unidade e diversidade no novo testamento

79
UNIDADE E DIVERSIDADE NO NOVO TESTAMENTO WENHAM, Davicf. Unidade e diversidade no novo testamento. In: LADD, Georg Eldon. Teologia do novo testamento. Edição revisada. Tradução de Degmar Ribas Júnior. São Paulo: Hagnos, 2003. p. 846-888. 1

Upload: mpteologia

Post on 08-Aug-2015

154 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

1UNIDADE E DIVERSIDADE NO NOVO TESTAMENTOWENHAM, Davicf. Unidade e

diversidade no novo testamento. In: LADD, Georg Eldon. Teologia do novo testamento. Edição revisada. Tradução de Degmar Ribas Júnior. São Paulo: Hagnos, 2003. p. 846-888.

Page 2: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

2

PARTE IQuestões introdutórias

Page 3: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

3

O Novo Testamento é uma unidade? (p. 846)O NT inclui vinte e sete livros diferentes, escritos em épocas diferentes, para leitores diferentes, por pelo menos oito autores diferentes, fica claro, portanto, que o NT não é uma unidade como é um livro escrito por um único autor.

Page 4: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

4

O Novo Testamento é uma unidade? (p. 847)

James Dunn, um dos mais notáveis estudiosos britânicos do NT, concluiu que não existe nada como "uma ortodoxia" ou uma "teologia única" do Novo Testamento. Deveríamos antes falar sobre teologias “diferentes”;

Entretanto, ele insiste que a diversidade do NT mantém encontra na fé em Jesus, como o Senhor ressurrecto, o ponto unificador dos escritos diferentes e até mesmo aparentemente conflitantes do Novo Testamento.

Page 5: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

5

Por que muitos cristãos ainda veem unidade no NT? (p. 846) A pesar da diversidade literária do

NT, a convicção cristã histórica é que todos os autores humanos da Bíblia foram inspirados por um Autor divino, o que resulta em uma coerência entre os diversos livros presentes no Antigo e no Novo Testamento, os quais trazem uma mensagem divinamente inspirada.

Page 6: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

6

Como a bíblia é vista no contexto crítico? (p. 846)

Com o advento do racionalismo moderno e da crítica bíblica (Sec. XVII e XVIII) houve uma ênfase maior na humanidade dos escritos bíblicos;

Como consequência, a abordagem bíblica submeteu-se à crítica histórica comumente usada na literatura secular.

Page 7: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

7

Como a bíblia é vista no contexto crítico? (p. 846) No ambiente crítico a Bíblia não é

considerada (por alguns) como um repositório de verdades eternas, mas uma coleção de escritos que surgiram de situações e contextos particulares;

A escrita bíblica deve ser vista como uma composição humana falível, que contém o tipo de enganos e de contradições que são inevitáveis nos escritos humanos.

Page 8: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

8

Qual a opinião de Wenham sobre o tema da UD no NT? Apesar Wenham concordar que

existem teologias diferentes no NT (p. 847) ele também afirma “a existência de uma unidade maior do que aquela que é muitas vezes percebida” (p. 849).

Wenham, portanto, é um conservador moderado nesse assunto.

Page 9: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

9

Existia unidade na igreja do NT? (p. 847)

Baur (1792-1860): Para Baur havia dois grupos distintos dentro do cristianismo do NT: o cristianismo judaico, liderado por

Pedro e representada por Mateus e Tiago (TESE);

e o cristianismo helenístico, representado por Paulo e Lucas (ANTÍTESE);

Esse conflito foi resolvido através da combinação dos dois grupos promovida por Marcos (SÍNTESE).

Page 10: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

10

Quais eram os possíveis grupos cristãos da igreja do NT? (p. 848) De acordo com Dunn, Robinson e

Koester os grupos eram: Um cristianismo judaico,

particularmente associado a Jerusalém;

um cristianismo helenístico, muitas vezes com tendências ao gnosticismo;

um cristianismo apocalíptico com uma forte ênfase em um fim iminente;

e, finalmente, existia o cristianismo geral.

Page 11: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

11

PARTE 2Os cristãos judeus e helenistas

Page 12: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

12

Quais são as questões principais que envolvem a temática da UD no NT? (p. 848)

A primeira questão tem a ver com a diversidade dos grupos de cristãos no período do NT: Havia competição entre as facções cristãs?

A segunda tem a ver com o desenvolvimento da doutrina na igreja do NT: Existia uma ortodoxia cristã estática ou uma variedade de crença?

A terceira tem a ver com a relação entre Jesus e Paulo: Os ensinos de Paulo diferem dos ensinos de Jesus?

Page 13: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

13

Atos dos Apóstolos diz alguma coisa sobre a existência de grupos divergentes na IP? (p. 849)

Certamente o livro de Atos dos Apóstolos mostra a existência de dois grupos cristãos: o de fala aramaica, ligados ao Templo e a Jerusalém, e os de fala grega;

De acordo com Atos 6, surgiram tensões entre os dois grupos por causa de supostas falhas na administração da igreja, principalmente na distribuição de alimentos;

Sete homens foram designados para lidar com o problema e parece que todos eram líderes da comunidade cristã de fala grega, devido a seus nomes gregos.

