um só é vosso mestre e todos vós sois...

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JORNAL DA DIOCESE DE GUAXUPÉ | ANO XXXII - 339 | FEVEREIRO DE 2018 FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT Um só é vosso Mestre e todos vós sois irmãos Mt 23,8

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JORNAL DA DIOCESE DE GUAXUPÉ | ANO XXXII - 339 | FEVEREIRO DE 2018FECH

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Um só é vosso Mestre e todos vós sois irmãos

““Mt 23,8

“Aprendi através da experiência amarga a suprema lição: controlar minha ira e torná-la como o calor que é convertido em energia. Nossa ira controlada pode ser

convertida numa força capaz de mover o mundo” [Mahatma Ghandi]

Somos parte de uma mesma família humana. E como tem sido difícil nos compreendermos como irmãos des-

de o princípio da história. Confundimos a experiência profunda de fraternidade com a competição desleal que nos desumaniza e torna o outro um inimigo a ser combatido.

Com a Campanha da Fraternidade des-te ano, somos convidados a nos questionar se os meios e os instrumentos sociais que escolhemos têm nos feito nos aproximar do projeto que o Senhor da Paz nos propõe constantemente. “Vós sois todos irmãos”, esta afirmação do evangelho de Mateus, lema da CF 218, tem sido nossa bússola em nossa caminhada conjunta ou será que nos esquecemos desse aspecto tão inerente à fé cristã?

Se formos capazes de responder ao questionamento tão essencial para a vivên-cia comunitária, teremos feito um esclare-

cedor processo quaresmal. A editoria Opi-nião traz uma reflexão sobre a experiência dos seguidores de Cristo diante do mistério da iniquidade, capaz de gerar até o fratricí-dio cruel. No Em Pauta, você poderá encon-trar um resumo do texto-base da CF 2018, que oferece uma análise dura da realidade brasileira, mas apresenta, a partir da visão cristã, soluções para a transformação de nossas comunidades.

Comunidades que também celebram sua fé ao vivenciar através da piedade po-pular suas festas, mas também o período quaresmal tão relevante para o crescimen-to espiritual e processo de conversão. Iti-nerário que deve pautar-se na constante catequese, seja em preparação sacramen-tal ou na formação continuada, que indica a cada cristão o caminho virtuoso que se pauta na caridade, fé e esperança.

Acompanhando o Ano do Laicato, neste

mês refletimos sobre a formação de nossos leigos e leigas como caminho indispensá-vel para o desenvolvimento da evangeli-zação em nossas comunidades. Essa força de todos os agentes evangelizadores é fundamental para superar um cenário cada vez mais complexo e indiferente à ação da Igreja. Na editoria Atualidade refletimos so-bre os impactos fortes que a época atual tem gerado à difusão dos valores eclesiais e cristãos.

Ao somarmos nossos esforços tenha-mos a convicção proporcionada pela fé que o Reino de Deus ainda é possível entre nós. Façamos de nossa vida uma profunda louvação, oportunizando atitudes que nos configurem em autênticos discípulos de Cristo, capazes de se oferecer em sacrifício pelo bem da humanidade. Mas, para isso, se faz essencial assumir com coragem nos-sa vocação de batizados.

editorial

voz do pastor

expediente

Nada mais justo que a superação da violência como objeto de preocupa-ção para estudo, reflexão e tomada

de posição diante da verdadeira tragédia que abala a sociedade como um todo.

Ninguém mais suporta as consequên-cias de toda ordem causadas pela ação violenta; o mal-estar é geral e se instalou em nossa sociedade. Pessoas estão so-frendo e cada uma procura se fechar ainda mais na busca de segurança e paz. Uma grande inércia se apoderou de nós, levan-do-nos a pensar que a violência tornou-se imbatível, basta olharmos os noticiários da TV e os jornais. Mesmo pessoas de grande destaque e responsabilidade na socieda-de se acham no direito de praticar delitos, gerando instabilidade e considerando seus atos extremamente normais. Assim, a vio-lência toma proporções infinitamente in-controláveis fazendo com que pessoas se outorguem o direito de praticar atos ilícitos, vivendo toda uma prática destrutiva como algo normal em uma sociedade.

A violência é crescente e seus níveis mais elevados corroem as relações, fragi-

lizam a estabilidade social nos níveis po-lítico, econômico e até mesmo religioso. Todos, mais do que nunca, sonham e es-peram por dias melhores. Mas nada disso acontecerá sem empenho, compromisso, luta e, até mesmo, denúncia. Nossa atitude deve ser profética, com marcas profundas a partir da Palavra de Deus.

Nossas comunidades terão a oportuni-dade de refletir sobre essa questão com os subsídios da Campanha da Fraternidade, gerando maior consciência e superando a violência na comunidade, na família, no bairro e em cada cidade. Na comunidade cristã, lugar privilegiado de busca da fé e de fraternidade, encontramos inspiração para a superação da violência. O Povo de Deus, por várias ocasiões, experimentou, na própria carne, que a violência desagre-ga, mata a esperança, esvazia o sentido da vida e enfraquece todas as oportunidades de vida nova. Por outro lado, o povo tem uma sabedoria quase natural, por isso rea-ge, enfrenta e implanta a bandeira da paz. É bem verdade que o Povo de Deus teve seus líderes e soube se organizar; quantas

Diretor geralDOM JOSÉ LANZA NETO EditorPE. SÉRGIO BERNARDES | MTB - MG 14.808

Equipe de produçãoLUIZ FERNANDO GOMESJANE MARTINS

RevisãoJANE MARTINS

Jornalista responsável ALEXANDRE A. OLIVEIRA | MTB: MG 14.265

Projeto gráfico e editoração BANANA, CANELA bananacanela.com.br | 35 3713.6160

ImpressãoGRÁFICA SÃO SEBASTIÃO

Tiragem3.950 EXEMPLARES

RedaçãoRua Francisco Ribeiro do Vale, 242 Centro - CEP: 37.800-000 | Guaxupé (MG)

Telefone35 3551.1013

[email protected]

Os Artigos assinados não representam necessariamente a opinião do Jornal.

Uma Publicação da Diocese de Guaxupé

www.guaxupe.org.br

CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2018: FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA “VÓS SOIS TODOS IRMÃOS” (MT 23,8)

Dom José Lanza Neto,Bispo da Diocese de Guaxupé

experiências bonitas e ricas de libertação! As coisas que mais ajudam são a união e a certeza da vitória. A inércia, a revolta, a revanche, o ódio e a raiva estão fora da di-nâmica da superação da violência.

A Campanha da Fraternidade, como vem acontecendo há anos, se dá no pe-ríodo quaresmal, tempo de conversão, busca sincera de Deus e compromisso de fraternidade, principalmente com os que são vítimas de toda forma de violência. O lema escolhido, “vós sois todos irmãos” (Mt 23,8), nos dá a dimensão da relação mais profunda que deve existir entre as pessoas. Fazemos parte da mesma família de Deus, portanto irmãos e irmãs uns dos outros – ninguém é mais ou menos que o outro –, com uma relação que deve ser de igualda-de, respeito, diálogo e admiração.

Convocamos nossas comunidades e todas as pessoas de boa vontade a se uni-rem na concretização do objetivo geral da campanha: “Construir a fraternidade, pro-movendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência”.

2 | JORNAL COMUNHÃO - DIOCESE DE GUAXUPÉ

O convite que nos foi proposto é, por natureza, audacioso: “rasgai o vosso coração e não as vossas

vestes” (cf. Jl 2,12). Trata-se de uma to-mada de posição que parte da cruz, passa pela cruz e chega-se à glória da mesma cruz! Um apelo à conversão, à mudança de rumo, decorrente da mudança de men-talidade. Afinal, apesar de pertencermos a uma Tradição bimilenar, estamos imersos à cultura do pós: pós-modernidade, pós--razão, pós-fraternidade e pós-compai-xão. Vivemos dentro de uma atmosfera do “sem sentido”. Os grandes sonhos, rumo à civilização do Amor, parecem ter cedi-do às tentações cainescas. Aquele/a que caminha ao meu lado é meu concorrente; meu rival, uma ameaça em potencial.

Existe uma campanha em curso que não é de Fraternidade. Talvez, transvesti-da de elementos humanitários e maquiada de alguns valores éticos, a grande Cam-panha em curso é um efetivo anátema à fraternidade. Refiro-me, especificamente, à “campanha do esquecimento”.

Matizado sob vários pontos de vistas, filosoficamente, abordado diversas vezes por RICOEUR, o esquecimento não nos permite ousar. Se não nos permite ousar,

fatalmente, impede-nos da Profecia e nos afasta da Martiria. Não há algo mais dia-bólico e frontalmente oposto ao propósito de Jesus Cristo do que o esquecimento. Afinal, o Seu pedido, “fazei isto em meu memorial”, parece ter perdido em profun-didade seu real significado. Alhures, pare-ce ter se convertido, tal pedido, em uma espécie de rito mágico, ou, quando muito, em um remake dos piores momentos do medioevo. A memória perigosa do Mes-tre passa ao largo de um comportamento cada vez mais corporativo, individualista e, lamentavelmente, descrente.

