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«Organizações Estruturais» Um estudo sobre a sua importância na Dinâmica das Equipas Milton Manuel Madureira Cerqueira Porto, 2009

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Page 1: Um estudo sobre a sua importância na Dinâmica das Equipas · entendimentos de estrutura, sistema e modelo de jogo; (ii) indagar sobre a importância da organização estrutural

«Organizações Estruturais»

Um estudo sobre a sua importância

na Dinâmica das Equipas

Milton Manuel Madureira Cerqueira

Porto, 2009

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«Organizações Estruturais»

Um estudo sobre a sua importância

na Dinâmica das Equipas

Monografia realizada no âmbito da disciplina

de Seminário do 5º ano da Licenciatura em

Desporto e Educação Física, em Desporto

de Rendimento – Futebol, da Faculdade de

Desporto da Universidade do Porto

Orientador: Mestre José Guilherme Granja de Oliveira

Milton Manuel Madureira Cerqueira

Porto, 2009

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Ficha de Catalogação

Cerqueira, M. (2009). «Organizações Estruturais». Um estudo sobre a sua

importância na Dinâmica das Equipas. Porto: M. Cerqueira. Dissertação de

Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL; TÁCTICA; SISTEMA DE JOGO;

ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL.

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Dedicatória

Aos que entendem que os problemas têm solução,

porque caso não tivessem solução não poderiam ser problemas.

Podem é ter mais que uma solução…e ainda por se encontrar.

A todos aqueles que adoram ver

um jogar (in)certo por «linhas tortas»…

Uma investigação é, por definição, algo que se procura. É um caminhar para um

melhor conhecimento e deve ser aceite como tal, com todas as hesitações, desvios e

incertezas que isso implica. Muitos vivem esta realidade como uma angústia

paralisante; outros, pelo contrário, reconhecem-na como um fenómeno normal e,

numa palavra, estimulante.

Quivy & Campenhoudt (2003: 31)

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Agradecimentos

III

Agradecimentos

A todos os que me ajudaram e apoiaram…apesar das minhas

dificuldades, das minhas dúvidas, das minhas incompletudes…durante este

longo, longo percurso.

Ao professor José Guilherme Oliveira , pela forma disponível, solidária e

aconselhada que sempre teve para comigo durante o estudo. Pela forma

mestra e apaixonante como transmite o seu conhecimento sobre Futebol aos

seus alunos.

Ao professor Vítor Frade , por me fazer ter vontade de calar e ouvir os seus

ensinamentos, por me fazer ter saudade das suas aulas, por me ter feito

constatar que um «sei que nada sei» sobre Futebol é um princípio para quem

pretende mudar e saber mais, mas sobretudo saber melhor.

Ao professor Agostinho Oliveira , ao André Vilas Boas e ao Luís Freitas

Lobo por terem tornado realidade o meu desejo e a minha vontade com este

estudo, por terem partilhado comigo um pouco dos vossos muitos

conhecimentos tão profundamente ligados à construção do fenómeno Futebol.

Ao Rui Machado , por me ter facultado um documento precioso para a

consecução da minha monografia e à Marisa pelo interesse e opinião crítica

que tanto me ajudaram na realização melhorada deste trabalho. O meu

sincero, muito obrigado.

Ao Hélder Fonseca e ao Hélder Soares por me terem facultado material de

pesquisa literária que se tornaram mais-valias na elaboração do estudo.

À FADEUP, pelos ensinamentos e pela oportunidade que me proporcionou em

orgulhosamente dizer: «Não vim da faculdade do pincho. Sou um profissional

de desporto!».

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Agradecimentos

IV

Aos colegas e amigos de faculdade, em especial ao Tiago, Nuno, Sérgio e

Sousa, por partilharem comigo tantas reflexões, opiniões, discussões…

Obrigado por me fazerem sentir presente aquilo que pode estar ausente.

À Dona Virgínia e Sr. Marinho , por não os considerar elementos de

«bastidor» mas sim protagonistas durante este meu percurso académico.

A todos os colegas que comigo já trabalharam, por conseguirem, naquilo que

lhes foi possível, ajudar-me a alcançar este objectivo pessoal e a desenvolver

competências na observação e reflexão sobre Futebol.

Àquele que passou de colega de faculdade a amigo, Martinho , por me permitir

viver intensamente com ele o Futebol que tanto adoramos…não tenho palavras

para descrever o quão «tacticamente irrepreensível» foste em todo este

trajecto.

A todos os Meus amigos e familiares próximos , pela compreensão das

minhas opções, por me congratularem pelos meus feitos e por não me julgarem

pelas metas ainda não alcançadas. Todos, uns mais directamente do que

outros mas sem excepção, desempenharam um importante papel, mais do que

neste estudo, na pessoa e profissional que sou hoje.

À minha especial família, pela perseverança incalculável nesta minha

caminhada, por se orgulharem incondicionalmente de mim. Mãe, Pai, Ricardo,

Tânia , esta «vitória» é dedicada a vocês.

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Índice

V

Índice Geral

Agradecimentos III

Índice geral V

Índice de figuras VII

Resumo IX

Abstract XI

Résumé XIII

1. Introdução 1

2. Revisão da Literatura 5

2.1. Com a «Evolução» do Jogo…a «Evolução» dos «sistemas de jogo» 5

2.1.1. O início…o Futebol nas suas «formas» embrionárias 6

2.1.2. As primeiras grandes (r)evoluções operadas pelos «Grandes

Napoleões»

11

2.1.3. Do «sistema estático» (estrutura de jogo) ao «sistema táctico»

(dinâmica de jogo)

14

2.1.4. Um Acentuar de diferenças… 19

2.1.5. …«novas» (re)organizações (estruturais) no espaço e no tempo

rumo ao presente!

26

2.1.6. «Multiplicar» e «Subtrair» «linhas»…resultado da plasticidade

(estrutural) dos jogares das equipas

32

2.1.7. Estratégia e Estrutura(s) de jogo…variar sem deturpar! 37

2.2. «Viver o Presente, estudando o Passado, preparando o Futuro»: 43

2.2.1. …modelo de jogo e estrutura de jogo, não sendo sinónimos,

(ainda) se (com)fundem?!

43

2.2.1.1. Porque para que um jogar («ser») se manifeste, um

modelo («espírito») tem que «animar» uma estrutura («corpo»)!

45

2.2.2. … princípio(s) de jogo e estrutura(s) de jogo, que relação?! 49

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Índice

VI

3. Metodologia 57

3.1. Objectivos do estudo 57

3.2. Material e Métodos 58

3.2.1. Caracterização da Amostra 58

3.2.2. Recolha de Informação 59

3.2.2.1. Construção e realização das entrevistas 59

3.2.2.2. Análise e interpretação das entrevistas 60

3.2.2.3. Limitações encontradas 65

4. Análise e Discussão das Entrevistas 67

4.1. (C1) Organização de Jogo 67

4.1.1. (SC1.1) Modelo de jogo 73

4.1.2. (SC1.2) Organizações estruturais de jogo 77

4.2. (C2) Organização estrutural (posicional) do jogar 83

4.2.1. (SC2.1) Organização ofensiva 96

4.2.2. (SC2.2) Transição defensiva 99

4.2.3. (SC2.3) Organização defensiva 102

4.2.4. (SC2.4) Transição ofensiva 105

5. Considerações Finais 109

6. Referências Bibliográficas 115

Anexos XV

Anexo I – Guião da Entrevista XVII

Anexo II – Entrevista a Agostinho Oliveira XXI

Anexo III – Entrevista a Luís Freitas Lobo XLIX

Anexo IV – Entrevista a André Vilas Boas LXXIX

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Índice

VII

Índice de Figuras

Figura 1 Representação da Estrutura 1-1-0-9.

7

Figura 2 Representação da Estrutura 1-1-1-8.

8

Figura 3 Representação da Estrutura 1-1-2-7.

8

Figura 4 Representação da Estrutura 1-2-2-6. 9

Figura 5 Representação da Estrutura 1-2-3-5 (Sistema Clássico ou em Pirâmide).

10

Figura 6 Representação da Estrutura 1-3-2-2-3 (WM) de Chapman. 12

Figura 7 Representação da Estrutura da Wunderteam de Meisl. 13

Figura 8 Representação das Estruturas MM e UM da Hungria de Gustav Sebes. 15

Figura 9 Representação das Estruturas 1-4-2-4 (Brasil de 1958) e 1-4-3-3 (Brasil de 1962).

16

Figura 10 Representação das Estruturas 1-5-3-2 (1-1-4-3-2) e 1-5-4-1 (1-1-4-4-1) (Catenaccio) de Helenio Herrera.

18

Figura 11 Representação da Estrutura 1-4-4-2 (respectivas variantes). 25

Figura 12 Representação da Estrutura 1-3-5-2. 27

Figura 13 Representação da Estrutura 1-3-4-3 (1-3-1-2-1-3) (Dream Team) de Cruyff.

28

Figura 14 Representação da Estrutura 1-2-2-1-2-1-2 do FC Porto (Mourinho) e da Estrutura 1-4-4-2 do AC Milão (Ancelotti).

29

Figura 15 Representação/Exemplo em estrutura em que o entrevistado apresenta a posição e movimentação do ponta-de-lança permitindo que o defesa/lateral esquerdo possa circular a bola pelo guarda-redes fazendo-a chegar ao corredor central pelo defesa central direito ou ao corredor lateral contrário através do defesa/lateral direito.

XXVIII

Figura 16 Representação/Exemplo em estrutura em que o entrevistado apresenta a posição e movimentação do ponta-de-lança, «deslocado» da sua posição mais propensa – posição central no campo – impede que o defesa/lateral esquerdo possa circular a bola pelo guarda-redes ou pelo defesa central esquerdo, ou seja, dificulta a circulação de bola à largura e potencia a construção do adversário em profundidade.

XXVIII

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Índice

VIII

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Resumo

IX

Resumo

É sabido que a disposição dos jogadores no terreno de jogo,

comummente denominada de «sistema de jogo», é parte abundante no debate

(in)formal em Futebol, mas também tema presente em muito daquilo produzido

na investigação sobre o fenómeno.

Todavia, face a enquadramentos existentes no estudo das organizações

estruturais de jogo que, não raras vezes, tende a vulgarizar e simplificar tal

conceito, invade-nos a vontade em distingui-lo e enquadrá-lo em articulação

com uma lógica complexa e sistémica caracterizadora dos jogares das equipas.

Neste sentido, perseguimos os seguintes objectivos: (i) explorar os

entendimentos de estrutura, sistema e modelo de jogo; (ii) indagar sobre a

importância da organização estrutural no jogar de uma equipa; (iii) perspectivar

a organização estrutural com a articulação dinâmica dos momentos de jogo;

(iv) inferir acerca das implicações de um exacerbar ou descurar organizacional

estrutural/posicional no jogar das equipas; (v) identificar organizações

estruturais de jogo futuras face às tendências evolutivas do Futebol a nível

mundial.

Desde a observação e análise de jogo até à concepção e

operacionalização de jogo abrangidas pelos entrevistados no estudo,

procurámos construir um quadro de conhecimento a partir das entrevistas que,

juntamente com a nossa revisão da literatura, conduzisse a um reequacionar

da abordagem a tal temática e/ou a um acrescentar ao até então fundamentado

sobre a mesma.

Das considerações finais do estudo parece-nos de relevar a

necessidade de perspectivar a organização estrutural naquilo que é a

organização do jogo de uma equipa. Daqui se induz o jogar de uma equipa

compreender uma unicidade «inquebrantável» dos momentos constituintes, o

que contribui sobremaneira para o conjecturar da estrutura de jogo como um

«padrão organizativo» colectivo cuja plasticidade espácio-temporal a inter-

relacionam intimamente com as características dos jogadores, a funcionalidade

e os princípios de jogo na expressão da sua dinâmica singular e específica.

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Resumo

X

PALAVRAS-CHAVE: FUTEBOL; TÁCTICA; SISTEMA DE JOGO;

ORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL.

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Abstract

XI

Abstract

It is known that the disposal of the players on the field, commonly called

«playing system», is abundant part in the (in)formal Soccer debate, but also

present subject in a significant part of what the investigation produces about this

phenomenon.

However, in the presence of the existing framings on the study of the

playing structural organizations that, not rare times, tends to vulgarize and to

simplify such concept, invades our will in distinguish it and to fit it in articulation

with a complex and systemic logic that characterizes the specific way of playing

of the teams.

Therefore, we pursue the following objectives: (i) to explore the

understandings of playing structure, system and model; (ii) to inquire on the

importance of the structural organization in a team way of playing; (iii) to put in

perspective the structural organization with the dynamic articulation of the

playing moments; (iv) to infer concerning the implications of a

structural/positional organization being exacerbated or neglected in the teams

ways of playing; (v) to identify future playing structural organizations facing the

evolutive tendencies of the world-wide level Soccer.

From the observation and analysis of the game to the conception and

operative construction process of the game enclosed by the interviewed ones in

the study, we looked to construct a knowledge board using the interviews that,

together with our literature revision, could lead us to a re-equating approach to

such thematic and/or to a increasing of what has been well-founded about it.

Of the study final considerations it seems relevant the need to put in

perspective the structural organization in what it is the team playing

organization. Hence it induces the team way of playing to contain an

uniqueness «unbreakable» of the constituent moments, what greatly contributes

to the conjecture of the playing structure as one collective «organizational

pattern» whose space-time plasticity closely interrelates it with the players

characteristics, the functionality and the playing principles to express its singular

and specific dynamic.

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Abstract

XII

KEY-WORDS: SOCCER; TACTIC; PLAYING SYSTEM; STRUCTURAL

ORGANIZATION.

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Résumé

XIII

Résumé

On sait que la disposition des joueurs dans les terrains de jeu,

communément appelé de « système de jeu », est cause de débat (in)formel

dans le monde du Football, mais est aussi un thème très présent dans tous ce

qui touche l’investigation de ce phénomène.

Cependant, vu que toutes les études existant sur le thème des

organisations structurelles de jeu finissent par vulgariser et simplifier ce

concept, nous avons la nécessité de le distingué et de l’encadrer dans une

logique complexe et systémique qui caractérise le jouer de les équipes.

Dans ce sens nous allons poursuivre les suivant objectifs : (i) explorer les

divers compréhensions des structures, systèmes et modèles de jeu ; (ii)

renseignez-vous l’importance de l’organisation structurelle dans la façon de

jouer d’une équipe ; (iii) perspective l’organisation structurelle avec la harmonie

dynamique des moments de jeu ; (iv) inférer à propos de les implications de la

négligence ou exacerber d’organisation structurelle/positionnelle dans la façon

de jouer des équipes; (v) identifier des futures organisations structurelles de jeu

face aux tendances évolutives du Football mondial.

De l’observation et l’analyse de jeu jusqu’à sa conception et

opérationnalisation couverts par les répondants de l’étude, nous avons cherché

à construire un cadre de connaissances à partir d’entrevues que, en

complément de la révisons de littérature, nous permettrais de faire un nouveau

abordage sur ce thème et/ou un ajouter à une jusqu’à présent basés sur le

même.

Comme remarques de clôture de cette étude nous avons retenu

l’importance de perspective l’organisation structurelle dans l’organisation d’un

jeu d’équipe. Ici, le jouer d’une équipe comprendre l’unicité «incassable» des

moments constituants, ce qui contribue grandement à conjecture la structure du

jeu comme un «pattern d’organisation» collectif dons la plasticité spatio-

temporelle se conjugue intimement avec les caractéristiques des joueurs, la

fonctionnalité et les principes de jeux dans ses dynamique singulière et

spécifique.

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Résumé

XIV

MOTS-CLEF: FOOTBALL; TACTIQUE; SYSTÈME DE JEU; ORGANISATION

STRUCTURALLE.

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Introdução

1

1. Introdução

“Muitas vezes, quando estamos tentando perceber algo à nossa frente, o processo é

interrompido por um «enquadramento» daquilo em relação a alguma coisa que já está

armazenada em nosso actual arcabouço mental. Nesse momento, nosso processo

«neutro» de percepção é interrompido e «rotulamos» a coisa como algo já conhecido,

poupando-nos o trabalho de desvendar o inédito…” (Motomura, 2000: 14).

Se algo nos invadiu o «espírito» nas aulas de Metodologia de Futebol

foram os momentos em que o professor Vítor Frade (des)concertantemente

afirmava que «antes de mais, antes de tudo, quem quiser falar sobre o Treino1

ou sobre o Jogo2 (Futebol), tem de saber o que é o Jogo (Futebol)».

Quase em simultâneo e pela desperta curiosidade em sabermos mais

sobre Futebol, aquando da leitura atenta de entrevistas e/ou artigos

jornalísticos, ou mesmo de estudos e dissertações académico-científicas, cedo

nos deparámos com um conjunto de afirmações (para muitos, convicções) que

envolviam uma contradição conceptual envolta ao fenómeno Futebol que,

maioria das vezes, parece hipotecar o melhor entendimento que dele se

deveria ter.

Concretamente, ao nos confrontarmos com contradições e associações

envolvendo conceitos como modelo de jogo3, sistema de jogo4, estrutura

táctica5, etc., decidimos objectivar a nossa problemática correlacionada com

esta realidade tão intrínseca ao fenómeno Futebol.

Não se tornava difícil depararmo-nos, do ponto de vista conceptual e

terminológico, com expressões do tipo: «o meu modelo de jogo baseia-se num

ponta-de-lança, dois alas, três médios, quatro defesas e o guarda-redes»; ou

«o sistema de jogo da equipa é o 4-3-3, com quatro defesas, dois centrais e 1 Embora esta temática não seja directamente abordada nesta obra, importa focar o inquebrantável vínculo entre o treino e o jogo. Segundo Frade (2004b), o treino cria a competição (jogo) que por sua vez (re)cria o treino. 2 A palavra Jogo aparece com “J” maiúsculo para diferenciar o Jogo enquanto modalidade desportiva de características universalizantes (situado num plano abstracto, macro-escala) e o jogo enquanto jogo – específico e singular – de uma equipa (situado no plano concreto, micro-escala pertencente ao universo compreendido pelo Jogo). Segundo Frade (2004a), o Jogo é uma coisa que já existe, independentemente da ideia que dele se tem e como se reconhece que o mesmo é algo que se altera, que se modifica, então deixa de ser Jogo para ser jogo, porque é algo construído. 3 Este conceito será retratado posteriormente na revisão da literatura. 4 Este conceito será retratado posteriormente na revisão da literatura. 5 Entendido aqui como a organização estrutural da equipa; como dispositivo ou esquema táctico da equipa; forma como os jogadores se dispõem em campo (p.e., 1-4-3-3).

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Introdução

2

dois laterais, um médio de contenção e dois médios mais adiantados um de

cada lado e três avançados»; «a minha equipa tem um esquema em 1-4-4-2,

ou seja, o guarda-redes, mais uma linha de 4 defesas, 4 médios e 2 avançados

bem lá na frente»; etc., ou seja, encontrar «dissolvidos» uns nos outros tais

conceitos, dando a parecer não necessitarem de destrinça.

Todavia, não se «fechando» no teor terminológico, igualmente

encontrávamos quem nos permitisse uma construção mais rica e diversa sobre

o corpo conceptual descrito comparativamente ao primeiro grupo. Obviamente

que nos reportávamos a reputadas figuras que se moviam não em torno mas

dentro do Futebol de «rendimento superior»6.

Num efeito «avalanche», mais (des)concertados ficámos com a segunda

parte da afirmação do professor Vítor Frade, em que «…, e o Jogo é algo muito

complexo que carece ser entendido como tal».

Fomos então à procura de conhecer melhor o Jogo (Futebol) e face ao

que nos vínhamos a deparar no que respeita à organização estrutural no jogar

das equipas, decidimos partir para um estudo em que o «esqueleto» dos

jogares das equipas fosse abordado e aprofundado.

Assim sendo, especificamente decidimos compreender os seguintes

objectivos: (1) explorar os entendimentos de estrutura de jogo (organização

estrutural), sistema de jogo e modelo de jogo; (2) indagar sobre a importância

da organização estrutural no jogar representativo de uma equipa; (3)

perspectivar a organização estrutural de acordo com a dinâmica de articulação

dos momentos de jogo; (4) inferir acerca das implicações resultantes de um

exacerbar ou descurar organizacional estrutural/posicional no jogar das

equipas; (5) identificar eventuais organizações estruturais de jogo a serem

utilizadas no futuro face às tendências evolutivas do Futebol a nível mundial.

Já quanto à organização estrutural referente ao estudo adiantamos a

sua constituição em seis pontos.

O primeiro ponto, representado pela “Introdução”, permite apresentar a

temática e contextualizar a pertinência da problemática visada, permite

6 “Uma equipa de rendimento superior é uma equipa que joga para vencer em todas as competições em que se insere, com presença nacional e internacional (liga dos Campeões), com regularidade, ou seja, anos e anos consecutivos neste patamar de rendibilidade” (Frade, 1998: 4).

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Introdução

3

delimitar os objectivos, dar a conhecer a metodologia adoptada e descrever a

estrutura constituinte do trabalho.

No segundo ponto, pela “Revisão da Literatura”, verifica-se uma

sustentação da temática pelo presente na literatura primeiramente

contemplando a «filogénese»7 (histórica) do próprio Futebol em sintonia com a

«evolução» dos «sistemas de jogo»8. Depois, procura-se também indagar mais

e melhor sobre um fenómeno que em norma (ainda) vai vivendo à margem de

um conhecimento complexo, vai (ainda) sobrevivendo de um entendimento

parcelar, esmiuçado, simplificado. Não obstante as «transformações»

verificadas ao longo dos tempos «catalogadas» pelos jogares de equipas

emblemáticas, pretende-se também perspectivar o jogar de uma equipa como

um jogar único e singular fruto da especificidade do contexto que o origina, mas

também perspectivar esse jogar como um fenómeno «fractal» dinâmico,

complexo e sistémico.

No terceiro ponto, respeitante à “Metodologia”, destacam-se os

procedimentos de objectivação das intenções pretendidas com este estudo e

os procedimentos de recolha de registos informativos obtida através de

entrevistas semi-estruturadas sujeitas posteriormente à análise de conteúdo.

No quarto ponto, intitulado “Análise e Discussão das Entrevistas”,

procura-se estabelecer relação entre aquilo que se desenvolveu na revisão da

literatura e o conjunto de ideias e concepções apresentadas pelos

entrevistados.

No quinto ponto, surgem as “Considerações Finais”.

E, no sexto e último ponto, encontram-se indexadas as “Referências

Bibliográficas” incorporadas na obra.

7 Derivado do termo Filogenia que é comummente utilizado para hipóteses de relações evolutivas (relações filogenéticas) de um grupo de organismos, isto é, determinar as relações ancestrais entre espécies conhecidas. Neste caso, pretende-se entoar uma interpretação análoga para as organizações estruturais de jogo («sistemas de jogo»). 8 Entendido como estrutura táctica ou organização estrutural da equipa. A noção de sistema (de jogo), sendo outra, será abordada posteriormente na revisão da literatura e daí a utilização das aspas na expressão.

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Introdução

4

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Revisão da Literatura

5

2. Revisão da Literatura

2.1. Com a «Evolução» do Jogo…a «Evolução» dos «sis temas de jogo»

“O jogo de futebol evoluiu ao longo dos anos, desde a sua institucionalização até à actualidade. Quer queiramos quer não, quer gostemos quer não, o facto é que os acontecimentos que o

consubstanciam tornaram-se mais intensos, competitivos, complexos, ritmados, pressionantes, transitórios, instáveis…” (Castelo, 2004: 9).

O Futebol, compreendido como um Jogo desportivo colectivo

devidamente institucionalizado e formalizado segundo uma base regulamentar,

originou uma era com uma história de vida jovem quando comparada àquela

que remonta as suas ancestrais origens. Todavia, é sobre o trespassar dessa

era que ainda hoje perdura, que nos pretendemos debruçar.

Edificado nessa era está o reconhecimento de padrões estruturais que

ainda hoje se mantém e traduzem o Jogo de Futebol como um fenómeno rico e

diversificado e que, a nível de organização, sempre esteve profundamente

ligado ao(s) vulgo denominado(s), «sistema(s) de jogo».

Os «sistemas de jogo» foram então sendo alvo de naturais (r)evoluções

e inovações, mais ou menos significativas, até aos dias de hoje. Aqui ficam

alguns depoimentos que apontam nesse sentido:

- Agora fala-se em números. A viagem desde a ousadia até ao medo,

história do futebol no século vinte, é um transitar desde o 2-3-5 até ao 5-4-1,

passando pelo 4-3-3 e o 4-4-2 (Galeano, 2003);

- “Numa carreira ainda curta, tive a oportunidade de treinar três sistemas: o

4-3-3, o 4-4-2 em losango, e o 3-4-1-2” (Bento, 2007a: 28);

- Com o caminho que o futebol está a seguir, brevemente chegaremos à

formação 4-6-0 e para ser bem sucedido vamos precisar de todos os jogadores

em volta que possam defender e atacar quando aconselhado (Parreira, 2002,

citando seu compatriota Mário Zagallo).

Como se depreende destas opiniões, o passado, o presente e o futuro

do Futebol parecem assim ligados, entre outras problemáticas intrínsecas ao

fenómeno em si, ao enquadramento diferencial do ponto de vista estrutural

proporcionado pelos mais diversificados jogares das equipas. Relembrar a

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Revisão da Literatura

6

história do Jogo a par e passo com os «sistemas de jogo» é o primeiro passo, o

ponto de partida, para compreendermos o sentido atribuído às estruturas e

subestruturas organizacionais de Jogo incorporadas no jogo específico das

equipas.

2.1.1. O início…o Futebol nas suas «formas» embrion árias

Ao ser um Jogo, um Jogo que hoje mobiliza multidões, os primeiros

passos profetizados por aquele que se denominaria por Futebol antecedem,

sem surpresa, a data da sua institucionalização (1863) fixando-se nos inícios

do século XIX.

Por esta altura ainda se estavam a formar as primeiras regras do Jogo,

que mantinha muitas semelhanças àquelas existentes no Rugby, com o Jogo a

ver-se envolto em vários incidentes de violência e brutalidade.

Só mais tarde, em 1846, na Universidade de Cambridge, pela autoria de

H. De Wilton e J.C. Thiring, nasceu o «primeiro código do futebol». De destacar

que, nestas regras, entre outras, a bola não podia ser chutada no ar e um

jogador estaria imediatamente fora-de-jogo se estivesse à frente da bola não a

podendo tocar ou chutar, ou avançar, até que um elemento da equipa opositora

a tocasse primeiro (Enciclopédia Mundial de Futebol, s.d.; Castro et al., 2006).

Ficou então a conhecer-se a época dos dribladores por se fazer um Jogo

predominantemente de condução de bola e de fintas, onde a perícia dos

jogadores era o que mais contava. Cada atacante com a posse da bola

procurava empurrá-la para a frente em investidas solitárias até a perder em

favor de um adversário. Os seus colegas de equipa acompanhavam-no pelo

terreno até ele ser privado do esférico e tentavam, então, recuperá-lo e iniciar

uma nova penetração (Morris, 1981; O’Brian, 2003; Castelo, 2004).

Esta forma de jogar e encarar a prática do Jogo pelos seus executantes

encontrava-se, desta feita, ainda muito condicionada pela realidade

regulamentar vigente. Não sendo possível executar passes para a frente,

dificilmente os jogadores se poderiam distribuir em campo segundo outras

disposições que não aquela que é considerada como uma das suas mais

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Revisão da Literatura

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primitivas, o 1-1-9 (conforme Figura 1). Por outras palavras, alinhavam-se em

campo: um guarda-redes, um defesa e nove avançados. Era um jogo

claramente propenso à intervenção individual dos jogadores, praticamente

desprovido de sentido colectivo.

Figura 1. Representação da Estrutura 1-1-0-9.

Em 1863, a separação definitiva entre o Futebol e o Rugby haveria de

surgir através da formação da Football Association – que futuramente iria dar

lugar à Federação Inglesa de Futebol – impondo-se como finalidade a criação

de um conjunto de regras que uniformizassem o Futebol e também

eliminassem a violência deliberada nele existente (Castro et al., 2006; Jónatas

et al., 2006).

Logo em 1866, ao permitir-se a realização de passes para a frente, a lei

do fora-de-jogo viu-se modificada de forma a que um jogador passava a ser

considerado em fora-de-jogo se recebesse a bola sem ter pelo menos três

adversários entre si e a linha de baliza adversária (Guilherme Oliveira, 2004;

Jónatas et al., 2006). Esta alteração regulamentar produziu um impacto

profundo na manifestação colectiva do jogar das equipas, contribuindo,

sobremaneira, para o aparecimento e desenvolvimento das organizações

estruturais.

Através de Charles Allcock criou-se a Football Association Cup, o torneio

de Futebol mais antigo de todos (Elleray, 2003). E, a partir daí, tornou-se então

mais facilitada a identificação das primeiras formações (estruturas) que

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Revisão da Literatura

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marcaram as primeiras grandes abordagens ao Jogo do ponto de vista

colectivo (Lobo, 2008).

Uma primeira disposição (ver Figura 2) verificou o recuo de um dos nove

atacantes pela necessidade verificada em preencher a lacuna entre o defesa

recuado e a linha avançada. Assim sendo, a disposição era de um guarda-

redes, um defesa, um defesa-médio e oito avançados (1-1-1-8).

Figura 2. Representação da Estrutura 1-1-1-8.

Já na década de 70 do século XIX viu-se reforçada esta tendência,

fazendo recuar um segundo avançado e deixando na linha da frente apenas

sete jogadores, como se pode perceber pela Figura 3. Isso significava a

existência de dois médios colocados entre o defesa recuado e a linha de

avançados com ordens para defender quando o adversário atacasse formando

o dispositivo 1-1-2-7 (Morris, 1981; Galeano, 2003; Castelo, 2004; Lobo, 2008).

Figura 3. Representação da Estrutura 1-1-2-7.

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Revisão da Literatura

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Em último, por intermédio duma outra disposição, o 1-2-2-6 (ver Figura

4), afirmou-se a época dos dois defesas (Castelo, 2004: 70). Segundo Morris

(1981), foi a partir deste momento que o Jogo de Futebol deixou de ser o jogo

de «penetração solitária» para se transformar num «jogo de passagem».

Quando outrora se corria para trás e para a frente, os jogadores eram

agora obrigados a espalharem-se no espaço de jogo, adquirindo assim

especial importância não só o sentido defesa/ataque como também o sentido

da largura e da profundidade da equipa. O Jogo passou a centrar-se mais no

colectivo, sobretudo ofensivamente, traduzido na acção do passe.

Defensivamente, obteve-se a resposta na distribuição em campo dos jogadores

com a presença de um guarda-redes, dois defesas, dois médios e seis

avançados (Morris, 1981; Castelo, 2004).

Decorridos poucos anos, gradualmente se percebeu o despoletar de

cada vez maiores preocupações defensivas, traduzidas pelo recuo sucessivo

de jogadores no terreno de jogo, na organização de jogo das equipas

(Enciclopédia Mundial de Futebol, s.d.).

Figura 4. Representação da Estrutura 1-2-2-6.

Para fazer frente ao aperfeiçoamento do «jogo de passagem» que

acarretava beneméritas vantagens para quem atacava, e igualmente inculcava

enormes dificuldades em quem defendia, rapidamente urgiu nas equipas em

defensivamente anulá-lo e ofensivamente potenciá-lo, chegando-se ao recuo

de um dos seis avançados e assim fazer nascer uma nova posição…o médio

centro.

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Revisão da Literatura

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Com esta alteração e com a pretensão de tentar equilibrar o jogo

posicional em campo das equipas, apareceu uma estrutura em forma de

pirâmide que se espalhou por todo o mundo e que perdurou durante cinquenta

anos.

Reconhecido por sistema clássico, o 1-2-3-5 (apresentado na Figura 5)

configurava uma pirâmide constituída por um guarda-redes protegido por dois

defesas e três médios, com cinco avançados. Pela primeira vez se

concretizava a distribuição dos jogadores pelos três sectores (defensivo,

intermédio e ofensivo) da equipa e passava a existir um evidente maior

equilíbrio entre a defesa e o ataque, uma vez que cinco avançados quando a

atacar se viam confrontados com cinco jogadores adversários (os três médios

auxiliavam os dois defesas), incrementando a eficiência da «marcação

individual»9 (Castelo, 2004).

Figura 5. Representação da Estrutura 1-2-3-5 (Sistema Clássico ou em Pirâmide).

O Futebol encerrava assim uma fase em que, com o jogo de passe,

paulatinamente se foi alterando a ideia central do Jogo com mais

manifestações individuais para mais manifestações colectivas (Guilherme

Oliveira, 2004).

9 Interprete-se como «defesa individual». A organização defensiva de uma equipa está relacionada com a interpretação do conceito de «marcação». Na generalidade, «marcação» é entendido como “uma acção que tem como «alvo» um jogador adversário” (Amieiro, 2005: 201). Trata-se do exacerbar da lógica subjacente à «defesa homem-a-homem» em que a referência de posicionamento é a única referência-alvo. O adversário directo é assim a referência que baliza esta forma de defender (muitas das vezes substituída pelo adversário atribuído pelo treinador) (Amieiro, 2005).

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Revisão da Literatura

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2.1.2. As primeiras grandes (r)evoluções operadas p elos «Grandes

Napoleões»

Em 1925, fruto de uma nova alteração na lei de fora-de-jogo, reduzindo

de três para dois jogadores oponentes que o atacante podia ter entre si e a

linha de baliza contrária quando recebia a bola, o Jogo viria a atravessar outro

significativo período evolutivo (Guilherme Oliveira, 2004; Jónatas et al., 2006).

A era do sistema clássico aproximava-se, por sua vez, do fim.

Se alguém contribuiu para o fim da era da pirâmide que tinha vindo,

durante vários anos, a aperfeiçoar-se e consolidar-se no Futebol, foi um

treinador visionário de seu nome Herbert Chapman.

Chapman, treinador do Arsenal de Londres na década de 30 do século

XX, criou uma inovadora disposição dos jogadores no campo – o sistema WM

–, uma formação em 1-3-2-2-3, correspondente à Figura 6 mais à frente

representada, que dava indícios de se desdobrar para além dos sectores

fundamentais que ainda hoje são referência na organização colectiva do jogo.

Para obter esta estrutura em WM, Chapman converteu o médio centro

num terceiro defesa (defesa central), não podendo este participar nas acções

ofensivas da equipa, devendo antes ficar entre os dois defesas vigiando e

marcando individualmente o avançado centro adversário (Morris, 1981;

Castelo, 1994). Adicionalmente, fez recuar dois dos cinco jogadores de ataque

ocupando posições que seriam designadas de interiores assim como os dois

médios ala flectiam no terreno para desenhar um quadrado a meio-campo

(Jónatas et al., 2006; Lobo, 2008).

Com este «sistema de jogo» passou a exprimir-se na manifestação do

jogo uma evidente superioridade do colectivo sobre o individual, ao

proporcionar-se uma ocupação de todo o campo mais equilibrada pela

equidade numérica entre defesas e atacantes (Castelo, 2004). Tornando-o num

jogo mais colectivo do que o até então praticado, o resultado final passava a

ser fruto das relações que os jogadores assumiam entre si e não como o

somatório de funções individuais levadas a cabo no jogo (Guilherme Oliveira,

2004).

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Figura 6. Representação da Estrutura 1-3-2-2-3 (WM) de Chapman.

Paralelamente, não a nível de clubes mas de selecções nacionais, um

outro treinador teve um impacto profundo na história do Futebol mundial –

Vittorio Pozzo. Como treinador foi uma figura muito importante ao dominar o

Futebol mundial nos anos 30 do século XX, tornando-se (entre outros títulos)

bicampeão mundial pela selecção da Itália, com duas conquistas consecutivas,

1934 e 1938.

O treinador italiano revelar-se-ia enormemente influenciado pela paixão

e natureza física do Jogo, que em muito contrastava com a maneira como a

maior parte dos continentais jogavam (História do Futebol, 2003).

As ideias de Pozzo assentavam essencialmente num jogo sem bola com

uma defesa segura, partindo rápido para o contra-ataque no momento do

ganho da posse da bola, com um jogo rápido e em profundidade, e um ataque

constituído por jogadores com reconhecidas capacidades técnicas (Rias et al.,

1998, cit. Guilherme Oliveira, 2004).

Sem se revelar inovador na distribuição dos jogadores em campo,

utilizando o sistema em pirâmide, Pozzo demarcou-se por ser o precursor do

contra-ataque e das trocas de posição dos avançados (Sebastián, 1996, cit.

Guilherme Oliveira, 2004), sabendo manter a unidade dos jogadores, a quem

transmitia confiança e segurança (Castro et al., 2006).

Por último, liderada por Hugo Meisl, existiu uma outra equipa a que

apelidaram de equipa maravilha, ou melhor, de wunderteam.

O onze maravilha da Áustria confiava nas sublimes capacidades

desenvolvidas nas ruas e repudiava os aspectos mais físicos do jogo,

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Revisão da Literatura

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conseguindo um percurso notável desde 1931 ao conhecer somente duas

derrotas durante os três anos seguintes (História do Futebol, 2003).

A criação de Meisl cedo mostrou que o seu pensamento ultrapassava os

desenhos no papel, sendo o médio centro e o avançado centro com

movimentos de recuo no terreno os grandes construtores do jogo ofensivo da

equipa e em que os interiores eram os principais finalizadores. Esta era uma

equipa de elevada propensão atacante, não fosse o próprio Meisl o célebre

autor da frase, «a melhor defesa é um bom ataque», chegando a colocar seis

jogadores em fases finais de construção ofensiva com a subida no terreno por

parte do médio centro (Lobo, 2008) (Figura 7).

Figura 7. Representação da Estrutura da Wunderteam de Meisl.

Com a morte prematura de Meisl em 1937 e devido à Segunda Guerra

Mundial que impediu a realização dos Mundiais de 1942 e 1946 foram

necessários quase vinte anos, até 1953, para se assistir a uma nova alteração

na norma vigente até à data nos «sistemas de jogo» adoptados.

Todavia, ninguém ficara indiferente às ideias de Meisl centradas num

futebol ofensivo, inspirando treinadores futuros, assim como a Pozzo e

Chapman que acabaram, cada um com a sua obra, por revolucionar

ideologicamente o Jogo, passando-o de uma índole individualista para uma

orquestração mais colectiva, compreendendo cada jogador funções a

desempenhar no campo e no jogo em prol do colectivo (Guilherme Oliveira,

2004).

Assim, estes três treinadores podem bem ser denominados os «Grandes

Napoleões» do Futebol em tempo de guerra na Europa (História do Futebol,

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Revisão da Literatura

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2003). Todos eles foram inovadores, triunfantes e diferentes na forma como

pensaram o jogo e colocaram as suas equipas a jogar.

Com estes treinadores passou a perceber-se a verdadeira dimensão que

o Futebol reclamaria para si no sentido do melhor entendimento de Jogo no

que à sua riqueza organizacional diz respeito, deixando de parte uma filosofia

que vigorou durante anos e que é facilmente perceptível nas palavras do

treinador uruguaio Alberto Suppici, Campeão do Mundo em 1930: “Não

tínhamos quadro negro, nem falávamos de sistemas de jogo. (…). No campo,

havia uma breve troca de ideias e quem dirigia a equipa era o capitão” (in

Castro et al., 2006: 50).

2.1.3. Do «sistema estático» (estrutura de jogo) ao «sistema táctico»

(dinâmica de jogo)

Dos anos 30 aos anos 50, o WM dominou e era considerado quase

perfeito, em que a visão táctica do jogo continuava demasiado rígida ao nível

posicional (Lobo, 2008). Gustav Sebes e a selecção húngara mudaram esse

curso dos acontecimentos.

Em 1953, a Hungria foi jogar a Inglaterra e os oitenta e um anos de

invencibilidade da Inglaterra em casa perante equipas estrangeiras chegou ao

fim, com uma vitória por 6-3 para a Hungria. Um mês depois, desta vez na

Hungria, nova vitória por uns contundentes 7-1 (História do Futebol, 2003).

Sebes operou uma mudança profunda na concepção táctica da época,

sendo dada aos jogadores liberdade para experimentarem, impondo uma

dinâmica (mobilidade) dos jogadores e da equipa até então inexistente nas

equipas da época, de tal maneira que a sua estrutura assumia contornos

distintos aquando do momento ofensivo e do momento defensivo.

Em retrospectiva, o treinador da selecção húngara conhecedor da

rigidez posicional do WM assente em fortes «marcações individuais»,

potenciou na sua equipa a capacidade de criação de espaços no momento de

ataque percebendo a necessidade da equipa estar bem posicionada para

defender quando não tinha a bola.

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Lobo (2008) refere que o falso ponta de lança recuava no terreno, dando

passos atrás no campo para ser acompanhado pelo seu marcador directo e era

nesse momento que a bola entrava nos espaços vazios, nas costas da defesa

inglesa, convertendo o WM em um MM. Já em posições defensivas, os

húngaros adoptavam o UM, com a subida dos extremos e o recuo dos

interiores e do avançado centro (Jónatas et al., 2006) (ver Figura 8).

Imbuída por ideias que manifestamente exaltavam um jogo de ataque, a

equipa húngara de Sebes chegava a movimentar-se no campo de maneira a

que, aquando do recuo do ponta de lança, os dois interiores avançavam no

terreno para formar uma dupla de avançados centro e que juntamente com os

dois extremos indiciavam, segundo Castro et al. (2006) e Lobo (2008), uma

transição do WM para uma estrutura que viria a surgir poucos anos mais tarde:

o 1-4-2-4 (um guarda-redes, quatro defesas, dois médios e quatro atacantes).

Com um jogar assente em constantes alterações posicionais, a par de

outras tantas qualidades dos seus jogadores, a equipa húngara e o seu

treinador Gustav Sebes revolucionaram um período de «antítese» ao seu

futebol praticado. Juntos opuseram-se ao estaticismo posicional que até então

vigorava com a dinâmica (entenda-se, mobilidade) da equipa e dos jogadores,

dinâmica essa que passou a ser um aspecto fundamental do Jogo.

Figura 8. Representação das Estruturas MM e UM da Hungria de Gustav Sebes.

No Continente Americano também se foram processando modificações

no Jogo, fruto de anos e anos de Futebol (já) vivido, pensado e praticado. De

destacar a selecção brasileira nos Mundiais de 1958 e 1962 com as suas

inovações no que aos «sistemas de jogo» diz respeito e à sua capacidade de

Equipa a atacar - MM

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Equipa a defender - UM

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Revisão da Literatura

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conjugar as características e capacidades dos jogadores ao posicionamento

por eles apresentado durante o jogo (Guilherme Oliveira, 2004), cujas

estruturas de jogo se encontram representadas na Figura 9.

Foi no Mundial de 58 que o campeão Brasil se apresentou com a já

mencionada inovação posicional representada pelo 1-4-2-4. Comparativamente

à estrutura magiar (húngara) esta estrutura promove a descida de um dos

interiores para a posição de médio e um dos médios centro para o lado do

stopper e assim criar uma linha de quatro defesas, com dois centrais (Jónatas

et al., 2006).

Para Castelo (2004), com este «sistema de jogo» o Brasil demonstrou

uma vantagem: rapidez de transformar uma forte defesa num forte ataque,

aliado à mobilidade dos jogadores para desta forma criar situações de

superioridade numérica. O mesmo autor acrescenta que, pela primeira vez na

história do Futebol o número de jogadores a constituírem o sector defensivo

superava o número de jogadores do sector avançado.

Quatro anos mais tarde, no Mundial de 62, o Brasil sagrava-se

novamente campeão com um 1-4-3-3 em que a linha média passava a ser

constituída por três jogadores e a linha avançada somente com três. Esta

estrutura derivava da utilizada no mundial anterior, com a adaptação do falso

extremo (esquerdo) a um constante auxílio na zona intermediária (Jónatas et

al., 2006).

Figura 9. Representação das Estruturas 1-4-2-4 (Brasil de 1958) e 1-4-3-3 (Brasil de 1962).

Os inícios da segunda metade do século XX parecem indiciar uma

revolução ao nível das manifestações do jogar em que as ideias que o

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Revisão da Literatura

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treinador tinha sobre o jogo que pretendia para a sua equipa se conjugam cada

vez mais e melhor às características e capacidades dos seus jogadores. Por

outro lado, parecem igualmente rumar na prossecução dos objectivos

preconizados pelo próprio Jogo, ou seja, a procura do golo e da vitória.

Puskas, um dos melhores jogadores da história do Futebol e o mais

famoso do Futebol húngaro recorda que “éramos os melhores do nosso tempo,

o que nos permitia fazer muitas mudanças durante o jogo, mover-nos por todos

os lados, e ficar com a bola a maior parte do tempo. Simplesmente, um goleiro,

três defensores, dois meio campistas e cinco atacantes” (in Castro et al., 2006:

51).

Todavia, à semelhança da evolução (ou involução) verificada até então,

outros treinadores e equipas procuraram outros «caminhos», sustentados em

estruturas cuja dinâmica privilegiava primeiramente um maior rigor defensivo

em detrimento de um maior pendor ofensivo. Um exemplo empírico desta

tendência pode ser dado com o Campeonato do Mundo de Inglaterra, em 1966,

em que todas as equipas reforçaram o seu sector defensivo ao apresentarem

superioridade numérica dos defesas face aos avançados utilizados (Godik &

Popov, 1993).

Os mesmos autores sublinham também que as equipas e os jogadores

se distinguiam pelas suas valências físicas, agudizando a luta pelo domínio do

meio campo. Por isto, não surpreende o Futebol exibido pela campeã,

Inglaterra, ter sido apelidado de «futebol industrial» onde todos os jogadores

trabalhavam muito…em que o trabalho dominava sobre o jogo a produzir.

Assente nesta filosofia de jogo de grandes cautelas defensivas, novas

estruturas de jogo passaram a desenhar-se em campo como foram os casos

do 1-5-3-2 (1 guarda-redes, 5 defesas, 3 médios, 2 avançados) ou o 1-5-4-1 (1

guarda-redes, 5 defesas, 4 médios, 1 avançado), em que se tornava evidente a

superioridade do número de jogadores do sector defensivo em relação ao dos

sectores intermédio e avançado. O «libero» passava a assumir um papel

determinante na equipa ao jogar nas costas dos 2 defesas centrais e

desempenhar funções de cobertura aos seus companheiros (Castelo, 2004;

Jónatas et al., 2006).

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Revisão da Literatura

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Assim reinou Helenio Herrera, reconhecido mundialmente por ter

introduzido a palavra «catenaccio» no léxico do futebol (ver Figura 10). Por

detrás de uma estratégia de «não arriscar» estava a pressão para obter

resultados. Em 1964 e 1965 consagrou-se campeão europeu com o Inter de

Milão e tornou a equipa num símbolo do princípio de que o «1-0», com o golo

marcado no contra-ataque era o resultado ideal (História do Futebol, 2003).

Figura 10. Representação das Estruturas 1-5-3-2 (1-1-4-3-2) e 1-5-4-1 (1-1-4-4-1)

(Catenaccio) de Helenio Herrera.

Os finais da década de 50 e a década de 60 revelaram-se determinantes

para a evolução do Jogo com o aparecimento de novas ideias que

evolucionaram a componente táctica e o aparecimento de jogadores muito

dotados tecnicamente (Guilherme Oliveira, 2004).

Com os jogadores a abandonarem a noção estática de posição para

adquirirem uma noção que engloba uma maior abrangência e exigência de

funções, via-se incrementado o dinamismo dos jogadores e do próprio jogo,

sendo dada maior liberdade à criatividade desses jogadores para ser

manifestada em jogo, algo que até então não acontecia.

Chegámos a uma fase da história do Futebol em que o jogar em 1-4-2-4

ou em 1-4-3-3 (etc.) parece carecer de um enquadramento conceptual e

operacional da organização do jogo das equipas como estruturas do jogo

(entenda-se, organização estrutural) das equipas. Quando outrora, p.e., jogar

em 1-4-3-3 implicava uma elevada correlação entre a estrutura (de jogo) e as

funções a cumprir pelos jogadores e pela equipa assim como as características

específicas resultantes desse jogar («sistema estático», pobre em interacções

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Revisão da Literatura

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ou funcionalidade colectiva), marcando a diferença a capacidade individual dos

jogadores; com a evolução ocorrida neste período, estes «sistemas» passaram

a estar sujeitos a uma grande dinâmica funcional, colectiva e individual, de

forma a (até) se poderem converter em outras estruturas (Guilherme Oliveira,

2004).

Aliás, “uma mesma estrutura gera dinâmicas diferentes e por isso, um

«jogar» diferente. A evidenciar esse facto, percebemos que existem inúmeras

equipas que partem de uma mesma estrutura mas a organização das relações

dos jogadores nos vários momentos são díspares” (Silva, 2008: 28).

Partindo da lógica que tem vindo a ser apresentada, surge a explicação

do termos distinguido o conceito de estrutura e de sistema10 (de jogo).

Pertinentemente, Guilherme Oliveira (2004: 26) justifica o denominar-se

“organização estrutural à disposição inicial dos jogadores em campo (1-4-2-4,

1-4-4-2, 1-4-3-3…) e sistema (táctico) de jogo ao conjunto da organização

estrutural, da organização funcional, da dinâmica, que a equipa consegue ter

em jogo, e das respectivas características específicas que lhe dão sentido,

evidenciando uma determinada forma de jogar”.

2.1.4. Um Acentuar de diferenças…

À medida que a segunda metade do século XX avançava, começava-se

a perceber, cada vez mais, um acentuar das diferenças entre duas

«correntes»: a táctico-técnica11 e a táctico-física12.

Contextualizando, Pereni & Di Cesare (1998) lembram que enquanto a

maioria dos clubes do norte europeu se concentravam nas capacidades

atléticas, interpretação metódica do desempenho e na disciplina táctica

10 A equipa e o seu jogar devem ser entendidos como um sistema (de sistemas) (Garganta & Gréhaigne, 1999; Teodorescu, 2003; Guilherme Oliveira, 2004; Silva, 2008; …). Segundo a observação e reflexão sobre décadas de desenvolvimento do conceito de sistema em diferentes ramos da ciência, Durand (2002) reconhece que as noções de inter-relação (dos seus elementos) e de totalidade são duas condições sine qua none que resultaram das definições produzidas. Um sistema é, portanto, “um todo dinâmico cujos elementos estão ligados entre si e que tem interacções” (Bertrand & Guillemet, 1994: 46). Desta forma, Gaiteiro (2006) observa o sistema como uma estrutura viva que se não apresentada sob a forma de jogar (interacções) vê a sua natureza desvirtuada e a estrutura destruída. Por isso, ao se entender a equipa como sistema, confere-se-lhe capacidade para se «deformar», ultrapassando o estaticismo da estrutura. 11 Manifestação de um Jogar (colectivo) apoiado fundamentalmente nas dimensões táctica e técnica, sendo a dimensão física um suporte destas e não a geradora do processo (Guilherme Oliveira, 2004). 12 Manifestação de um Jogar (colectivo) apoiado fundamentalmente nas dimensões táctica e física, tendo a técnica um papel secundário (Guilherme Oliveira, 2004).

