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  • 8/14/2019 Uma experincia educomunicativa na Escola Edna de Mattos Siqueira Gaudio, Vitria(ES)

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    Trabalho de Concluso de Curso Comunicao Social JORNALISMO Centro de Artes - UFESUMA EXPERINCIA EDUCOMUNICATIVA NA ESCOLA EDNA DE MATTOS SIQUEIRA GAUDIO,VITRIA (ES)

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    INTRODUO

    possvel afirmar que uma rdio-escola contribui para formao dos

    alunos nela envolvidos? E mais: a partir de uma reflexo acerca do atual quadro da

    mdia brasileira, uma experincia de rdio-escola tende a consolidar novas formas

    de se fazer comunicao social? Tende a democratizar os meios?

    Prticas - como a que ser relatada neste trabalho - chamadas

    atualmente de educomunicativas esto em toda a parte e so, em boa medida, a

    busca humana pela liberdade, pela expresso. Alm de como assim o considera

    este projeto ser um grande passo rumo democratizao da comunicao,

    consolidao do direito de dizer a palavra.

    A escola, da maneira como foi construda, tende a ser um espao onde

    quem manda fala e quem obedece ouve. obvio que, com o passar dos anos, este

    espao tornou-se menos ditatorial e algumas de suas incoerncias foram sanadas.

    No h mais espao para o aluno ser colocado no canto da sala com um chapu de

    Burro, ou mesmo ajoelhar no milho, e ainda, receber reguadas nas mos. Mesmo

    que isto ainda acontea, o que era regra tornou-se exceo. Todavia, algoimportantssimo ainda no mudou (mas precisa ser mudado): no ambiente escolar,

    h quem nada sabe e os que tudo ensinam. Para piorar, boa parte do contedo que

    ensinado ali pura abstrao e uma forma ingrata de aprisionar o educando.

    Complementarmente, outras convenes sociais seguem este mesmo

    trajeto. Nesse caminho encontra-se a comunicao social, os aparelhos de mdia, os

    mass media. Tal qual a escola, os veculos de comunicao tambm se configuram

    como um local onde uns falam e outros ouvem. As correes no so fsicas, pormmorais. Eles tudo ensinam. Ns nada sabemos. Para piorar boa parte do contedo

    transmitido pura abstrao e uma forma ingrata de aprisionar o espectador, o

    ouvinte, o internauta.

    Similaridades parte, o importante perceber que o ser humano, como

    ser social, capaz de renovar, regredir, oprimir, libertar. A escola, os mass media,

    no so fins, mas sim meios, formas de se alcanar determinado objetivo. Que pode

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    ser a liberdade, a expresso, a democracia, a utopia. Tudo se torna um reflexo do

    objetivo.

    Sendo assim, esta experincia educomunicativa utiliza, dentro docolgio Edna de Mattos Siqueira Gaudio, no municpio de Vitria, ES, o veculo de

    comunicao rdio com o intuito de chegar democracia dos meios, devolver a

    palavra a quem de direito.

    O rdio, por ser essencialmente democrtico ao trabalhar apenas com a

    fala, tem sido, historicamente, uma arma tanto nas mos de movimentos

    revolucionrios quanto nas mos de polticos conservadores. Sua constituio,

    segundo Ferrareto, resultado do esforo humano para atender a uma necessidadehistrica: a transmisso de mensagens distncia sem o contato pessoal entre o

    emissor e o receptor [...] (2001, p.80).

    No Brasil o monoplio de mdia e a legislao defasada, opressora

    impedem o uso democrtico do rdio. Junte-se a isso o fato das rdios comerciais

    estarem saturadas de programaes vazias intelectualmente e pobres culturalmente.

    Logo, "[...] as centenas de milhes de marginalizados do continente latino-

    americano s podero afirmar o seu direito existncia reinventando as formas de

    luta e de expresso" (MACHADO, ARLINDO E MAGRI, 1986, p.98)", no qual

    destaco neste trabalho a comunicao social atravs do rdio.

    No incio da dcada de vinte, ao ser idealizado por Roquette-Pinto, o

    rdio tinha por finalidade a educao do povo brasileiro. Na rdio Sociedade do Rio

    de Janeiro iniciou-se um sonho no qual "[...] o professor Roquette-Pinto teria visto

    no rdio um instrumento de transformao educativa. Conferncias cientficas,

    msica erudita e anlise dos fatos polticos e econmicos marcam, deste modo, as

    primeiras transmisses [...]". (FERRARETTO, 2001, p.98)

    Contudo com a chegada da dcada de trinta o rdio j se potencializa a

    partir da venda de espao publicitrio e da constante invaso cultural estrangeira,

    principalmente norte-americana. Com isso o seu carter educativo foi sendo

    gradativamente deixado de lado. A prpria Rdio Sociedade do Rio de Janeiro

    populariza um pouco sua programao, apesar de Roquette-Pinto no abandonar seu

    objetivo inicial (FERRARETTO, 2001, p.103).

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    Com expanso das prticas publicitrias, no s no rdio, mas em todos

    os meios de comunicao social, e a crescente penetrao de modos estrangeiros de

    se vestir, se portar, de viver American way of Life apareceram movimentos que

    remaram contra a corrente. Surgiram rdios livres na Europa na dcada de 70 e no

    Brasil na dcada de 80. Em seu bojo a vontade de reconstruir o radialismo

    democrtico e a necessidade de se pronunciar a palavra sem a mediao e a

    regulao de ningum, pois os homens so essencialmente comunicao.

    Na dcada de 90, a partir da realidade das rdios livres que foram

    bastante reprimidas, porm permaneceram na sua luta pela liberdade de expresso ,

    surge um outro movimento: o das rdios comunitrias. O grito do gueto, a voz dos

    que no tem voz avana rapidamente pelo Brasil. Com uma proposta diferente das

    rdios livres, as rdios comunitrias pretendem atuar na legalidade, com concesso,

    no entanto a maior parte delas no consegue um aval do Ministrio das

    Comunicaes e continuam sendo perseguidas pela Polcia Federal por ordem da

    Agncia Nacional de Telecomunicaes (Anatel), a reguladora do setor. Saldo final:

    vrias delas foram, e continuam sendo, fechadas.

    A preocupao com a realidade comunicacional no Brasil

    principalmente no que tange a histrica concentrao de mdia , juntamente com oavano das tecnologias sobre a vida social, fomentou estudos que propunham uma

    leitura crtica dos meios e alternativas para o quadro vigente. Complementarmente

    surgem propostas para o cenrio atual, como a Educomunicao.

    Unio das reas de conhecimento Educao/Comunicao a

    Educomunicao um campo transdisciplinar recente. Apesar da insero de

    veculos de comunicao na escola ser bastante antiga a sua reflexo terica se

    consolida apenas na dcada de 90 e pode ser definida como um conjunto de aesque buscam criar e fortalecer ecossistemas comunicativos em espaos educativos

    presenciais e virtuais. O objetivo a expresso, a produo de cultura (MACHADO

    e ALVES, acesso 3 jul. 2006).

    Sua contribuio maior para este trabalho se d no seguinte sentido:

    apropriao dos meios de comunicao para a construo de uma identidade

    comunicativa prpria sem intermediao e que possibilite aos alunos e,

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    consequentemente a escola, a reinveno do conhecimento, do dilogo, da

    cooperao.

    O presente trabalho, ao debruar-se sobre este arcabouo tericorecente, provavelmente comete erros metodolgicos que toda e qualquer cincia

    nova comete, ou no coleta resultados imediatos como possvel se esperar em

    muitas outras experimentaes. H que se levar em considerao ainda o fato da

    escola no possuir uma infra-estrutura especfica para a realizao de um projeto de

    rdio-escola, tudo um tanto quanto amador e isto contribui para um possvel

    insucesso da realizao da prtica. Todavia a inteno aqui refletir acerca da

    insero de novas tecnologias na escola e sua contribuio para o saber estudantil e

    no dar um veredicto final sobre a validade das teorias educomunicativas como um

    todo.

    Com o objetivo de conhecer a teoria, a prtica e a metodologia

    recorremos aos tericos do Ncleo de Comunicao e Educao da Universidade de

    So Paulo (NCE/USP). Nomes como Ismar de Oliveira Soares, Eliany Salvatierra

    Machado; Patrcia Horta Alves so recorrentes ao longo das pginas que se seguem

    e contriburam enormemente para a estruturao deste projeto.

    Como complemento aos tericos e experimentadores da

    Educomunicao utilizamos as reflexes desenvolvidas por Paulo Freire e por

    Antonio Gramsci sobre a educao, sobre a escola, sobre o ensino de uma forma

    geral.

    Paulo Freire, em suas investidas pedaggicas no nordeste brasileiro e

    no mundo, criou uma forma de se ensinar que levava o ser humano do campo da

    abstrao para a ao a partir das discusses nos crculos de cultura. Seus estudos

    lhe permitiram afirmar que pensar o mundo julg-lo; e a experincia dos crculos

    de cultura mostra que o alfabetizando, ao comear a escrever livremente, no copia

    palavras, mas expressa juzos (FREIRE, 1987, p.13). Para Freire o mundo

    histrico-cultural e o homem o constri e reconstri constantemente a partir e

    atravs da relao com o outro. Ao transformar a realidade que o cerca o homem se

    transforma e vice-versa (1987, p.76). Ento qual seria a verdadeira tarefa do

    educador/mediador na educao? Simplesmente transmitir contedos pr-fabricados

    ou ensinar a ler a palavra e no o mundo? A tarefa do educador, ento, a de

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    problematizar aos educandos o contedo que os mediatiza [...] (FREIRE, 1987,

    p.81). Somente dessa forma a educao poder ser fora de transformao. Mas,

    para isto, necessrio [ainda] que sua transformao seja resultado das

    transformaes experimentada na realidade qual se aplica. (FREIRE, 1968, p.84).

