uma breve historia do cristianismo - geoffrey blainey

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PREFÁCIO

screver a história do cristianismo é uma tarefa fascinant

rustrante e até perigosa. Fascinante devido ao modo como

ristianismo moldou a civilização ocidental e aos long

eríodos durante os fluais afetou o modo de viver das pessoa

rustrante porque algumas partes da história estão envoltas emistério e nos chegam sob a forma de parábolas, alegorias o

nigmas. E perigosa porque se trata de uma trajetória pontua

e controvérsias, em que as discussões - e lutas - de lad

postos se baseavam no que eram considerados argument

refutáveis. Vou tentar ver ambos os pontos de vista com cer

mpatia.

Alguns estudiosos afirmam que Jesus Cristo, o fundador

eligião, nem sequer existiu, e que referências a ele, feit

urante o tempo em que viveu, são extremamente raras. Minh

onclusão é de que, pelos padrões da época, sua história f

urpreendentemente registrada, já que ele só ficou conhecido nltimos anos de vida e, assim mesmo, em uma região do Impér

Romano pouco desenvolvida e afastada. De todas as pesso

omuns daquela época, desconhecidas fora de sua terra, a vida

s ensinamentos de Jesus estão entre os mais documentados.

xistem numerosos folhetos ou evangelhos sobre ele, e quatão famosos. Conhecidos como os evangelhos de Mateu

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Marcos, Lucas e João, todos, exceto um, foram concluídos n

eríodo de 50 anos que se seguiu à morte de Jesus. Outr

elatos e histórias foram escritos - à mão, é claro. O problema é

norme quantidade de detalhes, gerando inconsistências

ontradições. No decorrer de vários séculos, o mundo ocident

roduziu mais livros, impressos ou manuscritos, sobre a vida esus do que sobre qualquer outro tema. Quem quer que

roponha a escrever a respeito de sua curta vida e da lon

istória do cristianismo vai ter de examinar cuidadosa

epetidamente indícios conflitantes e inconsistentes. As font

onsultadas por mim são citadas nas longas notas encontradas

m da edição original ou da resumida deste livro.

nvestiguei a história como historiador, não como teólog

Queria me informar e deixar os outros mais informado

upondo que muitos leitores possuam pouco conhecimento

eologia cristã, procurei evitar termos mais técnicos.

mbora adequada aos entusiastas, a edição original deste livr

om mais de 170 mil palavras, era longa demais para algu

eitores. Assim, reescrevi ou cortei trechos, eliminando cerca d

0 mil palavras. Mantive a ênfase em indivíduos influentes, ta

omo Paulo de Tarso, Francisco de Assis, Ulrico Zuínglio d

urique, John Wesley da Inglaterra e dezenas de outros. Oéticos e racionalistas também têm lugar neste livro, pois faze

arte da multifacetada história do cristianismo.

Geoffrey Blain

MELBOURNE | MARÇO DE 20

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CAPÍTULO 1

O MENINO DA GALILEIA

De todas as pessoas conhecidas, vivas ou mortas, Jesus é a manfluente.

eu nascimento foi e ainda é considerado um acontecimenmportante. Ao ser criada a cronologia atualmente adotada n

mundo, escolheu-se o ano presumido desse nascimento comorimeiro. A decisão não foi muito precisa. Não se conhece o anxato em que Jesus nasceu. Ainda hoje, vários aspectos dhegada de Jesus ao mundo, de sua vida e sua morermanecem envoltos em mistério e divergência. No entanto, exerceu profunda influência sobre a história da humanidade.

esus era judeu, em raça, cultura e religião. O termo "judeu" "

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  ,e terra à margem do Mar Mediterrâneo, há muito conheciomo Palestina. Os ancestrais de Jesus tinham vivido em outugar. Tradicionalmente conhecidos como hebreus, cujignificado é "povo que atravessou", eles eram em essênciajantes ou viandantes.

Os judeus, vivessem onde vivessem, consideravam Jerusalémerra Santa. No alto da montanha, com uma fonte permanene água pura, podia ser facilmente fortificada. Depois apturada para os hebreus pelo rei Davi, por volta do ano 1.00C., tornou-se o local do Grande Templo, a edificação ma

untuosa do mundo ocidental. Construído pelo rei Salomãlho de Davi, transformou-se no centro da religião judaica. Arações e sacrifícios podiam ser oferecidos a Deus, e palavragradas eram lidas em voz alta pelo Sumo Sacerdote e seuxiliares. Como os judeus, ao contrário dos vizinho

creditavam em um só Deus, e o templo de Jerusalém era snico santuário, é provável que não houvesse na Europa local eregrinação impregnado de tanto respeito. Foi lá que tevrigem a crise final da vida de Jesus - a rápida sucessão ventos que culminou em sua morte.

om a morte do rei Salomão, seu reinado foi dividido em dosrael ao norte e Judá ao sul. Em 587 a.C., os poderosabilônios conquistaram Jerusalém, em um dos eventaumáticos na longa história de um povo que suportou vári

nfortúnios e desastres. Muitos dos judeus mais influentes foraeportados para a Babilônia. No exílio, refletiram sobre su

esventuras, e se perguntaram se teriam ofendido tanto a Deuara receber tal castigo.

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m menos de meio século, os persas tomaram a Babilônia, emaioria dos judeus pôde retornar a sua terra, onde, por volta 20 a.C., começou a reconstrução do templo. Em 142 a.Cepois de viver sob uma sucessão de soberanos estrangeiros final, sob um regime de cultura grega, o povo judeu recupero

ua terra. Durante quase 80 anos, gozou de independência, mogo a perderia, voltando a ser independente apenas no sécu0.

A CONQUISTA DOS ROMANOS

m 63 a.C., os romanos invadiram a Palestina. Donos do maimais diverso império do mundo, eles conferiam cer

ndependência às colônias, desde que fossem submissabedientes e pagassem seus impostos. Os romanos escolheram líder local, Herodes, a quem delegaram poder e deram tulo de rei e concederam considerável liberdade religiosa a

udeus. Foi próximo ao fim do reinado de Herodes que Jesasceu, possivelmente em 6 a.C.

om seu território ocupado por um pequeno exército romano,

udeus mantiveram cultura e religião. Na medida do possívgnoravam os deuses romanos e dispensavam apenas uespeito formal ao distante imperador, cada vez mais adoradomo um deus pelos que o cercavam. Em matéria de religião, udeus mantiveram as próprias regras. O dia a dia deles e

overnado por poderosas tradições. Assim, os meninos tinhae ser cincuncidados pouco tempo depois do nascimento, e

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esobediência a essa regra era considerada uma atitude profanampura. Alguns alimentos, inclusive a carne de porco, nãeviam ser consumidos em ocasião alguma. O  sabbath,  oábado, era dia de descanso e oração. Por causa desse preceigido os judeus tinham dificuldade em servir integralmente

xército romano, embora alguns o fizessem.Assim, um mundo judeu seguia à parte, dentro do ImpérRomano. Duvida-se de que outra região do império tenobrevivido como uma entidade cultural e religiosa tão diferentsse foi o milagre da religião judaica: uma incrível tenacidad

éculo após século, Essas foram a cultura e a religião herdador Jesus.

Deus dominava a cultura judaica. Era o Deus dos judeumbora não exclusivamente. Chamado "O Eterno", era invisívimortal, detentor de enorme poder e conhecimento e de um

mensa capacidade de sentir amor e raiva. Tendo criado o sumano à sua imagem, e tendo-o dotado de livre-arbítrioncedeu-lhe o direito de escolher entre o bem e o mal. Sbedecesse às leis de Deus, seria ajudado por Ele. Deus eraai; os judeus, os filhos: os filhos de Israel. A maior parte doinos que eles cantavam - os salmos - tinham sido compost

urante o exílio na Babilônia e o triunfante retorno a Jerusalémor experiência própria, podiam afirmar confiantemente: "Denossa força e nosso refúgio, um auxílio sempre presente n

dversidade."

egundo os hebreus, Deus estava em toda parte. Às vezes e

isto no "templo sagrado", às vezes no céu, mas seu espírito, sresença e seu conhecimento eram de tal ordem que ele pod

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star em 10 mi ugares ao mesmo tempo. Con orme proc amaalmo 139, ninguém foge dele.

Quando o povo judeu seguiu para a Babilônia, encontrou Deespera. Quando chegou de volta a Jerusalém, Deus já estav

á. Deus sabia até "quando me deito e quando me levanto". U

almo explicava que Deus conhece os pensamentos mais íntimas pessoas, ainda que elas nunca os expressem.

A ênfase dos hebreus em um Deus perfeito e todo-poderoaminhava lado a lado com sua opinião sobre a condiçãumana. A humanidade, ao contrário de Deus, era imperfeit

apaz de praticar o bem ou o mal. Empregava-se com freqüêncpalavra "pecado", mas seu significado não correspondxatamente ao atual. Pecador era quem desobedecia à vontae Deus - não apenas quanto a preceitos morais, mas tambémegras formais e culturais formuladas por Moisés e registrados livros hoje chamados de Antigo Testamento. A descrençateísmo ou agnosticismo - era igualmente considerada pecado.

Hoje, muitos consideram subserviente a atitude dos judeus eelação a Deus. Para eles, porém, Deus era justo. Nada, sobreace da Terra, se assemelhava a seu senso de justiça. Eecompensaria fartamente os bons e os "justos". Seu am

imitado e eterno foi citado duas dúzias de vezes no salmo 13or outro lado, a vingança justa de Deus se abateria sobqueles que o desobedecessem gravemente ou infringissem egras, sem se arrepender. Os judeus não aceitavam a idéia dm Deus injusto. Se seu mundo fosse arrasado por um desast

atural, ou um conquistador estrangeiro invadisse sua terra, elcreditavam ter merecido.

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oram essas crenças judaicas que Jesus absorveu desde criançAlgumas ele reformulou mais tarde, quase ao fim de sua curida, mas aceitou instintivamente e seguiu sinceramente a maiarte delas.

UMA ESTRELA NO ORIENTE

No tempo em que Jesus viveu, as estrelas no céu noturnascinavam mais as pessoas do que hoje. Acreditava-se que

parição de uma estrela excepcionalmente brilhante anunciavaroximidade de acontecimentos importantes. Assim, Virgílio, rande poeta romano, descreveu como uma estrela magnífiavia guiado o fundador de Roma até o local onde a cidaresceu. O nascimento do fundador de uma religião tambéodia ter a própria estrela anunciadora.

De acordo com o evangelho de Mateus, três homens sábios, omagos, que viviam em uma terra distante viram no céu noturnma luz muito brilhante que parecia chamá-los na direção dalestina. Acreditando ser aquele o sinal de um nascimen

mportantíssimo, recolheram alguns presentes e seguiram

strela, na esperança - certeza, na verdade - de encontrar aqueebê extraordinário: "Vimos a estrela no Oriente e viemdorá-lo."

ssa história ou alegoria fascinante foi mais tarde registrada pscrito, e contada e recontada, século após século. Com

epetição, alterou-se um pouco: a criança nascida era importanemais, e achou-se que os personagens mereciam mai

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restígio. Assim, os três sábios se transformaram em três reiomente cerca de quinhentos anos mais tarde, receberam nome

Não se conhece ao certo o local do nascimento de JesuMarcos, o autor do primeiro evangelho sobre a vida de Jesuão especificou. Os outros autores se referiram a Belém, um

idadezinha da qual, para chegar-se a Jerusalém, bastava ummanhã de caminhada. Sendo a terra natal de Davi, o herói istória dos judeus, Belém representava um local apropriado ascimento de alguém que seria aclamado como o salvador eu povo. Lucas disse que os pais de Jesus viviam em Nazar

mas foram obrigados, por causa de um censo marcado pacontecer em seguida, a estar em Belém na época em quomprovadamente Jesus nasceu. Na verdade, segundo egistros, não houve censo naquele período e, se tivesse havids autoridades não obrigariam os habitantes a empreender longornadas, simplesmente para serem contados no local de orige

e suas famílias.A cidade de Nazaré, na Galileia, onde Jesus passou a maiarte da vida, é considerada por alguns outro possível local eu nascimento. Na verdade, os seguidores de Jesus erahamados de nazarenos, e o próprio Jesus é descrito no Nov

estamento como "o Nazareno". Mesmo depois de muitesquisas, vários modernos estudiosos da Bíblia afirmam apenue ele era galileu: "Conclui-se que não se sabe onde easceu."

Os pais de Jesus eram José e Maria, mas foi ela quem ficou ma

amosa, com o decorrer dos séculos. De acordo com vangelho de Marcos, Jesus tinha irmãos e irmãs mais joven

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Alguns estudiosos, porém, garantem que se tratava de primos outros parentes, criados juntos.

osé e Maria cuidavam da família, com certeza. Desde muiedo Jesus frequentou a sinagoga e tomou conhecimento dontos principais dos livros atualmente conhecidos como Antig

estamento. Aprendeu também a ler, e escrever, o que não eromum na cidade onde vivia.

onta-se que, aos doze anos, Jesus foi com os pais a Jerusalémm uma caminhada de vários dias, para as festividades anuais áscoa, a data mais importante do calendário judaico. E

maravilhoso visitar a pequena cidade naquela época, nompanhia de peregrinos vindos de locais próximos ofastados. No templo, Jesus teve a oportunidade de ouvir a fae vários mestres e a leitura de textos sagrados. Sua vontade prender era tanta que seus pais acabaram por perdê-lo de vist

Afinal, encontraram-no "sentado entre os mestres, escutando-fazendo perguntas." Com surpreendente autoridade, e

xplicou assim seu desaparecimento: "Não sabem que devo esta casa do meu Pai?"

esus se tornou carpinteiro, e aprendeu também um pouco dfício de pedreiro. Presume-se que fizesse pequenas peças d

madeira usadas nas casas, além de cangas para animais de cargrados, portas, portões, cercados e celeiros espaçosos, para gricultores da redondeza. O trabalho artesanal em pedra

madeira provavelmente lhe rendia ganhos superiores aos maioria da população.

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imultaneamente à carpintaria, Jesus estudava, e acumulou uasto conhecimento sobre a religião. Freqüentador assíduo inagoga, lugar de pregação e ensino, aprendeu sobre grand

eis, profetas e guerreiros judeus. Influenciado por discussõom os habitantes da vizinhança, desenvolveu opiniões sobrecupação de sua terra natal pelos romanos.

or volta dos anos 27 e 28 d.C., a intimidade de Jesus couestões religiosas e políticas - as duas estavam intimamen

gadas - era intensa. Pessoas que compartilhavam idéiemelhantes começaram a segui-lo. Ao fim de algum tempram doze - o mesmo número das tribos originais de Israel. Oeguidores, em sua maioria, viviam perto do Mar da Galileia,ários tinham sido discípulos de um evangelista chamado Joãue usava habitualmente uma túnica grosseira, de pele amelo, e pregava ao longo do rio Jordão.

Multidões acorriam para ouvir João Batista. O próprio Jesus eixou influenciar. Na verdade, os dois eram primos, de acordom Lucas. Vivendo em uma região muito afastada das grandidades, João consumia os alimentos mais simples, inclusive m

lvestre e gafanhotos. Ele acreditava em uma antiga profeciegundo a qual Deus enviaria um novo rei Davi para libertaralestina do domínio estrangeiro. Uma busca cuidadosa n

Antigo Testamento, no qual se encontram referências esparsasrandes expectativas, pode revelar previsões de event

milares.O Jordão era o único curso de água da Palestina que merecia s

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hamado de rio. Ele atravessava um lago interior, o Mar dGalileia, e seguia, um pouco mais estreito, percorrendo uorredor de terras secas e rochosas, até alcançar o Mar Mort

Quando chovia ou quando a neve derretia nas montanhas, ordão corria mais depressa, chegando a transbordar do leito.

Admirado nos lugares por onde passava, João Batista seguia utual, para batizar seus seguidores. A terra arrastada da

margens do rio davam à água uma cor meio marrom, mas alhos dos seguidores de João Batista tratava-se de um líquidagrado, em especial nas cheias. O batismo lavava os pecados

proximava o indivíduo de Deus, a quem ele passava a dedicarida.

Assim o próprio Jesus foi batizado, provavelmente por imersotal no rio, enquanto João proferia bênçãos sagradaestemunhas garantiram que se tratou de um evento milagros

No momento do batismo, uma pomba pareceu descer do céu, dnde soou uma voz que dizia: "Este é meu filho amado, euem me comprazo." Aquele foi um marco na vida de Jesustava declarado que ele, e não seu primo João, era o filhmado de Deus.

Não se conhece o local exato do batismo de Jesus, mas pisódio em si seria lembrado por muito tempo. Em poucéculos, com o avanço do cristianismo, o Jordão se tornou

mais famoso dos rios, na mente dos europeus. Não se percebio largo e majestoso Reno, a atmosfera de misticismo quercava aquele rio estreito, correndo paralelamente ao mar.

ome do rio Jordão se tornaria, para os povos das Américamais inspirador do que o Mississípi ou o Amazonas.

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UM JOVEM MESTRE E SUAS PARÁBOLAS

esus passou a ensinar e pregar, ao ar livre ou em sinagogas. E

m sábado, logo no começo do exercício de sua nova missãoi à cidade de Cafarnaum, que ficava à beira de um lago. "caram atônitos diante de seus ensinamentos, pois ele ansmitia com autoridade, e não como quem repete conceitos

Ali estava um jovem inexperiente fazendo os profissiona

arecerem amadores.Os registros das palestras de Jesus revelam claramente a históra vida rural na Palestina, onde pelo menos metade dopulação trabalhadora era composta por agricultores, donos omares e vinhedos, pastores de rebanhos, cavadores de poçosarregadores de água. Tarefas e utensílios ligados à lavoura sã

mencionados por Jesus com mais freqüência do que ferramenta carpintaria e da construção. Ele repetidamente retira da vidural mensagens morais ou religiosas. Menciona um agriculturpreso porque sua figueira não produzia, e outro que semeavs grãos à mão, mas logo descobriu que muitos eram comid

elos pássaros, antes de germinar, enquanto outros caíam eolo rochoso, onde morriam por falta de terra e água. Pescadordos lagos, e não do mar alto - também aparecem em su

istórias e parábolas.

Ao passar pelos povoados, Jesus notou como eram fracas

olheitas. "O reino dos céus é como uma semente de mostardanunciou ao público. Ele se referia ao pagamento do dízimo

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ma taxa - em forma de "hortelã, erva-doce e cominho". Aementes de cominho, uma erva com flores em branco e cor-dosa, serviam para aromatizar o pão recém-assado ou comngrediente de fórmulas medicinais.

esus conhecia muito bem o campo, as plantações, os vinhedos

criação de animais. Suas palestras descreviam a galinhrotegendo os pintinhos e o galo cantando. Próximo ao fim dida, ele fez uma triste profecia: que "esta noite, antes que o gaante", seu discípulo Pedro não lhe seria leal, no exato momenm que precisaria desesperadamente de lealdade. Jesus falava

stradas, caminhos e recantos próximos; de pastores e ovelhas;e vendedores ambulantes que caçavam e vendiam, por umuantia ínfima, pardais para serem cozidos em sacrifício. Eem dúvida estava a par dos preços e de quanto se pagava psta ou aquela tarefa.

O mês da colheita, quando o trigo tinha de ser cortado comoice no tempo certo, era crucial para a vida da comunidade. "afra é realmente abundante, mas os trabalhadores são poucosesus disse. Determinado a mudar o pensamento das pessontes que fosse tarde demais, ele precisava urgentemente uda de todos para aumentar a produção.

As palavras de Jesus surpreendiam ou encantavam. Ele parecmaro mundo e o dia a dia da vida, mas ao mesmo tempecidia-se aos poucos a subverter aquele mundo. Era uma sólidadição judaica honrar pai e mãe, em especial quando da moreles. Mas lá estava Jesus dizendo a um seguidor que não

reocupasse em comparecer ao enterro do pai: "Deixe que mortos enterrem seus mortos." Aquela foi um

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econiendaçãopoética, mas provocativa, e o desrespeito pelmortos não passou despercebido, nos círculos judaicos maadicais.

le não respeitava o  Sabbath  da maneira rígida recomendaelos religiosos de mais autoridade. Conforme argumentou:

abbath  foi feito para as pessoas, e não as pessoas para abbath."  Procurado por um homem que, havia 38 anos, nonseguia andar, Jesus não esperou pelo dia seguinte e curoumediatamente, no Sabbath.

Ao pregar em sua região natal, acompanhado de seus do

iscípulos, Jesus proferiu um sermão hoje famoso. Chamado, em dos evangelhos, de Sermão da Montanha e, em outro, dermão da Planície, transmite uma mensagem coerente com

maior parte dos outros ensinamentos de Jesus. Existe nele umutoridade já percebida nas primeiras palavras:

Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é

reino dos céus.

Bem-aventurados os que choram, porque eles serã

consolados.

Bem-aventurados os humildes, porque eles herdarão terra.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiç

 porque eles serão saciados.

Bem-aventurados os misericordiosos, porque el

receberão misericórdia.

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em-aventura os os puros e coraç o, porque e es vera Deus.

oi provavelmente na mesma ocasião que Jesus ensinou aeguidores o que ficou conhecido como "a oração do P

Nosso".

 Pai nosso que estais no céu, Santificado seja o vos

nome.

Venha a nós o vosso reino,Seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no céu.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje.

 Perdoai as nossas dívidas,

 Assim como perdoamos os nossos devedores.

 Não nos deixeis cair em tentação,

 Mas livrai-nos do mal.

A oração do Pai Nosso menciona o reino, um dos conceito

rincipais de Jesus - um reino governado pelo amor e pemisericórdia de Deus. A idéia já existia no coração de muiente, tanto na Palestina como em outros lugares, mepresentava também um tempo que estava por vir.

A pequena oração refere-se duas vezes a "céu", uma palav

ambém empregada para nomear o vasto firmamento, onde êem o Sol, a Lua e as estrelas. Mas céu, ara os rimeir

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ristãos, viria a representar mais do que a abóbada celestisível nas noites claras. Céu era uma série de sete regiões oamadas, dispostas uma sobre a outra, de modo que apenas umcava visível por quem olhava de baixo. Dizia-se que, namada mais distante, Deus reinava ao lado dos anjos.

Não se sabe ao certo quantas vezes Jesus mencionou o céodas as versões conhecidas de seus discursos, sermões arábolas foram registradas por escrito somente depois de su

morte, na maior parte por pessoas que não estavam presentes aventos. Suas palavras foram transmitidas principalmente pe

adição oral.

ASSIM VOS DIGO"

Até então, o judaísmo era, sobretudo, uma religião para o povudeu, embora referências ocasionais, encontradas nos Salmoe estendessem a todos os seres humanos. O Livro de Jonascrito em uma época de forte união entre os judeus, deixa claue Deus poderia salvar também os que não fossem judeus - hamados gentios. Jesus deu sinais de concordar com es

bordagem mais ampla. No Antigo Testamento, o Livro doevíticos determina: "Ama o teu próximo como a ti mesmo." Eí uma prescrição radical, provavelmente baseada na suposiçe que os próximos eram, em maioria, judeus. Jesus, por suez, tendia a considerar todas as pessoas como "próximos".

esus transmitia uma mensagem de amor. Todo mundo merecer amado: jovem e velho, mulher e homem, de todas as etnia

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Romanos e judeus. Ele mesmo amou o doente, o deficiente eaudável, o criminoso e o justo. Até os coletores de impostue sustentavam o Império Romano tinham direito a recebmor. "Assim vos digo: amai os vossos inimigos, abençoai ue vos maldizem, fazei o bem a quem vos odeia." Esse era

modo como Jesus expressava sua benevolência nimaginavelmente ampla, na visão da maioria das pessoas.

le repreendia os que buscavam vingança. Desprezava os qulimentavam maus sentimentos ou rancores tipicamenumanos. Falou do filho pródigo, que partiu para "aproveitar

ida na cidade" até o dinheiro acabar. Quando o filho voltooda a família se alegrou, menos o irmão, que dia após dia tinhabalhado arduamente a terra. Ressentido pelo favoritismerguntava-se por que tantos abraços e beijos no filho pródigomo muitos de nós provavelmente sentiríamos o mesmo qu

entiu o filho dedicado, ficamos um tanto surpresos pelo fato

esus não se solidarizar com ambos os irmãos. Mas sompaixão sempre se voltava, em primeiro lugar, para erdidos, em especial para os que se perdiam e buscavam edenção.

esus desconfiava dos motivos que levavam algumas pessoas

evelarem as boas ações que praticavam. Era melhor agir coiscrição, na hora de dar dinheiro para a sinagoga ou para obres. Deus ficava mais satisfeito quando uma viúva poboava uma quantia modesta do que quando um rico senhor erras fazia a doação de uma quantia significativa.

esus considerava a riqueza pessoal um fardo e um perigo. "Aaquele que é rico!", ele avisava. As riquezas materia

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epresentavam uma ameaça moral, sinal de egoísmo e fonte rgulho. Jesus, bem como os velhos profetas judeus, que eanto reverenciava, respeitava a humildade e desprezava o ódile rejeitava, em especial, a hipocrisia. Sua mensagem aseava predominantemente na compaixão e no amor de Deus

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CAPÍTULO 2

A MORTE E ARESSURREIÇÃO DE

JESUS

esus logo atraiu milhares de simpatizantes. Muitos delenicialmente apenas curiosos, tornaram-se seguidores fervoroso

m sua maioria, pertenciam às camadas mais humildes ociedade: pobres; doentes; os que viviam nas cidades emoradias precárias; agricultores que não produziam o suficienara se sustentar; trabalhadores contratados para fazer a colheitransportar os feixes até o local de debulha; e pessoas qu

arregavam mercadorias nas costas ou caminhavam ao lado

eus animais com cargas pesadíssimas. Jesus falav

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  ,u irregular, não eram aceitos por sacerdotes e rabinos de alosição.

As mulheres também se sentiam atraídas por Jesus e por sensinamentos. Não houve outra década, nos primeiros mil an

o cristianismo, em que as mulheres exercessem tanta influêncuanto durante o breve ministério de Jesus. Ele conversoongamente com uma samaritana que lhe ofereceu água tirada doço. Embora samaritanos e judeus não fossem habitualmenmigos, Jesus dirigiu a ela uma das mensagens mais conhecida Bíblia: "Deus é espírito. Aqueles que o adoram devem ador

o em espírito e em verdade."Outras mulheres aparecem em episódios significativos da vie ensinamentos de Jesus. Maria de Betânia passou nos cabelele um óleo precioso, e Maria Madalena, curada por ele dsete demônios", manteve-se lealmente a seu lado, na hora

morte. Ao curar os doentes, ele muitas vezes atendeu mulherentre elas a mãe do discípulo Pedro. Defendia com vigor

mulheres de má reputação e, certa vez, interferiu para salvarida de uma adúltera condenada à morte por apedrejamentAquele que não tiver pecado atire a primeira pedra", eesafiou. Como a posição das mulheres na Palestina não era

muito prestígio, a benevolência de Jesus em relação a elas neempre recebia aprovação das pessoas mais fortemente apegadtradição.

DENTRO DO NOVO TEMPLO

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O templo erguido por Herodes, o Grande, era a maravilha poca, embora permanecesse inacabado. Maior do que elebrado templo de Salomão, foi construído no mesmo local. almud, a antologia da história dos judeus, refere-se codmiração ao tamanho da edificação em forma de quadrad

om 250 metros de lado, ocupava uma área equivalente à de ustádio olímpico. "Quem não conhece o templo de Herodunca viu uma bela estrutura." Os jardins, prédios e pátiornavam o conjunto ainda mais impressionante. A construçãoi interrompida no ano 4 a.C., quando Herodes morreu, já qu

inguém se dispôs a pagar pelo trabalho dos 10 mil homenvolvidos na tarefa.

No centro do templo ficava o Santo dos Santos, aonde hegava através de um santuário. Próximo, no Pátio dacerdotes, havia celas suficientes para abrigar 38 deles. Out

ocal notável era o Pátio das Mulheres, onde elas, de umaleria, podiam observar as cerimônias, embora sem delas tomarte.

Vinha de muito longe a tradição judaica de sacrificar pássarosutros animais em honra a Deus. Como era grande a quantidade sacrifícios, o templo continha um matadouro, perto dltares.

Os judeus que habitavam portos distantes do Mar Mediterrânelocais ainda mais afastados, todo ano contribuía

nanceiramente para o templo de Jerusalém. Assim, milhares deregrinos cruzavam mar e terra para visitá-lo. A economia d

erusalém cresceu muito, graças à fama do templo e à devoçãoostal ia dos udeus ue viviam lon e. Mas nem todo mund

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 enerava o templo, com suas procissões deslumbrantes, suerimônias religiosas e o som dos instrumentos musicais.

Alguns afirmam que Jesus visitou Jerusalém apenas uma venquanto outros sustentam que foram três visitas. Pouco antes

morrer, ele com certeza esteve lá, quando ignorou os altoacerdotes, que considerava cheios de empáfia, com seus mantmponentes. Jesus rejeitava os ricos que faziam questão epositar donativos na arca do templo, diante de todos, em umtitude de ostentação. Preferia a viúva que tinha doado du

moedinhas de cobre. Aos discípulos ele explicou: "Em su

obreza, ela ofereceu tudo que tinha, enquanto o outro entregopenas uma fração ínfima de sua riqueza."

esus reprovava os que negociavam no templo. Na verdadorém, aquelas pessoas nada faziam de novo; apenas trocavainheiro para os judeus recém- chegado s de outras terras, qu

esejavam fazer uma oferta, ou atendiam à necessidade dos qurecisavam comprar um animal que seria oferecido em sacrifíciMas Jesus derrubou as mesas dos cambistas e virou de pernara cima as cadeiras dos vendedores de aves. A atitude foi dels discípulos, se estavam presentes, não participaram.

As autoridades do templo ficaram atônitas ao verem reprimima prática comum havia décadas, embora talvez nunca antão ostensiva. Concluíram, então, estar diante de um criador roblemas. A intenção de Jesus foi chocar, mesmo. Para ele, emplo representava um local de adoração, e não era isso que vli como atividade principal.

Os líderes judeus devem ter tido também notícias da dramáti

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  , ,ara todo o seu povo, seria destruído. Outra previsão, ainda maerturbadora, se seguiria àquela: de que o mundo, tal qual eonhecido, chegaria ao fim. Marcos assim disse: "O Sscurecerá, e a Lua deixará de brilhar. E todos verão o Filho d

Homem chegar entre nuvens, com grande poder e glória." Tarevisões exerceriam forte influência sobre os primeiros cristão

QUEM É ESTE HOMEM?

Os altos sacerdotes do templo questionaram as referências ntenções daquele pregador itinerante que fazia previsões esastres. Na verdade, embora houvesse um caráter evolução social na mensagem de Jesus, seu chamado não tinhomo objetivo a derrubada dos líderes romanos ou judeus. A

utoridades, porém, ficaram muito perturbadas com a notícia ue ele havia ressuscitado um amigo de nome Lázaro.

O episódio foi relatado ao Sumo Sacerdote que, perplexo reocupado, resolveu agir. Ele temia que se espalhasncontrolavelmente a fama de Jesus como portador de poderobrenaturais, tornando-o popular e poderoso demais.

Mais ou menos nessa época, Jesus jantava na casa onhecidos, na cidade de Betânia, quando uma mulher teve uesto próprio de um discípulo afetuoso. Ela quebrou um jarro labastro, onde se guardava um óleo caríssimo, pegou o fluiderfumado e aplicou na cabeça de Jesus. É possível que se tenh

oelhado, para limpar com os próprios cabelos os pés dele, n

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  .erfume. Essa não foi a única ocasião em que Jesus recebeuomenagem de uma admiradora.

Algumas mulheres que se sentavam à mesa reconheceram nesto uma referência à unção dos reis de Israel e aplaudiram e

lêncio.Outras se indignaram. Referindo-se ao preço do jarrxclamaram: "Por que o desperdício?" Emocionado, Jesefendeu a primeira: "Ela praticou uma bela ação." E quandlguém sugeriu que o dinheiro deveria ter sido destinado aobres, respondeu com uma previsão que seria citada péculos: "Os pobres sempre estarão aí, mas eu não ficarei paempre."

NA ÚLTIMA CEIA

abendo que em breve seria preso, Jesus reuniu os discípulara uma última refeição. Não se sabe com certeza se a reuniconteceu na noite anterior a sua execução, ou se um ou doias antes, mas o grupo provavelmente celebrava a Pásc

udaica.A última ceia foi comovente. Jesus e seus discípulos comodaram em uma sala do andar superior da casa. Enquanomiam e bebiam, Jesus conversava, ensinava e fazia perguntara um líder transmitindo sua derradeira mensagem. Jud

scariotes, o traidor, estava entre eles. Para surpresa discípulos, Jesus anunciou: "Em verdade vos digo, um de v

"

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  .Os discípulos ficaram apreensivos. Tinham percebido como eerigoso ser um dos seguidores de Jesus e, conscientes drópria fraqueza sob pressão, talvez temessem ser forçados enegá-lo publicamente. Além disso, acreditavam que Jesu

muito mais poderoso do que eles, pudesse enxergar o que lhassava na mente. Então, ao ouvir falar em traição, perguntaransiosamente, um após o outro: "Senhor, sou eu?"

Acontece que o discípulo Judas Iscariotes já se tornara uaidor, em troca de uma bela soma em dinheiro, prometida pel

utoridades. Na sua vez de falar, fingiu inocência e perguntoMestre, sou eu?" Jesus sabia a resposta.

esus aliviou a tensão ao redor da mesa. Pegou o pão, benzeuartiu em pedaços, entregando um a cada discípulo. Elsperaram que Jesus falasse. As palavras foram simples: "Tomaomei. Isto é meu corpo." Assim que todos comeram, Jesuegou um cálice de vinho, benzeu e passou aos discípuloizendo: "Bebei todos. Pois este é o sangue da eterna aliança."

A cerimônia carregada de emoção foi seguida de mais umrofecia do mestre: "Digo-vos que, a partir de agora, não maeberei deste fruto da videira, até o dia em que convosco o beb

e novo, no reino do meu pai." Os discípulos concluíram quesus falava de sua partida iminente para um lugar superior, eino a que de vez em quando se referia.

Na Última Ceia, conforme foi pintado por grandes artisturopeus, pode-se reconhecer Judas Iscariotes. Não existe u

alo sobre sua cabeça, e os cabelos são ruivos. Para a civilizaçcidental trata-se de uma das mais simbólicas refei ões.

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erminada a ceia, depois do canto de alguns salmos, Jesus frar no jardim. E lá estava, quando Judas revelou sua presens autoridades judias, e os soldados do templo o prenderam. E

uas pregações, ele jamais havia afirmado abertamente ser rofeta enviado para libertar os judeus do jugo romano. Naquemomento, porém, interrogado por altos oficiais, foi direteixando claro que a mão de Deus estava sobre sua cabeç

Quando o Sumo Sacerdote perguntou se ele era o Cristespondeu simplesmente "Sim". Claro que a palavra Cris

gnificava "o ungido" - o Messias que transformaria IsraeVós ouvistes esta blasfêmia!", o Sumo Sacerdote anuncioiunfante.

Nas tristes palavras de Marcos, "todos os discípulos fugiramesapareceram." Mesmo Pedro, que havia jurado seguir o mest

té a prisão ou a morte, não mais foi visto por ele. Interrogadficialmente, Pedro afirmou - não uma vez apenas, mas trêsue nada tinha a ver com Jesus. Nem durante o brevulgamento que se seguiu, o grupo de discípulos foi visto.

esus foi um líder político e religioso. Algu ns consideram qu

le defendia os pobres contra os ricos, a Galileia rural, contralite de Jerusalém e o povo judeu, contra os invasores romanoO que se percebe claramente é que tanto as autoridades judiuanto as romanas o viam como um perigo para seu prestígio oua autoridade, e uma possível ameaça à governabilidade nespectivas esferas. Pôncio Pilatos, o governador romano quondenou Jesus à morte por crucificação, sabia que a Palesti

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  .epois, uma séria revolta realmente ocorreu.

esus tinha certeza da própria inocência, mas parecia convencide que estava predestinado a morrer, de que seu nascimento ua morte faziam parte de um plano divino. Os discípul

scolhidos vitoriosamente espalhariam seu credo, e ele assumireu lugar com Deus. Durante a provação a que começou a submetido logo depois da Última Ceia, Jesus se manteve caladela maior parte do tempo. Segundo Marcos, naquele momen

mestre e pregador, o homem que falava em públicncansavelmente, quase nada tinha a dizer.

A morte por crucificação era um castigo aplicado a estrangeironão a cidadãos do Império Romano. Tratava-se de uma mor

enta, horrível e humilhante, imposta quando a intenção eansmitir uma advertência cabal. Depois de uma revolta no sa Itália, cerca de seis mil escravos foram crucificados ao long

as estradas.Assim, diante do povo, em uma sexta-feira de manhã, Jesus fregado pelas mãos e pelos pés. Dois culpados por crim

menores foram também pregados a cruzes, um de cada ladele. Na cruz em que estava Jesus, via-se uma inscrição irônic

m hebraico, latim e grego: "Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus"Marcos e Mateus registram as mesmas palavras como tendo sidronunciadas por Jesus, quando agonizante: "Meu Deus, m

Deus, por que me abandonaste?" Essas palavras, em aramaicngua nativa de Jesus, intrigaram muitos leitores d

vangelhos. Mas o soldado romano que estava perto da cruz,uviu o lamento de Jesus indiretamente esclareceu a situação, a

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omentar: ea mente, este omem o e eus. m outvangelho, o soldado não parece tão enfático, afirmando apenue Jesus era inocente.

O evangelho de João também faz um relato emocionadaquelas últimas horas. Jesus, ainda consciente, olhou pa

aixo e viu, ao lado da cruz, sua mãe acompanhada de uiscípulo cujo nome não é mencionado, "um discípulo que emava". À mãe, Jesus disse: "Mulher, eis aí o teu filho!" E aiscípulo: "Eis aí tua mãe!" O relato termina com as palavras dróprio João: "A partir daquele momento, o discípulo a levoara a casa dele." Estava em formação uma nova comunidaristã.

esus, então perto da morte, disse finalmente: "Acabou." Outvangelho, embora citando praticamente os mesmos detalheelata uma última frase mais positiva: "Pai, em tuas mãos entreg

meu espírito."

esus morreu naquela tarde. Antes do anoitecer, teve o corpnvolto em tecido de linho perfumado e levado ao túmulo - umspécie de caverna cuja entrada foi bloqueada por uma pesaedra. O ano de sua morte foi, provavelmente, 30 d.C., embostudiosos de renome apontem outras datas. No entanto, es

iscordância ficou em segundo plano, ofuscada por algo quconteceu dois dias depois.

ELE NÃO ESTÁ AQUI"

No domingo seguinte à morte de Jesus, Maria Madalen

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esolveu prestar-lhe uma homenagem. Pretendendo untar-lhe orpo com um óleo precioso, dirigiu-se a um homem que pensoer o jardineiro. No entanto, para sua enorme surpresa, ele hamou pelo nome, e a voz era a de Jesus. Segundo vangelhos de Marcos e Lucas, outras mulheres - identificadas

stavam presentes àquele evento extraordinário. Os relatiferem, mas concordam em essência.

Havia sinais de que a pedra tinha sido afastada da entrada averna, e o túmulo estava vazio, a não ser pela presença dapaz - ou anjo - bem informado. Às mulheres que buscavam

orpo de Jesus, ele disse: "Não tenhais medo. Procurais Jesus Nazaré, que foi crucificado. Ele ressuscitou. Não está aqui." Ema reação instintiva, as mulheres fugiram, trêmulas ssustadas.

Naquela tarde, dois discípulos de Jesus iam de Jerusalém ovoado rural de Emaús. O fato de se afastarem da cidade - denário do martírio - era um indício de que o movimento, antnspirador, perdia a força. No caminho, receberam a companhe outro viajante. Sem reconhecer que o recém-chegado eesus, continuaram a conversar. À noite, já no povoado, os troram jantar juntos. Durante a refeição, o estranho começou

arecer familiar aos outros dois. Ele repetia os gestos da últimefeição que tinham memoravelmente compartilhado algumoites antes. De acordo com o evangelho de Lucas, ele tomouão, benzeu, partiu e deu aos outros dois. Presume-se qenhuma palavra tenha sido dita. Ele foi reconhecido. E, epente, desapareceu. Abalados, mas exultantes com o qucabavam de ver, os discípulos correram de volta pa

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.otícias.

stavam descrevendo o milagroso encontro, quando Jeseapareceu entre eles. Ciente da confusão e da dúvida quausava, mostrou as mãos e os pés, nos quais se viam feridas

uros causados pelos pregos. "Tendes o que comer?" erguntou. Os discípulos ofereceram peixe grelhado, que eomeu imediatamente. Em meio à escuridão, o grupo partiu paBetânia. No caminho, Jesus incentivou os outros a pregar

mensagem de perdão "em seu nome a todas as nações". Entãrguendo as mãos e abençoando os discípulos, desapareceu.

egundo Mateus, Jesus ressuscitado surpreendeu também iscípulos - menos Judas, que não estava entre eles - em um

montanha da Galileia, quando disse que deveriam assumir derança do movimento. A tarefa era ampla: "Fazei discípulom todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e d

spírito Santo, ensinando-os a seguir tudo que vos ensineiesus encerrou a fala com palavras de conforto: "E, vede, estarempre convosco, até o fim dos tempos."

As aparições de Jesus não haviam terminado. Afirma-se que fisto por muitas pessoas que o conheciam de vista ou tinha

uvido falar dele. Para elas - exceto as céticas - ele passou a sMessias tão aguardado, o salvador do povo judeu. Chegaria

empo em que o rei dos judeus seria aclamado como o rei dodos.

Decorrida uma semana da crucificação, o número dos qu

ealmente acreditavam no Cristo ressuscitado talvez não passase poucas centenas. A sobrevivência do pequeno grupo, sem

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resença o er, parecia improv ve . Mas e es estavaispostos a morrer por sua crença. Nos cinqüenta anos seguintes centenas se multiplicaram, chegando a milhares. Que ornaram milhões, um bilhão e mais. Nos registros da história d

mundo, não existe nada parecido.

O cristianismo dos primeiros tempos possuía três crençrincipais, compartilhadas pela maioria dos seguidores. rimeira era a crença de que Deus existe e reina, e enviou selho, Jesus Cristo, ao mundo, para salvar quem merecesse otraísse sua misericórdia. Pela segunda crença, Jesus Crist

epois da morte, voltou à vida e apareceu brevemente na Terrntes de subir ao céu, para reinar permanentemente ao lado Deus. Conforme a terceira, uma crença vital, embora não tonhecida do povo em geral, Deus e Jesus juntos, sob a formo Espírito Santo, podem habitar o coração e a mente dristãos. E quando o Espírito Santo desce sobre um cristã

erdadeiro, ele se sente tomado pela proximidade de Deus e peresença do próprio Jesus.

Desde os primeiros tempos o cristianismo enfrentou críticos quuestionavam a ressurreição. Por ter se tornado multifacetada,eligião acabou por gerar ceticismo até entre os própri

eguidores. Adiante, ouviremos suas vozes.

M CASA NA SINAGOGA

Na época em que Jesus era um jovem carpinteiro, as maioridades do Império Romano eram Roma e Alexandria. Algun

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exan r a, on e av a mu as, o que em cer as re es alestina. Centro social e religioso de vital importância, inagoga era casa de adoração, lugar para assembléias e reuniõociais, escola para crianças e adultos, e uma espécie de tribuna

ouco antes do nascimento de Cristo, a frequência a muit

nagogas não se restringia a pessoas de ascendência judaicram bem-vindos os visitantes atraídos pelo código moral e petmosfera edificante. As estrangeiras se sentiam especialmentraídas, e algumas se tornaram doadoras generosas. Os recémhegados, conhecidos como "tementes a Deus", nãostumavam ser tratados como iguais, já que não pertenciamualquer das tribos de Israel.

omo os primeiros cristãos eram judeus, compareciam nagogas e aproveitavam a oportunidade para disieminar sarticular. Por terem tanto em comum, as duas religiõonviviam bem na mesma casa.

untas, as pessoas ouviam a leitura do Antigo Testamentntoavam salmos, rezavam orações formais, e seguiam os rituao calendário da religião judaica. De vez em quando, recebiavisita de um dos discípulos de Cristo - então chamados

póstolos - que falavam sobre os ensinamentos dele.

Mesmo quando uma congregação cristã se afastou da sinagogassando a organizar as próprias reuniões, manteve a atmosfeas tradições judaicas.

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aulo nasceu em Tarso, uma cidade localizada onde fica hojeul da Turquia. Até o norte do Mar da Galileia, eram 30uilômetros. Tal como em muitas cidades da Ásia Menor, earso havia uma próspera comunidade de judeus. Em uma ra

ombinação, Paulo era judeu e cidadão romano. Não se sabe eue época ele tomou conhecimento da existência de Jesus, mabe-se que teve dele uma opinião desfavorável quando foierusalém para ser instruído por um conceituado, rabino.

aulo se tornou um ferrenho oponente dos cristãos, que ainutavam para seguir em frente, depois da crucificação do lídele estava determinado a destruir a influência do grupo. Quandma multidão em Jerusalém apedrejou até a morte Estevão, uiscípulo de Cristo, Paulo estava lá, incitando os apedrejadoreaulo também fazia parte de um pequeno grupo que prendeu

evou a julgamento cristãos que haviam desrespeitado a l

udaica. Um dia, porém, quando viajava com seus servos rumoinagoga de Damasco, para procurar pessoas suspeitas, Pauiveu uma experiência extraordinária. O sol, que ia altscureceu de repente. "Desceu do céu sobre a estrada uma l

mais brilhante do que o sol, que envolveu a mim e aos que mcompanhavam." Alarmados, todos se jogaram ao chão.

Ouviu-se, então, uma voz que perguntava em hebraico: "Por qume persegues?" Paulo, muito assustado, fez outra perguntQuem és tu?" A voz respondeu: "Sou Jesus de Nazaré, que ersegues." Paulo ficou profundamente perturbado. Diz-se quor três dias não conseguiu comer, beber nem enxergar; tinh

cado temporariamente cego por causa da intensidade da lu

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 eria um seguidor de Cristo.

Mais tarde surgiram dúvidas acerca da cegueira causada peuz. Estudiosos da Bíblia questionam a presença de Paulo strada de Damasco na época, e a presença de outras pesso

urante a experiência. O fato é que, das pessoas que conheciaaulo, nenhuma deixou de notar sua mudança de espírito e dersonalidade. Esses momentos em que ocorre a forte sensaçe um despertar são bem conhecidos de grandes inventorenovadores, religiosos e indivíduos brilhantes, de grannteligência e criatividade. Em uma fração de segundo, tud

muda.aulo se tornou um discípulo tão fervoroso e dedicado quanos tempos em que perseguia cristãos. Batizado, começomediatamente a cumprir o que considerava suas obrigações ristão. Passou três anos na Arábia, onde viviam grupos d

udeus e de judeus cristãos, que provavelmente trabalhavam eortos ou centros de comércio. De sua estada lá, nada resultou,ão ser talvez, para ele, auto-conhecimento e mais determinaçã

Depois de muito hesitar, Paulo foi encontrar Pedro, Tiago utros apóstolos, que viviam em Jerusalém. Eles logo

ornaram aliados. Os convertidos não eram uma novidade, maulo se mostrava muito combativo. Nas sinagogas mareqüentadas e no templo de Jerusalém, as notícias acerca d

mudança de comportamento de Paulo devem ter causadspanto. E ele sabia que os judeus mais severos, em sua maioriamais o perdoariam.

omo discípulo de Cristo, Paulo ainda se sentia ligado ao pov"

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  -ebreus". Sendo judeu, provavelmente inclinava-se a pensar quomanos, gregos e outros convertidos ao cristianismo deveriarimeiro adotar o modo de vida dos judeus. Assim, evitariaomer carne de porco, mariscos e outros alimentos proibidela lei judaica, e deixariam de trabalhar aos sábados - abbath. O verdadeiro homem cristão deveria ainda submeter-uma importante cerimônia e a uma pequena cirurgia chamad

ircuncisão.

As discussões sobre essas questões vitais provavelmenconteceram na cidade de Antióquia, não muito distante darso, cidade natal de Paulo, e fizeram-no mudar de idéia. Eassou a acreditar que o cristianismo não deveria permanecomo um ramo do judaísmo, mas ser visto como uma religiãara todos, judeus ou não. Foi em Antióquia que se empregoela primeira vez o termo "cristão". E foi Paulo quem apontou

everência contida no nome "Cristo" ou na expressão ngido".

Na congregação de Antióquia, determinou-se que judeus e nãudeus deviam ser livres para decidir as próprias regras acerca ieta, circuncisão e casamento e que qualquer um seria bem

indo, caso quisesse converter-se ao cristianismo. De maneionvincente, Paulo estabeleceu um credo para a igreja que davs primeiros passos: "Não existe judeu nem grego, escravo nevre, homem nem mulher, pois todos somos um em Jesristo."

O iniciante movimento cristão começou a utilizar os talentos aulo. Ele sabia organizar, e assumia o trabalho quando nã

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 om as palavras; estava disposto a viajar, pagando as despesaara locais distantes aonde a mensagem cristã tivesse chegadoudesse espalhar-se; e sua história, como ex-anti-cristedicado, fazia dele uma atração, ao falar em público.

Os indícios sugerem que Paulo não era casado na época, o quacilitava seu deslocamento entre as cidades. Podia tambéxercer a profissão de construtor de tendas - um ofício qmpregava dezenas de milhares de operários - enquanto atuavomo ativista cristão.

As cartas (ou epístolas) de Paulo são os primeiros documentonhecidos, redigidos por um cristão. Ele vivia no porto grege Corinto - então uma das maiores cidades da Europa - quandompôs a primeira epístola, dirigida aos cristãos que viviam idade grega de Tessalônica. Ele já havia pregado lá e escreveo povo, por volta do ano 51, expressando sua fé na volta

esus Cristo à Terra.m que ano Jesus Cristo voltaria? Paulo acreditava que verso acontecer, ou que aconteceria, no máximo, pouco depois d

ua morte. Ele se impacientava, porém, com os cristãos dessalônica que, pensando ser iminente o retorno de Jesu

egligenciavam as tarefas e os deveres do dia a dia. Paulo lhisse que fossem fortes, pois haveria sofrimento antes da alegri

m uma atitude cuidadosa, Paulo deu nova ênfase a certas partos ensinamentos de Cristo. Ele destacou, por exemplo, mais due Cristo, a idéia do pecado original, ou herdado. Segund

aulo, o pecado original fazia parte da natureza humana. Assimle repetia a história fortemente arraigada, depois transmitida

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eraç o a geraç o, e que o pr me ro omem e a pr memulher - Adão e Eva - deram origem ao pecado, aesobedecerem a Deus, no Jardim do Éden. Somente Crisoderia tirar dos seres humanos o peso do pecado e o especta dor e da morte. Como Paulo escreveu, "Onde está, ó morte,

eu aguilhão?"m seu chamado para o amor e a caridade, Paulo estava maróximo de Cristo que do judaísmo. Para ele, a caridade ia muilém das boas ações, estendendo-se ao modo de pensar e entir. "Ainda que eu reparta todos os meus bens e entregue

meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, nada mproveita." Sendo humano, porém, não era tolerante com tod

mundo. Desapontava-se ao encontrar fiéis que se fingiaeceptivos ao Espírito Santo, mas na verdade "amam o mundresente".

aulo empreendeu três longas jornadas missionárias, com matenção à Ásia Menor e às regiões em torno do Mar Egeu. Nidades que visitava ou com as quais se correspondia, costumaveixar uma mensagem que, nos séculos seguintes, foi repetida dor: "E a paz de Deus, que ultrapassa toda a compreensãuardará em Jesus Cristo os vossos corações e pensamentos."

O SILÊNCIO DAS MULHERES

O feminismo moderno não teria lugar nas famílias romanas ne

as famílias judaicas da época. No entanto, o próprio Paunsistia, já nos primeiros escritos, que homens e mulheres sã

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 té mesmo, financistas. Lídia, que vivia em Filipos,

Macedônia, trabalhava como vendedora de um materiaríssimo chamado púrpura, e seu dinheiro deve ter sido de vitmportância para a congregação iniciante. Na verdade,

mulheres se tornaram tão influentes que Porfírio, um filósofo neligioso, muito conceituado por volta do ano 300, comentoue elas atrapalhavam o cristianismo. Mas o período de fornfluência feminina chegava ao fim. A hierarquia masculina dispos e sacerdotes assumiria o controle.

LUTEI O BOM COMBATE"

A lealdade de Paulo às novas igrejas cristãs era inabaláveOficiais romanos nas províncias começaram a suspeitar de qu

om isso, ele não prestaria lealdade ao imperador e muito menos deuses romanos. Paulo percebeu o perigo. Ao contrário desus e da maioria dos líderes da nova religião, ele ao mennha as prerrogativas de um cidadão romano, e podia buscarroteção da lei. Ainda assim, foi preso e açoitado. Por volta dno 60, chegou preso a Roma, onde as acusações contra e

assaram por um longo processo.

inalmente condenado à morte, Paulo foi executado perto dmargem do Rio Tibre, durante a breve perseguição movida aristãos pelo imperador Nero. Na véspera da morte, Paulo terazões para usar as próprias palavras: "Lutei o bom combat

erminei a carreira, mantive a fé."

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  - -ue, em toda a história da igreja, Paulo foi a segunda pess

mais importante, atrás apenas do Cristo. A respeito da forma dscrever de Paulo, um crítico literário inglês comentou que atava "do primeiro poeta romântico da História". Com a ajue tradutores fluentes, seus escritos permanecem atuais e

muitas línguas. Uma frase sua em particular, tornou-se umspécie de grito de guerra cristão: "Se Deus é por nós, quem seontra nós?"

A década entre os anos 60 e 70 mostrou-se perigosa para a novgreja e seus líderes. Em 62, Tiago, irmão de Cristo e, na époc

ispo de Jerusalém, foi morto por ordem do Sumo Sacerdoteo concílio oficial, o Sinédrio. Pedro, seu antecessor, tinhugido de Jerusalém, mas acabou preso e condenado à morte e

Roma. Essa cidade viria a crescer em importância, não só puas ativas congregações cristãs, como por lá estarem sepultad

s dois mais famosos mártires: Pedro e Paulo.

OS IDIOMAS DOS CRISTÃOS

risto transmitiu quase todos os seus ensinamentos em umngua semítica chamada aramaico, atualmente usada por poucessoas em raras regiões do Oriente Médio. Ele falava um poue hebraico e um pouco de grego, mas o aramaico lhe vinhaturalmente. A palavra "abba", que significa "pai", usada pesus quando orava no Jardim de Getsêmani, é do aramaic

Durante a crucificação, ele pronunciou várias frases eramaico, mas esse idioma provavelmente pouco foi usado e

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grejas cristãs fundadas nas primeiras décadas depois de smorte.

Na maior parte das primeiras igrejas cristãs da Palestina, regação, os cânticos corações eram feitos em hebraico, já qs judeus representavam a maioria de seus membros. Os juderistãos que se reuniam fora da Palestina rezavam em grego,rincipal língua da metade oriental do Império Romano. Ouatro evangelhos que compõem a essência do Novestamento foram escritos em grego.

Atualmente, palavras gregas ainda são importantes nas igrej

atólicas e na maior parte das protestantes, além, é claro, dgreja ortodoxa. "Cristo" e "Bíblia" são palavras gregas. "Anjem origem grega, com o significado de mensageiro. Depois d

morte de Cristo, os doze discípulos foram honrados com o nomrego de "apóstolos", e mais tarde Paulo e Barnabé - um jude

e Chipre - receberam o mesmo título. "Bispo vem do grego, eue significa "inspetor". "Eucaristia", a principal cerimônia greja cristã, é a palavra grega para "ação de graçasPentecostes" também é do grego, e quer dizer cinqüenta diepois da Páscoa. Ainda hoje, em locais dispersos aonde chegodoutrina cristã, ouve-se a oração "Senhor, tem piedade" e

ua versão grega," Kyrie eleison".

m Roma, a língua falada pelos primeiros cristãos era o gregVítor, um norte-africano morto em 198, foi o primeiro papabandonar o grego e escrever em latim. Perpétua, uma brav

mulher que morreu no norte da África em 203, f

rovavelmente a primeira cristã conhecida a escrever em latimsse acabou sendo o idioma dos cristãos ocidentais.

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ara os primeiros cristãos, a palavra falada - e não a palavscrita - foi de importância vital. Por vinte anos ou mais, depoa morte de Jesus, praticamente todos os ensinamentos deixador ele foram transmitidos boca a boca, freqüentemente pqueles que o haviam escutado, em particular ou em público, e

ossível que um ou outro significado tenha sofrido alteraçõurante o processo. Com o passar do tempo, não havia mainguém que tivesse conhecido Jesus pessoalmente. Quand

morreu o último dos doze discípulos - não se sabe a data nemocal -, a notícia deve ter provocado nos centros cristãos um

ntensa sensação de perda.ornou-se importantíssimo o registro por escrito dnsinamentos de Jesus e da história de sua vida. Felizmenlguns relatos tinham sido anotados, e cópias eram levadas pas encontros de cristãos e lidas em voz alta. Por volta de 15

ustino, um estudioso renomado, descreveu assim os encontroNo domingo, todos que viviam na cidade ou no campo euniam no mesmo lugar, para ouvir as memórias dos apóstolu os escritos dos profetas, que eram lidos por longas horas".

COMPARAÇÃO ENTRE OS LIVROS

O mais antigo registro conhecido feito por um dos primeirristãos é uma carta de poucas linhas, escrita por Paulo: rimeira epístola aos tessalônios. O manuscrito foi encontrad

erca de vinte anos depois da morte de Cristo. Nos cinqüennos seguintes foram elaborados vários evangelhos, grandes

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equenos, contendo detalhes infinitamente mais numerosos due Paulo conseguiu transmitir.

Dos quatro trabalhos mais importantes, o Evangelho Secundão Marcos foi o primeiro a ser escrito. A quantidade dalavras encontradas nele não ultrapassa as que se contam e

m jornal diário. Trata-se de um texto eloqüente, vivo e ágil, quelata os últimos anos de vida de Jesus e começa com umnscrição simples: "Início do evangelho de Jesus Cristo, o filhe Deus". A primeira história trata da sensação causada por Joãatista, quando começou a batizar pessoas aos milhares, e

ltima descreve o momento em que três mulheres descobrem, ancontrar o túmulo vazio, que Jesus ressuscitou. "As trmulheres nada disseram a ninguém, porque sentiam medo

ssas foram as últimas palavras de Marcos; assim ele terminoom um ar de mistério, deixando sem resposta questões vitais.

oa parte da vida de Marcos é desconhecida. Alguns afirmaue ele era uma espécie de secretário de Pedro, de quem tertilizado as anotações, para redigir parte de seu evangelhabe-se com certeza que Marcos era judeu e conhecia rimeiros líderes cristãos. Seu evangelho exerceu forte influêncobre o evangelho de Mateus. Este possuía tantos mérit

terários, tanta clareza e segurança, que se tornou o evangelhmais conhecido, e era o mais lido nas igrejas. Alguns críticoorém, sustentam que Mateus não foi o verdadeiro autor dvangelho.

ucas, que escreve o terceiro evangelho, não foi amigo pesso

e Jesus e, de acordo com alguns historiadores, não era juderovavelmente médico, e com certeza amigo de Paulo, co

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reqüência demonstrava simpatia por suas idéias, por veziferentes das idéias da maioria. Lucas começa sua história coafirmativa de que "assistiu de perto aos acontecimentos" e v

izer a verdade.

O quarto evangelho foi escrito por João. Poucos negariam que

ua visão da vida de Cristo é única, afetuosa e, em alguechos, direta. Tendo surgido depois do ano 90, é um pouc

mais recente do que os outros três evangelhos, e pouco diz sobs parábolas que Jesus ensinou. Em 1924, um inglês estudioa Bíblia causou certa agitação ao afirmar que o evangelho d

oão não foi escrito em grego, como os outros três, mas eramaico, idioma falado por Jesus. Muitos cristãos preferem esvangelho aos demais. O texto termina com a afirmativategórica de que Jesus fez e disse muito mais do que fegistrado. João acreditava que, se tudo fosse traduzido ealavras, "os livros daí resultantes não caberiam no mundo."

Decorridos três séculos da morte de Cristo, ainda não se sabuais evangelhos, memórias, epístolas e histórias podiam sonsiderados os mais verdadeiros. Embora os quatro evangelhe destacassem, outros trabalhos foram acrescentados, um a umas fontes de controvérsias, eliminadas. Roma e Constantinop

ram então os principais centros da igreja cristã. Por volta do an00, afinal, chegou-se a um acordo quanto ao que seria o Novestamento. Mais ou menos na mesma época, São Jerônimplicadamente traduzia para o latim os livros do Antigo e d

Novo Testamento, mas a Bíblia resultante - a Vulgata - só feunida em um único volume no século sexto.

Muito antes da era moderna do ativismo agnóstico, mentes ric

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m inte ig ncia questionavam ou e en iam a precis o e utenticidade dos primeiros manuscritos, para selecionar

melhores. Até o século 20, mais horas de estudo foraedicadas à vida de Jesus do que à Física, à Química e talvezodas as ciências combinadas. Em meio a tanta controvérsia,

maioria dos cristãos chegou a um acordo. Eles acreditam que uomem chamado Jesus viveu e morreu, e que sua vida e sespírito transmitiram uma mensagem fascinante.

CRISTO SOB MUITOS ÂNGULOS

No ano 200, os cristãos tinham locais de reunião em boa paro Império Romano, mas a quantidade de participantes euperada por vários rivais. Os adoradores dos deuses pagãolém de muito mais numerosos, haviam erguido templos

monumentos grandiosos, em Roma e outras cidades. O judaísmmantinha a popularidade, embora tivesse perdido muiteguidores para o cristianismo.

Durante seus dois primeiros séculos de existência, o cristianismnfrentou urnobstáculo: competia com religiões criadas hav

muito tempo. Os romanos tendiam a apreciar o antigAdoravam os deuses antigos. Sua admiração por Homerlatão e Aristóteles devia-se, em parte, ao fato de serem antigo

Os romanos questionavam o seguinte: se o cristianismo continhma verdade vital, por que essa verdade não foi descoberta pelrandes homens do passado? Para vencer esse preconceito,

ristãos enfatizaram sua ligação com a religião judaica, mui

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  .Das religiões que coexistiam no Império Romano por volta 50, o cristianismo era provavelmente a mais criticada. Suitalidade e seu caráter inovador tornavam-na vulnerável. Celou Celsus), um filósofo não religioso de Alexandria, foi o aut

a primeira crítica importante ao cristianismo, por volta de 17Verdadeira Palavra. Ele desqualificava a figura de Cristo, qfirmava ser filho bastardo de um soldado romano, e seiscípulos, que chamava de bando formado por dez barqueirosois coletores de impostos. Celso considerava os líderes cristãntolerantes demais, e temia que qualquer credo alheio

mpério Romano enfraquecesse sua coesão e sua natureeligiosa. Reconhecia méritos, porém, na ênfase que os cristãavam à moralidade.

Nas fileiras do cristianismo ou em torno delas havia numerosissidentes. Desde o ano 70, mais ou menos, os seguidores d

ocetismo sustentavam que Jesus não tinha morrido; noderia, portanto, ressuscitar. Alguns docetistas até onsideravam cristãos em espírito, mas se recusavam a receberanta Comunhão. Como iriam, argumentavam, receber o corpo sangue de Cristo celebrando uma morte que não hav

corrido?

Outro oponente do cristianismo em seus primeiros tempos fManes ou Maniqueu, que elaborou uma sofisticada combinaçe cultos orientais para criar uma religião universal. Conhecidomo o Apóstolo da Luz, Manes nasceu em 216 na Babilôniituada no que é atualmente o sul do Iraque. De lá, viajou para

ndia e, depois, para a Pérsia, onde se estabeleceu. Sua religi

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 ristianismo em seus primeiros duzentos anos. Muitos de seeguidores na Espanha, no norte da África e na Itália eram eristãos.

Os maniqueístas - assim eram chamados os seguidores de Man

guardavam um forte sentido da presença do mal. Elustentavam que o mundo tinha sido criado pelo demônio, e qus servos do verdadeiro Deus, o Reino da Luz, tinham de estlertas para evitar o desastre. Os seguidores de Manes rezavaete vezes por dia, à espera do dia do juízo, quando, segunduas profecias, o mundo seria tomado por chamas que arderia

or 1.468 dias. O medo do fim do mundo se espalhou pmuitos grupos ligados ao cristianismo, e as razões e a ocasião dvento tornaram-se temas de intensos debates.

Orígenes, nascido em Alexandria por volta do ano de 185, fontemporâneo, durante parte da vida, de Manes e

ardesanes - ou Bardaisan. Em seus extensos escritos, eevelou a vasta gama de controvérsias que fervilhavam na igrejquela época, algumas criadas ou alimentadas por ele. Niagens pelo Império Romano, da Arábia a Roma, deixou atre si um rastro de argumentos e contra-argumentos. Eontestou muitos dos principais ensinamentos da igreja à qurgulhosamente pertencia: duvidava de que Cristo fosse tmportante quanto Deus e afirmava que um Deus de amor

misericórdia não permitiria aos fiéis sofrerem no infernOrígenes, como muitos cristãos, insistia em que razão e eligiosa devem caminhar lado a lado. Na verdade, a religi

oje considerada não completamente racional enfatizava spectos racionais em numerosos debates do segundo e d

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erceiro século.

