dissertao completa edna
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DISSERTAÇÃOTRANSCRIPT
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Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo
PUC-SP
EDNA FERNANDES DA ROCHA LIMA
O ATENDIMENTO HUMANIZADO NO PRONTO SOCORRO DO INSTITUTO CENTRAL DO HOSPITAL DAS CLNICAS DA
FMUSP: UM PROCESSO EM CONSTRUO
MESTRADO EM SERVIO SOCIAL
So Paulo
2007
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Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo
PUC-SP
EDNA FERNANDES DA ROCHA LIMA
O ATENDIMENTO HUMANIZADO NO PRONTO SOCORRO DO INSTITUTO CENTRAL DO HOSPITAL DAS CLNICAS DA
FMUSP: UM PROCESSO EM CONSTRUO
MESTRADO EM SERVIO SOCIAL
Dissertao apresentada Banca Examinadora da
Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, como
exigncia parcial para obteno do ttulo de MESTRE EM
SERVIO SOCIAL, sob a orientao da Prof Dr
MARIA LCIA CARVALHO DA SILVA
So Paulo
2007
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Banca Examinadora
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DEDICATRIA
Dedico este trabalho s pessoas que sempre estiveram presentes nos
momentos mais importantes de minha vida.
Aos meus pais, primeiramente, por terem me proporcionado amor, carinho,
ateno, educao, enfim, tudo que um filho precisa para ter uma boa formao
como a que os meus pais me ofereceram e que considero a melhor do mundo!
Tambm dedico ao meu irmo, Edilson, que teve o privilgio de compactuar destes
mesmos exemplos de vida.
Ao meu amado esposo, Renato, que nestes anos de convivncia tem
compartilhado comigo momentos de desafios, mas tambm de conquistas. Com
certeza, se no fosse o seu apoio, estmulo e compreenso, esta caminhada teria
sido bem mais rdua. Eu no tenho palavras para conseguir expressar o que
realmente ele representa em minha vida...
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AGRADECIMENTOS
O momento dos agradecimentos um momento muito importante. No meu
caso, tenho tantas pessoas a quem devo o meu infinito agradecimento para poder
realizar este trabalho...
Primeiramente, agradeo a Deus Pai, por ter me possibilitado todas as
conquistas de minha vida, sempre me permitindo que eu alcanasse os meus
objetivos sem que desistisse no meio do caminho, e tenho f Nele que hei de
conquistar muitos outros.
A todos os entrevistados e aos profissionais do Pronto Socorro do Instituto
Central do Hospital das Clnicas, em especial, equipe do Servio Social do PS pelo
apoio, compreenso e total disponibilidade em contribuir para a realizao deste
trabalho. Aps a minha sada do hospital (que diga-se de passagem, foi uma
deciso muito difcil), foi fundamental o apoio desta ilustre equipe de assistentes
sociais. diretora Dolores e assistente social chefe Snia, meus eternos
agradecimentos pelas idias e disponibilidade em fornecer informaes e dados que
contriburam para a pesquisa. s assistentes sociais Sandra, Tina, Nilse, Dilma,
Carmem, Cinira, um super beijo. No poderia deixar de agradecer diretora do
Servio Social de Enfermaria, Nsia pelas discusses e diretora da Diviso de
Servio Social Mdico, Teca que tambm apoiou a continuidade e concretizao dos
estudos.
Letcia, assistente social do NADI-HC, que me estimulou a iniciar a
caminhada rumo ao mestrado, orientando, trocando idias, e que neste momento se
encontra finalizando o seu doutorado. Boa Sorte!!!
Profa. Dra. Sandra Mrcia pelas sugestes e reflexes, no apenas na
qualificao, mas em outros momentos anteriores que se iniciaram durante o meu
curso de aprimoramento no HC.
Profa. Dra. Regina, do Ncleo de Estudos e Pesquisas Sade e Sociedade,
pelas contribuies no exame de qualificao e tambm pelas proveitosas reflexes
durante as leituras de textos e trabalhos realizados durante o referido ncleo.
Agradeo ainda a todos professores do Programa de Ps Graduao em
Servio Social da PUC pelo aprendizado propiciado no perodo do mestrado e que
so essenciais para os profissionais que optam em trilhar e construir os caminhos
rumo pesquisa e investigao cientficas.
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s amizades que tive o imenso prazer de cultivar durante as disciplinas,
atividades programadas e ncleos cursados, em especial Elba, Sandra Andra,
Carla Agda, Marisa e Mara Thereza, que foi minha professora na graduao.
Agradeo tambm secretria Ktia, que sempre foi atenciosa e prestativa.
No poderia deixar de agradecer as colegas do Frum de Itaquera, que
colaboram e entenderam os momentos em que estive ausente para realizar este
estudo, especialmente as chefias, assistentes sociais Cssia e Cris Valim, que
compreendendo a importncia deste trabalho, me liberaram para as pesquisas e
orientaes.
minha grande amiga, Silmara, que mesmo distante, demonstrou incentivo e
sempre torceu por mim. Valeu amiga!
Profa. Dra. Maria Lcia Carvalho da Silva, orientadora com quem tive o
privilgio de conviver e, principalmente, aprender muito durante a realizao do
mestrado. As indagaes feitas que me levaram a constantes reflexes, os dilogos
nos momentos mais difceis e cruciais, e o aprendizado so coisas que terei comigo
para sempre... voc Malu, meu profundo agradecimento por tudo. Que Deus a
abenoe mais ainda, porque voc j abenoada!
E, claro, a CAPES, que financiou os meus estudos e a concretizao desta
pesquisa.
OS MEUS SINCEROS AGRADECIMENTOS A TODOS!!!
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(...) Caminhando e cantando e seguindo a cano
Somos todos iguais braos dados ou no
Os amores na mente, as flores no cho
A certeza na frente, a histria na mo
Caminhando e cantando e seguindo a cano
Aprendendo e ensinando uma nova lio.
(Pra no dizer que no falei das flores, Geraldo Vandr)
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HOSPITAL DAS CLNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA
DA UNIVERSIDADE DE SO PAULO
HCFMUSP
INSTITUTO CENTRAL
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RESUMO
A presente dissertao de mestrado teve como objeto o estudo do processo
de efetivao da Poltica Nacional de Humanizao - HumanizaSUS no Pronto
Socorro do Instituto Central do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de So Paulo. Objetivou-se conhecer e analisar os significados desta
Poltica nas percepes dos ex-coordenadores do Comit de Humanizao, do
coordenador da Hospitalidade e da equipe profissional do Pronto Socorro. Definiu-se
como hiptese que o HumanizaSUS no Pronto Socorro vem sendo efetivado de
forma gradual e parcial, embora revele potencialidades favorveis a um processo de
efetivao com vistas consolidar-se. A metodologia englobou pesquisa
bibliogrfica, pesquisa documental, pesquisa de campo de carter qualitativo e
observao participante da pesquisadora. Foi utilizada a tcnica de metodologia da
Histria Oral atravs de entrevistas semi-estruturadas baseadas em roteiros com 9
sujeitos. Para a anlise dos dados obtidos foi adotada a tcnica de anlise de
contedo. Os conceitos referenciais eleitos foram Sade, Humanizao, Urgncia e
Emergncia e Cultura. Os resultados evidenciaram que a implementao da Poltica
Nacional de Humanizao recente no Hospital das Clnicas com diferentes limites
e desafios institucionais para a sua efetivao cotidiana, porm, as prticas
profissionais no Pronto Socorro tm buscado concretizar principalmente o
acolhimento, o respeito aos usurios em sua integridade enquanto pessoa e o
desenvolvimento de co-responsabilidade profissional na prestao dos servios de
sade. Em relao ao Servio Social, verificou-se o empenho e a contribuio a
todos os aspectos que digam respeito ao direito social sade e cidadania dos
usurios do SUS.
Palavras-chave: Humanizao, Sade, Poltica, Assistncia Hospitalar, Pronto
Socorro, Servio Social, Histria Oral, Cultura.
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ABSTRACT
This Masters thesis had as its objective to study the implementation process for the
National Humanization Policy for the Federal healthcare system HumanizaSUS, on
the Emergency Service of the University of So Paulo Medical Schools Hospital das
Clinicas Teaching Hospital. The aim was to gain knowledge of and analyze the
meaning of this Policy in the perceptions of the former coordinators of the Committee
for Humanization, the coordinator of Hospitality, and the professional team of the
Emergency Service. The hypothesis was established that the HumanizaSUS
program on the Emergency Service is being implemented gradually and partially,
although it reveals favorable potential as a permanent process, and the aim is to
consolidate it. The methodology was comprised of bibliographical research,
documentary research, qualitative field research, and participative observation by the
researcher. The methodological technique of oral histories was used, employing
semi-structured interviews based on a script with 9 subjects. For analyzing the data
obtained, the technique of content analysis was used. The reference concepts
chosen were Health, Humanization, Urgency and Emergency, and Culture. The
results indicated that the implementation of the National Humanization Policy is
recent at Hospital das Clinicas, with different institutional limits and challenges for its
implementation on a day-to-day basis. However, professional practices on the
Emergency Service have sought to achieve especially the values of a welcoming
attitude, respect for users as whole people, and the development of professional co-
responsibility in the provision of health care. As regards the Social Services staff,
their efforts and contribution to all aspects relating to respect for the right to health
care and citizenship of SUS users was noted.
Key words: Humanization, Health, Politics, Health Care, Emergency, Social
Services, Oral History, Culture.