    Para ser bem claro Paulo Freire pretendia, com seu mtodo, elevar o ser

    humano a uma nova racionalidade na qual ningum sabe mais do que ningum, e

    todos, em colaborao, aprendem, a partir da crtica ao estgio atual em que se

    encontram. Logo, refletem, reformulam o mundo em que esto e que ajudaram a

    construir assim como este prprio mundo, sendo uma construo humana,

    contribuiu para a formao deles mesmos de uma forma mais solidria, um

    planeta humanizado.

    Todavia este planeta tal qual sonha Freire s existir no instante em

    que, conforme assinala Antonio Gramsci, os homens excludos, ao tomarem

    conscincia de classe, verem-se no apenas como indivduos, mas como grupo

    capaz de criticar o senso comum e elaborar uma nova forma de pensar baseada na

    filosofia da prxis (MOCHCOVITCH, 1988, p.14).

    Neste quadro, os intelectuais (do partido comunista, no caso) tm o

    papel fundamental de unir os proletrios ideologicamente e como fora histrica

    em um propsito nico: a tomada do poder pela classe subalterna e a transformao

    desta em classe hegemnica que, consequentemente, por fim a luta de classes a

    partir da eliminao das mesmas. Assim cada indivduo passa a ser considerado

    como representante da humanidade inteira e pea importante para a mudana que se

    quer efetuar (TAVARES, 1989, p.89).

    O que tomamos como primordial do pensamento de Gramsci para este

    trabalho diz respeito conscincia de classe a partir da crtica ao senso comum e,

    principalmente, a educao como um dos processos de transformao da sociedade

    (TAVARES, 1989, p.18).

    Assim a contribuio terica que Freire e Gramsci do para a execuo

    desta proposta educomunicativa primordial para o que se buscou fazer,

    principalmente no que diz respeito a trabalhar a criticidade em todo o tempo,

    construir/compartilhar conhecimento, fomentar o dilogo.

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    Uma das justificativas para a execuo deste trabalho que a mdia,

    com a contemporaneidade, se tornou parte da nossa vida ao ditar regras e costumes,

    modas e padres, formar culturalmente, socialmente e educacionalmente. Logo,

    tornou-se dispensvel pensar a educao apenas no espao escolar, pois, acredita-se

    que, todas as instncias sociais contribuem para a substancial formao do homem.

    Partindo desta concepo e baseado na transdisciplinaridade, estruturou-se o ramo

    do conhecimento que se convencionou chamar Educomunicao.

    Um outro ponto a crescente concentrao, monopolizao dos meios

    de comunicao social. A alternativa que aqui propus est baseada na construo de

    um ambiente na escola (no caso a rdio) que d voz aos alunos. Pois a linguagem,

    como construo social transmitida atravs da cultura, atravessada por vises de

    mundo, representaes mais prximas ou mais distanciadas da realidade vivida

    (PENTEADO, 1998, p.128).

    Neste espao quebrar a hegemonia de empresas de comunicao

    reportar seus prprios acontecimentos, entender como se d a edio de matrias,

    ser sujeito da ao e no mais objeto. Pode parecer ingnuo, mas ao desencadear

    este processo hoje, no perodo escolar, pressuponho que amanh eles continuaro a

    buscar formas de se expressar e no se sujeitaro a serem apenas objetos. Afinal"[...] o homem que tem voz' um homem que sujeito de suas prprias aes, um

    homem que projeta livremente o seu prprio destino (LIMA, apud Freire, 1981,

    p.66)

    Este trabalho tem por objetivo desenvolver a capacidade crtica e

    criadora em um ambiente de intensa comunicao, para que linguagens, opinies e

    identidades sejam expressadas atravs do rdio, alm de criar um ambiente onde a

    cooperao e o resultado obtido pelo grupo so o ponto de partida para a construode um saber coletivo. De acordo com Penteado, somente dessa forma ser possvel

    caminhar em direo a uma educao escolar formadora, reveladora, suporte para

    o exerccio pleno da verdadeira cidadania (1998, p.13).

    Sendo assim, buscamos em Vitria, junto a direo da Escola

    Municipal de Ensino Fundamental Edna de Mattos Siqueira Gudio, uma

    oportunidade para desenvolver esta experincia educomunicativa. A escolha do

    colgio veio por indicao de uma assistente social (Mariza Tietz) da unidade de

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    sade do bairro Jesus de Nazareth, onde est situado o Edna. Isso aconteceu em

    maro de 2006 aps uma das reunies para a organizao do Entre Comunidades

    (evento da Pr-Reitoria de Extenso da Ufes).

    Situado em uma regio onde grande parte dos moradores vive da pesca,

    o bairro Jesus de Nazareth relatado neste trabalho a partir da viso de uma

    moradora, assim como a realidade da EMEF Edna de Mattos Siqueira Gudio

    transmitida por uma das mais antigas funcionrias do colgio. Vale ressaltar que a

    comunidade tem na escola um referencial e s vezes at um refgio, na busca pela

    ascenso social. Concomitantemente, o colgio tenta retribuir ao oferecer no s

    aula, mas tambm, nos finais de semana, cursos (artesanato, musicalizao, dana)

    dentro do programa do Governo Federal Escola Aberta.

    A proposta do projeto rdio-escola consistia em organizar uma rdio

    com contedo pedaggico e no simplesmente musical com alunos de stima srie.

    A escolha de alunos de stima srie deveu-se ao seguinte fato: no prximo ano,

    estes estaro cursando a oitava srie e podero dar continuidade a idia ao

    preparar/capacitar outros de stima com o intuito de postergar a prtica. Dentro do

    campo da Educomunicao, o rdio um dos veculos mais utilizados por resgatar a

    oralidade.

    Metodologicamente o trabalho foi baseado na pesquisa participante ou

    pesquisa ao e o reflexo de toda uma opo pelo dilogo, pelo "fazer com" e na

    perspectiva de construir/vizualizar novas formas de se expressar atravs do veculo

    de comunicao social rdio. Boa parte das experincias foram relatadas em um

    dirio de campo, que serviu para especificar melhor tudo que acontecia durante a

    pesquisa.

    Em abril de 2006 comeamos as primeiras reunies aps uma conversa

    com a direo da escola sobre a viabilidade ou no deste trabalho. Dentre os

    procedimentos aprovados e adotados constavam a escolha de 20 alunos (dos 50

    existentes na stima srie vespertino) que foram selecionados a partir do interesse

    de cada um em relao ao rdio na escola e sua perspectiva educativa. Para esta

    seleo foi aplicado um questionrio contendo as seguintes perguntas: 1) Voc ouve

    rdio regularmente? 2) Que rdio voc ouve? 3) Na sua opinio, para que serve o

    rdio? 4) Se hoje voc tivesse uma rdio nas mos o que faria?

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    Debates baseados no olhar cotidiano dos alunos sobre a escola, a mdia

    e as coisas que os cercam apareceram em um primeiro momento e, afim de faz-

    los conhecer a dinmica e a estrutura de uma rdio, estes foram levados, logo nas

    primeiras semanas do projeto, Universitria FM no horrio do programa Bandejo

    104.7, que vai ao ar diariamente das 12 s 14 horas e produzido e apresentado por

    estudantes de Comunicao Social da Ufes.

    Na etapa seguinte assistimos ao filme brasileiro Uma onda no ar

    (RATTON, 2002) que conta a histria da constituio da rdio Favela de Belo

    Horizonte (MG), uma rdio inicialmente livre, posteriormente comunitria.

    Textos sobre funcionamento de estruturas de rdio e suas modalidadestambm foram lidos e debatidos. Programas com temticas e dinmicas diferentes

    das rdios comerciais foram apresentados para uma melhor elucidao da proposta

    do que viria a ser esta rdio-escola. Posteriormente, mais precisamente no ms de

    julho, eles foram separados em grupos, onde cada um tinha uma tarefa especfica

    um era o reprter, o outro editor de udio. Quando a matria ia ao ar no recreio um

    era o operador da mesa de som (sonoplasta), e o outro o locutor Na ocasio

    seguinte era feito um rodzio nas atividades.

    Ainda naquele ms foram escolhidos o nome da rdio e a escolha dos

    temas para as matrias. O resultado de todo este processo de prtica

    educomunicativa, aliado a insero de novas tecnologias para a ampliao do

    conhecimento e expresso e o arcabouo terico freireano e gramsciano a rdio

    MJN, a rdio que nossa escola ouve.

    Nossos encontros aconteceram de Abril Setembro de 2006, ou seja,

    foram seis meses para que estruturssemos a proposta, gravssemos sete vinhetas e

    colocssemos no ar na hora do recreio que dura vinte minutos trs programas.

    Para discutir esta experincia e seus resultados o trabalho foi dividido em quatro

    captulos.

    No captulo 1 tratamos da constituio do rdio como veculo de

    expresso e comunicao social no Brasil e no mundo e seu crescimento a partir da

    criao da indstria fonogrfica e das primeiras empresas de mdia.

    J no Captulo 2 o debate gira em torno do direito a palavra e daspropostas para a democratizao dos meios. Rdios livres, comunitrias e

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    1 -ORDIO: HISTRIA E EVOLUO

    ido como um dos primeiros meios de comunicao de massa, o

    rdio resultado de experincias diversas. Inicialmente o homem

    moderno, j acostumado a deixar a sua histria grafada em pedras,

    peles de animais e papel, buscava uma maneira de guardar tambm as vozes que se

    perdiam no ar.

    T

    No comeo eram as palavras. A sabedoria passava da boca para o ouvido, doouvido para a boca, de gerao para gerao, em uma tradio oral que perduroupor muitos sculos, equivalente a 99% de toda a histria humana. No haviaescrita para explicitar os conhecimentos. Pintavam-se bises e estampavam-semos nas cavernas, mas no se desenhava a voz humana e no se codificava opensamento em sinais posteriormente decifrveis (LPEZ VIGIL, 2003, p.9).

