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i GIOVANA DE GODOI GONÇALVES UMA INTERPRETAÇÃO COMPUTACIONAL DO “DE RE AEDIFICATORIA” PARA IGREJAS HISTÓRICAS BRASILEIRAS CAMPINAS 2015

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GIOVANA DE GODOI GONÇALVES

UMA INTERPRETAÇÃO COMPUTACIONAL DO “DE RE

AEDIFICATORIA” PARA IGREJAS HISTÓRICAS

BRASILEIRAS

CAMPINAS

2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA CIVIL, ARQUITETURA E URBANISMO

GIOVANA DE GODOI GONÇALVES

UMA INTERPRETAÇÃO COMPUTACIONAL DO “DE RE

AEDIFICATORIA” PARA IGREJAS HISTÓRICAS

BRASILEIRAS

Orientadora: Profa. Dra. Maria Gabriela Caffarena Celani

Tese de Doutorado apresentada a Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, para obtenção do título de Doutora em Arquitetura, Tecnologia e Cidade, na área de Arquitetura Tecnologia e Cidade.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE

DEFENDIDA PELA ALUNA GIOVANA DE GODOI GONÇALVES E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. MARIA GABRIELA CAFFARENA

CELANI.

ASSINATURA DA ORIENTADORA

______________________________________

CAMPINAS

2015

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RESUMO

Este trabalho insere-se em uma pesquisa internacional denominada Alberti Digital, cujo

objetivo é investigar a influência do Tratado De re Aedificatoria de Leon Batistta Alberti

na arquitetura do séc. XVI e XVII em Portugal e em suas colônias. Apesar de diversos

autores portugueses afirmarem que o Renascimento não teria tido implicações na

arquitetura portuguesa, o professor Mario Krüger defende a hipótese segundo a qual

esse movimento teria efetivamente existido. Assim, esta tese tem como objetivo apoiar

a hipótese de Krüger, investigando a influência do tratado de Alberti na arquitetura

colonial brasileira. O corpus de análise inicial é composto por duas igrejas construídas

pelos jesuítas no Brasil nos séculos XVI e XVII, apontadas por diversos autores como

sendo as que teriam influenciado diversas construções posteriores. Após a realização

de levantamentos históricos e gráficos, o método utilizado seguiu 3 etapas: estudo do

tratado de Alberti, especificamente o livro Sétimo em que são tratados os edifícios

sagrados e identificar proporções e regras de composição presentes no livro;

levantamento de dados a respeito de igrejas coloniais que podem ter sofrido influência

do tratado albertiano e comparação das igrejas levantadas com as regras identificadas

no tratado para determinar o grau de influência nas construções, por meio de modelos

paramétricos e da aplicação de regras de composição. O método avaliativo foi o mesmo

adotado pelos demais pesquisadores do projeto Alberti Digital, que se baseia na

Gramática da Forma, um formalismo desenvolvido por Stiny e Gips (1972). Após a

identificação de regras de composição no texto de Alberti, realizado na etapa 1, essas

regras foram aplicadas de modo a criar derivações para composições ideais

albertianas. Em seguida, o mesmo foi feito para gerar as plantas e volumetrias das

igrejas brasileiras selecionadas. A comparação das derivações albertianas com as das

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igrejas brasileiras permitiu verificar a semelhança no processo compositivo de ambos os

casos. Espera-se que esta análise lógico-matemática do tratado de Alberti confira um

novo olhar a essa importante obra. Tradicionalmente, as análises do livro têm se

restringido a questões relativas às proporções e a aspectos retóricos e filosóficos. A

contribuição pretendida deste trabalho é no sentido de identificar na obra de Alberti um

sofisticado processo de projeto sistemático, baseado em regras, o que contribuiu para a

disseminação de sua linguagem arquitetônica.

Palavras-chave: Alberti; projeto paramétrico; tratado de arquitetura; gramática da

forma; arquitetura colonial brasileira.

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ABSTRACT

This work is part of an international survey called Digital Alberti, whose aim is to

investigate the influence of the Treaty re Aedificatoria De Leon Alberti in Batistta century

architecture. XVI and XVII in Portugal and its colonies. Although several Portuguese

authors claim that the Renaissance would not have had implications in Portuguese

architecture, Professor Mario Krüger defends the hypothesis that this move would

actually existed. Thus, this thesis aims to support the hypothesis Krüger, investigating

the influence of the treaty of Alberti in the Brazilian colonial architecture. The initial

analysis of corpus consists of two churches built by the Jesuits in Brazil in the sixteenth

and seventeenth centuries, pointed out by several authors as those that would have

influenced many later buildings. After conducting historical and graphic survey, the

method used followed three steps: study of the treaty of Alberti, specifically the seventh

book in which are treated the sacred buildings and identify proportions and composition

rules in the book; data collection about colonial churches that may have been influenced

by the Albertian treated and comparison of the churches raised with the rules identified

in the treaty to determine the degree of influence on the buildings through parametric

models and the application of rules of composition. The evaluation method was the

same adopted by other researchers Alberti Digital project, which is based on the shape

grammar, a formalism developed by Stiny and Gips (1972). After identifying the

composition of rules in the text Alberti carried out in step 1, these rules have been

applied to create leads to optimal compositions albertianas. Then it was made to

generate volumetric plants and the selected state churches. Comparison of albertianas

leads with the Brazilian churches has shown the similarity in the compositional process

in both cases. It is expected that this logical-mathematical analysis of the treaty of Alberti

check out a new look to this important work. Traditionally, the book analyzes have been

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restricted to matters relating to the proportions and the rhetorical and philosophical

aspects. The intended contribution of this work is to identify the work of Alberti a

sophisticated process of systematic project, based on rules, which contributed to the

spread of its architectural language.

Key words: parametric design; treatise of architecture; shape grammar; Brazilian

colonial architecture.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 1

1.1 Objetivos: 3

1.2 Resultados esperados 4

1.3 Organização da tese 5

2. METODOLOGIA 7

2.1 Primeira etapa: Métodos analíticos 8

2.2 Segunda etapa: Levantamento de dados sobre igrejas Brasileiras 12

2.3 Desenvolvimento da gramática da forma do Livro Sétimo de Alberti 12

2.4 Teste da gramática - Análise do corpus 12

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 13

3.1 Alberti e o De re aedificatoria 13

3.2 Alberti e as igrejas 15

3.2.1 São Francisco Rimini – Templo Malatestiano 15

3.2.2 Santa Maria Novella 17

3.2.3 Santo André e São Sebastião, Mântua 19

3.3 Antecedentes da Arquitetura Jesuítica no Brasil 22

3.3.1 Construções religiosas no Brasil Colonial 25

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3.4 A gramática da forma na análise e síntese de linguagens 26

3.4.1. Elementos de uma gramática da forma 29

3.4.2 Tipos de gramáticas da forma 34

3.5 Aplicações da gramática da forma 37

3.5.1 Trabalhos desenvolvidos utilizando a gramática da forma como análise 38

4. A DECODIFICAÇÃO DO LIVRO SÉTIMO DE ALBERTI – O ORNAMENTO DE

EDIFÍCIOS SAGRADOS 49

4.1 A Decodificação do livro Sétimo do tratado de Alberti 52

4.2 Análise da Leitura 82

5. A GRAMÁTICA DA FORMA 85

5.1 Primeira etapa: Regras bidimensionais para geração das plantas dos templos

quadrangulares 85

5.2 Segunda etapa: Regras tridimensionais para geração da volumetria dos

templos quadrangulares 93

5.3 Derivação para teste da gramática 98

6. LEVANTAMENTO DE DADOS DAS IGREJAS BRASILEIRAS E ANÁLISES 101

6.1 Levantamento e comparação de dados métricos das igrejas brasileiras 113

6.1.1 Levantamento e comparação de dados da Igreja de Nossa Senhora da Graça –

Olinda/PE 113

6.2.1 Levantamento e Comparação de Dados da Catedral Basílica de Salvador –

Salvador/BA 117

6.1.2 Derivações utilizando as regras da gramática da forma para geração das igrejas

do corpus 121

6.1.2.1 Derivação e análise – Igreja de Nossa Senhora da Graça – Olinda/PE 121

6.1.2.2 Derivação e análise – Catedral Basílica – Salvador/BA 122

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7. CONCLUSÃO 123

BIBLIOGRAFIA 127

ANEXOS 133

APÊNDICES 137

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais Paulo e Cristina, ao meu marido

Erico e aos meus irmãos Leandro e Larissa.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço especialmente a minha orientadora Profa. Gabriela Celani por todo

conhecimento e experiência compartilhados e por sua paciência neste período.

Aos meus amigos Jarryer, Maycon, Letícia, Regiane e Carlos pela companhia e

ajuda.

Aos professores José Duarte e Regina Tirello pelas contribuições na banca de

qualificação.

À minha família pelo apoio.

A Capes pelo suporte financeiro a esta pesquisa.

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NOTA AOS LEITORES

O material complementar elaborado como base para este trabalho pode ser acessado

em: www.sites.google.com/site/gigodoi.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Interdisciplinaridade dos conhecimentos envolvidos na tese ............................. 5

Figura 2: Fachada composta por um vocabulário delimitado ............................................. 8

Figura 3: Exemplos de colunas projetadas pela variação paramétrica dos valores.......... 9

Figura 4: Exemplo de coluna com vocabulário parametrizado......................................... 10

Figura 5: Moeda comemorativa de São Francisco ........................................................... 16

Figura 6: Proporções utilizadas para o projeto da fachada de São Francisco Rimini ..... 16

Figura 7: Planta Baixa São Francisco Rimini .................................................................... 17

Figura 8: Fachada de Santa Maria Novella com destaque dos elementos geométricos

que a compõe ..................................................................................................................... 17

Figura 9: Geometrização da fachada de Santa Maria Novella ......................................... 18

Figura 10: Proporções da fachada de Santo André.......................................................... 19

Figura 11: Planta de Santo André Atual ............................................................................ 20

Figura 12: Análise das proporções da fachada de São Sebastião de Mântua ................ 21

Figura 13: Reconstrução da fachada de São Sebastião de Mântua ................................ 21

Figura 14: Planta Baixa: São Sebastião de Mântua ......................................................... 22

Figura 15: São Roque de Lisboa ....................................................................................... 24

Figura 16: São Vicente de Fora – Lisboa .......................................................................... 24

Figura 17: Nossa Senhora da Graça – Olinda/PE ............................................................ 24

Figura 18: Catedral Sé - Salvador/BA ............................................................................... 24

Figura 19: Período selecionado para estudo. ................................................................... 26

Figura 20: Vilas Palladio .................................................................................................... 29

Figura 21 : Casas de Frank Lloyd Wright .......................................................................... 29

Figura 22: Programa para definição de uma linguagem de projeto ................................. 30

Figura 23: Exemplo de vocabulário ................................................................................... 31

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Figura 24: Exemplo de Relações Espaciais ...................................................................... 31

Figura 25: Exemplo de regra ............................................................................................. 32

Figura 26: Emergência de forma ....................................................................................... 33

Figura 27: Identificação de forma emergente ................................................................... 34

Figura 28: Exemplo de gramática paramétrica: na gramática das janelas tradicionais

chinesas cujas regras definem subdivisões dos polígonos, sem definir a posição exata

de sua inserção .................................................................................................................. 35

Figura 29: Gramática da forma com a utilização dos blocos de Froebel ......................... 36

Figura 30: Gramática da cor: projeto de Wei-Cheng Chang que utiliza cores para a

redução da simetria dos blocos e adição de detalhes no projeto final............................. 37

Figura 31: Regras para geração do grid com simetria bilateral ....................................... 39

Figura 32: Malha final gerada após a aplicação das regras da gramática para a Villa

Malcontenta. ....................................................................................................................... 39

Figura 33: Regras para geração da planta........................................................................ 41

Figura 34: Exemplo de layout com aplicação das regras de 0 a 3................................... 42

Figura 35: Regras 3D ......................................................................................................... 43

Figura 36: A gramática para as seções do telhado .......................................................... 45

Figura 37: Derivação de uma seção de um telhado com 6 vigas .................................... 45

Figura 38: Regras de 1 a 5 e Regras de 6 a 9 – Geração de parte da fachada ............. 47

Figura 39: Mapa de organização da decodificação do texto ............................................ 52

Figura 40: Formato de planta Circular ............................................................................... 53

Figura 41: Formatos Quadrangulares para um Templo ................................................... 54

Figura 42: Formato de Plantas Poligonais ........................................................................ 56

Figura 43: Inserção de Capela em Templos Quadrangulares C=2L................................ 57

Figura 44: Inserção de Capela em Templos Poligonais ................................................... 58

Figura 45: Inserção de Capela em Templos Circulares ................................................... 59

Figura 46: Tipos de combinações possíveis para a planta quadrangular (C = 2L) ......... 60

Figura 47: Dimensões das capelas-mor e capelas laterais .............................................. 62

Figura 48: Determinação da ossatura dos edifícios a partir do número de capelas e suas

dimensões. ......................................................................................................................... 63

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Figura 49: Templo Etrusco ................................................................................................. 66

Figura 50: Inserção de pórticos em templos quadrangulares .......................................... 67

Figura 51: Inserção de pórticos em templos circulares .................................................... 68

Figura 52: Inserção do pódio na fachada .......................................................................... 69

Figura 53: Determinação do Intercolúnio e largura das Portas de entrada do Templo ... 71

Figura 54: Determinação das proporções para a coluna jônica ....................................... 75

Figura 55: Determinação das proporções para a coluna dórica ...................................... 75

Figura 56: Determinação das proporções para a coluna coríntia .................................... 76

Figura 57: Espessura e altura dos Muros (Paredes) ........................................................ 78

Figura 58: Altura do muro em templos com capelas laterais ........................................... 79

Figura 59: Altura do muro em Templos com Planta Circular............................................ 80

Figura 60: Tipos de Cobertura ........................................................................................... 81

Figura 61: Frontão dos templos ......................................................................................... 82

Figura 62: Árvore de decisão, contendo as etapas principais para elaboração do templo

............................................................................................................................................ 82

Figura 63: Regra para definição da planta do templo quadrangular, com proporções

C=2L, C=3/2L ou C=4/3L ................................................................................................... 86

Figura 64: Regras para inserção de capela-mor............................................................... 86

Figura 65: Regras para posicionamento das capelas laterais.......................................... 87

Figura 66: Regras para inserção de Capelas Laterais, considerando que a mais próxima

da capela-mor seja circular ................................................................................................ 88

Figura 67: Regras para inserção de Capelas Laterais, considerando que a mais próxima

da capela-mor seja circular ................................................................................................ 89

Figura 68: Regra para ossatura das paredes ................................................................... 90

Figura 69: Regras para inserção dos pórticos nas fachadas. .......................................... 91

Figura 70: Regras para inserção dos intercolúnios .......................................................... 92

Figura 71: Regras para definição das alturas das capelas .............................................. 93

Figura 72: Regras para inserção do pódio ........................................................................ 94

Figura 73: Regras para definição da altura do muro ........................................................ 95

Figura 74: Regras para inserção de coberturas................................................................ 96

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Figura 75: Regra para inserção de frontão ....................................................................... 97

Figura 76: Derivação de um templo seguindo regras da gramática ................................ 98

Figura 77: Localização das igrejas no Brasil de acordo com a data de construção. ....102

Figura 78: Igreja Nossa Senhora da Graça de Olinda/PE: Planta Baixa Situação Anterior

e Planta Baixa Situação Atual. Fonte: Arquivo Noronha Santos/IPHAN-RJ .................105

Figura 79: Planta Baixa do Pavimento Térreo - Igreja Nossa Senhora da Graça –

Olinda/PE ..........................................................................................................................106

Figura 80: Planta Baixa do Pavimento Superior - Igreja Nossa Senhora da Graça –

Olinda/PE ..........................................................................................................................107

Figura 81: Fachada - Igreja Nossa Senhora da Graça – Olinda/PE .............................108

Figura 82: Planta Baixa Catedral Basílica de Salvador ..................................................111

Figura 83: Fachada Catedral Basílica de Salvador ........................................................112

Figura 84: Derivação proposta para a Igreja de Nossa Senhora da Graça ...................121

Figura 85: Derivação proposta para Catedral Basílica ...................................................122

Figura 86: Combinação das duas abordagens: parametrização e projeto baseado em

regras (rule-based design). ..............................................................................................123

Figura 87 Volumetria original da casa Vilanova Artigas e volumetria da cobertura da

casa Vilanova Artigas segundo as regras da gramática da pradaria. ............................124

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Nossa Senhora da Graça - Dados métricos – Planta ....................................113

Tabela 2: Nossa Senhora da Graça - Dados métricos – Capela – Mor .........................114

Tabela 3: Nossa Senhora da Graça - Dados métricos – Capelas Laterais ...................114

Tabela 4: Nossa Senhora da Graça - Dados métricos – Ossatura das Paredes ..........114

Tabela 5: Nossa Senhora da Graça - Dados métricos – Inserção do Pódio .................115

Tabela 6: Nossa Senhora da Graça - Dados métricos – Altura dos Muros ...................116

Tabela 7: Nossa Senhora da Graça - Dados métricos – Inserção da Cobertura ..........116

Tabela 8: Catedral Basílica - Dados métricos – Planta ..................................................117

Tabela 9: Catedral Basílica - Dados métricos – Capela-Mor .........................................118

Tabela 10: Catedral Basílica - Dados métricos – Capelas Laterais ...............................118

Tabela 11: Catedral Basílica - Dados métricos – Ossatura das Paredes ......................119

Tabela 12: Catedral Basílica - Dados métricos – Inserção do Pódio .............................119

Tabela 13: Catedral Basílica - Dados métricos – Altura dos Muros ...............................120

Tabela 14: Catedral Basílica - Dados métricos – Inserção da Cobertura ......................120

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1

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho insere-se em um projeto internacional de pesquisa – Digital

Alberti - financiado pela Fundação para Ciência e Tecnologia (FCT) de Portugal. O

projeto é coordenado pelos professores Mário Júlio Teixeira Krüger, da Faculdade de

Arquitectura da Universidade de Coimbra e José Manoel Pinto Duarte, da Faculdade de

Arquitectura da Universidade de Lisboa. Tem como consultores os professores George

Stiny e Terry Knight do MIT, Gabriela Celani da UNICAMP e Benamy Turkienicz da

UFRGS.

