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UNIDADE I
• Pedagogia das Competências: o conhecimento, o currículo e a avaliação na
Escola.
Objetivos específicos:
• Conceituar e caracterizar a pedagogia das competências;
• Identificar os princípios básicos da pedagogia das competências;
• Relacionar a organização do conhecimento Escolar por competências;
• Incorporar a organização curricular da Escola por competências;
• Implementar o processo de avaliação da aprendizagem por competências.
Conteúdos:
Concepção, conceituação e caracterização da pedagogia das competências;
• Princípios básicos da pedagogia das competências;
• A organização do conhecimento na pedagogia das competências;
• O processo de avaliação e a pedagogia das competências.
UNIDADE II
• Pressupostos da organização do conhecimento e construção dos projetos
interdisciplinares na Escola.
Objetivos específicos:
• Diferenciar a organização do conhecimento disciplinar, multidisciplinar,
interdisciplinar, transdisciplinar e transversalmente;
• Caracterizar os projetos interdisciplinares;
• Identificar as fases de elaboração dos projetos interdisciplinares;
• Elaborar projetos interdisciplinares para a Escola.
Conteúdos:
• A organização do conhecimento disciplinar, multidisciplinar, interdisciplinar,
transdisciplinar e transversal;
• Conceituação e caracterização dos projetos interdisciplinares;
• Etapas de elaboração dos projetos interdisciplinares;
• Procedimentos metodológicos de construção dos projetos interdisciplinares na
Escola.
UNIDADE I
Pedagogia das Competências: o conhecimento, o currículo e a avaliação na
Escola.
Esta Unidade ampliará a sua concepção sobre a pedagogia das competências na
conceituação, sistematização, reflexão dos fundamentos que possibilitam um repensar
substancial para a prática Escolar. Apresentamos nesta unidade, uma concepção
centrada, historicamente, numa vertente político-pedagógica que busca a construção de
competências e habilidades para construção relacional com a qualidade que tanto
almejamos no processo ensino-aprendizagem da educação.
A partir das reflexões que pretendemos que você realize, é nossa intenção
apontar que os pressupostos apresentados pela pedagogia das competências tem um
caráter de construir a qualidade no processo educativo, que advém entre tantas
exigências, do aprofundamento ético, epistemológico, social e afetivo no processo
educativo.
Portanto, venha conosco enveredar pela temática da pedagogia das
competências.
Objetivos Específicos da Unidade
Pretendemos nesta Unidade que, com base neste material de estudo e sua prática
educacional, você seja capaz de:
• Conceituar e caracterizar a pedagogia das competências;
• Identificar os princípios básicos da pedagogia das competências;
• Relacionar a organização do conhecimento Escolar por competências;
• Incorporar a organização curricular da Escola por competências;
• Implementar o processo de avaliação da aprendizagem por competências.
Para iniciarmos esta unidade, convidamos você a refletir acerca do papel da
educação na Escola, pensando no processo ensino-aprendizagem na linha tradicional e
na crítica da formação do aluno, como o desafio a ser vencido pelos educadores no limiar
no século XXI.
DESAFIO AOS EDUCADORES
Um famoso filósofo alemão do século passado, Frederico Nietzsche, tece uma
crítica radical à civilização ocidental, dizendo que ela educa os homens para
desenvolverem apenas o instinto da tartaruga. O que quer dizer isso? A tartaruga é o
animal que, diante do perigo, da surpresa, recolhe a cabeça para dentro de sua casa.
Anula, assim, todos os seus sentidos e esconde, também na casca, os membros,
tentando proteger-se contra o desconhecido. Este é o instinto da tartaruga: defender-se,
fechar-se ao mundo, recolher-se para dentro de si mesma e, em conseqüência nada ver,
nada sentir, nada ouvir, nada ameaçar.
Formar boas tartarugas parece ter sido o objetivo dos processos educacionais e
políticos da educação desenvolvidos no mundo ocidental nos últimos anos. Temos
educado os homens para aprenderem a se defender contra todas as ameaças externas,
sendo apenas reativos.
Ensinamos o espírito da covardia e do medo.
Precisamos assumir o desafio de educar o homem para desenvolver o instinto de
águia. A águia é o animal que voa acima das montanhas, que desenvolve seus sentidos e
habilidades, que aguça ouvidos, olhos e competência para ultrapassar perigos, alçando
vôo acima deles. É capaz, também, de afiar as suas garras para atacar o inimigo, no
momento que julgar mais oportuno.
As nossas Escolas têm procurado fazer com que nossas crianças se recolham
para dentro de si e percam a agressividade – o instinto próprio do homem corajoso, capaz
de vencer o perigo que se lhe apresenta.
Temos criado, neste país, uma geração-tartaruga. Uma geração medrosa,
recolhida para dentro de si. E estamos todos impregnados por esse espírito de tartaruga.
Não temos coragem para contestar nossos dirigentes, para nos opor às suas propostas e
criar soluções alternativas. Agimos apenas de maneira reativa, negativa, covarde.
Temos ensinado às nossas crianças que os nossos instintos são pecaminosos.
A parte mais rica do indivíduo, que é a sua sensibilidade – sua capacidade de amar e de
odiar, sua capacidade de se relacionar de maneira erótica com o mundo, – tem sido
desprezada. Temos ensinado o homem a ser obediente, servil, pacífico, incompetente e
depositar todas as suas esperanças num poder maior ou no fim das tempestades.
Quando ensinaremos aos nossos alunos que eles não precisam se esconder
diante das ameaças, porque todos nós temos capacidade de alçar vôo às alturas,
ultrapassando as nuvens carregadas de tempestade e perigo? Temos ensinado às
nossas crianças a se arrastar como vermes, e porque se arrastam como vermes, elas se
tornam incapazes de reclamar se lhes pisam na cabeça.
O que desejamos, afinal, desenvolver em nós mesmos e nos jovens? O instinto
da tartaruga ou o espírito das águias?
RODRIGUES, Neidson. Lições do príncipe e outras lições. 3ed. São Paulo: Cortez, 1984.
Agora, depois dessas reflexões iniciais, vamos estudar a pedagogia das
competências.
I - A PEDAGOGIA DAS COMPETÊNCIAS: Visão introdutória
O termo competências é atualmente bastante discutido no âmbito educacional. Ele
aparece, com importância central, nas novas diretrizes curriculares para os cursos de
formação de professores-licenciaturas, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) e
na legislação dos diversos níveis de ensino. Mas muita atenção, pois o termo é bastante
polêmico e tem recebido vários significados. Perrenoud (2000) o define como “a faculdade
de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações,
etc.) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações”.
Veja bem, as competências não são em si conhecimentos, mas mobilizam e
colocam em ação conhecimentos e atitudes (saber-ser) e habilidades (saber-fazer)
necessários para a resolução de situações-problema. Os novos rumos da educação
indicam com clareza uma mudança de visão e, em conseqüência uma mudança de
estratégias na prática pedagógica. Vejamos o que isso quer dizer.
Na escola tradicional, a visão é da aquisição de conteúdos, selecionados dos
fundamentos das diferentes ciências, tendo um critério essencialmente acadêmico, com
grande desvinculação das representações já trazidas pelo aluno e de seu contexto social
e político. Temos presente na memória um rol de conteúdos, apresentados em mínimos
detalhes, a serem aprendidos de cor pelos alunos, bastando lembrar a cobrança de
nomes, datas, fórmulas, entre outras exigências de apenas caráter memorístico.
Vale lembrar que os meios para alcançar esta visão são de habilidades de
memorização e reprodução em momentos de avaliação; a compreensão é entendida, de
forma geral, como capacidade de reproduzir a linguagem transmitida. Para demonstrar
que esta habilidade é a fundamental na escola tradicional é só lembrar os questionários
de estudo, a repetição de exercícios.
Na escola crítica, a visão é da aquisição de competências por meio do
desenvolvimento de habilidades nos domínios cognitivo, afetivo e psicomotor. As
mudanças e transformações sociais e o avanço da tecnologia são tão rápidos que,
possivelmente, no momento da entrada do aluno hoje para o campo profissional, os
conhecimentos escolares por ele adquiridos, já estejam ultrapassados. É só pensar sobre
o que cada um de nós recorda das disciplinas que aprendeu na Escola e da forma como
aprendeu.
Se a escola se serviu dos conteúdos naquele momento selecionados, para
desenvolver a capacidade de pensar, e as habilidades de observar, relacionar, estruturar,
analisar, justificar, sintetizar, correlacionar, inferir, entre outras, então preparou o aluno
nas competências necessárias para enfrentar as situações-problema que a vida lhe
apresentar.
Os conteúdos se constituem então em meios e não em fins em si mesmo. Assim,
as selecionar os conteúdos a Escola deve considerar como critérios: a relevância, a
contextualização e o desenvolvimento dos alunos em cada fase de seu desenvolvimento.
Não se trata de minimizar o papel dos conteúdos ou simplesmente abandoná-los. Trata-
se de verificar se:
• são relevantes no contexto em que são propostos;
• sua complexidade é adequada ao nível de desenvolvimento dos alunos;
• sua introdução respeita a história do desenvolvimento dos conhecimentos da disciplina
ou área do saber;
• estão em relação direta ou indireta com o mundo das experiências dos alunos.
Com estas características eles servirão de meio para o desenvolvimento de
habilidades e alcance das competências desejadas.
- DEFININDO COMPETÊNCIAS E HABILIDADES:
Competências – Usaremos o termo competência associado a estrutura resultante do
desenvolvimento harmônico de um conjunto de habilidades
necessárias para o desempenho de uma determinada função ou
atividade, de maneira eficiente, eficaz e criativa, conforme a natureza
do trabalho. Na linguagem do dia-a-dia usamos expressões como: “Vou
procurar um médico, mas quero que seja competente”; “...fulano é
realmente um engenheiro competente”. Nesta linguagem, a
competência está associada a um desempenho de uma profissão: ser
médico, engenheiro. Perrenoud (2000) afirma que “Competência é a
capacidade de mobilizar recursos cognitivos para enfrentar uma
situação mais complexa”.
Habilidades – De maneira geral, associaremos o termo habilidade ao “saber fazer”
algo específico. Isto significa que o aluno estará sempre associado a
uma ação, ou física ou mental, indicadora de uma capacidade
adquirida por alguém. Assim, identificar, relacionar, correlacionar,
aplicar, analisar, sintetizar, avaliar, manipular com destreza são
exemplos de habilidades.
A abordagem por competências põe em evidência um problema antigo da Escola,
que é a transferência dos saberes. Em geral, a Escola se preocupou muito mais com os
ingredientes curriculares e conteúdos, e menos em colocar tais elementos em sinergia
com situações complexas (PERRENOUD, 2000).
Esta prática pedagógica centrada nos conteúdos, está baseada em:
• conhecimentos disciplinares e fragmentados, na maioria das vezes,
meramente informativos;
• concepção de ensino, baseada apenas na atuação passiva do professor,
na transmissão de conteúdos estanques e fragmentados, distribuídos nas disciplinas
não possuidoras de um núcleo comum de articulação;
• prioriza-se o ensino em detrimento da aprendizagem.
Entenda que o conhecimento especializado, nesse sentido, torna-se uma forma
particular de abstração que extrai o objeto de seu contexto, colocando em risco a
apreensão, pelo aluno, do todo, pois, “o parcelamento e a compartimentação dos saberes
impedem o aprender do que está tecido junto” (MORIN, 2000:45).
A prática pedagógica centrada na formação por competências está baseada nos
seguintes pressupostos:
• conhecimentos interdisciplinares, articulados com contexto social;
• concepção de ensino, baseada na atuação interativa entre o professor, o
aluno e o conhecimento, distribuídos com eixos temáticos interligados e
articulados entre si.
• valorização do processo de ensinar e aprender em igualdade de importância,
valorizando a formação dos sujeitos de forma integral.
Propor uma organização do currículo baseada por competências supõe uma
mudança radical na ação pedagógica do professor que envolva novas estratégias de
ensino, o foco na construção de competências, a avaliação por competências e a adoção
de um contexto interdisciplinar do ensino.
É possível então associar uma prática pedagógica centrada em conteúdos como
um paradigma em superação, e, uma prática pedagógica centrada na formação por
competências com o paradigma em implantação.
Observe então no quadro a seguir as principais características dos dois
paradigmas:
Paradigma em Superação Paradigma em Implantação• Aula expositiva
• Professor especialista
• Disciplina isolada
• Teoria versus prática
• Sala de aula
• Conteúdo
• Aprender
• Problematização
• Professor facilitador
• Interdisciplinaridade
• Contextualização
• Ambiente de formação
• Competência
• Aprender a aprender
• Avaliação
• Turmas homogêneas
• Registro de notas
• Acompanhamento
• Turmas heterogêneas
• Registro de resultados
No processo de elaboração dos currículos os componentes curriculares podem ser
organizados, não só por disciplinas, mas, por temas, por projetos ou por competências
que integrem as diversas disciplinas ou áreas de conhecimentos. A grande diferença de
um currículo organizado por competências é que este não se baseia na organização
tradicional por disciplinas e suas ementas, muito embora, possa se valer das disciplinas
de forma pluridisciplinar, interdisciplinar, e transdisciplinar, num contexto de
transversalidade de conhecimentos.
Você deve perceber que, portanto, os conteúdos das diversas disciplinas devem
constituir um meio para a construção efetiva das competências, e não um fim em si.
Reflita bem sobre isto.
1.2 – CONSTRUINDO A EDUCAÇÃO POR COMPETÊNCIAS
A LDB 9394/96, bem como os documentos emitidos pelo Conselho Nacional da
Educação e pelo Ministério de Educação por intermédio dos diferentes segmentos
responsáveis pela orientação do Ensino Fundamental, Médio, Superior e Técnicos
parecem indicar que é necessário a construção de caminhos inovadores para a educação.
O desenvolvimento de competências nos alunos é a palavra de ordem da
educação hoje. Para formar pessoas preparadas para a nova realidade social e do
trabalho, é preciso enfrentar o desafio de mudar sua postura frente à classe, ceder tempo
de aula para atividades que integrem diversas disciplinas, e estar disposto a aprender
com seus alunos.
Portanto, vamos refletir sobre um assunto muito falado no mundo da educação nos
dias de hoje: como fazer para entender e pôr em prática esse novo jeito de ensinar,
considerando a Pedagogia das Competências.
Faremos um exercício no qual você terá que se lembrar das últimas aulas que você
ministrou: entrou na classe, falou, explicou, deu exemplos e se desdobrou para que a
turma entendesse a matéria. Alguns até levantaram a mão para fazer uma ou outra
pergunta, mas, no geral, todos ficaram quietos, "prestando atenção". Será que eles
estavam realmente interessados? Depende. É consenso entre os teóricos da educação
que o aluno só interioriza o que você ensina se estiver, de alguma forma, ligado ao
conteúdo por um desafio, uma curiosidade, uma motivação. Ou se perceber a importância
e a aplicação dos conceitos, princípios ou assuntos que estão sendo estudados. Essa
aplicação, esse relacionar a situações do mundo cotidiano, da realidade, diz respeito a
contextualização.
A contextualização é uma das bases da Pedagogia das Competências. O objetivo
dessa abordagem é ensinar aos alunos o que eles precisam aprender para ser sujeitos
críticos e pensantes, que saibam analisar, decidir, planejar, expor suas idéias e ouvir as
dos outros, que possam ter uma participação ativa sobre a sociedade em que vivem. Uma
concepção que na grande maioria das Escolas ainda está por ser decifrada, pois quando
se trata de aplicá-las em aulas, sobram dúvidas e falta quem possa solucioná-las.
Devemos perceber que não há uma receita simples para aprender a ensinar dentro
dessa nova concepção. É necessário entendermos que ela surgiu quando da Conferência
de Educação de 1990 em Jomtien, na Tailândia — onde foi elaborada a Declaração
Mundial sobre Educação para Todos — onde os processos educativos estavam calcados
no ensino cartorial. Ou seja, um agrupamento de assuntos para memorizar ou exercícios
para praticar à exaustão, concluindo-se então, que havia necessidade de mudanças
significativas a serem efetivadas.
“Ficou claro que reformar a educação era uma prioridade mundial e as
competências seriam o único caminho para oferecer, de fato, uma educação para todos”,
diz Moretto (2000). “Tudo havia mudado: a sociedade, o mercado de trabalho, as relações
humanas... só a educação continuava a mesma”.
O contexto social de épocas passadas vinha validando como correta formação
baseada nos procedimentos memorísticos, o que precisou ser revisto, pois a sociedade
tem hoje outras prioridades e exigências, em que a ação tornou-se o elemento chave. O
ato de simplesmente dar o conteúdo e esperar que ele seja reproduzido, não forma o
indivíduo desejado pelo mercado de trabalho e pela sociedade.
Vale destacar, que de acordo com Kuenzer (2000) “o desenvolvimento de
competências deve propiciar formação flexível de modo a atender as demandas de um
mercado em movimento, em substituição à formação conteudista pouco dinâmica para um
mercado relativamente estável”, ou seja, o papel da Escola não é formar para o mundo do
trabalho, todavia não pode ignorar o mundo do trabalho. Quem não estiver preparado
para o trabalho conceitual e criativo pode estar fadado à exclusão social, através do
desemprego.
A escola não é mais o lugar onde uma geração passa para outra um acervo de
conhecimentos. Ela agora tem outro papel: é o espaço onde as relações humanas são
moldadas. Portanto, deve ser usada para aprimorar valores e atitudes, além de capacitar
o indivíduo na busca de informações, onde quer que elas estejam, para usá-las no seu
cotidiano.
Afinal, o que são então essas competências? E como desenvolvê-las? O dicionário
Aurélio define essa palavra como "qualidades de quem é capaz de apreciar e resolver
certos assuntos". Ela significa ainda habilidade, aptidão, idoneidade. Muitos conceitos
estão presentes nessa definição: competente é aquele que julga, avalia e pondera; acha a
solução e decide, depois de examinar e discutir determinada situação, de forma
conveniente e adequada. É ainda quem tem capacidade resultante de conhecimentos
adquiridos.
As competências em educação são a faculdade de mobilizar um conjunto de
recursos cognitivos — como saberes, habilidades e informações — para solucionar com
pertinência e eficácia uma série de situações, ou seja, a noção de competência tem
múltiplos sentidos e também diz respeito a capacidade de agir eficazmente em um tipo
determinado de situação, capacidade de que se apoia em conhecimentos mas não se
reduz a eles. Para enfrentar da melhor maneira possível uma situação, devemos em geral
colocar em jogo e em sinergia vários recursos cognitivos complementares, entre os quais
os conhecimentos.
Vejamos alguns exemplos para elucidar essa questão:
• Decidir seu caminho em uma cidade desconhecida requer as capacidades de
ler um mapa, localizar-se e pedir informações. E também diversos saberes,
como ter noção de escala, elementos da topografia ou referências geográficas.
• Saber votar conforme seus interesses mobilizam as capacidades de se informar
e preencher a cédula, bem como os seguintes saberes: conhecimento de
instituições políticas, do processo de eleição, de candidatos, de partidos, dos
programas de governo, das idéias democráticas etc.
Você pode perceber que esses são exemplos simples. Outras necessidades estão
ligadas a contextos culturais, profissionais e condições sociais, pois os seres humanos
não vivem todas as mesmas situações e assim, as competências devem estar adaptadas
a seu mundo. Veja bem, viver na selva das cidades exige dominar algumas delas; na
floresta virgem, outras. Da mesma forma, podemos constatar que de acorde com as
condições materiais, culturais e de vida dos indivíduos, serão necessários de
desenvolvimento de competências específicas para resolver os problemas que se
apresentam.
