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Os 5 pontos calvinistas respaldos biblicamente Explicando a luz das Escrituras os argumentos arminianos Extraído do livro “Uma jornada na Graça” de Richard P. Belcher

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Os 5 pontos calvinistas respaldados biblicamente. Explicando a luz das Escrituras os argumentos arminianos. Extraído do livro “Uma jornada na Graça” de Richard P. Belcher

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Os 5 pontos calvinistas respaldos biblicamente Explicando a luz das Escrituras os argumentos

arminianos Extraído do livro “ Uma jornada na Graça” de Richard P. Belcher

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Índice: O que é Depravação total?......................................................................................................................3 O que significa eleição incondicional? ..................................................................................................4 O que significa expiação limitada? ........................................................................................................4 O que é graça irresistível? ......................................................................................................................5 O que é perseverança dos santos? ..........................................................................................................6 Definições dos cinco pontos do calvinismo............................................................................................7 Os primeiros batistas eram calvinistas? ..................................................................................................8 A depravação total é bíblica? ................................................................................................................10 Eleição incondicional é bíblica? ............................................................................................................11 A eleição incondicional torna Deus injusto? .........................................................................................13 Expiação limitada...................................................................................................................................14 Por quem Cristo morreu? ......................................................................................................................14 Cristo é o Salvado do mundo? ..............................................................................................................18 O vocábulo “todos” sempre significa “todos” na Bíblia? ....................................................................19 Cristo provou a morte por todos os homens ou por todas as coisas? ...................................................22 Como 2 Pedro 3.9 se harmoniza com a expiação limitada? .................................................................24 Como 2 Pedro 2.1 se harmoniza com a expiação limitada? .................................................................26 Conclusão com relação a expiação limitada..........................................................................................27 A graça de Deus é irresistível? .............................................................................................................28 A doutrina da perseverança dos santos é bíblica? .................................................................................31 Respondendo algumas perguntas? ........................................................................................................35 Algumas diferenças que esta doutrina trará...........................................................................................37

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O que é depravação total?

A depravação total não significa que todos os homens são tão pecaminosos, em ações e realizações, quanto poderiam ser. Ao invés disso, a depravação total à natureza e ao potencial do homem, e não às suas ações e realizações. Quando alguém diz que os homens são pecadores totalmente depravados, isto não significa que todos ou que alguns deles atingirão ou já atingiram a plena medida de ações possíveis de sua natureza pecaminosa. Nem mesmo Hitler, embora tenha sida um homem terrivelmente perverso, atingiu a plena medida do potencial da natureza pecaminosa que ele possuía. Ao invés disso, Hitler foi uma ilustração de parte do potencial da natureza pecaminosa. Acho proveitoso usar a ilustração de um cartucho de dinamite para falar sobre a natureza pecaminosa do homem, de conformidade com o ponto de vista calvinista sobre este assunto. O cartucho de dinamite possui a natureza da dinamite, que ele venha a explodir, destruindo uma casa e matando as pessoas, quer não. Ainda que nunca venha a explodir, o cartucho de dinamite continua sendo e possuindo a natureza da dinamite. Assim, por natureza o homem é pecador; e, embora ele nunca venha a atingir o pleno potencial do pecado, ainda possui uma natureza pecaminosa, caracterizada por depravação e maldade.

Você já pensou em por que o homem nunca chega ao pleno potencial de sua natureza pecaminosa? Isso acontece por causa da graça de Deus manifestada através do governo, da família, da pregação do evangelho, etc. É o que chamamos de graça comum. Ora, o calvinista afirma que a razão por que os homens têm muita dificuldade em entender a expressão “ depravação total” é que esta expressão se refere à natureza e não aos atos do homem. Muitos concluem automaticamente que a depravação total refere-se às ações, e eles sabem que os homens não completamente maus; por conseguinte, a depravação total, eles dizem não pode ser verdadeira. Mas o calvinista insiste em que temos de ser relembrados de que a depravação total refere-se à natureza e não aos atos do homem. Se conservarmos isto em nossa mente, a depravação total será compreensível.

Você já pensou em como essa depravação se relaciona à Queda e a capacidade do homem em tornar-se um verdadeiro cristão? O homem é totalmente depravado por causa da Queda. Ao cair, Adão mergulhou toda a raça humana no pecado. Ou seja, todos nós possuímos uma natureza pecaminosa por causa da Queda de Adão. Essa natureza depravada que veio por meio da Queda, inclui uma total incapacidade na área das coisas espirituais. A Queda deixou o homem cego e ignorante nos assuntos espirituais. Ele não pode entender as coisas na esfera espiritual, a menos que o Espírito de Deus o ilumine. Além disso a Queda corrompeu as emoções do homem inclinando-as em direção ao pecado e não em direção a Deus. As emoções do homem não se moverão em direção a Deus, nem se centralizarão nEle, a menos que Deus o capacite. Isto significa que o homem em suas próprias forças, não pode amar a Deus, não procurará e nem desejará a Deus e as suas coisas. Pelo contrário, o homem deseja e procura continuamente as coisas do pecado.

O homem foi tão corrompido pelo pecado, e, apesar disso, a sua vontade foi deixada intacta? Não, a vontade do homem também está corrompida. A vontade humana não é uma entidade independente que escapou dos resultados da Queda, ainda que a vontade não tivesse sido corrompida pela Queda, ela não poderia escolher a Deus, por causa dos resultados da Queda em outras áreas do Homens – a mente cega e as emoções e as emoções pervertidas levaria o homem a escolher qualquer coisa, exceto a Deus. Assim o homem se encontra em um infeliz estado de desamparo. A sua mente está cega para as coisas de Deus. As suas emoções estão corrompidas e centralizadas no pecado. E a vontade do homem está decaída e incapacitada. Isto significa que o homem não tem poder, em si mesmo, para vir a Deus. O homem não somente deseja a Deus, a menos que Deus lhe dê esse desejo, mas também falta-lhe o poder e a vontade de vir a Deus. A menos que Deus outorgue ao homem o desejo, o poder e a vontade de vir a Cristo, o homem estará perdido para sempre.

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Questões que serão respondidas mais a frente (quando veremos respaldos bíblicos sobre essas doutrinas). 1º como explicar as várias ocorrências da expressão “quem quiser” na Bíblia. Com certeza, parece que a Bíblia diz “quem quiser venha”, então, o homem é capaz de vir a Deus, se o desejar. 2ºA respeito da responsabilidade do homem para vir a Cristo. Se o homem não é capaz de vir a Cristo, como Deus pode considera-lo responsável e condená-lo eternamente por não vir a Cristo? 3º Se o homem não deseja e não vem a Cristo, a menos que Deus lhe dê o desejo e o poder,qual é o fundamento sobre o qual Deus resolve que pessoas Ele trará e que pessoas Ele não trará a Si mesmo? O que significa eleição incondicional? A eleição incondicional é o ato de Deus por meio do qual Ele escolheu um grupo de pessoas, antes da fundação do mundo, para que elas pertencessem a Ele mesmo. Este grupo de pessoas é conhecido como os eleitos. Qual foi o fundamento sobre o qual Deus fez a escolha dos eleitos? O fundamento sobre o qual Deus fez esta escolha não foi nada que havia nos próprios eleitos; não foi qualquer bondade que havia neles, pois já vimos que os homens são totalmente depravados. O fundamento também não foi a fé que Deus previu estas pessoas colocariam em Cristo, pois, como já vimos , a total incapacidade do homem ter fé, a menos que Deus lhe conceda a fé. O único fundamento que aceitável a eleição destas pessoas, à luz da incapacidade e depravação delas, é a vontade de Deus, e tão-somente a vontade de Deus. A eleição tem de ser resultado da vontade de Deus, e unicamente desta vontade, por causa de dois fatos. Primeiro, não havia nada bom em qualquer homem que levasse Deus a escolhe-lo, ao invés de escolher outro indivíduo. Segundo, o homem não escolheria a Deus, por causa de sua incapacidade. Por conseguinte, Deus não escolheu o homem fundamentado em qualquer capacidade dele para escolher a Deus.

1. Deus tem um grupo de pessoas que a Bíblia chama de eleitos 2. Deus escolheu estas pessoas para serem dEle mesmo 3. Deus as escolheu para serem dEle mesmo antes da fundação do mundo 4. Deus as escolheu para serem dEle mesmo fundamentado em sua própria vontade, e tão-

somente em sua vontade, e não em alguma coisa que Ele viu ou previu no homem

A única diferencia entre o calvinismo e os outros é a quarta afirmativa. Os outros concordam com o fato de que Deus tem um grupo de pessoas que pertencia a Ele mesmo e que Ele escolheu antes da fundação do mundo. No entanto, o real ponto de separação é o fundamento da escolha dos eleitos – se foi algo que havia no homem ou se foi exclusivamente a soberana vontade de Deus. Por causa dessa afirmativa, o ponto de vista calvinista é chamado de “incondicional”, visto que a eleição não encontra nenhuma condição no homem que motive a escolha. A escolha depende completamente de Deus. Isto é chamado o decreto de Deus a respeito da eleição, estando fundamentado unicamente na soberana vontade dEle mesmo, e tão-somente nela. Questões que serão respondidas mais a frente (quando veremos respaldos bíblicos sobre essas doutrinas). 1º Este ponto de vista sobre a eleição ( ou seja, Deus escolhe uma pessoa e não outra, sem qualquer preocupação com aquilo que há no homem) não O torna um Deus injusto? 2º Por que Deus não escolheu todos os homens, se Ele tem a palavra final a respeito de quem será salvo e de quem não o será?

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O que significa expiação limitada?

A doutrina da expiação limitada afirma que a morte de Cristo teve um objeto e propósito para com os eleitos, ao invés de ter um objeto e propósito geral, tendo em visto toda a raça humana. Cristo garante a salvação dos eleitos. Ainda que todos os homens sejam totalmente depravados, e além do fato de que Deus tenha escolhido pessoas para serem suas, Ele também providenciou um meio que garante a salvação desses eleitos.

Os calvinistas dizem, que este assunto é uma questão de definir se a morte de Cristo aconteceu para tornar possível a salvação de ninguém (o ponto de vista arminiano); ou se a morte de Cristo aconteceu para torna a salvação uma realidade e para garantir a salvação de todos os eleitos (o ponto de vista calvinista).

Como este ponto de vista calvinista se relaciona com os anteriores? Na realidade este ponto é o resultado lógico dos dois primeiros. Se o homem é totalmente depravado e não pode, nem quer, voltar-se para Deus, exceto quando a eleição o alcança, então, a expiação teve de ser realizada apenas em favor dos eleitos, pois eles não seriam capazes de ser salvos. Por outro lado, se a eleição realmente existe, e algumas pessoas não pertencem aos eleitos, não haveria propósito nem necessidade de Cristo morresse pelos não-eleitos. Os calvinistas argumentam que, se a morte de Cristo aconteceu em favor de todos os homens, indistintamente, Cristo também morreu pelos não-eleitos, e, consequentemente, haveria no inferno pessoas em favor das quais Ele morreu. Isto os calvinistas não aceitam. Serão salvos todos aqueles em favor dos quais Cristo morreu. O sangue de Cristo não foi derramado em vão por aqueles que estarão no inferno, os calvinistas argumentam.

Deste modo os calvinistas estão colocando limitações ao poder da morte de Cristo? Eles colocam limites no propósito da morte de Cristo. A morte de Cristo aconteceu exclusivamente em favor dos eleitos. Eles não põem limites no poder da morte de Cristo. Devido ao fato de que Cristo era uma pessoa infinita, sua morte teve um poder infinito. A morte de Cristo, se Deus assim houvesse designado, poderia ter expiado o pecado de todos os homens. Não há limite no poder da morte de Cristo. A limitação se encontra no propósito desta morte estabelecido pelo decreto divino da eleição. Por essa razão, para evitar que as pessoas fiquem confusas, alguns calvinistas falam em termos de expiação “particular”, ao invés de expiação “limitada”.

Os calvinistas diriam que a morte de Cristo se realizou em favor dos não-eleitos? Alguns calvinistas dizem que a morte de Cristo é suficiente para todos os homens, até para os não-eleitos. Isto enfatiza o ilimitado poder da morte de Cristo, mesmo no que diz respeito aos não-eleitos. Outros calvinistas parecem não gostar desta afirmação, talvez por causa do temor de que ela indique uma expiação generalizada. Todos os calvinistas parecem apreciar a expressão “eficaz para os eleitos”, que se refere somente aos eleitos. Suficiente para todos, mas eficaz somente para os eleitos, termo usado por muitos calvinistas, mas não por todos eles. Questões que serão respondidas mais a frente (quando veremos respaldos bíblicos sobre essas doutrinas). 1º O que a respeito dos versículos da Bíblia (tais como: João 3.16; 2 Pedro 3.9; etc.) que parecem indicar que Cristo morreu por todos os pecados de todos os homens do mundo? 2º Por que a morte de Cristo deveria ter um propósito particular? Deus não poderia ter dado à morte de somente um propósito geral? 3º Em passagens a Bíblia ensina uma expiação limitada ou partícula? O que é graça irresistível?

A doutrina da graça irresistível tem de ser considerada de conformidade com sua relação aos três pontos iniciais.

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Se o homem é totalmente depravado e, por isso, não pode, em suas próprias forças, achegar-se a Deus; se uma pessoa tem sido incondicionalmente escolhida, para ser um dos eleitos de Deus; se a expiação consumada por Cristo é designada apenas para os eleitos, a fim de assegurar a salvação deles, então, segue-se, de maneira lógica, que os eleitos serão salvos. Eles serão irresistivelmente chamados e atraídos a Cristo. Questões que serão respondidas mais a frente (quando veremos respaldos bíblicos sobre essas doutrinas). 1º O que acontece se uma pessoa quer vir a Cristo, para ser salva, e não é um dos eleitos e a graça irresistível não a chama? Isto significa que ela não pode ser salva? 2º Se um dos eleitos não quer vir a Cristo, mas, apesar disso, a graça irresistível o chama, isto não significa que Deus o arrasta através da porta da salvação, enquanto ele grita e esbraveja sua rebelião contra Deus? 3º O que esta doutrina fará ao evangelismo e missões? Se Deus atrairá os eleito de maneira irresistível, isto não destrói a responsabilidade do homem para se arrepender e crer no evangelho, bem como a responsabilidade da Igreja em levar o evangelho a todas as nações? 4º Este ponto de vista não anula a liberdade de ação do homem e seu livre-arbítrio? O que é perseverança dos santos?