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Revisão da Literatura

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vulgarmente caracterizadas pelo exemplar auto-controlo para assim alcançar o

sucesso; outros – geralmente menos dotados do ponto de vista físico –

enveredaram por diferentes soluções, utilizando as habilidades de drible e

condução de bola e criatividade; de facto, o seu jogar resultou essencialmente

da sua imaginação e improvisação (sempre caracterizadas por um certo

cuidado táctico) em detrimento de rígidos esquemas de jogo a exibir.

O surgir da mais significativa e recente «inovação» táctica – a dinâmica

(mobilidade) da equipa e dos jogadores – veio servir como tónico para, dentro

desta realidade existente, fazer passar o Jogo por uma nova (r)evolução, não

só na lógica das ideias como da sua pretensão de concretização no jogar das

equipas propriamente dito (Enciclopédia Mundial de Futebol, s.d.; Pinto, 1996;

Lovrincevich, 2002). Algo que até hoje ainda perdura.

Da dinâmica de jogo que as equipas começavam a apresentar à

necessidade em potenciar as capacidades físicas dos jogadores para garantir o

êxito individual e colectivo tácticos das equipas foi um «ápice» e desta relação

se «modernizaram» os processos de treino, o jogador e o Jogo (Lovrincevich,

2002).

Aquilo que era outrora o Futebol como uma prática lúdica e de prazer

para quem o jogava, independentemente de se conquistar ou não a vitória, com

o pretendido e necessário desenvolvimento do Jogo, foi-se alterando face às

tentativas por parte dos seus interventores em compreender como o melhorar

(Guilherme Oliveira, 2007).

O mesmo autor, num pertinente brainstorming sobre a história, vem de

encontro ao que temos vindo a expor. Este recorda que, no «início», o Futebol

era um Jogo fundamentalmente técnico e em que procurou evolucionar o

jogador tecnicamente, tentando que essas melhorias implicassem melhores

desempenhos tanto individuais como colectivos. Vivia-se num período em que

o paradigma científico era o pensamento mecanicista13 (Guilherme Oliveira,

2007).

13 Reconhecido também como método de pensamento cartesiano ou analítico, que «corta em partes» (Bertrand & Guillemet, 1994); ou «paradigma da simplificação» em que, se conhecendo bem as partes se conhece o todo (Morin, 2003). Tendo Descartes (século XVII) como principal precursor, procurou “apresentar uma descrição precisa de todos os fenómenos naturais num único sistema de princípios mecânicos” (Capra, 1982: 57).

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Revisão da Literatura

21

Para que se compreenda este pressuposto, importa focar que durante

esse período que faz corresponder àquilo que Garganta (1999) identifica como

as duas primeiras fases (de três) do direccionamento da investigação

académico-científica, a dimensão técnica foi o principal alvo em estudo e a

dimensão física emersa como factor dominante do rendimento, abordagens

estas sob uma perspectiva mecanicista (Pinto, 1996). Quanto aos aspectos

tácticos e estratégicos só adquiriram maior interesse posteriormente (Garganta,

1999).

Mais tarde (sobretudo a partir dos finais dos anos 60 e inícios dos anos

70 do século XX), com a intenção de uma evolução contínua, compreendeu-se

que o Futebol não era apenas um jogo técnico, também era táctico e físico.

Todavia, a operacionalização continuava a manifestar-se de uma forma

mecanicista, em que a separação entre o físico, o técnico e o táctico era

indiscutível (Guilherme Oliveira, 2007).

Perante tal conjuntura, salvo raras excepções (Argentina, Holanda e

Brasil), o Jogo passou a caracterizar-se por uma constante elevada intensidade

sob ponto de vista físico, e como se passou a sobrevalorizar jogadores dotados

de qualidades correspondentes a esse tipo de Futebol (em detrimento dos

tecnicamente mais dotados), o Jogo passou a ser sobretudo não sofrer golos e

não deixar jogar os adversários (Guilherme Oliveira, 2004).

Relativamente a este problema que se passou a equacionar, para além

do já descrito sobre a década de 60, recordámos um início da década de 70

aparentemente não muito distinto. A exemplo disso, Galeano (2003) lembra o

Mundial de 70, em que o Brasil foi um digno vencedor, e já se havia imposto no

mundo a mediocridade do Futebol defensivo, com toda a equipa atrás,

armando o «ferrolho»14, e na frente um ou dois homens a jogar sós. Já haviam

sido proibidos o risco e a espontaneidade criadora.

Quanto ao supracitado como aparentemente não muito distinto referimo-

nos a uma outra concepção de jogo que fez «finca-pés» na demarcação da sua

14 Precedente ao «Catenaccio», foi uma estrutura de jogo concebida e sistematizada pelo treinador austríaco Karl Rappan ao serviço da selecção Suíça nos anos 30 (século XX). Esta estrutura baseada na marcação individual obteve excelentes resultados ao aumentar a protecção das zonas próximas da própria baliza, reforçando o sector defensivo através da colocação de um «defesa-vassoura» (posição que posteriormente evoluiria para «libero») nas costas dos outros defesas garantindo uma cobertura eficaz (Lovrincevich, 2002; Castro et al., 2006; Jónatas et al., 2006).

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Revisão da Literatura

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diferença para com aquela se vinha emancipando. Mais concretamente, face a

um Futebol de expectativa esta concepção defendia um Futebol de iniciativa;

em oposição a um Futebol estruturado para não sofrer golos, um Futebol

dinâmico na procura do golo.

Os anos 70 e inícios dos anos 80 assinalaram, portanto, essa concepção

de jogo, reescrevendo a confirmação da dinâmica, da mobilidade de jogo, sem

colocar em causa a ordem (organização) da equipa. Duas equipas o

personificaram: Ajax e Holanda.

Na opinião do antigo treinador do Ajax e selecção da Holanda, Rinus

Michels (2003), a frase «Futebol Total» foi desenvolvida num período em que o

Ajax estava a jogar o seu melhor futebol. No entanto, é possível que outras

equipas na história do futebol, como os húngaros, ou mesmo os austríacos, no

passado, a «Wunderteam», jogassem um futebol que poderia ser chamado de

«Futebol Total». Segundo este entendimento, e inter-ligando o que até então

foi desenvolvido neste ponto da revisão literária, diferentes «sistemas de jogo»

(leia-se, estruturas de jogo), podem servir perfeitamente os intentos de uma

mesma filosofia de jogo reproduzindo diferentes formas de jogar.

Cruyff (2002) lembra que, quer no Ajax quer na selecção holandesa, se

jogava com uma extraordinária liberdade, mas uma liberdade dentro de uma

ordem. Havia liberdade para qualquer um, mas só para um jogador e, quando a

tinha, pelo menos cinco jogadores tinham de aguentar-se e cobrir as suas

costas, ocupando espaços vagos. Complementando, Galeano (2003) ressalva

o facto de chamarem à selecção holandesa de «Laranja Mecânica», mas que

nada tinha de mecânico aquela obra da imaginação, que desconcertava a

todos com as suas trocas (de posição) incessantes.

Ao encontrar jogadores capazes de mudar de posições com muita

facilidade (História do Futebol, 2003), tanto em largura como em profundidade,

o seu sistema envolvia o movimento activo e participação não só dos jogadores

que interrompiam com sucesso o ataque adversário, mas sim a totalidade dos

jogadores da equipa como um todo (Pereni & Di Cesare, 1998). Resumindo,

todos atacavam e todos defendiam, estendendo-se e encurtando-se como um

leque, e o adversário acabava por perder as suas pegadas frente a uma equipa

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Revisão da Literatura

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onde cada um era onze (Galeano, 2003). Era o preconizar e materializar da

importância de objectivar o jogar à luz do paradigma sistémico15.

O «Futebol Total» foi o progenitor de uma série de «inovações» que em

muito enriqueceram qualitativamente o Jogo, sobretudo pela concepção

apresentada. Se para Lovrincevich (2002) foi através deste que se começou a

eliminar a concepção e colocação estática do futebolista e que ao nível das

diferentes dimensões conexas ao Jogo (física, técnica e táctica) não se

advertiam diferenças de rendimento entre os dez jogadores que se situavam

em campo, Lobo (2005) esclarece o seu porquê na noção de missão de

defender e de atacar nunca poderem ser compartimentos (leia-se, momentos)

estanques, mas, pelo contrário, precisarem de ter uma interligação plena, ao

ponto de a capacidade de distinguir esses dois momentos ser reduzida ao

mínimo espaço temporal, quase imperceptível.

Entendemos assim que, pela dinâmica (mobilidade) da equipa

referenciada pelos diferentes autores relativamente ao «Futebol Total» cujos

feitos maravilharam o mundo pelo Futebol exibido, estava indiciado aquilo que

no presente viria a ser um aspecto chave das grandes equipas – a necessidade

de promover a «indivisibilidade dos momentos16 do jogo» (ataque, defesa,

transições) quanto ao investimento colectivo de não descaracterização

organizacional do jogar pretendido. Para isso parece fulcral toda a equipa e

jogadores (respectivamente) se envolverem nesse jogar – um «todo

inquebrantável» segundo Frade (1985) – que, sendo específico, solicita certos

e determinados requisitos das dimensões técnica, física, psicológica e (mesmo)

estratégia sob alçada da dimensão táctica17, na procura de levar a efeito uma

organização de jogo de qualidade na articulação dos momentos de jogo.

15 “Os paradigmas são estruturas de pensamento que de modo inconsciente comandam o nosso discurso” (Morin, 2002: 17). A sistémica ou teoria geral dos sistemas rompe com o entendimento preconizado pelo racionalismo cartesiano (pensamento mecanicista). De acordo com Morin (2003), a virtude sistémica passa por se centrar na noção de sistema, não como uma unidade elementar discreta, mas uma unidade complexa, um «todo» que não se reduz à «soma» das suas partes constituintes. 16 Momento, entendido como tempo ou ocasião em que algo acontece (Freitas, 2006), existindo uma ordem arbitrária e não uma lógica ininterruptamente sequencial implícita no conceito de «fases», apresentada por diversos autores, em que p.e., aquela equipa que está a defender, quando recupera a bola, passa a atacar e de imediato a outra equipa passa a defender (Guilherme Oliveira, 2004; Silva, 2008). 17 Em primeiro lugar, fazemos menção ao termo táctica provir do grego «taktikee» (colocar em ordem as coisas) (Cervera et al., 2008). Neste sentido torna-se lógico entender que a componente táctica parece ocupar um lugar central no sentido da concretização de um corpo de ideias de jogo (Fernandes, 2003), em que “o táctico é tudo o que nós queremos que aconteça, é completamente contextualizado, não é um táctico abstracto, por isso é o táctico daquela equipa e outra equipa terá um táctico diferente” (Guilherme Oliveira, 2006: vi). Daí se compreender que Frade (2005b) lhe denomine de «supra dimensão», porque o táctico é uma relação, uma verificação da organização que, para se

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Revisão da Literatura

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Com o seu «carrossel mágico» no Futebol passou a ser fundamental,

“não a distribuição dos jogadores desta ou daquela maneira, mas a dinâmica

necessária para criar permanentemente situações de vantagem, numérica ou

posicional nas zonas de disputa de bola, quer em situações defensivas quer

em situações ofensivas. Noções como solidariedade, polivalência, «pressing»18,

compensações, coberturas, equilíbrio, etc. começam a fazer parte da

terminologia do Futebol” (Pinto, 1996: 52-53).

Suportando-nos em Cappa (2004) poderíamos referir que, enquanto que

as alterações à «lei do fora-de-jogo» deram origem à primeira grande inovação

(táctica) no Jogo, com a dinâmica de jogo (onde o «pressing» também se pode

incluir pela inter-relação com a necessidade de impor – ofensivamente – uma

forma de jogar) ocorreu a segunda grande inovação (táctica) no Jogo.

A primeira – «lei do fora-de-jogo» – inequivocamente influenciou o Jogo

pela verificação do repetido «desarmonizar» e necessidade de «harmonizar»

os sectores que padronizavam o Jogo nas diferentes épocas. A segunda – a

dinâmica (mobilidade) – porque a zona de intervenção dos jogadores adquiriu

outra grandeza, em que os deslocamentos dos jogadores no campo passaram

a adquirir «novos» significados, passando a existir um maior comprometimento

em termos de funções do que propriamente em termos de posições (Frade,

1985), ao que acrescentamos o facto das organizações estruturais evoluírem

em sincronia com estas evidências de concepção.

Lovrincevich (2002) relembra que os anos 70 do século passado

assinalaram ainda o aparecimento de uma estrutura de jogo que, juntamente

com o 1-4-3-3, é ainda muito utilizada na actualidade, referindo-se ao 1-4-4-2

(1 guarda-redes, 4 defesas, 4 médios e 2 avançados). Derivada da primeira,

esta estrutura surge do recuo de um dos avançados para a linha intermédia

para a fortalecer com quatro jogadores aumentando a racionalização do grande

espaço de jogo e, de acordo com Castelo (2004), permitindo uma distribuição

manifestar é necessário “dar ao pedal (dimensão física), é preciso refrear os ânimos (componente psico-emocional) e é preciso ser feito em função de um obstáculo (componente estratégico-congnitiva)”. (Frade, 1998: 3-4). 18 Em primeira instância, devemos perceber que o «pressing» está associado à organização defensiva adoptada pela(s) equipa(s), quer seja através da «defesa individual», «defesa homem-a-homem», ou «defesa à zona» tendo para cada uma implicações diferentes na manifestação do jogar. Em segunda instância, o «pressing» deve ser entendido como uma acção (individual/colectiva) no sentido de colocar sob forte constrangimento espaço-temporal a equipa adversária e, em particular, o portador da bola, para assim induzir o erro e a recuperação da bola para poder atacar (Amieiro, 2005).

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Revisão da Literatura

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equilibrada e de fácil compreensão das diferentes funções a desempenhar

pelos jogadores dos diferentes sectores da equipa.

Em ligação com o que vínhamos a destacar acerca da dinâmica que

passou a fazer parte do jogo das equipas, esta estrutura de jogo apresentou

diferentes variantes para o quarteto intermédio – como podemos depreender

pela Figura 11 – que tornavam as funções e posições diversificadas para os

jogadores em campo, diversificando em nosso entender o próprio jogar da

equipa, sendo estas: o 1-4-4-2 «em linha» (tradicional), o 1-4-4-2 em «rombo»

(losango), 1-4-4-2 «em quadrado» (Lovrincevich, 2002).

Figura 11. Representação da Estrutura 1-4-4-2 (respectivas variantes).

Com a inclusão desta(s) estrutura(s) de jogo, Lobo (2008) apresenta-nos

uns finais da década de 70 (do século XX) em que passa a existir uma

prevalência de jogadores na zona do meio campo, em detrimento do sector

defensivo e do ofensivo, concentrando aí o jogo e em que as equipas

procuravam jogar tanto em largura como em profundidade. De suma

importância está, nas palavras do mesmo autor, o facto do Jogo estar, em

muitos casos, ligado a fortes «marcações individuais», todavia novos conceitos

de «defesa à zona»19 interligados com o «pressing» e o encurtar de espaços

surgiram como novas tendências em expansão.

Consideramos de suma importância a não verificação empírica efectiva

por parte das equipas naquela época da utilização da «defesa à zona», uma

vez que para muitos desse tempo assim como no presente (Morris, 1981;

Pereni & Di Cesare, 1998; Lovrincevich, 2002; Castro et al., 2006; Jónatas et

19 Conceito abordado mais aprofundadamente no ponto 2.1.5. da respectiva revisão literária.

1-4-4-2 «em quadrado»

Gr

1-4-4-2 «em rombo »

Gr

1-4-4-2 «em linha»

Gr

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Revisão da Literatura

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al., 2006; Godik & Popov, 1993; …) haviam equipas que «marcavam à zona»,

todavia o entendimento apresentado acerca desta forma de defender diverge

daquele que nos parece ser o mais indicado para a «defesa à zona».

Exemplificando, atente-se a Rinus Michels (cit. Amieiro, 2005) ao

pretender que a sua equipa assim que perdesse a posse da bola, cada jogador

deveria rapidamente aproximar-se do adversário que estivesse mais próximo

de si (na zona em que se encontrava momentaneamente) para o «marcar».

Para este treinador esta tratava-se de uma «marcação à zona» porque cada

jogador não ficava responsável pela marcação do mesmo jogador adversário

(«marcação individual» levada a cabo por muitas das equipas na altura).

O entendimento de «marcação à zona» passava (e para muitos ainda

passa) por cada jogador da equipa, ocupando sua/uma posição dentro da

estrutura de jogo adoptada, cobrir uma «zona» que lhe correspondesse e que,

segundo Ramos (2005), pela «referência de posicionamento» ser o «adversário

directo» (o adversário mais próximo da zona de intervenção de cada jogador a

defender dentro da estrutura de jogo), faz desta uma «defesa-a-homem»20.

Procura-se no fim de contas, que as estruturas de jogo – dentro do sistema de

jogo caracterizador das equipas – «encaixem» uma na outra, em que a

referência defensiva tem (ainda) uma aproximação à dimensão individual ao

invés da dimensão colectiva que a «defesa à zona» (vai) preconiza(r).

2.1.5. …«novas» (re)organizações (estruturais) no e spaço e no

tempo rumo ao presente!

Com o Jogo a adquirir um desenvolvimento ramificado em diferentes

ideologias e consequentes formas de expressão, juntamente com diversas

metodologias de preparação (treino) que exacerbavam mais ou menos essas

mesmas ideologias, foram-se apresentando ao mundo «novas» organizações

estruturais no sentido de servirem os intentos dinâmicos (colectivos e

individuais) pretendidos pelas diversas equipas.

20 “Mescla de «marcações homem-a-homem» com «marcações individuais» e que não deve ser confundida com a «defesa à zona»” (Ramos, 2005: 2).

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Os inícios da década de 80 do século XX viriam a trazer consigo algo de

extrema importância para a concepção e conjectura do Jogo, resultado daquilo

a que Lovrincevich (2002) classificaria de «triunfo do conceito de bloco

colectivo sobre o individualismo». Segundo o autor, passou a observar-se um

Futebol «polifuncional» em que o jogador abandona o papel associado a um

«posto específico».

Este entendimento parece subentender o jogador como um elemento

também ele «polifuncional» (Valdano, 2002), em resultado de estar a cada

momento do jogo ao serviço da dinâmica de inter-relações que expressam o

jogar de uma equipa. De acordo com Frade (1985), tem a ver com o construir

(e comunicar) (n)um espaço de acção em função da própria equipa e da equipa

adversária.

Por outro lado, é nesta década que se afirma a estrutura de jogo

representada na Figura 12 – 1-3-5-2 (1 guarda-redes, 3 defesas, 5 médios e 2

avançados) – estrutura essa passível de se desdobrar em diferentes variantes

(1-3-4-1-2, etc.) consoante a filosofia mais ofensiva ou mais defensiva de cada

treinador. Ao ser utilizada, passou a reconhecer-se a necessidade de estruturar

a zona intermédia do terreno de jogo com mais jogadores (Lovrincevich, 2002;

Castelo, 2004).

Figura 12. Representação da Estrutura 1-3-5-2.

Foram sobretudo as equipas do sul da América que se notabilizaram

com estas disposições em campo, nomeadamente as selecções da Argentina e

do Brasil. Parreira (2002) lembra que no Brasil sempre existiram extremos, mas

nos anos 80, de repente, passaram a utilizar-se jogadores que faziam mais do

1-3-5-2

Gr

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Revisão da Literatura

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que somente dar amplitude e cruzar a bola. O mesmo é evidenciado por

Capinussú & Reis (2004) e por Castelo (2004), denominando-os de «alas».

Os inícios da última década do século XX ficaram marcados por uma

equipa do Barcelona – o «Dream Team» – que maravilhou o mundo com o

Futebol espectacular que exibiu, treinada por um dos treinadores mais

marcantes da história recente do Futebol, Johan Cruyff. A sua importância

adquiriu maior impacto por estar associado a um período em que o Futebol se

encaminhava decididamente para uma atitude defensiva edificado numa

confrontação eminentemente táctico-física entre as equipas.

Acérrimo defensor de um Futebol de ataque e de jogadores

tecnicamente muito evoluídos para se jogar Futebol de elevada qualidade,

apresentou um «sistema de jogo» constituído por uma «defesa a 3»21.

Cruyff apresentou ao mundo um jogar sustentado numa estrutura de

jogo em 1-3-4-3 (1-3-1-2-1-3) (ver Figura 13) que, para muitos treinadores

(Barreto, 2003), para além de ser uma estrutura (e sistema) de jogo «evoluída»

para se jogar, é também das mais difíceis.

Figura 13. Representação da Estrutura 1-3-4-3 (1-3-1-2-1-3) (Dream Team) de Cruyff.

Mourinho (2003) apresenta-nos como duas das principais dificuldades

associadas a esta estrutura: i) a necessidade dos 3 jogadores da defesa terem

que conseguir garantir a amplitude ofensiva do jogo à semelhança dos 3

jogadores avançados quando a equipa tem a posse da bola; ii) a

obrigatoriedade dos 3 jogadores da frente terem que realizar pressão (zonal)

alta e o losango do meio-campo ter que se adaptar na perfeição à posição da 21 Esta «defesa a 3» distingue-se daquelas defesas que se vêm constituídas por três defesas centrais ou em que um dos seus elementos corresponde ao tradicional «libero».

Gr

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Revisão da Literatura

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bola quando a equipa perde a posse da bola para que a defesa possa jogar

somente com 3 jogadores.

Valdano (2002), no sentido das dificuldades apresentadas por Mourinho,

faz uma análise ao Barcelona treinado por Cruyff não hesitando em mencionar

que, quando «a melhor equipa ofensiva do mundo» devia defender arruinava o

registo global, porque libertava bastantes espaços uma vez que quando o

adversário vencia a primeira e povoada linha de pressão encontrava-se com

um «latifúndio» para desfrutar.

Dadas as particularidades desta estrutura de jogo e as exigências que

lhe estão implícitas, chega-se à conclusão de que no Futebol actual a top, 3

defesas para uma amplitude de 70 metros são poucos (Valdano, 2002;

Mourinho, 2003; Cruyff, 2004). Não obstante, Cruyff apresentou uma exímia

forma de utilizar o espaço do campo para ofensivamente produzir um Futebol

de espectáculo, exigindo dos jogadores uma elevada capacidade de

posicionamento.

Quase similar à época de Cruyff surgiu um outro treinador que

surpreendeu o mundo do Futebol com a capacidade demonstrada pela sua

equipa em não se tornar defensivamente vulnerável ao adversário.

Arrigo Sacchi e o seu Milão marcariam a viragem dos anos 80 para os

anos 90 com a «defesa à zona pressionante», uma inovação (táctica) no Jogo

de extrema importância. Segundo Maturana (s.d., cit. Valdano, 2002), com

Sacchi tornou-se possível fazer da «defesa a arte de atacar».

A diferença da «defesa à zona»22 para a «zona pressionante», de acordo

com Amieiro (2005: 48), “está somente na pressão, isto é, na agressividade

com que se atacam os espaços e o portador da bola para provocar o erro e

assim recuperar a posse de bola”. Valdano (2002) e Lobo (2008) lembram o

Milão de Arrigo Sacchi como uma equipa astuta, dinâmica e generosa, que

22 Amieiro (2004: 31-32) sintetizou como sendo (aconselha-se a leitura integral do seu trabalho monográfico): “i) os espaços são a grande «referência-alvo» de «marcação»; ii) a grande preocupação é, por isso, «fechar como equipa» os espaços de jogo mais valiosos (os espaços próximos da bola), para assim condicionar a equipa adversária; iii) a posição da bola e, em função desta, a posição dos companheiros são as grandes «referências de posicionamento»; iv) cada jogador, de forma coordenada com os companheiros, deve fechar espaços, de acordo com a posição da bola; v) a existência permanente de um «sistema de coberturas sucessivas» é um aspecto vital, o qual é conseguido pelo escalonamento das diferentes linhas; vi) é importante pressionar o portador da bola para assim este se ver condicionado em termos de tempo e espaço para pensar e executar; vii) é a ocupação cuidada e inteligente dos espaços mais valiosos que permite, por arrastamento, «controlar» os adversários sem bola; e viii) qualquer «marcação próxima» a um adversário sem bola é sempre circunstancial e consequência dessa ocupação espacial racional”.

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Revisão da Literatura

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cerrava sem tréguas os caminhos do centro do campo para submeter o rival a

um estreito sem saída em que a linha lateral era como uma parede, ao mesmo

tempo que a defesa se adiantava massivamente (entenda-se, colectivamente)

para aumentar a zona de impedimento do rival e em que o fora-de-jogo era

como um precipício.

Com este treinador o espaço e o tempo via-se sobremaneira reduzido

para o adversário poder jogar quando a equipa não tinha a bola e assim

recuperava-a mais rapidamente mantendo a equipa organizada.

Passava-se a compreender a importância de uma forma de defender

que não deturpasse a forma como se pretendia atacar. Daí Valdano (2002)

oportunamente frisar que quem se preocupa em «marcar ao homem» corre por

onde o adversário quer, convertendo o «marcador» num prisioneiro, ao passo

que as equipas que se preocupam em «zona» repartem de forma racional o

espaço e o esforço. O jogador passa a «governar o sítio que melhor se adapta

à sua capacidade pessoal». Acrescentando que, uma vez recuperada a bola,

se fará o ataque desde o «sítio dos hábitos» (Valdano, 2002).

Percebamos com isto que, defendendo «zona (pressionante)», o(s)

jogador(es) se encontra(m) correctamente posicionado(s) face à estrutura

adoptada pela equipa para melhor poder(em) atacar.

Numa fase histórica em que a dinâmica se demarcava como sendo a

última grande inovação táctica no Jogo, Valdano (1998, cit. Amieiro, 2005) vem

admitir a «defesa à zona» associada ao «pressing» proporcionada por Sacchi,

como uma (r)evolução na forma de ver, entender e conceber o Jogo.

No mesmo seguimento, Lillo (2003) é do entendimento de que a equipa

capaz de passar de uma mentalidade defensiva a uma ofensiva, e vice-versa, o

mais rápido possível, é uma grande equipa e o Milão de Sacchi parece-lhe um

excelente exemplo.

Através da «zona pressionante» passou a melhor compreender-se um

«todo» (organização de jogo) indissociável às suas «partes» (organização

ofensiva, defensiva e transições), na medida em que se passa a ter como

premissa fundamental defender-se de uma determinada forma para se atacar

como se pretende (Amieiro, 2005).

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Revisão da Literatura

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Então, o momento ofensivo passa a fazer parte do momento defensivo e

por consequência o mesmo se passa quando a equipa se encontra no

momento ofensivo, ou seja, o momento defensivo passa a ser considerado.

Trata-se da «indivisibilidade dos momentos do jogo» que mencionámos

anteriormente na revisão.

Chegados ao tempo presente, aquelas estruturas apresentadas pela

literatura foram (e algumas ainda são) as que, de certo modo, serviram de

«silhueta» das equipas durante a história do Futebol. Como vimos, essas

estruturas de jogo foram-se alterando fruto de múltiplos ponderáveis

associados ao Jogo como são os regulamentos, as ideias de jogo do treinador,

as características dos jogadores, os processos de preparação, entre outros.

Na actualidade vários são aqueles que nutrem uma predilecção por

certas estruturas em detrimento de outras (Grip; 2003; Irvine, 2003; Wotte,

2004; Lee; 2005; Mourinho, 2005; Sanchez, 2005; Dowie, 2006; Peacock,

2006; Barlow, 2007; Lobo, 2008). Lobo (2008: 208) esclarece-nos: “É o grande

duelo que marca o futebol actual em termos tácticos. 4x4x2 versus 4x3x3. Um

choque de estruturas e suas respectivas variantes. Menos equilibrado, o 3x5x2

surge como uma terceira via menos utilizada, sobretudo na versão de três

defesas, diferente de três centrais e dois laterais (cinco defesas, portanto, em

5x3x2). (…) O 4x2x3x1 é quase um compromisso entre os dois sistemas.

Dando, a atacar, dinâmica de profundidade aos alas, desenha-se facilmente o

4x3x3. Pedindo que seja mais o médio centro ofensivo a entrar desde trás

como um segundo avançado, aproxima-se mais de um 4x4x2.”.

Mourinho (2005: 5) parece complementar a posição anterior, quando

questionado para o jornal «O Jogo» acerca dos últimos anos não terem existido

grandes inovações tácticas: “Tal como o futebol está, neste momento, é muito

difícil que a inovação surja de forma abrupta ou visível, observável a olho nu

(…)”. E acrescenta que, “uma forma de inovação actualmente é uma equipa

estar preparada para jogar de diferentes maneiras. Por exemplo: estive dois

anos no F.C. Porto; no primeiro ano trabalhámos um determinado modelo e no

segundo já estávamos num outro modelo e já éramos capazes de no mesmo

jogo utilizar duas formas completamente distintas. (…) Hoje o futebol é mais

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Revisão da Literatura

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isto do que o surgimento de uma equipa que de repente aparece a jogar no

sistema 2x7x1 ou 3-não-sei-quê (…)”.

2.1.6. «Multiplicar» e «Subtrair» «linhas»…resultad o da plasticidade

(estrutural) dos jogares das equipas

Hoje, o termo «linha» facilmente se encontra por entre o vocabulário dos

treinadores de futebol (e não só). Senão, a exemplo, atentemos ao proferido

por dois treinadores de reconhecimento público: i) Aragonês (2005b: 14), então

seleccionador de Espanha, refere que o que mais lhe agradou na exibição da

sua equipa foi a «rapidez na circulação da bola e que a equipa foi sempre

capaz de juntar as linhas»; ii) Rijkaard (2005: 2), então treinador do FC

Barcelona, após uma derrota sofrida aponta que «a realidade é que não

jogámos bem e que deixámos muito espaço entre linhas».

Após termos dissertado sobre a «filogénese» das estruturas de jogo,

procuramos reunir neste ponto argumentos para uma melhor compreensão do

jogar se alicerçar estruturalmente em «linhas» (transversais e/ou longitudinais),

podendo estas variar em número consoante as equipas e/ou os momentos do

jogo (organização defensiva, ofensiva e respectivas transições).

Sem dúvida alguma que é controverso o debate sobre a existência de

mais ou menos «linhas» pré-estabelecidas na organização de jogo de uma

equipa, visto ser diverso o entendimento e relevância atribuídos a esta questão,

quer por treinadores quer por outros que se (pre)ocupam com o fenómeno

Futebol.

Sanz (2004) apresenta-nos desde logo uma compreensão de formação

(estrutura) como a posição de partida que adoptam os jogadores de uma

equipa, crendo não existirem formações fora de 3 linhas. E quando se fala de

uma formação 3-3-3-1 ou 3-1-3-3 ou 4-2-3-1, não acredita ser assim. São 3

linhas (defesa, meio campo e avançados) e nada mais, aparte o guarda-redes

claro (Sanz, 2004).

Partilhando da mesma ideia está Pino (2003b) que, apesar de enunciar

primeiramente a existência da multiplicação de linhas numa equipa,

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Revisão da Literatura

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posteriormente admite a existência de somente 4. Na base deste aparente

paradoxo conceptual está a sua identificação prévia de que na actualidade as

diversas linhas da equipa se mantêm muito juntas reduzindo-se o espaço de

jogo e consequentemente o tempo para se jogar (Pino, 2002a). Pino (2002b)

adjudica o reconhecer no 1-4-2-3-1 (ou seja, 5 linhas se contarmos com o

guarda-redes) o sistema (estrutura) prevalecente na actualidade em Espanha,

em que esta «distribuição táctica» apresenta o «duplo pivot», ou seja, os 2

homens que formam a linha situada à frente dos defesas.

Já mais tarde, o autor denuncia que jogar com 4 defesas, 4 médios em

rombo e 2 avançados (um deles mais recuado em relação ao outro) se tem

vindo a defender como uma distribuição 1-4-1-2-1-1-1, quando na realidade se

trata de um 1-4-4-2, porque a equipa não tem 7 linhas de jogo mas sim 4, como

todas (Pino, 2003b).

Ao referirmo-nos como aparente paradoxo fizemo-lo porque, na

realidade, o autor anterior admite que o Jogo evoluiu muito assim como as

disposições das equipas – em que as 4 linhas se mantêm bem definidas – e o

que se introduziram foram diversas variantes por entre a colocação de cada

uma dessas linhas (Pino, 2003b).

Em nosso entender, a terminologia não deve ser um entrave à

compreensão da realidade, mas muitas vezes é-o e, por isso, parece-nos

importante esclarecer que a utilização das 4 linhas supracitadas pelo autor

dizem respeito aos sectores da equipa (guarda-redes, defesas, médios e

avançados), segundo entendimento apresentado por Teodorescu (2003) e

Castelo (2004). No entanto, Castelo (2004) refere que para cada sector há um

número variável de jogadores.

É com base nessa variabilidade que diferenciamos «sector» de «linha».

Como apresentaremos mais à frente, um «sector» pode ser constituído por

mais de uma «linha» e por isso apresenta-se, nas palavras de Castelo (2004:

54) como um «âmbito grupal», determinado por diferentes atribuições

funcionais e operacionais. Assim sendo, tanto «sector» como «linha», devem

subentender uma interpretação dinâmica, mutável e aberta.

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Revisão da Literatura

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Pino (2003b) chega a realçar a tendência em se colocarem dígitos a

cada situação variável de jogadores dentro de uma linha (leia-se, sector)

poderia levar-nos a dizer que todas as equipas jogam com um 1-1-1-1-1-1-1-1-

1-1-1, porque, claro, é impossível que os jogadores de cada linha de jogo (leia-

se, sector de jogo) estejam a formar uma linha exactamente recta e paralela a

uma linha de meta. Contudo, embora compreendamos esta evidência, urge-nos

a necessidade de voltarmos a (re)focar a questão para o facto do Jogo, em

analogia, se assemelhar não a um conjunto de fotografias pontuais

sobrepostas mas sim a um filme contínuo e fluído. Neste seguimento, a

utilização da referência «linha» deve enquadrar-se no «padrão organizativo»23

que é o jogar de uma equipa. As «linhas», multiplicando-se ou subtraindo-se

por afastamento ou aproximação, apresentam-se como uma regularidade,

tornando-se uma referência estrutural e estruturante no jogar das equipas.

Portanto, subentendamos a organização estrutural como um meio para

atingir um fim e não um fim em si mesma, em que, como nos avança Flores

(2004) e Sotos (2004): uma vez que a bola começa a mover-se, dentro das

posições iniciais tudo se vai alterando em função do que lhe acontece, sendo

certo que tudo no desenvolvimento do jogo se adapta ou se relaciona em

função dessa posição inicial ou das demais variantes de jogo que se produzam.

Pino (2003a) fala de já não se jogar no «posto» (posição), mas sim

«jogar-se desde o posto». Neste sentido está a observação de hoje os

extremos jogarem mais recuados no terreno, porque na dinâmica ofensiva do

futebol actual é mais importante chegar à posição do que estar na posição

(Pino, 2004). O tempo e o espaço no jogo das equipas parecem ter adquirido,

porventura, um outro significado e uma outra significância.

Analogamente, Cruz (2002: 169-170) ilustra-nos bem esta «nova»

possibilidade: “Resulta que, nesse mundo globalizado, a noção de tempo e

espaço é alterada. O tempo representa a velocidade do que está ocorrendo.

Mudanças bruscas. É a característica do processo. Além disso, ele contém a

força de desorganizar, de manter em desordem, tanto o território quanto os

23 “Configuração de relações característica de um sistema particular” (Capra, 2000: 76). Segundo o autor, enquanto a estrutura envolve quantidades e se relaciona com a medição, a substância; o padrão envolve qualidades porque está relacionado com o mapeamento, a forma (Capra, 2000). O jogar da equipa, sendo um sistema de sistemas que interactuam entre si, carece de uma compreensão análoga.

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indivíduos. (…). Também o conceito de espaço não corresponde mais a lugar,

pois este pressupõe a não-mobilidade no antigo conceito. O que conta agora é

o não-lugar. Do lugar como ideia de algo fixo, imóvel, centrado, com uma

identidade constante, passamos à experiência de novas especializações no

sentido de deslocamento, de não-lugares, de indivíduos descentrados, de

identidades mutantes. (…). Tanto um como o outro se tornaram plurais, se

deslocando com muita rapidez, influindo, tanto na produção do conhecimento

quanto nas manifestações artístico-culturais (Jogo).”.

Reportando-nos ao Futebol, o espaço e o tempo físicos do jogo, sendo

constituintes da dinâmica de interacções dos jogadores, são instituídos por

essa mesma dinâmica que lhes atribui o seu significado (Tavares, 1997).

Talvez por estas razões faça sentido a análise feita por Mourinho (in

Oliveira et al., 2006: 193) ao pretendido para o jogar da sua equipa: “Campo

grande a atacar, linhas juntas a defender; (…); uma estrutura fixa em termos

posicionais e uma estrutura móvel, ou seja, há jogadores que têm posições

fixas no campo e há outros que, pela sua dinâmica, têm mobilidade, apesar de

ter que haver sempre um equilíbrio posicional.”.

Inter-relacionando com a nossa temática, Queiroz (2003a) aponta alguns

aspectos que consideramos importantes: (1) a distribuição dos jogadores no

campo, a estrutura, dá-nos uma racionalidade no funcionamento da equipa que

nos permite fazer coisas mais intensas em menos distâncias porque todos

estão imersos numa ordem e desfrutam de uma coordenação e uma coerência;

(2) o rendimento do jogador tenderá a subir quando lhe é dada a oportunidade

de jogar na(s) zona(s) que melhor se adapta(m) às suas capacidades; (3) um

jogador que se movimenta por zonas que lhe são estranhas, quer as posições

do seu corpo, quer a sua adaptação às trajectórias da bola, quer a sua análise

de cada situação, não são as mesmas que quando se sente cómodo; (4)

quando há trabalho, ordem e sistematização de movimentos, a posição média

obtida de fracções de tempo de um jogo estará muito próxima da estrutura

inicial que tenhamos preparado.

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Em opinião concorrente está Flores (2004) enfocando a estrutura como

uma referência fundamental porque, de alguma forma, marca uma maneira de

ocupar o terreno de jogo, aproximando cada jogador do lugar que deve ocupar.

Todavia, os dois treinadores colocam hierarquicamente menor

relevância às estruturas de jogo a utilizar quando comparadas àquilo que são

as ideias e a funcionalidade que se pretendem para o jogar das suas equipas.

Parece fazer sentido o apresentado, pois não é difícil reconhecer que

durante o jogo existem muitas variações fruto do movimento dos jogadores e

que implicam uma alteração na estrutura que se diz utilizada pela equipa (p.e.,

quando no sector da defesa se verifica a subida de um dos laterais pelo seu

corredor, ocorre alteração na estrutura) (Flores, 2004; Aragonês, 2005a).

Ressalva-se assim a noção de plasticidade (do jogar), que analogamente

extrapolamos da obra desenvolvida por Silva (2008), uma vez que o jogar

(colectivo) apresenta mudança de forma e tamanho (aumento/redução de

amplitude/profundidade da equipa quando em jogo) em termos estruturais e

funcionais.

Como exemplo dessa plasticidade que compromete a(s) estrutura(s)

como parte(s) umbilicalmente ligada(s) a um «todo» maior que é o jogar da

equipa, atentemos às considerações de Mourinho (in Oliveira et al., 2006: 192-

193) para o momento ofensivo: “Quero uma alta circulação de bola e, para que

isso aconteça, tem que existir um bom jogo posicional, isto é, todos os

jogadores têm de saber que em determinada posição há um jogador, que sob o

ponto de vista geométrico (estrutural) há algo construído no terreno de jogo que

lhes permite antecipar a acção.”.

Já em relação ao momento defensivo, quando reconhece que a sua

defesa avança e liberta 40 metros nas costas para o adversário explorar, o

mesmo justifica-o com o observar mais os seus centrais reduzirem o espaço à

sua frente do que terem que recuperar defensivamente o espaço que fica atrás

deles - «uns vêm o copo meio vazio, outros o meio cheio» - em que toda a

equipa realiza os movimentos verticais de pressão mantendo as linhas juntas,

para a equipa ser compacta e não existir jogo no espaço entre a defesa e o

guarda-redes (Mourinho, 2003).

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Pode-se em suma depreender que a distribuição estrutural dos

jogadores tem implicações no jogar pretendido para a equipa, sem que o jogar

se esgote, obviamente, nessa mesma distribuição.

Ao consultar a Figura 14, Mourinho (2004) dá-nos outro excelente

exemplo a respeito do desdobramento dos diferentes sectores da equipa em

múltiplas linhas e nas implicações que tal incute no jogar das equipas,

lembrando que um A.C. Milão com «zona pressionante» em largura constituído

por 3 linhas (4-4-2) teve sucesso frente a um F.C. Porto com «zona

pressionante» em profundidade constituído por 6 linhas (2-2-1-2-1-2). Apesar

da presença de um igual número de jogadores nos 3 sectores (4-4-2), pela sua

diferente distribuição geométrica no campo, conduz de imediato a

funcionalidades e dinâmicas de jogo diferentes.

Figura 14. Representação da Estrutura 1-2-2-1-2-1-2 do FC Porto (Mourinho) e

da Estrutura 1-4-4-2 do AC Milão (Ancelotti).

2.1.7. Estratégia e Estrutura(s) de jogo…variar sem deturpar!

Como já vimos anteriormente, analisar a organização estrutural de jogo

de uma equipa resumindo-se ao seu figurino (1-4-4-2, 1-4-3-3, etc.) seria

redutor perante aquilo que o próprio Jogo nos oferece. Importa correlatar a

organização estrutural de jogo ao(s) jogo(s) da(s) equipa(s) enquanto

sistema(s), entendendo-a como um referencial (posicional) que se entranha

nas funcionalidades e dinâmicas pretendidas para esse(s) mesmo(s) jogar(es).

Neste seguimento, Amieiro (2005) não esconde que, embora o mais

importante seja a dinâmica colectiva da equipa, esta necessita de uma base

estrutural que a sustente. Admite ainda que, se o pretendido é tornar padrão

1-4-4-2

Gr

1-2-2-1-2-1-2

Gr

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Revisão da Literatura

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regular o jogar, tem de se decidir por uma estrutura, pois dela também

dependem as funções de cada jogador na equipa (Amieiro, 2005). Isto porque,

a dinâmica do jogo (de uma equipa) “é uma funcionalidade organizada a partir

de uma estrutura” (Silva, 2008: 27).

Quanto à utilização – e respectivos critérios subjacentes – de uma ou

mais estruturas de jogo por parte das equipas, a literatura revela um

entendimento plural e não consensual. No entanto, procuramos organizar

diferentes entendimentos de acordo com uma fundamentação lógica e

pertinente para o estudo em questão.

Em primeiro, apresentamos a vaga de opinião, representada em

exemplo por Aguirre Onaindía (2002), de que existem muitas variantes tácticas

em função do golo e que na actualidade é muito difícil que uma equipa jogue

toda a temporada de uma maneira e até mesmo durante todo o jogo, porque

face ao resultado se deve mudar.

Perceba-se que, se atentarmos à realidade empírica que o fenómeno

(Futebol) oferece, estas ocorrências são mais episódicas do que propriamente

uma regularidade (padrão). Portanto, pensamos que outros argumentos devem

emergir no cerne desta problemática, nomeadamente os que se fazem

relacionar com a componente estratégia24 que, segundo Tadeia (2008), está

muito imbricada na forma como se vencem (grandes) competições.

Santos (2006: 16) quando questionado sobre a eventual alteração da

estrutura da equipa para o jogo contra um adversário responde: “Em termos

estruturais, vamos continuar iguais. Com uma ou outra variante, mas sem

modificar o que é a estrutura essencial da equipa.”. Bento (2006b: 23) vai mais

além em resposta à possibilidade de alterar tacticamente a equipa devido a

lesão de um dos seus habituais titulares ao referir que o jogador “não vai jogar

mas a estrutura mantém-se.”.

24 «Estratagema de circunstância», espécie de aposta tendo em conta o que se julga vai ser a «batalha» (próximo jogo)

que está para acontecer (Frade, 2004a). Quando há uma deficiente leitura da realidade do jogo do adversário e

porventura também alterações na própria equipa para poder criar dificuldades ao adversário pode-se comprometer a

identidade da própria equipa, devendo subjugar-se esse lado estratégico àquilo que é a organização do jogo da própria

equipa (Frade, 2004b; Oliveira et al., 2006). Estratégia e táctica parecem formar parte de um mesmo conjunto e

complementam-se concorrendo para o êxito das operações (Cervera et al., 2008).

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Sobre as legítimas razões de privilegiar uma estrutura de jogo em

detrimento de várias diferentes, Bento (2006a: 3) evoca que “O Sporting

escolheu um caminho: ter jogadores para um sistema de jogo (inclua-se,

estrutura de jogo). Acreditamos nele, temos a convicção de que é o melhor

para as características dos elementos do plantel. (…). Ser mais ou menos

previsível não decorre de ter poucos ou muitos sistemas. A dinâmica dos

jogadores, essa sim, é que faz diferença. Confundi-los é que não, e isso

acontece quando se quer ser muito imprevisível com variações tácticas.” E

acrescenta ainda mais tarde que: “Nós estamos preparados para defrontar

qualquer sistema, não abdicaremos do nosso em função do adversário.”

(Bento, 2007b: 16).

Outros treinadores, apesar de não se regerem por uma só estrutura de

jogo, parecem concorrer à ideia evidenciada de que a forma de jogar da própria

equipa (onde se incluem as estruturas de jogo utilizadas) tem uma importância

atribuída hierarquicamente superior às alterações eventualmente a processar

em prol da forma de jogar do(s) adversário(s).

Ferreira (2007a: 2) esclarece ao proferir que “Vamos defrontar um

adversário novo, com uma estrutura táctica diferente. Não é necessário

regressar a nada (passar do habitual 1-4-3-3 para 1-4-4-2), porque isso

implicaria a solidificação de processos e métodos (…) mas pode passar antes

pela alteração de um ou dois jogadores.”. A complementar, refere: “Jogar em 4-

3-3 ou 4-4-2 depende sempre dos jogadores disponíveis para isso, mas o

método não vai mudar. Agora, tendo jogado a época toda em 4-3-3 rotinou

posições, estruturas e combinações de ataque, trabalhou (a equipa) para o 4-3-

3” (Ferreira, 2007b: 3).

Porém, o mesmo treinador não deixa de referir que a movimentação da

sua equipa se alicerça num «sistema» base que se desdobra em

«subsistemas» (Ferreira, 2008). Já Jesus (2008b) aponta a possibilidade da

sua equipa expor em campo, no mesmo jogo, dois «sistemas», elogiando a

capacidade dos jogadores saberem cumprir mais do que uma posição.

Por último, apresentamos Mourinho (2005), então treinador do Chelsea,

que nos refere a possibilidade e necessidade de uma equipa apresentar

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Revisão da Literatura

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«nuances estratégicas» que podem ter repercussões tácticas posicionais (note-

se, alterações na estrutura) de maneira a melhorar táctico-culturalmente a

equipa. Assim, Mourinho (2007b: 36) afirma que, dependendo “da forma dos

jogadores, dos adversários e do seu sistema e da minha avaliação em cada

caso (…) a intenção é dupla, a de usar o 4-3-3 e o 4-4-2, (…) em que (…)

concluímos que conhecemos os dois sistemas muito bem”. O técnico remata

ainda dizendo conhecer igualmente bem as fragilidades (dos «sistemas») e,

como tal, também “a maneira de as compensar e até esconder dos

adversários”.

O diversificar a disposição dos jogadores, mexendo na estrutura

parcialmente – p.e., invertendo o triângulo do meio campo de uma dupla mais

recuada para uma dupla de médios interiores com um pivot nas suas costas –

parece surgir de uma finalidade e de um processo de preparação e não por

acaso25. Ou seja, como é possível descobrir por entre as posições

supracitadas, é necessário conhecer e para conhecer é necessário que se

torne hábito.

Quando se constata a existência de treinadores que em função do

adversário se socorrem, de jornada para jornada e mesmo durante os noventa

minutos, de alterações na estrutura de jogo, colocando mais um defesa central,

tirando-o para fazer entrar mais um avançado, etc. (Oliveira et al., 2006), face à

linha de pensamento apresentada até aqui, parece fazer sentido que: “O mais

importante numa equipa é ter um determinado modelo de jogo, um conjunto de

princípios de jogo, conhecê-los bem, interpretá-los bem, independentemente de

ser utilizado este ou aquele jogador. Nós analisamos o adversário, procuramos

posicionar-nos nalgumas zonas mais importantes do campo em função dos

seus pontos fortes e fracos. Mas isto são detalhes posicionais. Não «mexem»

com os nossos princípios, nem sequer com o nosso sistema. (…). Por vezes,

partimos para alguns jogos completamente alheados e ignorando o que vai ser

o comportamento do adversário. Apostando e potenciando aquilo que é nosso.

E que fique bem claro que os sistemas que a minha equipa apresenta ao longo

da época são definidos e operacionalizados logo desde o início. (…) Se em

25 “Comportamento errático e fruto da sorte. Sequência de acontecimentos em que nenhum deles ocupa a mesma posição que já ocupara anteriormente.” (Stacey, 1995: 545).

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dois anos e meio no Porto só por duas vezes alterei a estrutura (…) por alguma

razão foi.” (Mourinho, in Oliveira et al., 2006: 162).

Por outro lado, admita-se a existência de diferentes equipas que

apresentam formas de jogar praticamente «isomorfas»26 tendo por base a

utilização de estruturas de jogo «isomorfas». Em sintonia está Faria (2007),

corroborado por Irvine (2003) e Barlow (2007), constatando existirem algumas

equipas em 1-4-4-2 no futebol inglês que apresentam dinâmicas colectivas

muito semelhantes umas das outras e em que, p.e., os comportamentos dos

dois avançados muitas vezes são idênticos.

