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Sandra Lúcia Videira GLOBALIZAÇÃO FINANCEIRA: um olhar geográfico sobre a rede dos bancos estrangeiros no Brasil GLOBALIZAÇÃO FINANCEIRA: um olhar geográfico sobre a rede dos bancos estrangeiros no Brasil

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Page 1: um olhar geográfico sobre a rede dos bancos estrangeiros ... · um olhar geográfico sobre a rede dos bancos estrangeiros no Brasil ... 2.1 Capital estrangeiro no Brasil: a trajetória

Sandra Lúcia Videira

Globalização financeira:

um olhar geográfico sobre a rede dos bancos estrangeiros no Brasil

Globalização financeira:

um olhar geográfico sobre a rede dos bancos estrangeiros no Brasil

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introdução

capítulo 1

Globalização – A (re)produção de um processo enquan-to

fundamento teórico-metodológico da pesquisa

1.1 Globalização: cenários para/de internacionalização

1.1.1 Paradigma tecnológico: determinante da globaliza-ção

1.1.1.1 Implicações do meio técnico-científico-informa-cional no território

1.1.1.2 A importância das telecomunicações para a inte-gração do território (e do capital)

1.2 Rede: uma forma de organização territorial, social e técnica

1.3 A formação do banco Santander: expansão à base de fusões

1.3.1 O Santander no mundo

Considerações finais do capítulo

capítulo 2

A internacionalização da economia brasileira no con-texto das fusões e incorporações bancárias

Universidade Estadual do Centro-Oeste Guarapuava - Irati - Paraná - Brasil

www.unicentro.br

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Sandra lúcia Videira

Globalização financeira:

um olhar geográfico sobre a rede dos bancos estrangeiros no Brasil

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE UNICENTRO

Reitor: Vitor Hugo Zanette

Vice-Reitor: Aldo Nelson Bona

Copyright © 2009 Editora UNICENTRO

Nota: O conteúdo desta obra é de exclusiva responsabilidade de sua autora.

Editora UNICENTRO

Direção: Beatriz Anselmo OlintoAssessoria Técnica: Andréa do Rio Alvares, Waldemar Feller, Carlos de Bortoli, Oseias de Oliveira, Ruth Rieth LeonhardtDivisão de Editoração: Renata DaleteseSeção de Revisão Lingüística: Dalila Oliva de Lima OliveiraDiagramadores: Anna Júlia Peccinelli Minieri, Eduardo A. Santos de Oliveira, Josiane Ferreira, Marcio Fraga de OliveiraDiagramação: Andréa do Rio AlvaresCapa: Lucas Gomes ThimóteoImpressão: Gráfica UNICENTRO

Conselho Editorial

Presidente: Mário Takao InoueBeatriz Anselmo OlintoCarlos de BortoliHélio SochodolakIvan de Souza DutraJeanette Beber de SouzaJorge Luiz FavaroLuiz Gilberto BertottiMaria José de P. CastanhoMárcio R. Santos FernandesMaria Regiane TrincausMauricio RigoRaquel Dorigan de MatosRosanna Rita SilvaRuth Rieth LeonhardtSidnei Osmar Jadoski

Ficha catalográfica elaborada por Regiane de Souza Martins -CRB9/1372.

Videira, Sandra LúciaG389g Globalização financeira: um olhar geográfico sobre

a rede dos bancos estrangeiros no Brasil / Sandra Lúcia Videira. – – Guarapuava: Unicentro, 2009. 344 p.: il. Bibliografia ISBN 978-85-7891-031-0

1. Economia. 2. Economia – Brasil. 3. Globalização. 4. Globalização Financeira. 5. Geografia Financeira. 6. Bancos Estrangeiros – Transações – Brasil. I. Autor. II. Título.

CDD 337

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SUmáRIO

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6

apreSentação ........................................................ 15

introdução .......................................................... 19

capítulo 1Globalização – A (re)produção de um processo enquanto fundamento teórico-metodológico da pesquisa .......................34

1.1 Globalização: cenários para/de internacionalização .....................37

1.1.1 Paradigma tecnológico: determinante da globalização ......... 60

1.1.1.1 Implicações do meio técnico-científico-informacional no território .................................................................................66

1.1.1.2 A importância das telecomunicações para a integração do território (e do capital) ...........................................................70

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1.2 Rede: uma forma de organização territorial, social e técnica ................................................................................74

1.3 A formação do banco Santander: expansão à base de fusões .........................................................................................87