Por isso, é preciso rasgar esse cora-ção! Não apenas as vestes. Pois “onde estiver o seu tesouro, aí estará o seu co-ração” (Mt 6,21). Onde anda o nosso cora-ção? Onde está nosso tesouro? Rasgar o coração endurecido pelas marcas do tem-po presente, machucado pelas agruras da vida, desolado pelas frustrações pasto-rais, significa ter coragem de ouvir a Deus.

Ouvimos o Senhor quando nos coloca-mos em atitude de “escuta”. Não se tra-ta de uma escuta qualquer, mas de uma escuta atenta, operosa, amorosa. Creio que talvez padeçamos, especialmente os mais jovens, de um tormento contempo-

râneo, primo irmão do “esquecimento”: o barulho. Não me refiro, tanto, ao ronco dos motores, da algazarra das crianças ou da campainha do telefone ou de nossas casas. Refiro-me ao barulho ensurdecedor de nosso coração e de nossa alma. Reféns desse tormento, encontramo-nos inaptos ao combustível mais poderoso da oração: o silêncio.

Ora, nossa oração precisa superar a oração dos fariseus! Como avançar na vida do Espírito se não nos calamos em profun-didade? O medo nos acossa. Sentimos um efetivo frenesi: quebramos o silêncio com o vazio de nossas palavras! Talvez esteja-mos semelhantes às carroças vazias: por onde passam todos a percebem. Quanto mais vazia, mais barulhenta!

E se assim nos encontramos, como veremos sentido no jejum? Segundo nos-sos pais da fé, o jejum é a oração mais completa. Nele nos alimentamos, majori-tariamente, de Deus. Só os incautos e os incrédulos não entendem o vigor que nos proporciona o jejum. Como oração com-pleta, o jejum nos auxilia a não capitular-mos diante da perseguição.

A oração completa – memorial, silên-cio e o jejum – nos conduz na prática da

opiniãoRASGAI OS VOSSOS CORAÇÕES E NÃO AS VOSSAS VESTES!

“esmola”, ou mais evangelicamente, à economia solidária! “Olhai e vede se há escândalo maior do que este: uma Igreja que não partilha, com sabedoria e gene-rosidade, seus bens!”. Se não consegue fazer a lição de casa, muito menos fará pelos que se encontram fora dela... não duvido disso.

Mas, é tempo de mudança! Podemos melhorar! Somos gente da Esperança. Rasgar o coração é ter a ousadia de, en-tre outros gestos, partilhar do que se tem, ao menos na cordial parceria do emprés-timo. Afinal, não fazem isso os pagãos? A motivação dos pagãos sabemos qual é: o mercado e o lucro. A nossa motivação é o pedido de Jesus: “não ajuntem para vocês tesouros na terra, onde a traça e o carun-cho os destroem, onde os ladrões arrom-bam e roubam, mas ajuntem para vocês tesouros nos céus” (Mt 6,19). Construir te-souro no céu é estender as mãos aos que nos pedem emprestado ou aos que nos pedem de presente! Comunidade pobre, Paróquia miserável são aquelas que não aprenderam a repartir e, fechadas ao ape-lo de Jesus, viram as costas aos apelos da partilha.

Por padre José Augusto da Silva, pároco em Poços de Caldas e professor na Faculdade Católica de Pouso Alegre

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA | 3

notícias

Texto/Imagem: CNBB

Texto: Wilson Ferraz / Imagem: Arquivo

Texto/Imagem: Vatican News

Texto: padre Vinícius Pereira Silva / Imagem: Divulgação

Proposta da Igreja é articular nas comunidades cristãs estruturas missionários permanentes

Papa Francisco valoriza a diversidade cultural dos povos indígenas em encontro

Curso iniciado em 1999 mantém missão de formar leigos para as comunidades

A Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária e Cooperação Inte-reclesial da Conferência Nacional dos

Bispos do Brasil (CNBB) lançou a publicação “4º Congresso Missionário Nacional – Missão Permanente – Reflexões e Propostas”.

Trata-se da sistematização do processo vivi-do no 4º Congresso Missionário Nacional, reali-zado de 7 a 10 de setembro de 2017, na arqui-diocese de Olinda e Recife (PE). O encontro foi coordenado pelas Pontifícias Obras Missioná-rias (POM), um dos organismos ligados à CNBB.

O conteúdo do livro, publicado pela Edi-ções CNBB, nasceu da temática central do Congresso: “A alegria do Evangelho para uma Igreja em saída”, inspirado no convite do papa Francisco para uma nova etapa evangeliza-dora marcada pela alegria, e nos processos de preparação ao 5º Congresso Missionário

Em 9 de janeiro último os pesquisado-res e historiadores, Maria Luiza Lemos Brasileiro e Wilson Ferraz, encaminha-

ram para a Mitra Diocesana um documen-tário impresso a respeito do episcopado de dom Inácio João Dal Monte, bispo que administrou a Diocese de Guaxupé no perí-odo compreendido entre 8 de setembro de 1952 e 29 de maio de 1963. O documentá-rio é um verdadeiro diário do prelado.

O documento foi elaborado a partir dos arquivos dos jornais, Folha do Povo e “O Diocesano”, de registros dos livros do tombo da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, além de outras fontes primárias.

O trabalho minucioso apresenta datas precisas e identificação das fontes, com a transcrição na ortografia original da época. Um detalhe até então desconhecido para muitas pessoas era de que o nome de ba-tismo do bispo era João Dal Monte, porém, após sua ordenação sacerdotal, ele passou a adotar o nome de “Frei Inácio João Dal Monte”.

A exumação do corpo do bispo, proto-colo devido ao processo de beatificação, deverá ocorrer neste mês de fevereiro na

Após visitar a Colômbia em setembro de 2017, o papa Francisco visitou o Chile e o Peru. No Chile, esteve entre 15 e 18

de janeiro, percorrendo as cidades de Santia-go, Tamuco e Iquiquie sob o tema “Dou-vos a minha paz”. Como explica a Comissão organi-zadora da visita, a frase é conhecida por cató-licos e não-católicos e significa que “o Papa, com a visita, traz a Palavra de Jesus como um

Em meio às vivências do Ano Nacional do Laicato (2017-2018), que busca “aprofun-dar a identidade, vocação, espiritualidade

e missão” dos cristãos leigos na Igreja e como testemunhas de Jesus em meio ao mundo (Objetivo Geral do Ano do Laicato), a Diocese de Guaxupé promoveu entre os dias 15 e 21 de janeiro, o Curso de Iniciação Teológica.

Cerca de 100 leigos de diversas paró-quias da diocese reuniram-se no Seminário Diocesano São José, em Guaxupé, adaptado durante a semana para servir ao curso. Dividi-dos em quatro módulos, os estudantes con-templam disciplinas como História da Igreja, Bíblia, Eclesiologia, Escatologia e Moral cris-tã. Além das celebrações eucarísticas, pontos

Americano (CAM 5), a ser realizado na Bolívia em julho deste ano.

A publicação está organizada em quatro partes, com a primeira formada pelos discur-sos proferidos na abertura do Congresso, a segunda pelas conferências: Igreja em Saída; Testemunho e Profetismo; Sinodalidade; Co-munhão e Alegria do Evangelho.

A terceira parte contém as sínteses das reflexões e propostas das 23 oficinas, bem como alguns depoimentos dos congressistas e síntese final dos assessores. A quarta parte traz a mensagem final às comunidades ecle-siais. Todos os conteúdos são desafios para a missão ad gentes, até os confins do mundo e sem fronteiras.

A publicação pode ser encontrada no site das Edições CNBB, no endereço: www.edico-escnbb.com.br

CNBB lança livro-síntese do 4ºCongresso Missionário Nacional

Historiadores restauram os10 anos e meio do episcopado de Dom Inácio

Papa Francisco faz visita apostólica no Chile e no Peru

Iniciação teológica visa ao forta-lecimento da vocação batismal

Catedral Diocesana, onde dom Inácio se encontra sepultado.

é necessário lê-lo com atenção e en-contrar formas de partilhá-los com as co-munidades, com outras pessoas e organis-mos missionários nos vários níveis.

Dom Inácio (à dir.) na companhia do beato João XXIII

convite à cultura do encontro e propicia um clima de unidade entre o povo”.

No Peru, de 18 a 21 de janeiro, o Papa visi-tou as cidades de Lima, Puerto Maldonado e Trujillo, e o tema foi “Unidos pela esperança”, como a exortação feita pelo próprio pontífice no início de janeiro aos peruanos em mensa-gem divulgada pelo arcebispo de Lima, car-deal Luis Cipriani Thorne.

marcantes da semana são a mesa redonda, ocasião para o debate entre os participantes, com temática baseada em uma obra teoló-gica lida ao longo do ano, e a noite cultural, onde os leigos promovem apresentações teatrais. Este ano, os módulos desenvolve-ram na noite cultural, a temática da missão e relação dos cristãos leigos com a paróquia, a sociedade, a Igreja e a política.

