uma preposição portuguesa
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R OCHA LIMA
UmaPreposiçãoPortuguesa
Rio de Janeiro, 2010
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UMA PREPOSIÇÃO PORTUGUESA
2 CARLOS HENRIQUE DA R OCHA LIMA
Carlos Henrique da Rocha Lima
Professor catedrático de Portuguêsdo Colégio Pedro II
Uma PreposiçãoPortuguesa(Aspectos do uso da preposição a
na língua literária moderna)
Tese de concurso para uma das cadeiras de Portuguêsdo Colégio Pedro II
Rio de Janeiro1954
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À memória do meu querido mestree amigo
QUINTINO DO VALLE,o professor perfeito de Português.
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Ao ilustre amigo
Professor ROBERTO ACCIOLI ,
Secretário-Geral de Educação e Cultura doDistrito Federal, em sinal de gratidão pelasconstantes provas de confiança que me tem
dado, desde que me concedeu a oportunidadehonrosa de colaborar em sua magnífica obra de
dignificação do ensino na Capital da República.
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CAPÍTULO I
A PREPOSIÇÃO A
São tão variados os empregos da preposição a em por-
tuguês e confinam, com matizes tão tênues, suas acepções, que
se afigura empresa sobremodo árdua surpreender-lhe e delimi-
tar-lhe os mal definidos contornos semânticos.
A partir do sentido fundamental de movimento dirigidoa um termo, “como o da seta arremessada ao alvo” (LEÔNI,
1858, II, p. 7), passou a preposição a (< ad ) por longa e aci-
dentada evolução, entrecruzando-se associações de ideias que
lhe foram ampliando, em progressivo enriquecimento, a área
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significativa, até torná-la, pela frequência e abundância do seu
uso, equivalente a quase todas as outras preposições portugue-sas (cf. MAGNE, 1950, v/a, VIII, p. 28-31).
Ao tentarmos classificar-lhe as mais importantes aplica-
ções, situá-la-emos em dois grandes grupos, conforme indique
ela movimento, ou repouso.
“ Al considerar el desenvolvimiento de las acepciones”,
adverte Cuervo no seu monumental Diccionario de Construc-
ción y Régimen de la Lengua Castellana,
conviene, eso sí tener presente que, lo mismo que sucede enotras palabras, su enumeración no presupone un orden recto
ascendente ó descendente, pues las hay que son colaterales. (v./a, p. 1).
O primeiro grupo tem por base a ideia de movimento,
que implica necessariamente a de direção e sugere a de limite
e termo, a qual, por sua vez, conduz à de lugar onde. Da ideia
central com suas ramificações podem inferir-se, em sequência,
no sentido próprio e no figurado, as seguintes séries principais:
extensão, distância, duração, prazo; tendência, destinação, fim;
ponto onde termina uma atividade, convertendo-se, então, a
partícula em sinal do objeto indireto (e, em certos casos, do
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objeto direto, para ficar bem sublinhado o elemento atingido
pela ação verbal).
Ao segundo grupo serve de núcleo a ideia de proximi-
dade com repouso, como também acontecia em latim:
Bien que ad, dans la plupart de ses emplois, implique une idéede mouvement, cette notion ne lui était pas nécessairementattachée, et il lui arrive de marquer la proximité avec repos.
(ERNOUT, 1951, § 46).
Daí se passa facilmente para o sentido de situação em geral no
espaço e no tempo. A ideia de aproximação no tempo provoca
a de concomitância, de onde se transita para a de condição e
causa; enquanto a noção de proximidade no espaço, gerando a
de conformidade, faz que desta se desentranhe a relação demodo, que sempre se liga à de meio e instrumento, e, mais re-
motamente, à de quantidade, medida e preço.
Tais valores, em sua maioria – porventura em sua totali-
dade – , já estavam estabilizados na Península Ibérica desde
época muito remota.
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Capítulo II
OBJETO INDIRETO
O principal papel de preposição a é introduzir o objeto
indireto, correspondente, portanto, o seu emprego ao emprego
normal do dativo latino.
Já ao tempo de Plauto (GRANDGENT, 1928 , § 90),
tendia o dativo a expressar-se pelo acusativo com ad. Nasceu
essa construção, como assinala Bourciez (1946 , §§ 116 e 31),
não só do fato de ter desaparecido toda a diferença entre frases
como dare alicui litteras e dare litteras ad aliquem, senão
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também do cruzamento analógico de frases como misit ad pa-
trem e dedit patri, de que surgiria o tipo dedit ad patrem.
Dans bien des cas, l’emploi de ad et de l’accusatif était voisin del’emploi du datif; et dès le début de la tradition, des verbesmarquant les mouvements, tels que mittere, adferre, etc., secontruisent des deux façons, suivant que l’on considérait soit àl’intention de qui l’action était faite (datif), soit vers qui elle étaitdirigée (ad et accusatif). Souvent la distinction était fuyante.(ERNOUT-MEILLET, 1932 , v./ad., p. 12).
A substituição do dativo pelo acusativo com ad se tor-
nou geral em quase todo o Império: das línguas românticas
somente o romero conversou o dativo, já com o valor próprio,
já com o do genitivo possessivo latino (MEYER-LUBKE,
1923 , §§ 39).
O objeto indireto representa “la persona o cosa a que se
dirige o destina la acción, o, también, en cuyo provecho o
daño se hace.” (ALONSO-UREÑA, 1943, I, p. 77).
Nesta definição englobam-se os casos do dativo de atri-
buição e do dativo de interesse, cujos limites, aliás, são pouco
nítidos; conforme muito bem acentua Ernout (1951, § 76), este
não é senão uma categoria daquele.
São várias as construções do objeto indireto:
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1) Serve de complemento a verbos acompanhados
de objeto direto, representando o elemento onde terminaa ação. Neste grupo incluem-se verbos que correspon-
dem, ou etimologicamente ou na significação, a verbos
latinos que regiam dativo ou ad , e, também, alguns ou-
tros que em latim se empregavam com duplo acusativo.
Exemplos:
senhora, vós sois senhoraemperadora,não deveis a ninguém nada,sede isenta.
(VICENTE, 1945 , vs. 195-198).
Novos mundos ao mundo irão mostrando.
(CAMÕES, 1943, II, 45).
O Capitão que a tudo estava atento,Tanto com estas novas se alegrou,Que com dádivas grandes lhe rogavaQue o leve à terra onde esta gente estava”.
(CAMÕES, 1943, I, 98).
Agora tu Calíope me ensina,O que contou ao Rei, o ilustre Gama...
(CAMÕES, 1943, III, 1).
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Deu a Costança a mão, mas a alma livre,Amor, desejo, e fé me guardou sempre.
(FERREIRA, 1945, vs. 64-65).
Pediu o filho pródigo a seu pai, que lhe desse em vida a parte daherança, que lhe pertencia.
(VIEIRA, s/d., II, p. 106)
Negou Labão a Jacó o prêmio de sete anos de serviço, em que se
concertaram...
(VIEIRA, s/d., II, p. 116).
Este homem acusado de se fazer Rei, deu olhos a cegos, ouvidosa surdos, pés a mancos, fala a mudos...
(VIEIRA, s/d., II, p. 18).
... foge depressa Ermelinde, e guarda a virgindade, que a Deosdedicaste.
(BERNARDES, 1945 , I, p. 3).
Às Náiadas piedosasMinhas queixas magoadasIrei contar...
(ELÍSIO, 1941 , p. 194).
Dar meia cidade aos mongesqueria o Rei liberal,mas os monges só quiseramuma casa monacal;contentes com Lorvão santo,seu paraíso terreal.
(CASTILHO, 1863 , p. 251)
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Iracema, depois que ofereceu aos chefes o licor de Tupã, saiu do bosque.
(ALENCAR, 1948 , p. 65).
Calisto escreveu numa página rasgada da carteira, e perguntouao criado se sabia ler.
(BRANCO, 1953, p. 70).
Alguém disse a Castilho Elói que o circunspeto Vasco da Cunha
não era estranho ao coração de Adelaide.
(CASTELO BRANCO, 1953, p. 91).
Talvez eu exponha ao leitor, em algum canto deste livro, a minhateoria das edições humanas.
(ASSIS, s/d.5, p. 15).
O oficial que entregou ao inimigo os planos de defesa da pátria,
emparelha com o que vende ao inimigo a vida dos seus camaradas.
(BARBOSA, 1946, p. 25)
A respeito de alguns verbos portugueses que em latim se
construíam com duplo acusativo escreveu Said Ali, com a se-
gurança de sempre, excelente lição na Revista de Língua Por-
tuguesa (n° 11, maio, 1921, p. 67-69).
2) junta-se à unidade semântica formada de verbo +
objeto direto, indicando o possuidor de alguma coisa.
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Neste caso, pode a preposição a ser substituída por de.
Prender-se-á, talvez, esta sintaxe ao dativo simpatético –
o qual, nas línguas clássicas, concorria com o genitivo. (Juret,
1926 , p. 214; e Tovar, 1946 , § 66).
Exemplos:
Vêm todos os cupidos servidores,Beijar a mão à Deusa dos amores.
(CAMÕES, 1943, IX, 36)
Mas a graça desse verdeTira a graça a toda cor.
(CAMÕES, 1932, p. 7)
De sorte que o fel daquele Peixe tirou a cegueira a Tobias ovelho, e lançou os Demônios de casa a Tobias o moço.
(VIEIRA, s/d. , II, p. 318)
... mandou cortar a cabeça a Adonias.
(VIEIRA, s/d., II, p. 100)
... porque basta que ele mude os nomes às cousas, para que elasmudem a natureza, e o que era, deixe de ser, e o que não era,seja.
(VIEIRA, s/d., II, p. 100)
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E quem queres tu que tape a boa aos namorados ou lhes acerte
com a vontade, com que o mesmo Amor não atina?
(MELO, 1943, p. 3)
Do filho do Trovão denominado,Que o peito domar soube à fera gente;O valor cantarei na adversa sorte,Pois só conheço Herói quem nela é forte.
(DURÃO, 1791, I, 1)
Gonçalo Lourenço entendeu-o. Beijou a não a el-rei e saiu.