1.3.1 O Santander no mundo .......................................................87

Considerações finais do capítulo ..........................................................98

capítulo 2A internacionalização da economia brasileira no contexto das fusões e incorporações bancárias ...................................... 100

2.1 Capital estrangeiro no Brasil: a trajetória do estranho, ou nem tão estranho assim ............................................................102

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2.2 Processos aquisitivos: as fusões e incorporações ............... 120

2.3 Bancos: participação ativa no cenário contemporâneo de

internacionalização ................................................................... 127

2.4 A procedência do capital estrangeiro no setor financeiro

brasileiro ................................................................................... 143

2.5 Fusões e incorporações – um giro pelo mundo ................. 147

2.6 A inserção do Brasil nos processos aquisitivos

financeiros ................................................................................ 153

Considerações finais do capítulo .............................................. 163

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9

capítulo 3 A regulamentação do sistema bancário e financeiro no Brasil ........166

3.1 Reforma financeira: instrumento para concentração e centralização do sistema financeiro brasileiro ..............................168

3.2 Regulação da rede bancária: aparatos jurídicos e econômicos em um território de interesses ......................................................178

3.3 Intervenção X favorecimento ..................................................207

Considerações finais do capítulo ........................................................214

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10

capítulo 4 A rede do grupo Santander Banespa: um esforço de síntese de sua atuação no Brasil ...................................................................... 216

4.1 O Santander no Brasil ........................................................... 218

4.1.1 A Formação do Grupo Santander Banespa ..................... 225

4.1.1.1 A expressividade dos números após as aquisições .. 232

4.2 A dinâmica territorial do Santander no Brasil ...................... 237

4.2.1 O Santander Brasil .......................................................... 238

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4.2.2 O Santander Meridional...................................................... 243

4.2.3 O Santander Banespa .......................................................... 251

4.3 A tentativa de uma interpretação conjunta .............................. 256

Considerações finais do capítulo ........................................................ 275

Pensando nas considerações finais ..................................................... 278

referênciaS ..........................................................284

anexoS.................................................................310

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Para Claudinei e Letícia, com amor, sempre...

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O território é um conceito que tem marcado os estudos mais recentes em Geografia. Ele tem como referencial básico as relações de poder. No entanto, os aspectos econômicos também têm sido valorizados na sua discussão apontando para um recorte temático conhecido como dinâmica territorial. O presente trabalho tem como objeto de análise o setor bancário, pouco referenciado na Geografia, embora se possa identificar autores que, mais recentemente, já se dedicaram ao tema.

Com a persistência da mundialização como pano de fundo para os fluxos de capital, as lógicas do sistema bancário passam a ter importância crescente nos estudos geográficos, principalmente com a adoção, pelos últimos governos brasileiros, da liberalização de fluxos de capitais – e sua maciça circulação entre os países – para que o setor financeiro tenha mais vantagens nas relações internacionais.

ApresentAção

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Essa política permitiu a entrada de bancos estrangeiros no Brasil, nas

duas últimas décadas, que atuaram na compra ou fusão com outros

bancos, principalmente bancos estatais.

Este trabalho tem, também, como referência, a explicação

da lógica territorial dos fixos e dos fluxos e sua inteligibilidade

espacial. As grandes corporações do sistema financeiro realizam seu

papel transnacional como peças fundamentais no fluxo da mais-valia

mundial que é apropriada alhures e não em seu lugar de produção. Por

isso, o arranjo territorial dos bancos, como escreve a autora, permite

perceber usos diferenciados do território pela leitura da arquitetura

das redes bancárias.

Partindo da reconstrução histórica dos fatos que embasam

seu estudo, ela parte da configuração da rede bancária brasileira

como elemento fundamental para se entender o papel das finanças na

conformação dos “territórios financeiros” do capitalismo brasileiro.

Quando se trata da análise da gestão do território, são

enfatizadas as diferentes escalas da centralidade urbana como tendências

que definem as estratégias dos grandes grupos econômicos que

procuram áreas de maior densidade técnico-científico-informacional

e amplos mercados consumidores conformados pela rede urbana na

qual ocorre a mobilidade da rede bancária por meio da concentração

de agências em locais que apresentam vantagens competitivas em

relação a outras áreas.

A análise passa pela demonstração de que a chegada de

grupos transnacionais no Brasil não se destina exclusivamente ao

setor produtivo, como ocorria até meados da década de 1990, mas

eles se direcionam, preferencialmente, para os setores de comércio

e serviços.

