uma anÁlise de permanÊncias de prÁticas...

UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIacuteBA

CENTRO DE HUMANIDADES

DEPARTAMENTO DE HISTOacuteRIA

CURSO DE LICENCIATURA EM HISTOacuteRIA

FERNANDA JORDAcircNIA PEREIRA DA SILVA

UMA ANAacuteLISE DE PERMANEcircNCIAS DE PRAacuteTICAS

OLIGAacuteRQUICAS NA POLIacuteTICA PARAIBANA O CASO DO

MUNICIacutePIO DE ITAPOROROCA (1962-2012)

GUARABIRA

2014





Trabalho de Conclusatildeo de Curso de

graduaccedilatildeo apresentado como requisito

parcial para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

licenciada em Histoacuteria

Orientador Tiago Bernardon de Oliveira

GUARABIRA

2014

3


4

Ficha Catalograacutefica

5

SUMAacuteRIO

Introduccedilatildeo 6

As oligarquias na Ameacuterica Latina 7

O Estado oligaacuterquico no Brasil e na Paraiacuteba 13

Disputas entre parentelas ao longo do seacuteculo XX o caso de Itapororoca Paraiacuteba 20

Conclusatildeo 33

Bibliografia 36

6

INTRODUCcedilAtildeO

Ao analisarmos um pouco do passado poliacutetico brasileiro facilmente verificamos

a constante busca de grupos familiares em permanecerem como detentores do poder

poliacutetico em determinadas aacutereas utilizando para sua permanecircncia meios e praacuteticas tatildeo

antigos que antecedem o periacuteodo republicano brasileiro

Ao longo da histoacuteria brasileira eacute comum perceber que para muitos o exerciacutecio

do poder poliacutetico representa um status de distinccedilatildeo um posto de regalias com acesso

facilitado ao uso indiscriminado pela coisa puacuteblica almejados natildeo apenas pelo liacuteder

mas por todos aqueles que carregam seu sobrenome ou satildeo seus aliados poliacuteticos

Assim a permanecircncia no poder se tornou para muitos dos nossos poliacuteticos algo

prioritaacuterio pois a partir dele se exerce formas de controle econocircmico e social que lhe

beneficiam diretamente E como formas para a perpetuaccedilatildeo no poder se valeram do

exerciacutecio de praacuteticas patrimonialistas clientelistas e mandonistas Ou seja constituiacuteram-

se praacuteticas oligaacuterquicas no cenaacuterio poliacutetico brasileiro

Tais praacuteticas oligaacuterquicas permanecem camufladas em meio aos vaacuterios discursos

democraacuteticos produzidos pelos indiviacuteduos que conduzem a poliacutetica brasileira A criaccedilatildeo

de ldquocurraisrdquo eleitorais (expressatildeo que remete agrave Primeira Repuacuteblica e tende

pejorativamente a atribuir um controle absoluto de poliacuteticos oligaacuterquicos sob seu

eleitorado como se fossem animais domesticados e natildeo agentes poliacuteticos que pensam e

agem de acordo com seus interesses) da barganha de votos dentre outras ainda satildeo

facilmente observadas no vocabulaacuterio das discussotildees poliacuteticas contemporacircneas A

revista Eacutepoca em setembro de 2012 no artigo intitulado ldquoEleiccedilatildeo agrave venda o mercado

de votos que ainda assola o Brasilrdquo relatou a modernizaccedilatildeo de praacuteticas tradicionais

vigentes hoje O texto se refere ao funcionamento dos ldquocurraisrdquo eleitorais modernos a

compra de votos em aacutereas pobres das grandes cidades no exemplo dado pela revista agrave

cidade de Belo Horizonte e Rio de Janeiro e a constituiccedilatildeo de novas formas de

ldquocoroneacuteisrdquo homens utilizando a pobreza do outro para seu beneficiamento Tal

artimanha de compra de votos em troca de benefiacutecios imediatos ao eleitor eacute considerada

ilegal segundo a lei 9840 de 1990 que define tais praacuteticas como ldquocaptaccedilatildeo indevida do

sufraacutegiordquo De acordo com o que estaacute prescrito na lei o candidato eacute banido ao doar

oferecer e prometer ao eleitor a fim de obter o voto ou vantagem pessoal de qualquer

natureza inclusive emprego ou funccedilatildeo puacuteblica desde o registro da candidatura ateacute o

dia da eleiccedilatildeo

7

O artigo a seguir tem o intuito de analisar brevemente como as praacuteticas

oligaacuterquicastradicionais se fizeram enraizar na nossa sociedade ateacute os dias atuais na

maneira de se ver e fazer a poliacutetica O texto procuraraacute enfatizar a formaccedilatildeo dos grupos

poliacuteticos familiares como importante elemento para a perpetuaccedilatildeo das praacuteticas poliacuteticas

tradicionais tendo em vista seus proacuteprios interesses

Assim no primeiro toacutepico iniciamos com o conceito de oligarquia e como ela se

fez presente nos paiacuteses latinoamericanos e sua relaccedilatildeo com o desenvolvimento do

capitalismo no continente No toacutepico seguinte veremos um pouco do cenaacuterio poliacutetico

brasileiro e paraibano o surgimento da figura do coronel no interior do paiacutes e algumas

das praacuteticas tradicionais ligadas diretamente agraves existentes no conjunto dos paiacuteses latino-

americanos No terceiro toacutepico veremos como essas praacuteticas poliacuteticas carregada por

uma heranccedila oligaacuterquica permanece no contexto atual em cidades do interior do paiacutes

Para isso utilizaremos como foco de anaacutelise a cidade de Itapororoca na Paraiacuteba na

segunda metade do seacuteculo XX em especial durante a ditadura militar

AS OLIGARQUIAS NA AMEacuteRICA LATINA

Eacute bastante comum encontrarmos na atualidade dos cenaacuterios poliacuteticos nacional

grupos familiares dominando o poder poliacutetico estadual ou municipal Em alguns

lugares o sobrenome eacute a principal referecircncia poliacutetica mais de que os partidos poliacuteticos

para eleger seus representantes nos mais variados cargos As permanecircncias do

nepotismo e do apadrinhamento por exemplo satildeo tradicionais praacuteticas oligaacuterquicas

existentes em nosso paiacutes usuais haacute mais de um seacuteculo

Os Estados oligaacuterquicos se fizeram presente em todos os paiacuteses latino-

americanos principalmente durante a segunda metade do seacuteculo XIX e iniacutecio do seacuteculo

XX quando as oligarquias dominaram de forma hegemocircnica os Estados nacionais da

Ameacuterica Latina ateacute o seu enfraquecimento ocasionado dentre outros fatores pela

expansatildeo e crises do capitalismo a partir do entreguerras Suas praacuteticas contribuiacuteram

para a solidificaccedilatildeo de ideias e accedilotildees que ao longo dos anos se transformaram em

praacuteticas naturalizadas enraizadas nos cenaacuterios poliacuteticos nacionais ainda que tenham

enfrentado fortes oposiccedilotildees ao longo da histoacuteria de cada realidade especiacutefica Assim

para entender os fatores que ocasionam formas de dominaccedilatildeo e exerciacutecio do poder de

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determinados grupos poliacuteticos no presente eacute necessaacuterio conhecer um pouco do passado

Para tanto vejamos neste item o conceito de oligarquia o apogeu de suas praacuteticas

para enfim compreender suas permanecircncias na atualidade

A definiccedilatildeo de oligarquia eacute complexa e possui diversos sentidos que por sua

vez remontam agrave filosofia antiga Segundo Norberto Bobbio (1998 p 857) que

sistematiza a trajetoacuteria de sentidos atribuiacutedos ao termo em verbete contido em seu

Dicionaacuterio de Poliacutetica ldquooligarquiardquo seria uma forma de governo na qual um reduzido

grupo de privilegiados assumiria o poder e o controlaria constituindo-se como um

governo sem base popular Seus membros no entanto natildeo se definem enquanto

oligaacuterquicos devido aos aspectos negativos que o termo carrega Por sua vez

aristocracia seria o governo dos melhores (aristoi) comandada natildeo necessariamente

pelos nobres mas por pessoas saacutebias capacitadas para a conduccedilatildeo do Estado

Diferentemente do que ocorre na oligarquia os aristocratas se definem como tais por

verem o tiacutetulo com nobreza como algo positivo a ser enaltecido (BOBBIO 1998 p

857)

De acordo com a filosofia poliacutetica claacutessica um governo oligaacuterquico seria

extremamente danoso pois segundo Platatildeo a oligarquia se baseia no patrimocircnio e

quem deteacutem os bens satildeo os ricos Assim os pobres seriam impedidos de compartilhar o

poder devido agrave escassez de recursos e estariam agrave mercecirc dos interesses plutocraacuteticos

Aristoacuteteles por sua vez tambeacutem tende a conceituar ldquooligarquiardquo como uma forma de

governo onde os ricos dominam (BOBBIO 1998 p 835)

Da antiguidade para o seacuteculo XIX o conceito de oligarquia natildeo sofreu grandes

modificaccedilotildees prevalecendo como um governo de minorias organizadas que articulam o

poder para mantecirc-lo em seu domiacutenio

[] Oligarquia natildeo designa tanto esta ou aquela instituiccedilatildeo natildeo indica uma

forma especiacutefica de governo mas se limita a chamar nossa atenccedilatildeo pelo fato

puro e simples de que o poder supremo estaacute nas matildeos de um restrito grupo de

pessoas propensamente fechado ligado entre si por viacutenculos de sangue de

interesses ou outros e que gozam de privileacutegios particulares servindo-se de

todos os meios que o poder pocircs ao seu alcance para o conservar (BOBBIO

1998 p835) (grifos meus)

Ou seja a definiccedilatildeo de oligarquia compreende as praacuteticas de privileacutegios ao seu

grupo particular fechado por laccedilos de parentesco atraveacutes do uso do poder puacuteblico natildeo

sendo caracterizada com nenhuma forma de governo especiacutefica poreacutem sendo associada

a inuacutemeros Estados na atualidade devido agraves praacuteticas de exerciacutecios e transmissatildeo de

9

poder poliacutetico e do uso do aparelho estatal de modo patrimonialista Por outro lado

deve-se assinalar que segundo a Teoria das Elites1 as oligarquias seriam a uacutenica forma

de governo possiacutevel podendo variar de lugar para lugar poreacutem suas praacuteticas seriam as

mesmas Eacute o que Robert Michels vai colocar como ldquofenocircmeno orgacircnicordquo de acordo

com Noberto Bobbio

A formaccedilatildeo das Oligarquias no seio das muacuteltiplas formas de democracia eacute

um fenocircmeno orgacircnico e por isso uma tendecircncia a que se submete

necessariamente toda a organizaccedilatildeo inclusive a socialista e libertaacuteria

(BOBBIO 1998 p 836)

Assim de uma forma ou de outra essa perspectiva tende a neutralizar bastante

os aspectos negativos da expressatildeo oligarquia dando a ela um ar de naturalidade

neutralidade e um caraacuteter orgacircnico como se fosse um mal que natildeo se poder evitar

