união de facto

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União de facto, em Portugal , é um instituto jurídico que regulamenta a convivência entre duas pessoas sem que a mesma seja oficializada de alguma forma (como, por exemplo, através do casamento civil). No Brasil , essa convivência fática é tratada de duas formas: união estável , quando o homem e a mulher convivem sem que haja impedimento de se casarem (artigos 1.723 a 1.726 do Código Civil) e concubinato , quando homem e mulher têm relações não eventuais mas ao menos um deles é impedido de casar (artigo 1.727 do Código Civil). [1] As uniões entre pessoas do mesmo sexo, no Brasil, não são regulamentadas em lei, havendo, contudo, decisões judiciais que lhes reconhecem efeitos jurídicos similares às uniões previstas em lei. Portugal A Lei n.º 135/99, de 28 de Agosto veio dar protecção legal a pessoas de sexo oposto que vivam em em comunhão de habitação, mesa e leito há mais de dois anos mas que não tenham um vínculo de Casamento . Mesmo antes da Lei nº 135/99 já existiam situações em que era reconhecida a situação de união de facto embora sem essa identificação formal como era o caso, por exemplo, da transmissão dos contratos de arrendamento, a presunção de paternidade e regime de férias. Algumas destas protecções estavam garantidas por diversas leis datando desde 1976. No dia 15 de Março de 2001 a Assembleia da República Portuguesa votou um novo texto que estendia a protecção a casais do mesmo sexo (excepto adopção) além de enumerar as situações em que a união de facto era dissolvida e fazer outros pequenos ajustes no texto legal. Esta Lei foi aprovada com os votos favoráveis do PCP , PEV , BE e PS excepção dos 3 deputados independentes humanistas-cristãos) e ainda com 4 votos favoráveis do PSD (grupo de deputados da JSD ). A lei de protecção nas uniões de facto foi publicada no Diário da República , I Série-A, n.º 109, de 11 de Maio, como Lei n.º 7/2001. [2] A nova lei de Economia Comum foi publicada na mesma data: Lei n.º 6/2001. [3] Beneficiários

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união estável

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Unio de facto, em Portugal, um instituto jurdico que regulamenta a convivncia entre duas pessoas sem que a mesma seja oficializada de alguma forma (como, por exemplo, atravs do casamento civil). No Brasil, essa convivncia ftica tratada de duas formas: unio estvel, quando o homem e a mulher convivem sem que haja impedimento de se casarem (artigos 1.723 a 1.726 do Cdigo Civil) e concubinato, quando homem e mulher tm relaes no eventuais mas ao menos um deles impedido de casar (artigo 1.727 do Cdigo Civil).[1] As unies entre pessoas do mesmo sexo, no Brasil, no so regulamentadas em lei, havendo, contudo, decises judiciais que lhes reconhecem efeitos jurdicos similares s unies previstas em lei.

Portugal

A Lei n. 135/99, de 28 de Agosto veio dar proteco legal a pessoas de sexo oposto que vivam em em comunho de habitao, mesa e leito h mais de dois anos mas que no tenham um vnculo de Casamento.

Mesmo antes da Lei n 135/99 j existiam situaes em que era reconhecida a situao de unio de facto embora sem essa identificao formal como era o caso, por exemplo, da transmisso dos contratos de arrendamento, a presuno de paternidade e regime de frias. Algumas destas proteces estavam garantidas por diversas leis datando desde 1976.

No dia 15 de Maro de 2001 a Assembleia da Repblica Portuguesa votou um novo texto que estendia a proteco a casais do mesmo sexo (excepto adopo) alm de enumerar as situaes em que a unio de facto era dissolvida e fazer outros pequenos ajustes no texto legal. Esta Lei foi aprovada com os votos favorveis do PCP, PEV, BE e PS ( excepo dos 3 deputados independentes humanistas-cristos) e ainda com 4 votos favorveis do PSD (grupo de deputados da JSD). A lei de proteco nas unies de facto foi publicada no Dirio da Repblica, I Srie-A, n. 109, de 11 de Maio, como Lei n. 7/2001.[2] A nova lei de Economia Comum foi publicada na mesma data: Lei n. 6/2001.[3]Beneficirios

A lei aprovada regula a situao jurdica de duas pessoas, independentemente do sexo, que vivam em unio de facto h mais de dois anos (este prazo no contabilizado a partir da sada da lei mas sim a partir do incio da UF).

