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    Unidade II

    Unidade II

    Sistemas ecolgicos: ecossistemas

    Viemos discutindo que ecossistema ou sistema ecolgico estuda a interao entre organismos emeio fsico, destacando o fluxo de energia e matria entre as partes. Isso quer dizer que apenas florestas,grandes jardins ou grandes massas de gua como um rio ou um oceano podem servir como ecossistemas?Uma bromlia pode ser considerada um ecossistema? E a pele humana? possvel imaginar trocas deenergia e matria entre fatores biticos e abiticos de locais to especficos e improvveis? Voc jconsegue ver o mundo de forma diferente? Consegue analisar uma aranha em sua teia e saber que ela

    vive naquele local porque um meio que oferece condies propcias sua sobrevivncia, observ-lacapturando um pequeno inseto voador, admirarando a relao de predao que se instalou, e imaginarque apenas 10% daquele inseto ser realmente incorporado pela aranha?

    A Ecologia pode ser definida como a economia da natureza, pois as relaes mantidas entre asvrias espcies e o meio em que habitam otimizam a economia do sistema. Aproveitar apenas 10% daalimentao pode parecer pouco, mas uma distribuio econmica, uma vez que todos os subprodutosgerados constituem matria-prima para a atividade de outros seres vivos, com a mnima perda deenergia e de nutrientes. Um organismo isolado no realiza trocas. medida que se instala uma cadeiatrfica, uma teia alimentar, percebemos as inter-relaes intra e interespecficas e sua distribuio noespao, conforme as variaes do meio fsico, como fatores climticos e edficos (solo). Um ecossistemapode ser considerado uma unidade funcional, onde organismos auttrofos e hetertrofos so capazesde realizar transformaes com utilizao eficiente de energia e obteno e reciclagem dos nutrientesofertados no meio ambiente.

    As dimenses de um ecossistema no so definidas, pode-se analis-lo em escalar maiores oumenores. Na pele, por exemplo, temos uma superfcie irregular, orifcios como as glndulas sebcease folculos pilosos que eliminam secrees, como suor (rico em sais) e gordura; ela possui queratina,que serve de camada protetora e tambm uma fonte de aminocidos. Seu clima agradavelmente

    quente e mido, e todos esses fatores propiciam a existncia e proliferao de bactrias, fungos,vrus e at certa espcie de caro, o Demodex folliculorum, vulgarmente conhecido como cravo. Umabromlia mantm um receptculo formado por suas folhas onde fica gua acumulada, permitindo odesenvolvimento de microalgas fotossintetizantes, seguida por uma complexa fauna de protozorios epequenos invertebrados.

    3 PRINCPIOS GERAIS

    Dentro de um ecossistema encontramos os fatores biticos e abiticos. Os seres vivos compem aparte bitica do ecossistema e possuem caractersticas bsicas como a organizao, desde organismosmicroscpicos e unicelulares aos mais complexos e de grande porte, incluindo: todas as formas

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    vegetais com sua capacidade fotossinttica; a excitabilidade ou capacidade de responder a estmulos;o metabolismo, agrupando todas as reaes qumicas necessrias manuteno das necessidadesfisiolgicas do organismo; e a reproduo, que garante a formao de descendentes com as mesmascaractersticas genticas, mantendo assim a espcie ao longo do tempo.

    Entre os fatores abiticos, encontramos os ecolgicos, as condies ambientais que favorecem asobrevivncia dos seres vivos. Podem ser determinantes climticos, como luminosidade, temperatura,pluviosidade, ventos, umidade do ar e fatores edficos, referentes ao solo, como estrutura, pH, nutrientes,permeabilidade e capacidade de reteno de gua. Quando nos referimos aos ecossistemas, pensamosem situaes naturais como rios, florestas, bosques, etc. Porm, com o advento da humanidade e suacapacidade de modulao da natureza, percebemos a existncia de ecossistemas artificiais, comoaqurios, plantaes, audes etc., que no existiriam naturalmente, mas que ainda assim podemdemonstrar as inter-relaes entre seres vivos e meio fsico.

    Dentro dos ecossistemas naturais, identificamos duas grandes vertentes: os ecossistemas terrestrese os aquticos. Quando um ecossistema est em equilbrio, existe um fluxo de energia e materiais queso estabilizados por um mecanismo de retroalimentao, o que chamamos de mecanismo de feedback.Temos um exemplo desse mecanismo quando um predador se multiplica demasiadamente, a pontode competir entre si pela caa de suas presas o alimento um fator limitante para manuteno donmero de indivduos dentro daquele ambiente. A escassez de recursos provoca mortalidade dentroda populao e com o aumento da taxa de emigrao, a populao de predadores entra em declnioe formam-se condies para que a populao de presas se recupere. Com maior oferta de alimento, apopulao de predadores volta a crescer e, assim, sucessivamente, ocorre um equilbrio dinmico.

    Um ecossistema autossuficiente precisa possuir componentes como produtores (vegetaisfotossintetizantes), consumidores (herbvoros e carnvoros), decompositores (recicladores) e umambiente fsico para fornecer minerais, gua e luz solar.

    3.1 Ecossistemas terrestres

    O solo, o clima e a vegetao so componentes bsicos da organizao dos ecossistemas terrestres.O solo apresenta-se como uma fina cobertura sobre o planeta, formado por uma complexa misturade rochas erodidas, nutrientes minerais, matria orgnica em decomposio, gua, ar e milhes de

    organismos e microrganismos vivos. um recurso de lenta renovao, depsitos de milhes de anosdispostos em camadas que denominamos de horizontes do solo, com textura e composio prpria,formando diferentes tipos. A camada superior ou horizonte zero a camada de serapilheira, formadaprincipalmente por ramos, folhas, resduos de plantas, animais e fungos, materiais que ainda no foramdecompostos (geralmente possui colorao marrom ou preta).

    A seguir, encontramos o horizonte A, camada superficial, composta por matria orgnica emdecomposio; o chamado hmus uma camada porosa rica em nutrientes, minerais inorgnicos, umsolo frtil, que facilita a infiltrao da gua da chuva. As razes da maioria das plantas esto concentradasnas duas camadas superiores.

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    A vegetao ajuda na estrutura, retendo o solo entre as razes e facilitando a reteno de gua. Aumidade do solo favorece ainda a sobrevivncia de milhes de espcies de bactrias, fungos, pequenosinsetos e aneldeos, como as minhocas.

    O solo varia conforme seu contedo de argila (partculas muito finas), silte (partculas finas), areia(partculas medianas) e cascalho (partculas grandes ou muito grandes). Temos, por exemplo, o solo deflorestas de clima mido, o solo de campos de clima semirido e o solo desrtico de clima quente.

    O conjunto dos diferentes horizontes que compem um solo forma o chamado perfil do solo.Baseados na colorao da camada superior, os agricultores adquam suas plantaes: o soloescuro, marrom ou preto rico em nitrognio e matria orgnica, timo para o cultivo; j os solosde superfcie marrom clara, amarela e vermelha so pobres em matria orgnica e precisam deenriquecimento por nitrognio. Em alguns casos, necessrio corrigir o pH (taxa de acidez) dossolos um solo muito cido dificulta a fixao do nitrognio pelas bactrias nitrificantes, o ideal

    que o pH gire em torno de 6,5.

    O solo um produto de clima e vegetao. A partir de uma rocha-me favorvel e uma topografia compouca inclinao, a ao dos organismos e do clima exerce uma tendncia a modular os componentes,construindo um solo com caractersticas prprias para cada regio. A anlise do perfil do solo mostraque locais de topografia plana ou ligeiramente ondulada tm um solo maduro, enquanto locais comtopografia irregular, infiltrao inconstante e rocha-me em transformao so considerados solosimaturos.

    At o momento, no h um acordo de como medir a qualidade de um solo. No entanto, a maioriados eclogos leva em considerao a variedade de nutrientes disponveis, a textura, a diversidade deanimais, insetos e microrganismos encontrados, os fixadores de nitrognio, a eroso e a lixiviao.

    Nos ecossistemas terrestres, a regenerao dos nutrientes ocorre no solo e a disponibilizao denovos alimentos pelas rochas um processo que ocorre lentamente. Em paralelo, temos a atividade deassimilao dos nutrientes pelos vegetais ocorrendo de forma muito mais acelerada. A produtividadeprimria depende amplamente da camada superficial, da serapilheira, da decomposio de detritosorgnicos e de ao das bactrias na ciclagem dos nutrientes.

    A trade solo, clima e vegetao se inter-relacionam, com um parmetro interferindo no outro. Oclima de cada regio determinado pelos padres globais de movimento do ar e da gua, pelos gasesda atmosfera e pela radiao solar (a quantidade de energia recebida).

    A incidncia dos raios solares no planeta influenciada pela latitude, como mostra a Figura 16. Alatitude um referencial geogrfico que divide o planeta horizontalmente de zero a 90 graus para norteou para sul, a partir da linha imaginria do Equador, considerado latitude zero. A partir dele, temos aonorte o Trpico de Cncer (latitude de 23 graus, 27 minutos e 30 segundos ao norte do Equador) e oCrculo Polar rtico, e ao sul o Trpico de Capricrnio e o Crculo Polar Antrtico. As regies delimitadaspela latitude recebem intensidades diferentes de energia solar. No Equador, o ngulo de incidncia dosraios solares praticamente perpendicular ao planeta, a espessura da atmosfera atravessada menor

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    os produtores primrios so algas unicelulares, seres microscpicos que no formam uma estruturacaracterstica que se identifique como vegetao. Portanto, a classificao dos ecossistemas aquticosbaseia-se em caractersticas fsicas como salinidade, movimentao da gua e profundidade.

    Ambientes aquticos so substratos que apresentam movimentao tanto vertical como horizontal;a presso aumenta regularmente com a profundidade: a cada dez metros h adio de uma atmosfera(ATM), aproximadamente 1Kg/cm2. Para exemplificar melhor, a uma profundidade de um quilmetro apresso da gua de cerca de uma tonelada.

    Os ecossistemas aquticos podem se diferenciar em ambientes marinhos e de gua doce(oceanos, esturios, guas correntes e lagos), e os organismos que vivem em meio aqutico soclassificados como planctnicos os seres de vida livre, que podem ser o fitoplncton (organismosfotossintetizantes) e o zooplncton (animais heterotrficos) e bentnicos (animais do fundo domar ssseis e de vida livre).

    Entre as caractersticas principais do ecossistema marinhoou talassociclo est a salinidade. Osoceanos cobrem a maior parte da superfcie do planeta. Nesse ambiente, encontramos uma concentraode sais que gira em torno de 35 gramas por litro de gua. Na verdade, seria mais correto dizer 35 partespor milho, sendo que o sdio (Na+) e o cloreto (Cl-) so os dois sais que predominam. O nvel da guado mar passa por alteraes, o que chamamos de mars, que sofrem influncia da proximidade daLua em relao Terra, determinando a mar baixa e a mar cheia. Os ambientes marinhos apresentamdiferenas de temperatura e luminosidade: medida que a profundidade aumenta, as diferenas formamverdadeiros estratos na coluna de gua, requerendo adaptaes dos organismos vivos em cada situaoem particular.

