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AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Margarida Duarte, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

04 - Editorial: José Tolentino Mendonça06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - A semana de... Sónia Neves16- Dossier Cristãos na Terra Santa

40 - Internacional46 - Cinema48 - Multimédia50 - Estante52 - Vaticano II54- Agenda56 - Por estes dias58 - Programação Religiosa59 - Minuto YouCat60 - Liturgia62 - Fundação Ajuda AIS64 - Lusofonias66 - Opinião Manuel Lemos

Foto da capa: OC/Agência ECCLESIAFoto da contracapa: Agência ECCLESIA

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Opinião

10 anos daConcordata[ver+]

Cristãos na TerraSanta[ver+]

Cardeal Turksondesafiouempresários[ver+] José Tolentino Mendonça | JoséVeiga de Macedo | Manuel Lemos

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Uma cultura do encontro, fora edentro

José Tolentino Mendonça

Um dos temas mais recorrentes e inspiradores domagistério do Papa Francisco é o da "cultura doencontro". É uma questão mais árdua do queparece, mas também mais decisiva do quepensamos. Árdua porque o encontro não éinfelizmente a tendência habitual gerada pelalógica competitiva e individualista hoje dominantes. Árdua porque parece mais fácil amuitos níveis (sejam eles culturais, ideológicos,psicológicos, organizacionais ou outros)reproduzir confortavelmente modelosisolacionistas do que dispor-se a uma abertura, aum acolhimento e valorização daquilo que o outroé, ao risco de um projeto comum centrado nãoapenas no bem individual, mas naquilo que émelhor para o todo. E há que reconhecer que oefeito de fragmentação que o desencontroproduz, não é apenas um problema que afeta omundo. O Papa Francisco não se tem cansadode repetir que essa é uma ferida que dilaceratambém o corpo eclesial. Tantas chamadas deatenção deveriam constituir um ponto de sériareflexão. É, de facto, um aspeto em quepensamos pouco: o da qualidade das relaçõesintra-eclesiais. E é essencial que elas sejamavaliadas, cuidadas, reparadas... Neste comonoutros assuntos a Igreja das origens é umafonte de interpelação e inspiração. Desde o«vede como eles

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se amam» (Act 4,32) - exclamaçãoque a primeiríssima comunidadecristã de Jerusalém despertava aosque a olhavam de fora – àpreocupação permanente doapóstolo Paulo para que acomunhão na Igreja fosse mais doque uma bela palavra.Podemos dizer que a "cultura doencontro" em que insiste o PapaFrancisco corresponde ao ADN daprópria Igreja. A sua vitalidade estárealmente nessa sabedoria,

que é competência humanadesenvolvida a partir do dom doEspírito Santo, para congregar, paraaprofundar criativamente osdinamismos de comunhão, parafazer cair os muros da inimizade,para colocar em prática amisericórdia, para instaurar umacultura de diálogo, decorresponsabilidade e decooperação. Precisamos de umacultura do encontro, fora e dentro.

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"Depois de uma profunda ponderação de todos os prós e contras,concluímos que (a saída limpa, ndr) é a escolha certa na altura certa. É aescolha que defende mais eficazmente os interesses de Portugal e dosportugueses e que melhor corresponde às suas justas expectativas”, PedroPassos Coelho anunciando a saída limpa de Portugal do programa deassistência financeira da Troika, 04.05.2014 © José Manuel Ribeiro/AFP

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“O que mais me vem à memória, nodia de hoje, são as afirmaçõesperentórias de agentes políticos,comentadores e analistas, nacionaise estrangeiros ainda há menos deseis meses, de que Portugal nãoconseguiria evitar um segundoresgate. O que dizem agora?”,Cavaco Silva, 05.05.2014 “A carta de intenções, que de restonão está ainda finalizada, refleteaquilo que as pessoas já conhecem:o Documento de EstratégiaOrçamental e compromissosatingidos na 12ª avaliação”, PauloPortas à Rádio Renascença sobre acarta de intenções que o Governotem de enviar ao FMI depois doresgate, 06.05.2014

“Comigo não vai haverdespedimentos na função públicanem aumento de impostos”, AntónioJosé Seguro ao Expresso diário,06.05.2014 “Unimo-nos aos inúmeros apelospela sua libertação e a suarestituição a uma condição normalde vida”, padre Federico Lombardicondenando o rapto de 223adolescentes na Nigéria,reivindicado pelo ‘Boko Haram’,ameaçando vendê-las comoescravas, 08.05.2014

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10 anos de ConcordataO presidente da delegação daSanta Sé na Comissão Paritária daConcordata, D. António Montes,afirmou hoje que o registo daspessoas jurídicas canónicas vai serregulamentado em breve. “Estamosa ultimar a regulamentação doartigo 10.º, que prevê o registo daspessoas jurídicas canónicas”,confirmou à Agência ECCLESIA, obispo emérito de Bragança-Miranda,que preside há três anos àcomissão de acompanhamento dotratado internacional assinado em2004 pelo Estado português e aSanta Sé.A proposta de regulamentação foi“aprovada” pela comissão paritária,criada para “interpretar o texto daConcordata”, e encontra-se noMinistério da Justiça para “consultapública”, assinala D. AntónioMontes.“O projeto será depois enviado àSanta Sé e só depois aprovado emConselho de Ministros”, esclarece oresponsável, que adianta “setembroou outubro” como possíveis mesesem que “haverá novidades”.O Ministério dos Negócios

Estrangeiros organizou hoje umcolóquio para assinalar os 10 anosda assinatura da Concordata,tratado internacional que regula arelação entre o Estado português ea Santa Sé.D. António Montes destaca a“cooperação, cordialidade” e “bomambiente” e desvaloriza a demorana regulamentação de questõescomo a fiscalidade e o património.“10 anos na vida das instituiçõesnão é um tempo excessivamentelongo. Um dos princípiosfundamentais da Concordata é oprincípio da cooperação entre aSanta Sé e o Estado português. Énatural que à medida que o tempopasse, seja necessário verificarmelhor algum aspeto, além de haverartigos que, pela sua próprianatureza, pedem umaregulamentação”, precisa.O ministro dos Negóciosestrangeiros, Rui Machete, encerrouo colóquio, com palavras dereconhecimento pela atualConcordata, um tratado que“enquadra com grande virtude orelacionamento” bilateral e queapresentou como “um

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documento moderno, um texto doséculo XXII, com grande significadocultural e reconhecido valor técnico”.Segundo o governante, a“proximidade” com a Santa Sé foiuma “constante” da história dePortugal.O tratado internacional sobre asituação da Igreja Católica emPortugal sublinha, no seu primeiroartigo, o princípio de cooperaçãoentre as duas

partes, uma dimensão realçada porD. Manuel Clemente.“Importa fazer coincidir a ação doEstado e a ação da Igreja naquiloque aos cidadãos crentes beneficie,crentes e não crentes, porque aação da Igreja em Portugal beneficiaa população em geral que lherecorre”, refere o presidente daConferência Episcopal Portuguesa.

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Igreja reforça atençãoao mundo das prisõesOs responsáveis católicos pelapastoral prisional em Andorra,Espanha, Gibraltar e Portugalpromoveram em Fátima, de 1 a 4 demaio, o primeiro Congresso Ibéricodeste setor, defendendo que “osDireitos Humanos dos Presosdevem estar presentes em todosquantos estão envolvidos nosistema penitenciário”.O documento conclusivo do evento,acompanhado pela AgênciaECCLESIA, sublinha que “osdecisores políticos, asadministrações penitenciárias, osguardas prisionais e a populaçãoem geral não devem encarar orecluso como um custo, mas comouma pessoa a quem se faculta apossibilidade de reinserção nasociedade”.“O trabalho de ressocialização éresponsabilidade de todos osgrupos e estratos da Sociedade –Dioceses, Paróquias, Associações,Escolas, Empresas – e não apenastarefa dos serviços dos Estados”,referem os responsáveis.As conclusões dos trabalhos docongresso mostram-se contra

a privatização da administração e dasegurança das prisões,considerando que esta opção “temdemonstrado efeitos muitoperniciosos nos países em que temsido aplicada”, pelo que o sistema“deve continuar sob alçada doEstado, como tem sucedido atéaqui”.“Da parte da Pastoral Penitenciáriaassumimos o compromisso de serum despertador pedagógico dasconsciências e de fornecer materialde reflexão, conducente a melhorespráticas de atuação social”,assumem os participantes.

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Igreja quer jovens líderes na açãopastoralO bispo de Viseu, D. Ilídio Leandro,encerrou este domingo o ‘FátimaJovem’ 2014, promovido peloDepartamento Nacional da PastoralJuvenil (DNPJ), pedindo que asnovas gerações se assumam como“líderes” na Igreja Católica.“Caríssimos jovens e todos vós,amados irmãos em Cristo, ouvi bema Sua Palavra e acolhei o Seuamor! Deixai aquecer o coraçãocom os propósitos que Ele sugerir!Vale mesmo a pena! Tornai-voslíderes e animadores de umaPastoral que seja fermento,fomentadora e distribuidora de pão,de paz e de amor a todos”, declarouo vogal da Comissão Episcopal doLaicado e Família, na homilia daMissa conclusiva do evento, noSantuário de Fátima.O prelado afirmou que os jovenscatólicos não devem ser“colecionadores” de encontros,movimentos ou peregrinações,porque “se essas experiências nãomarcam a vida, dando-lhe sentido,profundidade e orientação, sãoquase inúteis”.A homilia destacou a importância deuma vida de fé marcada pela“autenticidade e profundidade”,

em cada situação concreta, e deixouo convite aos jovens a “aprender deMaria o sentido da escuta, averdade da resposta e a coerênciae consistência da fidelidade”.A peregrinação juvenil incluiumomentos de oração, formação edebate, partilha e animação,congregando jovens de váriosmovimentos e grupos diocesanosem Portugal.O padre Eduardo Novo, diretor doDNPJ, disse à Agência ECCLESIAque a Igreja Católica espera dasnovas gerações a “ousadia de serprotagonista de mudança”, o queexige “uma memória, uma tradição euma identidade”.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Padre Artur Teixeira, novo presidente da Conferência dos InstitutosReligiosos de Portugal

«Fátima no Mundo» chega aos cinemas

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“Com três letrinhas apenas…”

Sónia Neves,Agência ECCLESIA

Eis-me em frente à maternidade Alfredo daCosta, em Lisboa. No largo verde pela relva, umsocalco calcário onde assenta uma estátua debronze. Passam as pessoas nas suas ‘’corridas’’diárias, passa o idoso de bengala ritmada, acriança que saltita no jardim, tratando-se de umespaço de liberdade. Todos passam sem ver…Pousam as pombas.Aproximo-me e vejo melhor. Fotografo. A estátua,à frente da maternidade que tantos lisboetastrouxe à vida, é uma mãe semi–deitada com ofilho nos braços. A mãe surge numa atitude dealerta, segurando e protegendo a criança,impõe-se e presta tributo a esta vocação que,arrisco dizer, de todas as mulheres.Nada melhor do que reparar nesta estátua para,em pleno mês de maio, fazer tributo às mães,porque “com três letrinhas apenas se escreve apalavra Mãe, é das palavras pequenas, a maiorque o Mundo tem”. Uma quadra popular quedesde pequena aprendi e que, agora sendo mãehá uns meses, vou entendendo o seu significadotão grandioso.Entrei nesta “equipa” e cada dia se torna maior aaprendizagem e a responsabilidade mas tambéma felicidade de ver crescer um filho. Asexperiências de outras mães que se cruzavamcomigo, em diversas circunstâncias, deram umaajuda em momentos difíceis e agora compreendoo Amor com que falavam dos filhos, das tropeliase gracinhas de cada um.