(HERCULANO, s/d.4, II, p. 28)
... e, cheia de júbilo, mata a fome ao filho.
(ALENCAR, 1948, p. 123)
Sendo caso, porém que o teu enxame ignavo,lasso de fazer mel, farto do lar sombrio,só quis espairecer-se e errar pelo ar vazio,tolhe esse brinco vão; prende-as nas próprias casas;é facílima empresa: arranca à mestra as asas.
(CASTILHO, 1867, p. 237)
E com os dedos hábeis e leves consertou a gravata ao marido...
(ASSIS, 1923, p. 142)
Mas, como, naquela época, os legisladores sabiam melhor ossegredos à língua, em que falavam, natural havia de ser que osaproveitassem na contextura dos atos legislativos.
(BARBOSA, 1949, p. 17)
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3) Acompanha certos conglomerados constituídos de
verbo + objeto direto, de que depende o indireto. Tais con-
glomerados, que em latim regiam dativo (ERNOUT, 1951, §
80), formam uma massa verbal de significação indissolúvel, e
muitas vezes equivalem a verbos simples: pôr grosa a (dificul-
tar ) , pôr nome a (nomear, apelidar ) , pôr fim a, pôr termo a
(terminar ) , pôr cerco a (cercar ) , pôr freio a (refrear ); ter medo
a, ter receio a (temer, recear ); ter amor a (amar ) , ter ódio a
(odiar ) , ter inveja a (invejar ) , ter respeito a (respeitar ); fazer
guerra a ( guerrear ) , fazer frente a (enfrentar ) etc...
Alguns exemplos:
Andemos a estrada nossa,olhai não torneis atrás,que o imigoà vossa vida gloriosa
porá grosa...
(VICENTE, 1945, vs. 120-124)
Já que a bruta crueza e feridade
Puseste nome esforço e valentia...
(CAMÕES, 1943, IV, 99)
De sorte que Alexandro em vós se veja,Sem à dita de Aquiles ter enveja.
(CAMÕES, 1943, X, 156)
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Já não fareis docementeEm rosas tornar abrolhos
Na ribeira florescente; Nem poreis freio à corrente,E mais se for dos meus olhos.
(CAMÕES, 1932, p. 43)
Que, se o fino pensamentoSó na tristeza consistente,
Não tenho medo ao tormento:Que morrer de puro triste,
Que maior contentamento?
(CAMÕES, 1932, p. 45)
E porque não pôs Deus os nomes aos animais, e quis que lhos pusesse Adão?
(VIEIRA, s/d., II, p. 23)
Se for para a guerra, poderá voltar coronel, tomar gosto às armas,segui-las e honrar assim o nome de seu pai.
(ASSIS, s/d.3 , p. 20)
Não desconhecia o moço que a empresa a que metia ombros eracrespa de dificuldades.
(ASSIS, s/d.3 , p. 35)
Também outro tipo de conglomerado – formado de ver-
bo + predicativo – aceita complemento com a para designar a
pessoa ou coisa à qual vai o conjunto referir-se como útil ou
prejudicial, ou, ainda, “em que relação está uma pessoa com
outra.” (MADVIG, 1872, § 241, Obs. 4)
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...servi olhos a um cego.
(SOUSA, 1946, I, p. 14)
... e o rei dos bosquesserviu de pasto aos tragadores vermes.
(HERCULANO, 1878, p. 31)
sê mãe, conforto, providência, filhaao velho mártir que não tem ventura.
(RIBEIRO, 1943, p. 112)
Observações: Talvez se possa incluir nesta categoria o
caso em que a preposição a (ou pronome pessoal na forma á-
tona correspondente) “entra em certas combinações com o
sentido de com relação a alguém, considerado agente, a ori-
gem, etc.” (DIAS, 1933, § 151).
Exemplos:
Ouvido tinha aos Fados que viriaUma gente fortíssima de Espanha,Pelo alto mar, a qual sujeitariaDa Índia, tudo quanto Dóris banha...
(CAMÕES, 1943, I, 31)
E se vires que pode merecer-teAlguma coisa a dor que me ficouDa mágoa, sem remédio, de perder-te...
(CAMÕES, 1932, p. 153)
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os cantares que ouvira aos bisavós incultos,torne-os a ouvir de nós...
(CASTILHO, 1867, p. 115)
Se alguma cousa lhe mereço... peço-lhe me ajude francamenteneste empenho, com a autoridade de sua pessoa.
(ASSIS, s/d.3 , p. 23-24)
4) Figura num tipo especial de construção, na qual os
verbos fazer, deixar, mandar, ouvir , e ver se combinam a infi-
nitivo acompanhado de objeto direto, ou a verbo de ligação+
predicativo.
Trata-se da contravertida estrutura “ faire faire quelque
chose à quelqu’un”, em cuja exegese se têm afadigado alguns
mestres da filologia romântica, sem que até agora, nenhuma
das teorias apresentadas haja alcançado aprovação geral.
Exemplos:
Três cousas acho que fazemao douto ser sandeu...
(VICENTE, 1953, vs. 1-2)
Dali os pães semeadosVer a meus olhos deixárom,Que por não grados julgárom...
(FALCÃO, 1945, vs. 366-368)
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Até que na cerviz seu jugo metaDos soberba Tuí, que a mesma sorte
Viu ter a muitas vilas suas vizinhas,Que por armas tu Sancho humildes tinhas.
(CAMÕES, 1943, III, 89)
Não matou a quarta parte o forte Mário,Dos que morreram neste vencimento,Quando as águas co sangue do adversário,Fez beber ao exército sedento...
(CAMÕES, 1943, III, 116)
Este a mais nobres faz fazer vilezas...
(CAMÕES, 1943, VIII, 98)
Divino, almo pastor, Délio dourado,A quem de Anfriso já viram os pradosGuardar formoso, rico e branco gado...
(CAMÕES, 1932, p. 320)
– Assim é (disse Solino) que até óculos, que se inventaram pararemediar defeitos da natureza, vi eu já trazer a alguns por galan-taria.
(LOBO, 1941, p. 39)
Apareceu Deus na Sarça a Moisés e mandou-lhe descalçar os sa-
patos...
(VIEIRA, s/d., II, p. 380)
Antes já ouvi dizer a um pregador na minha igreja que cada um éobrigado a conhecer-se.
(MELO, 1943, p. 2)
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Mas observando, sem que o lenho o ajude,Em menos de um momento o fogo feito;
O mesmo imaginou, que a Grécia creu,Quando viu ferir fogo a Prometeu.
(DURÃO, 1791, II, p. 25)
– Minha querida filha, tu dizes coisas! Pois? não tens ouvido, ateu tio Frei Jorge e a teu tio Lopo de Souza, contar tantas vezescomo aquilo foi?
(GARRETT, 1943, p. 38)
Ribeiros, fazia-os galgar de um pulo ao meu ginete...
(HERCULANO, s/d.4 , I, p. 16)
O comendador fez-lhes saber que compraria as terras oferecidas;mas pelo preço por que as tinham adquirido.
(CASTELO BRANCO, 1885, p. 42)
Onde li eu que uma tradição antiga fazia esperar a uma virgemde Israel, durante certa noite do ano, a concepção divina?
(ASSIS, 1923, p. 73)
Quanto às amigas, algumas datam de quinze anos, outras demenos, e quase todas creem na mocidade. Duas ou três fariamcrer nela aos outros...
(ASSIS, s/d.5 , p. 4-5)
Vi-lhe fazer um gesto...
(ASSIS, s/d.5 , p. 1)
Em lugar do infinitivo pode vir uma oração de modo
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finito.
Exemplos:
Quisera-o eu consolar,Mas em cujo poder ia
Não me deu a mais lugarQue ouvir-lhe que dezia:Ó Guiomar, Guiomar,Em vós pus minha esperança...
(FALCÃO, 1945, vs. 331-336)
Mandou Cristo a S. Pedro, que fosse pescar...
(VIEIRA, s/d., II, p. 342)
Já o jurista começava a olhar com os primeiros toques desaudade para o instrumento, que, há dez lustros, lhe vibra entrededos, lidando pelo direito, quando a consciência lhe mandou
que despisse as modestas armas da sua luta...
(BARBOSA, 1921, p. 16)
Tem-se afirmado que, nas construções dos verbos fazer,
deixar, mandar, ouvir e ver ligados a infinitivo, só tem cabi-
mento junto a eles o pronome lhe( s), no caso de ser o infinitivo
acompanhado de objeto direto.
Entretanto, o exemplaríssimo Castilho, em harmoniosa
passagem do Tratado de Metrificação Portuguesa (p. 48), a-
bona o emprego da forma lhes, pertencente para mandar , não
obstante ser destituído de objeto direto o infinitivo seguinte;
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fê-lo, possivelmente, para guardar simetria com os outros dati-
vos não pronominais que dependem do mesmo verbo:
Primeiro aprendeu a dar com um pobre lápis algumas retas ecurvas sem significação; bosquejou parte por parte, masdesconexas e mortas as feições humanas, depois compôs acabeça, nela veio alvorecendo a vida; juntou o corpo e a atitude,compôs os grupos, mandou-lhes sentir, e falar ; às plantas, quevegetassem; ao céu, que resplandecesse; às correntes, quefugissem; à natureza inteira, que saísse do nada!
5) Liga-se a verbos intransitivos unipessoais, designan-
do a pessoa em quem se manifesta a ação.
Tal ocorre com verbos de efeito moral ( pesa, dói, a-
praz), de conveniência (convém, cumpre, importa), de dúvida
( parece, consta), de fenômeno psicológico (lembra, esquece,
admira, custa) etc.
Exemplos:
Prouvera a Deus, disse o ermitão, que tivéreis vós desimpedidose alumiados os olhos do entendimento...
(PINTO, 1940, I, p. 15)
Os cortesãos a quem tão pouco pesaSoltar palavras graves de ousadiaDizem que provarão, que honras e famasEm tais damas não há, pera ser damas.
(CAMÕES, 1943, VI, 44)
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Altamente lhe dói perder a glória,De que Nisa celebra inda a memória.
