unidades de conservaÇÃo em minas gerais e … · presentes no estado de minas gerais e...

15
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E CONTRIBUIÇÃO DO CENÁRIO ATUAL PARA AS METAS DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE Resumo: Dos três biomas presentes no Estado de Minas Gerais, o Cerrado e a Mata Atlântica ocorrem em proporções predominantes e significativas em relação às suas respectivas extensões no território brasileiro, sendo a área de Caatinga uma proporção minoritária.Considerando as Metas Nacionais da Biodiversidade que estabelecem o alcance do percentual de 10% em área de unidades de conservação (UCs) nestes biomas e as Metas Estaduais de Política Ambiental para ampliação da área de proteção integral a 10% da extensão do Estado, o presente estudo pretende caracterizar o cenário atual de UCs em relação aos biomas presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica digital com as informações espacializadas para a distribuição de biomas e UCs, foi possível quantificar a área protegida por bioma através de ferramentas de análise espacial. Os resultados indicam que área protegida em Minas Gerais contribui significativamente para as Metas Nacionais de Biodiversidade nos biomas Mata Atlântica (22%) e Cerrado (13,5%). Na Caatinga, a área total protegida corresponde a menos de 1 mil km². O Cerrado possui o maior total em área de UCs (27 mil km²) equivalente a 8,2% da área do bioma no Estado. A Mata Atlântica embora tenha o maior percentual em área total protegida (10%) é o bioma mais vulnerável no Estado: possui a menor proporção de vegetação remanescente (23%) e o menor percentual em área sob proteção integral (1,1%). Com relação às Metas Estaduais, a área total sob proteção integral corresponde a 1,96% da extensão territorial do Estado, ainda distante dos 10% a serem alcançados. O presente estudo visa contribuir para indicação de tendências e diretrizes estratégicas na futura expansão de UCs e sua distribuição pelos biomas no Estado de Minas Gerais. Palavras-Chave: Unidades de Conservação, Minas Gerais, Metas de Biodiversidade, Biomas.

Upload: vuongnguyet

Post on 18-Oct-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E … · presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E

CONTRIBUIÇÃO DO CENÁRIO ATUAL PARA AS METAS DE

CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

Resumo: Dos três biomas presentes no Estado de Minas Gerais, o Cerrado e a

Mata Atlântica ocorrem em proporções predominantes e significativas em relação

às suas respectivas extensões no território brasileiro, sendo a área de Caatinga

uma proporção minoritária.Considerando as Metas Nacionais da Biodiversidade

que estabelecem o alcance do percentual de 10% em área de unidades de

conservação (UCs) nestes biomas e as Metas Estaduais de Política Ambiental para

ampliação da área de proteção integral a 10% da extensão do Estado, o presente

estudo pretende caracterizar o cenário atual de UCs em relação aos biomas

presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance

das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica digital com as informações

espacializadas para a distribuição de biomas e UCs, foi possível quantificar a área

protegida por bioma através de ferramentas de análise espacial. Os resultados

indicam que área protegida em Minas Gerais contribui significativamente para as

Metas Nacionais de Biodiversidade nos biomas Mata Atlântica (22%) e Cerrado

(13,5%). Na Caatinga, a área total protegida corresponde a menos de 1 mil km². O

Cerrado possui o maior total em área de UCs (27 mil km²) equivalente a 8,2% da

área do bioma no Estado. A Mata Atlântica embora tenha o maior percentual em

área total protegida (10%) é o bioma mais vulnerável no Estado: possui a menor

proporção de vegetação remanescente (23%) e o menor percentual em área sob

proteção integral (1,1%). Com relação às Metas Estaduais, a área total sob

proteção integral corresponde a 1,96% da extensão territorial do Estado, ainda

distante dos 10% a serem alcançados. O presente estudo visa contribuir para

indicação de tendências e diretrizes estratégicas na futura expansão de UCs e sua

distribuição pelos biomas no Estado de Minas Gerais.