    As diferenas de profundidade que influenciam na capacidade de entrada de luz dividem osecossistemas marinhos em zonas, como mostra a Figura 17, onde podemos identificar a plataformacontinental, composta pelo litoral e pela zona nertica, e a zona ocenica. Na zona de litoral, ondeocorre a variao de mars, alternadamente exposta ao ar e recoberta pela gua, apesar de haver umatima situao quanto aos nutrientes e taxa de oxignio, animais e plantas tm muita dificuldade deviver, devido incessante movimentao das ondas. A zona nertica abrange guas rasas, at duzentosmetros, e, portanto, recebe luz em toda a sua profundidade; h abundncia de seres vivos e fitoplncton,apresenta variaes de temperatura conforme as estaes do ano e diferenas de salinidade conforme a

    quantidade de chuvas e de desembocaduras de rios (entrada de gua doce), estendendo-se at o limiteda plataforma continental.

    A zona ocenica est alm da plataforma continental, onde o fundo do mar cai a grandesprofundidades e identificamos uma estratificao vertical devido quantidade de oxignio disponvel.A zona que recebe luz solar (duzentos metros) ou zona ftica mantm organismos capazes de realizarfotossntese; a zona aftica, com presena apenas de predadores e organismos saprfagos, se estendeat os abismos ocenicos. uma gua uniformemente fria e calma, permanentemente escura, quepossui pouco alimento e na qual os organismos aproveitam ao mximo suas oportunidades.

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    Plataformacontinental

    Zonaftica

    Zonalitoral

    Zonanertica

    Zonaaftica

    Zonabentnica

    Zona ocenica

    Figura 17 Zonas ecolgicas no oceano

    O fundo do mar, abaixo da zona ocenica, constitui a zona bentnica, onde vivem organismos emmeio lodoso; alguns se locomovem horizontalmente, outros so ssseis.

    Nos oceanos, h uma tendncia natural dos nutrientes sedimentarem, atravessarem a coluna degua e se depositarem no fundo. Sua regenerao muito lenta. As algas e plantas aquticas assimilamnutrientes na coluna de gua, mas a entrada de luz um fator limitante, e a realizao dos processosfotossintticos se restringe camada ftica, uma faixa com extenso de cerca de duzentos metrosa partir da superfcie, raio de alcance dos raios solares. Uma das consequncias dessa limitao que a sedimentao dos materiais orgnicos os coloca em uma zona aftica, sem luminosidade, sem

    fotossntese e sem renovao de oxignio, retardando as transformaes bioqumicas da decomposio,alterando os caminhos de reciclagem dos elementos. A concentrao de nutrientes torna-se tambmum fator limitante, pois em alto-mar a quantidade de auttrofos muito inferior de hetertrofos.

    A produtividade primria em guas marinhas est intimamente ligada proximidade entre a zonaftica e os sedimentos profundos e possibilidade do transporte desses nutrientes de volta s camadassuperficiais, como por eventos de ressurgncia, provocados por fortes ventos em guas rasas queresultam em misturas turbulentas, revirando o fundo e disponibilizando o material para a zona ftica.

    Em sistemas marinhos, a reciclagem de sedimentos ainda pode ocorrer quando h uma taxa deevaporao maior que a entrada de gua doce (chuvas), o que deixa a camada superficial mais salina,tornando-a mais densa, resultando na descida dessa camada para estratos inferiores por correntesmarinhas geradas pelas guas frias e densas que se formam ao redor dos polos da Terra; elas afundame se espalham por todos os oceanos, fluindo abaixo de todas as outras massas de gua.

    A mistura vertical das guas pode beneficiar ou afetar a sua produtividade. Ao trazer guas ricasem nutrientes das profundidades para as zonas fticas, ocorre o aumento da oferta de nutrientes e,consequentemente, a produo primria. No entanto, o mesmo fator, ao misturar as guas, pode levaro fitoplncton para a zona aftica, onde, por falta de luminosidade, no consegue realizar fotossntese

    nem se reproduzir. Essa situao pode ser temporria, mas diminui a produo primria local.

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    Todos os mares do planeta esto interligados por correntes impulsionadas pelos ventos criados pelasdiferenas de temperatura entre as regies dos polos e do Equador, pela rotao da Terra e pela diferenade densidade criada pela salinidade e temperatura. Essa continuidade confere-lhe uma uniformidade,e as correntes ocenicas exercem um profundo efeito sobre o clima mundial. Alm disso, as correntesfavorecem a dissoluo do oxignio, a disperso das formas de vida e a manuteno da composiouniforme dos elementos qumicos na gua.

    Os ecossistemas de gua doce, tambm conhecidos como limnociclo, incluem: os ecossistemaslticos, de guas correntes, e ecossistemas lnticos, de guas calmas como lagos, lagoas e represas.Apenas cerca de 1% da massa aqutica existente na superfcie da Terra de gua doce e, como nomar, apresentam variaes no contedo de oxignio, quantidade de sais minerais, luminosidade emovimentao.

    Os sistemas fluviais, como so chamados os rios, so distinguidos pelo fato de apresentarem uma

    corrente de gua que est continuamente transportando material particulado, animais e plantas. Ascorrentes se formam onde quer que a precipitao exceda a evaporao e a gua em excesso escoe pelosolo ou rochas (a gua bem oxigenada devido a movimentao). A velocidade da correnteza dependedo formato que o rio adquiriu, da aspereza e profundidade do fundo e da quantidade de chuvas. Notrajeto do rio, nos locais onde o relevo produza fendas, ocorre o acmulo de gua e formam-se poas,onde h maior quantidade de matria orgnica e particulados. As correntes so limitadas por umarea de vegetao terrestre, chamada de vrzea, que est sujeita a inundaes nas pocas de chuvasintensas, pois isso aumenta o volume das guas. Quanto mais largo o rio, maior sua produo interna.

    A gua corrente transporta nutrientes para muitos organismos aquticos, carrega suas excretas etraz organismos diferentes que habitavam regies superiores. A temperatura no constante, podepermanecer constante ou mudar a cada estao. Geralmente, rios de maior correnteza so mais frios ericos em oxignio, enquanto os mais lentos so menos oxigenados e mais quentes. Cada curso de guaapresenta sua fauna e flora particular, mas o pH da gua mais cido reflete o nvel de gs carbnico(CO

    2), a presena de cidos orgnicos e poluio e menor quantidade de nutrientes, enquanto o pH mais

    bsico indica a presena de carbonatos, bicarbonatos e sais associados e apresentam uma vida aquticamais abundante.

    Rios de guas muito calmas, quase paradas, assemelham-se a lagos: a correnteza no tem fora

    o suficiente para remover o material do fundo e os sedimentos e detritos se acumulam. As cadeiasalimentares dependem das terras vizinhas, folhas e galhos cados da vegetao ou trazidos pelo ventoe chuvas.

    Oslagosso corpos de gua que se formam em depresses no relevo ou em regies ecologicamenteativas, onde o deslocamento vertical de blocos da crosta terrestre cria bacias, dentro das quais a guase acumula. Podem variar de tamanho, desde pequenas poas e lagoas at represas e lagos profundose de grandes dimenses, e no apresentam correnteza. Um lago inteiro poderia ser considerado umbioma, mas normalmente subdividido em regies com caractersticas prprias, como mostra a Figura18. A zona litoral identificada em torno das margens. uma regio rasa, com vegetao enraizada; area aberta, onde h luminosidade, com presena do fitoplncton e algas unicelulares, chamada de

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    zona limntica, e o fundo do lago, com sedimentos, microrganismos e animais escavadores, a zonabentnica.

    As mudanas de estao influenciam diretamente as caractersticas fsicas dos lagos. Quanto maiorfor a variao de temperatura entre as estaes, mais acentuados sero os fenmenos ocorridos. Umasituao tpica de lagos a estratificao trmica, que ocorre no vero, impedindo a mistura vertical:com a sedimentao dos nutrientes, a produtividade cai.

    Em casos em que a luz do sol aquece a gua da superfcie com mais rapidez que as camadasprofundas, cria-se uma zona de rpida mudana de temperatura em uma profundidade intermediria,estabelecendo o que chamamos de termoclina. Uma vez que a termoclina est bem estabelecida, noh mistura ao longo da coluna de gua. A gua aquecida da superfcie menos densa e flutua sobre acamada de gua mais fria e densa abaixo. A profundidade da termoclina pode variar conforme os ventoslocais, a profundidade e a turbidez do lago. No entanto, as termoclinas costumam se formar entre cinco

    e vinte metros de profundidade, no sendo encontrados registros desse fenmeno em locais com menosde cinco metros de profundidade.

    Zonalitoral

    Zonalimntrica

    Zonabentnica

    Figura 18 Zonas ecolgicas de um lago

    A produtividade costuma a se restringir camada superficial onde a luminosidade mais intensa,apesar de pobre em nutrientes, e os organismos que ficaram abaixo da termoclina deplecionam oambiente de oxignio, criando condies anaerbicas. No outono e na primavera, a ao dos ventos

    causa movimentos verticais, revirando o fundo dos lagos, oxigenando o ambiente e provocandocrescimento do fitoplncton. No inverno, as camadas superficiais dos lagos ficam com uma temperaturamais baixa que seu interior; em alguns casos, podem at congelar. Como a gua menos densa emestado slido, pode ocorrer o congelamento superficial, mantem seu interior lquido. A luminosidadediminui, a produtividade diminui, mas ainda possvel manter a sobrevivncia dos organismos quetolerem a gua mais fria.

    Existem locais onde os rios desembocam no mar e h o encontro da gua doce com a gua salobra,formando locais que chamamos de esturios ou mangues; h locais como esses em toda a extenso declima tropical do planeta. No Brasil, estende-se por quase toda a costa, desde o Amap at Santa Catarina.So caracterizados por um ambiente pantanoso, movedio, sujeito a inundaes dirias conforme as

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    mars. Possuem uma vegetao muito particular, adaptada alta concentrao de salinidade, faltade oxignio no solo e instabilidade fsica. As poucas espcies de rvores adaptadas que habitam omangue possuem razes radiculares, que saem de seus troncos acima do nvel mximo da mar cheiae formam um verdadeiro meio de escoramento, mantendo a rvore em posio vertical e permitindoque se absorva o oxignio diretamente da atmosfera. Suas sementes germinam ainda presas s rvoresat o perodo em que esto prontas para enraizar; possuem uma haste que, ao cair na gua, ajudam afincar-se no solo. Outra espcie possui prolongamentos que emergem do solo at uma altura superior das mars, chamados de pneumatforos, que servem para a respirao.