Page 14: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

14

Depois da morte de Estevão, qual desses grupos foi perseguido pelos judeus (p. 849)

Após a morte de Estevão, os cristãos foram forçados a sair de Jerusalém – menos os apóstolos (8:1);

Essa exceção não é explicada, mas há a sugestão de que a perseguição fosse de fato dirigida especificamente contra os helenistas e não contra os cristãos de fala aramaica, que demonstravam uma atitude mais tradicional em relação ao Templo;

Desse modo, vemos uma divisão teológica emergindo entre um cristianismo judeu mais conservador e um cristianismo helenístico mais radical.

Page 15: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

15

O que estava no centro da divisão entre os grupos cristãos judeus e gentios? (p. 849)

A divergência entre o cristianismo judeu e o helenístico girava em torno da obrigatoriedade da obediência à Lei Mosaica;

Sobre essa questão, não apenas o livro de Atos, mas também as cartas de Paulo aos Gálatas, atestam as fortes divisões de opinião: Paulo é agora o líder do grupo radical helenístico,

negando a importância da obediência à Lei judaica, até mesmo para os cristãos que foram anteriormente judeus;

Tiago, o irmão de Jesus, se torna o líder da igreja em Jerusalém e, assim como muitos dos cristãos judeus de Jerusalém, era "zeloso da lei”.

Page 16: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

16

Qual a opinião de Wenham sobre a divisão da igreja do NT? (p. 849)

Para Wenham é importante reconhecer que o abismo entre o judaísmo e o helenismo não era tão profundo quanto alguns estudiosos haviam proposto:

O judaísmo, mesmo em Jerusalém e nos círculos conservadores, era influenciado pela cultura e pelas ideias helenistas;

e todo o cristianismo primitivo, inclusive tudo o que se refere a Paulo, era extremamente judeu.

Page 17: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

17

Onde os críticos veem divergências teológicas entre os cristãos Judeus e helenistas? (p. 850)

A posição de Tiago era entendida como um debate polêmico contrário à visão Paulina da justificação pela fé;

Paulo alega que Abraão foi justificado por sua fé, não por obras da lei; Tiago usa a mesma história para discutir exatamente o oposto e para insistir na importância das boas obras (cf. Gl. 3; Rm. 4, e Tg. 2).

Page 18: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

18

Onde os críticos veem divergências teológicas entre os cristãos Judeus e helenistas? (p. 850) Mateus apresenta fortes declarações sobre a

validade imutável da Lei do Antigo Testamento (5:17-20; 23:1-3);

Porém, aparentemente, deixa deliberadamente de reproduzir o comentário de Marcos sobre as palavras de Jesus: “... ficando puras todas as comidas" - pois, conforme alguns alegam, isso se devia à probabilidade de não acreditar nessa verdade (cf. Mc. 7: 18-19; Mt. 15:9, 10);

E em Mt 5: 17-20, pode até estar divergindo de Paulo, quando ele fala dos que violam os mandamentos da Lei do Antigo Testamento que serão chamados os "menores" no Reino do céus.

Page 19: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

19

Como Atos dos Apóstolos relata a relação de Tiago e Paulo? (p. 850)

Atos descreve o grande conflito da igreja primitiva, mas retrata os apóstolos Paulo e Tiago trabalhando juntos e chegando a um acordo a respeito dos temas mais polêmicos (caps. 15, 21);

Assim, embora Tiago e Paulo tenham ênfases e preocupações distintas, Lucas os retrata como alcançando acordos sobre assuntos controversos à medida que esses surgiam.

Page 20: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

20

Como os críticos veem esse tom conciliatório de Lucas em Atos dos Apóstolos? (p. 850)

Os críticos veem como um encobrimento feito por Lucas: como escreveu após os eventos, Lucas deseja enfatizar a unidade e menosprezar a diversidade.

Na opinião de alguns, ele o faz às custas da precisão histórica, ao retratar Paulo em uma atitude muito mais conciliatória para com os judeus e os judaizantes do que costumava ter (por exemplo, At. 16:3);

Lucas omite a oferta recolhida por Paulo entre os gentios, provavelmente porque ela foi rejeitada, o que revelaria uma clara divisão entre os grupos.

Page 21: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

21

Qual é a opinião de Wenham sobre a posição crítica acerca de Atos dos Apóstolos? (p. 851) Wenham acredita que a posição de Lucas pode ser

explicada da seguinte maneira: Lucas não relatou a oferta porque não lhe pareceu

importante à luz dos acontecimentos relatados; Atos com Gálatas não divergem entre si, a não ser

em termos de cronologia (cp. Atos 15 e Gl 1 e 2); O modo como Pedro foi desafiado por Paulo sugere

que suas verdadeiras convicções eram idênticas, ainda que Pedro, naquele momento, estivesse demonstrando uma séria inconsistência.

Page 22: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

22

Qual é a opinião de Wenham sobre a posição crítica acerca de Atos dos Apóstolos? (p. 851) Embora Tiago estivesse associado à ala

conservadora (2:12), une-se a Pedro e João endossando o ministério de Paulo (2:9);

O grupo que de fato causava problemas ao insistir que os gentios convertidos de Paulo fossem circuncidados, era o dos ultraconservadores;

Em Atos 21 Lucas fala das dificuldades entre Paulo e Jerusalém. Se Lucas quisesse esconder as divergências, teria também ocultado essa situação.