Para compreendermos de forma bastante clara os conceitos propostos,
apresentaremos algumas situações que podem nos ajudar a clarificar o assunto.
SITUAÇÃO I: Professor de Química em laboratório
Ser um bom professor de Química em laboratório é a competência que se espera
do profissional que se propõe a ensinar Química num contexto específico, o laboratório.
Esta competência será o resultado de um conjunto de habilidades que ele desenvolveu
para esta função, tais como: habilidade motora fina de manipular instrumentos, domínio
dos conceitos de Química; identificação segura dos elementos fundamentais utilizados em
laboratório; aplicação imediata de ações de segurança em caso de acidente com
substâncias químicas; domínio de técnicas nos processos de experimentação, entre
outras habilidades.
Para este professor a eloqüência no falar, a identificação imediata da voz de
diferentes cantores, a utilização segura de um bisturi, a identificação de componentes
eletrônicos de um circuito de TV, não são habilidades que caracterizam a função de
professor de Química em laboratório. Ele pode até tê-las, mas caracterizarão outras
competências do indivíduo.
De forma análoga, poderíamos estudar competências e habilidades associadas a
professores de Português ou História ou Artes. Parece claro que são diferentes
competências, embora algumas habilidades possam ser comuns. De um pintor se exige a
habilidade de controle motor para o uso do pincel. Do médico cirurgião também se exige
uma habilidade de controle motor fino para o uso do bisturi. Mas o médico não é pintor e
nem o pintor é médico porque não é só esta habilidade que define cada uma das
competências/funções.
Faz-se necessário que você entenda que, segundo as diretrizes governamentais,
podemos dizer que de um aluno se espera que desenvolva grupos de habilidades
capazes de dar-lhe cinco grandes competências:
1. Domínio de linguagem;
2. Compreensão de fenômenos;
3. Construção de argumentações;
4. Soluções de problemas;
5. Elaboração de propostas.
Para cada uma destas competências é preciso considerar dois enfoques. O
primeiro é a identificação do grupo de habilidades que estruturam harmonicamente a
competência. O segundo é o conjunto de saberes já construídos socialmente que servirão
de meio para o desenvolvimento das habilidades em foco.
Em nossas reflexões temos visto que como a escola tradicional pôs o foco de sua
atividade na aquisição de conteúdos, bastando a definição dos mesmos para que sua
missão estivesse cumprida. No novo contexto, a escola passa a ter mais dois novos
enfoques além da opção por conjunto de saberes. A definição das competências que se
quer alcançar e das habilidades que as compõem.
No intuito de tornar mais clara a argumentação, apresentaremos alguns exemplos:
Exemplo 1:
ÁREA DO SABER: Matemática
HABILIDADES:
Identificar corretamente os símbolos da linguagem matemática;
Demonstrar compreensão dos conceitos básicos utilizados em matemática;
Estabelecer relações significativas entre os vários conceitos da matemática,
buscando a construção de uma estrutura conceptual coerente;
Relacionar a linguagem da matemática com a de outras áreas do saber, como a
Língua Portuguesa ou a linguagem das artes;
Analisar em situações de relações entre quantidades, as relações matemáticas
estabelecidas e a linguagem utilizada para indicar estas relações;
Resolver problemas simples utilizando-se das relações matemáticas estudadas;
Analisar situações-problema envolvendo relações entre quantidades e argumentar
adequadamente demonstrando compreensão;
Aplicar corretamente as relações matemáticas estudadas em situações do dia-a-
dia envolvendo quantificação;
Exemplo 2:
ÁREA DO SABER: Ciências da natureza.
HABILIDADES:
O que importa salientar, é que uma mesma competência, “domínio de linguagem”
por exemplo, pode exigir habilidades distintas, em função dos conteúdos específicos da
disciplina, das metodologias na construção do conhecimento da mesma, e do tipo de
raciocínio que se exige do aluno para a produção de conhecimentos específicos. Assim,
para a competência dominar a linguagem em ciências da natureza são exigidas
habilidades como:
apresentar aguçado espírito de observação, no momento do contato com algum
fenômeno;
formular hipóteses explicativas dos fenômenos da natureza, usando linguagem
clara e precisa;
identificar variáveis pertinentes a certa situação problema e outras não pertinentes.
(Assim, por exemplo, no estudo da queda de corpos para verificação da relação
entre massa e aceleração de queda de um corpo, a cor do corpo, seu sabor, seu
odor, a quem pertence, são variáveis não pertinentes ao estudo da queda do
corpo. Agora, a forma com que a massa se apresenta já é fundamental, pois
poderá haver forças que, devido à forma, mascarem as verdadeiras relações entre
massa, velocidade e aceleração de queda do corpo.)
Exemplo 3:
ÁREA DO SABER: Física (mecânica)
HABILIDADES:
Demonstrar compreensão dos principais conceitos relacionados à velocidade,
aceleração, força, quantidade de movimento e energia mecânica;
Identificar as relações expressas por meio de expressões matemáticas e por
gráficos;
Estabelecer relações entre os princípios de massa, da inércia e da ação e reação;
Aplicar o princípio de massa com precisão em situações de simulação de interação
entre corpos;
Analisar fenômenos naturais, identificando neles as variáveis estudadas na
Mecânica Newtoniana e estabelecendo relações coerentes entre elas, segundo as
teorias da Mecânica Clássica;
Relacionar o princípio da inércia com o princípio de massa, identificando no estudo
dos movimentos dos corpos, as aplicações destes princípios;
Identificar os fundamentos da Gravitação Universal em situações propostas para
analisar e estabelecer relações de pouca complexidade entre fenômenos
observados, cuja explicação esteja relacionada à esta Lei;
Resolver problemas simples que expressem as relações matemáticas da
Gravitação Universal;
Identificar fenômenos cuja, explicação esteja ligada ao princípio do equilíbrio dos
sólidos e dos líquidos, demonstrando compreensão das condições de equilíbrio;
Resolver física e matematicamente situações-problemas que envolvam equilíbrio
de corpos sólidos;
Identificar e explicar fenômenos relacionados de forma simples à dinâmica das
rotações.
Exemplo 4:
ÁREA DO SABER: História
HABILIDADES:
• Criticar, analisar e interpretar fontes documentais de natureza diversa,
reconhecendo o papel das diferentes linguagens, dos diferentes agentes sociais e
dos diferentes contextos envolvidos em sua produção;
• Produzir textos analíticos e interpretativos sobre os processos históricos, a partir
das categorias e procedimentos próprios do discurso historiográfico;
• Relativizar as diversas concepções de tempo e as diversas formas de periodização
do tempo cronológico, reconhecendo-as como construções culturais e históricas;
• Estabelecer relações entre continuidade/permanência e ruptura/transformação nos
processos históricos;
• Construir a identidade pessoal e social na dimensão histórica, a partir do
reconhecimento do papel do indivíduo nos processos históricos simultaneamente
como sujeito e como produto dos mesmos;
• Atuar sobre os processos de construção da memória social, partindo da crítica dos
diversos “lugares de memória” socialmente instituídos;
• Situar as diversas produções da cultura – as linguagens, as artes, a filosofia, a
religião, as ciências, as tecnologias e outras manifestações sociais – nos contextos
históricos de sua constituição e significação;
• Situar os momentos históricos nos diversos ritmos da duração e nas relações de
sucessão e/ou de simultaneidade;
• Comparar problemáticas atuais e de outros momentos históricos;
• Posicionar-se diante de fatos presentes a partir da interpretação de suas relações
com o passado.
Exemplo 5:
ÁREA DO SABER: Geografia
HABILIDADES:
• Ler, analisar e interpretar os códigos específicos da Geografia (mapas, gráficos,
tabelas etc.), considerando-os como elementos de representação de fatos e
fenômenos espaciais e/ou espacializados;
• Reconhecer e aplicar o uso das escalas cartográficas e geográficas, como formas
de organizar e conhecer a localização, distribuição e freqüência dos fenômenos
naturais e humanos;
• Reconhecer os fenômenos espaciais a partir da seleção, comparação e
interpretação, identificando as singularidades ou generalidades de cada lugar,
paisagem ou território;
• Selecionar e elaborar esquemas de investigação que desenvolvam a observação
dos processos de formação e transformação dos territórios, tendo em vista as
relações de trabalho, a incorporação de técnicas e tecnologias e o estabelecimento
de redes sociais;
• Analisar e comparar, interdisciplinarmente, as relações entre preservação e
degradação da vida no planeta, tendo em vista o conhecimento da sua dinâmica e
a mundialização dos fenômenos culturais, econômicos, tecnológicos e políticos que
incidem sobre a natureza, nas diferentes escalas – local, regional, nacional e
global;
• Reconhecer na aparência das formas visíveis e concretas do espaço geográfico
atual a sua essência, ou seja, os processos históricos, construídos em diferentes
tempos, e os processos contemporâneos, conjunto de práticas dos diferentes
agentes, que resultam em profundas mudanças na organização e no conteúdo do
espaço;
• Compreender e aplicar no cotidiano os conceitos básicos da Geografia;
• Identificar, analisar e avaliar o impacto das transformações naturais, sociais,
econômicas, culturais e políticas no seu “lugar-mundo”, comparando, analisando e
sintetizando a densidade das relações e transformações que tornam concreta e
vivida a realidade.
Esta visão dos novos rumos da educação tem grandes conseqüências para os
atores dos processos de ensino e de aprendizagem.
Ao planejar suas aulas o professor não põe o foco de sua atividade nos conteúdos
dos programas, mas nas habilidades que deverá desenvolver, em busca do alcance de
competências perfeitamente definidas. Para alcançar seus objetivos, seleciona os saberes
curriculares e programa atividades didático-pedagógicas a partir dos mesmos.
Do aluno se espera um novo envolvimento em busca do aprender a aprender.
Utilizando conteúdos específicos propostos, o aluno irá em busca do desenvolvimento de
grandes habilidades, ligadas a seus interesses, suas tendências e as exigências de seu
contexto social.
1.3 – A INTERAÇÃO ENTRE O CONHECIMENTO E AS COMPETÊNCIAS:
O Ministério da Educação não foi conclusivo quando elaborou os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN’S), mas indicou diversas capacidades que devem ser
trabalhadas ao longo do Ensino Médio, sem enquadrá-las de forma linear, porque o
conhecimento deve ser visto como uma rede de relações, na qual o educador ajuda os
jovens a fazer as conexões necessárias.
Dessa forma, a primeira dúvida que surge diz respeito aos conteúdos, pois trata-se
de trabalhar as informações de forma diferente, dando-lhes significado. É o que se chama
de ensino contextualizado, em que o conhecimento é abordado de forma concreta,
levando em consideração os conteúdos já trabalhados anteriormente pelos sujeitos.
Por exemplo, uma coisa é você explicar no quadro o que é fotossíntese. Outra é
comparar a qualidade do ar de um bairro industrial com a de outro cheio de praças e
áreas verdes. Eis aí uma aula que pode extrapolar os saberes das Ciências Naturais e se
estender para a discussão de cidadania. Assim, é possível desenvolver a observação, a
comparação e a análise. E, de ‘quebra’, ensinar fotossíntese, (e outros assuntos)
Ocorre que o tempo é um parceiro cruel, todos vão argumentar. Com certeza. Um
tema como esse não se esgota em uma aula. E o que fazer se ele estiver no último
capítulo do livro didático? Entenda que, o bom profissional elege no início do ano o que
vai trabalhar, levando em conta a necessidade da turma, não a numeração dos capítulos.
É nessa escolha que entra o conceito de situações-problema, nas quais o conteúdo
é apenas um dos elementos a ser levados em conta na hora de abordar qualquer
conteúdo. “A motivação é criada a partir da geração de conflitos. Resolver um desafio
estimula a classe”, destaca Fini (apud INEP, 1997). Portanto, é mais importante que o
aluno saiba lidar com a informação do que simplesmente retê-la.
Depois de lançada uma tarefa em que todos se envolvam, até uma aula expositiva
pode ter lugar. Nesse caso, ela estará inserida na resolução de um problema concreto e a
teoria ganhará uma finalidade aplicável. “Trabalhar assim, significa o fim do conteúdo pelo
conteúdo” explica Fini (ibidem), pois será necessário que se estabeleça uma relação entre
o conhecimento e a significação dele.
Com isso, cria-se outra questão: como agir, uma vez que a natureza e a sociedade
não são divididas por disciplinas? Se o objetivo é estudar uma situação real, do cotidiano,
então o conhecimento também não pode estar separado. Nesse contexto, a
interdisciplinaridade ganha sentido. Por isso, ela é um dos maiores desafios da educação
contemporânea.
Voltando ao exemplo das cidades poluídas, os professores de Geografia e História
podem abordar o uso e a ocupação do solo através do tempo; enquanto o de Biologia
aborda os problemas que o ar e a água poluídos trazem à saúde e da importância das
áreas verdes; o de Química discorre sobre tecnologias de recuperação de mananciais
contaminados. E assim por diante.
Se os saberes devem se articular para atender a complexidade da situação -
problema, então os especialistas das diversas disciplinas também precisam sentar juntos
para definir suas aulas? Sim. "Sem planejamento ninguém vai a lugar nenhum", resume
Smole. Para ela, o primeiro passo é repensar o projeto pedagógico, com o plano e a ação
da Escola voltados verdadeiramente para a formação de indivíduos independentes e
críticos. Sem perder de vista as necessidades do meio em que o aluno vive.
1.4 – O CURRÍCULO ORGANIZADO POR COMPETÊNCIAS
Primeiramente, é necessário que você compreenda que o currículo organizado por
competências tem a intenção de ser o processo pelo qual se trabalha, e se produz as
relações do cotidiano na Escola, ou seja, como artefato cultural, à medida que traduz
valores, pensamentos e perspectivas de uma determinada época ou sociedade.
Podemos nos basear em Apple e Giroux que trazem elementos importantes para
uma perspectiva dinâmico-dialógica da construção do pensamento curricular por
competências. Giroux (1992), propõe uma pedagogia radical, a partir da teoria da
resistência na relação entre professores e alunos. Para ele “resistência” deve ter uma
função reveladora, que contenha uma crítica da dominação e forneça oportunidades
teóricas para a auto-reflexão e para a luta no interesse da auto-emancipação social.
Perceba que nessa perspectiva de currículo organizado por competências, busca-
se a construção da consciência crítica na realização da emancipação e humanização do
homem. O currículo nesta perspectiva é, pois, uma construção cotidiana e social, onde as
formulações em longa escala são muito difíceis, investindo-se nas construções a partir da
sala de aula.
É preciso superar a idéia de que o conhecimento formal é uma mera simplificação
do conhecimento científico, pois é necessário atentar para as construções na sala de
aula. Sendo assim, é bom perceber uma outra questão fundamental que se põe, a do
confronto dos diferentes saberes na esfera curricular, visto que o processo de construção
do conhecimento precisa necessariamente passar pela discussão sobre o que é
substantivo nesse conhecimento.
Por isso, hoje percebemos que as práticas pedagógicas presentes na educação
formal, de modo geral, demonstram que o saber científico é considerado um saber
superior, o único que possuiria o poder de fornecer respostas às necessidades humanas.
O saber do senso comum, definido como forma de expressão do saber popular, como a
maneira que as camadas populares têm de conceber e interpretar o mundo. Toda
produção de significado constitui um saber, contudo nem todos esses saberes são
científicos, o que, na maioria das vezes, não vem sendo considerado pela Escola.
Lopes (2002), afirma que o conhecimento comum, como todo obstáculo
epistemológico, nunca é definitivamente suplantado, uma vez que o processo de ruptura é
permanente, isto é, conhecemos sempre contra um conhecimento anterior, produzindo
atos epistemológicos capazes de superar os obstáculos ao desenvolvimento do
conhecimento.
Sendo assim, o senso comum se constitui do conjunto de saberes capazes de
orientar os seres no mundo indistintamente, sejam eles sujeitos dominantes ou
dominados. Porém, tende a ser manipulado em favor de grupos e classes hegemônicas,
cumprindo a função de manutenção da ordem estabelecida.
Já o saber popular, é fruto da produção de significados das camadas populares da
sociedade, ou seja, as classes dominadas do ponto de vista econômico e cultural. Pode
ser considerado como um saber cotidiano do ponto de vista desse grupo, mas não é
cotidiano em relação à sociedade como um todo. Assim, o senso comum aponta para a
universalidade e para a uniformidade, e o saber popular aponta para a especificidade e
para a diversidade.
Certamente você percebeu que a relação entre o currículo organizado por
competências e os diferentes saberes deve passar pela inclusão dos saberes populares
no currículo, permitindo seu diálogo com os saberes científicos, em processo de mútuo
questionamento, bem como de crítica do senso comum, onde:
O enfoque de como o currículo Escolar pode inter-relacionar saberes populares e saberes científicos na construção de um saber que não os descaracterize e contribua efetivamente para a construção de um conhecimento com a melhor compreensão e transformação do mundo. (LOPES, 2002:21)
Fazendo uma retrospectiva das idéias até aqui desenvolvidas, pode-se certamente
perceber o quanto é fundamental a relação entre a organização curricular por
competências e a construção do conhecimento que não pode ser refletida, sem que com
isso se analise as diferentes posições em relação ao currículo por competências. O
campo do currículo é um campo de contestação no que posições divergentes tentam
fazer prevalecer sua visão de processo pedagógico, em conformidade com seus valores,
o que se refletirá em todo processo de ensino e aprendizagem nas diferentes salas de
aulas.
É necessário que a Escola, efetive um currículo baseado na perspectiva das
competências, apontando para a construção do conhecimento, em que a criatividade dos
professores e dos alunos possa produzir um conhecimento emergente da cultura e da
realidade em que se estiver inserido.
Temos que concordar com as afirmações de Nelli Silva, quando diz que:
O conhecimento é um processo e é alcançado pelo diálogo. O professor deveria ensinar a perguntar dentro da cotidianidade, pois é este o caminho do conhecimento. A construção de um currículo crítico com sua busca da concreticidade encontra resposta na cotidianidade do aluno, na cultura de que é portador, como um caminho para a construção do conhecimento que seja transformador da realidade. (1990:17)
Certamente, esta tomada de atitude crítica do educador frente ao processo
educacional, nos remeterá a necessidade de construção da competência do educador
pela sua formação permanente, como condição primordial para alcançarmos a construção
do currículo crítico.
Para a Pedagogia das Competências a prática pedagógica conseqüente, se
encontra na dimensão da relação entre o processo educativo e a cultura, pois a cultura é
o conteúdo substancial da educação, sua fonte e sua justificação última. Segundo Forquin
(1993), a educação não é nada fora da cultura e sem ela, mas, reciprocamente, dir-se-á
que é pela e na educação que a cultura se transmite e se perpetua, onde toda reflexão
sobre uma, desemboca imediatamente na consideração da outra.
Como você pode acompanhar até agora, a cultura tem um papel fundamental, e
não se pode negar a contribuição da cultura popular no processo educativo, e por
conseqüência, no currículo. Uma proposta curricular deve comportar sempre um projeto
social e cultural, uma visão do tipo de sociedade e de pessoa que se pretende formar.
A educação Escolar é uma atividade de natureza social, com uma função
socializadora, em que o currículo não pode ser encarado apenas como uma questão
técnica e de disciplinas, à margem do contexto social no qual o processo educativo está
inserido, portanto esta é a proposta de concepção curricular da pedagogia das
competências na prática educativa.
