unidade 1 - regras/normas - …proferlao.pbworks.com/w/file/fetch/64310210/módulo 1... · web...

39
CONCEITUANDO FILOSOFIA A –APROXIMAÇÃO CONCEITUAL 1. “ A verdadeira Filosofia é REAPRENDER a VER o mundo” (Merleau Ponty) 2. “A Filosofia ajuda a promover a passagem do mundo infantil ao mundo adulto, estimulando a elaboração do pensamento abstrato” ( Maria L. A Aranha). 3. “... você precisa de Filosofia para o ALARGAMENTO da CONSCIÊNCIA CRÍTICA e para uma PARTICIPAÇÃO mais ATIVA na comunidade.” (Maria L. A. Aranha). 4. [A prática da filosofia ajuda a explicar claramente o que pensamos, o que exige muito treino e esforço] (idem). 5. Filosofia é apresentar argumentos que justifiquem as idéias apresentadas (Luiz Antonio). 6. Fazer Filosofia, entre outras coisas, é evitar expressões vagas (Ex.: o autor x é inovador. Em que é inovador? De que forma é inovador? É inovador em relação a que?) 7. Fazer Filosofia é evitar respostas pobres, sob pretexto de síntese. 8. Filosofia não é “achismo” ou exposição de opiniões pessoais. 9. Filosofia é o debate do argumento e jamais pode ser o debate do grito. 10. Filosofia exige re - aprender ouvir os argumentos do outro (o que o autor tem a dizer). 11. Filosofia exige buscar pelas palavras-chaves e idéias centrais. 12. Filosofia ajuda(e exige) a desenvolver a coerência da exposição do assunto, a ausência de contradição, a riqueza de argumentação (o que se afirma precisa ser justificado). 13. A Filosofia é subversiva (subverter = inverter a ordem e possibilidades): perturba a ordem e maneira do conhecer e do fazer ( Luiz Antonio). B - FILOSOFIA NÃO É UM SABER ACABADO: É BUSCA CONSTANTE. “Não existe Filosofia que se possa aprender; só se pode aprender a filosofar” (Emanuel Kant, alemão, séc. XVIII) – ATITUDE. [ A primeira virtude do filósofo é a admiração] (Platão).

Upload: dinhxuyen

Post on 31-Dec-2018

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CONCEITUANDO FILOSOFIA

A –APROXIMAÇÃO CONCEITUAL

1. “ A verdadeira Filosofia é REAPRENDER a VER o mundo” (Merleau Ponty)

2. “A Filosofia ajuda a promover a passagem do mundo infantil ao mundo adulto, estimulando a elaboração do pensamento abstrato” ( Maria L. A Aranha).

3. “... você precisa de Filosofia para o ALARGAMENTO da CONSCIÊNCIA CRÍTICA e para uma PARTICIPAÇÃO mais ATIVA na comunidade.” (Maria L. A. Aranha).

4. [A prática da filosofia ajuda a explicar claramente o que pensamos, o que exige muito treino e esforço] (idem).

5. Filosofia é apresentar argumentos que justifiquem as idéias apresentadas (Luiz Antonio).

6. Fazer Filosofia, entre outras coisas, é evitar expressões vagas (Ex.: o autor x é inovador. Em que é inovador? De que forma é inovador? É inovador em relação a que?)

7. Fazer Filosofia é evitar respostas pobres, sob pretexto de síntese.

8. Filosofia não é “achismo” ou exposição de opiniões pessoais.

9. Filosofia é o debate do argumento e jamais pode ser o debate do grito.

10. Filosofia exige re - aprender ouvir os argumentos do outro (o que o autor tem a dizer).

11. Filosofia exige buscar pelas palavras-chaves e idéias centrais.

12. Filosofia ajuda(e exige) a desenvolver a coerência da exposição do assunto, a ausência de contradição, a riqueza de argumentação (o que se afirma precisa ser justificado).

13. A Filosofia é subversiva (subverter = inverter a ordem e possibilidades): perturba a ordem e maneira do conhecer e do fazer ( Luiz Antonio).

B - FILOSOFIA NÃO É UM SABER ACABADO: É BUSCA CONSTANTE.

“Não existe Filosofia que se possa aprender; só se pode aprender a filosofar” (Emanuel Kant, alemão, séc. XVIII) – ATITUDE.

[ A primeira virtude do filósofo é a admiração] (Platão).

C - A FILOSOFIA NÃO SE CONFUNDE COM CIÊNCIA.

)a Em seu início, a ciência estava ligada à filosofia.

)b Nascimento das ciências no séc. XVII (Galileu) / ruptura (surgimento das ciências particulares, com delimitação de seus objetos e aperfeiçoamento do método científico). A ciência faz juízo de realidade (explicar, prever os fenômenos)

)c Filosofia: continua se ocupando da totalidade (visão de conjunto: relaciona os diversos aspectos do mesmo. É a busca do significado da ação.

D - O PROCESSO DO FILOSOFAR:

REFLEXÃO >>> REFLEXO >>> REFLECTERE(latim) = retroceder, voltar atrás, retomar o pensado, pensar o já pensado (sobpesar = colocar na balança). Não um pensar, analisar ou um pesar qualquer.

A reflexão filosófica é:

a) RADICAL: busca as raízes das questões/problemas/situações/coisas. É a procura pelos fundamentos e valores que dão origem...)

b) RIGOROSA: seque métodos adequados aos seus objetos de conhecimento. Não aceita superficialidades.

c) DE CONJUNTO: relaciona o aspecto em estudo aos demais aspectos do contexto ou realidade estudada, de forma contemporânea ou histórica.

ATIVIDADE: construa um texto sobre o sentido da Filosofia a partir das expressões acima.

PRIMEIRA PARTE – TEORIA DO CONHECIMENTO

UNIDADE 1 - O QUE EXISTE ALÉM DO QUE VEMOS?

“A linguagem é a etiqueta das coisas ilusórias”.(Parmênides)

“Em minha juventude, eu considerava o universo como um livro aberto, impresso na linguagem das equações físicas, ao passo que agora ele me parece um texto escrito em tinta invisível, do qual em nossos raros momentos de graça conseguimos decifrar um pequeno fragmento”.(Arthur Koestler)

“Deixai entrar o conhecimento por outro sentido”.(Dryden)

“Tudo que a mente moderna não consegue definir ela considera como demência”(C. G. Jung)

Quando vejo uma placa significa que um carro está ali? Ou significa que é um carro? Ou ainda que a placa está no lugar do carro? Tudo o que vemos é o que pensamos ser?

O homem é, por excelência, um animal simbólico. Toda a nossa estrutura de conhecimento, de descoberta e de relacionamento se dá através dos signos. A nossa tentativa de adquirir novos conhecimentos é sustentada pela prática mental de relacionar os signos. O signo é qualquer objeto ou acontecimento usado como menção outro objeto ou acontecimento. Pelo signo nós conseguimos presenciar o passado para a previsão e planejamento do futuro. Basta ver uma flor para tornar presentes as palavras dóceis e sufocadas da primeira declaração de amor. Ou, ainda, para ter presente o ambiente, a brisa, o mar. Numa flor pode estar um mundo de representações.

O signo é uma poderosa arma e um instrumento forte de manipulação dos meios de comunicação sociais e das indústrias. Como descobriram o seu poder sobre nós, utilizam os signos para fazer-nos identificar marcas, rótulos, vinhetas, outdoors.

Kant, percebendo o poder dos signos, desencadeia uma ferrenha critica a eles dizendo que nos empobrecem intelectualmente; "quem só sabe expressar-se de modo simbólico tem poucos conceitos intelectuais”. Os signos nos tomam a palavra. Basta observar um diálogo entre dois jovens:

- Isto é um troço maneiro, aí, meu!

- É dez cara!

- Só!

Mas essa chamada de atenção de Kant não desmerece o poder e a importância dos signos na nossa vida e para o nosso conhecimento. A matemática simbólica é um exemplo vivo da presença dos signos na nossa vida.

É ELEMENTAR, MEU CARO WATSON!

Nós homens vivemos tentando descobrir os signos das coisas, ou seja, se aquilo que vemos está no lugar do objeto que ele representa (ou se ele representa o objeto).

Uma pegada na areia da praia significa que é de algo que percebemos ou conhecemos.

O trabalho dos detetives é um constante desafio de descoberta sobre um determinado fato. E um trabalho paciencioso, cheio de melindres, de constantes relações e, sobretudo, de intuição.

Os filósofos também foram e são exímios pesquisadores de signos. Eles não aceitavam uma explicação de senso comum, simplesmente porque assim ensinavam ou acreditavam (Mitologia). Procuravam outros elementos que explicassem melhor a que o objeto de atenção queria se referir. Foi observando a

imensidão da água, onde havia água havia vida, que descobriram a importância da água como o princípio de tudo. Sem a água não há nada. No deserto há pouca vida e mesmo esta pouca vida se sustenta com um mínimo de água, o que se observava com os cactos e os oásis.

Não foi difícil para Tales de Mileto, depois dessas observações e da combinação desses sinais com a realidade, chegar à conclusão de que o princípio de tudo era a água.

Outros filósofos tiveram outras leituras de sinais da natureza e obtiveram diferentes interpretações.

• Anaxímenes —> o Ar

• Heráclito — o Fogo

• Pitágoras —> o Número

• Empédocles —> os quatro elementos (Água, Terra, Ar e Fogo).

Como podemos notar, os signos dependem de quem procura fazer melhor as relações e os pode interpretar. Um signo não tem um único significado. A nossa imaginação, criatividade, faz novas interpretações.

Uma das tarefas dos filósofos e dos cientistas é a de sempre interpretar os signos e daí procurar soluções ou, melhor, conclusões. Eis porque sempre estamos metidos em novas descobertas de coisas que já conhecemos e que pensamos ser a última palavra. Em breve aparece alguém e vemos que pode haver outra forma de interpretar um signo. Eis um bom motivo para que agucemos os nossos sentidos e criemos nossas próprias interpretações das coisas.

A importância da filosofia também aqui se destaca, pois á a arte de fazer ligações dos signos, símbolos para melhor compreender nossa própria vida.

MOMENTO DA ATIVIDADE – MOMENTO DE PENSAR

1)Procure discutir com seus colegas sobre o seguinte: Existem fatos sem sinais? Quando interpretamos um signo, significa que é o que dissemos ser? Pode-se afirmar que uma interpretação de um signo hoje pode ser diferente de uma de anos anteriores? Os signos sempre representam algo ou um objeto? Os animais se utilizam de signos?