Neste sentido o discurso ceacutetico criado pela Teoria das Elites eacute bastante ampliado

passando a afirmar que em todas as formas governamentais ateacute as democraacuteticas

socialistas ou libertaacuterias em qualquer instacircncia mesmo nas associaccedilotildees de

trabalhadores possuem praacuteticas oligaacuterquicas em que o centro das decisotildees sempre

orbita em torno de um ou outro grupo bastante reduzido de indiviacuteduos Neste sentido

cada sociedade se adequaria a um sistema oligaacuterquico distinto aplicado de acordo com

interesse da classe dominante levando em consideraccedilatildeo o seu distanciamento do ideal

democraacutetico e a sua posiccedilatildeo na escala de modernizaccedilatildeo

Em contrapartida poreacutem para Bobbio (1998) em muitos casos eacute conceituado

como oligaacuterquico simplesmente o regime considerado natildeo democraacutetico Assim a

formaccedilatildeo das oligarquias nos moldes de um regime antidemocraacutetico surgiu nos paiacuteses

latinoamericanos atraveacutes da dominaccedilatildeo tradicional da classe dominante ligada agraves

estruturas agraacuterias latifundiaacuterias Os Estados oligaacuterquicos na Ameacuterica Latina tiveram

seu apogeu no seacuteculo XIX participando da formaccedilatildeo dos Estados nacionais e a sua

decadecircncia se verificaria ao longo do seacuteculo XX graccedilas segundo muitos autores que

seratildeo remetidos a seguir agrave expansatildeo do capitalismo deixando uma heranccedila muito

marcante na sociedade latinoamericana

Durante o seacuteculo XIX periacuteodo de preponderacircncia do Estado oligaacuterquico na

Ameacuterica Latina foi iniciado o processo de implantaccedilatildeo do capitalismo que

posteriormente no mesmo seacuteculo confrontaria a classe tradicional baseada no

1 Surgiu no final do seacuteculo XIX pelo filoacutesofo italiano Gaetano Mosca para salientar a existecircncia de

elitismos em qualquer sociedade De acordo com esta teoria sempre existiu e tende a sempre existir uma

minoria detentora do poder que impotildee suas vontades sobre o restante da sociedade

10

latifuacutendio monocultor e exportador natildeo a extinguindo por completo mas retirando de

suas matildeos uma grande parcela de seu poder sobre o Estado redimensionando sua

posiccedilatildeo diante das necessidades do capital financeiro e industrial em expansatildeo

Segundo Claudia Wasserman (1998 p 54) a constituiccedilatildeo da classe dominante e

a concentraccedilatildeo do poder oligaacuterquico nos paiacuteses latinoamericanos ocorreram em meio ao

processo de independecircncia e formaccedilatildeo de seus Estados nacionais As independecircncias na

Ameacuterica Latina teriam surgido como resultado da crise do sistema colonial junto com

as disputas internas entre os grupos sociais que controlavam o aparato produtivo Tal

periacuteodo de ldquoanarquiardquo marcado pela estagnaccedilatildeo econocircmica e a desarticulaccedilatildeo dos

centros produtivos gerou um aumento no poder das oligarquias regionais que passaram

a comandar os centros produtivos nacionais se constituindo como as uacutenicas aptas para

lutar pelo poder dos novos Estados

[] o Estado nacional na Ameacuterica Latina constituiu-se quando um setor da

Oligarquia ou um grupo importante de proprietaacuterios rurais em regiotildees bem

cotadas e com produccedilatildeo importante para exportaccedilatildeo conseguiu consolidar-se

como classe economicamente dominante e politicamente hegemocircnica Este

setor elimina o jacobinismo advindo da participaccedilatildeo de mais classes sociais

nos processos de independecircncia e a oligarquia central assume compromissos

com os grupos perifeacutericos cujos produtos eram preteridos no mercado

mundial (WASSERMAN 1998 p55)

Ao se constituiacuterem como classes dominantes dos novos paiacuteses os latifundiaacuterios

locais e grandes comerciantes trouxeram consigo a estrutura social da colocircnia

preponderacircncia agraacuteria baseada no latifuacutendio com relaccedilotildees de produccedilatildeo preacute-capitalistas

e dependentes dos centros de comercializaccedilatildeo e financiamentos externos

No entanto segundo Augustiacuten Cueva mesmo apresentando caracteriacutesticas preacute-

capitalistas o Estado oligaacuterquico foi responsaacutevel pela implantaccedilatildeo do modo-de-

produccedilatildeo capitalista na Ameacuterica Latina poreacutem de forma contida ao mesmo tempo

freando a plena modernizaccedilatildeo capitalista

() [A] primeira tarefa histoacuterica do [Estado oligaacuterquico] consiste portanto

em forjar um quadro juriacutedico-poliacutetico adequado agrave realizaccedilatildeo da acumulaccedilatildeo

primitiva de capital erigindo-se em uma potecircncia suficientemente autoritaacuteria

para vencer toda resistecircncia que os grupos prejudicados possam oferecer

(CUEVA 1983 p 126)

Assim para o estabelecimento do modo-de-produccedilatildeo capitalista as oligarquias

fizeram uso de um forte autoritarismo para estender as fronteiras do capital em diversos

paiacuteses como criar formas para a expropriaccedilatildeo dos produtores diretos e para a

11

transformaccedilatildeo dos produtos ldquolivresrdquo de toda a propriedade em forccedila de trabalho agrave

disposiccedilatildeo das fazendas para o crescimento da produccedilatildeo capitalista

Conforme Wasserman (1998 p 61) em fins do seacuteculo XIX portanto a

economia latinoamericana era predominantemente primaacuterio-exportadora marcada pela

presenccedila do latifuacutendio sob o controle de uma minoria que por sua vez valia-se

diretamente tambeacutem da poliacutetica para exercer sua dominaccedilatildeo social As oligarquias

continham a expansatildeo do mercado interno a fim de manter o trabalhador rural ligado agrave

terra cada vez mais proletarizado e condicionado pelo mercado constituindo-se apenas

como um prolongamento do mercado externo em expansatildeo Mesmo assim a classe

dominante realizou o processo de acumulaccedilatildeo de capital devido agrave constituiccedilatildeo da

propriedade capitalista e a criaccedilatildeo de uma matildeo-de-obra livre proletarizada Poreacutem a

transiccedilatildeo completa para o modo-de-produccedilatildeo capitalista neste momento natildeo se

concretizou prevalecendo a manutenccedilatildeo das relaccedilotildees preacute-capitalistas de produccedilatildeo Em

paiacuteses como o Brasil por exemplo podemos observar que a predominacircncia agraacuteria

adentrou no seacuteculo XX

Ateacute 1930 o Brasil ainda era um paiacutes predominantemente agriacutecola [] A

economia passava pela fase que se convencionou chamar de bdquovoltada para

fora‟ orientada para a exportaccedilatildeo [] Na primeira deacutecada apoacutes a

independecircncia trecircs produtos eram responsaacuteveis por quase 70 das

exportaccedilotildees o accediluacutecar (30) o algodatildeo (21) e o cafeacute (18)

(CARVALHO 2011 p54)

Em suas relaccedilotildees com a forccedila de trabalho os latifundiaacuterios exerciam a

dominaccedilatildeo de seus subordinados atraveacutes de formas autoritaacuterias utilizando a forccedila e

elementos paternalistas para buscar controlaacute-los remunerando-os com valores em

muitos casos insignificantes

[] as oligarquias exigiam um desdobramento da jornada de trabalho em

troca da mesma retribuiccedilatildeo na forma de salaacuterio espeacutecie ou abatimento de

diacutevidas para aumentar as rendas obtidas Nestes casos a acumulaccedilatildeo de

capital se realiza[va] atraveacutes do redobramento da exploraccedilatildeo e a bdquoevoluccedilatildeo‟

ou bdquoprogresso‟ ocorrem atraveacutes da extraccedilatildeo de mais-valia absoluta o que

patentiza o caraacuteter reacionaacuterio da apropriaccedilatildeo de excedentes

(WASSERMAN 1998 p59)

Ou seja aleacutem de acumular capital atraveacutes das exportaccedilotildees de produtos

primaacuterios ocorreu um aumento na exploraccedilatildeo da forccedila de trabalho que proporcionava o

lucro e o poder acumulado pela oligarquia

Por outro lado praacuteticas patrimonialistas permaneciam tambeacutem devido agrave

centralidade econocircmica do latifuacutendio Os benefiacutecios desenvolvidos pelos oacutergatildeos

12

governamentais seriam distribuiacutedos conforme o interesse dos latifundiaacuterios servindo-se

de obras de infraestrutura construccedilotildees de ferrovias e portos facilitando o transporte e o

despacho dos produtos exportados e o desenvolvimento de atividades bancaacuteria

mercantis e burocraacuteticas criadas para servir aos interesses centrais das oligarquias Por

sua vez o que natildeo interessava ao grupo oligaacuterquico era esquecido como por exemplo

as aacutereas urbanas que sofriam com os males das epidemias mortalidades etc

(WASSERMAN 1998 p60) Desta maneira o sistema patrimonialista-oligaacuterquico

beneficiava uns e outros natildeo privilegiando sempre o que lhe interessava o que gerasse

riqueza e poder Neste sistema natildeo importavam as consequecircncias dos seus atos e sim os

benefiacutecios que se iria receber em troca

De 1880 a 1920 as oligarquias controlavam a poliacutetica nos Estados

latinoamericanos enquanto o liberalismo se limitava ao livre comeacutercio e praacuteticas

autoritaacuterias prevaleciam nas relaccedilotildees sociais e poliacuteticas Na realidade o liberalismo

econocircmico e o autoritarismo poliacutetico alimentavam um ao outro as oligarquias

dependiam do livre comeacutercio e o livre comeacutercio do autoritarismo e controle social das

oligarquias sobre as camadas populares O predomiacutenio oligaacuterquico foi possiacutevel graccedilas

aos altos iacutendices demograacuteficos nas aacutereas rurais tendo em vista que os latifundiaacuterios

exerciam sobre os votantes (seus empregados e familiares) um forte controle poliacutetico e

social resultante da concentraccedilatildeo de terras Assim o trabalhador rural pobre seguia as

escolhas feitas pelo seu patratildeo seja atraveacutes de praacuteticas repressivas ou atraveacutes de praacuteticas

paternalistas sob forma de benesses em casos de agruras

O votante natildeo agia como parte de uma sociedade poliacutetica de um partido

poliacutetico mas como dependente de um chefe local ao qual obedecia com

maior ou menor fidelidade O voto era um ato de obediecircncia forccedilada ou na

melhor das hipoacuteteses um ato de lealdade e de gratidatildeo (CARVALHO 2011

p35)

A fim de garantir o controle sobre a populaccedilatildeo a terra e o poder poliacutetico as

oligarquias latinoamericanas ao mesmo tempo que estimularam e valeram-se da

expansatildeo capitalista tenderam a impossibilitar ao maacuteximo possiacutevel a introduccedilatildeo do

trabalho assalariado e atividades como a industrial desenvolvidas no entanto como

atividade subordinada ao setor primaacuterio-exportador Segundo Wasserman (1998 p 65)

quando perceberam que natildeo tinham forccedilas para conter a expansatildeo burguesa e suas

necessidades que precisavam superar limites ligados centralmente aos interesses

agraacuterios as oligarquias passaram o poder para novas fraccedilotildees da classe dominante

poreacutem permanecendo fortemente ligadas agraves mesmas

13

Em alguns paiacuteses da Ameacuterica Latina as oligarquias perderam espaccedilo No

entanto verificam-se a continuidade de elementos oligaacuterquicos no conjunto do

continente Ou seja os aspectos caracteriacutesticos do sistema sociocultural da tradiccedilatildeo

oligaacuterquica ainda persistem ainda que de forma fragmentada em diversos paiacuteses latino-

americanos De acordo com Claudia Wasserman (1998 p 66) isso ocorreu devido agraves

burguesias nacionais ao tomarem o controle do poder poliacutetico valeram-se e

articularam-se com as formas poliacuteticas predominantes no Estado oligaacuterquico

tradicionalmente ligadas ao latifuacutendio exportador Tais grupos remanescentes se

empenham para a conservaccedilatildeo da tradiccedilatildeo oligaacuterquica atraveacutes da manutenccedilatildeo por

exemplo da concentraccedilatildeo de renda riqueza e poder da intensa segregaccedilatildeo racial ligada

agrave conservaccedilatildeo do discurso de superioridade da cor branca e da desigualdade regional

gerada pelo atrito entre as regiotildees privilegiadas economicamente e as menos favorecidas