Excepes: ter menos de 16 anos, demncia, estar casado/a, serem parentes prximos, ter sido condenado/a por homicdio doloso.

Direitos e deveres

Proteco da casa de morada de famlia - em caso de morte do proprietrio ou arrendatrio da casa, o companheiro/a tem preferncia na compra ou continuao do arrendamento durante cinco anos.

Benefeciar do regime jurdico de frias, faltas, licenas e preferncia na colocao dos funcionrios da Administrao Pblica equiparado ao dos cnjuges.

Aplicao do regime do imposto de rendimento das pessoas singulares nas mesmas condies dos sujeitos casados.

Proteco na eventualidade de morte do beneficirio, pela aplicao do regime geral da segurana social e da Lei.

Prestao por morte resultante de acidente de trabalho ou doena profissional.

Penso de preo de sangue e por servios excepcionais prestados ao pas.

Imposto de Rendimento de pessoas Singulares (a entrega conjunta da declarao de IRS, por ter repercusses oramentais, s pde ser feita a partir do ano fiscal de 2002. No havendo qualquer registo da UF o IRS poder funcionar como prova da existncia da mesma que permitir o acesso aos direitos de casa, trabalho e penses).

Direco Geral de Proteco Social aos Funcionrios e Agentes da Administrao Pblica (ADSE)

A partir de 2006 os funcionrios do estado passam a poder inscrever de forma equivalente a cnjugue a pessoa com quem vivem em unio de facto h mais de dois anos. Esta possibilidade foi formalizada com a publicao da Portaria N 701/2006 de 13 de Julho, publicada no Dirio da Repblica, 1. Srie, n. 134 (em cumprimento da nova redaco publicada no Decreto-Lei n.o 234/2005, de 30 de Dezembro do Decreto-Lei n.o 118/83, de 25 de Fevereiro)

Nacionalidade portuguesa (a partir de 15 de Dezembro de 2006 passa a ser possvel requerer a nacionalidade por um estrangeiro que viva em unio de facto h mais de trs anos com um cidado portugus (Decreto-Lei n.o 237-A/2006 de 14 de Dezembro).

Alm destes direitos, h muitas outras situaes na legislao nacional em que as unies de facto so reconhecidas, ou foram reconhecidas no passado, entre elas incluem-se:

Possibilidade de acesso ao perfil de ADN da pessoa com quem se vive em unio de facto (Lei n. 5/2008 de 12 de Fevereiro)

Transmisso de Arrendamento Rural na Regio Autnoma dos Aores (Decreto Legislativo Regional n. 29/2008/A)

Proteco nos encargos familiares como Abonos de Famlia e Subsdio de Funeral (Decreto-Lei n. 176/2003 de 2 de Agosto)

Reconhecimento ao direito ao complemento solidrio para idosos (Decreto Regulamentar n. 14/2007)

Usufruto das Casas de funo atribudas a funcionrios pblicos (Decreto-Lei n. 280/2007 de 7 de Agosto)

Concesso de visto para acompanhamento familiar (Decreto Regulamentar n. 84/2007 de 5 de Novembro)

Aplicao do programa de apoio financeiro Porta 65 Arrendamento por Jovens (Decreto-Lei n. 308/2007 de 3 de Setembro)

Aplicao do PROHABITAPrograma de Financiamento para Acesso Habitao (Decreto-Lei n.o 54/2007 de 12 de Maro)

Cdigo PenalAlteraes efectivas a partir de 15 de Setembro de 2007 aprovadas pela Lei 59/2007 de 4 de Setembro.[4]Nota: No claro no texto legal se estes se aplicam a pessoas em unio de facto h mais de dois anos ou se qualquer durao admissvel.

Art 113Cdigo Penal - Titulares do direito de queixa Pessoas em unio de facto independentemente do sexo podem constituir-se Assistente em Processo Penal em nome do parceiro falecido.