    A presena do manguezal est associada presena de rios de plancie, que transportam partculasde argila e matria orgnica, que acabam formando flocos, no momento em que a gua doce se misturacom a gua salgada. A camada de lodo chega a atingir at vinte metros de espessura em So Paulo; um local enriquecido pela matria orgnica em decomposio, restos de folhas da prpria vegetaodo mangue e minerais vindos dos rios e do mar. A grande parcela de decomposio desse sistema leva

    ao esgotamento total de oxignio, o meio se torna anaerbico e formam-se gases, como o metano e ogs sulfdrico.

    O manguezal um ecossistema com uma das maiores produtividade primria, assemelhando-se auma floresta tropical. A contnua renovao de sua fertilidade garantida pela constncia de elementosminerais trazidos pelos rios que drenam os continentes e sustentam uma imensa cadeia alimentardetritvora de bactrias e invertebrados que fornecem alimento para animais estuarinos. O mangue considerado um berrio de espcies, serve de local de reproduo e crescimento para muitos organismosmarinhos. Cerca de 90% dos pescados e frutos do mar consumidos pelo homem vem de guas costeiras,cujos organismos passaram parte de sua vida ou a vida inteira em esturios.

    Apesar de desprezado por sua aparncia escura, lodosa e cheiro acentuado, a importncia domanguezal para a manuteno das cadeias alimentares ocenicas indiscutvel. Esse local aindasuporta uma parte de fauna superior: muitos pssaros migratrios utilizam o mangue para descanso ealimentao, outros nidificam e animais como jacars e peixes-boi procuram constantemente o manguepara se alimentar.

    A prtica de soterramento vem diminuindo drasticamente a ocorrncia de mangues em locaisprximos a centros de desenvolvimento urbano. Como no se consegue utiliz-lo para atividades

    tursticas, ele vai sendo ocupado por moradias de classes menos favorecidas, que constroem favelassuspensas (palafitas), sem nenhum saneamento bsico; outra agresso ao manguezal so as constantesenchentes que os rios sofrem pela degradao e ocupao das reas de vrzea, que aumentam muitoo volume e velocidade das guas doces que chegam no esturio, realizando uma devastao nesseterritrio. A extino dos mangues significa, na prtica, eliminar uma das maiores fontes de alimento deque o homem dispe. No Brasil, o mangue um ecossistema de preservao permanente, includo emdiversos dispositivos constitucionais, impondo ordenaes quanto ao uso e aes em reas estuarinas,com destaque Lei n 4.771, de 1965, que implantou o Cdigo Florestal, e a Lei n 7.661, de 1988, queinstitui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro.

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    Saiba mais

    Assista ao documentrio a respeito da atividade humana no mangue,

    que conquistou o X Prmio Nacional de Comunicao e Justia:

    NO RUMO do U. Dir. Wladymir Lima. Brasil: Ministrio Pblico Federalem Alagoas; Ncleo de Biodiversidade do Ibama, 2012. 23 minutos e 48segundos.

    4 BIOMAS

    Voc saberia identificar um husky siberiano? Aquele cachorro que puxa os trens na neve? Voc

    j o viu? Perto da sua casa tinha um... Concordo que uma espcie belssima, e nem to difcilde se conseguir. Existem pessoas que criam esse tipo de animal s para lucrar com a venda de seusfilhotes. Geralmente, os compradores se manifestam mesmo antes dos filhotes nascerem. Porm, combase no que foi aprendido at agora, responda: existe coerncia em manter um animal desses por aqui?Um animal adaptado neve? Vivendo em clima tropical, esse organismo est sofrendo, suas funesfisiolgicas esto sobrecarregadas. Eles vivem cansados, no mesmo? Nem parece que teriam foraspara puxar um tren! claro que no calor brasileiro, eles no tm mesmo. Contudo, l no clima frio, naneve, com certeza teriam.

    J discutimos que solo, clima e vegetao afetam profundamente a evoluo de plantas e animais

    que se adaptam para as condies particulares de cada ambiente (e a se encaixa a nossa indagaosobre o husky adaptado a clima frio). Biomas so comunidades terrestres, facilmente reconhecveisque resultam da interao dessa trade. Os grandes biomas mundiais so classificados pelo clima, porquea vegetao se repete em regies de clima semelhante, mesmo que as reas estejam distantes uma dasoutras. Quando falamos sobre a incidncia da radiao solar no planeta, aprendemos que, dependendoda latitude, podemos identificar regies no globo terrestre que recebem os raios com maior ou menorintensidade. Dentro das mesmas zonas latitudinais os biomas ficam ainda mais especficos.

    Lembrete

    A latitude um referencial geogrfico que divide o planetahorizontalmente de zero a noventa graus para norte ou para sul a partir dalinha imaginria do Equador, considerada latitude zero.

    4.1 Principais biomas do mundo

    Os principais biomas climticos esto divididos em zonas tropicais, temperadas, boreais e polaresde acordo com suas latitudes, a norte ou sul do Equador. Dentro das zonas climticas temperadas, os

    grandes biomas so: Florestas Sazonais, Florestas midas, Campos, Desertos e Bosques de Arbustos.

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    Entre as zonas tropicais e temperadas esto os Desertos Subtropicais. Em latitudes maiores, as FlorestasBoreais. Prximo ao rtico, temos a Tundra, que se desenvolve em terreno permanentemente congelado.As zonas climticas tropicais so representadas por Florestas Pluviais e Savanas.

    Uma caracterstica marcante das florestas que possuem uma estrutura com vrios estratos vegetais,que proporcionam um hbitat para inmeras espcies. Uma floresta protege o solo, impedindo oimpacto total da chuva, do vento e do sol. Os vrios estratos diferenciados pela luminosidade e umidademodificam o ambiente a partir do topo da floresta em direo ao solo. A camada mais iluminada a do dossel; abaixo disso, a luminosidade vai diminuindo gradualmente. A umidade alta devido transpirao das plantas e a circulao do ar baixa.

    4.1.1 Tundra

    O bioma de Tundra est situado na zona climtica polar, prxima ao Crculo Polar rtico, sem

    correspondncia no hemisfrio sul. Encontramos esse tipo de vegetao em parte do Alasca, Canad,Groenlndia, Noruega, Sucia, Finlndia e Sibria. Uma extensa regio sem rvores que cresce sobreum solo permanentemente congelado, chamado de permafrost. No vero, que dura 3 meses, ocorre aestao de crescimento, onde a camada de solo que descongela chega a at um metro de profundidade.Como a camada abaixo permanece gelada, a gua do degelo forma muitos brejos e o solo fica saturadopor todo o vero. Os solos tendem a ser cidos, devido ao alto contedo de matria orgnica, maspossuem poucos nutrientes, pois a decomposio extremamente lenta, quase no chove, os ventosso secos e h muita evaporao.

    A curta durao do vero obriga as plantas herbceas a crescerem e frutificarem rapidamente, e asraras plantas lenhosas so ans, pequenos arbustos que alcanam aproximadamente um metro de altura.Os liquens representam a maior parte da produo primria do local. Como o solo muito pobre, dizemosque h uma seca fisiolgica e as plantas retm suas folhagens por anos. Na maior parte do ano, a Tundra um ambiente excessivamente rude e qualquer vegetal que surja acima da superfcie da neve destrudapelos cristais de gelo. Sua fauna compreende o caribu (um tipo de rena), o boi almiscarado, a lebre rtica,a raposa e o lobo rtico, o lemingue e, beira-mar, o urso branco. Na Tundra, comum no inverno ocorrero mimetismo por homocromia, quando os animais parecem ficar todos brancos.

    Na Tundra no h pinguins! Porm, no vero, encontramos algumas aves aquticas que nidificam e

    depois migram para o sul, como corujas brancas e perdizes. Aves e mamferos das regies frias possuemtamanho maior que os animais da mesma espcie de regies quentes, pois quanto maior o corpo,melhor a reteno de temperatura. Possuem ainda, como adaptaes, cauda, focinho, orelhas e bicospouco desenvolvidos, para evitar a perda de calor pelas extremidades.

    As cadeias alimentares da Tundra so curtas: os lemingues comem plantas e servem de alimentopara raposas e lobos. A cada trs ou quatro anos, a populao de lemingues atinge a densidade mximae seus predadores ficam tambm muito numerosos, embora com um ano de atraso. Quando cessabruscamente a proliferao desses roedores, seus predadores tambm diminuem, pois no conseguemmudar seu regime alimentar. Esse fenmeno ocorre em regies mais quentes, onde a fauna maisvariada.

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    Nos limites da Tundra, chegando ao clima temperado, nas montanhas rochosas da Amrica do Nortee no plat tibetano da sia Central, encontramos a Tundra alpina, que apresenta estaes de crescimentomais quentes e longas, invernos menos severos, que resultam em uma produtividade maior, solo comuma drenagem melhor e uma diversidade maior de espcies.

    4.1.2 Floresta Boreal

    A floresta Boreal, tambm conhecida por Taiga (floresta de conferas), inicia-se nos limites finais daTundra, prximo aos sessenta graus de latitude, e no possui vegetao correspondente no hemisfriosul. Compreende as regies do norte do Alasca, Canad, parte sul da Groenlndia, Islndia, parte daNoruega, Sucia, Finlndia e parte da Sibria. Apresenta duas estaes: o inverno, com durao de novemeses, e o vero, com trs meses; nessa regio chove muito pouco. Na Floresta Boreal, durante o vero,o solo degela totalmente, originando muitos lagos e, diferentemente da Tundra, no existe permafrost.A temperatura mdia anual de 5C, a evaporao baixa e os solos so midos durante a maior parte

    da estao de crescimento.

    A vegetao consiste em interminveis bosques densos de rvores aciculadas, pinheiros e abetos,que alcanam de dez a vinte metros de altura, formando um largo cinturo verde as florestas sosempre verdes, com folhas em forma de agulhas. A floresta boreal est entre as mais importantesregies produtoras de madeira do mundo. Devido s baixas temperaturas, a serapilheira decompe-semuito lentamente e acumula-se na superfcie do solo, produzindo nveis de cidos orgnicos. Essessolos cidos de baixa fertilidade so chamados de solos podzolizados. Abaixo da floresta densa, crescemsamambaias, musgos e algumas ervas. Os animais comumente encontrados so alces, veados de orelhaslongas, raposas, linces, ratos, esquilos, castores e lebres. Existem muitas aves aquticas e insetos demuitas espcies.

    4.1.3 Floresta Temperada Decdua

    A Floresta Temperada Decdua, tambm conhecida como Floresta Sazonal Temperada, localiza-seno hemisfrio norte, em condies moderadas do congelamento do inverno, abrangendo as regies dosul do Canad, leste dos Estados Unidos, oeste da Europa e leste da sia, Coria e Japo. No hemisfriosul pouco desenvolvido, devido s temperaturas mais amenas do inverno, abrangendo as reas daNova Zelndia e sul do Chile. Essa floresta chamada de decdua porque perdem as folhas no outono.

