os resultados provem de

desdobramentos contínuos.

Nosso enfoque se deve ao entendimento a partir dos marcoslegais da

saúde, educação e assistênciade que a família é um núcleo de proteção

estratégico e por estar atrelada aos vínculos comunitários, precisa, portanto,de

táticas de abordagem que sejam apropriadas e aplicadas por membros de uma

equipe técnica designada para acompanhamento do processo de execução da

medida que precisa ter uma adequada compreensão do ambiente em que o

adolescente transita.

Neste sentido, os técnicos responsáveis já têm como instrumento o PIA,

que permite, respeitando o fato de que o PIA é do adolescente e a família entra

apenas como potencializadora, destacar a relevância que a família do

adolescente, autor de delitos, tem, bem como a necessidade dela ser envolvida

no processo de cumprimento da medida como elo de responsabilização

pactuada e permanente. Mas, ainda caberia saber quais as dificuldades para a

operacionalização deste pacto e para fomentar modelos práticos que

incrementem sua participação neste núcleo vincular, visando elaborar e ajudar

a cumprir um plano de responsabilização construído de forma colaborativa.

1.4 Metodologia

Optamos por realizar uma pesquisa qualitativa (MINAYO, 1994), de

forma exploratória e de base compreensiva, tendo como princípio a relevância

dos programas de atendimento na rede de apoio familiar e sociocomunitário

dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, apostando que o

que torna oportuno o trabalho com a família é justamente a construção da

responsabilização de cada plano individual de atendimento – PIA.

Para isto, realizamos estudo documental a partir de análises em

relatórios técnicos de acompanhamento, elaborados pelos profissionais que

acompanham o cumprimento da medida e o envolvimento familiar, bem como

uma leitura cartográfica do território por onde o adolescente circula e interage

no seu dia a dia. Acreditamos que esta prática poderá contribuir para dar

visibilidade às intervenções do técnico que acompanha o adolescente que

cumpre a medida socioeducativa, bem com o papel que a família assume no

processo de execução desta referida medida.

Neste estudo, é apresentado levantamento de dados legais e

ordenamentos jurídicos onde a família é contemplada, a exemplo do SUS,

SUAS e outras, até chegarmos ao advento do SINASE com vistas a entender

que papel é este que a família ocupa nos processos de execução de medidas

para adolescentes em conflito com a Lei e, sobretudo, qual é o seu

protagonismo diante a realidade posta.

São justamente estas questões práticas que têm motivado nossa atual

proposta de analisarmos modelos e práticas de intervenção que tenham como

destaque o fomento do papel que o núcleo familiar desempenha ou poderia vir

a desempenhar no acompanhamento das medidas socioeducativas em meio

aberto.

Com isto, estamos partindo do entendimento de que o desenvolvimento

destas práticas depende da forma como as medidas são operacionalizadas na

ação profissional dos responsáveis por sua aplicação e acompanhamento, pois

acabam por determinar e afetar a vida de todos na matriz relacional dos

envolvidos com a realidade sociocomunitária de cada adolescente em

particular, já que estão todos, de certa forma, envolvidos com o processo de

execução e responsabilização do ato cometido por ele.

Quanto a esta matriz relacional dos envolvidos com a realidade

sociocomunitária destes adolescentes, o ECA já traduziu tal necessidade de

envolvimento na defesa e garantia de direitos das crianças e adolescentes,

princípio este, aliás, que já é contemplado na Constituição Federal de 1988 e

regulamentado pela LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social) Lei n. 8.742, de

1993).

Esta constatação nos permite afirmar que não é possível dissociar a

ação do técnico, responsável pelo acompanhamento da medida, da

necessidade de compreensão dos arredores por onde o adolescente circula,

sendo primordial contextualizar tais envolvimentos na operacionalização de

qualquer uma das medidas.

E é assim que notamos a emergência de nos aproximarmos das

problemáticas que envolvem o acompanhamento técnico nas relações do

adolescente, autor de ato infracional, com o aparato de aplicação das medidas,

sobretudo, no que se refere à efetividade de seu cumprimento no regime de

atendimento em meio aberto.

Isto se deve ao caso de termos, neste regime, aspectos singulares que

dizem respeito ao fato de sua abrangência depender de outras formas de

atenção e cuidados de proteção, sob pena de virem a comprometer a

reconstituição de vínculos sociofamiliares e comunitários.

Ser efetivo do ponto de vista da ação pedagógica e da garantia de

direitos não é apenas uma questão que envolve escolhas ou motivação, pois

ao buscar por este tipo de “expertise”, o técnico pode fracassar por questões

alheias à sua intencionalidade, no que dizem respeito as questões difíceis de

serem nomeadas. É fundamental trabalhar com a realidade e os insumos que

ela traz no acompanhamento do adolescente infrator.

Estamos frisando a necessidade metodológica de a equipe técnica poder

dimensionar estes riscos, para não incorrer em idealizações e ou subjetivismos

que possam negar as imponderações a que está submetida, já que esta

mesma realidade potencializadora é cheia de desafios que envolvem não

apenas a formulação técnica de práticas de abordagem, mas também

indicações que viabilizem sua concretização.

Concorre, para isto, o cenário atual em que ainda é preciso conviver no

âmbito das vinculações comunitárias sistêmicas com a influência cada vez

mais feroz das organizações não formais, de cunho criminoso ou não, e que

tem se constituído, cada vez mais, em uma questão desafiadora, para a

sociedade brasileira como um todo, e que está, necessariamente, articulada a

um quadro social, cultural, político e econômico também conturbado.

Com exceção das propostas metodológicas sobre práticas

socioeducativas, os eventos associados a este cenário conturbado já têm sido

amplamente discutidos no cenário acadêmico, político e social. Cabe

mencionarmos, a exemplo, o caso que ficou conhecido como “a gangue das

garotas da Vila Mariana”, quando em 02 de agosto de 2011, um conceituado

jornal de São Paulo veiculou matéria, em que relatava uma onda de roubos e

furtos na região de uma conhecida rua de comércio da Vila Mariana, na zona

sul de São Paulo, na qual se destacou a participação de crianças e

adolescentes que teriam promovido os referidos arrastões, mediante a

denominação de “Gangue das Garotas”.

Chamamos a atenção para este episódio em particular, por considerá-lo

exemplar ao permitirdar relevo ao tema “família” e despertar a atenção para a

complexidade que tais relações envolvem, pois, aponta a necessidade de

lançarmos mão de propostas que visem ações práticas, sobretudo, no sentido

de abordar questões pertinentes às necessidades de ampliar a capacidade

protetiva do núcleo familiar. Considerando-se que, na ocasião, a família foi

culpabilizada, tendo as crianças recebido ordem de acolhimento institucional e

suas mães acionadas penalmente, sem que se tivessem problematizado

ferramentas de inserção social menos sancionatórias, a partir de uma lógica

socioeducativa, com empenho por resultados favoráveis no que se refere ao

êxito da não reincidência de práticas delituosas.

Quanto a estes aspectos, Costa (2011), em sua dissertação de mestrado

intitulada “Fortalecendo a Capacidade Protetiva da Família do Adolescente em

Conflito com a Lei”, em que procurou abordar aspectos organizativos desta

questão, nos apresenta alguns resultados acerca da situação vivenciada pelos

gestores no contexto da cidade de Santo André/SP, e o fez com estudos

realizados em situações que envolvem famílias de uma região que é

emblemática por estar inserida na área metropolitana da capital do Estado de

São Paulo.

Nota-se que sua pesquisa apresentou uma reflexão sobre o significado

que a capacidade protetiva da família tem no âmbito da atenção social aos

adolescentes em conflito com a Lei, em que avalia a desproteção e os riscos

sociais a que a família e seus membros estão expostos, mesmo com

articulação de gestão para a garantia dos direitos, como a Lei Orgânica de

Assistência Social – LOAS.

Seus dados reforçam a convicção de que ainda restam alguns

aprofundamentos, no que se refere aos aspectos operacionais do envolvimento

familiar nos procedimentos e práticas socioeducativas, que destaquem suas

capacidades protetivas e protetoras.

Ao nos ocuparmos da qualidade do modelo de intervenção, estamos

considerando esta crítica, posta por Costa (2011), como aprofundamento, a

partir da responsabilização da família e comunidade e seus determinantes para

o sucesso da medida, que precisa ser devidamente apoiado pelo suporte de

uma rede de proteção estatal.

CAPÍTULO 2

A FAMÍLIA NO ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO

2.1 Considerações sobre o atendimento socioeducativo

O resultado do estudo, tendo a família como núcleo de potencialidades

na execução da medida socioeducativa, articula-se fundamentalmente na

esteira histórica do desenvolvimento de políticas públicas determinantes e

destinadas à consolidação do paradigma da prioridade absoluta.

Segundo Costa (2011), uma sociedade reconhece determinados riscos

sociais e exige que o Estado intervenha no processo de combate às

desigualdades e à pobreza, assumindo (o Estado) a responsabilidade pela sua

defesa e proteção (da sociedade). Os consensos, pactuados por esta

sociedade, definem o que considera por princípios de justiça, de equidade, de

solidariedade, de inclusão social, e os limites suportáveis para a desigualdade

social.

A primazia do Estado na condução e organização da proteção social fica

clara no conjunto dos objetivos a serem alcançados. Essa inscrição da

assistência social como política da seguridade social inaugura seu

reconhecimento como área de responsabilidade pública pela vigilância e

garantia do direito às seguranças sociais, à proteção da dignidade humana

(bem como combate às suas violações), às populações vulnerabilizadas pela

contingência etária e por fragilidades da convivência familiar e societária.

A Defesa Social e Institucional também ampara e vigia as situações

sociais que violem direitos e provê a oferta de serviços socioassistenciais que

processem direitos socioassistenciais.

A centralidade do papel do Estado na condução da política tem o caráter

de garantir que acessem, com igualdade de condições, as pessoas que dela

necessitarem, cabendo-lhe estruturar e resguardar para que as atenções

sociais demandadas sejam garantidas por toda a Rede de Proteção

Socioassistencial, com o objetivo da proteção ao ciclo de vida de indivíduos,

atuando de forma a prevenir diferentes estágios de desproteção social, com

apoio às fragilidades decorrentes dos eventos humanos e sociais que podem

incorrer em exposição dos sujeitos sociais a riscos e vulnerabilidades,

processando, em seu interior, direitos socioassistencias.

A ela se somam organizações e entidades sociais de Assistência Social

que operam serviços, programas e projetos, o que não exclui a

responsabilidade pública do Estado pela proteção social de seus cidadãos: na

realidade, realiza a extensão de suas funções de caráter público a parceiros

cofinanciados pelo orçamento público. A nova relação público-privado, aqui

entendido, tem por objetivo romper com uma organização do trabalho de

caráter subalternizante da população demandatária, com a fragmentação das

ações e desvinculação da garantia de direitos.

Entendemos que, em nossa hipótese inicial, defendemos o papel da

família como lugar privilegiado de potencialidades, propulsoras de mudanças

no desenvolvimento do adolescente, vale trazer à luz de nosso entendimento

as questões legais que a colocam em evidência e, dentro desta premissa, falar

sobre o seu papel protetivo e protetor, além da responsabilidade que esta

carrega, quase que “geneticamente” com o devido cuidado de não

responsabilizá-la em demasia.

A primeira referência na legislação federal sobre serviços sociais surge

na Carta Constitucional de 1934, com o Estado obrigado a assegurar “o

amparo aos desvalidos e destinar 1% das rendas tributáveis à maternidade e à

infância”. A criação do Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS) e a

inserção da Assistência Social na agenda governamental, em pleno Estado

Novo, pelo Decreto-Lei n. 525, de 01.07.1938, definem sua função de órgão

consultivo do governo e das entidades privadas, e de estudo dos problemas do

Serviço Social.

Costa (2011) relata que a CF/1988 trouxe, à geração do presente e do

futuro, um compromisso no sentido de consolidar a direção de um modelo de

proteção social brasileiro. Um sistema de proteção ancorado na concepção de

seguridade social e nela, a Assistência Social, direito do cidadão e dever do

Estado, são Políticas de Seguridade Social, não contributiva, que provê os

mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de iniciativa

pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas.

Segundo esta autora, a inclusão da política de assistência social, como

afiançadora de direitos e como um campo de proteção social não contributivo,

implica um modelo, uma direção, um caminho a ser percorrido, um vir a ser

com vistas a uma política de proteção social que permita que a família como

cidadã consiga desenvolver o seu papel de protetora, o que se expressa por

meio de três funções: proteção, defesa e vigilância social e, neste caso,

resguardadas pela PNAS – Política Nacional de Assistência Social em

consonância com a LOAS e seus dispositivos.

Concordamos ainda com a autora, quando esta põe em destaque que

seus objetivos se realizam de forma integrada às demais políticas setoriais,

entendendo que ela sozinha não fará o enfrentamento das situações de

desproteções dos indivíduos, deixando de ter o caráter processual e de

transição para as demais políticas públicas, pois traz, em sua gênese, os

alicerces programáticos de política pública, dever do Estado e direito dos

cidadãos (ãs).

A política de Assistência Social objetiva:

I) Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social

básica e/ou proteção especial para famílias, indivíduos e grupos que dela

necessitarem;

II) Contribuir para ampliar acessos a bens materiais e imateriais,

processando direitos socioassistenciais básicos e especiais; e

III) Assegurar que as ações tenham centralidade na família e garantam a

convivência familiar e comunitária. Como responsabilidade do Poder Público,

deve alcançar os cidadãos em suas necessidades extensivamente, ou seja,

para além do seu domicílio, nas ruas, nos espaços institucionais de guarda e

cuidados, não se limitando ao formal, mas também atuando sobre a

transgressão, violações e agressões.

O modelo de proteção social não contributiva que o país consagrou

desde a CF/1988, assenta-se em princípios tais como o da universalidade e

equidade e isto quer dizer que os direitos de proteção social podem ser

acessados por qualquer cidadão, em qualquer lugar do país e em iguais

condições de acesso.

Outro princípio, sobre o qual neste trabalho lidaremos com maior zelo, é

o da matricialidade familiar. Previstano art. 203 da CF/1988, a assistência

social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de

contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho (...).

Ao considerar que em 1964, instituía-se a Política Nacional do Bem

Estar do Menor (PNBEM), que já era uma política voltada ao adolescente em

conflito com a Lei, Palheta (2011) faz alusão aos movimentos populares

datados de 1970 de onde, supostamente, efervesceram ideias que colocaram

em cheque esta política nacional e culminaram com a elaboração do Estatuto

da Criança e do Adolescente.

Segundo levantamento, Palheta (2011), ambos, o Movimento em Defesa

do Menor (MDM) data de 1974 e a Declaração do Ano Internacional da Criança

em 1979, podem ser considerados grandes marcos no processo de construção

do movimento social que catalisou a defesa dos direitos da criança e do

adolescente (MSDCA), bem como sua imersão na esfera pública, para poder

contrapor o que vinha se perpetuando de forma sectária ao longo dos séculos,

em que a criança e o adolescente eram tratados nas normativas jurídicas como

objeto e não como sujeito de direitos.

Em seu estudo, a autora aborda o papel da Sociedade Civil na mudança

do paradigma da doutrina da situação irregular para a doutrina da proteção

integral na garantia de direitos humanos ao adolescente em conflito com a Lei.

É possível notar sua relevância ao demonstrar que muitos marcos importantes

passam despercebidos por operadores do SGDCA (Sistema de Garantia de

Direitos da Criança e do Adolescente), como a democracia participativa como

elemento fundante das práticas de transformações da relação Estado e

Sociedade Civil como ampliação da cidadania, fator crucial para a mudança

doutrinária que culmina posteriormente com promulgação do ECA – Estatuto

da Criança e do Adolescente.

Com o final da doutrina da situação irregular anteriormente adotada no Código de Menores, as crianças e os adolescentes passaram a ter uma “categoria jurídica, titulares de direitos, observado a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”. Palheta (2011).

Com o processo de redemocratização, tem início uma mudança na

atitude do governo brasileiro em relação aos direitos humanos, cujo

fundamento ético reside na igualdade entre todos. Palheta (2011).

Sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), vale frisar que

surge com a ratificação da Convenção sobre os Direitos da Criança em 1990,

sendo que, com a posterior promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social

(LOAS), em 1993, ambos provocaram rupturas em relação às concepções e

práticas assistencialistas e institucionalizadoras, ao reafirmarem a

responsabilização da família e da sociedade no que tange à seguridade social

dos direitos de crianças e adolescentes, permitindo com este processo a

possibilidade de rompimento de antigos paradigmas culpabilizantes.

Crianças e adolescentes passaram a ser vistos como sujeitos de direitos

de maneira indissociável do seu contexto sociofamiliar e comunitário, tendo

garantido, assim, o direito a uma família, cujos vínculos devem ser protegidos

pela sociedade e pela intervenção estatal.

Não será a primeira vez que a intervenção do Estado é abordada como

possibilidade de reorganização, a exemplo do “Welfare State”, resultado de

uma necessidade de reorganização interventiva, logo após a II Guerra Mundial,

aliás, tal intervenção fez com que a família fosse redescoberta como instância

de proteção, colocando-a, hoje, na centralidade dos sistemas de garantia de

direitos.

O dinamismo do aprimoramento deste sistema de garantia de direitos

levou a várias atualizações deste aparato legal, como em 2006, com a reunião

de regras e critérios ordenados com vistas à redução das complexidades de

atuação dos atores sociais envolvidos com a aplicação das medidas

socioeducativas, que deu origem a um “subsistema” específico ao qual se

denominou Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), de

caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro e administrativo que procurou

envolver desde a apuração do ato infracional cometido pelo adolescente até a

aplicação e execução de medidas protetivas e socioeducativas.

Anteriormente ao SINASE vir a ser Lei, tivemos em 2009 outro

importante passo para o aprimoramento da Doutrina de Proteção Integral, pelo

advento da Lei 12.010, que abordou o Direito à Convivência Familiar e

Comunitária e apresentou uma série de novos dispositivos ao ECA, que se

justificam pela necessidade de um implemento em Políticas de ordenamento de

eixos estratégicos e complementares, que perfazem a análise da situação e

dos sistemas de informação descentralizados e participativos, introduzindo um

novo olhar sobre a realidade dos adolescentes em conflitualidade relacionados

ao atendimento socioeducativo.

O Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de

Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária, marco nas

políticas públicas no Brasil, rompe com a cultura da institucionalização de

crianças e adolescentes fortalecendo o paradigma da proteção integral e da

necessária preservação de vínculos familiares e comunitários.

No que se refere à oferta de uma atenção específica ao adolescente em

conflito com a lei, Cunha (2012) trouxe em seu construto para a obtenção do

título de Mestre, informações que mostram que a Tipificação Nacional dos

Serviços Socioassistenciais, através da Resolução n. 109, de 11.11.2009,

regulamenta o Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de

Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA) e de Prestação de Serviços

à Comunidade (PSC) e apresenta algumas orientações para o trabalho de

acompanhamento aos adolescentes em cumprimento de medida, dentre seus

objetivos:

Realizar acompanhamento social a adolescentes durante o cumprimento de medida socioeducativa de Liberdade Assistida e de Prestação de Serviços à Comunidade e sua inserção em outros serviços e programas socioassistenciais e de políticas públicas setoriais; Criar condições para a construção/reconstrução de projetos de vida que visem à ruptura com a prática de ato infracional; Estabelecer contratos

com o adolescente a partir das possibilidades e limites do trabalho a ser desenvolvido e normas que regulem o período de cumprimento da medida socioeducativa; Contribuir para o estabelecimento da autoconfiança e a capacidade de reflexão sobre as possibilidades de construção de autonomias; Possibilitar acessos e oportunidades para a ampliação do universo informacional e cultural e o desenvolvimento de habilidades e competências; Fortalecer a convivência familiar e comunitária(Resolução n. 109/2009).

