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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI ESCOLA DE ARTES, ARQUITETURA, DESIGN E MODA FELIPE GUIMARÃES FLEURY DE OLIVEIRA DESIGN TÊXTIL: PERSPECTIVAS DA ESTAMPARIA INDUSTRIAL DISSERTAÇÃO DE MESTRADO MESTRADO EM DESIGN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU SÃO PAULO AGOSTO/2014

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

ESCOLA DE ARTES, ARQUITETURA, DESIGN E MODA

FELIPE GUIMARÃES FLEURY DE OLIVEIRA

DESIGN TÊXTIL: PERSPECTIVAS DA ESTAMPARIA INDUSTRIAL

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

MESTRADO EM DESIGN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

SÃO PAULO

AGOSTO/2014

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

ESCOLA DE ARTES, ARQUITETURA, DESIGN E MODA

FELIPE GUIMARÃES FLEURY DE OLIVEIRA

DESIGN TÊXTIL: PERSPECTIVAS DA ESTAMPARIA INDUSTRIAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação Stricto Sensu em Design - Mestrado, da

Universidade Anhembi Morumbi como requisito parcial

para a obtenção do título de Mestre em Design.

Orientadora: Dra. Ana Mae Tavares Bastos Barbosa.

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

MESTRADO EM DESIGN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

SÃO PAULO

AGOSTO/2014

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São Paulo, Agosto/2014

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do

trabalho sem autorização da Universidade, do autor e do orientador.

Felipe Guimarães Fleury de Oliveira (Felipe Guimarães)

Mestre em Design pela Universidade Anhembi Morumbi (2014). Técnico Têxtil

pela Escola SENAI "Francisco Matarazzo" (2014). Bacharel em Negócios da

Moda com habilitação em Design de Moda pela Universidade Anhembi

Morumbi (2009). Superior de Formação Específica em Criação e

Desenvolvimento de Produto de Moda (2007). Experiência profissional na área

de Design Têxtil e Moda com foco em estamparia têxtil analógica e digital.

O47d Oliveira, Felipe Guimarães Fleury de Design têxtil: perspectivas da estamparia industrial / Felipe Guimarães Fleury de Oliveira. – 2014. 75f.: il.; 29,7 cm. Orientador: Prfa. Dra. Ana Mae Tavares B. Barbosa. Dissertação (Mestrado em Design) - Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2014. Bibliografia: f.72-75. 1. Design. 2. Design têxtil. 3. Estamparia industrial. 3. Sustentabilidade. I. Título. CDD 741.6

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

ESCOLA DE ARTES, ARQUITETURA, DESIGN E MODA

FELIPE GUIMARÃES FLEURY DE OLIVEIRA

DESIGN TÊXTIL: PERSPECTIVAS DA ESTAMPARIA INDUSTRIAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação Stricto Sensu em Design - Mestrado, da

Universidade Anhembi Morumbi como requisito parcial

para a obtenção do título de Mestre em Design.

Profa. Dra. Ana Mae Tavares Bastos Barbosa

Orientadora

Universidade Anhembi Morumbi

Profa. Dra. Luz García Neira

Examinadora Externa

Centro Universitário SENAC-SP

Profa. Dra. Rachel Zuanon

Examinadora Interna

Universidade Anhembi Morumbi

SÃO PAULO

AGOSTO/2014

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AGRADECIMENTOS

Desafio tão grande quanto escrever esta dissertação, foi utilizar este pequeno

espaço para agradecer as pessoas que fizeram parte desta trajetória ao longo

de todo processo e me ajudaram, direta ou indiretamente, a cumprir meus

objetivos e a realizar mais uma etapa da minha formação acadêmica. Desta

forma, deixo apenas algumas palavras, poucas, mas com profundo sentimento

de agradecimento reconhecido.

Agradeço pela leitura cuidadosa, atenta e pelas sugestões enriquecedoras da

banca de qualificação, da qual participaram as professoras Luz García Neira,

Rachel Zuanon e minha orientadora Ana Mae Barbosa, que se dispuseram a

apontar detalhes que eu ainda não havia percebido.

À Profa. Luz que me incentivou desde nosso primeiro contato no estágio-

docência até as conversas fora de sala de aula. Muito grato por estar sempre

disponível, por suas dicas e incentivo para entrar no curso técnico têxtil, no

qual tive base teórica e técnica para esta dissertação.

À todos os professores do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em

Design - Mestrado, da Universidade Anhembi Morumbi, que colaboraram com

seus conselhos e ensinamentos. Em especial a Profa. Rachel Zuanon que em

sua disciplina me tirou da "zona de conforto"; agradeço imensamente por seu

apoio e correções.

À todos os meus amigos que ouviram os meus desabafos; que presenciaram e

respeitaram o meu silêncio e a minha ausência; que partilharam este longo

passar de anos, de páginas, de livros e cadernos; que me acompanharam,

choraram, riram, sentiram, participaram e aconselharam.

Agradeço ao Sr. Antonio Chiesi por ter aberto as portas de sua empresa para

este autor, e ao seu filho, Phellipe Chiesi por sua disponibilidade, paciência e

interesse em colaborar com esta dissertação.

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À Regina Barbosa, por ter me levado às aulas do querido Claudio Portugal, que

incentivou toda essa jornada e por abrir a porta de sua casa diversas vezes

para me receber aflito em meio a tantos "jatos de pensamentos" a respeito

desta dissertação, e apesar de suas correrias diárias, ter parado para trocar

algumas palavras que tanto me ajudaram.

À Eloize Navalon, em especial, agradeço por seus conselhos, ensinamentos e

por proporcionar insights durante todas as conversas e livros emprestados...

E como não poderia deixar de ser, agradeço, de maneira emocionada e com

imensa importância a minha amiga, crítica e leitora Miriam Levinbook, não só

pelo apoio incondicional nos momentos de fracasso e sucesso, pelas longas

conversas e trocas sobre nosso fazer no dia a dia, mas sobretudo por acreditar

em minha capacidade.

À minha Família, às mulheres da minha vida, avó, mãe e irmã, muito grato por

acreditarem sempre em mim e naquilo que faço e por todos os ensinamentos

de vida. Espero que esta etapa, que agora termino, possa, de alguma forma,

retribuir e compensar todo o carinho, apoio e dedicação que, constantemente,

me oferecem. Dedico este trabalho a vocês.

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RESUMO

Esta dissertação trata de apresentar aspectos relativos à estamparia têxtil em

seu contexto tecnológico, no sentido de elucidar suas técnicas e processos.

Amplia este estudo, no aprofundamento das relações entre indústria têxtil na

qual se insere a estamparia, acerca da sustentabilidade ambiental. Com o

estudo de caso de uma indústria têxtil, evidencia a importância do design e do

designer têxtil, nos desafios que podem promover a busca por soluções, no

sentido de minimizar os impactos ambientais que beneficiem a sociedade de

acordo com as leis e diretrizes da política municipal de desenvolvimento

sustentável. Relata questionamentos encontradas no estudo de caso que

trazem perspectivas para a reflexão o fazer do designer nesta área industrial.

Palavras-chave: Design Têxtil; Estamparia Industrial; Sustentabilidade

Ambiental; Designer.

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ABSTRACT

This master thesis introduces aspects of textile printing in its technological

context, in order to elucidate their techniques and processes. Expands this

study, in the relations between the textile industry which includes the printing

with the environmental parameters. Shows the importance of design and the

textile designer in the challenges that can promote benefits about sustainable

development solutions to the society. Reports the questions found in the case

study that bring perspective to make the reflection of the designer in this

industrial area.

Key-words: Textile Design; Printing Industry; Environmental Sustainability;

Designer.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Amarrações de Tie Dye .......................................................................... 16

Figura 2 - Passo a passo da técnica de Tie Dye ................................................... 17

Figura 3 - Passo a passo da técnica de Batik ....................................................... 17

Figura 4 - Passo a passo da técnica de Batik ....................................................... 18

Figura 5 - Técnica de Carimbo ............................................................................... 18

Figura 6 - Técnica de Carimbo ............................................................................... 19

Figura 7 - Passo a passo da técnica de Estêncil .................................................. 20

Figura 8 - Técnica de serigrafia de mesa ou estamparia de quadros ................. 21

Figura 9 - Técnica de serigrafia rotativa ou estamparia de cilindros ................. 22

Figura 10 - Utilização de softwares de design para criação ................................ 23

Figura 11 - Gravação de cilindro ............................................................................ 25

Figura 12 - Tabela relativa a evolução das técnicas de estamparia ................... 27

Figura 13 - Referências para criação ..................................................................... 51

Figura 14 - Pesquisa e Desenvolvimento .............................................................. 52

Figura 15 - Máquina do processo analógico ......................................................... 54

Figura 16 - "Cozinha" de cores .............................................................................. 55

Figura 17 - Detalhe dos tonéis de pasta posicionados na máquina ................... 57

Figura 18 - Detalhe da "cozinha" de cores da fábrica .......................................... 59

Figura 19 - Mesa de amostras ................................................................................ 59

Figura 20 - Impressão ink-jet indireta por transferência de calor ....................... 63

Figura 21 - Impressão ink-jet direta ....................................................................... 64

Figura 22 - Ambiente de trabalho do designer têxtil ............................................ 66

Figura 23 - Comparativo dos processos analógico e digital ............................... 67

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

1. DESIGN E ESTAMPARIA TÊXTIL ....................................................................... 12

1.1 Técnicas artesanais/mecânicas ................................................................... 15

1.2 Técnicas automáticas/digitais ..................................................................... 20

1.3 Estamparia e as mudanças tecnológicas ................................................... 26

2. INDÚSTRIA TÊXTIL E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL ............................... 29

2.1 Sustentabilidade e Design Têxtil ................................................................. 33

2.2 Estamparia Têxtil, Tecnologia e Sustentabilidade ..................................... 44

3. ANÁLISE FABRIL: PROCESSOS ANALÓGICO E DIGITAL .............................. 48

3.1 A empresa ...................................................................................................... 49

3.1.1 Fluxo de desenvolvimento de produto ..................................................... 50

3.1.2 Estudo de caso: processo analógico ....................................................... 54

3.1.3 Estudo de caso: processo digital ............................................................. 62

3.2 Comparativo dos estudos ............................................................................ 67

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 70

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 72

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INTRODUÇÃO

Desde o surgimento dos primeiros tecidos com fibras naturais, como a lã, o

linho, a seda e o algodão, passando pela inserção das fibras artificiais e

sintéticas, até os chamados tecidos inteligentes, nota-se, em vários momentos,

a história dos têxteis vinculada à tecnologia, constatando-se a evolução destes,

por meio do desenvolvimento de novas técnicas, processos e a utilização de

novos materiais.

A indústria têxtil é composta pelas etapas que vão desde a fiação, tecelagem,

malharia, beneficiamento, tingimento, estamparia até os beneficiamentos dos

tecidos que incluem dentre outros, os tingimentos, e a estamparia dos tecidos.

Destaca-se neste fluxo industrial a etapa de estamparia que “desempenha

fundamental papel no processo de percepção de valor de produto pelos

consumidores, funcionando como um atrativo maior na hora da escolha entre

um artigo têxtil ou outro” (BASTIAN, 2009).

Ao longo do tempo, as possibilidades de se reproduzir desenhos nos têxteis se

modificaram de acordo com os avanços tecnológicos, ampliando seu

significado e os projetos passam a ser multidisciplinares, com a participação de

várias competências. A alta complexidade das questões que envolvem um

produto têxtil, tais como seus aspectos tangíveis e intangíveis, demandam uma

visão abrangente trazendo pluralidade as soluções e tal evolução da

complexidade traz aos profissionais do setor têxtil uma abordagem cada vez

mais especializada.

Com as constantes mudanças nos cenários mundiais econômicos, sociais,

ambientais e tecnológicos, o setor enfrenta novos desafios diariamente, como a

abertura de mercados, mudanças rápidas de tecnologias, mudanças culturais e

distintos acessos à informação. Por esta perspectiva, a demanda das

estamparias por designers têxteis com uma visão abrangente, que sejam

capazes de se articular com os outros setores da indústria, tornou-se uma

questão importante no desenvolvimento de produtos.

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Visando apresentar o desenvolvimento de produtos têxteis estampados em sua

dimensão ambiental e a contribuição do designer neste campo de atuação, a

presente dissertação aborda o design têxtil, em particular os processos de

impressão, elucidando sobre as técnicas analógica e digital adotadas pelas

estamparias têxteis, com vistas ao desenvolvimento sustentável ambiental.

A estrutura do trabalho inicia-se com o primeiro capítulo, que trata do design

têxtil, trazendo as técnicas de estamparia têxtil e os processos de analógico à

digital com vistas as suas evoluções e transformações tecnológicas. Já o

segundo capítulo evidencia a indústria têxtil no âmbito da sustentabilidade

ambiental, abordando nas etapas de desenvolvimento do produto têxtil, as

intervenções do designer em seus processos criativos e produtivos.

Com o objetivo de esclarecer a abordagem da sustentabilidade na indústria

têxtil em sua aplicação prática, o terceiro capítulo apresenta um estudo de caso

em uma empresa que precisou adequar-se às leis e diretrizes da política

municipal de desenvolvimento sustentável. Elaborou-se a pesquisa por meio do

método fenomenológico, preocupando-se com “a descrição direta da

experiência tal como ela é (...) tantas quantas forem as suas interpretações e

comunicações” (SILVA; MENEZES, 2001). De forma qualitativa com caráter

exploratório, partiu-se para a obtenção de dados descritivos mediante contato

direto e interativo deste autor com a empresa, em conversas informais no dia-

a-dia com alguns colaboradores, entre operários e diretoria, e a observação de

seu processo fabril produtivo.