(WASSERMAN 1998 p 66) Assim o regime autoritaacuterio persiste e a ldquoantigardquo

estrutura agraacuteria permaneceu graccedilas ao arraigado poder do latifuacutendio

Enfim o Estado oligaacuterquico predominou nos paiacuteses latinoamericanos firmando-

se com uma poliacutetica centrada no latifuacutendio O controle poliacutetico econocircmico e social do

Estado concentrado nas matildeos dos grandes proprietaacuterios de terra seria posteriormente

reivindicado tambeacutem por outros grupos emergentes da sociedade por exemplo as

burguesias nacionais que passariam a questionar alguns obstaacuteculos agrave maior expansatildeo

do capitalismo Na maior parte dos casos houve poreacutem adaptaccedilotildees entre esses setores

das classes dominantes que resultaram em rearranjos da distribuiccedilatildeo do poder poliacutetico

que ao mesmo tempo continuaria a impor limites agrave participaccedilatildeo mais efetiva das

camadas populares Desta forma os Estados oligaacuterquicos foram extintos na Ameacuterica

Latina poreacutem suas praacuteticas adentraram nos regimes ditos democraacuteticos fazendo-se

presentes em vaacuterios resquiacutecios espalhados na sociedade atual A partir desta perspectiva

vejamos como as oligarquias se fazem presente no territoacuterio brasileiro tomando um caso

do interior da Paraiacuteba

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O ESTADO OLIGAacuteRQUICO NO BRASIL E NA PARAIacuteBA

No item anterior vimos como alguns elementos de como os Estados

oligaacuterquicos se constituiacuteram e se afirmaram na Ameacuterica Latina sua ascensatildeo e

decadecircncia (em alguns paiacuteses) e os costumes adotados por seus representantes na forma

de exercer a poliacutetica A partir de agora faremos uma breve anaacutelise da histoacuteria poliacutetica

brasileira discutindo aspectos importantes presentes no periacuteodo republicano

relacionados a permanecircncias de praacuteticas oligaacuterquicas na Paraiacuteba da segunda metade do

seacuteculo XX e iniacutecio do seacuteculo XXI Veremos como o poder oligaacuterquico se implantou nos

estados federativos do Brasil republicano incluindo a Paraiacuteba e em cidades do interior

nordestino Para tanto atentemos para a figura do coronel que surgiu no plano

localestadual como o homem de poder poliacutetico econocircmico e social como detentor da

terra e chefe local Isso eacute fundamental para compreendermos o exemplo da cidade de

Itapororoca na Paraiacuteba que seraacute analisado a seguir como um raacutepido estudo de caso

A Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica natildeo ocasionou profundas transformaccedilotildees para o

Estado brasileiro Devido ao passado colonial e agrave influecircncia oligaacuterquica no paiacutes o que

se observou foi a permanecircncia de praacuteticas patrimonialistas e clienteliacutesticas a fim de

legitimar grupos restritos formados por pessoas ligadas seja pelo aspecto sanguiacuteneo (os

grupos familiares) seja pelo regime de reciprocidade (alianccedilas) no controle poliacutetico de

um determinado territoacuterio Ou seja o puacuteblico foi tomado pelas matildeos de senhores de

terras e de homens que sem uma efetiva participaccedilatildeo popular estimularam a

proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica realizada um ano apoacutes a aboliccedilatildeo da escravidatildeo tornando o

paiacutes um Estado Democraacutetico no papel e um Estado PaternalistaCoronelista na praacutetica

Atraveacutes da adoccedilatildeo do federalismo2 pelo regime republicano ocorreu um

fortalecimento dos grupos familiares locais e regionais que atraveacutes de manobras e

acordos poliacuteticos revezaram-se no poder de modo que ficou caracterizada nos anos

posteriores agrave proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica no Brasil uma forma de poder personificada

naturalizada ligada diretamente aos interesses particulares dos grupos nacionais e locais

(SANTOS NETO 2012 p89) Ou seja o ideal republicano de imparcialidade de

liberdade na praacutetica natildeo ocorreu O Estado Democraacutetico garantia a liberdade mas o

paternalismo e o clientelismo existentes restringiam as opccedilotildees e possibilidades do

2 Sistema adotado apoacutes a Proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica no Brasil que compartilha o poder a niacutevel local

regional e nacional conferindo poder aos eleitos que criam e administram as poliacuteticas conforme a

necessidades locais e regionais (Disponiacutevel em httpwwwembaixada-

americanaorgbrdemocraciafederalismhtm Acesso em 06 de dezembro de 2014)

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eleitor levando-o a atender os interesses das facccedilotildees oligaacuterquicas sob pena de

retaliaccedilotildees

O modelo republicano federalista concedeu total autonomia aos Estados

permitindo aos grupos poliacuteticos a liberdade de accedilatildeo e garantindo as prerrogativas de

poder local de acordo com seus interesses (SANTOS NETO 2012 p88) Os grupos

dominantes manipulando a liberdade garantida pelo federalismo se solidificaram no

plano estadual graccedilas ao surgimento do cargo de governador Em volta deste chefe

estadual se associavam as oligarquias locais comandadas pelos coroneacuteis ganhando

impulso nacional apoacutes a implantaccedilatildeo da ldquopoliacutetica dos governadoresrdquo por Campos Sales

em 1898 uma praacutetica poliacutetica informal que consistia em consensos oligaacuterquicos

estabelecidos para as sucessotildees presidenciais do paiacutes atraveacutes de acordos entre os

estados personificados nas figuras dos governadores eles proacuteprios resultados de

disputas e acordos oligaacuterquicos no interior de cada estado A partir daiacute o coronelismo

conheceu seu apogeu baseando-se na reciprocidade entre o coronel (detentor do

chamado ldquovoto de cabrestordquo) e os poliacuteticos do plano estadual e destes com o governo

federal (CARVALHO 1996)

Na obra claacutessica de Victor Nunes Leal ldquoCoronelismo enxada e votordquo (1948)

ldquocoronelismordquo seria uma praacutetica poliacutetica constituiacuteda por uma complexa rede de relaccedilotildees

que envolvem compromissos reciacuteprocos garantindo sua permanecircncia em alguns casos

pelo uso da violecircncia O ldquocoronelrdquo termo atribuiacutedo aos grandes proprietaacuterios rurais que

recebiam o tiacutetulo de comandantes da Guarda Nacional ainda no periacuteodo imperial seria

aquele que reuniria uma grande quantidade de eleitores dando assistecircncia aos seus

subordinados constituindo-se como chefe poliacutetico local Semelhante ao que ocorre nos

paiacuteses vizinhos a concentraccedilatildeo da propriedade no meio rural gerava um fenocircmeno de

dependecircncia entre o pobre trabalhador rural e o coronel A precaacuteria situaccedilatildeo econocircmica

faz com o roceiro se submeta ao controle do coronel que o utiliza como forccedila de

trabalho nas suas propriedades e como aliado poliacutetico

[] o roceiro vecirc sempre no bdquocoronel‟ um homem rico ainda que natildeo o seja

rico em comparaccedilatildeo com sua pobreza sem remeacutedio [] Eacute pois para o

proacuteprio bdquocoronel‟ que o roceiro apela nos momentos de apertura comprando

fiado em seu armazeacutem para pagar com a colheita (LEAL 1948 p 24)

Assim em troca de votos o coronel supre algumas necessidades baacutesicas dos

eleitores aleacutem de arcar com as despesas no dia do pleito transporte e alimentaccedilatildeo As

16

pessoas que fazem parte desse grupo constituiriam aquilo que ficou conhecido como

ldquocurral eleitoralrdquo ou ldquovotos de cabrestordquo de um coronel Por ser o detentor desses ldquovotos

de cabrestordquo ou seja de uma quantidade consideraacutevel de votos e pela sua situaccedilatildeo

econocircmica e social o ldquocoronelrdquo tem prestiacutegio poliacutetico frente ao chefe estadual que em

contrapartida lhe concede o controle sobre os cargos puacuteblicos e outras regalias nos

niacuteveis locais e mesmo estaduais em troca de votos

O chefe poliacutetico seria assim o ldquomandatildeordquo3 local aquele que lidera que controla

um grupo de pessoas devido agrave sua posiccedilatildeo econocircmica ou social Em muitos casos os

chefes locais natildeo se constituem como ldquocoroneacuteisrdquo no entanto estatildeo a eles ligados

umbilicalmente

A maior difusatildeo do ensino superior no Brasil espalhou por toda parte

meacutedicos e advogados cuja ilustraccedilatildeo relativa se reunida agrave qualidade de

comando e dedicaccedilatildeo os habilita agrave chefia Mas esses mesmos doutores ou

satildeo parentes ou afins ou aliados poliacuteticos dos ldquocoroneacuteisrdquo (LEAL 1948 p

22)

Desta maneira tais indiviacuteduos com ou sem terra ao fazer parte do grupo do

coronel alcanccedilam visibilidade no cenaacuterio local ao assumirem os postos de benfeitores

aqueles que datildeo assistecircncia ao roceiro como se fosse um favor oriundo de bondade

pessoal Sua mentalidade estaacute diretamente ligada agrave sua aacuterea de dominaccedilatildeo ao grupo do

qual ele faz parte independentemente dos grupos estaduais e federais Segundo Joseacute

Murilo de Carvalho deste modo o coronel concentrava em si um forte poder poliacutetico

econocircmico e social dentro de sua aacuterea de dominaccedilatildeo

O direito de ir e vir o direito de propriedade a inviolabilidade do lar a

proteccedilatildeo da honra e da integridade fiacutesica o direito de manifestaccedilatildeo ficavam

todos dependentes do poder do coronel Seus amigos e aliados eram

protegidos seus inimigos eram perseguidos ou ficavam simplesmente

sujeitos aos rigores da lei Os dependentes dos coroneacuteis natildeo tinham outra

alternativa senatildeo colocar-se sob sua proteccedilatildeo Vaacuterias expressotildees populares

descreviam a situaccedilatildeo bdquoPara os amigos patildeo para os inimigos pau‟ Ou

entatildeo bdquoPara os amigos tudo para os inimigos a lei‟ (CARVALHO 2011 p

57)

Desta maneira o coronel apresentava-se no cenaacuterio local como figura principal

como protetor dos seus aliados e perseguidor de seus opositores Segundo Boris Fausto

(2006) um ldquocoronelrdquo servia como ponto de referecircncia no que se refere agrave distribuiccedilatildeo

3 Segundo Joseacute Murilo de Carvalho (1997) o ldquomandatildeordquo eacute aquele que em funccedilatildeo do domiacutenio de algum

recurso (posse da terra por exemplo) desempenha sobre a populaccedilatildeo um controle pessoal e arbitraacuterio que

o impede de ter acesso agrave sociedade poliacutetica Assim o mandonismo seria uma caracteriacutestica da poliacutetica

tradicional presente no coronelismo

17

dos indiviacuteduos no espaccedilo social na forma de identificar quem fazia parte do seu grupo

Assim o sobrenome ou o grau de intimidade com o coronel (amigo compadre

conhecido etc) era constantemente pronunciado na intenccedilatildeo de indicar qual o lugar

social econocircmico que o indiviacuteduo fazia parte aleacutem de indicar a sua posiccedilatildeo poliacutetica

Apesar de Victor Nunes Leal identificar o fim do coronelismo com o fim da

Primeira Repuacuteblica ainda eacute visiacutevel a presenccedila de resquiacutecios desse sistema poliacutetico

espalhados por todas as partes do paiacutes como por exemplo no estado da Paraiacuteba

