uma carta de utilidade pública
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Uso indevido de citotec com finalidade abortiva. Alertas e esclarecimentos importantes.TRANSCRIPT
Uma carta de utilidade pública
“Prezada internauta,
Esta é uma carta a respeito do uso do Citotec para fins de aborto. Tomei
conhecimento do pedido de esclarecimento de várias pessoas e creio que tenho muita coisa
importante a lhes dizer. Antes de usar o Citotec, seria bom que soubessem que não é
possível que este remédio seja usado em casa, para fins de abortamento, não pelo menos
com uma técnica correta e sem graves conseqüências. Gostaria que lessem com atenção
esta exposição, fruto de uma razoável experiência com o assunto e procurassem entender
bem do que se trata e se esta é a melhor escolha que alguém e seu companheiro possam
fazer. Posso falar-lhes com segurança sobre as coisas que escrevo abaixo pois conheço
muitas pessoas que se envolveram desastrosamente com ele, e muitas que deixaram de
fazê-lo também. Algumas inclusive perderam a vida por causa dele. Espero que esta
mensagem possa ajudá-la se ainda há tempo.
O Citotec foi desenvolvido com outro nome há cerca de vinte anos atrás, não para
problemas de estômago nem para provocar abortos, mas para produzir contrações no útero
quando era necessário apressar o parto ou expulsar um feto já morto do útero de uma
gestante. Passados dez anos a droga ainda não tinha saído de seu estágio experimental, mas
com a descoberta das qualidades terapêuticas de seu princípio ativo no tratamento de
úlcera, deixou de ser pesquisado principalmente para produzir contrações no útero para
apressar o parto e passou a ser comercializado para tratar úlceras. Mas, aos poucos,
algumas pessoas descobriram que ele provocava o aborto, inclusive porque o fabricante
escrevia na própria bula do remédio que este era contra-indicado para mulheres grávidas
dado o risco de poder provocar um aborto. O remédio passou aos poucos a ser comprado,
sem orientação médica, não mais para úlcera, mas para provocar o aborto, embora o
laboratório desaconselhasse o seu uso no caso de gestantes.
Por causa de sua história, o remédio foi estudado e testado apenas para úlcera e não
para abortos. Não houve por parte dos fabricantes estudos para viabilizá-lo tecnicamente
para o seu efeito abortivo. Não há qualquer suporte técnico para quem use, sejam médicos
ou leigos, este remédio para produzir um aborto. Tudo o que se conhece sobre ele a este
respeito é o resultado de uma prática clínica muito informal, irregular e completamente
assistemática. É algo muito diferente de um medicamento onde há multidões de professores
e cientistas constantemente pesquisando, debatendo e aperfeiçoando o conhecimento sobre
a ação e o uso do remédio.
O Citotec atua apenas, ao que tudo indica, provocando contrações de parto e a
conseqüente expulsão do feto, em qualquer idade gestacional. Ele não age, portanto, sobre
o próprio feto, apenas provoca a sua expulsão. O feto morre não por ter sido agredido, mas
porque, se ele tem menos de seis meses, ao ser expulso morre asfixiado. Embora o feto
tenha os pulmões formados a partir do primeiro mês de gestação, antes dos seis meses e
fora do útero pode inalar o ar mas o oxigênio não consegue passar dos alvéolos para o
sangue. O feto morre ao ar livre por asfixia, exatamente como ocorreria com uma pessoa
que fosse estrangulada.
É importante, para entender o que acontece com a própria gestante ao resolver tomar
o remédio, que se tenha em mente que o remédio nunca foi desenvolvido e testado para
provocar o aborto, nem no Brasil nem em qualquer país de primeiro mundo. Este é o
motivo que explica porque ele provoca resultados tão diversos e irregulares em várias
gestantes que o tomam. No caso típico, algumas horas depois de ingerido, a mulher entra
em trabalho de parto e expulsa o feto, mas mesmo depois disso as contrações tornam-se
dificilmente controláveis. As dores abdominais são intensas, muito maiores do que se fosse
um aborto natural, e a mulher pode começar a sangrar tanto e com tal volume crescente que
é quase sempre obrigada a procurar um hospital. Em algumas mulheres sua ingestão não
provoca efeito algum, nem mesmo a expulsão do feto; em outras, provoca apenas a
expulsão do feto. Na maioria dos casos, porém, a expulsão do feto é seguida de
hemorragias crescentemente violentas com o passar do tempo.