De certo modo, os estudiosos que hoje clamam por um mundmenos religioso repetem os argumentos empregados pelríticos do passado. Alguns vão além, afirmando que Cristo nãxistiu. Estranhamente, os escritores antigos, com rar

xceções, não duvidavam da existência de Jesus. Suiscussões giravam em torno da origem dele - humana, divina oumana e divina ao mesmo tempo.

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CAPÍTULO 4

PÃO, VINHO E ÁGUA

omo os primeiros cristãos se encontravam quase sempre easas de família, as crianças estavam presentes e procuravaarticipar. Freqüentemente batizadas no mesmo momento eue eram batizados os pais, elas se reuniam a eles em cerimônimportantes. E quando a família possuía escravos, eles tambéomavam parte.

Os primeiros cristãos, em sua maioria, acreditavam que egunda vinda do Cristo estava próxima. Quando ele finalmenparecesse entre os fiéis, "em toda a sua glória", não haverecessidade de igrejas. Assim, os líderes não se preocupava

muito em providenciar um local fixo para seus encontros. O

rimeiros líderes de igrejas eram chamados de "bispos", palave origem grega, com o significado de inspetor. O bispo liderav

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s preces, or entava os mem ros em suas as e aç es udava a resolver conflitos. Mais tarde, com a adoção

ormalidade, os bispos passaram a vestir-se de branco, a cor ureza. Em matéria de atribuições e influência, eles foraálidos predecessores dos bispos atuais.

A igreja iniciante não podia cair em mãos impróprias. Quemntão, seria escolhido como bispo? Diz-se que, segundo Paulo,ispo ideal não devia ter se convertido recentemente nem ter asado mais de uma vez. Em questões de conduta, devia ssensato, inteligente, honrado, receptivo e bom professor". Claue, como "mordomo de Deus", devia ser capaz de transmi

mensagens sólidas da doutrina cristã e "ser bem visto por nãristãos". Obviamente não devia beber em público, ser violentaidoso ou agressivo. Tais preceitos sugerem que Paulo, euas viagens, tinha encontrado alguns bispos problemáticos.

resbíteros ou anciãos assistiam o bispo e lhe conferia

utoridade. Em 251, a igreja tinha em Roma 46 presbíteros. úmero sugere que eles se espalhavam por várias congregaçõa cidade. Os diáconos atuavam também como oficiais. Quandndicados para servir na congregação de fiéis e ajudar dministrá-la, sete diáconos foram descritos assim: "homens co

eputação de honestidade, cheios de sabedoria e do Espírianto." Os oficiais do início do cristianismo não se parecem cos bispos, diáconos, sacerdotes e presbíteros de hoje; sutribuições e esfera de atuação mudaram muito.

DOMINGO, PÁSCOA E NATAL

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á que Cristo ressuscitou em um domingo, faz sentido que esia fosse adotado pelos cristãos como um dia sagrado. Nntanto, como o domingo era dia útil no Império Romano, ristãos - a não ser os autônomos - tinham de deixar para rez

ntes ou depois do horário de trabalho. O mais provável é que erviços religiosos acontecessem quase sempre nos domingosoite.

O serviço religioso incluía uma refeição. A maioria dos cristãoizia reunir-se para "dividir o pão", e em algumas congregaçõriou-se o costume de servir uma refeição especialmente para obres. Os fiéis gostavam de encontrar comida e bebida, já qhegavam famintos, depois de um dia de trabalho árdueralmente braçal. Com o passar dos anos, porém, a refeiçvoluiu de um meio de saciar a fome para algo simbólicestrito a pão e vinho ou água, quando precedido de jejum.

ntenção era evocar a última ceia, quando Jesus declarou queão era seu corpo, e o vinho, o seu sangue, determinando que iscípulos comessem e bebessem em memória dele. Conheciomo Santa Comunhão, a ceia do senhor, a missa ou Eucaristra uma cerimônia profundamente mobilizadora para articipantes. Naquela "refeição jubilosa" sentiam a verdadeiresença de Cristo entre eles.

A Páscoa, a celebração anual da ressurreição de Jesus, não ornou logo uma data especial para todos os cristãos. Os cristãe Roma, por exemplo, demoraram a aceitá-la, preferindembrar a Páscoa todo domingo. Mais para o Oriente, a igre

omeçou a celebrar a Páscoa anualmente, no mesmo fim emana em ue os Judeus comemoravam o  Pessach.  A da

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 ariava de ano para ano, já que era determinada pelo equinóce primavera no hemisfério Norte e pela lua cheia, caindo ent2 de março e 25 de abril. Algumas igrejas cristãs chegaram acelebrar a Páscoa com uma semana de diferença. Finalment

m 525 foi alcançado um acordo, mas os mosteiros irlandes

ão aderiram.Os primeiros cristãos não comemoravam o Natal, e ompreensível que o nascimento do Cristo não seja consideradmbolicamente tão importante quanto a ressurreição. Em 245,rilhante teólogo Orígenes desqualificou a idéia de celebrar

ascimento de Cristo "como se ele fosse um faraó". Um anomeio mais tarde, os três patriarcas do Oriente -

onstantinopla, Alexandria e Antióquia - aceitaram 25 dezembro como uma data especial. Tomaram como base olstício de inverno no hemisfério Norte, a partir do qual os diomeçam a ficar mais longos. Assim, os cristãos aproveitaram dia já conhecido como feriado romano não religioso, niversário do sol invencível".

Maria, a mãe de Cristo, exercia um fascínio cada vez mantenso. Seu  status  aumentava, e um sentimento de profuneverência por ela se espalhava pela costa leste do Mediterrâne

Alexandria e Antióquia. Embora os evangelhos não fossenânimes ao apontar a virgindade de Maria, quando deu à luesus, a idéia de que ele era filho único ganhou credibilidador volta de 432, estava de tal modo disseminada a certeza ue Maria tinha permanecido virgem, que foi afastada a noçã

efendida por Marcos, da existência de irmãos e irmãs de Jesusada vez mais se acreditava ue Maria ao morrer tivera

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orpo levado da Terra ao céu. Conhecido na igreja ocidentomo Assunção da Santa Virgem Maria, e na igreja orientomo Dormição ou Sono Eterno, esse conceito a coloormalmente no céu, com Jesus. Em 594, o bispo Gregório ours abençoou o evento, e seu veredicto foi aceito. Com iss

s orações dirigidas a Maria adquiriram mais influência e afetO próximo passo para sua entronização só seria dado na IdadMédia. No que se chamou Imaculada Conceição, ficostabelecido que Maria, tal como o filho, tinha nascido seecado.

BATISMO: A ALEGRIA DA ÁGUA

O novo cristão se iniciava na igreja por meio da cerimônia gua - o batismo. O termo, de origem grega, signifipurificação". Tratava-se de uma cerimônia cristã, e não judaic

As pessoas batizadas eram, na maioria, adultas, e a imersãimbolizava o sagrado contato com Deus, que não devia sompido. O dia em que Jesus, ainda jovem, foi batizado no ror João Batista, significou o início de sua vida como profeta

mestre, tal como seus seguidores, que apontaram o momento datismo como o começo de uma nova vida.

Os primeiros líderes naturalmente preferiam um curso de águorrente, como o rio Jordão, para o batismo. Mas o cristianismomeçou a ser praticado nas cidades, e havia poucos ri

audalosos disponíveis. Portanto, aceitava-se o que a geografa cidade permitisse. Segundo o estudioso Tertuliano, a água é

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n ca su st nc a per e ta: a egre, s mp es, pura pe a pr pratureza.

omo a igreja cristã se espalhava por muitos locais relativamenolados, os costumes variavam. Em Alexandria, batizava-om a água do mar, e o horário preferido era o nascer do sol. P

olta de 259, a rotina estava bem estabelecida: "quando o gaantar, a pessoa encarregada do batismo deve tomar posiçãunto à arrebentação, à água pura e sagrada do mar." Em muitidades do interior, as cerimônias de batismo, antes realizadaseira dos rios, foram transferidas para o interior das igrejas. Durgiu a água benta.

Vários líderes cristãos argumentaram que as pessoas falecidntes de serem batizadas não entrariam no reino dos céus, poisecado "original" - que toda criança traz ao nascer - não tinhdo apagado. Eles defendiam a prática de batizar os bebês, m

muitos cristãos discordavam. Segundo eles, o batismo era um aonsciente, o compromisso de dedicar a vida inteira a seguristo; então, como poderiam bebês com uma semana ascidos chegar a tal decisão? Esse foi um debate que nãhegou a uma conclusão e foi retomado sob forte emoção, néculo 16, na Alemanha e na Suíça.

Durante a cerimônia de batismo comumente praticada no an00, o bispo devia fazer uma advertência ao demônio: "Fogois o julgamento de Deus está perto!" Então, as pessoas quam ser batizadas voltavam o corpo e o rosto em direção a oestara que o demônio saísse. Em seguida, voltavam-se novamen

ara leste e recitavam uma oração. É praticamente certo que eRoma, no século 2o, recitava-se o Credo. Ainda ouvida na mai

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arte as gre as, a oraç o representa uma s mp es e ar oroeclaração de fé que termina assim: "Creio no Espírito Santo, anta igreja católica, na comunhão dos santos, na remissão decados, na ressurreição da carne e na vida eterna."

eguindo a cerimônia, os cristãos eram ungidos com um ól

ocemente perfumado. Vestidos com roupas brancas e talveom uma coroa sobre a cabeça, estavam prontos para a bênçnal. O bispo molhava o polegar em óleo perfumado e, com el

azia o sinal da cruz sobre cada sobrancelha de cada umizendo: "Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A pasteja contigo." Então, os recém-batizados seguiam em procisselo interior da igreja repleta de fiéis. Lá, participavam perimeira vez da Santa Comunhão.

Houve um tempo em que a época considerada mais propícia aatismo de adultos era a Páscoa. Nas cidades grandeatizavam-se centenas de pessoas ao mesmo tempo. Pa

comodá-las, às vezes eram projetados batistérios - umonstrução circular ou octogonal, no centro da qual havia umia batismal, usualmente feita de mármore. Esses batistérios, eeral, eram altos, mas pouco espaçosos. Alguns estão entre rédios mais suntuosos da Itália. Quem consegue esquecer um

isita ao batistério de Florença ou aos dois mais antigos Ravena - o católico e o ariano - com suas cúpulas cobertas dmosaicos primorosos?

O JEJUM

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O cristianismo não nasceu com doutrinas estabelecidas; elvoluíram lentamente. Assim, as atividades do espírito foraiscutidas mais freqüentemente por volta do ano 250 do que nempo de Cristo. Nas histórias do Antigo Testamento, o Espírianto inspirou profetas, concedendo-lhes sabedoria ntendimento. No Novo Testamento, o Espírito Santo aparee formas mais dramáticas, durante a concepção e o nascimene Jesus. No momento do batismo, o Espírito Santo abençooesus, concedendo-lhe o poder de operar milagres.

Durante a comemoração de Pentecostes, o Espírito San

pareceu diante dos discípulos - então chamados de apóstoloseunidos em Jerusalém. Decorridas sete semanas da morte esus, eles tentavam cumprir a determinação deixada por ele onquistar novos seguidores. Sua intenção era aproximar-se dessoas nas ruas, mas, em meio à diversidade de idiomas, viram

e impossibilitados de conversar com elas, e muito menos onvertê-las. Havia judeus chegados da Arábia, da região do rNilo e do norte da África, de Roma, das ilhas gregas e da ÁsMenor, todos falando a língua da terra que haviam adotad

omo poderiam os apóstolos de Cristo, homens simples, douca instrução, entender-se com eles? De repente, "veio do c

m som que lembrava uma forte rajada de vento", e todos póstolos foram "tomados pelo Espírito Santo". Segundo relatoles começaram a transmitir claramente a mensagem cristã enguas que até então desconheciam.

A notícia desse acontecimento de Pentecostes rapidamente

spalhou, atraindo multidões. Terminada a fala dos apóstolomuitos ouvintes - "três mil almas", ao todo - se arre enderam

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eus pecados e foram batizados. Foi a primeira conversão emassa da história da nova religião. A capacidade de falar udioma desconhecido - o chamado "dom de línguas" - tornou-arte importante da tradição cristã.

O conceito de um espírito poderoso e incorpóreo - encontradambém no budismo e no hinduísmo - foi um modo simples escrever um evento espiritual ao qual Deus estivesse presentmbora não fosse visto. Os líderes cristãos começara

mentalmente a colocar o Espírito Santo no mesmo troncupado por Deus, mas faltavam as palavras exatas pa

xpressar isso. Eles enxergavam Deus como uma entidade oubstância que existia em três pessoas: Pai, Filho e Espírianto - três pessoas iguais, com o mesmo peso. Essa doutrinecebeu o nome de Trindade, urna denominação que apareela primeira vez em registros encontrados em Antióquia, polta, do ano 180.

Assim, resolveu-se o dilema de conciliar a antiga tradiçudaica, segundo a qual existe apenas um Deus, com a novrença de que Cristo reina no céu ao lado de Deus. Essas duivindades receberam a companhia do Espírito Santo. Foi uongo caminho, desde Israel.

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CAPÍTULO 5

NAS MÃOS DOIMPERADOR 

Desde o ano de 64, quando Nero governava o Império Romanmpreendiam-se grandes campanhas de perseguição aos cristão

Algumas eram mais amplas, mas a maior parte delas oncentrava em locais específicos, sob o comando

overnadores de províncias. Não se sabe quantos cristãos foraxecutados no período de trezentos anos. O número de cristãresos, então, é incalculável. Os crentes desafiadores, que ecusavam a renunciar ao seu Senhor, eram cruelmenorturados em público. Não se poupavam as mulheres: depois erem o cabelo cortado ou raspado, como forma de humilhaçã

ecebiam o castigo, ainda que tivessem dado à luz recentement

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  .A maior parte dos torturados se recusava a abandonar a crenç

m Cartago, no ano de 203, os sofrimentos de Perpétua, aos 2nos, e de sua escrava Felicidade permaneceram por muiempo na memória do povo. Nenhum outro mártir - exceto

póstolos - foi mais reverenciado do que elas.Apesar das perseguições, o número de cristãos crescapidamente. Eles acreditavam, sem sombra de dúvida, que erauidados por Jesus. Sem essa crença, a religião cristã não isseminaria tanto, mas houve influência de outros fatores.

OR QUE OS CRISTÃOS SE MULTIPLICARAM?

De início, o cristianismo aproveitou sua ligação com o judaísmara alcançar terras distantes, por meio da rede de sinagogas.

usca vigorosa por novos fiéis, raramente empreendida pelabinos, e praticada pelos cristãos, representou uma vantagedicional.

arte do apelo do cristianismo estava na maneira prática udar os pobres e os famintos, os doentes e os órfãos. Isso dav

egurança aos fiéis, em uma época de dificuldadnimagináveis. A crença na vida após a morte atuava tambéomo fator de atração. Por outro lado, porém, o Céu só estarcessível depois que Cristo voltasse à Terra, e seu retorno, hanto prometido, demorava a acontecer. Decorridos três sécule espera - por volta do ano 300, portanto - milhões de cristãe acreditavam guiados e guardados por Cristo. A vida no Cé

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. fereciam apoio aos escravos que aceitavam a fé e, acima udo, cuidavam dos doentes.

CONSTANTINO, O LIBERTADOR 

Os líderes romanos, cuja tarefa era manter a unidade de umpério onde se falavam várias línguas e que tinham consciêncos limites da força como único recurso, devem ter mpressionado secretamente com a habilidade dos cristãos e

nir, na mesma congregação, tanto os escravos e as pessovres quanto os locais e os estrangeiros. O que com certeza nãgradava àqueles líderes era o modo como os cristãos negavas deuses romanos, tão longamente adorados. Em 250, mperador Décio ordenou que todos os cidadãos do impér

ferecessem sacrifícios em honra dos deuses. Os cristãos maervorosos recusaram-se, pois acreditavam que somente Deusristo deviam ser adorados. Em Roma, o papa Fabiano f

mandado para a prisão, onde morreu. E, oito anos mais tarde,apa Sisto II foi preso durante uma homenagem aos mortos, natacumbas, e depois decapitado. Orígenes, até ent

ossivelmente o mais importante estudioso da Bíblia, foi presoorturado, morrendo na cidade de Tiro. Durante uma décad

milhares de cristãos foram mutilados, feridos ou mortos. Entãoerseguição cessou. Mas seria retomada.

Um acontecimento notável favoreceria o cristianismo. Algum

as famílias mais influentes de Roma e de outras cidadrandes sentiram-se atraídas elos ensinamentos de Cristo

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elos sacramentos e cerimônias da Igreja. Constantino, poderoomandante militar, foi um dos simpatizantes inesperado

Depois de uma vitória sobre seu adversário Maxêncio (oMaxentius) nos arredores de Roma, em 312, Constantino ornou imperador da parte ocidental do Império Romano. Su

mãe era cristã, e o nome de sua irmã, Anastácia, vinha do gregom o significado de "ressurreição". Diz-se que o própronstantino, embora não fosse batizado, carregava sempre uratório, para que pudesse adorar Cristo durante as marchas coeus soldados.

A RELIGIÃO NÚMERO UM

Um ano depois de assumir o poder, Constantino se reuniu coicínio, para discutirem uma política relativa às religiões. Sedito de Milão se referia de maneira favorável aos cristãos - oatóhcos, como eram às vezes chamados. O édito estabeleciOs cristãos e todos os outros devem ser livres para seguireligião que preferirem, de modo que o Deus que habita o Cossa ser propício a nós e aos que estiverem sob nossas ordens

Os cristãos, que por dez anos tinham visto suas igrejonfiscadas pelo capricho do imperador em exercícilegraram-se com a notícia de que elas lhes seriam devolvidaonstantino determinou também que o Estado desse um auxílnanceiro aos sacerdotes que trabalhavam no norte da Áfriela "legítima e sagrada religião católica".

oi oficialmente reconhecido que o cristianismo, por ser aberto

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o as as etn as, po er a unc onar como um ator e un caçm um império multirracial. O cristianismo, então uma religie muitos adeptos, estava prestes a tornar-se a religião preferia maioria. Constantino resolveu afastar adivinhos, oráculoidentes e pessoas que diziam prever o futuro. Em 321, e

ecretou que Roma devia reconhecer o domingo como um dspecial: "Todos os juízes, moradores das cidades e operárievem descansar no venerável dia de domingo." Os tribunaeviam permanecer fechados, em vez de julgar "rixnconvenientes" naquele dia de respeito. Constantino agiu coraticidade, porém, ao permitir que os agricultores trabalhasse

o domingo. "Freqüentemente acontece de o domingo ser o dmais adequado à semeadura de grãos ou ao plantio de vinhas."

m 324, depois de outra vitória militar decisiva, Constantino ornou o único imperador, governando todas as colôniomanas do mar Negro ao oceano Atlântico, e do rio Nilo

arte superior do rio Reno. Mais poderoso do que nunca, eontinuou a implantar sua religião. A morte por crucificação fbolida, em um gesto de profundo significado para os cristãos. stema de cobrança de impostos começou a favorecer as igrejoutras propriedades cristãs. A cruz, adotada como símbol

assou a figurar nos escudos dos soldados romanos.

Antes uma religião praticada às ocultas, o cristianismo encontrougar nas ruas principais, graças a Constantino.

le não gostava de Roma, e até deixou de visitar a cidadDecidiu, então, construir uma "nova Roma". Para isso escolhe

cidade de Bizâncio, fundada muitos séculos antes por alguolonos gregos, exatamente na divisa entre Europa e Ási

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que a ser a a nova cap a o mp r o omano. par r 30, Constantino começou a escolher terrenos bem situados, nlto de colinas, para construir igrejas. Com o nome mudado paonstantinopla, a cidade foi a primeira a ser planejada de modue templos cristãos - e não templos pagãos - se destacasse

ontra o céu. Hoje, a cidade é chamada de Istambul, e seriador é lembrado como Constantino, o Grande.

onstantino se aproximou da igreja em espírito durante a vidmas parte dele permaneceu independente. Quando, afinal, pedara ser batizado nas margens do rio Jordão, era tarde demaiom dificuldade para fazer viagens longas, foi batizado no locnde estava. Por tantos anos colocou-se como protetor dristianismo e transformador da Igreja, que se sentia quase uos apóstolos de Cristo. Com essa idéia, escolheu o lugar de sescanso final. Assim, quando morreu, em 337, foi sepultadunto ao altar da Igreja dos Santos Apóstolos, em meio

elíquias de São Pedro e outros santos.Alguns líderes cristãos, considerando aquilo quase uacrilégio, providenciaram a remoção do corpo de Constantinara um mausoléu. Ele havia proporcionado benefícincomparáveis à igreja, mas não passara pelos sacrifícios de u

anto.

A ALEGRIA DOS PEREGRINOS

Helena, uma cristã fervorosa, mãe de Constantino, passava d0 anos de idade quando resolveu fazer uma peregrinação

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. , - ,ue estimulou o interesse dos cristãos pela cidade. Uma atraçãdicional era a crença de que, quando retornasse à Terra, Crispareceria primeiro em Jerusalém.

No século quarto, estendia-se por todos os meses do ano

ostume de empreender peregrinações a Jerusalém, a Belémnclusive à Igreja da Natividade - e ao local do rio Jordão one acreditava tivesse acontecido o batismo de Cristo. A

mulheres elegeram alguns locais da Palestina como sereferidos: o túmulo de Raquel, não muito longe de Belém, eoço, em Sicar, onde Jesus conversou com a samaritana. Objetivos dos peregrinos eram rezar pelo futuro e agradecer peassado.

géria, uma peregrina, passou mais de três anos viajando, rança a Constantinopla, e de lá à Terra Santa. O Impér

Romano era ainda forte quando Egéria iniciou a peregrinaçã

m 381. Ela visitou em segurança uma seqüência de sítiagrados, em geral parando para descansar em hospedarionstruídas para viajantes. Quando havia o perigo do ataque adrões escondidos à margem da estrada, soldados romancompanhavam os peregrinos. Nos locais citados na Bíbli

aziam-se paradas, e todos rezavam, liam passagens dscrituras e ouviam ou cantavam salmos apropriados.

Nos trechos mais difíceis da jornada, Egéria viajava de jumenu camelo, ou era carregada por homens fortes em uma liteira,ão ser quando encontravam uma subida íngreme demais. Avistar o Monte Sinai - a chamada Montanha de Deus -, eezou e começou a subir em direção ao lugar onde, de acord

" "

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r sto mu to ac ma e qua quer ser umano que t vesse p saface da Terra, além de acreditar que Deus e Cris

ompartilhavam natureza e sabedoria. No entanto, afirmava quDeus, em sua majestade e perfeição, ocupava um degrau acime Cristo na escada divina. Estudando o início da criação, An

oncluiu que Deus era eterno, mas Cristo não. Seus argumenttacavam a doutrina cristã, segundo a qual Pai, Filho e Espírianto formavam uma trindade perfeita. Conforme o raciocíne Ário, o poder que Cristo possuía de perdoar e salvar não emesmo de Deus.

Muitos bispos se opunham instintivamente às idéias de Ário. ristão típico tinha sido ensinado a ver Cristo não somente comivino, mas como igual a Deus, e essa era uma das razões quornavam o cristianismo tão atraente. O questionamento de Áruanto à exata combinação de humanidade e divindancontrada em Cristo caiu como uma bomba.

Ário presumia que as pessoas compreendiam e amavam Crisom mais facilidade por vê-lo como ser humano. Ele se uniraoletores de impostos e prostitutas, a excluídos e oprimidos.

Ário acreditava que esse aspecto de humanidade devia ser manfatizado do que o aspecto de divindade. Em uma análise ma

purada, o centro da disputa parece estar em uma questão dntensidade. Em Teologia e em Política, porém, posições qustejam a 10 graus de diferença podem parecer, aos olhos ddversários, estar a 90 graus.

ara um observador externo, ambos os lados da dispu

presentavam argumentos válidos. Os adeptos da IgreOrtodoxa acreditavam que Cristo e Deus eram iguais, e qu

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scu r uma s uaç o con r r a s serv r a para esmerecristo. Ário acreditava que Deus era importantíssimo - em sualavras, "supremamente único"; então, por que considerristo como seu igual?

A discussão ultrapassou as fronteiras do Egito. Todo mund

arecia ter uma opinião sobre aquele tema tão controvertido. mperador Constantino foi chamado a interferir, e a decisãomada por um governante poderoso, que nem mesmo eatizado, a respeito de uma questão de alta teologiepresentava uma enorme inovação na história do cristianism

Até então, os líderes cristãos tinham procurado resolver entles suas desavenças.

Aos olhos de Constantino, as disputas constantes, além nconvenientes, criavam uma fonte de divisão do império. Exigia unidade da Igreja da qual era protetor. Então, no verão d25, decidiu reunir todos os bispos cristãos em Niceia - ho

znik - que ficava perto de Constantinopla.nfelizmente, talvez pela surpresa do convite, somenompareceram os bispos da parte oriental ou das regiõróximas. Dos 250 presentes, apenas cinco vinham do Ocidentntre eles, incluíam-se dois diáconos enviados pelo própr

apa, incumbidos de apresentar a visão dele sobre o assunto,ispos de Cartago e Milão, duas das cidades cristãs mamportantes da parte ocidental do Império Romano. O grupificilmente poderia ser considerado representativo da Igreomo um todo.

amais se saberá com certeza o que aconteceu nos bastidores discussões sobre questões de tanta relevância, mas o resultad

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oi a rejeição da teoria de rio. Os bispos reunidos declararaue "Cristo e Deus tinham a mesma matéria." Em resumristo podia ser considerado igual a Deus, para todos ropósitos e intenções. O imperador deve ter influenciado, paarantir a unanimidade - ele fazia questão de união -, mas

oração dos presentes não estava unido. A satisfação tambéão foi unânime entre os líderes cristãos que, não tendarticipado do encontro, só souberam da decisão depois queotícia atravessou terras e mares, para chegar a eles.

Ário não apenas foi derrotado, mas caiu em desgraça, send

brigado a partir para o exílio na Ásia Menor, assim como várie seus poderosos simpatizantes. Quando afinal voltou Alexandria, viu-se impedido de participar da Eucaristia por ue seus principais antagonistas, o bispo Atanásio.

Mas nem tudo estava perdido para o enfraquecido Ário. Eonservava seguidores - alguns explícitos, outros discretos. ispo que batizou o imperador Constantino no leito de morte, e37, revelou-se simpatizante de Ário. Daí a alguns anos, o novmperador, filho de Constantino, fez a mesma revelação, embo

Ário já tivesse morrido.

OS BÁRBAROS E A BÍBLIA

Os seguidores de Ário - chamados por alguns de "grupo deréticos" - mantiveram a atividade. Até conquistaram nov

liados, embora se deva reconhecer que não exatamente liados preferidos. Tratava-se dos godos, povo considerad

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n erior. Aos o os os ver a eiros i os o Imp rio Romans godos eram bárbaros.

Um ou dois séculos antes do nascimento de Cristo, os godoseus aparentados, os vândalos, viviam na Escandinávi

Dispostos a encontrar terras mais quentes e a lutar para ocupar

spaço, eles cruzaram o mar Báltico e instalaram-se junto ao rVístula, nas planícies do norte da Europa. Em outra mudança, odos orientais - ou ostrogodos - encaminharam-se para o sum direção à Ucrânia e ao rio Dnieper, de onde vieram a mudae novamente em direção a Constantinopla, em busca de terr

inda melhores. Mais ou menos na mesma época, os godcidentais transferiram-se para mais perto da França. Não abe ao certo quantos godos participaram dessa movimentaçãrovavelmente não chegavam a 250 mil.

Os godos possuíam idioma próprio, com vários dialetos, mão tinham escrita. Um monge chamado Úlfilas, cuja intençe oferecer àquele povo acesso à Bíblia, criou um alfabeto palinguagem gótica, em que a maior parte das 27 letras f

omada emprestada do grego clássico. Então, passou a traduziríblia.

Os godos e os vândalos eram simpáticos à versão ariana d

ristianismo - a heresia de Ário, como ficou formalmenonhecida. Eles preferiam a simplicidade de um Deus poderoo conceito oficial da Trindade, com todas as suas complicaçõsutilezas. Depois do ano 400 as doutrinas arianas conquistara

mais adeptos entre os godos e os vândalos do que em outr

egiões do Império Romano.

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AGOSTINHO DO NORTE DA ÁFRICA

Na costa da África voltada para o mar Mediterrâneo, a igreozava de intensa vitalidade, com todas as controvérsias que is

reqüentemente acarreta. Na região ocupada atualmente punísia e Argélia, havia uma área de grande potenciconômico e estratégico, em especial em torno de Cartago, entãma das maiores cidades do mundo ocidental. No ano de 35quela região, rica em plantações de grãos e frutas, talvez tenhbrigado uma proporção maior de cristãos do que qualquer outocal do império, inclusive Roma.

Nenhum africano exerceu mais influência sobre o cristianismo que Agostinho. Nascido onde se situa hoje a Argélia, e54, quando o norte da África era uma espécie de caldeirão dovos, Agostinho descendia de bérberes, e tinha pai pagão

mãe cristã.

or nove anos foi seguidor de Manes, o profeta do terceiéculo que acreditava terem o bem e o mal origens e divindadeparadas - um conceito geralmente chamado de dualismo. Oeguidores de Manes, conhecidos como maniqueísta

raticavam a austeridade e costumavam ser vegetarianoomente adultos eram batizados, pois tinham opinião própriaodiam prometer não ter relações sexuais.

Agostinho adotava muitas dessas idéias, mas não a restrição aexo. Quando jovem, em Cartago, tinha levado uma vi

oêmia, até conhecer Una, a quem se uniu em concubinato puinze anos, e com quem teve pelo menos um filho.

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m Roma, Agostinho tornou-se professor. Na vida privadinda seguia os preceitos de Manes, mas já não se sentompletamente satisfeito com eles. Aos 32 anos, depois de

mudar ia Milão, experimentou a conversão religiosa. Enquana uma frase da carta de São Paulo aos romanos, teve a sensaçã

e estar nu. Em seguida, sentiu-se vestido com a graça de CristNo exato momento em que acabei de ler a frase", ele recordomeu coração se iluminou com a certeza. Não restou nenhumombra de dúvida." Suas palavras remetem, estranhamente,

Martin Luther e John Wesley, mais de mil anos depois.

De volta à África em 391, Agostinho começou a pregaVerdadeiro mestre das palavras, sua fala parecia música. Ele sornou bispo da cidade de Hipona, onde se ocupava em presideuniões, transmitir ensinamentos aos jovens membros ongregação e arbitrar disputas religiosas. Teve tempo tambéara escrever longos manuscritos, cartas e sermões, inclusive eze capítulos de suas  Confissões.  No entanto, como nscrevia em grego, pouco foi lido nas regiões situadas na parriental do mundo cristão. Agostinho refletia uma cisão que, aoucos, se instalava na cristandade. Apesar de viver em terrfricanas próximas a Roma, aquele cristão de idéias brilhantes

usadas era com freqüência ignorado no Oriente.Agostinho contava com vários escrivãos para anotar os textue ditava - às vezes tarde da noite -, enquanto caminhava peômodo onde estivesse. Entre os conceitos teológicos elaborador ele estava a predestinação, uma teoria que ficou bastan

onhecida mais de mil anos depois, nos escritos de Joalvino, do primeiro grupo de pastores protestantes de Genebr

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Agostinho acreditava que Deus sabia com antecedência o quconteceria na vida de todos os cristãos - e no fim, em especiam essência, a infalibilidade de Deus previa quem iria para éu ou o inferno, ao passo que nenhum bispo teria condições drognosticar quais membros da congregação seriam salvos.

Os últimos trinta anos da vida de Agostinho foram repletos dcontecimentos perturbadores. O antes poderoso Impér

Romano desmoronava. Tornara-se extenso demais e nãonseguia levantar recursos necessários ao patrulhamento uas longas fronteiras. Muitos de seus soldados eram recrutad

as regiões fronteiriças a serem patrulhadas. Na verdade, paentar defender suas fronteiras dos "bárbaros", o ImpérRomano integrava outros bárbaros a seus regimentos. Aléisso, estava cercado por muitos povos nômades - vândalounos, godos - que invadiam as regiões mais desprotegidassas regiões vulneráveis viviam sob as ordens de Roma, e n

e Constantinopla. Alarico, rei dos visigodos, invadiu enínsula da Itália, e em 410 chegou a Roma. A cidade ond

Agostinho pregava e produzia seus escritos foi sitiada vinte anmais tarde.

DE QUEM É O TRONO? CRISTO EM RAVENA

Os invasores que chegaram das margens distantes dos rios RenDanúbio não eram tão bárbaros quanto imaginavam

omanos. Embora tolerassem as idéias dos cristãos qabitavam a parte ocidental do Império Romano, os recém

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 risto. Dominando boa parte da França e da Itália raticamente todo o território hoje ocupado por Espanha ortugal, além das populosas partes centrais da costa norte

África, os ostrogodos, visigodos e vândalos pareciam a ponto ornar dominante, na metade ocidental da Europa, sua visão dristianismo.

Os arianos não eram missionários fervorosos, e quando seomínio militar entrou em declínio, o mesmo aconteceu com sunfluência religiosa. Godos e vândalos perderam a força quandua doutrina ariana perdeu o controle das cidades e igrej

cidentais. Criticados por quem apreciava a civilização romanaamentava seu desaparecimento, foram chamados lasfemadores pelos cristãos mais diligentes. Até suas obras drte foram destruídas. Existe, porém, uma cidade italian

Ravena, onde a visão ariana de Cristo milagrosamen

obrevive, em forma de arte.ase naval de enorme importância desde os tempos de Crist

Ravena havia substituído Roma como capital da parte ocidento Império Romano, no início do século quinto. De 493 a 54uando foi capturada por Teodorico, Ravena esteve sob utoridade de monarcas e bispos arianos. Apesar de muito mantiga do que Veneza e Florença, atualmente destinos preferidoor turistas e amantes das artes, Ravena recebe poucisitantes. Relicário da arte produzida nos primeiros tempos dristianismo, a cidade guarda mosaicos maravilhosos, criadurante os tempos áureos dos romanos, dos bizantinos

obretudo, dos arianos.

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  , , ,om material local por volta do ano 500, vê-se um mosairilhante, no qual Cristo é batizado por João Batista.

Na cena, Cristo está em pé, de frente e nu. Seu pênis fica mescondido pelas ondulações da água. Ele aparenta ter entre 16

8 anos, forte, sem ser musculoso, e seus cabelos não são tongos quanto nas imagens produzidas mais tarde por numerosrtistas ocidentais. O rosto sem barba e nada divino pareelaxado, tranqüilo, bonito mesmo. Reunidos em círculo, logbaixo, aparecem os apóstolos, bem-vestidos e de barba, todansmitindo um ar de mais autoridade do que o Cristo - talv

or terem mais idade e experiência. O belíssimo mosaico, hoom idade superior a mil e quinhentos anos, parece humanizargura de Cristo, como que sinalizando simpatia pela doutririana.

Assim, na antiga Ravena, temos uma visão rápida da queda d

mpério Romano e da invasão dos arianos, tornando ristianismo tradicional virtualmente prisioneiro. São raríssims lugares da Europa onde se pode ver Cristo à maneira de Ári

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A disciplina fazia parte do dia a dia dos monges. Vivendozinhos ou em grupo, seguiam fielmente regras rígidas umerosas. Um mosteiro de uma dúzia de homens, por exemplem regras, seria caótico, impraticável. Uma decismportantíssima era quanto à admissão de novos membros,

ue em tempos de carência de alimentos ou agitação popularu, ainda, de fervor evangélico - muita gente devia bater ortas dos mosteiros. O ingresso no mosteiro implicavenunciar ao mundo exterior e a todos os seus prazeres, squecer o passado.

A VIDA NO MOSTEIRO

O candidato à admissão devia saber de cor a oração do PaNosso e alguns salmos, além de convencer o superior d

mosteiro de que não era um criminoso nem estava fugindo dm antigo trabalho, para começar vida nova. As atitudes e ersonalidade do candidato eram cuidadosamente analisadaara que o espírito do mosteiro não fosse prejudicado pedmissão de monges que levassem para lá o egoísmo do mund

xterior.Uma das primeiras listas de regras foi elaborada por um mongípcio chamado Pacômio, fundador de um mosteiro em uilarejo quase deserto, próximo ao rio Nilo, em 323. A regra dúmero 60, conforme aprovado por Pacômio, instruía os mongnão discutirem questões da vida mundana. As roupas era

avadas aos domingos, mas sempre em silêncio. Os encarregad

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 arefa; em vez disso, deviam recitar trechos da Bíblia. Presume que outras tarefas diárias, como preparar fibras para abricação de cordas ou folhas de palmeira para a fabricação estas trançadas, também fossem executadas em silêncio.

Os peregrinos ou os monges de outros mosteiros que estivessem viagem eram tratados com generosa hospitalidade. Pacômonsiderava as mulheres capazes de perturbar a paz do mosteir

No entanto, se uma delas chegasse ao anoitecer, "seria crueldadmandá-la embora". Assim, acomodava-se a viajante em uposento para hóspedes, separado por um muro ou uma cerca.

As palavras "convento", "mosteiro" e "claustro" já tiveram mesmo significado. "Convento" era sinônimo de mosteiro, massou a ser usado para instituições femininas. Atualmentclaustro" corresponde às arcadas e aleias internas onstrução, mas na era medieval designava o prédio inteiro. N

eça Medida por Medida, de Shakespeare, um dos personageiz: "Hoje minha irmã vai entrar para o claustro."

m épocas de fome e pobreza, o monastério oferecia umegurança incomum. Era fornecido até um uniforme, em duersões: de gala e de uso diário. Os 3 mil homens que ocupava

s cerca de nove monastérios administrados por Pacônio usavama túnica de linho ou pele de cabra, cinto, lenço no pescoçom capuz com a insígnia do mosteiro e, às vezes, da seção eue viviam.

Alguns cristãos concluíram que tanto era possível viver com

remita em uma cabana do deserto quanto junto a uma estramovimentada. Simeão Estilita, nascido em Cilícia por volta

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90, perto do atual território da Síria, deixou o mosteiro esolveu construir uma coluna - "stylos"  é pilar em grego -iver sobre ela. A coluna, várias vezes aumentada, chegou ma altura equivalente a um prédio de seis andares. Alimentgua e mensagens eram enviados a ele, lá em cima. Ano apó

no, verão e inverno, ele viveu sobre a coluna, cercado por umrade de madeira, para evitar uma queda. Pregador cativanteentil, transmitia uma mensagem duas vezes por dia, quandncentivava os ouvintes a olharem para o céu e "imaginar o reinsperado", depois que a famosa coluna não estivesse maabitada.

imeão Estilita refletia uma tendência à meditação e mortificação encontrada no cristianismo. Acreditava-se que petites do ser humano representassem um perigo. O corprecisava ser domado, para permitir que o espírito e a almiunfassem. Era essa a mensagem transmitida por ele aos que

euniam junto à coluna para ouvi-lo.nquanto homens vivendo no alto de colunas atraíam multidões monges e os eremitas ficavam ocultos. De início, viviapenas no Oriente - as palavras "eremita" e "monge" vêm drego. No ano 400, novos mosteiros foram projetados o

onstruídos, da Arábia e da Abissínia à França e ao sudoeste dscócia.

O primeiro mosteiro da Europa ocidental só foi fundado em 36erto de Poitiers, no atual território francês. Martinho, undador, era um ex-soldado, e o sucesso foi tal, que ele veio

er bispo de Tours, em 372. Mais de mil e cem anos depois, eomenagem a ele, uma criança recebeu o nome de "Martinho

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ra Martin o Lutero, que seria o primeiro protestante.

UM DILEMA CONSTANTE: ENFRENTAR O

RECUAR?

A grande quantidade de eremitas e mosteiros foi surpreendentA vida de Jesus pouco indicava que viessem a existir cristãfastados do mundo. Embora tivesse passado quarenta diasoites no deserto, preparando-se para a nova vida de evangelistos anos seguintes Jesus preferiu estar acompanhado, na cidau no campo. Ele gostava de celebrar, de ensinar e conversambora rezasse com freqüência, não costumava dedicar a maiarte do dia à oração ou à leitura de textos sagrados. Comer elêncio e afastar as mulheres com certeza eram idéias que nãotraíam.

O objetivo do ministério de Cristo era levar sua mensagem mundo, enquanto monges e eremitas geralmente buscavam

olamento. Cristo, ao percorrer a Galileia, preocupou-se porqua safra é realmente abundante, mas os trabalhadores sãoucos." Então, se o mundo precisava de mais mestres

regadores, por que permitir que homens e mulheres devotrocurassem o silêncio e o isolamento de mosteiros e conventouas vozes eram necessárias nas estradas, nas sinagogas - onuer que houvesse pessoas reunidas.

Os reclusos eram quase todos homens, mas cada vez ma

mulheres - solteiras e viúvas, em geral - desejavam formrupos. Elas se uniam para cuidar de membros da congregaç

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ue a oecessem. o mp r o omano, poucas mu eres eralfabetizadas, mas muitas se interessaram em aprender a ler, paansmitir a Bíblia às amigas. No sabbath,  elas organizavaorais e, quando havia necessidade de mais pompa, procissõe

As mulheres passaram a usar roupas semelhantes, bem simples

Aquele foi um passo na direção de reunir as devotas na mesmasa, como monjas. Sendo as mulheres mais numerosas do qus homens nas congregações cristãs, não foi difícil recrutovas monjas. Enquanto no Antigo Testamento a mulher selhos despertava piedade, o cristianismo adotava uma atituiferente. Alguns líderes cristãos acreditavam que as joveerviam melhor a Deus quando não eram casadas. Um defensesse ponto de vista foi o reconhecido teólogo Jerônimo, qiligentemente produzia a Bíblia Vulgata, o texto oficial datólicos, pelos mais de mil anos seguintes. Ele insistia que

mulheres deviam viver em mosteiros exclusivamente feminino

vitando assim os momentos em que "o desejo excita entidos", e exaltava as mulheres solteiras de rosto pálido parência frágil, "por causa do jejum". Já naquele tempo norexia tinha seus adeptos.

A administração de um mosteiro representava uma tare

ngustiante para mulheres e homens sérios. Basílio, o Grandascido em 330 na Capadócia, na Turquia central, pretendornar-se professor de retórica, mas foi tocado por Macrina, smã, fundadora de um mosteiro nas terras de propriedade

amília. Depois de visitar eremitas e monges que viviam ngito, ele fundou o próprio mosteiro - o primeiro, perto do qu

avia sido criado pela irmã - que foi usado como base de se

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  .onga linha de mosteiros que se espalhou pela Rússia e putras terras eslavas.

CASAMENTO: SIM OU NÃO?

Os líderes do Império Romano tendiam à promiscuidade. Oristãos, como reação, tomaram o caminho do puritanismo. Orimeiros monges do Egito evitavam o sexo, e muitos cristãsperavam que seus bispos e sacerdotes vivessem castament

Mas o cristianismo iniciante, tal como o judaísmo, não proibiaasamento. A questão mais importante era com quem eles sasavam.

or volta de 305, uma década antes de Constantino passar roteger e apoiar a Igreja, líderes cristãos, espanhóis em maiori

euniram-se em Elvira, no sul da Espanha. Sua disposição elara: eles defendiam a respeitabilidade e a castidade. Oacerdotes já casados deveriam abster-se do sexo. Se a partir ntão tivessem filhos, seriam afastados. No entanto, esses eradeais, e não regras absolutas.

O influente Concílio de Niceia, reunido em 325, de modo gerepetiu o clamor espanhol por moderação. Somente aos escalõnferiores do clero seria permitido o casamento - uma regra aineguida pela Igreja Ortodoxa, onde os padres de paróquias sãasados.

No Ocidente, o comportamento do clero não era tão rigidamenmposto.

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Na França, nos cem anos seguintes ao ano de 942, houve trispos casados, com filhos, e até alguns papas tiveram filhegítimos.

As regras da Igreja eram infringidas com tanta freqüência nOcidente, que alguns reformistas consideravam o casamento d

acerdotes uma solução conciliatória. Outros observadoreambém pragmáticos, discordavam; achavam que devia svitado a todo custo o casamento formal de bispos ou padreorque eles poderiam transferir para os filhos parte das riqueza Igreja.

O CHAMADO DOS BENEDITINOS

ento foi talvez o membro mais importante da Igreja, em sempo, e a influência exercida por ele ainda aumentou muiepois de sua morte. Nascido em Nórcia, na Itália central, umidade de planície, famosa por produtos de carne de porco 

unghi, utilizados na culinária italiana, mudou-se para Roma, pausa dos estudos. Por volta do ano 500, abandonou o quhamava de "males de Roma", e foi viver como eremita em um

averna perto de Subiaco. Com cerca de vinte anos, possuíaorça interior de um líder natural. Seu primeiro passo paxercer essa liderança foi deixar de ser eremita.

ento foi assumindo a administração de pequenos mosteiros, ahegar a dez, cada um com doze monges. Como preferia lider

elo exemplo, manteve a vida contemplativa, em vez rganizar e dar ordens constantemente. Sua última moradia foi

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moste ro que un ou por vo ta e em onte ass no, entRoma e Nápoles. Pouco afeito a conferências, reunia-se uma vor ano à irmã, Escolástica, que administrava um convento nroximidades, para discutirem questões ligadas ao espírito. E

morreu antes dele, e os dois foram enterrados no mesmo túmul

ento havia aos poucos desenvolvido uma combinação própre idéias acerca da vida monástica, incluindo aí conceitefendidos por monges e bispos de locais distantes, como gito e a França. Depois da morte de Bento, alguns mong

ncluíram ainda outras regras, em nome dele. Muitas eraemelhantes às adotadas pelos primeiros mosteiros do Egitmbora mais elaboradas. Os beneditinos apreciavam ter ubade firme, devoto e paciente, de preferência eleito pelolegas.

A organização adotada por Bento não permitia a propriedadrivada nem as conversas, que ele considerava desperdício empo. "Os monges devem praticar o silêncio em todos

momentos, mas em especial nas horas noturnas", determinavaegra de número 42. Nos mosteiros administrados conforme eterminações, até as refeições aconteciam em silêncio, pois

monges deviam dedicar total atenção à leitura das escritura

eita enquanto comiam. A cada semana um monge era indicadomo leitor oficial. Antes que ele começasse a ler, todos diziaês vezes esta oração: "Abre, Senhor, os meus lábios, e minhoca entoará o teu louvor." A oração se espalhou pelo mundoendo recitada por milhões de cristãos.

Havia sempre um monge experiente à porta do mosteirnclusive durante a noite, pois alguns viajantes se perdiam

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egavam em me o escur o. uan o o rec m-c ega o em peregrino ou um "servo da fé", os monges acorriaumildemente à porta para bem recebê-lo. A regra 53 lembravue o abade devia unir-se aos outros para cumprir o sagradever, "lavando os pés de todos os hóspedes".

Uma das habilidades inusitadas dos beneditinos - pelo menos aano de 1100 - era a de fazer cirurgias. Eles fundaram hospitaenfermarias, plantaram ervas medicinais e tornaram-se

rincipais cuidadores da saúde dos habitantes da região em torno mosteiro. Tal como Cristo, seus servos deviam curar nfermos.

A invasão do sul da Itália pelos lombardos afetou diretamente rimeiros beneditinos. O mosteiro de Monte Cassino, rincipal, foi atacado em 577, e permaneceu abandonado perca de 140 anos. Depois de alvo de sucessivas invasõeofreu com ataques dos sarracenos e dos normandos, além d

anos causados pelas armas pesadas da Segunda GuerMundial, mas passou por várias reconstruções.

nquanto isso, os beneditinos se expandiam. Tornaram-oderosos na França, Alemanha e Holanda, onde fizeram uabalho importante entre arianos e pagãos, em especial. D

ezessete catedrais que havia na Inglaterra na Idade Média, seram controladas por beneditinos, inclusive as de Canterbury (oantuária) e Winchester. A Abadia de Westminster, onde sãoroados os monarcas ingleses, era também beneditina.

UMA LUZ NA ESCURIDÃO

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Os beneditinos não sentiram necessidade de se estabelecmaciçamente na Irlanda, já que lá os mosteiros prosperavam, ontrário da maior parte dos mosteiros da Europa, qunfrentavam dificuldades. Em 560, entre os mosteiros ativo

alvez o de Bangor, perto do Mar da Irlanda e da atual cidade delfast, fosse o que estava situado mais ao norte. Fundado pomgall, o estilo de vida austero do mosteiro, os longeríodos de jejum e os cantos e orações que ocupavam noiteia atraíam os monges locais. Aquela se tornou a maior caeligiosa da Irlanda, ou talvez das Ilhas Britânicas.

Da Irlanda, os monges partiram para espalhar sua mensagem eegiões onde o cristianismo não era conhecido ou lutava paobreviver. Columba deixou a Irlanda para fundar um mosteiroma igreja na ilha de lona, na costa oeste da Escócia, enquanolumbano partiu de Bangor com doze companheiros, pa

undar mosteiros na França.A versão do cristianismo exercida pelos beneditinos era peculiaara determinar a data em que seria comemorada a Páscotilizavam cálculos diferentes dos empregados em Roma;

monges mais instruídos mantinham o conhecimento do idiom

rego, mesmo muito tempo depois que a liturgia em latim passoser adotada em regiões a oeste e ao norte de Roma; os abadlandeses não aceitavam os bispos - uma forma dministração que pertencia às tradições romanas; adoravama cruz desenhada por eles - a cruz celta, que guarda algumemelhança com a cruz copta.

or algum tempo a Europa ocidental viveu duas migraçõ

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a tantes as terras r as o norte a uropa evem ter receem aquele período de aquecimento global, na Idade Média. Eelatava que, ao contrário da Irlanda, havia muitas serpentes ritânia. Recusando-se a aceitar o mito de que São Patrícliminava as serpentes da Irlanda, Beda ingenuamente explico

ue as serpentes levadas nos navios "morriam ao respirar o landês". O livro termina com uma prece "a ti, nobre Jesus",om a esperança de poder "viver na tua presença para semprem uma nota de esclarecimento, Beda se refere aos "que possauvir ou ler esta história". Ouvir ou ler? A seqüência de palavra

mostra que os seguidores de Beda eram, em maiori

nalfabetos, e dependiam de alguém que lesse o livro para elm voz alta.

Aquele foi um tempo perigoso para todos os cristãos. Em janeie 729, um evento agitou a região: dois cometas surgiram néu, e por duas semanas puderam ser vistos como "toch

ncandescentes", conforme as palavras do próprio Beda. Aessoas deviam acorrer para olhar, porque cometas eraonsiderados mensageiros de más notícias - possivelmenalamidades. No mesmo período, os muçulmanos conquistara

Palestina, a Síria e as terras do litoral norte da África, vançavam para a Espanha. Significariam aqueles cometas qus muçulmanos estavam prestes a obter uma vitória maciça sob

cristianismo? Talvez Itália, França e Inglaterra fosseomadas. Segundo Beda, os cometas aterrorizaram os ingleses.

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CAPÍTULO 8

A ASCENSÃO DOISLAMISMO

 No ano de 600, na metade ocidental da Europa, o cristianismentamente se recuperava do declínio de Roma e do colapso dmpério Romano ocidental. Na metade oriental da Europa, ristianismo se mostrava mais poderoso. Constantinopla cresc

m esplendor e em população. Seu domínio sobre terra e mermanecia intacto, e lá estavam quatro das cinco cidades crist

mais importantes do mundo e seus bispos, então conhecidomo patriarcas. Ao mesmo tempo, porém, a região era cenáre controvérsias religiosas e territoriais, o que a tornavulnerável, mesmo antes do surgimento do islamismo.

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DA CALCEDÔNIA À CHINA

No Oriente cristão, a controvérsia acerca do  status  relativo Deus e de Cristo não havia desaparecido. Levantad

igorosamente no século quarto por Ário, o talentoso pregade Alexandria, o debate envolveu batalhões de teólogos. Adéias de Ário, que tinham sido derrotadas, reapareceram coova roupagem; eram importantes demais para sereescartadas definitivamente. Mais uma vez as cidades riva

Alexandria e Constantinopla, foram os cenários dessa recorrenontrovérsia.

O bispo Nestório, ex-monge, era o patriarca de Constantinopesde 428. Como a capital do Império Romano estava instalaa cidade, sua voz podia ser ouvida em quase toda a região d

Mediterrâneo. Repetindo Ário, ele afirmava que Cristo não e

gual a Deus. Segundo Nestório, Cristo possuía duas naturezistintas - uma divina, outra humana - que coexistiam ladoado. As implicações e sutilezas de tal proposta, que escapam antendimento de muitos de nós, eram aceitas por devotos séria época. Ainda que não a compreendessem perfeitamente, o

ristãos, em sua maioria, sentiam-se emocionalmente atraídor um dos lados.

Nestório foi acusado de blasfemar, pois contradizia a visãorrente da Igreja, segundo a qual Cristo, sendo igual a Deuossuía apenas a natureza divina. A discordância afetou tambéstatus  de Maria, cada vez mais reverenciada como a mãe

Deus pelos bispos que seguiam a tendência de então. Se Cris

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 Maria também não era.

oda a Igreja foi convocada para um concílio em Éfeso, na ÁsMenor, em junho de 431. Hoje em ruínas, praticamente umidade-fantasma, Éfeso era uma cidade grandiosa. Depois

érias discussões e certa manipulação política, o patriarNestório foi condenado. O estudioso e pregador, antes tãoderoso, viu-se banido de Constantinopla pelo imperadorimeiramente exilado em Petra, na Arábia, mais tarde teve d

mudar-se para o Grande Oásis, no sul do Egito, onde, longe dntigos amigos e admiradores, morreu.

Outro concílio se reuniu na Calcedônia, vinte anos depoHavia mais de quinhentos bispos presentes, mas apenas doinham de Roma e da Europa ocidental. Na verdade, o concílão deu razão a nenhum dos lados da disputa. Com a aprovaçãnal do imperador, em Constantinopla, e do papa, em Rom

hegou-se, em um acordo delicado, à conclusão de que Crisnha duas naturezas indivisíveis e imutáveis, unidas qua

milagrosamente em uma só pessoa. Tal doutrina é aceificialmente até hoje pelas Igrejas Católica e Ortodoxa, mas néculos quinto e sexto era grande o número de cristãescontentes com a solução. Alguns chegaram a chamar oarticipantes do concilio de indecisos. Na verdade, nenhuexto, ainda que adornado de belas idéias, satisfaria pessoas piniões tão diferentes.

A controvérsia e o tratamento dado a essa doutrina tiveram monseqüências. Em Constantinopla, sucessivos governantuscaram a coesão e a unidade do império, mas, sem quere

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  .Nestório havia deixado muitos seguidores entusiasmados; sudéias não desapareceriam facilmente. Eles formaram uma seitaarte, com um patriarca próprio, que foi se espalhando eireção à Arábia. Lá, conta-se que um de seus monges, de nom

érgio, ensinou a Maomé sobre o cristianismo. Na Ásia centrundaram congregações em Samarcanda e Harat, que forarovavelmente as posições cristãs mais a leste, na época.

Alguns dos bravos seguidores de Nestório - talvez comercianta longa rota da seda, que cortava a Ásia - estabeleceram-se e

Xian, na parte oeste do território da China. Sob a denominaçãe Igreja do Oriente, mantiveram-se com dificuldade, e néculo 11 haviam estabelecido locais de reuniões e templos epenas quinze cidades chinesas. Sua influência chegou ao jove

Gêngis Khan, que tinha entre seus patronos um nestorianatizado.

UMA ONDA DE INSATISFAÇÃO

Os simpatizantes da doutrina tradicional - diferentemente d

estorianos - acreditavam em igualdade de posições entre Deusristo. Eram conhecidos como monofisistas. O prefixo "monoomo se sabe, significa "um". Eles se mantinham firmes. Havedutos deles na cidade de Alexandria e, ainda mais numerosoas áreas rurais do Egito. Suas crenças chegaram ao Sudãnde o rei, um núbio, se convertera recentemente a

ristianismo. Os monofisistas dominaram a antiga e isola

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 empo em vários portos de comércio da Arábia. Na Síria, ondeidade de Antióquia apoiava os nestorianos, foram poderoso

mas não dominantes. Próximo ao Mar Negro, sua doutrina manteve popular no antigo reino cristão da Armênia e tambémor algum tempo, na adjacente Geórgia.

om isso, grande parte do Império Bizantino e algumas regiõo entorno seguiam uma doutrina não aprovada pela capitaonstantinopla. A cisão era, ao mesmo tempo, étnica, política

eligiosa. Enquanto em Constantinopla falava-se o greglássico, idiomas estrangeiros, como o armênio, o siríaco,

tíope e o copta predominavam nos locais e congregaçõissidentes.

De todas essas regiões, o Egito deve ter sido a mais persistenonte de dissidência. Um século e meio mais tarde, a insatisfaçinda atormentava a maioria dos cristãos egípcios. Um sin

isso era a preferência por cerimônias e serviços religiosos nngua copta nativa, em lugar do grego tradicional. Sentindo-primidos por Constantinopla e por uma religião oficial, esséis ficavam tentados a receber bem um novo governante, caurgisse. E na mesma época, por acaso, surgiu. Do outro lado d

Mar Vermelho, dizendo ter criado uma nova religião. Era lamismo.

A ASCENSÃO DE MAOMÉ

Maomé nasceu na Arábia em 570. A península, superpopulosbri ava tribos feudais e era o rimida or dois im érios rivais

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omada, porém, não foram das mais cruéis. A igreja do Sanepulcro, tida como o local onde Cristo foi sepultadermaneceu um santuário cristão, enquanto posteriormente um

mesquita islâmica, a Cúpula da Rocha, foi erguida no espaazio que antes abrigava o Grande Templo dos judeu

Ninguém poderia prever que Jerusalém permaneceria em posos muçulmanos durante 11 dos 13 séculos seguintes.

A antiga cidade cristã de Antióquia e o porto de Basra, perto dGolfo Pérsico - distantes cerca de 1,2 mil quilômetros um dutro - foram também capturados em 638. Dali a quatro anos,

maior parte do território egípcio era finalmente tomada, desez por um pequeno exército muçulmano. Quase todo o extentoral norte da África foi conquistado antes de 675. O chamado islamismo alcançou até o silêncio do anoitecer e dmanhecer na periferia do deserto do Saara.

A perda do norte da África foi um golpe devastador para ristianismo, que florescia na região costeira, com seus oásisales férteis. As cidades de Alexandria, Cartago e Hiponbrigavam provavelmente mais criativos e atuantes teólogos poca, enquanto o rio Nilo e o deserto próximo viam nasc

mosteiros e cabanas de eremitas. O norte da África não possu

m lugar sagrado, como Roma, mas produziu mentes capazes discutir o que realmente significa "sagrado".

A conquista do Egito com tanta facilidade representou uiunfo para os pequenos exércitos do Islã. A farta produção drãos nas margens e no delta do rio Nilo era escoada por um

erdadeira procissão de navios de carga, responsáveis pelimenta ão da maioria dos habitantes de Constantino la. Com

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stema de tributação implementado pelos árabes, o Egito ornou uma ótima fonte de renda, mas houve também aumeno poderio naval: estaleiros bizantinos em Alexandria foranvadidos; navios de madeira foram fabricados em granuantidade; e as forças muçulmanas, antes fortes em terra

racas no mar, tornaram-se cada vez mais vitoriosas. Em 67onstantinopla se viu cercada por navios muçulmanos.

Ao fim do século, a extensão do território muçulmano eotável. A história do mundo não registrava até então uvanço tão rápido. Ironicamente, os invasores às vezes era

audados em silêncio por judeus, samaritanos e até por cristãissidentes, insatisfeitos com o domínio religioso e político onstantinopla.

Gibraltar, a porta para o oceano Atlântico, caiu em 711. Aspanha, terra de tantos mártires do cristianismo, com certe

entou defender seus mosteiros, conventos, catedrais, escolanstituições beneficentes, e igrejas urbanas e rurais, mas em dnos praticamente todo o seu território, bem como o território ortugal, estavam sob controle muçulmano. Partes do sul drança foram também capturadas. Somente dali a setecentnos aquela região da Europa voltaria às mãos de governant

ristãos.eria possível que Roma sucumbisse ao avanço das forç

muçulmanas? A cidade se tornara quartel-general de umeligião, não mais de um exército. Não contava sequer co

muros para sua defesa. Em 846, cerca de quinhentos cavaleir

muçulmanos, depois de desembarcar na foz do rio Tibrntraram em Roma, onde pilharam tesouros e as sepultur

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agradas de São Pedro e São Paulo.

nquanto isso, na Ásia Menor, exércitos árabes avançavamomaram a Pérsia, o território hoje ocupado pelo Iraque, e aindmaior parte do oeste da Turquia e da Armênia cristã. Quas

odo o atual Paquistão se tornou província do Islã, e até Sínd, nndia, foi ocupada brevemente. Na Ásia central, na costa ao so Mar Cáspio e mais a leste, antigos templos pagãos ansformavam em mesquitas, enquanto mesquitas novas eraonstruídas.

VISÃO DO ISLAMISMO SOBRE A VIDA E A MORTE

Os milhões de cristãos e judeus que viviam nas terras recém

cupadas logo aprenderam os pontos básicos da nova religiãal como os cristãos e os judeus, os muçulmanos acreditavam xistência de um Deus único, sem rivais ou semelhantes. lamismo não reconhece a equivalência de Deus único, sevais ou semelhantes. O islamismo não reconhece quivalência de Deus e Cristo. Em seu livro sagrado, o CorãJesus, o Nazareno" é mencionado quatorze vezes e descriomo um profeta notável, embora não tão sábio quanto Maom

O Corão insiste que Cristo não pode ser filho de Deus. Só exism Deus, chamado Alá, "elevado demais para ter um filho".

al como os cristãos, os muçulmanos se referiam ao "dia d

uízo", com uma estrada levando ao inferno e outra ao paraís

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 esultaram em um texto tão longo quanto a Bíblia dos cristãoroduzidos por uma única pessoa, tinham mais unidade e neram origem a tantas discussões teológicas.

A VIDA NAS TERRAS CONQUISTADAS

Os cristãos, em sua maioria, sofreram com as invasões, poabia a eles e aos judeus fornecer, por meio do pagamento dmpostos, a receita exigida pelo governante árabe. Houv

casionais conversões compulsórias ao islamismo, mas eroibido aos cristãos tentar converter os invasores aristianismo. Quando um cristão se convertia ao islamismo, nãodia mais voltar à religião antiga. Ciro de Harran foi executadm 770 por essa imperdoável ofensa. Novos templos cristãodiam ser construídos, desde que com autorização oficial e

modo que não ultrapassassem a altura de alguma mesquiróxima. Além disso, os sinos tinham de soar suavemente, paão abafar as orações na mesquita. Os cristãos eram proibidos davalgar, provavelmente porque um cavalo veloz poderia stilizado como arma.

A maioria dos cristãos aceitou parte da cultura dos invasoreMuitos mosteiros ortodoxos passaram a rezar em árabe. Comassar dos séculos, as congregações cristãs remanescentecidiram conduzir os serviços religiosos em árabe, montinuaram a rezar o Pai-Nosso em grego, aramaico o

ualquer que fosse o seu idioma original.No ano de 800, mais da metade dos cristãos do mund

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onhecido vivia sob o Islã.

A proporção de muçulmanos nas terras por eles conquistadresceu lentamente. Para acomodar os novos fiéis,

muçulmanos confiscaram as maiores igrejas cristãonvertendo-as em mesquitas. Durante as reformas, praticamenodos os mosaicos e pinturas foram eliminados. Os danos à aracra devem ter sido colossais.

AS INVASÕES DOS VIKINGS

nquanto os muçulmanos ocupavam permanentemente umasta extensão do litoral do mar Mediterrâneo e as terras dnterior, pressionando os cristãos, outro adversário - os vikingsressionava os cristãos nas regiões frias do norte da Europ

Assim, o cristianismo perdia terreno em duas frentes.Os vikings,  com suas longas embarcações, começaram a atacs Ilhas Britânicas. Um dos locais mais sagrados da Inglaterra Lindisfarne, mais tarde conhecida como Ilha Sagrada - Ho

sland  - onde havia um mosteiro e uma igreja dedicada a Suthbert. Em 793, a igreja ficou "manchada com o sangue d

acerdotes de Deus" pelos vikings que lá desembarcaram. Atéltar foi escavado, em busca de ouro e prata. O historiador inglimeão de Durham descreveu a tragédia com cores forteMataram alguns, puseram outros a ferros e levaram embor

Outros ainda foram expulsos, nus, insultados, enquanto algu

oram simplesmente jogados ao mar." A Ilha Sagrada sernvadida novamente em 875.

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Mais tarde, os vikings  atacaram a costa da França, com rápidncursões a Bordeaux e Toulouse, abordando navios e portoos territórios onde se situam atualmente Portugal e Espanh

Alcançaram o Mar Mediterrâneo, onde encontrarambarcações dos muçulmanos. Os  vikings  chegaram com

nvasores, mas muitos se estabeleceram como colonizadores.

nquanto conquistavam pelas armas, os  vikings  eraonquistados pelas idéias, e muitos de seus líderes aceitarama nova idéia chamada cristianismo. O mais notável foi o ranuto, que, ansioso por novas conversões, enviou missionári

Dinamarca e à Noruega, e chegou a fazer uma peregrinaçãoRoma. Ao se tornarem cristãos, a maioria dos escandinavos nãeve escolha, a não ser obedecer aos governantes.