As manobras poliacuteticas paraibanas da Primeira Repuacuteblica destacaram-se pelo seu

forte protecionismo econocircmico clientelismo ligados diretamente aos interesses dos

grupos oligaacuterquicos hegemocircnicos As disputas pelo poder entre famiacutelias eram

constantes As oligarquias (situacionistas e oposicionistas) que almejavam monopolizar

o poder local entravam em duras batalhas contra famiacutelias rivais a fim de ter para si o

controle sobre o empreguismo e os cargos burocraacuteticos Na luta pelo poder os

ldquocoroneacuteisrdquo utilizavam-se de todas as armas legais ou ilegais violentas ou natildeo para

atingir seus objetivos

A batalha eleitoral era iniciada antes do pleito Durante o alistamento

eleitoral cada oligarquia procurava recrutar o maior nuacutemero de eleitores

recorrendo inclusive ao alistamento clandestino Por ocasiatildeo das eleiccedilotildees os

chefes poliacuteticos costumavam falsear os votos e os resultados das urnas

contabilizando votos existentes ou natildeo para seus candidatos (GURJAtildeO

1999 p 56)

Tais artimanhas eram utilizadas de forma costumeiras na tentativa da manter os

grupos familiares de cunho coroneliacutestico-oligaacuterquicos no controle do poder Os grupos

de minorias organizadas consolidaram-se na arena poliacutetica ganhando destaque local ao

dominar seus ldquogrupos eleitoraisrdquo atraveacutes de praacuteticas presentes desde o periacuteodo colonial

Poreacutem conforme o proacuteprio Joseacute Murilo de Carvalho (2011) aponta deve-se assinalar

que o voto como moeda de troca natildeo deve ser entendido unicamente como resultado de

uma praacutetica meramente inconsciente ou ldquoirracionalrdquo conforme o termo ldquocurralrdquo

eleitoral sugere ao comparar eleitores oriundos das classes populares a animais

domeacutesticos Deve-se levar em conta que ainda durante o Impeacuterio o conjunto de

votantes passou a tomar consciecircncia de que os resultados dos pleitos dadas as

profundas estruturas do sistema social econocircmico e poliacutetico vigente natildeo causariam

mudanccedilas significativas sobre suas condiccedilotildees de vida Neste caso frente aos estritos

limites poliacuteticos-sociais vigentes os eleitores sobretudo mas natildeo apenas oriundos de

camadas pobres passaram a tirar proveito da situaccedilatildeo com seu voto sendo uma peccedila de

18

barganha em situaccedilotildees excepcionais em relaccedilotildees usualmente excludentes A lealdade ao

chefe seria de forma gratuita ou comprada das mais variadas formas em troca de

vestuaacuterio alimentaccedilatildeo cargos puacuteblicos etc No entanto esta segunda opccedilatildeo era uma

possibilidade de trazer benefiacutecios pessoais imediatos onde as possibilidades de

melhorias eram sempre estruturalmente muito restritas (CARVALHO 2011 p 35)

Ao longo dos anos tais formas poliacuteticas estiveram intimamente atreladas ao

patrimonialismo mandonismo e ao clientelismo4 envolvendo concessotildees de benefiacutecios

puacuteblicos na forma de benefiacutecios fiscais isenccedilotildees em troca de apoio poliacutetico sobretudo

na forma de voto (CARVALHO 1997) Apropriaccedilatildeo de cargos puacuteblicos eacute uma das

vaacuterias formas encontradas para a preservaccedilatildeo do poder a fim de prender os indiviacuteduos

A manutenccedilatildeo do controle poliacutetico demandava uma distribuiccedilatildeo cuidadosa

dos cargos disponiacuteveis na regiatildeo e deveria ser entregue aos indiviacuteduos

capazes de retribuir com lealdade a confianccedila dos chefes A nomeaccedilatildeo de um

cargo qualquer sempre simbolizava um favor natildeo soacute para o sujeito investido

mas para todo o seu grupo familiar (TERUYA 2012 p 264)

Ou seja os cargos puacuteblicos criados pelos oacutergatildeos municipais e estaduais serviam

ao sistema oligaacuterquico como uma forma de conservar e ampliar sua rede de aliados

Todas as pessoas fossem eles ricos ou pobres faziam parte de um grupo familiar as

chamadas ldquoparentelasrdquo5 Tais grupos serviam de base para a sustentaccedilatildeo e preservaccedilatildeo

do grupo coroneliacutestico-oligaacuterquico sendo constituiacutedas por pessoas ligadas pelo

parentesco carnal ou matrimonial e alguns casos por laccedilos de afetividade Poreacutem a

parentela vai aleacutem da famiacutelia nuclear estabelecendo numa rede de reciprocidade

proteccedilatildeo a tios avoacutes netos na linha paterna e materna mantendo-se ateacute os dias atuais

tanto no aspecto local como nacional (FAUSTO 2006 p184) Desta maneira o

apadrinhamento e o nepotismo marcam territoacuterio no cenaacuterio poliacutetico como forma de

conservaccedilatildeo da parentela reservando e concedendo todos os benefiacutecios desejados

Se uma pessoa vem a ocupar um posto de comando na organizaccedilatildeo poliacutetico-

administrativa natildeo eacute raro presenciar-se a ascensatildeo de grande nuacutemero de

pessoas da bdquoterra dele‟ Natildeo soacute parentes de todos os graus mas tambeacutem

amigos de infacircncia antigos colegas de trabalho vizinhos parentes e amigos

desses vizinhos e amigos ocupam cargos de bdquoresponsabilidade‟ de bdquoconfianccedila‟

em torno do novo potentado O chamado familiarismo e outras formas de

4 Clientelismo indica um tipo de relaccedilatildeo entre atores poliacuteticos que envolve concessotildees de benefiacutecios

puacuteblicos nas formas de empregos ou isenccedilotildees em troca de apoio poliacutetico sobretudo na forma de voto As

relaccedilotildees clienteliacutesticas vatildeo se adequando conforme o tempo e as necessidades existentes servindo sempre

ao interesse do chefe poliacutetico (CARVALHO 1997) 5 Rede de solidariedade econocircmica (auxiacutelio econocircmico aos membros) e poliacutetica (garantia de lealdade

poliacutetica) Alianccedila de base afetiva e de interesses econocircmicos e poliacuteticos relacionando-se de forma

harmoniosa com possibilidade de competiccedilatildeo e rivalidade podendo contudo ocasionar rupturas em seu

interior (FAUSTO 2006 p 186)

19

nepotismo podem ser classificados como aspectos do patrimonialismo Jaacute que

este se baseia em relaccedilotildees de lealdade e confianccedila pessoal eacute oacutebvia a

vantagem que traz a preferecircncia dispensada a parentes amigos e conhecidos

expostos ao controle da mesma estrutura local (LEAL 1948 nota 45 p 43)

Ou seja o ldquocoronelrdquo se constitui como a figura principal da sua parentela e das

parentelas aliadas Os membros que as constituem por sua vez apresentam-se

subordinados a autoridade do ldquocoronelrdquo que em troca concede o apoio e a proteccedilatildeo

necessaacuteria aos seus interesses econocircmicos O grupo familiar do qual o ldquocoronelrdquo faria

parte seria desta maneira beneficiado de forma social e econocircmica dentro da base

territorial de dominaccedilatildeo

No plano nacional durante a deacutecada de 1920 as oligarquias entraram em crise

agravada devido agraves novas necessidades do capitalismo (expansatildeo do comeacutercio da

induacutestria e das profissotildees liberais) e ao esgotamento do bloco Na Paraiacuteba eacute iniciada em

fins da deacutecada de 20 por Joatildeo Pessoa uma poliacutetica a fim de diminuir o poder das

oligarquias gerando um conflito interno ao equiliacutebrio oligaacuterquico estadual tendo em

vista que o proacuteprio Joatildeo Pessoa fazia parte do grupo oligaacuterquico comandado por

Epitaacutecio Pessoa Devido agrave reforma tributaacuteria implantada por Joatildeo Pessoa em 1928 os

grupos oligaacuterquicos se voltaram contra o governante ao se verem impedidos de importar

e exportar suas mercadorias com os estados vizinhos gerando revolta entre os coroneacuteis

e o enfraquecimento da parentela epitacista a qual como se disse ele fazia parte

(GURJAtildeO 1999 p70) Devido ao seu falecimento Joatildeo Pessoa natildeo conseguiu concluir

seus objetivos poreacutem a poliacutetica paraibana a partir daiacute passaria a ser marcada pela

tentativa de centralizaccedilatildeo do poder implantada pelo governo federal com o intuito de

retirar o controle das oligarquias regionais Para isso foi criado um aparato burocraacutetico

contendo nomeaccedilotildees de interventores e departamentos administrativos trabalhando em

prol dos interesses do governo federal

As mudanccedilas poliacutetico-administrativas efetuadas a partir de 1930 aparelharam

gradualmente o poder central possibilitando o seu controle sobre a estrutura

poliacuteticas regionais preexistentes subordinando-as absorvendo e delimitando

seu campo de accedilatildeo Assim se efetuou a contiacutenua centralizaccedilatildeo do poder em

consonacircncia com os pressupostos da acumulaccedilatildeo e centralizaccedilatildeo do capital

privilegiando o Sudeste do paiacutes (GURJAtildeO 1999 p76)

No entanto o que se observou foi agrave permanecircncia de praacuteticas antigas da Primeira

Repuacuteblica (heranccedila do periacuteodo imperial) atreladas a essas novas (centralizaccedilatildeo do

poder) e com elementos de forte teor ideoloacutegico (construccedilatildeo da identidade do poliacutetico

como um ldquoheroacuteirdquo um siacutembolo de moralidade criando um passado glorioso de acordo

20

com a necessidade6) Desta maneira pretendia que o governo federal assumisse o posto

de figura central na poliacutetica nacional poreacutem suas accedilotildees repetiam os mesmos aspectos

patrimoniais do poder

Mesmo com esta iniciativa os grupos de famiacutelia ainda persistiam no interior do

paiacutes e do estado da Paraiacuteba A perpetuaccedilatildeo dos grupos familiares na poliacutetica paraibana

ocorre graccedilas agrave formaccedilatildeo de novas parentelas criadas a partir da ruptura com os antigos

aliados Para Boris Fausto (2006) em alguns casos a base dessas desavenccedilas que

geravam o rompimento era a ambiccedilatildeo pelo poder a possibilidade de obter um posto

elevado dentro do grupo bastando uma pequena desavenccedila nos interesses poliacuteticos ou

econocircmicos para a ruptura interna Ou seja o conflito gerado resultava na constituiccedilatildeo

de novas parentelas e junto a elas o surgimento de novos ldquocoroneacuteisrdquo

Enfim tais rompimentos entre as famiacutelias tornavam-se um mecanismo para a

perpetuaccedilatildeo ou o enfraquecimento de determinadas parentelas Vejamos a seguir o

exemplo de como a ruptura de um grupo fez surgir uma nova parentela mantendo suas

mesmas praacuteticas e ideacuteias em um caso ocorrido a partir da segunda metade do seacuteculo

XX na cidade Itapororoca no interior da Paraiacuteba

DISPUTAS ENTRE PARENTELAS AO LONGO DO SEacuteCULO XX O

CASO DE ITAPOROROCA PARAIacuteBA

Vimos anteriormente que o poder exercido pelas oligarquias sobre seus

respectivos Estados na Ameacuterica Latina e em particular no Brasil durante os seacuteculos

XIX e XX estaacute ligado agrave sua inserccedilatildeo no capitalismo internacional Vimos tambeacutem a

importacircncia das parentelas no meio poliacutetico como um grupo formado por elementos de

sangue de afinidade ou de parceria e como a ruptura dessas parentelas ocasionaria a

formaccedilatildeo de outras novas Tal processo de quebra7 e formaccedilatildeo de parentelas em muito

