uma Ótica da propriedade sob a perspectiva da esquerda libertária e de locke

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Uma ótica da propriedade sob a perspectiva da esquerda libertária e de Locke

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Conexão entre direito de propriedade entre o pensamento lockeano e de pensadores da esquerda libertária.

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Page 1: Uma Ótica Da Propriedade Sob a Perspectiva Da Esquerda Libertária e de Locke

Uma ótica da propriedade sob a perspectiva da esquerda libertária e de Locke

Aluno: André Luís Abreu Braga Martins

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O intuito desta breve exposição é pontuar algumas premissas básicas que corroborem uma possível esquerda libertária e tentar relacionar o conceito Lockeano de propriedade dentro desta temática.

Para Locke ainda que a terra e todas as criaturas ‘’inferiores’’ pertençam em comum a todos os homens, cada um guarda a propriedade de sua própria pessoa; sobre esta ninguém possui direito algum, exceto ela. Logo podemos afirmar que o trabalho de seu corpo e a obra produzida por suas mãos são propriedades próprias. Sempre que for tirado um objeto do estado em que a natureza o colocou e deixou , misturando nisso seu trabalho e a isso acrescentando algo que lhe pertence, tornaremos tal objeto em propriedade. Visto que, está sendo adicionado algo que exclui o direito comum dos outros homens. Este trabalho é considerado uma propriedade inquestionável do trabalhador, porém é importante evidenciar que Locke faz estas considerações partindo de uma premissa que exista propriedade suficiente aos outros em quantidade e qualidade.Outro ponto é quando algo começa a pertencer ao homem. Locke afirma que se o primeiro ato de apanhar não tornar algo como propriedade, nada mais poderia fazê-lo. Sobre tal questão existem alguns questionamentos feitos por Locke que são dignos de menção. Por exemplo, ‘’Será que alguém pode dizer que ele (homem/trabalhador) não tem direito àquelas bolotas do carvalho ou àquelas maçãs de que se apropriou porque não tinha o consentimento de toda a humanidade para agir dessa forma? Poderia ser chamado de roubo a apropriação de algo que pertencia a todos em comum? ‘’Locke responde a isso dizendo que se fosse exigido o consentimento expresso de todos para que alguém se apropriasse individualmente de qualquer parte do que é considerado bem comum, os filhos ou criados não poderiam cortar a carne que seu pai ou seu senhor lhes forneceu em comum, sem determinar a cada um sua porção particular. O trabalho que o indivíduo teve de remover algo do estado comum em que estava fixa o direito de propriedade. Uma espécie de lei da natureza apoiada na lei da razão.A visão lockeana , ao contrário do que o mainstream pensa, também impõe limites à propriedade. A mesma lei da natureza que concede a propriedade, também a limita. Tudo o que um homem pode utilizar maneira a retirar uma vantagem qualquer para sua existência sem desperdício, eis o que seu trabalho pode fixar com sua propriedade. Tudo o que excede a este limite é mais que sua parte e pertence aos outros.

Agora chegamos ao ponto chave de Locke e já podemos fazer um paralelo com a Esquerda Libertária. Mas antes disso tentarei mostrar um pouco o que seria a ‘’esquerda libertária’’ ou ‘’libertarianismo de esquerda’’.

Segundo Alex Strekal, libertarianismo de esquerda é uma revisão histórica que identifica uma tradição de associação entre libertarianismo e o que pode ser considerado a extremidade de ‘’esquerda’’ do espectro político. O termo libertarianismo de esquerda não utiliza o termo ‘’esquerda’’ no contexto da política mainstream, mas no contexto histórico do liberalismo clássico e anarquismo, isto é, uma referência para a tendência de oposição à autoridade. É importante lembrar que até por volta da época do Roosevelt, nos EUA, libertarianismo foi amplamente relacionado com ‘’à esquerda’’no qual momento um fusionismo conservador-libertário realizou-se como um movimento de oposição ao New Deal. A partir deste momento, libertários tem geralmente assumidos a eles próprios a estar em aliança com a direita política ou uma parte desta. O libertarianismo de esquerda representaria um movimento distinto desta tendência, uma clara distinção

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sendo feita entre libertarianismo e conservadorismo, com o diagnóstico de que o conservadorismo está mais interessado em manter interesses plutocráticos e comunitarismo tradicionalista do que preservar ou expandir a liberdade individual. Strekal ainda complementa que ‘’libertarianismo de esquerda não é apenas uma perspectiva histórica, de qualquer maneira. É uma síntese entre certas metas que podem ser associadas com "à esquerda" e ideias libertárias, envolve formas de utilizar ideias libertárias para obter conclusões que podem ser "esquerdistas". Em particular, libertarianismo de esquerda envolve uma tendência para utilizar economia de livre mercado para demonstrar como a intervenção do estado afeta negativamente interesses que podem ser de preocupações "da esquerda", por demonstrar como o estado prejudica trabalhadores, reduz padrões de vida, causa aumento de preços, permite dano ambiental, concentra poder privado e apoia monopólios. Libertarianismo de esquerda pode ser usado para demonstrar como o provável resultado de uma economia genuinamente livre é comparativamente igualitária em face das estruturas econômicas existentes atualmente, e como é possível para negócios tais como sindicatos e cooperativas voluntárias para existir num mercado genuinamente livre. ’’

