um estudo sobre gestão de documentos arquivísticos digitais (1)

Upload: alexandre-aquino-de-freitas

Post on 07-Mar-2016

230 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Analisa a gestão de documentos e atividade de arquivologia, realizando um parâmetro quanto a melhoria dos resultados operacionais das organizações, ao se terceirizar com serviços especializados na gestão de documentos.

TRANSCRIPT

  • BRENDA COUTO DE BRITO ROCCO

    Um estudo sobre gesto de documentos arquivsticos digitais na Administrao Pblica Federal brasileira

    Dissertao de mestrado Maro de 2013

  • BRENDA COUTO DE BRITO ROCCO

    UM ESTUDO SOBRE GESTO DE DOCUMENTOS ARQUIVSTICOS DIGITAIS NA ADMINISTRAO PBLICA FEDERAL BRASILEIRA

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-graduao em Cincia da Informao, convnio entre o Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia e Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Escola de Comunicao, como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Cincia da Informao.

    Orientadoras: Prof. Dr. Ana Maria Barcellos Malin

    Prof. Dr. Maria Nlida Gonzlez de Gmez

    Rio de Janeiro

    2013

  • R671e Rocco, Brenda Couto de Brito. Um estudo sobre gesto de documentos arquivsticos digitais na Administrao Pblica Federal brasileira. 2013. 130 f. : il. ; 30cm.

    Dissertao (Mestrado em Cincia da Informao) Programa de Ps-graduao em Cincia da Informao, Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Comunicao, , Rio de Janeiro, 2013. Orientadores: Ana Maria Barcellos Malin Maria Nlida Gonzlez de Gmez 1. Documentos arquivsticos digitais. 2. Administrao Pblica. 3. Gesto de documentos. I. Malin, Ana Maria Barcellos (orient.). II. Gonzlez de Gmez, Maria Nlida (orient.). III. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Escola de Comunicao. Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia. IV. Ttulo.

    CDD 025.1714

  • BRENDA COUTO DE BRITO ROCCO

    UM ESTUDO SOBRE GESTO DE DOCUMENTOS ARQUIVSTICOS DIGITAIS NA ADMINISTRAO PBLICA FEDERAL BRASILEIRA

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-graduao em Cincia da Informao, convnio entre o Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia e Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Escola de Comunicao, como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Cincia da Informao.

    Aprovada em: _____________________________

    Prof. Dr. Ana Maria Barcellos Malin, Orientadora (PPGCI IBICT/UFRJ)

    Prof. Dr. Maria Nlida Gonzlez de Gmez, Coorientadora (PPGCI IBICT/UFRJ)

    _______________________________________________________________ Prof. Dr. Jos Maria Jardim, Membro Externo

    (PPGARQ/UNIRIO) _______________________________________________________________

    Prof. Dr. Rosali Fernandez de Souza, Membro Interno (PPGCI IBICT/UFRJ)

    _______________________________________________________________

    Prof. Dr. Daniel Flores, Suplente (PPGPPC/UFSM)

  • Dedico essa dissertao:

    A minha me, Celi, e minha irm, Bianca Com todo o amor que h nesta vida

    A meu pai, Genival (in memoriam)

    Com saudades

    Ao Marcio Com todo carinho e cumplicidade

    dona Sonia

    A quem devo todo o meu lado de pesquisadora

  • AGRADECIMENTOS

    Aps muito esforo e dedicao, mais uma etapa de minha vida acadmica

    chega ao final. Graas ao apoio e carinho de muitos, essa trilha percorrida tornou-se

    mais suave, pois eu tinha em quem me apoiar. Por isso, deixo aqui meus

    agradecimentos.

    A Deus, que me forneceu sade e fora para percorrer e ultrapassar os altos

    e baixos encontrados durante o curso de ps-graduao.

    A minha me, Celi, que tanto amor me dedicou. Graas a ela, fui capaz de

    enfrentar grandes desafios e me tornar o ser humano que sou.

    A meu pai, Genival (in memoriam), que no pde estar nesse momento, mas

    que, em muitos outros, esteve ao meu lado, me confortando e puxando minhas

    orelhas quando necessrio. Tanto meu pai quanto minha me jamais desistiram de

    me incentivar a estudar e se sacrificaram muito para que eu chegasse aqui. Muito

    obrigada, meus amados pais.

    A minha irm, Bianca (Bya), a quem devo tudo! Tudo mesmo! Ela minha

    parceira, minha cmplice, minha professora, minha revisora, minha tutora, minha

    vida! Minha irm minha verdadeira alma gmea, pois ela me completa e quem

    eu posso chamar de meu dolo.

    A Marcio, meu companheiro, parceiro e calmante. Quanta pacincia ele

    demonstrou comigo nos meus momentos de loucuras durante o mestrado.

    A toda a minha famlia, que soube compreender meus momentos de

    ausncia e estresse total.

    A minha prima, Maria Carolina, pela ajuda em pleno Carnaval.

    Ao Arquivo Nacional, instituio onde trabalho, em especial Coordenao-

    Geral de Gesto de Documentos (COGED). A todos os meus companheiros

    cogedianos, pela fora e pelo apoio. Em especial ao meu Grupo de Trabalho de

    Documentos Eletrnicos, Cludia, Leonardo, Carlos Ditadi, Carolina e Jos Marcio.

    Carol e Z, muito obrigada pelos momentos de desabafo e pelos sorvetes para

    relaxar: abenoado Cirandinha!

    equipe do MAPA, em especial a Anglica Ricci e Dilma Cabral, pelo apoio

    e livros emprestados.

    A Margareth da Silva, por todo o ensinamento que me deu e pela forma que

  • me recebeu como uma filha no Arquivo Nacional.

    A minha orientadora, Prof. Dr. Ana Maria Barcellos Malin, por toda a

    instruo e a orientao que me deu. Acima de tudo, pela compreenso nos

    momentos de turbulncias que vivi nesse perodo, e por, em nenhum momento,

    desistir de mim.

    A minha coorientadora Prof. Dr. Maria Nlida Gonzlez de Gmez, que,

    apesar da agenda corrida, aceitou me auxiliar nessa pesquisa.

    Aos professores do curso, que me inspiraram em minha pesquisa e na

    vontade de ensinar e transmitir conhecimento.

    Aos colegas da Cmara Tcnica de Documentos Eletrnicos do CONARQ,

    que me acolheram bem e acreditaram em mim desde minha primeira participao,

    em 2006. Em especial a Rosely Rondinelli, Neire Martins e Daniel Flores, pela troca

    de informaes e conhecimento.

    A G. Suhett, pelo apoio, carinho e generosidade que me deu nesse perodo

    de correria e desafios.

    Aos amigos da FEIC, que muito apoio espiritual me deram, em especial ao

    Maurcio, que tanto me ajudou em minhas pesquisas.

    A Marcelo Siqueira, pelos livros emprestados e incentivo.

    A Eloi Yamaoka, pelas longas conversas e trocas de informaes. Voc

    uma pessoa de generosidade intelectual absurda. Vejo voc como fonte de

    inspirao. Agradeo tambm pelas risadas que permitiram momentos de

    descontrao.

    Aos colegas do mestrado, pela jornada que tivemos juntos. grande famlia

    e agregados, Dayo e Priscila, Ndia e Andressa. A Sandrinha e Regina. Regina,

    aprendi tanto com voc nos momentos de tietagem a Morin. Aos papos com Patrick,

    pela net, e a nossas reflexes sobre a arquivstica. A Simone Dib, pelas risadas e

    pelo estresse compartilhado.

    Agradecimentos especiais para as meninas super-poderosas, com quem

    criei fortes laos de amizade, Paulinha, Mariana e Tarcila. Paula, nossa mente

    criativa deu incio a uma grande amizade!

    A Fabiano Cataldo , amigo de boas risadas e confisses.

    Aos meus amigos da dana, em especial Marcelinho e Flavia, que me

    ajudaram com essa mgica atividade que acalma o corao.

    A todos os meus amigos, por sempre estarem prximo e compreenderem o

  • momento de conquista que configura, para mim, essa dissertao.

    E, por fim, a toda a NGF, que tanto amor, carinho e alegria compartilha

    comigo. Nossa grande famlia me ajudou muito a enfrentar um dos momentos mais

    difceis que passei durante essa caminhada.

  • Se no buscarmos o impossvel, acabamos por no

    realizar o possvel.

    (Leonardo Boff)

    A pessoa humana no pode ficar refm da

    tecnologia, nem submetida a sua lgica, mas a

    tecnologia quem deve estar a servio da promoo

    da vida humana, em suas pujantes potencialidades.

    (Valmor Bolan)

  • RESUMO

    ROCCO, Brenda Couto de Brito. Um estudo sobre gesto de documentos arquivsticos digitais na Administrao Pblica Federal brasileira. Rio de Janeiro, 2013. Dissertao (Mestrado em Cincia da Informao)- Programa de Ps-graduao em Cincia da Informao, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Comunicao, Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia, Rio de Janeiro, 2013.

    Analisa a problemtica dos documentos digitais para a gesto de documentos

    arquivsticos na Administrao Pblica Federal brasileira, tendo como ponto de

    partida um estudo sobre o uso das Tecnologias de Informao e Comunicao na

    produo e disseminao dos documentos digitais na sociedade. Esta pesquisa tem

    como objetivo analisar o desenvolvimento da gesto de documentos arquivsticos no

    Brasil e como ela tem sido aplicada no meio digital. O aumento do registro das

    informaes em documentos digitais e o direito de acesso informao conferem

    importncia cada vez maior para o estudo sobre a gesto dos documentos

    arquivsticos no Brasil, em especial no meio digital. O referencial terico buscou na

    Arquivologia, na Cincia da Informao e na Diplomtica os conceitos a partir dos

    quais os questionamentos deste texto foram apresentados. Conclui apresentando o

    cenrio atual dos documentos arquivsticos digitais no mbito da Administrao

    Pblica Federal e consideraes sobre os rumos que a gesto desses documentos

    tem tomado no Brasil.

    Palavra-chave: Documento arquivstico digital. Administrao pblica. Gesto de

    documentos.

  • ABSTRACT

    ROCCO, Brenda Couto de Brito. Um estudo sobre gesto de documentos arquivsticos digitais na Administrao Pblica Federal brasileira. Rio de Janeiro, 2013. Dissertao (Mestrado em Cincia da Informao)- Programa de Ps-graduao em Cincia da Informao, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de Comunicao, Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e Tecnologia, Rio de Janeiro, 2013. To analyze the problem of digital documents to record management in Brazilian

    Federal Public Administration, taking as its starting point a study on the use of

    Information Technologies and Communication in the production and dissemination of

    digital documents in society. This research aims to analyze the development of the

    digital record management in Brazil and how it has been applied in the digital

    medium. The increase in the recording of information into digital documents and the

    right to access information give increasing importance to study on the digital record

    management in Brazil, especially in the digital environment. The theoretical sought in

    Archival Science in Information Science and Diplomatic concepts from which the

    questions of this paper were presented. To conclude, to present the actual scenario

    about the digital archival documents within the Federal Public Administration and

    considers the directions that record management of these documents has taken in

    Brazil.

