universidade aberta à terceira idade (unati/ufpe): um perfil sócio

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Fundação Oswaldo Cruz Instituto Aggeu Magalhães Departamento de Saúde Coletiva - NESC Kátia Magdala Lima Barreto Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio-epidemiológico dos participantes Orientador: Professor Doutor Eduardo Maia Freese de Carvalho Recife – PE 1999

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Page 1: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

Fundação Oswaldo Cruz Instituto Aggeu

Magalhães

Departamento de Saúde Coletiva - NESC

Kátia Magdala Lima Barreto

Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI/UFPE): um perfil

sócio-epidemiológico dos participantes

Orientador: Professor Doutor Eduardo Maia Freese de Carvalho

Recife – PE

1999

Page 2: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

KÁTIA MAGDALA LIMA BARRETO

Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI/UFPE):

um perfil sócio-epidemiológico dos participantes

Dissertação apresentada como requisito

parcial para obtenção do grau de Mestre

em Saúde Pública, pelo Departamento de

Saúde Coletiva – NESC, do Instituto de

Pesquisa Aggeu Magalhães – CPqAM da

Fundação Oswaldo Cruz –

FIOCRUZ/MS, sob orientação do

Professor Doutor Eduardo Maia Freese

de Carvalho.

Recife – PE

1999

Page 3: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI/UFPE):

um perfil sócio-epidemiológico dos participantes

KÁTIA MAGDALA LIMA BARRETO

Banca Examinadora:

Professor Doutor Eduardo Maia Freese de Carvalho

Orientador

Professor Doutor Mário Antônio Sayeg

1 º Examinador

Professora Doutora Márcia Soares de Melo Kirzner

2 º Examinador

Recife – PE

1999

Page 4: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

“Há culturas que privilegiam os jovens em detrimento dos idosos,

há outras que fazem o contrário e finalmente,

há culturas que não sabem tratar bem nem dos jovens

nem dos idosos.

Esse parece ser o caso do Brasil, que mudou seu perfil etário sem

se dar conta disso e manteve uma cultura onde não existe espaço

para os jovens e onde se marginaliza de forma cruel os idosos”. Herbert de Souza (Betinho)

1999 – ANO INTERNACIONAL DO IDOSO

“UMA SOCIEDADE PARA TODAS AS IDADES”

(OMS,1999)

Page 5: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

Dedico esta construção:

• A minha família – meu porto seguro: meus pais, meus irmãos, meus cunhados e

minhas sobrinhas (Beatriz, Gabriela e Manoela). Espero está contribuindo para que elas

tenham uma velhice tão bela quanto hoje é sua infância.

• Aos idosos da UnATI/UFPE, cujo espírito de colaboração tornou possível a

concretização desta idéia.

• A todos que fazem a UFPE, crendo que enquanto instituição pública continue

cumprindo seu papel social e perceba a dimensão e o significado de uma proposta

como a das Universidades Abertas à Terceira Idade.

Page 6: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

AGRADECIMENTO

“Vós pouco dais quando dais de vossas posses.

É quando dais de vós próprios que realmente dais.

É belo dar quando solicitado; é mais belo, porém, dar sem ser solicitado, por haver

apenas compreendido;

Dais para continuar a viver, pois reter é perecer.

E vós que recebeis – e vós todos recebeis – não assumais nenhum encargo de gratidão a

fim de não pordes um jugo sobre vós e vossos benfeitores.

Antes, erguei-vos, junto com eles, sobre asas feitas de suas dádivas;

Pois se ficardes demasiadamente preocupados com vossas dádivas, estareis duvidando de

sua generosidade.

Dar e receber é uma necessidade e um êxtase.

O dia já se foi.

O que aqui nos foi dado, nós o conservaremos.

Mais um curto instante, mais um descanso rápido e minha nostalgia começará a recolher

argila e espuma para um novo corpo.

Foi somente ontem que nos encontramos num sonho.

Cantastes para mim na minha solidão, e eu, com vossas aspirações construí uma torre no

céu.

Se nos encontrarmos outra vez no crepúsculo da memória, conversaremos de novo e

cantareis para mim uma canção mais profunda.

E se nossas mãos se encontrarem noutro sonho, construiremos mais uma torre no céu”.

(Gibran)

A todos vocês que sabem que construíram essa torre comigo MUITO OBRIGADA!

Page 7: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

SUMÁRIO

RELAÇÃO DE ABREVIATURAS E SIGLAS UTILIZADAS, 9

RELAÇÃO DE TABELAS, GRÁFICOS E ANEXOS, 10

RESUMO, 14

ABSTRACT, 15

APRESENTAÇÃO, 16

1. INTRODUÇÃO, 18

1.1 - Desde que o homem é homem, 18

1.2 - Para não dizer que não falei da velhice, 26

1.3 - Eu envelheço, tu envelheces, nós envelhecemos...A população envelhece, 29

1.4 - Universidades Abertas à Terceira Idade - Um pouco de História: a

experiência de Pernambuco, 38

2. OBJETIVOS, 45

2.1 - Geral, 45

2.2 - Específicos, 45

3. MATERIAL E MÉTODOS, 47

3.1 - Tipo de estudo, 47

3.2 - População do Estudo, 47

3.3 - Definição do Instrumento de Coleta de Dados, 48

3.4 - O Procedimento para a Coleta de Dados, 51

3.5 - Alguns conceitos importantes, 52

Page 8: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

4. RESULTADOS, 55

5. DISCUSSÃO, 78

6. CONCLUSÕES, 109

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, 112

ANEXO, 121

ANEXO 1

Lei nº 8.842/94 – Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, 122

ANEXO 2

Decreto Lei nº 1948/96 – Regulamenta a Lei nº 8842/94,, 129

ANEXO 3

Seções I, III, IV, V e VIII do Questionário Brazil Old Age Schedule - BOAS, 137

Page 9: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

RELAÇÃO DE ABREVIATURAS E SIGLAS UTILIZADAS

AIVD - Atividade Instrumental de Vida Diária

AVD - Atividade de Vida Diária

OMS - Organização Mundial de Saúde

OPS - Organização Panamericana de Saúde

UFPE - Universidade Federal de Pernambuco

UnATI/UERJ - Universidade Aberta à Terceira Idade da Universidade Estadual do Rio de

Janeiro

UnATI/UFPE - Universidade Aberta à Terceira Idade da Universidade Federal de

Pernambuco

UNESP - Universidade Estadual de São Paulo

UNITI - Universidade Aberta da Terceira Idade do Maranhão

UTI - Universidade da Terceira Idade

Page 10: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

RELAÇÃO DE GRÁFICOS, TABELAS E ANEXOS

GRÁFICOS:

GRÁFICO 1: População Idosa (60 anos e mais) de Pernambuco, segundo Faixa Etária e

Sexo. Recife, 1999.

GRÁFICO 2: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao Sexo. Recife, 1998.

GRÁFICO 3: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Faixa Etária. Recife,

1998.

GRÁFICO 4: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao Sexo e à Faixa

Etária. Recife, 1998.

GRÁFICO 5: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Cidade de

Procedência. Recife, 1998.

GRÁFICO 6: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao Bairro de

Procedência. Recife, 1998.

GRÁFICO 7: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao Nível de

Escolaridade. Recife, 1998.

GRÁFICO 8: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao Sexo e ao Nível de

Escolaridade. Recife, 1998.

GRÁFICO 9: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao Estado Conjugal.

Recife, 1998.

GRÁFICO 10: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao Sexo e ao Estado

Conjugal. Recife, 1998.

Page 11: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

GRÁFICO 11: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao Número de Filhos,

Filhas e Número Total de Filhos. Recife, 1998.

GRÁFICO 12: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao Arranjo

Domiciliar. Recife, 1998.

GRÁFICO 13: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Satisfação com a

Vida em Geral. Recife, 1998.

GRÁFICO 14: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao Sexo e à

Satisfação com a Vida em Geral. Recife, 1998.

GRÁFICO 15: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Utilização dos

Serviços Médicos. Recife, 1998.

GRÁFICO 16: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Satisfação na

Utilização de Serviços Médicos. Recife, 1998.

GRÁFICO 17: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Utilização de

Serviços Dentários. Recife, 1998.

GRÁFICO 18: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Utilização de

Medicamentos. Recife, 1998.

GRÁFICO 19: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação a Pessoas que

Poderiam Cuidá-los em Caso de Doença e/ou Incapacidade. Recife, 1998.

GRÁFICO 20: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Convivência com

as Pessoas com quem Residem, com Amigos e Vizinhos. Recife, 1998.

GRÁFICO 21: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação às Visitas Recebidas

na Última Semana. Recife, 1998.

Page 12: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

GRÁFICO 22: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao Tipo de Trabalho

que Realizaram por Mais Tempo em Suas Vidas. Recife, 1998.

GRÁFICO 23: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao Tempo de

Trabalho Durante a Vida. Recife, 1998.

GRÁFICO 24: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Idade em que

Começaram a Trabalhar. Recife, 1998.

GRÁFICO 25: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Idade em que

Pararam de Trabalhar. Recife, 1998.

GRÁFICO 26: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Situação de

Residência. Recife, 1998.

GRÁFICO 27: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Percepção sobre

sua Situação Econômica Atual em Comparação a Quando Tinham 50 Anos. Recife, 1998.

GRÁFICO 28: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao Principal

Problema do Seu Dia-a-Dia. Recife, 1998.

TABELAS:

TABELA 1: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao Grau de Parentesco

entre o Idoso e as Pessoas com as quais Reside. Recife, 1998.

TABELA 2: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Freqüência de Uso de

Alguns Serviços Médicos nos Últimos Três Meses. Recife, 1998.

TABELA 3: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Utilização de

Ajudas/Apoios. Recife, 1998.

Page 13: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

TABELA 4: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao Grau de Autonomia

e Independência no Desempenho das Atividades da Vida Diária (AVD). Recife, 1998.

TABELA 5: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação às Atividades

Realizadas no Tempo Livre. Recife, 1998.

TABELA 6: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Assistência Oferecida

pela Família ao Idoso. Recife, 1998.

TABELA 7: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Assistência que o

Idoso Oferece à Família. Recife, 1998.

TABELA 8: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE que Possuem Renda, Tomando

como Parâmetro o Salário Mínimo. Recife, 1998.

TABELA 9: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Renda das 291

Famílias que a Possuem, Tomando como Parâmetro o Salário Mínimo. Recife, 1998.

TABELA 10: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação a Algumas Condições

do Domicílio. Recife, 1998.

TABELA 11: Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação às Suas Principais

Necessidades/Carências. Recife, 1998.

ANEXOS:

ANEXO 1: Seções I, III, IV, V e VIII do Questionário BOAS.

ANEXO 2 – Lei nº 8.842/94 – Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso

ANEXO 3 – Decreto Lei nº 1948/96 – Regulamenta a Lei nº 8842/94

Page 14: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

RESUMO

Conhecer o perfil sócio-epidemiológico dos idosos que freqüentam um programa

especial, desenvolvido em uma universidade pública federal no Estado de Pernambuco - a

Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI/UFPE), experiência pioneira no Estado, é o

principal objetivo deste estudo, uma vez que o envelhecimento populacional acelerado pelo

qual o Brasil vem passando, e, em particular a região Nordeste, exige ações a curto prazo,

como uma adequada produção de conhecimento na área do envelhecimento que deve

subsidiar o planejamento dessas ações. Realizamos um censo para 358 idosos participantes

do Programa no ano de 1998. Para traçar o perfil desejado, realizamos um estudo

epidemiológico descritivo de corte transversal, utilizando um instrumento

multidimensional, o Brazil Old Age Schedule-BOAS e buscamos respaldo teórico em

estudos tanto da área do envelhecimento quanto da saúde coletiva. Identificamos a

existência de um grupo de idosos, em geral, com importantes níveis de autonomia,

independência funcional e participação, a maioria é capaz de realizar só e sem ajuda as

atividades da vida diária – AVD - (cuidados pessoais, alimentação e vestuário, entre

outras) e as atividades instrumentais de vida diária – AIVD - (sair para as compras,

administrar medicação, viagens entre, outras). Trata-se de um grupo em que predomina o

gênero feminino, na faixa etária entre 60 e 69 anos, casadas e/ou viúvas, com renda de

aposentadoria e/ou pensão e com bom nível de escolaridade. Tiveram em média quatro

filhos e a maioria refere estar satisfeita com a vida de uma maneira geral. Utilizam serviços

médicos e dentários privados (plano/seguro saúde), crêem que a filha é a principal pessoa

que pode dispensar-lhes cuidados em caso de doença ou incapacidade. Ocupam

adequadamente seu tempo livre e a maioria mantém um adequado nível de integração

social. Não dependem financeiramente de suas famílias, pelo contrário, são em várias

situações, suas provedoras oferecendo assistência de moradia e financeira, porém

consideram importante desfrutar da atenção e da companhia de seus familiares.

Page 15: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

ABSTRACT

The principal aim of this research was to investigate the socio-epidemiological

profile of senior citizens taking part in a special programme carried out at a Federal Public

University in the State of Pernambuco. The Universidade Aberta à Terceira Idade

(UnATI/UFPE) or Senior Citizens’ Open University is a pioneering initiative in the state.

The accelerated demographic aging process which Brazil, especially the Northeast region,

has been undergoing requires short term action supported by adequate production of

knowledge concerning this phenomenon. A census of 358 senior citizens who participated

in the 1998 Programme was undertaken. In order to obtain the desired profile, a descriptive

cross-sectional epidemiological study was carried out using a multidimensional tool, the

Brazil Old Age Schedule (BOAS) and theoretical grounding was sought in the fields of

both aging and public health studies. We identified the existence of a group of senior

citizens displaying high overall levels of autonomy, functional independence and

participation, the majority being able to carry out daily activities (AVD) alone and without

assistance (personal care, meals and dressing, among others). They were also capable of

carrying out instrumental daily activities (AIVD) such as shopping, medication, travel and

so forth. The group is predominantly female, from 60 to 69 years of age, married and/or

widowed, receiving a retirement income or pension and with a good level of schooling. On

average they have had four children and the majority state that they are generally satisfied

with life. They use private medical and dental services (health insurance) and believe that

a daughter is the person most able to take care of them in the event of illness or disability.

They make adequate use of their free time and most maintain a reasonable level of social

integration. They are not financially dependent on their families, in fact in several cases

they are still providers, offering housing and financial support, considering it important

however to enjoy the attention and company of their families.

Page 16: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

APRESENTAÇÃO

Meu primeiro contato pessoal com o envelhecimento foi através da convivência

com meus avós, tive o privilégio de conhecer todos, os maternos e os paternos e ainda um

bisavô, todos autônomos, independentes e lúcidos. Esta primeira referência positiva de

afeto, me parece o fundamento de todas as demais relações com idosos que pude

estabelecer até esse momento de minha vida.

Profissionalmente, iniciei o contato com idosos na área de saúde mental, ainda na

graduação de Terapia Ocupacional onde, por questão de identificação, eu sempre

terminava acompanhando as pessoas idosas que sofriam de depressão e os resultados eram

na maioria das vezes positivos. Percebendo esse “feeling” decidi investir na formação na

área do envelhecimento e, creio, comecei bem, participando do I Curso Internacional de

Aperfeiçoamento em Epidemiologia do Envelhecimento, realizado em 1989 na Escola

Paulista de Medicina. Sendo o curso de epidemiologia do envelhecimento, deu-se uma

associação perfeita, pois desde a graduação já me identificava com a saúde coletiva.

A seqüência de experiências profissionais passam pela minha participação na

equipe de implantação da Coordenação de Atenção Integral à Saúde do Idoso da Secretaria

Estadual de Saúde de Pernambuco, pela Especialização em Saúde do Idoso também pela

FIOCRUZ e culmina com a entrada como docente no Departamento de Terapia

Ocupacional da UFPE na área de saúde mental e saúde do idoso em 1994, onde realizo,

com outros colegas, mais um sonho, a criação em 1996 da Universidade Aberta à Terceira

Idade da Universidade Federal de Pernambuco (UnATI/UFPE).

São muitas as carências de conhecimento sobre a população idosa do Estado e

muitos os meus interesses de investigação, porém o fato de estar gerenciando a

UnATI/UFPE me fez optar por este estudo, para conhecer quem são e como vivem os

idosos do Programa, de modo que seu produto venha não apenas a subsidiar o

planejamento de ações, mas também venha a consubstanciar a crença de que este grupo,

constitui-se em uma excelente oportunidade para campo de investigação.

Page 17: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

Em linhas gerais, o trabalho discute a preocupação e a curiosidade do homem ao

longo da história com o processo de envelhecimento, apresenta algumas reflexões acerca

da imprecisão dos conceitos sobre velhice e envelhecimento, mostra, à luz dos estudiosos

do tema, o processo de envelhecimento populacional no Brasil e no mundo, guardando

suas peculiaridades, bem como seu impacto para as instituições sociais e econômicas.

Apresenta um estudo realizado com os idosos da UnATI/UFPE, onde foram

abordadas as condições: pessoais e familiares, sociais e econômicas, de autonomia e

independência funcional para o desempenho das atividades da vida diária (AVD), de

ocupação do tempo livre e de utilização de serviços médicos e dentários. Por fim, são

apresentadas as conclusões.

Page 18: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

18

1. INTRODUÇÃO 1.1 - Desde que o homem é homem ...

“Há homens que, como alguns vinhos, envelhecem sem azedar-se.”

(Cícero)

Nunca antes na história da humanidade, o homem experimentou viver tantos anos.

Para MENEZES (1994), é justificável que haja uma perplexidade diante dessa nova

realidade.

A preocupação do homem com as questões da velhice vem de tempos remotos. Na

antigüidade os egípcios já demonstravam interesse pelo rejuvenescimento relatado na

tradução de um papiro datado de 1600-1700 a.C. que provavelmente se reportava a 2500-

3000 a.C. onde havia um livro intitulado: Como Transformar um Velho em um Homem de

Vinte Anos através de uma complicada fórmula utilizando-se um ungüento especial,

segundo o papiro funcionou muitas vezes (HAYFLIC, 1996; LEME, 1996 e GOMES,

1998).

Segundo HAYFLIC (1996), os povos do passado observavam que na natureza

alguns animais como as cobras, os lagartos e caranguejos, trocavam a pele ou a concha e

acreditavam ser esse, um processo de rejuvenescimento. Ainda segundo o autor o termo

grego (gérõn) e o latino (senectus) que são usados para designar a velhice, referem-se à

troca da pele de um animal.

O homem tenta lutar contra a passagem do tempo e consequentemente contra a

finitude, assim, através da beleza e da juventude eterna, busca a eternidade, a imortalidade.

Neste sentido HAYFLIC (1996), refere que muitas atitudes em relação ao envelhecimento

e à morte baseiam-se em crenças de que em algum tempo, o homem foi imortal e que por

alguma desobediência cometida, os deuses o puniram com a morte e cita o clássico

exemplo de Adão e Eva. Em relação a crença sobre existência de “tempos” e “lugares”

onde se vive ou se viveu uma experiência de extrema longevidade e quase imortalidade, o

autor cita outros exemplos: “O Jardim do Éden”, que “talvez seja o mais conhecido na

cultura ocidental como um paraíso no qual a imortalidade era uma realidade” (p. 181), a

Page 19: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

19

lenda grega do Hiperbóreo (além do vento norte), uma terra distante onde todos tinham

vidas bastante longas. Acredita-se que, ainda hoje, em algumas partes do Equador, Ucrânia

e Paquistão seja possível encontrar pessoas muito longevas e, por fim, a “fonte da

juventude” capaz de manter e devolver beleza e juventude àqueles que se banharem em

suas águas.

Para GOMES (1994), ainda hoje o homem persiste em sua busca pelo “elixir da

eterna juventude”: “todos querem viver muito, porém, jovens” (p. 1). PAPALÉO NETTO

et al. (1996) complementam essa reflexão fazendo alusão às “fórmulas ‘miraculosas’ que

oferecem a juventude eterna ou o retardo do envelhecimento” (p.5) e chamam atenção de

que não existe ainda eficácias cientificamente comprovadas sobre o assunto.

GUIMARÃES (1989) reforça essa questão, referindo-se aos que se valem dessas

promessas miraculosas como “mercadores de ilusões” (p. 1).

Segundo GOMES (1998), há uma dificuldade em se encontrar bibliografia sobre o

tema do envelhecimento em tempos mais remotos. Relata que entre os povos primitivos a

expectativa de vida ao nascer era em média 18 anos e posteriormente entre os gregos e os

romanos chegou a 25 anos de idade. O autor refere, ainda, que os cuidados dispensados aos

idosos dependiam dos princípios morais, sociais e/ou religiosos que regiam cada

sociedade. Assim o idoso poderia ser visto como ônus ou honra.

Vários autores trazem reflexões sobre o tema da velhice à luz dos egípcios,

chineses, hindus, judaicos, gregos e romanos, que apresentamos a seguir. Nestes relatos

encontramos referências aos aspectos sociais e biológicos em relação à velhice, observadas

nessas sociedades.

BEAUVOIR (1990), destaca na cultura oriental o povo chinês, referindo-se à

condição de privilégio dispensada por estes aos idosos. Segundo a autora, por ser uma

cultura muito estática, onde pelas condições geográficas e econômicas tinha necessidade

maior de sobreviver e não de evoluir, conservava fortemente seus valores e sua hierarquia,

as responsabilidades assim como o poder, aumentavam com o passar dos anos. Assim

também funcionava a organização familiar, onde todos deviam obediência ao homem mais

velho, mesmo a mulher que era submissa ao homem, quando mais velha gozava de

prestígio e respeito diante da família e dos homens mais jovens. Refere ainda a autora que,

Page 20: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

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a família como base, foi uma estrutura regulamentada por Confúcio, filósofo e reformador

chinês, que tinha como justificativa para o poder exercido pelos mais velhos a relação

direta entre a idade avançada e a sabedoria. O respeito pelos idosos não se limitava ao seio

da família, estendia-se a todos os idosos. Na cultura praticada na China, exigia-se mais

experiência do que força. A autora destaca também o filósofo chinês Lao-Tsé, fundador do

taoísmo. Para os taoístas a velhice aparece como uma virtude em si mesma. No neotaoísmo

o objetivo maior do homem era a vida longa: “A velhice era, portanto, a vida sob sua

forma suprema” (p. 114). Apesar de existirem relatos relativos à revolta dos jovens e

mulheres contra a opressão por eles vividos, não se observa, segundo a autora, na literatura

chinesa, a velhice retratada como flagelo.

No mundo ocidental, o que se observa é diferente. A primeira referência de que se

tem notícias quanto à preocupação com o envelhecimento, que data de aproximadamente

2500 a.C., feita por Phtah Hotep, filósofo e poeta egípcio e, segundo a autora, são

referências negativas, falam do declínio físico e mental dos idosos. Neste sentido, afirma o

poeta: “A velhice é o pior dos infortúnios que pode afligir um homem” (BEAUVOIR,

1990, p. 114).

Para GOMES (1998), entre os egípcios, como já foi referido, havia uma

preocupação com o rejuvenescimento e não uma preocupação social nem de saúde em

relação aos velhos, muito embora tenham tido uma medicina avançada. Há sim uma

preocupação em não envelhecer, em manter-se belo, bem cuidado, uma extrema

preocupação com a aparência física observada nos séculos XIII e XII a.C. (dinastia dos

Ramsés). Em relação aos hindus o autor refere que estes, não demonstravam preocupação

social com os velhos, possuíam uma medicina bastante adiantada, destacando-se o médico

Charaka, que dividiu a arte de curar em oito partes, uma delas referia-se ao

rejuvenescimento e à restauração da virilidade.

O povo judaico tinha muito respeito pelos mais velhos, sendo uma sociedade

patriarcal que cultuava os idosos, inclusive, atribuindo a estes idades avançadíssimas como

é o caso de José que segundo as escrituras viveu 110 anos; Moisés, 120; Aaron, 123; Jacó,

140; Abrão, 175; Isaac, 180; Enoque, 365; Noé, 950 e Matusalém, 969 anos.

Provavelmente, essas idades são metáforas que se referem à longevidade ou ao calendário

lunar utilizado naquele tempo. A Bíblia traz inúmeras passagens que reforçam o respeito

Page 21: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

21

daquele povo pelos seus velhos que, exerciam, inclusive, uma ação política. Observa-se

entre os judeus uma inserção social. Sob a influência religiosa, a doença era vista como

castigo, porém quanto ao aspecto da saúde, recomendava-se medidas de higiene e a

medicina hebráica tinha como característica, a prevenção. Encontram-se também

recomendações de banhos de vapor seguidos de duchas frias e massagens com óleos para

se manter uma vida longa e saudável (HAYFLIC, 1996; LEME, 1996 e GOMES, 1998 ).

BEAUVOIR (1990), refere que para os gregos honra e velhice estavam ligadas.

Homero associava velhice à sabedoria. A autora cita dois exemplos opostos de concepções

sobre a velhice, Platão e Aristóteles; no primeiro, encontra-se valorização da velhice

relatada em toda sua obra. Platão propõe, inclusive, a gerontocracia. Para ele, não importa

o corpo mas sim a alma e, portanto, o declínio do corpo na velhice não mudava em nada a

vida do homem, a alma podia até tornar-se mais livre deste. Seu pensamento é também

relatado nos seus diálogos com Sócrates e deste com Céfalos; no segundo, a alma e o corpo

estão unidos e o que afeta um, afeta o outro, para se ter uma velhice feliz o corpo deve

estar intacto. Para Aristóteles, após os 50 anos o homem é considerado velho e

enfraquecido e portanto, deve ser afastado do poder.

Segundo GOMES (1998), ainda entre os gregos, em relação à saúde dos idosos,

encontram-se referências nas escolas de medicina de Hipócrates e Aristóteles. O autor

refere que Hipócrates considerava que após os 50 anos se era velho, e que as doenças

resultavam do desequilíbrio dos humores. Muitas de suas observações e ensinamentos

quanto à saúde do idoso permanecem atuais, por exemplo as manifestações clínicas

atípicas, a hipotermia, a cronicidade das doenças e a alteração nas funções intestinais.

Recomendava cuidados de higiene corporal, atividade física e mental e moderação

dietética. LEME (1996) acrescenta que “o método hipocrático de exame incluía uma

observação cuidadosa da aparência do paciente, seu estado emocional, condição

funcional, condição de vida e ambiente, incluindo clima e costumes locais” (p. 17), o que

não difere muito da orientação geriátrica atual.

BEAUVOIR (1990) refere que entre os romanos a condição do velho está ligada à

estabilidade social. O lugar dos velhos estava relacionado ao seu poder político e

econômico e nesse sentido o Senado se sustentava. Esse poder se observava também na

família, o paterfamilias, onde o poder era vitalício e total sobre as coisas e as pessoas.

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22

Refere ainda a autora que com a decadência da oligarquia, caem também o prestígio dos

velhos, do Senado e do paterfamilias. É nesse contexto que segundo a autora Cícero,

senador romano, aos 63 anos de idade escreveu De Senectude, de modo a reforçar a

abalada autoridade do Senado. LEME (1996), refere-se a obra de Cícero sob outra ótica.

Relata o autor que Cícero teceu considerações importantes sobre alguns problemas da

velhice como: “memória, perda da capacidade funcional, alterações dos órgãos dos

sentidos, perda da capacidade de trabalho, etc” (p. 17), e exemplifica as recomendações

dadas sobre a importância dos exercícios mentais para a manutenção da memória. O autor

destaca também Galeno, que considerava os quatro humores, a noção de pneuma, o calor

intrínseco e a crença em um só deus e em sua obra, a “Gerontomica”, aborda a necessidade

do idoso manter-se aquecido e umedecido, manter dieta equilibrada, tomar vinho e manter-

se ativo.

LEME (1996), em relação à questão do envelhecimento na idade média, refere que

o interesse acadêmico da época centrou-se, quase que exclusivamente, em medidas

higiênicas para a manutenção de boa saúde até a idade avançada. O autor refere ainda que

no início do século X, existia em Veneza uma legislação que tributava em 10% as heranças

para, com esse fundo, prestar assistência específica às pessoas incapazes e idosas. Destaca,

da Escola Médica de Montpellier a Arnold de Villanova, médico e químico que acreditava

ter encontrado o elixir da longa vida. Em seu livro: Da Conservação da Juventude e da

Proteção da Velhice, escrito em 1290, incorporava os conceitos galênicos dos humores

secos e frios em relação ao envelhecimento. Quanto ao papel social dos velhos na Idade

Média, BEAUVOIR (1990) refere que era inexpressivo, pois as instituições eram instáveis

para garantir a propriedade que precisava ser defendida com a força - o poder era dos

jovens - a experiência dos mais velhos valia pouco. Acrescenta a autora que já nos fins da

alta Idade Média, com toda a destruição que se deu o trabalho de reconstrução nas cidades

e no campo era muito rude e os idosos não tinham condições de fazê-lo, posteriormente os

feudos também necessitavam de defesa através da luta e portanto, num mundo tão adverso,

a longevidade permanece rara e a contribuição dos idosos quase nula. Por fim, a autora

refere que, aqui também se encontra o desejo da juventude eterna, descrito em lagos

mágicos capazes de rejuvenescerem as pessoas, como por exemplo a ilha de Avalon, lá não

se morre e não se envelhece.

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23

Segundo LEME (1996), após o período medieval surge o Renascimento e como

ocorreu em outras áreas, cresce também o interesse pelo estudo do envelhecimento. Na

segunda metade do século XV, em 1498, uma obra também considerada muito importante

foi escrita pelo médico anatomista Gabriele Zerbi e chamava-se “Gerontocomia”; trata-se,

segundo o autor, do primeiro livro impresso dedicado à geriatria.