Desse modo, o serviço tem como finalidade o acompanhamento dos

adolescentes em cumprimento de medida, bem como a promoção da atenção

socioassistencial e o acesso aos direitos que possibilitem a ressignificação dos

valores, tanto na vida pessoal, quanto social dos adolescentes.

Conforme regulamenta a Tipificação Nacional dos Serviços

Socioassistenciais (2009), a responsabilidade de execução da medida fica a

cargo do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS),

municipais, ou no caso em que o município não tenha como ofertar, o serviço

poderá ser conferida a outra instituição, desde que a responsabilidade pela

fiscalização e coordenação seja realizada pelo Centro de Referência

Especializado de Assistência Social (CREAS).

Seguindo o que está disposto no art. 90 do Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA)1 e na Lei 12.594, de 18.01.2012, as entidades não

governamentais podem atuar na execução das medidas socioeducativas. No

entanto, as mesmas devem agir de forma articulada, de modo que em sua

atuação trabalhe em sintonia com os órgãos públicos corresponsáveis pelo

atendimento dos adolescentes, autores de ato infracional, e suas famílias,

como é o caso do Centro de Referência Especializado de Assistência Social

(CREAS), Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e o Centro de

Atenção Psicossocial (CAPS).

O SINASE discorre sobre as atividades que deverão ser desenvolvidas

pelas entidades executoras de medidas socioeducativas em meio aberto e

1 “Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias

unidades, assim como pelo planejamento e execução de programas de proteção e socioeducativos destinados a crianças e adolescentes, em regime de: I - orientação e apoio sociofamiliar; II - apoio socioeducativo em meio aberto; III - colocação familiar; I V - abrigo; IV - acolhimento institucional; V - liberdade assistida; VI - semiliberdade; VII - internação.”

também estabelece os requisitos a serem cumpridos, no que se refere à

estrutura física e humana das entidades de atendimento.

Portanto, o serviço de medida socioeducativa em meio aberto (MSE)

poderá ser executado por outras entidades, desde que, integrado com os

demais órgãos públicos responsáveis (saúde, educação, assistência social,

lazer e outros) e com Sistema de Garantia de Diretos (SGD), que promovam a

inserção dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa na

comunidade e também viabilizem a aquisição de seus direitos sociais.

Quanto ao SINASE, que havia sido instituído como diretriz em 2006,

tornou-se Lei 12.594, em janeirode 2012, porém, sem a ênfase que se

esperaria nos aspectos socioeducativos, revelou-se um aparato impregnado de

aspectos sancionatórios e penais, mesmo com avanços em aspectos

administrativos da medida. Por esta razão, esta Lei demanda de todos os

operadores do sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente um

duplo esforço de interpretação e implantação.

De acordo com pesquisa recente, Cunha (2012), enquanto política

pública destinada à inclusão do adolescente em conflito com a lei, o SINASE

trabalha na articulação das diferentes áreas da política social, em seu conjunto

ordenado de princípios e regras de caráter jurídico, que abrange tanto o

processo de apuração do ato infracional, como a execução da medida

socioeducativa, como ilustra figura a seguir:

O SINASE E O SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS

Fonte: SINASE (ABMP, 2008, p.23apud CUNHA, 2012).

Três objetivos das medidas socioeducativas foram declarados em lei

(art. 1.º, § 2.º):

I – a responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato infracional, sempre que possível incentivando a sua reparação; II – a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais, por meio do cumprimento de seu plano individual de atendimento; e III – a desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições da sentença como parâmetro máximo de privação de liberdade ou restrição de direitos, observados os limites previsto em lei.

Sobre os aspectos legais, também é preciso analisar o impacto do SUAS

– Sistema Único de Assistência Social, que se traduz em um sistema

descentralizado e participativo, com o qual tem se buscado a unidade e a

totalidade da ação pública, com o propósito de superar a fragmentação e a

sobreposição das ações governamentais e não governamentais, voltadas ao

adolescente em conflito com a Lei, sem perder de vista as diversidades

regionais, as peculiaridades do município e a especificidade do território e da

população nele existente.

Com este marco legal da assistência social, temos algumas

complexidades na aplicação das medidas, as quais passaram pelo impacto do

processo da gestão municipal, em paralelo as diretrizes operacionais do

SINASE. Mesmo que este caminhar, na última década, tenha sido a passos

muito lentos, é possível afirmarmos que, com a sua homologação em 2012

como Lei reguladora das medidas, pode inspirar nos operadores do SGDCA

novas possibilidades para o imaginário de significativas mudanças, no que

tange à política socioassistencial para este público específico.

De acordo com Cunha (2012), no que tange à participação da família no

processo de acompanhamento da medida socioeducativa, relata que, diante

das dificuldades que as envolvem no contexto atual, bem como da necessidade

de políticas públicas que visem atender e acompanhar as famílias nesse

período tão importante se percebe a importância de compreender os modos de

participação das famílias destes adolescentes em conflito com a lei, em

cumprimento de medidas.

Coloca-se, assim, a necessidade de políticas públicas de

acompanhamento que sejam capazes de potencializar e fortalecer a função

protetiva da família, conforme estabelece o Estatuto da Criança e Adolescente

(ECA)3 em seu Capítulo III, Seção I, art.19.

O Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) enfatiza a família como a

primeira instituição de socialização da criança, bem como dos laços de

dependência emocional dos mesmos. A Lei 12.594, de 18 de janeiro de 2012,4

que institui o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) e

regulamenta a execução das medidas destinadas a adolescente que pratique

ato infracional e altera dispositivos da Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, dispõe

sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e dá outras providências,

enfatiza a importância da “participação das famílias no processo de

cumprimento das medidas”, bem como o acompanhamento das mesmas no

programas.

A participação ativa da família e da comunidade na experiência

socioeducativa constitui uma das diretrizes pedagógicas do Sistema Nacional

de Atendimento Socioeducativo (SINASE), no que se refere ao atendimento do

adolescente em conflito com a lei, de modo a que todas as ações e atividades

devem ser programadas com base na realidade familiar e comunitária dos

mesmos, numa iniciativa conjunta – programa de atendimento, adolescentes e

familiares.

O documento é enfático ao taxar que tudo o que é objetivo na formação

do adolescente deve ser extensivo para a sua família: “Portanto, o

protagonismo do adolescente não se dá fora das relações mais íntimas. Sua

cidadania não acontece plenamente se ele não estiver integrado à comunidade

e compartilhando suas conquistas como a sua família” (p. 89).

3“Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio de sua família

e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.” 4Disponível em: [www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12594.htm]. Acesso

em: 15 jun. 2012.

É importante que os programas que ofertam atendimentos aos

adolescentes em conflito com a lei e suas famílias, tenham um olhar específico.

Eles devem olhar a família como um núcleo de potencialidades e competências

capazes de assumir o seu papel de ator principal, tendo como premissa o

Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), enquanto sistema

integrado que articula as três esferas importantes para o desenvolvimento e

execução dos programas de cumprimento das medidas socioeducativas sendo

elas: o Estado, a comunidade e a família.

Nesse sentido, ressaltamos a importância da díade do técnico que

acompanha a medida junto ao adolescente e seu núcleo familiar, para que se

compreenda o contexto no qual o adolescente está inserido. Sobre isto o

SINASE5 integra:

A rede de proteção à criança e ao adolescente, e esta deve ser também uma rede de proteção à família (que na forma das Leis 8.069/90 e 8.742/93 e da Constituição Federal tem direito a especial proteção por parte do Estado), devendo as abordagens ser realizadas preferencialmente de modo a manter ou reintegrar a criança/adolescente no seio de sua família (SINASE, 2012).

Neste sentido o SINASE é beneficiado pela Política Nacional de

Assistência e o SUAS, que consolidam uma rede integrada e sistemática de

proteção (básica e especial), em que unidades públicas do CRAS (Centro de

Referência de Assistência Social), CREAS (Centro de Referência

Especializado de Assistência Social), são definidas em tipificações de

vulnerabilidade que articulam serviços de continuidade voltados ao

atendimento de necessidades básicas de acordo com a previsão do PNAS (art.

23).

Tecendo relações com estes aspectos, Costa (2011) apresenta diversas

contribuições, no que tange ao processo de municipalização da política de

assistência na região do Grande ABCDM e, mesmo constituindo uma realidade

específica em relação ao espaço em que tomo como campo para o diálogo

5 Disponível

em:[www.crianca.caop.mp.pr.gov.br/arquivos/File/politica_socioeducativa/sinase_25abr2012.pdf]. Acesso em: 10 out. 2012.

empírico, evidencia-se o quanto é relevante apropriar-se de suas contribuições

acerca do sistema que provisiona e acompanha as Medidas Socioeducativas

dentro do SUAS.

Ao considerar as desigualdades territoriais como estratégia para o

enfrentamento das desproteções, segundo Costa (2011), opera-se proteções

afiançadoras de prevenção a riscos sociais, desenvolvendo potencialidades e

capacidades, aquisições, fortalecimentos de vínculos familiares e comunitários,

de modo a garantir mínimos sociais, onde a política da Assistência objetiva:

prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica

e/ou proteção especial para famílias, indivíduos e grupos que dela

necessitarem; contribuir para ampliar acesso a bens materiais e imateriais,

processando direitos socioassistenciais básicos e especiais; assegurar que as

ações tenham centralidade na família e garantam a convivência familiar e

comunitária.

Salienta ainda que, como responsabilidade, o Poder Público, deve

alavancar os cidadãos em suas necessidades extensivamente, ou seja, para

além do seu domicílio, nas ruas, nos espaços institucionais de guarda e

cuidado, não se limitando ao formal, mas também atuando sobre a

transgressão, violação e agressões, haja vista que o risco social a que estes

adolescentes se expõem não advém de individuais, mas coletivas nos espaços

das relações humanas e sociais.

Uma sociedade reconhece determinados riscos e exige que o Estado

intervenha no processo de combate às desigualdades e à pobreza, assumindo

a responsabilidade pela sua defesa e proteção. Os consensos, pactuados por

esta sociedade, definem o que considera por princípios de justiça, de equidade,

de solidariedade, de inclusão social, e os limites suportáveis para a

desigualdade social, Costa (2011).

Ao trazermos esta contribuição, que versa acerca do Estado e da

Proteção Social, o fazemos exclusivamente no intuito de estabelecer um

entendimento do diálogo que se estabelece entre a Política de Assistência

Social e o SINASE. Assim, a centralidade de proteção social à família e seus

membros poderá ser mais bem visualizada nos processos em que a atenção

social está voltada à construção e acompanhamento de um Plano Individual de

Atendimento ao adolescente, objeto maior de nosso estudo, que

temporariamente encontra-se em conflitualidade.

Ao fazer menção a tais observações, temos o intuito de estabelecer que

o PIA não se trata apenas de um manual que direciona o acompanhamento da

medida, bem como o cumprimento da medida, nossa intenção é estabelecer o

que, em diversos escritos, pode se encontrar, ou seja, que o PIA é mais que

um documento, é um construto diário, um contrato entre partes, onde o

adolescente que cumpre a medida socioeducativa em meio aberto assume

compromissos voltados a sua responsabilização diante do ato cometido.

Esta responsabilização deve, impreterivelmente, ser construída

respeitando os pares que o adolescente elege para pactuar seu compromisso e

é este momento em que a família aparece neste Plano Individual, como

parceira do Serviço de Medida e, conseqüentemente, do técnico que faz a

abordagem na chegada do adolescente.

Aqui, quando nos referimos à família como parceira,o fazemos no intuito

de esclarecer que, no cumprimento da medida, o PIA é do adolescente e,

sobretudo, que a responsabilização deve ser atribuída a ele, processo em que

a família vai aparecer como fonte potencializadora de possibilidades diádicas

que poderão, ou não, resultar no sucesso do cumprimento com resultados

perseverantes e duradouros. Em outras palavras, a família, teoricamente, trará

insumos que fortalecem a díade do adolescente com o serviço de medida e

com o técnico que assume um papel de referência para este adolescente.

Falar sobre o PIA e a sua construção pode render dias, páginas, mas

não é o nosso intuito esgotar todas as possibilidades desta construção nem

mesmo cansar o nosso leitor. A seguir, apresentamos um fluxo do PIA para

melhor esclarecer ao leitor o que é e como se dá a construção do tão

mencionado Plano Individual de Atendimento:

Fonte:Caderno de Fluxos Operacionais Sistêmicos (ABMP, 2011, p.116).

De acordo com a Lei nº 12.594, a entidade de atendimento ao

adolescente em conflito com a lei deverá elaborar um “projeto específico”, que

compreenda as diversas etapas do processo de cumprimento da medida.

No que tangeao Plano Individual de Atendimento (PIA), que trouxemos

acima como modelo apresentado no Caderno de Fluxos Operacionais

Sistêmicos – Proteção integral e atuação em rede na garantia dos direitos de

crianças e adolescentes (2011), cabe mencionarmos que a elaboração do PIA

tem por base os marcos legais do SINASE, ECA, PNAS, LOAS e a Convenção

sobre os diretos da criança, e compreende o processo de avaliação

interdisciplinar, objetivos declarados pelo adolescente, atividades de integração

social, capacitação profissional, bem como a integração e apoio às famílias dos

adolescentes.

Quando acreditamos, e aqui defendemos, que a família é um importante

espaço protetivo que oferece uma gama de insumos potencializadores para o

acompanhamento da medida, defendemos que, ao nos aproximarmos da teoria

bioecológica, constatamos que se o técnico responsável pela construção do

PIA junto do adolescente tiver informações consistentes e claras acerca da

díade do referido adolescente com a família e com seus pares, a avaliação dos

eixos norteadores do desenvolvimento deste, numa proposta bioecológica pode

assumir proporções que ressignificarão as expectativas deste adolescente no

que tange o seu protagonismo.

A construção do Plano Individual para cumprimento de medida

socioeducativa, tendo como norte a relação bilateral do adolescente que

cumpre a medida e o seu meio de convivência e transição, fará com que os

resultados deste PIA sejam consistentes e objetivos, pois ao observar a díade

do adolescente, o técnico de referência terá subsídio imediato para intervir de

forma assertiva e duradoura.

Se, na forma da Lei, o PIA deve ser individual, a saber, art. 35 da Lei

12.594/2012, estabelece o princípio da individualização do atendimento,

considerando-se a idade, capacidade e circunstâncias pessoais do

adolescente, tal princípio vai se consolidar de forma enérgica no PIA,

sobretudo, no que diz respeito à construção da autonomia deste referido

adolescente, respeitando a bagagem que ele carrega consigo.

De acordo com Guará, ao tratar o assunto em recente documento

denominado “Dossiê SINASE” (2012), publicado na revista acadêmica do

programa de Mestrado Adolescente em Conflito com a Lei –

Uniban/Anhanguera, como instrumento que traduz o direito subjetivo em

propósitos e em ações objetivas do, para e com o adolescente, o PIA

estabelece metas individuais e ações técnicas dos profissionais, no sentido de

acolher, dar apoio, facilitar, acompanhar e incluí-lo em programas, projetos,

atividades ou serviços durante a execução do Plano, devendo portanto, a

construção do PIA partir do rigoroso exame da situação pessoal, social e

familiar do adolescente, seja para melhor conhecê-lo em todas as dimensões,

seja para buscar as melhores oportunidades nos programas e serviços locais.

Somos enfáticos e concordamos que, ainda lançando mão de uma visão

sistêmica para a construção do PIA do adolescente autor de ato delituoso,

passível de medida socioeducativa de responsabilização e ressignificação de

valores, que o PIA:

• Não é um diagnóstico nem tão pouco relatório burocrático, mas um

mapa de situação, capaz de servir como norte para as intervenções a serem

feitas;

• Não é um plano de ação com vistas a encaminhamento tão somente

aos serviços e programas da rede de proteção;

• Este deve ser um reflexo do projeto pedagógico da instituição para com

o adolescente usuário de seus serviços;

• Deve ser um instrumento singular que permita a promoção de avanços,

correções e interdições quando necessárias no processo de cumprimento da

medida por parte do adolescente em conflito com a Lei;

• E deve além de tudo isso, garantir o mínimo de privacidade e

acolhimento na discussão e revelação de aspectos internos, metas de

superação individuais e confidencialidade absoluta.

Por fim, diante destas observações, é nosso interesse maior desenvolver

meios de capacitação, através de insumos teóricos e instrumentais que sirvam

de apoio aos técnicos, para a difícil tarefa de elaboração de um PIA, tomado de

boa escuta, registro e atualização de informações que possam preencher

lacunas antes encontradas no Plano Individual do adolescente, decorrentes da

ineficiência no discernimento da ação socioeducativa a ser acompanhada.

2.2 Considerações sobre o atendimento socioeducativo

Em nosso construto teórico, chamamos a atenção para o pouco tempo

que o serviço de atendimento tem para envolver família, bem como a rede

social que circunda o desenvolvimento do adolescente que está em

cumprimento de medida socioeducativa, lembrando que a medida deve,

impreterivelmente, ter uma duração de seis meses.

De acordo com as contribuições de Cunha (2012), as instituições de

cumprimento de medida assumem particular importância no processo, na

medida em que devem atuar na preparação dos adolescentes para o convívio

social e no exercício de seu papel de suporte para suas vidas.

A autora menciona, ainda, que em meio a esse contexto, tendo em vista

os direitos legalmente assegurados, compete ao Estado, através dos seus

agentes públicos, atuar de forma a prestar toda assistência, acolhimento à

família do adolescente, fornecer todas as informações que se fizerem

necessárias, no sentido de fortalecer o convívio dos mesmos com as suas

famílias, viabilizar os direitos previstos na legislação e promover o

estreitamento dos laços familiares.

Todavia, é preciso destacar que as medidas socioeducativas de

Liberdade Assistida (LA) e Prestação de Serviço à Comunidade (PSC) têm por

finalidade acompanhar, orientar e apoiar o adolescente, bem como a sua

família, buscando sempre a transformação do adolescente e o fortalecimento

dos vínculos familiares e comunitários.

Neste propósito de entendermos como se dá a participação da família no

processo, que diz respeito ao adolescente cumpridor da medida, achamos

pertinente situar esta família nos parâmetros legais e conceituais que garantem

a ela sua oportunidade de se colocar como responsável, protetora e protetiva

no trato com sua prole, dando respectiva importância ao apoio estatal que esta

mencionada família recebe.

A Constituição Brasileira de 1988 postula em seu art. 226, §4.º, que:

“Entende-se como entidade familiar a comunidade formada por qualquer um

dos pais e seus descendentes”. Também o Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), no art. 25, define como família natural “a comunidade

formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes”.

De acordo com levantamento feito por Costa (2011), a formatação dos

padrões de proteção social ganha materialidade por meio da provisão de bens,

serviços e benefícios destinados aos cidadãos, podendo alcançar a

redistribuição de recursos, como renda, saúde, educação, cultura, entre outros,

contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da população, dando

mostras do desenvolvimento de uma sociedade.

A inserção das políticas sociais brasileiras no processo de

redemocratização, após o advento da Constituição de 1988, traz ao cenário

nacional o estabelecimento do paradigma do tripé da seguridade social,

incorporando três políticas de proteção social: a saúde, a assistência social e a

previdência social.