Realizado em um ambiente descontraído e de partilha, o curso não fortalece apenas a dimensão intelectual do fiel, mas outros âm-bitos da vida humana. Pela troca de experiên-cias e conversas informais, além do espírito de mútua ajuda, valoriza-se a dimensão co-munitária.

4 | JORNAL COMUNHÃO - DIOCESE DE GUAXUPÉ

tempo litúrgico

No período quaresmal, as práticas de-vocionais e os atos piedosos ganham ainda mais relevo devido ao seu cará-

ter penitencial e identificação com os sofri-mentos de Cristo. Marca presente da Igreja no mundo todo, a piedade popular cristã caracteriza decisivamente a experiência de fé da Igreja no Brasil. Essa dimensão da fé, notada desde a origem do catolicismo no país, manifesta-se nos exercícios de piedade que se tornaram alimento da espiritualidade do povo.

Nessas manifestações tradicionais em torno do Crucificado, percebe-se uma rique-za múltipla de práticas com cantos, orações, ritos, procissões e bênçãos que se esforçam por associar os fiéis ao mistério da Cruz. Po-rém, para que a piedade popular gere frutos positivos para as comunidades é essencial não ocultar o fato da Ressurreição, valor cen-tral da fé cristã. Essa dimensão é destacada pela Congregação para o Culto Divino e a Li-turgia no Diretório sobre a Piedade Popular e a Liturgia (2002), valorizando e instruindo a piedade popular em todo o mundo. “A pieda-de relacionada à Cruz, com frequência, tem necessidade de ser iluminada. Se deve mos-trar aos fiéis a referência da Cruz ao aconte-cimento da Ressurreição: a Cruz e o sepulcro vazio, a Morte e a Ressurreição de Cristo são inseparáveis na narração evangélica e no de-sígnio salvífico de Deus” (n.º 128).

Oração, Jejum e EsmolaPráticas costumeiras e marca expoente

da piedade quaresmal em nossas comunida-des, a realização do tríplice gesto penitencial demonstra a busca do cristão em aproximar--se de Deus, de dominar os próprios instin-tos e interesses e oferecer sua colaboração com aqueles que necessitam de sua ação caritativa seja na partilha dos bens ou no in-teressar-se em dividir as lutas do cotidiano.

A Quaresma é um tempo de preparação para a Páscoa. Nesse período, busca--se fazer uma experiência da presença

amorosa de Deus na vida cotidiana. Segun-do o padre Luís Renato Carvalho de Oliveira, para todo cristão, o itinerário fundamental desse tempo é o da conversão do coração e da solidariedade para com o próximo. “A oração é o melhor meio para orientar cada um de nós a viver sua vocação fundamental à santidade”, afirma.

A cada ano, o jesuíta prepara o material do Retiro Quaresmal, que tem como intuito

Da Redação

Texto: Jesuítas/Brasil / Imagem: Divulgação

A EXPERIÊNCIA QUARESMALENCARNADA NA REALIDADE DO POVO

“A piedade popular é uma realidade viva na Igreja e da Igreja: sua fonte se encontra na presença contínua e ativa do Espírito de Deus no corpo eclesial; seu ponto de referência é o mistério de Cristo Salvador; seu objetivo é a glória de

Deus e a salvação dos homens; sua razão histórica é o ‘feliz encontro entre a obra de evangelização e a cultura’” [Diretório sobre a Piedade Popular e a Liturgia, n.º 61]

Mais que um ato exterior, os gestos elenca-dos por Jesus no Evangelho de São Mateus (cf. Mt 6, 1-18) visam um dire-cionamento do fiel à conversão do coração e à penitência inte-rior que agrade ao Pai do Céu que “vê o que está escondido”. No primeiro Domingo da Quaresma, o texto do Evange-lho faz memória das tentações sofridas por Jesus no deserto, a oferta que ele faz de si mesmo penitenciando-se aponta para o va-lor transcendente que as práticas da oração, do jejum e da caridade podem oferecer ao cristão. Essa percepção está presente des-de a origem do cristianismo com as primei-ras comunidades que se atentavam para as tentações e sua superação pelo Cristo como uma bússola que não as permitia “desviar-se de sua única tarefa: construir um mundo mais humano seguindo os passos de Jesus”, man-tendo-se fiel a Deus (Pagola, 2013).

Via-Sacra Um dos mais tradicionais exercícios qua-

resmais é a Via-Sacra que remonta ao trajeto doloroso percorrido por Jesus do Getsêmani (Mc 14, 32), sofrendo no Calvário (Lc 23, 33), até o Sepulcro escavado na rocha (Jn 19, 40-42). Praticamente em todas as Igrejas é per-ceptível as estações nas paredes das assem-

bleias litúrgicas ou, ainda, em locais propícios à peregrinação. Sua forma atu-al, verificada historicamente desde o século XVII, valoriza a compreensão da vida huma-na como uma peregrinação norteada por

Cristo, que nos conduz do exílio terreno à pá-tria definitiva junto ao Pai.

A Congregação para o Culto Divino e a Li-turgia faz algumas indicações para que esse exercício da piedade quaresmal seja ade-quado às comunidades. Uma delas é a indis-sociável união dos mistérios da Paixão e da Ressurreição de Cristo. É fundamental que se conclua a Via Crucis de modo que os fiéis se abram à esperança do Senhor Ressuscitado. Outro aspecto lembrado pela Congregação é a seleção de textos apropriados que estimu-lem a espiritualidade dos fiéis, combinando a continuidade com a tradição e a inovação pastoral, mas, principalmente, valorizando-se os textos da Sagrada Escritura que mantêm seu valor original e fiel à tradição cristã.

Procissões da penitênciaAs procissões, expressões culturais de

caráter universal e com múltiplos valores re-ligiosos para o ser humano, levaram a Igreja a apropriar-se de algumas procissões em seu calendário litúrgico oficial ao longo do ano.

Em sua forma autêntica, são símbolos da Igreja peregrina que caminha com Cristo em direção ao Pai, aceitando sua tarefa de anun-ciar ao mundo o Evangelho da salvação.

É interessante notar o sentido comunitá-rio da prática, pois, ao associar os fiéis que percorrem as ruas e as estradas juntos, favo-rece a partilha do clima de oração, dos que se destinam a uma única meta. É uma expres-são da solidariedade manifestada no auxílio fraterno no cumprimento dos compromissos de fé. Por esses motivos, não podem faltar elementos litúrgicos que instruam os fiéis do sentido profundo desse exercício de piedade como a proclamação da Palavra de Deus: as velas que indicam a Luz do Cristo a nos ilu-minar durante a jornada, reflexões que deem sentido à caminhada associando-a ao próprio itinerário da vida, além de louvar ao Senhor, Deus da Vida e Fonte de santidade.

O período quaresmal deve ser um apelo à comunidade cristã para que vença o atual es-tágio de secularização da sociedade, dirigin-do suas ações sobre realidades importantes, tornando mais coerente sua vida com os en-sinamentos evangélicos, traduzindo em boas obras, como a renúncia do supérfluo e a cari-dade com os mais frágeis e afastados. Em sua exortação apostólica A Alegria do Evangelho, o papa Francisco considera a importância da encarnação da fé revelada nas práticas popu-lares, mas alerta para a necessidade de não perder de vista a profundidade do mistério da Trindade e que não se tornem experiências “sem compromissos fraternos ou experiên-cias subjetivas sem rostos, que se reduzem a uma busca interior imanentista” (EG 90).

para se aprofundarser um apoio no processo de oração pesso-al. “Dessa experiência deverá brotar em nós, como resposta ao amor de Deus, o desejo e a prática de um relacionamento pessoal e amoroso com Ele em todos os momentos e situações de nossa vida. As pessoas que, nes-ta experiência, respondem com empenho e fidelidade à graça de Deus, têm obtido como fruto um notável crescimento em sua vida de fé, de oração, na convivência familiar e comu-nitária, no trabalho pastoral-evangelizador e no desejo de aprofundar sempre mais sua intimidade com Deus”, explica padre Luís Re-

nato.O jesuíta também destaca que, no Brasil,

durante o tempo da Quaresma, há, também, a Campanha da Fraternidade, que é realizada anualmente pela Conferência Nacional dos Bispos no Brasil (CNBB). A Campanha da Fra-ternidade busca recordar a vocação e a mis-são de todo cristão e das comunidades de fé, a partir do diálogo e colaboração entre Igreja e Sociedade, propostos pelo Concílio Ecumê-nico Vaticano II.

O material pode ser baixado pelo Portal dos Jesuítas: jesuitasbrasil.com

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA | 5

em pautaFRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA:“VÓS SOIS TODOS IRMÃOS” (MT 23,8)

A proposta trazida pela Campanha da Fraternidade (CF) deste ano desafia as comunidades cristãs

católicas a favorecer a vivência frater-na e que oportunize a transformação de uma realidade violenta num ambiente no qual a sociabilidade e o diálogo se-jam características fundamentais de to-das as relações humanas. E a campanha traz um objetivo profundo e desafiante: “Construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da Palavra de Deus, como caminho de superação da violência”.