    Observam-se nitidamente as quatro estaes do ano: os veres so quentes e os invernos so frios, massem excesso. Ao norte, a estao de crescimento dura quase cinco meses e, no sul, esse perodo chega aseis meses. A precipitao excede a evaporao e a transpirao; consequentemente, a gua drenadapelo solo, formando guas subterrneas e rios. Os solos tendem a ser cidos, com grande quantidadede hmus.

    H grandes extremos de variaes de luminosidade, umidade e temperatura ao longo das estaesdo ano. Em abril, antes que as folhas apaream, a luminosidade chega sem obstculos at o cho dafloresta. Nessa poca, as variaes de temperatura e umidade so pequenas quando comparamos oestrato superior da floresta com o interior. O solo, ainda no sombreado pela copa das rvores, absorve eirradia mais calor que no vero. As rvores decduas so a forma de vegetao dominante nesse bioma.

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    Todavia, na Europa, no restam seno fragmentos dispersos dessa vegetao, pois foram destrudasat a Idade Mdia, sendo substitudas por campos. E, atualmente, abrigam as maiores concentraeshumanas.

    Esse bioma bem mais complexo que a Floresta Boreal, pois apresenta diversas paisagens vegetais;as rvores mais comuns so o carvalho, a faia, a castanheira, a magnlia e a nogueira. A flora herbceae arbustiva rica em espcies e bem desenvolvida. As partes mais secas e quentes desse bioma, ondeo solo arenoso e pobre em nutrientes, podem desenvolver florestas de pinheiros, como as florestasdas plancies costeiras do Atlntico na Amrica do Norte. Como os solos so secos, os incndios sofrequentes e a maioria das espcies capaz de resistir aos danos provocados pelo fogo. A fauna aindamais variada que a flora, e podemos encontrar veados, esquilos, lobos, raposas, lebres, coelhos, quatis,pssaros, rpteis, anfbios e muitos insetos.

    4.1.4 Floresta Tropical

    A Floresta Tropical tambm conhecida como Pluvial, Latifoliada, Tropical Chuvosa ou Sempre-verde.Inmeras denominaes para identificar essa vegetao que cresce em clima quente da regio entre ostrpicos, com alto ndice de chuvas. o bioma que recebe a maior quantidade de energia solar. Essascondies esto presentes em trs grandes reas, como a bacia do Amazonas na Amrica do Sul e reas naAmrica Central e ao longo da costa atlntica do Brasil, que constituem a Floresta Tropical Americana. Area do extremo sul da frica, ao longo do Congo, constitui a Floresta Tropical Africana e a Floresta TropicalIndo-Malsia, que cobre parte da sia ilhas como a das Filipinas, Bornu e Nova Guin.

    As florestas possuem duas estaes no ano, a mida e a seca, e temperatura que dificilmente inferior a 21 C. Os solos, de formao muito antiga, so desprovidos de hmus e argila e assumem acor avermelhada dos xidos de ferro, com pouca capacidade de reter nutrientes. A vegetao formaum dossel contnuo de rvores altas de at 40 metros de altura com algumas rvores emergentes(que alcanam at 55 metros). As florestas tropicais formam diversos estratos abaixo das copas, compequenas rvores, arbustos e herbceas, que normalmente esto bem espaadas devido to pouca luzque penetra. A estratificao vertical acaba resultando no aparecimento de microambientes com seusprprios microclimas.

    A diversidade de espcies maior que em qualquer outra parte do planeta, e a produtividade

    primria das florestas tropicais excede a de todos os outros biomas terrestres. Devido s temperaturasconstantemente altas e umidade abundante, a serapilheira se decompe rapidamente e a vegetaoimediatamente assimila os nutrientes liberados. Essa rpida reciclagem de nutrientes sustenta a altaprodutividade da floresta, mas deixa o ecossistema muito vulnervel a perturbaes. Quando as florestastropicais so cortadas para implantao da agricultura ou venda da madeira, os nutrientes so retiradosdaquele ambiente, expondo o solo eroso e improdutividade.

    A Floresta Tropical possui fauna e flora extremamente diversificadas: pode apresentar mais dequinhentas espcies de rvores, enquanto a floresta temperada pode ter cerca de uma dezena. Essebioma possui rvores cobertas de epfitas, cips, trepadeiras, samambaias, avencas e bromeliceas, e osvegetais apresentam folhas largas e cutculas finas. O dossel muito denso e a entrada da claridade

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    menor prxima ao solo. As folhas caem progressivamente (no em uma nica estao) e, como suadecomposio rpida, o solo quase nu.

    A vida animal escondida tanto pela folhagem densa como pela cobertura da noite. As aves sogeralmente arborcolas (animais que vivem em rvores) e, apesar de apresentarem cores intensas, comoos tucanos, papagaios e as araras, so camufladas pela folhagem. Os animais de solo so pequenos e decolorao escura, difceis de serem observados; a maioria dos mamferos arborcola, como os macacose preguias, e de hbitos noturnos. Entre as diferentes espcies terrestres, temos: porco do mato, quati,gamb, ornitorrinco, cobras, quelnios, sapos, pererecas, e muitos insetos.

    4.1.5 Campos

    Os Campos encontram-se situados tanto em regies tropicais como nas temperadas. Ocupamgrandes extenses no interior dos continentes e se caracterizam por apresentar grandes variaes de

    temperatura alta durante o dia e baixa durante noite , bastante luz e muito vento. A vegetao herbcea ou gramnea, devido ao baixo teor pluviomtrico e ao solo normalmente cido, o que impedea existncia de grandes rvores. Esse bioma tem mais deficincia de gua que de energia. Podemosidentificar Campos Temperados e Campos Tropicais.

    Os Campos Temperados possuem um clima mais seco e a vegetao praticamente rasteira (gramnea).Os Campos da Amrica do Norte so denominados Pradarias e os da Amrica do Sul, Pampas. Na sia eEuropa, recebem o nome de Estepes. Os veres so quentes e midos, e os invernos so frios; a estaode crescimento aumenta ao sul, durando quase o ano todo. A precipitao baixa, os detritos orgnicosno se decompem rapidamente e os solos so ricos em matria orgnica, apresentam baixa acidez eso abundantes em nutrientes. A maioria das espcies vegetais desses campos tem caules subterrneose sementes resistentes ao fogo. Encontram-se muitos animais roedores (ratos), cobras e aves de rapina.

    Campos Tropicais so caracterizados por apresentarem perodo de chuvas mais constantes e climamais quente do que na regio dos Campos Temperados. Mesmo assim, apresentam uma ou duas pocasde secas prolongadas, predominando uma vegetao de pequeno porte, composta de rvores e arbustos.Localizam-se nas regies intertropicais, que cobrem grandes reas da frica, onde so chamadas deSavanas, e do Brasil, onde recebem o nome de Cerrado.

    Nesses campos, principalmente na frica, as estaes so reguladas pelas chuvas, e no pelatemperatura, e a fauna constituda de animais de grande porte, tais como: bfalos, elefantes, girafas,zebras, rinocerontes, lees, leopardos etc. Existem tambm aves corredoras, como o avestruz, e pssaros,como o gavio.

    As Savanas verdadeiras existem apenas onde o clima favorvel. No entanto, muitas vm sendocriadas pelo fogo, pelo pastoreio ou por ambos e esto crescendo onde a cobertura vegetal foi destrudapela atividade humana. A fauna, por sua vez, vem desaparecendo pela presso do gado domstico.O aumento da populao de gado e a pastagem excessiva esto convertendo parte da Savana emDesertos. O aumento da populao humana agrava ainda mais a situao.

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    4.1.6 Desertos

    Os Desertos so Biomas de localizao variada, onde as temperaturas podem chegar a 45C ou mais,com a quantidade de gua evaporada muito maior que a quantidade de chuvas. As condies do Desertovariam de aridez extrema umidade, apenas para suportar algumas poucas espcies de organismos. Osgrandes Desertos do mundo esto dispostos na Terra em dois cintures, um confinado grosseiramente rea em redor do Trpico de Cncer e outro em redor do Trpico de Capricrnio. O Deserto do Saarana frica o maior e mais inspito do mundo; o do Atacama, no Chile, um dos lugares mais ridos daTerra; e ainda encontramos Desertos na Austrlia, na Amrica do Norte, no Tibete e na Arbia Saudita.

    A escassez de chuvas pode estar relacionada posio de montanhas, que barram o vento e ajudama manter as condies ridas. Alguns desertos esto to distantes do oceano que quando as massas dear chegam a eles j perderam toda a umidade. A vegetao escassa e muito espalhada, com regiesnuas entre as regies de vegetao. As plantas anuais florescem, frutificam e morrem no espao de

    poucas semanas aps as chuvas, evitam, assim, a seca e crescem apenas quando h umidade elevada. Asplantas suculentas armazenam gua em seu caule e seu sistema radicular muito espalhado. A flora doDeserto possui uma espessa cutcula que reduz as perdas de gua.

    Os animais so adaptados para reter e economizar gua: possuem um nmero reduzido de glndulassudorparas, produzem uma urina concentrada com mnima eliminao de gua, tm as fezes secas eadquirem gua e alimentos das plantas suculentas. A fauna pobre: h camelos, cobras, lagartos e ratos.

    Observao

    Os biomas refletem nitidamente a influncia da latitude no planeta,maior diversidade entre os trpicos onde a incidncia dos raios solares somaiores, clima mais quente e mais umidade no ar.

    4.2 Biomas brasileiros

    O Brasil um pas de extensa rea territorial, em sua grande maioria localizada na zona intertropical.Apresenta uma grande variedade de climas e solos, que permitem a existncia de vrias espcies de

    biomas tpicos das diferentes regies brasileiras.

    4.2.1 Floresta Amaznica

    a maior e mais rica Floresta Tropical do mundo: estende-se por vrios pases da Amrica do Sul cerca de 60% est no Brasil, abrangendo os estados do Amazonas, Par, Acre, Amap, Rondnia,Maranho, Mato Grosso, Tocantins e Gois. cortada por inmeros rios. A temperatura mdia anual de 26C e a variao para a temperatura mnima de cerca de um ou dois graus, com mudanassazonais mnimas e atividade das plantas contnua, resultando em um exuberante crescimento. Adiversidade vegetal chega a milhares de espcies, sem ocorrer dominncia de nenhuma. A FlorestaAmaznica possui uma das maiores e mais interessantes comunidades de insetos, que tm um meio

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    excelente para seu desenvolvimento. O fato de existir uma grande oferta de alimento vegetal, aliado uma temperatura constante e uma umidade elevada, ocasiona, em paralelo, o crescimento de animaisque deles se alimentam, desde morcegos e aves at tatus e tamandus.

    A maioria dos animais se esconde em galhos altos de rvores e alcana at trinta metros de alturadurante o dia, aguardando a noite para realizar suas atividades. A fauna arborcola ainda representadapor pequenos roedores, preguias, esquilos, macacos, cobras, formigas trmitas, muitos pssaros deplumagem colorida, como beija-flores, tucanos, papagaios, periquitos e aves de rapina, e ainda contacom os maiores rpteis do mundo: alm das cobras encontramos lagartos e crocodilos.