Palavras-Chave: Unidades de Conservação, Minas Gerais, Metas de

Biodiversidade, Biomas.

Page 2: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E … · presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica

ABSTRACT: From the three biomes in the State of Minas Gerais in Brazil, the

Cerrado and the Atlantic Forest are prevalent and occur in significant proportions

in Brazilian Territory, whereas the Caatinga occurs in the minority. Considering

the National Biodiversity Targets that establishes the percentage of 10% in areas

of these biomes under Conservation Units (UCs) and the State Environmental

Targets for the expansion of strictly protected area to 10% of the State´s total

extension, this study has the objective to characterize the current situation of the

UCs in relation to the biomes present in the State of Minas Gerais and to quantify

their contribution to the achievement of those biodiversity targets. From a digital

cartographic database with the information to the spatial distribution of the

biomes and UCs, the protected area per biome has been quantified through spatial

analysis tools. The results indicate that the protected area in Minas Gerais

contributes significantly to the National Biodiversity Targets for the biomes

Atlantic Forest (22%) and the Cerrado (13.5%). In the Caatinga, the total

protected area is less than 1000 km ². The Cerrado has the largest total area of

UCs (27,000 km ²) equivalent to 8.2% of the biome area in the State. However,

the Atlantic Forest has the highest percentage of the total protected area (10%) the

biome is the most vulnerable in the State: it has the lowest proportion of native

vegetation remaining (23%) and the lowest percentage of area under strictly

protection (1.1%). Regarding the state targets, the total area under strictly

protection corresponds to 1.96% of the territorial extension of the State and still

far from 10% to be achieved. This study aims to indicate trends and strategic

directions in the future expansion of UCs and their distribution among the biomes

in Minas Gerais.

Key Words: Biome, Conservation Units, Minas Gerais, Biodiversity Targets.

1. INTRODUÇÃO

A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), realizada em 1992 na

Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e da qual o Brasil é

signatário, constitui o mais importante acordo internacional para a proteção da

Page 3: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E … · presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica

biodiversidade ao estabelecer como objetivos fundamentais: i) a conservação da

diversidade biológica; ii) a utilização sustentável de seus componentes; e iii) a

repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos

genéticos. De acordo com o artigo oitavo da CDB, cada uma das Partes

Contratantes deve, na medida do possível e conforme o caso, estabelecer um

sistema de áreas protegidas ou áreas onde medidas especiais precisem ser tomadas

para conservar a diversidade biológica (CDB, 1992).

Espaços territoriais especialmente protegidos são mundialmente

reconhecidos como instrumentos fundamentais à conservação in situ de espécies,

populações e ecossistemas, incluindo os sistemas e meios tradicionais de

sobrevivência de comunidades humanas, e, para alcançarem tal finalidade devem

ser dotados de estatuto legal de regime de administração diferenciados.

No Brasil, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (Lei

9.985, 18 de julho de 2000) foi legalmente instituído no ano 2000, o qual define as

unidades de conservação como espaços territoriais e seus recursos ambientais,

incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes,

legalmente instituídos pelo Poder Público, sob regime especial de administração,

ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.

O SNUC regulamenta as unidades de conservação nas instâncias federal,

estadual e municipal, separando-as em dois grupos: (1) proteção integral, com a

preservação da biodiversidade como principal objetivo sendo permitido apenas

uso indireto de recursos; e (2) uso sustentável, que permitem várias formas de

utilização dos recursos naturais de forma direta, com a proteção da biodiversidade

como um objetivo secundário (SILVA, 2005). Segundo os dados do Cadastro

Nacional de Unidades de Conservação (CNUC) para novembro de 2010, as

diferentes categorias do SNUC recobriam aproximadamente 15% do território

nacional, distribuídas por todos os biomas (MMA, 2011).

