uma guinada À esquerda?

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  • 8/8/2019 UMA GUINADA ESQUERDA?

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    33 Encontro Anual da ANPOCS

    GT 18 ELITES E INSTITUIES POLTICAS

    UMA GUINADA ESQUERDA? UM ESTUDO DA ELITE POLTICA

    FEDERAL PARANAENSE NOS GOVERNOS FHC/LERNER (1999/2003) E

    LULA/REQUIO (2003/2006).

    Bruno Bolognesi (UFSCar) e Camila Tribess (UFPR)

    Caxambu/MG2009

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    APRESENTAO

    O objetivo inicial deste paperfoi traar um perfil dos deputados federais

    eleitos pelo estado do Paran comparando os eleitos para a legislatura de 1999a 2003 com o perfil dos eleitos para a legislatura de 2003 a 2006. Tais

    informaes foram delineadas com base em dados coletados em fontes, como

    os Repertrios Biogrficos, da Cmara dos Deputados, o Dicionrio Histrico-

    Biogrfico Brasileiro, da Fundao Getlio Vargas, bem como pginas na

    Internet de diversas instituies polticas (Tribunal Superior e Tribunal Regional

    Eleitoral, Cmara dos Deputados, entre outras). Assim, a principal questo nesta

    pesquisa analisar de que forma as mudanas no espectro ideolgico do poder

    executivo influenciam o perfil dos deputados federais paranaenses, buscando

    perceber se essa mudana implicou em uma popularizao (conceito utilizado

    conforme Rodrigues, 2006) da elite poltica paranaense, ou seja, se o perfil

    desta elite se modificou no sentido de diminuir a distncia entre os atributos

    sociais e polticos possudos pelos membros da elite em relao populao

    como um todo.

    Esta comparao se d no seguinte sentido: existe uma sensvel

    diferena entre o perfildos deputados eleitos para uma legislatura, em que o

    poder executivo estadual e federal se concentra nas mos de uma coalizo

    de centro-direita, em comparao a uma legislatura, em que o poder executivo

    governado por uma coalizo de centro-esquerda? Se estas diferenas no perfil

    legislativo existem, quais so elas?

    A hiptese inicial a de que, ao serem eleitos presidentes e

    governadores de centro-esquerda, o perfil dos deputados seria diferente dos

    que foram eleitos durante os governos de centro-direita.O perfil legislativo aqui traado se baseia em dados coletados e

    organizados em um banco de dados com 45 itens englobando origem familiar,

    origem social, carreira poltica, dados sobre formao educacional e profissional,

    e atuao dentro da Cmara dos Deputados (CD) dos eleitos entre 1999 e 2006.

    Para as anlises feitas neste trabalho, os dados so considerados sempre em

    trs blocos principais: a origem social, a trajetria social e a trajetria poltica.

    Esses trs blocos tentam mapear as instituies pelas quais os deputadospassaram, buscando entender o padro de socializao em cada perodo.

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    Buscamos ter acesso aos dados sobre: a) origem social: nome e

    profisso dos pais, cidade e estado de nascimento do poltico; b) trajetria

    social: profisso e escolaridade dos deputados, participao em entidades civis;c) trajetria poltica: participao em cargos de direo partidria, migrao

    partidria, cargos pblicos ocupados, idade com que foram eleitos para a CD,

    nmero de mandatos exercidos na CD e cargos ocupados dentro da Cmara

    (como participao em comisses e na mesa diretora).

    Alguns dados forneceram resultados interessantes para anlise e

    comparao. Outros, entretanto, deram pouco retorno pelas escassas

    informaes disponveis. No tivemos acesso a informaes que acreditamos

    serem relevantes (a cor e a religio dos deputados) e que para este estudo no

    foram analisadas por limitaes das fontes consultadas. Na maioria das

    biografias no encontramos estes dados o que nos impossibilitou de analisar

    estes aspectos.

    A pesquisa que deu origem a esse trabalho foi desenvolvida como parte

    de outra mais ampla: Quem governa? Mapeando as elites polticas e

    econmicas do Paran contemporneo, do Ncleo de Pesquisa em Sociologia

    Poltica Brasileira (NUSP), da Universidade Federal do Paran. Apesar de esta

    pesquisa abranger tanto os deputados estaduais, como secretrios de estado,

    presidentes de partidos e presidentes de entidades empresariais, neste trabalho

    especfico so enfocados apenas os deputados federais paranaenses: banco de

    dados feito, em grande medida, separadamente dos bancos relativos s outras

    elites.

    Este paperest divido da seguinte maneira: a discusso da teoria que

    deu origem a esse estudo, enfocando as questes sobre elites, recrutamento eespectro ideolgico. A seguir, uma breve contextualizao histrica do perodo

    aqui analisados. Apresentam-se, ento, os dados e a anlise relativos s

    legislaturas de 1999, em comparao legislatura de 2003. Estas comparaes

    esto divididas entre origem social, trajetria social e trajetria poltica. Por fim,

    as ltimas consideraes deste trabalho.