Page 23: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

23

Qual é a opinião de Wenham sobre a posição crítica acerca de Atos dos Apóstolos? (p. 851)

Não apenas o livro de Atos, mas também os próprios escritos de Paulo, deixam claro que havia uma grande harmonia entre Paulo e a liderança em Jerusalém, maior do que alguns críticos supõem;

Paulo fala de alguns de seus oponentes como pregadores de um "outro evangelho" - um falso evangelho - mas reivindica que tanto ele como as "colunas" em Jerusalém pregam o mesmo evangelho autêntico, que poderíamos denominar de ortodoxo;

Certamente existiam tensões e diferenças de práticas religiosas. Porém a ideia de um rompimento radical entre Paulo e a liderança de Jerusalém, é um exagero.

Page 24: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

24

Como Wenham interpreta a suposta divergência entre Paulo e Tiago? (p. 853) Paulo e Tiago, à primeira vista, tem visões diferentes sobre

a justificação. Porém, para Wenham três pontos precisam ser observados:

Primeiro: Paulo e Tiago estão se referindo a situações completamente distintas.

Paulo ataca a doutrina da "justificação pelas obras" visando defender os cristãos gentios das demandas dos judeus ou dos cristãos judeus, que querem que os gentios sejam circuncidados;

O ataque de Tiago à doutrina da "justificação pela fé sem obras" não tem nada a ver com judeus e gentios. Sua preocupação é, antes, com os cristãos cuja falta de amor e caridade tornam sua profissão de fé vã;

As obras que Paulo rejeita são as obras da lei; ao passo que as obras que Tiago reivindica são obras de caridade.

Page 25: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

25

Como Wenham interpreta a suposta divergência entre Paulo e Tiago? (p. 853)

Segundo: É possível que alguns daqueles a quem Tiago está criticando tenham distorcido os ensinos de Paulo sobre a liberdade cristã, tornando necessário que Tiago se posicionasse sobre a questão;

Terceiro: A ênfase de Paulo na salvação pela graça, assim como a de Tiago na fé em ação, correspondem a dois dos aspectos mais proeminentes do ensino de Jesus conforme registrado nos Evangelhos (Mt. 9: 10-12 e paralelas; Lc. 15: 11-32; Mt. 5:48, 7:21-23; Lc. 6:36,46).

Page 26: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

26

Como Wenham interpreta a suposta divergência entre Paulo e Tiago? (p. 853)

Assim sendo, tanto Paulo quanto Tiago tiveram nos ensinos de Jesus a base de seus escritos;

Isso implica também que a "ortodoxia" na igreja primitiva fosse definida pela pessoa e pelo ensino de Jesus, de modo que tanto Paulo como Tiago dependeram de Jesus e trabalharam a favor da continuidade de seus ensinos.

Page 27: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

27

Como Wenham interpreta a suposta divergência entre Mateus e Marcos? (p. 854) Wenham coloca dois aspectos: Primeiro: A visão de que Mateus editou o

evangelho de Marcos de um modo que revela sua rejeição à visão que Marcos tinha sobre a purificação feita por Jesus de todos os alimentos, depende de aceitar uma questionável da dependência de Mateus em relação a Marcos;

Mateus e Marcos poderiam ter usado uma fonte comum (cf. Mt 15 e Mc 7) e dado a elas contornos diferentes;

Page 28: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

28

Como Wenham interpreta a suposta divergência entre Mateus e Marcos? (p. 854) Segundo: Embora Mateus contenha alguns

textos que pareçam sugerir uma rigorosa defesa da necessidade dos cristãos guardarem a lei judaica, outros textos dão uma impressão diferente, notavelmente 11:28-30 e 17:24-27.

Os textos evocados por Wenham nesse aspecto não parecem muito convincentes.

Após o período do NT essas divisões ainda existiam e provocaram cismas: os gnósticos, os ebionitas, etc. Mas houve cisma mesmo no período do NT. Veja 1Jo 2,19.

Page 29: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

29

Qual a conclusão de Wenham sobre as divergências entre os cristãos judeus e helenistas? (p. 856)

Para Wenham, admitir certa unidade ortodoxa no NT não deveria ser tomado como uma negação da existência de diferenças culturais, religiosas, e até mesmo teológicas entre os diferentes grupos de cristãos;

Contudo, ao mesmo tempo, havia muito em comum, assim como um forte compromisso com os ensinos de Jesus que era amplamente compartilhado.

Page 30: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

30

PARTE 3A questão da evolução das ideias.

Page 31: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

31

Como se deu a evolução da cristologia no NT? (p. 856)

A evolução da cristologia do NT tem a ver com o fato de Jesus ter sido considerado Filho de Deus. Nesse ponto a questão é: Quando é que Jesus é designado Filho de Deus?

Segundo os críticos tradições diferentes apresentam respostas diferentes a essa pergunta;

Basicamente, segundo eles, existem 4 Tradição que mostram a evolução da cristologia do NT: A tradição paulina; A tradição marcana. A tradição mateana e lucana; A tradição joanina.