Falar em currículo por competências também evoca a necessidade de discutir um
pouco a noção de competência profissional, entendida como a capacidade de mobilizar,
articular e colocar em ação, conhecimentos e habilidades, valores e atitudes necessários
para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza da prática
profissional. Nesta perspectiva é necessário colocar em evidência alguns princípios que
definem a identidade e a especificidade do desenvolvimento de competências
profissionais. Alguns desses princípios são:
à flexibilidade;
à interdisciplinaridade e contextualização na organização curricular;
à identidade dos perfis profissionais de conclusão;
à atualização permanente dos cursos e seus currículos;
à autonomia da Escola em seu projeto pedagógico.
Baseado nas competências que o professor deve desenvolver no processo dos
alunos, a aprendizagem passa a ser orientada para a ação e a avaliação das
competências baseia-se em resultados observáveis da formação profissional.
Ao ensino médio, cabe a formação das competências mais gerais e ao ensino
profissional, a formação das competências mais específicas.
As competências agem traduzindo determinado conteúdo em uma habilidade. Por
isso, o controle da formação nas competências é, freqüentemente, exercido por meio dos
resultados obtidos (via indicadores de desempenho), e não por intermédio de
conhecimentos e atributos culturais adquiridos na socialização profissional. Essa relação
com o exercício profissional não acontece apenas na educação especificamente
profissional, mas também na formação geral, como no caso do ensino médio brasileiro.
No caso do ensino médio, o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) vem
atuando significativamente sobre as Escolas oferecendo padrões de condutas a serem
cumpridos com base no modelo de competências.
A implantação deste modelo é sempre justificada com base nas mudanças no
mundo do trabalho que exigem um novo indivíduo trabalhador.
Esta rapidez com que as mudanças sociais se processam e alteram nossa vida
cotidiana impõe um padrão mais elevado para a Escolaridade básica, e o projeto
pedagógico da Escola deve objetivar o desenvolvimento de competência com as quais os
alunos possam assimilar informações e utiliza-las em contextos adequados, interpretando
códigos e linguagens e servindo-se dos conhecimentos adquiridos para a tomada de
decisões autônomas e socialmente relevantes.
Vejamos alguns princípios de competências necessários à prática profissional:
• Conjunto de tarefas – a competência é vista como um conjunto de tarefas
independentes, e que se apresentam bem detalhadas, não havendo interesse
pelas relações que existem entre elas. A competência é analisada pela observação
direta do desempenho;
• Conjunto de atributos – mostram os atributos gerais indispensáveis para o
desempenho efetivo de profissionais, considerados excelentes, e que são
subjacentes às competências, ou seja, conhecimentos, práticas e atitudes. Neste
conjunto desconsidera-se, porém, o contexto em que as competências são
aplicadas;
Conjunto estruturado holístico e integrado – combina a perspectiva de um
conjunto de atributos com o contexto. A competência é relacional, é uma
combinação complexa de atributos (conhecimentos, atitudes, valores e habilidades)
necessários para o desempenho profissional em situações específicas. Desta
maneira, é necessário que a análise pedagógica destas atividades desvele
possibilidades de um currículo que, além do saber fazer, insira as dimensões dos
saberes e de um saber agir responsável, técnico e atitudinalmente.
É possível que, ao ler o já foi discutido até aqui, você já esteja se questionando
que não se trata de maquiar o processo em prol de uma exigência de reforma curricular,
nem tampouco, mudar apenas a redação do Projeto Pedagógico, colocando, conforme
cita Perrenoud (2000) “onde se lia: ensinar o teorema de Pitágoras, agora irá se ler:
servir-se do teorema de Pitágoras para resolver problemas de geometria”.
Observe a figura 1 a seguir apresentada e considere que a organização de um
currículo por competências parte da análise de situações-problema, das ações que uma
situação real exige.
Figura 1: Seqüência pedagógica na formação por competências:
Então pense bem, uma reformulação curricular por competências implica, portanto,
em um desenho curricular que ultrapasse programas ainda tradicionais em sua práxis,
que apenas utilizam um verbo de ação no início da descrição dos conteúdos disciplinares
para indicar uma suposta mudança.
Conforme demonstramos na figura, para desenvolver competências é necessário
trabalhar por problemas e por projetos, propor tarefas complexas e desafios que incitem
os alunos a mobilizar seus conhecimentos e, em certa medida, completá-los.
Vamos continuar a nossa linha de pensamento!
Então pense bem. Para garantir o sentido e o significado da aprendizagem Escolar
é essencial que a Escola, não só tenha a pretensão de ensinar, mas também, se
preocupe em promover a transposição desses conhecimentos, sendo necessário que
estes sejam significativos e contextualizados. Tal processo implica a criação de novos
contextos de aprendizagem, especificamente, aqueles em que o aprendiz exerce papel
ativo. Segundo Perrenoud (2000) os alunos não desenvolverão competências se os
professores, não se perceberem como organizadores de situações didáticas e de
atividades que têm sentido para os seus alunos, envolvendo-os, e, ao mesmo tempo,
gerando aprendizagens fundamentais.
Consideraremos, aqui, que as mudanças propostas na atualidade para as diversas
modalidades de ensino não são meramente a criação de novos rótulos e/ou neologismos.
Morin (2000:33), afirma que:
Para que haja um progresso de base no século XXI, os homens e as mulheres não podem ser brinquedos inconscientes não só de suas próprias idéias, mas das próprias mentiras. O dever da educação é de armar cada um para o combate vital para a lucidez.
Problematização Situação Real
Bases tecnológicasBases científicasBases instrumentais
DisciplinasProjetosProblemas
Habilidades Competências
É, nesse sentido, que um currículo centrado na formação de competências aponta
antes de um confronto com outros modelos e teorias pedagógicas para a discussão e
reflexão sobre concepções didático-metodológicas e posturas pedagógicas de uma
prática Escolar já em evidência e muitas vezes caduca.
1.5 – O PROCESSO DE APRENDIZAGEM BASEADO POR COMPETÊNCIAS
A construção do conhecimento por competências considera que os alunos
apreendem o conhecimento em virtude de um processo que é pessoal, mas também,
coletivo. Aprender eqüivale elaborar uma representação do conteúdo objeto de estudo em
questão.
Essa representação não se realiza numa mente em branco. O sujeito tem um
mundo cultural internalizado ao longo de sua trajetória de vida social. O professor e o
aluno são agentes interativos, com eles mesmos, com os outros e com o próprio
conhecimento, o que está representado graficamente na figura 02 abaixo:
A ( aluno)
Há um movimento interativo entre os sujeitos - professor e alunos, na
apreensão do conhecimento.
Para que você perceba a importância do que estamos afirmando, buscamos a
teoria de Vygotsky (1991), que postula que construir conhecimentos implica uma ação
partilhada, já que é através dos outros que as relações entre sujeito e objeto de
conhecimento são estabelecidas. Redimensiona o valor das interações sociais – entre os
alunos e o professor e entre os próprios alunos, no contexto das instituições educativas,
passando a ser entendidas como condição necessária para a produção dos
conhecimentos por parte dos alunos, em particular aquelas que permitem o diálogo; a
cooperação e troca de informações mútuas; o confronto de pontos de vistas divergentes
implicados na divisão de tarefas, onde cada um tem uma responsabilidade que, somada,
resultará no alcance de um objetivo comum.
Você percebe que o papel do professor não é de somente permitir que tais
condições ocorram, mas também, de promovê-las no cotidiano da sala de aula, sendo
A (aluno) P (professor)
C (conhecimento)
parte interativa desse processo. O professor incentiva os alunos a encontrarem suas
próprias respostas diante da problematização do conhecimento. O passeio solitário do
aluno reverte-se para o entendimento coletivo tanto na dimensão do processo de
construção da aprendizagem quanto na dimensão do produto do mesmo.
Dessa maneira, a heterogeneidade, característica presente em qualquer grupo
humano, passa a ser vista como fator imprescindível para as interações na sala de aula.
Para a pedagogia das competências, os diferentes ritmos; comportamentos; experiências;
trajetórias pessoais, contexto familiares, valores e níveis de conhecimento de cada aluno
e, também do professor, imprimem ao cotidiano Escolar a possibilidade de troca de
repertórios, de visão de mundo, confrontos, ajuda mútua e conseqüente ampliação das
capacidades individuais.
Você deve ter compreendido que ao aprender, o que muda não é apenas a
quantidade de informação que o sujeito possui sobre um determinado tema, mas também,
sua competência em relação ao conhecimento; a qualidade do conhecimento que já
possui é alterada, e as possibilidades pessoais de continuar aprendendo são ampliadas.
Nesse sentido, é importante entender, que a relação entre o desenvolvimento do
aluno e a aprendizagem que ele esta gerando é fundamental. O ensino é entendido como
um conjunto de possibilidades no processo de construção do conhecimento e na
elaboração do próprio desenvolvimento. Para Vygotsky, “o aprendizado é um aspecto
necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas
culturalmente organizadas e especificamente humanas”. (1991:01)
É necessário, que você reflita sobre como as relações entre os sujeitos e o
conhecimento, são estabelecidas. Em primeiro lugar, não há espaço para a efetivação de
relações arbitrárias, tanto no campo interpessoal, como no trato com o conhecimento que
será re-elaborado. As relações precisam ser pertinentes e valiosas, tanto cultural, como
pessoal, desencadeando um processo de interligação da dimensão pessoal com o que se
pretende aprender, permitindo a construção de uma representação individual do
conhecimento social.
Na visão de Vygotsky (1991), o processo interpessoal é transformado em
processo intra-pessoal, em que as funções do desenvolvimento aparecem duas vezes:
primeiro, entre as pessoas, e depois no interior dos sujeitos. Tudo que está no campo
coletivo, será internalizado e particularizado pelo indivíduo, para que possa retornar ao
mundo social já modificado. Esse processo de recriação da cultura por parte de cada um
de seus membros é à base do processo histórico, sempre em transformação das
sociedades humanas.
Em segundo lugar, as atividades intelectuais, afetivas e sociais desencadeadas
no processo de aprendizagem são estimuladas pela atividade didática desenvolvidas pelo
professor, construindo o contexto para que o conjunto desses aspectos ocorra em um
determinado nível e fazendo com que sejam alcançados os objetivos educacionais, e o
desenvolvimento de competências e habilidades.
Assim, você já deve ter percebido que a função do processo educativo não pode
ser apenas o de apropriação de conhecimentos, transformados em conteúdos de ensino,
e sim o de desenvolver competências e habilidades verdadeiramente humanas, levando o
sujeito a compreender, refletir e intervir no mundo e com o mundo no qual está inserido
como ser social.
Você deve concordar, que a perspectiva da aprendizagem como construção do
conhecimento por competências na Escola no que tange ao objeto de aprendizagem do
aluno constitui-se de conhecimentos de natureza cultural, em que o ensino deva ser
objeto de planejamento e orientação por parte do professor, o que proporcionará a
atividade social e culturalmente mediada do aluno.
Vygotsky, diz que o professor desempenha o papel do “outro social” com o qual o
aluno terá possibilidades de desenvolvimentos que não teria sozinho, muito em função de
que “o processo de desenvolvimento progride de forma mais lenta e atrás do processo de
aprendizado”. (1991:10)
Precisamos repensar urgentemente, que o aluno para construir conhecimentos,
para aprender, precisa utilizar instrumentos que são, por sua vez, culturais e saberes
relevantes da cultura. Esses conhecimentos já existem antes que os alunos iniciem seu
processo de construção da aprendizagem, e são de natureza simbólica, exprimindo-se
por meio de símbolos e signos verbais, numéricos, textuais, etc., o que permite a ação
compartilhada dos que pertencem ao grupo sócio - cultural e que seu significado seja
conhecido e compartilhado.
O papel do signo é explicado por Vygotsky (1991) assim: a invenção e uso de
signos como meios auxiliares para solucionar um dado problema psicológico (lembrar,
comparar coisas, relatar, escolher, etc.) é análoga à invenção e uso de instrumentos, só
que agora no campo psicológico.
Sendo assim, perceba que a cultura dá significado à atividade humana, não
dependendo apenas da existência de signos e símbolos e seus referentes, mas da
possibilidade de alguém capaz de interpretá-los. O aluno precisa do auxílio dos outros
que colaborem no processo de representação ou atribuição de significados. A intervenção
daqueles que estão culturalmente mais preparados permite que os alunos construam as
representações fundamentais da cultura, em um nível de significado que lhes
proporcionem a capacidade de viver em sociedade.
Você deve saber que o conhecimento, baseado no desenvolvimento de
competências, selecionado pela Escola não deve levar somente em consideração o
caráter científico, como também o aspecto sócio-cultural de produtos representativos da
cultura em uma sociedade concreta, viva e vivenciada por sujeitos históricos.
Isto é necessário para que os conhecimentos selecionados de forma não
arbitrária tenham além do valor individual - particular, a dimensão valorativa sócio-cultural,
sem com isso, invalidar a possibilidade dos alunos estabelecerem outras relações mais
particulares, ou menos representativas da cultura do grupo.
Pense nisso, pois se faz necessário assegurar no processo de construção do
conhecimento, que os alunos tenham contato com os saberes, orientando as relações
estabelecidas e o grau em que se estabelecem, a fim de que os alunos adquiram
capacidades necessárias para atuar no contexto social, dominando, assim, os diferentes
sistemas e códigos culturais.
Veja que, não se trata unicamente de entender que a atividade humana está
permeada de instrumentos culturais, mas que a utilização deles transforma a própria
atividade e permite que os sujeitos exerçam progressivamente um domínio consciente e
voluntário sobre ela.
O professor não pode perder de vista que o conhecimento do aluno sobre um
determinado tema possibilita estabelecer relações substantivas, permitindo também
atribuir significados ao novo conteúdo, o que não ocorre de forma perene, pois os
conhecimentos que os sujeitos já possuem, atuam conferindo a informação diferentes
graus de significados, o que não é construído de uma vez por todas, sendo objeto
contínuo de reformulações e posterior aprofundamento.
Sendo assim, você deve ver que os conhecimentos anteriormente construídos
não são obstáculos para a aprendizagem, mas requisitos indispensáveis para ela. A
compreensão da realidade é um processo gradual, que se desenvolve paralelamente ao
enriquecimento desses conhecimentos prévios.
Por isso, há necessidade por parte do professor de saber quais os conhecimentos
que o aluno já domina, mas também de compreender o ponto de vista dos mesmos,
explorando ao máximo as conexões que mantêm entre si e em relação à nova informação
objeto da aprendizagem.
Você notou que, o processo de construção do conhecimento baseado na
pedagogia das competências é complexo e precisa ser vivenciado como um trabalho
coletivo, em que o professor consciente de que o conhecimento é uma construção,
oportunizará o contato cultural para os alunos, visto que é a cultura quem faz do sujeito o
que ele é, pois, ao apropriar-se dela, revitaliza-a criticamente e contribui para sua
renovação, construindo assim, a sua identidade.
É necessário, agora, que você reflita e exercite um pouco sobre o que foi tratado
até aqui. Para tanto, é preciso que você trabalhe na atividade que lhe propomos a seguir:
1.6 – AVALIAÇÃO NA PERSPECTIVA DA PEDAGOGIA DAS COMPETÊNCIAS
De nada adianta trabalhar ao longo do ano letivo dessa maneira se a avaliação não
muda. Mas, como avaliar competências?
Mais uma vez, Perrenoud (2000) nos mostra um caminho para uma avaliação
eficiente:
1) A tarefa e suas exigências precisam ser conhecidas antes de iniciá-la;
2) Deve-se incluir apenas tarefas contextualizadas;
3) Não pode haver nenhum constrangimento de tempo fixo;
4) É necessário exigir uma certa forma de colaboração entre os pares;
5) O professor tem de levar em consideração as estratégias cognitivas e
metacognitivas utilizadas pelos estudantes;
6) Ela deve contribuir para que os estudantes desenvolvam ainda mais suas
capacidades;
7) A correção precisa levar em conta apenas os erros de fundo na ótica da
construção de competências.
Ou seja, o trabalho precisa tornar-se mais sensível do que técnico. A nota, tão
esperada e temida pelo aluno, passa a ser resultado de muitos fatores, não apenas de
uma prova, uma redação ou qualquer outra atividade avaliativa.
Ficou assustado com o tamanho do desafio? Todos sabem que, na prática, as
mudanças ainda vão consumir muito tempo para serem bem assimiladas. Acredite: esse
novo jeito de ensinar, que oportuniza a todos os alunos aprenderem, será "a" referência
em educação e, mais cedo ou mais tarde, servirá para diferenciar os melhores
profissionais e as Escolas que merecem destaque.
Avançaremos agora um pouco mais, para dizer a você que quando olhamos para a
Escola hoje, podemos encontrar práticas de manutenção do paradigma hegemônico e
práticas inovadoras como apontadas pela pedagogia das competências, que anuncia
novas possibilidades. Há sinais que indicam a tentativa da Escola se repensar e se
reconstruir, com a finalidade de escapar dos limites da exclusão e construir um processo
ensino/aprendizagem que incorpore o conhecimento em sua multidimensionalidade, como
já discutimos anteriormente no item III desta unidade.
Agora passaremos a identificar alguns elementos que estão diretamente
relacionados à avaliação por competências. A compreensão do conhecimento como
parcial, relativo e provisório coloca no centro da discussão a diversidade e explicita a
heterogeneidade como um dos elementos fundamentais para a compreensão do processo
de construção de conhecimentos e dos resultados alcançados. Melhor seria dizer, dos
processos de construção de conhecimentos, o que desvela a face excludente da prática
que só valoriza e aceita uma entre as diversas possibilidades existentes.
Como já vimos, a sala de aula é um espaço plural. As atividades desenvolvidas em
seu cotidiano estão permeadas pelas experiências múltiplas que os diversos sujeitos
trazem, portanto devem ser criadas condições para sua interpretação e para que todos
possam se apropriar das interpretações e conhecimentos que lhes sejam necessários.
Não é suficiente perguntar por que alguns alunos aprendem enquanto outros não; há que
se indagar sobre a dinâmica que favorece à aprendizagem de cada um e que
mecanismos estão sendo utilizados pelos alunos para responder às questões colocadas.
Você deve concordar que, o professor precisa se apropriar da compreensão de
seu aluno. Esta se torna a questão central do processo de avaliação por competências,
diferenciando a avaliação da verificação dos conteúdos, pois a resposta diferente da
esperada não significa ausência de conhecimentos, pode ser uma solução criativa a partir
da utilização dos instrumentos que o sujeito possui, caracterizando assim, o
desenvolvimento de competências a compreensão do conhecimento, do que do conteúdo
em si.
A partir desta compreensão você deve estar interrogando o conceito de erro
dominante na Escola. Este conceito representa um marco na configuração da avaliação
como um processo seletivo, portanto entendemos que ele é fundamental para a
redefinição da prática avaliativa baseada no desenvolvimento das competências. A
distinção entre respostas certas e erradas está organizada desde a perspectiva do
professor, que define sua classificação como saber ou não saber, moldando a vida
Escolar de seus alunos.
Você deve perceber que nesta visão, quando o aluno responde da maneira
esperada, ou seja, reproduz o que foi ensinado, acerta, o que é avaliado como
demonstração de saber. Por oposição, quando a resposta dada se diferencia do padrão, o
aluno erra e sua resposta é classificada como não saber. O acerto é valorizado e se nega,
ou tenta-se ocultar, o erro, estabelecendo uma falsa dicotomia entre saber e não saber.