Assim como os outros pontos, a doutrina da perseverança dos santos é o resultado e a conclusão lógica dos pontos anteriores. Se os outros pontos são verdadeiros, a perseverança dos santos também é. Se o homem é totalmente depravado e não pode fazer nada para ajudar a si mesmo espiritualmente; se Deus é absolutamente soberano no assunto da eleição, escolhendo os eleitos com base em sua própria vontade, e tão-somente em sua vontade; se a morte de Cristo aconteceu em favor dos eleitos, assegurando a salvação deles, e se Deus chama os eleitos de maneira irresistível, não se conclui que Deus assegurará a salvação final dos eleitos, ou seja, que os eleitos perseverarão até ao final? Se os eleitos não perseveram, segue-se a eterna escolha de Deus falha; e isto não é admissível. Se Deus decretou a eleição, ela se realizará, incluindo a salvação final pelos eleitos.

Se os eleitos não perseveram, a morte de Cristo teria sido em vão, porque o propósito da morte dEle era assegurar a salvação final dos eleitos.

E, se os eleitos não perseveram, a graça de Deus seria resistível para os salvos (eles poderiam rejeitar-la de uma maneira final, depois de haverem sido salvos), embora ela fosse irresistível antes de eles serem salvos.

A perseverança é a doutrina que declara que todos os eleitos, por serem eles objetos do eterno decreto da eleição e objeto da expiação consumada por Cristo, permanecerão no caminho da salvação, cisto que o mesmo poder de Deus que os salvou há de preserva-los e santifica-los até à salvação final deles.

Isto não exclui desviar-se de Deus? Não, não exclui, mas anula a possibilidade de alguém confessar ser crente e, ao mesmo tempo, viver por muito tempo em um suposto estado de desviado, sem enfrentar a mão disciplinadora de Deus. O desviar-se de Deus pode acontecer entre os crenter, mas a doutrina da perseverança dos santos afirma que o verdadeiro crente não permanecerá incessantemente afastado de Deus. Se insto acontecer, tal pessoa precisa questionar com muita seriedade sua confissão de ser crente.

Qual a relação dessa doutrina com a do crente carnal? O que é um crente carnal? Um crente carnal de conformidade com alguns, é alguém que foi realmente salvo, mas vive como um perdido. Tal pessoa fez uma confissão de fé em Cristo e talvez viveu como um crente por algum tempo. Mas retornou para o mundo, e tanto as pessoas do mundo como as da igreja não sabem se ela é crente ;

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somente Deus conhece o coração de tal pessoa. Ela passa o resto de sua vida nesta condição; todavia, por causa de sua experiência de salvação, ela estará na eternidade com Cristo. Ela é carnal, mas é um crente; ou ela é um crente ou é carnal.

Ora, se não há perseverança, não há salvação; se não há salvação, não há perseverança. Isto é equivalente à afirmação doutrinaria dos batistas “uma vez salvo, salvo para sempre”? Não são equivalentes. O conceito batista de “uma vez salvo, salvo para sempre” é apenas metade da moeda. E, sendo apenas um lado da moeda, torna-se uma doutrina perigosa. A doutrina de perseverança dos santos, tem dois lados: segurança e perseverança. Uma não pode existir sem a outra. A doutrina batista da eterna segurança (uma vez salvo, salvo para sempre) menospreza ou negligência a necessidade de perseverança como prova da verdadeira salvação. Deste modo, por ensinar a uma pessoa a doutrina da segurança eterna, sem ensinar-lhe a realidade da perseverança como prova da salvação, alguém poderia obter resultados semelhantes ao da doutrina do “crente carnal”. Pessoas imaginam ser salvas, quando na realidade não o são. A doutrina da segurança eterna sem o outro lado da moeda torna-se uma licença para a prática do pecado, especialmente para aqueles que apenas confessam ter fé em Cristo e nunca foram verdadeiramente salvos. A doutrina da perseverança dos santos tanto oferece conforto ai crente (ele está eternamente seguro) quanto proporciona realidade de ser crente (ele compreende que a prova de sua salvação é a perseverança na vida cristã). Definições dos cinco pontos do calvinismo 1º Depravação total – é a doutrina que fala sobre a natureza do homem, e não sobre as suas ações; esta doutrina afirma que o homem, em si mesmo, é incapaz de conhecer e de querer a Deus, bem como de vir a Ele. 2º Eleição incondicional – afirma que Deus escolheu um povo (os eleitos) desde a fundação do mundo, para ser exclusivamente dEle; a escolha divina aconteceu fundamentada tão-somente na soberana vontade de Deus; por conseguinte, a escolha divina dos eleitos ocorreu não devido a qualquer condição ou qualquer estado do homem, conhecido e previsto por Deus, quando contemplou todos os acontecimentos da história. 3º Expiação limitada – ensina que a morte de Cristo tinha o propósito de garantir a salvação dos eleitos. Portanto a expiação limitada diz que, embora a de Cristo, em seu poder, seja suficiente para todos os homens, ela é, em seu propósito, eficaz apenas para os eleitos. 4º Graça irresistível – declara que Deus chamará, de maneira irresistível para Si mesmo, todos os eleitos, através da pregação do evangelho de Jesus Cristo. E, por meio desta chamada, o decreto da eleição se cumprirá, e o propósito particular da expiação pela morte de Cristo se realizará. 5º Perseverança dos Santos – afirma que os eleitos não estão apenas seguros para eternidade, mas também que a prova da eleição deles e a evidência de sua segurança é a contínua obra de santificação no íntimo deles, que os leva a perseverar na vida cristã. Áreas para estudos posteriores 1º É necessário estudo bíblico para determinar se os cinco pontos do passarão no teste das Escrituras. 2º É necessário um estudo histórico para verificar se os batistas eram calvinistas no passado; e, se eles deixaram o calvinismo, quando e por que o fizeram. 3º É necessário um estudo teológico (com toda imparcialidade para com os calvinistas), a fim de determinar como eles respondem as principais objeções ao seu ponto de vista teológico, muitas das quais apresentei.

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Outras observações 1º Muito crentes ignoram a verdadeira definição do calvinismo; apesar disso, falam espontânea e confiantemente, quando tentam defini-lo e refutá-lo. 2º Muitos crentes encontram bastante dificuldade em falar sobre o calvinismo sem tornarem-se emocionais e subjetivos. 3º Alguns calvinistas são ofensivos aos membros do corpo de Cristo, quando procuram promover o seu calvinismo. Freqüentemente, isto não acontece por causa de uma deficiência no calvinismo, e sim por causada atitude e dos métodos de alguns calvinistas. 4º Alguns calvinistas parecem mais interessados em fazer “novos calvinistas” do que em fazer “novos convertidos”. 5º Alguns calvinistas utilizam aquilo que se parece com táticas arminianas para promoverem o seu calvinismo, o que seria o cúmulo da contradição. Os primeiros batistas eram calvinistas? No começo da história os batistas eram calvinistas? Os batistas modernos tem sua traçam sua origem nos batistas ingleses da época da reforma. Estes antepassados estavam divididos entre dois grupos: os Batistas Gerais e os Batistas Particulares. Os Batistas Gerais não eram tão calvinistas e com certeza não acreditavam na expiação limitada. Acreditavam em uma expiação geral, ou seja, que a morte de Cristo tinha um propósito geral para com todos os homens. Os Batistas Particulares acreditavam em uma expiação limitada. Os Batistas Particulares do século XVII eram os mais influenciadores de ambos os grupos. O calvinismo deles se refletia em duas confissões de fé: a Primeira Confissão de Londres, de 1644, e a Segunda Confissão de Londres, de 1689. Em cada uma delas encontram-se afirmações fortes e claras a respeito da eleição, conforme dizem os seguintes textos: “E, no que se refere à sua criatura, o homem, Deus predestinou em Cristo, de acordo com o beneplácito de sua vontade, antes da fundação do mundo, alguns homens para a vida eterna por meio de Jesus Cristo, para o louvor e glória da sua graça, deixando os demais homens em seus pecados, para receberem a justa condenação, para o louvor de sua justiça.” (Primeira Confissão de Londres, 1644) “Por meio do decreto de Deus, e para a manifestação de sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados (ou preordenados) para vida eterna através de Jesus Cristo, para o louvor da sua graça gloriosa. Os demais são deixados em seu pecado, agindo para a sua própria e justa condenação; e isto para o louvor da justiça gloriosa de Deus. Os homens e os anjos predestinados (ou preordenados) estão designados de forma particular e imutável, e o seu número é tão certo e definido, que não pode ser aumentado nem diminuído. Dentre a humanidade, aqueles que são predestinados para vida, Deus os escolheu em Cristo para a glória eterna; e isto de acordo com seu propósito eterno e imutável, pelo conselho secreto e pelo beneplácito da sua vontade, antes da fundação do mundo, apenas por sua livre graça e amor, nada havendo em suas criaturas que servisse como causa ou condição para esta escolha.” (Segunda Confissão de Londres, 1689) Há na história da Inglaterra, bem como na da América do Norte, batistas que compartilhavam este mesmo ponto de vista; isto pode ser evidenciado na principal confissão de fé deles, a Confissão de Fé da Filadélfia. Na verdade, esta confissão era uma reprodução quase exata da Segunda Confissão de

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Londres, por algumas categorias extras. Porém, no que se refere à eleição divina, elas dizem exatamente a mesma coisa. A ampla influencia da Confissão de Fé da Filadélfia pode ser evidenciada através de uma afirmação em uma fonte bastante confiável. Esta fonte afirmava o seguinte: “Em todo o Sul, esta confissão tem moldado o pensamento dos batistas e, talvez, seja a mais influente de todas as confissões” (Enciclopédia dos Batistas do Sul, vol. I, p.308) Portanto, a pergunta “No começo os de sua história, os batistas eram calvinistas?” tem de ser respondida com um vigoroso e definitivo “Sim”. Quando e por que os batistas abandonaram o calvinismo?

Os batistas perderam o seu calvinismo, nos últimos cem anos, devido à influencia dos dois grandes despertamentos e dos eventos que os acompanharam. Afirmando com mais primor, os batistas eram fortemente calvinistas, no início de sua história, na América do Norte, conforme se percebe na Confissão de Fé da Filadélfia, mencionada anteriormente. Esta confissão teria de ser datada da primeira metade do século XVIII, talvez por volta de 1725. Quando o primeiro Grande Despertamento (que foi um movimento calvinista) explodiu no cenário da história da América, em 1740, os batistas não estavam envolvidos nele. Os batistas se envolveram neste despertamento quando os membros de igrejas estabelecidas, que haviam experimentado avivamento e vitalização, deixaram suas igrejas para se unirem com as igrejas batistas. Estes indivíduos ficaram conhecidos como “separados”, trazendo para a igreja batista o espírito do avivamento, que era bom, mas eles trouxeram algumas tendências perigosas, a desconfiança dos clérigos estabelecidos, um ponto de vista sobre iluminação imediata do Espírito Santo, etc. O excesso deste grande despertamento foram perigosos e prejudiciais à vida dos batistas na América. Eles começaram a mover-se em direção a um espírito não-teológico e antiteológico, em suas atitudes e em sua maneira de pensar. Eles se tornaram bastante pietistas, com forte apelo às emoções. Eles chegaram a menosprezar a educação para o ministério. Em certa medida, eles se tornaram anti-educacionais e anti-históricos. Eles começaram a temer as confissões de fé. Até esta época, as confissões de fé e catecismo eram utilizados pelos batistas se questionamento ou apologia. Quando irrompeu o segundo despertamento, em 1830, os batistas já estavam envolvidos na modificação de alguns dos aspectos de sua maneira de pensar, e começava a desenvolver-se um calvinismo modificado. Embora o calvinismo ainda fosse muito forte, as tendências perigosas continuaram a existir, e surgiram outras tendências que se tornaram uma ameaça para a influência remanescente do calvinismo. O pietismo se tornou prioridade, enquanto os aspectos doutrinários se tornaram secundários. O individualismo começou a prevalecer, opondo-se aos interesses corporativos, que eram prioritários. Desenvolveu-se uma forte oposição a confissões de fé. Isto não significa que os abandonaram a sua herança calvinista neste ponto da História. Demonstra apenas que começaram a desenvolver-se algumas tendências (e nem todas eram más) que, levadas ao extremo, se tornariam prejudiciais à herança doutrinaria dos batista. Resumindo, o calvinismo dos batistas dos séculos XVIII e XIX; primeiramente, da parte do arminianismo dos metodistas; também, do Movimento Batista do Livre-Arbítrio e, finalmente, de Charles G. Finney. Havendo abraçado o avivalismo e suas tendências, depois do primeiro despertamento, e havendo repentinamente ocupado um lugar de grande proeminência e influencia no meio das pessoas e do cenário religioso da América, os batistas se tornaram muito interessados em preservar sua liderança religiosa recém-adquirida e em manter sua denominação em crescimento. Com o passar do tempo, os resquícios de seu calvinismo ainda eram fortes em alguns lugares, embora fosse um calvinismo modificado. No entanto, mesmo aquela quantidade de calvinismo se tornou difícil de defender diante do homem simples, não-instruído e de bom senso ou até do homem erudito, racionalista e treinado filosoficamente. Ao invés de continuar mantendo e defendendo a sua teologia calvinista, os batistas arruinaram a estrutura teológica de seu calvinismo, para se acomodarem aos novos hábitos religiosos da época. A mudança foi lenta, e o calvinismo continuou a ser defendido por alguns mesmo no século vinte. Mas, no meio deste século, o calvinismo estava quase totalmente morto entre os batistas do

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passado chamavam este ponto de “a perseverança dos santos”; os batistas da segunda metade do século vinte chama-no de “a segurança eterna do crente”. Uma observação final tem de ser feita. Em algum tempo da metade do século vinte, um avivamento do calvinismo começou entre os batistas, um avivamento que parece estar continuando e crescendo em nossos dias. Quais foram alguns dos grandes batistas que eram calvinistas?

1. Isaac Backus, um batista da Nova Inglaterra, nascido em 1724. 2. John Leland, um batista da Nova Inglaterra, nascido em 1754. 3. James P. Boyce, fundador e primeiro presidente do Seminário Teológico Batista do Sul, em

Louisville Kentucky. 4. J.L. Dagg, um dos antigos teólogos dos Batistas do Sul 5. P.H. Mell, presidente da Convenção Batista do Sul durante dezessete anos (servindo nesta

função por mais tempo do que qualquer outro dos presidentes). 6. Adoniran Judson, nascido em 1788, foi o primeiro missionário enviado dos Estados Unidos

para outro país. 7. Charles Haddon Spurgeon, o grande pregador e pastor do século dezenove.

A depravação total é bíblica?