    Primeiro vieram as tentativas bem sucedidas com aparelhos que

    necessitavam de cabos. O telgrafo e o telefone foram os precursores do rdio. Otelgrafo, pela primeira vez, ofereceu velocidade ao conhecimento. Mas no era o

    udio real da natureza nem as palavras vivas das pessoas que viajavam atravs

    daquela primeira linha entre Washington e Baltimore (LPEZ VIGIL, 2003, p.10).

    Animados com a descoberta das ondas eletromagnticas que se

    propagam no espao, os cientistas do sculo XIX buscavam agora uma maneira de

    lanar e captar as vozes atravs do ar. O italiano Guglielmo Marconi foi o pioneiro

    na transmisso sem fios utilizando-se da radiotelegrafia.

    [...] conectando uma antena ao transmissor, Marconi conseguiu projetar o seu sinala mil metros de distncia. Depois, aumentando a longitude da onda, superou os 16quilmetros do Canal da Mancha. Em 1901, como um atleta depois de treinar paraum grande salto, cobriu os 3.300 Quilmetros que separam a Inglaterra de TerraNova no Canad. Os novos telegramas voavam livres. Podiam prescindir dos cabose dos postes terrestres (LPEZ VIGIL, 2003, p.13).

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    Entretanto a primeira transmisso, se levarmos em considerao a

    eficincia, foi realizada por um canadense.

    Na vspera de Natal de 1906, o canadense Reginald Fessenden realizou a primeiratransmisso de som: dessa vez os radiotelegrafistas dos navios, que navegavampelas costas da Nova Inglaterra, no captaram os impulsos longos e curtos emcdigo morse, mas uma voz emocionada que lia o relato do nascimento de Jesus,acompanhada por uma msica de Haendel. Fessenden conseguira emitirdiretamente a voz humana sem necessidade de cdigos, mas sua proeza malchagava a um quilmetro e meio (LPEZ VIGIL, 2003, p.13).

    No ano seguinte, o norte-americano Alexander Lee de Forest deu maisum passo. Sua proeza foi conseguir fazer com que vlvulas de eletrodos

    transformassem as modulaes do som em sinais eltricos. Assim, transmitidas de

    antena para antena, essas informaes eram novamente reconvertidas em vibraes

    sonoras. Estava dado o grande salto rumo a eternidade do rdio (LPEZ VIGIL,

    2003, p.14).

    O meio de comunicao rdio desenvolveu-se ancorado nas

    expectativas da sociedade capitalista. Seus idealizadores e experimentadoresacreditavam grandemente no seu potencial. No incio da dcada de 20 o rdio j

    imprimia um novo ritmo sua caminhada. Esse passo alm seria transformado em

    sua maior caracterstica e marcaria para sempre o formato deste veculo das massas:

    o dilogo a partir da proximidade com o pblico e seu envolvimento com a

    crescente indstria fonogrfica.

    a Frank Conrad que a indstria de radiodifuso deve a sua existncia.Trabalhando poucas horas por manh na oficina de sua garagem, ele desenvolveuno s a tecnologia, mas tambm os conceitos empresariais sobre os quais aindstria est baseada. Quando substituiu o fongrafo por um microfone, eledescobriu uma grande quantidade de ouvintes que tinham construdo seus prpriosreceptores de galena e que, ao escutarem msicas, escreviam e telefonavampedindo mais canes e notcias. Baseado nestas solicitaes, Conrad decidetransmitir regularmente programas estruturados para satisfazer seus ouvintes.Quando faltam discos de sua prpria coleo, ele toma emprestado de uma loja deWilkinsburg em troca de mencionar o estabelecimento comercial no ar o primeiroanncio radiofnico (o dono da loja descobriria que os discos tocados na estao deConrad vendiam mais do que os outros). Todos estes conceitos de radiodifuso aestao, o pblico, os programas e o anncio subvencionando a programao soresultados do trabalho de Conrad (FERRARETTO, 2001, p.89).

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    Em novembro de 1920 seria estruturada nos EUA a primeira indstriade radiodifuso baseada em conceitos tcnicos e econmicos conhecidos e

    utilizados at hoje pelas empresas de mdia. Assim em 2 de novembro de 1920, na

    cidade de Pittsburg, ao comear suas transmisses, nascia com a KDKA

    oficialmente a indstria de radiodifuso, no sentido de produo e transmisso de

    contedos, um novo campo para investimento de capital (FERRARETTO, 2001,

    p.89).

    Juntamente com a indstria da radiodifuso surgem tambm as

    primeiras redes de comunicao e de concentrao de mdia (jornal impresso, rdio,

    cinema e posteriormente TV) nos Estados Unidos. A pioneira seria a NBC. "A

    partir da RCA, surge a primeira rede norte-americana, em 15 de novembro de 1926,

    a National Broadcasting Corporation (FERRARETTO, 2001, p.91)". Nos grandes

    centros econmicos mundiais a histria no seria diferente. Porm na Inglaterra, por

    exemplo, a estruturao do meio de comunicao se deu a partir do Estado e no do

    mercado. Na British Broadcasting Company (BBC), os cidados seriam os

    financiadores da mdia e no as empresas como acontece em boa parte do planeta.

    Um dos marcos do rdio mundial surge em meados dos anos 20. Desde 1919, aBritish Marconi fazia emisses regulares na Gr-Bretanha. Com outros gruposempresariais cria, em 18 de outubro de 1922, a British Broadcasting Company. Em1926, o governo britnico estatiza a radiodifuso no pais [...] (FERRARETTO, 2001,p.92).

    Por todos os cantos do planeta as experincias com a utilizao deste

    meio se multiplicavam no incio da dcada de 20. Na Argentina o local escolhido

    para a transmisso foi a laje do Teatro Coliseu. No Uruguai os radialistas tambm

    escolheram uma laje, s que a de um Hotel, o Urquiza. Nos Estados Unidos, mais

    precisamente em Pittsburgh, o local escolhido foi uma garagem. Na bela Paris a

    imponente Torre Eiffel serviu de antena para as primeiras investidas. At entre os

    socialista da URSS havia a preocupao de explorao do rdio por ser ele, segundo

    Lenin, o jornal sem papel e sem fronteiras. Nascido para ser grande, o rdio

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    alcanava mais de seis milhes de pessoas em 1924 (LPEZ VIGIL, 2003, p.14 e

    15).

    1.1 E NO BRASIL...

    No Brasil a estruturao das rdios se deu no mesmo molde dos EUA, a

    partir da tica do mercado. As primeiras tentativas de utilizao do rdio estavam

    ligadas aos amantes da radiofonia espalhados pelo pas, principalmente nas capitais.

    Rio de Janeiro e Recife possuam grupos amadores que utilizavam o veculo como

    passatempo. Em 1923, um ano depois da demonstrao feita por americanos durante

    uma exposio internacional no Rio de Janeiro, surgiria a primeira rdio do Brasil.

    Conforme Ferrareto, "com a Rdio Sociedade do Rio de Janeiro, criada no ano

    seguinte, comea efetivamente a trajetria da radiodifuso sonora do pas, marcando

    a superao de seus antecedentes histricos, os grupos de amadores da radiofonia

    (2001, p.94)".

    [...] os pioneiros da radiodifuso sonora brasileira reuniram-se na sede daAcademia Brasileira de Cincias, 20 de abril de 1923, fundando a Rdio Sociedade

    do Rio de Janeiro. O grupo liderado por Roquette-Pinto e Morize consegue, ento,junto ao governo o emprstimo dos transmissores da Praia Vermelha durante umahora por dia (FERRARETTO, 2001, p.96).

    Edgar Roquette-Pinto (professor e cientista tido como o "pai do rdio

    brasileiro") foi um dos idealizadores deste veculo de comunicao no pas. Sua

    importncia para o desenvolvimento do rdio no Brasil reside no fato de ter sonhado

    com um meio que no levaria s entretenimento, mas, principalmente, cultura paraum pas onde residiam muitos iletrados.

    [...] o professor Roquette-Pinto teria visto no rdio um instrumento detransformao educativa. Conferncias cientficas, msica erudita e anlise dosfatos polticos e econmicos marcam, deste modo, as primeiras transmisses dardio sociedade do Rio de Janeiro (FERRARETTO, 2001, p.98).

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    Nas palavras de Roquete-Pinto, o rdio o jornal de quem no sabe

    ler; o mestre de quem no pode ir escola; o divertimento gratuito do pobre; o

    animador de novas esperanas; o consolador do enfermo; o guia dos sos, desde que

    o realizem com esprito altrusta e elevado (FERRARETTO, 2001, p.97).

    Para organizao e melhor utilizao do rdio como meio de

    comunicao de massa no Brasil faltavam ainda alguns ajustes relacionados

    estruturao de um sistema de financiamento das programaes, ou seja,

    publicidades. As empresas utilizariam o veculo para a venda dos seus produtos e a

    rdio disponibilizaria espao na programao para a veiculao. Este tipo de troca

    traria vida longa no s s rdios, mas aos meios de comunicao em geral.

    Na primeira metade dos anos 20, portanto, o Brasil ainda no havia despertadopara as potencialidades de lucro do rdio a partir de uma programao financiadapela venda de espao publicitrio. Esta nova conscincia das possibilidadeslucrativas do veculo tem suas origens na Rdio Clube do Brasil, fundada em 1 de

    junho de 1924 por Elba Dias, um dos tcnicos que auxiliara na estruturao daRdio Sociedade. A emissora foi a primeira do pas a obter autorizao paratransmitir publicidade (FERRARETTO, 2001, p.100).

    Com a popularizao dos aparelhos de rdio e com a organizao das

    primeiras emissoras tornou-se necessrio criar programaes para um publico cada

    vez mais vasto. O prprio Estado notou a importncia estratgica deste meio de

    comunicao. Transmitir a ideologia advinda do poder foi uma das primeiras

    medidas adotadas pelo presidente Getlio Vargas e seu grupo que em 1930 puseram

    fim a poltica caf-com-leite. Com o intuito de unir as classes sociais e alardear os

    feitos governistas foi criado, em 1935, o programa a Hora do Brasil (posteriormenteVoz do Brasil).