Além da conservação da biodiversidade, as unidades de conservação

apresentam uma série de funções ecossistêmicas cujos benefícios podem ser

usufruídos pela sociedade. O desenvolvimento do turismo e a exploração

sustentável de recursos naturais pelas comunidades em áreas de paisagens

protegidas são exemplos de atividades que se beneficiam dos serviços ambientais

Page 4: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E … · presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica

fornecidos pelas unidades de conservação. A proteção de nascentes e mananciais,

que alimentam reservatórios de abastecimento de água e usinas hidrelétricas, e a

mitigação da emissão de dióxido de carbono pelas áreas protegidas são exemplos

de serviços ambientais de fundamental importância, os quais permitem constatar

que os espaços protegidos desempenham papel crucial na proteção de recursos

estratégicos para o desenvolvimento do país (MEDEIROS et al, 2011).

A importância de espaços territoriais como forma de proteção à

biodiversidade foi reforçada com a adoção do “Programa de Trabalho para Áreas

Protegidas” (Decisão VII/28) na sétima Conferência das Partes da CDB (COP-7)

realizada em 2004 - Kuala Lumpur, Malásia. O Brasil, que teve papel de destaque

na proposição deste Programa, atendeu à Decisão VII/28 através da criação do

Plano Nacional de Áreas Protegidas - PNAP, que parte do reconhecimento da

necessidade de se estabelecer uma política intersetorial para as áreas protegidas

que possa contribuir para a implementação de ações que assegurem a conservação

e o uso sustentável da biodiversidade no âmbito do SNUC, nas Terras Indígenas,

nas Terras de Quilombos, e nos demais espaços especialmente protegidos como as

Áreas de Preservação Permanente (APPs) e as Reservas Legais (MMA, 2006).

Para a implementação mais efetiva dos objetivos da CDB pelas partes

contratantes, visando uma redução significativa das taxas de perda de

biodiversidade nos níveis global, regional e nacional, foi estabelecida a “Meta

CDB para 2010” na sexta Conferência das Partes (COP-6) da CDB realizada em

Haia, Holanda, em maio de 2002. A Meta para 2010 foi ainda referendada pela

Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (Rio +10), realizada em

Johanesburgo, África do Sul, em setembro de 2002.

Posteriormente, na sétima Conferência das Partes (COP-7) da CDB em

2004, foi proposta uma estrutura de metas e indicadores globais para orientar e

monitorar a implementação da Meta CDB para 2010, base para a aprovação de um

conjunto de 21 metas globais, cuja estrutura e indicadores foram complementados

pela Decisão VIII/15 adotada na oitava Conferência das Partes (COP-8) realizada

em Curitiba, Paraná, em março de 2006.

Em resposta à Decisão VIII/15 da CDB, o Brasil estabeleceu em 2006 as

“Metas Nacionais de Biodiversidade para 2010” que consiste no conjunto de 51

Page 5: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E … · presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica

metas aprovado pela Comissão Nacional de Biodiversidade (CONABIO) e

estreitamente ligado às metas globais de biodiversidade para 2010. O conjunto de

metas foi traçado com base nos respectivos componentes definidos pela Política

Nacional de Biodiversidade- PNB (Decreto 4.339, de 22 de agosto de 2002),

dentre os quais será abordado o Componente 2, que trata da “ Conservação da

Biodiversidade”, especificando diretrizes e objetivos para conservação das áreas

protegidas. As Metas Nacionais de Biodiversidade para 2010 estabelecem como

um dos objetivos para o componente 2 da PNB promover a conservação da

diversidade biológica dos ecossistemas, habitats e biomas. A meta específica para

os biomas prevê o alcance de pelo menos 30% da extensão do bioma Amazônia e

10% dos demais biomas efetivamente conservados por Unidades de Conservação

do SNUC (MMA, 2007).

