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UMA PROPOSTA DE MODELAGEM E GESTÃO DE PROCESSOS DE NEGÓCIO DE SISTEMAS PRODUTO SERVIÇO Fernanda Hansch Beuren (UFSC) [email protected] Cristiano Tolfo (UFSC) [email protected] Marcelo Gitirana Gomes Ferreira (UFSC) [email protected] Aguinaldo dos Santos (UFPR) [email protected] A concepção de produtos e modelos de negócio com apelo ecológico e sustentável tem sido foco de atenção nos âmbitos acadêmico e empresarial, o mesmo ocorre nos demais setores da sociedade que englobam os potenciais clientes e consumidores. Neste contexto, iniciativas de sistemas produto serviço (PSS) tem se apresentado como uma alternativa a formulação de modelos de negócio que considerem o consumo racional e as questões ecológicas. Por outro lado, tem-se ressaltado que ao atentar para estas questões, os setores produtivos devem considerar inclusive a viabilidade técnica e econômica do empreendimento, pois não basta uma alternativa ser ecologicamente correta se não é viável técnica ou economicamente. Neste sentido, o presente trabalho propõe a investigação de técnicas e conceitos da gestão e modelagem de processos de negócio como uma ferramenta auxiliar na modelagem de sistemas produto-serviço tendo em vista a verificação da viabilidade em questão. A partir desta proposição, são apresentadas representações de um sistema produto-serviço em técnicas de modelagem de PSS e de modelagem de processos de negócio. Palavras-chaves: Sistemas Produto Serviço, Sustentabilidade, Modelagem de Processos de Negócio. XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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UMA PROPOSTA DE MODELAGEM E

GESTÃO DE PROCESSOS DE NEGÓCIO

DE SISTEMAS PRODUTO SERVIÇO

Fernanda Hansch Beuren (UFSC)

[email protected]

Cristiano Tolfo (UFSC)

[email protected]

Marcelo Gitirana Gomes Ferreira (UFSC)

[email protected]

Aguinaldo dos Santos (UFPR)

[email protected]

A concepção de produtos e modelos de negócio com apelo ecológico e

sustentável tem sido foco de atenção nos âmbitos acadêmico e

empresarial, o mesmo ocorre nos demais setores da sociedade que

englobam os potenciais clientes e consumidores. Neste contexto,

iniciativas de sistemas produto serviço (PSS) tem se apresentado como

uma alternativa a formulação de modelos de negócio que considerem o

consumo racional e as questões ecológicas. Por outro lado, tem-se

ressaltado que ao atentar para estas questões, os setores produtivos

devem considerar inclusive a viabilidade técnica e econômica do

empreendimento, pois não basta uma alternativa ser ecologicamente

correta se não é viável técnica ou economicamente. Neste sentido, o

presente trabalho propõe a investigação de técnicas e conceitos da

gestão e modelagem de processos de negócio como uma ferramenta

auxiliar na modelagem de sistemas produto-serviço tendo em vista a

verificação da viabilidade em questão. A partir desta proposição, são

apresentadas representações de um sistema produto-serviço em

técnicas de modelagem de PSS e de modelagem de processos de

negócio.

Palavras-chaves: Sistemas Produto Serviço, Sustentabilidade,

Modelagem de Processos de Negócio.

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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1. Introdução

Desde a Revolução Industrial, onde o crescimento econômico mostrou perspectivas de

geração de riquezas e maior qualidade de vida pela aquisição de produtos que tornam a vida

mais prática (DIAS,R; ZAVAGLIA,T; CASSAR,M, 2003), empresas competem para

conquistar clientes através de produções elevadas de produtos para atingir custos competitivos

e facilidades nas aquisições. Com isso, o consumo de bens materiais vem degradando o meio

ambiente e causando impactos ambientais preocupantes para a sociedade que tenta buscar

alternativas para minimizar este problema, como o design para a sustentabilidade, que

apresenta atividades para o desenvolvimento de produtos e serviços sustentáveis. (MANZINI,

VEZZOLI, 2002). Contudo, de acordo com Mont (2002), as questões ambientais não tem sido

devidamente tratadas no contexto da sustentabilidade. Mont(2002) relaciona a crescente

degradação do meio ambiente a três tendências que agravam esta situação: a superpopulação,

que excede cerca de 30% da capacidade regenerativa do planeta e continua crescendo (WWF,

