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 O arquiteto e o planejamento ambiental e os riscos da falta de discussão  Ângelo Marcos Arruda    Desenhos de Le Corbusier para "Os Três Estabelecimentos Humanos": ! a unidade de cultio# $! a cidade industrial e %! a cidade das trocas& radiocêntrica '(

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Atividade leitura complementar

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O arquiteto e o planejamento ambiental e os riscos da falta de discussongelo Marcos Arruda Desenhos de Le Corbusier para "Os Trs Estabelecimentos Humanos": 1. a unidade de cultivo; 2. a cidade industrial e 3. a cidade das trocas, radiocntrica1/4

Desenvolvimento sustentvel; plano de gesto ambiental; conservao de recursos naturais; tica ecolgica; proteo dos recursos naturais; meio antrpico; ambiente natural; cenrios ambientais; ecologia urbana; fontes renovveis; biomassa; licenciamento ambiental; EIA (Estudo de Impacto Ambiental), RIMA (Relatrio de Impacto Ambiental). Essa a nova linguagem que os arquitetos esto tendo que apreender para atuar no mais novo mercado de trabalho brasileiro e mundial, o doPlanejamento Ambiental. Essa matria tem avanado tanto nos diplomas legais e nas prticas urbanas que devemos parar para pensar acerca de sua compreenso, aplicao, metodologia, etc., face existncia do Planejamento Urbano, campo profissional do arquiteto e at das duplicidades existentes.Afinal, o que est acontecendo de novo que o arquiteto tem que correr atrs de tantas e de novas informaes? O que diferencia o Planejamento Ambiental do nosso Planejamento Urbano? Porque mudaram as palavras, mas mantiveram o mtodo? Porque na composio das equipes tcnicas para trabalhos de planejamento ambiental, um bilogo, zootecnista ou eclogo tem, s vezes, mais importncia, no conjunto, que os arquitetos e urbanistas? Quais os motivos que esto levando a sociedade a se preocupar, tanto, com as questes ambientais que aparecem sempre meio disfaradas no bojo da discusso urbanstica? Ser que os arquitetos no esto preparados para essa nova onda global? Esses e outros assuntos andam me incomodando muito e espero, nesse pequeno texto, levantar pontos que possam contribuir com o debate, sadas, alternativas, dentre tantas coisas que acredito, temos que fazer.Reflexo sobre a situao atualFoi a partir de 1981, com a edio da Lei federal 6.938, que instituiu a Poltica Nacional de Meio Ambiente e criou o Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, que surgiu a figura doEstudo de Impacto Ambiental/ Relatrio de Impacto Ambiental (EIA/RIMA),como um "conjunto de procedimentos destinados a analisar os efeitos dos impactos ambientais de um determinado projeto, a sua influncia e a forma de implantao dos mesmos". Hoje, o EIA/RIMA, um poderoso instrumento regulador dos destinos de uma determinada interveno, de um projeto urbanstico ou arquitetnico. Mas foi a partir da ECO 92, ocorrida no Rio de Janeiro, que os dirigentes do mundo inteiro pararam para refletir acerca da questo ambiental rural e urbana e coletivamente, decidiram aplicar normas mundiais em todos os pases, pobres e ricos, de sorte que se inverteram as posies: abater uma rvore ou matar um jacar, no Brasil passou a ser crime inafianvel enquanto matar um ser humano, se ru primrio, responde em liberdade. Essa uma das mais fortes contradies existentes atualmente e que baliza essa discusso: d-se mais importncia a fatos ambientais que a fatos humanos, no pretexto de proteger a natureza como bem da humanidade e no se protege o homem como bem da natureza.A legislao ambiental tem tido mais vigor que a legislao urbanstica; uma Promotoria de Meio Ambiente ocupa mais espao, na justia e na mdia, que a Promotoria que cuida do patrimnio cultural, urbanstico e paisagstico; h leis federais, estaduais e municipais em grande quantidade e diplomas legais que superam, em muito, a temtica urbanstica; um EIA/RIMA se sobrepe a normas de uso e de ocupao do solo urbano; uma audincia pblica ambiental mais importante que um srio estudo tcnico elaborado por equipes e consultorias balizadas e por a vai. Com essa realidade, hoje, quase 10 anos depois, os arquitetos esto ficando profissionais refns de outros profissionais como os bilogos, engenheiros florestais, eclogos e principalmente das ONGs ambientalistas, na medida em que, a discusso retrica ambiental deu lugar a discusso do projeto urbanstico e paisagstico e da arquitetura, dos espaos e da importncia scio-urbanstica do trabalho do arquiteto. Estamos refns, tambm, da forma de analisar nosso trabalho, seja pelas estruturas administrativas municipais, estaduais e federais ou at de comunidades organizadas em audincias pblicas, ou seja, a falta de critrios tcnicos definidos, pela novidade da matria e pela nossa pouca participao, discusso