um panorama da reciclagem no brasil

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review 2013

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review2013

DDesde a sua fundação, há 21 anos, o CEMPRE tem tradição de realizar pesquisas e estudos que ajudam a definir estratégias empresariais e governamentais na área de reciclagem.

Graças à proatividade do setor empresarial e ao esforço dos

catadores, muito se avançou na reciclagem de embalagens

pós-consumo no país. Ao longo do tempo, o trabalho junto aos

setores que compõem o mercado de coleta seletiva, triagem

e processamento de materiais para fabricação de produtos

reciclados tornou-se uma referência.

O modelo inspirou a Política Nacional de Resíduos Sólidos,

que veio em boa hora, a fim de impulsionar a reciclagem a

partir da definição de regras claras dentro do princípio da

responsabilidade compartilhada entre governo, empresas e

população. Construir bases sólidas para que esse mercado –

emergente e promissor – se desenvolva com viabilidade técnica

e econômica é um dos principais desafios atuais.

Esta publicação é a primeira de uma série que tem por objetivo

analisar e atualizar o panorama da reciclagem de embalagens

pós-consumo no Brasil. Além de um diagnóstico de mercado,

contextualizado a partir dos aspectos econômicos, ambientais e

sociais, a proposta é apresentar caminhos e subsidiar decisões

no horizonte de três anos para o incremento dos índices de

recuperação de embalagens e para a formulação de políticas

públicas de incentivos, inclusive tributários, necessários para

o combate à informalidade e crescimento do setor com

geração de renda.

Victor Bicca Neto

Presidente do CEMPRE – Compromisso Empresarial para Reciclagem

apresentação

1

23

expediente índice

Cenário

O contexto histórico, a evolução e as perspectivas do mercado de resíduos recicláveis no Brasil

Pilares

O papel dos municípios, empresas e consumidores para avanços na cadeia produtiva da reciclagem

Catadores

A força de trabalho que se organiza e ganha reconhecimento para a expansão econômica da atividade

CEMPRE Review é uma publicação do CEMPRE – Compromisso Empresarial para Reciclagem*

Presidente Victor Bicca Neto Diretor executivoAndré Vilhena

Coordenação editorial e texto Sérgio Adeodato

Direção de arte, projeto gráfico e ilustração digitalWalkyria Garotti

CapaWalkyria Garotti e Sandro Falsetti

Revisão José Julio do Espirito Santo

Produção gráficaBel Brunharo

Tratamento de imagemMomédio Nascimento

ImpressãoGráfica Pigma

CEMPRE – Compromisso Empresarial para ReciclagemRua Bento de Andrade, 126, Jd. Paulista, São Paulo-SP, CEP 04503-000

Informações em www.cempre.org.br, www.facebook/cemprebr ou [email protected]

* Publicação elaborada com base em dados gerais consolidados até 2012 em estudo da LCA Consultores. Para informações atualizadas, consulte: www.ipea.gov.br, www.snis.gov.br e www.ibge.gov.br.Associações setoriais: www.abralatas.org.br, www.plastivida.org.br, www.abiplast.org.br, www.abividro.org.br, www.bracelpa.org.br, www.abipet.org.br e www.abeaco.org.br.

6

18

36selo FSC

6 7cempre review 2013 cempre review 2013

contexto histórico,Oevolução

recicláveisperspectivas

no Brasil

e asa

do mercado de resíduos

Nas últimas duas décadas, o país de-

senhou seu modelo de reciclagem ba-

seado na coleta seletiva e no trabalho

dos catadores. Após a nova legislação,

a expectativa é o crescimento do mer-

cado com investimento público e em-

presarial nessa base já construida.

cenárioO Brasil dá passos importantes para ocupar posição de destaque no

cenário global da reciclagem. Isso se deve não apenas aos índices

já alcançados de retorno de embalagens, a exemplo das latas de

alumínio e das garrafas PET. O potencial do setor é proporcional

ao desenvolvimento econômico, aos avanços nas práticas de

sustentabilidade das empresas, às ações de governo bem construídas

e a uma maior conscientização por parte do consumidor. A tendência

é o crescimento ser acelerado à medida que a lei da Política Nacional

de Resíduos Sólidos é colocada em prática dentro de um ambiente

regulatório favorável a novos investimentos.

Projeções realizadas pela LCA Consultores com base em dados públicos

do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e de associações

empresariais mostram que 27% dos resíduos recicláveis (fração seca) coletados nas cidades foram efetivamente recuperados em 2012 – ou seja, foram desviados dos lixões e

aterros, retornando à atividade produtiva. No caso específico das

embalagens, o índice de recuperação foi de 65,3%.

O retrato do mercado brasileiro da reciclagem e sua perspectiva de

futuro estão alicerçados em um processo histórico marcado, desde o

início, por uma atitude proativa do meio empresarial no sentido de se

antecipar a medidas legais e contribuir no desenho de um caminho

ambientalmente adequado, socialmente benéfico e economicamente

viável para a gestão dos resíduos no Brasil, respeitando a realidade

e as peculiaridades nacionais.

ISTO

CkPh

OTO

8 9cempre review 2013 cempre review 2013

cobertura da coleta

Coleta e geração estimada de resíduos sólidos no Brasil

lixo coletado (ton/dia)lixo geRado (ton/dia)

169.300193.642

Fonte: SNIS (2010), Censo 2010, LCA

O quadro atual resulta do debate intensifi cado nas

décadas de 1970 e 1980, quando os riscos da poluição,

do desperdício e do uso excessivo de recursos naturais

municiavam as ações ambientalistas. Logo, a questão

entrava para a agenda de governos e empresas. Marco

desse processo foi a Conferência das Nações Unidas

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), onde

os países debateram caminhos para colocar o planeta

nos trilhos de uma prosperidade econômica com menos

destruição ambiental e desigualdade social, mudando

padrões de produção e consumo. A Agenda 21, reunindo

ações a serem adotadas em cada país, incluiu a gestão

do lixo como tema prioritário.