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CAPÍTULO 9

A BATALHA DASIMAGENS

As duas Igrejas e seus impérios clericais tomaram caminhiferentes. O papa, que vivia em Roma, não se encontrava copatriarca, que vivia em Constantinopla. Eles raramente fazia

om que delegações atravessassem os mares para discu

essoalmente divergências ou questões de interesse comumMercadores de Veneza, de outras cidades italianas e donstantinopla encontravam-se freqüentemente nos lugarnde aportavam, mas, quando queriam rezar, procuravam igrejiferentes.

Na Igreja do Oriente, as orações eram feitas em grego; nOcidente, em latim. As posições diante do casamento e d

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e ato tam m er am: na gre a c enta os pa res nodiam casar; no Oriente, os padres e religiosos dos mais baixscalões eram casados. Em um típico vilarejo cristão na Ás

Menor ou nos Bálcãs, o padre vivia com a esposa e a família,odos faziam parte da rotina do lugar. Em contraste, na Itália e n

rança o padre não tinha esposa, embora às vezes tivesmantes. A semelhança entre Oriente e Ocidente estava no fae os bispos e outros líderes serem celibatários. Se um padrtodoxo era promovido a bispo, tinha de deixar a mulher, queralmente entrava para um convento.

No ano de 900, a diferença entre alguns rituais resultava ecisões bem pensadas e, às vezes, dolorosas. Assim, a Igre

Ortodoxa se concentrava nos cânticos, e compositoralentosos, inclusive imigrantes italianos, compuseram hin

magníficos. No entanto, os instrumentos foram banidos. Ngrejas católicas, usava-se, para a celebração da Eucaristia, p

em fermento, achatado e fino como um biscoito. Nas igrejvais o pão era pequeno e alto, fermentado; seu crescimenmbolizava o poder inspirador do Espírito Santo.

Nenhuma questão ilustra melhor os contrastes entre as dugrejas do que as imagens. De início, no cristianismo, tal com

o judaísmo, não havia figuras ou imagens de profetas ou santnem de Cristo. Símbolos e sinais, porém, emm permitidoristo às vezes era regre: sentado por um peixe ou um pastor;

greja, como um navio; e Jonas e a baleia simbolizavam a mora ressurreição. Decorridos alguns séculos, esses símbol

oram substituídos, tanto no Oriente quanto no Ocidente, p

inturas fiéis de Cristo e dos santos. A partir de então as pessoa

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  , ,ompostas em mosaico, figuras humanas que pareciam observas diretamente. No ano 600, as imagens cristãs eram muitaeitas de prata, ouro, marfim ou pedras preciosareqüentemente representavam cenas da vida de Cristo.

O Antigo Testamento justificava essa reverência diante de meroímbolos ou pinturas? O Livro do Deuteronômio e seus éditdvertiam que as pessoas não devem fazer imagens nerostrar-se diante de estátuas. O édito vinha do alto, sob a forme uma voz solene: "Eu, o Senhor teu Deus, sou um Deiumento." Adorar uma representação era claramente um

rática questionável. Valorizar uma representação simplesmenomo um elemento auxiliar da adoração e da reza, porém, eom certeza uma prática razoável. E começou a discussão.

m religião, tal como na culinária ou no vestuário, existemodas e tendências. No Oriente, as imagens começaram

rovocar críticas. Lá, pinturas e mosaicos em catedrais, igrejasesidências eram cada vez mais considerados heresia, e uesafio ao próprio Cristo.

O imperador bizantino e as autoridades responsáveis pela defeo império tinham uma visão contrária. Nas primeiras décad

e existência da cidade de Constantinopla, acreditava-se que serritório estivesse a salvo de ataques por ter os muros protegidor uma pintura ou imagem da mãe de Deus. Mas alguém notoue os muçulmanos, em sua recente conquista das terras cristo Mediterrâneo, tinham cuidadosamente evitado exibir pintur

estátuas. Quem sabe seriam as vitórias muçulman

arcialmente resultantes de sua recusa em adorar símbolos? E

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 onstantinopla de um perigoso ataque dos muçulmanos. TalvDeus, ao ver seus mandamentos obedecidos, favorecesse muçulmanos.

Generais e almirantes - e até o próprio imperador - tinham entã

ma razão para opor-se à adoração de imagens eonstantinopla e no Império Bizantino. Os bispos tambénham suas razões: queriam converter judeus e muçulmanos aristianismo, e ambas as religiões rejeitavam imagens. Assim,onversão seria mais fácil se o cristianismo abandonasse everência às imagens. Além disso, na Ásia Menor as dezen

e milhões de cristãos ortodoxos recentemente dominados pelmuçulmanos não ofenderiam tanto os novos governantes se sugrejas deixassem de exibir imagens.

Os adversários da utilização de símbolos sentiram-se vitoriosoor outro lado, os monges, em especial, admiravam as imagen

muitos dos fiéis comuns encontravam a paz interior, pmanterem em lugar de destaque na casa uma simplepresentação de Cristo.

m Constantinopla, no ano de 730, o imperador Leão Iondenou a tradicional reverência a imagens e aconselhou qu

ossem destruídas. Esse movimento reformista, conhecido comconoclasmo ou iconoclastia, pode parecer umacruzada contrarte, mas não foi. As igrejas continuavam a ostentar nas pared

mosaicos com cenas do paraíso; só não se via o rosto de Cristo

A morte de Teófilo, em 842, precedeu o fim da destruição damagens. No ano seguinte, no primeiro domingo da Quaresmagreja Ortodoxa ou Bizantina destacou pela primeira vez um

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 As imagens reapareceram. No entanto, a dúvida sobre se serensato ou pecaminoso venerá-las representava um aspecoderoso e emocional, e não desapareceu. Uma nova campanhnvolvendo as imagens surgiria cerca de sete séculos depoom o advento do protestantismo.

As imagens, então reabilitadas, tornaram-se mais importantara a Igreja Oriental do que tinham sido na Igreja Ocidental. Aessoas passaram a usar no pescoço, presas a uma correnomprida, pequenas representações de Cristo, de Pedro e dutros apóstolos, além de seus santos preferidos. Medalhas uouco maiores às vezes guardavam inscrições, como "Senhoocorre o teu servo".

A bela imperatriz Zoé pôde ser vista dirigindo-arinhosamente a uma imagem favorita. "Eu mesmo", escrevm observador, "a vejo com freqüência em momentos de grand

flição, pegar e contemplar o objeto sagrado, falando com eomo se estivesse vivo, em uma sucessão de palavrmorosas."

ADRE, PATRIARCA E MONGE

ara a maioria dos cristãos bizantinos que viviam em vilarejosidadezinhas por volta do período entre 1100 e 1200, o padocal era muito importante. Ele rezava pedindo chuva neríodos de seca e costumava abençoar: a casa, antes de scupada pela família; a semeadura de grãos ou o plantio de u

-

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 eda instalados nos quintais das propriedades; e as redes, narcos de madeira, em regiões que dependiam da pesca.

Nos vilarejos, a igreja era um importante local de reuniãRapazes e moças faziam lá suas cerimônias de noivado formal

asamento, quando era celebrada a Eucaristia. Os funeraconteciam também na igreja, de onde os amigos e parentnlutados iam para o cemitério, onde o corpo era sepultadnvolto em uma mortalha, sem a proteção de um caixão. abeça do morto, geralmente apoiada em um travesseiro dedra, ficava voltada para o leste, de modo que ele pudesse ver

ol nascer e admirar a tão esperada manhã em que Crisetornaria à Terra.

A cidade de Constantinopla era palco de elaboradas cerimônieligiosas, mais esplendorosas do que as de Roma. O imperado patriarca se postavam juntos diante do altar, sentados ou d

é sob a cúpula da basílicade Santa Sofia, uma igreja grandioedicada à Sagrada Sabedoria de Deus. O imperador indicavaatriarca, a quem era superior. Em raras ocasiões o patriarca festituído pelo imperador.

A cidade grande e o mosteiro nem sempre se mostrava

ompatíveis. O mosteiro precisava de silêncio e solidãnquanto a cidade servia como centro de comercio onvivência. Nos primeiros tempos da cidade de Bizâncio oonstantinopla, não era permitida lá a instalação de mosteiroom o tempo, porém, a proibição foi relaxada, e construíram-

mosteiros dentro e nos arredores da cidade. Em algum momen

a era cristã, eles chegaram a somar 344, pelo menos.

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s ma s not ve s moste ros surg ram em um promont rstreito, de terreno acidentado, onde fica atualmente a Grécia -

monte Athos ou Montanha Sagrada, ainda hoje um locrocurado por monges. O pico branco do monte Athontempla de cima o mar Egeu, margeado pelos rochedos qu

gavam os grandes mosteiros a pequenos povoados e moradias de muitos eremitas. Das embarcações que cortam mar Egeu é possível ver, ladeira acima, as edificações cercador altos muros.

O primeiro dos grandes mosteiros, o Grande Laura, fnaugurado na década de 960, praticamente transformando

montanha em uma zona de quarentena para o espírito. Em 104ma determinação aprovada pelo imperador baniu da regiodas as mulheres. Nem animais do sexo feminino poderiaiver lá. Logo o monte Athos se tornou uma espécie depública religiosa desgoverno autônomo, mas subordinada

onstantinopla. Decorridos três séculos, guardavam-se aliosos manuscritos produzidos no início do cristianismo, avia quase quarenta mosteiros, representando as diferentátrias da Igreja Ortodoxa - Sérvia, Geórgia, Rússia, Gréciizâncio. Encontrava-se até um mosteiro ligado ao porto italiane Amalfi. Nem na França se via tal concentração de mosteirom uma área tão reduzida.

Os mosteiros com vista para o mar tanto podiam servir comonte de novas idéias, como encontrar em seus muros barreirue impediam a disseminação de tais idéias. Às vezes, cabiales a tarefa de resolver disputas teológicas. Imperador

ostumavam visitar os mosteiros, e até se hospedavam lá p

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  .Milhares de mosteiros e conventos se espalharam pelo impérovernado por Constantinopla.

Muitos ofereciam ajuda financeira e apoio moral, administravarfanatos e hospitais, alimentavam os famintos que batiam à su

orta, e cuidavam de bibliotecas de textos religiosos e coleçõe relíquias sacras.

FICARAM PARA TRÁS OS PRAZERENGANADORES"

alvez um em cada quatro mosteiros ortodoxos estivesse sob omando de mulheres. A superiora mantinha as regras criadelos fundadores, cuidando da disciplina e da moral. Vendo-somo mãe e guardiã, mestra e consoladora dos que vivia

entro dos muros do mosteiro, assumia as tarefas de verificar sa capela, as velas eram repostas e acesas, se as monjesempenhavam suas funções e se o coro cantava os salmorretamente. Ela às vezes sentia a solidão da posição qucupava, pois muitas vidas ficavam a seu cuidado.

A partir de 810, foi evitada a localização muito próxima donventos e mosteiros. As visitas masculinas passaram a sgidamente controladas. Em Constantinopla, um conveneterminou que lá só seriam recebidos padres eunucos. Até

médico chamado para tratar doentes graves tinha de ser eunuu muito idoso. Em 1200, as regras já estavam mais brandas:onvento que recebesse necessitados tinha de permitir que

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  , .Algumas monjas eram viúvas que haviam procurado o convenogo depois da morte do marido. Teodora, sobrinha de umperador, entrou para um convento em 1285. Era então umiúva de 25 anos, com dois filhos pequenos, que teve de deix

o lado de fora, e uma filha que, segundo esperava, viria a snoiva de Cristo". Teodora assim descreveu o sacrifício dbandonar a vida mundana, de que tanto gostava: "Ao desprezodo o deleite e abandonar de coração os prazeres enganadoresta vida deliciosa e divertida, eu me entreguei a esonvento." O consolo era estar na companhia da filha - "a aleg

encantadora luz dos meus olhos, meu mais doce amor, hama do meu coração, meu ar e minha vida, a esperança d

minha velhice."

Um convento típico, a dez dias de viagem de uma cidadrande, costumava conter banheiros, dormitórios, cozinh

adaria, celeiro, lavanderia, oficina de tecido e couro, pomaardim, estábulo, depósito de material, caixa de esmolas e - eugar de honra - capela e cemitério.

O salão de jantar refletia a seriedade do dia a dia. Um texeligioso era lido em voz alta por uma monja enquanto as outr

omiam. Nenhum outro som quebrava o silêncio.À superiora de um convento bizantino cabia uma tarefa muiéria. No dia do juízo, quando as almas dos mortos seriaulgadas por Deus, ela deveria falar em nome das monjaxplicando os defeitos e as virtudes de cada uma, dessa form

prestando contas" ao próprio Cristo. Conclui-se que uonvento medieval, no Oriente ou Ocidente, representava um

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ospe aria na estra a espiritua ; a estra a era muito mamportante do que o local de parada.

VLADIMIR DE KIEV, O SOL RESPLANDECENTE

Durante séculos, a Igreja Ocidental, baseada em Roma, foi amo mais fraco do cristianismo. Foi também a que menos xpandiu. Seus bispos não percebiam o vigor do avanço d

missionários ortodoxos pelo interior da Europa oriental, eireção à Sibéria.

Na década de 860, Basílio levou com algum sucesso mensagem cristã a cazários, morávios e búlgaros. Ao mesmempo, dois irmãos, Cirilo e Metódico, originários do porto dessalônica, atuavam entre os povos eslavos. Como seu idiomgrego, não era entendido em quase toda aquela parte

uropa oriental e central onde pregavam, eles traduziram ocumentos e liturgias principais para a língua eslava, inclusivriando um alfabeto. Tornaram-se, assim, os virtuais fundadora literatura eslava.

m 988, a Rússia e as regiões próximas lentamente começava

adotar o cristianismo. O príncipe Vladimir, às vezes chamade Sol Resplandecente, governava o importante estado de Kieortado pela rota comercial que ligava o mar Báltico ao m

Negro. Sua conversão representou uma vitória para ristianismo. Ele havia cogitado tornar-se judeu, mas f

onquistado pela beleza e grandiosidade dos serviços religiosa Igreja Ortodoxa. Seus leais súditos tiveram de segui-lo,

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oram at za os no r o n eper.Decorridos cinqüenta anos, a catedral de Santa Sofia fonstruída em Kiev, e por dois séculos foi mais importante due qualquer igreja de Moscou. Parte da influência de Kiinha dos mosteiros fundados por Antônio, um monge vindo d

Monte Athos. Afinal o cristianismo avançava devagar rumo aOriente, e aos poucos uma cadeia de igrejas ortodoxas stendeu dos montes Urais ao oceano Pacífico.

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CAPÍTULO 10

POR TRÁS DOS MUROSDOS MOSTEIROS

FRANCESES

 

No ano 1000, era geral a expectativa pela tão aguardadegunda vinda de Cristo, e manifestou-se um despertar

eligiosidade. Mosteiros e conventos se multiplicavam, cheios eterminação. Um número cada vez maior de eremitas tentavevar uma vida espartana e solitária. As montanhas da Itálentral e as florestas da França eram os locais mais procurados.

Roma custou a despertar. Não se escolhido papa por mérito, m

om base nas pressões dos donos de terras italianos e nmeaças de imperadores germânicos. Os resultados era

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revisíveis. Dificilmente um homem santo seria indicado papa aso isso acontecesse, ele provavelmente teria vida curta. E012, a história então recente dos papas era impressionante: seapas assassinados no espaço de 140 anos. Um deles, Leão Voi morto pelo homem que o sucedeu. Outro, João XII, elei

os 18 anos para função tão importante, morreu nos braços dma mulher casada, nove anos depois. Entre esscontecimentos surpreendentes, porém, houve décadas em queapado transcorreu em um clima de decência, pelo que se sabe

nquanto Roma se recuperava de um longo período de desonr

França caminhava para tornar-se o centro da cristandade. Esnergia não vinha apenas das catedrais erguidas nas cidademas também dos mosteiros de Cluny, Cister e Claraval, isoladas partes central e oriental do território francês. Ali, o conceie mosteiro ganhou vida nova. Ali, também, construía-se u

monumento extraordinário, cercado por árvores e campos.

TAMANHA ERA A FAMA DO MOSTEIRO DE

CLUNY"

O mosteiro de Cluny foi fundado por volta de 910 pelo duquGuilherme, o Pio, de Aquitânia. Situado perto de Mâcon, n

orgonha, o mosteiro começou a atrair jovens devotos, tanto amílias nobres quanto de famílias humildes. Um atrativo eraato de lá se elegerem líderes fortes que, uma vez alçados argo, raramente aceitavam honrarias vindas do mundclesiástico exterior. Em uma época de mosteiros pequeno

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 era origem - os cluníacos. Seus monges formavam um ramastante severo dos beneditinos, a antiga ordem italiana.

spalhou-se aos poucos o hábito de chamar os mosteireneditinos de "abadias", e seus superiores de "abades".

bade de Cluny tornou-se um importante líder da cristandadubordinado apenas ao papa. Desde que em harmonia com eis de Deus e as regras dos beneditinos, ele podia resolvualquer problema relativo à sua ordem; somente se fosse umuestão mais abrangente, devia pedir orientação. No caso ndicação de um novo abade, os monges tinham a palavra fina

Depois de assumir o posto, o abade indicava os religiosos qucupariam posições superiores. Entre estes, estavam esponsáveis pelos noviços, pela compra e armazenagem drovisões e pelos monges que guardavam o portão de entraddministravam a casa de hóspedes ou cuidavam dos doentes.

O dia a dia dos monges era repleto de obrigações. O primeierviço, ainda na quietude da noite, acontecia às 2 horas, ou àsoras no verão. Mas havia prazeres também.

No início da tarde, era servida a refeição principal, acompanhae uma porção de vinho. Alguns mosteiros insistiam em que

monges trabalhassem ao ar livre durante o verão; era precirmazenar a colheita, cortar o feno, colher as uvas e prepararinho.

Os monges atendiam os famintos que batiam à porta do mosteiajudavam os pobres da vizinhança. Às vezes, o alimen

istribuído precisava ser racionado, para que os próprios mongão passassem fome. Para os pedintes, a cozinha do mostei

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reparava regu armente uma z a e tortas enormes, a m istribuir pão e sopa quente. Na abadia de Beaulieu, distribuía-limento aos pobres três vezes por semana, e havia acomodaçõara treze necessitados, de modo que não passassem a noite elento. Das pessoas em boa condição física que recorria

egularmente aos mosteiros, esperava-se que retribuíssem a ajuecebida em forma de trabalho.

luny espalhou filiais ou mosteiros administrados por priorem meados do século 12, havia em várias partes da Europerca de mil instituições desse tipo, sob a proteção ou o controo abade de Cluny. Por ser a preferida das famílias frances

mais ricas, a abadia costumava receber polpudas doações eerras, animais, livros e outros bens. Com isso, a riqueza e onforto aumentaram. Os monges não podiam possuir bearticulares, mas os grandes mosteiros precisavam de recursom especial para ajudar os pobres e enfermos.

amanha era a fama do mosteiro de Cluny, que fiéis o visitavaegularmente, para participar de uma forma de serviço religioongo, elaborado e cheio de cores. Uma nova igreja, a basílie São Pedro e São Paulo, teve de ser projetada para acomodarongregação e abrigar as extensas procissões. A partir de 108

edreiros e carpinteiros tiveram quarenta anos de trabalho árduom mais de 160 metros de comprimento, a basílica ocupavm espaço correspondente à arena de um estádio olímpi

moderno.

A basílica de São Pedro e São Paulo permaneceu como a mai

greja da Europa e da Ásia Menor, até ser erguida em Romuatro séculos mais tarde, a nova basílica de São Pedr

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n e zmente a ma or parte a a a a e uny esapareceestando apenas a grandiosa torre octogonal que sustenta nos.

NAS PEGADAS DOS EREMITAS

Numerosos monges deixaram a rede de mosteiros de Cluny pae tornarem eremitas. Esperavam encontrar Deus na solidão doresta ou nos promontórios rochosos. Um desses eremitas fão Romualdo, que se cansou da rotina da abadia cluníaca danto Apolinário, em Classe, perto da região de mangue d

Ravena, e foi em busca de uma vida de sacrifício, tal como saber acontecido no início do cristianismo. Por volta de 1022, eundou o mosteiro de Camaldoli. Daquele rigoroso campo einamento espiritual os monges partiam para as montanha

nde construíam cabanas e viviam em silêncio. Como únieça de vestuário levavam um manto, que usavam mesmo nnverno, quando subiam e desciam descalços as encostngremes.

om o passar do tempo, alguns monges de Camaldoli incluíra

Botânica entre seus interesses. Uma peculiaridade da Históra Austrália é o fato de uma de suas árvores mais conhecidas,ucalipto vermelho, ter no mosteiro de Camaldoli a origem deu nome oficial. Sementes foram levadas a Nápoles commostra, e um exemplar da árvore - observado em um jardiarticular próximo ao mosteiro de Camaldoli - foi descrito pe

rimeira vez por um destacado botânico napolitano em 1832.

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A ASCENSÃO DOS CISTERCIENSES BRANCOS

ão Roberto, nascido de família nobre, tal como muitos dos maonhecidos monges franceses, entrou para um mosteiro próximTroyes quando tinha 15 anos. Líder natural, atraente e prátic

oi indicado abade de um mosteiro, e em seguida de outrQuando em dificuldades, os eremitas recorriam a ele. Em 107oi procurado por sete eremitas, e criou em Molesme u

mosteiro simples, especialmente para eles. Mais tarde, ao vrejudicadas a disciplina e a devoção, Roberto conduziu se

mais fiéis seguidores para uma região de mangues, perto Dijon. O lugar era chamado de Cister - a denominação latina eCistercium  - e os monges ficaram conhecidos comistercienses. Depois de construir cabanas, estabeleceram-elas para uma vida monástica frugal, mesmo depois que uobre francês construiu para eles um novo mosteiro.

stevão Harding, um inglês de "conversa agradável", era abado mosteiro erguido em terras alagadas, em Cister, quandnindo-se a outros religiosos, resolveu admitir monjas.

rimeiro convento foi fundado perto de Langres, e elhegaram a administrar um número maior de conventos do que mosteiros. Ele ainda era o abade em 1112, quando chegoutro grupo de monges beneditinos insatisfeitos. Bernardo, ovem líder dos recém-chegados, vinha acompanhado

arentes do sexo masculino. Dali a três anos, Bernardo fncarregado de administrar um novo mosteiro cisterciense e

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laraval, perto da famosa cidade comercial de Troyes. Lá, comernardo de Claraval, criou uma das mais conhecid

nstituições da França.

ernardo de Claraval era alto e magro, muito magro. Ele ornaria uma celebridade, embora a proporção de cristãos que n

poca o conheciam não passasse de um em mil. Mas quem lenferno,  de Dante, pode ter uma idéia de como era seu rostescrito em um longo poema como tendo os olhos cheios dlegria.

ernardo atraía seguidores e sabia como organizá-los. Jovens

elhos acorriam, querendo tornar-se "monges brancos", já qus roupas brancas eram a marca dos cistercienses. A santidade sua vida no mosteiro e a visível sinceridade de seu discursuando em trânsito, atraíam todos os que o viam ou escutavam

O dia do juízo, quando todos teriam de prestar contas dos at

a vida espiritual e física, ocupava lugar de destaque em sudéias. Bernardo considerava importantíssimo que as pessoas reparassem mental e espiritualmente para a morte. Ao encontrm jovem estudioso tão envolvido com a leitura a ponto egligenciar a vida espiritual, ele assim falou, com muirmeza: "O que vais responder, no temível tribunal?" Papas, re

príncipes gostavam de ouvir seus conselhos. Ele nunca chegobispo. Não havia necessidade.

ernardo, mais do que ninguém, pregou uma segunda cruzaontra os turcos. Por outro lado, não concordava com erseguição aos judeus. Nessas questões, seus companheir

ão opinavam, a não ser que ele demonstrasse querer ouvir uminião. Em sua tran üilidade, era uma essoa irresistív

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ernardo creditava às constantes orações e aos momentos ontemplação a auto- confiança e sua presença de espírito: Deez dele o que ele era.

Os cistercienses estimulavam a imaginação dos jovens. Mongmonjas vinham de todos os segmentos da sociedade - pesso

ão diferentes quanto construtores, artesãos, camponeses ntelectuais. Por serem reconhecidos pela generosidade, istercienses atraíam também um tipo de monge errante. Nerdade um turista profissional, hospedando-se nos mosteirelos quais passava, chegava ao anoitecer e ficava por três o

uatro dias - até que a recepção calorosa esfriasse. Em geralecisão de partir era tomada logo que o abade o convidavaudar no carregamento da colheita ou na poda das árvores.

Os cistercienses tinham o objetivo de evitar as tentaçõmundanas, mas sua opção pelo afastamento das cidades devia-

ambém à intenção de ocupar terras não cultivadas, florestasmangues, am pliando as áreas de cultivo. Nas regiõespovoadas que escolhiam para implantar novos mosteiros,abalho braçal era necessário, se quisessem garantir o próprustento. Trabalho árduo e suor, segundo eles, são o alimento dlma. Na Inglaterra, os cistercienses encontraram vales e morr

nexplorados. Ainda hoje os turistas se encantam com o quobrou de suas edificações - algumas já sem cobertura, minda belas, com paredes claras, feitas de pedra. Em 1798, doéculos e meio depois de a abadia de Tintem ter sido destruídor ordem de Henrique VIII, o jovem poeta Willia

Wordsworth percorreu a pé as ruínas e dedicou a elas um deus mais admiráveis poemas.

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Os monges valombrosanos, estabelecidos nas montanhróximas a Florença, tinham admitido irmãos leigos, e istercienses copiaram a idéia. Nos mosteiros maiores, chegaraempregar trezentos deles, a maioria oriunda de lares humilde

Os irmãos viviam em alas separadas, com enfermaria, sala

efeições e dormitório próprios. Para rezar, ficavam restritosma parte da igreja, quase sempre o lado esquerdo da nave. Omãos leigos eram facilmente reconhecidos, pelas roupspeciais e pela barba, não usada pelos monges.

om o tempo, os irmãos leigos foram assumindo a maior par

o trabalho pesado.Os visitantes se impressionavam ao encontrar nos mosteiros umas mais recentes invenções: a roda-d'água - um recurso de vitmportância para diminuir o trabalho braçal, até ser inventadas Ilhas Britânicas, a máquina a vapor. Em muitos mosteir

m curso de água natural acionava a grande roda de madeirornecendo energia para tarefas como moer o trigo e curtir ouro.

riadores inteligentes, os monges serviam de exemplo amoradores da vizinhança. Como precisavam de lã para tecer róprias roupas, eles se esforçavam ao máximo para melhorarriação de ovelhas. Quando a Inglaterra assumiu a liderança nxportação de lã para toda a Europa, os melhores produtinham dos rebanhos dos cistercienses. Em Yorkshire, só n

mosteiro de Fountains, havia 18 mil cabeças. A criação dvelhas se justificava perfeitamente, pois a pele tratada fornec

pergaminho usado para a cópia de textos religiosos.

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A GALERIA SUSSURRANTE

Decorrido pouco mais de meio século da fundação do primeimosteiro cisterciense, outros 250 tinham sido criados. Em 120

avia mais de quinhentos, e um século mais tarde já eram mae setecentos mosteiros cistercienses. Embora a Franontinuasse a ser sua localização principal, eles se estendiam rlanda e Portugal, a oeste - o rei Afonso I, de Portugal, era uoador regular - a Polônia e Hungria, no leste, e à Sicília, no su

omo podia a administração central controlar tantos mosteiristantes entre si? Um encontro anual costumava acontecer eister, começando em 13 de setembro, Dia da Cruz Sagrad

Aquele era um modo de resolver um problema que teria de snfrentado, mais de seis séculos depois, pelos gigantes dapitalismo internacional: administrar várias filiais.

odo ano os abades cistercienses chegavam, de perto e de longara elaborar novas regras. Eram portadores das últimas notíciaalvez uma vitória militar contra os muçulmanos na Espanha o

surgimento de uma epidemia em Praga. Um historiadhamou esses encontros regulares de "mercado de notícias -aleria sussurrante da Europa", referindo-se a um fenômenrquitetônico que pode ocorrer sob a cúpula das catedrauando o que se fala baixo de um lado é ouvido por quem eso outro lado.

A estratégia deu certo, e foi copiada pelos mosteiros de Cluny.

Os cistercienses, em seu apogeu, eram um dos triunfos d

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. ,entiam tentados pelo luxo, acreditavam mais no espírito eligião do que em seus textos. Práticos, eles ensinaram amílias europeias a aproveitar melhor as pequenas propriedadefastando a fome. Suas caldeiras e forjas, especialmente norgonha e na atual República Checa, estavam entre

melhores da Europa. No entanto, tal como outras instituiçõeligiosas, eles foram prejudicados pelo próprio sucesso.

Muitos de seus monges foram se tornando negligentes. Depoe uma farta refeição, alguns pegavam no sono na igreja, e seessonar competia com as orações. Séculos mais tarde, nrança, surgiu um novo tipo de monge: os trapistas, conhecidelo silêncio. Seu objetivo era recuperar, pelo silêncio e peração, a simplicidade perdida.

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CAPÍTULO 11

GRANADEIROS DE DEUS

No início da era medieval, a Igreja parecia oprimida por songo passado, mas as coisas começavam a mudar. Algumeformas drásticas foram iniciadas por mulheres, mais atuanto que nunca.

or dez séculos Jesus foi representado como um jovem herue pregava e operava milagres. Às vezes personificando o r

os reis ou o juiz supremo, raramente aparecia pregado à cruz,ue seria considerado degradante para a figura principal de tanrandiosidade e injusto em relação ao próprio cristianismo. Abservar a talha encomendada a um artista por Gero, arcebispe Colônia, por volta de 969, pode-se ter uma idéia da mudan

e atitude. Jesus aparece pregado a uma cruz de madeira. Sueições são fortes, mas ele parece abatido. Preso e humilhad

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em os o os ec a os. m pouco ma s e um s cu o esepresentação triste do Cristo crucificado se tornaria bastanomum.

A cruz de madeira e o Cristo moribundo, imagens cada vez maresentes, transmitiam uma mensagem acerca da mort

nevitável, e dos horrores do inferno. A própria era medievarecia carregada de nuvens escuras de pessimismo.

A DESCOBERTA DO PURGATÓRIO

Os primeiros cristãos não costumavam pensar no inferno; araíso estava garantido para eles. No entanto, nos últiméculos antes do ano 1000, o inferno surgiu como temreqüente na arte e nos sermões. Enquanto os cristãos virtuosoue tinham buscado o perdão, um dia se encontrariam no c

om Deus, os maus não arrependidos, ainda que cristãostariam provavelmente destinados ao inferno - um lugar fogo inextinguível", como Cristo descrevia raramente, mas coores fortes.

ntre céu e inferno o contraste era enorme. E se a pessoa fos

eprovada por uma margem estreitíssima? E se os pecados dmorto fossem leves, mas precisassem de punição? Havecessidade de uma terceira opção, e assim foi sugerido urgatório. Embora enfatizado por antigos líderes, com

Agostinho e Gregório, o Grande, a idéia não foi logo aceimplamente. A palavra "purgatório" só surgiu no vocabuláros europeus entre 1170 e 1180.

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O purgatório era uma sala de espera rigorosa, onde os pecaderiam purgados, de modo que a alma purificada pudesse entro reino dos céus. O tempo passado no purgatório podia songo, mas o conceito representava uma esperança. Os cristãabiam que a salvação final era possível.

Uma vez oficialmente aceita, a idéia do purgatório foi ampliaela Igreja: o sofrimento das almas no purgatório e ojempo ermanência lá podiam ser reduzidos pelos vivos. Para issontribuiriam as orações, as boas ações praticadas em nome d

mortos e as doações feitas a mosteiros ou igrejas, em dinheiro o

erras. Assim, vivos e mortos, unidos pelo ato de rezaormavam uma vasta, ativa e unida comunidade cristã.

A Igreja, então, começou a vender indultos que prometiancurtar o tempo de permanência da alma no purgatóri

Mulheres e homens enlutados acorreram, dispostos a comprarerdão para os entes queridos já falecidos. Os teólogos radicaorém, tinham dúvidas. Teria o simples pagamento de umuantia em dinheiro o poder de aliviar o sofrimento de umlma? Como a venda de indultos proporcionava à Igreja umoa receita, a prática custou a ser abandonada.

alvez este tenha sido o período em que o habitante comum d

uropa mais rezou, e várias inovações podem ter contribuídara isso. Uma delas foi a firme crença na existência durgatório; outra folaiatensificação do culto à Santa Virge

Maria, a supersanta, cada vez mais conhecida como "a mãe Deus".

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Na Igreja, praticamente todos os personagens principais - Deus, Cristo e apóstolos ao padre do povoado - eram homenNo entanto, consideravam-se algumas virtudes cristãs, com

umildade, fé, esperança e caridade, mais femininas do qmasculinas. E ainda existe outro aspecto: muitas religiõrientais adoravam deusas. No Egito, cultuava-se a deusa Ísor exemplo. Talvez essa ausência feminina na hierarquia crisevesse ser corrigida, já que na maior parte das congregaçõ

avia mais mulheres do que homens.No primeiro século da era cristã, o culto à Santa Virgem Marra praticamente desconhecido, e estendeu-se mais ao Oriente due ao Ocidente. Em 431, porém, a veneração de Maria estavuficientemente difundida, para que o Concílio de Éfeso lhoncedesse o título de Mãe de Deus. Com o passar do tempo,oncepção de Maria passou a ser celebrada com um dia festivmbora a crença em uma concepção pura - ou "imaculada"evasse doze séculos para ser reconhecida oficialmente.

A veneração da Santa Virgem Maria cresceu muito no sécu2. A oração da "Ave Maria" se tornou popular: "Ave Maria

heia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre mulheres, e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus." Formou-a Europa o hábito de fazer soarem os sinos das igrejas trezes por dia - de manhã, de tarde e de noite - para lembrar éis de rezar a Ave-Maria. Esse hábito levou ao uso do rosári

m fio de contas ou pedras semi-preciosas que indicava a ordea quantidade das orações.

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Muitos padres, monges e monjas viam uma representaçimbólica da expressão do amor de Maria por Jesus na "Cançãe Salomão", o que fez do texto um dos mais conhecidos d

Antigo Testamento. Nas orações, Maria se tornou ntermediária preferida, quando os fiéis queriam chegar a Deu

Ao fim do século 12, ela passou a ser chamada de Senhora dlores.

A partir de então, muitas igrejas foram construídas em honraMaria. No século 15, no rio Tâmisa, da nascente ao estuáriuvia-se o nome dela. Uma escola inglesa só para meninos, ho

amosa, recebeu a denominação de College of the Blessed Maf Eton. Mais tarde, porém, foi reduzida para Eton College. Nentro de Londres, a catedral de Southwark era chamada anta Maria Overie, que quer dizer "sobre o rio". Na Ilha dães, rio abaixo, havia uma capela em homenagem a Marinde as pessoas rezavam pelos marinheiros de partida ou pelue se perdiam no mar.

No século sexto, outra santa - Maria Madalena - entrava evidência. Infelizmente as referências a ela nos evangelhos serrivelmente escassas. Sabe-se que Jesus a livrou de seemônios, que ela esteve presente à crucificação e que foi

rimeira a falar com Cristo ressuscitado. Querendo descobmais sobre ela, os cristãos começaram a tentar adivinhar. E utras mulheres que tiveram contato com Jesus fossem, nerdade, Maria Madalena? A desconhecida que lavou os péele na casa de Simão... Maria de Betânia, em cuja casa ele f

ão bem recebido... Não seriam todas elas a mesma MarMadalena?

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No início do século 13, o monge dominicano Jacó de Voraginscreveu  Lenda dourada,  um dos mais populares livreligiosos da época. Reunindo vários relatos, ele discorreu d

maneira lírica sobre o relacionamento de Cristo com MarMadalena. "Esta", ele disse, "foi a Madalena a quem Jes

onferiu tão grandes graças e a quem dispensou tantemonstrações de amor."

sse retrato pintado com paixão tinha sido aceito pela primeiez por Gregório, o Grande, no fim de século sexto, e a partir déculo oitavo passou a ser festejado o dia de Maria Madalen

Hoje, a teoria não é mais aceita pela Igreja Católica, mas eneração de que Maria Madalena foi alvo representa mais unal da posição elevada das cristãs naquela época.

O MISTÉRIO DO PÃO E DO VINHO

m 1215, depois de um encontro de bispos no Palácio Lateranm Roma, o papa Inocêncio III fez uma declaração mportância vital acerca do sacramento conhecido por várienominações: santa comunhão, ceia do senhor e Eucaristia. F

stabelecido que o pão consagrado, consumido solenemenelos fiéis e pelo sacerdote, era o verdadeiro corpo de Cristo, einho consumido pelo sacerdote era o verdadeiro sangue dristo. Essa doutrina, conhecida como transubstanciação, viria

er a principal causa de divergência três séculos mais tarde, coadvento do protestantismo. Quando ouvida pela primeira vepalavra "transubstanciação" pode parecer complicada

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. , mas a idéia por trás dela era nítida e enriquecedora para ristãos.

A nova doutrina conferiu mais importância a bispos acerdotes, os responsáveis pela cerimônia de consagração, e

ue pão e vinho instantaneamente se transformam na "matérntegral" do corpo e do sangue de Jesus. A mesma resoluçãeterminava que o vinho, o verdadeiro sangue de Cristo, dever ingerido apenas pelos sacerdotes que presidissem elebração. De certa maneira, as pessoas comuns que antecebiam o pão e o vinho tinham sido rebaixadas.

A nova ênfase na natureza milagrosa da Eucaristia afetou isposição interna do prédio das igrejas. A cerimônia passou car parcialmente escondida da congregação. O altar e ssentos reservados ao clero - o santuário interno - erarotegidos por uma tela em metal, madeira ou treliça. Es

eparação provavelmente fez com que aumentassem o mistériosolenidade da cerimônia. As igrejas ortodoxas mantêm es

isposição, mas nas igrejas católicas a tela deu lugar a umrade.

A NOVA COMEMORAÇÃO DE CORPUS CHRISTI

m algumas regiões católicas, ainda acontece uma procissão negunda quinta-feira depois de Pentecostes ou domingo entecostes. Foi escolhida a quinta-feira porque nesse dia ltima ceia de Cristo. Em uma feliz coincidência, começa nes

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  , . procissão representava um momento especial para milhões

ristãos. Alguns, consideravam a ocasião mais mágica do queéspera de Natal. Era a comemoração de  Corpus Christi - orpo de Deus.

Nos Alpes Suíços, junto de um rio que corta um vale profundca uma pequena cidade chamada Kippel. Há várias geraçõemuitos de seus habitantes fazem parte da guarda do papa, eRoma. Toda primavera, na manhã da quinta-feira determinada,

lêncio do lugar é quebrado apenas pelo tilintar, ao longe, dinos no pescoço das vacas. Todos os prédios permanece

echados, menos a igreja, para onde se dirigem os moradoreQuando não há mais lugar para sentar, as pessoas se distribuentre as sepulturas e os canteiros de flores do pequeno cemitérizinho. Um corpo de guarda formado por velhos soldadsando chapéus cobertos de pele - os Granadeiros de Deus -

mantém em posição de sentido na porta da igreja. Quandermina o serviço, e começa a procissão, ogrupo segue pelas rustreitas, acompanhado por uma orquestra de instrumentos

metal. As mulheres usam uma roupa tradicional e carregam umíblia. Algumas levam também um broto de alecrim.

O sacerdote lidera a procissão, caminhando sob uma cobertuustentada por quatro homens, moradores locais, enquan

meninas que acabaram de receber a primeira Eucaristia seguetrás, vestidas de branco, como noivas. A procissão faz algumaaradas, quando a música é interrompida, e o recipienabalhado onde é levada a hóstia - o pão consagrado que

credita seja o verdadeiro corpo de Cristo - é erguido. Os sina i re a soam, e a rocissão continua.

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Na maior parte dos países católicos a mesma cerimônia aconteo domingo seguinte ao Domingo da Trindade.

Quem teve a idéia dessa grandiosa procissão, na era medievaoi uma monja belga agostiniana chamada Juliana de Mon

ornillon, que vivia perto de Liège. A monja tivera repetidaisões de uma lua cheia, muito brilhante, à qual faltava uedaço. Depois de refletir sobre a estranha visão, ela concluue a lua era a Igreja, e que o pedaço ausente representavlguma coisa de importância vital. O que faltava, segundo suonclusões, era celebrar a Eucaristia ou a ceia do Senhor co

ma procissão fora do prédio da igreja, para anunciar mportância do evento. Assim nasceu a comemoração de Corp

Christi.

m 1246, o bispo da região adotou a idéia. Mais tarde, uignitário alemão assistiu à celebração e gostou. Os nov

ominicanos aprovaram, já que se interessavam em ensinar abiam que tais procissões impressionam as pessoas comunazendo chegar a elas a mensagem que queriam transmitir. apa Urbano IV, que chegava de Troyes, na França, não muitistante dali, e já conhecia a procissão, decidiu em 1264 torná-nual, estendendo-a a todas as igrejas. Sua decisão talvez tendo motivada ou confirmada também por um milagcontecido no ano anterior na cidade de Bolsena, na Itálentral. Conta-se que um padre da Boêmia foi a Bolsena pama visita à cidade e celebrar missa. Ele, que não aceitavompletamente a doutrina da transubstanciação, convenceu-

o ver sangue verdadeiro escorrer sobre o altar, após onsagração.

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No século 21, os ocidentais, em sua maioria, costumam aceitmediatamente os conceitos que apresentam uma base racionainda que mais tarde mudem de idéia, ao vê-los contestados. Ndade Média, ao contrário, as pessoas tendiam a deixar-mpressionar por mitos, mistérios e rumores, acreditando nele imediato. Segundo um especialista no assunto, um dspectos interessantes daquele período era o modo comcontecimentos ditos milagrosos eram aceitos igualmente pndivíduos mais ou menos esclarecidos. A história misteriosa dma papisa - a papisa Joana - é um exemplo disso.

A PERSEGUIÇÃO AOS CÁTAROS

Nos primeiros séculos, osseguidores de Manes acreditavam q

em e mal fossem entidades separadas. A idéia conquistoeguidores na Bulgária, na Macedônia e na Croácia - regiõue se tornaram cristãs no século oitavo. Em 1200, conceitemelhantes eram difundidos na Alemanha pelos cátaros.

movimento cátaro se espalhou para o sul da França, onde erareqüentemente chamados de albigenses, em referência à cida

e Albi, onde se concentravam.mbora acreditassem em vida após a morte, os cátaros nceitavam Jesus inteiramente. Na opinião deles, Jesus não tinhdo crucificado; portanto, não havia ressuscitado. Em váricasiões, cátaros mais exaltados destruíram cruzes cristãs

hegaram a demolir altares nas igrejas, pois achavam a misnútil. Eles acreditavam na existência de Deus, mas também

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Montaillou era uma cidadezinha nos montes Pireneus, perto tual fronteira entre França e Espanha. Lá não havia carroçam parte porque o terreno era íngreme demais. O frio excesso não permitia o cultivo de uvas ou azeitonas; vinho

zeite - além do sal - eram carregados montanha acima no lombe mulas. Na periferia da cidade, trigo, linho, cânhamo e nabram cultivados em pequenos lotes. No moinho local, o trigo eansformado em farinha, e o pão preparado em casa constituíarincipal alimento.

O isolamento fazia da cidadezinha um ótimo refúgio para deres cátaros sobreviventes, que, comparados ao padre católi

ocal, levavam uma vida suficientemente santa para conquistmuitos admiradores. O padre era o "conquistador" da cidadiscretamente mantinha relações sexuais com solteiras e viúvalegando que a Igreja o impedia de casar-se, mas não delacionar-se com mulheres. Tal como muitos padres e mongele recebia críticas severas, pois quem garantia que tivesse casomida e roupas eram os moradores locais.

Nas cidades próximas, no máximo a metade da populaçreqüentava a igreja aos domingos, e muitos freqüentador

aíam antes do sermão - quando havia sermão. Um operário quontrariando a crença dos cristãos, afirmou que o mundo ncabaria no dia do juízo explicou, ao ser questionado: "É quor causa do meu trabalho na pedreira, sempre saio cedo

missa, e não tenho tempo de ouvir o sermão

roporcionalmente, os cátaros eram mais assíduos nomparecimento à igreja do que os católicos locais. Com

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eqü ncia, is arçavam suas ver a eiras crenças.

Os cátaros se reuniam secretamente para discutir questõeligiosas, pois temiam ser presos ou condenados à morte. Pe

mesma razão, os perfeitos que chegavam à cidade para visitutros simpatizantes às vezes mantinham um capuz sobre

abeça, mesmo quando todos se reuniam em volta da mesa ozinha. E, quando pernoitavam, escondiam-se no teto da cas

Os pastores de rebanhos estavam entre os simpatizantes e muite tornaram verdadeiros cátaros.

As pessoas tentavam imaginar como seria o céu. Caberiam

odos os merecedores? Segundo comentou um camponês, nema construção que se estendesse da cidade de Toulouse eterminado desfiladeiro nos Pireneus igualaria o tamanho déu. Cátaros e católicos conferiam a mesma importância a umoa morte. Os cátaros mais devotos, quando à beira da mortecebiam a visita de um "bom homem", que lhes oferecia erdão.

Na região havia também quem não fosse católico nem cátarm um dia de verão, o padre e alguns homens reunidos sob umrvore no pátio da igreja conversavam sobre a ótima colheit

Um dos homens exclamou: "Graças a Deus, conseguimos

ara surpresa do padre, outro homem respondeu que a colheiarta não era obra de Deus, mas da natureza. Aquele cético evelou. Mas jamais saberemos quantos céticos e ateus viveraa Kurppa, durante a Idade Média.

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CAPÍTULO 12

A MAGIA DO VIDRO ETINTA

e estes foram tempos escuros, as novas igrejas construídoram a luz. Pouco depois do ano 1050, em muitas partes uropa surgiam projetos de construção de enormes catedraisasílicas, além de capelas fartamente ornamentadas. Uma d

rimeiras a ficar pronta foi a basílica de São Marcos, eVeneza, que não era a catedral, mas a capela do doge odministrador. Projetada em estilo bizantino por um arquiterego, destacava-se pela iluminação. Hoje, muitas janelas estmparedadas, quase conferindo ao espaço a aparência de umaverna, exceto em grandes ocasiões, quando é brilhantemen

uminada por velas e eletricidade.

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O SURGIMENTO DA CATEDRAL GÓTICA

A construção da primeira catedral no novo estilo começou n

écada de 1140, na cidade francesa de Sens, mas a catedral dval Saint Denis, nos arredores de Paris, ficou pronta primeirA altura e o formato das igrejas góticas eram surpreendentes. Aanelas em mosaicos de vidro colorido encantavam os visitanteo deixarem passar a luz do sol. O mundo ocidental jamais vianto vidro. Outro aspecto característico eram os arcos pontud

ue davam acabamento às altas janelas, na parte de cimrovavelmente copiados da estética islâmica na Síria aTurguia, durante a primeira cruzada. É possível quonstrutores e operários tenham vindo da Ásia Menocompanhando os cruzados que voltavam para casa.

O sentido de espaço dentro das novas catedrais góticmpressionava. Paredes de aparência delicada, embora feitas edra, proporcionavam o máximo de espaço. Cada catedrontava com uma pedreira própria, de onde as pedras eraetiradas e, depois, modeladas.

Muitas famílias tiveram de sacrificar o padrão de vida, para quossem construídas as catedrais, pois a carga de impostumentava, e trabalhadores que poderiam estar construindasas, moinhos ou celeiros eram desviados para outras tarefa

Às vezes os monges colaboravam na construção, mas faltavhes habilidade.

or que bispos e príncipes queriam igrejas tão espaçosas? E

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, .melhores. Além disso, para glorificar a Deus, espirais e janelerminadas em cima por um arco pontudo indicavam o cé

Havia ainda razões cerimoniais para o tamanho das igrejas - randes procissões exigiam espaço. E mais: muitos homens

mulheres se filiavam às ordens religiosas, e era preciso grandmosteiros para abrigá-los, bem como aos visitantes qhegavam nos domingos e em outros dias santificados.

A arte de pintar e dar cor ao vidro floresceu. De início, istercienses, adeptos da simplicidade, rejeitaram o emprego itrais nas janelas de suas igrejas, mas acabaram cedendo. acerdote podia aproveitar as cenas e os rostos nos vitrais paansmitir sua mensagem sobre a última ceia ou a ressurreiçã

Quando a luz do sol encontrava o ângulo apropriado, o vidriava uma luminosidade inigualável naquela era. Nem a rindumentária de uma rainha se comparava à riqueza de u

itral.ntre 1203 e 1240, a nova catedral de Chartres recebeu vitram suas 176 janelas, em um trabalho realizado por pelo menove talentosos artistas. Só um grande vitral representando ida de Cristo cobria 23 metros quadrados. Dessas décad

ascinantes da primeira metade do século 13, restam: os vitraa galeria superior, reservada ao coro, na catedral de Troyes, nrança central; a rosácea da catedral de Lausanne, na Suíça;rvore de Jessé da catedral de Freiburg im Breisgau (ou Friburgm Brisgóvia), no sudoeste da Alemanha; e os vitrais da catedre Canterbury. A Itália demorou para aderir aos vitra

oloridos. Os exemplos mais antigos conhecidos, encontradm território italiano são os de Assis criados na década de 123

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 or profissionais alemães que tinham trabalhado em uma igreranciscana em sua terra natal.

Os artesãos aprenderam a fabricar vitrais adequados a cada para igreja. Na catedral de Chartres, os azuis intensos ficava

maravilhosos quando o sol caminhava para o oeste; o pôr do soorém, destacava os vermelhos vivos.

O emprego de óxidos metálicos resultou em cores novas paraidro. No início da década de 1300, surgiram o verde-musgo,ioleta e o amarelo âmbar. Outra criação foi um amarelo vivesultado da aplicação de uma solução de prata sobre o vidinda quente, recém-fabricado.

O ALFABETO ILUMINADO

Na época, a Igreja representava, como nenhuma outnstituição, o papel de baluarte da leitura e da escrita. Todos ovros eram escritos à mão, por milhares de copiadores, quabalhavam diariamente. A tarefa se repetia nos mosteirospalhados por territórios que se estendiam da Irlanda do Noro litoral dos mares Báltico e Adriático. A Bíblia Vulgatambém era copiada, embora fossem necessários poucxemplares completos. Havia maior procura por trechos dscrituras e trabalhos teológicos: as cartas de São Paulo, almos reunidos em um livro chamado Saltério, ou uma ediçomentada do Antigo Testamento. Eram as "matéri

elecionadas" da época.

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  ,ergaminho feito de pele de bezerro, carneiro ou bode, não asgavam facilmente. Os mais caros eram escritos sobre umuperfície de velino. Um livro de 200 páginas precisava da pee cerca de oitenta animais. Diz-se até que o custo do materixcedia a quantia recebida pelo escrivão por seu trabalho.

O SIGNIFICADO DAS CORES

Atualmente, as obras de arte em catedrais, galerias e palácios

ália atraem conhecedores e turistas de todas as partes dmundo. Em 1400, os habitantes locais - os principais turistasueriam ver, sobretudo, as mensagens religiosas vividamenxpressas nas pinturas. Cristo e os apóstolos eram, então, eróis; hoje, os pintores e escultores famosos são os heróis, o

melhor, os gênios. No ano de 1400, o único gênio se chamavristo.

As igrejas desempenhavam o papel hoje representado pelalerias de arte. Não havia, porém, catálogos ou fones de ouvidara visitantes e fiéis; as pinturas religiosas tinham de falar seajuda de intérpretes.

Assim como os jogadores de futebol podem ser identificadelas cores da camisa que vestem, os heróis do cristianismodiam ser identificados pelas roupas ou pelos símbolos quaziam nas mãos ou nos pés. A figura do menino Jesus com uintassilgo na mão, pintada por Giovanni Tiepolo, pode intrig

s visitantes da National Gallery of Art, em Washington. Para o

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, , ue recebeu uma coroa de espinhos antes de ser morto. Naquepoca, em que a maioria dos habitantes era composta pamponeses e agricultores, quase todo mundo sabia que intassilgo come espinhos e cardos.

m muitas pinturas São Pedro está vestido de amarelo e seguma penca de chaves - as chaves do reino. Ou carrega um peixm alusão a sua pescaria de almas humanas, na tentativa donquistá-las e convertê-las. São Marcos aparereqüentemente acompanhado de um leão, e, quando se tornoadroeiro de Veneza, o leão foi incorporado como símbolo. Sã

aulo quase sempre traz uma espada, arma com que fecapitado. Santa Escolástica, irmã gêmea de São Benedito, e

muitas vezes pintada com um lírio na mão e uma pomba junos pés.

Nas pinturas, as cores das vestes dos religiosos também sã

nais importantes, pois a Igreja Cristã representava cada vmais o expoente da cor e das decorações suntuosas. Inocênc

I, consagrado papa antes dos 40 anos de idade, voltou sutenção, na década de 1190, para as cores usadas em cerimônieligiosas. Ele estabeleceu a base do atual sistema de cordotado nos vários eventos do ano cristão. Branca, vermelherde, roxa, violeta e preta eram as cores principais. Todo fiem informado sabia, ao entrar em uma igreja de Paris oisboa, de que cor seria a veste usada pelo padre, conformeata comemorada. A Igreja Ortodoxa não adotava tal precisãmbora preferisse vestes brancas para a Páscoa e os funerais.

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As universidades resultaram, em grande parte, do trabalho greja. Fossem elas formadas por bispos ou por grupos informae professores e estudiosos, logo estavam unidas sob o mesm

omando - exceto as da região ocidental do Mediterrânebedeciam aos preceitos e promoviam os objetivos da Igreja. Arimeiras universidades da Europa ocidental ficavam na Itália. o porto de Salerno, ao sul, essencialmente voltada para

Medicina, talvez tenha sido a inicial e no século 11 já ocupava

osto de melhor da Europa. Os estudos se baseavam sobretudm trabalhos de médicos gregos e árabes, traduzidos para atim. Os alunos aprendiam a dissecar corpos, mas de porcos,ão de seres humanos.

Das primeiras universidades, a mais influente ficava eolonha, no norte da Itália, uma cidade que tinha de um ladolinas, e, do outro, a vasta planície do rio Pó. De inícspecializada em Direito Canônico e Direito Civil, criou famacabou atraindo muitos estudantes espanhóis, para os quahegou a ser fundada uma unidade especial em 1364, quandoniversidade completava dois séculos de existência.

aris se mostrou uma séria rival de Bolonha. Especializada eeologia e outras áreas abstratas, a universidade de Paris receb

supervisão da catedral de Notre Dame. Logo quatepartamentos (ou faculdades) - Direito, Medicina, Artes e odo poderosa Teologia - foram criados. A universidade ma

amosa da Espanha - a de Salamanca - foi fundada em 1243. Npoca, a cidade de Oxford, na Inglaterra, contava com um

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niversidade que concorria com a de Paris em Teologia. Tomo a Igreja Católica, a universidade era uma instituiçãnternacional: alunos e professores chegavam de várias regiõem uma movimentação facilitada pelo uso de um idiomomum, o latim. No início, a palavra falada - e não os livros o

manuscritos - constituía a essência do ensino universitário. Umula era equivalente ao sermão na igreja.

A Europa central custou a imitar a criação desses locais para nsino superior, mas a fundação de universidades em Praga, e348, e na Cracóvia, dezesseis anos mais tarde, foram event

marcantes nos círculos intelectuais. A universidade se tornarma característica da civilização cristã. No século 16, a Reformrotestante, que representou um forte abalo para a Igreatólica, foi iniciada por indivíduos formados em universidade

Nos séculos mais recentes, porém, talvez nenhuma instituiçenha colaborado tanto para promover uma visão alternativa o

menos religiosa do mundo.

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CAPÍTULO 13

UMA ESTRELA SOBREASSIS

O oceano da cristandade foi tranqüilo por longos períodos, ms vezes os ventos e as correntes mudavam de direção. Arimeiras décadas do século 13 atravessaram mares bravios.

RANCISCO DESCOBRE UMA NOVA VIDA

No ano de 1200, as cidades da Europa ocidental esenvolviam, embora a maior parte da população vivesse

erra. Nas cidades grandes, porém, comerciantes de tecidos e ornavam-se pequenos magnatas, enquanto surgia um novo tip

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e ne oc an e, cu o ne c o era o pr pr o n e ro. ram rimeiros banqueiros. Na Inglaterra e no noroeste da Europoncentravam-se os principais produtores de lã: criadoreandeiros e tecelões. No entanto, boa parte da produção eomprada pelos comerciantes italianos, que a levavam para s

aís, onde esses produtos passavam pela parte final do procese fabricação.

A lã financiou a infância daquele que talvez seja o cristão maa- moso, desde o próprio Cristo. Francesco di Pietro ernardone, mais tarde conhecido como São Francisco de Assasceu na cidade de Assis, na Itália central, provavelmente e181. Seu pai comercializava tecidos, uma atividade muintiga, mas um setor vital dos negócios na Europa. Eomparação, a fabricação de tecidos era, na época, mamportante do que a fabricação de automóveis, cerca de oiéculos depois.

O pai de Francesco viajava para as maiores feiras da Europa, egião de Champanhe, na França, onde eram negociadrandes quantidades de tecido cru. Possivelmente em umessas viagens ele conheceu Pica, a francesa com quem asou. Compreende-se que tenha dado ao primeiro filho o nom

e Francesco, que remete a "francês". No entanto, o filhenunciaria ao patrimônio acumulado pelo pai. Aquele beovem, que às vezes trocava as roupas elegantes por traporovocou uma verdadeira revolução, com suas atitudansformadoras, ao tornar-se um cristão dedicado.

Na Europa medieval, a lepra estava amplamente disseminadOs portadores da doença viviam fora dos muros da cidade

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, . , , - ,ncontrar um deles na estrada. Certo dia, Francisco resolveeijar um dos enfermos no rosto, apesar da terrível aparência ua pele. Surpreso, ele notou que se sentia alegre, "com umoçura de alma e de coração".

Acreditando que Cristo se comunicava com ele, Francisco mantinha alerta para a possibilidade de receber uma mensagemerta vez, visitava a capela abandonada de São Damião, foos muros de Assis, quando teve a impressão de ouvir uma voinda do crucifixo, no altar. A voz mandava que ele recuperasscapela semidestruída, devolvendo-a aos fiéis. Francisco sab

omo conseguir o dinheiro necessário à execução do projetegou na casa do pai alguns fardos de tecido, amarrou ao lombe um cavalo e viajou para Foligno, uma cidade próxima.

á, Francisco vendeu o tecido e o cavalo, e preparou-se paomeçar a reforma da capela abandonada perto de Assis. Se

ai, inconformado com o que considerou um roubo, resolvegir. O bispo, informado do episódio, tentou repreendê-lo, mrancisco, sempre apaziguador, conseguiu ficar com o dinheiro

oi com aquele dinheiro conseguido ilicitamente que eomeçou a reparar a capela. Chegava a usar a colher de pedrei

a subir em andaimes. Concluída a tarefa, Francisco voltou sutenções para Porciúncula, cidade onde uma capela deneditinos também estava abandonada. Nessa fase da vida - ainte e poucos anos - ele se tornou quase um construtor ncorporador em pequena escala.

m uma das igrejas recuperadas, operou-se nele novansformação. O padre lia em voz alta um trecho da versão e

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atim do evangelho de Mateus, quando Francisco sentiu como s palavras de Cristo lhe fossem dirigidas especialmente. Euviu o conselho de tomar a estrada, sem levar o que quer quosse - "nem ouro, nem prata, nem dinheiro, nem ao menandálias ou um cajado". Como viajante, passou a pregar pa

uem quisesse escutar. Como se inspirava em Jesus, preferitar o Novo Testamento. Na coletânea de seus escritos iscursos, contam-se 164 citações do Novo Testamento, penas 32 do Antigo Testamento - uma rara proporção. Segundxplicava, o melhor sermão é curto, pois "as palavras do Senha Terra foram breves". Muito mais tarde, pregadorranciscanos se tornaram admirados por suas habilidades. Sernardino de Siena, nascido meio século depois da morte rancisco, conseguia imitar o zumbido da abelha ou fazer outrons com muita propriedade, para interessar a audiência ansmitir sua mensagem.

Numerosos jovens - e mais velhos também - juntaram-se der, chegando a uma quantidade incalculável de seguidorem 1209, Francisco era acompanhado por doze discípulos, mm dez anos eles somavam 2 mil ou mais, e em poucas décadhegavam a 39 mil, espalhados por várias regiões. Eles não era

hamados de padres nem de monges; ficaram conhecidos comrades, simplesmente.

A maioria dos franciscanos procurava seguir o texto bíblicNão andeis ansiosos pelo dia de amanhã." Pertences além dstritamente necessário eram proibidos. "Os irmãos nada deveossuir", Francisco advertia. Ele lembrava aos seguidores: "Pós o Senhor se fez pobre no mundo." Suas instruções eram n

" "

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  .rancisco se rebelava contra uma nova onda de riqueza

materialismo, pois o comércio e as transações com dinheiresciam como há quase mil anos não acontecia. Para ele, rilho das moedas representava uma ameaça moral. Em 122

ontrariando a opinião do pai, ele afirmou que as moedas nãram mais úteis do que as pedras do rio.

A mais admirada seguidora de Francisco surgiu em 1212: ovem Clara, que tinha ficado encantada com uma pregação rancisco na catedral. Clara vinha de família nobre, era cerca

oze anos mais nova do que Francisco e estava determinadaornar-se sua discípula. O problema era: como acomodar, ema comunidade masculina, aquela moça zelosa e educadom o consentimento do bispo de Assis, Clara foi admitida n

mosteiro beneditino local, como monja. De início, seus pais rice nada sabiam; para eles, a filha havia simplesmente saído

asa.lara logo se adaptou à vida de pobreza que Francisrescrevia para os seguidores. As roupas finas foram substituídor outras, grosseiras, e o próprio Francisco lhe cortou os longabelos. Aquele foi talvez um dos momentos mais sensuais d

ida de disciplina que ele se impusera. Descontente com a rotino mosteiro, já que era seguidora de São Franciscxclusivamente, Clara foi autorizada a ocupar a entãecuperada capela de São Damião. Unindo-se à irmã e lgumas amigas que compartilhavam de suas idéias, ela ornou a líder das Damas Pobres de São Damião, mais tardonhecidas como Clarissas Pobres.

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m um exemp o e extrema so r e a e, e a e uava tr s vezor semana e dormia em uma cama feita com galhos de videirendo uma pedra como travesseiro. Como essa vixcessivamente dura acabou por prejudicar-lhe a saúde, Clanalmente aceitou as ordens severas de Francisco, no sentido d

ormir regularmente em um colchão de palha e comer um poumais de pão. Sua fama se espalhou. Nas cidades de Lucciena, e até mesmo Bordéus, na França, surgiram grupos

mulheres franciscanas que imitavam sua vida piedosa.

RMÃ COTOVIA E IRMÃO PEIXE

rancisco de Assis era capaz de atrair um pássaro que estivesousado em um galho. Em uma época na qual se tratavauramente aves domesticadas e animais de trabalho, Francisc

entia afinidade com eles. As cotovias, de cor parda, eram sureferidas. Ele via no aspecto pouco atraente das penas daquelves um conselho para que frades e monges não usasseroupas coloridas e luxuosas". As cotovias possuíam tambéma virtude religiosa - a humildade - além de passarem quaseempo todo "nos céus". Aos olhos de Francisco, a cotovia era a

mesmo tempo alegre e frugal, pois "percorre animadamentestrada em busca de um grão de milho e, quando encontra, comatisfeita, ainda que tenha de pegá-lo entre os excrementos dnimais". Na época, bois, cavalos e burros eram o principal mee transporte. Assim, espalhavam-se pelas estradas montes d

sterco, que às vezes continham grãos não digeridos. Essrãos serviam de alimento aos pássaros.

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rancisco tratava as cotovias como irmãs. No dia de Nataornou-se costume os habitantes das cidades espalharem grãas estradas, para alimentar as cotovias. Certa vez, ele pregavm Bevagna, uma cidade situada na Itália central, até hodmirada por sua  piazza  medieval, e saudou-as formalmen

omo "meus irmãos pássaros", convidando-as a louvar riador, "que lhes deu tudo que é necessário: penas comgasalho e asas para voar". Observadores podiam considerá-xcêntrico, mas talvez não houvesse em toda a Europa um sumano semelhante a ele.

Diz-se que Gubbio, uma cidade de montanha, próxima a Assiestemunhou milagres de Francisco. Lá ele curou a mãaralisada de uma menina. Além disso, amansou um lobo quterrorizava as redondezas: em um pacto de amizade, apertoolenemente a pata do lobo, como se fosse um acordo d

avalheiros. Uma pintura exposta na National Gallery, eondres, mostra a cena e a admiração despertada por ela.

anto Antônio de Pádua - ainda não conhecido por esse nomeiajou ainda muito jovem de Portugal para a Itália e juntou-sema das eguipes de pregadores françiscanos. Na década 220, visitou Rimini, um antigo porto romano no Mar Adriáticnde tentou converter "uma multidão de heréticos". Por maue pregasse, ninguém se deixava convencer. Certo dia, eaminhou até a foz do rio, logo abaixo da ponte romana, quontinua intacta, e resolveu falar ao mar. Se as pessoas não uviam, os peixes ouviriam, com certeza. De acordo com o liv

s pequenas flores de São Francisco, muito popular no sécu4, os peixes puseram a cabeça fora da água, para escuta

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ntão, arrumando-se em ordem espontaneamente, com menores na frente, inclinaram a cabeça, "em sinal everência". Os habitantes de Rimini acorreram ao loca

maravilhados.