Embora avanços muito significativos tenham sido obtidos, a Meta Nacional

ainda não foi alcançada para nenhum bioma. Segundo dados do Quarto Relatório

Nacional para a CDB (MMA, 2011) o grau de alcance da meta é bem diferenciado

entre os biomas: A Amazônia destaca-se com 90% da meta alcançada equivalente

a 27% do bioma. Nos demais biomas, com meta de 10% de proteção, a Mata

Atlântica destaca-se com 8,9% de proteção seguida pelo Cerrado com 8,4%. A

Caatinga com 7,3% ocupa posição intermediária, sendo o Pantanal (4,7%) e

Pampa (3,5%) com menores proporções de alcance da meta.

Em Minas Gerais o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos

Hídricos – SISEMA, sob coordenação da Secretaria de Estado de Meio Ambiente

e Desenvolvimento Sustentável, tem buscado a integração e aprimoramento da

gestão ambiental no Estado com o objetivo de promover a transversalidade e a

articulação com as políticas públicas setoriais e a inclusão das políticas de

proteção e conservação do meio ambiente.

Os marcos físicos que deverão refletir esta transversalidade estão

programados e fixados no Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado – PMDI

(2007-2023) que, para o tópico Qualidade Ambiental, estabelece objetivos

estratégicos, entre eles: i) conservar o Cerrado e recuperar a Mata Atlântica; ii)

ampliar o percentual do território ambientalmente protegido e promover a gestão

eficiente das Unidades de Conservação (MINAS GERAIS, 2007).

Page 6: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E … · presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica

O Planejamento Estratégico para a Política Estadual de Meio Ambiente com

base nos indicadores da Política Ambiental (RIBEIRO, 2006) estabeleceu como

metas estaduais a serem alcançadas até 2023: i) o aumento da cobertura vegetal

nativa para 60% da área total do Estado; ii) o aumento da porcentagem de

Unidades de Conservação da Natureza, do grupo de Proteção Integral para 10% da

extensão territorial do Estado (MINAS GERAIS, 2007).

Considerando as metas nacionais para proteção da diversidade biológica por

bioma e as metas estaduais para ampliação da área de proteção integral no Estado,

o presente estudo pretende caracterizar o cenário atual de áreas protegidas por

unidades de conservação em relação aos biomas presentes no Estado de Minas

Gerais com objetivo de responder as seguintes perguntas: Quanto em área de cada

bioma está sob proteção e que tipo de proteção? Em quanto a atual proporção de

áreas protegidas por bioma contribui para as metas nacionais e estaduais de

conservação da biodiversidade? As respostas das questões visam contribuir para

indicação de tendências e diretrizes estratégicas na futura expansão de UCs e sua

distribuição pelos biomas no Estado de Minas Gerais.

2. METODOLOGIA

Partindo de uma base cartográfica digital com as informações espacializadas

para a distribuição de biomas e UCs, foi possível quantificar a área protegida por

bioma através de ferramentas de análise espacial, utilizando-se o software ArcGIS

versão 9.2. A partir do Mapa de Biomas do Brasil (IBGE, 2004) foi possível fazer

a delimitação da distribuição de biomas para o Estado de Minas Gerais.

Posteriormente, com sobreposição do Mapa de UCs de Minas Gerais (GEMOG-

IEF, 2011), mantendo a similaridade para projeção cartográfica e sistemas de

coordenadas entre os mapas, foi possível quantificar as áreas de unidades de

conservação e sua distribuição nos biomas

O Mapa de UCs em Minas Gerais é elaborado pela Gerência de

Monitoramento e Geoprocessamento do Instituto Estadual de Florestas –

GEMOG/IEF com base nas informações fornecidas pelo Cadastro Estadual de

Page 7: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E … · presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica

Unidades de Conservação, que é disponibilizado pela Secretaria do Meio

Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e atualizado trimestralmente para fins

do cálculo ICMS Ecológico no Estado. Além dos polígonos que delimitam as

UCs, o mapa contém as respectivas informações sobre as unidades como: tipo de

uso, categoria, instância da administração, data de criação entre outras.