“Os episódios de violência intensifi-caram-se e tornaram-se comuns também em cidades pequenas e médias, deixan-do de ser um fenômeno típico das gran-des metrópoles. No entanto, sempre en-contramos muitos lugares onde existe a preservação da harmonia e da paz ou foi construída uma vida pacífica e fraterna”, indica a introdução do texto-base produzi-do pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),

VER O Brasil, mesmo com sua extensão

continental e uma grande população, re-presenta somente 3% da população mun-dial, porém o número de assassinatos no país corresponde a 13% das mortes violen-tas em todo o planeta. Em 2014 e 2015, foram mais de 59 mil mortos.

Com o aumento da violência, muitas casas utilizam inúmeros meios de pro-teção e isolamento, o que não contribui para uma vivência fraterna nas diversas localidades, assim o outro não se torna irmão, mas inimigo a ser combatido. Um dos maiores desafios da gestão pública se dá no campo da segurança pública. É fun-damental fomentar políticas públicas que busquem a solidariedade entre as pesso-as, em vez do enclausuramento, que de-sumaniza as relações.

A cultura da violênciaNum ambiente caracterizado pela

violência, a violência se torna algo co-mum, onde a própria vítima pode ser culpabilizada por ter sofrido um ato violento. Seria como se a vítima de um estupro pudesse ser responsabilizada pelo modo como se veste ou então pelo local e horário em que se encontrava; ou então como se um adolescente que so-fre com a dependência química pudesse ser agredido e até mesmo morto por sua condição. É como se pudesse haver uma separação entre bons e maus e, geral-mente, essa divisão acontece pela po-sição sócio-financeira de cada pessoa.

Na esfera política, é perceptível a

prioridade que os próprios represen-tantes da população dão às demandas voltadas aos interesses econômicos em detrimento dos anseios dos grupos e movimentos sociais que reivindicam melhorias sociais, inclusive a segurança pública, que atendam à maioria da po-pulação.

As vítimas da violência no Brasil hoje

Em 2016, o mapa da violência consta-tou que morrem muito mais pessoas ne-gras que brancas. Isso pode ser verificado nos homicídios cometidos contra jovens. Em 2011, houve quase 28 mil assassinatos de jovens. Desses, quase 20 mil vítimas eram compostas por jovens negros.

As mulheres também sofrem de modo significativo com a violência. Em 2013, mais de 4700 mulheres foram mortas de modo violento, um verdadeiro feminicídio, resultando em 13 mulheres mortas por dia naquele ano. O Brasil está entre os cinco países do mundo que mais matam mulhe-res. E o mais preocupante é que a violên-cia contra a mulher acontece na esfera doméstica.

A condição de pobreza, na qual uma grande parcela da população está inse-rida, torna-se uma forma de violência ao privar famílias, principalmente as crian-ças, de condições mínimas para o desen-volvimento e a dignidade humana. Isso propicia o avanço da exploração dessa camada da população de inúmeras for-mas: o trabalho escravo, o narcotráfico, a exploração sexual, comércio de órgãos. O ser humano torna-se uma mercadoria ba-rata nas mãos de mercenários.

Em relação ao tráfico de drogas, o Bra-sil ainda não possui uma política pública eficaz que combata a venda e o consumo de substâncias entorpecentes. Mesmo que o sistema penitenciário esteja super-lotado com envolvidos no narcotráfico, o comércio continua a crescer em todo o país.

Ineficiência do aparato judicial para o combate à violência no Brasil

A morosidade do sistema judicial brasileiro resulta em ineficiência e situ-ações injustas. São mais de 650 mil pre-sos vivendo em condições degradantes e, muitos deles, sem uma sentença de-finitiva devido à demora na tramitação dos processos, infelizmente por contar somente com a defensoria pública. En-quanto isso, as organizações criminosas criam sistemas próprios de cessão de privilégios dentro das penitenciárias e operam suas ações criminosas de den-tro da prisão.

Outras formas de violência

Nos últimos anos, é percep-tível o aumen-to da violência motivada por fanatismo e i n t o l e r â n c i a religiosos. As religiões de ori-gem africana são as vítimas p r e f e r e n c i a i s da persegui-ção e agressão relacionadas à crença. Entre 2011 e 2015, fo-ram quase 700 denúncias de intolerância reli-giosa, a cada 3 dias uma vítima sofre com os abusos cometi-dos em nome de uma profissão religiosa contra as práticas de matriz africana.

A imprudên-cia no trânsito é responsável por cerca de 50 mil mortes por ano. É um número alar-mante, principalmente ao se considerar que muitas delas poderiam ser evitadas por procedimentos simples: a abstinência de álcool, a não utilização do aparelho ce-lular e o respeito a pedestres.

JULGAR Antigo testamento

A violência é iniciada na Sagrada Escri-tura com a quebra da relação do primeiro homem com o Criador. Assim, expulsa do Paraíso, a humanidade intensifica o rom-pimento profundo com o projeto de har-monia de Deus. Com a morte de Abel por seu irmão Caim (cf. Gn 4, 1-16), a violência se espalha e macula a identidade huma-na. Assim como Caim diz desaforadamen-te a Deus: “acaso sou eu guarda do meu irmão?” (cf. Gn 4, 9), a humanidade só conseguirá superar a violência quando for capaz de compreender-se na responsabi-lidade e na interdependência com o outro.

O profetismo bíblico reflete e enfren-ta o mal da violência e se torna capaz de identificá-la e superá-la. Para a superação da violência os profetas convidam seus contemporâneos para a prática da justiça e da compaixão (cf. Am 5,24; Jr 22,3). O profeta Isaías apresenta a superação da violência de forma explícita: “Lavai-vos,

limpai-vos, tirai da minha vista as injus-tiças que praticais. Parai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem, buscai o que é correto, defendei o direito do oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva” (Is 1,16-17). Mais adiante, Isaías dirá que o fruto da justiça será a paz, que trará tranquilidade e segurança duradouras (cf. Is 32,16-18).

Novo testamentoCom a plenitude da revelação divina

em Jesus Cristo, a violência é identificada em vista do prejuízo que produz à própria humanidade. No evangelho de Mateus, Jesus diz aos discípulos: “Ouvistes o que foi dito: amarás a teu próximo e odiarás a teu inimigo. Eu vos digo: Amai os vos-sos inimigos e orais pelos que vos perse-guem. Assim vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus; pois ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e cair a chuva sobre injustos e justos” (Mt 5,43-45).

A perfeição solicitada a toda a comu-nidade cristã no evangelho de Mateus ga-nha contornos de misericórdia no evange-lho de Lucas: “Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36). Já no evangelho de João, Jesus esclarece que a paz buscada pela Igreja em Deus não é nos moldes deste mundo: “Deixo--vos a paz, dou-vos a minha paz. Não é à

6 | JORNAL COMUNHÃO - DIOCESE DE GUAXUPÉ

Da Redação

maneira do mundo que eu a dou. Não se perturbe, nem se atemorize o vosso cora-ção” (Jo 14, 27).

A partir da reflexão do caminho cris-tão, conclui-se que o local de superação de todo mal, inclusive a violência, é o coração humano, que tem como tarefa consciente pacificar-se e humanizar-se A superação da violência se dá justamente com a conversão dos atos do homem, com uma transformação profunda de sua men-talidade e vivência pessoais que devem ser iluminadas pela espiritualidade.

A Igreja e a promoção da cultura do di-álogo

“Para edificar a paz é preciso eliminar as causas das discórdias entre os homens, que são as que alimentam as guerras e, sobretudo, as injustiças. Muitas delas pro-vêm das excessivas desigualdades econô-micas e do atraso em lhes dar os remédios necessários. Outras nascem do espírito de dominação e do desprezo pelas pessoas” (GS n. 83). Essa afirmação da constituição dogmática Gaudium et Spes do Concílio Vaticano II indica o papel profético da Igreja no mundo atual, alertando e provo-cando o mundo no discernimento diante do desenvolvimento social sem prejuízos para a dignidade humana.

Em 1968, o beato Paulo VI iniciou a

celebração do Dia Mundial pela Paz, comemora-do no primeiro dia do ano. No seu discurso, o então Papa destacou a ne-cessária aber-tura a um espí-rito novo, que influenciasse o modo de pen-sar do homem todo, que deve assumir suas responsabilida-des e seus de-veres, nos quais se destacam: a educação das novas gerações para o respeito mútuo, para a fraternidade e para a colabo-ração entre as pessoas, em vis-ta do progresso e do desenvol-vimento. “Do

Evangelho pode brotar a paz, não para tornar os homens fracos e moles, mas para substituir nas suas almas os impul-sos da violência e da prepotência pelas virtudes viris da razão e do coração dum humanismo verdadeiro!”, afirmou Paulo VI em seu discurso inaugural.

Em 2017, o papa Francisco afirmou em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz: “Todos nós desejamos a paz; muitas pes-soas a constroem todos os dias com pe-quenos gestos; muitos sofrem e suportam pacientemente a dificuldade de tantas tentativas para construí-la”.

