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Página 1 Boletim 616/14 – Ano VI – 29/09/2014 União aperta controle sobre seguro-desemprego Por Edna Simão e Lucas Marchesini | De Brasília Para reduzir fraudes e despesas no médio e longo prazo, o governo federal passou a exigir das empresas que informem, no momento da contratação, se o funcionário está recebendo, ou requereu, o seguro-desemprego. Desde a semana passada, as companhias estão obrigadas a repassar essa informação ao Ministério do Trabalho, além das já prestadas no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). A legislação proíbe que a empresa contrate um trabalhador sem que o pagamento do seguro-desemprego seja interrompido. Porém, como em algumas situações existem fraudes - combinação entre empresa e funcionário para que a contratação seja feita apenas após o recebimento de todas as parcelas do benefício -, o governo quer ter mais informações para conter esse tipo de irregularidade, que acontece principalmente em pequenas e médias empresas. O governo não tem estimativa do custo dessas fraudes. O ministro do Trabalho, Manoel Dias, disse ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, que, inicialmente, será feito um projeto-piloto em Brasília que depois será estendido para todo o Brasil. O ministério pretende também fechar acordo com a Caixa Econômica Federal para que seja feito um cadastro digitalizado dos beneficiários do seguro-desemprego para dar mais segurança ao processo de pagamento. No primeiro semestre deste ano, os gastos com seguro-desemprego atingiram a marca de R$ 15,319 bilhões, o que representou ligeira queda de 4,11% ante igual período do ano passado (R$ 15,976 bilhões). A estimativa para o ano, no entanto, é que essa despesa totalize R$ 35,204 bilhões, segundo o boletim de informações financeiras, referente ao terceiro bimestre, do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Em 2013, o desembolso foi de R$ 31,902 bilhões. O advogado trabalhista da IOB, do grupo Sage, Glauco Marchezin, concorda que a exigência deve evitar pagamentos indevidos e fraudes no seguro-desemprego, como a combinação entre empregador e empregado para que o registro em carteira seja feito apenas após o recebimento da última parcela do benefício. Se a empresa não apresentar ou atrasar o envio das informações, estará sujeita a multa, calculada com base no número de trabalhadores com dados não repassados e o tempo de atraso. Empresários estão divididos em relação à medida. Enquanto alguns não veem problema no aumento da burocracia ao prestar informações para o Caged, outros recebem a novidade com ressalvas. O proprietário de uma rede de óticas no Espírito Santo, Cleiton Ginaid,

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Boletim 616/14 – Ano VI – 29/09/2014

União aperta controle sobre seguro-desemprego Por Edna Simão e Lucas Marchesini | De Brasília Para reduzir fraudes e despesas no médio e longo prazo, o governo federal passou a exigir das empresas que informem, no momento da contratação, se o funcionário está recebendo, ou requereu, o seguro-desemprego. Desde a semana passada, as companhias estão obrigadas a repassar essa informação ao Ministério do Trabalho, além das já prestadas no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

A legislação proíbe que a empresa contrate um trabalhador sem que o pagamento do seguro-desemprego seja interrompido. Porém, como em algumas situações existem fraudes - combinação entre empresa e funcionário para que a contratação seja feita apenas após o recebimento de todas as parcelas do benefício -, o governo quer ter mais informações para conter esse tipo de irregularidade, que acontece principalmente em pequenas e médias empresas. O governo não tem estimativa do custo dessas fraudes.

O ministro do Trabalho, Manoel Dias, disse ao Valor PRO , serviço de informação em tempo real do Valor , que, inicialmente, será feito um projeto-piloto em Brasília que depois será estendido para todo o Brasil. O ministério pretende também fechar acordo com a Caixa Econômica Federal para que seja feito um cadastro digitalizado dos beneficiários do seguro-desemprego para dar mais segurança ao processo de pagamento.

No primeiro semestre deste ano, os gastos com seguro-desemprego atingiram a marca de R$ 15,319 bilhões, o que representou ligeira queda de 4,11% ante igual período do ano passado (R$ 15,976 bilhões). A estimativa para o ano, no entanto, é que essa despesa totalize R$ 35,204 bilhões, segundo o boletim de informações financeiras, referente ao terceiro bimestre, do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Em 2013, o desembolso foi de R$ 31,902 bilhões.

O advogado trabalhista da IOB, do grupo Sage, Glauco Marchezin, concorda que a exigência deve evitar pagamentos indevidos e fraudes no seguro-desemprego, como a combinação entre empregador e empregado para que o registro em carteira seja feito apenas após o recebimento da última parcela do benefício. Se a empresa não apresentar ou atrasar o envio das informações, estará sujeita a multa, calculada com base no número de trabalhadores com dados não repassados e o tempo de atraso.

Empresários estão divididos em relação à medida. Enquanto alguns não veem problema no aumento da burocracia ao prestar informações para o Caged, outros recebem a novidade com ressalvas. O proprietário de uma rede de óticas no Espírito Santo, Cleiton Ginaid,

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gostou da nova norma. "Burocratizar é válido quando ajuda a resolver um problema", disse. "O empregador passa a ser testemunha de uma falsa solicitação do seguro-desemprego."

Já o empresário e superintendente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) do Maranhão, Manuel Joaquim, tem outra opinião. "O controle [dos pedidos de seguro-desemprego] não pode passar para o empresário, porque vira obrigação e depois ele é punido quando não presta", disse.

Nos últimos anos, o governo tem reclamado das elevadas despesas com seguro-desemprego, apesar de o país viver em uma situação considerada como de pleno emprego. Em dezembro de 2013, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, se reuniu com representantes das centrais sindicais para definir medidas que pudessem reduzir esses gastos e também conter fraudes no pagamento.

As negociações não tiveram sucesso, pois os sindicatos avaliaram que as mudanças propostas prejudicariam o trabalhador. Para ter uma forte desaceleração das despesas com seguro-desemprego, o governo precisaria alterar leis existentes para apertar as regras de concessão do benefício, o que, em ano eleitoral, não seria nada popular. Além disso, não havia apoio das centrais sindicais para adoção de medidas que, na avaliação delas, representariam uma redução de benefício ao trabalhador.

Uma das medidas apresentadas na ocasião foi a restrição do número de parcelas do seguro, que hoje varia entre três e cinco no primeiro pedido. Pela proposta, a partir da segunda solicitação, o trabalhador teria entre duas e quatro parcelas e no terceiro, o benefício ficaria entre uma e três parcelas. O período de carência entre um pedido e outro, atualmente de 16 meses, poderia ser ampliado. Na semana passada, em entrevista ao Valor PRO , Mantega não adiantou se o governo vai mudar as regras de acesso ao seguro-desemprego e ao abono salarial, tornando-as mais restritivas para reduzir o ritmo de crescimento das despesas. "Não vamos tirar direitos dos trabalhadores".

Mudanças no mercado de trabalho explicam recessão c om pleno emprego, dizem analistas Por Camilla Veras Mota | De São Paulo A geração de emprego no Brasil tem perdido fôlego de maneira sistemática desde o ano passado, diante de uma taxa de desemprego que se mantém nos menores patamares de sua história recente, em torno de 5%. Apesar de aparentemente contraditórias, as características mais marcantes da "recessão com pleno emprego" vivida pelo Brasil são parte de um processo que transformou a estrutura do mercado de trabalho - e que deve

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evitar uma escalada na taxa de desemprego no próximo ano, mesmo com os ajustes macroeconômicos sinalizados pelos candidatos à Presidência.

A explicação, de acordo com especialistas ouvidos pelo Valor , apoia-se em dois pilares principais. De um lado, o aumento da renda das famílias desestimulou a busca por emprego em alguns grupos, excluindo-os da População Economicamente Ativa (PEA) e, portanto, tirando pressão da taxa de desocupação. Em outra frente, esse mesmo avanço dos salários, ao lado de políticas de estímulo ao consumo, deram fôlego extra ao setor de serviços, um dos que mais absorvem mão de obra atualmente - dando sobrevida à geração de emprego, mesmo quando afetada pela desaceleração da atividade.