Nesta dissertação, busca-se, portanto, observar a estamparia industrial desde

o seu surgimento até suas mudanças tecnológicas e, com isso, trazer

contribuições à indústria têxtil e propor questionamentos sobre o fazer do

designer e sua responsabilidade diante das questões acerca da

sustentabilidade ambiental.

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1. DESIGN E ESTAMPARIA TÊXTIL

"O design pode ser visto como um confronto entre diversas opiniões

sobre assuntos como o papel da vertente tecnológica e o processo

industrial; prioridade da função, simplicidade e custo, sobre o luxo e a

exclusividade; e o papel da funcionalidade, estética, decoração e

simbolismo em objetos práticos para uso comum" (FIELL, 2000, p. 8).

O design como atividade surge após a primeira Revolução Industrial, quando

“[...] objetos são produzidos industrialmente partindo do desenho ou projeto

expressamente estudado para uma produção em série” (DORFLES, 1972,

p.15), servindo às demandas concretas do desenvolvimento da economia

capitalista do século XIX.

Inerente ao campo do Design, a atitude projetual tratada por autores da área

(BAXTER, 1995; BONSIEPE, 1997; CARDOSO, 2004; FIELL, 2000;

KAZAZIAN, 2005) pode ser definida como processo técnico e criativo

relacionado com a concepção, elaboração e especificação de um produto.

As áreas de conhecimento relativas ao design são múltiplas como, por

exemplo, design de produto, design industrial, design de interiores, design

gráfico, design digital, design de games, design de moda. Neste contexto, a

presente pesquisa trata como objeto de estudo especificamente do design

têxtil.

Rafael Cardoso (2004) relata o design, do ponto de vista etimológico como um

aspecto abstrato de conceber, projetar, atribuir e outro concreto de registrar,

configurar, formar e segundo a conceituação tradicional, a elaboração de

projetos para a produção em série de objetos por meios mecânicos, assim

possibilitando a indústria um caminho na concepção de um produto têxtil desde

a sua definição até o consumidor.

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O design abrange um vasto campo de atividades e conhecimentos, e de acordo

com Costa (2003) o design têxtil tem se colocado como estratégia pró-ativa

voltado para a diferenciação do produto.

"A busca de materiais diversificados (...) na utilização de um substrato

para a transformação em um produto diferenciado, com valor

agregado, vêm ao encontro de aspirações contemporâneas do

homem, das exigências da moda, no que se refere a qualidade da

criação, contribuindo para o aperfeiçoamento do produto têxtil em sua

dimensão estética, sustentável, criativa e tecnológica" (COSTA, 2003,

p.15).

O design têxtil é a área com o objetivo de desenvolvimento de superfícies

têxteis, não apenas com a produção de desenhos ou imagens, mas com a

análise, organização e métodos de soluções visuais, respeitando as

características culturais, técnicas e industriais (CASTRO, 1981).

Especificamente, na construção de superfícies têxteis o design passou a ser

entendido como uma ferramenta fundamental na sua concepção por meio da

industrialização. O design têxtil ao que concerne a impressão em substratos

têxteis1 compreende desde as técnicas artesanais/manuais até as técnicas

automáticas/digitais que na criação e produção, passaram por

aperfeiçoamentos de seus processos.

Historicamente (JOHNSTON; KAUFMAN, 1967; SCHOESER, 2003) percorre-

se um longo caminho no desenvolvimento de têxteis, assim como desde a

primeira técnica de estamparia artesanal até as avançadas técnicas atuais.

Antes mesmo da invenção do tecido, o ser humano produziu pinturas sobre a

própria pele e mais tarde no couro, utilizando-se corantes naturais como o

barro. Nesta época, as pessoas usavam as mãos para criarem os desenhos e

mais tarde foram se desenvolvendo os pincéis .

1 O substrato corresponde ao "suporte" que será utilizado na impressão, neste caso, o tecido

que pode sofrer vários processos físicos e químicos durante os beneficiamentos que tem como objetivo melhorar seu aspecto visual e tátil.

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As primeiras técnicas de estamparia surgiram a mais de 3000 a. C. no Oriente

produzindo tecidos de algodão por meio da técnica conhecida como Batik

(STOREY, 1974), que consiste em desenhar com cera sobre o tecido nas

partes que não receberão tinta, e em seguida tingi-lo com várias cores. Já no

Ocidente a estampa era feita por meio de madeira gravada. Foi a partir daí que

o método disseminou-se pela Europa (JOHNSTON; KAUFMAN, 1967).

Na século XVII os adamascados e as sedas com pequenas figuras foram

características tornando-se os mais comercializados no Oriente e no Ocidente.

Neste mesmo período foi criado o cilindro para estampar, o que significou um

grande avanço para a estamparia têxtil (SCHOESER, 2003; CHATAIGNIER,

2006).

No século XX, a técnica conhecida como impressão por quadros ou serigrafia

foi bastante usada e se popularizou. Nos anos de 1950 o processo foi

automatizado. Em 1962 um novo processo combinando o antigo sistema a

rolos e o sistema de quadros, chamado cilindro rotativo, foi desenvolvido e

passou a dominar as técnicas de estamparia têxtil (JOHNSTON; KAUFMAN,

1967). Em 1980, na França, surgiu a termo-impressão que utiliza alta

temperatura para transferência de corantes (CHATAIGNIER, 2006).

O último processo de estamparia a ser desenvolvido foi o jato de tinta, ou

estamparia digital, no fim do século XX (RUSSELL, 2011). Esta técnica - que

será tratada especificamente adiante - permite a reprodução fiel de desenhos,

beneficiando o substrato têxtil com mais cores e maior riqueza de detalhes, e

ainda, apresenta um maior aproveitamento de materiais.

Portanto, a estamparia têxtil define-se por um processo de beneficiamento,

localizada na cadeia têxtil, que abrange um fluxo produtivo composto por

etapas como: fiação, tecelagem, malharia, confecção, varejo, até a

comercialização do produto.

O termo beneficiamento engloba o conjunto de operações a que um substrato

têxtil é submetido após a sua fabricação até estar pronto para ser

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comercializado. Essas operações, às quais se podem aplicar também a

designação de “enobrecimento” do substrato têxtil, podem ser divididas,

segundo o SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (2013), da

seguinte maneira:

Tratamento prévio ou preparação: conjunto de operações necessárias

para preparar o material para ser tingido, estampado ou receber um

dado acabamento; estas operações são por vezes designadas, por

exemplo, genericamente apenas por branqueamento;

Tingimento: operação de coloração uniforme do substrato têxtil;

Estamparia: operação de aplicação de um desenho (ou arte-final) no

substrato têxtil;

Acabamento: operação final que consiste em alterar as características

físico-químicas do substrato têxtil.

Compõem os processos técnicos em estamparia industrial, a tecnologia

analógica que pode ser direcionado a quadros ou cilindros, e a tecnologia

digital de alta resolução. Assim, propõe-se aqui, a elucidação das tecnologias

artesanais/mecânicas e automáticas/digitais apresentando uma tabela em linha

cronológica que visa a evolução dos processos, como reconhecimento

importante para o designer têxtil a fim de compreender, interpretar e

reconhecer a técnica mais adequada para a sua criação ou idéia de design.

1.1 Técnicas artesanais/mecânicas

O desenvolvimento de têxteis por meio das técnicas artesanais/mecânicas

prescindem o uso de maquinário, porém, são utilizadas habilidades

fundamentais de desenho, cor e repetições para reunir idéias para a criação e

produção do substrato estampado, desenvolvendo a investigação visual

através de experimentações permitidas na fase de concepção do design têxtil.

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Conforme indicam os documentos históricos, relativos a essas

experimentações, os processos de estamparia têxtil remontam a mais de 3000

a.C. por meios dos tingimentos naturais na China (SCHOESER, 1986) e

algumas técnicas artesanais/mecânicas, apesar de antigas permanecem e se

mantém inalteradas até hoje, como é o caso do Tie Dye, Batik, Carimbos e o

Estêncil (JOHNSTON; KAUFMAN, 1967; SCHOESER, 2003; CHATAIGNIER,

2006; STOREY, 1974).

O Tie Dye é oriundo da África do Norte e consiste em usar amarrações,

costuras e dobras para reservar áreas no substrato têxtil que não serão

tingidas por uma imersão no corante. Como esses processos de amarração,

costuras e dobramentos podiam ser repetidos com alguma precisão os

resultados finais destes tingimentos alcançavam uma estética que poderia ser

reproduzida (SCHOESER, 1986).

Figura 1 - Amarrações de Tie Dye

Fonte: <http://goo.gl/idiViJ>. Acesso em 13/06/2014.

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Figura 2 - Passo a passo da técnica de Tie Dye

Fonte: produção do autor, 2013.

Já o Batik, é uma técnica tradicional da Indonésia - apesar de ter surgido na

Índia (JOHNSTON; KAUFMAN, 1967) -, que consiste em reservar a área do

substrato têxtil com ceras derretidas (pasta de arroz ou material vedante) antes

do tingimento feito à frio. O uso da cera delimita o desenho e cobre o substrato

têxtil em ambos os lados e o processo de reserva e tingimento é repetido de

acordo com a quantidade de cores que utilizadas para obter-se a estampa.

Figura 3 - Passo a passo da técnica de Batik

Fonte: produção do autor, 2013.

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Figura 4 - Passo a passo da técnica de Batik

Fonte: produção do autor, 2013.

Em ambas as técnicas os substratos têxteis eram imersos em corantes e

assim, as áreas protegidas dos desenhos poderiam ser preservadas e tingidas,

controlando quais cores entrariam na composição dos mesmos. O processo de

vedação dessas áreas, no início, dependia de um copista/desenhista para o

controle dos tempos de imersão e a alquimia dos corantes que eram

inconstantes e tornavam a peça de substrato têxtil única. E como o Batik tem a

característica de gerar peças únicas, para conseguir reproduzir os desenhos,

esta técnica associou-se aos carimbos (STOREY, 1974).

O carimbo é umas das técnicas mais antigas e representam a maneira mais

primitiva de impressão em relevo negativo (KLUGE, 1982). Nas técnicas as

partes salientes colhem o corante e assim o desenho é reproduzido em

negativo, permitindo inúmeras reproduções fiéis do desenho sobre o substrato

têxtil e devido a este fato, hoje temos o rapport que na forma de carimbo, o

desenho se encaixa pelos lados e pela parte de cima na de baixo, criando uma

imagem continua (BRIGGS-GOODE, 2013).

Figura 5 - Técnica de Carimbo

Fonte: <http://goo.gl/PEfWZM>. Acesso em 13/06/2014.

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Figura 6 - Técnica de Carimbo

Fonte: produção do autor, 2013.

A mecanização e reprodução dos desenhos foi inspirada no método de

carimbos (ou block printing), muito utilizado na Índia e apreciado na Europa

desde a época das navegações, é até natural que essa fosse a técnica

privilegiada para a produção em massa (STOREY, 1974). Assim, os primeiros

equipamentos mecânicos de produção desenvolvidos na Inglaterra, bem como

as distintas técnicas e tecnologias de gravação, dedicaram-se a reproduzir a

linguagem dos carimbos, caracterizada pela nítida separação entre as cores e

pela impressão chapada que, com o uso da retícula 2 , poderia promover

variedades tonais além daquelas obtidas pelo uso de distintas cores impressas

(BRIGGS-GOODE, 2013).

Seguindo o princípio de áreas reservadas e mecanização dos carimbos, o

Estêncil que consiste na técnica de transferência do corante para o substrato

têxtil através de um desenho recortado em uma chapa de material rígido

(KLUGE, 1982). Alguns estudos a respeitos dos povos antigos demonstram

que a partir de perfurações e recortes em folhas que eram sobrepostas sobre

substratos têxteis, assim decorando-os. A estética “maquínica”, neste aspecto,

esteve vinculada a essa referência até o surgimento da serigrafia, já no final da

década 1920 (NEIRA, 2012).

2 Ao observarmos com uma lente de aumento uma imagem impressa - por exemplo, uma foto

em uma revista, livro ou jornal - notaremos que ela é composta por uma sucessão de centenas de milhares de pequenos pontos. Essa "rede" de elementos geométricos é responsável pela composição das cores e dos degrades da imagem e é chamada retícula.

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20

Figura 7 - Passo a passo da técnica de Estêncil

Fonte: produção do autor, 2013.

As chapas foram sendo aprimoradas, passaram a ser feitas de metal e

colocando-se molduras ao redor delas, alavancando o processo de confecção

dos quadros, dando origem ao silkscreen (BRIGGS-GOODE, 2013), ou como

será tratado a seguir, serigrafia.

1.2 Técnicas automáticas/digitais

A partir das "adaptações técnicas" artesanais/mecânicas de estampar,

surgiram as técnicas automáticas/digitais (BRIGGS-GOODE, 2013). Os

processos estão divididos em: estamparia a quadro, estamparia de cilindro,

estamparia a laser e estamparia digital (RUSSELL, 2011) - esta última

especificamente, será tratada no decorrer deste trabalho. Porém, a técnica

mais utilizada é a serigrafia dividindo-se em serigrafia de mesa e serigrafia

rotativa.