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SUMRIO
INTRODUO ............................................................................................................................ 11
CAPTULO I - A SADE NO BRASIL NA DCADA DE 1990 E INCIO DO SCULO XXI .......... 20
1 Alguns Antecedentes Histricos da Sade e Formao do Sistema nico de Sade
SUS............................................................................................................................................. 21
2 Fundamentos legais da implementao do SUS ................................................................... 29
3 O SUS e a Participao do Servio Social ............................................................................ 35
CAPTULO II - A QUESTO DA HUMANIZAO DA SADE.................................................... 44
1 - Primeiras referncias da humanizao na Sade .................................................................. 44
2 O Programa Nacional de Humanizao da Assistncia Hospitalar. ....................................... 47
3 A Poltica Nacional de Humanizao HumanizaSUS.......................................................... 53
4 Aproximaes Conceituais Atuais da Humanizao .............................................................. 58
CAPITULO III - CARACTERIZAO DO PRONTO SOCORRO DO HOSPITAL DAS
CLINICAS DA FMUSP ................................................................................................................ 65
1 Breve Histrico da Trajetria do Hospital das Clnicas e do Pronto Socorro do Instituto
Central do HCFMUSP ................................................................................................................. 66
2 Organizao e dinmica do atendimento do Pronto Socorro do Instituto Central do
HCFMUSP .................................................................................................................................. 68
3 Atribuies e Prticas do Servio Social do Pronto Socorro do Instituto Central do
HCFMUSP .................................................................................................................................. 74
CAPTULO IV - SIGNIFICADOS DO ATENDIMENTO HUMANIZADO NO PRONTO
SOCORRO DO INSTITUTO CENTRAL DO HOSPITAL DAS CLNICAS DA FMUSP NAS
PERCEPES DOS ENTREVISTADOS.................................................................................... 86
1 O processo de institucionalizao da Poltica Nacional de Humanizao no HCFMUSP ...... 86
2 O processo de efetivao do atendimento humanizado no Pronto Socorro do Instituto
Central do HCFMUSP ............................................................................................................... 102
3 O processo de atuao do Servio Social no Atendimento humanizado no Pronto
Socorro: reforando o direito social sade e cidadania........................................................ 111
CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................................... 118
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .......................................................................................... 122
ANEXOS ................................................................................................................................... 130
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INTRODUO
A Sade, reconhecida como dever do Estado e direito do Cidado no Art. 196
da Constituio Federal de 1988, completa o trip da Seguridade Social, ao lado da
Assistncia e Previdncia Social. Entretanto, os avanos obtidos nesta rea so
resultantes de lutas e conquistas da sociedade atravs dos movimentos que
ocorreram ao longo dos anos e que se expressaram na referida Constituio de
1988.
No final dos anos 1970, caracterizado pela insatisfao popular com os
servios prestados na Sade, houve expressiva mobilizao da sociedade dando
origem ao Movimento de Reforma Sanitria. Foi a partir deste movimento que
ocorreu a 8 Conferncia Nacional de Sade.
Nesta Conferncia, a Sade ganha um sentido amplo, no qual a educao,
habitao, trabalho e transporte tambm fazem parte deste processo, contando com
a relevante participao das instituies de Sade, de profissionais e da sociedade,
o que levou criao do Sistema nico de Sade SUS.
O SUS prope o acesso gratuito aos servios de Sade a todos os cidados,
sendo este um grande avano em termos de direito social, conquistado no incio dos
anos 1990.
A partir da Lei Orgnica da Sade LOS (Leis 8080/90 e 8142/90), o Sistema
nico de Sade SUS foi implementado no Brasil.
Como princpios bsicos, o SUS defende a universalidade, igualdade e
equidade e, como diretrizes, a descentralizao, a integralidade e a participao da
comunidade.
Apesar das conquistas alcanadas na Sade, o acesso aos servios ainda
deficitrio, tanto pela falta de recursos, como pela falta de profissionais suficientes
para atender demanda populacional.
Alm disso, tais conquistas ocorrem concomitante ao avano das polticas
neoliberais na sociedade, que tendem a transformar os direitos sociais em
mercadorias, desresponsabilizando o Estado na garantia destes direitos, o que
prejudica o acesso da populao s polticas sociais, inclusive da Sade.
As dificuldades que os usurios vm enfrentando para receber atendimento
mdico se iniciam no nvel primrio de ateno Sade. Mesmo nas Unidades
Bsicas de Sade UBS, a espera para uma consulta mdica chega ser de 3 a 6
meses, fazendo com que recorram a outros servios de sade, entre eles os
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servios de emergncias na expectativa de que seu problema de sade seja
imediatamente resolvido.
J nos nveis secundrio e tercirio, estas questes tendem a ser ainda mais
problemticas devido o grande nmero de usurios e a falta de profissionais
especializados que possam dar conta das necessidades da populao.
O resultado disso so filas enormes, longo tempo de espera entre a marcao
de consulta e o atendimento mdico, falta de equipamentos e insumos que
subsidiem os profissionais na busca precisa de diagnstico e falta de medicamentos,
entre outros.
Foi na tentativa de superar este quadro que em 2001 foi proposto pelo
Ministrio da Sade, o Programa Nacional de Humanizao da Assistncia
Hospitalar PNHAH, objetivando resgatar os valores humanos como o respeito ao
prximo e atendimento com dignidade, o que, com o avano tecnolgico, ficou
prejudicado, dificultando o contato na relao mdico-usurio.
Em 2003, a humanizao ganha status de Poltica, ocasio em que o
Ministro de Sade da poca props a Poltica Nacional de Humanizao
HumanizaSUS. De carter mais abrangente, esta poltica se estende a todos os
nveis de sade, ou seja, desde a ateno bsica ao atendimento no nvel tercirio.
Um dos focos a mudana de cultura das organizaes, viabilizando um
contato humano em que prevalea o respeito ao prximo, com a participao de
todos os atores envolvidos neste processo: usurios, profissionais de sade,
gestores e a comunidade.
A humanizao na rea da Sade um tema que vem sendo muito discutido,
ocupando espaos no que se refere as reflexes e propostas na prtica profissional.
Foi a partir da nossa experincia enquanto assistente social atuando no
Servio de Pronto Socorro do Instituto Central do Hospital das Clnicas da FMUSP,
hospital de referncia, que surgiram as inquietaes que resultaram na realizao
deste estudo.
Em nossa prtica diria, percebamos uma demanda intensa que exigia dos
profissionais disponibilidade em atender e resolver as necessidades dos usurios,
que nem sempre esto ao alcance, nem tampouco dependem especificamente do
assistente social para serem solucionadas. Essa populao geralmente chegava ao
Servio Social emocionalmente fragilizada por conta da situao de doena pela
qual estava passando, seja o prprio usurio ou a famlia, alm das dificuldades
enfrentadas no prprio Sistema de Sade. Os usurios atendidos pelo Servio
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Social apresentavam problemticas geradas, desde o atendimento em uma Unidade
Bsica de Sade UBS, at o atendimento no Pronto Socorro.
Frente realidade de um servio destinado aos casos de emergncia da
capital e da regio metropolitana de So Paulo, e a procura espontnea dos
usurios que buscam resolver o seu problema naquele Servio de Pronto Socorro,
que surgiram as primeiras indagaes.
O primeiro questionamento foi como a equipe profissional do Pronto Socorro
poderia proporcionar um atendimento de qualidade, conforme preconiza a Poltica
Nacional de Humanizao, tendo em vista as demandas emergenciais inerentes a
um Servio de Emergncia.
Uma segunda indagao foi a viso do papel da equipe profissional sobre o
atendimento humanizado e suas percepes acerca das aes direcionadas
populao usuria dos servios de sade.
Um terceiro questionamento que nos perturbava constantemente era como o
assistente social poderia contribuir de maneira efetiva nesse processo de
humanizao com vistas efetivao do direito social sade e cidadania.
A partir destes questionamentos definimos como hiptese desta pesquisa que
o processo de efetivao da Poltica Nacional de Humanizao no Pronto Socorro
do Hospital das Clnicas da FMUSP, vinha sendo gradual e parcialmente implantado,
apresentando limites institucionais, quer de demanda muito volumosa de usurios,
quer do nmero insuficiente de profissionais para o atendimento. Tambm a
necessidade de conhecimentos mais precisos e objetivos sobre o HumanizaSUS,
alm das dificuldades estruturais inerentes ao Sistema nico de Sade. Este
momento do HumanizaSUS no Pronto Socorro do HCFMUSP significava uma
trajetria em construo de atendimento e de enfrentamento com possibilidades
crescentes de superao dos limites identificados.
Desta forma, delimitamos como objeto deste estudo a anlise do processo de
efetivao da Poltica Nacional de Humanizao no Pronto Socorro do Instituto
Central HCFMUSP na viso dos ex-coordenadores do Comit HumanizaHC, da
coordenadora da Hospitalidade e da equipe profissional, ressaltando a contribuio
das prticas dos assistentes sociais.
A pesquisa foi de natureza qualitativa, que segundo CHIZZOTTI (1998), tem
dentre os seus pressupostos, a relao dinmica existente entre o sujeito e o mundo
real. Neste sentido, permite a apreenso dos aspectos especficos e significados
latentes do tema, pois privilegia algumas tcnicas que coadjuvam a descoberta dos
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fenmenos latentes tais como a observao participante, histria ou relatos de vida,
entrevista no diretiva etc. (1998, p. 85).
Para MARTINELLI (1999),
(...) essa pesquisa [qualitativa] tem por objetivo trazer tona o que os participantes pensam a respeito do que est sendo pesquisado, no s a minha viso de pesquisador em relao ao problema, mas tambm o que os sujeitos tem a me dizer a respeito. (p. 21-22).
A partir desta compreenso de pesquisa qualitativa, foi utilizada a
Metodologia da Histria Oral que possibilita a anlise dos relatos dos sujeitos e
suscita sua reflexo sobre as questes apresentadas. Segundo MEIHY a
necessidade da histria oral se fundamenta no direito de participao social e nesse
sentido est ligada conscincia da cidadania (2005, p. 24).
Tratando-se de uma pesquisa, cujo tema a Humanizao em Sade,
optamos ento pela histria oral temtica que, segundo MEIHY (2005), pode ser
utilizada em diferentes reas do conhecimento acadmico na apresentao de
trabalhos analticos. Em geral, a histria oral temtica alia fontes orais a documentos
escritos.
A histria oral temtica permite que a opinio dos sujeitos sobre determinado
assunto seja conhecida, trazendo ao entrevistador no apenas informaes que
sero teis pesquisa, como tambm enriquecendo as suas experincias.
A pesquisa em pauta compreendeu trs momentos ou passos inter-
relacionados. O primeiro momento destinou-se a pesquisa bibliogrfica, atravs da
qual foi se construindo os referenciais tericos. Ao levantamento bibliogrfico
seguiu-se a pesquisa documental.