A Bíblia ensina que o homem é incapaz no que diz respeito as coisas espirituais e que o homem não deseja e nem busca a Deus, a menos que Deus o busque e o capacite? A vontade do homem está caída e escravizada, juntamente com suas emoções, mente e desejos?

Começaremos a verificar um grande número de passagens que parecem confirmar isto. Uma destas passagens é Romanos 3.10-12, que se mostra enfática em declarar várias coisas:

1. Nenhum homem é justo em sua própria pessoa ou em obras; 2. Nenhum homem busca a Deus; 3. Nenhum homem entende a Deus ou os assuntos espirituais; 4. Todos se extraviaram e se tornaram inúteis; 5. Nenhum homem faz coisas boas.

No entanto, também encontramos versículos afirmando que o homem tem a responsabilidade

de buscar a Deus:

“Buscai o Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto” (Isaías 55.6). “Buscai, pois em primeiro lugar o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6.33). “Se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis” (Lucas 13.3). Quando avaliamos estas passagens, confrontando-as umas com as outras, chegamos às seguintes conclusões:

1. Ou a Bíblia contém contradições; 2. Ou um destes grupos de versículo está correto e o outro,errado; 3. Ou o homem é capaz de vencer sua incapacidade e fazer, por seu próprio poder, aquilo que

Deus afirma que ele não pode fazer por meio de sua natureza caída; 4. Ou o homem é capaz de satisfazer a responsabilidade que os mandamentos de Deus exigem

por meio do poder de Deus, quando Deus o capacita.

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As conclusões 1 e 2 são descartadas por causa da nossa opinião de que a Bíblia é inspirada por Deus e digna de confiança.

As conclusão 3 é rejeitada por apresentar uma contradição, ou seja, o homem não pode fazer, por seu próprio poder, aquilo que é absolutamente estranho à sua própria vontade natureza. Minha conclusão foi que a afirmação número 4 está correta. Deus realmente coloca sobre o homem a responsabilidade de arrepender-se e crer em Cristo, mas o homem é incapaz de fazer isto por suas próprias forças; ele pode fazê-lo somente quando o poder de Deus o capacita.

É nessa hora que o “quem quiser” da Bíblia torna-se claro. É verdade que a Bíblia diz: “Quem quiser”, em Apocalipse 22.17 (“... quem quiser receba de graça a água da vida”), e afirma: “todo que nele crê”, em João 3.16 “(... todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna). Mas, à luz de nossas deduções sobre Romanos 3, concluímos que o homem, em suas próprias forças, não pode vir a Deus e que a vontade do homem precisa ser capacitada pó Deus!

Nossas conclusões nesta área do estudo são confirmadas posteriormente, quando consideramos Efésios 2.1-3. esta passagem indica o seguinte: antes da salvação (de ser vivificado por Deus)

1. O homem está morto em delitos e pecado; 2. O homem anda de acordo com o curso deste mundo; 3. O homem anda de acordo com os ditames de Satanás; 4. O homem anda nas concupiscências da carne e do mundo; 5. Por natureza, o homem é filho da ira.

Concluímos que estes fatos não deixam qualquer espaço para que o homem tenha capacidade

espiritual. Quanta capacidade espiritual pode um homem morto ter em sua mente? Em sua vontade? Em seus desejos? Se o homem realmente tivesse toda a capacidade espiritual (conforme alguns afirmam), por que haveria necessidade de uma vivificação ( um novo nascimento), com o propósito de retirar do homem de um estado de incapacidade, um estado do qual o homem, por suas próprias forças, não pode livrar a se mesmo? Assim, está claro que o homem, na Queda, tornou-se completamente incapaz e sem poder, quer para desejar a Deus, quer para servi-Lo quer para conhecê-Lo, quer para buscá-Lo, a menos que Deus o capacite. Há outra pergunta que consideraremos; Deus vivifica apenas algumas pessoas para a salvação – aquelas que Ele escolheu por sua própria vontade -, enquanto deixa as outras de lado? Ou Ele remove de todos os homens os efeitos da Queda, em algum ponto, trazendo cada um deles a posição de neutralidade, onde o individuo pode, então, aceitar ou rejeitar Cristo e a salvação? Deus levanta o homem, assim como um pai ergue seu filho, colocando-o sobre uma árvore, para que ele decida se apanhará ou não o fruto da árvore? Tais perguntas devem serão respondidas depois de considerarmos o segundo ponto do acróstico calvinista. Eleição incondicional é bíblica? Muitos versículos falam sobre a eleição, eleitos, escolhido, etc.; difícil negar que a Bíblia ensina a eleição. A passagem de Efésios 1, por exemplo, fala sobre Deus escolhendo um povo para ser desde a fundação do mundo. O problema aqui não é “Deus escolheu ou elegeu um povo para ser dEle mesmo?”, e sim “Fundamentado em que Ele escolheu este povo para ser dEle mesmo?” Procurando responder esta pergunta, escreveremos duas possibilidades:

1. Ou porque Deus viu de antemão alguma bondade no homem, ou porque Deus viu de antemão à fé que o homem teria, ou seja, que o homem creria em Jesus;

2. Ou por causa da vontade de Deus, e somente da vontade de Deus, o que também significa que

Deus não escolheu o homem por causa de alguma fé ou bondade que Ele viu de antemão no homem.

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Em seguida, listaremos os argumentos em favor de cada uma dessas opiniões. Observamos que os advogados da eleição fundamentada na fé contemplada de antemão (presciência) utilizam as passagens bíblicas que afirmam haverem sido os eleitos escolhidos com base na presciência de Deus (Rm 8.29; 1 Pe 1.1-2). Aqueles que defendem a eleição fundamentada na soberana vontade de Deus, argumentam isto com base em Efésios 1.5-6,11.

Nosso próximo passo vai avaliar cada uma destas posições. Temos de fazer as seguintes perguntas:

1. Qual era a palavra grega traduzida por “conhecer de antemão” e o que ela significava? 2. Efésios 1.5-6,11 poderia ser interpretado de qualquer outra maneira consistente, que não

fosse no sentido de concluirmos que a eleição ocorreu por meio da soberana graça de Deus?

3. Como estas duas conclusões se harmonizam com nossa conclusão anterior a respeito da depravação total?

Observemos que as palavras gregas em Romanos 8.29 e 1 Pedro 1.1-2 podem ter o significado

de presciência ou o sentido de preordenação. Isso não nos ajuda muito. Olhemos pois o contexto e a gramática.

Estabeleceremos Romanos 8.29 como chave para a solução. Consideramos a passagem separadamente, levando em conta o aspecto gramatical, e observamos que nos versículos 29 a 30 Deus estava agindo (ou havia realizado algo), fazendo algumas coisas:

Ele conheceu de antemão; Ele predestinou; Ele chamou; Ele justificou.

Em seguida, perguntamos: qual é o objeto do verbo em cada uma destas ações? É a fé ou algo da pessoa eleita ou a própria pessoa eleita? Temos de concluir que o objeto, de cada um destes verbos, é “aos que”; isto evidentemente é uma referência a pessoas e não à fé ou a qualquer coisa que havia nelas. Aos que Deus conheceu de antemão, Ele predestinou... Aos que Deus predestinou, Ele chamou... Aos que Deus chamou, Ele também justificou... Aos que Deus justificou, Ele glorificou... O contexto da passagem também nos ajuda; faz parte de uma seção de encorajamento para o povo de Deus. Paulo estava ensinando que o crente deve esperar com paciência, juntamente com a criação, até à consumação final de todas as coisas. Enquanto o crente espera, o Espírito Santo o auxilia (vv.26-27). Também, enquanto espera, recebe a segurança de que todos os acontecimentos com os quais ele se depara provêm das mãos de Deus (v 28). Em seguida, lemos aquela afirmativa a respeito do conhecimento antecipado de Deus, para proporcionar esperança ao crente. O principal argumento de Paulo parece ser que a futura esperança do crente está no fato de que Deus está no controle de todas as coisas, incluindo a salvação. Deus conheceu de antemão; Deus predestinou; Deus chamou; Deus justificou; Deus glorificou. Com base nesses fatos, ninguém pode agir contra os eleitos (v. 31); Deus outorgará gratuitamente todas as coisas aos eleitos (v. 32); ninguém pode laçar acusação contra eles (v. 33) ninguém pode condená-los (v.34); e nada os separará do amor de Cristo (v. 35-39). Todo o contexto é Deus! Deus! Deus! Deus! E, por causa do que Ele fez, a posição presente e futura do crente é segura. Por outro lado, interpretar Romanos 8.29 nos sentido de que Deus viu de antemão fé em alguém (e realmente a construção gramatical não deixa qualquer brecha para tal possibilidade)

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significaria colocar o homem no lugar de Deus em uma parte da equação. Concluímos então, que isso é incorreto. Por fim, não podemos encontrar outra passagem bíblica que nos dá indícios de que Deus havia escolhido os eleito fundamentado em qualquer conhecimento antecipado do exercício de fé. Romanos 8.29 indica que indivíduos; e o restante da Bíblia concordam com esta indicação. Por conseguinte, o conhecimento de antemão referido em Romanos 8.29, no sentido de preordenação, ao invés de no sentido de presciência, se torna um guia para interpretarmos 1 Pedro 1.1-2 de maneira semelhante. A passagem de Efésios 1 também é clara. Observemos as seguintes verdades:

1. Deus tinha um povo que Ele mesmo havia escolhido (v. 4) 2. Deus escolheu este povo antes da fundação do mundo (v. 4) 3. A escolha e a predestinação divina aconteceram fundamentadas no beneplácito da vontade de

Deus (v. 5); 4. Tudo foi realizado para o louvor da glória da graça divina (v. 6).

No quarto ponto, reconhecemos que a eleição realizada com base na fé prevista no homem

glorificaria o homem, ao invés de glorificar a Deus, enquanto a eleição realizada com base na soberana graça de Deus verdadeiramente traria louvor a glória da graça de Deus. No que se refere à questão da harmonia deste ponto de vista sobre a eleição com as nossas conclusões a respeito da depravação total, encontramos pleno acordo entre as duas doutrinas. De conformidade com a depravação total (a total incapacidade do homem para desejar e buscar a Deus, a menos que Deus o capacite), a eleição fundamentada em um conhecimento antecipado, definido com presciência, é descartada. Um ser depravado como o homem não poderia nem desejaria escolher a Deus; portanto, a eleição não poderia ocorrer com base no conhecimento antecipado; ela precisa ter como base a soberana graça de Deus. Assim concluirmos que não somente acreditamos na depravação total, como também na eleição incondicional, ou seja, em uma eleição não fundamentada em qualquer condição existente no homem, e sim completamente na vontade de Deus. Ainda permanece uma pergunta nesta área estudo: como era possível a eleição ter ocorrido desta maneira e, ao mesmo tempo, Deus continuar sendo justo? A eleição incondicional torna Deus injusto? A eleição incondicional não nos deixa crendo em um Deus injusto? Ou seja, se Deus escolheu os eleitos tão-somente fundamentado em sua soberana vontade, sem levar em conta qualquer coisa que havia no homem, Deus não seria injusto em escolher uma pessoa e rejeitar outra? Chegamos a varias conclusões. Primeira, se o decreto divino da eleição seguiu ao decreto da queda do homem (esta opinião chama-se infralapsarianismo), todos eram vistos, no decreto da eleição, como imerecedores da graça de Deus. Sim, todos mereciam a eterna condenação e, com certeza, não tinha qualquer motivo para reivindicara graça de Deus ou o amor de Deus. Por conseguinte, como alguém poderia acusar a Deus de ser injusto, se, com base em sua soberana vontade, Ele resolveu salvar um povo dentre esta raça de seres caídos e indignos. Segunda, ainda que alguém se recusasse a considerar a ordem dos decretos ou que alguém tivesse de colocar o decreto de eleger à frente do decreto de permitir a Queda (este ponto de vista é chamado de supralapsarianismo), isso não tornaria Deus em um Ser parcial e injusto. Chegamos a conclusão por consultarmos um dicionário para definir o significado das palavras que alguns gostam de lançar contra Deus, se a eleição incondicional é realmente verdadeira.

ARBITRÁRIO – fundamentado ou sujeito à opinião, julgamento ou capricho de alguém; absoluto; despótico.

DÉSPOTA – autoridade ilimitada; poder absoluto. Soberano que exerce autoridade arbitrária e absoluta; tirano; Pessoa que abusa de sua autoridade. TIRANO – alguém que governa de maneira opressiva ou cruel;

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um déspota; alguém que exerce poder absoluto sem autorização legal, quer governador bem ou mal.

AUTOCRATA – um supremo governante de poder irrestrito; uma pessoa ditatorial e arrogante. DITADOR – uma pessoa que possui poderes absolutos de governo; em especial, alguém considerado como um opressor;

alguém que governa, prescreve ou subjuga de maneira autoritária.

Em seguida, anotamos as razões por que estas palavras não poderiam ser utilizadas em referência a Deus, mesmos que a eleição incondicional fosse verdadeira.

1. Todas estas palavras são empregadas para falar sobre pessoas que são iguais entre si mesmas. Mas Deus e o homem não são iguais. Deus é Deus – o eterno soberano; i o homem é uma criatura limitada. Utilizar tais palavras em referência a Deus significa colocar sobre Ele uma igualdade com o homem e julgá-Lo com base em padrões e definições de justiça humana.

2. Todas estas palavras, se aplicadas à eleição e a reprovação, ignoram completamente a queda do

homem, a sua condenação e o fato de que ele não merece nada da parte de Deus, exceto ira e julgamento.

Nossa conclusão é que a eleição incondicional é não somente bíblica, como também poderia ser defendida ante às acusações habitualmente levantadas contra ele. Quão admirável é a graça eletiva de Deus para conosco. Alguém pode fazer muitas perguntas sobre a graça (o que ela significa? Quais os seus resultados? Etc.), mas o porquê da graça ter sido manifestada não é uma dessas perguntas. A própria natureza e a definição da graça não levarão em conta quaisquer perguntas a respeito dos motivos por que Deus derrama sua graça sobre qualquer peso, ou seja, mesmo sobre um pecados caído e indigno. Expiação limitada Por quem Cristo morreu? Vamos revisar a doutrina:

1. A expiação limitada diz que a morte de Cristo teve um desígnio específico para com os eleitos, e não um desígnio e propósito geral para com toda a raça humana.

2. A expiação limitada afirma: devido ao fato de que o propósito particular de Deus na expiação

tem em vista os eleitos, a salvação deles é garantida. Qualquer outro desígnio ou propósito na eleição não somente tornaria possível a salvação de todos os homens, mas também não garantiria a salvação de ninguém.