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"Na serigrafia de mesa, conhecida na indústria têxtil como estamparia

de quadros, utilizam-se telas planas para a impressão em substrato

têxtil - as cores podem ser decompostas pelo processo de

quadricromia3" (NEIRA, 2012).

Assim, as telas são posicionadas ao longo da parte superior da mesa onde há

uma correia, conhecida como tapete ou manta. O substrato têxtil é gomado nas

ourelas 4 junto ao tapete e assim movem-se simultaneamente de forma

intermitente com a distância de uma tela (que tem tamanho variável) de

repetição. Todas as cores do desenho são impressas enquanto o substrato

têxtil está estacionado, em seguida, as telas são levantadas e o substrato têxtil

move-se, e desse modo se repete todo o processo.

Figura 8 - Técnica de serigrafia de mesa ou estamparia de quadros

Fonte: <http://goo.gl/Kh8VqQ>. Acesso em 13/06/2014.

3CMYK, sigla que identifica a quadricromia, pela mistura tonal ou ótica das cores primárias, do

sistema subtrativo ciano, magenta, yellow (amarelo) e key (chave/preto). 4 Ourela, extremidade mais grossa de um tecido, que lhe serve de acabamento no sentido do

urdume (longitudinal); margem e/ou borda do tecido.

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Já na serigrafia rotativa são utilizados cilindros (ou seja, telas cilíndricas) que

giram e em contato com o substrato têxtil formam genuinamente uma

impressão contínua (RUSSELL, 2011). Alimentadas com corante pelo seu

interior durante a impressão, esses cilindros, expelem por meio mecânico o

corante através das zonas gravadas que formam o desenho.

Figura 9 - Técnica de serigrafia rotativa ou estamparia de cilindros

Fonte: <http://goo.gl/Kh8VqQ>. Acesso em 13/06/2014.

A serigrafia é considerada um aperfeiçoamento dos métodos de produção de

substratos têxteis estampados, consequentemente, da evolução dos

equipamentos e produtos têxteis (BRIGGS-GOODE, 2013; RUSSELL, 2011;

UJJIE, 2006), onde a estamparia oferece alta velocidade na produção e,

consequente, vantagem econômica (MILES, 2003).

A serigrafia rotativa tem a limitação da largura das telas cilíndricas e o

comprimento de imagem que pode ser impressa (MILES, 2003), ou seja, a

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largura do substrato têxtil é limitada enquanto e o tamanho do rapport 5

também, ficando entre 320 mm e 640 mm (ou seus múltiplos).

Com as tecnologias tornando-se digitais, a adoção de sistemas automatizados,

softwares de design (CAD6/CAM7), etc., modifica a maneira de pensar, criar e

produzir, atendendo a demanda de inovação da estamparia industrial e do

designer têxtil que exigem a redução do tempo dos projetos têxteis, agora

chamados de projetos digitais têxteis (UJJIE, 2006).

Figura 10 - Utilização de softwares de design para criação

Fonte: < http://goo.gl/gXlsAr>. Acesso em 13/06/2014.

Relativo a evolução e a redução de tempo dos projetos digitais têxteis, segundo

Jones (2002), o processo de digitalização do desenho na indústria têxtil teve

início no final da década de 1980, e no Brasil introduzido em meados dos anos

de 1990 quando os primeiros softwares – vetoriais e de bitmap (de imagem) –

começaram a ser utilizados para a elaboração de desenhos.

5 Rapport, do francês, significa repetição. É o padrão mínimo do desenho a ser impresso.

6 Computer Aided Design ou Desenho Assistido por Computador (tradução livre).

7 Computer Aided Manufaturing ou Manufatura Assistida por Computador (tradução livre).

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“Enquanto as repetições de motivos têxteis e variantes de cor eram

feitos a mão e demoravam horas ou até mesmo dias para serem

finalizados, os programas de estamparia digital começam a permitir, a

partir deste momento, um ganho relevante para as mudanças

impostas pela moda, facilitando com isso, o processo de

desenvolvimento e criação do designer têxtil [...]” (LEVINBOOK, 2008.

P.36).

Tal produção imagética facilitada por programas de computador tem sido mais

uma possibilidade de expansão no desenvolvimento criativo do designer em

projetos digitais têxteis que demandam, constantemente, atualização em

ferramentas de auxílio para manipulação do desenho. Nessa linha, muitos

destes profissionais começaram a perceber nestas mudanças outras

potencialidades na criação no design têxtil para a indústria.

“O advento do computador não só revolucionou nossos meios de

processamento de informação, como também possibilitou novos

métodos para a criação do desenho. Como o computador é

primariamente uma máquina de “triturar” números, está

particularmente adequado para produzir configurações de ordem

estritamente matemática. Com o desenvolvimento rápido nos últimos

anos de programas gráficos e periféricos a eles relacionados, o

computador agora é capaz de realizar com grande eficiência a maior

parte do trabalho de desenho normalmente feito a lápis, caneta e

pincel. Deste modo, ele abre novos horizontes” (WONG, 2001, p. 14).

Nesse contexto três situações ou etapas foram vivenciadas, por designers e

consumidores, ao longo dos anos na indústria têxtil:

"[...] no primeiro momento, enquanto a arte-final8 era executada com a

utilização de computadores e softwares gráficos, o processo de

gravação, muitas vezes, continuava a ser fotomecânico, ou seja,

fotografava-se a arte-final que havia sido impressa em impressoras

de papel com a finalidade de obter os fotolitos necessários à

8 É a designação mais adequada para corresponder ao desenho já finalizado para ser aplicado

no substrato têxtil, a partir do qual as matrizes os dados de impressão são gerados. Atribuir à execução da arte-final a qualificação de projeto gráfico supõe entender que a arte-final é resultado de pesquisa e desenvolvimento, e que o trabalho resultante não é apenas um desenho, mas um projeto mais amplo.

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gravação de cilindros e/ou quadros; em um segundo momento, os

processos de geração de fotolito passaram a ser feitos a partir do

arquivo digital, eliminando-se a fotografia para a separação das

cores; e finalmente a terceira etapa caracterizou-se pela eliminação

do processo de gravação e também dos fotolitos, uma vez que as

matrizes de impressão puderam ser preparadas a partir da

transmissão de dados diretamente do computador para o mecanismo

de gravação" (NEIRA, 2012, p. 22).

Figura 11 - Gravação de cilindro

Fonte: <http://goo.gl/D7T2ay>. Acesso em 13/06/2014.

Assim, pode-se dizer que nos projetos digitais têxteis algumas etapas dos

processos artesanal/manual são substituídas ou eliminadas e com a evolução

das técnicas e as mudanças tecnológicas, no que diz respeito a estamparia

industrial, percebe-se novas possibilidades de criação e produção de

substratos têxteis estampados. Segundo Jorge Neves (apud LEVINBOOK,

2008, p. 51) os métodos de criação e fases produção são os seguintes:

Criação e/ou adaptação de um desenho ou imagem;

Separação de cores do desenho (preparação do quadro ou cilindro para

gravação);

Gravação de quadros ou cilindros;

Preparação do substrato têxtil;

Preparação dos corantes;

Estamparia no substrato têxtil;

Secagem;

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Fixação;

Acabamentos posteriores.

As etapas apontadas acima são consideravelmente reduzidas, quando se trata

da estamparia digital que altera os padrões anteriores da estamparia industrial

nos aspectos tecnológicos, na criação e produção quanto a sua velocidade e

processo produtivo, atendendo às necessidades do consumidor no cenário da

globalização, assim, vários aspectos são modificados pela estamparia digital ao

aproximar a criação junto à produção e promover o atendimento aos

consumidores no desenvolvimento do projeto digital têxtil.

1.3 Estamparia e as mudanças tecnológicas

De analógicos aos digitais, os processos de desenvolvimento de têxteis

estampados permanecem inseridos na indústria e não são todas as técnicas

descritas anteriormente que se tornaram obsoletas. Mediante esses processos,

há decisões a serem tomadas relativas ao desenvolvimento que o designer

têxtil atravessa para obter-se um substrato têxtil estampado, incluindo a

escolha de matérias-primas, tecnologia de impressão e acabamentos, assim

como a compreensão de forma eficaz dos processos tendo em vista os

requisitos de seu briefing, cumprindo suas exigências.

Com vistas a facilitar ao designer têxtil o desenvolvimento de têxteis, e a

elucidação das técnicas e processos utilizados pela indústria têxtil, apresenta-

se uma tabela contendo informações sobre as técnicas de estamparia e sua

relação direta com processos, tecnologias, design, etc. desde a estamparia

advinda dos processos artesanais/mecânicos até o processo totalmente

automático/digital.

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Figura 12 - Tabela relativa a evolução das técnicas de estamparia

PERÍODO 3000 a.C. 500 a.C. 1800 d.C. 1900 d.C. 2000 d.C.

TÉCNICA Tie Dye /

Batik

Carimbo /

Estêncil

Serigrafia de

mesa e

rotativa

Serigrafia de

mesa e

rotativa /

Transfers

Digital

PROCESSO Artesanal Artesanal

Manual,

Mecânico e

Digital

Mecânico

automático e

Digital

Digital

COMPOSIÇÃO

DO DESENHO Manual Manual

Manual e

Digital

Manual;

Softwares

Design Têxtil

Softwares de

Design Têxtil

NEGATIVOS ***** ***** Manual e

Digital

Manual;

Softwares

Digital

*****

RELEVAÇÃO ***** ***** Fotográfico e

Digital

Fotográfica;

Gravação

Digital

*****

TECNOLOGIA Artesanal Artesanal Artesanal e

Mecânica

Mecânica

automática e

Digital

Impressão

Direta Digital

Fonte: informações retiradas de BRIGGS-GOODE (2013), produção do autor, 2014.

Destaca-se os processos artesanais/mecânicos de estamparia que continuam

sendo usados dependendo dos efeitos que se queira alcançar e da

manutenção da técnica na indústria. O Batik e o Tie Dye, por exemplo, são

utilizados para a produção de substratos ou mesmo peças de vestuário

exclusivas, onde a técnica não consegue ser reproduzida em escala industrial

por meio mecânico. Já a técnica de carimbos, ainda é utilizada tanto na

estamparia localizada quanto corrida e pode ser aplicada no corte do substrato

têxtil (modelagem) ou na peça de vestuário já confeccionada.

A estamparia a quadro, ou serigrafia de mesa, é mais utilizada na produção de

estampas localizadas e pode ser aplicada na peça de vestuário ou no substrato

têxtil antes de fechar a peça. A estamparia de cilindro, ou serigrafia rotativa, é

utilizada nas grandes produções onde o volume de produção é alto para a

estampa.

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Com o advento das tecnologias digitais, a indústria têxtil vive

fundamentalmente de inovação, quer seja na criatividade, quer seja na

produtividade ou ainda nas necessidades resultantes da evolução do mercado

têxtil (como flexibilidade, redução das etapas processuais, necessidade de

comunicação com o mercado, redução dos impactos e adequação as leis

ambientais).

“A constante evolução e modificação do processo de design, devido

à sua aproximação com disciplinas tecnológicas e culturais,

psicológicas e comportamentais, trazem a essa atividade uma

discussão aberta e avançada (...) de igual valor também, cabe essa

tarefa aos designers, que tendem a funcionar como verdadeiros

intérpretes entre os usuários e a produção” (MORAES, 1999, p. 158).

Pelo exposto acima é possível entender o design e/ou designer como condição

para novos parâmetros na estamparia industrial aproximando as possibilidades

de criação e processos de produção das mudanças tecnológicas. Por esse

viés, com vistas a abordar no capítulo três o estudo de caso de uma

estamparia têxtil localizada na cidade de São Paulo que precisou adequar-se

não só às leis de proteção ambiental por estar inserida no meio urbano, mas

também as necessidades e desejos dos consumidores com relação a

discussões pertinentes a conscientização e preocupação ambiental, parte-se

no capítulo dois para a contextualização e reflexão sobre o desenvolvimento

sustentável ambiental na indústria têxtil.

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2. INDÚSTRIA TÊXTIL E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

“O conceito de sustentabilidade ambiental refere-se às condições

sistêmicas segundo as quais, em nível regional e planetário, as

atividades humanas não devem interferir nos ciclos naturais em que

se baseia tudo o que a resiliência do planeta permite e, ao mesmo

tempo, não devem empobrecer seu capital natural, que será

transmitido às gerações futuras” (MANZINI; VEZZOLI, 2005, p. 27).

A conexão entre a indústria têxtil e a sustentabilidade pode parecer

contraditória, visto que o consumo exacerbado de têxteis promove reflexões a

respeito do paradigma dos danos ambientais causados pela indústria têxtil,

considerada uma das que mais polui o meio ambiente, e a possibilidade de se

implantarem inovações com vistas à sustentabilidade (BERLIM, 2012).

Considerando a necessidade atual de conscientização e preocupação

ambiental, é sensato pensar em maneiras de como a indústria têxtil pode se

direcionar nesse caminho.

Os processos no fluxo da cadeia têxtil que inclui a estamparia têxtil envolvem

diversas atividades provenientes de recursos naturais, e consequentemente, os

impactos ambientais por elas gerados vem ganhando volume e importância,

trazendo a tona o consumo excessivo de recursos não renováveis, ou ainda

não totalmente renováveis, como a água, o solo, o petróleo, a fauna e a flora.