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Homenagem às mães portuguesas (1988) - escultura de Rogério Machado O sorriso aberto quando me vê, oabracinho da chegada e, ao fim dodia, vê-lo a dormir sereno sãomomentos preciosos que uma mãede “primeira viagem” quer manter erecordar para o resto da vida!Nesta semana deparei-me nasredes sociais com um pequenovídeo de uma mulher a falar sobreas dificuldades da maternidade, ainvisibilidade da sua vida comomulher e de muitas tarefas quesuportava nas suas costas.Terminava dizendo que uma mãe écomo uma grande catedral…Trata-se de uma comparação, aoinício incompreensível, mas depoiscom tanto sentido que apetece“rasgar” barreiras e “abrir janelas”de risos, ternura, sonhos

e Amor em todos os segundos quese tem um filho nos braços.Imaginosempre uma catedral como umespaço grandioso, iluminado, fresco,belo e alto. Um local de pessoasreunidas, de alegrias e comunidade.Um espaço de fortaleza, portoseguro, como se olha tantas vezespara uma mãe. Um regaço, um colo,um abraço.Este mês muitos são os filhos quecolocam “pés ao caminho” para seencontrarem com a mãe, na Covada Iria. Em momentos de dificuldade,física, económica e social, porquemuitos passam, os dias deperegrinação são pontes pararenovar a esperança e seencontrarem num colo que osacalma e fortalece.

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Cristãos não podem ser «partemenor»na Terra Santa A presença do patriarca latino de Jerusalém, D. Fouad Twal emPortugal, para presidir às cerimónias de 12 e 13 de maio em Fátima,motivou uma análise à conjuntura social e religiosa do Médio Oriente,com a participação do General Valença Pinto e do lugar-tenente daOrdem de Cavalaria do Santo Sepulcro, Gonçalo Figueiredo Barros

Agência ECCLESIA (AE) – Estaproblemática da perseguição aoscristãos tem de se relacionar com aprimavera árabe, com todos osacontecimentos que estão a ocorrerno Médio Oriente. Está em cursouma limpeza étnica dos cristãos?Valença Pinto (VP) – Eu não diriaque está em curso objetivamenteuma limpeza étnica dos cristãos noMédio Oriente, o que está em curso,no meu entendimento, é umacompleta negligência, um completoesquecimento em relação aoscristãos do Médio Oriente.Provavelmente porque o problemado Médio Oriente, que é umproblema tão importante, pesado ecomplicado, como nós todos

sabemos, se transformou de umaforma muito redutora, numa questãoentre israelitas e palestinianos,entre judeus e muçulmanos.Evidentemente não pode ser isso, éisso mas tem de ser mais do queisso. Resumido a isso, os cristãosficaram esquecidos, ficaram numaposição de subalternidadereforçada, árabes cristãos entreárabes muçulmanos, árabes entrejudeus, e foram vítimas dasoposições entre uns e outros.Foram vítimas também, em temposmais recentes, das oposições entresunitas e xiitas, em alguns casoscom variantes, caso dos alauitas naSíria,

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i mas não há objetivamente umalimpeza étnica nesse sentido.Há uma grande negligência, eparticularmente pelo lado de Israel,verifica-se um grande somatório depráticas

discriminatórias muitas vezes depura natureza administrativa masque são discriminatórias e queefetivamente convidam ao êxodoque se tem verificado e que éabsolutamente deplorável.

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AE – Como observa estesacontecimentos que têm comoconsequência a fuga de muitoscristãos do Médio Oriente?Gonçalo Figueiredo Barros (GFB) -Para responder a essa perguntafazia uma citação do PapaFrancisco por ocasião de umareceção que fez aos membros queintegraram a Assembleia daCongregação para as IgrejasOrientais no final do ano passado.Ele referia que suscitam grandepreocupação as condições de vidados cristãos, que em muitas partesdo Médio Oriente sofrem de maneiraparticularmente forte perante asconsequências das tensões e dosconflitos em curso.Mencionou expressamente a Síria, oIraque, o Egito e outras áreas daTerra Santa. E mais adiante faz umapelo a que se respeite o direito detodos a uma vida digna e aprofessarem livremente a própria fé.Não nos resignamos a pensar oMédio Oriente sem os cristãos, quedesde há dois mil anos aliprofessam o nome de Jesus,inseridos como cidadãos de plenotitulo na vida social,

cultural e religiosa das nações a quepertencem.É justamente este o ponto fulcral dapreocupação que existe em apoiaros cristãos da Terra Santa. Oscristãos da Terra Santa estãoinstalados naquela região há doismil anos, têm sido vítimas de váriosconflitos que lhes são alheios, nãosó na Terra Santa como no MédioOriente, em geral.Recrudesce os atentados e asperseguições aos cristãos no MédioOriente, a questão da Síria tem sidodramática, há um milhão derefugiados sírios na Jordânia nestemomento, só para se ter uma ideia.Uma das visitas que o PapaFrancisco vai fazer proximamente,ainda este mês à Terra Santa, vaiser a visita a campos de refugiadosdo Médio Oriente, mas não só daSíria. O Iraque tem quinhentos milrefugiados em campos também naJordânia, para não falar nospalestinianos.Os palestinianos desde há muitasdécadas têm fugido para a Jordâniae têm sido abrigados na Jordânia ehoje constituem uma populaçãomaioritária no próprio país.

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A posição da Igreja Católica temsido muito clara nesse sentido deapoiar todas estas comunidadesque estão a ser vítimas destecontexto muito complicado, em quehá um sofrimento real, diário,obstáculos de toda a natureza.Aquilo que nos parece maiselementar não é observado na TerraSanta nem no Médio Oriente, osimples facto da pessoa ter direitoao trabalho e poder ter um livreacesso ao

trabalho é-lhes vedado, para alémde todo o outro tipo deperseguições.É neste contexto, de facto, que aIgreja tem atuado, e particularmentea Ordem do Santo Sepulcro tematuado no sentido de apoiar osprojetos que o patriarca latino deJerusalém. Noventa e seis por centodos projetos do Patriarcado Latinosão financiados pela Ordem.

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AE –A promessa de umaconsolidação democrática nalgunspaíses acabou por nunca se atingir,provocando até que as partes emfratura se acentuassem…VP – Certamente que sim, e é emparte por isso que se verifica oêxodo que o doutor Gonçalo Barrosacabou de referir, e que dificilmenteserá travado ou invertido estesentido de saída das pessoas setudo nos parecer tratável naperspetiva de é preciso reconhecerem simultâneo o direito à existêncialivre, independente e segura deIsrael e Palestina.Certamente que isso éindispensável, mas não podeacontecer que este Israel e estaPalestina, cuja existência livre,segura e independente nósdesejamos, sejam percebidos comoEstados homogéneos quer nosentido étnico como confessional.Um e outro são Estados de váriascomunidades, e entre essascomunidades estão os cristãos,estão no fundo pessoas para asquais é completamente idêntico oplano de exigência em matéria dedireitos, liberdades e garantias.

Essa é a volta que tem de ser dada,certamente a procura de umasolução política, mas por mais que apolítica às vezes esteja distantedisso, uma solução política que nãopode subalternizar ninguém, e porisso tem de procurar assentar emprincípios, valores e critérios deordem ética e moral, em queninguém seja discriminado.E aí cabe necessariamente umpapel potencialmente muito grandeà Santa Sé, não apenas à Santa Sémas certamente à Santa Sé, tantono plano da pastoral como no planoda ação diplomática.Agora os cristãos não podem é serparte não existente ou parte menor.Ninguém é menor, nenhuma pessoaé descartável. AE – O conflito antes de serreligioso não é político?VP – É certamente, mas o que nósnão podemos ignorar é que fazparte desse conflito político umgrupo chamado cristãos, que existede um lado e existe do outro, comohá árabes em Israel e judeus naPalestina.

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É isso que tem de ser alterado, essaoposição definitiva entre judeus emuçulmanos a qual faz desaparecera presença cristã. Como foi muitobem referido, não pode sernegligenciada, como li numa frasemuito interessante, a Terra Santanão pode ser um museu da históriacristã, tem

de ser um lugar de vivênciacristã, os cristãos estão lá há doismil anos.Mas nós estamos numa época emque a segurança dos indivíduos nãopoder ser subalternizada em relaçãoà segurança dos Estados, e é issoque é preciso ter presente.

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AE – E é o que está a acontecernaquele território?VP – Não só ali mas também ali e éisso que é preciso certamenteinverter e alterar. AE – No caso dos cristãos da TerraSanta, eles estarão a ser vítimaspor parte da comunidade islâmica,sendo considerados infiéis, e porparte também da comunidadejudaica, pelo sentimento anticristãoque pode estar em crescimento.Duplamente vítimas?VP – A primeira vitimização é anegligência a que são sujeitos.