    Keyword: Digital records. Public Administration. Record management.

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .................................................................................... 13

    2 INFORMAO, DOCUMENTO E ARQUIVO .................................... 17

    2.1 INFORMAO ................................................................................... 18

    2.2 DOCUMENTO .................................................................................... 21

    2.3 ARQUIVO............................................................................................. 24

    3 DOCUMENTO ARQUIVSTICO DIGITAL .......................................... 32

    3.1 DOCUMENTO ARQUIVSTICO .......................................................... 32

    3.2 O DOCUMENTO ARQUIVSTICO DIGITAL ...................................... 44

    3.3 A PROBLEMTICA DO DOCUMENTO ARQUIVSTICO DIGITAL .... 47

    4 DIREITO DE ACESSO INFORMAO PBLICAE A GESTO

    DE DOCUMENTOS ARQUIVSTICOS DIGITAIS NO BRASIL .........

    53

    4.1 ACESSO INFORMAO NO BRASIL ............................................ 53

    4.2 A GESTO DE DOCUMENTOS ......................................................... 63

    4.2.1 A Administrao Pblica Federal brasileira ........................................ 78

    4.2.2 O sistema de gesto de documentos arquivsticos ........................... 83

    5 QUADRO NORMATIVO E AVALIAO DA GESTO DE

    DOCUMENTOS ARQUIVSTICOS DIGITAIS ....................................

    89

    5.1 QUADRO NORMATIVO ..................................................................... 89

    5.2 AVALIAO ........................................................................................ 94

    6 CONSIDERAES FINAIS ............................................................... 107

    REFERNCIAS ................................................................................. 110

    ANEXOS ............................................................................................ 121

    APNDICES 129

  • LISTA DE SIGLAS

    AN Arquivo Nacional

    APF Administrao Pblica Federal

    CI Cincia da Informao

    ICA International Council of Archives / Conselho Internacional de Arquivos

    Conarq Conselho Nacional de Arquivos

    CPD Centro de Processamento de Dados

    CTDE Cmara Tcnica de Documentos Eletrnicos

    DBTA Dicionrio Brasileiro de Terminologia Arquivstica

    GDA Gesto de Documentos Arquivsticos

    InterPARES International Research on Permanent Authentic Records in Electronic Systems

    LAI Lei de Acesso Informao

    PC Computador Pessoal

    SIGA Sistema de Gesto de Documentos de Arquivos, da Administrao Pblica Federal

    SIGAD Sistema Informatizado de Gesto Arquivstica de Documentos

    TIC Tecnologia da Informao e Comunicao

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Resumo dos 5 marcos dos arquivos 27

    Quadro 2 Sequncia cronolgica 1930-1980 dos principais acontecimentos que influenciaram a teoria e prtica arquivstica

    28

    Quadro 3 Conceito de documentos arquivsticos 35

    Quadro 4 Pesquisa para identificar caractersticas dos documentos

    arquivsticos

    39

    Quadro 5 Elementos constituintes do documento arquivstico 42

    Quadro 6 Marcos das TICs de 1900 at 1980 45

    Quadro 7 Principais vantagens e desvantagens do documento em meio

    digital

    48

    Quadro 8 Ilustrao de variabilidade limitada 51

    Quadro 9 Apontamentos constitucionais sobre acesso informao 1934 a 1967

    55

    Quadro 10 Histrico da legislao de acesso informao 57

    Quadro 11 Sumrio da legislao relativa Gesto de documentos arquivsticos di0gitais no mbito da APF brasileira

    89

  • 13

    1 INTRODUO

    Nessa perspectiva do uso dos arquivos para defesa dos direitos humanos, a abertura da informao que existe nos arquivos deveria ser maior, porquanto um dos temas fundamentais em toda a reivindicao sobre o papel dos arquivos na defesa dos direitos humanos o conhecimento da verdade, o conhecimento do passado, o direito de saber dos cidados, o direito de saber das coletividades (QUINTANA, 2011, p.8).

    Uma nova realidade bateu porta da civilizao, em meados do sculo XX:

    a difuso das denominadas Tecnologias da Informao e Comunicao (TICs), que

    culminou em mudanas significativas na forma de comunicao dos homens, assim

    como na forma de registrar as informaes. Os registros que eram feitos de forma

    analgica, principalmente, em suporte papel, passaram a ser feitos em meio digital.

    O meio digital impulsiona a rapidez na produo e transmisso das

    informaes na atualidade.

    Tais informaes podem se apresentar registradas em documentos

    arquivsticos digitais.

    A presente pesquisa surgiu da necessidade de analisar como os rgos da

    Administrao Pblica Federal (APF)1 esto se preparando, por meio da Gesto de

    Documentos Arquivsticos (GDA)2, para atender a demanda de acesso aos

    documentos digitais. O Tema mostra-se relevante frente aprovao da Lei de

    Acesso Informao (LAI), lei n 12.527, de 18 de novembro de 2011, que regula o

    acesso informao pblica previsto na Constituio da Repblica Federativa do

    Brasil (1988).

    Partiu-se da hiptese de que para a produo e manuteno de documentos

    arquivsticos digitais necessria a implementao de procedimentos de gesto

    arquivstica por parte da APF. Questionou-se, tambm, se a ausncia destas

    condies pode por em risco o direito do acesso informao, pois compromete os

    documentos que as registram.

    A gesto arquivstica de documentos ameniza tais riscos, por meio de seus

    procedimentos e operaes tcnicas que abrange os documentos em fase corrente

    e intermediria, at a destinao final, seja a eliminao ou o recolhimento para

    1 O termo Administrao Pblica utilizado nesse trabalho como sinnimo de Poder Executivo Federal, salvo referncia contrria explicita. 2 Gesto de documentos do ingls records management.

  • 14

    guarda permanente.

    Para conceituar documento arquivstico digital, foi feita uma reviso da

    literatura em textos e artigos que tratam dos seus diferentes enfoques e, das

    relaes e fronteiras com os conceitos de informao, documentos e arquivos

    Durante a reviso deparou-se com um problema terminolgico que mereceu

    ateno para o desenvolvimento da pesquisa: o conceito de Arquivo. Heredia

    Herrera (1991) j apontava a dificuldade em torno desse conceito devido aos

    diversos entendimentos do termo. Arquivo, segundo definio do Dicionrio

    Brasileiro de Terminologia Arquivstica (DBTA) apresenta quatro acepes, a saber:

    1 Conjunto de documentos produzidos e acumulados por uma entidade coletiva, pblica ou privada, pessoa ou famlia, no desempenho de suas atividades, independentemente da natureza do suporte. Ver tambm fundo. 2 Instituio ou servio que tem por finalidade a custdia, o processamento tcnico, a conservao e o acesso a documentos. 3 Instalaes onde funcionam arquivos. 4 Mvel destinado guarda de documentos (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.27).

    Foram utilizadas as concepes 1 e 2 expostas acima, referindo-se

    arquivo como conjunto de documentos, e instituies arquivsticas para

    denominar os responsveis pela custdia, processamento tcnico, conservao e

    acesso aos documentos.

    Tendo como base a fundamentao de que arquivo o conjunto de

    documentos produzidos ou recebidos por uma pessoa fsica ou jurdica no decorrer

    de suas atividades, a fim de registrar ou apoiar uma ao, e que os mesmos devem

    ser autnticos e confiveis, esta pesquisa pretende compreender como A APF

    brasileira deve tratar tais documentos produzidos, tramitados e armazenados em

    meio digital.

    Foram descritas e analisadas as caractersticas e especificidades dos

    documentos arquivsticos digitais, objeto dessa pesquisa, com o intuito de identific-

    los e levantar as principais questes a serem observadas pela APF orientando-a no

    tratamento desses.

    Partiu-se do pressuposto da existncia de uma relao entre o direito de

    acesso informao, resguardado por lei, e o documento arquivstico digital, que

    registra as informaes produzidas pelo Estado.

    Averiguou-se os padres/resolues existentes no Brasil voltados gesto

  • 15

    de documentao arquivstica digital no mbito da APF. Alm disso, foram

    mapeadas e estudadas as iniciativas do Sistema de Gesto de Documentos de

    Arquivo SIGA, da Administrao Pblica Federal, no que tange o universo digital.

    O primeiro captulo da pesquisa foi direcionado introduo explicitando

    seus objetivos, hiptese e metodologias.

    O segundo captulo tratou de conceitos diretamente relacionados aos

    documentos arquivsticos digitais: informao, documento e arquivo. Fez-se um

    levantamento das abordagens histricas de tais conceitos utilizando autores de duas

    reas do conhecimento: Arquivologia e Cincia da Informao (CI) visto serem as

    reas onde esta pesquisa se situa. Salientou-se a informao como um conceito

    mais amplo; os documentos como a forma de registrar tais informaes e, por ltimo

    os arquivos como o conjunto desses documentos.

    O terceiro captulo dedicou-se a arrolar e analisar o documento arquivstico a

    fim de conceituar o documento arquivstico digital. Recorreu-se Diplomtica, para

    identificar as caractersticas e especificidades de tais documentos. Faz-se um breve

    histrico do desenvolvimento das TICs, a fim de compreender como esta foi

    incorporada no ambiente institucional e utilizada na produo de documento. Por

    ltimo, nesse captulo, foram elencados os problemas a serem enfrentados em

    decorrncia da produo, tramitao e armazenamento documental em ambiente

    digital.

    No quarto captulo explorada a relao existente entre o acesso

    informao e a gesto de documentos arquivsticos. Em um primeiro momento foi

    estudado o direito de acesso informao no Brasil, nas constituies do perodo de

    1900-1988, e a legislao referente a tal direito promulgada do perodo de 1900 at

    os dias atuais. O segundo passo dado nesse captulo foi o estudo da gesto de

    documentos arquivsticos, seu surgimento, seu desenvolvimento, sua base e sua

    consagrao, especialmente no Brasil.

    A fim de refinar os estudos, abordou-se a formao e composio da APF

    brasileira, e do sistema de gesto de documentos no mbito da mesma.

    No quinto captulo, traou-se um quadro normativo sobre a gesto de

    documentos arquivsticos na APF, bem como a avaliao do SIGA em relao a tal

    temtica. Realizou-se o levantamento da legislao arquivstica brasileira

    relacionada gesto de documentos arquivsticos analisando sua aplicabilidade aos

    documentos no meio digital.