MARSIGLIA (2006), salienta a importncia de se obter uma pesquisa
bibliogrfica sobre diversos autores que discutem o mesmo tema com diversos
posicionamentos. Nesse sentido, as pesquisas bibliogrficas, que fundamentam
teoricamente as anlises, foram realizadas durante todo o perodo do mestrado
atravs de levantamentos de livros, artigos e teses/dissertaes da Faculdade de
Sade Pblica, monografias do HCFMUSP, alm de consultas em sites da Internet.
Devido o tema Humanizao ser recente, sobretudo a Poltica Nacional de
Humanizao, que foi instituda em 2003, no existe um grande nmero de
publicaes, sendo que maioria destas tratam de artigos publicados em revistas
especializadas na rea da sade. Segundo NETO,
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Esta forma de investigar, alm de ser indispensvel para a pesquisa bsica, nos permite articular conceitos e sistematizar a produo de uma determinada rea de conhecimento. Ela visa criar novas questes num processo de incorporao e superao daquilo que j se encontra produzido (2004, p. 52-53).
Apesar da limitada produo bibliogrfica levantada, a que se teve acesso,
no significa, porm, que no houve preocupao da pesquisadora neste sentido.
Os conceitos definidos como referenciais foram: Sade, Humanizao, Urgncia e
Emergncia e Cultura.
Com relao pesquisa documental, foram realizadas leituras de Leis,
Programas, cartilhas, jornais do Conselho Regional de Servio Social, dados
estatsticos do Pronto Socorro e documentos internos referentes ao campo de
pesquisa que estavam disponveis na Biblioteca Administrativa do Hospital das
Clnicas e no Servio Social do Pronto Socorro, para que fossem utilizados durante
as anlises das fontes orais, conforme sugere MEIHY (2005).
O segundo momento foi da pesquisa de campo, ou seja, o espao do Instituto
Central do Hospital das Clnicas, mais precisamente, o Pronto Socorro, lcus em que
os profissionais realizam cotidianamente as suas prticas profissionais. Os critrios
estabelecidos para escolha dos sujeitos foram: profissionais do nvel da
coordenao dos trabalhos de humanizao no Hospital das Clnicas, os
responsveis pelos servios e reas que atuam em carter ininterrupto e assistentes
sociais do PS. Dessa maneira, foram escolhidos nove sujeitos de pesquisa a partir
dos seus objetivos. So dois ex-coordenadores do Comit, um coordenador da
Hospitalidade do Instituto Central, trs diretores do Servio de Pronto Socorro e trs
assistentes sociais, sendo profissionais que trabalham nos perodos da manh, da
tarde e do horrio noturno. O fato da pesquisadora no ter escolhido sujeitos de
outras reas no significa que haja descaso quanto importncia destes.
Como no Pronto Socorro no existem as diretorias dos demais servios como
Nutrio, Farmcia, Fisioterapia, entre outros, optamos por entrevistar os sujeitos j
mencionados.
Considerando que a pesquisadora fizera parte da equipe profissional do
Servio Social do Pronto Socorro, mantendo proximidade com a maioria dos
sujeitos, houve facilidade para obter materiais, dados e realizar as entrevistas com
os sujeitos alocados no Servio Social e tambm com o coordenador da
Hospitalidade que pertencia a Diviso de Servio Social Mdico (DSSM).
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Por outro lado, houve relativa dificuldade em realizar as entrevistas com os
demais profissionais do Pronto Socorro, dadas as caractersticas inerentes a este
servio j que algumas vezes em que agendamos a entrevista, no puderam ser
concretizadas devido aos imprevistos que ocorriam.
Os contatos com os ex-coordenadores do Comit HumanizaHC foram mais
trabalhosos porque estes pertencem a outros institutos do Complexo, e alm disso
no fazem parte da atual coordenao. No perodo da pesquisa o Comit
HumanizaHC teve dois coordenadores da rea no mdica, e por isso, foram
realizadas entrevistas com estes sujeitos, a fim se obter dados completos deste
perodo. Devido a tais dificuldades, estas foram as ltimas entrevistas realizadas
pela pesquisadora.
Apesar da pesquisadora ter a inteno de entrevistar o responsvel pela
Ouvidoria do Instituto Central, isto no foi possvel, pois durante o perodo delimitado
para as entrevistas havia vacncia deste cargo no referido rgo.
Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, aps aprovao do projeto
pela Comisso de tica para Anlise de Projeto de Pesquisas CAPPesq, isto ,
com roteiro de apoio (Anexo I), com os sujeitos. Igualmente, foi solicitado a estes o
Termo de Consentimento para a realizao das entrevistas (Anexo III).
As datas e horrios foram agendados com os entrevistados, conforme a
preferncia destes. As entrevistas foram gravadas, no havendo recusa de nenhum
deles. A fim de mantermos o sigilo dos sujeitos, todos foram identificados por sigla.
Os assistentes sociais correspondem s siglas AS-1, AS-2 e AS-3, os diretores de
servios, D-1, D-2 e D-3, os ex-coordenadores do Comit HumanizaHC e o
coordenador da Hospitalidade so identificados por H-1, H-2 e H-3.
O perfil dos entrevistados (Anexo II) revelou oito do sexo feminino e um do
sexo masculino, com idade entre 40 e 63 anos. Todos trabalham no Hospital das
Clnicas h mais de 10 anos, e tm nvel superior completo, sendo que mais da
metade dos entrevistados tm curso de ps-graduao.
Foi tambm realizada observao participante que, somada a experincia
anterior da pesquisadora foi de grande valia para a anlise dos resultados.
O terceiro momento da pesquisa foi a construo da suas anlise tendo sido
escolhida a anlise de contedo, que segundo MINAYO (2004), significa a
articulao terica com os resultados das investigaes realizadas durante as
pesquisas.
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Nesta fase, foram articulados os conceitos referenciais da pesquisa com os
contedos das respostas dos sujeitos nas entrevistas. Dessa forma, foi possvel
construir trs ncleos analticos que abrangem todos os relatos.
MARSIGLIA (2006), enfatiza a necessidade do material coletado ser lido mais
de uma vez, o que facilita a seleo de recortes para a construo de ncleos a
serem analisados. O primeiro ncleo, da implementao, visa analisar a formao
do Comit e sub-grupos de humanizao no Hospital das Clnicas e as suas
repercusses no Pronto Socorro do Instituto Central.
O segundo ncleo, da efetivao, busca analisar compreenso dos
entrevistados sobre o significado do atendimento humanizado e quais as prticas
realizadas. O terceiro ncleo, das prticas dos assistentes sociais, aponta quais as
intervenes dos assistentes sociais na perspectiva do direito social a sade e
cidadania.
A estrutura da dissertao compreendeu quatro captulos, a saber:
O captulo I, A Sade no Brasil na Dcada de 1990 e Incio do Sculo XXI,
discorre sobre os antecedentes da sade at a formao do SUS, os seus
fundamentos legais e sobre a participao do Servio Social no Sistema nico de
Sade.
O captulo II, denominado A Questo da Humanizao da Sade, procura
abordar o conceito de humanizao a partir do Programa Nacional de Humanizao
da Assistncia Hospitalar e, posteriormente, da Poltica Nacional de Humanizao,
apresentando ainda aproximaes conceituais atuais, por autores que vm
produzindo estudos sobre esta temtica..
O captulo III, Caracterizao do Pronto Socorro do Instituto Central do
Hospital das Clnicas FMUSP, apresenta um breve histrico sobre a formao do
Hospital das Clnicas e do Pronto Socorro at os dias atuais, descrevendo a
organizao deste servio, bem como as atribuies e prticas do servio social.
O captulo IV, Significados do Atendimento Humanizado no Pronto
Socorro do Hospital das Clnicas - FMUSP nas Percepes dos Entrevistados,
expressa a anlise dos resultados obtidos na pesquisa, sobre o processo de
humanizao, na viso dos ex-coordenadores e profissionais do Pronto Socorro do
Instituto Central do HCFMUSP, com enfoque nas prticas dos assistentes sociais,
voltadas efetivao do direito social sade e cidadania.
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Nas Consideraes Finais, apresenta-se, a partir de uma sntese dos
resultados obtidos, reflexes sobre a possibilidade de avanos do atendimento
humanizado no Pronto Socorro.
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CAPTULO I - A SADE NO BRASIL NA DCADA DE 1990 E INCIO DO SCULO XXI
Para se discutir a Poltica de Sade, necessria a compreenso do
significado de sade propriamente dita.
A definio de sade mais difundida a da Organizao Mundial de Sade:
Sade o completo bem-estar fsico mental e social.
Criada aps o fim da II Guerra Mundial, a Organizao Mundial da Sade
preocupou-se em traar uma definio positiva de sade. O bem-estar que est
expresso na definio, caracteriza a preocupao com a destruio causada pela
guerra1.
J os autores SEGRE & FERRAZ (1997) consideram que esta definio da
OMS ultrapassada, pois exprime a sade como algo inatingvel. Os autores
entendem que o termo bem-estar, est relacionado a crenas e valores pessoais.
Christopher Boorse2 no ano de 1977 definiu a sade como a simples
ausncia de doena, definio esta naturalista em oposio da OMS. Segundo
BOORSE (1977) apud ALMEIDA FILHO & JUC (2002), o bem-estar, a plena
capacidade dos saudveis o oposto da incapacidade e sofrimento dos enfermos.
ALMEIDA FILHO (2000) considera que a sade no o oposto de doena, e,
portanto, no pode ser entendida como ausncia de doena. Ele enfatiza que na
prtica clnica no raro identificar indivduos produtivos sem sinais evidentes de
comprometimento da sade e que so portadores de doenas ou sofrem de agravos
ou seqelas parciais.
Entretanto, h pacientes que apesar de apresentarem algum tipo de
comprometimento, no tm evidncias clnicas. Desse modo, o autor entende que
existindo ou no uma patologia, deve-se levar em conta o seu grau de severidade.
A definio de sade da Regio Europia da Organizao Mundial da Sade,
segundo STARFIELD significa que:
medida que um indivduo capaz, por um lado, de realizar aspiraes e satisfazer necessidades , por outro, [capaz] de lidar com o meio ambiente. A sade , portanto, vista como um recurso para a vida diria, no o objetivo dela; abranger os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades fsicas, um consenso positivo(2002, p.21).