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O texto é dividido em quatro capítulos. O primeiro é dedicado

à descrição dos cenários recentes da globalização financeira e é nesse

capítulo que estão as suas referências teóricas, trabalhando-se com o

papel das tecnologias da informação e comunicação na globalização

pela discussão do conceito de meio técnico-científico-informacional

como articulador da integração do território pelo capital.

O segundo capítulo analisa as fusões e incorporações bancárias

no contexto da internacionalização da economia brasileira, salientando-

se o papel ativo dos bancos estrangeiros nesse processo. Em seguida,

refere-se à regulamentação do sistema bancário e financeiro como

elemento básico para sua concentração e centralização, enfatizando-

se os aparatos jurídicos e econômicos na formação e territórios de

interesse, nas ações de intervenção e favorecimento ao sistema.

No último capítulo, a autora se dedica ao recorte específico

de estudo do Grupo Santander, que é o banco estrangeiro com maior

presença no território nacional e na América Latina, iniciando por

uma síntese de como foi sua chegada e conseqüente atuação no Brasil.

Ela demonstra, baseada em uma grande quantidade de números,

mapas e esquemas representativos das aquisições e fusões do grupo,

os fluxos de capitais e as localizações das agências bancárias em todo o

país. O Grupo Santander serve como exemplo para se compreender

como se escolhem determinadas localizações ou se remanejam

agências, a partir de novas lógicas locacionais, e para se definir a

dinâmica econômica em dado território e, ainda, os modos de gestão

das grandes corporações multilocalizadas.

Enfim, o texto ganha importância porque explica,

claramente, as dinâmicas territoriais do sistema bancário no Brasil

e suas relações com o cenário contemporâneo da mundialização do

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capital porque teve, como componente metodológico, a produção

empírica da informação geográfica como elemento importante na explicação teórica. Para isso, os dados – resultados da busca de dados secundários e entrevistas – referem-se a três momentos para a análise do Grupo Santander, mais especificamente a 1996, 1998 e 2005, que permitiram identificar e mapear o processo de abertura e fechamento de agências, e a chegada do banco em novos municípios ou sua concentração em algumas cidades.

Em resumo, o texto demonstra, como a autora afirma, o conjunto dos elementos que configuram o processo de mundialização do capital, ou seja, principalmente a densificação tecnológica, a força do neoliberalismo, a disseminação das empresas transnacionais, a ampliação e a criação de novos mercados, os processos aquisitivos e de fusão de grandes empresas.

Eliseu Savério Sposito

Presidente Prudente, maio de 2009.

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Os estudos sobre dinâmica territorial têm emergido num contexto dentro do qual se buscava tornar inteligível o território. Na Geografia, esses estudos sempre se direcionaram para o entendimento do setor industrial e comercial, para o setor de serviços, mais especificamente para o setor bancário poucos são os estudos referenciados, até mesmo porque tal setor sempre esteve mais próximo do interesse de estudo de outras ciências, como a economia. São de recente data os estudos realizados na Geografia, a exemplo dos desenvolvidos por Roberto Lobato Corrêa, Leila Christina Dias, Helena Kohn Cordeiro, Eliseu Savério Sposito, Márcio Fernando Gomes, Carlos Alberto Franco da Silva e outros geógrafos.

Embora a Geografia tenha avançado na análise de múltiplos fenômenos sócio-espaciais, o setor bancário esteve à margem. Porém,

vale lembrar que a questão da globalização financeira incita pesquisas

Introdução

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“já que os fluxos de capital têm papel determinante na desconstrução

e reconstrução de territórios” (SILVA, 1996, p.2). Nesse sentido,

devemos tornar inteligíveis as repercussões territoriais e políticas do

processo de globalização pelo viés dos bancos estrangeiros.

Compreender a lógica territorial dos fixos e dos fluxos não

deve ser visto como descrição estática do que se vê, mas como visão do

mundo carregado de suas incertezas de cada momento, que conferem

certo arranjo físico das coisas para que determinadas ações aconteçam

(GOMES, 1997).

Gomes (1996, p.312) alerta que a representação

espacial é mais que uma simples indicação da localização dos

fenômenos. É a possibilidade de “resgatar a inteligibilidade que

os fatos espaciais adquirem quando são compreendidos a partir

de seus contextos próprios”.