A contrastar estão algumas equipas de «rendimento superior», pois se

analisarmos equipas como o Arsenal e o Manchester United o mesmo não se

verifica, sendo mais móveis, flexíveis e adaptáveis (Queiroz, 2003b; Irvine,

2003). Irvine (2003) refere que essas equipas possuem jogadores que jogam

em áreas onde não se espera que eles joguem e em que se assistem equipas

a jogar em 1-4-4-2 com jogadores a jogar longe da linha lateral em vez de

jogarem sempre amplos, ou com jogadores a jogarem em espaços nas costas

dos avançados, ou a fixarem-se logo em frente dos defesas.

Reconhece-se então que, fruto da dinâmica de interacções que se

pretende para a equipa, a mobilidade dos jogadores em campo traduz

alterações na estrutura a nível do seu posicionamento de base. São várias as

vezes em que a estrutura de jogo possibilita que jogadores surjam em espaços

livres do campo, assim como há equipas que promovem trocas de posições

entre jogadores levando a que a estrutura de jogo não se «deforme»

significativamente.

Pegando, a exemplo, nas trocas de posição supramencionadas, Faria

(2002) orienta a questão como algo a ver com a cultura de jogo e com o jogo

da própria equipa, assim como as posições ocupadas e com os

comportamentos que cada jogador tem num determinado contexto posicional.

Acrescenta também que, quanto maior a identificação de um jogador com o

modelo de jogo e com os comportamentos subjacentes a essa organização de

26 “O isomorfismo é uma qualidade que dois ou vários sistemas possuem quando têm propriedades comuns. Fala-se, pois, de isomorfismo quando se encontram as mesmas formas, as mesmas estruturas e as mesmas operações em dois ou vários sistemas.” (Bertrand & Guillemet, 1994: 58).

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Revisão da Literatura

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jogo mais será capaz de trocar de posição com outro jogador e de certa forma

realizar os seus comportamentos, porque está identificado com os

comportamentos a realizar nessa outra posição (Faria, 2002).

O «todo» tem assim que o ser na(s) sua(s) «parte(s)». Frade (2005a)

refere que o jogador («parte») apresenta um conhecimento auto e hetero do

jogar («todo»), em que pelo acrescento de qualidade ao jogo da equipa, esta

permite que o jogador adquira também ele uma qualidade superior.

Depreende-se então que, ao requerer-se uma elevada mobilidade no

sentido de se verificarem permutas de posição entre jogadores na dinâmica do

jogo de uma equipa, é possível potenciar a plasticidade desse jogar, mas é

também algo que requer elevada compreensão do jogar pretendido e que

requer elevada cultura táctica dos jogadores, pela necessidade de

compreenderem posicionamentos e funções que se associam a essas mesmas

trocas.

“É então necessário compreender a noção de estrutura como o modelo

estabelecido e permanente das relações entre os elementos de uma

organização.” (Bertrand & Guillemet, 1994: 67). Pelo discorrido, é perceptível

que todos os treinadores sustentem estruturalmente o seu jogar, dispondo os

jogadores no terreno segundo uma disposição de base, a partir da qual se

expressam as funcionalidades que traduzem a dinâmica do jogo da sua equipa.

De realçar também que certos treinadores procuram produzir «nuances»

nas suas estruturas, não se limitando a uma estrutura de jogo única, de

maneira a servir de referência ao posicionamento colectivo e individual a ter-se

no jogar da equipa. Essas «nuances» podem ser igualmente resultantes da

estratégia para defrontar o (próximo) adversário.

Por fim, Bertrand & Guillemet (1994) referem que é frequente pensar-se

na estrutura organizacional como fixa e imutável no tempo, mas não se

esqueça que esta estrutura é dinâmica, que evolui no tempo e reage às

mudanças no seu meio. Analogamente, reconhecemos o mesmo entendimento

para o fenómeno Futebol quanto à organização de jogo de uma equipa.

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Revisão da Literatura

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2.2. «Viver o Presente, estudando o Passado, prepar ando o Futuro»:

“Estará tudo inventado? Só o passado está inventado. Se pretendemos afirmar o presente e conjugar o Futebol no futuro, quase tudo está por inventar. Está por inventar cada jogo que se joga, com a sua história única e resultado imprevisível…” (Garganta, 2006: 23).

O modelo tem a ver com o que o jogador tem (ou passa a ter) na cabeça e no corpo. Porque é mesmo um background cultural, por isso é que eu digo que o futebol tem uma

história, mas tem também uma geografia (Frade, 1998: 4).

Neste ponto da revisão, mantendo o fio condutor até aqui apresentado,

pretendemos rever algumas considerações associadas ao modelo de jogo e

seus respectivos princípios, enquadrando-as com a componente estrutural do

jogar. Neste «novo capítulo» imergimos nas premissas associadas ao plano da

concepção do jogar, procurando configurar o que determina um jogar

organizado funcional e estruturalmente na tradução de uma dinâmica de jogo

idealizada.

2.2.1. …modelo de jogo e estrutura de jogo, não sen do sinónimos,

(ainda) se (con)fundem?!

Antes de aprofundarmos algo que foi despoletado na revisão

bibliográfica relativamente à capital importância atribuída ao modelo e

princípios de jogo no jogar da(s) equipa(s), destacamos a necessidade de

distinguir (conceptualmente) modelo de jogo e estrutura/«sistema» de jogo para

assim facilitarmos a compreensão, e respectiva articulação de sentido, para

com a organização estrutural em estudo.

Como já o evidenciámos, naquela que é a conjuntura global do

fenómeno Futebol – dos media até aos treinadores – existem contradições

conceptuais que, per si, surtem num discurso «distorcido» alusivo ao quadro da

análise e da discussão do Jogo, isto quando se deveria contribuir para uma

maior coerência e melhor compreensão do mesmo. Durante a própria feitura da

revisão da literatura fomos apresentando algumas evidências em que, p.e., se

sinonimizaram modelo de jogo, sistema de jogo e estruturas (tácticas) de jogo,

sendo diferentes uns dos outros.

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Revisão da Literatura

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Não obstante, lembramos Popper (2009) ao defender que, mais do que

nos atarmos a rigores terminológicos, resulta melhor fazê-lo em relação às

ideias e aos entendimentos a extrair de determinados conceitos. Procuramos

então perceber que, pese embora as diferenças entre os termos/conceitos

supramencionados, é mas aquilo que os une do que aquilo que os separa.

Atestando primeiro a diferenciação entre modelo de jogo e estrutura de

jogo, Santos (2007: 7) é peremptório ao dizer: “Para mim, sistema (englobe-se

a estrutura) e modelo não são a mesma coisa”. No seguimento, Bento (2006c:

9) faz o enquadramento de estrutura de jogo como “apenas um desenho que

se escolhe para a equipa, de modo a que, a partir desse facto, seja erguida.”; e

o do modelo de jogo como “algo que construímos em função dos clubes que

treinamos, da ideia de jogo que defendemos, do entendimento que existe do

jogo (Jogo), da cultura do clube, história e objectivos que tem (…)”.

Pelo descrito, a ordem de grandeza do modelo de jogo subjuga aquela

que se verifica para a estrutura de jogo (Gaiteiro, 2006). Talvez por isso, o

próprio Bento (2006c: 9) adiante que o “sistema de jogo está englobado no

modelo de jogo”. Assim, parece ser através do que se define em termos de

modelo que se determina a dinâmica a empreender na(s) estrutura(s) de jogo

utilizada(s) para que o jogar se manifeste.

Atestando esta segunda premissa encontramos primeiro Jesus (2008a:

18) ao dizer que a sua equipa “vai ter um modelo de jogo, mas não ter um

sistema (incorpore-se a estrutura) definido”. O próprio complementa: “Hoje,

jogámos assim (4x4x2 em losango), no próximo jogo podemos apresentar um

4x3x3 (…).”. Em segundo, Queiroz (2003b) expande a perspectiva para o facto

de não se dever dizer somente que se joga em 1-4-4-2 quando se observam

diferentes equipas a jogar, porque é possível apresentar princípios diferentes

na abordagem do 1-4-4-2.

Parece resultar daqui a inexistência de um só modelo, uma só forma de

«pensar» e fazer surgir o jogo. O jogo pode ter mais ou menos linhas, pode

privilegiar mais a largura ou a profundidade, pode querer apostar em pressão

alta ou baixa, etc. (Frade, 2005a). Converge-se numa aquisição não tanto do

Jogo mas sim do jogar, no alcançar de determinada forma de manifestação

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Revisão da Literatura

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desse Jogo, com uma lógica muito própria e subjacente a um processo de

obtenção desse jogar (Frade, 2005a).

Retém-se então que, mesmo perante duas equipas com duas estruturas

de jogo consideradas «isomorfas» (a exemplo e simplificando, um 1-4-3-3)

resultarão dois futebóis distintos um do outro, porque as ideias que configuram

aquilo que se pretende como dinâmica de jogo para cada uma dessas equipas

serão, quase certamente, diferentes.

Acrescentamos também que, mesmo que essas ideias sejam

semelhantes, os intérpretes são diferentes nas duas equipas – ninguém é cópia

idêntica de outrem – o que torna o jogar de cada equipa num jogar singular em

termos de manifestação. Uma singularidade paradoxalmente resultante de uma

significante diversidade que é intrínseca a esse jogar.

Acaba-se desta forma por dar significado à expressão: «Futebol não há

só um, o meu e mais nenhum!» (Frade, 2004b; Sousa, 2007).

2.2.1.1. Porque para que um jogar («ser») se manife ste, um modelo

(«espírito») tem que «animar» uma estrutura («corpo »)!

Anteriormente na revisão inferimos que o jogar de uma equipa apresenta

«padrões organizativos» que, como tal, conferem à componente estrutural do

jogar da equipa capacidade para se «deformar».

Em sintonia, Tavares (1997) assemelha-nos uma equipa a uma estrutura

moldável, a uma espécie de material dúctil orgânico e fluído. Garganta (2006:

25), por sua vez, apresenta-nos a equipa como “um concerto de cumplicidades,

expressas na vinculação a uma visão, a um modelo, a um ideal”. Modelo esse

que Silva (2008) entende como uma conjectura que configura as interacções

colectivas e individuais de uma equipa.

Guilherme Oliveira (2003), Carvalhal (2003), Frade (1985, 2004b)

consequentemente explicam que conjecturar passa por se criar mentalmente

aquilo que se quer que aconteça durante o jogo.

Todavia, depreender que o modelo (de jogo) é algo que visa uma ideia,

uma projecção de algo que se quer ver a acontecer e por isso não se esgota no

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Revisão da Literatura

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presente – o «aqui e agora» tem sempre em vista o futuro como elemento

causal (do comportamento) (Frade, 2004b, 2005a) – não é suficiente. Importa

aditar que o modelo de jogo apresenta adaptabilidade e mutabilidade através

da «flecha do tempo», assim denominada por Cunha e Silva (1999).

Na base do anteriormente mencionado parece estar Rego (1997)

quando expõe as interacções sistémicas entre elementos como sendo mútuas

ou recíprocas, modificando o comportamento dos elementos do sistema, de

maneira a criar-se uma «entidade ou unidade global nova».

Guilherme Oliveira (2008) ajuda-nos a esclarecer entendendo não ser

adequado dizer-se «modelo de jogo adoptado» devendo antes dizer-se

«modelo de jogo criado», uma vez que se trata de uma «criação dialéctica»

entre treinador e jogadores a todo o momento. O próprio denomina-a de

«dialéctica em espiral», pois o treinador transmite as ideias que quer para os

jogadores assumirem em termos de jogo, os jogadores recebem as ideias e

reconstroem-nas.

Suportando-nos no raciocínio do autor, apresentámos como exemplo um

dos comportamentos que um treinador quer para a sua equipa no momento de

transição ofensiva ser: a bola quando recuperada no meio campo defensivo

chegue em condições de continuidade a um dos extremos da equipa de

maneira a aproveitar o espaço existente nos corredores, potenciando situações

de 1x1 em movimentos de profundidade. Agora, ao estar numa equipa em que

os jogadores têm a capacidade receber e passar a diferentes distâncias e

trajectórias com elevada qualidade e os extremos apresentam uma mesma

qualidade de receber a bola e orientá-la para os fins pretendidos pelo treinador,

então a sua transição ofensiva tenderá a ser muito rápida. Todavia, nessa

equipa os dois extremos são substituídos por outros dois jogadores que não

dominam com qualidade a recepção da bola face a passes muito rápidos em

trajectórias longas, então a equipa, neste caso, vai provavelmente procurar

essa mesma transição sustentada em mais passes para fazer com que a bola

chegue a esses extremos de uma forma mais facilitada, resultando numa

transição ofensiva tendencialmente mais lenta.

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Revisão da Literatura

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Portanto, o pretendido é o mesmo para as duas equipas mas a

compreensão do comportamento, a capacidade, são distintas (Guilherme

Oliveira, 2008). O modelo é assim reconstruído pela interpretação das ideias

através da interacção dos jogadores no jogar (efectivo).

Um outro exemplo da «dialéctica» entre os diferentes agentes que

resulta na recriação do modelo é-nos dado por Mourinho (in Oliveira et al.,

2006: 177): “Na passagem da época de 2002/2003 para a época de 2003/2004,

houve um aspecto que para mim foi muito importante: após o sucesso da

primeira época, em que ganhámos tudo o que havia para ganhar, tive «medo»

da segunda. Tive medo relativamente à abordagem da época por parte dos

jogadores, sobretudo a nível mental, psicológico, ao nível da motivação, do

comportamento, do crescimento no bom ou no mau caminho (…). E a principal

preocupação que me ocupou na operacionalização para manter o grupo «sob

controlo» foi «ampliar» o meu modelo, fazê-lo evoluir para um modelo de jogo

mais rigoroso.”. Tal alteração acabou por implicar também a própria alteração

da organização estrutural da equipa de 1-4-3-3 para 1-4-4-2 (com o sector

médio em losango).

Esta constatação da realidade é também analogamente avançada por

Castro (2002: 162) noutro domínio: “A rotina parece-nos aprisionar, nos sufocar

através da imposição do seu ritmo: rotina de trabalho, de estudo, de

relacionamentos interpessoais, (…). Mas a rotina guarda em si um componente

dialógico27 e inovador, que está sempre a refazê-la, criando-a no interior de

suas acções. Apesar de sua forma ser uma constante, seu conteúdo é sempre

diverso e não-linear. Por mais que seja sempre igual, é também sempre

diferente. Na rotina, o mesmo (e conhecido) é também, ao mesmo tempo, um

esforço pelo diferente e casual.”. Essa não-lineariedade28, a par da

imprevisibilidade e da aleatoriedade, são reconhecidas por Garganta & Cunha

e Silva (2000) como integrantes de um fenómeno complexo que é um jogo de

Futebol. 27 Princípio que entende fenómenos como “ordem e desordem, natureza e cultura”, não em oposição mas como simultaneamente “concorrentes, antagónicos e complementares”, mantendo a “dualidade no seio da unidade” (Almeida, 2002: 29). 28 Característica de sistemas que apresentam «sensibilidade às condições iniciais», ou seja, pequenas alterações podem sofrer uma escalada até à mudança radical do comportamento (Stacey, 1995). Enquanto que num efeito linear se conduz a uma pequena variação dos resultados, num efeito não linear o resultado é imprevisível e pode variar enormemente (Battram, 2004).

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Revisão da Literatura

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Há assim a necessidade de conjecturar uma organização dinâmica

colectiva (ordem) que se venha a traduzir pela equipa, em que, segundo Frade

(2005a), a eventual aleatoriedade que num ou noutro momento possa existir

surja no ceio dessa ordem.

Acerca da necessidade de definir aquilo que se pretende como o jogar

da equipa, Tamarit (2007) evoca primeiramente o facto do futebol ser um

fenómeno que para além de construído (e em construção) ser igualmente

determinístico29, em que cada treinador pensa o seu e o contexto em que se

insere lhe outorga singularidades, pois como se reconhece, nenhum contexto é

igual a outro.

A personificar, Silva (2008) descreve que aquele treinador que idealiza a

sua equipa a jogar em circulação de bola a partir do seu meio campo estar

condicionado a um modelo de jogo distinto daquele outro que tem como

idealizado jogar fundamentalmente apostado em transições defesa-ataque

após ganho da posse da bola no seu meio campo.

O modelo (de jogo) passa a perceber-se como um conjunto de

referências colectivas e individuais (Lobo, 2008), como o conhecimento daquilo

que se tem de fazer em todas as circunstâncias do jogo (Guilherme Oliveira,

2003). Modelo de jogo não é unicamente um sistema de jogo, não é o

posicionamento dos jogadores, mas sim, a forma como esses jogadores se

relacionam entre si e como expressam a sua forma de ver o futebol (Portolés,

2007, cit. Tamarit, 2007).

Queiroz (2003b) complementa os autores anteriores mencionando que,

quando se observam diferentes equipas a jogar, é-nos possível identificar qual

delas pertence a determinado clube fruto de um modelo de jogo existente e que

não se esgota no se jogar em 1-4-4-2 porque, relembrando o autor, é possível

jogar em 1-4-4-2 com diferentes abordagens fruto de contemplações de

princípios de jogo distintos para esse 1-4-4-2.

A concepção de jogo do treinador, as capacidades e as características

dos jogadores, os princípios de jogo, as organizações estruturais e a

organização funcional são, de acordo com Guilherme Oliveira (2004), aspectos

29 Segundo Phelan (2001) um sistema é determinístico na medida em que não envolve elementos de acaso.

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Revisão da Literatura

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que interagem e que se devem ter em consideração na criação de um modelo

de jogo para uma equipa.

É com base nos princípios de jogo constituintes do modelo de jogo

criados para uma equipa que se permite «animar» o «corpo» estrutural

representado pela equipa para que o jogar se manifeste. No próximo ponto,

procuraremos aprofundar a contextualização da organização estrutural face

aos princípios de (inter)acção que caracterizam o jogar da(s) equipa(s).

2.2.2. … princípio(s) de jogo e estrutura(s) de jog o, que relação?!

O jogo que resulta do confronto entre duas equipas tem sempre uma

configuração parecida apesar de ser um sistema extremamente sensível às

condições iniciais, ou seja, um sistema caótico30, é o que nos alega Cunha e

Silva (2002, 2003).

Partamos da ideia de que um jogo é um sistema (constituído por

subsistemas ou microsistemas31) cujo comportamento varia não linearmente

com o tempo, ou seja, um sistema dinâmico não-linear, e admitindo que o

resultado dependerá da forma como se joga, como se vai jogando. Todavia,

essa dependência altera as regras do jogo, porque o contributo da incerteza,

do acaso, se incompatibiliza crescentemente com qualquer regra (Cunha e

Silva, 1999, 2002).

Porventura podemos perscrutar que as condições do jogo são

simultaneamente deterministas (p.e., regras de jogo) e aleatórias (incertezas do

jogo) (Rego, 1997). Por outro lado, podemos reconhecer que nos sistemas

adaptativos complexos (como é o caso do futebol) parece existir uma dialógica

«ordem-desordem-reorganização» que, de acordo com Almeida (2002),

qualifica o movimento da complexificação dos sistemas.

30 Sistema instável (Phelan, 2001). O caos reconhece o acaso aparente que existe em muitos fenómenos, aceitando a imprevisibilidade inerente, em que esse acaso ocorre no âmbito de restrições, no interior de padrões ou limites gerais (Daft & Lengel, 2001). 31 O sistema descrito é aquele que compreende a interacção entre duas equipas, ou seja, um sistema maior àquele que compreende o jogar de cada uma das equipas. Quanto ao jogar de uma equipa podemos considerá-lo de subsistema desse sistema, que apresenta também ele sub-subsistemas consoante a escala do jogar (p.e., o sector defensivo é um (sub-)subsistema do (sub)sistema equipa/colectivo). Idiossincrasia extensível ao domínio da(s) estrutura(s) de jogo adoptada(s) pela equipa.

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Revisão da Literatura

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Morin (2003) relega a ordem para tudo o que é repetição, constância,

invariância, tudo o que pode ser aplicado sobre a salvaguarda de uma relação

altamente provável; e relega a desordem para o que é irregularidade, desvio

em relação a uma estrutura dada, aleatório, imprevisibilidade. A “desordem

como o ruído e o acaso estão no interior e no exterior de qualquer fenómeno, o

que lhes possibilita permanentes reorganizações, ou seja, novas ordens que se

desordenam e reordenam sem cessar” (Almeida, 2002: 27-28).

Por conseguinte, Daft & Lengel (2001) referem não só que o mundo

caótico possui um padrão global estável apesar de localmente imprevisível,

mas também que os sistemas caóticos apresentam «desordem no interior da

ordem». A esse padrão global podemos denominar de «atractor estranho»32

(Cunha e Silva, 1999; Daft & Lengel, 2001.).

Associando à problemática em estudo, a estrutura supõe uma

regularidade, uma ordem e não um ponto de partida ou de chegada, pois esta

tem importância na medida em que se apresenta como referência posicional na

qual a equipa alicerça o seu jogo, comportando-se como uma espécie de

«atractor» (Gaiteiro, 2006).

É com base na identificação de regularidades existentes nas

irregularidades do jogar de uma equipa que nos levam a estabelecer uma forte

conexão deste fenómeno com a «teoria dos fractais33». Isto porque, fractais são

estruturas que apresentam uma variabilidade muito grande mas apresentam

uma regularidade ao longo das escalas, porque obedecem ao princípio de

«invariância de escala» (Cunha e Silva, 2003). Mandelbrot (1992, cit. Cunha e

Silva, 1999) esclarece o conceito dizendo que, quando aumentado ao tamanho

original, um pedaço de fractal deveria parecer-se com o todo ainda que tivesse

de sofrer pequenas variações. Toma-se assim a «parte pelo todo e o todo pela

parte» (Cunha e Silva, 1999), exemplo de uma «homotetia interna» (Cunha e

Silva, 2002, 2003). 32 Este conceito tem a sua origem na teoria do caos. Segundo Battram (2004: 172) trata-se de “um conceito matemático complexo, que explica o comportamento de sistemas dinâmicos usando a ideia de «espaço de fase» – um espaço matemático imaginário, que representa todas as possibilidades de uma situação”. Cunha e Silva (1999: 107) refere que o «espaço de fase» é “um espaço conjectural que permite representar num ponto todas as características (as dimensões de todas as variáveis) do sistema num momento”. 33 Deriva do latim «fractus» que significa fragmento (fractura) que é irregularidade e os fractais constituem-se como uma geometria que pretende explicar a irregularidade dos fenómenos (visíveis) (Cunha e Silva, 2003). Fractal compreende a propriedade de fracturar em modelos semelhantes, à medida que se vai ampliando ou repetindo. A dimensão fractal mede o constante grau de irregularidade de um modelo caótico (Stacey, 1995).

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Revisão da Literatura

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Porventura não se estranha então a vontade expressa por Cunha e Silva

(1999, 2003) de um treinador pretender no seu íntimo ser o «Deus de

Laplace», controlando cada jogo e esperando que as atitudes dos seus

jogadores fossem previstas e articuladas com uma certeza absoluta, e de que

as propriedades topológicas dos movimentos que eles levassem a efeito

fossem as menos variáveis. Todavia, o mesmo autor adverte que a máxima

estereotipia conduz à mínima variabilidade e adaptabilidade (Cunha e Silva,

1999, 2003).

Entenda-se assim que “as equipas funcionam num registo de uma

termodinâmica do não-equilíbrio34, pois só assim é possível desenvolver

mecanismos de auto-organização35 que criem estrutura e sentido a partir da

aleatoriedade” (Garganta & Cunha e Silva, 2000: 6). Admitamos então o que

nos permite entrever a «teoria dos fractais» de que para um fenómeno como

um jogo de Futebol há um padrão irregular que apresenta certas regularidades

(invariantes) e por isso carece de uma modelação (construção) que contemple

essa realidade.

Incumbe-se ao treinador a oportunidade de conjecturar uma determinada

organização para a(s) sua(s) equipa(s), organização que não estereotipe

(«robotize») os comportamentos/movimentos dos jogadores como se fosse

«Laplace», mas sim que lhes proporcione incorrer «in place»36, pelos próprios e

pela equipa (re)conhecido.

O individual (o jogador), na representatividade das posições que ocupa e

sua respectiva funcionalidade em jogo, deve concorrer ao entendimento de que

“um corpo (jogador) móvel é um corpo estático num meio móvel, num espaço

fluído.” (Cunha e Silva, 1999: 163), em que os “lugares por onde passa

organizam-se sob forma de um mapa”, um «corpo cartografante» que se refaz

globalmente ao ocorrerem determinadas alterações pontuais, “transformando a

sua condição «geométrica» numa estrutura viva” (Cunha e Silva, 1999: 27-28).

34 Estado em que o comportamento é facilmente alterado devido a pequenas perturbações ao acaso para uma forma qualitativamente diferente. Implica instabilidade, caos, comportamento fractal (Stacey, 1995). 35 Subentende o caminho para uma forma nova e adaptativa de trabalho em equipa, na qual os indivíduos se gerem a si próprios no interior de fronteiras definidas, ou seja, emerge ordem da auto-organização (Battram, 2004). 36 No sentido de «no lugar» (tradução). Faz repto à ideia de lugar como «não-lugar», ideia já evidenciada anteriormente na literatura em que a posição estabelece um invariável vínculo com as variações em si impostas pela matriz tempo e espaço.

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Revisão da Literatura

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Socorremo-nos de Valdano (2002) para nos elucidar, na medida em que

este reconhece existirem treinadores que quadriculam o terreno de jogo como

se este fosse um tabuleiro de xadrez, procurando converter os jogadores nas

respectivas peças. Advirta-se, todavia, que o jogo de qualidade «tem

demasiado jogo para ser só ciência mas, por outro lado, é excessivamente

cientifico para ser só jogo», ou seja, é algo que não se controla e que é tanto

mais rico quanto mais a individualidade, a contingência, o detalhe, do jogador

aparecer (Frade, 1998, 2005a).

Rego (1997: 18) adianta-nos que “o homem (individual) quer em

movimento quer em situação de jogo deve ser sempre considerado como um

sistema aberto e dinâmico e como tal, um fenómeno total e complexo”. Noutra

escala, ao reportarmo-nos à equipa (colectivo), é inevitável compreender a sua

maior dimensão. Talvez por isso faça sentido a posição de Mourinho (2007a:

45) que apresentamos: “uma coisa é um desporto individual com um homem a

ser preparado para um determinado objectivo e outra é um desporto colectivo

em que um homem, por si só, nada vale. (…) No Futebol, temos de perceber

que onze homens à procura de um objectivo é completamente diferente de um

homem à procura de um objectivo”.

Cabe então ao treinador a posse de um conjunto de ideias de como quer

que a sua equipa jogue, definindo para a mesma os comportamentos

desejados para os jogadores de maneira a que estes tenham um referencial

que os direccione para a manifestação de um jogar, de uma identidade

(Freitas, 2006). Identidade essa que se revê na regularidade da organização

preconizada pela equipa (Amieiro, 2004, 2005).

Já Garganta & Gréhaigne (1999) acrescentam que existe uma

convergência nas acções da mesma equipa, operando como colectivo

organizado de acordo com uma lógica particular, em função de regras e

princípios (Teodurescu, 2003). Frade (2005a) identifica nos princípios de jogo o

contexto (o suporte) do jogar, resultando os mesmos da manifestação

verificada das efectivas características dos jogadores ou da permanente

confrontação que se tem com os adversários.

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Revisão da Literatura

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Frade (1985) parece complementar, ao indagar que a ordem

(organização) de um todo (sistema) transcende o que pode ser oferecido pelo

«conjunto» das suas partes quando estas são consideradas isoladamente

umas das outras.

Sendo constituintes do modelo de jogo criado para a equipa, Guilherme

Oliveira (2003, 2004) e Queiroz (2003b) compreendem então os princípios de

jogo como um conjunto de padrões de comportamento táctico-técnicos que se

querem ver traduzidos pela equipa para os diferentes momentos do jogo

(organização ofensiva e defensiva e respectivas transições ofensiva e

defensiva).

Como o próprio termo indica, «princípio» (de jogo) vai de encontro a um

início e não um fim, ou seja, é fruto de uma «fabricação» inacabada. A

corroborar estão Frade (2005a) e Guilherme Oliveira (2008) entendendo-o

(princípio de jogo) como um início de um comportamento que se quer ver

assumido pela equipa colectivamente e pelos jogadores individualmente.

Por outro lado, importa relembrar que o desenvolvimento do jogo

decorre duma interacção entre uma dimensão mais previsível, induzida por sua

vez pelas leis e princípios do jogo (Cunha e Silva, 2003) e uma dimensão mais

imprevisível, materializada a partir da autonomia dos jogadores, que

introduzem a diversidade e singularidade espácio-temporal dos acontecimentos

(Couto, 2006). Guilherme Oliveira (2008) adianta que esse comportamento do

jogador tem de se inserir dentro de um padrão de jogo, isto é, dentro de uma

organização predeterminada.

Se nos atermos ao facto de que a estrutura de jogo não se dissocia

daquilo que é a dinâmica depreendida para a equipa, ou seja, resultante

daquilo que está definido como modelo de jogo da equipa, então os princípios

de jogo contemplados pelo modelo, ao (sobre)determinarem-se como

invariantes do jogar da equipa, surgem como um «atractor».

De acordo com Guilherme Oliveira (2004), os princípios de jogo

apresentam uma configuração e uma organização fractal uma vez que se

fazem representar como as invariâncias do Modelo, independentemente da

escala (principio, sub-princípio, sub-sub-princípios, …), sendo sempre

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Revisão da Literatura

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representativas do todo. Por outro lado, independentemente do momento do

jogo, os comportamentos podem assumir várias escalas: colectiva

(comportamentos que toda a equipa tem que assumir); inter-sectorial

(comportamentos alusivos à interligação entre diferentes sectores); sectorial ou

grupal (comportamentos que um sector ou grupo de jogadores devem assumir

em função da situação); e individual (comportamentos que determinado jogador

deve assumir numa determinada situação do jogo) (Guilherme Oliveira, 2004).

De acordo com Castelo (2004), através dos princípios de jogo cria-se

uma «linguagem táctica comum» no cerne da equipa, suportada pela

implementação de um conjunto de linhas orientadoras do pensamento táctico

dos jogadores. Diz também que o “princípio do jogo marca o sentido táctico

fundamental da acção dos jogadores perante a situação do jogo,

independentemente do sistema (entenda-se, estrutura) aplicado” (Castelo,

2004: 187).

Todavia, procuramos dar um exemplo de como a(s) estrutura(s) de jogo

se fundem com os princípios de jogo para a expressão do jogar. Silva (2008)

explana que para concretizar, no momento ofensivo, um grande princípio como

a manutenção da posse da bola através da sua circulação em amplitude, uma

equipa deve adoptar um jogo posicional colectivo que permita circular em

amplitude, ou seja, com os jogadores a darem largura em detrimento da

profundidade.

Visando a articulação de sentido com os sub-princípios, a autora admite

o seguinte: “os jogadores da linha média distribuídos em toda a largura do

campo e os avançados a procurarem a bola fundamentalmente perto da linha

lateral. Deste modo, esta relação Específica dos médios com os avançados

(escala intersectorial) é um sub-princípio” (Silva, 2008: 61).

Guilherme Oliveira (2004) conclui que, se a configuração e o

escalonamento dos princípios de jogo for fractal, a interacção dos diferentes

princípios de jogo através da sua auto-organização criada promove uma

«homotetia interna» que evidencia a identidade da equipa. O exemplo anterior

acaba por ir de encontro a tais premissas.

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Revisão da Literatura

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Ainda um outro exemplo se pode extrair das aulas de Metodologia de

Futebol por nós frequentadas, em que um sub-sub-princípio de jogo

relativamente ao momento ofensivo prognosticava o «timing» de definição em

situação de finalização próximo da baliza adversária. Clarificando, numa última

fase de construção ofensiva era pretendido que os jogadores definissem 3

diferentes «linhas» de finalização, não sendo essa definição obrigatoriamente

ao encargo dos mesmos jogadores e em zonas obrigatórias.

Pelo descrito, este sub-sub-princípio parecia promover regularmente

trocas posicionais entre jogadores e movimentações com critério e sentido

posicional para que se garantisse o «timing» certo de resposta ao passe

realizado para concluírem as jogadas. Então, estruturalmente, subentende-se

um acompanhamento do comportamento pretendido, ou seja, a sub-estrutura

representada pelos jogadores que formam o grupo que define, nessa última

fase de construção ofensiva, «deforma-se» para que se garanta o que é

pretendido em termos de jogo.

Ao passarmos desta escala mais «micro» para uma escala mais

«macro», ou seja, não nos confinarmos apenas àquele grupo de jogadores

envolvidos na concretização das situações de finalização mas respeitarmos

agora a equipa na sua totalidade, reequacionamos a questão procurando a

realidade que melhor se coadunasse com tais comportamentos privilegiados.

Pelo que temos vindo apresentar, inferimos que tais comportamentos

deveriam associar-se mais a uma equipa que procure uma circulação de bola

apoiada, com aproximações ao último terço do terreno com os jogadores bem

posicionados em relação à posição da bola e apresentando, por articulação,

uma estrutura de jogo com várias «linhas» (transversais e longitudinais) de

maneira a fazer chegar regularmente vários jogadores a zonas de

concretização.

Por outro lado, inferimos que tais comportamentos para o momento

ofensivo deveriam associar-se menos a uma equipa que mal recupere a bola,

«lança» de imediato um ataque à baliza contrária, uma vez que a propensão

para colocar vários jogadores disponíveis a definirem - concentrada e

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Revisão da Literatura

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atempadamente - as «linhas» de finalização seria bem menor

comparativamente à equipa anterior.

Visto ser a estrutura que corporiza os comportamentos que se querem

ver traduzidos pela equipa colectivamente e pelos jogadores individualmente,

independentemente da organização estrutural que se venha a privilegiar,

parece haver uma forte ligação da estrutura e da sua respectiva organização

face à dinâmica que os princípios incutem.

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Metodologia

57

3. Metodologia

3.1. Objectivos do estudo

O sujeito deve permanecer aberto, desprovido de um princípio de resolubilidade nele mesmo; o próprio objecto deve permanecer aberto, de um lado sobre o sujeito, e do outro sobre o seu

meio, o qual, por sua vez se abre necessariamente e continua a abrir-se para lá dos limites do nosso entendimento (Morin, 2003: 65).

Chegados a este ponto do estudo, como consequência lógica à seriação

de informação elaborada na nossa revisão da literatura, apresentamos aqueles

que são os objectivos condutores do nosso trabalho.

Este estudo tem então como objectivo geral:

- sistematizar um quadro de ideias, através do cruzamento da

informação obtida na revisão da literatura e daquela resultante da inquirição, de

modo a aferir o entendimento de organização estrutural/posicional face àquilo

que se perspectiva como organização do jogar de uma equipa de Futebol.

Destro deste, podemos designar como objectivos específicos:

- explorar os entendimentos de estrutura de jogo (organização

estrutural), sistema de jogo e modelo de jogo;

- indagar sobre a importância da organização estrutural no jogar

representativo de uma equipa;

- perspectivar a organização estrutural de acordo com a dinâmica de

articulação dos momentos de jogo;

- inferir acerca das implicações resultantes de um exacerbar ou descurar

organizacional estrutural/posicional no jogar das equipas;

- identificar eventuais organizações estruturais de jogo a serem

utilizadas no futuro face às tendências evolutivas do Futebol a nível mundial.

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Metodologia

58

3.2. Material e Métodos

What we discover by doing research is just how complex the world is. When we answer some questions, we raise others. And no matter how well thought out we think our project is at the

beginning, there always are those unanticipated twists and turns along the way that lead us to rethink our positions and question our methods and to let us know that we are not as smart as

we think we are. (Strauss & Corbin, 1998: 55)

3.2.1. Caracterização da Amostra

Como já o referimos, este trabalho pretende incidir sobre uma

população-alvo cuja área de ligação ao fenómeno Futebol fosse diversa, mas

que compreendesse uma interligação profunda, em primeira instância, com o

conhecimento em Futebol e, em segunda instância, com o entendimento

respeitante à(s) estrutura(s)/«sistema(s)» de jogo.

Nesta perspectiva, quer a selecção quer a caracterização da nossa

amostra vão de pleno encontro ao que Ghiglione & Matalon (2000: 58)

advertem: “uma amostra representativa da população em estudo pode ser

pouco prática, porque, por exemplo, certos grupos estariam insuficientemente

representados ou porque certas relações seriam difíceis de evidenciar. (…). É

necessário substituir a noção global de representatividade por uma noção mais

ampla, a de adequação da amostra aos objectivos estabelecidos (…)”.

Pensamos que a seguinte amostra, pela possibilidade em aprofundar as

questões envolventes à temática e pelos diferentes ângulos que pode abarcar,

poderia sobremaneira ir de encontro aos objectivos por nós estabelecidos.

Então, como inquiridos constituintes da nossa amostra estão:

� Agostinho de Oliveira – treinador (adjunto) da Selecção Nacional A

Portuguesa;

� Luís Freitas Lobo – jornalista, analista de Futebol, cronista do jornal

desportivo «A Bola»;

� André Vilas Boas – observador de jogo, elemento da equipa técnica do

Inter de Milão.

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Metodologia

59

3.2.2. Recolha de Informação

3.2.2.1. Construção e realização das entrevistas

Para responder ao implicado nos objectivos por nós delimitados torna-se

fundamental a escolha de um instrumento para recolher as informações nesta

fase do estudo. Assim surge o inquérito por entrevista como a ferramenta que

melhor se adequa à natureza qualitativa deste estudo.

Bogdan & Biklen (1994), Quivy & Campenhoudt (2003), Ghiglione &

Matalon (2005), estão conformes com a orientação da entrevista semi-directiva

como aquela que permite ao entrevistado falar livremente/abertamente, com o

seguimento de ideias e de palavras que lhe convier, dando-lhe autonomia para

moldar o conteúdo.

Como o que pretendemos é a obtenção das ideias dos entrevistados,

esta surge como um instrumento, mais do que válido, capaz de potenciar a

obtenção junto dos entrevistados das suas opiniões e crenças sobre o que é

inquirido.

Pretende-se com a entrevista semi-estruturada aprofundar um

determinado domínio (temática visada) ou verificar a evolução de um domínio

já conhecido (Ghiglione & Matalon, 2005), sendo possível através da recolha

de informação provinda dos próprios entrevistados que possibilitam ao

investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os

entrevistados interpretam certos aspectos (Bogdan & Biklen, 1994).

Assim procedemos à realização de um significativo conjunto de questões

que permitam perfilhar vários ângulos de abordagem à organização estrutural,

ângulos esses subordinados a uma lógica sistémica que julgamos ser a mais

ajustada face ao fenómeno em causa, o Futebol. Desta maneira, torna-se

possível respeitar as conjecturas pessoais e as concepções particulares de

cada entrevistado, garantindo, com a diversidade e o carácter aberto das

questões constituintes da temática, uma recolha de informação mais passível

de identificação e associação com o pretendido para este estudo.

Esse guião de entrevista passou por várias reformulações, passando

cada revisão pela análise do orientador, até à obtenção do guião final a utilizar.

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Metodologia

60

Terminada esta fase de construção passámos à sua aplicação, tendo

sido os inquéritos realizados entre os dias 29 de Julho a 14 de Setembro de

2009.

Os inquéritos foram realizados em locais escolhidos por mútuo acordo

entre as partes envolvidas. A entrevista a Agostinho de Oliveira realizou-se na

sua própria residência em Guimarães e a entrevista a Luís Freitas Lobo

ocorreu nas instalações da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

Já a entrevista a André Vilas Boas foi conseguida por correspondência

electrónica, uma vez que esta foi a forma possível e mais viável encontrada na

altura para garantirmos a sua inclusão no estudo e darmos continuidade ao

mesmo em virtude de conseguirmos cumprir os seus prazos de conclusão e

entrega. Realce-se que, como o período correspondente à recolha de

informação coincidiu precisamente com a altura de início da época desportiva,

vários foram os compromissos profissionais envolvendo jogos fora do país por

parte de André Vilas Boas que, conjuntamente com compromissos profissionais

de nossa parte, conduziram inevitavelmente à impossibilidade de o

entrevistarmos pessoalmente.

Antes da entrevista, a todos foi dado a conhecer a natureza do estudo.

As entrevistas realizadas «in vivo» foram gravadas com autorização dos

entrevistados através de um gravador Sony e depois transcritas através do

programa Microsoft Office Word 2003 de forma a reproduzir o argumentado por

cada entrevistado e documentar os dados para posterior análise e discussão.

Antes da entrevista, a todos foi dado a conhecer a natureza do estudo.

As entrevistas realizadas «in vivo» foram gravadas com autorização dos

entrevistados através de um gravador Sony e depois transcritas através do

programa Microsoft Office Word 2003 de forma a reproduzir o argumentado por

cada entrevistado e documentar os dados para posterior análise e discussão.

3.2.2.2. Análise e interpretação das entrevistas

Concluída a recolha de informação, ou mais concretamente, concluída a

transcrição dos «depoimentos» dos inquiridos, dá-se início a um outro

momento que é o da análise e respectiva interpretação dos enunciados.

Recorre-se neste caso à análise de conteúdo.

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Metodologia

61

Por análise de conteúdo entendamos, segundo Bardin (2004), um

conjunto de instrumentos metodológicos que se aplicam a diversificados

«discursos». Quivy e Campenhoudt (2003: 227) complementam, referindo que

o “lugar ocupado pela análise de conteúdo na investigação social é cada vez

maior, nomeadamente porque oferece a possibilidade de tratar de forma

metódica informações e testemunhos que apresentam um certo grau de

profundidade e de complexidade, como, por exemplo, os relatórios de

entrevistas pouco directivas”.

A análise de conteúdo adequa-se assim a respostas a perguntas abertas

de inquéritos cujo conteúdo é de imediato identificável por temas (Bardin,

2004). Visto estar imbricado neste estudo um objecto complexo – centrado num

domínio específico do Futebol – do qual é pretendido extrair uma

sistematização aprofundada de ideias, o conhecimento derivado do conteúdo

das entrevistas torna-se fundamental. Ghiglione & Matalon (2005: 185)

acrescentam mesmo que uma “análise de conteúdo não tem sentido se não for

orientada para um objectivo. Procurar saber o que existe num texto, sem mais,

não tem outra resposta que o próprio texto.”

A análise conteúdo tem como fim inferir de acordo com uma plataforma

lógica explanada sobre mensagens cujas características foram enumeradas e

sistematizadas (Vala, 1986).

Surge então a formulação de categorias de análise, de maneira a se

adaptarem ao problema e conteúdo a analisar, como central na exequibilidade

da análise de conteúdo (Ghiglione & Matalon, 2005). Por categoria entenda-se

o que é composto por um termo-chave que indicia a significação de um

conceito e de outros indicadores que descrevem o seu campo semântico que

quer apreender (Vala, 1986).

Relativamente ao momento de construção do sistema de categorias,

Vala (1986) refere ser possível um processo a priori ou a posteriori. A priori,

associa-se à detecção de uma presença ou ausência de categorias no corpus37

que foram definidas antes desse corpus, a partir do quadro teórico

desenvolvido pelo investigador. A posteriori, surge em resultado da exploração

37 “O corpus é o conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos” (Bardin, 2004: 90). O corpus é “constituído pelo discurso de um certo número de pessoas, todas interrogadas segundo a mesma técnica” (Ghiglione & Matalon, 2005). A técnica, neste caso, é o inquérito por entrevista.

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Metodologia

62

do corpus estabelecendo o quadro categórico que releve a problemática e o

conteúdo em análise (Vala, 1986).

Este procedimento possível a posteriori tornou-se fundamental neste

estudo. Compreenda-se que esta temática permeabiliza a construção dos

conteúdos por parte dos entrevistados de uma forma tanto singular como

diversa, pela incontornável subjectividade implícita nos seus «testemunhos».

Por outro lado, é uma problemática que estabelece conexões com várias outras

dentro do fenómeno Futebol, sendo difícil um carácter exploratório da mesma

que exponha o conhecimento produzido estruturado em «compartimentos»

ausentes de conexões e interligações que são necessárias de se efectivarem.

Portanto, não só mas também pelas limitações38 que o nosso estudo

encetou, não adicionámos novas categorias mas reformulámo-las no sentido

de melhor as organizar para com o próprio corpus de estudo gerado e para que

se pudessem mais facilmente identificar com o quadro bibliográfico por nós

engendrado.

Assim, apresentamos a nossa organização por categorias,

compreendendo duas grandes categorias, sendo que a primeira categoria se

ramifica em duas subcategorias e a segunda categoria em quatro

subcategorias:

C1 – Organização de Jogo

SC1.1 – Modelo de jogo

SC1.2 – Organizações estruturais de jogo

C2 – Organização estrutural (posicional) do jogar

SC2.1 – Organização ofensiva

SC2.2 – Transição defensiva

SC2.3 – Organização defensiva

SC2.4 – Transição ofensiva

Como justificação da definição de tal sistema categorial deveu-se a

tentativa de aproximação, como já o evidenciámos, a uma categorização

coerente e congruente com um paradigma sistémico que sustente o fenómeno

Futebol e mais concretamente o jogar das equipas, desenvolvido em revisão

bibliográfica. Para tal, urgiu a necessidade de apresentar uma ordenação de 38 Ver ponto seguinte.

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Metodologia

63

categorias e subcategorias em respeito com uma condição «fractal» face a um

fenómeno dinâmico complexo como é o Jogo.

Quanto às duas grandes categorias não mais são do que constituintes

de um mesmo «todo», sendo a primeira categoria (C1 – Organização de Jogo)

de escala maior à segunda categoria (C2 – Organização estrutural [posicional]

do jogar) e esta última passível de constituir-se como «parte» de um «todo»

que a primeira possa representar. Adiante-se, portanto, que é objectivo da

primeira categoria enunciar propriedades implícitas ao Jogo e ao jogar singular

das equipas, nomeadamente pelo facto da organização ser um conceito que

“não se reduz a algumas regras estruturais” (Silva, 2008), que possam

estabelecer conexões com a especificidade que a segunda categoria encerra,

visto ser esta última o principal motivo de realização deste trabalho.

Assim, na Organização de Jogo (C1) incorre-se no perceber a

importância da organização no Futebol a top e apresentar o que se entende por

cada um dos momentos de jogo que se encontram convencionados no Futebol

(organização defensiva e defensiva e respectivas transições).

Dentro desta categoria encontramos o Modelo de jogo (subcategoria

SC1.1) e as Organizações estruturais de jogo (subcategoria SC1.2).

A pertinência do Modelo de jogo (subcategoria SC1.1) como «parte»

integrante das subcategorias recai no facto de que, para além de se

compreender nos parâmetros pressupostos pela Organização de Jogo

(categoria C1), estabelece os fundamentos que sustentam o Jogo como um

sistema de sistemas (Silva, 2008) dinâmico e complexo. Segundo Guilherme

Oliveira (2004) é o Modelo que estabelece a operacionalização de uma

concepção que visa o plano da organização das ideias e dos comportamentos

que se pretendem ver traduzidos para a equipa no seu jogar. Sem a presença

desta subcategoria não faria sentido a abordagem à nossa temática.

Quanto à subcategoria Organizações estruturais de jogo (SC1.2) é

nossa pretensão realizar um primeiro enquadramento com a organização

estrutural, focando genericamente questões que se prendem com a percepção

de estrutura de jogo, sua importância no jogar das equipas e variabilidade

presente e futura de utilização de determinadas estruturas.

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Metodologia

64

Na categoria Organização estrutural (posicional) do jogar (C2), o

principal objectivo passa por se dar maior contextualização, especificidade e

consequente profundidade à abordagem já estabelecida.

No seguimento do desenvolvido nas anteriores categorias procuram-se

as inter-relações e interacções necessárias com aquilo que a estrutura de jogo

de uma equipa representa no jogar da própria equipa, sistematizando-se

aspectos e ideias que aprofundem o conhecimento.

A própria formulação das subcategorias vem servir como complemento à

sua grande categoria de referência e à lógica de ideias precedentemente

desenvolvidas, estimando confluir as particularidades do comportamento

organizacional da estrutura de jogo no respeito pelos diferentes momentos de

jogo - Organização ofensiva (SC2.1), Transição defensiva (SC2.2),

Organização defensiva (SC2.3), Transição ofensiva (SC2.4) - entrevendo uma

inter-acção entre os quatro momentos invariavelmente identificativa («fractal»)

do jogar que se perspectiva.

De acordo com Ghiglione & Matalon (2005), uma vez concluído o

trabalho de definição de categorias, torna-se oportuno analisar a entrevista.

Bardin (2004) concorrendo com os anteriores autores, apresenta-nos três tipos

de unidades de análise a considerar: a unidade de registo; a unidade de

contexto; e a unidade de enumeração.

Por unidade de registo entenda-se o segmento de conteúdo mínimo

tomado em consideração, como p.e. uma «frase», colocado numa determinada

categoria (Ghiglione & Matalon, 2005). A unidade de contexto, por sua vez,

corresponde a um segmento de mensagem maior comparado ao da unidade de

registo (Vala, 1986), promovendo uma melhor significação da unidade de

registo (Bardin, 2004). E, por último, a unidade de enumeração é aquela que

procede à quantificação, ou seja, tem a ver com diversos modos de contagem

que podem ser realizados (Bardin, 2004).

As unidades de contexto parecem-nos ser as mais ajustadas para as

pretensões deste trabalho, porque são as que melhor convergem com as

seguintes pretensões que temos para este estudo:

- incutir um carácter exploratório e não de confirmação de enunciados;

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Metodologia

65

- promover a complementaridade e não a subjugação a certas reduções

que possam advir pelo respeito estrito de determinadas unidades de análise;

- e procurar as premissas anteriores face a uma amostra seleccionada

no critério da heterogeneidade da forma como a temática poderia ser sensível

a cada um dos seus elementos.

3.2.2.3. Limitações encontradas

Antes de iniciarmos a apresentação e discussão dos resultados urgiu-se-

nos a criação de mais um ponto neste capítulo, reservado exclusivamente às

limitações encontradas nos procedimentos metodológicos adoptados.