Para Gabriel Ulyssea, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a saída de pessoas do mercado de trabalho tem se manifestado de maneira contundente na taxa de participação - que mostra qual a proporção de indivíduos em idade de trabalhar que estão de fato empregados ou em busca de uma vaga. Entre 2008 e 2013, segundo os dados mais recente da Pesquisa Anual de Amostra por Domicílio (Pnad), a relação caiu de 68,6% para 65,5%, indicando que muitos trabalhadores sem emprego, em vez de engrossarem o volume de desocupados, passaram a ser contabilizados nas estatísticas em outro grupo, o dos inativos. "Qualquer movimento de dois pontos percentuais [na taxa] já faz diferença", pondera.

Essa mudança, para o economista, é resultado de uma transformação estrutural pela qual o mercado de trabalho passou na última década. A valorização do salário mínimo e, em outra medida, as políticas de redistribuição de renda tiveram impacto importante no rendimento das famílias. Grupos que antes buscavam emprego pela necessidade de ajudar a pagar as despesas domésticas, como os jovens, puderam se ausentar do mercado.

Junto ao ganho de renda, as políticas de incentivo ao consumo dos últimos anos estimularam o setor de serviços, grande absorvedor de mão de obra, observa Gesner Oliveira, sócio-diretor da GO Associados. Não por acaso, o segmento representa relevantes 79,4% das vagas formais criadas no país entre janeiro e agosto deste ano, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), contra 48,9% no mesmo período do ano passado e 61,6% em 2009. Combinados, esses eventos acabam aumentando o tempo necessário para que as oscilações da atividade apareçam nos indicadores de emprego, explica ele.

Para o economista Fabio Romão, da LCA Consultores, o emprego já está sentindo a desaceleração do produto, especialmente na análise da conjuntura por setor. A indústria, exemplifica, acumula resultados negativos desde o início do ano. A Pesquisa Industrial Mensal de Empregos e Salários (Pimes) apurou recuo de 2,6% na ocupação de janeiro a julho, em relação ao mesmo intervalo de 2013, e o Caged mostrou fechamento de 80 mil postos com carteira de abril a agosto. "Boa parte do ajuste já está acontecendo agora", pondera.

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Diante das poucas oscilações na taxa de desemprego, o Caged é um bom termômetro para analisar o mercado de trabalho, avalia Irineu Carvalho, do banco Itaú. O indicador mostra uma geração de emprego com carteira em desaceleração gradual desde 2011. No curto prazo, o saldo de 606,3 mil postos acumulado de janeiro a agosto é quase 70% menor do que o verificado em igual período de 2010. A perda de fôlego é visível inclusive no setor de serviços, ressalta Carvalho, ainda que em menor medida. Entre janeiro e agosto, o segmento abriu 454 mil vagas, contra 704,9 mil no mesmo período em 2010, 35,6% menos. Esse é um setor que tende a ter menor volatilidade do que a indústria, observa, por estar menos correlacionado ao PIB. "As contratações em áreas como a de hospitais e escolas variam menos com a atividade", exemplifica.

A desaceleração da atividade, de acordo com a projeção de muitos economistas, deve chegar finalmente à taxa de desemprego no próximo ano, devido especialmente às perdas no ritmo de avanço da renda. As estimativas de alta, contudo, ainda passam longe daquelas apuradas em outros períodos de PIB fraco. A LCA estima que a taxa média de desemprego fique entre 5,5% e 6% em 2015.

"Os três principais candidatos [à Presidência] têm sinalizado um ajuste gradual", completa Ulyssea, do Ipea, também para justificar, na ausência de um choque que promova um corte significativo de vagas, a expectativa de leve aumento na desocupação.

Pilotos da Air France encerram greve após 14 dias

PARIS - Os pilotos da companhia aérea francesa Air France encerraram uma das maiores greves já enfrentadas pela empresa, apesar de não terem conseguido chegar a um acordo sobre o destino do orçamento da nova unidade de baixo custo Transavia.

O sindicato majoritário dos pilotos da aérea, SNPL France Alpa, informou neste domingo a decisão de retomar os trabalhos depois de 14 dias da greve que obrigou a Air France a cancelar mais da metade de seus voos e gerou custos estimados em 20 milhões de euros por dia.

O porta-voz do sindicato, Guillaume Schmid, disse em uma mensagem que a greve estava encerrada, acrescentando que o sindicato manter as negociações sobre a Transavia, porém por um caminho diferente.

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A Air France comemorou o fim da “cara e prejudicial” greve, ressaltando que pretende avançar com os planos de expandir a Transavia na França. Ainda não está claro, porém, como a companhia aérea vai expandir os voos sem o apoio dos pilotos, que têm restrições quanto ao número de aeronaves de baixo custo que podem operar na França.

A companhia informou que a regularização dos serviços deve levar entre dois e três dias a partir do fim da greve.

O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, disse que a Air France deve “retomar rapidamente” o desenvolvimento da Transavia no país. “O governo está firme em sua permissão para que a companhia desenvolva o planejamento estratégico”, afirmou, em comunicado. O Estado francês detém uma participação de 15,9% na controladora da Air France, a Air France-KLM S.A..

(Dow Jones Newswires)

Após fim de greve da Air France, pilotos da Lufthan sa planejam parada Por Valor SÃO PAULO - Os pilotos da Lufthansa decidiram cruzar os braços na terça-feira para protestar pela manutenção dos benefícios de aposentadoria. A categoria quer que a empresa aérea conserve o plano que permite que os pilotos se aposentem com 55 anos. A companhia, por sua vez, quer elevar essa idade mínima e quer envolver os pilotos no financiamento da pensão.

Ontem, os pilotos da Air France encerraram uma paralisação de 14 dias "atendendo aos interesses dos passageiros e da companhia" e apesar de nova rodada "infrutífera" de negociações com a administração da empresa aérea.

Tanto a Lufthansa como a Air France estão atrás de redução de custos para manter-se competitiva em relação às companhias aéreas de baixo custo.

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Parceiros em vez de empregados formais Por Jacilio Saraiva | Para o Valor, de São Paulo O sonho de virar dono de uma empresa está mais perto da realidade. Pequenas companhias estão, cada vez mais, abraçando a prática de oferecer sociedade para funcionários bem avaliados. Os objetivos são reter talentos qualificados, motivar equipes e aumentar índices de produtividade. Em algumas companhias, depois da adoção do modelo de parceria, a lucratividade subiu 27% e o turnover do quadro foi reduzido em 80%.

Desde a fundação da consultoria de branding Sonne, em 2009, quatro colaboradores já se tornaram sócios e a experiência deve ser ampliada. "A estimativa é ter de dois a quatro novos integrantes no início de 2015", diz o diretor e sócio fundador Maximiliano Tozzini Bavaresco. Independentemente da participação societária, os empresários novatos podem conquistar premiações que vão de cursos de especialização a bônus de remuneração. "Eles têm a chance de conquistar a sociedade por meio do próprio esforço. O sentimento 'de ser dono' do negócio fica mais forte e gera comprometimento."

Com 16 colaboradores, a Sonne faturou R$ 2 milhões no último ano e a expectativa é dobrar esse volume em 2015. "Desde a criação da companhia, tudo foi pensado como um modelo de 'partnership', alinhado a critérios meritocráticos", diz. "Preciso de pessoas melhores do que eu para poder construir uma empresa capaz de crescer, mesmo sem a minha presença."

Para facilitar a aderência ao conceito, Bavaresco já recruta novos funcionários com a perspectiva de que, no futuro, terão condições de tornarem-se parceiros. Segundo ele, o impacto da medida alcança até os clientes. "É muito comum que me perguntem: onde você encontrou essas pessoas? Como formou esse time?"

Na Betalabs, do setor de e-commerce e gestão empresarial, três líderes de área vestiram a camisa de sócios nos últimos quatro anos. Antes de abrir a sociedade, a empresa de 32 funcionários era comandada por três proprietários. "Antes de montar a companhia, trabalhei no mercado financeiro e lá as iniciativas de remuneração variável e parceria eram ferramentas comuns", lembra o sócio fundador Luan Gabellini. "A entrada de associados é um fator de motivação para o nosso próprio desempenho."