Por essa preocupação com os recursos naturais, foi no final do século XX que

começaram os discursos acerca do desenvolvimento sustentável,

sustentabilidade ambiental e reflexões sobre crescimento econômico e as

preocupações ambientais. O termo desenvolvimento sustentável foi

conceituado na década de 1970 pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente

e Desenvolvimento (CMMAD), porém o conceito foi definitivamente incorporado

durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento, a Cúpula da Terra de 1992 - Eco-92, no Rio de Janeiro

(LIMA, 2008), adotando o desenvolvimento sustentável como o

"desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração presente, sem

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comprometer a capacidade do atendimento às necessidades das futuras

gerações" (CLARO; CLARO; AMÂNCIO, 2008, p. 289).

Neste contexto, Baxter (1995) vai além com o Ecodesign que talvez seja a

parte mais importante de todos os processos e práticas, na concepção do

produto, quando seu custo ainda é zero e seu impacto também, são definidas

todas as suas características: material, durabilidade, estilo, cor, forma, métodos

de fabricação, estratégias de fabricação, atividades pré-produção, produção e

comercialização.

Contudo conforme observado por Veiga (2005), devemos ser cautelosos ao

falar do conceito de desenvolvimento sustentável. O termo desenvolvimento

pode ser colocado como sinônimo de crescimento econômico, tornando assim

complexa a sua conceituação, como descrito ainda por Veiga (2005),

adjetivado como sustentável surgiu da necessidade de conciliar o crescimento

da produção de bens e serviços, destinados ao bem-estar das pessoas, com a

preservação ambiental da Terra. Com a mesma cautela Holthausen (2002)

coloca que existem dezenas de definições de desenvolvimento sustentável,

porém muitas apenas para boa composição literária, e não com o possível

objetivo de promover novas posturas culturais e sociais.

Becker (2002) considera, que o desenvolvimento sustentável vem sendo

utilizado como portador de um novo projeto para a sociedade, capaz de

garantir, no presente e no futuro, a sobrevivência dos grupos sociais e da

natureza. O desenvolvimento sustentável é transformado, pouco a pouco, em

uma categoria-chave, amplamente divulgada ‘até mesmo um modismo’,

inaugurando uma via alternativa onde transitam diferentes grupos sociais e de

interesse como, por exemplo, políticos, profissionais dos setores, público e

privado, ecologistas, economistas, agências financeiras, grandes empresas,

entre outros.

De acordo com LIMA (2008), o conceito de desenvolvimento sustentável está

em construção. Seu ponto de partida foi o compromisso político, em nível

internacional, com um modelo de desenvolvimento em novas bases, que

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compatibilizasse as necessidades de crescimento com a redução da pobreza e

a conservação ambiental.

Conforme Holthausen (2002) muitas pessoas estão lentamente tomando

conhecimento da devastação ambiental promovida pelo próprio consumo da

sociedade. São algumas posturas e reflexões que nos conduzem a uma nova

atitude frente ao desenvolvimento, fazendo com que sejamos mais exigentes

sobre as ações, principalmente os empreendedores e consumidores.

Por essa percepção, destacam-se segundo LIMA (2008) a dimensão ética no

almejado equilíbrio ecológico onde está o futuro do ecossistema; dimensão

temporal, que determina a necessidade de planejar em longo prazo, rompe

com a lógica imediatista, e estabelece o princípio da precaução; a dimensão

social, que expressa o consenso de que só uma sociedade sustentável –

menos desigual e com pluralismo político – pode produzir o desenvolvimento

sustentável; e finalmente, a dimensão prática, que reconhece necessária a

mudança de hábitos de produção, de consumo e de comportamentos.

Dessa forma, em meio a tantas versões sobre desenvolvimento sustentável o

que se destaca é a forte visão convergente de que as sociedades industriais

estão entrando em uma nova fase de evolução. Conforme Holthausen (2002),

evoluímos para uma reformulação incluindo múltiplas variáveis a nossa

percepção de sociedade com os recursos naturais, a produção de bens e

serviços.

Considerando que o conceito de desenvolvimento sustentável sugere uma

herança permanente de uma geração a outra, para que todos possam prover

suas necessidades, a sustentabilidade, ou seja, a qualidade daquilo que é

sustentável, passa a incorporar o significado de manutenção e conservação

dos recursos naturais (LIMA, 2008). De acordo com Holthausen (2002), essa

ação exige avanços científicos e tecnológicos que ampliem permanentemente

a capacidade de utilizar, recuperar e conservar esses recursos, bem como

novos conceitos de necessidades humanas para aliviar as pressões da

sociedade sobre eles.

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Porém, com o desenvolvimento do capitalismo mundial, essas dimensões e

preocupações ambientais foram deixadas em segundo plano, e intensificadas

no período após a Revolução Industrial, na segunda metade do século XVIII,

acarretando grande prejuízo ao meio ambiente ao longo dos anos e seus

efeitos provocaram mudanças, não só alterando o ecossistema, mas também,

transformando a estrutura social e econômica (MANZINI, 2009). Os processos

de industrialização possibilitaram uma produção de oferta maior que a

demanda, e a economia mundial passou a basear-se não mais na produção, e

sim nas expectativas do mercado, orientando-se então para o consumo. O

desenvolvimento alcançado caracterizou-se pela prosperidade do crescimento

econômico, do progresso científico e dos avanços tecnológicos.

O desenvolvimento sustentável caracteriza-se não só pelos aspectos

ambientais, mas também por sua dimensão econômica que prioriza a eficiência

dos processos produtivos considerando o desenvolvimento de benefícios com

menor utilização de recursos, e pela dimensão social, que se refere ao respeito

ao trabalhador, aspectos legais, e incentivos a empregabilidade. (BERLIM,

2012).

De acordo com Carli (2012), esses progressos se fragmentaram diante da

degradação de um ambiente cada vez mais saturado de mercadorias e detritos;

o risco de exaustão dos recursos do planeta; a redução da necessidade da

mão de obra humana e o alargamento da distância entre riqueza e pobreza,

desencadeando então diversos questionamentos a respeito de

desenvolvimento sustentável e sustentabilidade.

Os objetivos da sustentabilidade entendida em dimensões ecológicas e

ambientais resumem-se em três apontadores conforme Veiga (2005, p.171):

“primeiro: a preservação do potencial da natureza para a produção de recursos

renováveis; segundo: a limitação do uso de recursos não renováveis; e terceiro:

o respeito e realce para a capacidade de autodepuração dos ecossistemas

naturais”. Assim, a sustentabilidade ambiental se relaciona com a capacidade

da natureza de absorver as ações antrópicas e se recompor (BLACK, 2011).

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Para Manzini (2008), sustentabilidade ambiental refere-se às condições

sistêmicas, em nível regional e planetário em que as atividades humanas não

devem interferir nos ciclos naturais e seu capital natural9, que será transmitido

às gerações futuras.

Para o entendimento dos aspectos inerentes a indústria têxtil relativos à

sustentabilidade ambiental, trata-se a seguir, de compreender de que forma os

Design Têxtil, pode contribuir com a busca de alternativas e soluções que

permeiam as questões ambientais.

2.1 Sustentabilidade e Design Têxtil

A sustentabilidade pode estar inserida na indústria têxtil e no design

permeando momentos distintos de seus processos: no projeto (criação), no

desenvolvimento de produto (produção) e no descarte. As aplicabilidades da

sustentabilidade (LIMA, 2008) trazem para o design têxtil um pensar sobre as

relações entre a prática industrial e a sociedade.

Adotar essa visão abrangente, multidisciplinar, no campo do design transcende

a perspectiva binária que concebe os momentos de atuação do designer como

separados e consecutivos (CARLI, 2012), como também a visão linear de como

os processos do design fluem, por vezes descritos por alguns autores como:

projetar, desenvolver, consumir e descartar (BERLIM, 2012; FLETCHER, 2008;

MANZINNI; VEZZOLI, 2008).

Pela abordagem de Bonsiepe (1997), relativa às dimensões ecológicas e

ambientais, observa-se que a preocupação com o quesito ambiental na criação

e produção na indústria têxtil vem ganhando relevância ao longo dos anos.

Alguns autores (FLETCHER; GROSE, 2011; BERLIM, 2012; MELLO;

BATTISTELLA, 2012) afirmam que essa preocupação e as mudanças focadas

9 “Capital natural é o conjunto de recursos não-renováveis e das capacidades sistêmicas do

ambiente de reproduzir os recursos renováveis. O termo também se refere à variedade das espécies viventes do planeta” (Manzini e Vezzoli, 2005, p.27).

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em sustentabilidade ambiental têm sido provocadas pela própria indústria e,

portanto, ao oferecer produtos sustentáveis a indústria estaria em vantagem

competitiva junto aos seus consumidores que se mostram mais receptivos aos

aspectos que se relacionam com a sustentabilidade.

Repensar os métodos de criação, produção e consumo, no sentido de garantir

a redução dos danos ao meio ambiente, pode ser estimulante, segundo

Kazazian (2005), à criatividade, na busca de novas funcionalidades e materiais

e também novas tecnologias e usos; o designer projeta o futuro produto ou

serviço da seleção de matérias primas até o consumidor.

Nesta perspectiva a contribuição do design têxtil, no que concerne à busca de

alternativas sustentáveis capazes de minimizar os impactos do sistema

industrial têxtil é trabalhar além das fronteiras dos processos ou dos

produtores. Envolve repensar/redesenhar a indústria de fabricação como um

sistema completo. No que se refere ao papel do designer, ao abordar o

universo têxtil, Fletcher (2008) propõe o design leve, ou seja, a redução na

utilização de recursos, sem afetar a função dos têxteis.

Nas palavras de Costa (2002), na criação têxtil qualquer tratamento sobre o

assunto deve afastar logo a ideia de que o design é apenas aspecto formal e

estético dos produtos. Ele é um processo complexo de desenvolvimento de

novos produtos que engloba uma pesquisa de necessidades de consumidor, os

métodos de criação, as técnicas, os processos de produção, entre outros.

"[...] O design é o equilíbrio simultâneo de fatores sociais,

ergonômicos, antropológicos, tecnológicos, econômicos e ecológicos,

na construção de elementos e sistemas materiais necessários a vida,

ao bem estar e/ou a cultura do homem [...]" (COSTA, 2002, p. 50).

A partir das constatações de Costa (2002) é possível compreender que o

design têxtil não trata apenas dos aspectos da criação, mas sim, considera o

desenvolvimento dos produtos. Desta forma, um dos conhecimentos

fundamentais para o designer é em relação à construção dos tecidos, ou seja,

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35

como são construídas as estruturas têxteis, para que possa sugerir em seus

projetos de design têxtil, alternativas que atendam demandas que dizem

respeito aos requisitos de sustentabilidade.

A elaboração do substrato têxtil trata da produção industrial de um objeto, no

qual se exige que os designers apresentem soluções às questões relacionadas

à tecnologia têxtil que tem início na matéria-prima até o acabamento do

produto. Na indústria, observada a produção pelo vértice da sustentabilidade

ambiental, o design têxtil ganha espaço, produzindo com menos gastos

energéticos, selecionando cores que sejam próprias para cada tecido,

empregando menos produtos poluentes, recorrendo à mistura de fibras,

utilizando materiais alternativos e/ou de alta tecnologia incorporando assim

qualidade, além de contribuir com o meio ambiente.

Atualmente, o sistema produtivo brasileiro é tido como linear, ou seja, a energia

e a matéria que alimenta a indústria não chegam ao final na mesma

quantidade, o que significa que grande parte da energia é perdida, e parte da

matéria-prima transforma-se em resíduo. Em um sistema cíclico, além de

otimizar a produção, evita-se a contaminação com os componentes químicos

que se decompõem lentamente e vão para o solo e a água.

Há diferentes direções que se formam em torno do termo sustentabilidade e

também inerentes à sua complexidade, apontam que o esforço para aproximar-

se da sustentabilidade deverá, ainda, articular-se em planos diversos que

requerem a intervenção de cada setor da nossa sociedade (Manzini, 2009).

Contudo, a sustentabilidade ambiental, como afirmam ainda os autores, não é

uma direção a ser seguida, mas sim um objetivo a ser atingido, ou seja, nem

tudo que apresentar melhorias em temas ambientais poderá ser considerado

realmente sustentável. Dessa forma, para estar de acordo com os princípios da

sustentabilidade, cada nova proposta apresentada deve atender aos seguintes

requisitos gerais (MANZINI E VEZZOLI, 2005, p.28):

Basear-se fundamentalmente em recursos renováveis (garantindo ao

mesmo tempo a renovação);

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Otimizar o emprego dos recursos não renováveis (compreendidos como

o ar, a água e o território);

Não acumular lixo que o ecossistema não seja capaz de retornar às

substâncias minerais originais e, não menos importante, às suas

concentrações originais.

As mudanças pelas quais a indústria têxtil vem passando para que esteja

alinhada com os princípios mencionados, exigem respostas que reorganizem

os padrões de criação e produção, com as relações na cadeia de suprimentos

e com o mundo do trabalho, repensando além do processo também todo o

sistema da indústria que permitam atender todos os interesses

simultaneamente. Reduzir custos e, ao mesmo tempo, estabelecer condições

dignas de trabalho, oferecendo ao mercado produtos inovadores, consiste na

implementação de estratégias de sustentabilidade. Estas estratégias tem o

potencial de proporcionar competitividade às empresas com a disseminação do

desenvolvimento sustentável na cadeia de valor, desde a produção de fibras

até o consumidor.

Estas mudanças levantam questões sobre o relacionamento entre os negócios,

a atividade industrial e a qualidade ambiental em longo prazo, já que a indústria

têxtil é considerada uma das mais poluidoras do último século, contaminando

com seus processos químicos, a água e o ar, além da energia que demanda da

produção e transporte de produtos (BERLIM, 2012).