Mas depois efetivamente assim é,no caso do direito ao trabalho, comofoi referido, as dificuldades de vidaquotidiana, marcando itineráriosespecíficos que tornam muito difícilo viver quotidiano das pessoas,imaginando projetos urbanísticos emzonas tradicionalmente deresidência cristã, o que só temparalelo com a trágica política doscolonatos, tudo isso são formas dedificultar a vida das comunidadescristãs.Como é uma forma de dificultar avida às comunidades cristãs acriação de alguns entraves

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à ação de organizações de matrizcristã muito forte e muitoimportantes na região, asorganizações diocesanas, asorganizações afins, de que a Ordemdo Santo Sepulcro é um exemplo.Ou outras organizações já mais dasociedade civil, lato senso, comosejam as escolas, e nelas sobrelevaa Universidade de Belém ou comoseja a Pontifícia Missão para aPalestina, basicamente orientadapara o apoio humanitário, cultural,económico e social aospalestinianos.Tudo isso é tornado difícil e quandotudo é tornado difícil as pessoas,que ainda por cima têm de convivercom a violência trágica, saem damaneira como têm vindo a sair.É muito difícil dar valores exatos,porque a dinâmica é de tal maneiragrande, no sentido negativo, que émuito difícil ter valores segurosacerca deste

êxodo que se constata. Mas osnúmeros que com algumasegurança se encontram mostramreduções absolutamente aflitivas,com comunidades querepresentavam vinte por cento háquarenta anos e que hojerepresentam dois, três por cento.E a ideia que se tem, perfeitamenteassumida, é que hoje há tantoscristãos residentes no Médio Orientecomo há cristãos do Médio Orienteresidentes em diáspora, sobretudona América Latina, Brasil eArgentina, e também na América doNorte.Tem havido algum movimento deemigração cristã, em particular paraIsrael, vindos de outros países,Roménia, Índia, as Filipinas, Etiópiae vários outros, e isso de algumamaneira equilibra os contingentesquando se faz estatística mas nãoequilibra o problema em si mesmo,de modo algum.

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AE – A Ordem do Santo Sepulcrotem sentido esta dificuldade ematuar, em fazer chegar as ajudas,por parte da comunidadeinternacional, à Terra Santa?GFB – Os donativos que a Ordemdá normalmente são canalizadospara Roma e Roma, que aprova osprojetos que são apresentados pelopatriarca latino, canaliza essesdonativos para cada projeto quedepois fiscaliza e acompanha.Nesse aspeto, dos movimentos daOrdem e do Vaticano para a TerraSanta, não há problemas. Osproblemas são mais o que é que oscristãos do Médio Oriente esperamdo Ocidente. E o problema põe-seaqui.Nós sabemos que os cristãos sãohoje o grupo religioso maisperseguido, há duzentos milhões decristãos em todo o mundo que sãoperseguidos ou que não exercemlivremente o seu culto religioso.Mais de dois terços das nações nomundo não criam espaços deliberdade religiosa para os cristãos,são impressionantes estes números,e isto

naturalmente tem reflexo na maneiracomo os países e o Ocidente quetem denegado muito os seus valorescristãos, como é que os paísesencaram a situação dos cristãos naTerra Santa e no Médio Oriente emgeral. AE – Nesse contexto o que é que defacto o Ocidente pode fazer peloscristãos da Terra Santa?GFB – Não resisto a ler uma citaçãoque é tão impressionante que eunão queria deixar de ler. O bispomaronita, monsenhor Bechara Rai, àpergunta de ‘que esperais doOcidente’ respondeu só isto: Poucacoisa, os países ocidentais olhamantes de tudo para os seusinteresses económicos e políticos,enquanto a comunidadeinternacional afasta o seu olhar dosproblemas dos cristãos do MédioOriente.E isto representa um bocadinho doque se passa, se houvesse maispreocupação na salvaguarda e napreservação dos valores perenes,culturais e morais, o mundocertamente arranjaria soluções paraque os problemas que existem noMédio Oriente fossem resolvidos.

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AE – O Ocidente não estarápreocupado com os valores, com oscristãos e com as pessoas em geralna Terra Santa, mas terápermanentemente um papel deintervenção naqueles conflitos,nomeadamente pelo fornecimentode armas. Está agir na via contrária,precisamente?

VP - Não são as armas que fazem avia contrária, o que faz a viacontrária ou a via boa é a vontadedas pessoas, e a boa ou pior leituraque fazem da situação, exatamenteo que o doutor Gonçalo Barrosacabou de referir.

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VP - Estamos distantes no Ocidentee estamos distantes em todo omundo, mas a nossa cultura ecivilização torna-nos mais culpados,nesse sentido estamos distantes deprestar atenção aos valores quesão importantes de observar, eestamos à procura apenas de umasolução supostamente mágica e umpouco constituída pela viamecanicista, do litígio entre uns eoutros.Por essa via não se vai porventurachegar a lado nenhum, e eu aliáscostumo pensar e dizer que não hásolução para a questão do MédioOriente, no sentido de uma soluçãotranquilizadora e definitiva, tantoquanto a História nos permite a ideiade definitivo, e o que há é queencontrar o melhor modus vivendipossível.E esse ‘modus vivendi’ só podeassentar em acomodação, e nãopode ser acomodação entre estes eaqueles, tem de ser entre todos. Eeu vejo nessa acomodação corretaentre todos uma base virtuosa paraa procura de uma melhor soluçãopolítica.Agora o Médio Oriente é uma zonaem que é impossível aosgrandes poderes do mundo deixarde estar presentes e ativos.

Passam-se lá, ou entrecruzam-se lálinhas de tensão fundamentais paraa afirmação da União Europeia, porexemplo, para o combate aoradicalismo islâmico, para asegurança energética, para aquestão importantíssima daproliferação nuclear, tudo isso éimportante mas nada disso éabordável de uma forma séria esustentável se as pessoas, e emparticular as pessoas locais, foremdesconsideradas no quadro dabusca de melhores soluções. AE – O Papa Bento XVI em maio de2009 defendeu em Israel o direito aIsrael existir e também reconheça-se, afirmou, que o povo palestinianotem direito a uma pátriaindependente. Resolver a questãodos Estados não bastará?VP – Eu acho que é um passoabsolutamente indispensável, o queeu acho que não será satisfatório esuficiente é se disser assim ‘Israel éum Estado de judeus, contra estes eaqueles e a Palestina um Estado demuçulmanos, contra estes eaqueles.Não, Israel e Palestina não sepodem perceber a eles próprios e

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não podem ser percebidos pelomundo, em particular pelo Ocidenteque tem uma matriz que nós todospraticamos e devemos observar,como entes puros neste sentido,como entes homogéneos nem nosentido étnico nem no sentidoreligioso. AE – Em cada um deles hádiferentes gruposVP – Exatamente e essesgrupostêm de poder viver emharmonia e sob a responsabilidadedo mesmo Estado.

AE - O que tornará mais difícilresolver a questão VP – Certamente, mas julgo que sóé essa a via, a outra via, o mais quepode, não vejo, e em particular notema que aqui nos motiva hoje, namanutenção desta dicotomia e desteantagonismo fundamental entreisraelitas e palestinianos, judeus emuçulmanos, e só visto a essa luz,eu acho que o máximo a que sepode aspirar é à preservação dapresença cristã e isso não basta,com certeza.

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Patriarca latino de Jerusalém vaipresidir à peregrinação do 13 demaioO patriarca latino de Jerusalém vaipresidir em Fátima à peregrinaçãointernacional do 13 de maio. Ementrevista à sala de imprensa doSantuário de Fátima, D. Fouad Twaladianta as principais intenções deoração que trará a um local onde"Maria continua a irradiar a sua luz,o seu amor de Mãe, os seusensinamentos".“Virei apresentar a Nossa Senhoraas súplicas dos seus filhos do MédioOriente e as dos seus filhos de todoo mundo e, de um modo especial,pedir-lhe-ei pelas necessidades doscristãos e de todos os habitantes dasua pátria: a Terra Santa. A todosvos peço para que rezem pela Terrade Jesus e de Maria”, refere.“Desejo também chamar todos oscristãos do mundo e todos os bisposa sentirem-se corresponsáveis pelacomunidade cristã da Terra Santa epor todo o Médio Oriente, pela suaexistência e pelo seu futuro. Oscristãos do Médio Oriente são umariqueza para a Igreja

Universal e, por isso, todos nósdevemos procurar estar junto destesirmãos que, apesar de serem umaminoria absoluta, dão testemunhodo amor de Jesus no meio de povose de culturas muito diversas”,acrescenta.Nas mesmas declarações, opatriarca latino de Jerusalém fala naprimeira viagem de Francisco àTerra Santa, de 24 a 26 de maio,afirmando que o Papa Francisco alise deslocará "como peregrino dapaz e da unidade", a uma terra "emchamas ", com muros visíveis einvisíveis, difíceis de ultrapassar.“São muito atuais os apelosdeixados por Maria em Fátima. E omundo, em perigo de perdição, nãoencontrará a paz nem a graça senão se esforçar por colocar emprática o que Nossa Senhora pediu:conversão, oração, sacrifício,reparação”, observa ainda.Como gestos concretos paraassinalar a peregrinação pontifícia,D. Fouad Twal pede “liberdade totalde acesso”

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aos locais sagrados para todos oscrentes e liberdade para que asfamílias separadas pelo Muro sepossam encontrar.“Rezemos pela justiça etrabalhemos, cada um no seuâmbito, para a obter, já que a

justiça é o fundamento da paz; umapaz justa e duradoura. Sem justiça,ninguém, seja da religião ou danação que for, poderá desfrutar deuma paz verdadeira”, adverte.

Entrevista na íntegra

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Terra Santa, Fátima e uma fémarianaFrei Miguel Loureiro, comissário daTerra Santa em Portugal, explica àAgência ECCLESIA a ligaçãoparticular de Fátima aos locais davida de Jesus, cujas comunidadescatólicas vivem hoje uma fé“mariana”.“Vemos imagens de Nossa Senhorade Fátima em muitos sítios,inclusivamente com altaresimportantes nalguns santuários”,refere o religioso franciscano.Entre os mais importantestestemunhos desta ligação está opainel de Portugal na Basílica daAnunciação, em Nazaré, querepresenta a Virgem, na Cova daIria, com os três Pastorinhos.“No bairro cristão, vemos quasecomo uma pequenina Fátima, comvárias imagens de Nossa Senhorailuminadas, em várias casas, comosímbolo. No Médio Oriente há umagrande devoção a Nossa Senhorade Fátima”, sublinha o responsável.Uma devoção que pode ser aferidana forma como os católicos vivem asprocissões dos dias 13 e pelaiconografia da Virgem Maria, “muitoespalhada”

entre as famílias, e pelo “carinho”do povo por Fátima.Na igreja de Betânia, que evoca asfiguras de Lázaro, Marta e Maria, háum altar lateral dedicado a NossaSenhora de Fátima, com umaimagem “lindíssima” que sai emprocissão a 13 de maio, num bairropequeno e com poucas famíliascristãs.O número de cristãos tem vindo adiminuir na Terra Santa, ao longodas últimas décadas, com famíliasinteiras a deixarem os seus lares embusca de uma vida melhor noutrospaíses. A ajuda chega, para alémdos peregrinos no local, através dedonativos recolhidos pelascomunidades católicas de outrospaíses, incluindo Portugal, presentena cidade de Belém através de umconjunto de edifícios dedicado aosPastorinhos.Um dos pisos dos prédios de seisandares foi adquirido com ofertasdos portugueses e foi entregue aosseus proprietários em 2000, atravésda Custódia da Terra Santa,juntamente com um painel deazulejos com Nossa

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Senhora de Fátima e osPastorinhos.“O painel foi tão bem acolhido quepassou a ser posto fora dosedifícios, dando nome aos trêsedifícios”, explica o frei MiguelLoureiro.O responsável sustenta anecessidade de falar da

Igreja em Jerusalém e na TerraSanta como “mãe” das comunidadescatólicas.“É uma Igreja pobres, os cristãossão pobres, não são ricos. Por isso,é fundamental a nossa ajuda”,observa.