  • 16

    Aps essa etapa foram realizadas entrevistas no mbito das Subcomisses

    de Coordenao do SIGA dos Ministrios e rgos Equivalentes visando avaliar a

    situao atual do SIGA em relao gesto de documentos arquivsticos digitais.

    No sexto captulo encontram-se as consideraes finais. Em seguida,

    apresentam-se as referncias utilizadas para a construo do texto e os anexos.

  • 17

    2 INFORMAO, DOCUMENTO E ARQUIVO

    Desde seus primrdios, o homem tem a necessidade de comunicar o que

    acontece de diversas maneiras, seja por meio da comunicao oral, seja por meio

    de sinais, signos, desenhos em pedra ou paredes, papis, sons, registros

    fotogrficos e, recentemente, por meio de aparatos digitais, via computadores

    pessoais e celulares. Para Rondinelli (2011, p.26), em geral, tais registros so

    entendidos como documentos, ou, mais recentemente, como informao.

    As informaes podem estar registradas em diversos tipos de documentos,

    sejam eles biblioteconmicos, museolgicos ou arquivsticos. O objeto desta

    pesquisa justamente a informao registrada nesses ltimos, no sendo tratados

    aqui os outros tipos.

    Documentos so produzidos em diferentes situaes e por diferentes

    pessoas; dado esse fato, surge a necessidade de identificao desses documentos,

    para que possam ser tratados de maneira correta, viabilizando o acesso eles

    sempre que se fizer necessrio.

    Neste sentido, torna-se crucial uma reflexo sobre o objeto dos arquivos: o

    documento arquivstico. Para tanto, importante o esclarecimento prvio dos

    conceitos de informao e documento. No ser tratado, neste estudo, o conceito

    de informao arquivstica, pois a presente pesquisa concorda com a viso de

    autores da Arquivologia, como Heredia Herrera (1983) e Duranti (1994), ao

    considerar o saber arquivstico essencialmente estruturado em torno dos

    documentos.

    Visando a caracterizar os conceitos citados, optou-se por restringir a reviso

    de literatura a textos das reas de Cincia da Informao e Arquivologia, por se

    tratarem das reas abarcadas pela presente pesquisa. Dado o fato de muitos

    autores j terem apresentado pesquisas exaustivas sobre o tema, destacando-se a

    tese de Rondinelli defendida em 2011, no se pretende esgotar, aqui, as vrias

    acepes dos conceitos informao e documento, mas to-somente apresentar

    como sero utilizados neste estudo.

    Para estudar um determinado conceito, h que se compreender que esse

    to dinmico quanto tudo o que o rodeia: o contexto, a rea em que ele estudado,

  • 18

    o perodo, o pesquisador, e vrios outros agentes intrnsecos ou extrnsecos que

    interferem na definio do conceito. Para Tlamo, conceito :

    [...] um conjunto de propriedades - traos ou caractersticas - que no s representam os estados de mundo, discriminando-os, mas tambm permitem elaborar redes conceituais segundo o trao considerado. justamente esta possibilidade de estabelecimento de inmeras relaes entre os traos que leva um mesmo conceito a integrar diferentes contextos, expressando variaes de significado (TLAMO, 2004, p.6).

    2.1 INFORMAO

    O termo informao vastamente utilizado em diversas reas do

    conhecimento e, portanto, recebe significados relacionados ao contexto em que

    est inserido.

    A partir da dcada de 1970, a noo de informao, bem como os termos que a representam, toma vulto, seja na constituio dos discursos, seja na criao de disciplinas especficas. Acredita-se mesmo que a sua expanso represente, na sociedade ocidental, um dos maiores sucessos de uma palavra no sculo XX. A utilizao recorrente da palavra gerou, como natural, uma variao conceitual. Assim, fala-se do conceito de informao em diferentes reas do conhecimento [...] (CINTRA et al, 2002, p.20).

    Para Lancaster:

    Informao uma palavra usada com frequncia no linguajar quotidiano e a maior parte das pessoas que a usam pensam que sabem o que ela significa. No entanto, extremamente difcil definir informao, e at mesmo obter consenso sobre como deveria ser definida. O fato , naturalmente, que informao significa coisas diferentes para pessoas diferentes. (LANCASTER, 1989, p.1)

    E Capurro e Hjorland corroboram com essa viso ao afirmar: Atualmente,

    quase toda disciplina cientfica usa o conceito de informao dentro de seu prprio

    contexto e com relao a fenmenos especficos. (CAPURRO; HJORLAND,2007,

    p.160).

    Para Cardoso:

  • 19

    O termo cujo uso remonta Antiguidade [...] sofreu, ao longo da histria, tantas modificaes em sua acepo, que na atualidade seu sentido est carregado de ambiguidade: confundido frequentemente com comunicao, outras tantas com dado, em menor intensidade com instruo, mais recentemente com conhecimento. (CARDOSO, 1996, p. 71)

    No mbito da CI, a definio mais comumente utilizada a de Belkin e

    Robertson (1976, p.198), para quem informao o que capaz de transformar

    estruturas. Por se tratar de uma definio ampla e no atender aos propsitos desta

    pesquisa no que tange relao com os documentos, buscar-se- refinar um pouco

    mais essa definio.

    Etimologicamente, a palavra informao tem razes latinas (informatio)

    (CAPURRO; HJORLAND, 2007, p.155) e significa dar forma, ou aparncia, pr em

    forma, formar (ZEMAN, 1970, p.179). Apesar de sucintas, tais definies so o

    mago do que, at hoje, se entende por informao: a ligao direta com o ato de

    formar, de fazer conhecer e de comunicar. A informao sempre fluxo e para o

    sujeito ela funciona como troca com o mundo exterior, o que lhe confere seu

    carter social (TLAMO, 2004, p.2).

    Silva amplia a definio de informao ao acrescentar a questo do contexto

    e do suporte que a engloba:

    [...] entendemos por informao (humana e social) o conjunto estruturado de representaes codificadas (smbolos, significantes) socialmente contextualizadas e passveis de serem registradas num qualquer suporte material (papel, filme, disco magntico, ptico, etc.) e/ou comunicadas em tempos e espaos diferentes. (SILVA, 1999, p. 20)

    Observa-se que o entendimento de informao est relacionado a questes

    como significado, comunicao e transmisso, ou seja, uma informao objetiva e

    materializada que necessita ser registrada, visto que:

    [...] a informao deve ser ordenada, estruturada ou contida de alguma forma, seno permanecer amorfa e inutilizvel. [...] A informao deve ser representada para ns de alguma forma, e transmitida por algum tipo de canal. [...] a informao documentria pode estar contida em qualquer coisa que uma pessoa escreva, componha, imprima, desenhe ou transmita por meios similares. (MCGARRY, 1999, p.11)

  • 20

    A relao da informao com seu registro em um suporte, seja esse qual for,

    visando posterioridade, segue ao encontro do que afirma Zeman:

    A Informao [...] a qualidade da realidade material a ser organizada [...] e sua capacidade de organizar, de classificar em sistema, de criar [...] , juntamente com o espao, o tempo e o movimento, uma outra forma fundamental de existncia da matria. (ZEMAN, 1970, p. 167)

    No mbito da Arquivologia, muitas das definies de informao possuem

    ligao com a ideia de documento, como apresentado no Dicionrio Brasileiro de

    Terminologia Arquivstica (DBTA), principal dicionrio terminolgico brasileiro da

    rea, em que a informao vista como elemento referencial, noo, ideia ou

    mensagem contidos num documento. (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.107)

    O entendimento da relao entre informao e suporte explicitado por

    diversos autores da rea. Dentre esses, Oliveira, em sua dissertao:

    Entendemos informao dentro de uma perspectiva arquivstica como uma representao registrada a partir de sua insero em contexto administrativo de uma entidade coletiva ou de vida de uma pessoa ou famlia passvel de organizao, tratamento, preservao, contextualizao e comunicao, e como recurso para gerao de conhecimento ou para o processo de tomada de decises, podendo ser utilizada por multiusurios e produzir vrios sentidos. (OLIVEIRA, 2006, p. 31)

    Ainda apontando a relao da informao com seu registro, Camargo (1994,

    p.34) apresenta informao como todo e qualquer elemento referencial contido

    num documento, indo ao encontro da definio de Silva e Ribeiro, que afirmam ser

    a informao um:

    Conjunto estruturado de representaes mentais codificadas (smbolos significantes) socialmente contextualizados e passveis de serem registradas em qualquer suporte material (papel, filme, banda magntica, disco compacto, etc.) e, portanto, comunicados de forma assncrona e multidirecionada. (SILVA; RIVEIRO, 2002, p. 37)

    Com as definies apresentadas at o momento, pode-se inferir que a

    informao tida como uma representao que necessita estar estruturada,

    codificada e registrada, para ser capaz de comunicar. Tal ideia expressa tambm

  • 21

    pelo artigo 4 da Lei n. 12.5273, em que se define informao como [...] dados,

    processados ou no, que podem ser utilizados para produo e transmisso de

    conhecimento, contidos em qualquer meio, suporte ou formato.

    As concepes de informao apresentadas anteriormente esto

    relacionadas aos documentos que servem como meio para registr-la. Nesse

    sentido ela se apresenta como um conceito mais amplo que o de documento.

    2.2 DOCUMENTO

    Com frequncia, documento4 entendido como toda informao

    registrada. Essa definio, no entanto, no suficiente para conceituar tal objeto

    que apresenta caractersticas e utilizaes prprias. consensual, entre os

    estudiosos, que a origem etimolgica do termo documento remonta ao verbo

    docere, com o significado de ensinar ou instruir.

    O ato de documentar surge como uma resposta s necessidades do homem

    de manter registrados acontecimentos e experincias vivenciadas. Exemplos disso

    so as pinturas encontradas em cavernas datadas de longas pocas, nas quais se

    retratavam caas, colheitas, rituais, etc. Essas pinturas nas paredes podem ser

    consideradas os primrdios dos documentos.

    Os registros documentais visavam manter as informaes disponveis para

    que servissem de orientao s aes futuras, de testemunhos, alm de

    resguardarem direitos. Como a prpria histria da humanidade, o documento sofreu

    variaes em seu significado ao longo do tempo: ora esse era ligado ao ensino de

    valores morais, cincia, religio, ora ao Estado ou aos direitos dos cidados.