BEAUVOIR (1990), refere que no fim do século XIX e início do século XX, já no

capitalismo no mundo ocidental, multiplicam-se as pesquisas em vários países no campo

do envelhecimento. Segundo a autora, a partir de 1930 desenvolveram-se as pesquisa em

Biologia, Psicologia e Sociologia e que nos dias de hoje continuam a se desenvolver cada

vez mais, ampliando as áreas de conhecimento envolvidas. Neste sentido, GUIMARÃES

(1996), alerta que apesar de muitos equívocos terem sido cometidos na antigüidade em

relação ao estudo do envelhecimento, acabaram pois, constituindo-se em contribuições

importantes. A cada dia evoluem as abordagens em relação à saúde dos idosos como por

exemplo, no estudo das manifestações clínicas, do diagnóstico onde se utilizam inúmeros

protocolos e escalas de avaliação, levando a maiores chances de boas intervenções para a

solução dos problemas apresentados. O autor refere ainda os trabalhos de Marjorie Warren

em 1947 e J. H. Sheldon em1948 como fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa

clínica em geriatria. O primeiro, segundo ele, “estabeleceu critérios de avaliação dos

pacientes encaminhados para instituições de longa permanência, lançando desta forma, as

bases da Medicina Geriátrica” (p. 72); o segundo, “lançou as bases da medicina social da

velhice e reportou de maneira sistemática os maiores problemas dos velhos residentes na

comunidade” (p. 72).

DEBERT (1996) discute o fato que do ponto de vista social a maioria dos relatos

referem-se a uma velhice abandonada, solitária e empobrecida, relegada ao segundo plano

nas sociedades industrializadas. Tais relatos, baseiam-se para suas afirmativas na lógica

capitalista da sociedade de consumo. Para a autora, no Brasil, o discurso gerontológico que

construiu uma imagem vitimizada do velho brasileiro, baseou-se em 4 aspectos: a explosão

demográfica da população idosa, que demanda políticas específicas; a crítica ao

capitalismo, cujas consequências se exacerbariam na velhice; a crítica à cultura brasileira

que valoriza o novo e não tem memória e, por último, o Estado. A transformação da

família extensa em família nuclear e a criação do welfare state, onde, com o declínio do

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mecanismo familiar associado a um Estado sem condições de responder às suas demandas,

a população idosa vê-se diante de uma situação desfavorável.

Para PAPALÉO NETTO et al. (1996), nas sociedades industrializadas com a

valorização da produtividade todos os que não apresentam força física e rapidez em seu

ritmo sem dúvida estariam alijados do sistema. Na Revolução Industrial essas exigências

são condições fundamentais, a força de produção está para os mais jovens. BEAUVOIR

(1990) acrescenta que “o material humano só interessa enquanto produz” (p. 13) e citando

Leach, antropólogo de Cambridge: “Num mundo em mutação, em que as máquinas têm

vida muito curta, não é necessário que os homens sirvam durante um tempo

demasiadamente longo. Tudo que ultrapassa 55 anos deve ser descartado como refugo”

(p. 13).

Para BIRMAN (1995), é esperado que neste contexto de transformação social, a

velhice seja marginalizada, pois refere o autor “estava em pauta era a possibilidade sócio-

política de produção, reprodução e acumulação de riqueza, centrada no paradigma

biológico da reprodução e de melhoria eugênica da espécie humana” (p. 33), ou seja, o

homem tem o seu valor conforme sua capacidade de produzir e reproduzir riquezas e o

velho já não tendo mais potencial para essa produção e reprodução perde seu valor social e

simbólico.

Reforçando esta reflexão, PAPALÉO NETTO et al. (1996) questionam o lugar do

idoso na sociedade atual refletindo o quanto o próprio idoso pode contribuir para modificar

a situação presente, cita como exemplo a resistência dos mais velhos em adaptar-se às

mudanças e com a velocidade tecnológica de hoje essa adaptação é quase questão de

sobrevivência e de minimização dos conflitos intergeracionais. Cita ainda que existe uma

rejeição do idoso com relação ao seu próprio envelhecimento. Para o autor, o idoso deve

ser sujeito ativo em todo esse processo.

DEBERT (1996) contribui de modo bastante esclarecedor discutindo sobre a

atualidade do tema envelhecimento através de estudos sobre as representações do papel do

idoso na sociedade contemporânea. Dentre as suas muitas reflexões, destacamos as que se

referem ao “envelhecimento bem-sucedido”, ou seja, afirma que atualmente há uma

tendência de inverter a imagem negativa da velhice e tratar essa época da vida como um

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momento de possibilidades, chamando o idoso à participação, uma vez que, segundo a

autora, em relação aos idosos “as experiências vividas e os saberes acumulados

proporcionam a chance de engendrar novos projetos e estabelecerem relações positivas

com o mundo dos mais jovens e dos mais velhos” (p. 35).

Para BEAUVOIR (1990), ainda existe em relação ao envelhecimento uma

“conspiração do silêncio”, a velhice vista na esfera do privado e afirma: “Para a

sociedade, a velhice aparece como uma espécie de segredo vergonhoso, do qual é

indecente falar” (p.8). BIRMAN (1995) acrescenta que tratar a velhice de forma piedosa e

filantrópica é uma “maneira falaciosa e até mesmo hipócrita para silenciar os valores

negativos em que a modernidade inscreveu a velhice” (p. 35). Portanto refere DEBERT

(1996), com o envelhecimento passando a ser visto como uma experiência mais

gratificante, tem-se observado no Brasil uma série de experiências que valorizam essa

vivência coletiva, como por exemplo os grupos de convivência de idosos e os programas

de universidades abertas para a terceira idade, que na década de noventa proliferaram por

todo o país, essa é uma forma de tornar pública a questão do envelhecimento.

Ao mesmo tempo em que desenvolvemos uma competência para lidar com o

envelhecimento saudável, nos deparamos com dificuldades para lidarmos com os

problemas da velhice mais avançada. Temos então que estar atentos para não ocorrer a

“reprivatização da velhice”. As experiências exitosas não podem deixar de lado a

preocupação com a velhice acompanhada de enfermidades e/ou desamparada. Três

condições contribuem para essa nova forma de representar a velhice: primeiro, as

mudanças no sistema produtivo, com o aumento das camadas assalariadas e com os novos

padrões de aposentadoria que não mais significa estar velho, pois cada vez mais pessoas

estão se aposentando ainda muito jovens; segundo, os aposentados não podem mais ser

considerados os menos privilegiados da sociedade nem em países desenvolvidos e nem no

Brasil, onde as pesquisas mostram a necessidade de se refazer esse discurso; a terceira

condição é a expansão do capital, depois dos anos 70 com a reelaboração das concepções

sobre o corpo, ou seja, a cultura do consumismo, o corpo é veículo do prazer e a

responsabilidade com o bem-estar é individual (DEBERT, 1996).

Para KALACHE (1987), o confronto com o envelhecimento exige de todos, um

esforço conjunto para fazer frente às suas demandas. Antes, a experiência do

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envelhecimento era privilégio de poucos, as pessoas morriam em idades tenras; hoje, trata-

se de uma realidade universal.

A origem dos termos Gerontologia e Geriatria, especialidades assim constituídas

recentemente, resultam da história deste último século aqui relatada. O termo Gerontologia

foi criado por volta de 1903 a partir dos estudos de Élie Metchnikoff sobre biologia do

envelhecimento, para referir-se à especialidade que estuda cientificamente o processo de

envelhecimento. Também no início deste século surge o termo Geriatria, criado por Ignaz

L. Nasche, para referir-se à especialidade que trata das doenças dos velhos (BEAUVOIR,

1990; HAYFLIC, 1996 e LEME, 1996).

O homem já consegue viver mais. Precisamos descobrir maneiras de como viver

melhor por mais tempo. Nesse sentido PAPALÉO NETTO et al. (1996) afirmam que não é

justo apenas prolongar a vida dos mais velhos, sem lhes oferecer condições para que esses

anos a mais sejam vividos com dignidade. HAYFLIC (1997) acrescenta que hoje há um

consenso de que deve haver empenho para prolongar a vida o máximo possível desde que

se possa manter também sua qualidade. Portanto a preocupação principal não é apenas a

ampliação do tempo de vida. Segundo LA SALUD...(1989), a Sociedade Gerontológica

dos Estados Unidos tem como lema: “Acrescentar vida aos anos, e não apenas anos à

vida” , esse é um lema da Gerontologia. Em 1982 a Organização Mundial de Saúde (OMS)

também o adotou, sob a legenda “Agregue vida aos anos”.

1.2 – Para não dizer que não falei da velhice.

“Não existe uma definição perfeita para o envelhecimento mas, como ocorre

com o amor e a beleza, grande parte de nós o reconhece quando o sente ou vê”

(Hayflick)

“Fala-se de velhice como se esta palavra representasse uma realidade bem

definida. Na verdade, quando se trata de nossa espécie, não é fácil circunscrevê-la”

(BEAUVOIR, 1990, p. 15)

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“O que é ser idoso não é uma questão tão simples de ser definida, não obstante a

sua aparente obviedade para a consciência individual de qualquer um de nós” (BIRMAN,

1995, p. 29).

“Obviamente, não se trata de negar o processo biológico do envelhecimento

progressivo de cada ser, mas de chamar atenção para o fato de que este processo, sem

dúvida universal, pode ser vivido de muitas e diferentes maneiras (...) Simplesmente

substituir, por exemplo, a categoria velhice por terceira idade não acrescenta qualquer

precisão ao conceito” (GUEDES, 1994, p. 7 e 9).

As afirmativas acima retratam a dificuldade em se precisar “um” conceito de

velhice, talvez não se tenha que fazê-lo, porém para quem lida com o envelhecimento as

perguntas são inevitáveis: o que é velhice? Quando se fica velho? Responder uma significa

automaticamente responder a outra. Os recortes encontrados nos autores contemporâneos

apontam para abordagens biológica, psicológica, social, econômica, antropológica,

cronológica, ecológica, histórica... Todos concordam em um ponto: nenhuma dessas

dimensões isoladamente dá conta da questão da velhice, tamanha sua complexidade.

Em BEAUVOIR (1990), encontramos referência à velhice como um fenômeno

biológico, com repercussões psicológicas e uma dimensão existencial. Também de forma

semelhante é entendida a velhice por BIRMAN (1995), para o autor a lógica evolucionista

é que determinou a etariedade da vida humana numa compreensão puramente biológica, a

mesma lógica que fez surgir a psicologia do desenvolvimento com sua psicometria que

mensura o comportamento humano de acordo com as faixas de idade e, por fim, o autor

refere o registro filosófico, estabelecendo relação com a história e, portanto, com o tempo e

a temporalidade, correspondendo ao que Beauvoir chamou de dimensão existencial.

Não é possível estabelecer uma única definição de velhice ou de velho que

responda a todas as peculiaridades exigidas pelo tema. Existem, portanto, recortes

biológico, social, econômico e cronológico (EL ENVELECIMIENTO..., 1999), este último

tem sido aceito praticamente de forma unânime para fins de pesquisa e legislação, porém

guardadas suas limitações como indicador de velhice, uma vez que já referimos que

segundo os autores e os documentos aqui mencionados as várias dimensões sobre o tema

se complementam.

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NERI (1991), concorda que o envelhecimento é um processo que envolve os

aspectos biológicos, psicológicos, sociológicos e culturais e que, portanto, deve ser

entendido em suas várias dimensões. A partir de seus estudos a autora refere que a

etariedade por nós conhecida é uma construção social e situa seus conceitos no tempo: “o

conceito de infância (séculos XVIII e XIX), adolescência (fins do século XIX), juventude

(20 ou 25 anos atrás), meia-idade (anos 60) e “velhice avançada” (década de 70)” (p.

18). Portanto, como refere BIRMAN (1995) o conceito de velhice é recente na história

moderna ocidental.

Acreditamos que em diversos autores, será possível encontrar discussões em

relação a estas e outras dimensões atribuídas à velhice e ao envelhecimento; nossa

contribuição é, portanto, apontar que a partir destes e de outros autores é possível perceber

que não se pode mais continuar tratando o tema em questão sob o mito da velhice

“medicalizada”.

Existem referências de que a maioria dos idosos apresenta boas condições de saúde,

e vive na comunidade, ao contrário do que pensa o senso comum. Segundo KALACHE

(1987) na Inglaterra, cerca de 95% dos idosos vivem na comunidade; RAMOS (1996)

reforça que, na maioria das sociedades, em torno de 90% dos idosos vivem na comunidade,

indicadores de saúde da Espanha (1995) apontam que 74,4% dos idosos são totalmente

independentes para o desempenho das AVDs;

BERQUÓ (1996), chama atenção para a importância de termos em mente que:

sendo o envelhecimento uma construção sócio-histórica, os perfis que hoje conhecemos em

relação aos idosos e/ou às populações idosas, referem-se à coortes nascidas nas décadas de

10, 20 e 30. No futuro teremos, possivelmente, outros “desenhos” de velho e de velhice.

Como refere BEAUVOIR (1996), “mudar é a lei da vida” (p. 17).

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1.3 - Eu envelheço, tu envelheces, nós envelhecemos ... A População Envelhece

“Tempo, tempo, tempo, tempo ...”

(Caetano Veloso)

O aumento acelerado da população idosa e seu impacto para os diversos setores da

sociedade têm sido discutidos nos meios políticos e acadêmicos com o objetivo de

encontrar soluções viáveis para o enfrentamento dessa realidade que se impõe a um país

como o Brasil, que apesar de encontrar-se em franco processo de envelhecimento de sua

população, ainda conta com necessidades sócio-sanitárias básicas a serem solucionadas.

Essa polarização exige um planejamento para equacionar a destinação de recursos e ações

públicas.

Segundo RAMOS (1993), o envelhecimento populacional está bem definido nos

países de primeiro mundo, uma vez que se relaciona diretamente ao desenvolvimento

social e ocorreu em um período de aproximadamente 200 anos. Também nos países do

Terceiro Mundo já se observa um envelhecimento de suas populações, inclusive de forma

bastante acelerada. O autor acrescenta que desde 1960 mais da metade da população idosa

do mundo vive em países menos desenvolvidos e a perspectiva para o ano 2000 é que esse

número atinja os 70%. Em relação a essa questão, KALACHE (1987) refere que só a partir

de 1960 é que se verifica ganho significativo da expectativa de vida ao nascer para as

populações desses países. Segundo o autor, este ganho deverá não só manter-se, mas

também acentuar-se até o final deste século; os idosos serão o grupo etário que mais

crescerá na maioria dos países menos desenvolvidos. Oito entre os 11 países com as

maiores populações de idosos, por volta do ano 2025 são classificados como países em

desenvolvimento.

Segundo KALACHE (1987), “para que uma população envelheça é necessário

primeiro que nasçam muitas crianças, segundo que as mesmas sobrevivam até idades

avançadas e que, simultaneamente, o número de nascimentos diminua. Com isso a entrada

de jovens na população decresce, e a proporção daqueles que sobreviveram até idades

mais avançadas passa a crescer” (p. 204). RAMOS (1993) destaca que, para ocorrer o

envelhecimento populacional são considerados dois fatores essenciais, a taxa de

mortalidade e a taxa de fecundidade de uma população. A queda do coeficiente dessas

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taxas é que levará ao aumento da expectativa de vida de uma população, sendo portanto

entendido o envelhecimento populacional como “o aumento da proporção de pessoas com

idade avançada em uma população, às custas da diminuição da proporção de jovens nesta

mesma população” (p. 4). Acrescenta que a queda da mortalidade antecede a queda da

fecundidade, a esse fenômeno denomina-se de “transição demográfica”.

Para KALACHE (1987), o processo de transição demográfica, definido acima,

pode ser observado em praticamente todas as regiões do mundo, sendo portanto um

fenômeno universal. Porém envelhecer em condições sócio-sanitárias, econômicas e

políticas favoráveis, características de países desenvolvidos, é diferente de envelhecer em

regiões onde esses condicionantes básicos de bem estar ainda não estão consolidados. São

países que segundo o autor, por não terem ainda completado um ciclo econômico e

político, permanecem com carências diversas.

Faz-se necessário, portanto, entender a diferença entre o processo de

envelhecimento populacional ocorrido nos países industrializados daquele que se observa

nos países em desenvolvimento. Nesse sentido FOUCALT (1976) apud BIRMAN (1995)

contribui referindo que o investimento no bem estar da população entrou na agenda

política do primeiro mundo a partir das transformações sociais ocorridas na passagem do

século XVIII para o XIX, onde os governos passaram a entender que suas riquezas não

estavam apenas nos recursos naturais, mas também em sua população e que quanto mais o

Estado investisse em melhoria das condições biológicas da população e sócio-sanitárias

dos seus territórios, melhores as chances de produção e reprodução de riquezas. Assim,

houve um grande investimento nas condições de vida da população em geral e

consequentemente com o crescimento econômico, político e social decorrente desse

investimento observa-se melhoria das condições sócio-sanitárias das populações

contribuindo diretamente para o aumento na expectativa de vida. Observou-se nesse

período, segundo o autor, uma “medicalização” do Ocidente, mediante a qual a medicina

passou a ocupar uma posição estratégica no campo social. Este processo não se observou

nos países em desenvolvimento.

RAMOS (1987) refere que o envelhecimento das populações dos países

desenvolvidos deu-se ao longo de um processo de desenvolvimento social, político e

econômico, como referido acima, que permitiu, em tese, que estes dispusessem de

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31

planejamento de políticas públicas que viessem a atender às demandas de uma população

que envelhece, significando que, quando se deram as grandes conquistas médico-

tecnológicas como por exemplo a descoberta dos antibióticos, das vacinas, do raio X, entre

outras, - que, sem dúvida, contribuíram para diminuir as mortes antes inevitáveis - já havia

uma estrutura sócio-sanitária favorável, como: processo ordenado de urbanização, elevação

das condições sanitárias e nutricionais, condições adequadas de habitação e trabalho, e

portanto, os fatores tecnológicos não foram determinantes no processo de aumento da

expectativa de vida desses países. Em 1960, a expectativa de vida para os países

desenvolvidos estava em torno dos 69,8 anos devendo passar para 77,2 em 2020, tendendo

a estabilizar.

Em relação aos países menos desenvolvidos, segundo KALACHE (1987) “espera-

se que no Terceiro Mundo, até o ano 2020, haja um ganho de mais de 23 anos na

expectativa de vida desses países, chegando a 68,9 anos” (p. 202). O autor denomina o

aumento na expectativa de vida, devido à redução da mortalidade verificada hoje na

maioria dos países subdesenvolvidos, como sendo “um fenômeno artificial”, já que está

ocorrendo em função da disponibilidade de meios inexistentes até um passado muito

próximo, referindo-se às conquistas médico-tecnológicas. Portanto, é possível concluir, a

partir do autor que o aumento da expectativa de vida nos países desenvolvidos está

diretamente relacionado às melhorias das condições de vida; enquanto que nos países

menos desenvolvidos esse aumento está diretamente relacionado às conquistas médico-

tecnológicas, pois passa a ser observado na segunda metade deste século, ou seja, após a

descoberta e difusão dessas conquistas.

À medida em que o homem vai ganhando mais anos de vida, cada dia mais

aproxima-se do limite biológico da espécie humana. Para HAYFLIC (1996) esse limite é

115 anos, para KALACHE (1987) o limite é 85 anos, não entrando no mérito dessa

discussão, o consenso é que há um limite biológico para a espécie humana e, por isso, em

um determinado momento a taxa de crescimento da expectativa de vida de uma população

tende a estabilizar-se, e, portanto, poucos ultrapassam esse limite. Há um consenso também

de que o limite biológico de vida para a espécie humana não parece ter se alterado ao longo

dos tempos, o que se observa, na verdade, são mais pessoas chegando próximo a esse

limite (KALACHE, 1987; RAMOS, 1987 & HAYFLIC, 1997). Neste sentido, KALACHE

(1987) refere que não há evidência de que o limite biológico de vida para os homens seja

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diferente para as diferentes regiões do mundo e, portanto, hoje como em qualquer outro

momento da história, tornar-se um centenário continua sendo um fato excepcional.

O envelhecimento aqui relatado refere-se à esfera do coletivo, porém apresenta

algumas particularidades como o comportamento demográfico do envelhecimento em

relação ao sexo. KALACHE (1987) refere que, em especial nos países desenvolvidos, a

expectativa de vida da mulher é maior que a dos homens, representando uma diferença de

7,5 anos em 1980. Embora nos países menos desenvolvidos observe-se uma diferença

menor, de 2,2 anos para o conjunto desses países em 1980, ela está presente. Destaca que

em alguns países, devido às condições socioculturais e econômicas de profunda

desigualdade, pode-se observar inclusive uma inversão desses padrões. KINSELLA (1994)

refere que esta diferença entre a expectativa de vida de homens e mulheres é maior na

América Latina e Caribe que em outras regiões menos desenvolvidas, chegando em torno

de 7 anos a vantagem feminina.

Em relação ao envelhecimento populacional nas regiões em desenvolvimento,

KINSELLA (1994) afirma que o Caribe é a região em desenvolvimento mais velha do

mundo, sua população idosa hoje representa 9%. Segundo o autor, na América Central e na

América do Sul observa-se uma estrutura etária mais jovem, onde 6,9% da população têm

60 anos e mais.

A seguir, veremos o cenário do envelhecimento populacional no Brasil. Para

RAMOS (1987), o processo de envelhecimento populacional experimentado no país

assemelha-se em intensidade ao vivido pelos países desenvolvidos. Estando mais definido

em algumas regiões que em outras. Devido às diferenças regionais observa-se melhor essa

definição em estados do Sul e Sudeste que nos do Norte e Nordeste. Enquanto nos países

desenvolvidos o processo tende a estabilizar-se, aqui deverá acelerar-se cada vez mais.

Portanto, o país que ainda está por resolver os problemas da infância, defronta-se com os

impactos sociais e, em particular, de saúde relativos ao processo de envelhecimento de sua

população. O autor refere que no Brasil, a exemplo do que ocorreu em outros países menos

desenvolvidos, a queda significativa das taxas de fertilidade são observadas ao fim da

década de 60, estendo-se até os primeiros anos da década de 80. O autor destaca que no

final da década de 70 observa-se, nas populações urbanas, em geral, uma tendência à

estabilização das suas taxas de fertilidade. Até 1960, todos os grupos etários cresciam de

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forma semelhante à população total, porém da década de 60 para cá, o grupo etário de 60

anos e mais apresenta taxas de crescimento mais altas e sempre mais elevadas que as da

população total e da população jovem. O autor chama atenção para o fato de que “até o

ano 2000 o grupo etário de 0 a 14 anos deverá crescer apenas 14% contra 107% de

crescimento do grupo de 60 anos e mais, e a população como um todo crescerá 56%.

Iniciaremos o próximo século com a população idosa crescendo quase oito vezes mais que

os jovens e quase duas vezes mais que a população total” (p. 215). Para BERQUÓ (1996)

o crescimento da população idosa no Brasil torna-se mais relevante por já superar o da

população total.

VERAS (1992) também discute a importância de se considerar as diferenças

regionais e as desigualdades sociais no Brasil no momento da análise dos dados que,

isolados, não refletem a realidade. O autor traz o exemplo dos estados do Rio de Janeiro e

da Paraíba, ambos apresentaram no Censo Demográfico de 1991, 9% de suas populações

com 60 anos e mais, no entanto, o índice do estado nordestino deveu-se principalmente ao

processo de migração da população jovem em busca de melhores condições de vida

somada à esterilização da mulher, em especial a de baixa renda. BERQUÓ (1992)

acrescenta que essa alta proporção de idosos observada em alguns estados nordestinos não

significa que as pessoas tenham maior expectativa de vida, pelo contrário, é a mais baixa

do país. A autora (1996) demonstra a partir da análise dos dados do último censo que 52%

da população idosa do Brasil está no Sudeste, 24% no Nordeste, 15% no Sul, 5% no

Centro-Oeste e 4% no Norte.

O crescimento da população idosa no Brasil é o mais acelerado do mundo

comparando-se apenas ao México e a Nigéria. Passamos em termos proporcionais de 7,3%

em 1971, ou seja, 11 milhões de idosos, para 15% em 2025, ou seja, 32 milhões de idosos,

colocando o Brasil, neste período, como a sexta população de idosos do mundo, em

número absoluto (SILVESTRE et al., 1996).

É importante entender que as mudanças demográficas não acontecem de forma

isolada em uma sociedade. KALACHE (1987) cita como exemplo dessas mudanças

simultâneas, o rápido processo de urbanização pelo qual passou o Brasil, que na década de

50, tinha dois terços de sua população de cinqüenta milhões de habitantes, vivendo em

zonas rurais; já na década de oitenta era possível observar segundo o autor, que quase três

Page 34: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

34

quartos dos seus 130 milhões de habitantes viviam em áreas urbanas. Para CARVALHO

(1991) observa-se uma inversão de concentração populacional entre as áreas rural e urbana

no Brasil e estima-se para o ano 2000, que apenas 20,2% da população do país esteja

vivendo em áreas consideradas rurais. Ainda no contexto da urbanização, RAMOS (1987)

refere que este, entre outros fatores, influenciou o comportamento dos padrões

reprodutivos no Brasil. A nova forma de arranjo domiciliar urbano, acaba exigindo uma

limitação do número dos membros da família, além da incorporação da mulher ao mercado

de trabalho aliada à sua adesão aos programas de controle familiar, que, segundo o autor

demonstra não apenas uma necessidade, mas também um desejo de limitação do tamanho

da família. Com isso, a atenção prestada pela família aos seus membros acaba sendo

substituída pela intervenção cada vez maior do estado e de outras alternativas

institucionais, que em geral são inadequadas e mais onerosas.

Segundo RAMOS (1993) a Organização Mundial de Saúde estabeleceu em 1984

que se pode considerar uma população envelhecida quando a proporção de pessoas com 60

anos e mais representa 7% da população total, com tendência a crescer. Pernambuco não

foge à regra, de acordo com (IBGE, 1992), dados relativos ao último Censo Demográfico

de 1991, demonstram que hoje a população de 60 anos e mais no Estado representa 8,30%

em relação à população total. Sendo 3,72% de homens e 4,58% de mulheres, seguindo

também uma tendência mundial onde a proporção de mulheres idosas é superior a dos

homens idosos. É possível observar no Gráfico 1, que a proporção de mulheres idosas

aumenta à medida em que avança a idade, colocando para Pernambuco, situações em

relação ao envelhecimento da mulher, que também deverão ser enfrentadas em regiões

mais desenvolvidas do país. Segundo BERQUÓ (1996) “a feminização do envelhecimento

traz consequências para as políticas sociais, em especial, as de saúde” (p. 22).

Page 35: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

35

Gráfico 1 - População Idosa (60 e mais) de Pernambuco, segundo

Faixa Etária e Sexo. Recife, 1999

Fonte: Fundação IBGE, Censo Demográfico, 1991.

O envelhecimento populacional se impõe como uma nova realidade e com

implicações para as instituições sociais; aqui, destacamos o impacto observado no setor

saúde. Para KALACHE (1987), no que se refere ao setor saúde, o crescimento da

população idosa implica em uma maior freqüência de casos de doenças crônicas exigindo

mais recursos financeiros e de outras ordens como por exemplo, tecnologia e profissionais

especializados. Para países subdesenvolvidos, torna-se um desafio equacionar recursos

para atender de um lado, questões sócio-sanitárias básicas; de outro, uma demanda

crescente de uma população que envelhece sofrendo de doenças não transmissíveis.

RAMOS (1987), acrescenta, à medida em que uma população envelhece, há uma tendência

a modificações no seu padrão de morbi-mortalidade, tornando-se mais difícil a prevenção

de doenças e mais complexa a intervenção. Por serem os episódios de doença apresentados

por uma população envelhecida, em sua maioria crônicos, há uma transferência do

processo de morte no ambiente doméstico para o hospitalar, o que onera em muito o

sistema de saúde.

CARVALHO et al. (1998), considerando a “artificialidade” do processo de

envelhecimento das populações dos países menos desenvolvidos, aqui incluído o Brasil, no

que se refere às conquistas médico-tecnológicas em detrimento de uma melhoria das

condições de vida em geral dessas populações, e analisando seu impacto para o setor saúde

nesses países afirmam que o perfil epidemiológico brasileiro está pautado pela iniquidade,

decorrente das profundas desigualdades sociais observadas em nosso país, configurando

um perfil complexo e heterogêneo, que apresenta ao mesmo tempo, enfermidades crônicas

e degenerativas, altos índices de enfermidades infecciosas e parasitárias e ainda

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

60-6

4a

65-6

9a

70-7

4a

75-7

9a

80-8

4a

85-8

9a

90-9

4a

95-9

9a

100a

e +

Masc. Fem.

Page 36: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

36

enfermidades emergentes ou reemergentes. A esse processo de transformação de um perfil

epidemiológico “arcaico” para um perfil epidemiológico “moderno”, denomina-se, no

campo da saúde, de “transição epidemiológica”. Porém, o autor chama atenção para o fato

de que o processo ocorrido no Brasil decorre de um processo histórico diferente do

ocorrido nos chamados países desenvolvidos. As análises devem estar sempre pautadas por

uma compreensão de contexto, e assim, entende que não se observa no Brasil uma situação

definida de transição, mas um novo padrão epidemiológico que difere do observado no

contexto internacional.

Ainda em relação ao setor saúde no Brasil, SILVESTRE et al. (1996), referem, a

partir da análise dos dados de internação hospitalar do SUS no ano de 1995 em relação às

autorizações hospitalares, à taxa de hospitalização, ao tempo médio de permanência, ao

índice de hospitalização e ao custo total de recursos consumidos, que a população de 60

anos e mais foi a que mais onerou cada um desses itens em relação à população mais

jovem. Exigindo, segundo o autor, um redimensionamento para esse segmento etário no

Sistema de Saúde Brasileiro; refere, ainda, que apesar desse novo desenho demográfico e

epidemiológico observado no Brasil, o sistema de saúde permanece priorizando o

segmento materno-infantil.

