unidos na fé - boletim informativo do terreiro de mina nagô de xangô e josé tupinambá - nº 2 -...

2
Unidos na fé Boletim informativo do Terreiro de Mina Nagô de Xangô e José Tupinambá Ano 1 Nº 2 julho de 2012 página 01 BOLETIM INFORMATIVO DO TERREIRO DE MINA NAGÔ DE XANGÔ E JOSÉ TUPINAMBÁ TAPANÃ BELÉM PARÁ AMAZÔNIA BRASIL ANO I Nº 2 JULHO DE 2012 O Terreiro de Mina Nagô de Xangô e José Tupinambá comemorou, no dia 13 de julho, às 21h00, o aniversário da Cabocla do Pai Luciano, Dona Ita Taquara. A festa contou com a presença de vários amigos e filhos da Casa e foi conduzida pelos toques de louvação aos encantados das matas. Durante a solenidade, a Cabocla Ita agradeceu as homenagens recebidas, aos convidados presentes e, de modo especial, prestou sua gratidão à Dona Regina, pela fé, pela força e pelo trabalho que a esposa do Pai Luciano dedica a todos os encantados da Casa. O festejo encerrou-se por volta das 03h do dia seguinte (14) e marcou, também, a despedida de um grande amigo da Casa, o médium Estevão Júnior (vulgo “Faustão”), que, por motivo de trabalho, irá residir na cidade de Paragominas. CLIQUES DO ANIVERSÁRIO DA CABOCLA ITA TAQUARA Tríplice festejo No final da tarde do dia 24/06, ocorreu um Tríplice festejo no Terreiro de Mina Nagô de Xangô e José Tupinambá. Foi comemorado o Assentamento da Cabocla Jarina, a Festa de São João e o Lançamento do informativo. O evento contou com a participação dos filhos e amigos, destacando-se com a presença da mais nova filha da casa, Dona Heloísa. Os festejos começaram por volta das 18h30, com a queima da fogueira de São João. Em seguida, ocorreu o lançamento do "Unidos na fé" (Boletim informativo do Terreiro), sendo apresentado pelo seu editor-chefe Pai Marcel d'Oxá. Segundo Marcel, "o boletim além de ser um veículo de circulação de notícias do TMNXJT, é um instrumento de integração das Casas de Mina do Estado e procurará apresentar informações relevantes sobre as ações do povo de santo". Depois do lançamento do boletim, foi realizado um ritual de curimba em homenagem a Princesa Turca, Toya Jarina, recém assentada na casa de axé do Pai Luciano. A solenidade estendeu-se até às 21h00, culminando com o coquetel de comidas típicas, oferecidos aos convidados. (Foto: Maxuel Rocha) Informes No dia 10 de agosto (sexta), ocorrerá a 4ª edição do “Papo de Axé”, sob o tema “A polifonia do Senhor da terra”. O evento é aberto ao público e realizar-se-á às 19h, na Associação dos Filhos e Amigos do Ilê Iyá Omi Asé Ofá Karê AFAIA, situada no Conjunto Jardim Maguari, Alameda 24, n. 86. O nosso boletim e nosso blog (xangotupi.blogspot.com) está aberto para o envio de críticas, sugestões, informações de eventos ou textos. Enviem para o nosso e-mail ([email protected]) que nós publicaremos em nossas mídias; Por enquanto é só, axé odara a todos e até o mês que vem!

Upload: marcel-franco

Post on 30-Jul-2015

921 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Unidos na fé - Boletim Informativo do Terreiro de Mina Nagô de Xangô e José Tupinambá - Nº 2 - Julho/2012

Unidos na fé – Boletim informativo do Terreiro de Mina Nagô de Xangô e José Tupinambá – Ano 1 – Nº 2 – julho de 2012 – página 01

BOLETIM INFORMATIVO DO TERREIRO DE MINA NAGÔ

DE XANGÔ E JOSÉ TUPINAMBÁ

TAPANÃ BELÉM PARÁ AMAZÔNIA BRASIL

ANO I Nº 2

JULHO DE 2012

O Terreiro de Mina Nagô de Xangô e José Tupinambá comemorou, no dia

13 de julho, às 21h00, o aniversário da Cabocla do Pai Luciano, Dona Ita Taquara. A festa contou com a presença de vários amigos e filhos da Casa e foi conduzida pelos toques de louvação aos encantados das matas.

Durante a solenidade, a Cabocla Ita agradeceu as homenagens recebidas, aos convidados presentes e, de modo especial, prestou sua gratidão à Dona Regina, pela fé, pela força e pelo trabalho que a esposa do Pai Luciano dedica a todos os encantados da Casa.

O festejo encerrou-se por volta das 03h do dia seguinte (14) e marcou, também, a despedida de um grande amigo da Casa, o médium Estevão Júnior (vulgo “Faustão”), que, por motivo de trabalho, irá residir na cidade de Paragominas.

