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42 www.backstage.com.br REPORTAGEM Bruno Degrazia [email protected] Um som que ainda Teclados analógicos sempre foram objeto de desejo e admiração de músicos dos mais diversos estilos musicais. Embora de vez em quando esses velhos companheiros tenham seus problemas de “saúde”, exigindo tempo e dinheiro para consertos e manutenção, na hora em que mais se precisa deles, eles estão sempre lá, com seus timbres orgânicos e elegantes, prontos para dar vida e alma a novas e velhas canções. dá o que falar N o Estúdio Casa Elétrica, em Porto Alegre, dirigido por Leonardo Brunelli e Vini Tonello, encontra-se uma in- teressante coleção de teclados vintage e que estão dis- poníveis aos clientes do estúdio. No local, há verdadeiras relí- quias, imortalizadas em gravações antológicas que fizeram his- tória na música internacional e brasileira. O tempo só trouxe mais charme e carisma a esses instrumentos musicais. A cole- ção, que não pára de crescer, começou com um piano elétrico Fender Rhodes Stage Mark I em mau estado de conservação, que foi totalmente recuperado com peças originais, já tendo inclusive passado pelas mãos de Ed Motta e sua banda e pelo guitarrista Robben Ford, quando foi alugado para shows em Porto Alegre. O acervo Hoje também fazem parte da coleção um piano elétrico Wurlitzer - muito utilizado pelos Beatles, Ray Charles, Supergrass -, um Farfisa Compact Duo - órgão italiano fabrica- Na Casa Elétrica há verdadeiras relíquias, imortalizadas em gravações antológicas que fizeram história na música internacional e brasileira Fotos: Jorge Bueno / Divulgação

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Page 1: Um som que ainda - Revista Backstage · Dos anos 80, os teclados presentes são um Roland JX-8P, um Korg Poly 800 II, um Cássio CZ-3000, além de modelos ... dutor musical de artistas

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REPORTAGEM

Bruno [email protected]

Um som que aindaTeclados analógicos sempre foram objeto de desejo e admiração demúsicos dos mais diversos estilos musicais. Embora de vez em quandoesses velhos companheiros tenham seus problemas de “saúde”, exigindotempo e dinheiro para consertos e manutenção, na hora em que mais seprecisa deles, eles estão sempre lá, com seus timbres orgânicos eelegantes, prontos para dar vida e alma a novas e velhas canções.

dá o que falar

No Estúdio Casa Elétrica, em Porto Alegre, dirigido porLeonardo Brunelli e Vini Tonello, encontra-se uma in-teressante coleção de teclados vintage e que estão dis-

poníveis aos clientes do estúdio. No local, há verdadeiras relí-quias, imortalizadas em gravações antológicas que fizeram his-tória na música internacional e brasileira. O tempo só trouxemais charme e carisma a esses instrumentos musicais. A cole-ção, que não pára de crescer, começou com um piano elétricoFender Rhodes Stage Mark I em mau estado de conservação,

que foi totalmente recuperado com peças originais, já tendoinclusive passado pelas mãos de Ed Motta e sua banda e peloguitarrista Robben Ford, quando foi alugado para shows emPorto Alegre.

O acervoHoje também fazem parte da coleção um piano elétrico

Wurlitzer - muito utilizado pelos Beatles, Ray Charles,Supergrass -, um Farfisa Compact Duo - órgão italiano fabrica-

Na Casa Elétrica há verdadeiras relíquias, imortalizadas em gravações antológicas que fizeram história na música internacional e brasileira

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do nos anos 60, um dos primeiros da erado som psicodélico, bastante usado porPink Floyd em discos como o clássicoLive at Pompeii. Esse instrumento foi obti-do em uma troca por um Yamaha DX-7pela internet – além, é claro, de umHohner Clavinet, um clássico que podeser escutado em inúmeras gravações deStevie Wonder e Bob Marley, entre ou-tros grandes ícones da música pop.

A lista continua com um Elka StringMachine, um trio de Moogs de dar insônia

em muitos tecladistas, Memorymoog -modelo composto por seis minimoogs utili-zado por David Bowie, Herbie Hancock eTom Petty, Moog Opus 3 e Poly Moog -, oórgão Hammond Porta B, presente emCDs como A & o Z, dos Mutantes - alémdo Farfisa Syntorchestra, mais um pianoelétrico Fender Rhodes, só que modeloStage Mark II, e também um harmo-nium. Dos anos 80, os teclados presentessão um Roland JX-8P, um Korg Poly 800II, um Cássio CZ-3000, além de modelosmais novos como um Ensoniq TS-10, umKorg Prophecy, um Tokai TX5, teclado

de fabricação nacional que simula tim-bres de Hammond.

Segundo Vini, apesar do inegávelavanço e resultados bastante convincen-tes das novas tecnologias, os timbresanalógicos dos instrumentos eletro-mecânicos, como os pianos elétricos, ór-gão Hammond e os Clavinet, ainda sãoinsuperáveis e geralmente se encaixammelhor na mixagem, sem falar na ques-tão física da pegada e da sensação tátilque é tocar com a coisa real; é outro tipode experiência, que inspira muito maisna hora de tocar.