Não há assessoria médica para quem queira tomar Citotec, e também não há suporte
técnico para os médicos – ainda que o médico requeira tal suporte – por parte dos
fabricantes. O que há são os hospitais que resolvem ajudar as pacientes quando, apesar de
tudo, o aborto foi provocado e consumado e a hemorragia se torna incontrolável; isto é,
estes hospitais ajudam por causa da hemorragia e não por causa do aborto.
Mortes por hemorragias no uso do remédio não são muito comuns, principalmente,
porque nos casos típicos, a hemorragia assusta tanto que a mulher invariavelmente acaba
procurando um hospital. Mas, caso não procurasse, certamente o quadro hemorrágico
crescente provocaria uma parada cardíaca. Às vezes, isto até ocorre, o que é narrado
principalmente por médicos legistas de IML's (Institutos Médicos Legais). Em alguns casos
a hipersensibilidade da mulher para com o remédio pode ser tal que o remédio provoca uma
ruptura repentina de útero, logo ao ser ingerido ou mesmo mais tarde. Isto pode ser fatal se
não há a possibilidade de um atendimento médico e hospitalar imediato. A ruptura de útero
pode se dar mais facilmente em mulheres que tiveram anteriormente um histórico com
partos cesarianos ou em gestações mais avançadas. Se nada disso ocorrer e a hemorragia
conseguir ser controlada em casa e isso não provocar a morte da gestante, coisa rara de
acontecer, pode no entanto estar acontecendo outra coisa de muito risco. Restos fetais ou
placentários podem ter sido retidos dentro do útero durante todo este tempo e ter provocado
uma infecção local. Às vezes, o remédio produz o descolamento da placenta, com a
consequente morte do bebê, mas o feto não é, todavia, expulso. A gestante pensa que não
aconteceu nada, não procura o médico, mas está na realidade tendo um aborto retido. Tanto
o aborto retido como restos fetais e placentários podem fazer com que pus se acumule no
útero, tentando em vão destruir os restos fetais ou de placenta, que deveriam ter sido
removidos por curetagem no hospital dias antes. As dores e hemorragias podem ter
mascarado outros sintomas que fariam suspeitar para a gestante inexperiente que algo mais
poderia estar acontecendo. A medida em que o pus se acumula, ele invade a corrente
circulatória da gestante e espalha-se pelo corpo todo. Isto é conhecido pelo nome de
septicemia. Quando se chega a este quadro a única conduta correta é a remoção dos restos
fetais e placentários e a internação imediata da paciente em uma unidade de terapia
intensiva. Há um certo número de óbitos por septcemia, mesmo com a internação em UTI,
causados pelo uso do Citotec. Muitos dos óbitos por aborto em geral e alguns causados pelo
uso do Citotec são por septicemia. Se não ocorre a septicemia mas houve retenção durante
algum tempo de restos placentários ou fetais, os tecidos já necrosados são difíceis de serem
curetados; frequentemente junto com a remoção por curetagem destes tecidos é inevitável
removerem-se também uma parte de tecidos endometriais, que é a parte mais interna do
útero. As paredes internas ao útero que constituem o endométrio, por este motivo, acabam
por aderirem-se uma à outra causando a esterilidade da mulher.
Mas a maioria das mortes por causa do uso do Citotec não provém nem da
hemorragia, nem da septicemia. A maioria ocorre semanas ou meses após o uso e não se
deve propriamente ao uso do Citotec, mas ao uso caseiro do Citotec que, independente do
que se pense sobre o aborto em si, jamais poderia ser usado sem acompanhamento médico.
Há casos em que se usa o Citotec para expulsar um feto morto em um hospital. O modo e
os cuidados com que o mesmo deve então ser administrado é muitíssimo diverso do modo
como poderia ser usado em casa. Jamais passaria pela cabeça de nenhum médico receitar o
Citotec para que a paciente expulsasse ela mesma um feto morto em sua própria casa. Isto
seria um atestado de irresponsabilidade médica simplesmente inimaginável, mas é o que as
pessoas dizem umas às outras ser inofensivo quando se trata de expulsar um feto ainda
vivo, isto é, quando se trata de provocar um aborto. O uso doméstico do Citotec é muito
traumático, mas, na maioria das vezes, não causa uma morte imediata diretamente
relacionada com o mau uso do medicamento. A maioria das mortes ocorre por efeitos que
se seguem muito tempo depois, como quando uma pessoa que é atropelada e fratura os
ossos e, meses após ter tido alta, acaba morrendo de complicações apenas indiretamente,
mas realmente, relacionadas com as fraturas anteriores. Este tipo de acidente é muito mais
comum com o Citotec do que costuma ser divulgado, e é bem conhecido principalmente
entre os médicos legistas.
