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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL MODALIDADE A DISTÂNCIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
UMA ANÁLISE DA APLICAÇÃO DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA
NO MUNICÍPIO DE SÃO BENTINHO – PB
Maria Odete Leandro de Sá
Pós-graduando lato sensu em Gestão Pública Municipal - UFPB
Lucimeiry Batista da Silva
Profª.MSc. do Centro de Ciências Jurídicas e Sociais da UFCG
Colaboradora do CEGPM
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo analisar as condições socioeconômicas e demográficas
das famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família no município de São Bentinho – PB.
Trata-se de um estudo de caso, realizado por meio de questionário aplicado com famílias
beneficiárias do Programa Bolsa Família no município e entrevista com o Gestor do PBF. A
pesquisa analisa o panorama histórico das políticas sociais no Brasil; os Programas de
Transferência de Renda, mais precisamente o Programa Bolsa Família, que apesar de ser alvo
de críticas, tem beneficiado milhares de famílias em todo o país, e o Programa Bolsa Família
no município de São Bentinho – PB. Os dados obtidos foram analisados de forma quanti-
qualitativa. Como principais resultados, a pesquisa mostrou que o Programa Bolsa Família
proporcionou um aumento na renda familiar dos beneficiários, além de ter facilitado o acesso
das crianças e adolescentes à escola, o que poderá contribuir, a longo prazo, para o combate
ao analfabetismo, e também possibilitou um maior acesso das famílias aos serviços de saúde,
por meio do acompanhamento das crianças e gestantes. Verificou-se ainda, que houve uma
pequena evolução na taxa de natalidade do município, porém, a maioria das famílias está se
prevenindo com relação ao número de filhos. O estudo pode contribuir para uma nova
percepção por parte dos gestores municipais na implantação de outros benefícios, voltados
para a população menos assistida, como também uma contribuição acadêmica, uma vez que
seus resultados podem servir de parâmetro de comparação com outras pesquisas realizadas
sobre o mesmo tema, em outros municípios brasileiros.
Palavras-chave: Programa Bolsa Família, Condicionalidades, Transferência de Renda.
1 INTRODUÇÃO
Problemas como a desigualdade social e consequentemente a pobreza, sempre
estiveram presentes na história do Brasil, porém, se agravaram a partir do processo de
industrialização, e posteriormente pelo surgimento do capitalismo.
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No início do Século XXI, o Brasil registrava um número de aproximadamente
cinquenta e três milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza, estabelecida pela
Organização das Nações Unidas (ONU), o que significava que em torno de 31,8% da
população brasileira, não tinha renda para conseguir sequer se alimentar diariamente
(RODRIGUES, 2011). É nesse contexto que surgem as preocupações, por parte do governo,
com a questão social, a qual só foi mais delineada a partir da Constituição Federal de 1988,
quando surgiram novas formas de financiamento das políticas públicas.
Nessa perspectiva, o Governo Federal instituiu, em janeiro de 2004, o Programa Bolsa
Família, que é um programa de transferência direta de renda com condicionalidades, que
beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza, e que tem como objetivos
promover acesso aos serviços públicos, possuindo três eixos: transferência de renda acesso a
educação, saúde e assistência social, e desenvolvimento dos beneficiários (MDS, 2010).
Diante dos fatos mencionados, percebe-se que é de grande importância a atuação do
Estado na criação de programas de transferências de renda, que permitam diminuir as
desigualdades sociais existentes no Brasil. Observa-se isto mais especificamente nos
pequenos municípios que, sob um ponto de vista mais isolado, não têm condições
econômicas, técnicas e políticas de solucionar os diversos tipos de problemas que os atingem,
principalmente os que estão relacionados à pobreza. Um desses é o município de São
Bentinho, que está localizado no semiárido paraibano e classificado como um município de
pequeno porte, que oferece poucas alternativas de emprego e de desenvolvimento e por isso,
apresenta uma grande concentração de pobreza (IBGE, 2010).
A partir do exposto, surge a necessidade de conhecer como funciona o programa no
município de São Bentinho, para saber como ocorre a sua aplicação, e com isso, buscar
respostas para o seguinte questionamento: ocorreram mudanças socioeconômicas e
demográficas com as famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família, no município de
São Bentinho - PB?
Esta indagação motivou a realização deste trabalho, partindo da constatação da
importância de apresentar uma avaliação dos resultados do Programa Bolsa Família com
relação aos dados de saúde, educação, alimentação, trabalho, natalidade e realidade atual,
enfim, a dados que revelam se realmente houve melhoria da qualidade de vida para os
beneficiários do programa no município de São Bentinho – PB. Além disso, a pesquisa pode
contribuir para uma nova percepção por parte dos gestores municipais, para a implantação de
outros benefícios, voltados para a população menos assistida que podem ser implementados
para dar suporte ao PBF em nível municipal e com isso, promover uma maior cobertura do
programa. O estudo também é importante por oferecer mais uma contribuição acadêmica,
uma vez que seus resultados podem servir de parâmetro de comparação, com outras pesquisas
realizadas sobre o mesmo tema nos demais municípios brasileiros.
Portanto, a pesquisa tem como objetivo principal: analisar as condições
socioeconômicas e demográficas das famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família no
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município de São Bentinho – PB, e como objetivos específicos: apresentar o desenvolvimento
do Programa Bolsa Família no município de São Bentinho - PB; avaliar a participação do
Programa Bolsa Família na renda total dos domicílios no município de São Bentinho;
identificar se as condicionalidades de saúde e educação do programa estão sendo cumpridas
no município; verificar as condições do acesso à alimentação das famílias beneficiárias após a
inserção no programa e averiguar se posteriormente a inserção no Programa, as famílias
beneficiadas foram estimuladas a uma maior taxa de natalidade.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Políticas Públicas Sociais no Brasil
O surgimento das políticas públicas no Brasil ocorreu de maneira acanhada na década
de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas (RODRIGUES, 2011), mas de acordo com
Santos (2009), até a promulgação da Constituição Federal de 1988, a questão social no Brasil
era prestada por meio da filantropia ou de programas governamentais, focalizados no
assistencialismo clientelista, pois os recursos públicos chegavam aos pobres segundo critérios
político-eleitorais.
A partir da Constituição Federal de 1988, surgiram novos formatos de financiamento
das políticas públicas, que passaram a reunir elementos crescentes de recursos para o
financiamento da seguridade social e das políticas sociais direcionadas para o combate à
pobreza e à fome, como por exemplo, os programas de transferência de renda (BRASIL,
1988).
De maneira conceitual, pode-se dizer que políticas públicas sociais são ações do
Estado em resposta às demandas da sociedade, para compensar as distorções decorrentes do
processo de desenvolvimento capitalista que discrimina, e faz com que a distância entre ricos
e pobres seja cada vez maior.
Segundo Höfling (2001), as políticas sociais se aludem a ações que definem o padrão
de proteção social implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para o remanejamento
dos benefícios sociais visando à redução das desigualdades estruturais causadas pelo
desenvolvimento socioeconômico.
Feitosa e Oliveira (2010, p.2), dizem que:
no Brasil podemos destacar, depois da estabilização da moeda, dois períodos que
marcaram o início do trabalho de uma política pública social, voltada não somente para o crescimento mais também para melhoria na qualidade de vida da população: o
primeiro de 1995 a 2000, e de 2001 a 2008.