Page 32: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

32

Como se deu a evolução da cristologia no NT? (p. 856)

Na tradição paulina Jesus é declarado Filho de Deus após a ressurreição (Rm 1,4);

Na tradição marcana Jesus é declarado Filho de Deus após seu duplo batismo;

Na tradição mateana e lucana Jesus é declarado Filho de Deus após seu nascimento ou encarnação;

Na tradição joanina Jesus é o Filho de Deus eterno e pré-existente.

Page 33: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

33

Como se deu a evolução da escatologia? (p. 857)

A expectativa geral era de que a parusia se daria a qualquer momento:

Tradição marcana: a volta de Jesus e a irrupção do Reino de Deus se daria ainda na geração dos apóstolos (Mc 9,1; 13:30; Mt. 10:23);

Tradição paulina: Jesus voltaria em breve, com Paulo ainda vivo (1 Ts. 4: 17; 1 Ts. 1: 10; 4:3-18; 2 Ts. 2:2), embora ele pareça ter mudado de opinião (Fl 1,23).

Page 34: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

34

Como se deu a evolução da escatologia? (p. 857)

O fato do Senhor não retomar no período que esperavam, tornou-se um grande problema na igreja;

A questão é explicitamente tratada em 2 Pedro, especialmente em 3,8 quando diz que: "um dia para o Senhor é como mil anos...”

Lucas, em Atos dos Apóstolos quase não fala de parusia;

O evangelho de João é novamente mais radical, pois a ideia do retorno do Senhor é marginalizada e é quase substituída pela ideia de que Jesus retornaria de modo individual, a cada cristão, na pessoa do Espírito Santo.

Page 35: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

35

Como se deu a evolução no conceito de igreja? (p. 858)

A ideia é que a missão de Jesus, inicialmente, era apenas para os judeus (Mt 10,5; 15,24). Depois ela passou a incorporar também os gentios (Mc 13,10);

Paulo muda de ênfase ao abandonar o estilo carismático de 1Cor para um modelo mais organizacional e institucional presente nas Cartas Pastorais. Lucas, em Atos, se refere a Paulo como aquele que designava presbíteros para cada igreja (14:23), o que sustenta a visão das Pastorais de Paulo.

Page 36: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

36

Qual a conclusão crítica sobre a evolução do pensamento teológico no NT? (p. 858)

A conclusão novamente é que o Novo Testamento não nos oferece uma ortodoxia única, mas um complexo desenvolvimento de ideias e uma variedade de diferentes características teológicas, as quais muitas vezes levam a direções diferentes e até mesmo contrárias, se não forem consideradas sob a perspectiva correta.

Page 37: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

37

Como Wenham rebate a visão crítica acerca da distância teológica entre os sinóticos e João? (p. 858) No tocante à divergência entre João e os sinóticos sobre

a consciência messiânica de Jesus Wenham coloca que: Existem evidências de que Jesus tinha ampla

consciência de ser o Filho de Deus. Em particular, por seu uso característico do termo "Abba" (Mc. 14:36; e ecos dele em GI. 4:6; Rm. 8:15);

Existem evidências de que os evangelistas sinópticos estavam, de certo modo, familiarizados com a mesma visão que João tinha a respeito de Jesus;

Mateus e Lucas, em particular afirmam que: "Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar“(Mt. 11 :27; Lc. 10:22; Mc. 13:32).

Page 38: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

38

Como Wenham rebate a visão crítica acerca da distância teológica entre os sinóticos e João? (p. 859) Existem também fortes evidências de que a ideia

joanina de Jesus como o Filho pré-existente de Deus estava firmemente estabelecida quando os livros mais antigos do Novo Testamento foram escritos;

A evidência Paulina torna altamente provável que a ideia da pré-existência de Jesus era familiar aos evangelistas. Compare a ênfase cristológica de João com o dito de Paulo em Col 1,14-20; Fp 2,5-11; 2Cor 8,9;

Éfeso (João) e Colossos (Paulo) são cidades próximas, o que significa que tanto Paulo como João estavam respondendo a inquisições semelhantes.

Page 39: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

39

Como Wenham rebate a visão crítica acerca da evolução escatológica? (p. 860) Wenham coloca que Jesus fala nos sinóticos

acerca de sua vinda, mas deixa claro que a data é de competência exclusiva do Pai;

Segundo ele, as parábolas que falam da segunda vinda (do mordomo, dos talentos e das virgens) estão presentes no documento Q que era conhecido, inclusive por Paulo;

Logo a certeza da volta de Cristo seguida da total ignorância acerca de quando ela se dará está presentes nos documentos mais antigos da tradição cristã.

Page 40: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

40

Como Wenham rebate a visão crítica acerca da evolução escatológica? (p. 860) Quanto a Paulo, Wenham coloca que ele tinha

uma viva esperança do retorno do Senhor, o que é refletido, por exemplo, em seus ensinos sobre o celibato 1Cor 7 e em sua urgência na evangelização dos gentios que deveria ser concluída antes da volta do Senhor;

Porém, reconhecer isso não significa admitir que a teologia de Paulo sofreu uma profunda revisão;

Em 1 Tessalonicenses o apóstolo refere-se à volta do Senhor de um modo que implica que poderia estar vivo nessa ocasião, porém nunca fez uma predição a esse respeito de modo específico.