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    ELITES POLTICAS

    Algumas das questes que guiam a maioria dos estudos sobre elitespolticas, decises polticas e grupos considerados importantes para tais so:

    quem exerce poder? Quem decide? Quem governa? Estas questes so, em

    grande parte, condutoras de diversos estudos clssicos e recentes. Existem,

    segundo Putnam (1976), trs mtodos que so normalmente utilizados em

    estudos que buscam responder s perguntas acima: a) o mtodo de

    reputao, ou seja, quem exerce poder por sua reputao nos grupos sociais

    politicamente importantes, no necessariamente por seu cargo formal e que, de

    fato, alteram decises polticas. Esse mtodo normalmente difcil de ser

    aplicado e, em muitos casos, necessita antes de uma anlise posicional; b) o

    mtodo de deciso, que traa estudos sobre quem prope temas decisivos e

    quem os aprova ou os veta. Este mtodo pode restringir as pesquisas aos

    temas especficos da agenda poltica, ou seja, aos temas que so mais

    claramente vistos nas anlises do processo decisrio; c) o mtodo da posio,

    que o que reconhece aquele que est nas posies oficiais de governo como

    sendo tambm quem exerce poder sobre as decises polticas, em grande parte

    dos casos. Consideramos que a maioria daqueles que ocupam os cargos de

    deputados federais, se no todos, exercem, de fato, algum poder, quer seja pela

    proposio de projetos, quer seja pelas votaes e comisses em que

    participam. Assim, no pretendemos esgotar a vastssima discusso sobre o

    exerccio do poder, apenas optamos por um recorte, muito utilizado na literatura

    sobre o tema e, metodologicamente, mais fcil de ser entendido e pesquisado.

    O termo elite vem sendo utilizado de diversas formas e com diferentesfins e aqui utilizado para identificar aqueles que ocupam posies formais de

    mando nas instituies polticas e que, por isso, tm a possibilidade de exercer

    poder e tomar decises-chave no que diz respeito aos temas discutidos nessas

    instituies. Estas decises so consideradas importantes porque afetam a vida

    de um grande nmero de pessoas (em relao s decises tomadas pela mdia

    da sociedade). Essa definio geral provm do mtodo posicional de Wright

    Mills (1981) e o termo ser aplicado para os deputados federais do Paran.Acreditamos que, em relao elite poltica deste estado, estas pessoas

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    ocupam cargos de grande importncia poltica, justamente pela importncia e

    abrangncia que tm as decises que podem tomar nos cargos que ocupam.

    Para Giddens (1974) os estudos de recrutamento so especialmenteimportantes porque podem analisar a ligao entre elites polticas e classes

    sociais. Giddens distingue trs dimenses essenciais envolvidas nos estudos de

    elites. A primeira delas a questo do recrutamento para as posies de elite, a

    segunda a estrutura destes grupos e a terceira a distribuio do poder

    efetivo, ou seja, entender se ocupar determinados cargos significa estar em

    posies de poder. Neste paper nos limitamos a estudar alguns fatores da

    primeira dimenso apresentada por este autor, relativos questo do

    recrutamento. Nesse sentido, Giddens aponta para a necessidade de averiguar

    quo aberto ou quo fechado este recrutamento da elite e, tambm, onde

    esse recrutamento ocorre, ou seja, quais so as avenidas de mobilidade que

    levam aos postos de elite. Assim, nenhuma elite totalmente aberta, nem

    totalmente fechada. Todas so, de certa forma, abertas, j que precisam permitir

    que pessoas destacadas na sociedade ascendam aos cargos de elite, mas

    tambm no podem ser completamente abertas, j que necessitam manter o

    grau de coerncia de socializao e um alto grau de integrao na elite.

    RECRUTAMENTO

    Entendemos, para este estudo, recrutamento como o processo que

    permite que determinadas pessoas ascendam aos cargos de maior importncia

    na nossa sociedade, no nosso caso, CD. As eleies no so o nico

    processo por que passam aqueles que so eleitos e que determinam, de certa

    forma, o futuro do pas. Para Pipa Norris (1997) o recrutamento num sistemafederalista (como o do Brasil) permite uma carreira mais flexvel e a elite nesse

    sistema mais permevel, no havendo um caminho fixo a seguir. Entretanto,

    inclusive nos casos de carreiras curtas e de pessoas que se elegem sem

    experincia poltica prvia, tambm existe algum filtro de recrutamento. Este

    processo que define a composio do parlamento e, ao longo prazo, podem

    ser uma espcie de termmetro das mudanas sociais. Assim, um perfil

    comparado dos deputados federais do Paran, em longo prazo, pode nos

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    ilustrar as mudanas polticas e sociais pelas quais este estado passou, dentro

    do contexto das mudanas nacionais.

    Os filtros de recrutamento que Norris (1997) destaca so praticamente osmesmos que aparecem na maioria dos estudos sobre este tema e englobam

    desde as qualificaes formais, como escolaridade e profisso, at a

    experincia poltica dos candidatos, a habilidade de oratria, os recursos

    financeiros disponveis e as relaes polticas que cada candidato possui. Os

    estudos tm apontado, na maioria das vezes, para a predominncia dos

    colarinhos-brancos (profissionais liberais, empresrios, etc.) e para a pouca

    participao de trabalhadores e de mulheres nessas elites. Entre os diversos

    candidatos que se apresentam ao cargo, quais e com qual perfil conseguem

    passar pelos filtros impostos pelos partidos, pelas instituies e at mesmo

    pelo eleitorado? Esse processo pode englobar desde a origem familiar, a

    carreira, a escolaridade, o partido, enfim, todo o caminho percorrido pelo poltico

    at que ele vena as eleies para o cargo de deputado federal. importante

    lembrar que os deputados, em nosso estudo, j foram eleitos, ou seja, j

    passaram por todos estes filtros de recrutamento.

    Putnam (1976) aponta que essa elite homognea, unida e consciente

    de si mesma, buscando se perpetuar em apenas um exclusivo segmento social.

    Essas pessoas que passam pelos filtros de recrutamento e chegam s posies

    de elite poltica so pessoas, para Putnam, com abundncia no acesso aos

    recursos polticos, sociais e econmicos. Esse predomnio de certa parte da

    sociedade dentro da elite poltica, segundo Norris (1997), pode causar no

    apenas uma baixa legitimidade desta elite, como tambm alterar a agenda de

    decises e o prprio estilo de se fazer poltica. Neste sentido, o estudo dePutnam aponta para a importncia de quem toma as decises polticas

    relevantes e em quais instituies elas so tomadas, alm, claro, da

    importncia de quais decises so tomadas, ou seja, da agenda poltica. Assim,

    coloca-se claramente a importncia de estudar os agentes polticos, no nosso

    caso, uma parte da elite poltica paranaense, que so os deputados federais.