2) Pesquise os tipos de alfabetos de vários povos, e outros tipos de alfabetos, como o dos surdos e mudos.

3) Crie um fato em que vários objetos podem levar a uma conclusão verdadeira. Converse com os seus colegas sobre o fato.

4) Pesquise sobre símbolos atuais representativos para nós. Faça o levantamento da sua importância e consequências.

Sobre o texto: RECORDO AINDA

Recordo ainda... E nada mais me importa... / Aqueles dias de uma luz tão mansa / Que me deixavam, sempre de lembrança, / Algum brinquedo novo à minha porta...

Mas veio um vento de Desesperança / Soprando cinzas pela noite morta! / E eu pendurei na galharia torta / Todos os meus brinquedos de criança...

Estada afora após segue... Mas ai, / Embora idade e senso eu aparente, / Não vos iluda o velho que aqui vai:

Eu quero meus brinquedos novamente! / Sou um pobre menino... acreditai... que envelhecer, um dia, de repente! (QUINTANA, Mário. Poesias. Porto Alegre: Globo, 1962).

Refletir:

- O poema aparenta um sentido otimista, pessimista ou nostálgico?

- Quais são os tipos de infância a que o autor se refere?

- Quais são as imagens que evoca o texto e que não aparecem nos versos?

UNIDADE II - A SENHA DE ENTRADA PARA O MUNDO

“Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”.(Ludwig Wittgenstein).

“Todas as palavras são pinos para nelas se pendurar idéias”.(Heary Ward Beecher)

“O nome significa o objeto; o objeto é o seu significado”.(Ludwig Wittgenstein)

O que acontece se você disser ABRACADABRA? O que aconteceria se você tivesse o poder de uma pa-lavra que lhe possibilitasse a realização dos seus desejos?

A palavra é uma forma de ter domínio sobre algo. Ter a palavra é a maneira mais prática de controlar o outro. Nos contos antigos e nas histórias dos gibis vemos sempre alguns dos heróis com uma palavra mágica, que é a senha para conquistar os seus desejos, seu poder ou os seus sonhos.

Desde o início da história dos homens, estes criaram uma forma de estabelecer comunicação entre si. Muitos pesquisadores acreditam que essa forma de comunicar-se começou primeiramente com a linguagem pictórica: outros afirmam que foi através de gestos e outros, ainda, através de grunhidos. Não nos importa agora optar por uma dessas teorias, O importante é que, de uma forma ou de outra, o homem procurou se comunicar Não foi à toa que um filósofo disse: "comunicar é poder”. E a palavra certamente foi a mais privilegiada. É claro que uma das maiores características do ser humano, que nos faz distintos dos demais animais, é a fala.

A linguagem é um sistema de signos. O homem, ao se comunicar com os demais, convenciona sons a objetos. Por isso a linguagem, além de ser simbólica, é social. Caso contrário, não haveria condições de comunicação.

A palavra representa a coisa. Não é preciso mais ter o objeto a que se refere no momento. A palavra evoca a idéia que se tem dele.

Um passo muito importante do homem foi quando conseguiu usar a palavra, pois deixou de viver somente no presente, no aqui e agora, e passou a colocar diante de si o passado e o futuro, O homem passa a dominar as coisas. Pela palavra o universo ganha sentido.

Platão dizia que a linguagem é um Pharmakon. Esta palavra grega possui três significados: remédio, veneno e cosmético. Ela pode ser um remédio quando consolamos uma pessoa; pode ser um veneno quando, com a palavra, difamamos alguém ou semeamos discórdia; pode ainda ser um cosmético quando utilizamos a palavra para elogiar, ou na poesia que emoldura uma realidade fazendo com que esta seja até mais bela do que realmente é.

Toda linguagem é um sistema de signos. “O Signo é uma coisa que está em lugar de outra sob algum aspecto” (Charles Peirce, Semiótica).

As palavras são formadas pela união de fonemas, que, por sua vez, podem ser representados pelo alfabeto. Com as vinte e três letras do alfabeto da língua portuguesa pode-se fazer um número infinito de palavras. A letra “m" por exemplo, pode me levar a palavras e idéias, mas é simplesmente um “m. Mas se a esta letra juntarmos as letras "a" e “r’ teremos “mar”. Quando escrevo mar”, um mundo de lembranças me vem à mente. Quando escrevo mar”, esta palavra não é o mar, ela está no lugar do mar. Também com um pequeno número de idéias simples pode-se reconstituir todas as operações intelectuais. Uma placa significa que algo pode estar próximo ou presente (um posto de gasolina, restaurante, hospital, uma curva sinuosa).

Outras palavras podem ser representadas por ícones, desenhos. Quando vejo uma cruz, pode significar: adição, igreja, fé, sacrifício, necrotério, encruzilhada, hospital, etc.

Outras palavras ainda estão convencionadas a causa e efeito. O broto de uma árvore é sinal de vida que nasce. Um ovo no meio do mato é sinal de que existe um pássaro pondo ovo ou chocando. Há outras relações chamadas onomatopéicas, como auau = cachorro; miau = gato ou bem-te-vi = uma espécie de pássaro.

Quando a relação é arbitrária, regida por convenção, temos o símbolo. Por exemplo, a bandeira brasileira é algo convencionado e aceito por todos.

A linguagem é um signo intersubjetivo que possibilita a comunicação. A nossa mente trabalha para que haja combinação de signos e, começa a surgir o entendimento na comunicação. É a criação da linguagem.

Uma única expressão de algo isolado e não identificado pelo grupo não quer dizer nada ou nada representa. Por exemplo: o que significa Urupê para você? E o que realmente quer dizer?

Só sabemos de algo quando determinamos o objeto, que é reconhecido por nós ou pelo grupo ao qual pertencemos. Por isso, expressões regionalistas são compreensíveis num lugar e podem ser completamente ignoradas em outros.

A linguagem humana é um signo intersubjetivo, tem uma estrutura, isto é, formada de palavras, e estas farão parte de um discurso com uma função determinada. A palavra sozinha pode significar pouco, mas unida a muitas outras, numa ordem estruturada, pode ter outros entendimentos.

A estrutura da linguagem é feita ao longo do tempo e obedece a padrões semânticos, regionais, culturais. Quando dizemos "Eu gosto muito dessa flor”, todos nós entendemos que a expressão tem um forte apelo quanto ao bem querer dessa flor. Porém, se acrescentarmos à mesma expressão a palavra “pouco’ — Eu gosto muito pouco dessa flor —, altera-se o significado anterior a respeito da opinião do enunciador sobre a flor. Porém, em ambas as expressões mantêm-se a função subjetiva da linguagem, quando alguém fala de seus sentimentos em relação a algo.

MOMENTO DA ATIVIDADE – MOMENTO DE PENSAR

1)Vamos pesquisar junto a outras disciplinas:

Ciências — Conhecer algumas fórmulas ou símbolos científicos.

Educação física — Pesquisar os símbolos olímpicos ou esportivos e sua razão de ser.

Português — A origem do alfabeto que usamos.

2) Para pensarmos e discutirmos:

Quando vejo uma nuvem carregada escurecer o dia, o que posso “ler"?

Toda vez que eu encontro alguma coisa, é sinal de algo?

Os animais usam signos?

Quais são hoje signos significativos para nós?

Quando sonhamos, vemos as coisas por sinais?

Os sonhos significam alguma coisa para nós?

Quando sonhamos, vemos a realidade ou os signos?

Percebo a diferença entre símbolo e signo?

Posso falar qualquer palavra e todos me entenderão desde que seja em português?

Eu posso falar português e não entender nada da fala de um gaúcho ou nordestino?

Conhecer as palavras de uma língua significa saber falar a língua?

O que é preciso para saber falar bem uma língua estrangeira?

3) Procure músicas de cantores, ou poesias, ou trechos de escritores de outra região, compare as palavras e veja os seus significados. Redija um comentário. Uma sugestão: O Carcará, de João do Vale.

4) Assista ao filme “A Terra do Fogo” e comente, além dos aspectos culturais, o surgimento da linguagem.

TEXTOS

A fala e linguagem humana.

A comunicação é uma questão essencialmente social. O homem desenvolveu uma porção de diferentes sistemas de comunicação que lhe tornam possível a vida social — vida social não no sentido de viver em

bandos para caçar ou guerrear, mas num sentido desconhecido dos animais. Entre todos esses sistemas de comunicação, o mais importante é, decerto, a fala e a linguagem humanas.

A linguagem humana não deve ser equiparada ao sistema de sinais dos animais, por isso homem não está restrito a chamar sua prole, ou sugerir acasalamento, ou desferir gritos de perigo; ele pode, graças às suas notáveis faculdades de falar, dar expressão a praticamente qualquer pensamento. Como os animais, nós também possuímos nossos gritos inatos, instintivos, de alarme, dor, etc.; dizemos Oh! Ah!; temos sorrisos, gemidos e lágrimas, coramos, temos arrepios, bocejos e carrancas. Uma galinha pode, com cacarejar, fazer com que seus pintainhos venham correndo para junto dela — comunicação essa estabelecida por um mecanismo livrador; a linguagem humana, porém, é muitíssimo mais que um complicado sistema de cacarejos.

O desenvolvimento da linguagem se reflete de volta no pensamento, pois, com a linguagem, os pensamentos se podem organizar e novos pensamentos surgir. A consciência de si próprio e o sentido de responsabilidade social apareceram como resultado de pensamentos organizados. Sistemas de ética e de leis foram edificados. O homem se tornou uma criatura social, consciente de si própria, responsável.

Na medida em que as palavras que usamos desvendem a verdadeira natureza das coisas, tal como a verdade à comunicação pessoal são deveras reveladoras. A própria palavra “comunicar’ significa ‘partilhar”, e na medida em que eu e você, leitor, nos estejamos comunicando, somos um. Não tanto uma união como uma unidade. Na medida em que concordemos, dizemos que temos uma só idéia ou, também, que nos compreendemos um ao outro. Esse um e outro são a unidade. Um grupo de pessoas, uma sociedade, uma cultura, eu os definiria como “pessoas em comunicação”. Pode-se dizer que compartilham regras” de linguagem, de costumes, de hábitos; mas quem escreveu tais regras? Elas surgiram das próprias pessoas — regras de conformidade, O grau de comunicação, a partilha, a conformidade. Constitui uma medida de comunidade de idéias. Ao fim e ao cabo, aquilo que partilhamos não o podemos ter como nossa posse individual, e nenhuma pessoa jamais nasceu e foi criada, neste mundo, em total isolamento. “Homem algum é uma ilha, completa em si mesma”.