3. A expiação limitada é o resultado lógico dos primeiros dois pontos do calvinismo. Se o homem

é totalmente depravado e não pode vir a Deus, exceto com, base na eleição, então, a expiação tem de ser apenas para os eleitos; pois, de outro modo, eles não seriam salvos.

4. Por outro lado, a expiação limitada diz que, se houver tal coisa como a eleição, e algumas

pessoas não pertencem ao grupo de eleitos, não haveria qualquer propósito de Cristo morrer pelos não-eleitos. Se Cristo morreu por todos os homens indistintamente, isso significaria que Ele morreu pelos não-eleitos; o que, por sua vez, significaria que haveria no inferno pessoas em favor das quais Cristo morreu e em favor das quais Ele fez expiação dos pecados.

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Depois de haver revisto a doutrina, nosso próximo passo é avaliar se tal doutrina é bíblica ou não. Ao rastrear e recordar versículos que se referem à morte de Cristo, escrevemos os seguintes versículos que falam sobre a morte de Cristo em favor de seu povo: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (João 10.11); “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para apresentar a si mesmo igreja gloriosa, se mácula, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Efésios 5.25-27); “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com seu próprio sangue” (Atos 20.28); “Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmão, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hebreus 2.17). Outros versículos de nossa lista são os seguinte: Mateus 20.28 Marcos 10.45 Lucas 14.23-24 Tito 2.14 Hebreus 9.12-15

Hebreus 9.28 Hebreus 10.14 1 Pedro 1.19-21 1 Pedro 2.24 Apocalipse 1.5-6

Em oposição a este conjunto de versículos, escrevemos outras passagens que indicam uma natureza geral da expiação: “Muito outros creram nele, por causa da sua palavra e diziam à mulher: Já agora não é pelo que dissestes que nós cremos; mas porque nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (João 4.41,42); “Ora, é para esse fim que labutamos e nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis” (1 Timóteo 4.10); “E nós temos visto e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo” (1 João 4.14); “Porque Deus amor ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16); “No dia seguinte, viu João a Jesus, que vinha para ele e disse: Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (João 1.29); “A saber, que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões...” (2 Coríntios 5.19); “Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvado, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e chegue ao pleno conhecimento da verdade. Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos; testemunho que se deve prestar em tempos oportunos” (1 Timóteo 2.3-6);

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“Vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que , pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem” (Hebreus 2.9); “Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1 João 2.2). Depois que lemos e relemos estes versículos, surgem as seguintes possibilidades, pensamentos e conclusões, a fim de solucionar a aparente contradição: Possibilidade 1

1. Existe uma contradição na Bíblia, pois ela afirma que Cristo morreu pela Igreja (os eleitos) e, também, por todas as pessoas perdidas do mundo.

Descartamos esta possibilidade por causa de nossa pressuposição a respeito da natureza das Escrituras. Não há contradições na Palavra de Deus. Por conseguinte, este conjunto de afirmações bíblicas tem de se harmonizar, de alguma maneira. Possibilidade 2

2. A Bíblia ensina o universalismo, ou seja, que todos os homens serão salvos. Se Ele, Cristo é o Salvador do mundo, então, todo o mundo (o que significa todos os homens do mundo) será salvo. Se Ele é o Salvador de todos os homens, toda a humanidade será salva. Se Cristo reconciliou consigo mesmo todo o mundo (o que significa todos os homens), toda a humanidade será salva. Se Ele se entregou a Si mesmo como resgate por todos (os homens), todos os homens serão salvos. Se Cristo provou a morte em favor de cada pessoa, todas as pessoas serão salvas. Se Ele é a propiciação pelos pecados do mundo (significando todos os homens), então, todos os homens serão salvos. Rejeitamos esta possibilidade à luz de outros ensinos claros das Escrituras, especialmente de passagens como estas: “Aquele que não crê em Cristo perecerá” (João 3.16); Aquele que “não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus” (João 3.18); “Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (João 3.36); “Aquele que não crê no Filho entrará em juízo” (João 5.24); “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (Mateus 10.28). Possibilidade 3

3.Cristo morreu pelos eleitos no sentido de que realiza ou uma expiação geral pelos pecados de todos os homens; e esta expiação inclui também os pecados dos eleitos.

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Cristo morreu em favor dos eleitos da mesma maneira que morreu em favos dos não-eleitos; e a sua morte em favor destes teve a mesma natureza de sua morte em favor daqueles. Em resposta à pergunta “como este ponto de vista difere do universalismo?”. Podemos dizer que cada pessoa tem de aceitar esta expiação e que as pessoas que não a aceitarem serão condenadas – a ira de Deus permanece e permanecerá sobre elas por toda a eternidade. Temos de admitir: este ponto de vista parece plausível e bastante atraente! Mas existe uma outra possibilidade. Pensemos juntos:

1. Ou existe uma contradição na Bíblia, à luz dos dois conjuntos de versículos citados, visto que um dos grupos de versículos afirma que Cristo morreu pela Igreja (os eleitos), e o outro grupo parece declarar que Cristo morreu por todas as pessoas. (Rejeito a possibilidade de contradição com base em meu comprometimento com a inerrância das Escrituras.)

2. Ou a Bíblia ensina o universalismo, ou seja, que todos os homens serão salvos, visto que Cristo

morreu por todos eles. (Rejeito esta possibilidade, levando em conta os versículos que afirmam com clareza que os incrédulos serão condenados.)

3. Ou a Bíblia ensina que Cristo morreu da mesma maneira tanto pelos eleitos quanto pelos não-

eleitos.

Cristo havia morrido em favor dos eleitos e dos não-eleitos no sentido de que Ele fizera expiação pelos pecados de ambos os grupos? Mas, a expiação não significa que Cristo satisfez tudo que a justiça e a lei de Deus exigiam da humanidade, como uma condição para que eles sejam recebidos no favor de um Deus eterno? A expiação não significa que Cristo foi um substituto que assumiu toda a responsabilidade legal daqueles em favos dos quais ele morreu? Se Cristo morreu da mesma maneira tanto pelos eleitos quanto pelos não-eleitos, estes dois grupos não deveriam ser salvos? A questão aqui não é se a fé recebia a aplicação daquela morte ou não, e sim em que sentido ocorreu a morte de Cristo por ambos os grupos. A morte de Cristo foi expiatória ou não? Se foi uma morte expiatória, os pecados daqueles em favor dos quais Ele morreu seriam expiados! A morte de Cristo foi uma satisfação da justiça de Deus ou não? Se assim foi, aqueles em favor dos quais Cristo morreu se tornariam aceitáveis a Deus! A morte de Cristo foi vicária? Então, aqueles em favor dos quais Ele morreu, como Substituto, seriam recebidos por Deus. A morte de Cristo foi uma aceitação da responsabilidade legal por parte de Cristo? Se assim foi, a responsabilidade legal daqueles em favor dos quais Ele morreu foi satisfeita. Portanto, se Cristo morreu da mesma maneira tanto pelos eleitos quanto pelos não-eleitos, a morte dEle foi não somente expiatória, vicária e uma satisfação da responsabilidade legal para os eleitos, mas também para os não-eleitos. De que maneira isso poderia ser verdade, à luz do evidente ensino das Escrituras, de que haverá perdidos no inferno? Haverá no inferno pessoas em favor das quais Cristo realizou uma satisfação expiatória e vicária? Por outro lado, se a morte de Cristo por ambos os grupos não foi uma obra completa (um sacrifício expiatório e vicário em favor da responsabilidade legal deles), como podem os eleitos ser salvos por intermédio de uma morte que não expia o pecado deles? Por intermédio de uma morte que não foi substituição? Uma morte que não satisfez as exigências da lei e da justiça de Deus no que diz respeito ao pecado? Nossa conclusão tem de ser que Cristo não morreu da mesma maneira tanto pelos eleitos quanto pelos não-eleitos. A morte dEle em favor dos eleitos foi uma obra completa – Ele realmente morreu com um sacrifício expiatório e vicário que satisfez as exigências da lei e da justiça de Deus contra o pecado. Se alguém falar de alguma maneira cobre a morte de Cristo em favor dos não-eleitos, não pode fazê-lo utilizando esses termos. Esta também poderia ser a explicação para os dois conjuntos de versículos que se referem à morte de Cristo pelos eleitos e pelos não-eleitos.

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Conclusão: a natureza da morte de Cristo pelos eleitos e pelos não-eleitos não poderia ser a mesma. E como explicar todos os outros versículos? O que a Bíblia quer dizer quando afirma: Cristo é o Salvador do MUNDO (Jpão4.41-42; 1 João 4.14); Cristo é o Salvado de TODOS OS HOMENS (1 Timóteo 4.10); “Deus amou o MUNDO de tal maneira que deu seu Filho unigênito” (João 3.16); Cristo é o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do MUNDO” (João 1.29); Cristo está reconciliando o MUNDO consigo mesmo, “não imputando aos homens as suas transgressões” (2 Coríntios 5.19); Cristo quer que TODOS os HOMENS sejam salvos (1 Timóteo 2.3-6); Cristo deu-se a Si mesmo com resgate por TODOS (1 Timóteo 2.3-6); Cristo provou a morte por TODO HOMEM (Hebreus 2.9); Cristo é a propiciação pelos pecados do MUNDO inteiro (João 2.2).

Cristo é o Salvado do mundo? O problema com o qual agora nos deparamos diz respeito aos diversos versículos da Bíblia que parecem indicar que a morte de Jesus havia sido universalmente a mesma, tanto para os eleitos como para os não-eleitos. Chamo a atenção para o fato de que muitas das passagens problemáticas contem a palavra “mundo” e de que pertenciam ao evangelho e à epístola do apóstolo João. Observei que João era um judeu e fora um líder e uma pessoa fundamental na igreja de Jerusalém (Gl 2.9), que era constituída em sua maioria de judeus. Também conto o fato de que Paulo era um apóstolo dos gentios ( At 9.15; 15.3; Rm 3.29; 11.11) e exponho sobre a dificuldade que ele encontrara, quando procurou convencer os judeus crentes de que a igreja (o corpo de Cristo) era constituída tanto de judeus quanto de gentios. Bem cedo em seu ministério, Paulo travou uma batalha em favor do conceito de “um só corpo” da igreja de Cristo, conforme está evidente na carta aos Gálatas. Ele levou essa luta até ao Concílio de Jerusalém (At 15), onde a verdade prevaleceu; mas, apesar disso, Paulo tece de continuar lutando pela aplicação do princípio de “um só corpo”na vida das igrejas. Por fim, o apóstolo Paulo foi preso por causa deste conceito (Ef 3.1 – o mistério nesta passagem é que a igreja é composta de judeus e gentios; ver também 2 Timóteo 1.1-12; Atos 21.28; 22.1-22). Com tudo isto em mente, qualquer crente está pronto para entender a palavra “mundo” nas passagens escritas pelo apóstolo João, especialmente as seguintes:

“Cristo é o Salvador do MUNDO”(João4.41-42; 1 João 4.14); “Deus amou o MUNDO de tal maneira que deu seu Filho unigênito” (João 3.16); “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do MUNDO” (João 1.29); “Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do MUNDO INTEIRO” (1 João 2.2).

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João não estaria afirmando nestas passagens que Jesus morreu por homens de todas as nações, com especial referência aos gentios e não somente ao judeus?

Se Cristo é literalmente o Salvador do mundo (de cada homem do mundo), isto significa que todos serão salvos. O apóstolo João, porventura, não estaria dizendo que Cristo remove tanto o pecado dos judeus quantos dos gentios, e não somente dos judeus?

Se Cristo é literalmente a propiciação pelos pecados do mundo (os pecados de cada pessoa do mundo), isto significa que todas elas serão salvas. Pelo contrário, o apóstolo João não estaria afirmando que Cristo tira o pecado tanto de judeus quanto de gentios, e não somente de judeus?

Ainda, a passagem de João 3.16 não declara que Deus amou tanto a judeus como a gentios e que deu o seu Filho para que todo aquele que nEle crê seja salvo?

Finalmente, esse também poderia ser o significado das palavras de Paulo em 2 Coríntios 5.19 – Cristo está reconciliando consigo mesmo cada homem, e sim tanto um homem judeu quanto um homem gentio.

Nossa conclusão é que, se alguém entendesse o vocábulo “mundo”nestas passagens (exceto João 3.16) como uma referência a cada pessoa da terra, isto resultaria em universalismo da salvação, o que a Bíblia definitivamente não ensina.

Cristo é o Salvador do mundo (cada homem) (João 4.41-42 e 1 João 4.14) = universalismo. Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (cada homem) (João 1.29) = universalismo. Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro. (cada homem) (1 João 2.2) = universalismo. Cristo está reconciliando consigo o mundo (cada homem) (2 Coríntios 2.19) = universalismo.

Não é evidente que os escritores sagrados, nestas passagens bíblicas, estavam falando tanto sobre judeus como sobre gentios, ao utilizarem a palavra “mundo”?

“Cristo é o Salvador do mundo” (tanto dos judeus como gentios) (João 4.41-42; 1 João 4.14) = universalismo. “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (tanto dos judeus como gentios) (João 1.29) = universalismo.

“Ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (tanto dos judeus como gentios) (1 João 2.2) = universalismo.

Cristo está reconciliando consigo o mundo (tanto dos judeus como gentios) (2 Coríntios 2.19) = universalismo.

O vocábulo “todos” sempre significa “todos” na Bíblia? Cestos versículos indicam e ensinam que Cristo morreu de maneira singular em favor da igreja, conforme nos mostraram as considerações sobre o significado da palavra “expiação”. E alguns outros versículos indicam que Cristo morreu também de maneira semelhante em favor de todos os homens.

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Observamos que alguns deles continham a palavra “mundo”. Após considerarmos a impossibilidade desta palavra significar “cada pessoa” em todos estes versículos, concluímos que ela tinha de significar (especialmente à luz do ambiente histórico da igreja primitiva) tanto judeus como gentios, em oposição a uma referência exclusiva aos judeus. Interpretar a palavra “mundo”, em muitos versículos, com o significado de “todos os homens” implicaria em universalismo, ou seja, que todos os homens serão salvos. Começaremos pelo versículo mais fácil. 1 Timóteo 4.10 “Ora, é para esse fim que labutamos e nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis”. Escrevi aqui duas observações verdadeiras:

1. Este versículo não se refere a Cristo! O versículo afirma que o Deus vivo (cf. Mt 16.16), que é Deus Pai, está fazendo algo em favor de todos os homens.

2. Este versículo não se refere à salvação. Pelo contrário, refere-se a Deus como o Preservador

(um dos sentidos da palavra grega) de todos os homens, especialmente dos crentes.