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As perseguições aos cristãosdo Médio Oriente“Eles perseguiram-Me e perseguir-vos-ão” preveniu o Senhor aos seusseguidores.O Santo Padre, na sua Mensagempara o Dia Mundial da Paz de 2011,lembrou ao mundo que os “cristãossão, atualmente, o grupo religiosoque padece o maior número deperseguições…” tendo naoportunidade salientado “… Não sepode aceitar nada disto, porqueconstitui uma ofensa a Deus e àdignidade humana; além disso, éuma ameaça à segurança e à paz eimpede a realização de umdesenvolvimento humano autênticoe integral”.No início do novo milénio os cristãossão atormentados em mais de doisterços de todas as nações e a 200milhões não lhes é permitidoviverem livremente a sua fé. Emnúmeros absolutos as perseguiçõesreligiosas e os seus mártires - noséculo XX e no início do atual -ultrapassaram largamente os dequalquer um dos séculos anteriores,sendo os católicos a sua maiorparte.Este bárbaro espetáculo da históriacontemporânea, tão

orgulhosa da sua modernidade, dosseus progressos científicos etecnológicos e do seuempenhamento na causa dosdireitos do homem, tem vindohabilidosamente a ser transmitido àopinião pública de forma ambígua,escamoteando as suas causas,ocultando parte dos seusresponsáveis, menosprezando o seualcance. 1. No plano das causas, valerá apena precisar que não é correta apropagada identificação exclusivadas opressões anticristãs com oIslão. É verdade que o radicalismoislâmico vem incendiandoperseguições. Em levantamentofeito por um grupo protestante, para2011, constata-se que entre os dezmais perigosos lugares para acristandade, nove são estadosislâmicos, neles se incluindo oAfeganistão, a Arábia Saudita, aSomália e o Irão.No entanto em múltiplas partes domundo há exemplos convincentesde colaboração entre cristãos emuçulmanos.

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Numerosas vítimas dos muçulmanosextremistas são, paradoxalmente,outros muçulmanos, como bem odemonstram os conflitospermanentes, as fratricidas guerrasentre sunitas e xiitas.Acresce que as desumanidadesinfligidas aos cristãos têm também,como sabemos, outrasproveniências, outros autores:estados totalitários (China e Coreiado Norte), radicalismos hinduístasou budistas (União Indiana e SriLanka), crime organizado e redesde

narcotráficos (Colômbia e México),ultranacionalismos (Turquia) ediscriminações (Israel). 2. No plano das responsabilidadespelas violências cometidas sobre oscristãos do Médio Oriente, seriaigualmente enganador circunscrevê-las aos movimentosfundamentalistas islâmicos. Maisrelevantes, pela sua contundência epela autoridade política dos seusautores, são as ações de váriosEstados muçulmanos e as vontadesde outras influentes

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nações que os apoiam.As forças e os poderes que vêm,consciente e deliberadamente,promovendo a desestabilização daRegião também não poderão serisentos da sua quota-parte de culpapelo turbilhão de violência,aparentemente irrefreável, queoriginaram e pelas vítimas quecausaram.A entrevista dada esta semana auma revista portuguesa peloMonsenhor Fouad Twal, PatriarcaLatino de Jerusalém, é a estepropósito esclarecedora ao precisarque “Há demasiados“telecomandos” que do exterioragitam ou apaziguam os conflitos noMédio Oriente… . Os povos doMédio Oriente não têm já aliberdade de dispor do seu destino”.Como exemplo paradigmático deinstabilidade no Médio Orienterecordemos o Iraque. Os cristãosaté então protegidos por umadoutrina laicizante passaram - apósa queda de Saddam e com aeliminação de todas aspersonalidades iraquianas com umavisão nacionalista e nãocomunitarista - a ser acusadosde “sequazes das cruzadas”;centenas, senão mesmo milharesem cada ano são mortos, vítimas deatentados contra as igrejas,

de raptos, de assassínios.E esta “expulsão religiosa”, não seafigura como transitória oupassageira. O Islão, segundo a novaConstituição iraquiana, apadrinhadapelas autoproclamadas “forças delibertação”, tornou-se a única fontede direito. E é hoje já conhecido odestino trágico reservado aoscristãos iraquianos, intimados queestão a fazerem as malas ou aescolherem o seu caixão.E a guerra na Síria com mais de140.000 mortos é a expressão deuma política cega que não ponderaadequadamente as consequênciasde uma intervenção militar. Nesteplano desolador retomamos a vozautorizada do Monsenhor FouadTwal que, na entrevista atrás citada,dizia: “ Temos que admitir que todo oMédio Oriente vive um período deviolência…. Ao ocidente e áComunidade internacional pedimosque suspendam o envio e a vendadas armas….”As anunciadas “primaveras árabes”e as suas auroras “democráticas”vêm-se revelando também elas, nosectarismo que algumas jápatenteiam, como

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fator adicional de perturbação.Sobre este tema candente oPatriarca Maronita depois derecordar que toda “a teocraciaexclui a democracia ”, foi bem maislonge, ao incriminar certos Estadosdo Golfo e influentes países deapoiarem, financiarem e armaremgrupos fundamentalistas.Será que o advento das“democracias” no Iraque, na Líbia,na Tunísia, se traduzirá, narealidade dos factos, na intolerânciaislâmica e no fim dos cristãos noOriente? 3. Mas qual o significado destas

perseguições na históriada salvação humana?Na sua encíclica Tertio MillennioAdveniente João Paulo II fez questãode nos relembrar a velha máximasegundo a qual “o sangue dosmártires é a semente dos cristãos”,recordatória tão mais atual quando,mesmo no interior das igrejascristãs, se sente por vezes algumaresistência à noção de mártir, tidapor alguns dos nossoscontemporâneos como uma ideiacom o seu quê de bizarro.É à luz daquele ensinamento quereconheceremos que o valor destasperseguições é grande

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para todos nós já que, como bemassinalou Robert Royal, “se é feliz otempo que não produz umaabundante colheita de mártires…ainda mais feliz é o tempo em queas pessoas se comprometem a ficarcom Cristo, independentemente deisso significar o martírio, por quedessa disposição de ir até à mortenasce tudo aquilo por que vale apena viver”.Ora ao longo dos séculos, até aomartirológio contemporâneo, asIgrejas Orientais Católicas e osnossos irmãos do Oriente têm-sedistinguido por um amorinquestionável e inseparável pelasua própria fé, em testemunho defidelidade pago com o seu sangue.É um testemunho exemplar e o seuvalor é grande para todos nós.Aos que morreram para dartestemunho da verdade e do bem,temos a obrigação de garantir que oseu testemunho não será esquecidoe de, sentida e profundamente, lhesagradecer invocando-os com umasingela oração “Requiem eternamdona eis, Domine, et lux perpetualucea eis” (“Dai-lhes, Senhor oeterno descanso, entre osresplendores da luz perpétua”).E aos que, resistindo à tentação

do exílio, permanecem comoanónimos “soldados desconhecidos” a sofrer em nome do Senhorultrajes, atrocidades, opressões e aaceitar, com serena esperança, orisco de uma provável morteviolenta, que poderemos nós fazer?Que esperam eles de nós?A esta última pergunta a resposta jános foi dada por MonsenhorBéchara Raï. Ela é embaraçante efaz doer: à interpelação “Queesperais do Ocidente?” respondeu “Pouca coisa. Os paísesocidentais olham antes de tudo paraos seus interesses económicos epolíticos, enquanto a comunidadeinternacional afasta o seu olhar dosproblemas dos cristãos do Oriente”.Poderemos nós continuar, por muitomais tempo, a olhar para estasperseguições, executadas longe dosnossos guardados condomínios,como uma mera aberração histórica,a ignorar a sua dimensão espirituale civilizacional e, assim, nosdispensarmos de as ter dereconhecer como realidadesmalignas deste Mundo?Não será chegada a hora

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de denunciar e trazer para o debatepúblico as ações de expulsão e deaniquilamento contra os nossosirmãos, consentidas ouprogramadas, por poderes porvezes designados e empossadoscom o decisivo apoio de naçõeseuropeias e ocidentais? Onde estáa apregoada liberdade religiosa?Não teremos nós a fraternaobrigação de dizer aos nossoseleitos que é chegado o tempo depôr fim aos hipócritas eensurdecedores silêncios, em queservilmente muitos se abrigam,quando, como mudos, assistem adespudoradas absolvições

públicas de ideologias e regimesque ferozmente perseguem ocristianismo, num brutal espetáculode sofrimento e morticínio que ficarápara a história como uma das maisnegras épocas de martírios?Alimentemo-nos com a palavra doCristo ressuscitado “Não tenhaismedo”, afirmemos que o cristianismoé meio de salvação de cada um ecaminho de libertação do mundo e,retomando as palavras do SantoPadre, proclamemos “Não se podeaceitar nada disto”.

José Veiga de Macedo

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A situação dos Cristãos na TerraSantaA comunidade cristã na Terra Santaé cada vez mais pequena. Podemosdizer que em Jerusalém e naCisjordânia são talvez uns 50 milnuma população global de 3,5milhões. Ou seja, não mais de 2%.Em Israel, haverá 140 a 150 milcristãos numa população de 7milhões.A realidade é muito complicada.Muitas famílias abandonaram aregião. Belém faz parte daCisjordânia, território da Palestina,uma espécie de enclave no meio deIsrael. Por causa dos conflitos quehá na região, e por uma questão desegurança, Israel construiu à voltade toda esta região um murogigantesco de cimento, com cercade oito metros de altura. Este muroisola os palestinianos, mas tambémos cristãos que vivem ali.O sentimento de quem vive ali é ode se estar numa prisão. Ninguémconsegue sair sem uma autorização.Além disso, as autoridades israelitassão muito restritivas, asautorizações são apenas válidasentre as 6 da manhã e as 7 datarde. Quem chega mais tarde nãopode voltar e arrisca mesmo ir pararà cadeia.