6 Utilizando principalmente a imagem de Joatildeo Pessoa os poliacuteticos paraibanos tanto os criacuteticos quanto os

aliados passam a se espelhar na imagem do heroacutei como forma de legitimaacute-los no poder Para isso o

Estado se utilizou da disciplina Histoacuteria na intenccedilatildeo de construir seus heroacuteis A histoacuteria narrativa acriacutetica

serve a esse princiacutepio 7 O processo de quebra ou ruptura de parentela seria o processo de rompimento poliacutetico de membros que

faziam parte do mesmo grupo baseado em alianccedilas poliacuteticas e econocircmicas relacionados muitas vezes em

laccedilos afetivos Na maioria das vezes pequenos atritos referentes a questotildees econocircmicas poliacuteticas

bastavam para a ruptura interna do grupo Em alguns casos a base deste dilaceramento se referia agrave

ambiccedilatildeo pelo poder almejando maior destaque mais prestiacutegio e benefiacutecios para determinados integrantes

21

contribuiu para a solidificaccedilatildeo das formas oligaacuterquicas em nossa sociedade pois na

formaccedilatildeo destas novas parentelas natildeo havia mudanccedilas substanciais nas praacuteticas e nem

nas condutas poliacuteticas Ao contraacuterio o que se verifica satildeo fortes traccedilos de permanecircncias

Para ilustrar essa ideacuteia vejamos a seguir o caso da famiacutelia Fernandes de Lima e

como a ruptura de um dos seus aliados fez surgir um novo grupo no contexto poliacutetico de

Itapororoca no interior da Paraiacuteba que aliaacutes encabeccedilaria a proacutepria formaccedilatildeo e

emancipaccedilatildeo deste municiacutepio participaria ativamente do revezamento do exerciacutecio do

poder poliacutetico local

A Famiacutelia Fernandes de Lima durante muitos anos predominou na poliacutetica local

da cidade de Mamanguape A cidade se constituiacutea como polo central na regiatildeo e

importante centro poliacutetico e econocircmico da proviacutencia da Paraiacuteba Fundada em 25 de

outubro de 1855 a cidade abarcava por completo o vale do Mamanguape durante o

seacuteculo XIX e grande parte do seacuteculo XX Sua economia baseava-se no accediluacutecar no

algodatildeo e no intenso comeacutercio A cidade comportava um porto (o Porto de Salema)

atraveacutes do qual escoavam as mercadorias e recebiam os produtos vindos de Recife o

que gerava certa rivalidade com o comeacutercio da Praccedila da capital paraibana e por esses

fatores geoeconocircmicos foi escolhida para fixar a expansatildeo dos negoacutecios da famiacutelia

Lundgren causa aliaacutes da emancipaccedilatildeo poliacutetica de Rio Tinto no territoacuterio em que se

instalar a cidade-faacutebrica que receberia seu mesmo nome8 Posteriormente com o

decliacutenio do setor accedilucareiro ocasionado pela seca e pela concorrecircncia com o accediluacutecar

de determinado grupo Deve-se lembrar no entanto que o posto de ldquocoronelrdquo natildeo era marcado pela

hereditariedade ou seja para ser chefe da parentela o indiviacuteduo deveria apresentar qualidades de

lideranccedila poder econocircmico etc tiacutepicos de um chefe da parentela que portanto deveria a todo instante

reafirmar sua capacidade de lideranccedila para seu proacuteprio grupo (FAUSTO 2006 p 189) 8 A trajetoacuteria da famiacutelia Lundgren teve iniacutecio em 1855 quando o sueco Herman Lundgren veio para o

Brasil tentar construir uma nova vida Herman fundou vaacuterias empresas e dentre seus negoacutecios comprou a

Faacutebrica Paulista localizada em Recife Aos poucos a faacutebrica foi expandindo tornando-se uma das mais

importantes manufaturas de tecidos do paiacutes Apoacutes a morte de Herman a administraccedilatildeo da faacutebrica ficou a

cargo do seu filho Frederico Joatildeo Lundgren (1879-1946) A prosperidade dos negoacutecios possibilitou

Frederico construir uma nova faacutebrica O baixo valor do terreno a disponibilidade de mateacuteria-prima a

proximidade de rios e a isenccedilatildeo de impostos estaduais foram fatores decisivos para a implantaccedilatildeo da

Companhia de Tecidos Rio Tinto em Rio Tinto distrito da cidade de Mamanguape inaugurada em 27 de

dezembro de 1924 A vinda da faacutebrica abalou de forma significativa o distrito de Rio Tinto nos aspectos

econocircmico poliacutetico e social A vila seguia o trajeto para a autossuficiecircncia tendo como modelo de

organizaccedilatildeo aquele idealizado pela famiacutelia Lundgren Na deacutecada de 1980 a faacutebrica fechava suas portas

devido a crises econocircmicas e estruturais deixando para a cidade um legado na arquitetura no cenaacuterio

urbano e na histoacuteria da atual cidade de Rio Tinto (Informaccedilatildeoes desta nota extraiacuteda do artigo de ROSA

Carolina Lucena Rosa Nada de Preguiccedila Revista de Histoacuteria 1182010 Disponiacutevel em

httpwwwrevistadehistoriacombrsecaoartigos-revistanada-de-preguica Acesso em 05 de novembro

de 2012)

22

estrangeiro a economia paralisou durante o seacuteculo XX prevalecendo o comeacutercio

agriacutecola e de abastecimento e o setor pesqueiro Devido ao enriquecimento advindo do

accediluacutecar e de outros meios a famiacutelia Fernandes de Lima ganhou destaque na poliacutetica local

e na esfera estadual no iniacutecio do seacuteculo XX elegendo prefeitos deputados e

governadores9 Nomes como o de Joatildeo Fernandes de Lima Joseacute Fernandes de Lima e

Manoel Fernandes de Lima detinham o poder poliacutetico e econocircmico na regiatildeo do vale

do Mamanguape ao longo das deacutecadas de 1940 a 2000

Em 1943 uma pequena vila denominada de Satildeo Joatildeo de Mamanguape10

passou

a fazer parte da cidade de Mamanguape como um distrito da mesma A pequena vila

era formada por pessoas do campo e viajantes que se fixavam na terra em busca de

moradia Nas proximidades da vila vivia Epitaacutecio Madruga um fazendeiro dono de

grandes lotes de terra bem quisto pelos moradores e aliado poliacutetico da Famiacutelia

Fernandes Com o apoio dos Fernandes de Lima e de Epitaacutecio Madruga em 1959 foi

eleito o primeiro representante da Vila Satildeo Joatildeo na Cacircmara de Vereadores de

Mamanguape Ruacutebio Maia Coutinho do Partido Social Democraacutetico (PSD) Vindo do

sertatildeo Ruacutebio Maia passara a exercer a funccedilatildeo de fiscal constituindo famiacutelia na Vila Satildeo

Joatildeo apoacutes se casar com a filha de Epitaacutecio Ramira Madruga11

Ruacutebio Maia ao assumir a funccedilatildeo de vereador passou a reivindicar ao entatildeo

prefeito do municiacutepio de Mamanguape Manoel Fernandes de Lima a emancipaccedilatildeo de

vila de Satildeo Joatildeo tendo em vista que a cidade de Mamanguape se encontrava em meio a

um processo de fragmentaccedilatildeo e desmembramento que resultaria tambeacutem na

emancipaccedilatildeo das cidades de Rio Tinto (em 06 de dezembro 1956) Jacarauacute (em 01 de

dezembro de 1961) e Baiacutea da Traiccedilatildeo (em 18 de dezembro de 1962) Apesar da

insistecircncia seus apelos foram negados por Manoel Fernandes Diante da negativa

9 Cf reportagem televisiva sobre a vinda da Famiacutelia Real agrave cidade de Mamanguape realizada pela TV

Correio (filial da Rede Record de Televisatildeo) em 2002 com a participaccedilatildeo do professor Aldo Mendonccedila

(Uacutenica versatildeo na internet encontrada deste viacutedeo estaacute no endereccedilo eletrocircnico

lthttpswwwfacebookcomphotophpv=530099750374898gt Acesso em 15 de dezembro de 2013) 10

Por volta do seacuteculo XVIII um homem denominado de Joatildeo Batista oriundo da regiatildeo fez uma viagem

para o Norte do paiacutes Ao ser capturado por nativos fez uma promessa ao seu santo de devoccedilatildeo Satildeo Joatildeo

Batista na qual construiria uma capela em sua terra natal caso fosse libertado Pouco tempo ao retornar a

sua regiatildeo construiu uma capela em homenagem ao santo Aos poucos grupos de comerciantes foram

constituindo moradia nas proximidades da capela formando uma pequena vila chamada Satildeo Joatildeo

(Disponiacutevel em

lthttpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=250710ampsearch=paraiba|itapororoca|inf

ograficos-historicogt Acesso em 15 de dezembro de 13) 11

Dados obtidos a partir de depoimento Antocircnio Sebastiatildeo de Arauacutejo agrave autora Figura ilustre na cidade de

Itapororoca Antocircnio Sebastiatildeo foi eleito vereador pelo Partido Liberal (PL) no ano de 1988 com 213

votos

23

Ruacutebio Maia entatildeo rompera com a famiacutelia Fernandes deixando o PSD e passando a

integrar o Partido Socialista Brasileiro (PSB) Sua atitude gerou grande constrangimento

perante o grupo do qual fazia parte jaacute que Epitaacutecio Madruga e os Fernandes de Lima

mantinha-se ligados ao PSD Com o apoio de novos aliados (Joseacute Fernandes Joseacute Feacutelix

de Brito e Milton Fernandes Cartaxo) Ruacutebio Maia deu iniacutecio agrave emancipaccedilatildeo da Vila

atraveacutes da Lei 2701 de 28 de fevereiro de 1961 publicada no diaacuterio oficial da Paraiacuteba

no dia 29 de dezembro de 1961 para enfim ser instalado oficialmente o municiacutepio em

15 de fevereiro de 1962 no mandato do entatildeo governador paraibano Pedro Godim12

A

vila de Satildeo Joatildeo de Mamanguape passaria entatildeo a se chamar Itapororoca13

A partir daiacute foi iniciada a disputa poliacutetica entre as duas parentelas o grupo

liderado por Ruacutebio Maia e Joseacute Felix de Brito contra o liderado pela famiacutelia Madruga

com o apoio dos Fernandes de Lima Formada a partir do atrito com os antigos aliados

a nova parentela traria novos ldquocoroneacuteisrdquo com as mesmas estruturas de poder tiacutepicas em

estados oligaacuterquicos Assim a poliacutetica local se fundamentaria no poder poliacutetico

sustentado no grupo familiar que se revezava no poder baseado nas suas respectivas

clientelas

Em termos um pouco mais amplos no plano estadual durante o periacuteodo

ditatorial (1964-1985) as praacuteticas patrimoniais conduzidas pelos grupos oligaacuterquicos

permaneciam as mesmas no cenaacuterio poliacutetico anterior sendo as disputas locais apenas

reacomodadas frente agrave legislaccedilatildeo partidaacuteria que se estabelecia acircmbito nacional Na

Paraiacuteba Joatildeo Agripino Maia se destacava como personagem principal na esfera poliacutetica