A empresa faturou R$ 2 milhões em 2013 e espera duplicar de tamanho, até dezembro. A estratégia de Gabellini, que pretende abrir espaço no board para um novo funcionário a cada ano, é criar um ambiente de meritocracia, com várias oportunidades para colaboradores que são bem avaliados. "Como somos uma companhia de serviços, o nosso maior ativo é gente qualificada. Essa política também nos ajuda a reter talentos."

Após a adesão à gestão com parceria, a Betalabs aumentou a lucratividade em 27% e baixou o turnover da equipe em 80%. "Tão importante quanto selecionar os novos sócios é

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garantir que o processo de escolha aconteça de forma transparente para os demais funcionários", afirma.

Para Igor Kalassa, CEO da mineira 4Life Sistemas, especializada em marketing digital, a sociedade corporativa é como um casamento. "É preciso escolher bem o parceiro, pois ele poderá contribuir para o seu crescimento." Segundo o empresário, é preciso ainda conhecer os objetivos do futuro aliado e saber como ele gosta de trabalhar. "Uma escolha mal feita pode dar muita dor de cabeça."

Fundada em 2004, a 4Life tem 12 funcionários e deve faturar R$ 1,2 milhão em 2014. A chegada dos novos membros aconteceu em 2007 e 2014. "A ideia é que o executivo seja um 'solucionador', criativo e com atitude empreendedora", diz Kalassa. O primeiro a subir à categoria de dono foi um desenvolvedor de sistemas, hoje responsável pela área operacional. O outro acionista começou na empresa como estagiário nos setores de criação, conteúdo e relacionamento. "Investimos nele com cursos de pós-graduação e hoje participa das decisões."

Os cotistas da 4Life ganham remuneração variável e trabalham com metas de produtividade. "Este ano o mercado 'virou' e eles também vão sentir." A empresa atende principalmente concessionárias de veículos e observa o mercado sangrar, pelo menos, 10%, no último ano.

Na Target Sistemas, de desenvolvimento de softwares para o setor de distribuição, os critérios utilizados para a escolha de associados são conhecimento do mercado de atuação e empreendedorismo, segundo o diretor Rafael Rojas Filho. Desde 2006, nove funcionários já ganharam participação na empresa. "Precisávamos ampliar as perspectivas profissionais de pessoas-chave da organização", diz.

Com 150 funcionários, a Target faturou R$ 11 milhões em 2013 e espera encerrar 2014 com um crescimento de 30%. "Somente no primeiro semestre, tivemos um aumento de pedidos da ordem de 70% em novos projetos de sistemas de gestão (ERP)."

Segundo Rojas, uma das principais vantagens de aumentar os postos estratégicos é trazer para a mesa de reuniões o olhar de quem está envolvido diretamente na operação. "Podemos compartilhar as dificuldades enfrentadas na gestão e descentralizar decisões", afirma. "Atualmente, os novos sócios são vitais para o comando do negócio e garantem o processo sucessório na companhia." Desde a implantação do conceito, a empresa cresceu, em média, de 25% a 38%, ao ano.

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Expediente pode afetar os resultados da empresa Por Jacilio Saraiva | De São Paulo Só convide um funcionário para ser sócio se ele tiver habilidades que complementem os negócios da empresa. É o que aconselham alguns advogados e especialistas em gestão. "É muito bom ter um companheiro para compartilhar os riscos de empreender", diz Silvinei Toffanin, diretor da Direto Contabilidade, Gestão e Consultoria. "Mas se a escolha, eventualmente, for errada, você perderá um bom funcionário para sempre."

Toffanin afirma que as pequenas empresas estão cedendo cotas, principalmente, para reter bons funcionários. "Como as companhias menores não têm os mesmos recursos das multinacionais para oferecer incentivos, a sociedade é uma forma de compartilhar riscos e sucessos."

Antes de entregar as chaves da empresa a um novo dono, a recomendação é avaliar o candidato no longo prazo. "Teste as aptidões do funcionário e veja se seus valores pessoais combinam com os praticados pela empresa", diz. "Um colaborador com conhecimento técnico profundo, mas de interesses distintos dos gestores, não será um bom parceiro."

Para o advogado Luiz Antônio Gomes, do escritório Renault Advogados Associados, a principal razão de convidar um empregado a compor o quadro societário é quando ele mostra características que complementam o negócio. "Entre as vantagens do modelo, a empresa ganha maior comprometimento do novo integrante, que verá na sua remuneração reflexos do lucro alcançado, e a redução de encargos tributários, sobretudo das despesas com o recolhimento da contribuição previdenciária patronal."

Mas, infelizmente, segundo Gomes, o que realmente algumas empresas buscam é reduzir despesas trabalhistas, mantendo o empregado na mesma rotina de trabalho, anterior ao início da sociedade. O advogado cita o caso de uma rede de salões de beleza que convidou todos os seus empregados a ingressarem como sócios na organização. Depois de alguns anos, colecionou diversas condenações na Justiça, que determinou o pagamento de verbas trabalhistas, como férias e 13º salário. "Também foi condenado a pagar horas extras, pois também deixou de controlar o horário de trabalho dos 'sócios' da empresa com cartões de ponto."

“Antes de entregar as chaves da empresa a um novo d ono, a recomendação é avaliar melhor o candidato”

Para os empresários que desejam estimular a produtividade das equipes sem fatiar a sociedade, o especialista afirma que há a opção de conferir aos empregados uma participação nos lucros ou resultados, levando em conta índices de produtividade e qualidade. "A verba paga a título de participação nos lucros não constitui base de cálculo

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na incidência para encargos trabalhistas e pode ser deduzida como despesa na apuração do imposto de renda para empresas tributadas pelo lucro real."

Outra sugestão do advogado para evitar problemas judiciais é conferir a sociedade a profissionais alinhados com a especialidade da companhia. Assim, um advogado que ingressa como sócio em um escritório de advocacia terá mais dificuldades de descaracterizar o contrato firmado do que um metalúrgico.

Na Luz Soluções Financeiras, da área de gestão de risco, 25% do quadro de funcionários viraram sócios em 1999. Para não cometer erros, a política de desenvolvimento de carreira da empresa, com 75 funcionários, foi montada para o modelo prosperar. Segundo o CEO Edivar de Queiroz, entre os critérios de escolha dos candidatos estão um histórico de entrega de resultados e, é claro, o interesse do colaborador em se tornar proprietário.

"A parceria contribui para bons resultados, pois os novos donos se mostram dispostos a batalhar pela empresa", diz ele, que recomenda adotar um contrato social que proteja a companhia, com regras claras de saída. A Luz apresentou uma média de crescimento de 15% ao ano, no faturamento, nos últimos cinco anos. Sem revelar números, Queiroz estima um salto de 20% nos negócios, em 2014, em relação a 2013.

Municípios médios têm boas ofertas de negócios Por Katia Simões | Para o Valor, de São Paulo Se em um passado não muito distante as pessoas migravam para as metrópoles em busca de empregos e de boas oportunidades para abrir o próprio negócio, hoje são as cidades médias que chamam a atenção entre os que estão dispostos a empreender com melhor qualidade de vida. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os municípios que mais cresceram nos últimos anos foram aqueles com população entre 100 mil e 500 mil habitantes. Uma expansão de 1,12% entre 2013 e 2014, enquanto a população brasileira como um todo cresceu 0,86% e as cidades com mais de meio milhão de habitantes apenas 0,84%. Ainda segundo o IBGE, desde 2010 o país ganhou 3,2 milhões de habitantes e 56 municípios deixaram de ser pequenos, sendo que 34 deles somam uma população entre 100 mil e 200 mil habitantes.

Entre as 25 cidades que mais cresceram no último ano em população elencadas pelo IBGE, seis não são capitais - Ananindeua (PA), Niterói (RJ), Campos dos Goytacazes (RJ), Belford Roxo (RJ), Serra (ES) e Caxias do Sul (RS). Entre as capitais, têm esse perfil Porto Velho (RO), com 494.013 habitantes, Florianópolis (SC) com uma população de 461.524

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habitantes, Vitória (ES) com 352.104 moradores, Boa Vista (RR) com 314.900 habitantes e Palmas (TO) com uma população de 265.409 pessoas.

