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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
UM NOVO MIRANTE PARA DESCORTINAR A PAISAGEM DO SÍTIO HISTÓRICO DE OLINDA, PERNAMBUCO, BRASIL
SILVA, TEREZINHA J. P. (1); PESSOA, SEVERINO S.(2); PAASHAUS NETO, AUGUSTO E. (3); CORTEZ, KARINE M. G. (4)
1. Universidade Federal de Pernambuco - Centro de Artes e Comunicação - DAU -
Av. da Arquitetura, s/n - Cidade Universitária - CEP: 50.740- 550 Campus da UFPE ,s/n– Recife – PE – Brasil Telefone: 55 081 34533835 Fax 081 21268771 [email protected]
2. Fundarpe -Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco Rua da Aurora, 463/469, Boa Vista, Recife - PE - Brasil. CEP: 50.050-000.
Telefone: + 55 81 31843131 Fax 81 31318430.
3. Gerência de Preservação Cultural-Gpcult, Fundarpe - Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico
de Pernambuco. Rua da Aurora, 463/469, Boa Vista, Recife - PE - Brasil. CEP: 50.050-000.
Telefone: +55 81 3184.3061+ 81 31843131.
4. Arquiteta. Rua Antonio de Castro, 103 Apt. 204, Casa Amarela, Recife,PE. CEP: 52070080 Telefone: 55 081 32680210 / 081 997476752 - [email protected]
RESUMO
O artigo tem como objetivo descrever as transformações provocadas pelo novo mirante em Olinda, inaugurado em 2011. O objeto de estudo fica localizado na Caixa D’Água do Alto da Sé, no Sítio Histórico. Mesmo com a beleza da vista o objeto e seu entorno tinham como problemas: demanda por acessibilidade, invasão do comércio informal, fiação elétrica interferindo na paisagem, falta de mobiliários urbanos de apoio aos turistas, entre outros. Em 2011 foi inaugurada a requalificação do Alto da Sé, que entre as intervenções incluiu: um elevador panorâmico acoplado à Caixa D’Água. Mesmo tendo sido aprovado, pelos órgãos de patrimônio federal, estadual e municipal o projeto sofreu críticas por transformar a percepção da paisagem natural, em uma artificial. O tema foi desenvolvido com a seguinte estrutura : Conceituação dos termos; Localização do objeto de estudo; Estudo da história e tipologia da edificação e seu entorno; Comparação entre o projeto arquitetônico original / atual; Legislações e normas incidentes no objeto; Referenciais teóricos sobre intervenções em paisagens históricas e Considerações finais. Como conclusões verificamos: 1)os visitantes que pagam pelo novo acesso fazem depoimentos elogiosos sobre a visão panorâmica; 2) alguns técnicos consideram uma solução inadequada; e 3) toda intervenção em área histórica, que altera uma paisagem, leva um tempo para aceitação da sua transformação, mesmo que seja uma intervenção reversível e seja autorizada pelas instâncias legais de patrimônio.
Palavras-chave: Alto da Sé; Caixa D’Água; Olinda; Pernambuco.
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1. INTRODUÇÃO
A Caixa D’Água do Alto da Sé em Olinda surgiu como uma necessidade técnica que a
Companhia Pernambucana de Saneamento - Compesa teve de ofertar água para parte do
município. A sua construção, no período de 1934/1937 foi criticada pela sua inserção num dos
trechos de paisagem histórica, mais representativos, como sendo um elemento
descaracterizador (BRUAND, 1981, p.79).
Com o passar do tempo o edifício utilitário passou a ser considerado um marco da arquitetura
moderna brasileira, pelo uso da forma pura, pilotis e o emprego de cobogós, como elementos
decorativos e de ventilação (Prefeitura de Olinda, 2016). Mesmo com a beleza da vista o
objeto e seu entorno tinham como problemas: demanda por acessibilidade, invasão do
comércio informal, fiação elétrica interferindo na paisagem, falta de mobiliários urbanos de
apoio aos turistas, entre outros.
Em 2011 foi inaugurada a requalificação do Alto da Sé, que entre as intervenções incluiu: um
elevador panorâmico acoplado à Caixa D’Água, por uma passarela e a transformação da
coberta da Caixa em mirante para descortinar Olinda em 360º. Mesmo tendo sido aprovado,
pelos órgãos de patrimônio federal e estadual (Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional e Fundarpe – Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco
e Prefeitura Municipal de Olinda) o projeto sofreu críticas por criar uma nova forma de
percepção da paisagem natural, por meio de um elemento artificial. O elevador panorâmico,
mesmo com uma estrutura metálica e vidro, atrás da Caixa existente é considerado por alguns
como um elemento que interfe na paisagem (Vieira de Melo, 2011, in memoriam e Zancheti e
Milet, 2007, p.14).