Ainda segundo os autores (2010), pode-se dizer que o primeiro período foi marcado
pelo uso de políticas públicas sociais que estivessem pautadas na desregulamentação,
descentralização, autonomia e privatização (FEITOSA; OLIVEIRA 2010).
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Entre 1994 e 2000, no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), a prioridade
apresentada para a política social foi à universalização do acesso aos serviços de saúde,
educação fundamental, previdência e saneamento básico (DRAIBE, 2003). O governo
considerava estes setores como imprescindíveis para a melhoria da qualidade de vida, bem
como para o acesso à renda, voltada para as camadas mais pobres da população.
Entretanto, para Fagnani (1999 apud MORAES; AVILA; SILVEIRA, 2010), a
maioria destes programas tinham seu orçamento enquadrado à política macroeconômica1
restritiva tomada pelo governo nesta época, onde a maior parte das receitas públicas era
destinada ao pagamento de juros, restringindo assim as políticas públicas de desenvolvimento.
Com isso, surge o segundo período, que foi de 2001 a 2008, quando o governo alterou
sua política, voltando-se agora para a criação de programas focalizados na transferência direta
de renda às famílias carentes. Esse período foi marcado pela criação do Programa Nacional de
Renda Mínima que era uma política que objetivava atender as demandas sociais, focalizando
os gastos por meio de políticas de transferência direta de renda (FEITOSA; OLIVEIRA,
2010).
No ano de 2003, todos os programas de transferência de renda foram unificados em
um novo programa, o Programa Bolsa Família. A partir daí, todos os recursos do governo,
gastos com Assistência Social, foram valorizados no decorrer dos anos, significando melhoria
em alguns indicadores sociais, e que conforme Moraes, Avila e Silveira (2010), reduz a
desigualdade e melhora a renda dos mais pobres.
2.2 Programas de Transferência de Renda
Pode-se dizer que desde a década de 1990, os programas de transferência direta de
renda vêm ganhando crescente importância como instrumento de distribuição de renda e de
redução da pobreza no Brasil.
De acordo com Silva, Yazbek e Giovanni (2007), os programas de transferência de
renda, são todos aqueles destinados a realizar uma transferência monetária,
independentemente de prévia contribuição às famílias consideradas pobres que vivem com
uma renda per capita de meio salário mínimo.
Nesse sentido, entende-se que os programas de transferência de renda são
considerados todos aqueles que se destinam às famílias pobres, estabelecidos a partir de uma
determinada renda, um valor monetário, independentemente de contribuição.
Segundo Colares (2008), esses programas passaram a contemplar a agenda pública
brasileira, a partir da aprovação do Projeto de Lei nº 80/1991, o qual instituiu o Programa de
1 “[...] estuda a economia como um todo, analisando a determinação e o comportamento de grandes agregados,
tais como: renda e produto nacionais, nível geral de preços, emprego e desemprego, estoque de moeda e taxas de
juros, balança de pagamentos e taxa de câmbio” (GARCIA; VASCONCELLOS, 2002, p. 83).
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Garantia de Renda Mínima (PGRM), de abrangência nacional, destinado a todos os brasileiros
residentes no país, maiores de 25 anos, que auferissem rendimentos brutos mensais inferiores
a Cr$ 45.000,00 (estipulado em Cruzeiros, moeda da época).
A partir de 1995, os programas de transferência direta de renda começaram a ser
implantados, inicialmente, no Estado do Distrito Federal e nos municípios de Campinas,
Ribeirão Preto e gradativamente foram de se estendendo para os vários municípios e estados
brasileiros (SILVA, 2010).
No ano de 2001, com Fernando Henrique Cardoso no governo, as políticas de
transferência direta de renda se ampliaram, com a implantação nos anos seguintes, de uma
série de programas não contributivos, entre os quais se lançaram os Programas Bolsa-Escola,
Bolsa-Alimentação, Auxílio-Gás e o Cartão-Alimentação. Por se apresentar de maneira
descentralizada, a implementação desses programas alcançaram as populações mais carentes
da maioria dos municípios brasileiros, resultando em uma abrangência geográfica
significativa, o que contribuiu para a construção da Política Nacional de Transferência de
Renda.
Logo adiante, no ano de 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assume como
meta principal do seu governo, o enfrentamento da fome e da pobreza no país, colocando as
Políticas Sociais como mecanismos de ação aos seus objetivos político e social, articulando-as
a uma Política Econômica. Desta forma, o governo Lula lançou a proposta de unificação dos
Programas de Transferência de Renda (SILVA, 2006).
Ao apoiar a unificação se buscou estabelecer um novo marco para a política social do
país que se diferenciasse da tradição assistencialista e fragmentada. A intenção era unificar as
políticas e aprimorar os mecanismos de gestão, para que o uso dos recursos fosse mais
racional, coerente e que houvesse uma articulação de ações de diferentes órgãos, bem como
uma incitação para que a comunidade participasse da gestão.
Assim foi criado, no ano de 2003, o Programa Bolsa Família, sendo um dos programas
de transferência de renda de importante destaque na atualidade, que atende a um total de 13
(treze) milhões de famílias, em todo o território nacional (MDS, 2010).
2.3 O Programa Bolsa Família (PBF)
O Governo Federal instituiu no final de 2003, com a Medida Provisória nº 132, de 20
de dezembro de 2003, em seguida transformada na Lei nº 10.836, de 09 de janeiro de 2004,
que foi regulamentada pelo Decreto nº 5.209 de 17 de setembro de 2004 o Programa Bolsa
Família, que integra o Programa Fome Zero e a unificação dos quatro programas federais
(Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação, Auxílio-Gás e o Cartão-Alimentação), que fornece um
benefício destinado as ações de transferência de renda às famílias carentes e tem por
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finalidade a unificação dos procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de
renda do Governo Federal (ABRANTES; FERREIRA, 2010).
Inicialmente, a operacionalização do Programa Bolsa Família ficou atrelada a uma
Secretaria Executiva ligada diretamente à Presidência da República. Mas, após a criação do
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) em 2004, o programa
passou a ser gerido pela Secretaria Nacional de Renda de Cidadania (SENARC) (MDS,
2010).
Os objetivos do Programa Bolsa Família são: combater a fome e promover a
segurança alimentar e nutricional; combater a pobreza e outras formas de privação das
famílias; promover o acesso à rede de serviços públicos e criar possibilidades de emancipação
sustentada dos grupos familiares e desenvolvimento local dos territórios (CAIXA
ECONÔMICA FEDERAL, 2010).
Para auferir o benefício, as famílias devem apresentar situação de extrema pobreza,
quando tiver uma renda per capita mensal de até R$ 70,00, tendo filhos ou não. Famílias com
renda per capita mensal entre R$ 70,01 e R$ 140,00, que sejam compostas por gestantes,
nutrizes e crianças e adolescentes com idade entre 0 e 17 anos, são consideradas pobres.
Também podem ser beneficiadas as famílias com renda per capita mensal entre R$ 00,00 e
R$ 140,00, que apresentem em sua composição adolescentes de 16 a 17 anos e devidamente
cadastradas no Cadastro Único para Programas Sociais (CADÚNICO) (ABRANTES;
FERREIRA, 2010).