O argumento libertário padrão dos direitos naturais em favor da propriedade privada remonta ao Segundo Tratado do Governo de John Locke, e se baseia em duas reivindicações básicas: uma reivindicação normativa sobre como deveríamos tratar outras pessoas, e uma reivindicação descritiva sobre as fronteiras da pessoa.À reivindicação descritiva chamaremos Princípio do Respeito. Esse princípio diz que é moralmente errado sujeitar pessoas a outros fins sem o consenso daquelas, exceto como uma resposta a uma agressão por parte delas próprias. (Existe discordância sobre quais verdades morais profundas, se existirem, propicia a base desse princípio, mas a questão escapa meu presente tópico).À reivindicação normativa chamaremos Princípio da Incorporação. Esse princípio diz que uma vez que eu “misturo meu trabalho” com um objeto externo –alterá-lo de forma a fazer dele um instrumento dos meus projetos em andamento – esse objeto se torna uma parte de mim. A justificativa para este princípio é que ele explica porque a matéria da qual eu sou feito é uma parte de mim. Afinal de contas, eu não nasci com ela; organismos vivos sobrevivem através de trocas constantes de matéria. A diferença entre uma maçã que eu coma (cuja matéria se torna parte da minha composição celular) e um galho do qual eu entalho uma lança (uma extensão separável da minha mão) é apenas uma de grau.Quando juntamos o Princípio do Respeito, e o Princípio da Incorporação, o resultado é que é errado se apropriar dos produtos do trabalho de outros; se sua lança é uma parte de você, então eu não posso sujeitar sua lança aos meus fins sem por tabela sujeitar você aos meus fins. Segundo os libertários franceses do século XIX, Leon Wolowski e Émile Levasseur :

‘’O produtor deixou um fragmento da sua própria pessoa na coisa que se tornou então de valor, e deve consequentemente ser tomado como um prolongamento das faculdades humanas agindo sobre a natureza externa. Como um ser livre, ele pertence a si mesmo, agora a causa, ou seja, a força produtiva é ele mesmo, o efeito, ou seja, a riqueza produzida, ainda é ele mesmo… A propriedade, manifestada através do trabalho, participa nos direitos da pessoa cuja emana; como ele, é inviolável desde que não entre em choque com outro direito…’’

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Com isso fica bem claro que o Princípio da Incorporação transforma o Princípio do Respeito de um simples direito a segurança pessoal em um direito geral à propriedade privada.

Outro argumento libertário gira em torno da necessidade humana de autonomia . A habilidade controlar a própria vida sem que terceiros interfiram. Num ambiente ausente de propriedade privada, o indivíduo não possuiria lugar algum para ficar, não teria uma esfera protegia dentro da qual poderia tomar decisões sem interferência da vontade outros. Se a autonomia é valiosa , então necessitamos de propriedade privada para proteção.

Existe também uma abordagem bem interessante de Garret Hardin , que é o argumento da rivalidade ou ‘’tragédia dos comuns’’. A maioria dos recursos seria rival , ou seja, a utilização de um recurso por um indivíduo diminui a quantidade , ou o valor, daquele recurso para terceiros. Se um recurso além de rival for também uma propriedade pública, significando que nenhum membro do público pode ser excluído de seu uso (remete as limitações de propriedade da linha Lockeana), encontraremos um problema de incentivo a conservar ou melhorar o recurso (podemos fazer um paralelo a Locke também, que reforça o valor da modificação e do trabalho do homem, fazendo daquilo sua propriedade), este poderá ser super-usado e rapidamente esgotado visto que existira a inabilidade de excluir terceiros tornando arriscado adiar o consumo.Com isso, a propriedade privada é necessária de forma a prevenir o esgotamento dos recursos