1 Wikipedia enciclopdia livre: www.pr.wikipedia.org consulta em 20/10/2006. 2 Ibidem.
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Apesar de se verificar que existem vrias definies de Sade, tambm
importante especificar a clareza de seu significado a partir da legislao brasileira,
em que:
A Sade um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doenas e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para a sua promoo e recuperao. (CONSTITUIO FEDERAL, 1988, Art. 196)
Segundo a Lei Orgnica da Sade Lei 8080/90, a Sade um direito
fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condies indispensveis
ao seu pleno exerccio (Art.2).
Conforme a Lei 8080/90, dentre os fatores condicionantes da sade esto a
alimentao, a moradia, o saneamento bsico, a educao entre outros. Neste
sentido, a legislao brasileira, no que tange a Sade, segue os preceitos
estabelecidos pela Organizao Mundial de Sade, Diz respeito sade as aes
que (...), se destinam a garantir s pessoas e coletividade condies bem-estar
fsico, mental e social. (Art. 2, Pargrafo nico).
a partir desta tica que so tecidas as reflexes sobre a Sade no Brasil.
1 Alguns Antecedentes Histricos da Sade e Formao do Sistema nico de Sade SUS
Discutir a Sade no Brasil nos anos 1990, sobretudo, a partir da efetivao do
Sistema nico de Sade SUS, uma condio necessria para compreendermos
o momento atual pelo qual atravessa essa poltica social, inclusive num momento
em que tanto se discute a Humanizao em Sade.
A Sade, reconhecida como direito do cidado dever do Estado a partir da
Constituio Federal de 1988, completa o trip da Seguridade Social, ao lado da
Assistncia e Previdncia Social.
Considera-se relevante um breve resgate histrico da sade no Brasil, citando
alguns momentos3. Segundo FERREIRA (1996), as primeiras intervenes do
Estado na sade se deram tardiamente, mais precisamente na dcada de 1930.
No sculo XVIIII, a assistncia sade era precria e as prticas mdicas
ficavam centralizadas, na maior parte, no Rio de Janeiro. Entretanto, tais prticas 3 Tendo em vista que este estudo no visa o resgate histrico da trajetria da sade no Brasil, sugerimos que se consulte Cohn e Elias (2003) e Ferreira (1996).
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eram baseadas no assistncia mdica particular, e s as camadas mais abastadas
tinham acesso por meio dos servios dos profissionais liberais. Havia tambm a
assistncia filantrpica direcionada aos mais pobres, e realizada pelas Santas Casas
de Misericrdia, criadas atravs de donativos de pessoas ricas e administradas por
religiosos; instituies estas sem fins lucrativos.
Nessa poca, mdicos eram profissionais raros no Brasil, pois no existiam
cursos de ensino superior nesta rea no pas. Muitos mdicos vinham de fora (em
sua maioria da Europa) para realizar pesquisas. Eram os curiosos e curandeiros que
cuidavam da sade da populao o que a sujeitava a entregar sua sade nas mos
de curiosos, curandeiros entre outros. (SINGER et al. 1978, apud FERREIRA, 1996)
Na metade do sculo XIX, perodo em que ocorreu o crescimento das
cidades, especialmente no perodo de transio da economia tipicamente agrcola
para a economia industrial, o pas enfrentava pssimas condies de sade e
saneamento bsico, sendo que o ndice maior de mortalidade era por doenas
infecto-contagiosas.
Como este quadro afetava a economia brasileira, foi somente no final sculo
XIX e incio do sculo XX que a sade passou a ser considerada como questo
social pelo Estado. Com o avano cientfico, surgem novas pesquisas e tcnicas de
sade importadas de combate a doenas, diminuindo o ndice de mortalidade. Neste
mesmo perodo ocorreu um crescimento nas atividades sanitrias e o surgimento de
escolas mdicas e institutos de pesquisas.
Vale ressaltar que em 1923, com a aprovao da Lei Eli Chaves, surgiram
as primeiras razes do Sistema Previdencirio no Brasil, sendo criadas as Caixas de
Aposentadoria e Penso CAPs (FERREIRA, 1996). Estas CAPs prestavam
assistncia mdica, bem como a concesso de aposentadoria (por tempo de
servio, velhice ou invalidez) e penso aos dependentes atravs de recursos
financeiros provenientes do financiamento dos empregados e das empresas, de
acordo com a categoria destas (martimas, ferrovirias, etc.). Trabalhadores que no
se enquadravam em tais categorias e o restante da populao eram atendidos nas
Santas Casas ou se valiam de iniciativas populares.
Em 1930, criou-se o Ministrio da Sade e da Educao, que possua dois
Departamentos: o da Educao e o da Sade e Assistncia Mdico-Social. Surgiu
ento no Brasil um Sistema de Sade que preconizou campanhas de vigilncia
sanitria. Neste mesmo perodo as CAPs foram substitudas pelos Institutos de
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Aposentadoria e Penso IAPs, sendo que a categoria deixou de ser por empresa
e passou a ser por categoria profissional.
Em 1953, criou-se o Ministrio da Sade, que at ento era conjunto ao da
Educao, devido necessidade de aes mais especficas voltadas para esta rea.
Neste sentido, ocorreu um aumento em termos de atividades visando o controle de
doenas e de assistncia mdica. Mesmo com a separao destes Ministrios, a
sade pblica pouco avanou.
J nos anos 1960, com a unificao dos IAPs, foi criado o Instituto Nacional
de Previdncia Social, privilegiando a nfase na medicina previdenciria, reduzindo
os gastos com a sade pblica. Esse modelo, de cunho privatista, priorizava a
prtica mdica curativa, sendo o Estado o financiador (Ferreira, 1996).
Este modelo, porm, apresentou alguns impasses, gerando nus e corrupo,
aliados crise econmica pela qual o pas passava naquele perodo e o aumento da
demanda nos servios mdicos.
Avanando para os anos 1970, quando se criou o Ministrio da Previdncia e
Assistncia Social (1974) e foi institudo o Sistema Nacional de Sade (1975), no
houve mudanas dada a dicotomia existente entre sade coletiva e individual.
O Sistema Nacional de Sade, em seu primeiro artigo, mencionava que os
setores pblicos e privados de aes voltadas para a sade, constituam o Sistema
propriamente dito, nos campos do Ministrio da Sade e no Ministrio da
Previdncia Social, sendo que neste ltimo, j se previa o seu direcionamento para o
atendimento individualizado.
Em 1978, foi criado o SINPAS Sistema Nacional de Previdncia e
Assistncia Social, que instituiu, entre outros rgos, o Instituto Nacional de
Assistncia Mdica e Previdncia Social INAMPS e o Instituto Nacional de
Previdncia Social INPS, para prestao de servios de assistncia mdica e
previdenciria, respectivamente.
Com isso, o atendimento mdico desvinculado dos demais benefcios
previdencirios, sendo um passo para o processo de universalizao da sade.
Todavia, devido crise econmica que o pas ainda atravessava naquela
poca, tais mudanas ainda no foram suficientes para alterar substantivamente o
quadro da sade.
Entre o perodo de 1974-1979, as mudanas ocorridas em termos de polticas
de sade, no tiveram a participao dos trabalhadores e os profissionais de sade
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enfrentaram dificuldades em propor mudanas no sistema vigente devido presso
dos interesses empresariais (BRAVO, 2007).
Neste perodo, ocorreu a organizao dos diversos setores da sociedade que
passou a questionar este Sistema de Sade.
Segundo CALVACANTI & ZUCCO (2006), o final dos anos 1970 marcado
pela insatisfao da populao, denncias na rea da Sade, o que mobilizou a
sociedade a exigir a reforma no Setor.
Foi este contexto que deu origem ao Movimento Sanitrio, contando com a
participao de profissionais da sade e representantes de instituies e
organizaes da sociedade civil.
O Movimento Sanitrio, tambm chamado de Reforma Sanitria, surgiu pela
necessidade de se provocar mudanas e transformaes na rea da sade,
mudanas estas no apenas no sistema, mas em todo o setor, tendo como premissa
que a sade est relacionada melhoria das condies de vida da populao4.
Segundo VASCONCELOS (2003), a Reforma Sanitria, foi um processo pela
democratizao da sade no qual estavam envolvidos profissionais e intelectuais da
sade, estudantes, a sociedade em geral, cujo princpio era a crtica ao modelo de
sade pautada na dimenso biolgica e individual, com nfase na relao entre a
organizao social, os servios de sade e prtica mdica. Este movimento afirmava
a importncia da determinao social da doena para se pensar propostas na rea
da sade.
Para SOUSA (2003), a reforma sanitria no significou somente a reforma
administrativa da sade ou descentralizao poltico administrativa, devendo ser
compreendida como um novo modelo e uma nova concepo de sade.
Nos anos 1970 houve um aumento na produo terica da sade coletiva a
partir de contribuies das cincias sociais, com nfase nas mudanas que
ocorreram na rea da sade devido crise econmica e as conseqncias desse
processo para a populao.
Estes debates trouxeram uma explcita relao das prticas em sade com a
estrutura de classes frente s determinaes estruturais e conjunturais da sociedade
(BRAVO, 2007).
A partir do movimento de Reforma Sanitria foi criado o Programa Nacional
dos Servios Bsicos de Sade PREV-Sade, que apesar de no ter sido
implementado, trouxe tona uma preocupao com a ateno primria, sade
4 http://bvsarouca.cict.fiocruz.br/sanitarista05.html
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coletiva e com a reorganizao do atendimento, ainda que o eixo principal fosse o
controle de custos na assistncia mdica.
Este programa serviu como referncia para o Conselho Nacional de
Administrao de Sade Previdenciria CONASP, que por meio do Programa de
Aes Integradas da Sade PAIS, tinha o propsito de implementar as mudanas
no modelo de sade vigente (VASCONCELOS, 2003).
Em 1985 o PAIS, foi transformado em portaria intersetorial, passando a ser a
Aes Integradas de Sade AIS sendo esta uma norma nacional.
Foi este movimento que deu origem a 8 Conferncia Nacional de Sade, cujo
tema foi Sade como direito do Cidado e dever do Estado. Realizada entre os
dias 17 e 21 de maro de 1986, foi um passo importante para a construo do SUS.