Se isto é válido para todos, éparticularmente duro para osCristãos, porque são uma ínfimaparte da comunidade. Estãosozinhos, quase desamparados,indefesos.Há vários casos de pessoas que nospedem ajuda, à Fundação AIS(Ajuda à Igreja que Sofre), pois porcausa do muro ficaram atéseparadas de familiares. Háhistórias de pessoas, agricultorescristãos, cujas casas ficaram de umdos lados do muro e os terrenos dooutro lado. Mas os turistas podemcircular livremente. A vida naCisjordânia e em Belém éparticularmente difícil para osCristãos.Os Cristãos em Belém vivem doturismo e da manufactura de artigosreligiosos. Grande parte dosrosários, por exemplo, que aFundação AIS tem ao dispor dosbenfeitores portugueses, sãoproduzidos por famílias cristãs naTerra Santa. É preciso dizer que amaior parte destas famílias vivemnuma grande pobreza.Não é possível imaginar a TerraSanta sem cristãos. Temos todos odever de os ajudar a sobreviver e anão emigrar!

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Em breve, o Papa Francisco faráuma viagem à Terra Santa e aacompanhá-lo irão o rabino deBuenos Aires e o líder muçulmano,também presidente do Instituto parao Diálogo Inter-religioso.Esta visita é vista como ummomento determinante para aaproximação entre Católicos,Muçulmanos e Judeus, a fim de

se estabelecer um diálogo quepermita a todos reconhecerem-se“filhos de Deus”, de forma que todospossam trabalhar em conjunto emfavor da paz, da justiça, dareconciliação e do perdão.

Catarina MartinsPresidente do Conselho de

administração da Fundação Ajuda aIgreja que Sofre

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Católicos na Terra SantaOs católicos representam grandeparte dos cristãos na Terra Santa.Em Israel, equivalem a dois terços,somados aos cristãos palestinos emais diversas comunidades latinasde migrantes católicos, umapequena comunidade católica latinahebraica e comunidades demigrantes do rito oriental (europeusorientais, indianos e africanos).Na Palestina, os católicos chegam a50% dos cristãos.Na Jordânia, eles sãoaproximadamente 45% dos cristãos.Além disso, há grandescomunidades de trabalhadoresimigrantes católicos romanos eoutros grupos de católicosrefugiados do Iraque e da Síria. Em Israel, os católicos estãodistribuídos da seguinte forma:- 48 000 do rito grego, somados,aproximadamente 2000 migrantesdo leste da Europa;- 24 000 do rito latino, somados,aproximadamente 60 000 migrantesda Ásia e África e centenas decatólicos do rito latino (rito romano)de língua hebraica;

- 8400 de rito maronita, somadosaos aproximadamente 3000 quevivem no Líbano.Além disso, há algumascomunidades católicas do rito sírio earménio e grandes grupos decatólicos de rito eritreu e do ritooriental católico indiano. Na Palestina os católicos estãodistribuídos em:- 1850 latinos;- 4650 do rito grego.Há pequenas comunidades decatólicos de rito sírio, maronita earménio. Na Jordânia, os católicos estãodistribuídos em:- 80 000 do rito latino (rito romano),somados, aproximadamente 50 000trabalhadores migrantes;- 32 000 católicos do rito grego.Há ainda pequenas comunidades dorito maronita, arménio e sírio, bemcomo milhares de caldeus do Iraque.

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Os cristãos da Terra Santa formamum mosaico de comunidades. Emprimeiro lugar, existe uma grandediversidade de confissões cristãs:bizantinos (ou grego), ortodoxos ecatólicos (que juntos formam agrande maioria dos cristãos naTerra Santa), romanos (ou latinos)católicos, maronitas, arménios,católicos sírios e ortodoxos, coptas,etíopes, anglicanos, luteranos ediversos grupos evangélicos. Emsegundo lugar, não existe grandediversidade

de origem e contexto sociocultural,como também diferenciaçãolinguística.A emigração dos cristãos de hoje éuma das questões mais importantespara a Igreja na Terra Santa. Muitoshomens, jovens e mulheres,acreditam que a emigração é aúnica maneira de realizar os sonhose as ambições, porque se sentemsufocados pela dura realidade destelugar.Mais informações

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Cardeal desafiou empresáriosO presidente do Conselho PontifícioJustiça e Paz (CPJP), da Santa Sé,sublinhou em Lisboa a necessidadedos empresários cristãos colocaremtodo o seu “empenho” naconstrução de uma economia aoserviço do “bem comum”. Numencontro com gestores das maisdiversas áreas de atividade, noâmbito da apresentação emPortugal do documento “A vocaçãodo líder empresarial”, o cardealPeter Turkson exortou osparticipantes a “não separarem” noseu quotidiano, “a fé da atividadeprofissional”.“Trata-se de colocar a fé também nocentro do mundo dos negócios, oscristãos têm todos de seconsciencializar de que a fé nãopode ser uma matéria guardada noíntimo de cada um, mas sim umarelação que inspira à ação, a umestilo de vida que corresponda aessa crença”, frisou o preladoganês, em entrevista à AgênciaECCLESIA, esta terça-feira.Concebido pelo CPJP, o texto “Avocação do líder empresarial”,disponível para já em 15 línguasincluindo o português, surge comoum manual prático de conduta

para os gestores de todo o mundo.Uma das principais interpelaçõespresentes no documento,apresentado no nosso país com oapoio da Associação Cristã deEmpresários e Gestores (ACEGE), éque os agentes económicos sejam“continuadores”, na sociedade, da“força criadora de Deus”.Entre outros aspetos, o livro de 32páginas destaca que a atividadeempresarial deve ser um motor de“paz e prosperidade”, gerando nãosó riqueza material mas também“produzindo bens que sãoverdadeiramente bons e serviçosque servem verdadeiramente;estando alerta para asoportunidades de servirem aspopulações carentes; promovendo aespecial dignidade do trabalhohumano”; sendo “justas na alocaçãodos recursos”.Para o cardeal Peter Turkson, éessencial que a mensagem passepara “as novas gerações delíderes”, e para isso é preciso “ir àfonte”, em ligação com asuniversidades e institutoseducativos, e inculcar nos maisnovos um novo tipo de “condutasocial”, que tenha em

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atenção princípios presentes naDoutrina Social da Igreja como “asolidariedade” e a "caridade".“Estes princípios não devem servistos como algo oposto às regrasde gestão mas sim como algo quepode suportar e inspirar as pessoasa encararem a sua atividade de umaoutra perspetiva”, salientou.Além de apelar ao combate deproblemas como a injustiça, afraude ou a concorrência

desleal no mundo dos negócios, aIgreja Católica sublinha aimportância de encarar a gestãocomo um “serviço” onde deve havercada vez mais lugar para noçõescomo a “gratuidade” e a “caridade”.Depois de ter lançado umdocumento especialmente dirigidoao mundo empresarial, o ConselhoPontifício Justiça e Paz está atrabalhar num outro dedicado aoslíderes políticos.

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Vaticano condena raptode 200 adolescentes na NigériaO porta-voz do Vaticano, padreFederico Lombardi, condenou hojeo rapto de mais de 200adolescentes na Nigéria,reivindicado pelo ‘Boko Haram’, edisse que se trata de um ato de“terrorismo odioso”. “Unimo-nos aosinúmeros apelos pela sua libertaçãoe a sua restituição a uma condiçãonormal de vida”, disse aosjornalistas.O grupo islamita reivindicou nasegunda-feira o sequestro dasjovens, ocorrido a 14 de abril, eameaçou vendê-las como escravas.Às 223 meninas que, segundo asautoridades, continuamsequestradas soma-se 11 menoresraptadas pelo Boko Haram no últimodomingo, segundo um novo balançocomunicado nesta quarta-feira.O padre Lombardi afirmou queestas ações “soma-se a outrasformas horríveis de violência que hámuito tempo caraterizam a atividadedeste grupo” no país africano.“A negação de qualquer respeitopela vida e pela dignidade das

pessoas, mesmo as mais inocentes,vulneráveis e indefesas, exige acondenação mais firme e suscita acompaixão mais sentida pelasvítimas, o horror pelos sofrimentosfísicos e espirituais e ashumilhações inacreditáveis que lhessão infligidas”, afirmou o diretor dasala de imprensa da Santa Sé.Estados Unidos da América, ReinoUnido e França ofereceram a suaajuda à Nigéria, num momento emque decorre uma campanhainternacional pela libertação dasmenores.“Esperamos e rezamos para que aNigéria encontre o caminho para pôrponto final a uma situação deconflito e terrorismo odioso",concluiu o porta-voz do Vaticano.