Segundo KALACHE (1987) o número crescente de idosos em uma população é

diretamente proporcional à demanda por recursos para atender às suas necessidades. E o

maior desafio para qualquer país, e em especial para o Brasil, é equacionar a alocação

desses recursos e utilizá-los da maneira mais adequada possível. Para o autor, apesar de se

observar uma maior prevalência de doenças crônicas em uma população envelhecida, o

conceito de saúde que se defende para os idosos está ligado à sua capacidade funcional e

não apenas à presença ou não de uma patologia crônica, mesmo quando essa vem

acompanhada de incapacidade associada. O importante é que os idosos possam manter-se

autônomos e independentes. Neste sentido refere ainda que: “Envelhecer mantendo todas

as funções não significa problema quer para o indivíduo ou para a comunidade; quando

as funções começam deteriorar é que os problemas começam a surgir. O conceito está

intimamente ligado à manutenção da autonomia” (p. 208). Para fins de planejamento, essa

abordagem é extremamente útil, pois nos países subdesenvolvidos, devido à grande

desigualdade social, o critério cronológico torna-se insuficiente, uma vez que muitas vezes,

o envelhecimento funcional antecede o envelhecimento cronológico.

Page 37: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

37

Podemos fazer um paralelo entre o conceito de capacidade funcional como

indicador de saúde para pessoas idosas, com o conceito de “desgaste” abordado por

LAURELL (1989). Embora seja uma abordagem que a autora faz diretamente relacionada

às condições de trabalho e seus impactos na vida e na saúde dos trabalhadores, por

considerar: “as condições ambientais”; o trabalho como atividade humana, consciente e

com objetivos claramente definidos; vários tipos de “cargas de trabalho” como físicas,

químicas, biológicas, mecânicas, fisiológicas e psíquicas; que tudo isso se materializa no

corpo do trabalhador (da pessoa); que a monotonia, a repetitividade e a desqualificação são

danosos ao pensamento e a criatividade, é que podemos estabelecer a relação com as

situações de vida adversas (“cargas”), observadas principalmente em países como o Brasil,

que têm repercussões diretas sobre a vida e a saúde das pessoas e que dependendo do tipo,

podem causar danos ao pensamento e à criatividade (autonomia), comprometendo assim

sua capacidade funcional. A autora define “desgaste” como sendo “ ‘a perda da

capacidade efetiva e/ou potencial biológica e psíquica’, que pode ou não expressar-se no

que a medicina reconhece como patologia” (p. 115).

Segundo RAMOS (1987), com o aumento proporcional da população idosa em um

país, observa-se uma alteração nos gastos para manter essa parcela da população

economicamente improdutiva. Há o aumento da relação de dependência social entre a

parcela economicamente ativa e a não-produtiva, havendo sobrecarga da população

economicamente ativa. VERAS (1994) enfatiza que o aumento de idosos em uma

população ocasiona um alto índice de dependência-idoso. SILVESTRE et al. (1996),

acrescentam que nos países onde existem programas destinados à população idosa, os

gastos são 3 vezes maiores do que com a população de 0 a 14 anos.

Diante do cenário do envelhecimento populacional no Brasil, onde de um lado

ainda temos um grande quantitativo de população jovem e de outro um rápido e intenso

envelhecimento populacional em condições sócio-sanitárias desfavoráveis, RAMOS

(1993), propõe que esta nova realidade brasileira deva ser considerada uma questão de

Saúde Pública.

Page 38: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

38

1.4 – Universidades Abertas à Terceira Idade: um pouco de História. A experiência

de Pernambuco.

“Viver e não ter a vergonha de ser feliz,

cantar a beleza de ser um eterno aprendiz”.

(Gonzaguinha)

O cenário de envelhecimento populacional que se impõe ao Brasil, exige soluções

viáveis do ponto de vista social, político e econômico. Apesar dessa nova realidade, ainda

é insuficiente a preocupação por parte das instituições formadoras com o oferecimento de

serviços especializados à população idosa, com a qualificação de profissionais capacitados

a lidar com esse segmento populacional, bem como de produzir e difundir conhecimentos

em Gerontologia. Segundo VERAS (1996), propor ações para a terceira idade no Brasil,

torna-se tarefa difícil, já que os recursos para o desenvolvimento de políticas públicas são

sempre escassos. O autor acrescenta a esse fato, a pouca importância dada ao

envelhecimento no país.

A Lei nº 8842, de 4 de janeiro de 1994 (BRASIL, 1994) (Anexo 1), que dispõe

sobre a Política Nacional Idoso regulamentada pelo Decreto Lei nº 1948, de 3 de julho de

1996 (BRASIL, 1996) (Anexo 2), recomenda, no que compete ao Ministério da Educação,

o incentivo à criação de Universidades Abertas à Terceira Idade nas Instituições de Ensino

Superior (inciso III do art. 10). Porém, esta é uma experiência que já se desenvolve no

Brasil, mesmo antes da recomendação acima referida, como veremos a seguir.

PEIXOTO (1997), afirma que, desde a década de 60, surgiram na Europa

experiências no interior das universidades com o objetivo de ocupar o tempo livre dos

idosos, eram conhecidas como Universidade do Tempo Livre, consideradas como a

primeira geração dessas iniciativas; a segunda geração surge em 1973, em Toulouse na

França, Les Universitès du Troisième Age (Universidades da Terceira Idade - UTI),

voltadas para o ensino e a pesquisa. A terceira geração surge na década de 80, também na

França, como um programa educacional mais amplo, baseado em três eixos: participação,

autonomia e integração.

Page 39: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

39

As Universidades da Terceira Idade foram concebidas por seu fundador Pierre

Vellas, como sendo “fundamentalmente instituições de saúde pública visando elevar os

níveis de saúde física, mental e social das pessoas de Terceira Idade, bem como colocar à

sua disposição programas de atividades particulares adaptados” (p. 46). Estas

experiências contribuíram para a formação de Centros de Pesquisa em Gerontologia

(PEIXOTO, 1997)

No Brasil, uma experiência pioneira nesse sentido se deu em 1977 no SESC/SP

com a criação da Escola Aberta para a Terceira Idade; em 1990, a PUC/Campinas criou

sua Universidade para a Terceira Idade; em 1993, a Universidade Estadual do Rio de

Janeiro criou a UnATI/UERJ. Na década de 90, estas experiências se multiplicaram por

vários estados brasileiros (PEIXOTO, 1997). Para VERAS:

Essas experiências de microuniversidades temáticas funcionam como Centros de Convivência, minimizam a solidão, agrupam os idosos em diversos tipos de atividades com a supervisão de profissionais qualificados. Dentre as instituições públicas, a Universidade é, no momento, a mais equipada para responder às necessidades da população idosa. As Universidades para a Terceira Idade podem se constituir num ponto de partida. Além de oferecer atividades para os idosos no âmbito do ensino, cultura e lazer e entre outros oferece também uma coorte para a pesquisa que possibilita a produção do conhecimento e a formação profissional (VERAS, 1995, p. 388).

O autor acrescenta que esses centros acabam se constituindo em espaços

privilegiados para as ações de prevenção com idosos, que diferem em muito dos modelos

de prevenção preconizados para os grupos mais jovens. No caso de pessoas idosas, as

atividades de prevenção buscam postergar o aparecimento das doenças e a instalação de

incapacidades associadas, tendo como seu principal objetivo melhorar a saúde e a

qualidade de vida dos idosos.

A exemplo de outras experiências aqui relatadas e em consonância com as

recomendações da Política Nacional do Idoso, foi criado em setembro de 1996, o Programa

Universidade Aberta à Terceira Idade da Universidade Federal de Pernambuco

(UnATI/UFPE). Trata-se de uma microuniversidade temática que aborda as questões do

envelhecimento através de atividades de ensino, pesquisa e extensão. Tem como objetivo

Page 40: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

40

principal promover a integração universidade-idoso-comunidade, envolve vários

segmentos da comunidade universitária e da comunidade em geral (BARRETO, 1997).

Em relação às atividades de formação profissional, desenvolve-se o ensino sobre

envelhecimento, através da disciplina Gerontologia, ministrada pelo Departamento de

Terapia Ocupacional, com carga horária de 30 horas, de caráter eletivo e que portanto pode

ser cumprida por alunos e profissionais de todas as áreas do conhecimento que se

interessem pelo tema (BARRETO, 1997); de Grupos de Estudo Sobre Envelhecimento e

estágio curricular. Quanto às atividades de extensão, estas não se restringem aos cursos

livres oferecidos semestralmente aos idosos, estimula-se a participação nas mais variadas

atividades culturais e de lazer promovidas no Campus Universitário e também extra

Campus. No que se refere à produção do conhecimento, foram desenvolvidos vários

levantamentos sobre perfil social e de saúde dos idosos do Programa, que vêm sendo

apresentados em diversos eventos nacionais e internacionais; dois trabalhos de conclusão

de curso de alunos de outras IES; Projetos de Extensão dos Departamentos de Terapia

Ocupacional, Nutrição, Música e Odontologia e, até dezembro de 1999, deverão ser

concluídas duas dissertações de Mestrado sobre a UnATI/UFPE.*

A forma de ingresso ao Programa é bastante simplificada e vale salientar que os

cursos são públicos e gratuitos e não há exigência de nível de escolaridade. Cada idoso só

pode inscrever-se em um curso, uma vez que a demanda tem sido maior que a oferta,

porém uma vez freqüentando às aulas, caso haja alguma vaga disponível, essas são

novamente oferecidas de modo que aqueles que desejem possam freqüentar mais de um

curso. Ao ingressarem no Programa , os idosos recebem uma carteira de identificação de

aluno UnATI/UFPE, que lhes permite utilizar os diversos serviços oferecidos na

Universidade, como por exemplo, o uso das bibliotecas.*

Conta hoje com 14 docentes dos diversos Centros e Departamentos da UFPE, com

19 profissionais voluntários não vinculados à UFPE, 15 acadêmicos que atuam como

“monitores” no Programa e em torno de 530 idosos. O fato do Programa permitir que os

idosos freqüentem o Campus Universitário, coloca-os em contato com os alunos jovens e

* Informações obtidas junto à Coordenação do Programa UnATI/UFPE em 1999.

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41

essa convivência é importante pois deve-se ter cuidado para que essas iniciativas não sejam

segregadoras, mas sim proporcionadoras de convivência com seus pares e com outras

gerações.*

Atualmente, estão sendo oferecidas 32 turmas, distribuídas em 27 cursos, a saber:

relaxamento neuromuscular, natação, dinâmica dos corpos, hatha yoga, yoga para terceira

idade, iniciação ao sistema de biodanza, educação em saúde, bioenergética, primeiros

socorros no local do acidente, nutrição e envelhecimento, plantas medicinais conhecer para

melhor utilizar, segurança no lar, reciclagem de papel e encadernação artesanal, oficina de

artes, embalagem artesanal, papel vegetal, oficina de bijuteria, arte e criatividade, para

gostar de ler, redação: aspectos diversos, oficina literária, introdução ao estudo da língua

italiana, inglês, grupos interativos, técnicas de leitura, educação participativa e informática

básica.*

Ao longo de quase três anos de trabalho, contou-se com o apoio da Reitoria da

UFPE e de outros segmentos da comunidade universitária, a comunidade em geral tem

incentivado a continuar e diversificar as atividades, a UnATI/UFPE tem presença garantida

nos Fóruns locais e nacionais relacionados ao desenvolvimento das políticas públicas para

o idoso e em particular, da Política Nacional de Saúde do Idoso. A imprensa tem divulgado

constantemente o Programa, sempre de modo bastante positivo, funcionando como um

importante veículo de visibilidade para a questão do envelhecimento em nosso Estado. A

evasão observada é praticamente inexistente. Há um estímulo à participação mais efetiva

dos idosos, o que culminou na criação, em dezembro de 1998, da Associação dos Alunos

da UnATI/UFPE.*

Considerando o atual cenário de envelhecimento populacional no Brasil; as

dificuldades na captação e alocação de recursos públicos para atender às demandas de uma

população com necessidades tão polarizadas; a carência de estudos sobre a população idosa

no país e em particular na região Nordeste e, entendendo a Universidade enquanto espaço

potencial para responder a essas demandas, é que julgamos de muita valia uma

investigação com um grupo de idosos que freqüentam o Programa Universidade Aberta à

Terceira Idade em Pernambuco. Este Programa, por ser o único no Estado, permiti-nos

* Informações obtidas junto à Coordenação do Programa UnATI/UFPE.

Page 42: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

42

então, comparações com outros estudos realizados em outras Instituições de Ensino

Superior no Brasil e no exterior. O Programa de Pernambuco tem como característica uma

população formada por idosos a partir de 60 anos, o que difere de algumas experiências

análogas, que admitem pessoas com menos de 60 anos, por fim, enfatizamos que o estudo

aqui apresentado sobre perfil multidimensional de grupos de idosos que freqüentam

programas especiais destinados a idosos no Estado é inédito.

Temos consciência de que o universo de idosos aqui estudado, não possui

representação estatística da população idosa de Pernambuco, por várias razões: primeiro,

pelo quantitativo, pois comparado à população total de idosos do Estado, o número de

idosos do Programa é pequeno; segundo, por atrair basicamente idosos autônomos e

independentes, ou seja, com condições de decidir freqüentar uma experiência desse tipo e

poder fazê-lo independentemente; terceiro, por estar dentro de uma Universidade, impõe

uma seleção a priori em relação ao nível sócio-econômico e escolar. Porém, não

pretendemos aqui fazer generalizações, até porque, generalizações de estudos com

populações idosas, principalmente em um país como o Brasil, se constitui em um erro

metodológico, há que se considerar sua diversidade (VERAS, 1994). Pretendemos, pois,

contribuir com informações acerca de uma parcela particular de idosos que esperamos

possa somar-se a outras informações a fim de que possamos ir construindo o desenho do

idoso pernambucano. Segundo VERAS (1994) no Brasil, a exemplo de outros países

menos desenvolvidos, possuímos poucas informações sobre a população idosa.

Particularizando a investigação para os objetivos preconizados pelo Programa,

percebemos que esta torna-se então, fundamental. Para BERGER (1995), “em uma

proposta de trabalho educativo para o envelhecimento, na empresa, não se pode desprezar

ou ignorar as transformações demográficas, tecnológicas e pessoais. Conhecer as

características de uma população a ser trabalhada, é obrigatoriedade no sentido de se

elaborar uma abordagem adequada” (p. 56). Nesse sentido VERAS (1994), ressalta ainda

que, “esse conhecimento é essencial para o planejamento de estratégias visando

atendimento e intervenção, eficazes” (p. 51).

Imbuídos desse propósito, é que pretendemos conhecer do ponto de vista sócio-

epidemiológico, os idosos que freqüentam o Programa Universidade Aberta à Terceira

Idade (UnATI/UFPE). Acreditando que, conhecendo o perfil desse grupo será possível

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43

uma aproximação da caracterização da população idosa que freqüenta programas especiais

a ela destinados em Pernambuco, podendo também nortear futuras experiências. Cremos

ainda, que este conhecimento subsidiará ações futuras para o Programa, embora este estudo

não investigue especificamente interesses, os resultados poderão apontar possibilidades

para a formulação de propostas. Para nós, esses propósitos, definem a relevância desse

estudo.

Page 44: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

45

2. OBJETIVOS Geral:

Traçar um perfil sócio-epidemiológico dos idosos que freqüentam o Programa

Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI/UFPE).

Específicos:

1. Com o objetivo de traçar um perfil sócio-epidemiológico dos idosos da UnATI/UFPE,

pretendemos:

1.1 - Conhecer sua situação pessoal e familiar;

1.2 - Conhecer aspectos de sua condição econômica e social;

1.3 - Conhecer aspectos relativos à autonomia e independência funcional para o

desempenho das Atividades de Vida Diária (AVDs), bem como o modo de

ocupação do tempo livre;

1.4 - Conhecer a utilização de serviços de assistência médica e dentária.

Page 45: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

47

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Tipo de Estudo

Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo de corte transversal no qual

realiza-se um censo, cujo conjunto dos dados é coletado no período compreendido de

março a setembro de 1998.

O estudo transversal, segundo ALMEIDA FILHO & ROQUAYROL (1993), tem

sido muito utilizado na epidemiologia moderna. O baixo custo e o alto potencial descritivo

proporcionados por esse tipo de estudo, são apontados como vantagens a serem

consideradas. Ainda, segundo os autores, podem ser identificados cinco subtipos de

estudos transversais, este estudo está definido como “estudos em populações especiais”, no

caso população de idosos.

3.2 População do Estudo

Neste estudo a população alvo está composta pelos idosos que freqüentaram o

Programa Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI/UFPE), no ano de 1998.

Vimos como é difícil estabelecer um único critério para definir velhice, por isso

dentre os vários pontos de corte utilizados para tal, para os propósitos deste estudo

decidimos utilizar o critério cronológico, ou seja, são consideradas idosas neste estudo

todas as pessoas com 60 anos ou mais. Este critério além de facilitar a comparação dos

dados é o mais utilizado para fins de investigação e legislação pertinentes. Elegemos o

corte cronológico nos 60 anos por ser o mesmo preconizado pela Organização Mundial de

Saúde - OMS em 1982 (LA SALUD..., 1989) e por estar estabelecido para efeito legal no

Brasil, segundo a Lei Nº 8842 de janeiro de 1994 (BRASIL, 1994) que dispõe sobre a

Política Nacional do Idoso, onde é considerada idosa no país, a pessoa a partir dos 60 anos

de idade. Este corte estava definido a priori, uma vez que é requisito do Programa

UnATI/UFPE só aceitar pessoas a partir dos 60 anos, porém alguns poucos , no caso duas

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48

pessoas, não tinham 60 anos e conseguiram inscrever-se no ano de 1998, estas foram

excluídas deste estudo.

Em relação ao universo do estudo, poderíamos ter optado por uma amostra, porém

avaliando a contribuição que seria dada em contrapartida ao Programa se realizássemos um

censo, decidimos então por fazê-lo, deixamos um banco de dados importante não apenas

para subsidiar o planejamento de ações para a UnATI/UFPE, mas também para a

realização de novos estudos.

A população estudada está composta por 358 idosos que freqüentaram o Programa

UnATI/UFPE no ano de 1998. Inicialmente foram contatados 369 idosos, porém onze

foram considerados perdas. Perda por recusa foram quatro. Tivemos também sete perdas

por não comparecimento do idoso no dia agendado para a entrevista, voltando a não

comparecer após novo agendamento. No total, as perdas representaram 2,68%.

3.3 Definição do Instrumento de Coleta de Dados

Decidimos por utilizar um instrumento já validado no Brasil. Os dados deste estudo

foram coletados através de inquérito utilizando-se um instrumento multidimensional, o

Brazil Old Age Schedule-BOAS (Anexo 3). Trata-se de um questionário estruturado onde é

possível investigar situação social e familiar, utilização de serviços de assistência de saúde,

desempenho nas atividades de vida diária, ocupação do tempo livre, recursos econômicos e

sociais, saúde física e mental. Setenta e oito perguntas distribuídas em nove seções

constituem o questionário. Para efeito deste estudo utilizamos as seções I, III, IV, V, VI e

VIII, num total de 58 perguntas, as referidas seções serão apresentadas abaixo.

Inicialmente, encontramos uma página de identificação contendo nome e endereço do

entrevistado como também, nome do entrevistador e a data da entrevista. No questionário,

encontramos muitas perguntas que são subdividas e se relacionam à pergunta principal.

• A seção I trata de informações gerais, é composta por 13 perguntas referentes ao sexo,

idade, alfabetização, educação formal e estado civil, a composição geral de onde a

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49

pessoa idosa vive e o seu nível de satisfação com a vida; permite conhecer a situação

pessoal e familiar do idoso;

• A seção III investiga a utilização de Serviços Médicos e Dentários, são 15 perguntas

sobre o conhecimento e direitos de uso dos serviços, o uso real e qual o grau de

satisfação da parte do idoso com uma variação de serviços médicos e dentários.

Encontramos perguntas que visam estabelecer que ajuda ou assistência relacionada a

questões de saúde o idoso pode obter de sua família ou de outros. Também há

perguntas relativas aos tipos de auxílio para a vida ou dispositivos de apoio como

óculos, próteses auditivas e as dificuldades para conseguí-las e informações sobre uso

de medicamentos.

• A seção IV diz respeito às Atividades de Vida Diária – AVD, num total de seis

perguntas, sendo que a primeira se subdivide em 15 itens que em seu conjunto indicam

graus relativos de autonomia funcional para a realização de atividades da vida diária.

As demais perguntas objetivam constatar a existência de assistência real ou potencial

para estas atividades e identificar a pessoa que mais ajuda o idoso. Uma outra pergunta

também contendo 15 itens, busca avaliar a participação social e as atividades do idoso

em casa e na comunidade.

• A seção V sobre recursos sociais com seis perguntas objetiva buscar informações que

servirão para avaliar aspectos sociais da vida e dimensões da satisfação com a vida de

idoso, incluindo participação social, grau de isolamento social e padrões gerais de

interação familiar e atividades socioculturais;

• A seção VI trata de recursos econômicos, contem 17 perguntas a fim de obter

informações sobre a situação de emprego e/ou aposentadoria do idoso, relacionam-se à

situação de pensionistas e pessoas aposentadas, a idade na qual o idoso aposentou-se ou

tornou-se pensionista, e o(s) tipo(s) de pensão(ões) recebido(s). Encontramos questões

sobre propriedades e bens, condições habitacionais nas quais vive o idoso e o ambiente

local. Há ainda informações sobre fontes e montantes de renda pessoal e familiar, a

posição relativa do idoso em comparação com a dos tempos de juventude, e sua

opinião em relação à sua situação econômica geral em relação às necessidades básicas;

Page 48: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

50

• A seção VIII refere-se às necessidades e problemas que afetam os idosos e com duas

perguntas que buscam uma indicação mais específica do tipo de necessidades

vivenciadas pelos idosos em suas vidas diárias, como são atendidas estas necessidades,

e os problemas que eles consideram mais importantes. Fornece informações sobre a

relação entre as atitudes dos idosos e uma avaliação objetiva das condições em que

vive.

Segundo refere VERAS (1994), até a década de 70 os estudos desenvolvidos com

idosos abordavam apenas um aspecto de suas vidas, é a partir do desenvolvimento nesta

década, do questionário elaborado por Gerda Fillenbaun, pesquisadora da Duke University,

onde propunha abordar várias dimensões da situação dos idosos, através de um

instrumento multidimensional, o Older Americans Resources and Services (OARS). Trata-

se do mais antigo questionário multidimensional em uso, tendo se constituído, segundo o

autor “no primeiro sistema integrado para avaliação de pessoas idosas na comunidade e

em ambientes residenciais. Quase certamente forneceu a base de muitos outros

questionários posteriores” (p. 62). Ainda segundo o autor, estes instrumentos buscam

investigar as principais dimensões da vida do idoso, como saúde física e mental, atividades

do dia-a-dia, e aspectos sociais e econômicos, permite realizar um diagnóstico global, um

perfil do idoso, mas não aprofunda um aspecto específico. Nesse sentido o autor aponta

algumas características de um questionário multidimensional para a terceira idade: é

composto de muitas variáveis (o que o torna um instrumento longo); por serem longos, são

em geral muito bem estruturados (com poucas perguntas abertas); por mais cuidadoso e

detalhado que seja, não pode entrar em minúcias e detalhes; oferece um formato no qual o

tempo exigido para conduzir a entrevista é aproximadamente fixo. “Uma vantagem

adicional de um instrumento altamente estruturado é que é apropriado para uso em uma

área onde os agentes de campo que coletarão os dados não serão suficientemente

experimentados ou altamente treinados para conduzir um questionário menos estruturado

que depende de intervenções especializadas por parte do entrevistador” (p. 56).

Um aspecto de muita relevância para o bem-estar do idoso é tratado na seção IV,

que se refere ao desempenho para a realização das atividades de vida díária (AVD),

possibilitando ao pesquisador obter um panorama do grau de autonomia e independência

do grupo investigado.

Page 49: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

51

3.4 O Procedimento para a Coleta de Dados

Estando definidos a população alvo e o instrumento a ser utilizado, decidimos

coletar os dados através de inquérito. Passamos então, ao planejamento do trabalho de

campo.

Optamos por aplicar o questionário através de entrevista frente a frente. É a melhor

forma de aplicar um questionário, apesar de ser um procedimento caro e de exigir mais

tempo do pesquisador (VERAS, 1994). Porém, a realização das nossas entrevistas, não

contou com o impedimento financeiro de deslocamento dos entrevistadores, pois sendo

realizadas na UFPE, os idosos é que se deslocaram até o local da entrevista, o que

minimiza bastante o custo.

Quanto à escolha dos entrevistadores, utilizamos como critérios: ser monitor do

Programa; ter interesse por pesquisa e por fim ter disponibilidade de tempo para o trabalho

de campo no período pretendido. Os acadêmicos, em número de quatro, três da graduação

Terapia Ocupacional e um de Fisioterapia, com idade variando de 20 a 23 anos,

permaneceram do princípio ao fim no estudo.

O treinamento inicia-se com a apresentação dos objetivos do trabalho, em seguida

os entrevistadores entraram em contato com o questionário para que se familiarizassem

com o mesmo. Promovemos também um encontro dos bolsistas com o Professor

Orientador da dissertação para esclarecimentos e reforço do papel dos entrevistadores em

um estudo desse tipo. Iniciaram experimentando o instrumento através de entrevistas

simuladas a fim de esclarecer dúvidas no seu manuseio, realizamos entrevistas em

conjunto para comparação de compreensão de respostas e então após as primeiras

dezesseis entrevistas retomamos a avaliação dessa etapa e esclarecemos novas dúvidas que

surgiram, bem como, rediscutimos compreensão uniforme das respostas e reafirmamos

padrões a serem seguidos por todos. O trabalho de campo prosseguiu e os encontros de

supervisão eram agendados de acordo com o quantitativo de entrevistas realizadas, não

ultrapassando mais de duas semanas.

Inicialmente as entrevistas foram agendadas, por telefone, de acordo com o horário

disponível dos entrevistadores nos dias e locais onde os idosos tinham aula, de modo a

Page 50: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

52

facilitar para que o mesmo não necessitasse se deslocar mais de uma vez na semana à

UFPE. A entrevista seria realizada ou no início ou no final da aula. Começamos a observar

alguns problemas com essa estratégia nos cursos que terminavam às 17h, devido ao horário

dos transportes, pois tornava-se inconveniente este horário para que retornassem às suas

residências. As entrevistas passaram então a ser agendadas para a sede administrativa do

Programa e a resposta foi positiva.

Sendo assim, prosseguimos com o trabalho de modo muito intenso da segunda

quinzena de abril até a primeira quinzena de junho de 1998, após esse período houve uma

redução do ritmo o qual atribuímos, inicialmente, às festividades do período junino* na

segunda quinzena de junho; em julho alguns idosos viajam de férias. Após alguns ajustes

retornamos às entrevistas tendo sido concluído o trabalho de campo em setembro de 1998.

3.5 Alguns conceitos importantes

A seguir, conceituaremos alguns termos que julgamos importantes serem definidos

neste estudo.

• Atividades de Vida Diária (AVD): referem-se às atividades relacionadas aos cuidados

pessoais: alimentar-se, tomar banho, vestir-se, usar vaso sanitário e à capacidade de se

movimentar de forma independente: deambular, levantar-se e deitar-se da cama ou da

cadeira, locomoção em geral (WILLIANS, 1997). Indicam o nível mínimo de

capacidade que tem o indivíduo de autocuidar-se.

• Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD): referem-se às atividades relacionadas

à administração do ambiente de vida, e estabelece relação entre o domicílio e o meio

externo. As atividades referidas são por exemplo: comprar e preparar alimentação,

administrar uso de medicação, administrar finanças, cuidar da limpeza da casa e da

lavagem das roupas, sair de casa para atividades diversas (necessidades pessoais e/ou

domésticas e de lazer), usar transportes, telefone entre outras (WILLIANS, 1997). São

de cunho menos pessoal que as AVDs e com maior nível de complexidade.

* Em Pernambuco esta data faz parte do calendário religioso e cultural, havendo portanto, feriado local.

Page 51: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

53

• Autonomia: Capacidade e direito do indivíduo poder eleger, ele mesmo, as regras de

sua conduta, a orientação de seus atos e os riscos que está disposto a correr, além da

possibilidade de realizar suas atividades sem ajuda de terceiros (VIEIRA, 1996).

• Independência: estado ou condição de quem é independente, bem-estar, restituição ou

aquisição de autonomia (FERREIRA, 1986).

• Capacidade funcional: Conceito novo de saúde que particularmente para idosos é

relevante pois mostra que saúde é a manutenção plena das habilidades físicas e

mentais, desenvolvidas ao longo da vida, necessárias e suficientes para a manutenção

de uma vida independente e autônoma (VIEIRA, 1996).

Page 52: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

55

4. – RESULTADOS

Para dar consecução aos objetivos anteriormente propostos, passamos a expressar

os resultados do Censo realizado com 358 idosos da UnATI/UFPE por seção específica,

conforme descrito na metodologia. Portanto os percentuais apresentados neste item serão

referentes ao número de idosos entrevistados.

4.1. Informações Gerais – Seção I

O Gráfico 2 refere-se à distribuição por sexo, dos participantes da UnATI/UFPE em

1998. É marcante a diferença. As mulheres (308) representam 86,00% do total; enquanto

os homens (50), representam 14,00%.

Gráfico 2 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

ao Sexo. Recife, 1998.

Masc. Fem.

14,00%

86,00%

Em relação à idade observamos que a maioria encontra-se na faixa etária entre 60 e

69 anos de idade, inclusive podemos ver na distribuição etária, por nós proposta que, tanto

nas faixas dos 60-64 anos e 65-69 anos o percentual de idosos quase se equivale, com

36,31% e 35,75%, respectivamente, totalizando portanto 72,06%. (Gráfico 3)

Page 53: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

56

Gráfico 3 – Distribuição do Idosos da UnATI/UFPE em Relação

à Faixa Etária. Recife, 1998.

Quando estabelecemos uma relação entre sexo e idade, observamos que os

resultados apontam no geral para um equilíbrio na representação percentual por faixa etária

entre homens e mulheres. O Gráfico 4 demonstra que 72,00% dos homens (36) e das

mulheres (222) deste estudo, estão na faixa dos 60 aos 69 anos de idade; 24,00% dos

homens (12) e 26,94% das mulheres (83) encontram-se na faixa dos 70 aos 79 anos; já na

faixa dos 80 anos e mais é possível notar uma diferença mais marcante, 4,00% dos homens

(2) e apenas 0,97% das mulheres (3) encontram-se nesta faixa etária.