Nesta Conferncia, o eixo central das discusses foi a sade como direito do
cidado e dever do Estado, tendo a sade um sentido mais abrangente, revelando
aspectos das condies de educao, trabalho, transporte, habitao, bem como o
acesso aos prprios servios da sade.
Conforme consta no relatrio final da 8 Conferncia, houve expressiva
participao das instituies de Sade e tambm das categorias profissionais e da
sociedade civil, sendo um marco por ter sido a primeira vez em que houve a
participao da populao.
Ocorreram dois momentos de discusses, sendo um durante os trabalhos em
grupos e outro na assemblia final, com considervel participao democrtica e
consenso no que se refere aos encaminhamentos, ainda que as propostas de
implementao tenham sido diversificadas.
Os temas da 8 Conferncia Nacional de Sade foram: Sade Como Direito;
Reformulao do Sistema Nacional de Sade; Financiamento do Setor.
Sade Como Direito
O entendimento da Sade como resultante das condies de alimentao,
habitao, trabalho, transporte, lazer, entre outros, expressavam a forma de
organizao social. Entendeu-se que o conceito de sade definido no contexto
histrico da sociedade, assim como de seu desenvolvimento a partir das lutas de
classe.
Sendo assim, a Sade como direito deve ser entendida pelo Estado como a
garantia, de condies dignas de vida e acesso universal e igualitrio aos servios
de proteo, promoo e recuperao de Sade, em todos os nveis.
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Neste sentido, no seria a simples formulao do texto constitucional que
garantiria estes direitos, devendo o Estado assumir a Sade como uma poltica
integrada s polticas econmicas e sociais.
As dificuldades enfrentadas at ento, para a aplicao da Sade como
direito so reflexos dos obstculos estruturais enfrentados na sociedade brasileira,
fruto das histricas desigualdades sociais e concentrao de renda, sobretudo pelo
Estado autoritrio durante o perodo militar, cuja poltica social era voltada para o
controle das classes dominadas.
O resultado foi a fragilidade da organizao da sociedade civil que pouco
participou da formulao e controle da poltica e servios de Sade.
Diante desse contexto, a rea da Sade ficou merc dos interesses de
empresrios do ramo mdico-hospitalar, fazendo com que o setor pblico no
tivesse a credibilidade da populao.
Passou-se a discutir ento que as responsabilidades bsicas do Estado
deveriam ser:
adotar polticas sociais e econmicas capazes de melhorar as condies de
vida da populao, sobretudo as mais carentes;
garantir um sistema de sade com acesso universal e igualitrio;
descentralizao;
normatizar e controlar as aes de sade.
Dessa forma, o direito Sade toda a populao tinha que ser garantido
atravs de uma Assemblia Constituinte democrtica e popular. A idia era
assegurar na Constituio condies dignas de existncia toda populao,
estimulando a participao popular.
Reformulao do Sistema Nacional de Sade
Neste item foi proposta a reestruturao do Sistema de Sade, j sendo
sugerida a formao do SISTEMA NICO DE SUDE SUS, com uma nova
estrutura institucional, separando a Sade da Previdncia Social.
Assim sendo, propunha-se a criao de um Ministrio nico no que se refere
coordenao em nvel federal, estendendo-se aos nveis estadual e municipal.
Foi nesta reformulao que se estabeleceram os princpios de
descentralizao e fortalecimento do papel do municpio, integralidade,
regionalizao e hierarquizao, participao popular, universalizao e equidade.
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No que se refere poltica de recursos humanos, foi proposta a isonomia
salarial entre as categorias profissionais em todos os nveis: federal, estadual e
municipal. Discutiu-se a necessidade da contratao de profissionais por meio de
concurso pblico, a capacitao permanente e a formao de equipes
multiprofissionais.
Uma outra questo que sempre esteve presente nesta conferncia o carter
pblico do SUS, devendo o setor privado estar subordinado direo estatal.
Quanto s empresas internacionais, as relaes contratuais devem priorizar a
soberania nacional.
No que se refere s atribuies nos nveis federal, estadual e municipal foi
proposto:
Federal
formulao de normas de relacionamento entre os setores pblico e privado
controle e execuo de programas emergenciais, cujas unidades
federativas no pudessem conduzir
financiamento
servios estratgicos como rgos de pesquisa, produo de
medicamentos e insumos.
Estadual
gesto e coordenao da poltica nacional de Sade no respectivo estado
prestao de servios de vigilncia sanitria e epidemiolgica
conjuntamente com os municpios
executar servios, sobretudos de nveis secundrio e tercirio, que por seu
custo ou complexidade no podem ser geridos pelo municpio.
Municipal
os papis devem ser definidos conforme as caractersticas de cada
municpio com a coordenao do nvel estadual
responsabilidade mnima pela gesto dos servios bsicos de sade
os municpios maiores assumiriam a gesto em carter imediato e os
menores em conjunto com a Secretaria Estadual.
Ainda na reformulao do Sistema de Sade, o relatrio apresentou a
proposta de que os hospitais universitrios e foras armadas fossem integrados ao
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Sistema nico de Sade sem prejuzo das funes de ensino, pesquisa e
assistncia.
Alm da formao de um novo Conselho Nacional de Sade, cuja
representao deveria ser por todas as esferas do governo, centrais sindicais e
movimentos populares, foi estabelecida a necessidade de se formar Conselho de
Sade tambm nos nveis estaduais e municipais, enfatizando a participao da
sociedade no planejamento, execuo e fiscalizao dos programas de sade.
Para garantir a efetivao das propostas da 8 Conferncia e a continuidade
das discusses, considerou-se a necessidade do aprofundamento das questes
debatidas e a formao de um grupo: Grupo Executivo de Reforma Sanitria.
Financiamento
Quanto ao financiamento, discutiu-se a necessidade de constituir um
oramento social, destinado s polticas sociais, cabendo uma parcela ao setor da
sade com controle federal a ser repassado aos demais nveis, indo de encontro
proposta de descentralizao.
Dessa forma os recursos da Previdncia seriam gradativamente separados da
sade, devendo ser criadas outras alternativas. A idia era que os recursos da
Previdncia fossem direcionados a um seguro social dos trabalhadores para custear
benefcios.
Quanto aos recursos financeiros da sade, a idia era que a distribuio no
considerasse apenas os fatores de contingente populacional e arrecadao fiscal,
devendo-se considerar tambm as condies de vida, conforme a regio.
No que se refere a descentralizao, defendia-se que este princpio se
concretizaria a partir de uma reforma tributria que eliminasse as formas de
financiamento vigentes poca, que fossem estabelecidas fontes viveis para
financiamento da sade5, reduo das desigualdades regionais, garantia de recursos
aos Estados e aos Municpios para desenvolvimento de programas de sade, entre
outras.
Segundo COHN & ELIAS (2003) os avanos dos debates sobre a sade
consolidaram as mudanas nesse setor. Foi neste contexto que primeiramente
surgiu o SUDS Sistemas Unificado e Descentralizado de Sade a partir de
5 Observa-se que at hoje h um impasse nesta questo como, por exemplo, o CPMF que foi criado para o financiamento da sade. A alquota do COM de 0,38%, sendo 0,205 para a Sade, 0,105 para a Previdncia e 0,08% para o Bolsa Famlia.
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convnios estabelecidos entre o INAMPS e a Secretaria Estado de Sade em 19876.
A partir da Constituio Federal de 1988, a Sade ento contemplada em seus
artigos 196 200.
Observa-se que os referidos artigos trazem explicitamente as propostas
elaboradas durante a 8 Conferncia Nacional de Sade no que se refere ao dever
do Estado em prover a sade aos cidados (art 196), descentralizao,
regionalizao e hierarquizao e participao da comunidade (art. 198),
participao da iniciativa privada em carter complementar (art. 199) e controle e
fiscalizao, aes da Vigilncia Sanitria e Epidemiolgica, formao de recursos
humanos na sade (art. 200).
2 Fundamentos legais da implementao do SUS
No item anterior, viu-se os antecedentes histricos da Sade no Brasil at o
seu reconhecimento como direito do cidado e dever do Estado na Constituio
Brasileira de 1988.
por meio da aprovao das Leis 8080/90 e 8142/90, que juntas formam a
Lei Orgnica da Sade LOS, que se institui o Sistema nico de Sade. Apesar
desta pesquisa no ter como enfoque o estudo da Lei Orgnica da Sade, no
implicando assim, num estudo aprofundado, avaliamos como pertinente, fazermos
referncia a esta poltica, tendo em vista que a Humanizao est diretamente
ligada a ela.
Lei n 8080 de 19 de setembro de 1990
Esta Lei dispe sobre as condies para a promoo, proteo e recuperao
da sade, organizao e funcionamento, regulando as aes e servios de sade.
Assim como na Constituio Federal de 1988, nesta Lei, em seu art. 2, a
sade reconhecida como um direito do cidado e dever do Estado, que deve
prover os meios para o seu exerccio pleno:
1 O dever do Estado de garantir a sade consiste na formulao e execuo de polticas econmicas e sociais que visem reduo de riscos de doenas e de outros agravos no estabelecimento de
6 Todavia, vlido salientar que mesmo antes da criao do SUDS, j havia um movimento e aes voltadas descentralizao, ainda no perodo do regime militar. Segundo Elias (2003) foi implementado no ano de 1983 as AIS Aes Integradas de Sade, que posteriormente, aps a segunda metade dos anos 80 evoluiu para o SUDS.
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condies que assegurem acesso universal e igualitrio s aes e aos servios para a sua promoo, proteo e recuperao.
2 O dever do Estado no exclui o das pessoas, da famlia, das empresas e da sociedade. (Lei 8080/90, art. 2).
Conforme CARVALHO & SANTOS (2001), este direito deve ser garantido por
aes governamentais, no ficando apenas nas promessa constitucionais. Sendo
assim:
A assistncia sade no pode ficar merc de programas governamentais, que podem no acontecer, esvaziando o artigo 196 da Constituio de seu contedo, que a eficcia e a eficincia do Estado no pronto atendimento s necessidades do cidado. (p. 40).
Os autores entendem que o dever do Estado de prover Sade gera ao
cidado um direito subjetivo pblico7, devendo o Estado, coloc-lo disposio da
populao.