A promoção da articulação dos direitos relativos à saúde, à previdência,

à assistência social, afiança o compromisso com a garantia de segurança e

proteção aos cidadãos, diante de riscos como a doença e a pobreza,

relacionada à insuficiência de renda, ao desemprego ou à incapacidade para o

trabalho, incluindo no sistema como segurados especiais, os cidadãos oriundos

da economia familiar e atividade rural.

A Carta Constitucional de 1988 eleva a Assistência Social ao status de

Política de Estado (arts. 203 e 204), regulamentada por meio da Lei Orgânica

da Assistência Social (Lei 8.742/1993). Os processos, mecanismos e

instrumentos de sua operacionalização encontram-se, mais recentemente,

definidos e regulamentados na Política Nacional de Assistência Social (PNAS –

2004), e na Norma Operacional Básica (NOB/2005).

No tripé da Seguridade Social, amplia-se o acesso de cidadãos sem

exigência de contribuição prévia, ampliando as possibilidades de acesso

daqueles que estavam fora dos tradicionais mecanismos de seguridade social.

A Assistência Social, assim, se insere como política social não contributiva,

direito a todos aqueles que desta necessitarem, em decorrência da

vulnerabilidade social ou da violação de direitos, independentemente de sua

condição de contribuinte à seguridade social, devendo ser prestada por meio

de serviços contínuos e disponíveis em todo o território nacional.

Estas Leis e Normativas citadas têm, por conseguinte, dar suporte à

família para que ela exerça o seu papel protetivo e protetor, podendo-se dizer

que não importa se a família é do tipo “nuclear”, “monoparental”, “reconstituída”

ou outras. Segundo Costa (2011), deve-se ultrapassar a ênfase na estrutura

familiar para enfatizar a capacidade da família de, em uma diversidade de

arranjos, exercer a função de proteção e socialização de seus adolescentes de

forma dissociada da condição em que ela se postula instituição familiar.

De acordo com outra pesquisa realizada por Claudia Fonseca,

Professora Doutora do programa de pós graduação em Antropologia Social da

UFRGS, em que aborda as “Concepções de Família e Práticas de

Intervenção”, explora a família como foco de intervenção e, neste seu trabalho,

sugere, num primeiro momento, algumas pistas analíticas que podem ajudar o

técnico a perceber dinâmicas familiares em grupos populares do Brasil.

Descobrimos, assim, que, da perspectiva espacial, redes de parentesco se

estendem além do grupo consanguíneo e da unidade doméstica para esferas

mais amplas. Da perspectiva temporal, as pessoas se inserem em uma

sucessão de gerações, possibilitando projeções para o futuro ou resgates de

elementos do passado.

E para trazermos a família à sua responsabilidade de acompanhamento

da medida socioeducativa, responsabilidade cuja Lei do SINASE bem

especifica como regime de coparticipação, lembramos que,na proposta da

socioeducação a ser desenvolvida por um determinado serviço de medida, as

referências da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do Adolescente

são fundamentais para a definição de deveres desta família, bem como do

Estado e da sociedade em relação à criança e ao adolescente, sem esquecer,

entretanto, que a definição legal não supre a necessidade de se compreender a

complexidade e a riqueza dos vínculos familiares e comunitários.

Em suma, vale dizer neste sentido, que, quando é requisitada a

presença do responsável pelo adolescente nas medidas socioeducativas,

devemos lembrar que a família, neste aspecto, pode ser as que se constituem

a partir de fortes vínculos de afetividade e, nestes casos, as obrigações mútuas

serão construídas por laços simbólicos e afetivos, não sendo necessariamente

constantes, além de não contarem com reconhecimento legal e nem

pressuporem obrigações legais.

2.3 Considerações sobre o Marco Situacional da família

Como nosso objeto de pesquisa é o adolescente em conflito com a Lei,

faz-se pertinente situar nosso leitor sobre algumas concepções acerca da

instituição família, dada a sua relevância como parte do processo de

responsabilização do adolescente pelo ato cometido.

Segundo Botarelli (2002), na perspectiva sócio-histórica, não há como

negar a importância da família, tanto nas relações sociais como na vida

emocional dos indivíduos, pois “é na família, mediadora entre o indivíduo e a

sociedade, que aprendemos a perceber o mundo e a nos situarmos nele”, Reis

(1989). Importante salientar que, nesta época em que Botarelli tratou da

questão sócio-histórica que tanto se aproxima de nosso fundamento teórico, as

pesquisas pautadas no modelo bioecológico ainda estavam muito tímidas no

campo acadêmico.

Canevacci (1987), um estudioso da família na abordagem dialética, a

partir de uma ótica interdisciplinar, descreve bem a trajetória teórica sobre essa

instituição, tomando como ponto de partida a antropologia cultural em suas três

escolas (evolucionismo, funcionalismo e estruturalismo), explicadas por

Botarelli (2002), a partir do levantamento teórico feito por ele.

Evolucionista=> Dimensão histórica e destruição da crença nas

concepções de família como eternas e com atributos teleológicos.

Funcionalista => ao buscar explicar os fatos sociais por meio de sua

específica função em cada grupo, a família foi elevada à instituição

fundamental e isolada da história. Nessa proposta, a família já nasceria com a

marca da função e da instituição, e sua crise estaria circunscrita ao

funcionamento de um dado sistema.

Estruturalista => afirma-se a supremacia da afinidade como fundamento

das relações de parentesco, e com investigações posteriores, Lévi-Strauss,

descreve como modelo ideal uma família em que os membros são ligados

entre si por:

a) vínculos legais; b) vínculos econômicos, religiosos e outros tipos de deveres e direitos; c) uma precisa rede de direitos e proibições sexuais, e um conjunto variável e diferenciado de sentimentos psicológicos, como o amor, o afeto, o temor, etc. (LÉVI-STRAUSS apud CANEVACCI, 1987, p. 28)

Para estes autores, a crise da família é tomada como expressão de crise

da modernidade:

A família sofre com isso, como qualquer particular que aspira a sua própria emancipação: não haverá emancipação da família se não houver a do todo. (ADORNO e HORKHEIMER,1973, p. 147)

De acordo com Botarelli (2002), esses autores ligam o destino da família

ao contexto social:

É ilusório pensar que se possa realizar uma família de pares e iguais numa sociedade em que a humanidade não é autônoma e na qual os direitos humanos ainda não tenham sido realizados numa medida mais concreta e decisiva do que a atual. (ADORNO; HORKHEIMER, 1973).

Reis (1989), ao aprofundar-se em uma abordagem sócio-histórica,

reafirmou a necessidade de estudar todos os fenômenos que circunscrevem a

família... “(...) é, portanto, impossível entender o grupo familiar sem considerá-

lo dentro da complexa trama social e histórica que o envolve” (REIS, 1989).

Ainda sobre este autor, é importante registrar que ao abordar a trama

social e histórica da família, há três pontos críticos que sempre deveram ser

considerados:

1. Família enquanto estruturação social: Não se trata de fenômeno

biológico e natural, é criada por homens em relação. A mesma assume formas

e funções diferenciadas em lugares e tempos distintos e apresenta

representação socialmente construída, a qual orienta a conduta de

seusmembros.

2. Família e função protetora: um dos aspectos que legitima a

organização familiar é o fato de ser constituída a partir da necessidadematerial

de proteção biológica (comer, vestir, abrigar e repousar).

3. Família e controle ideológico: por ser a família a instituição em que os

indivíduos são educados a reproduzir as suas funções sociais e biológicas, a

família participa do projeto mais amplo da sociedade em que está inserida,

influenciando o padrão de comportamento e todas as outras relações fora do

ambiente familiar.

Então, como mencionado anteriormente, a partir destes levantamentos

se faz pertinente registrar a semelhança da concepção sócio-histórica com a

nossa proposta de uma pesquisa que aborde a socialização, sobretudo ao

notarmos a preocupação com as relações intersubjetivas e os processos de

constituição do sujeito determinados pela vida social e pela história, pois

propõe que o ser humano apenas se constitui enquanto tal a partir de relações

estabelecidas com os demais seres humanos.

É amplamente reconhecida a importância da família no cuidado e no

bem-estar de seus integrantes e essa importância adquire contornos ainda

mais decisivos no caso dos indivíduos mais vulneráveis, como as crianças, os

adolescentes, os idosos e os doentes, razão pela qual tomamos o cuidado de

teorizar a família como um lócus privilegiado de potencialidades para o

acompanhamento do adolescente em cumprimento de medida socioeducativa

em meio aberto.

O direito fundamental à convivência familiar está consagrado nas

normas e instrumentos legislativos. No entanto, a plena efetivação desse direito

coloca problemas de ordem prática a serem enfrentados por todos os

integrantes do “Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente”

que, mais do que nunca, precisam unir esforços e articular ações na busca das

mais variadas soluções, por intermédio da implementação de políticas públicas

que venham a garantir o adequado exercício deste direito em suas diversas

formas, sem jamais perder de vista as regras e princípios que norteiam a

matéria.

A análise cujo foco é a família é o caminho mais coerente, dentro das

expectativas que se construíram ao longo da convivência com o equipamento

que nos recebeu para o estudo endógeno de seus meios, no que tange à

execução da medida socioeducativa e ao acompanhamento das famílias dos

adolescentes atendidos por este SMSE.

Neste contexto pretende-se testar a validade de um modelo que facilite a

visualização deste trajeto diário realizado pelo adolescente e seu núcleo

familiar, de forma que as contribuições do núcleo de onde advém o

adolescente, também possam dar visibilidade para cada etapa e para cada

intervenção dos técnicos ou programa, no qual a medida é executada.

Acreditamos em uma família refratária e, no quadro abaixo, temos um

fluxo explicativo, botarelli (2002) em que esta proposta de visualização está

baseada, nela é tomado como base o processo família comunidade;

comunidade família, dando destaque para as interações do núcleo familiar e

o seu meio de convivência.

Embora o contexto que Botarelli tomou como base de análise tenha sido

o campo afetivo, notamos ser pertinente esta mesma abordagem no que se

refere ao entendimento sobre a responsabilização, no intuito de ilustrar o

quanto o microssistema familiar, que veremos no próximo capítulo, ainda é

conservador quando se trata de eventos intrafamiliares, ou seja, a família tende

a guardar para si os conflitos internos e, na contrapartida, os serviços

disponíveis pelo mesossistema, por não conhecerem a realidade intrafamiliar

deste público, acabam por caminhar em direção oposta:

Fonte: Adalberto Botarelli, Exclusão e sofrimento: o lugar da afetividade em programas de

atendimento às famílias pobres (2002).

Apesar do Sistema de Garantias de Direitos, preconizado pelo ECA, no

qual o adolescente torna-se sujeito de direitos e merecedor de atenção ímpar

diante da condição de encontrar-se em desenvolvimento, lembramos que esta

lei, como se sabe, implica também em uma necessária colaboração e

responsabilização da família e da comunidade (ECA, art. 92) para contribuir

com o seu processo de formação total, pois o intuito é capacitá-lo para a vida

adulta e, especificamente, no que se refere aos adolescentes envolvidos com

delitos, o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE, “(...)

reafirma a diretriz do Estatuto sobre a natureza pedagógica da medida

socioeducativa” e suas consequências.

A importância da convivência familiar e comunitária de acordo com a Lei,

desperta a ideia da inexorável importância para o desenvolvimento do

adolescente que, teoricamente, não pode ser concebido de modo dissociado

de sua família e de todo o seu contexto de vida, cabendo a esta a difícil tarefa

de colaborar para que estes adolescentes sejam capazes de construir a sua

identidade individual e coletiva em contexto que lhe é familiar.

Com isto, nosso foco se volta para a ausência ou invisibilidade do

protagonismo da família em programas de acompanhamento de medidas

socioeducativas, ou seja, não apenas descrever, mas encontrar através das

práticas desenvolvidas e do olhar dos técnicos, de que forma a família tem

participado do processo de ressocialização do adolescente.

Nesta proposta, pretendemos avaliar, a partir da hipótese de que o

espaço nos programas em meio aberto é potencialmente maior para a ação

socioeducativa que a construção do Plano Individual do adolescente, que será

facilitado pela capacidade interativa, que o serviço pode proporcionar a

exemplo da educação, a saúde e, até mesmo, no campo profissionalizante.

O SINASE discorre sobre as atividades que deverão ser desenvolvidas

pelas entidades executoras de medidas socioeducativas em meio aberto e

também estabelece os requisitos a serem cumpridos, no que se refere à

estrutura física e humana das entidades de atendimento.

Portanto, o serviço de medida socioeducativa em meio aberto (MSE)

poderá ser executado por outras entidades, desde que, integrado com os

demais órgãos públicos responsáveis (saúde, educação, assistência social,

lazer e outros) e com o Sistema de Garantia de Diretos (SGD), promova a

inserção dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa na

comunidade e também viabilize a aquisição de seus direitos sociais.

Nestes aspectos o técnico do serviço de medida assume um papel

preponderante e de grande importância para o potencial de desenvolvimento

do adolescente que cumpre medida, com vistas ao reconhecimento do dano

causado e sua responsabilização presente e futura, de modo a pensar a

construção de seu projeto de vida de forma sustentável e duradoura.

Embora Bronfenbrenner não fale em seu construto teórico de temas que

tratem da socioeducação, sua visão sobre os conceitos acerca do

desenvolvimento humano, traz certo conforto em saber que há possibilidades

de se trabalhar de forma a envolver o adolescente e a família a partir de sua

realidade, uma vez que Bronfenbrenner acredita que o modelo bioecológico

explica componentes essenciais das interações no desenvolvimento humano

propondo um maior enfoque na compreensão relacional das dimensões e

propriedades, tanto da própria pessoa, como dos diversos contextos.

Cunha (2012) relata em sua dissertação que a participação ativa da

família e da comunidade na experiência socioeducativa constitui uma das

diretrizes pedagógicas do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

(SINASE), no que se refere ao atendimento do adolescente em conflito com a

lei, bem como estabelece que todas as ações e atividades devem ser

programadas com base na realidade familiar e comunitária dos mesmos, numa

iniciativa conjunta – programa de atendimento, adolescentes e familiares.

Salienta, ainda, que é importante que os programas que ofertam

atendimentos aos adolescentes em conflito com a lei e suas famílias, tenham

um olhar específico. Eles devem olhar a família como um núcleo de

potencialidades e competências capazes de assumir o seu papel de ator

principal, tendo como premissa o Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (SINASE), enquanto sistema integrado que articula as três

esferas importantes para o desenvolvimento e execução dos programas de

cumprimento das medidas socioeducativas sendo elas: o Estado, a

comunidade e a família.

Nesta perspectiva, encontramos a necessidade defendida em nosso

construto, do envolvimento do técnico que acompanha o adolescente no

cumprimento de sua medida com o núcleo familiar de onde este advém, pois é

importante que o adolescente em cumprimento de medida conte com a

oportunidade de estar próximo de sua família, de modo que supere suas

dificuldades durante o período de cumprimento da mesma.

E neste sentido, acreditando que a pessoa faz parte de um “todo maior”,

é que no capítulo que segue abordaremos com mais riqueza de detalhes

questões que possibilitem uma intervenção duradoura e com resultados

positivos no cumprimento da medida socioeducativa aplicada ao adolescente

em conflito com a Lei, no intuito de implementar abordagens contextualizadas,

bem como do aprimoramento dos processos interventivos que possam dar

conta de uma articulação duradoura entre as instituições e a comunidade.

Neste sentido, as teorias de desenvolvimento são as que acabam por

ganhar relevo, possibilitando o reconhecimento de experiências com resultados

positivos.

2.4 A Adolescência em diferentes perspectivas

Para a maior parte dos estudiosos do desenvolvimento humano, a

adolescência é um período de mudanças físicas, cognitivas e sociais e as

indefinições do período revelam o quanto é difícil precisá-la, justamente pelo

fato de não poder restringir as mudanças orgânicas ou hormonais, período em

que o adolescente se baseia, se questiona e adota modelos do comportamento

adulto, conforme dispõe Aberastury (1981).

Há de se ter um cuidado especial ao trazer esta tese abordada no

parágrafo anterior, evitando assim patologizar a adolescência e as

características que a envolvem, focando desta forma uma possibilidade de

compreensão do adolescente em sua totalidade. Cole & Cole (2003) ilustram

que os teóricos modernos da adolescência tentam explicar como os fatores

biológicos, sociais, comportamentais e culturais estão interligados na transição

da infância para a idade adulta, o que reforça uma tese defendida por

Vygotsky, segundo o qual a pesquisa, no seu caso psicológica, nunca deveria

se limitar a uma especulação sofisticada e a modelos laboratoriais divorciados

do mundo real.

Nesse sentido, temos que reconhecer a fusão (mistura) entre a

modernidade e a pós-modernidade, onde assim como a infância, a

adolescência é também compreendida como uma categoria histórica carregada

de significados e significações que estão bem longe de serem essencialistas.

De acordo com Pitombeira (2005), a naturalização da adolescência somente

pode ser compreendida quando inserida na história que a gerou.

Retomemos rapidamente à história para identificarmos elementos que

nos ajudem a pensar e entender melhor o adolescente e a adolescência como

uma fase com características peculiares e únicas, distintas dos outros

momentos desenvolvimentais e, embora diversos autores pensem a

adolescência como idade cronológica, percebe-se que é incontestável o fato de

que não é possível falar de uma homogeneidade entre as linhas históricas e os

termos definidores de tempo quando tecemos reflexões acerca do adolescente

em conflitualidade.

Enfim, para entendermos o adolescente e suas peculiaridades, não é

suficiente apenas colocá-lo em evidência, é necessário encontrar e entender

uma definição válida em todos os momentos de sua história de vida, seu

caráter fisiológico, psíquico e jurídico. A adolescência deve então ser pensada

além da idade cronológica, da puberdade e das transformações acarretadas

pelo fenômeno. Segundo Ozela (2003), é necessário superar as visões

naturalizantes presentes na psicologia e entender a adolescência como um

processo de construção sob condições histórico-culturais específicas.

Neste sentido, se entende que o adolescente envolve uma compreensão

que se fundamenta em uma compreensão processual, esta perspectiva é

importante para que nos permita enfatizarmos as questões sistêmicas a ela

relacionadas a partir do que postula Bronfenbrenner (1943), e que suscita uma

avaliação apropriada do status da estrutura social e exige que sejam levados

em conta o indivíduo e o grupo como unidades orgânicas em desenvolvimento,

o queserá abordado no próximo capítulo em que as questões sistêmicas que

isto envolve poderão ser melhor exploradas.

CAPÍTULO 3

PERSPECTIVA SISTÊMICA NO CAMPO SOCIOEDUCATIVO

3.1 Situação Emblemática

No Capítulo anterior procuramos discutir a inserção do núcleo familiar

no processo de responsabilização inerente à natureza pedagógica das medidas

socioeducativas e procuramos demonstrar que os procedimentos imediatos são

necessários, mas não suficientes.

Este aspecto é determinante para a qualidade da intervenção, pois do

ponto de vista pedagógico, faz-se necessário pensar e prever a sua

continuação, em longo prazo, inclusive ao concluir a execução da medida, já

que na ação efetiva e inclusiva dos técnicos não caberia somente aproximar os

membros de um núcleo familiar por meio de ações coercitivas que o marco

legal impõe, mas ir além e proporcionar condições concretas para que a

estruturação do vínculo de fato aconteça. Não basta atuar isoladamente nas

relações, mas promover a mediação e cooperação em função do contexto em

que se inserem os núcleos familiares.