Gráfico 4 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

ao Sexo e à Faixa Etária. Recife, 1998.

0,00%10,00%

20,00%30,00%40,00%50,00%60,00%

70,00%80,00%

60-69 70-79 80 e +

Homens Mulheres

Entre os entrevistados, há uma predominância de nascidos na região Nordeste, entre

estes, 80,30% são pernambucanos. Existe estabilidade quanto à cidade de residência, onde

96,92% dos idosos residem há mais de dez anos na mesma cidade.

De Recife procedem 82,12%, dos 358 idosos do Programa; seguidos de 12,30%

procedentes de Olinda; 3,63%, de Jaboatão dos Guararapes e 1,95% restantes distribuem-

0,00%5,00%

10,00%

15,00%20,00%25,00%30,00%35,00%

40,00%

60-64 65-69 70-74 75-79 80 e +

1,40%5,59%

20,95%

35,75%36,31%

Page 54: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

57

se entre 3 cidades a saber, Abreu e Lima, Paulista e Igarassu na Região Metropolitana do

Recife. (Gráfico 5).

Gráfico 5 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

à Cidade de Procedência. Recife, 1998.

0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00%

Recife

O linda

Jaboatão

PLT / IGS/ A e L

82,12%

12,30%

3,63%

1,95%

Com relação aos bairros de procedência dos entrevistados, os mais representados

foram: Boa Viagem, com 11,73% dos idosos; Cordeiro, com 6,14%; Engenho do Meio e

Iputinga, ambos com 5,87%; Jardim São Paulo, com 5,58%; Cidade Universitária e Ipsep,

com 3,91% cada; Rio Doce, com 3,07% e Jardim Atlântico e Madalena, com 2,80% cada.

(Gráfico 6)

Gráfico 6 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

ao Bairro de Procedência. Recife, 1998

No que se refere à escolaridade, apenas um baixíssimo percentual de idosos, 0,56%,

afirmam não saber ler nem escrever; enquanto 99,44%, referem ser alfabetizado, cuja

distribuição por níveis observamos no Gráfico 7. É possível verificar um nível escolar alto

entre os entrevistados, onde 33,52% possuem 2 º grau e 29,05% nível superior.

BV CRD EM / IPTG Jd SP CDU / IPSEP RD Jd AT / MD

11,73%

6,14%

5,87%

5,58%

3,91%

3,07%

2,80%

Page 55: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

58

Gráfico 7 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

ao Nível de Escolaridade. Recife, 1998.

Estabelecendo uma relação entre o sexo e o nível de escolaridade dos idosos aqui

estudados, notamos que entre as mulheres (2) 0,64% referem não saber ler nem escrever,

enquanto que entre os homens não é referido analfabetismo. Entre os homens (5) 10,00%

possuem o primário completo, (27) 54,00% o segundo grau e (15) 30,00% o nível superior,

entre as mulheres esses valores são (64) 20,77%, (144) 46,75% e (88) 28,57%,

respectivamente (Gráfico 8).

Gráfico 8 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

ao Sexo e o Nível de Escolaridade. Recife, 1998.

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

Analf.

Pr.Inc

om.

Pr.Com.

2o. G

rau

Sup.

Mulheres Homens

Quanto ao estado conjugal podemos observar como demonstra o Gráfico 9, que a

maioria dos idosos encontra-se entre viúvos, com 39,40% e casados, com 35,50%. Os

resultados apontam também para casamentos duradouros, (onde 86,61% dos idosos que

estão casados e/ou morando juntos, o faz há mais de trinta anos.)

0,00%5,00%

10,00%15,00%20,00%25,00%30,00%35,00%

2o.Grau Superior PrimárioComp.

Ginasial PrimárioIncomp.

33,52%

29,05%

19,55%

13,13%

3,91%

Page 56: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

59

Gráfico 9 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

ao Estado Conjugal. Recife, 1998.

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00%

Ñ Casou

Casado

Viúvo

Divorciado

14,80%

35,50%

39,40%

10,30%

Relacionando os dados referentes ao estado conjugal e ao sexo dos idosos da

UnATI/UFPE, encontramos resultados que apontam diferenças importantes. Entre as 308

mulheres observamos que (137) 44,48% são viúvas, enquanto apenas (4) 8,00% dos

homens são viúvos; (83) 26,94% das mulheres são casadas e (225) 73.06% não referem

companhia conjugal. Entre os homens encontramos que (41) 82,00% são casados; os

números se equivalem quanto aos divórcios, temos (5) 10,00% para os homens e (36)

11,69% para as mulheres e entre os 14 idosos que referem nunca terem casado, todos são

mulheres, representando 14,80% do total. (Gráfico 10)

Gráfico 10 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

ao Sexo e ao Estado Conjugal.

Perguntados sobre o fato de terem ou não tido filhos, 83,50% afirmam que sim.

Notamos muita semelhança quanto ao número de filhos, bem como em relação à

distribuição por sexo. A média verificada é de dois filhos e/ou filhas por idoso. Temos,

portanto, em relação ao número total de filhos, uma média de quatro filhos por idoso.

(Gráfico 11).

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

casado nuncacasou

vúivo divorciado

Homens Mulheres

Page 57: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

60

Gráfico 11 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao

Número de Filhos, Filhas e Número Total de Filhos. Recife, 1998

No que se refere ao arranjo domiciliar verificamos que os entrevistados residem em

média com duas pessoas. No Gráfico 12, observamos que 52,89% dos entrevistados

moram com 2 a 5 pessoas; 24,02%, moram com uma pessoa e 15,92%, moram sós. Entre

os idosos que moram sós é possível apontar uma diferença entre sexo e arranjo domiciliar,

entre as mulheres (54) 17,53% moram sós, enquanto que entre os homens esse valor é de

(3) 6,00%.

Gráfico 12 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

ao Arranjo Domiciliar. Recife, 1998.

Abaixo, na Tabela 1, podemos observar quem são as pessoas com as quais os

idosos residem. É possível identificar a seguinte distribuição: 36,00% moram com filhas;

34,40% com cônjuge; 32,10% com filhos. Vemos ainda que 22,30% moram na companhia

de netos, ou seja, com uma terceira geração.

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

Um 2 a 3 4 a 5 6 e mais

Filha Filho Total

Mora Só Uma 2 a 5 6 a 10 Mais de 10

15,92%

24,02%

52,80%

6,42%

Page 58: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

61

Tabela 1. Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

ao Grau de Parentesco entre o Idoso e as Pessoas com as quais Reside. Recife – 1998

QUEM SIM % NÃO % NA* % TOTAL %

Cônjuge 123 34,40 178 49,70 57 15,90 358 100,00

Pais 7 2,00 294 82,10 57 15,90 358 100,00

Filhos 115 32,10 186 52,00 57 15,90 358 100,00

Filhas 129 36,00 172 48,00 57 15,90 358 100,00

Irmãos 36 10,10 265 74,00 57 15,90 358 100,00

Netos 80 22,30 221 61,70 57 15,90 358 100,00

Outro familiar 65 18,20 236 65,90 57 15,90 358 100,00

Outro ñ parente 65 18,20 236 65,90 57 15,90 358 100,00

*NA (não se aplica)

Esta seção termina questionando os entrevistados sobre como eles se sentem em

relação às suas vidas em geral. Os resultados apontam um elevado grau de satisfação, onde

(319) 89,10% dizem-se satisfeitos. (Gráfico 13)

Gráfico 13 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

à Satisfação com a Vida em Geral. Recife, 1998.

Entre os motivos citados pelos (39) 10,90% de idosos que se disseram insatisfeitos

com suas vidas, os mais referidos foram: solidão, falta de autonomia, desvalorização do

povo brasileiro por parte dos órgãos públicos e uma insatisfação geral sem apontar um

motivo específico.

Quando relacionamos sexo e satisfação com a vida em geral observamos que as

mulheres deste estudo, mostram-se mais satisfeitas com suas vidas que os homens. Entre as

308 idosas, 31 dizem-se insatisfeitas representando 10,60%; já entre os 50 homens, 8

referem insatisfação representando 16,00%. (Gráfico 14)

Satisfeito Insatisfeito

89,10%

10,90%

Page 59: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

62

Gráfico 14 - Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

ao Sexo e à Satisfação com Vida em Geral.

4.2. Utilização de Serviços Médicos e Dentários - Seção III

No quesito utilização de serviços médicos, a maioria dos entrevistados, 69,00%,

está composta por idosos usuários de plano e/ou seguro de saúde privado; 23,18% são

usuários do serviço público; 4,19%; procuram médicos ou clínicas particulares e 3,35%

referem outro tipo de procura como por exemplo, parentes médicos. É notório o alto

quantitativo de idosos que utilizam serviço médico privado, sendo um total de 73,19%.

(Gráfico 15)

Gráfico 15 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

à Utilização dos Serviços Médicos. Recife, 1998.

Sobre a utilização de serviços de saúde, levantamos a freqüência de uso de alguns

tipos de serviços médicos, pelos idosos, nos últimos três meses, cujos resultados estão

demonstrados na Tabela 2. As perguntas são complementadas de modo a saber se o idoso

utilizou os serviços referidos mais de uma vez. Verificamos que foram utilizados mais de

uma vez as consultas médicas e os exames clínicos.

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

satisafeito insatisfeitohomem mulher

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

Plan/Saúde Público Particular Outros

23,18%

3,35%4,19%

69,00%

Page 60: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

63

Tabela 2 –Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

à Freqüência de Uso de Alguns Serviços Médicos nos Últimos Três Meses. Recife – 1998

SERVIÇO SIM % NÃO % TOTAL %

Consultou Médico/consultório/casa 279 77,90 79 22,10 358 100,00

Exames clínicos 236 65,90 122 34,10 358 100,00

Tratamento fisioterápico 32 8,90 326 91,10 358 100,00

Socorrido de emergência 34 9,50 324 90,50 358 100,00

Hosp. Clínica p/ receber medicação 33 9,20 325 90,80 358 100,00

Internado em hospital ou clínica 13 3,60 345 96,40 358 100,00

Foi ao Dentista 85 23,70 273 76,30 358 100,00

Perguntados sobre a satisfação em relação aos serviços médicos que costumam

utilizar, observamos que 88,55%, demonstram satisfação; enquanto (37) 10,33%, referem

insatisfação; dentre estes, (20) 54,06% são usuários de serviço público de saúde; (12)

32,43%, de plano e/ou seguro de saúde privado e (4) 10,81% procuram médico e /ou

serviço particular. (Gráfico 16)

Gráfico 16 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

à Satisfação na Utilização de Serviços Médicos. Recife, 1998.

Ainda em relação à utilização dos serviços médicos, perguntamos os problemas que

mais desagradam aos entrevistados quando da utilização desses serviços. O tempo de

espera para ser atendido no consultório representa a queixa de 21,22%; a demora para a

marcação de consultas/exames 12,84% e 9,77% referem outros motivos que quando

qualificados, permitiu-nos observar que estes outros motivos referidos manifestam-se

através de: burocracia, falta de confiança no sistema e nos procedimentos médicos, medo

da medicação falsificada, dificuldades e receio em realizar alguns exames.

Satisfeito Insatisfeito

88,55%

10,33%

Page 61: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

64

No que se refere à utilização de serviços dentários, por parte dos entrevistados, os

resultados no Gráfico 17 demonstram que 42,50% utilizam serviço particular; 17,30%

plano e/ou seguro saúde privado; 5,90% utilizam serviço odontológico público. Entre os

usuários destes serviços, há um bom nível de satisfação, onde 66,80% dizem-se satisfeitos.

Observamos ainda que 5,90%, fazem referência a outras opções entre as quais destacamos:

filho dentista, dentista amigo da família, entre outras. Por fim, verificamos que 26,80% dos

idosos não têm procurado serviços odontológicos.

Gráfico 17 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

à Utilização de Serviços Dentários. Recife, 1998.

Em relação à utilização de órteses e/ou próteses, ou seja, ajuda/apoio, observamos

na Tabela 3, que 94,70%, utilizam óculos e/ou lente de contato e 88,80%, utilizam

dentadura, ponte e/ou dente postiço. Questionados sobre a necessidade de trocar essas

ajudas/apoios, 39,10% referem necessidade de trocar as dentárias; 39,4% as visuais e

apenas 0,60% as ajudas auditivas. Observamos ainda, que os idosos do Programa são

independentes quanto à deambulação, uma vez que não referem necessidade de utilizar

ajuda técnica do tipo bengala, muleta e cadeira de rodas.

Particular Ñ tem procurado Plan.Saúde Público Outros

42,50%

26,80%

17,30%

5,90% 5,90%

Page 62: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

65

Tabela 3 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

à Utilização de Ajudas/Apoios. Recife – 1998

AJUDA/APOIO SIM % NÃO % TOTAL %

Dente postiço, dentadura, ponte 318 88,80 40 11,20 358 100,00

Óculos ou lente de contato 339 94,70 19 5,30 358 100,00

Aparelho p/ surdez 8 2,20 350 97,80 358 100,00

Bengala 1 0,30 357 99,70 358 100,00

Muleta --- --- 358 100,00 358 100,00

Cadeira de Rodas --- --- 358 100,00 358 100,00

Outros 4 1,10 354 98,90 358 100,00

Sobre o uso de remédios, 80,70% dos idosos referem tomar medicação. Destes,

77,40% dizem que esta é prescrita por um médico e 47,50% não declaram dificuldade em

obtê-la. Para os que têm alguma dificuldade, o fator econômico é a principal.(Gráfico 18)

Gráfico 18 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

à Utilização de Medicamentos. Recife – 1998

Não observamos diferença importante quanto ao uso de medicação e gênero. Entre

os 50 homens (40) 80,00% fazem uso de medicação e entre as 308 mulheres (249) 88,85%.

Quando perguntamos aos idosos se, caso viessem a ficar doentes ou incapacitados,

que pessoa poderia dispensar-lhes “cuidados”, a maioria, 38,30%, acredita ser a filha;

16,50% o cônjuge; 14,00% acreditam que poderia ser uma outra pessoa da família que não

cônjuge e filhos; 13,40%, acreditam que podem contar com os filhos e 10,60%, acreditam

poder contar com alguém fora da família, por exemplo: um profissional de enfermagem

(enfermeiros ou auxiliares) ou ainda um leigo. Essas pessoas seriam contratadas.

Observamos ainda que 4,20% dos idosos referem não poder contar com ninguém e 3,10%

Uiliza Não Utiliza

80,70%

19,30%

Page 63: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

66

não respondem, ou seja, 7,30% dos idosos deste estudo não sabem com quem contar em

caso de uma necessidade desse tipo. (Gráfico 19)

Gráfico 19 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

a Pessoas que Poderiam Cuidá-los em Caso de Doença e/ou Incapacidade. Recife, 1998

Relacionando sexo e dificuldade em identificar “cuidadores potenciais”,

observamos, neste estudo, que esta apresenta-se apenas para as mulheres. Entre as 308

idosas entrevistadas 8,44% não sabem com quem contar em caso de doença e/ou

incapacidade.

4.3. Atividades de Vida Diária (AVD) – Seção IV

Os resultados que se seguem demonstram um panorama do grau de autonomia e

independência dos entrevistados no desempenho das Atividades da Vida Diária (AVD).

Os idosos entrevistados são autônomos e independentes, uma vez que para a

maioria das atividades listadas, mais de 90,00% deles referem-se com capacidade para

desempenhá-las sem ajuda. Sendo a única exceção, cortar as unhas dos pés, onde 14,20%

declaram-se incapazes para fazê-lo sozinhos. Em relação a essa dificuldade, o percentual

de homens e de mulheres que a referem se equivale, estando em torno dos 12,00% para

ambos os sexos, porém os homens que a apresentam têm mais de 70 anos, enquanto que as

mulheres com dificuldade para cortar as unhas dos pés sem ajuda, estão entre os 60 e os 69

anos de idade. Considerando condições mínimas de autonomia e independência, com baixo

nível de complexidade, como tarefas do tipo: comer sua comida, vestir-se sozinho, pentear

Filha Conjugue Outro Fam. Filho Outro ñ Fam. Nenhuma NS/NR

38,30%

16,50%14,00%

13,40%

10,60%4,20% 3,00%

Page 64: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

67

e escovar seus cabelos, deitar e levantar da cama sozinho, 100,00% dos idosos, dizem-se

capaz para realizá-las sem ajuda. (Tabela 4)

Tabela 4 –Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao Grau de

Autonomia e Independência no Desempenho das Atividades da Vida Diária (AVD). Recife, 1998.

ATIVIDADES SIM % NÃO % NA* % TOTAL %

Sair p/ média distância - necessita transporte 349 97,50 9 2,50 --- --- 358 100,00

Sair p/ pequena distância – compra/armazém 353 98,60 5 1,40 --- --- 358 100,00

Preparar sua própria refeição 345 96,40 13 3,60 --- --- 358 100,00

Realizar atividade doméstica – manter/ordem 334 93,30 24 6,70 --- --- 358 100,00

Tomar seus remédios 350 97,80 4 1,10 4 1,10 358 100,00

Comer sua comida 358 100,00 --- --- --- --- 358 100,00

Vestir-se sozinho 358 100,00 --- --- --- --- 358 100,00

Pentear / escovar seus cabelos 358 100,00 --- --- --- --- 358 100,00

Caminhar em superfície plana 357 99,70 1 0,30 --- --- 358 100,00

Subir escadas 343 95,80 15 4,20 --- --- 358 100,00

Deitar e levantar da cama sozinho 358 100,00 --- --- --- --- 358 100,00

Tomar banho sozinho 357 99,70 1 0,30 --- --- 358 100,00

Cortar as unhas dos pés 307 85,80 51 14,20 --- --- 358 100,00

Pegar ônibus 347 96,90 11 3,10 --- --- 358 100,00

Ir ao banheiro em tempo 354 98,90 4 1,10 --- --- 358 100,00

*acrescentamos a categoria NA(não se aplica) para atender a resposta “não tomo remédios”,

Questionados se há alguém que os ajude na realização das tarefas domésticas,

77,70% referem que sim. Entre as pessoas que ajudam a mais citada é a faxineira, outra

categoria referida é a de moças que são como filhas de criação que já moram com os

entrevistados há muito tempo.

Ao estabelecermos uma relação entre o desempenho para AVDs, observamos que

no item “preparar sua própria refeição”, entre as 13 pessoas que referem não fazê-lo sem

ajuda, 8 são homens e 5 são mulheres, portanto 16,00% dos homens não se acham em

condições de preparar sua própria refeição sozinhos; enquanto que entre as mulheres este

número é de apenas 1,62%, refletindo mais uma vez a diferença de gênero entre este grupo.

Em relação ao item “realizar atividades domésticas / manter a casa em ordem” também

observamos diferenças entre os homens e as mulheres. Dos 24 idosos que referem não

realizarem esta atividade sem ajuda, 6 são homens e 18 são mulheres, logo temos que

Page 65: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

68

12,00% dos homens apresentam dificuldade para a realização desta atividade e apenas

5,84% entre as mulheres.

Quando verificamos o nível de sociabilização e ocupação do tempo livre,

observamos que este é bom e que a ocupação do tempo é adequada, uma vez que a maior

parte dos idosos, refere realizar quase todas as tarefas listadas. No entanto, nas atividades

relacionadas à prática esportiva, 93,90% declaram não praticarem esportes e 87,20% dizem

não comparecerem a eventos esportivos. (Tabela 5).

Tabela 5 –Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

às Atividades Realizadas no Tempo livre. Recife, 1998.

ATIVIDADES SIM % NÃO % NS/NR* % TOTAL %

Ouvir rádio 262 73,20 96 26,80 --- --- 358 100,00

Assistir a televisão 337 94,10 21 5,90 --- --- 358 100,00

Ler jornal 291 81,30 67 18,70 --- --- 358 100,00

Ler revistas e livros 294 82,10 64 17,90 --- --- 358 100,00

Receber visitas 305 85,20 53 14,80 --- --- 358 100,00

Ir ao cinema, teatro, etc. 161 45,00 197 55,00 --- --- 358 100,00

Andar pelo seu bairro 311 86,90 47 13,10 --- --- 358 100,00

Ir à igreja (serviços religiosos) 307 85,80 50 14,00 1 0,30 358 100,00

Ir a jogos (esportes) 46 12,80 312 87,20 --- --- 358 100,00

Participar de jogos (esportes) 22 6,10 336 93,90 --- --- 358 100,00

Fazer as compras 344 96,10 14 3,90 --- --- 358 100,00

Sair para visitar os amigos 306 85,50 52 14,50 --- --- 358 100,00

Sair para visitar os parentes 321 89,70 37 10,30 --- --- 358 100,00

Sair / passeio longo (excursão) 256 71,50 102 28,50 --- --- 358 100,00

Sair/encontro social/comunitário 247 69,00 111 31,00 --- --- 358 100,00

Coser, bordar, tricotar 208 58,10 150 41,90 --- --- 358 100,00

Ativid/distr: cartas, xadrez, jardim 154 43,00 204 57,00 --- --- 358 100,00

Outros (especificar) 223 62,50 134 37,50 --- --- 358 100,00

* NS/NR (não sabe/não respondeu)

Os idosos que se mostram satisfeitos com a ocupação do seu tempo livre

representam 91,10%. Os 8,90% que referem insatisfação na utilização desse tempo,

justificam sua resposta dizendo-se pouco motivados e sentindo falta de mais atividades,

inclusive de lazer.

Page 66: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

69

4. Recursos Sociais – Seção V

Aqui os resultados demonstram como se dá a interação social dos entrevistados e

nos permite verificar que esta é adequada, onde 78,80% dos idosos mostram-se satisfeitos

com o relacionamento mantido com as pessoas com as quais residem; 87,20% estão

satisfeitos quanto ao relacionamento com vizinhos, e onde mais observamos satisfação é na

relação com os amigos, onde 97,50%, dizem-se satisfeitos. (Gráfico 20)

Gráfico 20 –Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

à Convivência com as Pessoas com quem residem, com amigos e vizinhos. Recife, 1998

Quanto ao tipo de assistência que a família oferece ao idoso, observamos que, de

modo geral, não há dependência dos entrevistados em relação aos seus familiares. Mais

importante do que o aspecto financeiro e de moradia, onde 69,60% e 78,50%,

respectivamente, não dependem da família, foi referido pela maioria dos idosos, 75,40%, a

companhia e cuidado pessoal, como o aspecto onde os familiares fazem-se mais presentes.

(Tabela 6).

Tabela 6 –Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

à Assistência Oferecida pela Família ao Idoso. Recife, 1998.

Tipo de Assistência Sim % Não % NS/NR* % Total %

Dinheiro 108 30,20 249 69,60 1 0,30 358 100,00

Moradia 76 21,20 281 78,50 1 0,30 358 100,00

Companhia/Cuidado Pessoal 270 75,40 87 24,30 1 0,30 358 100,00

Outro tipo de cuidado Assistência 105 29,30 252 70,40 1 0,30 358 100,00

* NS/NR (não sabe/não respondeu)

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

Com quemresidem

Amigos Vizinhos

Satisfeito Insatisfeito

78,80%97,50%

87,20%

5,30% 1,10% 4,70%

Page 67: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

70

Quando questionamos os entrevistados sobre que tipo de assistência oferecem à

família, os resultados demonstram que estes referem-se como provedores em potencial de

seus familiares. O item companhia e cuidado pessoal aparece com 86,90%; seguido de

assistência financeira, com 61,20% e moradia com, 57,80%. Outro item aparece

demonstrando um tipo de ajuda que em geral os idosos oferecem - cuidar de criança - com

37,40%, é um percentual elevado e denota esse papel desempenhado pelo idoso na família.

(Tabela 7)

Tabela 7 –Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

à Assistência que o Idoso Oferece à Família. Recife, 1998.

Tipo de Assistência Sim % Não % NS/NR* % Total %

Dinheiro 219 61,20 138 38,50 1 0,30 358 100,00

Moradia 207 57,80 150 41,90 1 0,30 358 100,00

Companhia/cuidado pessoal 311 86,90 46 12,80 1 0,30 358 100,00

Cuidar de criança 134 37,40 223 62,30 1 0,30 358 100,00

Outro tipo de cuidado/assistência 99 27,70 258 72,10 1 0,30 358 100,00

* NS/NR (não sabe/não respondeu)

Finalizando essa seção perguntamos aos idosos sobre as visitas que haviam

recebido na última semana. A maioria dos idosos costuma receber visita de amigos e

familiares, principalmente dos filhos. (Gráfico 21)

Gráfico 21 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

às Visitas Recebidas na Última Semana. Recife, 1998.

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

Viz/Amigos Filhos Outro Fam. Outros

Sim Não

69,30%63,40% 56,70%

10,10%

Page 68: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

71

4.5. Recursos Econômicos – Seção VI.

Nesta seção serão mostrados os resultados referentes aos aspectos econômicos tais

como: tipo de trabalho desenvolvido, tempo de trabalho, idade que começou a trabalhar e

há quanto tempo parou, fonte de renda, valor da renda do idoso e da família e algumas

informações sobre o domicílio.

Quando perguntados sobre o tipo de trabalho que realizaram por mais tempo em

suas vidas, é possível observar nos resultados expressos no Gráfico 22, que o trabalho de

dona de casa foi o mais referido, com 34,40%; professor veio em seguida com 14,20%;

funcionário público aparece com 9,80%; costureira representa 5,30% e função

administrativa no setor privado representa 5,02%.

Gráfico 22 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação ao

Tipo de Trabalho que Realizaram por Mais Tempo em Suas Vidas. Recife, 1998.

Quando relacionamos sexo e profissão observamos um arranjo bem distinto daquele

apresentado anteriormente para o grupo como um todo. Entre as 308 mulheres, 39,40%

referem ser dona de casa; a profissão de professora aparece em seguida com 15,25%, para

os 50 homens o percentual de professor é de 4%; costureira representa 5,30% entre

mulheres.

Com relação à quantidade de anos trabalhados a maior parte dos entrevistados,

26,81%, trabalhou de 21 a 30 anos; 18,99% trabalharam de 31 a 40 anos; 8,65%, trabalham

de 10 a 20 anos e 6,14%, trabalharam de 41 a 50 anos. (Gráfico 23)

0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00%

Do Lar

Professor

Costureira

Outros

Func. Publ.

Adm. Privado

34,40%

31,28%14,20%

9,80%

5,30%

5,02%

Page 69: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

72

Gráfico 23 –Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

ao Tempo de Trabalho Durante a Vida. Recife, 1998

Sobre a idade em que começaram a trabalhar, observamos que 39,94% iniciaram

atividade de trabalho entre os 10 e 19 anos de idade; 16,48%, entre os 20 e 29 anos; nos

extremos encontramos 5,02% que começaram a trabalhar a partir dos 30 anos e 3,07% que

iniciaram antes dos 10 anos de idade.(Gráfico 24)

Gráfico 24 –Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

à Idade em que Começaram a Trabalhar. Recife, 1998

Quanto à idade em que pararam de trabalhar, verificamos que a maioria dos idosos,

15,36%, parou entre os 55 e 59 anos; 13,41% é o percentual referente tanto àqueles que

pararam entre os 50 e 54 anos quanto dos que ainda trabalham; 9,22% pararam entre os 60

e 64 anos e apenas 2,51% pararam de trabalhar após os 70 anos de idade. (Gráfico 25)

Até 10a. 11 a 20a. 21 a 30a 31 a 40a. 41 a 50a. Mais de 50a.

2,23%8,65%

26,81%18,99%

6,14%1,67%

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00%

10 a 19a.

20 a 29a.

30 e mais

Menos de 10a.

39,94%

16,48%5,02%

3,07%

Page 70: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

73

Gráfico 25 –Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

à Idade em que Pararam de Trabalhar. Recife, 1998

0,00%2,00%4,00%6,00%8,00%

10,00%12,00%14,00%16,00%

55 a

59a

.

50 a

54a

.

Ain

da T

rab.

60 a

64a

.

65 a

69a

.

45 a

49a

.

Mai

sde

70a.

Ant

es-4

5a.

Os resultados em relação à renda demonstram que apenas (17) 4,74% dos

entrevistados referem não ter renda própria e todas são mulheres. Entre aqueles que

possuem renda, 66,80% recebem aposentadoria e 38,30%, pensão do cônjuge.

Questionados se essa renda é suficiente para suprir suas despesas, as respostas positivas e

negativas se equivalem, 43,90% dizem que sim e 42,50% que não.

Quando utilizamos o Salário Mínimo como parâmetro para expressar a distribuição

da renda do idoso, verificamos que entre os 337 idosos que referiram ter rendimentos, a

maior parte dos entrevistados, 27,89%, percebe de 7 a 10 salários mínimos; 24,33% de 4 a

6; 18,40 % de 1 a 3 e nos extremos encontramos 6,53% percebendo menos de um salário

mínimo e 6,23% mais de 20. (Tabela 8).

