uma história de vida
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GERONTOLOGIA CLÍNICA
Uma História de Vida
Docente: Prof. Dr. Joaquim Parra Marujo
Discentes:
Claudia Garcia, n.º 20063012 Helena Dias, n.º 20062269 Letícia Silva, n.º 20061537
Susana Ferreira, n.º 20061566
Psicopedagogia Clínica
3.º Ano – 1.º Semestre
Porto, 12 de Fevereiro de 2008
Índice
1. Introdução ...................................................................................... 4
2. Metodologia .................................................................................... 4
3. Resultados – Entrevista .................................................................... 5
4. O que aprendemos ........................................................................... 8
5. Como aprendemos ........................................................................... 9
6. Para quê aprendemos ....................................................................... 9
7. O que sentimos ............................................................................. 10
8. Conclusão ..................................................................................... 10
Gerontologia Clínica
Psicopedagogia Clínica
Claudia Garcia (20063012) Helena Dias (20062269) Letícia Silva (20061537) Susana Ferreira (20061566) 3
Idosos! Idosos... Rostos e olhos enrugados, faces descoloridas... Corações que entesouram tanta experiência, sabedoria e bondade! Idosos... Muitas vezes renegados pelos amigos, pela família, abandonados à própria sorte, guiados por mãos estranhas, alimentados e vestidos com dedicação por desconhecidos, que ouvem suas histórias de outrora, narradas com um fio de voz... Um fio de voz que traduz muita esperança no coração de quem hoje é uma criança que exibe a sua vivência, passeia a sua experiência, segurando a mão que o acolhe e o acaricia...
Idosos! Idosos... No ocaso da vida, que já atravessaram tempestades e confortaram corações, eu quisera ser poeta para descrever a emoção de conviver com vocês, de aprender sobre e com vocês! Ah! Meus velhinhos, nos seus corações a chama ainda acesa ilumina minha pobre existência, alimenta meu coração, alenta minha alma em frangalhos, que sorve de seus exemplos o manancial que revigora o meu ser... Que me impede de solenizar minhas tristezas e desencantos... Que me desperta para sorrir... Sorrir hoje e sempre, agradecida pelos ensinamentos que me tornaram a vida mais florida! Arneyde T. Marcheschi
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1. Introdução
No âmbito da disciplina de Gerontologia Clínica, do curso de
Psicopedagogia Clínica, propusemo-nos realizar este trabalho, com o intuito
de proceder ao levantamento de algumas questões, como: o que aprendi,
como, para quê e o que sentimos com e durante a realização deste trabalho
de grupo.
Para isso, recorremos à utilização de uma máquina de filmar para
registar todos os passos que nos levaram ao nosso objectivo.
2. Metodologia
O trabalho consistiu numa entrevista não estruturada, em que foi dada a
liberdade total à entrevistada para dar a conhecer a sua história de vida.
Esta entrevista foi realizada na Associação de Moradores de Massarelos
(AMM) mais propriamente na valência do centro de convívio, onde a sujeita
em questão passa as suas tardes a conviver com os restantes utentes.
A entrevista realizou-se no dia 29 de Janeiro de 2009, começou por volta
das 15h00 e durou cerca de 40 minutos.
No que se refere à caracterização da sujeita, a mesma tem 78 anos,
reside em Massarelos (Porto), vive sozinha, tem contacto saudável e regular
com os seus filhos, é viúva, mostra-se bastante sociável e não tem pudor
em falar sobre qualquer género de assunto.
A escolha da idosa recaiu no facto de um dos elementos do grupo
(Helena Dias) já ter contactado com a mesma durante o seu período de
estágio e ter tido a oportunidade de verificar que esta é uma pessoa
bastante sociável e que gosta de dialogar sobre todos os assuntos. Aquando
do pedido para a realização da entrevista, a idosa mostrou-se totalmente
disponível e contente pelo facto de ter sido escolhido.
Das observações que foram efectuadas pelas discentes resultou um
pequeno diário de campo, ou seja um “livro” na qual estas foram
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escrevendo tudo o que observaram, que sentiram e o que pensaram acerca
do que aconteceu durante a entrevista.
Segundo os autores Lincon e Guba (1985), no diário de campo devem-se
anotar todas as reflexões e este deverá ser o mais próximo da realidade
observada. Este trabalho deve ser realizado, se possível, logo após (ou no
mesmo dia) em que se realizou a observação de modo a reter tudo o que
for essencial.
Foi de acordo com a metodologia acima descrita que as discentes,
enquanto observadoras, foram captando sentimentos, expectativas de vida,
o seu relacionamento com a família, as suas maiores dificuldades entre
outras coisas.
3. Resultados – Entrevista
Em que ano entrou para a Associação de Moradores de Massarelos?
- Eu ando aqui nesta Associação desde o 25 de Abril (…)
Há quanto tempo mora em Massarelos?
- Moro aqui há 53 anos.
É natural de Massarelos?