O objetivo do projeto Digital Alberti é investigar e compreender o impacto de

uma teoria arquitetônica clássica, neste caso, o tratado De re aedificatoria de Leon

Batistta Alberti, na arquitetura do período da Contrarreforma em Portugal e em suas

colônias. O tratado em português está disponível pela primeira vez, traduzido a partir do

latim por Krüger e Santo (Alberti, 2011) e publicado em 2011 pela fundação Calouste

Gulbenkian.

A hipótese da influência das teorias clássicas de Alberti na arquitetura

portuguesa tem sido levantada, mas, até o momento, não foi possível determiná-la de

maneira objetiva, especialmente por alguns autores negarem a existência de um

Renascimento português. Segundo Reynaldo dos Santos (1968-1970, p. 175, 2 º vol.)

apud Krüger et al (2011) o Renascimento é um estilo estrangeiro que não teve

implicações no desenvolvimento da arquitetura Portuguesa. De maneira semelhante,

Pais da Silva (1986), em Estudos sobre o maneirismo, faz uma transição direta do estilo

Manuelino para o Maneirismo sem reconhecer o período renascentista.

A ausência, até agora, de uma tradução do tratado de Alberti para o português,

deixava menos segura a sua relevância para o estudo da teoria da arquitetura em

países de língua portuguesa (ALBERTI, 2011 – nota prévia). Desde a publicação da

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2

primeira edição do tratado de Alberti foram feitas 24 edições do mesmo em Latim (1486,

1512, 1541, 1966), em Toscano/Italiano (1546, 1550, 1565, 1782, 1784, 1804, 1833,

1847, 1966), em Francês (1553), em Castelhano/Espanhol (1582, 1797, 1991), em

Inglês (1726, 1955, 1988), em Alemão (1912), em Russo (1935), em Checo (1956) e em

Polaco (1960), mas há nenhum registro de traduções em português. (KRÜGER, 2012).

No entanto, mais recentemente, Moreira (1991, 1995 APUD KRÜGER, 2012) ao

comparar as encomendas do rei D. Manuel1 com o modo romano de construção,

identificou cerca de 150 edifícios que podem ser considerados como pertencentes à

fase renascentista.

Também segundo Krüger (2012), sabe-se que várias versões do De re

aedificatoria estiveram em circulação em Portugal no século XVI, chegando-se a admitir

que André de Resende tenha pelo menos, iniciado a tradução para a língua portuguesa

a pedido de D. João III. Soromenho (1995, p. 400 APUD KRÜGER, 2012) afirma que as

“traduções falhadas de Vitruvio e Alberti”, realizadas por Pedro Nunes e André de

Resende refletiam o interesse de Dom João III2 pela arquitetura clássica de sua época.

Ainda sobre André de Resende, Abreu (2004), cita que durante o período em

que a corte Portuguesa de Dom João III ocupou a cidade de Évora como corte

provisória (1531-1557), foram executados projetos de requalificação da cidade

utilizando os conceitos clássicos e destaca a ação de André de Resende como

arqueólogo e perito em antiguidades e também provavelmente como tradutor do tratado

de Alberti por aparecer em registros históricos a notícia da encomenda de um “livro de

architectura” concluído em 1552, listada no seu testamento. No entanto esta edição

nunca foi efetivamente constatada. Existem algumas suposições para o destino do

texto: teria sido entregue ao Cardeal D. Henrique após a morte de André de Resende

ou ficado em posse de Barnabé de Resende (herdeiro de André de Resende).

1 O reinado de Dom Manuel iniciou-se em 25 de outubro de 1495 e terminou em 13 de dezembro de

1521, com sua morte. Seu sucessor foi seu filho, Dom João III.

2 O reinado de Dom João III iniciou-se em 13 de dezembro de 1521 e terminou em 11 de junho de 1557,

com sua morte. Seu sucessor foi seu neto, Dom Sebastião.

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3

Após a ocupação do trono de Portugal pelos monarcas espanhóis, os Filipes, a

partir de 1582, a publicação do tratado em português não teria sido mais incentivada.

Há uma versão espanhola de 1582, traduzida por Francisco Lozano com o título de

“Los Diez Libros de Architectura de Leon Baptista Alberto”. Com o final desta dinastia, o

que ocorreu em 1640, a influência do livro em português já teria se perdido3

Assim, o professor Mario Krüger, juntamente com outros autores, defende a

hipótese de que o tratado de Alberti teria sim influenciado a arquitetura portuguesa, e

não apenas ela, mas também a arquitetura das colônias ultramarinas, em especial o

Brasil.

Nas colônias, a divulgação das teorias clássicas teriam se dado, em especial,

por meio da Companhia de Jesus, que teve uma marcante presença nas colônias

portuguesas, com a função de evangelizar os povos autóctones. Juntamente com a

mensagem religiosa, essa ordem acabou disseminando também questões culturais e

arquitetônicas (COSTA, 1951).

1.1 Objetivos:

Esta pesquisa tem como principal objetivo dar suporte à teoria do professor

Mario Krüger, investigando a influência do tratado de Alberti na arquitetura colonial

brasileira, por meio de métodos analíticos. A hipótese desta tese é:

“O tratado de Alberti influenciou construções de igrejas no Brasil Colonial nos

séculos XVI e XVII chegando até nós por meio das ordens religiosas – em

especial a Companhia de Jesus – que eram enviadas pela Coroa Portuguesa.”

Os objetivos específicos deste trabalho são:

3 O reinado de Dom Sebastião iniciou-se em 11 de junho de 1557 e terminou em 04 de agosto de 1578,

com o seu desaparecimento na batalha de Alcácer-Quibir e iniciou a crise da dinastia que levou Portugal

a ser governado pela Coroa Espanhola (Dinastia Filipina) de 1580 a 1640.

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1. Estudar o tratado de Alberti, especificamente o livro Sétimo em que são

tratados os edifícios sagrados e identificar proporções e regras de composição

presentes no livro.

2. Levantar dados a respeito de igrejas coloniais que podem ter sofrido influência

do tratado albertiano.

3. Comparar as igrejas levantadas com as regras identificadas no tratado para

determinar o grau de influência nas construções, por meio de modelos

paramétricos e da aplicação de regras de composição.

A análise se restringe aos edifícios sagrados, porque, nos primeiros séculos de

ocupação, esse foi praticamente o único tipo de construção executado com alguma

notoriedade. Nesse período, as residências ainda eram muito simples e os edifícios

públicos de maior relevância só viriam a ser construídos com a vinda da coroa

portuguesa no início do século XIX.

Embora este tipo de comparação já tenha sido feito por outros autores, a

originalidade deste trabalho está no fato dele não se restringir a análises discursivas. A

metodologia proposta pelos coordenadores do projeto Alberti Digital baseia-se em

teorias inspiradas na lógica e na matemática, nomeadamente as relações paramétricas

e a gramática da forma de Stiny e Gips.

Estes objetivos, como serão descrito mais adiante no capítulo de metodologia,

foram adaptados ao presente trabalho.

1.2 Resultados esperados

O principal resultado esperado consiste em identificar nas igrejas estudadas as

proporções e o processo de projeto albertianos. Além disso, espera-se que a análise

lógico-matemática do tratado de Alberti confira um novo olhar a essa importante obra.

Tradicionalmente, as análises do livro restringem-se a questões relativas às proporções

e a aspectos retóricos e filosóficos. A contribuição deste trabalho será no sentido de

identificar na obra de Alberti um sofisticado processo de projeto sistemático, baseado

em regras, que permitiu viabilizar a disseminação de sua linguagem arquitetônica.

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1.3 Organização da tese

Este trabalho se insere na intersecção entre a análise computacional do tratado

de Alberti e o estudo das igrejas construídas nos primeiros séculos da colonização

portuguesa no Brasil.

Para se chegar a esta intersecção, foi necessário analisar o tratado de Alberti e

suas diferentes interpretações, as teorias computacionais da forma, em especial a

gramática da forma e a modelagem paramétrica, e a arquitetura portuguesa dos

séculos XVI e XVII e sua influência nas colônias ultramarinas.

Por esse motivo, a estrutura da tese é composta por capítulos sobre assuntos

aparentemente díspares, mas que contribuem para a formação de um conhecimento

interdisciplinar aprofundado (Figura 1).

Figura 1: Interdisciplinaridade dos conhecimentos envolvidos na tese

Fonte: Elaborado pela autora

O texto foi organizado em sete capítulos, descritos a seguir:

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No Capítulo II (Metodologia) são apresentadas as técnicas utilizadas para o

desenvolvimento da pesquisa incluindo os tipos de levantamento bibliográfico, o

levantamento e análise dos dados das igrejas coloniais brasileiras, o método de análise

do tratado de Alberti traduzido para o português, o método de desenvolvimento da

gramática da forma, e o método de comparação entre as igrejas analisadas e os

projetos que resultariam do método prescrito no tratado albertiano.

O Capítulo III (Fundamentação Teórica) apresenta as teorias e conceitos que

deram suporte teórico para a elaboração da tradução da obra de Alberti e a análise das

igrejas. A primeira parte do capítulo apresenta o tratado de Alberti e algumas de suas

obras. A segunda parte discorre sobre as construções religiosas em Portugal no

período da Contrarreforma. A terceira parte discorre sobre as construções religiosas

brasileiras do mesmo período. Este capítulo apresenta ainda como a teoria da

gramática da forma pode ser utilizada para análise de patrimônio histórico.

No Capítulo IV (A decodificação do tratado) é apresentada item a item a

tradução gráfico-matemática elaborada a partir do tratado.

O Capítulo V (A gramática da forma) contêm a descrição completa das regras

da gramática da forma elaboradas a partir do tratado, bem como algumas derivações

realizadas como teste da gramática desenvolvida.

No Capítulo VI (Análise) são apresentados os dados analisados das igrejas

coloniais selecionadas para este estudo de caso e a comparação destes dados com as

regras propostas por Alberti.

E no Capítulo VII são apresentadas as conclusões desta pesquisa.

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2. METODOLOGIA

A metodologia proposta para o Projeto Alberti Digital é descrita por Krüger,

Duarte e Coutinho (2011), e constitui-se das seguintes etapas:

1. Inferir uma gramática da forma do texto do tratado seguindo um

procedimento semelhante a Li (2002);

2. Estruturar, testar e implementar esta gramática com os prédios projetados

por Alberti como feito por Duarte (2005);

3. Reconhecer transformações da gramática do tratado com a gramática dos

prédios projetados por Alberti, como identificado por Krüger (2005) e também

através das notas de Krüger em Alberti (2011) em um modo semelhante ao

desenvolvido por Knight (1994);

4. Compreender as transformações a partir desses conjuntos de regras e

formas, a fim de produzir arquitetura renascentista em Portugal e nos territórios

ultramarinos, como é reconhecido por Carita (2008),

5. A implementação de um software educacional para a geração e fabricação

de projetos ligando gramáticas da forma e prototipagem rápida seguindo o

modelo proposto por Duarte e Wang [2002], e

6. Organizar uma exposição, a fim de divulgar amplamente os resultados

obtidos até o momento. (Pág 173).

Baseando-se nas seis etapas propostas como metodologia para o projeto

Alberti Digital foi definida uma metodologia adaptada para esta pesquisa, seguindo 4

etapas principais:

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2.1 Primeira etapa: Métodos analíticos

Tradicionalmente a área da história da arquitetura utiliza métodos discursivos

de investigação. Neste trabalho propõe-se a combinação desses métodos com métodos

baseados na matemática e na lógica. Groat e Wang (2013) descrevem o “espectro de

tipologias de argumentação lógica”, citando a gramática da forma e o Building

Information Modelling (BIM) como exemplos de outras estratégias de pesquisa que

podem auxiliar na compreensão de teorias da arquitetura.

Os métodos utilizados para o desenvolvimento desta etapa do trabalho são

descritos a seguir:

a) Pesquisa sobre interpretações contemporâneas da obra de Alberti –

Métodos computacionais

Na área de computational design, métodos utilizados na programação de

computadores como as relações paramétricas, a repetição, a recursão e o uso de

condicionais são utilizados para compreender e modelar composições arquitetônicas.

No capítulo sobre Repetição, do livro The art of computer graphics programming, por

exemplo, Mitchell, Liggett e Kvan (1986) falam dos princípios das composições

regradas e citam como exemplo uma fachada renascentista (Figura 02).

Figura 2: Fachada composta por um vocabulário delimitado

Fonte: Mitchell, Liggett e Kvan (1986), página 202

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No penúltimo capítulo os autores apresentam um exemplo de programa

destinado exclusivamente a gerar variações paramétricas de uma mesma forma, dando

como exemplo as relações entre base, diâmetro, altura, capitel de colunas clássicas

(Figura 3).

Figura 3: Exemplos de colunas projetadas pela variação paramétrica dos valores

Fonte: Mitchell, Liggett e Kvan (1986), página 494

Tipos e vocabulários são introduzidos em The Art of Computer-graphics

Programming e também desenvolvidos em The Logic of Architecture (MITCHELL,

1990), onde Mitchell afirma que estilos arquitetônicos podem ser definidos em termos

de seus vocabulários de formas. O autor cita especificamente Alberti, explicando como

ele alternava colunas, bases, entablamentos e arcos (Figura 4).

Ainda em The Logic of architecture (1990), o autor introduz os conceitos de

repetição e recursão para explicar a simetria e o ritmo nas composições clássicas:

“na maioria dos edifícios, há uma repetição de

elementos, tais como as colunas” (p. 27, Chapter 2 -

Architectural form; section 3 – Ritmo, proporção e

simetria).

Além das abordagens computacionais (procedurais) de análise arquitetônica,

pesquisou-se também trabalhos existentes que utilizam outras abordagens. Em

particular, foram analisados trabalhos que fazem uma análise das proporções na obra

de Alberti. Os trabalhos estudados foram: Rudolf Wittkower - Architectural Principles in

the Age of Humanism (1949), Franco Borsi - Leon Battista Alberti: l'opera completa

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(1996), Robert Tavernor - On Alberti and the Art of Building (1998) e Lionel March -

Architectonics of Humanism: Essays on Number in Architecture (1998).

Figura 4: Exemplo de coluna com vocabulário parametrizado

Fonte: Mitchell, Liggett e Kvan (1986), página 491

b) Análise de gramáticas da forma já estabelecidas

O próximo passo desenvolvido foi o estudo de análises de linguagens

arquitetônicas com o uso da gramática da forma. As gramáticas estudadas foram: The

Palladian Grammar – Stiny e Mitchell (1978), More than the sum of parts: the grammar

of Queen Anne houses – Flemming (1986), Algorithmic Architecture in Twelfth-Century

China: the Yingzao Fashi - Li (2002), e A gramática para as fachadas de Monte Alegre

do Sul – Godoi (2009). Todos estes trabalhos estabeleceram a gramática da forma

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como um novo paradigma para a análise de linguagens arquitetônicas. Pode-se dizer

que este paradigma se insere dentro de uma linha estruturalista da teoria da

arquitetura, pois analisa a composição arquitetônica a partir de sua estrutura e lógica

internas.

Os métodos analíticos acima descritos serão utilizados para a análise do

tratado de Alberti para então serem aplicados nos estudos de caso. A análise

computacional do tratado de Alberti resultará na descrição matemática e gráfica das

regras estabelecidas no tratado.

Algumas regras enfatizam a questão de proporção enquanto outras enfatizam

as questões procedurais.

c) Análise do tratado de Alberti

Para a investigação da influência de Alberti fez se necessário, primeiramente,

uma análise minuciosa do seu tratado: o De re aedificatoria.

Finalizado em 1452, mas publicado somente em 1485, o tratado De re

aedificatoria é o primeiro tratado de arquitetura do Renascimento. Composto de 10

livros, onde em cada livro há orientações para uma fase ou tipo de projeto, propõe a

sistematização da arquitetura. Segundo Coli (1983), elevou a arquitetura ao nível das

artes liberais, ou seja transformou-a em ciência ao atribuir-lhe características

matemáticas.

O tratado original de Alberti não possuía imagens, somente a descrição

gramatical de todas as etapas de desenvolvimento de edifícios, determinadas pelo

autor. A opção pela ausência de ilustrações pode ser interpretada como uma tentativa

de evitar erros de interpretação dos copistas da época (ALBERTI, 2011). Para Coutinho

et al (2010), Alberti descreve em seu tratado um sistema de regras em vez de um

modelo de soluções e talvez seja por não possuir na época um modo de representação

adequado de suas propostas paramétricas que tenha decidido não fazer imagem

alguma.

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Assim, essas regras descritas no texto original puderam ser traduzidas em uma

sequencia de regras paramétricas, com o estabelecimento das regras de combinação

das formas, aliadas aos parâmetros aceitos por Alberti.

2.2 Segunda etapa: Levantamento de dados sobre igrejas Brasileiras

O levantamento de dados sobre as igrejas brasileiras foi feito inicialmente por

meio de levantamento bibliográfico, sendo o mais utilizado o livro Património de origem

portuguesa no mundo– América do Sul (2010). Posteriormente, foi realizada também

uma pesquisa documental, por meio dos registros de edifícios tombados fornecidos

pelo IPHAN em seu site.

Além disso, o levantamento de plantas, cortes e fachadas foi realizado por meio

de uma visita ao Arquivo Noronha Santos no Rio de Janeiro e também por material

cedido pelo IPAC-Bahia.

O material complementar produzido a partir do desenvolvimento desta etapa

pode ser acessado em: www.sites.google.com/sites/gigodoi.