Naquele ano de 1992, antes da conferência, um

grupo de empresas com visão sobre o cenário que

se apresentava criou o CEMPRE – Compromisso

Empresarial para Reciclagem, tendo como um dos

objetivos a promoção da atividade sob o ponto de vista social e econômico, com a construção de indicadores capazes de orientar e dar suporte a iniciativas legais e ao mercado que emergia. Logo nasceu o Ciclosoft – um sistema

destinado a medir os índices da coleta seletiva, seus

custos e a composição do lixo com o percentual dos

diferentes materiais recicláveis. Adaptada às condições

brasileiras, a iniciativa teve como base o método

desenvolvido originariamente pela ERRA (European

Recovery and Recycling Association).

87,4%

Um pouco de história

10 11cempre review 2013 cempre review 2013

Após a aprovação da nova lei de

resíduos, em 2010, o trabalho

de construir indicadores e fazer

diagnósticos de mercado é estratégico

para induzir o desenvolvimento da

reciclagem sobre pilares sólidos e

mensuráveis, importantes para a

maior transparência, segurança nos

investimentos e melhoria contínua, com

estabelecimento de metas. A legislação

prevê a responsabilidade compartilhada

entre governo, empresas e população

na questão dos resíduos urbanos,

determinando o fim dos lixões até 2014

e o descarte em aterros sanitários

apenas dos materiais que não podem

ser reciclados. A logística reversa, ou

seja, a coleta e o retorno de materiais à

indústria após o consumo, passou a ser

obrigatória para alguns setores.

O mercado se movimenta para a

aplicação da lei e para o aproveitamento

de novas oportunidades de negócio que

devem surgir para dar vazão ao maior

volume de resíduos separados nas

residências e coletados pelas prefeituras.

O CEMPRE estima que, em 2012, a

coleta, a triagem e o processamento

dos materiais em indústrias recicladoras

geraram um faturamento de R$ 10 bilhões no Brasil. A expectativa para

os próximos anos é de uma significativa

expansão, no ritmo da maior escala

e do desenvolvimento do parque

industrial de reciclagem. Nesse caminho,

identificar obstáculos e gerar dados

úteis a políticas de incentivos e de

investimentos, visando o equilíbrio entre

oferta e demanda, a redução de custos

e o máximo de benefícios sociais e

econômicos, é uma rotina que se integra

à gestão do lixo no Brasil.

O impulso com a nova lei

10 cempre review 2013

12 13cempre review 2013 cempre review 2013

mudanças com a lei de Resíduos

Pouca prioridade para a questão do lixo urbano Municípios devem traçar um plano para gerenciar os resíduos da melhor maneira possível, buscando a inclusão dos catadores

A maioria dos municípios destinava os dejetos para lixões a céu aberto Lixões passam a ser proibidos e devem ser erradicados até 2014, com a criação de aterros que sigam as normas ambientais

Sem aproveitamento dos resíduos orgânicos Municípios devem instalar a compostagem para atender a toda a população

Coleta seletiva inefi ciente e pouco expressiva Prefeituras devem organizar a coleta seletiva de recicláveis para atender toda a população, fi scalizar e controlar os custos desse processo

Falta de organização Municípios devem incentivar a participação dos catadores em cooperativas a fi m de melhorar suas condições de trabalho

Inexistência de regulação sobre os investimentos privados na administração de resíduos

Legislação prevê investimentos das empresas no tratamento dos resíduos

Poucos incentivos fi nanceiros Novos estímulos fi nanceiros para a reciclagem

Desperdício de materiais e falta de processos de reciclagem e reutilização A reciclagem estimulará a economia de matérias-primas e colaborará para a geração de renda no setor

Sem regulação específi ca Empresas apoiam postos de entrega voluntária e cooperativas, além de garantir acompra dos materiais a preços de mercado

Manejo do lixo feito por atravessadores, com riscos à saúde Catadores deverão se fi liar a cooperativas de forma a melhorar o ambiente de trabalho, reduzir os riscos à saúde e aumentar a renda

Predominância da informalidade no setor Cooperativas deverão estabelecer parcerias com empresas e prefeituras para realizar coleta e reciclagem

Problemas tanto na qualidade como na quantidade dos resíduos Aumento do volume e melhora da qualidade dos dejetos que serão reaproveitados ou reciclados

Catadores sem qualifi cação Os trabalhadores passarão por treinamentos para melhorar a produtividade

Separação inexpressiva de lixo reciclável nas residências População separará o lixo reciclável na residência

Falta de informações Realização de campanhas educativas sobre o tema

Atendimento da coleta seletiva pouco efi ciente Coleta seletiva será expandida

pode

r pú

blic

o

depois

empr

esas

cata

dore

spo

pula

ção

antes

14 15cempre review 2013 cempre review 2013

O que acontece com osresíduos no Brasil

jogado em Rios, lagos ou maR

outRa destinação

enteRRado na pRopRiedade

jogado em teRReno baldio ou logRadouRo

disposto em caçamba

queimado na pRopRiedade

Recolhido poR caminhões e levado paRa lixões, ateRRos ou Reciclagem

0,1%0,2%0,6%

2%

7,2%

9,6%

80,3%

Font

e: C

enso

201

0

Está em jogo não apenas a viabilidade econômica da reciclagem, mas também

a geração de empregos e o bem-estar de milhares catadores, organizados em

cooperativas. Das caixas de suco às garrafas de refrigerantes, o que antes era

visto como lixo sem valor vira fonte de riquezas e como tal começa a ser tratado

pelas estatísticas. Em 2012, pesquisa encomendada pelo CEMPRE à consultoria

LCA cruzou dados pré-existentes sobre saneamento e gerou informações

inéditas sobre o mercado da reciclagem no Brasil, desde a coleta até o destino

final dos resíduos, que em grande parte (40%) acabam em lixões e aterros sem

os cuidados ambientais necessários. Neste quesito, de acordo com o estudo, o

Brasil se encontra no meio do caminho entre os países desenvolvidos e a África,

mas com tendência de evoluir para melhores índices.