Tabela 8 –Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE, que Possuem Renda,

Tomando como Parâmetro o Salário Mínimo. Recife, 1998

Salário(s) Mínimo Total %

Menos de Um 22 6,53

1 a 3 62 18,40

4 a 6 82 24,33

7 a 10 94 27,89

11 a 15 31 9,20

16 a 20 25 7,42

Mais de 20 21 6,23

Total 337 100,00

O mesmo critério acima utilizamos para a distribuição da renda familiar e

observamos que 25,78 % dos idosos referem renda familiar entre 7 e 10 salários mínimos;

Page 71: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

74

18,21%, renda familiar acima de 20 salários mínimos e apenas 6,19% declaram renda

familiar inferior a um salário mínimo. (Tabela 9)

Tabela 9–Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Renda das 291

Famílias que a Possuem, Tomando como Parâmetro o salário mínimo. Recife, 1998

Salário(s) Mínimo Total %

Menos de Um 18 6,19

1 a 3 15 5,15

4 a 6 41 14,09

7 a 10 75 25,78

11 a 15 44 15,12

16 a 20 45 15,46

Mais de 20 53 18,21

Total 337 100,00

As condições do domicílio demonstram que os entrevistados contam com condições

favoráveis de moradia, como: água encanada, eletricidade, ligação com rede de esgotos e

geladeira, além de a maioria possuir televisão, rádio e telefone. O percentual de 19,60% de

idosos que referem possuir computador, é baixo quando comparado aos demais itens,

indicando pouco uso desse equipamento por parte dos idosos estudados. (Tabela 10)

Tabela 10 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

a Algumas Condições do Domicílio. Recife, 1998

Condições Sim % Não % Total %

Água encanada 352 98,30 6 1,70 358 100,00

Eletricidade 357 99,70 1 0,30 358 100,00

Ligação com a rede de esgotos 310 86,60 46 12,80 358 100,00

Geladeira/congelador 357 99,70 1 0,30 358 100,00

Rádio 347 96,90 11 3,11 358 100,00

Televisão 356 99,40 2 0,60 358 100,00

Videocassete 235 65,60 123 34,40 358 100,00

Computador 70 19,60 288 80,40 358 100,00

Telefone 319 89,10 39 10,90 358 100,00

Automóvel 184 51,40 174 48,60 358 100,00

No que se refere à condição de residência, a maioria dos entrevistados, 75,10%, é

proprietário do imóvel onde reside; 12,30% moram em residência cedida sem custo e

8,10%, residem em moradia alugada. (Gráfico 26)

Page 72: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

75

Gráfico 26 –Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

à Situação de Residência. Recife, 1998

Propriet. Conjug. Alug. Ced. Outro

75,10%2,00%

8,10%

12,30% 2,50%

Perguntados sobre sua situação econômica atual, comparada a de quando tinham 50

anos de idade, 40,80% dos idosos acreditam que está melhor; 32,40%, que está pior e

26,80% referem ser a mesma.(Gráfico 27)

Gráfico 27 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação à Percepção

Sobre Sua Situação Econômica Atual em Comparação a Quando Tinham 50 Anos. Recife, 1998.

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

Melhor Pior A mesma

40,80%

32,40%26,80%

4.6. Necessidades e Problemas que Afetam os Entrevistados – Seção VIII

Perguntados sobre suas principais necessidades, os entrevistados, relatam por

ordem de grandeza: a necessidade econômica, com 57,00%; de segurança, com 55,90% e

necessidade de companhia e contato pessoal com 34,60%. (Tabela 11)

Page 73: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

76

Tabela 11 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

às Suas Principais Necessidades/Carências. Recife, 1998

Necessidades/Carências Sim % Não % Total %

Econômica 204 57,00 154 43,00 358 100,00

Moradia 32 8,90 326 91,10 358 100,00

Transporte 64 17,90 294 82,10 358 100,00

Lazer 121 33,80 237 66,20 358 100,00

Segurança 200 55,90 158 44,10 358 100,00

Saúde 119 33,20 239 66,80 358 100,00

Alimentação 22 6,10 336 93,90 358 100,00

Companhia e contato pessoal 124 34,60 234 65,40 358 100,00

Sobre o problema mais importante do dia-a-dia, observamos que 35,50%, não

relatam problema importante; 14,80%, problema econômico; 12,00% referem preocupação

com filhos e netos e ao qualificarmos outros problemas encontramos: solidão e carência

afetiva; dificuldades em ajudar mais as pessoas; dificuldades com problemas domésticos,

tanto em relação às tarefas quanto a empregados e preocupação com a saúde de familiares

como, cônjuge, irmãos, sobrinhos, entre outros. (Gráfico 28)

Gráfico 28 – Distribuição dos Idosos da UnATI/UFPE em Relação

ao Principal Problema do Seu Dia-a-Dia. Recife, 1998.

0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00%

S/ prob.

Saúde

Moradia

Solidão

Outros

Econ.

Violência

Famil/conflito

Filhos/netos

33,50%14,80%

5,00%

4,70%1,40%

3,10%

7,80%12,00%

17,00%

Page 74: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

78

5. DISCUSSÃO

De acordo com os objetivos propostos, para proceder a discussão dos resultados

seguiremos o mesmo critério utilizado para sua apresentação, qual seja, o faremos por

seções. A relação de variáveis entre uma seção e outra ou na mesma seção, será feita à

medida em que julguemos necessária ou importante para uma melhor compreensão.

5.1 – Informações Gerais – Seção I

Comparando os primeiros resultados deste estudo com perfis de outras experiências

de Universidades Abertas, notamos que há muita semelhança, ou seja, a proporção maior

de mulheres é uma característica constante. Uma pesquisa realizada nas Universidades da

Terceira Idade na França (UTIs)*, referida por PEIXOTO (1997), revelou que entre os

participantes, 70% são mulheres. Em pesquisa realizada no Projeto Senior* da

Universidade Estadual Paulista (UNESP), TELAROLLI et al. (1997) referem que 86,46%

dos participantes são do sexo feminino, GOLDMAN (1997) afirma que em um estudo com

idosos de Universidades Abertas, tanto pública quanto privada, também há uma

predominância maciça de mulheres. VERAS & KENNETH (1995), referem em pesquisa

realizada na Universidade Aberta à Terceira Idade da Universidade Estadual do Rio de

Janeiro (UnATI/UERJ) que mais de 80% dos participantes são mulheres e no perfil da

Universidade Aberta para a Terceira Idade no Nordeste, situada do Maranhão (UNITI)*

referido por CARNEIRO (1998), aponta também para uma clientela predominantemente

feminina.

VERAS (1994) enfatiza que o padrão de envelhecimento por sexo e idade,

observado no Brasil, segue o mesmo padrão observado em países desenvolvidos. O autor

refere que além dos fatores genéticos e biológicos comumente utilizados para tentar

explicar uma maior expectativa de vida da mulher, outras explicações também são

referidas: a diferença na exposição a riscos, diferença no consumo de tabaco e álcool,

diferença na atitude em relação às doenças e a evolução no atendimento médico obstétrico.

* Essas experiências admitem pessoas com menos de 60 anos.

Page 75: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

79

BERQUÓ (1992a) também verifica que a proporção maior de mulheres idosas em relação

aos homens idosos é comum tanto no primeiro quanto no terceiro mundo. Para a autora, os

dados apontam para uma associação direta entre o envelhecimento populacional e a

mulher, não só pelos números, mas também pelos cuidados dispensados aos idosos ser uma

função feminina: “tem cabido tradicionalmente e vai continuar cabendo à mulher o

cuidado com a família” (p. 28). A autora chama atenção para as transformações ocorridas

nos arranjos familiares nos últimos tempos e alerta que para que o idoso seja mantido junto

à sua família é preciso, primeiro, que esta exista.

Com relação à proporção de gênero para a população idosa, os dados demográficos,

no Brasil e em muitos países, demonstram que existem mais mulheres do que homens e

que esta proporção feminina aumenta conforme aumenta a idade (PRATA & SAAD, 1992;

VERAS, 1994; TELAROLLI et al. 1997; PEIXOTO, 1997 e EL ENVEJECIMIENTO...,

1999). Segundo VERAS (1994) as brasileiras vivem em média cinco anos mais que os

homens. Em Pernambuco, segundo IBGE (1992) os dados censitários de 1991 demonstram

que da população com 60 anos e mais, as mulheres representam 4,58%, observamos

também que no Estado o número proporcional de idosas aumenta em relação direta com o

aumento da idade, ou seja, segue o mesmo comportamento referido acima.

Em estudos populacionais realizados com população acima de 60 anos encontram-

se mais mulheres do que homens como já referimos, porém, essa diferença é menor do que

a encontrada neste estudo e do que as experiências análogas aqui referidas. Em se tratando

de programas especiais destinados a essa população, o número proporcional de mulheres

cresce, uma vez que os homens procuram menos esse tipo de participação, e também para

esse fato várias são as explicações: as mulheres ficam viúvas e mais solitárias na terceira

idade; já os homens, tendem a outro casamento, culturalmente os homens resistem a

engajar-se em atividades de cunho mais cultural, educacional e lúdico, já que o lazer ainda

é visto como oposto ao trabalho e à responsabilidade, porém, essas inferências carecem de

melhores investigações.

Portanto, qualquer ação destinada à população idosa, seja ela ampla ou não, deverá

considerar o universo feminino na terceira idade e suas peculiaridades, pois como afirma

BERQUÓ (1996), “não cabe dúvida de que a feminização do envelhecimento precisa ser

considerada na atenção que os idosos venham a merecer” (p. 33). Vale ressaltar que,

Page 76: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

80

Dressel (1988) apud VERAS (1994, p. 49), afirma que “as desigualdades sociais não

podem ser meramente atribuídas ao sexo, mas também à classe social e à raça, e que esses

dois fatores são estratificadores primários das vidas das pessoas, tanto quanto o sexo. As

mulheres idosas apenas refletem a estratificação e a discriminação da sociedade contra os

idosos”.

Devido à grande proporção de mulheres presente neste estudo, as discussões aqui

apresentadas estarão sempre perpassadas pela característica de gênero. Gênero aqui

entendido como refere SILVA (1998), “como uma relação entre sujeitos historicamente

determinados, e não apenas como conceito descritivo que designa o masculino e o

feminino” (p.148).

No que se refere à idade, a população estudada apresenta em sua maioria (72,06%),

o que se denomina de “jovens idosos”, compreendidos entre a faixa dos 60-69 anos de

idade. VERAS (1994), refere essa denominação acrescentando os “meio idosos” para

àqueles entre 70-79 anos e “idosos velhos” para os que têm 80 anos e mais. O autor

acrescenta que as duas primeiras categorias são mais significativas, porém, nos países

desenvolvidos a cada dia estuda-se mais a população acima dos 80 anos. Tal interesse

deve-se ao aumento do número de idosos nessa faixa etária.

Dados da Organização Panamericana de Saúde-OPS (EL ENVEJECIMIENTO...,

1999) indicam que, haverá nas próximas décadas um importante crescimento do grupo de

pessoas acima de 75 anos na região das Américas, chegando a dobrar no período de 1990 -

2020. Para o Brasil, a previsão é de que esse grupo etário aumente mais que o triplo no

mesmo período, passando de 1,9 milhão para 7,1 milhões. Um cenário que aponta para o

aumento do consumo de serviços sanitários, maior necessidade de suporte de saúde para

doenças de longa duração, internamentos hospitalares e institucionalização, além de exigir

revisão nos sistemas previdenciários. Neste sentido, SAYEG (1996) também chama

atenção para o crescimento do grupo etário de 80 anos e mais e apresenta dados que

colocam Pernambuco entre os estados que superam a média nacional em relação à

população idosa de 80-89 anos, 90-99 e 100 anos e mais.

Ao compararmos a idade do grupo aqui estudado com algumas outras experiências

similares como em pesquisa realizada nas UTIs francesas, onde PEIXOTO (1997) refere

Page 77: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

81

que 48% dos participantes tinham entre 60-69 anos, 25% tinham 70 anos e mais,

percebemos que a maioria é de “jovens idosos”; VERAS & KENNETH (1995),

encontraram em pesquisa realizada na UnATI/UERJ que mais de 80% dos participantes

têm menos de 65 anos e quase todos menos de 70 anos;. GOLDMAN (1997) refere em

seus estudos que na experiência de universidade privada, 74,35% têm menos de 70 anos e

na pública esse número de “jovens idosos” cresce para 91,51%, tendência esta também

observada na UNITI (CARNEIRO, 1998), ou seja, os dados aqui apresentados mostraram-

se semelhantes aos da UnATI/UFPE.

A julgar que, para freqüentarem programas como o da UnATI/UFPE é necessário

uma competência e manejo razoáveis em termos de desempenho das atividades

instrumentais de vida diária (AIVD), que possuem um nível de complexidade maior que as

atividades de vida diária (AVD) e que, com o aumento da idade aumenta

proporcionalmente o aparecimento de algum grau de dependência tanto nas AVDs quanto

nas AIVDs, é compreensível a maior freqüência de idosos jovens que estão com sua

capacidade funcional preservada. Porém, a ausência de estudos populacionais e de perfil de

outros grupos de idosos no Estado, não nos permite afirmar qual(is) a(s) causa(s) mais

provável(is) da pouca participação de idosos mais velhos no Programa. Em relação à esta

questão VERAS & KENNETH (1995) referem que a composição etária observada em

populações de Universidades Abertas refletem não apenas a composição etária da

população geral, como também que os usuários serviços desse tipo, tendem a apresentar

melhores condições econômicas, de saúde e de mobilidade, do que a média dos idosos.

RAMOS (1999) refere em Conferência na Oficina de Trabalho para discussão da

Política Nacional de Saúde do Idoso, seu estudo de seguimento com população idosa

realizado no município de São Paulo, onde os idosos com maior dependência para o

desempenho das AVDs, apresentaram um risco três vezes maior de morrer do que aqueles

mais autônomos e independentes. Portanto, ações de promoção e manutenção da

autonomia e independência, bem como educação para o autocuidado, são estratégias

importantes a serem desenvolvidas com a população de idosos da UnATI/UFPE.

Quando estabelecemos uma relação entre a idade e o gênero dos participantes da

UnATI/UFPE, encontramos que o grupo se mostra equilibrado em relação à representação

nas faixas de 60-69 anos e 70-79 anos, porém na faixa dos que têm 80 anos e mais

Page 78: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

82

encontramos que entre os homens 4% estão nesta faixa, enquanto que entre as mulheres

apenas 0,98% têm 80 anos e mais.

Para PEIXOTO (1997) um dos motivos pelo qual os homens entram em programas

desse tipo mais tarde do que as mulheres, deve-se, provavelmente, à diferença de idade

para aposentadoria, os homens aposentam-se mais tarde.

Quanto à cidade de procedência nos parece justificada, no grupo estudado, a maior

participação (82,12%) de moradores de Recife, já que o Programa situa-se nesta cidade,

porém é importante salientarmos a presença de 17,88% de idosos que se deslocam de

cidades vizinhas para freqüentarem as atividades do Programa na UFPE, denotando uma

demanda por programas específicos nas suas cidades e também a extensão das nossas

ações. Vale ressaltar que todos os idosos do Programa residem em área urbana.

BERQUÓ (1996), refere que desde a década de 50 até os dias de hoje a população

idosa*, em especial as mulheres, concentra-se em áreas urbanas. Atualmente, segundo a

autora, observa-se que as diferenças entre os idosos em meio urbano e a população total

diminuiu. Refere ainda que, deve-se considerar como motivos para esse fato: a migração

campo-cidade, a alta taxa de mortalidade no meio rural e a mortalidade diferencial por

sexo, motivos que são consonantes com o crescimento da urbanização, a maior

sobrevivência nas cidades e consequentemente com o maior número de idosas nas cidades.

A autora alerta que “na virada do século 82% da população idosa estará vivendo nas

cidades, estas precisam aparelhar-se para poder oferecer recursos de várias ordens

demandados pelos idosos” (p. 33).

No que se refere ao bairro de procedência, comparando os achados atuais a

levantamentos dos cadastros de inscritos no Programa em 1997** , observamos uma maior

participação de idosos residentes no entorno da UFPE, ou seja, em bairros como Cidade

Universitária, Engenho do Meio, Várzea e Iputinga, totalizando (15,65%). Não é objetivo

deste estudo investigar o porquê do aumento dessa adesão, porém nos parece muito

positiva, uma vez que a comunidade vizinha está se beneficiando das ações desenvolvidas

pela Universidade. Boa Viagem, um bairro que fica distante da UFPE, continua sendo o

* Aqui considerada pela autora a partir de 65 anos e valerá p/ esta discussão, sempre que aparecer BERQUÓ (1996).

Page 79: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

83

bairro de onde mais procedem idosos (11,73%). O Programa hoje atinge 69 bairros do

Recife e Região Metropolitana, reforçando o comentário já feito de que o Programa está

com uma abrangência territorial considerável. O bairro de Santo Antônio apresenta a maior

proporção de idosos, e não está representado no Programa.

É importante ressaltar ainda em relação ao bairro de procedência, que os resultados

deste estudo diferem dos encontrados no grupo da UnATI/UERJ, referido por PEIXOTO

(1997), onde quanto ao bairro de procedência, a maioria (57,2%) dos participantes mora

nos bairros próximos à Universidade, enquanto na UnATI/UFPE, a maioria vem de locais

mais distantes. VERAS & KENNETH (1995), em pesquisa também referente à

UnATI/UERJ, confirmam que 50% dos idosos vêm de bairros próximos e que são bairros

de pessoas com uma renda média mais alta quando comparada ao resto do município. No

caso, os nossos resultados diferem dos acima referidos uma vez que a UFPE situa-se em

uma área menos privilegiada sócio-economicamente em relação à área do bairro de Boa

Viagem, de onde procedem a maioria dos idosos, ou seja, a maioria dos idosos da

UnATI/UERJ procedem de bairros próximos, cuja renda é diferenciada; a maioria dos

idosos da UnATI/UFPE procedem de um bairro mais distante, porém com renda média

também diferenciada. Poderíamos então supor que a participação de idosos em programas

como este dá-se mais pela diferenciação sócio-econômica que pela

proximidade/oportunidade geográfica e/ou pela proporção de idosos por bairro.

O nível de escolaridade encontrado entre os idosos estudados difere daquele

observado para a população idosa em geral, demonstrando uma diferenciação deste grupo

no que se refere ao nível de instrução, que em sua maioria é composta por indivíduos que

possuem segundo e terceiro graus. Experiências análogas mostram resultados semelhantes,

segundo referem os estudos de VERAS & KENNETH (1995) e de PEIXOTO (1997). Os

dados são consonantes e parecem ir confirmando que o idoso que freqüenta Universidades

Abertas tem um padrão sócio-econômico e cultural acima da média da população idosa em

geral.

BERQUÓ (1992b), referindo-se a dados relativos à década de 80, afirma que 53%

das pessoas entre 60-69 anos são analfabetas e entre aquelas com 70 anos e mais esse

** Levantamento documental das fichas de inscrição no Programa UnATI/UFPE no ano de 1997.

Page 80: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

84

índice é de 44%. A maior parte dos idosos possui pouca educação formal (PRATA &

SAAD, 1992;VERAS, 1994 e BERQUÓ, 1996). No Brasil, segundo VERAS (1994)*,

“50,3% dos homens com 70 anos e mais referiam saber ler e escrever, porém entre estes,

50,4% referiam terem terminado apenas o curso primário” (p. 49). O autor afirma ainda

que, hoje, a faixa onde encontram-se pessoas com maior proporção de alfabetização está

compreendida entre os 29 a 39 anos e onde encontra-se a mais baixa proporção é na faixa

de pessoas acima dos 60 anos.

BERQUÓ (1992b), chama atenção para o fato de que quando consideramos os

idosos da população do país como um todo, essa coorte de idosos de hoje, vem de uma

época onde o acesso à educação era precário, portanto, essa diferenciação no nível

educacional dos idosos aqui estudados, os coloca com maior chance de enfrentar a velhice,

do que os demais idosos.

Ao estabelecermos uma relação entre as variáveis escolaridade e gênero

encontramos em nosso estudo que entre os homens o nível de escolaridade, embora a

diferença seja pequena, é mais alto que o das mulheres. Essa diferença, segundo VERAS

(1994) e BERQUÓ (1996), reflete a organização social do início do século, onde o acesso

à educação era para uma elite social e particularmente para os homens. Acrescentam

portanto, uma reflexão importante, hoje as mulheres idosas estão sós e com menos chance

de lidarem com as dificuldades de sua velhice, principalmente quando as políticas públicas

são insuficientes para atendê-las. Segundo BERQUÓ (1996), 40% dos homens e 48% das

mulheres declaram-se analfabetos, 50% possuem o curso primário completo, esse baixo

nível escolar se agrava à medida em que avança a idade, assim como a diferença por

gênero, que também aumenta quanto mais avança a idade.

Observamos que os dados deste censo, relacionando nível de instrução e sexo, são

semelhantes aos encontrados na UnATI/UERJ, referidos por PEIXOTO (1997), onde entre

os homens a maioria possui segundo e terceiro graus e nenhum é analfabeto; para as

mulheres os achados foram, que entre aquelas com 70 anos e mais, o nível de instrução era

proporcionalmente mais baixo. Para as mais jovens, ou seja, até os 69 anos, um terço não

* Dados relativos à década de 1980.

Page 81: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

85

completou o primeiro grau. Segundo a autora “essas mulheres foram socializadas para o

casamento e para cuidarem de maridos e filhos” (p. 61).

No nosso censo, os resultados quanto ao estado conjugal demonstram que de uma

maneira geral, a maioria dos idosos encontra-se entre viúvos e casados, estes dados são

bastante semelhantes aos encontrados para a UnATI/UERJ por VERAS & KENNETH

(1995). GOLDMAN (1997) também refere resultados semelhantes para a experiência

privada, a maioria é de viúva e para a pública observou uma maior proporção de casadas.

Por fim, CARNEIRO (1998) refere que na UNITI a maioria dos participantes é de casados.

Porém, quando desagregamos nossos resultados por sexo, os dados são

surpreendentes, a diferença entre homens e mulheres corroboram com achados

demográficos para o Brasil segundo dados referidos por BERQUÓ (1996) e para as

Américas, onde a diferença entre sexo e idade se reflete claramente no estado civil (EL

ENVEJECIMIENTO..., 1999). Essa diferença evidencia-se bastante na população

estudada, ou seja, a maior parte das mulheres está viúva e essa proporção aumenta à

medida em que aumenta a idade; já os homens em sua maioria encontram-se casados,

podendo ser a primeira união ou não. Entre as mulheres quase a metade é viúva, contra

apenas 8,00% de homens viúvos; pouco mais de um quarto das mulheres encontram-se

casadas, enquanto entre os homens esse quantitativo cresce para mais de 80%. Os que

referiram nunca terem casado, todas são mulheres. Em relação a esse último dado

BERQUÓ (1996), refere que 7,6% das mulheres idosas chegam à terceira idade, solteiras.

Foi possível observarmos ainda que entre os idosos com cônjuges de idade inferior

a 60 anos, (83,30%) são homens e dos (16,67%) de mulheres essa diferença de idade é de

um ou dois anos, já em relação às companheiras femininas as diferenças são maiores,

chegando até a 20 anos. Nesse sentido BERQUÓ (1996), refere que em apenas 9% dos

casais as mulheres eram mais velhas do que seus maridos. Aqui, mais uma questão se

coloca, sendo o cuidado uma função exercida basicamente pelas mulheres, esses homens

mais velhos e casados com mulheres mais jovens, têm em potencial com quem contar caso

necessitem de cuidados, já as mulheres não podem contar com essa possibilidade, essa

reflexão encontra respaldo em BERQUÓ (1996), a autora refere que são muito maiores “as

chances das mulheres viverem as perdas da capacidade física e mental sem apoio do

marido no caso das descasadas e viúvas e sem filhos no caso das solteiras e das sem filhos

Page 82: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

86

sobreviventes” (p. 30). VERAS (1994) refere ainda que as chances da viuvez aumentam

para as mulheres à medida que a idade avança e também diminuem as chances de um

segundo casamento, principalmente com homens mais jovens e mesmo não sendo comum

casar-se após os 60 anos, os homens tem mais chance de fazê-lo do que as mulheres, tanto

os viúvos quanto os solteiros. Ainda segundo o autor, outros estudos revelam que homens e

mulheres casados apresentam taxas de mortalidade mais baixas do que homens e mulheres

divorciados, viúvos e solteiros, e portanto sugerem, que “a companhia é um fator positivo

para o prolongamento da vida na idade avançada” (p. 45).

Quanto à relação entre estado civil e gênero é possível percebermos que os dados

por nós encontrados para os idosos da UnATI/UFPE são consonantes aos encontrados por

PEIXOTO (1997) para a UnATI/UERJ.

Várias são as justificativas para esse cenário, sendo possível observar um consenso

entre vários autores e referências. Os autores referem que a maior longevidade das

mulheres, associada a um conjunto de fatos históricos de caráter sócio-culturais que

determinam que as mulheres casem-se com homens mais velhos (em média 3 anos),

acabam favorecendo um maior número de mulheres viúvas, (chegando a 3,6 para 1), além

do que as mulheres descasadas e viúvas recasam-se menos que os homens nas mesmas

situações, o resultado são períodos de solidão mais longos para as mulheres viúvas do que

para os homens viúvos. (VERAS, 1996; BERQUÓ, 1996 e EL ENVEJECIMIENTO...,

1999)

No grupo estudado observamos que no arranjo domiciliar o aspecto “morar só”

chama atenção, pois no geral (15,92%) dos idosos apresentam-se nesta condição, mesmo

que, segundo PEIXOTO (1997) isto possa refletir as transformações ocorridas na estrutura

familiar nos últimos anos, não significando necessariamente abandono ou isolamento;

sabemos também, que pode constituir-se em algum nível de risco para o idoso e, portanto,

esse é um dado muito importante de ser analisado em conjunto com outras informações

referentes a autonomia e independência e também à rede de suporte social. Observamos

que (24,02%) dos idosos vivem em arranjo unigeracional, ou seja, com o cônjuge e embora

seja numericamente pouco expressivo é possível observar também o arranjo

multigeracional, onde residem o idoso mais filhos e netos.

Page 83: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

87

Ao compararmos os resultados deste estudo com os dados referidos por BERQUÓ

(1992b) para a população geral, onde 8,26% das pessoas de 60 anos moram sós,

observamos que os achados para os idosos da UnATI/UFPE chegam a quase o dobro.

Relembramos porém, que os nossos dados não podem ser extrapolados e não são

representativos da população total e, considerando o cenário feminino do envelhecimento

populacional já referido anteriormente, permite-nos entender essa diferença ilustrativa aqui

observada, que comparada ao achado de RAMOS (1992), para o município de São Paulo,

onde 12% dos idosos vivem sozinhos, com os de PEIXOTO (1997), para a UnATI/UERJ,

onde do geral (37%) vivem sós e com os de GOLDMAN (1997), onde na experiência de

universidade privada quase a metade dos participantes mora só, enquanto que na

universidade pública essa proporção gira em torno de um quarto dos participantes,

percebemos que à medida que se particulariza o grupo as semelhanças podem ou não se

estabelecerem.

PEIXOTO (1997) refere que a proporção de idosos que mora só aumenta à medida

que avança a idade segundo seus achados para a UnATI/UERJ onde, entre as pessoas de

até 69 anos, 33% moram sós e esse número cresce para 45% para àqueles com 70 anos e

mais.

Ao desagregarmos o arranjo domiciliar por gênero, vamos cada vez mais

reforçando a relação entre o feminino e o envelhecimento. Neste caso os nossos achados

são bastante consonantes com outros achados para a população geral e para grupos

análogos. Encontramos que apenas 6% dos homens vivem sós, enquanto que entre as

mulheres esse número cresce para 17%. Comparando com experiências semelhantes,

observamos a partir dos dados referidos por PEIXOTO (1997), para a UnATI/UERJ, que

37% das mulheres vivem sós e para os homens a proporção cai para 14%, são resultados

bastante semelhantes aos nossos.

PEIXOTO (1997) traz uma reflexão importante a partir dos seus estudos na

UnATI/UERJ. Refere que as mulheres que não estão casadas, tem opção de arranjos

domiciliares que variam desde morar com filho ou filha solteiros, com filho casado ou com

outras pessoas não familiares. Já os homens que não estão casados, moram sós ou com

filho solteiro, portanto, têm menos possibilidades de outros arranjos e conclui que “após os

70 anos se não vivem mais com o cônjuge, o destino dos homens é de viver sós” (p. 59).

Page 84: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

88

Para a autora esse fato parece justificar-se devido ao forte vínculo afetivo entre mães e

filhos e por isso estes têm mais disponibilidade de cuidar das mães do que dos pais idosos.

Acreditamos que temos também que considerar que, além da questão do vínculo

afetivo ser mais forte com as mães do que com os pais, talvez, no caso dos homens idosos,

sejam mais limitadas as possibilidades de arranjo com os filhos casados, pelo fato de ser

mais difícil encontrar “um lugar” para o homem idoso nessa dinâmica familiar, enquanto

que para a mulher, as funções domésticas são mais facilmente absorvidas e “o lugar” mais

facilmente encontrado. O homem idoso era “chefe” de sua família e de sua casa e,

portanto, dava o tom da dinâmica, é mais difícil para ele também adaptar-se a uma família

à qual não chefia.

Em relação aos dados demográficos para a população geral BERQUÓ (1992 a)*,

refere que 50% das mulheres moram sós e para os homens a condição de morar só é

transitória. A autora (1996) acrescenta ainda que a proporção de mulheres, a partir dos 65

anos de idade, vivendo sozinha aumenta com a idade o que não ocorre com os homens.

RAMOS (1992) refere que os arranjos multigeracionais são mais comuns entre as mulheres

e os viúvos em geral, e entre os viúvos a maioria é mulher.

5.2 – Utilização de Serviços Médicos e Dentários – Seção II

Quanto à utilização de serviços médicos, nos resultados observados no nosso censo

com os idosos da UnATI/UFPE, encontramos que a maioria dos entrevistados (69,00%) é

usuária de plano e/ou seguro de saúde privado, portanto os usuários de serviço público

constituem uma minoria. Dessa forma, é notório o alto quantitativo de idosos que utilizam

serviço médico privado (plano/seguro saúde), quando somados aqueles que utilizam

consultas e médicos particulares. Denotando um grupo com um poder aquisitivo

diferenciado o suficiente para ter assistência à saúde privada, pois sabemos que os valores

pagos para pessoas a partir dos 60 anos são em geral altos.*

* Dados censitários para 1980. * A pesquisa foi realizada antes da reforma que hoje regulamenta os planos e/ou seguros de saúde privados.