(CAMÕES, 1943, I, 31)
Pareceu a El-rei e aos seus que lhes acudia o Céu com socorro.
(SOUSA, 1946, I, p. 10)
...e me admirou, que se houvesse estendido esta ronha, e pegadotambém aos peixes.
(VIEIRA, s/d., II, p. 335)
Ao sacerdote cumpre aceitar esta [vida] por verdadeiro dester-
ro...
(HERCULANO, s/d.2, p. IX)
Um dia, há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho
Novo a casa em que me criei...
(ASSIS, s/d.5 , p. 6)
... comecemos a evocação por uma célebre tarde de novembro,que nunca me esqueceu.
(ASSIS, s/d.5 , p. 6)
Capitu propôs metê-lo em um colégio, donde só viesse aos sába-
dos; custou muito ao menino aceitar esta situação.
(ASSIS, s/d.5 , p. 361)
Observação: Alguns desses verbos, e ainda outros, po-
dem ter o sujeito precedido de preposição.
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Exemplos:
Por isso sam, e a isso vim;mas em fimcumpre-vos de me ajudara resistir.
(VICENTE, 1945, vs. 88-91)
Da cavalgada ao Mouro já lhe pesa,Que bem cuidou comprá-la mais barata.
(CAMÕES, 1943, V, 49)
A boca e os olhos negros retorcendo,E dando um espantoso e grande brado,Me respondeu, com voz pesada e amaraComo quem da pregunta lhe pesara.
(CAMÕES, 1943, V, 49)
– A noite passa. Horas são estasImpróprias de ir buscar outra pousada.Se vos não peja de aceitar a minha,Vinde.
(GARRETT, 1844, canto I, p. XXI)
O conde, olhando então para o topo da mesa, deu de rosto comlicenciado e custou-lhe igualmente a conter-se.
(HERCULANO, s/d.4 , I, p. 202)
– Que novos males Nos resta de sofrer ?
(DIAS, 1937, p. 77)
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Dói-me também, senhor conde – acrescentou o cavaleiro – de sereu quem vos houvesse de trazer tão desagradável mensagem.
(HERCULANO, s/d.3, p. 227)
É propriamente como sujeito de convir que o infinitivo
precedido de a funciona na locução convém a saber , usada nos
apostos explicativos e enumerativos:
...porém lembro-vos que são duas matérias as que tocou o senhorD. Júlio, convém a saber : a graça e composição do rosto e corpono falar, e o concerto das palavras e descrição das razões.
(LOBO, 1941, p. 158)
6) Une-se a verbos intransitivos pessoais, caso em que é
necessário distinguir, pelo menos, dois importantes grupos:
a)
O primeiro, integram-no verbos com os quais, por
ser óbvio, se pode omitir o objeto direto, figurando então so-
mente o indireto: escrever (uma carta) ao pai.
O mesmo ocorre em espanhol, onde o fato, já apontado
por Cuervo (1886, v/a, p. 8, 2ª col.), é assim explicado pelo professor da Universidade de Chicago Hayward Keniston:
With one group of verbs, those expressing communication bet-ween one person and another, such as escribir, hablar , and res-
ponder , the use of an indirect object is clearly a development ofan original use in which there was a direct indicating the personto whom the communication was addressed. With the omission
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of thedirect object of the thing, the indirect remains as thoughthe verbs were intransitive. (1937, p. 20-21).
Exemplos:
Falar ao Rei Gentio determina;Porque com seu despacho se tornasse,Que já sentia em tudo da malinaGente impedir-se quanto desejasse...”
(CAMÕES, 1943, VIII, 58)
Destarte as aconselha o Duque experto,E logo lhe nomea doze fortes,E porque cada dama um tenha certo,Lhe manda que sobre eles lancem sortes,Que elas só doze são: e descobertoQual a qual tem caído das consortes,Cada uma escreve ao seu por vários modos,E todas a seu Rei, e o Duque a todos.
(CAMÕES, 1943, VI, 50)
Ao mensageiro o Capitão responde,As palavras do Rei agradecendo,E diz...
(CAMÕES, 1943, II, 5)
Não vejo, nem escrevo a ninguém; mas enquanto me trago e me
sofro, não me faltam cuidados nem pesares.
(MELO, 1937, p. 45)
D. Plácida foi buscar um espelho, abriu-o diante dela, Virgínia punha o chapéu, atava as fitas, arranjava os cabelos, falando aomarido, que não respondia nada.
(ASSIS, s/d.5 , p. 273)
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Escrevi imediatamente a Virgília, e segui duas horas depois paraa Gamboa.
(ASSIS, s/d.5, p. 225)
A certa altura do famoso “Sermão de Santo Antônio”,
recitado, em 1654, na cidade de São Luís do Maranhão, usou
Vieira, na mesma página, do verbo pregar com a dupla sintaxe:
pregar alguma coisa a alguém e pregar a alguém.
Eis os lugares:
Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes?
(VIEIRA, s/d., II, p. 312)
Isto suposto, quero hoje à imitação de S. Antônio voltar-me da
terra ao mar, e já que os homens se não aproveitam, pregar aos peixes.
(VIEIRA, s/d., II, p. 312)
b) no segundo grupo reúnem-se verbos correspondentes
a verbos latinos que exigiam, por sua própria significação, a-
quele “complément de valeur au datif ”, de que nos fala Juret
(1926, p. 207), e ainda outros que não se construindo em latim
com dativo, tiveram alargado em português o campo semânti-
co, bifurcando-se-lhes o regime paralelamente aos novos sen-
tidos que adquiriram.
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Torna-se extremamente difícil, se não impossível, expli-
car à luz da sintaxe latina a construção de muitos desses ver- bos, não só porque alguns deles já foram transitivos em portu-
guês, senão porque outros ainda hoje se podem aplicar transi-
tiva ou intransitivamente, com diferenciação de sentido ou sem
ela.
Obedecer e resistir , por exemplo, que em nossos diassomente se usam com objetivo indireto, tinham dupla regência
(obedecer-lhe e obedecê-lo; resistir-lhe e resisti-lo) na lingua-
gem dos séculos XVI e XVII:
Assi foi, porque tanto que chegaramA vista delas, logo lhe falecemAs forças com que dantes pelejaram,E já como rendidos lhe obedecem.
(CAMÕES, 1943, VI, 88)
...não só ofendiam a Antônio, mas o obedeciam, e reverenci-avam.
(VIEIRA, s/d., III, p. 193)
Atai as mãos a vosso vão receio,Que eu só resistirei ao jugo alheio.
(CAMÕES, 1943, IV, 18)
Olha um Mestre que desce de Castela, português de nação, como conquistaA terra dos Algarves, e já nela
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Não acha que[m] por armas lhe resista...
(CAMÕES, 1943, VIII, 25)
Crês tu que já não foram levantadosContra seu capitão se os resistira,Fazendo-se Pirtas, obrigadosDe desesperação, de fome, de ira?
(CAMÕES, 1943, V, 72)
Servire (> servir ), que trazia habitualmente o comple-
mento em dativo, apresenta especializações de sentido em por-
tuguês, as quais se podem exprimir por construções diferentes
( servir-lhe e servi-lo), sem que, todavia, sejam nítidas, em cer-
tos casos, as fronteiras semânticas do verbo.
Mais complexo é quaerere (> querer ), com a dupla sig-nificação usurpada parte a velle e parte a amare (querer + acu-
sativo da coisa = velle; querer + dativo da pessoa = amare),
por isso que não se construía com dativo em nenhuma daque-
las acepções.
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CAPÍTULO III
OBJETO DIRETO PREPOSICIONAL
Ainda está por estudar a extensão do uso do objeto dire-to preposicional em português.
Aliás, este curioso fenômeno, inexistente em algumas
línguas românticas e comuníssimo em outras, não mereceu até
agora da parte dos romanistas nenhum exame sério de conjun-
to que lhe aprofundasse os aspectos funcionais, estilísticos ehistóricos.
Meyer-Lübke, sempre tão minucioso, dedicou a tal as-
sunto quatro cautelosas páginas (1923, §§ 350-351).
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Na Península Ibérica, os primeiros exemplos de ad a
preceder o objeto direto que designa ser animado aparecemnos princípios do século XI, fase a que pertence a passagem
“ Decepit ad sua germano”, da Esp. Sagr ., XXXVI, p. XXXIX,
ano 1032 (BOURCIEZ, 1946, § 236 a).
Das línguas nacionais são o espanhol e o romeno, este
com a preposição pe (> per ), as que lhe cultivam mais ampla-mente o emprego, o qual já se encontra satisfatoriamente sis-
tematizado nos tratados de sintaxe e nas boas gramáticas nor-
mativas de um e outro idioma. Descrições mais ou menos de-
senvolvidas podem ler-se, por exemplo, sobre o espanhol, em
Cuervo (1886, v. /a, 10), Keniston (1937, p. 7-18), Bello y Cu-
ervo (1945, §§ 889-900), Hanssen (1945, § 692); e na Gramá-
tica da Real Academia (§§ 240-242); e a respeito do romeno,
em recente trabalho de Alain Guillermou (1953, § 143).
São geralmente omissas, ou muito pobres de informa-
ções, as gramáticas do português. Epifânio da Silva Dias
(1933, § 27) apenas aflora o problema, e, no curto parágrafo
em que o faz, reúne casos muito heterogêneos, que cumpria
ordenar segundo um critério mais lógico.
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No substancioso artigo de Harri Meier intitulado “So bre
as Origens do Acusativo Preposicional nas Línguas Românti-cas” (1948, p.115-164), vem a matéria debatida com certa am-
plitude e profundidade. Todavia, não teve o autor propriamente
em vista estudar, em si mesmo, este difícil ponto da sintaxe
portuguesa; examinou-o tão somente na medida em que o con-
fronto com o espanhol lhe poderia ser útil ao objetivo de pes-
quisar as raízes linguísticas e a evolução histórico-geográfica
do fenômeno.