    [...] o regime implantado em 1930 que vai transformar o veculo em instrumentoideolgico. Dentro da lgica dos revolucionrios de 30, a radiodifuso serve paraconsolidar uma unidade nacional necessria modernizao do pas e para reforara conciliao entre as diversas classes sociais (FERRARETTO, 2001, p.107).

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    Entre a dcada de 30 e a de 50 o rdio tornar-se-ia o "queridinho do

    Brasil". As vozes dos radialistas viraram personagens nas rdios-novelas e nos

    programas de auditrio mudando profundamente o dia-a-dia do povo brasileiro.

    [...] o rdio viveria aquela que considerada a sua poca de ouro, caracterizadapor uma programao voltada ao entretenimento, predominando programas deauditrio, radionovelas e humorsticos. [...] O veculo adquire, desta forma,audincia massiva, tornando-se, no incio dos anos 50, principalmente por meio daNacional, a primeira expresso das indstrias culturais no Brasil (FERRARETTO,2001, p.112).

    Por meio do rdio a transmisso de produes estruturadas sob

    formatos pr-concebidos ("enlatados americanos") tambm colocaria o pas no eixo

    do consumismo, mudaria os costumes da nossa juventude e influenciaria desde

    ento a nossa msica. Os programas levavam nomes dos seus patrocinadores, no

    caso empresas multinacionais. Era o American Way of life invadindo as terras

    tupiniquins atravs das ondas do rdio.

    Atravs de programas como Um milho de melodias, Aquarelas das Amricas,Aquarelas do Mundo, Nas asas de um Clipper, A hora da Broadway, Your hit Parade,Big Broadcasting, Matinal da Exposio e outros que tais, a msica norte-americanafoi invadindo os lares brasileiros e induzindo a nossa juventude adoo dos seusritmos (FERRARETTO, 2001, p.118).

    Alguns autores fazem crticas vorazes sobre a forma como o rdio se

    estabeleceu no Brasil, principalmente em relao ao vnculo mantido entre os meiose as empresas, impedindo de maneira substancial a liberdade de expresso, e a

    poltica de concesses que delimita espaos no ar e permite a sua utilizao somente

    pelos "amigos do poder".

    Em termos estruturais, mdias como o rdio e a televiso representam, no Brasil, aconvergncia de interesses do aparelho estatal, das redes de distribuio, dosistema publicitrio e da indstria fonogrfica (muitas vezes organizados sob formade pools). No funcionam jamais como servio pblico e menos ainda como meiosde comunicao [...] (MACHADO, ARLINDO E MAGRI, 1986, p.16).

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    Sobre o mecanismo de concesses os mesmos autores complementam

    que "a sua simples existncia j uma forma de censura, pois sua funo discriminar os que esto autorizados a falar e os que esto condenados a ouvir

    (MACHADO, ARLINDO E MAGRI, 1986, p.17)".

    A questo das concesses sempre rendeu estudos variados no pas,

    principalmente depois da Constituio de 1988 que estendeu [...] esse poder [de

    outorgar e renovar] ao Congresso Nacional, nos termos do Pargrafo 1 do artigo

    223 (LIMA, 2005).

    Tendo em vista que as concesses tinham uma longa histria de servir como moeda de troca do Poder Executivo no jogo poltico, o fato de deputados esenadores terem de referendar as outorgas e as renovaes foi considerado umimportante avano no sentido da democratizao das comunicaes no Brasil(LIMA, 2005).

    Entre os tericos ligados ao estudo da relao entre a Mdia e a Poltica

    est Vencio Artur de Lima1. Para ele a atual Carta do Brasil avanou em muitospontos no que diz respeito a Comunicao Social. A constituio de 1988 [...]

    proibiu que deputados e senadores mantenham contrato ou exeram cargos, funo

    ou emprego remunerado em empresas concessionrias de servio pblico (LIMA,

    2005). No entanto o prprio autor acredita e seus estudos no o deixam duvidar

    que essas normas legais no tem sido cumpridas e que, na prtica, tenha se

    frustrado o sentimento inicial de avano democrtico decorrente da Constituio

    Brasileira (LIMA, 2005).

    1 Pesquisador snior do Ncleo de Estudos sobre Mdia e Poltica da Universidade de Braslia.

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    Um nmero expressivo de deputados e senadores, nas diferentes legislaturas desde1988, concessionrio e continua a exercer cargos e/ou funes nas suas prpriasconcesses de rdio e televiso.[...]

    Mais do que isso: deputados e senadores concessionrios de rdio e televiso tmparticipado ativamente nos trabalhos da Comisso de Cincia, Tecnologia,Comunicao e Informtica (CCTCI), na Cmara dos Deputados, e da Comisso deEducao, no Senado Federal, instncias decisivas no s na tramitao dosprocessos de renovao e de homologao das novas concesses, mas tambm naaprovao de qualquer legislao relativa radiodifuso (LIMA, 2005).

    As concesses para emissoras de rdio e TV so objeto de decreto do

    presidente da Repblica, dependendo sempre da aprovao do Congresso. Contudo,

    quase que por aclamao as concesses so sempre renovadas e o poder (de dizer apalavra) permanece nas mos de uns poucos. Levantamento divulgado em

    novembro de 1995, indicava que [...] das 2.908 emissoras de rdio, 1169 pertencem

    a polticos ou ex-polticos (LIMA, 1998). As conseqncias disso so enormes e

    contribuem para a manuteno da concentrao de mdia no pas. Podem ser

    definidas como a perpetuao do velho coronelismo na poltica brasileira, s que

    agora travestido de coronelismo eletrnico.

    Muitos polticos, alguns de expresso nacional e outros de peso exclusivamenteregional, fizeram nos ltimos anos do rdio e da televiso instrumentos para secomunicar com os eleitores. Alguns j controlavam rdios e TVs e apenasaumentaram o seu aparato de comunicao. Outros ou esto entrando agora nessarea ou experimentaram recentemente inegvel progresso nesse terreno. Quasetodos foram beneficiados pelas licenas para funcionamento dadas durante ogoverno Fernando Henrique [...] (Observatrio da Imprensa, acesso em 20 set. de2006).

    A Associao Brasileira de Emissoras de Rdio e Televiso (ABERT)

    informa que no Brasil existem aproximadamente 3 mil emissoras de rdio

    comerciais e 7 mil comunitrias, sendo que esse nmero deve dobrar nos prximos

    dez anos (SOUZA, acesso em 20 set. 2006). H ainda vrias outras que funcionam,

    porm sem a devida autorizao.

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    do rdio. Algumas dessas formas encontraram terreno frtil ainda nos anos de

    chumbo. Entretanto foi apenas a partir da abertura poltica que a maioria das aes

    de democratizao miditica eclodiram pelo Brasil. As rdios livres aproveitaram o

    ensejo e foram levadas por esta freqncia. As escolas acompanharam a tendncia e

    passaram a ver nos meios de comunicao bons aliados para o conhecimento.

    Apesar da rdio livre no estar necessariamente ligada a uma proposta de rdio

    educativa, ambas trazem no seu bojo algo em comum: a expectativa de construir

    algo diferente do que est historicamente colocado.

    2 -O DIREITO PALAVRA NA COMUNICAO SOCIAL

    O direito palavra se equipara ao direito humano vida, visto que o

    homem essencialmente comunicao (LIMA, apud FREIRE, 1981, p.63). Sendo

    assim, boa parte dos pases estabeleceram suas leis sob os princpios bsicos dos

    direitos dos seres humanos e de sua liberdade, inclusive liberdade de expresso. O

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    Pacto de So Jos da Costa Rica considerado um marco na histria da humanidade

    pois definiu sistemas de regulamentao referentes aos Direitos Humanos, direitos

    estes que devem ser observados por Estados e indivduos de tal forma que em dados

    momentos os pases signatrios necessitem rever suas prprias leis nacionais em

    favor das internacionais (COELHO NETO, apud ACCIOLLY, 2002, p.112). No

    artigo 13 deste pacto consta que

    Toda pessoa tem direito liberdade de pensamento e de expresso. Esse direitocompreende a liberdade a liberdade de buscar, receber e difundir informaes eidias de toda natureza sem consideraes de fronteiras, verbalmente ou porescrito, ou em forma impressa ou artstica, ou por qualquer outro processo de sua

    escolha (COELHO NETO, 2002, p.114).

    Seguindo este mesmo percurso referencial, a Constituio Brasileira de

    1988 versa, durante todo o Captulo V, a respeito da Comunicao Social. Antes

    mesmo, no Captulo I, art. 5 em seus termos IV e IX o tema liberdade de

    pensamento e expresso j so citados de forma bem clara. No entanto entre a lei e a

    prtica existe um imenso abismo quando o assunto radiodifuso.

    O Ministrio das Comunicaes (MiniCom) surgiu na ditadura militar.

    Antes, em 1961, no governo Jnio Quadros, apareceu o Conselho Nacional de

    Telecomunicaes (Contel) com o objetivo de regulamentar o setor. Em 1962 a lei

    4.1174, chamada Cdigo Brasileiro de Telecomunicaes, entrou em vigor. Com a

    nova carta magna do pas o MiniCom rgo ligado ao poder executivo passou a

    elaborar toda poltica pblica do setor de comunicao abrangendo as reas de

    radiodifuso, telecomunicaes e servios postais (COELHO NETO, 2002, p.90).

    O Ministrio das Comunicaes estabelece trs tipos de emissoras de rdioenquanto geradoras de contedo e independentemente de serem AM ou FM. Soelas: comerciais, educativas e comunitrias. Esta diferenciao passou a ser feitadesta forma a partir do surgimento das comunitrias em 1998 (SANTOS, 2005,p.71).

    4

    Este cdigo, mesmo ferindo alguns conceitos constitucionais e no versando sobre rdios comunitrias,ainda utilizado pelos rgos federais contra as rdios no-concessionrias (COELHO NETO, 2002,p.116).