(CRERRY, Collin. A comunicação humana. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1974, p. 22-24).

Texto filosófico

A segunda definição do sofista — o comerciante em ciências

(Depois dessa primeira elaboração de pontos de vista, passa-se a fazer um primeiro conceito de sofista.).

Estrangeiro — Tomemos agora um outro ponto de vista, pois a arte a que se refere o objeto de nossa pesquisa, longe de ser simples, é muito complexa. Segundo as divisões precedentes, esse objeto apresenta não o aspecto que definimos, e sim o simulacro de um outro gênero.

Teeteto — Como assim?

Estrangeiro — Na arte de aquisição havia duas formas: uma era a caça, outra a troca.

Teeteto — E exato.

Estrangeiro — Podemos dizer, agora que na troca há duas formas: de um lado o presentear; de outro, a troca comercial?

Teeteto — Digamos.

Estrangeiro — E, ainda, que a própria troca comercial tenha duas partes?

Teeteto—Quais?

Estrangeiro — Na primeira, há a venda direta pelo produtor; noutra, em que se vende o que foi produzido por terceiros, há o comércio.

Teeteto — Perfeitamente

Estrangeiro — Pois bem, deste comércio, quase a metade se realiza dentro das cidades, é o comércio a varejo.

Teeteto — Sim.

Estrangeiro — Mas o comércio de cidade para cidade, de compra ou venda, não é a importação?

Teeteto — Como não?

Estrangeiro — Ora, na importação não percebemos essa distinção: que são os objetos que servem ao alimento ou ao uso, tanto do como da alma, que se vendem e se trocam por dinheiro.

Teeteto — Que queres dizer com isso?

Estrangeiro — Que, talvez, falte-nos reconhecer parte relativa à alma, pois a outra, creio, é nos clara.

Teeteto — Sim.

Estrangeiro — Podemos dizer que a música em todas as suas formas, levada de cidade em cidade, aqui comprada para ser para lá transportada e vendida; que a pintura, a arte dos prestidigitadores em seus prodígios, e muitos outros artigos destinados à alma, que se transportam e vendem, seja a título de divertimento ou de estudos sérios, dão àquele que as transporta e vende, tanto quanto ao vendedor de ali-mentos e bebidas, direito ao titulo de negociante?

Teeteto — O que dizes é a pura verdade.

Estrangeiro — Àquele que, de cidade em cidade, vende as ciências por atacado, trocando-as por dinheiro, darias o mesmo nome?

Teeteto — Certamente.

Estrangeiro — Nessa importação espiritual, uma parte não se chamaria, com justiça, arte de exibição? O nome da outra parte não será menos ridículo que o da primeira e, pois que o que ela vende são as ciências deveremos chamá-la, necessariamente, por um nome que tenha correspondência próxima com o nome de sua própria prática.

Teeteto — Certamente.

Estrangeiro — Assim, nessa importação por atacado das ciências, a seção relativa às ciências das diversas técnicas terá um nome. E a que cuida em sua importação, da virtude, um outro nome.

Teeteto — Naturalmente.

Estrangeiro — À primeira convém o nome de importação por atacado das técnicas. Quanto à outra, procura tu mesmo encontrar-lhe o nome.

Teeteto — Que nome daremos, que não pareça falso, a menos que digamos: ai está o objeto que procuramos, o famoso gênero sofístico.

Estrangeiro — Esse, e nenhum outro. Agora, vejamos recapitulando, e repitamos esta parte da aquisição, da troca, da troca comercial, da importação, da importação espiritual, que negocia discursos e ensinos relativos à virtude, eis, em seu segundo aspecto, o que é a sofistica.

Teeteto — Perfeitamente.

Para debater o texto:

Como é elaborado o método de Sócrates?

Podemos perceber que há sempre duas palavras que se confrontam? Relacione as palavras que estão em oposição?

Qual é a atitude do filósofo diante do outro?

UNIDADE III – REPRESENTAÇÃO DO MEU MUNDO

“A palavra prova mais que a teoria”.(Abrahan Lincoln)

Um nome é um vocábulo semântico segundo convenção, nada é nome por natureza, mas apenas depois de se tornar símbolo.” (Aristóteles)

A natureza obrigou os homens a emitir os vários sons da linguagem, e a utilidade levou a dar a cada coisa o seu nome.” (Lucrécio)

“Gostaria que, na medida do possível, os nomes fossem semelhantes às coisas”.(Platão)

Os homens sem linguagem poderiam pensar? Meio copo de água é sempre meio copo de água? O entendimento dessa afirmação é igual para todos?

A linguagem corno instrumento criado pela convenção humana é flexível. Só o homem é capaz de criar, modificar e designar novas formas de linguagem. Isso porque só o homem sabe que sabe.

Por muito tempo defendeu-se a idéia de que só podíamos pensar através da linguagem oral. Kant, filósofo alemão do século XVIII, na Crítica da Razão Pura, diz: ‘pensar é conhecer através de conceitos”.

Um pássaro e uma abelha têm uma linguagem estrutural fixa. O que quero dizer com isso é que as abelhas só têm um modo de se comunicar entre elas. São instintivas. O cachorro tem sua linguagem. Ele sabe das coisas, mas não sabe que sabe.

Nós é que interpretamos e vamos além. Damos voz às pedras, às árvores, às flores.., dando a elas nossos sentimentos e emoções. Os elementos da natureza nos comunicam algo através de seu estado físico. Uma planta sem água fica murcha. E muitas vezes podemos dizer: “Olha, ela esta pedindo água”. E a maneira física de ela se comunicar. Uma pedra não vai pensar assim, um animal não vai pensar dessa maneira e nem um rio pensará assim.

A fala é humana. Só nós homens falamos porque criamos conceitos, isto é, damos significados às palavras. Podemos ver a comunicação entre os animais e entre as coisas. Mas entre os humanos existe a linguagem. Nós conseguimos nos comunicar de muitos modos. Isso nos distingue dos animais com sua linguagem formal e rígida. A comunicação humana tem um leque de variedades.

A linguagem do computador é rígida, inflexível. Este só aceita aquilo que foi programado a aceitar.

Existe a linguagem artística pela qual o artista se expressa através de cores, imagens ou encenações (gestos, mímicas...). Essa linguagem desenvolve nossa criatividade, dá novos estilos, novas técnicas e as transforma.

A ESTRUTURA DA LINGUAGEM

Como você analisa estas expressões? Vamos subir para cima. Esta escada tem um longo caminho curto. Enquanto era noite o sol brilhava nesta escuridão.

Há alguma coisa estranha nessas expressões, mas isso não é por acaso. A linguagem tem um repertório e regras de uso.

Você já se sentiu mal diante de um grupo fora do seu convívio? Ao passar por uma situação dessas, pode perceber que algumas coisas não se encaixavam com o seu modo de falar, de pensar e de ser. Primeiro, o seu vocabulário não era o mesmo deles. Os interesses deles não combinavam com os seus. A maneira de interpretar os fatos é bem diferente dos seus. E assim por diante, uma série de situações que não se encaixam e, por isso, ou precisamos nos enturmar, ou então mudar de grupo ou, ainda, voltar ao grupo de amigos já formado. Por que isto acontece? Porque cada grupo tem suas regras, seus códigos e seus sistemas de valores.

O mesmo acontece com a linguagem. Sendo convencional, exige um repertório de regras convencionadas pelo grupo. Vamos perceber que algumas palavras vão ser usadas juntas e outras não. E necessário estabelecer regras. Vejamos. Leia a frase: “Enquanto o pastor pastava o burro rezava”. Se colocarmos as regras gramaticais, o sentido dessa frase mudará complemente. “Enquanto o pastor pastava o burro, rezava”. Percebemos que a linguagem tem estrutura, repertório, combinação e regras.

ESTRUTURA

A linguagem obedece a uma certa ordem das palavras. Sem essa disposição a mensagem pode ser indecifrável. Observe as palavras abaixo, elas formam uma frase. Você é capaz de montá-la? Tente!

- “A mulher do fraqueza no reside força de irresistível da poder*.

A linguagem fornece a senha de entrada no mundo humano. E através dela que o homem conseguiu de forma efetiva entrar no processo evolutivo, pois é através dela que se pode comparar, registrar e manifestar os sentimentos e a mensagem à posteridade.

MOMENTO DA ATIVIDADE – MOMENTO DE PENSAR

1) Pesquise “por que os papagaios falam? Eles são humanos?

2) Pesquise uma história em que a água, peixe, árvore, cachorro, etc., falem nossa linguagem. Reproduza uma delas.

4) Por que gostamos de dar voz e sentimentos às plantas, aos rios e aos animais?

5) Um gato miando significa que está falando?

6)O homem poderia pensar se não houvesse linguagem? Como você justificaria?

7)

DESAFIO MENTAL

Como você interpreta esta mensagem?

Sabendo que C = 6; M = 24; T = 38.

2, 42, 10, 34, 8, 2, 8, 10, 10, 36, 10, 24, 30, 34, 10, 28, 2, 34, 14, 40, 24, 10, 26, 38, 28, 24, 2,18, 36, 12, 28, 34, 38, 10.

Texto - Um Apólogo

Era uma vez uma agulha que disse a um novelo de linha:

— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?

— Deixe-me, senhora.

— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Por que lhe digo que esta com ar insuportável? Repito que sim e falarei sempre que me der na cabeça.

— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

— Mas você é orgulhosa.

— Decerto que sou.

— Mas por quê?

—É boa! Porque cose. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?

— Você forra o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...

— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...

— Também os batedores vão adiante do imperador.

— Você, imperador?

— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, adjunto...

Estavam nisso, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isso se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si para não andar atrás dela.

Chegou a costureira, pegou o pano, pegou a agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha e entrou a coser. Uma a outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galos de Diana — para dar a isso uma cor poética. E dizia a agulha:

— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...

A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas...

A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também e foi andando. E era tudo silêncio na sala de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte; continuou nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.

Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, alcochetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe:

— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.

Parece que a agulha não disse nada, mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:

— Anda, aprende, tola. Cansas te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico. (Machado de Assis apud Alaíde Massaro. Português: Construindo a linguagem. 7ª série. São Paulo: IBEP, p. 8-9.)