2008), a desordenada exploração de recursos naturais, apresentando contínuas agressões ao

meio ambiente e o crescente consumo, que com a exploração dos recursos da natureza

apresenta um déficit ecológico em vários países e que com as quantidades elevadas de

produtos fabricados, mais produtos são descartados no meio ambiente. Associado a este

problema está a baixa equidade ambiental no planeta, caracterizado pela severa diferença de

padrões de consumo. No Brasil, com a redução da desigualdade econômica tem-se o desafio

de conduzir a camada ascendente da população para patamares mais elevados de

sustentabilidade, sem passar pelos mesmos erros observados no processo de consumo das

faixas de renda mais elevadas.

Considerando as tendências de desordenada exploração de recursos naturais e de crescente

consumo, entende-se que não basta reduzir a exploração de matérias-primas do meio

ambiente, estender a vida do produto, reutilizá-lo ou reciclá-lo, mas sim, desenvolver

produtos e serviços adequados ao estilo de vida sustentável (TISCHNER; VERKUIJL, 2006).

É necessário desenvolver novos modelos de negócio permitindo com que os clientes vivam

melhor consumindo menos.

Para isso, propõe-se a mudança no comportamento social por meio dos sistemas produto-

serviço (PSS), o qual apresenta uma estratégia de negócio com foco na desmaterialização de

produtos, oferecendo a satisfação e não necessariamente propriedade física material (UNEP,

2004). Com isso, ocorre a redução dos impactos ambientais e melhor qualidade de vida dos

consumidores. Todavia, cabe ressaltar que apesar do potencial viés de sustentabilidade

vislumbrado em aplicações de PSS, o tema é recente e ainda dispõe de poucos trabalhos

científicos quando comparado com o desenvolvimento de produtos sustentáveis (MONT,

2002). Alguns métodos tem sido propostos para projetar PSSs, porém os mesmos apresentam

poucos estudos de caso publicados. (BAINES et al, 2007)

Diante da crescente atenção a questões que envolvem a produção e o consumo sustentável,

aliada à potencialidade das aplicações PSS configurarem alternativas para a concepção de

serviços e produtos que vão ao encontro dos princípios da sustentabilidade, este artigo

apresenta uma proposta de verificação da modelagem e gestão de processos de negócio como

uma forma de auxiliar na concepção, representação e aplicação de PSSs. A partir desta

proposta, elegeu-se para a análise uma metodologia de concepção de sistemas PSS e uma

técnica de modelagem de processos de negócio para verificar-se a possível

complementaridade entre as diferentes abordagens e os potenciais ganhos com a aplicação

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conjunta no âmbito dos PSSs.

2. Sistemas produto-serviço (PSS)

Mont (2002) afirma que a economia dos produtos se deslocou para os serviços há mais de 40

anos, tendo Becker (1962) como percursor. Pesquisas foram desenvolvidas sobre o

deslocamento da economia baseada na aquisição de produtos para a economia baseada na

utilização dos mesmos, propondo a redução de material por unidade de serviço.

Tradicionalmente produtos estão separados de serviços, no entanto Morelli (2002) apresenta

uma convergência na evolução destes fatores, os quais vão do “produto puro” , onde a

propriedade e custos de manutenção são do usuário, ao “serviço puro”, onde a função é

oferecer apenas o serviço.

Goedkoop et al (1999) define sistemas produto-serviço (PSS) no artigo “Product Service-

Systems – Ecological and Economic Basics”, onde o autor associa o conceito de PSS com um

sistema que possui uma infra-estrutura de produtos, serviços e interação entre stakeholders

com o objetivo de satisfazer os usuários através do valor de uso e minimizar o impacto

ambiental. Alguns autores como Brandsotter (2003), Manzini e Vezzoli (2003) e Unep (2004)

dizem que o PSS é uma estratégia de inovação, tornando-o um modelo de negócio de

destaque entre outros modelos de negócio tradicionais.