    A Floresta Amaznica conta com uma diversidade de vegetais e animais. No entanto, o solo pobre,constitudo basicamente por argila e areia, e as plantas se alimentam do prprio material orgnicoque cai no cho. Apesar da exuberncia, apresenta um alto ndice pluviomtrico, e a evaporao, sejados rios, oceano ou da prpria floresta, muito alta, o que propicia grandes volumes de chuvas. O

    bioma da floresta extremamente frgil. A vegetao mantida e o volume de folhedo adicionadoao solo bem menor que o da Floresta Temperada, pois a decomposio acontece muito rapidamente,devido s condies de clima e temperatura. As razes das rvores possuem micorrizas, local onde ocorreuma associao mutualstica com fungos. Estes so verdadeiros recicladores da natureza: efetuam adecomposio de material orgnico, facilitando a obteno dos nutrientes para as plantas.

    A presena das micorrizas nas razes pode ajudar a explicar por que a retirada da Floresta Amaznicapara agricultura no alcana o resultado esperado: o solo em si pobre em nutrientes, e a fonte dealimento para a vegetao mantida por elas. Uma vez retirada a cobertura vegetal em prol do plantio delavouras, em pouco tempo o solo se mostra hostil e h ocorrncia de muitas plantas invasoras e pragas.Algumas culturas que foram mais bem sucedidas se instalaram em locais de clima mais temperado, quefavorece a permanncia da matria orgnica por mais tempo, fornecendo maior nutrio do solo.

    A adio de fertilizantes no solo tambm no alcana os resultados esperados, porque o alto ndicede chuvas e a quantidade de areia no solo fazem com que esse fertilizante seja drenado com facilidade.Os pesticidas adicionados s plantas tambm so drenados pelas chuvas; a atividade agrcola resultadispendiosa. A rotao de culturas torna-se o meio mais vivel de produo, mas deficitrio, nosuporta uma produo comercial. Na maioria das vezes, o que ocorre um novo desmatamento, ondese aproveita uma ou duas colheitas e parte-se para uma nova rea, o que vem devastando a floresta.

    Outra consequncia do rompimento do equilbrio com os desmatamento e queimadas o extermniode muitos animais, o que pode desencadear o crescimento incomum de outras espcies pela falta depredadores, como acontece com os insetos.

    Dentro da prpria floresta, quando intacta, so identificados trs diferentes formaes de matas,muito distintas: a Mata de Terra Firme, a Mata de Igaps e a Mata de Vrzea. No entanto, tambm possvel encontrar vegetaes no florestais, como a Caatinga Amaznica, Campos de Vrzea e Camposde Cerrado, entre outras dentro da rea da floresta.

    A Mata de Terra Firme, nas regies de florestas longe de rios e que no sofrem alagamento,caracteriza-se por apresentar grandes rvores, com as copas densas, como a castanha-do-par, o

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    guaran, o cedro, o pau-rosa, os cips e as epfitas. Corresponde a 90% da Amaznia. As rvores so demaior porte podem chegar a 60 metros de altura.

    A Mata de Igaps tem parte da floresta localizada prxima aos rios, em terras baixas, sempreinundadas; a vegetao apresenta adaptaes a alagadios, o solo muito cido e mal arejado. Asprincipais espcies que sobrevivem nessas matas so as vitrias-rgias, as bromlias, as orqudeas, osaguaps e as palmeiras. Nesses locais, encontramos rvores com razes escoras e tabulares, que ajudamna sustentao da planta.

    A Mata de Vrzea, por sua vez, est situada entre as Matas de Terra Firme e a de Igaps, e inundadaperiodicamente durante a cheia dos rios, predominando vegetao de porte mdio, com cacaueiros,palmeiras, jatobs e a famosa seringueira produtora de borracha, to marcante no desenvolvimento daregio no sculo passado.

    O alerta que h muito tempo ecologistas e estudiosos de outras reas vm fazendo sobre apossibilidade de formao de um deserto na regio, resultante da destruio da floresta para venda damadeira, e das atividades agropecurias, que so favorecidas pela abertura de novas estradas.

    Exemplo de aplicao

    Descubra onde vive a maior espcie de peixe de gua doce, a maior flor e a maior espcie de cobrado mundo, realizando uma pesquisa sobre os biomas existentes no planeta.

    4.2.2 Caatinga

    A Caatinga desenvolve-se em regio de clima seco as chuvas ocorrem somente no inverno eso bastante irregulares (a seca pode durar at nove meses). Estende-se pelo interior dos estados doMaranho, Piau, Rio Grande do Norte, Paraba, Pernambuco, Alagoas, Bahia e parte do norte de MinasGerais. Os rios da regio, geralmente, so perenes (secam na poca das secas), com exceo do rio SoFrancisco. O solo arejado, bastante permevel e considerado frtil, e o plantio depende da ocorrnciade chuvas.

    A vegetao possui rvores esbranquiadas, sem folhas durante os meses de seca, da a denominaocaatinga (= mata branca). Somente na poca de inverno que a paisagem fica verdejante. Existemmuitas formas de vegetao na Caatinga, como o Serto, o Agreste e o Cariri. Porm, de maneira geral,todos possuem vegetao predominantemente constituda por arbustos, temperaturas elevadas eumidade baixa, com chuvas irregulares, que acentuam o problema da regio.

    Os solos so quimicamente frteis, tm boa permeabilidade, so arejados apesar dos restos deanimais e plantas no poderem ser decompostos devido falta de umidade de microrganismos no solo e se encontram fragmentos de rochas na superfcie. A vegetao da Caatinga adaptada ao climaseco (cactos so tpicos da regio e apresentam caules suculentos para armazenamento de gua), perde

    as folhas na poca da seca, apresenta razes desenvolvidas e as folhas so transformadas em espinhos

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    para evitar a perda de gua por transpirao. Entre as plantas mais comuns da Caatinga, encontramosbarriguda, mandacaru, guip, xique-xique, catingueira, juazeiro, coroa de frade, mamoeiro e umbuzeiro.

    A fauna da Caatinga inclui veado catingueiro, gamb, pre, tatupeba, aves como carcar eararinha-azul, rpteis como jiboia, calango e cascavel, anfbios como o sapo cururu, inmeras espciesde invertebrados principalmente insetos e aves de rapina.

    4.2.3 Cerrado

    localizado na regio central do Brasil, abrangendo os estados de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais,Gois e Tocantins e reas esparsas dos estados de So Paulo e Paran. Possui vegetao similar a dasSavanas, com rvores baixas e retorcidas, arbustos e campos cobertos de gramneas. O clima quentecom perodos de chuvas e de secas. O solo cido, devido presena de alumnio, que txico para avegetao, e pobre em sais minerais. Essas caractersticas interferem no tipo de vegetao.

    A princpio, pensava-se que o desenvolvimento da vegetao do Cerrado era limitado pela escassezde gua, mas as plantas no se comportam como adaptadas s condies de seca. A maioria das plantasdo Cerrado transpira livremente, sem fechar seus estmatos nas horas mais quentes do dia, mesmo noperodo de seca pronunciada. A vegetao apresenta razes profundas, que atingem camadas de soloonde a gua no problema, porque os lenis freticos se encontram a uma grande profundidade, es a camada superficial do solo que sofre com a seca.

    Entre as principais espcies de vegetais, esto a sucupira, o ip do cerrado, a peroba do campo, ojacarand do campo, o angico e grande quantidade de plantas herbceas, como o capim-barba-de-bodee o capim-flecha. Dentre as principais espcies animais, destacam-se o tatu, o tamandu, o veadocampeiro, o lobo-guar, a ona pintada, o sagui, as cutias e inmeras espcies de insetos, incluindo aformiga sava. As aves so poucas; temos a codorna, o periquito e o pica-pau-do-campo. Os rpteisso encontrados nos buracos de tatus, cupinzeiros e sauveiros. O modo de vida subterrneo da maioriados animais parece ser adequado para escapar da forte insolao e a procura de alimento costuma sernoturna.

    A queimada um fator importante atingindo o cerrado. O fogo anualmente ateado pelo homemcom a finalidade de estimular o crescimento da vegetao herbcea para a o pasto. Essa prtica favorece

    a sobrevivncia e crescimento do capim sobre os arbustos. Alm disso, o fogo produz a liberao denutrientes minerais a partir dos detritos secos acumulados. Em longo prazo, o fogo pode ser um fator deempobrecimento do solo em relao aos elementos retirados, que so volatilizados na fumaa, ademais,h destruio de animais, artrpodes, ninhos e ovos de aves.

    4.2.4 Pampas

    So localizados, em sua maioria, no Rio Grande do Sul, onde tambm recebem o nome de Campose estendem-se at o Uruguai e nordeste da Argentina. Ocupam reas de plancies, onde predomina avegetao de gramnea, adaptadas a viver sob insolao, vento, solo seco e baixa pluviosidade.

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    O clima subtropical, com vero quente e inverno bem frio, e as chuvas so regulares e constantes.Prxima a regies de rios ou litorneas, a vegetao mais desenvolvida, surgindo algumas rvores, taiscomo o pau-de-leite, a sombra de touro e o salgueiro. A fauna composta por roedores, raposas docampo, guaraxins etc.

    4.2.5 Mata Atlntica

    Na poca da colonizao do Brasil, a Mata Atlntica cobria a costa brasileira, desde o Cear ato Rio Grande do Sul. Todavia, ao longo dos anos, passou pela explorao de portugueses, franceses eholandeses. Atualmente, s restam de 5 a 8% dela. O pau-brasil, rvore que deu o nome ao pas, eraabundante e hoje encontrada em pontos isolados ou em museus. uma tpica floresta tropical mida equente. considerada um dos biomas mais ricos em espcies, tanto de animais como vegetais; possui omaior nmero de espcies endmicas do mundo e o mais ameaado de extino; e muito semelhante Floresta Amaznica, tanto na composio como na aparncia.

    A Mata Atlntica se dispe sobre uma cadeia de montanhas que acompanha o litoral brasileiro eobriga os ventos midos que sopram do mar a subirem. Com isso, resfriam e o excesso de vapor de gua,que condensa e precipita em forma de nevoeiro e chuva, mantendo o ambiente suficientemente midoe capaz de suportar a floresta densa.

    O solo rico em nutrientes, a quantidade de serapilheira presente grande, originando muito hmus,e as razes so profundas. uma mata estratificada: o estrato superior formado pelas copas das rvores,que chegam a atingir quarenta metros de altura. Entre as principais espcies, temos: jequitib-rosa,pau-brasil, jacarand e peroba. O segundo estrato formado por rvores de porte menor, como: ip,manac, quaresmeira e palmeira. A parte interna da mata possui uma grande variedade de epfitas epteridfitas. A fauna composta por inmeras espcies, tais como: ona-pintada, jaguatirica, capivara,anta, mico-leo-dourado e aves como o macuco, a arapaia etc.