Considerando as demandas e os problemas citados o artigo fixou como objetivo descrever as
transformações provocadas pelo novo mirante em Olinda. Pelas características do tema a
metodologia de abordagem partiu da seguinte estrutura de desenvolvimento: Conceituação
dos termos; Localização do objeto de estudo; História da Caixa D’Água de Olinda; A
intervenção do elevador panorâmico na Caixa D’Água de Olinda; Legislações e normas
incidentes no objeto; Referenciais teóricos sobre intervenções em paisagens históricas e
Considerações finais.
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2 Conceituação dos termos
Para entendimento do tema e seu objetivo foram selecionados os seguintes conceitos:
mirante, paisagem e sítio histórico.
2.1 Mirante
O termo mirante está associado a um local situado ao alto que permite observar ao redor
(FERREIRA, 1976,p.928). Ainda conforme o autor a expressão remete a espaço que
proporciona apreciar vistas panorâmicas onde se visualiza o horizonte.
2.2 Paisagem
O conceito de paisagem pode ser expresso de acordo com a abordagem que se deseja
enfocar. Esta inclui aspectos naturais e culturais (D’ABREU,2001,p.3 ). Segundo Bonametti “o
conceito de paisagem, em geral, só começou a se difundir especialmente a partir do século
XVIII, alimentado pelo espírito romântico da época, muito ligado à natureza” (Bonametti,2001,
p.4).
Conforme D’Abreu a compreensão desta implica em conhecimento que compreende : “a
litologia, o relevo, a hidrografia, o clima, os solos, a flora, a fauna, a estrutura ecológica, o uso
do solo e todas as outras expressões da atividade humana ao longo do tempo...”
(D’ABREU,2001,p.4 ).
O termo paisagem está também associado à imagem ou vistas de um espaço com seus
elementos naturais e construídos, que, por sua vez, se relacionam com o tempo, a estrutura
social, as mudanças ocorridas, etc.( Barreto,1974,p.79).
A paisagem é considerada como um elemento que se altera constantemente para atender as
demandas dos que dela fazem uso ( Santos, 1986,p.37-38;Reynaund,1986,p.22). O fator
tempo é um elemento que agrega valores que tanto podem enobrecer quanto desqualificá-la
(REYNAUND,1986, p.19). Quando os valores passam a ser significativos, para a sociedade,
estes podem ser alvo de proteção.
A valorização da paisagem está associada a aspectos de interpretação pessoal e coletiva
que, por sua vez, se relacionam com aspectos estéticos, os sentidos (visão, olfato, paladar,
tato e audição) e até mesmo econômico, através da exploração turística.
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Toda paisagem tem suas especificidades que definem suas identidades e autenticidades
(ROCA, 2004, p.10). Ainda segundo o autor a mesma paisagem tem diferentes significados
para cada pessoa. Um dos significados clássicos de valorização e simbologia de paisagem é
quando um elemento ou localidade passa a ser considerado como cenário de cartão postal.
As paisagens das localidades sofrem também efeitos dos aspectos econômicos, sociais,
políticos e culturais que podem levar a descaracterizações, ou seja, uma desagregação dos
elementos tradicionais, que muitas vezes buscam uma modernidade (Roca, 2004,p.10).
O reconhecimento da paisagem como patrimônio paisagísto é definida como: “...aquela
paisagem natural de especial significado simbólico para o homem e a comunidade, que seja
representativa da noção de lugar e história e que identifique, especialmente determinado povo
“ (MIRANDA, 2009, p.163).
2.3 Sítio histórico
O termo sítio histórico está associado a local ou espaço geográfico com registro de
acontecimentos históricos, que podem ter valores históricos nas escalas local,estadual,
nacional e até mesmo mundial. Conforme a Carta de Petrópolis o Sítio Histórico Urbano –
SHU abrange os espaços que reúnem “os testemunhos do fazer cultural da cidade em suas
diversas manifestações”, incluindo as paisagens naturais e construídas (IPHAN, Carta de
Petrópolis, 1987, p.1).