A concepção hegemônica de erro, que sublinha e absolutiza sua face negativa, é
um obstáculo para a incorporação das múltiplas interpretações no processo de avaliação.
O impedimento para que a voz do outro seja produzida, escutada e valorizada
positivamente na ação pedagógica é um dos indícios que nos ajuda a desvelar a
participação da tensão inclusão/exclusão social nos mecanismos Escolares.
Na busca da resposta certa, deixa de ter importância às características da pergunta
feita e os meios usados para se responder corretamente. Tampouco são indagadas as
características da aprendizagem realizada: o aluno pode estar simplesmente repetindo o
que já sabe, pode ter memorizado os elementos que permitem dar a resposta correta, ou
pode haver aprendido a responder de acordo com as expectativas do professor, negando
assim a concepção interativa tão evidenciada na pedagogia das competências.
Você percebe que nenhuma destas explicações para o acerto garantem a
compreensão, a assimilação e a aplicação dos conhecimentos. A aprendizagem mecânica
pode permitir a resposta correta, mas não atua no sentido de favorecer a organização do
conhecimento e sua interação na configuração de um pensamento independente, crítico e
criativo, como já foi evidenciado anteriormente.
Afirmamos que a concepção de avaliação da pedagogia das competências se
coloca contra a dicotomia erro/acerto, quando afirma que a aprendizagem só adquire
sentido dentro da perspectiva do conhecimento como verdadeiro, absoluto e imutável.
Aponta que quando se abandona modelos rígidos que devem ser alcançados, o erro,
como elemento negativo, deixa de existir, pois cada resposta dada pode ser aprofundada,
discutida, ampliada, o que não a caracteriza como errada.
Você percebe que o erro, na perspectiva das competências, é um importante
elemento para a percepção da diversidade de lógicas e de conhecimentos que circula no
contexto escolar e se mescla nas respostas dos alunos. Neste sentido, o erro revela que o
saber e o não saber dialogam no processo de construção de conhecimentos e na
elaboração das respostas. O erro oferece pistas importantes, indica caminhos percorridos
pelos alunos e nem sempre percebidos pelo professor, e devem ser considerados e
explorados para que se possa trabalhar no sentido de uma verdadeira ampliação coletiva
dos conhecimentos.
Veja, para a avaliação na perspectiva das competências, a diferença entre os
sujeitos é sinal de potência, não de deficiência. Perceba bem. A diversidade é uma fonte
de riqueza para o trabalho pedagógico desenvolvido na sala de aula, pois estimula que o
novo se manifeste e seja desenvolvido. A resposta errada do aluno revela seu ainda não
saber, como bem nos lembrou Vygotsky (1991), portanto faz uma síntese dos
conhecimentos já consolidados e revela novos conhecimentos que são necessários e
possíveis. O desconhecimento é o que ele precisa aprender, indica aprendizagens
potenciais e não o que definitivamente não sabem.
Como se vê, a articulação teoria/prática é essencial para a construção desta visão
positiva do erro para estudar seu movimento de reconstrução de conhecimentos sobre a
prática da avaliação dos alunos em processo de Escolarização. É necessário direcionar o
olhar para as respostas destes, buscando abandonar a perspectiva da classificação, o
objetivo, portanto, será de identificar a relação dinâmica entre saber e não saber implícitas
nas respostas, retirando desta análise informações relevantes para o processo
ensino/aprendizagem.
Entendeu a importância? Realmente é preciso indagar os conhecimentos presentes
nas respostas “erradas” e os desconhecimentos existentes nas respostas “certas”, o que
os alunos revelam saber e não saber e o ainda não saber, como síntese provisória do
momento analisado. Este processo nos trará fatos concretos que ajudarão na redefinição
do conceito de erro e fortalecerão a necessidade de reconstruir o processo de avaliação.
Neste movimento de reflexão sobre a prática, especialmente no que diz respeito à
noção de erro, o conceito de zona de desenvolvimento proximal (VYGOTSKY, 1991) deu
uma grande contribuição para a análise das respostas dadas pelos alunos. A idéia de que
é fundamental perceber o processo de aprendizagem/desenvolvimento de forma
prospectiva dando especial atenção aos processos em desenvolvimento, e não só ao já
consolidado, assim como a ênfase na natureza coletiva, compartilhada, do processo de
construção de conhecimentos fortalecia a necessidade de indagar a relação saber/não
saber estabelecida nas práticas Escolares e possibilitava novos olhares para a dinâmica
pedagógica.
Perceba a relevância da discussão acerca do conceito de zona de desenvolvimento
proximal. Esta fornece pistas para que se possa ensaiar um processo de avaliação que
não tenha como referência central a positividade ou negatividade da resposta fornecida
pelo aluno. Na prática este conceito ressalta a multidimensionalidade e a solidariedade do
processo ensino/aprendizagem, coloca em diálogo, a teoria e a prática e imprime
mudanças no repertório de possibilidades de interpretação. Criando novas bases para a
atuação docente.
Para a pedagogia das competências vale ressaltar, que tanto as respostas
classificadas como saber, como as rotuladas de não saber são frutos de
ensinos/aprendizagens diversos que detonam processos de desenvolvimento interior.
O que você acha da tentativa de abandono dos modelos rígidos de classificação
dos alunos e a busca de um novo conceito de erro mais favorável à dinâmica de
aprendizagem do aluno? Não se esqueça que isto representa aspectos significativos para
que se possa criar um movimento de indagação do processo de construção do
conhecimento que estimule a análise coletiva e a possibilidade de compartilhar questões
e de construir respostas.
Este processo de reflexão sobre a ação, permeado pelo diálogo entre teoria e
prática introduz, a possibilidade de experimentarmos a prática de avaliação como uma
investigação do processo de construção de conhecimentos do aluno como participante de
um processo coletivo. O desconhecimento, o erro, o ainda não saber passaram a ser
percebidos como objetos de interrogação, representando possibilidades de ampliação dos
conhecimentos já consolidados.
O mesmo vale para o processo vivenciado pelos professores. Que desenvolvendo
um processo coletivo de reflexão encontram lugar para suas dúvidas, seus dilemas, seus
desconhecimentos e para a construção coletiva de novos conhecimentos. Seu não saber
deixa de ser vivido como incompetência, sendo assumido como ainda não saber, fonte de
novas e mais profundas aprendizagens. Um dos aspectos centrais do conceito usado é a
ênfase no movimento solidário e coletivo.
Como você deve estar percebendo a ênfase do processo avaliativo está sendo
posta na busca do que o aluno pode “vir a saber”, anunciando uma possibilidade concreta
de reconstrução do paradigma teórico da avaliação. A compreensão do processo de
construção de conhecimentos como, necessariamente, dialógico e compartilhado se
estende ao processo de avaliação na perspectiva das competências.
Agora vamos pensar que estas mudanças nos indicam uma possibilidade de
ruptura com a visão classificatória da avaliação - que se fundamenta no consolidado, na
comparação da resposta dada a um padrão certo ou admissível – e anunciam uma
perspectiva de avaliação como parte do processo de construção de conhecimentos.
Portanto, ao elaborar as estratégias para o alcance da aprendizagem por competências,
atente para os seguintes princípios:
• Fundamenta-se no prospectivo, no vir a ser, sem modelos fechados
previamente definidos, pois não há a preocupação de rotular as respostas
como erro ou acerto;
• O eixo central da avaliação é deslocado da classificação das respostas, tendo
como eixo à perspectiva do acerto, para a indagação do conhecimento
existente e em construção;
• A avaliação perde a perspectiva unidimensional. Abre-se a possibilidade da
prática pedagógica convidar os alunos, assim como os professores, para trazer
para a sala de aula seus conhecimentos e desconhecimentos, em sua
multiplicidade e complexidade;
• A interrogação provoca a interlocução e proporciona meios para que sejam
desenvolvidas soluções criativas. Coloca em movimento os conhecimentos já
consolidados e exercita novos conhecimentos, pois a indagação parte do
suposto de que há mais informações do que aquelas que o sujeito apreende
imediatamente;
• A indagação revela o que o aluno ainda não sabe, expõe indícios sobre os
obstáculos encontrados no processo ensino/aprendizagem e as estratégias
usadas para tentar superá-los.
Não devemos esquecer que o movimento de indagação do processo dos alunos
estimula à indagação do processo docente, se estabelece uma relação recíproca entre
alunos e professores, de modo que um colabora com o processo de construção de
conhecimentos do outro. A avaliação assim, se converte em um processo de
aprendizagem para o professor e a sala de aula se torna um ambiente interativo onde se
busca a superação e não a negação do saber já construído por cada um e por todo o
grupo.
Perceba que, investigando o processo do aluno os professores estabelecem um
processo de reflexão sobre sua prática. Os professores irão se percebendo como
investigadores de sua própria prática, portanto, profissionais que possuem conhecimentos
sobre sua prática, que refletem sobre ela enquanto prática social, e são capazes de
produzir novos conhecimentos.
A compreensão da avaliação como uma prática investigativa marca a possibilidade
de uma prática pedagógica comprometida com a inclusão, com a pluralidade, com o
respeito às diferenças, com a construção coletiva. Atende às necessidades postas pela
Escola como um território híbrido, marcado pela multiplicidade de vozes e coloca o
diálogo no centro do processo ensino/aprendizagem. Muda a interpretação unívoca, de
natureza excludente, por uma orientação dialógica, que implica em inclusão e
multiplicidade. Assume a ambigüidade que caracteriza o processo de avaliação enquanto
atividade impregnada pelos valores sociais e incorpora esta ambigüidade como um sinal
de que os resultados e as análises devem ser relativizadas e continuamente interrogadas.
A avaliação como prática de investigação se revela um instrumento importante para
a prática dos professores na perspectiva das competências que, comprometidos com a
construção de uma Escola democrática, se encontram freqüentemente diante de dilemas
para os quais nem sempre têm a resposta certa. Professores que necessitam se
capacitar, cada dia mais, como investigadores de sua própria prática para conseguir
encontrar respostas possíveis e respostas adequadas.
Sem dúvida, o convite à mudança é desafiador e atrativo. É feito através de
palavras e conceitos estimulantes: diálogo, interação, diversidade, subjetividade, cenários,
territórios, subjetividade, polissemia, polifonia. Palavras que parecem arejar a prática
pedagógica, trazendo novidades para um contexto que parece haver se habituado à
monotonia do discurso unívoco. Palavras que anunciam um novo ritmo para uma escola
considerada por muitos parada no tempo...
Neste quadro, a avaliação como prática investigativa construída com o objetivo de
desenvolver competências, é um desafio, mas também uma alternativa para a
consolidação da sala de aula como um espaço potente de construção de conhecimentos.
1.7 – QUAIS COMPETÊNCIAS DOCENTES PARA UMA PRÁTICA DOCENTE
BASEADA NA PEDAGOGIA DAS COMPETÊNCIAS?
Chegou a hora de pensarmos sobre alguns pontos necessários à prática docente
baseada na pedagogia por competências. Para que a organização do processo educativo
nesta perspectiva se efetive, promovendo o desenvolvimento de competências no aluno,
é necessário que o professor atente para as competências de referência apontadas por
Perrenoud (2000).
Competências
de referência
Competências mais específicas a serem trabalhadas
(exemplos)1- Organizar e dirigir
situações de
aprendizagem.
• Conhecer, para determinada disciplina, os conteúdos a serem
ensinados e sua tradução em objetivos de aprendizagem;
• Trabalhar a partir das representações dos alunos;
• Trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à aprendizagem;
• Construir e planejar dispositivos e seqüências didáticas;
• Envolver os alunos em atividades de pesquisa, em projetos de
conhecimento.2. Administrar a
progressão das
aprendizagens.
• Conceber e administrar situações problema ajustadas ao nível e
às possibilidades dos alunos;
• Adquirir uma visão longitudinal dos objetivos do ensino;
• Estabelecer laços com as teorias subjacentes às atividades de
aprendizagem;
• Observar e avaliar os alunos em situações de aprendizagem, de
acordo com uma abordagem formativa;
• Fazer balanços periódicos de competências e tomar decisões de
progressão;3. Conceber e fazer
evoluir os
dispositivos de
diferenciação.
• Administrar a heterogeneidade no âmbito de uma turma;
• Abrir, ampliar a gestão de classe para um espaço mais vasto;
• Fornecer apoio integrado, trabalhar com alunos portadores de
grandes dificuldades;
• Desenvolver a cooperação entre os alunos e certas formas
simples de ensino mútuo.4. Envolver os
alunos em sua
aprendizagem e
em seu trabalho.
• Suscitar o desejo de aprender, explicitar a relação com o saber, o
sentido do trabalho Escolar e desenvolver na criança a
capacidade de auto-avaliação;
• Instituir e fazer funcionar um conselho de alunos (conselho de
classe ou de Escola) e negociar com eles diversos tipos de regras
e de contatos;
• Oferecer atividades opcionais de formação;
• Favorecer a definição de um projeto pessoal do aluno.5. Trabalhar em
equipe.
• Elaborar um projeto de equipe, representações comuns;
• Dirigir um grupo de trabalho, conduzir reuniões;
• Formar e renovar uma equipe pedagógica;
• Enfrentar e analisar em conjunto situações complexas, práticas e
problemas profissionais;
• Administrar crises ou conflitos interpessoais.6. Participar da
administração da
Escola.
• Elaborar, negociar um projeto da instituição;
• Administrar os recursos da Escola;
• Coordenar, dirigir uma Escola com todos os seus parceiros;
• Organizar e fazer evoluir, no âmbito da Escola, a participação dos
alunos.7. Informar e
envolver os pais.
• Dirigir reuniões de informação e de debate;
• Fazer entrevistas;
• Envolver os pais na construção de saberes.8. Utilizar novas
tecnologias.
• Utilizar editores de textos;
• Explorar as potencialidades didáticas dos programas em relação
aos objetivos de ensino;
• Comunicar-se à distância por meio da telemática;
• Utilizar as ferramentas da multimídia no ensino.9. Enfrentar os
deveres e os
dilemas éticos da
profissão.
• Prevenir a violência na Escola e fora dela;
• Lutar os preconceitos e as discriminações sexuais, étnicas e
sociais;
• Participar da criação de regras de vida comum referentes à
disciplina na Escola, às sanções e à apreciação da conduta;
• Analisar a relação pedagógica, a autoridade, a comunicação em
aula;
• Desenvolver o senso de responsabilidade, a solidariedade e o
sentimento de justiça.10. Administrar sua
própria formação
contínua.
• Saber explicitar as próprias práticas;
• Estabelecer seu próprio balanço de competências e seu
programa pessoal de formação contínua;
• Negociar um projeto de formação comum com os colegas
(equipe, Escola, rede);
• Envolver-se em tarefas em escala de uma ordem de ensino ou do
sistema educativo;
• Acolher a formação dos colegas e participar dela.
Agora gostaríamos que você lesse a entrevista a seguir, que foi publicada na
Revista Nova Escola – setembro 2000. Na entrevista Perrenoud, autor do livro Dez Novas
Competências para Ensinar (ArtMed, 2000). Ao ler tente relacionar ao conteúdo que
estudamos nesta unidade.
De onde vem a idéia de competência na educação?
Perrenoud: A abordagem por competências é uma maneira de levar a sério um problema
antigo, o de transferir conhecimentos. Em geral, a Escola se preocupa mais com
ingredientes de certas competências e menos em colocá-las em sinergia nas situações
complexas. Durante a Escolaridade básica, aprende-se a ler, escrever, contar, mas
também a raciocinar, explicar, resumir, observar, comparar, desenhar e dúzias de outras
capacidades gerais. Assimilam-se conhecimentos disciplinares, como Matemática,
História, Ciências, Geografia etc. Mas a Escola não tem a preocupação de ligar esses
recursos a situações da vida. Quando se pergunta por que se ensina isso ou aquilo, a
justificativa é geralmente baseada nas exigências da seqüência do curso: ensina-se a
contar para resolver problemas; aprende-se gramática para redigir um texto. Quando se
faz referência à vida, apresenta-se um lado muito global: aprende-se para se tornar um
cidadão, para se virar na vida, ter um bom trabalho, cuidar da saúde. A transferência e a
mobilização das capacidades e dos conhecimentos não caem do céu. É preciso trabalhá-
las e treiná-las, e isso exige tempo, etapas didáticas e situações apropriadas, que hoje
não existem.
Ou seja, a Escola não prepara o aluno para usar o conhecimento no seu dia-a-dia?
Perrenoud: Exatamente. Os alunos acumulam saberes, passam nos exames, mas não
conseguem mobilizar o que aprenderam em situações reais, no trabalho e fora dele (em
família, na cidade, no lazer etc.). Isso é grave para aqueles que freqüentam aulas
somente por alguns anos. A Escola básica não deve ser uma preparação para estudos
longos. Deve-se enxergá-la como uma preparação de todos para a vida. Formulando-se
mais explicitamente os objetivos da formação em termos de competências, lutamos
abertamente contra a tentação da Escola de ensinar por ensinar, de marginalizar as
referências às situações da vida e de não reservar tempo para treinar a mobilização dos
saberes para situações complexas.
Quais as competências que os alunos devem ter adquirido ao terminar a
Escolarização?
Perrenoud: Essa é uma escolha da sociedade, que deve ser baseada em um
conhecimento amplo e atualizado das práticas sociais. Não basta nomear uma comissão
de redação para se elaborar um conjunto de competências. Certos países contentaram-se
em reformular os programas tradicionais, colocando um verbo de ação na frente dos
saberes disciplinares. Onde se lia "ensinar o teorema de Pitágoras", agora lê-se "servir-se
do teorema de Pitágoras para resolver problemas de geometria". Isso é maquiagem. A
descrição de competências deve partir da análise de situações, da ação, e disso derivar
conhecimentos. Os países que querem ir rápido demais se lançam na elaboração de
programas sem dedicar tempo à observação das práticas sociais, sem identificar
situações com as quais as pessoas são e serão verdadeiramente confrontadas. O que
sabemos das competências que precisam um desempregado, um imigrante, um portador
de deficiência, uma mãe solteira, um jovem da periferia? Se o sistema educativo não
perder tempo reconstruindo a transposição didática (a transformação de um
conhecimento científico em conhecimento Escolar), não questionará as finalidades da
Escola e se contentará em verter antigos conteúdos dentro de um novo recipiente. Sob a
capa de competências, dá-se ênfase a capacidades sem contexto. Resultado: conserva-
se o essencial dos saberes necessários aos estudos longos e os lobbies disciplinares
ficam satisfeitos.
O que é preciso fazer para que a formação geral acompanhe os objetivos da
profissional em termos de competência?
Perrenoud: Eu tentei um exercício para identificar os saberes fundamentais para a
autonomia das pessoas. Cheguei a oito grandes categorias: saber identificar, avaliar e
valorizar suas possibilidades, seus direitos, seus limites e suas necessidades; saber
formar e conduzir projetos e desenvolver estratégias, individualmente ou em grupo; saber
analisar situações, relações e campos de força de forma sistêmica; saber cooperar, agir
em sinergia, participar de uma atividade coletiva e partilhar liderança; saber construir e
estimular organizações e sistemas de ação coletiva do tipo democrático; saber gerenciar
e superar conflitos; saber conviver com regras, servir-se delas e elaborá-las; saber
construir normas negociadas de convivência que superem as diferenças culturais. Em
cada uma dessas grandes categorias, é preciso ainda especificar concretamente os
grupos de situações. Por exemplo: saber desenvolver estratégias para manter o emprego
em situações de reestruturação de uma empresa. A formulação de competências afasta-
se, então, das abstrações ideologicamente neutras. De pronto, a unanimidade está
ameaçada, e reaparece a idéia de que os objetivos da Escolaridade dependem de uma
escolha da sociedade.