A estamparia analógica ou digital visando à preocupação com a

sustentabilidade na indústria têxtil deve estar alinhada a própria prática diária

do designer que estão inseridos neste cenário com a compra e/ou escolha de

materiais, equipamentos e outros recursos a fim de executarem o seu trabalho.

Destaca-se, a oferta de benefícios, como a eliminação de problemas

decorrentes da utilização de processos analógicos já elucidados no capítulo

anterior, assim como a economia de tempo – tanto de criação, de forma que o

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designer possa apresentar soluções ou arte-final, quanto de produção na

redução de custos, quantidade de energia, matéria-prima, resíduo poluente, e

consequentemente, o impacto ambiental oferecendo uma opção

ecologicamente significativa para a indústria têxtil.

Pode-se considerar que "além das vantagens econômicas e ambientais

trazidas pela estamparia digital" (CHIESI, 2013), a etapa projetual também teve

sua metodologia agilizada, haja visto, o percurso entre desenho e produção

minimizado pela eliminação da etapa de gravação. Cabe ao designer têxtil, no

entanto, conhecer mais profundamente a tecnologia de impressão para que

possa, adequadamente, preparar a arte-final, ou seja, o projeto gráfico digital.

"De forma específica na etapa de desenho, os maiores ganhos em se

tratando de tecnologias digitais, são dimensionais e cromáticos. Em

termos dimensionais, a vantagem é decorrente da eliminação de

sistemas de repetição rígidos e, com relação aos cromáticos, verifica-

se a ampliação tonal proporcionada pela simultaneidade de cores

possíveis de serem usadas. Elimina-se a necessidade de se fazer a

transição entre as cores por meio de retículas que diminuem a

qualidade das imagens ou, ainda, a redução de cores em virtude de

um número limitado de quadros ou cilindros da estamparia analógica"

(NEIRA, 2012, p. 24).

Como caracterização da estamparia digital alguns pontos são significativos, tais

como a ausência de contato manual entre o processo de impressão e o

substrato têxtil; ausência de gastos com quadros/cilindros (incluindo o tempo

de fabricação dos mesmos); redução do consumo de água e energia; rápida

alteração do desenho ou arte-final, se necessário; números de cores ilimitados;

capacidade de impressão direto do software.

Com esta redução de etapas em relação ao processo analógico, na eliminação

de cilindros e quadros, exclui-se a etapa de preparação de corantes, ajustes de

maquinário e lavagens de cilindros depois de utilizados na estamparia.

Percebe-se, portanto, o aspecto sustentável deste processo, já que se

evidencia desta forma, a economia de água e energia elétrica em relação aos

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processos analógicos, evitando desperdícios, minimizando o efeito poluidor

pela não utilização de corantes tóxicos ao meio ambiente.

Outro aspecto a considerar, é a demanda de personalização de produtos10 e,

por consequência, a ampliação do número de ofertas por segmento. Neste

sentido, a procura pela estamparia digital têxtil é crescente e tende a aumentar

nos próximos anos (TIPPETT, 2012).

Em se tratando das etapas no processo de criação de estampas, o

desenvolvimento tecnológico de computadores, em programas gráficos e/ou

periféricos, permitem maior eficiência nos processos criativos, já que a

manipulação digital de imagens na utilização de ferramentas de desenho,

pintura, preenchimento de motivos, espelhamento de imagens entre outras, são

capazes de realizar com eficiência a maior parte do trabalho de desenho.

A etapa de eliminação da separação de cores manual e vetorização 11 do

desenho traz um ganho de tempo na elaboração e planejamento do rapport 12

para os desenhos corridos ou contínuos, que tem a repetição como seu

principal atributo de construção. Este ganho de tempo no aproveitamento de

softwares gráficos específicos ou não para o desenho de estamparia (I.T.

Strategies, 2012), promove um espaço ao criador, no desenvolvimento de

novos projetos e desenhos inovadores.

Antes de elucidar os detalhes das inovações nos processos de criação e

produção de impressões têxteis é importante reconhecer que estas inovações

são influenciadas por forças econômicas, estruturais, e até, legislativas e

culturais.

O resultado é uma propagação irregular e com nuances, de inovações por todo

10

Neste sentido, maior variação de desenhos, maior número de amostras, maior número de cores por desenho, individualização do desenho (não há necessidade de venda casada, ou seja, a divisão da produção do desenho em duas ou mais clientes/empresas), maior repetição da mesma produção, se necessário, etc. 11

Linguagem técnica para transformação de linhas de uma imagem em representações numéricas, onde computadores e softwares gráficos possam reconhecer essas representações. 12

Rapport, do francês, significa repetição. É o padrão mínimo do desenho a ser impresso.

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o setor que tende a reforçar o status quo industrial, enquanto que outros tipos

de aperfeiçoamento são pouco conhecidos (SERRA; PLONSKI, 1997). Por

exemplo, enquanto o valor de se aprimorar em todo o sistema é amplamente

reconhecido, as melhorias são pouco praticadas devido à estrutura

fragmentada da cadeia têxtil, que envolve tipicamente pequenas e médias

empresas que tendem a trabalhar com mudanças que, prioritariamente, tragam

benefícios a si próprias. Outras forças que têm influenciado inovações

sustentáveis incluem a preferência cultural do setor por tecnologia e, mais

significativamente, em mudanças legislativas.

Favorecer mudanças tecnológicas culturais e comportamentais é, talvez,

inevitável em uma indústria como a têxtil que desde a Revolução Industrial no

séc. XVIII tem tornado o processamento de materiais mais rápido e barato

através de avanços tecnológicos (DORFLES, 1972). No entanto, o resultado é

uma tendência a negligenciar o principal efeito que este comportamento tem ao

determinar o impacto ambiental geral de um processo ou produto. Isso também

ignora o papel (significativo) de uma mudança branda ao programar ações

sustentáveis e exclui a contribuição de não tecnologias, como os designers e

consumidores.

As técnicas de processamento que emergiram um misto de fatores legislativos

e empresariais, e influenciadas pela estrutura fragmentada da indústria e a

preferência por soluções tecnológicas, são multifásicas quanto à indústria têxtil

em si.

Já que nem todos os processos ou tratamentos químicos podem ser evitados,

de fato, muitos são essenciais para produzir produtos e/ou substratos têxteis

úteis e usáveis. Os problemas precisam ser contabilizados, tanto em pequenas

quanto em grandes inovações, ou algumas vezes por melhorias radicais,

incluindo:

O design e o desenvolvimento de produtos (criação): seleção e

combinação de fibras e materiais têxteis; redução do impacto ambiental da

poluição de tintas, água e uso de energia; redução do desperdício incluindo

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materiais e energia; redução da produção de resíduos e a gestão cuidadosa de

sistemas de fluxo de resíduos; otimização na reutilização e reciclagem;

minimização do número de estágios de processos (como a união de três

estágios de produção de um substrato têxtil: desengomagem, lavagem e

branqueamento em um único processo); boas soluções de design e estética;

novos processos e tecnologias (introdução de dosagem automatizada e

sistema de distribuição de químicos);

Fabricação (produção): locações globais de fornecedores e acordos de

comércio internacional; competição crescente e fast fashion; fontes éticas de

produção, auditoria e observação; códigos de conduta e gerenciamento da

cadeia têxtil; valor do dinheiro e eficiência;

Rentabilidade e Investimento em Pesquisa: consulta ao consumidor e ao

varejo; educação sobre problemas ambientais e éticos; comunicação e

transparência; rastreabilidade e justiça social; fim da vida do produto – nova

responsabilidade e retorno.

No início dos anos 1980, a indústria abre-se para as novas tecnologias de

desenvolvimento de projetos em estamparia têxtil. Os primeiros softwares –

vetoriais e de bitmap13 – começaram a ser utilizados para a digitalização de

desenhos na indústria têxtil (NEIRA, 2012). Os designers passam a ter acesso

a recursos que facilitam significativamente seu processo e a digitalização dos

desenhos (ou a sua construção digitalmente) torna-se uma nova alternativa

para sua criação. Aos poucos, o designer percebe este ambiente digital que

traz possibilidades inéditas e o caráter mutante do desenho digital pode ser um

aliado em seus projetos.

“Uma vez digitalizada a foto ou desenho, podem ser reprocessados,

desviado e modificado à vontade, os parâmetros de cor, tamanho,

forma, textura, etc. podendo ser modulados e reempregados

separadamente” (LÉVY, 1998).

13

Mapa de bits, sendo bit a menor parcela de informação processada por um computador.

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No entanto, até o momento, a utilização dessa tecnologia tem sido mais

valorizada como uma solução para questões de mercado, como a velocidade

de produção e a dimensão das demandas da indústria têxtil e até os custos de

montagem de equipamentos, etc.

Diferentemente das técnicas analógicas já apresentadas anteriormente, a

tecnologia digital de estamparia em substratos têxteis, ampliou as

possibilidades e desafios do design e do designer têxtil, para os

questionamentos acerca da sobrevida da tecnologia e seus precedentes com

vistas ao impacto e a sustentabilidade ambiental.

Além disso, a alteração e concepção do desenho são facilitadas por estar em

ambiente digital, e poder ser novamente enviada para a impressão do substrato

têxtil. Para a produção por meio do processo analógico é necessário que o

desenho seja separado em canais (cores) que serão desmembrados nos

cilindros. Já por meio do processo digital a imagem só precisa ter alta

resolução no tamanho que se deseja. Em alguns casos, o desenho que será

produzido no processo digital também será produzido no processo analógico e

nesses casos a imagem deverá ser a mesma, assim a reprodução será bem

próxima em ambos os processos.

O ganho de tempo com o processo digital é significativo, visto que o processo

analógico, anteriormente apresentado, levaria mais tempo para ser refeito

passando por todas as etapas de produção, enquanto o processo digital levaria

menos tempo, apenas sendo ajustado no software. Porém, em termos de

velocidade de máquina, o processo analógico ainda é mais eficiente do que o

processo digital, por exemplo, enquanto o primeiro estampa 100 metros de

substrato têxtil em 5 minutos, o segundo estampa 100 metros de substrato

têxtil em 100 minutos.

Contudo, destaca-se a oferta de benefícios do processo digital, como a

eliminação de problemas decorrentes da utilização do processo analógico

assim como a economia de tempo – tanto de criação, na qual o designer pode

apresentar modificações ou um novo desenho, quanto de produção, com a

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redução de custos, quantidade de energia, matéria-prima, resíduos poluentes,

e consequentemente, o impacto ambiental oferecendo uma opção sustentável

para a indústria têxtil.

As empresas utilizam o processo analógico para grandes quantidades e

algumas amostras são feitas dessa maneira, mas isso é uma exceção, visto

que o custo é elevado (30 minutos de setup, carregamentos de cilindros,

corantes, etc.); na prática, 80% das amostras são feitas pelo processo digital,

compensado pela agilidade e facilidade em produzir amostras até que os

cilindros do processo analógico sejam gravados e todas as etapas da máquina

estejam em ordem para a estamparia têxtil.

Pode-se considerar que além das vantagens econômicas e ambientais trazidas

pela estamparia digital têxtil, as etapas de criação e produção também tiveram

sua metodologia transformada, visto que a indústria têxtil pelo viés da moda

mostra-se exigente quando se trata de adquirir produtos e/ou serviços, que

atendam desejos de novidade, qualidade e durabilidade. A moda é o sistema

que mais demanda e se beneficia da indústria têxtil. Compete às indústrias

oferecer produtos que satisfaçam as necessidades dos consumidores, sejam

eles finais ou oriundos de outros elos da cadeia produtiva, incentivando o

lançamento de novos ou produtos diferenciados (SERRA; PLONSKI, 1997).

Para suprir esta demanda por novidades constantes, o “faz fashion” ou moda

rápida (CIETTA, 2012), é um sistema que tem como característica a produção

acelerada de produtos, o que gera a troca contínua das peças no varejo. Com

uma produção em curto prazo e baixos custos, uma parte da produção

industrial de têxteis brasileiros é desenvolvida em países asiáticos. Como

aponta Berlim: “Nos últimos anos a China tem sido responsável por mais de um

quarto da produção mundial de roupas” (BERLIM, 2012, p.40).

Esta produção rápida dos produtos de vestuário e moda passa por um ciclo de

vida que segundo Kazazian (2005) é composto pelas seguintes etapas:

introdução, crescimento, desenvolvimento, maturidade e declínio. O autor

considera “ciclo de vida” o conjunto de fases da vida do produto, desde a

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extração de matérias-primas que servem à sua fabricação até a sua eliminação

como resíduo passando por sua comercialização e utilização.

“[...] pensar o consumo, não é apenas pensar o produto, sua

produção e seu ciclo de vida, é também gerenciar a obsolescência

produzida, não pelo desgaste do produto ou a perda de suas funções,

mas aquela que é motivada pela aparência e pela moda (...) que

condicionam o fim da vida de alguns produtos enquanto suas funções

parecem válidas [...]” (KAZAZIAN, 2005, p.?).

Nesta perspectiva, a indústria da moda torna-se responsável por incentivar a

rápida mudança de seus produtos, promovendo o consumo e estabelecendo a

efemeridade da moda. Enquanto a sustentabilidade sugere o ciclo de vida do

produto prolongado (MANZINI E VEZZOLI, 2005), a moda caracteriza-se como

novidade e mudança periódica (CIDREIRA, 2005).