Evidenciamos antecipadamente a plena consciencialização de nossa

parte quanto à verificação de certas ocorrências menos positivas traduzidas

numa espécie de incumprimento de certos requisitos normativos da

investigação académico-científica. Assim, passamos a apresentar aquelas que

foram as principais limitações com as quais nos deparámos.

Relativamente ao ponto “Recolha de Informação” (3.2.2.) reconhecemos

que a amostra compreendida poderia (e deveria) ser mais ampla, isto se as

condições de realização fossem outras, nomeadamente o tempo para

tratamento dos dados e a disponibilidade dos respectivos elementos

seleccionáveis uma vez que os inclusos na amostra são representativos de

uma classe anexa ao fenómeno em estudo (Futebol a top) cujo contexto

profissional exige (outros) compromissos de elevada responsabilidade, o que

torna a acessibilidade aos mesmos, de certo modo, bastante reservada.

Ainda dentro deste ponto, mas concentrando-nos na parte da “realização

das entrevistas”, duas entrevistas apresentaram aspectos particulares a

destacar por não convergirem totalmente com as directrizes específicas

associadas àquilo que deve corresponder uma entrevista semi-directiva ou

semi-estruturada.

Uma das entrevistas, fruto de uma solicitação do próprio inquirido, não

se procedeu por orientação de um guião pré-estabelecido que conduzisse a

própria entrevista, ou seja, acabou a própria entrevista por assumir contornos

próximos a uma entrevista tipo não-directiva. No entanto, realçamos o esforço

em depreender junto do inquirido as questões essenciais perante o discurso

Page 84: Um estudo sobre a sua importância na Dinâmica das Equipas · entendimentos de estrutura, sistema e modelo de jogo; (ii) indagar sobre a importância da organização estrutural

Metodologia

66

por si construído, concedendo ao mesmo liberdade e autonomia para

expressar as suas ideias e concepções.

Numa outra, porém, deparámo-nos mesmo com a impossibilidade de

seguir certas directrizes específicas implicadas na realização de uma entrevista

semi-estruturada, nomeadamente o facto de não ter sido uma entrevista «in

vivo», «in loco», uma vez que o entrevistado se limitou à resposta, via correio

electrónico, a questões pré-estabelecidas, algumas delas omissas de resposta

por parte do entrevistado. No entanto, a disponibilidade e o esforço revelados

pelo próprio foram considerados um impulso suficiente e plausível à sua

inclusão no estudo, mas sobretudo o seu discurso resultante foi reconhecido

como um contributo enriquecedor para a “discussão” a produzir sobre tal

problemática.

Por último, pela interacção legítima de todos os procedimentos que este

capítulo encerra, compreende-se a reorganização das categorias pré-

estabelecidas no domínio da análise das entrevistas. Todavia, não se interprete

essa reorganização como uma adaptação face às limitações encontradas, mas

uma forma encontrada de melhor compreender o corpus resultante para uma

apresentação e discussão dos resultados mais lógica e interligada.

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Análise e Discussão das Entrevistas

67

4. Análise e Discussão das Entrevistas

Pela apresentação e discussão das entrevistas neste estudo

entendemos o capítulo de confluência entre aquilo que foi desenvolvido na

revisão bibliográfica, o sistema categorial criado em virtude dos objectivos

pretendidos e o enquadramento possível da informação obtida da amostra

seleccionada.

Neste espaço vemo-nos confinados a interpretar, associar e comparar,

com a intenção de contribuir para uma investigação orientada para o

conhecimento.

4.1. (C1) Organização de Jogo

“A organização abrange simultaneamente um estado e um processo, podendo dizer-se que ela implica a ideia de uma forma de optimização dos componentes de

um sistema e do seu arranjo” (Garganta, 1997: 138)

A categoria “Organização de Jogo” contempla em si duas subcategorias:

� SC1.1 – Modelo de jogo

� SC1.2 – Organizações estruturais de jogo

A presença destas duas subcategorias surge de uma necessidade já

evocada: garantir uma abordagem sistémica na categorização acerca da

temática. Assim, compreendendo a “Organização de Jogo” como uma

realidade situada numa escala macro, as subcategorias “Modelo de jogo” e

“Organizações estruturais de jogo” não se dissociam da realidade anterior mas

sim coexistem (são «parte») em identificação profunda com a categoria.

É sabido que o conceito de organização pré-existe ao conceito de

organização de jogo, em que este último confere uma especificidade própria

pelo contexto em que se insere. Nesta medida, faz sentido compreender a

organização na especificidade deste contexto e saber até que ponto o «Futebol

jogado» carece de organização.

Embora oferecendo-nos ideias que sendo diferentes se tornam

complementares, os nossos entrevistados vão de encontro ao que

desenvolvemos em revisão relativamente à necessidade da organização de

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Análise e Discussão das Entrevistas

68

jogo se edificar num princípio «dialógico» com respeito à «indivisibilidade dos

momentos de jogo», momentos esses que estão convencionados na literatura

– organização ofensiva e defensiva e transição ofensiva e defensiva.

Luís Freitas Lobo (Anexo III) desde logo realça que o jogo se trata de um

confronto entre duas organizações (equipas), vencendo quem se desorganizar

menos em função da organização adversária.

Agostinho Oliveira (Anexo II), por seu turno, coloca mesmo a

legitimidade da ordem-desordem e desordem-ordem num jogo, na constatação

de uma equipa se «alimentar» não só dos procedimentos dos seus jogadores

mas também dos procedimentos do adversário.

Chegando a questionar se todos os treinadores pensam em como gerir

organização e caos, ordem e criatividade, André Vilas Boas (Anexo IV) aponta

que a “equipa que deseje ser competitiva no meio onde está inserida deve

obrigatoriamente ser organizada no seu todo.”

É constatável que num jogo, as duas equipas, os dois sistemas, as duas

estruturas, que visam o confronto entre si numa competição utilizando

diferentes formas de conseguir os objectivos pretendidos, definam uma

organização colectiva (e individual) reconhecível à própria equipa (e

jogadores).

No sentido de melhor contextualizarmos a organização de jogo, vejamos

o que os entrevistados têm a dizer quanto à organização de acordo com os

momentos de jogo.

“O jogo é um contínuo de acção. (…). A tua intenção como equipa é

organizares em regime de transito defesa-ataque, é organizares-te para ir para

o ataque não é? Mas (…) pode fazer com que a esta situação de ataque

imediato, passes a ter que reagires mentalmente e rápido para uma situação

defensiva. (…).” Agostinho Oliveira (Anexo II)

“Vejo sobretudo o jogo como o controlo dos espaços e por isso acho que as

equipas devem ser equilibradas nesses quatro momentos que referiste, por

isso não acredito, nem nunca escrevi, em equipas de ataque ou equipas de

defesa, futebol atacante ou futebol defensivo, porque é uma forma de definição

que, desde logo, quebra o jogo que por natureza é inquebrantável…” Luís

Freitas Lobo (Anexo III)

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Análise e Discussão das Entrevistas

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“…o que é atacar sem defender ou transitar? O que é defender sem atacar ou

transitar? (…) não há organização ofensiva sem pensamento em equilíbrio

defensivo e antes desse equilíbrio sem ideia de transição. Tal como não há

organização defensiva sem pensamento ofensivo e sem ideia de exploração de

uma transição ofensiva. Na organização do jogar contam os momentos de jogo

sem dúvida, mas conta também a relação constante que há entre uns e

outros.” André Vilas Boas (Anexo IV)

Pelo descrito, parece existir um entendimento semelhante entre os

entrevistados de que os momentos de jogo devem ser interpretados como

«partes» em interacção num «todo» que é o jogar de uma equipa,

profundamente inter-relacionáveis porque o meio (o Jogo) é instável e não-

linear o que obriga cada equipa a procurar auto-organizar-se face a esta

natureza do contexto. Como tal, sendo cada momento uma «parte» do mesmo

«todo», fará mais sentido que haja um comportamento organizacional da

equipa congruente na passagem de uns momentos para os outros.

A este respeito da equipa ser organizada como um «todo», André Vilas

Boas (Anexo IV) define esse todo como o jogo e o seu modelo, assim como a

estrutura e a sua funcionalidade. Por sua vez, Luís Freitas Lobo (Anexo III)

remete para a noção de organização “uma série de ligações e de sectores,

linhas ou comportamentos no jogo que faz com que depois a equipa esteja

sempre equilibrada, que esteja sempre ligada, que tenha sempre um

comportamento orgânico em campo”.

No depoimento de Agostinho Oliveira (Anexo II) encontramos, porém,

uma advertência relativamente ao enquadramento feito em relação aos

momentos. O entrevistado, suportando-se no carácter dissipativo39 de um jogo

de Futebol, em que a organização de uma equipa “será sempre uma

organização que sobrevive…da fragilidade da outra…”, ou seja, aquilo que a

nossa equipa (equipa/jogadores) é capaz de fazer também depende muito

daquilo que o adversário (equipa/jogadores) é capaz de fazer, faz menção ao

plano do individual/jogador no intuito de ser este quem decide/age

determinando as (con)sequências do jogo. 39 Fonseca et al. (2001) entendem por processo dissipativo o estado em que se dá troca de energia e informação entre o sistema e o meio envolvente, em que dessa dissipação pode emergir um novo padrão ordenado de comportamento. O entrevistado fez a analogia do jogo entre duas equipas com o conceito de «estrutura dissipativa» da autoria de Ilya Prigogine.

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Análise e Discussão das Entrevistas

70

Desta forma, desde a qualidade do passe e recepção, p.e., às

movimentações e posicionamentos adoptados, é ao jogador que cabe

determinar a fluidez e sentido de um jogo, servindo isto para a própria equipa

como para a equipa adversária.

Este parêntesis testemunhado pelo anterior entrevistado é muito

importante, porque se relaciona com algo por nós observado em revisão

relativamente à sobredeterminação do jogar fruto dos jogadores utilizados e

interacções que os mesmos estabelecem entre si, em que qualquer alteração

nestas duas condições verificadas resulta numa alteração desse mesmo jogar.

A ressalva do entrevistado quanto à enumeração de aspectos que implicam no

desempenho individual dos jogadores, estando implicitamente conexo ao tipo

de interacções que se estabelecem no jogar, torna-se um pertinente

complemento.

Relativamente ao avançado pelos entrevistados sobre os momentos de

jogo, servimo-nos apenas de breves citações no sentido de os caracterizar e

criar uma linha condutora para aquilo que serão as categorias posteriormente

retratadas.

“ «Amplitude e Profundidade (…) Criação e aproveitamento dos espaços». (…)

Quando desequilibras obrigas a quê? A atraíres uma nova marcação. Se atrais

uma nova marcação libertas um novo espaço.” Agostinho Oliveira (Anexo II)

“…organização ofensiva será quando a equipa está em posse de bola no meio

campo adversário já numa fase de construção/definição da jogada;” Luís

Freitas Lobo (Anexo III)

“Organização Ofensiva: o modo como (…) potencio os meus princípios de jogo

para poder criar um determinado número de oportunidades de golo que me

permitam vencer o jogo.” André Vilas Boas (Anexo IV)

“ «Desorganizado, preparar para ocupar posições que se tem que assumir». É

exactamente isso, porque quando passas de uma situação para a outra, este

espaço mental de reagir em relação a, é talvez a coisa mais importante nas

transições.” Agostinho Oliveira (Anexo II)

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Análise e Discussão das Entrevistas

71

“…perceber também que falar em transição é um conceito demasiado vago,

porque há várias formas de fazer uma transição. (…) todas estas diferenças de

formas de transição são que fazem com que a equipa esteja ou não

devidamente organizada depois desses tais momentos defensivos ou

ofensivos.” Luís Freitas Lobo (Anexo III)

“Transição Defensiva ou ataque-defesa: acções conjuntas tomadas após a

perda imediata da posse de bola. Também dependente das nuances

estratégicas para o jogo, como por exemplo transição para bloco ou transição

para pressionar e limitar o adversário de um modo imediato.” André Vilas Boas

(Anexo IV)

“…não teres a posse da bola e teres atitudes: vais procurar a bola, vais

pressionar o adversário, vais bascular no sentido da pressão, vais tentar retirar

a bola.” Agostinho Oliveira (Anexo II)

“…organização defensiva seria não ter a bola, estar num momento de tentativa

de recuperação com as linhas mais baixas.” Luís Freitas Lobo (Anexo III)

“Organização Defensiva: o modo como eu potencio os meus princípios de jogo

de modo a ter uma unidade compacta que me permita reduzir a um mínimo a

criação de oportunidades por parte do adversário.” André Vilas Boas (Anexo IV)

“Quando recuperas, o colectivo, que é que tem de fazer? Campo grande. Se

recuperas e imediatamente como primeira opção tens uma linha de passe mais

distanciada, mais profunda, ou então sair a jogar mais pela certa…Acontece

que a falta de colaboração global condiciona o tempo de execução.” Agostinho

Oliveira (Anexo II)

“…até nos comentários, «a equipa não está a fazer bem as transições»; «uma

equipa não é forte nas transições», mas que tipo de transições? É uma

transição individual? É uma transição apoiada entre linhas? É uma transição

em segurança? Eu posso fazer uma transição defesa-ataque fazendo um

passe atrasado.” Luís Freitas Lobo (Anexo III)

“Transição Ofensiva ou defesa-ataque: acções conjuntas, tomadas

imediatamente a seguir à conquista da posse de bola, onde se podem

potenciar, de acordo com o que se pretende em termos estratégicos, uma

transição para posse (entenda-se, para manutenção da posse de bola e

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Análise e Discussão das Entrevistas

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passagem a organização ofensiva) ou uma transição mais vertical para

explorar a desorganização do adversário.” André Vilas Boas (Anexo IV)

Antes de mais importa realçar que os pontos de vista apresentados

revelam noções diferenciadas entre os entrevistados quando especificamente

confrontados com aquilo que envolve os momentos de jogo. Enquanto

observamos que as diferenças entre Luís Freitas Lobo e André Vilas Boas

recaem sobre a sua perspectiva pessoal sobre o que se deve entender por

cada um dos momentos, da parte de Agostinho Oliveira, pela forma como

explanou o seu discurso, tornou-se necessário recorrer ao seu próprio

enquadramento de ideias – noções relacionais entre os padrões de

comportamento colectivo e os elementos estruturais do jogo como o espaço e

tempo – alusivo aos quatro momentos para daí extrairmos o teor lógico aqui em

causa.

Independentemente das diferenças, a organização de ideias dos

entrevistados, sobretudo por parte de Agostinho Oliveira e Luís Freitas Lobo,

parece-nos antever o jogar de uma equipa de acordo com o que nos é revelado

por Frade (1998: 14), ou seja, entender o jogar (o «todo») como um conjunto

de “dinâmicas embora não-lineares mas onde se instalam correspondências,

ou seja, a defesa é a tábua de chamada para o ataque, o ataque é o ponto de

referência para a defesa”.

De Agostinho Oliveira apercebemo-nos das necessárias concertações

colectivas para traduzir determinadas intenções específicas do momento em

que a equipa se encontra e faz menção às ligações existentes entre os

momentos.

De Luís Freitas Lobo podemos relevar que, independentemente de

especificar as intencionalidades próprias que os momentos singularmente

podem assumir, os momentos se encontram articulados e devem conter

sempre uma certa organização, chegando a complementar que “as melhores

equipas são aquelas que conseguem sempre estabelecer nós entre uns e

outros, até ao ponto de tu muitas vezes não conseguires distinguir…” (Luís

Freitas Lobo, Anexo III).

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Análise e Discussão das Entrevistas

73

Já de André Vilas Boas (Anexo IV) destaque-se a referência às “acções

conjuntas” para os momentos de transição da defesa para o ataque e do

ataque para a defesa, à “unidade compacta” em referência à organização

defensiva e aos “princípios de jogo”, que quanto a nós inferem para uma noção

colectiva de perspectivar o jogar de uma equipa e tudo aquilo a que essa noção

está afecta.

O jogar é interacção porque é colectivo e o colectivo resulta das

individualidades em inter-relação permanente. Portanto, a interacção confere

uma articulação de sentido entre os momentos de jogo, uma articulação não

descaracterizadora de uns com os outros por necessidade desse jogar que se

pretende.

O próximo ponto, em que discorremos sobre o Modelo de jogo, é sem

dúvida uma «tábua de chamada» para melhor compreender que, conforme as

ideias associadas a cada momento de jogo e as relações que as mesmas

estabelecem na interligação entre os quatro momentos, daí resultará um jogar

diferente de um outro em que essas ideias e relações sejam diversas,

implicando interligações entre os momentos igualmente diversas.

4.1.1. (SC1.1) Modelo de jogo

“Cada pessoa trás dentro da sua cabeça um modelo mental do mundo, uma representação subjectiva da realidade externa…” (Toffler, 1970, cit. por Tavares, 2003)

…há uma realidade na componente de exteriorização de determinado tipo de modelos. Podes ter a certeza daquilo que te vou dizer, é que é mais feita na influência do jogador para o modelo do que do modelo para o jogador. (Agostinho Oliveira, Anexo I)

O modelo de jogo surge então equacionado desde cedo nesta

problemática, junto dos entrevistados, por parecer ser um conceito fundamental

na concepção e construção do jogar das equipas, ou seja, também na sua

organização.

Por um motivo de encadeamento lógico das ideias procurou-se saber

inicialmente por parte dos inquiridos o que entendem por este conceito.

Pela especificidade que o contexto selecções nacionais de Futebol

encerra, Agostinho Oliveira apresenta um quadro discursivo que pronuncia

aspectos que terão importância em serem discutidos mais à frente neste ponto,

mas que não se focam concretamente no conceito de Modelo de jogo. No

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Análise e Discussão das Entrevistas

74

entanto, são várias as citações que permitem inferir relevância atribuída a este

conceito pelo próprio: “Eu tenho que modelar…”; “...e modelas a perspectiva de

uma estrutura baseada em função…”; “…tudo muito bonito desde que o

treinador tenha modelado para o efeito…” (Agostinho Oliveira, Anexo II).

Sobre o que se pode entender por modelo de jogo, Luís Freitas Lobo

(Anexo III) faz uma analogia com o que se entende por filosofia de vida. O

inquirido afirma que as “pessoas têm uma forma de estar na vida, têm

determinados princípios, (…) valores de comportamento, de relações entre as

pessoas…”. Num sentido semelhante incorre André Vilas Boas (Anexo IV), ao

entender o modelo de jogo como um “conjunto de princípios de jogo que

constituem a base do teu Jogar e que é o único referencial pelo qual deves

iniciar a construção do teu modelo de treino.”

Por parte de todos se percebe que o modelo se associa a dinâmicas

idealizadas sobre o que se quer ver traduzido pela equipa nos diferentes

momentos, dinâmicas essas que se associam à realidade dos princípios de

jogo.

“Ora bem, há situações, tu tendo a posse da bola ou não tendo a posse da

bola, que deves organizar para que possas começar a criar os princípios na tua

equipa.” Agostinho Oliveira (Anexo II)

“No Futebol é um pouco a mesma coisa sobre que valores tu gostas de

defender! Gostas de defender o quê? Um Futebol de passe curto, que privilegie

a posse, que dê largura à equipa (…) Ou preferes antes viver de outra forma,

de uma forma mais acelerada, de um passe mais longo, procurando bolas em

profundidade, (…) chegar o mais rápido possível à baliza adversária…” Luís

Freitas Lobo (Anexo III)

“Tudo o que tu defendes e tudo o que tu queres como jogo para a tua equipa.

(…) O modelo e os princípios que defendes para a tua equipa estão (…)

intimamente ligados entre si…” André Vilas Boas (Anexo IV).

A forte representatividade dos princípios para expressão de um jogar

depreende-se então de todos os inquiridos. Então, parece fazer-se relegar

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Análise e Discussão das Entrevistas

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extrema importância ao modelo de jogo por aquilo que o mesmo contempla e

representa na identificação do jogar de uma equipa, depreendendo-se,

portanto, que a ordem de grandeza abrangida pelo modelo de jogo é superior

àquela que se resume aos «arranjos» estruturais considerados no jogar de

uma equipa.

Entretanto, ao papel que assiste ao modelo de jogo na organização do

jogar de uma equipa parecem entrelaçarem-se certos pressupostos contidos na

relação estabelecida pelos inquiridos entre os princípios de jogo constituintes

do modelo e a funcionalidade a ver traduzida por uma equipa. Atentemos às

relações estabelecidas pelos entrevistados.

“…por vezes vê-se jogadores que no domínio técnico até nem têm grande

capacidade, mas o tipo de funcionalidade (…), a maneira como ele é solidário

no jogo, a maneira como ele interpreta, a maneira como ele funciona no regime

articulado…eu costumo dizer, «os dois centrais nunca serão os dois melhores

centrais, mas sim os que proporcionam a melhor articulação entre eles», a

maneira como se regem entre eles…” Agostinho Oliveira (Anexo II)

“…o princípio é o início, é um princípio, é algo para começares a jogar,

começares a pensar, para começares a decidir, dá-te as bases para tu tomares

decisões. Se cada espaço corresponde a uma posição e cada posição

corresponde a uma missão/função em campo, ela pede depois determinadas

características para colocar em prática e depois das características,

determinada capacidade de decisão, de pensamento, para colocar em prática

essa função definida pelo jogador, porque cada posição depois pode ter

dinâmicas diferentes conforme a filosofia e ideia do treinador…” Luís Freitas

Lobo (Anexo III)

“Total enquanto for possível ser aplicada pelos jogadores que tens à

disposição. A funcionalidade de uma equipa é articulada pelos jogadores

portanto são eles que têm de estar capacitados para pensarem e decidirem

sobre ela.” André Vilas Boas (Anexo IV)

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Análise e Discussão das Entrevistas

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Parece então convergir-se no sentido de perspectivar os princípios de

jogo como princípios de acção, de interacção, nomeadamente porque

estabelecem as ligações entre os jogadores da equipa face ao que se pretende

para os quatro momentos de jogo. Daí resulta uma forte ligação com a

funcionalidade do jogar uma vez que esta se expressa através do(s)

jogador(es), tornando o modelo de jogo como algo construído e em construção

como havíamos apresentado em revisão.

Em virtude do supramencionado por parte dos entrevistados parece

também existir uma clara relevância auferida às características dos jogadores

aquando da operacionalização do modelo de jogo.

André Vilas Boas (Anexo IV) não só admite uma forte ligação entre o

modelo de jogo e seus princípios com as características dos jogadores tidos à

disposição como nos dá um excelente exemplo empírico dessa constatação:

“construção longa do Moretto (…) direccionada para o Cardozo. Primeiro bola

conquistada de cabeça e segundo bola na profundidade no movimento

explosivo do Saviola entre os defesas (…). Tenta inverter o cenário agora:

Saviola primeiro bola e Cardozo na profundidade após movimento

explosivo...impossível!”

Luís Freitas Lobo (Anexo III), identificando primeiramente a

representatividade de um tipo de Futebol natural oriundo da parte do jogador e

de um Futebol fabricado como aquele que resulta da interferência das ideias do

treinador, explana: “Penso que o maior erro que se pode cometer é pedir a

jogadores rápidos que só caminhem e pedir a jogadores que só gostam de

caminhar que voem, portanto, é algo contra-natura, não é? Deve-se respeitar

as condições naturais do jogador para ele depois colocar melhor em prática as

funções que se lhe espera.”

Deixamos Agostinho Oliveira (Anexo II) para último pela especificidade

do contexto em que o entrevistado desenvolve a actividade, uma vez que todo

“o trabalho, porque efectuado de mês a mês, no espaço que vai por vezes a

um período de 8 dias, estabelece critérios de interferência diferenciada de

qualquer tipo de trabalho efectuado nos clubes”, tendo sempre o cuidado em

particularizar as questões a essa realidade.

No concernente então a esta questão, apesar de convergir com o

apontado pelos restantes, o entrevistado parece assumir uma maior

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Análise e Discussão das Entrevistas

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evidenciação da importância atribuída às características dos jogadores nesse

contexto (selecção). Algo que se aceita por essa impossibilidade em

rapidamente consolidar aspectos compreendidos por um modelo de jogo como

acontece num contexto de clube.

Agostinho Oliveira (Anexo II) esclarece ao dizer que “por vezes não

partes da estrutura pretendida, mas aquela a que a matéria-prima que dispões

te permite.” Complementando e aprofundando refere: “…modelas a perspectiva

de uma estrutura baseada em função do tipo de representatividade de cada

jogador nos seus respectivos clubes. Pretende-se estruturar colocando as

peças de modo a fazer o seu maior aproveitamento e por vezes arrastas e

promoves a estrutura na proximidade do tipo de características que residem no

jogador.”

Todo o corpus de argumentação presente nesta subcategoria tem

evidente conexão àquilo que adiantamos em revisão, ou melhor, que a

concepção de jogo do treinador, os princípios de jogo, a organização funcional,

as organizações estruturais, as capacidades e as características dos

jogadores, são aspectos que interagem na criação de um modelo de jogo para

uma equipa (Guilherme Oliveira, 2004), acrescentamos, de um jogar para a

equipa.

4.1.2. (SC1.2) Organizações estruturais de jogo

“A dimensão posicionamento é, a par da constituição da equipa para a competição, as questões de fundo que mais fascinam a larga maioria dos adeptos desta modalidade, bem como, dos jornalistas desportivos que o comentam e rescrevem. Não é por acaso, que se

promove longas discussões sobre estes dois assuntos.” (Castelo, 2004: 53)

Através de um primeiro enquadramento sumário com o conceito de

organização de Jogo e o que este implica no jogar das equipas, procuramos

agora um melhor relativizar das organizações estruturais.

Não faria sentido iniciar a análise e a discussão deste ponto sem nos

reportarmos à significância atribuída à organização estrutural, ao nível da

disposição «táctica» dos jogadores, no futebol praticado por uma equipa.

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Análise e Discussão das Entrevistas

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“O dilema absorve discussões e leva a perspectivar, e obedecendo às

características de cada um dos jogadores componentes, a projecção para

outros quadros de modelação estrutural… O Ferguson o que fez neste último

jogo da Champions, quem é que pôs lá? O Rooney. Na ala, a trabalhar

tacticamente, pôs o ponta-de-lança.” Agostinho Oliveira (Anexo II)

“Eu atribuiu-lhe muita importância. Muitas vezes oiço dizer que «o importante é

a dinâmica». Eu acho que não, acho que importante é o jogo posicional, o

importante é onde começamos a correr, o importante é onde estamos para

iniciar determinada acção. Portanto, o mais importante é os jogadores estarem

bem colocados posicionalmente para darem dinâmica depois às funções que

cada um tem e à filosofia de jogo global. A base é o jogo posicional, estarem

nos sítios certos, a casa táctica, isso dá-lhes referências de passe, da criação

de linhas de passe, e dá-lhes também o ponto de referência (…) onde eles

regressam quando aquela jogada acaba.” Luís Freitas Lobo (Anexo III)

“A organização estrutural da tua equipa está dentro do modelo de jogo que tu

pretendes para ela. Dentro do modelo de jogo estão os teus princípios

fundamentais, ou seja, os pilares da tua organização. Se o que tu queres ver

potenciado é a execução dos princípios que defendes e ao mesmo tempo fazer

com que cada um seja capaz de exprimir ao máximo as suas qualidades então

é importante que os «distribuas» da forma mais adequada no campo. A palavra

distribuí-los ou colocá-los pode parecer redutora ou limitadora, porque o futebol

é dinâmica e é movimento, mas eu entendo a organização estrutural como o

ponto de partida a partir do qual surgirão as ideias que eu defendo.” André

Vilas Boas (Anexo IV)

Agostinho Oliveira, apesar de não concretizar profundamente a sua

posição relativamente a esta questão uma vez que se concentra mais na

capacidade de decisão/execução e nas qualidades implícitas ao

individualmente evidenciado pelos jogadores como aquilo que mais determina

o decorrente num jogo, vai reconhecendo no seu discurso a necessidade de

estruturalmente/posicionalmente sustentar as ideias sobre o jogar que se

pretende para as equipas. O exemplo dado pelo entrevistado denota, não

obstante se poderem processar alterações ao nível da estrutura de jogo

durante o próprio jogo, uma clara importância atribuída aos jogadores

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Análise e Discussão das Entrevistas

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individualmente assumirem determinadas posições e colectivamente

espelharem um figurino visivelmente identificável em jogo.

Por seu turno, as opiniões dos outros dois entrevistados é bastante

interessante pelo facto de convergirem quanto à organização estrutural servir

como um ponto referencial de partida para a equipa e os jogadores

desenvolverem desde aí as dinâmicas subjacentes ao seu jogar.

Acrescentamos, porém, alguns pontos não comuns a todos os

entrevistados que nos parecem enriquecer a discussão.

Um deles advém de André Vilas Boas (Anexo IV), que face ao carácter

caótico intrínseco ao Jogo, considerar suficiente que de uma determinada

distribuição estrutural dos jogadores possa resultar um certo tipo de jogo (um

padrão).

Um outro, de certo modo relacionado com o apresentado pelo anterior

entrevistado, é-nos concedido por Agostinho Oliveira (Anexo II): “Inclusive a

própria equipa pode estar estruturada de modo a que a peça, aquela peça

poder ficar fora da estrutura (…) no Inter (…) o Ibrahimovic estava fora de toda

aquela estrutura, mas com hipóteses diferenciadas no benefício da estrutura

(fora da estrutura, mas com missão…) porque ele era uma peça à parte no

domínio de algo como p.e. o Drogba não o fazia no Chelsea. O Drogba era

uma componente da peça colectiva quando havia necessidade da peça

colectiva.” O entrevistado, fundamentando-se na premissa do futebol ser

«dissipativo», justifica-o como sendo uma espécie de anarquia estrutural que

até possibilita, numa recuperação da bola, que seja o elemento solto a

promover, p.e., um contra-ataque tendo mais gente para poder finalizar.

Embora reconheçamos tal possibilidade consideramos que essa

«liberdade» concedida deve estar pré-estabelecida na equipa para que a

própria equipa a reconheça e a potencie caso compreenda produtividade num

comportamento desta natureza. Essa espécie de desordem passa a estar

compreendida na ordem que pré-existe (colectiva e individualmente) permitindo

a auto-organização do colectivo, da equipa, do jogar.

Reconhecida a importância em estruturar a equipa para que daí se

expressem as dinâmicas constitutivas do jogar de uma equipa colocamos

agora a tónica na adequação ou não da variabilidade da estrutura de jogo

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Análise e Discussão das Entrevistas

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atendendo à realização de vários jogos por uma equipa, procurando os

aspectos relevantes nas concepções evidenciadas pela nossa amostra.

Curiosamente, todos os inquiridos incorreram numa abordagem que

permitiu a ramificação da questão em dois pressupostos: (1) o pressuposto que

implica a variabilidade da estrutura de jogo naquilo que é o jogar identificativo

da própria equipa durante um jogo; (2) o pressuposto propriamente dito que

implica a variabilidade constante de determinada organização estrutural de jogo

para jogo.

Em resposta ao primeiro pressuposto, os entrevistados apresentam o

que entendem ser os critérios de selecção da(s) estrutura(s) de jogo para a(s)

equipa(s).

“…na formulação de estruturas que tenho em vista…porque nós temos que nos

preocupar com o adversário...a grande preocupação está em que tu tenhas

uma equipa que se saiba adaptar a determinado tipo de situações, variáveis,

tanto posso jogar num 4-3-3 como jogar num 4-4-2.” Agostinho Oliveira (Anexo

II)

“…a estrutura inicial, a casa táctica inicial, onde os jogadores regressam, onde

os jogadores começam a correr, mas depois durante o jogo é fundamental que

eles consigam desenhar outros sistemas, porque de outra forma não

ocupariam os espaços da forma mais correcta conforme o jogo lhes pede nos

diferentes momentos. Portanto, o melhor sistema é aquele que desenha mais

sistemas ao longo do jogo, ou melhor, a melhor estrutura é aquela que vai

desenhando mais estruturas ao longo do jogo sem perder a referência da

inicial.” Luís Freitas Lobo (Anexo III)

“…de acordo com a experiência que fui acumulando, devem estar

contempladas um mínimo de duas e um máximo de três estruturas. Duas delas

são fundamentais e uma terceira permitir-te-á maior flexibilidade em

determinado tipo de situações. Será que um maior número de estruturas te

permitirá maior flexibilidade? Eu penso que sim, mas penso também que a

primeira organização estrutural que defendas tem que forçosamente ter pontos

comuns (em termos de disposição porque em termos de princípios isso é

indiscutível) com a segunda organização estrutural porque senão corres o risco

que os teus princípios de jogo não tenham aplicabilidade possível na segunda

estrutura.” André Vilas Boas (Anexo IV)

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Análise e Discussão das Entrevistas

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De todos eles é possível depreender objectivos distintos de um mesmo

pressuposto que todos afirmam fazer sentido, ou seja, há o reconhecimento

que a estrutura de jogo deve ser passível de se desdobrar noutras, todavia os

porquês divergem.

De Agostinho Oliveira continua-se a depreender uma coerência

evidenciada relativamente ao contexto particular das selecções compreender

somente alguns dias como período de preparação, em que a estrutura de jogo

poderá ser variável fruto da observação e estudo das características do

adversário conjuntamente com aquelas que a própria equipa poderá apresentar

pela possibilidade de selecção dos elementos que melhores soluções poderão

dar face aos problemas que o jogo tenderá a colocar.

A isto também pensamos que se deverá encadear uma pretensa

convicção da selecção desses jogadores potenciar uma maior propensão de

interacção colectiva e individual dos jogadores associada a determinados

princípios de jogo que se pretendam vir a expressar no jogar da equipa. Isto

torna o modelo de jogo, numa selecção nacional, mais extensível nos seus

princípios de jogo a poder desenvolver, podendo a própria organização

estrutural tornar-se variável fruto de todas estas condições (e não

condicionantes).

Já Luís Freitas Lobo e André Vilas Boas se confinam a outra realidade

diferente, aquela designada pelos clubes. Embora diferentes, reconhecendo

André Vilas Boas ser aconselhável apresentar mais do que uma estrutura de

jogo de base que configure outras dinâmicas relacionais entre os jogadores, os

entrevistados incorrem no sentido de, à estrutura, ser-lhe conferida capacidade

para se «deformar» convertendo-se noutras estruturas de jogo fruto da

necessidade de resposta aos diferentes momentos do jogo aquando da

confrontação com o jogar do adversário.

Quanto ao segundo pressuposto que se centra na questão propriamente

dita inicialmente colocada, ou seja, na variabilidade constante de estrutura, de

jogo para jogo, percebe-se que dois dos entrevistados – do qual o entrevistado,

em Anexo II se exclui pelas razões apresentadas no propósito anterior – não só

discordam como identificam-no como um desvirtuar daquilo que deve ser uma

das pretensões para o jogar da equipa que é a consumação da sua identidade

e não o limitar da identidade do adversário.

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Análise e Discussão das Entrevistas

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Luís Freitas Lobo (Anexo III) acrescenta que a alteração constante de

estrutura, de jogo para jogo, resulta no retirar das referências que se

pretendem para a equipa e no impedir da expressão dos princípios de jogo.

Por sua vez, André Vilas Boas (Anexo IV) apura como fundamental um

permanente evocar de determinadas inter-relações entre jogadores/posições

que podem ser postas em risco com o alterar constante da estrutura pelo forçar

dos jogadores a novas adaptações.

Analisando ainda nesta subcategoria as tendências evolutivas

relativamente às estruturas de jogo que poderão vir a surgir no futuro, enquanto

que este tópico não foi exposto ao primeiro entrevistado, fixemo-nos no

opinado pelos outros entrevistados.

“Eu penso que, cada vez mais, as estruturas no futuro vão privilegiar os

médios. (…) A questão hoje em dia não passaria pelas grandes referências de

posição que temos e nesses especialistas aqueles que eu acho que vão

mandar no futuro serão os médios, no fundo, aqueles que têm que pensar

defesa-ataque, transições. Não sei. Mas no futuro, ver uma equipa a jogar em

4-6-0, p.e., a nível de estrutura inicial não é algo tão descabido…” Luís Freitas

Lobo (Anexo III)

“Gostava de ver uma evolução no que respeita às estruturas a 3 defesas (…),

penso que há benefícios extremos quando às estruturas a 3 somos capazes de

adicionar jogadores que entendam a posse, a dinâmica e o movimento.

Podemos é ter tendência para ver surgir novos detalhes no posicionamento dos

jogadores nas estruturas actuais. (…) talvez venhamos a observar com mais

frequência um comportamento mais vertical dos pivots defensivos nas equipas

que jogam com um médio recuado ou a divisão em três linhas horizontais de

equipas que jogam com três médios centro.” André Vilas Boas (Anexo IV)

Assumido o risco em se poder incorrer num género de especulação

gratuita e sem cabimento, em nada o opinado pelos entrevistados para tal

resvalou.

A título desta espécie de antevisão concedida aos entrevistados

surgiram fundamentações que partiram claramente da análise de indicadores

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Análise e Discussão das Entrevistas

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que o Futebol actual tem vindo a fazer emergir para então perspectivarem tais

possibilidades de acordo com uma organização colectiva sempre em

consideração com os intentos funcionais e dinâmicos a ver traduzidos por uma

equipa. Aliás, ambos recordam enunciados que são parte da nossa construção

bibliográfica.

Enquanto Luís Freitas Lobo recorreu à ideia de uma estrutura de jogo

em 1-4-6-0, mas mais do que isso, à presença numa estrutura que contemple

uma dinâmica inter-relacional entre 6 jogadores médios, André Vilas Boas

recorreu àquela ideia associada a uma estrutura contemplativa de 3 defesas.

Consideramos que o sucesso na utilização destas duas estruturas passa

muito pela elevada capacidade de entender a posse de bola, a dinâmica e o

movimento destacados por André Vilas Boas (Anexo IV), ou seja, jogadores de

elevada cultura táctica, entendendo a táctica como a conjugação das demais

dimensões – técnica, física, psicológica, cognitiva, etc. – que caracterizam o

Jogo.

Fará então sentido confluir o discorrido com a necessidade dessa

estrutura expressa evidenciar, face à dinâmica de jogo pretendida, a procura de

um espaço e de um tempo total e de uma indiferenciação de estatutos e de

papeis (Frade, 1985).

4.2. (C2) Organização estrutural (posicional) do jo gar

“…estrutura de jogo actua como suporte geométrico da configuração interacional da equipa e constitui um fragmento de uma totalidade maior, o jogar.” (Gaiteiro, 2006: 190)

Para a categoria “Organização estrutural (posicional) do jogar”

contemplamos quatro subcategorias:

� SC2.1 – Organização ofensiva

� SC2.2 – Transição defensiva

� SC2.3 – Organização defensiva

� SC2.4 – Transição ofensiva

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Análise e Discussão das Entrevistas

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A esquematização das quatro subcategorias aqui visadas surge como

congruente consequência do que se perspectivou para o primeiro ponto deste

capítulo. Reportando-se a “Organização estrutural (posicional) do jogar” num

plano micro comparativamente à primeira grande categoria, esta categoria não

é de somenos importância face à anterior muito devido a ser ela mesma

representativa de uma maior especificação à temática em estudo.

Assim, para esta grande categoria pretendemos inverter a perspectiva

«fractal» implementada na categoria anterior. Procurando dimensionar esta

categoria como «parte» – com propriedades semelhantes – do «todo» que é o

jogar de uma equipa, partimos para as subcategorias com a possibilidade em

aprofundar esse enquadramento aludindo-nos aos momentos de jogo.

Os momentos de jogo encontram-se aqui desta forma esquematizados,

mas o corpo de análise e discussão que pretendemos desenvolver aponta para

as relações e interacções entre os mesmos, ou seja, pretende fraccioná-los em

vez de os dividir. Para tal, o próprio ordenamento das subcategorias procura a

facilitação da articulação entre os momentos de maneira a melhor compreender

as conexões e as implicações entre «partes» (comportamentos de jogo para

determinado momento de jogo e respectivas implicações estruturais/posicionais

da equipa) e o «todo» (o jogar propriamente dito).

A opção por uma determinada estrutura de jogo para uma equipa surge

então de um propósito, o de atribuir referências posicionais em que os

jogadores e a equipa se atenham de maneira a melhor se organizarem e

poderem dar consequência a comportamentos e dinâmicas desejadas para o

seu jogo.

De seguida, consideremos o que nos revelam os entrevistados face a

um conjunto de considerações relacionadas com a organização

estrutural/posicional de uma equipa de maneira a confrontarmos com os dados

por nós revistos da literatura.

A primeira consideração prende-se com a pertinência em existir uma

determinada distribuição posicional/estrutural colectiva da equipa em campo

que potencie cada momento de jogo.

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Análise e Discussão das Entrevistas

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“O médio por vezes na passagem acima da sua linha pelo lateral passou a ser

ele o lateral; o ala passou a ser médio\lateral; o ponta-de-lança passou a ala, a

médio ofensivo; o médio mais defensivo sobe no terreno ocupa N posições no

apoio ao ataque e por vezes, com uma grande frequência, faz todos os lugares

do sector defensivo. Interpretações e alterações da estrutura momentâneas,

acompanhadas pelo reposicionamento colectivo e fundamentalmente em

função da disposição do adversário no jogo.” Agostinho Oliveira (Anexo II)

“…eu acho que deves ter defesas que defendam e atacam e não defesas que

atacam e defendam. Deves ter avançados que atacam e defendem e não que

defendem e atacam. Com isto quero dizer o quê? Quero dizer que tendo estes

princípios nos jogadores individualmente, têm depois uma aplicação no

colectivo equilibrada para esses momentos e permitem que o defesa,

pensando primeiro em defender, sendo a primeira missão que está na sua

cabeça, esteja equilibrado no jogo, que permita equilibrar a equipa…no

momento em que a está a tentar recuperar digamos assim…” Luís Freitas Lobo

(Anexo III)

“Não propriamente. (…). Deixa-me também responder-te com as palavras

sábias de Guardiola (…): «…Vejo os jogos, e sempre foi assim desde que fui

jogador, dentro do meio-campo adversário, isto não significa que por teres mais

atacantes atacarás melhor, nem que por teres menos defesas defenderás

pior...atacarei melhor se defender bem e defenderei melhor se ataquei bem,

aos atacantes darei responsabilidades defensivas e aos defesas darei

responsabilidades ofensivas...mas é sempre o todo que me interessa...»” André

Vilas Boas (Anexo IV)

Genericamente parece existir entre os entrevistados uma convergência

no referente aos princípios de interacção que se incorporam numa determinada

estrutura (organização) de jogo se considerarem superiores a qualquer que

seja o posicionamento colectivamente (e individualmente) adoptado por uma

equipa, independentemente do momento de jogo visado. Já no que concerne à

especificidade desses princípios de interacção o mesmo não se verifica e

seriam necessários mais elementos para compreendermos mais

concretamente as concepções dos entrevistados.

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Análise e Discussão das Entrevistas

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Todavia, parece-nos ser possível tecer algumas considerações

relevantes. Seguindo uma lógica interpretativa do fenómeno que temos vindo a

apresentar, pensamos existirem dois aspectos apresentados pelos que não são

abonatórios dessa lógica.

Repare-se que Agostinho Oliveira (Anexo II) considera que os

(re)posicionamentos da equipa em campo muito se devem ao posicionamento

do adversário no jogo e que Luís Freitas Lobo (Anexo IV) dá ênfase para que

um defesa se considere primeiro defesa e depois atacante assim como um

atacante se considere primeiro atacante e depois defesa.

Em nosso parecer estas considerações não incentivam a um

entendimento do jogar de uma equipa como um «todo» singular que respeite

uma identidade própria e específica.

Primeiramente, não obstante o adversário poder infligir certos

ajustamentos na ocupação dos espaços por parte da equipa, pensamos que as

interacções dos jogadores devem construir um jogar em que as suas

interacções em todos os momentos tenham as referências, bola,

espaço/tempo, colegas e também (mas não mais determinante) adversários

que os articulem num sentido de dependerem do que é seu, ou seja, daquilo

que compreende a organização do jogar da equipa e não tanto daquilo que é

dos outros, ou seja, da organização do jogar da equipa adversária, caso

contrário o jogar da equipa estará sempre a alterar-se, a não definir

regularidades e a perder identidade.

Depois, apesar de se advertir para uma espécie de «dialógica» defesa-

atacante e/ou atacante-defesa correlacionada com o domínio dos equilíbrios a

garantir pelos jogadores/equipa entre momentos de jogo, parece-nos mais

determinante, para garantir a articulação entre momentos de jogo entendidos

como «fractais» daquilo que é o jogar da equipa, que os jogadores não

defendam e ataquem, não ataquem e defendam mas sim que joguem, que

sejam jogadores, e isso implica serem atacantes e defensores quando têm ou

quando não têm a bola porque se conseguiu criar neles e com eles um jogar

concebido segundo uma tal perspectiva sistémica complexa.

Nessa base, a interpretação dos jogadores face às diferentes situações

que um jogo promove, pela dinâmica expressa pelos momentos e a capacidade

de estes individualmente e colectivamente estarem posicionalmente e

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Análise e Discussão das Entrevistas

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funcionalmente organizados de forma a estabelecerem a melhor inter-ligação

dos momentos deve ater-se a esses princípios. Aliás, os próprios entrevistados

sustentam-no.

Luís Freitas Lobo (Anexo III), p.e., directamente refere que esta questão

deve-se mais a um “respeito pelas características dos jogadores em cada

posição” enfatizando depois que deve existir (estruturalmente) superioridade

numérica zonal, o que relega para uma forma de interacção entre jogadores.

Agostinho Oliveira (Anexo II) fala-nos de “interacções assumidas com

normalidade, dentro das exigências dos princípios e da cultura táctica!”

relativamente às eventuais alterações posicionais fruto da dinâmica imposta

pelas inter-passagens entre momentos de jogo.

André Vilas Boas (Anexo III) responde como dependendo do todo que se

tem e “o modo como o todo funciona e se inter-relaciona”.

Estas ideias vêm, de certa forma, de encontro ao que fizemos menção

na revisão quanto à dialéctica existente no jogo entre a relação espaço/tempo

↔ jogador(es)/equipa, ou seja, as interacções dinâmicas dos jogadores são

instituintes do significado que o espaço e o tempo adquire num jogo. A

estrutura de jogo representada por um conjunto de posicionamentos de base

que organizam os jogadores no espaço está assim sujeita a alterações

constantes fruto dessa caracterização do Jogo.

No seguimento do quadro teórico elaborado em que o foco se

direccionou para o plano do(s) jogador(es), uma vez que é este plano que torna

o idealizado em realizado, o interiorizado em exteriorizado, torna-se apropriado

debruçarmo-nos sobre duas «versões» em voga no sentido de

compreendermos melhor o que faz hoje um jogador associar-se mais a um

jogador de cultura e qualidade superior com desempenhos elevados: o «posto

específico» ou a «polivalência» de posições?

Tudo isto tem mais relevo quando se parece concluir que o Futebol é um

fenómeno que faz co-existir ordem e desordem, organização e desorganização,

movimento e pausa, etc. Os nossos entrevistados revelam algumas ideias

justificativas de análise e discussão.

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Análise e Discussão das Entrevistas

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“Ocupe outro tipo de posições?! Se ele interpretar bem o domínio da

posição…porque não. Normalmente na mesma área posicional. P.e., por

necessidade táctica. O ala\lateral; o trinco\central; o médio\segundo ponta-de-

lança; (…) Se ele interpreta determinado tipo de situações tu começas a ver ali,

entre outras, cultura táctica por parte daquele jogador, ou seja, ele

momentaneamente, nas exigências da equipa e nas necessidades da equipa,

ele interpretou outra posição e nunca, agora joga aqui, depois joga ali…”

Agostinho Oliveira (Anexo II)

“Penso que mais importante do que fazer várias posições é fazer a mesma

posição de formas diferentes. Isso é que eu acho que é o jogador de top. Um

jogador que joga a lateral, depois joga a médio, depois joga a lateral,

dificilmente vou ver ali uma grande referência de qualidade para uma dessas

posições. Penso que a referência de qualidade tem a ver com a especialização.

A especialização depois permite que o jogador faça a mesma posição de

formas diferentes.” Luís Freitas Lobo Anexo III)

“A polivalência para mim só faz sentido, e só existe, quando é feita dentro de

determinado sector. (…) Há jogadores que se sentem confortáveis porque são

capazes de entender, pelas relações que eles próprios tiveram com os

companheiros naquelas posições mais próximas…Depois há outra coisa, para

quem entende o jogo de uma forma dinâmica e jogado com fluidez e

movimento, a especificidade do posto tem que forçosamente contemplar a

flexibilidade, a criatividade e a troca funcional/posicional com os

companheiros…” André Vilas Boas (Anexo IV)

Face ao cenário criado parece-se evidenciar que a amostra, de todo,

não decline a «polivalência» de posições como conotação a um jogador de top.

Porém, esta carece de uma interpretação contextualizada.

Desde logo foi detectado junto de Agostinho Oliveira e Luís Feitas Lobo

que um dos entendimentos atribuídos ao termo «polivalência» – quiçá o mais

convencional – relega para o exigir por parte de um jogador que ele cumpra

posições diferentes associadas a funções diferenciadas com regularidade de

jogo para jogo ou em partes significativas de um mesmo jogo.

Todavia, tanto Agostinho Oliveira como André Vilas Boas mostram uma

outra possível atribuição de sentido à «polivalência». Para os mesmos, a

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Análise e Discussão das Entrevistas

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«polivalência» pode existir, e sem perjúrio dos seus representantes, caso esta

se vincule às necessidades da equipa e se materialize fruto de elevada cultura

táctica por parte do jogador. A acrescentar está o facto desta «polivalência» se

registar num grau de proximidade, no sentido de ocupação de uma posição

próxima àquela que naturalmente o jogador tem maior predisposição para

ocupar. No fundo, em nosso parecer, esta última interpretação remete para a

necessidade dos jogadores passarem por outras posições compreendendo as

funções subjacentes perante trocas posicionais inerentes à expressão das

dinâmicas de jogo da equipa.

Por outro lado, focamos as convergências interpretativas para com o

«posto específico». De facto, depreende-se por parte dos inquiridos uma

opinião consentânea para um jogador jogar prioritariamente numa determinada

posição naquilo que é a estrutura de jogo da equipa e que essa posição

específica contemple uma séries de posicionamentos em diferentes «lugares»

do campo de forma a permitir ao jogador estar em sintonia máxima com aquilo

que se passa no jogo e com as necessidades dinâmicas do jogar colectivo.