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Ecumenismo de sangueO Papa Francisco recebeu hoje noVaticano o patriarca da IgrejaApostólica Arménia, Karekin II, erecordou os mártires cristãos destepaís para elogiar o seu testemunhode fé. “O número de discípulos quederramaram o seu sangue porCristo nos acontecimentos trágicosdo século XX é certamente superiorao dos mártires dos primeirosséculos e neste martirológio, osfilhos da nação arménia têm umlugar de honra”, disse, durante aaudiência privada, a que se seguiuum momento de oração na capela‘Redemptoris Mater’, do palácioapostólico.Sem nunca se referir diretamente aogenocídio arménio do século XX,negado pela Turquia, o Papaafirmou que o testemunho destescristãos “não deve ser esquecido”.“O sofrimento suportado peloscristãos nas últimas décadas trouxeum contributo único e inestimáveltambém para a causa da unidadeentre os discípulos de Cristo”,acrescentou.Karekin II, 132.º patriarca dosarménios foi eleito em 1999 e é líderespiritual de seis milhões decristãos. O Papa destacou a

consolidação das relações entre asduas Igrejas, nos últimos anos,destacando a visita de João Paulo IIà Arménia, em 2001, e a presençado patriarca no Vaticano em váriasocasiões, incluindo uma visita oficiala Bento XVI, em 2008.“O ecumenismo do sofrimento e domartírio é um poderoso chamamentoa caminhar pela estrada dareconciliação entre as Igrejas, comdecisão e confiante abandono àação do Espírito. Temos o dever depercorrer este caminho defraternidade também pela dívida degratidão que temos com ossofrimentos de tantos irmãos”, disseainda.Karekin II, por sua vez, agradeceu aFrancisco, que definiu como um“Papa corajoso” e condenou aguerra e a violência, “que sãocontrárias à vontade de Deus”.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Santa Sé apresenta relatório no Comité das Nações Unidas contra a Tortura

30 novos guardas suíços

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Prémios da Igreja Católica noIndieLisboaO júri da Igreja católica no festivalde cinema independenteIndieLisboa distinguiu este sábadocom os prémios “Árvore da Vida” osfilmes “O Novo Testamento de JesusCristo segundo João” e “O coelho eo veado”. Os galardões foramentregues aos realizadores dasobras premiadas pelo diretor doSecretariado Nacional da Pastoralda Cultura (SNPC), padre JoséTolentino Mendonça, na cerimóniaque decorreu em Lisboa, na“Culturgest”.O prémio principal, no valor de doismil euros, divididos em partes iguaispelo SNPC e o SecretariadoNacional das

Comunicações Sociais, foi entregueaos cineastas portugueses JoaquimPinto e Nuno Leonel, realizadoresde “O Novo Testamento de JesusCristo segundo João”.Tendo como protagonista o ator eencenador Luís Miguel Cintra, quelê o Evangelho joanino, o filme de129 minutos, concluído em 2013,«recoloca a palavra e a imagem emcampo aberto», assinala adeclaração do júri, lida na cerimónia.«Abre as palavras e as imagens àrecusa de todo o supérfluo edesnecessário. Necessidade,urgência, a de hoje, em se construirum filme assim,

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que se configura na essencialidadedas imagens e das palavras»,assinala o texto assinado pelosjurados, João Amaro Correia,Margarida Ataíde e Rui Martins.«Para além do despojamento comque nos chegam, estas imagens eestas palavras são em si o justopeso e a rigorosa medida de sipróprias e da sua possibilidadenesse espaço aberto, vital, que seestende diante de cada um de nós»,aponta a declaração.«Necessidade, urgência, a de hoje,em vermos e acolhermos um filmeassim. Dádiva que com este gestoagradecemos», conclui o texto,redigido após os jurados teremassistido a quatro longas-metragense 16 curtas que integraram asecção “Competição Nacional”.Pela primeira vez, a Igreja atribuiu oprémio Árvore da Vida a um filmeque concorreu ao IndieJúnior,secção dedicada aos mais novosque visa contribuir para a suaformação através de umaexperiência artística e lúdica.A distinção, no valor de mil euros,integralmente subsidiados peloSecretariado Nacional da Pastoralda Cultura, foi atribuída ao cineastahúngaro Péter Vácz pela animação“O coelho e o veado”, de 16minutos, terminada em 2013.

O júri, constituído pelo professorHugo Nave e quatro alunos, todosdo Colégio São João de Brito, emLisboa, considerou «a criatividade eoriginalidade como também ografismo e estética, nãoesquecendo a mensagemtransmitida». «Queremos agradecero convite que nos foi dirigido parasermos júri neste festival. Foi comum enorme entusiasmo e sentido deresponsabilidade que o aceitamos»,refere a declaração do júri,salientando que a decisão «foi umdesafio difícil mas bastantegratificante dada a elevadaqualidade dos filmes a concurso».Os prémios Árvore da Vidadestacam cinematografia queprivilegia os valores espirituais ehumanistas e colocam em evidênciaa ligação histórica da Igreja à SétimaArte. A 11.ª edição do IndieLisboatermina este domingo

Rui Jorge Martins,Secretariado Nacional da Pastoral

da Cultura

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Get Inspirit

http://www.getinspirit.org/#/pt Esta semana propomos um projetovoltado “para todos os povos semdistinção de raça ou de religião” queé da responsabilidade dosMissionários da Consolata,denominado “Inspirit”. Elespretendem “estar perto de quemsofre, é marginalizado ou vê os seusdireitos espezinhados”. Partilhando“a justiça e a paz como elementoscentrais do seu ideário”.Ao digitarmos o endereçowww.getinspirit.org encontramos umespaço graficamente muito bemconcebido acompanhando as maisrecentes inovações digitais naprodução de conteúdos para ainternet. Este é um facto relevanteporque, apesar do aspeto gráficonão ser o mote principal deste sítio,demonstra claramente a atenção eo cuidado profissional colocado naprodução deste projeto.Na página principal além da ligaçãopara as opções do menu,encontramos os rostos de cinco

raparigas e rapazes (MiriamSanogo, Bakayoko Mepondo, MiriamSibi, Timite Sali, Coulibali Adara) queao clicarmos em cada um(a) nosaparece um vídeo excelentementeproduzido que nos mostra arealidade em que habitam. É aindanessa página que estão as ligaçõespara as principais redes sociais(facebook, twitter, vimeo, tumblr) eainda para um blogue, também elemuito bem produzido.No item “a nossa causa” podemosconsultar a informação maisinstitucional, nomeadamente que osirmãos missionários atuam nos cincocontinentes onde a pessoa sofre,porque eles querem “serembaixadores da felicidade e daalegria. Agindo por amor ao próximo,querendo o desenvolvimento e obem-estar de todos os homens e detodos os povos”.Em “projetos” ficamos a saber queeste ano o esforço de atuaçãopassa pela Costa do Marfim, ondemais de 80% das crianças nãofrequenta a escola. Estas crianças“têm de trabalhar nos campos

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de cultivo, ajudar nas lides da casaou guardar os rebanhos. Semsaberem ler nem escrever, muitascrianças têm à partida o seu futurohipotecado”. O projeto Inspiritpretende construir “centros dealfabetização, fornecer materialdidático e destacar professorespara ensinar os pequenos grandesde Marandallah”.Por último em “envolve-te”percebemos como podemoscolaborar neste projeto,

seja através de voluntariado,de partilha de ideias, de trabalhar apartir de casa ou mesmocontribuindo monetariamente.Fica então a sugestão deacompanharmos de perto esteprojeto porque “acreditamos que lhedeve apetecer meter-se num avião epôr mãos à obra mas no caso denão poder ir, o Inspirit trabalha porsi!”.

Fernando Cassola Marques

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Novo livro de D. José Cordeiro‘A Árvore do Pão’ é o título do maisrecente livro de D. José Cordeiro,bispo de Bragança-Miranda, queserá apresentado numa sessãoaberta ao público, a realizar napróxima sexta-feira, pelas 20h30, noSalão da Casa Episcopal deBragança.A apresentação do livro, querecolhe algumas conferências,homilias, lectio divina, e outrostextos dos dois primeiros anos deministério episcopal de Bragança-Miranda, está a

cargo de Henrique Manuel Pereira,da Universidade CatólicaPortuguesa (UCP).A capa desta obra, metáfora doouriço aberto como dom e profeciapara a comunidade dos crentes quereparte sempre de Cristo noscaminhos sempre novos da missãoevangelizadora, é da autoria dapintora transmontana Graça Morais.

Diocese de Bragança-Miranda

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Fogo Posto

Num estilo inovador e original, trêsjovens cantam os 20 mistérios doRosário. Todos os mistérios sãoacompanhados por uma meditaçãode Thereza Ameal.Uma excelente forma de meditar osmistérios da vida de Cristo e derezar o terço, deixando-se envolverpela beleza da poesia, da música edos ritmos variados. Nas 80 páginasdo livro irá encontrar 20 meditações

e ainda uma explicação de comorezar o terço.O CD inclui 20 músicas num estilojovem e muito variado que vai dorock ao fado.Um projeto único que pretendeaproximar os jovens do terço, poischega até eles numa forma e comuma linguagem que lhes é próxima ecom a qual se identificam.

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II Concílio do Vaticano: Os pedidosdo cardeal Bea aos peregrinos deFátima

A Peregrinação Internacional Aniversária de maio (12e 13) de 1964 foi presidida pelo cardeal alemãoAgostinho Bea (Riedböhringen, 28 de maio de 1881— Roma, 16 de novembro de 1968), pioneiro doecumenismo e do diálogo entre Judaísmo eCatolicismo. A peregrinação, que contou com cercade 500 mil pessoas, teve várias intenções:“Agradecer a Deus o êxito da peregrinação de PauloVI à Terra Santa; Pedir a união dos cristãos e o plenoêxito do II Concílio do Vaticano; Pedir a santificaçãodas famílias, o aumento das vocações e a paz nomundo e, particularmente, no ultramar português”.Na sua alocução do pontifical de 13 de maio, opresidente do Secretariado para a União dosCristãos centrou-se na “segunda destas intenções” efoi também a ela que o Papa Paulo VI “fez referênciano telegrama enviado”, (In: Boletim de InformaçãoPastoral (BIP), Ano VI – 1964 – Maio-Junho – nº 31;página 32). O cardeal Bea foi um dos pilares do IIConcílio do Vaticano e, nas celebrações docentenário do seu nascimento, o Papa (canonizadorecentemente) João Paulo II realça que “trêsdocumentos” foram especialmente caros ao CardealBea e “não cessaram de inspirar numerosasiniciativas da Igreja”, graças à intervenção doSecretariado para a Unidade dos Cristãos e deoutros organismos da Santa Sé: “decreto sobre oecumenismo, da declaração «Nostra aetate» sobreas relações da Igreja com as religiões não cristãs —a começar

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pelo judaísmo —, e da declaraçãosobre a liberdade religiosa”.Os Papas Pio XII, João XXIII e PauloVI apreciaram os seus “serviçosqualificados” e manifestaram-lhe –“cada um à sua maneira” – umaconfiança profunda. “Baste citar ofacto de ter sido chamado aocardinalato e ter sido nomeadoprimeiro presidente do novoSecretariado para a Unidade dosCristãos”, disse o Papa polaco.Durante a sua estadia em Portugal,o cardeal alemão ficou no Semináriodos Olivais (Lisboa), foi recebidopelos chefes de Estado e dogoverno e visitou, no Carmelo deCoimbra, a Irmã Lúcia, sendo aindahomenageado em várias recepções.Na manhã do dia 12 de maio de1964, o bispo de Leiria presidiu àcerimónia da bênção e inauguraçãodo Calvário Húngaro em quetomaram parte numerososperegrinos. O Calvário, com acapela de Santo Estêvão e as 14estações da Via Sacra, obra deartistas portugueses e

húngaros, foi oferecido peloscatólicos húngaros exilados.Uns dias antes, dia 9 de maio de1964, o cardeal patriarca de Lisboa,D. Manuel Gonçalves Cerejeira,inaugurou a Casa de Retiros doBom Pastor (Buraca-Lisboa) e “viurealizado um sonho” que remontavaa 1932, (In: Boletim de InformaçãoPastoral (BIP), Ano VI – 1964 –Maio-Junho – nº 31; página 24). Umelemento da comissão realizadora,António Medeiros, disse que obracustou “mais de 9000 contos”, masaté à data da inauguração oscatólicos “só entregaram a SuaEminência 4000”.A nova casa de retiros - projectadapelo arquitecto SebastiãoFormosinho Sanches - tinha doiscorpos com 50 quartos individuaisem cada corpo e instalações para arealização simultânea de 2 retiros. Ocónego Azevedo Pires foi um dosgrandes dinamizadores na recolhade fundos para a construção destaobra.