    Vrios estudos sobre recrutamento de elites apontam serem necessrios

    certos atributos naturais e atributos conquistados (Keller, 1967) para sechegar s posies de poder: a origem familiar, a classe social, a cor e a

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    religio, a educao formal, profisso, renda e passagem por instituies sociais

    ou polticas. Esses atributos so essenciais para fazer parte da elite e podem

    ser vistos de forma mais ou menos homognea na grande maioria de seusmembros. Outros autores apontam as instituies em que a grande maioria dos

    membros da elite se socializa (escolas, universidades, movimentos, clubes,

    partidos) como avenidas (Giddens, 1974) que levam at as posies da elite

    certos cursos de graduao, profisses, clubes sociais, partidos e cargos

    pblicos que so, se no suficientes, ao menos necessrios para a ascenso

    aos cargos mais altos da elite poltica (Keller, 1967). Baseados nestes atributos

    e nestas avenidas que aparecem de forma recorrente em diversos trabalhos

    sobre o tema, buscaremos perceber quais so estes atributos necessrios aos

    deputados federais do Paran, bem como por quais avenidas eles passam

    antes de chegarem CD.

    Nesse sentido, temos no Brasil duas obras clssicas sobre quais so

    essas avenidas e quais atributos so necessrios para a elite poltica no

    Brasil. A primeira delas de Jos Murilo de Carvalho (2003) que aponta o curso

    de direito, a profisso de advogado e magistrado, alm de alguns outros

    atributos especficos como essenciais para aqueles que foram parte da elite

    poltica brasileira na poca do Imprio. O segundo trabalho de Joseph Love

    (1982), que faz um estudo semelhante para a elite poltica de So Paulo, desde

    1889 at 1937, apontando as profisses de advogado e mdico como bases da

    socializao da elite paulista, com um alto grau de localismo.

    Podemos refletir, com base nestes estudos, sobre o perfil da elite poltica

    brasileira, se ainda formado de advogados e mdicos ou se houve alguma

    mudana neste perfil. Temos alguns estudos recentes que tratam do perfil daselites polticas paranaenses, de forma mais especfica, principalmente em

    relao aos deputados estaduais, secretrios de estado e presidentes de

    partidos. Tais estudos se focam principalmente nas elites polticas e econmicas

    da ltima dcada e buscam tambm traar perfis, de forma geral ou comparada,

    das elites do estado1.

    1

    Cf. PERISSINOTTO, Renato M.; CODATO, Adriano Nervo; FUKS, Mrio; BRAGA, SrgioSoares (Org.), 2007. Cf. tambm monografias GOUVA, Julio. 2005, COSTA, Luiz Domingos,2005 etc.

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    os da direita acreditam numa mudana institucional, operada pelos grupos que

    ocupam as posies principais nas instituies.

    Nesse estudo utilizamos os termos "centro-direita" e "centro-esquerda"para facilitar a incluso do PSDB e do PMDB, que so vistos como partidos de

    "centro" pela literatura nacional (Singer, 2000; Sousa Braga, 2006; Rodrigues,

    2002 etc.), mas que, entretanto, no contexto especfico do Paran, podem ser

    tomados como centro-direita e centro-esquerda, respectivamente,

    principalmente ao levarmos em considerao as coligaes partidrias e

    eleitorais efetuadas por estes partidos no perodo analisado.

    Lencio Martins Rodrigues (2002) aponta em seus estudos que o perfil da

    bancada legislativa se altera conforme o espectro ideolgico dos partidos, ou

    seja, ele divide os partidos em esquerda, centro e direita, e analisa que a

    trajetria poltica e a socializao dos deputados de cada um dos espectros

    ideolgicos possuem ntidas diferenas e peculiaridades. Entre as diferenas

    mais marcantes esto, sem dvida, a escolaridade, a origem social e a

    profisso. Rodrigues aponta para um perfil mais escolarizado, que vem dos

    cursos de direito, que atuam como advogados, empresrios e profissionais

    liberais nos partidos de direita. J para os partidos de esquerda aparece um

    perfil com menor escolaridade, diferentes cursos superiores, alm de uma

    trajetria poltica mais ligada no s ao partido, mas tambm aos movimentos

    sociais e sindicais, alm de trabalhadores manuais.

    Em outro trabalho (Rodrigues, 2006), este autor faz uma comparao do

    perfil scio-profissional dos deputados federais do perodo de 1999 a 2003 (a

    segunda legislatura sob o governo Fernando Henrique) e entre 2003 e 2006 (a

    primeira legislatura sob o governo Lula da Silva). Neste estudo, Rodriguesaponta para uma mudana significativa no perfil scio-profissional ao serem

    comparados os deputados federais nestas duas legislaturas. Assim, em parte,

    nosso trabalho tenta verificar esta hiptese de Rodrigues para o caso especfico

    do Paran, tentando compreender se, no caso dos deputados eleitos pelo

    Paran no ano de 20022, possvel encontrar as mesmas diferenas que

    2 As eleies para a CD e para governo dos estados e presidncia da repblica ocorrem juntas,a cada 4 anos em anos pares. Os eleitos assumem no ano seguinte, assim, quando falamos em

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    Rodrigues encontrou no perfil destes deputados, considerando a CD como um

    todo, na comparao com os deputados eleitos em 1998, levando em

    considerao a situao especfica do estado do Paran e de sua elite polticafederal.