Agostinho Oliveira dá-nos um claro exemplo ao observar numa estrutura

em 1-4-4-2 se poder admitir que um dos dois avançados, por possuir mais

mobilidade e ser mais expansivo nos movimentos que efectua, recue num

momento de transição defensiva da sua equipa para zonas mais associadas à

intervenção dos médios do que propriamente aquelas em que se sente mais

apto e execute pressão sobre o «trinco» da equipa adversária por este ser o

principal responsável pela transição ofensiva da sua equipa.

Verifique-se pelo exemplo que a posição de referência é aquela que o

jogador tem no ceio da equipa, que é a de avançado, mas que com ela arrasta

uma série de posicionamentos no campo em virtude das necessidades

colectivas da equipa, impostas neste caso pela dinâmica numa transição.

André Vilas Boas (IV), por sua vez, reporta-se objectivamente à

especificidade do posto como contemplando flexibilidade e adaptabilidade face

a trocas funcionais/posicionais que possam processar-se.

Isto leva-nos a compreender que, por ser específica, a posição não deve

compreender uma redução ao limitar-se a certas funções, tarefas ou missões,

antes pelo contrário, deve compreender que a sua especificidade surge como

consideração articulada de tudo isso na interacção com os restantes elementos

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Análise e Discussão das Entrevistas

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(«partes») do colectivo/equipa («todo») no sentido de dar resposta às

pretensões do jogar para esse mesmo colectivo/equipa.

Por isso compreendemos e até estabelecemos uma sintonia semelhante

a ter-se para com o jogador de rendimento superior por parte de Luís Freitas

Lobo (Anexo III) quando coloca como objectivo que o jogador faça mais vezes

aquilo que faz bem e ser obrigado menos vezes àquilo que faz mal ou menos

bem. No entanto, desviamo-nos relativamente à consideração de tal objectivo

passar pela especialização do jogador passando esta por colocá-lo “na posição

onde ele tem as suas condições naturais para ele aparecer melhor” ou na

procura deste “fazer mais coisas dentro da sua posição, conhecer cada vez

mais os espaços adjacentes à sua posição”.

Em nosso entender, não sendo despropositadas antes pelo contrário,

estas considerações quando associadas à especialização, adquirem

tendencialmente uma conotação diversa daquela que entendemos ser a de

especificidade, ou seja, remete para a diferenciação/particularização, que por

sua vez incorre para a distanciação/separação, neste caso do jogador/posição

com a equipa/sistema (englobe-se a estrutura de jogo). Assim, aflige-nos tal

aproximação, porque se mutila a compreensão e articulação do «todo» naquilo

que deve ser o comportamento das «partes» e interacção das mesmas com o

«todo» levando mesmo à abstracção de sentido quando o pretendido deveria

ser o inverso. Por isso colocamos a questão: Quantas das vezes um jogador ao

passar por diferentes equipas acaba catalogado a uma determinada posição

como aquela em que rende mais e depois numa outra equipa até joga numa

posição diferente e com implicações noutro tipo de funções que antes não tinha

que cumprir e o seu rendimento acaba por ser semelhante ou até superior?

Não terá isso a ver com a reciprocidade estabelecida entre aquilo que é o

desempenho da equipa e aquilo que é o desempenho do jogador? Julgamos

que sim.

Pelo quadro de ideias prevalecente, a nosso ver deve passar a

subentender-se que a especificidade de posição («posto específico») não tem

a ver com uma definição de posição pré-estabelecida circunscrita a um espaço

de terreno restrito e a funções fechadas. E também que daí se poderá

reconhecer um género de «polivalência específica», na medida em que essa

«polivalência» sirva a dinâmica de jogo da equipa naquilo que são as

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Análise e Discussão das Entrevistas

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implicações inerentes às trocas posicionais que são parte da expressão dessa

dinâmica.

Fará sentido então compreender o jogador como em revisão da

literatura, ou seja, um elemento «polifuncional» ao serviço da dinâmica de inter-

relações que expressam o jogar de uma equipa.

Ao compreendermos mais um pouco daquilo que cada elemento

(jogador) da estrutura de jogo de uma equipa poderá comportar no sentido de o

observarmos como um «ponto» de referência móvel no tempo e no espaço,

chega-se por este caminho à altura de procurarmos compreender o sentido

atribuído às «linhas» na organização estrutural para se jogar e, mais

concretamente, na importância do seu número na distribuição em profundidade

e em largura no jogar de uma equipa.

“O interesse em fomentar linhas para «formatizar» e envolver

esquematicamente a minha equipa serão reduzidos a poucos momentos no

terreno e pouco abonatórios da dinâmica de exigência colectiva na sua

participação quer defensiva quer atacante. (…) A linha é sempre a definição de

uma interpretação, uma identificação estrutural para posicionamentos regrados

que serão sempre desajustados pela dinâmica dos adversários…” Agostinho

Oliveira, Anexo II)

“Esse é que é o ponto fundamental para se desequilibrar as equipas e as

estruturas e o jogo posicional e tudo o que está relacionado com isso, é o

espaço entre linhas. Quantas mais linhas tiveres melhor, mas aguentando a

distância.” Luís Freitas Lobo (Anexo III)

“Vejo vantagens em criar determinado tipo de linhas em determinadas

situações. (…) A este tipo de situações podes acrescentar muitas outras. Penso

que sim e penso que é na dinâmica e no movimento que estas linhas se devem

exprimir e não apenas estudando a estrutura no papel e fazendo ligações entre

as várias posições.” André Vilas Boas (Anexo IV)

É possível escoar daqui uma divisão em duas posições, dois

pressupostos distintos que pretendemos denunciar sem que daí se procurem

juízos de valor, apenas tornar cognoscível as visões e procurar discutir ideias.

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Análise e Discussão das Entrevistas

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Então, enquanto Agostinho Oliveira assume um rumo, os outros dois

entrevistados assumem outro.

Agostinho Oliveira (Anexo I) atribui pouco significado às «linhas» na

estrutura de jogo de uma equipa por associá-las a uma rigidez funcional

sobrecondicionada por regras e por isso se afastar daquilo que o próprio

depreende ser um jogo, ou seja, estar dependente daquilo que o adversário

também faz. Em acrescento, coloca um outro problema que tem a ver com um

jogador mais criativo ou com indicações de grande dinâmica colectiva abdicar

das «linhas» e rejeitá-las porque representam o que é linear.

Luís Freitas Lobo e André Vilas Boas por sua vez atribuem significado à

formação de «linhas». Apesar de André Vilas Boas (Anexo IV) frisar aspectos

que vão de encontro àquilo em que se pode incorrer na interpretação das

«linhas» como o fez Agostinho Oliveira, este parece compreender a

possibilidade e a viabilidade em se organizar colectivamente o estrutural com o

funcional na criação das dinâmicas que se querem para a equipa,

compreendendo que essas «linhas» sofram alterações, ou seja, a exemplo, o

aguentar a distância «entre linhas» que avança Luís Freitas Lobo (Anexo II)

pressupõe essa mesma necessidade das «linhas» se poderem alterar.

Assim, percebemos a hierarquização dos aspectos relevados por

Agostinho Oliveira, mas consideramos também que, independentemente da

qualidade do adversário, a própria equipa deve procurar que o seu jogo

dependa mais daquilo que dela pode fazer como equipa do que propriamente

dependa mais daquilo que a outra pode fazer, embora reconheçamos a

diferenciação em muitos dos casos entre idealizado e concretizado neste

confronto de valências. Por outro lado, também compreendemos que a

exacerbação da esquematização em campo de «linhas» é uma concepção

limitada e daí limitativa dos jogares das equipas, porque reconhecemos a

plasticidade neles inerente.

Como consequência da definição de «linhas» em virtude de determinada

distribuição dos jogadores em campo surge a formação de certas «figuras

geométricas» que têm vindo a fazer parte do discurso de muitos treinadores de

há muitos anos a esta parte, nomeadamente, p.e., as «triangulações» e os

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Análise e Discussão das Entrevistas

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«losangos», procurando junto da nossa amostra compreender o seu significado

e importância no jogar pretendido por uma equipa.

“…mas sempre da maneira como tu queres formular linhas…Sempre que tu

formulas linhas, no sentido dos triângulos e demais figuras geométricas, é a

impossibilidade que o futebol tem de ser geométrico, porque o futebol é mais

anárquico, é claro que uma fotografia do início do jogo o é, ou anda próximo

(…) Eu vou jogar em 4-4-2 e tu sabes que jogar em 4-4-2 depende

fundamentalmente de tudo aquilo que tu possas dizer aos teus jogadores, do

que os teus jogadores arrastem para a interpretação de um conveniente 4-4-2,

porque desde o movimento dos ponta-de-lança, à lateralização…tudo é

alterado geometricamente.” Agostinho Oliveira (Anexo II)

“São formas evoluídas? Eu penso que todas as formas geométricas podem ser

evoluídas em campo. Um círculo pode ser evoluído, conseguires circular de

forma a bola pelo campo, por trás, por 3 ou 4 jogadores é uma forma evoluída.

O triângulo, a triangulação, a tabela, é a base do movimento do Futebol.” Luís

Freitas Lobo (Anexo III)

“...acrescento...«mas que se devem expressar em movimento».” André Vilas

Boas (Anexo IV)

No que directamente envolveu o entendimento por parte da amostra

acerca da relevância da formação de triângulos em campo como

elemento/forma de desenvolvimento do jogo da equipa, os resultados apontam

no sentido de uma convergência entre Luís Freitas Lobo e André Vilas Boas

que, por sua vez, divergem de Agostinho Oliveira. No entanto, realce-se que a

divergência está na base de um aspecto enunciado por todos…o movimento, a

dinâmica implícita no jogo.

Enquanto que na análise de Agostinho Oliveira (Anexo II), o próprio jogo,

por ser dinâmico e por obedecer à inevitabilidade dos jogadores terem que se

movimentar em campo, deita por terra qualquer configuração geométrica que

se determine ver decalcada no campo pelos jogadores. Luís Freitas Lobo

(Anexo III) e André Vilas Boas (Anexo IV) reconhecem quase que o inverso, ou

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Análise e Discussão das Entrevistas

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seja, por ser dinâmico, o jogar de uma equipa poder expressar, p.e., a

formação de triângulos em movimento.

No entendimento de Luís Freitas Lobo (Anexo III), a própria configuração

posicional que determina a formação de um triângulo torna-se potenciadora de

movimento através da triangulação ou tabela que é possível executar entre

jogadores. Em sintonia, André Vilas Boas (Anexo IV) dá-nos um exemplo

bastante ilustrativo: “…é um facto que o comportamento a duas linhas entre

lateral e ala facilita a progressão de ambos no campo e a sua inter-relação. Se

no meio dos dois te aproximares com um médio crias um triângulo que te pode

ser decisivo na mudança da zona da bola para outro lado do campo.”

Com base nas relações estabelecidas pelos entrevistados Luís Freitas

Lobo e André Vias Boas torna-se possível, em nosso entender, não disjuntar

aquilo que é do foro estrutural, como é o caso de eventuais referências

posicionais respeitantes a configurações geométricas a traduzir em campo,

daquilo que são os pressupostos funcionais da equipa e, mais ainda, daquilo

que está definido como princípios de jogo da equipa. Pela nossa interpretação,

as configurações geométricas permitem a facilitação de articulação entre

jogadores independentemente da escala do jogar – individual, sectorial, inter-

sectorial, colectiva – que nos concentremos, porque reúnem em si a essencial

representatividade daquilo que deve compreender o jogar de uma equipa, a

interacção, a inter-relação, entre jogadores.

Talvez por isso possa fazer sentido o enquadramento da configuração

das «linhas» com um «padrão organizativo» se nos centrarmos sobre o

comportamento estabelecido pelas mesmas e entre as mesmas nos diferentes

momentos de jogo segundo uma conotação estrutural baseada na forma, ou

seja, alterável, enjeitando-se aquela outra tradicional conotação estrutural

estática e inalterável.

Todavia, acresce-se um outro aspecto enunciado por dois dos nossos

entrevistados que surge como complementar e que consideramos servir como

um aprofundar desta questão. Tanto Agostinho Oliveira (Anexo II) como Luís

Freitas Lobo (Anexo III), na pressuposição de configurações geométricas em

movimento – correspondente ao por nós entendido como «padrões

organizativos» derivados das diferentes posições/«linhas» definíveis em campo

– por respeito ao carácter dinâmico que o Jogo contém, admitem ser

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Análise e Discussão das Entrevistas

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fundamental o domínio por parte do jogadores de elementos como o passe e a

recepção e ainda mais importante se torna a sincronização dos mesmos com a

mobilidade dos jogadores.

Isto vem categoricamente de encontro a uma premissa por nós

evidenciada em revisão que tem a ver com o jogar de uma equipa solicitar as

dimensões técnica, física, psicológica e (mesmo) estratégia sob alçada da

dimensão táctica.

Os entrevistados parecem reforçá-lo ao compreenderem o jogar como

uma dinâmica colectiva cujos propósitos tácticos que se pretendem para a

equipa estarem intimamente sintonizados com elementos dos domínios técnico

(passe e recepção) e físico (mobilidade e trocas posicionais). Convenhamos

igualmente que o táctico surge como uma efectiva organização das intenções

de jogo que se pretendem, surge como uma relação congregada das demais

dimensões para que o jogar se manifeste de forma singular nessa equipa.

Na compreensão de que o jogar de uma equipa compreende uma

unicidade que não deve ser quebrada em dimensões e momentos para assim

se captar a expressão plena desse jogar e que nessa unicidade a estrutura de

jogo da equipa deve associar-se a um «padrão organizativo» colectivo, as

próximas subcategorias surgem em momento conveniente e apropriado.

A oportunidade de podermos analisar o concebido pelos entrevistados

para os quatro momentos de jogo relativamente às ideias e princípios de jogo

conjuntamente com a(s) estrutura(s) de jogo a contemplar por uma equipa

abre-nos uma porta para aclararmos a maneira como surgem articulados os

momentos de jogo face a essas concepções e relações apresentadas pelos

inquiridos.

Advertimos porém que, pelo sigilo assumido na abordagem específica

ao jogar das equipas com as quais estão envolvidos, os dados recolhidos de

Agostinho Oliveira e André Vilas Boas são subjectivamente fruto das suas

análises do fenómeno a top, contextualizando o primeiro mais com aquilo que é

a realidade das selecções e o segundo com uma legítima padronização dos

jogares das equipas de top. Nos próximos pontos procura-se sobretudo

concretizar nuances específicas dos momentos, não obstante aparentes

generalizações ou abstracções interpretáveis das unidades mencionadas, para

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Análise e Discussão das Entrevistas

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que daí se permita complementar o conceptualmente e corporativamente até

então já discutido.

4.2.1. (SC2.1) Organização ofensiva

“Eu tenho alguma dificuldade sinceramente em distinguir um primeiro, um segundo ou um terceiro momento de construção. Eu acho que eles se interligam.

Para mim o construtor de jogo é o jogador que tem a bola, seja o lateral direito, seja…não é o «10».” (Luís Freitas Lobo, Anexo III)

Neste ponto pretendemos reunir, junto dos entrevistados, um corpo de

ideias fértil ao estabelecimento de relação entre a concepção da organização

ofensiva segundo os princípios e funcionalidade pretendidos para uma equipa e

a distribuição posicional/estrutural da equipa de acordo com os

posicionamentos dos jogadores em campo.

Apesar de se reconhecerem, como convencionadas, diferentes formas

de análise para a organização ofensiva por «divisão» em fases de construção

ofensiva, contemplamos junto dos entrevistados apenas dois momentos de

maneira a tentar minimizar ao máximo uma possível interpretação de

divisibilidade/compartimentação deste momento de jogo. Então, atente-se junto

dos entrevistados às ideias associadas à organização num início de construção

ofensiva.

“…vês que o jogador está pressionado no posicionamento, rejeitando as linhas,

as chamadas (linhas) paralelas, o defesa quebrou-te mais um bocadinho

dando-te mais profundidade e tu passas pela tua defesa para que, em posse,

faças o movimento para o lado contrário e tenhas mais espaço para em

segurança organizares, …, etc., etc.”

“Agora nas componentes qualidade de passe, na qualidade de recepção e

decisão motora, muito do nosso Futebol tem que passar obrigatoriamente por

isso, pelo aperfeiçoamento das qualidades e da velocidade que temos para

aplicar as nossas decisões! Porque a equipa está toda a ser pressionada e há

ali só um espacito que está a descoberto e é esse que a gente tem, o

aproveitamento desse momento depende da qualidade deste passe, depende

da recepção a tempo e orientada, e dos níveis excelentes de execução rápida

que possuímos.” Agostinho Oliveira (Anexo II)

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Análise e Discussão das Entrevistas

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“…são esses princípios de jogo que eu gosto de ver, seja numa transição seja

numa organização ofensiva, aquele que privilegia o passe e a recepção

orientada. Acho que a velocidade tem um prestígio exagerado no Futebol

actual, mais que a velocidade deve ser sobretudo a mudança da velocidade e a

pausa e depois a mudança e para isso penso que um bom passe e uma boa

recepção são a base disso…”

“Primeiro ponto: os jogadores verem-se uns aos outros, (…) estarem quanto

mais próximos quanto mais estiverem no início de construção; e segundo

ponto, o portador da bola ter pelo menos, na pior das hipóteses, sempre duas

opções sobre o que lhe fazer, a nível de passe, a nível de temporização, a nível

de outra forma de jogar.” Luís Freitas Lobo (Anexo III)

“Tendo em conta o referencial das equipas de topo…penso que duma forma

geral tendem para construir curto a partir do guarda-redes ou para construir

fazendo o «campo grande» com os centrais em primeira fase. Enquanto

algumas dessas equipas preferem que os laterais se projectem na

profundidade de uma forma antecipada fazendo a construção dos centrais para

os médios ou os alas em movimentos interiores, há outras que preferem os

laterais em apoio utilizando a amplitude oferecida por estes para depois irem à

procura dos passes e espaços interiores.” André Vilas Boas (Anexo IV)

Em todos os exemplos dados, desde ideias pessoais defendidas a

análises do fenómeno jogado a top, torna-se possível destacar um ponto em

comum entre os entrevistados que determina muito daquilo que ofensivamente

uma equipa poderá fazer durante toda a construção do jogo ofensivo que é o

elemento passe como ligação entre os jogadores, entre sectores, no fundo, o

elo de ligação colectivo de referência. Todavia, Agostinho Oliveira (Anexo II) e

Luís Freitas Lobo (Anexo II) apontam para a importância também da qualidade

da recepção. A tudo isto se acresce o momento da utilização destes elementos

assim como a finalidade consequencial da acção da sua utilização.

Já Agostinho Oliveira (Anexo II) e André Vilas Boas (IV) são os que

permitem um melhor perspectivar dos traços estruturais da equipa face à

funcionalidade e princípios pretendidos para este momento inicial de uma

construção. Agostinho Oliveira (Anexo II), ao referir que um dos defesas recua

no campo para conceder profundidade à equipa e fazer a bola circular por este

sector com maior segurança, possibilita-nos induzir uma concomitância do

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Análise e Discussão das Entrevistas

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sector defensivo posicionado de maneira a formar mais do que uma «linha».

André Vilas Boas (Anexo III), por sua vez, consegue trasladar a escala do

sectorial (defensivo) para o colectivo, uma vez que dá o exemplo de equipas

com ideias diferentes para construírem os seus momentos iniciais de jogo

ofensivo e com funcionalidades diferentes visto que iniciam por intermédio dos

defesas centrais ou dos defesas laterais. Inequivocamente, existe do ponto de

vista posicional da equipa uma estruturação no campo ajustada às pretensões

comportamentais dinâmicas para a equipa numa construção ofensiva inicial.

Contemplando a construção ofensiva quanto à criação e definição de

situações de finalização o cenário parece apenas adquirir contornos relacionais

entre os jogadores da equipa mais complexos sem que isso desvirtue o

contínuo acompanhamento do que é concepcionalmente defendido para esses

momentos de construção com a respectiva sustentação posicional.

Os nossos entrevistados tendem a apresentar como propósito nuclear

comum a necessidade da equipa criar espaços passíveis de serem explorados

e a partir daí se construírem e definirem situações de finalização. Porém, os

entrevistados apresentam dados que merecem ser particularizados.

Agostinho Oliveira (Anexo II) ao sublinhar a importância da ocupação

dos espaços dá o exemplo: “No domínio principalmente de um 1-4-3-3, o ala

tem que servir quase sempre como segundo ponta-de-lança (…). Está o ala do

outro lado a jogar ou o lateral, aproximou o ponta-de-lança e o ala do lado

contrário faz de segundo ponta-de-lança e automaticamente em termos de

organização ofensiva libertou espaço para a entrada do lateral, para a entrada

do médio, etc., etc.”

Luís Freitas Lobo (Anexo III) aponta como prioritário a equipa conferir

largura e só depois conceder profundidade ao seu jogo, identificando depois

numa estrutura de jogo em 1-4-3-3 comportamentos como p.e., o recuo do

avançado para ocupar espaços intermédios e assim garantir uma construção

apoiada, os movimentos verticais a realizar pelos médios, a capacidade de

movimentação para zonas centrais/interiores por um dos alas.

André Vilas Boas (Anexo IV) apresenta uma panóplia de padrões de

comportamento possíveis associados à definição de situações de finalização

consoante o que se defende em termos de jogo para a equipa no momento

ofensivo. A título de exemplo para comparação focar-nos-emos somente em

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Análise e Discussão das Entrevistas

99

duas delas. O entrevistado associa à definição resultante de passes curtos de

penetração para a área onde surgem os avançados a finalizar o privilegiar da

amplitude ofensiva para criação de espaços interiores e associa a uma

definição resultante de desmarcações em profundidade dos avançados nas

costas dos defesas adversários o privilegiar de uma construção eminentemente

longa ou mais directa.

Muito embora o prisma de abordagem seja diverso entre as partes

constituintes da amostra deu-se continuidade ao já supracitado relativamente

ao acompanhamento da estrutura de jogo face à dinâmica de construção

ofensiva que se pretende para as equipas. Em sintonia com o exemplo último

contemplado não só se regista a inevitabilidade da estrutura de jogo se

«deformar» pelas exigências implícitas ao momento de jogo visado, mas

também que a estrutura de jogo influi na dinâmica organizacional de relações

porque, sendo «parte» do «todo» tem interferência sobre o mesmo, ou seja, a

disposição espácio-temporal dos jogadores no campo interfere sobre o jogar –

neste caso ofensivamente – que se pretende.

4.2.2. (SC2.2) Transição defensiva

“Ainda que uma equipa não saiba onde, quando e como vai perder a bola, sabe que a vai perder. Então, deve preparar-se (organizar-se) para o momento da perda.” (Amieiro, 2005: 207)

Embora não se tenha constituído como uma das considerações da

categoria anterior, convimos que, à medida que as categorias vão sendo

abordadas, mais facilmente também se percepcionará a articulação de sentido

existente entre momentos de jogo e o grau de interferência do ponto de vista

organizacional estrutural segundo aquilo que nos é dado a conhecer pelos

inquiridos.

Atendendo ao momento transição defensiva pretendemos construir o

quadro de ideias evidenciado pelos entrevistados passível de relacionar este

momento de jogo de acordo com os princípios e funcionalidade pretendidos

para uma equipa com a estrutura posicional adoptada e suas implicações.

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Análise e Discussão das Entrevistas

100

“…tu mentalmente tens que estar preparado para recuperar porque perdeste a

bola e normalmente é um grande problema das nossas equipas, da nossa

mentalidade, é que tu perdes a bola e há ali um momento que tu ficas

completamente…sem reacção. Agora se tu reagires no colectivo! É muito mais

importante isto do que outro tipo de princípio que tu possas colocar ali! É reagir

imediatamente em relação à perda de bola…” Agostinho Oliveira (Anexo II)

“Na transição ataque-defesa…impedir que a equipa recue, tentar recuperar a

bola o mais rápido possível, pelo menos mais perto do local onde a perdi.

Portanto, quanto mais me aproximar durante o jogo e mais vezes no jogo

dessa situação, do recuperar a bola no local onde a perdi ou o mais perto

possível, eu acho que faço melhor a velocidade das transições e faço melhor

os enquadramentos de todos os momentos do jogo.” “…neste processo,

portanto, estava a correr tão bem e perdeu a bola, penso que com este

posicionamento vai-te apanhar a equipa na mesma equilibrada do ponto de

vista de largura e da ocupação dos espaços. Não vai-te apanhar a equipa

«desposicionada» em termos espaciais e para dar velocidade de transição

defesa-ataque à equipa adversária, isto é, a equipa saberá perder a bola,

saberá reposicionar-se automaticamente para tapar/recuperar um espaço mais

adiantado do terreno.” Luís Freitas Lobo (Anexo III)

“Vários tipos de transição defensiva. Transição para bloco ou seja, deixamos

que o adversário «transite» porque temos uma ideia de bloco que queremos

unir o mais rápido possível, ou então, podemos ter uma transição para pressão.

Pressão essa que pode ser individual, grupal, sectorial, mais ou menos

agressiva, com maior ou menor preocupação do espaço nas nossas costas

etc...” André Vilas Boas (Anexo IV)

Pelo apresentado e fruto de complementos contínuos depreendidos por

parte dos entrevistados, dois ângulos de análise se tornam relevantes no

tocante à transição defensiva.

Um primeiro ângulo chega-nos por intermédio de Agostinho Oliveira fruto

de uma análise sobre o fenómeno de acordo com contextos específicos e por

intermédio de Luís Freitas Lobo centrado numa reflexão e concepção pessoais

face ao fenómeno analisado. O segundo ângulo proposto advém de uma

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Análise e Discussão das Entrevistas

101

análise padronizada e tipificada por parte de André Vilas Boas relativamente a

este momento em equipas de rendimento superior.

O primeiro ângulo centra-se na realidade do jogar de uma equipa ter

presente todas as dimensões que já foram supracitadas em conformidade com

uma pretensão particularizada ao momento de transição defensiva, ou seja,

que a equipa se (re)posicione colectivamente o mais rapidamente possível em

campo para recuperar a bola, se possível, no imediato à sua perda. Isto parece

objectivar implicações tanto a nível táctico, como psicológico, como técnico,

como físico, nomeadamente por implicar o equacionar das condições em que

essa perda da bola ocorre e quais as interacções necessárias para solucionar o

problema nesse momento de perda da bola, parece implicar uma forte atitude

mental dos jogadores para agirem sobre o evento ocorrido de maneira a

impedirem que o adversário se organize para explorar certos espaços

concedidos uma vez que a equipa se encontrava a atacar e parece implicar a

sintonia de tudo isto com respostas motoras aliadas a recursos técnicos (p.e.,

contenção e coberturas defensivas apropriadas à situação) que permitam aos

jogadores recuperarem a bola.

Este enquadramento permite-nos equacionar a possibilidade de uma

equipa interligar momentos de forma a que a passagem de uns pelos outros

não seja linear, ou melhor, vai de encontro a algo por nós evidenciado na

revisão da literatura de que o jogo não assenta numa matriz em que os

momentos passam uns pelos outros de forma sequenciada. Então, caso uma

transição defensiva decorra com sucesso de recuperação da bola num hiato de

tempo diminuto significará que a equipa não concedeu presença efectiva à

organização defensiva (como convencionada na literatura), uma vez que

recuperada a bola a equipa passa para um outro momento de transição, passa

de uma transição defensiva para uma transição ofensiva, para um novo ataque.

Desta feita, torna-se apropriado compreenderem-se os momentos como

contíguos no sentido de todos estarem interdependentes uns dos outros e

conterem em si preocupações comuns face ao ter-se ou não a posse da bola.

Há então uma preocupação em estar defensivamente organizado no momento

ofensivo para uma mais do que certa possibilidade de perda da bola.

Por outro lado, há o reconhecimento de uma necessidade da transição

defensiva se processar colectivamente, pressupondo-se que o posicionamento

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Análise e Discussão das Entrevistas

102

colectivo expresso pelos jogadores terá interferência sobre a exequibilidade

das pretensões para essa transição. Inclusive, o próprio Luís Freitas Lobo

(Anexo III) vem considerar que a dinâmica ofensiva que se pretende para a

equipa deve permitir-lhe capacidade de reorganização imediata no momento de

perda da bola, admitindo existirem certos posicionamentos-chave que devem

ser respeitados para que se potencie a ligação entre os momentos.

O segundo ângulo perspectiva a existência de vários «futebóis» fruto da

variabilidade de concepções susceptíveis de se comprometerem com o

momento de transição defensiva e também fruto da influência das

características dos jogadores de que se dispõe. Através do ostentado por

André Vilas Boas (Anexo IV) é-nos facultado um outro entendimento de

estrutura de jogo que, pelo jogar de uma equipa estar vinculado às variações

da matriz espácio-temporal, permite contemplar alterabilidade, p.e., em «sub-

estruturas» – posicionamento individual, grupal ou sectorial – de maneira a dar

«vida» às ideias de jogo que se pretendem.

Também pelo que temos vindo a sustentar até aqui e por não podermos

vislumbrar mais acerca do que está na base das premissas evocadas por

André Vilas Boas, advertimos para que, independentemente da transição

defensiva arrastar consigo um envolvimento mais ou menos colectivo por parte

da equipa, esse envolvimento deve ter ligação articulada com aquilo que se

pretende para os restantes momentos uma vez que se poderão descaracterizar

os próprios princípios e funcionalidade de um outro momento caso não se

respeite tal coerência e congruência.

4.2.3. (SC2.3) Organização defensiva

“Todos têm as suas responsabilidades, uns mais activos, outros mais agressivos, outros mais posicionais, outros mais temporais…mas todos têm que participar defensivamente.”

(Queiroz, 2003a)

À semelhança do que se verificou nas duas subcategorias anteriores,

concedemos prioridade às ideias apresentadas pelos entrevistados

relativamente aos princípios e funcionalidade associados à organização

defensiva privilegiados por uma equipa e daí antever as relações com a

estrutura posicional adoptada.

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Análise e Discussão das Entrevistas

103

“…quando queres jogar em pressão alta, a importância que tem o segundo

homem da frente, o mais avançado está a fazer a pressão ao central, se o

segundo jogador atrasar o equilíbrio, se não for particularmente apto para a

tarefa…a maior parte já não chegou. Agora se este homem for pressionante e

determinado, logo que ela passe, ele está a quebrar uma linha de passe que

aquela equipa pode utilizar ou a recuperar e acabou.” Agostinho Oliveira

(Anexo II)

“…começar a defender quando ataca e começar a atacar quando defende. (…)

Muitas vezes nós quando falamos numa equipa esforçada pensamos numa

equipa a defender, nós quando pensamos em destruição pensamos numa

equipa a defender. Portanto eu acho que o conceito de destruição e esforço

não têm que estar relacionados com a organização defensiva.”

“Os jogadores têm que ter a noção da ocupação espacial que lhes permite

situações de cobertura/recuperação de bola. A organização defensiva implica o

momento em que o jogador pensa no jogo sem a bola, mas já é um tanto pré-

conceber a posse na sua recuperação e deve-se preparar para um pressing

construtivo, digamos assim, e não um pressing meramente destrutivo,

conseguir uma recuperação que ponha a equipa logo a avançar no terreno (…)

Em termos de estrutura ou em termos de linhas é evidente que uma equipa que

a defender consiga ainda estar mais compacta, ou seja, fazer o chamado

«campo pequeno», à partida está a retirar espaços ao adversário, está a cobri-

los de melhor forma, está a encurtar mais a distância entre as suas linhas…”

Luís Freitas Lobo (Anexo III)

“…o teu objectivo será primeiro, reduzir os espaços do primeiro ao último

homem (excluindo o Guarda-Redes) e depois disso será definir um

posicionamento padrão do teu bloco. Depois, entrando no mais específico,

poderias começar a definir as zonas activas ou passivas de pressão, poderias

definir as referências visuais de pressão que te vão levar a um comportamento

mais agressivo na redução de espaços…” André Vilas Boas (Anexo IV)

Depare-se que, mesmo no caso especificado por Agostinho Oliveira

(Anexo II) relativamente à acção defensiva dos dois jogadores mais avançados

de uma equipa na procura de cumprir o princípio defensivo «pressão alta»,

todos os entrevistados enveredam no sentido da responsabilidade colectiva no

momento de defender. E mais, embora admitindo situações diferentes em

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Análise e Discussão das Entrevistas

104

organização defensiva, todos eles apresentam comportamentos passíveis de

se encontrarem numa equipa preparada para o efeito no sentido de, mais do

que se defender a própria baliza, se definir como grande objectivo a

recuperação da bola para se poder atacar.

Este pressuposto de recuperação da bola tem implicação imediata

naquilo que temos vindo a realçar relativamente à articulação e contiguidade

entre momentos de jogo, pois a organização defensiva da equipa passa a

conter em si a forma como se pretende depois transitar para o ataque e o

organizar. Há então uma preocupação em estar ofensivamente organizado no

momento defensivo por se reconhecer como provável a recuperação da bola.

Em correlação inequívoca está a organização estrutural do jogar da

equipa se dever perceber como um «padrão organizativo» que não se

«deforma» por completo, uma vez que contém em si posições mais fixas e

outras mais móveis que são as que infligem «deformação». Neste sentido,

incorre o avançado por Agostinho Oliveira (Anexo II) ao identificar os

movimentos de pressão ao portador da bola e respectiva cobertura defensiva

(equilíbrio) dos dois jogadores avançados numa pressão alta, o que implica de

imediato a multiplicação em duas «linhas» por parte desses dois jogadores,

p.e., numa estrutura de jogo constituída por uma dupla de avançados (1-4-4-2).

Todavia, em nada isto faz «deformar» completamente o figurino global

que parece, isso sim, continuar a representar um «padrão organizativo»

caracteristicamente semelhante à sua forma inicial (1-4-4-2) no sentido dos

posicionamentos definidores de certas «linhas» (mais recuadas) no campo.

Neste sentido parece incorrer o avançado por Luís Freitas Lobo (Anexo III)

quanto à importância da redução de espaços proporcionada pela equipa para

assim colocar a equipa adversária sob elevado constrangimento espácio-

temporal, ou melhor, que tal se verifique por necessidade da equipa encurtar a

distância entre as suas «linhas». Parecendo partilhar da mesma ideia está

André Vilas Boas (Anexo IV) chegando a representar a equipa como um bloco

com determinado posicionamento padrão no sentido deste reduzir os espaços,

identificando algumas nuances estratégicas face ao adversário, que em nosso

entender não colocam em causa a valorização colectiva.

Luís Freitas Lobo (Anexo III) ainda chega a reconhecer que aquilo que

se considera por «juntar linhas» acaba por subverter a lógica que deve existir:

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Análise e Discussão das Entrevistas

105

a dos jogadores terem as referências visuais que os seus posicionamentos de

base permitem estabelecer para que depois a equipa facilmente as reconheça

durante o jogo independentemente do momento de jogo que atravesse.

No tocante a esta observação, consideramos ser oportuno frisar que nos

reportamos a propensões a verificar e daí a conexão feita ao «padrão»,

reconhecendo que a adaptabilidade a certas circunstâncias que se podem vir a

definir num jogo, pela aleatoriedade e imprevisibilidade que lhe estão implícitas,

poderão levar a que esse «padrão organizativo» global se transfigure. No

entanto, estamos em crer que quanto mais fiel a equipa for aos seus princípios

e funcionalidade defendidos para o seu jogar e mais qualidade tiverem, mais

regular se tornará esse «padrão organizativo».

4.2.4. (SC2.4) Transição ofensiva

“Não gostamos de entrar em jogos em que as transições sejam constantes, de perde-ganha porque é um jogo quase de «flippers»…Gostamos de mandar mais no jogo porque num jogo

de transições ninguém manda no jogo.” (Guilherme Oliveira, 2008: 165)

Não desvirtuando a lógica condutora até este ponto, atentemos às

unidades provindas dos inquiridos relativamente à transição ofensiva no

domínio dos princípios e funcionalidade à mesma associadas e dos

posicionamentos referenciais dos jogadores representativos da organização

estrutural da equipa compreendendo este momento de jogo.

Todos os nossos entrevistados apontam num sentido da transição

ofensiva depender do momento em que esta ocorre, nomeadamente no

respeitante à forma como o adversário se nos apresenta. Agostinho Oliveira

(Anexo II) coloca a tónica na procura de conhecer as valências das equipas

defrontadas no sentido de procurar aproveitar, no caso do adversário ser uma

equipa cuja qualidade da posse de bola no momento ofensivo seja superior à

da própria equipa, em tentar explorar os espaços concedidos nas suas costas

através de uma transição ofensiva rápida sendo necessário atrair o adversário

para o próprio meio campo colocando a equipa posicionalmente mais recuada

no terreno.

Luís Freitas Lobo (Anexo III) e André Vilas Boas (Anexo IV) são

consentâneos no reconhecimento da transição se poder realizar de diversas

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Análise e Discussão das Entrevistas

106

formas estando na base desta decisão uma questão de índole estratégica,

mais concretamente com base na forma como o adversário se apresenta,

chegando o segundo entrevistado a referir que “o que tu queres ou deves

explorar está intimamente ligado com a sua «organização»”.

Em nosso entendimento esta variabilidade deve-se muito também ao

grau de desorganização que o adversário poderá conter no momento e local

em que perdeu a bola e também da forma como se reorganiza de forma a

impedir ser surpreendido nesse momento de transição defensiva.

Por isso, os dois entrevistados referem poder realizar-se uma transição

ofensiva mais directa ou objectiva com intenções claras de aproximação rápida

à baliza adversária, que não implica necessariamente o recurso a passes

longos, ou até uma transição ofensiva mais indirecta que procure a posse da

bola, o que implica dar prioridade à segurança em detrimento do risco.

Neste sentido, somos solidários à observação feita por Luís Freitas Lobo

(Anexo III) relacionada com a possível desorganização que uma equipa pode

promover num determinado momento de jogo: “há muitas equipas que para

defenderem bem comprometem depois o momento ofensivo, porque

«desposicionam» de tal forma os jogadores que depois já não conseguem

colocar em prática o momento de transição ou o momento de organização.”

Pelo que podemos depreender, a organização do jogo da equipa nesse

momento defensivo espelhou um configuração funcional e estrutural não

congruente com as pretensões da equipa face àquilo que pretende fazer a

seguir.

O entrevistado realça algo que julgamos de extrema importância para

contrariar tal comportamento colectivo da equipa que é “a forma dessa tal

«deformação», que se pode conferir em alguns momentos como

desorganização, seja sempre uma desorganização organizada” (Luís Freitas

Lobo, Anexo III). No fundo, pretende-se que a equipa não abdique de potenciar

elementos como a criatividade e a adaptabilidade nos jogadores naquilo que é

representativo do jogar da equipa, mas sem que isso interfira no que é a

ordem, a organização, a ideia colectiva referencial, porque é esta que

estabelece o elemento interacção/ligação entre os jogadores da equipa, caso

contrário seria cada jogador por si. Acrescente-se que nessa ordem, o

estrutural/posicional é «parte» valorizada e não sobrevalorizada desse «todo».

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Análise e Discussão das Entrevistas

107

Para rematar contemplamos somente mais um apontamento proveniente

da inquirição feita por entrevista, suportando-nos em transcrições de Luís

Freitas Lobo e André Vilas Boas, que julgamos poder contribuir

substancialmente para a contextualização que temos vindo a tecer.

“…há um momento em que tu não aumentas a distância entre linhas mas dás

um pouco mais de largura ao teu jogo e vais aumentando-as tenuemente, fazes

com que a equipa adversária também recue um pouco e alivie um pouco a

pressão e deve nessa altura dar mais espaço ao teu portador da bola, tendo

mais espaço expõe-te menos ao risco, deve-se expor menos ao risco. É o

único momento do jogo em que muitas vezes eu penso que o jogador pode

optar mais facilmente por um passe mais longo ou médio-longo do que um

passe curto de primeira instância, porque é o momento mais perigoso para

uma equipa é perder a bola num início de transição defesa-ataque e por isso a

importância desse momento das «linhas», quando se começam a alargar, os

jogadores não perderem o contacto visual com aquele jogador que tem a bola e

deixá-lo muitas vezes com a bola e com um espaço enorme à sua frente,

portanto, existir uma aproximação…” Luís Freitas Lobo (Anexo III)

“Imagina o seguinte: ganhaste a bola mesmo à saída da tua grande área com o

teu lateral esquerdo, o teu ala do lado direito não tem ninguém perto dele e

está isolado e o teu lateral direito também já está em progressão porque

percebeu a ocasião. Como não lhe consegues meter a bola directamente

passas a bola ao teu médio centro para que ele a gire para o outro lado. No

entanto, falhas o passe e entregas a bola de bandeja ao pivot do adversário

que de imediato liberta o ponta-de-lança deles no espaço entre o teu central e

o teu lateral direito e de cara no golo. Neste caso preciso em que o adversário

está desorganizado e tu foste «cego» na procura da transição ofensiva

acabaste por ser tu próprio que te expuseste à transição ofensiva deles e

passaste a ser tu o desorganizado por não teres pensado que no teu «tal»

momento de transição ofensiva tem que estar presentes o equilíbrio defensivo

e a possibilidade de uma transição defensiva.” André Vilas Boas (Anexo IV)

Em análise ao descrito por Luís Freitas Lobo (Anexo III) pretendemos

salientar como se encontram interligados não só os momentos de jogo, mas

como se devem encontrar conjugados os princípios de jogo, a organização

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Análise e Discussão das Entrevistas

108

funcional e a organização estrutural da equipa no sentido de dar expressão ao

jogar que caracteriza uma equipa.

Repare-se que existe por parte do entrevistado o reconhecimento de um

princípio que envolve os jogadores avistarem-se uns aos outros na

possibilidade de interagirem, preferencialmente primando pela segurança.

Mais, depreende a referência do posicionamento das «linhas» para que a

transição ofensiva incorra segundo essas pretensões, ou seja, o estrutural, pela

“distância entre linhas” (Luís Freitas Lobo (Anexo III), é um aspecto a ter em

conta na definição da transição e na própria determinação da eficácia e

eficiência da transição.

De André Vilas Boas (Anexo IV) destaque-se o exemplo denominado

pelo próprio de «contra-transição» que, por si só, vem ilustrar objectivamente a

forma como importa que cada momento de jogo contemple uma organização

colectiva do jogar da equipa, ou seja, uma ordem que mantenha a equipa

equilibrada em todos os seus momentos, porque as transições do ataque para

a defesa e da defesa para o ataque são incontornáveis num jogo. Então, o

exemplo permite apurar como o não respeitar determinada funcionalidade

associada a uma organização posicional/estrutural que garanta à equipa

equilíbrio entre transições da defesa para o ataque e vice-versa comprometem

a articulação entre os momentos de jogo e comprometem a organização do

jogar da equipa.

Do que acabamos de mencionar, muito embora não se deva desprezar

as características dos jogadores e o que estes podem individualmente, pela

interpretação e pela intervenção, vir a determinar durante um jogo, mais

relevante se torna aquilo que colectivamente estes podem representar na

medida em que o jogar da equipa resulta de interacções entre os jogadores

que o tornam complexo.

Portanto, só no comprometimento pelo vínculo colectivo se torna

possível uma organização da equipa em que o «padrão organizativo», em

qualquer dos momentos de jogo respeitado, seja «fractal» a essa organização.

Para isso contribui uma estrutura do jogar da equipa regular e não fixa ou

imutável, determinística e não determinante ou rígida, isto independentemente

da sua alterabilidade em resposta às dinâmicas a empreender pela equipa.

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Considerações Finais

109

5. Considerações Finais

“Parece-nos importante, se não fundamental, percebermos o jogo pela sua natureza, pela sua complexidade. Se a nossa intervenção sobre ele, não for deliberadamente pensada, no sentido

de se desenvolver um método de complexidade, um método de jogo, então, não seremos capazes de pensar e conceber o próprio jogo”. Faria (1999: 31)

Apesar de em alguns pontos temáticos a convergência ter sido muito

consistente, uma primeira consideração importante tem a ver com o não

pretendermos apresentar aqui alguma espécie de generalizações, porque as

conotamos como fortemente propensas ao absolutismo na observação,

reflexão e discussão sobre os fenómenos. Se assim o fizéssemos, poderíamos

incorrer numa incongruência grosseira com aquilo explanado até então.

Pelo contrário, situamo-nos na convicta tentativa em compreender a

contextualização específica que envolve a singularidade dos jogares das

equipas, de cada um deles. É nessa convicção que esperamos ter(em) sido

específica e fundamentadamente retratada(s) a(s) estrutura(s) de jogo.

Numa ordem lógica de ideias para melhor articulação das considerações

finais, respeite-se a necessária destrinça quanto ao jogo de uma equipa,

daquilo respeitante ao modelo de jogo, sistema de jogo e estrutura de jogo.

Quanto ao modelo de jogo é-lhe conferido uma capital importância

naquilo que é o jogar pretendido pelas equipas. Afastando-se de qualquer

aproximação a uma interpretação sinónima com esquema (estrutura) a ver

traduzido neste caso por uma equipa, o modelo parece aproximar-se do plano

concepcional do jogar, sendo-lhe outorgada a organização das ideias e de toda

a contextualização específica em que o jogar de uma equipa se constrói e se

vai construindo. Nele e dele fazem parte os princípios comportamentais de jogo

que induzem às dinâmicas a ver traduzidas pela equipa, à organização tanto

estrutural como funcional na procura de atribuir à equipa uma identidade

própria e singular face às demais equipas. De tal parece também resultar uma

forte implicação das características e capacidades dos jogadores, tendo este

último aspecto sido várias vezes sublinhado pelos nossos entrevistados.

A inconsistência verificada na discussão das entrevistas quanto à

distinção entre sistema de jogo e estrutura de jogo enquanto organização

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Considerações Finais

110

estrutural que uma equipa apresenta como privilegiada, permite-nos inferir ser

difícil dissociar estes dois conceitos porque parece ser mais aquilo que os une

do que aquilo que os separa.

Ao sistema de jogo parece compreender a equipa como um sistema, no

sentido de expressar um certo jogar e que se confina a uma relação directa

com a representatividade concreta daquilo que se concebe como modelo de

jogo da equipa. Surge então a interacção como elemento de categorização

sistémica, compreendendo o sistema de jogo as interacções individuais,

grupais, sectoriais, intersectoriais e colectivas verificáveis na equipa como

expressão desse jogar.

À estrutura de jogo está-lhe confinada um papel organizacional do ponto

de vista posicional da equipa no campo. E é nesta base que, desde logo, se

poderá começar a inferir acerca da importância da organização estrutural no

jogar de uma equipa.

Em resultado parece poder indiciar-se que a estrutura de jogo ou a

organização estrutural é um ponto referencial de partida para a equipa e para

os jogadores desenvolverem desde aí as dinâmicas subjacentes ao seu jogar.

Daqui parece relegar-se de imediato para o figurino rígido e estático que

habitualmente se associa às equipas jogarem em 1-4-4-2, 1-4-3-3, etc. No

entanto, à estrutura de jogo parece poder reconhecer-se capacidade desta

derivar para outras estruturas (por alteração subestrutural, p.e.) em virtude do

carácter dinâmico que o jogar da própria equipa apresenta e/ou pelas

incidências do ponto de vista posicional e funcional que a equipa adversária

poderá reclamar da equipa na ocupação dos espaços.

Desta «avalanche» da dinâmica implícita ao jogo como confronto entre

duas equipas, dois sistemas, duas estruturas, parece concluir-se ser

necessário que cada equipa se organize posicionalmente e funcionalmente

para que, ao reconhecer os posicionamentos referenciais, torne mais

determinístico o seu jogar e menos caótico, pela imprevisibilidade e

aleatoriedade que o confronto entre ambas poderia resultar se fosse fundado

numa organização das equipas ao livre arbítrio de cada jogador.

Neste sentido, dependendo sempre das características dos jogadores de

que se dispõe, que por sua vez determinam muito daquilo que poderá ser a

dinâmica da equipa, parece reconhecer-se também a inevitabilidade da equipa

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Considerações Finais

111

apresentar uma certa consistência na estrutura de jogo privilegiada. A

variabilidade constante daquilo que é referência para a equipa –

posicionamentos constituintes da estrutura – tende para a incapacidade da

equipa em expressar os seus princípios de jogo na medida em que a estrutura,

por si só, possibilita determinado tipo de inter-relações entre os jogadores. Uma

mudança constante pode quebrá-las e desvirtuar o jogar que se pretende.

Curiosamente, num sentido diferente parece situar-se o contexto das

selecções, ou seja, na reciprocidade existente entre o modelo e jogadores, o

sentido jogadores-modelo adquire contornos muito sensíveis. Pelo curto

período de preparação/construção neste contexto, aquilo que o jogador

compreende na sua individualidade (cultura táctica) no padrão passível de

extrair do que ele faz no clube que representa, pode fazer ampliar o espectro

de estruturas ou subestruturas de jogo privilegiadas para os jogos. Convinha-se

porém que sempre em total articulação com a funcionalidade e princípios de

jogo que se pretendem ver no jogar da equipa.

Outra consideração final interessante tem a ver com uma unanimidade

consentida face à inexistência de estruturas de jogo como sendo mais

indicadas face a um determinado momento de jogo. Aqui prevaleceu uma

concepção de articulação entre os quatro momentos de jogo no sentido em que

as inter-passagens uns pelos outros potenciem a fluidez entre os momentos.

Para isso tem de se perceber o jogar como um «todo» e não como os

momentos per si. Neste sentido, os princípios e funcionalidade incorporados na

estrutura são superiores a qualquer que seja o posicionamento colectivo e

individual a registar pela equipa, conferindo uma propensão mais eficaz de

resposta ao carácter caótico do Jogo que inflige a que o jogar de uma equipa

lide constantemente com as relações de ordem-desordem, organização-

desorganização, equilíbrio-desequilíbrio.

Dessa articulação entre os momentos sobressaiu igualmente parecer

convergir a necessidade dos jogadores individualmente e colectivamente

entenderem o jogar na completude das dimensões – táctica, técnica, física,

psicológica, estratégica – que o constituem, compreendendo-o como um «todo

inquebrantável», um «todo» uno que confere, nos momentos de jogo,

dinâmicas na matriz espacial e temporal que infligem adaptações por parte dos

jogadores e da equipa.

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Considerações Finais

112

Com relativa consistência tornou-se possível reconhecer que, face a

essa matriz espácio-temporal e ao confronto existente entre duas equipas, a

própria dinâmica do jogo da equipa sustente a sua organização estrutural não

numa rigidez posicional colectiva mas uma organização padronizada

identificativa do jogar.