Em um país como o Brasil, medir a reciclagem é um trabalho complexo por vários

motivos: o grau de informalidade do mercado, a inexistência de dados oficiais

consistentes e abrangentes, a dimensão territorial e suas diferentes realidades,

e a diversidade de atores que participam do mercado – catadores, atacadistas

de materiais recicláveis, indústrias recicladoras de pequeno, médio e grande

porte, prefeituras, empresas de coleta, entre outros. Um dos poucos estudos

sobre aspectos econômicos da reciclagem foi realizado pelo IPEA (Instituto de

Pesquisa Econômica Aplicada), em 2010, com a constatação de que o país perde

anualmente R$ 8 bilhões ao enterrar o lixo que poderia ser reciclado.

O país perde anualmente R$ 8 bilhões ao

enterrar o lixo que poderia ser reciclado

Indicadores para os negócios com resíduos

16 17cempre review 2013 cempre review 2013

Os materiais mais descartados

Fonte: IPEA, 2010

matéRia oRgânica51,4%

outRos16,7%

plástico13,5%

papel, papelão e longa-vida13,1%

vidRo2,4%

aço2,3%

alumínio0,6%

O tema da sustentabilidade ganha espaços diferenciados

na agenda do setor produtivo. As ações se tornam

abrangentes e participativas, com maior equidade na

distribuição de benefícios entre os elos das diferentes

cadeias produtivas. Não mais se restringem a filtrar

fumaça das chaminés ou não sujar os rios. Zelar pelo

bem-estar da humanidade, gerar postos de trabalho

e ter boa reputação junto a novos consumidores mais

conscientes e conectados em rede é também uma

condição para ser lucrativo e garantir a sobrevivência do

negócio. O mercado de resíduos é transversal aos novos

desafios e pode contribuir com transformações efetivas

e duradouras para o planeta virar o jogo da degradação

dos recursos em benefício das gerações atuais e futuras.

hoje, a humanidade consome 30% a mais do que o

planeta pode naturalmente repor e é necessário

reduzir a desigualdade no acesso a esses recursos.

O crescimento do mercado da reciclagem é termômetro

dessas transformações.

A tendência é o desperdício diminuir a partir das iniciativas

impulsionadas pela nova lei de resíduos, notadamente até

2014 – horizonte de tempo considerado chave para o avanço da

reciclagem no país. Até lá, os municípios precisam acabar com

os lixões. E naquele ano acontecerá no país a Copa do Mundo

da FIFA, um evento esportivo de potencial para a geração de

legados estruturantes. é oportunidade para as cidades-sede atraírem investimentos, planejarem a gestão dos resíduos e serem estimuladas a aumentar a coleta seletiva, mobilizando a população para a nova prática.

O valor econômico e social dos resíduos

SAM

AR

A A

SS

I/CE

MPR

E

18 19cempre review 2013 cempre review 2013

O país tem avançado na reciclagem

de embalagens pós-consumo e o po-

tencial é de um crescimento crescen-

te em resposta à nova lei de resíduos.

Será necessário investimento na cole-

ta seletiva e na ampliação do parque

industrial que reprocessa os resíduos

separados pela população.

pilares

municípiosempresas

na cadeiada reciclagem

O papel dos

e,

para avançosconsumidores

21cempre review 2013

coleta seletivaem resposta à lei de resíduos,

aprovada em 2010, é crescente

o número de cidades que se

movimentam para fazer planos

municipais de gestão do lixo e

implementar a coleta seletiva com

objetivo de aproveitar materiais

antes despejados em lixões.

o ritmo da corrida para adequação

legal aumentou em 2013, após

as eleições e a transição para a

nova gestão municipal. Apesar do

avanço, o caminho para se atingir

uma maior escala, compatível com

o tamanho do desafi o, é longo:

apenas 14%

dos municípios brasileiros oferecem serviço de coleta seletiva, de acordo com o

estudo ciclosoft (2012). Desse

total, 86% estão nas regiões

sul e sudeste.

22 23cempre review 2013 cempre review 2013

Popu

laçã

o bra

sileira atendida pela coleta seletiva em

2012

Agen

tes e

xecutores da coleta seletiva municipalA elaboração de planos municipais de gerenciamento de resíduos é

condição legal para o acesso a recursos públicos federais, como os que

se destinam à estrutura de coleta e aterros sanitários. O Programa Recicla

Brasil, do Ministério do Meio Ambiente, prevê repasse financeiro para a

implantação de aterros sanitários, com meta de cobrir 73% da população

urbana do país (118 milhões de habitantes). No caso da coleta seletiva, o

plano é atender 59% dos habitantes que vivem em cidades, somando 94

milhões de brasileiros. Hoje são atendidos 27 milhões, segundo o Ciclosoft.

Em complemento, o Programa Pró-Catador, do Ministério do Trabalho e

Emprego, reservou R$ 185 milhões para os governos estaduais apoiarem

municípios. A injeção de investimentos na estruturação da reciclagem

inclui ainda recursos de empresas estatais, como Banco do Brasil e BNDES

(Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).