Uma característica dos primeiros franciscanos era a estranh

déia de que os animais, tal como os seres humanos, são capaze organizar-se em formação precisa, quando tocados pespírito Santo. Uma pintura na igreja da Santa Croce (Sanruz), em Florença, feita poucos anos depois da morte rancisco, mostra o santo, vestido com um manto escuro, com

emblante sério, dirigindo-se a um grupo de pássaros qurganizados em fileiras de seis, escutam atentamente. Em outena, quem escuta são muçulmanos, já que naquela época ristãos empreendiam cruzadas para convertê-los, e o grupambém está organizado em fileiras de seis. Em 1219, Francisc

alguns companheiros partiram em uma cruzada, na esperan

e converter os muçulmanos pacificamente.

OS ÚLTIMOS DIAS DE FRANCISCO

Aos quarenta e poucos anos, Francisco já não tinha a saúde ntes. Como queria continuar pregando, ainda montava, mas na longe. Além de fraco fisicamente, começava a perder a visão

A possibilidade de que Francisco não tivesse muito tempo dida tornou-o ainda mais precioso para seus seguidores, e u

contecimento notável intensificou essa admiração. Conta-se qpareceram em seu corpo estranhas cicatrizes e feridas qu

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eguiam o padrão das marcas deixadas no corpo de Cristo perucificação. Os ferimentos, chamados de "estigmas", eraaudados como sinal de uma bênção especial de Cristo. Nnício do século 20, marcas semelhantes apareceriam no corpo padre de uma província italiana, o padre Pio, cuja cidad

mais tarde se tornou o destino de ônibus lotados de peregrinos.rancisco passou seus últimos dias em uma cabana, no locnde tinha se convertido: a planície abaixo de Assis. Lá, pedão, benzeu e distribuiu em pedaços aos frades reunidos eolta. A cada pedaço de pão entregue, ele pousava a mão sob

cabeça do frade. A seu pedido, foram lidas em voz alassagens do evangelho de São João, e mais uma vez ele ouvs palavras: "Jesus sabia que tinha chegado a hora de deixar es

mundo e ir para o Pai." Francisco morreu em 3 de outubro 226, no silêncio da noite. Houve relatos apaixonados de qm bando de cotovias, suas aves favoritas, começaram a vo

m círculo, como que em uma despedida.rancisco pediu para ser enterrado despido, diretamente na terrentão esquecido. Mas seu corpo era importante demais pa

ue o esquecessem. Decorrido pouco tempo da morte rancisco, seu dedicado protetor, o cardeal Ugolino, foi elei

apa. Com o nome de Gregório IX, ele viajou a Assis, paroclamar Francisco santo. Depois de dizer uma frase popular ndade Média - "Ele era a estrela da manhã entre as nuvens" -apa entrou na cripta da basílica em construção e rezou mism presença do corpo de Francisco, recém-removido para l

Alguns franciscanos estranharam que um dos santuários de malto custo da Itália fosse construído em honra de um santo q

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  .Os seguidores de Francisco se espalharam por muitos países. NHungria, tiveram de sujar as roupas com estrume de vaca, dmodo que fossem menos tentadoras para agressores e ladrõe

m uma cidade espanhola, acamparam no cemitério. A primei

xpedição à Alemanha fracassou, porque os frades não falavaidioma local. No Marrocos, alguns se tornaram mártires. Eutras regiões, porém, inclusive Inglaterra e França, forancrivelmente bem-sucedidos.

Nem todos os propósitos de Francisco se mantiveram depois

ua morte. Ele achava a aprendizagem um risco, e os livrosmanuscritos, um perigo, por alimentarem o orgulho. No entantm pouco tempo as novas universidades eram um dos pontortes da ordem franciscana. Originariamente, os seguidores rancisco faziam trabalho braçal e cuidavam de enfermos. Maltava encanto a essas tarefas, e começou a ficar difí

ncontrar quem as assumisse. Embora Francisco visse grandirtudes na pobreza, alguns de seus seguidores mais destacadieram a ser amigos ou capelães dos ricos, e convenceram-nosoar dinheiro aos franciscanos. A ordem se tornou poderosa ca - o fundador se espantaria! - e seus membros chegaramardeais e papas.

OS ELOQÜENTES DOMINICANOS

nquanto Francisco iluminava a Itália, via-se outra luz e

olonha, na parte norte das montanhas. A outra luz vinha d

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  ,om Francisco, embora doze anos mais velho: ambos possuíarara habilidade de atrair e inspirar discípulos; ambos vinham

amadas mais abastadas da sociedade e tinham pleonsciência dos perigos da riqueza; e ambos conheciam dvertência do Novo Testamento, segundo a qual os ricificilmente entram no reino dos céus.

A ascensão de Domingos de Gusmão não foi tão rápida e chee encantos quanto a de Francisco. De família nobre, Dominge Guzmán - esse era seu nome verdadeiro - nasceu no extremorte da Espanha, perto de Burgos. Na Idade Média, boa par

a vitalidade do cristianismo vinha de áreas da Península Ibériecentemente ocupadas pelos muçulmanos ou de regiõróximas.

Quando Domingos tinha cerca de 21 anos, a região onde vivoi assolada pela fome. Ele vendeu os livros que possuía - u

om livro valia muito, por ser escrito e ilustrado à mão -istribuiu o dinheiro aos necessitados. Logo que entrou para

mosteiro de Osma, sob administração dos agostinianos, teve alento reconhecido pelo bispo local, Diego de Azevedo. Juntoles fizeram uma longa viagem, quando chegaram a visitar apa. E foi o próprio papa quem os dissuadiu de prosseguumo a terras distantes, em busca de conversões. Afinal, urupo de heréticos vivia em local pouco acessível, mas próximas montanhas do sul da França e do norte da Espanha. Estom certeza deviam ser convertidos primeiro.

m Roma, no ano de 1216, Domingos recebeu autorização pa

undar uma ordem religiosa, com a missão específica de prega

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  , ,átaros. Seus dezesseis seguidores se espalharam, reuniram maomens dispostos a dedicar a vida a Cristo e implantaram muitasas religiosas; tantas, que Domingos encontrava dificuldam inspecionar todas. Conta-se que só em uma viagem nspeção, partindo de Roma e atravessando França e Espanh

le percorreu cerca de 6 mil quilômetros a pé.

Aos poucos os habitantes das cidades perderam o interesse pelregações. Os dominicanos, porém, sabiam como atrair tenção do povo. Cada vez mais eles eram solicitados a instalúlpitos nas igrejas de paróquia e ouvir as confissões dos fié

eu manto negro e a capa branca sem mangas eram facilmeneconhecidos nas ruas. Com pobreza e sinceridade, ominicanos conquistavam respeito. Como pediam apenas o quomer, não podiam ser acusados de viver à custa do trabalhoo suor dos pobres.

omás de Aquino, nascido na Itália em 1225, quatro anos apósmorte de Domingos de Gusmão, intensificou o empenho dominicanos pela dominância intelectual. A fama de Tomás d

Aquino como importante teólogo perdurou por cerca ditocentos anos. Apesar de considerado o patrono de todas niversidades católicas, suas opiniões não eram aceitas sexceção. Por algum tempo, os trabalhos de Tomás de Aquinoram banidos das instituições mantidas pelos franciscanovais dos dominicanos.

m certos círculos, a popularidade dos dominicanos diminuepois que a Inquisição começou a eliminar as heresias. O

ominicanos, como pregadores e teólogos, sabiam exatamen

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 adre dominicano Tomás de Torquemada, que se tornou rande inquisidor, dois séculos e meio após a morte d

Domingos de Gusmão. É de certa forma injusto que a Inquisiçspanhola e seus homens fortes, cristãos, tenham se tornadímbolos da intolerância, já que não são raras as atitudes

ntolerância encontradas nos registros das histórias de verdadonsideradas preciosas.

OS FRADES PEDINTES

ranciscanos e dominicanos ficaram conhecidos commendicantes". Em outras palavras, eram pedintes. As pessos conheciam como "frades", da palavra latina  frater,   qgnifica irmão. Nas ruas e estradas da maior parte da Eurocidental, os costumes das novas ordens pedintes começaramer identificados. Os franciscanos usavam hábito cinza e, pima, um manto da mesma cor; mais tarde, mudaram para o hoamiliar marrom. Os dominicanos - ou frades pretos - vestiaábito branco e manto preto. Os carmelitas - ou frades brancossavam marrom por baixo e branco por cima. Das grand

rdens mendicantes, a mais recente é a dos frades agostinianu Eremitas de Santo Agostinho, fundada em 1256, menos d

meio século depois da criação da ordem franciscana.

rancisco e Domingos começaram a vida religiosa durante onga era dos mosteiros, uma instituição inicialmente destinada

azer com que seus membros se afastassem do mundo e proximassem de Cristo. No entanto, eles chegaram ao fim

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ida como fundadores de instituições que pertenciam mais nquietação do mundo. Seus frades não rezavam atrás de portõechados, mas nas praças e estradas. De início, dependiam ondade e da gratidão do povo, para terem o que comerancisco às vezes imaginava seus frades como "as aves d

éu". Segundo o evangelho de Mateus, elas "não semeiam, neifam, nem recolhem em celeiros. O vosso Pai celeste limenta". Mais tarde, porém, franciscanos e dominicanos ornaram grandes proprietários de casas, conventos, orfanatosilos, escolas e igrejas. A mudança de uma existência precárara uma organização permanente foi quase inevitável, e o preçpagar pelo sucesso rápido. Sua nova forma de cristianism

eria forte influência sobre boa parte do mundo.

ranciscanos, dominicanos, agostinianos e carmelitas percorrias ruas apinhadas de cidades em desenvolvimento, comlorença, Gante e Gênova. Quando eles chegaram a ess

ocais, já encontraram numerosas igrejas. Assim, tiveram donstruir outras onde houvesse espaço: junto às estradas ou eerrenos vagos, entre as muralhas internas e externas. Foi o qus franciscanos fizeram em Bolonha. Para os pregador

mendicantes, a vantagem de ficar dentro dos limites da cida

stava na facilidade de alcançar platéias mais influentes umerosas. Usando de persuasão, eles procuravam influir sobmoral dos habitantes, já que as cidades eram considerad

edutos da imoralidade e do vício, em contraste com o campmais simples e natural.

fácil minimizar a importância dos franciscanos e dominicanoá que a Reforma e o surgimento do protestantismo tendem

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  .dvento dos frades, porém, representou uma verdadeievolução religiosa que afetou um território mais vasto do querotestantismo, em seu início. E mais: em 1490, quando novotas marítimas foram abertas para a Ásia e as Américaranciscanos e dominicanos foram freqüentemente os primeirosmbarcar.

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ecessidade de preparar Jerusalém para o dia em que Crisetornasse.

ra certo que Cristo apareceria primeiro em Jerusalém, a cidande tinha sido crucificado. Pregando em Colônia, na Páscoa 096, Pedro convenceu multidões de alemães a segui-lo.

alvez o grupo já contasse com 20 mil participantes, quandohegada da primavera permitiu a partida. A cruzada passou poelgrado e Sófia, a caminho de Constantinopla. Pedro segu

unto, montado em seu jumento, incentivando e prometendo uislumbre do paraíso.

O imperador de Constantinopla deve ter se assustado, proximação daquela cavalgada amadora. Como primeirovidência os viajantes deviam ser alimentados, para ngirem como uma praga de gafanhotos, ao atravessar as extenslantações. Provavelmente o imperador viu com alívio

momento em que o grupo foi embarcado, para atravessar streito de Bósforo e alcançar o litoral da Ásia. Aquele epenas o início, porém. Exércitos de cruzados bem treinadhegariam do norte da Europa, por terra e pelo mar.

Havia um longo caminho a percorrer até Jerusalém. Liderad

uase sempre por franceses, os cruzados armados capturaraAntioquia em 1098 e, um ano depois, Jerusalém, onde segunde conta foram mortos cerca de 50 mil muçulmanos e judeu

Quatro colônias separadas - em geral descritas como reinos orincipados - foram estabelecidas por nobres europeus ocidentaerto do litoral asiático do Mar Mediterrâneo. Um desses rein

atinos administrava a própria Jerusalém. Em 1187, porém, urcos finalmente retomaram a cidade encerrando a ocu a

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elos cruzados, que se estendeu por 88 anos.

A QUARTA CRUZADA: INSANIDADE

sperava-se que as cruzadas contra o islamismo unissem ristandade. No entanto, elas acentuaram a cisão religiosa entristãos católicos e ortodoxos. Além disso, intensificaram validade comercial entre as repúblicas cristãs de Gênova

Veneza, enfraquecendo seus laços católicos.

A rivalidade entre Gênova e Veneza foi resultado, em parte, deografia da Itália. Como principais portos em seus respectivecortes dos profundos golfos do Mar Mediterrâneo, serviam otas comerciais que cruzavam os Alpes, rumo ao norte duropa. Gênova ocupava a parte ocidental da Itália, e su

mbarcações competiam com as da vizinha Pisa, na tentativa ssumir o controle das águas que se estendiam na direção drança, da Espanha e do noroeste da África.

Diferentemente, Veneza ficava na parte oriental da Itália, e sumbarcações dominavam boa parte dos mares Adriático e Egelém do Mediterrâneo oriental e das estreitas passagens quavam acesso a Constantinopla e ao Mar Negro. Por falta mbarcações próprias, Constantinopla aos poucos passou tilizar barcos venezianos no transporte dos produtomercializados. A cidade chegou a manter um baireneziano, onde oficiais lá residentes, vindos de Venez

ulgavam disputas entre marinheiros e negociantes, e onapelães, também vindos de Veneza, oficiavam regularmen

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erviços religiosos, empregando idioma e ritos latinos. A paz ompeu em 12 de março de 1171, quando o imperador bizantinrdenou a prisão de todos os venezianos que vivessem nidade. Embora perseguidos durante dias pelo inimigo, alguonseguiram escapar do verdadeiro banho de sangue. Quat

nos depois, as desavenças foram parcialmente sanadas, omerciantes venezianos retornaram a Constantinopla.

Veneza esperou até 1204 pela vingança.

m 1204, uma frota veneziana que transportava tropas uprimentos atravessou em segurança o estreito de Dardanelos

lcançou as muralhas da poderosa cidade, permitindo esembarque de cerca de 30 mil homens dispostos a luta

Depois de tomar de assalto as fortificações, massacraram muitabitantes e queimaram, pilharam ou destruíram prédios. Ents produtos da pilhagem levados pelos invasores estavam do

elos cavalos de bronze que adornavam o hipódromo da cidadocal da realização de competições entre carruagens e de desfilivis. Os cavalos de bronze continuam em Veneza, do lado dora da igreja de São Marcos, de onde se vê e ouve o mar.

omerciantes e religiosos obtiveram recompensas desonquista naval. Um veneziano passou a ser o patriarca da Igre

Ortodoxa - o papa oriental, na verdade. Em uma decisãoerente, ele coroou como novo imperador bizantino um nobrancês, Balduíno, o Conde de Flandres. Afinal, a maior paras cruzadas tinha entre seus soldados grande quantidade oldados franceses.

No Ocidente, muitos cristãos se revoltaram com a humilhaç

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  .omo resultado desses eventos, a maioria dos cristãos ortodoxassou a rejeitar os cristãos católicos mais do que rejeitava

muçulmanos. Os cristãos ocidentais aguardaram, e, quandurgiu a oportunidade, em 1261, retomaram a cidade.

CRUZADAS: UMA AVALIAÇÃO

As cruzadas estenderam-se por um período de cerca uatrocentos anos, e têm um peso importante, quando se trata d

valiar nossa visão do passado e do cristianismo atual. Aruzadas são consideradas atualmente uma das causas isgórdia entre um pequeno braço militante do islamismo e

mundo cristão ocidental. Vários líderes europeus já esculparam publicamente pela atuação de seus países nruzadas. Embora pedidos de desculpas sejam uma forma dagamento um tanto desvalorizada, quando feitos séculos depoo evento e por pessoas não envolvidas diretamente, não deixae ser uma atitude de espírito cristão.

As cruzadas já foram vistas mais favoravelmente por muitistoriadores ocidentais, que elogiavam o idealismo de dezene milhares de cruzados, bem como de outras dezenas

milhares que permaneciam em casa. "A humanidade nriqueceu por causa das cruzadas", escreveu um renomadstudioso britânico no início do século 20. "Não se pode chame sombrios os tempos em que os cristãos se reuniram em torn

e uma causa comum e levaram a bandeira da fé até o túmulo deu redentor." Cidadãos bem informados do mundo ocident

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arecem esquecer um fato significativo. Entre os séculos sétimdécimo, as forças do islã capturaram mais da metade de tod

s territórios cristãos da Europa e da Ásia Menor. As cruzadamal coordenadas, recuperaram apenas uma parte do que estaverdido.

A longa duração da era das cruzadas responde por boa parte dulpa e do desconforto causados até hoje pelo assunto. Por que estenderam tanto? O fervor religioso foi, com certeza, umazão poderosa. Tanto os cristãos quanto seus adversáricreditavam lutar por uma causa sagrada. Outra razão -

istância - pouco teve a ver com o cristianismo. As forças crista Europa ocidental, depois das primeiras vitórias, que lhermitiram implantar reinos nas regiões mais afastadas do m

Mediterrâneo, encontraram dificuldade em fazer chegar oldados, cavalos e reforços, tanto por terra quanto por mar. Anhas de suprimento das primeiras possessões valiosas

uropa ocidental eram longas e dispendiosas.Os invasores cristãos lutavam para equipar os novos reinsiáticos com homens e cavalos suficientes. Assim, as cruzadrecisavam continuar, embora a um altíssimo custo em vidasuprimentos, simplesmente para manter o domínio sob

erusalém e as outras terras conquistadas na primeira cruzadAcontecia com os cruzados o mesmo que aconteceria amperador Napoleão e às forças francesas, ao lutarem nongínqua Rússia em 1812, ou aos britânicos, ao defendereingapura em 1942. Todos combatiam longe de casa.

ara os cristãos, locais como Jerusalém, Jericó, Belém, Nazarémar da Galileia representavam momentos fundamentais n

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ida de Cristo. Lá aconteceram seus milagres, suas pregaçõeua morte. Lá estava seu túmulo vazio. Abandonar Jerusaléepois de conquistada seria praticamente uma blasfêmia, umegação da própria fé religiosa.

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CAPÍTULO 15

ROMA, AVIGNON E OCHIFRE DE OURO

A Igreja Católica e suas atividades estavam presentes na maiarte da Europa. Atualmente, não existe instituição, seja culturaeligiosa ou educacional, que se compare à situação daquepoca. Como em uma versão inicial da assistência social d

stado, a Igreja mantinha albergues para os idosos e orfanatara os jovens; hospitais para os enfermos de todas as idadeeprosários; e hospedarias onde os peregrinos podiam encontrama e comida por bom preço. Em tempos de escassez, a Igretuava como o maior fornecedor de pão., e de outros produtssenciais, como o sal. Os mosteiros construíam ampl

epósitos para armazenamento de grãos e de feno, e os mong

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obres.

ara atuar em tantas frentes, a Igreja precisava recolhontribuições em larga escala. Essas taxas - ou dízimos orrespondentes à décima parte da produção do solo eram pag

elos donos de terras. A Igreja Católica também possulantações e inúmeros imóveis nas cidades, inclusive prédiuxuosos, sendo a maior proprietária da Europa. Além dissdministrava direta ou indiretamente a maior parte dniversidades europeias e era dona de quase todas as grandibliotecas, onde ficavam os livros produzidos nos mosteiros.

mais: era o principal patrono das artes e o principal educador dovens, embora a maioria das crianças não freqüentasse a escol

raticamente todas as atividades econômicas eraegulamentadas ou orientadas pela Igreja. O negociante de cou

grãos, o cervejeiro que pagava os empregados, o capitalis

ue cambiava moedas estrangeiras, o mosteiro que vendia umarte de suas terras - todos deviam perguntar: este é um preçusto? As pessoas respondiam diante de Deus por todas ansações realizadas. Alguns teólogos fizeram fama deliberandobre essas questões delicadas. Até os papas, às vezes, ronunciavam. A usura - cobrança de juros sobre o dinheirmprestado - era considerada um pecado. "Ai de vós, que socos", Cristo disse. Essa mensagem não agradava a todos.

Na era medieval, as advertências da Igreja eram absolutamenmpraticáveis para os comerciantes. Sua sobrevivência, comegociantes a longa distância, estava ligada à venda

mercadorias - lã, vinho ou grãos - por preços superiores aos qu

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  . , nham dificuldade em deliberar sobre comércio e finançaApesar disso, a Europa e o mundo mediterrâneo cada vez maependiam do comércio, em especial nas épocas de muita fartuu muita escassez.

oram estabelecidas penalidades para comportamentontrários aos preceitos do cristianismo - castigos capazes azer um bom cristão torcer as mãos ou blasfemar. O proprietáre terras ou comerciante que fosse considerado culpado nã

mais tomaria parte na Eucaristia. Alguns teólogos sustentavaue devia mesmo ser proibida a entrada dos culpados na igrej

Ao morrer, eles não teriam direito a que os religiosos daróquia orassem por sua alma. As mesmas leis impostas aéis aplicavam-se a bispos, abades e padres. Se algum destossuísse fortuna pessoal e quisesse aumentá-la emprestandinheiro a juros, seria acusado de usura, pecado pelo qual pod

er suspenso ou expulso da ordem a que pertencia.ode-se comparar a Igreja medieval a uma estranha mão, coez dedos. Seus castigos e recompensas alcançavam todos nstantes da vida, dia e noite. Sendo o papa responsável pedministração e supervisão dessa enorme instituiçãompreende-se que sua morte e a escolha de um sucessepresentassem acontecimentos tão importantes.

O PAPA EREMITA

edro era o décimo primeiro dos doze filhos de um casal am oneses. Vivendo em uma caverna comendo aliment

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 mples e vestindo roupas humildes, ele rezava ou permanecm atitude contemplativa por boa parte da noite e do dia. E

Monte Morrone, ele ajudou a reunir em uma nova comunidas eremitas que viviam por perto. Daquele grupo surgiu a ordeos celestinos, cuja denominação remete à cor do céu. Em s

mosteiro, construído nos montes Abruzos, perto de Sulmonedro se tornou um líder tranqüilamente inspirador.

m 1292, era preciso eleger o papa. Pedro, o Eremita, entãom mais de 80 anos, nunca participava das reuniões doderosos da Igreja. Assim, seu nome não constava da lista d

onsiderados aptos ao pontificado. Depois de dois anos mpasse, porém, chegou-se à conclusão, sob a influência darlos II, rei de Nápoles, de que Pedro seria o melhor candidat

Mensagens foram enviadas ao eremita quase andrajosonvencendo-o a aceitar a indicação. Em julho de 1294,

le foi consagrado na bela basílica de Santa Maria ollemaggio, de paredes quadriculadas em mármore vermelhoranco, na cidade de Áquila, perto da montanha de Gran Sass

A cerimônia foi assistida por vários cardeais e por alguns de seompanheiros eremitas, vestidos de preto. Uma multidão cercoigreja para saudar aquele que, segundo se esperava, restaurar

o papado a inocência e a simplicidade.

anto o papa celestino como aqueles que o indicaram nãardaram a se arrepender. Ele tomou uma decisão rara: abdica

Depois de apenas cinco meses de pontificado, pediu dispensau foi dispensado. Daí a pouco tempo, morreu.

edro foi sepultado na basílica de Aquila no final do invern

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 e neve. Em abril de 2009, mais de sete séculos depois, sorpo embalsamado, em vestes cerimoniais, seria perturbadelo forte terremoto que atingiu a região. Foi então transferida igreja semi-destruída para local seguro, na presença do papaas câmeras de televisão: uma inimaginável invasão rivacidade de um eremita.

QUANDO ROMA SE MUDOU PARA A FRANÇA

Roma e seus arredores às vezes pareciam uma verdadeinarquia, palco de intrigas e disputas. Havia razões suficientara o papa deixar a cidade sempre que possível.

m 1304, o papa Bento XI morreu na cidade montanhosa derúgia, na Itália central. Os cardeais se reuniram lá para eleg

m sucessor, mas só chegaram a um indicado - de um religiorancês - depois de 11 meses. O novo papa, que adotou o nome Clemente V, era arcebispo de Bordeaux; sem ter chegado ardeal, não estava presente em Perúgia, é claro. Consagrado idade francesa de Lyon e, de certo modo, sob a influência dei da França, não se sentiu atraído pela idéia de liderar a Igrejaartir de um palácio localizado na instável Roma e, ponseqüência, na turbulenta península da Itália.

m vez de mudar-se para Roma, o novo papa simplesmenoncordou, em 1309, em viver em Avignon, no sul da Françue, apesar de não muito importante como cidade, estava situad

o vale do rio Ródano, uma das rotas de navegação e d

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  .Roma e seus arredores se tornassem menos conturbados. AssimAvignon não seria sede permanente do papado, e não havecessidade de construir um novo palácio; ele podia viver n

mosteiro dominicano. Seu sucessor foi o bispo de Avignon, qumanteve o mosteiro como residência. Afinal, iniciou-se onstrução do palácio papal sobre a maior rocha junto ao rio. ortificação das muralhas em torno da cidade ficou pronta e368, quando o governo papal já se tornara proprietário de todregião.

De modo geral, a maioria dos cardeais era italiana, mas n

écadas em que os papas viveram em Avignon a situaçãmudou. Em 1331, 17 dos 20 cardeais eram franceses. Quandcorria uma vaga, era preenchida por outro francês. Não admiue, ao se reunirem em Avignon, os cardeais elegessem seuonterrâneos como papas - sete, ao todo - que por sua v

onsagravam cardeais de nacionalidade francesa. Em 70 anooram escolhidos 112 cardeais franceses.

A mudança para a França reduziu o prestígio do papa. Ninguée esforçou mais do que Catarina de Sena, uma freiominicana de 30 anos, para convencer diversos religiosos due o papa realmente pertencia a Roma. Lá estava sepultado Sedro, cuja missão devia ser levada adiante por todos os papa

Apesar de instalados na França, os papas, em sua maiorionsideravam a Itália seu lar legítimo. Assim, dois terços do quIgreja arrecadava eram empregados na contratação de soldad

mercenários para a retomada dos territórios, especialmente

ália central. Aumentando seu poder na Itália, o governo papeconquistou Bolonha, Verona e outras importantes cidad

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 rande potencial econômico e estratégico formada por FlorençRoma e centro da Itália, e depois em muitas outras regiões. Renascença estava a caminho. Um renascimento do espíriecular e pré-cristão da clássica civilização grega e romaerviu como estímulo à admiração da beleza e da forma, a um

ova atitude diante de pinturas e esculturas, ao questionamena moral tradicional e à celebração das alegrias deste mundo,ão do que está por vir. A reduzida camada mais culta dociedade europeia - inclusive o papa - seria especialmenfetada.

WYCLIFFE, O CONTESTADOR 

No vazio da liderança religiosa, surgiram contestadores gitadores. Os mais influentes viviam ao norte dos Alpes. Ueles foi John Wycliffe, um padre estudioso nascido e

Yorkshire. Fluente em latim e inglês, era muito conceituado eOxford. Foi pároco de várias congregações, mas em todassou pouco tempo.

Ano após ano, Wycliffe criticou quase tudo que podia s

azoavelmente - ou não - criticado, inclusive os mosteiros e suropriedades, e a liberdade sexual de muitos padres, monges

monjas.

Até a Eucaristia foi alvo de suas críticas. Como, ele perguntavodiam os milhares de cristãos que participavam da Eucarist

creditar que o pão assado em um forno próximo, e quecebiam solenemente havia or mila re se transformado dian

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e seus olhos, em um pedaço da carne do corpo de CristWycliffe comparava a procissão de Corpus Christi, tão admirao fim da era medieval, a "um milagre com um ovo de galinhaara ele, os mistérios da Igreja - bênçãos, água benta, incensoão faziam milagres.

Wycliffe deplorava a atitude da Igreja diante da guerra, amentava que promessas feitas por padres tivessem levadoldados cristãos ingleses a lutar, década após década, contoldados cristãos franceses.

Os homens e mulheres que se entusiasmavam com o canto cora

s cerimônias, as pinturas e o incenso nas igrejas pouca atençavam a Wycliffe. Mas ele possuía amigos em altos postos, or muito tempo escapou da censura pública. Somente depois dondenação imposta a várias de suas doutrinas - pelo papa, e377, e pela universidade onde lecionava, em 1381 - ele f

unido. Mas a punição se revelou leve: o simples afastamento ma paróquia rural.

omo o Novo Testamento só estava disponível em latim, eão trabalhou pessoalmente, mas patrocinou um excelensquema de tradução para o inglês. Mesmo depois da morte d

Wycliffe, seus seguidores levaram adiante a tarefa. Na épocão havia gráficas. Assim, os livros eram escritos à mão, cooa caligrafia, e as cópias circulavam, geralmente mescondidas. Em 1407, a Bíblia não autorizada de Wyclifstava virtualmente banida.

Os escritos de Wycliffe influenciaram a geração seguinte. Ema família de camponeses nasceu um jovem que foi capaz

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egundo maior lago alpino da Europa e ladeava o rio Reno, ema época na qual o transporte pela água custava menos do qutransporte por terra. Significativamente, Constance não ficav

erto da Itália, da França nem da Espanha, onde viviam os trapas rivais.

As ruas em torno da antiga catedral de Constance ficarapinhadas. Para lá acorreram cardeais, bispos, diplomata

mestres em Teologia, abades, monges e padres. Praticamenodos os presentes estavam determinados a restaurar a unidaa Igreja dividida. Antes disso, porém, precisavam afirmar

róprio poder, para que os papas rivais pudessem ser destituídoAssim, em abril de 1415, o concílio declarou receber o poddiretamente de Cristo". Um papa, então, foi destituído em 29 d

maio. Daí a cinco semanas, um segundo papa abdicou. Restopenas o papa - ou anti-papa - que pertencia à linha de sucessãe Avignon. Este, afinal, foi também destituído; o trono pap

stava livre. Em novembro de 1417, elegeu-se um membro dntiga e poderosa família Colonna, que adotou o nome d

Martinho V.

Roma voltava a ser a residência oficial do papa - o únicDurante cerca de quatro séculos, Avignon se manteve como u

os territórios papais, mas foi perdendo a influência. Neseríodo e depois, nenhum francês foi eleito papa.

O grande cisma havia chegado ao fim. Sua longa duraçãorém, abalara seriamente a autoridade papal. Assim, quandalentosos sacerdotes reformistas, como Wycliffe e Hu

uestionavam a atuação da Igreja, apenas repetiam a estratégos cardeais e bispos que, ao permitir que a situação chegasse a

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onto de haver três papas ao mesmo tempo, tinhandiretamente provado que nenhum deles possuía autoridaivina.

A última página da história de Hus não foi escrita. Uma dreocupações do concilio reunido em Constance, no ano

414, era uma rebelião na Boêmia. Hus, considerado ugitador, foi chamado de Praga, em uma viagem de mais de 50uilômetros, através de florestas e plantações. Ele chegou onstance acreditando na promessa de que, depois

nterrogado, voltaria para casa.

A promessa não foi cumprida. Em parte, Hus se expôs por caua determinação de suas atitudes. Ainda em Constance, efirmou que desobedeceria à proibição de pregar e rezar miss

Os dignitários, em suas vestes brilhantes, decidiram prendê-lo. risão, no entanto, não enfraqueceu a fé que Hus sentia. Enha consciência das próprias idéias, e acreditava estonsciente das idéias de Cristo. O concílio, resolvido emonstrar autoridade, optou pela condenação de Hus à mortenão ser que renegasse sua fé. Ele se recusou. Em julho

415, altivamente enfrentou a morte nas chamas.

éculos mais tarde, a cidade de Constance se tornou umportante local de peregrinação para os protestantes.

República Tcheca mantém lá um museu, e um monumenmarca o local onde Hus foi queimado. No verão, o monumenuase desaparece, coberto pelas plantas cuidadas com zelo pardineiros da cidade.

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Muito antes do nascimento de Jan Hus, os turcos otomanvançavam, das regiões montanhosas da Turquia, em direçãoonstantinopla. Originários da Ásia central e relativamen

ecém-chegados à região do Mediterrâneo, avançavam devagam etapas. Foi uma questão de anos, para que quase todo o atuerritório da Turquia estivesse sob o controle dos otomanos. Dortes debruçados sobre as margens ocidental e oriental dstreito de Dardanelos, eles viam passar as embarcaçõ

arregadas de grãos e outros produtos, indo para Constantinoppara os portos do Mar Negro, ou voltando de lá. Os otomanram pacientes. Sabiam que o terreno estava preparado, pronara que se aproximassem das muralhas da famosa cidade.

No espaço de mil anos, Constantinopla tinha resistido a muitercos, exceto àquele iniciado por seus imprevisíveis aliadristãos, em 1204. A cidade havia derrotado búlgaros, vindos duropa, e muçulmanos, vindos da Ásia Menor. A maior cidadristã do mundo certamente tinha condições de resistir a

muçulmanos. Em forma de triângulo, em duas faces voltava-ara o mar, com paredões costeiros, e na terceira, voltada para

erra, contava com a proteção de um fosso e de altas muralhaDepósitos de grãos e reservatórios de água potável garantiambastecimento. Se a cidade fosse sitiada, o inimigo correria masco de passar fome e sede.

altava, porém, um aliado naval. Talvez o papa conseguisse um

oi organizada uma conferência em Ferrara, no ano de 1438, ual participaram o próprio imperador e sua poderosa delegaçã

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a Igreja izantina. As uas Igrejas concor aram quantoecessidade de cooperação, contra os turcos muçulmanos. Mem na catedral os representantes das duas Igrejas se encaravamncerrada a conferência, a missa em latim foi celebrada, masrega não.

A instável aliança provocou o lançamento de uma nova cruzadO exército cristão chegou ao Mar Negro e foi derrotado. mperador esperava poder contar com a colaboração de cristãuja marinha estivesse fortalecida. A sede do poderio naval dália não ficava mais em Veneza, mas na República de Gênov

tinha sido permitida, em sinal de amizade, a ocupação do porortificado de Pera, em um promontório a poucos quilômetros istância, por mar, de Constantinopla. Assim, se os turcotomanos iniciassem um ataque, Gênova contra-atacaria. E

maio de 1453, porém, os genoveses apenas observaram avios dos muçulmanos preparando-se para atacar a cida

ristã. As cruzadas são vistas como simples guerras religiosntre cristãos e muçulmanos, mas na verdade representaraambém guerras comerciais entre cristãos rivais.

Assim, os turcos cercaram Constantinopla. Milhares de soldadcivis, além do próprio imperador, foram mortos ou gravemen

eridos pelos conquistadores. A cidade ficou quase desertAquela foi, até então, a maior matança do mundo em um grandentro.

A notícia devastadora da derrota dos cristãos chegou a Roma. omoção foi quase comparável à surpresa provocada quando

mundo soube que dois pilotos muçulmanos tinhaeliberadamente atirado seus aviões contra as torres gêmeas, e

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  e setem ro e , em ova or . c a e, que parecnexpugnável, mostrou-se vulnerável. O número de viderdidas em Constantinopla, em 1453, foi infinitamente maio que em Nova York, em 2001, mas ambas eram símbolos dnstituições dinâmicas - uma do cristianismo, e a outra d

apitalismo democrático. Daí o sentimento de humilhaçrovocado pelos ataques bem-sucedidos contra elas. Na Itálio saber da queda de Constantinopla, um cardeal declaroExtinguiu-se uma das duas luzes da cristandade."

Durante a maior parte dos séculos de história do cristianismouve apenas uma cidade ocidental de importância vital: Rom

No Oriente, porém, as cidades mais importantes foram quatrerusalém, Alexandria, Antióquia e Constantinopla, cada umom seu patriarca. Atualmente, pela primeira vez, as quatro estãas mãos dos muçulmanos.

A queda de Constantinopla - rebatizada de Istambul no sécu0 - representou a gravidade do risco que corriam o papa e se

mundo ocidental. Havia uma nova cruzada, desta vez vinda dlã. Nos 40 anos seguintes, os otomanos capturaram muit

erras cristãs. Em 1480, eles tomaram o porto italiano de Otrantue ficava a apenas um dia de distância, a cavalo, da antiga V

Ápia, que levava diretamente a Roma.Os dirigentes otomanos apontaram um patriarca da IgreOrtodoxa, esperando que ele se mantivesse como um fantochm burocrata assistente. Em Constantinopla, ele atuava comuiz em divórcios e em disputas financeiras entre cristã

rtodoxos. Com o passar do tempo, cristãos ortodoxos, cristãrmênios e judeus sentiram o impulso de voltar à sua anti

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a e, que prec sava ser reconstru a, para que o com rcecuperasse a força.

A Igreja Ortodoxa - ainda hoje a principal base do cristianismm vastos territórios do sudeste da Europa, da Ásia Menor e d

Rússia - foi seriamente atingida pelas conquistas dos otomano

A Igreja Ortodoxa podia existir, mas não podia crescer. Eonstantinopla não havia imperador cristão; apenas um patriar

ervil. A espetacular igreja de Santa Sofia foi transformada emesquita. Quatro minaretes, um em cada canto, marcaram onversão do prédio em templo islâmico.

Os cristãos ortodoxos podiam morar onde quisessem, dentro dmpério Otomano, e freqüentar a igreja que preferissem, desue o prédio estivesse em dia com os impostos. Os fiéis tambéram obrigados a pagar uma alta taxa anual, cujo recibarregavam aonde quer que fossem, pois aquele era seassaporte. Facilmente identificáveis, eles usavam roup

speciais e não carregavam armas. Em várias partes do ImpérOtomano - nos Bálcãs, em especial - meninos cristãos de 7 a 2nos eram recrutados e enviados para treinar em outras regiõe

A maioria nunca mais voltava para casa. Eles se tornavamuçulmanos, passavam a andar uniformizados, aprendiam

dioma turco e serviam como soldados no exército otomanAlguns chegaram a ocupar altos postos civis e militares napital. Curiosamente, os garotos cristãos que viviam eonstantinopla, no Egito, na Hungria e nas ilhas de Rodes

Quios, além de todos os garotos muçulmanos, ficavam livres onvocação.

Os incentivos para adoção da religião islâmica eram forte

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am as cr s s e o as as eraç es zeram sso.nquanto isso, a Rússia se tornava o centro da Igreja Ortodoxm 1600, pela primeira vez, Moscou contava com um patriarróprio, cuja potencial influência excedia em muito a datriarca de Constantinopla. A medida que a Rússia se tornav

mais poderosa e estendia seu império para leste, a IgreOrtodoxa também se expandia, chegando à Ásia central e à parriental da Sibéria e do Alasca.

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CAPÍTULO 16

O CAMINHO DOSPEREGRINOS

er peregrino se tornou um sonho comum, durante a IdaMédia. Para os que levavam a questão a sério, a peregrinaçãepresentava mais do que uma viagem ou um período de féria

Os peregrinos acreditavam que a visita a um local sagrado, lon

e casa, servia para aproximá-los como nunca da presença risto. Além disso, renderia o perdão dos pecados, reduzindoempo passado no purgatório.

Geralmente, a peregrinação tinha de ser planejada com anos ntecedência, e muitos não conseguiam concretizar o plano, p

alta de tempo ou dinheiro. O trabalho e a família tambérendiam. Ainda assim, o número de peregrinos cristãos qu

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a avam pe a uropa e pe o r ente o se mu t p cou. ue surgiu a chamada peste negra, em 1348.

erusalém era o local de peregrinação mais desejado, murante muitos períodos escapou das mãos dos cristãos. Quandberta aos peregrinos, porém, os gastos com uma longa viage

or terra ou por mar representavam um impedimento. Romnde estavam sepultados São Pedro e São Paulo, era a segunpção, mas ficava longe demais para a maioria dos europeus dorte. Então, muitos peregrinos acabavam por escolher um lug

mais próximo para visitar.

Assim, surgiram novos santuários, onde se veneravaersonagens notáveis ou santos locais, cujos nomes e histórcavam dentro de um raio de dois ou três dias de viagem. Pa

ngleses e irlandeses, o túmulo de São Tomás Becket, natedral de Canterbury, era um santuário especial, aonde eregrinos iam, acompanhados mentalmente pelo poe

medieval Geoffrey Chaucer. Monte Saint Michel, no litoral drança, Tiegem, em Flandres, Trier, junto ao rio Mosela,

Monte Gargano, perto da costa italiana do mar Adriático, sãugares que estiveram espiritualmente "na moda".

ntre as regiões onde se falava alemão, Colônia se tornou

estino mais desejado pelos peregrinos. Lá estavam os restos dmagos - ou dos três sábios - mais tarde promovidos a reis, qu

nham seguido a estrela de Belém, para, segundo se contonhecer o menino Jesus.

Os milhões de alemães - camponeses, tecelões, barqueiros

enhadores, mulheres e crianças que, século após séculostaram-se diante do santuário dedicado aos três reis, devem t

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xperimentado a incrível sensação de chegar perto dcontecimentos de Belém, mais de mil anos antes. O Novestamento tem uma expressão que descreve essa sensaçãTocar na bainha da veste."

Outro centro de peregrinação era Eisiedeln, situada entre colin

uaves, a cerca de 50 quilômetros de Zurique. Eisiedeln serve local de descanso em uma das mais árduas das principaotas de peregrinação:  der jacobsweg,  o caminho de Santiague partia da Alemanha, atravessava Suíça e França, e chegav

Espanha. Lá, os peregrinos caminhavam até a igreja d

antiago de Compostela, onde se acredita estarem sepultados ssos do apóstolo Tiago - Santiago, em espanhol. Para a maioros europeus vivendo no norte dos Alpes, esse era o santuár

mais reverenciado. Em 1478, o papa declarou Santiago dompostela em pé de igualdade com Jerusalém e Roma, com

ugar de peregrinação. Os peregrinos modernos que deseja

aminhar preferem o caminho de Santiago.Assis inevitavelmente tornou-se também um destino eregrinação. Em matéria de encanto espiritual, ninguévalizava com Francisco, no século seguinte a sua morte. Ma

arde, porém, Assis foi desafiada por Loreto, onde aconteceu e

294 o milagre dos milagres.Diz-se que lá, misteriosamente, uma antiga casa de pedra chegoelo ar, pousando delicadamente em uma floresta. Deduziu-ue aquela humilde morada tinha vindo de Nazaré. A casa terdo o lar de Maria; ali, ela nascera e crescera, e Jesus també

eria passado lá a infância. Da floresta, a casa levantou voovamente, pousando sobre uma colina próxima, onde f

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uarnecida, transformando-se em um belo santuário. Hoje, asa Sagrada, revestida de mármore branco, permanece dente uma grande catedral que pode ser vista do convés dos naviue passam pelo Mar Adriático.

UMA JORNADA DE ESPERANÇA

ara os devotos, a peregrinação representava a concretização dsperança cultivada por toda a vida. Mesmo para os men

evotos, a jornada, empreendida em determinada situaçãncluía a possibilidade do fortalecimento da fé em Cristnquanto alguns esperavam receber o perdão, por acreditareue o Espírito Santo habita lugares sagrados, outros iam pastigo. Os padres que ofendiam a Igreja eram condenados peorte eclesiástica à peregrinação. Muitos culpados de ofensas

greja, fossem padres, freiras ou comerciantes, eram obrigadosiajar descalços, e alguns recebiam a incumbência de distribusmolas aos pobres pelo caminho.

As cidades que serviam de ponto de parada nas peregrinaçõoresceram. Roma, em especial, ganhou muito com

eregrinos, que às vezes tinham de permanecer na cidade por ias, para receber o perdão dos pecados. Sob a denominação indulgências plenárias", incentivos adicionais foram oferecidos peregrinos que visitaram Roma nos anos de jubileu, com300, 1350 e 1400.

UM BRIN UEDO PARA O DOMINGO DE RAMOS

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éculo após século, muitos cristãos fizeram peregrinações seair do lugar. No domingo anterior à Semana Santa, conhecidomo Domingo de Ramos, milhões de crianças e adult

uropeus se imaginaram visitantes de Jerusalém. Com os olha mente, eles observavam a chegada de Cristo à cidadmontado em um burrico. Aquele dia de júbilo se caracterizavela distribuição de folhas de palmeira ou outra folhagem sobestrada, para dar as boas-vindas a Cristo. No norte da Europnde a palmeira era praticamente desconhecida, espalhavam-

alhos de pinheiro ou carvalho, para decorar a estrada ougreja e, segundo se acreditava, proteger o povo do demônioe suas manhas.

Houve um evento memorável, em um Domingo de Ramos: éis viram ser empurrada para dentro da igreja uma peque

lataforma móvel, sobre a qual estava um burrico entalhado emadeira. Para aumentar a surpresa, sentado sobre o burrico havma imagem de Jesus, também em madeira, com o rosuidadosamente pintado. Na plataforma, folhas de palmesenhadas evocavam a cena descrita no Novo Testamento. Arianças ficaram encantadas, pois um brinquedo tão elaboradoaro só era visto nas casas de famílias ricas.

Os milhões de europeus que visitavam anualmente os lugarantos encontravam à venda peças tiradas de lá, que levavaara casa, como relíquias. O tráfico de relíquias, em larga escalerdurou por séculos. De locais como Jerusalém, Belém

Antióquia, Alexandria e centenas de regiões da Ásia Menor e d

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  ,e tecido supostamente de santos, terra de seus túmulos oementes de flores que cresciam em volta. Em Dublin, Venez

Varsóvia e Moscou, os ossos foram arrumados sobre um pedaçe seda ou cercados de jóias, e colocados em posição destaque em igrejas, abadias e relicários, tornando-se, assimlvo de novas peregrinações.

A cidade de Roma, experiente em procissões majestosas, sabeceber uma relíquia sagrada vinda de longe. Se em 1462 avia uma arte chamada  show business,  a capital ficava e

Roma. Eis um exemplo, quando o crânio do apóstolo And

hegou do mundo bizantino. Em um descampado, não muionge de Roma, diante de uma multidão de fiéis, a relíquia fecebida formalmente pelo papa Pio II, que a ergueu, para quodos vissem, dizendo: "Esta boca falou muitas vezes a Cristo,ste rosto certamente foi beijado por Ele." O papa declaro

inda que a relíquia seria "nossa defensora no céu".

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CAPÍTULO 17

UM ROJÃO GIGANTESCO

m 1500, surgiram sinais de que gigantes mãos humanacudiriam a Igreja Católica. Não seriam as mãos do papa, dardeais nem dos bispos, mas de religiosos mais simples.

A Igreja indiscutivelmente estava em perigo. Em 1463, o papio II, dirigindo-se aos cardeais, fez esta assustadora declaraçãNão temos credibilidade. O clero é objeto de escárnio. A

essoas no acusam de vivermos no luxo, de acumularmquezas, de sermos escravos da ambição, de ficarmos com

melhores cavalos e mulas." A referência à qualidade dos cavalora quase equivalente a uma acusação, nos dias de hoje, de deres da Igreja possuírem luxuosos carros esportivos.

O papa se dirigia também aos fiéis. Ele tinha autoridade pahamar os cristãos à realidade. No entanto, como avaliar co

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ustiça uma instituição que, apesar das visíveis falhas, continuavcumprir suas obrigações e a inspirar positivamente tant

idas? Ao fim do século 15, às vésperas do surgimento dReforma protestante, novos e brilhantes teólogos se formavams procissões continuavam. Pode-se afirmar que, na Europ

avia mais atividade intelectual - religiosa ou secular - na Igreatólica do que em todas as outras instituições somadas. Muitxploradores, naquele início da era de grandes navegaçõeiam-se ao mesmo tempo como missionários e empreendedore

Decorridos 25 anos da descoberta do Novo Mundo pristóvão Colombo, a Igreja que se supunha decadente tin

missionários atuando em lugares remotos.

UMA LUZ EM ROTERDÃ

Desidério Erasmo nasceu perto de Roterdã. Era dele uma dmãos que começaram a sacudir o cristianismo, e sua histórefletia algumas das preocupações da Igreja. Filho de um padrle não ingressou em um mosteiro por vontade própria, mas palta de opção de carreira, tal como milhares de padres de su

eração. Em compensação, a Igreja proporcionava o exercícas mais variadas vocações.

rasmo ingressou em um mosteiro agostiniano em 1492, Holanda, apenas quatro meses antes de Colombo partir

spanha para descobrir o Novo Mundo, Erasmo estava ansioara conhecer as universidades e participar de seu movimenntelectual. Ele lecionou na Universidade de Paris, e f

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  . onheceu estudiosos renomados, com quem trocou idéias,

mocinhas animadas, com quem se divertiu algumas vezerasmo observou que as moças inglesas "são divinamente lindgenerosas  demais." Generosas na distribuição de beijo

Deixando a Inglaterra, ele viajou pelos Alpes e chegou a RomTurim - onde se tornou doutor - mas seu lar era no norte. Auas primeiras vezes em que esteve na Inglaterra foram breve

mas ele viveria lá entre 1509 e 1514.

A energia mental e a extensão da cultura de Erasmo erampressionantes. Ele escrevia em latim como se fosse sua línguativa, e começou a aprender grego clássico, que poucstudiosos da Europa ocidental dominavam. De início, teria dio grego está me matando", mas acabou conseguindo fluênci

Assim, teve acesso a versões em grego de seções do Novestamento, havia muito esquecidas. Erasmo foi provavelmen

primeiro professor de grego em Oxford. Aos 40 anos, ele âvia lido sobre Teologia mais do que outros europeus levariavida toda para ler.

ingularmente, a Igreja concedeu a Erasmo certa independêncipartir de janeiro de 1517, ele obteve permissão para vestir-

om roupas comuns, e não com o hábito da ordem religiogostiniana. Nem precisava mais raspar o alto da cabeça, nstilo normalmente observado por padres e monges. Ele nazia questão de ocupar uma cela fria nem gostava de alimentbebidas simples. Preferia vinho. O Borgonha era seu favorito

rasmo escolheu viver em Basiléia. Local da única universidaduíça, a cidade era o centro da mais moderna e dinâmi

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  .ficinas de impressão pertencia a Johannes Froben, que Erasmassou a contratar para imprimir seus trabalhos mais importante

Os dois se tornaram grandes amigos.

Daquela gráfica saiu, em 1516, um dos livros mais influentes d

éculo: a versão de Erasmo para o Novo Testamento. Em váriontos esse trabalho contrariava passagens importantíssimas odo-poderosa Bíblia Vulgata.

rasmo acreditava que sua nova tradução, comparada à BíblVulgata oficial, trazia esclarecimentos. Segundo ele, se o cristã

esse atentamente, ficaria mais bem informado do que stivesse na Galileia e ouvisse os ensinamentos de Jesus. Peova versão, "Cristo vive, respira e fala conosco." Erasmamentou que a maioria dos cristãos conhecidos seus estivesseinfelizmente escravizados pela cegueira e pela ignorância". Eesumo: eles não conheciam o Deus que adoravam.

Outras idéias radicais mexeram com a mente sempre ativa rasmo. Ele concluiu que a freqüência regular à igreja não ebsolutamente essencial, e que o dinheiro doado a mosteiros oantuários seria mais bem empregado se entregue diretamente atemplo vivo de Cristo" - os pobres. Ele concluiu também q

ertos dogmas cristãos, como a existência de um lugar chamadurgatório, tinham pouca justificativa bíblica.

m essência, Erasmo foi uma espécie de Einstein de seu tempue intelectuais queriam conhecer, e príncipes e abadonhavam atrair para suas cortes e mosteiros. Ao mesmo temp

ão possuía a disposição para o sacrifício nem a coragem usadia características do verdadeiro reformador religioso.

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rasmo morreu no ano de 1536, em Basiléia, então uma cidadrotestante, e foi sepultado na catedral local, que fica sobre uochedo de onde se vê o curso rápido das águas do rio Reno. Nápide, lê-se apenas "Erasmo de Roterdã". Dentro da catedrascura e sombria, ele é descrito em letras douradas como u

ervo de Cristo e o mais culto dos estudiosos.

A ASCENSÃO DE MARTINHO LUTERO

No período de pelo menos mil anos, a maioria dos reformadorristãos mais notáveis saíram de lares confortáveis elativamente prósperos. Martinho Lutero, filho de uabalhador das minas de cobre, pode à primeira vista parecma exceção. No entanto, seu pai, tal como muitos mineirlemães experientes, não era somente próspero, mas reconhecidela perícia em uma atividade altamente especializada. O jove

Martinho deixou Eisleben, sua cidade natal, para estudar.

Aos 24 anos de idade ele era monge de uma ordem religiosa, rades agostinianos. Aos 30 anos formava-se em Teologíblica - uma das cadeiras mais conceituadas - na recém-cria

niversidade de Wittenberg. Martinho era o tipo de professtivo e entusiástico que cativava os estudantes, além de atuomo pregador em sua paróquia.

le havia empreendido a longa jornada até Roma, a maobiçada peregrinação - um acontecimento tão emocionante, qu

ão se encontra um paralelo atual. Embora hoje em dia essoas possam viajar com mais facilidade, e muitas ambicione

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ssistir à Copa do Mundo de futebol ou conhecer o Partenon eAtenas, por exemplo, não existe um destino que seja o deseuase unânime, como acontecia naquela época.

Acredita-se que Lutero tenha chegado à Itália pelo passo drenner, no inverno, em 1510. Ele ficou maravilhado com

uantidade de lugares santos espalhados pela cidade de Roma.

utero subiu de joelhos, rezando, a Escada Santa. Mas a históre que teve uma visão - um despertar religioso - ao chegar aopo, provavelmente não é verdadeira. Nunca se soube disnquanto ele estava vivo; a história foi contada depois qu

morreu, por seu filho.A visita deixou Lutero perturbado. As congregações que eonhecia, no norte da Alemanha, demonstravam uma devoçãaramente encontrada em Roma e em outras cidades italiana

Anos mais tarde, depois de ter se afastado formalmente da Igre

atólica, ele apontaria os defeitos da cidade papal. No momena visita, porém, o simples fato de estar no coração dristandade superou o desapontamento. Outro aspecto que ncantou foi a vivacidade do povo italiano.

utero sabia que Roma não era a única mancha no mund

ristão. Pelo que tinha visto, os mosteiros alemães abrigavam uocado de luxúria e excessos na comida e bebida. Em umosteiro visitado por ele, cada monge normalmente consumuas canecas de cerveja e 1 litro de vinho às refeições. Depoe tal bebedeira, os religiosos ficavam tão corados, que maareciam "anjos de fogo".

utero sentia falta de alguma coisa em sua vida religiosa,

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  . -bcecado por questões ligadas a pecado e penitência - tanto eelação a si quanto a outros religiosos.

O tratamento dispensado pela Igreja aos pecadores seguia umórmula: o pecador em busca do perdão confessava o pecado

m padre, que prometia absolvição, desde que cumprida a penpropriada. Talvez o padre recomendasse orações, a prática dma boa ação ou o pagamento em dinheiro. Esperava-se queecador, humilde e arrependido, cumprisse o recomendado, mso era difícil de constatar, e muitas vezes caía no esqueciment

A leitura que Lutero fez do Novo Testamento levou-o onfortadora conclusão de que a chave da salvação não estavas boas ações, em uma vida virtuosa nem na prática de ritua

mas no relacionamento do indivíduo com Deus. Assim, ristãos não conseguiriam a salvação apenas com sutividades. Perdão e salvação eram dádivas de Deus, aos qua

ariam jus somente aqueles que o amassem e confiassem em smisericórdia. Lutero deu a essa crença a denominação

ustificação pela fé". A certeza de que sua fé era forte erdadeira garantiu a ele a paz de espírito.

A VENDA DO PERDÃO

A idéia tradicional de perdão sustentada pela Igreja foi modificando. Decorridas algumas décadas, estava instituída rática da venda do perdão. Bastava pagar, e o cristão ficavvre dos pecados do passado e do futuro. Era possível també

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  . ,arente falecido passaria menos tempo ou sofreria menos nurgatório - aquela região onde o cristão ficava de castigo, aagar pelos pecados cometidos e ser declarado apto a entrar néu.

Os teólogos poderiam defender a tese de indulgências confase nas penitências pessoais. Mas e se o verdadeiro objetivosse levantar dinheiro para a Igreja ou os religiosos locais? ríncipe da Saxônia, onde Lutero viveu, vendeu indulgênciara financiar a construção de uma ponte sobre o rio Elba, nidade de Torgau. Os cristãos que comprassem tal indulgênc

cavam liberados, durante a quaresma, para consumir queijmanteiga e leite - alimentos normalmente proibidos no períodDo dinheiro assim levantado, metade ia para o Vaticano, metade para financiar a ponte.

O papa Leão X criou uma venda ainda mais ousada. Em 1515,

ula papal oferecia indulgências para financiar a construção ova igreja de São Pedro, em Roma. O príncipe Albertambém arcebispo da cidade de Mainz (ou Mogúncia), junto o Reno, indicou agentes para conceder essas indulgênciaeralmente em troca de uma quantia em dinheiro. Um dgentes era João Tetzel, um frade dominicano que chegava idades alemãs saudado pelo som dos sinos das igrejas e fazermões convincentes. Muitos fiéis acorriam para ouvi-lo e pagelas indulgências. A quantia era estipulada de acordo com oanhos do pagante.

Os arranjos financeiros do príncipe Alberto de Mainz não erao conhecimento de Lutero, e talvez nem em Roma se soubes

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  . ,ara ricos banqueiros alemães, a família Fugger, comagamento de um empréstimo. Segundo Lutero, o papa nprovaria a teologia de Tetzel; o papa "preferiria ver a basílie São Pedro desmoronar" a aceitar dinheiro que era fruto titude despudorada de um homem da Igreja.

Mais do que as habilidades de vendedor, foi a teologia de Tetzue irritou Lutero. E ficou ainda mais irritado com a recepçue os padres lhe dispensaram em suas paróquias. Então, eevereiro de 1517, disparou o primeiro ataque contra eles: "As perigos do nosso tempo! Ah, os padres sonolentos!" E

utubro, Lutero intensificou as críticas, desta vez contra certpos de indulgências, no norte da Alemanha. Emboedutoramente anunciadas como um atalho para o céu, navia, na visão de Lutero, corredores secretos para ricos ou paobres. Ele achava absurdo que "o tilintar de uma moeda n

aixa de coleta" liberasse uma alma do doloroso purgatório.utero elaborou cuidadosamente um documento com 99 tesu objeções. Na verdade, não eram 99 pontos separados, mma argumentação geral, com parágrafos numerados. Antardecer do dia de Todos os Santos, em 1517, ele pregou ocumento na porta da igreja do castelo de Wittenberg. Aqueesto representou mais uma convocação para o debate do qm ato de rebeldia.

utero foi acusado de brincar com fogo. Obstinado, porémecusou-se a apagar as chamas. E mais: ele contava com o apoe seus superiores na universidade onde lecionava. Muit

studantes escolheram aquela instituição, que logo se torno

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  .Na época, metade do mundo cristão ouvia e lia versões ddéias de Lutero. Seus panfletos eram impressos em Basiléistrasburgo e outras cidades importantes. Nos mosteiros aonsses panfletos chegaram, alguns monges notaram semelhanç

ntre os argumentos de Lutero e as idéias que tinham levado JHus, o herege da Boêmia, à morte humilhante, mais de uéculo antes.

Hoje está claro que Lutero não era só teólogo, mas também uacionalista. Alguns de seus escritos de 1520 faziam um forpelo aos alemães, à parte do mundo cristão. Uma de sucusações era a de que Roma roubava a Alemanha: "Pobres dós, alemães. Fomos enganados!" Lutero declarou ainda que lorioso povo teutônico deve deixar de ser fantoche do pontífiomano."

O papa Leão X ameaçou excomungar Lutero, mas demorou

gir decisivamente. Em 8 de outubro de 1520, os trabalhmpressos de Lutero foram formalmente queimados pexecutor público na praça do mercado de Louvain, uma cidaniversitária. Em Colônia, uma cidade portuária da Alemanha,tuação se repetiu. E aconteceria novamente, não fosse um

estemunha afirmar, pouco antes de ser acesa a fogueira, ququeles livros não tinham sido escritos por Lutero. Em 3 aneiro de 1521, ele foi formalmente excomungado.

No início de seus protestos, Lutero respeitava o papa, meixou de aceitá-lo como chefe supremo da Igreja. E

rgumentava que Pedro, origem da autoridade do papa, tinhido apenas um dos doze apóstolos, e não era um personagem

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ura e r s o. u ero re e ava am m a a e que o pavesse poder sobre o céu, o inferno e o purgatório, ou sobreliminação dos pecados. Em essência, ele acreditava que elegm papa, como faziam os católicos, era menosprezar o papel dróprio Deus.

A expressão-chave dos protestos de Lutero, "justificação peé" escapa ao entendimento das pessoas. A palavra "justificarntes de conotação espiritual, tornou-se mais prática e assertivmpregada sobretudo de maneira pessoal: "Justifico momportamento"; "Justifica-se que eu diga isto." No significadriginal, porém, era sinal de humildade. Ser justificado querizer ser perdoado - não por causa de boas ações praticadas, mela generosidade de Deus.

ORNADA ATÉ WORMS

utero foi convocado a comparecer diante da assemblemperial do Sacro Império Romano. Embora restrito aovernantes da Europa central e ocidental, era a mais importaneunião política internacional da época. Dos governantes q

ompareceram, a maioria vinha de regiões de língua alemoube ao sacro imperador romano, o muito jovem Carlos Vresidir a reunião na cidade de Worms, junto ao rio Reno, mutero era o único item da pauta.

Quando Lutero chegou a Worms, os poderosos - imperadoríncipes, embaixadores, arcebispos, bispos e abades - já ncontravam lá. No dia seguinte, ele procurou um barbeiro pa

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  , .arlos V, ao mesmo tempo sacro imperador romano e chefe dasa de Habsburgo, devia conter a disseminação do luteranismcontrolar o monge que tinha diante de si.

utero, porém, não se intimidou. Falando em latim, defendeu

ontos de vista nos quais acreditava, baseados na Bíblia e eua consciência. Suas palavras finais foram ditas em alemãQue Deus me ajude. Amém!"

elizmente Lutero contava com um protetor dedicado: FrederiI, o eleitor da Saxônia, que não era das figuras mais poderos

a Europa, mas estava disposto a desafiar o sacro imperadomano. Embora não concordasse inteiramente com o monrotestante em questões ligadas à Teologia, Frederico III sabue sua independência, como autoridade, ficaria comprometia Alemanha, caso cedesse e se curvasse ao imperador. Partiele a idéia de interrogar Lutero em solo alemão, e não e

Roma.

esava sobre Lutero o risco de uma condenação à morte ourisão, mas ele deixou a cidade de Worms em 26 de abril d521, antes da decisão final da assembléia. Daí a uma semanara protegê-lo, um grupo de cavaleiros, a mando de Frederic

I, levou-o para o castelo de Wartburg. Por algum tempinguém soube de seu paradeiro, e alguns de seus seguidorhagaram a suspeitar de que estivesse morto.

m regiões onde predominava o catolicismo, somente os maorajosos ousavam demonstrar apoio a Lutero. De iníci

rasmo pareceu simpatizar com as idéias dele, mas foi só. Eão com artilhava do dese o ardente do rotestante: transform

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mundo. O renomado estudioso percebera que o rojigantesco lançado por ele tinha fugido ao controle.

ORTALEZAS OCULTAS DE LUTERO

utero compôs um hino que diz: "Deus é nossa fortalezaOutras fortalezas eram regiões da Alemanha cujos governantespoiavam. Uma fortaleza menos previsível foram as esquadrass exércitos otomanos, bem como Alá. A marinha e os exército

muçulmanos avançavam pelo litoral do Mar Mediterrâneo e, perra, pela Europa central. As notícias sobre inesperadas vitórios turcos otomanos chegaram a Lutero exatamente quando ereparava sua primeira contestação. Em 1516, eles capturaramíria e tomaram Jerusalém de outros ocupantes muçulmanos. Nno seguinte, tinham dominado boa parte do Egito, e em 152m ano depois do encontro de Lutero com seus acusadores e

Worms, os turcos ocupavam a ilha de Rodes - origem davaleiros de São João. Daí a sete anos, cercavam Viena.

O avanço contínuo dos muçulmanos proporcionou a Luterospaço de que tanto precisava. Os governantes católic

nfrentavam um dilema: atacar os redutos luteranos ou formma aliança para rechaçar os invasores turcos? De sua partutero considerava a liderança de Roma ideologicamente marejudicial do que o islamismo.

Durante uma década ou mais, acontecimentos dentro e fora d

uropa e da Ásia Menor pareciam favorecer Lutero e serotestos. Os dois mais destacados imperadores católic

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stavam divididos. A Espanha católica e a França católica nfrentaram em quatro guerras, entre 1521 e 1544. Entre essnfrentamentos inclui-se um episódio extraordinário: a invasãopilhagem de Roma, com o aniquilamento de cerca de 4 m

moradores. Os responsáveis por isso foram, principalment

opas católicas que, revoltadas por não terem recebido agamento combinado, amotinaram-se contra Carlos V spanha.

nquanto isso, lenta e pacientemente, Lutero introduzmodificações nos serviços que presidia. Ele acreditava que, n

anta comunhão, as pessoas deviam receber pão e vinho. No fie 1522, mais de um ano depois de sua estada em Worms, eomeçou a fazer o cálice de "sangue" passar pelos fiéis, um pm. Por séculos a comunhão vinha sendo celebrada diariament

mas em 1523, em Wittenberg, o sacramento passou a semanal. A fúria de destruição contra as imagens mantidas pe

atolicismo foi contida. Depois que uma multidão de fiémutilou estátuas de pedra e os ricos ornamentos dos altares dárias capelas em Wittenberg, Lutero procurou refrear atos dandalismo religioso.