O crescimento nos municípios de porte médio, entretanto, não é apenas da população. A participação da economia dessas cidades no Produto Interno Bruto (PIB) do país também chama a atenção. Juntas, respondem por 28,2% da economia do país, com uma média de crescimento econômico anual de cerca de 4,7% na última década, de acordo com o IPEA. "Trata-se de um novo Brasil urbano que não é o do espaço metropolitano e que tem um conjunto de especificidades muito peculiares", avalia Maria Encarnação Sposito, coordenadora da Rede de Pesquisadores das Cidades Médias (ReCiMe) e professora do

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Departamento de Geografia da Unesp-Campus Presidente Prudente. "Essas cidades se relacionam com outras maiores e menores de forma diferente".

De acordo com a pesquisadora, existem duas divisões bem claras entre os municípios de porte médio que mais crescem. Os primeiros integram as regiões metropolitanas, crescendo de forma natural pela 'expulsão' das pessoas dos grandes centros, o chamado processo de metropolização.

Já o segundo grupo, - o mais importante para quem quer buscar novas oportunidades de negócios - cresce em decorrência de três movimentos principais: porque estão longe da metrópole e desempenham papel comercial importante, atendendo a própria população e o entorno; pela descentralização da atividade industrial, que leva as empresas a diminuir custos e o deslocamento para outras cidades é uma forma de enxugar os gastos, e pela influência direta do agronegócio, que exige mais tecnologia em suas atividades. "Com todos esses movimentos estas cidades passam a se articular em esferas que vão além dos limites regionais", afirma Maria Encarnação. "Os exemplos se multiplicam, com características diferenciadas de região para região." Entre eles, ela cita a expansão do município de Petrolina, em Pernambuco, que por conta da fruticultura irrigada para exportação, atraiu empresas de desenvolvimento de novas tecnologias para plantio, controle de irrigação e de pragas, demandando a oferta de serviços e produtos de maior valor agregado no município, a fim de atender às necessidades dos novos consumidores. Assim como acontece com o agronegócio, os polos de inovação e tecnologia também vêm contribuindo para o redesenho do mapa das cidades brasileiras, na visão da geógrafa.

Muito embora o crescimento seja melhor notado nas chamadas mesorregiões - formadas por um grupo de cidades que funcionam como um polo para a população do entorno, o crescimento das cidades médias é uma realidade em todo o país. Todavia, assinalam os especialistas, os municípios não devem ser analisados como um todo e, sim, caso a caso. "É preciso pensar de forma global e fazer o negócio respeitando a especificidade de cada cidade ou região", afirma Luis Henrique de Campos, diretor de Pesquisas Sociais da Fundação Joaquim Nabuco. "Uma coisa é uma cidade média no sertão nordestino, outra é uma cidade média em uma área de expansão agrícola moderna, como no Centro Oeste. E outra, bem diferente, é um município de médio porte no interior de São Paulo".

Vale observar que não há uma razão única para as cidades médias crescerem mais que os municípios com mais de 500 mil habitantes ou os menos populosos, de acordo com os especialistas. A resposta está em uma série de fatores como a busca por redução de custos, melhores condições de infraestrutura e logística, mão-de-obra mais barata e áreas para compra e locação mais fartas e em conta, como acontece no interior de São Paulo; crescimento do agronegócio nas regiões Sul e Centro-Oeste, da mineração no Pará e Minas Gerais, além da exploração de petróleo e gás no norte fluminense e na região de Santos, no litoral paulista.

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Sem contar uma demanda reprimida, que leva os estudiosos a assinalar que as cidades com menos de 500 mil habitantes deverão responder por cerca de dois terços do consumo brasileiro nos próximos seis anos, atraindo empreendedores dispostos a abocanhar uma fatia desse bolo. "O interior do país tem PIB maior que o do Chile, de Portugal e da Dinamarca. A cada R$ 10 gastos pelos brasileiros, 40% são gastos no interior", afirma Luis Barreto, presidente do Sebrae Nacional. "Ao contrário do passado, os hábitos de consumo nas cidades médias são muito parecidos com os das metrópoles, o que abre muitas oportunidades de novos negócios, sobretudo na área de serviços".

Ao contrário do que se possa pensar, o crescimento das cidades médias não é uma exclusividade nacional. Estudo feito pelo McKinsey Global Institute ressalta que até 2015, nada menos do que 315 milhões de pessoas estarão distribuídas em cerca de 200 cidades na América Latina, com população em torno de 200 mil habitantes. Juntos, estes municípios deverão movimentar US$ 3,8 trilhões.

Propostas avançam em ambiente adequado Por Katia Simões | De São Paulo Nascido e criado em Niterói, o engenheiro Leonardo Melo não pensou em deixar a cidade nem mesmo para tocar o próprio negócio. Pelo contrário. Ao lado do irmão fundou há cinco anos a Diagnext, especializada em soluções de telemedicina. A startup, que ganhou investimentos do Fundo Criatec e subvenção da Faperj, mantem parceria estreita com a Universidade Federal Fluminense (UFF), para desenvolvimento e testes de novas tecnologias e pela busca de mão de obra qualificada.

"Nossa proposta sempre foi desenvolver uma tecnologia que garantisse atendimento de saúde com qualidade em locais remotos, a baixo custo", afirma Melo. A empresa, nascida dentro da incubadora da UFF, executa de forma rápida e remota o diagnóstico de doenças por meio de exames de raio X, tomografia e mamografia realizados em locais onde o custo do profissional médico e a falta de estrutura tecnológica avançada, inclusive de banda larga, inviabilizariam a geração do laudo ou a transmissão das imagens para análise à distância.

"A tecnologia desenvolvida pela Diagnext, com equipamento muito mais barato que os correspondentes estrangeiros - R$ 3 mil por ponto -, permite, que navios médicos da Marinha e os médicos presentes em plataformas e usinas, por exemplo, consigam transmitir os exames por teleradiologia em 10 minutos", afirma o empresário. "Os sistemas disponíveis no mercado demoram entre três e quatro horas". Foi graças à agilidade e

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eficiência de seus equipamentos que a empresa firmou parceria com o governo do Amazonas para a realização de exames, como mamografia, direto da floresta amazônica. Hoje, 44 hospitais e clínicas estão habilitados a receber exames enviados pela Diagnext. Até o final do ano, a empresa espera somar 100 unidades de atendimento nas regiões Norte, Nordeste e no estado de Minais Gerais.

Distante de Niterói, os fundadores da PicPay, primeira empresa de mobile wallet da América Latina, responsável pela criação de um aplicativo para smartphones que realiza pagamentos via mobile, até pensaram em deixar Vitória quando a empresa ganhou mais envergadura, no início deste ano. "Avaliamos bem e decidimos ficar, porque ao contrário das grandes capitais, Vitória exige um baixo investimento para testar nossos produtos e pessoas com o mesmo grau de qualificação e mente aberta para novas tecnologias que os demais centros", afirma o sócio fundador Diogo Roberte.

“Novas empresas são beneficiadas por financiamento, apoio acadêmico e mão de obra qualificada”

O empreendedor observa, também, que a capital capixaba começa a consolidar um ecossistema para a formação de startups com base tecnológica, com a criação de incubadoras, aceleradoras e a presença de investidores anjos. "Essas características tendem a beneficiar as empresas pioneiras", assegura Roberte, observando que até o fim de 2015 a PicPay espera consolidar uma base de 1,5 milhão de usuários. O volume será o dobro do estimado até dezembro de 2014, quando as transações com o aplicativo devem movimentar R$ 3 milhões.

Preservar a qualidade de vida e ao mesmo tempo desfrutar de um ambiente onde se respira tecnologia em meio a universidades, incubadoras de empresas e investidores. Essa foi a proposta do catarinense Ricardo Ramos ao trocar o interior de Santa Catarina pela capital, Florianópolis, em 2009, para abrir a Nanovetores. "A cidade trabalha para ser a capital da inovação, não só na área de tecnologia da informação, por isso nos recebeu como a primeira empresa de química fina incubada no Celta", diz Ramos.