So reconhecidamente fatores determinantes e condicionantes da sade a
alimentao, moradia, meio ambiente, saneamento bsico, educao, renda,
transporte, entre outros, que expressam a organizao social e econmica do pas.
Tambm so consideradas as aes que se destinam garantir a todos os
cidados as condies de bem-estar fsico, mental e social, conforme prev a OMS.
Em sua disposio preliminar, a Lei 8080/90 define que o conjunto de aes e
servios sero prestados por instituies e rgos pblicos (federais, estaduais e
municipais), de Administrao direta e indireta, bem como das fundaes mantidas
pelo Poder Pblico, constituindo assim, o Sistema nico de Sade, podendo as
instituies privadas participarem em carter complementar.
Dentre os objetivos do SUS est a identificao e divulgao dos fatores
condicionantes e determinantes da sade, formulao de polticas de sade que
visem o risco de agravo da sade e a assistncia populao atravs da promoo,
proteo e recuperao da sade, bem como aes preventivas.
Fazem parte do campo de atuao do SUS as aes de vigilncia sanitria e
epidemiolgica, de sade do trabalhador e de assistncia teraputica e
farmacutica. Alm disso, incluem-se a formulao da poltica de recursos humanos,
participao na proteo do meio ambiente, incremento do desenvolvimento
cientfico e tecnolgico, entre outros.
7 Grifo nosso.
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Princpios e Diretrizes
O SUS, em seu art. 7 definiu que as aes e servios pblicos e privados
contratados ou conveniados, devem ser desenvolvidos conforme as diretrizes do art.
198 da Constituio Federal (descentralizao, com direo nica em cada esfera
de governo, atendimento integral com prioridade para as atividades preventivas, sem
prejuzo dos servios assistenciais e participao da comunidade).
Dentre os seus princpios podemos destacar a universalidade, a integralidade
da assistncia, a autonomia, a igualdade, participao da comunidade,
descentralizao poltico-administrativa, com direo nica nas esferas do governo,
com nfase na descentralizao dos servios municipais e regionalizao e
hierarquizao dos servios de sade.
Segundo CARVALHO & SANTOS (2001), a universalidade garante o acesso
sade em todos os nveis de assistncia, o que no ocorria antes do SUS, j que
tinha acesso a tais servios quem era contribuinte previdencirio.
No que se refere integralidade da assistncia, esta relaciona s atividades
de cunho preventivo, devendo ser combinadamente utilizado com o princpio da
igualdade na assistncia.
Autonomia significa o poder que o individuo tem sobre as suas escolhas,
devendo o Estado respeit-la no que se refere sade.
A participao da comunidade est relacionado ao controle e fiscalizao dos
servios do SUS. Tal participao se d atravs dos conselhos federais, estaduais e
municipais de sade.
Dentre as aes de Sade que so comuns para todos os nveis, temos como
atribuies, a definio das instncias e mecanismos de controle, administrao de
recursos oramentrios, participao na formulao da poltica e execuo das
aes de sade, articulao com rgos de fiscalizao do exerccio.
No nvel federal, compete ao SUS, formular e avaliar polticas de alimentao
e nutrio, participando tambm das formulaes de polticas de controle de
agresses ao meio ambiente, saneamento bsico e condies de trabalho,
coordenando os sistemas de assistncia de alta complexidade, vigilncia sanitria e
epidemiolgica e promovendo a descentralizao para os estados e municpios,
dentre outras atribuies.
direo estadual do SUS compete promover a descentralizao para os
municpios, acompanhando e controlando as redes do SUS. Alm disso, compete
coordenar a rede estadual de laboratrios.
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direo municipal compete entre outras atribuies planejar, avaliar e
executar os servios de Sade, participando do planejamento, programao e
organizao da regionalizao e hierarquizao, fiscalizao das agresses ao meio
ambiente, colaborando com os estados e a unio..
Com relao aos servios privados de assistncia sade, sero observados
os princpios ticos. Para o seu funcionamento condio a participao direta ou
indireta de empresas financeiras na assistncia sade, sempre em crater
complementar.
No que diz respeito aos recursos humanos, as aes sero executadas pelas
diferentes esferas do governo, com um sistema de formao que contemple todos
os nveis de ensino, inclusive ps graduao, contando ainda com programas de
aperfeioamento.
A respeito do financiamento do SUS, o oramento da seguridade social,
destinar, conforme receita estimada, os recursos necessrios s suas finalidades.
O Sistema nico de Sade ainda contar com outras fontes provenientes de:
servios prestados sem prejuzo a assistncia mdica, ajuda, contribuies,
doaes, alienaes patrimoniais, taxas e multas no mbito do SUS.
Os recursos financeiros do SUS devem ser depositados em conta especial,
em cada esfera de atuao, movimentados sob fiscalizao dos conselhos de
sade.
Os valores a serem creditados tero como critrios, o perfil demogrfico,
epidemiolgico da populao, desempenho tcnico, econmico e financeiro do
perodo anterior e ressarcimento do atendimento a servios prestados para outras
esferas do governo.
O SUS prev ainda a participao dos hospitais universitrios e de ensino
atravs de Convnios, sendo preservada a autonomia administrativa sobre o
patrimnio, recursos humanos financeiros e pesquisa.
Lei 8142 de 28 de dezembro de 1990
Esta Lei dispe sobre a participao da comunidade na Gesto do SUS e
sobre as transferncias intergovernamentais de recursos financeiros e foi editada
devido aos vetos que houve na Lei 8080/90, no que se refere participao da
comunidade e repasse direto de recursos (CAVALCANTI & ZUCCO, 2006, p.72),
definido ento que, em cada esfera do governo haver, a realizao das
Conferncias Nacional de Sade e a formao de Conselhos de Sade.
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33
Com isso, as Conferncias so realizadas a cada quatro anos, contando com
a participao da populao, em vrios segmentos sociais. O objetivo das
conferncias avaliar a poltica, propondo diretrizes para a sua formulao.
J os Conselhos de Sade, rgos de carter permanente e deliberativo, so
compostos por representantes da sociedade, profissionais de sade e usurios, cujo
objetivo controlar e fiscalizar a execuo da poltica de sade.
No que se refere ao financiamento do SUS, esta Lei estabelece que para o
repasse de recursos, necessrio que os Municpios, Estados e Distrito Federal
estejam de acordo com o artigo 35 da Lei. 8080/90 (critrios sobre estabelecimento
de valores para transferncia).
Caso os Municpios, Estados, ou Distrito Federal no atendam aos critrios
estabelecidos, os recursos sero administrados pelos Estados e Unio,
respectivamente.
Alm destas Leis, que implementam e operacionalizam o Sistema nico de
Sade, existem as Normas Operacionais Bsicas NOBs e as Normas
Operacionais de Assistncia Sade NOAS, conforme o quadro a seguir8
8 Fonte: http://www.sespa.pa.gov.br/Sus/sus/sus_descen.htm
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NOB-SUS 01/91 Resoluo N 258/1991 /INAMPS
Instituiu a UCA - Unidade de Cobertura Ambulatorial, para o financiamento das atividades ambulatoriais; Instituiu a AIH - Autorizao de Internao Hospitalar, para o financiamento das internaes hospitalares; Definiu recursos para o custeio da mquina administrativa do INAMPS; Definiu recursos para o financiamento de Programas Especiais em Sade; Definiu recursos para investimentos no setor sade.
NOB-SUS 01/92
Portaria N 234/1992/MS Criou o CONASS - Conselho Nacional de Secretrios de Sade e o CONASEMS - Conselho Nacional de Secretrios Municipais de Sade, como instncias gestoras colegiadas do SUS; Enfatizou a necessidade de descentralizao das aes e servios de sade; Normalizou o Fundo Nacional de Sade; Descentralizou o planejamento e a distribuio das AIH's pelas Secretarias Estaduais de Sade;
NOB-SUS 01/93
Portaria N 545/1993/MS Lanou o documento denominado "Descentralizao das Aes e Servios de Sade - a ousadia de cumprir e fazer cumprir a lei"; Deu maior nfase municipalizao da sade; Criou a CIT - Comisso Intergestores Tripartite e a CIB - Comisso Intergestores Bipartite, como rgos de assessoramento tcnico ao Conselho Nacional de Sade e aos Conselhos Estaduais de Sade, respectivamente;
NOB-SUS 01/96
Portaria N 1.742/1996/MS Instituiu a Gesto Plena Municipal da Sade com responsabilidade dos municpios pela sade; O municpio passa a ser o responsvel imediato pelo atendimento das necessidades do cidado; Os estados passam a ser meros mediadores; A Unio normaliza e financia e o municpio gere e executa. Criou os nveis de gesto Incipiente, Parcial e Semi-Plena; Instituiu o PAB - Piso da Ateno Bsica; Institui a PPI - Programao Pactuada e Integrada.
NOAS-SUS 01/01 Portaria N 95/2001/MS
Os estados passam da funo de meros mediadores para a de coordenadores do SUS em mbito estadual; A nfase na municipalizao (atomizao) d lugar nfase na regionalizao (otimizao);
NOAS-SUS 01/02 Portaria N 373/2002/MS
Aperfeioou e revoga a NOAS-SUS 01/01
A Poltica de Sade, para a sua implantao, conta, portanto, com um aparato
de leis e normas que visam a sua efetivao, garantindo em tese, que todos os
cidados tenham acesso igualitrio.
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35
Todavia, desde que a Constituio Federal de 1988 estabeleceu o
reconhecimento do cidado como portador de direitos, o pas vem sofrendo
mudanas no que se refere Polticas Sociais.
Os anos 1990 so marcados pelas conquistas de direitos sociais ao mesmo
tempo em que o neoliberalismo se impunha na realidade brasileira frente s polticas
adotadas pelos governantes, a partir do incio da referida dcada, mas que j se
iniciaram no final da dcada de 1980.
As polticas sociais neoliberais, conforme VIEIRA (1997), negam os direitos
sociais, garantindo o mnimo para a sobrevivncia, vinculando o nvel de vida ao
mercado e os transformando em mercadorias. Alm disso, as polticas sociais
neoliberais tendem a ser focalizadas e fragmentadas, inclusive no que se refere s
polticas de sade.