    CONTEXTO HISTRICO

    A partir das eleies para a Assemblia Constituinte em 1987, segue-se

    no pas um contnuo de eleies diretas e democrticas para os poderes

    legislativos e executivos. Depois de um perodo conturbado poltica e

    economicamente, com grave crise econmica, o impeachment do presidente

    Fernando Collor de Melo (1 presidente eleito diretamente no perodo) em 1991,

    o vice de Collor, Itamar Franco, assume a presidncia, conquistando certa

    estabilidade poltica e, com um novo plano econmico, alcana tambm

    estabilidade econmica at as prximas eleies.

    No ano de 1994, eleito para a Presidncia, Fernando Henrique Cardoso

    (PSDB) e, no Paran, eleito Jaime Lerner (PFL) para governar o estado.

    Ambos se reelegem em 1998. Esses 8 anos so de um governo de coalizo de

    partidos de centro-direita (PFL, PSDB, entre outros), com a consolidao da

    estabilidade econmica e poltica. No ano de 2002, o Brasil passou por um novo

    processo eleitoral que levou ao governo federal, pela primeira vez no perodo

    ps-regime militar, um partido ideologicamente de esquerda. No Paran tambm

    houve uma mudana significativa, j que foi eleito um governador que

    reconhecido como parte da esquerda do estado, aps dois mandatos

    consecutivos da direita tradicional. Ocorre ento uma mudana no espectro

    ideolgico nos poderes executivos, tanto em nvel nacional, com a eleio deLuiz Incio Lula da Silva (PT) para a Presidncia, quanto em nvel estadual, com

    a eleio de Roberto Requio (PMDB) para o governo do estado. Para Kinzo

    (2004), a eleio de governantes ideologicamente de esquerda sem uma ruptura

    do sistema democrtico a expresso de uma consolidao e fortalecimento

    das instituies polticas democrticas.

    eleies de 1998 e 2002, estamos nos referindo s eleies destes anos, lembrando que asrespectivas legislaturas iniciaram em 1 de janeiro dos anos seguintes.

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    importante tambm lembrarmos o contexto das eleies de 1998 e

    2002 no qual, embora o plano nacional o PMDB tenha apoiado a candidatura de

    Fernando Henrique (PSDB) para a presidncia em 1998, no Paran, o PMDBsaiu com candidato prprio, Roberto Requio, concorrendo com os candidatos

    ao governo do estado apoiados pelo PSDB (Jaime Lerner, em 1998, e Carlos

    Alberto Richa, em 20023).

    Assim, temos no Paran uma mudana significativa na eleio de 2002.

    No s o panorama nacional se modificou da direita para a esquerda, com a

    eleio de Lula da Silva (PT), mas tambm no Paran essa mudana se deu,

    com a eleio de Roberto Requio (PMDB). Dessa forma, a dade

    direita/esquerda no s ainda til metodologicamente, como argumenta

    Bobbio (1995), mas tambm claramente visvel em nossas eleies

    majoritrias.

    PERFIL COMPARADO DAS LEGISLATURAS DE 1999 E DE 2003

    Buscamos compreender se a mudana no cenrio poltico, nacional e

    estadual, quanto ao espectro ideolgico do poder executivo, foi acompanhada

    por mudanas no perfil social e poltico dos deputados federais eleitos pelo

    Paran nestas duas legislaturas. Comparamos aqui os dados de 32 deputados

    federais paranaenses da ltima legislatura sob um poder executivo de centro-

    direita em 1999, com Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na presidncia da

    Repblica e Jaime Lerner (PFL) como governador e, de 33 deputados da

    primeira legislatura sob um governo de centro-esquerda em 2003, com Lus

    Incio Lula da Silva (PT) presidente e Roberto Requio (PMDB) governador4.

    Essa questo se d ao refletirmos sobre o debate acerca da validade ouno dos conceitos de direita e de esquerda para a compreenso de nossa

    realidade poltica. No pleito de 2003 o espectro ideolgico no poder executivo

    federal e estadual (no Paran) foi modificado e fazemos esta reflexo em

    3 Cf.Dados obtidos no Tribunal Regional Eleitoral atravs do site http://www.tre-pr.gov.br,acesso em 2/06/2009 s 15h55min.4 Para as anlises feitas no banco de dados em programa para anlise estatstica, usamos os 21

    deputados que se reelegeram de uma legislatura para outra de forma duplicada, contando cadaum deles como se fosse um deputado diferente na segunda legislatura, nosso banco tem,portanto, 65 entradas nessa etapa da comparao.

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    referncia s pesquisas que avaliam, para a CD como um todo, uma ntida

    diferenciao entre os parlamentares da direita em relao aos da esquerda.

    Traamos comparaes entre as duas legislaturas e buscamos perceberas diferenas na origem social, na trajetria social e poltica dos deputados

    eleitos nesses dois perodos. Consideramos aqui tambm, bem como na parte

    anterior, os suplentes que figuraram em nossas fontes de dados por terem

    assumido um mandato por mais de 120 dias5.

    Iniciando nossa comparao pelo tamanho das bancadas, percebemos

    que a bancada de centro-direita foi reduzida a metade em 2003, passando de 10

    para 5 deputados de uma legislatura para outra. No sentido inverso, a bancada

    de centro-esquerda aumentou de tamanho, indo de 10 para 16 deputados, ou

    seja, em 2003 a bancada de centro-esquerda (PT e PMDB) era o triplo da

    bancada de centro-direita (PSDB e PFL). importante salientar que dos 32

    deputados eleitos em 1998, 9 estavam em sua primeira legislatura, j dos 33

    deputados eleitos em 2002, 10 eram novatos.