Desta maneira notamos a necessidade de abordagens contextualizadas,

imediatas e de longo prazo, e os programas de intervenção, e seu

aprimoramento técnico ficam em evidência, pois precisam de referenciais que

lhes permitam intervenções imediatas com o cunho de situar os envolvidos em

relação aos níveis de responsabilização, enquantoas de longo prazo

permitiriam evitar o isolamento e promover instâncias de articulação entre as

instituições e entre os membros da comunidade, a fim de contemplar a

solidariedade e a capacidade de reflexão, e torna-se também necessário prover

as condições materiais para que todas essas abordagens sejam efetivas.

Ao considerarmos a emergência do aprimoramento técnico das práticas

de abordagem adotamos o princípio de que não basta levarmos em

consideraçãoapenas as determinações dos atributos pessoais e sociais dos

envolvidos, pois isto dificultaria expectativas de mudança, com possibilidade de

redirecionamento de seus papéis sociais.

É necessário habilitar-se para que a abordagem permita romper o ciclo

de envolvimento com o ato cometido a que o núcleo familiar encontra-se

submetido ao ser atendido em um posto de LA. Quanto a este envolvimento é

necessário questionar atuações que têm como foco o comportamento e a

linearidade da causa e efeito, que seriam insuficientes para compreender os

fatores a eles relacionados.

É neste sentido que as teorias de desenvolvimento ganham relevo como

possibilidade de reconhecimento de experiências que seriam marcantes do

ponto de vista negativo ou positivo para que o envolvimento com atos

infracionais permaneça ou venha a ser superado.

Como este processo de desenvolvimento é complexo, ao envolverem-se

na elaboração do PIA, os técnicos precisam estar aptos para levarem em

consideração os vários níveis de ambientes interligados entre si para

apreender o processo a ele relacionado.

É por isto que a visão sistêmica de Bronfenbrenner nos chamou a

atenção, a despeito deste autor não tratar da adolescência diretamente em seu

construto teórico, pois aborda o desenvolvimento humano de modo geral,

sendo que o princípio da sua visão sistêmica consiste na compreensão do todo

a partir de uma análise global das partes:

O desenvolvimento social não se aplica somente ao indivíduo, mas também à organização social da qual ele faz parte(BRONFENBRENNER, 1943).

Segundo Bronfenbrenner (1943), variações ocorrem não somente no

status social de determinada pessoa dentro de um grupo, mas também na

estrutura de seu grupo, ou seja, na frequência, intensidade, ritmo e base de

inter-relações que mantêm o grupo coeso, mas distinto dos demais. Pensando

nesta premissa reafirmamos a necessidade da individualidade no processo de

acompanhamento de adolescentes em conflito com a Lei, pois a

homogeneidade pode bloquear a possibilidade de uma leitura da díade de

determinado adolescente.

Quando nos referimos a esta necessária rejeição da homogeneidade, é

justamente para que no exercício do acompanhamento da medida bem como a

elaboração do PIA do adolescente, o técnico de referência não corra o risco de

fazer desta construção um “copia e cola” dado o habitus6 adquirido na

repetição de histórias que se assemelham.

O autor ainda se refere ao status da estrutura social como propriedades

interdependentes, mas a devida atenção deve ser dada a estas duas variáveis,

para que o processo de desenvolvimento social seja compreendido.

Bronfenbrenner (1943).

3.2 Bronfenbrenner e a Ecologia do Desenvolvimento Humano

Bronfenbrenner, notável pesquisador que ficou celebre pelo esforço em

oferecer novas perspectivas teórico para a pesquisa sobre o desenvolvimento

humano, trabalhou com várias pesquisas transculturais realizadas na Europa

Ocidental e Oriental, na URSS, Israel, República Nacional da China e em

outros países e durante muitos anos tentou modificar, desenvolver e

implementar políticas, que pudessem influenciar a vida das crianças e de suas

famílias.

No estudo do comportamento humano parece que há uma

homogeneidade em defesa de que o desenvolvimento humano é um produto

da interação entre o organismo e seu meio ambiente, mas para Bronfenbrenner

as teorias enfatizam a qualidade das pessoas e negligenciam o ambiente, que

geralmente surge apenas como atributo e não como elemento de estudo. Além

de que as teorias sobre processos interpessoais seriam um grande avanço.

6"O conceito de prática em Bourdieu e a pesquisa em educação. Em 1972, Pierre Bourdieu, no

seu Esquisse d’une Theorie de la Pratique, dizia-nos que o habitus não seria o único princípio de explicação da prática"(Telmo Humberto Lapa, 1980).

Ecologia humana seria construir o contexto adequado tanto no nível da

teoria, como no trabalho empírico, para poder fazer convergências entre

abordagens naturalísticas e experimentais. A questão envolve metodologia e a

solução que ele nos propõe é superar a dicotomia entre os métodos naturais e

os experimentos controlados em laboratório.

Para Bonfrenbrenner o ambiente também exerce influência no

desenvolvimento da pessoa, sendo este um processo de mútua interação e a

pessoa em desenvolvimento constante molda-se, muda e recria o meio no qual

se encontra.

Trata-se de dimensõespor ele concebida como uma série de estruturas

encaixadas em que cada peça contém ou está contida na outra e tais níveis

estruturais compõe uma ecologia humana composta por sistemas que são: o

microssistema, o mesossistema, exossistema e o macrossistema, ambientes

que não estão numa distância maior ou menor da pessoa, não são mais ou

menos relevantes na vida do indivíduo como ilustra figura abaixo:

A abordagem ecológica de Urie Bronfenbrenner em estudos com

famíliasFonte: [http://www.slideshare.net/npedro/teoria-ecolgica-desenvolvimento-

humano-brofenbrenner].

Nesta perspectiva sistêmica, Bronfenbrenner reconhece a relevância dos

fatores biológicos e genéticos no desenvolvimento e faz uso de uma

metodologia que se constrói com forte bases no PPCT – Pessoa, Processo,

Contexto e Tempo, onde a definição de papéis, as expectativas e o próprio

conceito de papel, assum em grande importância no desenvolvimento humano

e não se referem apenas ao conteúdo, mas também a relação entre as partes

envolvidas.

3.3 Contextualização Histórica da Adolescência e Apontamentos

sobre a Adolescência e a Conflitualidade

Historicamente encontraremos respaldo para iniciarmos a reflexão sobre

a adolescência no legado de Ariès (1978) que afirmou então, ser a infância

uma invenção da sociedade o que, na verdade, em suas palavras traduz-se no

fato de que as condições socioculturais, antigamente desenhavam

(estipulavam) o que seria a infância (ainda não se falava na idade intermediaria

que precedia a idade adulta) sendo assim, um erro querermos fazer uma

análise de todas as infâncias a partir de um mesmo referencial.

Para Áries (1978), somente após a implantação do sentimento da

infância, no século XIX, tornou-se possível a emergência da adolescência

como uma fase com características peculiares e únicas, tal qual a que

abordamos atualmente e distinta de outros momentos desenvolvementais.

Para Calligaris (2000) a adolescência não é separada da infância, elas são

compreendidas como categorias construídas historicamente, tendo nesse

sentido uma multiplicidade de emergências que corrobora com os paradigmas

da modernidade e pós-modernidade.

Nesse sentido, não se pode compreender a adolescência simplesmente

pondo-a em evidência, há a necessidade de buscar não uma definição válida

para todos os momentos históricos, mas sim compreender o fenômeno da

adolescência a partir da sua historicidade, entendendo que cada adolescente

traz na construção de sua identidade, toda uma bagagem histórica, ainda que

pouca, carregada de subjetividades que deverão compor a sua história de vida,

estas bagagens indiscutivelmente reflete um aprendizado adquirido no seu

próprio meio desde o seu nascimento.

A compreensão da adolescência é, sem dúvida, permeada pela ideia

popular (senso comum) de “aborrescência, rebeldia e atrevimento”, e de um

modo geral, existe sim, a compreensão de que enquanto a infância é

relacionada ao “melhor tempo da vida”, a adolescência se configura como um

momento em que, naturalmente, o indivíduo torna-se alguém muito chato e

difícil de lidar, nos remetendo a ideia de que o adolescente vive em seu mundo

interior uma fase de “tempestade e tormenta” o que os leva teoricamente ao

desvio do que se espera do indivíduo socializado e diante deste pensamento,

não é possível deixar de trazer à reflexão os esforços inconfundíveis de Becker

(1960) ao tratar o desvio a partir da perspectiva sociológica, traduzindo o

desvio como um comportamento que contraria o esperado por um determinado

grupo social.

Historicamente, entender a adolescência, segundo Ozella (2003) é

entendê-la como um processo de construção sob condições histórico-culturais

específicas, ou seja, pensar que a adolescência deve ser vista e compreendida

como uma categoria construída socialmente, a partir das necessidades sociais

e econômicas dos grupos sociais que lhe constituem como pessoas e sob uma

perspectiva pós-moderna.

É possível dizer que o conhecimento se constrói nas contingências

demandadas da sociedade e isso significa pensar que todos nós estamos

engajados na construção de significados ao invés de estarmos engajados na

descoberta das verdades, compreendidas somente como uma

correspondência, uma representação enquanto a modernidade nos apresenta

os saberes como sendo produzidos a partir de discursos dominantes ao longo

do tempo, localizados nos limites do projeto do que se denomina modernidade

e por nós incorporados passando a fazer parte deste panorama [adolescência]

em destaque e trazendo influências sobre a compreensão teórica acerca desse

grupo etário.

Heywood (2004), ao contrário da visão simplista de Ariès, mostra no seu

trabalho que já no século XII, estudos apontam que havia indícios de um

investimento social e psicológico nas crianças e que condição básica que

favoreceu a “inauguração” da adolescência ocidental do século XX foi,

principalmente, a possibilidade de usar da ajuda financeira dos jovens que

passaram a dedicar maior tempo à formação profissional, segundo Schimidt

(1996).

A virada para o século XX traz consigo a invenção de uma adolescência

representada como uma fase carregada de transformações nas quais o

movimento das décadas 60 (hippie), 70 e 80 (movimentos juvenis), entre

outros, contribuíram para formar um discurso sobre o que é ser adolescente,

Abramo (1994).

Embora no Brasil o cuidado com a infância parece realmente ter

começado no século XIX intensificando-se nos séculos seguintes, Fontes

(2005), no século XVI já se discutia as condições de vida das crianças

europeias trazidas para o Brasil ou até mesmo quando se abordava o cotidiano

das crianças livres ou escravas no Brasil Colônia e Império Brasileiro. É no

Brasil colônia que surge um termo que conceituará a criança desvalida e a

partir de então: menor (crianças e adolescentes pobres, pertencentes às

famílias com estrutura diferente da convencional), utilizado para designar faixa

etária associada, pelo código de menor de 1927.

Neste estudo, não temos condição de esgotar o tema da conflitualidade,

por isso optamos pelo recorte de alguns apontamentos específicos que a nosso

ver seriam apropriados para uma compreensão sistêmica no que se refere à

adolescência e o ato infracional. Neste caso nos interessa especialmente a

relação entre estes eventos enquanto construção social e reflexo de uma

sociedade em constante mudança. Segundo Cirino (1984) o conceito de

adolescente em conflito com a Lei parece indicar uma qualidade do sujeito,

como traço ou característica pessoal que diferenciaria o adolescente infrator ou

desviantes do “adolescente normal” embora saibamos que a qualidade infrator

não constitui propriedade intrínseca de adolescentes específicos, mas rótulo

atribuído pelo sistema, caso contrário determinado indivíduo, já traria em sua

genética, indícios de sua tendência ao desvio.

Diante deste fato é inegável não voltarmos a nossa reflexão às

contribuições sociológicas que os estudos de Becker (1960) trouxeram ao falar

sobe a sociologia do desvio, outsiders, onde o comportamento classificado

como desviante traduz-se em um comportamento que foge ao que se é

esperado por um determinado grupo social.

O ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 103

discorre sobre o ato infracional a que fazemos alusão como sendo: “Ato

infracional, a conduta descrita como crime ou contravenção penal” e ratifica sua

descrição no artigo 104 que trata da inimputabilidade daqueles cujo a idade

não tenha atingido ainda os 18 anos (maioridade penal) e o princípio de

brevidade, artigo 106, nenhum adolescente deverá ser privado de sua

liberdade senão em flagrante ou por ordem escrita devidamente fundamentada

pela autoridade judiciária competente.

Esta leitura correlaciona-se com o SINASE – Sistema Nacional de

Atendimento Socioeducativo para a regulamentação das medidas em meio

aberto, destinadas aos adolescentes que pratiquem o ato infracional,

entendendo por medidas socioeducativas aquelas previstas no artigo 112 da

Lei nº. 8.069 de 13 de julho de 1.990 (Estatuto da Criança e do Adolescente),

no intuito de promover, por conseguinte, a responsabilização por parte do

adolescente, a sua integração social e a desaprovação de sua conduta

infracional. Acrescentamos aqui que é de extrema relevância lançar mão das

medidas alternativas previstas na Lei, que possam substituir a medida de

internação, tomando esta última como excepcionalidade.

A compreensão das mencionadas Leis somadas à tese da construção

social do comportamento desviante para entender o adolescente em

conflitualidade e o universo que o permeia é ainda mais importante que o

conceito de normalidade do desvio na adolescência explorada por muitos

acadêmicos, se pensarmos o crime como fenômeno social e a criminalização

do adolescente como fenômeno de minoria Cirino (1984).

Salientamos que somente o adolescente (pessoa com idade entre 12 e

18 anos de idade) é passível de cometer o ato infracional entendido como

transgressão das normas estabelecidas que em face de sua peculiaridade não

possa ser caracterizada enquanto crime. Ainda que o adolescente se encontre

sujeitos a todas as consequências dos seus atos não é passível de

responsabilização penal cabendo-lhe, nesses casos, medidas socioeducativas

conforme SINASE 2012, cujo objetivo é a tentativa da reinserção social, de

fortalecimentos dos vínculos familiares e comunitários.

Com o respaldo do SINASE, acreditamos que as ações cujo objetivo é o

de produzir novos padrões de socialização e, portanto novos processos de

subjetivação para o adolescente e suas complexas conflitualidades, deverão

pautar-se pelo entrelaçamento das diversas áreas do conhecimento além de

ações que efetivamente reflitam a perspectiva socializadora da medida

socioeducativa.

A construção de um Plano Individual de Atendimento (PIA) para o

adolescente levará em conta, necessariamente, todo o contexto que as

condições sociais oferecem, traçando uma linha histórica da própria existência

do adolescente envolvido, buscando o necessário envolvimento familiar e

comunitário nas perspectivas de um projeto de vida que possa privilegiar os

direitos humanos do adolescente, enquanto cidadão dotado de possibilidades e

potencialidades.

3.4 Brofenbrenner e o Campo Socioeducativo

Na definição do teórico, a ecologia do desenvolvimento humano envolve

o estudo científico da acomodação progressiva, mútua, entre um ser humano

ativo, em desenvolvimento, e as propriedades mutantes dos ambientes

imediatos em que a pessoa em desenvolvimento vive, conforme esse processo

é afetado pelas relações entre esse ambiente, e pelos contextos mais amplos

em que os ambientes estão inseridos.

(...) os conjuntos de processos através dos quais as particularidades da pessoa e do ambiente interagem para produzir constância e mudança nas características dela no curso de sua vida(BRONFREBENNER, 2001).

É inegável o fato da existência de um considerável número de pesquisas

que tratam do tema família e em especial no Brasil, porém, há uma escassez

considerável quando se trata de falar sobre o núcleo familiar de modo a tratar

das questões pertinentes ao adolescente em conflito com a Lei de forma que

nos propomos diante desta premissa, trazer para as análises que constituem

esta dissertação, um olhar embasado na teoria bioecológica de Urie

Bronfenbrenner.

Bronfenbenner, não deixou em seu legado nenhum estudo que trate

exclusivamente do tema “família”, tão pouco sobre as questões de

conflitualidade juvenil, traduzidos neste estudo em adolescentes, mas

cuidadosamente tratou do desenvolvimento humano, colocando o indivíduo em

uma posição articuladora na qual ele é apresentado como parte e processo ao

mesmo tempo, ou seja, o indivíduo como eixo estruturante de seu

desenvolvimento.

Bronfenbrenner formulou sua teoria de desenvolvimento, publicada no

final da década de 70, expondo ao campo científico importante premissas para

o desenvolvimento de pesquisas em ambientes em ambientes naturais.

Considerando a possibilidade de fazer intervenções na realidade do

adolescente em conflito com a Lei e seu núcleo familiar, tomamos para

analises no campo socioeducativo o princípio diádico que Bronfenbrenner

caracteriza em seus estudos como momento privilegiado de observação capaz

de intervir sempre que achar conveniente. Os encontros diádicos, enfrentados

pelo indivíduo enquanto sujeito, traduz uma característica capaz de mostrar a

partir de uma observação detalhada de que forma se deu determinada situação

e o seu resultado.

Para Bronfenbrenner, ao estudar sobre o comportamento humano, as

investigações sobre o desenvolvimento “fora do contexto”, focalizavam

somente, a pessoa dentro de um ambiente restrito e estático, sem a devida

consideração das múltiplas influências dos contextos em que os sujeitos

viviam. Bronfenbrenner (1977) e esta sua inquietação transcende o marco

cronológico para encontrarmos em sua teoria insumos que nos permitam o

estudo de possibilidades no que tange a abordagem do núcleo familiar no

processo de execução da medida socioeducativa.

Ao trazer o modelo bioecológico, Bronfenbrenner nos permite através do

que em seu construto teórico, chamou de “processos proximais” entender as

questões pertinentes a família do adolescente que está em cumprimento de

medida socioeducativa, bem como as relações que existem no meio

intrafamiliar e fora dele, entendendo o núcleo familiar propriamente dito como

microssistema defendido na teoria de Bronfenbrenner.

Bronfenbrenner apresentou seu pensamento acerca da Teoria

Bioecológica descrevendo suas ideias precursoras propondo novos

delineamentos de pesquisa destinados à complexidade inerente a ela. O

modelo bioecológico é uma evolução do sistema teórico para estudo cientifico

do desenvolvimento humano ao longo do tempo definido como fenômeno de

continuidade e de mudança nas características biopsicológicas dos seres

humanos como indivíduos e grupos.

Estas referências nos permitirão estudar os processos familiares e

comunitários lançando mão do Modelo Bioecológico, onde o desenvolvimento

do indivíduo é definido como fenômeno de continuidade e de mudança

biopsicológica dos seres humanos e seus grupos, pois qualquer contexto para

o desenvolvimento humano inclui não apenas suas condições objetivas, mas

também a maneira na quais essas são experienciadas subjetivamente pelas

pessoas que vivem neste ambiente, Bronfenbrenner (1979).

Segundo Bronfenbrenner, a energia que movimenta os processos

proximais e que por consequente funciona como força motriz do

desenvolvimento humano vem de fontes muito mais profundas e que estão

situadas principalmente dentro do microssistema e que se traduz para nossa

leitura em família, motivo pelo qual elegemos o núcleo familiar como lócus

privilegiado de estudo e pesquisa acerca do adolescente em conflito com a Lei.

O processo de desenvolvimento do indivíduo se dá a partir de sua

interação com o ambiente, desta forma, tanto o indivíduo afeta e influencia o

meio como é influenciado e afetado constantemente por ele, num processo de

troca sistêmica contínua.

Diante de tal premissa posta por Bronfenbrenner, a ideia de localizar o

adolescente e sua família numa perspectiva cartográfica dá maior clareza ao

fato de colocarmos a família como núcleo potencializador para o sucesso da

ressignificação de valores e o êxito da não reincidência do adolescente em

conflitualidade, entendendo que o método permitirá a visualização do

adolescente e sua família interagindo com o grupo (comunidade) onde vive.