A Constituição Federal de 1988 em seu Art. 216, inciso V contempla a proteção dos
“conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico” (BRASIL, 1988, Art.216). O dispositivo em comento,
não se limita a reproduzir a previsão dos sítios de valor cultural, atualiza a concepção desses
bens, ampliando a sua proteção quando inseridos em espaço geográfico compreendido como
sítio. O inciso IV do citado artigo prevê “espaços geográficos destinados às manifestações
artístico-culturais”, locais em que a interação passado e futuro se entrelaçam transmitindo
costumes e saberes à memória coletiva. O espaço pode ser público ou privado. No entanto, os
valores estéticos, arquitetônicos ou monumentais não precisam estar presentes para que um
sítio seja merecedor de tutela sob a ótica patrimonial, o que vale é o valor de referência
existente que ligue o sítio à memória, identidade ou ação dos grupos formadores da
sociedade brasileira. Sob a ótica do direito ambiental como macrobem (bens ecológicos e
bens culturais), onde os bens culturais são espaços geográficos inseridos no meio ambiente
(natural ou artificial), que se destacam por deterem valor de referência cultural, assim sendo
aplica-se o Art. 225, § 1º, inc. III da Constituição vigente (GOMES,2009,p.15).
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3 Localização do objeto de estudo
A Caixa D’Água de Olinda fica localizada na Região Nordeste do Brasil, no Estado de
Pernambuco, Figura 1. No Estado sua situação está na Região Metropolitana do Recife, no
município de Olinda, na Rua Bispo Coutinho, s/n. Suas coordenadas geográficas são:
Latitude: 08º00'32"S e Longitude: 34º 51' 19" W. (Olinda, 2016). A Caixa faz parte da área de
tombamento do conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico da cidade de Olinda
(FUNDARPE, 2009, p.85 ).
O objeto de estudo, Figura 2, fica em topografia com altitude de 45 metros em relação ao nível
do mar (Googlemap2016). A sua posição no sítio histórico é cercada por diversos edifícios
históricos como: a Igreja de São Salvador do Mundo (Igreja da Sé), o Observatório
Astronômico, o Museu de Arte Sacra de Pernambuco - MASPE, a Igreja Nossa Senhora da
Graça e o Horto Del Rey.
Figura 1 – Hierarquia da localização geográfica do objeto Fonte : Diversas
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Figura 2 – Sítio Histórico de Olinda – Caixa D’Água – círculo vermelho Fonte: Lei No 4849/92 – SEPACTUR/PMO- 2005
O Sítio Histórico de Olinda foi considerado pela Unesco - Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura, como Patrimônio Cultural da Humanidade, em 1982
(SCIFONI,2004 e PAIVA, 2011).
O mirante natural do Alto da Sé é considerado o ponto mais alto do município. Deste é
possível descortinar uma paisagem do verde dos quintais, do céu, do mar, de parte do casario
e igrejas de Olinda, além do Porto e do centro do Recife. Por sua vez, a plataforma do pilotis
da Caixa D’Água também pode ser utilizada como mirante, porém por ser mais afastada da
borda do mirante natural e ficar longe dos atrativos do comércio das barraquinhas é ainda
pouco explorada.
4 História da Caixa D’Água de Olinda
A Caixa D’Água foi construída pela Companhia Pernambucana de Saneamento - Compesa,
no período entre 1934/1937, com projeto realizado por Luís Nunes e Fernando Saturnino de
Brito (BRUAND, 1981, p.80). A concepção do projeto seguiu os conceitos da arquitetura
moderna com estrutura racional em concreto armado, estrutura aparente, planta livre,
semi-enterrado (casa de bombas) pilotis com plataforma mirante, cobertura plana, uso do
combogó como brise-soleil, além de garantir uma boa ventilação.
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Conforme registro de documento datado de 24 de janeiro de 1978, encaminhado à Fundarpe
– Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, feito pelo gerente da
Compesa de Olinda, Júlio M. B. Barbalho Cavalcanti, foi realizada uma intervenção para
substituição dos combogós do Reservatório do Alto da Sé, pois os elementos estavam caindo.
Os elementos vazados assentados foram executados com as mesmas características dos
originais, além de muro substituindo um gradil (Compesa, 1978, CT. No 05/78). Algumas das
fases do projeto foram esquematizadas nas figuras 3 a 6.