Art 132Cdigo Penal - Homicdio Qualificado Pessoas em unio de facto independentemente do sexo que sejam culpadas de homicdio do parceiro passam a ser enquadradas no homicdio qualificado e so sujeitas a uma pena de 12 a 25 anos.

Art 152Cdigo Penal - Violncia Domstica Quem, de modo reiterado ou no, infligir maus tratos fsicos ou psquicos, incluindo castigos corporais, privaes da liberdade e ofensas sexuais a pessoa que viva em unio de facto independentemente do sexo so punveis com pena de 1 a 5 anos.

Art 154Cdigo Penal - Coaco Passa a depender de queixa mesmo para situao em unio de facto independentemente do sexo.

Art 364Cdigo Penal - Atenuao especial e dispensa da pena (359., 360. e 363) Passa a ser aplicvel a casais em unio de facto independentemente do sexo.

Art 367Cdigo Penal - Favorecimento pessoal A situao de no punivel, ponto 5, passa a ser aplicvel a casais em unio de facto independentemente do sexo.

Casais do mesmo sexo vs. casais de sexo oposto

O direito adopo consignado "s pessoas de sexo diferente que vivam em UF".

De resto a lei aplicvel que a casais constitudos por duas pessoas do mesmo sexo, quer por duas pessoas de sexo oposto.

Casamento civil vs. unio de facto

Muitos dos direitos concedidos pelo casamento civil no so aplicveis s unies de facto: o direito de herdar o patrimnio comum, o direito de visita a hospitais e prises.

Ao contrrio do casamento que tem efeitos imediatos a unio de facto s aplicvel aps dois anos de vida em comum. Note-se que a unio de facto, ao contrrio do casamento, no tem de ser reconhecida oficialmente pelas duas pessoas para ter efeitos legais: as proteces na lei so aplicveis por defeito a qualquer unio a partir do momento que se cumpram dois anos de vida comum.

O regime fiscal de entrega conjunta de IRS opcional para as pessoas em unio de facto (podem, sua escolha, entregar uma declarao conjunta ou duas separadas). As pessoas casadas (que no estejam "separadas de facto") so obrigadas a entregar uma declarao conjunta.

A unio de facto no tem obrigaes automticas do casamento civil como a obrigao de apoio, responsabilidade pelas dvidas contradas, obrigao de fidelidade, etc. Alguns destes direitos em particular j foram parcialmente obtidos caso a caso recorrendo aos tribunais.

Reconhecimento Familiar de Unio Entre Pessoas do Mesmo Sexo

Com a edio de 2001 da lei de Unio de Facto foi at certo ponto legalmente reconhecido e legitimado pelo Estado Portugus o carcter familiar das relaes entre pessoas do mesmo sexo apoiado no conceito de Casa de morada de famlia utilizado no texto legal. Desde 1999 que existia uma lei de Unio de Facto apenas aplicvel a pessoas de sexo oposto que foi ajustada nesta reviso.

Note-se que "carcter familiar" e "famlia" no so necessariamente a mesma coisa. O art.36 da Constituio reconhece a todos os indivduos residentes em territrio Portugus o direito de casar e de constituir famlia. A dissociao entre os direitos (casar e constituir famlia) levou diversos sectores doutrinais a sugerir que havia ali um reconhecimento constitucional de formas alternativas de famlia alm do casamento.

O art.1576 do Cdigo Civil Portugus estabelece como fontes de relaes familiares o casamento, o parentesco, a afinidade e a adopo. A adopo da Lei n.7/2001 dividiu a doutrina no sentido de saber se a unio de facto constitua uma nova fonte de relaes familiares. Os sectores mais progressistas, encabeados por Gomes Canotilho e Vital Moreira, concluram pela afirmativa. Os sectores mais conservadores, encabeados por Rita Lobo Xavier, aconselharam mais precauo no sentido da classificao de uma relao como "famlia" afirmando que existem formas alternativas de vida que no integram necessariamente o conceito de famlia (como o caso da "economia em comum" aplicvel a pessoas que vivam apenas em comunho de mesa e habitao ou no caso dos casamentos polgamos).