Portanto, o significado do versículo é que Deus Pai (o Deus vivo) preserva e guarda a vida de todos os homens; e os crentes, em especial, estão sob o cuidado e a bondade de Deus. Consequentemente, 1 Timóteo 4.10 não ensina que Cristo morreu da mesma maneira por todos os homens.

1 Timóteo 2.1-6

Em seguida, consideremos uma parte mais difícil das Escrituras, 1 Timóteo 2.1-6, que declara nos versículos 3 a 6: “Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Porquanto há um só Deus e um Só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho que se deve prestar em tempos oportunos.” Nesta passagem, observamos estas perguntas cruciais, que têm de ser respondidas, ao entendermos o seu ensino:

1. As palavras “todos os homens”, no versículo 4, significam cada pessoa que já viveu ou viverá sobre a terra, sem exceção?

2. A palavra “todos”, no versículo 6, significa cada pessoa que já viveu ou viverá sobre a terra,

sem exceção?

A palavra “todos” não quer significar “todos”? Não estamos brincando com as palavras e forçando a Bíblia a dizer que “todos” significa algo mais além de “todos”? Todos significa todos, sem exceção! Não é o que esta palavra sempre significa?

A palavra “todos” significa “todos os homens”, sem exceção, em cada versículo em que ela é empregada nas Escrituras?

Todas as vezes que o vocábulo “todos” ocorre nas Escrituras, ele não significa todas as pessoas, sem exceção. Vejamos:

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“Saíam a ter com ele toda a província da Judéia e todos os habitantes de Jerusalém; e, confessando os seus pecados, eram batizados por ele no rio Jordão”. (Marcos 1.5)

“De madrugada, voltou novamente para o templo, e todo o povo ia ter com ele; e, assentado, os

ensinava” (João 8.2). “Porque terás [Paulo] de ser sua testemunha diante de todos os homens, das coisas que tens visto e

ouvido” (At 22.15);

“Sereis odiados de todos por causa do meu nome...” (Mateus 10.22);

“E foram ter com João e lhe disseram: Mestre, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tens dado testemunho, está batizando, e todos lhe saem ao encontro” (João 3.26). Todos, nestes versículos, significam cada pessoa, sem exceção?

De acordo com estes versículos, a palavra “todos”, em todas as suas ocorrências na Bíblia, significa cada pessoa, sem exceção? O que, então, a palavra “todos” significa nestes versículos?

Possivelmente a palavra significava duas coisas ou fora empregada com um entre dois sentidos. Ou a palavra “todos” havia sido utilizada no sentido hiperbólico (ou seja, referindo-se a um grande número de pessoas, e não no sentido de cada pessoa, sem exceção); ou ela fora utilizada para referir-se a todas as pessoas sem distinção, ou seja, ela se referia a homens de todas as nacionalidades. 3

Parece óbvio que “todos” não significa cada pessoa, sem exceção, nos vários versículos que lemos. Mas como podemos saber que ela não tem este sentido na passagem de 1 Timóteo 2.4?

Parece-me que precisamos descobrir uma de suas coisas; primeira, se o contexto oferece alguma ajuda; segundo, se a Bíblia, em alguma de suas passagens, utiliza a expressão “todos os homens” para se referir de maneira inegável a todos os homens, sem exceção.

Por isso, consideremos o fluxo de pensamento do contexto de 1 Timóteo 2. o contexto desenvolve-se da seguinte maneira:

Versículo 1 – Paulo exorta os crentes a respeito de vários assuntos; mas, em primeiro lugar, ele

exorta que sejam feitas orações, súplicas, intercessões, e ações de graça por “todos os homens”. Qual é o sentido de “todos os homens” nesta exortação; significa cada pessoa, sem exceção ou cada classe de pessoas? É óbvio que não pode ter o sentido de cada pessoa, sem exceção, porque (1) aqueles crentes não conheciam todas as pessoas da terra, sem exceção; (2) porque o tempo não permitiria que eles orassem por todos os homens da terra, sem exceção. Portanto, a expressão tem de significar todos os homens no sentido de classe de pessoas.

Versículo 2 – A exortação de Paulo para que os crentes orassem em favor de “todos os

homens” incluía os reis e todos aqueles que estavam em posição de autoridade, a fim que os crentes desfrutassem de uma vida tranqüila e mansa, com toda a piedade e respeito. Este versículo demonstra que o sentido de “todos os homens”, no versículo 1, tem de ser o sentido de classes de pessoas, visto que os reis são mencionados como uma classe dentre muitas outras.

Versículo 3 – Paulo afirma que temos de orar por todos os homens, a gim de que tenhamos

como resultado uma vida de quietude e tranqüilidade, o que é bom e aceitável aos olhos de Deus, nosso Salvador.

Versículo 4 – Paulo declara que Deus deseja (e não “quer” no sentido de decreto, pois, se

assim fosse, tal coisa aconteceria) que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Ora, qual é o sentido de “todos” neste versículo – significa todas as pessoas, sem exceção, ou

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cada classe de pessoas? O contexto do versículo 3 nos proporciona orientação, para todas as classes ou ordens de pessoas, e não todas as pessoas, sem exceção.

Versículo 5 – Paulo afirma que existe somente um Mediador entre Deus e os homens, Cristo

Jesus, homem. Versículo 6 – Neste versículo, Paulo designa Cristo como Aquele que se entregou a Si mesmo

como resgate por todos os homens. Novamente, o contexto do versículo 4 nos fornece orientação quanto ao significado de “todos”. Outra vez, este vocábulo se refere à classe ou ordem de pessoas. E Paulo está dizendo: visto que temos de orar por todas as classes ou ordens de pessoas, não existe qualquer dessas classes que esteja excluída do evangelho.

Por conseguinte, nossa conclusão é que 1 Timóteo 2.1-6 não ensina que Cristo morreu ou fez

expiação por todos os homens, sem exceção. Cristo provou a morte por todos os homens ou por todas as coisas? Começaremos com Hebreus 2.9, que diz: “Vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem” (Hb 2.9) Quando consideremos esta passagem e o se contexto, observa-se algo muito interessante: existe uma palavra grega (pás), em suas várias formas, utilizada nos versículos 8 a 10. Versículo 8 – Todas as coisas [panta] sujeitaste debaixo dos seus pés. Versículo 8 – Ora, desde que lhe sujeitou todas as coisas [ta panta]... Versículo 8 – Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas [ta panta] a ele sujeitas. Versículo 9 – Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem [huper pantos]. (observe também que a palavra grega antrophos, que significa homem, não se encontra neste versículo). Versículo 10 – porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas [ta panta] existem... Reconhecendo que nem todos conhecem a língua grega, fiz um gráfico para mostrar as possibilidades de tradução desta palavra em cada um destes versículos, à luz do gênero das formas gregas. Versículo 8 – Todos os homens sujeitaste debaixo dos seus pés. Ou Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seus pés. Versículo 8 – Ora, desde que lhe sujeitou todos os homens... Ou Ora, desde que lhe sujeitou todas as coisas... Versículo 8 – Agora, porém, ainda não vemos todos os homens a ele sujeitos. Ou

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Agora, porem, ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas. Versículo 9 – Para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem. Ou Para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todas as coisas. Versículo 10 – Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todos os homens existem... Ou Porque convinha que aquele, por cuja causa e por quem todas as coisas existem... É óbvio que, para interpretarmos esta passagem bíblica, temos de responder as seguintes perguntas:

1. Devemos traduzir esta palavra grega como “todas as coisas” e “cada coisa” em todas as suas ocorrências neste versículos?

2. Devemos traduzir esta palavra grega como “todos os homens” e “cada homem” em todas as

suas ocorrências nestes versículos?

3. Devemos traduzi-la nesta passagem como “todas as coisas” (cada coisa) em alguma ocorrência e como “todos os homens” (cada homem) em outras de suas ocorrências?

4. Em palavras simples, devemos traduzir esta palavra grega no gênero masculino ou no gênero

neutro (a forma grega pode ser ambos), em seu uso nesta passagem?

Enquanto pensamos, parece-nos que o contexto é muito importante nestas questões. Então, resumimos o fluxo de pensamento nas seguintes palavras:

Versículo 7 – Deus fez Cristo tornar-se um pouco menor do que os anjos. Deus coroou a Cristo

com glória e honra. Deus colocou Cristo acima das obras criadas. Versículo 8 – Deus sujeitou todas as coisas aos pés de Cristo. Deus, ao colocar todas as coisas em

sujeição a Cristo, não deixou nada excluído da autoridade de Cristo. Versículo 9 – Mas vemos que Jesus foi tornado um pouco menos do que os anjos, por causa do

sofrimento da morte, coroado de glória e honra, para que pela graça de Deus, provasse a morte (aqui está o problema – por todo homem ou por toda coisa.)

Versículo 10 – Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas e por quem todas as

coisas existem, trazendo muitos filhos à glória, tornasse perfeito o Capitão da salvação deles, por meio de sofrimentos.

O argumento da passagem parece fluir da seguinte maneira: 1. Deus tornou Cristo um pouco menor do que os anjos (ou seja, na forma de homem) e O

colocou sobre rodas as coisas de sua criação.

2. Agora, porém, devido ao pecado, todas as coisas ainda não estão sujeitas a Cristo.

3. Todavia, por meio da morte de Cristo, haverá um benefício para toda a criação, visto que Ele provou a morte por todas as coisas. por meio desta morte, Ele trará muitos filhos à glória.

Esta interpretação concorda com a passagem de Romanos 8.19-22, onde Paulo afirmou:

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“a ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está

sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora”.

Ainda que tomemos os versículos 7 e 8 de Hebreus 2, como uma referência ao homem e não a

Cristo, a mensagem seria a mesma: Deus fez o homem um pouco menor do que os anjos e o coroou de glória e honra. Ele colocou o homem sobre as obras da criação – todas as obras da criação de Deus. Agora, porem (devido ao pecado), todas as coisas não estão sob autoridade do homem, por isso, a fim de colocar todas as coisas sob a autoridade do homem, vemos Jesus assumindo a forma de homem, para sofrer a morte por todas as coisas, e por meio de sua morte Ele também trará muitos filhos à glória. O principal argumento da passagem é que a morte de Cristo não somente traz muitos filhos à glória, mas também remove a maldição do pecado sobre a natureza. Como 2 Pedro 3.9 se harmoniza com a expiação limitada? “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.” Primeiramente, escreveremos várias perguntas que temos a respeito da interpretação habitual desta passagem:

1. O que esta passagem nos ensina sobre a pessoa de Deus, de conformidade com a interpretação habitual?

2. O que esta passagem nos ensina sobre o intervalo de tempo até à segunda vinda de Cristo, de

acordo com o ponto de vista habitual?

3. A quem se refere o “vos”, de acordo com o entendimento comum desta passagem?

4. O vocábulo “ninguém” é uma tradução correta nesta passagem?

5. A quem se refere a palavra “todos” neste contexto?

A interpretação comum referente à expiação geral vê nesta passagem uma declaração a respeito da demora da segunda vinda de Cristo. Deus providenciou uma expiação para todo homem. Ele está disposto e desejoso que todos os homens venham a Cristo para a salvação. Deus não deseja que nenhuma pessoa pereça. Isto resulta de sua longanimidade para com todos os homens. Portanto, Ele está demorando a segunda vinda de Cristo, na esperança de que mais pessoas sejam salvas, antes que Deus tenha de fechar a cortina do tempo. Talvez essas pessoas venham a ser salvas, talvez não; mas Deus aguarda com paciência, esperando que isso permitirá que mais pessoas vão para o céu e não para o inferno, se elas serão salvas ou não, depende delas mesmas e não de algum plano ou propósito de Deus. Portanto, para responder estas perguntas de conformidade com o ponto de vista comum, teríamos de afirmar:

1. Deus fez tudo o que pode para salvar o homem (ou seja, Ele providenciou uma expiação para todos os homens); agora, Ele tem de esperar que cada pessoa reaja, dependendo do querer de cada uma delas.

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2. O intervalo de tempo até à volta de Cristo é uma período de incerteza e de esperança para Deus. É o tempo em que Deus espera a resposta do homem à provisão divina, incluindo a demora da segunda vinda de Cristo, na esperança de que alguns mais sejam salvos.

3. O “vos” refere-se a todos os homens. Deus “é longânimo” para convosco”(todos os

homens).

4. “Ninguém” é uma tradução correta.

5. “Todos” refere-se a todos os homens, incluindo cada pessoa da raça humana.

Começaremos a examinar a exatidão e inexatidão bíblica desta interpretação habitual pelo âmago do problema.

A palavra “ninguém” é uma tradução correta nesta passagem? Isso não resolve todo o problema, mas nos ajudará a entender um erro comum em lidar com a passagem.

A palavra “ninguém” é um pronome indefinido no grego e que deveria ser traduzido, se estava na forma singular, por “algum”, “alguém” ou “certa pessoa”. Todavia, na língua original, esta palavra não está na forma do singular; está na forma do plural e deve ser traduzido como “alguns’, “certas pessoas” ou “ certos homens”. O autor deste versículo de 2 Pedro não poderia ter usado a forma singular do pronome, se ele realmente desejava transmitir a idéia de “alguém”? E, visto que Pedro utilizou o plural, não tinha ele a intenção de transmitir uma idéia que fosse além de “alguém”? Ele não estava falando de “alguns” ou de “certas pessoas”?

Passemos a considerar a palavra “todos” – “senão que todos cheguem ao arrependimento”. Observamos que “todos” se encontra em uma sentença de cláusulas contrastantes. Na sentença somos informados sobre algo que Deus não quer; e, na mesma sentença, somos informados sobre algo que Ele quer. No contraste, “todos” está na segunda cláusula e permanece relacionada à expressão “certas pessoas”, na primeira cláusula. Em palavras simples, “todos” qualifica “certas pessoas”, referindo-se a elas e somente a elas. Deus não quer que certas pessoas pereçam, e sim que todas estas certas pessoas venham ao arrependimento. “Todos os homens”; tem de ser entendido em relação a “certas pessoas”.

À luz desse entendimento, é evidente que o pronome “vos” não pode referir-se a toda a humanidade. Alguns manuscritos contêm este pronome, ao invés de “nos”, que aparece um outros manuscritos. Ainda que este pronome aparecesse sozinho na frase, como alguém poderia entendê-lo como uma referência a toda a humanidade? Este pronome se refere a uma grupo específico. Ainda que alguém adotasse a variante textual de “vos” (ou seja, “nos”), tal pronome ainda falaria sobre um grupo específico, e não sobre toda a humanidade.

Com estas notas interpretativas, explico toda a passagem, nos seguinte pontos:

1. Alguns escarnecedores levantaram a questão da demora da segunda vinda de Cristo. Essa demora significava que, de alguma maneira, Deus era remisso no cumprimento de suas promessas, talvez incapaz de trazê-la à realização? Por que estava ocorrendo a demora?