e at formao deles na rea, que tem contribudo para minimizar os debates e reduzi-los a fatos ambientais, apenas.Nossos projetos arquitetnicos e urbansticos so avaliados e julgados por tcnicos que no entendem de espao construdo, muito menos de arquitetura e sequer sabem ler uma planta, um corte e at um memorial. Com isso, estamos assistindo a um filme novo, cheio de novas linguagens, roteiro e forma de abordagem, que tem avanado no pas como um todo e que vemos poucos diretores arquitetos atuando nessa filmagem. O documento da Agenda 21, em apreciao em todo o Brasil e que agora desceu para a escala municipal, diz que "a reduo da pobreza s ser possvel mediante o planejamento e a administrao sustentvel do solo" e na falta de definies para o urbano, essa regra vem sendo aplicada para as cidades, inclusive. A cada anlise de projeto para licenciamento ambiental, nos vemos manietados por pareceres tcnicos elaborados por profissionais ditos da rea mas que na verdade no possuem habilitao urbanstica para compreender os processos urbanos como um todo. Afirmam eles que o mundo pode acabar caso no haja restries duras de como ocupar o solo e seus usos; afirmam os ambientalistas que eles detm a mais alta capacidade de compreender as necessidades ambientais de um lugar e com isso impedem a discusso abrangente do urbanismo, desenvolvimento integrado, uso do solo, etc.No caso dos Conselhos ambientais criados pela Lei de 1981, os mesmos passaram a ser deliberativos, falam mais alto que a administrao pblica e, na viso puramente empresarial, emperram o desenvolvimento: durante meses discutem o que deve ser feito e enquanto isso, o empreendimento se destri. No caso de Mato Grosso do Sul, um Estado que possui recursos ambientais impressionantes e, o mais conhecido deles, o Pantanal, h um Conselho Estadual que no possui nenhum arquiteto, muito menos na Secretaria de Meio Ambiente; no caso de Campo Grande, o Conselho Municipal composto por entidades que se revezam atravs de uma discusso em Frum mas que os arquitetos entram e saem, na medida da composio poltica do Frum e do IAB local. A municipalizao do licenciamento ambiental entregue pelo CONAMA, em 1999, tem obrigado as prefeituras criar estruturas pblicas administrativas ambientais que superam, em muito, a urbanstica: h mais espao e recursos financeiros oriundos das taxas e multas, para contratar profissionais da rea ambiental que da urbanstica. Com isso criam-se novos feudos e entraves que retardam os alvars de construo e as licenas legais; com isso, surge um novo elemento: os honorrios profissionais ambientais, que j superam, em valores, os urbansticos e os arquitetnicos. Pilhas e pilhas de papel com informaes e diagnsticos e proposies somam-se s plantas de estudos de impacto, de medidas compensatrias e mitigadoras. Exemplo disso o valor cobrado pela elaborao de um EIA/RIMA, bem superior aos valores cobrados para elaborao dos projetos arquitetnicos de edifcios de um mesmo empreendimento.O papel dos estudos ambientais e dos estudos urbansticosFoi com a Resoluo do CONAMA 01/1986 que ocorreu a legalizao dos Estudos de Impacto Ambiental, necessrios para aprovao de projetos de empreendimentos de mdio e grande porte e que colocou, para a sociedade, sua relevncia na dinmica das enormes mudanas a serem provocadas nos espaos urbanos e rurais. Com o EIA mudou a viso de empreender espaos no apenas os industriais, mas os tursticos, rodovirios, parcelamentos, etc. Mas, segundo Klara Mori, em seu brilhante artigo "Estudos de Impacto Ambiental Algumas Consideraes", se o EIA serviu para ressaltar a importncia da ordem ambiental na concepo, elaborao e implantao de projetos, ao mesmo tempo causou graves efeitos perversos, por conta da base conceitual da legislao que o apia, ou seja, "os critrios de validao das decises tcnicas". Ela fala da separao metodolgica entre as ordens fsicas, qumica e biolgica da ordem social, questo central na prpria definio do que sejaMeio Ambientee que tem implicado em definies e conceitos abrangentes e dissociados.Definir meio fsico, biolgico e antrpico, numa anlise isolada contribui para organizar diagnsticos que, quando analisados sem inter-relao, abrem enormes precedentes: quais os critrios tcnicos em que se pode apoiar para a anlise de um projeto. Com isso Mori defende a necessidade de traar novos contornos tcnicos para essa delicada questo que nos envolve, diretamente, principalmente nas definies precisas derea de influncia, medidas compensatrias e mitigadorasalm dos parmetros para aprovao. H diversas formas de analisar essa observao crtica, principalmente se pudermos examinar casos concretos, como o das Usinas Termeltricas, que incluem um outro componente: prazos para anlise e aprovao e responsabilidade das trs esferas de governo. H um enorme jogo de empurra, quando