Economia comum

A Lei da Economia Comum no tem subjacente a existncia de uma relao afectiva; diz respeito a pessoas que vivam em comunho de mesa e habitao, podendo ser aplicada a mais de duas pessoas independentemente do seu gnero. Os direitos previstos no incluem penses de qualquer tipo, tudo o resto semelhante aos direitos base da Lei de Unio de Facto com adaptaes para as situaes com mais de duas pessoas. Direitos previstos em outros textos legais (como Cdigo Penal) que referem a Unio de Facto no se aplicam Economia Comum.

No Brasil

No Brasil a unio de fato, entre um homem e uma mulher que no tm impedimento de se casarem, recebe o nome de "unio estvel", regulamentando a convivncia entre duas pessoas sem que seja oficializado o casamento civil.

Aps a Constituio Federal de 1988 reconhecer como entidade familiar a unio estvel entre um homem e uma mulher a Lei 8.971 de 1994 regulou a unio estvel que antes s recebia tutela dos tribunais como sociedade de fato, concedendo os primeiros direitos aos companheiros como a partilha dos bens adquiridos com a colaborao mtua, e um limitado direito de herana. Os direitos sociais ento, j eram concedidos companheira pelas leis da previdncia e regimes tributrios eram possveis no caso de um companheiro(a) ser economicamente "dependente" do outro.

No atual Cdigo Civil o artigo 1.723 disps a unio estvel exatamente nesses termos: " reconhecida como entidade familiar a unio estvel entre o homem e a mulher, configurada na convivncia pblica, contnua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituio de famlia".

A Lei 9.278/96 (Lei da Unio Estvel), chamada "Lei dos Conviventes", assim definiu a unio estvel em seu artigo 1: " reconhecida como entidade familiar a convivncia duradoura, pblica e continua, de um homem e de uma mulher, estabelecida com objetivo de constituio de famlia".

A Lei 9.278/96, no estabeleceu prazo mnimo de convivncia, tampouco fez meno existncia de filhos como requisito para a sua confirmao. Somente exigiu a inteno de constituir famlia, independente do estado civil das pessoas envolvidas. A estabilidade est associada idia de continuidade da relao e durabilidade da convivncia. A publicidade ou notoriedade da unio caracterstica de suma importncia no aspecto processual, pois se trata de elemento probatrio imprescindvel quando se questiona a vinculao entre os companheiros.

A Lei 9.278 de maio de 1996, no derrogou seno parcialmente a primeira, mas avancou com estabelecimento de direitos e deveres recprocos entre os companheiros, o estabelecimento de um regime de comunho parcial de bens e a previso de dissoluo inter vivos da unio e seus efeitos dentre os quais, penses e partilha de bens.

O novo Cdigo Civil Brasileiro (Lei n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002) aplainou as arestas restantes do instituto da unio estvel tornando-a um sucedneo muito semelhante ao casamento civil, a ela aplicveis quase todas as normas do direito de famlia.

No texto legal, a unio vedada nos mesmos casos de impedimento do casamento, razo pela qual no seria possvel a duas pessoas do mesmo sexo, posto que, como o casamento, a unio estvel definida como a unio entre um homem e uma mulher. No entanto, a constitucionalidade dessa vedao no pacfica no judicirio brasileiro, havendo jurisprudncia em contrrio.[5]A unio estvel no era reconhecida a pessoas j casadas, mas com o advento do Novo Cdigo Civil, h previso quanto a pessoas casadas quanto buscando separao judicialmente ou apenas separados de fato (art. 1.723, 1).

O novo Cdigo Civil, ao par de soerguer a unio estvel a patamares jurdicos bem prximos ao do casamento, no artigo 1.727 restabeleceu a figura do concubinato como relaes no eventuais entre um homem e uma mulher impedidos de casar.

Independente de qualquer registro ou formalidade, a caracterizao da unio estvel d-se factualmente com a convivncia dos companheiros more uxorio (como casados) por cinco anos[carecede fontes?], ou antes disto com o nascimento de filho. A Lei 9.278/96 no estipula prazo mnimo de convivncia para a caracterizao de unio estvel.