    Le Goff expressa o entendimento de documento utilizado nessa pesquisa:

    O termo latino documentum, derivado de docere ensinar, evoluiu para o significado de prova e amplamente usado no vocabulrio legislativo. no sculo XVII que se difunde, na linguagem jurdica francesa, a expresso

    3 Lei n. 12.527, DE 18 DE NOVEMBRO DE 2011. "Regula o acesso a informaes previsto no inciso XXXIII do art. 5, no inciso II do 3 do art. 37 e no 2 do art. 216 da Constituio Federal; altera a Lei n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei n. 11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei n. 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e d outras providncias. 4 No artigo 4, da Lei n. 12.527, documento visto como a unidade de registro de informaes, qualquer que seja o suporte ou formato; tal afirmao explicita a relao direta entre documento e informao, fazendo necessrio, neste momento, tornar claro o que se entende por documento.

  • 22

    titres et documents, e o sentido moderno de testemunho histrico data apenas do incio do sculo XIX. (LE GOFF, 1984, p.95)

    A ligao do documento aos testemunhos e s provas est relacionada sua

    gnese, como a necessidade de registrar informaes para a posterioridade. Briet

    (1951, p.7) demonstra tal ligao ao elucidar documento como: [...] todo ndice

    concreto ou simblico, conservado ou registrado com a finalidade de representar,

    reconstruir ou demonstrar um fenmeno fsico ou intelectual.

    O carter testemunhal dos documentos tambm abordado na Diplomtica,

    que, por ter se desenvolvido rumo gnese documental, aproxima-se da

    Arquivstica como auxiliar no desenvolvimento de alguns de seus princpios e como

    mecanismo primordial para o entendimento dos conjuntos orgnicos documentais.

    Duranti, uma das pesquisadoras que mais relaciona os princpios da

    Diplomtica ao da Arquivstica, estuda o documento, suas caractersticas e seus

    objetivos. Em um de seus estudos, a autora indaga sobre tal conceito:

    O que um documento? Tradicionalmente o termo se refere a muitas fontes de evidncia. Ento necessitamos especificar que a Diplomtica estuda o documento escrito, ou seja, a evidncia que se produz sobre um suporte (papel, fita magntica, disco, folha, etc.) por meio de um instrumento de escrita: lpis, caneta, mquina de escrever, impressora, etc.) ou de um aparato que grave imagens, dados e/ou vozes. O adjetivo escrito no se usa em Diplomtica em um sentido de ato por si (escrito, riscado, desenhado ou registrado), mas sim de uma forma que se relaciona com o propsito e o resultado intelectual do ato de escrever, esta a expresso de ideia de uma forma que tanto objetivada (documentrio) e sinttica (sujeito a regras de ordenao) (DURANTI, 1996, p.17, traduo nossa)

    Observando atentamente o conceito apresentado pela autora, nota-se que

    tal definio salienta algumas restries, pois associa o documento apenas ao

    formato escrito, ignorando outros gneros documentais como os sonoros,

    iconogrficos, audiovisuais, entre outros. Mais adiante, Duranti e Preston (2008,

    p.811) ampliam o conceito de documento ao defini-lo como: Uma unidade indivisvel

    de informao constituda por uma mensagem fixada num suporte (registrada) com

    uma sinttica estvel. Um documento tem forma fixa e contedo estvel. Esses

    conceitos sero analisados no prximo captulo.

    Um entendimento mais sucinto de documento pode ser visto na afirmao

  • 23

    de Camargo e Belloto (1996, p.28), que o conceituam como unidade constituda

    pela informao (1) e seu suporte, e, no mesmo sentido, caminha a definio

    disponvel no DBTA (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.73), que aponta documento

    como unidade de registro de informaes, qualquer que seja o suporte e o formato.

    Em ambas as definies, fica explcita uma importante caracterstica dos

    documentos: a necessidade de um suporte, seja ele qual for papel, pelcula, fita

    magntica, entre outros. Alguns autores avanam um pouco mais na compreenso

    de documento, afirmando que, para o seu entendimento, necessrio olhar alm,

    analisar outros aspectos, como os apresentados por Buckland, que argumenta a

    existncia, no documento, de:

    [...] trs pressupostos fundamentais: a materialidade (decorrente do registro), a intencionalidade (que lhe conferir valor evidencial ou probatrio, em diferentes nveis) e o tratamento (como forma de garantir sua inteligibilidade e sua socializao). (BUCKLAND apud GUIMARES, 2008, p.35)

    Numa explanao sobre o sentido amplo de documento, Rondinelli (2011,

    p.48) cita o proposto por Herrera, que expe a necessidade do suporte, alm de

    enfatizar sua caracterstica de transmitir conhecimento.

    Documento, em um sentido muito amplo e genrico, todo registro de informao, independentemente de seu suporte fsico. Abarca tudo o que pode transmitir o conhecimento humano: livros, revistas, fotografias, filmes, microfilmes [...], mapas [...], fitas gravadas, discos, partituras [...], selos, medalhas, quadros [...] e, de maneira geral, tudo o que tenha um carter representativo nas trs dimenses e que esteja submetido interveno de uma inteligncia ordenadora. (HEREDIA HERRERA, 1991 apud RONDINELLI, 2011 p. 48)

    Diante do exposto pelos autores, tanto da rea de Cincia da Informao

    quanto da rea de Arquivologia, nota-se a relao direta entre informao e

    documento, na qual esse nada mais seria que o registro daquela em um suporte. A

    necessidade crescente da produo documental d-se, sem dvida, pelo aumento

    da produo informacional, sua circulao e a necessidade de seu registro. Numa

    sociedade em que a informao estratgica, tornam-se tambm estratgicos a

    identificao e o tratamento dos documentos nos quais ela se encontra registrada.

  • 24

    As diversas concepes de documentos analisadas na presente pesquisa

    levam concluso de que o documento toda informao registrada em um

    suporte, independentemente de qual seja, devendo possuir forma fixa e

    contedo estvel. Ele utilizado, principalmente, para registrar e comunicar

    informaes, com o intuito de ensino/aprendizagem e/ou de servir de

    testemunho de atos e fatos.

    2.3 ARQUIVO

    Neste captulo, pretende-se debater sobre o conceito do arquivo como um

    conjunto de documentos. Rousso apresenta uma definio instigante ao afirmar que:

    Escrito, oral ou filmado, o arquivo sempre produto de uma linguagem prpria, que emana de indivduos singulares ainda que possa exprimir o ponto de vista de um coletivo (administrao, empresa, partido poltico etc.). Ora, claro que essa lngua e essa escrita devem ser decodificadas e analisadas. (ROUSSO, 1996, p. 4)

    Pensar o arquivo em sua acepo natural, que se confunde com o prprio

    surgimento da escrita, nos leva a perceber que o homem apresentou a necessidade

    em deixar registradas as informaes, os acontecimentos, os fatos e sentimentos

    que o cercavam. A escrita ocupou um espao de destaque na sociedade com a

    inveno da imprensa, visto que, a partir da, as informaes passaram a ser

    transmitidas a um maior nmero de pessoas em um curto espao de tempo.

    Ao se analisar a literatura arquivstica, observa-se a existncia de um

    consenso em relao ao surgimento dos arquivos, uma vez que a maioria dos

    autores da rea defende que esses surgiram na Antiguidade, em decorrncia da

    necessidade de manter os registros das aes reais, eclesisticas e de toda vida

    pblica e privada dos povos antigos.

    Segundo alguns estudiosos, o termo arquivo teria surgido na Grcia, entre

    os sculos III e II a.C., e seria oriundo da palavra arch, nome conferido ao palcio

    dos magistrados e que, mais tarde, evoluiria para o termo de origem latina archeion

    ou archivum, significando depsito de documentos, isto , seu local de guarda.

    Observando tais definies, pode-se identificar o principal aspecto inerente

    aos arquivos daquela poca: a sua relao direta com os governos e as classes

  • 25

    dominantes ao manter, nos acervos, informaes que resguardavam seus direitos e

    poderes.

    [...] a mais antiga transcrio da memria foi constituda por documentos correntes cujo modo de gesto, que, por vezes, se perpetuou durante muito tempo, atingiu uma perfeio requintada nas civilizaes do Oriente Prximo, da Grcia e de Roma. Os documentos eram produzidos e conservados para as necessidades do governo e da administrao; a gesto do poder e a gesto de documentos estavam estreitamente ligadas por toda a parte (LODOLINI apud SOUSA, 2007, p.97).

    Na Idade Mdia, a relao do arquivo com o poder explicitada por meio

    dos documentos predominantes daquela poca. So eles: os diplomas e as cartas

    que registravam informaes ligadas aos privilgios reais, seus direitos, bem como

    os da nobreza. Naquele momento os arquivos garantiam os direitos da classe

    dominante, no atingindo a maior parte da populao.

    Esta forma de arquivo permaneceu at final do sculo XVIII, tendo como

    quebra de paradigma a Revoluo Francesa e seus ideais, que procuravam

    estabelecer e garantir o direito da sociedade como um todo. Nesse momento, ficou

    clara a importncia dos documentos como forma de registro de tais direitos.

    Essas inovaes intelectuais culminaram com a Revoluo Francesa, que, sob a lei promulgada no 7 Messidor year II (25 de junho de 1794), proclamou que os documentos dos arquivos nacionais o que significa, de acordo com a terminologia da poca, os arquivos pertencentes Nao, incluindo governamentais, administrativos, judicirios e arquivos eclesisticos deveriam ser livremente acessveis, sem custo, a todos os "cidados" solicitantes desses servios. (DUCHEIN, 1993, p.3, traduo nossa)5.

    Diante dessas mudanas de perspectivas em relao aos documentos ps-

    Revoluo Francesa, conforme apresentado no trabalho de Duchein, surgiram

    caractersticas do arquivo, como a independncia dos arquivos, a responsabilidade

    que o Estado passa a ter pela manuteno dos documentos e a Proclamao dos

    direito de acesso aos arquivos para todos os cidados. Cabe ressaltar, porm, que

    nesse momento histrico conforme alerta Souza, o direito de acesso no era to

    5 Original em ingls: These intellectual innovations culminated with the French Revolution, which, under the law enacted on 7 Messidor year II (25 June 1794), proclaimed that documents from the 'national archives'--which means, according to the terminology of the times, the archives belonging to the Nation, including governmental, administrative, judiciary and ecclesiastical archives-- were to be accessible freely and without costto all 'citizens' requesting such services. (DUCHEIN, 1993, p.3)

  • 26

    livre assim.

    [...] a passagem do princpio do segredo ao princpio da liberdade total foi efmera. Em 1856, na Frana, mesmo o regulamento dos arquivos nacionais determinou que o diretor, considerando a convenincia administrativa, era quem autorizaria ou recusaria o acesso aos documentos (SOUZA, 2008, p.99).

    A problemtica do acesso aos arquivos, at hoje, objeto de estudo, uma vez

    que, na atualidade, est em voga a questo do direito de acesso informao em

    diversos pases, incluindo o Brasil. Esse tema destaca-se em consequncia da

    concretizao dos direitos civis, sociais e polticos, alm da governana e

    transparncia dos atos do Estado junto populao.