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    As rdios comerciais so as rdios que operam a partir de concesso do

    Governo Federal. Seu objetivo o lucro a partir da venda de espao publicitriopara os seus clientes. Os candidatos a receber os canais se habilitam quando

    existem editais abertos no Ministrio das Comunicaes (SANTOS, 2005, p.73).

    J as rdios educativas funcionam seguindo uma lgica e uma

    regulamentao diferente das comerciais. Pertencem universidades, ao Estado e

    fundaes que em vrios casos gerem financeiramente os estabelecimentos de

    ensino superior do pas.

    As emissoras educativas tm como diferencial a proibio da obteno de lucro,mas podem se manter graas ao apoio cultural. Essas emissoras educativas operamde acordo com o poder econmico da entidade a qual representam e com aspossibilidades tcnicas de determinada regio. A concesso pode tambm serrenovada ou revogada, dependendo do trabalho efetuado pela emissora (SANTOS,2005, p.73).

    A lei n9.612 de 19 de fevereiro de 1998 instituiu o atual servio deradiodifuso comunitria. Sob protestos dos radioamantes nacionais a Lei das

    Rdios Comunitrias mais restringiu do que facilitou a vida j to complicada desta

    mdia popular. No texto, alm de constar os deveres relacionados programao e

    estruturao das radcom, tm-se ainda vrias assuntos de interpretao dbia,

    principalmente quando cita o artigo 2 no qual O servio de radiodifuso

    comunitria obedecer aos preceitos desta lei e, no que couber, aos mandamentos da

    lei n4.117, de 27 de agosto de 1962, modificada pelo decreto-Lei n 236, de 28 de

    fevereiro de 1967, e demais disposies legais (COELHO NETO, 2002, p.124).

    Como se no bastasse, o Decreto n2.615/98 regulamentou as rdios

    comunitrias da seguinte forma: estabeleceu a atual restrio dos mil metros a partir

    da antena transmissora acatando uma proposta da ABERT (COELHO NETO, 2002,

    p.127) e manteve o carter punitivo da legislao do perodo ditatorial que

    considera crime passvel de deteno por um ou dois anos (ORTRIWANO, 1985,

    p.35).

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    Alm dos trs tipos de rdio regulamentados no pas existem ainda

    outras iniciativas conhecidas como:

    Rdio Corneta [ou rdio-poste] - Em cidades do interior funcionam, estas"emissoras" que propagam notcias, msica e publicidade, atravs de fios e cabosligados a alto-falantes ou "cornetas" espalhadas pelas ruas - principalmente naspraas e feiras. Muitos desses sistemas de som se auto-intitulam "rdioscomunitrias".Rdio Livre - aquela montada por uma pessoa ou grupo com interesses prprios.Pode ser de esquerda, direita, comercial, anarquista, catlica. No existe legislaopara ela.[...]Rdio Clandestina ou Ilegal Aquela que opera s escondidas. As emissoras

    comunitrias jamais so clandestinas, porque no h como fazer clandestina umacomunidade, ou as pessoas que ocupam seu microfone (REDE VIVA FAVELA, acessoem 20 set. 2006).

    A maioria das rdio-escolas espalhadas pelo pas se configuram como

    rdio corneta (radio-poste) em razo da dificuldade de se manter uma rdio

    estruturada com transmissor/ antena e por conta da impossibilidade de se colocar

    esta rdio em um colgio para funcionar o tempo todo. A prpria rdio-escola

    relatada neste trabalho uma experincia deste tipo, rdio-poste.

    A fiscalizao do setor de radiodifuso no Brasil ficou por conta da

    Agncia Nacional de Telecomunicaes (Anatel). Ela, como uma autarquia, no

    est subordinada a nenhum rgo de governo e suas decises s podem ser

    contestadas judicialmente (COELHO NETO, 2002, p.92).

    Ampliando esse conceito de autonomia, alm da independncia administrativa, [aAnatel] conta tambm com independncia financeira, garantida principalmente,pelos recursos do Fundo de Fiscalizao das Telecomunicaes (Fistel), o qual desua exclusiva gesto.[...]A Anatel conta ainda com Conselho Consultivo, formado por representantes doExecutivo, do congresso, das entidades prestadoras de servio, dos usurios e dasociedade em geral (COELHO NETO, 2002, p. 92).

    O combate s rdios ilegais tambm feito pela Polcia Federal,Ministrio Pblico Federal e Justia Federal.

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    O debate acerca da legalidade ou ilegalidade de determinada rdio no

    se esvazia numa simples anlise documentria de um rgo do Governo Federal.

    necessrio entender como os meios de comunicao tm peso junto a opinio

    pblica e influenciam na escolha de candidatos, nas tendncias da moda e ditam boa

    parte dos costumes atuais. Durante muito tempo os grandes conglomerados de

    mdia nacional impediram que as rdios comunitrias no ascendessem a este nvel.

    Continuariam relegadas a rdios ilegais, pejorativamente chamadas de piratas

    pelos empresrios da comunicao.

    Uma campanha da ABERT (Associao Brasileira de Empresas de Rdio eTeleviso), sem apresentar uma prova sequer, encarregou-se de difundir boatoscatastrficos, no sentido de que rdios comunitrias derrubam avies. Outrosrumores tm sido disseminados, no raro oriundos de supostas fontes idneas, nosentido de que as RadCom no s derrubam avies, mas tambm afundam naviose interferem em ambulncias (COELHO NETO, 2002, p. 79).

    Para que fique bastante claro importante ressaltar que as rdios

    comunitrias operam em frequncia modulada (FM) e tem alcance mximo de 1

    KM5. Os ganhos delas no so exorbitantes, pois os anncios reproduzidos ali sodas lojas localizadas no bairro, farmcias e supermercados. Ento porque as grandes

    redes se preocupariam com rdios to incapazes economicamente? A palavra que

    poder se configura como a nica resposta plausvel neste caso (LIMA, apud

    FREIRE, 1981, p.66). Imagine s se todos pudessem retratar seus prprios

    acontecimentos, trouxessem sempre um outro ponto de vista, diferente da j viciada

    opinio do jornalismo convencional. "Talvez essa seja uma das grandes novidades

    introduzidas pelas rdios livres [e comunitrias] nos meios de comunicao demassa: tornar o meio to transparente quanto possvel [...] (MACHADO,

    ARLINDO E MAGRI, 1986, p.30).

    Todo o empenho dos radioamantes tem seu fundamento nos

    movimentos de liberdades radiofnicas que tomaram conta do planeta nos anos

    setenta quando a luta no era simplesmente pela liberdade econmica como

    gostavam de alardear os capitalistas, mas sim cultural, poltica e principalmente de

    5 bvio que se esta rdio est localizada em um ponto alto, ou no existe nenhum obstculo para apropagao de suas ondas sonoras, possivelmente seus domnios radiofnicos se ampliaro.

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    expresso. Estes ares libertrios chegaram por aqui nos anos 80 e influenciaram a

    juventude brasileira, movimentos populares e os tericos da comunicao.

    2.1 - OS MOVIMENTOS DE DEMOCRATIZAO DO RDIO E ALGUMASINICIATIVAS

    Em contraposio s produes e concepes radiofnicas existentes

    surgem na Itlia as rdios livres. Em sua proposta constava o fim do monoplio da

    radiodifuso nas mos do Estado e as polticas de concesses. Dificilmente se

    poder imaginar outra forma de viabilizar o acesso da sociedade aos meios de

    radiodifuso que no seja a devoluo das ondas ao domnio pblico (MACHADO,

    ARLINDO E MAGRI, 1986, p.18).

    Diferentemente das rdios piratas6, as rdios livres pretendiam

    disseminar a idia de que todos podem e devem fazer comunicao via rdio. Este

    movimento de contestao ganhou vrios adeptos mundo afora e tambm vrias

    formas de se estruturar. Influenciou movimentos de revoluo e foi utilizado para

    assegurar a liberdade de expresso dos que outrora se encontravam alijados do seu

    direito de pronunciar a palavra. Foi, durante boa parte da histria, a voz daqueles

    que foram calados por regimes de represso.

    Em Vitria (ES), Eduardo Lima Ferreira operava a Rdio Paranica, na faixa de1.494kHz, transmitindo em diversos horrios alternados. O estudante de 16 anosconcentrava suas emisses das 19 s 20h, coincidindo com a rede obrigatria doradiojornal oficial Voz do Brasil. No dia 2 de fevereiro de 1971, a Polcia Federalapreende o equipamento utilizado e o rapaz s no foi preso porque era menor deidade (FERRARETTO, 2001, p.187).

    Uma boa definio para caracterizar o movimento das rdios livres que

    incendiaram no s a Itlia, mas tambm boa parte da Europa na dcada de 70 o

    seguinte:

    6 A pirataria um fenmeno tipicamente ingls. A partir do final dos anos 50, algumas emissoras forammontadas dentro de barcos, para emitir fora das guas territoriais da Gr-Bretanha, como forma de burlara tutela estatal. A rdio Merkur, por exemplo, emitia nas costas de Copenhague (Dinamarca), a Nord nas

    costas de Estocolmo (Sucia), a Vernica em guas holandesas, a Caroline e a Atlanta no mar daInglaterra. Era costume erguer uma bandeira negra, como a dos corsrios, nos barcos emissores, e essedetalhe deu origem expresso rdios piratas" (MACHADO; ARLINDO e MAGRI, 1986, p.60).

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    O movimento das rdios livres, iniciado na Itlia em 1975, visava perfurar omonoplio estatal das telecomunicaes, atravs de emisses de rdio ilegais ou

    no autorizadas. Nascidas no bojo de movimentos polticos contestatrios, as rdioslivres estimularam as pessoas a passar da condio passiva de ouvintes para a deagentes ativos de seus discursos e a colocar no ar as suas idias, os seus prazeres,as suas msicas preferidas, sem precisar de autorizao para isso. As faixas deonda foram consideradas propriedade coletiva e cabia coletividade usufruir delas(MACHADO, ARLINDO E MAGRI, 1986, p.59).