Por causa de todos estes problemas, depois de alguns anos que o remédio era
fabricado e vendido regularmente sem restrição alguma, -oficialmente para úlcera, de fato
em grande parte para provocar abortos sem possibilidade alguma de orientação médica,
inexistente inclusive para os próprios médicos -, os abusos se tornaram tão grandes que o
Ministério da Saúde no Brasil proibiu sua fabricação e distribuição por parte do fabricante
oficial. Isto fez com que o acesso ao remédio diminuísse bastante. Por outro lado, como já
havia se criado um bom mercado para o remédio junto ao grande e desinformado público,
isto também fez com que aparecessem fabricantes clandestinos para a droga provenientes
das mais diversas origens. Muitos dos comprimidos chamados agora de Citotec não são
mais verdadeiros Citotecs, mas tem sua origem em fabricantes clandestinos de países
pobres da América Latina (como o Paraguai) e não se sabe ao certo se a fabricação é de lá
mesmo ou se ali é apenas um posto de intermediação, nem se o fabricante verdadeiro é um,
alguns ou mesmo quantos podem ser.
Hoje não é possível saber de onde vem e quem o fabrica, por mais que o vendedor
dê garantias. O vendedor, na verdade, não tem tais garantias, nem as pode ter, já que o
próprio fabricante é desconhecido do vendedor, do intermediário e até das autoridades da
Saúde.
Nunca se sabe, portanto, o que está sendo comprado quando se compra Citotec. Pode ser
uma droga igual ao antigo Citotec, pode ser uma mistura de Citotec com outras coisas, pode
ser também qualquer outra coisa, e pode ser uma nova invenção de algum laboratório
clandestino, tecnicamente competente ou não, que julga ter um remédio de efeito
semelhante mas capaz de ser produzido de uma maneira mais fácil. É vendido, porém,
sempre como Citotec, por causa da fama do nome que o remédio original conquistou no
Brasil.
Tanto pela dificuldade de saber o que está sendo tomado, quanto pela ausência total
de suporte médico ao ato, pelas hemorragias imprevisíveis e que são a regra mesmo quando
se trata de Citotec verdadeiro, tanto pelas inúmeras e nem sempre facilmente controláveis
conseqüências posteriores, quando o paciente já não está mais sob a direta observação
clínica que se costuma seguir imediatamente após o uso, este método de aborto é, no
português popular, uma desgraça. Tecnicamente é uma solução altamente deficiente e
extremamente imprudente. Mesmo quem é a favor do aborto, mas tem uma formação
médica correta do ponto de vista estritamente técnico, não poderia recomendá-lo como
abortivo nem no primeiro nem no terceiro mundo. Para se ter uma idéia, ainda quando ele é
usado para provocar contrações de parto em fetos já mortos que não conseguem ser
expulsos, casos em que o remédio já foi melhor estudado e a conduta médica melhor
estabelecida, isto nunca é feito em casa. Nestes casos, no Brasil, a paciente é internada em
um hospital e o seu curso clínico é cuidadosamente monitorado; a paciente não recebe o
remédio sem antes se submeter a exames e freqüentemente será necessário sedá-la para que
ela possa tomá-lo. Uma equipe médica e uma sala de cirurgia deve estar pronta para
qualquer imprevisível eventualidade que venha a ocorrer.
Nos Estados Unidos, ao contrário, o uso do Citotec para induzir o trabalho de parto
é proibido até mesmo para os médicos. Nos Estados Unidos o aborto é legalmente
permitido e não haveria problema de se aconselhar o Citotec como meio de provocar um
aborto se ele fosse tecnicamente aconselhável para tanto. Tanto o governo como a empresa
que o fabricam sairiam ganhando com isso. O governo, porque a técnica de aborto com o
Citotec é mais fácil e rápida de ser executada, e o fabricante porque venderia mais o
produto. No entanto, tanto a FDA (Food and Drug Administration), o organismo que
controla a venda e o uso dos remédios nos Estados Unidos, como o próprio fabricante do
Citotec, o Laboratório Searle, desaconselham o uso do Citotec para induzir o trabalho de
parto e para o aborto, afirmando ser perigoso.