    Com base em Rondinelli (2004), foi elaborado o quadro 1, com a finalidade de

    apontar os cinco principais marcos que influenciaram diretamente no

    desenvolvimento do conceito dos arquivos.

  • 27

    1 marco

    1789

    2 marco

    1821

    3 marco

    1841

    4 marco

    ps 1945

    5 marco

    1980

    Criao do Arquivo Nacional da Frana

    Criao da cole National ds Chartes,

    Frana

    Organizao dos Documentos Pblicos por fundos - Natalis Du Wailli, Frana

    Exploso Documental - Ps II Guerra

    Mundial

    Produo de Documentos Eletrnicos

    Reconhecimento da importncia dos documentos

    Transformao da Arquivologia em cincia

    auxiliar da Histria

    Responsabilidade do Estado na guarda e conservao dos documentos

    Desperta o interesse pelo valor "histrico" dos

    documentos

    "Abertura" do acesso aos arquivos pblicos

    1898 - Manual dos Arquivistas Holandeses

    Surgimento da Gesto de Documentos

    Gerenciamento eletrnico de documentos

    Surgimento do Princpio da Provenincia

    Reconhecimento do carter administrativo

    dos documentos

    Produo de documentos em meio

    digital

    Surgimento do Princpio de Respeito aos Fundos

    Aumento da produo documental

    Quebra de paradigmas na produo documental

    Quadro 1: RESUMO DOS 5 MARCOS DOS ARQUIVOS

    Fonte: A autora, baseado em Rondinelli (2004)

  • 28

    Para o entendimento do conceito de arquivos, ser feita uma viagem

    histrica, j que, como tantos outros conceitos, ele sofreu influncias do tempo e do

    espao ao acompanhar o dinamismo da prpria sociedade.

    Apresenta-se, no quadro 2, o resumo cronolgico dos principais fatos que

    influenciaram no desenvolvimento das teorias e prticas arquivsticas e no

    entendimento do conceito de arquivos. Este resumo possibilitar uma viso geral

    das mudanas ocorridas na rea, permitindo fazer um paralelo com as diversas

    definies de arquivo que viro a seguir.

    Cabe esclarecer que tal cronologia foi baseada no estudo de Silva (1999),

    que realizou um apanhado dos principais acontecimentos na rea da Arquivologia

    europeia e norte-americana, entre as dcadas de 1930 e 19806.

    Quadro 2: Sequncia cronolgica 1930-1980 dos principais acontecimentos que influenciaram a teoria e prtica arquivstica.

    Dcadas Acontecimentos

    1930

    Primrdios de uma proposta de unificao da terminologia arquivstica;

    Racionalizao das atividades dos Arquivos (Frana e Alemanha) Preocupao com a avaliao de documentos

    Predomnio da arquivologia tecnicista

    1940

    Exploso documental Preocupao com a grande massa documental e o acesso a ela Uso dos conceitos de recordgroup e records management (EUA)

    Os Arquivos se vinculam administrao

    1950 Criao do Conselho Internacional de Arquivos CIA, no mbito da UNESCO Publicao Arquivos modernos: princpios e tcnicas, de Theodore Schellenberg

    1960

    Aprofundamento e especializao do conhecimento tcnico arquivstico Debates sobre o objeto dos Arquivos

    Estudos sobre as diferenas e semelhanas entre Arquivos, Bibliotecas e Museus. Discusses sobre os mtodos de classificao

    Ainda o predomnio da prtica e da tcnica na arquivstica

    1970

    Criao do Programa Geral de Informao PGI, da Unesco Desenvolvimento do RAMP Records Archives Management Programa do Conselho Internacional de Arquivos Discusses tericas e desenvolvimento cientfico da Arquivologia, especialmente nos EUA e Canad Publicao do texto: Le Respect ds fonds en Archivistique: prncipes thoriques et problmes pratiques, de Michel Duchein Publicao do texto de Michael Cook: Archives, administration: a manual for

    6 Optou-se, aqui, pelo recorte feito por Silva (1999), pois acredita-se que o perodo proposto apresenta as principais influncias da Arquivstica brasileira.

  • 29

    intermediate and smaller organization and for local government

    Inicia-se o estudo dos documentos eletrnicos, tendo como principal estudioso Charles Dollar

    1980

    Viso sistmica dos arquivos Preocupao com a normalizao arquivstica

    Aparecimento de novos suportes, entre eles os digitais. Utilizao de tecnologias emergentes no registro das informaes Estudos do impacto da informtica e dos documentos eletrnicos nos Arquivos

    Autores que se destacam no estudo dos Arquivos e os documentos digitais: Terry Cook, Luciana Duranti, Jean-Yves Rousseau, Carol Couture e Terry Eastwood, Antonia Heredia Herrera e Vicenta Corts Alonso.

    Fonte: A autora, sintetizando estudo realizado por Silva em 1999. Ainda nos dias atuais, o conceito de arquivo objeto de estudo no meio

    arquivstico, em virtude dos diversos entendimentos de sua formao, sua

    responsabilidade, sua abrangncia legal e, sobretudo, seu objeto. Embora o

    presente trabalho no tenha a inteno de aprofundar tais aspectos, cabe, neste

    momento da discusso, apontar as principais definies de arquivo.

    Destaca-se, como principal definio de arquivo, aquela relacionada ao

    pensamento dos fundadores da teoria arquivstica, apresentada no Manual de

    Arquivologia (Frana)7, segundo o qual arquivo o conjunto de documentos, de

    qualquer natureza, que qualquer corpo administrativo, qualquer pessoa fsica ou

    jurdica tenha automtica e organicamente reunido, em razo mesmo de suas

    funes e atividades (1970, p. 23 apud FONSECA, 1998, p.33).

    Nessa definio, alguns aspectos fundamentais do arquivo so

    apresentados: sua formao por documentos independente da natureza, sejam

    pblicos ou privados; o carter orgnico de seu acervo; e sua constituio por

    documentos que apoiam e/ou registram as atividades de seu produtor.

    A definio apresentada no Manual dos Arquivistas Holandeses corrobora

    com tais caractersticas, alm de acrescentar o suporte dos documentos:

    Arquivo o conjunto de documentos escritos, desenhos e material impresso, recebidos ou produzidos oficialmente por determinado rgo administrativo ou por um de seus funcionrios, na medida em que tais documentos se destinavam a permanecer na custdia desse rgo ou funcionrio. (ASSOCIAO DOS ARQUIVISTAS HOLANDESES, 1973, p.13)

    7 Manual de Arquivologia publicado pela Direo dos Arquivos de Frana, em conjunto com a Associao dos Arquivistas Franceses.

  • 30

    O Dicionrio Internacional de Terminologia Arquivstica (1984, p.25) vai

    alm e aponta que o arquivo constitudo de documentos em diversos suportes, ao

    afirmar que:

    Arquivo o conjunto de documentos quaisquer que sejam suas datas, suas formas ou seus suportes materiais, produzidos ou recebidos por pessoas fsicas ou jurdicas de direito pblico ou privado, no desempenho de suas atividades.

    O conceito de arquivo que esteve presente na literatura arquivstica

    brasileira por muitas dcadas, de acordo com Paes (1991, p.4), foi definida por

    Slon Buck8, que apresenta o arquivo como: [...] o conjunto de documentos

    oficialmente produzidos e recebidos por um governo, organizao ou firma, no

    decorrer de suas atividades, arquivados e conservados por si e seus sucessores

    para efeitos. Uma das definies mais tradicionais a defendida por

    Schellenberg, que se tornou um clssico no meio da Arquivstica. Ele definiu arquivo

    como sendo:

    Documentos de qualquer instituio pblica ou privada que hajam sido considerados de valor, merecendo preservao permanente para fins de referncia e de pesquisa e que hajam sido depositados ou selecionados para depsito num arquivo de custdia permanente. (SCHELLENBERG, 2002, p.41)

    Paes apresentou seu prprio entendimento de arquivo, destacando algumas

    caractersticas citadas nas definies clssicas, como o suporte e a produo

    natural dos documentos no dia-a-dia de seus produtores, registrando suas

    atividades e apoiando suas decises.

    [...] acumulao ordenada de documentos, em sua maioria, textuais, criados por uma instituio ou pessoa, no curso de sua atividade, e preservados para a consecuo de seus objetivos, visando utilidade que podero oferecer no futuro (PAES, 1997, p.16).

    A partir das definies expostas por diversos autores em pocas distintas,

    observa-se que elas se complementam e refletem muitas caractersticas especficas

    dos arquivos, destacando-se: o carter orgnico e a acumulao natural dos

    8 Slon Justus Buck (1884-1962), ex-arquivista dos Estados Unidos da Amrica, ocupou cargo equivalente ao de Diretor-Geral do Arquivo Nacional do Brasil.

  • 31

    documentos, em decorrncia das atividades do produtor e a existncia de um

    suporte, independentemente de qual seja.

    Para fins deste trabalho, o conceito de arquivo utilizado est de acordo com

    a definio apresentada na Lei de Arquivos, Lei n. 8159, de 08 de janeiro de 1991.

    Tal lei dispe sobre a Poltica Nacional de Arquivos, quer seja para arquivos pblicos

    ou para arquivos privados:

    Art.2 Consideram-se arquivos, para os fins desta Lei, os conjuntos de documentos produzidos e recebidos por rgos pblicos, instituies de carter pblico e entidades privadas, em decorrncia de atividades especficas bem como por pessoa fsica, qualquer que seja o suporte da informao ou a natureza dos documentos (BRASIL, 1991).

    Escolheu-se essa definio por ser a representao legal adotada pelos

    rgos da Administrao Pblica Federal, que o universo desta pesquisa.

  • 32

    3 DOCUMENTO ARQUIVSTICO DIGITAL

    O surgimento das denominadas Tecnologias da Informao e Comunicao

    (TICs) trouxe inovaes para a sociedade. Entre essas inovaes, destaca-se o uso

    dos recursos computacionais no dia-a-dia do indivduo e de organizaes pblicas e

    privadas.

    Dollar (1994) denominou essas de imperativos tecnolgicos, que, segundo o

    autor, teriam grande impacto nos procedimentos e prticas arquivsticas. Uma das

    principais mudanas observadas foi o surgimento dos documentos arquivsticos

    digitais. Assim, o documento arquivstico digital uma especificidade do documento

    arquivstico, visto que produzido, tramitado e armazenado em ambiente

    computacional.

    3.1 DOCUMENTO ARQUIVSTICO

    Dentre os diversos tipos de documentos, apresentados no captulo 2, para

    fins desta pesquisa, o objeto recai sobre os arquivsticos que, segundo o Glossrio

    da Cmara Tcnica de Documentos Eletrnicos (CTDE) do Conselho Nacional de

    Arquivos (Conarq), entende-se como documento arquivstico: [...] os documentos

    produzidos (elaborados ou recebidos) no curso de uma atividade, como instrumento

    ou resultado da tal atividade e retido para ao ou referncia (ARQUIVO

    NACIONAL, 2010, p.12).