Bandas independentes utilizam os timbres

marcantes dos sintetizadores e órgãos

“Depois de gravarmos as músicas no estúdio Mosh,mandamos o material para os EUA para ser mixado enão ficamos muito satisfeitos com o resultado final.Resolvemos então entregar as gravações para a Casa

Elétrica para mixar e masterizar”

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Claro que é possível fazer coisas mui-to boas com simuladores e samplers, ossintetizadores virtuais chegam bem per-to dos sintetizadores analógicos e o mer-cado está oferecendo muitos produtosque vale a pena adquirir, principalmen-te pela praticidade e custo baixo de ma-nutenção. Fica muito caro e complica-do levar teclados vintage em shows eturnês e os simuladores dão conta dorecado tranqüilamente, mas no estúdio,se der para utilizar os originais, é sempreum bom investimento.

É do vintage que elesgostam maisDiversas bandas e músicos do cená-

rio da música independente já passa-ram pelo estúdio e se utilizaram dostimbres marcantes dos pianos elétri-cos, sintetizadores e órgãos musicais,seja para regravar takes registradosoriginalmente com simuladores, oupara colocar mais tempero nas grava-ções, buscando os mais diversos tim-bres e sonoridades partindo do blues ejazz, passando pelas ´psicodelias´ dosanos 60 e 70, até chegar à atual músi-ca eletrônica. Entre eles, o tecladistaLuciano Leães que participou de im-portantes festivais de blues no Brasil,Europa e Estados Unidos com a Fer-nando Noronha & Black Soul (o CDmais recente, foi mixado e masteri-zado na Casa Elétrica e produzido pe-lo americano Chris Duarte).

Segundo o próprio Leães, “a Casa Elé-trica é sem dúvida um estúdio de refe-rência no sul do país. Além de contarcom todos os recursos necessários paraum excelente resultado final e com doisgrandes profissionais, Leonardo Brunellie Vini Tonello, lá a gente encontra umambiente onde o músico fica à vontade ese sente em casa”, diz. Ainda segundoLeães, parte disso se deve à grande expe-riência da dupla e pelo fato de ambos se-

rem músicos.Ele cita como exemplo o trabalho na

mixagem e masterização do último dis-co de Fernando Noronha & Black Soul,Bring It. “Depois de gravarmos as músi-cas no estúdio Mosh, mandamos o ma-terial para os EUA para ser mixado enão ficamos muito satisfeitos com o re-sultado final. Resolvemos então entre-gar as gravações para a Casa Elétricapara mixar e masterizar. O resultado foi

um disco de altíssima qualidade emnossas mãos. Eu posso dizer que na CasaElétrica a gente consegue uma qualida-de internacional sem ter que sair decasa”, ressalta, acrescentando que o úl-timo trabalho que fez lá foi a gravaçãode algumas músicas com o Wurlitzer daCasa para o disco dos Locomotores, pro-duzido por Luciano Albo.

Outro que é adepto do Wurlitzer éLúcio Dorfman, ex-tecladista da bandaEngenheiros do Hawai – que gravou

quatro CDs e o DVD Ao Vivo MTV coma banda, além de ter tocado no Rock inRio III. Atualmente, trabalha como pro-dutor musical de artistas como o gaúchoArmandinho e é integrante do grupoCowboys Espirituais, cujo novo CD tam-bém foi mixado e masterizado na CasaElétrica por Vini e Brunelli. “Gosto muitode vir aqui no estúdio, porque além dosequipamentos de gravação, como o com-pressor-limiter Urei LA-4, tem todos es-tes teclados e amplificadores que facili-tam a instrumentação do produtor”, diz.

Mistura de tecnologiasPara Dorfman, a possibilidade de inte-

grar tecnologias consagradas com os maisrecentes recursos tecnológicos é um as-pecto muito positivo. Ele valoriza o fato deos técnicos do estúdio também serem mú-sicos, muito flexíveis e pacientes no pro-cesso de gravação. “O ideal para o produ-tor era ter todos esses equipamentos emcasa e a Casa Elétrica possibilita isso, esteclima mais relax, mais acolhedor, é comose fosse nossa própria casa. Um dos meusfavoritos é o Clavinet da Hohner, um dosmeus sonhos de consumo”, fala.

Outro músico atuante na cena musi-cal independente e adepto da coleçãode teclados da Casa é o guitarrista etecladista João Maldonado. Ele passoupelo estúdio para mixar e masterizarsingles de seu trabalho próprio e os CDsdo músico gaúcho Tweedie e da bandacatarinense The House, produzidos porele no Estúdio Rock, do baterista Paulo

“O ideal para oprodutor era ter todosesses equipamentosem casa e a CasaElétrica possibilita

isso. É como se fossenossa própria casa”

O Hohner Clavinet e o Hammond Pedais de efeito e delays, como o Roland Space Echo

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www.estudiocasaeletrica.com.br

www.fernandonoronha.com

www.ataweb.com.br

www.calibre66.com.br

www.nunomarques.com.br

www.leonardobrunelli.com.br

Toda informação sobre teclados e

quem já tocou com eles:

www.synthmuseum.com

Para saber mais:

Arcari. Com um CD de blues no merca-do, também toca com a banda de rockTNT, além de ter participado de diver-sos CDs e gravações com músicos, comoo guitarrista Solon Fishbone. “É muitobom ter um estúdio que facilita o acessoa tantos instrumentos e recursos de gra-vação e com preços acessíveis ao músicoindependente”.