2.3 Desenvolvimento da gramática da forma do Livro Sétimo de Alberti

A gramática da forma desenvolvida neste trabalho considerou as gramáticas

citadas no item b deste capítulo como base, especialmente a gramática para as

construções chinesas do século 12 de Li (2002), por também ser um trabalho onde foi

estabelecia uma gramática da forma baseada em um tratado de arquitetura, neste caso

o tratado de Yingzao Fashi.

2.4 Teste da gramática - Análise do corpus

Por fim, foram realizados os testes da gramática da forma desenvolvida e

também a análise do corpus de igrejas coloniais brasileiras selecionadas.

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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 Alberti e o De re aedificatoria

Leon Battista Alberti nasceu em Gênova, em 1404 e estudou em Pádua, na

escola de Gasparino Barzizza e em Bolonha, formando-se em Direito Canônico 1428.

Também em 1428, visitou pela primeira vez a cidade de Florença, encontrando

Donatello, Ghiberti e Brunelleschi. Paolo Portoghesi (1966) e Joseph Rykwert (1988)

apud Babel (2012)4 apontam para a dificuldade encontrada pelos biógrafos em relação

a esse período e anotam que, alguns deles, acreditam que Alberti acompanhou o

cardeal Albergati pelo norte da Europa.

De acordo com a biografia de Alberti, descrita em Babel (2013), em 1432,

Alberti morou em Roma e iniciou neste período um estudo analítico dos monumentos

arquitetônicos romanos tendo-se como primeiro resultado deste estudo a obra

Descriptio urbis Romae, que apresenta um método de levantamento científico da planta

da cidade. Também escreveu Della famiglia, entre 1433 e 1434. Quando retornou a

Florença teve contato com Brunelleschi e sob a influência da arte de Florença escreveu

o De pictura (1435), depois traduzido, de próprio punho, para o italiano, assim como

Elementi di pittura e De statua. É, provavelmente, também dessa época I cinque ordini

architettonici.

Em 1443, retornou a Roma e iniciou os trabalhos do De re aedificatoria, que,

provavelmente, não foi escrito continuamente; sabe-se que os dez livros que o compõe

foram concluídos em 1452. Alberti faleceu em Roma, em abril de 1472.

4 http://www.eesc.usp.br/babel/Alberti_biografia.htm - acesso em 18/12/2013

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Coli (1983, pag. 161) cita a análise de Alberti por vários estudiosos como um arquiteto

teórico e racional:

[...] um intelectual avesso à prática da construção,

capaz apenas de determinar os projetos, deixando –

ao contrário de Brunelleschi – o trabalho de direção

de canteiros a discípulos, como Rosselino, Fancelli e

Mateo de Pasti.”

Finalizado em 1452, mas publicado somente em 1485, em latim, o tratado De re

aedificatoria é o primeiro tratado de arquitetura do Renascimento. A primeira tradução

italiana data de 1546.

Composto de dez livros, onde em cada livro há orientações para uma fase ou

tipo de projeto, propõe a sistematização da arquitetura. Segundo Coli (1983), elevou à

arquitetura ao nível das artes liberais, ou seja transformou-a em ciência ao atribuir

características matemáticas.

Entre os dez livros, cinco são dedicados à construção e estrutura das partes do

edifício: fundação, piso, paredes, telhado e as aberturas, bem como dos materiais para

cada elemento das construções. Dos outros cinco livros, quatro são dedicados à

componentes de transformação dos edifícios em edifícios sagrados:

Livro Primeiro: O Delineamento

Livro Segundo: Os Materiais

Livro Terceiro: A Construção

Livro Quarto: Edifícios Para Fins Universais

Livro Quinto: Edifícios Para Fins Particulares

Livro Sexto: Do Ornamento

Livro Sétimo: O Ornamento De Edifícios Sagrados

Livro Oitavo: O Ornamento De Edifícios Públicos Profanos

Livro Nono: O Ornamento De Edifícios Privados

Livro Décimo: O Restauro Das Obras

O tratado original de Alberti, não possuía imagens, somente a descrição

gramatical de todas as etapas de desenvolvimento de edifícios, determinadas pelo

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tratadista. A opção pela ausência de ilustrações pode ser interpretada como uma

tentativa de evitar erros de interpretação dos copistas da época (ALBERTI, 2011). Para

Coutinho et al (2010), Alberti descreve em seu tratado um sistema de regras em vez de

um modelo de soluções e talvez seja por não possuir na época um modo de

representação adequado de suas propostas paramétricas que tenha decidido não fazer

imagem alguma.

Como já citado por Krüger et al (2011), com esta característica de descrição de

etapas de desenvolvimento, o tratado pode ser interpretado como um conjunto de

algoritmos que explicam como construir edifícios de acordo com as regras da

arquitetura clássica.

Essas regras descritas no texto original podem ser traduzidas em uma

sequencia de regras paramétricas, com o estabelecimento das regras de combinação

das formas, aliado aos parâmetros aceitos por Alberti. Neste trabalho estudaremos

particularmente o Livro Sétimo, por se tratar das igrejas, foco principal de investigação.

3.2 Alberti e as igrejas

Sendo as igrejas o foco principal desta tese, apresentaremos agora os

trabalhos religiosos de Alberti. Em todos esses projetos nota-se a preocupação com as

proporções e as orientações que foram definidas no De re aedificatoria.

3.2.1 São Francisco Rimini – Templo Malatestiano

A primeira igreja de Alberti foi a de São Francisco Rimini (Rimini, Itália), também

chamada de Templo Malatestiano, cujo projeto de reforma foi realizado em 1450 por

solicitação de Sigismondo Malatesta com objetivo de transformar o edifício existente em

um mausoléu para ele, sua esposa e pessoas importantes da corte. O edifício original

datava do século XIII em estilo gótico com nave única e capelas laterais, porém a

reforma jamais foi concluída de acordo com o projeto original de Alberti que alguns

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estudiosos pressupõem ser o que foi cunhado em uma moeda comemorativa feita por

Matteo de´Pasti (Figura 5).

Figura 5: Moeda comemorativa de São Francisco

Fonte: Tavernor (1998)

Para a reformulação do edifício original, Alberti utilizou um arco triunfal romano

na fachada. A fachada não foi terminada no segundo nível e os arcos cegos que se

formaram, eram inicialmente previstos para serem nichos que receberiam os corpos de

Sigismondo e sua esposa.

Figura 6: Proporções utilizadas para o projeto da fachada de São Francisco Rimini

Fonte: Borsi (1996)

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Figura 7: Planta Baixa São Francisco Rimini

Fonte: Wittkower (1952)

3.2.2 Santa Maria Novella

Santa Maria Novella, é um projeto também de intervenção, realizado em 1470,

e previa completar uma fachada de preexistências góticas. Foi financiado por Giovanni

di Paolo Rucellai, mesmo mandatário do projeto do Pallacio Ruccelai realizado

anteriormente. Nesta obra aparecem as mesmas limitações de Rimini, já que se trata de

uma igreja pronta e com fachada parcialmente completa, no entanto, Alberti incluiu

sobre o revestimento existente elementos como as 4 colunas da fachada, além de ter

ajustado as proporções com o alargamento do andar inferior, para que esta fachada de

adaptasse aos conceitos de simetria e proporções clássicos. Wittkower (1996) ressalta

a habilidade de Alberti em harmonizar os elementos medievais e modernos, criando

exemplos a serem seguidos para a reconstrução de edifícios religiosos.

Figura 8: Fachada de Santa Maria Novella com destaque dos elementos geométricos que a compõe

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Fonte: Borsi, 1996

Figura 9: Geometrização da fachada de Santa Maria Novella

Fonte: Wittkower (1952)

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3.2.3 Santo André e São Sebastião, Mântua

Santo André de Mântua (1471) é uma das igrejas cujo projeto é atribuído

integralmente à Alberti. Embora haja algumas divergências quanto às modificações que

o projeto inicial possa ter sofrido, já que a obra demorou 328 anos para ser concluída, é

considerada uma das obras mais completas em que foram utilizados os conceitos

definidos por Alberti em seu tratado de arquitetura.

Figura 10: Proporções da fachada de Santo André

Fonte Borsi (1996)

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Figura 11: Planta de Santo André Atual

Fonte Borsi (1996)

Já São Sebastião de Mântua (1459) teve diversas alterações no projeto inicial e

não foi construída de acordo com o proposto por Alberti. A reconstituição proposta por

Wittkower (Figura 13) mostra que originalmente a fachada deveria ter uma grande

escadaria. A planta caracteriza-se por uma cruz grega, com cobertura em abóbada

(Figura 14).

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Figura 12: Análise das proporções da fachada de São Sebastião de Mântua

Fonte: Borsi (1996)

Figura 13: Reconstrução da fachada de São Sebastião de Mântua

Fonte: Wittkower (1951)

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Figura 14: Planta Baixa: São Sebastião de Mântua

Fonte: Borsi (1996).

3.3 Antecedentes da Arquitetura Jesuítica no Brasil

O movimento arquitetônico ocorrido em Portugal, contemporâneo à

disseminação do tratado de Alberti na Europa e dos tratados posteriores a ele, foi

regido pela Contrarreforma. A ofensiva católica contra a Reforma Protestante

influenciava diretamente, através da Companhia de Jesus, todos os movimentos da

época, especialmente as construções. Os jesuítas chegaram a Portugal em 1540,

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solicitados por Dom João III, e participaram efetivamente dos movimentos de

colonização portuguesa, com a função de evangelizar os povos nativos das colônias.

A Companhia de Jesus, atuante como órgão regulador da Igreja com aval do

governo, tornou-se um organismo internacional para difundir a mensagem da igreja.

Davam especial atenção à educação e, por ser uma ordem nova, livre de compromissos

com as tradições medievais, adotou as novas ideias surgidas neste período para a

realização de suas obras. (COSTA, 1951).

Dom João III também enviou bolsistas à Itália para o aprendizado e divulgação

das ideias artísticas e das técnicas que estavam sendo utilizadas àquela altura.

Também realizou a “importação” de arquitetos italianos propagadores destas

informações (BURY, 2006).

O interesse da coroa nas manifestações que ocorriam no restante da Europa

continuou nos reinados de Dom Sebastião e subsequentes. Considerado o maior

expoente desta troca de informações, Filippo Terzi, nascido em Bolonha em 1520 e

falecido em Lisboa em 1597, convidado por Dom Sebastião, iniciou o exercício de suas

atividades em Portugal em 1577, e foi empregado pelos jesuítas para a confecção da

fachada da igreja de São Roque, iniciada por volta de 1580 (BURY, 2006). Mas a maior

construção realizada por Terzi em Portugal é a igreja de São Vicente de Fora, por

ordem já de Filipe II de Espanha.

Tanto São Roque de Lisboa (Figura 15), quanto São Vicente de Fora (Figura

16), são construções emblemáticas que comprovadamente influenciaram as

construções religiosas jesuíticas no Brasil, no início da colonização do território. A

primeira pelo envio do irmão jesuíta Francisco Dias em 1577, que colaborou com Terzi

na igreja de São Roque. Segundo Bury, a influência de Dias padronizou boa parte da

arquitetura jesuítica brasileira, durante seu período de permanência no Brasil, sendo o

seu maior exemplar a igreja de Nossa Senhora da Graça, em Olinda/PE (Figura 17). E

a segunda por ter influenciado um dos exemplares mais importantes e que também

exerceu influência em outros pontos da colônia que é a Catedral Sé de Salvador/BA

(Figura 18).

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Figura 15: São Roque de Lisboa Figura 16: São Vicente de Fora – Lisboa

Fonte: Elaborado pela Autora Fonte: Elaborado pela Autora

Figura 17: Nossa Senhora da Graça –

Olinda/PE

Figura 18: Catedral Sé - Salvador/BA

Fonte: Elaboração Própria Fonte: Bury (2006)

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25

A arquitetura dos jesuítas continuou influenciando as construções religiosas no

Brasil até a data da expulsão da Companhia de Jesus de Portugal e das colônias, em

1759.

3.3.1 Construções religiosas no Brasil Colonial

O início da arquitetura religiosa no Brasil nos séculos XVI e XVII ocorreu

através das primeiras ações missionárias das ordens dos jesuítas e dos franciscanos no

Brasil, tomadas pela influência da Contrarreforma. A influência jesuítica foi tão evidente

e importante que Costa (1951) chama a atenção para o fato de que a arquitetura deste

período é chamada de jesuítica por esse motivo. As primeiras construções realizadas

no Brasil eram provisórias, porém as instruções de Roma eram de que estas fossem

substituídas por outras de caráter definitivo, de acordo com os recursos locais de

material e mão-de-obra. (Costa, 1951).

A fim de regularizar as novas igrejas no Brasil, a Companhia de Jesus enviou

ao Brasil o irmão Francisco Dias em 1577.

O estilo adotado por Francisco Dias para a Igreja de Nossa Senhora da Graça

em Olinda, é descrito como sendo “à traça de São Roque” e “a única igreja jesuítica

quinhentista com pedigree” (COSTA, 1951), demonstrando assim a inspiração na igreja

lisboeta. Sabe-se que este projeto foi replicado em muitas outras construções jesuíticas

no Brasil considerando a sua aceitação e importância pela presença de um arquiteto

profissional.

Pelos motivos acima apresentados, foram selecionadas para este estudo

apenas igrejas do período entre o início da colonização brasileira e a expulsão dos

jesuítas do Brasil.

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Figura 19: Período selecionado para estudo.

Fonte: Elaborado pela Autora

3.4 A gramática da forma na análise e síntese de linguagens

Na década de 60 surgiram os primeiros sistemas de CAD (computer-aided

design), inicialmente dedicados à engenharia. Pesquisadores da área de arquitetura

que trabalhavam nas grandes universidades em que os computadores estavam

disponíveis começaram, a partir dos Movimento dos Métodos de Projeto nos anos 60, a

vislumbrar possíveis aplicações desses sistemas em arquitetura. O texto seminal de

Mitchell (1975) sobre as bases teóricas do que acabou ficando conhecido como CAAD

(Computer Aided Architectural Design) enfatizava a importância da definição de

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sistemas generativos para que se pudesse efetivamente lançar mão do poder de

processamento dos computadores no processo de projeto em arquitetura.

Os sistemas generativos utilizavam técnicas variadas, entre elas algumas com

origem na inteligência artificial, pesquisa operacional, reconhecimento de padrões etc.

Esses sistemas possuíam três objetivos principais: otimização de projeto,

automatização das tarefas de desenho e geração criativa de formas.

O objetivo dos sistemas generativos é a elaboração de ferramentas projetuais

em vez da produção específica de uma única forma. A vantagem desta utilização está

na produtividade e inovação das formas a serem criadas, pois desta maneira diversos

projetos pertencentes a uma mesma família podem ser criados com economia de tempo

e explorando uma maior quantidade de alternativas.

É possível, por exemplo, o desenvolvimento de um sistema generativo de um

complexo de casas onde cada uma delas é tratada de maneira particular, mas seguindo

a mesma linguagem, como mostrado por Duarte (2005) com a pesquisa realizada para

o conjunto da Malagueira do arquiteto Álvaro Siza.

Um exemplo de sistema generativo é a Gramática da Forma (em inglês Shape

Grammar), desenvolvida na década de 70 por George Stiny e James Gips, e que

representa um método sistemático de geração de formas baseado em regras, podendo

ser utilizada de maneira analítica ou sintética. A gramática da forma (em inglês shape

grammar) foi desenvolvida e apresentada pela primeira vez no artigo: “Shape

Grammars and the Generative Specification of Painting and Sculpture”, por George

Stiny e James Gips em 1972 (STINY; GIPS, 1972) Esta gramática consiste em um

sistema de geração de formas baseado em regras, que constituirão elementos de uma

mesma família. A gramática da forma se baseia no sistema de produção do matemático

Emil Post (POST, 1943) e na gramática generativa (ou gerativa) do lingüista Noam

Chomsky (CHOMSKY, 1957).

A teoria da gramática da forma insere-se na área de design computation, onde

computation refere-se a processamento de informações, não necessariamente ao uso

de computadores, embora este seja um campo explorado por alguns pesquisadores da

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gramática da forma, que podem automatizar as regras, podendo assim testá-las com

maior eficiência e rapidez.

A aplicação analítica da gramática da forma consiste no estudo de obras

arquitetônicas já estabelecidas a partir das quais podem ser determinadas regras de

composição e consequentemente a geração de novos indivíduos baseados na mesma

linguagem. Já a aplicação sintética consiste na definição de novas regras para a

produção de uma nova linguagem arquitetônica.

Embora seu objetivo original fosse a geração de formas, a principal aplicação da

gramática da forma tem sido a análise e o reconhecimento de padrões de conjuntos de

obras e linguagens arquitetônicas, como já realizado com as obras das vilas de Palladio

(STINY; MITCHELL, 1978), dos jardins do Taj Mahal (STINY; MITCHELL, 1980), das

casas tradicionais da China (CHIOU; KRISHNAMURTI, 1995), de Taiwan (CHIOU;

KRISHNAMURTI, 1996) e da Turquia (CAGDAS, 1996), das casas de chá japonesas

(KNIGHT, 1981), das casas em estilo Queen Anne (FLEMMING, 1987), das casas da

pradaria de Frank Lloyd Wright (KONING; EIZENBERG, 1981) que foi a primeira a

utilizar formas tridimensionais, e das casas da Malagueira de Álvaro Siza (DUARTE,

2005) que foi implementada em um sistema computacional. Todos estes trabalhos

estabeleceram a gramática da forma como um novo paradigma para a análise de

linguagens arquitetônicas. Pode-se dizer que este paradigma se insere dentro de uma

linha estruturalista da teoria da arquitetura, pois analisa a composição arquitetônica a

partir de sua estrutura e lógica internas, não se preocupando com fatores como

condicionantes históricos, climáticos, econômicos ou sócio-culturais. Apesar de

extremamente importantes, esses fatores muitas vezes não explicam satisfatoriamente

o surgimento de determinadas formas. Desse modo, é interessante a combinação

desses estudos com métodos de análise estruturais, como a gramática da forma.

Outro aspecto interessante da gramática analítica é que ela permite gerar novos

exemplares pertencentes à linguagem analisada.