Se na nossa proposta de intervenção elegemos a família como mola

propulsora para os processos desenvolvimentais pelos quais o adolescente

passa durante sua busca de identidade na construção do “eu”, esclareceremos

para nosso estimado leitor que a necessidade de explicitar os processos

proximais bem como o modelo processo-pessoa-contexto defendidos por

Bronfenbrenner se faz necessário para que se compreenda a importância da

análise diádica que propomos no acompanhamento da medida socioeducativa.

Anteriormente ao falarmos da díade da família, falávamos da interação

da família e a comunidade onde está inserida bem com a dinâmica de

interação desta no seu cotidiano e necessidades. A nossa proposta agora é

adentrar como mais riqueza de detalhes nesse fenômeno descoberto e deixado

por Bronfenbrenner em sua teoria bioecológica do desenvolvimento humano

que é a díade.

Bronfenbrenner tratou deste núcleo, família, remetendo-se a ele como

microssistema, ou seja, ao falar do microssistema, referiu-se á um padrão de

atividades, papéis e relações interpessoais experienciados pela pessoa em

desenvolvimento num dado ambiente com características físicas e materiais

específicos, ou seja, um ambiente ou local onde o individuo possa estabelecer

interações face a face, motivo pelo qual caracterizamos a família como

microssistema, embora não seja ela somente que compõe este meio, há

outros, a exemplo da escola, creche e outros a depender do meio de

convivência de cada um.

Fica evidente que Bronfenbrenner aponta elementos em sua definição

de que o microssistema é possuidor de elementos que inevitavelmente

influenciará o desenvolvimento de seus membros a partir da relação

estabelecida entre determinado indivíduo em desenvolvimento e seus pares.

Esta característica é muito comumente encontrada, ou melhor, observada

entre os adolescentes e seus iguais, reforçando a importância da existência de

uma relação bidirecional entre duas pessoas, que caracteriza ou estabelece

condições mínimas para uma díade.

Anteriormente havíamos mencionado sobre a díade e informamos que

de acordo com o nosso teórico, esta seria uma unidade básica de análise, ou

seja, a estrutura mais simples e, consequentemente, como o contexto mais

imediato do desenvolvimento humano.

Segundo Bronfenbrenner (1996), a díade pode configura-se em uma

díade observacional ou “uma díade de atividade conjunta e esclarece que uma

díade de atividade conjunta apresenta condições especialmente favoráveis

para aumentar a motivação na busca e aperfeiçoamento da atividade quando

os participantes não mais estão juntos”.

Sendo o nosso objeto final de estudo, o adolescente que cumpre medida

socioeducativa em meio aberto e o importante papel de sua família com vistas

a encontrar subsídios tangentes às boas práticas, devemos trazer uma das

mais expressivas contribuições da abordagem teórica a que nos respaldamos

refere-se às propriedades atribuídas ao potencial de desenvolvimento da díade

e no nosso caso especificamente a díade de atividade conjunta, são três

características essenciais: reciprocidade, equilíbrio de poder e relação afetiva.

Reciprocidade A maneira como os participantes interagem entre si,

como um influencia no desenvolvimento do outro, pois quando um membro de

uma díade sofre um processo de desenvolvimento, o outro também o sofrerá.

Neste sentido é que apostamos na proximidade da família ao programa

responsável pela aplicação da medida, como potencializadora junto as

intervenções que visem a responsabilização presente e futura por parte do

adolescente frente ao delito por ele cometido.

Vale ressaltar que de acordo com Bronfenbrenner, em uma relação

diádica pode ocorrer de um membro ser mais influente que o outro, porém a

ideia de reciprocidade sempre fará sugestões para a igualdade de poder.

Equilíbrio de Poder Consiste em alternância de influência entre os

membros participantes da díade, vale aqui ressaltar que a díade será sempre

entre dois indivíduos e que dentro da proposta de alternância pode se constatar

a existência de um equilíbrio de poder. E Bronfenbrenner (1996), enfatiza que

há evidências sugerindo que a situação ótima para aprendizagem e o

desenvolvimento é aquela em que o equilíbrio do poder gradualmente se altera

em favor da pessoa em desenvolvimento, em outras palavras, quando esta

última recebe uma crescente oportunidade de exercer controle sobre a

situação.

Relações Afetivas Sentimentos diferenciados e duráveis entre os

membros de uma interação diádica. Para que este processo ocorra tais

relações de afetividade devem ser positivas e genuínas onde o antagonismo

mútuo, os sentimentos de raiva, rejeição e outras emoções percebidas como

negativas poderão ser prejudiciais e consequentemente comprometer os

processos de ensino-aprendizagem.

Como o estudo tratou de observar as atividades socioeducativas em

meio aberto dando ênfase maior ao envolvimento por parte da família neste

processo, sabendo que Bronfenbrenner não trata deste tema em seu construto

é importante associar sua teoria desenvolvimentista do tema mencionado de

forma didática e cautelar, e neste sentido trazemos mais uma vez a

característica principal de nosso estudo que é a díade, para ressaltar que a sua

capacidade de servir como um contexto efetivo para o desenvolvimento

humano vai depender fortemente da presença de uma terceira participação, a

exemplo das medidas socioeducativas onde o técnico media as situações que

culminam com a efetivação da medida em si.

Neste sentido de observação da díade do adolescente e da família deste

adolescente, lembramos que o técnico, aqui designado a terceira pessoa deste

processo diádico, deve sem nenhuma sombra de dúvida trazer para sua

observação o contexto de onde emerge este adolescente.

Segundo Bronfenbrenner, “o desenvolvimento humano ocorre no

contexto de um crescente jogo de pingue-pongue psicológico entre duas

pessoas que são loucas uma pela outra”, e reforça que de preferência, deve

haver uma participação/interação de muitos adultos entre si e neste caso em se

tratando de medida socioeducativa, com o adolescente em questão.

Bronfenbrenner prossegue falando sobre o microssistema, no nosso

caso especificamente a família do adolescente que neste construto,

defendemos como forte potencializadora da díade do adolescente, que além

das atividades e interações diádicas, estão também os diversos papéis que são

experienciados pelo adolescente no decorrer de sua pueridade, onde o papel é

visto como um conjunto de atividades e relações esperadas de alguém que

ocupa uma determinada posição na sociedade, assim como outros em relação

a esta pessoa, Bonfenbrenner (1996).

Como o papel da medida socioeducativa na vida do adolescente tem por

finalidade maior a responsabilização consciente do ato cometido, não é de

forma alguma obsoleto trazer o conceito que Bronfenbrenner deixou ao

considerar que os papéis são elementos críticos do microssistema, na medida

em que estimulam e influenciam o processo de desenvolvimento e

aprendizagem.

Uma coisa que tem que ficar muito clara ao nosso caro leitor é que

estamos tratando neste construto, do papel fundamental que a família tem

como potencializadora no processo de cumprimento de medidas

socioeducativas de adolescentes em conflito com a Lei, portanto, ao trazer as

contribuições da teoria bioecológica para nossa realidade socioeducativa, é

natural que tratemos todos os aspectos do que foi teorizado por

Bronfenbrenner em suas considerações acerca do desenvolvimento humano a

partir de uma visão sistêmica.

Como nossa crença maior é a de que o meio é o que mais contribuirá

para o sucesso da medida socioeducativa cumprida pelo adolescente em

conflitualidade, se faz necessário dar continuidade a uma breve elucidação do

que é a mencionada teoria sistêmica da bioecologia. Se até o momento

tratamos tão somente do microssistema, até mesmo por ser ele nossa mola

propulsora, trataremos na sequência do que propicia o desenvolvimento do

individuo num todo de acordo com a tese de que o desenvolvimento humano

se dá por completo a partir do PPCT – Pessoa Processo Contexto Tempo,

defendido por Bronfenbrenner.

De acordo com Bronfenbrenner, um segundo nível desta cadeia

desenvolvimentista é o mesossitema que tem a ver com as interrelações entre

os contextos em que o indivíduo participa, tais como a interrelação da família

com a escola e a igreja, por exemplo, que são os mesmos conceitos-chave

apresentado no microssistema, ou seja, as atividades molares, as estruturas

interpessoais e os papéis. As forças do mesossistema são originadas nas inter-

relações de dois ou mais ambientes.

Segundo Bronfenbrenner, para que exista o mesossistema, é necessário

que haja, pelo menos, uma interconexão, ou seja, a pessoa em

desenvolvimento deverá fazer parte de dois ambientes diferentes. No campo

da socioeducação podemos ver esta relação mencionada nos processos de

envolvimento do núcleo familiar de onde oriunda o adolescente que cometeu o

ato delituoso e os recursos estatais a sua disposição, bem como a comunidade

onde estão localizados.

Outros conceitos referem-se aos elos de vinculação entre os

microssistemas, por exemplo, um mesmo individuo envolvido em mais de um

ambiente como é o caso muitas vezes do adolescente que está em busca de

sua identidade e para isso tem a necessidade de se parear a outros grupos

distintos do seu microssistema de origem formando laços primários, laços

secundários ou laços indiretos o que é considerado na visão sistêmica como

uma ligação intermediária.

Na teoria bioecológica de Bronfenbrenner, defende-se que para efeitos

do desenvolvimento humano, pressupõe-se que os ambientes

microssistêmicos que compõe mesossistema devam se comunicar, ou seja,

toda informação deve impreterivelmente ser partilhada. A partir deste

pressuposto é que em nosso construto defendemos a construção de um

instrumental que seja suficientemente capaz de registrar esta comunicação, ou

seja, esta interação dos ambientes pelo qual o adolescente transita com a

finalidade de extrair dos mesmos os diversos potenciais diádicos que

contribuirão para com o sucesso da medida socioeducativa.

Apostamos que o sucesso da medida socioeducativa, dar-se-á em

função no número de diferentes contextos nos quais o adolescente tenha

oportunidade de participar, bem como a qualidade potencializadora que sua

família possa dedicar-lhe como sendo uma díade primária no processo de

cumprimento da medida socioeducativa.

No terceiro contexto de acompanhamento do adolescente em

conflitualidade, encontraremos de acordo com a visão bioecológica, o

exossistema que se traduz um ou mais ambiente que não envolve o

adolescente como participante ativo. Há eventos que afetam ou são afetados

pelo adolescente de forma indireta como, por exemplo, o trabalho dos pais ou o

círculo de amigos do irmão mais velho, razão pela qual ao falarmos da família

deste adolescente, a colocamos de forma refratária e conservadora.

Quando falamos desta família refratária e conservadora é para ilustrar o

fato de que na maioria das vezes, este microssistema guarda para si os

eventos que envolvem seu adolescente autor de delitos, talvez para evitar a

“exposição” ou ainda por não ter mesmo conhecimento suficiente para inserção

na rede social de que dispõe.

No quarto nível estrutural, já que estamos falando das questões

sistêmicas do desenvolvimento do adolescente em conflitualidade, podemos

falar do macrossistema, que se refere à consistência observada dentro de uma

dada cultura ou subcultura na forma de conteúdo de seu micro, meso e

exossistema, constituindo assim como em qualquer outro sistema de crença ou

ideologia subjacente a estas consciências.

3.5 Bronfenbrenner e os modelos e práticas da socioeducação

As menções sobre a relação e a participação da família na proteção

social é um debate antigo e tem ganhado força na atualidade. É comum hoje

em algumas áreas da política pública ter a família como foco estruturante, no

qual ela assume uma centralidade, mas, no entanto há sempre que se

examinar o modo como essa família tem garantido o seus direitos ou

desempenhado o seu papel como grupo primário de proteção social dos seus

pares, sobretudo, quais são as dinâmicas internas e externas ou quais são os

meios que essa família encontra para desempenhar este papel.

Sobre o risco de que se a gente não fizer uma análise endógena e

exógena também, podemos partir para culpabilização da família, ou seja,horas

ela é a culpada, horas recebe o rótulo de família desestruturada ou no jargão

popular, “só podia dar nisso”, enfim, o modo como muitas vezes não só o

senso comum, mas o próprio operador do sistema de justiça coloca,

culminando na marginalização do adolescente em função da sua família.

Trouxemos estas admoestações na intenção de trazer a teoria

Bronfenbrenniana para nosso construto, uma vez que para o autor, o poder

público é um braço importantíssimo no desenvolvimento do indivíduo e sendo

assim, analisar o envolvimento e a participação da família na gestão pública, no

que tange a seu papel protetivo e protetor diante da realidade em que os

Serviços de Atendimento de Medida Socioeducativa recebem seus

adolescentes, bem como as suas dinâmicas internas e externas diante da

realidade posta, traduz uma relevância impar na visão sistêmica abordada pela

teoria de Bronfenbrenner.

No campo das ciências humanas segundo Simionato e Oliveira(2003), a

família tem se constituído objeto de pesquisa por inúmeras áreas, a exemplo

da antropologia, a sociologia e com merecido destaque especificamente neste

contexto em que estamos trabalhando, a psicologia, uma vez que pautamos

nosso embasamento teórico na própria, ousando trazer Bronfenbrenner para a

prática do trabalho com adolescentes em conflito com a Lei, envolvendo seu

núcleo familiar que Bronfenbrenner, chamou na construção de sua teoria

bioecológica de microssistema.

Para aproximarmos nosso objeto de Bronfenbrenner, ressaltamos que

em seu modelo bioecológico, a representatividade está embasada em quatro

aspectos multidirecionais inter-relacionados, o que é designado modelo PPCT:

“pessoa, processo, contexto e tempo”.

Quando Bronfenbrenner fala de pessoa ele refere-se ao fenômeno de

constâncias e mudanças na vida do ser humano em desenvolvimento no

decorrer da sua existência. Enquanto processo ele trata como ligações entre

diferentes níveis, constituídos pelos papéis e atividades diárias da pessoa em

desenvolvimento, no qual para que o desenvolvimento ocorra é preciso

participação ativa em interações progressivamente mais complexas, recíproca

com o outro e com o meio imediato a que está inserido.

No que diz respeito ao contexto de desenvolvimento, o autor se refere

ao meio ambiente de uma forma global no qual o indivíduo está inserido e no

qual ele se relaciona classificado por Bronfenbrenner como micro, meso, exo e

macrosistemas e que adiante detalharemos.

Ao tratar do fator tempo, Bronfenbrenner fala do entendimento deste

como o desenvolvimento no sentido de historicidade, ou seja, como ocorreram

as mudanças nos eventos no decorrer dos tempos devido os fatores externos

que tendem pressionar a pessoa em desenvolvimento.

Embora Bronfenbrenner, quanto ao desenvolvimento, enfatizasse as

questões do conteúdo ao contrário dos modelos tradicionais, ou seja, sua

ênfase é o conteúdo destes processos como é o que é percebido pela pessoa,

recentemente, Bronfenbrenner e Morris (1998) revisaram e complementaram,

definindo como desenvolvimento “o processo que se refere à estabilidade e

mudanças nas características biopsicológicas dos seres humanos”.

Bronfenbrenner dá destaque ao grande mérito das relações entre

pessoas e estabelece estas relações como condição mínima para a formação

de uma díade, razão pela qual estamos elegendo este autor como

embasamento teórico para pesquisa que foca as relações as quais estão

envolvidas o adolescente em conflito com a Lei que é o objeto maior de análise

neste momento.

Neste construto teórico que pretendemos tratar das relações de

envolvimento da família enquanto núcleo potencializador para o sucesso da

medida socioeducativa, daremos uma ênfase muito especial as questões da

díade do adolescente e o meio por onde ele se movimenta, pois, se a intenção

maior é a questão da visibilidade, trazer aos olhos deste leitor o conceito de

díade e sua importância no desenvolvimento humano, sobretudo nas relações

onde o adolescente é protagonista é de extrema relevância.

Brofenbrenner (1996) ressalta que o mais importante para se dar início a

formação de uma díade é que quando um dos membros do par passa por um

processo de desenvolvimento, automaticamente estará contribuindo para a

ocorrência do mesmo processo no outro, ou seja, para ele “uma díade é

formada sempre que dois indivíduos observam as atividades um do outro ou

delas participam”.

A teoria diz que uma díade por si só já tem uma importância

incontestável enquanto elemento que favorece o desenvolvimento humano,

podendo contribuir como fator gerador para a formação de outras estruturas

interpessoal maiores dependendo de sua potencialidade.

Por ser o nosso foco de estudo as medidas socioeducativas que tem

como meta a responsabilização presente e futura do ato cometido por parte do

adolescente que cumpre a medida, daremos relevo de destaque a díade

observacional para que consigamos visualizar de que forma acontece a díade

do adolescente e seus pares, bem como familiares e operadores que o

acompanham. Pretendemos com isto medir em que conta se dá dentro das

situações díadicas observada, as questões de reciprocidade, de afetividade e

de equilíbrio de poder, que constituem a díade em sua essência.

Um dos conceitos que dentro da díade, Bronfenbrenner e Morris (1998)

em sua revisão vai nos apresentar é a importância do conceito de processos

proximais, ressaltando que a análise das relações de reciprocidade entre

pessoas da família e suas crianças deve considerar os processos proximais,

neste caso fazendo referência ao nosso objeto de pesquisa, o adolescente no

seu meio de convivência.

No modelo bioecológico, o conceito de processos proximais tem um

significado especifico. Segundo Bronfenbrenner (1999), para que estes

processos ocorram, a pessoa tem que se ocupar de uma atividade de

desenvolvimento e para ser efetiva esta atividade tem que acontecer em uma

base bastante regular por um longo período de tempo, envolvendo mais de

uma pessoa e devendo haver algum grau de reciprocidade entre elas.

A pessoa em desenvolvimento molda-se, muda e recria o meio no qual

se encontra. O ambiente também exerce influência no desenvolvimento da

pessoa, sendo este um processo de mútua interação, Bronfenbrenner (1996).

Bronfenbrenner concebe o ambiente ecológico como uma série de estruturas

encaixadas, em que cada peça contém ou está contida noutra. Tais

representações têm como objetivo explicar os níveis estruturais do mapa

ecológico, anteriormente mencionados que são: o microssistema, o

mesossistema, o exossistema e o macrossistema.

O microssistema, segundo definição de Bronfenbrenner, “é um padrão

de atividades, papéis e relações interpessoais experiênciadas pela pessoa em

desenvolvimento num dado ambiente com características físicas e matérias

especificas e que em nosso conceito estruturante, definimos como sendo o

núcleo familiar de onde o adolescente em conflito com a Lei advém.

Entendemos que este núcleo familiar e dotado de potenciais que podem

impulsionar o desenvolvimento ou não, do adolescente.

Este núcleo será considerado neste estudo como ambiente propicio para

uma relação bidirecional entre duas pessoas que é a condição mínima para a

ocorrência de uma díade, considerada por Bronfenbrenner como uma unidade

básica de análise, estrutura interpessoal mais simples e consequentemente,

como o contexto mais imediato do desenvolvimento humano.

Neste sentido, Bronfenbrenner (1996) fala sobre a díade de atividade

conjunta que se encaixa perfeitamente na atividade sobre a qual estamos

escrevendo, ou seja, a medida socioeducativa em meio aberto e o

envolvimento do adolescente no processo de autonomia e responsabilização

presente e futura, pois segundo este teórico, esta díade apresenta condições

especiais favoráveis não apenas para a aprendizagem, mas também para

aumentar a motivação na busca e aperfeiçoamento da atividade quando os

participantes não mais estão juntos dados a força do seu potencial de

desenvolvimento.