Recentemente, o MDS divulgou que gestantes e mulheres em fase de amamentação
terão direito a um benefício extra de R$ 32,00 mensais do PBF, a partir de novembro de 2011,
e que o pagamento dos benefícios adicionais do Bolsa Família para filhos de até 15 anos -
antes pagos para no máximo 03 (três) filhos, foi ampliado para até 05 (cinco) filhos (Jornal O
Globo, 20/09/2011, p. 09).
De acordo com Abrantes e Ferreira, (2010), a realização do cálculo para o recebimento
do benefício adota como critério seletivo a renda familiar mensal per capita, a qual á
calculada a partir da soma das rendas que todos os membros da família ganham por mês. O
referido valor é dividido pelo total de membros da casa, obtendo assim a renda per capita da
família.
Conforme o reajuste anunciado em 1º de março pelo MDS (2011), o qual ampliou o
valor do benefício a partir de abril de 2011, os benefícios variam, dependendo da renda da
família e do número de filhos, de R$ 32,00 a R$ 242,00, independente da região do país.
De acordo com o MDS (2010), o Programa ainda trabalha com quatro tipos de
benefícios, são eles: Benefício Básico R$ 70,00 que é pago às famílias consideradas
extremamente pobres, com renda mensal de até R$70,00 por pessoa, mesmo que elas não
tenham crianças, adolescentes ou jovens; Benefício Variável R$ 32,00 que é pago às famílias
pobres, com renda mensal de até R$140,00 por pessoa, desde que tenham crianças e
adolescentes de até 15 anos; o Benefício Variável Vinculado ao Adolescente (BVJ) R$ 38,00
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é pago a todas as famílias do Programa que tenham adolescentes de 16 e 17 anos
frequentando a escola e o Beneficio Variável de Caráter Extraordinário que é pago às famílias
nos casos em que a migração dos Programas Auxílio-Gás, Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e
Cartão Alimentação para o Bolsa Família tenha causado perdas financeiras.
Vale acrescentar que além da transferência monetária, o Programa Bolsa Família,
segundo o MDS (2010), considera necessário desenvolver outros programas, como
alfabetização, capacitação profissional, apoio à agricultura familiar, geração de ocupação e
renda, microcrédito, acesso à educação e a serviços de saúde para os filhos. Portanto, o
objetivo é agregar esforços para permitir a autonomia das famílias beneficiárias.
Segundo o MDS (2010), a gestão do programa é descentralizada e compartilhada pela
União, estados, Distrito Federal e municípios, com o intuito de aperfeiçoar, ampliar e
fiscalizar a execução do Programa, de modo que cada ente tenha suas competências
específicas. Assim, o ingresso das famílias no PBF ocorre por meio de um cadastro
(CADÚNICO), feito pelas Prefeituras Municipais que são responsáveis por cadastrar, digitar,
transmitir, manter e atualizar a base de dados, acompanhar as condições do benefício e
articular e promover as ações complementares, destinadas ao desenvolvimento autônomo das
famílias pobres do município (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, 2010).
O PBF associa o pagamento do benefício ao cumprimento de contrapartidas, ou seja,
condicionalidades nas áreas de saúde, educação e assistência social.
Na área de saúde, as famílias beneficiárias assumem o compromisso de vacinar os
filhos menores de 7 anos, bem como acompanhar seu crescimento e desenvolvimento.
Mulheres com idade entre 14 a 44 anos também devem fazer o acompanhamento e, se
gestantes ou lactantes, devem realizar o pré-natal e o acompanhamento da sua saúde e da
saúde do bebê (MDS, 2010).
Na educação, todas as crianças e adolescentes entre 6 e 15 anos devem estar
devidamente matriculados e com frequência escolar mensal mínima de 85% da carga horária.
Já os estudantes entre 16 e 17 anos devem ter frequência de, no mínimo, 75% (MDS, 2010).
Na área de assistência social, crianças e adolescentes com até 15 anos, que apresenta
situação de risco, ou que foram retiradas do trabalho infantil pelo Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil (PETI), devem participar dos Serviços de Convivência e Fortalecimento de
Vínculos (SCFV) do PETI e obter frequência mínima de 85% da carga horária mensal (MDS,
2010).
Sobre a ótica do Governo Federal, o cumprimento dessas condicionalidades é uma
forma de permitir a inserção da população mais carente nos serviços sociais básicos,
colaborando para a cessação do ciclo de reprodução da pobreza. Portanto, o não cumprimento
dessas condicionalidades pode causar o bloqueio, que se não for solucionado pode ser
suspenso, e até mesmo cancelado (MDS, 2010).
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2.4 O Programa Bolsa Família no município de São Bentinho – PB
O município de São Bentinho-PB, foi criado pela Lei nº 5.933, de 29 de abril de 1994
e emancipado em 01 de Janeiro de 1997. A cidade está inserida na 13ª Região
Geoadministrativa do estado da Paraíba e na Unidade Geoambiental da Depressão Sertaneja,
que representa a paisagem típica do semiárido nordestino. Encontra-se localizado no oeste do
estado da Paraíba, distante a 340 km da capital do estado, João Pessoa, contornando uma área
de 195,9 Km2 e uma população de 4.138 habitantes (IGBE, 2010).
De acordo com o Plano Municipal Plurianual de Assistência Social 2010/2013, na
economia municipal, destaca-se a produção de atividades artesanais, como também, a
produção e venda de alimentos típicos da região. Por se tratar de um município de pequeno
porte, o comércio local á bastante restrito, e por isso, existe uma limitação da oferta de
atividade econômica, que não é capaz de absorver a parcela de trabalhadores ativos, em
função da falta de um comércio mais amplo e inexistência de fábricas, indústrias, entre outros
instrumentos de desenvolvimento. Diante disso, a agropecuária torna-se a sua principal base
econômica, seguida da pecuária (SÃO BENTINHO, 2009).
O Programa Bolsa Família (PBF) foi implementado na Secretaria da Assistência
Social do município a partir do ano de 2005. Antes desse período, existia o Programa Bolsa
Escola, que tinha como responsável a Secretaria Municipal de Educação (SÃO BENTINHO,
2009).
O Relatório de Informações Sociais do Bolsa Família e do Cadastro Único relativo ao
mês de setembro do corrente ano (MDS, 2011) mostra que no município de São Bentinho
existem 830 famílias cadastradas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo
Federal (CADÚNICO), destas, 595 famílias são cadastradas com perfil Bolsa Família, mas
desse total, apenas 551 famílias são beneficiárias do Programa Bolsa Família no município.
De acordo com o mesmo relatório existem cinco famílias que estão em situação de
descumprimento das condicionalidades. Destas famílias, três foram advertidas, uma foi
bloqueada e uma cancelada (MDS, 2011). No entanto, as famílias que estão cadastradas, mas
que ainda não recebem o benefício esperam que sejam criadas novas vagas ou que famílias
beneficiadas sejam excluídas por algum descumprimento das condicionalidades, ou por terem
melhorado sua condição financeira e com isso, deixem voluntariamente o Programa.
A Secretaria Municipal de Assistência Social é o órgão responsável pela gestão do
Programa Bolsa Família no município. É também o local onde se encontra as instalações
físicas do Programa, o qual conta com um Gestor e um cadastrador/digitador.