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MaioDia 09* Bragança - Salão da CasaEpiscopal - Lançamento do livro «AÁrvore do Pão» da autoria de D.José Cordeiro com apresentação deHenrique Manuel Pereira. * Itália - Turim - Encontrointernacional de editoras religiosasintegrado no Salão Internacional doLivro de Turim. * Guarda - Seia (Igreja de NossaSenhora do Rosário) (21h00m) -Conferência «A Fé ensina a serfeliz?» pelo padre TolentinoMendonça.* Algarve - Moncarapacho (Igrejaparoquial) - Vigília de oração pelasvocações.* Faro - Sé - Oração pela Europapromovida por vários movimentoscristãos algarvios e integrada nainiciativa «Juntos pela Europa». Dia 10 * Porto - Penafiel (Auditório doMuseu Municipal) (16h00m)-Conferência sobre «D. AntónioFerreira Gomes: A Coragem doConfronto» proferida por Amândiode Azevedo e integrada nos 25 anosda morte de D. António FerreiraGomes.

* Fátima - Centro Pastoral Paulo VI(23h30m) - Concerto do grupomusical católico «Orden y Mandatode San Miguel Arcángel»(Espanha). * Porto - Carvalhos (Seminário dosClaretianos) - Sessão das«Conversas com Vida» com apresença do padre Marçal Pereira,missionário claretiano, que falarásobre «A Missão ao serviço daEducação».* Leiria - Seminário de Leiria - Encontro de apresentação edivulgação da dinâmica eatividades dos setores de Leiria domovimento das Equipas de NossaSenhora (ENS). * Lisboa - Fórum Lisboa - FórumMunicipal da Interculturalidade comtema «Migrações, Territórios eExclusão» e promovido ConselhoMunicipal para a Interculturalidade ea Cidadania (CMIC) da CâmaraMunicipal de Lisboa.* Leiria - Cáritas Diocesana de Leiria- IV edição da Feira Solidáriapromovida pela Cáritas de Leiria. * Fátima - Encontro nacional daCongregação das ReligiosasEscravas da SS.ma Eucaristia e daMãe de Deus.

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* Vila Real - Encontro regional deJovens do Alto Tâmega.* Lamego - Meda (Igreja matriz deMeda) (21h30m) - Vigília de oraçãopresidida por D. António Couto.* Porto - Casa de Vilar - Encontrodas Associações, Movimentos eObras da Diocese do Porto com otema «Da memória à profecia - Aalegria do Evangelho».* Porto - Paróquia do Salvador deMatosinhos (21h30m) - Vigília deoração pelas vocações presididapor D. António Francisco Santos.* Coimbra - Igreja de São José -Concerto musical do «CoroCherububini - Ad Libitum».* Algarve - Portimão - Dia daParóquia. * Aveiro - Seminário de Aveiro(10h00m) - Assembleia geralordinária da ADASA (Associaçãodos Antigos Alunos do Seminário deAveiro).* Lisboa - Odivelas (Igreja Matriz daPóvoa de Santo Adrião) - Concertode Maio.* Aveiro - Calvão (Colégio) -Homenagem ao padre João Mónicacom inauguração de um busto dohomenageado.* Braga - Bênção dos finalistaspresidida por D. Jorge Ortiga.

* Porto - Centro de EstudosFranciscanos do Porto - Seminário«A música na Província Portuguesada Ordem Franciscana» numahomenagem ao padre ManuelValença (musicólogo, organista ecompositor). * Lisboa - Colégio Universitário PioXII - Dia dedicado ao desporto emprol do Voluntariado em São Tomé ePríncipe. * Lisboa - Auditório da IgrejaParoquial de São João de Deus - IJornadas Espiritualidade e CiênciasSociais promovidas pelo GrupoEspiritualidade e Ciências Sociais. * Beja - Igreja Matriz de Santa Mariada Feira - Concerto «O Sagrado e oprofano: Aliterações Húngaro-Portuguesas» integrado no Festival«Terras Sem Sombra».* Lisboa - Igreja de São Vicente deFora - Sessão do ciclo de concertosde órgão com Célia Sousa Tavares. Dia 11* Dia Mundial de Oração pelasVocações. * Açores - Angra (Sé) - Ordenaçãode dois diáconos.* Leiria - Sé (16h00m) - Ordenaçãosacerdotal de Fábio Bernardino.

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A Igreja Católica celebra no domingo o 51.º Dia

Mundial de Oração pelas Vocações. Na suamensagem para esta data, o Papa Francisco defendea necessidade de “ir contra a corrente”. O documento,intitulado ‘Vocações, testemunho de verdade’, destacaque a vivência de uma vocação pode significar, porvezes, “encontrar também obstáculos, fora e dentro”de cada um. D. Fouad Twal, patriarca latino de Jerusalém,preside em Fátima à peregrinação internacionalaniversária, sob o tema “Mãe do amormisericordioso”, nos dias 12 e 13 de maio. O mesmo patriarca latino e o patriarca de Lisboa, D.Manuel Clemente, participam numa conferência sobrea “Situação dos Cristãos no Médio Oriente”, a 14 demaio, na Universidade Católica Portuguesa (UCP), emLisboa. A conferência, promovida pela UCP e pelaOrdem de Cavalaria do Santo Sepulcro de Jerusalém(OCSSJ), vai decorrer Edifício da BibliotecaUniversitária João Paulo II (2º piso, Sala deExposições). O Auditório Vita, em Braga, acolhe, entre os dias14 e 16 deste mês as XXVI Jornadas Teológicas,subordinadas ao tema ‘Igreja: Do encontro dooutro ao encontro de si’. A iniciativa inclui trêsconferências: "Uma Igreja que acolhe", proferidapor Frei Fernando Ventura e por Joaquim Franco;"O Acolhimento na Igreja: a realidade das IgrejasLocais", por D. José Cordeiro; “O modo como aIgreja acolhe os desafios da cultura digital", porJohan Lijnch.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h00Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa 12h15 - Oitavo Dia

Domingo: 10h00 - ODia do Senhor; 11h00- Eucaristia; 23h30 -Ventos e Marés;segunda a sexta-feira:6h57 - Sementes dereflexão; 7h55 -Oração daManhã; 12h00 -Angelus; 18h30 -Terço; 23h57-Meditando; sábado:23h30 - TerraPrometida.

RTP2, 11h22Domingo, dia 11 - "Do outrolado do muro": Cristãos naTerra Santa. RTP2, 15h30Segunda-feira, dia 12 -Entrevista ao general ValençaPinto e a Gonçalo FigueiredoBarros sobre os cristãos naTerra Santa;Terça-feira, dia 13 -Informação e entrevista aFrancisco Noronha Andrade;Quarta-feira, dia 14 - Informação e entrevista aAlexandra Norberto, do Movimento dos Focolares;Quinta-feira, dia 15 - Informação e entrevista a LuísReis Lopes, sobre a Semana da Vida;Sexta-feira, dia 16 - Análise das leituras bíblicas dedomingo pelo padre João Lourenço e Juan Ambrosio. Antena 1Domingo, dia 11 de maio, 06h00 - Devoção marianana Terra Santa com o Frei Miguel Loureiro.Comentário à atualidade informativa com José MiguelSardica. Segunda a sexta-feira, 22h45 - 12 a 16 de maio - Adevoção mariana - padre Eduardo Novo, RaquelBatista Leite, Salvador Morais Sarmento, CristinaLança e Bernardo Villa-Lobos.

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Qual a missão da Igreja?

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Ano A - 4º Domingo da Páscoa Escutar eseguir o BomPastor

Os textos bíblicos deste quarto domingo pascalsintonizam com o “Domingo do Bom Pastor” que hojecelebramos.O Evangelho apresenta Cristo como o Pastor cujamissão é libertar o rebanho de Deus do domínio daescravidão e levá-lo à vida em plenitude.A segunda leitura apresenta-nos também Cristo comoo Pastor que guarda e conduz as suas ovelhas. Oscrentes devem seguir esse Pastor.A primeira leitura traça, de forma bastante completa, opercurso que Cristo, o Pastor, desafia os seusdiscípulos a percorrer: é preciso converter-se, serbaptizado e receber o Espírito Santo.Fiquemos uns instantes nas interpelações doEvangelho. Para os cristãos, o Pastor por excelência éCristo. Não faz sentido seguir outros pastores ououtras vozes que nos arrastam e se tornamreferências fundamentais à volta das quaisconstruímos a nossa existência.Cristo desempenha a sua missão de Pastor commáxima atitude de proximidade: Ele conhece asovelhas e chama-as pelo nome, mantendo com cadauma delas uma relação única, especial, pessoal.Dirige-lhes um convite a deixarem a escuridão, masnão força ninguém a segui-l’O: respeita absolutamentea liberdade de cada pessoa. É dessa forma humana,tolerante e amorosa que somos convidados a nosrelacionamos mutuamente. Aqueles que receberam deDeus a missão de presidir a um grupo, de animar umacomunidade só podem exercer a sua missão norespeito absoluto