Os atuais modelos de negócio como produção sob encomenda, produção em lotes e produção

contínua oferecem o produto onde o mesmo é de propriedade e responsabilidade do

consumidor. O sistema produto-serviço busca a desmaterialização do consumo, novas formas

de atender o cliente e satisfazê-lo cumprindo suas necessidades (HALEN, VEZZOLI e

WINNER, 2005). Consequência do PSS é a minimização do impacto ambiental, pois são

retirados menos recursos ambientais para a fabricação dos produtos e são fabricados,

utilizados e descartados menos produtos no meio ambiente. O PSS tem potencial para ser uma

solução mais sustentável, mas não tem nada que comprove. (MANZINI e VEZZOLI, 2002).

Pesquisas estão sendo desenvolvidas para verificar esta hipótese.

Analisando o contexto atual sobre sistemas produto-serviço, verifica-se na literatura poucas

informações sobre ferramentas e metodologias bem desenvolvidas para representar o PSS na

prática. A seguir, no item 3.1 apresenta-se alguns estudos já realizados que necessitam

contribuições de autores de diferentes áreas como engenharia e design para maior

conhecimento sobre a utilização do PSS na prática

2.1 Metodologias e ferramentas para o desenvolvimento de sistemas produto-serviço

Foi identificado que sistemas produto-serviço apresentavam potencial para contribuir para o

desenvolvimento sustentável e para a competitividade, levando a União Européia, com apoio

do 5º Framework Programme (FP5), a investir no tema entre o ano de 1998 e 2004. Uma

variedade de projetos de pesquisa e metodologias para o desenvolvimento de PSS foram

apoiados pelos mesmos, os quais tinham como objetivo atingir prioridades em pesquisa e

desenvolvimento tecnológico, conforme Tukker e van Halen (2003). Formou-se então uma

rede de parceiros de empresas européias e instituições de pesquisa apresentando para a

indústria o novo negócio de transferir produtos para serviços. Denominou-se este grupo de

SUSPRONET (Sustainable Product Development Network), que possuía a responsabilidade

sobre os métodos iniciais para PSS.

Entre as metodologias mais disseminados encontram-se:

2.1.1 PROSECCO (Product & Service Co-design)

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Um dos objetivos é uma metodologia para gerenciar o desenvolvimento de sistemas produto-

serviço (PSS). Destinada a gestores que queiram implementar o PSS no processo de

desenvolvimento em sua empresa (TUKKER; TISCHNER, 2004). Possui um kit de

ferramentas de apoio para as empresas chamado de ID ProSer (Integrated design of products

and services) composta por três módulos conforme Tukker e Tischner (2004):

Módulo de reconhecimento de oportunidade: Contribui na identificação de novas

oportunidades no mercado, tendências, novas idéias para a redefinição da estratégia para a

empresa.

Processo de implementação do módulo: Apóia na redefinição do processo de inovação

da empresa, tornando-o adequado para o desenvolvimento de novas soluções de produtos e

serviços integrados.

Módulo de diagnóstico: Apresenta uma interação com ambos os módulos anteriores e tem

como objetivo determinar as necessidades das empresas.

A metodologia desenvolvida é genérica para o desenvolvimento de produtos, serviços e PSS.

Pode-se obter apenas um produto ou um serviço, mas direciona o usuário para o PSS, focando

na inovação e direcionando para ser utilizado nas empresas. A metodologia apresenta

soluções a curto prazo e uma plataforma on-line para auxílio às empresas na execução do

processo de desenvolvimento.

2.1.2 HICS (Highly Customerised Solutions)

Seu principal objetivo é fornecer soluções de valor agregado para produtos e serviços, tendo

como base a busca por inovações que atendam as necessidades específicas de cada cliente

respeitando suas questões culturais, contribuindo para a melhor qualidade de vida da

sociedade. As soluções são adquiridas através do envolvimento dos atores produtivos, os

quais conduzem o projeto de forma integrada. As ferramentas para o desenvolvimento dos

sistemas que representam as soluções baseadas em parcerias são apresentadas por Manzini et

al. (2004) e Jégou e Joore (2004).