AGIR Um agir que supera a violência tem

como fundamento o Evangelho que aponta para a coerência de vida e teste-munho dos valores cristãos, ao se com-prometer diante da riqueza do dom da vida. Testemunhar a beleza da vida e a construção da fraternidade. Esse apelo do Evangelho deve ressoar no coração de todos os fiéis e das comunidades.

Nessa motivação, a CF 2018 convoca os cristãos a viver a prática do cristia-nismo através de pequenos gestos indi-cados pelo papa Francisco como gestos essenciais do Mestre de Nazaré: a escu-ta, a saída missionária, o acolhimento, o diálogo, o anúncio da paz e a denúncia

da violência na dimensão pessoal e so-cial.

Pistas de ação concretaAlém das ações realizadas na comuni-

dade de fé, os cristãos poderão se dedicar ao apoio e à valorização de iniciativas já assumidas pelo Poder Público, mas que podem ser assumidas em todas as reali-dades:

1. Estatuto da Criança e do Adolescente 2. A violência doméstica e a Lei Maria

da Penha 3. O sofrimento e o amor se transfor-

mam em ação 4. Setenta anos dos Direitos Humanos 5. Superação da violência gerada pela

exploração sexual e pelo tráfico hu-mano

6. Violência e juventude 7. Negros e negras e a superação da

violência8. Superação da violência no campo 9. A superação da violência fruto do

narcotráfico 10. Estatuto do Desarmamento 11. Defensoria pública 12. Violência política13. Violência Religiosa 14. Superar a violência no Trânsito

CONCLUSÃO“Fraternidade e superação da violên-

cia indica um caminho, uma abertura de veredas. Provavelmente, pequenos cami-nhos que desemboquem em uma estrada generosa onde há lugar para todos convi-verem. Um lugar onde todos possam sa-borear o Evangelho e chegar à plenitude da vida. (...)

Somos sempre convidados e provo-cados a viver como irmãos, como irmãs. A vida familiar, a vida comunitária, a vida social, pedem uma renovação e transfor-mação contínua. A beleza do anúncio dos anjos no nascimento de Jesus mostra que nascemos para a paz. “E na terra, paz aos que são do seu agrado!” (Lc 2,14). São agradáveis a Deus os que participam da paz que veio do alto. (...)

A Campanha da Fraternidade, abor-dando a realidade, nos provoca a sermos construtores da paz e gestores de frater-nidade. Superar a violência é tarefa de todo cristão, pois recebemos o manda-mento do amor como vocação e missão. Fomos em Cristo adotados como filhos e filhas, recebemos a dignidade filial (Gl 4,5). Superaremos a violência quando for-mos tomados pela paternidade de Deus e pela filiação em Jesus. Em Cristo, somos todos irmãos”.

COMO CONCRETIZAR ACAMPANHA DA FRATERNIDADE EM CADA COMUNIDADE?

1. Conversão pessoal: Para mudar os que estão à minha volta, primeira-mente eu devo me mudar, ou seja, se vivo em um ambiente de violência doméstica (agressividade, impaciên-cia etc.) devo combatê-la com ama-bilidade e paciência por amor e por misericórdia.

2. A comunidade precisa promover a cultura da empatia, onde os paro-quianos em suas diversas funções pastorais não se tenham como ad-versários, mas como irmãos que juntos lutam pelo bem daquela pa-róquia.

3. Fortalecer a Pastoral Familiar para que identifique os principais pro-blemas de violência que assolam a comunidade local e buscar exemplos de outras localidades que consegui-ram superar os mesmos problemas.

4. Reunir a comunidade, as pastorais e os movimentos para discutir os problemas identificados e traçar um plano de ação para combater os pro-blemas da violência.

5. Promover palestras para os paro-quianos sobre a temática da violên-cia em suas diversas formas (violên-cia doméstica, psicológica, física, no trânsito, racial, religiosa, no campo, sexual etc.) e como combatê-la.

6. Estimular a espiritualidade como o antídoto para nos fortalecer contra o mal e para promover a cultura da paz.

7. Discutir o tema da superação da vio-lência dentro da catequese com as crianças e os jovens. É possível ain-da estimular a prática esportiva en-tre os jovens a fim de afastá-los da violência física e das drogas.

8. Visitar as famílias que estão afasta-das da Igreja a fim de acolhê-las na comunidade, ajudando-as a supera-rem seus problemas.

9. Utilizar de todos os momentos comu-nitários, como homilia, encontros, cur-sos etc., para falar sobre a superação da violência e a promoção da paz.

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA | 7

Encenação da Via Crucis é um das manifestações religiosas mais presentes na cultura cristã

fé e vidaRELIGIOSIDADE POPULAR:SINAL DE MANIFESTAÇÃO E EXPRESSÃO DA FÉ DO POVOAo descrever a religiosidade popular,

reflete-se algo muito crescente no meio do povo. Trata-se de maneiras

ou formas das quais o ser humano se utili-za para manter vivo o diálogo com Deus, através das orações, práticas e devoções. A religião entendida como um meio de co-municação com o Divino oferece aos fiéis maneiras ou formas para se falar com o sa-grado. Sobretudo, é possível encontrar, nas tradições populares, a utilização de ritos e símbolos que as pessoas usam para comu-nicar-se com Deus e elevar seus agrade-cimentos, suas preces, seus louvores etc. Nesse contexto, percebe-se a religiosidade como comunicadora da revelação divina.

A religiosidade popular visa à mani-festação e expressão de fé. Quando bem orientada, se desenvolverá para sua real finalidade que é a evangelização, fugindo do sincretismo religioso. Esta prática devo-cional faz-se presente na vida do fiel, exer-cendo influência em seu comportamento e no seu modo de expressar a fé. Nesse sen-tido, a religiosidade popular proporciona ao ser humano comunicação com o Trans-cendente. Uma das formas de contempla-ção é a oração, momento ápice de se falar com Deus. Ao mesmo tempo, o ser humano é chamado a ouvir a Deus e comunica-se com Ele. Desta forma, acontece um duplo movimento de comunicação: Deus fala e o homem escuta.

O Reino de Deus vai acontecendo, no coração e na vida do povo, a partir do mo-mento em que a evangelização é feita com a colaboração de cada cristão que se deixa guiar pela experiência do Evangelho, que se traduz em vida e prática. Tudo isso acon-tece por meio dessas práticas que podem até parecer sem valor, mas que, para aque-les que praticam essas formas, são meios de seguir Jesus Cristo.

O homem é esse ser religioso que, na busca de si mesmo, pretende a comunica-ção com o Autotranscendente. Seu objetivo primário é Deus. Esse objetivo é alcança-do por meio da religião, através da qual o homem vive a ligação com o Sagrado. Também é sabido que o indivíduo tem suas limitações e misérias. Nesse sentido, pode--se correr um grande risco em fazer da reli-gião um mercado de troca. É por isso que a religião deve ser bem orientada.

Por vezes é possível notar um mau uso dessa forma de se comunicar e expressar--se com o Sagrado. Por parte de alguns líderes, em diversas denominações faz-se de Deus um mercado para obterem lucro. Um mercado! Aproveitam da fé e bondade do povo simples para se autopromover e obter lucros financeiros. Deus se torna um negócio que irá favorecer os interesses desses líderes. Muitas pessoas aproximam--se da Igreja desejosos de aliviar seus pro-

blemas espirituais e suas aflições. E, muitas vezes, essas pessoas chegam até a Igreja através da devoção popular.

A religião satisfaz necessidades, mas é preciso enxergar a religião como ela é para distinguir essas necessidades de ou-tras, para separar aquelas carências que acabam sendo satisfeitas pela religião de outras mais presentes em nossa socieda-de, todas elas marcadas pela tensão da vida cotidiana. Visto que a religião é meio ou caminho que auxilia o ser humano a dia-logar com o Divino, o Catecismo da Igreja Católica retrata o conceito de religiosidade popular, afirmando o cuidado pastoral, e ressalta a grandiosidade dessas práticas como forma de conhecimento do mistério do Cristo: “A religiosidade do povo, no seu núcleo, é um acervo de valores que res-ponde com sabedoria cristã às grandes in-cógnitas da existência” (CIC, n. 1674).

A devoção popular sempre foi e será uma riqueza para a Igreja Católica, que é marcada pela expressão do povo simples que professa sua fé por meio de ritos e sím-bolos. Aqui, percebe-se a riqueza da Igreja, que valoriza essas formas. Pois, se essas práticas não tivessem seu devido valor, já estariam extintas. A preocupação da Igre-ja sempre foi uma boa orientação, capaz de formar as pessoas evitando o exagero, não permitindo uma falsa interpretação do Sagrado, ou seja, o Divino não se encontra em meio a uma busca supersticiosa e má-gica, mas por meio de um aprofundamento espiritual, que por vezes realiza-se através de elementos culturais.