O ímpeto de derrubada das estruturas, em especial aquelas ant

nexpugnáveis, tornou-se uma verdadeira febre. No inverno 524, no sul da Alemanha, camponeses se uniram a pequenoroprietários de terras, para exigir reformas econômicas eligiosas. De início, os líderes acreditaram estar integradosoutrina de Lutero, pois percebiam a Igreja como um

mandade, e o cristianismo como a personificação do espírito dmor.

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m Memmingen, os camponeses chocaram os vizinhos ricom suas reivindicações. Eles queriam: indicar os própriárocos; repassar à Igreja uma porcentagem menor sobre rãos produzidos na safra anual; e reduzir o aluguel quagavam aos donos das terras. Além disso, reivindicavam aces

os campos, para extrair lenha - seu único combustível nnverno - e aos rios, para pescar. Eles se opunham, em especiaantiga prática de, com a morte do locatário, o dono da terra tdireito de apossar-se dos mais valiosos bens móveis do

lecido.

utero reconhecia a justiça da maior parte das reivindicaçõeonhecidas como os Doze Artigos, mas não apoiava amponeses que pretendiam usar de violência para vê-ltendidas. De repente, ele se sentia em perigo de perder umreciosa fatia de sua popularidade, o que acontece a muitos due ficam do lado vencedor durante os primeiros estágios d

ma revolução importante.ntre os convertidos ao luteranismo havia numerosos gráficoxpoentes de um ofício que, recentemente chegado da Chincupava aos poucos o vale do Reno, onde foi adaptado perfeiçoado. As novas prensas espalharam a mensagem d

utero. O trabalho feito em um só dia por um tipógrafo equivalente ao de 500 monges, escrevendo com penas de ave Lutero tivesse surgido antes da invenção da imprensa, su

mensagem precisaria de muito mais tempo para ser conhecida.

Wittenberg foi a ponta de lança de uma tecnologia qu

omeçava a reformular o mundo. Em 1524, o ano em quutero terminou a tradução do Novo Testamento, mais d

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metade dos livros publicados na Alemanha era impressa lOutra força propagadora da mensagem protestante foi o fato

utero falar e escrever em alemão, com linguagem simpleAssim, as congregações sabiam os hinos de cor e cantavam coosto. A combinação de nacionalismo e religião foi uma da

marcas da Reforma.Nas gráficas, vendiam-se cópias do credo luterano, que os fiéecitavam diariamente, de manhã e à tarde.

reio que Deus criou a mim e a outras criaturas, que me dorpo e alma, olhos, ouvidos, braços e pernas, razão e sentido

Que diariamente me prove roupa e calçado, comida e bebidasa e família, terras e gado, e tudo que possuo. Que supre cobundância todas as necessidades do meu corpo e da minhida. Que me protege de todos os perigos e me guarda de tod

mal. E que faz tudo isso por Sua divina bondade e por pumor paternal, sem mérito ou merecimento da minha part

Assim, agradeço e louvo a Deus, a quem servirei e obedecerei.

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CAPÍTULO 18

DESTRUIÇÃO NA SUÍÇA ENA INGLATERRA

utero alcançou um sucesso impressionante na região de línglemã onde vivia, perto dos rios Reno e Elba. Mas svangelho não teria vida longa, caso ficasse confinado a unico segmento da Europa. Ele precisava de aliados de outr

ocais, e um dos primeiros foi o padre e teólogo Ulrico ZuíngliOs dois tinham quase a mesma idade.

OU TEU INSTRUMENTO

uínglio nasceu em uma região da Suíça próxima às atua

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  , Aos 32 anos, mudou-se para Einsiedeln, uma pequena cidamonástica, quase a Canterbury da Suíça - o sonho de inúmereregrinos que não podiam custear uma viagem a Roma.

Na esteira da fama alcançada, Zuínglio foi convidado a muda

e para a rica cidade de Zurique, às margens do lago. Lá, tornoe pregador especial na imponente catedral de Grossmünsteotável pelas duas torres simétricas. No primeiro verão qassou em Zurique, uma epidemia bateu à porta de metade dasas. Dos 7 mil habitantes da cidade, talvez tenham morrido

mil. Zuínglio, que fazia constantes visitas aos enfermos, acaboor adoecer. Ele sobreviveu, mas perdeu o irmão, André. Aaber da morte, Zuínglio "chorou como uma mulher", mceitou o fato como parte dos desígnios de Deus. Depois decuperar-se, ele compôs um hino que logo se tornou popular. etra comparava as pessoas a pratos muito frágeis; só De

ecidia os pratos que se quebrariam e os que se manteriantactos.

ou teu instrumento Para fazer ou desfazer.

Uma das maiores cidades ao pé dos Alpes europeus, Zurique ema república com governo próprio, o que representou u

specto importante no fortalecimento da campanha de Zuínglior fazer parte do conselho da cidade, ele se tornou ma

nfluente. Na metade da década de 1520, Zurique ocupava entro da Reforma religiosa na Europa, e mostrava-se maadical do que Wittenberg e Estrasburgo.

A Bíblia era o tribunal de apelação de Zuínglio. Embooubesse que a Igreja proibia o casamento dos padres, e

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bservou que a Bíblia não mencionava isso especificamentabia que quase todos os apóstolos de Cristo eram casados,ue os sacerdotes da Igreja Ortodoxa grega podiam se casa

Assim, em 1524, ele se casou com uma jovem viúva chamaAnna Reinhart - exatamente 14 semanas antes do nascimento d

rimeiro dos quatro filhos que viriam a ter. Daí a um ano, róprio Lutero liberou seus religiosos do uso do hábito ontraiu casamento com Catherine von Bora, ex-freiisterciana.

Os católicos tradicionais consideravam esses casamentos algu

os eventos mais escandalosos da Reforma. Mas eles teriautros motivos para se horrorizar. Como a Bíblia condenavadoração de ídolos e de estátuas, Zuínglio e seus colaborador

mais próximos ordenaram, em 1524, que as pinturas e imagee Cristo, de Nossa Senhora e dos santos fossem retiradas dgrejas de Zurique. No espaçoso templo onde Zuínglio oficiav

egularmente, o órgão foi removido, e calou-se o soarmonioso das vozes do coro masculino. A cerimônia mamportante - a missa - foi alterada. Em Zurique, a partir de 152idioma alemão passou a ser adotado para os sermões. Naque

mesmo ano cresceu o clamor pelo fechamento de mosteiros

onventos, e eles foram realmente fechados.m essência, a Reforma religiosa correspondia a uma revoluçãderada por Zuínglio durante algum tempo. A autoridade dgreja tradicional, do papa ao bispo local, estava sob ataqu

Roma se retraiu. Em seu lugar, estava a Bíblia aberta.

MESA DE NEGOCIA ÕES EM MARBURG

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Dez anos depois de Lutero afixar na porta da igreja Wittenberg a relação de seus protestos, a revolta comandada ple ainda não era vitoriosa. A Alemanha estava dividida. E mai

s próprios teólogos rebeldes estavam divididos, e às vezes riticavam tão duramente quanto o inimigo comum, em Roma.

aso os principais líderes protestantes fossem levados a ficrente a frente, chegariam a um acordo? A igreja de Lutero n

Alemanha ficava a apenas 600 quilômetros, em linha reta, dgreja de Zuínglio em Zurique, e os dois líderes falavam

mesma língua. Filipe, governante de Hessen, um luteranedicado, destinou milhares de florins para custear a viagem eegurança dos dois líderes à cidade fortificada de Marburg.

Os primeiro encontro aconteceu às seis da manhã, em 2 utubro de 1529, e a conversa fluiu sem rodeios.

Um dos temas levantados não admitiu conciliação: a cerimônrincipal e o sacramento da Igreja Cristã. Os católiccreditavam que, durante a consagração pelo padre no altar, ão e o vinho se transformavam no corpo e no sangue de Cristutero tinha deixado de crer nessa transformação milagrosa, m

ão rejeitava totalmente a presença de Cristo na cerimônia. Npinião dele, o pão e o vinho do altar continuavam os mesme quando estavam na cozinha. De algum modo, porém, peoder de Deus, o corpo e o sangue de Cristo estavam presentno pão e no vinho não modificados". Para Zuínglio, não hav

resença física de Cristo no pão e no vinho; aqueles eram apens símbolos da última ceia - um meio de lembrar o ocorrido e d

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raças, na a ma s.O interessante é que Zuínglio e Lutero não discordavanteiramente. Eles concordavam que os fiéis deviam receber nomente o pão, mas também o vinho, enquanto os padres, havlgum tempo tinham deixado de distribuir o vinho consagrad

Hoje, para os observadores agnósticos, uma disputa tão acirraode parecer de pouca importância. É o que costuma acontecuando se observa um evento muitos séculos depois. Para ristãos, porém, o debate com base na última ceia de Cristo eerusalém era quase uma questão de vida ou morte. De viterna ou morte eterna.

m outubro, tendo passado cerca de sete semanas fora, Zuínglnalmente voltou para casa. Seus seguidores suíçrovavelmente ficaram satisfeitos por não ter havido acordo coutero em uma controvérsia tão séria. Zuínglio se mantivera fio que tinha ensinado.

A cidade onde Zuínglio vivia continuou em conflito com istritos próximos, fervorosamente católicos. Em outubro 531, os pequenos exércitos católicos estavam prontos paniciar uma guerra contra Zuínglio. Os componentes viviaerto das margens acidentadas do lago Lucerna, um lugar

xtraordinária beleza. Havia entre eles barqueiros, agricultoreenhadores e pastores, além dos soldados mercenários antontratados por monarcas estrangeiros. O adversário seria inda menor exército de Zurique, acampado perto do lago Zug

Os relatos diferem: Zuínglio participava da luta ou rezava

onfortava os companheiros? O certo é que usava um capacee ferro. Ainda assim, golpes de lança o atingiram na cabeça

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as pernas. Ficou tão gravemente ferido, que os adversáriatólicos lhe ofereceram a extrema-unção. Quando se espalhouotícia de que Zuínglio estava entre os mortos, um velho padatólico - o capelão da tropa - aproximou-se para olhar. Os donham sido companheiros antes da Reforma, e o padre

embrava dos tempos de harmonia. Em um gesto de compaixãisse: "Que Deus lhe perdoe os pecados."

As idéias de Zuínglio permaneceram fortes em Zurique e eutras cidades, enquanto a fé católica prevalecia ao longo uase toda a margem do lago Lucerna e nas montanhas e val

m torno. Ainda hoje se pode percorrer a pé as trilhas e estradnuosas que levam a vilarejos onde os poucos habitantmantêm uma escola e uma igreja católica.

No mês da morte de Zuínglio, talvez a proporção de protestantpara empregar a nova denominação dos freqüentadores

greja reformista - entre a população da Europa não passasse d%. O que começou como um protesto restrito à Alemanha loglcançou a Escandinávia, para onde os panfletos protestantoram levados por estudantes universitários e comerciantlemães, além de monges e padres simpáticos à causongregações de luteranos surgiram na Hungria, Polôni

oêmia e em outras regiões do centro e do leste da EuropAlgumas faziam parte de igrejas católicas, onde o padre, embomantivesse lealdade formal ao papa, pregava a mensagem d

utero.

Nada contribuiu mais para a divulgação da mensagem do que

mpressão da Bíblia, dos novos hinos e orações nos idiomocais. Ao observarmos, no século 21, o desenvolvimento d

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oca de idéias possibilitada pela internet e pelos  website

odemos facilmente imaginar o movimento semelhante criadela invenção da imprensa.

UMA TEMPESTADE VARRE A INGLATERRA

A mensagem de Lutero chegaria às igrejas inglesas? Dependmuito das crenças e opiniões de Henrique VIII, o monareinante na época. Católico conservador, determinado

mbicioso, ele exigia lealdade do povo. Um historiadonicamente o chamou de "mastro gigante" em torno do qualnglaterra dançava, em uma comparação com os mastrnfeitados para as festas, com flores e fitas. Inicialmente, poréms reformadores religiosos não encontraram espaço para dançar

Quando começou a ficar conhecido, Lutero recebeu objeções Henrique VIII. Em 1521, o rei escreveu um livro sobre acramentos, no qual expunha as idéias do papa e criticavaoutrina de Lutero. Por seu valioso trabalho de comunicador,ei recebeu do papa Leão X o título a que até hoje têm direieus sucessores: Defensor da Fé. A partir de 1529, porém, e

oi deixando de defender a fé católica. Necessidades ligadas aaís - a busca de melhores aliados militares e diplomáticos -mbições pessoais levaram-no a adotar objetivos diferentaqueles defendidos pelo papa. O rei queria, em especial, uerdeiro para o trono. Em 1533, sem filhos, ele rejeitou

mulher, Catarina de Aragão. Em seguida, casou-se com Anolena, dama de companhia da ex-mulher. Na busca de u

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  , .O papa não aprovaria a separação e um novo casamento. Entãra preciso desafiar a autoridade papal. Foi o que fez Henriqu

VIII, com a ajuda de bispos e teólogos ingleses qumpatizavam com suas idéias. A disputa resultou n

xcomunhão de Henrique VIII. Assim, com a aprovação darlamento inglês, convocado depois de longo recesso, ele omeou "chefe supremo da Igreja" na Inglaterra e, aos poucoonfiscou as propriedades e os direitos do papa. O rei passouer autoridade para apontar os bispos. Em 1535, tal comurique, a Inglaterra começou a abolir os mosteiros.

Mais de 8 mil monges, monjas e frades se dispersaram. Oeligiosos menores de 24 anos de idade não tinham adquiridstabilidade nos votos, e foram simplesmente mandados emborntre os mais velhos, alguns passaram a receber uma pensãutros assumiram paróquias e outros ainda foram consagrad

ispos, enquanto uns poucos abades corajosos que tentaraefender seus mosteiros dos soldados ingleses acabaranforcados. Os pobres que recebiam ajuda regular tiveram rocurar novos protetores. Os mosteiros ingleses, cerca de 40assaram a pertencer ao rei Henrique VIII, que os vendeonservou ou distribuiu pelos súditos favoritos.

Apesar de todas essas atitudes, Henrique VIII garantia continum católico leal. Durante anos ele defendeu pessoalmente

maior parte das doutrinas católicas contra as críticas duteranos recém-convertidos. Segundo o rei, o inimigo era apa. Ele continuava amigo da grande e venerável Igreundada em Roma. No entanto, as medidas tomadas p

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  . ,eceberam ordens de desestimular a antiga e freqüentemenlegre prática da peregrinação, sendo mais comuns as que iamanterbury ou Compostela, a noroeste da Espanha. Eles fora

nstruídos também a deixar de venerar relíquias de santos. O re mostrava cada vez mais simpático ao protestantismo, desue não muito radical.

TYNDALE: "FAÇA-SE A LUZ"

Quando Henrique VIII subiu ao trono, o idioma empregadmaciçamente na vida religiosa e acadêmica era o latim. Nmanhãs de domingo, ouviam-se palavras e cantos em latim poda a cidade de Londres. Nas duas universidades inglesas, ronunciamentos mais sérios eram feitos em latim, e dizem que

róprio Erasmo, ao discursar lá, não falou em inglês. O latim eambém a língua de praticamente todos os livros impressos nglaterra, e o mesmo acontecia com os volumes da biblioteca

Oxford University.

William Tyndale, um industrial do setor de vestuário eGloucestershire, contribuiu bastante para reverter essa tendênciDepois de passar a infância em um local com vista para montanhas da fronteira com o País de Gales, ele foi para Magdalen College, em Oxford, e de lá para Cambridgevelando-se ótimo aluno. Decidido a traduzir o Antigestamento para o inglês, estudou a Bíblia católica chamad

Vulgata e a nova tradução de Erasmo, ambas em latim. Estudoambém a tradução alemã do Novo Testamento, feita por Luter

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ujas idéias cada vez lhe pareciam mais atraentes. Tyndastava provavelmente envolvido com os estudos quando, aos 3nos, viajou para a Alemanha. Ele nunca voltaria à Inglaterra.

No verão de 1525 - um ano depois de chegar à Alemanha -ersão inglesa do Novo Testamento feita por Tyndale estav

ronta para ser impressa.

m sua tradução, ele usou a linguagem do povo, e não ristocracia. Os leitores provavelmente viram impressas perimeira vez expressões como "o sal da terra", uma ligeilteração de outra ouvida por Tyndale na juventude, na ár

ural de Gloucestershire. Muitos ditados ainda hoje usados ndioma inglês foram criados por ele. Tyndale acrescentou róprio estilo aos comandos de Cristo: "Procura e acharásFaça-se a luz"; e "Não se pode servir a dois patrões".

A Bíblia de Tyndale tornou-se uma das glórias da língua ingles

Daí a 75 anos, foi publicada a Bíblia do rei Tiago, muilogiada, mas maciçamente apoiada na prosa de Tyndale. Nehakespeare, duas gerações mais tarde, contribuiu muito mais due Tyndale para a vitalidade, o vigor e a cadência da língunglesa.

nquanto isso, as primeiras cópias da Bíblia de Tyndale, recémmpressas em Worms, tinham de ser levadas às escondidas paequenas embarcações no rio Reno, de onde eram transferidara veleiros no mar do Norte, chegando aos mais próximortos da Inglaterra, então um país católico, pois Henrique Vinda não tinha — rompido com o papa. Maços de págin

mpressas - encadernados ou não - chegavam à Inglater

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 scondiam os exemplares sob o balcão, para vendê-los. Oeitores queriam saber quem era o tradutor, e as suspeitecaíram sobre Tyndale, mas ele estava em segurança nontinente.

Os livros encontrados eram apreendidos, e o leitor recebia umunição severa, mas o tráfico de exemplares pelo mar do Norão cessou. Em 1530, na Inglaterra, dez pessoas foram punidó ouvirem a leitura em voz alta do texto. Outras foraxecutadas porque possuíam ou distribuíam a Bíblia de Tyndalu ainda porque desobedientemente repetiam trechos dela.

erseguição aos hereges, fossem protestantes ou católicoornou-se comum na Inglaterra. Em 1536, uma corajosa católioi vítima dessa perseguição: Elizabeth Barton, conhecida coma freira de Kent".

yndale optou por não voltar à Inglaterra e, mesmo nos país

aixos, corria perigo. Ele levava adiante a enorme tarefa aduzir o Antigo Testamento. Em 1536, perto de Bruxelas, fncontrado, identificado e condenado à morte por autoridadatólicas. O trabalho ficou pela metade.

A BÍBLIA DO MELADO E OUTRAS

Na Inglaterra, dois anos mais tarde, o governo decidiu que toaróquia teria uma Bíblia. Parece uma decisão elementar, maa Europa e no Oriente Médio, a maior parte das igrejas n

ontava com uma Bíblia completa; apenas com uma seleçficial de al uns trechos. A tradu ão escolhida não foi a d

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osse e eitura a B ia em particu ar.

A forte interferência do rei na vida religiosa da Inglaterra fez dua morte um evento desestabilizador. Os filhos de Henriqu

VIII o sucederam: primeiro, o filho, Eduardo VI, em 1547; senos depois, a filha, Maria, uma católica devota. Sua lealdade

apa foi confirmada pelo casamento com um poderoso monaratólico, Filipe II da Espanha. Ela modificou muitas regraadres que tinham sido autorizados a casar-se receberam ordee afastar-se da Igreja ou da mulher. Alguns mosteiros foraeabertos, e a abadia de Westminster voltou a receber monge

Na Inglaterra, pelo menos 270 protestantes - ligados aomércio, na maioria - tanto homens quanto mulheres, foraueimados na fogueira por desobedecerem preceitos religiosoom a coroação de um novo rei, em 1558, os católicos passaraser perseguidos.

Os monges desapareceram da abadia de Westminster, e gações da Inglaterra com o papado, recentemente recuperadaoram outra vez interrompidas. Em muitas igrejas inglesas, inturas consideradas indevidamente um incentivo à superstiçãoram retiradas, e vitrais, quebrados. Até os cantos às vezareciam dissonantes, porque o órgão caríssimo não era ma

ocado. Esses atos de destruição ocorreram mais na Inglaterraa Suíça do que na Alemanha luterana.

Atualmente, no mundo ocidental, as artes são mais apreciadas due a religião, em certos círculos; por isso os estudiosondenam com tanta veemência aquele vandalismo. No sécu

6, porém, em muitas igrejas e catedrais, os fiéis ficaraatisfeitos com a eliminação dos ornamentos católicos; assim

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v enc avam-se os aspectos essenc a s o protestant smo, mamples. Essas modificações, e a resultante sucessão anhadores e perdedores, foram freqüentes durante o primeiéculo do protestantismo.

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CAPÍTULO 19

O REINO DE JOÃOCALVINO

oão Calvino surgiu uma geração depois de Lutero. Como serimeiro lar foi a cidade de Noyon, cerca de 100 quilômetros aorte de Paris, ele começou a vida mais perto de Londres do que Genebra, cidade à qual sua fama ficou associada.

ério e impetuoso por natureza e de pensamento berganizado, Calvino começou a estudar a Bíblia e a escrevobre suas conclusões. Simpático às idéias de Lutero quandm Paris, elas despertavam ao mesmo tempo hostilidade uriosidade, ele pegou seus manuscritos inacabados e subiu o r

Reno, em direção à Suíça. Em 1536, Calvino mal havompletado 27 anos, e já via seu estudo religioso -  Institutos

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u ca o em pr me ra e ç o. e teve o cu a o e n o useu nome verdadeiro. Se o fizesse, seria preso ao voltar rança.

No mesmo ano Calvino chegou a Genebra, uma cidade-Estadecentemente separada do Ducado de Savoy. Os protestant

vançavam: a catedral de São Pedro era deles; a missa tinha sidubstituída por uma forma simplificada da santa comunhão; eispo católico tinha ido embora. Por algum tempo, magistradosastores caminharam lado a lado, mas a Reforma não estavompleta. Calvino, contrariando seu estilo, concordou eermanecer na cidade, como pregador e teólogo. Era como

Deus, lá do céu, tivesse esticado o braço para prendê-lo àqueugar. Ao mesmo tempo, ele e Guillaume Farei prendiam o pove Genebra - às vezes pelo pescoço, mas em geral peersuasão - decididos a fazer da cidade a mais religiosa uropa. Depois de dois anos, os cidadãos se cansaram

xpulsaram a dupla.alvino se retirou para outra cidadela protestante, Estrasburgnde se experimentavam alterações nos cultos religiosos.

m 1541, Calvino foi convidado a retornar a Genebrornando-se cada vez mais influente. Cabia a ele determinar qu

conduta correta que, com a ajuda de um tribunal, era imposos cidadãos. Em 1555, tornara-se o homem mais poderoso equena república.

alvino precisou rever o livro que havia escrito, pois supiniões mudavam de acordo com as experiências vividas e

strasburgo e Genebra. Então, preparou uma tradução do latiara o francês e, periodicamente, produzia versões ampliada

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om quase 1,3 mil páginas cuidadosamente impressas, adução para o inglês contemporâneo cobria quase todas uestões cristãs consideradas importantes para a época em queabalho foi elaborado. Calvino era um grande contes- tador, que interessava mais pelas propostas complexas.

DEUS, O IMPENETRÁVEL

As idéias de Calvino sobre predestinação tornaram-se notória

le afirmava que Deus decide antecipadamente o que acontecelma de todos os homens e mulheres. Assim, por mais que essoa se esforçasse, tinha o destino traçado desde o nasciment

Não havia tribunal de apelação nem luta por oportunidadguais. Calvino considerava a vida uma corrida com resultadré-estabelecido. Segundo ele, a criação não é feita em séri

mas "alguns nascem predestinados à vida eterna, e outros, ondenação eterna." Em essência, a doutrina enfatizava o pod

a sabedoria de Deus e, em contraste, a fragilidade e gnorância dos seres humanos.

Atualmente, o nome de Calvino fica um tanto prejudicado p

ssa teoria, mas séculos antes de seu nascimento esse era ensamento corrente no cristianismo. Os escritos de São Paulom especial o oitavo capítulo de sua epístola aos romanospoiavam a idéia. A visão de Calvino também se fundamentavas palavras do grande Santo Agostinho, que vivera no norte d

África, mais de mil anos antes, e nas conclusões do Concilio Orange, reunido no sul da França em 529. E Calvino não estav

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,ensavam da mesma maneira.

ara muitos fiéis, a idéia de predestinação era quase elementae Deus tinha conhecimento de tudo antes que acontecessabia quem atenderia e quem não atenderia ao seu chamad

egundo Agostinho e Calvino, seria inútil - impertinente, mesmquerer saber mais a respeito de Deus, cujos julgamentos sãmpenetráveis e cuja conduta é impossível de decifrar.

Na era mais materialista e igualitária em que vivemos, é difíara muita gente admitir um Deus tão remoto

nimaginavelmente poderoso. No entanto, a doutrina despertomais confiança do que desesperança. Em 1563, a Igreja nglaterra, em um dos 39 artigos que formavam a base da fonsiderou essa doutrina "um doce, agradável e indescritívonforto para as pessoas religiosas".

O leitor que toma o primeiro contato com um livro de Calvino urpreende. Entre os protestantes evangélicos atuais, muitos ncreditam em anjos. Calvino, no entanto, os enxergava em toarte. Segundo ele, os anjos existem em grande número, e todristão conta com um para protegê-lo. O anjo da guarda percebaflição de seu protegido, e corre para ajudar. Os anjos també

romovem vingança. Calvino louvou o anjo que, segundo vro de Isaías, matou em uma só noite 185 mil soldados assírioalvino descrevia os anjos como "criaturas misteriosas"; suparência física só seria conhecida quando eles fossem vistelos seres humanos, no dia do juízo final.

As idéias de Calvino no amplo terreno da Teologia foraxpostas nos muitos sermões que proferiu em Genebra, tanto n

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omingos quanto nos ias e semana. Somente com ase nvro de Ezequiel, foram 174, além de numerosas cartaeunidas em 59 volumes, na edição alemã.

alvino era uma verdadeira enciclopédia ambulante, euestões relativas à vida cristã. Um de seus argumentos pa

uardar os domingos era a necessidade de proporcionar perários e serviçais a possibilidade de um dia completamenvre do trabalho. Segundo ele, o dia de descanso era ma

mportante para os empregados do que para os patrões.

alvino considerava importante que os cristãos rezassem co

reqüência. Mas lembrava que esperar uma resposta rápida avorável de Deus todo-poderoso seria quase uma blasfêmiDeus respondia às preces a seu modo, em seu tempo, já que nra um vendedor solícito, pronto para agradar aos clienteegundo Calvino, as pessoas deviam rezar pelos outros, poão sabiam o que era melhor para si. Assim, se rezasseedindo para livrar-se de sofrimentos, talvez fossem ignorador Deus e sofressem ainda mais.

Às vezes Calvino podia parecer arrogante, mas combinavumildade e altivez de mestre. A edição final de seu livro mamportante termina com a mensagem: "Adeus, caro leitor. S

btiver algum benefício do meu trabalho, ajude-me com as surações ao nosso pai celestial."

mbora sua área de atuação fosse reduzida em extensãalvino representou uma das figuras mais importantes istória do mundo. Depois da morte de Lutero, em 1546, ele

ornou o líder não oficial do protestantismo e, pelos 18 anos quinda teve de vida, continuou a fazer de Genebra o reduto d

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studantes, teólogos e religiosos dissidentes, bem como adutores da Bíblia expulsos da região onde viviam ou q

emiam pela vida, caso permanecessem lá. Calvino não queriaama depois da morte. Mantendo sua oposição à prática católias peregrinações e temendo que seu túmulo se tornasse alv

os peregrinos, ele expressou o desejo de que não fosse reveladlocal de seu sepultamento.

ALMOS - AS CANÇÕES POPULARES DE GENEBRA

ersey, nas Ilhas do Canal, era predominantemente calvinista e564, o ano da morte de João Calvino. Conta-se que lá erviços eram virtualmente uma réplica dos que aconteciam e

Genebra e em uma série de cidades da Europa central cidental, além de Escócia e Inglaterra. A maioria das pessoas

igreja vestida de preto, em sinal de luto pela morte de CristAs mulheres se sentavam de um lado, e os homens de outro. Oomens conservavam o chapéu na cabeça; só tiravam nas part

mais importantes do serviço, como as orações em voz alta, o ae contrição, e a leitura e o canto dos salmos. Calvin

onsiderava tirar o chapéu um gesto "de humildade", repetidnquanto os fiéis ouviam em silêncio a leitura do texto bíblicue serviria de base ao longo sermão do sacerdote. Assim queeitura terminava, os chapéus voltavam à cabeça.

Na época não havia altar. O púlpito era a peça central da igrej

ara a santa comunhão, celebrada apenas quatro vezes por ans membros da congregação se dividiam em grupos e sentavam

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e em ancos, em orno e uma mesa s mp es, quase como mitassem os discípulos na última ceia de Cristo. Quando urupo acabava de receber do sacerdote o pão e o vinho, e

memória de Cristo, dava lugar a outro.

A conduta dos fiéis era regida por uma lista de instruçõ

alvinistas. Eis algumas: os pobres deviam ser assistidos; amílias deviam reunir-se para rezar em casa, de manhã e à noitodos deviam ir à igreja aos domingos. Quanto aos passatemp

mais populares não deviam ser praticados, qualquer que fosseia da semana. Assim, ficavam banidos os jogos com pinos,ança, e os carinhos e beijos, pelo menos em público.

ara Calvino, tal como para os católicos, os salmos tinhamportância vital. Ele insistia em que, na França e em Genebrs salmos fossem cantados em francês, e não em latim, paacilitar a compreensão. O canto não devia ser acompanhado nstrumentos musicais nem de um coro. A idéia parece seve

emais, mas os visitantes estrangeiros que entravam na ampgreja em Genebra e ouviam centenas de pessoas cantanduntas ficavam pasmos, ao perceber tanta força e sinceridade.

Ao norte dos Países Baixos espanhóis, o povo se desligou spanha e formou as Províncias Unidas - a atual Holand

Depois que as congregações calvinistas ocuparam as igrejasatedrais católicas, na década de 1580, o canto dos salmos e su

melodias atraentes tornaram-se a principal atração. Como essoas, em sua maioria, não sabiam ler, um regente ficaviante delas e cantava uma linha ou um verso curto do salmo ada vez, para que repetissem. Quando o regente atuava bem e

melodia era fácil, logo os fiéis decoravam letra e música. N

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  ,esviar a atenção das palavras. No início do século 17, fprovada uma relação de doze acordes a serem escolhidos pacompanhar o canto dos salmos nas igrejas.

Mais ou menos nessa época, um grupo de puritanos

stabeleceu nos Estados Unidos. Seus únicos cantos eram almos. Significativamente, o primeiro livro impresso em ingla América foi Bay Book of Salms, o Livro de Salmos da Baíublicado em Cambridge, perto de Boston, em 1640.

OHN KNOX E OS PRESBITERIANOS

Quando Genebra recebia muitos refugiados religiosos, suongregação de língua inglesa era liderada por um pregadinâmico, quase tão racional quanto Calvino e, com certeza, tã

rdente quanto ele. John Knox tinha 40 e poucos anos, era baixde compleição sólida, olhos azuis, nariz muito fino e ros

erminado em uma barba que mais parecia um jardim suspensadre católico em sua terra natal, a Escócia, e mais tarde pastrotestante, Knox teve o infortúnio de ser capturado perto d

aint Andrews e embarcado para a França, onde se tornoscravo nas galés, no rio Loire. Libertado depois de um anomeio e, embora com a saúde debilitada, voltou a pregar nnglaterra e, depois, no continente europeu. Em 1559, regressofinal à Escócia, onde as disputas entre católicos e calviniststavam longe de um desfecho.

Os seguidores de John Knox eram conhecidos com

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. hamavam-se presbíteros os membros da congregação quealmente a administravam. Essa fórmula tem origem ninagogas, que contavam com um conselho de anciãos. Adotar um esquema semelhante, Knox e seus companheirentiam estar retomando uma forma de organizaçepresentativa que prevalecera nas primeiras igrejas cristãsntes que o papa se tornasse o chefe supremo. Knox copiavambém a organização das igrejas independentes às quais efugiados se integravam, numerosas entre

ondres e Genebra. Em essência, as novas igrejas calvinist

nfatizavam o princípio adotado em Genebra, segundo o qualoder emana da congregação dos devotos.

A organização presbiteriana não pode ser considerada muiemocrática. No entanto, era mais democrática do que as Igrejuteranas e anglicanas, controladas pelo Estado, e do que a Igre

atólica, com sua hierarquia, em que o papa representavagura máxima.

CALVINO ABRE AS ASAS

A doutrina de Lutero não atraiu de imediato os povos que nãalavam alemão. Diferentemente, as palavras de Calvino iam erra em terra, penetrando em cortes, áreas rurais, escritóriomerciais e casebres de camponeses. Até a Igreja Ortodoxogitou unir-se ao calvinismo quando Cirilo Lucar, um nativo d

ha de Creta, foi patriarca em Constantinopla.

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m a guns pr nc pa os a em es, na o m a e na ungrapelas calvinistas foram erguidas no campo e na cidade. Nrão-ducado da Lituânia, a maioria dos senadores e das famílicas era calvinista ou luterana. Na Polônia, hoje o país maolidamente católico da Europa, os calvinistas e luteranos

multiplicaram rapidamente. Em uma vasta região do territórolonês, metade da aristocracia aderiu temporariamente rotestantismo, sendo a maior parte seguidora de Calvino. Ms poloneses leais a Roma se sentiram tão fortalecidos com urgimento dos jesuítas - padres dedicadíssimos - que em 163no da morte de Sigismundo III, a Polônia tinha voltado a s

maciçamente um reduto católico.O maior desejo dos calvinistas era converter a França, o pamais forte e populoso da Europa. Mas para isso precisavaonverter primeiro a família real, e em alguns momentos quaonseguiram.

regadores vindos de camadas sociais mais elevadas, escolhidessoalmente por Calvino em Genebra, chegaram à França paundar congregações. Por falarem francês, teriam mais facilidam obter conversões. Conhecidos como huguenotes, eles

multiplicaram no sul e sudoeste, visando conquistar a região d

ognac e o porto marítimo de La Rochelle, junto ao oceanAtlântico. Em pouco tempo um em cada dez franceses tinha onvertido, e os calvinistas se tornaram fortes demais para sereanidos, simplesmente - em especial entre os aristocratas. Assimm 1562 sua existência foi permitida formalmente, e eluderam cumprir seus serviços religiosos, desde que de acord

om regras rígidas e em locais específicos.

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a no e e e a os o e , os u ueno es oratacados em Paris. Catarina de Médicis, rainha-mãe da Françaobrinha de um antigo papa, ordenou o ataque. A primeiítima foi o conhecido almirante Coligny, cujo corpo mutiladoi arremessado de uma janela. Estimativas cautelosas avalia

ue o número de vítimas fatais em Paris e cidades próximltrapassou 5 mil. Chamado de noite de São Bartolomeu, esmassacre foi o episódio mais dramático até então, na guerra ent

maioria católica e a forte minoria protestante. Mais tarde, e598, uma trégua foi negociada em Nantes, garantindo auguenotes direitos civis, a proteção da lei e a permissã

mitada de praticar em público seu credo - uma tentativa pousual de tolerância religiosa, ainda que frágil.

Antes disso, em 1572, as notícias do massacre da noite de Sãartolomeu chegaram a Edimburgo. John Knox, com a saúd

rágil, subiu ao púlpito da igreja de São Giles e lamentou

mortes. Foi seu penúltimo sermão; ele morreu naquele ano.

AS LINHAS DE BATALHA E OS SINOS DAS IGREJA

As disputas entre católicos e protestantes acentuaram divisões xistentes na Europa. Tais disputas refletiam as linhas de batalheográficas, separando o norte e o sul dos Alpes; a crescenonscientização dos povos de língua alemã e sua relutância eagar altas taxas a Roma; a concorrência entre frotas comerciao Atlântico e do Mediterrâneo; e a disputa pela supremac

omercial e política entre antigas potências marítimas dMediterrâneo e In laterra e Holanda otências do mar d

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 Norte. Política, Economia e Religião estavam interligadas.

Durante séculos, a unidade dos cristãos ficou visível mesmo nequenos acontecimentos do dia a dia. No domingo, cenáriosons similares se espalhavam por todas as cidades, da Irlandaicília e à Escócia. Nas regiões densamente povoadas uropa, um viajante de domingo podia caminhar por 5uilômetros, pelo campo, sem deixar de ouvir o repicar dnos, perto e longe. Pela primeira vez, porém, o toque dos sinontes carregado de alegria, preocupava as dezenas de milhare novos protestantes. Em sua opinião, aqueles sin

ivulgavam uma mensagem católica.

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CAPÍTULO 20

TRENTO: UMA REUNIÃOSEM FIM

e ao menos Lutero pudesse encontrar o papa... Se ao menos eridas fossem curadas... Houve várias tentativas enquanutero estava vivo. Cogitou-se de uma grande conferência ou dm concilio que reunisse toda a Igreja. Pensou-se em um

idade, depois em outra... Mas era como se os ventos geladue sopravam pelos Alpes mantivessem Wittenberg e Roma emundos separados. Em 1545, afinal, o vento amainou, e fnstalada a mais abrangente reunião da história do cristianismara deliberar sobre as controvérsias entre o norte, cada vez marotestante, e o sul, solidamente católico.

O local escolhido, no norte da Itália, foi o porto fluvial e cidad

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e rento, cerca a por montan as escarpa as e corta a por umstrada que ligava o norte ao sul da Europa. Perto, ficava asso de Brenner, onde durante a Segunda Guerra Mundiconteceu o importante encontro dos líderes alemão e italian

Hitler e Mussolini. Trento ligava as regiões que falavam alemã

italiano. Entre seus 8 mil habitantes, a maioria era de italianomas a cidade recebia mais influência da Alemanha, gozando dndependência em relação ao Santo Império Romano.

Os convites foram feitos com 18 meses de antecedência. Comalcular quantas pessoas chegariam, contando-se bispos eólogos, além de suas comitivas de assistentes e empregadorento ficou mais movimentada, com o vaivém de barcos arros de boi que transportavam alimentos para os visitanteseno para seus cavalos. Rebanhos percorriam longas distânciafim de abastecer de carne os açougues.

O concílio foi aberto formalmente em 13 de dezembro de 154

om a celebração da missa na catedral em estilo românico. Ouatro arcebispos celebrantes - da Irlanda, Suécia, Sicília rança - foram acompanhados na procissão por 21 bispos, n

maioria italianos e espanhóis. Das regiões de língua alemã, cujisputas religiosas foram a principal causa da convocação d

oncilio, infelizmente só compareceu um bispo. De Romiajaram três cardeais, mas... e o papa? Os luteranos pareceram no sexto ano do concílio, e sua estada foi breve.

Depois de vários adiamentos e nenhuma reunião, uma epidemtingiu a cidade de Trento em 1547, e o concílio teve de muda

e temporariamente para Bolonha, mais ao sul. Uma dispuntre o papa e Carlos V, o mesmo imperador que menospreza

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u ero na assem e a e orms, evou a ma s um ondiamento. A sessão final, em dezembro de 1563, estavaresentes mais de 200 bispos.

A ausência dos protestantes permitiu que os católicos oncentrassem nos próprios dilemas. Eles corajosamen

econheceram que sua Igreja precisava de mudanças eliberaram sobre isso. Embora reafirmassem a autoridaspiritual da Bíblia em latim, a Vulgata, recomendaram umevisão, que foi feita aos poucos. Protestaram contra os bispue raramente ou nunca estavam em suas regiõeegligenciando os fiéis. Os padres das paróquias também foraensurados por deixarem os sermões a cargo de fradinerantes, como franciscanos, dominicanos e outros; era a hoe os padres locais retomarem seu papel de pregadores. oncilio resolveu ainda que os bispos deviam criar semináriocais e treinar os padres seriamente, pois muitos mal conhecia

Bíblia.rento reafirmou o papel dos santos, a importância das relíquiagradas, a existência do purgatório e o celibato dos padres.

mais: recusando-se a rejeitar completamente a reformrotestante, resolveu que a venda de indulgências - motivo d

rotestos de Lutero - seria suspensa.oube ao papa Pio IV decidir quais recomendações seriadotadas. Decorrido um ano do encerramento do concilio, endossou o trabalho e começou a implementar as mudanças. E

mais uma etapa na capacitação de cardeais, bispos e teólogara o debate público, as obras completas de Santo Tomás d

Aquino - o sábio religioso sempre consultado em caso de dúvi

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.eve de esperar até 1590.

Notava-se nos papas uma nova energia. Gregório XIII, quniciou em 1572 um pontificado de 13 anos, instituiu, em lugo antigo calendário romano, o calendário gregoriano, ho

tilizado em todo o mundo. As terras cristãs logo adotaram ova contagem de tempo, mas, em terras protestantes rtodoxas, a mudança foi mais lenta. Assim, por décadas - e aéculos - era domingo em uma cidade e dia de semana em outrem perto. A Inglaterra, por exemplo, só adotou o calendárregoriano em 1752, quando a data deu um salto de dez dias.

isto V, sucessor de Gregório XIII, reformulou o Colégio doardeais, limitando-o a 70 membros. Esse limite de membros dolégio encarregado de eleger o papa persistiria por cerca duatro séculos, e um resultado disso foi a escolha de pap

melhores. Segundo um observador da Santa Sé, "a partir d

euniões de Trento, houve alguns papas ineficientes, menhum pode ser considerado mau."

omente daí a três séculos a cristandade veria outra versão doncílio de Trento.

CARMELITAS E CAPUCHINHOS

Os católicos ganharam com a Reforma protestante. Em muitegiões a Igreja e seus fiéis criaram vida nova.

Ao analisarmos hoje o século 16, temos a impressão de que eoi dominado elos reformadores rotestantes, mas houv

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ambém dezenas de católicos notáveis. Entre eles, conta-eresa de Ávila, nascida na Espanha dois anos antes de Lutee tornar conhecido. Freira carmelita, ela viveu experiêncimísticas  antes que essa palavra entrasse em moda. Teresa dÁvila descreveu como passou a rezar regularmente, com

profundou sua comunhão com Deus - "Deus te abençoe paempre!" - e como aos poucos aprendeu que desenvolver a ara oração é como irrigar e cultivar um jardim em terreno secm exercício de paciência e persistência. Primeira mulher a shamada de "doutora da Igreja", ela escreveu sobre os aspect

essoais do cristianismo com tal graça, familiaridade e singelezue seu estilo jamais seria igualado por Lutero e Calvino.

utero tinha começado a pregar havia pouco, quando os mongapuchinhos, com barba, capuz sobre a cabeça e sandáliaomeçavam a tornar-se uma visão familiar em muitas cidadalianas. Um ramo dos franciscanos, eles procuravam reviver

deais de São Francisco de Assis. Decididos a viver junto aovo, eram admirados especialmente por seu trabalhumanitário quando a cidade de Camerino, perto da cosaliana do mar Adriático, foi assolada por uma epidemia, e523. Suas regras, organizadas pela primeira vez seis an

epois, eram muito mais austeras do que as de outros ramos drdens franciscanas existentes.

regadores persuasivos, os capuchinhos também se aventuraraomo missionários na Pérsia, em outros pontos da Ásia Menoras costas do norte da África, infestadas de piratas, on

esgataram prisioneiros que trabalhavam nas galés. Chegarainda ao norte do Brasil, onde seu sucesso rivalizava com

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ucesso os esu tas, outro not ve pro uto esse espertatólico. Capuchinhos franceses que trabalhavam entre

muçulmanos a leste do Mar Mediterrâneo foram chamados olta à França em 1630, quando se suspeitou, certa orradamente, que eles, bem como outros frades, estivesse

esenvolvendo muita simpatia pelos indivíduos que pretendiaonverter.

al como outros grupos religiosos, os capuchinhos vieram stabelecer ligações tanto com os ricos quanto com ecessitados. Hoje, os turistas que vão a Viena para visitar oúmulos do imperador Francisco José, e do arquiduqerdinando e sua esposa, - assassinados em Sarajevo, no ano 914 - logo descobrem que esses monumentos estão sob uidados dos capuchinhos.

O BARROCO E SUAS PÉROLAS

Os católicos sempre admiraram o esplendor, a teatralidade emponência. Seus serviços religiosos, em especial nas datspeciais, eram exemplos de realização cultural da civilizaç

cidental. Suas obras de artes visuais e musicais são tão atraentara os olhos e os ouvidos quanto as que se vêem nas mais belonstruções do mundo. A Reforma do catolicismo, uma resposReforma protestante, proporcionou a essas artes um impul

unca visto. Um novo estilo arquitetônico, exposto pela primeiez em uma igreja romana projetada por Cario Maderno, u

ovem arquiteto nascido junto ao lago de Garda, no norte -

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,de cidades da América Latina. Provavelmente assienominadas por causa das pérolas barrocas, que são bonita

mas irregulares, as igrejas e os palácios em estilo barrocossuem grandiosidade, cor e senso de dramaticidade.

Havia necessidade de espaço por dentro e por fora, de modo qus construções barrocas fossem vistas, já que eram feitas paso. Pinturas de cenas bíblicas ocupavam todos os tetos aredes, e o interior dourado das cúpulas lembrava uma mina uro recém-descoberta.

Um século e meio depois de encerrado o Concilio de Trento, ovas edificações em estilo barroco ainda despertavadmiração. Os europeus percorriam longas distâncias para veratedral de Granada, na Espanha, a colunata na Praça de Sedro, em Roma, o palácio do monarca francês, em Versalhes,igreja de Santa Maria da Saúde, que parece flutuar sobre

gua, em Veneza. Poucos europeus, porém, tiveram a chance ddmirar a maravilhosa fachada da catedral de Lima, no Peru. arroco não apenas transformou a aparência das igrejas entonstruídas, mas também influiu sobre a música que se tocaventro delas - música que teve como expoentes Monteverd

Vivaldi e Hendel.

O protestantismo de Zuínglio e Calvino era essencialmente eligião do livro, mas foi obrigado a competir com uma religiãue reverenciava como nunca a arquitetura, a pintura, a escultua música.

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CAPÍTULO 21

AOS CONFINS DA TERRA

m 1492, Cristóvão Colombo partiu da Espanha, em umiagem que representou um marco na história do mundo. Esperava encontrar terras para a atuação de missionários cristãriquezas para a Espanha. Buscava, ainda, lugares descritos níblia.

erca de 80 homens lotavam as três embarcações, quando, e

2 de outubro de 1492, surgiu terra à vista. A aproximaçãevelou que a terra era habitada, e os habitantes andavam numaginando haver chegado à Índia, ou a uma região próximolombo os chamou de índios. Enquanto nas três embarcaçõram desfraldadas bandeiras verdes com a cruz cristã, ele tomo

osse formal da terra, em nome do rei e da rainha da Espanhatizando-a de São Salvador, "em honra do nosso San

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en or , con orme sse. a a as, c egou a u a, qulgou ser o continente asiático.

Na época, a Espanha era provavelmente o mais fervoroso daíses cristãos, e Colombo, um italiano, absorveu esse fervoua segunda expedição contava com 17 pequenos navio

evava padres e frades, além de dois franciscanos leigos, vinda região onde fica atualmente a Bélgica, então uma possessãspanhola. Colombo tinha um motivo pessoal de satisfaçãcreditava estar prestes a redescobrir o local de onde um dos re

magos partira para conhecer e presentear o menino Jesus eelém. Enquanto seu navio se aproximava de Cuba, em outube 1495, ele anunciou: "Senhores, estamos chegando ao luge onde partiu um dos três reis magos, para adorar Cristo. ugar se chama Sabá." Aquele se revelou um dos muitoesapontamentos de Colombo. Não se concretizou seu desejo dncontrar lugares descritos na Bíblia.

A terceira viagem para as índias Ocidentais, em 1498, foi feim nome da Santíssima Trindade, mas as embarcaçõarregavam mais trabalhadores das minas - descritos comarimpeiros - do que frades e padres. Avançando rumo

América do Sul, Colombo encontrou a foz do rio Orinoco

maravilhou-se diante do volume de água despejada no maAinda convencido de que aquela região tropical fazia parte Ásia, acreditou que o rio viesse diretamente do Jardim do Édende viveram Adão e Eva.

A extensa costa oriental do continente americano logo f

xplorada por outras expedições, das quais participavam fradue conheciam bem a Bíblia. Quando Pedro Álvares Cabral, u

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ave a or por u u s, c e ou cos a nor es e o ras , eu-nome de Terra de Santa Cruz. Em 1513, os espanhó

atizaram a Flórida em homenagem ao domingo de PáscoMais ao norte, o estuário do golfo de São Lourenço fescoberto por Jacques Cartier, que ergueu uma cruz de madei

e quase 10 metros para marcar o local. A cristianização dmapa prosseguiu: na Califórnia foram adotadas as denominaçõão Francisco e Los Angeles; no Chile, Santiago é o nome dm apóstolo; e a maior cidade do Brasil carrega o nome de outpóstolo, São Paulo.

AS 15 MIL CAPELAS E IGREJAS

ra preciso recrutar cristãos para levar a Bíblia às novas terram 1508, o papa Júlio II conferiu ao monarca espanhol o direi

e indicar os bispos, padres e frades que viajariam para a extenegião da América destinada à Espanha. Como Sevilha era orto espanhol que recebia os navios carregados de prata utros produtos mandados da colônia, o arcebispo da regiãndicou três bispos para Porto Rico, Hispaniola e Cuba. Dnício, o bispo de Cuba atuava também em uma região quompreende atualmente o território dos Estados Unidos.

Os frades receberam permissão de manter suas atividadeligiosas: batizar crianças e adultos, celebrar missa, ouvonfissões e perdoar pecados, e abençoar casamentos. Em 153s franciscanos que atuavam no México afirmavam ter obtid

mais de 1 milhão de conversões. Na história do cristianismaramente tantos foram convertidos or tão oucos. O ue n

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 gnifica que todos eles soubessem o que é ser cristão.

al como acontecia na Europa medieval, a maioria dos novoristãos combinava a fé recentemente adotada à antiga. Por tras fachadas barrocas das fabulosas catedrais - como a que tevconstrução iniciada em 1573, na cidade do México - estava

ntigos santuários de outros deuses. Somente no Peru, emeados do século 17, uma incursão oficial por uma áreduzida encontrou, recolheu e destruiu 9.056 ídolos pagãos qstavam em poder dos peruanos.

Os americanos convertidos frequentemente se mostravam maiedosos do que os recém-chegados comerciantes, soldadosgricultores batizados em sua terra natal - Portugal ou Espanha

ara o Brasil e as chamadas Índias Orientais, os colonizadormportavam escravos do oeste da África. As plantações dçúcar e café desenvolvidas nas colônias - e, por conseqüênci

economia espanhola - dependiam cada vez mais do trabalhorçado. Os únicos defensores dos nativos do continenmericano -chamados ameríndios - e de seus direitos eram

missionários, que falavam em nome do papa. Nos sermõeranciscanos e dominicanos censuravam a prática da escravidã

ratava-se de uma atitude corajosa, pois eles devem ter vistoaiva na expressão dos donos de escravos que os ouviam. E537, o papa Paulo III lançou uma bula - Sublimis Deus - contescravidão. Daí a cinco anos, uma lei espanhola baniu

maus-tratos aos trabalhadores "nas Índias". Mas o tráfico scravos parecia interminável.

A América Latina logo aprendeu a rivalizar com a Espanha n

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on ec am a costa. o processo e expans o e ortuga , toral do Oceano Índico - diferentemente do litoral das Américnão recebeu uma longa lista de nomes de santos, porque boarte dele já estava mapeada.

OS JESUÍTAS SE FAZEM AO MAR 

nácio de Loiola era um nobre espanhol de cabelos arruivadoele morena e queixo pontudo. Em 1521, quando servia comoldado nas tropas espanholas, sofreu um ferimento na pernornou-se um cristão dedicado mais ou menos na época em quutero e Zuínglio começavam a se destacar. Sem problemnanceiros, viajou como peregrino para Jafa, uma cidaortuária, de onde chegou a Jerusalém para visitar lugarantos, sob a orientação de um franciscano. Na época

Reforma, ele deve ter sido o único cristão reconhecido que tevprivilégio de visitar o local onde Cristo morreu.

or volta dos 30 anos, Loiola começou a vida de estudiosoregador. Em Paris, no ano de 1534, uniu-se a outros jovens quartilhavam das mesmas idéias. O grupo adotou o nome

ociedade de Jesus, fez votos de castidade e pobreza, rogramou uma peregrinação a Jerusalém logo que possíveeis anos mais tarde, a Sociedade de Jesus foi abençoada peapa. Loiola, eleito líder ou "general" vitalício, era um excelenrganizador, e seu pequeno escritório em Roma tornou-se entro dos padres jesuítas de todo o mundo.

O jesuíta indicado para viajar à índia foi Francisco Xavier, u

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span o o nor e - um asco - que n c ou sua cruza a cr s e542, entre os pescadores de pérolas da costa indiana. Sete an

mais tarde, ele embarcou em um navio mercante português paKagoshima, bem ao sul da costa do Japão.

Xavier logo aprendeu o idioma japonês. Em dois anos, se

nsinamentos tinham conquistado uns 2 mil seguidores cristãoue por sua vez conquistaram outros tantos. Quando o cômpuhegou a 150 mil, um sinal de advertência soou para aponeses que prezavam sua cultura tradicional. Chegou-seonclusão de que, ao se tornarem leais a Cristo, os convertideduziam um pouco a lealdade ao deus-imperador japonês. Oristãos já não eram vistos com boa vontade e, na década 630, o cristianismo estava banido por completo do Japão.

O legado de Xavier foi praticamente apagado, a não ser eNagasaki, onde sobreviveu a duras penas.

Alguns jesuítas chegaram a Pequim, onde Matteo Ricci, ualiano, despertava simpatia com sua combinação ristianismo com a doutrina chinesa de veneração dos ancestra

O imperador chinês recebeu bem os jesuítas porque tinharandes conhecimentos de Matemática e Astrologia. A noveligião trazida por eles, porém, era vista com desconfiança pel

studiosos confucionistas. Eles alimentavam dúvidas acerca nfase que os cristãos davam ao céu. Seria aquela uma atitutica, ou tratava-se na verdade de uma forma mesquinha davorecer interesses próprios?

As realizações dos jesuítas foram valiosas, e suas jornada

otáveis, mas eles pouco cresceram ao seguir o exemplo alheiQuase certamente os cristãos viviam perto de Goa desde o an

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00, pelo menos, e ainda conduziam a liturgia na linguageemítica chamada siríaco oriental.

EREGRINOS DO ATLÂNTICO

Os europeus que chegavam à América do Norte pelo Atlânticram, em sua maioria, exploradores, pescadores, comerciante peles, mercadores e indivíduos dispostos a tomar posse derras. Em 1620, a primeira colônia britânica, Virgínia, tinh

ouco menos de mil habitantes. Na época, iniciou-se xportação do tabaco plantado por negros contratados oscravos. Logo os europeus se estabeleceram na periferia egião, que se estendia de Long Island à baía de Massachusetts

ransportando um grupo que buscava sobretudo liberdadeligiosa, chegou ao cabo Cod em novembro de 1620 ummbarcação de velas quadradas - o Mayflower. Algunassageiros eram refugiados religiosos franceses e ingleses quiviam em Leiden, Holanda, e outros, emigrantes ingleseuritanos ou não.

Outros navios se seguiram. Às vezes transportava

ongregações inteiras, acompanhadas de pastores, que istribuíam por várias regiões, onde instalavam umdministração controlada pela Igreja, construíam casas ercavam terras.

m 1660, talvez 30 mil protestantes - particularmen

ongregacionistas e outros tipos de calvinistas - tinham stabelecido no vasto território conhecido como Nova In laterr

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Mais ao sul, Maryland foi inicialmente preferida pelos católicoNova Amsterdã (hoje Nova York) recebeu principalmentrotestantes holandeses e franceses, enquanto Virgínia se tornoreduto dos anglicanos. Essas colônias, instaladas ao longo

osta do Atlântico, atraíram ao Novo Mundo o primeiro grand

rupo de missionários protestantes. Assim, na década de 167m número significativo de ameríndios, divididos por 1omunidades rurais a leste de Massachusetts, aprendia rincípios do cristianismo e da agricultura. Os europeus e ibos nativas passavam por períodos de muita harmonia, mas

ezes se desentendiam, provocando pesadas baixas.Não havia mulheres entre os primeiros grupos de missionáriue atravessaram os mares. Na Igreja Católica, somente omens conduziam a Eucaristia. Mas as mulheres certamennham seu lugar, e as ursulinas o encontraram. Elas forarovavelmente as primeiras missionárias a alcançar um sucesignificativo no Novo Mundo.

Assim chamadas em homenagem a Santa Úrsula, que morrm Colônia, no vale do Reno, as ursulinas começaram seabalho pela cidade italiana de Bréscia, em 1535. A fundadoa ordem, Ângela Mérici, começou ajudando os franciscano

mas observou necessidades espirituais que não vinham sendtendidas, e concluiu que as mulheres estariam mais aptas a fazo. As ursulinas originais compreendiam dois grupos: viúvxperientes e jovens solteiras. As mais velhas ensinavam as maovas a dar aulas, administrar hospitais e orfanatos, e a cuid

os pobres.Depois de um bom trabalho no norte da Itália, elas fundaram s

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rimeiro convento na França, em Avignon.

Os jesuítas convidaram as ursulinas para trabalhar com eles nanadá, na região do rio São Lourenço. A líder da empreitad

oi Marie Guyard, uma mulher casada de 44 anos que, depois driar o filho na França, tinha se tornado uma freira ursulina. E639, ela cruzou o Atlântico acompanhada de enfermeiras e dutras freiras, para dar aulas às filhas dos colonos franceses erianças nativas entregues aos seus cuidados. Tendo organizadm dicionário em uma linguagem ameríndia, e um livro rações e um catecismo na linguagem de outra tribo, Marie

ornou fluente e passou a atuar como porta-voz dos povativos. Induzidos pelos mercadores franceses, os ameríndiomeçaram a trocar peles de castor por álcool, freqüentemenom efeitos devastadores. Eles precisavam de protetores, e Marssumiu a tarefa.

OS POBRES ÍMPIOS

Na Europa, a idéia de que Jesus era desconhecido de milhões abitantes de outras terras despertou um desejo incontrolável

bter conversões. Mas aquelas pessoas precisavam de umenominação. Às vezes, eram chamadas simplesmente elvagens, um termo derivado de "selva", enquanto outrreferiam dizer "pagão" ou "ímpio".

hineses e indianos naturalmente também usavam determinad

ermos para definir os cristãos europeus, alguns depreciativosu tornados assim com o passar do tempo.

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Muito se discute se os missionários cristãos eram melhores due os indivíduos que queriam converter. De modo geral, pode afirmar que se tratava de pessoas especiais, já que escolhiduidadosamente. Se grupos selecionados de nativos fossenviados à Holanda ou à Polônia em 1600, também causaria

orte impressão. A maioria dos trabalhadores cristãos em terrastrangeiras - mas nem todos, com certeza - manteve a fé diane desastres pessoais e naturais, e procurou transmitir a verdaonforme a enxergava. Eles demonstravam mais paciência due impaciência, e procuravam perdoar os inimigos. Mas houv

númeras exceções.Os missionários cristãos costumavam combater a crueldade eiolência. No entanto, era difícil transmitir uma mensagem az quando, bem perto, comerciantes, soldados e oficiaortugueses e espanhóis demonstravam o oposto. Ainda assim

muitos missionários cristãos não teriam sobrevivido em muitegiões sem o apoio militar e prático dos compatriotas.

e os missionários tivessem permanecido na Europa comrades, padres e freiras, teriam vida mais longa. Doençopicais eram assassinos sempre à espreita nos territórios d

missões, fazendo numerosas vítimas. Eles estariam fisicamenmais confortáveis em mosteiros espanhóis do que no calor d

ópicos. Além disso, a longa viagem para a Índia ou a Américentral, ou ainda para uma distante cidade do interio

epresentava provavelmente o afastamento definitivo dmigos, da família e da terra natal.

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CAPÍTULO 22

A REFORMA BEMEXPLICADA

omo resumir o século e meio de turbulência religiosa qmarcou a ascensão do protestantismo? Como tirar conclusõas incontáveis lutas, armadas ou não, da impressão de umvalanche de textos inflamados, da morte de alguns rebeldes n

ogueira ou da santificação de outros, e da reviravolta provocaa vida religiosa de milhões de pessoas, muitas das qualenciosamente reprovavam as mudanças que eram obrigadasceitar?

A distância entre a nossa era e aquela, entre as atitudes de entã

de agora diante da morte, é enorme. A morte despertava fornteresse, pois freqüentemente interrompia a juventude

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egava e repente, com so r mento. ss m, as pessoareciam mentalmente mais preparadas para ela. Tal comustamos a entender aquele interesse pela morte e pela religiãs antigos provavelmente se espantariam com a nossa fascinaçãor dinheiro, por bens materiais e por viagens ao exterior co

bjetivos que não a peregrinação.No entanto, o forte interesse pela religião se combinava coma atitude negligente quanto a certas regras religiosas. Aessoas praguejavam e blasfemavam, por exemplo. esrespeito a Deus, a Cristo e aos santos era comum eonversas informais. Em 818, no território que compreentualmente a Alemanha, o Concilio de Aachen restabeleceu ena de morte para blasfêmias graves, mas quando Geoffrhaucer escreveu Canterbury Tales ("Contos de Cantuária", eadução literal), em que narrava as histórias de um grupo deregrinos ingleses, incluiu o relato de religiosos praguejand

m voz alta e de peregrinos empregando em conversxpressões como "Minha Nossa Senhora, cale a boca!"

ALGUNS FRUTOS DA DEMOCRACIA

A Reforma lançou algumas sementes da democracia modernmbora sem saber como e quando iriam germinar. Enquantoadição católica se baseava na hierarquia - na autoridade dapas, cardeais e bispos - os protestantes enfatizavam a leitura íblia e o relacionamento do indivíduo com Deus. O

rotestantes batizados podiam seios sacerdotes de si mesmo

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 ontato com Deus.

utero se referia a isso como "o sacerdócio de todos os crentesseu espírito democrático permeou as seitas protestantes qu

urgiram depois. Com a Bíblia em linguagem acessível,

rotestantismo favorecia o debate e a discussão, que representacerne da democracia. Acima de tudo, calvinistas, luteranoatistas, unitaristas, presbiterianos e outras congregaçõndependentes administravam as próprias igrejas e selecionavas sacerdotes, em especial quando estes viviam em Londre

Genebra, Amsterdã, Frankfurt ou em algum outro local longe d

aís de origem. Essa forma de organização dependia dequenos comitês administrativos compostos dos líderes greja e do próprio sacerdote.

A abordagem democrática teria efeitos surpreendentes, especial nos Estados Unidos.

A Reforma desestimulava o uso do latim, na época o idiomnternacional. Assim, proporcionou uma era gloriosa ao inglêo alemão e a outros idiomas nacionais. Nesse sentido, houvma promoção mútua, entre nacionalismo e protestantismo. A

mudanças religiosas promoveram também a educação. Luter

uínglio e Calvino - saídos de três universidades diferentescreditavam que todos devem saber ler, e que a Bíblia é leitubrigatória. "Estou profundamente comovido", Lutero escrevm 1530, ao saber que tantos alemães liam a Bíblia.

Os católicos reagiram, e começaram a promover com mais vigeducação. No decorrer dos três séculos seguintes, porém

alvez nenhum país católico tenha alcançado o nível

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  , ,rotestantes. O surgimento da democracia popular, na segund

metade do século 19, dependia da disseminação donhecimento.

HOMENS E MULHERES: QUEM GANHA E QUEMERDE?

As mulheres obtiveram alguma melhoria, na primeira fase Reforma? Inicialmente não. Na Europa medieval, a Virge

Maria tinha crescido em importância para a fé e o simbolismristãos. Nas pinturas coloridas sobre as paredes e nos brilhantitrais das igrejas medievais, ela parecia transmitir uma tranqüiutoridade espiritual, de maneira muito humana. Mosteiros onventos se espalhavam pelos países católicos, muit

omandados por mulheres. Além disso, o catolicismeverenciava santos, entre eles várias mulheres. No cristianismmedieval, algumas virgens eram exaltadas, mas isso ncontecia tão intensamente nas regiões protestantes da Europa.

m uma notória atividade durante a Reforma, as mulherstiveram em evidência. Mais do que os homens, elas eracusadas de bruxaria. De cada quatro condenados à morte pruxaria, três eram mulheres, e a acusação tinha partido utras mulheres. Essas acusações freqüentemente aconteciaepois de disputas e brigas domésticas, e eram acirradas piferenças religiosas. Realmente, as bruxas pareciam ma

umerosas em locais onde ocorriam conflitos religiosos.

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  ,ondenações ocasionais por bruxaria. Entre 1580 e 1640, porémcaça às bruxas às vezes se tornava um verdadeiro frene

Dizia-se que as bruxas agiam sob a influência de Satarticipando de suas artimanhas contra os cristãos, para desviua atenção da segunda vinda de Cristo. Depois de julgamentor tribunais religiosos ou seculares, cerca de 40 mil a 50 mruxos e bruxas foram executados. O medo de bruxaria não

mostrou tão intenso na Rússia e em outros países cristãrtodoxos.

HOSTILIDADE E TOLERÂNCIA

Os cerca de 125 anos seguintes ao surgimento da Reformoram um período de graves conflitos em boa parte da Europ

Guerras religiosas" é um rótulo bastante comum para o qconteceu então. Na verdade, o sentimento religioso intensificomuitas batalhas, além de desestimular a idéia de qualquer acordurante as negociações de paz, mas seria injusto apontar

Reforma como fator decisivo para as guerras. O período iolência começou com disputas entre monarcas católicos, n

motivadas pela religião; eles estavam preocupados demais cos próprias guerras, para dedicar muita energia à anulação d

movimento protestante.