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89

Questionando sobre a freqüência de uso de alguns tipos de serviços médicos

durante os três meses que antecederam a entrevista, observamos que os mais utilizados

foram consultas médicas, exames clínicos e consulta ao dentista, embora esta última em

menor proporção (23,70%). Os serviços referidos quando utilizados mais de uma vez no

mesmo período são as consultas médicas e os exames clínicos. A maior parte dos idosos

estudados (88,55%) demonstra-se satisfeita com os serviços médicos utilizados, porém

entre os insatisfeitos, a maioria estava entre usuários de serviço público de saúde, embora

um número considerável de usuários de planos e/ou seguros privados também tenham

referido alguma insatisfação. MEDEIROS & KARSCH (1992) referem que para idosos de

um bairro de São Paulo o atendimento à saúde do idoso que não tem convênio, é

considerado péssimo.

A principal queixa dos idosos em relação aos serviços médicos, tanto público

quanto privados, foi relacionada ao tempo, seja de espera no consultório ou para a

marcação de consultas/exames. A burocracia, a falta de confiança no sistema de saúde e

nos procedimentos médicos, o medo da medicação falsificada e a dificuldade e receio em

realizar alguns exames também foram referidos, nesse último caso os exames que mais

constrangem são os ginecológicos.

No que se refere à utilização de serviços dentários observamos um comportamento

semelhante àquele dos serviços médicos, ou seja, apenas uma minoria utiliza serviço

odontológico público, havendo um predomínio de uso de serviço odontológico particular

para o qual a maioria dos usuários também refere bom nível de satisfação. Um dado

preocupante é o fato de que (26,80%) dos idosos referem que “não procuram serviços

odontológicos há muito tempo”, esta pergunta como está formulada no questionário não

permite que se precise esse “há muito tempo”, porém, subjetivamente, o idoso nos informa

que não vem dando à sua saúde oral o cuidado merecido, logo é um dado que merece

destaque uma vez que, segundo dados do Ministério da Saúde referentes a 1986, 75% das

pessoas acima de 60 anos no Brasil não têm mais nenhum dente natural, entre estes alguns

usam próteses, em sua maioria imperfeitas ou mal adaptadas, e muitos nem as usam. Isso

compromete a boa alimentação e, consequentemente, o estado nutritivo. Observa-se,

também, comprometimento da estética facial e da fala, o que pode influir em sua

socialização.

Page 86: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

90

As únicas ajudas/apoios que os idosos da UnATI/UFPE referem fazer uso são

óculos e próteses dentárias. Os que referem necessidade de substituir essa ajuda

representam 40%. Este fato demonstra indiretamente o alto grau de independência desse

grupo. Vale ressaltar que, atualmente em gerontologia as atenções voltam-se cada dia mais

para as ajudas técnicas ou dispositivos de ajuda, que convencionalmente estão sendo

denominados de tecnologia assistiva para referir-se aos equipamentos que são

desenvolvidos por profissionais de saúde em parceria com profissionais das áreas de

tecnologia, engenharia e artes, e são utilizados para a facilitação do cotidiano dos idosos

e/ou dos cuidadores. Estes equipamentos seguem um nível de complexidade compatível

com o grau de dependência de cada usuário, podendo as intervenções serem realizadas em

nível ambiental que favorecerá também grupos de idosos com algum grau de dependência.

Segundo ABREU (1998), tecnologia assistiva é definida pela Technology-Related

Assistance for Individuals with Disabilities Act, de 1998, como: “qualquer item, parte de

equipamento ou sistema de um produto, adquirido comercialmente, modificado ou

construído de acordo com necessidades ou preferências pessoais, que é usado para

aumentar, manter ou melhorar as capacidades funcionais de indivíduos com

incapacidade” (p. 82).

Portanto, a indicação adequada de dispositivos de ajuda para idosos com algum

grau de dependência, significa estar promovendo e preservando sua capacidade funcional e

consequentemente, sua saúde, relembrando que em gerontologia o conceito de saúde na

idade avançada estabelece relação direta com a capacidade funcional.

O uso de medicação por idosos é uma grande preocupação dos profissionais de

saúde, pois sabe-se que a maioria dos idosos, por apresentarem polipatologias em geral de

natureza crônica, acabam consumindo fármacos em quantidade e qualidade diversas.

COLLEY & LUCAS (1993) apud RAMOS (1995, p. 4), chama atenção para duas

situações que podem ser observadas na administração da terapêutica medicamentosa em

idosos, a primeira é a polifarmácia, que segundo o autor, “está relacionada ao uso de pelo

menos uma droga desnecessária num rol de prescrições supostamente necessárias”, a

segunda situação é a iatrogenia, que “configura o efeito patogênico de uma droga ou da

interação de várias drogas”; o autor enfatiza que estas são duas situações que acontecem

muito em nosso meio. Segundo ROCHA (1996), há a necessidade de um conhecimento

Page 87: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

91

sólido sobre as alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas que ocorrem com o

envelhecimento, pois a alta prevalência de problemas clínicos somada ao uso de

medicamentos concomitantes, torna a prescrição medicamentosa para a população idosa

muito particular. Para RAMOS (1995) esse conhecimento é fundamental para que se

obtenha “um efeito terapêutico máximo com reações adversas mínimas” (p.4).

ROZENFELD (1997) refere que a iniqüidade social observada, principalmente em

países em desenvolvimento, não permite o acesso ao uso de medicamentos a boa parte da

população que necessitaria de seu uso. Porém, alerta a autora, isto não significa que quem

tem acesso à medicação esta adequadamente tratado, pois, existem distorções importantes

nesse perfil de utilização dos medicamentos. Ela acredita que sejam prescritos mais

medicamentos para idosos que para outros grupos, sem que esteja clara a adequação dessa

prescrição. Ainda segundo a autora, 23,5% dos idosos recebe, no mínimo, um fármaco

considerado impróprio.

O baixo número ou ausência de geriatras em serviços públicos ou privados de

saúde, resulta na freqüência de consultas por parte dos idosos a vários especialistas que

tratam cada um de sua “especialidade” não atendendo os idosos em sua integralidade. Em

conseqüência, acaba ocorrendo uma terapêutica medicamentosa para cada queixa, o que

aumenta em muito a chance da polifarmácia.

ROZENFELD (1997) refere que “em países desenvolvidos, o percentual de

indivíduos acima dos 65 anos que não toma nenhum remédio oscila entre 4% a 7%,

podendo chegar a 25% dependendo das características metodológicas do estudo e dos

aspectos culturais do país focado” (p. 13)..

Nesse sentido, MARUCI & GOMES (1996) referem dados para a população norte-

americana, onde o grupo etário de 65 anos e mais (11% da população total) consomem

25% dos medicamentos prescritos no país. Entre os idosos norte-americanos, 70%

consomem medicamentos e, entre aqueles não institucionalizados, o consumo é de em

média 4,5 medicamentos. DIAZ (1996) refere que dados semelhantes se observam na

Inglaterra, onde 17% da população é composta por idosos e consomem pelo menos 30%

dos medicamentos. MARUCI & GOMES (1996) chamam atenção para a automedicação,

pois esse comportamento aumenta ainda mais o risco de interações inadequadas além de,

Page 88: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

92

continuam as autoras, poder provocar efeitos adversos sobre o estado nutricional dos

idosos. MOSEGUI (1998) encontrou em um estudo com os participantes* da UnATI/UERJ

que 83,8% das idosas referem consumir medicação prescrita por médico, os demais por

vizinhos, amigos, veículos de comunicação, balconistas de farmácias e drogarias. RAMOS

(1995) refere que em um inquérito domiciliar com idosos residentes no município de São

Paulo, 76% dos idosos tomam pelo menos uma medicação regularmente, as mulheres

muito idosas (80 anos ou mais) são quem mais consomem medicamentos, 92% referem

usar drogas prescritas pelo médico e apenas 6% se automedicam.

DIAZ (1996) alerta, ainda, para dois outros problemas em relação ao uso de

medicação em pessoas idosas, um refere-se ao uso inadequado, o outro à não-adesão à

terapêutica medicamentosa. A autora refere os estudos de BODY e col. (1974), onde foi

demonstrado que em pacientes ambulatoriais, a não compreensão do esquema

medicamentoso correspondeu ao uso inadequado das prescrições, sendo que os doentes

com 65 anos ou mais de idade apresentaram o mais baixo nível de compreensão. Este

acaba sendo um problema maior do que mesmo a não-adesão, ocasionando falha na

obediência ao esquema terapêutico. A autora refere ainda que existem outros fatores além

da falta de compreensão que influem na não-adesão ao uso dos medicamentos, como:

fatores técnicos, fatores biológicos, fatores predominantemente psicológicos e sociais e

ainda fatores mistos, alertando que os profissionais de saúde devem estar atentos a essas

questões.

Neste estudo, um número bastante elevado de idosos do Programa (80,70%),

referem fazer uso de remédios, a maioria diz que são prescritos por um médico e a maior

parte não declara dificuldade para obtenção da medicação, este achado é semelhante ao

encontrado por MOSEGUI (1998) já referido acima. O questionário por nós utilizado não

aprofunda em quantos e quais são essas medicações, porém, diante do exposto acima,

podemos inferir que os resultados corroboram de alguma forma essas reflexões e indicam

possibilidades de que esses idosos venham a ser vítimas da polifarmácia, carecendo

receber informações sobre o tema. Os 19,30% que não referem uso de medicamentos

demonstram um número equivalente ao dobro do encontrado por MOSEGUI (1998) para

os participantes da UnATI/UERJ, onde apenas 9% das participantes não tomavam nenhum

* Nesse estudo foram investigadas apenas as mulheres.

Page 89: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

93

tipo de medicamento, vale relembrar que neste estudo só as mulheres foram estudadas.

Embora em nosso estudo as informações sejam referentes ao uso de medicamentos por

homens e mulheres, não encontramos diferenças importantes, entre os 50 homens (40)

80,00% fazem uso de medicação e entre as 308 mulheres (249) 88,85%.

Quanto ao tipo de medicamentos usados por idosos, MEYER & REIDENBERG

(1992) apud RAMOS (1995, p. 4) refere que as drogas mais usadas mundialmente por

idosos são: primeiro as cardiovasculares, seguidas de analgésicos e antiflamatórios,

laxativos e antiácidos, ansiolíticos, hipnóticos e por fim, drogas que não requerem

prescrição como vitaminas e sais minerais.

A figura da filha aparece, para os idosos do nosso censo, como sendo a pessoa

eleita para dispensar-lhes cuidados caso venham a ficar doentes ou incapacitados; o

cônjuge, o filho e outra pessoa da família são citados, porém em menor escala. Quando se

referem a alguém fora da família, trata-se sempre de um profissional, que pode ser de

enfermagem (enfermeiros ou auxiliares) ou ainda um leigo. Esses profissionais são,

obviamente, contratados, sendo portanto externos ao arranjo familiar. MEDEIROS &

KARSCH (1992), encontraram em estudo realizado em um bairro no município de São

Paulo resultados semelhantes aos desse estudo com relação à importância da filha para os

idosos e afirmam: “A filha é a pessoa mais importante para qualquer velho, nesta cidade

ou neste país. É quem ajuda a resolver os problemas de saúde, de doença, de ajuda física”

(p. 36).

Esta questão é preocupante e permite-nos diversas reflexões, primeiro a crença de

que a filha irá dispensar-lhes cuidados e nesta crença está embutida uma cobrança, mais

uma vez retomamos a função feminina do cuidado para com os idosos, lembrando que há

uma grande chance de que esta filha esteja inserida no mercado de trabalho e ainda que

esta possa ter sua própria família com filhos inclusive, que naturalmente demandam

cuidados. Para VERAS (1996) essa é uma função, tradicionalmente ligada à mulher, e o

fato de não serem recompensadas financeiramente, passa a exigir novas formas de

administração dessa questão, principalmente nos grandes centros urbanos. SILVA (1998)

refere que em seus estudos tem encontrado dados consonantes com a literatura em geral,

que constatam que a maior parte dos cuidadores domiciliares é mulher. A autora, alerta

para o fato de que o cuidar do outro, e no caso, a mulher cuidadora, não é, como se

Page 90: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

94

concebe, tarefa “natural” da mulher, mas sim uma construção histórico-social, que se dá,

essencialmente, na família. Esta reflexão, continua a autora, “derruba as concepções que

associam o cuidar a uma condição biológica e, portanto, natural” (p. 149).

FELGAR (1998) refere dados relativos a um estudo realizado em São Paulo, com

cuidadores de adultos* com seqüelas de acidente vascular cerebral – AVC, onde encontrou

que mais de 90% dos cuidadores são do sexo feminino.

Outra crença observada é a de que poderão contratar um profissional da

enfermagem para o cuidado, seja ele de nível superior ou não; colocam-se aqui duas

questões importantes, uma que há carência de formação, tanto em nível superior quanto em

nível médio, sobre geriatria e gerontologia para os profissionais da enfermagem e de outras

categorias profissionais, a outra é que o custo desses serviços é muito alto, além de ser em

geral uma necessidade de cuidados de longa duração. Portanto, como é pequeno o número

de profissionais habilitados para tal finalidade, implica necessariamente no crescimento do

valor da remuneração. Alguns ainda referem que podem contratar um leigo para essa

tarefa, o que nos faz perceber um desconhecimento da necessidade de formação de pessoas

para o cuidado com idosos. Para estes é como se essa fosse uma tarefa simples que

qualquer um pode desempenhá-la. As pessoas que cuidam de idosos são denominadas na

área da geriatria e gerontologia de “cuidadores”, sendo que de acordo com o grau de

dependência do idoso haverá necessidade de um cuidador melhor preparado.

A maioria dos idosos estudados referiu terem tido filhos. Há uma equivalência de

proporção quanto ao gênero, estes são em média quatro filhos por idoso, indicando um

nível razoável de possível rede de ajuda em caso de doença e/ou dependência. Segundo

LEME & SILVA (1996), a população idosa atual vem de um tempo onde a família, no

caso a família ampliada, com convivência multigeracional (avós, filhos, tios, primos ...)

tinha um papel importante na vida das pessoas e assegurava o cuidado dos seus membros.

Essa referência, creio, se concretiza quando os idosos esperam ser cuidados por membros

da família. Com o declínio da família ampliada e estruturação da família nuclear várias

vezes referidas neste estudo, fica claro que o cuidado em família torna-se cada vez mais

difícil.

* Adultos a partir dos 50 anos.

Page 91: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

95

O cenário da família nuclear em relação ao cuidado dos seus membros, em

particular do idoso, é denominado como sendo a “síndrome de insuficiência familiar”, ou

seja, o não dispor dessa possibilidade de cuidado pode trazer para o idoso situações de

morbidade de caráter físico, psíquico ou social. Essa síndrome pode ser dividida em dois

tipos: a do filho único e a dos maus-tratos. A primeira é referida inclusive como sendo

endêmica, pois há uma tendência mundial de famílias muito pequenas, de um único filho,

aqui observa-se uma impossibilidade física de prestação de cuidados a seus idosos

dependentes, não se tratando pois de rejeição, mas de impossibilidade real que acaba

culminando na institucionalização. Na síndrome dos maus-tratos, observa-se realmente

uma animosidade para com a pessoa cuidada, no caso o idoso dependente. Essa é uma

questão recente e ainda pouco estudada entre nós, mesmo em países mais desenvolvidos e

em termos proporcionais há pouca literatura a respeito. O mau-trato pode ser voluntário ou

involuntário, este último por falta de conhecimento ou possibilidade física real para prestar

o cuidado, já o mau-trato voluntário, é cometido em geral pelo cônjuge feminino e em

seguida pelos filhos adultos e, em menor grau, pelo cuidador profissional. É importante

que se perceba aqui o estresse do cuidador de idoso com alta dependência, chamado

“doente oculto” e que também precisa ser cuidado (LEME & SILVA, 1996). Para

VELASQUEZ et al. (1998,), “há que se criar mecanismos de proteção social que garanta

a família a possibilidade de exercer seu papel de cuidador” (p.141). Segundo FELGAR

(1998), mais de 90% dos participantes de seu estudo residem com a pessoa da qual cuidam.

Fica claro, a partir dessa afirmação, que o real suporte a idosos dependentes está no

domicilio, a cargo da família.

Retomando a problemática do cuidador, vemos que atualmente há uma grande

discussão em nível nacional sobre esta questão, mas ainda não se chegou a um consenso.

Informalmente, pessoas estão “cuidando” de idosos, seja em instituições de longa

permanência ou em domicílios, em geral sem nenhuma formação para tal (BARETO,

1995). Há a necessidade e a família identifica alguém que vai aprendendo (ou não) com a

prática; e nas instituições acontece mais ou menos o mesmo processo, alguns auxiliares de

enfermagem tratam das tarefas mais específicas, como curativos e administração de

medicação, porém os demais cuidados são desempenhados por pessoas contratadas que

também aprendem (ou não) com a prática.

Page 92: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

96

Existem, atualmente, diversos cursos de formação, capacitação, treinamento ou

outra denominação similar, por todo Brasil, que se destinam às pessoas que cuidam e/ou

desejam cuidar de idosos, podendo também ser um familiar. Os cursos têm como objetivo

instrumentalizar para o cuidado com o idoso com algum grau de dependência, e assim

facilitar o cotidiano do idoso e do cuidador, oferecendo mais qualidade nessa atenção e

maior chance de independência e bem estar para o idoso.

MENDES (1998) refere que nos países desenvolvidos os cuidados domiciliares

para idosos são considerados como necessidade social e conta-se com uma rede de serviços

públicos destinados a esse suporte domiciliar. Existem, continua a autora, instituições

oficiais que recrutam e treinam os voluntários da comunidade; este trabalho é normatizado

e regulado por políticas públicas. Ainda segundo a autora, esta não é a prática observada

no Brasil, onde os cuidados prestados por um “voluntário da comunidade” aos idosos

dependentes, “ocorrem de forma espontânea”, isto é, são os familiares, amigos, vizinhos

que aparecem para ajudar nos momentos críticos, não havendo nenhuma política pública

destinada a esse fim.

Segundo MENDES (1998) BARER e JOHNSON (1990) referem que a definição

de STONE, CAFFERATA e SANGL (1987) é a mais explícita, pois distingue o cuidador

principal e o secundário de acordo com o grau de envolvimento de cada um nos cuidados

prestados ao idoso dependente. O cuidador principal é aquele que tem a total ou a maior

responsabilidade pelo cuidado prestado ao idoso dependente, no domicílio. Os cuidadores

secundários seriam os familiares, voluntários e profissionais que prestam atividades

complementares.

O tema dos “cuidadores de idosos” tem gerado, por parte dos especialistas e dos

poderes públicos no Brasil, grandes polêmicas. Vários fóruns* nacionais e regionais têm

acontecido no sentido de se chegar a um denominador comum quanto à questão, de modo a

permitir a proposição de políticas públicas que venham a normatizar as ações de cuidados a

idosos no país.

* I Curso de Aperfeiçoamento. para Instrutores no Cuidado com o Idoso - GO/1998 (Ministério da Previdência e

Assistência Social); I Congresso Brasileiro da Associação Nacional de Gerontologia - RS/1998 (ANG); Oficicina de

Trabalho para Discussão da Política Nacional de Saúde do Idoso - DF/1999 (Ministério da Saúde).

Page 93: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

97

Segundo MENDES (1998) não há clareza nos critérios que se utilizam para definir

os cuidadores, levando a diversas definições, algumas baseadas no vínculo parental, outras

no tipo de cuidado prestado. As dúvidas são de diversas ordens, discutiremos algumas a

seguir.

Quanto à denominação: (cuidador formal/informal, leigo/ou não leigo,

familiares/não familiares). A partir de vários autores, MENDES (1998) destaca uma

definição que permite distinguir o cuidador principal do secundário. Sendo o cuidador

principal aquele que tem maior ou total responsabilidade pelo cuidado prestado no

domicílio e o secundário seria o familiar, amigo, voluntário ou profissional que realiza

atividades complementares. Segundo a autora (1998) “usa-se o termo cuidador formal

(principal ou secundário) para o profissional contratado (atendente de enfermagem,

acompanhante, empregada doméstica, etc.) e cuidador informal, usualmente os familiares,

amigos e voluntários da comunidade. Essas dificuldades em se definir o cuidador implica

em dificuldade de entender o real processo de cuidado a um idoso dependente no

domicílio, assim como a dinâmica que vai definir o cuidador principal” (p. 173).

Quanto à categorização: trata-se de função/trabalho/profissão. Essa questão foi

discutida exaustivamente no I Curso de Aperfeiçoamento para Instrutores no Cuidado com

o Idoso, promovido pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, em 1998, onde

estavam reunidos cerca de 40 especialistas, mas não se conseguiu chegar a um consenso,

tendo sido retomada a discussão em Porto Alegre, no mesmo ano, onde foi apresentada

para discussão uma proposta de um Projeto de Lei criando a categoria profissional de

“cuidador”, na referida proposta o cuidador não seria apenas para pessoas idosas, mas

também para crianças e para pessoas portadoras de deficiência, o que causou mais

polêmicas ainda e, ao final, não se aprovou o prosseguimento da proposta, a avaliação dos

especialistas presentes foi de que era preciso mais amadurecimento da questão.

Quanto à formação: quem/como forma, qual o conteúdo/carga horária. Parte dessa

questão ficou definida pelos Ministérios da Saúde e Previdência e Assistência Social, ou

seja, foi informado durante a Oficina de Trabalho para discussão da Política Nacional de

Saúde do Idoso, em 1999, que a responsabilidade da formação de cuidadores de idosos no

Brasil será realizada pelos referidos Ministérios, porém a operacionalização dessa parceria

e da formação propriamente dita, não foi tratada na ocasião.

Page 94: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

98

É muito importante que essas discussões estejam acontecendo, esperamos que em

breve alguns desses impasses tenham soluções, pois os cuidados continuam sendo

prestados seja por pessoas da família ou não (devido não apenas à necessidade da mulher

que está no mercado de trabalho, mas também à complexidade da tarefa quando a

dependência é alta), com ou sem formação (quando essa existe não se sabe ao certo a

seriedade da mesma e nem sempre há um acompanhamento, pois hoje essa é uma que

desponta no mercado e há que se ter cautela) e que recebem remunerações as mais

variadas. A solução para esses impasses tornam-se ainda mais urgentes quando pensamos

no risco de abusos e maus tratos (já referidos anteriormente) que podem ser cometidos

durante o cuidado, muitas das vezes por pura falta de conhecimento.

Encontramos para o total dos idosos estudados (358), que 7,30% ou não sabem com

quem contar em caso de uma necessidade desse tipo ou acreditam não poder contar com

ninguém e vale ressaltar que todos que deram esta resposta são mulheres, isso significa que

entre as 308 idosas entrevistadas 8,44% não sabem com quem contar em caso de doença

e/ou incapacidade, corroborando assim, a discussão já trazida anteriormente, quanto à

chance das mulheres envelhecerem sós e não terem com quem contar para cuidá-las;

diferentemente dos homens que estão em sua maior parte casados e são cuidados, na

maioria das vezes, pela companheira. Aqui temos mais uma questão polêmica, a do papel

do estado, que deve oferecer meios para manter uma rede tal que permita a essa pessoa

permanecer em sociedade ou a alternativa será institucionalização. No caso do Brasil o

caminho mais comum é a institucionalização. Na verdade, não seria o maior problema se

contássemos com um sistema de institucionalização geriátrica, hierarquicamente

organizado, equipado e humanizado, que atendesse ao idoso em suas diversas demandas,

pois em algumas situações, a institucionalização é a intervenção mais adequada, porém ela

se dá muitas das vezes por falta de opção, ou seja, por ainda não termos a implementação

da Política Nacional do Idoso e no caso das instituições, por falta de uma política pública

de orientação, regulação e fiscalização das instituições geriátricas no país.

Page 95: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

99

5.3. Atividades de Vida Diária (AVD) – Seção IV

Segundo dados sobre os indicadores de saúde da Espanha

(INDICADORES...,1995), “o nível de capacidade funcional do idoso é possivelmente o

maior determinante de sua situação vital e do tipo de assistência que precisará no futuro”

(p. 115). Para RAMOS (1992), em uma avaliação do tipo multidimensional do idoso, como

a realizada nesse estudo, é indispensável mensurar o grau de autonomia e independência

para realizar as tarefas mais simples de autocuidado, ou seja, sua capacidade funcional. O

autor refere que um estudo realizado com população idosa em São Paulo revela que uma

elevada porcentagem dos idosos estudados, tem dificuldade para realizar as atividades da

vida diária.

Os resultados deixam bastante claro que os idosos desse estudo são autônomos e

independentes. Mais de (90,00%) deles referem-se com capacidade para desempenhar as

atividades que lhes foram perguntadas, sendo a única exceção, cortar as unhas dos pés

onde (14,20%) declaram-se incapazes para fazê-lo sozinho, dentre estes encontramos que a

maioria é mulher e tem entre 60 e 69 anos de idade; já os poucos homens que referem esta

dificuldade, só a referem em idade mais avançada, têm mais de 70 anos. São resultados

mais satisfatórios do que os encontrados na população geral como já referimos algumas

vezes neste estudo, ou seja, a maioria da população idosa apresenta-se com boa capacidade

funcional e vivendo na comunidade, porém, neste grupo, o nível de independência máximo

está presente, praticamente, na totalidade do grupo.

É importante relembrarmos que a capacidade funcional no idoso é mensurada a

partir do grau de autonomia e independência e que o conceito de saúde na terceira idade,

hoje postulado, diz respeito à capacidade funcional, ou seja, mesmo na presença de

patologia, se o indivíduo consegue manter um bom nível de funcionalidade para o

desempenho de suas AVDs e AIVDs ele é um idoso saudável, independente e autônomo.

CHIOVATTO (1996), referindo dados internacionais, permite-nos perceber a

associação entre presença de patologias em idosos e presença de incapacidades associadas

a essas patologias, quando afirma que na presença de apenas uma condição patológica, 5%

da população idosa refere necessidade de ajuda para uma ou mais AVDs, ou seja 95% dos

idosos, mesmo diante de “uma” patologia mantém sua capacidade funcional. Esse

Page 96: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

100

percentual cresce à medida em que aumenta o número de doenças associadas, chegando a

55% entre os homens e 65% entre as mulheres, ou seja, quando há mais de uma patologia

presente o percentual de idosos com algum nível de dependência para a realização de

alguma AVD cresce de 5% para 55% ou 65% de acordo com o gênero. Esse dado reforça

para nós que o grupo estudado apresenta um bom nível de saúde, tendo-se como parâmetro

sua capacidade funcional.

Com relação à dificuldade para cortar as unhas dos pés é importante esclarecermos

que trata-se de uma atividade com alto nível de complexidade para sua realização. Ao

analisá-la é possível perceber que para sua execução há exigência de habilidade e destreza,

mobilidade corporal, força muscular, coordenação motora, coordenação viso-manual,

manejo de objeto cortante e boa acuidade visual entre outras. Ao mesmo tempo em que o

cuidado com os pés e as unhas do idoso vai além de um princípio básico de higiene, posto

que se constitui em uma condição importante para a sua saúde, pois pés e unhas bem

cuidados auxiliam a boa marcha, evitam cortes em pés diabéticos e/ou com problemas

vasculares, evitam ressecamento e endurecimento maior das unhas que podem encravar e

machucar a pele e em paralelo, cuidar bem dos pés e unhas exige, segundo KNACKFUSS

(1996) a escolha de calçados adequados que não machuquem e que previnam e/ou

possibilitem a correção ou minimizem as deformidades existentes.

CHIOVATTO (1996) em seu estudo, acima referido, encontrou uma diferença em

relação ao nível de dependência funcional entre homens e mulheres na presença de mais de

uma patologia, sendo essa dependência de 55% e 65% respectivamente. Em nosso estudo a

diferença entre os gêneros para o desempenho das AVDs, foi observada que nos itens

“preparar sua própria refeição” e “realizar atividades domésticas / manter a casa em

ordem”, onde 16,00% dos homens não se acham em condições de preparar sua própria

refeição sozinhos e 12,00% referem dificuldade para manter a casa em ordem, ou seja,

realizar tarefas domésticas; enquanto que entre as mulheres apenas 1,62% e 5,84

respectivamente. Mais um reflexo da diferença entre gêneros, neste grupo esta diferença

não se apresenta, provavelmente, devido apenas à idade avançada ou à presença de alguma

patologia, relacionando-se mais a um comportamento cultural.

Observamos a partir dos resultados um bom nível de sociabilização e adequada

ocupação do tempo livre, há uma variação de tarefas desempenhadas que vão desde assistir

Page 97: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

101

a televisão até viagens longas, passando por atividades artísticas, culturais e religiosas.

Verificamos uma menor participação nas atividades relacionadas à prática esportiva, onde

os idosos declararam maciçamente não praticarem esportes. Praticamente todos os idosos

mostraram-se satisfeitos com a ocupação do seu tempo livre. Os que referem alguma

insatisfação dizem-se pouco motivados e sentindo falta de mais atividades, inclusive de

lazer.

A maioria dos idosos desse estudo, encontra-se de algum modo desobrigado das

tarefas do trabalho remunerado ou doméstico, o que segundo FERRARI (1996) lhes

concede um grande período de tempo livre. A autora chama atenção que a ocupação desse

tempo livre, salvo nos casos onde o idoso ingressa numa nova carreira ou busca atividades

remuneradas como forma de complementar o déficit de renda conseqüente à aposentadoria,

tende cada vez mais a ser ocupado com atividades de lazer, ou seja, atividades que

permitem o descanso, divertimento, recreação e entretenimento e ainda, o desenvolvimento

pessoal. Entre as opções de locais que possibilitam essa vivência às pessoas idosas, esta

autora refere as Universidades Abertas à Terceira Idade, onde a possibilidade de

desenvolvimento pessoal coloca-se imperativa. Esta refere ainda que, infelizmente, o lazer

ainda é visto de maneira preconceituosa nas sociedades regidas pela produtividade, daí a

dificuldade de alguns idosos, que viveram todo tempo anterior para o trabalho ou para o

cuidado da casa, em encontrar maneiras de ocupação adequada do tempo livre, além do

desconhecimento do benefício dessa prática para o seu bem estar.

Nesse sentido, MORAGAS E MORAGAS (1991) refere a importância dos

Programas de Preparação para a Aposentadoria que entre outros objetivos contribuem para

a descoberta de novas alternativas e interesses, pois, refere o autor, o aposentado precisa

estabelecer um novo ritmo de vida devido ao aumento do seu tempo livre.