Em português, a preposição tem, amiúdem papel distin-
tivo evidente: serve de impedir que se tome por sujeito o obje-
to direto, sempre que o contexto não excluir, de pronto, tal in-
certeza. Apossando-se desse recurso, estenderam-na os escrito-
res a outras construções em que a partícula não apresenta por
exigência da clareza, senão que figura arbitrariamente, a título
de mero ornamento, com frequência variável de época para
época, ao sabor do gosto de cada um.
Passemos a apontar, com preocupação meramente expo-
sitiva, os principais usos do objeto direto com a em português.
Emprega-se, ou pode empregar-se, a preposição:
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1) – com as formas tônicas dos pronomes pessoais:
Que direi, Prudência minha? A vós quero por espelho.
(VICENTE, 1953, vs. 25-256)
Tudo me é contrairo assi:descuido matou meu gado,cuidado matou a mim.
(FALCÃO, 1945, vs. 218-220)
A vós, e a mi, e o mundo todo doma...
(CAMÕES, 1943, VI, 30)
Júlio César conquistouO mundo com fortaleza;Vós a mim com gentileza.
(CAMÕES, 1932, p. 75)
Não culpamos a ti: nem desculpamosAs descorteses mãos de teus ministros,Constantes no conselho, crus na obra.
(FERREIRA, 1945, vs. 1514-1516)
Igualmente trocamos nossas almas,
Esta que te ora fala, é de teu filho,Em mim matas a ele...
(FERREIRA, 1945, vs. 1379-1381)
Mor alteza, e mor ânimo é as grandezasDesprezar, que aceitar: e mais seguro
A si cada um reger, que o mundo todo.(FERREIRA, 1945, vs. 605-607)
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Um coração que, frouxo,
a grata posse de seu bem difere,a si, Marília, a si próprio rouba,e a si próprio fere.
(GONZAGA, 1942, p. 36)
romper a nuvem que os meus olhos cerra,amar no céu a Jove e a ti na terra!
(GONZAGA, 1942, p. 102)
Rubião viu em duas rosas vulgares uma festa imperial, e es-queceu a sala, a mulher e a si.
(ASSIS, 1923, p. 264)
Quem sabe se o destino marcara justamente a ela como a eleita?
(LOBATO, 1943, p. 454)
Na linguagem arcaica, como é sabido, não havia tal exi-
gência. E mesmo na linguagem moderna, e, até na de nossos
dias, não é raro aparecer um ou outro giro, às vezes determi-
nado pela construção especial que o escritor dá à frase, no qual
formas tônicas se empregam, desacompanhadas de proposição,
como objeto direto.
Em artigo publicado na Revista de Cultura (n.º 199, ju-
lho, 1943, p. 5-8), estuda Souza da Silveira esse interessante
fato, e cita numerosos exemplos, alguns dos quais transcreve-
mos a seguir:
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A NTÔNIO FERREIRA:
Eles falem por mim, eles sós ouve:Mas não te falarão, Senhor, com língua,Que inda não podem...
(Castro, f. 226 [está por erro 225]dos “Poemas Lusitanos, ed. de 1598).
CORTE R EAL:
E quando mais fortuna s'esforçava
Com ímpeto cruel, e brava fúria,Supitamente viu num mesmo pontoAs ondas aplacadas, e ele salvo.
( Naufrágio de Sepúlveda, I, p. 51)
JOÃO DE DEUS:
Ricas prendas! Todas elas
Me deu ele; sim, donzelas,Que não vo-lo negarei!Ah meu cinto de fivelas,
Nunca mais te cingirei!
(Campo de Flores, 5ª ed., I, p. 63)
GONÇALVES DIAS:
Subiu! – e viu como seus olhos
Ela a rir-se que dançava,Folgando, infame! nos braçosPor que assim o assassinava.
( Poesias, ed. de Said Ali, I, p. 115)
Além de se prenderem diretamente ao verbo, podem as
formas tônicas antecedidas pela preposição acompanhar, ou
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por amor da clareza, ou por servir à ênfase, ao objeto direto
expresso por formas átonas. É um pleonasmo literário muitoaceito aos escritores de todas as épocas:
Isabel não buscava coroas, antes as coroas a buscavam a ela...
(VIEIRA, s/d., II, p. 17)
...mudou o Hábito, mudou o nome, e até a si mesmo se mudou...
(VIEIRA, s/d., II, p. 317)
Porque está longe, julgas que não podeCastigar-vos a vós, e castiga-los?
(GAMA, 1941, II, 32)
Assinar uma fraca mulher?! E ela não me assassinou a mim?
(HERCULANO, s/d.4 , I, p. 5)
Exultarão do abismo os moradores,Vendo o hipócrita vil, mais ímpio que eles,Que escarnece do Eterno, e a si se engana...
(HERCULANO, 1878, p. 13)
Se os deixarmos a eles jurar e mentir à sua vontade, a monarquia
portuguesa daqui a pouco não terá mais realidade no mapa-múndi que a ilha Baratária do Miguel Cervantes, ou as ilhas bea-tas do poeta Alceu!
(CASTELO BRANCO, 1953, p. 33)
Quem me pôs no coração este amor da vida, senão tu? e, se euamo a vida, porque te hás de golpear a ti mesma, matando-me?
(CASTELO BRANCO, s/d., p. 23)
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Daí vem, talvez, a tristeza inconsolável dos que sabem os seusmortos na vala comum; parece-lhes que a podridão anônima os
alcança a eles mesmos.
(ASSIS, s/d.5, p. 365)
Algumas pessoas começaram a mofar do Rubião e da singularincumbência de guardar um cão em vez de ser o cão que oguardasse a ele.
(ASSIS, 1923, p. 18)
2) com outros pronomes referentes a pessoa:
Nunca esta moça sesseganem samica quer fortuna:anda em saltos com pega,tanto faz, tanto trasfega,que a muitos emportuna.
(VICENTE, 1953, vs. 340-344)
Que vença o sogro a ti, e o genro a este.
(CAMÕES, 1943, III, 73)
A grita se alevanta ao Céu, da gente,O mar se via em gogos acendido:
E não menos a terra, e assi festejaUm ao outro a maneira de peleja.
(CAMÕES, 1943, II, 91)
A todos encantaTua parvoíce...
(CAMÕES, 1932, p. 91)
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Dura jurisdição, por não dizer tirania, exercitam hoje muitos paissobre as condições, e a natureza dos filhos. Em nascendo, já fa-
zem a um, clérigo, a outro frade, a outro soldado; de espreitar ainclinação e jeito que cada um tem pera as cousas, não há tratar.
(SOUSA, 1946, I, p. 16-17)
Desejava o arcebispo doutrinar a todos, repartir-se por todos eser tudo a todos, como outro Paulo. Não podia um só corpo a-
branger a tantos...
(SOUSA, 1946, I, p. 112)
...a uns granjeava com favores, e mercês, como Rei, a outros so- jeitava com rigores, e castigos, como tirano. E por este mododominava de tal sorte a todos, que não havia no seu Reino, maisque uma só vontade, que era a sua.
(VIEIRA, s/d., II, p. 413)
...para que não suceda, que assi como hoje vemos a muitos de
vós tão diminuídos, vos venhais a consumir de todos.
(VIEIRA, s/d., II, p. 329)
...é ambição, de que a Natureza, ou a Fortuna tem excluído amuitos...
(VIEIRA, s/d., II, p. 254)
Diz Cristo universalmente sem excluir a ninguém, que ninguém
pode servir a dous Senhores...
(VIEIRA, s/d., II, p. 254)
...se torno a ouvir de vós queixa algũa, juro pela fé, que devo aBalduíno meu predecessor, que vos hei de coser vivo em ũa cal-deira,como ele coseu a outro, que roubou ũa viúva pobre.
(BERNARDES, 1945, I, 70A)
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E já que o Emperador admirava a austeridade de sua vida naque-le retiro, procurasse imitá-la no seu tanto: pois a ambos esperava
a mesma conta diante do Juiz supremo...
(BERNARDES, 1945, I, 79C)
Correm anos, torno a vê-la, damos três ou quatro giros de valsa,e eis-nos a amar um ao outro com delírio.
(CASTELO BRANCO, s/d., p. 158)
Não é que os óbolos enriqueçam a ninguém, mas há outras moe-
das de maior valia.
(ASSIS, 1923, p. 296)
A noite, mãe caritativa, encarregava-se de velar a todos.
(ASSIS, 1923, p. 64)
A viúva chorou como mamoeiro lanhado – fosse de sentimento,
de remorso ou para iludir aos outros.
(LOBATO, 1943, p. 81)
Até me espanta que tão grosseiramente pudesse o tal Lorena ilu-dir a todos com esse pilhéria...
(LOBATO, 1943, p. 495)
Nas construções deste tipo, exceto com um... outro a
denotar reciprocidade, também se pode omitir a preposição:
E consiste ela (a humildade) em quatro cousas, a primeira é emdesprezar a si, a segunda em não desprezar ninguém, a terceiraem desprezar o mundo, a quarta em desprezar os desprezos...
(PINTO, 1940, I, p. 54)
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Assi o tinha dito muito antes falando de Jacó e seu irmão, queamara um e aborrecera outro.
(SOUSA, 1946, I, p. 6)
A toda parte voa o Grão Barreto,E um anima, outro ajuda, outros exorta...
(DURÃO, 1791, IX, 70)
Mil amazonas mais à guerra manda:
Paraguaçu gentil todas comanda.
(DURÃO, 1791, IV, 45)
Perguntar não ofende ninguém.
(HERCULANO, s/d.4 , II, p. 106)
...chumbava no pavimento os pés do fugitivo. Fazia horror vereste.
(HERCULANO, s/d.4, II, p. 289)
Quando funcionam como aposto de objeto direto ex-
presso por pronomes pessoais átonos, tais formas costumam
ser usadas com preposição:
...já nos tendes a todos por filhos.
(GARRETT, 1846, Alfageme, ato I, cena VII)
...foi uma inspiração divina que os iluminou a ambos.
(GARRETT, 1943, p. 110)
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O bravo Caubi os afrontava a todos.