Assim, como o território na sociedade capitalista vem sendo

gerido cada vez mais por corporações multilocalizadas e multifuncionais

e o sistema financeiro é de longe peça fundamental para representar,

compor esse mosaico, é que optamos por este trabalho, principalmente

quando observamos que o arranjo territorial das agências bancárias

nos permite perceber uma valoração diferenciada para o território e,

ainda, uma arquitetura das mesmas em rede.

Logo, o desenvolvimento desta pesquisa recorre muitas

vezes à reconstrução histórica. Emprestando a reflexão de Magnoli

(2004), acreditamos que “não existe Geografia sem História: o espaço

geográfico é um produto social gerado pela atividade produtiva e pelas

idéias que, ao longo do tempo, se materializam sobre a superfície

do planeta”. Sposito (2004, p.46) também ressalta a importância

para a Geografia dos elementos espaço e tempo, enquanto elementos

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que fazem parte das estruturas e compõem o movimento que cria a

realidade. E, ainda lembrando Silveira (1997), devemos considerar o

espaço enquanto uma empiricização do tempo.

Dias (2005) entende que a configuração da rede bancária

brasileira encontra-se numa estrutura de transição entre a reforma

financeira da década de 1960 e o processo de reestruturação do

setor iniciado na década de 1980, e para compreender a lógica dessa

reorganização impõe uma análise histórica. “Histórica porque cada

período tende a produzir sua ordem espacial associada a uma ordem

econômica e uma ordem social” (p.29).

Os bancos, objetos recentes de estudo na Geografia, são de

suma importância como agente organizador do espaço, principalmente

quando pensamos no papel das finanças na economia capitalista.

Singer (2000, p. 29-30), ao esclarecer sobre o mundo

financeiro, discute o papel das finanças na economia capitalista

enquanto instrumento que minimiza o tempo das transações. O

exemplo abaixo é ilustrativo:

Imaginemos um mundo sem finanças em que prédios são construídos.

Para começar a produção, o empresário precisa ter reunido um

capital considerável para pagar o terreno, todos os materiais e

equipamentos para o início das obras e todos os salários a serem

pagos ao menos no primeiro mês. [...] Toda vez que o dinheiro do

empresário não for suficiente para pagar tudo à vista, as obras serão

paralisadas. E só quando o prédio estiver pronto, os apartamentos

poderão começar a ser vendidos. E cada um será vendido à vista, o

que significa que cada comprador terá que ter economizado o valor

integral do apartamento antes de poder ocupá-lo [...]

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O crédito acelera tudo: o prédio pode começar a ser construído tão

logo o empresário tenha obtido o financiamento mínimo inicial;

em geral, nem compra o terreno, incorpora-o mediante a troca por

certo número de apartamentos quando o prédio ficar pronto. À

medida que a construção avança, o prédio em construção serve de

garantia para a obtenção de novos empréstimos. A partir de certo

ponto, os apartamentos “na planta” são postos à venda. As entradas

e prestações pagas pelos compradores financiam a continuidade

das obras. Tão logo o prédio fica pronto, os apartamentos podem

ser ocupados, embora nenhum tenha sido pago integralmente.

Muitos compradores de apartamentos “na planta” revendem-nos

prontos, presumivelmente com lucros, embora também possam

sofrer prejuízos.

Nesse sentido, sobressaem os territórios financeiros, ou seja,

um “conjunto de lugares no qual se verifica o processo de circulação

de capital relativo aos depósitos, empréstimos, descontos, cobranças,

juros, lucros e rendas, assim como salários, investimentos e serviços”

(CORRÊA, 1993, p.163).

Assim, dada a importância do setor, com esta pesquisa

pretendemos contribuir para o conhecimento das dinâmicas territoriais

adotadas por um banco estrangeiro no país, pois estes vêm se tornando

cada vez mais presentes no território nacional, disputando terreno

com grandes bancos brasileiros. Pretendemos, também, preencher a

lacuna dos estudos geográficos voltados a territorialidade1 dos bancos

estrangeiros no Brasil, já que a produção na Geografia brasileira

tem se direcionado para o setor sempre se enveredando por analisar

1 Entendida aqui como a concebe Corrêa (2002, p.251), enquanto o “conjunto de práticas e suas expressões materiais e simbólicas capazes de garantirem a apropriação e permanências de um dado território por um determinado agente social, o Estado, os diferentes grupos sociais e as empresas”.

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os bancos nacionais; nesse sentido, seria uma outra perspectiva de

contribuição para essa Geografia Financeira.