Parece-nos também que as «linhas» que uma equipa faz apresentar

fluidamente em campo carecem de uma interpretação colectiva e não

individualizada das mesmas, ou seja, da «forma» resultante que se vai

alterando mas que deve apresentar regularidades ao ponto de se identificar

como «padrão organizativo» do jogar da equipa. Daí nos sugere resultar a

conotação de organização estrutural àquilo que normalmente se associa ao 1-

4-4-2, 1-4-3-3, etc.

E, por fim, parece ainda consentir-se que, dada a utilização de diversas

estruturas de jogo ao longo da história que fazem reduzir a «novidade» neste

sentido, da opinião dos entrevistados surja a identificação de um retornar das

estruturas de jogo representadas somente com 3 defesas e a identificação das

estruturas de jogo que contemplem mais médios (1-4-6, p.e.) como eventuais

estruturas de jogo a privilegiar no futuro. Considera-se que o jogo deverá

passar pela «ousadia» no sentido do elevado «conhecimento táctico» dos

jogadores acerca do Jogo. Acrescentamos que, caso a qualidade do jogador

compreenda o jogar da equipa segundo a lógica que temos vindo a apresentar

– nomeadamente quanto à indivisibilidade dos momentos e das dimensões do

jogar sem deixar de compreender a plasticidade implícita no mesmo – a

viabilidade da utilização de tais estruturas de jogo tornar-se-á sobremaneira

mais viável.

Em continuidade com o referido inicialmente neste ponto de

“Considerações Finais”, enfatizamos a nossa pretensão principal em dar a

conhecer estas «linhas de pensamento», esta possível aproximação

paradigmática de conhecimento sobre o fenómeno Futebol que, sendo

complexo e sedimentado numa natureza sistémica e «fractal», carece que cada

seu constituinte, para que seja instituinte do fenómeno, se reveja à «sua

imagem e auto-semelhança» nas propriedades do fenómeno total em si.

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Considerações Finais

113

Encerrando o nosso contributo para a investigação nesta temática,

concedemo-nos a um memorando que se faz sentir tão veemente agora como

quando demos início ao estudo…

“…independentemente de todos os aspectos importantes e fundamentais que tornam

este jogo espectacular, a verdade é que uma qualquer reflexão, por mais ou menos

profunda que seja, irá sempre ser direccionada fundamentalmente para estas duas

questões: a disposição no terreno de jogo e os jogadores que o ocupam.”

(Castelo, 2004: 53)

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Considerações Finais

114

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Referências Bibliográficas

124

Page 143: Um estudo sobre a sua importância na Dinâmica das Equipas · entendimentos de estrutura, sistema e modelo de jogo; (ii) indagar sobre a importância da organização estrutural

ANEXOS

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Anexos

XVII

ANEXO I

Guião da Entrevista

Organização de Jogo

• Concorda que uma equipa para ser de rendimento superior tem de ser organizada

em todos os seus momentos (atacar, defender, transitar)?

Podia esclarecer-nos o porquê da sua opinião?

• O que entende por organização ofensiva, organização defensiva, transição defesa-

ataque e transição ataque-defesa?

- Modelo de jogo

• Inicialmente, gostaria que me falasse sobre o que entende por modelo de jogo.

• Qual o papel que atribui ao modelo de jogo na organização do jogo de uma

equipa?

• Que relação lhe parece existir entre princípios de jogo e funcionalidade

pretendida para a equipa em termos de jogo?

• Na operacionalização do modelo de jogo qual a importância atribuída às

características dos jogadores?

(Compreensão particularizada segundo os momentos de jogo para posterior articulação com a

segunda categoria em análise)

• Podia mencionar quais os principais princípios ofensivos que privilegia,

atendendo à funcionalidade do jogar expresso pela equipa quando em

organização ofensiva no:

- momento inicial de construção do jogo ofensivo;

- momento de construção e definição de situações de finalização.

• Relativamente à organização defensiva podia referir os principais princípios

defensivos que privilegia para uma equipa tendo em conta a sua funcionalidade

colectiva.

• Quando em transição defesa-ataque poderia mencionar quais os principais

princípios de jogo privilegiados para este momento, elucidando-nos acerca da

funcionalidade colectiva a apresentar pela equipa?

• E, quando em transição ataque-defesa, quais os principais princípios de

jogo privilegiados para este momento tendo em consideração a funcionalidade

colectiva a apresentar pela equipa?

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Anexos

XVIII

- Organizações estruturais de jogo

• Qual o papel que atribui à organização estrutural, ao nível da disposição

«táctica» dos jogadores, no futebol praticado por uma equipa?

• Considera ser mais adequado restringir-se a uma só estrutura «táctica» de jogo

ou, pelo contrário, apresentar variabilidade de jogo para jogo da estrutura

«táctica»? P.e, neste jogo a equipa jogar em 1-4-1-2-3, no próximo em 1-4-4-2, a

seguir em 1-4-2-3-1, etc.? Poderia explicar-nos o que está na base da sua

opinião?

• Que estruturas de jogo pensa poderão vir a surgir no futuro?

Organização estrutural (posicional) do jogar

• Atendendo ao discorrido anteriormente acerca da funcionalidade colectiva que se

pretende ver expressa pela equipa, parece-lhe existir alguma distribuição

(posicional/estrutural) colectiva da equipa em campo que particularmente potencie

cada momento do jogo (organização ofensiva, organização defensiva, transição

ofensiva e transição defensiva)?

• Vê alguma vantagem em se jogar com mais ou menos «linhas», longitudinais ou

transversais, para se jogar ou entende ser unicamente da preferência de como o

treinador pretende que a sua equipa jogue?

• Comente a afirmação: “Os triângulos são formas geométricas evoluídas de

posicionar os jogadores em campo.”

• Actualmente, acha que o jogador de cultura e com qualidade superior tem

elevados desempenhos num «posto específico» ou em «polivalência» de

posições? Porquê?

(Compreensão particularizada novamente segundo os momentos de jogo para

posterior articulação com o desenvolvido em “Modelo de jogo”)

• Optando por uma distribuição posicional/estrutural da equipa, poderia referir-

nos os posicionamentos dos jogadores em campo e estabelecer as «linhas» de

referência da organização estrutural da equipa no:

- momento de iniciação à construção do jogo ofensivo;

- momento de construção e definição de situações de finalização.

• Optando pela anterior distribuição posicional/estrutural da equipa, poderia

referir-nos os posicionamentos dos jogadores em campo e estabelecer as «linhas»

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Anexos

XIX

de referência da organização estrutural da equipa quando em organização

defensiva.

• À semelhança do anterior, poderia referir-nos os posicionamentos dos

jogadores em campo e estabelecer as «linhas» de referência da organização

estrutural da equipa quando em transição ofensiva?

• Por último, pedimos que proceda do mesmo modo, mas tendo agora em

consideração o momento transição defensiva.

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Anexos

XX

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Anexos

XXI

ANEXO II

Entrevista a Agostinho Oliveira

Técnico (adjunto) da Selecção Nacional A Portuguesa

Casa do treinador em Guimarães, 29/07/2009

Antes de formalizar o início da entrevista foram feitas as apresentações e o

professor começou por referir o interesse em que esta não se tornasse uma entrevista

fixada por um guião, mas sim mais em formato de «conversa» sobre temas que

haviam sido apresentados ao entrevistado via correio electrónico.

Assim sendo, e revelando o seu entendimento sobre o fenómeno Futebol

(jogado e treinado), desde logo o entrevistado questionou a preponderância das

estruturas de jogo quando o futebol é um jogo que contém imprevisibilidade e está

muito dependente dos seus principais intérpretes (os jogadores) e daquilo que eles

decidem e conseguem executar nas diferentes situações que o jogo provoca…

Milton Cerqueira (MC): …eu estou a perceber perfeit amente isso, agora a

questão que eu coloco é: há referências, o Futebol (o Jogo) está sempre

organizado…parte-se do princípio que uma equipa…

Agostinho Oliveira (AO): Pensas tu que está organizado, não é?! Que tens uma

estrutura organizada, e logicamente e inicialmente, partes dela. Tu trabalhas

sistematicamente a tua estrutura não é? Em função de quê? Da organização,

dos teus princípios. Pronto. Mas tu sabes perfeitamente, ainda há pouco tu

concordaste que existem vários considerandos a contrariar estes princípios

todos que é, p.e., a outra equipa. Mais, a qualidade da outra equipa, …, etc.

MC: …a qualidade da outra e da nossa também, dos no ssos jogadores…

AO: …logicamente…e tu confrontas-te com esta realidade: «Não marcas daqui

a bocado vais sofrer». Não dizemos muitas vezes isso? E por vezes não

acontece? Tu vais lá, a bola bate na barra, há um contra-ataque, golo do

adversário…

MC: …sim até se tem a mania de dizer que há sempre qualquer coisa que

falhou ali, ou que não deveria estar, mas deveria t er feito. E até é muito

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Anexos

XXII

bonito de se dizer, isto quando há um adversário qu e está lá, que joga e

faz…

AO: Pois é precisamente…É no âmbito da discussão e eu discuto cada vez

mais isto de ordem-desordem desordem-ordem. Vais-te alimentar nos

procedimentos de quem? Dos teus jogadores! Nos procedimentos de quem?

Do adversário. É nas cedências e fragilidades do adversário que tu vais ter que

saber aproveitar, mas para saber aproveitar, os teus conteúdos de domínio, de

sabedoria, dos teus princípios, de nível técnico individual, de nível de cultura

táctica, etc., têm que ser fortes para poderes fazer este tipo de aproveitamento

e depois tu até podes chegar até à grande área, mas chegas até lá e tens um

jogador que não finalizou, por falta de presença emocional, por falta de

trabalho, sistematização, ou, porque é este e não aquele que seria o melhor

executante, quer dizer, no tempo de aproximação, se no nível de execução…e

a legitimidade de uma linha próxima da grande área e que dali já se remata,

porque a maior parte dos golos agora, de alguma maneira, estão-se a produzir

ali, remates poderosos, bolas que favorecem o remate.

Mas, para que isso aconteça tens que educar, tens que dar condições para a

aproximação ao nível que já possuíste, mas infelizmente o cenário não é

agradável, tens um ou outro campo, uma «academiazita»…a distância para os

restantes países europeus aumenta dia após dia, cada vez ficamos mais

distantes da realidade «produtiva» dos outros países, porque o nosso atraso

em conformidade com a ausência de estruturas físicas de importância que

seria justificável, perante a grandeza futebolística que o país atingiu, implica

necessariamente tu continuares a perder um tempo precioso na

formação…mas, em Inglaterra tens 40 academias mais 56 centros de

excelência, em França idem aspas, na Alemanha, na Holanda, já na Áustria,

Espanha, e por aí fora…tens um «produto», alimenta-lo, dás-lhe educação

cívica e académica, (…), dás-lhe cultura táctica, bons espaços físicos quer em

qualidade quer em quantidade, e desenvolves o «produto» que pretendes

formar. Assim, começaste há anos a criar uma nova ordem na produção da

realidade futebolística.

E tu aqui paraste…chegas a alguns Clubes, (…), há é espaços físicos.

Alguns…tens campos, espaços. Sobram três/quatro equipas nacionais

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Anexos

XXIII

próximas da realidade. Esta é a outra grande realidade, (…), essa, a que tu

pretendes para os bons procedimentos, (…), essa não existe…

O professor Agostinho pediu logo de seguida para que visualizasse uma

projecção em tv de um documento pessoal no qual tem organizado estruturalmente

aquilo que prima como conteúdos de referência para a organização e

operacionalização do jogo.

AO: …sendo jogo para jogo, tu vivenciando o treino como correspondência do

jogo e vivenciando o jogo na interdependência do treino, automaticamente o

teu diagnóstico tem que estar quase sempre presente para tu poderes formular.

Tens o treino, estás a preparar o jogo, mas chegas ao jogo, vês/identificas

diagnosticadamente realidades que não estão ainda consumadas e,

automaticamente, tu vais para o treino e estás a ver a outra equipa contra

quem vais jogar no próximo fim-de-semana, ou daqui a um mês, mas também

já estás a ver os defeitos, os problemas que a tua equipa teve, na maneira

como se ligou, na maneira como articulou os sectores, (…).

A observação reflectida do global para o analítico é proposta sempre

fundamental, na medida em que tu consegues decompor a realidade

sequencial que te falha, que fez curto-circuito e que não te deu possibilidades

de poder avançar.

MC: Essa qualidade, atendendo àquilo que estávamos a falar à pouco do

jogador decidir o momento, não está subjacente a es sa ordem que é

colectiva, a essas referências que são transmitidas aos jogadores e eles

depois dentro desse espaço, dessa ordem, terem espa ço para criar, para

melhorar e, talvez, evoluir em termos das respostas que vão dando…

AO: Logicamente (…). É por isso que o jogador tem uma valorização/evolução,

mesmo em ordem à idade, mas a etária normalmente tem sempre quase que

uma proporcionalidade em relação à evolução\competição\solicitação (níveis).

Depois, considerar as (agressões) colaterais que possibilitam definir a

capacidade «personalística» do atleta.

Aqui começas de alguma maneira a traçar o perfil do jogador e carimbá-lo/

projectá-lo na dimensão, no sector, posicionamento e área de cobertura.

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Anexos

XXIV

Passarás a considerar o jogador no plano da possibilidade de resposta a

determinado tipo de exigência. Trabalhador com classe e tens a certeza que

independentemente da posição corresponde aos níveis de expectativa e

normalmente é moldável.

Ainda ontem estava a ver o Tiago, o Tiago não está, de alguma maneira, a

exemplificar aquilo como o conheceste quando o lancei na equipa de juniores

(selecção sub-18). Não, o Tiago está um jogador forte, compacto, com o

atrevimento condicionado, assumiu aquilo que eram as componentes do futebol

italiano, mas depois, para ele assumir este tipo de condições teve que alguém

o observar e dizer: «Este jogador até é capaz de corresponder a esta missão!»,

porquê? Porque ele alardeava outro tipo de condições, nomeadamente do foro

físico\táctico e técnico, que lhe possibilitavam fazer isso. E a conjugação destes

factores e à maneira como ele aceita o desafio, confronta os adversários, etc.,

conjugas força mental.

Por outro lado, por vezes vê-se jogadores que no domínio técnico até nem têm

grande capacidade, mas o tipo de funcionalidade (…), a componente

«solidariedade», a atenção, níveis de concentração, conjugam-se p.e. com o

bom desempenho e possibilitam a titularidade num qualquer clube. Quando vês

o jogador na sua individualidade hesitas, mas o seu profissionalismo, a maneira

como ele é solidário no jogo, a maneira como ele interpreta, a maneira como

ele funciona no regime articulado…eu costumo dizer, «os dois centrais nunca

serão os dois melhores centrais, mas sim os que proporcionam a melhor

articulação entre eles», a maneira como se regem entre eles. Existem razões

de outra ordem para determinados tipos de procedimento.

MC: …isso vai de encontro àquilo que se falou no pe ríodo dos

«galácticos» …

AO: Tu nas peças, na individualidade, podes não ter o colectivo,

independentemente da riqueza do individual.

MC: É um pouco na base disso, e utilizando o exempl o que agora deu em

que por vezes há jogadores em equipas que do foro d a capacidade de

execução até nem são muito bons, reconhecendo que n o domínio da

decisão até é relativamente acertada, que coloco ag ora a questão num

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Anexos

XXV

patamar a top. Partindo desde já de a top todos ter em essas qualidades

reconhecidas, se não há uma importância dessa ordem colectiva e, p.e.,

partir das ideias que são do jogo de uma equipa, um a identidade que se

cria, uma equipa jogar dessa maneira e haver uma de terminada estrutura

de jogo que possa ajudá-las…

AO: … lógico, lógico…

MC: …a fazer com que…P.e., falou-se durante anos qu e o Barcelona de

Cruyff jogava de uma determinada maneira que ningué m na altura ou era

raro alguém se colocar em campo daquela forma e…

AO: …como falas do Barcelona actualmente…

MC: Outro exemplo…

AO: Mas o Barcelona actualmente, se retirares o Messi qualquer dia ou o Xavi

ou o Iniesta, és capaz de ter problemas naquela equipa porque os

desequilibradores, a ordem do desequilíbrio que determinado jogador faz em

campo, na atracção que exige imediatamente, de uma marcação que liberta

outro movimento ou uma linha de passe, (…), a rapidez com que eles

executam, o pensar e agir rapidamente, é qualidade inata dos grandes

jogadores e o investimento no colectivo, se tu o fizeres, lógico que quando tu

estiveres a chegar lá já a bola partiu há meia hora. É tentares apanhares

sempre o comboio quando ele já passou, chegas à estação atrasado, ou seja,

há uma realidade na componente de exteriorização de determinado tipo de

modelos. Podes ter a certeza daquilo que te vou dizer, é que é mais feita na

influência do jogador para o modelo do que do modelo para o jogador.

O José (Mourinho), da maneira que prepara as equipas e que adapta o

jogador, mas o José não joga no Inter como jogava no Chelsea logicamente.

Mas o José tem essa extraordinária qualidade, pode chegar lá e modelar, no

domínio da qualidade de interferência que possui, no domínio da interferência

da relação dos sectores, da interligação dos sectores, ele pode ser o mesmo

José, a pedir e a exigir aos jogadores que, mas (…) o Ibrahimovic estava fora

de toda aquela estrutura, mas com hipóteses diferenciadas no benefício da

estrutura (fora da estrutura, mas com missão…) porque ele era uma peça à

parte no domínio de algo como p.e. o Drogba não o fazia no Chelsea. O

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Anexos

XXVI

Drogba era uma componente da peça colectiva quando havia necessidade da

peça colectiva. Raramente viste o Ibrahimovic a vir uma vez cá atrás fechar um

espaço ou a quebrar uma linha de passe, mas a qualidade do jogador implica

outro tipo de intervenção colectiva. E vês p.e. no Barcelona algo que até lhe

será difícil no Barcelona porque ele atinge a qualidade individual que possui

mas não atinge talvez na componente solidária que muitos daqueles jogadores

do Barcelona têm, terá que se respeitar a ordem dos «números» porque tu vês

o Xavi a fazer um nível de execução rápida em que antes de receber a bola já

tem uma linha de orientação para a própria bola o que dá velocidade ao próprio

jogo e em que tu passas de uma recepção para uma situação de transito entre

defesa-ataque imediatamente e tu ganhas essa linha o mais acima possível, tu

fazes um desequilíbrio de 2, 3 intervenções que estão projectadas sobre ti, a

qualidade de um jogador fez com que isto possa acontecer. Mas, quando toca

a reunir, tu vez um Xavi a quebrar linhas de passe, a roubar a bola, a

recuperar, tu vês o Messi a fazer o mesmo, etc., etc. O grande jogador é o que

põe os outros a funcionar, o que facilita a tarefa aos outros.

O espaço das cargas emotivas, que pesam sobre todos os jogadores ocupa

uma área muito importante no sucesso, a base da vitória, o jogar com alegria, o

jogar com a confiança, estabilidade emocional, alimento que te dá o próprio

jogo. Há aqui uma série de variantes importantíssimas no trabalho das

selecções nacionais p.e..

Todo o trabalho, porque efectuado de mês a mês, no espaço que vai por vezes

a um período de 8 dias, estabelece critérios de interferência diferenciada de

qualquer tipo de trabalho efectuado nos clubes. Por vezes não partes da

estrutura pretendida, mas aquela a que a matéria-prima que dispões te permite.

Trabalhas imenso com a estabilidade emocional e com a incidência em

algumas peças que exigem mais cuidado.

Defines a estrutura em função inteligente e programas e modelas a perspectiva

de uma estrutura baseada em função do tipo de representatividade de cada

jogador nos seus respectivos clubes. Pretende-se estruturar colocando as

peças de modo a fazer o seu maior aproveitamento e por vezes arrastas e

promoves a estrutura na proximidade do tipo de características que residem no

jogador.

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Anexos

XXVII

Falamos p.e. na modelação do espaço do meio campo com as características

do número «10», as quais para a rentabilização do mesmo, tem praticamente

de se posicionar num espaço próprio. E, assim sendo, todos os restantes

componentes teriam que se posicionar de maneira diferente no espaço do meio

campo, colocando-se praticamente em paralelo e o triângulo do meio campo

invertia-se.

O dilema absorve discussões e leva a perspectivar, e obedecendo às

características de cada um dos jogadores componentes, a projecção para

outros quadros de modelação estrutural (indicava para a posição dos jogadores

interiores do triângulo do meio-campo numa estrutura em 1-4-3-3) (…).

O Ferguson o que fez neste último jogo da Champions (final disputada entre

Manchester United e Barcelona), quem é que pôs lá (referia-se à posição de

médio-ala da estrutura 1-4-4-2 utilizada pelo Manchester)? O Rooney. Na ala, a

trabalhar tacticamente, pôs o ponta-de-lança.

MC: Mas há o reconhecimento de posição de que, (…), em momentos de

perda de bola ou em que a equipa tem que estar orga nizada

defensivamente, há o reconhecimento de determinadas posições em

determinados espaços que obrigatoriamente em termos da estrutura que

a equipa monta têm que estar lá e têm que estar art iculados, senão aí é

que começa o problema?

AO: Inclusive a própria equipa pode estar estruturada de modo a que a peça,

aquela peça poder ficar fora da estrutura (…) o fora da estrutura, p.e., de um

ponta-de-lança implica-te necessariamente duas coisas: se ele for inteligente

quebra-te a linha (de passe) de atraso, a diagonal de organização ou para o

defesa central ou para o guarda-redes…um ponta-de-lança a sério fica-te fora

da estrutura e sabe ocupar os espaços fora da estrutura. Como é que ele

ocupa? Quebrando a linha de passe do lateral p.e. para o central. Está fora da

estrutura não está?! Mas ao mesmo tempo está a trabalhar colectivamente,

não está fora da estrutura…inteligente da equipa.

MC: …está enquadrado de uma outra forma…

AO: …mas está enquadrado de outra forma! Ou seja, porque anula o

posicionamento do lateral para que o transito, ou se quiseres, a posse de bola

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Anexos

XXVIII

seja anulado por ali, a que ele seja obrigado a jogar numa base mais de

profundidade ofensiva e que seja passível de perder a posse da bola. Agora,

por vezes, tu não vês estes jogadores a fazer isso. Quando estão fora da

estrutura não se integram colectivamente na equipa.

Tens ali o lateral, tens este ponta-de-lança e estás aqui (ver Figura 15) numa

meia posição e o defesa central está aí, o que é que te adianta estar aqui, não

estás a fazer rigorosamente nada, estás a gerar aqui um muro, se quiseres

fazes sombra e não fazes mais nada.

Figura 15. Representação/Exemplo em estrutura em que o entrevistado apresenta a posição e movimentação do ponta-de-lança permitindo que o defesa/lateral esquerdo possa circular a bola pelo guarda-redes fazendo-a chegar ao corredor central pelo defesa central direito ou ao corredor lateral contrário através do defesa/lateral direito.

AO: Agora se este homem (ponta-de-lança) faz isto, automaticamente quebra

esta posição (ver Figura 16), tem cautelas com a subida deste e quebra a

possibilidade da equipa se organizar pelo lado contrário, estando fora da

estrutura mas trabalhando colectivamente.

Figura 16. Representação/Exemplo em estrutura em que o entrevistado apresenta a posição e movimentação do ponta-de-lança, «deslocado» da sua posição mais propensa – posição central no campo – impede que o defesa/lateral esquerdo possa circular a bola pelo guarda-redes ou pelo defesa central esquerdo, ou seja, dificulta a circulação de bola à largura e potencia a construção do adversário em profundidade.

Gr

Gr Gr

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Anexos

XXIX

AO: É esse que é o sentido, da discussão que, em organização, quantas das

vezes alguma anarquia na estrutura te possibilita tu recuperares a bola e teres

mais gente a fazer golo, teres uma peça solta e ser ela a promotora de um

contra-ataque. E o futebol é fértil nisto, sempre dissipativo, não é? Para além

do trabalho que tiveste em organizar a equipa, será sempre uma organização

que sobrevive…da fragilidade demonstrada pela outra… (o professor retomou

à informação projectada na tv…)

AO: O jogo é um contínuo de acção. Nos instantes de desorganização há

organização tendendo sempre para a desordem. A tua intenção como equipa é

organizares em regime de transito defesa-ataque, é organizares-te para ir para

o ataque não é? Mas qualquer uma das incidências que estão na

interdependência de cada um destes momentos (qualidade de passe \

qualidade de recepção \ orientação da mesma \ movimentação \

posicionamento \ etc.) pode fazer com que a esta situação de ataque imediato,

passes a ter que reagires mentalmente e rápido para uma situação defensiva.

(…). Agora aqui isso é importante, tu alimentares-te no teu jogo, não teres a

posse da bola e teres atitudes: vais procurar a bola, vais pressionar o

adversário, vais bascular no sentido da pressão, vais tentar retirar a bola. E,

retirando a bola do adversário, vais ter que sair da zona de pressão do

adversário, tentar apanhar uma zona onde possas jogar melhor e equilibrar o

teu futebol, entretanto a bola passa por N situações. Ou então a visão super-

Dotada deste jogador mete a bola nas costas dos defesas centrais e aparece

uma «flecha» do outro lado e resolveu-te o jogo.

MC: Quando atrás colocou aquela questão do defesa/l ateral esquerdo que

conseguia, e isto com a equipa adversária estrutura lmente até bem

posicionada e que estava a cumprir com os seus prin cípios e p.e. até

defendem à zona e fazem um movimento pressionante d e imediato ao

lateral e este consegue meter a bola em diagonal…Re cordo-me de num

que o FC Porto jogou contra o Real Madrid se ter co locado essa questão

em relação ao Roberto Carlos, que tinha uma capacid ade extraordinária

de passe longo em diagonal para um extremo do lado contrário…

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Anexos

XXX

AO: …E não só! E ser ele o sinal locomotor do outro lado quando a bola estava

deste lado que normalmente nem era pelo lateral, era pelo defesa central…

MC: Mas, no entanto, lembro-me na altura de Mourinh o, então treinador

do FC Porto, referir isso como a principal coisa qu e temia nesse jogador e

referir também que a sua equipa também tinha coisas assimiladas e como

eram muito fortes a fazer certos movimentos…Não se poderia colocar

aqui uma questão de valências colectivas de forma a poder anular isso?

AO: Logicamente. Mas tu para que te possas de alguma maneira equilibrar,

tens de ter os jogadores Mentalmente preparados para essa situação! Toda a

gente sabe!!! Vê televisão, o próprio treinador alertou e tal… «…cuidado com o

Roberto Carlos, avança muito, sobe muito e…». Então, temos que pôr um

jogador mais posicionado, um lateral \ médio(?), mais atento a toda a situação.

E a qualidade do Roberto Carlos!...bastará avisar, bastará posicionar alguém

na zona?

MC: …não pode haver um movimento demasiado acentuad o de

basculação à direita…

AO: …e depois não é só isso. O jogador que é o Roberto Carlos que está aqui,

este lateral (direito da equipa contrária) sobe-te e faz-te isto (cobertura

defensiva aproximando-se), automaticamente ou ganhas espaço aqui

(referindo-se ao espaço deixado vago pelo lateral direito com a sua subida) ou

ganhas aqui (lado esquerdo também no sector defensivo do campo) porque

este homem é obrigado também a fazer cobertura porque entretanto este

espaço entre o defesa central e o defesa lateral é enormíssimo! E não há

qualidade nestes jogadores de fazer diagonais ofensivas para te «matar» nas

costas \ no espaço aberto do lado contrário por uma disposição correcta do teu

lateral aproximando-se por dentro…? O problema é sempre este! É evidente

que isto, à medida que tu sobes com a equipa no valor intrínseco que tu

possuis em cada um dos elementos que tu tens, vai-te valorizando, a tal

valorização cultura-táctica, a capacidade, a qualidade individual, a pressão…a

força física, vai-te fazendo com que isto possa não ser possível ou pelo menos

minimizas estas questões, porque há grandes equipas a jogar contra grandes

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Anexos

XXXI

equipas, possuidoras de grandes jogadores que, por vezes, fogem de todos

estes princípios.

MC: …está-se a ver também cada vez mais, com a subi da dos defesas

laterais, estes fazerem movimentos interiores, p.e. , o Daniel Alves faz

várias vezes isso…

AO: …também depende, porque sempre no trabalho lateralizado se se acentua

a importância do ala, na implicação com os movimentos do ala. O implícito está

na ocupação dos espaços, e porquê? Porque, se o ala não sabe trabalhar bem,

o espaço de profundidade do lateral é sempre difícil conseguir…espaços, ao

mesmo tempo, a libertação dos médios nos movimentos diagonais ofensivos,

libertando assim e gerindo o espaço de desgaste do lateral e ao mesmo tempo

tem que se quantificar a capacidade a nível físico destes dois homens (refere-

se novamente aos médios interiores do triângulo num estrutura 1-4-3-3 ou 1-4-

1-2-3), porque este homem a trabalhar bem e a fazer diagonais ofensivas

possibilita que, na criação do espaço lateral, seja este homem a fazê-lo,

aumentando consideravelmente a dinâmica ofensiva, a exemplo daquilo que a

gente fazia à muitos anos atrás nas nossas saídas – a 3A, a 3B, a 3C, … – ou

seja, quando o movimento do ala se envolvia para dentro na aproximação ao

ponta-de-lança era o lateral que possivelmente iria ocupar aquela posição. Mas

a grande maioria das vezes não era o lateral, era o próprio médio com

dinâmica ofensiva que possibilitava-lhe fazer a ocupação daquele espaço,

então o lateral vinha ocupar naturalmente a posição de médio, isto na

operacionalidade ofensiva…

MC: Então estamos aqui a referir, se percebi, que a omissão de um ala de

determinadas tarefas que têm a ver com o jogo, porq ue muitas vezes este

só investe ofensivamente, limita sempre a acção do outro jogador e a

equipa perde com isso? É isso?

AO: Implica-te. Escuta. Caracterizares o trabalho do ala de determinada

maneira mas não em função dos teus princípios. Imagina que tu defines dentro

dos sub-princípios tu fazes uma alternativa de trabalho na ala e tu dizes,

quando o ponta-de-lança faz esta aproximação ao lado contrário o que é que

este ala deve fazer? Normalmente, fazer o papel de segundo ponta-de-lança, a

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Anexos

XXXII

bola está do outro lado. E para o outro ala, pede-se precisamente a mesma

coisa. Ora bem, se ele faz isto, cria duas alternativas, ou foi acompanhado pelo

defesa ou não foi. Se foi, logicamente libertou um espaço que é ocupado por

um lateral ou um médio na diagonal ofensiva (…). No domínio principalmente

de um 1-4-3-3, o ala tem que servir quase sempre como segundo ponta-de-

lança (…). Está o ala do outro lado a jogar ou o lateral, aproximou o ponta-de-

lança e o ala do lado contrário faz de segundo ponta-de-lança e

automaticamente em termos de organização ofensiva libertou espaço para a

entrada do lateral, para a entrada do médio, etc., etc.

Tu falas do jogador e falas na cultura táctica do jogador e o que é a cultura? É,

de alguma maneira, sistematização que ele elabora por se estar

continuadamente a jogar de uma forma semelhante num clube ou é a

adaptação mental que ele tem que ter em relação a uma nova estrutura? A

faculdade dos conhecimentos colaterais e culturais possibilita a adaptação a

uma nova cultura ou fica-se preso a uma dinâmica que está já estabelecida

anteriormente?

MC: Essa é uma boa questão! Então, até que ponto ou que

preponderância poderemos dar ao facto de modelarmos o jogo? Isto,

independentemente ou dependentemente daquilo que os jogadores terão

a acrescentar…

AO: Logicamente. Não! A modelação não tem rigorosamente nada a ver em

oposição a isto. Eu tenho que modelar, agora o que eu tenho que saber cada

vez mais é valorizar também individualmente o jogador para beneficio dele…o

tempo de execução, as saídas, a qualidade de passe, a intervenção na

recepção orientada, etc. A adaptação a novas estruturas e a inclusão de novas

atitudes estruturais ao novo modelo… seja o que for, tudo isso seja facultado a

um maior nível de execução e disponibilidade desse mesmo colectivo. É um

eterno problema. Não é de retirar à área da sistematização!

Ainda à bocado estavas a falar que, p.e., em que tu modelas em relação à

aproximação do trinco, ou do médio mais defensivo, normalmente o médio

número «6» (…) na elaboração de três jogadores, quando jogam com dois

(triângulo do sector intermédio), a gente alterna o lado que é jogada a bola e é

o médio que faz a aproximação e o outro faz a diagonal acima do nível de

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Anexos

XXXIII

intervenção que este fez e fica mais na aproximação aos dois pontas-de-lança

e nesse nível de intervenção mais acima entre um, obriga-te o outro a fazer

aproximação para que, a partir desse jogador, normalmente se organize o jogo,

ou então vês que o jogador está pressionado no posicionamento, rejeitando as

linhas, as chamadas (linhas) paralelas, o defesa quebrou-te mais um

bocadinho dando-te mais profundidade e tu passas pela tua defesa para que,

em posse, faças o movimento para o lado contrário e tenhas mais espaço para

em segurança organizares, …, etc., etc.

Muito bem, a bola está do outro lado, desce-te o «8» e o «6» faz movimentos

mais acima, normalíssimo, tu começas a jogar por aí, e o futebol espanhol, se

tu vires, sai sempre por aí normalmente, está aquilo tão sistematizado e tu vês

que não é uma equipa que faz aquilo, é a selecção e todas as equipas de

Espanha. Se calhar não faz o Barcelona pela qualidade que se define nos seus

conteúdos, conteúdos de valorização que tem, a capacidade que tem na

intervenção individual, etc., torna aquilo mais rápido, mais célere, porque toda a

gente recebe bem, orienta bem e toda a agente tem rapidez na execução, (…),

e aquilo altera muita coisa, altera muita coisa no próprio jogo, porque assim

sendo muita gente da outra equipa chega atrasada. Ora bem, há situações, tu

tendo a posse da bola ou não tendo a posse da bola, que deves organizar para

que possas começar a criar os princípios na tua equipa. É a mesma coisa que

dizeres assim, um bloco médio, ou bloco alto e tu vais procurar ou diagnosticar

as qualidades dos teus jogadores, mas normalmente tu jogas com equipas que

também têm e gostam de ter a posse da bola e são soberanas no seu jogo,

(…), então, se calhar, é importante não ires para lá ter com eles porque uma

equipa que também admite que é ela que tem de tomar conta do jogo é uma

equipa que, pelo menos, deve ter alguma qualidade para o poder fazer não é?

É evidente?! Então tu és capaz de não fazer o bloco alto tão alto, ou seja,

fazeres mais baixo, para quê? Para ela (a outra equipa), na organização,

poder-te libertar 25 metros nas costas e tu poderes fazer o aproveitamento

disso. Ora, todas estas questões se fazem contra o adversário, o adversário

que tu leste, diagnosticaste e que te vai, nas fragilidades e nas virtudes,

oferecer aquilo que tu hás-de trabalhar na equipa. Uma realidade, porém, tu

tens! É que tu podes sair pelos «trincos», podes sair pela lateral, e se souberes

sair pelos lados ou souberes pelos «trincos» tens mais soluções do que só

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Anexos

XXXIV

sabendo trabalhar com os jogadores mais defensivos ou, se quiseres, os

médios mais defensivos, não é verdade?

MC: Sim, sim…

AO: Se estiveres num futebol mais objectivo, se calhar, és capaz de, na maior

parte das vezes, estar a trabalhar…o futebol italiano viveu muito tempo disso

independentemente da qualidade técnica dos jogadores, viveu muito de boas

leituras, bons movimentos na frente e a bola a cair bem nas costas, e,

fundamentalmente, uma aproximação muito rápida das «segundas linhas», da

segunda onda como eu lhe chamo, a segunda onda a aproximar rapidamente.

E tu, às tantas, tinhas 2, 4, 5, 6 homens ali com 4 a marginalizar, a bater ali na

linha da grande área e mais 2 ou 3, sei lá, a fazer a aproximação, porque o que

sobrasse era ali...dois jogadores que normalmente eram dois bons meias

distância, mas tinhas uns «Pirlos» que olhavam e que estendiam bem, e que

faziam um futebol bastante objectivo, mas com a funcionalidade própria e os

argumentos que eles tinham em relação às individualidades que possuíam.

Jogadores rápidos, velozes, com bom sentido de baliza e com bons

distribuidores nas linhas mais atrasadas…

MC: …e também cultural…

AO: …logicamente.

MC: …uma vez que passaram anos e anos a jogar dessa forma…

AO: …e tu vês ultimamente umas equipas italianas e são densas, compactas,

mas muito aquém daquilo que até certa altura tu chegaste a apreciar e que nós

apontávamos como quase…entre a bola que circulava e que era uma das

armas fundamentais e a bola que se dava profundidade a ela, havia sempre

racionalidade e aproveitamento naquilo, ou seja, a bola não era metida para a

frente porque não havia solução e que aí está o problema, porque tu quando

vês algumas equipas a projectar a bola na frente é porque os argumentos que

têm já são nenhuns, quer dizer, a pressão do adversário faz-se, a qualidade do

adversário e a pressão é tanta e elas só têm uma solução que é «sacudi-la» e

enquanto o «pau vai e vem, folgam-se as costas»?! Às vezes até pode

acontecer que um contra-ataque surja, pelo falhanço de um defesa, ou um

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Anexos

XXXV

ponta-de-lança que naquela altura até se movimentou bem e vai aparecer, até

pode acontecer, mas a grande verdade é que aquilo que combinava com o

futebol que podia ser, que tinha qualidade na maneira como se argumentava

na subida no terreno, mas ao mesmo tempo, nos momentos exactos, eles

sabiam colocar a bola bem distante, bem longa, tentar ferir um ou outro defesa

que subiu mais ou um bom trabalho de um ponta-de-lança e que

tradicionalmente também, como eram muito compactas, a bola entrando nas

costas dos defesas centrais com qualidade, o que é que acontecia? Acontecia

que todas as barreiras, os «autocarros de dois andares, ou três» que estavam

lá, são automaticamente quebrados pela colocação da bola, como é evidente, e

então muita gente pensa… «eu não consigo entrar lá, porque aquilo é os

«catenaccios», é as defesas super povoadas, é as boas compensações, é o

bom grau de solidariedade dos jogadores, bons profissionais…». E então como

é que eu posso? Posso só, tu trabalhando na frente bem, movimentos rápidos

e no respeito por este tipo de movimento, a bola que está atrás, com qualidade

de serviço aparecer-te redonda já nas costas dos defesas centrais…e dizemos

assim, «mas isto é uma maneira como eles trabalharam…» ou tinham

jogadores que interpretavam aquilo pela qualidade da execução, ou então

tinham alguma dificuldade. Portanto, estamos a trabalhar dentro de situações

que, por vezes, não deixam de ser o domínio dos princípios deles, que se

aplicavam a uma organização da própria equipa. Necessariamente, muito

daquilo que a gente vai facturando neste momento é fecharmo-nos nisto, nas

transições, defesa-ataque, ataque-defesa e esquecemo-nos que há uma

realidade…, muita argumentação que se tem de consubstanciar…

MC: …quando estávamos a falar da questão dos médios , de se rejeitarem

os passes paralelos, agora colocava a questão…

AO: …os posicionamentos paralelos, porque o posicionamento paralelo obriga

ou pressupõe o passe paralelo…

MC: …podendo levar a conversa para aquilo que se es tava a falar

relativamente aos italianos, a parte dos posicionam entos da equipa não

só se estender em profundidade e em largura mas tam bém manter-se com

esses posicionamentos…, não permitir um outro tipo de jogo e também

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Anexos

XXXVI

não se tornar um pouco previsível? Isto, porque as equipas italianas têm

muito presente o 4-4-2 com jogadores muito em linha , posições quase

paralelas, com alguns jogadores que são móveis e as sim o jogo ficar um

pouco tipificado dessa forma de que falávamos…

AO: …mas sempre da maneira como tu queres formular linhas…Sempre que tu

formulas linhas, no sentido dos triângulos e demais figuras geométricas, é a

impossibilidade que o futebol tem de ser geométrico, porque o futebol é mais

anárquico, é claro que uma fotografia do início do jogo o é, ou anda próximo…

Eu vou jogar em 4-4-2 e tu sabes que jogar em 4-4-2 depende

fundamentalmente de tudo aquilo que tu possas dizer aos teus jogadores, do

que os teus jogadores arrastem para a interpretação de um conveniente 4-4-2,

porque desde o movimento dos ponta-de-lança, à lateralização…tudo é

alterado geometricamente.

Arrastar as geometrias programadas, ou andar próximo, retira o poder de

intervenção e não corresponde ao momento correcto de recuperação e

organização. Agora tu dizes assim, «eu vou jogar em 4-3-3, é o meu

sistema….». «O meu sistema é o 4-4-2, ou é em losango ou é em diamante, ou

…», quer dizer, isso é tudo muito bonito desde que o treinador tenha modelado

para o efeito, os jogadores tenham uma interpretação capaz de poder fazer e

corresponder aos diferentes momentos de exigência do modelo e tu saibas o

que é que pretendes e que resposta eles te possam dar. E depois temos a

equipa adversária…

Entendo que num 4-4-2 em losango há duas peças fundamentais e a gente

pode dizer que são todos…os 2 ponta-de-lança…o quarteto de médios…etc.

Eu, p.e., penso que são os dois médios laterais, pela exigência Táctica\Física

da posição, pelo tipo de cobertura de que têm que dar, principalmente, aos

laterais na perspectiva defensiva, porque normalmente eles vão ser os alas

quando não são os laterais, eles vão ser os ponta-de-lança quando o ponta-de-

lança abriu e caiu numa ala.

Ao posicionarem-se por dentro e implicando a marcação contrária, liberta muito

mais as alas e as alas podem ser depois aproveitadas pelo ponta-de-lança…se

a outra equipa encaixar, automaticamente passa a ter essa vantagem. Ora

bem, enquanto que tu ficas grudado num comportamento fotográfico do

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Anexos

XXXVII

diamante, terás que admitir que qualidade de jogadores tem que haver aqui

para que isto funcione.

MC: Então pode-se reconhecer que, vamos pelo exempl o do Inter de

Milão, pelos jogadores que tem, poderá fazer sentid o que a parte

estrutural se mude de jogo para jogo porque digamos que a ideia

colectiva se sobrepõe a esta questão dos posicionam entos e desde que

eles a interpretem e porque têm jogadores com deter minadas

características que mudando a estrutura, provavelme nte vai ficar mais

enriquecido o jogar da equipa do que, p.e., um Barc elona que está

perfeitamente identificado, que tem jogadores que s ão fortíssimos

naqueles determinados comportamentos que se querem atendendo

àquelas posições que eles vão jogar?

AO: Mas será que o treinador do Barcelona Trabalhou alguns dos

comportamentos que estão ali? São bem-vindos, mas se calhar ele também

não estabeleceu aquele tipo de critério. Os jogadores imprimem

«anarquicamente» o seu selo, vão formalizar e «formatizar»

questões\soluções, que se calhar o treinador nunca as colocou, porque a

grande a maioria das situações…têm solução no jogador.

A segurança na posse da bola…se calhar tem a ver com a qualidade do

jogador…pela técnica individual que possui…pelo movimento…inteligência

táctica e pelo trabalho sistemático.

MC: …eu estou a falar disto do ponto de vista posic ional…eles poderiam

trocar mas a equipa…

AO: …hoje em dia, e perante tudo o que aparece, na formulação de estruturas

que tenho em vista…porque nós temos que nos preocupar com o adversário...a

grande preocupação está em que tu tenhas uma equipa que se saiba adaptar a

determinado tipo de situações, variáveis, tanto posso jogar num 4-3-3 como

jogar num 4-4-2. O dilema que está, e aqui tu podes falar de alguma

polivalência Dinâmica, principalmente em alguns sectores, e a gente às vezes

costuma dizer que «é muito importante que os jogadores joguem em muitas

posições», mas às vezes eles jogam em muitas posições e eles não jogam

nada a lado nenhum.

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Anexos

XXXVIII

Ou seja, se as qualidades do jogador são para interpretar determinado tipo de

papel na tarefa dentro da equipa, quanto mais ele estiver sistematizado os

acordes de posicionamento e movimento táctico, de interpretação, de

aproximação, de cedência, de criação de linhas de passe, de aproximação à

zona…quanto mais ele estiver «formatizado» em função dos princípios, melhor.

Agora quantas mais vezes o jogador troca de posição, porque hoje é trinco,

amanhã é ala, amanhã é de médio não sei quê…ou seja, tens um regime de

polivalência que normalmente não privilegia o desempenho do jogador.

Falamos, isso sim, de polivalência dinâmica.

Falamos de interacções assumidas com normalidade, dentro das exigências

dos princípios e da cultura táctica! O médio por vezes na passagem acima da

sua linha pelo lateral passou a ser ele o lateral; o ala passou a ser

médio\lateral; o ponta-de-lança passou a ala, a médio ofensivo; o médio mais

defensivo sobe no terreno ocupa N posições no apoio ao ataque e por vezes,

com uma grande frequência, faz todos os lugares do sector defensivo.

Interpretações e alterações da estrutura momentâneas, acompanhadas pelo

reposicionamento colectivo e fundamentalmente em função da disposição do

adversário no jogo.

Passar de um 4-4-2 para um 4-3-3 ou de um 4-3-3 para 3-4-3, mais

mecanizada, são situações normalíssimas e preparadas por vezes com entrada

de uma unidade exterior. Outras dentro da estrutura, p.e., do 4-3-3, por

disposição do adversário (4-4-2) com 2 ponta-de-lança mais fixos de imediato o

recuo do médio mais defensivo passa a (3) centrais, os laterais sobem ao nível

dos médios (4) e os (3) da frente que já estavam lá. Ou então pela adaptação

de marcação pelo lateral.

MC: Aquilo que eu queria era colocar-lhe a seguinte questão: se, hoje em

dia, faz mais sentido, o jogador de qualidade e cul tura a top ser um

jogador que ocupe um «posto específico», uma posiçã o específica…ou

aquilo a que se possa chamar de «polivalência de po sições»?

AO: Ocupe outro tipo de posições?! Se ele interpretar bem o domínio da

posição…porque não. Normalmente na mesma área posicional. P.e., por

necessidade táctica. O ala\lateral; o trinco\central; o médio\segundo ponta-de-

lança; médio (10) fugir da pressão – recuar para servir mais recuado…

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Anexos

XXXIX

MC: …é um entendimento colectivo do que deve ser em termos

posicionais…

AO: …logicamente. Se se faz o domínio da interpretação pela valorização e

muitas vezes as discussões de outro tipo de atributo que o jogador possa ter, a

humildade dele, a força dele, etc., etc. Se ele interpreta determinado tipo de

situações tu começas a ver ali, entre outras, cultura táctica por parte daquele

jogador, ou seja, ele momentaneamente, nas exigências da equipa e nas

necessidades da equipa, ele interpretou outra posição e nunca, agora joga

aqui, depois joga ali…. Ainda admito um ponta-de-lança jogar um bocadinho

mais recuado no sentido de fazer…normalmente um ponta-de-lança nunca faz

de 10, faz um 9,35, ou uma coisa qualquer, nunca chega lá…mas a posição e

tu se tens dois ponta-de-lança, aquele mais voluntarioso, normalmente com

uma dinâmica e com o raio maior de expressão, é o individuo que vai fazer a

quebra do trinco contrário, p.e. E tem ali uma dominante de posicionamentos

que têm a ver também com a posição dele mas também quando ele não tem a

posse da bola não é o segundo ponta-de-lança nem é o primeiro, mas é

normalmente o homem que está mais recuado e que tem que ter um

determinado tipo de comportamentos em relação à equipa contrária. Imagina,

se o trinco é um jogador que estende bem, o jogador perde a bola

imediatamente passa a ter a preocupação de cair sobre ele para quebrar a

possibilidade do adversário se organizar dali em qualidade.

MC: Julgo que já respondeu a quase todas as grandes questões...Havia

sobretudo o interesse em reunir informação sobre a sua experiência e

trabalho com as selecções…

Passou-se para um seguimento mais contínuo e efectivo da projecção

inicialmente apresentada pelo entrevistado.

AO: Repara! «Jogo, Organização. Cultura posicional e movimentações.

Qualidade e tipo de passe. Gestão, Diversificação do ritmo de jogo».

Ou seja, tu tens momentos em que tens necessidades de equilibrar e dar o

ritmo que tu entendes para o jogo. Estás a ganhar, interessaste que o

adversário venha ter contigo para se abrir mais um bocadinho para tu

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Anexos

XL

aproveitares, tu tens que ter um ritmo de jogo completamente diferente. Mas, o

resultado, logicamente reflecte ou deve reflectir, o ritmo de jogo, mas depois

este ritmo de jogo tem a ver muito com…a qualidade e tipo de passe, qualidade

e tipo de recepção, porque caso contrário…o dinamismo dá-se em função do

momento de jogo. E da qualidade que lhe podes emprestar. E é o jogador que

determina. Esse dinamismo de acção está no complemento que é qualidade do

jogador. Se ele tem a qualidade de pôr a bola lá, se é um indivíduo com a

acuidade visual, ou seja, se estás convenientemente alargado visualmente

para que ele tenha uma leitura do jogo na sua globalidade que lhe permita

saber que naquele momento ali está a haver um desequilíbrio e solicita e

respeita o desequilíbrio. O Barcelona faz isso espectacularmente, porque a

fluidez, a rapidez entre os momentos, entre os sectores, é fundamental e é isso

que abona em função daquilo que tu queres, que tu pretendes para a tua

equipa.

Continuamos a insistir que são muito mais os tais instantes, que correspondem

às transições, ou porque tu mentalmente tens que estar preparado para

recuperar porque perdeste a bola e normalmente é um grande problema das

nossas equipas, da nossa mentalidade, é que tu perdes a bola e há ali um

momento que tu ficas completamente…sem reacção. Agora se tu reagires no

colectivo! É muito mais importante isto do que outro tipo de princípio que tu

possas colocar ali! É reagir imediatamente em relação à perda de bola…É

trabalhar este tipo de situações. Colocas a situação como princípio e

subjacente ao tipo de atitude mental.