VASCONCELOS (2003) exemplifica os efeitos produzidos pela lgica de
mercado:
As garantias constitucionais, antes que pudessem ser asseguradas na vida social, foram atropeladas pela implementao de uma Reforma de Estado, exigida pela forma de capitalismo atual que (...), tem a caracterstica de fragmentar, ainda mais, todas as esferas da vida social a produo, o trabalho, as classes, o tempo, os princpios e valores que referenciam a identidade e a luta de classes e de concentrar nas mos do mercado tudo que oferea possibilidade de gerar lucro e concentrar riquezas (p. 91).
Segundo LEITE & RODRIGUES (s/d) as estratgias de construo do SUS
no foram suficientes para mudar o carter excludente e compensatrio das polticas
sociais de sade no Brasil. Segundo as autoras, no incio do ano 2000, a sade
enfrenta uma situao extremamente crtica, agravada pelas sucessivas crises do
setor e pelas constantes medidas reformistas, que desorganizaram as prticas
correntes sem, entretanto, conseguir substitu-las por melhores alternativas.
3 O SUS e a Participao do Servio Social
Refletir sobre Servio Social na contemporaneidade e na sua relao com a
Sade remete aos desafios impostos prtica profissional, tendo em vista a
realidade social na qual a profisso est inserida, sobretudo a partir dos anos 1990.
Conforme exposto anteriormente, o Brasil teve grandes mudanas no que se
refere Poltica de Sade, tendo estas se iniciado no final dos anos 1970, se
estendendo pelos anos de 1980 at a atualidade. Em termos de Servio Social,
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pode-se dizer que neste perodo, tambm ocorreram mudanas substantivas em seu
interior.
Considerando que um dos objetivos deste estudo a anlise das prticas dos
assistentes sociais na efetivao da Poltica Nacional de Humanizao no Pronto
Socorro do Instituto Central do Hospital das Clnicas importante contextualizar o
Servio Social a partir da efetivao do SUS.
Vale assinalar que o Servio Social no esteve presente no debate e nas
lutas pela Reforma Sanitria, contudo, continuou a realizar suas prticas e estudos
na rea da Sade (BRAVO & MATOS, 2004; BRAVO, 2007). No incio da dcada de
1970, a criao da Ps Graduao no Servio Social abriu novos horizontes para a
construo do conhecimento cientfico na rea (SETUBAL, 2002).
Com o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais CBAS em 1979,
chamado o Congresso da Virada, a profisso passou a buscar com determinao
uma redefinio de suas bases terico metodolgicas.
No incio dos anos 1980, o livro de IAMAMOTO & CARVALHO, Relaes
Sociais e Servio Social no Brasil (1982), foi um marco importante, introduzindo a
perspectiva marxista, o que foi fundamental para o debate e a anlise histrico-
crtica das prticas e produes terico-metodolgicas da profisso. Estes avanos
influenciaram a elaborao do novo projeto curricular de 1982.
O acmulo de conhecimentos obtidos pelo Servio Social nas dcadas de
1970 e 1980, e que so frutos deste processo de mudanas, possibilitou a
contribuio com novas proposies sociais voltadas cidadania tanto na
Constituinte de 1986, como na Constituio Federal de 1988.
Na dcada de 1990, o Servio Social participa ativamente da implantao da
Lei Orgnica da Assistncia Social - LOAS (1993), perodo em que se deu a
implementao do novo Cdigo de tica do Assistente Social, a regulamentao da
profisso pela Lei 8662 de 07 de junho de 1993, e a aprovao das Diretrizes
Curriculares dos Cursos de Servio Social em 1996.
Neste contexto, o debate sobre o projeto tico-poltico se intensificou no
Servio Social. Este projeto est vinculado a um projeto de sociedade,
fundamentado na liberdade, democracia e justia social.
Segundo BRAZ (2004), o projeto tico-poltico do Servio Social est
articulado em trs dimenses:
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- dimenso da produo de conhecimento no interior da profisso, ou seja, a
sistematizao da prtica com carter investigativo e articulado com as
tendncias terico-crticas.
- dimenso jurdico-poltica da profisso, envolvendo as leis, resolues, o
prprio Cdigo de tica e a Lei de Regulamentao da Profisso e as
Diretrizes Curriculares.
- dimenso poltico organizativa da profisso, atravs de debates entre as
entidades que representam a categoria (Conselhos Federal e Regionais de
Servio Social, Associao Brasileira de Ensino e Pesquisa em Servio
Social, Executiva Nacional dos Estudantes), onde so discutidos e
reafirmados os compromissos do projeto.
A ausncia do Servio Social no processo de Reforma Sanitria no o
impediu de participar e operacionalizar o SUS no anos 1990. A insero dos
assistentes sociais nos servios de sade :
mediatizada pelo reconhecimento social da profisso e por um conjunto de necessidades que definem e redefinem a partir das condies histricas sob as quais a sade pblica se desenvolveu no Brasil (COSTA, 2000, p. 41).
Com a implementao do SUS, as organizaes de sade ficaram
condicionadas s mudanas dos processos de sade devido aos princpios e
objetivos do sistema. Nestas exigncias esto includas a participao da
comunidade, que no so suficientes para eliminar a desigualdades, a excluso e a
qualidade nos servios de sade nem a assistncia mdica curativa.
Para COSTA (2000), a operacionalizao do SUS ainda prioriza o modelo
curativo ao invs de difundir o modelo preventivo, em que a sade resultante das
condies de vida da populao. Tais dificuldades esto relacionadas ao fato da
Poltica de Sade no se articular contento, s demais polticas sociais, o que
possibilitaria, a superao destas questes.
As demandas no SUS se iniciam na ateno primria, na qual as Unidades
Bsicas de Sade UBS, em tese, so a porta de entrada para a populao ter
acesso aos servios de sade. Todavia, a operacionalizao destes servios no
tm capacidade suficiente para absorver estas demandas, seja pela falta de
profissionais, seja pela falta de equipamentos e laboratrios para exames, entre
outros (COSTA, 2000),
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Frente a estas dificuldades no nvel primrio, a populao recorre rede
ambulatorial e hospitalar, o que onera e aumenta a demanda de servios, no
assegurando atendimento a todos.
Sendo assim, as propostas de referncia e contra-referncia e a educao
preventiva ficam prejudicadas e a inexistncia de leitos para atender a populao,
dificultam o acesso destas aos servios de sade.
no contexto das aes tradicionais x novas demandas que esto inseridas
as prticas do Servio Social, surgindo assim novas demandas. Todas estas
dificuldades de acesso ao SUS enfrentadas pela populao, se traduzem nas aes
dos assistentes sociais que atuam na rea da sade. Frente a tais demandas, se faz
necessrio construir propostas de trabalho que garantia dos direitos (IAMAMOTO,
2001).
Para COSTA (2000), ao lidar com as questes pertinentes Sade, o Servio
Social enfrenta e cria mecanismos que incidem no SUS. Seja no nvel primrio,
secundrio ou tercirio, o trabalho do assistente social est voltado para aes
emergenciais, aes educativas, identificao das condies socioeconmicas e
sanitrias da populao, orientaes e encaminhamentos aos diversos servios do
SUS.
Alm disso, o assistente social tambm atua nas atividades de planejamento
e assessoria como organizao dos servios e atendimentos, implantao de
protocolos clnicos e treinamento de profissionais da equipe de sade.
A atuao do assistente social tambm est direcionada para caracterizao
dos usurios dos servios de sade, como levantamento de informaes sobre as
condies de vida, facilitando assim, a indicao de prognsticos por parte da
equipe mdica. No que se refere ao nvel tercirio, por exemplo, o atendimento s
demandas de alta complexidade requer por parte da equipe profissional informaes
precisas, e a atuao do assistente social tem papel fundamental.
Neste sentido, o Servio Social contribui para a efetivao de um dos
objetivos do SUS, que conhecer a populao com a qual os servios de sade
sero direcionados (COSTA: 2000).
Conforme NOGUEIRA & MIOTO (2006), a partir do estabelecimento de
determinantes sociais, a prtica profissional do assistente social adquire
centralidade, possibilitando um novo estatuto do Servio Social no campo da sade
(p. 231).
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A prtica do assistente social no SUS tambm se d em outras instncias,
como nas aes emergenciais em que so providenciados, medicamentos e
materiais hospitalares, transportes, entre outros.
Nestas aes emergenciais incluem-se a participao dos assistentes sociais
nas discusses de casos com os demais profissionais da equipe, sensibilizando e
explicitando as dificuldades e necessidades dos usurios em situaes de alta
hospitalar. Os assistentes sociais agilizam exames e consultas garantindo o
atendimento dentro e fora da instituio se o usurio estiver internado e necessitar
de atendimento em outra unidade, enfim, uma gama de procedimento com os quais
os profissionais lidam, sobretudo nas unidades de pronto socorro.
No caso de aes preventivas, o Servio Social convocado a participar
atravs de informaes e orientaes sobre as formas de preveno de doenas,
como por exemplo, no nvel primrio. Alm de promover a participao dos usurios
no processo de sua sade, promove a participao nos conselhos municipais e
estaduais de sade.
Dessa forma a prtica do assistente social na sade expressa ainda o seu
papel educativo. Alis, esta prtica educativa est inserida na profisso,
independente da rea de atuao. Como nos diz ABREU (2002), o fortalecimento da
populao pode ser alcanado atravs da politizao desta em relao a si prpria e
aos servios institucionais que utiliza como forma de melhorar a qualidade destes
servios que usufrui. Para tal, a atuao do assistente social na perspectiva de
contribuir para que os usurios se conscientizem dos seus direitos Sade e
cidadadania, pois,
... a funo pedaggica do assistente social vincula-se capacitao, mobilizao e participao populares, mediante fundamentalmente, processo de reflexo, identificao de necessidades, formulao de demandas, controle das aes do Estado de forma qualificada, organizada e crtica (ABREU, 2002, p.216).
No nvel secundrio, o assistente social tem a sua prtica voltada para
orientaes sobre procedimentos para exames, incluso em programas, divulgando
os trabalhos realizados pelas unidades de sade.
Nas unidades hospitalares, seja nos servios de enfermaria e, sobretudo
pronto socorro, em geral, o assistente social orienta os usurios e familiares sobre a
importncia dos cuidados a serem tomados tanto em relao ao uso de medicao ,
quanto em relao s atitudes. So realizadas orientaes previdencirias e
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trabalhistas, de direitos assistenciais, e ainda informaes sobre os servios
funerrios, em caso de morte.