O Superior Tribunal de Justia j decidiu que se h pelo menos a separao de fato, possvel a caracterizao como unio estvel, no sendo possvel, por outro lado, a concubina concorrer com a esposa, se no houve separao de fato: "A unio estvel pressupe a ausncia de impedimentos para o casamento, ou, pelo menos, que esteja o companheiro(a) separado de fato, enquanto que a figura do concubinato repousa sobre pessoas impedidas de casar. Se os elementos probatrios atestam a simultaneidade das relaes conjugal e de concubinato, impe-se a prevalncia dos interesses da mulher casada, cujo matrimnio no foi dissolvido, aos alegados direitos subjetivos pretendidos pela concubina, pois no h, sob o prisma do Direito de Famlia, prerrogativa desta partilha dos bens deixados pelo concubino. No h, portanto, como ser conferido status de unio estvel a relao concubinria concomitante a casamento vlido" (Recurso Especial 931155/RS, Relatora Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/8/2007).

Gradao entre casamento, unio estvel e concubinato

Ainda que a unio estvel deva ter a proteo do Estado, conforme disposio constitucional, o STF j decidiu que o instituto inferior ao casamento: "A essa orientao, no se ope a norma do 3 do art. 226 da Constituio de 1988, que, alm de haver entrado em vigor aps o bito do instituidor, coloca, em plano inferior ao do casamento, a chamada unio estvel, tanto que deve a lei facilitar a converso desta naquele." (Mandado de Segurana n. 21.449, Relator o Ministro Octavio Gallotti, DJ 17.11.95, tribunal pleno). O Cdigo Civil trata de maneira diferente o companheiro do cnjuge, como na questo dos direitos sucessrios (artigos 1.790 e 1.829). Dentre as diferenas ao direito herana, pode-se citar o caso do falecido que no deixou ascendentes nem descendentes, mas apenas irmos: se deixou tambm um cnjuge, cabe a esse toda a herana; se deixou companheira, essa ter direito a um tero da herana, cabendo os dois teros restantes aos irmos.

Por outro lado, o mesmo STF tambm j decidiu que o concubinato inferior unio estvel:

"Companheira e concubina. Distino. Sendo o Direito uma verdadeira cincia, impossvel confundir institutos, expresses e vocbulos, sob pena de prevalecer a babel. (...). A proteo do Estado unio estvel alcana apenas as situaes legtimas e nestas no est includo o concubinato. (...). A titularidade da penso decorrente do falecimento de servidor pblico pressupe vnculo agasalhado pelo ordenamento jurdico, mostrando-se imprprio o implemento de diviso a beneficiar, em detrimento da famlia, a concubina." (RE 590.779, Rel. Min. Marco Aurlio, julgamento em 10-2-09, 1 Turma, DJE de 27-3-09)

E dentro do concubinato, h as situaes que tm direitos garantidos pela Lei n 8.971/94 (havendo filho em comum ou unio de mais de cinco anos, desde que sejam solteiros, divorciados, vivos ou separados judicialmente), sendo que as demais unies (por exemplo, onde um mantm o convvio com duas famlias ou, no havendo filhos em comum, no tenham cinco anos de convivncia) no tm direitos garantidos em lei.

Unio entre pessoas do mesmo sexo

A ADPF 132, proposta pelo governador do Rio de Janeiro Srgio Cabral Filho, pede a equiparao das unies homoafetivas (entre pessoas do mesmo sexo) com a unio estvel prevista no art. 1723 do Cdigo Civil. A utilizao da ADPF para discutir o assunto foi indicada pelo prprio ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello, que considerou a questo relevante sob a tica constitucional

Normas na Unio Estvel

no ano de l994, como corolrio desta polmica que invadiu lares, escritrios, igrejas e congresso nacional, foi sancionada a Lei 8.971/94 que regulou o direito dos companheiros a alimentos e a sucesso.

Depois, j no ano de l996, foi sancionada a Lei 9.278/96, que regula o 3 do art. 226 da Constituio Federal.

Assim, a partir destas normas, especificamente dirigidas s unies de homem e mulher, fora do casamento, foram estabelecidos e reconhecidos os novos parmetros jurdicos destas relaes.