2.1.3 MEPSS (Methodology for Product Service System)

O MEPSS é uma metodologia para o desenvolvimento de PSSs proposta por Halen, Vezzoli e

Wimmer (2005) e proposições de Vezzoli (2008) para sistemas sustentáveis. Tem como

objetivo implementar novas oportunidades de negócio para empresas através do

desenvolvimento de novos produtos e serviços relacionados com os negócios da empresa,

oferecendo qualidade para os consumidores e ao mesmo tempo minimizando os impactos

ambientais. Conforme Tukker e Tischner (2004), como o assunto é relativamente novo, tem

sido discutido e submetido a testes e workshops para refinar suas ferramentas e estrutura.

Alguns exemplos de trabalhos realizados no Brasil: SAMPAIO (2008) e SILVA (2010).

Através do endereço eletrônico (http://www.mepss.nl) e de um manual, pode-se entender o

MEPSS onde ambos introduzem o conceito e instrumentos relevantes à uma abordagem para

sistemas produto-serviço (PSS). As ferramentas e procedimentos são pouco aplicados na

prática. As principais fases do MEPSS que compõem a metodologia são (Figura 1):

5

Figura 1: Etapas do modelo MEPSS. Fonte: MEPSS (2010).

Fase 1- Análise estratégica: mapeamento do sistema original da empresa (mercado,

produção, ciclo de vida do produto, pontos fortes e fracos). O objetivo é criar novos

negócios baseados no PSS;

Fase 2- Explorando oportunidades: identificação de possíveis rotas de inovação em PSS:

geração de novas idéias, elaboração de cenários de cadeia de valor, aumento do

engajamento dos stakeholders internos e externos no processo, gestão da geração de idéias,

seleção de processos e coleção de idéias propostas;

Fase 3- Desenvolvimento do conceito do PSS: desenvolvimento da idéia de PSS,

selecionada na fase anterior. Os principais resultados desta fase são: o mapa do sistema de

stakeholders, o diagrama de funcionalidades do PSS, a tabela de interação e avaliação da

sustentabilidade, a visualização da lucratividade e o impacto da idéia;

Fase 4- Desenvolvimento do design PSS: consiste em detalhar o design de cada dimensão

do PSS e a elaboração das especificações para a implementação do mesmo;

Fase 5- Implementação: o projeto de PSS é colocado em prática, no entanto requer

administração e controle pois o mesmo é composto por processos com fluxos contínuos.

As fases propostas pelo MEPSS podem ser aplicadas na íntegra e sequencialmente ou

elegendo-se apenas uma fase específica tal como a de exploração de novas oportunidades. A

metodologia é composta de um conjunto de 23 ferramentas de apoio a elaboração de cenários

de PSS. Dentre estas ferramentas destaca-se o System map, que é direcionado a representação

de um cenário de PSS por meio de uma linguagem de representação própria e apresentado na

próxima subseção.

2.1.3.1 Ferramenta System Map

O System map é uma representação do sistema de atores do PSS, sendo utilizada em cada fase

da metodologia MEPSS. Na fase de análise estratégica é utilizada para mapear o sistema atual

e as fases seguintes é usada para representar o sistema PSS novo.

A ferramenta é projetada para ser usada por qualquer pessoa do desenvolvimento, pois não

necessita habilidades gráficas, somente uma biblioteca no power point com ícones pré-

desenvolvidos. Cada ator é representado por um ícone:

FORMA DESCRIÇÃO ATOR (FIGURA)

Estrutura

modular

Representa o

tipo de

instituição do

autor

Empresa Industrial Empresa de serviços Loja local

6

Casa coletiva Instituição pública Associação local

Casa individual etc.

Atores

primários

Ícones

maiores que os

atores

secundários

Atores

secundários

Ícones

menores

Biblioteca de

caracterização

de ícones

Pictogramas

para

caracterizar

os atores das

atividades

etc.

Estruturas

montadas

Processo de

construção dos

ícones + + fornecedor de comida biodegradável =

fornecedor de comida biodegradável

Fluxos

representados

por setas

Fluxo de

material

Fluxo de

informação

Fluxo

financeiro

Fluxo de

trabalho

Tabela 1: Ícones do System Map. Fonte: MEPSS (2010).

A Tabela 1 apresentou alguns ícones utilizados para o desenvolvimento de PSSs através da

ferramenta system map. Segue na Figura 2 um exemplo de um cenário PSS com os ícones

comentados anteriormente:

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Figura 2: Exemplo de um cenário PSS utilizando a ferramenta system map. Fonte: MEPSS (2010).