Texto filosófico - Os signos e seus objetos

A palavra Signo será usada para denotar um objeto perceptível, apenas imaginável ou mesmo insuscetível de ser imaginado em um determinado sentido — a palavra “cabo”, que é um signo, não é imaginável, pois não é essa palavra mesma que pode ser inscrita no papel ou pronunciada, mas apenas um dos aspectos que pode revestir; trata-se da mesmíssima palavra quando escrita e quando pronunciada, mas é uma palavra quando significa “posto de hierarquia militar”, outra quando significa “ponta de terra que entra pelo mar” e terceira quando se refere a “parte por onde se segura objeto ou instrumento”. Para que algo seja um Signo, deve “representar”, como dissemos algo diverso que é chamado seu Objeto, embora a condição de que um Signo deva ser diverso de seu objeto seja talvez arbitrária, pois se insistirmos a respeito desse ponto deveremos, pelo menos, introduzir uma exceção para o caso de um signo parte de um signo. Assim, nada impede o ator que desempenha um papel num drama histórico de portar como “propriedade” teatral a relíquia mesma que poderia ser representada por um sucedâneo, tal como o crucifixo que o Richelieu de Bouwer levanta, em sua rebeldia, conseguindo grande efeito. No mapa de uma ilha, colocado sobre o solo dessa mesma ilha, deve haver, em condições comuns, uma posição, um ponto, marcado ou não, que representa qual ponto do mapa, o mesmíssimo ponto qual posição na ilha.

Um Signo pode ter mais do que um Objeto. Assim, a sentença “Caim matou Abel”, que é um Signo, refere-se pelo menos tanto a Abel quanto a Caim, ainda que não a encaremos como deveríamos encará-la, isto é, como tendo “um assassínio” na qualidade de terceiro Objeto. O conjunto de objetos pode ser visto como compondo um Objeto complexo. No que segue (e muitas vezes depois), no intuito de reduzir as dificuldades do estudo. Se um Signo é diverso do seu Objeto, deve existir no pensamento ou na expressão uma explicação ou argumento ou contexto mostrando de que modo — segundo que sistema ou por que razão — o Signo representa o Objeto ou conjunto de objetos que representa. (Pierce, Charles Sanders. Semiótica e Filosofia, textos escolhidos. Cultrix: São Paulo. 1960. p. 95-96.)

“Ponha um argumento em uma forma concreta, em uma imagem — alguma frase concreta, redonda e sólida como uma bola, que eles possam ver e manusear e levar pra casa com eles — e a causa estará parcialmente ganha”.(Emerson)

UNIDADE IV - UM SÓCRATES PARA OS NOSSOS DIAS

“Um homem, embora sábio, nunca deve se envergonhar de aprender mais, e deve abrir sua mente”.(Sófocles)

“Quando alguém me contesta, desperta a minha atenção, e não minha raiva. Vou ao encontro do homem que me contradiz, que me instrui. A causa da verdade deveria ser a coisa comum para ambos”.

(Montaigne)

"É preferível fazer algumas das perguntas a saber todas as respostas”.(James Thurber)

‘O objetivo do argumento, ou da discussão, não deve ser a vitória, mas o progresso.” (Joseph Joubert)

Sócrates, sem dúvida, desenvolveu entre seus discípulos a arte do diálogo. Digo arte, porque o diálogo não é natural, nem nos. Podemos falar, comunicar, mas dialogar exige um empenho. Justamente por esse motivo dialogamos pouco. Infelizmente, temos o hábito do menor esforço.

Nós não estamos preparados para o diálogo, estamos acostumados a falar, a discutir. Falar é expressar o que sentimos, pensamos, através da comunicação (gesto, voz...). Discutir é colocar opiniões, propostas, pontos de vistas opostos ou paralelos.

O diálogo é “o encontro amoroso dos homens, que mediatizados pelo mundo o pronunciam, isto é, o transformam e transformando-o o humanizam para a humanização de todos”, é assim que Paulo Freire conceitua diálogo.

Somos carentes de diálogo porque o diálogo não é qualquer tipo de conversação. O diálogo tem características específicas:

no diálogo falamos com alguém. Expressamos o que temos dentro de nós, o que muitas vezes a nós parece claro mas expressado diante do outro pode não o ser. Ao pensar, falamos para o nosso interior, expressamo-nos para nós mesmos. Ao dialogar, nós expressamos para o outro o nosso pensamento;

todo diálogo é uma tentativa de estabelecer um relacionamento para superar a opinião e estabelecer o conhecimento;

o diálogo é um espaço aberto para colocar as opiniões, confrontá-las e, assim, poder chegar a um conceito;

o objetivo de um argumento ou da discussão não dever ser a vitória, mas o esclarecimento;

um argumento raramente convence alguém, se for contrário às suas inclinações.

Reviver Sócrates hoje é realizar a prática dialogal (dialética) tão escassa nos dias de hoje. É bom lembrar que, sendo o diálogo uma relação de amor, devemos estar alerta para alguns aspectos importantes:

o argumento deve ser o centro das atenções e não as pessoas, seus jeitos ou trejeitos. Não estamos discutindo a questão moral ou intelectual das pessoas, mas as suas idéias;

no diálogo supõe-se que haja no mínimo duas pessoas dispostas a escutar e a propor seus pontos de vista. Sobre esse aspecto, os primeiros filósofos gregos consideravam que “o diálogo não era apenas uma das formas pelas quais se pode exprimir o discurso filosófico, mas a sua forma típica e privilegiada. Isso porque não se trata de discurso feito pelo filósofo para si mesmo, que era isolado em si mesmo, mas de uma conversa, uma discussão, um perguntar entre pessoas unidas pelo interesse comum da busca”;

é necessário o respeito mútuo;

não deve estar em jogo, no diálogo, o número de pessoas que apóiam, aprovam ou desaprovam um argumento. O diálogo não é um “Você decide”, O importante é o argumento, sua estrutura, consistência e conceitualização.

O Conceito

Sócrates usava do diálogo para encontrar os conceitos. O diálogo contextualiza a palavra. Com o diálogo podemos criar a história da palavra e fazer com que essa palavra ganhe significado. Só assim a palavra estará envolvida na cultura de um povo. Uma palavra só terá significado para uma pessoa se for

confrontada e analisada. Seu sentido vai sendo assimilado e se formará um conceito. O mundo animal não tem conceito. Os animais são “de momento”, não registram e não cultivam seus atos. São instintivos.

A palavra em si é vazia. Apresenta o significado. Mas se ela fosse simplesmente o significado de algo, não teria tanta dificuldade em entendê-la. A palavra em várias partes vai alterando seus significados a tal ponto que ela ganha um conceito. O conceito é fruto de influências vivenciais e, aos poucos, ganha uma maior significação. O conceito é carregado de um contexto, de uma história e de características de um povo, enfim de sua cultura.

A cultura é a principal responsável pela transformação ou enriquecimento de uma palavra e seu conceito.

Guri, moleque, piá, conforme a região, podem ter o sentido depreciativo e em outras não causam o menor constrangimento. O mesmo acontece com as cores. O preto para a nossa cultura ocidental significa tristeza, luto. Para os orientais, o preto é sinal de alegria, festa.

Qual é o trabalho da Filosofia? É justamente o de procurar o conceito de algo. Encontrar o conceito e encontrar-se na sua identidade cultural. A tentativa filosófica é a de nos tirar do senso comum e conhecer e compreender o real significado desse algo a que nos referimos. E por esses mesmos motivos que a Filosofia se enveredou para um caminho mais reflexivo e atento, através da confrontação de idéias. Toda a história da Filosofia está impregnada desses exemplos. Os diálogos de Platão, o próprio argumento dos filósofos, se dão num diálogo rebatendo posições contrárias para criar novos conceitos.

MOMENTO DA ATIVIDADE – MOMENTO DE PENSAR

1) Duas pessoas falando sobre um filme estão dialogando?

2)O marido contrariando as palavras da esposa está dialogando?

3)Pode haver diálogo num grupo com mais do que duas pessoas?

4)Consegue-se estabelecer a diferença entre discussão, debate e diálogo?

5)Toda conversa é um diálogo?

6)Todo diálogo é uma conversa?

7)Para dialogar é preciso ser amigo da outra pessoa?

8)Duas pessoas que não se conhecem podem travar um diálogo?

9)Procurar em livros, revistas e gibis conversações e identificar o tipo de conversa que se dá.

Texto - A dialética socrática

A dialética socrática visa, com base em opiniões muita vez contraditórias, a estabelecer verdades válidas para todas as inteligências. E como um esforço coletivo de reflexão... Daí utilidade, a necessidade do contato com outros homens: só uma busca imbuída de Eros (isto é, amizade, amor) permitirá, em conversações cordiais, destacar os pontos nos quais os espíritos podem pôr-se de acordo.

O diálogo começa pela ironia, no sentido socrático do termo: interrogação por vezes humorística, a qual obriga o individuo a reconhecer que ignora, quando pensava saber Depois vem a maiêutica, a arte de partejar (parir) os espíritos: Sócrates leva o interlocutor a descobrir por si mesmo as verdades que ele, interlocutor, ignorava.

No decorrer dessas conversações, passam-se em revista exemplos particulares para chegar a saber, por exemplo, o que é em geral a justiça, corrigindo aos poucos o que tal ou qual proposição tem de inexata aplica-se raciocínio que permite passar do particular para o geral, a indução. E chega-se a uma definição, expressão da própria essência da qualidade estudada: “homem justo é aquele que sabe o que as leis ordenam com relação aos outros homens”. (Félicien Challaye. Pequenas histórias das grandes filosofias. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1970, p. 35.)

Quem é este homem maravilhoso?

Sócrates (469—399 a.C.) quando jovem, foi com os seus amigos ao Templo e no oráculo de Delphos cada um pedia ao Oráculo que Lhe adivinhasse o futuro. Ao pedido de Sócrates respondeu: nunca entre os

gregos se viu ou virá homem tão sábio, criador de uma forma de ensinar através de diálogo chamado dialética socrática. Sua preocupação era definir os conceitos e as coisas para que seus conterrâneos deixassem o senso comum e encontrassem a verdade. Por uma conspiração dos seus patrícios, foi preso e condenado à morte tomando cicuta.

UNIDADE V- ERA UMA VEZ...

“Alcançar o mito é destruí-lo.” (Sopré, 33, índio xerena)

“Muitas vezes, a sabedoria se oculta sob um capote surrado”.(Caecilius Statius)

“A vida real seria insuportável, se não fossem os sonhos” (Anatole France)

“A verdade é sempre o argumento mais forte”.(Sófocles)

A linguagem nasce de uma profunda necessidade de comunicação. (Rousseau)

MITHO vem do grego e significa narrativa, portanto linguagem. Geralmente, são narrações fabulosas. Os mitos, mais do que uma simples narrativa são a maneira pela qual, através de palavras, os seres humanos organizam a realidade e a interpretam. “O mito tem o Poder de fazer com que as coisas sejam tais como são ditas”.