No mês de abril de 2011, a gestão do município aderiu ao Sistema de Gestão do
Programa Bolsa Família (SIGPBF), com o intuito de integrar as Secretarias Municipais de
Saúde, Educação e Assistência Social no gerenciamento do programa. Além disso, no mês de
junho de 2011, o município começou a utilizar uma versão mais moderna do Cadastro Único,
a versão 7, cujo funcionamento é integralmente online, não necessitando de aplicativo distinto
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para a transmissão dos dados à base nacional. Esta versão permite o registro dos dados
coletados nos formulários principal, avulsos e suplementares (MDS, 2011).
Como um dos principais eixos do PBF são os programas complementares, o
município, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social, também realiza visitas
domiciliares, promove palestras educativas às famílias atendidas, como também cursos de
capacitação e geração de renda, com aulas teóricas e práticas.
Com isso, o PBF permite que as famílias tenham sua cidadania fortalecida e possam
estruturar suas rendas a partir de seu próprio trabalho, de modo que as crianças e jovens
tenham oportunidade de um futuro melhor, e consigam superar a situação de vulnerabilidade.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para a realização do estudo, foi utilizada a pesquisa aplicada, que tem como intuito a
busca de respostas e resoluções para um determinado questionamento ou problema. Para
Barros e Lehfeld (2000, p.78), a pesquisa aplicada tem o objetivo de “contribuir para fins
práticos, visando à solução mais ou menos imediata do problema encontrado na realidade”.
Quanto aos seus objetivos, a pesquisa classifica-se como descritiva, uma vez que está
voltada para estudos que produz opiniões ou projeções futuras nas respostas alcançadas, e que
segundo Gil (1987), tem por objetivo básico descrever as características de determinada
população ou fenômeno e estabelecer possíveis relações entre variáveis.
Com relação aos procedimentos técnicos adotados na coleta de dados, foi utilizado um
Estudo de Caso que é uma forma de abordar, com profundidade, os objetivos da pesquisa, no
intuito de conhecer a realidade de um ou mais indivíduos. Para Gil (1999) o estudo de caso
fornece subsídios para descobrir situações da vida real, além de elucidar as variáveis causais
de determinados fenômenos em que a utilização de levantamentos e experimentos não é
possível.
Sobre a forma de abordagem do problema, foram empregadas abordagens quanti-
qualitativa. A abordagem quantitativa foi aplicada por meio de questionários, para medir tanto
os efeitos, opiniões, atitudes, preferências, como os comportamentos da população
beneficiária do Programa Bolsa Família no município de São Bentinho - PB. Sobre esta
abordagem, Gomes e Araújo (2003, p.4) dizem que “o método quantitativo de pesquisa tem
no questionário uma de suas grandes ferramentas". Já a abordagem qualitativa foi realizada
por meio de um Estudo de Campo, com o desígnio de levantar dados reais, fornecidos pelos
indivíduos sujeitos da pesquisa. Para Richardson (1999, p. 80), “os estudos que empregam
uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema,
analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos
por grupos sociais.”
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Sobre o universo e a amostra, a pesquisa foi realizada com famílias beneficiárias do
Programa Bolsa Família (PBF), além de entrevista com o Gestor do Programa no município
de São Bentinho – PB. Demarcou-se como universo da pesquisa, o número total de famílias
beneficiadas pelo PBF, que segundo os dados do Relatório de Informações Sociais do Bolsa
Família e do Cadastro Único do município de São Bentinho/PB, até o mês de setembro do
corrente ano, esse número era de 551 famílias MDS (2011).
A amostra da pesquisa foi constituída de 80 beneficiários do PBF, tendo como local de
coleta de dados a sede do Programa no município, bem com uma parcela desses beneficiários,
que participam de cursos de geração de renda, promovidos pelo próprio programa, durante os
meses de outubro e novembro de 2011. Portanto, optou-se pela amostragem por
acessibilidade, tendo em vista que se constitui, entre os tipos de amostras, a menos rígida de
todas, e por isto é destituída de qualquer rigor estatístico, além de ser considerada a de maior
facilidade na sua coleta (VERGARA, 2008).
A coleta de dados é a etapa da pesquisa em que dar início a aplicação dos instrumentos
elaborados e das técnicas selecionadas, a fim de realizar a coleta dos dados previstos,
conforme conceituam Lakatos e Marconi (2002). Num primeiro momento, o método utilizado
foi um questionário, adaptado de Rodrigues (2011), formado por 34 (trinta e quatro) questões
do tipo fechadas e de múltipla escolha, as quais contemplam aspectos gerais dessa população,
como: dados gerais, características dos moradores, educação, saúde, trabalho, alimentação,
realidade atual e natalidade; e que de maneira objetiva, buscam respostas para situações
concretas e tangíveis.
A pesquisa documental também foi realizada, por meio de relatórios internos,
publicações, dados estatísticos, jornal, revistas e resultados de pesquisas já desenvolvidas,
com o intuito de conhecer melhor os aspectos históricos dos programas de transferência de
renda, como o Programa Bolsa Família. Para SÁ-SILVA et. al.(2009), a utilização da
pesquisa documental pode, totalmente ou parcialmente, suprimir a casualidade de alguma
influência, ou seja, a interferência do pesquisador.
Também foi realizada uma entrevista com o Gestor do Programa Bolsa Família,
adaptada de Rodrigues (2011), constituída de um diálogo frente a frente, de maneira
metódica. A entrevista foi posteriormente analisada, onde se buscou obter informações do
entrevistado sobre o assunto em questão, conforme indicam Lakatos e Marconi (1991).
Quanto à análise e interpretação dos dados, a planilha eletrônica foi utilizada como
principal meio para interpretar os dados quantitativos coletados, bem como para registrar e
manter em arquivos as informações e os dados da pesquisa. Além disso, a entrevista com o
Gestor do Programa Bolsa Família foi gravada em gravador digital e transcrita na íntegra, o
que possibilitou não só a análise destas informações como também o armazenamento destes
dados.
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4 ANÁLISE DE RESULTADOS
Nesta fase da pesquisa, foram avaliados os resultados obtidos por meio da aplicação de
questionário e entrevista adaptados de Rodrigues (2011). Com a análise dos dados, as
informações obtidas permitiram a elaboração de uma série de conclusões que serão relatadas a
posteriori.
4.1 Dados Gerais
Contemplando a primeira questão, analisou-se como os beneficiários do PBF tiveram
conhecimento do Programa, e o que constatou-se, foi que 38,75% dos entrevistados souberam
pela Prefeitura, seguido de 20% que souberam por vizinhos, 15% nos meios de comunicação
televisão/jornal/ rádio, 10% no Posto de Saúde da cidade, 7,5% souberam na escola/creche e
somando o restante dos percentuais, obteve-se 8,75% distribuídos entre parentes e amigos.
Ou seja, o maior responsável pela divulgação do Programa no município, foi a
Prefeitura, que utiliza os serviços dos seus técnicos para informar a população sobre a
existência do Programa e sua implantação no município.
Com relação ao tempo decorrido entre o preenchimento do formulário e o inicio do
recebimento do beneficio, 36,25% dos entrevistados responderam que esse tempo demorou de
1 a 6 meses, ou seja, uma parcela significativa dos beneficiários espera, de certa forma, pouco
tempo para auferir o benefício. Porém, outros 30% tiveram que aguardar de 7 a 12 meses, o
que significa um tempo maior para aqueles que vivem uma vida de carências, principalmente
com relação à alimentação.