Como anteriormente mencionado, há três características encontradas na

díade que tem uma atenção maior dentro deste estudo e que segundo

Bronfenbrenner são essenciais: reciprocidade, equilíbrio de poder e relação

afetiva, dada a peculiaridade que é o campo de estudo, hora apresentado.

As questões da reciprocidade estão relacionadas à maneira como os

participantes interagem entre si, como um influencia o desenvolvimento do

outro. Em uma relação diádica, um membro pode ser mais influente que o

outro, embora a ideia de reciprocidade sugira igualdade de poder. O ideal

então é que essa maior influência seja alternada entre os participantes da

díade, havendo então um Equilíbrio de Poder, Bronfenbrenner (1996).

Para Bronfenbrenner, na medida em que ocorrem interações diádicas,

desenvolvem-se sentimentos diferenciados e duráveis entre seus membros e

para que os processos de desenvolvimento ocorram em favor do indivíduo, as

relações afetivas devem ser positivas e genuínas. Neste sentido, as famílias

ainda que inconscientes se fechem a realidade apresentada pelo adolescente

podendo comprometer a positividade do processo de construção da identidade

deste e neste momento a necessidade de rejeição à família por parte do

adolescente poderá se tornar ainda mais fortalecida e dentro desta

necessidade poderá buscar a sua auto imagem em pares de grupos externos

que reflitam a sua auto afirmação.

Para Bronfenbrenner, as díades primárias existem para os participantes

mesmo que eles não estejam fisicamente juntos e a capacidade de uma díade

servir como um contexto efetivo para o desenvolvimento humano vai depender

fortemente da presença de uma terceira participação, pois o ambiente também

exerce influência no desenvolvimento da pessoa, sendo este um processo de

mútua interação.

O desenvolvimento humano ocorre no contexto de um crescente jogo de pingue-pongue psicológico entre duas pessoas que são loucas uma pela outra, e reforça que, de preferência, deve haver a participação/interação de muitos adultos entre si (...) (BRONFENBRENNER, 1990).

Tais níveis estruturais compõem uma ecologia humana composta por

sistemas que são: o microssistema, o mesossistema, exossistemae o

macrossistema.

O microssistema, em termos de suas características, envolve

expectativas de atividades e relações recíprocas. As expectativas não se

referem apenas ao conteúdo da atividade, mas também às relações entre as

duas partes e oconceito de papel envolve uma integração dos elementos de

atividade e relação em termos de expectativas societais, sendo assim, tem

suas raízes no microssistema de ordem mais elevada e em suas estruturas

institucionais e ideológicas associadas. É neste contexto, na existência de uma

relação bidirecional ente duas pessoas que se estabelece as condições

mínimas para a ocorrência de uma díade.

O mesossistema, na teoria de Bronfenbrenner, tem a ver com as inter-

relações entre os contextos em que o indivíduo participa ativamente, tais como

a inter-relação da família com a escola e a igreja. Para análise das forças

existentes no mesossistema utilizam-se os mesmos conceitos apresentados na

análise do microssistema que são as atividades molares, as estruturas

interpessoais e os papeis.

Para que exista o mesossistema é necessário que haja pelo menos, uma

interconexão de dois microssistemas e a rede social primária é o próprio

mesossistema.

Segundo Bronfenbrenner, para os efeitos de desenvolvimento,

pressupõe que os ambientes macrossistêmicos que compõe o mesossistema

devem comunicar-se, ou seja, toda a informação ou mensagem deve ser

intencionalmente transmitida de um ambiente para outro e partindo deste

pressuposto, a nossa investigação empírica propõe a construção de um

instrumental que seja capaz de deixar registradas estas comunicações de

modo a permitir que outros “atores” do sistema de justiça consigam entender a

mensagem que traduz a intervenção e o fator gerador da ocorrência ainda que

em outro momento em casos de egressos que por ventura, reincidam.

Para Bronfenbrenner (1996), o potencial de promoção do

desenvolvimento do mesossistema será aumentado diante das seguintes

condições:

a) se a transição para o novo ambiente for feita na companhia de uma

ou mais pessoa com quem já estabeleceu relações em contextos anteriores;

b) se as exigências nos diferentes contextos forem compatíveis;

c) se os papéis, atividades e díades em que a pessoa se envolvem

permitem o desenvolvimento de processos de confiança mútua, orientação

positiva e consenso de objetivos entre contextos e um equilíbrio de poder

promotor de pessoa em desenvolvimento.

O exossistema, terceiro contexto apresentado por Bronfenbrenner, diz

respeito a um ou mais ambientes que não envolvam a pessoa em

desenvolvimento como um participante ativo, como por exemplo, o local de

trabalho dos pais ou a sala de aula de um irmão mais velho. Diante deste fato,

se faz pertinente focalizar, a família que de acordo com a nossa hipótese tende

a agir de forma refratária e conservadora, objetivando amenizar os aspectos

diversos e estranhos que dentro deste pensamento teórico possa comprometer

o potencial de desenvolvimento do núcleo familiar com o exossistema através

destes canais.

Como mencionado anteriormente o macrosssitema se refere à

consistência observada dentro de uma determinada cultura ou subcultura na

forma e conteúdo de seu micro, meso e exossistemas.

Por esta razão, tão importante como observar as díades estabelecidas

pelo adolescente no território por onde ele transita, é o fato de que o técnico

necessita deinstrumentais teóricos e metodológicos para poderse capacitar na

prática de atuação perante o processo de acompanhamento da medida na

relação diádica a ser estabelecida com cada adolescente em particular e é isto

que pretendemos explorar no próximo capítulo.

Capítulo 4

A Sistematização de um Modelo de Responsabilização Duradoura

nos Serviços de Medida Socioeducativo em meio aberto

4.1 Elementos do Campo Empírico

Como a idéia central da pesquisa é focar os serviços de medidas

socioeducativas em meio aberto como forma de dar visibilidade às ações

desenvolvidas e que envolvam a família, natural ou de referência de forma

sistemica, nos deparamos com o desafio de buscar um campo empírico que

nos permitisse problematizar a questão e elucidar as necessidades

operacionais que se revelam em seu cotidiano.

Sua estruturação se estabelece no acompanhamento da medida, e diz

respeito ao marco legal que exige a participação da família, que, no entanto

acaba sendo pouco explicitados mesmo havendo regulações na área das

políticas públicas que a valorize, foi desta maneira que acabamos nos

aproximando da AGES – Associação Gaudium Et Spes, entidade tradicional na

defesa dos direitos de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade,

ligada à Pastoral do Menor e que tem se destacado no sistema de garantias

pela forma com que procura inserir o núcleo familiar nas dinâmicas voltadas a

valorização da dgnidade humana.

Com a abordagem dos programas desenvolvidos nesta instituição,

devidamente respaldado por alguns técnicos que de uma forma etica e

profissional representou tanto a instituição quanto a equipe do SMSE

Esperança e Alegria, foi possível verificar os casos de maior representatividade

a partir de um acompanhamento sistematizado realizado no decorrer de minha

estadia neste referido serviço de medida socioeducativo, localizado em Pirituba

Zona Oeste de São Paulo.

Em setembro de 2012, fiz contato com o SMSE e na ocasião,

precisamente em outubro de 2012, estive no serviço para conhecer, falar da

minha proposta de pesquisa e pedir campo para análise, após conversar com

dois membros da equipe de técnicos e conhecer os outros que estavam em

suas atividades, fui apresentada a gerencia que me recebeu prontamente, e a

qual apresentei minha proposta de acompanhamento do SMSE com fins

acadêmicos.

Nos foi concedido então a oportunidade de acompanhar a rotina do

SMSE e consequentemente me aproximar dos atendimentos realizados. Uma

das técnicas que me recebeu, e que infelizmente não se encontra mais no

serviço, apresentou-me o SMSE, falou das necessidades e angústias

profissionais e do desejo da equipe de técnicos em ter uma ferramenta que

possibilitasse uma visibilidade mais concreta do trabalho executado com o

adolescente em conflitualidade no momento do cumprimento de sua medida,

pois segundo seu “desabafo”, todosos esforços e intervenções, bem

sucedidadas ou não, culminavam em um procedimento cartorial onde a

exigência era apenas a de um relatório informativo ou de encerramento que

traduzia seis meses de abordagens e interações diversas em uma pagina

suscinta cuja leitura de interesse se resumiria unicamente de duas, ou não

mais que três linhas em que se relatavam assertivas sobre o adolescente ter

cumprido ou não a medida, não possibilitando uma abertura ampla capaz de

permitir destacar o adolescente enquanto pessoa e em seu estado de

desenvolvimento.

A partir daí procurei estar presente em todas as terças-feiras,

estrategicamente, pois é na terça-feira que acontece a acolhida e a

“interpretação da medida”, ou seja, é o dia reservado para receber o

adolescente encaminhado pelo DEIJ, para o cumprimento de medida.

De outubro até 22 de dezembro de 2012 estabeleci esta rotina semanal

e após esta data, a convite da Gerente responsável pelo serviço assumi como

técnico de referência de um pequeno grupo de adolescentes, num total de sete,

recém chegados para cumprimento de medida onde permaneci no período de

22 de dezembro de 2012 a 7 de fevereiro de 2013, data em que me afastei do

SMSE Esperança e Alegria para assumir a Gerencia de um Serviço de

Acolhida Institucional para Criança e Adolescente, bem como organizar o

material empirico coletado.

Ao me dedicar a ser um observador dos aspectos que operacionalizam

a medida socioeducativa em seus procedimentos diários, como parte da rotina

na função de técnico, tive acesso as pastas e documentos e isso me permitiu

uma análise documental do marco lógico das intervenções realizadas, ou seja,

o contato com a família existiu de fato. Esta constatação foi de significativa

relevância no sentido de respaldar a necessidade de se obter consentimento

para podemos nos valer da fonte de dados documentados que tais famílias

poderiam nos disponibilizar.

Além destes procedimentos também pude estar presente nos encontros

com os grupos de pais que acontece uma vez ao mês no serviço, além de

diversas reuniões com os técnicos responsáveis pelo acompanhamento das

medidas e que está a mais tempo atuando neste SMSE especificamente. As

reuniões dos técnicos para alinhamento e discussão de casos, acontecem

todas as sextas-feiras, ou, via de regra, deveriam acontecer salvo alguns

eventos que fogem a rotinas da equipe, como capacitações ou reuniões fora do

espaço e ou da região.

Tendo o consentimento da gerência responsável pelo serviço, nos

ocupamos não somente da análise documental, mas da vivência do técnico e

suas dinâmicas de trabalho, desde a acolhida do adolescente, no momento da

“interpretação da medida”, até o encerramento da mesma. Tomamos como

ponto inicial, o considerável número de casos que na época era acompanhado

por cada técnico e a diversidade observada nos vínculos familiares e decidimos

que seria melhor eleger casos exemplos para podermos fazer um

aprofundamento de características similares e que poderiam favorecer

configurações complementares, mesmo com resultados que poderiam ser

conflitantes ao serem confrontados os dados obtidos com cada processo.

Inicialmente passamos a acompanhar o serviço de medida as terças-

feiras, dia da semana reservado para acolhida dos novos adolescentes

encaminhados para cumprimento de medida sócio educativa em meio aberto. É

nesta ocasião que o técnico realiza a “interpretação da medida”, termo jurídico

adotado para nomear o momento em que este faz a leitura das ações que

futuramente serão realizadas de acordo com a determinação do juizado na

presença do adolescente e o responsável por ele.

No momento em que é feito esta acolhida, o técnico apresenta também

o serviço de medida e seus espaços, bem como o instrumental (PIA) que

deverá ser preenchido ao longo da medida, fazendo com que o adolescente

inicialmente tome ciência do que garantirá o encerramento da medida com

sucesso e as peculiaridades do processo.

Uma vez que nesta mesma data o adolescente toma conhecimento do

técnico que ficará como referência acompanhando o seu processo, é pertinente

ressaltar que na rotina diária do técnico cabe acompanhar o dia-a-dia do

adolescente registrando informações que ele próprio traz e outras percebidas

no que refere-se a sua aderência as atividades da medida, tais como escola,

profissionalização, regularização de documentos e encaminhamentos na

áreada saúde, quando necessário.

Ao técnico cabe ainda em sua rotina, realizar visitas freqüentes ao

espaço de convívio do adolescente e conduzir os assuntos pertinente a ele nos

mais diversos órgão e espaços por onde o adolescente transita e seu processo

judicial junto ao DEIJ.

Periodicamente a equipe de técnicos se reúnem para discussão de

casos, este fato acontece sempre às sextas-feiras e tem como objetivo

compartilhar com todos, os casos e experiências além é claro de reavaliar as

ações propostas e a forma como elas estão sendo executadas. No momento

em que os técnicos se reúnem para discussão de casos também é feito

cronograma do que é viável implantar para enriquecimento da medida e

apropriação por parte dos adolescentes do que é proposto a eles. Nos

mencionados estudos de casos, os técnicos trocam informações acerca dos

casos acompanhados por eles e as dificuldades/soluções no intuito de haver

um consenso e um alinhamento nas ações tomadas de modo a ter uma

unifomização no procedimento técnico adotado por todos os técnicos do SMSE

a que nos referimos.

Nos encontros de sexta-feira, também são planejados os encontros dos

pais e os assuntos a serem abordados, após uma breve avaliação do encontro

anterior e os pontos de relevância que merecem ser retomados e acentuados

com mais intensidade.

Os encontros com familiares tentam tratar de assuntos que contribuam

para a desmistificação de que o adolescente cumprindo medida é um marginal,

além de trabalhar com os familiares a cultura da possibilidade, na qual o SMSE

coloca o adolescente como uma possibilidade de sucesso e que neste

processo de valorização, ter a familia como aliada é fundamental.

A desmistificação do que é direito, por exemplo, é um tema sempre

abordado nas formações, com o intuito de mostrar a familia o que é indivíduo

sujeito de direito, termo repetidamente dito pelos técnicos aos pais e familiares

dos adolescentes que cumprem medida neste SMSE.

Outro tema dos encontros que também merece relevancia, de acordo

com a prática da AGES, é a espiritualidade, encontro no qual se procura

explorar as possibilidades de entendimento por parte da familia quando se fala

de conforto, pois, a AGES acredita que o momento de cumprimento da medida

pelo adolescente é dificil e fragiliza de modo especial todo o grupo familiar que

o assiste e acompanha o adolescente, necessitando em sua maioria de uma

palavra amiga que o ajude a conforta a sua angústia.

E depois de observamos em detalhe a missão proposta pela

organização, optamos por analisar a trajetória de duas famílias sugeridas pelo

técnico do SMSE por se tratar de casos em que a prática teve um resultado

positivo ao final da medida.

Com esta iniciativa, a possibilidade de observar o processo diádico em

sua unidade de análise para cada caso e suas potencialidades nos permitiu

adequar nossa proposta de abordagem das questões sistêmicas a partir da

teoria bioecológica tendo o núcleo familiar como nossa maior fonte de

possibilidades de estudo e compreensão.

Ao buscarmos procedimentos que pudessem favorecer o entendimento

acerca dos processos envolvidos , chegamos à constatação de que seria

pertinente explorar os registros dos dados observados em diferentes

momentos e neste sentido evidenciou-se a necessidade de explorar aspectos

descritivos em que nos atemos em primeiro lugar no detalhamento do perfil

institucional procurando nos concentrar nos “por menores” que se concretizam

em práticas cotidianas que precisam ser detalhadas que reúnam subsídios

para um outro aspecto analítico de cunho reflexivo, que nos permita

voltarmos para uma interpretação destes mesmos aspectos, com impressões

colhidas e constatações decorrentes de especulações e sentimentos sobre

problemas, ideias, impressões, duvidas, incertezas e surpresas , todos

relacionados aos eventos presenciados.

4.2 Registro Descritivo

Ao nos ocuparmos da necessidade de compreender a vivencia do

regime de acompanhamento em meio aberto nos aproximamos da AGES -

Associação Civil Gaudium et Spes, mais especificamente na unidade deServiço

de Medida Socioeducativa em Meio Aberto Esperança e Alegria – MSE/Pirituba

hoje com aproximadamente 130 atendidos e que atua sob a supervisão e

convênio do Centro de Referência de Assistência Social – CRAS da Prefeitura

do Município de São Paulo, Sub Prefeitura de Pirituba e em conformidade às

determinações da Vara Especial da Infância e Juventude (VEIJ) e o

Departamento de Execução da Infância e Juventude (DEIJ).

A AGES - Associação Gaudium Et Spes, Termo que significa Alegria e

Esperança em Latim e que trata fundamentalmente das relações da Igreja

Católica e o ambiente onde ela atua, é uma entidade sem fins lucrativos da

Pastoral do Menor da região Episcopal Lapa da Arquidiocese de São Paulo,

desde sua fundação em doze de maio de 1982, tem como preocupação a

defesa e garantia dos direitos da criança e do adolescente com vista a

formação integral do cidadão de posse de seus direitos e de sua dignidade

humana. Seu trabalho teve inicio com moradores de rua e crianças em situação

de vulnerabilidade e hoje alem deste serviço tambem atua com atendimento de

alta complexidade, ou seja, com um serviço de acolhida institucional para

crianças e adolescentes e uma república jovens, além dos dois SMSE

localizados em regiões diferenciadas.

Dos diversos serviços assistenciais em prol da criança e do adolescente

o SMSE que nos recebeu para os estudos empíricos está localizado em

Pirituba, zona oeste de São Paulo e atende adolescentes em cumprimento de

medida socioeducativa em meio aberto e prestação de serviços à comunidade,

da região dos bairros de Pirituba e São Domingos, este segundo um bairro cujo

a maioria da população e de classe média .

O SMSE Esperança e Alegria está localizado em uma região de fácil

acessoem Pirituba, próximo ao centro comercial, e o público atendido é misto,

com classes econômicas bem diversificadas, possui convênio de parceria

técnico financeiro firmado com a SMADS da região oeste para atendimento de

noventa adolescentes, porém, o total em média, como mencionado

anteriormente é sempre maior que o acordo firmado em função da demanda

distribuída por região o que se traduz em média de atendimento que oscila

entre vinte e sete e trinta casos por técnico. Ressalvamos que esta estimativa

resulta da observação feita entre 2012 e 2013, pois, tais dados podem mudar

muito rapidamente a exemplo do periodo entre os meses de dezembro e

janeiro em que a frequencia e muito pouco em funçao das festividades de final

de ano onde boa parte do público atendido viaja para comemoração fora.

O SMSE Esperança e Alegria, conta com uma equipe de técnicos num

total de seis, na ocasião dividida em: 03 Psicólogos, 01 Socióloga e 2

pedagogos e cada um destes profissionais acompanha um grupo, como

mencionado no parágrafo anterior, de aproximadamente 27 adolescentes que

cumprem medida socioeducativa e PSC. Além do quadro técnico, o SMSE

conta em seu quadro com 01 gerente, 02 Assistentes Administrativos e 01

operacional.

Um dado observado e considerado de muita relevancia nos processos

de acompanhamento da medida sócioeducativa, segundo a fala dos técnicos, é

a questão da rotatividade no quadro de técnicos, dos seis profissionais que

faziam parte da equipe técnica so serviço no inico das visitas realizadas por

mim, somente dois permanecem na organização, sendo que um foi convidado

por outra organização com uma proosta de salário melhor, dois saíram para

trabalhar em seu próprio negócio e um mudou-se para outro estado.