(ALENCAR, 1948, p. 39)
Quando nem mãe nem filho estavam comigo o meu desesperoera grande, e eu jurava matá-los a ambos, ora de golpe, ora de-vagar, para dividir pelo tempo da morte todos os minutos da vidaembaçada e agoniada.
(ASSIS, s/d.5 , p. 360)
Não obedece a qualquer regra de emprego da preposição junto aos pronomes de tratamento (V. Ex.ª, V. S.ª etc.)
Em Meier (1948, p. 161) leem-se numerosos exemplos,
os mais deles com preposição, colhidos na prosa epistolar de
Vieira, autor no qual, talvez por influência espanhola, quase
chega a ser um cacoete de estilo a preferência das formas pre- posicionais.
Às abonações do distinto romanista ajunto as seguintes,
de dois escritores mais próximos de nós:
Não atribuo isto a falta de equidade de V. Ex.ª, porque reconheçoa retidão da sua alma, e que nem ódio nem afeição seriam capa-zes de torcer os princípios de V. Ex.ª; antes o lanço à conta dosmuitos cuidados e negócios que cercam a V. Exª no alto cargoem que o colocou o voto unânime da Nação e a livre escolha deS. M. a Rainha.
(HERCULANO, s/d.1, I, p. 176)
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Procurarei oportunamente a V. Exª para saber o resultado de uma
pretensão em que estou certo V. Exª já de interessar-se.
(HERCULANO, s/d.1, I, p. 161)
...colocaram a V. Exª na desgraçada situação de mentir na suacarta narrativa dos Atos dos Apóstolos.
(HERCULANO, s/d.1, I, p. 78)
Eu já tive a honra de cumprimentar a V. Ex.ª ...
(CASTELO BRANCO, 1953, p. 71)
Sem preposição:
Respeito tanto V. Exª quanto estimulo seu venerando pai.
(CASTELO BRANCO, 1953, p. 69)
Calar-me-ei, se estou magoando V. Ex.ª .
(CASTELO BRANCO, 1953, p. 97)
3) com pronome quem, de antecedente expresso:
Qual vai dizendo: Ó filho a quem eu tinhaSó pera refrigério, e doce emparoDesta cansada já velhice minha...
(CAMÕES, 1943, IV, 90)
... perdi meu pai e senhor, a quem muito amava...
(LOBO, 1941, p. 119)
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S. Pedro, a quem muito bem conheceram vossos antepassados,tinha tão boa espada, que ele só avançou contra um exército in-
teiro de soldados Romanos...
(VIEIRA, s/d., II, p. 333)
Eu sou Daniel, e aquele Eremita, a quem tal ano, e dia hospedas-te em tua casa...
(BERNARDES, 1945, I, 129A)
... espalhando-se vários por várias partes, como gado a quem a-
çouta o furor da tempestade...
(BERNARDES, 1945, I, 52A)
Outra segue o Consorte, a quem namora...
(DURÃO, 1791, III, 35)
Ungi as mãos e a face com o nardo
Crescido nos jardins do Oriente,A receber com pompa, dignamente,Misteriosa visita a quem aguardo.
(QUENTAL, 1943, I, p. 87)
Tão confusa ficou, tão desorientada com a presença de um ho-mem que conhecera em especiais circunstâncias, e a quem nãovira desde 1877, que não pôde reparar em nada.
(ASSIS, s/d.2 , p. 82)
Na linguagem de nossos dias, o pronome quem, prepo-
sicionado e com antecedente expresso, reserva-se para entes
animados (de um ou outro sexo, no singular e no plural) e mais
propriamente para seres humanos. Outrora, porém, podia ter
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antecedente a seres não animados. Em Os Lusíadas é tão ami-
udado este último uso, que nos fica “a impressão de que o poe-ta quis dar vida e personalidade ainda às cousas mortas.”
(SAID ALI, 1931, 1ª parte, p. 114).
Exemplos:
Entre a Zona que o Cancro senhorea,Meta Septentrional do Sol luzente,E aquela, que por fria se arraceaTanto, como a do meio por ardente,Jaz a soberba Europa, a quem rodea,Pela parte do Arcturo, e do Ocidente:Com suas salsas ondas o Oceano,E pela Austral, o Mar Mediterrano.
(CAMÕES, 1943, III, 6)
Cidade nobre e antiga, a quem cercandoO Tejo em torno vai suave e ledo...
(CAMÕES, 1943, IV, 10)
Ó glória de mandar, ó vã cobiçaDesta vaidade, a quem chamamos Fama...
(CAMÕES, 1943, IV, 95)
Vindo o antecedente envolto (cf. BELLO-CUERVO,
1945, §§ 332 e 1042; e REAL ACADEMIA, Gram., § 367) na
própria palavra quem, é facultativa a preposição:
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a)
Assim como a própria sombra foge de quem corre após ela, e vaiapós quem dela foge, assim a verdadeira glória desta vida foge aquem a busca e busca a quem a foge, quere a quem a não quere,dá a quem lhe não pede, despede-se de quem a tem em muito,segue a quem a tem em pouco, esquece-se de quem a traz escritana lembrança, e lembra-se de quem a traz riscada do livro damemória.
(PINTO, 1940, I, p. 56)
Não me tenha amor ninguémPara obrigar meu querer,Que aborreço a quem me quer.
(LOBO, 1940, p. 149)
Como não havemos de amar muito, a quem nos amou tanto, que jamais poderemos alcançar, nem conhecer?
(VIEIRA, s/d., II, p. 400)
Nos brutos para doutrina dos homens parece que imprimiu o Au-tor da Natureza particular instinto de amarem a quem os ama.
(BERNARDES, 1946, II, 158A)
Mas, grande Deus, que vês nossa fraqueza No duro transe desta cruel hora, Não sofras quem essas feras com cruezaHajam de devorar a quem te devora...
(DURÃO, 1791, I, 87)
A quem não tem virtudes, nem talentos,ela, Marília, faz de um cetro dono;cria num pobre berço uma alma digna
de se sentar num trono.
(GONZAGA, 1942, p. 122)
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b)
Daqui me parto irado, e quase insanoDa mágoa e da desonra ali passada,A buscar outro mundo, onde não visseQuem meu pranto, e de meu mal se risse.
(CAMÕES, 1943, V. 57)
Eu, disse o Americano, antes de tudo
Amei do coração quem ser me dera...
(DURÃO, 1791, I, 56)
Era uma daquelas trovoadas do estio que arrebatam com a suasolene terribilidade quem as contempla.
(HERCULANO, s/d.4, II, p. 227)
Eu, para a outra vez, elegerei deputado quem me arranje o hábitode Cristo.
(CASTELO BRANCO, 1953, p. 147)
Responde que quer enganar quem lhe roubou seu marido.
(CASTELO BRANCO, 1953, p. 167)
Nas frases acima transcritas, o pronome quem se des-
mancha em antecedente + que, servindo o antecedente de ob-
jeto direto à oração principal, e o que de sujeito à subordinada.
Ainda se podem apresentar os seguintes casos:
a) o antecedente é objeto direto da oração principal, e o
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pronome que, também objeto direto da subordinada:
Com um temeroso prazerque sói ter quem recea,desejava eu de vera quem eu ainda vejaantes da vida perder.
(FALCÃO, 1945, vs. 636-640)
E assi não tendo a quem vencer na terra
Vai cometer as ondas do Oceano.
(CAMÕES, 1943, IV, 48)
b) o antecedente é predicativo da oração principal, e o
pronome que, o objeto direto da subordinada:
Muito a vi eu mudada;mas, com tudo, conheciser a minha desejadaa quem, assi vendo, vi,a vista no chão pregadacom o seu cantar pensosoe passadas esquecidas...
(FALCÃO, 1945, vs. 646-652)
Precedido de a, o pronome quem ainda pode ter os se-
guintes valores:
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a) aquele a quem:
Ao vento estou palavras espalhando; A quem as digo, corre mais que o vento.
(CAMÕES, 1932, p. 232)
b) àquele a quem:
Não receo, Senhor, que a fé tam firmeQueiras quebrar a quem tua alma deste...
(FERREIRA, 1945, vs. 133-134)
c) àquele que:
O sprito deu a quem lho tinha dado...
(CAMÕES, 1943, III, 28)
4) com o nome de Deus:
Nós não nascemos para conhecer o Sol, senão para conhecer a Deus...
(PINTO, 1940, I, p. 35)
A Deus temo.Tu no corpo só podes, ele n’alma.
(FERREIRA, 1945, vs. 418-419)
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...todo seu cuidado era trazer sempre a Deus diante dos olhos daalma...
(SOUSA, 1946, I, p. 25)
Os Reis também arremedam, ou querem arremedar a Deus nasoberania deste poder.
(VIEIRA, s/d., II, p. 23)
...que quanto mais buscava a Deus, tanto mais fugia dos homens.
(VIEIRA, s/d., II, p. 317)
Quanto melhor me fora não tomar a Deus nas mãos, que tomá-lotão indignamente!
(VIEIRA, s/d., II, p. 344)
Eu falo, mas vós não ofendeis a Deus com as palavras...
(VIEIRA, s/d., II, p. 344)
Vós não haveis de ver a Deus, e podereis aparecer diante delemuito confiadamente, porque o não ofendeste...
(VIEIRA, s/d., II, p. 344)
Não há cousa mais vil, nem mais cara que o pecado mortal; maisvil, pois é desonrar a criatura a Deus; mais cara, por tem pena de
morte eterna.
(BERNARDES, 1945, I, 89A)
Que muito fazes em louvar a Deus, quando vives em prosperida-de, quando em abundância, quando sem vexação nem injúria dealguém?
(BERNARDES, 1945, I, 33C)
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...com que um se faz indigno de conhecer a Deus.
(BERNARDES, 1945, I, 64C)
Eu sou relógio cristão, e louvo a Deus por tão grande mercê...
(MELO, 1943, p. 51)
Que quem recorre ao Céu no mal que geme,Logo que teme a Deus, nada mais teme.
(DURÃO, 1791, I, 83)
já nada vos dê cuidado,que a Deus levamos por guia.
(CASTILHO, 1863, p. 158)
Só há uma coisa necessária: possuir a Deus.