Vale ressaltar que durante a pesquisa, essa questão foi bastante debatida entre os
entrevistados, pois em geral, o tempo de espera entre o cadastramento e o recebimento do
benefício tem sido um pouco demorado, alguns deles acham até que não irão mais receber o
benefício.
Esse fato mostra que não é possível definir o tempo de espera para o recebimento do
benefício, pois 16,25% dos entrevistados tiveram que esperar acima de 02 (dois) anos,
enquanto que outras aguardaram menos de 06 (seis) meses. Pode-se dizer que o elemento
mais analisado para o recebimento do beneficio é a renda per capita, pois quanto menor ela
for, maior a probabilidade de tornar-se um beneficiário, e consequentemente, menor o tempo
de espera.
Segundo Silva e Souza-Lima (2010 apud RODRIGUES, 2010), nas últimas décadas a
população brasileira sofreu um movimento migratório do campo para as cidades, porém as
cidades não suportavam um aumento tão intenso em sua população sem o investimento
necessário das autoridades, e em função disso, começaram a surgir às primeiras áreas de
ocupação nas cidades e junto vieram às favelas, os loteamentos clandestinos e irregulares,
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bem como os conjuntos habitacionais, que se espalharam pelo país, acelerando a periferização
das cidades. Nesse contexto, ao serem questionados sobre o tipo de moradia, bem como a sua
localização, 97,5% dos entrevistados responderem que moram em casas, sendo estas, 91,25%
localizadas na zona urbana. Os resultados demonstram que o Programa atende, em sua grande
maioria, moradores do perímetro urbano da cidade, fato este que pode ser atribuído a questão
de que a população urbana dos municípios brasileiros vem aumentando gradualmente, em
função da migração da população rural para as cidades.
Outro fator é a questão da condição de ocupação do domicílio, onde, de acordo com a
pesquisa, 53,75% destas casas são próprias, conforme mostra a Tabela 1.
Tabela 1 – Condição de ocupação do Domicilio
Item Porcentagem (%)
Alugado 27,5
Próprio 53,75
Cedido 18,75
Outra condição 0
Total 100
Fonte: dados da pesquisa, 2011
A Tabela 1 revela que uma pequena parcela da população entrevistada possui gastos
com moradia, o que acaba sendo um bom indicador, já que grande parte dos beneficiados
pode direcionar sua renda mensal para outros gastos.
4.2 Características dos moradores
No que se refere à composição familiar, os dados da pesquisa mostram que em 53,75%
das famílias entrevistadas são formadas por quatro a seis pessoas, seguido de 37,5% que são
formadas de uma a três pessoas. Com relação ao número de famílias existente em cada
domicílio, verificou-se que 96,25% são compostas de apenas uma família, seguido de 2,5%
que são formados por duas ou três famílias, e apenas 1,25% por quatro a cinco famílias. Neste
ponto, conclui-se que pouco mais da metade da amostra são constituídas por famílias não
numerosas, rompendo o preconceito de que a pobreza se revela em famílias extensas.
Quanto ao número de menores (0 a 17 anos) residentes no domicílio, constatou-se que
58,75% das famílias possuem entre um e dois menores, seguido de 28,75% que possuem entre
três e quatro. Percebe-se, que estas famílias estão se precavendo mais com relação ao número
de filhos, e com isso, estão exercendo um maior controle sobre a natalidade do município.
Constatou-se também que, nesses lares, o número de menores inscritos no Programa
Bolsa Família está entre um e dois (62,5% das famílias), enquanto que 26,25% representa
entre três a quatro menores.
13
Indagados sobre o tempo de recebimento do benefício, 88,75% dos entrevistados
responderam que recebem a bolsa há mais de um ano e 11,25% há menos de um ano.
Entende-se que o Programa Bolsa Família é um programa federal que auxilia
provisoriamente o estado de pobreza em que as famílias vivem, até que ela consiga meios
próprios para se sustentar. No entanto, é fato que a maioria dessas famílias não consegue
superar a situação de pobreza em que vivem, e mesmo quando suas rendas aumentam a
maioria não quer perder o beneficio. Com isso, não cancelam voluntariamente o benefício, e
em função disso, prolonga a sua permanência no Programa. Esse fato requer atenção, pois
quando isso acontece, é a vaga de outra família que está sendo ocupada.
No município de São Bentinho - PB, “280 famílias cadastradas no Cadastro Único,
estão na lista de espera, aguardando para ser contempladas”, afirma o Gestor do Programa
Bolsa Família em entrevista.
Acredita-se que esse é um fator preocupante, uma vez que fortalece o grau de
dependência e de estabilização da cidadania assistida, na qual o Estado garante o direito da
assistência aos mais vulneráveis, entretanto, não se pode preferir a mesma à emancipação.
Sobre o valor do último benefício recebido, o questionário detectou que as famílias
beneficiárias auferem um valor entre R$ 101,00 a R$ 150,00, representando 46%. Acrescenta-
se ainda que 21,25% recebem entre R$ 151,00 a R$ 200,00, como revela o Gráfico 1.
Gráfico 1 - Valor do último beneficio recebido
5%12,5%
57,5%
21,25%
3,75%
Até R$ 50,00
De R$ 51,00 a R$ 100,00
De R$ 101,00 a R$ 150,00
De R$ 151,00 a R$ 200,00
De R$ 201,00 a R$ 300,00
Fonte: dados da pesquisa, 2011
Para que as condicionalidades do Programa Bolsa Família sejam desempenhadas, as
famílias beneficiárias devem assumir contrapartidas nas áreas de saúde, educação e
assistência social, e quando isso não acontece, os beneficiários correm o risco de ter seus
benefícios bloqueados, suspensos ou até mesmo cancelados. Nesse ponto, o Gestor do
Programa Bolsa Família, informou durante a entrevista, que em função “do descumprimento
das condicionalidades, apenas 11 famílias, ou seja, um percentual de 2% delas está com o
benefício bloqueado.”
Nesse tocante, a pesquisa constatou que 30% dos entrevistados já tiveram seus
benefícios bloqueados ou cancelados, sendo que destes, 46% responderam que não sabem o
motivo e 33% informou que isso ocorreu por falta de cumprimento das condicionalidades. Os
14
demais motivos relatados foram o aumento da renda familiar (per capita); o fato das
crianças/adolescentes completarem a idade limite e a Prefeitura ter cancelado o benefício em
função da família receber mais de um benefício. Estes outros motivos somados representam
20,5% dos motivos bloqueio, suspensão ou cancelamento do benefício.
Sobre essa questão, vale destacar que existe uma desinformação quanto aos critérios
de condicionalidade do Programa, isto, aliás, é um ponto crítico, pois essa é uma questão que
merece melhor esclarecimento, tendo em vista que nem todos os beneficiários mostram-se
cientes do funcionamento do Programa Bolsa Família.
4.3 Educação
Apesar de ser proposta do Programa Bolsa Família, atuar na externalidade da escola,
oferecendo apoio às famílias com a transferência de renda e acompanhamento
socioeconômico, as famílias devem se comprometer com as contrapartidas, como a frequência
escolar dos filhos.
Desse modo, analisou-se o número de menores que estavam fora da escola antes da
família ser beneficiária do programa. O resultado detectado foi que a maioria das famílias
participantes (66,25%) não tinha nenhum filho fora da escola antes de ser beneficiário do
Programa, e que em 28,75% destas, tinha entre 1 a 3 filhos nesta situação. O Gráfico 2 ilustra
melhor essas informações.