São apresentados na Figura 20 e Figura 21 novos projetos gerados a partir de

gramáticas de forma analíticas.

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Figura 20: Vilas Palladio Figura 21 : Casas de Frank Lloyd Wright

Fonte: Knight (2000-2001) Fonte: Knight (2000-2001)

Nesses exemplos, o objetivo da geração de novos exemplares é apenas o de

verificar se a gramática está correta. Contudo, há também alguns exemplos na literatura

de gramáticas analíticas que foram desenvolvidas para servir como base para novos

projetos. Nesse caso, a gramática não busca reproduzir a linguagem existente com

todos os seus detalhes, mas apenas descrevê-la em sua essência, servindo como base

para o projeto de novos edifícios que convivam de maneira harmônica com os

existentes, sem copiá-los diretamente, o que resultaria em um “pastiche”.

3.4.1. Elementos de uma gramática da forma

Os principais elementos de uma gramática da forma são: o vocabulário de

formas, as relações espaciais entre as formas, regras de composição a partir das

relações espaciais e a forma inicial, a partir da qual tem início a derivação, ou seja, a

aplicação das regras até que se chegue à forma desejada.

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Segundo Stiny (1980a), a linguagem de projeto estabelecida numa gramática da forma

pode ser representada pelo seguinte diagrama (

Figura 22):

Figura 22: Programa para definição de uma linguagem de projeto

Fonte Stiny e Gips (1971)

O desenvolvimento de uma gramática da forma consiste em 5 etapas:

a) Definição do vocabulário de formas:

O vocabulário de formas é constituído por um conjunto finito de elementos

construtivos do projeto, podendo ser bidimensionais ou tridimensionais, e pelas

transformações euclidianas – translação, rotação, escala e espelhamento que serão

permitidos às formas (Figura 23).

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Figura 23: Exemplo de vocabulário

Fonte: Knight (2000 - 2001)

b) Relações Espaciais:

As relações espaciais são as ideias de composição para o projeto. Fixam o

modo como as formas do vocabulário podem ser combinadas (Figura 24).

Figura 24: Exemplo de Relações Espaciais

Fonte: Knight (2000 - 2001)

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c) Regras das formas:

Determinam as operações de adição ou subtração permitidas entre as formas,

que são executadas recursivamente, ou seja, executadas várias vezes (Figura 25).

Figura 25: Exemplo de regra

Fonte: Knight (2000 - 2001)

Marcadores, também chamados de etiquetas ou em inglês labels, podem ser

inseridos nas formas para redução da simetria, indicando assim onde a regra dever ser

aplicada. Esse método restringe a aplicação da regras, podendo-se controlar o

resultado das aplicações. Outro exemplo de marcação pode ser feito com cores, como

demonstrado por Knight (1994).

Também podem ser incluídas regras que determinam a retirada dos

marcadores para que sejam cessadas as aplicações e assim obter-se a forma final.

d) Forma Inicial

Depois da definição do vocabulário, deve-se escolher uma forma inicial entre as

formas do vocabulário, pois é a partir desta que serão aplicadas as regras de

composição.

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e) Gramática

A gramática da forma é determinada pelos componentes descritos acima: forma

inicial, relações espaciais, regras de composição e pela aplicação recursiva das regras.

Para a aplicação de uma regra é necessário fazer o reconhecimento de uma sub-forma

da composição em andamento idêntica à forma do lado esquerdo da regra que se

deseja aplicar. Em seguida, essa sub-forma é substituída pela forma presente no lado

direito da regra. Este processo é repetido sistematicamente para cada nova regra que

se deseja aplicar. Nessa primeira etapa ocorre freqüentemente que a sub-forma

identificada é resultante da combinação de outras formas. A esse fenômeno dá-se o

nome de emergência, como exemplificado na Figura 26 (CELANI et al, 2006).

Figura 26: Emergência de forma

Fonte: Knight (2000 - 2001)

A maior dificuldade encontrada na implementação computacional de gramáticas

da forma reside precisamente na identificação de figuras emergentes. A Figura 27, por

exemplo, mostra a sobreposição dos quadrados A e B, o que resulta no quadrado

menor C. Esse quadrado menor, que emerge da sobreposição dos dois quadrados

maiores, pode ser facilmente identificado pelo cérebro humano. Contudo, sua

identificação do ponto de vista computacional implica na utilização de avançadas

técnicas da inteligência artificial. Para o modelo computacional, apesar de sobrepostos,

os dois quadrados maiores continuam sendo entidades independentes definidas por

seus vértices, não sendo possível, portanto, aplicar regras de substituição ao quadrado

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menor, já que os vértices deste, resultantes da intersecção dos lados dos quadrados

maiores, não foram definidos a priori. (CELANI et al, 2006).

Figura 27: Identificação de forma emergente

Fonte: Celani et al (2006)

3.4.2 Tipos de gramáticas da forma

3.4.2.1. Gramáticas da forma analíticas e sintéticas

Originalmente, a gramática da forma foi criada com objetivo de geração de

formas originais para a pintura e as artes (STINY; GIPS, 1972). Este tipo de uso criativo

da gramática da forma também foi abordado por Stiny (1980) quando este propôs uma

gramática para desenvolvimento de novos projetos baseados no método de educação

infantil de Frederick Froebel. Contudo, após a publicação de “Ice-ray: a note on the

generation of Chinese lattice designs” (STINY, 1977), iniciou-se o uso da gramática da

forma para análise de arquiteturas já estabelecidas, com a definição de regras para a

representação das formas existentes e geração de novas composições na mesma

linguagem ou estilo.

Uma gramática da forma analítica deve ser capaz de reproduzir o corpus que

serviu de base para sua coleta de dados e gerar novos indivíduos dentro desta mesma

linguagem.

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3.4.2.2 Gramáticas da forma paramétricas

Segundo Duarte (2007), uma gramática da forma paramétrica é uma gramática

na qual as regras são parametrizadas de modo que cada regra representa, de fato, um

conjunto de regras, já que os valores dos parâmetros são deixados em aberto para

serem definidos no momento da implementação, possibilitando dessa forma uma

gramática capaz de gerar enorme variedade de resultados como no exemplo da Figura

28. Nesta figura a regra que define a posição da divisão dos polígonos é variável,

permitindo assim a geração de muitos modelos diferentes.

Figura 28: Exemplo de gramática paramétrica: na gramática das janelas tradicionais chinesas cujas

regras definem subdivisões dos polígonos, sem definir a posição exata de sua inserção

Fonte: Celani et al (2006), baseado em Stiny (1977)

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3.4.2.3 Gramática com marcadores (labels)

O uso de marcadores (labels), que nada mais são que marcas aplicadas às

formas para reduzir sua ordem de simetria, restringe a maneira como as regras podem

ser aplicadas, mas por outro lado permite um maior controle sobre os resultados. O

exemplo apresentado na Figura 29 utiliza marcadores.

Figura 29: Gramática da forma com a utilização dos blocos de Froebel

Fonte: Celani et al (2006), baseado em Stiny (1977)

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3.4.2.4 Gramática da cor

Desenvolvida por Knight (1993, 1994), essa variação da gramática da forma

utiliza cores no lugar de marcadores. A maior vantagem é que elas podem ser utilizadas

para a aplicação posterior de "regras de decoração", nas quais elementos-extra podem

ser inseridos nas áreas coloridas (Figura 30).

Figura 30: Gramática da cor: projeto de Wei-Cheng Chang que utiliza cores para a redução da simetria

dos blocos e adição de detalhes no projeto final.

Fonte: Knight (2000 – 2001)

3.5 Aplicações da gramática da forma

Como já explicitado, a aplicação analítica da gramática da forma consiste no

estudo de obras arquitetônicas já estabelecidas a partir das quais podem ser

determinadas regras de composição e consequentemente a geração de novos

indivíduos baseados na mesma linguagem. Já a aplicação sintética consiste na

definição de novas regras para a produção de uma nova linguagem arquitetônica.

Sendo o foco principal de investigação deste trabalho as gramáticas analíticas,

especialmente de linguagens já estabelecidas, apresentaremos a seguir gramáticas

desenvolvidas para a análise de tratados de arquitetura.

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3.5.1 Trabalhos desenvolvidos utilizando a gramática da forma como análise

3.5.1.1 A gramática das Villas Palladianas - The palladian grammar

A gramática das Villas Palladianas, elaborada por Sitny e Mitchell (1978), é uma

gramática paramétrica que gera a malha das plantas das vilas de Palladio e desenvolve

uma definição do estilo palladiano. No artigo, a gramática desenvolvida foi aplicada

para a geração da Vila Malcontenta a fim de comprovar sua eficiência, no entanto é

possível gerar as demais villas existentes e até algumas novas utilizando-se a mesma

linguagem.

A exemplo de Alberti, o tratado de Palladio – I Quattro Libri dell’Architettura –

também pode ser interpretado como um algoritmo, pois lista regras de forma

paramétrica da arquitetura clássica para a geração de construções.

Os autores descrevem que a gramática elaborada a partir da análise da malha

gerativa das plantas das villas descritas no tratado também utilizou informações após a

análise das construções. A escolha da análise geométrica das plantas em vez de outros

aspectos como elementos decorativos, por exemplo, é justificada por ser a

característica que distingue o tratado de Palladio. A geração das fachadas não foi

considerada neste trabalho.

A metodologia utilizada para a geração das malhas das plantas utiliza uma

sequencia de 8 etapas:

1. Definição do grid;

2. Definição das paredes externas;

3, Definição dos layouts dos cômodos;

4. Realinhamento das paredes internas;

5. Inserção das entradas principais – pórticos e inflexões nas paredes externas;

6. Ornamentação externa – colunas;

7. Portas e Janelas;

8. Terminação.

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Na Figura 31 são apresentadas as regras do primeiro estágio – Definição do

Grid e na Figura 32 a Villa Malcontenta finalizada após a sequencia de aplicação das

regras.

Figura 31: Regras para geração do grid com simetria bilateral

Fonte: STINY ; MITCHELL (1978, pag. 7)

Figura 32: Malha final gerada após a aplicação das regras da gramática para a Villa Malcontenta.

Fonte: STINY ; MITCHELL (1978, pag. 16)

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No item Discussão do artigo, os autores descrevem que a gramática elaborada

pode ser considerada uma definição parcial do estilo palladiano, já que uma definição

mais completa exigiria uma gramática para a geração de fachadas e tratamento mais

detalhado do sistema de proporções proposto por Palladio. No entanto, é possível gerar

as plantas de qualquer villa existente, inclusive gerar novos tipos. Apesar do caráter

algorítmico do tratado, foram detectadas algumas incoerências que causaram algumas

modificações nas regras para que a forma descrita pudesse ser atendida. Sendo assim,

a definição do estilo palladiano pelo uso da gramática paramétrica permite que outros

temas e questões de interesse estético e histórico sejam levantadas, como a distinção

de características estilísticas no movimento neopalladiano, no sentido da averiguação

do uso da arquitetura de Palladio.

A gramática palladiana serviu de referência para esta tese como exemplo da

formulação de regras que garantem a simetria em planta de um projeto, característica

importante das igrejas albertianas. Além disso, essa gramática, assim como a que é

proposta nesta tese, tem sua origem na leitura e interpretação de um tratado de

arquitetura renascentista.

3.5.1.2 More than the sum of parts: the grammar of Queen Anne houses

(Flemming, 1987)

A gramática da forma apresentada nesse trabalho especifica as regras para a

geração das casas do estilo Queen Anne, que dominou a arquitetura nos Estados

Unidos no final do século 19. A análise dessa gramática é importante para o

desenvolvimento do presente trabalho, por apresentar duas etapas: a primeira em 2D,

para a geração de plantas, e a segunda para articulação das plantas em 3D. As duas

etapas baseiam-se em aspectos geométricos e em como essas partes se relacionam.

A primeira etapa consiste nos seguintes passos a serem seguidos: 1.

Posicionamento dos quartos ao redor de um hall; 2. Posicionamento da cozinha; 3.

Adição do hall da escada e 4. Extrusão da planta para forma um objeto tridimensional

que será utilizado na segunda etapa. A segunda etapa prevê os seguintes passos: 1.

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41

Geração de um modelo de planta básico; 2. Geração dos telhados; 3. Adições e

refinamento do volume; 4. Articulação dos Elementos e 5. Terminação.

Na Figura 33 são apresentadas as regras inicias da primeira etapa e na Figura

34 é mostrado um layout gerado pela aplicação das regras de 0 a 3.

Figura 33: Regras para geração da planta

Fonte: Flemming, 1987

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Figura 34: Exemplo de layout com aplicação das regras de 0 a 3

Fonte: Flemming (1987)

A próxima figura (Figura 35) evidencia as regras que transformam esta

gramática em 3D, para que se formem os volumes das casas do estilo Queen Anne.

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Figura 35: Regras 3D

Fonte: Flemming (1987)

Esta gramática se destaca por ser um importante exemplo de gramática que

utiliza uma parte bidimensional e outra tridimensional.

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3.4.1.3 Algorithmic Architecture in Twelfth-Century China: the Yingzao Fashi (Li,

2002)

A gramática da forma desenvolvida para as construções chinesas do século 12

de Li (2002), caracteriza-se por ser uma gramática paramétrica elaborada a partir de um

tratado de arquitetura composto por regras de composição. O tratado Yingzao Fashi foi

escrito por Li Jie, arquiteto da dinastia Song (960 – 1127) e publicado em 1103. O

objetivo dessa publicação era orientar os construtores nos projetos de edifícios oficiais,

através de uma lista de regras para os projetos de fundação, alvenaria, estruturas de

madeira, acabamentos em carpintaria e pinturas decorativas.

A abordagem de Li Jie em seu tratado não é determinar valores exatos para os

projetos, mas sim determinar um procedimento em duas regras (chamado juzhe).

Nesse tratado são apresentados os parâmetros possíveis para cada um dos elementos

do telhado do edifício, definindo assim regras paramétricas de composição.

A gramática desenvolvida para o Yingzao fashi consiste nas seguintes etapas:

1. Geração da Planta;

2. Geração dos Cortes (seções);

3. Seção do telhado;

4. Elevações;

5. Definições textuais.

No artigo estudado, foi desenvolvida somente a gramática para o

desenvolvimento das seções do telhado.

A Figura 36 mostra as regras de composição definidas e a Figura 37 mostra a

derivação de uma seção para um telhado com 6 vigas.

A gramática da forma desenvolvida para as construções chinesas do século XII

mostra o potencial da gramática da forma em analisar obras já estabelecidas. Sendo

baseada em um tratado de arquitetura com regras paramétricas, estabelece-se um

meio de análise gráfico do tratado e que permite a realização de vários testes e

comparações.

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Figura 36: A gramática para as seções do telhado

Fonte: Li (2002)

Figura 37: Derivação de uma seção de um telhado com 6 vigas

Fonte: Li (2002)

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46

3.5.1.4 Um estudo sobre fachadas de uma cidade histórica brasileira utilizando

Shape Grammar

Nesse trabalho foi desenvolvida uma gramática da forma capaz de reproduzir a

tipologia das fachadas da área central de uma típica cidade do interior de São Paulo,

Brasil, consolidada no final do século XIX.

A cidade de Monte Alegre do Sul foi escolhida como objeto de estudo, pois o

centro da cidade, local onde se iniciou o desenvolvimento urbano do município,

encontra-se relativamente bem preservado, sem grandes interferências urbanísticas ou

arquitetônicas. Além disso, trata-se de um conjunto pequeno de construções, o que

viabilizou este estudo.

O uso da gramática da forma neste trabalho consistiu na definição de regras de

composição a partir do levantamento das dimensões das fachadas das casas da cidade

e proporções de suas aberturas, com finalidades analíticas. Essas regras poderão ser

usadas para a readequação de edifícios alterados de maneira inadequada, para que

haja uma harmonização do centro histórico.

A utilização da gramática da forma na definição de regras para locais históricos

pode facilitar a identificação dos ritmos e proporções encontrados nas fachadas e desta

maneira estabelecer uma estrutura compositiva.

O período de construção do sítio que abrange esta pesquisa compreende os

anos entre 1868 a 1930, época da formação do núcleo central da cidade.

A arquitetura paulista deste período caracterizava-se pelo ecletismo, porém na

região do estado de São Paulo onde encontra-se Monte Alegre do Sul houve a

permanência da utilização de elementos neoclássicos na decoração das construções.

Lemos (1989) e Lima (2001) descrevem este tipo de arquitetura como sendo um tipo de

obra não projetada por arquitetos, mas por construtores, pedreiros e mestre de obras

que passavam os ensinamentos de um para o outro. Estes construtores utilizavam

manuais de construção vindos da Europa que eram traduções dos tratados dos grandes

arquitetos renascentistas, especialmente o de Vignola.

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Essa pesquisa procurou estudar apenas as fachadas das construções, pois as

plantas sofreram modificações significativas durante o século XX e foi desenvolvida nas

seguintes etapas:

1. Fluxograma do processo de projeto das fachadas;

2. Definição das regras de composição das fachadas existentes a partir do

corpus de análise;

3. Definição de regras de detalhamento.

A Figura 38 mostra parte das regras elaboradas para a geração da fachada.

Figura 38: Regras de 1 a 5 e Regras de 6 a 9 – Geração de parte da fachada

Fonte: Godoi (2008)

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A gramática se mostrou capaz de gerar todas as casas do corpus e também

novas composições, sendo assim concluiu-se que a gramática desenvolvida pode ser

utilizada na recomposição de fachadas descaracterizadas, pois foram aqui

determinadas as dimensões e proporções de todos os elementos necessários para sua

elaboração.

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49

4. A DECODIFICAÇÃO DO LIVRO SÉTIMO DE ALBERTI – O

ORNAMENTO DE EDIFÍCIOS SAGRADOS

Alberti descreve no Livro Sétimo, Capítulos III a VI e X a XI de seu tratado, as

instruções para se construir um templo sagrado, determinando regras paramétricas

para o formato geométrico da planta do templo, a inserção de capela-mor, capelas

laterais e ossatura das paredes, bem como as proporções das fachadas, frontão,

cobertura e principais aberturas.