    Exemplo de Aplicao

    Realize uma sinopse do documentrio:

    MATA Atlntica e os ciclos da vida. Dir. Tlio Schargel e Ferno Lara Mesquita. Brasil: Grita filmes;

    Bossanova filmes, 2007. 52 minutos.

    4.2.6 Mata de Araucrias

    Mata tpica de clima temperado, encontrada principalmente nos estados do Paran, Santa Catarinae Rio Grande do Sul. As chuvas so mais distribudas ao longo do ano. Distinguem-se duas estaes:inverno e vero, claramente definidos pela variao de temperatura. Seu nome est relacionado espcie de pinheiro (Araucria angustiflolia), vegetao predominante. O tronco do pinheiro chega aum metro de dimetro com at trinta metros de altura e possui muitas ramificaes; os ramos que ficam

    sombra so eliminados. Devido ao grande valor de sua madeira, vem sendo impiedosamente dizimado.

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    Ao contrrio das florestas, uma mata aberta, onde a vegetao semelhante, e o nmero deespcies tanto vegetais como animais pequeno. Entre as espcies destacam-se canela, imbuia, erva-mate, cedro e algumas epfitas como as samambaias. Entre os animais, existem alguns roedores, insetose aves, como a gralha-azul, que se alimenta do pinho (semente do pinheiro) e a principal dispersorade semente.

    4.2.7 Zona dos Cocais

    Localizada nos estados do Rio Grande do Norte, Cear, Piau e Maranho, considerada uma regiode trnsito entre a Floresta Amaznica, a Caatinga e o Cerrado. Predomina uma vegetao de palmeiras,na qual se destaca o babau, utilizado na explorao do leo; existe tambm a carnaba, que predominaem terrenos alagados, produtora de cera, e o buriti. uma vegetao que resiste ao desmatamento, poisse reproduz em pouco tempo.

    4.2.8 Pantanal

    A regio do Pantanal situa-se nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, estendendo-se pelaBolvia e Paraguai. um ecossistema muito rico em espcies animais e vegetais. A regio est cercadapor terras mais elevadas e, em funo dessa topografia, muitos rios desembocam no Pantanal e seusescoamentos so lentos, favorecendo a entrada de grande quantidade de nutrientes, o que torna o solofrtil. Os rios da bacia do Paraguai extravasam suas guas de outubro a maro, inundando extensasreas; no resto do ano, o solo permanece enxuto. H reas que, mesmo no perodo seco, permanecemalagadas, formando numerosas lagoas.

    A flora do Pantanal muito diversificada, pois apresenta vegetaes comuns a outras regies, comoo Cerrado, a Caatinga, a Mata Densa e as Florestas Ciliares, que acompanham as margens dos rios eservem de abrigo para uma grande variedade de espcies de animais e plantas adaptadas gua. Naslagoas e rios, flutuam aguaps, vitrias-rgias, plantas submersas e, nas margens, plantas de brejo, comoa taboa.

    A fauna constituda principalmente por aves: estima-se que o Pantanal possui a maior concentraode aves do continente, e esto entre as espcies encontradas o martim-pescador, o biguatinga, a gara,o pato selvagem, o jaburu, o colhereiro, o gavio carcar, o tuiui que a ave smbolo do Pantanal e

    a ema, encontrada em pequenos bandos. Outros animais completam a fauna, como a ariranha, a ona, oporco-espinho, os jacars encontrados em bandos numerosos , as capivaras, os pres e as pacas, almde peixes como o pintado, o pacu, a trara e a piranha.

    4.2.9 Vegetao litornea (Dunas, Mangues e Restinga)

    As Dunas localizam-se logo aps os limites atingidos pelas reas de mars altas, ao longo do litoral.Caracterizam-se por suas areias que mudam de lugar de acordo com a direo do vento, apresentaralto teor salino e possuir flora de pequeno porte (as principais espcies so as gramneas). A fauna composta por alguns crustceos, como caranguejos, e aves, como gaivotas.

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    As Restingas esto presentes em quase toda a costa brasileira. So formaes arenosas e resultam damistura de vrios ecossistemas em que vivem espcies de animais e vegetais de continentes, do oceanoe da prpria Restinga. A vegetao mais prxima praia composta de gramneas e medida que seafasta da praia, j apresenta arbustos, palmeiras e algumas espcies de cactceas. A fauna compostapor algumas espcies de rpteis, como os lagartos, e muitos invertebrados, principalmente insetos.

    Os Mangues so ecossistemas encontrados na costa brasileira. Formam-se em locais em que os riosdesembocam no mar, havendo encontro de gua doce com salgada. Apresentam solo lodoso e salgado,pobre em oxignio e rico em nutrientes, que so depositados pelas guas dos rios e oceanos. Toda avegetao dos Mangues est adaptada s reas alagadas: as rvores possuem razes do tipo escoras,para sustentar a rvore no solo lodoso, ou apresentam pneumatforos, razes respiratrias que emergemdo solo.

    Os manguezais so importantes para a reproduo de inmeras espcies, como peixes, camares,

    ostras, caranguejos e muitas outras espcies. A fauna abriga inmeras espcies de aves como gaivotas,garas, socos, gavies e flamingos, alguns rpteis e algumas espcies de caranguejos que vivempermanentemente nesses locais. Uma discusso maior sobre os manguezais se encontra em ecossistemasaquticos, no incio do ttulo trs deste material.

    Observao

    Entre os sistemas ecolgicos naturais, temos os ecossistemas terrestres,baseados na integrao do solo, clima e vegetao, que determinam osdiferentes biomas encontrados, e os ecossistemas aquticos, baseadosem caractersticas fsicas, como salinidade, movimentao das guas eprofundidade. Eles no so classificados como biomas por no possurem oequivalente vegetao terrestre.

    4.3 Desequilbrios ambientais

    A dependncia dos seres vivos em relao s caractersticas do meio ambiente varia muito entre asespcies. Os animais, por exemplo, em seu conjunto, caracterizam-se, antes de tudo, por uma mobilidade

    muito maior que os vegetais. Essa mobilidade os torna muito menos dependentes das condiesambientais que os vegetais em geral. Eles tanto podem procurar o seu alimento como buscar abrigo oufugir de seus inimigos, ou ter ainda mais facilidade que os vegetais em encontrar outros organismos damesma espcie para se reproduzir.

    Os vegetais, sem dispor dessa mobilidade, dependem, essencialmente, da existncia de condiesfavorveis sua vida, no prprio local em que se acham plantados. O ambiente para o vegetal o localfsico, em que ele se encontra fixado, e para o animal, o ambiente, alm de mais amplo, de certa formamais estvel, uma vez que ele pode procurar quase sempre o local que lhe possa oferecer as condiesmais favorveis e mais confortveis. Para o homem, finalmente, que desenvolveu o mais alto graudessa capacidade de deslocamento e de construo de abrigos e refgios, acrescentando a ela uma

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    capacidade exclusiva de condicionar o meio em que vive s suas necessidades, a noo de ambientetomou um sentido totalmente diferente, atingindo seu mais alto grau de estabilidade. Essa aptido nosleva ao conceito de ambiente artificial, em oposio ao ambiente natural.

    Sua capacidade de improvisar ilimitada e ele a utiliza para modificar o ambiente que o cerca, demodo a torn-lo mais adequado ao seu tipo de vida. Alis, o prprio tipo de vida foi por ele modificado,no tendo mais o sentido natural de satisfao de necessidades fisiolgicas bsicas. Surgiram, assim,necessidades ideais, que se traduzem em conforto, padres estticos e satisfao de aptidesintelectuais resultantes da atividade mental, que lhe so peculiares e exclusivas.

    O homem no se acha necessariamente filiado a qualquer tipo de ecossistema. Essa independnciaderiva da capacidade, por ele desenvolvida, de utilizar em seu benefcio vrias fontes fsicas ouqumicas de energia. Essa capacidade lhe permite obter alimentos (energia) a partir de qualquer tipode ecossistema, capturar presas em qualquer ambiente, transformar molculas orgnicas (ou mesmo

    inorgnicas) em produtos de mais fcil assimilao ou, ainda, reduzir gastos fisiolgicos de energiaatravs da mecanizao do seu trabalho e aquecimento do ambiente em que vive.

    O risco de completo desequilbrio dos ecossistemas terrestres existe, pois, como consequncia da

    independncia energtica do ser humano: quanto maior for a facilidade de utilizao direta de uma

    fonte de energia disponvel, menor ser sua fonte de reposio, o sistema de autocontrole natural

    menor e a estabilidade do sistema se torna mais vulnervel a perturbaes, levando falha de

    seu equilbrio. O homem provoca amplas modificaes de seu ambiente ecolgico, provavelmente

    desde que comeou a utilizar o fogo. A queima das matas para o plantio e a devastao de florestas

    para obteno de combustvel deram origem aos primeiros desertos e problemas de eroso. A

    agricultura intensiva em certas regies levou ao esgotamento dos nutrientes minerais da terra e

    sua consequente esterilizao.

    Existem grandes diferenas entre outras comunidades e as sociedades humanas. Na espcie humana,no existem castas biologicamente diferenciadas, todos os elementos da comunidade so potencialmenteiguais e a diviso de trabalho feita por uma soluo resultante, em parte de hbito ou treinamento, emparte de tendncias voluntrias, aptides mentais e presses sociais. Alis, a diferenciao morfolgicateria pouco sentido, uma vez que o homem emprega instrumentos em substituio a rgos naturaispara realizao de seu trabalho.

    O homem, apesar de viver em sociedade, mantm um grau de individualidade que no encontradoem nenhum outro ser vivo. A existncia de uma atividade mental ou consciente d a cada membro dessasociedade uma personalidade, o que implica um alto nvel de originalidade, termo que no se aplicaaos demais seres vivos. Evidentemente, a ausncia de originalidade permite, por exemplo, colnia deinsetos, uma rigidez de estrutura, um automatismo em suas atividades muito maior do que poderiaexistir em qualquer sociedade humana.

    Todos os seres vivos necessitam do meio ambiente para sua sobrevivncia; respiramos o mesmoar, essa matria gasosa que circunda o globo terrestre, constituinte da atmosfera, formado por umamistura de vrios elementos e compostos distintos, e, embora historicamente a sua composio tenha

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    sofrido um processo de evoluo, pode-se considerar que, para fins prticos, a sua composio novaria, pelo menos com relao aos seus componentes principais.

    Do ponto de vista ecolgico, os dois componentes mais importantes do ar so o oxignio e o gscarbnico. O nitrognio , naturalmente, de importncia primordial, como elemento da biomassa dosseres vivos, porm, a sua ocorrncia na atmosfera to grande que as preocupaes com a sua reciclagemso secundrias, muito embora a grande demanda de fertilizantes sintticos venha acumulandoconsideravelmente a quantidade de nitrognio que fixada diretamente no ar por processos industriais.O gs carbnico , essencialmente, originado de calcinaes (tais como as que se realizam durante aatividade vulcnica, a partir de carbonatos) e combustes, merecendo especial destaque, nesse caso,todo o processo de respirao. Por essa razo, nos locais de intensa atividade biolgica, como juntoaos solos cobertos por espessa vegetao ou sobre terrenos pantanosos, rico em matria orgnica emdecomposio, o ar representa maior concentrao de gs carbnico.