Page 41: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

41

Como Wenham rebate a visão crítica acerca da evolução escatológica? (p. 861) Paulo fala especificamente da incerteza dos

tempos e das estações, referindo-se à vinda do Senhor com a vinda de um ladrão (1 Ts. 5: 1,2);

Essa leitura paulina parece fazer eco com as parábolas escatológicas de Jesus, revelando, assim, que seus ensinos estão fundamentados nos ensinos de Jesus;

Paulo, desde o início, combinou um senso de um fim iminente com uma consciência de que o tempo do fim era desconhecido; e para ele era claro que um conjunto de certos eventos, inclusive a missão aos gentios, deveria acontecer primeiro.

Page 42: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

42

Como Wenham rebate a visão crítica acerca da evolução da igreja de pneumática para ministerial? (p. 862) Wenham apresenta 4 pontos: Devemos esperar que cartas endereçadas a igrejas

jovens e entusiasmadas sejam diferentes das que são enviadas a congregações já estabelecidas;

Além de Lucas em Atos 14,23 fazer menção ao fato de Paulo e Barnabé designando presbíteros, em 1Ts 5,12 Paulo fala algo nessa mesma direção: "Rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós, e que presidem sobre vós no Senhor, e vos admoestam”;

Logo a preocupação ministerial paulina existe desde o início de seu ministério.

Page 43: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

43

Como Wenham rebate a visão crítica acerca da evolução da igreja de pneumática para ministerial? (p. 863) Além disso, embora os presbíteros não

sejam explicitamente apresentados em 1 Corintios, existem indicações de que eram líderes reconhecidos. (p. 862)

A lista de dons em 1 Coríntios 12:28 refere-se aos dons de kybernêseis e antilêpsis. O termo kybernêseis ("administração"; etimologicamente relacionado ao termo "governo") é semanticamente semelhante ao conhecido termo grego episkopê, que significa "supervisão”.

Page 44: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

44

Como Wenham rebate a visão crítica acerca da evolução da igreja de pneumática para ministerial? (p. 863) O termo antilêpsis tem o significado de

"ajudar"; e seu significado é semelhante ao de diakonia ("serviço" ou "ministério").

Portanto, não se deve assumir que a igreja de Coríntio, por ser altamente pneumática, não tenha tido uma forte liderança, como aquela apresentada nas pastorais.

Page 45: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

45

Qual a conclusão de Wenham acerca da evolução teológica no NT? (p. 865)

Apesar de todas essas precauções, seria um equívoco concluir que não existia nenhum desenvolvimento no pensamento cristão primitivo;

O pensamento de João está muito mais próximo do pensamento do próprio Senhor Jesus Cristo do que os críticos supõem;

Os escritos mais recentes de Paulo representam um desenvolvimento de seu pensamento anterior, mas não são um repúdio a ele;

Page 46: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

46

Qual a conclusão de Wenham acerca da evolução teológica no NT? (p. 865)

Há, sem dúvida, discordâncias doutrinárias na igreja primitiva (por exemplo, entre Paulo e os judaizantes na Galácia);

Porém, a evidência do Novo Testamento não aponta para uma doutrina sem regras, mas para uma preocupação com o estabelecimento de uma ortodoxia definida pela pessoa e pelo ensinamento de Jesus;

Os documentos do Novo Testamento, apesar de abraçarem diferentes ênfases e nuances teológicas, indiscutivelmente, apresentam uma notável unidade.

Page 47: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

47

PARTE 4Paulo teria ensinado um cristianismo diferente do de Jesus?

Page 48: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

48

Em que reside as supostas diferenças entre Jesus e Paulo? (p. 865)

Acredita-se que Paulo teve pouco conhecimento do Jesus histórico, pois demonstrou pouco interesse nEle, mas desenvolveu uma teologia radicalmente diferente;

É claro que as epístolas de Paulo falam de Jesus, porém nelas Paulo está interessado no Jesus que morre, ressuscita, é exaltado e retorna; não no Jesus Galileu dos Evangelhos.

Page 49: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

49

Em que reside as supostas diferenças entre Jesus e Paulo? (p. 866)

Muitas vezes, alguns estudiosos acham que Paulo transformou a religião judaica de Jesus em uma seita helenística, provavelmente influenciada pelas religiões misteriosas gregas, com seus deuses que morriam e ressuscitavam, ou ainda pelos mitos gnósticos de um redentor celestial;

Desse modo, a diversidade dentro do Novo Testamento é entendida por alguns como uma fenda, tendo Paulo como o fundador do cristianismo que conhecemos, tratando-se, contudo, de uma religião radicalmente diferente da religião do Senhor Jesus Cristo.

Page 50: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

50

O que torna os escritos de Paulo diferentes dos ensinamentos de Jesus? (p. 866) Em primeiro lugar, os termos e os temas

do ensino teológico de Paulo são notavelmente diferentes dos de Jesus;

A ênfase no Reino de Deus, tema característico da pregação de Jesus, não é enfatizada;

Em vez disso, Paulo fala de justificação, de estar "em Cristo", de morrer e de ressuscitar com Cristo, de ter uma vida no Espírito - nenhum desses temas foi proeminente nos Evangelhos Sinópticos.