Nesse contexto, quais são as mudanças no papel do professor?
Perrenoud: É inútil exigir esforços sobre-humanos dos professores se o sistema
educativo apenas adota a linguagem das competências, sem mudar nada de
fundamental. O melhor indício de uma mudança profunda é a diminuição do peso dos
conteúdos disciplinares e uma avaliação formativa e certificativa, orientada claramente
para as competências. As competências não dão as costas para os saberes, mas não se
pode pretender desenvolvê-las sem dedicar o tempo necessário para colocá-las em
prática. Não basta juntar uma situação de transferência no final de cada capítulo de um
curso convencional. Para o sistema mudar, é preciso reformular seus programas em
termos de desenvolvimento de competências verdadeiras, liberar disciplinas, introduzir os
ciclos de aprendizagem plurianuais ao longo do curso, chamar para a cooperação
profissional e convidar o professor para uma pedagogia diferenciada, mudando, então,
sua representação e sua prática.
O que o professor deve fazer para modificar sua prática?
Perrenoud: Para desenvolver competências é preciso, antes de tudo, trabalhar por
resolução de problemas e por projetos, propor tarefas complexas e desafios que incitem
os alunos a mobilizar seus conhecimentos e, em certa medida, completá-los. Isso
pressupõe uma pedagogia ativa, cooperativa, aberta para a cidade ou para o bairro, seja
na zona urbana ou rural. Os professores devem parar de pensar que dar o curso é o
cerne da profissão. Ensinar, hoje, deveria ser conceber, encaixar e regular situações de
aprendizagem, seguindo os princípios pedagógicos ativos construtivistas. Para os adeptos
dessa visão interativa da aprendizagem, trabalhar no desenvolvimento de competências
não é uma ruptura. O obstáculo está mais em cima: como levar os professores,
habituados a cumprir rotinas, a repensar sua profissão? Eles não desenvolverão
competências se não se perceberem como organizadores de situações didáticas e de
atividades que tenham sentido para os alunos, envolvendo-os e, ao mesmo tempo,
gerando aprendizagens fundamentais.
Quais são as qualidades profissionais que o professor deve ter para ajudar os
alunos a desenvolver competências?
Perrenoud: Antes de ter competências técnicas, ele deveria ser capaz de identificar e de
valorizar suas próprias competências, dentro de sua profissão e de outras práticas
sociais. Isso exige um trabalho sobre sua relação com o saber. Muitas vezes, o professor
é alguém que ama o saber pelo saber, que é bem sucedido na Escola, que tem uma
identidade disciplinar forte desde o Ensino Médio. Ora, os alunos não são e não querem
ser como ele. O professor deve, então, se colocar no lugar desses alunos. Aí ele
começará a procurar meios de interessar sua turma pelo saber — não como algo em si
mesmo, mas como ferramentas para compreender o mundo e agir sobre ele. O principal
recurso do professor é a postura reflexiva, sua capacidade de observar, de regular, de
inovar, de aprender com os outros, com os alunos, com a experiência. Mas, com certeza,
existem capacidades mais precisas.
Como o professor deve empregar as disciplinas dentro desse conceito?
Perrenoud: Não se trata de renunciar às disciplinas, que são os campos do saber,
estruturados e estruturantes. No Ensino Fundamental, é preciso preservar a polivalência
dos professores, não "secundarizar" a Escola básica. No Ensino Médio, pode-se desejar a
não compartimentalização precoce e estanque, com professores menos especializados,
menos fechados dentro de uma só área, dizendo ignorar as outras. É importante ainda
não dedicar todo o tempo Escolar às disciplinas, deixando espaços para as encruzilhadas
interdisciplinares e as atividades de integração.
Como deve ser a avaliação em uma Escola orientada para o desenvolvimento de
competências?
Perrenoud: Ninguém formará competências na Escolaridade básica se não forem
exigidas competências no momento da certificação. A avaliação é o que realmente conta.
É preciso avaliar seriamente as competências, mas isso não pode ser feito com testes
escritos. São essenciais os problemas complexos e as tarefas contextualizadas, dentro de
uma série de condições.
Em quanto tempo é possível perceber resultados dessas mudanças no sistema de
ensino?
Perrenoud: Antes de avaliar as mudanças é melhor colocá-las em operação. Isso levará
anos, se for um trabalho sério. Pior é acreditar que as práticas de ensino e aprendizagem
mudam por decreto. As mudanças exigidas passarão por uma espécie de revolução
cultural, que será vivida pelos professores, depois pelos alunos e seus pais. Quando as
práticas forem alteradas em larga escala, a mudança exigirá ainda anos para dar frutos
visíveis, pois será preciso esperar que mais de uma geração de estudantes tenha
passado por todos os ciclos. Enquanto se espera, é melhor implementar e acompanhar as
mudanças do que procurar provas prematuras de sucesso.
O que uma reforma dessa natureza pode fazer por um país como o Brasil?
Perrenoud: Seu país confronta-se com o desafio de Escolarização de crianças e
adolescentes e de formação de professores qualificados em todas as regiões. Há também
a questão da reprovação e da evasão. A abordagem por competências não vai resolver
esses problemas num passe de mágica. Entretanto, não vamos negligenciar três suportes
dessa abordagem, caso ela atenda suas ambições. Ela pode aumentar o sentido de
trabalho Escolar e modificar a relação com o saber dos alunos em dificuldade; favorecer
as aproximações construtivistas, a avaliação formativa, a pedagogia diferenciada, que vai
facilitar a assimilação ativa dos saberes; colocar os professores em movimento, incitando-
os a falar de pedagogia e a cooperar no quadro de equipes ou de projetos do
estabelecimento Escolar. Por isso, é sensato integrar desde já as abordagens por
competências à formação — inicial e contínua — e à identidade profissional dos
professores. Não nos esqueçamos de que, no final das contas, o objetivo principal é
democratizar o acesso ao saber e às competências. Todo o resto é apenas um meio de
atingir esse objetivo.
Chegamos ao final da Unidade I. Nossa expectativa é que você tenha conseguido
alcançar os objetivos que propunha esta Unidade.
LEITURAS RECOMENDADAS
As questões discutidas na Unidade I constituem o ponto de partida dos estudos
sobre a Pedagogia das Competências: o conhecimento, o currículo e a avaliação na
Escola. Assim, é necessário que você amplie os saberes sobre o tema. Para isso,
fazemos duas indicações de leituras que lhe possibilitarão o aprofundamento no estudo:
a) RAMOS, Marise Nogueira. A Pedagogia das competências: autonomia ou
adaptação? São Paulo, Cortez, 2001. Este é um livro que servirá de base para uma
profunda análise crítica ao ideário pedagógico das reformas educativas dominantes no
Brasil e na América Latina que permeiam os diferentes níveis de ensino e, especialmente,
o âmbito da educação técnico-profissional. Uma obra obrigatória como referência para
professores do ensino fundamental, médio e superior e mais do que isso, você
encontrará, também, os elementos básicos que fundamentam propostas educativas
alternativas para uma sociedade efetivamente democrática e solidária.
b) PCN. Parâmetros Curriculares Nacionais. Ensino Médio. MEC, 1997. É importante a
leitura dos PCN’S para que você considere a identificação que estes Parâmetros
cumprem de difundir os princípios da reforma curricular e orientar o professor, na busca
de novas abordagens e metodologias. Por isso, desejamos que estes influenciem
positivamente na sua prática docente, como esperamos que, com base nessa prática e no
processo de aprendizagem dos alunos, revê-los e aperfeiçoá-los.
REFERÊNCIAS
COLL, César et al. O Construtivismo na sala de aula. São Paulo: Ática, 1996.
ESTEBAN, M. T. Uma avaliação de outra qualidade. Revista Presença Pedagógica nº 8, março de 1996.
FREITAS, M. T. Vygotsky & Bakhtin. São Paulo: Ática, 1994.
FORQUIN, Jean-Claude. Escola e Cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento Escolar. Trad. Guacira Lopes Louro. Porto Alegre: Artes Médicas,1993.
GIROUX, Henry. Escola Crítica e Política Cultural. 3ªed. São Paulo: Cortez, 1992.
HOFFMANN, J.. Avaliação Mediadora: Uma Prática em Construção. UFRS, Porto: Alegre, 1993.
INEP, Evolução da educação básica no Brasil, Brasília: MEC/INEP, 1997.
LUCKESI, Cipriano. Avaliação de Aprendizagem Escolar. São Paulo: Cortez, 1995.
LOPES, Alice Casimiro & MACEDO, Elizabeth (orgs.). Currículo: debates contemporâneos. São Paulo: Cortez,2002.
MORETTO, Vasco Pedro. Construtivismo a produção do conhecimento em aula. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000.
NOVOA, A. et al. Os Professores e a sua Formação. Lisboa: D. Quixote,1992.
PCN. Parâmetros Curriculares Nacionais. Documento Introdutório. MEC, 1997.
PERRENOUD, et al. Avaliação Formativa num Ensino Diferenciado. Coimbra: Almedina,1986.
________________.Práticas Pedagógicas Profissão Docente e Formação. Lisboa: D.Quixote,1993.
________________. Dez novas competências para ensinar. São Paulo: Artmed, 2000.
PIMENTEL, M. G. O Professor em Construção. São Paulo: Papirus, 1993.
SANTOS, B.S. Introdução a uma ciência pós-moderna. Porto: Afrontamento, 1993.
SILVA, Terezinha Maria Nelli. A construção do currículo na sala de aula: o professor como pesquisador. São Paulo: EPU, 1990.
VYGOSTKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
UNIDADE II
Pressupostos da Organização do Conhecimento nos Projetos
Interdisciplinares
Esta unidade ampliará a sua concepção sobre os pressupostos da organização
do conhecimento nos projetos interdisciplinares. Daremos um novo passo, em busca da
gênese do conhecimento que está vinculado à totalidade, uma vez que advém do
enfrentamento de alguma situação concreta, de algum problema da realidade, para o qual
se busca dar conta em suas múltiplas relações.
Portanto, venha conosco interagir na construção de um conhecimento que
possibilite a mudança das práticas pedagógicas Escolares.
Objetivos Específicos da Unidade
Pretendemos nesta Unidade que, com base em sua prática educacional e no
estudo do material, você seja capaz de:
1) Diferenciar a organização do conhecimento disciplinar, multidisciplinar,
interdisciplinar, transdisciplinar e transversalmente;
2) Caracterizar os projetos interdisciplinares;
3) Identificar as fases de elaboração dos projetos interdisciplinares;
4) Elaborar projetos interdisciplinares para a Escola.
Para iniciarmos esta Unidade II, convidamos você a ler e refletir com atenção este
poema de João Cabral de Melo Neto:
Tecendo a Manhã
Um galo sozinho não tece uma manhã: ( )
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele ( )
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe um grito que um galo antes ( )
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem ( )
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã desde uma teia tênue, ( )
se vá tecendo, entre todos os galos.
E se encorpando em tela, entre todos,
e se erguendo tenda, onde entrem todos, ( )
se entretendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
2. – A PEDAGOGIA INTERDISCIPLINAR: REFLETINDO AS DIMENSÕES DA
TOTALIDADE DO CONHECIMENTO
Vamos iniciar nossa conversa, lembrando o que você aprendeu na unidade
anterior, que ao longo do processo histórico da educação Escolar, o saber ensinado
sempre fora organizado em disciplinas, e isso levou a uma crescente fragmentação do
mesmo, que tem se constituído interdependente em si.
Você percebeu que na sua gênese, o conhecimento está vinculado à totalidade,
uma vez que advém do enfrentamento de alguma situação concreta, de algum problema
da realidade, para o que se busca dar conta de suas múltiplas relações. Entenda que
agora precisamos pensar a educação na perspectiva da totalidade, que busca a inserção
da experiência de aprendizagem num quadro mais geral da realidade e do saber, ou seja,
uma abordagem interdisciplinar.
Precisamos relembrar, para que você tenha bastante clareza, os enfoques que
embasam o paradigma disciplinar, para que perceba a importância do interdisciplinar na
organização dos projetos interdisciplinares na escola.
2.1 – O PARADIGMA DISCIPLINAR
Convidamos você a analisar o termo disciplinar sob dois enfoques:
Primeiramente, vamos compreender o Epistemológico, que está relacionado ao
modo como o conhecimento é produzido, ou seja, a disciplina é vista como ciência, de
características próprias, obtida por meio de método analítico, linear e atomizador
(fragmentador) da realidade. Você deve perceber que corresponde, portanto a um saber
especializado, ordenado e profundo que permite ao homem o conhecimento da realidade.
O enfoque Pedagógico está relacionado à forma como o conhecimento é
organizado no ensino. Podemos perceber que no contexto pedagógico, o conhecimento já
produzido é submetido, novamente, ao tratamento metodológico analítico, linear e
atomizador, agora com o objetivo de facilitar a sua apreensão pelos estudantes.
Sendo o conteúdo das disciplinas o resultado de um duplo processo de
atomização, instaura-se, por esse procedimento e em conseqüência, a ênfase sobre
informações isoladas que passam a valer por elas mesmas e não por sua capacidade de
ajudar o homem a compreender o mundo, a sua realidade e a posicionar-se diante de
seus problemas vitais e sociais; descuida-se igualmente, do processo de apropriação
crítica e inteligente do conhecimento e mais ainda de sua produção, pois o ensino, em
geral, centra-se na reprodução do conhecimento já produzido.
Podemos perceber que a organização por disciplina está ancorada no paradigma
positivista de compreensão de ciência, método e de sujeito. Assim, perceba que os
pressupostos desse tipo de organização ou áreas especializadas de estudo associa-se à
compreensão de que:
O universo é um sistema mecânico composto de unidades materiais elementares,
que podem ser compreendidas de forma descontextualizada;
A matéria é inerte e passiva, contida na forma, com um significado próprio
identificável, mediante a adoção de método científico;
Se alguma coisa existe, existe em alguma quantidade, e se existe em alguma
quantidade, pode ser medida.
Vamos juntos relembrar a base epistemológica do conhecimento disciplinar
centrada no racionalismo, que você já estudou no Módulo II.
Descartes, principal representante do racionalismo, abriu caminho para uma
concepção de conhecimento que devia basear-se nas evidências empíricas e em sua
simbolização matemática para considerar-se verdadeiro. A influência desse tipo de
pensamento, que consagra a racionalidade das Ciências Naturais que emergem nos finais
do século XVII como a única forma de racionalidade válida para ter acesso à verdade, é
fundamental para compreender o sentido do conhecimento “socialmente válido” para a
Escola e a exclusão de outras formas de racionalidade vinculada a outro tipo de saberes
“não científicos”.
2.2 – O PARADIGMA INTERDISCIPLINAR
Comecemos primeiro analisando o objetivo da interdisciplinaridade, que centra-se
em promover a superação da visão restrita do mundo e a compreensão da complexidade
social, resgatando assim, a centralidade do homem na produção do conhecimento, tendo
como perspectiva permitir uma melhor compreensão da realidade e do homem como ser
determinante e determinado.
A aplicação do paradigma interdisciplinar na Escola tem por objeto as disciplinas
Escolares e conduz ao estabelecimento de ligações de complementaridade entre as
matérias escolares. Deste modo tem por finalidade a integração de aprendizagens e
conhecimentos, bem como a formação de atores sociais.
Perceba bem, que no campo da Ciência, há necessidade de superar a visão
fragmentada de produção de conhecimento, como também de articular e produzir
coerência entre os múltiplos fragmentos que estão postos no acervo de conhecimento da
humanidade.
Dessa forma, lembre-se que a construção do conhecimento interdisciplinar é
orientada por pressupostos e respectivos métodos, que se diferenciam diametralmente
daqueles que orientam a construção do conhecimento disciplinar especializado. Podemos
indicar, como pressupostos:
• a realidade é o campo e horizonte determinado de vida, é construído mediante uma
tela de eventos e fatores que ocasionam conseqüências encadeadas e recíprocas;
• a realidade desse universo é dinâmica, estando em contínuo movimento, sendo
construída socialmente;
• a verdade é relativa, pois o que se conhece depende diretamente da ótica do sujeito
cognoscente.
Você não pode perder de vista, que os primeiros esforços de professores
engajados no processo de construção de uma prática interdisciplinar, caracteriza-se,
sobretudo, pela construção de um trabalho de equipe, pelo estabelecimento do diálogo
entre professores, de modo que conheçam, os seus respectivos trabalhos. Á medida que
esse entendimento é conseguido, percebem que ele não basta, que é necessário
questionar o próprio conhecimento e a forma como é produzido e trabalhado.
O trabalho pedagógico na perspectiva interdisciplinar exige que se coloque em
prática condições apropriadas para provocar e sustentar o desenvolvimento de processos
integradores e de apropriação de conhecimentos, como produtos cognitivos com os
alunos. Isso requer:
a. uma organização dos conhecimentos escolares prevalecendo sobre os
planos curriculares e didáticos;
b. o estabelecimento de ligações entre teoria e prática;
c. o estabelecimento de ligações entre os distintos trabalhos de um segmento
real de estudo;
d. ligações de complementaridade entre as matérias escolares.
O comportamento humano se expressa de forma dinâmica, mediante um
complexo processo de resolução de forças polares que precisam ser problematizadas
para o movimento interdisciplinar.
Vamos clarificar nossa afirmação acima. Através do quadro abaixo, você pode
verificar princípios da formação do homem nos dois paradigmas como nos sugere Luck
(1994).
Paradigma disciplinar Paradigma interdisciplinar• egoísmo
• omissão
• individualismo
• isolamento
• acomodação
• atenção dispersa
• sujeito
altruísmo
participação
espírito de grupo
engajamento
ação
atenção concentrada
objeto
Dessa forma, podemos perceber que na atualidade, temos privilegiado a prática de
uma educação em que professores e alunos visualizam-se por inteiro no processo,
estabelecendo-se uma mudança de atitude a respeito da formação e ação do homem, das
quais fazem parte, os aspectos afetivos, relacionais e éticos, concomitantemente, com os
racionais, lógicos e objetivos.
Agora lembre-se, que não há receitas para a construção interdisciplinar na escola.
Ela se constitui em um processo de intercomunicação de professores que não é dado
previamente e sim, construído por meio de encontros e desencontros, hesitações e
dificuldades, avanços e recuos, tendo em vista que, necessariamente, se questiona a
própria pessoa do professor, e seu modo de compreender a realidade no processo.
Porém, acreditamos que uma das formas de efetivarmos esta concepção na prática é a
utilização dos Projetos Interdisciplinares na Escola.
2.3 – AS DIMENSÕES DA TOTALIDADE DO CONHECIMENTO
Agora vamos estudar sobre as dimensões da totalidade do conhecimento, para que
você possa compreender de forma bem clara o conhecimento interdisciplinar. Este estudo
aponta para as seguintes dimensões de totalidades:
• do sujeito do conhecimento;
• do objeto do conhecimento;
• do contexto do conhecimento.
Iniciaremos nossa reflexão abordando a primeira totalidade. Segundo Vasconcellos
(1998), faz-se necessário resgatar a totalidade relativa ao sujeito, através de suas várias
dimensões, rompendo com uma possível visão intimista ou psicologizante do ensino.