Vale ressaltar os valores contidos na re-ligiosidade popular e que se tornam meios de auxílio para o povo rezar e celebrar a fé. Esses valores são transmitidos de geração a geração, fazendo com que a fé seja sem-pre este sinal de busca ao Sagrado. Deus

se manifesta na simplicidade e o ser hu-mano, como um ser religioso, é chamado a abrir-se ao Transcendente para fazer de sua fé uma extensão a toda a comunidade.

A evangelização é o sinal do cristão. A Igreja sempre incentiva o cristão a esta missão de se tornar um evangelizador. Mas, cada um faz sua experiência particular de seguimento ao Cristo. Neste sentido, o CELAM (Conferência Episcopal Latino-Ame-ricana) fortalece o discurso de aproveitar essas experiências particulares que o cris-tão faz através da religiosidade popular, para que esta forma de comunicação com o Divino possa alcançar muitas pessoas na evangelização, sobretudo como oportuni-dade de atingir as famílias que, talvez, pas-sam por situações de desespero e falta de fé. A devoção popular é este ideal que nor-teia a vida do cristão. Este ideal tem nome, Jesus Cristo. Este que precisa ser anuncia-do a todos os lugares do mundo, conforme nos diz Jesus no Evangelho.

Ao falarmos de religiosidade popular, a Conferência de Aparecida nos proporciona um amplo campo de reflexão, visto que o lugar escolhido para a realização da Con-ferência é um privilégio para falar-se da te-mática. Trata-se de um lugar onde há uma enorme concentração de pessoas ao longo do ano. Ou seja, o Santuário Nacional de Aparecida.

Neste sentido, o Papa Emérito, Bento XVI, através do Documento de Aparecida, frisa que as pessoas, ao olharem para o Cristo sofredor, irão se deparar com um Deus que também se torna próximo do povo sofredor: “As maiores riquezas de nossos povos são a fé no Deus de amor e a tradição católica na vida e na cultura.” (DAp 37).

Santos e imagens na devoção

Quando se descreve sobre religiosi-dade popular, um tema que não pode ser deixado de lado e que se torna um aspec-to muito forte são as reflexões em torno dos santos. Primeiramente, sabe-se que, ao se tratar de santos, refere-se a repre-sentações e lembranças de pessoas que puderam colocar como vínculo central em suas vidas o Evangelho e o seguimento de Cristo. Na Sagrada Escritura, através do evangelista Mateus (5, 48), depara-se com um convite de Jesus a sermos santos: “Sede santos, assim como vosso Pai celes-te é santo.” Jesus é a imagem do Pai pela encarnação: “Quem me vê, vê o Pai” (João 14, 9).

Os santos fazem parte da Igreja. No Credo, professa-se a comunhão com eles, “na comunhão dos santos”. Não estão presentes fisicamente aqui na terra, mas fazem-se presentes na glória, junto de Deus. A santidade é para todos e não ape-

nas para um grupo privilegiado. Com isso, a Igreja motiva os fiéis a olhar para a vida dos santos como um exemplo a ser segui-do. Os santos são manifestações do Misté-rio de Cristo. A teologia sobre o culto dos santos, manifestada nos textos litúrgicos, supõe uma compreensão do plano de Deus a respeito da humanidade, inclusive da sal-vação, realizada em Jesus Cristo.

É necessário o cuidado de não confun-dir as coisas, ou seja, deixar com que a veneração aos santos ganhe outro sentido. Os santos recebem a atenção pelo exem-plo de ter seguido o Cristo e não porque os invocando, alcançam os favores que lhes são apresentados. O caminho pastoral é orientar toda esta religiosidade para Jesus Cristo, como fonte da vida dos santos.

Ao redor de sua peleja de cada dia, o povo rural tem constituído sua defesa de santos protetores, padroeiros, milagreiros, benfeitores, cada um com sua imagem, seu santuário, seu quadro na parede da sala, sua novena, sua festa com procissão e lei-lões, sua especialidade, seu “fã-clube” de devotos. O que o povo sabe da vida terres-tre deles costuma limitar-se à lembrança de um ou outro milagre. Os devocionários tendem ao extraordinário, dentro de um esquema espiritualista da vida. Os santos constituem o Evangelho vivo. Comemoran-do os santos, a Igreja evoca, e assim torna presente, a respectiva faceta do Evangelho vivido pelo santo ou pela santa. Pela come-moração, a comunidade assume a própria vocação evangélica.

Sendo assim, cabe ressaltar e destacar a forma sincera, simples e humilde que as pessoas utilizam para fazer suas experi-ências com Deus através da devoção aos santos. O que, por vezes, se vê nas comuni-dades é a má interpretação da importância dos santos na vida dos fiéis. A função dos

8 | JORNAL COMUNHÃO - DIOCESE DE GUAXUPÉ

Milhares de devotos ao redor da imagem de Nossa Senhora de Fátima

A Procissão do Fogareu também é outra manifestação religiosa presente durante a Semana Santa

Por padre Rovilson Angelo da Silva, vigário paroquial em Machado

santos não é modificar a vida de ninguém. A Igreja Católica Apostólica Romana os re-conhece pelo fato de mostrar aos fiéis que estes também podem ser santos em suas realidades de vida. A missão de ser santo é para todos, Deus não faz exclusão de santidade, pelo contrário, Deus quer que todos os seus filhos sejam santos. A Igreja não se refere a esta santidade apenas por milagres feitos, mas pelo milagre de man-ter viva a fé em Deus mediado pelo contato com o próximo.

Outro ponto de nossa reflexão refere-se a um assunto bem presente na religiosida-de popular, as imagens. Conforme é sabido, a Igreja, em nenhum momento, condena o uso de imagens. Ao contrário, incentiva e aceita. Neste sentido, as imagens na casa de alguém ou em um oratório não repre-sentam uma forma idolátrica de se comu-nicar com Deus. Pelo contrário, as imagens são apenas para lembrar a vida dos santos. Elas são apenas uma recordação de nossos antepassados. As imagens não possuem um poder sobrenatural a ponto de atender o pedido ou as invocações das pessoas.

Assunto este muito questionado pelos irmãos de outras denominações, sobretu-do por utilizarem textos bíblicos do antigo testamento. Na própria Bíblia, encontram--se textos que incentivam a fabricação de imagens. Este artigo não faz nenhuma exe-gese dos textos sagrados, pois, o que aqui interessa é saber a ligação que as imagens têm na devoção popular.

ProcissõesNeste viés, percebe-se algo bem típico

do interior: as procissões, sobretudo na

semana santa ou nas festas dos santos pa-droeiros. Esses costumes do povo vão ga-nhando conotações que variam conforme os diversos lugares. Alguns são de origem religiosa e, através dos tempos, vão per-dendo sua identidade primitiva. O intuito é trazer à tona a espiritualidade “deste” ou “daquele” santo para a vida das pessoas. As procissões são seguidas de cantos e orações. Têm caráter penitencial e bíblico, recordam a caminhada de libertação do

povo de Israel, no capítulo 15 do Livro do Êxodo.

As procissões são formas de piedade popular que ocupam grande destaque no sentimento religioso do povo. Ou seja, des-sa maneira, as pessoas presenciam Deus em suas vidas. As procissões constituem uns elementos fundamentais da piedade popular: nas peregrinações, nos Santuá-rios, nas festas dos Padroeiros, a tal ponto que se diz que a procissão é “o oitavo sa-cramento” na América Latina.

Na procissão, o povo sabe o porquê da caminhada, esta que é em direção a quem (Deus) e com quem (o próximo). A procissão como “caminhar com outros” de um lugar para outro, manifesta claramente a vonta-de comum de avançar para uma meta. Ela é essencialmente comunitária. A procissão é o símbolo da Igreja peregrina. Significa que os seres humanos não são somente as pessoas que estão aí presentes fisicamen-te, mas também os irmãos presentes espiri-tualmente na comunhão dos santos.

As procissões são um fenômeno que acontece durante o ano todo. São realiza-das em conexão com as festas e épocas do ano litúrgico, durante festas de cidades em honra de santos padroeiros e em tempos de calamidade e aflição, sejam elas causa-das pela natureza ou pelo ser humano. As

procissões são uma proclamação pública da fé e as imagens sagradas são um lem-brete de que existe outra esfera de vida além do presente.

Evangelizar a partir do alcance do povo: eis a missão da religiosidade popular. Suas manifestações populares possuem uma força evangelizadora como a liturgia. Tanto na religiosidade popular quanto na litur-gia, o que deve predominar é o aspecto

do anúncio do Evangelho de Jesus Cristo. Não se deve perder de vista a dimensão catequética, pois pode-se fazer da religio-sidade popular e da liturgia celebrações ou manifestações de nível supersticioso.

É a alma do povo sendo enraizada atra-vés da participação assídua em busca do mesmo objetivo: seguir Jesus Cristo. Busca esta que, por vezes, é utilizada com símbo-los, gestos e cantos. A religiosidade popu-lar dirige toda sua atenção ao mistério do Filho de Deus que, por amor aos homens, encarnou-se no seio de uma pobre mulher e assumiu sua missão de Filho, no meio da humanidade, junto à família de Nazaré.