    A combusto, naturalmente, substitui o processo normal de decomposio ou de respirao orgnica,produz energia em forma de calor com consumo de oxignio e combustvel com a liberao de gscarbnico. A prpria queima do lcool vem contemplar um processo de reciclagem j iniciado poruma atividade de respirao anaerbica, que a fermentao do acar, no qual no houve consumode oxignio e com pequena liberao de gs carbnico. Porm, na escala em que tais combustes sorealizadas pelo homem, essa fase de reciclagem (a decomposio) torna-se muito mais rpida que afase oposta (de sntese). Reservas fsseis de matria orgnica que foram acumuladas durante centenasde milhes de anos esto sendo extintas em pouco mais de um sculo. Alm disso, a devastao dasflorestas para queima da madeira bem como outras utilizaes e a poluio das guas podem vir acomprometer as fontes de oxignio que permitiram sua reposio.

    Os principais poluentes do ar podem ser classificados quanto sua origem, como poluentesprimrios, aqueles emitidos diretamente pelas fontes, ou poluentes secundrios, formados naatmosfera por interaes qumicas entre os poluentes primrios e constituintes normais daatmosfera; podem ser divididos quanto sua natureza qumica, como compostos sulfurosos,compostos nitrogenados, compostos orgnicos, xidos de carbono, halgenos, matria particuladae compostos radioativos.

    A inalao de dixido de enxofre (SO2), que um dos mais frequentes contaminantes atmosfricos,

    mesmo em concentraes muito baixas, provoca espasmos passageiros dos msculos lisos dos brnquiospulmonares e, aumentando-se progressivamente essas concentraes, observa-se aumento da secreomucosa nas vias respiratrias superiores e depois inflamaes graves nas mucosas. Todos esses sintomasso agravados quando o ar frio. Ocorre reduo do movimento ciliar no trato respiratrio, cuja funo eliminar o excesso de muco e partculas estranhas. Todos esses efeitos atuam de maneira prejudicial respirao e funo dos pulmes. A exposio contnua dos seres humanos a esse gs desenvolve umaresistncia moderada. Em alguns casos, pode ocorrer o contrrio: a presena constante do gs provocaaumento de sensibilidade, como uma reao alrgica. Em certas condies, o SO

    2pode se transformar

    em xido sulfrico (SO3) em reaes mediante a absoro de energia solar. Esse gs ainda mais irritante

    s vias respiratrias que o primeiro.

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    As plantas, em geral, so sensveis a concentraes muito mais baixas de SO2que as necessrias

    para produzir consequncias no homem. Parece que os efeitos so devidos ao redutora do gs, ecaracterizam-se por alteraes no processo fotossinttico e at mesmo pela produo de leses nasfolhas, que podem levar sua morte. Outro efeito que tem sido observado com relao exposio aoSO

    2e outros contaminantes atmosfricos o caracterizado por uma reduo da resistncia das plantas

    ao das pragas.

    Alm dos casos mais ou menos crnicos que afetam as grandes cidades, observa-se uma coincidnciada emisso de gases ou partculas nocivas com determinadas condies atmosfricas que favorecem oaumento da sua concentrao no ar ou ainda permitem a realizao de reaes qumicas. Entre essascondies, destacam-se a presena de alta umidade relativa, que permite a formao de gotculas degua que se combinam, por exemplo, aos gases sulfurosos, originando cido sulfrico, e um outrofenmeno conhecido por inverso trmica, resumido a seguir.

    Normalmente, junto superfcie do solo, o ar est em constante movimento vertical, devido aoprocesso de conveco, causado pelo aquecimento dessa superfcie pelas radiaes do Sol. Ao irradiarcalor, o Sol aquece a camada atmosfrica em contato imediato com ele, reduzindo sua densidade, oque o movimenta o ar para cima, originando uma corrente ascendente. Esse movimento faz com queo ar mais frio que se situava em cima venha para junto do solo, ocupando o lugar deixado pelo araquecido, estabelecendo-se, assim, a circulao vertical, responsvel por uma contnua ventilao daregio, dispersando e diluindo rapidamente as fumaas e gases eventualmente emitidos por indstrias,veculos e outras atividades junto ao solo.

    Condies desfavorveis podem, entretanto, inverter a disposio das camadas atmosfricas.Principalmente no inverno, pode ocorrer um rpido resfriamento do solo ou um rpido aquecimentodas camadas superiores. Nessas condies, o ar quente, ficando por cima da camada de ar frio,funciona como um tampo impedindo qualquer movimento vertical: o ar frio no sobe porque mais pesado e o ar quente no desce por ser leve. Quando isso acontece, as fumaas e gasesno so dissipados por correntes verticais, os ventos so fracos e as plumas de fumaa assumemposio horizontal, tendendo a colar-se ao solo. A regio toda fica como que encerrada emuma campnula invisvel que impede a sada dos gases. Consequentemente, a concentrao desubstncias nocivas aumenta muito.

    Outro fenmeno meteorolgico que pode relacionar-se com a poluio atmosfrica o das repentinasquedas de presso provocadas pelas sbitas elevaes de temperatura. Nesse caso, gases que se achamdissolvidos em rios poludos, como o gs sulfdrico, podem desprender-se em grande quantidade, j quesua solubidade na gua diretamente proporcional presso atmosfrica.

    O mais abundante poluente gasoso existente na atmosfera das cidades o monxido de carbono(CO). Ao mesmo tempo, este constitui um dos mais perigosos txicos respiratrios para o homem eoutros animais. Em face de sua grande afinidade qumica pela hemoglobina do sangue, ele tende acombinar-se rapidamente com ela ocupando, de certa forma, o lugar que era destinado ao transportede oxignio, o que causa morte por asfixia. Acidentes desse tipo ocorrem com certa frequncia, compessoas fechadas em garagens com um automvel em funcionamento. A presena permanente de

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    baixas concentraes de monxido de carbono no ar pode ser causa de afeces de carter crnico e serparticularmente nociva a pessoas anmicas e com deficincias respiratrias ou circulatrias.

    A principal fonte de emisso de monxido de carbono a combusto incompleta de carvo epetrleo. Por outro lado, verifica-se uma rpida destruio do monxido de carbono nas poresinferiores da estratosfera. Na superfcie do solo tambm pode haver destruio do monxido decarbono por ao biolgica. Conhecem-se fungos do solo que absorvem grandes quantidadesde CO, constituindo, provavelmente, um importante agente controlador nas regies de grandeemisso de gs. Plantas superiores tambm manifestam essa capacidade de absorver o CO, emboramais levemente.

    As indstrias de fertilizantesfosfatados contribuem com quantidades significativas de flor paraa atmosfera, a partir de fluoretos que se encontram nas rochas de fosfatos. Tambm as indstrias dealumnio empregam criolita liberando flor no ambiente, em forma de gs ou de partculas. O flor

    altamente txico s plantas que o absorvem atravs dos estmagos das folhas. Pelo ar, o flor noexerce efeito nocivo direto sobre os animais, mas os herbvoros podem ser intoxicados alimentando-sede plantas com teor elevado do txico, passando a apresentar fluorose, que se caracteriza por alteraespatolgicas nos ossos.

    Concentraes prejudiciais do cloro na atmosfera podem ser originadas, tambm, de certasatividades humanas. A decomposio fotoqumica de aerossis formados a partir dos antidetonantesempregados nos veculos a gasolina produz tomos de cloro. Outra importante fonte constitudapela queima de polmeros orgnicos colorados, como os plsticos de cloreto de polivinil. A incineraode lixo, como medida de saneamento das cidades, pode introduzir esse grave inconveniente. Emborao homem somente seja afetado por concentraes relativamente altas e no usuais de cloro no ar, asplantas, entretanto, so extremamente sensveis essa ao txica. O iodo pode ser tambm originadoda combusto de petrleo. Alm disso, o iodo radioativo pode resultar da fisso nuclear e como atireoide tende a acumul-lo em altas concentraes, vrios estudos tm sido efetuados nesse sentido.A vegetao parece constituir importante controlador, absorvendo quantidades apreciveis de iodoradioativo.

    Do ponto de vista do desenvolvimento de vegetais, a degradao do solo tem importnciafundamental. O solo essencial como elemento de fixao das razes e como fornecedor de elementos

    qumicos e gua, que so indispensveis sua nutrio e crescimento. A capacidade do solo dedesempenhar essas funes depende muito de sua estrutura fsica, capacidade de fornecimento degua, circulao de ar e propriedades qumicas e fsico-qumicas.

    Com efeito, o maior problema ecolgico existente est nas florestas tropicais, com a grandeprofundidade e permeabilidade dos solos. As abundantes chuvas que caem constantemente na regioamaznica dissolvem os elementos minerais da superfcie conduzindo-os rapidamente para grandesprofundidades do solo arenoso. As rvores de grande porte, caractersticas da regio, possuem,entretanto, longas razes capazes de captar esses sais dissolvidos, trazendo-os para a planta. Ossais minerais, depois de cumprirem com seu ciclo no interior da planta, so novamente restitudos superfcie, na forma de compostos orgnicos das folhas, flores, frutos e ramos que caem no solo.

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    Ento, graas ao decompositora dos microrganismos saprfitos, os elementos qumicos resultantesda decomposio voltam a incorporar-se ao meio, formando um manto frtil superfcie, o qualpossibilita o desenvolvimento das plantas menores e a germinao de semente das grandes rvores,completando-se dessa forma, o ciclo.

    Entretanto, se a manta for derrubada ou queimada, o manto frtil que permanece garante odesenvolvimento das plantaes apenas por pouqussimos anos, uma vez que as chuvas arrastam oselementos para profundidades que no so atingidas pelas curtas razes de vegetais como milho, feijoetc. Em pouco tempo, o terreno arenoso lavado ou lixiviado continuamente pelas chuvas abundantestorna-se completamente estril, assumindo o aspecto de um deserto de areias brancas.

    Outros aspectos importantes da atividade biolgica dos solos so: a produo de matrias coloidais,que auxiliam, como j vimos, na formao de aglomerados de partculas, favorecendo a circulao de are fixao de nutrientes; o revolvimento do solo praticado pelas minhocas e outros animais, que alm de

    contriburem para a sua aerao misturam folhas em decomposio e os seus prprios excrementos coma terra, aumentando sua fertilidade; os fungos que vivem em associaes com as razes dos pinheiros,produzindo substncias de tal importncia para o desenvolvimento da planta hospedeira, que incapazde crescer sem o seu auxilio; as bactrias que, desenvolvendo-se nas razes das plantas de feijo eoutras leguminosas, so responsveis pelo fornecimento de nitrognio sem o qual elas no cresceriamnormalmente.