A demanda no comportamento do consumidor de moda gera nas empresas

têxteis a necessidade de se reinventarem, revendo processos produtivos como

possível estratégia mercadológica. Vale ressaltar, que a busca por alternativas

sustentáveis tem crescido dentro de empresas e por parte de governos. Estes

têm visto a temática da sustentabilidade como uma oportunidade de negócio e,

ao mesmo tempo, como caminho para a sobrevivência das empresas.

“Por ser o consumidor e seu comportamento de vital importância para

as empresas de moda, a base do crescimento econômico destas vem

passando por uma reflexão que foca seus clientes, atuais e futuros,

dentro do cenário da sustentabilidade” (BERLIM, 2012 p. 57).

Confirmando o exposto acima, a Guia Exame - Sustentabilidade (2013), relata

que o assunto ganhou visibilidade no século XX, mas, somente agora levou o

mundo a se mobilizar de forma a conciliar as questões de sustentabilidade com

a produção e o consumo, processos que caracterizam o progresso e

crescimento. As empresas têm papel importante nessa mudança, já que

adotam, ou não, atitudes que possibilitam novos processos produtivos,

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resultando em novos produtos e, por último, nova relação de consumo.

(KAZAZIAN, 2005).

“Na esfera da sustentabilidade, o foco atual das pesquisas dos

setores de têxtil e moda está na criação do produto e no seu

processo de produção, obedecendo a uma tendência mundial,

originada nas últimas décadas do século XX, para o desenvolvimento

de materiais ecológicos (...) e hoje, o consumo, tanto insustentável

quanto sustentável, está além de produções limpas e produtos

ecológicos. Ele é um determinante no cenário das pesquisas e

criações, e eclode como uma das chaves para uma moda mais

sustentável” (BERLIM, 2012).

Nesse contexto, por ser uma das últimas etapas no processo de fabricação de

têxteis, a introdução de inovações tecnológicas na etapa de impressão têxtil

torna-se relevante (GALÃO et al, 2007), pois revela a possibilidade de

alavancar o seu desempenho, devido à proximidade que este estágio industrial

tem com o consumidor e a criação de produtos e serviços.

2.2 Estamparia Têxtil, Tecnologia e Sustentabilidade

Quando se trata de sustentabilidade, é possível pensar em uma mudança na

cultura industrial, na transformação radical de padrões de produção e consumo

e nas inovações tecnológicas em termos culturais e sociais por meio de uma

nova geração de produtos e serviços. Em um momento de transição e

transformação, a relação entre sustentabilidade ambiental e a indústria têxtil

necessita ser compreendida em sua complexidade.

Na procura por inovação, diferenciação e caminhos alternativos que migrem

para sustentabilidade ambiental o design têxtil tem muito a contribuir

principalmente no âmbito da indústria, tornando-se cada vez mais livre no

emprego de novos materiais, sendo mais valorizado no âmbito da indústria que

diminui sua escala de produção e apresenta no produto final características

artesanais/manuais e tecnológicas/industriais (COSTA, 2002).

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45

Ao longo dos últimos anos, foram encomendadas pesquisas extensivas sobre

os desafios relacionados a preservação do meio ambiente por parte das

indústrias, tal como a conduzida pela European Commission (2003) como parte

da regulamentação Integrated Pollution Prevention and Control14. A European

Commission aponta os seguintes processos como preocupações-chave:

“Processos de coloração, lavagem e finalização onde os

auxiliares podem ser difíceis de “bio-degradar” e contendo

componentes nocivos, tais como biocidas;

Desengomagem de tecidos de algodão, que produzem

afluentes com altos índices de poluição;

Branqueamento com hipoclorito de sódio, que dá abertura para

reações secundárias que formam componentes orgânicos

halogêneos tóxicos;

Branqueamento com peróxido de hidrogênio quando agentes

estabilizantes fortes são usados;

Tingimento (em geral) em que as substâncias poluidoras de

água incluem químicos tóxicos, metais pesados, alcalinos, sal,

agentes redutores, etc.;

Impressão (em geral) que incluem emissões em água de

resíduos pós-impressão e operações de limpeza, e emissões

para o ar (em forma de componentes orgânicos voláteis) de

secagem e fixação”.

Diante destas iniciativas em encontrar caminhos alternativos dentro do

processo de desenvolvimento de produtos, a responsabilidade de empresas e

indústrias na transição para a sustentabilidade passa, desta forma, pela

inovação de produtos, processos e serviços, configurando-se como atributo de

14

Integrated Pollution Prevention and Control (IPPC), é um diretório da União Européia.

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competitividade pela indústria, na reorganização de métodos, sejam estes

criativos ou produtivos.

Delimitando este estudo a substratos têxteis estampados sob a ótica da

sustentabilidade, trata-se de contextualizar o entendimento dos processos que

viabilizem a adoção destas inovações nas indústrias. De acordo com pesquisas

da Academia Pearson (2011) "a empresa que não inova, pode até deixar de

existir, e considera a inovação como questão de sobrevivência".

Na visão de PLONSKI (2005) a inovação é caracterizada pela presença de

mudanças tecnológicas em produtos, processos e serviços, ou pela forma a

qual os produtos são elaborados. Quando se trata de materiais têxteis, grande

parte das inovações em sustentabilidade relaciona áreas conectadas como o

interesse crescente de materiais provenientes de fontes renováveis, material

com nível reduzido de “insumos” de produção, fibras produzidas em melhores

condições de trabalho e materiais produzidos com menor desperdício

(FLETCHER, 2008).

Para acompanhar o segmento do vestuário em contínuas transformações, a

indústria têxtil encontra na estamparia digital uma direção rumo à inovação.

Antes da disseminação desta tecnologia, que permite a estampagem de

menores metragens de tecidos, os processos de estamparia limitavam a

criação de estampas, por exemplo, em virtude do limite de um máximo de oito

cores, imposto pela tecnologia analógica (LEVINBOOK, 2008). Para alguns

fabricantes, ser inovador significa “resolver” com a tecnologia um problema,

particularmente quando se trata de tentar amenizar os impactos negativos de

uma tecnologia existente (SERRA; PLONSKI, 1997; PLONSKI, 2005).

É perceptível considerar as possibilidades da estamparia digital têxtil como

uma inovação, e também, relevante verificar que as etapas de criação e

produção para a indústria têxtil, eliminam, por exemplo: a separação de cores e

vetorização da imagem, a necessidade de gravação de cilindros, a preparação

de corantes para amostras, a lavagem de cilindros ou quadros, descarte de

corantes etc. Como resultado, a estamparia digital têxtil pode ser uma

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alternativa viável para a criação e produção para a indústria no que se refere às

questões de sustentabilidade ambiental.

Para demonstrar os caminhos alternativos na geração de mudanças e

transformações inerentes ao design têxtil na indústria, desenvolve-se a seguir

um estudo de caso em uma planta industrial de uma empresa têxtil, que utiliza-

se ambos os processos, analógico e digital - tratados no primeiro capítulo -,

para a criação, produção e comercialização de têxteis estampados.

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3. ANÁLISE FABRIL: PROCESSOS ANALÓGICO E DIGITAL

Com a evolução dos processos de impressão têxtil e as mudanças

tecnológicas tratadas anteriormente, reflete-se a respeito da necessidade de se

desenvolver produtos de moda ambientalmente sustentáveis (BERLIM, 2013).

Nesta perspectiva, Schulte (2007) salienta que, além do consumidor e da

indústria, “o papel do designer é determinante para o desenvolvimento

sustentável”. A autora também enfatiza que é determinante considerar os

impactos ambientais nas etapas de desenvolvimento de um produto sendo

recomendável que se estenda aos projetos de novos produtos, da origem da

matéria-prima até o descarte pelo consumidor e usuário.

Diante do exposto, torna-se essencial a busca de alternativas por parte dos

agentes envolvidos sejam empresários, designers, fornecedores, ou clientes, a

aplicação de inovações no desenvolvimento industrial (BLACK, 2011). Porém,

apesar das progressivas inovações relativas à indústria têxtil, nem todas as

empresas vem adotando estas tecnologias, uma vez que constante atualização

tecnológica demanda alto grau de investimento financeiro; além da

comercialização e importação de substratos têxteis beneficiado/acabados que

sofrem com variações decorrentes das dinâmicas de mercado, tanto nacional

como internacional: variação cambial, tarifações, políticas de importação,

alíquotas, mudanças de consumo, etc.

Visando o entendimento de como é possível na prática das empresas têxteis,

(especificamente delimitando a estamparia têxtil), a possibilidade da adoção de

propostas que se dispõem a utilizar processos em busca de minimizar os

impactos ambientais, apresenta-se neste capítulo um estudo de caso acerca de

uma empresa têxtil localizada na região do Brás, na cidade de São Paulo.

As informações técnicas que serão tratadas na seção a seguir foram coletadas

por meio de entrevistas com o diretor executivo da estamparia, como também,

em visitas realizadas à fábrica.

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49

3.1 A empresa

Com catorze anos de participação no mercado de moda, a indústria em estudo

possui duas unidades produtoras, e conta com um quadro de 100

colaboradores distribuídos em três turnos: A e B de produção, e C de

administração. Seu posicionamento tem foco na estamparia de tecidos

compostos por fibras naturais ou sintéticas, e sua capacidade produtiva gira em

torno de 300 mil metros por mês.

O mapeamento do sistema produtivo da estamparia foi realizado com a

finalidade de estudar os dois processos, analógico e digital, diante dos

aspectos relacionados aos métodos utilizados na criação, produção, pré e pós-

produção com vistas à sustentabilidade ambiental, já que as indústrias

instaladas na capital são sujeitas às leis e diretrizes da política municipal de

desenvolvimento sustentável que visam "[...] valorizar e preservar os recursos

naturais, a qualidade ambiental (...) e ordenar o espaço urbano, sem prejuízo

da paisagem natural e da qualidade ambiental [...]" conforme descrito pela

Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano15. Com relação às questões

ambientais, o presidente da empresa diz que "oferece agilidade e precisão na

estamparia em um processo com menos impacto ao meio ambiente".

A empresa 16 consolidou-se atendendo grandes empresas da cadeia têxtil,

como malharias, tecelagens, confecções, fornecedores de magazines, etc. Em

2008 iniciou o trabalho com o processo de estamparia digital, possibilitando aos

clientes a criação de desenhos exclusivos, agilidade na produção de amostras

e redução ou eliminação do número de cilindros.

O atendimento ao cliente da empresa desenvolve o briefing, passando as

informações ao designer têxtil, responsável pelo desenvolvimento de produtos

da empresa. O custo deste desenvolvimento gira em torno de 10% no produto

final - segundo a empresa -, valor este, considerado baixo pelo mercado.

Segundo o diretor da empresa, o custo superior relativo ao processo digital

15

Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo: http://goo.gl/WVw7eS. 16

Sublipaper: www.sublipaper.com.br

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50

comparado ao analógico, gera dúvidas por parte do cliente. Porém, após

verificar as possibilidades visuais e qualidade do processo digital, se

evidenciam os valores percebidos relativos ao design têxtil.

Para o entendimento dos processos de impressão têxtil da estamparia objeto

deste estudo, mapeia-se o fluxo de produção da fábrica, e em seguida,

promove-se a análise dos processos analógico e digital da empresa, relativos

ao explanado anteriormente sobre estas duas distintas técnicas de estamparia.

3.1.1 Fluxo de desenvolvimento de produto

"O design tem um papel fundamental no processo produtivo. Frente

aos desafios de uma nova realidade, o design vê ampliadas suas

funções, como um articulador de saberes diversos e gerenciador de

ações em vários níveis, buscando expressar o diferencial de

qualidade dos produtos e a estratégia competitiva das empresas"

(BONSIEPE, 1997. p. 16).

Desde o acompanhamento das demandas dos clientes, até a criação dos

projetos têxteis, é essencial ao designer conhecer as áreas envolvidas no

desenvolvimento dos produtos. Com o objetivo de elucidar o fluxo de produção

da empresa em estudo, e evidenciar a importância da interação do designer

têxtil com a produção industrial e outras áreas da empresa para a solução de

problemas que atendam as demandas relativas a uma proposta inovadora,

segue abaixo a sequência das etapas que compõem o processo - conforme

informações cedidas pelo diretor executivo da empresa. Toma-se como base

para a construção deste fluxo do produto têxtil estampado, desde sua

concepção até o desenvolvimento produtivo, as visitas realizadas à empresa,

quando foi possível levantar os dados que aqui se apresentam:

Produto/Comercial (prospecção): o cliente solicita o desenho e/ou

apresenta o briefing com as referências para a criação (o designer avalia

o material) do desenho, coloração, rapport, etc.; em um segundo

momento, o cliente recebe o desenho em formato digital para definição

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e/ou adequação; nesta próxima etapa, o mesmo recebe estimativa de

prazos de amostras física (tecido, papel, fotografia) para aprovação e

início do desenvolvimento do produto;

Figura 13 - Referências para criação

Fonte: produção do autor, 2006.