No presente estudo foi utilizado o Mapa de UCs referente ao cadastro do

primeiro trimestre de 2011. Para os cálculos foram consideradas apenas as

unidades de conservação definidas pelo SNUC nos três âmbitos da administração

pública e sendo excluídas as demais áreas protegidas como Terras Indígenas e

outras categorias exclusivas do Sistema Estadual de Unidades de Conservação,

como as Áreas de Proteção Especial.

Para os valores de áreas espacialmente quantificados foram calculados

percentuais e proporções relativas entre áreas de UCs e biomas através do

software Microsoft Excel versão 2007, que também foi utilizado na geração de

gráficos e tabelas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Unidades de Conservação e Biomas em Minas Gerais

O mapa de Biomas para o Estado de Minas Gerais (Figura 1) conforme os

limites definidos no Mapa de Biomas da Brasil (IBGE, 2004), mostra a ocorrência

predominante do Cerrado, situado na porção centro-ocidental e ocupando mais da

metade da área do Estado (56,87%).

Tabela 1: Biomas em Minas Gerais e no Brasil

Biomas Mata Atlântica Cerrado Caatinga

área BRASIL (Km²) 1.110.182,00 2.036.448,00 844.453,00

área MG (Km²) 242.028,50 333.796,53 11.096,60

área MG (%) 41,24 56,87 1,89

área MG/BRASIL (%) 21,80 16,39 1,31

Page 8: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E … · presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica

A Mata Atlântica, localizada na porção oriental e próxima aos limites do

Triângulo Mineiro, ocorre em segunda maior proporção (41,24%). A ocorrência

minoritária da Caatinga (1,89%) está restrita ao extremo norte do Estado de Minas

Gerais.

A área de Mata Atlântica no Estado de Minas Gerais representa 21,8% da

área total deste bioma no território brasileiro, ou seja, pelo menos 1/5 de toda a

Mata Atlântica do Brasil está localizada no Estado de Minas Gerais. O Cerrado

possui extensão quase duas vezes maior em relação à Mata Atlântica no território

brasileiro e sua ocorrência, embora predominante no Estado de Minas, representa

apenas 16,4% da extensão nacional do bioma (Tabela1).

A localização das UCs de Proteção Integral em relação aos biomas no

Estado pode ser visualizada na Figura 1. A área total de 11.482 Km² sob proteção

integral corresponde apenas 1,96% da área total do Estado.

Figura 1: Unidades de Proteção Integral e sua distribuição por Bioma no Estado de

Minas Gerais. Fonte: GEMOG-IEF (2011), IBGE (2004).

O Cerrado apresenta a maior área sob proteção integral, com

aproximadamente 8.000 Km², que representam apenas 2,4% da área do bioma no

Estado. A Mata Atlântica possui a menor proteção proporcional, com apenas 1,1%

Page 9: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E … · presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica

da área do bioma no Estado sob proteção integral. A Caatinga, com 7,6%, é o

bioma proporcionalmente mais protegido, embora esta área totalize menos de

1.000 km².

Com relação às categorias de UCs de Proteção Integral (Tabela 2), é

possível observar a predominância dos Parques, que representam 90% da área

protegida com 114 unidades. Entre as demais categorias é possível destacar as

Reservas Biológicas, que representam aproximadamente 5% da área sob proteção

integral, seguido pelos Refúgios de Vida Silvestre, com apenas 4 unidades

representando quase 2% da área sob proteção integral.

Tabela 2: Unidades de Conservação de Proteção Integral

categoria quantidade área km² % total

Estação Ecológica (ESEC ) 13 156,34 1,36

Monumento Natural (MONA ) 13 107,33 0,93

Refúgio de Vida Silvestre (RVS ) 4 222,42 1,94

Parques (PAQ ) 114 10.345,48 90,10

Reserva Biológica (REBIO) 13 650,93 5,67

Total 157 11.482,51

Figura 2: Unidades de Uso Sustentável e sua distribuição por Bioma no Estado de Minas

Gerais. Fonte: GEMOG-IEF (2011), IBGE (2004).