I CONCEITOSUnio Estvel: a convivncia no adulterina nem incestuosa, duradoura, pblica e contnua, de um homem e de uma mulher, sem vnculo matrimonial, convivendo como se casados fossem, sob o mesmo teto ou no, constituindo, assim, sua famlia de fato. Assim, conceitua a unio estvel o professor lvaro Villaa[1]. H que se registrar que, para assim se caracterizar, no pode haver impedimentos realizao do casamento, tais como os previstos no artigo 1.521 do Cdigo Civil, no se aplicando, porm, a incidncia do inciso VI do referido artigo, no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.

Ainda, quanto aos requisitos caracterizadores da unio estvel, o entendimento mais moderno que seja dispensvel o mos uxorius, ou seja, a convivncia idntica ao casamento, entendimento este consagrado na Smula 382 do Supremo Tribunal Federal.[2] O termo unio estvel pode ser considerado menos um eufemismo para substituir a cacofonia moral, produzida pelo vocbulo concubinato, do que uma verdadeira definio a respeito da convivncia heterossexual sem casamento. Com efeito, por menos despida de preconceitos que fosse, a palavra concubinato sempre soou como algo pejorativo, pouco pundonoroso. E isso porque ela no contm, quer explcita, quer implicitamente, elementos diferenciadores, marcos slidos que sugiram separao entre o que moral e o que imoral, ou seja, entre a aventura extraconjugal adulterina e a convivncia marital diuturna, conforme a doutrina do mestre Joo Andrade Carvalho[3]. Nesse passo, o no menos laureado mestre Jorge Shiguemitsu Fujita[4], ao conceituar a unio estvel como sendo a unio entre pessoas de sexo diferente, que, sem haverem celebrado casamento, vivem como se casadas fossem, de forma contnua e duradoura, refora a tese de que, neste tipo de unio o que importa, para sua caracterizao, a inteno dos conviventes de, efetivamente, constiturem uma famlia.

Ainda segundo o renomado jurista paulista, a unio estvel seria uma espcie do gnero concubinato, posio esta que compartilhada pela quase totalidade da doutrina ptria, razo porque e, para melhor entendimento do nosso posicionamento contrrio a esta tese, faremos a seguir algumas distines sobre as possveis formas de concubinato e a unio estvel.

II DA UNIO ESTVEL E DO CONCUBINATO Sob o risco de severas crticas e, contrariando a doutrina dominante, ousamos considerar que a unio estvel e o concubinato so dois institutos diferentes. Esta distino nos parece clara ao analisarmos o novo Cdigo Civil e, tambm, pelo expressamente previsto na Constituio Federal.

Compulsando o novex Cdigo Civil, verifica-se que no art. 1.727 o legislador fez definir o concubinato, como sendo as relaes no eventuais (logo permanentes) entre o homem e a mulher, impedidos de casar. Este artigo foi inserido no final do ttulo que regula a unio estvel.

Se a doutrina afirma que concubinato toda e qualquer relao entre homem e mulher fora do casamento, perguntaria: Por que o Cdigo Civil de 2002 dedicou um captulo para regular a unio estvel (que pela doutrina constitui um tipo de concubinato) e, no final deste captulo, inseriu um artigo com o fim especfico de conceituar as situaes que se constituiriam em concubinato?

Depreende-se do texto legal que a unio estvel seria a relao lcita entre um homem e uma mulher, que vivem como se casados fossem, e apenas no se casaram por uma opo particular ou por algum impedimento momentneo, ao passo que o concubinato seria as relaes entre o homem e a mulher, impedidos de se casarem, por ilcita esta relao.

De destacar que o novo Cdigo Civil, seguindo os passos da nossa Carta Magna considerou a famlia como base da sociedade, sob especial proteo do Estado, dando-lhe amplitude singular, indo alm ao reconhecer a unio estvel entre o homem e a mulher como entidade familiar. Ao faz-lo, corrigiu distores que as leis ordinrias continham que, numa certa medida, confundia o estatuto da unio estvel com o concubinato.

Ao elevar a unio estvel ao quase status de casamento, tanto o novo Cdigo Civil quanto a Constituio Federal, reforam nossa tese de que um erro continuar confundindo este instituto com o concubinato, razo porque, entendemos que seria necessrio doutrina buscar uma nova classificao para as relaes entre homens e mulheres.