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pela pessoa, pela sua dignidade,pela sua individualidade.As ovelhas do rebanho de Jesustêm de escutar a voz do Pastor esegui-l’O. Isso significa,concretamente, tornar-se discípulo,aderir a Jesus, percorrer o mesmocaminho que Ele percorreu, naentrega total aos projectos de Deuse na doação total aos irmãos.Para que distingamos a voz deJesus de outros apelos, é precisoum permanente diálogo íntimo como Pastor. Neste Dia Mundial deOração pelas Vocações, aí está amensagem do Papa a nos apelar atudo isso: «Quanto mais soubermosunir-nos a Jesus pela oração, aSagrada Escritura, a Eucaristia, osSacramentos celebrados e vividosna Igreja, pela fraternidade vivida,tanto mais há de crescer em nós aalegria de colaborar com Deus noserviço do Reino de misericórdia everdade, de justiça e paz».Tomemos tempo para caminhar aoritmo do Pastor que nos conhece eque chama cada um de nós pelopróprio nome. Escutemos

a sua voz, saboreando o magníficoSalmo 22: «O Senhor é meu pastor,nada me falta». Procuremos tambémrezar pela fidelidade à vocação aque o Senhor nos chama e portodas as outras vocações.Confiemos no Senhor, sejamos serfelizes e façamos os outros felizes.Que assim seja ao longo destasemana.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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BRUNEI ADOPTA A “SHARIA” AO SEU CÓDIGO PENAL

Liberdade religiosa ameaçada?É mais um país que confirmauma tendência ameaçadora emcertas zonas do globo: aimposição da “sharia”, a leiislâmica, como modeloinspirador para o próprio códigopenal. Quando isso acontece, aliberdade religiosa fica quasesempre ameaçada e os cristãossão normalmente as primeirasvítimas. No primeiro dia de Maio, o Bruneipassou a adotar a ”sharia”, a leiislâmica, como o elementoinspirador do novo código penal dopaís. A decisão, que foi de imediatofortemente criticada pelas NaçõesUnidas, inclui a flagelação,amputação de membros,açoitamento e até a morte porapedrejamento como condenaçõespossíveis para vários crimes.Segundo comunicação ao país doSultão Hassanal Bolkiah, aintrodução da “sharia” vai sergradual e prevê a recuperação dalegislação que regeu o sultanatodurante séculos. Nessacomunicação, Bolkiah afirmou queesta decisão decorria de

uma “obrigação pessoal”. O Sultãosublinhou ainda a necessidade dese estar “alerta” contra asperniciosas influências estrangeiras,como a “internet”, e defendeu que opaís devia colocar uma maior ênfaseno Islão. Nações UnidaspreocupadasNuma primeira reação, as NaçõesUnidas já manifestaram a sua“preocupação” sublinhando que seestá a abrir caminho para alegalização da “tortura ou de outrostratamentos ou penas cruéis,desumanos ou degradantes”. E hácada vez mais exemplos disso.Recentemente, no noroeste daSíria, na cidade de Raqqa, ocupadapelas forças do grupo extremistaEstado Islâmico do Iraque e doLevante (ISIS), em que foiproclamada a “sharia”, os cristãosforam severamente advertidos: ouse convertiam ao islamismo ouaceitavam as regras por elesimpostas.E que regras são essas? Oscristãos ficam obrigados

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ao pagamento de uma taxa de 17gramas de ouro por adulto, estãoterminantemente proibidos deexibirem em públicoquaisquer símbolos religiosos e nãopodem rezar fora dos seus templosnem sequer fazer soar os sinos dasigrejas. Caso não cumpram estasregras são considerados “alvoslegítimos”. A possibilidade de queesta visão extremista do Islão possacontagiar outros países está apreocupar também a minoritáriapopulação cristã do Brunei. Nestesultanato, encravado

na Malásia, quase 70 % dapopulação, calculada em cerca de400 mil pessoas, são muçulmanosmalaios, enquanto cerca de 15 %são não-muçulmanos, na suamaioria de etnia chinesa, sendo queos cristãos não deverão ultrapassaros 10 %. O Brunei está classificadocomo sendo um dos 25 países domundo onde é mais acentuada aperseguição aos cristãos.

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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Arte de dar-se

Tony Neves

Em nome da saúde, ou melhor, em nome daspessoas, os enfermeiros dão-se. Trata-se deuma missão que acompanho há longos anosporque a minha única irmã é enfermeira. Masdeixem-me que fale de linhas da frente destaMissão de salvar vidas. Queria citar apenas trêscom quem me cruzei e diante das quais mevergo. A irmã Monique, francesa daCongregação do Santíssimo Salvador, estava nacidade do Kuito-Bié (ex- Silva Porto), quando lácheguei em 1988. Eram tempos cruéis de guerracivil. Não havia medicamentos nem meios detratamentos. As malárias eram muitas e mortais.Os feridos de guerra, incluindo as vítimas daminas e dos ataques nas estradas eramnumerosos, chegando ao hospital provincial doKuito em péssimo estado. A irmã Monique aliestava para fazer os milagres que a situação opermitia, mas sempre ia descobrindo mais unscomprimidos ou compressas, umas roupas paraeste ou para aquela. E, sobretudo, nunca faltavauma palavra de alento e ternura, um sorriso demãe. Um AVC fulminante levou-a para junto deDeus e o Kuito parou para o seu funeral.Já no Huambo, no terrível ano de 1993, a IrmãMaria Joaquim, Espiritana de Tondela, foi mortodurante a guerra que arrasou a cidade. Ela eraenfermeira pediátrica e trabalhava na pediatriado hospital central do Huambo. Durante a guerra,debaixo de fogo, ia da sua casa até ao hospitalpara apoiar, medicar

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e dar alguma alimentação áscrianças e mães ali internadas.Seria morto com estilhaços de umobus, dando a vida em Missão.A irmã Elisabeth, Espiritanafrancesa, enfermeira, dirigiu apediatria do Hospital do Huambodurante a guerra civil. Eram tantasas crianças que ali chegavam jásem família ou a quem ela assistia ámorte das mães, que decidiu tornar-se mãe dos órfãos. E toca de pedirapoios vários e de confiar a famíliasestas crianças que ela apoiava,visitava e acompanhava para ter acerteza de que elas tinhamencontrado verdadeiramente umanova família.

Contei estes três casos deenfermeiras com quem vivi emAngola. Mas podia acrescentar aenfermeira Nazaré Santos, daChamusca, da AMI, que fez muitasmissões humanitárias por essemundo além e que viria a receber oprémio Mulher Activa 2002, galardãoque premeia a mulher que mais senotabilizou no ano anterior. Os 25mil euros foram distribuídas pororganizações missionárias ehumanitárias.Servir as pessoas, garantir mais emelhor saúde para todos é lema daEnfermagem. Tudo em nome dasgentes que merecem ser tratadascom carinho e competência.

“Pode ouvir o programa Luso Fonias na rádio SIM, sábados às 14h00, ouem www.fecongd.org. O programa Luso Fonias é produzido pela FEC –Fundação Fé e Cooperação, ONGD da Conferência Episcopal Portuguesa.”

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Reencontro com a história

Manuel de Lemos,Presidente da União dasMisericórdiasPortuguesas

Foi há poucos dias que a União dasMisericórdias Portuguesas e a Santa Casa daMisericórdia de Lisboa assinaram um protocoloque representa um reencontro com a História.Na verdade, sendo a Santa Casa da Misericórdiade Lisboa a primeira das Misericórdias que sefundou em Portugal, não fazia sentido que,sobretudo depois de 1834, esta fantásticainstituição tivesse vivido quase sempre, salvoraros e episódicos momentos, de costas voltadaspara as suas quatrocentas irmãs portuguesascriadas sempre sob a sua inspiração.Por isso, um protocolo que, em nome dos maisdesfavorecidos da sociedade portuguesa,congrega e irmana a Santa Casa da Misericórdiade Lisboa (SCML) com todas as outrasrepresenta um marco histórico e a retoma damissão conjunta que sempre a seu modo cadaum de nós foi desenvolvendo.Esta parceria, que somente foi possível graçasao empenho do provedor da SCML, Dr. PedroSantana Lopes, a todos beneficia. As instituições,porque a mais forte pode apoiar as mais frágeis,mas sobretudo as pessoas que, à sombra daSenhora do Manto Largo, poderão encontrar emqualquer uma das Santas Casas do nosso País,o apoio e proteção a que têm direito.

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Em causa estão duas formas deparceria entre a União dasMisericórdias e a SCML. Através da criação do FundoRainha D. Leonor, a Misericórdia deLisboa vai ajudar as Misericórdias adesenvolverem respostas sociaisprioritárias, nomeadamente ao níveldos cuidados continuados.Outra forma de parceria surgeatravés do acordo “Nossa Senhorado Manto”. O objetivo destainiciativa é aumentar a eficiênciados equipamentos das SantasCasas portuguesas, mas ao mesmotempo responder às necessidadesdos cidadãos de Lisboa.A ideia é promover ainstitucionalização de pessoas emsituação e fragilidade (idosos eportadores de deficiência, porexemplo) que em Lisboa nãotenham familiares ou redes devizinhança e, ao mesmo tempo,mostrem interesse em retornar àssuas terras de origem. Estaspessoas poderão assimser acolhidas pelas Misericórdiasespalhadas pelo país que, com isto,poderão tornar mais eficazes osseus recursos.

Do ponto de vista da União dasMisericórdias Portuguesas, registe-se a nossa disponibilidade comumde continuar a ajudar osportugueses, acolhendo-os nasnossas instituições, apoiando-osnas suas casas, dando-lhes decomer se tiverem fome e prestando-lhe cuidados de saúde se estiveremdoentes.O esplendor da nossa missão ganhanestes momentos uma dimensãoainda maior. Este protocolo vemcriar um suplemento de alma aosque quotidianamente, desde osórgãos sociais das Misericórdias,aos trabalhadores de cada uma dasSantas Casas, vão muito para alémdo seu compromisso e procuram,como João Paulo II afirmou um dia,ultrapassar o limiar da esperança.

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A Jordânia formulou uma Oração pela Peregrinação do Santo PadrePai Celeste, incansável é a vossa compaixão e o vosso amor.O sucessor de São Pedro prepara-se para visitar a Terra Santa, santificadapelo nascimento, baptismo, ensinamento, morte e ressurreição de vossofilho. Acompanhai-o, santificai-o e abençoai-o. Estendei o manto de vossabondade sobre cada momento de sua peregrinação entre nós, para quetodos vejam nele um peregrino de fé, um sábio mestre e um líder humilde.O Senhor Jesus Cristo, que rezou pela Unidade de sua Igreja, dizendo “Quetodos sejam um”, faça do encontro em Jerusalém entre o Santo Padre e oPatriarca Ecuménico um incentivo ao crescimento dos nossos esforços emprol da unidade dos seus filhos. E faça com que o encontro do Papa com asautoridades políticas seja frutuoso em prol da Justiça e paz. Proteja todos osresidentes e os fiéis das religiões do Oriente Médio, para que vivam emacordo, diálogo e cooperação para uma plena cidadania.

(Da oração elaborada na Jordânia,pela peregrinação do Papa Francisco à Terra Santa)

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