Essa dimensão é tão fundamental que define sua própria essência: “o indivíduo é um ser
social”.
Os educadores precisam dessa compreensão de totalidade dos educandos, pois,
os educadores nunca se encontram com “um aluno em si”, mas com um aluno que
desenvolve-se sob determinadas relações sociais. O desafio que se faz, pois, para com
essa nova sociedade é transformar essas relações, buscando “substituir o indivíduo
parcial, mero fragmento humano que se repete sempre uma operação parcial, pelo
indivíduo integrante desenvolvido, para o qual as diferentes funções sociais não
passariam de formas diferentes e sucessivas de suas atividades.
Lembre-se: o sujeito do conhecimento é alguém que interage e está em interação
social, e que, portanto, precisa desenvolver habilidades na Escola que os capacite na
resolução de problemas de ordem ética, profissional, pessoal, interventiva, relacional e
afetiva no convívio em sociedade.
Continuando nossa reflexão, chegamos a segunda dimensão: a totalidade do
objeto do conhecimento que aponta para a superação da fragmentação do saber e da
realidade, tal qual se encontra hoje, implica em recuperar a integração das matérias.
Cada disciplina deve contribuir no processo educacional, onde esse conhecimento vai
convergir em dialogo com as demais, numa abordagem interdisciplinar da realidade.
E não esqueça que a Interdisciplinaridade propõe uma orientação para o
estabelecimento da esquecida síntese dos conhecimentos, não apenas pela integração
de conhecimentos produzidos nos vários campos de estudo, de modo a ver a realidade
globalmente, mas, sobretudo, pela associação dialética entre dimensões polares, como
teoria e prática, ação e reflexão, generalização e especialização, ensino e avaliação,
meios e fins, conteúdo e processo indivíduo e sociedade, etc.
Através do estabelecimento das múltiplas relações, o objeto (que pode ser uma
situação-problema) inicialmente “admirado” como se fosse um todo isolado, vai-se
“entregando” aos sujeitos cognoscentes como um sub-todo que, por sua vez, é parte de
uma totalidade maior. Segundo Freire (1999), os sujeitos cognoscentes vão perseguindo
a solidariedade entre as partes constituintes da totalidade – esforço totalizador.
Você certamente tem consciência que: no ensino tradicional é comum a visão de
que se deve ir “da parte para o todo”; acontece que sem uma perspectiva de totalidade –
ainda que sincrética – o conhecimento carece de sentido para o aluno; se o objeto é tirado
de seu contexto, perde o sentido: só no conjunto se pode articular o sentido.
Então, já podemos afirmar: Toda e qualquer mediação na construção do
conhecimento acontece por meio de vínculos sociais, o que nos instiga a pensar que a
interação no ato pedagógico é de fundamental importância.
Passemos agora para o conhecimento da totalidade do contexto de conhecimento,
em que o ensino tal como é ministrado atualmente, não estabelece vínculos com a
existência dos alunos, e isso dificulta o processo ensino- aprendizagem, pois os saberes
adquiridos na Escola, na comunidade e na sociedade, são necessários para a formação
do aluno quanto “cidadão do mundo”.
Você deve perceber, o quanto são comuns as reclamações entre os professores de
que, na própria Escola, existe uma fragmentação entre as séries e os cursos. Ao que
parece, pela prática de muitos professores, o aluno não freqüenta um curso, mas uma
superposição de séries: cada coisa deve “ser dada” numa série determinada; cada série
ou curso teria uma finalidade em si, ao invés de estarem articulados a um conjunto.
Num certo sentido, o que lhe parece afirmarmos que a educação é feita por
“osmose”, na qual participam todos os elementos com os quais os alunos têm contato. A
relação do aluno com o meio tem uma profundidade que poderíamos chamar de
estruturação epistemológica, indo além de valores, informações ou hábitos, por isso o
“espaço” também tem função educativa.
2.4 – A PRÁTICA INTERDISCIPLINAR NA ESCOLA: CAMINHOS
A vivência da interdisciplinaridade em sala de aula se dará através do espírito de
parceria, de integração entre teoria e prática, conteúdo e realidade, objetividade e
subjetividade, ensino e avaliação, meios e fins, tempo e espaço, professor e aluno,
reflexão e ação e outros fatores integrantes do processo pedagógico. Contudo, você deve
ficar alerta que a interdisciplinaridade não deve ser confundida com:
trabalho cooperativo e em equipe;
visão comum do trabalho, pelos participantes de uma equipe;
integração de funções;
cultura geral;
justaposição de conteúdos;
adoção de um único modo de trabalho por várias disciplinas.
Você não concorda que a maioria das práticas tem apontado para o que
apresentamos acima?
Desta maneira, em vez de ficarmos presos a rótulos, tentando identificar se é ou
não é uma prática interdisciplinar, devemos entender que a caminhada interdisciplinar
objetiva:
A realização do homem como pessoa, em todas as suas dimensões;
A superação de individualismo, desesperança, desajustamentos, enfim problemas
existenciais oriundos de uma ótica fragmentador;
A integração política e social do homem em seu meio.
Assim, atente que cabe a educação ajudar ao homem em todos esses aspectos.
Essa é a sua finalidade como deveria ser a finalidade de todas as ações humanas
voltadas para a formação do homem.
A grande preocupação na atualidade é considerar o repensar e o reinventar a
Escola se quisermos oferecer possibilidades de construção da própria identidade como
sujeitos históricos e como cidadãos, e não só aprender “conteúdos”.
Então, já podemos afirmar, que os debates em equipe mostram que cada um de
nós possui concepções próprias sobre os vários elementos que consideramos
importantes na realização do trabalho escolar. Entretanto, para que o trabalho pedagógico
mostre a sua face inovadora, essas concepções precisam ser discutidas com o coletivo
da escola e orientadas para uma mesma direção, unindo esforços de todos em torno da
escola que queremos.
Como você percebe, há uma Escola real, a que temos, e uma outra, que
consideramos ideal. Em nosso cotidiano, precisamos construir um projeto de Escola com
base nas concepções que entendemos serem as mais adequadas a concretização de
nossas práticas.
No entanto, não esqueça que nem sempre as concepções apontadas coincidem
com as da realidade. Este é um sinal de que todos nós sonhamos com outra escola, cujo
trabalho está baseado em concepções diferentes daquelas que diagnosticamos no dia-a-
dia de nossas práticas.
Agora, é necessário diferenciarmos alguns conceitos relacionadas com
interdisciplinaridade tais como: Multidisciplinaridade, Pluridisciplinaridade,
Transdisciplinaridade, para maior clareza, ao propormos um projeto interdisciplinar na
escola.
Vamos identificar as diferentes conceituações, iniciando pelo conceito de
Multidisciplinaridade, que aponta para:
• integração de diferentes conteúdos de uma mesma disciplina;
• conteúdos de forma estanque e compartimentada;
• inexistência de relação entre as disciplinas, sem a preocupação de integração
entre as mesmas.
Agora, passaremos a ver o conceito de Pluridisciplinaridade, que postula os
seguintes caminhos:
• existem sinais de uma pequena cooperação entre as diferentes disciplinas, mas
ainda mantém objetivos distintos;
• cooperações ocorrem de forma intuitiva;
• não existe integração dos temas abordados, como também não existirá nenhuma
correlação das diferentes disciplinas com um mesmo tema;
• os temas continuam sendo tratados de forma compartimentada.
É necessário também, para nossa reflexão, chegarmos até o conceito de
Transdisciplinaridade, em que seria o mais alto das relações iniciais nos níveis multi,
pluri e interdisciplinares. Para Fazenda (2002), além de se tratar de uma utopia, apresenta
uma incoerência básica, pois a própria idéia de uma transcendência pressupõe uma
instância científica que imponha sua autoridade às demais, e esse caráter impositivo da
transdisciplinaridade negaria a possibilidade do diálogo, condição sine qua non para o
exercício efetivo da interdisciplinaridade.
Perceba que a transdisciplinaridade representa uma concepção de pesquisa que
se baseia num marco de compreensão novo e compartilhado por várias disciplinas, que
vem acompanhado por uma interpretação recíproca das epistemologias disciplinares.
Então já podemos afirmar a importância da cooperação, pois dirige-se para
resolução de problemas e se cria a transdisciplinaridade pela construção de um novo
modelo de aproximação da realidade do fenômeno que é objeto de estudo.
Podemos concluir que concepção transdisciplinar emerge como uma das
características que hoje aparece no âmbito da pesquisa, de maneira especial nas áreas e
problemáticas que recebem um maior reconhecimento na comunidade científica.
Uma proposta para começar abordar a perspectiva transdisciplinar em educação
deveria começar a perguntar-se sobre o porquê de determinadas disciplinas, e não
outras, estarem no currículo; com que função as disciplinas entraram no currículo, etc.
É bom você saber, que o estudo da Comissão da UNESCO, sobre a educação do
século XXI, assinala que a educação Escolar se encontra em meio a uma série de
tensões que é preciso superar: entre o global e o local, o espiritual e o material, o universo
e o particular, a tradição e a modernidade, o longo e o curto prazo, o desenvolvimento dos
conhecimentos e de sua capacidade de assimilação, a necessidade de compartilhar e o
princípio de igualdade de oportunidades.
Perceba ainda, que na transdisciplinaridade o que se destaca das diferentes
versões é que apontam outra maneira de representar o conhecimento Escolar, baseada
na interpretação da realidade, orientada para o estabelecimento de relações entre a vida
dos alunos e professores e o conhecimento disciplinar e transdisciplinar, (que não
costuma coincidir com o das matérias escolares) vão elaborando.
Se você ainda necessita de referências para produzir o seu entendimento
colocamos a sua disposição um glossário:
• Multidisciplinaridade - Termo que pode ser utilizado quando da integração de
diferentes conteúdos de uma mesma disciplina.
• Pluridisciplinaridade - Nesta prática, não existe uma coordenação: as possíveis e
raras cooperações ocorrem de forma intuitiva.
• Interdisciplinaridade - É o trabalho de integração das diferentes áreas do
conhecimento, um real trabalho de coordenação e troca, aberto ao diálogo e ao
planejamento.
• Transdisciplinaridade - Seria o mais alto nível das relações iniciais nos níveis
multi, pluri e interdisciplinares.
Prosseguiremos rumo aos passos do projeto interdisciplinar na Escola.
Vamos apontar agora para você o projeto interdisciplinar como uma das
possibilidade de organização do conhecimento na Escola que dê conta de construir uma
educação emancipadora, mas é necessário que verifiquemos alguns pontos que
consideramos fundamentais para essa caminhada.
2.5 – OS PROJETOS INTERDISCIPLINARES NA ESCOLA
Para iniciar este estudo sobre os projetos interdisciplinares na escola faça a leitura
do texto a seguir, um fragmento de um texto maior, intitulado “Repensar a função da
Escola a partir dos projetos de trabalho” de Fernando Hernández publicado na Revista
Pátio, 1998.
De que falamos quando falamos de projetos de trabalho
A primeira dessas questões estabelece-se em termos de inovação e é
formulada quando há dúvidas se os projetos são uma novidade ou uma adaptação dos
projetos realizados por Kilpatrick, em 1918. Diante de tal dúvida, diria que a realidade e os
problemas para os quais tentamos encontrar respostas na atualidade, e aos quais se
vinculam os projetos de trabalho, não coincidem com os desafios que eram enfrentados
por Dewey e Kilpatrick no início deste século. Tampouco têm a ver com as propostas de
Bruner nos anos 60, ou de Stenhouse nos anos 70. Ou com o ensino por “temas” do
currículo inglês, com as unidades didáticas vinculadas ao conhecimento do meio do
currículo espanhol, ou com a noção de projetos da forma como é apresentada pelo
movimento de ensino para a compreensão da Universidade de Harvard (Wiske, 1998),
embora existam aspectos e finalidades entre os quais há alguma concordância com todos
eles [...].
De Bruner tomamos a proposta de que o ensino deveria preocupar-se em
facilitar para os alunos o desenvolvimento de conceitos-chave vinculados às estruturas
dos conhecimentos que não devemos confundir com as disciplinas escolares) e colocar
em prática os procedimentos de pesquisa desses conhecimentos, para que o aluno possa
aplica-los e continuar, assim, aprendendo em outras situações.
De Stenhouse tomamos a importância de aprender a partir de situações-
problema. Vinculamos essa proposta à importância que outorgamos ao contexto da
aprendizagem e a “situar” o que se aprende que os alunos aprendam em relação à(s)
cultura(s) nas quais os conhecimentos tiveram origem e onde serão utilizados.
Das linhas educativas da década de 80 temos presente, por um lado, a visão
construtivista sobre a aprendizagem e, particularmente, a idéia de que o conhecimento
que o aprendiz possui exerce uma poderosa influência na forma como ele adquire um
novo conhecimento [...].
Finalmente, levamos em consideração as contribuições da pesquisa
sociocultural, que enfatizou o valor que possui a criação de um modelo de participação e
de interação para o favorecimento da aprendizagem, não apenas entre os alunos, mas
com a comunidade. O que pretendemos é contribuir com a Escola para a formação de um
sentido da cidadania que favoreça o diálogo crítico, para saber de onde procedem as
visões do mundo que nos são oferecidas naquilo que estudamos e os valores e grupos
que são legitimados e/ou excluídos nessas informações e visões do mundo [...]
Inquieta-me que se diga que estamos propondo o mesmo que esses autores e
movimentos educativos, pois com isso se cria uma confusão que ajuda muito pouco o
corpo docente, o qual enfrenta alguns dos desafios que representa a torrente de
informação atual, as mudanças nos conhecimentos disciplinares e não encontra respostas
na concepção do currículo e na seleção de conteúdos que lhe são oferecidos, por
exemplo, nos Parâmetros Curriculares.
Tampouco contribuem para esclarecer o sentido dos projetos aqueles que, sem
terem se aproximado do que estamos propondo e colocando em prática nas salas de
aula, o desqualificam dizendo que não são considerados os conhecimentos prévios dos
alunos, que se está indo contra a organização do currículo por matérias ou que os
projetos terminam na realização de um produto final, de maneira que não levam em
consideração a avaliação [...].
De qualquer forma, vale a pena reiterar que os projetos de trabalho supõem, em
nossos debates e experiências, uma abordagem do ensino que procura redefinir a
concepção e as práticas educativas e dar respostas (repito, não a resposta), às mudanças
sociais, às mudanças experimentadas pelas crianças e não simplesmente readaptar uma
proposta do passado e atualizá-la [...]
É mais fácil modificar as práticas do que as concepções
Tudo o que colocamos anteriormente serve como argumentação para lembrar
que os projetos de trabalho não podem ser considerados como uma fórmula ou uma
metodologia didática, nem devem ser separados de sua dimensão política [...] de como o
corpo docente situa-se diante dos projetos de trabalho, detectar quatro “concepções” a
partir das quais os docentes se situam diante dos projetos [...] Espero que a organização
dessas concepções contribua para esclarecer o nosso sentido dos projetos de trabalho.
De acordo com a primeira concepção, os projetos são considerados uma
metodologia, vinculada a uma série de tradições educativas que têm estado presentes ao
longo de todo este século, vinculadas a movimentos renovadores e que têm proposto
experiências diversas com os centros de interesse ou as unidades didáticas. Essa
concepção destacaria, principalmente, a importância de um saber fazer que dá atenção a
uma série de passos ou momentos que possam ser realizados de uma maneira mais ou
menos inovadora, mas que muda muito pouco as concepções dos docentes sobre as
possibilidades de aprendizagem de seus alunos, a organização dos conhecimentos e a
função da Escola [...].
Essa concepção manifesta-se nos docentes que querem saber “como se faz um
projeto”, “como detectar o problema que é objeto de estudo a partir das manifestações
dos alunos”, “como organizar os conteúdos para vinculá-los com as disciplinas dos
Parâmetros Curriculares”, “o que fazer se os alunos não trazem fontes de informação”,
“que perguntas fazer para a avaliação”.
A segunda concepção denominamos atitudinal. Tal perspectiva está presente
nos docentes que, através dos projetos de trabalho, valorizam o “mundo” das crianças e
dos adolescentes como fonte de aprendizagem. Eles sabem “escutar” e “interpretar” o
conhecimento de seus alunos e, por isso, consideram que não se deve colocar entraves
na sua aprendizagem. Para esses professores os conteúdos do currículo oficial são
limitadores diante das possibilidades reais, dos interesses e das formas de pensamento
dos alunos. Por isso, consideram os projetos de trabalho como um caminho que lhes
permite a quebra de barreiras e de tópicos do tipo “os alunos não podem compreender um
mapa aos seis anos”, “não faz sentido mudar um contexto do passado aos oito anos,
porque os alunos ainda não têm consciência do tempo histórico”.
[...] Tal atitude está orientada não somente pela sua experiência e pelas
observações que realizaram sobre o que os alunos (principalmente os menores) “são
capazes” de aprender, mas por uma concepção educativa que considera que se aprende
não pela acumulação, mas mediante relações. O que se aprende não se torna
significativo no momento, mas o tempo e as novas experiências são importantes aliados
na construção do próprio saber. Isso faz com que considerem a importância de introduzir
noções e experiências que os especialistas dizem que não são adequadas para as
acrianças de tal idade, porque não as entenderiam; mas eles sabem que a compreensão
é um processo e os conteúdos, um “lugar” de encontro de significados que se constroem
de maneira social na sala de aula.
À terceira concepção damos a denominação de transdisciplinar”. Os
professores que se situam a partir da mesma possuem uma posição diante do
conhecimento escolar que implica a necessidade de redefinir o sentido das disciplinas, os
conhecimentos escolares, as formas de saber (sejam legitimadas ou não pelo currículo), a
maneira de apresentá-los e organiza-los. Em suma, o que hoje ensinamos na escola.
Esses docentes consideram os projetos de trabalho como um processo de
questionamento que lhes permite favorecer a aprendizagem dos alunos a partir da
investigação vinculada a problemas relacionados com situações da vida real –
entendendo por “vida real” não apenas o próximo, mas também o modo como hoje as
disciplinas (fora da Escola) colocam a pesquisa em seus respectivos domínios. Tudo isso
como forma de enfrentar o dilema da seleção de alguns conteúdos diante da
multiplicidade de possíveis matérias e temas de estudo que as diferentes disciplinas e
realidades sociais hoje oferecem. [...] Essa concepção entra em choque, principalmente
nas escolas de 2º grau, com a permanência das abordagens disciplinares, nas quais os
problemas são estudados de maneira fragmentada, sob a ótica da parcela interpretativa
na qual se movimenta cada professor, que, por sua vez, deve levar em consideração os
interesses das áreas no sistema de ensino, que se concretiza tanto na formação (somo
um especialista em química antes de sermos um educador) como nos livros-texto.
[...] Trata-se, então, de ensinar aos alunos a interpretar a realidade, o que
significa interessar-se pelas diferentes versões dos fenômenos, pelas suas origens e pela
busca das forças (os poderes) que as interpretações criaram.
A concepção reconceitualizadora: Os professores que se situam nesta
perspectiva consideram os projetos de trabalho como uma estratégia para recriar a
Escola, enquanto mediadora na construção de identidades das crianças e dos
adolescentes, restabelecer o sentido do que “hoje” é pertinente para o ensino e a
necessidade de fazer compreender aqueles que estão fora da Escola (famílias,
formadores, políticos, meios de comunicação...) que essa instituição não pode seguir os
mesmos caminhos para os quais foi criada há 150 anos.