- Não, sou de Alfena que fica no centro de Valongo, mas tenho mais tempo
daqui do que da minha terra.
Com que idade veio para Massarelos?
- Vim para aqui com, aproximadamente, 1 ano de idade.
Qual é a sua data de nascimento?
- Nasci em 1930, dia 27 de Fevereiro. Dia 27 do próximo mês faço 79 anos.
Sente-se bem?
- Não estou lá muito bem, estou manca!
Consegue fazer a sua vida normal?
- Sim, faço tudo: lavo a roupa, passo a ferro, vou para a máquina de coser,
cozinho, faço xailes, palmilho meias à máquina
Vive sozinha?
- Sim, vivo.
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Quais foram as profissões que teve?
- Trabalhei na fábrica, fui fiandeira, fui fruteira, trabalhei no banco, fui
peixeira, agora sou reformada… jogo cartas.
Quantos filhos tem?
- Tenho 6 filhos.
Quantos netos tem?
- Tenho 9 netos e 5 bisnetos.
Não sente solidão?
- Muita, mas eu ligo a televisão…
Gosta de ler?
- Gosto.
Se pudesse trabalhar, o que é que gostava mais de fazer?
- Qualquer coisa.
O que é que não teve oportunidade de fazer durante a sua vida e que
gostava de ter feito?
- Gostava de ir para a ginástica e de fazer aquelas coisas que dão agora nas
televisões, no meu tempo não havia nada disso.
Quando a Associação de Moradores de Massarelos faz aquelas viagens você
costuma ir?
- Sim, mas agora não vou tanto. Já fui 3 anos seguidos para o Algarve.
Com que idade começou a trabalhar?
- Comecei a trabalhar, tinha para aí 6 anos.
Andou na escola?
- Não.
Mas sabe ler?
- Sim, sei ler pouquinho mas sei ler. Mas eu é que aprendi sozinha através
dos meios de comunicação social. Aprendi também a fazer contas com o
dinheiro porque como fui vendedora, tinha que saber.
Quais são os problemas de saúde que tem?
- É só as pernas, nos ossos…
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Acha que vive melhor agora?
- Acho, sou sozinha e não tenho ninguém a controlar-me, posso fazer o que
quiser e quando quiser.
Qual é o seu maior desejo?
- Era ter força das minhas pernas e ter algum filho à minha beira.
Lembra-se dos nomes de todos os seus netos?
- Sim, um é Nitó, uma é Marta, o outro é Zé, a outra é a Sofia, o Pedro e
tenho outro que é o Nuno, a Rita e a Susana e outro que se chama Hugo.
Em relação a nós, que conselho nos daria?
- Aconselhava a desviarem-se de certas pessoas e ter cuidado com o que
anda no mundo.
Já alguma vez foi assaltada?
- Fui assaltada nos correios, roubaram-se a reforma.
Como é que se dá com as novas tecnologias?
- Dou-me bem.
Tem telemóvel?
- Tenho, “dou-me muito bem com ele, trabalho bem com ele”.
Acha que é uma coisa que faz muita falta?
- Sim, faz muito jeito.
Já trabalhou com algum computador?
- Não, os meus filhos têm todos, mas eu não quero aprender.
Utiliza o multibanco?
- Ainda não sei trabalhar com ele, mas a minha filha já ta a tratar de tudo
para eu depois aprender.
Acha que hoje à respeito pelos mais velhos?
- Acho que não, hoje não há respeito por ninguém: batem nos professores e
até nos próprios pais, mas eu acho que a educação vem de casa.
Acha que os tempos mudaram muito em relação a antigamente?
- Mudaram mas foi para pior, não para melhor.
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4. O que aprendemos
Na entrevista à idosa percebemos que esta sentia dificuldade em saber
do que ia falar, por não saber o que para nós seria relevante ou não.
Como lhe tínhamos pedido para contar a sua vida, sempre que terminava
de contar uma história dizia: “e foi assim a minha vida…”, acrescentando
muitas vezes “foi muito dura”.
Fazia pausas entre as histórias, não por não se lembrar de nenhuma, pois
tem uma memória muito boa, mas por não saber se nos ia interessar ou
não. Portanto, apesar de termos combinado entre nós que não a iríamos
interromper, nem fazer perguntas, apenas deixá-la contar o que quisesse,
vimo-nos obrigadas a colocar-lhe algumas questões para que continuasse a
contar as suas incríveis histórias. Facilmente percebemos que a senhora
preferia responder às nossas perguntas do que falar sozinha sem qualquer
orientação.
Por vezes, enquanto a senhora relatava os acontecimentos da sua vida, a
discente Helena Dias já tinha conhecimento de algumas peripécias e fez
algumas questões para saber outros pormenores, contudo, os outros
elementos do grupo estavam a ouvir tudo pela primeira vez.
O olhar daquela idosa transparecia serenidade, tranquilidade.