A coleta seletiva municipal é imprescindível como fonte de abastecimento do mercado da reciclagem. A maior parte

dos municípios realiza a coleta de porta em porta (88%), mas cresce a

alternativa de recolhimento por meio dos Postos de Entrega Voluntária

(PEVs), onde a população deixa resíduos recicláveis. Também aumenta

a participação de cooperativas de catadores contratadas para a coleta

seletiva municipal – alternativa já adotada por mais da metade das

cidades que oferecem o serviço.

Municípios com coleta seletiva no Brasil

1994 1999 2002 2004 2006 2008 2010 2012

443405327

237192

13581

Fonte: CEMPRE/Ciclosoft Fonte: CEMPRE/Ciclosoft

12%

26%

52%

prefeiturA cooperAtivA

empresApArticulAr

62%

766

24 25cempre review 2013 cempre review 2013

Um desafio é a redução de custos e o aumento da produtividade

para que o modelo se torne viável e menos dependente de

subsídios. Em 2012, o custo da coleta seletiva ainda se mostrava

4,5 vezes superior ao da coleta convencional de resíduos. Um

caminho é a estruturação de consórcios municipais para a gestão

conjunta dos resíduos urbanos, estratégia capaz de viabilizar

escala, custos e investimentos. No Amazonas, por exemplo, 56

dos 61 municípios se uniram para a elaboração de um plano único.

A tomada de decisão sobre o modelo mais adequado de

reciclagem para o município também deve levar em conta a

composição do lixo separado pela população. Quase metade

(45,9%) do volume coletado é papel e papelão, seguido pelos

plásticos (15,6%). O plano municipal deve embutir a preocupação

de manter os preços da sucata atrativos para o mercado.

O aumento da escala na oferta de materiais, com

reflexos na consolidação da cadeia produtiva da

reciclagem no país, depende da evolução da coleta

seletiva nos grandes centros urbanos, que concentram

o maior percentual do consumo de embalagens e são

irradiadores de tendências e novos modelos de gestão

para outras regiões. No Rio de Janeiro, 1% dos resíduos

foi coletado seletivamente pela prefeitura em 2012,

no total de 30 toneladas diárias, em média. A meta é

aumentar o índice para 25% até 2016, quando a cidade

sediará os Jogos Olímpicos. A expansão da coleta

seletiva recebe R$ 50 milhões da prefeitura e do BNDES,

prevendo a instalação de seis centrais de reciclagem em

diferentes pontos da capital para o processamento de

150 toneladas diárias.

Em São Paulo, a capital mais populosa e industrializada,

a coleta seletiva abrange apenas 2% do lixo gerado pela

população. O serviço cobre 42% dos domicílios, uma

vez por semana. O material é levado para 20 centrais

de triagem mantidas por cooperativas de catadores.

A administração pública alega falta de áreas urbanas

disponíveis para novos galpões. Existem 3,8 mil PEVs e 2,8 mil contêineres que recebem embalagens pós-consumo entregues pela população. Nesse mercado a ser explorado para

o alcance de um patamar satisfatório na gestão

dos resíduos, as soluções passam por decisões

políticas e novos modelos de gestão capazes de gerar

oportunidades de negócios.

Eficiência na coleta Força do pioneirismoSão José dos Campos (SP) é um dos municípios que mais coletam materiais para

reciclagem em relação ao tamanho da população. São 99 toneladas por dia, recolhidas em

todos os bairros por caminhões da empresa municipal de limpeza, a Urban. Os resíduos

são levados para um centro de triagem, operado por 186 funcionários contratados pela

prefeitura, com vendas de R$ 191 mil mensais. Uma quantidade adicional, equivalente ao

dobro da coleta municipal, é operada por cooperativas de catadores, com foco na sucata

de maior valor comercial. Em 2012, a quantidade recolhida para reciclagem cresceu 14%,

quatro vezes mais do que a expansão dos volumes do serviço convencional. O custo da

coleta seletiva, três vezes maior em comparação à comum, é compensado pelos ganhos

sociais e ambientais, além do aumento da vida útil do aterro sanitário.

Porto Alegre está entre as capitais pioneiras em coleta seletiva no Brasil. Iniciado

em 1990, o serviço tomou corpo após a aprovação de uma lei municipal para o

gerenciamento integrado do lixo, prevendo soluções além do descarte em aterros.

A iniciativa teve forte adesão popular por meio de campanhas educativas. Em 2008,

a coleta seletiva já era realizada duas vezes por semana em todos os bairros.

Os resíduos são recolhidos por uma empresa contratada pela prefeitura e levados para

18 cooperativas onde trabalham 700 catadores. Os materiais recicláveis misturados ao

lixo da coleta convencional são separados em estações de transbordo antes do despejo

em aterro. Contratadas pelo município, as cooperativas de catadores recebem um valor

mensal para cobrir custos com a estrutura.

Evolução da média de custos da coleta seletiva (US$/ton)

Font

e: C

EMPR

E/Ci

clos

oft

1994 1999 2004 2006 2008 2010 20122002

240154

114151

221 204 212

70

26 27cempre review 2013 cempre review 2013

A tarefa não se restringe em encontrar caminhos técnica

e economicamente viáveis para a coleta de embalagens

após o consumo. Na ponta final da cadeia, é necessário

consolidar o parque industrial de reciclagem para que

a demanda por resíduos seja compatível com a maior

escala da oferta, com a expansão do mercado diante

do maior número de municípios que cumprem a lei e

aumentam a coleta seletiva. A tendência é o expressivo

aumento do volume de resíduos disponíveis para

reciclagem. Não há fórmulas mágicas. Mais do que

tecnologias caras e importadas, às vezes inadequadas

ao cenário brasileiro, o esforço se concentra na melhor

gestão, na qualificação e na busca inteligente e criativa

de soluções viáveis.