Page 10: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E … · presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica

A localização das unidades de uso sustentável em relação aos biomas no Estado

pode ser visualizada na Figura 2. A área total de 41.789 Km² sob uso sustentável

corresponde a 7,12% da área total do estado.

A Mata Atlântica apresenta a maior área protegida sob uso sustentável, com

aproximadamente 22.000 Km² que representam 9% da área do bioma no estado. O

Cerrado possui proteção proporcional de 5,8% da área do bioma no estado sob uso

sustentável e a Caatinga possui apenas 1,15% .

Com relação às categorias de UCs de Uso Sustentável (Tabela 3), é possível

observar a predominância das APAs – Áreas de Proteção Ambiental, que

representam 97,7% da área protegida com 164 unidades. As RPPNs – Reservas

Particulares do Patrimônio Natural ocorrem em segunda maior quantidade, 79

unidades e representam a segunda menor área proporcional de uso sustentável.

Tabela 3: Unidades de Uso Sustentável

Categoria quantidade área km² % total

Área de Proteção Ambiental (APA) 164 40.830,77 97,71

Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) 79 320,65 0,77

Floresta (FLO) 5 50,54 0,12

Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) 1 587,36 1,41

Total 249 41.789,32

As unidades de conservação de uso sustentável são responsáveis pelo maior

percentual de proteção, 7,12% em relação à área total do Estado, e possuem área

aproximadamente quatro vezes maior em extensão comparada à área de proteção

integral. Porém, a efetividade da proteção de uso sustentável tem sido questionada

no caso das APAs, em que o uso e ocupação muitas vezes não atende aos

zoneamentos e restrições existentes, pouco diferindo de qualquer local onde se

respeite a legislação orgânica em vigor (EUCLYDES & MAGALHÃES, 2006).

Acrescente-se, ainda, que a grande proliferação de APAs no âmbito municipal,

como forma de obtenção de recursos do ICMS Ecológico pelas prefeituras,

Page 11: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E … · presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica

resultou na criação de muitas unidades sem qualquer estrutura e gestão efetiva

(OLIVEIRA, 2008).

Outro problema relacionado às APAs: a sobreposição de áreas de diferentes

categorias de UCs. Nesses casos, a área das APAs contabiliza duplamente a área

de UCs existentes no seu interior, como Parques, RPPNs, entre outras, o que

resulta na superestimativa das estatísticas referentes às áreas protegidas de uso

sustentável.

3.2 Unidades de Conservação e Metas de Biodiversidade

O percentual de área protegida por bioma consiste na proporção, em área,

de UCs de Proteção Integral e de Uso Sustentável (Figura 3). A Mata Atlântica é o

bioma com maior percentual em área protegida, totalizando 10% da área do bioma

no Estado e com maior percentual de UCs de Uso Sustentável (9%). O Cerrado

possui o maior total em área de UCs (27.000 km²) equivalente a 8,2% da área do

bioma no Estado e com 5,8% da área protegida sob uso sustentável. Ao contrário

dos demais, a Caatinga apresenta maior percentual de áreas sob proteção integral,

totalizando 7,6% da área do bioma no Estado, mas seu total de área protegida

corresponde a menos de 1.000 km².

Figura 3: Gráfico do Percentual de Área Protegida por Bioma em relação às unidades de

conservação.

Page 12: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E … · presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica

A área total protegida nos biomas Mata Atlântica e Cerrado no Estado de

Minas Gerais contribui em proporções significativas para as Metas Nacionais da

Biodiversidade que, como já mencionado, propõem a conservação de 10% da

extensão total dos biomas no território brasileiro. A área protegida de Mata

Atlântica e de Cerrado no Estado representa, respectivamente, 22,2% e 13,5% da

Meta Nacional para os biomas (Tabela 4). A área total protegida nos biomas do

Estado contribui em aproximadamente 13% do total da Meta Nacional.