Com um faturamento estimado de R$ 5 milhões e 500 clientes em carteira, a Nanovetores desenvolve, produz e comercializa ativos encapsulados para as indústrias de cosméticos, fármacos, têxtil, alimentos e veterinário. Usa técnicas patenteadas de alto desempenho para nanotecnologia e microencapsulação de ativos, com adoção de insumos da biodiversidade brasileira, dentro do conceito de química verde e sustentabilidade. "Com toda essa complexidade não é fácil encontrar mão-de-obra qualificada na mesma abundância que Florianópolis nos oferta", afirma o empreendedor, lembrando que apesar da alta capacitação os salários são mais acessíveis do que no eixo Rio-São Paulo.

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IDH melhor atrai novos empresários Por De São Paulo Com curvas ascendentes de crescimento econômico e populacional, Florianópolis, Vitória e Niterói melhoraram suas participações no PIB do país. A capital catarinense ganhou quatro posições, figurando na 51ª posição, a capital capixaba saiu da 20ª para a 18ª posição, enquanto Niterói pulou do 45º lugar para o 38º lugar. As três acumulam, também, bons resultados no ranking das cidades brasileiras com melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), os que as torna ainda mais atraentes para quem deseja empreender. Soma-se aos índices, a presença de um bom número de universidades e incubadoras de empresas nos três destinos, aumentando a oferta de mão-de-obra qualificada.

Em média, mil novos profissionais se formam anualmente nas universidades de Florianópolis nas áreas de exatas e biológicas, facilitando a vida das cerca de 600 empresas de tecnologia instaladas na cidade. Por ano, a capital catarinense ganha entre 30 e 40 novos negócios de base tecnológica, a maioria nas áreas de tecnologia da informação, convergência digital, games, saúde e telecom. Os atrativos não param por aí. Nos últimos 20 anos foram criadas sete incubadoras de empresas na cidade e, desde 1988, a prefeitura concede isenção ou desconto de ISS e IPTU a empresas de tecnologia. "Não é à toa que o PIB de tecnologia superou o de negócios ligados ao turismo", afirma Tony Chierighini, diretor executivo do Centro Empresarial para Laboração e Tecnologias Avançadas (CELTA). "A cidade é uma das poucas a contar com uma Lei Municipal de Inovação."

Se Florianópolis soma alto potencial inovador a um cenário de encher os olhos, emoldurado pelo mar, Vitória desponta nos últimos anos como uma cidade de porte médio, com infraestrutura de gente grande. A estrutura portuária é uma das melhores do país, o nível de educação está acima da média nacional e a cidade conta com um PIB per capta quatro vezes maior que a média do país - R$ 86 mil por ano. "A capital capixaba reflete no seu crescimento os investimentos feitos no norte do Estado", afirma a geógrafa Maria Encarnação Sposito. Como consequência, concentra um grande número de profissionais de alta renda, o que faz dos serviços a principal vocação econômica do município.

Vitória se destaca, também, por oferecer incentivo fiscal para empresas de e-commerce, ao lado de Tocantins. "A capital capixaba registra tíquete médio de compras on-line de R$ 23, mais alto do que a média nacional, o que reflete o poder de renda e consumo", analisa Diego Tivo, CEO da Conversion, responsável pela realização do I Mapa do E-commerce no Brasil. "Niterói, por sua vez, tem uma taxa de conversão de compras 41% maior que a média nacional e Florianópolis 17% maior".

Na visão de Luis Henrique Stockler, da Ba Stockler Consultoria, com exceção de Florianópolis, as demais cidades com bom potencial para investimentos não podem ser

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analisadas como um destino único, separadas do seu entorno. "O crescimento de Vitória está ligado à performance de outras cidades médias como Cariacica e Vila Velha, entre outras", afirma. "Não é errado dizer que são como grandes bairros instalados em uma região metropolitana".

O mesmo acontece com Niterói, distante apenas 13 quilômetros do Rio de Janeiro. A cidade tem posição privilegiada. Está entre as duas maiores bacias de petróleo e gás natural do Brasil, o que lhe atribui uma importância estratégica para a indústria naval e off shore. Apesar de próxima do Rio, o custo dos imóveis é menor. A cidade conta, ainda, com boas universidades.

Niterói, entretanto, não é a única com esse perfil no estado do Rio. Com o impulso do petróleo, cinco outros municípios fluminenses com populações entre 100 mil e 500 mil habitantes conseguiram dobrar sua participação no PIB do país, em 13 anos - Campos dos Goytacazes, Macaé, Angra dos Reis, Cabo Frio e Rio das Ostras.

STJ livra contribuinte do pagamento de honorários previdenciários Por Adriana Aguiar | De São Paulo Uma recente decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) livrou um contribuinte que aderiu ao Refis da Crise, de 2009, do pagamento dos chamados honorários previdenciários. Com a decisão, a empresa conseguirá reduzir em cerca de 20% o valor total da dívida parcelada.

Os honorários previdenciários foram extintos em 2007, com a criação da Super-Receita - que unificou a cobrança e a fiscalização dos impostos e contribuições federais. Eles foram substituídos pelos encargos legais. Mas a Receita Federal, por entender que teriam natureza diferente dos encargos legais, decidiu cobrar os honorários de quem parcelou débitos previdenciários. Na lei do Refis, só há desconto para encargos legais.

Ao analisar o caso, porém, os ministros da 2ª Turma entenderam que a criação da Super-Receita- por meio da Lei nº 11.457 - fez com que os chamados honorários previdenciários fossem substituídos pelos encargos legais. Como o Refis de 2009 prevê a isenção no pagamento dos encargos legais, esses valores não poderiam ser cobrados.

De acordo com o relator, ministro Mauro Campbell, "a despeito da natureza diversa entre as verbas em confronto, com a inclusão do encargo legal nos débitos inscritos em dívida

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ativa (no momento da inscrição), não se justifica mais a fixação dos honorários previdenciários".

Para o ministro, ao se interpretar a Lei do Refis de 2009 - Lei nº 11.941 - chega-se à conclusão de que "a não inclusão dos chamados honorários previdenciários no valor consolidado nas hipóteses em que a lei exclui o encargo legal atende à finalidade buscada pelo legislador de incentivar a adesão ao programa de parcelamento".

Acrescenta ainda o ministro que "embora a Fazenda Nacional persiga a inclusão dos honorários em razão da distinção existente entre essa verba e o encargo legal, em nenhum momento demonstra a existência de decisão judicial que tenha fixado tais honorários".

Segundo o advogado Alessandro Mendes Cardoso, do Rolim, Viotti & Leite Campos, essa discussão é relativamente recente e surgiu novamente com a reabertura do Refis. Isso porque, em alguns casos, a Receita tem incluído esses honorários previdenciários. "Esses valores podem ser bastante relevantes", diz. Cardoso afirma que teve esse problema com dois clientes e que, em um dos casos, a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) reconheceu o equívoco e cancelou a cobrança.

A decisão do STJ foi correta na opinião da advogada Valdirene Lopes Franhani, do Braga & Moreno Consultores e Advogados. Contudo, ela ressalta que na Portaria da Receita Federal e da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional nº 13, deste ano, que trata da reabertura do Refis, as duas verbas continuam sendo tratadas como se fossem diferentes. "Se o contribuinte for prejudicado, deverá se socorrer do Judiciário", diz.

Procurada pelo Valor , a PGFN informou por nota que essa decisão não representa "o entendimento da PGFN e nem o dominante no STJ".

Destaques Carvão em brasas

O Tribunal Superior do Trabalho negou provimento a um agravo de instrumento apresentado pela Distribuidora de Medicamentos Santa Cruz, que foi condenada a pagar indenização de R$ 50 mil a um trabalhador que foi obrigado a andar com os pés descalços num corredor de carvão em brasas durante "treinamentos motivacionais". O caso causou espanto entre os ministros na sessão de quarta-feira. O presidente da Turma, ministro Lelio Bentes Corrêa, se disse "chocado e estarrecido". "Em 12 anos de TST, nunca vi nada parecido", afirmou. O trabalhador disse que foi obrigado, junto com outros colegas, a caminhar em um corredor de dez metros de carvão incandescente durante um evento

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motivacional da empresa. Alegou, ao pedir a indenização, que a participação no treinamento comprometeu não só sua saúde, mas a integridade física de todos que participaram da atividade. A empresa confirmou que realizou o treinamento com a caminhada sobre brasas. Entretanto, disse que a atividade foi promovida por empresa especializada, e que a participação não foi obrigatória. Uma das testemunhas destacou que todos, inclusive trabalhadores deficientes físicos, tiveram que participar do treinamento e que alguns tiveram queimaduras nos pés.