envolve IBAMA, SEMA estadual e municipal.Sobre a formao profissional para atuar na rea e outros problemasPlanejar e projetar edifcios e espaos urbanos tarefa do arquiteto e disso no podemos abrir mo, no apenas por conta de uma legislao profissional que nos ampara, mas por conta de nossa formao acadmica secular. Nossos trabalhos, salvo excees, sempre tiveram preocupaes ambientais, onde o arquiteto organiza informaes do stio, da geotecnia, do ambiente natural, das infra e superestruturas existentes, das normas legais e, com boa dose de composio, cuidamos de nossa tarefa projetual. Cremos, desde muito tempo, que nosso trabalho calcado no diploma legal e tico, deve ser integrado, respeitando a natureza, o homem e a tcnica. claro que deslize houve e haver em qualquer profisso, mas, com isso, no podemos deixar de acreditar nos nossos postulados de trabalho profissional e acadmico., portanto coerente observar que nosso trabalho, desde que Vitrvio escreveu Os Dez Livros da Arquitetura, se pauta na construo e na urbanizao com tcnica e criao, observando todos os fatores que podem contribuir para melhorar as condies de vida do homem. Com base nessa afirmao, as escolas de arquitetura traduzem para o ensino formal, as condies onde o arquiteto, em sua formao genrica, deve contrapor-se aos problemas e buscar sadas usando seus aprendizados. Mas, desde 1981, com a edio das normas ambientais, podemos observar que a formao do arquiteto pouco tem observado esses postulados recentes de natureza ambiental e vrios arquitetos o tm feito na forma de especializao ou de complementao educacional.Sem querer colocar em discusso o assunto, apenas em 1995, a Portaria 1770, reformulou o Currculo da Arquitetura e Urbanismo e introduziu uma rea denominada de Estudos Sociais e Ambientais, agregada e que na proposta final de Diretrizes Curriculares, de 1999, ainda sob poder do MEC para anlise e aprovao, desagregou em Estudos Sociais e Estudos Ambientais, numa discusso recente, emanada de uma grande participao das escolas de arquitetura, docentes, discentes e dirigentes, mas que, ainda tmidas, no esto preparadas para essas mudanas que ocorrem no seio da sociedade ambiental. Devemos mudar nossas diretrizes para acompanhar essas novas normas e prticas ou devemos usar nossa criatividade e entrar direto na discusso, sem rodeios? Creio que sim, mas isso tema para uma reflexo coletiva.O papel das entidades e das escolas de arquiteturaNo campo ambiental, justia seja feita: o CREA do Rio de Janeiro tem uma pauta de discusso na rea, mas, no abrange os temas ligados arquitetura e ao urbanismo, especificamente, tais como edifcios e intervenes urbansticas impactantes, parcelamentos desastrosos, etc. Basta ver o material distribudo, nacionalmente, pelo Presidente Chacon. E quanto ao trabalho ambiental do IAB, da FNA, da ASBEA, da ABAP e da ABEA? E o do CONFEA? E o da FENEA? O que ser que elas pensam desse assunto? O que pode ser feito, caso haja concordncia com as observaes aqui descritas? Meio ambiente com a arquitetura e o urbanismo devem ser tratados como pauta de discusso nacional e, assim, acredito que possamos nos inserir na discusso, apesar de atrasados.Como concluir?Resolvi escrever esse texto como forma de tentar colocar em debate esse assunto: o nosso papel no Planejamento Ambiental e em outros problemas. Originalmente pensei em nominar esse texto com a seguinte frase:Vou deixar de ser arquiteto,vou ser ambientalista. Mas no vou deixar de ser arquiteto para ser ambientalista, no pela alta remunerao profissional dos que tm atuado no meio ambiente, mas para tentar organizar esse tema, pois devemos nos inserir nele, imediatamente. No quero deixar de ser arquiteto, por ideologia e formao, mas, acredito que nossa pauta de trabalho est descolada das profisses aqui nominadas e devemos juntar as pautas de outras profisses que podem atuar conosco, no caso a engenharia, principalmente a consultiva. Para concluir, refiro-me ao meio ambiente de forma a como tratar o problema de mtodo e de critrio de anlise de nossos projetos; refiro-me a organizar um Seminrio de todas as entidades nacionais, para que possamos discutir a formao do arquiteto e a questo ambiental recente; refiro-me ao papel que nossas entidades possam ter nessa luta, ocupar espaos, presena em eventos nacionais ambientais, no CONAMA, etc. Mas gostaria, tambm, de provocar uma pequena reflexo: meio ambiente com arquitetura e urbanismo so tratados pelas escolas do pas, pelos grandes e mdios escritrios, pelos nossos simpsios e seminrios e por ns, no dia a dia, com a nfase que acredito tenha dado nesse pequeno texto?sobre o autorArquiteto, Mestre em Arquitetura pela UFRGS, professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Uniderp em Campo Grande/MS, Secretrio Geral da FNA e Diretor da ABEA.