Para evidenciar e consolidar de vez essa possível relação entre Locke e a Esquerda Libertária acerca dos Direitos de Propriedade seguirei a linha de Kevin Carson que é Lockeana e se difere dos mutualistas e Georgianos . Ele reivindica que os princípios libertários de apropriação e auto propriedade só seriam defensáveis a partir de uma abordagem Lockeana. Em sua teoria de apropriação do trabalho ninguém poderia ser o primeiro dono de um bem ,salve o caso em que a apropriação do bem fosse através de um trabalho pessoal. Ele também mostra a linha Lockeana que os bens foram presentes de Deus para a raça humana (o que libertários atualmente relutam em utilizar como argumento) Carson demonstra ainda que, existe uma conexão entre Mutualistas , Lockeanos e Letf-Rothbardianos. Para as três correntes, que fazem também parte da esquerda libertária, qualquer titulo atual a terra não estabelecido por tal apropriação através do trabalho é inválido, e que terra possuída por tais títulos deve ser tratada como sem dono e aberta ao primeiro ’’apropriador’’ que mixe seu trabalho a ela. A terra, uma vez apropriada com justiça de um estado vago, pode ser doada, vendida, ou alugada pelo dono legítimo, e que a propriedade é mantida sem levar em conta se o dono original mantem a posse ou a aluga a outro ocupante. Dada à justiça do título existente, um novo dono pode se estabelecer propriedade legítima por uma simples transferência de título, sem levar em conta se ele pessoalmente ocupa e usa a terra. Ocupação direta e uso seriam necessários apenas para a apropriação inicial, não para as transferências de propriedades subsequentes.

Para fechar com uma provocação trago um argumento de Rothbard que mostra a ilegitimidade da apropriação histórica de terras, até para padrões Lockeanos :

Como um título individual a fatores dados pela natureza será determinado? Se Colombo desce em um novo continente, é legítimo ele proclamar todo o continente seu, ou apenas aquele setor “tão longínquo quanto seu olho pode enxergar”? Claramente,

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esse não seria o caso na sociedade livre que estamos postulando. Colombo ou Crusoé teriam que usar a terra, “cultiva-la” de alguma forma, antes de ter direito a possuí-la... Se há mais terra que pode ser usada por uma oferta limitada de trabalho, logo a terra desocupada deve simplesmente continuar vaga até um primeiro utilizador chega em cena. Qualquer tentativa de reclamar um novo recurso que ninguém usa teria que ser considerada invasiva do direito de propriedade daquele que se tornará o primeiro usuário.

A posteriori em Power and Market Rothbard argumenta que terra apropriada através de mera garantia do Estado era uma garantia de monopólio análoga aquela do senhoreado feudal, permitindo ao proprietário do título cobra uma taxa ou aluguel sobre o primeiro apropriador legítimo da terra, e assim forçá-lo a pagar tributos pelo direito de ocupa-la. ‘’Problemas e dificuldades surgem sempre que o princípio do “primeiro usuário, primeiro dono” não é cumprido. Em quase todos os países, governos clamaram posse de terra nova, nunca usada. Governos nunca poderiam possuir terra original no livre mercado. Esse ato de apropriação pelo governo já planta as sementes para a distorção das alocações de mercado quando a terra entra em uso. Assim sendo, suponha que o governo disponha de suas terras públicas vagas as vendendo em leilão ao melhor ofertante. Já que o governo não possui direito válido de propriedade, da mesma forma o comprador do governo. Se o comprador, como frequentemente acontece, “possui” a terra mais não usa ou coloniza a terra, ele então se torna um especulador de terras no sentido pejorativo. Quanto ao verdadeiro usuário, quando ele aparecer, é forçado ou a alugar ou a comprar a terra do especulador, que não possui título válido à área. Ele não pode possuir um título válido porque seu título deriva do Estado, que também não possuía um título válido em termos de livre mercado... ‘’

É uma questão bastante extensa e espero que esse esboço tenha contemplado basicamente a intenção de mostrar a visão Lockeana de propriedade que também está incorporada na esquerda libertária.

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Referência:

http://web.archive.org/web/20110121172441/http://polycentricorder.blogspot.com/2008/11/what-is-left-libertarianism.html Acessado em 10/09 às 19:10

Samuel C. Wheeler III, “Natural Property Rights as Body Rights,” in Tibor R. Machan, ed., The Main Debate:  Communism versus Capitalism (New York:  Random House, 1987), pp. 272-289.

Murray N. Rothbard, For A New Liberty: The Libertarian Manifesto, Revised Edition (San Francisco:  Fox & Wilkes, 1994), pp. 36-37.

Carson,Kevin; “Studies In Mutualist Political Economy”(Fayetteville,Ark, 2004 ); capítulo 5

Murray Rothbard, Man, Economy, and State: A Treatise on Economic Principles (Auburn University, Alabama: Ludwig von Mises Institute, 1993) página 147.

Murray Rothbard, Power and Market: Government and the Economy (Kansas City: Sheed Andrews and Mcmeel, Inc., 1970, 1977) página 132.

Chartier, Gary; Johnson, Charles W. (2011). Markets Not Capitalism: Individualist Anarchism Against Bosses, Inequality, Corporate Power, and Structural Poverty. Brooklyn, NY:Minor Compositions/Autonomedia