Gráfico 2 – Menores que estavam fora da escola antes do programa
Fonte: dados da pesquisa, 2011
Vale ressaltar que, com relação aos dados de frequência escolar/evasão antes do
Programa no município, o Gestor do PBF afirmou em entrevista que:
antes de o Programa ser implantado no município, a Secretaria Municipal de
Assistência Social não tinha essas informações, a partir da integração entre esta
Secretaria com as Secretarias de saúde e educação, podemos acompanhar tanto a
frequência, bem como a evasão escolar de cada aluno inscrito no Programa”, além disso, o Gestor ainda informa que “esses dados são atualizados no sistema a cada 90
dias.
15
A partir da Tabela 2 é possível analisar a evolução do número de matrículas do
município entre os anos de 2006 a 2009, nas redes estadual e municipal de ensino.
Tabela 2 - Número de matriculas nas escolas de São Bentinho de 2006 a 2009
Tipo/ Ano 2006 2007 2008 2009
Total Municipal 945 943 957 880
Total Estadual
293 330 276 250
Fonte: adaptado de INEP/MEC. Disponível em:<
http://www.cnm.org.br/educacao/mu_edu_matricula_grafico.asp> Acesso em: 16 out.2011
Diante desses dados, percebe-se que na rede estadual de ensino, com exceção do
período de 2006/2007, não houve acréscimo considerável durante os anos analisados. Em
relação à rede municipal, observa-se que houve um pequeno acréscimo no período 2007/2008
e em seguida uma queda no número de matrículas no município. Desse modo, não se pode
atribuir diretamente ao Programa Bolsa Família a contribuição para o combate ao
analfabetismo. Porém, a manutenção das condicionalidades em longo prazo, pode criar uma
importante condição estrutural para que as crianças das famílias beneficiadas consigam
superar a condição de pobreza em que nasceram e vivem. Desta forma, o estímulo de
permanência das crianças e adolescentes na escola poderá contribuir para o quebra do ciclo de
reprodução da pobreza.
Outra questão levantada pelo questionário foi o quanto se gasta com educação, do
valor que é recebido pelo Programa. A pesquisa revelou que 53,75% dos participantes
disseram que gastam até R$ 50,00 enquanto que 30% não gastam nada. Apenas 12,5%
responderam gastar de R$ 51,00 a R$ 100,00, e 3,75% gastam de R$ 101,00 a R$ 150,00. Os
dados são de grande relevância, porque demonstram que o benefício recebido do Programa
Bolsa Família facilitou o acesso e permanência das crianças na escola, o que de fato é um
elemento que pode oferecer a esta criança, no futuro, condições para que seja uma pessoa
instruída e a partir disto, consiga inserir-se com maior facilidade no mercado de trabalho,
tornando-se um cidadão mais consciente da realidade em que vive.
4.4 Saúde
Com objetivo de investigar sobre a saúde dos beneficiários do Programa Bolsa Família
no município, a pesquisa buscou analisar qual a frequência que estes recebem a visita de um
agente de saúde em suas residências. Os resultados apontaram que 63,75% destas famílias
recebem pelo menos uma visita no mês. Outros 8,75% afirmaram que a visita só acontece
uma vez a cada três meses, bem como uma vez no ano e 15% afirmaram que nunca receberam
visita de agente de saúde, ou seja, esta parcela de beneficiários não recebendo o
acompanhamento da saúde em seu domicílio.
16
Este fato é de grande importância, pois os profissionais da rede de saúde têm a função
de realizar visitas e manter o acompanhamento das famílias, como cumprimento a
condicionalidade da saúde do Programa Bolsa Família. No entanto, essa é uma questão que
demanda apoio desses atores para induzir a organização dos serviços de saúde, bem como o
estabelecimento de novas rotinas e fluxos de atendimento para receber as famílias
beneficiárias. Quando a visita não acontece, essas famílias deixam de ter o acompanhamento
da saúde, e por isso, estão sujeitas a terem seus benefícios bloqueados/cancelados.
Com relação às gestantes, o questionário identificou quantas mulheres grávidas
existiam no domicílio e se estas estavam tendo acompanhamento médico, ou seja, se estavam
realizando o pré-natal. O que se observou, foi que nas famílias pesquisadas apenas 12,5%
tinham entre uma a duas gestantes, e que todas estavam tendo acompanhamento médico. Este
fato revela que estas mulheres estão se mostrando conscientes sobre a importância de fazer
um acompanhamento médico em sua gestação, além de ser um requisito para o recebimento
do benefício do Programa.
Quando perguntado se o cartão de vacinação das crianças estava em dia, 98,65% dos
participantes que tinham filhos, responderam que a vacinação estava atualizada, o que é um
fator bastante positivo, evidenciando o quanto estas famílias se preocupam em manter seus
filhos protegidos de doenças e o quanto elas estão tendo acesso aos serviços públicos de
saúde.
A partir desses dados, observa-se que a condicionalidade referente à saúde do
Programa Bolsa Família vem sendo cumprida com êxito pela maioria dos beneficiários do
município. No entanto, é preciso que o acompanhamento por parte dos profissionais da saúde
seja mais intenso e que as famílias beneficiárias colaborem para manter-se atualizados com
estes serviços.
4.5 Trabalho
A oferta de trabalho, principalmente de maneira formal, é um fator bastante restrito no
município de São Bentinho, tendo em vista a tímida economia local que não é capaz de
absorver os trabalhadores ativos da cidade, bem como a existência de mão-de-obra
desqualificada que dificulta o crescimento econômico da cidade.
Sobre esse assunto, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) do
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), informa que no município de São Bentinho, o
número de empregos formais no mês de setembro de 2011 foi de apenas seis (MTE, 2011).
Desse modo, o questionário tentou averiguar quantas pessoas maiores de 18 anos,
moradores da família, estão trabalhando. O que se constatou foi que em 73,75% das famílias
possuem entre um ou dois adultos trabalhando e que em 23,75% destas, não tem nenhum
adulto no mercado de trabalho. Com relação aos desempregados, verificou-se que em 60%
17
dos lares analisados existem entre uma e duas pessoas que estão desempregadas. Ou seja,
mais da metade dos adultos destas famílias não consegue inserir-se no mercado de trabalho.
Pode-se dizer que este fato ocorre ou por falta de capacitação e de estímulo, ou em
função da baixa escolaridade e formação, que faz com que estas pessoas não conseguiam
competir com indivíduos mais capacitados, na busca por empregos de maior remuneração e
que requerem escolaridade ou formação acadêmica. Com isso, estas pessoas se tornarem
vítimas do desemprego estrutural2, o qual provoca degradação dos salários e aumento do
número de trabalhadores no emprego temporário, bem como nas atividades autônomas, onde,
muitas vezes, a renda auferida por essas atividades não consegue suprir as necessidades
mínimas e básicas de uma família.
A pesquisa também verificou quantos menores de 18 anos, moradores da família, estão
trabalhando, e o que constatou-se foi um dado bastante positivo, pois em 96,25% destas
famílias não existe nenhum menor de idade desempenhando atividade remunerada, ou seja, a
questão da erradicação do trabalho infantil tem sido praticada e levada a sério no município.
