um mundo, muitas culturas final

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CULTURA MULÇUMANA

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CULTURA MULÇUMANA

Trabalho realizado por:

Helena Augusta Martins Aïd

Escola José Belchior Viegas, São Brás de Alportel

Curso E F A – B 2 + 3 2º Ano

4º Tema de Vida

Ano Lectivo 2009 -2010

IntroduçãoO Tema de vida: “Um Mundo, Muitas Culturas” é muito

vasto e abrangente. Escolhi o subtema: “A Cultura

Muçulmana”, porque está relacionada com a minha

experiência de vida. Visto ser casada com um muçulmano

argelino e já ter vivido em Marrocos durante seis anos, estou

de alguma maneira familiarizada com esta cultura. A religião,

as festividades, a culinária, o vestuário e o papel do homem e

da mulher são a base desta sociedade, como de tantas

outras. Baseei os meus conhecimentos nas minhas

experiências e contactos com esta cultura. Vou retratar

alguns dos tópicos acima mencionados.

ReligiãoA África do Norte é composta por cinco países

muçulmanos: Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egipto.

Para estes povos, a religião é muito importante na vida

do dia-a-dia. A religião muçulmana é composta por dois

grupos principais: os Sunitas e os Xiitas. A população

muçulmana, ao nível mundial, é composta por 85% de

Sunitas. O livro sagrado dos muçulmanos é o Corão.

Um verdadeiro crente e praticante deve basear os seus

comportamentos e atitudes na “Sharia”, ou seja, o

código das leis do islamismo. Os cinco pilares da

religião muçulmana são retirados desse código, a

saber:

Religião1º- Aceitar Deus (Allah) como único e Maomé (Muhammad)

como seu profeta;

2º- Dar esmola (zakat) no mínimo de 2,5% dos seus

rendimentos para os mais necessitados;

3º- Fazer a peregrinação à cidade de Meca, pelo menos uma

vez na vida, desde que para isso possua recursos;

4º- A realização diária das cinco orações;

5º- O jejum, no mês de Ramadão, com o objectivo de

desenvolver a paciência e a reflexão.

Os Locais Sagrados

Para os Muçulmanos existem três locais sagrados:

• A cidade de Meca, onde fica a pedra negra, também

conhecida como «Caaba»;

• A cidade de Medina, o local onde Maomé construiu a

primeira Mesquita (templo religioso muçulmano)

• E a cidade de Jerusalém, o lugar onde o profeta Maomé

subiu ao céu e se encontrou no paraíso com Moisés e Jesus.

O Corão

O Corão é a mais importante fonte da jurisprudência

islâmica, sendo a segunda a “Suna” (obra que narra a vida e

os caminhos do profeta Maomé). Não é possível praticar o

islão sem consultar ambos os textos. A partir da “Suna” vêm

os “Ahadith”, ou seja, as narrações do profeta sobre a sua

vida ou o que ele aprovava. Ainda há o “Ijma”, que é o

consenso da comunidade.

A “Charia”

A “Charia” é o corpo da lei religiosa islâmica. O termo

significa «caminho» ou «rota» para a fonte de água e é a

estrutura legal dentro da qual os aspectos públicos e privados

da vida do praticante do islamismo são regulados. A “Charia”

engloba diversos aspectos da vida quotidiana, tais como: a

política, a economia, os bancos, os negócios, os contratos, a

família, a sexualidade, a higiene e as questões sociais.

O Ramadão e a Festa de “L’Aïd el Kebir”

O Ramadão é um mês sagrado e muito importante para os

Muçulmanos (também é o nome do próprio mês). Nesse mês, as pessoas

praticam o jejum do nascer ao pôr-do-sol. Só se alimentam durante a noite,

fazem ementas especiais, uma delas é a “Harira”, também chamada a

Sopa do Ramadão. Há muitos doces e pratos variados. Nesse período, as

pessoas vão à mesquita (templo muçulmano) e dedicam-se à oração, dão

esmolas aos mais necessitados, visitam os doentes, bem como os seus

familiares. Nessa época, há muitas pessoas a passear pela rua, à noite,

nas vilas e nas cidades. No fim do mês do Ramadão é a grande festa de

“L’Aïd el Kebir”. Essa festa faz lembrar as festividades natalícias dos

católicos. Nesse dia, as famílias matam um borrego para festejarem, as

pessoas vestem roupas novas e as crianças recebem presentes. Os

familiares aproveitam para se visitarem entre eles.