Neste sentido, a religiosidade popu-lar tem uma poderosa força que ajuda na santificação da família e em mantê-la unida no amor. Isto se percebe quando vemos as famílias que se mantêm unidas em oração. Elo de unidade cristã é uma partilha e leitu-ra da Palavra em família, uma participação na vida sacramental e outras formas. São todas maneiras de entrelaçar a família em um único objetivo, relembrar os mistérios do Cristo e atualizá-los de forma piedosa na vida familiar. Até mesmo aos domingos, mediante a dificuldade de deslocamento ao Templo para celebrar a Eucaristia em comunidade, pelo simples fato de se ligar a televisão ou o rádio para ouvir ou assistir, já é uma forma de levar a liturgia até em casa, prolongando a fé recebida na comunidade paroquial para dentro do lar familiar. É a união movida pela força da oração. Portan-to, se faz favorável a afirmação de que a religiosidade popular é um meio de comu-nicação com o Sagrado, contudo, por ve-zes, ela carece de limitações. Assim, essas hipóteses irão contribuir com a reflexão, no sentido de refletir a religiosidade popular como amadurecimento da fé.

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA | 9

bíblico-catequética

para assistir

O PROCESSO CATEQUÉTICO E A VIVÊNCIA DA FÉ

EXTRAORDINÁRIO

Alguns pais questionam qual seria a idade ideal para colocar os filhos na Catequese. Outros acham “boba-

gem” colocá-los muito cedo porque a pri-meira Catequese é em casa e os primeiros catequistas são os pais. Seria muito bom se isso realmente acontecesse. Mas o que vemos hoje são crianças que chegam à Ca-tequese mal sabendo rezar o “Pai-Nosso” e a “Ave-Maria”. Há também aqueles que criticam o Método da Catequese dizendo que são vazios e não ensinam a doutrina da Igreja.

“A fé começa a ser percebida ou assimi-lada pela criança nas linguagens (verbais e não-verbais) inseridas no relacionamento. Ao primeiro choro, com o sopro de vida nos pulmões, se dá o início da educação para a fé. Antes mesmo de ouvir falar de Deus ou pronunciar seu nome, a criança terá sen-tido na pele e respirado o oxigênio da at-mosfera de Deus e percebido sua realida-de velada que cerca o mundo das pessoas. Por isso se diz que a fé entra pela carne.” (SERBENNA, Paulus, 1987, p. 33.)

A catequese usou por muito tempo o método doutrinal, ainda presente em vários lugares, cujo objetivo é somente transmitir a doutrina cristã. Neste processo, a vida do catequizando e da comunidade ficam fora

Com uma narrativa adaptada do best--seller homônimo de R. J. Palacio, o filme dirigido por Stephen Chbosky

retrata a vida do garotinho Auggie Pull-man, interpretado por Jacob Tremblay, que nasceu com uma séria síndrome genética que o deixou com deformidades faciais, fa-zendo com que ele passasse por diversas cirurgias e complicações médicas ao longo dos seus poucos anos de vida. Com a ajuda

Por Messias Donizete Faleiros – catequista e assessor paroquial de pastoral em Cássia

Texto/Imagem: Divulgação

do processo catequético e a Bíblia é muito pouso usada. Muitos fizeram este “catecis-mo”, mas hoje estão longe da vida cristã. Não conseguem ligar o que aprenderam com a vida concreta.

Segundo o documento Catequese Re-novada: “Tal processo procura unir: fé e vida; dimensão pessoal e comunitária; instrução doutrinária e educação integral; conversão a Deus e atuação transformado-ra da realidade; celebração dos mistérios e caminhada com o povo.” (CR, Nº29)

O papel da Catequese não é ensinar doutrinas mas levar o catequizando a fazer uma experiência de fé. Por isso, a necessi-dade da Interação Fé e Vida. Isto quer dizer que o conhecimento da mensagem cristã precisa ser traduzido em vivências, fazer sentido para a vida. Por isso a catequese não deve ser doutrinal. Melhor do que falar em doutrina é falar de “mensagem”.

“João Paulo II afirmou enfaticamente: Quem diz mensagem diz algo mais que doutrina. Quantas doutrinas de fato jamais chegaram a ser mensagem. A mensagem não se limita a propor ideias: ela exige uma resposta, pois é interpelação entre pesso-as, entre aquele que propõe e aquele que responde. A mensagem é vida.” (Diretório Nacional de Catequese 97).

A mensagem é mais rica que a doutrina, porque nos remete à vivência do Evange-lho de Jesus. A Catequese hoje quer pre-parar os catequizandos para uma partici-pação consciente e ativa na comunidade. Por isso, é necessário que participem ativa-mente do próprio grupo e da comunidade onde estiverem inseridos, a fim de apren-derem a rezar e a celebrar juntos.

A Catequese deve ajudar o catequizan-do a fazer uma verdadeira experiência de Deus que é mistério (Catequese Mistagó-gica) e que, mergulhado neste mistério, possa rezar, contemplar, experimentar e vivenciar... Criar, nos Encontros de Cate-quese, momentos mais orantes e celebra-tivos e uma metodologia mais voltada para o coração, lembrando que a mensagem do evangelho deve sempre traduzir nossa ex-periência religiosa.

Portanto, nós, Catequistas, temos uma importante missão na catequese. Além de ensinar “conteúdos”, pre-cisamos ensinar os “mistérios” da fé. Precisamos não “ensinar” doutrina, mas, VIVER a doutri-na. Precisamos CELEBRAR e ensinar a CELEBRAR. Nos-sa catequese deve ser CRISTOCÊNTRICA e não

doutrinal ou devocional. Este é o nosso o desafio.

“A catequese tem a linda tarefa de aju-dar a pessoa a viver toda a vida como uma grande experiência de Deus, onde fatos e eventos revelam os apelos de Deus e se tor-nam comunicação com Ele.” (Lucimara Tre-vizan - Equipe Catequese hoje - 15.05.2012)

Culpar os pais, muitas vezes, não vai re-solver. Mas temos que conscientizá-los que a finalidade da Catequese não é preparar o catequizando para o Sacramento mas, pre-pará-lo sim, para que tenha uma verdadeira vivência cristã. Conscientizá-los que Cate-quese é processo permanente de Educação da Fé que vai du-rar por toda a vida.

de seus pais Isabel (Julia Roberts) e Nate (Owen Wilson), o menino procura se ade-quar a uma nova rotina quando ingressa pela primeira vez numa escola convencio-nal.

A relação familiar e seu processo de adaptação são revelados no trailer, que expõe os medos e as dificuldades enfren-tadas por Auggie e a transformação da co-munidade escolar com a chegada do estu-

dante. O elenco reúne ainda a atriz Sonia Braga, que interpreta a avó de Auggie.

O filme contribui para uma revisão de vários comportamentos humanos e para a superação do preconceito em relação às pessoas que não estão dentro dos padrões sociais. Através de uma linguagem emocio-nante e dinâmica, o filme valoriza aspectos essenciais como o afeto familiar e o diálo-go sincero.

10 | JORNAL COMUNHÃO - DIOCESE DE GUAXUPÉ

patrimônio

laicato

CHRISTIFIDELES LAICI

FORMAÇÃO CRISTÃ NA VIDA E NA MISSÃO

A formação dos cristãos leigos é uma necessidade nos tempos atuais. Preci-samos estar atentos à necessidade de

darmos respostas autênticas em meio a tan-tos questionamentos que a diversidade e a liberdade de expressão nos apresentam. Há, hoje, muitas informações e posicionamentos diante das questões religiosas e faz-se ne-cessário um conhecimento mais profundo, consistente e embasado em documentos da Igreja e, principalmente, na Palavra de Deus, uma formação na comunhão e na unidade. Nos meios acadêmicos há uma busca cons-tante por aprimoramento profissional, pois o mercado de trabalho exige capacitação, e os cristãos leigos, hoje, também procuram e, se ainda não se interessaram tanto por esta busca, é importante que o façam, há diversas possibilidades de conhecer mais a Igreja de Jesus Cristo. A Igreja proporciona formações básicas e específicas e em nossa Diocese há este cuidado e diversidade formativa.

A Formação Cristã em Comunidade é a que os leigos são orientados em suas próprias paróquias, com material produzido pela Dio-cese, em cinco módulos, com o objetivo de proporcionar aos leigos um amadurecimento na fé, através da partilha e reflexão orienta-da. A ação transformadora da formação ini-cia-se na vida das pessoas que, através de conteúdos específicos, vão se capacitando,

Lançada em 1988, a exortação apos-tólica Christifideles Laici de são João Paulo II continua a iluminar a Vocação

e Missão dos Leigos na Igreja e no Mundo. Fruto do Sínodo dos Bispos de 1987, o tex-to indica as diretrizes para a ação do leigo como autêntico discípulo de Cristo. Segue, abaixo, um trecho do documento.