A Figura 2 é um cenário PSS utilizando a ferramenta system map. Nele, o cliente está se

tornando fiel à empresa, adquirindo o serviço personalizado de móveis corporativos para seu

ambiente, sem preocupar-se com manutenção, re-utilização ou descarte. Para isso, ele paga

uma mensalidade e adquire o serviço.

O cliente entra em contato com o atendimento que por sua vez encaminha um vendedor até o

cliente para verificar suas necessidades. Com o projeto pré-definido, o vendedor solicita o

projeto, o orçamento e informa o cliente sobre os mesmos. Aprovado o projeto e orçamento, é

feito o pedido para a indústria, a qual desenvolve os produtos a partir da matéria-prima

adquirida e encaminha junto de montadores o pedido. Após utilização do serviço, o cliente

entra em contato com o atendimento da empresa e solicita renovação do contrato ou finaliza o

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mesmo. Os móveis são encaminhados para a assistência técnica que faz a manutenção,

atualização, reparação e envia novamente para o cliente anterior ou para novos clientes. Caso

alguma material não possa ser reparado, é enviado para a coleta de lixo reciclável.

O cenário exemplificado é para mostrar como utilizar a ferramenta system map no

desenvolvimento de um PSS, com objetivo de facilitar o entendimento entre os envolvidos no

negócio. Com ela, os stakeholders podem visualizar de forma clara a situação que está sendo

analisada para então buscar melhorias.

Com isso, optou-se em utilizar o system map nesta pesquisa, para contribuir para o

desenvolvimento de processos de negócio PSS.

3. Modelagem de processos de negócios (BPM)

Para uma melhor compreesão de modelagem de processos de negócios é importante entender

o que é modelo. Para Vernadat apud Souza et al (2009), modelo é uma forma de representar

algo formalmente, através de maquetes, fluxogramas, desenhos e mesmo através da escrita.

Pidd (1998) afirma que as características desejáveis em um modelo é se tornar uma

ferramenta para servir de suporte ao raciocínio, não somente para registrar todas as

informações mas também para incentivar o raciocínio a organizar da melhor maneira o

processo de modelagem da empresa.

Entretanto, é importante entender também o que é processo de negócio. Para Souza et al

(2009), processo de negócio é uma referência comum entre todos os envolvidos no negócio,

sejam pessoas, sistemas ou recursos.

Conforme Zancul (2000), para modelar os processos de negócio em uma empresa, é preciso

descrever os elementos que contém no processo de modo que seja entendido por todos os

envolvidos no negócio. São descritas as atividades realizadas, os recursos utilizados, os

responsáveis por cada etapa do processo, as informações geradas e outros dados importantes

para a representação do negócio. Zancul (2000) afirma que o BPM é a união entre a gestão

dos negócios e tecnologia de informação com objetivo de melhorar os processos de negócio.

Entretanto, conforme mencionado no item 2.1 (Metodologias e ferramentas para o

desenvolvimento de sistemas produto-serviço), optou-se em utilizar o MEPSS nesta pesquisa,

mesmo com abordagens relevantes para a representação de sistemas produto-serviço, é pouco

estudado e utilizado na prática. Baines et al apud Vezzoli e Ceschin (2009) afirmam que as

metodologias e ferramentas para aplicação do PSS nas empresas apresentam limitações.

Com isso, propõe-se utilizar a modelagem de processos de negócio (BPM) para orientar os

fabricantes na aplicação desse sistema. O BPM possui ferramentas de fácil aprendizado e

utilização, que facilitam o entendimento entre os stakeholders, criando uma linguagem padrão

entre os envolvidos no negócio contribuindo para um novo sistema ou para melhorar o

sistema atual e projetar um sistema ideal para o negócio (SOUZA et al, 2009).

O próximo item 3.1 apresenta algumas técnicas de modelagem de processos de negócio.