Os mitos não precisam de comprovações científicas, basta algumas relações entre causa e efeito para estabelecer a sua validade, embora tenham sido uma primeira tentativa de conhecimento dos povos primitivos, até surgir a Filosofia.

O mito entre os filósofos clássicos sofreu várias interpretações. Primeiro como um produto inferior ou deformado do intelecto. Mais tarde foi interpretado como verossimilhança ou a única validade a que o discurso humano poderia aspirar, diz Platão no Timeu. O que predominava entre os primeiros filósofos era uma reticência com relação ao mito, embora concordavam que era a forma aproximativa e imperfeita que a verdade assume quando se explica a razão de uma coisa. Não deixa, porém, de aceitar uma validade fora do mito.

Um mito pode se fazer da noite para o dia ou pode levar anos. Alguns mitos são convincentes, outros têm poder de explicar só um aspecto da realidade. A primeira forma de explicar fenômenos naturais entre os antigos era a forma mitológica.

Para explicar a diferença das línguas entre os povos criou-se a narração da “Torre de Babel”.

Os gregos, para explicar o dia e a noite, supunham uma ferrenha luta entre dois deuses, o do Bem (do dia) e o do Mal (das trevas). Ora um ora outro ganhava a luta.

Os índios do Brasil criaram a história de Mani para explicar o nascimento da mandioca.

Nos dias de hoje temos ainda narrações do Bicho-papão, uma forma sutil de os mais velhos inibirem a bravura ou os desafios de crianças mais destemidas.

O mito não deixa de ser uma forma de conhecimento da realidade, porém sem uma constatação objetiva e muitas vezes até meio descabida, mas serve para amainar os ternores ou as dúvidas de uma maneira superficial.

Hoje, devido ao caráter científico da nossa cultura, não nos espanta, nem causa admiração as explicações de um fenômeno meteorológico ou da natureza, como o da gravitação. De um lado, isso é ruim porque, recebendo tudo explicado, não somos excitados a nos perguntar ou a nos questionar sobre o fenômeno e nos acomodamos. Por outro lado, é bom porque podemos nos ater em outros problemas avançando nossa reflexão.

Os filósofos gregos não aceitavam a maneira simplória de explicar o mundo e o surgimento das guerras, do amor, do fogo. Não viam a correspondência entre a sua vida e as explicações dadas pelos seus ancestrais, que era o mito.

MOMENTO DA ATIVIDADE – MOMENTO DE PENSAR

1) Procurar mitos entre os povos de ontem e de hoje. Compará-los.

2) Identificar os mitos nas várias disciplinas como Ciências, Matemática, Física, etc.

3)Um cantor pode se tornar um mito? Como isso acontece?

4)Que relação tem o mito com a linguagem?

5)O mito pode levar a uma linguagem científica?

6) Faça as diferenças entre mito, história, apologias e fábulas.

Texto - Prometeu

Um titã, Prometeu, mais amigo dos homens do que dos deuses, roubou uma centelha de fogo e a trouxe de presente para os humanos. Prometeu foi castigado, amarrado num rochedo para que as aves de rapina eternamente devorassem seu fígado.

UNIDADE VI - A SEDE DO NOSSO CONHECIMENTO

“O cérebro é como pára-quedas, só funciona quando está aberto.” (Sir James Deuar)

“Os homens não são prisioneiros do seu destino, mas apenas prisioneiros das próprias mentes.” (Franklin D. Roosevelt)

“O homem é para si próprio o mais maravilhoso objeto da natureza; pois ele não consegue conceber o que é o corpo, menos ainda o que é a mente e menos do que tudo como um corpo deve estar associado a uma

mente.” (Pascal)

É possível conhecer os objetos? Aquilo que chamamos “conhecer nao e só um pouco ou é tudo sobre o objeto? Podemos comunicar aos outros aquilo que conhecemos? Onde em nós se localizam os co-nhecimentos? Existe ligação entre as emoções e os conhecimentos? Quando afirmo que o cérebro é im-portante, significa que é o órgão mais importante do corpo? Quando o coração de uma pessoa pára de ba-ter significa que está morta? Uma pessoa pode viver sem o cérebro? Alguns dizem que o cérebro coman-da a vida de uma pessoa. Você concorda? Sena possível colocar um chip no nosso cérebro e dar um co-mando?Nós o obedeceríamos?

Há pessoas que dizem mais ou menos assim: Eu não posso ter certeza de que conheço algo, pois quando penso que sei tudo alguém diz que não é assim. Portanto, não tenho condições de conhenada’.

Outros dizem: nós podemos conhecer as coisas sim, pois, se não as conheCêSSemos, como poderíamos falar ou conversar com as pessoas?

O homem foi dotado pela natureza de um mecanismo poderOSíSSimO que determinou a sua distinção entre os demais seres do mundo, o conhecimento ou a consciência.

Pesquisas científicas têm demonstrado a evolução humana e o que definiu o homem como ser pensante. O uso da linguagem, simbolos, da escrita, não veio por acaso. Foi fruto de um longo processo histórico de adaptação ao ambiente para o homem sobreviver e se organizar.

Como o Cérebro evoluiu

Para descrever melhor todo o processo da evolução do cérebro, vejamos uma descrição sucinta de Goleman no livro Inteligência Emocional.

“A parte mais primitiva do cérebro, partilhada por todas as espécies que têm mais de um sistema nervoso mínimo, é o tronco cerebral em volta do topo da medula espinhal. Esse cérebro-raiz regula funções vitais básicas, como a respiração e o metabolismo dos outros órgãos do como; e também controla reações e movimentos estereotipados. Não se pode dizer que esse cérebro primitivo pense ou aprenda. Ao contrário, ele se constitui num conjunto de reguladores pré-programados que mantém o funcionamento do corpo como deve e reage de modo a assegurar a sobrevivência. Esse cérebro reinou supremo na era dos répteis: imaginem o sibilar de uma semente comumcando a ameaça de um ataque.

Da mais primitiva raiz, o tronco cerebral, sugiram os centros emocionais. Milhões de anos depois, na evolução dessas áreas emocionais, desenvolveu-se o cérebro pensante, ou “neocórtex”, o grande bulbo de tecidos ondulados que forma as camadas superiores. O fato de o cérebro pensante ter se desenvolvido a

partir das emoções muito revela acerca da relação entre razão e sentimento; existiu um cérebro emocional muito antes do surgimento do cérebro racional.

Do lobo olfativo, começaram a evoluir os antigos centros de emoção, que acabaram tornando-se suficientemente grandes para envolver o topo do tronco cerebral. Em seus estágios rudimentares, o centro olfativo compunha-se de pouco mais de tênues camadas de neurônios reunidos para analisar o cheiro. Uma camada de células recebia o que era cheirado e o classificava em categorias relevantes: comestível ou tóxico... dizendo ao como o que fazer: morder, cuspir, fugir, caçar...

Com o advento dos primeiros mamíferos, vieram novas camadas. Estas, em torno do troco cerebral, lembravam um pouco um pastel com um pedaço mordido embaixo, no lugar onde se encaixa o tronco cerebral. Como essa parte do cérebro cerca o tronco cerebral e limita-se com ele, era chamada de sistema “límbico”, de Limbus, palavra que em latim significa “Orla”.

À medida que evoluía, o sistema límbico foi aperfeiçoando duas poderosas ferramentas: aprendizagem e memória. Esses avanços revolucionários possibilitavam que o animal fosse muito mais esperto nas opções de sobrevivência e aprimorasse suas respostas para adaptar-se a exigências cambiantes, em vez de ter reações invariáveis e automáticas. Se uma comida causava doença, podia ser evitada da próxima vez. Decisões como saber o que comer e o que rejeitar ainda eram, em grande parte, determinadas pelo olfato: ligações entre o bulbo olfativo e o sistema límbico assumiam agora as tarefas de estabelecer distinções entre cheiros e reconhecê-los, comparando um atual com outros passados e discriminado, assim, o bem do ruim...

Há milhões de anos, o cérebro dos mamíferos deu grande salto em termos de crescimento. Por cima do tênue córtex de suas camadas às regiões que planejam, compreendem o que é sentido, coordenam o movimento, acrescentam-se novas camadas de células cerebrais, formando o neocórtex. Comparado com o antigo córtex de duas camadas, o neocórtex oferecia uma extraordinária vantagem intelectual.

O neocórtex do Homo sapiens, muito maior que o de qualquer outra espécie, acrescentou tudo o que é distintamente humano. O neocórtex é a sede do pensamento; contém os centros que reúnem e compreendem o que os sentidos percebem. Acrescentam a um sentimento o que pensamos dele — e permite que tenhamos sentimentos sobre idéias, arte, simbolos, imagens.

Na evolução, o neocórtex possibilitou um criterioso aprimoramento que, sem dúvida, trouxe enormes vantagens na capacidade de um organismo sobreviver à adversidade, tornando mais provável que sua progênie, por sua vez, passasse adiante genes que contêm esses mesmos circuitos neurais”. (GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995, p. 24-26.)

Como Surgiu o Conhecimento?

As últimas descobertas do nosso cérebro fizeram com que percebêssemos uma série de conclusões antes desconhecidas e derrubaram uma série de preconceitos adotados na nossa sociedade. Por exem-plo, o cérebro é um órgão único e, afetando um ponto, afeta o todo. Isso levou muitos médicos, ao tratarem de um paciente com lesão cerebral, apenas a tratar dos aspectos curativos e, curada a lesão, estaria o paciente curado. Muitas pessoas, depois de enfrentarem dispensa médica, tiveram mudanças de comportamentO radicais. E foram tratados como sa botadores de sentimentos e que queriam mais atenção para si. Gostaram de ser amparados pelos parentes e agora não querem continuar o mesmo tratamento como convalescente.

O caso de Pineas Gage mostra que uma área afetada não prejudica o funcionamento de outras áreas do cérebro. E que a cura do ferimento externo não é causa de cura do cérebro (O Erro de Descartes).

O cérebro é a sede do nosso pensamento. Tudo o que dizemos que conhecemos passa por esse processo. Mas como é o processo do cérebro para o conhecimento?

MOMENTO INTERDISCIPLINAR

1)Com o professor de Ciências procure em revistas e livros textos sobre o cérebro.

2)Com o professor de Português pesquise em revistas ou livros que falam sobre as descobertas do cérebro e redija um texto sobre o cérebro e a marginalidade.