Figura 3 – Esquema das plantas baixas da Caixa D’Água
Fonte:Iphan – produzida pelo arquiteto Geraldo Gomes da Silva (1972)
Figura 4 – Esquema de corte na Caixa D’Água
Fonte: Iphan - produzida pelo arquiteto Geraldo Gomes da Silva (1972)
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Figura 5 – Construção do embasamento da Caixa D’Água
Fonte: Iphan (1934)
Figura 6 – Fase final da Caixa D’Água no Sítio Histórico de Olinda ––
Fonte: Iphan (1937)
5 A intervenção do elevador panorâmico na Caixa D’Água de Olinda
O Projeto de Requalificação urbana do sítio histórico do Alto da Sé em Olinda/PE, figura 7,
teve como objetivo maior propiciar a requalificação da Praça da Sé, com um novo desenho
para sua área e para o estacionamento, sendo objeto de convênio assinado entre o Ministério
do Turismo/MTUR e a Prefeitura de Olinda, em 28 de junho de 2006, no valor inicial de R$
3.685.554,20(Olinda, 2012, p.3). A execução das obras se deu através da Concorrência
Pública de No 002/2007, realizada há cerca de 1 ano após a assinatura do convênio com o
Ministério do Turismo, e foi segmentada em 3 lotes:Lote 1 – Reurbanização do largo da
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Sé;Lote 2 – Readequação funcional da Caixa D’água; e Lote 3 – Construção do mercado de
artesanato da Sé(Olinda, 2012,p.3).
Figura 7 –Caixa D’Água com elevador panorâmico Fonte:SILVA, Terezinha. 27 Ago. 2016.
O primeiro lote da requalificação urbana do Sítio Histórico do Alto da Sé se referiu a
reurbanização do largo da Sé, cuja ordem de serviço de nº 010/2008 deu início aos serviços
no dia 02/07/2008. O período de execução inicialmente seria de 1 ano, porém, com base em
seus aditivos de prazo formalizados teve seu termo de recebimento provisório emitido em
19/09/2011.
A obra foi acordada via Contrato nº 092/2008, datado de 27/06/2008, no valor de R$
3.146.209,00. Após 4 termos aditivos de valor, o contrato final totalizou o montante de R$
3.688.524,09 (OLINDA, 2012,p.3).
O projeto de construção do elevador panorâmico do Alto da Sé de Olinda foi de autoria do
arquiteto Ronaldo Carvalho L'amour, da GRAU -Grupo de Arquitetura e Urbanismo Ltda, e
tinha também como um dos principais objetivos a acessibilidade ao mirante construído na
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cobertura da Caixa D’Água, que sem o elevador só se poderia ter acesso através de uma
escada de madeira de cerca de 20 metros de altura.
O referido projeto foi inicialmente aprovado no Conselho de Preservação dos Sítios Históricos
de Olinda, sendo em seguida submetida a 5a Superintendência Regional do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/IPHAN, em Pernambuco, que o enviou para a
Comissão Nacional do IPHAN em Brasília. A Comissão então concluiu pela aprovação do
Projeto com recomendações que foram introduzidas no Projeto inicial.
No início do funcionamento do elevador panorâmico em 2011, a gestão e a operacionalização
do equipamento eram da própria Prefeitura de Olinda, por intermédio da Secretaria de
Turismo. Porém, a Concorrência Pública de nº 003/2013 objetivou a Concessão de Uso, cujo
processo licitatório foi o de nº 116/2013 (OLINDA, 2012,p.3). O elevador panorâmico passou a
ser gerido e operacionalizado pela iniciativa privada, sob Regime de Concessão Pública. O
horário de funcionamento diário é de 9h às 17h, exceto na segunda-feira.
Além da melhoria da qualidade do Sítio Histórico de Olinda para os moradores do local,
usuários e turistas, essas ações também atraíram novos investimentos para a Cidade, através
de outros programas públicos e de iniciativa privada, a exemplo do início das obras de
recuperação do Cine Olinda (MINC/IPHAN), do Mercado do Peixe (Ministério da Pesca),
outros projetos de acessibilidade (Governo de Pernambuco) e recuperação do Mercado
Eufrásio Barbosa (Prodetur/NE e Governo de Pernambuco).
A readequação do Edifício da Caixa D’Água, com a instalação de uma torre externa, com o
elevador panorâmico, contendo paredes de vidro, com capacidade para 12 pessoas, propiciou
acesso a um mirante com cerca de 23 metros de altura e uma visão privilegiada de 360° para
o Horto d’El Rey, que é uma reserva ecológica de 14 hectares de mata atlântica no coração do
sítio histórico da cidade, bem como para o conjunto do sítio histórico, e ainda descortina uma
paisagem deslumbrante, ao longe, do antigo Porto localizado em uma área histórica da
Capital Recife.