    ORIGEM SOCIAL

    Uma modificao clara no perfil geral das legislaturas analisadas o fato

    de que na eleio de 2002 foram eleitas 2 deputadas mulheres, uma como

    titular e outra que assumiu como suplente, ambas pelo PT, fato indito at ento

    para o estado do Paran, que nunca havia eleito uma mulher para a CD antes.

    Isto demonstra no s uma linha poltica conservadora no recrutamento da elite

    poltica paranaense, mas tambm a grande disparidade entre o perfil da elite

    poltica e da populao em geral, uma vez que em janeiro de 2008, segundo o

    Tribunal Superior Eleitoral6, 51,27% dos eleitores paranaenses eram do sexofeminino. Esta disparidade na participao poltica feminina nas instncias de

    deciso e em cargos eletivos fato recorrente no s no Paran, mas no Brasil

    como um todo7. importante frisar que ambas as deputadas eleitas eram do PT

    e possuam experincia poltica adquirida em militncia desde a fundao do

    5 Critrio dos Perfis Biogrficos da CD.6

    Dados obtidos no Tribunal Superior Eleitoral atravs do site http://www.tse.gov.br, acesso em2/06/2009 s 15h50min7 Cf. TABAK, Fanny. 2002.

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    partido, uma delas em movimento estudantil e de sade, a outra em movimentos

    de trabalhadores rurais.

    Quanto aos que se elegem j com tradio poltica na famlia,percebemos uma queda, de 12,5% em 1999 para 9,1% em 2003, o que, em

    nmeros totais, significa que eram 4 deputados com famlia poltica em 1999 e 3

    em 2003. Da mesma forma, o grau de localismo dos polticos eleitos, ou seja, a

    eleio de polticos que nasceram no prprio Paran, se manteve praticamente

    estvel, de 19 casos (59,4%) em 1999 foi para 21 casos (63,6%) em 2003.

    Aqueles que nasceram em Curitiba representaram 18,8% em 1999 e 12,1% em

    2003, o que demonstra uma tendncia interiorizao dos candidatos eleitos,

    ou seja, apesar de o Paran continuar elegendo polticos que nasceram no

    prprio estado, em 2003 foram eleitos mais deputados nascidos no interior do

    estado e no na capital, apesar de esta ainda eleger uma grande parte dos

    deputados, pelo prprio fato de sua concentrao populacional.

    TRAJETRIA SOCIAL

    Um aspecto muito importante para analisarmos a popularizao da

    classe poltica est no nvel de escolaridade dos polticos, principalmente no

    Brasil, pas em que apenas uma parcela restrita da populao tem acesso ao

    ensino superior (em 2001, apenas 8% da populao adulta possua algum curso

    de graduao)8. Nesse sentido, o fato de, em ambas as legislaturas, cerca de

    60% dos deputados possurem nvel superior de escolaridade significativo da

    disparidade existente entre o perfil social da populao brasileira e o perfil social

    dos representantes polticos dessa populao. Notamos uma diferena entre as

    duas legislaturas em questo, entretanto, a diferena se mostra oposta aoesperado, j que na legislatura eleita em 1999 tnhamos 59,4% dos deputados

    com nvel superior de escolaridade, incluindo especialistas, mestres e doutores.

    J na legislatura eleita em 2003, essa porcentagem sobe levemente para

    63,7%. Ao mesmo tempo, o nmero de deputados com ensino mdio (incluindo

    tcnico e profissionalizante) decai de 31,3% em 1999 para 24,2% em 2003. A

    quantidade de deputados com ensino fundamental se mantm a mesma nos

    8 Dados da OCDE - Organizao para Cooperao e Desenvolvimento Econmico (2001).Disponvel em http://www.oecd.org/statisticsdata.htm, acesso em 2/06/2009 s 15h58min.

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    dois perodos, sendo 2 deputados em cada legislatura. Assim, percebemos que

    ao invs de uma diminuio no nvel de escolaridade dos deputados eleitos,

    temos praticamente a mesma porcentagem de deputados com curso superiornas duas legislaturas. Alm disso, notrio o fato de que uma exceo que

    um deputado se eleja tendo cursado apenas o ensino fundamental, ao menos

    para estas duas legislaturas analisadas.

    QUADRO 1 - ESCOLARIDADE POR LEGISLATURA

    Escolaridade Legislatura

    1999 2003

    Sem informao 1 23,1% 6,1%

    Doutorado 3 2

    9,4% 6,1%

    Mestrado 1 2

    3,1% 6,1%

    Especialista 2 3

    6,3% 9,1%

    Superior 13 14

    40,6% 42,4%

    Mdio 5 4

    15,6% 12,1%

    Profissionalizante 2 1

    6,3% 3,0%

    Tcnico 3 3

    9,4% 9,1%

    Fundamental 2 2

    6,3% 6,1%

    Total 32 33

    100,0% 100,0%Fonte: banco de dados dos autores

    Ao contrrio da tendncia encontrada na CD, na eleio de 2003 no

    Paran, o nmero de deputados eleitos que se formaram em direito permaneceu

    o mesmo, ou seja, 7 casos em cada legislatura, isto , cerca de 20%. Outro

    curso muito comum entre os deputados o curso de medicina, entretanto, em

    nosso universo a presena de mdicos baixa e diminuiu pela metade sendo

    6,3% em 1999 (2 casos) e passando para 3% em 2003 (apenas 1 caso).

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    importante lembrar que, historicamente, os cursos de direito e medicina so os

    cursos tradicionais daqueles que fazem parte da elite poltica no Brasil.