Page 51: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

51

O que torna os escritos de Paulo diferentes dos ensinamentos de Jesus? (p. 866)

Em segundo lugar, ao explicar suas opiniões, Paulo refere-se de modo frequente e aberto ao Antigo Testamento como uma fonte de autoridade, mas apresenta poucas referências ao ensinamento e ao ministério de Jesus;

Esse silêncio ensurdecedor da parte de Paulo certamente sugere uma falta de interesse no Jesus histórico, ou talvez ignorância;

O Jesus histórico não parece ser uma autoridade; só o Jesus ressuscitado pelo Espírito parece ser autoridade.

Page 52: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

52

O que Paulo fala sobre o Jesus Histórico? (p. 866)

Paulo refere-se ao ensinamento de Jesus sobre o divórcio em 1 Coríntios 7:10, e à instrução de Jesus sobre o sustento dos que se dedicam à pregação de sua Palavra: "Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho" (1 Co. 9:14, amplamente reconhecida como uma referência a Mt.10:10 e à passagem paralela em Lc. 10:7);

Em 1 Ts. 5:4, Paulo pode estar se referindo à parábola que Jesus proferiu sobre o ladrão (Mt 24,43; Lc 12,39);

Porém, essa é a soma das referências de Paulo a respeito da vida e do ensinamento do Jesus histórico.

Page 53: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

53

Por que Paulo não usou os ensinos de Jesus para embasar suas ideias? (p. 866)

Paulo poderia ter usado os ensinos de Jesus para fundamentar várias de suas ideias, mas não o fez. Exemplos disso são:

Em seu ensinamento sobre a oferta dos cristãos (em 2 Co. 8 e 9), poderia ter citado, de forma apropriada, o ensinamento de Jesus sobre os "tesouros" na terra e no céu, ou alguma das parábolas de Jesus sobre a riqueza;

Page 54: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

54

Por que Paulo não usou os ensinos de Jesus para embasar suas ideias? (p. 866)

Em suas discussões a respeito de comida e de bebida, Paulo poderia ter refutado seus opositores referindo-se apenas a Marcos 7 em que Jesus afirma que é o que o homem fala e não o que ele come que o contamina, porque para Deus todos os alimentos são puros;

Na opinião de alguns, o fato de Paulo não utilizar esses poderosos trunfos, sugere que não conhecia o ensinamento de Jesus, ou que não o tenha considerado fundamental para a ortodoxia.

Page 55: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

55

Como Wenham avalia esse suposto desinteresse de Paulo pelo Jesus Histórico? (p. 867) Wenham entende que essa descontinuidade que os

críticos veem entre Jesus e Paulo não é assim, tão acentuada. Vejamos:

Paulo fala pouco sobre o reino de Deus, mas não deixa de falar sobre ele (1 Co. 6:9, 10; GI. 5:21);

Sua ideia de batismo na morte e na ressurreição de Cristo pode ter suas raízes no convite de Jesus a seus discípulos: "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me” (Mc. 8:34);

Semelhantemente, a referência à sua própria morte como o "batismo" pode estar baseado em Mc. 10:38, 39.

Page 56: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

56

Como Wenham avalia esse suposto desinteresse de Paulo pelo Jesus Histórico? (p. 867) O vasto uso que Paulo faz dos termos

“justiça” e “Justificação” pode estar baseado no ensino de Jesus sobre a justiça do Reino de Deus (Mt 5,20; 6,33; Lc 18,14);

Em outras palavras, para Paulo a justiça e a justificação que vieram por intermédio de Jesus são noções muito próximas do conceito de "Reino" que foi empregado por Jesus.

Page 57: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

57

Como Wenham avalia esse suposto desinteresse de Paulo pelo Jesus Histórico? (p. 868) A estrutura global da teologia de Jesus é

indiscutivelmente parecida com a de Paulo; Tanto nos ensinos de Jesus quanto nos de Paulo,

as boas notícias são que o dia prometido da salvação raiou por meio de Jesus;

Em ambos a expectativa é que aquilo que teve início em Jesus e, de forma suprema, pela sua morte e ressurreição, será logo trazido à conclusão por ocasião de seu retorno;

E em ambos há uma chamada à fé e ao discipulado.

Page 58: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

58

Como Wenham avalia esse suposto desinteresse de Paulo pelo Jesus Histórico? (p. 868) As diferenças entre Paulo e Jesus são reais,

porém, refletem contextos diferentes e não uma mensagem diferente;

Paulo raramente usa a linguagem do Reino, provavelmente por ter sido uma linguagem mais significativa no contexto rural judaico das pessoas a quem Jesus se dirigiu, e que poderia ser mal entendido no mundo urbano helenizado, o campo missionário de Paulo.

Page 59: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

59

Como Wenham avalia esse suposto desinteresse de Paulo pelo Jesus Histórico? (p. 868) O que era difícil ou impossível que os

discípulos de Jesus compreendessem antes da Paixão, e que apenas foi insinuado, passa a ser a linha de frente do pensamento e do ensino teológico de Paulo;

Porém, a teologia da cruz, por exemplo, pregada por Paulo, está firmemente arraigada no ensino ministrado por Jesus na Última Ceia e em outras ocasiões.