(BARBOSA, 1950, p. 74)
É raro omitir-se a preposição, como fez Herculano nos
passos seguintes:
Louvava Deus somente, á luz da aurora,E ao esconder-se o sol entre as montanhasDe Betoron...
(HERCULANO, 1878, p. 23)
Bem negra avulta aqui, na paz do vale,A imagem desse povo, que refluiDas moradas à rua, à praça, ao templo;Que ri, e chora, e folga, e geme, e morre,Que adora Deus, e que o pragueja, e o teme...
(HERCULANO, 1878, p. 59)
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Especialmente com verbos que indicam reverência e
adoração, destoa da índole da língua o suprimi-la. “Diz-sesempre: Amar a Deus como tradição da sintaxe antiga conser-
vada no catolicismo, e temente a Deus.” (DIAS, 1933, § 27).
Esta é, aliás, a construção generalizada nas línguas ro-
mânicas.
5) com nomes próprios ou comuns – para evitar a ambi-
guidade, ou por fatores outros (não bem caracterizados) que se
condicionam ao sentimento de certas épocas ou de certos es-
critores:
a) por necessidade de clareza:
Lia Alexandro a Homero de maneiraQue sempre se lhe sabe à cabeceira.
(CAMÕES, 1943, V, 96)
Em prática o Mouro diferentes,Se deleitava, perguntando agora,Pelas guerras famosas e excelentes,Co povo havidas, que a Mofoma adora.
(CAMÕES, 1943, II, 108)
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Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda...
(CAMÕES, 1943, I, 5)
Este é o primeiro Rei que se desterraDa pátria, por fazer que o AfricanoConheça polas armas, quanto excedeA lei de Cristo à lei de Mafamede.
(CAMÕES, 1943, I, 5)
A mãe ao próprio filho não conheça.
(CAMÕES, 1932, p. 170)
Uma, porque fugia ao deus do mar;Outra, porque temera o pátrio leito;E Cila, que a seu pai pôs em perigo,Só por ser muito amiga do inimigo.
(CAMÕES, 1932, p. 229)
Vence o mal ao remédio. Vejo o ifanteDe todo contra mim determinado,Duro a meus rogos, mais duro aos mandados.
(FERREIRA, 1945, vs. 642-644)
Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam...
(VIEIRA, s/d., II, p. 341)
De alguns animais de menos força, e indústria se conta, que vãoseguindo aos Leões na caça; para se sustentarem do que a elessobeja.
(VIEIRA, s/d., II, p. 335)
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Tal havia que ao meu consertador julgava digno de um hábito deCristo.
(MELO, 1943, p. 23)
b) por fatores não bem caracterizados:
Louvai, anjos do Senhor,ao Senhor das altezas...
(VICENTE, 1953, vs. 549-550)
Nas alparcas dos pés, enfim de tudo,Cobrem ouro e aljôfar ao veludo.
(CAMÕES, 1943, II, 95)
Benza Deus aos teus cordeiros.
(LOBO, 1928, p. 54)
...pois só a perla com que conquistou a Servília, mão de Bruto,lhe custou seiscentos sestércios.
(LOBO, 1941, p. 144)
Festejaram todos a Solino.
(LOBO, 1941, p. 50)
O trabalho era contentar aos sátrapas, queria dizer, que parecesse bem a eleição aos senhores e aos nobres da Corte.
(SOUSA, 1946, I, p. 43)
... o verdadeiro conselho é calar, e limitar a S. Antônio.
(VIEIRA, s/d., II, p. 334)
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Os homens perseguindo a Antônio, querendo-o lançar da terra...
(VIEIRA, s/d., II, p. 314)
Tu, que foste o terror da índica gente,Que da Lísia humilhaste aos Reis Augustos;Lá estava entanto a tua sorte escritaDe vires a acabar nesta desdita.
(DURÃO, 1791, X, 36)
Se o mundo conhece males,tu os maiores fizeste;sim, tu a Troia queimaste,tu a Cartago abrasaste,e tu a Antônio perdeste.
(GONZAGA, 1942, p. 64)
Eu estimei e respeitei sempre a D. João de Portugal...
(GARRETT, 1943, p. 54)
à justiça dos céus!, insondável!, terrível!,seguiu logo a da terra; a da terra; a falível;a que esgrime sem ver; a que pregou na cruzao bom e ao mau ladrão, e entre ambos a Jesus...
(CASTILHO, 1863, p. 38)
Não culpo ao homem; para ele, a cousa mais importante do mo-
mento era o filho.
(ASSIS, s/d.5 , p. 243)
Apenas executo exíguo número, e pode ser que, unicamente, a Péricles, teu tutor; porque tem cursado os filósofos.
(BARBOSA, 1921, p. 34)
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A regra da igualdade não consiste senão em quinhoar desigual-mente, aos desiguais, na medida em que se desigualam.
(BARBOSA, 1921, p. 25)
Amara uma dúzia de meninas em duas centenas de sonetos par-nasianos, e por fim elegeu como diva à Nonoca Fagundes, umaloura translúcida, magrinha, de falas melífluas – Botticelli tem-
perado à moderna, dizia ele.
(LOBATO, 1943, p. 182)
De Lobo (1941, p. 19) é este magnífico exemplo, que
atesta aquela arbitrariedade a que aludimos (p. 43), variável ao
sabor do gosto do escritor:
... que a história verdadeira apascenta os doutos, adelgaça os grosseiros, encaminha os moços, insina os mancebos, recreia osvelhos, anima aos baixos, sustenta os bons, castiga aos maus,
ressuscita aos mortos, e a todos dá fruito a sua lição.
6) quando se coordenam pronome átono e substantivo:
“É este um fato” – diz Mário Barreto (1916, p. 95) – “de
que não tratam os que se têm ocupado do emprego da preposi-
ção a no acusativo”. E arrola os seguintes exemplos:
O nobre barão satisfez essa curiosidade, narrando, não só o quese passara no ajuntamento da cúria, mas tudo o que depois suce-dera, e como o bobo o salvara e a Fr. Hilarião.
(HERCULANO, s/d.3, cap. XII, p. 212)
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Sabes, acaso, a quem os homens das trevas pretendem submeter-te e a teus filhos e netos? ( Id ., 1873, t. I, p. 107).
D. Henrique, não podendo conter mais a cólera, despediu-o e aoscolegas. (SILVA, 1860-1871, t. I, p. 524).
Diogo de Melo suplicara ao corregedor que o salvasse e aos seusinocentes companheiros das iras do povo, já sabedor do engano.(CASTELO BRANCO, Sentimentalismo e História, I, p. 20, ed.de 1879).
Minha irmã então conta-me que toda a gente em Viseu sabia quemeu marido vivia em Lisboa ligado publicamente com uma mu-lher muito conhecida, e em breve me reduziria e aos filhos a es-molar o pão dos parentes. (CASTELO BRANCO, A mulher fa-tal , cap. X, p. 203).
Ora, ao depois, quando eu voltara de Alijó de lhe ir chamar o ci-rurgião, tornei a topar os tais homens a irem já para casa; e, as-sim eu me viram a mais ao cirurgião, aperraram as clavinas emeteram-nos a cara para nos conhecerem. (CASTELO BRAN-CO, O santo da montanha, cap. XXII, p. 203)
Por furtá-la a olhos pagãos, envolveu-a numa nuvem, e a Doro-teu também. (CASTELO BRANCO, Os mártires, v. II, p. 218,ed. de 1865).
Que pena a que temos de não poder recebê-la e aos seus no diamarcado! (LAET, Jornal do Brasil , 11 de julho de 1915).
Conforme se vê, dos oito exemplos citados por Mário
Barreto nenhum é anterior ao século XIX. Em nossas leituras,
por mais que diligenciássemos encontrá-la, jamais topamos tal
construção em escritores dos séculos XVI, XVII e XVIII.
Com autores de quinhentos pode abonar-se facilmente a
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coordenação de pronome átono e pronome tônico e substantivo:
Aqui os ponho todos juntos, e a mim com eles a este fogo queem vós arde...
(JESUS, 1865, I, p. 59)
De um seiscentista é o exemplo seguinte, que, todavia,
hesitamos em pôr no mesmo plano dos outros:
Sabem todos quão grande vitória aquela é que V. S. de si mesmovai alcançando, conhecendo- se a si e ao mundo.
(MELO, 1937, p. 165)
Fundamenta-se nossa dúvida no fato de trazer o prono-
me átono o reforço de um pronome tônico precedido de prepo-
sição, o que teria, talvez, provocado insensivelmente o apare-cimento da partícula no segundo membro da coordenação, sob
o império daquela “tendência paralelizante”, de que nos fala
Meier (1948, p. 163).
De qualquer forma, se não é privativa do português con-
temporâneo, é pelo menos um tanto rara antes do século XIX aconstrução que estamos estudando.
Eis algumas passagens, que aditamos às do grande mes-
tre da sintaxe portuguesa:
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... o reitor o esperava e aos seus respeitáveis hóspedes...
(HERCULANO, s/d.4, II, p. 200)
Foi a comadre do Rubião, que o agasalhou e mais ao cachorro,vendo-os passar defronte da porta.
(ASSIS, 1923, p. 357)
De resto, não pude mirá-lo por muito tempo, nem ao agregado,que, paralelamente a mim, erguia a cabeça com o ar de se ele
próprio o Deus dos exércitos.
(ASSIS, s/d.5 , p. 89)
7) quando vem o objeto direto acompanhado de aposto
predicativo:
A qual logo aquele diaque soube de seus amores,aos parentes de Mariafez certos e sabedoresde tudo quanto sabia.
(FALCÃO, 1945, vs. 41-45)
A muitos tenho eu por inimigos...
(LOBO, 1941, p. 94)
Erotes, escravo de Marco Antônio, se matou de pesar de ver aseu senhor vencido de Augusto.
(LOBO, 1941, p. 95)
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Pintaram pois ao Amor, minino, fermoso, com os olhos tapados,despido, com asas nos ombros e armado de arco e setas...
(LOBO, 1941, p. 124)
Depois que Deus criou o mundo, e o povoou, e fez a Adam Rei,e Senhor de todo ele, mandou que todos os animais viessem à
presença do mesmo Adam, para que ele lhe pusesse os nomes...