A partir dessa leitura, foram definidas representações paramétricas,

apresentadas de modo visual e simbólico-matemático, que descrevem as

recomendações do tratadista para a geração da planta de um templo, a inserção da

capela-mor, das capelas laterais e da ossatura das paredes, bem como as proporções

das fachadas, frontão, cobertura e principais aberturas.

No início do Capítulo III, Alberti explicita a importância das regras para o edifício

religioso, a fim de que tenha-se a certeza de que este poderá atingir as proporções

consideradas ideais.

É bem categórico ao dizer:

Em toda a arte edificatória nada há em que seja necessário maior

engenho, cuidado, empenho e diligência, do que na construção e

ornamentação de um templo. Admito que um templo bem cuidado e

ornamentado é, sem dúvida alguma, o maior e principal ornamento de

uma cidade, É bem certo que um templo é a morada dos deuses. Ora se

adornarmos e aprontamos luxuosamente habitações para os reis e os

hóspedes ilustres, que faremos nós para os deuses imortais, que

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queremos estejam presentes quando invocados para o sacrifício e

ouçam nossas preces e súplicas? Mas, sendo certo que os deuses não

dão importância a estas coisas efêmeras que os homens tanto prezam,

deixam-se todavia mover pela pureza da alma e pela veneração da sua

divindade. Não há dúvida de que para o culto divino é muito importante

dispor de templos que maravilhosamente enlevem o espírito e o

detenham com a beleza e a admiração que provocam. Asseveravam os

Antigos que a piedade se cultiva somente quando os templos dos

deuses se enchem.

Por tais motivos, gostaria que no templo haja tanta beleza que não seja

possível imaginar, em qualquer outro lugar. Algum aspecto mais

ornamentado; e desejo que em todos os pormenores seja de tal modo

cuidado que quem entra estremeça estupefacto de admiração pela sua

importância, e dificilmente se coíba de exclamar em voz alta que é digno

de Deus aquele lugar que contempla. (ALBERTI, 2011 - Livro Sétimo,

Capítulo III, Parágrafos 1 e 2).

Utilizando o conceito de parametrização de projeto5, será apresentado a seguir

a interpretação do Livro Sétimo do tratado através da elaboração de uma tradução

gráfica e outra chamada de matemática (condicional), onde esquemas paramétricos

foram desenvolvidos para evidenciar a interrelação entre os parâmetros definidos por

Alberti. Como já dito no capítulo III deste trabalho, é importante enfatizar que o tratado

original não possuía nenhuma imagem e esta leitura atenta e interpretativa do texto nos

permitiu a compreensão das regras arquitetônicas dos templos.

Alguns autores já chegaram a desenvolver figuras para ilustrar o texto, como

Morolli e Guzon (1994). Contudo, esses esquemas não enfatizam os aspectos

algorítmicos da obra, que são o foco principal desta pesquisa. Assim, optou-se não

5 Parametrização pode ser interpretada como a definição dos parâmetros necessários para uma

especificação completa ou relevante de um modelo ou objeto geométrico.

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consultar previamente as ilustrações já realizadas por tais autores e sim elaborar novos

esquemas, justamente para que se pudesse obter a interpretação completa e também

permitir que todos os parâmetros que julgamos necessários para a elaboração de uma

gramática da forma fossem definidos.

A leitura analítica do livro Sétimo obedeceu à seguinte sequência:

Identificação das frases/parágrafos que contém os parâmetros. Os trechos

julgados mais relevantes foram destacados em negrito.

Desenho de um esquema para exemplificar graficamente a relação entre

os parâmetros

Descrição em sentença “matemática” para identificarmos os tipos de

parâmetros envolvidos e a ligação entre eles. Na elaboração das sentenças,

utilizaram-se as expressões condicionais IF/THEN, AND/OR para demonstrar a

relação entre os parâmetros.

Os esquemas feitos a partir da leitura foram organizados como mostra a Figura

39.

Na transcrição dos parágrafos, manteve-se a grafia original do tratado traduzido

para o português. (ALBERTI, 2011)

As representações obtidas a partir da análise do tratado de Alberti são

apresentadas no subcapítulo 4.1

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52

Figura 39: Mapa de organização da decodificação do texto

Fonte: Elaborado pela Autora

4.1 A Decodificação do livro Sétimo do tratado de Alberti

O primeiro parágrafo do Capítulo IV do livro Sétimo descreve as formas

aceitáveis para Alberti em um templo:

“As partes de um templo são o pórtico e a cela interior; mas em relação

a estas há grandes diferenças entre os templos. Porque há templos

circulares, outros quadrangulares, e por fim outros poligonais. Que

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a natureza se compraz principalmente nas formas circulares, a julgar por

aquilo que existe, nasce ou se produz com os seus delineamentos, está

à vista de todos. O globo terrestre, os astros, as árvores, os animais e os

seus ninhos, e outras coisas do mesmo gênero, porque hei-de referir

que a natureza quis que todas elas fossem circulares? E também vemos

que a natureza se compraz nas formas hexagonais.” (grifo nosso).

Os próximos parágrafos determinam as proporções aceitáveis para estes

templos.

Livro Sétimo, Capítulo IV, §2

“Em um círculo definiremos uma área circular”.

Figura 40: Formato de planta Circular

Fonte: Elaborado pela Autora

Para as plantas circulares, a exigência é apenas a forma circular inicial,

determinada através de um a valor de diâmetro.

Livro Sétimo, Capítulo IV, §2

Em quase todos os templos quadrangulares, os Antigos tiveram e vista

produzir uma área tal que o comprimento fosse uma vez e meia a sua

largura; outros construíram-na tal que a largura fosse superada em um

terço pelo comprimento; outros quiseram que o comprimento tivesse o

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dobro da largura6. Nas áreas quadrangulares o maior defeito de

deformidade é se houver algum ângulo que nãos seja recto. 7

Neste parágrafo, Alberti determina a relação entre o comprimento e a largura

dos templos quadrangulares. Ressalta que o maior problema que pode ser encontrado

em um templo quadrangular é não ter os ângulos retos.

Figura 41: Formatos Quadrangulares para um Templo

Fonte: Elaborado pela Autora

6 Todos os trechos em negrito nas transcrições são para enfatizar os parâmetros envolvidos. No texto

original, estes destaques não existem.

7 Note-se que a definição do intercolúnio, que também é fundamental para a definição da largura do

templo, só será apresentada no Livro Sétimo Capítulo V, § 6 – 9.

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55

Livro Sétimo, Capítulo IV, §3

Os Antigos usavam um número de seis, ou oito ou até 10 ângulos.

Todas estas áreas devem inscrever os seus ângulos na circunferência

do círculo. De facto é do círculo que se tiram correctamente os ângulos:

pois o raio de um círculo fornecerá o lado de um hexágono. Ora, se a

partir do centro, traçares linhas rectas que cortem ao meio cada um dos

lados de um hexágono, é óbvio que desse modo podes fazer um

dodecágono. Então, a partir do dodecágono, também é óbvio de que

modo podes construir um quadrângulo e um octógono; embora para

traçar um octógono exista outra forma mais prática. Na verdade, uma

vez traçado um quadrilátero de lados iguais e ângulos rectos, faço

passar diâmetros por cada um dos ângulos do quadrilátero e traço raios

a partir do ponto de intersecção de modo a cortar ao meio os lados do

quadrângulo; esse meio, que se situa entre as suas secções feitas no

lado, será o lado do octógono. Ainda a partir do círculo faremos um

decágono: traçaremos dois diâmetros de um círculo que se intersectem

formando ângulos iguais; dividiremos então em duas partes iguais

qualquer um de dois semidiâmetros; depois, a partir do ponto desta

divisão, levaremos uma linha recta em diagonal até o extremo do outro

diâmetro. Tirando-se a esta linha, assim traçada, um quarto de todo o

diâmetro, o que restar será o lado do decágono.

O texto não deixa explícito qual o valor do lado de um octógono, visto que com

as instruções é possível desenhar o octógono e extrair-se os valores no gráfico. No

entanto, como o objetivo é a determinação de uma sentença matemática que seja

capaz de determinar numericamente cada parâmetro recorreu-se às fórmulas de

geometria atuais.

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56

Figura 42: Formato de Plantas Poligonais

Fonte: Elaborado pela Autora

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Livro Sétimo, Capítulo IV, §4

Aos templos acrescentam-se capelas, mas em uns, muitas; em outros,

poucas. Nos templos quadrangulares em parte nenhuma se

construirá, em geral, senão uma capela, e essa no lugar mais

interior de modo a oferecer-se de frente a quem entra, logo desde a

porta. Ou, se se acrescentarem também nos lados, isso far-se-á

decorosamente em áreas quadrangulares que tenham de

comprimento o dobro da largura; e nos lados não se há-de pôr mais

do que uma, ou, se aprouver acrescentar várias, convém que sejam

em número ímpar. Em áreas circulares e multiangulares, se assim é

permitido dizê-lo, será muito cómodo acrescentar o número de

capelas em proporção com os lados, ou serão acrescentadas

capelas em cada um deles, ou, alternadamente, um lado ficará livre

e o outro terá uma capela. Nas áreas circulares será muito fácil

acrescentar seis ou até oito capelas.

Figura 43: Inserção de Capela em Templos Quadrangulares C=2L

Fonte: Elaborado pela Autora

Para templos quadrangulares, cujo Comprimento é igual a duas vezes a

largura, será permitida a inserção de um número ímpar de capelas. Assim, teremos

sempre uma capela-mor, situada ao fundo templo, e capelas laterais posicionadas

frente a frente.

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A quantidade máxima de capelas possível será determinada pela regra da

ossatura do edifício que é descrita mais adiante (Figura 48).

Para a definição da quantidade de capelas nos templos poligonais, teremos que estas

poderão ser inseridas em todos os lados do polígono ou alternadamente, resultando em

uma quantidade igual a metade do número de lados.

Figura 44: Inserção de Capela em Templos Poligonais

Fonte: Elaborado pela Autora

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59

Figura 45: Inserção de Capela em Templos Circulares

Fonte: Elaborado pela Autora

Livro Sétimo, Capítulo IV, §5

Por sua vez a capela ou será rectangular, ou será traçada em forma

de semicírculo. Ora se a capela tiver de ser uma só na extremidade do

templo, será de preferir uma capela cujo espaço termine em semicírculo;

a seguir vem a quadrangular. Porém, quando as capelas forem

numerosas e pegadas, nesse caso contribuirá para a beleza se as

quadrangulares se misturarem alternadamente com as

semicirculares, e corresponderem entre si as que estão frente a

frente.

A descrição do páragrafo 5 (7, IV, 5), remete à inserção de capela no templo

quadrangular C=2L. Tendo em vista esse formato, demonstra-se na Figura 46 uma lista

de possíveis combinações.

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60

Figura 46: Tipos de combinações possíveis para a planta quadrangular (C = 2L)

Fonte: Elaborado pela Autora

Livro Sétimo, Capítulo IV, §6

A abertura da capela será assim estabelecida. Quando, em áreas

rectangulares, tiver de haver uma só capela, dividirei a largura do

templo em quatro partes, e destas destinarei duas à abertura da

capela; ou, se nos agradar um espaço mais amplo, dividirei a largura

em seis partes e delas destinarei quatro partes à abertura. Deste

modo, os ornamentos das colunas que se devem usar, as janelas e

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outras coisas do mesmo gênero, serão muito mais comodamente

colocados nos seus lugares. (...).

(...) Se, porém, colocares várias capelas em torno da área8, será

legítimo fazer as laterais com o mesmo tamanho da capela-mor.

Mas eu gostaria que tendo em vista sua dignidade, a capela-mor fosse

uma duodécima parte maior que as restantes. Há ainda este aspecto

importante relativamente aos templos quadrangulares: estará certo, se a

capela-mor tiver os lados iguais; mas nas outras convém que a

linhas traçadas da direita para a esquerda tenham o dobro do

comprimento daquelas que se estendem no sentido da

profundidade. Em áreas de muitos lados, deve-se procurar que os

ângulos não sejam entre si mutuamente desiguais e dissemelhantes.

Alberti considera a capela que é posicionada em frente à entrada como Capela-

Mor. Esta merece posição de destaque em relação às demais por ser a primeira

impressão de quem entra no Templo. Nos esquemas é apresentada a diferenciação

entre esta capela e as demais que podem ser inseridas e são chamadas de Capelas

Laterais.

8 Neste trecho do Parágrafo 4 , considerou-se que o autor se refere às capelas das plantas circulares ou

poligonais.

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Figura 47: Dimensões das capelas-mor e capelas laterais

Fonte: Elaborado pela Autora

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Livro Sétimo, Capítulo IV, §7

A parte sólida dos muros, isto é, a ossatura do edifício que nos

templos separa as aberturas das várias capelas, faça-se de tal forma

que em nenhum sítio seja menos do que um quinta da largura do

espaço vazio, e em nenhum sítio mais largo do que um terço, ou

onde pretenderes que as capelas sejam muito fechadas, do que

metade. Nas áreas circulares, se o número das capelas for seis,

darás com que tais separadores, isto é, a ossatura e a parte sólida

da parede tenham metade da abertura, mas, se houver oito

aberturas, farás com que a abertura e a parte sólida sejam iguais;

se o número de ângulos for grande, dar-se-á um separador com um

terço da largura da capela.

Figura 48: Determinação da ossatura dos edifícios a partir do número de capelas e suas dimensões.

Fonte: Elaborado pela Autora

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Observação 1: No livro sétimo não há indicação expressa de como calcular a

largura das capelas nos templos de planta circular, porém, pela análise dos outros

parâmetros determinados, como a ossatura de tal templo, podemos concluir que a

largura das capelas do templo de planta circular pode ser obtida pela seguinte fórmula:

Para templos de planta circular e com número de capelas igual a 6:

lacpl = 2πr / 12 (Equação 1)

Para templos de planta circular e com número de capelas igual a 8:

lacpl = 2πr / 16 (Equação 2)

Onde:

lacpl = largura da capela

R = raio da planta do templo

Observação 2: Para os templos de planta poligonal temos a instrução do

parágrafo 7 que determina que a distância entre as capelas deverá ser igual a um terço

do valor da abertura da capela. Essa informação acaba por ser ambígua, pois não se

determina se o valor de 1/3 se refere apenas ao lado do polígono onde insere-se a

capela ou se a distância total entre duas capelas (soma das duas espessuras de

parede entre dois lados de polígonos) deve ser igual a 1/3. No esquema elaborado

adotou-se as duas opções.

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O parágrafo a seguir trata das instruções de Alberti para se construir um templo

etrusco. Este parágrafo não será utilizado na elaboração da gramática da forma, mas

por fazer parte do livro estudado apresentamos também a interpretação paramétrica.

Livro Sétimo, Capítulo IV, §8

Em alguns templos devem fazer-se, de ambos os lados, frente a frente,

não capelas mas pequenas celas, à velha maneira etrusca. Será esta a

sua proporção. Tomavam uma área, cujo comprimento dividido em seis

partes, excedia num sexto a largura; atribuíram duas partes do

comprimento à largura do pórtico, que fazia de vestíbulo do templo;

dividiam o resto em três partes, que eram atribuídas a cada uma das

três larguras das celas. Dividiam, por sua vez, a própria largura do

templo em dez partes; destas, destinavam três partes às celas situadas

do lado direito e outras tantas às celas do lado esquerdo; deixavam

quatro partes à ala central. Na extremidade do templo acrescentavam

uma capela e outra às celas centrais de cada lado. Junto das aberturas

das celas faziam muros que mediam a quinta parte do espaço vazio.

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Figura 49: Templo Etrusco

Fonte: Elaborado pela Autora

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67

Livro Sétimo, Capítulo V, § 1 -2

Até aqui tratámos das áreas interiores. Nos templos quadrangulares, o

pórtico situar-se-á na frontaria, ou igualmente na frontaria e no

tardoz, ou apoiará a cela em seu redor.9 Onde houver uma capela

saliente, não se acrescentará um pórtico. Nos templos

quadrangulares, o pórtico da frontaria não deve ser em parte

nenhuma mais pequeno do que largura total do templo, e em parte

nenhuma será mais profundo do que um terço do comprimento.

Nos pórticos laterais dos templos, as colunas ficarão distantes dos

muros da cela o espaço do intercolúnio. No tardoz, o pórtico imitará

aquele que quiseres de entre os que referimos.

Figura 50: Inserção de pórticos em templos quadrangulares

Fonte: Elaborado pela Autora

9 Nota de rodapé do texto traduzido para o português (Alberti, 2011): “Vitrúvio (III, 2, 3-7) caracteriza, de

forma idêntica, os templos prostilos (com colunas na frontaria), anfiprostilos ( com colunas na frontaria e

no tardoz) e perípetros (com colunas em volta da cela).”

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Livro Sétimo, Capítulo V, § 3

Rodearmos os templos circulares com um pórtico a toda a volta, ou

colocaremos um pórtico apenas na frontaria. Em ambos os casos a

medida da profundidade do pórtico será calculada como a dos templos

quadrangulares. Mas os pórticos da frontaria em nenhuma parte serão

senão quadrangulares: a sua profundidade terá a largura total da área

interior, ou menos um oitavo, ou, finalmente, não será em nenhum caso

inferior a um quarto.

Figura 51: Inserção de pórticos em templos circulares

Fonte: Elaborado pela Autora

Livro Sétimo, Capítulo V, § 5

Na minha opinião, a área do pórtico e de todo o templo, uma vez que

isso contribui grandemente para a sua imponência, deve ser

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69

sobreelevada e sobressair do restante nível da cidade. Mas, assim como

num ser vivo, a cabeça, o pé e qualquer outro membro devem ter

relação com os restantes membros e com todo o resto do corpo, assim

também num edifício, e muito em especial num templo, todas as partes

do corpo devem ser conformadas de modo a que se correspondam entre

si, e assim, tomada qualquer uma delas, por essa mesma sejam

dimensionadas convenientemente todas as restantes partes. Verifico

que a maioria dos melhores arquitectos da antiguidade estabeleceu

assim, a altura deste pódio a partir da largura do templo. Na

verdade, dividiram a largura em seis partes e atribuíram uma parte

à altura do pódio. Houve também alguns que quiseram que a esse

pódio fosse atribuída a sétima parte da largura nos templos

maiores e a nona parte nos templos muito grandes.