Dinheiro na estrada

O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) manteve sentença da Comarca de Araraquara que negou a restituição de grande volume de dinheiro, encontrado à beira de estrada e apreendido pela polícia, ao homem que o encontrou. O apelante achou R$ 1,064 milhão na estrada que liga Araraquara a Matão, em 2009. O dinheiro foi apreendido pela polícia. Ele alegou em seu recurso que não foi provada a origem ilícita do dinheiro e que nunca apareceu ninguém reivindicando os valores, não se podendo afirmar, portanto, que tinha dono, razão por que requereu a restituição da quantia. Em seu voto, porém, o relator do caso, desembargador Ronaldo Andrade, afastou a possibilidade de o dinheiro ter sido abandonado, entendendo ser óbvio que quem deixou a quantia à beira da estrada o fez com a intenção de retornar para buscá-lo. O relator ainda lembrou os termos do caput do artigo 1.233 do Código Civil e seu parágrafo único, segundo os quais "quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e se não o encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente".

Ginástica laboral

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) condenou a Guararapes Confecções a pagar horas extras a uma costureira que diariamente, durante o período de almoço, era obrigada a fazer ginástica laboral. A atividade durava de 10 a 15 minutos. Os ministros da 2ª Turma deram provimento a recurso de revista da trabalhadora contra decisão que considerou seu pedido improcedente. No recurso ao TST, a costureira alegou que só usufruía de 50 minutos de intervalo, e que a concessão parcial do tempo destinado a repouso e alimentação gera o direito ao pagamento total do período correspondente. Segundo a ministra Delaíde Miranda Arantes, relatora do recurso, o tempo da ginástica laboral não pode ser computado como intervalo intrajornada, "pois empregado e empregador estão cumprindo determinação legal necessária para a realização de suas atividades de forma segura e livre de acidentes ou doenças". Em seu voto, a relatora destacou ainda que, com base em dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) - artigos 4º e 158, inciso I - "não se pode concluir que a prática de ginástica laboral é do interesse particular do empregado".

(Fonte: Valor Econômico dia 29-09-2014).

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Alto custo de serviços impede exportações da indúst ria Serviços correspondem a 64,5% do valor adicionado d a nossa indústria. No entanto, baixa qualidade gera impedimentos à competitividade externa Paula Salati São Paulo - O alto custo e a baixa qualidade dos serviços têm retirado a competitividade internacional das indústrias brasileiras, prejudicando, dessa forma, as exportações de produtos com maior valor agregado.

Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), coordenado pelo economista e professor da Universidade de Brasília (UNB), Jorge Arbache, mostra que, assim como em economias mais avançadas, os serviços já compõem grande parte do valor adicionado da indústria brasileira. Essa contribuição já alcança no País 64,5% na indústria manufatureira.

"Essa alta porcentagem de participação dos serviços no valor adicionado da indústria nos deixou surpresos. Porque, se esse número é semelhante ao dos países desenvolvidos como os da Alemanha e dos EUA, porque então nossos produtos não teriam a mesma competitividade que os deles?", questiona o economista da UNB.

A resposta veio na desagregação do número. O economista explica que foi constatado que os serviços que de fato agregam valor aos produtos compõem muito pouco o valor adicionado dos mesmos. Esses serviços seriam relacionados à pesquisa e desenvolvimento, design, softwares, serviços avançados de TI, consultorias, serviços técnicos especializados, branding e marketing.

Serviços de custos

Já os serviços de custos, como logística, energia, mão de obra, compõem a maior parte do valor adicionado dos produtos industriais. O que faz com que essa participação seja relevante é justamente o alto preço desses serviços.

"Além do preço de energia elétrica e da logística serem alto, a qualidade desses serviços é baixa. Esses fatores afetam a competitividade. Como a indústria consome muitos serviços que são caros e ruins, acaba sofrendo 'intoxicação'", afirma Arbache. "Por conta disso, a adição de valor agregado pelas indústrias diminuiu ao longo desses anos. Muitas delas, como as de aços especiais, abriram mão de fabricar produtos mais sofisticados".

Para Arbache, o fato dos serviços representarem 69,4% do Produto Interno Bruto (PIB) ajuda a explicar o porquê de nossa "economia estar tão mal" e ter baixo desempenho.

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Exportação

A economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Lia Valls, lembra do desafio de transformar os 69,4% do PIB em serviços em exportação. "É uma área importante, mas ainda não é competitiva, já que o valor do serviço na mercadoria é muito alto", diz Valls.

"Nós só vamos conseguir exportar com maior valor agregado quando tivermos investimentos que visem adicionar serviços de qualidade aos nossos produtos. Os serviços ainda não fazem parte das políticas nacionais para fomentar nossa produtividade", afirma o professor da UNB.

Era digital chega ao chão de fábrica como a quarta revolução industrial Na indústria 4.0 a competitividade é vista como pri oridade para fazer frente à concorrência internacional Anna Lucia França Munique, Alemanha - Em plena era digital, a indústria não poderia ficar de fora. A mudança é tão intensa que os novos processos eletrônicos já são considerados como a quarta revolução industrial.

Depois da invenção das máquinas a vapor, que mecanizaram as atividades, do início da produção em série e dos processos de automatizados (robôs) na década de 70, a nova onda digital chega ao chão de fábrica e promete também criar uma nova ordem de transformação.

Como todas as outras revoluções, essa também deve moldar o futuro trazendo o conceito da indústria 4.0, na qual a competitividade é vista como prioridade para fazer frente à concorrência internacional. Segundo o chefe mundial de novas estratégias da Siemens, Horst J. Kayser, a nova onda aumenta não só a eficiência das empresas (reduzindo em até 40% os custos com energia), como também encurta o tempo de mercado (com lançamentos em menos tempo, cerca de 20% a menos), além de garantir maior flexibilidade, podendo fabricar diversos itens em uma única linha.

Para se fortalecer nesse segmento, um dos que mais cresce seguindo a tendência global, a Siemens trabalha com a premissa de que, depois da eletrificação e da automação, o caminho natural será digitalizar todo o processo de produção.

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A fábrica do futuro já é considerada uma smart factory, por ser um paraíso de eficiência onde defeitos, perda de tempo e resíduos são coisas do passado. Nessas plantas, todo o gerenciamento da produção é feito em conjunto pela direção da fábrica e da área de tecnologia da informação, juntos em uma combinação perfeita de dados e de fabricação, dimensionando cada passo de cada máquina, cada corte, numa dança perfeita para entrega de produtos.

Dificuldades

A mudança, porém, não é simples. Tanto que hoje só avança na Alemanha, berço da engenharia industrial, e na China, onde o setor produtivo caminha a passos largos. Mas na opinião de Kayser países como o Brasil precisam apostar nisso, como forma de criar valor para sua produção e, assim, evitar futuros problemas como vem ocorrendo com a crise vivida pela indústria no País.

Atualmente, o setor produtivo é um dos mais afetados pela desaceleração da economia. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,2% no primeiro trimestre deste ano em relação aos três últimos meses de 2013. O ritmo piorou no segundo trimestre culminando na queda de 3,4% em relação ao mesmo período do ano passado.

Dessa forma, a participação da indústria de transformação no PIB nacional caiu dos cerca de 27% na década de 80 para os atuais 13%, o que indica que algo precisa ser feito para provocar uma mudança urgente, elevando sua competitividade com a implementação da visão da indústria do futuro.

Isso, aliás, é o que está sendo feito pelos Estados Unidos, que vêm acompanhando de perto essa mudança na produção e deve investir como forma de fortalecer sua indústria novamente, num processo de reindustrialização do país, segundo o executivo.

A digitalização da produção se encontra com o que os especialistas em tecnologia denominam de internet das coisas. A ideia é que, cada vez mais, o mundo físico e o digital se tornem um só, através de dispositivos que se comuniquem com os outros, os data centers e suas nuvens. Com isso, as máquinas vão estar interligadas num sistema e gerenciamento inteligente que tornará todo o processo com menos falhas.