    O termo record apresenta-se traduzido como documento arquivstico em

    muitos artigos da literatura arquivstica brasileira e , nesse sentido, que ele ser

    utilizado nesta pesquisa. No entanto, importante ressaltar que esse termo tambm,

    se encontra traduzido para documento como acontece, por exemplo, no clssico

    livro Arquivos Modernos: princpios e tcnicas:

    Minha definio de documentos (records) a seguinte: Todos os livros, papis, mapas, fotografias ou outras espcies documentrias, independentemente de sua apresentao fsica ou caractersticas, expedidos ou recebidos por qualquer entidade pblica ou privada no exerccio de seus encargos legais; em funo das suas atividades, preservados ou depositados para preservao por aquela entidade ou por seus legtimos sucessores como prova de suas funes, sua poltica, decises, mtodos, operaes ou outras atividades, ou em virtude do valor informativo dos dados neles contidos (SCHELLENBERG, 2002, p. 40-41).

  • 33

    O documento arquivstico, tambm chamado documento de arquivo,

    diferencia-se pela funo para a qual foi criado.

    [...] a forma/funo pela qual o documento criado que determina seu uso e seu destino de armazenamento futuro. a razo de sua origem e de seu emprego, e no o suporte sobre o qual est constitudo que vai determinar sua condio de documento de arquivo, de biblioteca, de centro de documentao ou de museu (BELLOTO, 2004 p.36).

    Tal documento no produzido intencionalmente para ser fonte histrica, ele

    produzido, [...] tendo em vista no a sua utilizao ulterior, e sim, na maioria das

    vezes, um objetivo imediato, espontneo ou no, sem a conscincia da

    historicidade, do carter de fonte que poderia vir a assumir mais tarde (ROUSSO,

    1996, p. 87).

    Martin-Pozuelo Campillo explora a relao do documento arquivstico com as

    funes e atividades desenvolvidas por seus produtos, ao afirmar que:

    [...] documento de arquivo o documento que resulta de um processo administrativo ou jurdico, assim como todos aqueles que tornam possvel tal processo, recebidos por um arquivo onde, paulatinamente, seus valores originais vo sendo prescritos e substitudos por outros de prova e informao. (MARTIN-POZUELO CAMPILLOS, 1996, p.98)

    O documento arquivstico produzido no decorrer das atividades, seja de um

    rgo pblico, de uma empresa privada ou, at mesmo, de uma pessoa ou famlia:

    Os documentos de arquivo so produzidos por uma entidade pblica ou privada, ou por uma famlia ou pessoa, no transcurso da funo que justifica sua existncia como tal, guardando esses documentos relaes orgnicas entre si. Surgem, pois, por motivos funcionais, administrativos e legais. Tratam, sobretudo, de provar ou de testemunhar alguma coisa. (BELLOTO, 2004, p.37).

    Ainda no sentido de compreender e conceituar tal documento, indispensvel

    levar em considerao a definio apresentada pelo Comit de Documentos

    Eletrnicos do Conselho Internacional de Arquivos (CIA), que o define como:

    [...] a informao registrada, independente da forma ou do suporte, produzida ou recebida no decorrer da atividade de uma instituio ou pessoa e que possui contedo, contexto e estrutura suficiente para servir de evidncia dessa atividade. (COMMITTEE ON ELECTRONIC RECORDS apud RONDINELLI, 2005, p.47)

  • 34

    Duranti enfatiza a naturalidade da produo do documento arquivstico ao

    afirmar que esse :

    Produzido ou recebido no curso de uma atividade pessoal ou organizacional, e como instrumento e subproduto dela, o documento arquivstico evidncia primeira de suposies que contriburam para criar, extinguir, manter ou modificar. (DURANTI, 1994, p.12)

    A mesma autora apresenta um conceito ainda mais contemporneo [...] todo

    documento produzido por uma pessoa fsica ou jurdica no curso de uma atividade

    prtica, como instrumento e subproduto dessa atividade (DURANTI, 2002, p.11).

    As definies desse documento se mostram unnimes no cenrio

    internacional no que tange sua forma de produo e s suas caractersticas.. A

    Norma ISO 15289 (2001, p.3) evoca, em sua definio, uma sntese do conceito:

    Documentos arquivstico (records): informao criada, recebida e mantida como

    evidncia e informao pela organizao ou pessoa, no cumprimento de suas

    obrigaes ou na realizao de seus negcios.

    O pilar do documento arquivstico a informao nele registrada e a forma

    como ela produzida, portanto independe de seu suporte, da sua forma e de quem

    o produziu. Ele contm: [...] uma informao, qualquer que seja sua data, sua forma

    e seu suporte material, produzidos ou recebidos por uma pessoa fsica ou moral, e

    por todo servio ou organismo pblico ou privado, no exerccio de sua atividade

    (CONSEIL INTERNATIONAL DES ARCHIVES, 1984, apud ROUSSEAU; COUTURE

    et al, 1994, p.123).

    Em determinados momentos na literatura, a definio de documento

    arquivstico encontra-se embutida na definio de documento ou de arquivo. No

    quadro 3, sugerida uma interpretao dessas situaes, a partir de uma

    comparao entre os termos nos diferentes conceitos propostos por autores

    consagrados.

  • 35

    Quadro 3: Conceito de documentos arquivsticos

    Autor Termo Definio Interpretao

    Schellenberg (2002)

    Records-

    Documento Todos os livros, papis, mapas, fotografias ou outras espcies de documentrias, independente de sua apresentao fsica ou caractersticas, expedidos ou recebidos por qualquer entidade pblica ou privada no exerccio de seus encargos legais ou em funo das suas atividades e preservados ou depositados para preservao por aquela entidade ou por seus legtimos sucessores como prova de suas funes, sua poltica, decises, mtodos, operaes ou outras atividades, ou em virtude do valor informativo dos dados neles contidos

    O termo foi traduzido apenas para documento.

    Coincide com a definio adotada de documento arquivstico, vide palavras destacadas

    Heredia Herrera (1991)

    Documentos

    archivsticos - Documentos arquivstico

    [...] produzidos ou recebidos por uma pessoa ou instituio durante sua gesto ou atividade para o cumprimento de suas finalidades e

    conservados como prova e informao

    Palavras destacadas definem o documento arquivstico

    ISO 15489, 2001

    Records -

    Documentos arquivstico

    [...] informao criada, recebida e mantida como evidncia e informao pela organizao ou pessoa, no cumprimento de suas obrigaes ou na realizao de seus negcios

    Palavras destacadas definem o documento arquivstico

    ICA (2004)

    Record -

    Documento arquivstico

    [...] criado ou recebido e mantido por um departamento, organizao, ou indivduo no cumprimento das obrigaes legais ou na operao dos negcios

    Palavras destacadas definem o documento arquivstico

    Vzquez (2006)

    documento de

    archivo o de

    gestin -

    Documento de arquivo ou de gesto

    [...] um suporte modificado por um texto aposto a ele, que surge como resultado de uma atividade administrativa e tem como finalidade efetivar uma ordem, provar algo ou, meramente,

    Palavras destacadas definem o documento arquivstico

  • 36

    transmitir uma informao

    InterPARES 2 PROJECT, 2010b.

    Documento arquivstico (record):

    Um documento feito ou recebido no curso de uma atividade prtica como um instrumento ou um subproduto dessa atividade, e mantido para ao ou referncia

    Palavras destacadas definem o documento arquivstico

    Associao dos

    Arquivistas

    Holandeses, 1898

    Archive - Arquivo

    [...] o conjunto de documentos escritos, desenhos e material impresso, recebidos ou produzidos oficialmente por determinado rgo administrativo ou por um de seus funcionrios, na medida em que tais documentos se destinavam a permanecer na custdia desse rgo ou funcionrio.

    Dentro da definio de arquivo encontra-se o conceito de documento arquivstico, vide as palavras em destaque.

    Jenkinson, 1922

    Archive - Arquivo

    Um documento dito como pertencente classe dos arquivos aquele elaborado ou usado no curso de uma transao administrativa ou executiva (pblica ou privada) da qual tomou parte; e subsequentemente preservado sob sua custdia e para sua prpria informao pela pessoa ou pessoas responsveis por aquela transao e seus legtimos sucessores.

    Dentro da definio de arquivo encontra-se o conceito de documento arquivstico, vide as palavras em destaque

    Cencetti apud

    Lodoloni, 1990

    Archive - Arquivo

    [...] o conjunto dos documentos expedidos e recebidos por um ente ou indivduo para a realizao dos prprios fins e para o exerccio das prprias funes.

    Dentro da definio de arquivo encontra-se o conceito de documento arquivstico, vide as palavras em destaque

    Carucci, 1983

    Archive - Arquivo

    [...] o conjunto de documentos produzidos ou recebidos durante o desenvolvimento da prpria atividade [...] por rgos e departamentos do Estado, por entidades pblicas e instituies privadas, por famlias e por pessoas.

    Dentro da definio de arquivo encontra-se o conceito de documento arquivstico, vide as palavras em destaque

    Duranti, Eastwood e

    MacNeil, 2002

    Record - documento arquivstico

    [...] todo documento produzido por uma pessoa fsica ou jurdica no curso de uma atividade prtica como instrumento e subproduto

    Palavras destacadas definem o documento

  • 37

    dessa atividade. arquivstico

    Dicionrio de

    Terminologia Arquivstica, 1996

    Arcuivo (archive)

    [...] Conjunto de documentos que, independentemente da natureza do suporte, so reunidos por acumulao ao longo das atividades de pessoas fsicas ou jurdicas, pblicas ou privadas.

    Palavras destacadas definem o documento arquivstico

    Dicionrio Brasileiro de Terminologia Arquivstica ,

    2005

    Arcuivo (archive)

    [...] Conjunto de documentos produzidos e acumulados por uma entidade coletiva, pblica ou privada, pessoa ou famlia, no desempenho de suas atividades, independentemente da natureza do suporte.

    Palavras destacadas definem o documento arquivstico

    Fonte: A autora, baseado em informaes de Rondinelli, 2011.

    Diante das definies de documento arquivstico, algumas caractersticas e

    especificidades podem ser identificadas: natureza do documento, suporte, motivo de

    sua produo, pessoas envolvidas em sua produo, organicidade, etc. Autores,

    como Duranti, permitem identificar cinco caractersticas basilares dos documentos

    arquivsticos citadas a seguir.