Figura 52: Inserção do pódio na fachada

Fonte: Elaborado pela Autora

Livro Sétimo, Capítulo V, § 6 - 9

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70

Por sua natureza o pórtico consta de um muro inteiro e contínuo; nos

restantes lados é aberto e dá passagem através de aberturas

patenteadas. Deve-se, pois, considerar qual o tipo de aberturas que se

quer usar. Há um género de colunata em que as colunas são postas em

menor densidade e um pouco distantes entre si; há outro, onde são

dispostas de forma mais densa e com maior proximidade umas das

outras. Nos dois casos há inconvenientes. Com efeito, nas menos

densas, se for usada uma trave, esta rebenta devido à extensão dos

intervalos; se for usado um arco, não é fácil coloca-lo sobre as colunas.

Nos intervalos em que se usam arcos mais densos, impedem-se as

passagens, as vistas e luz. Por tal motivo, foi inventado um terceiro

género, intermédio, elegante, que acautele os inconveniente desses

sistemas, sirva à comodidade e seja melhor que os outros.

Poderíamos contentar-nos com estes três géneros de colunata; mas a

sagacidade dos artífices acrescentou-lhes mais dois géneros, acerca

dos quais é esta a minha opinião: faltando porventura o número de

colunas proporcionais ao tamanho da área, eles desviaram-se da

solução intermédia, a melhor, para imitar a disposição de colunas menos

densas; pelo contrário, sendo de sobejo a abundância de colunas, foi

bastante do seu agrado dispô-las de forma mais compacta. Assim,

enumeram-se cinco tipos de intervalos, que nos agrada designar desse

modo: ampliado, compacto, elegante, subampliado, subcompacto10.

Além disso, julgo que, quando porventura não havia pedra comprida em

abundância em algum lugar, o arquitecto foi obrigado a fazer a obra com

colunas mais curtas; e assim empreendido o trabalho, apercebendo-se

de que não resultava suficientemente para a beleza da obra, colocou

muretes sob as colunas, a fim de obter uma altura da obra razoável.

10

Nota de rodapé do texto traduzido (ALBERTI, 2011): Vitruvio (III, 3, 1-13) descreve estes tipos de

intercolúnio como aerostilo (h = 8 d; L não é especificado), picnostilo (h=10 d; L = 1/2d), eustilo (h=9 1/2d)

, diastilo (h=8 1/2d; L=3d) e sistilo (h=9 1/2d ; L=2d), onde h representa a altura das colunas e L o

intercolúnio, medidos em função do diâmetro d das colunas.

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71

Com efeito, pelo estudo e observação dos edifícios, descobriu que as

colunas dos pórticos não têm beleza, se não atingirem certas

proporções de altura e de espessura.

No que diz respeito a estas proporções aconselham o seguinte.

Façam-se os intercolúnio em número ímpar, não se coloquem

colunas senão em número par; faça-se mais larga que as restantes

a abertura do meio que está de frente para a porta; onde os

intercolúnios têm de ser mais estreitos, empreguem-se colunas

mais finas; nos intervalos mais largos, usem-se colunas mais

grossas. Portanto, a espessura das colunas será regulada pelos

intervalos e os intervalos pelas colunas, em particular segundas as

leis seguintes. Nas obras compactas, os intervalos não serão mais

estreitos do que uma espessura e meia da coluna; nas obras

ampliadas, não terá mais que três espessuras e três oitavos de uma

coluna; nas obras elegantes, terá duas espessuras e um quarto;

nas obras subcompactas, serão atribuídas duas espessuras, e nas

subampliadas três. Em cada uma destas classes, os intervalos que

ficarem ao meio far-se-ão mais largo, de modo a excederem os

restantes em uma quarta parte. Assim eles nos aconselham.

Nós, porém, pelas dimensões dos edifícios antigos, advertimos que as

aberturas do meio não foram colocadas em toda a parte segundo essas

proporções. De facto, nas colunatas ampliadas nenhum dos melhores

arquitectos as colocou acrescentando um quarto, e a maioria deles

apenas uma duodécima parte: decisão prudente, não fosse a trave,

devido ao seu excessivo comprimento, ceder e quebrar. Finalmente, nas

outras classes de intercolúnio, muitos não as fizeram com mais de um

sexto, e até, não muito poucos, com mais de um sétimo, sobretudo nas

aberturas que designamos “elegantes”.

Figura 53: Determinação do Intercolúnio e largura das Portas de entrada do Templo

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Fonte: Elaborado pela Autora

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73

Embora no parágrafo 9 exista a observação de que nos edifícios antigos, as

proporções de abertura de porta pudessem ser diferentes, adotou-se no esquema a

prescrição do parágrafo 8.

Livro Sétimo, Capítulo VI, § 1 - 3

Uma vez determinados os intervalos, devem levantar-se as colunas nas

quais se sustentem as coberturas. É muitíssimo diferente se são

levantadas colunas ou pilares, se são usados arcos ou traves nas

aberturas. Os arcos e os pilares são obrigatórios nos teatros, e nas

basílicas também não se desprezam os arcos; mas nas construções

mais importantes dos templos, em parte alguma se vêem a não ser

pórticos de arquitrave. É deles que devemos falar a seguir.

As partes dos sistemas de colunas são: o pedestal e sobre ele a

base, sobre a base a coluna, depois o capitel, a seguir a arquitrave,

sobre a arquitrave as traves ou o friso, com o qual se cobrem ou

terminam as extremidades das traves no lugar mais alto fica a

cornija.

Penso que se deve começar pelos capitéis, pois é neles que são

maiores as variações dos sistemas de colunas. Aqui peço àqueles que

copiarem esta minha obra, que refiram os números que serão

mencionados, não com símbolos, mas com os nomes latinos com todas

as letras, assim: doze, vinte, quarente, etc., e não XII, XX, XL. A

necessidade ensinou a colocar capitéis sobre as colunas de modo a que

nestes assentassem conjuntamente os troncos das arquitraves; mas

este lenho tosco e quadrado tinha algo de feio. Por isso, a princípio, em

Doro (se acreditarmos que tudo é devido aos Gregos), houve homens

que imaginaram que se podia modelar ao torno algo que parecesse uma

espécie de taça redonda colocada por baixo de uma tampa

quadrangular; e, porque essa taça parecia demasiado atarracada,

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elevaram-na colocando-lhe por baixo de um gargalo um pouco mais alto.

Os Jónios, observando os edifícios dos Dórios, aprovaram as taças nos

capitéis, mas desaprovaram a nudez das taças e a junção do gargalo;

por esse motivo, acrescentaram uma casca de árvores, que, pendurada

de ambos os lados e envolvendo-os a toda volta, revestisse os lados das

taças. Seguiram-lhes as pegadas dos Coríntios, graças à intervenção de

Calímaco, a quem agradara muito, não as taças de forma rebaixada,

como as dos Jónios, mas um vaso muito alto, coberto de folhas a toda a

volta, junto de um túmulo de uma donzela – onde por baixo nascera uma

planta de acanto – ao vê-lo assim revestido. Foram, por conseguinte,

inventados três gêneros de capitéis, que a prática dos especialistas

aceitaria: o dórico – embora eu saiba por experiência que este mesmo

gênero estava em uso entre os Etruscos mais antigos – o dórico, repito,

o jónico e o coríntio.

(...) Foi assim que instituíram colunas que contribuíssem para elegância

da obra. Aos capitéis dóricos disseram que eram devidas colunas

cuja espessura inferior, tomada sete vezes, fosse igual ao seu

comprimento que vai do cimo até à base; nos capitéis jónicos

quiseram que a espessura inferior tomasse a nona parte do seu

comprimento; ao passo que, sob os capitéis coríntios, colocaram

uma coluna com o comprimento igual a oito vezes a sua espessura.

Sob todas as colunas consideraram que deviam ser colocadas bases;

iguais entre si em altura mas diferentes nos delineamentos. Que mais

direi? Os Antigos divergiram entre si em quase todos os delineamentos

das partes; mas convergiram em grande parte quanto à teoria das

colunas. Na verdade, tanto os Jónios, como os Coríntios, como os

Dórios aprovaram os delineamentos da coluna, dos quais falámos no

livro anterior; e também estiveram de acordo em imitar a natureza, de

modo a considerarem que os fustes das colunas deviam ser na base de

um quarto mais grossas do que no cimo; outro, porque entendiam que

as coisas vista de longe pareceram tanto mais pequenas quanto mais

afastadas estão do olhar, muito sabiamente consideraram, por isso, que

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as colunas mais compridas deviam ser menos delgadas no cimo do que

eram as colunas mais curtas; e, acerca disso, assim instituíram:

A espessura inferior da coluna, quando esta atingir quinze pés de

comprimento, deve ser dividida em seis partes e, rejeitada uma dessas

partes, as restantes cinco devem ser atribuídas à espessura superior.

Os Antigos consideraram que uma coluna de quinze a vinte pés deve

ser aparelhada de tal maneira que, de treze partes do pé do fuste, onze

sejam dadas à extremidade superior; a colunas de vinte a trinta pés

devem ter sete partes em baixo, seis em cima; daí até quarenta pés, de

quinze partes da espessura inferior da coluna, serão atribuídas treze à

espessura superior e as duas restantes serão desprezadas, finalmente,

até cinquenta pés, a coluna deverá ter de espessura junto da base oito

pés, e no cimo sete. A partir daí, esta dedução deve ser calculada de tal

forma que quanto mais alta for a extremidade superior da coluna, tanto

mais grossa fique.

Figura 54: Determinação das proporções para a coluna jônica

Figura 55: Determinação das proporções para a coluna dórica

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76

Figura 56: Determinação das proporções para a coluna coríntia

Fonte das Figuras 54, 55 4 56: Elaboradas pela autora.

Livro Sétimo, Capítulo X, § 2 -4

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Quem pensa que se devem erguer muros grossíssimos do templo para

lhe conferir imponência, engana-se. Não verdade, quem não há-de

censurar um corpo cujos membros são mais volumosos do que basta?

Acreste-se que se retira a vantagem da luz com a espessura das

paredes laterais. No panteão, um extraordinário arquitecto, necessitando

de uma parede grossa, usou apenas da ossatura, rejeitou os restantes

complementos, e esses espaços, que os imperitos teriam preenchido,

ele ocupou-os com nichos e aberturas, e desse modo diminuiu a

despesa, evitou o inconveniente das cargas e conferiu elegância à obra.

O muro deve ter uma espessura em proporção com a coluna, de tal

modo que no muro a proporção da altura com a espessura seja a

mesma que nas colunas. Observei que, nos templos, os Antigos

costumavam dividir a frente da área em doze partes ou, quando

quiseram que a obra fosse muito robusta, em nove, e que dessas

partes deram uma à espessura do muro.11

Nos tempos circulares, alguns tomaram três quartos do seu diâmetro, a

grande maioria dois terços, ninguém menos de metade e com essas

medidas erguiam o muro interior até à abóbada. Mas os mais peritos

dividiram o perímetro dessa área circular em quatro partes e

11

É importante notar que quando Alberti fala de “dividir a frente da área em 12 partes” ele não especifica

se está se referindo ao contorno interno ou externo da área construída ou ainda ao seu eixo. Morolli

(1993) atenta para esse problema e chega a desenhar as 3 alternativas na página 126 de seu estudo

sobre a obra de Alberti.

Neste trabalho considerou-se que a largura a qual Alberti se refere é a do interior do espaço. Ora, seria

impossível saber de antemão a largura externa antes de termos calculado a espessura dos muros.

Além disso, existe uma incoerência importante: é impossível obter o mesmo valor para a espessura da

parede e o diâmetro da coluna. O diâmetro da coluna é dado a partir das composições possíveis de

intercolúnios, enquanto a espessura da parede é sempre 1/9 ou 1/12 da largura do templo. Assim, por

exemplo, ao usarmos a quinta classe de fachada, definida no Capítulo V, § 6 – 9, a somatória da largura

equivale a 13 ¼ vezes a largura da coluna, o que não coincide nem com 1/12 e nem com 1/9 da largura

total.

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endireitaram uma dessas linhas e ergueram o muro interior com esse

comprimento, que correspondia a uma proporção de onze para quatro.

Isso foi imitado pela maioria em edifícios quadrangulares, fossem

templos ou quaisquer outras obras com abóbadas.

Analisando os parágrafos de 2 a 4 do capítulo X, percebemos que a regra para

a altura dos muros (paredes) dos templos quadrangulares são obtidas em função da

altura das colunas do pórtico. Sendo assim, a altura dos muros será igual à altura das

colunas – somando-se as alturas da base, fuste e capitel.

No entanto, para os templos circulares, as regras são diferentes e a altura irá

variar de acordo com o diâmetro do templo.

Figura 57: Espessura e altura dos Muros (Paredes)

Fonte: Elaborado pela Autora

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Livro Sétimo, Capítulo X, § 5

Todavia, onde deve haver celas ao longo do muro de um e outro lado da

área, às vezes elevaram o muro com uma altura igual à largura da área,

porque assim a amplidão do espaço parecia mais larga ao olhar.

Figura 58: Altura do muro em templos com capelas laterais

Fonte: Elaborado pela Autora

Nos templos quadrangulares e circulares, onde há várias capelas em torno da

planta do Templo, a altura do Muro pode ser igual ao valor da Largura ou Diâmetro

(conforme o caso). A altura das capelas permanece igual à altura da coluna.

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Livro Sétimo, Capítulo X, § 6

Mas nos templos circulares a altura interior do muro não será a mesma

que a exterior: com efeito, o fim da parte interior do muro proporcionará

o arranque da abóbada, ao passo que a parte exterior convém que se

eleve até debaixo da goteira. Portanto, esta parte ocupará um terço da

altura da abóbada. Nos templos será muitíssimo vantajoso um muro de

tijolos, mas será decorado com ornatos de revestimento.

Figura 59: Altura do muro em Templos com Planta Circular

Fonte: Elaborado pela Autora

Livro Sétimo, Capítulo XI, § 1

Para que a cobertura dos templos seja imponente e duradoura, eu

gostaria que fosse em abóbada.

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81

Figura 60: Tipos de Cobertura

Fonte: Elaborado pela Autora

Alberti prefere que as coberturas sejam em abóbadas, no entanto, também

verificarmos que algumas construções recebem a cobertura em duas águas. Morolli e

Guzon(1994) descrevem as proporções para esta cobertura, conforme indicado na

Figura 60.

Livro Sétimo, Capítulo XI, § 5

Afirmam que os frontões conferem tanta imponência aos edifícios que

julgam que as etéreas moradas de Júpiter, posto que aí nunca chova,

não podem, salvaguardada a beleza, carecer de frontão. Os frontões

são adossados às coberturas da seguinte maneira. Da largura do

frontão, medida junto das cornijas, toma-se nem mais que uma quarta

parte, nem menos que uma quinta, à qual se eleva o vértice, isto é, o

ângulo superior da cumeeira. (...).

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82

Figura 61: Frontão dos templos

Fonte: Elaborado pela Autora

4.2 Análise da Leitura

Após a leitura do livro Sétimo e da extração das descrições gráficas e

paramétricas, foi possível observar as interrelações e dependências entre os elementos

descritos pelo autor. Para sintetizar estas etapas, foi elaborada uma tabela resumo

apresentada no Apêndice I e uma árvore de decisão com o objetivo de reunir todos os

parâmetros identificados e facilitar a visualização e interpretação. Estes esquemas

serão usados como base para a implementação computacional em linguagem visual e

para a formalização da gramática de geração paramétrica dos templos. Ao reunir as

informações em um mesmo gráfico, podemos explicitar os tipos de variáveis que serão

necessárias para a implementação, além da relação de dependência entre elas, como

por exemplo o conjunto de valores para cada parâmetro.

Figura 62: Árvore de decisão, contendo as etapas principais para elaboração do templo

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Fonte: Elaborado pela Autora

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85

5. A GRAMÁTICA DA FORMA

Este capítulo apresenta a gramática da forma desenvolvida para os templos de

plantas quadrangulares segundo as descrições do De re aedificatoria. A escolha pela

tipologia de plantas quadrangulares justifica-se por ser esse o tipo de planta encontrado

nas igrejas brasileiras.

Para este desenvolvimento foram analisadas as descrições paramétr icas e

traduções elaboradas no capítulo anterior. Assim, ao apresentar as regras da gramática

iremos relacioná-las aos parágrafos do tratado albertiano.

As etapas da gramática foram divididas em duas etapas: a primeira

bidimensional – definição da planta do templo e a segunda etapa tridimensional –

definição do volume do templo. Para o início da aplicação das regras precisaremos

sempre partir da etapa um, sendo a forma inicial especificada pela forma SØ.

5.1 Primeira etapa: Regras bidimensionais para geração das plantas dos

templos quadrangulares

Conjunto de Regras 01: Definição da planta do templo quadrangular

As regra 01.01, 01.02 e 01.03 referem-se aos tipos de plantas possíveis,

relacionando parametricamente o Comprimento (C) em função da Largura (L). (Livro

Sétimo, Capítulo IV, §2)

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86

Figura 63: Regra para definição da planta do templo quadrangular, com proporções C=2L, C=3/2L ou

C=4/3L

Fonte: Elaborado pela Autora

Conjunto de Regras 02: Inserção da capela-mor

As regras 02.01 e 02.02 referem-se à inserção de capela-mor em parede

oposta a entrada do tempo. Estas capelas podem ter o formato circular ou retangular.

(Livro Sétimo, Capítulo IV, §4).