    Ainda no que diz respeito aos cursos superiores, aumentou aporcentagem daqueles formados em economia de 3,1% para 6,1% e, em

    engenharia civil, de 6,3% para 12,1%. Essa diferenciao dos cursos superiores

    cursados pelos deputados muito significativa, j que mostra claramente a

    importncia das novas reas de conhecimento na sociedade. Alm disso, h

    certa estagnao das reas clssicas, como direito e medicina, o que demonstra

    que a elite poltica paranaense vem se tornando mais representativa da

    complexidade social.

    Na legislatura de 1999 as profisses predominantes no perfil da elite

    foram as de advogados e empresrios, seguidas das de professor,

    agropecuaristas, contadores e mdicos. J na legislatura eleita em 2003, sobe o

    nmero de advogados, mantm-se a predominncia de empresrios, seguidos

    dos agropecuaristas, comerciantes, agricultores, contadores e engenheiros

    agrnomos. Da mesma forma, no h nenhuma queda significativa na

    quantidade de empresrios ou agropecuaristas eleitos em 2003 em relao a

    1999, bem como a quantidade de professores, agricultores e profissionais

    assalariados se mantm estvel nos 2 perodos.

    QUADRO 2 - PRIMEIRA PROFISSO POR LEGISLATURA

    Primeira profisso Legislatura

    1999 2003

    Advogado 5 6

    15,6% 18,2%

    Agricultor 1 23,1% 6,1%

    Agropecuarista 2 3

    6,3% 9,1%

    Economista 0 1

    ,0% 3,0%

    Empresrio 5 5

    15,6% 15,2%

    Engenheiro civil 1 1

    3,1% 3,0%

    Fazendeiro 1 0

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    3,1% ,0%

    Mdico 2 1

    6,3% 3,0%

    Professor 3 19,4% 3,0%

    Outros 12 13

    37,5% 39,4%

    Total 32 33

    100,0% 100,0%

    Fonte: Idem

    Ao analisarmos as profisses predominantes em cada espectro

    ideolgico em ambas as legislaturas, obtemos a seguinte diviso:

    PT e PMDB (centro-esquerda): Apresentam advogados, agricultores,

    profissionais liberais, empresrios, mdicos, professores e religiosos.

    importante salientar que os empresrios e profissionais liberais em questo

    eram do PMDB. No h agropecuaristas ou fazendeiros, nem engenheiros civis.

    PFL e PSDB (centro-direita): Apresentam advogados, agropecuaristas,

    fazendeiros, empresrios, engenheiros civis, mdicos, professores e religiosos,

    alm de um agricultor. importante frisar que o agricultor em questo foi eleitopelo PFL, partido mais a direita entre os analisados.

    A literatura sobre o tema aponta para uma predominncia de professores

    em partidos de centro-esquerda, fato que no recorrente para este grupo da

    elite paranaense, inclusive, aparecendo professores tambm nos partidos de

    centro-direita. Entretanto, importante ressaltar que nos partidos de centro-

    esquerda no aparecem agropecuaristas ou fazendeiros e os empresrios

    pertencem ao PMDB, partido mais ao centro do que o PT.

    TRAJETRIA POLTICA

    Quanto aos cargos em entidades civis, tanto na legislatura eleita em

    1999, quanto na eleita em 2003, prevalecem aqueles que ocuparam cargos em

    sindicatos de trabalhadores, com um significante aumento desse grupo.

    Entretanto, na legislatura de 2003, h tambm um aumento na quantidade de

    deputados que passaram por cargos em sindicatos patronais, de 12,5% para15,2%. Alm disso, na segunda legislatura no h nenhum caso de deputado

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    que tenha ocupado cargo em movimentos sociais populares. Em ambas as

    legislaturas, a mdia de tempo nos cargos dessas instituies de 1 a 5 anos.

    QUADRO 3 - 1 CARGO EM ENTIDADE CIVIL POR LEGISLATURA

    1 cargo em entidades civis Legislatura

    1999 2003

    Associaes comerciais 3 3

    9,4% 9,1%

    Associaes de caridade 1 0

    3,1% ,0%

    Associaes polticas 3 3

    9,4% 9,1%

    Entidades religiosas 1 1

    3,1% 3,0%

    Movimentos sociais

    populares

    1 0

    3,1% ,0%

    Sindicatos de

    trabalhadores

    6 8

    18,8% 24,2%

    Sindicatos patronais 4 5

    12,5% 15,2%Sociedades ruralistas 3 3

    9,4% 9,1%

    No exerceu cargos em

    entidades civis

    10 10

    31,3% 30,3%

    Total 32 33

    100,0% 100,0%

    Fonte: Idem

    Ao analisarmos os cargos ocupados em direo partidria, percebemos

    que no houve diferena entre a primeira e a segunda legislaturas analisadas.

    Em ambas, 12 deputados foram parte das direes partidrias, cerca de 37%

    em cada legislatura. Entre os deputados eleitos em ambas as legislaturas, a

    maioria ocupou seus primeiros cargos de direo partidria em esferas

    municipal e estadual, permanecendo nestes cargos, em mdia, de 1 a 4 anos.

    Nas duas legislaturas aqui analisadas, possvel perceber que os

    deputados possuem, em sua grande maioria, experincia poltica prvia, sendo

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    que os deputados eleitos para a legislatura de 2003 apresentam uma

    porcentagem ainda maior de experincia prvia (81,8%), em relao aos eleitos

    em 1999 (71,9%), o que demonstra uma maior profissionalizao desta elitepoltica. Tambm importante salientar que dos 32 deputados de 1999, 21 se

    reelegeram em 2003, ou seja, 63,6% dos deputados da legislatura de 2003

    estavam na CD j desde, pelo menos, a legislatura anterior. Esse fato pode ser

    explicativo do aumento relativo na experincia poltica dos deputados da

    legislatura de 2003.