Na intervenção realizada, podemos destacar que as ações do Prodetur Nordeste II, trouxeram
para o Alto da Sé uma melhoria significativa na área turística do Sítio Histórico de Olinda. O
Projeto de Requalificação já mencionado trouxe para um dos pontos mais visitados do Estado
de Pernambuco, o aumento da permanência do turista em Olinda e, consequentemente, o
aumento dos gastos desses turistas com alimentação, diversão, hospedagens, compras de
souvenirs, etc.
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A intervenção na área não visou apenas o turismo, esta foi acompanhada de soluções de
acessibilidade no entorno e remoção de quiosques que impediam a visibilidade do Horto Del
Rey (Prefeitura de Olinda, 2016).
6 Legislações e normas incidentes no objeto
As intervenções na Caixa D’Água e no seu entorno, além do significado de valorização
através de um novo mirante, calçadas acessíveis e sanitários públicos tiveram como princípio
a melhoria da acessibilidade e mobilidade tendo como base, a Constituição Federal de 88, as
leis Nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que define prioridade de atendimento às pessoas
e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para
a promoção da acessibilidade, foram regulamentadas pelo Decreto-Lei No 5296, em 2 de
dezembro de 2004. Quanto aos aspectos voltados para as áreas de Sítios Históricos destaque
especial cabe a Instrução Normativa No 001 do IPHAN, de 23 de novembro de 2003.
Quanto ao Decreto-Lei No 5296/2004 o artigo 8o considera que a acessibilidade deve ocorre
de forma segura, autônoma ou assistida nos espaços internos das edificações públicas, assim
como, nos espaços urbanos, para todos os deficientes físicos. No artigo 8 o, no inciso VII
contempla a necessidade dos os espaços das áreas históricas que exercem atividades
culturais e turísticas.No inciso IX especifica que os espaços devem ser concebidos dentro da
ótica do desenho universal para atender de modo mais amplo possível aos deficientes físicos.
O projeto de intervenção da Sé também seguiu entre as normas da Associação Brasileira de
Normas Técnicas a da ABNT 9050, revisada em 2015. Outras legislações do município como
o Plano Diretor, a Lei de Uso do Solo e o Código de Obras estiveram presentes reforçando os
aspectos de acessibilidade dos espaços públicos.
Os aspectos de política urbana e de preservação contidos no Plano Diretor de Olinda , Lei No
026/2004 , estão contemplados em diversos Artigos. No artigo 1º os destaques dos objetivos
da política urbana também se relacionam com as solicitações de preservação da paisagem
expressas através dos incisos:
VI - a valorização da produção cultural como potencial de desenvolvimento e garantia de preservação da memória e do fortalecimento da identidade de Olinda; VII - a proteção, valorização e uso adequado do meio ambiente e da paisagem urbana;
O Código de Obras, representado pela Lei Complementar No 13/2002, regula as atividades de
edificações para o município. Por sua vez, o artigo 1º, contempla nos parágrafos 1º , 2º e 3º ,
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que todos os projetos devem estar de acordo com o Código,o Plano Diretor e o artigo 182 da
a Constituição, a Lei de Uso e Ocupação do solo, as legislações específicas da área do Sítio
Histórico, conforme a Zona de Preservação, além da legislação específica para as Zonas
Especiais de Interesse Social. O mencionado Código, no artigo 2º, define também como
assegurados à população que as edificações tenham “níveis mínimos de habitabilidade e
qualidade” com conforto ambiental, segurança, durabilidade e acessibilidade as pessoas
idosas e com deficiências físicas. Em seu artigo 65 especifica, de modo amplo, que a
acessibilidade deve existir na área urbana como um todo, ruas e edifícios públicos.
Por outro lado, o artigo 13 vincula as normas de acessibilidade aos Planos Diretores
Municipais, Planos Diretores de Transporte e Trânsito, ao Código de Obras, ao Código de
Postura, a Lei de Uso e Ocupação do Solo e a Lei do Sistema Viário, bem como aos estudos
prévios de impacto de vizinhança.