Comercial (vendas/negociação com cliente): primeiro momento -

atendimento ao cliente dentro da empresa, juntamente com o designer

e/ou representante para adequação do desenho, coloração e rapport;

segundo momento - cliente recebe a referência digital e o designer

define o desenho, coloração e rapport direto com o cliente; último

momento - cliente recebe a amostra física, ilustrações e fotos; designer

define ou adéqua desenho, coloração e rapport;

P&D (definição do produto): Pesquisa (banco de dados com pesquisa

aprofundada, bureaux de moda, feiras, desfiles, revistas e periódicos, e-

informação, streetstyle, coleta de materiais, concorrentes e fornecedores

- com o uso de recursos de digitalização na coleta de dados de imagens

e texto) & Desenvolvimento (organização da informação em painéis,

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primeiras definições de desenho, colagem, montagem 3D, definição de

famílias de elementos que farão a composição dos desenhos, definição

primária da coleção e escolha ou desenvolvimento do substrato a ser

estampado;

Figura 14 - Pesquisa e Desenvolvimento

Fonte: Printed Textile Design, 2013.

Criação (desenvolvimento de produto): uso de recursos na elaboração e

criação dos desenhos; preparação da imagem; criação (tempo);

desenvolvimento, rapport e ficha técnica da imagem em parâmetros pré-

determinados junto ao substrato; apresentação de coleção para as áreas

de decisão e ação da empresa (marketing, comercial, produção) e

principais clientes/usuários. Modificações atendendo às necessidades

de viabilização da coleção sem descaracterizar a criação do designer;

aceite do cliente.

Qualidade técnica (substrato + desenho): execução do documento de

comunicação com todas as áreas (desenho em rapport, definição de

variantes de cores e fichas técnicas, execução de protótipos e

aprovação final juntamente com as áreas de decisão e definição da

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qualidade, metragem, análise do substrato, marcação de defeitos,

etiquetagem de controle;

Mostruário (amostras do produto): escolha da máquina por desenho

(impressões claras ou escuras), preparo do substrato para amostra;

preparo da impressora (check list: verificação de tintas, etc.);

acompanhamento (arquivo binário e regulagem de impressão);

verificações no procedimento de impressão (enrolamento, checagem de

limpeza, tintas, tensionamento do substrato, bolhas); impressão;

verificação final dos parâmetros de qualidade (cores, fidelidade ao

desenho original);

Marketing (divulgação): pesquisa primária, público alvo, estratégia,

concorrência, dimensionamento de mercado e posicionamento da

marca;

Produção (impressão do substrato): na impressão para produção são os

mesmos parâmetros do Mostruário, somente se modificam a quantidade

do substrato têxtil e as informações pertinentes a metragem a ser

impressa.

Por essa descrição das atividades de criação, desenvolvimento e produção, é

possível perceber o desenvolvimento projetual do design como necessário ao

fluxo de produção da indústria, visto que movimenta a atuação da empresa,

aproximando as possibilidades de simulação do projeto gráfico digital têxtil,

permitindo a visibilidade do produto antes de fazer (simulações) e oferecendo

uma estruturação organizacional do pensamento e documentação mais

dinâmica.

Como apresentado anteriormente, a preocupação e a responsabilidade com o

impacto ambiental fizeram emergir novos desafios aos designers. Enquanto os

recursos da natureza diminuem e a poluição ambiental mostra-se crescente, a

reciclagem, a deposição dos resíduos e os projetos sustentáveis vêm sendo

estudados com maior frequência. Com vistas a essas mudanças e possíveis

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soluções, estuda-se a seguir os processos analógico e digital, desenvolvidos

na empresa.

3.1.2 Estudo de caso: processo analógico

Neste processo são utilizados cilindros que giram e em contato com o substrato

têxtil formam genuinamente uma impressão contínua. Alimentadas com corante

pelo seu interior durante a impressão, essas telas, expelem por meio mecânico

o corante através das zonas gravadas que formam o desenho.

Figura 15 - Máquina do processo analógico

Fonte: produção do autor, 2014.

Pelo processo analógico utiliza-se de anéis de metal e cilindros de níquel -

usando gravadoras a laser, cera ou manual utilizando fotolitos (NEVES, 2000).

Cada cilindro possui um perímetro de 642 milímetros (rapport) e sua superfície

é constituída de micro orifícios calibrados em mech, unidade que indica o

número de orifícios por centímetro quadrado (SENAI, 2013). A gravação do

cilindro com o desenho acontece em quatro etapas: laquear o cilindro,

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55

impressão da estampa, revelação e inspeção, e todo este processo de

gravação de cada cilindro dura em média 5 horas.

A preparação da pasta de estampar ocorre na hora da produção no laboratório

ou comumente "cozinha" de cores. Cada cor é manipulada uma de cada vez

devido à limitação de um único batedor e então a pasta deve ser filtrada para

retirar possíveis impurezas que venham entupir os micros orifícios do cilindro. A

pasta de estampar é composta de pasta base, antiespumante, catalisador,

pigmento e espessante, e deve apresentar certa viscosidade e esta

propriedade garante que a forma dos desenhos não se alastre (SENAI, 2013).

Figura 16 - "Cozinha" de cores

Fonte: Printed Textile Design, 2013.

A receita da pasta de estampar é elaborada com as quantidades necessárias

de produtos para a produção de 1 kg de pasta e cada artigo tem o seu

consumo de kg de pasta por m². Após cilindros gravados e a pasta de

estampar prontos, a etapa de montagem da máquina de estampar consiste nos

seguintes passos:

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Posicionar os cilindros estampadores corretamente, ajustando sua

largura à largura do substrato envolvendo uma fita adesiva impedindo

que a pasta saia. Quando a estampa possui várias cores, cada cilindro

fica responsável por estampar uma única cor;

Colocar o cilindro cola no início da bancada, este cilindro possui a

superfície adesiva que retêm os pelos superficiais do substrato;

As rasquetas17 são inseridas dentro dos cilindros e é por elas que as

pastas passarão para dentro dos cilindros;

As varetas metálicas também são colocadas dentro dos cilindros que

permanecerão presas a mesa pelo campo magnético fazendo com que

ocorra uma maior penetração da pasta no substrato;

Ajustes dos comandos de velocidade, temperatura da estufa, magnético

e quantidade de cola no tapete também são realizados a cada lote

processado;

- Os tonéis com as pastas são colocados próximas às bombas de

alimentação das rasquetas.

Com o término da montagem da bancada o tecido é inserido na máquina para

realizar o passamento e verificar as condições da máquina antes do início do

processo de estamparia.

Logo após a montagem da bancada e o posicionamento dos tonéis de pasta

para o abastecimento das bombas que alimentaram a máquina de estampar,

dá-se início ao processo de estampagem. O lote de substrato é fixado à

entrada da máquina passando pelo sistema de retirada de pelo (SENAI, 2013).

Ainda na entrada de máquina pode-se ter uma cuba de cola, que serve para

17

Instrumento para raspar, no caso, no interior do cilindro.

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prender o substrato ao tapete durante o processo como, por exemplo, na

fábrica em estudo.

Figura 17 - Detalhe dos tonéis de pasta posicionados na máquina

Fonte: Printed Textile Design, 2013.

O procedimento da estamparia ocorre com o movimento do tapete que

provocam as rotações dos cilindros, as rasquetas que estão dentro dos

cilindros liberam as pastas e as varetas que estão presas à bancada pelo

campo magnético permitem a passagem adequada de pasta para o substrato.

Neste processo a empresa dispõe de duas máquinas, uma com capacidade de

produzir 80 metros/minutos e a outra com produção máxima de 30

metros/minutos. Existe uma limitação de quantidade de cilindros que as

bancadas das máquinas comportam, a primeira comporta três cilindros e a

segunda comporta dez cilindros.

A limpeza do tapete é feita através do sistema pré-lavagem e lavagem com o

objetivo de remover a maior parte da cola e contaminações residuais. Na saída

da estampagem o substrato é guiado por uma esteira para a secagem. A

secagem consiste em uma estrutura de aço de circuito fechado protegida com

placas de isolamento térmico de lã de rocha o que impede a fuga de calor.

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Durante o processo de impressão analógica, operadores são posicionados na

entrada e saída da máquina com finalidade de fazer a inspeção visual do tecido

estampado. Qualquer anormalidade detectada é realizada uma parada de

máquina imediata para solucionar o problema. O controle final do tecido é

somente realizado pelo setor de qualidade, onde será revisado e classificado

pela quantidade de defeitos (CHIESI, 2013).

Ao acompanhar as primeiras produções de um novo artigo foi possível

perceber a dificuldade de reproduzir as mesmas características que foram

atribuídas na etapa de desenvolvimento do produto. As divergências estão na

coloração da estampa, textura, sobreposição dos motivos (cilindros) e a

sequência dos rapport.

Nas primeiras produções foram necessários ajustes na produção para obter um

produto igual ao que foi projetado. Estes ajustes demoraram horas e, até

mesmo, turnos para serem resolvidos (CHIESI, 2013). Com a coleta dos dados

na produção foi possível identificar as principais causas destas divergências.

Uma das principais causas de ajustes na produção, tem origem na receita da

pasta de estampar que são desenvolvidas em laboratório e muitas vezes não

são corretamente ensaiadas devidos as condições de manutenção e limpeza

quando utiliza-se diversas tintas; o uso de tecidos distintos da amostra e

produção; uso de produtos auxiliares. Todos esses ajustes são realizados na

forma de tentativas, procurando-se chegar à cor e textura fazendo pequenas

alterações na receita até chegar ao padrão (CHIESI, 2013).

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Figura 18 - Detalhe da "cozinha" de cores da fábrica

Fonte: Printed Textile Design, 2013.

O processo de produção das amostras de tecidos é realizado na mesa de

amostra com apenas um cilindro ou quadro, e este procedimento requer mais

de uma passagem para obter a característica desejada da amostra.

Diferentemente, a produção faz uso de vários cilindros simultaneamente,

obtendo outro aspecto e textura que não aproximam satisfatoriamente da

amostra.

Figura 19 - Mesa de amostras

Fonte: Printed Textile Design, 2013.

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60

No processo de desenvolvimento da estampa é feito um rapport equivalente de

642 milímetros e este modelo deve se repetir por todo o tecido, porém esses

modelos não se encaixam perfeitamente na produção devido a erros de

desenvolvimento nas dimensões dos rapport.

As amostras de clientes são produzidas através da técnica de estamparia de

quadro. Isto se torna um problema para a produção, pois as amostras são

realizadas por um outro processo fazendo com que se perca o domínio do

mesmo, dificultando a reprodução e a solução de problemas no processo

analógico (CHIESI, 2013).

Com relação ao tecido estampado, o excesso de pelo superficial no tecido,

provavelmente derivados do processo de peletização 18 (SENAI, 2013). No

entanto, as máquinas utilizam de sistemas de retiradas de pelos e os cilindros-

cola, mas estes equipamentos não são eficientes para a eliminação dos pelos

superficiais.

O excesso de pelo superficial no tecido pode ocasionar entupimento dos micros

orifícios dos cilindros ocasionando uma parada de máquina para que ocorra a

limpeza desses cilindros. Outro problema é a não fixação da pasta no tecido

que ocorre quando o pelo permanece na superfície do tecido e o processo de

estampagem é feito sobre o pelo, depois da secagem este pelo juntamente

com a pasta desprende do tecido ocasionando um defeito na estampa.

Dependendo do tamanho do defeito pode-se ser feita uma correção manual

com a própria pasta e uma espátula.

A análise da etapa de gravação dos cilindros permitiu a identificação de erros

de gravação devido ao método utilizado na empresa. O sistema de gravação

de cilindros é a impressão de estampa à cera, este método é o mais

financeiramente viável, porém, torna-se o processo restrito a algumas

estampas. O processo utilizado não permite a impressão de desenhos mais

18

Consiste em levantar os pelos do tecido com auxílio de lixas ou escovas para proporcionar um toque aveludado.

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precisos, o que acaba gerando erros de gravação, perdas de tempo e

movimento para reparar os erros e terceirização da etapa.

Outro ponto que vale ser destacado é o tempo de preparação. Este processo

tem duração média de 5 horas. O custo de preparação desses cilindros é

elevado, tornando-se inviável estoque reserva. Caso algum desses cilindros

quebre durando o processo de estampar é necessário fazer a gravação de

outro cilindro, enquanto isso a produção permanecerá parada.

Já a preparação da pasta de estampar ocorre no momento que o lote de tecido

deverá ser estampado; ela é feita em um espaço improvisado ao lado das

máquinas de estamparia, chamado de “cozinha de cores”. A estrutura conta

com um batedor de pasta, um batedor de pasta-base, uma balança industrial

de 100kg, uma balança comercial de 15kg, uma bancada com lavatório e um

filtro de pasta. Esta estrutura impossibilita o preparo simultâneo das pastas

para as linhas de produção, necessitando fazer uma de cada vez causando

“gargalos”.

A variação de temperatura da água utilizada no processo é outro problema

identificado na preparação da pasta. A água utilizada é oriunda do

reaproveitamento dos cilindros de resfriamento do beneficiamento, que é

armazenada em tanques reservatórios e bombeada para a fábrica novamente,

inexistindo um controle de temperatura. O problema decorrente deste uso é a

dificuldade de manter a viscosidade ideal da pasta, necessitando alterações de

receitas para assegurar essa propriedade.

A filtragem da pasta é um procedimento obrigatório para retirar impurezas

garantindo a qualidade da pasta. O procedimento de filtragem consiste em

elevar os tonéis de 60 litros com o auxílio de uma escada a uma altura de

aproximadamente 1,30 metros. A duração da filtragem de um único tonel é de 5

minutos, tomando a demanda máxima de alimentação por máquina de 9 tonéis,

o processo de filtragem finalizará em 45 minutos. O problema identificado

foram os relatos dos funcionários que não executam esta fase justificando que

o procedimento não é ergonômico e possui um tempo de duração elevado.