Nas últimas décadas, os produtos reciclados ganharam

qualidade e valor. Fabricantes investem no design e

desenvolvimento de embalagens que utilizam menos

insumos e podem ser recicladas. A partir da agenda

da sustentabilidade das empresas e dos rumos da

chamada “economia verde”, setores produtivos

rompem barreiras e passam a empregar matéria-prima

reciclada como estratégia de ganhos ambientais,

sociais, econômicos e de reputação no mercado.

De embalagens de alimentos a automóveis e

eletroeletrônicos, o espectro de aplicações se amplia a

cada dia. O processo se desenvolve na medida em que

as indústrias assumem responsabilidades, reportam

compromissos e buscam alternativas para o resíduo

gerado após o consumo de seus produtos.

logística reversa

FOTO

S: 1

23R

F

O conceito de logística reversa – a coleta de embalagens e

outros materiais após o consumo para retorno como matéria-

prima à produção industrial – se torna comum no vocabulário e

nas práticas empresariais. O sistema pode ser operacionalizado

seguindo diferentes modelos, mais ou menos adequados

conforme as realidades locais. Ele ilustra como a gestão dos

resíduos incorpora-se ao planejamento e à visão de “cadeia de

valor”. Arranjos produtivos que consideram os elos e engrenagens da atividade, desde o insumo básico até o reprocessamento da sucata para fabricação de novos produtos, são estratégicos para a expansão do mercado da reciclagem.

A “responsabilidade compartilhada” pelos resíduos, eixo central

da nova legislação para o setor, reforça a importância dos atores

e seus diferentes papéis. No caso das empresas, a expectativa é

fazer o processo seguir as regras de mercado, com preços atrativos

e equilíbrio entre oferta e demanda. Eficiência no uso de recursos,

geração de emprego, planejamento e produtividade são fatores

que se incorporam à gestão do lixo que deixa de ir para vazadouros

a céu aberto e passa a ser tratado como matéria-prima industrial.

28 29cempre review 2013 cempre review 2013

Ao reduzir o uso de insumos extraídos da natureza com risco de impactos

ambientais, evitar danos à biodiversidade, economizar energia e diminuir

emissões de gases do efeito estufa, a reciclagem representa uma vantagem

competitiva para as empresas. Cada vez mais, as decisões de compra levam em

conta os impactos em todo o ciclo de vida dos produtos, da matéria-prima à

destinação fi nal. Além dos ganhos ambientais e sociais, há redução de custos. A substituição da celulose virgem por fi bras recicladas, por exemplo,

permite economia de R$ 331 por tonelada, metade do custo sem a reciclagem

(R$ 687 por tonelada). Para o caso do alumínio, o valor cai de R$ 6,1 mil para

R$ 3,4 mil por tonelada, segundo dados do IPEA.

Projeções feitas pela LCA indicam que o mercado brasileiro de reciclagem

registrará um benefício econômico de R$ 1,1 milhão por dia em 2014,

caso 90% da população das cidades-sede da Copa do Mundo seja

atendida por coleta seletiva. Os dados consideram os ganhos

econômicos com a substituição de matéria-prima virgem

por reciclada, emissões de carbono, energia

e impactos à biodiversidade.

Benefícios econômicos da reciclagem*

Desenhar parcerias envolvendo os diferentes

elos da cadeia de reciclagem tem sido uma

estratégia de sucesso para se viabilizar

novos produtos reciclados, na lógica do

“ganha-ganha”.

caixas de suco e leite aparentemente nada

têm a ver com embalagens de curativos

e muito menos com telhas para granjas.

No entanto, os três produtos estão mais

próximos do que se imagina graças à

construção de cadeias produtivas. A unidade

da suzano em embu das Artes (sp) extrai

fi bras de papel das embalagens longa-vida.

com o material, descartado após o consumo

dos alimentos e fornecido por cooperativas

de catadores, é produzido o papel-cartão

pcr. para fabricar 1 mil toneladas mensais,

são utilizadas 37 milhões de caixas de suco

e leite. De lá, o cartão reciclado segue para

transformação em embalagem de Band-Aid,

curativo fabricado pela Johnson & Johnson.

Após a separação do papel, a liga de plástico

com alumínio, existente nas caixas longa-

vida, é vendida para produção de telhas

pela recicladora ciclo, em Araçariguama

(sp), onde são produzidas 25 mil unidades

por mês, principalmente para galpões de

granjas. A tecnologia foi desenvolvida nos

últimos anos pela tetra pak, fabricante

das embalagens, cuja reciclagem passou a

gerar oportunidades de negócio à indústria

papeleira. No Brasil existem 35 recicladoras

de caixas longa-vida, com faturamento

de r$ 80 milhões por ano. Hoje, 29% dos

12 bilhões de embalagens que entram no

mercado anualmente são recicladas. A meta

é aumentar para 35% até 2014.

Rota do papel: das caixas de leite para as embalagens de curativos

material

reciclagem incremental

(ton/dia)

insumos (r$) Ambiental(co2, energia e biodiversidade)

(r$)

custo adicional da reciclagem(r$/ton)**

Benefício total

(r$/dia)

Aço 253 32.164 18.741 113 22.287

Alumínio 61 164.496 20.539 113 178.189

celulose 1.397 460.854 33.517 113 336.563

plástico 554 644.545 31.009 113 612.982

vidro 246 29.572 2.711 113 4.436

total 2.511 1.331.632 106.517 1.154.457

* Projeção com base na cobertura de 90% da população das cidades-sede da Copa do Mundo com coleta seletiva