Investimentos

Estima-se que mais de US$ 13 bilhões serão investidos nas próximas décadas para a modernização da indústria em todo mundo. Mas o caminho é considerado inevitável, devido à sua eficiência. O melhor exemplo disso foi da Alemanha, que vem conseguindo driblar a crise mundial e se sair bem no cenário global, graças, principalmente, por ter se mantido como uma potência em inovação industrial.

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Alguns estudos apontam que a Europa deveria investir cerca de 90 bilhões de euro por ano em digitalização nos próximos 15 anos para que ela se mantenha a frente e competitiva, garantindo sua posição e agregando valor ao processo. A boa notícia é que todo este investimento traria, em contrapartida, níveis mais elevados de rentabilidade. No Brasil, os novos conceitos já começam a ser testado em setores como automotivo e aeroespacial e reduz em mais de 50% o tempo de produção, de acordo com a companhia.

Por toda essa mudança que se anuncia, a Siemens, uma das maiores empresas no ramo de automação industrial está se reorganizando estrategicamente para aprofundar ainda mais sua atuação nessa área, onde já se tornou referência.

Realinhamento

Em seu plano estratégico global para os próximos cinco anos, a empresa alemã acertou seu posicionamento em setores como a eletrificação, automação e digitalização. A partir de 1 de outubro, a companhia terá entre suas principais divisões a da "fábrica digital", como um realinhamento global.

Banca mira volume de processos trabalhistas no seto r de call center Ramo de telemarketing foi identificado como o mais promissor por novo escritório de advogados Roberto Dumke São Paulo - O grande número de empregados e a alta rotatividade no ramo de telemarketing (call center) geram uma avalanche de processos na Justiça. O cenário atraiu a atenção de quatro sócios que criaram o Tavares, Yamazaki, Calazans e Vieira Dias Advogados. Contando só os 30 maiores call centers de São Paulo, o total de funcionários seria de 225 mil. Pouco menos que a metade (42%) desse universo de trabalhadores - quase 100 mil -, acaba deixando o emprego todo o ano. Em boa parte dos casos, a demissão é seguida de uma ação trabalhista contra a empresa.

O raciocínio matemático que motivou a formação da sociedade é do sócio Jorge Calazans. Apesar de ser especialista em direito criminal, o advogado deu sua contribuição ao escritório devido à experiência no ramo. Ex-empresário, por 11 anos Calazans geriu um call center na Baixada Santista (SP). Agora, entre os sócios com formação técnica no direito empresarial, ele afirma que o objetivo é continuar empreendendo ao mesmo tempo em que administra o escritório de advocacia. "Cada um de nós tem um histórico. Eu sempre fui empresário", diz.

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Insegurança

Além do grande volume de ações trabalhistas que o segmento de telesserviços gera por causa da rotatividade, a grande insegurança jurídica vivida hoje pelo ramo coopera para o negócio dos advogados. Isto porque os call centers estão no centro de uma das maiores discussões jurídicas: a terceirização.

Sem lei que regulamente a contratação de terceiros, magistrados e empresários trabalham só com base na controversa súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST). O texto considera ilegal a contratação de prestadores de serviço para o exercício das principais atividades de atuação das empresas. Não existe, contudo, definição clara do que a súmula chama de atividade-fim e atividade-meio. Com isso, os magistrados de varas e tribunais fazem diversas interpretações, inclusive com multas pesadas para a iniciativa privada.

Casos

A Oi, por exemplo, foi multada em R$ 17,2 milhões em 2013. A juíza entendeu que a atuação de call center seria uma atividade-fim da empresa de telefonia. Portanto, a terceirização seria ilegal. Pela mesma razão, a TIM foi multada em R$ 6 milhões, também em 2013. Nos casos de condenação por terceirização de atividade-fim, as empresas são obrigadas a interromper o contrato com a terceira de call center. "Existe uma série de interpretações da justiça do trabalho, cada juiz responde de forma diferente", diz Calazans. "Essas decisões diferentes geram insegurança para as empresas."

Uma luz no fim do túnel é a possibilidade de que o Supremo Tribunal Federal (STF) avalie a questão da terceirização. Na última terça-feira (23), o ministro Teori Zavaski determinou a paralisação de todos os processos que envolvem a terceirização de call center. A questão será resolvida pelo Supremo em repercussão geral. Calazans não espera que o caso seja avaliado pelo Tribunal este ano, por causa das eleições. Mas para ele, a decisão sobre a terceirização "é o principal" obstáculo jurídico do segmento de telesserviços.

Objetivos

Uma das metas do sócio para o escritório é se posicionar entre os 500 mais admirados do País. "É um objetivo de 10 anos. Estamos no começo. Mas trabalharemos arduamente para alcançá-lo", afirma Calazans. Por ora, o escritório está se preparando para atender nos grandes centros. A sede fica em Santos, mas os advogados atendem também em São Paulo. Por meio de representantes, a banca atua também no Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte e Brasília. "Nosso foco é Brasil. Estamos procurando também um parceiro em Recife. Têm muitas empresas migrando para lá", afirma ele. O empresário diz que há uma série de empresas do ramo de telesserviços montando operações em estados mais remotos, como Rio Grande do Norte e Ceará. A redução de custos seria o principal motivo. Além da mão de obra mais barata, o preço dos imóveis e outros insumos atraem o empresariado. "Temos que acompanhar", afirma o sócio. No Brasil como um todo, o

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número de empregados no ramo de telesserviços chega a 1,5 milhão, de acordo com estimativa da Associação Brasileira de Telesserviços (ABT). De acordo com a entidade, o segmento cresce cerca de 10% ao ano, tanto em número de funcionários como em faturamento. Calazans diz que "não há hoje escritório de excelência com especialidade em telesserviços". Por mais que outros escritórios atendam o setor, nenhum - segundo ele - tem no atendimento do ramo seu foco. "Entendi que tínhamos que escolher um segmento. Escolhemos o de call centers. É uma das principais portas de emprego, mas ao mesmo tempo possui uma série de problemas em discussão."

Adiar previdência afeta até 80% da renda do benefíc io Especialistas alertam que brasileiro só se preocupa com aposentadoria depois dos 40 anos Ernani Fagundes São Paulo - Com base na taxa básica de juros Selic atual (11% ao ano), adiar o primeiro aporte em planos de previdência complementar para depois dos 40 anos pode diminuir em até 80% da renda do benefício futuro, em relação aos aplicadores que começaram aos 25 anos de idade. Num exemplo simples, um jovem que começa a poupar R$ 100 por mês aos 25 anos para uma aposentadoria aos 65 anos consegue acumular um patrimônio de R$ 732,838 mil, ou o equivalente a uma renda mensal vitalícia de R$ 3,664 mil, descontada a inflação. Mas se a pessoa adiou o primeiro aporte para os 40 anos, a mesma contribuição de R$ 100 por mês resultará na idade de 65 anos, um patrimônio de apenas R$ 144,1 mil, cujo resultado é uma renda mensal vitalícia de R$ 720,50 descontada a inflação do período, 80% menor em comparação se tivesse começado a poupar 15 anos mais cedo.

Para o representante do Comitê de Educação de Investidores da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Aquiles Mosca, também executivo da Santander Asset, essa consciência de poupar mais cedo exige educação financeira e trazer o senso de urgência ao presente. "As pessoas não estão com a noção de urgência, frente o desafio de conquistar sua independência financeira que a aposentadoria exige. A mente está voltada ao prazer imediato e ao consumo", diz.

Segundo Aquiles, a maioria das pessoas que compram planos de previdência VGBL [Vida Gerador de Benefícios Livres], PGBL [Plano Gerador de Benefícios Livre] o faz a partir dos 40 anos. "Em geral, as pessoas começam a trabalhar bem antes, por volta dos 20 anos, ou quando saem da faculdade, mas perdem praticamente 20 anos sem poupar para sua previdência", alerta o executivo. Ele argumenta que nessa idade de 40 anos, as pessoas já

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possuem algum tipo de poupança, mas não aquela separada voltada à aposentadoria. "O veículo mais adequado para essa finalidade é a previdência complementar", aponta.