Os critérios da Unesco para a manutenção do título de Patrimônio da Humanidade estão
relacionados à Convenção realizada em Paris, em 23 de novembro de 1972, que consideram
a preservação da paisagem como elemento necessário para a manutenção do título. No caso
de Olinda para fazer parte da listagem do Patrimônio Mundial, como bem cultural, a
proposição para análise ressaltou os critérios:
ii. ser a manifestação de um intercâmbio considerável de valores humanos durante um determinado período ou em uma área cultural específica, no desenvolvimento da arquitetura, das artes monumentais, de planejamento urbano ou de paisagismo, iv. ser um exemplo excepcional de um tipo de edifício ou de conjunto arquitetônico ou tecnológico, ou de paisagem que ilustre uma ou várias etapas significativas da história da humanidade....(Unesco, 1972).
Ainda como outros documentos, normas, e legislações que se relacionam de modo direto com
a preservação do município, podemos destacar: o 2º Guia Prático, Histórico Sentimental de
Cidade Brasileira – Olinda, de Gilberto Freyre, a Instrução Normativa No 1004/68 , que fixou os
limites de proteção do polígono do sítio histórico, a Notificação Federal No 1155/1979 Iphan,
que inscreveu o conjunto arquitetônico e paisagístico no Livro de Tombo Etnográfico, Histórico
e Paisagístico, o Projeto Piloto de Olinda(Programa de Recuperação e Revitalização dos
Núcleos Históricos do Iphan – 1980), a Reratificação da Notificação/Iphan No 1155/79, em
1985, a Lei No 4.849/92 (Legislação para Sítio Histórico), entre outras.
Outro instrumento que foi instituído para proteger as paisagens com valores foi a “Chancela
da Paisagem Brasileira” por intermédio da Portaria do Instituto do Patrimônio Histórico e
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Artístico Nacional – Iphan, No 127, de 30/4/2009, que tem o propósito de atrair recursos e
ações para a proteção da área que recebe um certificado de sua qualidade especial. A
referida Portaria define que a “Paisagem Cultural Brasileira é uma porção peculiar do território
nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a
vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores”(Iphan, 2009).
Independente de ser considerado patrimônio paisagístico ou não todo Plano Diretor tem como
propósito jurídico definir diretrizes que permitam à gestão municipal a utilização racional dos
seus recursos, para garantir qualidade de vida à população, bem como a identidade e
funcionalidade dos patrimônios natural e cultural, quer sejam nas escalas urbanas, como nas
rurais (D’ABEU, 2001).
Outras legislações em escalas federal e estadual podem também estar vinculadas às
proteções da localidade do Plano Diretor.
No âmbito internacional o marco jurídico da preservação das paisagens culturais é a
Convenção Internacional para a Proteção do Patrimônio Mundial Natural e Cultural – Paris,
1972. Promulgada no Brasil pelo Decreto nº 80.978, de 12 de dezembro de 1977 (DOU de
14.12.1977), data em que passou a incorporar o ordenamento jurídico interno, como norma
infraconstitucional (VIEIRA, 2010).
A XVI Sessão do Comitê para o Patrimônio Mundial da Unesco – 1992, é que foi adotada a
categoria “paisagem cultural”, mediante o estabelecimento de três subcategorias:as
paisagens intencionalmente criadas pelo homem; as paisagens evolutivas, subdivididas em
paisagens relíquia ou fósseis e paisagens vivas; e as paisagens associativas.
Posteriormente à Convenção para o Patrimônio Mundial, Cultural e Natural de 1972, outros
ajustes internacionais foram celebrados, tendo alguns deles o Brasil como Estado Parte
signatário.
Ainda, é de bom alvitre destacar importantes referências internacionais: A Carta da Paisagem
Mediterrânica -1993 (1), Convenção Européia da Paisagem – 1995 (2) e a Recomendação nº
(95) do Conselho da Europa – 1995 (3), a Convenção Européia da Paisagem – Florença –
2000 (4), a Decisão Mercosul nº 55/2012 (Regulamento para Reconhecimento do Patrimônio
Cultural do MERCOSUL, entre outras.
O Brasil não faz parte ou se submete a esses aludidos documentos (1, 2, 3 e 4,
respectivamente), porém coincidem e sucedem historicamente as amplas discussões entre
especialistas. Durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o
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Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, onde se aprovou a “Declaração do
Rio de Janeiro”, instrumento composto de 22 princípios pela relevância da matéria. Por fim,
vários outros documentos similares de igual valia são acatados por países que protegem a
paisagem cultural nos mais variados enfoques.
No Brasil a temática é corriqueiramente debatida e sacramentada, como o Compromisso
Salvador – 1971, o Compromisso Brasília -1970, a Carta de Cabo Frio – 1989, e a Carta
Brasileira da Paisagem – (ABAP) - 2010 com seus 12 Princípios.