Além da coleção de teclados vintage, oestúdio oferece vários amplificadoresvalvulados, como um Marshall JCM 2000TSL 100, um combo Marshall de 100 wattsdos anos 70 - mesmo modelo utilizado porStevie Ray Vaughan antes de passar paraos Fenders -, Gianninis Bull Dog e TrueReverber, muitos pedais de efeito, além doseco de fita (delays) Roland Space Echo eUnivox EC 100, muito usado por EddieVan Halen, nos primeiros discos.

Muitas vezes os teclados são conectadosnesses equipamentos em busca de sonori-dade interessantes e originais. Para nãodeixar os guitarristas em desvantagem,também oferecem guitarras De Armond etipo Stratocaster, além de violões e váriospedais de distorção da Rat, Vox e Ibanez,além do E-Bow, wah-wahs, delays e chorusda Danelecro, entre outros.

Segundo Vini e Brunelli, na CasaElétrica as gravações são feitas commuita dedicação, profissionalismo euma boa dose de bom humor. Não é umestúdio convencional, funciona maiscomo um “project studio”, seguindo atendência dos estúdios de produtoresnos Estados Unidos e Europa. É um es-túdio especializado em produção musi-cal, gravação, mixagem e masterização.As sessões são realizadas sem a típicapressão de horário, proporcionando umambiente mais criativo para experimen-tação de timbres, sonoridades e muitaatitude sonora.

A proposta é produzir CDs e singles debandas da cena musical independenteem projetos fechados, lançar trabalhos

de qualidade artística e de potencial co-mercial, dando todo direcionamento ar-tístico aos seus clientes.

Cenário independenteO estúdio é muito procurado para

mixagem e masterização de trabalhosgravados por outros produtores e estú-dios, estabelecendo diversas parceriasno mercado musical. Para a banda derock Desvio Padrão foram gravados te-clados analógicos e muitos takes deguitarra, além da mixagem e masteri-zação do CD.

Entre as produções assinadas pelaCasa, destacam-se as da banda de rockpsicodélico Os Flutuantes, o surf rock deBob Joe, a banda de ska/rock Calibre 66, abanda de pop rock ATA e o recém-lança-do CD de pop/reggae do cantor NunoMarques, com Brunelli nas guitarras e vio-lões e Vini nos teclados e programações debateria e groovebox.

A Casa Elétrica começou informal-mente com a finalização do CD Relógios

de Sol, de Nei Lisboa, e a mixagem doCD Ao Vivo no Teatro São Pedro, dabanda Reação em Cadeia, e tomou for-ma definitiva com o CD Leonardo

Brunelli Amplificado, parcialmente gra-vado e mixado no estúdio e que teveparticipações de Plinio Profeta, Hum-berto Barros (Kid Abelha), Lee Mar-

cucci (baixista dos Titãs) e Tuto Ferraz(Grooveria e ex-Max de Castro), LúcioDorfman, Renato Mujeiko, LucianoAlbo e Vini Tonello (Rosa Tattooada),Cris Bertolucci e Roni Martines (BlackSoul), entre outros.

O estúdio coloca à disposição todaexperiência do músico, produtor e téc-nico de gravação Vini Tonello, que pos-sui no currículo mais de dez discos deouro, tendo produzido CDs de bandascomo Reação em Cadeia, Rosa Tattoo-ada, Bidê ou Balde, Solon Fishbone, eartistas nacionais em duas edições doCD Planeta Atlântida. Também foi otécnico de gravação de CDs da TequilaBaby, Papas na Língua, Bebeto Alves,Yamandú Costa, do selo Antídoto.

Trabalhou com produtores america-nos como Daniel Rey (Tequila Baby),Ron Levy (Fernando Noronha), com obaterista dos Ramones, Marky Ramone,além de Dominguinhos e Renato Bor-guetti, entre outros. Recentemente,gravou o DVD ao vivo da banda Te-quila Baby no Bar Opinião, para a gra-vadora Orbeat Music, e gravou no estú-dio Acit o CD da banda Ultramen, paraa gravadora Antídoto.

Leonardo Brunelli é guitarrista gra-duado no GIT (USA), tendo integradodiversas bandas da cena underground deLos Angeles durante quatro anos. Atu-almente, produz e participa de CDscomo músico de estúdio e divulga o CDLeonardo Brunelli, Amplificado.

O estúdio é muitoprocurado para

mixagem e masterizaçãode trabalhos gravados

por outros produtores eestúdios, estabelecendo

diversas parcerias nomercado musical