2. Pedro responde dizendo que existe um grupo que é o objeto da paciência de Deus; e Ele não

deseja que estas “certas pessoas” pereçam, e sim que todas elas venham ao arrependimento.

3. Portanto, a segunda vinda de Cristo não está sendo demorada; pelo contrário, ela está no tempo certo de Deus, de acordo com o plano e o propósito dEle para salvar um povo. Cristo virá quando este povo estiver completo; e, no intervalo de tempo até à sua vinda, Ele estará agindo para trazer estas pessoas à salvação.

4. Por conseguinte, a passagem de 2 Pedro 3 não está ensinando que Deus está retardando a segunda vinda de Cristo, na esperança de que todos os homens ou mais alguns deles sejam salvos. Ao invés disso, a segunda vinda de Cristo acontecerá de conformidade com a vontade e o propósito de Deus; e esta segunda vinda inclui a salvação de um povo no tempo determinado por Deus.

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5. Esta interpretação não somente é fiel ao texto e ao contexto, mas também aos conceitos bíblicos referentes a Deus – um Deus que está no controle e está realizando todas as coisas de conformidade com o conselho de sua própria vontade, ao invés de ser um Deus fraco, que é controlado e manipulado pelo homem e por sua vontade.

Como 2 Pedro 2.1 se harmoniza com a expiação limitada?

“Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição”.

Primeiramente, assim como no estudo da passagem que havíamos considerado no último

ponto, apresentarei na forma de pontos, a interpretação habitual e comum deste versículo.

1. A palavra “Senhor”, neste versículo, refere-se ao Senhor Jesus.

2. A palavra “resgatou” refere-se à redenção por meio do sangue de Cristo.

3. Este versículo nos ensina que Cristo comprou (pagou o preço da redenção, de uma maneira geral) estes falsos ensinadores.

4. Estes falsos ensinadores estavam negando a Cristo, que havia morrido a gim de pagar a

penalidade do pecado deles; e isto incluía uma redenção que eles nunca haviam recebido, porque não eram salvos.

5. Portanto, Cristo pagou um preço de redenção por todos os homens, e cada um deles tem de

aceitar ou rejeitar o pagamento realizado por Cristo.

Temos através dos anos, visto muitas vezes este versículo ser explicado somente desta maneira e de nenhuma outra maneira. A única outra possibilidade que ouvimos, apenas em sugestão, é a de que alguns utilizam este versículo para ensinar a perda da salvação, visto que estes falsos ensinadores são exemplos de pessoas redimidas que se tornaram apóstatas. Todavia, este ponto de vista sempre fora rejeitado pelos batistas, por causa da convicção batista de que, “uma vez salvo, salvo para sempre”.

Em seguida, colocaremos alguns fatos desconhecidos que habitualmente não são mencionados, quando se aborda este versículo; alguns fatos que suscitam perguntas necessárias:

1. A palavra “Senhor”, neste versículo, realmente se refere ao Senhor Jesus, especialmente à luz do fato de que não é o vocábulo utilizado habitualmente para falar dEle como Senhor (kurios), e sim o vocábulo (despotes) que, nos escritos do Novo Testamento (exceto em uma passagem), é usado para referir-se a Deus Pai ou a um senhor de escravos? E, no único versículo em que este vocábulo é utilizado para referir-se ao Senhor Jesus Cristo, em Judas 4, refere-se não ao senhorio de Cristo, e sim ao Senhor Jesus com Soberano. Na realidade, a distinção em Judas 4 é muito clara, porque ambos os vocábulos são ali empregados.

2. A palavra “resgatou” pode realmente referir-se a uma expiação geral, por meio da qual um

preço foi pago em favor da redenção, mas a aquisição não é completa, porque depende da aceitação da parte do homem? Esta pergunta é necessária por causa do fato de que todas as ocorrências deste vocábulo, nos escritos do Novo Testamento, exceto cinco ocorrências, reportam-se ao conceito de uma compra que envolve a posse daquilo que alguém comprou, e nunca se refere a uma compra potencial, dependente de algum outro fator. Nas cinco exceções (ver 1Co 6.20; 7.23; Ap 5.9; 14.3-4), este vocábulo é utilizado para falar sobre a redenção, mas nunca se reporta a uma redenção potencial, visto que as pessoas referidas são pessoas salvas.

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Com base no significado destas palavras, tivemos de concluir que este versículo não pode estar ensinando uma expiação geral, ou seja, que Cristo pagou um preço de redenção geral por todos os homens. A pessoas a quem o versículo se refere é Deus Pai, e não o Senhor Jesus, e o vocábulo se utilizado para significar “resgatou” sempre (em todas as suas ocorrências nos escritos do Novo Testamento) se refere a uma compra completa, que coloca o comprador na posse do objeto adquirido; e o vocábulo nunca fala sobre uma compra potencial, como é sugerido na doutrina da expiação geral.

Mas, se a interpretação comum não é o verdadeiro significado deste versículo, então, qual é o seu verdadeiro significado? Uma abordagem clara de uma passagem bíblica inclui não somente o reconhecimento do que ela não significa e não pode significar, mas também o que ela realmente quer dizer.

Visto que as duas palavras principais (Senhor e resgatou) têm significados específicos, sentimos que ela tem de nos fornecer orientação em determinar o significado do versículo. “Senhor” não fala a respeito de Cristo, e sim a respeito do Deus soberano e de sua autoridade sobre todos. “Resgatou” refere-se a uma compra que estabelece posse e autoridade. A sentença, então, tem de referir-se a Deus em sua soberania e em sua autoridade sobre todos, incluindo seu domínio e sua autoridade sobre os falsos mestres.

Deste modo, a tragédia apresentada neste versículo não é que os falsos mestres estão negando a Cristo, que pagou um preço de redenção geral em favor deles. Pelo contrário, a tragédia é que estes falsos mestres estão negando a soberania de Deus, que os possui por direito de criação. Seria mais coerente, à luz do significado de “resgatou” (uma compra que resulta na posse) interpretar o versículo com o significado de que estes falsos mestres são pessoas salvas; mas, neste caso, o intérprete teria de harmonizar essa interpretação com as muitas passagens bíblicas que negam a perda da salvação por parte do crente.

É evidente que estes homens são possuídos por Deus, não em sentido de serem redimidos, e sim na relação deles para com Deus como o soberano Criador e o Possuidor de todas as coisas. A tragédia é que, por serem possuídos e sustentados por Deus mesmo, os falsos mestres estavam negando a Deus, fazendo-o em nome do cristianismo.

Concluímos que esta idéia não deve parecer tão estranha e impossível, especialmente porque, em nossos dias, há pessoas que estão fazendo esta mesma coisa.

Conclusão com relação a expiação limitada A morte de Cristo teve um desígnio e propósito particular para os eleitos, e não um desígnio e propósito geral para todas as pessoas. Visto que a morte de Cristo teve um desígnio e propósito particular (ou seja, a expiação dos pecados dos eleitos), a salvação de um povo está garantida. Um desígnio ou propósito geral apenas tornaria possível a salvação de todos os homens, mas não garantiria a salvação de nenhum deles. A doutrina da expiação particular é o resultado lógico dos primeiros dois pontos do calvinismo. Isto quer dizer que o homem é totalmente depravado e não pode nem virá a Deus, exceto com base na eleição. Mas Deus elegeu um povo; e, no que diz respeito ao desígnio da expiação, ela foi realizada em favor deste povo, tendo em vista o propósito de Deus na eleição. A Bíblia ensina que a morte de Cristo aconteceu especificamente em favor de um grupo de pessoas, e não em favor de todos os homens, conforme percebemos com clareza em versículos como João 10.11, Efésios 5.25-27, Mateus 1.21, e Atos 20.28. À luz do significado da expiação, Cristo não poderia ter morrido pelos eleitos e pelos não-eleitos no mesmo sentido. Expiar transmite o significado de que Cristo satisfez toda a justiça e a lei de Deus; que Cristo foi o Substituto que assumiu todas as responsabilidades por aqueles em favor dos quais Ele morreu. Portanto, aqueles em favor dos quais Cristo satisfez completamente a justiça e a lei de Deus serão salvos; aqueles em favor dos quais Cristo assumiu a responsabilidade legal serão salvos; aqueles em favor dos quais Ele se tornou Substituto serão salvos. Se, por outro lado, a morte de Cristo não foi

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uma obra completa (um sacrifício expiatório, vicário pela responsabilidade legal daqueles a quem Ele representava), ninguém poderia ser salvo. Os versículos habitualmente citados como textos que ensinam a expiação geral realmente não ensinam tal coisa, quando interpretados correta e atentamente. A graça de Deus é irresistível?

Primeiramente, observamos um aprimoramento da doutrina, quando percebemos que alguns calvinistas preferem utilizar a expressão “graça eficaz” e não utilizar a expressão “graça irresistível”. Esta última pode levar-nos à impressão de que uma pessoa é forçada a vir a Cristo e à salvação, de maneira contrária a seu próprio desejo e à sua vontade. Alguém poderia mentalizar (erroneamente, é claro) um quadro que retrata Deus arrastando o pecador através da porta da salvação, enquanto o pecador esperneia e grita sua rebeldia, sua rejeição e blasfêmia contra Deus, por obriga-lo a vir à salvação.

Nada poderia estar mais distante da convicção calvinista a respeito da graça irresistível! Esta doutrina não significa que Deus se impõe sobre um pecador rebelde e involuntário que preferiria permanecer em seu pecado ou retornar para ele, depois que Deus o salvou. Pelo contrário, esta doutrina crê que, embora o pecador seja espiritualmente cego, Deus o capacita, por meio do Espírito Santo, outorga ao pecador o deseja de conhecer a Deus e viver em santidade; e que, embora o pecador seja incapaz de romper com o seu pecado e vir a Deus, Ele capacita o pecador, por intermédio do Espírito Santo, a converter-se de seu pecado e vir a Deus, por meio do dom da fé em Cristo; e que, embora o pecador esteja morte, Deus lhe concede uma nova vida.

Portanto, nunca haverá uma situação em que um dos eleitos não desejará ser salvo, visto que o poder regenerador da parte de Deus concederá ao eleito a percepção, o desejo, o poder e a capacidade, na obra de salvação. Também nunca haverá o caso de uma pessoa não-eleita ter o desejo de ser salva, pois, se Deus não agir no coração do homem, nunca haverá o desejo, a percepção,o poder e a capacitação para alguém vir a Cristo.

Com esta compreensão clara da definição da graça irresistível e uma resposta para uma das objeções mais comuns a esta doutrina, passaremos a determinar se esta doutrina é realmente bíblica.

Em primeiro lugar, observamos as seguintes passagens bíblicas, que afirmam de maneira inegável que a salvação inclui a regeneração ou o novo nascimento:

“Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou

mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tito 3.5); “A isto, respondeu Jesus: em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo,

não pode ver o reino de Deus” (João 3.3) Em segundo, algumas passagens bíblicas podem não apresentar a afirmação do novo

nascimento ou da regeneração, porém mostram claramente que a obra de salvação é uma obra profunda, vigorosa e eficaz:

“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de

Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele [Deus] que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2.9);

“Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados” (Efésios 2.1); “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou

tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (João 5.24).

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Em terceiro, algumas passagens bíblicas (incluindo algumas dessas já mencionadas) demonstram que a obra de salvação é uma obra completamente divina, e não humana, e que a obra de salvação é uma prerrogativa de Deus, e não do homem:

“E qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do seu poder” (Efésios 1.19);

“Dar-lhes-ei um só coração, espírito novo porei dentro deles; tirarei da sua carne o coração de

pedra e lhes darei coração de carne” (Ezequiel 11.19); “Assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer” (João 5.21); “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o

lançarei fora” (João 6.37); “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último

dia” (João 6.44); “O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são

espírito e são vida” (João 6.63); “E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai,

não lhe for concedido” (João 6.65); “Assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida

eterna a todos os que lhe deste” (João 17.2); “Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos

estava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia” (Atos 16.14); “Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos

os que haviam sido destinados para a vida eterna” (Atos 13.48); “Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como

que primícias das suas criaturas” (Tiago 1.18). Por isso, faremos as seguintes anotações conclusivas:

1. A salvação é uma obra grandiosa que exige um imenso poder para realizá-la:

a) É a ilustrada na figura de uma ressurreição, da morte para vida; b) É a ilustrada como uma remoção das trevas para a luz; c) É um novo nascimento ou uma regeneração.

2. A salvação é uma obra tão grandiosa que só pode ser realizada pelo poder de Deus:

a) A regeneração é realizada pelo poder do Espírito Santo; b) A fé é concedida pelo poder de Deus; c) A novidade de vida é outorgada pelo poder de Deus; d) O Espírito Santo vivifica, enquanto a carne para nada se aproveita; e) O Senhor tem de abrir o coração do homem pelo seu poder.

3. A salvação, como uma obra profunda realizada por Deus, é outorgada de acordo com a vontade

dEle:

a) Somente aqueles que o Pai dá ao Filho vêm a Cristo;

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b) A vida eterna é concedida somente àqueles que o Pai deu ao Filho; c) O Filho vivifica a quem Ele quer; d) Ninguém vem ao Filho, se o Pai não o trouxer; e) O Senhor tem de abrir o coração pelo seu poder; f) Aqueles que crêem foram preordenados para a vida eterna.

Com estas premissas evidentes da Palavra de Deus, concordamos que não podemos discordar da doutrina da graça irresistível. Em seguida, observemos sua coerência com os três pontos anteriores do calvinismo. Visto que o homem é totalmente depravado e não pode vir a Deus, em suas próprias capacidades, nem mesmo possui qualquer desejo de vir a Ele; visto que Deus escolheu salvar um povo e que essa escolha fundamenta-se em sua própria vontade; visto que Cristo morreu como um pagamento completo do pecado deste povo escolhido, então também é verdade que Deus salvará este povo, chamando-o de maneira irresistível e regenerando-o pelo seu poder. Recordação habitual da doutrina:

1. A doutrina da perseverança é uma conclusão lógica dos quatro pontos anteriores do acróstico calvinista.

Se o homem é total mente depravado e não pode fazer nada para ajudar a si mesmo no que diz

respeito às coisas espirituais; se Deus é absolutamente soberano na questão da eleição, fundamentada tão-somente em sua própria vontade; se a morte de Cristo realizou-se em favor dos eleitos, assegurando-lhes a salvação; e se Deus chama os eleitos de maneira irresistível, conclui-se que Deus assegurará a salvação final destes eleitos, ou seja, eles perseverarão até o fim.