3)Corri os professores de História e Geografia poderíamos promover um debate como tema “Eu sou eu e as minhas circunstâncias”.

DESAFIO MENTAL

Conheça o seu cerebro conforme a descrição do texto acima e enumere onde se localiza cada parte do cérebro.

Comente a frase: “O cérebro é a sede do nosso pensamento”

Texto- O homem que deixou de ser ele mesmo

Pineas Gage, 25 anos, era capataz de uma empresa de construção civil, de corpo atlético, vigoroso nos movimentos, admirado por seus patrões pela sua eficiência no trabalho e dotado de uma liderança inquestionável na Brigada da Empreiteira da Estrada de Ferros Rutland & Berlington.

Perfurava as rochas para colocar a pólvora como estopim para as dinamites, trabalho que fazia com maestria, e até tinha inventado um instrumento para que essa atividade tivesse maior êxito. Esse instru-mento consistia de uma barra de ferro que servia para estocar a pólvora. Em um certo momento alguém lhe chama e ele vira enquanto estoca com a barra de ferro a pólvora, e neste átimo de desatenção a barra bate na pedra e o atrito provoca uma faisca. Houve um estampido e a carga de explosivo arrebenta-lhe diretamente no rosto. Mas uma espécie de foguete é lançado ao ar”. A barra de ferro “... entra pela face esquerda, atinge o olho, atravessa a parte anterior do cérebro e sai a alta velocidade pelo topo da cabeça”.

Morreu! Era o que todos pensavam. Poucos minutos depois Pineas Gage exibiu alguns momentos convulsivos nas extremidades e falou. Foi levado até a rua e colocado numa carroça. Chegando ao acampamento, a cerca de um quilômetro, desceu sozinho da carroça e conversou com o seu chefe e esperou lucidamente até a chegada do médico uma hora depois.

Em pouco tempo a recuperação fisica de Gage foi completa. Podia tocar, ouvir, sentir e nem os membros e nem a língua estavam paralisados. Tinha perdido a visão do olho direito, mas a do direito estava perfeita. Porém, algumas faculdades intelectuais e suas propensões animais foram destruidas. Tornou-se irreverente no linguajar, impaciente diante das restrições e conselhos. Por vezes era determinantemente obstinado. Outras vezes era caprichoso, vacilante, fazia muitos planos para ações frituras, que tão

facilmente eram concebidos quanto abandonados. Os colegas e conhecidos dificilmente o reconheciam. Os patrões observavam entristecidos que “... Gage já não era Gage”. Era agora um homem tão diferente que tiveram de dispensá-lo pouco tempo depois de ter regressado ao trabalho. E foi a sua derrocada. Nunca mais se adaptou ao menor dos ofícios em sua vida. (DAM.ASIO, Antônio R. O erro de Descartes. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 23-30.)

Para debater sobre o texto

1)Posso dizer que o meu como é minha identidade?

2) A minha impressão digital diz quem eu sou?

3) Muitos dizem que o ambiente faz a pessoa. Então eu sou aquilo que o ambiente me faz ser?

4) Se eu morasse em outro pais ou estado, eu seria diferente de mim?

5) Se fizessem um transplante cerebral em mim, eu seria a mesma pessoa?

UNIDADE VII - O MAPA DA REALIDADE (O CONHECIMENTO)

“Não basta possuir uma boa mente. O principal é utilizá-la”.(Descartes)

‘Conhecimento é poder.” (Francis Bacon)

‘Quanto menos inteligente um homem, menos misteriosa lhe parece a existência.” (Arthur Schopenhauer)

“As coisas vistas por cima e à luz de nossas idéias preconcebidas são julgadas de um modo; vistas e examinadas de perto, devem ser julgadas de outra maneira”.(D. José Marello)

“A mente é uma máquina estranha capaz de combinar das formas mais espantosas os materiais que lhe são oferecidos”.(Bertrand Russell)

Quando o homem tomou posse do seu instrumento do saber, procurou outras formas de explicar o seu mundo.

Primeiramente, o homem era dominado pela natureza e temia os raios, chuvas, os trovões. Ele não conhecia de onde vinha tanta força da natureza, então passou a construir narrativas ou inventar histórias Para justificá-la. Criou, assim, os mitos. Os mitos foram uma forma de organizar o caos da sua mente diante do inexplicável. Mas essas narrativas, muitas vezes, não tinham um respaldo na comunidade, e muitos observadores da natureza não viam nenhuma relação entre os mitos e a realidade. Estes eram chamados de sábios ou filósofos.

A filosofia nasce justamente no momento em que o homem procura razões mais práticas e coerentes entre uma causa e efeito para muitos fenômenos que apareciam. Não aceitavam mais uma simples história fabulosa ou sem relação com o mundo em que viviam. Começa uma procura por se apossar das coisas, conhecer melhor o movimento, a origem das coisas.

A importante atividade do filósofo era as muitas perguntas que lhe pululavam na mente. É o processo do conhecimento. Ele precisava conhecer, conhecer a natureza, o seu princípio, conhecer o mundo, o homem.

E foi questionando o seu mundo: qual é sua origem? O que dá origem às coisas? Qual o princípio das coisas?

Como podemos ver, no começo, a preocupação era mais cosmológica. Só mais tarde a atenção passou do cosmos para o ser De onde vim? Para onde vou? Quem sou?

O QUE É CONHECER?

No princípio da Filosofia os gregos se ocupavam da reflexão cosmológica, ou seja, tratavam da origem e da ordem do mundo. Aos poucos, com suas indagações, passaram a questionar o que era o próprio cosmos, as coisas ou o ser. Em grego tó onto que quer dizer “o Ser”. Por isso, de uma investigação cosmológica (estudo do cosmos ou mundo) passou-se para um estudo ontológico (estudo ou conhecimento do ser ou sobre o ser).

Na primeira fase da teoria do conhecimento, surgida com os présocráticos, pela teoria da identificação, temos: “O semelhante conhece o semelhante”, que passou ao longo da história até Kant, o qual inicia a segunda fase.

A segunda fase considera o conhecimento como uma operação transcendental. Isto é, vir à presença do objeto, apontá-lo ou, com o termo preferido pela Filosofia contemporânea, transcender em sua direção.

Há várias formas de entender o conhecimento: como definição cientifica, como saber acumulado, como algo concreto e como algo abstrato.

COMO DEFINIÇÃO CIENTÍFICA

O conhecimento se dá através de métodos rigorosos, permitindo que a ciência atinja um tipo de conhecimento sistemático, preciso e objetivo, segundo o qual são descobertas relações universais necessárias entre os fenômenos, o que permite prever acontecimentos e também agir sobre a natureza de forma mais segura.

COMO SABER ACUMULADO

E o conhecimento adquirido pelo homem através das gerações. Entende-se como produto da relação sujeito—objeto, que pode ser empregado e transmitido. O conhecimento é uma relação que se estabelece entre o sujeito e o objeto.

COMO ALGO CONCRETO

Conhecer o funcionamento de um relógio ou de um carro. E a posse e manuseio de um objeto. E o conhecimento empírico.

COMO ALGO ABSTRATO

Quando a relação com o objeto é de uma forma genérica, universal. Exemplo: homem, humanidade.

Os dicionários trazem uma série de significados para a palavra conhecer ou conhecimento. Vejamos o que diz o Aurélio:

Conhecer: [Do lat. cognoscere.j V t. d. 1. Ter noção, conhecimento, informação de; saber: 2. Sentir, experimentar...

Conhecimento: IDe conhecer + -imento.j S.m. 1. Ato ou efeito de conhecer. 2. Idéia, noção. 3. Informação, notícia, ciência. 4. Prática da vida; experiência. 5. Discernimento, critério, apreciação 6. Consciência de si mesmo; acordo. 7. Filos. No sentido mais amplo, atributo geral que têm os seres vivos de reagir ativamente ao mundo circundante, na medida de sua organização biológica e no sentido de sua sobrevivência. 8. Filos. Processo pelo qual se determina a relação entre sujeito e objeto. [Cf, nesta acepção., a posteriori, a príorí, objeto, sujeito e teoria do conhecimento.] 9. Filos. A apropriação do objeto pelo pensamento, como quer que se conceba essa apropriação: como definição, como percepção clara, apreensão completa, análise, etc. 10. Filos. A posição, pelo pensamento, de um objeto como objeto, variando o grau de passividade ou de atividade que se admitam nessa posição.

No Dicionário de Filosofia de Abbagnano, conhecimento é: “Em geral uma técnica para verificação de um objeto qualquer, ou a disponibilidade ou posse de uma técnica semelhante”. No Dicionário de Filosofia de Jacqueline Russ: “Ato pelo qual o espírito ou o pensamento apreende o objeto ou o tornam presente, esforçando-se para formar uma representação que exprime perfeitamente este objeto”.

Luckesi dá também sua definição: “O conhecimento é a compreensão inteligível da realidade. Que o sujeito adquire através de sua confrontação com essa mesma realidade”.

Depois de ter presente o que é conhecimento e como pode acontecer o conhecimento, vamos ver como isso aconteceu na história.

Na história da Filosofia antiga não se pode falar de uma teoria do conhecimento. Vamos encontrar muitas reflexões em Platão e Aristóteles, porém voltadas sob os aspectos psicológicos e metafísicos. Na idade moderna John Locke é considerado o pai da teoria do conhecimento. Leibniz, Berkecey e David Hume refutam o ponto de vista de Locke, mas continuam edificando as bases da teoria do conhecimento.

Immanuel Kant aparece como o pai da teoria do conhecimento. Cria um método chamado transcendental por propor perguntas sobre a validade lógica: como é possível o conhecimento? Sobre quais fundamentos ele repousa?

É a partir desses questionamentos que podemos estudar a teoria do conhecimento, com relação à possibilidade de conhecer, sua origem e a sua essência.

Todo conhecimento parte de uma relação entre sujeito e objeto, ou seja:

EU OBJETO

Não há dúvida entre os filósofos quanto a essa relação. O problema surge quando se discute se há ou não possibilidade de conhecer, ou quanto à origem do conhecimento e quanto à sua essência.

A RELAÇÃO SUJEITO—OBJETO

O objeto não muda nada na relação com o sujeito. O sujeito na relação com o objeto transforma. Apreende o objeto. Surge no sujeito uma figura que contém as determinações do objeto, uma imagem do objeto. O objeto não se arrasta para o sujeito. Ele fica intacto, apenas transcende a si. A função cognitiva altera o sujeito. O objeto é determinante, o sujeito é determinado. O objeto é independente do sujeito. Mas ainda não está resolvido um problema, ou seja, o conhecimento aparece como uma determinação do sujeito pelo objeto ou como uma determinação do objeto pelo sujeito?