A CircuncisãoA cerimónia da circuncisão é muito importante na religião muçulmana,

assemelha-se ao baptismo. Pratica-se a partir dos sete anos, mas também

noutras idades. Consiste em extrair o prepúcio do órgão sexual dos

rapazes. Actualmente, isso faz-se por meio de uma intervenção cirúrgica,

com anestesia. Mas, antigamente, fazia-se em casa, a sangue frio, por uma

pessoa perita na matéria. Depois da intervenção, o menino é vestido com

uma túnica e calças brancas. A seguir o menino, vai montado num cavalo,

com o pai, pelas ruas, para mostrar às pessoas a sua iniciação como

muçulmano. Atrás vai um cortejo, cantando e tocando instrumentos

musicais. Depois de várias voltas pelas ruas, os convidados vão para a

casa do circuncisado festejar. Há muitos pratos diferentes e várias

doçarias. Está também presente um grupo tradicional de músicos, a cantar

e a tocar. Os homens ficam separados das senhoras, em salas diferentes e

todos fazem a festa.

O Casamento O casamento marroquino é diferente em vários sentidos das

cerimónias ocidentais. Hoje em dia, ainda muitos casamentos são

feitos pelos familiares. O noivo tem de dar um dote à noiva, o valor

depende dos meios financeiros da família. Esse dote é constituído

por jóias, vestuário, calçado, géneros alimentícios, artigos para o lar

e também animais como carneiros e cabritos. Antes da festa do

casamento, as mulheres da família da noiva e amigas vão pelas

ruas mostrar os presentes que foram oferecidos pelo noivo. É tudo

exposto numa carroça puxada por um cavalo. Atrás, no cortejo, vão

cantando e tocando instrumentos musicais. Esta tradição ainda se

usa nos arredores da capital Rabat, numa vila chamada Salé e,

certamente, noutros sítios. A noiva é preparada para a cerimónia,

pintam-lhe as mãos e os pés com “henna” e às convidadas

também.

O Casamento

“Henna” é o nome duma planta donde se extrai o corante que tem o mesmo nome. Com esse corante prepara-se a pintura para os cabelos, as mãos e os pés. Essa pintura faz-se com a ajuda de uma seringa ou “stencil”. A duração da tatuagem pode ir até cerca de uma semana. Dependendo do nível financeiro da família, na noite da cerimónia, a noiva troca várias vezes de vestidos, com os acessórios a condizer. Depois há música e as bailarinas dançam a típica dança do ventre.

A dança do ventre remonta há muitos séculos atrás, onde os vizires, para se distraírem, tinham o seu harém com as suas bailarinas.

A PoligamiaA lei muçulmana permite o casamento poligâmico. Um muçulmano

pode casar legalmente com quatro mulheres. Essa lei ainda está

em vigor na maioria dos países muçulmanos. Actualmente, só os

homens abastados ou nobres podem ter várias esposas. De acordo

com a sabedoria popular esta lei é muito antiga. Conta-se que,

antigamente, havia muitas guerras das quais poucos homens

voltavam, deixando assim mulheres e filhos sem meios de

subsistência. Para pôr fim a essa situação, os que regressavam,

eram autorizados a casar com mais do que uma esposa. Hoje em

dia, ainda se constata, em alguns países muçulmanos a existência

de uma lei que prevê o apedrejamento da mulher que cometer

adultério.

O VestuárioO vestuário tradicional muçulmano varia de país para país. Por essa

razão vou falar especialmente da moda marroquina. O traje masculino é

composto por uma túnica comprida com capuz, a “djellaba”. Essa túnica

simples é usada no dia-a-dia. Nas cerimónias, é mais elaborada; também

usam um chapéu redondo, vermelho com cadilhos pretos e chinelos (as

babuchas) em pele, bicudas, que existem em várias cores e feitios. As

senhoras e as raparigas também usam uma túnica, um lenço na cabeça

(ainda se vê senhoras com véu a tapar a cara.) Nas cerimónias, usam

igualmente uma túnica (o “caftan”) comprida, bordada, em tecidos

acetinados e de cores variadas e os acessórios a condizer, a saber: cintos,

pulseiras, brincos, colares, tiaras e anéis (quase sempre estes objectos são

em ouro). Para completar a indumentária, há os acessórios, como as

carteiras, os sapatos e os chinelos ornamentados (as babuchas.) Na cultura

muçulmana, a cor do luto é o branco.