Page 60: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

60

Como Wenham avalia esse suposto desinteresse de Paulo pelo Jesus Histórico? (p. 869) Em 1 Coríntios 11:23 Paulo introduz

seu relato sobre a Última Ceia com as seguintes palavras: "Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão...”;

Esta passagem é importante para mostrar que Paulo deliberadamente "ensinou" ou "entregou" as tradições de Jesus a seus seguidores.

Page 61: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

61

Como Wenham avalia esse suposto desinteresse de Paulo pelo Jesus Histórico? (p. 870) Um argumento arriscado, baseado no

silenciar, i.é., no não dito, é aquele que diz que Paulo deveria ter citado com mais frequência os ensinamentos de Jesus para dar suporte a seus escritos, se de fato os conhecesse melhor;

Na realidade, no caso dos alimentos limpos e imundos, é possível que Paulo esteja fazendo alusão ao ensinamento de Jesus quando diz em Romanos 14:14, "Eu sei e estou certo, no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesma imunda"

Page 62: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

62

Como Wenham avalia esse suposto desinteresse de Paulo pelo Jesus Histórico? (p. 870) Finalmente Wenham alega que Paulo não

falou diretamente acerca dos ensinos de Jesus porque a história e as declarações de Jesus eram sistematicamente ensinadas como parte da missão da igreja, então Paulo estaria desperdiçando sua tinta ao procurar reproduzi-las na íntegra em suas cartas, devendo ser capaz de esperar que seus leitores fizessem as devidas conexões e reconhecessem as alusões que as permeavam.

Page 63: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

63

Qual a conclusão de Wenham sobre o suposto desinteresse de Paulo pelo Jesus Histórico? (p. 871) Devemos concluir que, longe de ser o

fundador do cristianismo, Paulo considerou-se como um escravo de Jesus Cristo, no sentido de que havia sido pessoalmente chamado por Jesus na Estrada de Damasco, e no sentido de que viu Jesus e seu ensino como a revelação de Deus, e como a definição da ortodoxia cristã;

Existe diversidade sim, mas também um compromisso definido e deliberado com a unidade.

Page 64: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

64

PARTE 5O PONTO CENTRAL E A ESTRUTURA DA TEOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

Page 65: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

65

É possível identificar um ponto ou uma estrutura comum na TNT? (p. 872)

Ao tratar a questão referente ao ponto central da teologia do Novo Testamento, devemos mencionar que os diferentes escritos têm diferentes motivações e temas;

E absolutamente provável que os diferentes autores do Novo Testamento tenham destacado pontos diferentes; e que esses mesmos autores tenham também mudado esses pontos enfatizados ao longo das diferentes fases de seus ministérios;

Contudo, a questão que ainda permanece é se todos os autores estão trabalhando com a mesma estrutura básica de pensamento, assim como com os mesmos conceitos centrais.

Page 66: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

66

De acordo com James Dunn, qual é o ponto unificador dentro da diversidade do NT? (p. 873) James Dunn identifica a pessoa de Jesus como o

fator unificador na diversidade da teologia do Novo Testamento.

A convicção de que o pregador carismático de Nazaré havia ministrado, morrido e ressuscitado dentre os mortos para finalmente unir os homens a Deus;

Além disso, há o reconhecimento de que o poder divino, por meio do qual os seguidores de Jesus agora adoravam e eram encontrados e aceitos por Deus, era único, sendo representado por uma única pessoa, o Homem, o Cristo, o Filho de Deus, o Senhor, o Espírito que dá vida.

Page 67: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

67

De acordo com James Dunn, qual é o ponto unificador dentro da diversidade do NT? (p. 874) Dunn observa ainda que existem outros pontos

importantes além da cristologia que permeiam o Novo Testamento como um todo: a fé, a promessa de Deus, a crença monoteísta em Deus, a importância das Escrituras judaicas, a noção do povo de Deus, o batismo e o partir do pão, o Espírito, o amor ao próximo, e a parousia de Cristo;

Mas, embora tudo isto esteja implícito ou explícito ao longo da maioria das passagens do Novo Testamento, Dunn insiste que o que realmente une todas as coisas é o próprio Senhor Jesus Cristo, que é (por exemplo) o cumprimento das Escrituras e aquele que dá o Espírito.

Page 68: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

68

De acordo com Wenham, qual é o ponto unificador dentro da diversidade do NT? (p. 874) Para Wenham, cada uma dessas ideias de Dunn se

aproxima do âmago da teologia do Novo Testamento, porém nenhuma delas expressa a totalidade do assunto;

A teologia do Novo Testamento está realmente enfocada em Jesus, mas Jesus é visto no contexto do plano de Deus, a salvação e a reconciliação tanto para seu povo como para o mundo todo; esse plano está completamente relacionado ao amor de Deus;

Em outras palavras a teologia do Novo Testamento está relacionada à missão divina para o mundo.

Page 69: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

69

Como Wenham apresenta o centro da Teologia do NT? (p. 875)

O Contexto: O Deus Único, cumprindo as Escrituras, por intermédio de Jesus, reconcilia o mundo consigo mesmo;

O Centro: A vida e obra de Jesus especialmente sua morte e ressurreição que inaugura a regra salvadora de Deus e convida a humanidade a receber o dom divino.