O longo período de guerras intermitentes foi afetado tambéelo surgimento de novas armas. O canhão e o mosque

ornaram as guerras ainda mais mortais e os monarcas, maoderosos. Eles, e não os reformadores religiosos, planejavam

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nanciavam e orientavam a maior parte das guerras. Ostudiosos que hoje se dedicam ao assunto não consideramostilidade religiosa a causa principal das guerras na Europegundo eles, a religião pode ter sido "um disfarce para outr

motivos". A ser mantido o rótulo "guerras religiosas", ser

propriado chamar a Segunda Guerra Mundial, com sua bateísta e o enorme número de vítimas, de "guerra da descrença

A rotulagem simplista de grandes eventos mais complica do quxplica.

Religião não era uma questão de escolha, mas de obrigação. E

Genebra, no ano de 1550, os calvinistas exigiam lealdade nanimidade, pois eram os governantes. Luteranos fizeram mesmo na Saxônia e na Suécia, e anglicanos na Inglaterra. Earte, os governantes exigiam unidade social e religiosa pcreditarem que o território ficaria mais seguro. Era crença germ reino ou uma república tornarem-se alvos fáceis, se nã

vessem coesão religiosa.

Um aspecto que nos intriga atualmente é o fato de a tolerâncão figurar, naquela época, como objetivo no universo dristãos, hindus, budistas, chineses, astecas ou incas. A ampolerância religiosa é quase uma invenção dos tempos modern

praticamente impensável, séculos atrás. O importante eustentar a visão religiosa apropriada, e não a liberdade dejeitá-la. O direito de desobedecer ao governo e à Igreja, ireito de ser livre em matéria de consciência, são preceitos quurgiram muito lentamente, depois das fortes tensões provocad

ela Reforma.

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O FRÁGIL DIREITO À PRÁTICA DRELIGIOSIDADE

A Polônia, um país católico, buscou uma solução para a ferren

validade religiosa. Por meio da Confederação de Varsóvia, eaneiro de 1573, toleravam-se várias religiões. Foram aceitos nó os católicos, como luteranos, calvinistas, unitaristoloneses, ortodoxos e todos os grupos e seitas, desde qonvivessem em paz. Logo foram concedidas certas liberdados judeus, que podiam até manter seu pequeno parlamentsse conceito abrangente de tolerância na Polônia, então u

eino populoso, não durou muito tempo.

A mais ousada tentativa de liberdade religiosa foi feita nHolanda, e nada contribuiu mais para isso do que a prosperidao país. Menos de um século depois de separar-se da Espanh

atólica, a Holanda era o país mais próspero da Europbrigando uma notável cadeia de postos comerciais que stendia de Nova York - então chamada de Nova Amsterdã - ortos distantes, como Jacarta e Malaca, no sudeste da Ásiara lá acorreram grupos perseguidos, como artesãos

omerciantes huguenotes.m Amsterdã, então a cidade com o maior número de habitant

udeus da Europa ocidental - muitos expulsos de Portugal - nagogas se multiplicaram.

or algum tempo, Maryland e Rhode Island talvez tenham sid

s locais mais tolerantes de todas as regiões onde se falavnglês. Em 1634, os primeiros colonizadores britânic

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portaram em Maryland, e 15 anos depois uma lei local concedberdade religiosa a todas as denominações cristãs, embora

udeus não estivessem formalmente incluídos.

A Prússia, reduzida em extensão, mas dona de um exércioderoso, foi um dos outros poucos redutos de tolerânci

mbora talvez seja mais justo dizer tolerância média. A famíleal prussiana era calvinista, e a maioria dos cidadãos euterana. Nas três décadas que precederam o ano 1700, o paecebeu cerca de 20 mil refugiados vindos da França, esperandue todos vivessem em harmonia.

om ou sem intenção, os provocadores da Reforma lançaramedra fundamental da tolerância religiosa.

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CAPÍTULO 23

BUNYAN, O PEREGRINO,E FOX, O QUAKER 

A Reforma produziu seitas poderosas, muitas das quaresceram rapidamente em vários pontos da Europa. Outraepois do sucesso inicial, pareceram murchar, mas criaram vidova ao atravessarem o Atlântico, rumo à América do Norte.

eitas independentes conhecidas como batistas, olhadas coerto desprezo pela maioria dos governantes europeuroduziram líderes poderosos nos Estados Unidos. Abrahaincoln, o mais famoso presidente americano dos dois últiméculos, freqüentava uma igreja batista durante a infânc

assada entre fazendeiros dedicados. Mais recentemente, Jimmarter e Bill Clinton, também presidentes dos Estados Unido

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ram mem ros at vos e gre as at stas.

QUEM DEVE SER BATIZADO?

Os primeiros batistas eram conhecidos na Europa comnabatistas, um nome que parece ligado ao negativismo, mas nerdade se referia a pessoas rebatizadas. Os primeirnabatistas se adiantaram aos reformadores, acreditando seres únicos que realmente praticavam o cristianismo do tempo dão Paulo. Para eles, o batismo era uma cerimôn

mportantíssima, pouco apropriada a crianças pequenas.

ara os anabatistas, o antigo sacramento católico do batismstava deslocado. Bebês, crianças pequenas e até jovens de nos são incapazes de compreendê-lo. Assim, o sacramento eerimônia deviam ser reservados a adultos, que podem afirm

ublicamente a veracidade de sua fé. Os adultos compreendes sacrifícios impostos a quem decide dedicar a vida a Cristo; atizados quando crianças, deviam ser batizados novamentaso merecessem.

utero, Zuínglio e Calvino, por sua vez, defendiam as idéias d

atólicos ortodoxos sobre o batismo. Segundo eles, todas rianças deviam ser batizadas. Assim, se a criança morresedo, os pais ficariam aliviados, com a certeza de que aquelma estava salva, e faria parte do rebanho de Cristo.

m 1525, atendendo a conselhos de Zuínglio, os líderes d

idade de Zurique insistiram no batismo de todas as crianças,mais cedo possível. Os pais que desobedecessem seria

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xpulsos.

Os anabatistas eram considerados um perigo para a Reforma. Oeformistas menos fervorosos preferiam o papa àqueleligiosos ardentes, sempre envolvidos em discussões, entre elu com adeptos de outros credos. Em algumas cidade

nabatistas foram condenados a longos anos de prisão, hicotadas ou à morte. Muitos fugiram para outros locais, onontinuaram a pregar suas idéias. Morávia, na Europa centraoi um desses locais, talvez porque a semente da discórdia tinhido lançada lá por Jan Hus, no século anterior.

m 1525, um grupo de anabatistas se destacou na revoluçãamponesa, no sul da Alemanha. Outro grupo seguiu a liderane Menno Simons, um ex-padre franciscano. Tendo adotadoenominação de menonitas, o grupo sobreviveu à perseguiçãoresceu, em especial nos Países Baixos. O jovem pint

Rembrandt era um menonita, e usou seu conhecimento da Bíblm muitos desenhos e pinturas. A exclusiva seita   amish riginou de menonitas que emigraram para a América do Nort

Os descendentes dos menonitas que se estabeleceram comgricultores junto ao rio Vístula, perto da costa do Mar Bálticiveram na Rússia até serem reprimidos pela União Soviética.

rotestantes ingleses que buscaram refúgio na Holaneceberam a influência dos menonitas. Quando voltaram nglaterra, tinham adotado algumas idéias dos anabatistaueriam o direito de controlar as próprias igrejas, elegendo uomitê de anciãos, sem a interferência do govern

rovavelmente, a primeira igreja batista de Londres foi a da ruNewgate, construída em 1612.

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Na Inglaterra, as opiniões dos batistas se dividiam: a salvaçãstava ao alcance de todos ou só de alguns? Enquanto muitcreditavam na salvação universal, uma congregação formada nécada de 1630 em Southwark insistia em afirmar que eraoucos os predestinados a serem salvos. Tratava-se dos batist

articulares ou calvinistas. Eles formaram uma seindependente porque suas crenças e as crenças dos batiststavam muito distantes, como se um rio largo e intransponívs separasse. Somente em 1891, dois séculos e meio mais tardconteceu a fusão, e criou-se a União Batista da Grã-Bretanha.

UNYAN: PEREGRINO E FUNILEIRO

ohn Bunyan nasceu na Inglaterra central, em uma família unileiros, praticantes de um ofício que utilizava o calor de uraseiro para fabricar ou reparar utensílios de metal. Em meada década de 1640, ainda adolescente, Bunyan serviu comoldado, ao lado de Oliver Cromwell, na guerra civil inglesmbora tenha passado poucos dias no campo de batalha. Ema época de intensas discussões acerca do cristianism

unyan experimentou longos períodos de dúvida e temspiritual, sendo tranqüilizado por sua mulher, de quem esconhece o nome. Sua filha mais velha, Mary, que era cegoi batizada ainda pequena, em 1650. As idéias de Bunyan espeito do batismo iam mudar.

unyan, um homem sociável, caminhava por uma rua dedford, quando passou por "três ou quatro pobres sentados a

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o , unto a uma porta . es conversavam so re a recente v se Deus a suas almas", e Bunyan percebeu que eram batista

Mais tarde, ele entraria para a mesma congregação, sendatizado por imersão. Como pregador, visitava casas, armazénsimples salas de reunião, e suas palavras fizeram muita gen

mudar a maneira de pensar e sentir.Depois que Carlos II assumiu o trono da Inglaterra em 166muitos batistas foram declarados ilegais, mas Bunyan continuouas pregações. Acabou preso, ao escrever O peregrino. A idéo livro partiu de um sonho de Bunyan, em que um homevestido de andrajos" deixava a própria casa e partia, levandm livro nas mãos e "um pesado fardo nas costas". O homebria o livro - a Bíblia, é claro - "chorava e tremia", perguntandm voz alta: "O que devo fazer?" Na verdade, o homem trêmuerguntava "O que devo fazer para ser salvo?"

Muitos dos episódios que descrevem a longa peregrinação domem inquieto passariam a fazer parte das conversas dessoas comuns. Ora surgia um homem cruel e corpulento,

Gigante Desespero, ora uma feiticeira de aparência encantadorMadame Bolha, "uma dama alta, morena e graciosa" que dizos peregrinos: "Sou a dona do mundo. Eu faço os home

elizes." Os leitores admiravam, entre outros, os personageoa Vontade e Legalista, além dos peregrinos Esperançosormalista e Cristão. No longo caminho percorrido peleregrinos havia pontos de referência como as Montanh

Deliciosas, a Feira das Vaidades e um terreno enlameado - ântano da Desconfiança - onde quem quisesse podia mergulh

m corpo ou em espírito. Os leitores se assustavam ao descob

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 elestial. Mas o líder do grupo, com sua fé inabalávetravessou em segurança. "Assim que passou, as trombetoaram para ele do outro lado." Milhões de ingleses, adultos ,rianças, sabiam essa frase de cor.

O peregrino chegou às livrarias em duas partes, sendo a primeim 1678. A procura foi tanta, que os editores locarovidenciaram a impressão de grande quantidade xemplares. Os adultos liam a obra de Bunyan para as criançaue, ao crescerem e terem filhos, faziam o mesmo.

O texto de John Bunyan possuía a vitalidade, o estilo simples etmo encontrados na Bíblia do rei Tiago, publicada perimeira vez enquanto o pai de Bunyan ainda era vivo. Nntanto, sérias críticas ameaçavam o trabalho. Mesmo os leitorvangélicos se sentiam pouco à vontade, porque  O peregrin

mbora baseado na Bíblia, era ao mesmo tempo uma obra d

cção, e todas as artes ligadas à imaginação eram vistas coesconfiança pelos puritanos. Curiosamente, o líder deregrinos criado por Bunyan, um trabalhador chamado Cristãoi um precursor de Harry Potter, desenvolvido três séculoepois.

or cerca de um século, O peregrino foi um sucesso de públicmas não de crítica. A situação só começou a mudar quando unglicano, o dr. Samuel Johnson, intelectual admirado, elogiouvro. O reconhecimento da genialidade de Bunyan fompartilhado por escritores os mais diversos, tais com

Wordsworth, Keats, Dickens e Thackeray, da Inglaterra,

Ralph Waldo Emerson, da Nova Inglaterra. Antes reverenciad

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  ,elo talento artístico.

Nos últimos anos de vida, Bunyan foi convidado a profeermões em Londres. Em um domingo, cerca de 3 mil pessoe comprimiram para ouvi-lo. Não havia espaço sequer para qu

le fosse da porta de entrada ao púlpito. Bunyan teve de srguido e carregado por sobre os ombros dos fiéis. Muitos due o escutaram disseram ter sido invadidos por uma incrívaz interior.

OS QUAKERS

O apelido de  quakers  (trêmulos) tornou-se a denominação drupo comparado às procelárias - aves que prenunciaempestades - por Bunyan e muitos outros religiosos inglese

ssas aves voavam pela Inglaterra em formação desordenados gritos, e as pessoas desejavam que não pousassem por pertm uma notável transformação, os quakers viriam a tornar-se póstolos do silêncio.

O fundador do grupo, George Fox, era aprendiz de sapatei

uando começou a guerra civil na Inglaterra. Depois de muitúvidas e discussões, ele começou a pregar em locais abertonde pudesse atrair ouvintes. Fox nunca teve medo de expuas críticas. Acabou preso pela primeira vez em 1649, pnterromper o sermão em uma igreja.

ox viveu várias experiências religiosas, que relatou coimplicidade: "Um dia, eu voltava para casa a pé, sozinh

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  . não ser admirar a grandeza de seu amor." Em outro di

Estava sentado junto ao fogo, e uma nuvem grande desceobre mim, trazendo a tentação. Mas eu resisti." Decorridlgum tempo, ele ouviu uma voz interior que dizia: "Existe u

Deus vivo que fez todas as coisas." Fox não sabia, mas esse tipe experiência mística era uma tradição católica que tinha enteus expoentes Bernardo de Claraval, Teresa de Ávila, Catarine Gênova e muitos outros.

Depois de converter e reunir alguns seguidores, Fox decidiu dm nome ao grupo: Amigos da Verdade. Mais tarde, enominação mudou para Amigos, simplesmente, e daí a alguempo passou a Sociedade dos Amigos. Mas o povo só ohamava de quakers.

As primeiras pregações dos  quakers  em Londres, Oxford ambridge foram feitas por três mulheres. A sra. Margaret Fe

ue vivia em Swarthmore Hall, no condado de Lancashiravia muito apoiava o grupo. Em 1669, bem depois de ter ficadiúva, ela aceitou casar-se com Fox, que era dez anos maovo. Elegante e gentil, ele falava de maneira cativante screvia bem, tendo produzido vários textos instigantes pa

romover sua versão do cristianismo. De compleição forte, saracterística eram os cabelos longos e lisos, terminando em umspécie de cauda semelhante a um rabo de rato na parte de trás

e um imaginativo doutor em Teologia quisesse inventoutrinas que desagradassem os companheiros, dificilmenuperaria George Fox. Ele não concordava em comemorar

Natal; todo dia é aniversário de Cristo. Não acreditava na san

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 efeições.

ox e seus seguidores clamavam contra a guerra em um sécuo qual as guerras eram amplamente consideradas necessáriasomo poderia a Inglaterra expulsar os invasores espanhóis

olandeses, e proteger suas rotas marítimas?ox dispensava pouca atenção a regras que outras seitonsideravam indispensáveis. Para ele, as igrejas deviam smples, sem adornos, e não uma declaração arquitetônica

mportância de Cristo. Fox preferia chamar sua igreja de "ca

e reuniões", enquanto rotulava as igrejas rivais campanários". Na casa de reuniões não havia necessidade m programa de orações, de hinos, nem de sermões. O espírie veneração estava em toda parte, favorecido pelo silênciomente com o silêncio Deus poderia encher cada fiel com sespírito ou "luz interior".

O período republicano da Inglaterra durou pouco. Em 1660,monarquia voltou, e  quakers  e puritanos passaram a serseguidos. Uma lei punitiva de 1663 proibia até encontreligiosos privados, caso não estivessem de acordo com ráticas e a liturgia da Igreja na Inglaterra. Além disso, nã

odia haver mais de quatro adultos na casa que não fossemembros da família. Os  quakers  não tinham a menor intençe cumprir a lei. Em Londres, houve ocasiões em que a granrisão de Newgate esteve quase cheia deles. Ao todo, morrera50 nas prisões inglesas, antes de ser emitido o Ato dolerância, em 1689.

Na América do Norte, a Pensilvânia foi escolhida para receb

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m segurança os  qua ers  e outras se tas que so r aerseguição. Ao acenar com a possibilidade de liberdadeligiosa - um raro privilégio - o governo da província prometequase todos os cidadãos do sexo masculino a possibilidade

articipar das decisões. Assim, esperava favorecer a harmon

om os nativos.m agosto de 1682, William Penn, fundador da província, partm uma longa viagem rumo ao paraíso dos quakers. No fim dno, chegaram 23 embarcações lotadas de colonizadores prontara comprar terras e planejar capelas e casas de reunião, já quiajavam também luteranos alemães e suecos.

Apesar de relativamente pouco numerosos nos Estados Unidosa Britânia, os quakers lideraram movimentos contra o tráfico scravos e contra a própria escravidão, embora durante cereríodo muitos americanos  quakers  possuíssem escravos. Elniciaram também um movimento pela reforma das prisões, cu

miséria tinham experimentado pessoalmente nos tempos ebeldia. Os quakers lideraram ainda uma cruzada pela aboliça pena de morte e esforçaram-se para acabar com as guerrntre nações. Proporcionalmente, eles foram o mais influente odos os grupos e seitas protestantes.

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CAPÍTULO 24

DUAS VOZES AO VENTO:WESLEY E WHITEFIELD

Na Inglaterra, em 1740, os protestantes ou puritanos, t

oderosos um século antes, estavam em ligeiro declínio. El

inda dominavam em alguns locais, mas a proporção de fiéis n

aís não passava de 1 para 20. Mostravam-se mais fortes n

idade do que no campo, e mais numerosos entre comercianto que entre os muito pobres. A nação era governada pelo

nglicanos.

Mas John Wesley, um jovem de Lincolnshire, abalaria a posiçã

os anglicanos. Seu pai, Samuel, um homem estudioso, atuav

omo sacerdote nas áreas rurais. Susana, a mãe, uma criservorosa, moldou com firmeza as crenças dos 19 filhos; Joh

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ra o .

Quando bem jovem, John Wesley parecia um garoto simple

eu diário, taquigrafado ou em linguagem cifrada, mencionav

avalgadas, natação, danças, jogos de cartas e caça. Ele gostav

e usar uma arma para atirar em pássaros em um pântan

róximo. Depois de se tornar ministro anglicano em 172assou dois anos ajudando o pai, até voltar para a universida

e Oxford, onde se uniu a um grupo de rapazes, liderado por se

mão Charles, que compartilhavam de suas idéias. Os jovens

euniam quase todas as noites para rezar e trocar idéia

Autodenominados "Clube Santo", eles receberam o apelido

metodistas, por causa do jeito sério e metódico.

ÀS 15 PARA AS 9

m 1735, os irmãos John e Charles sentiram o chamado paiverem na Geórgia, a última colônia britânica a ser fundada n

América do Norte. Durante a demorada viagem, el

onheceram um grupo de jovens cristãos alemães - a Irmanda

Morávia - cuja calma diante de uma tempestade achara

mpressionante. Projetada para ser uma colônia virtuosa, Geórgia se proibia a escravidão e o comércio de bebida. Charl

ssumiu o cargo de secretário do jovem governador, o coron

ames Oglethorpe, enquanto John atuava como pastor

omunidade e missionário junto aos ameríndios.

ohn Wesley começou a pensar que, no fundo do coração, nã

ra um cristão por inteiro e, perturbado, voltou para cas

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, , ,ontato com a Irmandade Morávia, que considerava um grup

nspirador. Em suas reuniões, Charles observava no grupo

anqüila certeza de estar em unidade com Deus. Em uma dess

euniões, na rua Aldersgate, Charles de repente se sentiu tomad

ela mesma certeza.Daí a três dias, na noite de 24 de maio de 1738, uma quint

eira, John participou "por acaso" de uma reunião semelhant

á ouviu a leitura do prefácio escrito por Martinho Lutero, ma

e 200 anos antes, para uma edição recentemente traduzida

pístola de São Paulo aos Romanos.  Lutero explicava que

erdadeiro cristão deve confiar no amor de Deus e não n

róprio valor. A mensagem calou fundo na alma de Joh

altavam 15 minutos para as 9 horas - ele gravou o horário co

xatidão - quando recebeu um lampejo de iluminação. Tal com

avia acontecido com Lutero, ele percebeu pela primeira v

ue seus esforços não seriam suficientes para salvá-lo, e queveria "confiar em Cristo, e somente em Cristo". John relato

ue sentiu o coração "estranhamente apaziguado". Segundo el

quela noite representou um momento de transformação.

m abril de 1739, na cidade de Bristol, John ouviu pela primei

ez um jovem evangelista chamado George Whitefield pregando ar livre. "Custei a aceitar aquela estranha maneira de pregar

ontou. Pouco à vontade de início, mas com sucesso cada v

maior, ele passou também a pregar em espaços abertos.

uando alguém perguntava por sua paróquia, respondia: "

mundo é minha paróquia."

ohn se levantava às 4 horas e passava o dia lendo, pregand

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  . ,mil horas cavalgando. Ele dormia quando sentia necessidade,

onseguia "adormecer imediatamente". Sua altura raramente

mencionada, mas sabe-se que era de 1,53 metro, o que

olocava ligeiramente abaixo da média para a época. Quand

ubia ao púlpito, porém, no auge de sua capacidade de orado

arecia ter quase 2 metros.

UM PREGADOR A CAVALO

Durante anos não se soube ao certo se John Wesley imprimirua marca na Inglaterra. Anglicano dedicado, ele pretend

enovar a Igreja, e não criar outra. John esperava que se

eguidores freqüentassem as igrejas locais nas manhãs

omingo e, daí a algumas horas, participassem da reuni

wesleyana em uma residência ou em um espaço alugado.ogo de início ele recrutou ajudantes, que chegaram às centena

ua idéia de apontar leigos como pregadores oficiais e

ovidade. Esses "sargentos" de seu exército em meio expedien

omandavam as reuniões semanais. Praticadas pela primeira v

m Bristol, por volta de 1742, e copiadas em parte de umstratégia dos morávios, elas uniam os fiéis. A quantidade ide

e participantes ficava entre 10 e 12, e ficou resolvido qu

eriam formados grupos separados de homens e mulheres. A

euniões, sempre em dias de semana à noite, começavam co

m hino e com uma oração feita na hora, durante a qual

articipantes ficavam ajoelhados. Em seguida, o líder comentavl um fato ue o tivesse ins irado ou erturbad

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spiritualmente. Então, era a vez dos fiéis falarem de si

edirem orações aos outros. Sobrava pouco espaço para timid

u privacidade.

nquanto foram feitas, as reuniões conquistaram milhares

deptos - na fronteira americana, na ilha de Antígua, produto

e cana-de-açúcar, nos movimentados portos ingleses e e

umerosos outros locais. Muitos discípulos de Wesle

onsideravam aquelas reuniões semanais a espinha dorsal de s

ida religiosa, e mais compensadoras do que os serviç

eligiosos de domingo. Algum tempo depois da morte d

Wesley, porém, quando a privacidade se tornou o desejo de umatia da sociedade, a popularidade das reuniões foi diminuindo.

Um otimista, Wesley confiava na capacidade de praticamen

odas as pessoas amarem a Deus e a toda a humanidad

Diferentemente de Calvino e Whitefield, ele acreditava que

éu está aberto a todos que amarem a Deus e levarem uma vidroveitosa. Durante anos Wesley recebeu raros convites pa

alestras em igrejas anglicanas, mas em 19 de janeiro de 178

le escreveu em seu diário: "A maré virou." Ele morreu e

791, aos 88 anos de idade. Na véspera da morte, conta-se qu

isse duas vezes: "O melhor é que Deus está conosco."

Agradava a Wesley o fato de integrar a longa lista de pregador

ristãos, que começava na época de Cristo, e por isso a inscriçã

om seu nome presa ao caixão de madeira no qual foi sepultad

stava em latim, e não em inglês. Na manhã de seu sepultamen

m Londres, era esperada uma tal quantidade de seguidores, qu

funeral começou às 5 horas, em uma tentativa de diminuirglomeração. A pedido do próprio Wesley, o serviço fo

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mples, e seis idosos pobres foram convidados a carregar

aixão, pelo que receberam a significativa quantia de 20 xelins

WHITEFIELD, O AGITADOR DE MASSAS

George Whitefield, ele mesmo um empreendedor da religiã

mostrou a Wesley como pregar ao ar livre. De altura acima d

média, Whitefield era um pregador cativante. Um lev

strabismo - segundo se diz, seqüela de sarampo - em um

eus pequeninos olhos azuis em nada prejudicava a impressue causava, pois seu rosto só era visto pelos espectadores qu

cupavam os lugares próximos a ele. A voz representava se

ecurso mais valioso, e suas palavras, pronunciadas lentament

podiam ser ouvidas a longa distância".

No final do ano de 1739, Whitefield pregava no centro iladélfia, quando o genial Benjamin Franklin, ao passar p

erto, resolveu calcular precisamente a quantas pessoas chegav

mensagem - sem contar as que apenas olhavam, sem consegu

scutar. Naquele dia, a mensagem chegou a 30 mil pessoas, pe

menos. Ele virtualmente preparou o terreno para as sessões d

ração em massa, vitais para o surgimento de movimentolíticos populares nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, n

éculo 19.

O anglicano ortodoxo dr. Samuel Johnson concluiu que

tuação de Whitefield carregava tal atmosfera de espetáculo, qu

le despertaria atenção, mesmo que se mantivesse calado. "Eeria seguido por multidões, ainda que usasse uma touca

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ormir ou pregasse do alto de uma árvore", Johnson refletiu. N

América do Norte, Whitefield teve seu talento de ator e pregad

econhecido por um povo que apreciava a informalidad

onathan Edwards, um teólogo congregacionista

Massachusetts, tinha recentemente emprestado sua voz

enascimento religioso mais tarde conhecido como GranDespertar, e Whitefield se tornou o principal "despertador" e

ma cruzada que se estendeu da Nova Escócia a Geórgia

lém. Dificilmente terá havido na Inglaterra uma onda de ferv

eligioso tão intensa quanto a que ocorreu entre 1740 e 1743.

Whitefield cultivava o mesmo hábito de John Wesley: acordedo. Não havia um minuto a perder. Para a vida em famíli

orém, faltava tempo. Como não viviam bem com su

mulheres, os dois raramente apareciam em casa. Um religio

muito franco que os tinha convidado a subirem ao púlpito e

edfordshire e, por acaso, conheceu suas mulheres chamou-

e "dupla de furões". Eis aí uma tese de doutorado à espera dma autora feminista.

Whitefield disse certa vez que preferia "desgastar-se a cri

mofo". Em setembro de 1770, com 55 anos, ele proferiu s

ltimo sermão, com duas horas de duração. Morreu no d

eguinte e foi sepultado sob o púlpito da igreja presbiteriana Newburyport, Massachusetts. Em matéria de fama, ele nã

iferia muito dos santos da Era Medieval, e centenas

ongregações protestantes dos dois lados do Atlântico aceitaria

om prazer o privilégio de guardar seu túmulo.

REGADORES ITINERANTES

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Quando os colonos norte-americanos proclamaram que

stados Unidos passavam a ser independentes da Grã-Bretanh

m 1776, eram poucos os seguidores de Wesley. Em 185

orém, um em cada três "crentes" nos Estados Unidos emetodista. De início, a Igreja se apoiou maciçamente e

regadores itinerantes, que tinham pouco treinamento, pou

onhecimento e não se importavam em receber baixos salário

ada pregador itinerante tinha a seu cargo um pequeno distri

u circuito; no decorrer de um mês, ele devia visitar todas

grejas e todos os grupos de reunião dentro daqueles limites. O

regadores itinerantes se adaptavam melhor aos distritos rura

ecém-estabelecidos, onde as cidades grandes eram poucas e

amílias eram pobres.

Os líderes religiosos não se organizaram tão facilmente

Austrália - uma ex-colônia penal muito distante - quanto nAmérica do Norte. Wesley ainda estava vivo quando, em 178

governo britânico enviou à costa leste da Austrália um

squadra cheia de marinheiros armados e de condenados, alé

e um capelão cristão.

O capelão escolhido, Richard Johnson, tinha sido influenciadelos ensinamentos de Wesley. Naquele vasto continente,

parência gorducha de Johnson foi a primeira imagem associa

o cristianismo. Em fevereiro de 1788, no que foi seu segund

omingo em terra firme, ele se postou junto a uma coli

erdejante, próxima ao porto de Sydney, e falou para centen

e condenados - homens e mulheres. A base de seu discurso f

"

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ondade para comigo?" Provavelmente nem todos

ondenados estavam certos de terem sido alvos dessa bondad

mas pelo menos podiam assistir, na terra que haviam habitado,

ue Whitefield e Wesley faziam melhor: pregar sinceramente a

r livre.

OS CANTORES

Um novo hino com belas rimas, em interpretação leve ou solen

ra um meio simples de divulgar a doutrina cristã. As rimacilitavam a memorização, único recurso dos fiéis que n

abiam ler. Um hino comovente era mais persuasivo do que

maior parte dos sermões. E muito mais curto.

saac Watts vinha de uma família de protestantes devotos. Se

ai, um negociante de tecidos de Southampton, tinha sido preor causa de convicções religiosas em 1675, exatamente o an

o nascimento do filho. Aos vinte e poucos anos, Watts e famíl

reqüentavam uma capela congregacional onde se cantava

inos. Lá, o ministro lia em voz alta, um por um, os versos

mais recente composição de Watts, que eram repetidos pelo

éis. Na época da Primeira Guerra Mundial, a maior parte d

abitantes da Grã-Bretanha, Austrália e Nova Zelândia co

mais de dez anos de idade conhecia pelo menos o primeiro ver

e  Our God, Our Help in Ages Past (Oh Deus, Etern

judador),  e de  When I Survey the Wondrous Cross (Quand

Contemplo a Cruz Maravilhosa), este um hino de Páscoa - duomposições de Watts. O metodismo mal começava a espalha

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e, quando Watts morreu, em 1748.

Os irmãos Wesley, ainda mais do que Watts, compunham hino

ue cativavam a imaginação do público. John Wesley produz

primeira coleção de hinos - traduções do alemão - para s

greja na Geórgia em 1737. Ele compôs alguns outros hin

omo veículos de sua teologia, mas o compositor realmen

rodigioso foi Charles, seu irmão. Alguns dos hinos de Charl

elebravam o canto. O hino Oh for a Thousand Tongues to Sin

My Great Redeemefs Praise,  traduzido para o português com

Oh, para Milhares de Línguas Cantarem o Louvor do me

Grande Redentor,  seria citado em dois romances de sucesso dutoria de Thomas Hardy e George Eliot.

Whitefield também organizou um hinário para seus seguidore

Houve tanta procura, que foram necessárias 35 edições antes d

m do século. Ele não hesitava em alterar a letra ou mesmo

mensagem de hinos compostos por outros autores. Uma de sudéias mais felizes foi alterar drasticamente os primeiros vers

e um popular hino de Natal da autoria de Charles Wesle

Hark! The Herald Angels Sing (Ouça! Os Anjos Mensageir

Cantam).

Nessa vigorosa versão do protestantismo, homens e mulher

cupavam alas independentes, e às vezes cantavam os vers

os hinos separadamente, para depois unirem as vozes. De iníc

em o acompanhamento de um órgão, o canto era chamado d

wift. Os grupos evangélicos e calvinistas, em sua maioria, ain

ão tinham decidido se permitiam ou não que violinistas

rganistas acompanhassem o canto.

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  ,ervissem de base a outro credo, acabaram por levar a uma nov

eita que se espalhou pelo mundo. Embora a princípio e

rganizasse tudo minuciosamente - ou ditatorialmente - como

osse a única pessoa capaz de fazer isso, a seita cresceu ma

epois de sua morte. Em um século, a metodista era a mai

greja dos Estados Unidos, e provavelmente a segunda n

nglaterra e no País de Gales, pela quantidade de fiéis present

o serviço de domingo. Na Austrália e na Nova Zelândia

greja ocupava o quarto lugar, e destacava-se em muitas outr

egiões.

Aos olhos de um renomado historiador, Wesley pode somparado a Napoleão ou Gandhi, como formador da Histór

moderna.

Outros historiadores talvez não compartilhem dessa opinião, m

oucos negariam sua influência. O poeta Robert Southey fez

Wesley uma homenagem incomum: "Considero Wesley essoa mais influente do século em que viveu - o homem cuj

ções produzirão os maiores efeitos daqui a séculos ou milênio

e a humanidade sobreviver tanto.

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CAPÍTULO 25

TURBULÊNCIA EM PARIS

m 1780, a França era o país mais populoso e a vitrine divilização da Europa, além de ocupar o posto de nação maoderosa em terra e, talvez, no mar. Uma das duas vigorosotências coloniais, suas possessões se estendiam das índi

Ocidentais e de Louisiana, no continente americano, à costa lesa índia. O idioma francês era especialmente apreciado como

nguagem da democracia, e seus melhores  chefs  e arquitetespertavam admiração em toda parte.

A IGREJA NA FRANÇA: UMA CARRUAGEM COMÓTIMOS CAVALOS

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om u o sso, a ca a e o umu ua a. monarqunobreza, a Igreja Católica, a agricultura e as finanças estava

ob pressão. As dívidas do monarca e do país, difíceis deparar, tinham crescido de maneira alarmante por causa dpoio oferecido aos Estados Unidos durante a guerra pe

ndependência. Em nenhum outro país ocidental viviam mantelectuais influentes do que na França, e eles tinham entre selvos a Igreja e os sacerdotes do próprio país.

O rei Luís XVI e sua Igreja eram praticamente uma coisa só. rei caísse, bispos e padres poderiam cair também. E

ristianismo na França poderia ir junto. Diferentemente, a Igrea Inglaterra e dos Estados Unidos era mais diversificada. Nois países não havia uma religião única, mas várias religiõe

No caso, a desunião fazia a força. Se a Igreja da Inglateraísse, outras seitas cristãs sobreviveriam e poderiam crescer.

Às vésperas da Revolução, havia mais cristãos vivendo

rança do que em qualquer outro país. A vida profissional dm grande número de franceses foi toda dedicada à Igreatólica, para quem eles trabalhavam como funcionário

acerdotes, monges, freiras e empregados.

Os padres de paróquia - cerca de 30 mil ao todo - provavelmen

umpriam suas obrigações, e muitos gozavam de alta estimAssim, em junho de 1762, um padre que comemorasse 50 ana mesma paróquia podia dizer humildemente:

Vivi e vivo sem problemas, em paz com todos. Mas tenhodas as razões para temer o terrível julgamento de Deus, que

mim confiou milhares de almas por tão longo período, em umarefa perigosa". De modo geral, o clero francês "se comportav

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melhor e era mais preparado", escreveu um historiador. Muitadres ofereciam conselhos em questões ligadas à agricultura e

medicina, em vilarejos nunca visitados por médicos. Emboramaioria dos padres se dedicasse com afinco ao cumprimento duas obrigações, alguns precisavam ser repreendidos pelo bisp

or beberem demais - nas festas, em especial - perderem tempm caçadas, empregar palavras grosseiras e emprestar dinheiroltos juros.

Dois séculos antes, o Concílio de Trento tinha estabelecido qus bispos deviam visitar as paróquias sob sua jurisdição pe

menos uma vez a cada dois anos. Alguns, no entanto, poença, cansaço, preguiça ou preferência por atividades magradáveis, delegavam ou simplesmente ignoravam a tarefa. E778, o novo bispo de Le Mans chegou a uma pequena cidadue tinha recebido um bispo pela última vez fazia 30 anos. Eutra cidadezinha, ele confirmou que mais de 1,6 mil pesso

nham chegado de paróquias próximas para receber mportante sacramento que nunca lhes fora oferecido.

Quando o bispo era rico, viajava em um estilo digno ristocracia, com uma comitiva de cavalos para montar ou puxarruagens e vários ajudantes, inclusive um cozinhei

xclusivo. O bispo pobre viajava em carruagem puxada por dumulas e ficava satisfeito em voltar ao palácio episcopal, ondispunha do que necessitava.

m 1683, tinha sido explicado que um bispo, para sespeitado, devia empregar dois criados, um cirurgião, u

apelão particular, um administrador do palácio, um homem pauidar dos estábulos e outro para a adega. Isso para não falar d

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arçons uniformizados, do cozinheiro para preparar pão efeições, e de um rapaz cuja tarefa era virar o espeto da carn

Aos empregados cabia também distribuir comida pelecessitados que regularmente apareciam em busca de ajuda, ue a fome assolava a França. Finalmente, era preciso u

arpinteiro para fazer a manutenção de estábulos, cercas e asa do bispo. Parece incoerente, tanto conforto em nome utro carpinteiro - o fundador da religião seguida pelo bispo.

A Igreja Católica da França tinha muitas virtudes. O que iscute é se entre as principais estavam o zelo e a efetividade n

regação do evangelho. Sua enorme riqueza - a Igreja era done um sexto do território francês - certamente lhe permitiu atuomo patrocinadora generosa de muitas artes. Os mais belorais da França podiam ser ouvidos aos domingos nas catedragrandes igrejas. Desde 1725, um dos eventos musicais d

emana Santa e dos domingos seguintes, em Paris, era

oncerto Espiritual. Compositores franceses, bem como alentoso italiano Pergolesi, criaram músicas para tais ocasiõe

Até o jovem Mozart foi à França uma vez para participar.

m um ponto, antes controverso, praticamente todos os católiconcordavam: os protestantes, a maioria vivendo no sul

rança, tinham deixado de representar uma ameaça. As leis mantinham sob controle. Em 1700, eles eram proibidos deunir-se em público com propósitos religiosos, de casar-se egrejas Católicas e de fazer viagens, ainda que breves,

Genebra, à Holanda ou à Inglaterra, para serem batizados pastores ou bispos protestantes. Em 1750, essas leis já não eraplicadas, a não ser que as autoridades locais fossem mui

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.

A EXPULSÃO DOS JESUÍTAS

O cristianismo estava entrincheirado na França, embora mais nmeio do povo do que dos governantes. Intelectuais poderosospecialmente os jesuítas, também defendiam o cristianismo.

m questões religiosas, a Companhia de Jesus abrigava os maapacitados debatedores. Depois de recrutar garotos talentosara servirem a ordem pela vida toda, os jesuítas os preparavam seus excelentes colégios e seminários, procurados tambéela elite, inclusive pelos filhos de nobres e de altas autoridadeegundo o censo oficial de 1749, os colégios jesuítas somava33 na Itália, 105 na Espanha e 89 na França. Quando monarcu mesmo papas se deparavam com questões diplomátic

omplicadas, às vezes recorriam aos jesuítas. Se naquela époá existisse o Prêmio Nobel, eles provavelmente receberia

muitos, em especial na área do conhecimento. Talvez nãlcançassem o Nobel da Paz, por agitarem com vigor excessivcaldeirão político. Os jesuítas tiveram importância vital pa

ma Igreja cada vez mais combatida.

O sucesso dos jesuítas foi em parte responsável pelos ataquisparados contra eles. Invejados, eram vistos como mágicapazes de abrir portas trancadas em palácios remotos. Assimnfiltraram-se no palácio do imperador chinês e, com habilidad

conhecimento, tornaram-se quase indispensáveis. Os jesuít

conselhavam o imperador em assuntos ligados à Astronomia,

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 clipses da Lua e do Sol. Em Mecânica e Matemática, erarovavelmente os melhores consultores e professores de Pequimles adaptaram algumas doutrinas cristãs a preferências locaomo a veneração dos ancestrais e a admiração por Confúcintensificando assim sua influência sobre o povo chinês. Era isxatamente que os missionários mais eficientes faziam hav

muito tempo na Ásia e nas Américas, mas a estratégia doesuítas, chegados de tão longe, despertou nos rivais fortessentimentos.

m Portugal, os jesuítas foram acusados de utilizar s

nfluência em proveito próprio e da monarquia.O Marquês de Pombal, que governou Portugal com onsentimento do rei, rompeu com os jesuítas e, sem hesitaçãxpulsou-os de Portugal e do Brasil em 1759.

Na França, os jesuítas também foram combatidos. Criticad

elas atividades comerciais que exerciam na colônia francesa Martinica, nas Índias Ocidentais, e pelas dívidas que contraíramoram alvo em Paris de uma investigação oficial, nompletamente imparcial. Em 1762, a investigação consideros jesuítas "prejudiciais a todos os princípios da religião, e até

onestidade". Logo suas propriedades foram confiscadas, e elanidos da França. Seus principais pecados eram óbvioalentosos e poderosos demais, representavam mais a voz

Roma do que a de Paris.

Na Espanha, seu verdadeiro berço, os jesuítas passaram a s

onsiderados uma ameaça à monarquia. Tendo feito um vospecial de obediência ao papa, eram vistos como estranhos

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n rusos por mu os espan s. u ras or ens re osas, especial a dos dominicanos, ficaram desconfiadas onciumadas. Em uma população total de 10 milhões abitantes, havia na Espanha 200 mil religiosos, contando-adres, monges, frades e freiras. Os jesuítas eram minori

alou-se que um tumulto em Madri, no ano de 1766, tinha sidncentivado por eles. No ano seguinte, os jesuítas foraormalmente expulsos da Espanha e de suas colônias.

Nos doze anos seguintes, a redução continuou. Das costas dMar Báltico ao interior da América do Sul os jesuítas foraxpulsos, embora alguns monarcas não católicos tenhaonsentido sua presença. Finalmente, em 1773, o papa Clemen

XIV, pressionado pela França, pela Espanha e por váriostados italianos, dissolveu a ordem dos jesuítas. "Foi

momento mais vergonhoso do pontificado", um historiadscreveu.

Ao punir os jesuítas, a Igreja Católica puniu a ela mesma. Fomo se uma nação expulsasse seus generais mais experientes ésperas de uma grande guerra. Os jesuítas continuaram seabalho em alguns locais onde o papa não exercia influênciomo Prússia, Rússia, Inglaterra e outros países. Eles só fora

eadmitidos em terras católicas em 1814, pelo papa Pio VII.

ILÓSOFOS, ATEÍSTAS E OUTROS CÉTICOS

ertas crenças básicas dos cristãos sempre foram alvo ríticas. No dois séculos seguintes à morte de Lutero, numeros

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 Os estudiosos que duvidavam da divindade de Cristo, referinde a ele como um homem santo, e não o filho de Deus, tinhamuidado de não falar muito alto. Os filósofos, que se sentiamontade ao lidar com idéias abstratas, expressavam suas dúvidm termos difíceis de entender, mesmo pelos mais cultos. Naíses católicos, pode ser que alguns padres tenham reveladuas incertezas diante de uma comunidade rural que nãercebesse claramente as implicações. Pode ser também que, eírculos protestantes, algum pastor unitariano corajoso tenhevantado dúvidas sobre a existência do Espírito Santo.

A Reforma tinha realmente preparado o terreno sobre o quaminhariam ateístas e outros tipos de céticos. Ao atacar utoridade da Igreja Católica, a Reforma inspirou outrensadores a atacar as novas Igrejas Protestantes. Ao incentivdiscussão sobre o significado de muitos trechos da Bíblia,

rotestantes indiretamente favoreceram o debate acerca rincípios básicos do cristianismo. Cristo era mesmo filho Deus? Ele realmente ressuscitou? Deus intervém continuamena vida diária ou, pela maior parte do tempo, apenas observ

Os principais líderes protestantes, embora acreditassem piamena ocorrência e na força de milagres surpreendentes durante

ida de Cristo, viam com reservas os milagres supostamencontecidos no momento presente. Assim, abriram caminho pautros pensadores criticarem - caso tivessem coragem - onceito de milagre.

O deísmo, uma doutrina formulada por céticos, cresceu e

nfluência, no século 18, na França, Prússia e Inglaterre undo eles Deus existe mas su ervisiona o universo se

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nfluir. Os deístas tendiam a prescindir de um Deus individuambora alguns deístas fossem ateus disfarçados, a maioria e

eligiosa, e pelos padrões atuais, seria considerada crente. maioria acreditava que Deus criou o universo em toda a sueleza e majestade, distribuiu oceanos e terras, lançou o Sol e

ua em trajetórias estabelecidas, determinou os climas dos váriontinentes, criou a humanidade e afastou-se. Deus não morreoi apenas descansar. Ou talvez tivesse mantido o poder, mareferisse observar a maravilha do Universo e a humanidade, uouquinho menos maravilhosa.

opernicus na Polônia, Galileu na Itália, Newton na InglaterrDescartes na França, Huygens da Holanda, e outros cientistasmatemáticos, descobriram importantes leis naturais que, de cermaneira, confirmaram o deísmo. Essas descobertas sugeriam qu

mundo natural obedece a leis e ritmos próprios, seecessidade de intervenção da mão de Deus. Assim, não serusto esperar que Deus salvasse os passageiros de ummbarcação durante uma tempestade no mar, ou uma cidadmeaçada por uma inundação ou epidemia fatal. Tal doutrinesafiava o conceito de oração.

mbora não rendessem grande número de conversões, as vári

ersões do deísmo influenciaram a forma tomada por algumartes do mundo intelectual e político. Na década de 177uatro dos notáveis fundadores dos Estados Unidos - Geor

Washington, Thomas Jefferson, Benjamin Franklin e Tom Paineram deístas. O deísmo afetou até quem pouco entendia d

ovas correntes da Teologia. Em agosto de  1770, o capitames Cook explorava a costa leste da Austrália a bordo d

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avio  En eavor,   e estava a ponto e co i ir com a Granarreira de Corais. No momento de maior perigo, porém, umreve rajada de vento desviou o rumo da embarcação. Cooegistrou no diário de bordo: "Deus mandou o vento soprar em momento crítico." Depois de algum tempo, ao comentar

pisódio, ele se desmentiu, negando que a salvação fosse obe Deus. Era como se o deísmo tivesse afetado seu pensamento

A idéia básica do cristianismo era que o ser humano pecadrecisa da graça de Deus para se redimir. Jean-Jacqu

Rousseau, originariamente um calvinista de Genebra, desafiou

ese de que a humanidade carrega a mancha do pecado desdeardim do Éden. Segundo Rousseau, o ser humano nasce bomcorrompido pela civilização. A mesma civilização na qual

ristianismo representava um aspecto vital. Em 1762, Roussescreveu: "O homem nasce livre, mas encontra grilhões em toarte." Removidos os grilhões, não haveria necessidade d

eligião.ríticos e racionalistas, conhecidos na França como "filósofosescartavam a idéia de vida após a morte. Segundo eles, aindue houvesse outra, a vida na Terra seria mais importante nriquecedora. Existe verdade na ousada afirmativa de que

maior invenção do século 18" foi a idéia de que a humanidaode e deve ser feliz na Terra. A França, mais do que qualqueutro lugar, foi o berço dessa invenção. E a Igreja francesa fua primeira vítima.

VOCÊ ACREDITA EM MILAGRES?

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Na segunda metade do século 18, alguns autores talentosscreviam uma versão da História não aprovada nas catedrales afirmavam que os seres humanos, a geografia e outr

atores eram os principais responsáveis pela estruturação d

assado. Segundo eles, o entusiasmo religioso representava umaixão perigosa, em nada semelhante ao que pregavarancisco de Assis e Bunyan de Bedford. Alguns dessontestadores ridicularizavam a fé depositada por muitos cristãcatólicos, em especial - em milagres.

O filósofo e historiador francês David Hume foi um dessontestadores. Hume conferiu a Edimburgo a reputação eduto do ateísmo. É difícil imaginar hoje em dia o terror eerplexidade que o ateísmo causava nos cristãos fervorosos. Nemanas que precederam a morte de Hume, em 1776 - dâncer, provavelmente - especulava-se com ansiedade sobre se

stado de espírito. Ele se arrependeria no leito de mortnfrentaria a morte calmamente? Muitos afirmavam que ele onverteria, voltando a ser cristão. Outros acreditavam qinguém, nem mesmo David Hume, ousaria enfrentar coanqüilidade o Criador, levando nos lábios a nódoa do ateísmu da blasfêmia.

Na hora do sepultamento, um pequeno grupo hostil se juntoos amigos de Hume. Durante oito noites, então, um vig

montou guarda junto ao seu túmulo, na colina de Calton, pmedo de alguma demonstração de violência ou ato andalismo.

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NOTÍCIAS DE UMA UTOPIA AMERICANA

m quase todas as regiões da Europa havia uma religiãominante ou única. Antes de começar a guerra pe

ndependência americana, em 1775, a maior parte das colôniritânicas ao longo da costa do Atlântico havia conquistado urau de independência desconhecido na Europa. Das olônias norte-americanas, Rhode Island, Nova Jerseensilvânia e Delaware já haviam garantido a seus habitantesberdade religiosa e a igualdade entre as várias seitas. Durante

uerra, quase todas as outras colônias fizeram o mesmo.Quando as 13 colônias se uniram em uma federação, sob ome de Estados Unidos da América, aprovaram o princípio dberdade religiosa. Uma lei federal de 1786 confirmou qualquer indivíduo, independentemente de religião, podia torna

e presidente da nova república. Um  quaker  ou um católiodiam ser legisladores ou juízes. Mesmo um ateísta, desde quvesse nascido nos Estados Unidos e não fosse escravo, pod

ornar-se chefe das Forças Armadas. Segundo a constituiçãederal, nenhuma denominação cristã podia receber tratameniferenciado do governo central. A nação que afirmava o vala liberdade religiosa representou uma experiência ousada.

Mais tarde, uma teoria popular explicou que tal liberdaesultava do fato de os primeiros imigrantes chegarem à Américo Norte fugindo "da espada incansável da perseguiçãeligiosa" na Europa, e desejarem criar um novo baluarte

berdade. Essa interpretação faz sentido, mas não deve recebmuita credibilidade. As essoas ue fo em de erse ui õ

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 eralmente implantam um regime que persiga os antignimigos. A Nova Inglaterra, primeiro reduto desses refugiadoão foi, no início, uma fortaleza de liberdade.

A explicação para o surgimento da liberdade religiosa no novaís passa por pelo menos dois fatores de importância vitarimeiro: em 1750, uma ampla variedade de seitas e Igrejas tinhe estabelecido nas 13 colônias que formaram os Estad

Unidos, trazida pelos imigrantes, mas nenhuma delas ereqüentada por mais de um quarto da população total. Isevou a uma política de viver e deixar viver. Segund

gualmente importante foi o fato de os católicos serem poucumerosos, a princípio, o que facilitou sua aceitação pelrotestantes. Ninguém então imaginaria que, no ano 2000, atólicos alcançariam o lugar de maior Igreja independente dstados Unidos, como resultado de sucessivas levas

migrantes vindos da Irlanda, da Itália, da Polônia e do MéxicOutro fator de peso favoreceu a pouco usual política olerância religiosa: se as colônias americanas queriam separar-a Inglaterra para formar uma nação patriótica, deviam tratom respeito todos os grupos étnicos e religiões. Enquanto isslguns governos estaduais ainda impunham suas preferênci

eligiosas. O último a aderir à política de tolerância fMassachusetts, que somente em 1833 deixou de considerar ongregacionismo como Igreja oficial.

O que aconteceu na América na década de 1780 foi umevelação para os europeus radicais. Os Estados Unid

emonstraram que os políticos, por meio de discussões otações, podem moldar o destino de uma nação. Estava ali u

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xemplo de igualdade de oportunidades e liberdade religiosa nncontrado na Europa. Os franceses radicais, determinadosansformar o país, não perderam a lição. O fascínio

ntensificou pelo fato de as Forças Armadas Francesas tereudado a criar a nova nação.

O MARTELO DA REVOLUÇÃO ENTRA EM AÇÃO

Na França, o primeiro estágio da revolução começou em 178

eis e regulamentações se seguiram às discussões. No aneguinte, iniciava-se a reformulação da Igreja Católica francesram tantos os adversários e os indiferentes, que de nadiantaria apelar à opinião pública, para desviar os golpes d

martelo.

ob o novo regime, a Igreja nacional da França não mais urvaria ao rei nem ao papa. Os bispos seriam eleitos pelabitantes de cada distrito. Na Igreja Católica reformada, umeleção de protestantes, judeus e ateístas participaria da eleiçãos bispos. Até então, os protestantes eram apenas tolerados nrança; somente em 1787, os sacerdotes protestantes recebera

ermissão para celebrar casamentos.Várias dessas mudanças radicais chamaram a atenção do baixlero católico, pelas promessas de salários mais altos e segurano cargo. Os bispos já consagrados não tinham motivos atisfação. Seu prestígio,  status  e renda diminuíram. El

ensavam que o bispado seria vitalício, com o direito de usentarem de seu território quando e pelo tempo que quisessem

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m vez sso, ter am e conqu star um e e tora o secu arouco simpático.

A Assembleia Nacional, que passou a governar a Françesafiou os religiosos contrários às novas ordens. Em novembe 1790, eles tiveram de jurar que obedeceriam à nov

onstituição para não perderem as posições na Igreja. Os bispranceses - com sete exceções - pediram dispensa, e muitos delaíram do país. De início, talvez a metade dos padres aróquias e outros religiosos tenham tentado adaptar-se

mudanças que prometeram cumprir.

O tradicional direito de receber o dízimo - uma taxa eenefício da religião - foi abolido, e as vastas propriedades dgreja Católica foram confiscadas. Os padres remanescentes rriscavam a ser deportados ou receber outras punições. Bastavma queixa feita por seis cidadãos, contra "comportamenncivil" de um padre, para que se iniciasse uma investigação qodia resultar em prisão. No fim do ano de 1792, três naviansportaram 550 padres condenados ao exílio em um locfastado, na costa africana do Atlântico.

O rei Luís XVI estava disposto a fazer concessões, mas não eeligião. Por não demonstrar lealdade à nova França, sua vi

stava em perigo. Em janeiro de 1793, ele foi decapitadQuando a notícia chegou a Roma, o papa Pio VI considero

uís XVI mártir da fé católica.

De quem era a culpa por tal revolução naquele que, duranéculos, tinha sido o mais populoso país católico do mundo?

apa acusava os racionalistas e os "calvinistas facciosos", mm sua Igreja também havia facções. A conclusão de que

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greja como um todo tinha falhado, embora não completamenteria dolorosa demais para ele.

O ateísmo se apossou do pedestal da França revolucionária écada de 1790. O altar da Catedral de Notre Dame fonvertido em monumento à razão. Na Catedral de Reims, u

ecipiente histórico guardava o óleo santo com o qual forangidos muitos reis franceses, mas o óleo passou a sonsiderado veneno, e ele desapareceu durante os atos de terre 1792 - 1793. O casamento não era mais visto como eveneligioso essencial: o sacerdote deixou de ser necessário. P

rdem dos revolucionários, o antigo calendário cristão fbolido, inclusive o dia chamado domingo. Passou a ser adotademana de dez dias, na qual o último dia -  décadi  - ficaveservado ao descanso.

Monges e freiras receberam a ordem de abandonar os mosteir

conventos, deixando para trás construções e terrenos, qoram tomados pelo governo francês, com a intenção de obtinheiro para pagar a dívida nacional. Em Cluny, a igremponente, antes a mais espaçosa do mundo cristão, foi quaoda destruída, e as pedras da construção, saqueadas.

m 1801, o novo governante da França, o brilhante soldadNapoleão Bonaparte, resolveu fazer uma restauração simplesevolver as construções. As terras confiscadas não foraevolvidas, apesar do acordo formal assinado por ele e peapa Pio VII. O próprio papa foi convidado a presidir erimônia em que Napoleão seria coroado imperador. M

Napoleão mostrou a quem caberia a autoridade suprema, ceitar das mãos do papa a coroa coberta de jóias e colocá-la e

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mesmo sobre a cabeça.

Os bispos que tinham sido depostos ou escolhido o auto-exílios vivos, é claro - retornaram à França. A vida religiosecuperou a vitalidade. No entanto, numerosos francesfastados do cristianismo permaneceram assim ou iniciara

ostilidades que se prolongaram por várias gerações.

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CAPÍTULO 26

A ERA DO VAPOR E DAPRESSA

Aqueles acontecimentos poderosos - o rápido avanço Revolução Francesa e o lento avanço da Revolução Industria

ansformavam mental e materialmente a Europa e as AméricaA máquina a vapor reduziu as distâncias na terra e no ma

Abriam-se novos campos de conhecimento, em especial niência. A nova mentalidade e a ênfase no materialismspalhavam o medo entre os cristãos, e ainda assim, sob certspectos, aquele foi um dos mais dinâmicos períodos de songa história.

OS PROFETAS DO NORTE

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Antigas igrejas eram recuperadas, e credos se multiplicavammbora alguns só tenham exercido mais forte influência décadepois da morte do fundador. Foi o que aconteceu à sei

undada por Emanuel Swedenborg, nascido em Estocolmo nno de 1688. Muito versátil, ele recusou um convite para dulas de Matemática em Uppsala, interessado que estava eisiologia, Zoologia, Mineralogia e Metalurgia, Cálcu

Diferencial e Economia. Aos 60 anos, porém, seu mainteresse eram as questões espirituais.

wedenborg era um dos poucos protestantes de seu tempo a reocupar com o dia a dia no céu. Um bom passatempo seruvir os sermões maravilhosos de um pregador que falasoltado para a congregação. A assistência numerosa rganizaria assim: os mais inteligentes no centro da igreja e

menos inteligentes nas laterais. Ao que parece, no céu plicavam testes de inteligência.

Na imaginação, Swedenborg viajava pelo espaço cósmico. Efirmava conversar com almas que viviam na Lua e ter contatreqüentes com pessoas mortas há muito tempo. Acreditava qu

cristianismo tinha cumprido suas funções e daria origem a umova religião, da qual era guardião e mensageiro.

Quando Swedenborg morreu, em 1772, contava com pouceguidores, mas logo uma seita foi criada em seu nome. hamada Nova Igreja, Igreja Swedenborgiana ou Igreja de Noverusalém atraiu escritores e intelectuais. Entre seus admiradorstava a poeta Elizabeth Barrett Browning, que comentou co

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  , ,essoas tão inteligentes quanto ele. Decorridos dois séculos

morte de Swedenborg, sua Igreja continuava viva - emboespirasse com dificuldade - em cidades tão distantes quanoston e Adelaide.

Nas grandes cidades do mundo protestante, as igrejas de seitmenos conhecidas ficavam relegadas às ruas de menmovimento. A grande e bonita igreja pertencente à LondoUniversity, em Gordon Square, era originalmente o lar da seiriada por Edward Irving, amigo íntimo de Thomas Carlyle,rofeta secular admirado na Inglaterra e em partes da Alemanhrving, um escocês alto e atraente, pretendia ser missionário érsia, mas acabou se tornando uma espécie de missionário eondres. Assim que chegou lá, tornou-se ministro de umequena Igreja Caledoniana em Hatton Garden, onde previu quristo logo voltaria à Terra. O jeito sedutor e a grand

nteligência ampliaram seu círculo de amigos, e celebridadondrinas acorriam para ouvi-lo na igreja apinhadspecialmente depois que ele começou a "falar em línguasssim que o Espírito Santo descia sobre ele. Sua fama spalhou.

Depois que Irving morreu de tuberculose, aos 41 anos de idadeus discípulos fundaram uma seita formalmente denominagreja Católica Apostólica - às vezes chamada de irvingistambora havia muito tempo ele estivesse afastado do catolicism

A seita combinava a liturgia na religião nacional e intervençõspontâneas dos fiéis, em línguas desconhecidas. Aos domingo

ó se via o altar através de uma nuvem de fumaça de incensorilhantes luzes.

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 Atraindo famílias prósperas e talentosas, inclusive a família Eae Northumberland, a seita inaugurou uma série de templos eidades grandes, estendendo-se de Manchester e Birminghamidades norte-americanas e ao Hemisfério Sul. Em Melbournnstituições influentes, como Wesley College e Hawthoootball Club, começaram com uma forte herança irvingistom o tempo, os irvingistas se tornaram mais fortes

Alemanha do que na Grã-Bretanha.

Os irvingistas estavam de tal modo convencidos da proximidada segunda vinda de Cristo, que não se preocuparam com obrevivência da seita. No início, indicaram doze "apóstolosem plano para a sucessão. Cada "apóstolo" tinha a seu cargma "tribo", em referência às doze tribos de Israel. Quandoltimo dos doze apóstolos morreu, já em idade avançada, a 3 devereiro de 1901, a Igreja quase acabou. Os fundadores tinha

creditado que àquela altura Cristo já estaria reinando na TerraUma das previsões irvingistas seria lembrada daí a muito tempWinston Churchill recebeu pela primeira vez um sinal de quoderia haver uma grande guerra, graças a um comentário eu jovem amigo invingista Lorde Percy, por volta de 1902 -

oze anos, portanto da eclosão da Primeira Guerra MundiaAliados políticos na Câmara dos Comuns, eles conversavamuando Percy começou a falar francamente sobre a religião quraticava, mencionando a morte recente do último apóstolo, quavia previsto "com estranha certeza o advento de uma era uerras assustadoras". Churchill, que não podia ser considerad

m homem religioso, tinha fortes razões para lembrar a previsãvin ista ois era o chefe olítico da Marinha britânica e

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914, quando começou a terrível guerra contra a Alemanha.

O PROFESSOR CHALMERS E O CARDEANEWMAN

m matéria de influência, Irving perde para Thomas Chalmere quem foi assistente em Glasgow. Atualmente esquecido foa Escócia, Chalmers foi um dos gigantes da pregação, nempo quando a oratória era equivalente à televisão na nossa er

Nascido em 1780 - cerca de doze anos antes de Irving halmers sustentava uma combinação de opiniões. Sob nfluência da avalanche de idéias que atravessou o Mar d

Norte, vindo da França revolucionária, ele se tornou por alguempo uma espécie de racionalista, mas aos 23 anos era ministe uma Igreja Presbiteriana em Kilmany, na área rural de Fif

De início, Chalmers exerceu pouca influência sobre os fiéis. Tomo muitos jovens recrutados para o ministério, aceitara unção por tratar-se de uma carreira útil e segura, e não porqe dispusesse a empreender uma aventura espiritual.

Um livro religioso da autoria do anti-escravagista inglês Willia

Wilberforce contribuiu para dar sentido à vida de Chalmermbora o livro tivesse o complicado título de A Practical Vie

f the Prevailing Religious System of Professed Christian

publicado em português sob o título Cristianismo Verdadeiro

Discernindo a Fé Verdadeira da Falsa),  serviu para convenc

halmers - então com 30 anos de idade - de que tinha o dever dmudar o mundo. A partir de então, seus discursos ganhara

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a x o e urg nc a.As pessoas que o ouviam pela primeira vez se perguntavam pue ficavam tão arrebatadas. Henry Cockburn, um advogadscocês, disse que ouviu cada palavra "com o coração disparados olhos marejados". No entanto, quando leu o mesmo sermã

ercebeu que o efeito vinha mais da personalidade de Chalmeo que das palavras.

halmers pregou em Londres por quatro semanas, onde uuturo primeiro-ministro, George Canning, "se debulhou eágrimas", pela sinceridade do discurso.

homas Chalmers combinava o evangélico ao racional. Srande inteligência respeitava o iluminismo e sua ênfase nazão - a Escócia era um dos baluartes do iluminismo - mcreditava que razão e lógica não mudam o coração das pessoaegundo ele, só se vive uma vida plena quando se acei

otalmente Cristo como salvador. Enquanto a meta de Chalmera reformar o indivíduo, seus oponentes preferiam reformrimeiro o ambiente social, ao qual o indivíduo responde. Esontinua a ser uma das principais controvérsias em Ciênciociais, tribunais e prisões.

Na cidade de Glasgow, que se desenvolvia rapidamentomerciantes ricos viviam junto a regiões de extrema pobrezhalmers se mudou para lá em 1815. Ele tivera contato coatólicos em áreas rurais da Escócia, mas em Glasgow conhece

muitos que haviam deixado a conturbada Irlanda para buscabalho nas fábricas de algodão e fundições. Ele se aproximo

oi recebido em algumas casas e ficou satisfeito ao ver tantatólicos comparecerem ao serviço noturno. Aos 42 anos d

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dade, Chalmers foi indicado para ocupar a cadeira de FilosofMoral na St. Andrews University, e lá organizou sua teologiomo as pessoas são naturalmente pecadoras, devem apoiar-o despertar da própria consciência. Ele chamava isso autoridade da consciência".

O governo inglês pagava os salários de mais de mil ministros odo-poderosa Igreja Escocesa e, indiretamente, a administravá que aprovava a teologia e determinava os procedimentohalmers e seus seguidores preferiam que os ricos donos d

erras tivessem o poder reduzido, enquanto os membros

ongregação seriam fortalecidos, adquirindo o direito scolher os sacerdotes a quem estariam subordinados. A disputhamada de "rompimento", chocou a Igreja Escocesa. Famílie dividiram, e religiosos que eram amigos de longa data epararam.

m 1843, Chalmers e seus seguidores resolveram fundar umeita própria, a Igreja Livre da Escócia. Seria um grande esforçá que teriam de construir igrejas e, de algum modo, arrecadundos para pagar os salários dos sacerdotes. Dos 1.20acerdotes da Igreja Escocesa, 474 se desligaram, para participa nova seita. Nos três séculos de história do protestantismo, n

e encontra relato de uma evasão como aquela, de 4 em cada 1acerdotes. A Escócia viu iniciar-se uma febre de construção dgrejas. As próprias congregações ergueram os prédios, didades enfumaçadas às ilhas no oeste, enquanto outras viajavaara o estrangeiro, como a que chegou à Nova Zelândia

udou a fundar a cidade de Dunedin, cujo porto conserva ome de Chalmers.