Ao nos aproximarmos da AGES e sua história, Tomamos os técnicos do núcleo

de Pirituba como informantes privilegiados, onde em sua rotina diária, além de

nos permitir analisar alguns dados emblemáticos do acompanhamento

realizado como visitas familiares, entrevistas e atendimentos, nos ajudou a

eleger situações significativasde adolescentes de familias diferentes em que,

mesmo tendo se empenhado em sua intervenção e obedecendo aos mesmos

padrões de abordagem, não obteve o mesmo resultado no tempo esperado

esperado, nos permitindo, entender qual o desdobramento em cada situação

singular da vida dos adolescentes em questão foi relevante a ponto de

potencializa outras situações.

Adotar como referência de análise situações significativas de

acompanhamento escolhidas a partir do enfoque dos profissionais que se

debruçam sobre eles, nos permitiu visualizar de forma sistêmica os

fundamentos que embasaram cada ação tomada na abordagem com

determinada família, como escuta direcionada, participação nas escolhas e

orientações focais e assertivas, além de termos conseguido analisar os

desdobramentos em seu núcleo de convivência, para podermos vislumbrar até

que ponto tais intervenções contribuíram ou não para o sucesso da medida e

sua durabilidade, embora para sabermos desta referida durabilidade o tempo

de acompanhamento e análise deva ser bem maior que o estimado para este

estudo específico.

É importante salientar que hoje no SMSE Pirituba, embora a proposta

seja a de trabalhar com a medida socioeducativa de um modo que a família

esteja muito mais próxima e engajada nas atividades disponibilizadas pelo

serviço, a única ação formalizada junto à família do adolescente e que remete a

uma possibilidade de visibilidade, mesmo que ainda muito tímida, são

encontros mensais que acontece na ultima sexta feira de cada mês, nos quais

se reúnem pais e responsáveis para uma atividade em grupo onde se discutem

temas pertinentes ao serviço de acompanhamento da medida.

Estes encontros de família acontecem toda última sexta-feira de cada

mês e eu tive a oportunidade de participar de todos eles. O encontro dos pais é

um momento reservado para que se abordem temas diversos cuja temática é

sempre voltada a adolescencia e sua peculiaridade, neste sentindo, trazer a

temática trabalhada para a realidade do adolescente em conflito com a Lei e o

cumprmento da medida socioeducativa, seu objetivo maior é fazer com que a

família entenda o processo do adolescente e suas necessidades enquanto

sujeito de direito em constante desenvolvimento. Consiste prioritariamente em

desmistificar o paradgma da criminalidade infanto juvenil no panorama da

atualidade através de uma liguagem acessivel às famílias atendidas pelo

SMSE.

Em 23 de janeiro de 2013, além de participar, palestrei sobre as

questões legais que são da responsabilidade do técnico e da família (material

anexo). Nesta data tive a oportunidade de falar com todos os pais presentes

sobre questões que envolvem a negligencia tanto da família quanto do serviço

de medida na pessoa do técnico de referência do adolescente, cujo tema foi “O

que são as Medidas Socioeducativas e quais são os papéis dos Técnicos e das

Famílias”, onde o objetivo foi Trazer aos pais informações sobre o que são as

Medidas Socioeducativas, desmistificar e esclarecer as Medidas de Liberdade

Assistida e Prestação de Serviço à Comunidade, além de esclarecer quais são

os papéis das famílias e dos técnicos socioeducativos numha reflexão sobre

as responsabilidades dos adolescentes e das famílias durante todo o processo

de cumprimento das Medidas Socioeducativas.

Foi impressionante a participação dos pais no desenrolar do tema. O

mito da medida para “assinar” começou a ser esclarecido para os pais e mães

presentes de maneira pontual e didática.

De acordo com o parecer da equipe técnica, percebeu-se que no

cotidiano os pais estão fragilizados com todo o sofrimento que o ato infracional

cometido pelos filhos suscita e essas famílias, na maioria das vezes, chegam

com muitas dúvidas sobre as Medidas Socioeducativas. Portanto considerou-

se de grande relevância o tema para o Encontro de Famílias, para que as

famílias se inteirassem sobre o assunto e que pudessem tirar muito de suas

dúvidas.

Acompanhando os encontros observei que nos grupos de pais,

realizados mensalmente é perceptivel como a aderência por parte da família é

deficiente, a média de pessoas nestes encontros eram aproximadamente entre

20 e 27 presentes, o que é grosso modo um absurdo se levarmos em conta o

fato de que só o convênio firmado é para 90.

Uma das situações comuns e que nos encontros de pais fica muito

evidente e a ausência da figura masculina, uma vez que boa parte do público

participante era composta por mães, avós, tias e enfim, é muito nítido o

reduzido número de participantes do sexo masculino. Neste sentido é possível

é possível que o leitor tenha uma falsa impressão de que a maioria dos

adolescentes em conflito com a Lei venha de núcleos familiares desconstruídos

e este fato não é uma regra.

Outro fato importante que pude observar e que na fala dos participantes,

nas famílias em que o adolescente não era filho único, a expressão “tenho mais

filhos e só este deu errado”, parece que se tornou um jargão ou então a fala às

vezes tomava outra conotação, “eu não sei onde eu errei, criei tantos filhos e

só este deu no que deu”, reforçando o que anteriormente mencionei ao falar de

uma família refratária e resistente aos recursos disponibilizados pelo

mesossistema. Situações e conversas como estas são comuns nos encontros

e o cuidado para não se deixar influenciar tem que ser redobrado, até mesmo

pelas “histórias de vidas” dos presentes.

Dentre todas as histórias e depoimentos que ouvi e presenciei nos

encontros mensais com as famílias dos adolescentes, uma em especial

despertou o desejo de investir no estudo das questões sistêmicas por se tratar

de uma senhora que sempre estava presente nos eventos organizados pelo

SMSE e a sua desenvoltura ao conversar com o técnico de referência do seu

filho que na época estava cumprindo medida socioeducativa L.A e PSC.

Meu interesse aumentou ao descobrir que na verdade tratava se da

história de dois adolescentes de famílias distintas que segundo investigação,

cresceram e viveram juntos e coincidência ou não, também infracionaram

juntos, o que não é com certeza nenhum fenômeno extraordinário, mas o

envolvimento da família, na figura das duas mães que acompanharam a

medida foi de certa forma decisivo na tomada de decisão por parte dos

adolescentes em se responsabilizar pelo delito cometido bem como a iniciativa

de mudança de atitude, cada adolescente a sua maneira, frente a construção

do plano individual de cada um.

Depois de acompanhar o trabalho dos técnicos em outros casos,

encontrar estas duas famílias e suas peculiaridades fez com que voltássemos

para o estudo e compreensão das situações apresentadas, sendo que a

unidade de análise que nos pareceu mais viável foi voltra-se para aspectos

relacionaisdestes adolescentes com os seus meios de convivência, como é que

se deu em cada um dos casos a participação da família. O próprio aspecto

da Lei nos permite constatar que a medida e suas condicionalidade diz

respeito ao menino, sendo que sua execução envolve regimes administrativos

de responsabilizações diversas em que a participação da família no

acompanhamento se torna determinante , sendo necessário entender o que se

passa neste processo. Ainda nestes encontros mensais, num total de nove

acompanhados desde que chegamos ao SMSE, descobrimos a necessidade

de investir estudos acerca do papel potencializador que o núcleo familiar

exerce sobre as o processo de desenvolvimento do adolescente, longe de para

isto, sugerir a família como única responsável pela razão das quais o

adolescente chega ao cometimento do delito, mas como parceira no processo.

Sabemos que há outros fatores, estatais e comunitários que partilham, ou

deveriam partilhar, esta responsabilidade sobre este indivíduo do qual nos

apropriamos como objeto de estudo e que estes nem sempre estão disponíveis

ou mais absurdamente falando, muitas vezes a família sequer se apropria

deste direito.

Tomamos este cuidado na responsabilização da família para que não

pareça que a culpa do adolescente ter cometido um ato estranho a norma

social, seja somente dela, até mesmo pelas observações feitas no campo de

estudo e nosso objeto. Percebemos que muitas das famílias cujo membro de

seu núcleo tenha se envolvido em ações delituosas, não tem consciência da

responsabilidade estatal nem tão pouco dos serviços que este “estado” lhe

disponibiliza.

Ao trazer a necessidade de voltar nossos estudos para a família do

adolescente em conflitualidade, buscamos uma base teórica que pudesse nos

aproximar das “entrelinhas” que permeiam o processo de cumprimento e

execução da medida socioeducativa de forma a perceber detalhes do cotidiano

da realidade do adolescente e sua família, e dada a percepção desta falta do

que é processual na realidade do adolescente infrator, nos identificamos com a

teoria sistêmica bioecologica de Urié Bronfenbrenner.

Para descrever nossas observações iniciais, achamos pertinente

demonstramos com o fluxo abaixo, o processo de cumprimento da medida

socioeducativa em meio aberto desde o que se denomina “acolhida” ao

encerramento da medida, numa realidade em que há colaboração e evidências

de pertencimento por parte do adolescente no cumprimento da medida:

Fluxo de Atendimento Socioeducativo SMSE Esperança e Alegria –

Pirituba

Neste fluxo fica mais fácil entender o caminho que levou o adolescente

ao SMSE, ou seja, o adolescente comete o delito e é levado à delegacia que

por sua vez registra a ocorrência e encaminha ao Ministério Público, ficando o

Adolescente Autor de ato infracional

Delegacia

Ministério Público

Reincidência = Departamento de

Execussão da Inf. e Juv. - Fundação Casa

Arquivamento – Remissão -

Representação

Vara Especial da Infância e da Juventude

CREAS – SMSE

AGES

PSC – Prestação de Serviços a

Comunidade

Família

responsável pelo adolescente, incumbido de apresentá-lo à justiça, sendo o

adolescente primário ele vai receber uma sansão disciplinar chamada

advertência e simultaneamente a remissão, sendo o adolescente reincidente a

promotoria vai ouvir e representar sendo o adolescente encaminhado ao VEIJ –

Vara Especial da Infância e da Juventude, onde o Juiz ouve e determinar a

sansão/medida a ser aplicada e encaminhar para o DEIJ – Departamento de

Execução da Infância e Juventude que por sua vez fará a distribuição dos

casos recebidos para os SMSE’s de sua abrangência.

O Serviço de Medida Socioeducativo, ao receber o adolescente

encaminhado pela Vara Especial da Infância e Juventude, apresenta ao

adolescente o que é o serviço é a medida a ser cumprida, ou seja, faz a

“interpretação da medida”. Neste primeiro momento, que é o momento da

acolhida, o técnico faz uma abordagem investigativa com a finalidade de

levantar informações sobre a constituição do núcleo familiar, mas ressalto que

nas recepções que puderam ser acompanhada por mim, ficou a impressão de

que o intuito da entrevista era mais de levantar informações sobre a situação

econômica da família do que o envolvimento do adolescente com esta, o

mesmo que papel cada membro deste circulo representa para o adolescente.

Na ocasião é estabelecido a agenda de atendimentos nos quais serão

verificado os encaminhamento a serem feitos bem como os acordos acerca do

PIA e em casos de PSC – Prestação de Serviços a Comunidade, neste caso o

SMSE que não trabalha com PSC, encaminha o adolescente a instituição

parceira que fará a acolhida do adolescente para o cumprimento da medida

sempre acompanhado pelo técnico de referencia

Este fluxo de atendimento foi observado na entidade, reiterando que

este fluxo não se difere dos demais serviços que acompanham a aplicação da

medida socioeducativa, nos permitiu uma leitura da rede de proteção que

circunda o adolescente e seus familiares, bem como entendimento de papéis

dos “atores” do sistema de justiça na compreensão da dinâmica dos

instrumentos e políticas público voltadas ao acompanhamento deste

adolescente em situação de conflitualidade, além de ter permitido identificar se

as instituições envolvidas com o acompanhamento e operacionalização da

medida desenvolvem metodologias apropriadas em suas propostas

pedagógicas, que possam estimular o exercício da cidadania de forma

participativa e potencializadora.

As conversas com os profissionais do serviço trouxeram à tona uma

inquietação que é a necessidade de uma metodologia que pudesse dar

visibilidade ao trabalho por eles realizado no processo de acompanhamento de

medidas socioeducativas em meio aberto. De acordo com a narrativa dos

técnicos, as intervenções feitas nos processos de cumprimento de medida

nunca aparecem dando a impressão de que quase nada foi ou é feito. Assim

como o envolvimento familiar e comunitário, bem como as intervenções

duradouras ou de sucesso como instrumento potencializador na intervenção

de casos que se assemelham na rotina do SMSE.

Não obstante a mencionada necessidade relataram também a

dificuldade em acompanhar o egresso de forma pontual com vista a evitar a

reincidência por falta dos adolescentes enfatizando mais uma vez a

emblemática proximidade da família ao serviço e via de regra, do serviço ao

núcleo de convívio familiar do adolescente, dificuldade acompanhada de perto

na fase empírica de nosso estudo.

A sensação que fica é de que o adolescente que cumpriu sua medida,

ao termino desta simplesmente vira uma página e o próprio serviço arquiva e

embora haja regulamentações que prevêem o acompanhamento pós-medida

deste adolescente, o serviço não dispõe de recurso suficiente para dar

continuidade ao acompanhamento minimamente necessário a familia deste

egresso e via de regra potencializa-la para eventuais intervenções futuras.

Ao acompanharmos a realidade do SMSE, percebemos além dos

registros citados, que uma dificuldade maior, que via de regra deve se estender

a outros serviços de garantia de direitos é a construção do PIA com o

adolescente tendo a efetiva participação de sua família, pois, em todas as

acolhidas acompanhadas por mim, no momento da interpretação da medida foi

explicado ao responsável pelo adolescente que o acompanhava, o que seria na

realidade aquele “roll” de perguntas a respeito da vida do adolescente. Além da

percepção cartorial que o técnico tem do PIA, ou seja, da visão de que é mais

uma ferramenta burocrática, tem a dificuldade de encaixar o núcleo familiar de

convivência do adolescente no instrumental, ou por que este núcleo é ausente,

ineficiente ou por qualquer outra razão por mínima que seja.

Teoricamente o PIA tem início na “acolhida”, momento onde se faz a

leitura da medida e esclarece as dúvidas do adolescente e do responsável que

o acompanha, inicialmente ele começa apenas com uma triagem para saber de

onde vem o adolescente e a estrutura familiar que o ampara, situações de

moradia, “percapita”, etc. De acordo com informações adquiridas através da

escuta dos técnicos que manuseiam este instrumental, ele é engessado e

complicado de entender e por este motivo, normalmente os SMSE´s fazem uso

de ferramentas como ficha de registro e livros de ocorrências que

posteriormente deve nutrir o preenchimento do PIA.

O PIA faz parte da pasta que é criada para o adolescente que chega ao

SMSE e em seu princípio metodológico deve ser construído com o adolescente

e deve registrar todos os eventos que fazem parte do acompanhamento da

medida com vistas a responsabilização consciente do adolescente infrator.

Foi possível perceber que o paradigma da medida cuja a característica e

denominação é apenas “assinar”, ainda encontra dificultadores no próprio meio

de cumprimento. E estes dificultadores são diversos: hora pela rotatividade,

hora pelo afastamento do próprio adolescente, hora pelos recursos limitados

além de outros fatores que são preponderantes e incondicionais.

4.3 Registro Reflexivo

Com o acompanhamento e a observação da rotina diária do SMSE,

percebemos que o estudo sobre as questões anteriormente relatadas precisam

ser pautadas no debate sobre a conflitualidade e a socioeducação para que se

permita a operacionalização e interação da família e da comunidade como

parte de fundamental importância no processo de ressignificação dos

adolescentes em conflitualidade colocada em destaque, em recente pesquisa

Guará, (2010) demonstra haver “metodologias ou abordagens que estão” em

nível embrionário e constituem pistas sobre o que pode ser melhorado e

concordamos, entretanto, tais experiências não estão sendo organizadas como

metodologias a serem disponibilizadas para os programas de intervenção

socioeducativa.

Com isto podemos entender os papéis dos atores envolvidos e

compreender a dinâmica dos instrumentos e políticas públicas voltadas ao

acompanhamento deste adolescente em conflitualidade bem como identificar

se as instituições destinadas ao cumprimento e a assistência da medida

desenvolvem suas propostas visando estimular o exercício da cidadania de

forma democrática.

Requer entender o processo na perspectiva de quem executa e

acompanha a medida e de como chegaremos ao desenvolvimento de modelos

de abordagem, com resultados e práticas satisfatórios a ponto de que sirvam

de arcabouço para a construção de um instrumental, que é a nossa proposta,

capaz de qualificar e dar visibilidade à ação dos operadores da Medida

Socioeducativa, sobretudo que possa ser partilhado com outros programas

para que a intervenção bem sucedida em um pequeno circuito e até então

oculta, sirva de parâmetros para desafios semelhantes e possa ser difundida.

Quanto à família, além dos marcos regulatório, entendemos que sua

presença é fundamental em qualquer que seja o estágio em que se encontra o

cumprimento da medida, salientamos que quando fazemos menção a família,

estamos imaginando uma família que transcende a genealogia da palavra.

Entendemos ainda o quanto é difícil abordar questões que tratem da sua

função protetiva e protetora no que tange o seu importante papel no

acompanhamento e execução da medida socioeducativa sem descartar o

suporte por parte das instituições estatais que fazem a manutenção do

mesossistema, ou mesmo sem colocar em uma situação na qual ela é vista

como vilã ou culpada. Pensando nesta ótica, não podemos também deixar de

tomar o cuidado de não recorrer em questões que a rotulem de família

desestruturada.

Neste sentido, falar sobre família como foco rico em potencialidas de

intervenção exige aprofundar a discussão sobre o que é uma família e como

ela pode servir ou não de recurso em programas de intervenção, Fonseca,

(apud Revista Saúde e Sociedade, maio de 2005). Segundo esta autora, da

perspectiva temporal, as pessoas se inserem em uma sucessão de gerações,

possibilitando projeções para o futuro ou resgates de elementos do passado.

Passa-se então a considerar uma teoria da prática e as implicações

metodológicas de uma análise centrada em “modos de vida”, arraigados numa

situação de classe, o que culmina na culpabilização do adolescente pura e

simplesmente pelo ato sem considerar o contexto do ocorrido e os reflexos

absorvidos por este adolescente.

Esta contribuição nos permite ilustrar esta temática a partir de uma visão

antropológica o que anteriormente nos referimos ao que chamamos de família

desestruturada, pois sabemos que o que hoje temos como definição para o que

seria uma “família desestrurada” poderá amanhã ser uma família que tenha

conseguido transpor as suas dificuldades do dia a dia, se potencializandoem

relação aos às impedimentos sociais.

Neste sentido a atitude ao trabalharmos com famílias é a de não

desistirir logo nas barreiras imediatas, mas ao contrário, buscar alternativas

para incluí-la no processo de cuidados para não recorremos a velha mesmice

de que o “Estado” vem sendo ao longo dos anos o maior violador dos direitos

fundamentais de que estas são titulares, o “insight” consiste em buscar juntos

alternativas que possam potencializar os indivíduos enquanto cidadãos de

direito.

Chegamos a conclusão, após acompanhar o SMSE Esperança e

Alegria, que responsabilizar o adolescente pelo ato cometido, de forma eficaz e

duradoura, trazendo sua família para integrar o processo de forma

potencializadora é responsabilizá-los através de ações sociopedagógicas que

justifiquem as ações e necessidades de entendimento pelo conjunto de fatores

que permeiam a sua realidade.