3.1 Técnicas de modelagem de processos de negócio

Encontra-se na literatura uma variedade de técnicas para modelagem de processos de negócio,

entre elas destacam-se, conforme Souza et al. (2009):

BPMN (Business Process Modeling Notation): O BPMN é resultado de um conjunto de

ferramentas de modelagem de diversas empresas, tendo como objetivo criar uma

linguagem padrão para a modelagem de processos de negócio de fácil entendimento entre

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os stakeholders. A técnica é rica em elementos de modelagem: atividades, eventos,

gateways (decisões) e sequência de fluxos (sequence flows) ou rotas. Com isso, torna-se

uma ferramenta fácil de aprender e utilizar.

UML (Unified Modeling Language): a UML trata-se de uma forma de representação que

permite visualizar, especificar, construir e documentar softwares orientados a objetos, com

qualidade na identificação dos requisitos funcionais (necessidades do procedimento de

negócio em análise) e não funcionais (usabilidade, arquitetura, segurança, etc.). A UML

tem capacidade de modelar processos de negócios caracterizando os aspectos conceituais e

requisitos, atuando como uma técnica padrão de modelagem.

IDEF (Integration DEFinition): a IDEF tem como objetivo criar um método para a

modelagem de requisitos para sistemas. Permite analisar processos por meio da construção

de modelos que refletem sua funcionalidade atual e assim projetar a situação ideal para o

negócio.

EPC (Event-Driven Process Chain): O EPC trata-se da modelagem de processos

essencialmente baseados no controle de fluxos de atividades e eventos e suas relações de

dependência.

Entre as técnicas mencionadas anteriormente, a presente pesquisa irá abordar o BPMN, pois

conforme White (2004) se trata de uma técnica que possui um mecanismo simples para a

criação de modelagens de negócio e ao mesmo tempo tem competência para lidar com a

complexidade dos processos de negócio. Como a proposta é fazer com que os sistemas

produto-serviço façam parte dos modelos de negócio das empresas, é importante que a

modelagem possua um mecanismo simples para que o leitor visualize e reconheça facilmente

os elementos contidos no diagrama.

3.2 BPMN (Business Process Modeling Notation)

O objetivo do BPMN é criar um mecanismo simples para o desenvolvimento de modelos de

processos de negócio. Com isso devem constar nele informações compreensíveis por todos os

envolvidos no negócio (utilizadores, analistas e técnicos do negócio), deve apresentar uma

linguagem expressa visualmente com uma notação comum do processo de negócio, tudo em

um diagrama único chamado de diagrama de processos de negócio - BPD (Business Process

Diagram). (WHITE,2004)

O BPMN é formado por um conjunto de elementos gráficos facilmente compreensíveis e

familiares para a maioria dos modeladores como as atividades serem retângulos, decisões são

diamantes. Pode-se verificar as categorias básicas do BPMN a seguir:

a) Objetos de fluxo

OBJETO DESCRIÇÃO FIGURA

Evento Representado por um círculo;

Há três tipos de eventos: start, intermediate e end;

Acontece durante um processo de negócio.

Atividade Representado por um retângulo com bordas arredondadas;

Termo genérico para trabalho executado.

Gateway Representado por um diamante;

Usado para controlar a divergência e convergência da

sequência de fluxo;

10

Determina decisões.

Tabela 2: Objetos de fluxo. Fonte: WHITE, 2004

Os objetos de fluxo são representados pelos elementos gráficos facilmente compreensíveis:

evento com forma de círculo, atividade é representada por um retângulo com bordas

arredondadas e o gateway com forma de um diamante. Cada um deles tem um objetivo

específico no processo de negócio.

b) Objetos de conexão

OBJETO DESCRIÇÃO FIGURA

Fluxo de

sequência

Representado por uma linha sólida com uma seta sólida;

Usada para representar uma sequência com que as

atividades são realizadas em um processo;

Fluxo de

mensagem

Representado por uma linha tracejada com uma seta aberta;

Usada para representar o fluxo de mensagem ente dois

participantes do processo.

Associação Representado por uma linha pontilhada com uma seta linha ;

Usada para associar dados, textos e outros artefatos com

objetivos de fluxo;

São utilizados para mostrar entradas e saídas de atividades.

Tabela 3: Objetos de conexão. Fonte: WHITE, 2004

Os objetos de conexão são representados por linhas e setas onde cada uma tem uma função no

processo. São elas: fluxo de sequência, fluxo de mensagem e associação.

c) Swinlanes

OBJETO DESCRIÇÃO FIGURA

Pool Representa um participante em um processo;

Atua como participante para dividir um conjunto de

atividades de outros pools.