Com isso, a insero do Servio Social no SUS tambm envolve a prtica
profissional em informar e orientar os usurios e familiares sobre as rotinas e normas
institucionais como horrios de atendimento e visitas em caso de internao, bem
como sobre direito a acompanhantes.
Nos processos de produo de sade, importante que o assistente social
esteja disposto ao trabalho em equipe, atuando na perspectiva interdisciplinar.
Segundo CAVALCANTI & ZUCCO (2006), a atuao interdisciplinar possibilita ao
assistente social um olhar diferenciado, capaz de superar a fragmentao do saber e
da prtica profissional.
No ponto de vista de VASCONCELOS (2003) a atuao interdisciplinar, vai
alm de aes que priorizem apenas a preveno e o combate a doenas:
Nenhuma profisso por si s da conta deste objeto, com o cuidado necessrio para que suas aes no se dirijam e resultem em controle determinados segmentos sempre os mais fragilizados e pobres , mas que se dirijam para as condies materiais e elevao do padro cultural da maioria da populao objetivando uma educao em sade que enfrente, de forma diferenciada, a relao com as enfermidades (VASCONCELOS, 2003, p. 91).
Entende-se que a partir do momento que o assistente social alia o seu
conhecimento sobre o contexto social em que a populao est inserida ao trabalho
interdisciplinar, possvel pensar em estratgias que visem o atendimento integral
aos usurios dos servios de sade.
A sade requer ainda que os profissionais tenham uma formao profissional
que fornea conhecimentos e instrumentais capazes de dar conta das reais
necessidades da populao. VASCONCELOS (2003), enfatiza que se os
profissionais no estiverem qualificados do ponto de vista tico, poltico e terico-
prtico, fica prejudicada a possibilidade de se defender um uma proposta de sade
pblica que venha de encontro Reforma Sanitria.
O projeto tico-poltico do Servio Social como norteador da prtica cotidiana,
fornece parmetros e possibilita a construo de alternativas concretas que visem a
participao da populao, expressando-se, assim, o carter poltico da atuao
profissional. Como nos diz NETTO:
... o projeto prioriza uma nova relao sistemtica com os usurios dos servios oferecidos pelos assistentes sociais: seu componente estrutural o compromisso com a qualidade dos servios prestados
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populao, incluindo nesta qualidade a publicizao dos recursos institucionais, instrumentos necessrio e indispensvel para a democratizao e universalizao e, sobretudo, para abrir as decises institucionais participao dos usurios (1999, p. 105).
Ainda que o assistente social tenha se mantido afastado do processo de
Reforma Sanitria, vale ressaltar que a insero do Servio Social na Sade se deu
oficialmente em 1944 atravs do Decreto Lei 13.635 de 27 de dezembro de 1943,
com a inaugurao do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de So Paulo (ANDRADE, 2005)9.
Ao longo da dcada de 1990, a atuao do assistente social na rea da sade
vem crescendo gradativamente, inclusive, a rea que mais absorve a categoria
profissional.
A pesquisa realizada pelo CRESS-SP10 no ano de 2004, demonstrou que
38,03% dos assistentes sociais do Estado de So Paulo esto inseridos na rea da
Sade, concentrados em sua maioria na cidade de So Paulo (34,2%).
Conforme VASCONCELOS (2003), a maior parte dos assistentes sociais da
rea da Sade, atuam no nvel de ateno tercirio.
Observa-se que desde o incio dos anos 1990, o Servio Social vem
ampliando os espaos de discusso sobre a prtica profissional na rea da Sade,
atravs de congressos promovidos pelo CFESS/CRESS (Conselhos Federal e
Regionais de Servio Social), ABEPSS (Associao Brasileira de Ensino e Pesquisa
em Servio Social) e por diversas Instituies de Sade.
Alm dos CBASs Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais, cujas
temticas envolvem os vrios espaos de atuao profissional, inclusive a Sade,
destacam-se ainda, os ENPESSs (Encontro Nacional de Pesquisadores em Servio
Social), sendo este evento uma iniciativa da ABEPSS ( ).
Para MATOS (2003), na dcada de 1990, ocorreram outros encontros
envolvendo discusses sobre a prtica em Sade, dentre eles os Congressos de
Servio Social em Oncologia11 nas cidades de: Vitria/ES em 1995 e 1997 e na
cidade de Fortaleza/CE no ano de 1999.
9 Conforme Andrade (2005), o Servio Social do HC no o primeiro a atuar na rea hospitalar, tendo sido registradas experincias anteriores em 1941 (Hospital So Paulo) e em 1946 (Hospital Santa Cruz da Sociedade Santa Cruz de So Paulo) 10 Dados extrados do Jornal do CRESS-SP 9 Regio - n 46 Abril-Junho 2004 11 Nas pesquisas realizadas, tivemos dificuldades em encontrar informaes a respeito de seminrios posteriores, sendo que encontramos apenas informaes sobre o IV Congresso de Servio Social em Oncologia, ocorrido no ano de 2002, na cidade do Rio de Janeiro.
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Algumas instituies hospitalares tm promovido eventos de repercusso
nacional. Dentre estas instituies, destacam-se os Hospitais Universitrios e
unidades da USP, UNESP e UNICAMP. Desde 1997 as equipes de assistentes
sociais destas instituies tm se organizado, realizando eventos que trazem como
tema a prtica profissional na rea da Sade.
O primeiro evento, em junho de 1997, em So Paulo foi organizado como
Simpsio, sendo que no ano de 2002, este evento tambm ganhou status de
Congresso Nacional, sendo realizado paralelamente ao Simpsio.
Desde ento, estes eventos se realizam bianualmente, sendo que nos anos
de 2002, 2004 e 2006, ocorreram respectivamente o I Congresso Nacional de
Servio Social na Sade e o IV Simpsio de Servio Social em Sade com o tema
Perspectivas Profissionais e Realidade Social: Cenrio, Tendncias e Prticas, na
cidade de So Paulo, II Congresso Nacional de Servio Social na Sade e o V
Simpsio de Servio Social em Sade, cujo tema foi Servios de Sade na Interface
com as questes Sociais Contemporneas e o III Congresso Nacional de Servio
Social na Sade e o VI Simpsio de Servio Social em Sade, tendo como temtica
os Paradigmas e Caminhos do Servio Social na Ateno a Sade.
Em todos estes eventos, houve participao expressiva de assistentes sociais
de vrios estados do Brasil.
Alm destes eventos, outras instituies hospitalares e de ensino12, tambm
tm promovido encontros que discutem a prtica e as demandas dos assistentes
sociais na sade, na formao profissional e educao continuada13.
Em termos de veculos para divulgao da prtica dos assistentes sociais na
rea da Sade, destaca-se a Revista de Servio Social Hospitalar do Hospital das
Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo, lanada no ano
de 1994.
Conforme MATOS (2003), desde 1997 o Hospital Universitrio da UERJ
lanou a Revista Superando Desafios, com publicaes de Servio Social
Hospitalar.
12 No caso da PUC-SP, Programa de Estudos Ps-Graduados em Servio Social em parceria com o Programa de Estudos Ps-Graduados em Economia Poltica desde 19998 tem promovido anualmente, o Encontro de Pesquisadores da PUCSP na rea da Sade, sendo este um espao para a divulgao de trabalhos e pesquisas sobre o Servio Social na Sade. 13 O Servio Social do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da USP, alm da participao na organizao dos CONASSSs, tem promovido vrios eventos, que so organizados pela prpria instituio, conforme LIMA (2003) e GASPARINI (2003).
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Em relao formao profissional, a ABEPSS em parceria com instituies
de ensino, tem promovido oficinas regionais e nacionais como as ocorridas entre o
perodo de 2005-2006, que tinham como objetivo qualificar docentes e supervisores
de estgios das reas da sade, a fim de que estimule a integralidade de tais
prticas, o que significa que tem havido preocupao por parte da categoria
profissional com a qualificao acadmica e profissional.
Pode se dizer que a participao do Servio Social no SUS, em todos os
nveis de ateno est sedimentada, tendo em vista que a sua insero na Sade
de longa data, aliada experincia que a categoria vem acumulando em sua prtica
profissional.
Ainda que no tenha participado ativamente no processo de Reforma
Sanitria, e na formulao do SUS, o Servio Social tem atuao direta na
implementao desta poltica de sade.
O Servio Social na sade tem o desafio de saber lidar e enfrentar as
dificuldades impostas no cotidiano profissional, exige a construo de estratgias
profissionais baseadas na anlise de conjuntura de nossa realidade e da promoo
da participao popular nas questes que esto ligadas diretamente aos seus
direitos. BRAVO & MATOS propem a formulao de estratgias profissionais que
reforcem e efetivem o direito social sade articuladas a reforma sanitria e ao
projeto tico-poltico do Servio Social:
O trabalho do assistente social na sade deve ter como eixo central a busca criativa e incessante da incorporao destes conhecimentos, articulados aos princpios do projeto da reforma sanitria e pelo projeto tico-poltico do Servio Social. sempre na referncia a estes dois projetos que se poder ter a compreenso se o profissional est de fato dando respostas qualificadas s necessidades apresentadas pelos usurios do Servio Social (2004, p. 43).
No SUS, o assistente social tem uma gama de possibilidades de interveno
profissional, inclusive nos servios de pronto socorro, como veremos adiante.
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CAPTULO II - A QUESTO DA HUMANIZAO DA SADE
Humanizao um termo que nos ltimos tempos vem sendo freqentemente
utilizado no campo da Sade.
Conforme S (2005), em geral, as discusses de humanizao apresentam
as mais variadas propostas, que vo desde a organizao institucional em termos de
servios e produo de sade at as mudanas no espao fsico como sinalizao,
limpeza ou tambm incluir protocolos diversos e condutas teraputicas, setores de
escuta e acolhimento.
Existem algumas instituies de sade, cujas prticas existentes so tidas
como aes de humanizao, como por exemplo, as brinquedotecas e ouvidorias,
que nem sempre o horrio de atendimento contempla a todos os usurios ou conta
com recursos humanos suficient