Tabela 4: Proporção da área protegida no estado de Minas Gerais em relação às metas

nacionais de proteção por Bioma.

Mata Atlântica Cerrado Caatinga total

Meta BR (Km²) 111.018,20 203.644,80 84.445,30 399.108,30

UCs MG (Km²) 24.669,09 27.630,34 972,39 53.271,82

UCs MG/Meta BR (%) 22,22 13,57 1,15 13,35

Com relação às Metas Estaduais, que estabelecem o alcance do percentual

de 10% da extensão territorial do Estado sob UCs de Proteção Integral, o cenário

atual representa aproximadamente apenas 2% do percentual da meta a ser

alcançada.

Figura 4: Gráfico do Percentual de área de vegetação nativa e de unidades de Proteção

Integral por Bioma.

Page 13: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E … · presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica

Diante de tal quadro, torna-se necessário avaliar como a atual distribuição

do percentual de UCs de proteção integral e a proporção de vegetação nativa

remanescente por bioma (Figura 4) podem influenciar a distribuição do percentual

a ser alcançado.

A partir de dados do Mapeamento da Flora Nativa e Reflorestamentos em

Minas Gerais (UFLA, 2006) foi possível quantificar o total de vegetação nativa

remanescente nos biomas de Minas Gerais. A atual distribuição de áreas

protegidas indica que a Mata Atlântica é o bioma com menor percentual em área

de proteção integral e possui a menor proporção de vegetação nativa (23%),

constituindo, portanto, o bioma com maior vulnerabilidade às pressões antrópicas

de uso e ocupação. Neste sentido, a Mata Atlântica deve ser foco prioritário para

ampliação de áreas sob proteção integral, seguida pelo Cerrado que apresenta

apenas 2,3% de área sob proteção integral e 40,8% de vegetação nativa

remanescente. A Caatinga é o bioma com o maior percentual de proteção integral

e possui cobertura nativa equivalente a 57,2% da área do bioma no Estado.

5. CONCLUSÃO

O Cerrado e a Mata Atlântica têm importância reconhecida

internacionalmente como Hotspots de Biodiversidade (MITTERMEIER, 2005),

que são regiões com alta riqueza de espécies e alta presença de endemismo e se

encontram sob ameaça acentuada. Justamente nestes dois hotspots em território

mineiro constata-se a proporção bem maior de UCs de Uso Sustentável, sendo que

a diminuta proporção de UCs de Proteção Integral suscita preocupação, uma vez

que são estas unidades que tendem a oferecer maiores garantias de proteção à

biodiversidade, ainda que muitas delas encontrem-se em diferentes estágios de

implementação. Portanto, a proporção significativa destes biomas presentes no

Estado de Minas Gerais em relação à configuração nacional reforça a necessidade

de se protegê-los de forma adequada, no sentido de contribuir para as Metas

Nacionais de Biodiversidade e atender às metas estaduais de ampliação das áreas

sob proteção integral.

Page 14: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E … · presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica

Por mais que seja desejável a criação de novas UCs para o alcance das

Metas de Biodiversidade, a corrida pela criação de APAs, verificada recentemente

para todo o Estado de Minas Gerais (EUCLYDES & MAGALHÃES, 2006) não

garante a real proteção dos ecossistemas envolvidos. A criação de APAs implica

no envolvimento de diversos atores que passam a se ver envolvidos em questões

ambientais mais amplas que, não raro, geram conflitos de difícil gestão. Mesmo

que sejam criadas novas UCs de Uso Sustentável, deve-se avançar no sentido de

pensar unidades que contem com a real inserção e colaboração das populações

envolvida. Para além das APAs, Minas Gerais deve abrigar um maior número

tanto de Reservas de Desenvolvimento Sustentável como também a criação de

Reservas Extrativistas, considerando que a ocupação secular dos sertões mineiros

abrange cultura e sabedoria suficientes para a perpetuação de muitos ecossistemas

que ainda restam relativamente bem preservados e espalhados por todo o território

mineiro. Considerando que o desejável é a criação de novas UCs de Proteção

Integral, estas devem ser pensadas para aqueles ecossistemas que envolvem

formações vegetais ainda insuficientemente protegidas.