Se os eleitos não perseverassem, a eleição eterna de Deus falharia, e isto o calvinista não pode admitir. Se Deus decretou a salvação dos eleitos, então, ela acontecerá, incluindo a salvação final dos eleitos.

Se os eleitos não perseverassem, a morte de Cristo seria uma falha, porque o seu desígnio era

garantir a salvação dos eleitos. Se os eleitos não perseverassem, a graça de Deus seria resistível pelos salvos (eles poderiam

rejeitá-la de uma maneira final, depois de estarem salvos), embora a graça fosse irresistível antes de eles serem salvos.

2. A doutrina da perseverança é definida nos seguintes termos:

A perseverança dos santos é a doutrina que afirma que os eleitos continuarão no caminho da

salvação (por serem eles o objeto do eterno decreto da eleição e por serem eles o objeto da expiação realizada por Cristo), visto que o mesmo poder de Deus que os salvou os preservará e os santificará até o final.

3. A doutrina da perseverança não descarta o afastar-se de Deus por parte do crente.

Esta doutrina rejeita a possibilidade de alguém professar ser crente e viver em um suposto estado

de afastamento de Deus por muitos anos, sem enfrentar a mão disciplinadora de Deus; mas esta doutrina não descarta o afastar-se de Deus.

O afastamento de Deus pode ocorrer entre os crentes; todavia, a doutrina da perseverança diz que o verdadeiro crente não ficará permanentemente nesse estado. Se ele permanecer, tal crente deve colocar um grande ponto de interrogação ao lado de sua profissão de fé.

4. A doutrina da perseverança, de acordo com o calvinismo, não inclui a idéia do “crente carnal”.

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Um “crente carnal”, conforme muitos o definem, é um crente que foi verdadeiramente salvo, mas está vivendo como um perdido. O “crente carnal” fez uma confissão de fé e viveu por um tempo como verdadeiro crente; agora, porém viveu por um tempo como verdadeiro crente; agora, porém, ele se voltou para o mundo, e aqueles que o cercam no mundo e os membros da igreja não sabem se ele é um verdadeiro crente ou não. Somente Deus conhece o coração do “crente carnal”. Ele pode passar todo o resto de sua vida nesta condição; mas, por causa de sua experiência de salvação, ele estará com Cristo na eternidade. Ele é carnal, mas é um crente: ou ele é um crente, mas é carnal. O calvinismo diria: não há salvação onde não há perseverança; e, onde há salvação, ali haverá perseverança.

5. A doutrina da perseverança inclui a segurança do crente; mas a segurança é um aspecto desta

doutrina; a segurança pode deixar em seu rastro uma maneira de pensar e um viver falsos. O ensino dos batistas de “uma vez salvo, salvo para sempre” é apenas um dos lados da moeda e,

sendo apenas um dos lados da moeda, tal doutrina pode ser perigosa. A doutrina da perseverança dos crentes, de conformidade com o calvinismo, tem dois lados –

segurança e perseverança. Um não pode existir sem o outro. A doutrina batista da eterna segurança (uma vez salvo, salvo para sempre) despreza e negligencia a necessidade de perseverança como prova da verdadeira salvação. Deste modo, se ensinarmos a segurança de salvação para um crente e não lhe ensinarmos a realidade da perseverança como prova da verdadeira salvação. Deste modo, se ensinarmos a segurança de salvação para um crente e não lhe ensinarmos a realidade da perseverança como prova da salvação, poderemos produzir o mesmo resultado da doutrina do “crente carnal” – pessoas que pensam ser salvas, mas não o são. A doutrina da segurança eterna sem a outra metade da moeda torna-se uma permissão de pecar para aqueles que apenas professam ter fé em Cristo, mas que nunca foram verdadeiramente salvos. A doutrina calvinista da perseverança dos santos tanto oferece conforto ao crente (ele está eternamente seguro) quanto proporciona realidade à confissão de fé em Cristo (o crente compreende que a perseverança na vida cristã é uma prova da salvação). A doutrina da perseverança dos santos é bíblica? A segurança do crente

Primeiramente, há várias passagens que ensinam com muita clareza que o crente não pode perder a

suas salvação, incluindo as seguintes: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome,

ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir,nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!” (Romanos 8.35-39);

“Tudo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.”

(João 6.37); “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida

eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las das mãos de meu Pai.” (João 10.27-29);

“Tendo por certo isto mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao

Dia de Jesus Cristo.” (Filipenses 1.6);, “Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento.” (Romanos 11.29);

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“Por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho, porque eu sei em quem tenho crido

e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia.” (2 Timóteo 1.12); “Porque, com uma só oferta, aperfeiçoou para sempre os que são santificados”. (Hebreus 10.14). Mesmo a expressão “vida eterna” certamente nos fala sobre uma salvação que possui uma

existência que nunca pode acabar, nem jamais acabará. “Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna”. (João 6.47).

Não significa isto uma vida que nunca terá fim? “Na verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou

tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida.” (João 5.24).

A perseverança do crente

No outro lado da moeda da verdade a respeito da eterna segurança do crente, encontramos passagens bíblicas que falam sobre a perseverança, ou seja, que o crente permanecerá na fé e não retornará a uma vida de é pecado. Mateus 7.13-14

“Entrai pela porta estreita, porque (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela); E porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem.”

Desta passagem, observamos que a porta estreita conduz ao caminho estreito e que a porta larga,

ao caminho largo. Não existe a possibilidade de alguém passar pela porta estreita e terminar no caminho largo, assim como não é possível alguém entrar pela porta larga e terminar no caminho estreito. Se uma pessoa está andando no caminho largo, ela não entrou pela porta estreita; e, se alguém está andando no caminho estreito, ela não chegou a ele por meio da porta larga. E, com certeza estas palavras de nosso Senhor – “São poucos os que acertam com ela” – devem ser uma advertência para nós, dizendo-nos que poucos são verdadeiramente salvos. Estes versículos também não indicam haver muitas pessoas andando no caminho largo, imaginando que entraram pela porta estreita, mas que, na realidade, estão muito enganadas? Mateus 7.16-18

“Por seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar frutos bons.” Qual o contexto desta passagem? Estas palavras foram proferidas como uma referência primária aos falsos profetas. Não existem, nestas passagens, princípios estabelecidos que se aplicam a todos aqueles que professam ser crentes?

Observamos os seguintes princípios: Primeiro, o fruto (a conduta da vida de uma pessoa) nos diz algo a respeito da pessoa que o possui; segundo, uma pessoa salva produzirá bom fruto (uma boa conduta de vida); terceiro, a conduta de vida de uma pessoa salva não será constantemente má; quarto, uma pessoa perdida produzirá fruto mau (uma conduta de vida imprópria); quinto, uma pessoa perdida não produzirá bom fruto (uma conduta de vida correta).

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Em palavras simples, podemos reconhecer uma pessoa nascida de novo por meio do caráter de uma vida santa, e esta vida não será freqüente e constantemente inclinada para o mal; a pessoa perdida terá um caráter e uma propensão de vida que estão revelando que sua vida não é realmente caracterizada por santidade e piedade.

Por conseguinte, é impossível existir uma pessoa que declare ser salva e viva constante e habitualmente sem santidade. A pessoa verdadeiramente salva perseverará sempre em santidade e piedade. Mateus 7.21-23

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade.”

Chegamos a uma conclusão nessa passagem: Cristo afirmou que o verdadeiro teste da salvação não

é simplesmente uma confissão de fé nEle (essas pessoas o chamavam de “Senhor”); tampouco é a presença de certas obras (pregar e realizar milagres). Pelo contrário, o verdadeiro teste da salvação é o fazer a vontade do Pai. Mas Jesus não estava dizendo que o fazer a vontade do Pai salva uma pessoa; Ele estava afirmando que uma pessoa salva fará a vontade de Deus. Ela perseverará! Mateus 13.5-6

“Outra parte caiu em solo rochoso, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda. Saindo, porém o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se”.

Ao abordarmos esta passagem, recordaremos o seu contexto – a parábola do semeador. Quando o semeador realizou a sua obra, a semente caiu em diferentes tipos de solo. Algumas sementes caíram em solo rochoso, logo os brotos começaram a surgir com todas as evidências de que eram verdadeiros e duradouros. Mas, quando o sol despontou, estas sementes no solo rochoso logo murcharam e morreram, porque não tinham raízes profundas.

Concluímos que esta passagem indica que algumas pessoas podem reagir com alegria e aparente exatidão à mensagem do evangelho. Sim, elas podem até manifestar evidências de uma verdadeira experiência de salvação. Mas, quando lhes sobrevêm as perseguições e as provações da vida cristã, elas se agastam do caminho, porque não são verdadeiramente salvas. Elas não perseveram; e isto é uma evidência de que não são salvas. Mateus 24.13 “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo.”

Essa passagem se encontra em um contexto de profecias sobre o fim do mundo. Alguns parecem querer limitar o princípio contido nela (perseverança até o fim como evidência da salvação) aos fins dos tempos, e não aos nossos dias e épocas. A evidência da verdadeira salvação é a perseverança até o fim. Jesus não estava ensinando que uma pessoa é salva por perseverar até o fim, e sim que, se uma pessoa é salva, ela perseverará até o fim. Por outro lado, a falha em perseverar, deixando de ficar firme até o fim é um sinal de que a pessoa não possui a salvação.

Concordamos também que o princípio não se aplica somente a uma época – os últimos dias. Poderíamos imaginar que durante o tempo final, quando a perseguição seria intensa, o Senhor Jesus exigiria perseverança como evidência de salvação, enquanto em épocas anteriores àquelas Ele seria brando e frouxo, permitindo que o seu próprio povo andasse levianamente no pecado? E, ainda mais

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sério, a salvação nos dias finais seria mais poderosas e mais transformadora da vida do que em dias anteriores àqueles? A salvação não seria a mesma em dias anteriores àqueles? A salvação não seria a mesma em todas as épocas da história da igreja? 2 Coríntios 5.17

“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”.

Vemos que, se uma pessoa está em Cristo, ela experimentou uma grande mudança e transformação

na vida e no caráter. Esta pessoa se encontra em um estado diferente; possui novas opiniões a respeito de si mesma, da pessoa de Deus, de sua própria natureza, de sua vida, de seus pecados, do mundo, do diabo, da verdade, de seus propósitos e seus objetivos na vida. Esta pessoa tem novas afeições, uma nova mentalidade, novos desejos, novos objetivos, novas alegrias, novos hábitos, novas esperanças – uma vida nova.

Este versículo declara, entre outras verdades, o que a salvação não é! A salvação é mais do que uma confissão de fé, ou um mergulho no batismo, ou uma vida de moralidade, ou conformação com normas exteriores de uma religião. É mais do que encobrir a velha natureza corrompida por meio da educação e da cultura; é mais do que uma experiência emocional, do que sentimentos e pensamentos piedosos sobre Deus. A salvação é mais do que trabalhar em uma igreja por alguns anos; é mais do que conhecer as verdades e as doutrinas da Bíblia. A salvação, de acordo com este versículo, é uma transformação sobrenatural por meio da qual uma pessoa é renovada em seu íntimo e transformada exteriormente. Aquele que experimenta a salvação é uma nova criatura – as coisas velhas passaram; eis que se tornaram novas.

Pergunto a mim mesmo por que nossas igrejas pregam e aplicam apenas o lado positivo deste versículo – ser salvo significa tornar-se uma nova criatura; elas nunca procuram incutir a implicação negativa ou a verdade que encontramos aqui – não dar evidência de ser uma nova criatura significa estar perdido! Hebreus 3.6,14

“Cristo, porém, como Filho, em sua casa; a qual casa somos nós, se guardarmos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança...” (3.6).

“porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos” (3.14).

Reconhecemos que algumas pessoas poderiam utilizar estes versículos para provar a salvação pelas obras, dizendo que ambos nos mostram que somos parte da casa de Cristo e participantes da salvação, se guardarmos firme, até ao fim, a nossa confiança. Tais pessoas vêem a salvação como resultado da firmeza e da fidelidade.

No entanto, esta interpretação entende o assunto de modo invertido. Estes versículo não ensinam que a salvação é causada por nossa firmeza e nossa fidelidade são produzidas por nossa salvação.

Apresentarei uma ilustração, para considerarmos. Suponha que eu tivesse, em minha mão, o que parecia ser um pequeno pedaço de vidro e dissesse:

“Isto é um diamante, se ele cortar o vidro da sala de estar”. Imagine, então, que eu me dirija à janela mencionada e utilize o objeto de minha mão para cortar o vidro. O corte do vidro faria que o objeto de minha mão se tornasse um diamante ou comprovaria que este objeto é realmente um diamante?

De maneira semelhante, a perseverança não torna uma pessoa em um cristão, mas comprova que ela é um verdadeiro cristão.e estes versículos de Hebreus não ensinam que a salvação é causada por nossa firmeza e nossa fidelidade, e sim que nossa firmeza e nossa fidelidade são causadas por nossa salvação. O livro de Apocalipse

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Notamos também, que os capítulos 2 e 3 de Apocalipse apresentam uma ênfase sobre “o vencedor”. Ao vencedor:

“Dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus” (Apocalipse 2.7);

“Dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe” (Apocalipse 2.17);

“Fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome” (Apocalipse 3.12);

“Dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono” (Apocalipse 3.21). O vencedor:

“De nenhum modo sofrerá dano da segunda morte” (Apocalipse 2.11); “Será assim vestido de vestiduras brancas” (Apocalipse 3.5) “Que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações” (Apocalipse

2.26) Por que as igrejas de nossos dias ainda continuam enfatizando a segurança eterna e não ensinam

nem aplicam a doutrina da perseverança. Faremos as seguintes perguntas:

1. Um evangelismo deficiente (por causa de doutrina errada), que tem produzido frutos imperfeitos, não é acompanhado obrigatoriamente por uma doutrina de perseverança fraca e imperfeita?

2. Isto significa que, se temos um conceito superficial sobre a salvação e pressionamos, com

rapidez e ardor, as pessoas a fazerem uma profissão de fé, deixando de instruí-las nas coisas essenciais da verdadeira salvação, nós temos de convence-las, assim como a nós mesmo, de que elas estão verdadeiramente salvas, ainda que caiam pelo caminho e não perseverem?

3. Se entendemos corretamente a salvação, incluindo a perseverança, não temos de mudar nossas

práticas evangelísticas e ser forçados a confrontar estas pessoas com as evidências de sua falta de verdadeira salvação?

4. Não seria difícil fazermos isto, porque muitos deles são nossos queridos amigos e parentes

achegados, a quem já asseguramos de que possuem a eterna salvação, quando utilizamos um falso entendimento da segurança eterna?