A legislação de proteção do patrimônio cultural no Brasil surgiu na década de 1930 com o
advento de normas constitucionais e infraconstitucionais bem objetivas que ao longo da linha
do tempo foram sendo ajustadas às realidades que surgiam. Em breve passagem
constitucional federal e estadual demonstra-se o seguinte quadro:
Na esfera federal , desde a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de10 de novembro de
1937 o artigo 134 destacava:
Os monumentos históricos, artísticos e naturais, assim como as paisagens ou os locais particularmente dotados pela natureza, gozam da proteção e dos cuidados especiais da Nação, dos Estados e dos Municípios. Os atentados contra eles cometidos serão equiparados aos cometidos contra o patrimônio nacional (CONSTITUIÇÃO,1937,Art.134).
Já a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 18 de setembro de 1946, o artigo 175
estabeleceu: “As obras, os monumentos naturais, as paisagens e os locais dotados de
particular beleza ficam sob a proteção do Poder Público (Constituição, 1946, Art. 175).
A Constituição da República Federativa do Brasil, de 15 de março de 1967, no artigo 172
destaca que : o amparo da cultura é dever do Estado e no seu Parágrafo único estabelece:“
Ficam sob a proteção especial do Poder Público os documentos, as obras e os locais de valor
histórico ou artístico, os monumentos e as paisagens naturais notáveis, bem como as jazidas
arqueológicas”.
Por sua vez, a Emenda Constitucional nº 01, de 17 de outubro de 1969, no artigo 180 ,
permanece afirmando que o Estado deve amparar a cultura e no Parágrafo único define que:
“Ficam sob a proteção especial do Poder Público os documentos, as obras e os locais de valor
histórico ou artístico, os monumentos e as paisagens naturais notáveis, bem como as jazidas
arqueológicas”.
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Temática também recepcionada pela Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de
outubro de 1988 que contempla aspectos de proteção à paisagem através dos artigos 23, 24,
30,216 e 225.
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (EC nº 53/2006) [...] III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos. Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: [...] VII – proteção ao patrimônio histórico, cultural artístico turístico e paisagístico; VIII – responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IX - .... Art. 30 – Compete aos Municípios: (EC nº 53/2006) [...] IX – promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: (EC nº 42/2003) [...] V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. § 1º.... Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações:
Na esfera estadual a Constituição do Estado de Pernambuco, de 05 de outubro de 1989 fixou
no artigo 197 que:
O Estado tem o dever de garantir a todos a participação no processo social da cultura. [...] § 4º Ficam sob a organização, guarda e gestão dos governos estadual e municipais a documentação histórica e as medidas para franquear sua consulta, bem como a proteção especial de obras, edifícios e
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locais de valor histórico ou artístico, os monumentos, paisagens naturais e jazidas arqueológicas. § 5º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos na forma da lei. Art. 205. Compete ao Estado e aos Municípios, em consonância com a União, nos termos da lei, proteger áreas de interesse cultural e ambiental, especialmente os arrecifes, os mananciais de interesse público e suas bacias, os locais de pouso, alimentação e/ ou reprodução da fauna, bem como áreas de ocorrências de endemismos e raros bancos genéticos e as habitadas por organismos raros, vulneráveis, ameaçados ou em via de extinção.
Como base normativa infraconstitucional pertinente, temos como legislações da seara federal:
Decreto – Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937;Lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940 -
Código Penal Brasileiro ;Decreto-Lei nº 3.866, de 29 de novembro de 1941;Decreto – Lei nº
4.146, de 4 de março de 1942;Lei nº 3.924, de 26 de julho de 1961-;Lei nº 4.771, de 15 de
setembro de 1965 – Código Florestal,(Revogado pela Lei nº 12.651, de 25 de maio de
2012);Decreto- Lei nº 80.978, de 12 de dezembro de 1977;Lei nº 6.513, de 20 de dezembro de
1977;Lei nº 6.938, de 31 de agosto de1981;Lei nº 7.347, de24 de julho 1985 ;Lei nº 9.099, de
26 de setembro de1995;Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998;Lei nº 9.985, de 18 de julho
de 2000;Decreto nº 3.551, de 04 de agosto de 2000;Lei nº 10.257, de 10.257, de 10 de julho
de 2001 - Estatuto da Cidade e Desenvolvimento Urbano;Decreto nº 4.887, de 20 de
novembro de 2003 e a Portaria nº 127 – Iphan, de 05 de maio de 2009.