No ano 2000 cogitou-se, devido a questões técnicas, de aconselhar-se o uso do
Citotec como técnica de abortamento em alguns casos nos Estados Unidos. A FDA,
conjuntamente com o fabricante do próprio Citotec desaconselharam abertamente o uso do
remédio a não ser para casos de úlcera, inclusive se feito sob supervisão médica. O
comunicado conjunto do FDA e do Laboratório Searle datado do ano 2000, que pode ser
lido no original no site
http://www.fda.gov/medwatch/safety/2000/cytote.htm
Neste comunicado pode ser claramente lido que o próprio fabricante do remédio afirma que
"Foram reportados efeitos adversos sérios no uso do Citotec em
mulheres grávidas, que incluem a morte materna, ruptura e perfuração
de útero necessitando de intervenção cirúrgica e histerectomia
(cirurgia para remoção total de útero), embolia por líquido amniótico,
sangramento e choque. O fabricante não fez nenhuma pesquisa sobre o
uso deste medicamento nem para abortamento nem indução do parto,
não pretende fazê-lo e não está apta a dar suporte para este uso do
medicamento".
Dois anos depois a Searle voltou a publicar as mesmas advertências, inclusive a de que
haviam sido registradas mortes maternas por causa do uso indevido do Citotec nos Estados
Unidos. O site americano www.birthlove.com comenta sobre este segundo comunicado:
"Em 17/04/2002 uma advertência revisada sobre o Citotec foi
divulgada, devido ao fato de que os médicos americanos ainda estavam
usando o remédio para induzir o parto, apesar de todas as advertências
anteriores emitidas pela Searle".
Neste segundo comunicado da Searle, datado de 2002, pode-se ler novamente o seguinte:
"Maternal death have been reported. The risk of uterine rupture
increases with advancing gestational ages and with prior uterine
surgery, including Cesarean delivery".
"Mortes maternas tem sido reportadas. O risco de rompimento uterino
aumenta com o avanço da idade gestacional e com cirurgias uterinas
anteriores, incluindo parte cesariano".
No site http://www.beyondfertility.com/art112.htm há um artigo intitulado "VBAC &
Cytotec: A Dangerous & Deadly Combination", isto é, "VBAD & Cytotec, uma Perigosa e
Mortal Combinação", no qual se alerta que
"até hoje o Citotec não foi aprovado pela FDA como uma droga para
induzir o aborto ou o parto, mas o seu uso se tornou alarmantemente
disseminado. Os médicos, crendo que é muito mais barato e rápido
induzir o parto por meio desta droga, administram a droga com
freqüência. As histórias dos riscos e das mortes associadas com esta
droga se tornaram clamorosas e assustadoras. O Citotec está associado
com um maior número de casos de rompimento uterino. Em alguns
casos a ruptura uterina não ocorre imediatamente. As mulheres
continuam o parto normalmente até experimentarem um dos conhecidos
sintomas de rompimento uterino. Em outros casos as contrações
uterinas violentas podem ocorrer logo após a primeira dose, e podem
resultar em rompimento do útero. Se o Citotec é administrado fora de
um estabelecimento hospitalar, ou quando um médico não estiver
presente, o resultado poderá ser fatal. Infelizmente os riscos associados
com o Citotec não são amplamente conhecidos e a maioria das
mulheres, ao usarem a droga, são as últimas a saberem. Esta droga,
com seus efeitos colaterais mortais, é ainda usada em centenas de
hospitais, sem consideração por seus riscos potenciais".
No original:
"At this time Cytotec has not been approved by the FDA as an induction
drug, but yet it's use as one has become alarmingly widespread.
Physicians, finding it a much cheaper and quicker way to induce labor
in full term pregnancies, administer the drug on a frequent basis. Since
it's use as method of labor induction, stories of the risks and deaths
associated with this drug have become rampant and frightening. In
some cases, uterine rupture does not occur immediately. Women
continue to labor normally, until they experience one of the common
symptoms of uterine rupture, including a "popping" sound, severe
abdominal pain, or bleeding. In other cases, violent contractions can
occur after the first dose, and can result in uterine rupture. It is also
important to note that the risk of placental abruption can drastically
increase for women with prior uterine incisions. If Cytotec is given out
of a hospital setting, or when no doctor is present, the results can be
fatal. Unfortunately, the risks associated with Cytotec are not widely
known, and most women, undergoing an induction with the use of the
drug, are the last to know.
Yet this drug, with it's deadly side affects is still used in hundreds of
hospitals, by hundreds of doctors, without regard for it's dangerous
potential".