5. Podemos admitir nossa própria doutrina errada?

6. Podemos admitir nossas falsas práticas de evangelismo?

7. Podemos admitir que nosso amigos e queridos ainda não escaparam da ira vindoura, pois

somente fizeram uma confissão de fé que é indigna e não manifestam perseverança? Respondendo algumas perguntas? Deus ama os não-eleitos?

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Começaremos apresentando certos motivos que alguns crentes acham para negar o amor de Deus

para com os não-eleitos. Fazemos menção de Malaquias 1.2-3, onde achamos a afirmação de que Deus amou Jacó e aborreceu-se de Esaú. Há também a citação que Paulo fez destes versículos em Romanos 9.13, onde Deus declara: “Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú”.

Também podem existir alguns que utilizem a passagem de João 3.36, a qual afirma que a ira de Deus permanece sobre aquele que não crê em Jesus. Isto significa que Deus não ama tal pessoa?

Abordaremos este versículo de maneira inversa. Na forma de perguntas: Qual é o fundamento para negarmos o amor de Deus para com os não-eleitos? Acreditamos que uma pessoa que está sob a ira de Deus não pode ser, ao mesmo tempo, recipiente do seu amor? Efésios 2.3 diz que todos nós, no passado, éramos filhos da ira? Ora, isso não significa que todas as pessoas que estão sob a ira de Deus podem, ao mesmo tempo, ser amadas por Ele? Do contrário, não haveria possibilidade de Deus amar os eleitos, visto que todos eles estavam debaixo da ira, conforme este versículo.

De acordo com Efésios 2.3, todos os homens estão sob a ira de Deus. Mas sabemos também que Deus amou os eleitos, como pode ser evidenciado por haver Ele outorgado aos eleitos a sua graciosa salvação, fundamentada tão-somente em sua soberana graça e amor. Por conseguinte, Deus tem amor por alguns que estão sob a sua ira e os ama. Mas Deus ama todos os que se encontram sob a sua ira? Ele ama os não-eleitos? O fato de que eles ainda permanecem sob a ira de Deus e de que sempre permanecerão sob esta ira demonstra que Ele não os ama?

Para responder estas perguntas, sugiro que ler Mateus 5.44; sugiro que, enquanto ler, observe que era Jesus quem estava falando.

“Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”. Visto que Jesus nos mandou amar nossos inimigos, é claro que Ele também ama os seus inimigos e

que o Pai também ama os inimigos da verdade. Deus não nos daria o mandamento de amarmos os nossos inimigos, se Ele mesmo não os amasse. Este amor ágape de Deus – um tipo de amor divino, do qual o homem é incapaz. Isto significa que o homem é incapaz de amar desta maneira (amando os seus inimigos), exceto se for capacitado pelo poder do amor de Deus. Isto significa que, se amamos os homens desta maneira somente quando Deus nos capacita, é Deus quem os está amando através de nós. E, levando em conta que eles são nossos inimigos, porque são primeiramente inimigos de Deus (ele nos odeiam por causa de nosso relacionamento com Ele), nos deparamos com um caso de Deus amando os seus inimigos – os próprios não-eleitos.

Em Marcos 10.21-22 diz: “E Jesus, fitando-o, o amou e disse: Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos

pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me. Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades.”

Temos nesta passagem a história de um jovem rico que veio a Jesus, mas que não desejava render

sua vida a Jesus. Conforme sabemos, este jovem não era um dos eleitos; apesar disso, o versículo nos diz que o Senhor Jesus o amor. Podemos desafiar todos os homens a vir a Cristo?

Cristo e os apóstolos desafiavam os não-eleitos com sua responsabilidade de arrependerem-se e virem a Cristo? A mensagem de João Batista era uma mensagem de arrependimento (Mateus 3.2) e que o contexto parece indicar que aquela mensagem foi apresentada a todos os que estavam presentes, incluindo os fariseus e os saduceus.

Também, na mensagem de Cristo não existe qualquer indicativo de que a sua mensagem, declarando que os homens se arrependessem e cressem, se limitava apenas aos eleitos. (ver Mateus 4.17; 11.20; 12.41; Lucas 13.3, etc.).

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Ainda, a mensagem dos discípulos e apóstolos era uma mensagem para que todos se arrependessem (ver Marcos 6.12; Atos 17.30). E a mensagem de Pedro, no Dia de Pentecostes, não foi proferida a todos que ali estavam presentes?

A conclusão tem de ser que não encontraremos na Bíblia qualquer limitação a respeito da proclamação da mensagem do evangelho. Ela tem de ser pregada a todos os homens. Mesmo a Grande Comissão desafia a igreja a levar o evangelho a todas as criaturas (Mateus 16.15), e Paulo afirmou que o evangelho havia sido pregado a toda criatura (Colossenses 1.23).

O que acabamos de mencionar respondem a várias perguntas, como:

1. Podemos desafiar todos os homens a vir a Cristo, com arrependimento e fé, embora muitos deles não sejam eleitos? Sim, nós temos de fazê-lo, porque esta era a prática de Jesus e dos apóstolos.

2. Devemos oferecer o evangelho a todos os homens ou apenas aos eleitos? Sim, temos de

oferecer o evangelho a todos os homens. Esta foi a prática de Cristo e dos apóstolos.

3. Um calvinista pode praticar o evangelismo? Definitivamente, sim. Ele tem de praticá-lo. Está ordenado na Grande Comissão. Ele deve fazer isto confiando que Deus realizará a sua vontade e o seu propósito.

4. Um calvinista pode se envolver em missões? Sim, ele tem de envolver-se. Isto também está

ordenado na Grande Comissão. Esta obra também deve ser feita na confiança de que Deus realizará a sua vontade e o seu propósito.

Um calvinista pode utilizar meios para realizar a obra de Deus?

É óbvio que esta preocupação centraliza-se em uma pergunta: se o fim já está predestinado, por que devemos nos preocupar com os meios que levam a este fim?

Ou, colocando-a em palavras mais específicas a respeito da eleição: se alguns são eleitos, eles não

serão salvos, indiferentemente dos meios e dos acontecimentos que antecedem ou acompanham a salvação deles?

Ou, declarando o assunto em relação à perseverança dos santos: se os eleitos têm a garantia da

perseverança, há necessidade de nos preocuparmos com os meios entre a salvação deles e a sua consumação final?

As respostas para estas perguntas não devem ser procuradas no raciocínio humano, mas sempre na Palavra de Deus. A afirmação do Senhor Jesus declarando que nenhum de seus discípulos jamais se perderia (João 17.11) em favor da preservação destes discípulos. Portanto, é óbvio que a predestinação (eles “jamais perecerão”) da parte de Deus não anula os meios (Cristo orando por seus discípulos). Consideremos também o livro de Hebreus, especialmente os capítulos de advertências, tais com o capítulo 10. Por que tais advertências, se Deus já decretou que seu povo será conformado à imagem de seu Filho, em toda santidade? Tais passagens não ensinam que Deus mesmo estabeleceu uma clara conexão entre os seus fins predestinados e os meios pelos quais tais fins são alcançados? Um calvinista deve expor um dos pontos do calvinismo cada vez que sobe ao púlpito?

As Escrituras ordenam o pastor “pregar a Palavra” (2 Timóteo 4.2). a ordem não é “pregar os cinco pontos do calvinismo”, nem mesmo “pregar doutrina”. Evidentemente, na pregação da Palavra (uma exposição esclarecedora da Palavra de Deus, apresentada livro por livro ou assunto por assunto), haverá a pregação de doutrina e uma abordagem dos cinco pontos do calvinismo. Mas está longe de ser uma necessidade pregar um dos cinco pontos do calvinismo, cada vez que o pastor vai ao púlpito.

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Isto não significa que uma série de sermões sobre os cinco pontos do calvinismo, sempre é inoportuna. Quando o Senhor nos guia, pode ser valioso apresentar tal série de mensagens. Todavia, isso não é o mesmo que pregar sobre os cinco pontos cada vez que o pastor vai ao púlpito. Algumas diferenças que esta doutrina trará

1. As doutrinar da graça afetarão os métodos de evangelismo utilizados por uma igreja. O temor de que o calvinismo destruirá o evangelismo não tem qualquer fundamento, pois alguns

dos grandes evangelistas da história eram calvinistas. Mas, por outro lado, o calvinismo influenciará os métodos e as práticas de evangelismo de um crente. Com certeza, não é sensato nem bíblico realizar a obra de evangelização utilizando qualquer método, apenas porque desejamos ser capazes de afirmar que estamos praticando evangelismo. Nossas práticas de evangelismo têm de ser consistente com as Escrituras e com sua teologia. A evangelização tem de ser feita no poder e na maneira de Deus; pois, agindo de modo contrário, podemos criar uma monstruosidade de métodos e recursos que produzem apenas uma decisão e não o verdadeiro fruto do Espírito Santo.

O calvinista compreende que não tem em si mesmo o poder de converter as pessoas a Cristo, mas que o poder de Deus age no íntimo para chamar a Deus os eleitos. É nosso dever pregar o evangelho a todas as pessoas do mundo e confiar que o Espírito Santo fará a sua obra de chamar o povo de Deus.

2. As doutrinas do calvinismo devem tornar os homens melhores pregadores da Palavra de Deus.

Reconhecendo que não está em nosso poder e não é nossa responsabilidade o converter os homens

a Cristo e que Deus realiza a sua obra por meio da pregação da Palavra, seremos mais e mais impulsionados a afastar-nos de nossos métodos carnais em direção a uma pregação consistente da Palavra de Deus. O resultado desta pregação da Palavra será visto em convertidos verdadeiros e mais firmes.

Tornou-se nossa convicção que muitos pastores de nosso país pregam pouco a Palavra de Deus, embora muitos se orgulhem de possuir uma posição conservadora. Eles não tomam uma passagem, um texto ou um tema bíblico, não estudam exegeticamente os versículos envolvidos, para elaborarem um sermão bíblico e consistente, como resultado de seus esforços. De fato, muitos pregam sobre a sua própria experiência de vida ou sobre a experiência de outras pessoas. A maior parte dos sermões deles não é a carne da Palavra, e sim histórias e ilustrações, com um versículo lido no início e alguns outros no decurso da preleção.

Alguém não deve pensar que pregou a Palavra apenas porque estimulou os ouvintes, apresentou algumas informações, leu um texto bíblico no púlpito, conseguiu algumas decisões, falou a respeito da Bíblia, de Deus e de Cristo, ocupou o púlpito por um espaço de tempo e emocionou as pessoas enquanto estava ali. Uma pessoa pode fazer tudo isto e não pregar a Palavra de Deus. Pregar a Palavra significa estudar a Bíblia com profundidade, incluindo a gramática, o significado das palavras, o contexto, as passagens paralelas e elaborar o sermão a partir desse laborioso estudo. É óbvio que, para pregar a Palavra, um pastor tem de gastar tempo sondando as Escrituras. O homem que descansa nas doutrinas do calvinismo fará essa obra com alegria, não se inquietando com a presença ou a ausência de decisões. Ele sabe que é seu dever subir ao púlpito, saturar sua mente com a Palavra de Deus e pregá-la, confiando que Deus, por intermédio da Palavra, convencerá e salvará os pecadores.

Por outro lado, se achamos que é nossa responsabilidade mover a vontade dos homens, a fim de leva-lo a tomar uma decisão, nos tornaremos estimuladores e exortadores, abertos à possibilidade de adotar métodos tolos e ofensivos (para Deus, mas, provavelmente, agradáveis e atraentes para os homens) em nosso evangelismo, adoração e pregação. Tais métodos podem conseguir as decisões desejadas e não produzir frutos espirituais estáveis. Isto não significa que o calvinista prega sem compaixão e urgência; significa que o calvinista prega a Palavra de Deus com urgência e poder, confiando que Ele fará a obra.

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3. As doutrinas do calvinismo produzirão uma grande influência em nossos métodos de receber novos membros na igreja local, purificando assim a igreja e impedindo-a de tornar-se apenas uma multidão de pessoas.

O batista que é calvinista compreende que somente os eleitos e nascidos de novo são candidatos à

membresia da igreja local. Tais convicções terão resultados práticos no ministério:

1. Ele receberá com alegria novos membros na igreja, mas não com uma cegueira repleta de Zelo, simplesmente porque alguém fez uma confissão de fé. Reconhecendo que Satanás está sempre ocupado em imitar ou falsificar a obra de Deus, o calvinista será cuidadoso em advertir aqueles que estão desejosos de receber o batismo e de se tornarem membros da igreja, mostrando-lhes a possibilidade de uma falsa confissão de fé.

2. Ele os desafiará com a necessidade de calcularem o custo de alguém tornar-se um crente em

Jesus e de segui-Lo.

3. Ele os confrontará com a responsabilidade que assumirão como membros da igreja.

4. Ele lhes falará sobre a urgência de a igreja cuidar das almas deles, fazendo-o com ternura e amor, depois que forem recebidos na membresia; também sobre a necessidade de admoestação e disciplina de suas vidas, para que não se tornem infiéis e relaxados nos deveres da vida cristã.

5. Ele lhes dirá que estão se unindo à comunhão do povo de Deus e que tal união exige um

abandono de tendências individualistas extremas, a fim de entrarem no compromisso sacrificial de sua pessoa para com aquela comunhão.

6. Com amor, ele exigirá dos candidatos, antes de recebe-los na membresia da igreja, algumas

evidências de uma verdadeira experiência de conversão e regeneração.

7. Ele compartilhará com os candidatos à membresia os padrões, as doutrinas, os deveres e as obrigações de um membro da igreja, afirmando também o que eles podem esperar da parte da igreja para com suas vidas, suas famílias e seu crescimento espiritual.

4. A doutrina do calvinismo fortalecerá o interesse e o poder da igreja local em favor da prática de uma disciplina reformada.

Demonstrando a preocupação de receber na igreja somente os eleitos de Deus, na medida em que o

podemos determinar, sempre haverá grande preocupação de que os membros evidenciem a veracidade da eleição e do novo nascimento em suas vidas diárias. Na igreja, entrarão alguns que não são eleitos de Deus; temos de lidar com eles e disciplina-los. Outros crentes verdadeiros lutarão contra o pecado e, por isso, necessitarão aprender a terem disciplina; isto, em muitos casos, somente poderá ser aprendido se a igreja impuser disciplina com firmeza e amor, quando os seus membros pecarem. O propósito básico da disciplina sempre é a glória de Deus, que envolve a purificação de sua igreja por meio da restauração do membro que caiu em pecado ou, em última instância, a purificação da igreja por meio do rompimento das relações com aquele membro que caiu em pecado e não se arrependeu.