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A empresa possui dois tipos de máquinas do processo analógico, cada uma

com suas particularidades de velocidade, temperatura, estufa, fixação do tecido

no tapete, lavagem de tapete e quantidade de cilindros. A primeira máquina é

responsável por 60% da produção das estampas, a sua estrutura comporta até

nove cilindros mais um cilindro cola, a velocidade máxima chega até 80

metros/minuto, o passamento da estufa tem comprimento de 25 metros com a

temperatura podendo chegar a 150°C. Esta máquina possui uma cuba de cola

na entrada da máquina com finalidade de fazer com que o tecido fique preso ao

tapete da mesa de estampar. Já na saída da mesa existe um sistema de

lavagem dessa esteira para a retirada da cola, resíduos de pasta e impurezas

que ficam agregadas à esteira.

Já a segunda máquina é responsável por 30% da produção e por ser mais

antiga tem capacidade somente para dois cilindros mais um cilindro cola,

limitando somente a estamparia em duas cores. A velocidade máxima chega a

30 metros/minuto, o passamento da estufa tem aproximadamente de 47 metros

com temperatura máxima de 120ºC. Esta máquina não possui cuba de cola na

entrada provocando instabilidade no tecido na mesa de estampar podendo

gerar falhas na estampa.

O acumulo de sujeira no tapete é maior, pois ela não possui o sistema de

lavagem de tapete na saída de máquina. A limitação da quantidade dos

cilindros estampadores desta máquina traz consequências a produção de

tecidos estampados, resultando na sobrecarga primeira máquina, assim, a

empresa necessitando a terceirização de 10% da produção como medida para

atingir suas metas.

3.1.3 Estudo de caso: processo digital

"Projetos digitais prescindem de uma técnica específica. Seu

funcionamento é regido pela transmissão de dados de imagem

diretamente do computador para os cabeçotes de impressão (que

variam em quantidade, conforme o modelo do equipamento), que

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depositam corantes – pequenos pontos em cores diferentes19

em

distância regular, o que permite a obtenção de um número

praticamente ilimitado de cores e nuances - pelo sistema ink-jet na

forma de process colour20

, sobre a superfície a ser impressa" (NEIRA,

2012, p. 23).

Impressão em têxteis também requer alguma adaptação das tecnologias

analógicas em termos de fixação dos corantes sobre a superfície dos

substratos. A necessidade vem do fato de que o substrato precisa ser

resistente à lavagem e a exposição aos elementos. Assim, pelo sistema ink-jet

de impressão, são prevalecentes no âmbito industrial dois métodos para

impressão digital: impressão ink-jet indireta por transferência de calor e

impressão ink-jet direta (KING, 2009).

A impressão ink-jet indireta por transferência de calor utiliza-se de um papel

especial com uma película plástica onde é impresso, primeiramente, o que será

estampado.

Figura 20 - Impressão ink-jet indireta por transferência de calor

Fonte: produção do autor, 2014.

19

Esses pontos são depositados por porções dos corantes pelo sistema process colour, isto é, pela utilização da mistura de cores consideradas primárias para essa técnica: CMYK e adicionadas a estas, o OB (Orange e Blue), que aumentam o gamut de cores que podem ser obtidas (BULLOCK; MEREDITH, 2013; NEIRA, 2012). 20

É o modelo de cor subtrativo usado na impressão de cores e também usado para descrever o processo de impressão em si. Refere-se aos quatro corantes: ciano, magenta, amarelo e preto (CMYK).

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Após isso, o desenho pode ser transferido através da aplicação de calor (termo

transferência) no substrato e o papel especial. Como resultado da aplicação de

calor, a película plástica será transferida para a superfície do substrato têxtil.

Para a impressão ink-jet direta, a fixação de cor também é realizada pela

aplicação de alta temperatura à superfície. Isso pode ser feito por meio de

vapor em um dispositivo vaporizador ou por meio de calor no forno. A escolha

para um dos métodos de impressão digital se dá com base nos tipos de

componentes químicos que foram utilizados para a impressão.

Figura 21 - Impressão ink-jet direta

Fonte: produção do autor, 2014.

Adaptadas as tecnologias de impressão têxtil, esta evolução dos processos

analógicos aos digitais permitiu a abertura de novas perspectivas aprimorando

a criação e produção das etapas envolvidas em projetos de design têxtil – as

impressões têxteis, especificamente – tais como o shipping sample21, os strike-

21

Comumente chamada na indústria, o shipping sample é a amostra que permite conhecer e reconhecer a qualidade do substrato têxtil antes da produção, para avaliação, mudanças, etc.

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65

offs22, a criação e produção em si, os beneficiamentos, entre outras (NEVES,

2000; THOMPSON, 2013). Com o aperfeiçoamento dos softwares a criação no

âmbito do design têxtil passa a substituir alguns processos com ajustes

precisos, responsabilidade do designer, conforme os itens a seguir:

Registros e encaixes para cada cor: nos processos manuais e

fotográficos, os encaixes de cada cor eram determinados com alguma

margem de erro, desde que não se inviabiliza a gravação dos quadros e

cilindros, pois não havia precisão absoluta. Com as ferramentas do

processo digital, a precisão é absoluta;

Aplicação de retículas, texturas, sobreposições e meios tons: as

retículas feitas à mão são conhecidas como fumês e usam a técnica de

pontilhismo para causar o efeito de dégradé. Quando feitas por meio

fotográfico, com técnicas de quadricromia, são orientadas em um único

sentido. Hoje, se pode aplicar e produzir a retícula de forma aleatória

(estocástica) em todos os sentidos, tamanhos, em mais de uma cor e

em tempo reduzido;

Visualização do desenho em tempo real: recursos gráficos que permitem

ver o rapport no momento do desenho sem produzi-lo. No processo

analógico, somente é possível visualizar, quando se estampa o

substrato;

Variantes de cores: recursos gráficos visuais de programas permitem ver

as variantes de cores e as simulações possíveis sobre cartela de cores.

No processo analógico é necessário produzir a bandeira de cor (em

papel ou substrato);

Geração dos filmes para negativos ou gravação direta: os filmes para

gravação podem são feitos diretamente do sistema de desenho para um

22

O strike-off é o mesmo que a amostra, mas no que diz respeito à parcela, após a finalização da produção, geralmente, utilizada para quando o substrato têxtil é importado, para comparação como que foi solicitado ao fornecedor (shipping sample) para que seja autorizado o embarque da carga no porto.

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66

plotter ou para máquinas de gravação direta de quadro e cilindro, pois

não precisam do processo de revelação. Antes os negativos eram

gerados a mão e o processo de gravação obrigava a empresa a ter o

processo de revelação ou buscar serviço de foto-estampa;

Simulação virtual em parâmetros técnicos: simulação do produto final

com variantes de cores no ambiente virtual tanto do substrato como nas

peças de confecção – peça piloto virtual.

Figura 22 - Ambiente de trabalho do designer têxtil

Fonte: produção do autor, 2014.

Estas são atividades que passam a ser geradas no ambiente de trabalho do

designer têxtil na área de criação e desenvolvimento de produto, antes

prerrogativas dos operários no chão de fábrica. A área de desenvolvimento de

produto está ligada com a criação, pré e pós produção de maneira mais

próxima e otimizada.

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67

3.2 Comparativo dos estudos

Apresenta-se a seguir um comparativo que demonstra o comparativo dos

processos analógico e digital, detalhadamente durante a criação, pré-produção,

produção e pós-produção, todas etapas dos processos incluindo também os

dados mercadológicos de maquinários.

Figura 23 – Comparativo dos processos analógico e digital

Fonte: GUIMARÃES, 2014.

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68

Observa-se como a tecnologia digital simplifica a linha de criação e produção

para a indústria têxtil, eliminando etapas do processo de impressão, sendo

elas: a separação de cores e vetorização da imagem, a necessidade de

gravação de cilindros, o posicionamento dos cilindros na máquina, a

preparação dos corantes, a alimentação dos cilindros com os corantes, a

preparação do tapete da máquina com goma que serve para manter o

substrato estável durante o processo de estamparia, além de todas as etapas

de pós-produção. Como resultado, a impressão digital têxtil torna-se um

processo de criação e produção favoráveis e eficiente opção para a indústria

no que se refere às questões ambientais.

Além disso, a concepção e a modificação do desenho são facilitadas como a

modificação do mesmo no computador e reenvio à impressão digital. Para a

produção por meio do processo analógico é necessário que o desenho seja

separado em canais (cores) que serão os cilindros, enquanto isso por meio do

processo digital a imagem só precisa ter alta resolução no tamanho desejado.

Em alguns casos, o desenho que será produzido no processo digital também

será produzido no processo analógico e nesses casos a imagem deverá ser a

mesma, assim a reprodução será bem próxima em ambos os processos.

O ganho econômico e de tempo é significativo, visto que o processo analógico,

anteriormente apresentado, levaria mais tempo para ser refeito - em um

maquinário com valor mais elevado com relação ao maquinário do processo

digital, passando por todas as etapas do processo -, enquanto o processo

digital levaria menos tempo, apenas sendo ajustado no software. Porém, em

termos de velocidade de máquina, o processo analógico ainda é mais eficiente

do que o processo digital, por exemplo, enquanto o primeiro imprime 100

metros de substrato têxtil em 5 minutos, o segundo imprime 100 metros23 de

substrato têxtil em 100 minutos (CHIESI, 2013).

Contudo, destaca-se a oferta de benefícios do processo digital, como a

eliminação de problemas decorrentes da utilização de processos analógicos já

23

A unidade de medida foi convertida, para melhor entendimento, de metro quadrado para metro linear.

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69

elucidados, assim como a economia de tempo – tanto de criação, onde o

designer pode apresentar modificações ou um novo desenho, quanto de

produção, onde se reduz custos, quantidade de energia, matéria-prima,

resíduos poluentes, sendo consequentemente, uma opção ecologicamente

mais consciente para a indústria.

As empresas utilizam o processo analógico para grandes quantidades,

algumas amostras são feitas nesse processo, mas isso é uma exceção, visto

que o custo é impraticável (30 minutos de setup, carregamentos de cilindros,

corantes, etc.); na prática, 80% das amostras são feitas pelo processo digital,

compensado pela agilidade e facilidade em produzir amostras até que os

cilindros do processo analógico sejam gravados e todas as etapas da máquina

estejam em ordem para a impressão têxtil (CHIESI, 2013).

Por fim, ainda hoje a procura se dá pelo processo analógico, atingindo grande

parte das empresas e certamente produzindo o maior volume, pois as

indústrias já têm em sua planta industrial infra-estrutura, maquinário,

colaboradores e todos os insumos para o funcionamento através desse

processo e o custo para a alteração total dessa planta para o processo digital

seria altamente elevado e, em uma visão mais ampla, acarretaria em outros

fatores sócio-econômicos e até ambientais.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio das pesquisas advindas de autores que permeiam o design têxtil,

percebeu-se a relevância de, no capítulo um, ter-se abordado das técnicas

artesanais/mecânicas às automáticas/digitais, de modo a notar que, desde o

princípio da estamparia, a concepção do design de têxteis modifica-se

conforme as experimentações e mudanças tecnológicas da indústria, mediante

a atuação do profissional de design.

Ao entrar no capítulo seguinte, foi preciso um intervalo na discussão sobre o

design têxtil, para olhar a situação da indústria têxtil em seu aspecto ambiental.

Essa maior aproximação das demandas do século XXI, permite melhor

compreender os conceitos de sustentabilidade ambiental e perceber o que é

preciso ser feito, bem como o que já está sendo feito por órgãos

governamentais e empresas, para que o equilíbrio do desenvolvimento

sustentável seja atingido.

Por este argumento, questionou-se o papel do designer neste processo de

desenvolvimento, a partir da experiência prática deste autor, na constatação do

descarte frequente da memória relativa aos têxteis estampados, tendo em vista

os processos inerentes a esta indústria, como também, a reflexão ao fazer do

designer têxtil em particular e de moda em geral, pois mostra-se a necessidade

de assumir uma postura crítica frente aos desafios contemporâneos que, neste

caso, focam-se nas questões acerca da sustentabilidade.

No terceiro e último, abordou-se tais questões dentro do contexto fabril com a

realização de um estudo de caso em uma empresa que dispõe dos processos

analógico e digital de impressão, mostrando-se eficiente comparando os dois

processos, pontuando vantagens e desvantagens entre um e outro sob

diferentes perspectivas, assim, dando a dimensão ao leitor, que a digitalização

da estamparia possivelmente significa um marco na história da indústria têxtil e

da área de moda, que gradativamente alterará, inclusive, plantas industriais,

metodologias e responsabilidades pelo ciclo da cadeia têxtil, mas já alterou, por

exemplo, o tipo de profissional que trabalha nesses sistemas.

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Desse modo, ao relacionar as propostas, conceitos, disciplinas, orientações,

pesquisa, conversas informais (entrevistas abertas) e o estudo de caso,

ponderou-se contribuições e propuseram-se questionamentos sobre o modo

como a responsabilidade sustentável está ligada ao fazer do designer, que

além de ampliarem seu repertório, contribuíram com sua formação como

cidadão ético e profissional no campo do design.

O que sugere-se a partir destas considerações é que, cada vez mais, assuma-

se uma postura crítica e reflexiva perante a indústria têxtil em busca de

soluções que possam garantir a todos um futuro melhor, em todas as áreas de

atuação do designer, ainda que ele esteja inserido em um campo repleto de

especificidades, como é o design têxtil.

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