Estas coisas são até bastante óbvias, e podem ser constatadas mesmo nos países do terceiro
mundo. Não é a visão de muitos médicos da América Latina, que afirmam que o uso do
Citotec diminuiu a mortalidade materna em seus países. A premissa é correta, mas a
conclusão é falsa. O uso do Citotec, ainda que clandestino e sem orientação médica,
diminuiu os índices de mortalidade materna em vários países da América Latina como
consequência do aborto. Mas a diminuição da mortalidade materna pelo uso do citotec não
muda a natureza técnica do procedimento. Se você tem dois métodos para executar uma
roleta russa e o segundo causa menos mortes do que o primeiro, nem por isso o segundo
deixa de ser uma roleta russa. Quem disser o contrário está maquiando a realidade, e é um
dever de quem conhece as coisas chamá-las pelo seu próprio nome e natureza. Quando as
pessoas são a favor do aborto e vêem no Citotec um meio de favorecê-lo, podem se
aproveitar disto e se concentrarem em dizer que o uso do Citotec diminuiu a mortalidade
materna sem explicarem mais nada a respeito. Mas o fato é que o uso caseiro do Citotec
não é um método recomendável de aborto e, nos Estados Unidos, as autoridades federais de
saúde e o próprio fabricante do remédio, que teria todo o interesse de dizer o contrário em
um país onde não há entraves legais ao aborto, dizem que não é recomendável inclusive
com assistência médica. Eu mesma no Brasil posso dizer que já conheci três casos de morte
materna pelo uso do Citotec e ouvi falar por outros profissionais da saúde de mais outros. É
menos do que os de que tomei conhecimento há mais de dez anos atrás, mas são fatos
verídicos. A verdade é que nenhum aborto, nem por Citotec nem pelos métodos
tradicionais, mesmo supondo que não houvesse graves questões morais nesta prática, coisa
que ninguém pode negar que haja, poderia ser tecnicamente bem feito se não houver a
disponibilidade imediata de um centro cirúrgico completamente equipado para internar a
paciente em caso de qualquer eventualidade. Um aborto, mesmo que realizado por um
médico, não poderia jamais ser feito em uma clínica que não estivesse dentro de um
hospital completo, a menos que houvesse algum acordo entre a clínica e outro hospital para
a remoção imediata da paciente em alguma eventualidade. Do contrário, o aborto seria uma
roleta russa, um jogo em que uma pistola é carregada com apenas uma única munição e
aposta-se que quando o jogador atirar contra ele mesmo ele terá a sorte de que, naquele tiro,
a arma não dispare a única munição com que está carregada. Temos muitos exemplos,
inclusive extremos, de que, ainda que feito por um profissional competente, o aborto é de
fato uma roleta russa quando não se dispõe de todas as facilidades de um hospital com
centro cirúrgico de retaguarda. No caso do Citotec, apesar de ser um método
comparativamente mais brando do que os que se usavam quinze ou vinte anos atrás na
América Latina, o procedimento continua a ser bastante grave porque na maioria dos casos
quem faz toda a primeira parte do aborto é uma paciente leiga no assunto e ela terá toda a
inclinação para, se não ocorrer um sangramento assustador, não se encaminhar a um
profissional médico para a segunda parte do procedimento, pensando que poderá cuidar
sozinha de si mesmo. Se, depois de tomar o remédio, suceder qualquer coisa que não seja o
curso normal do que ela ouviu dizer que deveria acontecer, a paciente poderá não saber o
que deverá fazer em seguida e não perceberá por que deveria procurar um médico. Se após
a ingestão do remédio houver um sangramento abundante e incomum, ela poderá
apresentar-se ao médico imaginando que não precisará dar maiores explicações mas, se este
sangramento não ocorrer, a paciente, além de não entender por que motivo deveria
apresentar-se ao médico, também não saberia como explicar-lhe o que aconteceu sem
delatar-se. O fato de que a mortalidade materna tenha diminuído com o uso deste
medicamente não significa que ele não cause todos os efeitos de que estou falando. A
própria lista do Searle não é completa porque, na maioria dos casos, ela está listando apenas
as complicações que ocorrem quando o Citotec é usado com acompanhamento médico. Não
se fala de esterilidade, por exemplo, porque este efeito se deve mais ao uso do Citotec que
não foi imediatamente acompanhado por um médico. A septicemia pode ocorrer
principalmente quando o uso não é acompanhado por um médico.