Outro dado analisado foi com relação ao número de aposentados que reside nos
domicílios, e observou-se que em apenas 11,25% dos lares existiam de um a dois
aposentados, que podem colaborar com seus rendimentos para a renda total da família.
Sobre a oferta de cursos de geração de renda, a pesquisa revelou que 43,75% dos
membros da família já participaram de algum curso promovido pelo Programa Bolsa Família,
e destes, 37,14% afirmaram tem tido alguma oportunidade no mercado de trabalho.
Conforme o Gestor do Programa Bolsa Família declarou em entrevista:
a Secretaria Municipal de Assistência Social tem disponibilizado diversos cursos
profissionalizantes e de capacitação para os beneficiários do Programa, como por
exemplo, Corte e costura, Artesanato, Arte culinária, entre outros, e tem contado
com grande participação do público-alvo, que no caso, são os beneficiários do
Programa Bolsa Família.
O Gestor ainda acrescenta que:
com base nos relatórios do Centro de Referência de Assistência Social - CRAS, a
Secretaria possui alguns dados sobre os beneficiários, que por meio de cursos de
capacitação e geração de renda, ofertados pelo Programa, tiveram uma oportunidade
no mercado de trabalho.
Diante disso, percebe-se que seria de grande importância, a criação de empregos e de
ferramentas que permitam o acesso dos trabalhadores mais necessitados a um trabalho
remunerado. Certamente, o Programa Bolsa Família não foi delineado para preencher esta
lacuna, porém, o Programa parece ser desprovido de um mecanismo que ofereça um suporte
mais eficaz, voltado à preparação dos membros familiares ao mercado de trabalho, mas para
isso, é preciso que os próprios beneficiados compreendam que o Programa foi criado para
2 Resulta da desproporção qualitativa entre demanda e oferta de força de trabalho, devido, sobretudo a falta de
força de trabalho qualificada ou, mesmo, a inadequação do tipo de qualificação as necessidades do mercado
(LANGUER, 2004).
18
beneficiar apenas provisoriamente as famílias carentes, e que, portanto, eles deviam buscar
alternativas para se desvincular.
4.6 Alimentação
Sabe-se que educação, saúde, trabalho, alimentação, entre outros, são direitos
universais garantidos pela Constituição Federal de 1988. No tocante ao acesso à alimentação,
esse fator coloca o Estado na posição de provedor de um direito constitucional ao cidadão:
garantir a segurança alimentar de sua população. Assim, pode-se dizer que políticas sociais
voltadas à diminuição da pobreza e da fome são instrumentos ativos na ação de amortizar as
desigualdades sociais e de promover um país mais equitativo, além de garantir o direito à
alimentação.
Para apurar esse fato, o questionário investigou com que freqüência na semana as
pessoas moradoras do domicílio, faziam três ou mais refeições por dia, antes e depois de
entrar no PBF. Como respostas, foram obtidos os seguintes dados, conforme mostra as
Tabelas 3 e 4.
Tabela 3 - Três refeições por dia (antes do PBF)
Três ou mais refeições por dia Porcentagem (%)
7 dias 50
5 ou 6 dias 12,5
3 ou 4 dias 30
2 dias ou menos 7,5
Total 100
Fonte: dados da pesquisa, 2011
Sobre esses dados, a Tabela 3 mostra que metade dos moradores dos moradores
domicílios pesquisados, independentemente de receber o benefício do Programa Bolsa
Família, já tinha acesso as principais refeições todos os dias da semana. No entanto, depois da
inclusão no PBF, cerca de 15% dessas famílias puderam se alimentar melhor, pois a partir
deste momento, tiveram acesso as três refeições diárias, durante os sete dias da semana,
conforme mostra a Tabela 4.
Tabela 4 - Três refeições por dia (depois do PBF)
Três ou mais refeições por dia Porcentagem (%)
7 dias 65
5 ou 6 dias 7,5
3 ou 4 dias 26,25
2 dias ou menos 1,25
Total 100
Fonte: dados da pesquisa, 2011
19
Analisando as tabelas, bem percebe-se que para a maioria destes domicílios, o
Programa Bolsa Família contribuiu para o aumento do número de refeições destas famílias,
pois os recursos do Programa permitiram um maior o acesso a compra de alimentos.
Quanto ao gasto com alimentação, a pesquisa demonstrou que do valor recebido,
46,25% dos informantes gastam entre R$ 51,00 a R$ 100,00 na compra de gêneros
alimentícios, seguidos de 20% que utilizam até R$ 50,00, como também de R$ 101,00 a
150,00 e de 5% que gastam entre R$ 151,00 a R$ 200,00 do dinheiro com alimentos. Atentou-
se para o fato de 8,75% das pessoas questionadas declararem que não gastam nada com
alimentação, o que pode ser cruzado com os dados de educação, quando 3,75% declararam
gastar na faixa de R$ 101,00 a R$ 150,00 com os estudos, o que provavelmente estes estão
inseridos entre os que não gastam nada com alimentação.
A partir destes dados, é perceptível que além da aquisição de alimentos, parte do
benefício também se destina a outras necessidades, pois conforme abordado pelo questionário,
o valor recebido em média por estes beneficiário é de R$ 101,00 a R$ 150,00.
Mesmo com o recebimento do benefício, a pesquisa também analisou se essas famílias
necessitam de alguma doação para se alimentar. Nesse sentido, o estudo revelou que 35%
necessitava de alguma ajuda, um auxilio extra, que geralmente é doado pela Secretaria
Municipal de Assistência Social, como também pela Igreja, vizinhos, parentes, entre outros.
Com esses dados, percebe-se que mesmo recebendo o benefício, uma parcela dessas
famílias ainda não conseguiram satisfazer as necessidades básicas, como por exemplo, o
acesso a uma alimentação diária.
4.7 Realidade Atual
Sobre a realidade atual, a pesquisa questionou como esses beneficiários avaliam a
situação financeira do seu domicílio quando comparada com a situação antes de receberem o
benefício do Programa Bolsa Família. Constatou-se que para 71,25% dos beneficiários, a
situação financeira ficou melhor, enquanto que 26,25% atribuíram que a partir da inserção no
Programa, sua situação financeira se tornou muito melhor. Apenas 2,5% considera que sua
situação permaneceu igual. Esses dados revelam que de fato o benefício do Programa passou
a fazer parte da renda familiar, permitindo o acesso a itens antes não disponíveis para essas
famílias, como o acesso diário à alimentação, material escolar para os filhos, entre outros.
Quando questionados sobre a utilização de crédito/caderneta/fiado/prestação para
comprar alimentos e roupa, a pesquisa revelou que 70% dos domicílios utilizam esta forma de
pagamento nos locais onde geralmente compram, para adquirir alimentos, e 63,75% utilizam-
se deste mesmo meio para comprar roupa. Isso demonstra que o programa permitiu melhores
condições de acesso ao crédito local em decorrência do recebimento do benefício, resultando
no aumento de movimentação do comércio local.
20
4.8 Natalidade
Principalmente após o governo anunciar que, a partir de novembro de 2011, as
famílias cadastradas no Programa Bolsa Família passarão a receber benefícios até o limite de
cinco filhos, com idade de até 15 anos (antes, o limite era de três filhos), houve de fato um
número maior de críticas ao Programa. No entanto, economistas e estudiosos do Programa
dizem não ver risco de estímulo o aumento da natalidade nesse caso, em função do baixo
valor do benefício (Jornal O Globo, 20/09/2011, p. 09).