Nessa concepção, considera-se que, na cultura contemporânea, uma questão
fundamental para que o indivíduo possa “compreender” o mundo no qual vive é que saiba
como acessar, analisar e interpretar a informação. Na educação escolar (desde a escola
infantil até a universidade), supõe-se que se deva facilitar esse processo (que começa,
mas que nunca termina), pois sempre podemos ter acesso a formas mais complexas de
dar significado a informação. E isso nos leva a formas mais elaboradas e relacionais de
conhecimento da realidade e de nós mesmos.
[...] Neste processo, as relações que vão se estabelecendo com a informação
são realizadas à medida que ela “vai se apropriando” (transferindo, colocando em
relação...) de outras situações, problemas e informações, a partir da reflexão sobre a
própria experiência de aprender entre outros possíveis caminhos e opções.
Por tudo o que dissemos, os projetos de trabalho representam uma maneira de
entender o sentido da escolaridade baseado no ensino para a compreensão, o que
implica que os alunos participem de um processo de pesquisa que tenha sentido para
eles (não porque seja fácil ou agradável) e no qual usem diferentes estratégias de estudo;
podem participar no processo de planejamento da própria aprendizagem e ajuda-os a
serem flexíveis, a reconhecerem o “outro” e a compreenderem seu próprio ambiente
pessoal e cultural (e o dos outros).
[..] Os projetos entendidos dessa maneira apontam para uma outra forma de
representar o conhecimento escolar baseado na aprendizagem da interpretação da
realidade, orientada para o estabelecimento de relações entre a vida dos alunos e dos
professores e o conhecimento que as disciplinas (que nem sempre coincidem com o das
matérias escolares) e outros conhecimentos não-disciplinares vão elaborando. Tudo isso
para favorecer o desenvolvimento de estratégias de questionamento, interpretação e
apresentação do processo seguido ao estudar um tema ou um problema que, pela sua
complexidade, favorece o melhor conhecimento dos alunos e dos docentes de si mesmos
e do mundo em que vivem. Essa posição não é, portanto, uma questão metodológica, e
sim um caminho para repensar a função da Escola a fim de responder não aos interesses
dos especialistas, mas os da comunidade educativa, em um mundo em transformação no
qual os conhecimentos estão em constante revisão.
Neste momento precisamos apontar a você alguns objetivos para Projetos
Interdisciplinares:
• vincular o que se aprende na Escola, com as preocupações dos alunos, as
questões controversas (que refletem que não existe "uma" ou "a" interpretação dos
fenômenos);
• estabelecer a "realidade" fora da Escola;
• fazer com que os alunos cheguem a ser os protagonistas da aprendizagem e não
do poder regulador do professor.
Algumas Escolas organizam o currículo por projetos e a atividade docente de
maneira diversificada, onde os alunos se agrupam a partir dos temas ou problemas que
vão pesquisar, e não por questões de nível ou de idade. Nessas Escolas, o que importa é
que cada aluno vá aprendendo a organizar e orientar seu processo de aprendizagem em
colaboração com o professor e com os outros alunos.
O ensino mediante “projetos de trabalhos”, “centros de interesses”, “projetos
interdisciplinares”, “currículo integrado”, “pesquisa sobre o meio”, e “créditos de síntese”
foram algumas das iniciativas que se desenvolveram para responder, de uma maneira
mais ou menos satisfatória, às mutáveis demandas e necessidades as quais a Escola
deve buscar responder.
É necessário que mostremos a você algumas dificuldades de implementar uma
prática interdisciplinar na Escola:
• obstinação em cumprir todo seu conteúdo, ou ainda, na insegurança de como
proceder como ator de um projeto interdisciplinar;
• O não-entendimento de uma proposta interdisciplinar;
• ausência de um planejamento coletivo e trocas de experiências das práticas;
• Ausência de apoio pedagógico na organização da prática como um processo
investigativo (registro, observação, planejamento, intervenção e avaliação);
• Limitações dos professores no momento de ensinar o currículo integrado de
Ciências ou de História, porque se produz reducionismo e lacunas na maneira de
tratar os conteúdos;
• A questão da utilização do tempo de ensino.
A partir deste momento precisamos ter certas preocupações importantes para
termos uma atitude interdisciplinar.
Não basta somente ter boa vontade para mudar a realidade, é necessário haver
vontade política para se pôr em prática o discurso, e assim assumir uma atitude
interdisciplinar. Tal atitude ainda exigirá que você rompa com velhos paradigmas, e
acredite no novo, pois conceber a hipótese de que o aluno é possuidor de um espectro de
competências ávidas a serem desenvolvidas, e que apenas ministrando 100% de um
determinado conteúdo, não garante os estímulos, as ações, as vivências, a interação
social e todos os demais fatores essenciais à construção do conhecimento. O que
devemos pressupor:
• Uma formação humana integral e sólida;
• O significado da aprendizagem;
• O papel dos saberes dos alunos nas atividades educativas;
• A diversificação das atividades formativas;
• O trabalho coletivo;
• A investigação integrada ao ensino-aprendizagem.
Hernandez (1998:53) nos aponta os argumentos a favor do currículo integrado de
caráter interdisciplinar:
Considera que essa perspectiva não só favorece o ensino e a aprendizagem,
mas também que se constitui a chave para a melhoria da escolaridade;
Consegue ser mais eficaz na utilização do tempo, estimula o conhecimento dos
professores, a relevância e a coerência do currículo, assim como o
envolvimento dos estudantes;
Evita as repetições de temas e conceitos tão freqüentes ao longo da
escolaridade, devido à falta de coordenação entre os professores;
Favorece a comunicação e o intercâmbio entre os docentes, o que repercute
não só na melhoria da qualidade do ensino, mas também no acompanhamento
personalizado da aprendizagem dos alunos.
Um currículo integrado também está sujeito a criticas principalmente pelos
defensores de um currículo acadêmico e que podemos resumir a seguir:
Baixam-se os níveis de ensino; destrói-se o rigor das matérias escolares e
dificulta o vínculo aos programas de Vestibulares, por exemplo;
Há uma redução dos conteúdos de ensino e lacunas no modo de tratar os
conteúdos;
Gasta-se muito tempo, exige maior dedicação dos professores na medida em
que eles têm que planejar seus materiais de forma integrada;
Temos na Escola uma tradição disciplinar. As disciplinas possibilitam uma
ordem para o trabalho pedagógico.
Acreditamos que você deve também ter percebido ser importante repensar o saber
escolar e a função social da Escola.
Por isso, hoje começam a ser elaboradas alternativas diferenciadas por docentes
que tentam, com seus alunos, aprender de outra maneira, centrando-se em problemas
relacionados com sua cultura e com sua realidade e que podem ser objeto de pesquisa. O
que se ensina na Escola está filtrado e selecionado e pode estar longe do que preocupa
as disciplinas a que se faz referência, ou aos problemas que os distintos saberes se
propõem na atualidade.
Portanto, pautadas num currículo integrado como marco para repensar a
organização do conhecimento na Escola um sentido comum emerge entre todas essas
propostas: ensinar os alunos a pesquisar a partir dos problemas relacionados com
situações da vida real. Frente à experiência fragmentada que possibilita a formação atual
dos estudantes, o denominado currículo integrado, pretende assim, organizar os
conhecimentos Escolares a partir de grandes temas-problemas que permitam não só
explorar campos de saber tradicionalmente fora da Escola, mas também ensinar os
alunos uma série de estratégias de busca, ordenação, análise, interpretação e
representação da informação que lhes permitirá explorar outros temas e questões de
forma mais ou menos autônoma.
2.6 - O PAPEL DO CURRÍCULO INTEGRADO: EDUCAR PARA APRENDER A DAR
SENTIDO (COMPREENDER)
Como você deve ter observado a finalidade da organização dos conhecimentos em
experiências substantivas de aprendizagem num currículo integrado não é favorecer a
capacidade de aprender conteúdos de uma maneira fragmentada, e sim interpretar os
conhecimentos que se encontram nessas experiências.
Interpretar é, portanto, decifrar. Significa decompor um objeto (a representação) e
seu processo produtivo, descobrir sua coerência e outorgar aos elementos e as fases
obtidas, significados intencionais, sem perder nunca de vista a totalidade do que se
interpreta.
Nesse sentido você deve entender que, interpretar significa interessar-se pelas
diferentes versões dos fenômenos, por suas origens e pelas busca das forças (os
poderes) que criaram as interpretações. Esse processo leva a uma grande discussão
cultural que seria o que deve consistir no eixo de um currículo transdisciplinar. A metáfora
da “rede” como estratégia para organizar um currículo integrado.
Considerando a processo de aprendizagem temos os seguintes pressupostos:
• Considerar os processos sociais, cognitivos e culturais dos alunos, dos pais e do
professor;
• Cada aluno possui um ritmo próprio, logo a sala de aula é um espaço heterogêneo,
múltiplo e diverso. O espaço educativo deve considerar a unidade na diversidade;
• O conhecimento das diversas disciplinas devem servir de canal para o processo de
formativo dos alunos que autoriza o movimento interdisciplinar;
• O conhecimento não é uniforme – há necessidade de diversas atividades para
aprendizagem dos alunos;
• A sala de aula deve ser um espaço interativo com possibilidades de leitura,
contendo a produção coletiva dos alunos e esses possam recorrer para mediação
do conhecimento;
• Faz parte do processo educativo: o movimento individual e coletivo dos alunos, a
cooperação, o diálogo (saberem que podem contar com o auxílio do mestre e dos
colegas), o erro enquanto hipótese construída, a curiosidade, a motivação,
disciplina, etc.
Neste momento é urgente que façamos a seguinte reflexão: As Escolas são
instituições complexas, inscritas em círculos de pressões internas e, principalmente
externas, nas quais com freqüência as inovações potenciais precisam ser realimentadas.
Reflita bem, para que possamos avançar em nosso estudo!
2.7 – OS PROJETOS INTERDISCIPLINARES E AS MUDANÇAS "DENTRO" E "FORA"
DA ESCOLA
Os projetos interdisciplinares devem ser associados, não como uma metodologia,
mas como uma concepção de ensino, uma maneira diferente de suscitar a compreensão
dos alunos sobre os conhecimentos que circulam fora da escola e de ajudá-los a construir
sua própria identidade.
Constitui hoje um desafio para se repensar a Escola e para tentar responder ao
processo de mudança que também é vivido pelos alunos que freqüentam essa instituição.
Diante desse desafio, não podemos depositar nos projetos interdisciplinares, a
responsabilidade de ser a solução para os problemas da instituição Escolar nem, muito
menos, para tudo o que a sociedade deposita na Escola, mas que não enfrenta fora da
mesma (desigualdades, racismo, discriminação...).
Podemos argumentar no sentido de você ampliar seu conhecimento que, para a
visão construtivista a aprendizagem, é, particularmente, a idéia de que o conhecimento
que o aprendiz possui, exerce uma poderosa influência na forma como ele adquire um
novo conhecimento. O que pretendemos é contribuir com a Escola para a formação de
um sentido da cidadania que favoreça o diálogo crítico, para saber de onde procedem as
visões do mundo que nos são oferecidas naquilo que estudamos e os valores e grupos
que são legitimados e/ou excluídos nessas informações e visões de mundo.
É importante que nesse processo as circunstâncias sociais, culturais e históricas
produzam formas de representação da realidade e respostas aos problemas diferentes
em cada contexto. Os projetos interdisciplinares supõem, em nossos debates e
experiências, uma abordagem do ensino que procura redefinir a concepção e as práticas
educativas e dar respostas às mudanças sociais, às mudanças experimentadas pelas
crianças e não simplesmente readaptar uma proposta do passado e atualizá-la.
Além disso, ressaltamos que é necessário que vejamos os projetos
interdisciplinares, podendo ser uma porta que nos permita:
• aproximar-nos da identidade dos alunos e favorecer a construção de sua
subjetividade afastados de um prisma paternalista, gerencial ou psicologista;
• revisarmos a organização do currículo por disciplinas e a maneira de estabelecê-lo
no tempo e no espaço Escolar;
• resgatarmos o que ocorre fora da Escola, às transformações derivadas da imensa
produção de informação que caracteriza a sociedade atual e que torna necessário
aprender a dialogar de uma maneira crítica com todos esses fenômenos.
Perceba que, os projetos interdisciplinares não podem ser considerados como uma
fórmula ou uma metodologia didática, nem devem ser separados de sua dimensão
política. É importante destacar que não se trata de estágios ou níveis conceptuais, mas
sim, de movimentos profissionais, fruto da própria biografia e das relações que se mantém
em cada instituição.
Por tudo que dissemos, os projetos interdisciplinares representam uma maneira de
entender o sentido da Escolaridade baseado no ensino para a compreensão, o que
implica que os alunos devam participar de um processo de pesquisa que tenha sentido
para eles - não por que seja fácil ou agradável - e no qual usem diferentes estratégias de
estudo; podendo participar no processo de planejamento da própria aprendizagem que
ajuda-os a serem flexíveis, a reconhecerem o “outro” e a compreenderem seu próprio
ambiente pessoal, cultural, e o dos outros. Tal atitude favorece a interpretação da
realidade e o antidogmatismo.
2.8- PRESSUPOSTOS PARA CONSTRUÇÃO DOS PROJETOS INTERDISCIPLINARES
NA ESCOLA
Vamos conhecer em que consiste um projeto:
O projeto é uma atitude intencional, um plano de trabalho, um conjunto de tarefas
que tendem a um progressivo envolvimento individual e social do aluno nas atividades
empreendidas, voluntariamente, por ele e pelo grupo, sob a coordenação do professor.
Portanto, um projeto situa-se como uma proposta de intervenção pedagógica que dá a
atividade de aprender um sentido novo, no qual as necessidades de aprendizagem
afloram na tentativa de se resolver situações problemáticas. Um projeto gera situações de
aprendizagem, ao mesmo tempo reais e diversificadas.
Favorece assim, a construção da automia e da autodisciplina por meio de situações
criadas em sala de aula para reflexão, discussão, tomada de decisão, observância de
combinados e críticas em torno do trabalho em andamento, proporcionando ao aluno,
ainda, a implementação do seu compromisso com o social, tornando- o sujeito do seu
próprio conhecimento.
É muito difícil que o aluno, de um momento para o outro, comece a ter iniciativa e
autonomia, sem ter tido anteriormente a oportunidade de decidir, escolher, opinar, criticar,
dizer o que pensa e sente.
Precisamos entender qual a Função do Projeto:
A função do projeto é a de tornar a aprendizagem interativa, interessante,
significativa, real e atrativa para o aluno, englobando a educação em um plano de
trabalho agradável, sem impor os conteúdos programáticos de forma autoritária. Assim, o
aluno busca e consegue informações, lê, conversa, faz investigações, formula hipóteses,
anota dados, calcula, reúne o necessário e, por fim, converte tudo isso em pontos de
partida para a construção e ampliação de novas estruturas cognitivas.
Dentro dessa perspectiva entenda que, os conteúdos disciplinares, antes teóricos e
abstratos deixam de ser um fim em si mesmos e passam a se meios para ampliar a
formação dos alunos e sua interação com a realidade, de forma crítica e dinâmica. Há,
também, o rompimento com a concepção de “neutralidade” dos conteúdos disciplinares
que passam a ganhar significados diversos, a partir das experiências sociais dos alunos,
envolvidos nos projetos.
Acreditamos que você deve ter percebido que mesmo os professores
extremamente preocupados com os programas, desejam afiançar que o acervo de
conhecimentos adquiridos pelos alunos, durante as fases de planejamento execução de
um projeto, supera em muitos os conhecimentos que poderiam ser adquiridos através de
aulas expositivas e outras, uma vez que os alunos buscam os conhecimentos por
necessidades como meio, e não como um fim e por interesse.
Precisamos mostrar a você agora, as Fases de um Projeto: Identificamos quatro
fases distintas na realização de um Projeto Interdisciplinar:
1) Intenção – Esta fase é fundamental, pois dela depende todo o desenvolvimento do
projeto.
• Inicialmente, o professor deve pensar os seus objetivos educacionais e as
necessidades de aprendizagem da sua turma. Com isso, o educador se
instrumentaliza para canalizar a curiosidade e os interesses dos alunos para a
montagem do projeto, uma situação concreta a resolver. A partir daí, todas as
atividades serão socializadas;
• Escolha do tema;
• Conhecimentos prévios que possibilitam a problematização do conteúdo, o
levantamento de hipóteses, a listagem do que os alunos querem saber e a
identificação de possibilidades estratégias para o desenvolvimento do trabalho.
2) Preparação – É quando acontecem:
• A coleta e seleção do material bibliográfico (revista, enciclopédia, jornais,
panfletos, livros, livros didáticos e literários...) e recursos de ensino (filmes,
discos, slides, fitas K-7, etc).;
• A organização dos grupos e/ou duplas de trabalho e suas respectivas
tarefas;
• A montagem dos textos para as atividades de pesquisa e estudo dos alunos;
• A busca de outros meios necessários para a solução dos problemas
levantados na fase anterior.
3) Execução – Nesse momento ocorre o desenvolvimento das atividades, a
realização das estratégias para buscar respostas as questões e hipóteses
levantadas na problematização.
• O confronto, a coordenação de pontos de vista diferentes, a revisão, a
participação ativa e comprometida são condições para a construção do
conhecimento. O papel do professor em suas intervenções nesse aspecto é
fundamental. O aluno precisa se sentir desafiado a cada atividade.
4) Apreciação – Avaliação do trabalho realizado em relação aos objetivos finais:
• As informações novas;
• As questões esclarecidas;
• As conclusões construídas e o crescimento evidenciado pelos alunos
durante a realização do projeto.
Neste momento faz-se necessário pensarmos sobre a Organização do projeto:
O ponto de partida é a escolha do tema e sua problematização e neste aspecto é
importante que se:
tenha em conta a coerência do tema com focos de interesse dos alunos e
dos objetivos das diferentes disciplinas escolares;
tenha claro os objetivos que se pretende com o desenvolvimento do projeto;
considere fatores específicos da realidade local e regional, ou seja do
contexto.
É importante discutir bem isso, para que não nos deixemos levar por “temas da
moda”, Nogueira (2001:152) nos aponta algumas recomendações sobre a escolha do
tema; dizendo “A escolha não se realiza apenas levando em consideração uma temática
atraente e da “moda”, mas um que possa ser problematizável, de fácil integração,
relevante, favorecedor de mudanças nas estruturas mentais e passível de atingir
objetivos. Observe no quadro a seguir o roteiro sugerido pelo autor e, bem assim uma
lista de checagem que pode ser utilizada na análise de um projeto. Após a definição do
tema parte-se para o planejamento efetivo do projeto. Não há um modelo de roteiro mas
indicamos o proposto por Nogueira(2001) e pedimos que você observe como ele trabalha
cada item.
Nome do Projeto:Check-list da escolha do tema e/ou objeto de pesquisa (investigação):
É problematizável ( ) sim ( ) não
É de fácil integração ( ) sim ( ) não
É relevante ( ) sim ( ) não
Pode provocar mudanças nas estruturas mentais ( ) sim ( ) não
Passível de atingir objetivos ( ) sim ( ) nãoObjetivo(s):Ações planejadas para envolver:
Professores
Alunos
Comunidade externaSéries e/ou ciclos envolvidos no Projeto:Disciplinas envolvidas no Projeto:Possíveis atividades a serem desenvolvidas (criadas, pesquisadas,
investigadas, etc) em:1
Língua Portuguesa -
Matemática -
Ciências (Física, Química e Biologia) -
Educação Artística -
História -
Geografia –
Inglês –
Educação Artística –
Informática –
Outras -
1 Lembrando que, quem planejará o conteúdo e ações é o aluno. O planejamento aqui mencionado servirá como “carta na manga” do professor, caso ele necessite auxiliar seus alunos com idéias e sugestões.