CLIQUES DO ANIVERSÁRIO DA CABOCLA ITA TAQUARA

Tríplice festejo

No final da tarde do dia 24/06, ocorreu um Tríplice festejo no Terreiro de

Mina Nagô de Xangô e José Tupinambá. Foi comemorado o Assentamento da

Cabocla Jarina, a Festa de São João e o Lançamento do informativo. O evento

contou com a participação dos filhos e amigos, destacando-se com a presença da

mais nova filha da casa, Dona Heloísa.

Os festejos começaram por volta das 18h30, com a queima da fogueira de

São João. Em seguida, ocorreu o lançamento do "Unidos na fé" (Boletim

informativo do Terreiro), sendo apresentado pelo seu editor-chefe Pai Marcel

d'Oxá. Segundo Marcel, "o boletim além de ser um veículo de circulação de

notícias do TMNXJT, é um instrumento de integração das Casas de Mina do Estado e procurará apresentar informações relevantes sobre as ações do povo de santo".

Depois do lançamento do boletim, foi realizado um

ritual de curimba em homenagem a Princesa Turca, Toya

Jarina, recém assentada na casa de axé do Pai Luciano. A

solenidade estendeu-se até às 21h00, culminando com o

coquetel de comidas típicas, oferecidos aos convidados.

(Foto: Maxuel Rocha)

Informes No dia 10 de agosto (sexta), ocorrerá a

4ª edição do “Papo de Axé”, sob o

tema “A polifonia do Senhor da terra”.

O evento é aberto ao público e

realizar-se-á às 19h, na Associação dos

Filhos e Amigos do Ilê Iyá Omi Asé Ofá

Karê – AFAIA, situada no Conjunto

Jardim Maguari, Alameda 24, n. 86.

O nosso boletim e nosso blog

(xangotupi.blogspot.com) está aberto

para o envio de críticas, sugestões,

informações de eventos ou textos.

Enviem para o nosso e-mail

([email protected]) que nós

publicaremos em nossas mídias;

Por enquanto é só, axé odara a todos e

até o mês que vem!

Page 2: Unidos na fé - Boletim Informativo do Terreiro de Mina Nagô de Xangô e José Tupinambá - Nº 2 - Julho/2012

Unidos na fé – Boletim informativo do Terreiro de Mina Nagô de Xangô e José Tupinambá – Ano 1 – Nº 2 – julho de 2012 – página 02

“CABOCLO NÃO TEM CAMINHO

PARA CAMINHAR!”1

Marcel Franco da Silva2

Caboclos, catiços, pés de vento, encantados, são, por

assim dizer, entidades espirituais de menor status3 do

panteão das religiões de matriz africana do Brasil. Essas entidades são cultuadas e manifestadas, via transe, não apenas nos cultos afros, mas, algumas delas, também se fazem presentes em outras matrizes religiosas, como espiritismo, pajelança cabocla etc. Todavia, o enfoque dessa explanação se concentrará sobre os aspectos mais comuns dessas entidades cultuadas em certas religiões brasileiras.

Numa tentativa de reduzir as diferenças entre catiços bantu, caboclos nagôs e turcos “mineiros

4”, julgo louvável

denominá-los, coletivamente, como “encantados”. Por definição, “encantados, ao contrário dos santos, são seres humanos que não morreram, mas se encantaram” (MAUÉS, 2001), foram conduzidos para um plano espiritual desconhecido por nós (“Aruanda”), são incorporados via transe e têm a função de socorrer as nossas necessidades humanas e espirituais.

Desse modo, entendo que o papel do encantado é tão importante quanto o das entidades de maior status (orixás, voduns e inkises). Para cada um deles há uma função específica, sendo que ambos mantêm uma rede de colaboração: o orixá ajuda o encantado, o encantado ajuda o orixá e ambos ajudam o ser humano na Terra. Para entendermos a função das entidades de maior e menor status, é só refletimos sobre a função do rei e dos nobres, ou seja, nem sempre (ou raramente) um plebeu (nós) pode requer algo à Majestade (orixás), mas (comumente) podemos ir à duque, barão (encantados) solicitar algum benefício.