Procuraremos entender a dinâmica do Banco Santander,

pois este é o banco estrangeiro de maior presença no território

nacional e na América Latina, para compreendermos por que viria

ele a escolher determinadas localizações ou se remanejar, a partir de

novas lógicas locacionais, definindo, assim, a dinâmica econômica em

dado território e, ainda, os modos de gestão das grandes corporações

multilocalizadas. Um banco que surgiu ainda no século XIX e se fez

acompanhar da história da acumulação do capitalismo, principalmente

se o observarmos enquanto participante de alguns processos, grosso

modo, que o caracterizam: disseminação pelo mundo das filiais

de multinacionais, pujança do setor financeiro em detrimento ao

produtivo, reorganização corporativa2 e, com isso, passa de um banco

com atuação regional para nacional e logo mundial.

O foco da análise no banco estrangeiro se justifica pelo fato

de constituir a ponta de lança no processo da internacionalização

da economia brasileira, apresentando grande dinamização

a partir da década de 1990 com a abertura da economia e a

adoção de políticas neoliberais combinadas com os processos

de privatizações. O Santander é ilustrativo nesse sentido,

principalmente quando a sua base de expansão no país se dá a

partir de quatro aquisições, com destaque para a aquisição do

Banespa, um dos maiores bancos do país, e um dos bancos públicos

mais cobiçados quando da sua privatização.

2 Refere-se às mudanças da sede das maiores corporações para a capital, reorganização tecnológica e administrativa.

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O processo da globalização expressa a atual fase da acumulação

capitalista, sobressaindo o setor financeiro por meio do movimento

da mundialização do capital. Deste setor financeiro, destacamos

o setor bancário, mais precisamente os bancos estrangeiros para

compreender como eles se comportam diante desse processo e quais

suas implicações no território.

Assim, pensamos em compreender o Santander como

fenômeno geográfico, mas não nos limitamos às suas dinâmicas

territoriais no Brasil. O que pretendemos é mais, ou seja, entender a

conjuntura, o cenário pleno de diferentes ordens que foi se constituindo

e se manifestando em nível global e que permitiu sua territorialização

no país. Esse panorama que veio se constituindo mundialmente nos

permite “ler”3 a rede do Santander, principalmente porque o temos

ainda no século XIX como um banco de atuação intra-Estado-

nação; num segundo momento, no pós–Segunda Guerra, o temos

praticando as mesmas ações dos grandes grupos econômicos, que é

sua disseminação para outros países em busca da ampliação de seu

capital, dando sustentação, assim, a uma série de teses que afirmam

a hegemonia do sistema financeiro mundial em detrimento ao setor

produtivo (isso no que se refere à acumulação). Na década de 1980, o

banco começa sua inserção nos países periféricos em busca de novos

mercados e de boas oportunidades, postas com a adoção de políticas

neoliberais por muitos desses países, onde as políticas de privatizações

andavam conjugadas com tais políticas. É nesse cenário que o

Santander entra no Brasil e é constituindo esse cenário que vamos

3 Aqui está nossa teoria, ou seja, a busca de conhecimento acumulado que nos permite ler a realidade. E entendendo tal qual Sposito (2001, p.105), ela inscreve-se nos desdobramentos paradigmáticos recentes que tiveram algumas componentes políticas que, “se não permitiram a formação clara de teorias, pelo menos provocaram reflexões sobre o conhecimento científico”.

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entender como uma multinacional financeira se apropria desses e de

outros mecanismos que constituem o processo de globalização para

se territorializar no país, permitindo-nos ainda compreender como

esta corporação produziu seu território de atuação, atribuindo papéis

específicos a determinadas áreas e cidades no Brasil.

Sposito (1998, p.33), quando discute sobre a gestão do

território e as diferentes escalas da centralidade urbana, aponta,

também, como tendência dos grandes grupos econômicos, mais

especificamente dos industriais, as estratégias de localização por eles

adotadas, como a proximidade de áreas de maior densidade “técnico-

científico-informacional”, os amplos mercados consumidores que

captam consumidores de mais de uma cidade, indo assim ao encontro

da mobilidade da rede bancária, que tende a concentrar suas agências

em locais com vantagens não muito diferentes das apresentadas por

Sposito (1988). Veltz (1994, p.189), no entanto, afirma que os fatores

tradicionais de localização, como custos de transportes, de acesso aos

recursos e mercados já não são determinantes, mas, sim, as “lógicas

intra-organizacionais” ou seja, as modalidades de articulação entre as

diversas implantações da empresa ou da rede de empresa.