    A primeira caracterstica a imparcialidade: ligada veracidade do

    documento, visto que esse no intencionalmente pensado para ser produzido, mas

    nasce no decorrer de uma atividade e da necessidade de registr-la. Rondinelli, com

    base em Duranti, retrata que: [...] dizer que o documento arquivstico imparcial

    no significa que quem o produz isento de ideias pr-concebidas, e sim que as

    razes e as circunstncias da sua criao garantem que o mesmo no foi produzido

    sob o temor do olhar pblico (RONDINELLI, 2011, p.176).

    A segunda caracterstica identificada no documento arquivstico a

    autenticidade, que est ligada produo, manuteno e preservao desse

    documento, que deve seguir normas pr-estabelecidas. De acordo com a CTDE,

    autenticidade a credibilidade de um documento enquanto documento, isto , a

    qualidade de um documento ser o que diz ser e que est livre de adulterao ou

    qualquer outro tipo de corrupo (CTDE, 2010, p.5).

    Um documento arquivstico autntico, quando ele representa aquilo que

    diz representar e que, aps a sua produo, no sofreu adulteraes, corrupes ou

    intervenes no autorizadas, ou seja, [...] os documentos arquivsticos so

  • 38

    autnticos porque so criados, mantidos e conservados sob custdia, de acordo

    com procedimentos regulares que podem ser comprovados (DURANTI, 1994, p.3).

    A terceira caracterstica do documento arquivstico a naturalidade, que se

    relaciona com o acmulo do documento. O documento arquivstico difere do

    documento biblioteconmico, pois sua acumulao ocorre de forma natural, no curso

    das atividades de seu produtor. Nas diversas acepes do conceito de documento

    arquivstico vistas anteriormente, a naturalidade mostra-se presente ao se reafirmar

    que esses so produzidos no decorrer de uma atividade, apresentando algo natural

    e no intencional. Duranti explicita o que se entende por naturalidade ao declarar

    que:

    O fato de os documentos no serem concebidos fora dos requisitos da atividade prtica, isto , de se acumularem de maneira contnua e progressiva, como sedimentos de estratificaes geolgicas, dota-os de um elemento de coeso espontnea, ainda que estruturada. (DURANTI, 1994, p.3)

    Apontada como a quarta caracterstica, a organicidade tambm conhecida

    como interrelacionamento (DURANTI, 1994, p.3). Ela corresponde s relaes

    presentes entre os documentos arquivsticos de uma mesma ao, o que os torna

    ligados, ou seja, interdependentes, j que [...] todo arquivo est potencialmente e

    intimamente ligado a outros, tanto dentro como fora do grupo no qual preservado,

    e seu significado depende dessas relaes (PUBLIC RECORDS OFFICE, 1949,

    p.2, apud RONDINELLI, 2011, p.178).

    A CTDE apresenta a organicidade como o atributo de um acervo

    documental decorrente da existncia de relao orgnica entre seus documentos.

    Essencial para que um determinado conjunto de documentos seja considerado um

    arquivo (CTDE, 2011, p.18). Essa definio vai ao encontro daquela proposta por

    Duranti.

    Como quinta e ltima caracterstica, a unicidade apresenta-se como o papel

    nico que o documento arquivstico desenvolve no conjunto ao qual pertence.

    Dentro de um mesmo conjunto documental relacionado a uma mesma atividade,

    cada documento ser nico, mesmo que este se trate de cpias. Sobre isso, Duranti

    afirma: Cpias de um documento arquivstico podem existir em um mesmo grupo ou

    em outros grupos, mas cada cpia nica em seu lugar, porque o complexo das

  • 39

    suas relaes com os outros documentos sempre nico [...] (DURANTI, 1994b

    apud RONDINELLI, 2011, p.178).

    As cinco caractersticas apresentadas acima foram baseadas principalmente

    nas ideias de Duranti e Rondinelli. No quadro 4, buscou-se em oito autores

    consagrados da Arquivstica: Associao dos Arquivistas Holandeses, Jenkinson,

    Schellenberg, Alonso, Herrera, Martin-Pozuelo Campillos, Duranti, Eastwood, as

    caractersticas dos documentos arquivsticos.

    Quadro 4: Pesquisa para identificar caractersticas dos documentos arquivsticos

    Autor Ano Caractersticas

    Associao dos Arquivistas Holandeses

    1898 Organicidade

    Jenkinson 1922 Organicidade (implcita)

    Imparcialidade Autenticidade

    Schellenberg 1956 Organicidade

    Alonso

    1989 Organicidade (implcita) Naturalidade Unicidade Integridade Autenticidade Imparcialidade

    Herrera 1991 Naturalidade

    Organicidade Ordenao

    Martin-Pozuelo Campillos

    1996 Organicidade (implcita) Contexto de produo Unicidade Autenticidade Multiplicidade de contedo Interdependncia

    Duranti

    1994 Imparcialidade Autenticidade Naturalidade Organicidade Unicidade

    Eastwood

    2009 Imparcialidade Autenticidade Naturalidade Organicidade Unicidade

    Fonte: A autora.

    Para fins desta pesquisa, compactua-se com o defendido por Duranti, que

    considera que as caractersticas citadas tornam a anlise dos documentos

  • 40

    arquivsticos [...] o mtodo bsico pelo qual se pode alcanar a compreenso do

    passado tanto imediato quanto histrico, seja com propsitos administrativos ou

    culturais (DURANTI, 1994b apud RONDINELLI, 2011, p.178).

    A base terica que norteou os estudos das premissas bsicas sobre a

    natureza dos documentos arquivsticos, foram os princpios e conceitos da

    Diplomtica e da Arquivstica, sendo que, a primeira, estuda os documentos como

    entidades individuais e, a segunda, estuda os documentos enquanto conjunto, suas

    relaes e suas agregaes.

    Autores como Duranti, Belloto, MacNeil, Lacombe e Rondinelli destacam-se

    no cenrio de aproximao dessas duas abordagens para entender os documentos

    arquivsticos. Adotou-se, aqui, o ponto de vista de tais autores como arcabouo

    intelectual, dada a integrao das linhas de pesquisa deles com a do presente

    trabalho, esclarecendo-se, porm, que tal estudo poderia se basear em outros

    autores e iniciativas.

    Em sua publicao Diplomtica: novos usos para uma antiga cincia, de

    1995, Duranti faz uma anlise da Diplomtica e sua relao com os documentos

    arquivsticos ao expor que, por meio dela, pode-se identificar e analisar as

    caractersticas desses documentos.

    Diplomtica, segundo Duranti e MacNeil:

    [...] um corpo de conceitos e mtodos, originalmente desenvolvido nos sculos XVII e XVIII, com a finalidade de comprovar a confiabilidade e autenticidade dos documentos. Ao longo dos sculos, tem evoludo para um sistema muito sofisticado de ideias sobre a natureza dos documentos, sua gnese e composio, suas relaes com as aes e pessoas ligadas a eles, e com seus contextos organizacional, social e legal. (DURANTI; MACNEIL, 1996, p.47, traduo nossa)9

    As autoras tratam a Arquivstica sob o seguinte ponto de vista:

    A cincia arquivstica surgiu a partir da diplomtica no sculo XIX , um corpo de conceitos e mtodos voltados para o estudo dos documentos em termos de seus relacionamentos documentais e funcionais e as formas em que so controlados e comunicados. (DURANTI; MACNEIL, 1996, p.47,

    9 Original em ingls: Diplomatics is a body of concepts and methods, originally developed in the seventeenth and eighteenth centuries, "for the purpose of proving the reliability and authenticity of documents." Over the centuries, it has evolved "into a very sophisticated system of ideas about the nature of records, their genesis and composition, their relationships with the actions and persons connected to them, and with their organizational, social, and legal context. (DURANTI; MACNEIL, 1996, p.47)

  • 41

    traduo nossa)10

    Entender que os documentos possuem elementos formais passveis de

    serem analisados, avaliados e compreendidos, e que tais elementos esto presentes

    em documentos produzidos a qualquer tempo, em qualquer local e por qualquer

    pessoa, sugere que o documento arquivstico pode, e deve, ser identificado por tais

    constituintes formais e no pela informao que transmitem.

    Duranti e MacNeil buscam na Diplomtica o entendimento de que os

    documentos arquivsticos apresentam elementos formais e universais, que

    possibilitam a anlise, a produo e o tratamento de tais documentos:

    No corao da Diplomtica, reside a ideia de que todo documento arquivstico pode ser analisado, compreendido, e avaliado em termos de um sistema de elementos formais que so universais na sua aplicao e descontextualizada por natureza11 (DURANTI; MACNEIL, 1996, p.49, traduo nossa)

    As autoras identificam sete elementos bsicos constituintes do documento

    arquivstico, que esto representados no quadro 5.

    10 Original em ingls: Archival science, which emerged out of diplomatics in the nineteenth century, is a body of concepts and methods directed toward the study of records in terms of their documentary and functional relationships and the ways in which they are controlled and communicated. (DURANTI; MACNEIL, 1996, p.47) 11 Original em ingls: lies the idea that all records can be analyzed, understood, and evaluated in terms of a system of formal elements that are universal in their application and descontextualized in nature. (DURANTI; MACNEIL, 1996, p.49)

  • Quadro 5: Elementos constituintes do documento arquivstico

    Fonte: A autora.

    Tais elementos constituintes caracterizam o documento como sendo

    arquivstico e, portanto, devem receber especial ateno quanto sua

    e manuteno por parte de seus produtores e preservadores.

    O documento arquivstico sempre envolver uma

    desenvolvido no decorrer das atividades das instituies ou do individuo, a fim de

    registrar ou apoiar determinada

    documento arquivstico sem a identificao da ao que o resultou. De acordo com o

    projeto InterPARES - International Research on Permanent Authentic Records in

    Electronic Systems (Pesquisa Internacional sob

    Autnticos Permanentes em Sistemas Eletrnicos), a ao definida como o

    exerccio consciente de uma vontade praticada por pessoa fsica ou jurdica, com o

    objetivo de criar, manter, modificar ou extinguir situaes (INTERPAR

    p.10).

    Quadro 5: Elementos constituintes do documento arquivstico

    Fonte: A autora.

    Tais elementos constituintes caracterizam o documento como sendo

    arquivstico e, portanto, devem receber especial ateno quanto sua

    e manuteno por parte de seus produtores e preservadores.