(VIEIRA, s/d., II, p. 23)
Posto que elegante, não é obrigatória a preposição:
Nem se pode esquecer aquele grande ânimo de Lázaro Cherdo,escravo, de nação serviano, que, vendo seu senhor cativo de tur-cos, e depois morto, desejando vingar-lhe a morte por preço desua vida, fingindo que vinha fugido dos húngaros entrou nocampo turquesco, e dizendo que queria falar a Amurates, primei-ro emperador daquele Império, o matou a punhaladas...
(LOBO, 1941, p. 95)
Curioso caso é o desta passagem de D. Francisco Manu-
el de Melo, a qual teria sentido diferente do que tem, se o pre-
dicativo levasse preposição:
... sendo eu dos mais anciãos relógios da cidade, me deram poraio um mentecapto.
(MELO, 1943, p. 5)
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8) com nomes antecedidos de como, nas comparações:
... e eu, com o resto que do meu dote ficara, aborrecendo a pátriacomo a madrasta, determinei logo buscar em Reino alheio seguramorada.
(LOBO, 1941, p. 121)
É o que há poucos meses a teus pés e de joelhos, este pobre ve-lho, que te ama como a filho, te pediu em nome de Deus: perdão!
perdão!
(HERCULANO, s/d.4, I, p. 107)
Iracema saiu do banho; o aljôfar da água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva.
(ALENCAR, 1948, p. 11)
Isto causou estranheza e cuidados ao amorável Sarmento, que prezava Calisto como a filho.
(CASTELO BRANCO, 1953, p. 80)
Cada um daqueles amigos do Rubião estava afeito a ver as pes-soas do lugar, as caras da manhã e as tarde, alguns chegavam acumprimentá-las, como aos seus próprios vizinhos.
(ASSIS, 1923, p. 304)
Mas nada me entusiasma.Olho-te como a um fantasma.
(OLIVEIRA, 1912, 1ª série, p. 348)
“Tal é a construção” – anota Mário Barreto – “pontual-
mente obervada pelos nossos escritores-modelos. Valem-se de
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como para o referir ao nominativo, e dão-lhe a partícula a se o
referem a dativo ou acusativo.” (1911, p. 84; cf., também1916, p. 184-185).
Não perigando a clareza, pode ir o complemento com
preposição ou sem ela. No seguinte trecho de Camilo Castelo
Branco (1947, p. 129), dispensou-se o a depois do segundo
como por não haver nenhum risco de anfibologia:
– Maridos dignos são unicamente aqueles que afagam como a fi-lhas as mulheres estremecem como pais...
Ou não terá Camilo, que possuía como poucos o senti-
mento da língua, buscado aí uma leve matização de sentido, ao
pôr em contraste as duas construções?
Com efeito, houve quem estabelecesse sutil diferença
entre frases dos tipos “tratavam-no como pai” e “tratavam-no
como a pai”. Na primeira, pai figuraria à guisa de um predica-
do, um modo de ser atribuído a o (no); assim se diria de algu-
ma pessoa a quem se olhasse como se fora pai, sem que de fa-to o fosse. Na segunda, ao contrário, pai denotaria um “entre”
com todas as qualidades de pai.
Os exemplos seguintes parece confirmarem a observação:
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Não ando gente estes dias; porém nem por isso deixam os des-gostos de me tratar muito como a gente.
(MELO, 1937, p. 131)
... e nós habituamos-nos a tê-la em conta de segunda mãe: tam- bém ela nos amava como filhos.
(HERCULANO, s/d.4, I, p. 21)
9) quando o objeto direto antecede ao verbo:
Ao vão, nem o gavo, nem o repreendo.
(LOBO, 1721, p. 22)
... enfim, ainda ao pobre defunto o não comeu a terra, e já o temcomido toda a terra.
(VIEIRA, s/d., II, p. 326)
... aos ministros todos os adoram, mas ninguém os crê.
(MELO, 1943, p. 8)
Não façais caso disso, que a relógios do chão ninguém os escu-ta...
(MELO, 1943, p. 57)
Ao cristão infeliz acolhe no ermo,E consolando-o, diz-lhe...
(HERCULANO, 1878, p. 64)
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Dali o nosso olhar vê tão estranhasCousas, por esse céu! e tão ardentesVisões, lá nesse mar de ondas trementes!E às estrelas, dali, vê-las tamanhas!
(QUENTAL, 1943, p. 73)
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CAPÍTULO IV
ADJETIVOS E SUBSTANTIVOS
1) Constroem-se com a os adjetivos (e os substantivos
tomados adjetivamente) que correspondem, ou etimologica-
mente ou na significação, a adjetivos latinos que se usavam
com dativo ou ad .
Tais são especialmente os que significam:
a) disposição de ânimo em relação a um objeto:
aceito, agradável, caro, grato, favorável, benigno, fiel, dócil,
propício, leal, amigo, contrário, hostil, traidor, avesso, adver-
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so, rebelde, odioso, refratário, útil, nocivo, prejudicial, perni-
cioso, sensível, duro, surdo, cego, mudo, atento, alheio;
b) aproximação:
próximo, propínquo, vizinho, adstrito, comum;
c) semelhança:
semelhante, análogo, igual, idêntico, equivalente, conforme,
paralelo;
d) concomitância:
coevo, coetâneo, contemporâneo.
Além desses:
e) os adjetivos em – nte, derivados de verbos que se
constroem com a ( sobrevivência, correspondente);
f) os particípios passivos de verbos reflexos que se
constroem com a (afeiçoado, acostumado, parecido);
g) os comparativos formais anterior, posterior, superi-
or e inferior .
Alguns desses adjetivos também se empregam com de,
fundamentando-se tal duplicidade na sintaxe latina.
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66 CARLOS HENRIQUE DA R OCHA LIMA
aceito:
O sacrefício a Deus aceito É o spírito atribuladoPolos males que tem feito...
(VICENTE, 1928, fls. CCLI)
Trabalhos, que vos façam ser aceitos Às eternas esposas, e formosas,Que coroas vos tecem gloriosas.
(CAMÕES, 1943, X, 142)
Pera servir-vos braço às armas feito,Pera cantar-vos mente às Musas dada,Só me falece ser a vós aceito,De quem virtude deve ser prezada...
(CAMÕES, 1943, X, 155)
Aos padres mais graves da Província, foi em especial aceita a e-leição, entre os quais o mestre frei Luís de Granada, que entãoera provincial, foi o que mais a festejou...
(SOUSA, 1946, I, p. 34)
...que por suas grandes partes e provada virtude, foi sempre acei-to aos príncipes deste Reino...
(SOUSA, 1946, I, p. 41)
... fundavam a esperança no valimento de João conhecidamenteo mais aceito a Cristo...
(VIEIRA, s/d., II, p. 87)
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CARLOS HENRIQUE DA R OCHA LIMA 67
Os Nigromantes, que o Brasil respeita,Um marraque descobrem venerado;Insígnia na Nação, que ao povo aceita,Consideram por Símbolo Sagrado...
(DURÃO, 1791, V, 75)
Sim, que estudo e razão lhe persuadiramQue ao vate aceito a Apolo, aceito às Musas, Cabe espertar no ouvinte imagens vivas...
(ELÍSIO, 1941, p. 26)
O pai destes fidalgos, tão aceitos a D. João IV , foi D. João daSilva, conde de Portalegre...
(CASTELO BRANCO, 1874, p. 16, nota)
Pois eu digo que este é o templo aceito a Deus...
(BARBOSA, 1949, p. 17)
E a causa aceita aos deuses não pode ser mal vista a Catão.
(BARBOSA, 1949, p. 183)
É o particípio passivo acceptus, do verbo accipere = re-
ceber .
Também se pode dizer: aceito nos olhos de alguém ou
aceito diante dos olhos de alguém. Magne (1950, v/aceito) cita
dois exemplos de Bernardo de Brito:
não há diante dos olhos de Deus sacrifício mais aceito que aobediência.
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as obras eram aceitas nos olhos de Deus.
fiel:
Mas não posso convir no exposto rogo,Sendo fiel ao Rei, português sendo...
(DURÃO, 1791, VIII, 8)
E foi fiel ao juramento santo...
(ELÍSIO, 1941, p. 202)
...ficando eu viúva aos trinta e nove anos, fui, sou e serei fiel à sua memória.
(CASTELO BRANCO, 1953, p. 119)
contrário:
Vencerei (não só estes adversários:)Mas quantos a meu Rei forem contrários.
(CAMÕES, 1943, IV, 19)
Julgaram nossos Pais na antiga idade,Que se ofende no incesto o impresso lime,Como contrário à paz da sociedade...
(DURÃO, 1791, III, 77)
avesso:
... convém não esquecer que essas qualidades eram justamente asmais avessas à índole do filho de Valéria.
(ASSIS, s/d.3 , p. 42)
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caro:
noite cara a amor e aos cantos...
(CASTILHO, 1863, p. 23)
traidor:
traidor foi seu padre ao reino...
(CASTILHO, 1863, p. 160)
rebelde:
Rebelde às admoestações sisudas de amigos...
(CASTELO BRANCO, 1953, p. 48)
surdo:
O pranto dos hebreus não Te comove?És surdo a seus lamentos?
(HERCULANO, 1878, p. 29)
duro:
Seu cepticismo não o fazia duro aos males alheios...”
(ASSIS, s/d.3 , p. 22)
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semelhante:
Andavam com mantos algum tanto semelhantes aos das mulhe-res...
(BERNARDES, 1945, I, 4C)
vizinho:
Uma, que às mais precede em gentileza, Não vinha menos bela, do que irada:Era Moema, que de inveja geme,E já vizinha à nau se apega ao leme.
(DURÃO, 1791, VI, 37)
igual:
Dai-me igual canto aos feitos da famosaGente vossa, que a Marte tanto ajuda...
(CAMÕES, 1943, I, 5)
conforme:
E mais lhe diz também, que ver desejaOs livros de as lei, preceito, ou fé,
Pera ver se conforme à sua seja,Ou se são dos de Cristo, como crê...