Por fim, o presente estudo, ao caracterizar o atual cenário de distribuição

das unidades de conservação pelos biomas presentes no território mineiro, visa

indicar tendências e diretrizes estratégicas para a consolidação e futura expansão

de áreas protegidas, em busca do alcance das metas de conservação da

biodiversidade.

5. REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n. 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de

Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) e estabelece critérios e normas

para a criação, a implantação e a gestão das unidades de conservação. Diário

Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, Jul. 2000.

BRASIL. Decreto nº 4.339, de 22 de agosto de 2002. Institui princípios e

diretrizes para a implementação da Política Nacional da Biodiversidade.

Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, Ago. 2002.

CONVENÇÃO SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA. Assinada durante a

Convenção das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Rio de Janeiro, 1992. Disponível em <www.mma.gov.br> Acesso 02 jun. 2011

COUTINHO, L.M. O Conceito de Bioma. Acta bot. bras. 20(1): 13-23. 2006.

Page 15: UNIDADES DE CONSERVAÇÃO EM MINAS GERAIS E … · presentes no Estado de Minas Gerais e quantificar sua contribuição para o alcance das referidas metas. Partindo de uma base cartográfica

EUCLYDES, A.C.P & MAGALHÃES, S.R.A. A Área de Proteção Ambiental

(APA) e o ICMS Ecológico em Minas Gerais: algumas reflexões. Geografias,

vol.02 39- 55, Belo Horizonte, 2006.

IBGE. 2004. Mapa de Biomas do Brasil (1: 5.000.000) Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística e Ministério do Meio Ambiente.

MEDEIROS, R.; YOUNG; C.E.F.; PAVESE, H. B. & ARAÚJO, F. F. S. 2011.

Contribuição das unidades de conservação brasileiras para a economia

nacional. Brasília: UNEP-WCMC, 2011. 44p.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Plano Nacional de Áreas Protegidas.

Brasília: MMA, 2006. 89 p.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Metas Nacionais para Biodiversidade

2010. Brasília: MMA, 2007. 16 p.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Quarto relatório nacional para a

convenção sobre diversidade biológica: Brasil. Brasília: MMA, 2011. 248 p.

MINAS GERAIS. Mapeamento e Inventário da Flora Nativa e dos

Reflorestamentos de Minas Gerais – Universidade Federal de Lavras, 2006.

MINAS GERAIS. Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado 2007-2023.

Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado de Minas Gerais. Belo

Horizonte, 2007.

MITTERMEIER,R.A., P. ROBLES-GIL, M. HOFFMAN, J. PILGRIM.

T.BROOKS, C.G. MITTERMEIER, J, LAMOREUX & G.A. FONSECA

(Eds). Hotspots Revisited: Earth’s Biologically Richest and Most

Endangered Terrestrial Ecoregions. CEMEX, Agrupación Sierra Madre,

Conservation International. 2005. 392p.

RIBEIRO, J. C. J. Indicadores ambientais: avaliando a política de meio

ambiente no Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte; Secretaria de Estado

do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; 2006. 304 p

OLIVEIRA,V.S. Implementação e Fator de Qualidade em Áreas de Proteção

Ambiental em Minas Gerais. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal

de Viçosa, UFV, 2008.

SILVA, M. O Programa Brasileiro de Unidades de Conservação.

Megadiversidade vol.1, julho, 2005.