A CulináriaA culinária muçulmana (marroquina) é muito variada, mas a base

desta é o “cuscuz”, uma massa de trigo duro. O “cuscuz” pode ser

acompanhado de carne ou peixe com legumes. Os muçulmanos consomem

todas as carnes, excepto a de porco, pois este é considerado um animal

impuro. Também não bebem bebidas alcoólicas.

O “tajine” também é um prato típico marroquino. Essa especialidade é

cozinhada num recipiente de barro com uma tampa em forma de chaminé,

a qual tem o mesmo nome do prato. Nele podem ser cozinhados carne,

peixe e legumes.

Além destas especialidades também há a “Harira” ou Sopa do

Ramadão. É uma sopa que leva muitos ingredientes, bastante nutritivos,

como a carne, o grão, as lentilhas, o tomate, a cebola, a farinha, as ervas

aromáticas e as especiarias. Esta sopa é tomada à noite, ao romper do

jejum, no mês do Ramadão, antes das outras iguarias.

A CulináriaPara confeccionar esses pratos, as especiarias são muito

importantes para dar o paladar característico a cada um deles. As

especiarias mais utilizadas nos pratos típicos são: a pimenta, o

açafrão, os cominhos, o gengibre, a canela, o pimentão, o cravinho,

o piripiri, o caril, a noz-moscada, o “ras-el-ranut” (a cabeça do

merceeiro, que é a mistura de várias especiarias), entre outras. Não

podemos falar da culinária marroquina sem nos lembrar da famosa

doçaria, na qual estão incluídos: o mel, as tâmaras, as sementes de

sésamo e a canela. Esses doces são quase sempre feitos na fritura

e também encontramos as “nossas filhós”. O chá de menta bem

açucarado também é muito famoso nesta cultura, pois um

marroquino que se preze oferece-o aos seus convidados.

As Receitas“Cuscuz”

Receita para 6 pessoas, ingredientes:• 750g de mão de borrego

• 750g de “cuscuz”

• 250g de curgete

• 250g de frade

• 250g de nabo

• 1 repolho pequeno

• 2 tomates

• I cebola grande

• 3 dentes de alho

• 3 colheres de sopa de azeite

• ½ colher de chá de pimenta

• ½ colher de chá gengibre

• ½ colher de chá de açafrão

• ½ colher de chá de pimentão

• ½ colher de chá de “ras-el-ranut”

• 1 molho de coentros

• Sal q.b.

• Água q.b.

“Cuscuz”

Numa panela meia de água, juntar os grãos, a cebola, o

tomate, os dentes de alho, previamente cortados aos bocadinhos, a

que se acrescenta os coentros, as especiarias e o sal. Assim que

ferver, pôr a carne. Quando estiver quase cozido, misturar os

legumes aos bocadinhos.

Preparação da massa “cuscuz”:

Pôr numa frigideira funda, o “cuscuz” regado com um pouco de

água, azeite e sal, depois mexer para não colar. Deixar cozer

durante 15 minutos. Servir a massa com os legumes e a carne com

molho por cima.

“Tajine” de frango do campoReceita para 6 pessoas, Ingredientes• :1 frango do campo

• 2 curgetes

• 2 nabos

• 1 alho francês

• 3 batatas

• 3 cenouras

• 2 tomates

• 1cebola

• 3 dentes de alho

• 1 pimento verde

• 1 molho de coentros

• 1 molho de poejos

• 1/2 colher de chá de pimenta

• 1/2colher de chá de cominhos

• ½ colher de chá de pimentão

• Sal q. b.

• Água q. b.

• 3 colheres de azeite

• 100g de azeitonas verdes

“Tajine” de frango do campo

Num caldeirão de barro pôr o azeite, a cebola, o alho, o

pimento aos bocados, juntar o frango aos bocados sem parar de

mexer (colher de pau). Quando o frango estiver lourinho, juntar o

tomate e os alhos, os coentros, os poejos e as especiarias. Mexer,

depois acrescentar o sal e a água. Quando o frango estiver meio

cozido, pôr as cenouras e os nabos; mais tarde, acrescentar as

batatas, as azeitonas e as curgetes.