Figura 64: Regras para inserção de capela-mor

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Fonte: Elaborado pela Autora

Conjunto de Regras 03: Posicionamento das capelas laterais

As regras 03.01 e 03.02 referem-se à inserção de capelas laterais em templos

de planta quadrangular. A regra 03.02 é exclusiva para templos com a configuração

C=2L . (Livro Sétimo, Capítulo IV, §5)

Figura 65: Regras para posicionamento das capelas laterais

Fonte: Elaborado pela Autora

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Conjunto de Regras 04: Inserção de capelas laterais circulares ou

retangulares, inserção de capelas alternadas e posicionamento das

capelas laterais

As regras 04.01 a 04.03 referem-se à inserção de capelas laterais circulares,

retangulares ou alternadas considerando que as mais próximas da capela-mor sejam

circulares. (Livro Sétimo, Capítulo IV, §6).

Figura 66: Regras para inserção de Capelas Laterais, considerando que a mais próxima da capela-mor

seja circular

Fonte: Elaborado pela Autora

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As regras 04.01 a 04.03 referem-se à inserção de capelas laterais circulares,

retangulares ou alternadas considerando que a mais próxima da capela-mor sejam

retangulares. (Livro Sétimo, Capítulo IV, §6).

Figura 67: Regras para inserção de Capelas Laterais, considerando que a mais próxima da capela-mor

seja circular

Conjunto de Regras 05: Definição da ossatura das paredes

As regras 05.01 a 05.05 referem-se à espessura das paredes, chamada no

texto de Alberti de ossatura. (Livro Sétimo, Capítulo IV, §7).

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Figura 68: Regra para ossatura das paredes

Fonte: Elaborado pela Autora

Conjunto de Regras 06: Inserção dos pórticos na fachada

As regras 06.01 a 06.03 referem-se à inserção dos pórticos nas fachadas. O

pórtico pode contemplar somente a fachada frontal ou se não houver capelas, pode-se

estender pelas fachadas. (Livro Sétimo, Capítulo V, § 1 -2).

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Figura 69: Regras para inserção dos pórticos nas fachadas.

Fonte: Elaborado pela Autora

Conjunto de Regras 07: Definição dos intercolúnios

As regras 07.01 a 05.05 referem-se à inserção dos intercolúnios no local

destinado aos pórticos. Estes intercolúnios podem obedecer a 5 tipos diferentes como

mostra a figura (Livro Sétimo, Capítulo V, § 6 – 9).

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Figura 70: Regras para inserção dos intercolúnios

Fonte: Elaborado pela Autora

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5.2 Segunda etapa: Regras tridimensionais para geração da volumetria dos

templos quadrangulares

Os próximos conjuntos de regras definirão a volumetria dos templos e só

podem ser aplicadas depois da definição da primeira etapa.

Conjunto de Regras 08: Definição das alturas das capelas

As regras 08.01 a 08.04 referem-se à definição das alturas das capelas. Estão

apresentadas em perspectiva para que se represente melhor as regras que iniciam a

determinação dos volumes dos templos. (Livro Sétimo, Capítulo VI, § 1 – 3).

Figura 71: Regras para definição das alturas das capelas

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Fonte: Elaborado pela Autora

Conjunto de Regras 09: Inserção do pódio

As regras 09.00 e 09.15 referem-se à inserção do pódio nos templos. Livro

Sétimo, Capítulo V, § 5.

Figura 72: Regras para inserção do pódio

Fonte: Elaborado pela Autora

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Conjunto de Regras 10: Definição da altura dos muros

Regras para determinação da altura das paredes. A altura dos templos

quadrangulares será a mesma da largura. (Livro Sétimo, Capítulo X, § 2 -4).

Figura 73: Regras para definição da altura do muro

Fonte: Elaborado pela Autora

Conjunto de Regras 11: Inserção da cobertura

As regras 11.01 a 11.04 referem-se à inserção de cobertura que podem ser de

dois tipos: em abóbada ou em duas águas e a inserção de coberturas nas capelas

laterais e capela-mor. (Livro Sétimo, Capítulo X, § 5).

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Figura 74: Regras para inserção de coberturas

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Fonte: Elaborado pela Autora

Conjunto de Regras 12: Inserção do frontão sobre pórtico

A regra 12.00 refere-se à inserção de frontão sobre o pórtico. (Livro Sétimo,

Capítulo XI, § 5).

Figura 75: Regra para inserção de frontão

Fonte: Elaborado pela Autora

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5.3 Derivação para teste da gramática

A seguir é apresentada uma derivação para teste da gramática. Consideramos

o valor da largura igual a 10,00m.

Figura 76: Derivação de um templo seguindo regras da gramática

Fonte: Elaborado pela Autora

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A gramática elaborada foi capaz de gerar uma composição nova. Os novos

testes serão feitos com a comparação com as igrejas brasileiras.

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101

6. LEVANTAMENTO DE DADOS DAS IGREJAS BRASILEIRAS E

ANÁLISES

Partindo da premissa do projeto Alberti Digital para o estudo das igrejas

brasileiras que possam ter sido influenciadas pelo tratado albertiano, realizaram-se as

seguintes atividades:

1. O levantamento de dados sobre as igrejas brasileiras foi feito inicialmente

por meio de levantamento bibliográfico, sendo o mais utilizado o livro Património

de origem portuguesa no mundo– América do Sul (2011). Posteriormente, foi

realizada também uma pesquisa documental, por meio dos registros de edifícios

tombados fornecidos pelo IPHAN em seu site. Além disso, o levantamento de

plantas, cortes e fachadas foi realizado por meio de uma visita ao Arquivo

Noronha Santos, no Rio de Janeiro e também por material cedido pelo IPAC-

Bahia.

Como resultado desta pesquisa elaborou-se uma planilha que contém todas as

igrejas listadas em ambas as publicações e que serviram de base para o

desenvolvimento de um mapa interativo onde podem ser consultadas as igrejas por

data de construção. O levantamento completo está disponível em

www.sites.google.com/site/gigodoi. Existem igrejas que não constam no levantamento

do IPHAN, por não serem tombadas, mas na planilha estão todas as encontradas em

ambas as bibliografias.

Embora o período selecionado para estudo envolva somente os séculos XVI a

XVIII, a planilha engloba todas as construções listadas nas publicações.

Com este levantamento bibliográfico será possível futuramente a seleção de

novas igrejas, para a continuação das análises das igrejas brasileiras.

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102

Para efeito de visualização da quantidade, localização e data de construção de

cada igreja levantada no Apêndice I, elaborou-se também os mapas da Figura 77,

utilizando o software TileMill – ferramenta para cartógrafos que cria mapas usando

dados personalizados. No caso deste trabalho, os mapas criados apontam as cidades

onde há igrejas e seus respectivos períodos separados por cor.

Figura 77: Localização das igrejas no Brasil de acordo com a data de construção.

Fonte: Elaborado pela Autora

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103

Além do mapa da Figura 77 elaborou-se também mapas interativos que podem

ser acessados pelo site: www.sites.google.com/site/gigodoi .

A seguir são apresentadas as fichas catalográficas, os dados levantados das

duas igrejas do corpus de análise e as derivações utilizando a gramática da forma pra

análise.

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104

Igreja Nossa Senhora da Graça – Olinda/PE

Histórico: A Igreja de Nossa Senhora da Graça foi uma das

primeiras a serem construídas no Brasil. Originalmente erguida

como um oratório de taipa no ano de 1551, por ordem de Duarte

Coelho, fazia parte de uma propriedade doada aos Jesuítas para

que iniciassem a catequização dos indígenas do local, e deveria

incluir um colégio e um jardim botânico, instalados mais tarde.

Já em 1567 o edifício primitivo foi substituído por outro maior,

de alvenaria, obra do padre Antônio Pires concluída depois de

quatro anos, mas que era apenas uma capela.

Entre 1584 e 1592 a igrejinha foi ampliada pelo padre Luiz Grã,

com acréscimo da nave, fachada e telhado. O projeto de

construção é atribuído ao Irmão Francisco Dias, arquiteto jesuíta

que trabalhou na Igreja de São Roque, em Lisboa e veio ao Brail

em 1577 para projetar em caráter definitivo as igrejas e colégios

para os padres da Companhia de Jesus.

Com o incêndio de Olinda em 1631 o complexo foi seriamente

danificado, mas os objetos de culto e outras riquezas foram

removidos a tempo e enterrados a salvo dos saques. Contudo,

estes bens foram definitivamente perdidos quando, depois de

desenterrados após a partida dos holandeses, foram levados

a Portugal pelo padre Francisco de Vilhena em uma nau que foi

atacada por piratas.

Localização: Olinda/PE Data de construção: 1584

Tombamento (Dados IPHAN):

Bem / Inscrição Igreja de Nossa Senhora da Graça e residência, anexa, que foi colégio e seminário dos jesuítas

Nome atribuído Igreja de Nossa Senhora da Graça e Seminário de Olinda

Outras denom. Igreja da Graça; Seminário de Olinda; Colégio dos Jesuítas

Nº Processo 0131-T-38 - Livro Belas Artes Nº inscr.: 069 ; Vol. 1 ; F. 013 ; Data: 17/05/1938

OBS.: “O tombamento inclui todo o seu acervo, de acordo com a Resolução

do Conselho Consultivo da SPHAN, de 13/08/85, referente ao Proc. Administ. nº 13/85/SPHAN".

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105

Durante o levantamento das plantas e fachadas no Arquivo Noronha Santos,

constatou-se duas situações: A primeira chamada de Situação Anterior e a segunda de

Situação Atual (Figura 78). O primeiro levantamento é da situação original e o segundo

refere-se a interferências que foram realizadas no século XVII, a fim de inclusão de um

campanário. Como nosso objetivo é estudar o projeto do irmão Jesuíta Francisco Dias,

iremos utilizar em nosso corpus a situação anterior da planta baixa. Notamos uma

divisão na planta da Situação Anterior que não mais aparece na Situação Atual. Por

não se ter certeza de que se trata tal indicação, esta foi desconsiderada.

Figura 78: Igreja Nossa Senhora da Graça de Olinda/PE: Planta Baixa Situação Anterior e Planta Baixa

Situação Atual. Fonte: Arquivo Noronha Santos/IPHAN-RJ

Fonte: Elaborado pela autora

Utilizando as plantas baixa e fachada fornecidas pelo IPHAN, procedeu-se o

redesenho em AutoCAD para que se pudesse obter um desenho em escala para que

os dados métricos fossem extraídos. As próximas figuras mostram este resultado.

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106

Figura 79: Planta Baixa do Pavimento Térreo - Igreja Nossa Senhora da Graça – Olinda/PE

Fonte: Elaborado pela autora

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107

Figura 80: Planta Baixa do Pavimento Superior - Igreja Nossa Senhora da Graça – Olinda/PE

Fonte: Elaborado pela autora

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108

Figura 81: Fachada - Igreja Nossa Senhora da Graça – Olinda/PE

Fonte: Elaborado pela autora

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109

Catedral Basílica – Salvador/BA

Histórico: A atual Catedral é a quarta igreja e último

remanescente do conjunto arquitetônico do Colégio de Jesus.

Sua planta é típica das igrejas luso-brasileiras, sendo construída

sob projeto do irmão Francisco Dias, chegado à Bahia em 1577

para construir o Colégio. Segundo o projeto, a igreja estaria no

eixo do conjunto, ladeada por dois corpos que se organizariam a

partir de um pátio. A planta da Catedral apresenta um transepto

inscrito no retângulo da edificação e capelas laterais interligadas

com tribunas superpostas. A capela-mor é ladeada por duas

capelas e corredores que dão acesso à sacristia transversal.

Sua fachada, em lioz, procura conciliar o tradicional modelo

português, com duas torres e a nova fachada jesuítica com

volutas e sem torres, proposta por Vignola. Destacam-se no seu

interior, a sacristia, os retábulos de diferentes períodos nas

capelas e o forro em caixotão da nave. Quanto ao antigo colégio,

um dos pátios é destruído pelo fogo em 1801; instalando-se em

1808, o Real Hospital na ala que restara. Novo incêndio, em

1905, consome o edifício que é reerguido em estilo eclético para

abrigar a Faculdade de Medicina da Bahia, a primeira do país, aí

instalada desde 1833.

Localização: Salvador/BA Data de construção: 1657-1672

Tombamento (Dados IPHAN):

Bem / Inscrição Igreja Catedral Basílica do Salvador

Nome atribuído Catedral Basílica de Salvador

Nº Processo 0084-T-38 - Livro Belas Artes Nº inscr.: 077 ; Vol. 1 ; F. 014 ; Data: 25/05/1938

OBS.: “O tombamento inclui todo o seu acervo, de acordo com a Resolução do Conselho Consultivo da SPHAN, de 13/08/85, referente ao Proc. Administ. nº 13/85/SPHAN".

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A obtenção de dados sobre a Catedral Basílica se deu através das plantas

obtidas no arquivo Noronha Santos, mas principalmente sobre material fornecido pelo

IPAC da Bahia. As cópias dos registros foram enviadas por email após solicitação junto

a secretaria do IPAC. As cópias dos arquivos estão no Anexo I e II. Também foi

utilizado o desenho da fachada fornecido pelo prof. Arivaldo Leão de Amorim, desenho

este que foi elaborado por alunos do curso de pós-graduação da Universidade Federal

da Bahia após levantamento fotográfico.

Da mesma maneira que foi realizado com a igreja de Nossa Senhora da Graça,

foi procedido o redesenho em AutoCAD baseado nas informações recebidas para que

se pudesse extrair dados métricos da igreja.

A Figura 82 apresenta planta baixa da Catedral Basílica de Salvador e a Figura

83 mostra a fachada da mesma Catedral.

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Figura 82: Planta Baixa Catedral Basílica de Salvador

Fonte: Elaborado pela autora

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112

Figura 83: Fachada Catedral Basílica de Salvador

Fonte: Desenho Base fornecido pelo prof. Arivaldo Leão de Amorim – UFBA. Desenho de alunos do

curso de arquitetura.

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113

6.1 Levantamento e comparação de dados métricos das igrejas brasileiras

De posse das plantas redesenhadas em escala, foram extraídos os dados

referentes às variáveis determinadas na decodificação do tratado. Em cada tabela

abaixo é mostrado os valores originais e as comparações com as regras definidas por

Alberti.

Destacou-se com a hachura cinza os valores que mais se aproximam dos

valores propostos no tratado.

6.1.1 Levantamento e comparação de dados da Igreja de Nossa Senhora da

Graça – Olinda/PE

Os dados métricos foram levantados sobre os desenhos em AutoCAD

preparados com as informações obtidas no IPHAN. As plantas originais não possuem

cotas, apenas uma escala gráfica que foi utilizada como referência. Como já observou

Bazin (1983), apesar de se terem passados muitos anos desde a publicação de seu

livro, o Brasil ainda carece de levantamentos confiáveis, completos e atualizados dos

bens tombados. Há grande dificuldade em obter tais dados. Embora as medidas

possam não ser exatas, a proporção das relações mantém-se.

Tabela 1: Nossa Senhora da Graça - Dados métricos – Planta

L C = 2L C=4/3L C=3/2L

Dimensões ideiais para a largura do templo,

utilizando o valor da Largura encontrada na

igreja brasileira (documento IPHAN)

12,26 24,52 16,35 18,39

Dimensões encontradas no levantamento do

IPHAN12,26 29,14 27,48 27,48

Diferença em % (Valor IPHAN x Valor Ideal) 119% 168% 149%

Proporções segundo o tratado

de Alberti

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114

Tabela 2: Nossa Senhora da Graça - Dados métricos – Capela – Mor

lacpmccpm =

lacpm

lacpm =

2/4 L

lacpm =

4/6L

Dimensões ideiais para a largura da capela

mor, utilizando o valor da Largura encontrada

na igreja brasileira (documento IPHAN)

4,84 6,13 8,17

Dimensões encontradas no levantamento do

IPHAN4,84 4,21 4,84 4,84

Diferença em % (Valor IPHAN x Valor Ideal) 87% 79% 59%

Proporções segundo o tratado

de Alberti

Tabela 3: Nossa Senhora da Graça - Dados métricos – Capelas Laterais

lacpl =

lacpm

ccpl =

lacpl/2

dc>=1/5

lacpl

dc>=1/3

lacpldc = 1/2lacpl

Dimensões ideiais para a capela lateral

utilizando o valor da Largura encontrada na

igreja brasileira (documento IPHAN)

4,84 2,42 0,97 1,61 1,21

Dimensões encontradas no levantamento do

IPHAN3,03 2,82 4,30 4,30 4,30

Diferença em % (Valor IPHAN x Valor Ideal) 63% 117% 444% 267% 355%

Proporções segundo o tratado de Alberti

Tabela 4: Nossa Senhora da Graça - Dados métricos – Ossatura das Paredes

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115

E = L/12 E = L/9

Dimensões ideiais para a ossatura utilizando

o valor da Largura encontrada na igreja

brasileira (documento IPHAN)

1,08 1,44

Dimensões encontradas no levantamento do

IPHAN1,37 1,37

Diferença em % (Valor IPHAN x Valor Ideal) 127% 95%

Proporções

segundo o tratado

de Alberti

Tabela 5: Nossa Senhora da Graça - Dados métricos – Inserção do Pódio

LHPd =

1/6L

HPd =

1/7L

HPd =

1/9L

Dimensões ideiais para a inserção do pódio,

utilizando a Largura encontrada na igreja

brasileira (documento IPHAN)

12,96 2,16 1,85 1,44

Dimensões encontradas no levantamento do

IPHAN12,96 0,79 0,79 0,79

Diferença em % (Valor IPHAN x Valor Ideal) 37% 43% 55%

Proporções segundo o tratado

de Alberti

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116

Tabela 6: Nossa Senhora da Graça - Dados métricos – Altura dos Muros

L

Dimensões ideiais para a Altura dos Muros,

utilizando a Largura encontrada na igreja

brasileira (documento IPHAN)

12,96

Dimensões encontradas no levantamento do

IPHAN12,96

Diferença em % (Valor IPHAN x Valor Ideal)

Proporções

segundo o tratado

de Alberti

HM=L

12,96

12,96

100%

Tabela 7: Nossa Senhora da Graça - Dados métricos – Inserção da Cobertura

L

Dimensões ideiais para a Inserção da

Cobertura, utilizando a Largura encontrada na

igreja brasileira (documento IPHAN)

12,96

Dimensões encontradas no levantamento do

IPHAN

Diferença em % (Valor IPHAN x Valor Ideal) 98%

6,35

Proporções

segundo o tratado

de Alberti

Hab = L/2

6,48

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117

6.2.1 Levantamento e Comparação de Dados da Catedral Basílica de Salvador

– Salvador/BA

Para a Catedral Basílica, os dados métricos foram levantados sobre os

redesenhos preparados com as informações fornecidas pelo IPHAN e pelo IPAC/BA.