    O documento arquivstico sempre envolver uma ao

    desenvolvido no decorrer das atividades das instituies ou do individuo, a fim de

    registrar ou apoiar determinada ao. Nesse sentido impossvel identificar um

    documento arquivstico sem a identificao da ao que o resultou. De acordo com o

    International Research on Permanent Authentic Records in

    (Pesquisa Internacional sobre Documentos Arquivsticos

    Autnticos Permanentes em Sistemas Eletrnicos), a ao definida como o

    exerccio consciente de uma vontade praticada por pessoa fsica ou jurdica, com o

    objetivo de criar, manter, modificar ou extinguir situaes (INTERPAR

    42

    Quadro 5: Elementos constituintes do documento arquivstico

    Tais elementos constituintes caracterizam o documento como sendo

    arquivstico e, portanto, devem receber especial ateno quanto sua identificao

    ao, visto que ele

    desenvolvido no decorrer das atividades das instituies ou do individuo, a fim de

    ao. Nesse sentido impossvel identificar um

    documento arquivstico sem a identificao da ao que o resultou. De acordo com o

    International Research on Permanent Authentic Records in

    re Documentos Arquivsticos

    Autnticos Permanentes em Sistemas Eletrnicos), a ao definida como o

    exerccio consciente de uma vontade praticada por pessoa fsica ou jurdica, com o

    objetivo de criar, manter, modificar ou extinguir situaes (INTERPARES 2, 2007,

  • 43

    Segundo Duranti e o InterPARES, o documento arquivstico envolve, no

    mnimo, trs pessoas em sua produo, mesmo que elas no estejam explicitadas:

    o autor, o destinatrio e o redator.

    O autor do documento a pessoa fsica ou jurdica que tem autoridade e capacidade para emitir o documento ou em cujo nome ou sob cujo comando o documento foi emitido. [...] O redator a pessoa fsica ou jurdica que tem autoridade e capacidade para articular o contedo do documento. [...] O destinatrio a pessoa fsica ou jurdica para quem o documento dirigido ou para quem foi intencionado. (INTERPARES 2, 2007, p.10)

    O vinculo arquivstico12, tambm denominado relao orgnica, outra

    caracterstica inerente ao documento arquivstico, uma vez que ele possui um elo

    que o liga ao documento anterior e subsequente da mesma ao, alm de uma

    ligao incremental a todos os documentos que participam da mesma ao.

    Segundo a CTDE, relaes orgnicas so os: Vnculos que os documentos

    arquivsticos guardam entre si e que expressam as funes e atividades da pessoa

    ou organizao que os produziu (CTDE, 2010, p.21).

    O documento arquivstico produzido num ambiente onde o mesmo participa

    da ao envolvida. Esse ambiente apresenta contextos que devem ser

    identificados. No projeto InterPARES, so apontados os seguintes contextos:

    jurdico-administrativo: relaciona-se com a instituio produtora do

    documento; apresenta o sistema legal e organizacional da mesma.

    de provenincia: como o prprio nome indica, relaciona-se com a

    entidade produtora do documento arquivstico; descreve seu mandato,

    estrutura e funes.

    de procedimentos: relacionado s atividades no curso das quais o

    documento produzido.

    documental: a identificao do fundo arquivstico ao qual o

    documento pertence, bem como a estrutura interna do fundo.

    tecnolgico (esse ltimo direcionado aos documentos arquivsticos

    digitais): identifica os componentes tecnolgicos, bem como suas

    caractersticas, do sistema informatizado no qual os documentos so

    produzidos. 12 Do ingls archival bond

  • 44

    Outras duas caractersticas inerentes ao documento arquivstico so o

    contedo, que nada mais do que a informao que se deseja transmitir e registrar,

    e a forma do documento escolhida para essa finalidade. Tal forma no feita ao

    acaso, ela atende a regras pr-estabelecidas, incluindo seus elementos intrnsecos e

    extrnsecos.

    Em relao a essas duas caractersticas, contedo e forma, deve-se

    ressaltar que o primeiro deve ser estvel e a segunda deve ser fixa, uma vez que

    esses elementos surgem no momento da produo dos documentos e sua

    identidade legal, ou seja, se relacionam com as caractersticas que o documento

    deve ter para registrar a ao que apoia ou de que participa. Se um deles sofrer

    algum tipo de alterao no prevista e autorizada, estaro colocando em xeque a

    autenticidade do documento arquivstico.

    A ltima caracterstica apontada por Duranti o suporte. A autora afirma que

    todo documento arquivstico deve ter um suporte, independentemente de qual seja.

    ele que conferir a fisicalidade do documento e a materialidade da informao

    registrada.

    As sete caractersticas, elencadas acima, so apontadas com base na

    Diplomtica integrada Arquivologia, e se aplicam tanto aos documentos no

    digitais, quanto aos digitais.

    3.2 O DOCUMENTO ARQUIVSTICO DIGITAL

    O advento das TICs impactou a produo dos documentos arquivsticos, que

    passaram a existir tambm em formato digital. So caracterizadas por um conjunto

    de recursos tecnolgicos que revolucionaram as formas de comunicao e

    informao dos indivduos e/ou organizaes.

    Poucas pessoas negariam que a tecnologia da informao est provocando uma revoluo da informao to profunda e difusa quanto a revoluo industrial, a descoberta da impresso e dos tipos mveis ou o desenvolvimento da escrita. (DOLLAR, 1994, p.4)

    Para esta pesquisa, ser considerado o desenvolvimento das TICs a partir

    de 1981, quando surgiram os computadores pessoais. Foi nesse perodo que os no

    especialistas em computadores passaram a utilizar tal ferramenta em seu cotidiano,

  • 45

    fosse por questes pessoais ou profissionais. Porm para compreender esse

    contexto, elencou-se marcos das TICs, entre o perodo de 1900 at 1980, expostos

    no quadro 6, que influenciaram o referido desenvolvimento a partir da dcada de 80.

    Quadro 6: Marcos das TICs de 1900 at 1980

    Dcada Principal tecnologia desenvolvida

    1900-1910 Surgimento da memria magntica; Criao das primeiras teleimpressoras

    1920-1930 Utilizao de matrizes de tubos reflectores ou transparent rods para transmitir imagens

    1930-1940 Desenvolvimento da Lgica elctrica; Criao do primeiro computador elctrico de Atanasoff;

    1940-1950 George Stibitz interliga dois computadores via telefone, o que gerou idias para o primeiro Modem; O ENIAC(Eletronic Numeric Integrator And Calculator) torna-se operacional, inaugurando a primeira gerao de computadores,

    1950-1960 Primeiro Modem digital; O circuito integrado estabelece a sua marca de inovao tecnolgica.

    1960-1970 Surgimento do sistema Unix baseado no Mutics; O primeiro modem comercial com uma velocidade de 300 Baud; Surge o primeiro mouse; ARPANET d incio Internet.

    1970-1980 Criado o primeiro microprocessador o Intel 4004; Redes LAN sem fios (Wireless); A Primeira chamada de celular realizada em NY; A Microsoft fundada por Bill Gates e Paul Allen; A Apple lana o Apple 1;

    Fonte: A autora, baseado em http://www.slideshare.net/SrgioRivero/histria-da-tic.

    As TICs, at a dcada de 1970, mantiveram-se quase exclusivamente nas

    mos de especialistas, devido complexidade dos computadores e seu alto custo.

    Naquela poca, surgiram os Centros de Processamento de Dados (CPDs), que

    geralmente se encontravam fora das instituies.

    Na dcada posterior 1980 , dois grandes acontecimentos marcaram

    mudanas significativas: a disseminao dos computadores pessoais (PCs) e a

    implementao das tecnologias de rede local e mundial, principalmente a Internet.

    Nas dcadas mais recentes de 1990 aos dias atuais , continuaram a surgir

    avanos tecnolgicos, como a implementao de sistemas de gerenciamento de

    documentos, aparatos tecnolgicos mais potentes e cada vez menores, entre outros.

  • 46

    Dollar destaca trs dessas mudanas tecnolgicas, s quais denominou

    imperativos tecnolgicos:

    [...] trs generalizaes sobre as mudanas que nos cercam e que eu denomino de imperativos tecnolgicos. Esses imperativos so: a natureza mutvel da documentao; a natureza mutvel do trabalho e a mudana da prpria tecnologia (DOLLAR, 1994, p.4).

    O aspecto mutvel dos documentos apresentado pelo autor, liga-se ao

    aspecto tecnolgico, j que os documentos passaram a ser produzidos em meio

    digital, e a maior parte desses mostra-se anloga aos documentos em papel.

    O segundo imperativo relaciona-se s mudanas que a tecnologia trouxe

    para o ambiente de trabalho dos indivduos. Destacando-se a noo de tempo e

    espao, visto que as informaes e as comunicaes, facilitadas pelas redes de

    computadores, passaram a ser em tempo real, rompendo as fronteiras do espao.

    O terceiro imperativo tecnolgico o mais latente e facilmente observado. A

    mudana das tecnologias ocorre frequentemente e com muita rapidez. Observam-se

    mudanas em software13, hardware14, suporte15, entre outros.

    Os trs imperativos tecnolgicos, destacados anteriormente, proporcionaram

    significativas mudanas na sociedade, entre elas, a forma de produo, de

    tramitao e de preservao das informaes. Os documentos arquivsticos, que

    antes eram prioritariamente em papel, passaram a ser desenvolvidos em sistemas

    computacionais, denominando-se documentos arquivsticos digitais

    Alguns problemas oriundos da definio de documentos como sua relao

    apenas com a escrita, no enxergando outras formas de registros de informao,

    como imagem, som e imagem em movimento entre outros, so refletidos tambm

    nos documentos arquivsticos digitais.

    No sculo XX, foram iniciadas pesquisas em prol do entendimento do que

    poderia ser o documento, diante de tantas formas de registro da informao.

    Diversos autores apresentaram pesquisas sobre a identificao de documentos.

    Essas pesquisas tornaram latente a confuso, em determinados momentos, do

    13

    Software so os programas de computador: Sequncia lgica de instrues que o computador capaz de executar (CTDE, 2010, p.20). 14 Hardware so as mquinas propriamente ditas, ou seja, o conjunto de componentes fsicos necessrios operao de um sistema computacional (CTDE, 2010, p.15). 15 Suporte a parte fsica onde a informao registrada (CTDE, 2010, p.21). So exemplos de suporte o papel, as fitas magnticas, o pergaminho, etc.

  • 47

    conceito de documento: ora entendido como a prpria mensagem, ora como meio

    para a transmisso da mensagem, ora o significado da mesma. O desenvolvimento

    das TICS ressaltou essa dbia compreenso de documento e tornou um grande

    desafio a identificao deste, em ambiente digital.

    Os documentos arquivsticos digitais so documentos que possuem a

    especificidade de serem produzidos em dgitos binrios, tramitados e armazenados

    em meio digital. A CTDE (2010, p.13) define documento digital como Informao

    registrada, codificada em dgitos binrios, acessvel e interpretvel por meio de

    sistema computacional, e define documento arquivstico digital como o [...]

    documento digital reconhecido e tratado como um documento arquivstico (CTDE,

    2012, p.12, grifo nosso).

    Na literatu