No Estado de Pernambuco, a proteção da paisagem, é evidenciada nos seguintes
diplomas:Lei nº 7970, de 18 de setembro de 1979 – Institui o Tombamento de bens pelo
Estado e o Decreto nº 6.239, de 11 de janeiro de 1989 – Regulamenta a Lei nº7.970, de 18 de
setembro de 1980, que institui o Tombamento de bens pelo Estado.
7 Referenciais teóricos sobre intervenções em paisagens históricas
Diversos autores tratam as questões sobre as intervenções nas paisagens históricas. Por sua
vez, as polêmicas resultantes das propostas de intervenção têm como veredicto final os
técnicos dos órgãos federais, estaduais, municipais ou até mesmo os Conselhos de Cultura.
Como abordagens para o tema foram utilizadas as reflexões de: Braga (2013), Bonametti
(2012) e Castelnou (1992).
Para Braga o turismo cultural é apresentado como modelo adequado para dar rentabilidade
econômica e melhoria da qualidade do ambiente urbano e preservação do patrimônio cultural
(BRAGA, 2013, p.11). Às vezes funciona como uma bandeira voltada para a média e alta
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renda, privilegiando grupos específicos e afastando os grupos de usuários locais (BRAGA,
2013, p.11).
Conforme Bonametti as paisagens urbanas históricas retratam várias dinâmicas da evolução
da sociedade que passam a ser questionadas quanto às novas adequações estéticas,
técnicas, econômicas e culturais ( BONAMETTI ,2001, p.110).
Os edifícios sofrem influências de diversos fatores que levam ao seu desgaste físico, bem
como por novas demandas de utilização, resultando em transformações no bem ou sítio
histórico ( Castelnou Neto, 1992, p.1). Conforme o autor uma obra pode se tornar obsoleta em
relação ao nível de sua funcionalidade e levar a intervenções que auxiliem na melhoria do seu
uso ou até mesmo adquirir uma nova funcionalidade (Castelnou Neto, 1992, p.2). Ainda
segundo o autor a revitalização
“consiste na reestruturação de um conjunto urbanístico ou obra arquitetônica, ou seja, na série de trabalhos que visam revitalizar - dar nova v i d a - ou reabilitar - dar nova habilidade - a determinada obraque se encontra em deterioração ou mesmo desuso. Para tanto, permite-se reformular componentes – elementos constituintes -, associar novas funções e acrescentar intenções ao projeto, desde que se mantenha total ou parcialmente o caráter original” ( CASTELNOU NETO, 1992, p.3).
A introdução de novos elementos pode assumir níveis de harmonização diferentes como:
radical (quando gera contraste e entra em choque); equilibrado ( quando se harmoniza ao
existente) e sutil (quando respeita o existente e quase não é notado)( Brolin, 1984, apud
Castelnou Neto, 1992,p.3 ). O autor afirma ainda que a preservação da paisagem urbana não
deve ser vista como algo imutável, mas ser passível de transformação desde que se saiba
incorporar os novos elementos (CASTELNOU NETO, 1992,p.4 ).
8 Considerações finais.
O desenvolvimento das atividades de estudo da Caixa D’Água de Olinda permitiu alcançar o
objetivo de descrever as transformações provocadas pelo novo mirante em Olinda.
Registrou-se por meio das figuras 3 a 7 alguns dos estágios de modificação sofridos no bem,
desde a sua construção, no início dos anos 30, até a introdução do elevador panorâmico, em
2011.Cabe ressaltar ainda que esta última intervenção foi baseada em princípios de:
reversibilidade, acessibilidade universal, atendimento às demandas turísticas e identificação
dos elementos novos.
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Verificou-se também como passam a ser polêmicas as intervenções e a preservação da
paisagem histórica tombada em função das novas demandas sociais, econômicas e legais
quanto as interpretações dos efeitos provocados, conforme os referenciais dos autores
apresentados.
Por fim, constatou-se que: assim como a construção da Caixa foi considerada, na época, um
elemento descaracterizador da paisagem histórica, passando depois a ser bem representativo
da arquitetura moderna brasileira, o elevador panorâmico também é percebido por uns como
um elemento de descaracterização, ou seja , toda intervenção em área histórica, que altere
uma paisagem, leva um tempo para aceitação da sua transformação, mesmo que seja uma
intervenção reversível e seja autorizada pelas instâncias legais de patrimônio.
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