Por tudo que já foi referido, “compreende-se que medir a qualidade de vida na

população idosa supõe uma abordagem de tipo multidimensional, que vá além dos

aspectos de saúde, sejam estes relativos ao bem estar do tipo físico, funcional, emocional

ou mental, para estender-se às circunstâncias sociais, familiares, econômicas e do meio

que rodeiam estas pessoas” (INDICADORES..., 1995, p.115).

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102

5.4. Recursos Sociais – Seção V

Os resultados permite-nos verificar que os idosos deste estudo mantêm uma boa

interação social, a maioria mostra-se satisfeito com o relacionamento mantido com as

pessoas com as quais reside, no relacionamento com vizinhos, e onde mais observamos

satisfação é na relação com os amigos.

Observamos que, de modo geral, não há dependência dos entrevistados em relação

aos seus familiares, porém foi referido, pela maioria dos idosos, que a companhia e o

cuidado pessoal, são aspectos onde os familiares fazem-se mais presentes, presença essa

muito valorizada por eles.

Os idosos desse censo referem-se como provedores em potencial de seus familiares,

mais da metade ajuda seus familiares em termos financeiros e de moradia. Um percentual

elevado (37,40%) de idosos referem cuidar de crianças, denotando esse papel

desempenhado pelo idoso na família, que por um lado é muito importante à medida em que

permite o contato intergeracional, por outro pode constituir-se em uma “obrigação” para

liberar filhas e noras para o mercado de trabalho, podendo comprometer sua autonomia

para administrar o seu tempo.

Ao contrário do que pensa o senso comum, os idosos não são apenas os que

demandam, mas são também provedores e consumidores em potencial, os dados acima

referidos mostram-se consonantes com os apresentados para a população em geral. Os

idosos, independentemente do gênero, participam ativamente da receita doméstica e que

sua renda pode representar até 45% do orçamento familiar, à medida em que a idade

avança, essa participação diminui e perde mais valor a partir dos 75 anos de idade

(TERCEIRA...,1999).

As idosas dos países onde não há um bom sistema de previdência social, estão

fadadas a dependerem economicamente de terceiros, ou seja, dos mais jovens,

principalmente as mais velhas, que como já vimos estarão viúvas com pouca ou nenhuma

escolaridade e que em geral não possuem outros recursos e assim acabam constituindo-se

em um grupo especialmente vulnerável (EL ENVEJECIMIENTO..., 1999). Trata-se de

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103

uma situação bastante diferente da experenciada pelos idosos da UnATI/UFPE. Mais uma

vez evidencia-se a particularidade do grupo estudado.

A maioria dos idosos costuma receber visitas de amigos e familiares,

principalmente dos filhos. MEDEIROS & KARSCH (1992) referem a “importância das

relações de vizinhança e a valorização dos grupos que dão à mulher oportunidades de

fazerem novas amizades” (p. 36). Nesse sentido, novamente a rede social assume

importância, pois como refere DEBERT (1996), é a partir da “solidariedade pública entre

gerações” (p. 45), que responderemos a muitas demandas da população idosa. A

experiência da UnATI/UFPE tem colocado a possibilidade de ampliação do território

existencial dos idosos à medida em que a cada curso conhecem novas pessoas e os

encontros têm extrapolado o Campus da UFPE, originando novos amigos e grupos sociais.

5.5. Recursos Econômicos – Seção VI.

O fato da maioria dos idosos deste estudo ser do gênero feminino e pertencer a uma

coorte onde o papel fundamental da mulher era principalmente o cuidado da casa e da

família, justifica que a função de dona de casa tenha predominado quando perguntamos o

tipo de trabalho exercido a maior parte do tempo em sua vida, com (34,40%) das respostas

para o grupo e (39,40%) para as mulheres. A segunda função mais referida foi a de

professor(a), onde dos 49 idosos que referem esta profissão 47 são mulheres; é um

resultado também previsível, já que entre as mulheres que exerciam algum tipo de trabalho

fora de casa, o magistério era consonante com o papel feminino; outra função também

referida foi a de costureira que era “permitida” à mulher e podia ser exercida em casa.

A maior parte dos entrevistados neste censo trabalhou durante um período

compreendido entre 21 a 40 anos, tendo iniciado essa atividade de trabalho ainda bem

jovens, ou seja, antes dos vinte anos de idade e pararam de trabalhar antes dos 60 anos. Um

percentual de apenas (9,22%) ainda permanecem trabalhando. No Brasil, “62% dos

homens que trabalham e têm entre 65 e 90 anos cumprem jornada mínima de 40 horas,

cerca de 30% a 40% dos homens entre 70 a 80 anos trabalham, enquanto as mulheres

cerca de 20 anos mais novas apresentam percentuais semelhantes” (TERCEIRA..., 1999,

p. 2).

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104

BOUTIQUE & SANTOS (1996) referem que o período em que o idoso hoje

aposentado esteve inserido no mercado de trabalho, que girou entre a década de 50 e 80,

pode ser descrito como um período onde se consolidou o sistema capitalista no Brasil, sob

o governo Vargas. Só após 1955, é que, segundo as autoras, a mão de obra feminina é

incorporada com algum relevo no mercado de trabalho, porém em atividades que exigiam

pouca escolaridade e experiência. As autoras acrescentam que o número cada dia mais

crescente de trabalhadores oriundos de área rural, sem qualificação profissional, contribuiu

para uma nova composição da classe operária no período compreendido entre 1930 e 1945.

Desde os anos 80 convivemos com uma política econômica preocupada em pagar a

dívida externa e as questões de interesse nacional não são devidamente debatidas. O poder

central parece crer que a integração do Brasil à economia mundial depende de esforços que

comprometem a soberania nacional. É nessa conjuntura adversa do país, onde se vê um

arrefecer do movimento social e do movimento sindical, em particular, que os

trabalhadores, hoje idosos, saíram do mercado de trabalho na condição de aposentados

(BOUTIQUE & SANTOS, 1996).

Os resultados em relação à renda demonstram que apenas (4,74%) dos

entrevistados referem não ter renda própria e são todos do sexo feminino, mais uma vez

observamos a diferença entre os gêneros. Entre aqueles que possuem renda, a maior parte

recebe aposentadoria, ou seja, foram pessoas que tiveram 0acesso ao mercado formal de

trabalho e os demais recebem pensão do cônjuge. Metade refere que sua renda é suficiente

para suprir suas despesas, a outra metade refere que não. Os achados deste estudo são, em

parte, consonantes aos referidos por PRATA & SAAD (1992), para a população geral onde

45% dos idosos são aposentados, ou seja, quase a metade teve acesso ao mercado formal

de trabalho. Para as mulheres, a situação é pior, há um percentual muito grande de

mulheres sem rendimentos, este não é o caso da população feminina da UnATI/UFPE,

apesar de todos que não têm renda serem do sexo feminino o percentual é pequeno.

Tanto a renda pessoal* dos idosos desse censo quanto a renda familiar* é elevada

quando comparada à população idosa aposentada e geral, variando para a maioria entre 7 e

10 salários mínimos, seguida de um outro grupo que percebe entre 11 e 20 salários

* Tomando como parâmetro o salário mínimo que à época da pesquisa era R$ 130,00.

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105

mínimos. A renda familiar segue um padrão semelhante como já referimos, sendo a

maioria entre 11 e 20 salários mínimos e quase um quinto das famílias percebem acima de

20 salários mínimos.

Quando comparamos nossos resultados com os encontrados por PEIXOTO (1994),

para a UnATI/UERJ, percebemos que o nível econômico dos idosos da UnATI/UFPE é

mais alto, principalmente por tratar-se da região Nordeste, onde o nível econômico é mais

baixo em relação ao Sudeste, onde se localiza a comparação referida e lembrando que os

achados nos demais aspectos vêm-se equivalendo. Os resultados de GOLDMAN (1997)

demonstram que, para a experiência em universidade privada, observa-se um nível

econômico mais alto do que os encontrados neste estudo, enquanto que para a universidade

pública os índices foram equivalentes.

No geral, a percepção dos idosos estudados, ao comparar sua atual situação

econômica com quando tinham 50 anos, revela que a maioria acredita que está melhor ou

que permanece a mesma.

As condições de moradia referidas são favoráveis, quase a totalidade dos idosos

conta com água encanada, eletricidade, ligação com rede de esgotos e geladeira, a maioria

possui televisão, rádio e telefone. O computador pode ser considerado pouco utilizado

quando comparado aos demais itens; porém, olhando de um outro prisma, este aparece de

modo relevante, (19,60%) referem possuí-lo. Considerando a informatização mais ampla

como um processo recente, mais precisamente da década de 80 para cá, e o uso doméstico

do microcomputador mais recente ainda, basicamente desta década, é um equipamento que

não fez parte da atividade de trabalho de quase todos os idosos estudados. Entretanto,

devemos destacar que o número de idosos que possui computador neste grupo é

importante, denotando um interesse pela atualização de conhecimentos e pelo novo, de

modo a estarem sintonizados com o que há de mais atual, sendo este também um indicativo

de interação social, pois hoje a “linguagem” da informática faz-se necessária em diversas

dimensões das nossas vidas, facilitando, inclusive, a comunicação intergeracional.

A diferenciação sócio-econômica do grupo de idosos estudados, evidencia-se

quando observamos que a maioria reside em moradia própria e que apenas (8,10%),

residem em moradia alugada. PEIXOTO (1994) refere resultados semelhantes em seus

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106

estudos e afirma que, para os idosos por ela estudados, o sonho da casa própria foi

alcançado em bairros mais distantes, no subúrbio e também o grupo beneficiou-se do

sistema financeiro de habitação que há tempos atrás era mais justo. A autora reforça que o

fato de terem seu próprio imóvel os torna menos dependentes dos filhos, e assim, procuram

outras formas de status social, como freqüentar uma universidade.

Participar da UFPE através da Universidade Aberta é, sem dúvida, uma condição de

status social. Essa afirmação pode ser observada nas suas condutas frente ao Programa,

tanto em relação a outros idosos como em relação à família, agora esses idosos “são” da

UnATI/UFPE, sentem-se universitários na essência da palavra e se orgulham muito disso.

5.6. Necessidades e Problemas que Afetam os Entrevistados – Seção VIII

Para os idosos deste censo, suas principais necessidades referem-se, por ordem de

grandeza a questões econômicas, de segurança, de companhia e contato pessoal, de saúde,

de lazer e de transporte, considerando que a metade possui automóvel, a questão de

transporte coloca-se para os demais associada a um sistema de transporte mal planejado, à

distância entre as paradas dos ônibus e à insegurança nos coletivos, além da opção do táxi

também ser insegura e onerosa. A julgarmos pela diferenciação econômica observada

nesse grupo, a questão econômica se coloca, no plano geral, no contexto da crise

econômica do país. A falta de segurança além de estar presente como algo generalizado

nas grandes cidades, para o idoso exacerba-se, pois sentem-se mais vulneráveis, limitando

inclusive, sua participação em atividades noturnas.

A necessidade de companhia e contato pessoal vem corroborar discussões já

trazidas anteriormente, a maioria são mulheres, viúvas e um número importante delas mora

só, talvez freqüentar programas de Universidades Abertas seja uma maneira de minimizar

a solidão e aumentar o universo de relações, que estabelece contato com a necessidade de

lazer, pois sem companhia as pessoas sentem-se desmotivadas para buscarem e realizarem

atividades prazerosas. Quando referem necessidade de saúde, cremos tratar-se de uma

condição básica, “em primeiro lugar a saúde”, diz o ditado, pois trata-se de um grupo

saudável, de acordo com o conceito de capacidade funcional, que possui plano e/ou seguro

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107

de saúde privado e que, portanto, fala de saúde como uma necessidade inerente ao seu bem

estar.

Essas “impressões” são confirmadas quando ao final pedimos que refiram o

problema mais importante do seu cotidiano, (35,50%) não relatam problema importante; a

questão econômica reaparece, porém em menor escala. A preocupação com a família, em

particular com filhos e netos é referida em relação à saúde, segurança e futuro destes. A

solidão e a carência afetiva também reaparecem, inclusive expressando o desejo de

encontrar um(a) companheiro(a). Os dados dessa seção, são semelhantes aos encontrados

por VERAS (1994) para o Município do Rio de Janeiro.

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109

6. CONCLUSÕES

Observamos que a metodologia utilizada neste estudo mostrou-se adequada para

responder aos objetivos pretendidos, que nos permitiu concluir com relação ao perfil sócio-

epidemiológico dos idosos da UnATI/UFPE, quanto:

• À situação pessoal e familiar – trata-se de um grupo predominantemente feminino, de

“idosos-jovens”, ou seja, na faixa etária entre 60 e 69 anos; nascidas em Pernambuco;

em sua maioria casadas e/ou viúvas; com bom nível de escolaridade, a maior parte com

segundo e terceiro graus. Residem em média com duas pessoas por domicílio; a

maioria teve filhos e refere satisfação com a vida em geral;

• À utilização de serviços médicos e dentários – são em sua maioria usuários de

plano/seguro saúde privado e referem satisfação quanto à utilização dos mesmos. No

que se refere ao uso de próteses e órteses, estas limitam-se às dentárias (dentadura,

ponte, dente postiço) e às visuais (óculos de grau); a maioria faz uso de medicamentos

que afirmam serem prescritos por um médico; crêem que em caso de doença ou

incapacidade poderão contar com os cuidados prestados pela filha e também pelo

cônjuge;

• Às atividades de vida diária (AVD) – os idosos deste censo compõem um grupo de

pessoas que gozam de bom nível de autonomia e independência funcional, são capazes

de desempenhar as atividades da vida diária sem necessidade de ajuda; ocupam o

tempo livre com atividades variadas, tanto no domicílio (leitura, televisão, receber

visitas, entre outras), quanto fora dele (viagens, atividades religiosas, visita a amigos

entre outras), além de atividades ligadas à arte, cultura e lazer, com as quais sentem-se

satisfeitas;

• Aos recursos sociais – são idosos que mantêm boas relações interpessoais com aqueles

com os quais residem, com os amigos e os vizinhos; são em algumas situações

(moradia e finanças), provedoras de suas famílias, destas, recebem companhia e

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110

cuidado pessoal com os quais sentem-se muito bem; costumam receber visitas de

familiares, vizinhos e amigos;

• Aos recursos econômicos – a maioria dos idosos estudados possui renda própria

proveniente de aposentadoria e/ou pensão do cônjuge; tanto a renda pessoal quanto a

renda familiar deste grupo é diferenciada em relação à media de rendimentos da

população idosa em geral; residem em imóvel próprio e com boas condições de

moradia, contando com rede de esgotos e energia elétrica;

• Às necessidades e problemas que afetam o entrevistado – são idosos que não relatam

problemas importantes no seu cotidiano, quando referem alguma preocupação diz

respeito aos filhos e netos, pois preocupam-se com sua saúde e seu futuro.

O perfil aqui apresentado, em muitos aspectos não reflete a realidade da população

idosa de Pernambuco, aproxima-nos da realidade dos idosos que procuram programas do

tipo Universidades Abertas à Terceira Idade, que se constituem de fato em uma coorte

importante para investigação na área do envelhecimento.

Por apresentarem boa capacidade funcional, apontam-nos para a importância do

desenvolvimento, por parte do Programa, de atividades que visem a educação para o

autocuidado. É também de grande importância que se encontrem maneiras para ampliação

das atividades do Programa, de modo a contemplar idosos menos privilegiados sócio-

economicamente, esta possibilidade está em consonância com as proposições das ações

para o envelhecimento em todo o mundo, preconizadas para 1999, Ano Internacional do

Idoso.

Este estudo permite também o delineamento para futuras investigações.

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REVINTER, 1997. 2ª Ed/ Evans Calkins, Amasa b. Ford. Tradução de Ursula de

Almeida Rego Migon, p. 117-126.

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ANEXO 1

Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1994

Dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, cria o

Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I

Da Finalidade

Art. 1º A Política Nacional do Idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais

do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação

efetiva na sociedade.

Art. 2º Considera-se idoso, para todos os efeitos desta Lei, a pessoa maior de

sessenta anos de idade.

CAPÍTULO II

Dos Princípios e das Diretrizes

Seção I

Dos Princípios

Art. 3º A Política Nacional do Idoso reger-se-á pelos seguintes princípios:

I – a família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os

direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua

dignidade, bem-estar e o direito à vida;

II – o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser

objeto de conhecimento e informação para todos;

III – o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza;

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IV – o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem

efetivadas através desta política;

V – as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradições

entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas pelos poderes públicos e

pela sociedade em geral, na aplicação dessa Lei.

Seção II

Das Diretrizes

Art. 4º Constituem diretrizes da Política Nacional do Idoso:

I – viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do

idoso, que proporcionem sua integração às demais gerações;

II – participação do idoso, através de suas organizações representativas, na

formulação, implementação e avaliação das políticas, planos, programas e projetos a serem

desenvolvidos;

III – priorização do atendimento ao idoso através de suas próprias famílias, em

detrimento do atendimento asilar, à exceção dos idosos que não possuam condições que

garantam sua própria sobrevivência;

IV – descentralização político-administrativa;

V – capacitação e reciclagem dos recursos humanos nas áreas de geriatria e

gerontologia e na prestação de serviços;

VI – implementação de sistema de informações que permita a divulgação da

política, dos serviços oferecidos, dos planos, programas e projetos em cada nível do

governo;

VII – estabelecimento de mecanismos que favoreçam a divulgação de informações

de caráter educativo sobre os aspectos biopsicossociais do envelhecimento;

VIII – priorização do atendimento ao idoso em órgãos públicos e privados

prestadores de serviços, quando desabrigados e sem família;

IX – apoio a estudos e pesquisas sobre as questões relativas ao envelhecimento;

Parágrafo único. É vedada a permanência de portadores de doenças que necessitem

de assistência médica ou enfermagem em instituições asilares de caráter social.

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Capítulo III

Da Organização e Gestão

Art. 5º Competirá ao órgão ministerial responsável pela assistência e promoção

social a coordenação geral da Política Nacional do Idoso, com a participação dos conselhos

nacional, estaduais, do Distrito Federal e municipais do idoso.

Art. 6º Os conselhos nacional, estaduais, do Distrito Federal e municipais do idoso

serão órgãos permanentes, paritários e deliberativos, compostos por igual número de

representantes dos órgãos e entidades públicos e de organizações representativas da

sociedade civil ligadas à área.

Art. 7º Compete, aos conselhos de que trata o artigo anterior, a formulação,

coordenação, supervisão e avaliação da Política Nacional do Idoso, no âmbito das

respectivas instâncias político-administrativas.

Art. 8º À União, por intermédio do ministério responsável pela assistência e

promoção social, compete:

I – coordenar as ações relativas à Política Nacional do Idoso;

II – participar na formulação, no acompanhamento e na avaliação da Política

Nacional do Idoso;

III – promover as articulações intraministeriais e interministeriais necessárias à

implementação da Política Nacional do Idoso;

IV – (vetado)

V – elaborar a proposta orçamentária no âmbito da promoção e assistência social e

submetê-la ao Conselho Nacional do Idoso;

Parágrafo único. Os ministérios das áreas de saúde, educação, trabalho, previdência

social, cultura, esporte e lazer devem elaborar proposta orçamentária, no âmbito de suas

competências, visando ao financiamento de programas nacionais compatíveis com a

Política Nacional do Idoso;

Art. 9º (vetado)

Parágrafo único. (vetado)

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CAPÍTULO IV

Das Ações Governamentais

Art. 10º Na implementação da Política Nacional do Idoso, são competências dos

órgãos e entidades públicos:

I – na área de promoção e assistência social:

a) prestar serviços e desenvolver ações voltadas para o atendimento das

necessidades básicas do idoso, mediante a participação das famílias, da sociedade e de

entidades governamentais e não-governamentais.

b) estimular a criação de incentivos e de alternativas de atendimento ao idoso, como

centros de convivência, centros de cuidados diurnos, casas-lares, oficinas abrigadas de

trabalho, atendimentos domiciliares e outros;

c) promover simpósios, seminários e encontros específicos;

d) planejar, coordenar, supervisionar e financiar estudos, levantamentos, pesquisas

e publicações sobre a situação social do idoso;

e) promover a capacitação de recursos para atendimento ao idoso;

II – na área de saúde:

a) garantir ao idoso a assistência à saúde, nos diversos níveis de atendimento do

Sistema Único de Saúde;

b) prevenir, promover, proteger e recuperar a saúde do idoso, mediante programas e

medidas profiláticas;

c) adotar e aplicar normas de funcionamento às instituições geriátricas e similares,

com fiscalização pelos gestores do Sistema Único de Saúde;

d) elaborar normas de serviços geriátricos hospitalares;

e) desenvolver formas de cooperação entre as Secretarias de Saúde dos Estados, do

Distrito Federal, e dos Municípios e entre os Centros de Referência em Geriatria e

Gerontologia para treinamento de equipes interprofissionais;

f) incluir a Geriatria como especialidade clínica, para efeito de concursos públicos

federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais;

g) realizar estudos para detectar o caráter epidemiológico de determinadas doenças

do idoso, com vistas a prevenção, tratamento e reabilitação; e

h) criar serviços alternativos de saúde para o idoso.

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III – na área da educação:

a) adequar currículos, metodologias e material didático aos programas educacionais

destinados ao idoso;

b) inserir nos currículos mínimos, nos diversos níveis de ensino formal, conteúdos

voltados para o processo de envelhecimento, de forma a eliminar preconceitos e a produzir

conhecimentos sobre o assunto;

c) incluir a Gerontologia e a Geriatria como disciplinas curriculares nos cursos

superiores;

d) desenvolver programas educativos, especialmente nos meios de comunicação, a

fim de informar a população sobre o processo de envelhecimento;

e) desenvolver programas que adotem modalidades de ensino à distância,

adequados às condições do idoso;

f) apoiar a criação de universidade aberta para a terceira idade, como meio de

universalizar o acesso às diferentes formas do saber.

IV – na área de trabalho e previdência social:

a) garantir mecanismos que impeçam a discriminação do idoso quanto a sua

participação no mercado de trabalho, no setor público e privado;

b) priorizar o atendimento ao idoso nos benefícios previdenciários;

c) criar e estimular a manutenção de programas de preparação para aposentadoria

nos setores público e privado com antecedência mínima de dois anos antes do

afastamento.

V – na área de habitação e urbanismo:

a) destinar, nos programas habitacionais, unidades em regime de comodato ao

idoso, na modalidade de casas-lares;

b) incluir nos programas de assistência ao idoso formas de melhoria de condições

de habitabilidade e adaptação de moradia, considerando seu estado físico e sua

independência de locomoção;

c) elaborar critérios que garantam o acesso da pessoa idosa à habitação popular;

d) diminuir barreiras arquitetônicas e urbanas.

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VI – na área da justiça:

a) promover e defender os direitos da pessoa idosa;

b) zelar pela aplicação das normas sobre o idoso, determinando ações para evitar

abusos e lesões a seus direitos.

VII – na área de cultura, esporte e lazer:

a) garantir ao idoso a participação no processo de produção, reelaboração e fruição

dos bens culturais;

b) propiciar ao idoso o acesso aos locais e eventos culturais, mediante preços

reduzidos, em âmbito nacional;

c) incentivar os movimentos de idosos a desenvolver atividades culturais;

d) valorizar o registro da memória e a transmissão de informações e habilidades do

idoso aos mais jovens, como meio de garantir a continuidade e a identidade cultural;

e) incentivar e criar programas de lazer, esporte e atividades físicas que

proporcionem a melhoria da qualidade de vida do idoso e estimulem sua participação na

comunidade;

§ 1.º É assegurado ao idoso o direito de dispor de seus bens, proventos, pensões e

benefícios, salvo nos casos de incapacidade judicialmente comprovada.

§ 2.º Nos casos de comprovada incapacidade do idoso para gerir seus bens, ser-lhe-á

nomeado Curador especial em juízo.

§ 3.º Todo cidadão tem o dever de denunciar à autoridade competente qualquer forma de

negligência ou desrespeito ao idoso.

CAPÍTULO V

Do Conselho Nacional

Art. 11. ao Art. 18. (vetados)

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CAPÍTULO VI

Das Disposições Gerais

Art. 19. Os recursos financeiros necessários à implantação das ações afeta às áreas

de competência dos governos federal, estaduais, do Distrito Federal e municípios serão

consignados em seus respectivos orçamentos.

Art. 20. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de sessenta dias, a

partir da data de sua publicação.

Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 22. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 4 de janeiro de 1994, 173º da Independência e 106º da República.

Itamar Franco

Presidente

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ANEXO 2

DECRETO nº 1.948, de 03 julho de 1996

Regularmente a Lei nº 8.842, de 4 janeiro de 1994,

que Dispõe sobre Política Nacional do Idoso, e dá

outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art.

84, inciso IV e VI, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei nº 8.842, de 4 de

janeiro de 1994,

DECRETA:

Art. 1º Na implementação da Política Nacional do Idoso, as competências dos

órgãos e entidades públicas são as estabelecidas neste decreto.

Art. 2º Ao Ministério da Previdência e Assistência Social, pelos seus órgãos,

compete:

I – coordenar as ações relativas à Política Nacional do Idoso;

II – promover a capacitação de recursos humanos para atendimento ao idoso;

III – participar, em conjunto com os demais ministérios envolvidos, da formulação,

acompanhamento e avaliação da Política Nacional do Idoso;

IV – estimular a criação de formas alternativas de atendimento não-asilar;

V – promover eventos específicos para discussão das questões relativas à velhice e

ao envelhecimento;

VI – promover articulações inter e intraministeriais necessárias à implementação da

Política Nacional do Idoso;

VII – coordenar, financiar e apoiar estudos, levantamentos, pesquisas e publicações

sobre a situação social do idoso diretamente ou em parceria com outros órgãos;

VIII – fomentar juntos aos Estados, Distrito Federal, Municípios e organizações

não-governamentais a prestação da assistência social aos idosos nas modalidades asilar e

não-asilar.

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Art. 3º Entende-se por modalidade asilar o atendimento, em regime de internato, ao

idoso sem vínculo familiar ou sem condições de prover à própria subsistência de modo a

satisfazer as suas necessidades de moradia, alimentação, saúde e convivência social.

Parágrafo único. A assistência na modalidade asilar ocorre no caso da inexistência

do grupo familiar, abandono, carência de recursos financeiros próprios ou da própria

família.

Art. 4º Entende-se por modalidade não-asilar de atendimento:

I – Centro de Convivência: local destinado à permanência diurna do idoso, onde são

desenvolvidas atividades físicas, laborativas, recreativas, culturais, associativas e de

educação para a cidadania;

II – Centro de Cuidados Diurno: Hospital-Dia e Centro-Dia: local destinado à

permanência diurna do idoso dependente ou que possua deficiência temporária e necessite

de assistência médica ou de assistência multiprofissional;

III – Casa-Lar: residência, em sistema participativo, cedida por instituições públicas

ou privadas, destinadaS a idosos detentores de renda insuficiente para sua manutenção e

sem família;

IV – Oficina Abrigada de Trabalho: local destinado ao desenvolvimento, pelo

idoso, de atividades produtivas, proporcionando-lhe oportunidade de elevar sua renda,

sendo regida por normas específicas;

V – atendimento domiciliar: é o serviço prestado ao idoso que vive só e seja

dependente, a fim de suprir as suas necessidades da vida diária. Esse serviço é prestado em

seu próprio lar, por profissionais da área de saúde ou por pessoas da própria comunidade;

VI – outras formas de atendimento: iniciativas surgidas na própria comunidade, que

visem à promoção e à integração da pessoa idosa na família e na sociedade.

Art. 5º Ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) compete:

I – dar atendimento preferencial ao idoso, especificamente nas áreas do Seguro

Social, visando à habilitação e à manutenção dos benefícios, exame médico pericial,

inscrição de beneficiários, serviço social e setores de informações;

II – prestar atendimento, preferencialmente, nas áreas da arrecadação e fiscalização

visando à prestação de informações e ao cálculo de contribuições individuais;

III – estabelecer critérios para viabilizar o atendimento preferencial ao idoso.

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Art. 6º Compete ao INSS esclarecer o idoso sobre os seus direitos previdenciários e

os meios de exercê-los.

§ 1º O serviço social atenderá, prioritariamente, nos Postos do Seguro Social, os

beneficiários idosos em via de aposentadoria.

§ 2º O serviço social, em parceria com órgãos governamentais e não-

governamentais, estimulará a criação e a manutenção de programas de preparação para

aposentadorias, por meio de assessoramento às entidades de classe, instituições de natureza

social, empresas e órgãos públicos, por intermédio das suas respectivas unidades de

recursos humanos.

Art. 7º Ao idoso aposentado, exceto por invalidez , que retornar ao trabalho nas

atividades abrangidas pelo Regime Geral de Previdência Social, quando acidentado no

trabalho, será encaminhado ao Programa de Reabilitação do INSS, não fazendo jus a outras

prestações de serviço, salvo às decorrentes de sua condição de aposentado.

Art. 8º Ao Ministério do Planejamento e Orçamento, por intermédio da Secretaria

de Política Urbana, compete:

I – buscar, nos programas habitacionais com recursos da União ou por ela geridos, a

observância dos seguintes critérios:

a) identificação, dentro da população alvo destes programas, da população idosa e

suas necessidades habitacionais;

b) alternativas habitacionais adequadas para a população idosa identificada;

c) previsão de equipamentos urbanos de uso público que também atendam as

necessidades da população idosa;

d) estabelecimento de diretrizes para que os projetos eliminem barreiras

arquitetônicas e urbanas, que utilizam tipologias habitacionais adequadas para a população

idosa identificada;

II – promover gestões para viabilizar linhas de crédito visando ao acesso a moradias

para o idoso, junto:

a) às entidades de crédito habitacional;

b) aos Governos Estaduais e do Distrito Federal;

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c) e outras entidades públicas ou privadas, relacionadas com os investimentos

habitacionais;

III- incentivar e promover, em articulação com os Ministérios da Educação e do

Desporto, da Ciência e Tecnologia, da Saúde e junto às instituições de ensino e pesquisa,

estudos para aprimorar as condições de habitabilidade para os idosos, bem como sua

divulgação e aplicação aos padrões habitacionais vigentes;

IV – estimular a inclusão na legislação de:

a) mecanismos que induzam a eliminação de barreiras arquitetônicas para o idoso,

em equipamentos urbanos de uso público;

b) adaptação em programas habitacionais no seu âmbito de atuação, dos critérios

estabelecidos no inciso I deste artigo.