Assim, propomos um afastamento da conceituao clssica de concubinato em puro e impuro, para buscarmos nova conceituao, onde a unio estvel ganhe um novo e independente status. Com o objetivo de contribuir para o debate, e ainda sob o risco de severas crticas, ousaremos definir os institutos que decorrem da unio entre um homem e uma mulher, quando no casados, em:

1. Unio estvel, como sendo aqueles relacionamentos em que, a rigor, no houvesse impedimentos legais permanentes para sua converso em casamento. Nesta tica, poderamos definir dois tipos de unio estvel, quais sejam:

a) Unio estvel plena, tal qual conceituado acima, que se constituiria pela convivncia de duas pessoas, de sexos diferente, sem impedimentos realizao do casamento, que s no o realizam por uma questo de opo, como por exemplo: solteiro com solteira; solteiro com viva; divorciado com viva ou solteiro, etc. e,

b) Unio estvel condicional, que seriam as unies em que um homem e uma mulher constituem uma famlia de fato, sem detrimento de qualquer outra famlia legtima ou de outra famlia de fato, havendo to somente, impedimentos temporrios realizao do casamento. Exemplo seria o relacionamento entre uma mulher solteira e um homem separado judicialmente; ou, um homem solteiro e uma mulher casada, porm, separada de fato de seu marido. Veja-se que as causas que impedem a realizao do casamento so temporrias, pois, passado o lapso temporal para o desfazimento do vnculo matrimonial, no haver nenhum impedimento quanto celebrao de um novo casamento. Tanto verdade que a Lei 10.406/02 fez expressa meno a tal situao ao excetuar no pargrafo 1 do art. 1.723 que no se constitui em impedimento realizao da unio estvel, o caso da pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.

2. - Concubinato: Neste caso, enquadraramos os tipos de concubinato propriamente dito, ou seja, aquelas unies em que um homem e uma mulher mantendo uma relao afetiva estejam proibidos ou impedidos legalmente de se casarem. Seriam aquelas unies que, em ltima anlise significaria "mancebia" ou "companhia de cama sem aprovao legal, que a sociedade tanto repudia.

Ainda com base nos ensinamentos do prof. Jorge Shiguemitsu Fujita[5], classificaramos o concubinato, em trs tipos diferentes, quais sejam:

a) Adulterino - aquele representado pela unio de um homem e uma mulher, onde, embora um ou ambos sejam casados, mantm paralelamente ao lar matrimonial, outro relacionamento de fato, sem denotar, quanto a este ltimo, perante a sociedade, desgnios de constituio de famlia.

b) Incestuoso - que representa a unio entre os parentes prximos, como por exemplo, o relacionamento entre um pai e filha.

c) Desleal - que seria aquela unio representada por um concubino que forme com uma outra pessoa, um lar convivencial em concubinato.

Pelo exposto conclumos, diferentemente da doutrina amplamente dominante, que a unio estvel deveria ser conceituada como um tipo independente de relao familiar, de tal sorte, que restasse a denominao concubinato, apenas e to somente, para aquelas relaes que no estariam albergadas na proteo da legislao vigente. Assim, teramos os seguintes tipos de relacionamentos entre homem e mulher:

a) Casamento,

b) Unio Estvel e,

c) Concubinato.

Em nosso modesto entendimento, o legislador ptrio substituiu o vocbulo concubinato por unio estvel, independentemente de sua impreciso tcnica; concubino/concubina por conviventes. Devemos ressalvar, entretanto, que continua a existir o concubinato, porm com o significado de uma relao passageira, no duradoura, espria ou ainda como a relao duradoura fora do casamento ou da unio estvel com o carter de deslealdade ou infidelidade.

Por tudo isso, entendemos ser necessrio doutrina incorporar esta nova conceituao para definir as relaes convivenciais como forma de contribuir para o fim dos preconceitos relativos unio estvel, porque continuar a conceitu-la como concubinato alimentar preconceitos, ou como diz Joo Andrade Carvalho, por menos despida de preconceitos que fosse, a palavra concubinato sempre soou como algo pejorativo, pouco pundonoroso.[6]