    Porm, com a legalizao das rdios livres na Europa, todo tipo de

    contestao passou a fazer parte de um passado que j no partilhava mais com o

    presente, nem era objeto de desejo para o futuro. At mesmo na Frana, onde as

    antenas livres se converteram rapidamente num dos mais significativos eventos

    polticos e culturais do final dos anos 70 (MACHADO, ARLINDO E MAGRI,

    1986, p.71), a institucionalizao foi um passo decisivo para o fim da liberdade de

    dizer a palavra. Segundo esses autores, o destino das rdios livres europias foi

    selado com a sua legalizao. Elas que haviam sabido resistir a todas as

    modalidades de represso, no estavam preparadas para enfrentar a arma mais

    traioeira: a institucionalizao (1986, p.77).

    Na Amrica Latina experincias deste tipo estiveram presentes em

    praticamente todos os pases. Na Bolvia, em El Salvador e na Nicargua, mineiros,

    guerrilheiros e sandinistas, respectivamente, construram seus transmissores

    radiofnicos. Jamais se calaram quando a situao era desfavorvel ou em

    momentos de perseguio. Em Cuba, o rdio foi utilizado pelas lideranas

    revolucionrias e principalmente por Ernesto Guevara. "Foi 'Che' quem teve a idia

    de criar a Rdio Rebelde. Entre 1958 e 1959, essa rdio funcionou comoinstrumento de combate e uma arma poltico-militar de eficincia comprovada

    (MACHADO, ARLINDO E MAGRI, 1986, p.96)".

    No Brasil (especialmente em Sorocaba), a partir da dcada de 80,

    surgem iniciativas que marcariam profundamente a constituio de um movimento

    engajado na batalha no apenas pelas rdios livres, mas tambm pela liberdade de

    expresso e por um meio de comunicao comprometido com a conscientizao de

    seu povo. "Na metade dos anos 80, o rdio livre comea a ganhar contornos maispolticos. usado para expressar posicionamentos cerceados pela grande mdia

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    (FERRARETTO, 2001, p.188)". No final desta dcada, a Unio Nacional dos

    Estudantes (UNE) organiza um encontro com o intuito de discutir e traar diretrizes

    para este movimento.

    Em 1989, a Unio Nacional dos Estudantes promove em So Paulo o I EncontroNacional sobre Rdios Livres, no qual comparecem representantes de 10 estados.Surge o Coletivo Nacional de Rdios Livres, que participa, dois anos depois, daformao da Frente Parlamentar origem do Frum Nacional pela Democratizaoda Comunicao (FERRARETTO, 2001, p.188).

    Nessa devoluo da voz aos seres humanos, as rdios livres e seusradialistas libertrios cumpriram um importante papel. Marcariam para sempre a

    histria radiofnica do planeta munidos apenas de idias na cabea e do direito

    palavra.

    Talvez essa seja uma das grandes novidades introduzidas pelas rdios livres nosmeios de comunicao de massa: tornar o meio to transparente quanto possvel,eliminar os intermedirios, intrpretes, comentaristas e deixar que os

    acontecimentos sejam reportados pelos seus prprios personagens (MACHADO,ARLINDO E MAGRI, 1986, p.30).

    Todavia boa parte das rdios brasileiras que comearam como livres

    tentaram autorizao para funcionamento, buscaram enquadramento na lei das

    radcom. Muitas continuam na ilegalidade e acabam trabalhando com liminares

    judiciais, por causa da lentido do Ministrio das Comunicaes, e outras deixaram

    de existir devido a perseguio da Anatel e da Polcia Federal.

    2.2 -RDIO E EDUCAOUtilizando-se dos aparatos tecnolgicos contemporneos para

    experimentar novas formas de produo de conhecimento e assim ligar a educao

    aos novos tempos, surgem, no decorrer dos anos, uma srie de iniciativas unindo o

    rdio educao. O prprio Governo Federal na dcada de 70 instituiu, atravs de

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    um decreto, a transmisso obrigatria programaes educativas por todas as rdios

    do Brasil.

    Iniciado em 1 de setembro de 1970, dentro do Servio de Radiodifuso Educativado Ministrio da Educao e Cultura, em homenagem deusa grega da sabedoria, oProjeto Minerva atendia um decreto presidencial e uma portaria interministerial den 408/70, que determinava a transmisso de programao educativa em carterobrigatrio, por todas as emissoras de rdio do pas. Tal obrigatoriedade erafundamentada na Lei 5.692/71 que foi revogada pela Lei de Diretrizes e Bases daEducao (Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996) (SOUZA, acesso no dia 19 deset. 2006).

    Nesta proposta o objetivo maior era a educao de adultos atravs do

    ensino distncia e o rdio foi escolhido por ser um meio de grande familiaridade

    do pblico alvo (SOUZA, acesso em 19 set. 2006). Tambm nos anos 80 uma srie

    de experincias educativas com a utilizao do rdio tornaram-se realidade, porm

    agora sem a tutela do estado.

    Algumas destas rdios utilizavam transmissores, pois conseguiram

    autorizao junto ao rgo competente para funcionamento, outras foram ao arcom sistemas de alto-falantes mesmo (radio-poste). Em Campos, no Rio de Janeiro,

    duas experincias merecem destaque: a Rdio Viso e a Rdio Vanguarda

    Educativa. A primeira operava com alto-falantes espalhados pela escola.

    A Rdio Viso foi instalada, em 1986, na Escola Tcnica Estadual Professor JooBarcelos, no Ensino Fundamental e Mdio, e operava atravs de um circuito internode alto-falantes. [...] A programao tinha a durao de vinte minutos dirios, noshorrios do recreio, com programao editada e produzida pelos alunos (MOTTA,2005, p.43).

    J a rdio Vanguarda Educativa avanava em dois pontos

    preponderantes: utilizava-se de um transmissor de baixa potncia com autorizao

    do Ministrio da Educao e Cultura (MEC) e abria espao para os profissionais de

    comunicao cujo papel era o de capacitador.

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    Sua transmisso era em rede interna, mas se utilizava de um pequeno transmissorde rdio (portanto sem fios). O sinal de udio era captado por receptores acopladoss caixas de som amplificadas, instaladas em locais estratgicos na escola.[...]

    Antes do funcionamento, foram realizadas oficinas abertas para o curso deprogramador, locutor, jornalista e operador de udio, ministrados porcomunicadores e professores (MOTTA, 2005, p.44).

    A constituio da primeira rdio escola remonta o final da dcada de 40

    e incio da dcada seguinte. Em 1950 a Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    (UFRGS) deu o primeiro passo rumo explorao do veculo com objetivos

    educacionais.

    "Um professor de Engenharia queria demonstrar aos seus alunos os princpiosbsicos envolvidos na construo de transmissores e na irradiao propriamentedita. [...] No dia 1 de julho de 1950, a reitoria da universidade obtm umaautorizao para operar uma estao de radiotelefonia voltada transmissoeducativa" (FERRARETTO, 2001, p.140).

    Atualmente a maioria das rdio educativas se encontram nas mos dasuniversidades. Algumas servem para o experimentalismo e contribuem para a

    formao dos alunos de comunicao social, por exemplo. Outras educativas,

    contudo, mantm as mesmas caractersticas das rdios comerciais, so fachadas

    com interesse apenas no retorno financeiro.

    Em um ramo onde o monoplio de mdia predominante e a

    programao completamente influenciada pelas gravadoras multinacionais, a

    existncia/ sobrevivncia de rdios educativas e comunitrias um bom exemplo deque nem tudo est perdido para o futuro do rdio comprometido com o povo

    brasileiro.

    A experincia relatada neste trabalho, apesar de possuir um pblico

    especfico e at certo ponto restrito por se tratar de uma rdio-escola que tambm

    rdio-poste , busca trilhar o caminho do direito palavra e do meio de

    comunicao social comprometido com a transformao da sociedade. Baseados

    nesta premissa amparam-se os conceitos educomunicacionais. Estes, contudo,

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    estruturados por uma formao educacional crtica, libertadora, trazem de tericos

    como Paulo Freire e Antonio Gramsci, que veremos adiante, marcas profundas.

    3 -EDUCAO CRTICA NA PERSPECTIVA DE GRAMSCI EFREIRE: SEMENTES DA EDUCOMUNICAO

    O filsofo Antnio Gramsci nasceu na Itlia e foi militante do Partido

    Comunista Italiano no perodo ditatorial e fascista de Benito Mussolini. Perseguido,

    escreveu boa parte do seu pensamento na priso. Na sntese do seus escritos sobre

    educao destaca-se a seguinte frase: toda relao pedaggica igualmente

    hegemnica (TAVARES, 1989, p.17).Baseado em seus manuscritos, sendo ele um autntico marxista e um

    dos maiores tericos contemporneos dessa corrente, possvel constatar a

    importncia que Gramsci d ao processo educacional em geral, s relaes

    pedaggicas que permeiam toda a estrutura social e ao processo de transformao

    dessa sociedade. Segundo Tavares (1989, p.18), se toda relao hegemnica,

    ento a educao s tem sentido integrada ao processo de transformao da

    sociedade.

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    Seu pensamento est centrado, assim como o socialismo cientfico de

    Marx, na figura do proletariado: a classe social advinda da Revoluo Industrial.

    Gramsci, no entanto, vai alm ao analisar a estrutura e a superestrutura do capital e

    formula uma teoria baseada na elevao cultural, educacional das classes

    exploradas. A escola e o partido so preponderantes e devem trabalhar para

    consolidar, nas instncias pedaggicas, a contra-hegemonia.

    Nenhum plano de mudanas poder ser realizado sem uma educao adequada aosinteresses do proletariado, e esta educao adequada a misso histrica doproletariado exige uma nova escola, instrumento de contra-hegemonia e da novacultura. Esta ltima, entendida em seu sentido poltico, torna possvel a crtica do

    sistema anterior [...] (TAVARES, 1989, p.23).