Eleito pela conservadora UDN em 1965 fazia parte da uma das famiacutelias mais

influentes do estado os Maias de Catoleacute do Rocha Sua principal accedilatildeo foi retomar a

preponderacircncia dos grupos oligaacuterquicos no estado

A vitoacuteria de Joatildeo Agripino Severino Cabral consagra Joatildeo Agripino como

lideranccedila poliacutetica mais forte da Paraiacuteba no poacutes-64 Aleacutem de calar por

completo algumas vozes discordantes da sua lideranccedila no interior da UDN

Joatildeo Agripino ao longo do seu governo garantiraacute aos grupos oligaacuterquicos

mais conservadores no estado o retorno a uma situaccedilatildeo de ampla e

incontestaacutevel hegemonia poliacutetica revitalizando as praacuteticas coroneliacutesticas que

apesar de estarem ameaccediladas ao longo do periacuteodo populista nunca deixaram

de ter um espaccedilo garantido na poliacutetica local (CITTADINO 1999 p 115)

12

Disponiacutevel em

lthttpwwwcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=250710ampsearch=paraiba|itapororo

ca|infograficos-historicogt 13

Segundo fontes desconhecidas o nome Itapororoca derivaria do tupi ldquoitardquo (pedra) e ldquopororocardquo

(explosatildeo de aacutegua) O nome faz referecircncia agrave fonte de aacutegua cristalina que abastece o municiacutepio de forma

gratuita ateacute os dias atuais

24

Apesar da vitoacuteria de Agripino no restante do paiacutes as eleiccedilotildees de 1965

repercutiram de forma negativa para os militares com a vitoacuteria da oposiccedilatildeo Em meio a

crise que contestava a legitimidade do golpe de 1964 que colocara o Marechal Castelo

Branco na condiccedilatildeo de presidente do Brasil foi estabelecido o Ato Institucional Nordm 02

em 17 de outubro de 1965 a fim de conter o avanccedilo oposicionista e fortalecer a

ditadura Dentre outras medidas o AI-2 extinguiu todos os partidos poliacuteticos existentes

atraveacutes do Artigo 18 instalando posteriormente com o Ato Complementar Nordm 4 o

bipartidarismo no paiacutes (CITTADINO 2006 p305) Assim foram criados a Alianccedila

Renovadora Nacional (ARENA) partido governista e o Movimento Democraacutetico

Brasileiro (MDB) partido de oposiccedilatildeo consentida

Neste novo contexto na Paraiacuteba Joatildeo Agripino Maia se tornara o chefe poliacutetico

local da ARENA contando com o apoio dos membros dos extintos Partido Democrata

Cristatildeo (PDC) Partido Liberal (PL) Partido Social Progressista (PSP) tendo como base

formadora a UDN Por sua vez o MDB local era formado por poliacuteticos ligados ao

antigo Partido Social Democraacutetico (PSD) e mantinha como liacuteder Ruy Carneiro14

exercendo uma oposiccedilatildeo de baixa representatividade devido agrave fragilidade poliacutetica no

contexto da ditadura (CITTADINO 2006 p311)

Em meio ao recrudescimento da repressatildeo resultado dos pleitos de 1966 e 1970

afirmaram a hegemonia da ARENA e a fraca representaccedilatildeo do MDB na Cacircmara e na

Assembleia Legislativa Poreacutem no transcorrer da deacutecada de 70 o MDB passou a

apresenta melhores resultados Tais acontecimentos natildeo ficaram restritos apenas aos

altos cargos da poliacutetica nacional As mudanccedilas foram sentidas em pequenas cidades do

interior do paiacutes como por exemplo na cidade de Itapororoca Vejamos o quadro a

seguir15

formado pelas eleiccedilotildees municipais de Itapororoca de 1962 a 2008

14 Substituindo Argemiro de Figueiredo Ruy Carneiro assumiu o cargo de Interventor da Paraiacuteba em

agosto de 1940 Nomeado por Vargas para tentar conter os conflitos interoligaacuterquicos no estado durante

sua interventoria Ruy Carneiro demitiu todos aqueles ligados ao grupo Argemiro de Figueiredo e adotou

uma poliacutetica afeita agrave de Vargas de caraacuteter populista ampliando a participaccedilatildeo em audiecircncias puacuteblicas

Em seu governo dedicou-se a praacuteticas assistencialistas regulamentou sindicatos e criou a Justiccedila do

trabalho na Paraiacuteba Ruy Carneiro era ligado agrave famiacutelia Pessoa e a grupos oligaacuterquicos dissidentes do

movimento de trinta Posteriormente se tornaria o criador do Partido Social Democrata (PSD) na Paraiacuteba

tendo como opositores aleacutem de Argemiro de Figueiredo Joseacute Ameacuterico ambos da Uniatildeo Democraacutetica

Nacional (UDN) 15

Disponiacutevel em httpwwwtre-pbjusbreleicoeseleicoes-anterioresresultados-de-eleicoes Em

27082013

25

PLEITO CANDIDATOS ELEITO Nordm DE

ELEITORES

1962

Ruacutebio Maia Coutinho (PSB)

Joseacute Marinho de Souza (PSD)

ELEITO Ruacutebio Maia Coutinho

(PSB) com 772 votos (6667)


(3333 )

1378

1966

Joseacute Felix de Brito (ARENA)

Joseacute Marinho de Souza (MDB)

Joseacute Correia dos Santos (ARENA)

ELEITO Joseacute Felix de Brito

(ARENA) com 598 votos (3358)


(4417 )


(2231 )

2257

1969

Ruacutebio Maia Coutinho (ARENA 2)

Alceu Costa Arauacutejo (MDB1)

Milton Fernandes Cartaxo

(ARENA 1)

Joseacute Adamastor Madruga (MDB2)

Sebastiatildeo Coelho da Silva (MDB 3)

ELEITO Ruacutebio Maia Coutinho da

ARENA 2 vence com 427

(3326) Em 1972 acaba

falecendo assumindo Aluiacutezio

Correia seu vice

Alceu Costa Arauacutejo (MDB 1 )

(2196 )


(ARENA 1) (1962 )


(1406 )


(1310 )

2168

ARENA1 ARENA2 e ARENA3 assim como MDB1 MDB2 e MDB3 seguiam a mesma ideologia

partidaacuteria da ARENA e do MDB respectivamente A utilizaccedilatildeo da numeraccedilatildeo 1 2 e 3 servia apenas

como elemento distintivo da legenda e seus grupos internos Tendo em vista que devido o

pluripartidarismo todos pertenciam ou ao partido dos militares ou a oposiccedilatildeo consentida

26

1972

Alceu Costa (MDB 1)

Joseacute Felix de Brito (ARENA 1)

Joseacute Marinho de Souza (MDB 2)

Joatildeo Soares do Rego Neto

(ARENA 2)

ELEITO Alceu Costa (MDB 1)

com 1411 dos votos (5048)


(3639 )


(758 )


(ARENA 2) (555 )

3510

1976

Humberto Espiacutenola Guedes (MDB 1)


Danizete Rodrigues Maciel (MDB 2)

Antocircnio Costa de Souza (MDB 3)

Adalberto Maia Coutinho

(ARENA 2)

Francisco Afonso de Carvalho

(ARENA 3)

ELEITO Humberto Espiacutenola

Guedes do MDB vence com 1332

dos votos (4633) Em 1982

acaba falecendo assumindo o vice

Joseacute Nazareno


(4351 )

Danizete Rodrigues Maciel

(MDB 2) (400 )


(250 )


(ARENA 2) (191 )


(ARENA 3) (174 )

3886

1982

Joseacute Felix de Brito (PDS 1)

Alceu Costa Arauacutejo (PMDB 1)

Danizete Rodrigues Maciel (PMDB

2)

Geraldo Mendes Pontes (PDS 2)

ELEITO Joseacute Felix de Brito (PDS

1 descendente da ARENA) com

1266 dos votos (3724)


(2941 )


4783

27

2) (1965 )


(1371 )

1988

Geraldo Mendes de Pontes (PL)

Joseacute Adamastor Madruga (PMDB)

Joseacute Nazareno de Azevedo (PTB)

Antocircnio Azevedo Felix (PDT)

ELEITO Geraldo Mendes de

Pontes (PL) com 2499 votos

(494) Acabou falecendo

assumindo o vice Joseacute Avanildo

Ribeiro


(4501 )


(380 )


(180 )

7775

1992


Joseacute Felix de Brito PFL

ELEITO Joseacute Adamastor

Madruga (PMDB) com 3795 votos

(5368)

Joseacute Felix de Brito (PFL) (4632 )

9750

199616

Umberto Fernandes (PMDB)

Zeacute Ribeiro (PPB)

ELEITO Umberto Fernandes

(PMDB) com 3895 votos (5278)

Zeacute Ribeiro (PPB) (4722 )

10455

2000

Joseacute Ribeiro da Silva (PPB)


ELEITO Joseacute Ribeiro da Silva

10961

16

Em ITAPOROROCA o vice-prefeito sr Carlos Lopes da Silva faleceu Em seu lugar assumiu o

presidente da Cacircmara Municipal Franciso Augusto Meireles Tambeacutem em Itapororoca a vereadora

Elissandra Maria da Conceiccedilatildeo foi afastada Em seu lugar assumiu o suplente de vereador Joseacute Batista

dos Santos que tambeacutem foi afastado por falta de decoro na sua conduta puacuteblica conforme informa o

Decreto Legislativo nordm 2099 de 13 de novembro de 1999 Finalmente assumiu no lugar da vereadora

Joatildeo Fernandes de Oliveira

Disponiacutevel em httpwwwtre-pbjusbreleicoeseleicoes-anterioresresultados-de-eleicoes Visto em 20

de junho de 2014

28

(PP) com 3699 votos (54) Jaacute no

fim do mandato pediu afastamento

assumindo a vice Riselda Nunes


(4600 )

2004


Riselda Nunes (PP)

Luiz Humberto (PL)



(5197)

Riselda Nunes (PP) (4077 )

Luiz Humberto (PL) (726 )

10039

2008

Eleiccedilatildeo anulada devido irregularidade

do candidato eleito (Joseacute Adamastor

PMDB) assumindo o candidato

oposicionista Celso Morais (DEM) e

posteriormente por intermeacutedio de

liminar o presidente da Cacircmara

Erilson Claacuteudio (PTB) torna-se

prefeito interino em 2010 ateacute o fim

do mandato em 2012

11518

Conforme se vecirc no quadro acima as duas primeiras disputas pelo poder no

pleito de 1962 e 1967 marcam a vitoacuteria do grupo liderado por Ruacutebio Maia (ARENA)

atraveacutes da vitoacuteria do proacuteprio Ruacutebio e de Joseacute Felix Nas eleiccedilotildees subsequentes o grupo

da famiacutelia Madruga (MDB) se consagrou vencedor ao eleger seus representantes

ocorrendo posteriormente uma oscilaccedilatildeo entre ambos Ou seja o partido governista

viveu seu momento de apogeu e posteriormente caiu num periacuteodo de tempo curto

dando espaccedilo agrave oposiccedilatildeo que conheceu seu auge e decadecircncia A ldquoabertura poliacuteticardquo no

paiacutes soacute se realizaria no final do governo de Figueiredo em 1985 atraveacutes de um longo

processo controlado desde 1974 para natildeo comprometer os agentes da ditadura Em

funccedilatildeo da divisatildeo interna da ARENA a eleiccedilatildeo de 1978 consagrou o MDB vitorioso em

grande parte do paiacutes refletindo o esgotamento da ditadura militar Poreacutem as eleiccedilotildees

1978 natildeo acarretaram mudanccedilas profundas na estrutura poliacutetico-partidaacuteria O que

ocorreu em Itapororoca no entanto como em grande parte do paiacutes foi apenas uma troca

29

de parentela tendo em vista que ambos os partidos eram constituiacutedos por uma elite de

base familiar formada por grupos tradicionais que se dividiram por questotildees locais na

bipolaridade partidaacuteria da ditadura

A preponderacircncia de grupos de famiacutelia se fez muito presente no interior do paiacutes

durante e apoacutes o periacuteodo ditatorial O exemplo da cidade de Itapororoca revela que os

sobrenomes de famiacutelia atraveacutes da forccedila da tradiccedilatildeo se mantiveram como principal

plataforma poliacutetica acima de qualquer legenda partidaacuteria ou programaacutetica

possibilitando que acontecimentos como o ocorrido nas eleiccedilotildees de 2008 na cidade de