** Custo da coleta seletiva (R$136/ton) menos custo da disposição em aterro (R$ 23/ton)

Fonte: IPEA/LCA

Benefício econômico por dia

30 31cempre review 2013 cempre review 2013

O Brasil é líder mundial de recuperação de latas de alumínio,

consequência – entre outros fatores – do preço atrativo da

sucata, que acompanha os valores da commodity no mercado

internacional. A reciclagem de garrafas PET é crescente,

impulsionada pelo consumo de fi bras sintéticas pelo setor têxtil

e outras aplicações que se diversifi cam. Nos últimos dez anos, a

taxa de recuperação do material aumentou de 32,9% para 57,1%,

totalizando um mercado anual de R$ 1 bilhão. Em 2012 existiam

no país 93 indústrias recicladoras com mais de cinco anos de

existência. Em 2004, eram 32. O crescimento poderia ser maior:

há uma demanda reprimida devido à baixa oferta do material pela coleta seletiva municipal. Segundo pesquisa

divulgada em 2013 pela associação empresarial que agrupa o

setor, 49% das recicladoras consideram que está cada vez mais

difícil o acesso ao PET para reciclar. No cenário de demanda

superior à oferta, os preços do material reciclado, antes mais

baratos, se equiparam aos da resina virgem.

Com o avanço da logística reversa, o crescimento da oferta pode

reduzir o preço dos materiais recicláveis. Além disso, é natural

um aumento da parte mais “pobre” do lixo reciclável, aquela que

contém materiais menos valiosos. A gestão dos resíduos no

novo cenário da legislação deve considerar medidas para

garantir esse equilíbrio.

Há previsão de políticas para que os valores não desestimulem a

triagem e venda pelas cooperativas, bem como o desenvolvimento

de novos usos e até exportação. Projeções feitas pela consultoria

LCA, considerando o aumento de 20% da taxa de recuperação de

resíduos recicláveis entre 2010 e 2014, apontam para uma redução

média de 10,4% nos preços da matéria-prima reciclada.

o aumento da reciclagem depende de incentivos fi scais e creditícios do governo, previstos na lei de resíduos.

De acordo com o estudo da LCA, os benefícios teriam potencial

de elevar em até 31,5% a renda gerada pela coleta, triagem e

venda de materiais recicláveis.

Em tempos de novas atitudes de consumo em favor do meio ambiente, os supermercados

abrem espaço para atividades que vão além da venda de produtos. É comum encontrar nas

lojas os chamados Pontos de Entrega Voluntária (PEVs), onde o consumidor deixa embalagens

após o uso dos produtos. O serviço é um instrumento do varejo e indústria para colocar em

prática a responsabilidade compartilhada pelos resíduos gerados a partir de seus negócios.

Entre as iniciativas mais antigas está o programa de estações de reciclagem mantido por

Pão de Açúcar e Unilever. Em 12 anos, foram recolhidas mais de 67 mil toneladas de materiais

recicláveis e o número de lojas participantes aumentou de 12 para 123 em todo o Brasil.

Os resíduos são doados para 36 cooperativas. Além dos benefícios econômicos com a venda

dos resíduos, o programa estimula consumidores a mudar práticas de descarte – inclusive do

óleo de cozinha usado, recebido nas estações. No total, foram recolhidos mais de 1,2 milhão

de litros, grande parte encaminhada para a produção de biocombustível.

Transformações nos supermercados

Perfi l da triagem (2012)

população urbana (iBGe) (mil habitantes) 165.018

Número de cooperativas 1.175

Número de catadores em cooperativas 30.390

total de resíduos sólidos coletados (ton/dia) 173.703

fração seca reciclável (% total) 31,9%

fração molhada e outros (% total) 68,1%

triagem/recuperação (fração seca) (ton/dia) 14.909

cooperativas 2.329

outros canais de triagem 12.580

percentual de triagem/recuperação total 26,9%

Fonte: IBGE, SNIS (2010) e LCA Consultores

32 33cempre review 2013 cempre review 2013

consumidor compra

desc

arte

Cada brasileiro gera em média 1 quilo de resíduos por dia. Um africano, 650 gramas, quase

um quarto do que produz um europeu. Quanto maior a renda de um país, maiores são o

consumo e a quantidade de resíduos que precisa de solução para retornar ao mercado e não

causar impactos negativos ao meio ambiente. Nas regiões menos desenvolvidas, é menor a

presença de embalagens e maior o volume de matéria orgânica no lixo. Enquanto no Brasil

a fração seca dos resíduos urbanos representa 50% de tudo que é gerado, nos Estados

Unidos a parcela é de 88%.

Com o desenvolvimento econômico, a tendência é o padrão brasileiro se aproximar

do americano e europeu, o que significa novos desafios para a gestão dos resíduos.

A legislação estabelece como prioridade reduzir o lixo na fonte; depois, reutilizar e reciclar.

Além do poder público e das empresas, também o comportamento da população é chave para o mercado da reciclagem crescer sobre base sólida. Enquanto o governo cria regras e incentivos, as prefeituras fazem a coleta seletiva e o meio

empresarial investe na logística reversa, o consumidor entra em cena desempenhando papel

protagonista. Ele tem poder de compra (preferindo produtos bons para o meio ambiente e

para a renda dos catadores) e é essencial na separação dos resíduos para a coleta seletiva.

Estudos de consultorias dimensionam o novo contingente de brasileiros que

ascende ao consumo. Entre 2001 e 2010, a classe E diminuiu de 17,3 milhões

para 7 milhões de brasileiros, migrando para as classes D e C . A base da

pirâmide social, ou seja, a camada mais pobre da população, representa hoje

menos de 1% dos domicílios do país. Nas últimas décadas, avanços foram

conquistados na redução da mortalidade infantil e do analfabetismo, bem

como no aumento da expectativa de vida. com o padrão mais elevado de consumo e as pessoas vivendo mais tempo, aumenta a necessidade de investimentos na infraestrutura de distribuição de água, redes de esgoto e coleta e reciclagem de lixo.