    Por cultura, segundo o filsofo italiano entende-se como:

    organizao, disciplina do prprio eu interior, tomada de posse da prpriapersonalidade, conquista da conscincia superior, pela qual se conseguecompreender o prprio valor histrico, a prpria funo na vida, os prprios direitos

    e deveres (MOCHCOVITCH apud GRAMSCI, 1988, p.57).

    Porm nada disso feito de maneira espontnea. Pensando sempre no

    ser humano com um todo, o prprio homem deve repensar frmulas baseadas em

    suas experincias, percepes e conhecimentos e, a partir da crtica estrutura

    anterior, alcanar a liberdade no seu sentido mais amplo.

    [...] educar construir uma nova filosofia assimilvel por todos os homens que,possuindo a filosofia espontnea do senso comum, tm o direito a umacompreenso crtica do mundo. No se deve, em nenhum momento, pensar que oshomens sejam incapazes de chegar a este ponto (TAVARES, 1989, p.46).

    E pensando no coletivo possvel elevar o homem a uma nova

    racionalidade partindo da prtica cotidiana da educao jamais neutra. Somente

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    ser verdadeira a liberdade que se afirma como ao coletiva e no individual, mas

    sem anular a personalidade de cada indivduo (TAVARES, 1989, p.46).

    Gramsci pensa em uma educao que forme, no indivduo, a conscincia de que oconhecimento individual s ter valor em relao com o social, que satisfaa osinteresses particulares, mas tambm os coletivos (TAVARES apud RODRIGUES,1989, p.44).

    A inteno de Gramsci trazer tona questionamentos, dvidas ligadas

    sociedade capitalista e sua estrutura, onde a escola uma das maiores aliadas.

    Neste aparelho ideolgico do Estado a educao serve ao poder, produzindo a

    separao entre a teoria e prtica, entre cultura e poltica, entre saber elitizado e

    trabalho (TAVARES, 1989, p.44).

    difcil pensar uma educao comprometida com a parcela social

    menos favorecida, na sociedade da diviso em classes. Afinal, a prpria estrutura

    existe para manter a ordem: de uma lado os que devem mandar (detentores da

    propriedade privada) e do outro os que devem obedecer (detentores da fora de

    trabalho). Assim, o conhecimento comprometido com a causa dos verdadeirosprodutores de riquezas dentro da esfera social deve se basear em uma educao que

    conscientiza a classe subalterna, revela as contradies existentes e possibilita uma

    nova concepo de mundo, ponto de partida para uma nova relao social

    (TAVARES, 1989, p.44). O autor acrescenta (1989, p.43):

    O papel que a educao desempenha tanto na hegemonia como na contra-

    hegemonia, visa as relaes sociais, que incluem o homem, cujo objetivo modificar ou manter uma estrutura social.[...] a modificao do homem se d na medida em que se modifica o conjunto dasrelaes do qual ele o ponto central, podendo-se afirmar que ele educa seeducando.

    Outro ponto importante que permeia os escritos do filsofo e militante

    italiano diz respeito crtica ao senso comum pela elaborao de um bom senso.

    Gramsci atribua boa parte das trevas do povo incapacidade da escola deampliar questionamentos em torno da estrutura posta.

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    O pensamento deste marxista italiano influenciou, e ainda influencia,

    muitos tericos, filsofos ligados aos mais variados campos de estudos da

    estrutura/superestrutura do capital. Paulo Freire, grande educador humanista, foi um

    deles.

    Um dos maiores tericos da Educao no mundo, Paulo Freire, nasceu

    no Brasil. Seus estudos esto situados na libertao humana a partir do

    conhecimento pleno, da educao. Tal qual Gramsci, Freire via na educao crtica,

    conscientizadora, e no apenas tcnica (FREIRE, 1968, p.88), o rumo para o

    homem simples, proletrio alcanar a sua verdadeira emancipao. A prtica da

    liberdade s encontrar adequada expresso numa pedagogia em que o oprimido

    tenha condies de, reflexivamente, descobrir-se e conquistar-se como sujeito de

    sua prpria destinao histrica. (FREIRE, 1987, p.9)

    Freire comeou os suas experincias na dcada de 60 em Pernambuco,

    terra onde nasceu. L testou pela primeira vez no s um mtodo, mas uma nova

    forma de se conceber a Educao. Segundo Brando (1981, p.8),

    Mosssor fica perto de Angicos, uma cidadezinha nos fundos do Nordeste, ondeneste ano o sol seca e resseca tudo o que h. Foi ali onde, pela primeira vez depois de uma pequena experincia em um bairro do Recife , a equipe do serviode Extenso Universitria da Universidade Federal de Pernambuco, coordenada peloprofessor Paulo Freire, testou o que veio a se chamar: o mtodo Paulo Freire deAlfabetizao de Adultos.[...] ali no se experimentava s um novo mtodo, mas, atravs dele, um novosentimento de Mundo, uma nova esperana no Homem.

    A partir desta iniciativa Freire desencadeou um processo que culminou

    com a sua perseguio pelo governo ditatorial do pas e, consequentemente, o

    exlio. Contudo a forma de se educar tanto adultos, quanto jovens, adolescentes e

    crianas seria consistentemente repensada. Seu legado atravessou fronteiras e

    alcanou o planeta. No perodo em que esteve no Chile, fez avanar o nvel de

    alfabetizao daquela populao, chegando a receber congratulaes da

    Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e a Cultura (Unesco).

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    Pouco tempo depois da chegada ao Chile o pas destaca-se entre todos do mundopelo seu trabalho em favor do adulto analfabeto. O Chile recebe da UNESCO umadistino como um dos 5 pases que melhor contriburam para superar oanalfabetismo. Programas nacionais so desenvolvidos a partir das idias e do

    sistema de trabalho de um brasileiro exilado (BRANDO, 1981, p.20).

    Entre as propostas de Paulo Freire estavam os crculos de cultura e o

    aprender a ler o mundo partindo do seu prprio mundo. Para ele no possvel

    ensinar para um lavrador falando a linguagem de um doutor, usando caracteres,

    imagens ou qualquer outro tipo de comunicao que no faz parte do seu cotidiano.

    Imagine um operrio chegando, depois de uma jornada macha de trabalho, na sala

    de aula e tendo que repetir no meio da noite: Eva viu a uva. A ave do Ivo.Ivo vai na roa (BRANDO, 1981, p.23).

    preciso a aproximao, o dilogo, a reciprocidade em relao ao

    conhecimento. Afinal, no h homem absolutamente inculto (FREIRE, 1987, p.19).

    Tambm no h homens que sabem demais, at mesmo porque o saber pressupe

    um eterno devir, pois o mundo est em constante mutao e construo.

    [...] educar e educar-se, na prtica da liberdade, tarefa daqueles que sabem quepouco sabem por isto sabem que sabem algo e podem assim chegar a saber mais em dilogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para queestes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem,possam igualmente saber mais (FREIRE, 1968, p.25).

    Em relao aos crculos de cultura espaos onde os educandos e o

    mediador se reuniam para se educarem mutuamente a inteno era que, em

    grupos, os educandos pudessem compartilhar conhecimentos e avanar no

    aprendizado da leitura. A presena de um coordenador-mediador nas reunies trazia

    um significado diferente para eles acostumados a enxergar no professor, locado

    em uma sala de aula, a referncia do saber. Neste espao cultural se lia o mundo

    comum quele grupo, a partir de imagens e conversas. Porm o que torna o trabalho

    de Freire renovador a capacidade de se poder ler o mundo social buscando a

    transformao deste a partir dos questionamentos. a Pedagogia do Oprimido

    construda por ele, com ele e para ele.

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    A pedagogia do oprimido, como pedagogia humanista e libertadora, ter doismomentos distintos. O primeiro, em que os oprimidos vo desvelando o mundo da

    opresso e vo comprometendo-se, na prxis, com a sua transformao; osegundo, em que, transformada a realidade opressora, esta pedagogia deixa de serdo oprimido e passa a ser a pedagogia dos homens em processo de permanentelibertao (FREIRE, 1987, p.41).

    Paulo Freire delega comunicao um papel importantssimo nesta luta

    pelo dizer a palavra, criticizar o mundo e transform-lo. O conhecimento jamais

    pode ser monlogo, ou como ele mesmo diz: aquele que enchido por outro de

    contedos cuja inteligncia no percebe; de contedos que contradizem a formaprpria de estar em seu mundo, sem que seja desafiado, no aprende (FREIRE,

    1968, p.28).

    imprescindvel notar, em Paulo Freire, a f que ele depositava no

    homem. Crendo que este pode e deve ser livre, prope um trabalho a partir da

    educao, mas sem deixar de lado todos as outras esferas sociais. A sua utopia no

    deixa de ser uma utopia poltica, econmica, cultural, ambiental entre outras. Em

    suas afirmaes, todos os processos de conhecimento so processos pedaggicos.Deposita confiana nos homens que se baseiam no senso comum para definir

    parmetros. Entretanto luta, com eles e junto deles, pela superao dessa forma de

    pensar a qual acredita ser um legado da sociedade capitalista. Sociedade que no lhe

    permite ser o agente transformador da histria. Assim, quanto mais as massas

    populares desvelam a realidade objetiva e desafiadora sobre a qual elas devem

    incidir sua ao transformadora, tanto mais se inserem nela criticamente (FREIRE,

    1987, p.40).

    Freire um homem religioso e seu pensamento imbudo de otimismo e f nosseres humanos. Ele sempre acredita que, a despeito de todas as adversidades eobstculos, o homem, um dia, ser livre. neste sentido que ele utpico. Mas suautopia, [...] nada tem de ilusrio, fantstico ou inatingvel, mas trata-se de umautopia revolucionria, que significa recusa em aceitar este status quo [...] (LIMA,1981, p.129).