Page 70: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

70

Como Wenham apresenta o centro da Teologia do NT? (p. 875)

A Comunidade: Aqueles que recebem Jesus por meio da fé - tendo em vista que o batismo e a eucaristia são expressões dessa fé – tornam-se filhos de Deus, tendo o Espírito Santo como o sinal de sua filiação;

Estes são chamados a viver em comunhão com Deus e uns com os outros, para proclamarem as boas novas de restauração no mundo.

Page 71: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

71

Como Wenham apresenta o centro da Teologia do NT? (p. 875)

O Ápice: A missão de restauração estará completa quando o Senhor voltar para julgar o mundo, ocasião em que a impiedade será finalmente vencida, o povo de Deus será exaltado e aperfeiçoado, e a criação como um todo será restabelecida à sua glória, conforme a vontade e o plano do Senhor;

Essa visão coerente é refletida em todas as principais passagens do Novo Testamento, embora seja expressa de vários modos e com diferentes ênfases;

Espero que esse esboço nos ajude a enxergar a existência de uma profunda coerência na diversa teologia do Novo Testamento.

Page 72: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

72

PARTE 6UNIDADE E DIVERSIDADE: CONCLUSÕES

Page 73: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

73

Enfim, existe diversidade teológica no NT? (p. 877)

Está bastante claro que há diversidade na igreja do NT, especialmente entre os cristãos judeus que estavam preocupados em retratar Jesus como o cumprimento da Lei e dos profetas, e os convertidos gentios de Paulo se regozijavam na liberdade de Cristo e no Espírito;

E importante reconhecer a diversidade, não só porque alcançamos um conhecimento mais completo da fé cristã, mas também porque desse modo aprendemos como a fé cristã pode ser expressa nos diferentes contextos em nossos dias;

Os cristãos partidários da inspiração divina das Escrituras, deveriam desejar ouvir as diferentes vozes contidas no Novo Testamento, assim como deveriam evitar mesclá-las para tornar idênticas essas diferenças inspiradas.

Page 74: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

74

Qual era a causa da diversidade teológica do NT? (p. 877)

A diversidade teológica resultava do desenvolvimento de ideias em contextos diferentes, com a transição da Palestina rural focada na herança judaica para o mundo greco-romano urbano focado nas filosofias e religiões pagãs;

Essa mudança forçava uma alteração não somente em terminologia (a falta da linguagem do Reino nos escritos de Paulo), mas também em teologia;

Page 75: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

75

Qual era a causa da diversidade teológica do NT? (p. 877)

Desse modo, as questões sobre a escatologia ocupavam grande parte do pensamento dos cristãos em Tessalônica, e as questões sobre os gentios e a Lei ocupavam grande parte do pensamento dos cristãos na Galácia e em Roma;

A diversidade era parte integrante do estilo bíblico de revelação.

Page 76: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

76

O que faz com que alguns críticos associem diversidade com divergência teológica? (p. 878)

Muitos estudiosos não reconheceram que a diversidade teológica do NT resulta de uma diferença de ênfase e não de uma abordagem contrária ou divergente;

Ao contrastar os autores antigos entre si, os estudiosos modernos falharam em reconhecer a complexidade dos pensamentos de cada um desses autores e não consideram seriamente a diversidade de cada contexto;

Essa atitude levou a uma ênfase unilateral voltada ao que divide, e não ao que une, fazendo com que a diversidade da igreja do NT fosse exagerada e a sua unidade subestimada.

Page 77: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

77

Apesar da diversidade teológica existia uma ortodoxia fixa na igreja do NT? (p. 879) Não havia nenhuma ortodoxia pré-

estabelecida no período do Novo Testamento: a teologia estava em desenvolvimento;

Porém, existia uma aceitação comum das tradições de Jesus como a base para a vida e o pensamento cristãos;

Na tradição de Jesus existia um conjunto central de princípios doutrinários que era de fato considerado uma ortodoxia, constituindo-se a base da autoridade, e cujo caráter era definitivo.

Page 78: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

78

Qual deve a ser a atitude do teólogo cristão frente a diversidade do NT? (p. 881) O teólogo não deve impor qualquer

sistematização para as diferenças do NT, mas deve procurar relacionar os textos particulares entre si e com a tradição do Neo-testamentária como um todo;

Ele deve estar atento ao fato de que uma abordagem histórica do NT aponta mais em direção a uma notável unidade em meio à diversidade do que para qualquer desarmonia, como muitas vezes se pressupõe.

Page 79: Unidade e Diversidade No Novo Testamento

79

Qual a palavra final de Wenham sobre a questão da Unidade e Diversidade no NT? (p. 882) A harmonização de textos aparentemente

conflitantes do NT é frequentemente associada a uma visão dogmática particular das Escrituras e, muitas vezes, é ridicularizada como uma visão não científica;

Algumas tentativas forçadas de harmonização são merecedoras de críticas. Porém, a convicção cristã histórica de que "todas as Escrituras são inspiradas por Deus" e que, consequentemente, há uma profunda unidade nas Escrituras é bem fundamentada, pois está firmada nos ensinos de Jesus e no Novo Testamento como um todo (por exemplo, Mt. 5:17; 2 Tm. 3:16, etc.).