Durante a entrevista, a idosa mostrou um olhar de quem muito viveu,
mas que nem sempre foram momentos bons, talvez momentos felizes,
momentos de uma alegria que agora só é lembrada na sua memória.
Esta idosa demonstra a grande força de vontade, espírito jovem, algo
que é de louvar, pois o pensamento positivo em estar bem perante a vida
torna-se fundamental para ter uma vida saudável.
De um modo geral, aprendemos a ouvir alguém, aprendemos que os
idosos têm que ser tratados como pessoas que têm características
individuais, que a velhice não é sinónimo de má disposição ou apatia, pois a
senhora entrevistada demonstrava sentido de humor.
Os idosos gostam de contar a sua história, pois esta é a prova viva da
sua existência e da importância da mesma.
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Segundo a idosa, as pessoas que se encontram na última fase da vida
sofrem de discriminação por parte dos mais jovens e embora isso fosse um
facto, tem vindo a aumentar nos últimos tempos; ela refere que os tempos
que correm hoje já não são os mesmos de outrora e o respeito pelos idosos
tem vindo a degradar-se.
Aprendemos que a velhice pode ser encarada de várias formas: com uma
visão mais positiva e outra mais negativa, dependendo de cada um.
5. Como aprendemos
Através da entrevista à idosa, compreendemos que algumas senhoras (as
que não estavam a ser alvo de entrevista) queriam participar na filmagem,
incentivar a senhora a contar histórias, contar as suas próprias histórias,
mas a maioria ficava calada no seu canto tentando passar despercebidas o
máximo possível.
Pelas perguntas que fizemos, aprendemos que a idosa tem ainda uma
boa memória, conseguindo dizer-nos os nomes de todos os seus filhos,
netos e quase todos os bisnetos, não sabendo apenas os nomes dos que
nasceram mais recentemente e que ainda não conheceu por estarem longe
e “por ainda não terem sido baptizados”.
6. Para quê aprendemos
Para trabalhar com idosos é importante conhecer cada um deles. É assim
necessário entrevistar com cada um deles para saber, por exemplo, quais
os seus valores, para não ferir susceptibilidades.
É também importante perceber os seus gostos, os assuntos que os fazem
sorrir, e, pelo contrário, os que os fazem chorar, para saber que assuntos
puxar numa conversa com o idoso.
Aprendemos também que é de extrema importância alargar os nossos
conhecimentos tanto pessoais como em relação à psicopedagogia.
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Quando se trata de idosos é necessário, em primeiro lugar saber o que é
a velhice e todas as questões relacionadas com a mesma.
Um dos aspectos mais importantes que pudemos retirar desta
experiência foi o facto de aprendermos a ouvir um idoso.
7. O que sentimos
Sentimos que, apesar de achar que a sua vida foi muito dura, a idosa
sente que a vida hoje está muito mais difícil, não só porque as suas pernas
“já não trabalham como antes”, mas porque hoje o mundo não é um lugar
tão seguro para viver como era antigamente.
Percebemos também que a idosa se sente sozinha, mas também gosta
de viver só, porque assim faz “o que quer, quando quer”, não tem que dar
satisfações a ninguém, nem cuidar de ninguém, portanto não tem horas
para nada, nem para comer, come quando tem fome, e come o que lhe
apetece.
Sentimos por isso que ela apenas queria uma companhia familiar de vez
em quando, pois sente-se feliz na companhia dos amigos no centro de
convívio.
8. Conclusão
O gerontólogo e o psicopedagogo serão então os profissionais
responsáveis pela avaliação, intervenção e estudo científico do fenómeno do
envelhecimento humano e prevenção dos problemas pessoais e sociais a ele
associado.
Têm como principal função agir no sentido da promoção de um
envelhecimento bem sucedido, diminuindo a probabilidade de doença e de
incapacidade, mantendo os sujeitos com elevada capacidade cognitiva e
funcional e fomentando o envolvimento activo com a vida e o equilíbrio
psico-afectivo.
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Envelhecer bem depende da activação dos recursos pessoais e da
sociedade que permitem às pessoas adaptarem-se e sentirem-se bem
diante das mudanças evolutivas dessa fase da vida. Deste modo, podemos
afirmar cada vez mais que envelhecer é uma aprendizagem e “mais
importante do que adicionar anos à vida, é dar vida aos anos conquistados”.
Então, deve ser estimulada a implementação de iniciativas/actividades
que permitam o exercício da cidadania activa sem limite de idades, para
isso, salienta-se a importância tanto do gerontólogo como do
psicopedagogo.
As discentes gostariam de aproveitar a oportunidade para realçar a
importância de actuar o mais precocemente com esta faixa etária para que
as suas necessidades e problemáticas sejam resolvidas.
Em suma, o psicopedagogo tem como objectivo fundamental aceitar
incondicionalmente o outro (perspectiva humanista) e respeitar o lugar do
outro, e ajudá-lo a ultrapassar as suas dificuldades, ou prevenir possíveis
problemas.