O aumento da população, cada vez mais concentrada em cidades, acelera a

busca por soluções que devem considerar as disparidades regionais de um

país de dimensões continentais, como o Brasil. A maior conscientização do

consumidor, exigente e atento para o que pode interferir na qualidade de vida

e no futuro do planeta, pressiona o mercado a dar passos mais largos e inspira

novos investimentos.

35cempre review 2013

NÍvel De reNDA metAis pApel plÁstico viDromAtÉriA

orGÂNicAoutros

Baixa 3% 5% 8% 3% 64% 17%

média (inferior) 2% 9% 12% 3% 59% 15%

média (superior) 3% 14% 11% 5% 54% 13%

Alta 6% 31% 11% 7% 28% 17%

A composição do lixoe o nível de renda

Fonte: Banco Mundial/LCA

Fonte: SNIS (2010) e Banco Mundial (2012)

Gera

ção per capita de resíduos no Brasil e no mundo (kg)

0,651,03

2,20

1,10

1,10

0,45

0,951,10

ÁfricA

BrAsil

ocDe

ÁsiA orieNtAl

sul AsiÁtico

orieNte mÉDio

AmÉricA lAtiNA

europA e ÁsiA ceNtrAl

FOTO

S: 1

23R

F

36 37cempre review 2013 cempre review 2013

Com o apoio do governo e empresas,

as cooperativas de catadores se estru-

turam e avançam na gestão dos resí-

duos com viabilidade econômica, ex-

pandindo a comercialização em rede

para o aumento do poder de venda e

melhoria de preços. Estima-se que o

aumento da coleta seletiva se reflita

positivamente na renda e na melhor

qualidade de vida dos catadores.

catadores

força de

organizaexpansão

da atividade

Aque se

ganha reconhecimentopara a

trabalhoe

Quando os resíduos ganham valor como

matéria-prima e deixam de ser enterrados

como algo indesejável, desponta no cenário

um contingente de trabalhadores que existe

nas cidades desde a Revolução Industrial, mas

agora ganha reconhecimento como fornecedor

estratégico do mercado de reciclagem. São os

catadores de materiais recicláveis. No Brasil,

eles somam 800 mil, sendo cerca de 30

mil organizados em cooperativas. Em 2012,

elas foram responsáveis por 18% dos resíduos

separados para reciclagem no Brasil, ficando o

restante a cargo dos atacadistas de materiais

recicláveis, que muitas vezes incorporam

catadores autônomos como mão de obra.

A estimativa consta no estudo realizado pela

LCA Consultores para o CEMPRE, que calculou

em R$ 712 milhões o faturamento total com a

coleta e venda de materiais recicláveis, ficando

as cooperativas com a fatia de R$ 56,4 milhões.

38 39cempre review 2013 cempre review 2013

A reciclagem como negócio

Cenário da separação

QUANTIDADE(ton/dia)

PERCENTUAL DO RESÍDUO RECICLÁVEL

QUANTIDADE(ton/dia)

PERCENTUAL DO RESÍDUO RECICLÁVEL

QUANTIDADE (ton/dia)

PERCENTUAL DO RESÍDUO RECICLÁVEL

2.329 4,2% 12.580 22,7% 14.909 26,9%

3.851 6,8% 14.352 25,5% 18.203 32,3%

2012

2014*

Fonte: SNIS/LCA

Investimentos na compra de veículos e maquinário, e na

qualifi cação das cooperativas para melhorar a efi ciência

na gestão dos resíduos têm o potencial de aumentar

signifi cativamente a renda. O levantamento da LCA

indicou que em metade das doze capitais que sediarão

a Copa do Mundo de 2104 a efi ciência das cooperativas

é “baixa-baixíssima”. O estudo diz que programas de qualifi cação têm capacidade de aumentar a produtividade, reduzindo pela metade a diferença entre

os resultados das cooperativas de baixa e alta efi ciência.

A renda média dos catadores nessas cidades poderia até

dobrar se os materiais fossem comercializados por preços

iguais aos vendidos pelos atacadistas diretamente para a

indústria. É possível aumentar o ganho por meio de alianças

com atacadistas para a comercialização com a indústria e a

exportação de sucata.

O apoio a cooperativas de catadores para o

aumento da produção e da renda é um caminho

trilhado por empresas para operar a logística

reversa, com benefícios sociais e maior recuperação

de embalagens após o consumo. No Programa

“Reciclou, Ganhou”, iniciado em 1996, a Coca-Cola

Brasil investe na infraestrutura de coleta e triagem

com cessão de prensa, balança, elevadores e

caminhões em comodato, treinamento para gestão,

e avaliação de metas das cooperativas. Em parceria

com a ONG Doe seu Lixo, foram benefi ciadas 211

cooperativas envolvendo 5 mil pessoas em todo

o país. Até 2012 foram recicladas 180 milhões de

embalagens pós-consumo pelo programa, que em

sua atual fase prioriza a geração de valor com

redes de cooperativas.

Impulso para a geração de renda

Quando retornou da Europa, onde viveu por alguns anos, o supervisor de manutenção de aviões

Marcelo Mello assumiu o desafi o de buscar uma solução para algo que o incomodava em sua

nova cidade no Brasil: o excesso de lixo nas ruas. O projeto se concretizou depois que perdeu o

emprego e se tornou catador de materiais recicláveis, articulando a criação da CooperBen, no

Guarujá (SP). O empreendedor leu livros sobre gestão de resíduos e frequentou cursos para o

negócio gerar bom retorno. Hoje, com 29 catadores, a cooperativa recebe orientação técnica do

CEMPRE e recicla 70 toneladas mensais, proporcionando renda média de até R$ 1,2 mil mensais

por trabalhador. Além da venda dos materiais, os catadores são remunerados pela prefeitura

a partir de um contrato de serviço para coleta seletiva. Um carrinho elétrico cedido pela Nestlé

permitirá o recolhimento de resíduos em bairro com 25 mil residências, podendo dobrar a renda.