    O impacto das gotas de chuva sobre o solo provoca a desagregao e o deslocamento das partculas,facilitando seu transporte horizontal por ao das enxurradas. Dessa forma, grandes quantidadesde solo so deslocadas das regies mais altas para os vales, rios, lagos e oceanos, fenmeno que denominado eroso. So significativos os prejuzos causados pela eroso, sob vrios aspectos: elaremove a camada mais superficial do solo, isto , exatamente o manto frtil, onde se do os fenmenosbiolgicos mais importantes da decomposio de matrias orgnicas e outras atividades condicionantesdas caractersticas essenciais ao desenvolvimento da vegetao agrcola e florestal; por outro lado, oacmulo do solo transportado, em regies mais baixas, pode trazer tambm graves inconvenientes,como, por exemplo, o rpido assoreamento de rios, lagos e represas, podendo provocar enchentes devidoao entulhamento e consequente transbordamento dos rios. Em casos extremos, a eroso pode provocara formao de profundos sulcos com muitos metros de profundidade, que recebem a denominao devoorocas.

    O fenmeno daerosoest na dependncia de vrios fatores, sendo que os principais so: quantidadee intensidade das chuvas, estrutura e composio geolgica do terreno, declividade e cobertura vegetal.As principais causas geralmente apontadas para a eroso acelerada so: o desmatamento, as queimadas,a agricultura e as pastagens. A substituio da mata original por plantaes, geralmente, revela-sealtamente prejudicial para a qualidade e fixao do solo. preciso lembrar que a mata representa umasituao de clmax ecolgico, isto , uma situao de perfeito equilbrio dinmico atingido em milharesde anos de progressivas adaptaes. Nessas condies, as vrias atividades de produo, consumo,decomposio e reciclagem de materiais so realizadas de forma perfeitamente balanceada, o quecondiciona, entre outras coisas, a manuteno das condies ideais de solo, isto , ele recondicionadociclicamente medida que dele so retirados elementos nutritivos. Alm disso, a cobertura vegetal

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    produz sombra, que impede a ao direta das radiaes calorficas do Sol sobre o hmus, amortece oimpacto das chuvas etc.

    As plantaes de milho, feijo, algodo, cana-de-acar e todos os vegetais de produo anual,alm de deixarem o solo nu durante boa parte do ano, no recirculam materiais componentes dosolo. Mesmo as plantaes perenes como o caf possuem razes muito superficiais e incapazes de irbuscar os sais minerais que foram lixiviados e arrastados para maiores profundidades; sendo espaadasentre si, seus sistemas radiculares abrangem apenas uma parcela da superfcie do solo, no agindo,pois, como elementos fixadores das partculas contra o arrastamento mecnico pelas enxurradas; noproduzem sombra e no amortecem suficientemente o impacto das gotas de chuva; finalmente, asplantas cultivadas no recirculam completamente os materiais do solo, uma vez que delas so retiradosprodutos nutritivos para o prprio homem.

    As pastagens aproximam-se mais de uma situao ecolgica equilibrada do que as plantaes. Isso

    porque naquelas os detritos e resduos da atividade biolgica dos animais permanecem no prpriolocal, reciclando os elementos retirados e recondicionando o solo. Naturalmente, esse fato verdadeiroenquanto o gado permanece ali, lanando suas fezes e urina, pois a tendncia cada vez maiorao confinamento das reses est desfazendo essa possibilidade de recirculao natural e, ao mesmotempo, criando problemas de poluio de rios. Modernos estbulos e pocilgas cimentadas so lavadoscontinuamente, fazendo com que todo o esterco a produzido seja arrastado para os rios, em lugarde voltar para o lugar de origem. Nas granjas, as aves defecam atravs de estrados, em estrumeiras,originando srios problemas de proliferao de moscas e outros insetos, que no ocorreriam se fossemnormalmente espalhados nos terreiros de criao.

    A necessidade de se obter cada vez maior produo de vegetais por rea de terra, a fim deatender crescente demanda de alimentos, a produo e aplicao de adubos sintticos vmsendo intensificada progressivamente. Quando os alimentos ingeridos pelo homem possuem umaproporo muito alta de nitrato, h o risco de transformao deles em nitritos, no prprio organismoou durante a preparao do alimento, os quais se combinam hemoglobina do sangue causandoum grave estado patolgico denominado metemoglobinemia, caracterizado pela incapacidade dosangue em fixar o oxignio do ar, e particularmente perigoso em crianas. O mesmo fenmenoocorre quando se ingere gua com elevado teor de nitratos, razo por que esses compostos estosujeitos a rigoroso controle nas guas de abastecimento. Ora, tanto a gua quanto os alimentos

    vegetais esto sujeitos contaminao pelo excesso de nitrognio aplicado ao solo. O espinafre apontado como planta particularmente capaz de concentrar nitratos em suas folhas. Impurezasmais comuns encontradas em superfosfatos comerciais (adubos sintticos) so: arsnio, cdmio,cromo, cobalto, cobre, chumbo, nquel, selnio, vandio e zinco.

    O acmulo de arsnio e de metais pesados, de pouca mobilidade no solo, representa risco deesterilizao, alm de ameaa para os consumidores dos vegetais que a se desenvolvem. Considerando-seque esses elementos permanecem at por dezenas de anos nas camadas superficiais do solo, fcilprever que o uso continuado dos adubos sintticos pode levar a uma grande potencializao de suasconcentraes e de seus efeitos nocivos.

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    Aplicam-se fungicidas e inseticidas, mas a sua ao pouco especfica. Assim, o fungicida poder,por hiptese, destruir outros fungos que so parasitas de insetos nocivos, ou poder destruir elementosda flora indispensveis boa composio do solo, reduzindo a produtividade. O inseticida, por outrolado, destruir insetos predadores, tais como o louva-a-deus e aranhas, que so grandes destruidoras depragas, ou eliminar abelhas e outros insetos polinizadores da prpria planta cultivada, reduzindo suaproduo de frutos. Alm disso, se existirem insetos nocivos resistentes ao inseticida empregado, estespassaro a desenvolver-se muito mais que antes, quando viviam em competio com os outros.

    Algumas vezes, a ao do inseticida chega a ser muito mais nociva prpria plantao do que oprprio parasita. Isso acontece quando o inseto parasita mais resistente do que seu predador natural ao do inseticida. Antes da Segunda Guerra Mundial, os inseticidas mais empregados, especialmentepara uso domiciliar, eram produzidos atravs de extratos vegetais, como a roteona e a piretrina que,embora dotados de menor eficincia, eram praticamente incuos sade humana e de pequeno efeitoresidual. Somente em certos casos, como na destruio de formigueiros, eram empregados compostos

    de grande ao txica, tais como gases sulfurosos, arsenicais ou cianetos, mas sempre aplicados deforma controlada.

    A necessidade de combater os piolhos transmissores do tifo exantemtico que causava inmerasbaixas nos exrcitos aliados levou os laboratrios norte-americanos a industrializarem um novo produtodescoberto na Sua em 1925, denominado DDT, o qual se revelou, desde logo, uma poderosa armacontra os insetos. Alm de sua surpreendente eficincia como inseticida, o DDT assim como outrosprodutos organoclorados apresentava aparente inocuidade ao homem e prolongado efeito residual,permanecendo ativo durante vrios meses aps sua aplicao. Terminada a guerra, esses produtoscomeam a ter largo emprego no combate aos insetos domsticos, bem como no controle das pragasda lavoura. Surpreendentemente, entretanto, o poder fulminante do DDT sobre os insetos comeoua decrescer com grande rapidez. A populao de moscas domsticas, por exemplo, que inicialmenteera dizimada com pequenas doses do inseticida, passou a apresentar crescente imunidade contra ele,exigindo o emprego de doses cada vez maiores e aplicaes cada vez mais repetidas. O mesmo sucedeucom o pernilongo comum, os mosquitos transmissores da malria e as pragas da lavoura.

    Na verdade, no se tratava de uma adaptao individual dos insetos ao txico, como geralmente suposto, mas sim de um fenmeno de seleo de exemplares resistentes da populao de insetos.Iniciou-se, ento, o uso de uma nova famlia de inseticidas sintticos: os organofosforados, que, embora

    mais txicos ao homem que os primeiros e dotados de menos efeito residual, apresentam a vantagem deno criar resistncia. A partir desse ponto, identificamos a magnificao trfica: os organoclorados, nosendo biodegradveis, tendem a acumular-se no meio e podem ser concentrados ou potencializados aolongo das cadeias alimentares. Absorvidos do solo pelas plantas (pastagens, por exemplo), acumulam-senelas sem ser eliminados. O gado, ao comer grandes quantidades desses vegetais, acumula em seuorganismo quase todo o inseticida ingerido, de tal forma que o leite ou a carne chegam a possuirconcentraes centenas ou milhares de vezes maiores que as existentes no solo. Alm disso, mais dametade da substncia ativa dos inseticidas aplicados passam diretamente para o ar atmosfrico nomomento da aplicao. Isso faz com que a rea de disperso do txico seja muito maior do que apretendida. Por essa razo, tm sido encontradas pequenas quantidades de inseticidas clorados em solosonde eles jamais haviam sido aplicados.

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    Unidade II

    Os resduos slidosde uma cidade so constitudos, predominantemente, por slidos resultantesda utilizao e por vegetais. Portanto, o resultado do transporte unidirecional de elementos dosecossistemas florestais e agrcolas; unidirecional, porque s excepcionalmente as cidades recirculamessas matrias, transformando-as em composto ou adubo para serem devolvidas aos solos agrcolas. Emgeral, isso no feito: o lixo amontoado ao redor das cidades, criando problemas de proliferao demoscas e outros insetos, resultando na maior utilizao de inseticida. Alm dos resduos vegetais comorestos de comida, papis e papeles, panos, madeiras etc., o lixo contm resduos de origem animal,como carnes, ossos, couro e laticnios, resduos de origem mineral, tais como latas, vidros e loua e,finalmente, sintticos como os plsticos.

    O padro de vida e os costumes de um povo podem ser analisados pelos resduos gerados (dao grande interesse arqueolgico dos monturos das cidades pr-histricas). A sua composio refletesignificativamente a tendncia cada vez mais acentuada da no reciclagem dos materiais. Os processosde decomposio so, essencialmente, processos de nutrio e respirao dos micro-organismos, cuja

    respirao pode ser aerbia ou anaerbia.

    O lixo, constitudo em grande parte de matrias orgnicas, entra rapidamente em decomposio.No havendo resolvimento peridico dessa massa orgnica, o oxignio disponvel no seu interior rapidamente consumido pela atividade bacteriana, dando lugar a uma decomposio anaerbia, comdesprendimento de gases e formao de um liquido escuro, cido e malcheiroso, o chorume, o qualse infiltra no solo e contamina as guas superficiais e subterrneas. Moscas e outros insetos deposi