Deixar cozer tudo e servir.

(O caldeirão substitui o «tajine», recipiente próprio em barro,

marroquino).

HariraA Sopa do Ramadão

Pôr numa panela a carne, os grãos (sem pele), as cebolas

picadas, a pimenta, metade da quantidade da manteiga, o açafrão,

o sal e a água. Deixar cozer e pôr de lado. Noutra panela, cozer as

lentilhas com um pouco de sal, reservar e regar com sumo de limão

e reservar. Ainda noutra panela, pôr os tomates pelados e moídos,

com o resto da manteiga, a calda de tomate e um pouco de água,

deixar cozer durante 15 minutos. Depois tirar do fogo, juntar a

farinha e pôr novamente ao fogo sem parar de mexer até ficar

consistente. No final, juntar na panela dos grãos e da carne, as

lentilhas, o molho de tomate já preparado, as ervas aromáticas

picadas e deixar cozer 10 minutos. Está pronto a servir.

Provérbios Árabes1- Ainda que o burro vá a Meca, nem por isso é peregrino.2- Se Maomé não vai até à montanha, vai a montanha até Maomé.3- Quem procura instrução é mais querido de Alá do que combater

numa guerra santa.4- A verdadeira mesquita é a que se constrói no fundo da alma.5-Os sábios são herdeiros dos profetas.6- O camelo é herdeiro da sua bossa.7-A palavra é de prata, mas o silêncio é de ouro.8-Pelo esterco, reconhecerás o camelo.9- 0 camelo transporta açúcar, mas come espinhos.10-Teme aquele que não teme a deus.11- Não reveles os teus segredos nem num deserto rodeado de

colinas, pois o eco poderia propagá-los.12- Faz-te pó debaixo dos passos da tua mãe, pois o paraíso estará

onde pisarem os seus pés.

Provérbios Árabes13- A esmola fecha setenta portas ao mal.

14-Contribui para purificar a tua consciência e poderás dormir até no

deserto.

15- Trabalha como se tivesses de viver sempre e come como se tivesses

de morrer amanhã.

16-O maior inimigo do homem é a sua barriga.

17- O velho deitado, avista o que o jovem em pé não vê.

18- Quando se está ameaçado de morte, fica-se contente por ser apenas

atingido pela cegueira.

19- Uma égua de raça nobre não tem vergonha do seu estrume.

20- Prende o teu burro com outros burros e ele aprenderá a zurrar.

Provérbios Árabes

21- A morte é a consolação do pobre.

22- Confia em Deus, mas amarra o teu camelo.

23- O camelo deita-se sempre nos buracos de areia onde outros

camelos se deitaram antes.

24- O camelo que caminha à frente da caravana, não se preocupa

com o que acontece atrás de si.25- A desgraça pode chegar pelo camelo, pelo condutor do camelo ou

pelo dono do camelo.

ConclusãoNo início, eu não estava muito inspirada para fazer este Tema de

Vida – “Um Mundo, Muitas Culturas”. Mas, à medida que fui

desenvolvendo o trabalho, fiquei mais motivada. Pois comecei a

lembrar-me das minhas convivências com a Cultura Muçulmana.

Então foi como se eu voltasse atrás e vivesse tudo de novo. Os

pormenores começaram a vir uns após os outros e cheguei à

conclusão que a minha memória tinha armazenado mais

informação do que eu imaginava. Completando com alguma

pesquisa na Internet, consegui atingir os objectivos que impus a

mim própria. Acabei por gostar muito deste trabalho e por achá-lo

muito interessante e proveitoso. Só espero que partilhem a minha

opinião, especialmente as pessoas a quem o dedico.

Este trabalho é dedicado:• À minha família:

– Ao meu marido Ahmed

– À minha filha Sabrina

– Ao meu filho Sami

• E aos meus formadores e mediadora:

– Margarida Barros

– Sónia Correia

– Lina Guerreiro

– Anabela Santos

– Luís Bárbara

– Armando Estrela

Bibliografia

• http://ptwikipédia.org/wiki/henna• http://ptwikipédia.org/wiki/charia• http://wwwsuapesquisa.com/islamismo

• Provérbios Árabes, de Rosa Sha, Arte Plural Edições.

• Outros textos da própria autoria