MC: À instantes quando falávamos da questão de ter um ala aberto que

deveria aparecer como um segundo ponta-de-lança, en tão no momento

da perda da bola, se for uma reacção rápida, devem ter jogadores

próximos ou relativamente próximos para pressionar de imediato após

essa perda, é mais fácil…

AO: …O problema tem a ver na relação e na qualidade entre estações: «deu-

se sequência à segunda estação», (…) onde naturalmente a pressão sobre a

bola não é tão apertada, mas esta pressão sobre a bola pode abrandar, se

aliviares para uma zona mais fluida ou para uma zona onde a qualidade de

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Anexos

XLI

transito dessa equipa te permitir que aceleres o comportamento da equipa,

automaticamente há um risco menor.

Atentámos novamente ao que vinha registado em projecção.

AO: «Desorganizado, preparar para ocupar posições que se tem que assumir».

É exactamente isso, porque quando passas de uma situação para a outra, este

espaço mental de reagir em relação a, é talvez a coisa mais importante nas

transições. A relação comportamental no respeito a tudo que é indicado e na

resposta dos comportamentos mais adequados é fundamental.

Quando recuperas, o colectivo, que é que tem de fazer? Campo grande. Se

recuperas e imediatamente como primeira opção tens uma linha de passe mais

distanciada, mais profunda, ou então sair a jogar mais pela certa…Acontece

que a falta de colaboração global condiciona o tempo de execução.

AO: (…) Mas pode ser porque um deles falhou a pressão, a importância, p.e.,

normalmente quando queres jogar em pressão alta, a importância que tem o

segundo homem da frente, o mais avançado está a fazer a pressão ao central,

se o segundo jogador atrasar o equilíbrio, se não for particularmente apto para

a tarefa…

MC: …a bola já entrou…

AO: …a maior parte já não chegou. Agora se este homem for pressionante e

determinado, logo que ela passe, ele está a quebrar uma linha de passe que

aquela equipa pode utilizar ou a recuperar e acabou. Agora a maior parte deles

não está preparado, por vezes até mentalmente, para tal tarefa…

Novo acompanhamento da informação projectada…

AO: «Transição ofensiva, Posse e Circulação da bola, qual é a transição

ataque-defesa? Mudança de mentalidade, e garantir a pressão. Às vezes

quando a gente tem o sentido do sistema, o sentido do bloco, o sentido do

trabalho, é aquilo que a equipa vai sair…é mentira! Tu tens que ter as várias

soluções, não é, sai pelo lateral, sai pelo central, sai de frente, mas não há

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Anexos

XLII

nada programável ali! Tens que ir à riqueza inteligente dos jogadores, ou se

quiseres, cultura, …, porque se o médio, o trinco com que tu sais normalmente

naquela altura ficou um bocado adormecido, tu já não sais por ele, se o

lateral…por isso tens que arranjar outro tipo de solução para que, mas

programar é difícil, trabalhar com um sentido de modelação e deixar muito à

inspiração e à qualidade. Tu tens o adversário lá.

As situações a seguir, as rotinas que ajudam na decisão, primam dos nossos

princípios de jogo, estão rotinados, sistematizados no jogo. Ajuda. Mas não é o

complemento essencial.

MC: …no sentido de saber que aquelas soluções e aqu eles

comportamentos e aquela forma de estar em termos de organização que é

estabelecida para a equipa no domínio do modelo e s eus princípios, se

isso, como falamos atrás em relação ao Barcelona de ter começado a

reconhecer naquela forma de jogar, na forma de esta r e naquilo que faz, e

nós vemos o Barcelona e parece jogar com uma determ inada identidade

que não abdica, em que é raro vê-lo preocupado com um bloco muito

baixo na sua organização defensiva e a aguardar…

AO: Agora vê o Barcelona contra o Chelsea.

MC: O Barcelona assumiu muito mais o jogo do que o Chelsea. O Chelsea

jogou um pouco daquilo que é, não digo com uma iden tidade falsa, de

reconhecer nesse sentido porque…

AO: …reconheceu a qualidade do adversário. Se tu tivesses que fazer um

resultado justo não punhas o Barcelona a ganhar!?

MC: Não.

AO: Agora tu vê. A realidade das componentes individuais do Barcelona, da

estrutura colectiva que o Barcelona tem, chocou contra uma equipa que não

tão evidenciada nas particularidades, mas que foi estruturada na maneira como

jogou e como as suas peças interpretaram bem a forma de jogar do adversário,

não foi muito como é que o Chelsea joga normalmente.

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Anexos

XLIII

MC: …eles fizeram isso também no primeiro jogo e no primeiro jogo…

também houve ali um pouco mais de tempo entre os do is jogos, digamos

que para aperfeiçoar o momento certo para poder ace rtar em cheio no

Barcelona…

AO: …é uma posição legítima, no conhecimento da outra equipa, …, porque

em campo é completamente diferente. Alguém trazer os vídeos e não sei que

mais, mas contra nós como é que vai ser? Porque nós temos: ou mais frágeis

ou mais capazes, ou maior capacidade de nos podermos gerir contra as

equipas contrárias.

Mas eu gostava que tu lesses ali: «não há situações pré-determinadas. São os

jogadores que decidem os cenários que tomam as decisões», da tua decisão-

acção, ou seja, só numa leitura forte que tu tenhas, e essa leitura tem

momentos que a própria sistematização não te responde…

MC: …o tal não programável, o instante, o aqui e ag ora…

AO: …e depois os outros factores que a gente enunciava. O problema é esse.

Ele decide em relação com os princípios, em conformidade com os princípios,

mas é ele que decide. É o momento da decisão. É a leitura que ele fez, é a

acção que ele vai determinar. E, depois, o momento da decisão dele vai

implicar primeiro com toda a equipa e não só com uma acção, que pode ser de

ordem defensiva com a profundidade própria que se pretende dar…mas, em

conformidade com a capacidade do outro lado que tem uma equipa para poder

estabelecer os desequilíbrios \ equilíbrios ou não (…).

Há momentos que, por má leitura, pode provocar toda uma incidência gravosa

na equipa, não é? E, a exemplo, diz-se assim: «Não! As rotinas ajudam nessa

decisão, os princípios do nosso modelo de jogo», «Eu tenho princípios,

estabelecidos…», mas depois há factores de decisão implícitos na tal leitura,

na decisão, na acção, em que tu vais interagir, através de determinado tipo de

situações proporcionado por um jogador. Deparar com uma série de acções

desencontradas.

MC: …a decisão de um afectou o todo…

AO: …e tu desmontas isto e tu vês que há uma série de acções, por má

interpretação, por má decisão, que te levam a este desfecho.

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Anexos

XLIV

Nova leitura na projecção.

AO: «Técnica de Passe/Recepção. Mobilidade. Trocas posicionais.»

É fundamental, porque tu podes estabelecer os tais critérios dos losangos, dos

triângulos e os demais, mas há momentos em que o grau de mobilidade que tu

tiveres para o espaço correcto é fundamental para que a bola te saia jogável.

MC: Considera que devem existir muitas trocas posic ionais? (…) Realizar

muitas trocas posicionais, alterar muito a estrutur a, considera isso…

AO: …dentro do sector, eu sou apologista. E porquê? Muito daquilo que é a

capacidade de interpretação do nosso jogador tem a ver com a saída, e tem a

ver com as linhas de passe que tu permites ou não.

MC: …mas há troca com a estrutura à partida a se ma nter mais ou

menos…

AO: …dentro do sector e, se quisermos, dentro do espaço geográfico onde o

jogador privilegia a sua posição, não é? Porque o lateral tem um espaço que

não se confina ao espaço da grande área e da grande área até à ponta, não é?

Confina-se na capacidade que ele tem, no domínio das qualidades defensivas,

para defender o que tem para defender e primeiro tem de saber defender

porque é defesa, dentro daqueles princípios mais ou menos programáveis que

possuímos, mas depois, se for um indivíduo com capacidade de trabalhar bem

a bola, de ter qualidade para organizar bem, é um indivíduo que pode

facilmente subir na sua posição e actuar a maior parte das vezes como médio

ou próximo da zona dos médios e se ainda tiver profundidade ofensiva, se for

rápido, e quando falo em rapidez não é só na rapidez na profundidade

ofensiva, mas também na capacidade que tem em recuperar uma posição

próxima da sua. O lateral, p.e., pode ocupar numa faixa de terreno lateral todas

estas posições e ocupa-as muitas vezes no interesse que a equipa tem em que

ele o faça, pela qualidade de interpretação do mesmo. Outras vezes ordens

explícitas do treinador obrigam-no a guardar mais o espaço defensivo, …, no

entanto, alguns esquecem-se das ordens…

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Anexos

XLV

MC: Mas o professor estava a dizer que, ele também tem que reconhecer

que depois há uma necessidade de voltar, ou seja, h á essa ordem

estabelecida em termos de posição…

AO: …tu não falas muito a nível do Futebol de Alta competição. Tu falas

enquanto formativo. Mas a maior parte das vezes tu tens necessidade de os

alertar para isso porque parece que se esqueceram, estás a perceber? Mas se

o lateral sobe, se o jogador de proximidade é o médio, se o adversário

recupera imediatamente a bola, o lateral está lá, quem é que deve fazer aquele

tipo de cobertura? Logicamente que primeiro é o médio e depois vai-se

organizando a equipa até chegares à última instância, mas a equipa tem que

estar sempre organizada em função das proximidades. É por isso que esse

sentido é um sentido anárquico, porque momentaneamente, a colaboração e o

efeito da cultura táctica do jogador é que vai possibilitar tu dares alguma

resposta positiva a determinado tipo de situações, nomeadamente em

desequilíbrio.

É a tal situação que, quando à bocado te falei na posição do médio no losango

ou se quiseres em qualquer sistema, o médio lateral ou médio mais interno

mas que se aproxima mais do ala, é o médio de interferência sob o plano da

profundidade ofensiva, como a gente diz, «abertura do sector», «encolhimento

do sector», «ele abriu o espaço», «ele deu profundidade ao espaço», mas, se

ele faz isto, não é o lateral que vai-lhe ocupar aquela posição! O máximo que o

lateral pode fazer é fazer aproximações à zona, entre a zona dele e a zona do

médio, para fazer o equilíbrio entre aquilo que ele tem de organizar como

médio e aquilo que ele tem de fazer como lateral.

MC: Sim.

AO: E depois… (o mesmo) a técnica do passe/recepção, a mobilidade que

levam a trocas posicionais… (retomou a leitura da projecção) «Amplitude e

Profundidade (…) Criação e aproveitamento dos espaços». Porque tu, só

mobilizando e dando dinâmica ao teu movimento é que crias um novo espaço

como é evidente. Quando desequilibras obrigas a quê? A atraíres uma nova

marcação. Se atrais uma nova marcação libertas um novo espaço. E isso, o

Messi e outros são fundamentais, porquê? Desequilibram, retiram o jogador do

equilíbrio, provocando cedências de espaços? Estás a entrar na contenção

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Anexos

XLVI

directa, mas ao mesmo tempo estás a ceder continuadamente espaços que,

novamente, ou de uma maneira mais habilidosa ou mais inteligente serão

aproveitados pelos jogadores da outra equipa.

MC: Disse atrás que dentro do sector defendia as tr ocas posicionais e

indo um pouco contra aquilo que estávamos a falar, se o jogador começa

a fazer muitas trocas, p.e., com um de outro sector , já começa a estar a

jogar noutras posições que não são o forte dele?

AO: Falámos de polivalência dinâmica. Tu tens que admitir que um médio, a

maior parte das vezes, tenha que fazer aproximações à linha de finalização.

Leu, viu que não estava lá o ala e foi ocupar o lugar do ala (…). Ora bem, se tu

tens um médio com apetência natural para fazer aproximações a uma zona de

finalização, quando estás com a posse da bola e te estás a aproximar da zona

de finalização, não tem problemas rigorosamente nenhuns que esse médio te

faça a aproximação à zona de finalização, porque está incorporado no

movimento dele aquela proximidade. E depois até podemos referir quantitativos

não é, porque há treinadores que dizem «eu quero aparecer a finalizar com 4, 5

homens». É claro, porque se tens 3 homens na frente e se tens nem que seja

um lateral a conduzir, se queres atacar com 5 homens há 2 médios que têm

que interferir naquele trabalho. Nos espaços entre o ala e o ponta-de-lança,

numa diagonal, entre o médio, numa segunda linha, numa segunda onda,

logicamente têm que estar lá. (…).

Seguiram-se outros pontos presentes na projecção que, pela sua diversidade,

careceram de uma selecção criteriosa de possibilidade de enquadramento com aquilo

vinha a ser abordado até então na entrevista e fazendo jus à temática em estudo.

AO: Quando a gente pede basculação, porque se tu estiveres bem organizado

vais fechar ou reduzir o teu campo de espaço de cobertura e vais pressionar,

logicamente, ao fazeres isso vais libertar outro sector. Agora nas componentes

qualidade de passe, na qualidade de recepção e decisão motora, muito do

nosso Futebol tem que passar obrigatoriamente por isso, pelo aperfeiçoamento

das qualidades e da velocidade que temos para aplicar as nossas decisões!

Porque a equipa está toda a ser pressionada e há ali só um espacito que está a

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Anexos

XLVII

descoberto e é esse que a gente tem, o aproveitamento desse momento

depende da qualidade deste passe, depende da recepção a tempo e orientada,

e dos níveis excelentes de execução rápida que possuímos. (…)

(complementou-se o raciocínio com o descrito na projecção)

MC: Sobre a importância daquilo que se fala do «jog o entre linhas». A

questão que estou a colocar, quando falámos de se « multiplicarem» as

linhas em que um 1-4-3-3 ser mais um 1-2-3-2-3, est ica-se, alarga-se…

AO: …no sentido da profundidade e da lateral…

MC: …e estávamos a falar dos italianos em que há eq uipas que os tempos

e movimentos de aproximação sobretudo quando jogam 3 linhas, à

partida ficam mais vulneráveis do que equipas que s e possa organizar de

uma outra forma (…)?

AO: O interesse em fomentar linhas para «formatizar» e envolver

esquematicamente a minha equipa serão reduzidos a poucos momentos no

terreno e pouco abonatórios da dinâmica de exigência colectiva na sua

participação quer defensiva quer atacante.

O problema das linhas é um problema também da interpretação que tu tens

como jogador, porque tu se fores um jogador mais criativo ou com indicações

de grande dinâmica colectiva tu abdicas das linhas e rejeitas pelo linear das

mesmas. A linha é sempre a definição de uma interpretação, uma identificação

estrutural para posicionamentos regrados que serão sempre desajustados pela

dinâmica dos adversários, (…).

A perspectiva das «entre linhas» e da cultura «entre linhas» aconselhada para

contrariar o adversário logicamente é muito diferente dos triângulos

imagináveis na cobertura geográfica do terreno, explica a sua existência para

uns e a sua extinção para outros.

Por último, após terminada a projecção que culminou com um diapositivo que

compactava os dados que o professor me vinha apresentando, deu-se como concluída

a entrevista.

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Anexos

XLVIII

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Anexos

XLIX

ANEXO III

Entrevista a Luís Freitas Lobo

Analista de Futebol

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, 01/09/2009

Milton Cerqueira (MC): Se uma equipa para ser de to p, ser de rendimento

superior, tem que ser organizada em todos os seus m omentos – atacar,

defender, transitar da defesa para o ataque e do at aque para a defesa – e

se podia esclarecer porque é que acha que para se s er top é necessário

que a equipa esteja sempre organizada tem todos os seus momentos?

Luís Freitas Lobo (LFL): Em primeiro lugar duas definições que é importante

fazeres antes. Definição do que é uma equipa de top. Se uma equipa de top é

uma equipa que compete num campeonato e fica nos primeiros 3 ou 4 lugares

ou é um equipa que compete no mesmo campeonato e fica em 14º lugar. O

Porto pode ganhar os jogos todos e ser campeão e é uma equipa de top, o

Leiria pode ganhar só 5 e não descer de divisão e cumpre os seus objectivos e

está no mesmo campeonato. Portanto são duas equipas de top? Se calhar são,

se calhar não são! Na minha leitura, uma equipa de top é uma equipa que tem

patamares sempre altos, de nível, de top, portanto não iria enquadrar essa

segunda equipa no tal Futebol de top. E porquê? Porque é uma equipa que se

desorganiza com mais facilidade, enquanto que aquelas que se mantêm mais

organizadas são aquelas que conseguem atingir níveis mais altos de

comportamento em campo, são sobretudo equipas equilibradas que têm o

controlo, não só táctico do jogo, mas sobretudo o controlo emocional. Vejo

sobretudo o jogo como o controlo dos espaços e por isso acho que as equipas

devem ser equilibradas nesses quatro momentos que referiste, por isso não

acredito, nem nunca escrevi, em equipas de ataque ou equipas de defesa,

futebol atacante ou futebol defensivo, porque é uma forma de definição que,

desde logo, quebra o jogo que por natureza é inquebrantável e nessa natureza

inquebrantável que exactamente a noção de organização, organização global,

que é no fundo, na minha leitura, uma série de ligações e de sectores, linhas

ou comportamentos no jogo que faz com que depois a equipa esteja sempre

equilibrada, que esteja sempre ligada, que tenha sempre um comportamento

orgânico em campo, em funcionamento, isto é, da mesma forma como no

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Anexos

L

corpo humano o sangue flui por todas as nossas artérias, numa equipa de

Futebol a bola também deve fluir por todas as artérias orgânicas que fazem a

equipa e isso passa exactamente pela organização. Agora, o conceito

organização é que é um conceito mais vasto. Pode-se entender como algo

estático de início, o posicionamento dos jogadores em campo, e podes depois

fazer com que seja uma organização móvel, que se vai movendo no campo,

isto é, os jogadores tenham aquilo que eu chamo uma casa táctica de origem,

que é a organização estrutural estática inicial e depois tenham uma dinâmica

de jogo mas subjacente ao ponto inicial onde começaram a correr, isto é, eles

sabem sempre onde devem regressar depois. Portanto, essa é que é a noção

de organização que eu vejo no jogo, os jogadores perceberem onde devem

começar a correr e onde depois devem regressar. Claro que esta noção de

organização para o jogador é interligada com todos os outros colegas em

campo, outra coisa será depois enquadrar essa dinâmica com a equipa

adversária e, aí assim, existe um maior risco da chamada desorganização. A

equipa perder as referências posicionais em função de outras atracções, de

outros pontos de atracção, digamos assim, que o adversário nos pode dar, isto

é, a organização do adversário. O jogo no fundo é o confronto de duas

organizações e nesse aspecto ganha quem menos se desorganizar em função

da organização adversária. Eu penso muitas vezes vendo os jogos que, talvez,

o auge de uma boa organização seja criar no adversário ou fazer com que o

adversário olhe para ti e veja uma desorganização organizada, isto é, que tu

consigas promover uma desorganização organizada na tua forma de jogar, de

forma a que o adversário pense que estás desorganizado mas manténs-te

organizado. Isso só se faz com jogadores com inteligência de jogo superior

interligada com um processo de tomada de decisões sempre correctas na

maior parte dos momentos do jogo em cada lance ao ponto dos jogadores não

estarem nas suas posições de origem, mas com isso não se desorganizarem

seja no momento da perda da bola, seja no momento de transição ofensiva,

são os momentos de maior risco, no meu ponto de vista, em que uma equipa

se pode desorganizar e ficar exposta à organização adversária.

MC: …Gostaria que me referisse o que entende então, a partir do que

disse, por organização defensiva, organização ofens iva, transição defesa-

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Anexos

LI

ataque, ataque-defesa, que normalmente se ouve fala r embora se fale

desses momentos de organização ou desorganização, d ependendo do

que se vai passando no jogo, o que entende por cada um desses

momentos?

LFL: Eu penso que isso tem a ver sobretudo com pensamentos do jogador

sobre o jogo, com pensamentos da equipa sobre o jogo, com princípios de jogo

da equipa. Não tem a ver muito com o local onde estará a bola. Digamos que

uma equipa que tem que defender bem para atacar melhor, tem de atacar bem

para defender melhor, isto é, uma equipa que está numa organização ofensiva

já pensando, contemplando, o momento de perda da bola, normalmente o

momento imediato de transição defensiva, é a equipa que está desde logo com

os quatros momentos de jogo sempre subjacentes. Numa análise sintética e

dentro da organização ofensiva será quando a equipa está em posse de bola

no meio campo adversário já numa fase de construção/definição da jogada;

organização defensiva seria não ter a bola, estar num momento de tentativa de

recuperação com as linhas mais baixas. Penso, no entanto, que uma equipa de

top, para pegar também na tua primeira definição, não deve estancar tanto

estes comportamentos e por isso a importância das transições e perceber

também que falar em transição é um conceito demasiado vago, porque há

várias formas de fazer uma transição. Muitas vezes utiliza-se o termo, e até nos

comentários, «a equipa não está a fazer bem as transições»; «uma equipa não

é forte nas transições», mas que tipo de transições? É uma transição

individual? É uma transição apoiada entre linhas? É uma transição em

segurança? Eu posso fazer uma transição defesa-ataque fazendo um passe

atrasado. Estou no fundo a fazer uma transição em segurança organizando a

minha saída de bola para depois entrar na tal organização ofensiva. Portanto,

todas estas diferenças de formas de transição são que fazem com que a

equipa esteja ou não devidamente organizada depois desses tais momentos

defensivos ou ofensivos. Ora não os consigo distinguir tanto como

compartimentos estanques, eu diria que as melhores equipas são aquelas que

conseguem sempre estabelecer nós entre uns e outros, até ao ponto de tu

muitas vezes não conseguires distinguir e a maior dificuldade que muitas vezes

até vejo, falando com treinadores e até outras pessoas que pensam o futebol

digamos assim, é distinguir a transição ofensiva da organização ofensiva,

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Anexos

LII

entrando muitas vezes o conceito de contra-ataque, quando o conceito de

contra-ataque, na minha opinião, já entra na organização ofensiva, isto é, um

contra-ataque é consequência de uma boa transição rápida ofensiva, de um

determinado tipo de transição que privilegia logo a passagem da bola no

primeiro toque para marcação ofensiva, diferente de uma transição em

segurança, de passe atrasado, ou apoiado entre linhas. Todos estes conceitos

penso que são importantes distinguir para depois, no fundo, os quatro

momentos estarem sempre presentes na cabeça de um jogador e há um quinto

momento que eu às vezes eu gosto de colocar que é que aquilo que o jogador

pensa quando a bola está longe ou até quando o jogo está parado, porque é

importante reflectir sobre o jogo. Muitas vezes o jogador só pensa na jogada ou

no jogo quando a bola se lhe aproxima, quando vê a bola a rolar para o seu

lado, nas outras vezes está a pensar na casa, no carro, na namorada, numa

segunda casa, numa segunda namorada. Este quinto momento invisível, que é

o pensamento do jogador quando a bola está longe do seu espaço, é que faz

muitas vezes as equipas de top, quantos mais jogadores tiveres assim aí sim

tens a tal equipa de top.

MC: Esse quinto momento, julga que p.e., se a equip a à partida tem que

estar enquadrada com um determinado entendimento do que é a ligação

desses quatro momentos, não deverá um jogador mesmo que esteja

afastado da bola, vamos pegar no exemplo dos jogado res de top, não terá

ele maior propensão para pensar dessa forma do que propriamente

outro? (…) Se ele não estiver envolvido com a jogad a, pode estar longe,

mas ele tem que ter um conjunto de comportamentos p ara que a equipa

faça…, porque se ele se afastar e estiver atento à namorada…

LFL: Exactamente! É por isso que eu digo, como te estava a referir, que esse

tal quinto momento que é o quinto momento invisível é o fundamental, é um

quinto momento que existe na cabeça de um jogador. Digamos que estes

quatro momentos que tu referiste e que nós identificamos facilmente no jogo,

as organizações e as transições, são momentos visíveis. O momento

confidencial, íntimo, do jogador está na cabeça dele, é a leitura dele sobre

todos estes momentos. Eu chamo-o um quinto momento, é um quinto momento

quase emocional, psicológico, inteligência, percepção que ele tem que ter no

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Anexos

LIII

jogo e é evidente que se ele não o tiver não vai conseguir ler os tais quatro

momentos da forma que eu te referi.

MC: Entrando agora para a questão do modelo e dos p rincípios, gostaria

que me referisse o que é que entende por modelo de jogo?

LFL: Por modelo de jogo entendo uma filosofia de vida, uma forma de estar na

vida. As pessoas têm uma forma de estar na vida, têm determinados princípios,

têm determinados valores, ou seja, valores de comportamento, de relações

entre as pessoas, há pessoas mais introspectivas, mais expansivas, mas há

determinados valores que tu gostas mais de expressar, sejam religiosos,

políticos, sejam de ordem afectiva, sejam o que for. No Futebol é um pouco a

mesma coisa sobre que valores tu gostas de defender! Gostas de defender o

quê? Um Futebol de passe curto, que privilegie a posse, que dê largura à

equipa, que procure depois apoios curtos e que tenha um determinado

posicionamento em campo, p.e. dos defesas em relação aos médios que

privilegiam depois um toque de bola curto? Ou preferes antes viver de outra

forma, de uma forma mais acelerada, de um passe mais longo, procurando

bolas em profundidade, não explorando tanto o passe curto, mas mais um

ataque rápido, chegar o mais rápido possível à baliza adversária, para quê

chegarmos em trinta toques se podemos chegar em três. São duas formas de

pensar, são dois modelos, duas filosofias. O sistema é algo estático, o modelo

é a forma que nos faz viver, são os nossos valores, os nossos princípios que

depois nos fazem perante situações em concreto de tomar determinada

posição. Na nossa vida nós temos os nossos modelos e os nossos valores

depois perante situações concretas da vida, religião, relações afectivas, de

trabalho, profissionais, etc., nós tomamos as nossas decisões. No Futebol é a

mesma coisa, o jogo coloca-nos problemas constantes, em determinado

momento tu vais ter que decidir, ou decides por um passe curto de primeira

instância para o colega que está ao teu lado, ou um passe longo para um

espaço vazio para um avançado ir buscar. São formas diferentes de estar na

vida, dois princípios de jogo diferentes, e são condicionados pelo quê? Pela tal

filosofia de jogo, pelo tal modelo de jogo. Há quem prefira o tal passe mais

longo, há quem prefira o passe mais curto.

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Anexos

LIV

MC: Julgando que se pode complementar face ao que f oi dito, pergunto-

lhe: Que importância dá ao modelo de jogo na organi zação do jogo de

uma equipa?

LFL: Dou toda, porque acho que a filosofia de jogo engloba todos os outros

componentes. Vejo-o como algo quase supra-natura, supra-terreno em relação

aos outros conceitos. Todos os outros conceitos têm que estar subjacentes à

tal filosofia, gosto mais de lhe chamar filosofia do que modelo, porque modelo

dá a ideia que pode ser uma coisa depois importada ao ponto de ser alterada,

«o meu modelo hoje é este e amanhã é outro», há quem diga isto, há

treinadores que dizem isto. Eu não percebo como é que a tua filosofia de vida

pode ser aqui de uma maneira e depois se fores viveres para Inglaterra lá ser

outra. Há adaptações que deves fazer, o que eu acho que é negociável não é a

tua filosofia é, digamos, a forma de a construíres, porque as circunstâncias

mudam e no caso do Futebol os jogadores mudam. Estás numa equipa em que

percebes que dificilmente vais ter uma grande posse de bola ou circulação, é

difícil começares logo a treinar essa filosofia de vida/jogo se partires logo de

uma posse de bola elevada porque não a vais ter. Portanto, tens que periodizar

essa construção de jogo a partir de patamares que se estivesses noutra

equipa, dita de top, já poderias fazer de outra forma. Se calhar, se a equipa,

noutro nível, terás de começar a construí-la primeiro, ela esconder-se dos seus

defeitos, não se expor tanto ao erro, que seria um passe de primeira instância

num bloco mais baixo, portanto, até ao jogador ganhar esses comportamentos,

ganhar essa confiança, ganhar esse índice táctico-técnico de colocar em

prática. Portanto, não é negociável a filosofia, negociável será quanto muito a

periodização da sua construção.

MC: Que relação lhe parece existir entre os princíp ios de jogo que uma

equipa tem e a funcionalidade que se quer para a eq uipa em termos de

jogo?

LFL: Mas o que é que tu queres referir com funcionalidade? Estás a referir-te

em relação a quê? Em relação às funções que os jogadores têm em campo

atribuídas pelo treinador em cada posição que ocupam?

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Anexos

LV

MC: Sim, nesse sentido. Na funcionalidade, do ponto de vista posicional e

funções a desempenhar pela equipa, isto colectivame nte e depois

individualmente pelos jogadores.

LFL: A importância dos princípios de jogo é fundamental porque senão…como

o próprio nome indica o princípio é o início, é um princípio, é algo para

começares a jogar, começares a pensar, para começares a decidir, dá-te as

bases para tu tomares decisões. Se cada espaço corresponde a uma posição e

cada posição corresponde a uma missão/função em campo, ela pede depois

determinadas características para colocar em prática e depois das

características, determinada capacidade de decisão, de pensamento, para

colocar em prática essa função definida pelo jogador, porque cada posição

depois pode ter dinâmicas diferentes conforme a filosofia e ideia do treinador,

para isso são precisos os tais princípios de jogo adquiridos. Basta saber que

quando chega àquele momento o comportamento que deve ter para resolver

aquela situação dentro das suas funções é aquele. Não se trata de transformar

o jogador num robot ou de mecanizar a sua forma de jogar, mas permitir…

MC: …os princípios para a funcionalidade de uma equ ipa são

orientadores ou até que ponto…

LFL: …são orientadores, não é?!. Devem-te dar hábitos de comportamento,

devem ser um abrigo, um refúgio, uma referência, um princípio. Não devem ser

uma rotina, uma mecânica, uma estandardização, ou uma robotização do

pensamento. Tu tens que ter a caverna de pensamento aonde te escondes,

aonde tens as tuas referências, as raízes onde tu voltas e depois tens alguma

liberdade para colocar em prática aquilo que é natural em ti. Tu quando chegas

à equipa tens as tuas características naturais: mais velocidade, mais força,

mais técnica, mais táctica. Digamos que tu tens o Futebol natural, o treinador

vai-te dar o Futebol fabricado através das suas ideias, mas sem robotizar o

jogador, tem que evitar que a rotina caia na rotina. Por isso falava-te à pouco

na desorganização organizada, isto é, o jogador conseguir promover uma

desorganização mas ter sempre presente as bases que são a organização, que

são no fundo os princípios de jogo.

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Anexos

LVI

MC: Esta próxima questão parece trazer algo também a acrescentar. Na

operacionalização desse modelo de jogo que se vai c onstruindo, qual a

importância que é atribuída às características dos jogadores?

LFL: É muito importante e indo um pouco de encontro àquilo que te estava a

referir antes, primeiro o Futebol natural que cada um tem dentro de si, de cada

jogador. Velocidade, potência, força, técnica, mais lento, mais rápido. Isso é

natural, existe antes de tudo, antes do jogo, existe só no contacto com uma

bola. Depois o Futebol fabricado que é o treinador olhar para o jogador, ter

subjacente a sua filosofia de jogo, ter subjacente o sistema que lhe permite

colocar melhor em prática, a forma de lhe dar dinâmica e depois encaixar as

características do jogador nessa forma de jogar. Penso que o maior erro que se

pode cometer é pedir a jogadores rápidos que só caminhem e pedir a

jogadores que só gostam de caminhar que voem, portanto, é algo contra-

natura, não é? Deve-se respeitar as condições naturais do jogador para ele

depois colocar melhor em prática as funções que se lhe espera. Há ali um

espaço de maleabilidade táctico-funcional, digamos assim, de cada posição

mas é algo que está muito limitado já pelas características inatas que um

jogador tem ou diria, pelos hábitos também com que ele já chega à equipa de

top, porque estamos a falar de equipas de top não estamos a falar de formação

nem de miúdos de 14 ou 13 anos, estamos a falar de jogadores feitos, não é?

E nesse caso parece-me que esse respeito pelas bases, pelas linhas

«caracterizantes», naturais, de um jogador é fundamental para que depois o

Futebol fabricado não seja uma contradição com as bases naturais.

MC: Agora dentro do contexto do modelo, (…), relati vamente então à

funcionalidade no momento organização ofensiva quer ia perguntar-lhe ou

se me poderia mencionar: quais os principais princí pios ofensivos (…)

que privilegia quando a equipa está organizada ofen sivamente em dois

momentos, no momento inicial de construção ofensiva ; e numa fase de

construção e definição de situações de finalização?

LFL: Seria no fundo a minha opção pessoal e aquilo que eu gostaria de ver

numa equipa de Futebol e pensando por mim, é nesse aspecto?

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Anexos

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MC: Sim nesse aspecto, tendo em conta a lógica que já foi colocando e eu

vou ter que o fazer para todos os momentos…

LFL: Eu tenho alguma dificuldade sinceramente em distinguir um primeiro, um

segundo ou um terceiro momento de construção. Eu acho que eles se

interligam. Eu, p.e., acho que hoje em dia uma equipa inteligente é uma equipa

que sabe perder a bola, isto pode parecer contraditório com a noção do tal

zénite do Futebol que deve ser o de ter a posse, mas uma equipa que sabe

perder a bola é uma equipa que está preparada para depois a recuperar o mais

rapidamente possível porque está bem colocada. Se calhar, esse momento a

seguir a perder a bola já é um momento de construção pré-concebida na mente

do jogador, portanto, é difícil distinguir as coisas dessa forma, pelo menos para

mim. Da mesma forma que não consigo distinguir um construtor de jogo hoje

em dia no Futebol moderno e no Futebol de top. Para mim o construtor de jogo

é o jogador que tem a bola, seja o lateral direito, seja…não é o «10». Quem

tem a bola é o construtor de jogo, se é primeira, ou segunda, ou terceira, ou a

quarta fase, em geral nós dividimos isso, primeira fase e o jogador que está é o

pivot que está a sair; a segunda fase é um momento a meio do meio campo; e

terceira fase já um momento quase de último passe, não é? Mas pegando um

pouco nisso e concedendo um pouco essas etapas, no meu ponto de vista, no

meu Futebol, eu privilegio sempre um Futebol que tenha aquilo que eu acho

que é a essência do jogo que é o passe e ligado ao passe está interligado uma

recepção orientada. Portanto, eu penso que isto é que são gestos técnicos que

depois se transformam na táctica da equipa. Gosto de dizer que a melhor

táctica de uma equipa é aquela que consegue ser a técnica dos seus

jogadores, isto é, a táctica individual de cada jogador em cada lance, saber

resolver tecnicamente mas sempre subjacente ao princípio táctico, e nesse

aspecto eu gosto sempre de ver uma equipa que construa o jogo privilegiando

a construção de uma teia de passes. Penso que a posse de bola é importante

para fazer a equipa pensar o jogo, fazer o colectivo participar e ir abrindo

espaços. O Futebol é um jogo simples, é um jogo em que uma equipa fecha

espaços e a outra tenta abrir os espaços. Penso que a melhor forma de os abrir

é com o pensamento, é com a inteligência, não é com o desgaste físico, não é

com o passe longo, não é com a força, até pode ser com a força ao minuto 90

ou 87 em que a equipa adversária está mais desgastada, acredito que esteja,

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Anexos

LVIII

mas o desgaste físico tu aguentas bem, o desgaste mental é terrível. Ainda na

sexta-feira estava a comentar o Barcelona x Shaktar Donetsk e o Shaktar,

enquanto o jogo esteve numa dimensão física, resistiu bem ao Barcelona.

Quando os jogadores foram obrigados cada vez mais a pensar, e o Barcelona

teve quase 70% de posse de bola, os espaços começaram a aparecer. Não é

porque os jogadores estivessem mal fisicamente, mas eu acho que

mentalmente a equipa já estava muito cansada, porque do outro lado esteve

uma equipa que tocou, tocou, tocou, circulou, e voltava sempre ao ponto de

início. Quando a bola não entrava naquele flanco não havia problema, a bola

regressava ao defesa central e «vamos outra vez». A equipa avançava através

de um passe atrasado, normalmente para o central, e voltava a cansar a

equipa adversária. Esta é a forma que eu gosto de ver uma equipa jogar,

ganhar ou perder é outra questão atenção. Agora, o Futebol que eu gosto, o

Futebol que eu acho que deve servir de mensagem do ponto de vista estético

até e tacticamente também eficaz, porque se tem visto que também é

produtivo, embora também tenha os seus pontos fracos, mas a verdade é que

são esses princípios de jogo que eu gosto de ver, seja numa transição seja

numa organização ofensiva, aquele que privilegia o passe e a recepção

orientada. Acho que a velocidade tem um prestígio exagerado no Futebol

actual, mais que a velocidade deve ser sobretudo a mudança da velocidade e a

pausa e depois a mudança e para isso penso que um bom passe e uma boa

recepção são a base disso e no fundo seriam esses os princípios que eu

sempre privilegiaria numa equipa aonde eu tivesse alguma influência.

MC: E, relativamente à organização defensiva, que p rincípios privilegia,

identificando tanto Futebol que observa e que anali sa? Quais seriam os

principais princípios que privilegiaria?

LFL: …A organização defensiva…privilegiaria uma equipa, como te referi, que

quando tem a bola já sabe o que fazer quando a perde, isto é, começar a

defender quando ataca e começar a atacar quando defende. Em termos de

posicionamento no campo custa-me ver um defesa central que seja muito

diferente num bloco baixo ou num bloco médio. Penso que sobretudo a relação

do jogador com a bola é fundamental. Há equipas que na organização

defensiva vêm a bola como uma ameaça, quase como uma granada e

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Anexos

LIX

chutando a bola para a bancada sentem um alívio. Privilegiaria uma

organização defensiva construtiva, digamos assim. Muitas vezes nós quando

falamos numa equipa esforçada pensamos numa equipa a defender, nós

quando pensamos em destruição pensamos numa equipa a defender. Portanto

eu acho que o conceito de destruição e esforço não têm que estar relacionados

com a organização defensiva. A criatividade e também a satisfação do jogo

também podem estar ligadas à organização defensiva. Se souberes defender

com uma relação amigável com a bola, se souberes depois ter uma noção de

construção com a bola, construindo, dando criatividade ao teu processo

defensivo, permite-te depois passar para os outros momentos do jogo com

outra forma, com outra cara. No fundo é esse o aspecto que eu acho

fundamental do que seria uma organização defensiva de uma equipa minha.

MC: Estou a ver que vai ser complicado responder at endendo aos outros

dois momentos porque a ligação que se tem feito ent re a parte…

LFL: …no fundo, se calhar, estou a responder a algumas perguntas já ou estou

a tocar em alguns aspectos…

MC: …isto porque, mais ou menos interligando, o enq uadramento como

está a fazer já vai respondendo um pouco…porque há uma interligação

entre os momentos. Mas pedia-lhe para que, como foi feito nas alíneas

anteriores, privilegiando agora os momentos de tran sição ataque-defesa e

depois defesa-ataque, acrescentar algo ao que tinha vindo a falar.

LFL: Está bem. Repara, no momento de transição defesa-ataque, como te

referi, eu não consigo identificá-lo de uma forma isolada. Pode ser feito de

várias formas, depende do jogo, depende da estratégia para aquele jogo,

depende do adversário, eu posso privilegiar uma transição mais rápida para um

determinado jogo, posso privilegiar noutra uma transição mais em segurança

com passe atrasado para depois se fazer mais rápido. Portanto, penso que isso

depende muito do lado estratégico. Isso não tem nada a ver com a filosofia de

jogo, ela está lá permanente, isto é o lado estratégico do jogo. Aí a transição

será sempre dependente do jogo que vou fazer.

Na transição ataque-defesa consigo-te identificar um pouco mais o que

é…impedir que a equipa recue, tentar recuperar a bola o mais rápido possível,

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Anexos

LX

pelo menos mais perto do local onde a perdi. Portanto, quanto mais me

aproximar durante o jogo e mais vezes no jogo dessa situação, do recuperar a

bola no local onde a perdi ou o mais perto possível, eu acho que faço melhor a

velocidade das transições e faço melhor os enquadramentos de todos os

momentos do jogo.

MC: Uma curiosidade que me suscitou…à pouco falou n a parte da

organização defensiva que, reconhecendo que seria t anto melhor quanto

mais a equipa se sentisse confortável no momento em que não tem a

bola, está preparada para a recuperar e saber o que lhe pode fazer a

seguir. Quer-se dizer com isto que há equipas que p odem ter diferentes

abordagens... (…). Pode haver uma equipa que apliqu e em determinada

zona contra um determinado adversário e abdique um bocado daquilo

que era a sua identidade e então recua porque recon hece que o outro é

mais forte e depois sente-se um pouco desconfortáve l porque não está

preparada, (…), como se entrasse um vírus dentro da quilo que é o

organismo habitual da própria equipa…

LFL: No fundo aí está a mudar a filosofia da equipa…nesse aspecto. Quando

falaste em identidade isso é a tal filosofia, não é. Isso é o risco máximo que

uma equipa pode correr é alterar a sua identidade. Quando te referi saber

perder a bola é importante para a equipa a recuperar não é para a equipa viver

sem ela. É saber estar nos locais certos para a recuperar automaticamente.

Agora, esse tipo de equipas que tu falas também existe, mas são equipas que,

por estranho que pareça, sentem-se mais confortáveis quando não têm a bola

do que quando a têm, mas isso já é outra filosofia de vida, de jogo, já é outro

modelo. Penso que não é só uma questão de sistema ou uma questão

estratégica, há mesmo uma filosofia que privilegia não ter a bola em muitos

momentos, o perigo depois é as equipas quase ficarem, quase parecerem,

mais perigosas quando não a têm do que quando a recuperam, isto é, a equipa

faz um esforço tremendo para recuperar a bola e depois perde-a com uma

facilidade também impressionante ao fim de 2 ou 3 toques, ou então privilegia

logo tentar chegar rapidamente à baliza adversária em 3 ou 4 passes mais

longos para não «desposicionar» as suas linhas defensivas. As equipas

italianas médias-baixas, digamos assim, fazem um pouco isso. O campeonato

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Anexos

LXI

italiano tem equipas infestadas dessa forma. Olhas para a cara dos jogadores

durante os 90 minutos e eles estão tranquilos, sentem-se bem. Estão a

defender alegremente durante 90 minutos. É uma filosofia de vida diferente em

que dificilmente tu vais conseguir ver uma equipa inglesa, e nem digo só feita

de jogadores ingleses, porque hoje em dia isso já quase não existe, mas as

equipas do campeonato inglês fazem a mesma coisa, e mesmo que fossem

obrigadas em algum momento do jogo a fazerem isso, com a mesma cara de

satisfação ou com o mesmo equilíbrio emocional e depois táctico no jogo. São

filosofias diferentes e no fundo vai encaixar naquilo que tu

referiste…identidade, que é fundamental, as equipas italianas têm uma

identidade muito forte para o bem e para o mal nesse ponto de vista.

MC: Fazendo um enquadramento com a organização estr utural/posicional

que a equipa apresenta, qual o papel que atribui a essa organização no

futebol praticado por uma equipa?

LFL: Estás a falar do «sistema de jogo», digamos assim, na estrutura não é?!

Naquilo que é a estrutura digamos assim, não é?! Eu atribuiu-lhe muita

importância. Muitas vezes oiço dizer que «o importante é a dinâmica». Eu acho

que não, acho que importante é o jogo posicional, o importante é onde

começamos a correr, o importante é onde estamos para iniciar determinada

acção. Mesmo o maior dos génios se não estiver no local certo para colocar em

prática a sua genialidade de nada serve. Portanto, o mais importante é os

jogadores estarem bem colocados posicionalmente para darem dinâmica

depois às funções que cada um tem e à filosofia de jogo global. A base é o jogo

posicional, estarem nos sítios certos, a casa táctica, isso dá-lhes referências de

passe, da criação de linhas de passe, e dá-lhes também o ponto de referência

(como eu te referia também numa das primeiras respostas), a casa táctica

onde eles regressam quando aquela jogada acaba. Portanto, é uma estrutura

estática mas é a nossa casa táctica desde a qual começamos correr e para

onde regressamos quando a jogada acaba. Dificilmente me vês elogiar uma

equipa porque faz muitas trocas posicionais, é um conceito demasiado vago.

Trocas posicionais mas como? O ponta-de-lança entra nas costas do extremo,

o lateral entra nas costas do extremo quando vem para dentro, há aqui uma

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Anexos

LXII

pequena sociedade que pode ser criada, agora a base são jogadores

posicionais, isto é, é haver um respeito pelas posições.

MC: Considera ser mais adequado para uma equipa res tringir-se a uma

determinada estrutura ou, p.e, variar de jogo para jogo? Imaginemos,

neste jogo a equipa joga em 1-4-4-2 e para a semana , no próximo jogo,

joga em 1-4-3-3… Qual é a sua opinião?

LFL: A minha opinião é que é impossível treinar vários sistemas ao mesmo

tempo, mas é possível, e deve-se, e é aconselhado, e é obrigatório, numa

equipa de top ela conseguir desenhar vários sistemas, não de jogo para jogo,

mas no mesmo jogo. Isto é, estás na bancada com a máquina fotográfica e vais

tirando fotografias e de repente tu olhas para ali, «pá, isto é um 4-4-2 losango»,

depois de repente não, «isto é um 4-3-3» noutra fotografia, e noutra fotografia a

seguir não, «isto afinal é um 4-5-1». Há no fundo um acompanhamento dos

jogadores do jogo e da bola e do adversário e das circunstâncias que rodeiam

todos estes factores. Penso que uma equipa de top é uma equipa que

consegue desdobrar-se em vários sistemas. Tem, como te referi, e isso é

fundamental, a estrutura inicial, a casa táctica inicial, onde os jogadores

regressam, onde os jogadores começam a correr, mas depois durante o jogo é

fundamental que eles consigam desenhar outros sistemas, porque de outra

forma não ocupariam os espaços da forma mais correcta conforme o jogo lhes

pede nos diferentes momentos. Portanto, o melhor sistema é aquele que

desenha mais sistemas ao longo do jogo, ou melhor, a melhor estrutura é

aquela que vai desenhando mais estruturas ao longo do jogo sem perder a

referência da inicial.

MC: Depois da experiência daquilo que tem visto, ju lga que aquelas

equipas que vão alterando posicionalmente essa tal casa táctica inicial,

que faz alterações de jogo para jogo, se é que é po ssível estabelecer

correlação, têm tido resultados…

LFL: Não. Repara uma coisa, eu percebo a tua pergunta e acho que até posso

me ter explicado mal ou… Eu não estou a defender com isto que uma equipa

deva jogar em diferentes sistemas, nem estou a dizer que uma equipa hoje

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Anexos

LXIII

deva jogar com 3 centrais com laterais a subir e amanhã joga em 4-4-2 e

depois joga em 4-3-3. Isso em vez de criar confusão ao adversário vou…

MC: …é isso. Não! Eu não percebi isso, eu percebi q ue, à partida, há uma

estrutura de referência e depois partem para outras durante o jogo,

digamos que a estrutura se torna moldável e que dep ois volta, mas é

certo que há treinadores que numa semana, e sobretu do muito fruto da

parte estratégica, que perante diferentes adversári os abdicam e se

posicionam de outras formas…E estava-lhe a pergunta r se vai

reconhecendo nessa forma de actuar resultados?

LFL: Não, não conheço sinceramente. Porque nisso reconheço sobretudo a

falta de identidade, a maior parte das vezes. Embora tu possas ter a mesma

filosofia com estruturas diferentes, é difícil, no entanto, andar a alterar a

estrutura de jogo para jogo. Estar a jogar equipas diferentes em estruturas

diferentes com a mesma filosofia, agora a mesma equipa alterar a estrutura de

jogo para jogo é complicadíssimo. No fundo, eu penso que seria sempre alterar

as casas tácticas onde os jogadores moram, retirar-lhes as referências e

impedir que eles criem os princípios de jogo para depois colocar em prática a

filosofia de jogo do treinador. Isso repara, acontece muito, mas não me parece

que alguma equipa de top o faça, portanto, há sempre um respeito por uma

estrutura base e a partir daí…o que é mais estranho é veres que são as

equipas pequenas que, se calhar, são as equipas que têm menos capacidade

individual de as colocar em prática que se adaptam mais ao adversário. Isso

dá-se no futebol italiano e o futebol português é um pouco isso. E novamente a

tal palavra que tu utilizaste, identidade. Eu acho que um dos problemas das

nossas equipas muitas das vezes é esse. Eu acho que nós hoje temos mais

equipas de estratégia do que equipas com identidade. Já o escrevi à pouco

tempo, eu penso que nós temos globalmente, cada caso depois será um caso,

numa equipa portuguesa média, 30% de identidade e 70% de maleabilidade

estratégica de jogo para jogo e muita desta maleabilidade estratégica não está

só no posicionamento de um jogador ou num princípio ou outro, está numa

alteração de estrutura e isso, sinceramente, acho que impede a médio prazo

que a equipa seja uma equipa de top.

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Anexos

LXIV

MC: Só para acrescentar, que estruturas de jogo pen sa que poderão vir a

surgir no futuro (…)?

LFL: Cada vez mais as boas equipas são aquelas que ocupam melhor as

zonas de transição. O meio campo é cada vez mais o melhor sítio para

conhecer gente interessante no Futebol e para encontrar mais jogadores

durante um jogo. Eu penso que, cada vez mais, as estruturas no futuro vão

privilegiar os médios. Não acredito nas polivalências a nível de Futebol de top,

acredito em especialistas. A questão hoje em dia não passaria pelas grandes

referências de posição que temos e nesses especialistas aqueles que eu acho

que vão mandar no futuro serão os médios, no fundo, aqueles que têm que

pensar defesa-ataque, transições. Não sei. Mas no futuro, ver uma equipa a

jogar em 4-6-0, p.e., a nível de estrutura inicial não é algo tão descabido…

MC: …algo que já foi falado…

LFL: …já foi falado várias vezes e eu penso que no fundo tem a ver com a

questão da ocupação do meio campo, dos médios. Custa-me muito ver laterais

a médios, adaptados a médios, custa-me muito ver avançados sacrificados

para jogar a médio, porque acho que o médio, para ser médio é preciso saber

pensar como médio, um lateral a pensar como médio é muito difícil, porque há

ali um subconsciente de princípio de jogo que depois não se vai adaptar. Uma

noção tão global de jogo que eu acho que vai marcar as estruturas do futuro é

a especialização cada vez mais dos médios.