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    No fundo, para a educao estruturada sobre o capitalismo e que busca

    atender aos anseios dos homens que seguem a ganhar em um jogo como esse,

    difcil a aceitao da palavra por qu. Ela contm desafios mil aos seres humanos,

    desafios que podem abater instituies e trazer novamente o homem oprimido ao

    cerne da deciso, porm agora munido de armas que outrora se mantinham nas

    mos dos opressores. Segundo Freire, nenhuma ordem suportaria que os oprimidos

    todos passassem a dizer: Por qu? (1987, p.75). Para muitos este tipo de dvida a

    ser respondida cria um clima de desordem:

    No so raras as vezes em que participantes destes cursos [alfabetizao peloscrculos de cultura], numa atitude em que manifestam o seu medo da liberdade,se referem ao que chamam de perigo da conscientizao. A conscincia crtica(...dizem...) anrquica. Ao que outros acrescentam: No poder a conscinciacrtica conduzir desordem? H, contudo, os que tambm dizem: Por que negar?Eu temia a liberdade. J no a temo! (FREIRE, 1987, p.23)

    Da mesma maneira que o terico lana mos dos questionamentos

    feitos pelos participantes, ele tambm, citando o comentrio de um operrio, relata:

    No posso dizer que haja entendido todas as palavras que foram ditas aqui, masuma coisa posso afirmar: cheguei a esse curso ingnuo e, ao descobrir-me ingnuo,comecei a tornar-me crtico. Esta descoberta, contudo, nem me faz fantico, nemme d a sensao de desmoronamento (FREIRE, 1987, p.23).

    De forma sucinta o autor, parafraseando Weffort que prefaciou o seu

    livro Educao como Prtica da Liberdade , traz luz a estas questescomplementando que se a tomada de conscincia abre o caminho expresso das

    insatisfaes sociais, se deve a que estas so componentes reais de uma situao de

    opresso (FREIRE, 1987, p.24).

    A situao de opresso diz respeito sociedade capitalista e atualmente

    o seu formato mais aprofundado: o neoliberalismo. O pernambucano Paulo Freire

    sempre preocupou-se com a situao do planeta e cria totalmente que nesta

    sociedade da explorao indiscriminada o ser humano jamais poderia tornar-sehumanizado, a no ser que tomasse as rdeas da histria, escolhesse o seu destino.

  • 8/14/2019 Uma experincia educomunicativa na Escola Edna de Mattos Siqueira Gaudio, Vitria(ES)

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    A pedagogia neoliberal uma pedagogia da excluso justamente porque reduz opedaggico ao estritamente pedaggico, buscando retirar da pedagogia a sua

    essncia poltica. A pedagogia da esperana o oposto da pedagogia da excluso.Ensinar inserir-se na histria: no s estar na sala de aula, mas num imaginriopoltico mais amplo (GADOTTI, 1997).

    Desde as primeiras investidas no Nordeste brasileiro, Freire sempre

    procurou ampliar o conceito de educao e as suas esferas de atuao a partir do

    dilogo. O processo de conhecimento bem mais amplo e deve levar o ser humano

    a uma ao, a um progresso histrico. A nossa convico a de que, quanto maiscedo comece o dilogo, mais revoluo ser (FREIRE, 1987, p.125).

    Ora, a educao um processo a longo prazo e precisa combater o imediatismo e oconsumismo, se quiser contribuir para a construo de uma ps-modernidadeprogressista. A educao, para ser libertadora, precisa construir entre educador eeducando uma verdadeira conscincia histrica (GADOTTI, 1997).

    O homem deve perceber que o conhecimento est alm da sala de aula

    e isto exige uma prtica muito mais complexa que perpassa toda a vida, todas as

    relaes de interao com outros seres e com a Terra. Requer de ns o repensar a

    utilizao de meios de elevao cultural dos homens. Do giz que toca o quadro ao

    dedo que toca a tela de um monitor tudo deve servir para o aprofundamento das

    relaes humanitrias e recprocas entre os seres.

    Desde seus primeiros escritos [Paulo Freire] considerou a escola muito mais do queas quatro paredes da sala de aula. Criou o Crculo de Cultura, como expressodessa nova pedagogia que no se reduzia noo simplista de aula. Na sociedadedo conhecimento de hoje isso ainda muito mais verdadeiro, j que o espaoescolar muito maior do que a escola. Os novos espaos da formao (mdia,rdio, TV, vdeo [...]) alargaram a noo de escola e de sala de aula (GADOTTI,2002).

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    Em 1980 Paulo Freire volta ao Brasil aps 16 anos de exlio e muito

    trabalho para expandir a proposta da educao libertadora pelo mundo. Neste

    mesmo ano participa de um Congresso intitulado Comunicao e Educao

    Popular, realizado pela Unio Crist Brasileira de Comunicao Social (UCBC), e

    deixa a sua marca na nova etapa do mtodo de Leitura Crtica da Comunicao

    (SUZINA E FAXINA, 2004, p.6). Consequentemente marcaria tambm o seu nome

    na histria do emergente campo da Educomunicao no pas.

    Paulo Freire morreu em 1997 deixando um grande legado para a

    sociedade. Aos homens, que lutam constantemente para superar a irracionalidade

    instaurada, deixou uma tarefa rdua: buscar conhecer, sempre mais, a realidade

    como um todo, pois a percepo parcializada da realidade rouba ao homem a

    possibilidade de uma ao autntica sobre ela (FREIRE, 1968, p.34).

    4 -EXPERINCIAS PRTICAS DE EDUCOMUNICAOCada meio tem uma contribuio a dar para o desenvolvimento humano [...]. O

    desenvolvimento equilibrado do indivduo requer um contato balanceado com osvrios meios. Crescendo expostas a uma diversidade de meios de comunicao, ascrianas podem no concluir sua educao com tanta prtica em leitura, comoantigamente. Mas adquirem um conjunto de habilidades mais diversificado do queera possvel quando a linguagem escrita era o meio de comunicao de massadominante (MARTINARI apud GREENFIELD, p.160).

    Repensar prticas eleva o ser humano a uma nova categoria, a um novo

    estgio. Boa parte dos projetos educomunicacionais nasceram, cresceram e se

    desenvolveram sobre a crtica ao sistema escolar do tipo escola-empresa onde

    [...] a hierarquizao das funes, a meritocracia, a determinao autoritria dos

    objetivos e onde a eficincia sempre uma medida de julgamento para a avaliao

    do produto [...] (DVILA, 1985, p.29).

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    sabido que a escola prepara o indivduo para a vivncia em grupo,

    para a sua insero em um espao onde impera determinada cultura, lngua e cincia

    e, nos ltimos sculos, para o mercado de trabalho7.

    A educao, numa sociedade de classes, cumpre (como servio oferecido econtrolado basicamente pelo Estado) uma funo legitimadora do status quo, namedida em que a principal responsvel pelo processo contnuo de socializao dosindivduos. Uma de suas funes primordiais , pois, a transmisso da ideologiadominante (CUNHA, 1985, p.21).

    Em meio a diferenas visveis entre os atores sociais, a escola mantma sua caracterstica de dissimular a verdade objetiva de sua relao com a estrutura

    das relaes de classe, o que evidentemente favorece os interesses das classes

    dominantes (DVILA apud BOURDIEU e PASSERON, 1985, p.46), afinal, seria

    difcil a harmonia social se assim no fosse. A sociedade no poderia existir sem

    que houvesse em seus membros certa homogeneidade: a educao a perpetua e

    refora, fixando de antemo na alma das crianas certas similitudes essenciais,

    reclamadas pela vida coletiva (DVILA apud DURKHEIM, 1985, p.22).

    Contudo h que se perguntar: realmente, teria a escola esta especfica funo? No

    teriam os homens escolhas prprias a partir do conhecimento adquirido tanto no

    ensino colegial quanto no saber dirio?

    conveniente constatar que em sociedades cuja dinmica estrutural

    conduz dominao de conscincias, a pedagogia dominante a pedagogia das

    classes dominantes. Os mtodos da opresso no podem, contraditoriamente, servir

    libertao do oprimido (FREIRE, 1987, p.9). Todavia a contemporaneidade

    trouxe novos anseios. A disseminao em massa do conhecimento e da informao

    ainda que meramente superficial em muitos casos fez surgir novas prticas.

    A transdisciplinaridade to comum em nosso tempo e alardeada a

    dcadas por Paulo Freire8e outros filsofos libertrios preocupados com a formao

    7 A escola pblica, a instruo generalizada para todo o povo, instituda pelo capitalismo no sculo XIX ecorresponde a uma necessidade econmica do sistema: a generalizao dos conhecimentos para a

    formao do know-how dos trabalhadores urbanos (CUNHA, 1985, p.16).8 Paulo Freire, na prtica, sabia trabalhar com vrias disciplinas ao mesmo tempo: a etnografia, a teorialiterria, a filosofia, a poltica, a economia, a sociologia, etc. Trabalhava mais com teorias do que com

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    humana como um todo props outros parmetros para o ensino. Um ensino por

    completo, que sugira ao homem o caminho a seguir e no simplesmente o ordene a

    segui-lo. O ensino apoiado na prtica, no viver dirio, no dilogo, onde o saber

    emana do concreto, jamais do abstrato.

    O que importa fundamentalmente educao, contudo, como uma autnticasituao gnosiolgica, a problematizao do mundo do trabalho, das obras, dosprodutos, das idias, das convices, das aspiraes, dos mitos, da arte, da cincia,enfim, o mundo da cultura e da histria, que, resultando das relaes homem-mundo, condiciona os prprios homens, seus criadores (FREIRE, 1968, p.83).

    Sendo assim,

    Algumas instituies escolares, conscientes das contradies presentes nasociedade e, consequentemente na escola, tm incorporado em seu contexto meiosde comunicao, entendidos como recursos facilitadores do trabalho docente.Acreditam, assim, que com a utilizao de linguagens audiovisuais, o alu