    A porcentagem de eleitos pela primeira vez aumentou levemente em

    2003, passando de 9 (28,1%) para 10 casos (30,3%), ou seja, mantm-se a

    proporo de quase 1/3 dos deputados eleitos sendo novatos na CD. Em 1999,

    a maioria dos deputados havia exercido 1 cargo antes de ser eleito deputado

    federal. Em 2003, a maioria exerceu 2 cargos, o que confirma a maior

    experincia prvia deste grupo em relao legislatura de 1999.

    QUADRO 4 QUANTIDADE DE CARGOS POR LEGISLATURA

    Quantidade de cargos Legislatura

    1999 2003Nenhum 9 6

    28,1% 18,2%

    Um 7 9

    21,9% 27,3%

    Dois 7 6

    21,9% 18,2%

    Trs 3 6

    9,4% 18,2%

    Quatro 3 3

    9,4% 9,1%

    Cinco 3 3

    9,4% 9,1%

    Total 32 33

    100,0% 100,0%

    Fonte: Idem

    Os cargos ocupados pelos deputados antes de entrarem na CD variam

    entre o administrativo, legislativo, executivo e judicirio em nveis municipal,estadual e federal. Os primeiros cargos ocupados na carreira poltica da grande

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    maioria dos deputados eleitos em ambas as legislaturas foram no legislativo

    municipal (34,4% em 1999 e 42,4% em 2003), sendo que a maioria dos cargos

    ocupados foi exercida na prpria capital do estado. A porcentagem daquelesque ocuparam mais de um cargo poltico antes de ser eleito deputado federal

    de 50%, na legislatura eleita em 1999, e de 54,5%, na eleita em 2003.

    Ao compararmos o ltimo cargo ocupado antes da eleio para a CD,

    levamos em conta, inclusive, aqueles que exerceram apenas um cargo antes de

    terem se tornado deputados federais. Para isso, utilizamos o primeiro cargo

    tambm para anlise de ltimo cargo nos casos em que o poltico exerceu

    apenas um cargo antes de ser eleito para a CD. Este padro possibilita analisar

    quais cargos so mais importantes na socializao poltica dos deputados

    federais do Paran. Nesse sentido, percebemos que os cargos do poder

    executivo municipal foram predominantes, seguidos do legislativo municipal e do

    legislativo estadual em ambas as legislaturas analisadas. Nos dois casos, os

    cargos so predominantemente exercidos na capital, Curitiba.

    QUADRO 5 - PRIMEIRO E LTIMO CARGO POLTICO POR LEGISLATURA

    1999 2003

    Primeiro Cargo Legislativo municipal (34,4%) Legislativo municipal (42,4%)

    Executivo municipal (15,6%) Executivo municipal e

    administrativo estadual (12,1%)

    Administrativo estadual (9,4%) Executivo estadual (9,1%)

    ltimo Cargo Executivo municipal (28,1%) Legislativo e executivo municipal

    (24,2%)

    Legislativo municipal (15,6%) Legislativo estadual (12,1%)

    Legislativo estadual (12,5%) Administrativo e executivo

    estadual (6,1%)

    Fonte: Idem

    Quanto ao tempo de carreira prvia, tambm em ambas as legislaturas

    percebemos certa regularidade. A maioria esteve de 2 a 6 anos em cargos

    polticos antes de entrar na CD e em uma mdia geral, a grande maioria exerceu

    cargos polticos por at 10 anos antes de ser eleito deputado federal.

    Quanto mudana de partido, percebemos que os deputados eleitos em2003 mudaram menos de partido antes de entrarem na CD do que os eleitos em

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    1999. Nesta primeira legislatura, 15,6% dos deputados nunca havia mudado de

    partido, enquanto na legislatura eleita em 2003 esse nmero sobe para 24,2%.

    Esse fato pode estar relacionado com o aumento significativo da bancada doPT, partido que, historicamente, apresenta grande fidelidade partidria.

    importante frisar que aqueles que declararam seu primeiro partido na trajetria

    poltica como sendo o PT sobe de apenas 6,3%, em 1999, para 18,2%, em

    2003. Mas tambm, ao compararmos aqueles que mudaram de partido mais de

    4 vezes antes de entrarem na CD, percebemos que, entre os deputados eleitos

    em 1999, 18,8% havia mudado de partido mais do que 4 vezes, enquanto para

    os eleitos em 2003 esse nmero cai para 12,1%. Assim, vemos que os

    deputados da legislatura de 1999 mudaram mais vezes de partido do que os

    eleitos em 2003.

    Quadro 6: Origem social, formao e trajetria poltica por LegislaturaItem no banco 1999 2003

    Origem

    Social

    Quantidade de mulheres nenhuma 2 mulheres

    Nascidos em Curitiba 18,8% 12,1%

    Famlia Poltica 12,5% 9,1%

    Formao Curso Superior 59,4% 63,7%

    Curso de Direito 20% 20%

    Curso de medicina 6,3% 3,0%

    Curso de economia 3,1% 6,1%

    Curso de engenharia civil 6,3% 12,1%

    Professores 9,4% 3,0%

    Advogados 15,6% 18,2%

    Agricultor 3,1% 6,1%

    Fazendeiros 3,1% 0%

    Empresrios 15,6% 15,2%

    Trajetria

    Poltica

    Cargos ent. Civis 40% 40%

    Sindicato trabalhadores 18,8% 24,2%

    Associaes ruralistas 9,4% 9,1%

    Sindicatos patronais 12,5% 15,2%

    Direo partidria 37% 37%

    Experincia poltica prvia 71,9% 81,8%

    Quantidade de cargos 1 cargo 2 cargos

    Novatos na CD 28,1% 30,3%

    1 partido no perodo 15,6% 24,2%

    4 partidos no perodo 18,8% 12,1%Fonte: idem

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    CONSIDERAES FINAIS

    Uma guinada esquerda?