OBJETIVISMO

Conforme o objetivismo, o elemento decisivo na relação do conhecimento é o objeto. O objeto determina o sujeito. O sujeito praticamente incorpora as determinações do objeto. O objeto, nessa perspectiva, é dado ao sujeito. Platão foi o primeiro a defender o objetivismo. Para Platão, as idéias são realidades objetivamente dadas.

SUBJETIVISMO

O subjetivismo, ao contrário, tem uma postura de que o conhecimento parte do sujeito. E no sujeito que a verdade do conhecimento está. Mas não entende o sujeito como um ser pensante individual, mas um sujeito superior, transcendente. Santo Agostinho é que causa essa mudança do objetivismo platônico para o subjetivismo. Ele transformou as idéias objetivas de Platão em essencialidades ideais, existentes por si em conteúdos da razão divina, em pensamento de Deus.

COMPREENDENDO A REALIDADE NA HISTÓRIA

O conhecimento não foi entendido do mesmo jeito na história dos homens. Os gregos acreditavam que podíamos conhecer diretamente e consideravam que éramos participantes de todas as formas da natureza. Ainda mais, o conhecimento é Aletheia = manifestação do verdadeiro aos nossos sentidos. Era inquietante para eles conceber a ilusão ou o erro diante de um objeto. Perguntavam: como é possível ver o que não é? Ou pensar o que não é?

Parmênides entendia que só podemos conhecer o idêntico e imutável. Parmênides se perguntava: “Como podemos pensar o instável ou o que se torna oposto e contrário a si mesmo?”.

Heráclito, seu contemporâneo, dizia que a verdade é a harmonia dos contrários. Tudo se transforma perenemente. Como explicar o conhecimento das coisas? Pois ai estabelece a diferença entre o conhecimento que nossos sentidos nos oferecem (a imagem da estabilidade) e o conhecimento que nosso pensamento alcança (a verdade da mudança).

Platão afirmava que o homem possui idéias inatas, isto é, idéias anteriores a toda e qualquer experiência sensorial; são idéias que existem na mente humana desde o nascimento e com o tempo se manifestam. O conhecimento se dá através das lembranças das idéias de um outro mundo em que conhecíamos tudo, mas, ao cair neste mundo físico, esquecemos. Estamos sempre à procura de encontrar as idéias verdadeiras.

Santo Agostinho utilizou os argumentos de Platão e os incorporou no cristianismo. O cristianismo traz novos elementos que fazem alterar o pensamento grego. Introduz a distinção entre fé e razão, matéria e espírito. Outro fato novo é a questão do pecado original que faz um homem decaído e pervertido. Isso possibilita a crença em uma força sobrenatural, potente. Agostinho introduz um elemento novo no pensamento de Platão com relação ao mundo das idéias. Platão concebia um mundo objetivo. Agostinho

incluiu esse mundo das idéias na mente do Criador. Isso alterou o pensamento platônico, pois de objetivo se tornou subjetivo. O mundo das idéias estava na mente de Deus.

Para os gregos, havia uma harmonia entre o intelecto e a verdade. O cristianismo com a distinção entre fé e razão, conseqüentemente, concluirá que o erro e a ilusão fazem parte natureza humana adquirida pelo pecado original.

A discussão se arrastou durante a Idade Média, e as certezas da possibilidade do conhecimento aos poucos foram capitulando. As teorias que eram apresentadas pelo aristotelismo culminaram em uma desconfiança. O desejo de não cair em novos erros pendeu para uma nova revolução baseada em métodos seguros, positivos, matemáticos e que permitia cercar os elementos estudados, enumerá-los e garantir um mínimo de erro. A revolução científica dava segurança aos experimentos. Duas correntes surgem para solucionar e dar garantia de um método que determine ver com precisão se o conhecimento é verdadeiro ou não. Descartes é o filósofo que vem apresentar o método baseado no sistema científico aplicado na Filosofia. O ponto de partida era o de encontrar uma verdade que não geraria dúvida alguma.

MODOS DE CONHECER O MUNDO - Podemos conhecer o mundo através de cinco formas:

Mito — É um tipo de conhecimento elementar e a forma mais simples de obter o conhecimento. O mito proporciona um conhecimento que é mágico, ansiando atrair o bem e afastar o mal. Esse tipo de conhecimento dá segurança e bem-estar. Os primitivos usavam muito esse tipo de conhecimento para tentar organizar o caos mental em que se encontravam.

Senso comum — adquire uma maneira mais elaborada de conhecer o mundo e a realidade que cerca a atividade humana. E um conhecimento espontâneo, resultado da herança e das experiências de um grupo. É um tipo de conhecimento que parte de observações simples, mas sem a preocupação de uma garantia científica rigorosa. Ele se dá pela apreensão primeira do mundo.

Ciência — Este tipo de conhecimento procura descobrir o funcionamento da natureza através das relações de causa e efeito. E um conhecimento objetivo.

Filosofia — Propõe oferecer um tipo de conhecimento que busca com todo o rigor a origem dos problemas relacionados a outros aspectos da vida humana numa visão globalizante. A filosofia é um conhecimento radical.

Artes — E uma maneira peculiar de manifestar o conhecimento. O conhecimento não se dá através de um objeto, mas de um mundo interpretado pela sensibilidade de artista, pelas suas qualidades estéticas.

MOMENTO DA ATIVIDADE – MOMENTO DE PENSAR

1) Conhecendo a história dos homens estarei me conhecendo? Qual a importância de conhecer a história para me conhecer?

2) Há relação entre a Geografia e o meu modo de ser?

3) Basta ter cérebro para obter o conhecimento?

4) Um inseto conhece o caminho de sua casa?

5) Quando dizemos que conhecemos uma pessoa, queremos dizer que sabemos sobre ela?

6) Há diferença entre saber e conhecer?

7) O conhecer se torna importante para nós? Por quê?

8) Uma pessoa que diz não conhecer algo é ignorante?

9) Sócrates dizia “Sei que nada sei”. Isso significa que ele era ignorante?

DESAFIO MENTAL

De quem eu falo? Não é aquilo que dizem que é Quem diz conhecer pouco conhece. Quanto mais procura conhecer menos conhece.

UNIDADE VIII - O HOMEM POSTO À PROVA (POSSO CONHECER TUDO)

“Se um homem começar com certezas, terminará com dúvidas, mas se ele se contentar em começar com dúvidas, terminará com certezas”.(Francis Bacon)

“Há dois tipos de pessoas no mundo: os dogmáticos conscientes e os dogmáticos inconscientes. Sempre constatei que os dogmáticos inconscientes eram de longe o mais dogmáticos”.(O. K. Chesterton)

“A razão deve ser nosso último juiz e orientar em tudo”.(John Locke)

“A linguagem é aquilo que manifesta o que era ou o que é”.(Antístenes)

Afinal, o que é verdade? Há relação entre conhecimento e verdade? Quando digo que conheço alguma coisa, sei a verdade sobre aquela coisa? Quando sei que alguém fala a verdade? Se não existe a verdade, então não pode haver mentira? Podem existir meias verdades?

Os primeiros filósofos tinham certeza de que podiam conhecer as coisas, porque o conhecimento é Aletheia, as coisas eram como se apresentavam. Mas o que é conhecimento?

O conhecimento é o pensamento que resulta da relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido. Para o conhecimento acontecer é preciso uma certa regularidade, procura-se estabelecer semelhanças e diferenças, contigüidade, sucessão de tempo, causalidade.

A mente nesse estágio procura estabelecer uma ordem. Esse processo se dá quando, diante do já existente como sedimentado, introduzem-se novos espaços, de modo a alcançar novas interpretações da realidade.

Para os filósofos gregos, o conhecimento não era um problema. Para eles, o mundo era inteligível. “O conhecimento se faz pela formação de conceitos que são verdadeiros enquanto adequados à realidade existente”.

Dessa forma de pensar surgem correntes filosóficas das mais variadas tendências, como o dogmatismo, o ceticismo, o relativismo e o perspectivismo. Todas elas procuram dar uma resposta a si mesmas, se é ou não possível conhecer a realidade.

O DOGMATISMO (NOSSO CONHECER TUDO)

O dogmatismo, como o próprio nome diz, vem do grego e quer dizer doutrina estabelecida. Essa corrente filosófica procura afirmar a possibilidade de podermos conhecer as coisas, porque parte de um princípio de que podemos conhecer a realidade tal qual nos apresenta. Não a vê como uma relação entre sujeito e objeto. Os objetos de percepção nos seriam dados diretamente. O mesmo ocorre com o conhecimento dos valores. Duas são as maneiras de se posicionar: o Dogmatismo Ingênuo e o Dogmatismo Crítico.

O DOGMATISMO INGÊNUO

Este tipo de dogmatismo predominou no pensamento filosófico grego primitivo, pois a reflexão epistemológica quase está afastada dos filósofos pré-socráticos, das escolas jônicas, eleatatas, pitagóricas e de Heráclito. Esse tipo de dogmatismo é inspirado por uma confiança ingênua na eficiência da razão. Não percebe o conhecimento como problema. Parte do senso comum. Podemos conhecer o mundo tal qual é, sem grandes dificuldades. Quando eu conheço uma mesa, eu a conheço tal qual ela é. Mas não é só nesse nível. Podemos conhecer tudo: a origem das coisas, do mundo, pela sua manifestação aos nossos sentidos. Muitas vezes não conhecemos tudo porque faltam aos nossos sentidos mais informações. Um cego pode conhecer as coisas parcialmente e não complemente. Em suma, o Dogmatismo Ingênuo é mais levado pelo senso comum.

O DOGMATISMO CRÍTICO

Os sofistas são os que lançam pela primeira vez o problema do conhecimento. E a partir dos sofistas que encontraremos em todos os filósofos, de uma maneira ou de outra, reflexões criticas sobre o conhecimento. O Dogmatismo Crítico aceita conhecer a verdade, mas através de uma combinação entre os nossos sentidos e a nossa inteligência. Estão certos de que o conhecimento se dá através dessa harmonia entre os sentidos e a inteligência. Podemos ter os nossos sentidos em perfeita operação, mas, se nos falta a inteligência para poder combinar as coisas ao que conhecemos, o nosso conhecimento se torna opaco, confuso.

Estas duas correntes procuram responder à pergunta quanto à origem do conhecimento. A pergunta que fazem é: como se dá o conhecimento no sujeito?