Embora muitas vezes utilizando a expressão “bancos

estrangeiros”, nosso parâmetro de análise consiste apenas no Banco

Santander, o que não nos impede de tecer comentários gerais sobre es-

se tipo de banco, tendo em vista que muitas ocorrências se aplicam aos

outros bancos estrangeiros, bem como, aos grandes bancos nacionais.

A priori, levantamos algumas ideias que, grosso modo,

corresponderia à explicação de como o Banco Santander, uma

multinacional financeira, se ‘apropria’ da globalização para se

territorializar no Brasil.

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Pensamos que esses bancos buscam uma ampliação do

capital, feita basicamente na ampliação de seu mercado, mas também

na diversificação de investimentos. Esgotadas as esferas intra Estado-

nação e a esfera regional, a escala mundial é a alternativa para a

continuidade dessa acumulação. E ela vem no momento em que a

tendência é lançar-se além-fronteiras para buscar novos mercados.

Nesse sentido, no pós-Guerra, quando ocorre a disseminação

das multinacionais pelo globo, as do setor produtivo saíram na frente,

mas se fizeram presentes também as do setor financeiro, embora

em proporções bem reduzidas. Para tanto, podemos apontar duas

vertentes de análise.

A primeira refere-se às condições objetivas dessa ampliação ou

às materialidades do período que ainda consistiam naquilo que Santos

(1996) denomina de meio técnico. Mais tarde, com a associação cada

vez mais corrente da ciência e da técnica e com a sofisticação nas áreas

da teleinformática surge o meio-técnico-científico-informacional,

provocando o que Harvey (1992) chama de “compressão tempo-

espaço” e, assim, permitindo uma pulverização de holdings pelo globo

dos mais variados setores. É por meio do meio-técnico-científico-

informacional que as instituições poderão usufruir da simultaneidade

das informações e, assim, se disseminar pelos quatros cantos do globo

sem comprometer as operacionalidades de suas transações. Portanto,

é essa a novidade que marca a globalização contemporânea e que pode

diferenciá-la dos outros processos que existiram a priori como atestam

vários autores, dentre eles Hirst e Thompson (1998). Ainda destacamos

uma outra “inovação” na globalização contemporânea: a emergência

e/ou supremacia de outro agente no poder de mando da circulação e

ampliação capitalista, que são os fundos de pensão. Acreditamos que

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esses dois elementos (simultaneidade das informações e fundos de

pensão) seriam os diferenciais nesse período atual conclamado como

de globalização e que, aliados às intensificações da internacionalização

dos comércios, característica que não é nova, dão os norteamentos

para caracterização desse processo.

A segunda vertente, mais no âmbito político, embora com

implicações no econômico e, por que não falar, no social, trata da

adoção, muitas vezes arbitrária, das políticas neoliberais que têm

início em 1979 nos EUA e na Inglaterra e não tardam por se alastrar

para vários outros países.

Esses dois elementos (meio-técnico-científico-informacional

e política neoliberal) recheados de suas peculiaridades locais é que

darão a base para a entrada do Santander no Brasil e que permitirão

uma associação com as discussões sobre rede, tendo em vista que essa

pulverização de agências pelo globo pode ser grafada, assumindo uma

forma de pontos e linhas que agem integradas, no caso: a sede do

Santander na Espanha e as suas agências no Brasil.

Grosso modo, tais elementos demonstram o processo da

globalização; logo, será enfocado pelo fato de consistir tema/conceito

chave que permitirá fazer uma leitura do nosso objeto. Corroborando

para isso o fato da adoção de a política neoliberal no Brasil coincidir

com a abertura da economia brasileira e, também, com a entrada

de grupos estrangeiros no país, sejam eles do setor produtivo ou

financeiro, dentre estes últimos, o Santander.

É nessa onda atual4 (década de 1990) de disseminação de capitais pelo mundo, como trata Chesnais (1996), que presenciamos

4 Onda atual, globalização atual ou contemporânea por entender tal qual Singer (2000), Hirst e Thompson (1998) e Batista Jr (2001) que esse fenômeno não é novo, pois apresentou várias outras fases, cada uma com suas peculiaridades temporais.

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sua maciça circulação internacional, principalmente nos países

emergentes como os da América Latina, com destaque para o Brasil.

Gonçalves (1999) afirma que esse é o período (1990 a 1995) que

mais apresentou entrada de capitais no país, situação não diferente na

Argentina, Chile, México e nos Tigres Asiáticos.