    Aps estas comparaes, voltamos nossa hiptese inicial e nos

    perguntamos novamente se o perfil dos deputados federais do Paran, eleitos

    durante os governos de centro-direita, como em 1999, diferente do perfil

    daqueles que foram eleitos junto com o poder executivo de centro-esquerda,

    como em 2003.

    Percebemos, pelas comparaes feitas neste trabalho, que existem

    diferenas muito importantes e que algumas diferenas so mais significativas

    do que outras. Poderamos dizer, ao tentar responder a questo do ttulo deste

    trabalho que, a princpio, no houve uma grande guinada esquerda. Ou seja,

    quando analisamos o impacto da mudana do espectro ideolgico no perfil da

    elite poltica paranaense, percebemos que as alteraes so menores do que

    supnhamos em nossa hiptese inicial. Algumas das alteraes percebidas so

    no sentido inverso ao esperado, ou seja, em alguns aspectos a elite poltica, ao

    invs de se popularizar em 2003, se tornou ainda mais elitizada. Alguns

    aspectos so importantes para pensarmos a influncia da mudana no espectro

    ideolgico no poder executivo sobre o perfil legislativo. O mais importante deles

    , sem dvida, o grande aumento da bancada dos partidos de centro-esquerda,

    que demonstra que as mudanas no poder executivo alteram tambm o

    recrutamento para o poder legislativo.

    significativo o fato de as duas mulheres eleitas em todo o perodo

    democrtico entraram justamente na legislatura de 2003 e ambas pelo PT.

    Predomina ainda, no perfil dos deputados eleitos pelo Paran em 2002, a cidadede Curitiba como local de nascimento destes deputados. No entanto, esta

    incidncia menor do que a encontrada na legislatura de 1999. Tambm

    aumenta o nmero de deputados nascidos no interior do estado. O percentual

    de deputados eleitos com tradio poltica na famlia tambm diminuiu em 2003

    em relao legislatura de 1999, apontando para o fato de que os deputados

    eleitos tm, cada vez menos, a necessidade de insero atravs de vnculos

    familiares para se elegerem deputados federais pelo Paran. Os deputadoseleitos em 2002 trocaram menos de partido do que os eleitos em 1998, o que,

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    profisses mais importantes. Em 1999 eram as de professor, agropecuaristas,

    contadores e mdicos. Na legislatura eleita em 2003 aparecem os

    agropecuaristas, comerciantes, agricultores, contadores e engenheirosagrnomos. muito importante notar que, apesar da profisso de professor ser

    considerada predominante em partidos de centro-esquerda, a porcentagem dos

    que declaram esta profisso se mantm estvel em ambos os perodos.

    A trajetria em movimentos sociais dos deputados de centro-esquerda,

    que se espera que seja significativo na legislatura de 2003 pelo predomnio

    desta bancada, tambm no se verifica. Em 2003, nenhum dos deputados havia

    ocupado algum cargo neste tipo de organizao. No entanto, houve um

    aumento significativo de deputados que tm trajetria em sindicatos de

    trabalhadores, bem como um certo aumento de deputados que ocuparam

    cargos em sindicatos patronais.

    Os deputados eleitos em 2003 tambm so mais experientes do que os

    eleitos em 1999, ou seja, ocuparam mais cargos polticos antes de se elegerem

    para a CD. Isto pode ser decorrncia do nmero de deputados reeleitos no

    perodo. Em 2003, a maioria dos deputados exerceu 2 cargos polticos antes de

    ingressar na CD, enquanto os eleitos em 1999 exerceram, em sua maioria,

    apenas 1 cargo.

    Temos, assim, um panorama que aponta algumas mudanas importantes

    no perfil deste grupo da elite poltica paranaense. Mas tambm temos dados

    que demonstram que, em certos aspectos, no houve a popularizao

    esperada para o grupo em questo, principalmente em pontos fundamentais

    para este tipo de anlise, como nas questes de escolaridade e profisso,

    dificultando a possibilidade de concluses no sentido de uma popularizaodesta elite poltica em 2003. Assim, para o caso dos deputados federais

    paranaenses eleitos em 1999 e 2003, algumas das constataes de

    popularizao dos deputados federais desta segunda legislatura na CD

    (Rodrigues, 2006) no se verificam, tornando o Paran uma exceo

    conservadora no perfil de sua elite, apesar do grande aumento dos deputados

    de centro-esquerda eleitos nesse perodo. Talvez, essa dificuldade se d

    tambm pelo reduzido espao de tempo analisado, j que uma anlise,considerando as duas legislaturas sob o governo de centro-direita (1995 a 2003)

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    e as duas sob o governo de centro-esquerda (2003 a 2010), pudesse apontar

    maiores diferenas entre estes perfis. Entretanto, procurou-se ser coerente com

    o objeto proposto para esta pesquisa, principalmente em comparao com otrabalho realizado para a CD como um todo.

    Dizer que o perfil dos deputados de centro-esquerda no difere de forma

    radical do perfil de centro-direita, e que o perfil geral da legislatura sofreu

    poucas alteraes com as mudanas de espectro ideolgico do poder executivo

    e das prprias bancadas do legislativo, no significa, necessariamente, dizer

    que a atuao poltica a mesma, nem que equivalente eleger partidos de

    centro-esquerda ou de centro-direita. Buscamos entender apenas quais so os

    filtros de recrutamento para os grupos da elite poltica do Paran, em especial

    para a eleio CD. Nessas duas legislaturas em questo, a partir da anlise

    de nossos dados, percebemos que no possvel falar de uma popularizao

    da elite poltica.

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