Produtividade das cooperativas

Faturamento das cooperativas e atacadistas

COOPERATIVAS(ton/cooperativa/dia)

COLETA E TRIAGEM POR MATERIAL

CATADORES(kg/catador/dia)

2010 2012 2014*

2,6

52,4

2,9

57,8

4

79,3

(R$ milhões, a preços de 2011)

R$ 712,3 mi

56,4656

COOPERATIVAS OUTROS CANAIS

Metais R$ 227 mi

Aço 32

Alumínio 195

Papel e papelão 264

Plástico 201

PET 101

Outros 100

Vidro 21

Font

e: S

NIS

/IPE

A/L

CA

TRIAGEM FORA DAS COOPERATIVASTRIAGEM NAS COOPERATIVAS TRIAGEM TOTAL

*Projeção para o país baseada no aumento da coleta seletiva nas cidades da Copa do Mundo

40 cempre review 2013

O uso de insumo reciclado na indústria gera ganhos econômicos, além de contribuir com a solução do problema dos resíduos nas cidades brasileiras

Cresce o percentual de embalagens dos diferentes tipos que são coletadas após o uso dos produtos e retornam à produção industrial

Atacado e varejo informam sobre reciclagem ao consumidor e disponibilizam Pontos de Entrega Voluntária para o recebimento de resíduos

MATÉRIA-PRIMA

PRODUÇÃO

DISTRIBUIÇÃO E COMÉRCIO

O volume e a composição do lixo reciclável variam conforme o nível de renda da população

Expansão da coleta seletiva para 90% da população nas cidades da Copa do Mundo pode aumentar em 20% a reciclagem no Brasil

Estrutura de triagem e enfardamento de resíduos para venda às indústrias deve triplicar para atender a expansão da coleta seletiva

No cenário mais abrangente, benefícios tributários (IPI, PIS/Cofi ns e ICMS) têm alto potencial de alavancar a cadeia da reciclagem

A separação correta dos resíduos em recipientes para “úmido” e “seco” (onde devem estar as embalagens) é essencial para o melhor aproveitamento dos materiais

CONSUMO

COLETA SELETIVA

INCENTIVOS FISCAIS

TRIAGEM E COMERCIALIZAÇÃO

SEPARAÇÃO

1

2

3

4 5

6

8

7

CUSTOS DE PRODUÇÃO*

Aço

Alumínio

Celulose

Plástico

Vidro

matéria-prima virgem

* R$ por tonelada

matéria-prima reciclada

vantagem econômica

552

6.162

687

1.790

263

425

3.447

357

627

143

127

2.715

331

1.163

120

EMBALAGENS RECUPERADAS APÓS O USO

Fonte: IPEA e SNIS

Resíduo reciclável total

Alumínio

Aço

Papelão

Plástico

Vidro

Total (ton/dia)

Taxa de recuperação

(associações)

18.003

711

1.698

9.827

2.841

2.926

65,3%

98,5%

49,2%

72,7%

56,8%

49,9%

GERAÇÃO PER CAPITA

Nív

el d

e re

nda

Lixo gerado (kg/hab.dia)Baixa Alta

0,602,10

COMPOSIÇÃO DO LIXO

Baix

a re

nda Alta renda

3%8% 3%5%6%

11% 7%

Metais Papel Plástico Vidro Matéria orgânica Outros

Fonte: Banco Mundial, 2012

31%

64%

28%

17% 17%

COMPOSIÇÃO DA COLETA

Fonte: IPEA, 2010

2014

2012

Populaçãourbana

Recuperação total

Total de resíduos sólidos coletados(ton/dia)

165.018

167.936

mil habitantes

mil habitantes

173.703

176.728

55.414

56.381

= 31,9%

= 31,9%

26,9%

32,3%

20%+Fração seca reciclável

Fração seca reciclável

Recuperação total

Fonte: IBGE, SNIS e IPEA, 2010

Impacto dos benefícios tributários sobre a renda na cadeia de coleta e triagem de resíduos sólidos recicláveis até 2014:

R$ 4,4 bilhões de renda+ 31,5%

GERAÇÃO DE RENDA

de triagem+ 73%

de faturamento+ 55%

* Valores em R$ milhão ** Cooperativa com preço de cooperativaFontes: diversas. Elaboração: LCA Consultores

Cidades-sede 2010-2014

Faturamento cooperativas*

Faturamento outros canais de triagem*

Custo de operação*

Receita líquida cooperativas*

Número de catadores

Rendimento do catador ligado à cooperativa (R$)

2010 2014 Crescimento**

56,4

656

11,2

45,2

7.363

511,5

231,5

871,4

50,9

180,7

22.089

681,6

311%

33%

354%

300%

200%

33%

FATURAMENTO DE COOPERATIVAS NAS CIDADES-SEDE DA COPA

Fonte: SNIS e IPEA. Elaboração: LCA Consultores

2010 2014(R$ milhões, preços de 2011)

56,4 231,5656

712,3 1.102,9

871,4

CooperativasCooperativas

Outros canais

Outros canais

Fonte: LCA, 2013

Matéria orgânica51,4%

Outros16,7%

Plástico13,5%

Papel, papelão e longa-vida

13,1%

Vidro2,4%

Aço2,3%

Alumínio0,6%

RETRATO DO MERCADO DE RECICLAGEMEmpresas Cooperativas de catadores e atacadistas de materiais recicláveis

Poder público

População

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