Quando focamos essa discussão para o Brasil, observamos

que ela está relacionada com a abertura da economia na década de

1990, como aponta Gonçalves (1999), mas que em outros momentos

históricos este capital já se fazia presente em território nacional,

embora a conjuntura econômico-político-social fosse outra. O novo

na década de 1990 é a ascensão de outros países europeus5 entre esses

novos agentes e o destaque é para o capital espanhol que passa de uma

representatividade de 0,60% em 1995 para 11,90% em 2000, como

mostra o Censo de Capitais Estrangeiro do Brasil. Outro elemento

que é novo no período é a forma como os capitais estrangeiros

ingressam no país, não mais apenas abrindo filiais a partir do nada,

mas aproveitando, não somente, as políticas de privatizações que se

intensificam na década de 1990, como também os outros processos

de compra de sólidos grupos nacionais para já “nascerem” grandes no

Brasil. Esse tipo de incorporação é mais vantajoso, tendo em vista que

tais processos apresentam, muitas vezes, um mercado consumidor

cativo e um nome no mercado.

Outra novidade é que os capitais que ingressam já não se

destinam quase que exclusivamente ao setor produtivo como eram as

práticas até o início da década de 1990, mas se direcionam, também,

para outros setores como o de comércio e serviços, e entre esses

5 A exemplo da Inglaterra que deteve por muito tempo a hegemonia pelos fluxos de capital internacional.

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o financeiro se destaca não só no Brasil, como também pelo resto

do mundo. Chama a atenção a expansão que o Santander apresenta

nesse período, o qual passa por 21 processos de fusões e aquisições

num intervalo de 13 anos (1991 a 2004) em 14 países. Portanto, o

Santander se torna protagonista de todo o processo de mundialização

do capital que vem se inscrevendo na história da acumulação capitalista

contemporânea, o que justifica sua análise.

Contudo, é interessante observar que uma série de

regulamentações no nível nacional foram sendo conduzidas de tal

forma que favoreceram a formação e o fortalecimento dos grandes

grupos econômicos no Brasil. Regulamentações que foram sendo

gestadas desde a Reforma Financeira da década de 1960 e que, de

certa forma, corroboram com o cenário bancário e financeiro que

presenciamos hoje no país, que é de grande concentração de capital

financeiro em posse de um reduzido número de grupos econômicos,

apresentando também uma concentração tópica de agências nas áreas

nodais da economia.

Destacamos que essa é uma prática tanto de grupos nacionais

quanto estrangeiros, e o Santander ilustra esse fato quando apresenta

no Estado de São Paulo 74% do total de suas agências e, quando da

redução do número delas pós-processos aquisitivos, ela ocorre em

áreas de menor expressividade econômica. As regiões que concentram

o maior número de agências do Santander são aquelas que expressam

mais dinamismo econômico como ilustram os indicadores oficiais

dessas informações.

Diante de tais considerações, esse trabalho procurará

demonstrar que o conjunto dos elementos que configuram o processo

da globalização, tais como a densificação tecnológica, a onda neoliberal,

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a disseminação das multinacionais, a ampliação de novos mercados,

os processos aquisitivos (a exemplo das fusões), entre outros, é que

permitem às multinacionais financeiras, como o Santander, objeto de

nosso estudo, territorializar-se no Brasil e imprimir sua marca, não

muito diferente dos grandes grupos financeiros nacionais que põem

em relevo uma concentração tópica de suas atividades em locais

de grande circulação de capital, como as cidades de porte médio e

regiões metropolitanas.

A metodologia para trabalhos desta envergadura, que

estudam a organização do espaço baseadas na expansão das atividades

das grandes corporações adota vários critérios, conforme elenca

Cordeiro (1986-1987). Iremos na direção daqueles relacionados

a localização e remanejamento das mesmas, o que dará a noção de

como tais empresas modelam, criam e recriam seu território. Para

visualizarmos a dinâmica territorial do Santander, ou seja, a forma

de organizar seu próprio território, será necessário recorrer a dados

que informem o remanejamento por meio do número de agências e

localização. É uma metodologia própria para análise do setor, como

a que foi empregada por Videira (1999)6. Desta forma, coletamos

dados em dois momentos: antes e depois da aquisição. Nesse sentido,

recorremos aos dados, 19987 e 2005, o que nos permitiu identificar

as ocorrências de abertura e fechamento de suas agências, bem como

6 A partir da metodologia empregada pelo grupo de pesquisa “Redes financeiras e dinâmica territorial brasileira”, coordenado pela Profª. Drª. Leila Christina Dias da UFSC.