Muitos estudiosos e pessoas do santo costumam sustentar a existência de grandes diferenças entre caboclos do Candomblé, Umbanda e Mina (FERRETTI, 1993, p. 65), todavia, eu, enquanto filho e pesquisador do axé, procuro o que nos mantêm coesos, fortalecidos na fé em Nzambi-Olorum-Mawu. Não nego as diferenças existentes entre as entidades cultuadas em cada vertente afro, mas evito proclamá-las como grandes, criando, com isso, hierarquias indevidas

5. Se os caboclos de Mina têm história (mítica) e

1 Extratos da comunicação oral apresentada na 3ª edição do “Papo

de Axé”, tema “Baixou na guma: caboclos, catiços e encantados”, realizado no dia 06 de julho de 2012, na Associação dos Filhos e Amigos do Ilê Iyá Omi Asé Ofá Karê (Conjunto Maguary, Alameda 24, n. 86, Belém/PA), dirigida pelo Babalorixá Edson Catendê. 2 Licenciado pleno em Letras pela Universidade do Estado do Pará

(UEPA), mestrando em Ciências da Religião na referida instituição,

membro do Grupo de Pesquisa “Religiões de Matriz Africana na Amazônia” (GERMAA), Pai-pequeno e Conselheiro Espiritual do Terreiro de Mina Nagô de Xangô e José Tupinambá. E-mail: [email protected]. 3 Voduns, orixás, inkises são as entidades de maior status panteão

dos cultos afro-brasileiro. Caboclos, catiços e encantados são “entidades espirituais que começaram a ser conhecidas pelos negros no Brasil” (FERRETTI, 1993, p. 25), muito depois, é claro, da firmação do culto aos “santos afros”. 4 Emprego o termo como adjetivo para as entidades cultuadas no

Tambor de Mina da Amazônia. 5 Equivocadamente, costumam colocar caboclos do candomblé

acima dos caboclos da Mina, quando, na verdade, todos estes estão no mesmo patamar no panteão das religiões de matriz africana do Brasil.

família, igualmente têm os caboclos do Candomblé (IDEM, p. 76). Ambos falam o idioma nativo do Brasil, recebem assentamento, comidas, imolação de animais, homenagens em festas e “estão sempre prontos para atender a alguém que precise deles” (IDEM, p. 77).

Ora, o que apresento, ou melhor, pratico e defendo é um culto sincrético que acolhe entidades oriundas de diversos grupos étnicos e religiões de matriz africana. Os encantados não estão presos a nenhuma denominação religiosa e são suscetíveis a adaptação conforme o contexto em que se manifestam. Posso dizer, seguramente, que não só na Mina, mas no Candomblé, na Umbanda, é possível acomodar caboclos, catiços e encantados em pé de igualdade. Além disso, quero destacar que o trânsito de encantados (mina – candomblé; candomblé – mina; umbanda – mina; umbanda – candomblé; etc) é um fenômeno que tenho visualizado há muitos anos, que existe, por exemplo, no Ilê Iyá Omi Asé Ofá Karê (dirigido pelo Bábà Edson Silva Barbosa).

Hoje em dia há um grande movimento das pessoas do santo contra a intolerância religiosa, quando, na verdade, deveria haver uma reflexão interna sobre a intolerância entre os cultos de matriz africana. Certas famílias de axé defendem a ideia de que não se pode misturar/confundir Caboclo de Mina com o Caboclo de Candomblé e que ambos devem ser cultuados separadamente, como se houvesse alguma especialidade nisso. Todavia, isso é um representativo de uma pseudo-pureza que querem trazer para dentro da religião afro-brasileira. “O sincretismo é um fenômeno que existe em todas as religiões, (...), quer gostemos ou não” (FERRETTI, 1995, p. 91).

Como diz a doutrina, “caboclo não tem caminho para caminhar”, caminha no Candomblé, na Mina, na Umbanda, em qualquer lugar! Ou defendemos um culto plural, admitindo entidades de diversas matrizes afro-religiosas ou então vamos dar um grande “viva” a intolerância religiosa dentro de nossas Casas de Santo.

REFERÊNCIAS FERRETTI, Mundicarmo. Desceu na guma: o caboclo no Tambor de Mina no processo de mudança de um terreiro de São Luís – a Casa de Fanti-Ashanti. São Luís: SIOGE, 1993. FERRETTI, Sérgio. Repensando o Sincretismo. São Paulo/São Luís: EDUSP/FAPEMA, 1995. MAUÉS, Raymundo Heraldo. Um aspecto da diversidade cultural do caboclo amazônico: a religião. IN: VIEIRA, Célia Guimarães et al. (orgs.). Diversidade biológica da Amazônia. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2001. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142005000100016. Acesso em: 02 jun 2012

V INHA CAMINHANDO PELA ESTRADA

QUANDO UM VELHO ENCONTREI !

ELE ME ABENÇOOU

ERA OMULU, O VELHO ATOTÔ!

TMNXJT TERREIRO DE MINA NAGÔ DE

XANGÔ E JOSÉ TUPINAMBÁ

Fundação: 30/09/1983

Dirigente: Luciano de Xangô

Conselheiro espiritual: Marcel de Oxalá

RUA DAS VIOLETAS, Nº 124, 66.825-350, TAPÃNÃ, BELÉM, PA.

FONE: (91) 3288-3073

BLOG: xangotupi.blogspot.com E-MAIL: [email protected]