Sobre esse assunto, a pesquisa analisou o número de filhos que os participantes tinham
antes e depois de serem beneficiários do programa. Os Gráficos 3 e 4 evidenciam os seguintes
resultados.
Gráfico 3 - número de filhos antes do programa
Fonte: dados da pesquisa, 2011
Gráfico 4 - número de filhos depois do programa
Fonte: dados da pesquisa, 2011
Analisando o Gráfico 3, percebe-se que a maioria (61,25%) das famílias, antes de
serem beneficiarias do Programa, tinham entre um e dois filhos, enquanto que 17,5%
possuíam três filhos. Após a inserção no Programa, esses dados mudaram, pois os que tinham
entre um e dois, passaram a ser 56,25%, e os que tinham três filhos, aumentaram para 22,5%.
Ou seja, houve sim uma pequena evolução na taxa de natalidade, mesmo com a existência de
várias campanhas de mobilização no município sobre os meios contraceptivos, porém, não se
pode atribuir exclusivamente este acréscimo ao fato das famílias incluírem no orçamento o
benefício, uma vez que esta variação foi de apenas 5%. Para comprovar realmente esta
21
influência, seria necessário verificar a taxa de natalidade das famílias que não fazem parte dos
beneficiários do PBF no município.
Por fim, o estudo buscou averiguar sobre a confiança destas famílias, para ter filhos
depois de fazer parte do Programa. Sobre esse quesito, 87,5% afirmaram que não se sentiram
confiante para ter mais filhos.
Enfim, a pesquisa aponta que, na prática, o Programa Bolsa Família não incentivou a
ampliação do número de filhos entre as famílias beneficiárias no município de São Bentinho,
tendo em vista que estas famílias perceberam que o valor do benefício é insuficiente para
arcar com as despesas de mais filhos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base nos resultados da pesquisa, foi possível identificar algumas mudanças que o
Programa Bolsa Família proporcionou às famílias beneficiárias do município de São
Bentinho, com relação à situação socioeconômica e demográfica.
Analisou-se que o benefício auferido pelo Programa proporcionou um aumento na
renda familiar dos beneficiários, melhorando a situação financeira dessas famílias, na medida
em que passou a servir de incremento na renda, possibilitando o acesso a itens antes não
disponíveis. Com isso, observou-se melhorias significativas nas condições de vida dessas
famílias, principalmente no atendimento de suas necessidades e de demandas prementes do
grupo familiar. Uma delas foi o acesso a alimentação, visto que 50% das famílias pesquisadas,
independentemente de receber o benefício do Programa Bolsa Família, já tinham acesso às
principais refeições, todos os dias da semana. No entanto, depois da inclusão no PBF, esse
dado passou para 65%, demonstrando um aumento de 15% dessas famílias no acesso as três
refeições diárias, durante os sete dias da semana.
Além disso, ao vincular condicionalidades na área de educação para o recebimento do
benefício, constatou-se que o Programa pode contribuir, a longo prazo, para o combate ao
analfabetismo e a evasão escolar no município, bem como para a permanência de crianças e
adolescentes na escola, permitindo assim, o estímulo a aprendizagem e o desenvolvimento de
suas capacidades.
No tocante a condicionalidade da saúde, os dados revelaram-se bastante positivos, pois
a maioria das famílias analisadas demonstrou uma preocupação em realizar o
acompanhamento de saúde do Programa, visto que todas as gestantes detectadas na pesquisa
estavam realizando as consultas de pré-natal, e que 98,65% das famílias entrevistadas
mantinham o cartão de vacinação das crianças atualizado. Com isso nota-se uma maior
conscientização das famílias, no que diz respeito ao acompanhamento médico gestacional,
22
bem como em manter os filhos vacinados e protegidos contra possíveis doenças e epidemias
que venham a ocorrer.
Apesar destes resultados, faz-se necessário que o município intensifique a divulgação
dos critérios de condicionalidade do Programa, tendo em vista a existência de uma parcela
significativa de beneficiários que não tem conhecimento do funcionamento do Programa.
Portanto, essa é uma questão que merece maior atenção, pois contribuirá para uma diminuição
do bloqueio/cancelamento dos benefícios das famílias, além de possibilitar a minimização das
deficiências e limitações dos beneficiados.
Com relação à natalidade, verificou-se que houve uma pequena evolução na taxa de
natalidade do município, todavia, este acréscimo não pode ser atribuído exclusivamente ao
fato das famílias terem passado a contar com o benefício, uma vez que esta variação foi de
apenas 5%. Por outro lado, identificou-se também, que a grande maioria das famílias
entrevistadas (87,5%), estão se precavendo com relação ao número de filhos.
Outro dado importante detectado ao longo da pesquisa foi com relação ao trabalho, o
qual mostrou a inexistência de filhos menores de idade desempenhando atividade remunerada
em 96,25% das famílias participantes. Isso demonstra que a questão da erradicação do
trabalho infantil tem sido praticada e levada a sério no município. Além disso, o Programa
permitiu que uma parcela significativa de beneficiários (37,14%), tivesse acesso a alguma
oportunidade no mercado de trabalho, a partir da participação em cursos de geração e
capacitação de renda, promovidos pela Prefeitura para os beneficiários do Programa.
De modo geral, pode-se afirmar que essas famílias tiveram mudanças expressivas nas
suas condições de vida, após a inserção no Programa Bolsa Família. No entanto, para que
essas mudanças sejam efetivas, faz-se necessário que essas famílias busquem melhores
formas de capacitação profissional para acompanhar a evolução tecnológica da sociedade, e
consequentemente, desvinculem-se do Programa.
Além disso, o Programa Bolsa Família apresenta limitações no combate efetivo da
pobreza e da desigualdade social no município, visto que, apesar das famílias conseguirem
uma melhoria no acesso ao consumo de gêneros de primeira necessidade, as mesmas
permanecem em um quadro de pobreza apenas atenuado.
Diante disso, a pesquisa incita questionamentos, tais como: será que os beneficiários
tendem a procurar emprego ou se acomodam com a renda recebida? Quais os impactos do
Programa nas finanças do município? Essas são algumas das questões que não foram
possíveis de serem analisadas com este estudo, mas que podem servir de indicação para novas
pesquisas, além de complementar os resultados apontados nesta pesquisa.
23
REFERÊNCIAS
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Florianópolis: Departamento de Ciência da Administração/UFSC; [Brasília]: CAPES: UAB,
2010. 126p.
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metodologia Científica: um guia para a iniciação científica. 2. ed. São Paulo: Makron Books,
2000.
BOLSA Família pagará por 5 filhos desde a gravidez: para especialistas, baixo valor do
benefício impediria explosão demográfica. O Globo, Rio de Janeiro, ano 87, n. 28.533, 20
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Minicurrículo
Maria Odete Leandro de Sá
Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Campina Grande – UFCG.
Especialista em Gestão Pública Municipal pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB
Virtual. Atualmente, exerce o cargo de Assistente Administrativo na Secretaria Municipal
de Assistência Social do município de São Bentinho – PB.
E-mail: [email protected]
24
COLARES, Mônica Socorro Pereira. Programa de transferência de renda no Brasil e seus
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