Juros reais altos

Por outro ângulo, o Brasil é um dos poucos países do mundo que ainda possibilitam juros reais atrativos capazes de formar patrimônio por meio de produtos de previdência em renda fixa, considerada menos arriscada em relação aos produtos de renda variável (ações). "O patamar atual da Selic [a taxa básica de juros] é bastante atrativo e o investidor de previdência não precisa tomar muito risco", afirma o superintendente de produtos de previdência do Santander, Gustavo Lendimuth. No mercado, o principal produto adquirido por pessoas físicas é o VGBL de renda fixa. "Diferentemente do fundo tradicional, não tem o come-cotas, a cobrança semestral do imposto de renda (IR) sobre ganhos financeiros".

Questão cultural

O superintendente contou a idade média da adesão dos investidores a planos de previdência complementar no Brasil é de 34 anos. "É uma idade muito avançada para começar a ter essa preocupação. A principal barreira é uma questão cultural forte, e uma oportunidade, precisamos desenvolver a cultura dessa poupança. Quem guarda dinheiro tem opções de escolher o que irá fazer", diz.

Necessidades e prazos

Lendimuth ressalta que a pessoa física deve guardar dinheiro para atender necessidades de curto prazo, médio e longo prazo. "A primeira deve cumprir suas necessidades de curto prazo, eventualidades e imprevistos. A segunda responde por seus projetos de médio prazo, a troca do automóvel, a compra de um imóvel, de uma segunda casa na praia ou no campo. E também, a necessidade de se guardar dinheiro para o futuro, e não restringimos isso apenas para a aposentadoria, muitas vezes a pessoa não quer se aposentar, mas claro, previdência é muito relacionado com aposentadoria", diz o superintendente.

Comportamento humano

Aquiles Mosca explica que a mente do ser humano busca o prazer imediato e o consumo, mas isso pode ser trabalhado. "As pessoas tem dificuldade de tomar decisões para o longo prazo, ela dissocia o eu de hoje, do eu de amanhã. A atitude de poupar para a aposentadoria precisa ser tratada como algo urgente", alerta o executivo.

(Fonte: DCI dia 29-09-2014).

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Terceirização obrigatória e às avessas

ONOFRE CARLOS DE ARRUDA SAMPAIO - O ESTADO DE S.PAU LO

O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), outorgou status de repercussão

geral ao Agravo em Recurso Extraordinário n.º 713.211, em que a empresa Cenibra

defende a sua pretensão de poder contratar empresas regularmente estabelecidas no País

para que, em propriedades rurais próprias dela, Cenibra, ou por ela arrendadas, prestem

serviços de plantio, cultivo e corte de eucaliptos a serem utilizados nas suas fábricas de

papel. Essa forma de contratação, que a Cenibra considera ser seu direito, lhe foi negada

pelo Judiciário Trabalhista, razão do seu recurso ao Supremo.

A matéria é usualmente tratada pela Justiça do Trabalho sob a rubrica de terceirização de

mão de obra e tem sido objeto de continuada peleja entre o Ministério Público do Trabalho

e as empresas que desejam fazer uso dela. Sob critérios nada objetivos o Parquet

trabalhista vem se opondo sistematicamente a essa forma de contratação, em que uma

empresa contrata outra para a prestação de serviços, que esta executa com seus próprios

empregados. A alegação do Ministério Público, acolhida pela Justiça do Trabalho, é de que

disso resultaria a "precarização" da relação de trabalho.

A questão, tal como se acha posta, tem extrema relevância e a decisão da Suprema Corte

será de grande valia para assegurar a patrões e empregados parâmetros claros que, nos

seus devidos termos, possam garantir a liberdade constitucional de contratar, ser

contratado e empreender, aportando segurança jurídica a uns e outros e evitando que essa

questão continue a ser mais uma a somar-se ao já tão substancioso custo Brasil, que tanto

tem impedido o desenvolvimento da nossa sociedade.

Na decisão de conceder efeito de repercussão geral ao objeto da discussão a Primeira

Turma do STF enfatizou que a liberdade de contratar prevista no artigo 5.º, II, da

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Constituição federal é conciliável com a terceirização dos serviços para o atingimento do

exercício-fim da empresa e justificou a importância da decisão a ser tomada diante da

existência de milhares de contratos de terceirização de mão de obra em que subsistem

dúvidas quanto à sua legalidade, o que poderia ensejar condenações expressivas por

danos morais coletivos semelhantes às verificadas nos autos do caso Cenibra. Porém não

é disso que se quer tratar neste artigo, mas sim do seu avesso, isto é da obrigação de

"terceirizar" imposta aos citricultores em decisão prolatada pela Vara do Trabalho de

Matão, até agora confirmada pelo Tribunal Regional do Trabalho de Campinas na Ação

Civil Pública n.º 00121-88.2010.5.15.0081.

Essa decisão determina que a indústria de suco só poderá adquirir dos citricultores laranjas

que tenham sido plantadas, cultivadas e colhidas por empregados diretamente contratados

pela indústria. Desse modo, se essa decisão prevalecer, o citricultor que quiser vender

laranjas à indústria terá de bater às suas portas e pedir que esta contrate os empregados

necessários e os envie à sua propriedade, para plantar, cultivar e colher as laranjas. Se a

indústria não quiser fazer isso, tal citricultor só poderá vender suas laranjas em feiras e

supermercados.

Em outras palavras, tal decisão obriga todos os citricultores estabelecidos no território

brasileiro a terceirizar às indústrias produtoras de suco o plantio, cultivo e colheita de

laranjas e limões que queiram vender a qualquer delas, alijando esses citricultores das

práticas inerentes à sua atividade-fim, limitando, aqui também injustificadamente, seu

direito de uso e gozo de sua propriedade agrícola e sua liberdade empresarial.

Até mesmo os fatos, por si sós, independentemente do direito, mostram a inviabilidade

dessa decisão. Sabe-se que uma laranjeira ou um limoeiro passam a produzir a partir do

seu quarto ano de vida e produzem durante 20 anos. Se tal decisão pudesse prevalecer,

nenhum dos citricultores que hoje vendem fruta às indústrias poderia continuar a fazê-lo e

os que desejassem fazê-lo, no futuro, teriam de se atrelar a uma ou mais indústrias de suco

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que se dispusessem a plantar, cultivar e colher, dali a 4 anos e durante os 16 seguintes, as

frutas produzidas em suas terras, como se fossem arrendatários compulsórios, sem

possibilidade de mudança até o fim.

Deixaria ele, também, de poder comercializar por um melhor preço, no mercado de frutas

frescas, as de melhor aparência, deixando as demais para a indústria, à qual a aparência

não interessa. Assim, o produtor rural citrícola, contrariamente ao que ocorre no caso da

Cenibra, estaria, sem nenhuma razão jurídica válida, obrigado a terceirizar a sua produção,

sob pena de não poder comercializar parte substancial dela para as indústrias de suco de

laranja.

Não é preciso muita imaginação para concluir que se isso pudesse prosperar muitos

hectares dos cerca de 8 mil citricultores que hoje cultivam laranja no cinturão citrícola de

São Paulo, Triângulo Mineiro e Paraná, os quais empregam milhares de trabalhadores

rurais, seriam destinados a outras atividades agrícolas em que a mecanização fácil viria

substituir a mão de obra do trabalhador rural, aí, sim, "precarizando" a sua situação e a de

sua família, a quem se deve garantir, sempre, todos os direitos que a lei lhes outorga,

independentemente de quem o tenha empregado, garantia essa que é função precípua do

Parquet e da Justiça do Trabalho, que devem fazer cumpri-la sem precisar recorrer a

artificialismos e atalhos que não se sustentam nem no Direito nem na realidade fática

subjacente.

Como se vê a questão da "terceirização", ser apenas possível ou até mesmo imposta, é

matéria da maior relevância para todo o País e está de fato a exigir que a Suprema Corte

ponha fim, de uma vez por todas, a tamanha confusão que grassa no seio da Justiça

laboral e intranquiliza aqueles que desejam, a um só tempo, produzir e cumprir a lei, sem

com isso se verem submetidos a acusações da mais variada ordem.

*Onofre Carlos de Arruda Sampaio é advogado (Fonte: Estado SP dia 29-09-2014).

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