Tudo isto é muito diferente do que as pessoas são levadas a pensar que seria o uso
normal deste remédio. No Brasil tem havido uma espécie de euforia nos meios médicos nos
últimos anos devido ao fato de que o uso do Citotec tem diminuído a taxa de mortalidade
materna nos casos de aborto provocado. Esta euforia, baseada em fatos reais, tem,
paradoxalmente, contribuído para mascarar os riscos a que a auto-medicação pelo Citotec
para fins de aborto pode conduzir. Isto, conjuntamente ao fato de que o baixo custo da
droga obtida legalmente tem favorecido o seu uso hospitalar, tem levado muitas pessoas
sérias à tendência de sub avaliar perigosamente as conseqüências que na realidade a prática
da auto-medicação possui nestes casos e a negar fatos que seriam mais facilmente avaliados
se o ambiente no meio médico brasileiro fosse diverso.
Em 1993, quando este ambiente era bem diverso e ainda não havia esta euforia, foi
publicado na Lancet inglesa um estudo de casos de abortos provocados por Citotec no Rio
de Janeiro feito por dois médicos brasileiros, S. Costa e M. Vessey ("Misoprostol and
Illegal Abortion in Río de Janeiro"). Eles encontraram que em 458 casos de mulheres que
usaram o Citotec houve três mortes, 2 septicemias e uma ruptura de útero. Em um artigo
mais recente na literatura médica (Daisley H J: Maternal mortality following the use of
Misoprostol, Med Sci Law 2000 Jan;40(1):78-82) são reportados três casos de morte
materna devido ao uso do Citotec, dois ocorridos na tentativa de um aborto ilegal por auto-
medicação e um terceiro ocorrido após a uma ruptura uterina em seguida ao medicamento
ter sido usado por médicos para a indução de um parto. A possibilidade de septicemia e de
mortes em consequência da auto-medicação pelo Cytotec pode ser averiguada até hoje no
Brasil. Eu mesma, conforme mencionei acima, já conheci três casos e conheço outros
profissionais de saúde que me reportaram ter conhecido outros. Todos eles foram produtos
da auto-medicação pelo Citotec.
Tal como no uso de drogas, em que as pessoas frequentemente são levadas a pensar
que é a melhor coisa do mundo se as souberem usar com critério, mas mais tarde amargam
tristes conseqüências, assim também ocorre com o Citotec: as pessoas são induzidas a
pensar que é a melhor coisa do mundo se o souberem usar criteriosamente, mas nunca se
explicam claramente as conseqüências que daí podem advir. O motivo para que se
escondam estes fatos é que em ambos os casos, no da droga e do Citotec, há uma rede
clandestina de criminosos que distribuem ambas, para os quais interessa que a verdade não
venha a público, ou pelo menos que não venha a um certo público alvo, dentro do qual
provavelmente vocês devem estar incluídas.
Há uma diferença, no entanto, que faz com que no Citotec a ignorância seja muito
maior do que no caso das drogas. Ao contrário do verdadeiro tráfego de drogas, o Citotec
não causa dependência por toda a vida; todo o dano que ele pode fazer o faz imediatamente
ou num prazo relativamente curto e, depois, ou se conserta ou não se pode consertar mais.
Não é como no caso dos dependentes que, a medida em que o tempo passa o problema
sempre fica mais grave e algo, embora sempre mais difícil, precisa ser feito cada vez com
mais urgência e desespero. No caso das drogas isto faz com que acabe havendo uma
pressão social maior para que haja um certo esclarecimento do público que, no caso do
Citotec, não existe absolutamente. As pessoas se iludem com extrema facilidade de que é
algo seguro, mas a verdade é que não é e não poderá sê-lo, pois não é o mundo da ciência
que está por trás da auto-medicação pelo Citotec, mas o mundo do crime. Eu jamais
tomaria um avião para o qual houvesse, para falar o mínimo, 10% de chances de acabar
internado em uma UTI antes de chegar ao meu destino, mesmo que conhecesse nove
pessoas que conseguiram terminar a viagem.
Espero que este texto seja de ajuda para vocês. Não estou exagerando, contei as
coisas como elas são. Se vocês não tem certeza se é realmente assim, esperem alguns dias,
levem esta mensagem para quem realmente conhece o problema e tirem o assunto a limpo.
Adiar o aborto alguns dias não irá impossibilitá-las de fazê-lo mais tarde, principalmente
quando se está logo no início da gravidez; mas fazê-lo imediatamente poderá fazê-las
incorrer, sem necessidade, em tudo o que lhes estou descrevendo nesta mensagem.