MC: (…) Tendo em conta aquilo que foi dito sobre a funcionalidade

colectiva, parece-lhe existir alguma distribuição, ou posicionamento,

colectiva da equipa em campo que potencie cada mome nto do jogo (…)?

LFL: Deve existir mais um respeito pelas características dos jogadores em

cada posição, isto é, eu acho que deves ter defesas que defendam e atacam e

não defesas que atacam e defendam. Deves ter avançados que atacam e

defendem e não que defendem e atacam. Com isto quero dizer o quê? Quero

dizer que tendo estes princípios nos jogadores individualmente, têm depois

uma aplicação no colectivo equilibrada para esses momentos e permitem que o

defesa, pensando primeiro em defender, sendo a primeira missão que está na

sua cabeça, esteja equilibrado no jogo, que permita equilibrar a equipa no

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Anexos

LXV

momento em que não tem a bola ou no momento em que a está a tentar

recuperar digamos assim, é melhor dizer assim. Nesse momento também

deverão pensar algo exactamente ao contrário os avançados, isto é, deixar de

atacar e pensar também na defensiva, deixar o princípio do seu pensamento

para ter o inverso, portanto isso fará com que a equipa nesse momento tenha

uma exteriorização posicional mais forte para recuperar a bola que

obrigatoriamente estará nesse momento mais próxima do seu meio campo, da

sua baliza, da sua área. Em termos de estrutura, eu penso que o importante é

conseguires ter sempre uma superioridade numérica zonal em cada espaço do

relvado. Claro que há depois diferenças de cada jogo em concreto e de cada

adversário que tu defrontas, mas numa visão global, digamos assim, em que

me estás a pedir tenho dificuldade em ver alguma estrutura que seja

equilibrada, p.e., no momento defensivo, que não consiga ter 4 médios e

defesas que defendam mesmo. P.e., quando vejo treinadores a dizerem que

querem atacar mais e jogar com laterais ofensivos e com 3 centrais p.e.,

porque não ou não é melhor jogar com 4 defesas mesmo, defesas laterais que

defendam mesmo que é diferente de um lateral puro, e permitir que os médios

tenham uma liberdade mais ofensiva, não tão encarregues do momento

defensivo, jogar mesmo com 4 defesas. E tens um meio campo mais

equilibrado e tens a equipa mais equilibrada, portanto em termos de estrutura 4

médios pelo menos no momento da perda da bola e a defesa completa a

fechar os flancos penso que isso é o fundamental.

MC: …Partindo do pressuposto que esta é uma equipa de top e que

poderá perder a bola muitas vezes já no meio campo adversário, se for

um meio campo com 4, a questão é: esses 4 posiciona dos de que forma?

(…) Ao colocar-se p.e. 4 médios, se esta relação, e ntre defender-se o mais

à frente possível ou mais recuado, faz algum sentid o a questão estrutural

e da organização dos jogadores (…)?

LFL: Sim. Quando refiro 4 médios não estou a imaginar os 4 médios em linha,

estou a imaginar quanto maior o número de linhas que tu conseguires criar

melhor, porque, por princípio, conseguirás ocupar mais zonas do relvado, mais

espaços, em largura também. Mas também depende de como vai jogar o

adversário, se o adversário não der largura ao seu jogo e tiver outro tipo de

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Anexos

LXVI

estratégia é evidente que o jogo vai escoar de outra forma. Agora,

fundamentalmente é teres várias linhas e sobretudo, e é fundamental, aguentar

a distância entre elas, isto é, nunca dar espaço entre linhas ao adversário.

Esse é que é o ponto fundamental para se desequilibrar as equipas e as

estruturas e o jogo posicional e tudo o que está relacionado com isso, é o

espaço entre linhas. Quantas mais linhas tiveres melhor, mas aguentando a

distância.

MC: Já vi que vê vantagem em se jogar com mais linh as, porque a

próxima questão era esta: se vê alguma vantagem em se jogar com mais

ou menos «linhas», longitudinais ou transversais, p ara se jogar ou

entende ser unicamente da preferência do treinador?

LFL: Penso que sim, mais linhas. Agora há treinadores que depois têm outra

ideia de jogo não é, que privilegiam uma distância até excessiva entre linhas e

a tal transição individual que leva os jogadores a «queimar linhas», utiliza-se

muito o termo «queimar linhas», mas são outras filosofias não é, mas parece-

me que a melhor ou que pelo menos aquela que vai de encontro ao meu

futebol seria essa e que me daria mais gosto em ganhar assim, mas isto…

como te referi ganhar e perder é outra questão.

MC: Só para comentar, porque acho que vem complemen tar um pouco, a

seguinte afirmação: “Os triângulos são formas geométricas evoluídas de

posicionar os jogadores em campo.”

LFL: São formas evoluídas? Eu penso que todas as formas geométricas podem

ser evoluídas em campo. Um círculo pode ser evoluído, conseguires circular de

forma a bola pelo campo, por trás, por 3 ou 4 jogadores é uma forma evoluída.

O triângulo, a triangulação, a tabela, é a base do movimento do Futebol. Se

estiveres sozinho com a bola se calhar tabelas a bola com a parede, portanto,

é a coisa mais primitiva que existe. Eu penso que o triângulo é uma forma

evoluída que faz regressar o Futebol às raízes exactamente. É a forma mais

simples de jogar futebol, mas também a forma mais difícil de a colocar em

prática depois em campo e exige uma sincronização perfeita passe-recepção-

passe.

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Anexos

LXVII

MC: Ainda à bocado falava da questão da polivalênci a e a próxima

questão tem a ver com isso. Actualmente acha que o jogador de cultura e

com qualidade superior tem elevados desempenhos num «posto

específico» ou um jogador que cumpra uma «polivalência» de posições?

E porque é que acha isso?

LFL: Penso que mais importante do que fazer várias posições é fazer a mesma

posição de formas diferentes. Isso é que eu acho que é o jogador de top. Um

jogador que joga a lateral, depois joga a médio, depois joga a lateral,

dificilmente vou ver ali uma grande referência de qualidade para uma dessas

posições. Penso que a referência de qualidade tem a ver com a especialização.

A especialização depois permite que o jogador faça a mesma posição de

formas diferentes. Seja o defesa lateral que fica mais, marca, segura, joga mais

curto, fecha por dentro, em função do que o treinador lhe pede ou do que o

jogo lhe pede, ou então um lateral que saia a jogar de outra forma, mais

ofensivo, de forma mais de apoio e de circulação à bola ali no meio campo, que

entra mais nas triangulações no jogo dos triângulos a atacar. Cada jogo pede

posições a nível de posição, mas funções diferentes. Este é que eu acho que

deve ser o jogador de futuro, o upgrade posicional constante, fazer mais coisas

dentro da sua posição, conhecer cada vez mais os espaços adjacentes à sua

posição, não é jogar em posições diferentes. A maior parte das vezes vemos

um jogador que é um bom central e um vulgar lateral, agora penso que

devemos é especializar aquilo que ele tem de bom. O objectivo deve ser que tu

durante o jogo faças mais vezes aquilo que fazes bem e seres obrigado menos

vezes àquilo que fazes mal ou menos bem e isso passa-se exactamente pela

colocação de um jogador, pela especialização cada vez mais de um jogador,

na posição onde ele tem as suas condições naturais para ele aparecer melhor.

O futuro para mim do futebol de top, do jogador de top é a especialização.

(…) Deixa-me só referir…muitas vezes se diz, «Eu quero dois jogadores para a

mesma posição», e gente fica, «Mas o quê? Dois clones?». Portanto, se calhar,

dois jogadores mas com características diferentes para a mesma posição,

posso ter um lateral mais posicional e um lateral que saia melhor a jogar.

Nesse aspecto é preciso ver, não é que faça a mesma função, faça a mesma

posição mas de formas diferentes.

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Anexos

LXVIII

MC: Aí, e percebendo em termos de funções, associam os as funções

àquilo que é o estabelecido em termos de princípios para a equipa e

depois pode é variar consoante as características q ue o jogador tem?

LFL: Claro.

MC: Vamos então para a parte final. Só para exempli ficar, optando por

uma distribuição posicional da equipa e atendendo a esses

posicionamentos, se poderia referir-nos e estabelec er as «linhas» de

referência da organização estrutural da equipa no m omento de iniciação à

construção do jogo ofensivo como falámos à pouco (… ) e no momento de

construção e definição de situações de finalização (…)?

LFL: Primeiro ponto: os jogadores verem-se uns aos outros, estarem próximos

no momento de saída de bola pelo menos, vou utilizar o teu termo, de início de

construção, de primeira fase de construção, estarem quanto mais próximos

quanto mais estiverem no início de construção; e segundo ponto, o portador da

bola ter pelo menos, na pior das hipóteses, sempre duas opções sobre o que

lhe fazer, a nível de passe, a nível de temporização, a nível de outra forma de

jogar. Se pensarmos, p.e., numa estrutura de 4-3-3, privilegiaria sempre a

existência só de um pivot. Tenho muita dificuldade em ver equipas com dois

pivots de top, uma coisa que não existe embora a história também as tenha,

mas eu gosto de ver o pivot como um farol e não lhe estou a colocar um rótulo

defensivo, estou a falar de pivot e sempre que vejo jogar dois pivots acho

sempre que pelo menos um deles deve ter um olho tapado, porque vai-lhe

tapar o espaço, a amplitude para sair a jogar. Depois, a construção de jogo

com os jogadores próximos como te referi e a importância depois de, mesmo

este 4-3-3, e estão lá três médios no fundo, independentemente aqui de criares

duas linhas de início com o triângulo, a importância de surgir aqui um quarto

homem, um quarto médio, ou um quarto jogador que ocupe um espaço

intermediário. E esse jogador é que eu acho que vai ser fundamental para ser,

em muitas jogadas, o terceiro homem que pode baralhar a equipa adversária,

penso que isso pode ser feito ou com o baixar um pouquinho do «9», do ponta-

de-lança, ou um dos alas a vir para dentro. Aí já tinhas a bola na tal segunda

fase de construção, pode ser encarada aí como a entrada no meio campo

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Anexos

LXIX

adversário até meio do seu meio campo, em que novamente os jogadores se

podem ver uns aos outros mas procurando aqui já sobretudo a largura…

MC: …o campo mais amplo…

LFL: …exactamente. Abrir mais o campo, porque só depois de dar largura é

que também lhe podes procurar a profundidade, profundidade também pelo

flanco ao mesmo tempo, dependendo evidentemente do lado para onde a bola

roda, existir a basculação da equipa toda e o acompanhamento do outro

jogador mais adiantado, portanto aquele que fica mais adiantado. Se neste

caso fosse o ponta-de-lança, que tem que procurar depois os movimentos sem

bola que vão dar referências de passe, e depois existir uma coisa, não um

cruzamento para a área mas um passe para o jogador que está na área que

são duas coisas completamente diferentes.

Em todos estes momentos em que o jogador manteve a bola, o médio ter a

bola muitas vezes, isto é, tocar a bola várias vezes mas tê-la o menos tempo

possível, isso aplica-se também ao avançado que naquela altura ocupou o

espaço intermediário, e existir a tal construção apoiada que tenha o ponto de

início, de referência, o centro, mas que depois consiga facilmente reconhecer

os espaços de penetração nos flancos e se não o reconhecer no flanco, saber

regressar novamente ao centro e tentar pelo outro lado. Para isso é

fundamental, para além dos médios saberem fazer movimentos verticais, ter

pelo menos um dos alas que saiba jogar por dentro e pode inclusive permitir

abrir a faixa a um dos laterais e dar mais referências de circulação à equipa

adversária. Penso que mesmo este posicionamento e agora quando a equipa

perdeu a bola neste processo, portanto, estava a correr tão bem e perdeu a

bola, penso que com este posicionamento vai-te apanhar a equipa na mesma

equilibrada do ponto de vista de largura e da ocupação dos espaços. Não vai-te

apanhar a equipa «desposicionada» em termos espaciais e para dar

velocidade de transição defesa-ataque à equipa adversária, isto é, a equipa

saberá perder a bola, saberá reposicionar-se automaticamente para

tapar/recuperar um espaço mais adiantado do terreno. Neste posicionamento

mais arriscado, digamos assim, de um lateral poderá ser compensado com a

questão, ou seja, a utilização do, do…

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Anexos

LXX

MC: …do pivot?

LFL: Do pivot ou do outro médio mais interior até, como é evidente ficar um

pouco mais recuado, a baixar mais um pouquinho quando o ala veio para

dentro. Portanto, isto numa análise muito global é uma estrutura que quando a

ver em movimento, que se moldou em várias estruturas, que soube ter a bola

para construir, que a perdeu – que é a única coisa inevitável no jogo porque o

golo é raro, portanto a maior parte das vezes perdes a bola – e soube depois

colocar-se, isto é, o chip mental «tenho a bola, perdi a bola» foi

automaticamente activado na cabeça dos jogadores e eles não perderam o

controlo.

MC: Há então o reconhecimento aí da importância das várias «linhas»

para os jogadores estarem próximos para interligare m os diferentes

momentos?

LFL: Não só de várias linhas, mas sobretudo da distância das várias linhas e

aguentar a distância entre as várias linhas. Não criar espaços entre elas onde o

adversário possa entrar. Tipo vírus, utilizando um termo que tu utilizaste há

bocado, na nossa organização. Aguentar a distância entre linhas é

fundamental…

MC: …de certa forma, já acabou por fazer a parte da transição defensiva,

penso eu…

LFL: …sim, sim…

MC: …em que reconhece sobretudo a importância posic ional dos

jogadores, embora a equipa se tenha, digamos, «defo rmado» para tentar

aproveitar os espaços e criar situações de finaliza ção, havendo sempre

referências posicionais ocupadas para o momento da perda, em que julgo

que aí as referências que colocava eram essas, com o facto de, após o

momento, os jogadores poderem-se aproximar e rapida mente colocar

pressão na zona da bola, no portador da bola, julgo que serão essas as

referências que colocaria passando agora para o mom ento de transição

defensiva?! Não sei se gostaria de acrescentar…

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Anexos

LXXI

LFL: Não. Sim é exactamente isso. Estava-te a referir…a referência de pressão

não ser individualizada atenção, existe aqui uma noção colectiva…

MC: …daí a importância da distância entre «linhas»…

LFL: …exactamente. E os jogadores verem-se uns aos outros. E existir essa

noção de pequenas sociedades que existem em cada espaço do terreno, (…),

uma equipa tem que ser solidária, digamos assim, e quando digo solidária tem

a ver com perceber a ocupação dos espaços uns dos outros e a forma dessa

tal «deformação», que se pode conferir em alguns momentos como

desorganização, seja sempre uma desorganização organizada e esse é que é

o segredo das equipas de top. Porque, quando se desorganizam é só

aparentemente, não condiciona depois o momento subsequente de jogo,

porque há muitas equipas que para defenderem bem comprometem depois o

momento ofensivo, porque «desposicionam» de tal forma os jogadores que

depois já não conseguem colocar em prática o momento de transição ou o

momento de organização. Isso é que faz a equipa afastar-se da tal noção de

top. Noção de top são as equipas que conseguem fazer essa tal nuance

estratégica que os jogos às vezes pedem, de posicionamento de um jogador,

mas conseguem manter na mesma activados os seus princípios de transição,

ou seja, sobretudo a transição defesa-ataque.

MC: Quando falou da parte, não sei se dá para acres centar ou não, da

importância da superioridade numérica, se possível, nos locais da bola

para se construir o jogo ofensivo. Na transição def ensiva considera ser

desde logo importante a criação de uma superioridad e numérica nessa

pressão?

LFL: É importante, mas uma equipa não deve entrar em pânico se isso não

acontecer, não é?! Porque, como te referi, o momento de perda pode implicar

sempre um momento de desorganização posicional e momentaneamente teres

ali uma inferioridade numérica. Agora, o que eu penso é que a equipa tem que

estar preparada para reagir a esse momento e torná-lo o mais curto possível.

Aí está a velocidade das transições, portanto as equipas que as conseguirem

fazer de forma mais rápida são as equipas que estão mais próximas então do

tal top.

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Anexos

LXXII

MC: Já estamos na parte da organização defensiva e utilizando a base

estrutural que estamos a falar agora, quais julga s erem as referências que

deve ter uma equipa quando está organizada defensiv amente?

LFL: As referências? Mas estás a falar em que sentido?

MC: Estamos a falar em termos de posicionamento, da s «linhas» de

referência, de uma certa organização estrutural, qu ais são as «linhas» que

deve ter, «linhas» de referência para a equipa se o rganizar de acordo com

essa estrutura, organizar-se defensivamente…

LFL: …no fundo as referências têm que ser os espaços que os jogadores

devem ocupar. Os jogadores têm que ter a noção da ocupação espacial que

lhes permite situações de cobertura/recuperação de bola. A organização

defensiva implica o momento em que o jogador pensa no jogo sem a bola, mas

já é um tanto pré-conceber a posse na sua recuperação e deve-se preparar

para um pressing construtivo, digamos assim, e não um pressing meramente

destrutivo, conseguir uma recuperação que ponha a equipa logo a avançar no

terreno, fazer uma transição defesa-ataque e não meramente um pressing

neutralizado que visa não a recuperação mas apenas o desarme ou o corte do

adversário. Em termos de estrutura ou em termos de linhas é evidente que uma

equipa que a defender consiga ainda estar mais compacta, ou seja, fazer o

chamado «campo pequeno», à partida está a retirar espaços ao adversário,

está a cobri-los de melhor forma, está a encurtar mais a distância entre as suas

linhas, depois tem que ser um pouco «camaleão» quando recupera a bola e

volta a alargar o jogo e o campo um pouco maior, mas a nível defensivo o

fundamental é, primeiro o espaço, depois ter essa maleabilidade em função de

onde «rouba» a bola e segui-la, mas nunca ser atraído por ela, isto é, muitas

vezes a maior parte das equipas que defendem perante equipas adversárias

que circulam bem a bola é serem atraídas pelo erro, quase como o «pássaro

pela serpente», a bola acaba…

MC: …mas não deve existir um enquadramento também e ntre bola-

espaço?

LFL: É. Exactamente. Mas sem te atraíres pela bola. Isto é, tu deves aguentar

a posição, deves aguentar o espaço, deves aguentar a distância entre linhas.

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Anexos

LXXIII

Muitas vezes uma equipa adversária que está à tua frente a rodar a bola vai-te

fazendo dançar até ao momento em que tu te atrais pela bola para a tentar

recuperar. A maior parte das vezes o que acontece aí é que tu para tentares

recuperar a bola saíste do teu espaço, portanto, perdeste a referência inicial e

a equipa adversária aproveita então o espaço livre que acabou por ser criado

por mérito da equipa que circulou a bola, por criá-lo, e demérito da tua equipa

que foi atraída pela bola (…), foste atraído pelo movimento para ir buscar a

bola num espaço que não era o teu espaço defensivo, era o espaço da equipa

adversária ter a bola, tu, quando estavas a controlar o jogo ou a controlar a

jogada mesmo sem a bola. Portanto, em organização defensiva, o mais

importante é aguentar o espaço, enquanto aguentares o espaço e a bola não

estiver nesse tal espaço de risco tens o lance controlado…

MC: …outra coisa que talvez se possa associar com a s referências é o

falar-se em «juntar linhas». Estou a perguntar isto porque à pouco

estávamos a falar da tal distância e aproximação en tre as «linhas», às

vezes o «juntar linhas» não se pode associar, p.e., a uma equipa que joga

com muitas «linhas» e depois passam a jogar em duas ou três «linhas» e

que têm que estar ali os jogadores todos muito próx imos? (…) Sendo que

há equipas que se posicionam apostadas mais na ampl itude e outras

mais em profundidade, definindo neste sentido mais ou menos «linhas»

de acordo com a profundidade que estabelecem…

LFL: …o início da pergunta estavas a falar no termo «juntar linhas». «Juntar

linhas» é sobrepor linhas e aí…tu deves aproximar as linhas não deves juntar

as linhas. Do aproximar a juntar há ali uma subversão da ordem, quer dizer, ali

uma, começam a ficar submersas umas com as outras, portanto o que tem que

existir é uma aproximação que permita, como te referi, os jogadores verem-se

uns aos outros. A questão das linhas, são algo visível, não se desenham

exactamente dessa forma, mas é um termo que se aplica sobretudo à distância

de passe que existe entre jogadores, à visão dos jogadores uns dos outros, à

capacidade de desenharem linhas de passe, a equipa, portanto é isso, lá está

linhas de passe linhas, tem a ver com a proximidade. O juntar… muitas vezes

uma equipa, e há muitas equipas que confundem pressão com aglomeração

p.e., muitas vezes vejo equipas com muitos jogadores em determinado espaço

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Anexos

LXXIV

do terreno e oiço dizer que «estão a fazer uma forte zona de pressão» e maior

parte das vezes estão a fazer uma forte zona de aglomeração porque não se

identifica ali depois uma noção de pressão ou de pressing colectiva não é, e

basta um passe vertical depois interior para se perceber que é uma mera

aglomeração portanto, e as linhas estão juntas não é? Há ali uma confusão de

linhas, até ao ponto de elas já não existirem, há um novelo de linhas quase,

portanto aproximá-las é que é fundamental e treiná-las como zona de pressão

e não treiná-las como uma zona de aglomeração.

MC: (…) Ainda recentemente colocaram uma questão re lativamente à

existência de jogadores fora da sua estrutura, que às vezes há jogadores,

sobretudo os mais avançados porque não é uma zona t ão perigosa, não

actuam em zonas próximas da baliza que nós defendem os, que há

jogadores que, também pelas suas características, à s vezes estão fora da

estrutura, trabalham colectivamente para a estrutur a, mas a equipa não

está tão posicionada…

LFL: A questão que tu te referes e a abordagem que tu fizeste tem vários

pontos algo cinzentos, isto é, o colocares um jogador fora ou alheado ou

menos participativo num processo defensivo, referiste-te no caso do avançado,

pode ser um perigo, pode ser perigoso, isto é, pode ter como consequência

depois aqueles todos, 4, 5, 6, 7, aqueles que tu achas que estão mais

entregues à missão defensiva fiquem muito mais expostos, isto é, o avançado

pode pensar apenas ¼ do jogo defensivo, se calhar aquele é o princípio, a ser

bola do adversário, p.e. se o ponta-de-lança não for pressionar o central que

sai a jogar eu acho suficiente para que a tua defesa, as tuas linhas, recuem

mais não é?! Isto é, desde logo fundamental o papel do ponta-de-lança. Se ele

o fizer permite que a tua equipa suba mais, estica as linhas da equipa, as

diferentes linhas, até estou a pensar aqui mais na recuada. Portanto, todo esse

comportamento, nunca pode existir num jogador estanque ou fora do

comportamento colectivo, só aparentemente pode parecer que está alheado e

participar menos, mas o menos pode ser o mais aqui e pode comprometer o

mais mesmo em termos depois do que é visível à organização defensiva

quando a bola está próxima da tua área, muito do que estás a sofrer depois

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Anexos

LXXV

deve-se ao tal ponta-de-lança em vez de pressionar ficar a pensar na

namorada ou na casa, portanto, e não ter ido lá.

MC: E partindo então agora para uma fase de ligação de uma equipa que

estivesse em organização defensiva para a sua trans ição ofensiva, que

«linhas» de referência teria atendendo a esse momen to de transição (…)?

LFL: No fundo, volto-te a dizer a proximidade dos jogadores no momento de

saída da bola, salientar novamente a distância entre linhas… depende…Há

aqui várias noções que eu penso que na dinâmica de uma estrutura…sem

subverter nunca o sistema, tu podes, como te referi já antes, distinguir várias

formas de transição e isso eu acho que vai determinar desde logo o

posicionamento das linhas e dos jogadores no desenhar dessas linhas, nessas

sequentes linhas de passe. P.e., nesse momento de saída a primeira tentação

poderia ser alargar logo as linhas. Recuperamos a bola, neste momento já não

há tanta necessidade de aguentar a distância porque estamos em posse,

portanto, tu podes perder a bola e depois entretanto juntamo-nos outra vez,

portanto a equipa deve resistir nesse primeiro momento a alargar tanto as

linhas, isto é, deve existir de facto um ou dois jogadores que automaticamente

na minha opinião dêem largura, isto é que permitam que o campo fique

automaticamente maior em termos de possibilidade de construir a fase

atacante porque obriga também automaticamente a equipa adversária a ter

cuidados, a recuar, a ocupar bem o espaço, tem que estar ela também já num

momento de transição defensiva, de organização defensiva, e permite também

que o teu portador da bola tenha mais espaço, porque há um momento em que

tu não aumentas a distância entre linhas mas dás um pouco mais de largura ao

teu jogo e vais aumentando-as tenuemente, fazes com que a equipa adversária

também recue um pouco e alivie um pouco a pressão e deve nessa altura dar

mais espaço ao teu portador da bola, tendo mais espaço expõe-te menos ao

risco, deve-se expor menos ao risco. É o único momento do jogo em que

muitas vezes eu penso que o jogador pode optar mais facilmente por um passe

mais longo ou médio-longo do que um passe curto de primeira instância,

porque é o momento mais perigoso para uma equipa é perder a bola num início

de transição defesa-ataque e por isso a importância desse momento das

«linhas», quando se começam a alargar, os jogadores não perderem o

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Anexos

LXXVI

contacto visual com aquele jogador que tem a bola e deixá-lo muitas vezes

com a bola e com um espaço enorme à sua frente, portanto, existir uma

aproximação, e isto depois é treinado e há uma forma de sair em transição que

depois tem que ser treinada, para existir essa protecção ao jogador e não

obrigá-lo, e não expô-lo, a uma situação de risco que o leve a ter que fazer um

passe de maior risco que leve à perda da bola no início de transição. Isto só é

possível com um alargar das linhas, mas de uma forma equilibrada, de uma

forma fragmentada, isto é com uns frames mais curtos. O ideal depois seria tu

fazeres esta construção curta com precisão e velocidade e permite que a

equipa alargue as linhas com uma velocidade tremenda, isto é, e que saia a

jogar com uma velocidade tremenda e sem ter a necessidade de se alargar

tanto as linhas.

MC: Julga legítimo dizer-se que quanto menos desest ruturada ou

desorganizada estruturalmente (posicionalmente) est iver uma equipa num

momento de transição mais facilmente ela faria essa transição ofensiva?

LFL: Isso é evidente que permite que uma equipa tenha uma transição mais

lúcida, digamos assim, que o portador da bola tenha mais opções sobre como

fazer a transição. Repito que há várias formas de fazer transição e depende da

que esteja adaptada para cada momento. Agora repara, o momento de

transição e sem pensarmos só na nossa equipa e sem pensar também só na

equipa adversária, mas pensarmos no jogo em abstracto, e nas duas equipas

ao mesmo tempo, o momento de transição implica sempre algo de

desorganização do jogo, que vai implicar sempre, por curtos instantes que seja,

que uma das equipas esteja desorganizada e é o momento em que tu tens que

entrar nessa desorganização dela. Conseguires na tua equipa que esse

momento de desorganização seja um momento o mais curto possível, a

mudança do tal chip mental defesa-ataque é que te faz com que sejas equipa

de top. As transições têm sempre implícito um conceito de desorganização no

jogo.

MC: Para finalizar gostaria de perguntar se tem alg uma coisa que gostaria

de acrescentar à temática que estivemos aqui a abor dar das organizações

estruturais, salientar mais algum aspecto?

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Anexos

LXXVII

LFL: Sinceramente não me parece. Acho que falámos muito à volta disso,

tocámos em vários aspectos… portanto, parece-me que, não sei depois como

ficará sintetizando isto tudo, sistematizando estas ideias todas, mas acho que

conversámos sobre aquilo que é essencial, não me parece que haja aqui mais

nada de muito relevante a acrescentar.

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Anexos

LXXVIII

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Anexos

LXXIX

ANEXO IV

Entrevista a André Vilas Boas

Elemento da Equipa Técnica do Inter de Milão (Observador de jogo)

Correspondência Correio Electrónico, conclusão a 14/09/2009

Milton Cerqueira (MC): Concorda que uma equipa para ser de rendimento

superior tem de ser organizada em todos os seus mom entos (atacar,

defender, transitar)? Podia esclarecer-nos o porquê da sua opinião?

André Vilas Boas (AVB): Qualquer equipa que deseje ser competitiva no meio

onde está inserida deve obrigatoriamente ser organizada no seu todo. Não só...

(e só)...no seu todo que é o jogo e o seu modelo, mas também estruturalmente

e funcionalmente como equipa de rendimento superior.

Mas relativamente à própria organização do Jogar que é o que pretendes saber

eu respondo-te, o que é atacar sem defender ou transitar? O que é defender

sem atacar ou transitar? É importante que se perceba isto, não há organização

ofensiva sem pensamento em equilíbrio defensivo e antes desse equilíbrio sem

ideia de transição. Tal como não há organização defensiva sem pensamento

ofensivo e sem ideia de exploração de uma transição ofensiva. Na organização

do jogar contam os momentos de jogo sem dúvida, mas conta também a

relação constante que há entre uns e outros. O que eu te digo, e que também

discuti isso com o Daniel é: será que todos começam uma época com essa

ideia global de organização? Será que todos sabem o que realmente

pretendem para as suas equipas? Como se devem comportar, o que os

caracteriza, o que fazemos quando entramos em campo? Como geres

organização e caos e ordem e criatividade? Para mim isto é decisivo e é

precisamente a gestão do equilíbrio destas relações, que se manifestam em

comum no teu jogar, que diferencia uma equipa de rendimento superior de uma

equipa comum.

MC: O que entende por organização ofensiva, organiz ação defensiva,

transição defesa-ataque e transição ataque-defesa?

AVB: Repara a esta pergunta. Prefiro responder-te do modo mais simples

possível. Organização Ofensiva: o modo como eu enquanto treinador potencio

os meus princípios de jogo para poder criar um determinado número de

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Anexos

LXXX

oportunidades de golo que me permitam vencer o jogo. Organização

Defensiva: o modo como eu potencio os meus princípios de jogo de modo a ter

uma unidade compacta que me permita reduzir a um mínimo a criação de

oportunidades por parte do adversário. Transição Ofensiva ou defesa-ataque:

acções conjuntas, tomadas imediatamente a seguir à conquista da posse de

bola, onde se podem potenciar, de acordo com o que se pretende em termos

estratégicos, uma transição para posse (entenda-se, para manutenção da

posse de bola e passagem a organização ofensiva) ou uma transição mais

vertical para explorar a desorganização do adversário. Transição Defensiva ou

ataque-defesa: acções conjuntas tomadas após a perda imediata da posse de

bola. Também dependente das nuances estratégicas para o jogo, como por

exemplo transição para bloco ou transição para pressionar e limitar o

adversário de um modo imediato. Atenção, volto a reforçar-te o que disse

acima, o teu jogar deve exprimir-se como um todo e não de um modo isolado.

MC: Inicialmente, gostaria que me falasse sobre o q ue entende por

modelo de jogo.

AVB: Um conjunto de princípios de jogo que constituem a base do teu Jogar e

que é o único referencial pelo qual deves iniciar a construção do teu modelo de

treino.

MC: Qual o papel que atribui ao modelo de jogo na o rganização do jogo

de uma equipa?

AVB: No meu modo de ver as coisas e de entender o que é uma equipa de

rendimento superior eu digo-te que tem um papel fulcral. Nele deve estar tudo.

Tudo o que tu defendes e tudo o que tu queres como jogo para a tua equipa.

Obviamente que a aplicação do que defendes cabe aos jogadores como

verdadeiros e principais protagonistas do processo e é aí que volta a ser

decisiva a tua intervenção, na gestão da sua aplicação e execução, porque não

podes «vender» uma ideia aos jogadores que eles não possam aplicar, falando

de equipas de rendimento superior obviamente. Mas também te digo. É

possível vencer sem um modelo...tal como é possível vencer construindo uma

ideia geral de jogo ao longo da semana...

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Anexos

LXXXI

MC: Que relação lhe parece existir entre princípios de jogo e

funcionalidade pretendida para a equipa em termos d e jogo?

AVB: Total enquanto for possível ser aplicada pelos jogadores que tens à

disposição. A funcionalidade de uma equipa é articulada pelos jogadores

portanto são eles que têm de estar capacitados para pensarem e decidirem

sobre ela. Um exemplo muito claro e fácil de perceber: construção longa do

Moretto (no troféu de Amesterdão do Benfica) direccionada para o Cardozo.

Primeiro bola conquistada de cabeça e segundo bola na profundidade no

movimento explosivo do Saviola entre os defesas do Sunderland. Tenta

inverter o cenário agora: Saviola primeiro bola e Cardozo na profundidade após

movimento explosivo...impossível! O modelo e os princípios que defendes para

a tua equipa estão não só intimamente ligados entre si como têm que estar

intimamente ligados aos jogadores que tens à disposição porque são eles que

os executam em campo e não nós!

MC: Na operacionalização do modelo de jogo, qual a importância

atribuída às características dos jogadores?

AVB: Vital. Da mesma forma como te respondi acima.

MC: Podia agora mencionar quais os principais princ ípios ofensivos que

privilegia, atendendo à funcionalidade do jogar exp resso pela equipa,

quando em organização ofensiva no momento inicial d e construção do

jogo ofensivo?

AVB: Ora bem, relativamente ao Inter não o posso fazer como deves calcular.

Tendo em conta o referencial das equipas de topo que te queres referir penso

que duma forma geral tendem para construir curto a partir do guarda-redes ou

para construir fazendo o «campo grande» com os centrais em primeira fase.

Enquanto algumas dessas equipas preferem que os laterais se projectem na

profundidade de uma forma antecipada fazendo a construção dos centrais para

os médios ou os alas em movimentos interiores, há outras que preferem os

laterais em apoio utilizando a amplitude oferecida por estes para depois irem à

procura dos passes e espaços interiores. Pode a tua construção curta estar

limitada por um possível posicionamento alto do bloco do adversário?

Depende...repara no que aconteceu na final de Roma. O Manchester United

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Anexos

LXXXII

terá pensado vamos pressionar imediatamente o Barcelona dentro do seu terço

defensivo para forçar uma perda ou forçar o jogo longo...nem uma coisa nem

outra. O Barcelona jogou facilmente «dentro» dessa pressão e conseguiu ainda

que o Manchester dispersasse o seu bloco fruto de uma distância muito grande

entre sectores que era acentuada com a escolha errada dos timings de pressão

e de um posicionamento «baixo» dos centrais do Manchester. Seria possível

ao Barcelona fazer a mesma coisa se em vez de Pique e Yaya Toure tivesse

uma dupla de centrais que não se sentisse «confortável» com a bola quando

pressionada pelo adversário? Talvez não...por isso voltamos exactamente à

questão que me colocaste há pouco na qual eu te respondi que na construção

do teu jogar tens que forçosamente ter em conta as características dos teus

jogadores para que possas potenciar, não só a funcionalidade do que idealizas,

mas também as próprias características dos protagonistas do processo.

MC: E a nível da organização ofensiva num momento d e construção e

definição de situações de finalização?

AVB: Penso que aqui e tendo em conta a natural tendência que estamos a

assistir relativamente ao posicionamento do bloco baixo por parte do

adversário, cada vez mais perto da sua própria baliza, conta sobretudo ser

capaz de manter um ritmo elevado na circulação da bola, mas atenção, eu digo

ritmo elevado na circulação de bola efectuado de um modo pensado e

racionalizado. Pensado e racionalizado no sentido de ir provocando o

adversário à abertura de determinados espaços e depois ser capaz de

entender esses espaços e explorá-los de forma correcta. Também não significa

que não deve haver espaço para a criatividade, mas significa sim que antes de

mais deve haver capacidade para o reconhecimento de determinadas

situações cabendo depois ao jogador decidir relativamente à «imagem»

situacional que encontrou. Isto relativamente à construção da oportunidade.

Relativamente à definição/ finalização depende muito do que tens estabelecido

como princípios. Se privilegias a amplitude no último terço é provável que a

criação inicial da oportunidade surja nas faixas, ou seja, haverá cruzamento e

então terias que trabalhar no movimento dos teus jogadores relativamente a

essa acção. Se privilegias a amplitude, mas apenas para criação de espaços

interiores, então a tua fase de definição deve focar-se nos passes curtos de

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Anexos

LXXXIII

penetração para a área onde o teu ponta-de-lança ou os teus avançados vão

aparecer para rematar. Se no entanto privilegias a construção longa ou mais

directa terias que trabalhar em desmarcações e movimentos do teu ponta-de-

lança ou dos teus avançados para saírem na profundidade nas costas dos

defesas adversários.

MC: Relativamente ao momento organização defensiva, podia referir os

principais princípios defensivos que privilegia par a uma equipa tendo em

conta a sua funcionalidade colectiva?

AVB: Penso que, de uma forma geral, o teu objectivo será primeiro, reduzir os

espaços do primeiro ao último homem (excluindo o Guarda-Redes) e depois

disso será definir um posicionamento padrão do teu bloco. Depois, entrando no

mais específico, poderias começar a definir as zonas activas ou passivas de

pressão, poderias definir as referências visuais de pressão que te vão levar a

um comportamento mais agressivo na redução de espaços, podes também

definir a tua linha de fora-de-jogo e o comportamento que o teu bloco defensivo

deve ter tendo em conta essa referência e obviamente as decisões que tomas

relativamente a que tipo de coberturas deves ter em determinadas zonas de

campo.

MC: Quando em transição defesa-ataque poderia menci onar quais os

principais princípios de jogo privilegiados para es te momento,

elucidando-nos acerca da funcionalidade colectiva a apresentar pela

equipa?

AVB: Como te dizia há pouco podes privilegiar como equipa uma transição

para posse ou uma transição mais objectiva, mais agressiva e mais directa

(sem querer dizer «exclusivamente» de passe longo). Tendo em conta que há

fortes possibilidades que o teu adversário esteja desorganizado, o que tu

queres ou deves explorar está intimamente ligado com a sua «organização».

Por isso tem havido mais golos em transição nos últimos anos. Quando se

percebeu que havia um número importante de golos sofridos imediatamente

após as equipas perderem a bola, então o estudo do adversário passou a ser

mais dedicado e aprofundado para essa fase e determinados comportamentos,

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Anexos

LXXXIV

em jogo, começaram a ser executados para potenciar a probabilidade de

sucesso nessa fase de transição.

Aproveito também para te dar um exemplo do que falávamos há bocado que

não existe nenhum momento que se possa expressar sozinho. Se não tiveres

em conta que nesse momento em que ganhas a bola é necessário haver um

equilíbrio defensivo caso a percas és apanhado numa «contra-transição» e

acabas por sofrer na pele o facto de te teres comportado de uma forma

anárquica a partir para o ataque. Imagina o seguinte: ganhaste a bola mesmo à

saída da tua grande área com o teu lateral esquerdo, o teu ala do lado direito

não tem ninguém perto dele e está isolado e o teu lateral direito também já está

em progressão porque percebeu a ocasião. Como não lhe consegues meter a

bola directamente passas a bola ao teu médio centro para que ele a gire para o

outro lado. No entanto, falhas o passe e entregas a bola de bandeja ao pivot do

adversário que de imediato liberta o ponta-de-lança deles no espaço entre o

teu central e o teu lateral direito e de cara no golo. Neste caso preciso em que

o adversário está desorganizado e tu foste «cego» na procura da transição

ofensiva acabaste por ser tu próprio que te expuseste à transição ofensiva

deles e passaste a ser tu o desorganizado por não teres pensado que no teu

«tal» momento de transição ofensiva tem que estar presentes o equilíbrio

defensivo e a possibilidade de uma transição defensiva.

MC: E, quando em transição ataque-defesa, quais os principais princípios

de jogo privilegiados para este momento tendo em co nsideração a

funcionalidade colectiva a apresentar pela equipa?

AVB: Vários tipos de transição defensiva. Transição para bloco ou seja,

deixamos que o adversário «transite» porque temos uma ideia de bloco que

queremos unir o mais rápido possível, ou então, podemos ter uma transição

para pressão. Pressão essa que pode ser individual, grupal, sectorial, mais ou

menos agressiva, com maior ou menor preocupação do espaço nas nossas

costas etc...depende do que pretendes e depende do que podes fazer ou não

com os jogadores que tens à disposição.

MC: Qual o papel que atribui à organização estrutur al, ao nível da

disposição «táctica» dos jogadores, no futebol prat icado por uma equipa?

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Anexos

LXXXV

AVB: A organização estrutural da tua equipa está dentro do modelo de jogo

que tu pretendes para ela. Dentro do modelo de jogo estão os teus princípios

fundamentais, ou seja, os pilares da tua organização. Umas das decisões que

tens de tomar quando te dedicas à criação e idealização do teu modelo de jogo

é encontrar o equilíbrio entre os princípios de jogo que defendes e os jogadores

que tens à disposição sem descurar o «ambiente cultural» em que estás

inserido. Se o que tu queres ver potenciado é a execução dos princípios que

defendes e ao mesmo tempo fazer com que cada um seja capaz de exprimir ao

máximo as suas qualidades então é importante que os «distribuas» da forma

mais adequada no campo. A palavra distribuí-los ou colocá-los pode parecer

redutora ou limitadora, porque o futebol é dinâmica e é movimento, mas eu

entendo a organização estrutural como o ponto de partida a partir do qual

surgirão as ideias que eu defendo. Será suficiente a singular colocação dos

jogadores em determinada posição e em determinada estrutura para se obter

determinado tipo de jogo? Obviamente que sim considerando o carácter

caótico no qual ele se insere, no entanto, dentro da mesma estrutura tu podes

oferecer muitíssimo mais se, respeitando esse caos, foste capaz de encontrar o

perfeito equilíbrio entre o que pretendes e o que tens à disposição.

MC: Considera ser mais adequado restringir-se a uma só estrutura

«táctica» de jogo ou, pelo contrário, apresentar va riabilidade de jogo para

jogo da estrutura «táctica»? P.e., jogar hoje em 1- 4-1-2-3, amanhã em 1-4-

4-2, a seguir em 1-4-2-3-1, etc.? Poderia explicar- nos o que está na base

da sua opinião?

AVB: Eu acho que na criação de um modelo de jogo, e de acordo com a

experiência que fui acumulando, devem estar contempladas um mínimo de

duas e um máximo de três estruturas. Duas delas são fundamentais e uma

terceira permitir-te-á maior flexibilidade em determinado tipo de situações.

Vamos exemplificar, por exemplo, com o Liverpool de Benitez do seu primeiro

ano na Premiership. Duas estruturas usadas quase com a mesma frequência.

4-4-2 clássico e 4-2-3-1. Terceira estrutura usada em situações de risco (ou

seja, com resultado negativo e quando o queres inverter) 3-4-1-2.

Será que um maior número de estruturas te permitirá maior flexibilidade? Eu

penso que sim, mas penso também que a primeira organização estrutural que

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Anexos

LXXXVI

defendas tem que forçosamente ter pontos comuns (em termos de disposição

porque em termos de princípios isso é indiscutível) com a segunda organização

estrutural porque senão corres o risco que os teus princípios de jogo não

tenham aplicabilidade possível na segunda estrutura.

Respondendo directamente à tua pergunta, se se deve apresentar variabilidade

entre estruturas de jogo para jogo, eu defendo que não. Mas defendo-o porque

acredito que para construir uma determinada identidade de jogo é fundamental

um constante solicitar de determinadas inter-relações entre jogadores e entre

posições e penso que isso não é possível atingir se de jogo para jogo forças os

jogadores a novas adaptações. Sou da opinião também que se mudas a

estrutura de jogo para jogo é porque não andas à procura dessa identidade

mas sim à procura de limitar a identidade do adversário que é o que se passa

com abusada frequência no campeonato italiano. No entanto, esse limitar do

adversário pode ser transformado em sucesso para a equipa que no fundo é o

objectivo mas traduz-se também em espectáculo pobre e pouco criativo.

Depende da forma como cada um interpreta o que é o futebol...

MC: Que estruturas de jogo pensa poderão vir a surg ir no futuro?

AVB: Gostava de ver uma evolução no que respeita às estruturas a 3 defesas

mas a colocação de mais um médio ou mais um avançado pode não significar

um grande salto qualitativo em termos de jogo ou maior quantidade de criação

de oportunidades, contudo, penso que há benefícios extremos quando às

estruturas a 3 somos capazes de adicionar jogadores que entendam a posse, a

dinâmica e o movimento.

Penso também que poucas novidades surgirão num futuro mais imediato. A

urgência e o carácter resultadista do futebol dos nossos tempos limitam o lado

mais criativo e acção dos treinadores. Podemos é ter tendência para ver surgir

novos detalhes no posicionamento dos jogadores nas estruturas actuais. Como

por exemplo o «quadrado magico» do Brasil de 2006 ou a «árvore de Natal» no

Milan de Ancelotti da época 2007/2008. No que respeita particularmente ao

futuro talvez venhamos a observar com mais frequência um comportamento

mais vertical dos pivots defensivos nas equipas que jogam com um médio

recuado ou a divisão em três linhas horizontais de equipas que jogam com três

médios centro.

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Anexos

LXXXVII

Depois as equipas de topo surgem sempre com pequenas grandes ideias que

depois vêm «roubadas» por outros, mas que é na sua correcta aplicação que

está todo o segredo. Do Barcelona deste ano por exemplo a provocação com

bola, ou seja, não a passo enquanto o adversário não se sentir atraído a ela

deixando a sua posição para a pressionar ou pelo menos focando os seus

olhos nela e perdendo a noção do que se passa à sua volta, ou até, a

progressão no terreno de jogo como equipa utilizando sucessivamente a

combinação passe profundo - passe atrás - passe profundo.

MC: Atendendo ao discorrido anteriormente acerca da funcionalidade

colectiva que se pretende ver expressa pela equipa, parece-lhe existir

alguma distribuição (posicional/estrutural) colecti va da equipa em campo

que particularmente potencie cada momento do jogo ( organização

ofensiva, organização defensiva, transição ofensiva e transição

defensiva)?

AVB: Não propriamente. Depende do teu todo e o modo como o teu todo

funciona e se inter-relaciona. Deixa-me também responder-te com as palavras

sábias de Guardiola na sua primeira conferência de imprensa porque transmite

exactamente o modo de estar com o qual me identifico e que desejo potenciar

nas minhas equipas: “Sei o caminho que nos pode levar à vitória que é o de ser

protagonistas, de assumir e construir o jogo, de não esperar que o jogo nos

surpreenda...sou um fã absoluto de futebol de ataque simplesmente por uma

questão muito primitiva, porque quando vejo a bola dentro do meio campo

adversário estou mais tranquilo pois tenho um MEDO (a questão primitiva...)

tremendo quando a vejo perto da minha baliza. Vejo os jogos, e sempre foi

assim desde que fui jogador, dentro do meio-campo adversário, isto não

significa que por teres mais atacantes atacarás melhor, nem que por teres

menos defesas defenderás pior...atacarei melhor se defender bem e defenderei

melhor se ataquei bem, aos atacantes darei responsabilidades defensivas e

aos defesas darei responsabilidades ofensivas...mas é sempre o todo que me

interessa...”

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Anexos

LXXXVIII

MC: Vê alguma vantagem em se jogar com mais ou meno s «linhas»,

longitudinais ou transversais, para se jogar ou ent ende ser unicamente da

preferência de como o treinador pretende que a sua equipa jogue?

AVB: Vejo vantagens em criar determinado tipo de linhas em determinadas

situações. Por exemplo é um facto que o comportamento a duas linhas entre

lateral e ala facilita a progressão de ambos no campo e a sua inter-relação. Se

no meio dos dois te aproximares com um médio crias um triângulo que te pode

ser decisivo na mudança da zona da bola para outro lado do campo. Outro

exemplo e de acordo com o que falávamos há pouco pode ser a divisão dos

três médios centro (imaginando uma estrutura com três médios) em três linhas

diferentes, por exemplo, Yaya Toure com a bola na posição de médio recuado,

Xavi numa linha um pouco mais à frente e Iniesta noutra linha mais à frente de

Xavi e escondido nas costas da linha de médios adversária que naquele

momento está a focar a bola. Só esta simples colocação cria uma série de

dúvidas sobre o posicionamento a adoptar, não só por parte do médio

adversário que não sabe se há-de marcar Iniesta por trás ou se há-de respeitar

um comportamento mais zonal tendo em conta os companheiros e a posição

da bola, mas também por parte do central que fica na dúvida se há-de ser ele o

responsável por Iniesta caso a bola lhe seja passada.

A este tipo de situações podes acrescentar muitas outras. Penso que sim e

penso que é na dinâmica e no movimento que estas linhas se devem exprimir e

não apenas estudando a estrutura no papel e fazendo ligações entre as várias

posições.

MC: Pedia-lhe que comentasse a afirmação: “Os triângulos são formas

geométricas evoluídas de posicionar os jogadores em campo.”

AVB: Não comento...acrescento...“mas que se devem expressar em

movimento”.

MC: Actualmente, acha que o jogador de cultura e co m qualidade superior

tem elevados desempenhos num «posto específico» ou em «polivalência»

de posições? Porquê?

AVB: A polivalência para mim só faz sentido, e só existe, quando é feita dentro

de determinado sector. Queres experimentar meter o Ibrahimovic a lateral

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Anexos

LXXXIX

esquerdo? Queres experimentar o Zanetti a ponta-de-lança? Não, claro que

não. Queres experimentar o Eto’o aberto numa faixa? Queres experimentar o

Gallas como lateral esquerdo? Sim, já o fizeram.

Há jogadores que se sentem confortáveis porque são capazes de entender,

pelas relações que eles próprios tiveram com os companheiros naquelas

posições mais próximas e por aquilo que tu defendes em treino, como se

devem comportar. Depois há outra coisa, para quem entende o jogo de uma

forma dinâmica e jogado com fluidez e movimento, a especificidade do posto

tem que forçosamente contemplar a flexibilidade, a criatividade e a troca

funcional/posicional com os companheiros, portanto, essas bases, essas

experiências e essas vivências de posição serão assimiladas também nesses

momentos.

MC: Optando por uma distribuição posicional/estrutu ral da equipa,

poderia referir-nos os posicionamentos dos jogadore s em campo e

estabelecer as «linhas» de referência da organizaçã o estrutural da equipa

quando em organização ofensiva…

O entrevistado não respondeu às últimas quatro questões, envolvendo as

«linhas» de referência organizacional no enquadramento estrutural face aos diferentes

momentos, por considerar que se repetiam face ao anteriormente respondido na

entrevista e também por serem ideias pessoais que preferia guardar para si. Vontade

essa que foi respeitada.

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Anexos

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