Itapororoca quando o ex-prefeito Joseacute Adamastor Madruga (PMDB) mesmo sabendo

que estava impedido pela Justiccedila Eleitoral de assumir o cargo de prefeito devido agrave

rejeiccedilatildeo das contas referente o seu primeiro mandato (1993-1996) pelo Supremo

Tribunal Federal17

se lanccedila como candidato e obteacutem nas urnas votos suficientes para

sua reeleiccedilatildeo Poreacutem a situaccedilatildeo de inelegiacutevel o impediu de assumir o cargo Ou seja sua

eleiccedilatildeo apesar dos agravantes eacute demonstrativa da lealdade da parentela ao chefe local

Durante o golpe militar instalado no paiacutes tentou-se implementar uma poliacutetica

desenvolvimentista18

O processo de modernizaccedilatildeo criou Secretarias Centros

Administrativos dinamizou a economia local favorecendo a vinda de diversos grupos

industriais vindo do Sul do paiacutes atraveacutes da criaccedilatildeo da SUDENE investiu na

infraestrutura criando estradas pavimentadas e levando energia eleacutetrica ao setor rural

etc No entanto conforme salienta Monique Cittadino (1999 p 122) o processo de

modernizaccedilatildeo serviu apenas ao interesse dos grupos oligaacuterquicos que se beneficiavam

dos investimentos vindos do governo federal (induacutestria da seca) e dos novos cargos

puacuteblicos oriundos da multiplicaccedilatildeo de oacutergatildeos puacuteblicos criados para favorecer a

clientela dos grupos tradicionais apresentando-se como um processo de conservaccedilatildeo

dos grupos tradicionais enquanto a grande massa popular vivia em condiccedilotildees de

descaso e de miseacuteria Deste modo

As articulaccedilotildees entre o poder local e as instacircncias superiores selam a

utilizaccedilatildeo de recursos federais pela elite proprietaacuteria local no sentido de

17

Dados obtidos pelo Acoacuterdatildeo ndash AGRAVOS REGIMENTAIS NO RECURSO ESPECIAL ELEITORAL

N ordm 32937 ndash CLASSES 32ordf ndash ITAPOROROCA ndash PARAIacuteBA Relator Ministro Joaquim Barbosa

SESSAtildeO DE 18122008 18

Processo de modernizaccedilatildeo do Estado presente em todo o paiacutes propunha mudanccedilas no caraacuteter do

Estado dando a ele novas atribuiccedilotildees que implicaria numa dinamizaccedilatildeo da economia Para o

cumprimento das novas tarefas fora criado todo um corpo burocraacutetico-administrativo a fim de atender as

novas necessidades Para tanto foram criados por exemplo Secretarias de Planejamento de

Administraccedilatildeo etc (CITTADINO 1999 p 120)

30

conseguir que o curso de determinadas estradas passasse proacuteximas aacutes suas

propriedades para facilitar as comunicaccedilotildees e o escoamento da produccedilatildeo a

construccedilatildeo de accediludes puacuteblicos em terras particulares que nunca seriam

desapropriadas os precircmios pela construccedilatildeo de accediludes particulares a

diminuiccedilatildeo da migraccedilatildeo da matildeo de obra e a exploraccedilatildeo de barracotildees para a

venda de viacuteveres aos trabalhadores flagelados (TERUYA 2012 p 259)

Ou seja os poliacuteticos paraibanos assim com os poliacuteticos dos outros estados se

apossaram das obras puacuteblicas almejando enriquecimento econocircmico e a preservaccedilatildeo da

sua parentela utilizando as obras puacuteblicas como forma de monumentalizar seu nome

Nem sempre se possa estabelecer uma relaccedilatildeo estreita para benefiacutecios

estritamente econocircmicos e os grupos oligaacuterquicos dirigentes Ainda assim no plano

simboacutelico eacute possiacutevel perceber as auto-homenagens em edifiacutecios puacuteblicos como formas

de utilizaccedilatildeo privada de bens puacuteblicos

Desta maneira facilmente encontramos nos arredores das cidades construccedilotildees

realizadas com o dinheiro puacuteblico carregando o nome de ldquopessoas ilustresrdquo chefes

locais como identificados por Vitor Nunes Leal como uma forma de preservar o

sobrenome da famiacutelia Vejamos alguns exemplos

Cacircmara Municipal de Itapororoca Ruacutebio Maia Coutinho homenagem ao primeiro prefeito da cidade

(Foto da autora)

31

Localizada em Itapororoca escola carrega o nome do ex-prefeito da cidade de Mamanguape Manoel

Fernandes era o entatildeo prefeito de Mamanguape no periacuteodo da emancipaccedilatildeo poliacutetica de Itapororoca A

escola foi construiacuteda no durante o mandato do ex prefeito Adamastor Madruga sendo o seu pai o jaacute

falecido Epitaacutecio Madruga grande aliado da Famiacutelia Fernandes de Lima

(Foto da autora)

Vista do bairro Epitacio Madruga Itapororoca ndash PB O surgimento do bairro iniciou-se com a doaccedilatildeo de

casas populares durante o mandato do ex-prefeito Humberto Fernandes de Souza O mesmo era aliado

poliacutetico da famiacutelia Madruga e acabou por fim homenageando o patriarca da famiacutelia Madruga No

presente bairro ainda localizamos a Escola Estadual Isaura Fernandes de Souza fazendo referencia a

proacutepria famiacutelia do ex-prefeito Humberto Fernandes de Souza

(Foto da autora)

32

Placa na Praccedila Geraldo Mendes de Pontes posta para marcar a reforma realizada durante o mandato do

prefeito interino o ex-vereador Erilson Clauacutedio (PTB 2010-2012)

(Foto da autora)

Em meio a essa apropriaccedilatildeo privada de espaccedilos puacuteblicos atraveacutes da nomeaccedilatildeo de

correligionaacuterios da parentela uma sutil mas importante forma de demarcar a

apropriaccedilatildeo poliacutetica do territoacuterio seriam as placas conforme o uacuteltimo exemplo

fotograacutefico acima Nelas encontram-se todas as informaccedilotildees que eacute do interesse do chefe

local que deseja ser o benfeitor aquele que traz o beneficio para os cidadatildeos Por mais

simples que seja a reforma ou a construccedilatildeo de um bem puacuteblico as placas sempre estatildeo

presentes com o nome de quem fez e fazendo referecircncia a algum aliado proacuteximo O

objetivo eacute natildeo se deixar esquecer Os coroneacuteischefes locais nomeavam os bens puacuteblicos

como algo particular se apossando de tal forma que natildeo havia uma dissociaccedilatildeo entre o

puacuteblico Assim pode-se dizer que

Os poliacuteticos paraibanos construiacuteram bdquoverdades fatuais‟ apropriadas aos seus interesses

Acossados na maacutequina administrativa os representantes do povo paraibano

relacionaram suas accedilotildees ao meacuterito individual e proativo de capacidades administrativas

A cada nova administraccedilatildeo as realizaccedilotildees foram colocadas como uacutenicas e particulares a

ela e natildeo houve a perspectiva isenta e impessoal do poliacutetico paraibano para quem o fim

de suas obras eou accedilotildees sejam elas estruturais ou sociais fosse inserido no acircmbito do

desenvolvimento da Paraiacuteba sem personalismo poliacutetico (SANTOS NETO 2012 p 99)

Desta maneira o regime ditatorial favoreceu a hegemonia poliacutetica e econocircmica

das elites oligaacuterquicas Com a contenccedilatildeo dos movimentos sociais (Ligas Camponesas e

33

Sindicatos Rurais por exemplo) e a apropriaccedilatildeo da maacutequina estatal (controle de cargos

e verbas puacuteblicas) a classe dominante agraacuteria continuou a exercer extensos poderes sem

maiores resistecircncias permanecendo com as tradicionais praacuteticas poliacuteticas

No ano de 1979 fora reinstituiacutedo no paiacutes o pluripartidarismo extinguindo os

dois partidos oficiais ARENA e MDB A ARENA foi substituiacuteda pelo Partido

Democraacutetico Social (PDS) e pelo Partido da Frente Liberal (PFL) O MDB passa a ser o

Partido do Movimento Democraacutetico Brasileiro (PMDB) Apesar da mudanccedila nas

eleiccedilotildees de 1982 (a primeira dentro desse novo quadro) na Paraiacuteba os grupos

tradicionais permanecem como personagens principais nas disputas eleitorais utilizando

a maacutequina estatal a seu favor impondo intensos limites ao processo de democratizaccedilatildeo

atraveacutes da manipulaccedilatildeo do eleitorado e de praacuteticas clienteliacutesticas

Nas eleiccedilotildees de 1986 o PMDB entatildeo partido governista mantinha-se no auge

em todo o paiacutes Entretanto a mudanccedila de hegemonia eleitoral do partido natildeo resultou

em grandes transformaccedilotildees substanciais no campo poliacutetico Ao contraacuterio as praacuteticas

poliacuteticas clienteliacutesticas permaneceram devido agrave vinculaccedilatildeo dos parlamentares a

oligarquias tradicionais

Em contrapartida o conturbado processo de redemocratizaccedilatildeo que contava com

novos agentes sociais do paiacutes inteiro (sindicatos movimentos sociais novos partidos

poliacuteticos de base popular) permitiu a ampliaccedilatildeo dos direitos poliacuteticos e civis

conformados na Constituiccedilatildeo de 1988 Poreacutem ldquoas velhas praacuteticas poliacuteticas incluindo a

corrupccedilatildeo estavam todas de volta Os poliacuteticos os partidos o Legislativo voltaram a

transmitir a imagem de incapazes quando natildeo de corruptos e voltados unicamente para

seus proacuteprios interessesrdquo (CARVALHO 2011 p203) A ldquodemocraciardquo instalada trouxe

consigo avanccedilos e permanecircncias Por sua vez a grande frustaccedilatildeo da democracia foram

os representantes do povo que mantiveram as mesmas praacuteticas poliacuteticas presentes desde

o impeacuterio

CONCLUSAtildeO

Ao longo deste trabalho vimos como o sistema oligaacuterquico atuou em paiacuteses da

Ameacuterica Latina e no Brasil seus meacutetodos adotados e como o conjunto dessas

34

sociedades se viu presa agraves suas praacuteticas nos cenaacuterios poliacuteticos nacional estadual e

municipal Nosso passado poliacutetico enraizado no paternalismo clientelismo

patrimonialismo etc criaram eleitores favoraacuteveis a barganhar seus votos a cedecirc-los

pacificamente (ou natildeo) a seus compadres e aliados sem pensar nas consequecircncias de

suas accedilotildees de modo mais abrangente do que benefiacutecios individuais imediatos Desta

maneira tornou-se corrente a praacutetica de indiviacuteduos chegarem ao poder por meio de

eleiccedilotildees graccedilas agrave forccedila da sua rede de alianccedilas (grupos familiares e aliados) mesmo que

suas praacuteticas poliacuteticas sejam contraacuterias agraves de um Estado Democraacutetico