Do mesmo modo que a igreja de Olinda, as plantas originais não possuem cotas,

apenas uma escala gráfica que foi utilizada como referência.

Neste caso temos as medidas da fachada como referência.

Tabela 8: Catedral Basílica - Dados métricos – Planta

L C = 2L C=4/3L C=3/2L

Dimensões ideais para a largura do templo,

utilizando o valor da Largura encontrada na

igreja brasileira (documento IPHAN)

16,6 33,2 12,45 11,07

Dimensões encontradas no levantamento do

IPHAN16,6 37,12 37,12 37,12

Diferença em % (Valor IPHAN x Valor Ideal) 112% 298% 335%

Proporções segundo o tratado

de Alberti

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118

Tabela 9: Catedral Basílica - Dados métricos – Capela-Mor

lacpmccpm =

lacpm

lacpm =

2/4 L

lacpm =

4/6L

Dimensões ideais para a largura da capela

mor, utilizando o valor da Largura encontrada

na igreja brasileira (documento IPHAN)

7,63 8,30 11,07

Dimensões encontradas no levantamento do

IPHAN7,63 8,51 8,51 8,51

Diferença em % (Valor IPHAN x Valor Ideal) 112% 103% 77%

Proporções segundo o tratado

de Alberti

Tabela 10: Catedral Basílica - Dados métricos – Capelas Laterais

lacpl =

lacpm

ccpl =

lacpl/2

dc>=1/5

lacpl

dc>=1/3

lacpldc = 1/2lacpl

Dimensões ideais para a capela lateral

utilizando o valor da Largura encontrada na

igreja brasileira (documento IPHAN)

7,63 3,82 1,53 2,54 1,91

Dimensões encontradas no levantamento do

IPHAN6,66 3,84 1,23 1,23 1,23

Diferença em % (Valor IPHAN x Valor Ideal) 87% 101% 81% 48% 64%

Proporções segundo o tratado de Alberti

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119

Tabela 11: Catedral Basílica - Dados métricos – Ossatura das Paredes

E = L/12 E = L/9

Dimensões ideais para a ossatura utilizando o

valor da Largura encontrada na igreja

brasileira (documento IPHAN)

1,38 1,44

Dimensões encontradas no levantamento do

IPHAN1,15 1,15

Diferença em % (Valor IPHAN x Valor Ideal) 83% 80%

Proporções

segundo o tratado

de Alberti

Tabela 12: Catedral Basílica - Dados métricos – Inserção do Pódio

LHPd =

1/6L

HPd =

1/7L

HPd =

1/9L

Dimensões ideais para a inserção do pódio,

utilizando a Largura encontrada na igreja

brasileira (documento IPHAN)

16,6 2,77 2,37 1,84

Dimensões encontradas no levantamento do

IPHAN6,6 0,74 0,74 0,74

Diferença em % (Valor IPHAN x Valor Ideal) 40% 27% 31% 40%

Proporções segundo o tratado

de Alberti

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120

Tabela 13: Catedral Basílica - Dados métricos – Altura dos Muros

L

Dimensões ideais para a Altura dos Muros,

utilizando a Largura encontrada na igreja

brasileira (documento IPHAN)

16,6

Dimensões encontradas no levantamento do

IPHAN19,77

Diferença em % (Valor IPHAN x Valor Ideal) 119%

Proporções

segundo o tratado

de Alberti

HM=L

16,60

19,77

119%

Tabela 14: Catedral Basílica - Dados métricos – Inserção da Cobertura

L

Dimensões ideais para a Inserção da

Cobertura, utilizando a Largura encontrada na

igreja brasileira (documento IPHAN)

16,6

Dimensões encontradas no levantamento do

IPHAN

Diferença em % (Valor IPHAN x Valor Ideal) 130%

8,30

10,75

Proporções

segundo o tratado

de Alberti

Hab = L/2

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121

6.1.2 Derivações utilizando as regras da gramática da forma para geração das

igrejas do corpus

6.1.2.1 Derivação e análise – Igreja de Nossa Senhora da Graça – Olinda/PE

As regras da gramática elaborada para o tratado de Alberti foram capazes de

reproduzir a planta baixa e volumetria da igreja de Nossa Senhora da Graça de

Olinda, utilizando as medidas retiradas da planta e baixa e fachadas redesenhadas,

porém, como demonstrado nas tabelas de comparação, os valores reais não estão

de acordo com os valores propostos pelo tratado de Alberti. Analisando os valores,

percebemos que variações de até 20% podem ser consideradas irrelevantes tendo

em vista o método construtivo não alcançar alta precisão e também erros que

podem ter ocorrido no levantamento. As maiores diferenças encontram-se na

inclusão do pódio e dimensões das capelas laterais.

Figura 84: Derivação proposta para a Igreja de Nossa Senhora da Graça

Fonte: Elaborado pela autora

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122

6.1.2.2 Derivação e análise – Catedral Basílica – Salvador/BA

No caso da Catedral Basílica, as regras da gramática elaborada para o tratado

de Alberti foram capazes de reproduzir a planta baixa e volumetria, porém foi

necessário a inclusão de quatro novas regras para inclusão de capelas laterais

diferentes. O tratado de Alberti inclui capelas laterais com dimensões iguais e na

Catedral foi constatado que as capelas laterais mais próximas da capela-mor tem

dimensões próximas as da capela-mor, maiores que as dimensões das capelas

laterais. Assim foram desenvolvidas as regras 03.03, 04.07, 04.08 e 04.09. Em

relação às demais dimensões ocorreu caso semelhante ao da igreja de Nossa

Senhora da Graça de Olinda, onde os valores utilizados que foram retirados da

planta e baixa e fachadas redesenhadas, não estão de acordo com os valores

propostos pelo tratado de Alberti. Do mesmo modo as maiores diferenças

encontram-se na inclusão do pódio e dimensões das capelas laterais.

Figura 85: Derivação proposta para Catedral Basílica

Fonte: Elaborado pela autora

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123

7. CONCLUSÃO

A utilização da gramática da forma para a análise das igrejas permitiu uma

análise mais completa das igrejas do que somente a comparação entre desenhos –

plantas, fachadas e volumes. Mendes (2013) apresenta que a combinação das duas -

regras de combinação e parâmetros – pode se levar a um número maior de possibilidade

de composições, mantendo-se a racionalidade e a lógica construtiva (Figura 51).

Figura 86: Combinação das duas abordagens: parametrização e projeto baseado em regras (rule-based

design).

Fonte: Mendes (2013)

Ao se determinar regras de composição aliadas a parâmetros, pudemos

perceber que podemos recriar composições existentes de Alberti, analisar possíveis

influências e criar também novas composições que obedecem ao mesmo padrão.

Muitas obras podem ser semelhantes na comparação visual, por meio de fotos, porém,

quando aplica-se as regras algumas destas características podem não se confirmar.

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124

Um exemplo desta não confirmação é apresentado na dissertação de mestrado

de Débora Cruz (2010). Nesse trabalho as regras da gramática da forma desenvolvida

para as casas de pradaria de Frank Lloyd Wright de Koning e Eizenberg (1981) foram

aplicadas nas casas da primeira fase de João Vilanova Artigas, para verificação do grau

de semelhança os projetos dos dois arquitetos. A aplicação das regras permitiu

comprovar que, apesar das casas serem aparentemente muito semelhantes, o

processo de construção da geometria de seus telhados era completamente distinto.

Na Figura 87, podemos ver a comparação de um volume gerado pelas regras

de composição da gramática das pradarias a uma casa original de Artigas:

Figura 87 Volumetria original da casa Vilanova Artigas e volumetria da cobertura da casa Vilanova Artigas

segundo as regras da gramática da pradaria.

Fonte: Cruz, 2010

Nesta tese, após a análise do corpus utilizando a gramática da forma como

método avaliativo, podemos concluir que as igrejas brasileiras foram construídas

seguindo um padrão de regras. Independentemente dos resultados que se pretende

obter em termos de verificação da hipótese do prof. Mario Krüger sobre a existência ou

não de um movimento renascentista em Portugal, espera-se que este trabalho tenha

outras contribuições relevantes para as áreas de Teoria e História da Arquitetura.

Dentro desse contexto, uma potencial contribuição deste trabalho poderia ser a de

mostrar como o conceito de modelagem paramétrica é inerente à própria concepção

arquitetônica e já estava presente nas ideias de arquitetos tão relevantes como – e tão

antigos como – os tratadistas do Renascimento, em particular na obra de Alberti. Em

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125

um mundo cada vez mais dominado pela informação visual e pela lógica

computacional, espera-se que a tradução das regras albertianas em descrições visuais

paramétricas possa contribuir para uma nova interpretação e revalorização desta obra

seminal da história da arquitetura.

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127

BIBLIOGRAFIA

ABREU, S. M., De Roma a Évora, com André de Resende: Cidade e “Património” na História da Antiguidade da cidade de Évora, in @Alpha.Boletim, Associação

Portuguesa de historiadores de Arte, nº2, 2004

ALBERTI, L.B. Da arte edificatória. Traduzido por A.M.E. Santo; introdução e notas por M.J.T. Krüger. Lisboa Fundação Calouste Gulbenkian, 2011

BABEL – TEXTOS EM ARQUITETURA. Disponível em: http://www.eesc.usp.br/babel/. Acesso em: 18 dez. 2013.

BAZIN, G. A arquitetura religiosa barroca no Brasil. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1983. 2 v.

BORSI, F. Leon Battista Alberti: l'opera completa. 5. ed. Milano: Electa, 1996. 396 p. BURY, J.; OLIVEIRA, M. A. R. (Coaut. de). Arquitetura e arte no Brasil colonial. Brasília, DF: IPHAN: Monumenta, 2006. 252 p.

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ANEXOS

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ANEXO I

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ANEXO II

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APÊNDICES

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138

APÊNDICE I – Quadro resumo dos parâmetros

Elemento Parâmetros envolvidos

Formato da Cela do Templo

Planta Circular

D = Diâmetro do Templo

D ϵ R+

Planta Quadrangular

C = Comprimento da Cela do Templo

L = Largura da Cela do Templo

C = {2L , 4/3 L , 3/2L}

L ϵ R+

Planta Poligonal

nlados = número de lados do polígono

Formato Hexagonal

Formato Octogonal

Formato Decagonal

Formato Dodecagonal

Ld = Dimensão de cada lado do polígono

nld = {6; 8; 10; 12}

Ld = D/2

Ld = D(√2-1)

Ld = S -1/4D

Ld = D/4

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139

D = Diâmetro do círculo ao qual o polígono deve

estar inscrito

D = R+

Inserção de Capela Mor

Planta Quadrangular

ncplm= número de capelas-mor

lacpm = largura da capela-mor

ccpm = comprimento da capela-mor

Planta Circular

ncplm= número de capelas-mor

lacpm = largura da capela-mor

ccpm = comprimento da capela-mor

r = raio do Templo = ½ D

Planta Poligonal

ncpl = número de capelas

lacpm = largura da capela-mor

ccpm = comprimento da capela-mor

ncplm = 1

lacpm = {2/4L, 4/6 L}

lacpm = ccpm

ncpl = 1

ccpm = lacpm

lacpm = lacpm + 1/12

lacpm

lacpm ={( 1/6 π r), (1/8 π

r)}

ncpl = {nlados, nlados/2}

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140

ld = lado do polígono

ccpm = lacpm

lacpm= {2/4ld, 4/6 ld}

Inserção de Capela Lateral

Planta Quadrangular (C = 2L)

ncpl = número de capelas

lacpl = largura da capela lateral

ccpl = comprimento da capela lateral

Planta Circular

ncpl = número de capelas

lacpl = largura da capela lateral

ccpl = comprimento da capela lateral

Planta Poligonal

ncpl = número de capelas

lacpl = largura da capela-mor

ccpl = comprimento da capela-mor

ncpl ≥ 3

ncpl /2 ≠ 0 (Número Ímpar)

lacpm = {2/4L, 4/6 L}

lacpl = lacpm

ccpm = lacpl/2

ncpl = {6, 8}

lacpl ={( 1/6 π r), (1/8 π r)}

ccpl = lacpl

ncpl = {nlados, nlados/2}

lacpl= {2/4ld, 4/6 ld}

ccpl = lacpl

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141

ld = lado do polígono

Ossatura do Templo

Planta Quadrangular

dc = distância entre as capelas (ossatura)

lacpl = largura da capela lateral

C = Comprimento do Templo

Planta Circular

dc = distância entre as capelas (ossatura)

lacpl = largura da capela lateral

Planta Poligonal

dc = distância entre as capelas (ossatura)

ld = lado do polígono

dc = {1/5lacpl , 1/3 lacpl , ½

lacpl}

dc = (C – ncpl * lacpl) / ncpl

+ 1

dc = 1/2lacpl (para 6

capelas)

dc = lacpl (para 8 capelas)

dc ={(1/3ld),(1/6ld)}

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142

Inserção de Pórtico

Planta Quadrangular

LP = Largura do Pórtico

L = Largura do Templo

CP = Comprimento do Pórtico

i= intercolúnio

dcm = distância entre o muro do Templo e a

Coluna do Pórtico

Planta Circular

LP = Largura do Pórtico

D = Diâmetro do Templo

CP = Comprimento do Pórtico

i= intercolúnio

dcm = distância entre o muro do Templo e a

Coluna do Inserção de Pórtico

Planta Quadrangular

LP = Largura do Pórtico

L = Largura do Templo

CP = Comprimento do Pórtico

LP = L

CP <= 1/3 L

i = dcm

LP = D

LP = {(D – 1/8D),(D –

1/4D)}

CP = 1/3D

i = dcm

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143

i= intercolúnio

dcm = distância entre o muro do Templo e a

Coluna do Pórtico

Planta Circular

LP = Largura do Pórtico

D = Diâmetro do Templo

CP = Comprimento do Pórtico

i= intercolúnio

dcm = distância entre o muro do Templo e a

Coluna do Pórtico

Inserção do Pódio

Planta Quadrangular, Circular e Poligonal

HPd = Altura do Pódio

HPd = {1/6 L, 1/7 L, 1/9 L}

Definição do Intercolúnio

QCl = quantidade de Colunas

Qi = quantidade de intercolúnios

DCl = diâmetro da Coluna

QCl / 2 = 0 (Número Par)

Qi = QCl + 1

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144

ioc = intercolúnio de obra compacta

ioa = intercolúnio de obra ampliada

ioe = intercolúnio de obra elegante

ios = intercolúnio de obra subcompacta

iosa = intercolúnio de obra subampliada

LPt = Largura da Porta do Templo

ioc <= 1,5 DCl

ioa = 3DCl +3/8 DCl

ioe = 2DCl +1/4 DCl

ios = 2DCl

iosa = 3DCl

LPt = i +1/4 DCl

Definição da Ordem

Ordem Coríntia

BCl = Base da Coluna

DCl = M = Diâmetro da Coluna

HFt = Altura do Fuste da Coluna

HCl = Altura da Coluna

HCap = Altura do Capitel

H Arq = Altura da Arquitrave

H Tr = Altura da Trave

HCj = Altura da Cornija

Ordem Dórica

BCl = Base da Coluna

BCl = 1/2 M

HFt = 9 M

HCl = BCL + HFt

HCap = 1M

HArq = 2/3 M

HTr = 2/3 M

HCj = 5/6 M

BCl = 1/2 M

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145

DCl = M = Diâmetro da Coluna

HFt = Altura do Fuste da Coluna

HCl = Altura da Coluna

HCap = Altura do Capitel

H Arq = Altura da Arquitrave

H Tr = Altura da Trave

HCj = Altura da Cornija

Ordem Jônica

BCl = Base da Coluna

DCl = M = Diâmetro da Coluna

HFt = Altura do Fuste da Coluna

HCl = Altura da Coluna

HCap = Altura do Capitel

H Arq = Altura da Arquitrave

H Tr = Altura da Trave

HCj = Altura da Cornija

Definição da Espessura dos Muros (Paredes)

Planta Quadrangular

HFt = 7 M

HCl = BCL + HFt

HCap = 1/2 M

HArq = 1/2 M

HTr = 3/4 M

HCj = 3/4 M

BCl = 1/2 M

HFt = 8 M

HCl = BCL + HFt

HCap = 1/3 M

HArq = 2/3 M

HTr = 5/6 M

HCj = 5/6 M

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146

E = Espessura do Muro

L = Largura do Templo

DCl = Diâmetro da Coluna

E = {1/12L , 1/9 L}

Altura dos Muros

Planta Quadrangular

HM = Altura do Muro

HCl = Altura da Coluna

Planta Circular com pórtico retangular

HM = Altura do Muro

D = Diâmetro do Templo

Planta Circular com pórtico ao redor do templo

HM = Altura do Muro

D = Diâmetro do Templo

HM = HCl

H = {1/2D, 2/3D, 3/4D}

H = {1/2D, 2/3D, 3/4D,

Dπ/4, D}

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147

Inserção de Frontão

V = Altura do Vértice do Frontão

LF = Largura do Frontão

1/5 LF <= V <= ¼ LF

Inserção da Cobertura

Cobertura em Abóbada

HAb = Altura da Abóbada

Cobertura em Duas Águas

HAb = 1/2D