Podemos dizer ainda que para o trabalho socioeducativo ter êxito, é

necessário que haja a articulação de todas as políticas públicas em benefício

do adolescente conforme já preconiza o SINASE/2012, comprometimento dos

profissionais/técnicos que acompanham a medida, ressaltando neste item que

tal comprometimento deve sem dúvida alguma, ser percebido pelo adolescente

e deve sem sombra de dúvida interferir na relação que este profissional vai

estabelecer com o adolescente e sua família.

Perceber que a adolescência é uma fase do desenvolvimento humano

caracterizado por inúmeras transformações, conflitos e potencialidades, é um

sentimento muito eminente no SMSE observado e consideramos que é valido,

pois, o principio para que o profissional/técnico obtenha êxito em suas

intervenções deve se pautar primordialmente na tese de que a adolescência

não é uma realidade homogênea, ela é uma fase marcada por grandes

conflitos e diversidades.

4.4 Estudo de Casos

Preocupados com a qualidade das reflexões acerca do nosso objeto de

estudo, realizamos estudo documental de um número considerável de

atendimentos, porém, até mesmo com a sugestão do próprio serviço de

medida, tomamos para analise dois casos no mínimo extremamente curiosos

de dois adolescentes que por coincidência do destino ou casualidade,

partilharam uma vida em comum, ou seja, cresceram juntos, tiveram a infância

juntos, estudaram juntos chegaram a adolescência e infracionaram também

juntos.

Nosso interesse maior nestes dois casos é o de entender, sabido que os

dois foram juntos cumprir a medida, e que os resultados foram diferentes até

mesmo no tempo de cumprimento, qual a díade que potencializou a

sensibilização de um dos adolescentes com vistas a não reincidir no delito,

sabendo que as intervenções foram pertinentes e pontuais.

Neste caso a leitura da díade, que adiante explicaremos em detalhes,

poderá auxiliar na visualização da intervenção do técnico, bem como as

contribuições da família como núcleo gerador de possibilidades:

Adolescente: A

IM: 22/05/2012

Enc: 01/04/2013

ACOMPANHAMENTO

Atendimentos: Nestas ocasiões, o adolescente demonstra, dentro de suas

possibilidades, atenção nas orientações proferidas pela equipe. Não

apresentou problemas relacionados à freqüência neste núcleo, participando

inclusive de atividades grupais.

Comportamentos: Do ponto de vista comportamental, o adolescente é muito

educado e colaborativo, apesar da aparente timidez.

Situação Familiar: Reside com a genitora e uma irmã. Os genitores são

separados, e a genitora é a mantenedora do lar. O genitor do adolescente não

contribui com a renda familiar e a genitora participa ativamente no processo

socioeducativo, comparece em todos os Encontros de Família desenvolvidos

pelo Serviço, ocorridos uma vez ao mês, além de manter contato telefônico.

Escolarização: Aprovado no ano letivo, o fato foi comemorado com muita

alegria pela família, uma conquista merecedora de todo o empenho e esforço

do adolescente em estudar para acompanhar a turma.

Trabalho e Profissionalização: Continua inserido em atividade laborativa com

vínculo empregatício. Trabalha em uma empresa através do programa Gente

de Futuro, cujo objetivo é promover a inclusão social de jovens que cumprem

medidas socioeducativas.

Adolescente:B

IM:24/05/2012

Enc: 18/04/2013

ACOMPANHAMENTO

Atendimentos: O adolescente compareceu em todos os atendimentos de

forma adequada, sempre se apresentando de forma educada, colaborativa,

comunicativa e atento as orientações proferidas pela equipe, porém permanece

envolvido no “movimento”, como se referem ao grupo de pareamento a que

pertence e é bem articulado.

Situação Familiar: Continua residindo com os pais e o irmão, em casa própria.

O relacionamento com os familiares não apresenta conflitos, e a manutenção

do lar é garantida pelos genitores que lhe proporciona um padrão estável de

classe média.

Acompanhamento familiar: Desde o primeiro momento a família participou do

processo de cumprimento da medida socioeducativo do adolescente de forma

efetiva, comparecendo em todas ocasiões de atendimentos e mantendo

contato direto por telefone. Vale dizer, que nos dias de atendimento individual

com a família, a genitora que com bastante orgulho sempre fazia questão de

expressar sua confiança no filho, ressaltando seu caráter, conduta e

comportamento.

Escolarização: Com relação à escolarização após intervenção realizada pela

equipe deste Serviço junto a Diretoria de Ensino foi viabilizada vaga escolar. O

adolescente está matriculado e cursando o 1º Ano do Ensino.

Profissionalização/ Trabalho: Atualmente está regularmente empregado no

Instituto Brasileiro de Aprendizagem Profissional – IBRASA. Trabalha com

vínculo empregatício de segunda a sexta-feira no horário das 08h00minh às

14h15min.

4.5 Possibilidades de instrumentalização do atendimento à luz da

perspectiva sistêmica

Acreditamos que a análise a partir de uma visão sistemática,

fundamentada na teoria bioecológica de Bronfenbrenner, é o caminho mais

coerente dentro das expectativas que se construíram ao longo da convivência

com o aparelho que nos recebeu para um estudo endógeno de seus meios no

que tange a execução da medida socioeducativa e o acompanhamento das

famílias dos adolescentes atendidos por este SMSE.

Neste contexto apresentado, no qual uma das necessidades maior é a

construção do PIA trazendo a família como coparceira no processo de

execução da medida socioeducativa com vistas a uma responsabilização

duradoura, pretendemos testar a validade de um modelo que facilite a

visualização da díade cotidiana do adolescente e seu núcleo familiar de forma

que as contribuições do núcleo de onde advém o adolescente também possa

dar visibilidade para cada etapa da intervenção dos técnicos, ou programa no

qual a medida é executada.

Apesar do Sistema de Garantias de Direitos preconizado pelo ECA no

qual o adolescente torna-se sujeito de direitos e merecedor de atenção impar

diante da condição de encontrar-se em desenvolvimento, lembramos que esta

lei, como se sabe, implica também em uma necessária colaboração e

responsabilização da família e da comunidade (ECA, Art. 92) para contribuir

com o seu processo de formação total, pois o intuito é capacitá-lo para a vida

adulta, e especificamente no que se refere aos adolescentes envolvidos com

delitos, o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE, “...

reafirma a diretriz do Estatuto sobre a natureza pedagógica da medida

socioeducativa” e suas consequências.

A importância da convivência familiar e comunitária de acordo com a Lei,

desperta a ideia da inexorável importância para o desenvolvimento do

adolescente os quais, teoricamente não pode ser concebido de modo

dissociado de sua família e de todo o seu contexto de vida, cabendo a esta a

difícil tarefa de colaborar para que estes adolescentes sejam capazes de

construir a sua identidade individual e coletiva em contexto que lhe é familiar.

Com isto nosso foco se volta para a ausência ou invisibilidade do

protagonismo da família em programas de acompanhamento de medidas

socioeducativas, ou seja, não apenas descrever, mas encontrar através das

práticas desenvolvidas e do olhar dos técnicos, de que forma a família tem

participado do processo de ressocialização do adolescente.

A família tem participação tanto no êxito, como no fracasso das

intervenções feitas, em que pese o pouco tempo em que se é concedido para o

acompanhamento deste processo, nós voltaremos para a compreensão do

universo empírico fazendo consultas em relatórios elaborados em

atendimentos tendo como finalidade buscar indícios que nos permitam traçar

uma trajetória sistematizada destas interações.

Como nossa proposta é o estudo do núcleo familiar onde o adolescente

que cumpre medida socioeducativa neste serviço está inserido, como

potencializadora, buscamos elaborar um instrumental em que tentaremos dar

visibilidade a cada intervenção feita pelo técnico, em que pese sua eficiência

ou fracasso, no esforço de trazer a família para participar do processo em todo

o decorrer do cumprimento da medida, além de permitir visualizar de forma

concreta como está a díade do adolescente em seu processo de

desenvolvimento.

Segundo Bronfenbrenner, com o auxílio das informações abaixo

conseguiremos ver como o adolescente está se percebendo parte do meio em

que vive e com o cruzamento das informações de pessoas que fazem parte da

sua rotina é possível ter a noção clara das influencias direta no processo de

ressignificação e subjetivação do “Eu” do adolescente que cumpre medida

socioeducativa em meio aberto.

A Matriz Relacional, que tem por finalidade subsidiar o técnico no

cruzamento de informações referente ao adolescente com a intenção de traçar

o perfil cartográfico de suas relações micro e macro extenso é o que fará visível

a díade do adolescente em seu universo de forma situacional.

Eixo Estruturante permite ver de maneira clara e objetiva as situações

diadicas do adolescente o que possibilita a transferência da informação para o

relatório com mais clareza, é situacional, ou seja, ele pode ser feito

periodicamente e o resultado se apresentará de forma alterada ou não.

MÃE PAI TÉCNICO ESCOLA ENTIDADE

NÃO HÁ RELAÇÃO

INTENSIDADE DAS RELAÇÕES

ADOLESCENTE

FORTE NORMAL FRÁGIL

MATRIZ RELACIONAL

EIXOESTRUTURANTE

Adolescente A

Na matriz apresentada parao “adolescente A”, o eixo estruturante

permite mostrar a díade do adolescente com o seu meio.

Como ela é situacional, no momento em que ela foi construída

percebemos pontos de fragilidade e ou inexistente na díade deste adolescente

com as pessoas e órgãos que fazem parte da sua rotinae o cerca como se

pode observar na legenda, por exemplo, a díade deste adolescente com seu

pai é bem frágil enquanto com a mãe e com o técnico sua díade é bem forte.

Este identificação de uma díade forte com o técnico de referência é um

bom indicio de que a reciprocidade desta díade permite uma intervenção

assertiva e sem traumas no processo de responsabilização pelo ato cometido

por parte do adolescente, pois para esta díade ser forte como se apresenta,

além da reciprocidade, o equilíbrio de poder e a afetividade, também possuem

MÃE PAI TÉCNICO ESCOLA ENTIDADE

NÃO HÁ RELAÇÃO

INTENSIDADE DAS RELAÇÕES

ADOLESCENTE

FORTE NORMAL FRÁGIL

MATRIZ RELACIONAL

EIXOESTRUTURANTE

um grande potencial de desenvolvimento positivo na aplicação e

acompanhamento da medida.

Os indícios apurados na análise do eixo estruturante foram fundamentais

para o técnico identificar onde sua intervenção deverá ser feita com prioridade

e posteriormente transferir o relato para o PIA deste adolescente.

Adolescente B

Na matriz apresentada parao “adolescente B”, o eixo estruturante

permite mostrar a díade do adolescente com o seu meio e suas peculiaridades.

No momento em que ela foi construída percebemos através do eixo

estruturante traçado que há uma grande semelhança na díade deste

adolescente com o técnico de referência assim como com a mãe. Percebe-se

ainda em ambos os casos que a díade tanto do adolescente “A” como o

adolescente “B” apresentaram uma díade com potencial negativo referente a

MÃE PAI TÉCNICO ESCOLA ENTIDADE

NÃO HÁ RELAÇÃO

INTENSIDADE DAS RELAÇÕES

ADOLESCENTE

FORTE NORMAL FRÁGIL

MATRIZ RELACIONAL

EIXOESTRUTURANTE

entidade, ou seja, não reconhecem a entidade, mas a pessoa do técnico e este

fato acaba privilegiando a intervenção positiva no processo de cumprimento da

medida.

Este identificação de uma díade forte com o técnico de referência é um

bom indicio de que a reciprocidade desta díade permite uma intervenção

assertiva e sem traumas no processo de responsabilização pelo ato cometido

por parte do adolescente, pois para esta díade ser forte como se apresenta,

além da reciprocidade, o equilíbrio de poder e a afetividade, também possuem

um grande potencial de desenvolvimento positivo na aplicação e

acompanhamento da medida.

Os indícios apurados na análise do eixo estruturante foram fundamentais

para o técnico identificar onde sua intervenção deverá ser feita com prioridade

e posteriormente transferir o relato para o PIA deste adolescente.

4.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em nossas considerações, gostaríamos de deixar registrado que as

nossas observações acerca da possibilidade de se trabalhar com a visão

sistêmica, preconizada pelo teórico que norteou nosso estudo, Uriê

Bronfenbrenner, ratifica a necessidade de um olhar mais detalhado para as

potencialidades do núcleo familiar na vida do adolescente em conflitualidade e

consequentemente a observação detalhada da díade do adolescente com o

meio no qual interage.

Acreditamos que a família, resguardada no seu papel protetivo e

protetor, amparada por mecanismos estatais, é elemento incondicionalmente

potencializador para o sucesso das medidas socioeducativas em meio aberto,

bem como, aparato fundamental na formação da identidade do adolescente

frente aos mecanismos desviantes que incidem diretamente sobre a sua

condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

Para que isso se concretize na realidade da medida é importante que

haja uma maior articulação no sentido de envolver a família do adolescente em

conflitualidade e as ações promovidas pelo Serviço de Medida Socioeducativo

designado à execução e acompanhamento da sanção estipulada, seja ela LA

ou PSC.

Os marcos regulatórios da assistência à criança e ao adolescente, seja

em qual situação este se encontra, já preconiza a necessidade de mudança do

meio no qual o indivíduo está inserido SINASE (2006), para que este próprio

indivíduo possa mudar, e este proposto vem ser reafirmado e sedimentado pela

Lei SINASE (2012).

Lamentavelmente o que trazemos a discussão não é nenhuma

novidade. Mudar ou propor mudança deste paradigma tutelar que reluta em

trabalhar a individualidade do adolescente vem se perpetuando de tal forma

que em certas situações tem se a impressão de que trazer o adolescente

infrator para a importância de se responsabilizar pelo seu ato é algo

absurdamente fora da realidade dos SMSE’s.

Diante do que se observou em nosso acompanhamento das atividades

voltadas ao cumprimento da medida socioeducativa neste SMSE, ousamos

dizer que é necessário buscar novas estratégias que tenham como foco trazer

a família do adolescente que cumpre sua medida no Esperança e Alegria para

participar do processo de acompanhamento da medida bem como desmistificar

o fato de que a medida é para “assinar”.

È objetivo do serviço de medida socioeducativo da AGES, no espaço

Esperança e Alegria, sensibilizar a família do adolescente da importância de

sua presença no decorrer da medida no intuito de fazer com que o adolescente

se responsabilize pelo ato cometido tanto presente como futuramente.

Ao apresentarmos esta proposta de instrumental, pretendemos propor

uma forma de organizar a abordagem dos técnicos para com o Adolescente, e

desta forma construir um plano piloto para que ele seja incluído de forma

experimental no uso cotidiano dos técnicos.

Nossa intenção maior é com isto demonstrar sua pertinência de poder

cruzar várias informações, as quais facilitariam a elaboração e atualização do

Plano Individual dos adolescentes em cumprimento de medida, sobretudo

servirá como registro matricial de caráter situacional no qual a qualquer tempo

o técnico poderá retornar para inteirar-se do passo a passo e do impacto de

uma determinada intervenção ou encaminhamento, e ainda para outros

mapeamentos que necessitem da visibilidade de processos em curso ou

efetivado com as famílias destes adolescentes.

Dado a brevidade da medida socioeducativa em meio aberto, não foi

possível testar o instrumental e por este motivo nos propomos a deixar no

serviço de medida que nos permitiu as análises empíricas o instrumental a ser

supervisionado no intuito de avaliar sua efetividade, ressaltando que a

relevância maior será a observação da díade do indivíduo e de que forma se dá

a abordagem sistêmica neste meio, bem como sua eficácia ou não.

Quanto aos técnicos, constatamos que os profissionais do serviço

acompanhado em nossa jornada empírica, são comprometidos e se

identificaram com facilidade a proposta teórica da visão sistêmica de

Bronfenbrenner. Embora tenhamos encontrado alguns posicionamentos

críticos à nossa estadia, em nenhum momento tal fato comprometeu a validade

da observação.

Embora tenhamos encontrado neste SMSE a necessidade de um

investimentomaior nas questões sistêmicas do processo que envolve o

cumprimento da medida socioeducativa, e considerando a falta de visibilidade

do trabalho do técnico, é importante deixar claro que esta realidade não é

somente deste SMSE, pois é uma das lacunas inerentes ao processo de

cumprimento da medida socioeducativa, ou seja, percebe-se que a família é

uma exigência para a chegada do adolescente no serviço que aplicará e fará o

acompanhamento da medida estipulada, porém, a sua permanência no

processo é não se dá como o esperado ou preconizado pela Lei do SINASE

2012.

A construção de uma ferramenta colaborativa do trabalho técnico que

permita a abordagem e a visualização de vínculos familiares esocietais de

adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa, vem de encontro a

proposta do programa de mestrado profissional, cujo intencionalidade é

encontrar ferramentas que possam servir de instrumentos para o trabalho de

outros profissionais que atuam no cumprimento da medida, desta forma

proporcionando a ampliação da capacidade protetiva do núcleo familiar, uma

vez que não basta ser família, ela precisa ter garantias de queconsegue

exercer o seu lugar de primeiro ambiente onde as pessoas estabelecem as

suas relações recíprocas, afetivas e autônomas como defendemos ao trazer

para nossa pesquisa a visão sistêmica da teoria bioecológica.

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ANEXO 1

Tabela 1. Definições das cinco proposições cruciais para odesenvolvimentopositivo

Proposições Definições

Proposição 1

Proposição 2

Proposição 3

Proposição 4

Proposição 5

As crianças necessitam participar de atividades progressivamente mais complexas e recíprocas com uma ou mais pessoas com quem desenvolvam relações de apego mútuo, irracional e emocional. Tais pessoas comprometem-se com o seu bem-estar por toda a vida. Estas atividades devem ser regulares e por um longo período, o que virá a propiciar desenvolvimento humano nas diferentes dimensões: intelectual, emocional, social e moral.

A consolidação dos padrões interacionais mencionados na proposição 1 (progressivamente complexos e sob condições de forte e mútuo apego), aumenta o repertório de respostas da criança à outras características do ambiente imediato físico, social e simbólico. Isso a "convida" à exploração, manipulação, elaboração e imaginação, o que acelera o seu crescimento psicológico.

A disponibilidade e envolvimento de um outro adulto que também se engaja na atividade conjunta com a criança - uma terceira parte que ajuda, encoraja, reforça, dá status, expressa admiração e afeto pelo cuidador mais próximo - é muito importante para a manutenção dos complexos padrões de atividade e interação da criança em desenvolvimento (“na dança da família, o tango é dançado a três”, Bronfenbrenner, 1990, p.34).

A troca de informações, comunicação em dupla-via, ajuste e confiança mútua entre os principais ambientes nos quais as crianças e seus pais vivem são condições essenciais para o efetivo processo de "criação" da criança na família e nos outros ambientes de seu espaço ecológico. Estes ambientes são: a casa, os programas de cuidado às crianças, a escola, os pais e os locais de trabalho dos pais.

As políticas públicas e práticas sociais e educativas devem garantir lugar, tempo, estabilidade, status, reconhecimento, sistema de crenças, costumes e ações que apoiem as atividades e processos de “criar" a criança não só pelos pais, mas também por outros cuidadores, tais como, professores e outros profissionais da educação e saúde, parentes, amigos, vizinhos, pessoas da comunidade e os órgãos econômicos, sociais e políticos de toda a sociedade.

ANEXO 2

A abordagem ecológica de Urie Bronfenbrenner em estudos com famílias

Fonte: [http://www.slideshare.net/npedro/teoria-ecolgica-desenvolvimento-humano-

brofenbrenner].

ANEXO 3