Ao responder à pergunta “quem são os fiéis leigos”, o Concílio, ultrapassando anteriores interpretações prevalentemente negativas, abriu-se a uma visão decidida-mente positiva e manifestou o seu propósi-to fundamental ao afirmar a plena pertença dos fiéis leigos à Igreja e ao seu mistério e a índole peculiar da sua vocação, a qual tem como específico “procurar o Reino de Deus tratando das coisas temporais e ordenan-do-as segundo Deus”. “Por leigos — assim os descreve a Constituição Lumen Gentium — entendem se aqui todos os cristãos que

Texto/Imagem: Divulgação

Por Otavia Cristine Pereira, secretária diocesana para a Formação Cristã

tornando-os pessoas mais livres, liberdade que vem da segurança do que se faz; pesso-as mais felizes, felicidade que vem do sentido que damos à vida, esta se torna completa e doação; tornando-nos mais autênticos, au-tenticidade que vem do seguimento verda-deiro a Jesus Cristo. Vale salientar que, para toda a formação, o importante é que a pessoa tenha uma grande abertura de coração para as novidades que esta lhe proporcionará e desejo de aprofundar os conhecimentos que já tem, pois o crescimento, a capacitação e a consciência de sua missão ampliarão quanto mais almejarem esta transformação. A for-mação nos dá suporte para vivenciarmos os

momentos adversos de nossas vidas, na ale-gria, celebramos, damos graças às bênçãos de Deus e, nos desafios, é Ele quem vai nos dar suporte, com uma fé mais fundamentada, para encontrarmos forças para suportar as provações do dia a dia.

Quanto mais impregnado de conheci-mentos, mais o leigo cultiva o esquecimento de si e busca a elevação do outro, partindo para a espiritualidade da humildade, do servi-ço, do encontro, do diálogo, da misericórdia e do amor. A formação capacita o leigo para os serviços nas diversas pastorais e movimentos paroquiais, pois sua consciência vai, a cada instante, se formando na importância do ser-

não são membros da sagrada Ordem ou do estado religioso reconhecido pela Igreja, isto é, os fiéis que, incorporados em Cris-to pelo Batismo, constituídos em Povo de Deus e tornados participantes, a seu modo, do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo, exercem pela parte que lhes toca, na Igreja e no mundo, a missão de todo o povo cristão”.

Já Pio XII dizia: “Os fiéis, e mais pro-priamente os leigos, encontram-se na linha mais avançada da vida da Igreja; para eles, a Igreja é o princípio vital da sociedade humana. Por isso, eles, e sobretudo eles, devem ter uma consciência, cada vez mais clara, não só de pertencerem à Igreja, mas de ser a Igreja, isto é, a comunidade dos fiéis sobre a terra sob a guia do Chefe co-mum, o Papa, e dos Bispos em comunhão com ele. Eles são a Igreja...”.

Segundo a imagem bíblica da vinha, os fiéis leigos, como todos os outros membros

da Igreja, são vides radicadas em Cristo, a verdadeira videira, que torna as vides vivas e vivificantes.

A inserção em Cristo através da fé e dos sacramentos da iniciação cristã é a raiz primeira que dá origem à nova condição do cristão no mistério da Igre-ja, que constitui a sua mais profunda “fisionomia” e que está na base de to-das as vocações e do dinamismo da vida cristã dos fiéis lei-gos: em Jesus Cristo morto e ressuscitado o batizado torna-se uma “nova criatura” (Gal 6, 15; 2 Cor 5, 17), uma criatura purifi-

cada do pecado e vivificada pela graça.Assim, só descobrindo a misteriosa rique-

za que Deus dá ao cristão no santo Batismo é possível delinear a “figura” do fiel leigo.

viço, do seguimento a Jesus Cristo e, assim, tornando nossas paróquias mais preparadas para a acolhida das situações mais adversas de nosso mundo moderno, não apenas no serviço comunitário, mas o leigo, tendo par-ticipado da formação, terá uma postura dife-rente no mundo do trabalho, será reconheci-do pelo que é, pois ele é diferente, em seu modo de pensar e de agir.

A busca pela formação deve ser uma constante. Aqueles que passam pelo pro-cesso formativo sentem-se preparados, mas ainda sedentos, pois há muito que se conhecer, é preciso aprofundar, buscar outros tipos de formação oferecidos e, até mesmo na medida do possível, a formação específica e o aprimoramento pessoal, procurando, através de bibliografias atua-lizadas e de novos documentos produzidos pela Igreja, estar conectado com o que há de novo. Para que a ação transformadora da formação seja uma constante em nos-sas vidas, reflitamos com a frase do Papa Francisco: “Os rios não bebem sua própria água; as árvores não comem seus próprios frutos. O sol não brilha para si mesmo; e as flores não espalham sua fragrância para si. Viver para os outros é uma regra da na-tureza. (...) A vida é boa quando você está feliz; mas a vida é muito melhor quando os outros estão felizes por sua causa”.

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA | 11

comunicaçõesaniversários fevereiro

agenda pastoral

Natalício6 Padre Ronei Mendes Faria6 Padre João Batista de Melo8 Padre Eduardo Pádua Carvalho10 Padre Michel Donizetti Pires12 Padre Renato César Gonçalves14 Padre Sérgio A. Bernardes Pedroso16 Padre Paulo Carmo Pereira

1 Divulgação da Campanha da Fraternidade 2018 em Alfenas1 - 4 Cursilho Feminino Jovem em Cássia2 Divulgação da Campanha da Fraternidade 2018 em São Sebastião do Paraíso3 Reunião do Conselho Diocesano de Pastoral em Guaxupé Reunião da Coordenação Diocesana de CEBs em Nova Resende 5 Divulgação da Campanha da Fraternidade 2018 em Poços de Caldas6 Divulgação da Campanha da Fraternidade 2018 em Passos7 Reunião da Pastoral Presbiteral em Guaxupé Divulgação da Campanha da Fraternidade 2018 em Guaxupé10 Reunião do Conselho Diocesano do ECC na Paróquia São Sebastião em Poços de Caldas10 - 13 Encontro de Carnaval da RCC nos setores13 Carnaval

18 Padre Claudemir Lopes19 Padre Júlio César Agripino

Ordenação 5 Padre Alessandro de Oliveira Faria5 Padre José Natal de Souza5 Padre Julio César Martins5 Padre Ronaldo Aparecido Passos

14 Cinzas – Início da Quaresma – Abertura da CF 2018 Oficial na Catedral17 Reunião dos Conselhos de Pastoral dos Setores (CPSs)18 Abertura das Atividades do Movimento Apostólico de Schoenstatt19 - 22 Retiro Anual dos Presbíteros em São Pedro (SP)23 - 25 Cursilho Jovem misto em Poços de Caldas Assembleia do COMIRE em Belo Horizonte24 Reunião da Equipe Diocesana de Comunicação em Guaxupé Reunião do Setor Famílias em Guaxupé Reunião da Coordenação Diocesana da Catequese em Guaxupé Reunião da Coordenação Diocesana dos Grupos de Reflexão em Guaxupé 25 Encontro com Formadores dos Setores Missionários em Guaxupé com 2 representantes de cada paróquia

5 Padre Ronei Mendes Lauria 6 Padre Benedito Clímaco Passos8 Padre Gilmar Antônio Pimenta9 Monsenhor Enoque Donizetti de Oliveira11 Padre Valdenísio Justino Goulart11 Padre Renato César Gonçalves 13 Padre Janício de Carvalho Machado 14 Padre Rodrigo Costa Papi

20 Padre Sandro H. A. dos Santos21 Padre Antonio Carlos Melo 22 Padre Guaraciba Lopes de Oliveira22 Vítor Aparecido Francisco22 Padre Luciano Campos Cabral 26 Padre Paulo Sérgio Barbosa 27 Padre José Benedito dos Santos

atos da cúria

• Padre Gladstone Miguel da Fonseca nomeado pároco da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Paraguaçu. Posse realizada em 27 de janeiro de 2018.

• Padre Sérgio Aparecido Bernardes Pedroso nomeado administrador paroquial da Paróquia Sagrada Família e Santos Reis, em Guaxupé. Posse realizada em 28 de janeiro de 2018.

• Padre Sérgio Aparecido Bernardes Pedroso nomeado administrador paroquial da Paróquia Santa Cruz, em Santa Cruz do Prata, distrito de Guaranésia. Posse realiza-da em 28 de janeiro de 2018.

• Padre Glauco Siqueira dos Santos nomeado pároco da Paróquia Nossa Senhora Apa-recida, em Conceição da Aparecida. Posse realizada no dia 28 de janeiro de 2018.

• Padre Marcelo Nascimento nomeado pároco da Paróquia São José, em São Sebas-

tião do Paraíso. Posse realizada em 31 de janeiro de 2018.

• Padre Hiansen Vieira Franco nomeado pároco da Paróquia São Domingos, em Poços de Caldas. Posse realizada no dia 4 de fevereiro de 2018.

• Padre José Augusto da Silva nomeado pároco da Paróquia Nossa Senhora Apareci-da, em Poços de Caldas. Posse realizada no dia 4 de fevereiro de 2018.

12 | JORNAL COMUNHÃO - DIOCESE DE GUAXUPÉ