Sistema de avaliação das aquisições dos alunos:Sistema(s) de apresentação/exposição do Projeto:Sistema de avaliação final do Projeto:
Vamos analisar o tema: Efeito Estufa, verificando se ele pode ser um bom objeto
de estudo.
1ª Etapa - Análise:
Nome do Projeto: Efeito EstufaCheck-list da escolha do tema e/ou objeto de pesquisa (investigação):
É problematizável ( ) sim ( ) não
Acreditamos que devido aos possíveis efeitos causados ao meio ambiente, o
tema efeito estufa pode ser facilmente problematizado junto aos alunos.
É de fácil integração ( ) sim ( ) não
Temática básica de ciências, porém de fácil integração com a matemática no
estudo e cálculos dos efeitos e sua evolução, na geografia com o levantamento das
regiões de maior predominância, em português na dissertação dos alertas à
comunidade, etc.
É relevante ( ) sim ( ) não
Quando analisado da ótica dos efeitos ao meio ambiente, nos futuros
problemas acarretados aos seres vivos, o aluno se coloca frente ao problema, já
que ele é um dos componentes vivos deste meio. Nesta perspectiva, o tema parece
ser extremamente relevante para ele.
Pode provocar mudanças nas estruturas mentais ( ) sim ( ) não
É muito possível que pela abrangência do tema e da problematização, este
Projeto se bem trabalhado de forma interdisciplinar, pode provocar mudanças na
estrutura mental do aluno, em face da riqueza de investigações propiciadas e das
reflexões atitudinais solicitadas. Não se trata de um tema irrelevante nem de
simples entendimento, o que de uma certa forma deverá tanto motivar como
desafiar os alunos na busca de informações e apropriações de conhecimentos.
Passível de atingir objetivos ( ) sim ( ) não
Esta resposta dependerá dos objetivos que foram traçados pela equipe.
2ª Etapa – Planejamento Efetivo do Projeto
Definindo o tema, o próximo passo refere-se ao planejamento dos objetivos, ações,
atividades, etc., conforme análise em seguida:
Objetivo(s):
Desafiar os alunos, para que investiguem as causas e efeitos sobre o meio
ambiente acarretados pelo efeito estufa, esperando que, ao final do Projeto, eles
apresentem possíveis soluções aos problemas encontrados e que se posicionem
com atitudes positivas, desenvolvendo desta forma seus papéis de verdadeiros
cidadãos.Ações planejadas para envolver:
Professores
Montar um painel na sala dos professores no qual serão colocados artigos
científicos, fotos e reportagens sobre o efeito estufa, juntamente com frases curtas,
simples e reflexivas de alerta sobre os possíveis efeitos ao meio ambiente. Aguçada
a curiosidade e o interesse, introduzir posteriormente o convite para trabalharem
com esta temática. Alunos
Espalhar frase interrogativas pela escola, questionando sobre:
O que é efeito estufa?
Você sabia que alguns aerossóis podem destruir a camada de ozônio?
Você sabia que a temperatura média da Terra está subindo cada vez mais?
Estas frases servirão apenas para aguçar a curiosidade dos alunos para
posteriormente introduzi-los no Projeto.
___________________________________________________________________
_
Comunidade externa
Será envolvida durante a realização do Projeto, dependendo das atividades
realizadas pelos alunos, como, por exemplo, na elaboração de folhetos explicativos
à comunidade, solicitando a participação em de uma campanha,etc.Possíveis atividades a serem desenvolvidas (criadas, pesquisadas,
investigadas, etc.) em:2
Língua Portuguesa
Após realizadas algumas investigações a respeito de causas e efeitos, os
alunos poderão desenvolver:
• Folhetos explicativos;
• Cartilhas de prevenção do meio ambiente;
• Frases de alerta;
• Redações sobre o tema e/ou artigos para um jornal;
• Carta alerta à comunidade, entre outros.
2 Importante entender que estas são ações que devem ser planejadas apenas como “carta na manga” de cada um dos professores, ou seja, não significa que serão atividades que o professor vai designar para seus alunos fazerem. Lembremos que quem vai planejar as atividades são os alunos, porém quando percebemos dificuldades por parte de alguma equipe, podemos estar sutilmente sugerindo as possibilidades planejadas (cartas na manga) pela equipe interdisciplinar.
Matemática
• Desenho geométrico (com os ângulos reais) das fórmulas dos compostos
químicos envolvidos no tema, tais como: oxigênio, ozônio, dióxido de
carbono, fluorclorocarbono, etc;
• Levantamento estatístico da evolução do buraco na camada de ozônio;
• Cálculo da porcentagem dos gases na atmosfera
• Cálculo das porcentagens de CFC nos aerossóis;
• Construção de gráficos;
• Cálculo de áreas, etc.
Ciências (Física, Química e Biologia)
• Estudo das moléculas já mencionadas nas atividades de matemática,
embasando os alunos sobre suas fórmulas, estruturas, ângulos,
propriedades, etc.;
• Estudos dos efeitos e causas para embasamento dos alunos nas atividades
já mencionadas de português;
• Investigação dos efeitos das radiações no corpo humano, nos animais e
vegetais.
Educação Artística
• Criação das moléculas já mencionadas na forma de figuras sólidas e/ou
maquetes;
• Elaboração de cartazes com desenhos demonstrativos dos problemas
causados pelo efeito estufa ao meio ambiente.
Geografia
• Estudo do efeito estufa nos solos (secas);
• Alteração das paisagens tropicais;
• Relações entre o desmatamento, as queimadas e o efeito estufa;
• Descongelamento dos icebergs e seus efeitos no mar.Sistema de avaliação das aquisições dos alunos:
• Painéis;
• Seminários;
• Jornal;
• Coletânea de cartazes;
• Encenação;
• Feira de ciências;
• Edição de filmes, etc.
Sistema de avaliação final do Projeto:
• Avaliação contínua nas reuniões de acompanhamento;
• Resultado das avaliações dos alunos;
• Enquête entre os alunos;
• Envolvimento dos alunos;
• Envolvimento dos professores;
• Resultado dos materiais criados;
• Análise das atitudes desenvolvidas pelos alunos.
Após essa leitura precisamos reforçar que ao organizarmos um projeto é essencial
destacar:
1. A atividade é dirigida para uma meta bem definida, a materializar-se em algo de
concreto: a construção de um jogo, um relatório que analise intimamente uma
situação, a escolha de temas para a criação e confecção de livros. Em um bom
projeto, os problemas surgem naturalmente e são trabalhados e resolvidos como
caminho para chegar-se à realização final;
2. O projeto não deve visar a solução de um problema amplo (composto de vários
problemas) que, de preferência, sirva de título ao projeto.
3. O projeto não é uma tarefa determinada pelo professor. Ele deve ser escolhido,
discutido e planejado pela classe toda: professores e alunos.
4. O fixo, no projeto, é a meta. Os meios, planejados de início, vão sendo
reestruturados conforme seja necessário e de acordo com as novas idéias que
surjam. Assim, acostumam-se os alunos a enfrentar com criatividade situações
que, por serem reais, são freqüentemente inesperadas.
5. O que caracteriza um trabalho com projetos não é a origem do tema, mas, o
tratamento dado a esse tema, no sentido de torná-lo uma questão do grupo.
Veremos a seguir, as Vantagens do Trabalho com Projetos Interdisciplinares:
• Possibilita o estudo de temas centrais no horizonte pedagógico da comunidade, ao
mesmo tempo, no interesse dos alunos;
• Permite a participação de todos, porque é da essência do projeto levar as pessoas
as “FAZER”;
• Abre perspectivas para a construção do conhecimento, a partir de questões reais,
com senso crítico e complexidade;
• Desenvolve o pensamento divergente e a descoberta da aptidões;
• Desperta o desejo de conquista, iniciativa, investigação, criação, responsabilidade;
• Estimula a planejar e a executar os próprios recursos;
• Habitua ao esforço; perseverança, ordenação de energias;
• Proporciona confiança e segurança no trato com os problemas reais;
• Ativa e socializa o ensino, levando os alunos a se inserirem conscientemente na
vida social e cultural.
Como bem sabemos ao trabalhar o projeto, o professor tem a oportunidade de
reformular a concepção de “programa a ser cumprido” na sua visão tradicional, tornando-o
mais flexível e abrangente. Partindo do nível de conhecimento dos alunos –
conhecimentos prévios – durante o planejamento e na execução do projeto, surgem
novos interesses e oportunidades para realizar a integração dos outros conteúdos, que se
fazem necessários para atender às indagações dos alunos. É por isso que a pedagogia
dos projetos se constitui recursos muito valiosos na prática da interdisciplinaridade, motivo
pelo o educador não deve abrir mão da sua aplicação.
Para esta concretização elencamos os seguintes PASSOS:
1) Incentivo (Sensibilização)
2) Formulação do Propósito (Objetivo)
3) Elaboração Cooperativa do Plano
4) Desenvolvimento (Realização das tarefas e atividades planejadas)
5) Culminância
6) Avaliação e Auto-avaliação.
É imprescindível discutirmos nesta etapa o Porque da Metodologia de Projetos:
• A idéia central da Pedagogia de Projetos é articular os saberes Escolares
com os saberes sociais de maneira que, ao estudar, o aluno não sinta que
aprendeu algo abstrato ou fragmentado;
• O aluno compreender o valor do que está aprendendo e desenvolva uma
postura indispensável: a necessidade de aprendizagem;
• Os conteúdos profissionais seriam trabalhados não mais a partir de uma
organização prévia, seqüenciada e controlada pelo professor, mas seriam
pesquisados e incorporados à medida que fossem demandados pela
realização dos projetos.
Apresentamos a você algumas Sugestões Metodológicas para o Projeto
Interdisciplinar:
• As atividades devem ser direcionadas a partir do conhecimento do currículo em
percurso;
• Utilizar diversos tipos de linguagens e tomar as considerações dos alunos;
• Realizar atividades que estimulem o respeito mútuo, a auto-estima, a confiança;
• Utilizar o livro didático com um dos instrumentos e não o único (utilização crítica);
• Montar o dossiê e o portfólio3 com as atividades e o processo ensino-
aprendizagem;
• Criar grupos de pesquisadores do conhecimento.
Considere as idéias que foram abordadas para executar a atividade de estudo que
se segue, conforme o que solicitamos.
V - EXEMPLOS DE PROJETOS INTERDISCIPLINARES PARA SUBSIDIAR A PRÁTICA
PEDAGÓGICA
Agora queremos lhe apresentar alguns exemplos de Projetos Interdisciplinares
indicados por Magnoli e Araújo (2000:22-35-49), vamos lá!
Exemplo 1: GLOBALIZAÇÃO E POBREZA
Conteúdo programático:
A globalização e os blocos econômicos supranacionais;
Desenvolvimento e subdesenvolvimento;
Tecnologia e trabalho;
O crescimento demográfico;
Urbanização, metropolização e pobreza;
A pobreza no mundo.
Projeto de Trabalho:
Trata-se de um projeto interdisciplinar que integra o campo de estudos
conhecido como Geografia Médica, com base no conceito de transição epidemiológica. A
proposta solicita a colaboração do professor de Biologia.
A transição epidemiológica, ou seja, entre uma situação na qual a mortalidade
geral de uma população é causada essencialmente por doenças de tipo infectocontagiosa
– para muitas das quis já existem técnicas relativamente simples de prevenção e de cura
– e outra, na qual os problemas cardíacos e os diversos tipos de câncer se destacam,
resulta da melhoria geral tanto na medicina preventiva quanto na qualidade do
atendimento médico prestado às populações. Dessa forma, o perfil da mortalidade é um
indicador importante da qualidade de vida das populações. Para realizar esse projeto de
trabalho, os alunos são convidados a pesquisar sobre as condições de saúde da
população do Brasil e a comparar os resultados obtidos com a situação do conjunto dos
países desenvolvidos e do conjunto dos países subdesenvolvidos. Em seu 3 Consistem, basicamente, em coleções dinâmicas de trabalhos diversificados (relatórios, testes, trabalhos de casa, reflexões...), produzidos durante um determinado período de tempo, numa ou em diversas disciplinas, por cada aluno ou grupo de alunos. DAMIÃO, Maria Helena. Pré, Inter e Pós Acção. Planificação em educação. Coimbra: Minerva, 1996.
desenvolvimento, o projeto exige competências e habilidades diversas, em especial
algumas das enfatizadas pelos PCNs para a área de ciências humanas e suas
tecnologias:
Representação e comunicação:
• Ler, analisar e interpretar os códigos específicos da Geografia (mapas, gráficos,
tabelas etc.), considerando-os como elementos de representação de fatos e
fenômenos espaciais ou espacializados.
Investigação e compreensão:
• Compreender a sociedade, sua gênese e transformação, e os múltiplos fatores que
nela intervêm como produtos da ação humana; a si mesmo como agente social; e
os processos sociais como orientadores da dinâmica dos diferentes grupos de
indivíduos.
Contextualização sociocultural:
• Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e
econômicas, associando-as ás práticas dos diferentes grupos e atores sociais, aos
princípios que regulam a convivência em sociedade, aos direitos e deveres da
cidadania, à justiça e à distribuição dos benefícios econômicos.
• Traduz os conhecimentos sobre a pessoa, a sociedade, a economia, as práticas
sociais e culturais em condutas de indagação, análise, problematização e
protagonismo diante de situações novas, problemas ou questões da vida pessoal,
social, política, econômica e cultural.
Exemplo 2: O MEIO TÉCNICO: ECONOMIA E ECOLOGIA
Conteúdo programático:
A agricultura e a diversidade do meio rural
Geografia e política da energia
Comunicações e transportes
A lógica dos espaços industriais
Ambiente e política internacional
A ecologia das metrópoles
Projeto de Trabalho:
Nesta seção encontra-se a proposta de um projeto interdisciplinar em torno da
aplicação da biotecnologia na produção de alimentos, que solicita a colaboração dos
professores das áreas de Ciências da Natureza e Matemática, principalmente do
professor de Biologia. Os textos reproduzidos na seção apresentam pontos de vista
antagônicos, contribuindo para o enriquecimento do debate. O que se propõe é o
incentivo à pesquisa sobre o tema, de forma que o debate a ser realizado pelos alunos
sobre o importante e atual tema dos alimentos transgênicos considere os diferentes
agentes envolvidos na questão, bem como suas dimensões econômicas e geográficas.
Em seu desenvolvimento, o projeto exige competências e habilidades diversas, em
especial algumas das enfatizadas pelos PCNs para a área de Ciências Humanas:
Representação e comunicação:
• Reconhecer e aplicar o uso das escalas cartográficas e geográficas, como forma
de organizar e conhecer a localização, distribuição e freqüência dos fenômenos
naturais e humanos.
Investigação e compreensão:
• Selecionar e elaborar esquemas de investigação que desenvolvam a observação
de processos de formação e transformação dos territórios, tendo em vista as
relações de trabalho, a incorporação de técnicas e tecnologias e o estabelecimento
de redes sociais;
• Analisar e comparar, interdisciplinarmente, as implicações da preservação e
degradação da vida no planeta, tendo em vista o conhecimento de sua dinâmica e
a mundialização dos fenômenos culturais, econômicos, tecnológicos e políticos que
incidem sobre a natureza, nas diferentes escalas – local, regional, nacional e
global.
Contextualização sociocultural:
• Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e
econômicas, associando-as às práticas dos diferentes grupos e atores sociais, aos
princípios que regulam a convivência em sociedade, aos direitos e deveres da
cidadania, à justiça e à distribuição dos benefícios econômicos;
• Aplicar as tecnologias das Ciências Humanas e Sociais na escola, no trabalho e
em outros contextos relevantes para a vida.
Exemplo 3: POLÍTICA E CULTURA: FRONTEIRAS
Conteúdo programático:
O Estado e o território;
Nações e nacionalismo;
Civilizações e identidades culturais;
Projeto de Trabalho:
Nesta seção encontra-se a proposta de um projeto interdisciplinar destinado à
análise dos procedimentos de produção de um imaginário geográfico adaptado às
necessidades da chamada indústria do turismo. A proposta solicita a contribuição dos
professores da área de Linguagens e Códigos, especialmente de Língua Portuguesa, pois
envolve a investigação de uma linguagem constituída por fragmentos de imagens e
paisagens.
O texto que sustenta a proposta não é simples, pois sua interpretação consiste,
na verdade, em um desafio de encerramento do curso e demanda o auxílio do professor.
Mas ele é elemento essencial para a definição dos rumos da pesquisa. A proposta de
pesquisa envolve a manipulação de materiais produzidos pela chamada indústria do
turismo e sua interpretação crítica.
Em seu desenvolvimento, o projeto exige competências e habilidades diversas,
em especial algumas das enfatizadas pelos PCNs para a área de Ciências Humanas suas
tecnologias:
Representação e comunicação:
• Entender a importância das tecnologias contemporâneas de comunicação e
informação para planejamento, gestão, organização e fortalecimento do trabalho de
equipe.
Investigação e compreensão:
• Compreender a sociedade, sua gênese e transformação, e os múltiplos fatores que
nela intervêm como produtos da ação humana; a si mesmo como agente social; e
os processos sociais como orientadores da dinâmica dos diferentes grupos de
indivíduos.
Contextualização sociocultural:
• Compreender o desenvolvimento da sociedade como processo de ocupação de
espaços físicos e as relações da vida humana com a paisagem, em seus
desdobramentos políticos, culturais, econômicos e humanos.
Não esqueça que o projeto interdisciplinar é uma ação coletiva, sendo necessário
que alunos e professores pensem coletivamente, você já pode organizar no seu plano de
ensino alguns pontos que subsidiarão esta futura discussão com os seus alunos.
Bom Estudo e Bom Trabalho!
REFERÊNCIAS
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FAZENDA, Ivany Catarina. Interdisciplinaridade: um projeto em parceria. 5ª ed. São Paulo: loyola,2002.
____________________. (Org.) Práticas interdisciplinares na Escola São Paulo: Cortez, 1991.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
GIROUX, Henry. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação: os projetos de trabalho. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
LUCK, Heloísa. O sentido da Interdisciplinaridade. In: Pedagogia Interdisciplinar:Fundamentos teórico-metodológicos. Petrópolis, R. J: Vozes, 1994.
____________. Pedagogia Interdisciplinar: fundamentos teórico-metodológicos. Rio de Janeiro: Vozes, 1994.
MAGNOLI, Demétrio, ARAUJO, Regina. Projeto de ensino de geografia. São PAULO: Moderna, 2000.
NICOLESCU, Basarad. Educação e transdisciplinaridade. Brasília/DF: UNESCO, 2000.
NOGUEIRA, Nilbo Ribeiro. Pedagogia dos Projetos – uma jornada interdisciplinar rumo ao desenvolvimento das múltiplas inteligências. São Paulo: Érica, 2001.
SEVERINO, Antônio. J. O uno e o múltiplo: O sentido antropológico do interdisciplinar: In. JANTSECH, Ari & BIANCHETTI, Lucídio (Org.). Interdisciplinaridade: Para além da Filosofia do sujeito.
VASCONCELOS, Celso dos S. Totalidade: fundamento epistemológico da interdisciplinaridade. In: Revista Dois Pontos.