Lane Lane é a subdivisão de um pool tanto verticalmente quanto

horizontalmente;

Usadas para organizar e categorizar as atividades.

Tabela 4: Swinlanes. Fonte: WHITE, 2004

Os swinlanes representam os participantes no processo.

d) Artefatos

OBJETO DESCRIÇÃO FIGURA

Objetos de

dados

Objetos de dados são usados para mostrar como os dados

são requeridos ou produzidos por atividades;

Estão ligados às atividades através das associações.

11

Grupo Representado por um retângulo com canto arredondado e

linha tracejada;

Pode ser usado para documentação e análise.

Anotações Anotações são usados para adicionar informações ao leitor

de um diagrama BPMN.

Tabela 5: Artefatos. Fonte: WHITE, 2004

Nos artefatos são incluídos os dados, as anotações, a documentação, as análises para cada

atividade.

Como exemplo para representar um cenário PSS utilizando a técnica BPMN, segue Figura 3:

Figura 3: Diagrama de processos de negócio de um PSS para móveis corporativos

A Figura 3 é um exemplo de processo de negócio de um PSS para móveis corporativos, o qual

foi desenvolvido a partir da técnica BPMN utilizando o software BizAgi. O processo é o

mesmo apresentado na Figura 2 mas neste caso, utilizando a técnica BPMN. Primeiro dividiu-

se as swinlanes em indústria, cliente e atendimento. Em seguida iniciou-se o processo com a

12

necessidade do cliente identificada e encaminhada para a primeira atividade e assim seguindo

por todas as etapas do processo, cada um em seu respectivo swinlane até o encerramento do

contrato. É importante ressaltar que entre as atividades existem: os gateways, os quais

indicam um caminho ou outro a ser seguido no processo e artefatos que podem contribuir para

arquivar informações e facilitar o entendimento entre os stakeholders.

7. Considerações finais

Tendo em vista que o estudo realizado faz parte de uma etapa inicial de uma proposta de

verificação de viabilidade da modelagem e gestão de processos de negócio como uma forma

de auxiliar na concepção, representação e aplicação de PSSs. Chama-se a atenção para o fato

de que as ferramentas e metodologias projetadas para a concepção de PSSs observadas neste

trabalho não contemplarem a integração com a TI nas suas formas de representação, sendo

assim, não se vislumbra a implantação de sistemas a partir das representações geradas pelas

mesmas. Por outro lado, esta integração faz parte dos fundamentos de técnicas de modelagem

de processos de negócios como a que envolve a notação BPMN e fazem parte do conjunto de

ferramentas comercializadas para este propósito.

Neste sentido, a partir da gestão de processos de negócio (BPM) é possível identificar

processos de negócio de um PSS, representá-lo por meio da notação BPMN e utilizar-se de

softwares e tecnologias (BPMS) que permitem converter diagramas BPMN em sistemas de

controle, monitoramento e gestão de processos que envolvem um PSS. Entretanto, é

necessário ponderar que o custo e complexidade envolvida na automação de processos de

negócio de um PSS deve ser analisado em cada caso especifico, pois há casos em que seja

necessária apenas uma mais visão ampla do PSS a ser desenvolvido e o system map possa ser

a alternativa mais adequada.

Analizando o BPMN e o system map sob a ótica da comunicabilidade entende-se que apesar

do system map apresentar um conjunto de ícones mais representativos e do BPMN representar

um padrão para modelar processos do negócio, há espaço para a evolução de ambas no que

diz respeito as suas formas de representar e comunicar para diferentes stakeholders.

Identificou-se também que ambos primam pela simplicidade em suas formas de

representação. Contudo, deve-se notar que enquanto o system map foi idealizado para ser

utilizado por designer que pretendem projetar PSSs, o BPMN está mais voltado para gerentes,

analistas de negócio e profissionais de TI que buscam automizar seus processos com vista a

agilidade e lucratividade do negócio. Assim, a integração de propósitos destas diferentes

abordagens possivelmente resultaria num ferramental mais completo e ajustado tanto ao viés

das questões ambientais e de sustentabilidade como das preocupações com agilidade e

retabilidade do negócio.

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