Ao vermos o fato ocorrido nas eleiccedilotildees de 2008 na cidade de Itapororoca

identificamos que praacuteticas tradicionais herdadas dos Estados oligaacuterquicos e do

coronelismo brasileiro apresentam-se de diversas formas na histoacuteria poliacutetica local Ao

se lanccedilar candidato mesmo tendo suas contas referentes ao primeiro mandato negadas o

entatildeo prefeito teve de sua clientela eleitoral a resposta desejada ou seja teve a maioria

dos votos mostrando o seu poder local advindo atraveacutes de praacuteticas tradicionais Assim

o resultado das eleiccedilotildees de 2008 em Itapororoca seria o fruto de um passado poliacutetico

baseado em resquiacutecios do patrimonialismo do clientelismo presentes desde a

emancipaccedilatildeo da mesma Para enfatizar tal afirmativa vejamos alguns fatos da histoacuteria

poliacutetica local a fim de identificar algumas dessas praacuteticas no contexto poliacutetico local

A poliacutetica itapororoquence construiu seus alicerces em duas bases durante a

ditadura militar uma formada pelos antigos partidaacuterios da ARENA (Ruacutebio Maia e Joseacute

Felix) e outro com os da MDB (membros da famiacutelia Madruga e aliados) a partir desses

dois grupos a poliacutetica local foi sendo construiacuteda ao longo dos anos Desde a sua

fundaccedilatildeo ateacute os dias atuais no municiacutepio de Itapororoca se verifica um revezamento de

poder entre essas duas bases poliacuteticas ou seja durante um periacuteodo (normalmente dois

mandatos) um dos dois grupos comandavam o municiacutepio19

Com a morte dos principais

liacutederes do grupo da extinta ARENA o agora PMDB (substituto do MDB) ganhou mais

forccedila no cenaacuterio local constituindo-se como o mais tradicional apoacutes o esfacelamento da

ARENA tendo Adamastor Madruga filho de Epitaacutecio Madruga como personagem

principal na poliacutetica local

No pleito de 2008 duas chapas disputavam o poder uma comandada pelo entatildeo

prefeito e candidato a reeleiccedilatildeo pelo PMDB Adamastor Madruga e outro de oposiccedilatildeo

lanccedilado pelo Partido Democratas (nomenclatura atual do PFL partido herdeiro direto da 19

Para uma melhor visualizaccedilatildeo ver tabela na paacutegina 24

35

ARENA) Celso Morais Apesar de impugnado pela Justiccedila Adamastor Madruga tinha

em suas matildeos o controle da maacutequina municipal jaacute que era o entatildeo prefeito e a

vantagem do sobrenome tradicional no plano municipal

Ao longo do seacuteculo XX oposiccedilatildeo e situaccedilatildeo portanto eram formadas cada uma

por sua parentela por seu grupo de parentes aliados e eleitores clientes O candidato da

situaccedilatildeo tinha a seu favor um grupo familiar mais forte e soacutelido construiacutedo ao longo de

toda a histoacuteria local ou seja tinha o poder poliacutetico e o poder da tradiccedilatildeo familiar e

partidaacuteria

Com uma economia voltada basicamente para a agricultura (cultivo do abacaxi e

da cana-de-accediluacutecar) o cargo puacuteblico configura-se ainda hoje como principal meio de

adquirir renda para os indiviacuteduos e um meio de favorecer e prender o eleitor ao chefe

local Desta maneira os cargos puacuteblicos transformam-se numa forma de laccedilo de

gratidatildeo entre quem favorece e quem eacute favorecido sendo uma forma tambeacutem de

barganhar os votos Ao declarar apoio ao chefe local fazendo parte do seu grupo o

indiviacuteduo passava a ser apadrinhado ganhando um cargo puacuteblico ou era beneficiado de

outra maneira Quando da troca de governo mudava-se natildeo apenas o chefe local mas

todos aqueles que o apoiavam Assim o periacuteodo eleitoral se assemelha a um campo de

batalha nas cidades interioranas situaccedilatildeo X oposiccedilatildeo guerreando a fim de permanecer

ou tomar o poder tendo seu exeacutercito de eleitores formado pelos membros do seu grupo

poliacutetico e sua clientela eleitoral que se insere na disputa pensando natildeo necessariamente

no coletivo mas nos possiacuteveis benefiacutecios imediatos prometidos pelo chefe local Ou

seja os funcionaacuterios puacuteblicos sem concursos mas indicados como cargos

comissionados configuravam-se como uma nova clientela

Tais caracteriacutesticas patrimonialistas clienteliacutestica monumentalista e de controle

poliacutetico de base familiar constituiacutedo pelos aliados e eleitores fieis ao redor de um chefe

local seria uma maneira de explicar de forma plausiacutevel as causas que levaram (e levam)

os indiviacuteduos escolherem seus representantes No entanto esses natildeo seriam os uacutenicos

fatores influenciadores na hora do voto Talvez o que importa para algumas pessoas natildeo

seja o julgamento da Justiccedila Eleitoral mas os benefiacutecios que o chefe local trouxe para a

cidade Talvez seja o auxiacutelio em momentos difiacuteceis ou o carisma ou poder dos seus

aliados ou ateacute o discurso de famiacutelia tradicional Seja qual for o motivo o que

verificamos a cada dia natildeo apenas na cidade de Itapororoca mas nos demais cantos do

Brasil eacute que os Estados oligaacuterquicos deixaram de heranccedila grandes marcas no nosso

36

presente poliacutetico e apesar das mudanccedilas econocircmicas e sociais as praacuteticas politicas se

naturalizaram tornando-se comuns mesmo com a iniciativa dos oacutergatildeos centrais como a

Justiccedila Eleitoral julgando e punindo aqueles que se apropriam do poder puacuteblico

BIBLIOGRAFIA

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WASSERMAN Claudia A manutenccedilatildeo das oligarquias no poder As transformaccedilotildees

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Americanos PUCRS v XXIV n 2 p 51-70 dezembro 1998





Trabalho de Conclusatildeo de Curso de

graduaccedilatildeo apresentado como requisito

parcial para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de

licenciada em Histoacuteria

Orientador Tiago Bernardon de Oliveira

GUARABIRA

2014

3


4


5

SUMAacuteRIO





Conclusatildeo 33

Bibliografia 36

6


































7































8















857)





















9





com Noberto Bobbio




(BOBBIO 1998 p 836)



























10

































(CUEVA 1983 p 126)




11





















(CARVALHO 2011 p54)

















12


























p35)










13




























14



































15


































16










umbilicalmente





22)
















57)








17





















1999 p 56)















18








































19





































20

































21







































de 2012)

22









passou


























(Disponiacutevel em





votos

23









A








clientelas

















12

Disponiacutevel em






24
























seguir15










Nacional (UDN) 15


27082013

25


ELEITORES

1962






(3333 )

1378

1966







(4417 )


(2231 )

2257

1969




(ARENA 1)





(3326) Em 1972 acaba


Correia seu vice


(2196 )


(ARENA 1) (1962 )


(1406 )


(1310 )

2168





26

1972

Alceu Costa (MDB 1)




(ARENA 2)




(3639 )


(758 )


(ARENA 2) (555 )

3510

1976






(ARENA 2)


(ARENA 3)





Joseacute Nazareno


(4351 )


(MDB 2) (400 )


(250 )


(ARENA 2) (191 )


(ARENA 3) (174 )

3886

1982




2)




1266 dos votos (3724)


(2941 )


4783

27

2) (1965 )


(1371 )

1988









Ribeiro


(4501 )


(380 )


(180 )

7775

1992





(5368)


9750

199616






10455

2000




10961

16








de junho de 2014

28





(4600 )

2004


Riselda Nunes (PP)

Luiz Humberto (PL)



(5197)



10039

2008









do mandato em 2012

11518














29












Tribunal Federal17



















17









30



















(Foto da autora)

31





(Foto da autora)






(Foto da autora)

32



(Foto da autora)




















33


























o impeacuterio

CONCLUSAtildeO



34



































35








partidaacuteria


























36




BIBLIOGRAFIA




























37

























3


4


5

SUMAacuteRIO





Conclusatildeo 33

Bibliografia 36

6


































7































8















857)





















9





com Noberto Bobbio




(BOBBIO 1998 p 836)



























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ELEITORES

1962






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(2231 )

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(ARENA 1)





(3326) Em 1972 acaba


Correia seu vice


(2196 )


(ARENA 1) (1962 )


(1406 )


(1310 )

2168





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1972

Alceu Costa (MDB 1)




(ARENA 2)




(3639 )


(758 )


(ARENA 2) (555 )

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1976






(ARENA 2)


(ARENA 3)





Joseacute Nazareno


(4351 )


(MDB 2) (400 )


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1982




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Ribeiro


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(380 )


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Riselda Nunes (PP)

Luiz Humberto (PL)



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Correia seu vice


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Alceu Costa (MDB 1)




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1976






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Joseacute Nazareno


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Ribeiro


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Alceu Costa (MDB 1)




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2) (1965 )


(1371 )

1988









Ribeiro


(4501 )


(380 )


(180 )

7775

1992





(5368)


9750

199616






10455

2000




10961

16








de junho de 2014

28





(4600 )

2004


Riselda Nunes (PP)

Luiz Humberto (PL)



(5197)



10039

2008









do mandato em 2012

11518














29












Tribunal Federal17



















17









30



















(Foto da autora)

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(Foto da autora)






(Foto da autora)

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(Foto da autora)




















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o impeacuterio

CONCLUSAtildeO



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partidaacuteria


























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BIBLIOGRAFIA




























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A








clientelas

















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Disponiacutevel em






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seguir15










Nacional (UDN) 15


27082013

25


ELEITORES

1962






(3333 )

1378

1966







(4417 )


(2231 )

2257

1969




(ARENA 1)





(3326) Em 1972 acaba


Correia seu vice


(2196 )


(ARENA 1) (1962 )


(1406 )


(1310 )

2168





26

1972

Alceu Costa (MDB 1)




(ARENA 2)




(3639 )


(758 )


(ARENA 2) (555 )

3510

1976






(ARENA 2)


(ARENA 3)





Joseacute Nazareno


(4351 )


(MDB 2) (400 )


(250 )


(ARENA 2) (191 )


(ARENA 3) (174 )

3886

1982




2)




1266 dos votos (3724)


(2941 )


4783

27

2) (1965 )


(1371 )

1988









Ribeiro


(4501 )


(380 )


(180 )

7775

1992





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9750

199616






10455

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Riselda Nunes (PP)

Luiz Humberto (PL)



(5197)



10039

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do mandato em 2012

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(2231 )

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(ARENA 1)





(3326) Em 1972 acaba


Correia seu vice


(2196 )


(ARENA 1) (1962 )


(1406 )


(1310 )

2168





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1972

Alceu Costa (MDB 1)




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(3639 )


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(ARENA 2) (555 )

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1976






(ARENA 2)


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Joseacute Nazareno


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1982




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Riselda Nunes (PP)

Luiz Humberto (PL)



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ELEITORES

1962






(3333 )

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(2231 )

2257

1969




(ARENA 1)





(3326) Em 1972 acaba


Correia seu vice


(2196 )


(ARENA 1) (1962 )


(1406 )


(1310 )

2168





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1972

Alceu Costa (MDB 1)




(ARENA 2)




(3639 )


(758 )


(ARENA 2) (555 )

3510

1976






(ARENA 2)


(ARENA 3)





Joseacute Nazareno


(4351 )


(MDB 2) (400 )


(250 )


(ARENA 2) (191 )


(ARENA 3) (174 )

3886

1982




2)




1266 dos votos (3724)


(2941 )


4783

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2) (1965 )


(1371 )

1988









Ribeiro


(4501 )


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Riselda Nunes (PP)

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1972

Alceu Costa (MDB 1)




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(ARENA 2) (555 )

3510

1976






(ARENA 2)


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Joseacute Nazareno


(4351 )


(MDB 2) (400 )


(250 )


(ARENA 2) (191 )


(ARENA 3) (174 )

3886

1982




2)




1266 dos votos (3724)


(2941 )


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Ribeiro


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uma anÁlise de permanÊncias de prÁticas...

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