7 Cabe esclarecer as dificuldades encontradas para aquisições dos dados anteriores a 2000, tendo em vista que o Banco Santander não disponibiliza tal informação; o Banco Central não possui essa informação por cidades; e o Guia Bancário Brasileiro está esgotado (grande parte dos volumes antigos). Dessa forma, recorremos a biblioteca pessoal da Profª Leila C. Dias que disponibilizou os Guias de 1996 e 1998, a quem agradecemos imensamente.

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a entrada do banco em novos municípios ou sua concentração em

algumas cidades. Tais dados foram encontrados na publicação anual

do Guia Bancário Brasileiro e foram organizadas em várias tabelas e

mapas por meio do programa AutoCad Map 2000 e do Excel.

Com a finalidade de encontrar elementos concretos8 que

justificassem a abertura e/ou fechamento de agências e entrada e/ou

saída do Banco nos municípios, buscamos informações em vários sites

de instituições oficiais de pesquisa nos âmbitos estadual e nacional,

como Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social

– IPARDES (Paraná), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

– IBGE, Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados – SEADE

(São Paulo), Fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada –

IPEA (São Paulo), Fundação João Pinheiro (Minas Gerais), Fundação

de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser – FEE (Rio

Grande do Sul), Fundação Centro de Informações e Dados do

Rio de Janeiro – CIDE (Rio de Janeiro) e Atlas do Desenvolvido

Humano, entre outros.

Elaboramos um recorte temporal para a pesquisa que

contemplou o auge do processo de entrada dos bancos estrangeiros no

Brasil; por isso, a análise se deu a partir da década de 1990, momento

em que se tem a abertura da economia brasileira e a entrada maciça

de grandes bancos estrangeiros, entre eles o Santander, indicando

relevantes inflexões na territorialidade dos mesmos no país.

8 Procuramos identificar o PIB municipal e o tamanho da população das cidades que apresentaram oscilação quanto às agências que alojava e, a partir daí, perceber o que esses números representavam dentro de seu Estado, tendo em vista que o PIB dos municípios permite avaliar também a circulação da riqueza nos mesmos.

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Adotamos, também, um outro recurso metodológico

– a entrevista, para aprofundar o conhecimento em nosso objeto.

Tentamos contato, várias vezes, com a sede do banco Santander no

Brasil para uma entrevista; no entanto, fomos informados de que todas

as informações de domínio público encontravam-se no site do Grupo.

Assim, entrevistamos dois antigos funcionários de bancos adquiridos

pelo Grupo, um na ativa, o Sr. João de Deus, funcionário do Banco

Banespa desde 1988, e outro, aposentado logo após a aquisição pelo

Santander, o Sr. Adelino Ferreira, funcionário do Banespa por 26 anos,

10 deles dedicados ao sindicato da categoria. Havíamos tentado outras

entrevistas com funcionários da ativa, porém, não obtivemos sucesso

tendo em vista que eles não estão autorizados a falar sobre o banco como

nos foi informado, correndo risco de demissão caso descumprissem

ordens. Só obtivemos sucesso com o Sr. João de Deus, da ativa, pois ele

é sindicalista e está amparado por lei quanto à estabilidade no emprego.

Como a leitura que estávamos fazendo do grupo se baseava apenas

na mídia impressa e virtual, optamos pela entrevista com o intuito

de perceber/conhecer, a partir dos funcionários, o processo de venda

e, principalmente, a reestruturação do banco vendido, ainda como

forma de confirmar as informações a que tivemos acesso pela mídia.

Assim, a partir desse alicerce, calcado no agrupamento de

um referencial teórico-metodológico e nos levantamentos de dados

que serviram de base para esta pesquisa, organizamos este livro em

quatro capítulos.

No primeiro, procuramos discutir as características

apresentadas no processo de globalização contemporânea (a partir do

fim década de 1980) que permitiram a penetração do Santander no

Brasil e em vários países via fusões e aquisições.

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No segundo, voltamos-nos para apreender o papel do capital

estrangeiro financeiro, em especial o espanhol via Santander, no

contexto da internacionalização da economia brasileira.

No terceiro, discutimos como foi preparado no Brasil o suporte

para a entrada desses bancos estrangeiros, revelando os mecanismos

que favoreceram a concentração do capital e das agências no país.

No quarto capítulo, apresentamos como se manifesta o

processo de difusão territorial do Santander no Brasil, ou seja, como

o banco produziu seu território de atuação, atribuindo escolhas a

determinadas cidades.