EMPIRISTAS

Afirmam que nós conhecemos os objetos desde que tenham passado pelos nossos sentidos (audição, olfato, paladar, tato, visão). John Locke diz: “quando nascemos nossa mente é como um papel em branco, completamente desprovida de idéias. Os sentidos através da experiência me dão o conhecimento das coisas. Eles escrevem no papel da nossa mente”.

RACIONALISMO

O termo expressa a “total e exclusiva confiança na razão humana” como instrumento capaz de conhecer a verdade. Só a razão me dá certeza de conhecer algo. Os erros, as confusões vêm dos nossos sentidos. Descartes é o grande defensor desse pensamento.

RACIONALISMO CRÍTICO

De uma tendência mais ponderada entre essas duas primeiras correntes surge o Racionalismo Critico, que defende tanto a importância dos sentidos como a da razão humana como origem do conhecimento. Encara a possibilidade de contato entre sujeito e objeto como auto-evidente. O universo é uma construção efetuada pela inteligência, a partir de dados sensíveis. Desta corrente temos o Materialismo Dialético.

MATERIALISMO DIALÉTICO

O Materialismo Dialético vê o conhecimento como um processo que evolui da experiência sensível à lógica racionalista, e os dados sensíveis ordenados pela razão são confrontados e se chega à conclusão.

Pistas para pensar

1) Você conhece as coisas por meio dos sentidos ou da razão?

2) Quando você pensa em algo, é porque já experimentou essa coisa?

3) Podemos criar algo que não conhecemos?

4) As invenções acontecem por acaso ou por experiência?

5) Eu não posso acreditar porque não passa pelos meus sentidos?

6) Existe somente uma forma de conhecimento?

7) O que eu sei aprendi de mim mesmo ou dos outros?

8) Eu preciso dos outros para conhecer?

9) Quando tenho conhecimento de algo significa que possuo o poder sobre ele?

MOMENTO DA ATIVIDADE – MOMENTO DE PENSAR

O que eu sei de mim mesmo? Eu posso me conhecer?

O que eu sei dos outros? Eu posso me conhecer?

Esta é uma frase do senso comum: “Quem vê cara não vê coração”. Como você daria outra interpretação através do que você já conhece.

Monte uma seqüência de inventos que usaram conhecimentos anteriores ou inventos anteriores.

— Pegue três desenhos do Piteco, Mônica ou Garfield, ou outros que apresentam expressões ou mensagens das tendências dogmáticas, e assinale-as.

— Faça uma relação de três fatos ou coisas de sua vida que você não sabia e que agora sabe. Descreva como você soube. Procura estabelecer o processo desse conhecimento. Classifique qual das correntes usou para obter esse conhecimento.

Texto - O Discurso do Método

Eu estudara um pouco sendo mais jovem, entre as partes da filosofia, a lógica, e entre as matemáticas, a análise dos geômetras e a álgebra, três artes ou ciências e que pareciam dever contribuir com algo para o meu desígnio. Mas, examinando-as, notei que, quanto à lógica, os meus silogismos e a maior parte de

seus outros preceitos servem mais para explicar a outrem as coisas que já se sabem, ou mesmo, como a arte de Lúlio, para falar, sem julgamento, daquelas que se ignoram, do que para aprendê-las. E embora ela contenha, com efeito, uma porção de preceitos muito verdadeiros e muito bons, há, todavia tantos outros misturados de permeio que são ou nocivos, ou supérfluos, que é quase tão difícil separá-los quanto tirar uma Diana ou uma Minerva de um bloco de mármore que nem sequer está esboçado. Depois, com respeito à análise dos antigos e à álgebra dos modernos, além de se estenderem apenas a matérias muito abstratas, e de não parecerem de nenhum uso, a primeira permanece sempre tão abstrata à consideração das figuras, que não pode exercitar o entendimento sem fatigar muito a imaginação: e esteve-se de tal forma sujeito, na segunda, a certas regras e certas cifras, que se fez dela uma arte confusa e obscura que embaraça o espírito em lugar de uma ciência que o cultiva. Por esta causa, pensei ser mister procurar algum outro método que compreendendo as vantagens desses três, fosse isento de seus defeitos. E, como a multidão de leis fornece amiúde escusas aos vícios, de modo que um Estado é bem melhor dirigido quando, tendo embora muito poucas, são estritamente cumpridas, assim, em vez desse grande número de preceitos de que se compõe a lógica, julgue que me bastariam os quatro seguintes, desde que tomasse a firme e constante resolução de não deixar uma só vez de observá-los.

O primeiro era e de jamais acolher alguma coisa como verdadeira que eu não conhecesse evidentemente como tal; isto é, de evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção e de nada incluir em meus juízos que não se apresentasse tão clara e tão distintamente a meu espírito, que eu não tivesse nenhuma ocasião de pô-lo em dúvida.

Segundo, o de dividir cada uma das dificuldades que eu examinasse em tantas parcelas quantas possíveis e quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las.

O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, como por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, e supondo mesmo uma ordem entre os que não se precedem naturalmente uns aos outros.

E o último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais que eu tivesse a certeza de nada omitir. (DESCARTES, René. Discurso do método. Col. Os Pensadores, p. 4 1-45.)

Para entender o texto

- Faça um resumo do texto.

- Destaque as idéias principais.

- A proposta de Descartes é viável para o nosso dia-a-dia?

Procure aplicar o método em uma situação qualquer: pode ser vivida na escola, na classe, no trabalho ou um fato de uma revista ou jornal. Consulte ou verifique com o seu professor se o aplicou direito. Há ou não vantagem em aplicar o método?

UNIDADE IX - POSSO DUVIDAR DE TUDO? O CETICISMO

“Dúvida é o vestíbulo pelo qual todos precisam passar para poderem adentrar o templo da verdade”.(Charles Caleb Colton)

“O julgamento do homem é falível”.(Ovídio)

“A única certeza é que nada é certo”.(Plínio)

“A dúvida é o início, e não o fim, da sabedoria”.(Georg Iles)

O que você vê é o que a figura apresenta? Sempre o que vemos é o que é? Podemos dizer que existe uma verdade? O que foi verdade no século passado é verdade hoje?Aquele que duvida de tudo/á não está tendo uma certeza, que é duvidar? Posso aceitar tudo o que vejo na televisão como verdadeiro? Quando uma pessoa diz que está falando a verdade, de fato ela está realmente dizendo a verdade? Quando alguém detalha um acontecimento “tim-tim por tim -tim ", está falando a verdade? Quando alguém diz que nada sabe, realmente nada sabe? Podemos dizer que nada sabemos?

O ceticismo é um modo de pensar bem antigo. Começa desde os primórdios da Filosofia. Pirro de Eléia (360-270 a.C.) se baseia no princípio de que não há contato entre sujeito e objeto. A apreensão do objeto pelo sujeito é vedada à nossa consciência cognoscente, por isso não há conhecimento. E se põe a tudo

negar. Com as discussões e os debates filosóficos essa corrente desenvolveu dois tipos de ceticismo: o absoluto e o relativo.

O ceticismo é outro lado da pergunta dentro da teoria do conhecimento: é possível o conhecimento?

CETICISMO ABSOLUTO

É a filosofia que nega qualquer possibilidade de conhecer algo. Afirmam os céticos que nossa mente é muito pequena para conhecermos algo que é tão imenso como o mundo. O máximo que podemos conhecer é alguma coisa de algo.

Observe estas notícias:

Podemos afirmar com certeza de que um fato é inquestionável: “É impossível ao homem conhecer a verdade”. Os nossos sentidos (visão, olfato, audição, tato, paladar) nos enganam e nos levam ao erro. Por isso não podemos ter certeza de nada.

A razão, as diferentes opiniões manifestadas sobre os mesmos assuntos revelam quão limitada é a nossa inteligência.

CETICISMO RELATIVO

Esta corrente filosófica admite uma possibilidade da nossa capacidade de conhecer, mas através dos fenômenos e não da coisa em si. Só conhecemos como ela se apresenta e não como ela é em si. Veja um mesmo fato contado por um advogado de defesa por um advogado de acusação. E, por outro lado, por um cientista. Qual deles tem razão?

Outros filósofos, vendo que não podem negar algumas manifestações, apresentam outra forma de interpretar o ceticismo. Vamos encontrar outras formas de céticos com tendências mais abertas, como o pragmatismo, o subjetivismo.

SUBJETIVISMO

Corrente filosófica que centraliza as certezas no sujeito. O juízo só vale para o sujeito que formulou. Mas esse tipo de juízo desemboca no ceticismo porque, ao se afirmar como certo seu modo de conhecer nega todos as outras pessoas que pensam diferente. Consideram que existe a possibilidade de que um juízo verdadeiro para os homens seja falso para seres de outro tipo. Os sofistas são os representantes clássicos do subjetivismo. Protágoras foi o maior representante do subjetivismo, expressado na frase “O homem é a medida de todas as coisas”.

RELATIVISMO

Para o relativismo não há nenhuma verdade absoluta. Toda verdade é relativa. E tem validade restrita. Splenger afirma que só há verdade para as pessoas no âmbito cultural a que pertencem.

Esses filósofos defendem que podemos apenas alcançar uma verdade provável, mas nunca se chegará á plena certeza. Com isto podemos também afirmar que caem no ceticismo, pois quando afirmam que não há verdade universalmente válida se contradizem, pois já afirmam uma verdade que se garante universalmente.

MOMENTO DA ATIVIDADE – MOMENTO DE PENSAR

1) Colocado o que dizem os fatos da esquerda, procure comprovar o que dizem nos dias de hoje os jornais e revistas.

A DOENÇA VENCIDA - As pessoas morrerão apenas em acidente, mas não definitivamente. Os mortos serão congelados para ser tratados mais tarde (F.M. Esfandiary, futurólogo e consultor das Nações Unidas).

SAÚDE - O controle químico do envelhecimento dobrará o tempo de vida das pessoas (Harry Stine, consultor dos Institutos Smithsonian, Hudson e do Futuro, 1981).

AS DROGAS - A cocaína será legalizada. A legalização da maconha ocorreria antes e serviria para aumentar a arrecadação de impostos (Shelley Levitt, editora da revista Highe limes, de apologia às drogas em 1981).

ESPORTE - O recorde de Bob Beamon no salto em distância (8,90 metros) só será superado daqui a 1.000 anos (Robert Weil e Bem Bova no Livro “The Omni Future Almanac” de 1982).

3) Elaborar uma redação “Nós e a mídia”.

4) Pesquisar a diferença entre “o senso comum e o espírito crítico”.

5) Escrever sobre Os valores e o cidadão.