Art. 9º Ao Ministério da Saúde, por intermédio da Secretaria de Assistência à

Saúde, em articulação com as Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios, compete:

I – garantir ao idoso a assistência integral à saúde, entendida como o conjunto

articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos nos diversos níveis de

atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS);

II – hierarquizar o atendimento ao idoso a partir das Unidades Básicas e da

implantação da Unidade de Referência com equipe multiprofissional e interdisciplinar de

acordo com as normas específicas do Ministério da Saúde;

III – estruturar Centros de Referência de acordo com as normas específicas do

Ministério da Saúde com características de assistência à saúde, de pesquisa, de avaliação e

de treinamento;

IV – garantir o acesso à assistência hospitalar;

V – fornecer medicamentos, órteses e próteses, necessários à recuperação e

reabilitação da saúde do idoso;

VI – estimular a participação do idoso nas diversas instâncias de controle social do

Sistema Único de Saúde;

VII – desenvolver política de prevenção para que a população envelheça mantendo

um bom estado de saúde;

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VIII – desenvolver e apoiar programas de prevenção, educação e promoção da

saúde do idoso de forma a:

a) estimular a permanência do idoso na comunidade, junto à família,

desempenhando papel social ativo, com a autonomia e independência que lhe for própria;

b) estimular o auto-cuidado e o cuidado informal;

c) envolver a população nas ações de promoção da saúde do idoso;

d) estimular a formação de grupos de auto-ajuda, de grupos de convivência, em

integração com outras instituições que atuam no campo social;

e) produzir e difundir material educativo sobre a saúde do idoso;

IX – adotar e aplicar normas de funcionamento às instituições geriátricas e

similares, com fiscalização pelos gestores do Sistema Único de Saúde;

X – elaborar normas de serviços geriátricos hospitalares e acompanhar a sua

implementação;

XI – desenvolver formas de cooperação entre as Secretarias de Saúde dos Estados,

do Distrito Federal, dos Municípios, as organizações não-governamentais e entre os

Centros de Referência em Geriatria e Gerontologia, para treinamento dos

profissionais de saúde;

XII – incluir a Geriatria como especialidade clínica, para efeito de concursos

públicos federais;

XIII – realizar e apoiar estudos e pesquisas de caráter epidemiológico visando a

ampliação do conhecimento sobre o idoso e subsidiar as ações de prevenção,

tratamento e reabilitação;

XIV – estimular a criação, na rede de serviços do Sistema Único de Saúde, de

Unidade de Cuidados Diurnos (Hospital-Dia, Centro-Dia), de atendimento

domiciliar e outros serviços alternativos para o idoso.

Art. 10. Ao Ministério da Educação e do Desporto, em articulação com órgãos

federais, estaduais e municipais de educação, compete:

I – viabilizar a implantação de programa educacional voltado para o idoso, de modo

a atender o inciso III do art. 10 da Lei nº 8.842, de janeiro de 1994;

II – incentivar a inclusão nos programas educacionais de conteúdo sobre o processo

de envelhecimento;

III – estimular e apoiar a admissão do idoso na universidade, propiciando a

integração intergeracional;

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IV – incentivar o desenvolvimento de programas educativos voltados para a

comunidade, ao idoso e sua família, mediante os meios de comunicação de massa;

V – incentivar a inclusão de disciplinas de Gerontologia e Geriatria nos currículos

dos cursos superiores.

Art. 11. Ao Ministério do Trabalho, por meio de seus órgãos, compete garantir

mecanismos que impeçam a discriminação do idoso quanto à sua participação no

mercado de trabalho.

Art. 12. Ao Ministério da Cultura compete, em conjunto com os seus órgãos e

entidades vinculadas, criar programa de âmbito nacional, visando a:

I – garantir ao idoso a participação no processo de produção, reelaboração e fruição

dos bens culturais;

II – propiciar ao idoso o acesso aos locais e eventos culturais, mediante preços

reduzidos;

III – valorizar o registro da memória e a transmissão de informações e habilidades

do idoso aos mais jovens, como meio de garantir a continuidade e a identidade

cultural;

IV – incentivar os movimentos de idosos a desenvolver atividades culturais.

Parágrafo único: Às entidades vinculadas do Ministério da Cultura, no âmbito de

suas respectivas áreas afins, compete a implementação de atividades específicas,

conjugadas à Política Nacional do Idoso.

Art. 13. Ao Ministério da Justiça, por intermédio da Secretaria dos Direitos da

Cidadania, compete:

I – encaminhar as denúncias ao órgão competente do Poder Executivo ou do

Ministério Público para defender os direitos da pessoa idosa junto ao Poder

Judiciário;

II – zelar pela aplicação das normas sobre o idoso determinando ações para evitar

abusos e lesões a seus direitos.

Parágrafo único. Todo cidadão tem o dever de denunciar à autoridade competente,

qualquer forma de negligência ou desrespeito ao idoso.

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Art. 14. Os Ministérios que atuam nas áreas de habitação e urbanismo, de saúde, de

educação e desporto, de trabalho, de previdência e assistência social, de cultura e da

justiça deverão elaborar proposta orçamentária, no âmbito de suas competências,

visando ao financiamento de programas compatíveis com a Política Nacional do

Idoso.

Art. 15. Compete aos Ministérios envolvidos na Política Nacional do Idoso, dentro

das suas competências, promover a capacitação de recursos humanos volatdos ao

atendimento do idoso.

Parágrafo único. Para viabilizar a capacitação de recursos humanos, os Ministérios

poderão firmar convênios com instituições governamentais e não-governamentais,

nacionais, estrangeiras ou internacionais.

Art. 16. Compete ao conselho Nacional da Seguridade Social e aos conselhos

setoriais, no âmbito da seguridade, a formulação, coordenação, supervisão e

avaliação da Política Nacional do Idoso, respeitadas as respectivas esferas de

atribuições administrativas.

Art. 17. O idoso terá atendimento preferencial nos órgãos públicos e privados

prestadores de serviços à população.

Parágrafo único. O idoso que não tenha meios de prover a sua própria subsistência,

que não tenha família ou cuja família não tenha condições de prover a sua

manutenção., terá assegurada a assistência asilar pela União, pelos Estados, pelo

Distrito Federal e pelos Municípios, na forma da lei.

Art. 18. Fica proibida a permanência em instituições asilares, de caráter social, de

idosos portadores de doenças que exijam assistência médica permanente ou de

assistência de enfermagem intensiva, cuja falta possa agravar ou por em risco sua

vida ou a vida de terceiros.

Parágrafo único. A permanência ou não do idoso doente em instituições asilares, de

caráter social, dependerá de avaliação médica prestada pelo serviço de saúde local.

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Art. 19. Para implementar as condições estabelecidas no artigo anterior, as

instituições asilares poderão firmar contratos ou convênios com o Sistema de Saúde

local.

Art. 20. Este decreto entra em vigor na data da sua publicação.

Brasília, 3 de julho de 1996; 175º da Independência e 108º da República.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Nelson A. Jobim

Paulo Renato Souza

Francisco Weffort

Paulo Paiva

Adib Jatene

Antônio Kandir

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ANEXO 3

Seções I, III, IV, V, VI e VIII do Questionário Brazil Old Age Schedule - BOAS

Número do Questionário: _________________________

Nome do Entrevistado: _________________________________________

Endereço (Rua, Av.): ___________________________________________

Bairro: _____________________________ Cidade: __________________

CEP: ____________ - _________ Telefone: ________________

Nome do Entrevistador: ________________________________________

Data da Entrevista: _______/_______/_________

I. INFORMAÇÕES GERAIS

1. Sexo do Entrevistado:

Entrevistador: indique o sexo da pessoa entrevistada

1. Masculino

2. Feminino

2. Quantos anos o(a) Sr.(a) tem?

.......... anos

98. N.S./N.R.

3. Em que país o(a) Sr.(a) nasceu?

Entrevistador: se 1(Brasil) vá para a Q. 3a., 2 (outros países) vá para Q. 4 e marque N.A. na Q. 3a.

1. Brasil

2. Outros países (especificar) ..............................................................

8. N.S./N.R.

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3a. Em que Estado do Brasil o(a) Sr.(a) nasceu?

Nome do Estado ..........................................................................

1. Região Norte

2. Região Nordeste

3. Região Sudeste

4. Região Sul

5. Região Centro-Oeste

7. N.A.

8. N.S./N.R.

4. Há quanto tempo (anos) o(a) Sr.(a) mora nesta cidade? ............. (número de anos)

98. N.S./N.R.

5. O Sr.(a) sabe ler e escrever?

1. Sim

2. Não (Vá para Q. 7 e marque N.A. na Q. 6)

8. N.S./N.R.

6. Qual é a sua escolaridade?

1. Nenhuma

2. Primário incompleto

3. Primário completo

4. Ginásio ou 1 grau completo

5. 2 grau completo (científico, técnico ou equivalente)

6. Curso superior completo

7. N.A.

8. N.S./N.R.

6. Atualmente qual é o seu estado conjugal?

Entrevistador: marque apenas uma alternativa

1. Nunca casou (Vá para a Q. 8 e marque N.A. nas Qs. 7a. e 7b.)

2. Casado/morando junto

3. Viúvo (a) (Vá para Q.8 e marque N.A. nas Qs. 7a. e 7b.)

4. Divorciado(a)/separado(a) (Vá para Q.8 marque N.A. nas Qs 7a e 7b .)

8. N.S./N.R.

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139

7a. Há quanto tempo o(a) Sr.(a) está casado(a)/morando junto(a)?

Entrevistador: a pergunta se refere ao casamento atual

............. (número de anos)

97. N.A.

98. N.S./N.R.

7b. Qual é a idade de sua (seu) esposa (o)?

.............. anos de idade

97. N.A.

98. N.S./N.R.

8. O Sr.(a) teve filhos? (em caso positivo, quantos?)

Entrevistador: especifique o número de filhos/filhas

............ ( número total de filhos/as)

00. nenhum

98. N.S./N.R.

9. Quantas pessoas vivem com o(a) Sr.(a) nesta casa?

........... pessoas

00. Entrevistado(a) mora só (Vá para Q. 10 e marque N.A. na Q. 9a)

98. N.S./N.R.

9a.Quem são essas pessoas?

Entrevistador: para cada categoria de pessoas indicada pelo entrevistado marque a resposta SIM

SIM NÃO NA NS/NR

a. Esposo(a)/companheiro(a) 1 2 7 8

b. Pais 1 2 7 8

c. Filhos 1 2 7 8

d. Filhas 1 2 7 8

e. Irmãos/irmãs 1 2 7 8

f. Netos(as) 1 2 7 8

g. Outros parentes 1 2 7 8

h. Outras pessoas (não parentes) 1 2 7 8

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10.Como o(a) Sr.(a) se sente em relação à sua vida em geral?

Entrevistador: leia p/ o entrevistado as alternativas listadas. Marque apenas 1 opção.

1. Satisfeito(a) (Vá para a Q. 11 e marque N.A. na Q. 10a.)

2. Insatisfeito(a)

8. N.S./N.R.

10a. Qual é o principal motivo de sua insatisfação com sua vida?

Entrevistador: não leia para o entrevistado as alternativas listadas.

01. Problema econômico

02. Problema de saúde

03. Problema de moradia

04. Problema de transporte

05. Conflito nos relacionamentos pessoais

06. Falta de atividades

07. Outro problema (especificar) ...........................................................

97. N.A.

98. N.S./N.R.

III. UTILIZAÇÃO DE SERVICOS MÉDICOS E DENTÁRI OS

Agora , eu gostaria de lhe perguntar sobre os serviços médicos que o (a) Sr. (a) tem o

direito de usar.

26. Quando o Sr.(a) está doente ou precisa de atendimento médico, onde ou a quem o Sr. (a)

normalmente procura ?

Entrevistador: marque apenas uma alternativa.

Nome de onde ou a quem procura ........................................

01. A instituição pública que o entrevistado tem direito de utilizar

02. Médico/Clínicas particulares

03. Médicos/hospitais credenciados pelo seu Plano de Saúde

04. Outros (especificar) ..............................

9. N.S./N.R.

Page 134: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

141

27. Nos últimos três meses, o(a) Sr. (a) :

SIM NÃO NS/NR

a. Consultou o médico no consultório ou em casa 1 2 8

b. Fez exames clínicos 1 2 8

c. Fez tratamento fisioterápico 1 2 8

d. Teve de ser socorrido(a) na Emergência 1 2 8

e. Foi ao hospital/clínica para receber medicação 1 2 8

f. Esteve internado em hospital 1 2 8

g. Foi ao dentista 1 2 8

27a. Dos serviços acima, qual (is) o (a) Sr. (a) utilizou mais de uma vez ?

Entrevistador: repita para o (a) entrevistado (a) apenas os itens citados na pergunta acima como

utilizados. Para os não utilizados marque NÃO.

SIM NÃO NS./N.R

a . Consultou o médico no consultório ou em casa 1 2 8

b . Fez exames clínicos 1 2 8

c . Fez tratamento fisioterápico 1 2 8

d . Teve de ser socorrido (a) na Emergência 1 2 8

e . Foi ao hospital/clínica para receber medicação 1 2 8

f . Esteve internado em hospital ou clínica 1 2 8

g . Foi ao dentista 1 2 8

28. O (a) Sr. (a) está satisfeito com os serviços médicos que utiliza normalmente ?

1. Sim

2. Não

8. N.S./N.R.

Page 135: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

142

29. Em geral, quais os problemas que mais lhe desagradam quando o (a) Sr. (a) utiliza os

serviços médicos ?

Entrevistador: não leia para o(a) entrevistado(a) as alternativas listadas. Classifique as respostas nas categorias listadas, de acordo com as instruções do Manual para esta pergunta. Na dúvida, registre a resposta do entrevistado no item 08. Outros problemas. 00 . O (a) entrevistado (a) não relata problemas.

01 . O custo dos serviços médicos

02 . O custo dos medicamentos que são prescritos

03 . Os exames clínicos que são prescritos

04 . A demora para a marcação da consulta/exame

05 . O tempo de espera para ser atendido (a) no consultório

06 . O tratamento oferecido pelos médicos

07 . O tratamento oferecido pelo pessoal não médico

08 . Outros problemas ( especificar ) ..............................................

30 . Quando o (a) Sr. (a) necessita de tratamento dentário, onde ou a quem o (a) Sr. (a)

normalmente procura ?

Entrevistador: classifique a resposta do (a) entrevistado e marque apenas uma alternativa.

Nome de onde ou a quem procura .......................................................... 0. Ninguém ou o entrevistado não procura o dentista há muito

tempo. (Vá para Q.31 e marque N.A. na Q.30 a.)

1 . Serviços dentário de uma instituição pública gratuita.

2 . Serviço dentário credenciado pelo seu plano de saúde

3 . Dentista particular

4 . Outros ( especificar ) ..................................................................

8 . N.S./N. R

30a. O (a) Sr. (a) está satisfeito (a) com o serviço dentário que utiliza ?

1 . Sim

2 . Não

7 . N.A.

8 . N.S./N.R.

Page 136: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

143

31. Por favor , diga-me se o (a) Sr. (a) normalmente usa :

SIM NÃO NS./N.R

a. Dente postiço, dentadura , ponte 1 2 8

b. Óculos ou lentes de contato 1 2 8

c. Aparelho para surdez 1 2 8

d. Bengala 1 2 8

e. Muleta 1 2 8

f. Cadeira de rodas 1 2 8

g. Outros 1 2 8

31a. Atualmente, o (a) Sr. (a) está precisando trocar alguma destas ajudas ?

Entrevistador : Leia para o (a) entrevistado (a) apenas as ajudas mencionadas na questão anterior. Marque as respostas correspondentes.

SIM NÃO NS/NR

a. Dente postiço, dentadura, ponte 1 2 8

b . Óculos ou lentes de contato 1 2 8

c . Aparelho para surdez 1 2 8

d . Bengala 1 2 8

e . Muleta 1 2 8

f . Cadeira de rodas 1 2 8

g . Outros 1 2 8

32. O (a) Sr. (a) toma remédios ?

1 . Sim

2 . Não ( Vá para Q.33 e marque N. A . nas Qs. 32a. e 32b. )

8 N.S./N.R.

32a. Quem receita ?

1 . Médico

2 . Farmacêutico

3 . Amigos/familiares/propaganda

4 . Outros

7. N.A.

8. N.S./N.R

Page 137: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

144

32b. Em geral qual é o problema ou a dificuldade mais importante que o (a) Sr. (a) tem para

obter os remédios que toma regularmente ?

0 . O (a) entrevistado (a) não tem problema para obter o remédio

1 . Problema financeiro

2 . Dificuldade em encontrar o remédio na farmácia

3 . Dificuldade em obter a receita de remédios controlados

4 . Outro problema ou dificuldade ( especifique ) ................................

7. N.A.

8 . N.S./N.R.

33. No caso do(a) Sr.(a) ficar doente ou incapacitado (a), q. pessoa poderia cuidar do (a)

Sr. (a) ?

0 . Nenhuma

1 . Esposo (a) / Companheiro (a)

2 . Filho

3 . Filha

4 . Outra pessoa da família

5 . Outra pessoa de fora da família ( indique qual )............................

8 . N.S./N.R.

Page 138: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

145

IV . ATIVIDADES DA VIDA DIÁRIA ( AVD )

Eu vou ler para o (a) Sr. (a) uma lista de atividades que as pessoas normalmente tem

de fazer durante o dia. Para cada pergunta eu gostaria de saber se o (a) Sr. (a) é capaz

de desempenhar estas atividades sozinho (a) sem precisar de ajuda de alguém. Vamos

às perguntas ?

34. O(a) Sr.(a) é capaz de:

Entrevistador: leia para o entrevistado todas as perguntas e marque as alternativas correspondentes. No caso do entrevistado ter colostomia ou usar cateter, marque NÃO em “o”) SIM NÃO NS/NR

a . Sair de casa para médias distâncias (necessário o uso de transporte)

1 2 8

b . Sair para curtas distâncias (pequenas compras no armazém)

1 2 8

c . Preparar sua própria refeição 1 2 8

d . Realizar as atividades domésticas (arrumar e manter a casa em ordem)

1 2 8

e . Tomar seus remédios 1 2 8

f . Comer sua comida 1 2 8

g . Vestir-se sozinho 1 2 8

h . Pentear / escovar seus cabelos 1 2 8

i . Caminhar em superfície plana 1 2 8

j . Subir escada 1 2 8

k . Deitar e levantar da cama sozinho 1 2 8

l . Tomar banho sozinho 1 2 8

m . Cortar as unhas dos pés 1 2 8

n . Pegar ônibus 1 2 8

o . Ir ao banheiro em tempo 1 2 8

35. Há alguém que ajuda o (a) Sr. (a) a fazer algumas tarefas como limpeza arrumação a

casa, vestir-se, ou dar recados quando precisa ?

1 . Sim

2 . Não ( Vá para Q.36 e marque N.A. na Q.35a. )

8. N.S./ N.R.

Page 139: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

146

35a. Qual a pessoa que mais lhe ajuda nessas tarefas ?

Entrevistador : marque apenas uma alternativa.

1 . Esposo (a) / companheiro (a)

2 . Filho

3 . Filha

4 . Uma outra pessoa da família

5 . Um (a) empregado (a)

6 . Outro ( quem ? ) .............................................................

7 . N.A.

8 . N.S./N. R.

36. No seu tempo livre o (a) Sr. (a) faz ( participa de ) alguma dessas atividades ?

Entrevistador: leia para o entrevistado todas as perguntas e marque as alternativas correspondentes. SIM NÃO NS/NR

a . Ouvir rádio 1 2 8

b . Assistir a televisão 1 2 8

c . Ler jornal 1 2 8

d . Ler revistas e livros 1 2 8

e . Receber visitas 1 2 8

f . Ir ao cinema, teatro, etc. 1 2 8

g . Andar pelo seu bairro 1 2 8

h . Ir à Igreja (serviço religioso) 1 2 8

i . Ir a jogos (esportes) 1 2 8

j . Participar de jogos(esportes) 1 2 8

k . Fazer as compras 1 2 8

l . Sair para visitar os amigos 1 2 8

m . Sair para visitar os parentes 1 2 8

n . Sair para passeios longos ( excursão ) 1 2 8

o . Sair para encontro social ou comunitário 1 2 8

p . Coser , bordar, tricotar 1 2 8

q . Alguma atividade para se distrair ( jogos carta, xadrez, jardinagem, etc. )

1 2 8

r. Outros ( especificar ) .................................... 1 2 8

Page 140: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

147

37 . O (a) Sr. (a) está satisfeito (a) com as atividades que desempenha no seu tempo livre ?

1 . Sim ( Vá para Q. 38 e marque N.A. na Q. 37a. )

2 . Não

8. N.S./N.R.

37a. Qual é o principal motivo de sua insatisfação com as atividades que o (a ) Sr. (a)

desempenha no seu tempo livre ?

(Entrevistador : marque apenas uma alternativa)

1 . Problema com o custo

2 . Problema de saúde que o (a) impede de se engajar em uma atividade

3 . Problema com falta de motivação em fazer coisas ( tédio, aborrecimento )

4 . Problema de transporte que limita seu acesso aos lugares que deseja ir

5 . Outras razões ( especificar ) .............................................................................

7. N.A.

8. N.S./N.R.

V. RECURSOS SOCIAIS

Nesta seção, eu gostaria de lhe fazer algumas perguntas a respeito de suas relações de

amizade com as outras pessoas e a respeito de recursos que as pessoas idosas podem usar na

sua comunidade.

38. O(a) Sr.(a) está satisfeito com o relacionamento que tem coma as pessoas que moram

com o(a) Sr.(a)?

0. Entrevistado mora só

1. Sim

2. Não

8. N.S./N.R.

Page 141: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

148

39. Que tipo de ajuda ou assistência sua família lhe oferece? ( familiares que vivem/ ou

que não vivem com o(a) entrevistado(a)).

Entrevistador: leia para o entrevistado as alternativas listadas.

SIM NÃO NS/NR

a. Dinheiro 1 2 8

b. Moradia 1 2 8

c. Companhia/ cuidado pessoal 1 2 8

d. Outro tipo de cuidado/ assistência (especificar).........................................................

1 2 8

40. Que tipo de ajuda ou assistência o Sr.(a) oferece para sua família?

Entrevistador: Leia para o entrevistado as alternativas listadas.

SIM NÃO NS/NR

a. Dinheiro 1 2 8

b. Moradia 1 2 8

c. Companhia/ cuidado pessoal 1 2 8

d. Cuidar de crianças 1 2 8

e. Outro tipo de cuidado/ assistência

(especificar) ..........................................................

1 2 8

41. O(a) Sr.(a) está satisfeito com o relacionamento que tem com seus amigos?

0. Entrevistado(a) não tem amigos

1. Sim

2. Não

8. N.S./N.R.

42. O(a) Sr.(a) está satisfeito(a) com o relacionamento que tem com seus vizinhos?

0. Entrevistado(a) não tem relação com os vizinhos

1. Sim

2. Não

8. N.S,/N.R.

Page 142: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

149

43. Na semana passada o(a) Sr.(a) recebeu visita de alguma destas pessoas?

SIM NÃO NS/NR

a. Vizinhos/ amigos 1 2 8

b. Filhos (as) 1 2 8

c. Outros familiares 1 2 8

d. Outros (especificar)............................................. 1 2 8

V. RECURSOS ECONÔMICOS

44.Que tipo de trabalho(ocupação) o(a) Sr.(a) teve durante a maior parte de sua vida?

Entrevistador: Anote o tipo de trabalho ........................................................................................ 01. Nunca trabalhou ( Vá para Q. 45 e marque N.A. nas Qs. 44a. , 44b. e 44c.)

02. Dona de casa (Vá para Q.45 e marque N.A. nas Qs. 44a., 44b. e 44 c.)

98. N.S./N.R.

44 a. Por quanto tempo?

Número de anos: ........................... 97. N.A.

98. N.S./N.R.

44b. Com que idade o(a) Sr.(a) começou a trabalhar?

................anos 97. N.A.

98. N.S.?N.R.

44c. Com que idade o (a) Sr.(a) parou de trabalhar?

00. Entrevistado(a) ainda trabalha.

97. N.A.

98. N.S./N.R

Page 143: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

150

45. Atualmente o(a) Sr.(a) está:

(Entrevistador: leia para o(a) entrevistado(a) as alternativas listadas. Se ambas as respostas forem Não, vá para Q. 46 e marque N.A. na Q. 45a) SIM NÃO NS/NR

a. Recebendo aposentadoria 1 2 8

b. Recebendo pensão do cônjuge 1 2 8

45a. A sua aposentadoria/pensão é suficiente para suprir suas despesas ?

1. Sim

2. Não

97. N.A.

98. N.S./N.R

46.Eu vou ler algumas fontes de recebimento de dinheiro. O(a) Sr.(a) poderia me

dizer de onde o(a) Sr.(a) recebe regularmente o seu dinheiro?

SIM NÃO NS/NR

a. Trabalho(salário, negócios) 1 2 8

b. Pensão (aposentadoria/ benefício de seguro social) 1 2 8

c. Investimento, aluguéis, juros, dividendos, etc. 1 2 8

d. Dinheiro do cônjuge 1 2 8

e. Dinheiro dos filhos 1 2 8

f. Dinheiro de amigos/familiares 1 2 8

g. Outras fontes ......................... 1 2 8

47. Por favor, eu gostaria de saber qual a sua renda mensal. Não preciso saber o valor

exato, basta me dizer o valor aproximado do rendimento mensal que o(a) Sr.(a) recebe

regularmente.

Entrevistador: Caso haja mais de uma fonte, anote a soma destes valores. Atenção: valor líquido. Rendimento mensal _ _ _ _ _ 00. Sem rendimento

98. N.S./N.R.

Page 144: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

151

48. Por favor, agora eu gostaria de saber o total mensal dos rendimentos das pessoas que

vivem nesta residência. Não preciso saber o valor exato, basta dizer-me o valor

aproximado do rendimento mensal regularmente recebido pelas pessoas.

Entrevistador: se o entrevistado vive sozinho e tem rendimento, repita o valor informado na Q.47. Se o entrevistado vive sozinho e não tem rendimento, marque N.A. nesta questão e na Q.48a Rendimento mensal _ _ _ _ _ 97. N.A.

98. N.S./N.R.

48a Quantas pessoas, incluindo o(a) Sr.(a), vivem com esse rendimento familiar (do seu

rendimento)?

..................pessoas 97. N.A.

98. N.R./N.S.

49. Por favor, informe-me se em sua casa/apartamento existem ou estão funcionado em

ordem os seguintes itens:

Entrevistador: leia para o entrevistado as alternativas listadas.

SIM NÃO NS/NR

a. Água encanada 1 2 8

b. Eletricidade 1 2 8

c. Ligação com a rede de esgoto 1 2 8

d. Geladeira/congelador 1 2 8

e. Rádio 1 2 8

f. Televisão 1 2 8

g. Vídeo cassete 1 2 8

h. Computador 1 2 8

i. Telefone 1 2 8

j. Automóvel 1 2 8

Page 145: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

152

50. O (a) Sr.(a) é proprietário(a), aluga ou usa de graça o imóvel onde reside?

Entrevistador: para cada uma das três categorias(propriedade, aluguel ou usa de graça/ verifique em qual o entrevistado se enquadra, Especifique apenas uma alternativa. 1. Propriedade de pessoa entrevistada ou do casal

2. Propriedade do cônjuge do(a) entrevistado(a)

3. Alugado pelo entrevistado

4. Morando em residência cedida sem custo para o entrevistado

5. Outra categoria (especificar) .............................................................

8. N.S./N.R.

51. Em comparação a quando o (a) Sr.(a) tinha 50 anos de idade , a sua atual situação

econômica é:

Entrevistador: leia p/ o entrevistado as alternativas listadas. Marque apenas 1 opção.

1. Melhor

2. A mesma

3. Pior

8. N.S./N.R

52.Para suas necessidades básicas, o que o(a) Sr.(a) ganha:

Entrevistador: leia para o entrevistado as alternativas listadas de 1 a 4. Marque apenas uma opção. 1. Dá e sobra

2. Dá na conta certa

3. Sempre falta um pouco

4. Sempre falta muito

8. N.S./N.R.

Page 146: Universidade aberta à terceira idade (UnATI/UFPE): um perfil sócio

153

VIII. NECESSIDADES E PROBLEMAS QUE AFETAM O ENTREVI STADO

77. Atualmente (da lista abaixo), quais são as suas principais necessidades

(carências)?

Entrevistador: leia para o entrevistado todas as perguntas e marque as alternativas correspondentes. SIM NÃO NS/NR

a. Carência econômica 1 2 8

b. Carência de moradia 1 2 8

c. Carência de transporte 1 2 8

d. Carência de lazer 1 2 8

e. Carência de segurança 1 2 8

f. Carência de Saúde 1 2 8

g. Carência de alimentação 1 2 8

h. Carência de companhia e contato pessoal 1 2 8

78. Para finalizar esta entrevista, eu gostaria que o(a) Sr.(a) me informasse qual o

problema mais importante do seu dia a dia?

Entrevistador: anote apenas uma alternativa.

00. Entrevistado(a) não relata problemas importantes

01. Problema econômico

02. Problema de saúde (deterioração da saúde física ou mental)

03. O medo da violência

04. Problema de moradia

05. Problemas de transporte

06. Problemas familiares (conflitos)

07. Problemas de isolamento (solidão)

08. Preocupação com os filhos/netos

09. Outros problemas (especificar) .........................................................

98. N.S./N.R.