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mbora Chalmers tivesse dividido a Escócia em duas facçõesranjeado uma legião de inimigos, conquistou dos seguidorma admiração intensa, dedicada a poucos compatriotas. Estime que 100 mil pessoas tenham ocupado a margem da estraara assistir à passagem de seu funeral em Edimburgo, em u

ia triste e nublado de 1847. Lojas e escritórios cerraram ortas por algumas horas, em homenagem a ele, enquannúmeros admiradores se reuniam em silêncio nos arredores demitério de Grange.

Na Inglaterra, wesleyanos e metodistas sofriam com as própri

upturas. John Wesley acreditava na união, e tinha desejadontinuar a fazer parte da Igreja Inglesa. Depois de sua mortorém, houve a separação, e a Igreja Wesleyana adotoaracterísticas e teologia próprias. Um grande grupoliticamente radical, adotou a denominação de metodistrimitivos. De suas fileiras saíram líderes do Partido Trabalhist

ntão em ascensão. Outro grupo, concentrado em Cornwadotou a denominação de Cristãos Bíblicos. Muitos se mudaraara os novos campos de mineração australianos, onde suapelas somavam grande quantidade. Em 1930, na Grretanha, todos os grupos se reuniram, repetindo uma fus

ustraliana anterior.Os anglicanos também atravessaram períodos de agitação, nécadas de 1830 e 1840. Um grupo de jovens brilhantes

Oxford University tentou devolver à Igreja o esplendmedieval. Eles queriam que a arquitetura, a disposição e

tuais reproduzissem as tradições católicas de séculos atrás. Oovens sacerdotes foram instruídos a jejuar e manter o celibat

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 antidade. Sua personalidade afável em muito se diferenciava olenidade de alguns setores do puritanismo. A princípio, sunfluência se concentrou nas camadas mais instruídas opulação. Seus panfletos (tracts, em inglês) e folhet

mpressos, procuradosvidamente e comentados à mesa do jantar, fizeram com que eitores ficassem conhecidos como tractarianos. O professdward Pusey, um dos jovens líderes do movimento de Oxforssim comentou o enorme interesse despertado: "Os panfletncontram eco em toda parte. Amigos se apresentam paarticipar. Só receio ficarmos populares demais."

Os receios de Pusey foram prematuros. Os textos curtos nhegaram à maioria das cidades da Inglaterra, mas o movimeneformista ganhou força. Meio século mais tarde, percebia-se snfluência na arquitetura interna e externa das novas igrejas, n

rescente preferência pelo cerimonial, por velas e incenso, e peisposição dos jovens sacerdotes anglicanos em trabalhar nairros pobres e favelas - áreas onde a atuação da Igreja tindo fraca até então.

O reverendo John Harry Newman era o astro do movimento dOxford. De ascendência francesa e holandesa, filho alvinistas, desde muito cedo interessou-se por questões ligado espírito e ao conhecimento. Vencendo a timidez, tornou-sm homem público. Sempre às 16 horas, seus sermões

alestras na Igreja de Santa Maria eram considerados os manstigantes de Oxford. Tal como os outros, sua intenção e

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ecuperar a essência dos primeiros tempos do cristianismscondida atrás dos vitrais da Igreja formal. Sobre a Igre

Anglicana, ele escreveu a uma amiga: "Perdi a esperança." Nerdade, sua esperança se voltava para o catolicismo, e Newmada vez mais deixava transparecer isso. Seu comportamen

onfirmava as acusações de tentar induzir a nação a unir-seRoma.

Afinal, Newman assumiu publicamente o catolicismo. Sonversão, em 1845, provocou forte comoção, já que ele estacara como líder da Reforma, pregador elegante e autor d

ino  Lead kindly light, amid the encircling gloom   ("Guia-mondosa luz, em meio às trevas", em tradução literal). onversão de um líder protestante ao catolicismo era um evenaro. Em termos atuais, foi como se o mais famoso intelectuteu se tornasse um eloqüente pastor da Assembléia de Deus. to de rebeldia praticado por Newman foi seguido por vári

eligiosos da Igreja Inglesa.azia 300 anos que a Inglaterra não contava com um cardeal oispo católico. Em 1850, o papa concedeu a Londres urcebispo, o cardeal Wiseman, que sustentava discussõeológicas com os rivais anglicanos e costumava superá-los

abilidade de combinar ciência e religião. A simples idéia de ulto prelado católico oficiar no reduto do protestantismo e ocupposição de arcebispo ecoou em centenas de igrejas e capel

rotestantes, de Cornwall a Yorkshire. Na década de 1870, nãe podia prever nem imaginar que, no ano 2000, o número atólicos praticantes na Grã-Bretanha ultrapassaria o número nglicanos praticantes.

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Os cat icos criaram organizaç es que se espa ariam pemundo; os inovadores, como sempre, tentavam atuar dentro dgreja. Entre as ordens mais importantes que surgiram entãnclui-se a Companhia de Maria, fundada em Lyon, em 1824s popularmente chamados "maristas"- que assumiu

ristianização da parte ocidental da distante Oceania. Na décae 1830, foi fundada na França a Sociedade de São Vicente daulo, que defendia as doutrinas católicas dos ataques dos livrensadores, que se multiplicavam na França mais do que eualquer outra grande nação.

m 1859, em Turim, formou-se uma congregação de padresrofessores, a Pia Sociedade de São Francisco de Sales - alesianos - especializada no resgate e na educação de jovens, sperança de que se tornassem padres ou irmãos leigos. Eseria uma das principais organizações missionárias do mund

Na década de 1870, os salesianos passaram a apoiar um

ongregação irmã, as Filhas de Nossa Senhora Auxiliadora doristãos. Outras ordens católicas que se destacaram na educaçã

oram as Irmãs da Caridade, as Irmãs da Misericórdia, os Irmãristãos e as Irmãs de Loreto. Uma característica de várias dovas ordens católicas era a convocação de fiéis para trabalhela Igreja nas horas de folga, mantendo as atividadrofissionais.

EITAS E SANTOS DE REGIÕES AFASTADAS

m religião e em comércio, os Estados Unidos produziram um

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  . ,York, William Miller leu ansiosa e atentamente o Antigestamento, e foi influenciado pela crença, poderosa nrimeiras décadas do século 19, de que Cristo logo voltariaerra, provocando um dramático abalo. O livro de Danie, co

eferência à purificação do santuário, confirmava a idéia Miller. O jornal The Midnight Cry, de sua propriedade, serviu eículo para a divulgação de suas conclusões: Cristo voltariaerra em 22 de outubro de 1844.

A não confirmação das idéias de Miller não desestimulou seeguidores. Cristo viria, eles insistiam, a seu tempo, para rein

or mil anos. Determinados a se purificarem antes da seguninda do Senhor, eles tratavam o corpo como um tempagrado. Não bebiam álcool nem fumavam, e muitos abolirahá, café e carne. A ênfase em uma dieta vegetariana levou abricação de alimentos à base de cereais. O desjejum ocident

seu monumento.Depois de uma conferência em Battle Creek, Michigan, e860, quando decidiram guardar o sábado a partir do pôr do se sexta-feira, eles adotaram a denominação de Adventistas détimo Dia. De início restritos aos Estados Unidos, eles logonseguiram tal penetração em outros países, que o número ddeptos chegou a vários milhões.

Os primeiros mórmons saíram da mesma geração de jovemericanos. Joseph Smith Júnior, seu carismático fundadoivia em uma fazenda falida da Nova Inglaterra, e estavescontente com as Igrejas existentes. Segundo dizia, elas na

fereciam aos que sofrem.

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 re o e osep m se es acava as ou ras que sur aos Estados Unidos, ao combinar crenças cristãs estabelecidasova idéia de que o país fazia parte da longa história registrado Antigo e no Novo Testamento. Smith afirmava havescoberto, na década de 1820, o "Livro de Mórmon" - escrit

ntigos preservados em placas de ouro - que revelava verdadté então ocultas. Era mencionada uma tribo perdida de Isranstalada nos Estados Unidos em 600 a.C. e contava-se comristo, logo depois da ressurreição, tinha percorrido as terras qules então cultivavam. Cristo voltaria em futuro próximo, nãara a Palestina, mas para a cidade de Deus, que Smith pretend

undar, em ocasião e local a serem anunciados.No primeiro ano de existência dos mórmons, Smirregimentou 190 seguidores. Depois de se mudar para Ohintão para Missouri e afinal para Illinois, já eram pelo menos

mil. Crentes no poder transformador de Cristo, eles esperava

entar-se ao lado dele no dia do juízo. A denominação formal deita era Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

m 1847, muitos dos fiéis se mudaram, na companhia do novder, Brigham Young, para Salt Lake City, na distante Utahnde em relativo isolamento implantaram seu estilo de vida

or décadas, permitiram a poligamia. Foram advertidos de quuando afinal a ferrovia transcontinental chegasse a Utah, seduto seria invadido pelos recém-chegados, e seu credo nfraqueceria. Mas seu credo não se enfraqueceu.

O PAPA RESISTE

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Nos poucos territórios onde havia liberdade, tudo e tododiam ser analisados e criticados. Assim, o papa era alvo fác

mas Pio IX, eleito em 1846, parecia capaz de resistir às críticaDe certo modo, ele conhecia o mundo. Ainda como um joveadre italiano, tinha visitado o Chile, o que provavelmente fazele o primeiro papa a pôr os olhos no Oceano Pacífico, o maio mundo. Logo depois de assumir o papado, ele deu sinais der um liberal moderado, o que foi saudado na Itália pnscrições nas ruas. Idéias revolucionárias enchiam o ar. Talvele as ouvisse.

Naquele tumultuado ano de 1848, em que as revoluções iam dMediterrâneo ao Báltico, o papa ficou ainda mais firme. E

nha medo de que a onda revolucionária estourasse, varrendo atedrais e os palácios dos bispos, e corroesse as fundações datolicismo.

O papa Pio IX via o liberalismo e o avanço da democracia comnimigos perigosos. Enquanto muita gente considerava emocracia um rojão fulgurante de esperança, o papa enxergavli uma exibição barulhenta de fogos de artifício, prenúncio onfusão. Ao atacar a democracia em dezembro de 186

hamando-a de "relação de erros" - a  Syllabus Errorum   - eriticou também outro movimento moderno, na época escensão: o nacionalismo, de que a recentemente unida Itália em expoente. Como chefe da corporação quase certamente maniversal do mundo, Pio IX preferia o internacionalismo e, comoz da autoridade tradicional, sentia-se apreensivo acerca d

ovas idéias políticas em partes da Europa, e quanto à crescenostilidade contra os adres e a I re a Católica. Essa situa ão f

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escrita por uma palavra cunhada na década de 1860: anlericalismo.

O desconforto do papa aumentou com a ascensão de Garibaldiua cruzada para unificar a Itália. E o governo da nação unicabaria com o direito então concedido ao papa de controlar stados papais, que se estendiam pelo centro da Itália. Duranéculos, o Papado vinha atuando como um poder secular, o quncluía um contingente próprio de cobradores de impostos, ibunais e de tropas para guardar a fatia substancial de terrasidades da Itália que lhe cabia. Em 1860, havia fortes indícios

ue os habitantes dos estados papais queriam fazer parte ália, em acelerado processo de unificação. Depois de umreve campanha militar, quase toda a área governada pelo papao porto de Roma ao Adriático - tinha sido capturada pelorças armadas italianas. Restou apenas uma parte da cidade

Roma.

O pior ainda estava por vir. Em agosto de 1870, os soldadranceses que guardavam o Vaticano foram chamados de voltaasa: a Prússia tinha invadido seu país. No mês seguinte, orças do rei Vítor Emanuel da Itália cercavam o Vaticano. Eraorças invasoras, e não defensoras como as da França. O pap

ontinuou a ser o principal chefe espiritual do mundo, merdeu os direitos de governante civil. O Vaticano deixou de sma nação. Pelos 50 anos seguintes, nem a cúpula da Catedre São Pedro estava em território papal. Em círculos católicoemia-se que o papa perdesse o poder espiritual, já que não e

mais um monarca independente protegido pelo próprio territóriNa uela crise inédita, Pio IX ercebeu uma o ortunidade

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umentar seu prestígio e a autoridade de todos os papas queucedessem. Para isso, declarou que suas bulas ronunciamentos eram "infalíveis". Reconhecidamente, ronunciamentos do papa sobre "a fé e a moral" sempstiveram perto da infalibilidade, já que ele era um servo

risto na Terra e considerado seu porta-voz "para todos ristãos". Em uma era mais democrática, lançava mão de umoz diferente para conquistar mais obediência e respeito.

A convocação de um concilio fez acorrerem a Roma muitispos e arcebispos que tinham uma questão a resolver: o papa

upremo e também infalível? A resposta esperada era "sim". Eesumo, eles deviam afirmar que o papa "possui a infalibilidaom a qual o divino redentor quis investir sua Igreja." Em 17 ulho de 1870, um dia antes da votação, cerca de 60 bispos etiraram, para não demonstrar publicamente sua discordânciicaram apenas dois oponentes. A contagem final foi de 53otos a 2.

O papado representava uma longa tradição de conservadorismA tradição, uma fonte de força, pode tornar-se um obstácuuando o mundo se transforma rapidamente. Para muitatólicos, o erro da Igreja foi atacar as tendências modernas. E

878, o papa condenou o comunismo e aspectos do socialismno início do ano 2000 criticou aspectos do capitalismo e

ontrole da natalidade.

Alguns católicos fervorosos se queixaram de que a Igreometia — um erro ao isolar-se intelectualmente, em uma era

mudança e rapidez. No entanto, a firmeza de posição parecontribuir para manter, pelos cem anos seguintes, uma proporçã

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e fiéis maior do que a das seitas protestantes que alteraram urso durante a jornada.

A CRUZ VERMELHA E O BASQUETEBOL

Movimentos sociais criados por jovens para jovens sãssencialmente modernos. Foi em Londres, em 1844, qu

George Williams, aos 20 e poucos anos, criou talvez o maem-sucedido movimento de jovens que o cristianismo tin

isto até então.ilho de um fazendeiro, Williams foi um dos moços quocaram cidades pequenas por cidades grandes, na Europa, eusca de empregos no mundo dos negócios, tais comalconista ou auxiliar de escritório. De início, ele morou co

utros 140 rapazes nos grandes dormitórios oferecidos pempresário londrino do ramo de tecidos que os empregavomo muitos daqueles jovens vinham de lares profundamen

eligiosos, a maior parte das empresas gostava de empregá-loGeorge Williams não encontrou dificuldade em formar uequeno clube religioso onde pudessem discutir assuntos sério

er a Bíblia, orar e cantar. Uma empresa de tecidos emprestouala na qual nasceu a  Young Mens Christian Associatio

YMCA), a Associação Cristã de Moços - ACM. Os dozundadores se dividiam igualmente entre congregacionista

wesleyanos, anglicanos e presbiterianos. Em ocasiões norma

quela não seria a fórmula do sucesso.Quando já não cabiam mais na sala original, alugaram um préd

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rande no qual reservaram espaço para uma biblioteca e umala de reuniões, onde se discutiam questões evangélicas. Curse línguas estrangeiras foram oferecidos. Sofás e poltronriavam um ambiente de relaxamento. Aos domingos, das 17 0 horas, funcionários do clube serviam xícaras de chá

hocolate quente, e bandejas de petiscos. A atmosfera amigávo conforto atraíam outros rapazes solteiros.

m suas viagens a trabalho para outras cidades britânicas, membros londrinos da ACM perguntavam "Por que vocês nãêm uma ACM?", e ensinavam como fazer. Jovens alemães

nvolvidos com o mundo dos negócios fundaram clubes. Oscoceses já possuíam organizações semelhantes, mas com outome, e acabaram por unir-se à associação inglesa. Em 1850,ul da Austrália contava com dois clubes, e no ano seguin

Montreal e Boston seguiram o exemplo. Até jovens escriturária tropical cidade de Calcutá criaram uma ACM, em 1854.

No ano seguinte, Paris sediou uma interessante feira industriam que foram apresentadas invenções patenteadas, máquin

modernas e inovações para o comércio. Como era certo omparecimento de numerosos jovens envolvidos com o mundmpresarial, as várias filiais da ACM combinaram um encont

m Paris, na mesma época.á, 99 delegados vindos de ambos os lados do Atlânticecidiram criar uma organização mundial para administrar

ACM. Eis sua declaração: "Nosso objetivo é unir estes rapazue, reconhecendo Jesus Cristo como seu Deus e salvador, d

cordo com as sagradas escrituras, desejam ser seus discípula fé e na vida."

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omo ainda não havia mulheres empregadas em grandes lojasscritórios, elas ficavam fora do âmbito da nova ACM. Em uu outro lugar, porém, moças sentiam necessidade de formssociações na mesma linha cristã. No sul da Inglaterra, e855,  Miss  Roberts formou um grupo de oração, e  La

Kinnaird montou casas onde as jovens que se iniciavam na virofissional podiam encontrar-se e conversar nas horas de folu até morar, se quisessem. Mais tarde, os dois grupos feminine uniram para formar a Young Women's Christian Association

Associação Cristã de Moças - que também se tornou mundial.

A antiga ACM só para homens demonstrava uma visívnergia, embora puritana em espírito. Nos Estados Unidos, que tornaram o baluarte da associação, muitos apreciavatividades atléticas. Em 1891, na filial de Springfiel

Massachusetts, foi inventado o jogo de basquetebol, enquanm uma filial vizinha criava-se, quatro anos depois, o voleibo

A leste da Ásia, em cidades que se situavam entre Tóquio ingapura, as ACMs se tornariam um campo de treinamenara líderes nacionais e para praticantes de esportes embientes fechados.

A Cruz Vermelha foi outro fruto daquele dinâmico moviment

lobal. Henry Dunant, oriundo de família calvinista, era líder m pequeno grupo evangélico em Genebra, que acabou nindo à ACM. Foi Dunant quem sugeriu a realização em Para primeira conferência internacional da associação, no períoda feira de 1855.

Daí a quatro anos, ele visitava, a trabalho, a cidade italiana olferino bem ao sul do la o Garda. Lá or infelicidad

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ssistiu à matança provocada pelo mais violento combacorrido na Europa desde a batalha de Waterloo, 44 anos ante

Quando o curto combate estava quase acabando, milhares ombatentes austríacos, franceses e italianos se espalhavam pehão, feridos, e Dunant procurou organizar a ajuda. De volta

Genebra, sua terra natal, uniu-se a alguns amigos da ACM e dutros grupos, para criar uma pequena organização chamaruz Vermelha, que se tornaria a maior organização humanitáro mundo.

Aquele grupo formado em Londres por George Williams, qu

omeçara humildemente em meio ao cheiro dos fardos de linholgodão, era como uma lojinha que crescera até se transformm um empório gigantesco. Assim, a associação voltou tenção para os estudantes universitários, cada vez maumerosos. Novamente a ação foi global. Em 1895, Joh

Raleigh, um jovem metodista norte-americano que ocupava mportante posto de secretario itinerante da ACM, uniu-se deres estudantis da Suécia e de outros países para formarederação Cristã Mundial de Estudantes, sob a bandeira evangelização do mundo na nossa geração" - certamente umas propostas mais ambiciosas da história do cristianismo. Se

deres sustentavam a idéia amplamente divulgada antes rimeira Guerra Mundial, de que podiam alcançar o impossíve

ohn R. Mott, primeiro-secretário do novo grupo, mais tarrganizou a primeira Conferência Missionária Internacionaealizada na cidade de Edinburgo, em junho de 1910. Mais

m terço de século depois, ele foi o maior incentivador donselho Mundial de Igrejas, a mais eficaz tentativa de unir

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rist os, avia tanto tempo ivi i os. Eis a outro resu taotável do encontro de alguns balconistas saudosos de casa, eondres, no século anterior.

AS MULHERES PREGAM

e jovens do sexo masculino podiam ser líderes cristãos, talvs mulheres - mais jovens ou mais velhas - também pudessem. eivindicação feminina do direito de pregar tinha sidncentivada por alas radicais da Reforma. O primeiro livscrito em inglês justificando esse direito foi Women's Speakin

ustified (As Mulheres Falam - Justificadas pelas Escrituras), Margaret Fell - uma  quaker  que mais tarde se casaria coGeorge Fox - publicado em 1667. Presume-se que os leitorenham sido poucos, já que na época as próprias mulher

ejeitavam a idéia de uma pregadora, que consideravam "fora ropósito" e "desnecessária".

Decorrido um século, a visão de uma mulher pregando aindausava desconforto e divertimento, em certos círculos. No ane 1763, em Londres, o dr. Samuel Johnson comentou, ao sab

ue uma mulher tinha sido vista recentemente pregando eúblico: "Mulher pregadora é como cachorro andando nas pataseiras. O resultado não é perfeito, mas você se surpreende aer que ele consegue."

Nos Estados Unidos, meio século mais tarde, o resultado e

om, em especial no caso de uma seita chamada  shakers,  mem sempre. Em 1835, no sul dos Estados Unidos, out

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rega ora popu ar era arena ee, que sempre proteg a o rosegro e o pescoço com boné e um xale brancos. Àqueles quiziam para ela parar de pregar, Jarena respondia prontamentSe um homem pode pregar porque o Salvador morreu por elor que não as mulheres?" Na mesma época, crescia n

stados Unidos uma cruzada inteiramente masculina contrascravidão, até que as irmãs Angelina e Sarah Grimké, membre uma respeitada família da cidade de Charleston, resolveraderir à campanha. A surpresa está no fato de a família Grimkossuir escravos em sua propriedade. Elas provavelmente foras primeiras americanas a publicar sistematicamen

rgumentações a favor dos direitos da mulher.A abolição da escravatura nos Estados Unidos, em 1865, devemuito a campanhas conduzidas por mulheres. O movimenada vez mais forte pela redução do consumo de álcool apoiave em especial na atuação de mulheres - palestrantes e escritora

las faziam parte, principalmente, dos batistas, metodistaresbiterianos, congregacionais, discípulos de Cristo, exército alvação e outras denominações evangélicas.

A partir da década de 1880, a União Cristã Feminina peemperança deixou sua marca entre os protestantes no univers

e falantes da língua inglesa. O grupo defendia a tese de que, s mulheres tivessem o direito de voto, elegeriam políticispostos a aprovar leis restritivas à venda de álcool. Vozemininas unidas ajudaram a Nova Zelândia, em 1893, a serrimeiro país a conceder às mulheres o direito de voto, e

Austrália, nove anos depois, a garantir a elas o direito

otarem e de se candidatarem ao Parlamento. As mulheres

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 e álcool nos Estados Unidos, na década de 1920. Só que isão criou o paraíso que elas imaginavam.

Mulheres cristãs podiam pregar ao ar livre ou em salões. Subo púlpito da igreja era uma questão mais revolucionári

omente as seitas menores -  quakers,  unitaria- nos e issidência metodistas primitivos - incentivavam as mulhereserem pregadoras. Mas os wesleyanos permaneciam quase telutantes quanto os católicos. Na Austrália, em 1890, elxplicaram publicamente por que as mulheres não deviam pregas igrejas: "1. Porque a maioria do nosso povo se opõe;

orque sua pregação não parece necessária." No entanto, lguma mulher entre nós sentir um chamado extraordinário

Deus para falar em público - e o chamado deve ser realmenxtraordinário, para justificar a decisão - nossa opinião é a ue ela deve, de modo geral, dirigir-se apenas às mulheres."

UMA VOZ FEMININA VEM DA SOMBRIANGLATERRA

Na Grã-Bretanha, a sra. Catherine Booth, do novo exército dalvação, tornou a pregação feminina quase aceitável - se nãesejável. Fundada por ela e por seu marido, William Booth,ova seita teve a sabedoria de agregar o novo ao familiar. Filhe um operário da indústria de carrocerias, Catherine era - pelermos de seu tempo - "respeitável e refinada". Ela conhec

William em 1848, em uma congregação wesleyana no subúrbondrino de Brixton. Ele era três meses mais novo, trabalhav

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omo penhorista e vinha de uma família pobre de Nottinghamua formação teve altos e baixos, a não ser pela Bíblia, que letentamente. Desde muito jovem, William demonstraveterminação, simpatia por quem atravessava dificuldades e umoz que expressava as emoções com empatia e força. Quand

regava, às vezes evidenciava certa ferocidade. Como eastante alto, sua figura intensificava o efeito causado pelalavras.

Ao desligar-se dos wesleyanos, William Booth aderiu a umeita recém-criada: nova conexão metodista, quando se torno

regador em tempo integral. Ele e Catherine tinham 26 anos dade ao se casarem. Tiveram oito filhos. Enquanto moravam eGateshead, um porto industrial no norte da Inglaterra, Catherins vezes se adiantava, ao final dos formidáveis sermões

William, para fazer as orações finais, com voz delicada e atitudeverente. Não demorou muito e, diante do marido ain

elutante, ela fazia os próprios sermões. Em 1860, ao ouvir m pastor congregacionista que mulheres não deviam pregaespondeu delicadamente por meio de um panfleto. Na verdadão havia necessidade de resposta. Ela já havia demonstradoalento que possuía.

William Booth adotou a prática de, ao fim de seus sermõarregados de emoção, convidar os fiéis a confessar os pecadafirmar publicamente sua confiança em Deus. Na entrada

greja, havia um banco onde as pessoas podiam sentar-se, paepois se ajoelharem arrependidas e serem acalmadas pespírito Santo.

Atendendo a uma sugestão de Catherine, ele se desligou da sei

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metodista e criou uma nova Igreja, no subúrbio pobre Whitechapel. Mais tarde, deu à nova seita a denominação dxército da salvação. Seus membros se destacavam pelmpecáveis uniformes em estilo militar e pelo extremo asseio, ue William detestava sujeira. As igrejas receberam o nome d

cidadelas", e os oficiais - homens e mulheres, pois havgualdade - adotaram patentes militares. Para insatisfação doldados do Exército britânico, William passou a ser chamade general Booth.

Uma inovação era a coleta de doações em bares e pubs - loca

ada vez mais considerados pecaminosos pelos protestanteOutra idéia surpreendente foi o uso de instrumentos de metal, eez de órgão, para acompanhar os serviços religiosos nidadelas. Por não necessitar de amplificadores - ainda nãnventados, na época - as bandas, então no auge dopularidade, eram ideais para desfiles pelas ruas, o que

xército da salvação fazia muito bem. Nos primeiros tempos, métodos de publicidade empregados pelos salvacionistareciam bastante exóticos aos cristãos.

m 1880, nos domingos ou nas noites da semana, o som ornetins, tambores, pandeiros e pratos podia ser ouvido pel

uas ou nas cidadelas, em milhares de locais que se estendiam dAdelaide à Cidade do Cabo e Cardiff. Em 1910, as bandeirermelhas e as bandas marciais eram vistas e ouvidas em lugarão distantes quanto Argentina e Japão. O exército da salvaçãombinava sinceridade e espetáculo, mas os metodistadicionais não se sentiam seguros quanto ao seu filho pródig

Afinal, William Booth parecia John Wesley ressuscitad

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  , ,vre para os rejeitados e excluídos, a quem os metodistas, entãe expressão respeitável, raramente conseguiam chegar.

William Booth não tinha tempo para jogar críquete ou futeboem para atividades simples de lazer. Ele se incomodava com

obreza, que considerava desnecessária. Seu livro  In Darkengland and the Way Out  ("Na Sombria Inglaterra e o Caminhe Saída", em tradução literal), publicado em 1890, era umxposição sensata da extensão da pobreza, para quem nteressasse. William e Catherine tinham prática de ajudessoas desempregadas a quem faltavam roupas e aliment

dequados. A distribuição de sopa e as refeições a preço baixornaram-se marcas registradas do "exército".

A cerimônia do funeral de Catherine Booth, em 1890, eondres, na arena do estádio Olympia, reuniu 36 mil pessoasumerosas bandas. Muitos dos presentes relatavam terem sid

alvos da pobreza pelo trabalho e incentivo de Catherine. Lstavam operárias de fábricas de fósforos, os quais recebiam onta a aplicação de um produto químico perigoso cutilização foi combatida por ela - o fósforo amarelo. Se vives

mais, Catherine teria sucedido William na liderança da seilobal. Ela foi provavelmente a mulher mais importante, antão, na história das Igrejas Protestantes.

A SRA. EDDY E A IGREJA DE CRISTO, O CIENTIST

Uma das poucas Igrejas grandes fundadas por mulheres surg

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  , ,nglaterra. Conhecida como ciência cristã, teve como fundadoMary Baker Eddy, que apresentava uma característica poucomum, na época: tinha sido casada três vezes. Insatisfeita com

medicina ortodoxa, que não encontrava solução para suas dora coluna, ela concluiu que a fé cristã, se aplicada corretamentepresentava uma força curativa mais segura do que os remédi

mais modernos. Aos 50 e poucos anos, em 1875, ela completom livro,  Science and Health  (publicado em português com

Ciência e saúde com a chave das Escrituras), que aos olhos eus poucos seguidores constituía um complemento vital

eitura da Bíblia. Daí a quatro anos, sua nova seita nascia eoston.

O prédio simples onde foi instalada - logo substituído por umaior - foi chamado Primeira Igreja de Cristo, o Cientista. Amulheres, em especial, sentiam-se atraídas pela religião, e muit

e tornaram líderes das centenas de novas congregações quapidamente se espalharam pelas cidades norte-americanas.

A ciência cristã sobreviveu à morte da fundadora, em 191Mary Baker Eddy descansa em uma sepultura no cemitériarque de Boston. Contava-se que ela havia sido sepultaendo ao lado um telefone, para poder se comunicar, cascordasse. O telefone provou ser um dos mitos que companharam, na vida e na morte. Com o tempo, o jorniário de sua igreja, o  Christian Science Monitor,   fundado e908, tornou-se talvez a primeira publicação semiglobal. Oientistas

ristãos já possuíam 1,9 mil congregações nos Estados Unidos,

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  , , .membros trabalhavam ativamente pelo bem-estar social, erisões, acampamentos militares e, é claro, hospitais, embora nãprovassem totalmente a instituição. Eles acreditavam que oenças, na verdade, são curadas pela fé e pela oração, e nelos médicos.

ela primeira vez as mulheres lideravam vários ramos vibrantelguns críticos preferiam dizer "excêntricos" - do cristianismram poucos os sinais, porém, de que elas teriam a oportunidade exercer o ministério, e muito menos o bispado, nas principagrejas.

CÉU E INFERNO REVISITADOS

entamente, espalhava-se entre alguns círculos de protestantes

mensagem de que o inferno não existia. Por 1,5 mil anos omais, as pessoas que duvidavam da divindade de Cristo, e qufendiam seus preceitos grave e freqüentemente, eram advertide que, depois da morte, sofreriam para sempre terríveormentos no inferno. Esse destino assustador aparecia eomances, poemas, esculturas e vitrais, em catedrais e igrejas. nferno era o tema de milhares de conselhos e de inúmeritações. Em 1900, porém, milhões de protestantes deixavam creditar no castigo eterno e na existência do inferno.

O céu, ao contrário, não seria rejeitado tão facilmente, por tratae de uma crença consoladora, reconfortante. A crença no céu s

ortalecia na idéia, cada vez mais difundida, de que Deus emor e erdoaria os ecados com facilidade e raticamen

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 odos os cristãos encontrariam o caminho do céu. Enquanto alvinismo insistia em afirmar que o ser humano é egoísta, outrença tinha se tornado prevalente no protestantismo: as pessoam sua maioria, tinham bom coração. Então, por que seriarivadas de um lugar no céu?

Deus, aos olhos de quem acreditava, não tinha motivos paulgamentos severos ou demonstrações de raiva. Tornou-rática comum, diante de uma tragédia inesperada na família,el perguntar por que Deus estava sendo injusto com ele. Ontigos calvinistas teriam ficado pasmos, ao ouvir tal protesto.

O crescente otimismo acerca da natureza humana não chegavaer uma completa surpresa. Materialmente, o século 19 parecm milagre, para os povos do Ocidente. Os períodos de fome eduziram, e quando davam sinais de estarem prestes a começaavios cargueiros eram chamados de portos distantes, por me

o telégrafo, para abastecer os armazéns. O padrão de vimelhorou, e as novas máquinas a vapor encurtavam as horas abalho. Até as guerras ficaram mais curtas, em especial as quconteciam na Europa.

ssa onda positiva atingiu protestantes e secularistas, antes

lcançar os católicos. Era visível também na Alemanha e, eeguida, nos Estados Unidos. Teólogos luteranos, auxiliadelas novas ciências e pelo estudo lingüístico de palavras-chavmpregadas na Bíblia, apoiaram a nova atitude. Sua teologberal se fundamentava em uma análise otimista da natureumana, enquanto, na teologia medieval, essa análise ocupav

penas um espaço mínimo. Parecia que a humanidade poduidar de si com ouca a uda de Deus. Ao interferir raramente

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e é que interferia - Deus se tornava o dono ausente do univers

QUEM VAI À IGREJA?

A história do cristianismo não compreende apenas a vida due se tornaram conhecidos por pregar novas doutrinas. istória do cristianismo trata principalmente do dia a dia de queraticava - ou não - a religião. Muitos encontravam confortnspiração e força; outros se diziam cristãos, mas raramen

isitavam uma igreja.or volta do ano de 1900, em alguns países desenvolveram-

ntensas discussões sobre o recente declínio da freqüência déis às igrejas. O que não se percebia era que as igrejas cristãraticamente desde o início, apresentavam altos e baixos n

dmiração e no entusiasmo do público. Em vários outreríodos tinha havido enfraquecimento da Igreja Cristã, e elguns, mais evidente do que na Europa do início do século 20

m muitas cidades, os pobres pouco freqüentavam a igreja, beomo seus pais e avós. Londres, então a maior cidade d

mundo, se estendera tanto, que faltavam igrejas em muitairros novos. A situação se repetia em Paris e Berlim, mas nãm Milão. Milhões de habitantes de países cristãos, tanto nampo quanto nas cidades enfumaçadas, pouco sabiam eligião, e não freqüentavam a igreja. No início da década 840, uma investigação pública feita em cidades recém-surgid

o norte da Inglaterra revelou a extensão de sua ignorânciames Taylor, um garoto de 11 anos, respondendo a

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uestionário, jurou jamais ter ouvido o nome de Deus, a não sas imprecações dos trabalhadores das minas de carvão. Um

moça de 18 anos revelou não saber quem era Cristo. Criançue tinham aprendido a rezar a oração do Pai-Nosso antes ormir recordavam apenas estas duas palavras: "Pai nosso".

m geral, quem mais freqüentava as igrejas era a população lasse média, as mulheres mais do que os homens. Irlandesesortugueses eram mais assíduos do que franceses, polones

mais do que suecos, e os habitantes do País de Gales e dondado da Cornualha mais do que os de outras partes

nglaterra. A freqüência à igreja era maior no campo - ondepresentava um evento ao mesmo tempo religioso e social - due na cidade. Por outro lado, a América do Norte era uma tere freqüentadores habituais das igrejas.

m muitas cidades grandes, a silhueta da catedral tinha deixad

e destacar-se contra o céu. Um sinal do novo desafio imposo cristianismo era a cronologia dos prédios altos. Em 1880, uas construções mais altas do mundo ocidental eram atedrais de Colônia e de Rouen. Daí a 30 anos, em Nova Yor

Chicago, a torre de igreja mais alta, quando vista de urranha-céu recentemente construído, parecia uma casa

oneca.No início do século 20, certos cristãos adotaram uma atitu

rme em relação ao declínio religioso. Eles quase comemoravafato, considerando que, em muitas congregações, as pesso

am à igreja porque era "moda". Outras freqüentavam a igre

or hábito, aprendido com os pais e avós. Alguns críticfirmavam ser melhor haver cristãos em menor número, m

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enuinamente fervorosos.

O APOGEU DO DOMINGO

O domingo sempre tivera uma atmosfera solene, e desde Reforma, Escócia e Inglaterra baixaram leis que estipulavamue era proibido fazer naquele dia da semana. Um ato de 167roibia as viagens a cavalo ou de barco. Daí a 125 anos, um

mulher em visita a Londres ficou surpresa ao descobrir que a

omingos os teatros e lojas fechavam, a dança estava proibidamesmo os jogos de cartas em casa eram vistos com má vontadela não sabia que, em famílias mais rigorosas, até

rinquedos das crianças e os livros ficavam guardados. isitante, porém, reparou que os trabalhadores do continenonsideravam o domingo "um dia maravilhoso", quando podia

à igreja, à taverna ou ao teatro, e dançar sob as árvores nerão.

O respeito pelo sabbath  era especialmente intenso nas colôniritânicas de maioria inglesa ou escocesa. O nordeste dstados Unidos, Ontário no Canadá, e Christchurch na Nov

elândia conheciam o silêncio dominical. Melbourne frovavelmente a primeira cidade do mundo a priorizar spetáculos esportivos, mas mesmo lá era proibido praticsportes nos parques aos domingos, bem como em todas randes cidades inglesas e escocesas.

m muitas cidades protestantes, o transporte público nperava, os jornais não circulavam, e museus e bibliotec

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úblicas fechavam aos domingos; comprar e vender era pouecomendável, e até as visitas aos doentes eram desencorajadam especial nas horas do serviço divino. Metodistas, entutros, recebiam o conselho de não viajar aos domingos, a nãer a pé, de modo que pudesse haver a liberação do máxim

ossível de funcionários das linhas de trens e bondes, que assiproveitariam para ir à igreja e descansar.

O respeito pelo domingo parece atualmente tão deslocado, eelação ao desejo de liberdade pessoal, que merece uma melhxplicação. Para muita gente, a religião era o centro da vida,

evia receber prioridade máxima pelo menos em um dia emana. Uma simples razão física também contribuiu para elegdomingo como dia de descanso. Antes de 1900, e mesmo u

ouco depois, as pessoas, em sua maioria, trabalhavam pongas horas de pé, em seis dias da semana. Como o esforço e

mais físico do que mental, elas chegavam à noite de sábad

xaustas, ansiosas por um dia de descanso, livre de qualquabalho braçal.

m nações protestantes, as igrejas praticamente monopolizavadiversão nos domingos. Isso só viria a mudar mais tarde. N

egunda metade do século 20, o domingo no mundo ocident

assou a incluir o carro, o passeio e a televisão. Os católiceguiram a mesma direção, preferindo assistir à missa nábados à tarde, e não nos domingos pela manhã.

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CAPÍTULO 27

GOSTO PELATOLERÂNCIA

Os governos tradicionalmente aceitavam o cristianismo, mpoiavam apenas um ramo da Igreja. Assim, a Espanha e outraíses apoiavam a Igreja Católica; a Inglaterra, a Igreja nglaterra; a Dinamarca, a Igreja Luterana; a Rússia, a Igre

Ortodoxa; e a Escócia, a principal Igreja Presbiteriana, maonhecida como Igreja da Escócia. Na maior parte dos países uropa, a Igreja oficial detinha o direito formal de coroar bençoar o novo monarca, na cerimônia de coroação. Foraeitas experiências no sentido de dispensar tratamento igual grejas Cristãs e Judaicas. Só não se sabia qual seria o resultado

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DERRUBANDO ALGUMAS CERCAS

m 1790, a Irlanda não era governada pelos católicos. Onglicanos representavam apenas 10% da população, m

ontrolavam o Parlamento em Dublin e eram donos da maiarte do território. Outros 20% eram presbiterianos, e a maioreles ocupava a região próxima à Escócia. Os restantes 70ram católicos, a maioria pobre, sem terra nem direito a votelo menos, eram atendidos pelos padres católicos.

As restrições aos católicos foram eliminadas. A partir do iníca década de 1790, eles puderam advogar, servir o Exérciomo oficiais, freqüentar a universidade e votar - se tivesseropriedades - nas eleições para a Câmara dos Comuns rlanda.

Nas Ilhas Britânicas, a maior parte das seitas protestant

ambém tinha suas queixas. Até 1800, os protestantes, tal coms católicos, não podiam ocupar o cargo de primeiro-ministem comandar a Marinha ou o Exército. Até 1850, tal comatólicos e judeus, os protestantes eram proibidos de ingressas faculdades de Oxford e Cambridge. Na Inglaterra, por mui

empo, os quakers, batistas e outros protestantes não podiam ts casamentos celebrados nas próprias igrejas nem pelróprios pastores. A maior parte dessas formas de discriminaçãeligiosa foi banida das Ilhas Britânicas bem antes de 1900.

Várias outras nações católicas se encaminharam para eutralidade religiosa. Na França, em 1905, em meio iscussões acirradas, bispos e padres católicos deixaram

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  .a República, em 1889, o Brasil separou Igreja e Estado, mermitiu que as instituições católicas mantivessem suropriedades, no campo e na cidade. Em Portugal, no ano 910, um movimento mais agressivo retirou o apoio à Igre

atólica e deportou os padres que se rebelaram.

UDEUS E OUTROS EXCLUÍDOS

m toda a Europa, a tolerância avançava aos poucos. Nálcãs, os dirigentes muçulmanos favoreciam maciçamente rópria religião, embora transigissem em alguns aspectos. Oúlgaros, por exemplo, criaram uma dissidência da Igre

Ortodoxa, em 1870. A Rússia fez concessões cautelosas a outrristãos, e praticamente nenhuma aos judeus, mas permitiu q

dministrassem as sinagogas, em seus populosos territórios. E830, a França e a maior parte dos principados da Alemanhoncederam cidadania aos judeus. A Itália, terra de muitoovernos, carecia de uma política uniforme em relação rotestantes e judeus, ambos em pequeno número. Na década 840, a universidade de Florença era a única a admi

rotestantes. Com o novo anseio italiano de liberdade, os juderam vistos com olhos mais amigáveis, especialmente niemonte.

A crescente onda de tolerância - saudada como a característio mundo ocidental nos últimos 150 anos - não é facilmen

iagnosticada. Por boa parte de sua história, a Igreja Cristã fntolerante bem como suas várias divisões foram intolerant

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ntre si. Isso refletia o fato de os cristãos considerarem a religiãmatéria mais importante do mundo. Eles acreditavam que

redos rivais, por não possuírem a chave correta do cérivavam os seguidores da oportunidade de compartilhar o do

mais importante de todos: a comunhão com Cristo e

articipação no que chamavam de "vida eterna". Eis aí por qua opinião dos cristãos, tais credos não deviam ser tolerados.

A intensificação da tolerância representa, em parte, um sinal dnfraquecimento das convicções religiosas. Enquanto umanidade sobreviver, porém, alguns povos sustentarã

ertezas inabaláveis sobre determinadas questões e ideologias,ssas convicções serão acompanhadas de intolerância.

CRUZADA CONTRA A ESCRAVIDÃO

or milhares de anos a escravidão foi aceita pelos moralistaara os primeiros cristãos, a escravidão fazia parte da condiçãumana e, pelo que sabiam, sempre havia existido. O Impér

Romano mantinha milhões de escravos. Santo Agostinho dHipona afirmou que aqueles escravos tinham vida ma

onfortável do que muitos pobres. A maior parte das regiões dmundo em algum momento adotou a escravidão. Em 180orém, a escravidão branca já não era comum.

Os quakers foram provavelmente o primeiro grupo religioso uropa a condenar abertamente a escravidão, em 1774. Joh

Wesley também condenou a escravidão, afirmando que fricano não é inferior ao europeu em aspecto algum." Daí a se

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nos, do outro lado do Atlântico, a conferência metodisealizada em Baltimore deu um pequeno passo em direção epúdio da escravidão, ao decretar que os pregadores itinerantão deviam possuir escravos. Até então, alguns pregadorsavam um escravo para cuidar do cavalo, que usavam com

nico meio de transporte.Os navios que cruzavam o Atlântico carregados de escravo

gando o oeste da África à costa leste da América, formavamnha de longa distância para transporte de passageiros ma

movimentada do mundo. Em 1820, tinham chegado aos Estad

Unidos mais escravos africanos do que imigrantes europevres. De maneira semelhante, o Brasil tinha recebido oito vezmais escravos da África do que imigrantes livres da Europ

mbora provavelmente aqueles escravos tivessem sidapturados por muçulmanos, no continente africano, eraomprados lá por europeus e transportados em navios pelonos e pelos capitães que se diziam cristãos, e às vez

mostravam-se intensamente religiosos.

Os escravos, em sua maioria pagãos, tornavam-se cristãos nstados Unidos. Seu conhecimento da Bíblia se comparava ao típico americano branco. Em geral, eles preferiam integrar-

os batistas, metodistas ou a alguma outra seita evangélica eue se adotasse o novo estilo de culto que se expressava pelatidas dos pés, pelas palmas, pelo balançar do corpo e pelritos espontâneos, aos quais o pregador freqüentemenespondia. Esse estilo era encontrado em congregações

scravos e em igrejas independentes com pastores negros livrerovavelmente, a primeira dessas congregações livres foi

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gre a p scopa eto sta r cana, un a a na a a e816. Os detalhes acrescentados ao metodismo, como os hábitos bispos, teriam deixado Wesley satisfeito.

anny Kemble era uma das melhores atrizes dos países de língunglesa, no final da década de 1830, quando visitou pe

rimeira vez as plantações de algodão mantidas pelo marido Geórgia. Ao saber que acabara de morrer um rapaz chamad

hadrack, um nome bíblico encontrado no Antigo Testamentla foi procurar a família do morto. Encontrou o caixão sobavaletes, fora da casa, e um escravo que atendia pelo nome dondon, "um pregador metodista bastante inteligente, quarecia exercer influência sobre o grupo" à espera, para conduzcerimônia. Os acompanhantes iniciaram o canto com uma noiste, lamentosa. Então, o próprio London passou a cantarovavelmente verso a verso, e as pessoas repetiam. Fann

Kemble relatou que a emoção causada pela cena "percorre

odos os meus nervos". Depois de uma oração, durante a quodos permaneceram ajoelhados sobre a terra batida, o corteeguiu em direção ao local do sepultamento por um caminhuminado apenas pelas tochas e pela luz da maravilhosa lua, quespontava.

Havia algo de profundamente impressionante na cerimônia e titude das pessoas. Fanny escreveu a uma amiga: "Como rezchorei por aqueles com quem eu rezava!" Não se passou mui

empo, e ela se integrou à cruzada contra a escravidão.

UMA CRUZADA CONTRA A ESCRAVIDÃO

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Na década de 1780, alguns anglicanos evangélicos e um grupe quakers  inspiraram o movimento que, afinal, aboliu

scravidão no Império Britânico. Eles formaram em 1787 ociedade Abolicionista, e sua campanha no Parlamento ingl

eve a liderança do jovem William Wilberforce. Daí a 20 anobtiveram uma vitória importante, com a lei que proibia ansporte de novos escravos para as índias Ocidentais e outrolônias britânicas, onde dezenas de milhares já trabalhavam erandes plantações de açúcar, algodão e outras culturas. Estontinuariam, mas não poderiam ser substituídos por outr

azidos da África.Aos olhos dos abolicionistas, a escravidão ainda representavma situação vergonhosa, e a cruzada continuou. Possuir omercializar escravos "é o maior crime que uma nação poometer", afirmou T. Fowell Buxton, casado com uma  quaker

ortemente influenciado pela família dela. Em 1823, eronunciamento na Câmara dos Comuns, ele disse que "naçlguma sobre a face da Terra foi tão profundamente maculadelo crime da escravidão quanto a Grã-Bretanha. Segunduxton, muitos britânicos tremeriam "no dia em que fosse

evelados todos os segredos e toda a culpa" - no dia do juízo.

m 1833, finalmente a escravidão foi abolida nas colôniritânicas, em um triunfo das igrejas Protestantes, mais do que qualquer outro grupo. O fato pressionou outros paísscravagistas. Em 1848, a França acabou com a escravidão euas colônias, mas navios franceses conservaram a permissão

ansportar escravos. Portugal tinha banido a escravidão nmaior arte das colônias mas ainda ermitia ue seus navi

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 bastecessem de escravos africanos o Brasil, já independente.

Os Estados Unidos haviam eliminado a importação de escravoue então representavam somente uma pequeníssima fração orça de trabalho, e, em 1865, aboliram a escravidefinitivamente. Em Cuba e no Brasil, a escravidão persistiu adécada de 1880. Em muitas regiões da África e da Ásia, e

special nos países de religião muçulmana, ainda ncontravam escravos, mesmo no século 20.

DEUS ESTARIA SUMINDO OU MORRENDO?

A dúvida representava a maior preocupação, em quase todas grejas. Era como se a razão tivesse subido ao púlpito, agarradtentado rasgar a Bíblia.

Os alemães, hoje líderes no campo da Teologia e da Filosofiomandaram as forças da razão, que foram acrescidas, em 183o trabalho de David Friedrich Strauss sobre a vida de Jesus. Nvro, Strauss analisava uma por uma as histórias e parábolas d

Novo Testamento, em especial as que tratavam de milagreomo um tornado, ele arrancou árvores dos dois lados de umstrada antes segura. O livro, traduzido para vários idiomampressionou mais os círculos intelectuais do que ongregados reunidos no domingo. Os católicos também poue impressionaram.

esquisas incansáveis, realizadas por geólogos e biólogos, caez mais lançavam dúvidas sobre a consistência de important

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  .riaturas foram feitas por Deus exatamente com a mesmparência que mostravam então.

O Antigo Testamento descrevia explicitamente a criação dmundo e do ser humano em um período de seis dias de ativida

ebril. O arcebispo Ussher, um anglicano irlandês, elaborou ronologia exata da criação. O mundo teria sido criado por Dem 23 de outubro de 4.004 a.C. Na sexta-feira seguinte, Adãova - o primeiro homem e a primeira mulher - apareceram nardim do Éden, que se imaginava estar situado em algum pono Oriente Médio.

De acordo com essa cronologia, o mundo tinha apenas 6 mnos. No entanto, pesquisas realizadas por sir Charles Lyell, uristão, e por outros geólogos britânicos, demonstraram queonfiguração de montanhas, mares e planícies sedimentadnha evoluído por muito, muito tempo. Em resumo, o Antig

estamento registrava apenas uma fração da longa história dumanidade.

A essa descoberta somou-se outra, atribuída a Charles Darwin:umanidade não tinha sido criada em um dia. Na verdade, eres humanos não surgiram diretamente das mãos de Deus; e

mais provável que tivessem evoluído de maneira incrivelmenenta. E não eram únicos entre as criaturas vivas, mas parentróximos dos macacos.

Até 1850, essas idéias céticas tinham chegado apenas a umminoria. A dúvida acerca da história exata da humanidade nã

assava de uma informação incidental. Além disso, os cientistéticos desafiavam apenas as primeiras páginas do Antig

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estamento, e n o a ess nc a o ovo estamento. e o ve Gênesis não tinha entrado em detalhes, afirmandmplesmente que Deus tinha criado a Terra e nela introduzidida, não se justificava tanta discussão sobre a precisão literal íblia.

Havia mais uma questão: versículo a versículo, a Bíblia não eonsiderada inviolável pela maioria dos teólogos ortodoxo

Havia centenas de anos ela era questionada, sutil ou claramentA própria Reforma representava um questionamento. SanAgostinho, por meio das palavras que ditava febrilmente paeus secretários, no norte da África, cerca de 1,5 mil anos antenha desafiado o Livro de Gênesis e sua seqüência de evento

Na Europa, século após século, mais esforço mental fedicado a debates minuciosos sobre aspectos do cristianismo que a qualquer outro tópico. Para os cristãos, em especial,aminho da salvação, indicado no Novo Testamento, e

nfinitamente mais merecedor de atenção do que a história derra e de seus habitantes conforme descrita em uma expressivágina do Antigo Testamento.

O cristianismo tinha dominado por tanto tempo todas as áreas donhecimento - quase todas as primeiras universidades fora

riadas por eles - que seus líderes custaram a perceber que, novos campos de pesquisa, não dispunham de uma vantageatural. Os cristãos provavelmente não fizeram questão nfrentar as bem equipadas forças da ciência. Afinal, os sériquívocos na cronologia da história da Terra não erauficientes para abalar suas crenças.

ientistas de renome também cometeram erros lamentáveis,

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açar con an emen e a evo uç o a na ureza. es ava aramuito por baixo a idade da vida na Terra, além de afirmarem q

temperatura global cairia a ponto de o planeta não sustentarida. No entanto, é tal o prestígio da ciência atualmente, quuas falhas foram esquecidas, enquanto os equívocos dos líder

ristãos são contados e recontados.A nova ciência sofria de excesso de confiança. O cristianismambém tinha sido excessivamente confiante, e seus líderustaram a se convencer de que o terreno onde pisam coegurança é o reino espiritual e invisível, e não o reino físicoalpável.

CAPITÃO DA MINHA ALMA"

Nem sempre foi a pesquisa científica a causa das incômod

úvidas que acometiam os intelectuais acerca das doutrinristãs tradicionais. Céticos e ateístas já existiam muito antes dascimento de Darwin. Alguns, porém, hesitavam em revelua descrença, por acreditarem que as pessoas comuns deveer encorajadas a acreditar em céu e em inferno, para que

umanidade não se destrua. A Revolução Francesa tinhemonstrado que a anarquia ressoa logo abaixo da superfície.

Algumas das inteligências mais admiradas das Ilhas Britânicaa Alemanha e da França disseram abertamente o que pensavao cristianismo. Entre essas figuras destacam-se os poetngleses Matthew Arnold e William E. Henley, cujas poesias joram reproduzidas até em livros escolares. Foi Henley que

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Sou o dono do meu destino,

Sou o capitão da minha alma.

Aos olhos de britânicos e alemães, o cético mais destacado ehomas Carlyle, um escocês de Ecclefechan, perto da fronteia Inglaterra. O pai, um profissional talentoso, trabalhava comedreiro e construtor. A mãe, quando não estava cuidando da

rianças, infundia no filho favorito seus pontos de vista sobreíblia. Eles pertenciam à seita New Light Burghers, um braço utra seita, que havia se desligado da poderosa Igreja scócia. A congregação se reunia em um prédio simples - d

nício coberto de palha - que acomodava 600 pessoas, em umidadezinha cujo número de habitantes mal chegava ao dob

isso. Muito depois de ter deixado a Escócia, Carlyle ainda embrava do pastor Johnstone e da atmosfera devota da igremples, mas sempre cheia. Segundo Carlyle, todos os fiéisrovavelmente ele também - foram "iluminados pela autêntihama, em línguas que vieram do céu".

xpressando seus pensamentos em palavras vigorosas, Carlyhegou a pensar em ser pastor, mas depois de passar por umrise religiosa, resolveu tornar-se professor e, buscando olamento nas regiões afastadas da Escócia, um autor sério. Ea mulher, Jane, se mudaram para uma casa no centro d

ondres, a apenas alguns minutos das margens do rio Tâmisa.

O céu não existia mais, mas Carlyle imaginou uma cadeira ond

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o os ter am e sentar-se e encarar a pr pr a consc ncmbora os textos que escreveu durante sua longa existênc

endessem a intensificar a descrença em relação a questõeligiosas, Carlyle manteve o respeito pelo espírito da religiãle nutria simpatia pelos muçulmanos, que tal como

scoceses simples de Ecclefechan, mantinham uma nabalável: "Estes árabes acreditam em sua religião e procuraiver de acordo com ela!"

AS MURALHAS DA DÚVIDA

Hoje é opinião geral que, entre os mais destacados cientistamuitos nutrem dúvidas religiosas. No entanto, em 1850, maioria dos cientistas provavelmente acreditava em DeuGregor Mendel foi quase tão importante quanto Charles Darw

o estudo das angustiantes questões ligadas à origem e volução de novas espécies. A maior parte de suas experiênciaoi feita com ervilhas, no jardim de um mosteiro perto de Brna Europa central. Como monge agostiniano, ele não perdeué.

Ninguém contribuiu mais para desvendar os princípios letricidade do que Michael Faraday, e alguns observadoronsideram o efeito de suas descobertas mais decisivo do quefeito causado pelas descobertas de Einstein. Aos domingos, eondres, ele assumia a posição de ancião em uma seita pouonhecida - os sandemanianos - que tinha surgido na Escóc

ouco antes de Wesley iniciar sua cruzada. Aquela não parecia

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  ,xigia unanimidade de pensamento em questões religiosaroibindo até que seus seguidores orassem ao lado de seguidore outras seitas. Sempre exercendo posição de liderança nírculos religiosos que freqüentava, Faraday morreu em 186uando as idéias de Darwin já provocavam debates acalorados

No ano da morte de Faraday, ainda eram pouquíssimas essoas dispostas a afirmar em alto e bom som que Deus nxiste. Era preciso coragem para fazer isso, e muitos escondiafato até da própria família. Para os intelectuais, ficava ma

ácil assumir uma posição na relativa segurança de um

niversidade alemã ou francesa ou da publicação de um livro ema grande cidade - o ateísmo era contra a lei, em alguns locaonde parecia menos provável que se empreendesse um

erseguição.

m alguns países europeus, a ousadia de revelar o própr

teísmo podia significar a não indicação para cargos públicos orivados, apesar da capacidade do indivíduo.

Observadores dedicados concluíram que havia um amplo espaazio entre o ateísmo e o cristianismo - uma terra de ninguém.

ntelectualmente, um lado não conseguia destruir o outro. O

ristãos, fundamentados na fé, na intuição, na imaginação e em senso de admiração e mistério, costumavam prevalecer eebates sobre o tema em que se sentiam à vontade: religião. Oientistas, com sua insistência em evidências e avaliações, e suusca por teorias gerais, por certeza e previsibilidade, em gere destacavam nas discussões sobre ciência. Quanto à questã

mais séria - a existência de Deus - intelectuais cristãos n

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  ,ue não.

O jesuíta francês Teilhard de Chardin descreveu muito bem esmpasse, que parecia eterno. Seu livro  O fenômeno human

ublicado postumamente em 1959, sustentava que ciência

eligião são dois lados do mesmo fenômeno, ambos mportância vital: a busca do conhecimento perfeito. Aindssim, os dois lados insistiam em que só existe uma verdade, qode ser enxergada com clareza - desde que se utilize a lenndicada.

Na Inglaterra de 1900, as livrarias demonstravam que ristianismo continuava a despertar interesse intelectual. Metaos livros publicados a cada ano tratava de religião. A Igreristã gozava de boa saúde em quase todos os aspectos, mas erdades nas quais se baseava o cristianismo - que Jesus elho de Deus, que se levantou do túmulo e que voltaria à Ter

ara julgar os vivos e os mortos - eram desafiadas cada vez mareqüentemente.

Durante séculos, em um fluxo incessante, pessoas dotadas mbições ou talentos intelectuais tinham procurado ingressar ngreja, fazendo dela uma profissão para a vida toda. Na ocasiã

orém, muitos jovens que pensavam em fazer o mesmnfrentaram momentos ou meses de dúvida. O fluxo já não eão intenso.

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CAPÍTULO 28

A VINDA DA LUZ E DTREVAS

Muitos observadores que perceberam indícios de declínio nristianismo em 1900 olhavam mais para a própria nação, róprio distrito ou o próprio bairro. Se fizessem um passeio pe

mundo, mudariam de opinião. Na História, poucas invasões

déias se comparam ã disseminação global do cristianismurante o período de 1780 a 1914, quando se tornou perimeira vez a maior religião do mundo.

No esforço de conquistar os povos de terras longínquas, rotestantes tinham ficado atrás dos católicos. Naquela époc

orém, eles ganhavam a corrida em muitas regiões. Enquanm 1600 as duas potências coloniais de longo alcance, Espanh

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ortuga , eram cat cas, anos ma s tar e, r - retanAlemanha e Holanda se incluíam entre as mais vigorosotências coloniais, e os Estados Unidos se preparavam pantrar no grupo. Os quatro eram predominantemenrotestantes, e apoiavam seus missionários.

O MUNDO INTEIRO PODE SER CONVERTIDO?

Dezenas de igrejas, seitas e ordens religiosas se uniram nsforço para converter asiáticos e africanos. Parecia a corrida duro, e o primeiro a chegar geralmente vencia. As ilhas de Fijionga, no Oceano Pacífico, foram virtualmente invadidas pel

wesleyanos, enquanto as primeiras visitas à Nova Zelândouberam a Samuel Marsden, um pastor muito enérgico evero, estabelecido em Sydney. A Igreja Reformada d

Holanda aumentou sua força-tarefa nas ilhas indonésias, e pso a cidade javanesa de Semarang ostenta uma elaborada igrealvinista da década de 1750, com seu teto delicado e seúlpito imponente. É interessante que os morávios, de língulemã, conquistaram tantas conversões na tropical Guian

Holandesa, que em 1900 formavam o maior grupo religioso á.

Várias regiões do leste da Ásia havia muito estavam fechados missionários estrangeiros. Somente em 1858, graças ratado de Tianjin, eles tiveram acesso ao interior da China, qu

ecebeu uma torrente de norte-americanos. Na década de 187

Japão foi reaberto a missionários europeus e americanos, q

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 nde alcançaram mais sucesso do que em qualquer outra regiãa parte oriental do continente asiático. Os missionários nntendiam por que, em setores da África e da Ásia, eram vistomo cúmplices das potências européias dominantes, o que fazoltar-se contra eles um ressentimento disfarçado. Na Coréia,

missionários foram recebidos como aliados contra os japonesnvasores.

Aqueles cristãos dispostos a buscar uma adaptação a terrasovos desconhecidos tinham muito mais possibilidade de sem-sucedidos. Hudson Taylor chegou à China em 1866, pa

nstalar a celebrada Missão Interna da China em uma época nual pastores e padres, em sua maioria, viviam na segurança

Xangai e de outras cidades costeiras. Taylor viajou ao longo danais acompanhado da mulher, de quatro filhos, de umnfermeira inglesa e de pelo menos seis "senhorit

missionárias". Acreditando que missionárias encontrariam maacilidade para converter as mulheres, ele as aconselhou a vesoupas chinesas e a adotar costumes chineses. Taylor acreditavo advento de uma era na qual pastores e professores irigiriam aos chineses na língua do país e construiriam edifície acordo com o estilo nativo de arquitetura, convertendo, assim

odos os chineses.ssa política foi empregada no oeste da África, onde em 186m negro, Samuel Adjai Crowther, se tornou o primeiro bispnglicano. A Igreja da Inglaterra demonstrou menos hesitaçãm apontar um bispo negro do que em indicar um bispo gay,

ue só aconteceu cerca de um século e meio depois.Atualmente muitos ovos ue vivem nos tró icos se divide

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 uanto aos méritos da aceitação de uma religião e de outrspectos da cultura europeia. Nas ilhas do estreito de Torrentre a Austrália e a Nova Guiné, a chegada de missionáriongregacionistas ainda é conhecida como "a vinda da luz"onsiderada um ponto de destaque em sua longa históri

Antropólogos modernos, porém, veem naquele ponto estaque a "vinda das trevas", pois lançou uma sombra sobreultura local. A discussão vai se estender por muito tempo.

m 1900, pregadores e professores cristãos tinham alcançaduase todos os territórios habitados do mundo, exceto regiõ

fastadas da África e trechos das montanhas da Nova Guiné. Neilão e em alguns outros locais, eles conseguiram muitonversões nas classes mais abastadas, mas não no povo. Eartes da Ásia e da África, foram convertidos mais de 5% dopulação, como resultado dos esforços realizados ao longo déculo 19. As Filipinas se mantiveram o país mais cristianizade todo o sul e leste da Ásia, como um tributo ao trabalho adres, freiras e monges espanhóis dos primeiros séculos.

m meio a toda essa atividade protestante, os católicontinuaram em suas incursões. A França, cada vez maresente na África, na Indochina e nas ilhas do Pacífico, n

éculo 19 enviou mais missionários do que todos os outraíses católicos reunidos. Heróis católicos continuaram a surgoseph de Veuster, um jovem no final da adolescência, viajou délgica a Honolulu para tornar-se missionário. Ordenado padm 1864, ele sentia profunda simpatia pelos doentes da ilh

Molokai, atacados pela hanseníase. Tendo adotado o nome dai Damião, ele assumiu as funções de padre e líder d

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abitantes da ilha. Lá reformou as casas simples da colônia panfermos, perfurou poços e escavou o solo, para a plantação egetais. Chegou até a cavar sepulturas. Sua morte aos 49 anoausada pelo mal de Hansen, fez dele quase um santo. Neríodo de um ano depois de sua morte, três livros sobre a vid

e Joseph de Veuster foram publicados na Europa.

ARMAGEDON

Muitos observadores concluíam, satisfeitos, que o mundo estavncolhendo. Realmente, a primeira década do século 20 tinhssistido à transmissão de mensagens a longa distância semtilização de fios e ao vôo do avião. Intensificava-se a crença due as nações se aproximariam e haveria mais diálogeduzindo as chances de uma grande guerra. Um conceito ma

nimador da natureza humana - diferente da tradição católiredominante - era quase a marca registrada do século 19 e rimeira década do século 20. Essa foi uma das razões quornaram tão arrasadora, para as esperanças das pessoas, a guerue veio em seguida.

As grandes nações que primeiro se engajaram à Primeira GuerMundial eram cristãs, com as exceções de Japão e Turquiignificativamente, protestantes e católicos em grande núme

utavam lado a lado, mas também em lados opostos. Eracompanhados nas batalhas, em terra e no mar, por pastoresadres - os capelães - muitos mortos por estarem na linha ogo.