(CAMÕES, 1943, I, 63)
Este adjetivo aceita, inda, a preposição com, segundo se
lê neste lanço do elegantíssimo Frei Luís de Sousa:
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A criação que nos tempos passados tinham os moços neste Rei-no, era tão austera e tão conforme com as regras de prudência,
que daí nascia saírem na guerra valentes e animosos e na Religi-ão sábios e penitentes.
(SOUSA, 1946, I, p. 19-20)
alheio:
Mas os Estados Unidos confiam nas vantagens da sua posição privilegiada, soberana neste continente e alheia aos conflitos do
outro...
(BARBOSA, 1946, p. 162)
inferior:
Lembra-me agora o que vi suceder a um cágado com uma águia,lá em certa lagoa da minha aldeia: veio a águia, e de repente olevantou nas unhas, não com pequena inveja das rãs, e de outros
cágados, que o viram ir subindo vendo-se eles ficar tão inferioresa seu parceiro.
(CASTELO BRANCO, 1953, p. 95)
anterior:
A noite em que me dizias – alma e corpo, dou-vos tudo – foi, se bem me recordo, anterior a esta...
(HERCULANO, s/d.4, II, p. 210)
superior:
Que motivo tão forte a obriga a exigir desse moço um sacrifício superior a suas posses?
(ASSIS, s/d.3 , p. 33)
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2) Alguns substantivos verbais, tal como em latim,
(ERNOUT, 1951, § 80), conservam o complemento com a do
verbo correspondente: obediência, submissão, sujeição, adap-
tação, adesão, alusão, assistência etc.
Exemplos:
...podia tanto comigo a consciência da sujeição ao dever, que...
(CASTELO BRANCO, 1953, p. 131)
Não conhecem a obediência aos superiores e a reverência aosmestres.
(BARBOSA, 1924, p. 284)
De ordinário, o substantivo (como objeto direto) formacorpo com o verbo, e o complemento se prende mais propria-
mente ao conjunto ( fazer guerra a, ter horror a), conforme
vimos no Capítulo II, 3.
Terá sido por aparecerem com frequência em locuções
desse tipo que muitos substantivos abstratos, quando empre-gados isoladamente, se passaram a construir com a:
Impediam-no o natural acanhamento de provinciano, e o afeto entranhado aos seus clássicos...
(CASTELO BRANCO, 1953, p. 36)
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Eis aqui a razão do ódio de Calisto à raça do mau português.
(CASTELO BRANCO, 1953, p. 45)
...nestas cegas agitações de ódio a outros povos...
(BARBOSA, 1921, p. 52)
“No tocante a este ponto", diz Magne (1950, p. 24), “cu-
ja exposição exaustiva levaria muito longe, baste notar que,
em muitos casos, a par com a, podem ocorrer por, para, paracom, de, com”.
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CAPÍTULO V
COMPLEMENTOS CIRCUNSTANCIAIS
I) Encabeçando complementos circunstanciais, a pre- posição a exprime um sem número de relações:
1) termo de um movimento:
Tudo isso se descarregaao porto da sepultura.
(VICENTE, 1945, vs. 338-339)
Isto dizendo, o Mouro se tornouA seus batéis com toda a companhia...
(CAMÕES, 1943, I, 56)
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Aqui se lhe apresenta que subiaTão alto que tocava à prima Esfera...
(CAMÕES, 1943, IV, 69)
Não será assi, porque antes que chegadoSeja este Capitão, astutamenteLhe será tanto engano fabricado,Que nunca veja as partes do Oriente:Eu descerei à terra; e o indignadoPeito, resolverei da maura gente...
(CAMÕES, 1943, I, 76)
Deixa as praças, vai-se às praias, deixa a terra, vai-se ao mar...
(VIEIRA, s/d., II, p. 311)
Os homens tinham entranhas para deitar Jonas ao mar...
(VIEIRA, s/d., II, p. 315)
É possível, que os peixes ajudam à salvação dos homens, e oshomens lançam ao mar os ministros da salvação?
(VIEIRA, s/d., II, p. 315)
... a transmigração das Almas de uns corpos em outros; crendoque as dos maus ficavam no inferno, mas as dos bons tornavam aeste mundo.
(BERNARDES, 1945, I, 5B)
Até que entrando nas ardentes Zonas,Chegamos à Região das Amazonas.
(DURÃO, 1791, VI, 28)
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Lembrei-me umas poucas de vezes de atirar a minha alma ao in-
ferno, apunhalando-me...
(HERCULANO, s/d.4, I, p. 59)
Mas a nossa barca, ou antes a barca afretada por Fr. Lourenço,abicou a Restelo.
(HERCULANO, s/d.4, I, p. 65)
Meu fado errante
de novo arremessa a longes plagas.
(CASTILHO, 1863, p. 121)
Pois que a tanta vileza chagaste,Que em presença da morte choraste,Tu, cobarde, meu filho não és.
(DIAS, 1937, p. 81)
Apenas alvorou o dia, ela moveu o passo rápido para a lagoa echegou à margem.
(ALENCAR, 1948, p. 105)
Venha jogo: os zagais provem qual tem mão destra, dardos vi- brando ao olmo...
(CASTILHO, 1867, p. 133)
Recolhia ao casal já noite; e que riquezade iguarias de graça a assoberbar-lhe a mesa.
(CASTILHO, 1867, p. 241)
Como seus olhos baixassem ao chão não pôde ver no rosto daviúva uma ligeira cor que avermelhou e desapareceu.
(ASSIS, s/d.3 , p. 34)
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Recolhiam-se a casa os lavradores.Dormiam virginais as coisas mansas:Os rebanhos e as flores,As aves e as crianças.
(JUNQUEIRO, 1946, p. 162)
2) termo de uma extensão, ou de um transcurso de
tempo:
Estas duras montanhas adversáriasDe mais conversação, por si mostravamQue des que Adão pecou aos nossos anos
Não as romperam nunca pés humanos.
(CAMÕES, 1943, IV, 70).
... parece que tinham algũa desculpa os Monarcas da terra, emque entender a diferença, que há do aparente ao verdadeiro, doReal, ou Imperial ao Santo, de ũa coroa a outra coroa, e de reinara reinar.
(VIEIRA, s/d., II, p. 5)
... a infinita diferença que vai da arte à natureza...
(BERNARDES, 1945, I, 6B)
Depois de ũa vida mortificada dormiu ũa morte preciosa: as An-gélicas Ordens lhe assistiram com discantes, e lhe deram sepul-tura: da qual, sendo dali a 48 anos conhecida e aberta por indícioda mesma celestial música, que ali soava, brotou ũa copiosa eclara fonte de várias e notáveis milagres.
(BERNARDES, 1945, I, 3C)
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Mas temos tempo: isto são oito horas, à meia-noite vão quatro...
(GARRETT, 1943, p. 50)
...era mancebo de vinte e dous a vinte e cinco anos...
(HERCULANO, s/d.4, I, p. 6)
...corre a emanação magnética desta extremidade à oposta.
(BARBOSA, 1921, p. 66)
Já se vê quanto vai do saber aparente ao saber real.
(BARBOSA, 1921, p. 33)
A ideia de termo tangencia a de lugar onde, e neste caso
entra a preposição a em contacto com em.
A distinção de ad e in, análoga à que contrapõe ab e ex, já preocupava os gramáticos latinos. Diomedes, repetindo en-
sinamento de Varrão, assim se expressa:
Ad et in non unum idemque significant, quia in forum ire est inipsum forum intrare, ad forum autem ire, in locum foro proxi-mum; ut in tribunal et ad tribunal venire non unum est, quia adtribunal venit litigator, in tribunal vero praetor aut iudex. (cf.MAGNE, 1952, v/ad , p. 68).
A respeito do destino dessas preposições nas línguas ro-
mânicas pode ver-se o extenso estudo de Meyer-Lübke (1923,
§§ 433 a 438).
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Na sintaxe literária portuguesa de nossos dias é comum
encontrar-se em com verbos de movimento, a não ser em ex- pressões feitas como ir de porta em porta, de casa em casa,
tornar em si, saltar em terra, cair no laço etc. No período an-
teclássico era, porém, frequente tal construção, de que não es-
casseiam exemplos também na linguagem renascentista. Do-
cumentemo-la com Camões:
Nalgum porto seguro de verdade:Conduzir-nos já agora determina.
(CAMÕES, 1943, II, 32)
Triste ventura, e negro fado os chama Neste terreno meu...
(CAMÕES, 1943, V, 46)
Os cabelos da barba, e os que devemDa cabeça nos ombros, todos eram,Ũs limos prenhes d’água, e bem parecem Que nunca brando pentem conheceram...
(CAMÕES, 1943, VI, 17)
Enquanto Júlio Moreira (1907, p. 120-124) filia este uso
na tradição do emprego do in latino para exprimir o termo do
movimento, Epifânio Dias (1933, § 183, b) é de opinião que,
em casos assim, o termo do movimento se designa
não como tal, mas como lugar onde, sendo que se considera prolepticamente, não o movimento a que se referem aqueles
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verbos e locuções, mas o estado que se segue àquele movimento.
Observação: Em muitos casos, concorrem as preposi-
ções a e até na indicação da ideia de termo, empregando-se de
preferência a última quando se deseja acentuar bem a noção de
limite. E, a partir do século XVII (DIAS, 1933, § 211), come-
çou-se a usar também das duas preposições combinadas.
Eis alguns exemplos de Rui Barbosa, segundo parece,
inclinava deliberadamente para a conjugação delas:
... na região onde a consciência estende os seus pensamentos atéàs plagas da outra vida...
(BARBOSA, 1948, p. 33)
... à custa de liberalidades infinitas, da gorjeta estendida comosistema de governo a todas as classes, do dessangramento dotesoiro até ao extremo da anemia.
(BARBOSA, 1946, p. 201)
... desde as porfias da escola até às meditações do gabinete.
(BARBOSA, 1924, p. 283)
... suas vaias sobem nas escolas até à cátedra dos professores.
(BARBOSA, 1924, p. 284)
não era porque requ