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  r me ra uerra un a o tam m um s na a ranivisão da cristandade. Em algumas frentes, nações cristnfrentavam outras nações cristãs. Nas montanhas do Tiroatólicos italianos lutavam contra católicos austríacos. Na frencidental, ao norte da França, protestantes alemães e protestant

ritânicos se matavam. Nos Bálcãs e na Europa oriental, uxército de soldados ortodoxos lutou contra outro exérciomposto sobretudo por soldados ortodoxos.

Alguns líderes cristãos tentaram impedir a guerra. O arcebispe Canterbury, Randall Davidson, destacado religioso inglês,

mostrara preocupado, cinco anos antes, com a possibilidade lemães e ingleses se enfrentarem em uma grande guerra. Epoiara o envio de uma delegação formada por quatro bispnglicanos à Alemanha, para encontrar o imperador, o Kais

Guilherme II, em 1909. Dois anos mais tarde, Londres recebiaisita do famoso teólogo berlinense Adolf Von Harnack, que f

ormalmente apresentado por Davidson ao novo rei, EduardVII, no palácio de Buckingham. Davidson enfatizou que umuerra entre Grã-Bretanha e Alemanha, países de longa tradiçãeligiosa, seria "impensável". Em 1914, o impensável acontece

O Vaticano permaneceu neutro. Um mês depois do início d

uerra, o papa Bento XV incentivou os católicos de todo mundo a "fazer tudo o que for possível para dar um fim a esalamidade". Perto do fim do ano, ele insistiu para que rincipais potências envolvidas no conflito declarassem trégurante o Natal, mas não foi atendido.

m 1917, Bento XV ainda persistia em seus apelos pelo fim duerra.

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Ao terminar, em novembro de 1918, a Primeira Guerra Mundieixou 6 milhões de mortos, por enfermidades ou ferimentos. smagadora maioria - mais de 90%, provavelmente - eclarava cristã. Diferentemente, quando a Segunda Guer

Mundial terminou, a maioria dos mortos em ação não se inclu

ntre os cristãos. Muito se criticou o papa, por não ter exigidue Hitler interrompesse a matança de judeus durante a Segund

Guerra. Os críticos talvez não soubessem da inutilidade dessntervenções papais. Na Primeira Guerra, muitas foram entativas feitas pelo papa, de diminuir o sofrimento dos serumanos, com resultados praticamente nulos.

Na década de 1920, o cristianismo invadiu silenciosamenteida diária de boa parte da Europa. Até a partida final da cope futebol, o evento mais importante - enquanto não foi criadaopa do Mundo - do esporte inglês, foi afetada. No ano d923, em Londres, antes do início do jogo entre Arsenal

ardiff, a multidão de 91 mil espectadores uniu-se para cantarino Abide with me.

 Habita em mim;

 A noite cai depressa; A escuridão aumenta;

Senhor, habita em mim.

A escolha recaiu sobre esse hino por ser o preferido do rGeorge V, que naquela tarde ocupava a tribuna de honra. A

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  ,nos, década após década, mesmo depois que a maioria dspectadores deixou de sentir a magia e a melancolia da letraa música, passando a preferir a movimentação do rock and ro

m 1923, quando o hino foi cantado pela primeira vez n

stádio, um verso deve ter parecido perfeito aos que percebiammundo mais frágil do que antes:

 A vida passa depressa;

Os encantos da Terra se enfraquecem, as glóri

desaparecem;

Vejo em volta destruição e ruína.

Os 150 anos anteriores tinham sido uma idade de ouro para

uropa, que se tornara a parte mais rica do mundo, quanteiramente dominado pelos europeus. A expansão global dristianismo deveu muito àquela idade de ouro. A Primei

Guerra Mundial, porém, na verdade uma competição suiciara a Europa e a supremacia global, terminou com doerrotados: de um lado, a Europa, e, de outro, sua frág

ivilização cristã.

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CAPÍTULO 29

GUERRA E PAZ

As revoluções de 1917 representaram um golpe desferido nristãos russos. Lenin, o primeiro líder da Rússia revolucionárilassificou o cristianismo como "uma das coisas mais odiosas ace da Terra". A Igreja Ortodoxa Russa, conhecidormalmente como Igreja Católica Ortodoxa, era aliada dzares e do regime czarista, e começou a ser perseguida assi

ue Lenin assumiu o poder. Em 1918, todos os seminárioram fechados, impedindo a formação de novos padreDoutrinar menores de 18 anos passou a ser crime. Muitos padrebeldes foram presos ou mortos. Milhares de igrejas foraansformadas em museus, templos do ateísmo ou depósitos. Nrimavera, aves migratórias eram vistas fazendo ninhos

riando os filhotes nas enormes cúpulas arredondadas d

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  .

EVANTANDO BANDEIRAS CONTRA OS CRISTÃO

Uma onda de propaganda soviética se voltou contra ristianismo. Em 1923, proibiu-se a comemoração da Páscoao Natal. Grupos de padres foram enviados para campos abalhos forçados no litoral do Mar Branco.

m 1942, depois que a Alemanha invadiu a Rússia, o governoviético relaxou a campanha contra o cristianismo, nsperança de obter a unidade nacional. A Igreja Ortodoxa Russoi beneficiada por uma trégua temporária; não haverncentivos nem perseguições.

erminada a Segunda Guerra Mundial, mensagens ateístoltaram a ser disparadas por todo o país e retransmitidas para

ovos países comunistas da Europa oriental, inclusive PolôniHungria e Lituânia, onde os líderes católicos que não ubmetessem ou não ficassem calados eram acusadoumilhados publicamente ou presos.

m toda a história do cristianismo, houve poucos reveses t

érios quanto o rápido declínio do catolicismo na Rússia rimeira metade do século 20. Moscou, tendo substituídonstantinopla, herdara uma longa lista de credos e instituiçõe

ruto das divisões da Igreja Ortodoxa.

A agressiva disseminação do ateísmo na União Soviética deixo

larmados muitos cristãos alemães. O que aconteceria a eles euas igrejas, se tivessem a terra natal invadida por socialist

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adicais ou comunistas? Em meados da década de 1920, ecém-criado partido político de Hitler tornou-se o principponente do comunismo, além de expoente do nacionalismlemão. No final de 1932, em meio a uma grave crise esemprego, o partido de Hitler obteve 37% dos votos n

leições nacionais, tornando-se o maior partido independentor apreciarem seu nacionalismo, muitos cristãos votaram nelmbora condenassem sua ambição excessiva. Na opinião d

Hitler, "ou se é cristão ou se é alemão". Os dois ao mesmempo seria impossível.

Depois de assumir o total controle da Alemanha e fechar arlamento, Hitler rompeu o acordo e demonstrou seu despreela Igreja Católica, na qual tinha sido criado. Em seguidrovocou a divisão dos protestantes, incentivando os fiémpatizantes do nazismo a estabelecerem um ramo d

uteranismo. Um grupo de pastores luteranos, que atualmen

oderiam ser chamados de "fundamentalistas", rebelou-se contHitler, pagando um alto preço por isso.

Os alemães pertencentes a uma seita nascida nos Estados Unidas testemunhas de Jeová - também foram declarados inimigos

Na Alemanha, em apenas cinco anos, o nazismo tinh

ubstituído o cristianismo como credo dominante. Mas o altar dazismo não ficava dentro de templos. Seus altares eram o povlemão e a própria Alemanha, com suas florestas, seu idiomauas tradições. Hitler era o novo Messias.

Na Itália, Benito Mussolini, outro ateu, tomava posse em 192

om uma demonstração de força, mas sem carregar em volta abe a o mesmo halo ue iluminava a cabe a de Hitler. Ma

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ragmático, permitiu que se ensinasse religião nas escolalianas e aproximou-se do papa. O Vaticano voltou a ser umidade-estado, com política exterior própria - sob sériestrições.

O professor R. H. Tawney, anglicano e socialista, ao estudar azões da reduzida freqüência às igrejas, na Europa, nas décadntre as duas grandes guerras, chegou a uma conclusão peculiaA alternativa à religião raramente é a ausência de religiãoegundo ele, para ocupar o "trono vago", deixado peleligiões combatidas, o comunismo e o fascismo implantara

ma versão moderna da Inquisição, muito mais ativa e mortal.

INAIS DA UNIDADE CRISTÃ

Havia a esperança de que, diante da crise, todas as Igrejalassem a uma só voz. Na década de 1920, a antiga palavrega "ecumenismo", virtualmente desconhecida da maioria dessoas religiosas, reapareceu. Referindo-se ao mundo todo ougreja inteira, o termo havia sido empregado 15 vezes no Novestamento; tinha história, portanto. Um ferrenho defensor d

movimento ecumênico foi Randall Davidson, arcebispo anterbury, que em 1922 liderou um ataque ao ateísmo russ

Depois da prisão do patriarca Tikhon, chefe da Igreja OrtodoxRussa, Davidson organizou protestos que reuniram praticamenodas as denominações britânicas, além de católicos e judeu

Naquela que foi uma das maiores demonstrações olidariedade cristã vista na Europa desde o início da Reforma,

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mov mento ta vez ten a vra o o patr arca russo e uma onemporada na prisão.

e era complicado reunir as Igrejas europeias uma vez, comão seria fazer isso regularmente? Em 1921, um cardeal francrganizou uma conferência com outros cristãos, e, em 192

conteceu em Estocolmo uma conferência mundial de Igrejrotestantes. Outros encontros se seguiram, mas o avanço eifícil, com a Europa religiosa e politicamente dividida.

Um notável gesto de fraternalismo cristão abraçou os judeus. atrono foi Arthur James Balfour, filósofo nascido em uma ric

amília escocesa e que, por três anos, exercera o cargo rimeiro-ministro. Combinando conhecimento profundo a umrosa agradável e brilhante, ele escreveu Foundations of Bel

"Fundamentos da Crença", em tradução literal), uma defeonvincente do cristianismo. Em 1917, ele usou a posição

ministro das relações exteriores para convencer colegas ermitirem que a Palestina, uma vez retomada em segurança mpério Otomano, se transformasse em pátria dos judeus. Cosse plano, Balfour esperava também persuadir os judeus, quonsiderava influentes no governo revolucionário da Rússia,

manter o apoio à Grã-Bretanha nos últimos estágios da guerra.

A idéia de Balfour representou o lento começo para stabelecimento da atual nação de Israel, embora não fosnteiramente prática. Quando ele morreu, em março de 193ecebeu dos judeus homenagens extraordinárias. Elrecisariam de um refúgio, quando a turbulência se espalhas

ela Europa.

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A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E O HOLOCAUST

A guerra começou em setembro de 1939, quando Hitler invadPolônia. Em 1940, a maior parte da Europa ocidental estav

cupada, e em junho de 1941 ele entrou na União Soviética. Eezembro, forças japonesas começaram a rápida conquista dolônias britânicas, francesas e holandesas do sudeste da Ási

Ao mesmo tempo, os Estados Unidos entravam na guerrepois de sofrerem os ataques aéreos dos japoneses a Pea

Harbor e às bases norte-americanas nas Filipinas. Tratava-se dma guerra global, que se estenderia até 1945.

Ao intensificar-se, a guerra se tornou um espelho na natureumana. O que o ser humano tem de melhor e de pior vinhaona, mas o pior ficava incrivelmente nítido.

m 1941, Hitler, que havia muito nutria um ódio terrível peloudeus, resolveu aproveitar a oportunidade para eliminar os qinda viviam na Europa. Ele acreditava equivocadamente que udeus eram responsáveis pela derrota e pela ruína da Alemanha Primeira Guerra Mundial. O extermínio foi uma das decisõ

mais cruéis já tomadas.

As crianças, os adultos, os muito velhos e os muito jovensinguém foi poupado. Foram massacrados não somente udeus habitantes da Alemanha, que eram relativamente pouco

mas também os que viviam na Polônia, Áustria, FrançHolanda e em outras nações. Ao todo 5 milhões de judeus fora

ssassinados com eficiência científica.ara a civiliza ão ocidental re resentou uma auto-fla ela ã

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 Os judeus, proporcionalmente à sua população, tinham quaom certeza provado ser o povo mais criativo e talentoso d

mundo, nos cem anos que separam 1840 e 1940. Ali estava umivilização que se mutilava em meio a uma guerra terrível.

O cristianismo não escaparia de uma responsabilização indireelo terrível Holocausto. Judeus e cristãos tinham sido rivais -s vezes inimigos - por longos períodos. Além disso, algunristãos tradicionalmente acusavam líderes judeus perucificação de Cristo, embora evidências tenham sugerido qus dirigentes romanos foram os maiores responsáveis. A

mesmo tempo, os cristãos estavam plenamente conscientes uas dívidas em relação aos judeus. Os cristãos consideravagualmente santo o Antigo Testamento, o livro sagrado dnagogas. As duas religiões tinham muito em comum. Nntanto, sempre vai pesar a acusação de que católicos rotestantes de muitas nações, bem como os judeus que viviaos Estados Unidos, podiam ter prestado mais ajuda e conferid

mais visibilidade aos judeus durante seu flagelo na Europa dHitler.

A lição foi aprendida. Nos 40 anos seguintes, cristãos e judestariam tão próximos como provavelmente nunca estiveram e

ualquer outro tempo, desde o meio século que se seguiu morte de Cristo.

As duas guerras mundiais e o papel desempenhado peAlemanha nos dois eventos chocaram quem tentava analisom imparcialidade a civilização ocidental. Um século de visív

rogresso terminava em destruição, mortes e atrocidades em umscala amais ima inada. Aos olhos de muitos observador

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eutros, em 1900 a Alemanha era a nação mais civilizada dmundo. Na música, os alemães mantiveram por vários séculos

derança no Ocidente, e estavam entre os melhores nas áreas iteratura, Arquitetura, Pintura, Ciências Sociais e, em especiaa área de Ciência e Tecnologia.

m religião, os alemães haviam estabelecido uma tradiçmpressionante. A Reforma começou na Alemanha, e no sécul9 os teólogos alemães assumiam novamente a dianteira. O d

Albert Schweitzer, uma das mentes mais capazes do século 2firmou que, quando a poeira e a comoção baixassem,

eologia alemã vai se destacar como um notável e únicenômeno na vida material e espiritual do nosso tempoegundo ele, somente o temperamento alemão possuía ombinação de forças intelectuais e emocionais - inclusive senrítico e sentimento religioso - capaz de produzir tais resultadossa éra a mesma Alemanha que, menos de um quarto de sécuepois, começaria a revelar, pela própria conduta, como erágil a civilização européia, e como eram delicados undamentos cristãos sobre os quais ela se assentava. Talvezegunda Guerra Mundial tenha sido menos uma acusação aristianismo do que um meio doloroso de nos fazer lembrar su

mensagem básica.

O MUNDO ENCOLHE

O cristianismo nasceu em uma era na qual comunicação ansporte eram coisas simples. Cristo e os discípulos iam a pé

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o a parte. ontar um cava o ou sentar-se em uma carroça eraxperiências raras para eles. Jesus nunca atravessou um oceanmbora chegasse a entrar em um barco de pesca. Durante cere 1,9 mil anos, sem a ajuda de recursos eletrônicos, rofessores deram aulas e os pregadores discursaram, se be

ue estes últimos sabiam projetar a voz a longa distância. Depente, um atrás do outro, surgiram cinema, rádio, gramofonmicrofone, televisão, transmissão a cabo, satélite.

Os novos portadores de mensagens ajudaram o cristianismo, mavoreceram ainda mais os seus oponentes, ao espalhar

mensagem do consumismo.

or influência do rádio e da televisão, muita gente se sentia manclinada a tomar um refrigerante do que a receber a sanomunhão.

O primeiro avião verdadeiro foi inventado por dois irmão

ascidos em uma família americana muito religiosa - a famílWright. Filhos de um bispo da irmandade, eles não imaginavaomo sua invenção afetaria o cristianismo, bem como raticamente todas as instituições que existem. Talvez o primeiastor cristão a utilizar sistematicamente uma aeronave tenhdo John Flynn, um presbiteriano, fundador da Missão Inter

Australiana. Sua intenção era levar a mensagem cristã ariadores de gado em regiões distantes e aos trabalhadores d

minas. De início, Flynn viajava sobre camelos, e mais tarde eeículos motorizados muito simples, até que, em 1928, alugoma pequena aeronave da Qantas, uma empresa de aviaçã

ustraliana, para lançar o Flying Doctor  (Médico Voador), uerviço médico que atualmente cobre mais da metade d

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ont nente austra ano. ss m se a ou e e em , ano e sumorte: "Em lugares isolados da Terra ele plantou bondade."

Os líderes protestantes sabiam que o mundo estava cada vmenor, e queriam tirar proveito disso. O trem, o navio, o aviãermitiam o transporte entre lugares remotos e grandes cidade

m agosto de 1948, eles se encontraram em Amsterdã, parariação do Conselho Mundial de Igrejas. Seu lema saiu dombras da guerra: "A desordem do homem e o projeto d

Deus". Compareceram representantes de 44 países. Juntos, elaminharam sobre as pegadas de Lutero, Zuínglio e outrrotestantes rebeldes que concordaram em se reunir - mas nãceitaram um segundo encontro - em Marburg, menos de umécada depois de iniciada a Reforma.

De início, os católicos não participaram do Conselho Mundial grejas nem mandaram observadores oficiais. Já que ocupavamosto de maior Igreja do mundo, não viram necessidade

orrer para fechar uma brecha aberta pelos outros. Algumeitas cristãs fundamentalistas, em especial aquelas estabelecidas Américas, também se recusaram a participar, mas os alemãareciam satisfeitos em estar ali, embora carregando, em nomo povo, um sentimento de culpa pela guerra. As Igrej

Ortodoxas demonstravam atitudes diversas. Com ntensificação da Guerra Fria, os debates revelavam tensõntre os delegados da Europa oriental e da América. Destltimos, um dos palestrantes era o presbiteriano John Fost

Dulles, que cinco anos mais tarde se tornaria secretário stado norte-americano, e um feroz inimigo da Guerra Fria.

mbora simbolizasse uma união mediana, a conferência

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ms er o uma exper nc a enr quece ora para os que earticiparam. O relatório final mostrava humildade de espíritComeçamos o trabalho no Conselho Mundial de Igrejas, eenitência pelo que somos e com esperança no que vamos ser

Os participantes não esperavam apenas a unidade futura, m

m renascimento do verdadeiro cristianismo. "A unidade só álida quando se apoia na verdade e na santidade."

O LESTE VERMELHO

e os primeiros anos depois do fim da Primeira Guerra Mundiegistraram a rápida disseminação do ateísmo na nova Unioviética, a disseminação foi ainda mais rápida depois d

érmino da Segunda Guerra Mundial. Em 1945, as forças russcupavam o leste europeu, onde permaneceriam por quase me

éculo.Naquela vasta extensão do território ocupado, a maior parte dgrejas Cristãs foi transformada em instituições menores. Orédios de quase todas as escolas e de muitos templos foraechados, perdendo o tradicional papel nas grandios

erimônias públicas. Os jovens, em especial os mais ambiciosoerceberam que o caminho do sucesso estaria bloqueado pales, na profissão ou em cargos públicos, caso se tornassem fiérdorosos. Além disso, as escolas ensinavam os méritos dteísmo.

Na Lituânia, os padres, em sua maioria, estavam presos onham sido deportados. Na Hungria, em 1949, o carde

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  ,checoeslováquia o arcebispo foi confinado em local nã

evelado. Em determinada ocasião, 8 mil monges e freircupavam as prisões. Na Polônia, um dos países mais católica Europa, o governo comunista e a Igreja discordavareqüentemente, mas a Igreja conservou o apoio público.

m 1949, a vitória final dos comunistas na guerra civil da Chixpandiu bastante a zona anticristã, que passou a ir de Berlim

Xangai, e da foz do rio Danúbio à foz do rio Pérola.

A China tinha sido objeto de intensa, mas não vitorios

tividade cristã. Em 1949, as escolas católicas atendiam cerca milhões de estudantes chineses, enquanto hospitais e médicatólicos cuidavam de 30 milhões de pessoas, mais ou meno

Quando escolas e hospitais passaram para as mãos do governomaior parte das igrejas foi fechada, padres, pastores, freiras

médicos missionários regressaram ao país de origem. Em s

maioria, eram americanos e canadenses, que partiram tristes.m todo o mundo, os cristãos tinham razões para erguntarem por que a idade de ouro tinha chegado ao fim

Além de terem deixado de ser uma religião global, novas vitóriomunistas em breve os excluiriam da Coréia do Norte e

ndochina.

VATICANO II

Até a década de 1940, a Igreja Católica reunia mais povoserras do que qualquer outra instituição na história. Apesar d

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ontro a a por europeus, no n c o a ca a e , metae seus 2,8 mil bispos viviam fora da Europa, e a maioria eonstituída de latino-americanos, africanos e asiáticos.

omo administrar uma enorme instituição global como aquelm um mundo que passava por mudanças drásticas? Era preci

mudar, mas o excesso de transformações prejudicaria ontinuidade, que era uma força secreta da Igreja.

No Concilio Vaticano II, que se reuniu entre 1962 e 1965, foraeitas mais mudanças do que em qualquer outra conferênciesde o Concilio de Trento, quatro séculos antes. O latim f

liminado da liturgia, substituído pela língua local ou nacionaepetindo na Santa Sé a reforma implementada por líderrotestantes e ortodoxos. A decisão agradou aos fiéis que nãntendiam latim, mas para os tradicionalistas foi um choque.

Na missa, o padre passou a ficar de frente para as pessoas; a

ntão, ele ficava de costas para a assistência e de frente paraltar. Foi admitido um novo tipo de música, mais leve; muitamentaram que o som das guitarras tomasse o lugar do órgão dubos, e que as canções interpretadas por entusiásticdolescentes substituíssem melodias compostas pelos maobres músicos italianos e austríacos.

A relação de livros proibidos - uma ladainha de pecadmpressa - foi proibida e recolhida aos arquivos. Uma regra q

muitos católicos já consideravam estranha e superada - comeixe em vez de carne toda sexta-feira - foi abandonada. beração do casamento entre católicos e protestantes receb

plausos, pois deixou de significar a excomunhão dos noivos.-

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 evem se casar - voltou a ser debatida. Na África, muitos padrocais constituíram família, a despeito das regras da Igreja. Nuropa e na América do Norte, uma minoria católica fez queste afirmar que considerava antinatural os padres viverem eelibato. O papa se recusou a ceder. Talvez nunca tenha havid

m êxodo tão intenso de padres, monges e freiras da Igreatólica.

Depois do encerramento formal do Concílio Vaticano Iormou-se uma grande comissão de religiosos e leigos - home

mulheres - para discutir se casais católicos deviam adot

métodos de controle de natalidade, já liberados pelrotestantes. A comissão católica decidiu recomendar a visã

moderna, mas o papa vetou. Na Itália, no entanto, o controle datalidade é praticado tão rigorosamente, que em 2010 foi umas primeiras nações européias a apresentar crescimento zero

opulação. Essa foi uma das raras ocasiões em que uma decisãapal acerca da vida diária se viu francamente desafiada.

A série de reuniões gerou um acontecimento notável: o enconte amigos havia muito tempo separados. Em Jerusalém, no ane 1964, o papa de Roma e o patriarca de Constantinopla -idade tivera o nome mudado para Istambul - se encontraram. ltimo contato pessoal dessas duas autoridades tinha sido e439. Foram cinco séculos sem se cumprimentarem.

m cada século, uma voz se ergueu para conclamar os cristãosalorizar a unidade. Por outro lado, muito do vigor e ongevidade do cristianismo resultava da vontade de questionar

novar, bem como da disposição demonstrada pelas novas seita

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CAPÍTULO 30

DESAFIOS

m 1900, ninguém poderia prever o rápido declínio da Euroomo coração do cristianismo. Mesmo hoje, é difícil reconhecsse declínio, apesar das fortes evidências. Um dado estatísticevela o surgimento de um novo mundo cristão: mais da metadas pessoas que receberam o batismo católico em 1999 vivia

América Latina e na África. No protestantismo, nota-se a mesm

edução da importância do papel exercido pela Europa.

UMA TORRE DE VIGIA NA ÁFRICA

Na década de 1920, as regiões cristãs da África se tornaram mainâmicas espiritualmente. Novos grupos formados por pastor

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pro essores cr s os, m cos e en erme ras c e aram olônias alemãs tomadas pela França e pela Grã-Bretanha ao fia Segunda Guerra Mundial. Dos Estados Unidos e do Canadhegaram mais missionários católicos e protestantes. Ainda manfluentes foram alguns cristãos nascidos na África: el

mplificaram a teologia que haviam aprendido, acrescentandrenças e costumes tradicionais.

Uma seita surgida nos Estados Unidos sob a denominação dWatchtower Bible and Tract Society   - mais tarde chamada

estemunhas de Jeová - entraria com passos firmes no territórfricano. Fundada em 1872 por Charles Taze Russell, um joveegociante de tecidos de Pittsburgh, estudioso da Bíblia, a noveita se apoiava em uma profecia simples, segundo a qual Crisetornaria à Terra secretamente, e o mundo, tal como era entãonhecido, chegaria ao fim em 1914. Só se salvariam eguidores da seita. Esses seguidores apresentavam muit

aracterísticas encontradas em religiões puritanas menorerença na veracidade de todas as palavras da Bíblia, opção peatismo na idade adulta e nenhuma comemoração especial pe

Natal e pela Páscoa. Eles não participavam da sociedade civecusando-se a votar nas eleições e a cumprir obrigaçõ

militares quando a nação participasse de uma guerra. Segundles, os governos pertencem ao reino de Satã.

A crença na segunda vinda de Cristo e a previsão de que eogo chegaria atraíram muitos seguidores no centro e no sul d

África. Ninguém contribuiu mais do que Joseph Booth, unglês, para levar àquele povo a mensagem da watchtower (tor

e vigia). Booth era um itinerante, tanto na vida quanto n

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 ara a Nova Zelândia, e daí para Melbourne, onde em um bairtualmente de predominância batista, debatia semanalmente com ateu. De volta ao hemisfério norte, em 1906 sentiu-se atraídela instigante mensagem de Russell - Cristo vai voltar evando-a para a Cidade do Cabo.

omo os líderes da torre de vigia eram contra todo tipo doverno, atraíram africanos descontentes com ingleses, francesoutros colonizadores, que representavam trabalhos forçados

agamento de impostos. O próprio Booth criou o lema "África para os africanos", que os habitantes locais log

dotaram, acrescentando outros. Durante a Primeira GuerMundial, os líderes religiosos tomaram parte em rebeliões cont

governo britânico, em Naiassalândia e Zâmbia, embora seesultado.

As Testemunhas de Jeová, cada vez mais independente

hegaram a um nível de prestígio e influência jamais alcançadela seita em qualquer estado americano.

DOWIE E SUA ZION

ohn Alexander Dowie foi, indiretamente, rival de Booth. Mau menos com a mesma idade, ele havia emigrado da Escócara a Austrália, tornando-se ministro congregacional em duidades pequenas na planície de Adelaide. De lá, em rápiducessão, chegou às igrejas e aos tabernáculos de Sydney

Melbourne. Enérgico e instigante, baseava seus sermões em uasto conhecimento da Bíblia e na for a da voz. De ois de

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mudar para os Estados Unidos na década de 1890, fundou pere Chicago sua cidade de Zion, junto ao lago. Lá não ermitiam cervejarias, tabacarias, salões de jogos nem hospitaé e oração eram os verdadeiros remédios. Também não haveatros, pois Dowie não os considerava necessários; sob o nom

e Elijá, ele mesmo instruía e divertia a enorme congregação. mídia ficava fascinada. Ele foi traído pelo próprio carisma.

m 1904, Dowie causou comoção, ao afirmar que via com bolhos o casamento de brancos e negros. Isso tornou sua seiinda mais aceitável na África do Sul, onde foi inaugurada

rimeira igreja ao estilo Dowie. Os africanos responderam bemm especial nas cidades, e as igrejas independentes de Ziourgiram às centenas.

Daquelas, a mais influente - a Igreja Cristã de Zion - foi fundadm 1910 por Ignatius ou Engenas Lekganyane, como resultad

e um sonho. O templo e a cidade sagrada instalados por ele orte de Transvaal viriam a tornar-se a meta de uma das maioreregrinações do mundo. Os ônibus e carros - entre eles o Roll

Royce do fundador - que transportavam cerca de 1 milhão éis causavam enormes engarrafamentos na época da Páscoa.

O pastor Lekganyane copiou boa parte de sua teologia lgumas estratégias de marketing da cidade de Zion, e aprendambém com o movimento pentecostal. Seu desprezo pelcool, pelo fumo e pela liberdade sexual eram tipicamenuritanos. Preocupado com a violência, era simpático ao povudeu e a Nelson Mandela em sua luta política. O ritual

omingo incluía manter portas e janelas da igreja fechadas, atémomento de come ar o sermão.

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William Blake, poeta e artista, despertou a imaginação do povnglês, ao descrever uma possível visita de Cristo à Inglaterra:

Teriam aqueles pés, em tempos antigos,

Caminhado sobre as verdes montanhas da Inglaterra?

Teria o Cordeiro de Deus

Sido visto nos belos campos ingleses?

al como os mórmons na América do Norte, os líderes da Igreristã de Zion, na África do Sul, acreditavam que "aqueles pém tempos antigos," tinham pisado o solo de sua terra nat

Acreditavam também que seu líder supremo na África era uanal espiritual através do qual os fiéis podiam chamar a atenç

e Deus. No início do século 21, um quarto da população nega África do Sul pertencia às várias seitas de Zion.

OUTROS MESSIAS AFRICANOS

Na terça parte mais ao norte do território africano, muçulmanos dominavam, mas os cristãos, com mais liberdaara fazer adaptações, eram mais fortes no sul. Simo

Kimbangu, filho do líder de uma religião tribal no Congo Belatual República Democrática do Congo), foi convertido

ristianismo por missionários batistas ingleses em 1915. Eundou uma religião própria, mas passou muito tempo preso, p

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ausa de questões políticas. Atualmente, sua "Igreja de Jesuristo na Terra" conta com cerca de 4 milhões de seguidore

obretudo no Zaire e em Angola, e faz parte do ConselhMundial de Igrejas.

erto das minas de cobre, um missionário belga chamad

lacide Tempels estudou atentamente as religiões locais, omeçou a traduzir, fazendo adaptações, as idéias franciscanara a cultura da África central. Logo depois da Segunda Guer

Mundial, milhares de africanos se uniram ao movimenthamado  jamaa,  que significa "família" no idioma do pov

uaile. No Quênia, cristãos recentemente convertidos, no intuie preservar antigos costumes, inclusive a poligamia, criaraeitas próprias. Quando missionários tradicionais argumentavaom os nativos, dizendo que não poderiam manter três mulher ao mesmo tempo, um relacionamento especial com Cristo,

esposta era firme: "Damos conta de tudo."

m muitos campos missionários, duas versões do cristianismisputavam espaço: uma tentava manter costumes, símbolotuais, regras, hinos, interpretações bíblicas e comportamentociais levados por padres e freiras da Europa, e pastores dstados Unidos; a outra procurava adaptar o cristianismo

ultura de cada região africana. Centenas de seitas e igrejndependentes surgidas na África combinavam religiões tribais

movimentos políticos locais a preceitos do Novo TestamentAfinal, os primeiros cristãos na Europa tinham adotado a mesmstratégia para adaptar a festa de Natal.

ÍNGUAS DE FOGO

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Na América Latina, o protestantismo começou a desafiar atolicismo, por tanto tempo dominante. No início do século 2m grupo de jovens dinâmicos estiveram nos Estados Unido

nde entraram em contato com o movimento pentecostal, quurgia em Los Angeles. Os jovens se sentiram revivendo a cenm que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos eerusalém, no dia de Pentecostes, levando-os a falar em línguté então desconhecidas para eles.

No porto de Valparaíso, em 1908, no lugar de uma capeecentemente destruída por um terremoto, foi inaugurada a maigreja metodista do Chile, com capacidade para mil pessoa

Willis Hoover, pastor daquela igreja, em uma visita aos EstadoUnidos, quatro anos antes, tinha conhecido o novo movimenentecostal, que levou para o Chile. Na véspera do Ano Nov

omo de hábito, a congregação se reuniu na igreja recémnaugurada cerca de uma hora antes da meia-noite. Na ocasiã

Hoover incentivou os fiéis a se ajoelharem e rezarem em vlta, um por um. "Mas não foi o que aconteceu daquela vez", eontou. "Todos começaram a rezar ao mesmo tempo em volta, como se tivesse sido combinado." Ao contrário, Hoovnsistiu, não havia plano algum. Quase todos os presentoncordaram que tinha sido obra do Espírito Santo.

O culto emocionante se espalhou para as congregações menorue havia por perto. As pessoas começaram a falar em línguue pareciam estranhas ou inventadas, e não apenas duranteração, mas também no canto, que é uma das atividades ma

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  . ,ormalmente tímidas "falavam com uma força impressionante

Quem estava por perto às vezes chorava ou tremia. Para os fiémais tradicionais, era o caos emocional. Eles não onformavam, nem mesmo diante da explicação de que talvez atasse de uma versão mais barulhenta das reuniões de Wesley

Whitefield.

Dezenas de Igrejas Pentecostais foram fundadas no Chile. spontaneidade e o vigor da oração, da pregação e do cantraíam os fiéis. O novo movimento às vezes apelava atriotismo, e a palavra "nacional" freqüentemente integrava

omes das igrejas. Quando as pessoas migravam de regiõurais para as cidades populosas e indiferentes, as igrejentecostais ofereciam solidariedade e orientação.

omo o mais populoso país da América Latina, o Brasil atraua cota de pregadores pentecostais, em especial da Assemblé

e Deus, uma seita que então surgia.Os cidadãos brasileiros logo aceitaram o movimento. A partir década de 1960, as conversões aconteciam com uma freqüêncmpressionante. Era fácil abrir uma Igreja Pentecostal. Aqueersão espartana do cristianismo não precisava de cruzes, altare

apetes, assentos confortáveis nem instrumentos musicais. Pas assentos, 50 caixas de madeira e 20 cadeiras simples lástico. Até o púlpito ou a estante eram opcionais, pois

maioria dos pastores falava sem consultar anotações. Centenessas igrejas foram instaladas na sala da frente das casas, eojas e cinemas desativados, pequenos depósitos e galpões pa

eparos mecânicos em veículos. Os pobres se sentiam à vonta

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  ,oas. Que eles talvez nem tivessem.

Milhões desses novos fiéis se convenceram de que Cristo estavor perto todos os dias da semana, da manhã à noite. Os quam os relatos dos apóstolos acreditavam em um tempo - qu

odia ser enquanto estivessem vivos ou daí a séculos - quando sol escureceria", e Cristo voltaria a reinar na Terra. Eles entiam parte de um dinâmico movimento de massa qonquistaria o mundo. Os pentecostais provavelmencrescentaram ao protestantismo mais seguidores do que

Reforma original tinha atraído durante o meio século dominad

or Lutero, Zuínglio, Calvino e Henrique VIII da Inglaterra. Nra do jato, os estudiosos europeus, de olhos voltados apenara a região onde viviam, inclinavam-se a imaginar rotestantes perdendo terreno, em igrejas meio vazias.

América Latina e a África, no entanto, provaram o contrário.

OS JESUÍTAS E A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO

Na América do Sul, na década de 1960, muitos católicansmitiam a nova mensagem. Eles afirmavam que os pobres -rincipal preocupação dos ensinamentos de Cristo - estavaegligenciados pela Igreja. Em nome da "Teologia dibertação", eles releram as mensagens dos santos, descobrindalavras esquecidas e significados ocultos. Chegaram até erceber no elegante Erasmo de Roterdã um amigo dos pobr

o século XVI.

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 atólicos expressaram simpatia pelos negros, cujos ancestrahegaram ao Brasil e ao Caribe como escravos. A distância entcos e pobres, e a dolorosa miséria dos muito pobre

epresentavam um terreno fértil para os comunistas, mas tambéara os padres radicais. Na Colômbia, o padre Camilo Torres

untou às forças de guerrilha, "como sinal de verdadeiro amristão", segundo as palavras de um jesuíta. Em 1966, Torres f

morto em combate.

Dois anos mais tarde, em uma conferência realizada eMedellin, na Colômbia, bispos católicos acusaram as naçõ

cas do Ocidente de roubarem as populações pobres, nlfabetizadas e doentes do Terceiro Mundo. Eles apontaraomo problemas da América Latina a violência, as tensõociais, as doenças, as grandes diferenças entre ricos e pobres,falta de direito ao voto. "A América Latina parece viver sob ágico pecado do subdesenvolvimento". Com uma mistura

déias marxistas e jesuítas, o relatório convoca o povo e sugrejas a libertarem as nações. A mensagem contrariava Romue por mais de meio século tinha combatido o comunismo nuropa.

A revolução na Nicarágua, no ano de 1979, foi alimentada pmensagens marxistas e liberalistas. Quando o novo governandinista assumiu, padres católicos ocuparam cinco ministério gabinete. Na vizinha El Salvador, o arcebispo Romeriticou severamente os governantes militares. Em 24 de mare 1980, ele fazia um discurso reivindicando "justiça e paz pa

nosso povo", na capela de um hospital, na capital Salvador, e preparava-se para rezar missa, quando foi morto p

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m homem armado. Tanto sua morte quanto seu funeral ficaramarcados na memória do povo. Uma multidão acompanhou ortejo, e 40 pessoas morreram pisoteadas.

atólicos liberalistas nicaraguenses instituíram um credo radicaÉ imperativo que se revolucione a sociedade, qualquer que se

sistema ou regime. É imperativo também revoluciononstantemente a própria Igreja, para que se torne cada vez mavangélica." O Brasil, na posição de país mais populoso

América Latina, em vias de se tornar a segunda maior naçristã do mundo, representava a chave do sucesso daquele cred

Um de seus teólogos radicais, o bispo Pedro Casaldáliga, estavisposto a desafiar Roma. Em 1988, ele foi chamado aVaticano, em uma situação ligeiramente análoga à donvocação de Martinho Lutero a Worms para encontrar mperador romano.

Ao deixar Roma, depois de cortesmente interrogado, o bispo fma breve peregrinação a Assis, um dos santuários doberalistas. "Em Assis, fui coberto de luz", ele relatou em carnviada ao Brasil. Encantado diante dos pássaros e das florele se emocionou no pequeno jardim de Clara, onde Srancisco tinha recitado o "Cântico das Criaturas". Pensando n

anto, freqüentemente invocado pelos liberalistas, o bispo se virigindo os pensamentos a ele, naquele dia de verão: "Quanem nos fazes, e como todos nós, seguidores do senhor Jesuentimos a tua falta!"

A tradição católica de trabalhar abnegadamente em meio a

obres floresceu, ao final do século 20. Madre Teresa de Calcustava entre esses abnegados. Nascida nos Bálcãs e educada n

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rlanda, ela fundou em 1950 as Missionárias da Caridade, paudar "os famintos, os despidos, os sem-teto, os mutilados, oentes, e quem quer que se sinta excluído, rejeitadbandonado." Durante seus últimos anos de vida, cerca de 4 mreiras, além de um grupo menor de frades e leigos, espalhava

eu trabalho por muitas terras.mbora não desejasse publicidade, madre Teresa era perseguidelas câmeras de televisão. Ela não se permitia receber umprimentos dispensados aos astros da mídia. Só aceitaveijos de seus doentes. Segundo um racionalista, madre Tere

ra uma raridade: alguém que seguira as palavras de Jesubrindo mão de tudo.

UM MOSAICO DE CRESCIMENTO E DECLÍNIRELIGIOSO

A vitória comunista na China foi vista pelos cristãos, em especios Estados Unidos, como um desastre religioso. O maopuloso país do mundo estava fora do alcance de novos ntigos missionários. Na década de 1960, os Guard

Vermelhos fecharam todas as igrejas cristãs, e muitos padres astores foram presos.

Depois que a revolução cultural acabou, chineses cristãomeçaram a se reunir discretamente nas casas. No início écada de 1980, algumas congregações protestantes retomara

s reuniões, aproveitando para isso antigos prédios de grandgrejas, que pareciam trazidos diretamente das ruas principais

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am urgo, anc ester ou cago.Os católicos chineses, mais numerosos do que os protestanteram olhados não oficialmente com mais suspeita. Em 2002,

Vaticano estimou que 8 milhões de chineses católicos rezavaescondidos", em vez de se arriscarem a rezar em públic

Alguns observadores acreditam que esteja ocorrendo aos pouca China um despertar religioso, ao lado da recuperaçconômica, e falam em 50 milhões a 70 milhões de cristãos, n

mínimo.

Na Índia, o segundo país mais populoso do mundo, os cristã

espondem por pouco mais de 2% da população, mas o relativracasso da evangelização tem sido exagerado. Existem maristãos do que  sikhs, na Índia. O número de cristãos superaúmero de budistas, em plena terra natal de Buda. Em trequenos estados indianos, os cristãos são maioria. E

Nagaland, estado próximo à fronteira nordeste, nove em cadez habitantes são cristãos - batistas, na maioria. É o estado maatista do mundo.

A Europa deixou de ser o coração da cristandade. Em 201metade dos bebês da Grã-Bretanha e França não era batizada. s nomes escolhidos para esses bebês vêm mais freqüentemen

e personagens de novelas do que da Bíblia. No sepultamene cristãos, muitas vezes o caixão é envolvido por uma bandeiom o emblema de um time de futebol ou alguma outra insígneguramente descrita como não religiosa.

Na Europa oriental, a maioria das pessoas na maior parte d

ações não freqüentava igreja. Na Polônia, uma perfeixceção, mais de nove em cada dez habitantes diziam s

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ristãos e freqüentar a igreja. Na França e na Bélgica, cerca duatro em cada dez entrevistados afirmavam não ter religião, a Holanda, Itália e Espanha, a proporção dos que diziaossuir algum instinto religioso era levemente mais alta. No an000, uma pesquisa feita na Itália apresentou um resultad

urpreendente: 92% das crianças eram batizadas no catolicismmas seus pais raramente iam à igreja. Os europeus que afirmaom segurança serem ateístas vêm se multiplicando rapidament

OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA OU DEUS E ODOIS OCEANOS

Nos Estados Unidos, a religião floresceu na década de 1950o início da década de 1960. John F. Kennedy, eleito em 196oi o primeiro presidente católico do país. No entanto, havoucos indícios de que o catolicismo pudesse tornar-

redominante. Por outro lado, as Assembleias de Deus - umeita do século 20 que pregava uma mensagem pentecostalmais que triplicou o número de fiéis, em um sinal de que grejas Fundamentalistas cresciam mais depressa do que randes igrejas.

O dr. Martin Luther King Jr., pastor de uma igreja batista eMontgomery, Alabama, começava a chamar atenção, em su

" "

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  .ndia, em 1959, convenceu-o das virtudes da tática empregaor Gandhi: "persistir nos protestos, evitando a violência

Depois de assumir o posto de pastor ao lado do pai na Igreatista Ebenézer em Atlanta, na Geórgia, o dr. Kinacientemente continuou com os protestos passivos e boicotue ajudaram a modificar ou eliminar a prática, adotada nstados do sul, de segregar negros e brancos em ônibus estaurantes. Várias vezes foi preso por isso. Daí a quatro anole fez um discurso do alto dos degraus do Lincoln Memoriam Washington. Buscando palavras no Antigo Testament

ssim se dirigiu à multidão diante dele: "Eu tenho um sonhou sonho que, um dia, todo vale será exaltado, e todas as colinmontanhas se abrandarão. Os lugares acidentados ser

plainados, os caminhos tortuosos se endireitarão, e a glória denhor se revelará."

oi o presidente Lyndon B. Johnson, mais conhecido comolítico atuante do que como seguidor da grande seita chamaDiscípulos de Cristo, quem assinou as leis federais corrigindormalmente alguns dos erros que provocaram as queixas d

Martin Luther King Jr. Em 4 de abril de 1968, King fssassinado em Memphis, aos 39 anos.

Quando, nos Estados Unidos, começou a declinar a freqüêncs igrejas, o fato não causou tanta surpresa quanto na Europ

Ao fim do século 20, nove de cada dez norte-americancreditavam em Deus, e mais da metade dizia pertencer a uos 200 grupos cristãos do país. O presidente da Repúbli

ostumava ir à igreja aos domingos, e a maioria dos eleitorabia se ele era batista metodista ou resbiteriano. O fato

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uase todos os presidentes ainda pertencerem àquelas seitas, qa Grã-Bretanha seriam chamadas de dissidentes ou nãonformistas, representa um legado do começo da históreligiosa da América.

O que mantém o cristianismo, em toda a sua variedade, commarca registrada dos Estados Unidos? No desbravamenaquela terra tão vasta, as congregações cristãs, especialmenm novos distritos rurais, cumpriam um papel social, além dapel religioso: serviam de local de reunião e centro social. Nstados Unidos, a religião adquiriu algumas características d

mundo empresarial. As igrejas, competitivas, buscavativamente novos membros. Na história do cristianismo, nune viu tal energia na criação de novos credos e seitas, a não sealvez, na chegada à África.

onforme uma idéia muito difundida nos Estados Unido

quele era um país único, e o cristianismo representava uomponente vital da singularidade. Os americanos rgulhavam de sua longa história de nação forte e independentue poucas vezes precisou de aliados. É quase como se vissem Deus seu único aliado. Para eles, a providência divina lheservou aquela terra enorme, rica e protegida dos perigos p

ois oceanos. A maioria dos americanos acreditava pertencer ma nação "segura", criada e guiada por Deus.

Até a Basílica de São Pedro, em Roma, foi desafiada pelo títue maior do mundo. A República da Costa do Marfim, o mairodutor de cacau de mundo, apesar de não ser um país ric

onseguiu levantar fundos para construir uma enorme basílicnau urada em 1989 e aben oada elo a a um ano mais tard

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stenta uma cúpula colorida, que pode ser vista a lonistância, a destacar-se da vegetação. Os visitantes fica

maravilhados com as paredes de mármore italiano, os vitrais eioleta, azul e vermelho, e um amplo espaço capaz de acomod8 mil pessoas, sendo 7 mil sentadas. Por estar situada

eriferia da capital, raramente está cheia.hegará o tempo em que o papa, pela primeira vez na históri

erá um cardeal nascido fora da Europa. Os católicos do Brasa Nigéria e das Filipinas provavelmente vão comemorar o fio longo reinado europeu. A Igreja da Inglaterra, out

nstituição global, reflete a mesma tendência. Ao encontonhecido como Conferência de Lambeth, que aconteceu eondres, em 1998, compareceram muito mais bispos africano que das Ilhas Britânicas. E quem era o típico fiel anglicanm termos globais? Se todos os anglicanos fossem organizadonforme idade, sexo e nacionalidade, o fiel típico seria um

mulher africana de 24 anos, vivendo ao sul do Saara.

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CAPÍTULO 31

"MAIS POPULARES D OQ U EJESUS"

Hoje, o papa é uma figura mais influente do que em 1500, ésperas da Reforma. Naquela época sua influência ficavestrita à Europa ocidental e à Ásia Menor. Hoje, porém, lobal, e ele é o chefe espiritual de uma população de católic

ue, desde 1500, já se multiplicou dezenas de vezes. Talvmuitos democratas argumentem que tanto poder nas mãos ma só pessoa - um líder que não pode ser deposto - represenm risco em potencial para a maior das Igrejas Cristãs.

UM PAPA EXTRAORDINÁRIO

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O século 20 produziu um dos mais notáveis de todos ontífices. Daqui a um século, o papa João Paulo rovavelmente será visto como um dos papas mais influentes istória da Igreja. Nascido na Polônia, de família humilde, ele f

perário de uma indústria química e estudante universitárintes de entrar para o seminário. Nos últimos mil anos, poucapas vieram de ambientes tão modestos. Aos 38 anos de idadle era bispo sagrado, e já se destacava como estudioso ensador. Daí a 20 anos, foi eleito papa - o primeiro papa nãaliano em quatro séculos.

oão Paulo II exerceu um importante papel na derrota de untigo inimigo dos católicos: o comunismo soviético e europem um tempo de prosperidade sem precedentes, que desviavatenção das questões religiosas, ele falava contra o materialism

Uma mensagem bíblica bastante difundida diz que "nem só

ão vive o homem." Atualmente, porém, pela primeira vez nistória, bilhões de pessoas tiveram a oportunidade de viver e pão, e parecem gostar. Ironicamente, enquanto derrubava omunismo, o Ocidente imitava seu materialismo.

O papa João Paulo II não se furtou a expressar suas idéias sob

eologia e costumes sociais. O tempo que passou sob o nazismez com que percebesse o valor da liberdade pessoal, emboão ilimitada. Ele lamentava a indiferença diante da morte, especial em um mundo que aparentemente desaprovava mortesnecessárias. João Paulo II se opôs a outras formas de mortecontrole da natalidade e o aborto - em que as vítimas deixa

e nascer. Não havia brilho em seus olhos quando observava

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 eclarar que sua Igreja tinha um "amor preferencial pelobres", ele caminhou sobre as pegadas de São Francisco d

Assis. Em boa parte do que fez, agiu sozinho.

Apesar de as agendas políticas destacarem os direitos da mulhe

oão Paulo II se manteve firme: mulheres não podiam exerceracerdócio. O contraste com o protestantismo era nítido. Mais 0 anos antes de seu pontificado, mulheres protestantes tuavam como pastoras na Igreja Unida do Canadá, nas igrejuteranas da Dinamarca e em igrejas presbiterianas e metodiste vários países. Quando o Conselho Mundial de Igrejas

euniu pela quinta vez - no Quênia, em 1975 - em cada quatelegados havia uma protestante. O papa não se impressionoegundo essa linha de pensamento, talvez ele tivesse recusadaso fosse papa nos primeiros tempos do cristianismo, sancar a Virgem Maria, sob a alegação de tratar-se de uma mulhe

Alguns admiradores de João Paulo II se desapontaramonsiderando não ter ele dispensado a devida atenção scândalo causado pelas acusações de que padres teriabusado sexualmente de meninos.

Depois de sua morte, a questão tomou vulto ainda maio

mbora pelo menos 99% dos padres em exercício naquela époossem presumivelmente inocentes, o dano à reputação da Igrestava feito. E persiste a difícil pergunta: a Igreja Católica devontinuar um domínio eminentemente masculino?

em alarde, o papa João Paulo II modificou a teologia da IgrejO purgatório e o inferno receberam pouca atenção, enquanto nfatizava a importância do amor. Ele buscou homens

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 a santidade. E encontrou muito mais candidatos do quualquer papa anterior. Segundo ele, um santo do século 20

muito mais inspirador, para os jovens católicos, do que outro qenha vivido muito tempo atrás. Uma de suas mensagens sutoi esta: os santos, tal como os seres humanos, têm suas falhas.

As histórias embaraçosas dos papas que viveram na época Renascença e em períodos anteriores foram redimidas pelapas dos últimos 200 anos. Conforme opinião geral, eraomens bons, em sua maioria, e alguns foram grandes serumanos. O papa João Paulo II reforçou essa impressão com sé, sua generosidade, e uma dignidade simples e até meio seeito.

Mental e fisicamente corajoso, ele viajou a terras estrangeirasalou a multidões, mesmo quando o mais indicado talvez fosescansar ou recolher-se a um hospital. A soma das distânci

ercorridas em suas viagens provavelmente excede a soma distâncias percorridas por todos os outros papas nos últimos mnos. A antiga idéia das peregrinações sofreu uma reviravolt

Durante séculos, os cristãos peregrinavam a Roma para ver apa; e então, o papa peregrino visitava seu rebanho em terr

istantes.A morte de João Paulo II em 2005, depois do segundo maongo pontificado da história, causou tristeza no mundo inteiralvez nenhum papa tivesse conquistado tanto respeito dastores e padres, protestantes e ortodoxos. Indiretamente, eromoveu a causa da unidade cristã.

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ATEÍSTAS E CIENTISTAS LEVANTAM BANDEIRAS

No século 21, o mundo ocidental assistiu a uma intensificaçãas atividades e da militância dos ateístas. Muitos expressara

uas idéias com clareza e habilidade, embora fundamentadssencialmente em argumentos empregados por numerosristãos radicais desde o século 18, pelo menos. Entre os crític

mais articulados do cristianismo, estão os cientistas que afirmaue, quando houver mais conhecimento, os princípios da ciêncubstituirão o cristianismo. Esses cientistas em geral transpira

timismo quanto à natureza humana, e preveem que o mundai se tornar cada vez melhor. Assim, em 2010, o professotephen Hawking, um dos cientistas mais bem conceituados d

mundo, explicou que "a raça humana vem melhorando tapidamente, em matéria de conhecimento e tecnologia, que

s pessoas estivessem aqui há milhões de anos, a humanidade eria chegado muito mais longe, em sabedoria." Segundo ele,umanidade só precisa de tempo, para realizar seu enormotencial. Enquanto isso, ele pergunta: "por que o mundo esão complicado?" A principal razão, ainda segundo Hawking,

fato de não utilizarmos de maneira adequada nossa capacida

e raciocínio. "Felizmente vamos melhorar muito", ele afirmporque estamos perto de compreender as leis que governamniverso e que nos governam."

m 1900, um otimismo semelhante percorria os círculos mantelectualizados. Seria impossível imaginar uma guerra mundi

evastadora - duas, muito menos - pois razão e progresstavam em toda parte. As duas guerras destruíram as previsõe

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A devastação aconteceu porque ciência e tecnologia estiveraomo nunca a serviço da guerra. Além disso, duas das novdeologias contrárias ao cristianismo - o comunismo soviético eascismo alemão - demonstraram dar pouca importância à viumana, em especial às vidas dos adversários civis. Os combat

mais intensos da Segunda Guerra Mundial aconteceram nrente russa, onde dois credos seculares se enfrentaram e foraraticadas atrocidades sem paralelo na guerra anterior.

Muitos cientistas e secularistas tendem a postar-se junto a umlta parede divisória. São otimistas acerca da natureza humana,

or conseguinte acreditam no progresso do ser humano; afinas cientistas fizeram muito para criar progresso material. Dutro lado da parede está a tradição cristã, que combitimismo e pessimismo. Ali se acredita que o mal, tal como em, faz parte da natureza humana. Assim, os cristãos queguiam a tendência se surpreenderam menos com alamidades ocorridas no século 20. Mas a visão dos secularistcerca da natureza humana se destaca mais uma vez, em especios círculos intelectualizados. É como se uma fase terrível istória da humanidade, que desmentia as bases daquela posiçãtimista, tivesse desaparecido da memória coletiva.

MAIS VITÓRIAS PARA O ISLÃ

omo rival do cristianismo, o islamismo teve altos e baixos. P

olta do ano 1000, o islamismo, como religião mais jovemxercia mais influência do que o cristianismo, e parecia prestes

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ornar-se a pr me ra e n ca re o mun a . o en anuando navegadores portugueses descobriram as rotas marítimelos Oceanos Atlântico e Indico, abriu-se um novo campo pas missionários cristãos. A Europa ocidental dominava tambéa Ciência, nas armas e na vitalidade, e cada vez ma

overnava terras muçulmanas. Em 1900, o cristianismo estavem à frente do islamismo, em número de seguidores.

Depois da Segunda Guerra Mundial, o islã cresceu em prestígpoder político. A Indonésia e o Paquistão, com suas numerosopulações muçulmanas, e a índia, com uma significativ

minoria muçulmana, tinham se tornado independentes. etróleo, então a principal fonte de energia no mundoncentrava-se em uma surpreendente proporção no Orien

Médio e em outras regiões de religião muçulmana. Naçõequenas, porém ricas, financiavam atividades ligadas à religiã

Milhões de muçulmanos deixaram suas terras, mudando-se pa

aíses como França, Inglaterra, Alemanha, Espanha e Holandnde se tornaram minorias atuantes, passando a gozar de umberdade geralmente não concedida aos poucos cristãabitantes de terras islâmicas.

As duas religiões rivais se afastaram ainda mais. No período d

m século, os países cristãos se tornaram mais democráticomaterialistas, informados e zelosos dos direitos da mulher e berdade civil, do que uma típica terra muçulmana. Os cristã

ambém ficaram menos puritanos. Em 1900, um protestanvangélico possivelmente tinha muito em comum com u

muçulmano, em termos de comportamento social. Hoje, ne

anto. Em 11 de setembro de 2001, quando um pequeno braç

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 Unidos, as diferenças religiosas pareceram mais intensas.

Nos últimos séculos, a força da fé muçulmana superava a eus principais rivais. Além disso, no século 20, as populaçõos países islâmicos se multiplicaram rapidamente, pois a típi

amília muçulmana é numerosa. Embora o cristianismontinuasse a ser a maior religião, com mais de 30% opulação mundial, o islamismo se aproximava, e já respondor mais de 20%, em 2011. Talvez chegue o dia em que lamismo recupere a liderança.

O CRISTIANISMO VAI DESAPARECER?

A década de 1960 foi marcada pelas revoltas dos jovens contabus e tradições em religião, política, sexo, música, roupas

muito mais. A longa era cristã jamais havia observado txplosão de valores, exceto talvez nos primeiros anos Revolução Francesa.

Os quatro rapazes que formaram os Beatles, o grupo musicnglês, ajudaram a liderar a última revolução. Sua histór

amiliar no porto de Liverpool era mais cristã do que pagã, e deres, John Lennon e Paul McCartney, se conheceram em uestival de música promovido por uma igreja, em 1957. E

menos de uma década, os quatro rapazes se tornaram os maestejados do mundo. Milagrosamente, eles dançaram ao longe uma tênue linha transparente que separava os valores cristã

adicionais dos valores expostos em discotecas e concertos ock.  Em 4 de mar o de 1966 John Lennon cruzou a ue

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nha. "O cristianismo vai morrer", ele anunciou. "Vai encolheresaparecer. Hoje somos mais populares do que Jesus Cristo

Nos círculos nos quais ele transitava, a observação estavorreta.

O cristianismo está em declínio nas nações mais prósperas, manstruídas e mais materialistas, mas não em outros lugares. Nntanto, mesmo na Europa, o centro do cristianismo, o declíninda não pode ser considerado permanente. No curso de 2éculos, ele já entrou em declínio e se recuperou várias veze

No ano 300, estava mais fraco na Europa e na Ásia Menor d

ue hoje. Em 1600, estava mais fraco no mundo como um todA conclusão deste livro é que o cristianismo se reinventoepetidas vezes. Todo renascimento religioso é o reflexo de ustado de declínio anterior. Mas nenhum renascimento - e talvenhum declínio - é permanente.

Mesmo quando o cristianismo atravessava uma boa fase, muiente permanecia indiferente ou pouco interessada, e snfluência em muitos setores da sociedade era fraca ou irregulaonforme João Calvino confessou, o fato de Genebra ser itrine do cristianismo não significava que todos os habitantes docal acreditassem nas principais verdades religiosas. El

reditavam à sorte, ao acaso e ao destino tudo que lhcontecia: "Se uma ventania repentina afunda a embarcação; lguém é derrubado por uma árvore que caiu sobre a casaegundo Calvino "essa opinião errônea atravessou os tempos,praticamente universal."

m essência, o mundo ocidental atual não deve ser comparadom muito ri or à su ostamente mais cristã civiliza ão ue

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recedeu. O cristianismo, mesmo no apogeu, para muita genoi, em parte, só aparência.

ABEDORIA

No mundo ocidental, ao iniciar-se o século 21, a doutrina crisreqüentemente parece um tanto irrelevante. Pela primeira vez nistória, várias doenças que tornavam a religião útil ondispensável são tratáveis ou foram erradicadas. A

nfermidades incuráveis, a morte de jovens, a fome e a pobrextrema não são vistas tão freqüentemente. Houve um tempo eue as pessoas morriam aos 50 anos, muito envelhecidas. Hoj

máquinas de várias espécies reduziram a necessidade do trabalhesado que antes sustentava a economia. Por tudo isso, h

menos incentivo para que se recorra à Bíblia nos momentos or ou desespero - embora o sucesso material traga novreocupações.

Nos países que contam com educação formal de melhualidade, o cristianismo também tem de enfrentar um estado spírito menos favorável. Há 300 anos, as pessoas se satisfazia

om explicações baseadas no sobrenatural; hoje, elas se deixaonvencer mais facilmente por explicações que apelem - oareçam apelar - à ciência, à lógica e à razão. Ciência ecnologia carregam uma mensagem simples e persuasiva: roblemas do mundo são solucionáveis com o emprego

ngenhosidade e inovações materiais; os enigmas do mundo - rigens do universo, por exemplo - podem ser desvendados pe

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mente c ent ca. o entanto, em ora as rea zaç es a c ncenham sido notáveis, não se pode considerá-las revolucionário estudo na natureza humana. De certo modo, os problem

mensuráveis estudados pela ciência e pela tecnologia são maacilmente analisados do que os problemas humanos. É ma

ácil explorar a lua do que explorar o coração e a mente do sumano.

O conhecimento ocupa um dos primeiros lugares na hierarquas virtudes mentais. A palavra "sabedoria" é pouco empregadm um século que valoriza mais do que nunca o conheciment

Até o Livro dos Provérbios trata da sabedoria. Os judeus simplitados no Antigo Testamento - como os pastores e carregadoree água - provavelmente estavam mais empenhados em alcanç

sabedoria do que muitos ganhadores do Prêmio Nobecorridos 2,5 mil anos. Sabedoria se refere, em primeiro lugaos seres humanos e a suas dificuldades.

O indivíduo tem o direito de dizer que não acredita em DeuMas calar-se e fugir à discussão sobre a natureza humana querca todo o conceito de "Deus" é não perceber por que ristianismo faz tanta gente pensar há tanto tempo.

O CRISTIANISMO NA BALANÇA

O cristianismo se reinventou muitas vezes. Provavelmenenhuma outra instituição na história do mundo demonstrou t

multiplicidade. Se os oito cristãos citados a seguir, todonfluentes em seu tempo, se reunissem em torno da mesa

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,ispo Nestório de Constantinopla, dos primeiros séculorancisco de Assis, madre Teresa de Ávila e Martinho Lutero d

Wittenberg, dos séculos intermediários; e o sr. George Fox douakers, o pastor Lekganyane da igreja zionista da África do S

o papa João Paulo II. Uma das razões de o cristianismo manter dinâmico por tanto tempo é sua disposição para discutiriscordar - quase uma questão de vida ou morte.

Não é fácil avaliar uma religião tão antiga e disseminada, cujeguidores discordam entre si. O cristianismo moldou - e ezes desmanchou - muita coisa no mundo moderno. Nomente a moral e a ética receberam influência, mas tambémalendário, os feriados, a assistência social, os eventsportivos, arquitetura, idioma e literatura, além denominações no mapa-múndi. Talvez nenhuma outnstituição - a não ser os governos modernos - tenha cuidado t

iligentemente dos enfermos, dos pobres, dos órfãos e delhos. Por muito tempo a Igreja representou a predecessora ssistência oficial, além de assumir o principal papel nducação em boa parte da Europa e de fundar a maioria drimeiras universidades. O cristianismo influenciou o papocial da mulher, o  status  da família e - dizem alguistoriadores - a ascensão do socialismo e do capitalismo. Aléisso, tanto favoreceu como prejudicou o avanço da Ciênciaas Ciências Sociais.

A moderna democracia, muito diferente da versão praticada nntiga Atenas, muito deve à declaração feita por Paul

arantindo que todas as almas têm o mesmo valor aos olhos Deus. A democracia também deve muito à uela ala d

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 rotestantismo que, desobedecendo ao papa e ao bispo, conferoder à congregação reunida aos domingos.

Desde seu surgimento, o cristianismo participou de muitventos lamentáveis e cometeu muito mais erros do que rimeiros apóstolos poderiam imaginar. Boa parte desses erroi praticada por quem falava em nome de Cristo, mas senceridade. Trata-se de uma difícil e angustiante profissão de fntre os bilhões de indivíduos, hoje mortos, que entenderam

entaram seguir os preceitos de Cristo, a maioria provavelmeneria admitido falhas em algumas fases da vida - ou em todas. S

próprio Cristo viesse julgar as respostas do mundo a sumensagens nestes primeiros 2 mil anos, talvez dissesse: "Evisei!" Ele mesmo afirmou certa vez que "muitos são onvidados, poucos os escolhidos."

O cristianismo provavelmente foi a instituição mais importan

o mundo nestes 2 mil anos. Muito do que nos parece admirávoje resulta inteiramente ou em parte do cristianismo e de seeguidores. Por outro lado, pode ser que, no ano 220studiosos e analistas que tenham outros valores cheguem a umonclusão diferente. A análise de importantes mudançcorridas no passado, para saber se foram benéficas ou nã

aramente leva a um veredito unânime.

notável como um homem que viveu há 2 mil anos, nãcupou cargo público nem era rico, e nunca visitou um lugue ficasse a mais de dois dias a pé de distância do local ondasceu, possa ter exercido tanta influência, com se

nsinamentos, profecias, conselhos e parábolas. "Eu sou aminho a verdade e a vida" ele declarou. "Pois onde dois o

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ês se reunirem em meu nome, lá estarei."

As discussões acerca da mensagem e da influência de Cristo nãe esgotaram. Mesmo depois de estarmos todos mortos, e éculo 21 ter ficado para trás, o fascínio persistirá, e muitos aindverão como um vencedor.

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AGRADECIMENTOS

Aqui expresso minha gratidão a dois amigos que leram todos riginais: John Day (de Wangaratta), que entende de sentençaslegações, e Michael Costigan (antes de Roma e agora

ydney), que me concedeu o benefício de sua larga experiêncseu vasto conhecimento de questões ligadas à religião. Ent

utras atividades, ele estudou o Concilio Vaticano II. Estorofundamente agradecido a quatro especialistas em Teologiai i d l